Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

141
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Unidade III
7 AMÉRICAS NO PÓS‑SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A articulação das relações contemporâneas nas Américas passa, necessariamente, pelos fatores 
que provocaram a emergência do neoliberalismo. O período da Guerra Fria, para além das grandes 
tensões militares envolvendo sérias ameaças de eclosão de hecatombes nucleares em razão de possíveis 
enfrentamentos diretos entre as superportências – Estados Unidos e União Soviética – foi, também, 
repleto de discussões relativas ao papel dos indivíduos em suas sociedades, dos países em relação aos 
vizinhos – relações internacionais – de economia e de cultura. Isso para mencionar os aspectos mais 
evidentes uma vez que a liderança norte‑americana no ocidente fez com que esses debates ganhassem 
força e, assim, alinhar‑se era deixar de lado algumas demandas sócio‑políticas e econômicas, o que 
tinha custo político e econômico.
Durante as décadas de 1950 e 1960, uma das grandes discussões na política internacional era a 
questão da necessidade da construção de blocos econômicos e a América Latina não ficou alheia ao 
processo de construção de alianças visando a integração econômica. Segundo Arruda,
a partir de 1955 cresceu intensamente o endividamento dos países do 
continente junto aos países desenvolvidos. A inflação tornou‑se galopante 
em muitos países, pois a emissão era o meio pelo qual se procurava cobrir 
o déficit deixado pela balança comercial e pelas despesas orçamentárias 
(ARRUDA, 2004, p. 569).
Muito mais dinheiro é colocado em circulação e isso provoca inflação com os gastos na compra de 
produtos supérfluos que atendiam a demandas de consumo novas, incentivadas no pós Segunda Guerra 
representando uma “americanização” de costumes.
No Brasil, o governo do Gal. Dutra (1946‑1951) representou uma guinada em direção ao modelo 
norte‑americano de consumo e as reservas acumuladas foram gastas com importações de bens dos 
Estados Unidos – tamanha foi a crise que se tornou necessário o planejamento e ação do governo para 
solucionar a questão, sendo que esse esforço levou a formação da Missão Abbink e da Comissão Mista 
Brasil‑Estados Unidos.
142
Unidade III
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Missão Abbink, leia:
RIBEIRO, T. R. M. Das missões à Comissão: ideologia e projeto 
desenvolvimentista nos trabalhos da “Missão Abbink” (1948) e da Comissão 
Mista Brasil‑Estados Unidos (1951‑1953). 2012. Dissertação (Mestrado) ‑ 
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 
Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3zBZGzX. Acesso em: 
16 jun. 2022.
7.1 Estados Unidos e os anos 1960 e 1970: a emergência das reivindicações 
sociais e políticas
Os Estados Unidos assistiram ao surgimento de uma nova esquerda, e a explosão da juventude 
na vida pública com manifestações de contestação e rebeldias em torno da liberdade de dispor do 
corpo como bem entendesse com a busca da liberdade sexual e a contracultura assustaram alguns dos 
setores mais conservadores e até mesmo retrógrados dos Estados Unidos, e a reação não demoraria a se 
articular. Segundo Karnal (2007).
historiadores chamam os anos 1960 de a “longa década”, pois muito da 
mudança social e cultural dessa década foi sentida ao longo dos anos 1970. 
Fazendo campanhas, em 1968 e 1972, para restaurar a “lei e a ordem”, o 
presidente Nixon, não obstante continuou algumas das iniciativas liberais 
que tinham marcado os governos Kennedy e Johnson. Nixon e seu sucessor, 
Gerald Ford, queriam acabar com as heranças do New Deal [...] a Suprema 
Corte acelerou a expansão das noções de igualdade, cidadania e proteção 
da liberdade individual iniciada na década de 1950. A retirada das últimas 
tropas americanas do Vietnã e a renúncia do presidente Nixon, por abuso 
de poder em 1974, marcaram o ápice da “crise de autoridade” nos Estados 
Unidos (KARNAL, 2007, p. 253).
Apesar da constante menção aos avanços nas liberdades individuais e sociais – condição essencial 
para a construção de sociedades realmente democráticas, vale lembrar que Nixon renunciou em agosto 
de 1974, em função do escândalo do Watergate surgido durante um ano de disputa eleitoral contra 
George McGovern vencida por Nixon.
Além das instabilidades políticas, economicamente a crise se instaurava com o choque do petróleo 
desde 1973, causado pela súbita alta dos preços internacionais por determinação dos países árabes 
produtores com represália ao apoio ocidental e norte‑americano à Israel. Os EUA começaram então 
a enfrentar inflação e a cada ano, entre 1973 e 1981, a renda dos trabalhares diminui 2% e o poder 
aquisitivo em geral baixou ao nível de 1961, segundo Karnal (2007).
143
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Para desenvolver um olhar amplo sobre o momento histórico e a 
realidade econômica dos Estados Unidos, recomendamos:
MARINHO, H. A. M. P. Estados Unidos: o contexto dos anos 1970 e as 
crises do petróleo. Revista Eletrônica História em Reflexão, Dourados, v. 
4 n. 7, jan/jun. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3tDdTce. Acesso em: 
15 jun. 2015.
Como resposta à rápida “deteriorização” do quadro político e econômico, ocorre uma espécie de 
“contra‑ofensiva conservadora” e que deveria portar‑se como uma nova direita. Karnal (2007) adverte 
ainda que a partir das crises do petróleo os grupos defensores da economia livre cresceram e passaram 
a ter a força necessária para pressionar o governo. Esse grupo era favorável à retomada de políticas mais 
agressivas em relação a outros países na defesa dos interesses colocados como sendo norte‑americanos. 
Setores da grande mídia eram controlados por esse grupo que passava então a fazer propaganda do 
modo de vida americano, que novamente se identificava com um modelo de liberdade que pregava 
um certo tipo de liberdade. “Liberdade veio a ser redefinida como nos anos 1920 e 1950: o direito de o 
capitalismo norte‑americano florescer livremente” (KARNAL, 2007, p. 253).
Dessa maneira, foi num contexto de reestruturação interna que o país passa a adotar práticas 
neoliberais, uma vez que salários eram reduzidos e o desemprego eram “aceitos” como métodos de 
saneamento das grandes corporações para assegurar a manutenção de sua rentabilidade, quase que 
ignorando as enormes consequências sociais do processo.
A grande ofensiva dessa “nova direita” se articulou como uma resposta às importantes mudanças 
sociais pelas quais passava a sociedade norte‑americana durante a década de 1960 e as pressões 
existentes ainda nos primeiros anos da década de 1970. A discussão a respeito dos direitos civis para 
os negros com o Poder Negro (Black Power) e Panteras Negras colocava à mostra as desigualdades e 
violentas exclusões que existiam no interior da sociedade que se colocava para as outras nações do 
mundo com a terra da defesa da liberdade e igualdade. Os imigrantes hispânicos e seus descendentes 
também estavam as discussões no dia a dia – o que para alguns autores seria a defesa dos direitos dos 
“chicanos” (JENKINS, 2012) e havia, ainda, demandas de populações indígenas.
O Poder vermelho assumiu o renascimento do movimento índio americano, 
que levou a cabo protestos espetaculares e confrontos com forças federais. 
Estes culminaram na ocupação de vários lugares em Wounded Knee, local 
do massacre brutal de 1890 que constituiu o fim simbólico dos conflitos 
militares da fronteira do século anterior. Além dos movimento étnicos, 
aquilo que pode ser descrito como ‘68ismo’ manifestou‑se também no 
Movimento das Mulheres, que fez renascer o feminismo, responsável por 
uma das linhas sociais mais importantes da América nos finais do século XX. 
144
Unidade III
O movimento teve origem a meio da década, com a publicação de obras 
como Feminine Mystique (1963), de Betty Friedan, e a formação da National 
Organization for Women (NOW); e a ideia explodiu na atmosfera política 
de 1968 [...] o descontentamento em relação aos conceitos tradicionais de 
gênero e sexualidade levaram à criação do movimento pelodireitos dos 
homossexuais [...] o momento crucial deste movimento ocorreu com a 
revolta no bar Stonewall de Nova Iorque, em 1969, quando os manifestantes 
homossexuais resistiram a um sistema já antigo de assédio policial (JENKINS, 
2012, p. 239‑240).
Essas observações nos permitem ver uma sociedade complexa e cindida, questionada por seus 
próprios membros e distante do paraíso da liberdade e democracia que surgia como propaganda no 
exterior. Um novo e poderoso grupo de reivindicações tornou‑se extremamente relevante e acabou por 
tornar‑se uma forma de inclusão política via um ativismo político para além das velhas bandeiras que, 
aparentemente, estariam desgastadas. O ambientalismo, assim, tornou‑se um movimento de grande 
relevância e outra grande polêmica era a manutenção da Guerra do Vietnã.
7.2 Estados Unidos e o avanço do conservadorismo
Nos Estados Unidos, as mudanças culturais, o aumento populacional, os problemas sociais 
internos com os questionamentos em relação ao papel dos poderes de Estado provocaram 
receios no setores menos progressistas e estes passaram à uma contra‑ofensiva articulada com a 
finalidade de se manter no poder e “salvar” os valores da sociedade americana que consideravam 
mais “verdadeiros”.
A partir de finais dos anos 1970, os conservadores [...] encontraram uma causa 
comum no movimento contra o aborto e na luta para evitar que os estados e 
cidades adotassem medidas sobre os direitos de homossexuais e passassem 
a incluí‑los nos direitos civis. Igualmente crítica foi a campanha contra a 
proposta da Emenda sobre a Igualdade de Direitos (ERA) à Constituição dos 
Estados Unidos, que proibia a discriminação sexual. A emenda foi reprovada 
pelo Congresso [...] a campanha galvanizou o movimento feminista: em 
1978, 100.000 pessoas marcharam em Washington para apoiar a medida 
(JENKINS, 2012, p. 249).
Nesse cenário, a direita, com o Partido Republicano, indicou às eleições presidenciais Ronald 
Regan, ex‑artista de televisão e cinema de filmes de “segunda linha” que ganhara notoriedade 
recente com um posicionamento de extrema direita sendo seu vice George H. W. Bush, que depois 
se tornou presidente – nos meios jornalísticos ele passou a ser Bush “pai”, já que seu filho foi outro 
presidente. Percebe‑se aqui uma “linhagem” na política federal com um discurso político utilizando 
Deus, Nação, Bandeira e Família – o que nos dá a medida de suas convicções e posicionamento 
político inequivocamente à direita.
145
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
7.3 As Eras Reagan e Bush: a consolidação do discurso neoliberal
A vitória de Ronald Wilson Reagan nas eleições presidenciais norte‑americanas em 1980 o 
transformou no 40º presidente do país e seus mandatos se estenderam de 20 de janeiro de 1981 a 20 de 
janeiro de 1989, uma vez que foi reeleito. Reagan estava muito ligado à sua imagem pública construída 
em grandes veículos midiáticos como rádio e cinema – no qual apareceu em mais de 50 filmes – e 
também às posições cada vez mais conservadoras e de direita quando atuou no sindicato dos artistas 
norte‑americanos. Vale lembrar que a Guerra Fria ainda não havia terminado e o discurso anticomunista 
agregava votos e arregimentava intenções.
Nos finais da década de 1970 e no princípio do governo Reagan, o discurso contra o “império do mal” 
fazia enorme sucesso junto ao de combate aos comunistas, ajudando na afirmação do liberalismo econômico.
Exagerando a situação encarada em 1981, descreveu a inflação e o desemprego 
da época como “terror” a serem combatidos por sua administração e que 
justificariam suas medidas anti‑New Deal: corte de gastos e de impostos, 
política monetária restritiva e diminuição da regulamentação estatal. [...] 
uma verdadeira revolução nas relações entre economia e governo, com o 
estabelecimento do Estado mínimo (MELLO FILHO, 2010, p.11).
E ainda na dissertação de Mello Filho, mas citando outro autor, vem o esclarecimento,
Por detrás da euforia do corte de impostos [...] estava [...] o Estado mínimo 
– uma criatura magra e pão‑duro, que oferecia justiça pública imparcial, 
mas não mais. Sua visão de boa sociedade repousava na força e potencial 
produtivo dos homens livres nos mercados livres (STOCKMAN, 1986, p. 8 
apud MELLO FILHO, 2010, p. 11)
E retomando diretamente Mello Filho,
Observaremos, na retórica do presidente, a defesa de princípios de livre mercado 
e de diminuição do papel do Estado na economia. A essas ideologias, princípios 
teóricos e práticas que argumentam a ineficiência da ação governamental 
na economia e promovem ordenações econômicas com menor intervenção 
estatal, chama‑se neoliberalismo (MELLO FILHO, 2010, p. 11).
Assim com um discurso que utilizava uma retórica liberal, os sentidos são modificados e, ao invés da 
defesa de direitos sociais com a ampliação de liberdades, o que ocorre é um combate ao papel do Estado 
promotor de bem‑estar social. Se o nascimento neoliberalismo ocorreu antes da Era Reagan, foi em seu 
governo internacionalmente ligado à Inglaterra governada por Thatcher que se transformou em prática 
e em política de Estado.
Normalmente identifica‑se o surgimento do neoliberalismo com a criação 
da Mont Pelerin Society, nome do spa suíço em que um grupo, congregado 
146
Unidade III
em torno da figura de Friedrich von Hayek, se reuniu pela primeira vez 
em 1947 para defender tais tipos de ideias. Entre os membros dessa 
sociedade, estavam Ludwig von Misses, Milton Friedman e, por algum 
tempo, Karl Popper [...]. Em sua declaração de fundação o grupo defendia 
que: Os valores centrais da civilização se acham em perigo. Em grandes 
extensões da superfície da Terra, as condições essenciais da dignidade e da 
liberdade humanas já desapareceram. Noutras, acham‑se sob a constante 
ameaça do desenvolvimento das atuais tendências políticas [...] sustenta 
[...] que esses desenvolvimentos vêm sendo promovidos por um declínio 
da crença na propriedade privada e no mercado competitivo; porque, sem 
o poder e a iniciativa difusos associados a essas instituições, torna‑se 
difícil imaginar uma sociedade em que se possa efetivamente preservar a 
liberdade (DECLARAÇÃO DA FUNDAÇÃO DA MONT PELERIN SOCIETY, 1947, 
apud HARVEY, 2008, p. 29).
Mello Filho (2010) observa que essas ideias ficaram um pouco em desuso durante as décadas de 
1950 e 1960, mas seu retorno foi premiado pela Academia Sueca com o Nobel de Economia em 1974 
para von Hayek e em 1976 para Milton Friedman.
O neoliberalismo associa propriedade privada e mercado competitivo a 
liberdade em geral. [...] esse é o cerne do pensamento econômico de Ronald 
Reagan. Porém [...] nunca houve, na história da humanidade, uma sociedade 
unicamente organizada em torno da liberdade de mercado. Nesse sentido, o 
neoliberalismo não passa de uma utopia ou, na pior das hipóteses, de uma 
visão de mundo construída apenas para a restauração do poder econômico e 
de classe das elites enfraquecidas pelo liberalismo americano do pós‑Guerra 
(PALLEY, 2005, p. 21‑3 apud MELLO FILHO, 2010, p. 13).
O governo Reagan promoveu ajustes no sentido da redução dos gastos orçamentários com assistência 
social e, no plano externo, gerou uma escalada das ações dos Estados Unidos com forças oficiais ou 
mesmo clandestinas, da CIA, atuando em diversas partes do globo no combate ao poder dos soviéticos 
e de seus aliados.
O orçamento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos aumentou 
de 136 mil milhões de dólares em 1980 para 244 mil milhões em 1985 
[...] durante a presidência de Reagan, as restrições anteriores foram 
abandonadas e défices anuais da ordem de 200 mil milhões de dólares 
eram comuns no anos 1980, o que equivalia a cerca de 5% ou 6% do PIB 
(JENKINS, 2012, p. 251).
O militarismo ressurgia como a defesa dos valores americanos indo além da propaganda e 
discursos inflamados. Os Estados Unidos desenvolveram uma série de mísseis de médio alcance 
(Pershing e Cruise) e eles foram posicionados na Europa em países aliados, contra a União 
Soviética em 1983. Orisco de um armagedon, de uma hecatombe nuclear provocada por um 
147
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
ataque mútuo que levaria ao fim da civilização provocou manifestações pacifistas na Inglaterra 
e na Alemanha e também provocou mudanças no imaginário norte‑americano uma vez que as 
pessoas passaram a construir abrigos antinucleares e a estocar mantimentos ou ainda, diversos 
filmes eram produzidos pela mais significativa máquina de propaganda norte‑americana – 
Hollywood – em que essa temática surgia. O mundo pós guerra nuclear amedrontava e isso era 
reforçado pelo cinema.
 Saiba mais
Como forma de perceber o universo cultural em torno do medo de um 
armagedom nuclear, recomendamos os filmes de ficção:
O DIA Seguinte. Direção: Nicholas Meyer. EUA, 1983. 127 min.
MAD Max. Direção: George Miller. Austrália, 1979. 93 min.
E suas continuações:
MAD Max 2: A caçada continua. Direção: George Miller. Austrália, 1981. 95 
min.
MAD Max 3: Além da cúpula do trovão. Direção: George Miller. Austrália, 
1985. 105 min.
Reagan promovia grandes gastos com a indústria bélica e a desregulamentação dos mercados 
financeiros – com o neoliberalismo e a globalização – e a desvalorização do sindicalismo com a 
diminuição de restrições às indústrias. Dentro desse quadro aparentemente próspero e sedutor como 
modelo a ser imitado, associando‑se ao enorme desenvolvimento do mundo da informática e, portanto, 
digital com grandes corporações se estruturando na década de 1980, havia um problema grave de 
desindustrialização e a taxa de desemprego oficial passou de 6% em 1978‑9 para quase 10% em 1982‑3, 
conforme indica Jenkins (2012).
Para se entender toda a dinâmica dos Estados Unidos articulada com as relações internacionais e 
com a expansão de determinadas práticas financeiras, é importante observar as adesões ao pensamento 
neoliberal, como ele foi construído enquanto discurso e prática.
Um dos aspectos da análise de Harvey, inspirado em Gramsci, sobre o 
neoliberalismo é a capacidade que o neoliberalismo tem de mobilizar ideias 
presentes em diversas sociedades e fazer que sua mensagem faça parte do 
senso comum. “Nenhum modo de pensamento se torna dominante sem 
propor um aparato conceitual que mobilize nossas sensações e nossos 
instintos, nossos valores e nossos desejos, assim como as possibilidades 
148
Unidade III
inerentes ao mundo social que habitamos. Se bem‑sucedido, esse aparato 
conceitual se incorpora a tal ponto ao senso comum que passa a ser tido 
por certo e livre de questionamento” (HARVEY, 2008, p. 15 apud MELLO 
FILHO, 2010, p. 48‑9).
E continua,
Ao longo dos anos 1970, espalhou‑se a concepção de que a presença do 
Estado na economia seria prejudicial ao funcionamento da mesma. A mídia, 
os think thanks e universidades foram alguns dos elementos primordiais na 
elaboração e propagação de tal visão de mundo. A década de 1970 assistiu 
[...] a uma maior unificação das corporações capitalistas formando uma 
poderosa correlação de forças. [...] Propagandeiam as noções de liberdade 
individual e de nivelamento do funcionamento do mercado com a diminuição 
da interferência governamental mas, na verdade, estão propondo um tipo 
de comportamento do Estado que favorece mais a grupos específicos da 
sociedade sob o pretexto de que esse tipo de governo seria mais benéfico para 
a sociedade como um todo. [...] Gramsci já havia observado esse importante 
aspecto da hegemonia: O fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente 
que se leve em conta interesses e grupos sobre os quais a hegemonia se 
exerce, que se forme um certo equilíbrio de compromisso, isto é, que o grupo 
dirigente faça sacrifícios de ordem econômica corporatista; mas é evidente 
que tais sacrifícios e tal compromisso não podem dizer respeito ao essencial 
(GLUCKSMANN, 1990, p. 100 apud MELLO FILHO, 2010, p.48‑9).
A partir dessa observação percebe‑se que no neoliberalismo não é possível eliminar completamente o 
Estado de Bem‑Estar criado anteriormente pois as enormes tensões sociais criadas aí seriam insuportáveis 
e poderiam, inclusive, explodir em conflitos sociais e étnicos – assustadores para diversos setores sociais. 
Vale lembrar que em 1992, em diversas cidades norte‑americanas, sendo a mais notável, Los Angeles, 
explodiram conflitos étnicos que deixaram mais de 50 mortos – ao lado do racismo das forças oficiais na 
repressão à população negra, havia a recessão e o aumento do desemprego e isso provocou um estado 
de tensões muito significativas.
Exemplo de aplicação
Você consegue estabelecer um paralelo entre esses confrontos e a crise em maio de 2015 e que teve 
início na cidade norte‑americana de Baltimore?
Para isso sugerimos a consulta de jornais e revistas desse período.
No cenário econômico, mesmo com a expansão ocorrida na Era Reagan, o sistema não estava livre 
de crises, ao contrário, sua dinamização provoca alterações tão intensas e momentos tão críticos que 
cada vez mais houve‑se falar de crises nas bolsas de valores. De acordo com as observações de Arruda, 
149
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
(2004), em 1987 a Bolsa de Nova Iorque sofreu fortes baixas, a produção industrial desacelerou – o foco 
havia sido o capitalismo financeiro e a ênfase na manutenção de elevados índices de rentabilidade na 
Bolsa de Valores, independentemente das graves consequências.
O combate a essa situação torna‑se uma das bandeiras republicanas, apoiados também na 
manutenção de uma política externa agressiva. Sobre George Bush (pai),
A grande obra política de Bush foi a Guerra do Golfo contra o Iraque, 
seu antigo aliado, que transformou Saddam Hussein no inimigo público 
número um dos Estados Unidos. A vitória arrasadora obtida pelas tropas 
norte‑americanas. [...] Isso não foi o bastante para garantir a reeleição de 
Bush, que, em 1992, foi derrotado pelo democrata Bill Clinton. Tinha início 
a era Clinton [...] (ARRUDA, 2004, p. 603).
O termo que constantemente utilizamos para fazer referência ao grupo político que chega ao poder 
com Reagan, permanece com Bush pai e retorna com Bush é, nas palavras de Finguerut (2014),
O que chamamos de Nova Direita é a coalizão ou articulação de três atores 
centrais do conservadorismo americano: os libertários, a Direita Cristã e 
os conservadores tradicionais e neoconservadores, agindo em três campos 
distintos: cultural, social e político. Esta articulação em nossa discussão 
ganha corpo a partir dos anos 60 e conforme o momento histórico ganha 
evidência ou se desarticula (FINGUERUT, 2014, p. 1).
E Finguerut (2014) completa,
as ideias são disseminadas (seja pela imprensa conservadora – que tenta se 
contrapor a mídia progressista num embate ideológico que perpassa por 
diferentes temas e assuntos tais como os direitos dos gays, aborto, o estado 
de bem‑estar social, a regulação do sistema financeiro, o aquecimento 
global/pressões ambientais internas e externas, os limites e formas de fazer 
a guerra contra o terrorismo etc. (FINGUERUT, 2014, p. 2).
A articulação do discurso em torno da defesa de valores considerados como norte‑americanos não 
é uma especulação de quem analisa a realidade social dos Estados Unidos em fins do século XX e 
princípios do XXI. Anualmente são promovidas reuniões para promover discussões e traçar os rumos 
desses setores da Nova Direita no sentido de conseguir retornar o poder na Casa Branca.
O Values Voters Summit é um dos eventos dos mais tradicionais do 
conservadorismo social dos EUA. Possibilita todos os anos uma grande 
mobilização de ativistas de todo país que reúnem em Washington D.C. 
[...] A proposta do encontro é mobilizar e energizar ativistas, cidadãos, 
lideranças políticas e futuros candidatos políticos em torno de temas 
da agenda do conservadorismo social [...] Se prestarmos atenção nas 
150
Unidade III
ideias e nas formas de mobilização [...] notaremos a centralidade em 
torno das ameaças ao casamento heterossexual e à tradicional família 
cristã como temas centrais dos painéis e das conferências secundáriasdo evento. [...] Ted Cruz, vencedor da eleição interna do encontro como 
candidato favorito dos conservadores para a próxima eleição presidencial 
americana, enfatiza o fracasso do chamado Obamacare, a tentativa 
do governo Obama de oferecer um plano de saúde estatal universal. 
[...] Michelle Bachmann, do estado de Minnesota, revela a força do 
argumento Tea Party, com uma retórica que prega a desobediência civil 
e o enfretamento diante de um governo apresentado como tirânico e 
autoritário (FINGUERUT, 2014, p. 7).
Quadro 1 – Conservadores X liberais: dois modelos familiares
Família conservadora Família liberal / progressista
Centralidade na figura paterna Os pais dividem as tarefas e os papéis
A educação dos filhos é centrada na 
disciplina. Criam‑se mecanismos de 
recompensa e de punição a partir dela
Os liberais focam‑se na comunidade e na 
atuação social do governo
A educação é norteada por forte senso 
competitivo, criando a perspectiva de uma 
divisão entre vencedores e perdedores. 
A educação é norteada pelo diálogo e pela 
experiência social plural e multicultural
Obediência, disciplina e autoridade se 
destacam como valores morais
Empatia, responsabilidade e esperança se 
destacam como valores morais.
Desconfiança diante da atuação do governo Aposta e visão proativa do governo
Fonte: Lakoff (2008) apud Finguerut (2014, p. 12).
Nessa visão conservadora, o país seria uma nação a ser preservada contra mudanças que 
consideram contrárias à liberdade individual e à manutenção da União. Finguerut (2014) afirma, 
ainda que os dois grupos referem‑se às liberdades direitos civis mas os liberais querem seu aumento 
enquanto os conservadores, sua manutenção.
7.4 A Era Clinton e a reação ao conservadorismo político
O processo de intensas mudanças econômicas com a reestruturação do capitalismo sob a forma 
neoliberal desenvolvidos pelos governos de Reagan e Thatcher começa a dar resultados no início do 
anos 1990 com a intensificação da revolução tecno‑científica que, para alguns autores, representa a 
3ª Revolução Industrial. Robôs na produção, informatização crescente do setor bancário conferindo 
maior agilidade às transações financeiras. As mudanças tecnológicas tiveram fortes impactos na 
economia com o aumento da produtividade, queda de preços e ajuda na recuperação econômicas dos 
Estados Unidos, tirando o país do quadro de piora do final da era Reagan.
O início da administração Clinton coincidiu com a manutenção de um congresso de maioria 
republicana de tendências conservadoras.
151
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
ao iniciar o seu primeiro mandato presidencial, em 1992, Bill Clinton foi 
impedido pelo Congresso, de maioria republicana, de realizar muitos gastos 
em sua política social, o que contribuiu para diminuir os gastos públicos e 
zerar o déficit em 1998 (ARRUDA, 2004, p. 671).
O trecho é elucidativo dos mecanismos de funcionamento do neoliberalismo – naquele momento 
já operando de maneira muito intensa – e os governos que adotam essas práticas se afastam de 
gastos sociais. A expansão capitalista resultado da modernização e dinamização do sistema levou a 
uma recuperação da capacidade produtiva dos Estados Unidos e a retomada de sua capacidade de 
exportar, mas o outro lado da questão é uma concentração de riquezas no mundo nunca antes visto 
em toda a História.
Mas nem tudo é maravilhoso. As grandes fortunas cresceram de forma 
brutal. Poucas empresas controlam orçamentos superiores a muitos 
países do mundo. As fortunas individuais tornam‑se fantásticas, como a 
de Bill Gates, dono da Microsoft. Enquanto, a situação social dos negros 
pouco mudou. Apesar da ascensão social possibilitada pelas leis dos 
direitos civil, pelo ingresso em universidades, somente 35% dos negros 
têm rendimentos de classe média, em trono de 35 mil dólares anuais (em 
1968 eram 10%). O salário dos brancos é em média 65% superior ao dos 
negros (ARRUDA, 2004, p. 672).
Considerando a modernização e sofisticação do capitalismo, nossa preocupação constante aqui é 
desenvolver um olhar mais crítico a respeito de suas dinâmicas e impactos no dia a dia das nações 
americanas. De norte a sul do continente as mudanças são percebidas intensamente e podemos 
considerar que certamente o que se passava nos Estados Unidos afetava cada vez mais seus vizinhos.
A era Clinton se desenvolveu sob o signo da informação e constantemente ele esteve em noticiários 
– direta ou indiretamente como, por exemplo, em denúncias de irregularidades no setor imobiliário 
envolvendo uma empresa em que sua esposa Hillary Clinton era sócia – o escândalo Whitewater.
A retórica democrata de ênfase em aspectos sociais – para combater a obra dos republicanos – com 
projetos para saúde, educação e previdência não se consolidava e a inflação, a queda do déficit fiscal e 
também a redução do desemprego deram um segundo mandato da Clinton.
A mais poderosa nação do planeta era abalada por escândalos envolvendo assédio sexual do 
presidente contra Paula Jones e de ter um caso com a estagiária Monica Lewinski e, como Clinton teria 
solicitado que ela mentisse em seu testemunho, negando o caso, os boatos de um possível impeachment 
tomaram conta dos noticiários e do cenário político interno e externo.
Mas o que tem que ver isso com a realidade do restante das Américas?
Politicamente Clinton se desgastava rapidamente e sua esposa o defendeu publicamente alegando 
haver um ataque da extrema direita contra seu marido. Em sua defesa Clinton apresentava o fim do déficit 
152
Unidade III
público, o baixo desemprego, inflação baixa e seus programas de ajuda a setores mais desfavorecidos. 
A “opinião pública” pendeu para Clinton e o processo de Paula Jones acabou arquivado.
Ao mesmo tempo que o presidente corria risco de impeachment, a política externa torna‑se 
novamente agressiva na recuperação da imagem de um país que determinava os rumos da História não 
apenas continental, mas mundial. Os discursos oficiais frequentemente mobilizavam o argumento da 
defesa dos interesses norte‑americanos para justificar intervenções militares – como no caso do Iraque 
que novamente era invadido em nome do combate às armas de destruição em massa que Saddam 
Hussein alardeava possuir.
 Saiba mais
Para saber mais a respeito das constantes invasões norte‑americanas no 
Oriente Médio, recomendamos:
EBRAICO, P. R. B. M. As opções de geopolítica americana: o caso do golfo 
pérsico. 2005. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – PUC‑Rio, 
Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3aYg5nW. Acesso em: 
16 jun. 2022.
Com o fracasso dos esforços de contenção do Iraque por meio de sanções econômicas e buscando 
agradar os setores favoráveis ao fortalecimento internacional dos Estados Unidos, a Secretária de Estado 
norte‑americana Madeleine Albrigth alardeou publicamente: “nós temos o motivo, o direito e os meios 
para fazê‑lo” (ARRUDA, 2004, p. 676) iniciando uma série de bombardeios à Bagdá.
Em outubro de 1994, a administração Clinton começou a despachar aviões, 
navios e tropas terrestres para responder a uma aproximação militar 
iraquiana na fronteira do Kuwait. [...] Os EUA enviaram 30.000 soldados 
americanos para a região em nome da manutenção da paz. [...]“(Irã e Iraque) 
mantém terroristas dentro de suas fronteiras. Eles apoiam bases terroristas 
em outras terras. Eles anseiam por armas nucleares e outras armas de 
destruição em massa. Todos os dias, eles colocam inocentes em perigo e 
incitam a discórdia entre as nações. Nossa política com relação a eles é 
simples: Eles devem ser contidos”. [...] o Presidente Clinton iniciou uma 
campanha de bombardeamento contra o Iraque, conhecida como Operação 
Raposa do Deserto, em dezembro de 1998 (EBRAICO, 2005, p. 100).
Vale lembrar que o mesmo governo que avançou sobre o Iraque – importante produtor mundial de 
petróleo – em 1993 havia patrocinado um célebre encontro entre os líderes arquirivais de Israel e da 
Autoridade Palestina, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, respectivamente.153
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 49 – O histórico aperto de mão entre Yasser Arafat e 
Yitzhak Rabin, mediado pelo presidente Clinton em Washington, 13/9/1993
Disponível em: https://bit.ly/3xRBrN4. Acesso em: 16 jun. 2022.
A imagem dos líderes apertando as mãos com Bill Clinton sorridente e ao fundo como promotor 
da paz mundial foi amplamente explorada pela propaganda que promovia os Estados Unidos como 
liderança mundial.
Desde a década de 1980, as relações com a América Latina eram muitas vezes definidas por invasões 
militares dos Estados Unidos e ações da CIA. Por exemplo, o caso de Manuel Noriega, apeado do poder 
por um ataque que o capturou e levou preso para os Estados Unidos. De antigo colaborador da CIA 
passou a acusado de colaborador com o narcotráfico internacional promovido pelo Cartel de Medellín, da 
Colômbia, que alcançaria notoriedade mundial com ações agressivas contra candidatos presidenciáveis, 
sequestros e assassinatos ordenados por seu chefe Pablo Escobar. Noriega acabou condenado a quarenta 
anos de prisão nos Estados Unidos.
Arruda indica ainda sobre a América Latina que
Razões ainda diferentes explicam a intervenção americana no Haiti. 
Nem motivos ideológicos, nem combate ao narcotráfico. País nascido de 
uma rebelião de escravos no século XVIII, o Haiti encerrou, em 1986, um 
período trágico de sua história, com a deposição do ditador Baby Doc, 
filho do famigerado François Papa Doc, que impôs uma ditadura férrea ao 
país desde sua chegada ao poder em 1957, apoiado pelos terríveis tontons 
macoutes, membros de sua guarda pessoal que espalhavam o terror no seio 
da população (ARRUDA, 2004, p. 680).
7.5 Era George W. Bush e o 11 de Setembro: a guerra ao terror
O ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 
2001 é um dos principais eventos que marcaram o final do século XX e princípios do XXI. Talvez nenhum 
outros tenha sido tão discutido, analisado, visto e questionado. Tal evento, ao menos no imaginário 
154
Unidade III
norte‑americano, constitui‑se como um divisor de águas – algo que funciona como o marco de uma 
geração – e que define a política externa dos Estados Unidos no decorrer do governo de George W. Bush.
O WTC foi construído no momento de expansão do capitalismo dos norte‑americanos com 
um símbolo incontestável de progresso material e da pujança do capitalismo de Wall Street – 
em Manhattan. Sua destruição, num atentado que envolveu também o ataque ao Pentágono 
– símbolo máximo da potência militar estadunidense – e uma outra aeronave que caiu sobre 
solo norte‑americano se transformam em marcos de memória para muitas pessoas, inclusive não 
norte‑americanos que acompanharam o evento pela televisão, mas que não tinham, no momento, 
clareza do que estava ocorrendo.
Nossa intenção aqui não é reconstituir o dia 11 de setembro de 2001, mas perceber de que maneira 
esse evento contribuiu para as formas como a política interna e externa dos Estados Unidos passaram a 
ser conduzidas a partir de então. Não faria sentido aqui fazer um longo histórico dos ataques sofridos 
pelos Estados Unidos dede o século XIX – com assassinatos de presidentes e declarações de guerra 
no decorrer do século XX. Nossa preocupação é apresentar de que maneira a Era da globalização e 
do Neoliberalismo se articulam e provocam novos conflitos entre diferentes povos – principalmente 
nas Américas.
Considerando os danos causados no imaginário norte‑americano, quando a confianças nas 
autoridades é abalada, o medo de novos atentados é crescente e a presença de norte‑americanos mortos 
dentro do próprio país por inimigos estrangeiros foi algo muito difícil de combater.
Uma imagem, entretanto, somente pode ser combatida com outra imagem. 
Se a ação terrorista seguiu um script cinematográfico, a reação americana 
teria que seguir o mesmo figurino. A televisão incumbiu‑se de fazer isso desde 
o primeiro momento. Elegeu logo seus novos heróis: bombeiros, policiais 
militares e tripulantes do vôo 93. As revistas em quadrinhos colocaram seus 
super‑heróis a serviço do resgate dos mortos ou desaparecidos no ataque, 
muitos dos quais foram certamente volatilizados pela explosão dos tanques 
dos aviões. A rede americana CNN voltou aos dias de glória da Guerra do 
Golfo, quando o jornalista Peter Arnette transmitiu suas imagens sob o 
registro America under Attack (América sob ataque), logo substituído pelo 
rótulo America’s New War (A nova guerra da América) (ARRUDA, 2004, p. 752).
A reação norte‑americana foi equivalente à declaração de uma Terceira Guerra Mundial, 
posto que internamente o país se uniu sob o governo de George W. Bush acreditando que quem 
não estivesse ao seu lado, seria seu inimigo ou faria parte do “Eixo do Mal”. Uma vez que o 
Afeganistão foi identificado como protetor da Al Qaeda, rede terrorista de Osama Bin Laden, 
a guerra contra esse país foi declarada. O militarismo e o patriotismo foram revalorizados na 
sociedade norte‑americana. A indústria bélica ganhou novo alento no esforço mundial de combate 
ao terrorismo e isso fica evidente com a escolha do vice de Bush, Dick Cheney – amplamente 
favorável àquilo que foi chamado de Guerra ao Terror, admitindo, inclusive o recurso da tortura 
contra opositor dos Estados Unidos.
155
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Indicamos a leitura sobre estar em Nova Iorque no 11 de setembro de 
2001, com vários relatos, inclusive do crítico à política agressiva dos Estados 
Unidos, Noam Chomsky.
ARRUDA, J. J. Nova História moderna e contemporânea. Bauru: Edusc, 2004.
O passo seguinte do recrudescimento da política internacional foi um novo ataque ao Iraque. O 
núcleo político em torno de George W. Bush era composto por Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul 
Wolfowitz e Colin Powell – sendo os três primeiros também chamados de “falcões” – sendo Rumsfeld 
e Cheney peças‑chave da administração de Bush pai que havia realizado a primeira Guerra do Iraque 
– e representando a ala neoconservadora e sua agressividade militarista e o ataque de 11 de setembro 
de 2001 aproximou as alas mais conservadoras e agressivas da figura do presidente e os moderados 
– no caso Colin Powell – perderam espaço. O país rumava novamente para guerra externas e em 
setembro de 2002 – após um ano do ataque, foi apresentado o que seria a Doutrina Bush por meio 
do documento “Estratégia de Segurança Nacional dos EUA”, do qual Arruda, 2004, nos apresenta seus 
quatro eixos principais, a saber,
– Na academia militar de West Point, em 2 de junho de 2002, George 
Bush disse: “a guerra contra o terror não se ganha na defensiva. [...] 
promessa de retaliação maciça nada significam contra esquivas redes 
terroristas sem nações ou cidadãos para defendê‑las. [...] É preciso 
levar a batalha ao inimigo e confrontar as piores ameaças antes 
que elas venham à tona”. Isso significa a legitimação dos ataques 
preventivos como elemento central da nova ordem internacional.
– No Congresso norte‑americano, em 20 de setembro de 2001, George 
Bush dissera: “Todas as nações, em todas as regiões, agora têm uma 
decisão a tomar: ou estão conosco ou estão com os terroristas”. Isto 
é, o terrorismo o principal inimigo da humanidade e os países são 
divididos em favoráveis aos terroristas ou aos Estados Unidos, sem 
lugar para os neutros (ARRUDA, 2004, p. 767).
Aqui podemos observar o delineamento da ação do governo dos Estados Unidos naquele momento. 
Na pertinente observação crítica de Kurz – citado por Arruda (2004, p. 769) – “os Estados Unidos precisam 
adotar as funções de um Estado mundial, sem poder ser o Estado mundial”. Daí a unilateralidade da 
agressiva Doutrina Bush. O significado do empenho dos Estados Unidos pode ser avaliado quando se 
observa que cerca de 4% do PIB vai para a defesa, o equivalente aos gastos realizados pelas demais 
192 nações do globo. E ainda segundo Arruda, “O orçamento de 400 bilhões de dólares anuais equivale 
ao dobro do faturamento individualizado das trêsmaiores corporações norte‑americanas, a saber, a 
Walmart, a Exxon e a General Motors” (ARRUDA, 2004, p. 780).
156
Unidade III
Relembra Arruda (2004, p. 777) que além do aspecto humanitário da morte de milhares de civis em 
função dos ataques – algo como 7.000 pessoas, além de 10.000 soldados iraquianos contra 169 soldados 
da coligação invasora, existe a destruição de um patrimônio cultural irrecuperável em um país símbolo 
do início da civilização e que contava com mais de 25 mil sítios arqueológicos. A Biblioteca Nacional, 
onde estavam versões muito antigas do Alcorão, foi queimada. O Museu Nacional, atacado e saqueado 
e jamais se saberá ao certo o que se perdeu uma vez que os registros também foram destruídos. 
Internamente, a guerra do Iraque servia para se articular da reeleição de Bush – vale lembrar que eleito 
anteriormente sob suspeitas.
Afinal, diz Robert Kurz,
as novas religiões do ódio, sejam elas de origem islâmica ou cristã, são 
todas de natureza sintética, arbitrária e eclética. Todas têm apenas o 
nome em comum com autênticas tradições religiosas que se remetem. São 
um subproduto da modernidade decadente das sociedades de mercado 
ocidentais ou ocidentalizadas (KURZ apud ARRUDA, 2004, p. 787).
E continua Arruda (2004, p. 787) com outros autores
O que está em causa é a própria perpetuidade dos valores americanos, no 
lamento de Gunter Grass. O país generoso, defensor do direito inarredável 
de expressão, vê sua imagem regredir, empalidecer, um simulacro do que já 
foi. Contradição inevitável da história. Exatamente no momento em que o 
brilho da democracia precisa resplandecer sobre o Oriente Médio, porque é 
isso que se deseja, seu poder iluminador se eclipsa (ARRUDA, 2004, p. 787).
De maneira mais ampla, podemos perceber conexões entre a política interna e externa dos 
Estados Unidos no médio e curto prazos e, assim, Pecequilo faz uma observação que aparentemente 
é despretensiosa, mas que se lida atentamente é esclarecedora da maneira como a política externa foi 
conduzida. Afirma a autora que
Na ausência de consensos, as posições oscilam como produto de bases 
sociais fragmentada, e não como resultado de uma ‘política disfuncional’ de 
Washington [...]. A política é reflexo da sociedade da qual emerge e representa 
suas contradições, não podendo dela ser descolada. Em duas décadas do 
pós‑Guerra Fria, esses tendências produziram três grandes estratégias 
diferentes: o Engajamento e Expansão (1993) no governo do democrata Bill 
Clinton (1993/2000), a Doutrina Bush (2002) com o republicano George W. 
Bush (2001/2008) e a Doutrina Obama (2010), do democrata Barack Obama 
(2009/2012) (PECEQUILO, 2012, p. 14).
Assim, as mudanças internas com o crescimento dos neoconservadores – que mesmo durante a 
administração Clinton tiveram grande capacidade de atravancar projetos sociais do governo, reflete 
uma sociedade cindida e preocupada com sua própria manutenção.
157
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Por fim, é preciso mencionar que a tática neoconservadora envolveu pesadas 
ofensivas na mídia, opondo‑se ao que definem como excessos liberais (apoio 
aos citados aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, proteção à 
imigrantes e minorias em geral), sendo uma de suas manifestações o processo 
de impeachment contra Clinton por conta de seu caso extraconjugal com 
Monica Lewinski, estagiária da Casa Branca no período de 1998/1999. Porém, 
sua volta ao poder foi somente em 2000, uma vez que em 1992 Bush pai 
não conseguiu a reeleição. Sustentando sua campanha no slogan ‘It’s the 
economy, stupid’(‘é a economia, estúpido!’), e na mudança e na esperança, o 
que seria repetido por Barack Obama em 2008, o democrata Bill Clinton foi 
eleito Presidente (PECEQUILO, 2012, p. 17).
O governo Clinton investiu a expansão de valores caros aos norte‑americanos como a democracia em 
âmbito mundial e, num contexto de globalização da economia, a ideia da supremacia do livre mercado. 
Essa estratégia foi apelidada de Engajamento & Expansão, quando os Estado Unidos se posicionam 
estrategicamente seguindo quatro pontos, indicados por Lake (1993), mas aqui citados via Pecequilo 
(2012), a saber
1. Fortalecer o núcleo principal das democracias de mercado, inclusive a 
norte‑americana, favorecendo a disseminação dos valores e princípios 
democráticos para todo o sistema a partir desta comunidade
2. Incentivar, quando possível, a implantação e consolidação de novas 
democracias e livres mercados em Estados significativos e importantes.
3. Impedir a agressão de Estados hostis à democracia e incentivar a sua 
liberalização por meio de políticas específicas.
4. Perseguir uma agenda humanitária para a melhora das condições de 
vida em regiões prejudicadas. Posteriormente, criar condições para 
que eventualmente essas comunidades possam integrar‑se ao sistema 
pacífica e democraticamente (PECEQUILO, 2012, p. 18).
Outra importante diferença dos democratas em relação aos republicanos foi a afirmação de Clinton 
em áreas como meio ambiente, direitos humanos e até saúde apesar da intensa a oposição à aprovação das 
medidas de cunho mais social. O período final do governo Clinton assistiu a uma certa recuperação 
geral da economia e isso lhe permitiu lançar seu vice, Al Gore, à presidência, mas surpreendentemente 
a campanha foi um fracasso e a família Bush, apoiada em diversos setores conservadores retornou à Casa 
Branca. Como aponta Pecequilo (2012, p. 19), a agenda neoconservadora foi marcada pelo chamado 
conservadorismo com compaixão (compassionate conservantism) afirmando que não atacariam 
direitos adquiridos como o aborto mas combateriam os “excessos liberais” como o casamento entre 
pessoas do mesmo sexo e a delicada questão da tolerância com os ilegais. No voto direto, Al Gore 
teve mais votos mas no colégio eleitoral foi Bush o que conduziu os republicanos para o Salão Oval 
da Casa Branca, mas sob suspeitas de fraude e irregularidades.
158
Unidade III
7.5.1 Bush (filho): conservadorismo com compaixão
Em termos cronológicos Pecequilo (2012) divide o governo de Bush filho em três fases:
De janeiro a setembro de 2001, setembro de 2001 a dezembro de 2004 e janeiro 
de 2005 ao final de seu mandato. A primeira destas fases é representada 
por tendências mistas de ofensiva neoconservadora, resistência interna e 
baixa popularidade. Mais da metade da população não apoiara a eleição de 
Bush filho e muitos contestavam a forma como a eleição fora decidida pelos 
tribunais, uma vez que a Suprema Corte Federal suspendera os processos de 
recontagem de votos, solicitados e em andamento. [...] a Retórica da Casa 
Branca (pendia fortemente para o unilateralismo) (PECEQUILO, 2012, p. 19).
E ainda segundo a mesma autora, mas em obra de 2011,
Na manhã de 11 de setembro de 2001, os atentados terroristas às cidades de 
Nova Iorque e Washington mudaram essa realidade, ao gerar um consenso 
baseado no medo inédito que atingiu os Estados Unidos depois da perda da 
invulnerabilidade do território continental. A exacerbação do nacionalismo 
e da união nacional foram outros resultados (PECEQUILO, 2011, p. 21).
E prossegue,
Internamente, os mesmos liberaram as forças neoconservadoras, favoreceram 
a construção de um novo inimigo, o terrorismo fundamentalista islâmico de 
caráter transnacional [...] e a implementação de regras de censura e restrição 
de liberdades civis pelo Estado. [...] Essas regras foram sistematizadas no Ato 
Patriota (2001), lei de combate ao terror que permitia a prisão de suspeitos 
sem direito a advogado, e que, conforme sua última prorrogação em 2011, 
permanecerá em vigor até 2015. Resultaram, também, nos memorandos 
internos autorizando a tortura, redefinida como práticas de interrogatório 
mais duras, e no caráter de prisioneiros, vistos não mais como soldados, 
mas combatentes inimigos, sem pátria, somente com afiliação a grupos 
terroristas. Estas posturas resultaram nos escândalos de maus tratos de 
prisioneiros na base norte‑americana de Guantánamo em Cuba, nasinstalações de Abu Graib no Iraque e em instalações secretas da CIA em 
outros países. Para dar amparo a essas ações, foi criado o Departamento de 
Segurança Doméstica (Homeland Security) e o USNORTHCOM (Comando do 
Norte), em 2001. Externamente, a Guerra Global Contra o Terror (GWT, Global 
War on Terrorism), geraria duas guerras na Ásia Central e no Oriente Médio, 
o Afeganistão (2001 em andamento) e o Iraque (2003/2011) (PECEQUILO, 
2012, p. 21).
159
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Reunindo todos os esforços dos Estados Unidos no sentido de promover a Guerra Global ao Terror, 
surge a Doutrina Bush, ou também denominada Doutrina Preventiva,
Não podemos defender a América e nossos amigos esperando pelo melhor. 
Devemos estar preparados para derrotar os planos de nossos inimigos [...] 
único caminho para a paz e a segurança é o caminho da ação [...] Devemos 
estar preparados para deter Estados Bandidos e seus clientes terroristas 
antes de se tornarem aptos a nos ameaçar ou usar armas de destruição em 
massa contra os EUA e seus aliados e amigos (PECEQUILO, 2012, p. 22).
Os setores mais conservadores provocaram uma reestruturação e posicionamento dos Estados 
Unidos para tentar equacionar os problemas mais preementes que Pecequilo elenca, a saber:
à perda de legitimidade e credibilidade hegemônicas; ao definhamento e 
estagnação do sistema multilateral; à crescente valorização de coalizões 
anti‑hegemônicas e a utilização de doutrinas preventivas por outros 
Estados que temiam ser invadidos pelos norte‑americanos (como os 
membros remanescentes do Eixo do Mal, Coreia do Norte, Irã, Venezuela); a 
ascensão de novas potências e o distanciamento de aliados, que indicavam 
a consolidação de um sistema internacional com tendências multipolares e 
de desconstrução de poder (PECEQUILO, 2012, p. 24).
Se tivermos em conta que a crise e o receio de novos ataques ou atentados foi amplamente 
explorados pelo governo de Bush filho num esforço de garantir a segurança de seu país, mas também 
de promover uma legitimação de um governo eleito sob suspeitas, podemos de alguma maneira 
montar um quadro em que a guerra ao terror permanece como elemento central. Não significa isso 
que os Estados Unidos declararam guerra a tudo e a todos, uma vez que são necessários aliados para 
sua causa e assim Bush filho promoveu uma série de viagens pela Europa, Ásia e América Latina, 
visitando o Brasil e causando diversos transtornos na rotina das cidades por onde passou, sendo o 
caso de São Paulo emblemático uma vez que cada vez que sua comitiva se deslocava de um ponto 
a outro da cidade avenidas eram bloqueadas, escoltas de helicópteros tornavam os céus tensos 
espetáculos militaristas e assim presença de Bush na cidade não pôde passar desapercebida por sua 
população mais comum.
Quando o governo de Bush filho, em seu segundo mandato, já se encaminhava para o final, a 
articulação conservadora se constrói em torno de Cheney para dar continuidade ao projeto político 
representado por Bush, mas os democratas ganharam força com a crise interna pois a situação 
econômica se deteriorara muito rapidamente a partir de 2007 e piorava em 2008. O fantasma de uma 
nova recessão, de escala que lembrava a todos as consequências da Grande Depressão que se seguiu à 
quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929 e a crise mundial nos anos posteriores assustava muitos. No 
ano em que a crise ganha força, 2008 e no seguinte, 2009, o PIB ficou na casa de ‑0,4% e ‑3,5%.
A campanha de Obama, em oposição ao governo federal lançou mão de slogans como Yes, we 
can e Change We Can Believe In (“Sim, nós podemos” e “Mudança na qual podemos acreditar”). 
160
Unidade III
A defesa de suas posições políticas Obama acenou para a formação de um governo no qual até 
mesmo os rivais republicanos poderiam ter espaço – o que na prática significou articular uma 
ideia de reconciliação nacional via partidos políticos. Dessa forma sua propaganda enfatizava 
sim o papel hegemônico dos Estados Unidos mas, novidade na história recente dos Estados 
Unidos, tinha uma agenda social importante. Sua eleição, para Pecequilo significava em linhas 
gerais, que
Obama tornou‑se o primeiro afro‑americano a chegar à Casa Branca, como 
símbolo de uma nova América, multicultural, multirracial e global, com a 
tarefa de renovar o poder e a sociedade dos Estados Unidos para os desafios 
internos e externos do século XXI (Pecequilo, 2012, p. 25).
Assim, continua a autora,
A eleição de Barack Obama deve ser entendida como histórica por diversos 
prismas: pelo fato de ter se tornado o primeiro afro‑americano a ser tornar 
Presidente, pela gravidade da crise norte‑americana e pelas operações 
militares nas quais o país estava envolvido (PECEQUILO, 2012, p. 25).
Apesar da crise econômica e financeira desencadeada a partir de 2008 no ser imobiliário dos 
Estados Unidos, contaminando bolsas de valores pelo mundo e se agravando nos meses seguintes, os 
republicanos não se alinharam automaticamente ao consenso e paulatinamente foram minando os 
esforços sociais de Obama, uma vez que estímulos à economia eram reduzidos, bem como foi impedida 
estrutura de uma de suas bandeiras de campanha que era a criação de um serviço de saúde nacional. E 
por mais incrível que possa parecer, em razão do aumento da presença do Estado na vida das pessoas, 
houve quem considerasse Obama socialista.
Externamente, cumprir a promessa de fechar Guantánamo acabou se revelando mais difícil do que 
parecia – vale lembrar que o Ato Patriótico foi prorrogado até 2015. Apesar das enormes dificuldades 
enfrentadas tanto internamente quanto externamente, Obama conseguiu em 2009 ter seus esforços 
reconhecidos internacionalmente e ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Expressões agressivas saíram do 
rol dos discursos presidenciáveis e foram organizados os esforços para tirar as tropas do Iraque e do 
Afeganistão, em 2011 e 2014, respectivamente. Nos dizeres de Clinton, ex‑presidente, a nova realidade 
pode ser vista assim,
Vivemos em um mundo profundamente interdependente no qual as velhas 
regras e fronteiras não mais se aplicam [...] precisamos fazer uso do que vem 
sendo chamado de “paz inteligente”, de todas as ferramentas ao nosso dispor 
– diplomática, econômica, militar, político, legal e cultural, escolhendo as 
ferramentas e sua combinação para cada situação. Com o poder inteligente, 
a diplomacia estará na vanguarda da política externa. (CLINTON, 2009 apud 
PECEQUILO, 2012, p. 26).
161
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Para uma análise crítica do 11 de Setembro, recomendamos a 
leitura de Noam Chomsky. Obra realizada por um norte‑americano 
que procurou entender o que provocou o 11 de setembro e não apenas 
referendar o ataque
CHOMSKY, N. 11 de Setembro. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
A transição política da Era Bush para o sucessor Barack Obama não foi um processo simples. Devemos 
considerar que desde a Era Reagan o neoconservadorismo se fortaleceu e na Era Bush, tanto do pai como 
do filho, suas práticas militaristas agressivas serviram para reafirmar a imagem pública norte‑americana de 
potência militar, na sequencia com a Era Obama, ao menos na retórica, o governo da Casa Branca 
parece defender algumas mudanças de rumo e os discursos internacionais – apesar da manutenção da 
rigidez no que é tido por Guerra ao Terror, com a captura e execução de Osama Bin Laden por forças 
norte‑americana que invadiram o Paquistão.
7.6 Era Obama: Yes, We Can
Barack Obama ao ser eleito derrotou os setores mais conservadores,
Como nenhuma outra o fora antes, a campanha de Barack Obama à 
presidência dos Estados Unidos é um fenômeno planetário. A notícia 
da sua vitória sobre o republicano John McCain foi festejada com 
manifestações em todo o mundo. O jovem senador do Illinois, filho de 
uma antropóloga branca e de um economista negro, sobressai‑se já em 
meados de 2004, quando discursa na Convenção Democrática de Boston 
e a sua intervenção é vista por quase dez milhõesde telespectadores. 
Mas poucos ousam prever que um negro com um middlename árabe – 
Hussein – irá ser o sucessor de George W. Bush. Mas o carisma de Obama 
é contagiante e a sua campanha, centrada na palavra de ordem ‘sim, nós 
podemos’ (yes, we can), mobiliza músicos, atores e outras figuras públicas, 
como a apresentadora de televisão Oprah Winfey, espalha‑se pela 
internet e cria uma adesão popular sem precedentes. Barack Obama fora 
um dos primeiros políticos americanos a opor‑se à invasão americana do 
Iraque e a promessa da retirada dos soldados americanos é um dos temas 
fortes de sua campanha. A prioridade militar dos Estados Unidos deve 
ser o Afeganistão, defende o candidato democrata, que assume também 
objetivos ambiciosos na política interna, como o de garantir cuidados 
de saúde para todos, assegurar a independência energética do país ou 
reduzir drasticamente o poder dos lobbies de Washington. Nas eleições de 
4 de novembro de 2008, vence McCain com 53 por cento do voto popular, 
162
Unidade III
obtendo mais de 69 milhões de votos, um recorde absoluto na história 
das eleições presidenciais americanas. Quando chega ao Grant Park de 
Chicago, no dia seguinte, para fazer seu discurso de vitória, espera‑o uma 
multidão de 240 mil pessoas. Usando o slogan ‘yes, we can’ como refrão 
de seu texto – numa tática muito semelhante à que Martin Luther King 
usara, quase meio século antes, com o seu ‘I have a dream’ ‑, Obama 
centra a sua intervenção na ideia de que se vive um momento histórico 
e que os Estados Unidos, cuja reputação internacional decaíra durante 
a era Bush, voltarão a ser uma nação respeitada e admirada no mundo 
(DISCURSOS..., 2010, p. 131).
E nas palavras do próprio presidente Barack Obama no discurso pós‑eleição,
Yes, we can. Boa noite, Chicago. Se houver uma única pessoa nesta sala 
que duvide ainda que a América seja um lugar onde tudo é possível, que 
se pergunte todos os dias se o sonho dos nossos fundadores continua 
vivo, que duvide do poder de nossa democracia, aqui tem a resposta. [...] 
Esta é a vitória de vocês. [...] Prometo para vocês. Nós, enquanto povo, 
chegaremos lá. Haverá fracassos e passos em falso. Haverá muitos que não 
estarão de acordo com todas as decisões que tomarei como presidente. 
Sabemos que o governo não pode resolver todos os problemas, mas 
serei sempre honesto com vocês sobre os desafios que nos afrontam. [...] 
Esta vitória em si não representa a mudança que buscamos. Para nós, 
é apenas a oportunidade de fazermos esta mudança e isso não pode 
acontecer se voltarmos a fazer as coisas da mesma maneira que foram 
feitas anteriormente. [...] Lembremos que, se esta crise financeira tiver nos 
ensinado alguma coisa, é que não podemos ter uma Wall Street forte e 
uma Main Street que sofre. [...] Como Lincoln disse a uma nação ainda 
mais dividida do que a nossa, não somos inimigos, mas amigos. Embora a 
paixão tenha colocado sob tensão os nossos laços afetivos, ela não pode 
rompê‑los. E a esses americanos cujo apoio ainda tenho de conquistar, 
digo: talvez não tenha conquistado o seu voto, mas ouço suas vozes. [...] 
Àqueles... àqueles que querem destruir o mundo: nós vamos vencê‑los. 
Àqueles que procuram a paz e a segurança: nós vamos apoiá‑los. E a todos 
aqueles que se perguntam se o farol da América ainda brilha todos os dias, 
provamos uma vez mais esta noite que a verdadeira força da nossa nação 
não vem do poder das nossas armas ou da extensão da nossa riqueza, mas 
sim da força das nossas ideias: a democracia, a liberdade, a oportunidade 
e a esperança que nunca morre. Este é o verdadeiro caráter da América: a 
sua capacidade de mudar (DISCURSOS..., 2010, p. 131‑4).
Registramos aqui apenas alguns dos trechos de sua fala e ressaltamos o caráter ideológico da 
valorização da unidade e da capacidade de superação das dificuldades internas e externas numa época 
em que indubitavelmente a liderança dos Estados Unidos não já era tão evidente assim, um pouco 
163
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
em razão da agressiva Era Bush (filho), mas também como consequência de uma crise financeira que 
teve epicentro nos Estados Unidos entre 2007 e 2008 e que se alastrou por quase todo o mundo, com 
consequências desastrosas para diversos países.
Apesar do tom conciliador e de esperança de um mundo melhor, o projeto de derrotar os inimigos 
desse sonho americano prossegue e em 2011 Barack Obama faz outro discurso “histórico”, mas agora 
noutro sentido,
A Casa Branca. Escritório do Secretário de Imprensa. Para divulgação 
imediata. 23h36 – Horário de verão da Costa Leste dos EUA, domingo, 
1º de maio de 2011. Presidente Obama: Boa noite. Esta noite posso 
informar ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos 
realizaram uma operação que matou Osama bin Laden, líder da Al 
Qaeda e terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, 
mulheres e crianças inocentes. [...] Há quase 10 anos, um lindo dia 
de setembro foi obscurecido pelo pior ataque ao povo americano na 
nossa história. As imagens do 11 de Setembro estão marcadas em 
nossa memória nacional – aviões sequestrados cruzando o céu limpo 
de setembro, as Torres Gêmeas desabando, a fumaça negra subindo do 
Pentágono, os destroços do voo 93 em Shanksville, Pensilvânia, em que 
as ações de heróicos cidadãos impediram mais tristeza e destruição. 
[...] logo após tomar posse, ordenei a Leon Panetta, diretor da CIA, 
que fizesse do assassinato ou captura de Osama bin Laden prioridade 
máxima de nossa guerra contra a Al Qaeda. [...] Ao mesmo tempo, 
devemos também reafirmar que os Estados Unidos não estão – e 
nunca estarão – em guerra com o Islã. [...] Bin Laden não era um líder 
muçulmano. Ele era um assassino em massa de muçulmanos (MISSÃO 
diplomática..., 2011).
Se acreditarmos apenas nos aspectos superficiais dos discursos políticos, sendo assim capturados 
pela lógica dos produtores dessas falas, podemos considerar uma aproximação com diversos países 
no sentido de se modernizar politicamente para sobreviver no século XXI, mas, se uma análise 
mais detida é elaborada, fica mais fácil de observar que os discursos favoráveis a um ou outro 
país acabam por auxiliar o impedimento da formação de conjuntos regionais muito fortes. Tal 
observação não exclui a questão da liderança dos Estados Unidos, no cenário econômico mundial 
no início do século XX.
Internamente, Obama sofre derrotas políticas impostas pela oposição republicana e também 
pelo escândalo do vazamento de informações sigilosas num escândalo conhecido como Wikileaks 
promovido por Assange, e isso tem contribuído para o desgaste da Era Obama.
Em diversos momentos da História recente, os Estados Unidos precisaram se articular no sentido 
de estabelecer os parâmetros continentais para que sua liderança fosse assegurada. Se voltarmos o 
olhar para a Doutrina de Monroe, que apregoava “América para os americanos”, isso fica evidente. No 
164
Unidade III
entanto, em termos práticos, e mais relevantes para nossas discussões, visamos ao período pós‑Guerra 
Fria, e principalmente, naquele momento em que os Estados Unidos novamente buscou desenvolver sua 
política continental.
A integração regional voltou para a agenda política dos Estados Unidos e diversas iniciativas de 
encontros, acordos e aproximações econômicas auxiliaram nesse movimento. Desde os acordos comerciais 
como o Nafta (implementado em 1º de janeiro de 1994 e com intensas reações populares locais contra ele 
mas que veremos mais adiante quando tratarmos de movimentos sociais contemporâneos), envolvendo 
Estados Unidos, Canadá e México até a Área de Livre Comércio das Américas – chamada de Alca, existe 
um esforço no sentido mencionado.
Os Estados Unidos, no início dos anos 1990, viviam a já mencionada rearticulação neoconservadora 
em sua política interna, mas economicamente ganhava força a propaganda neoliberal e na primeira 
Era Bush (pai) isso fica claro com o Nafta para o Norte, mas também – o que é particularmente 
relevante ao Brasil,o Mercosul visava integrar Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – segundo a 
lógica do neoliberalismo que foi, indiscutivelmente, uma política norte‑americana de promoção de 
seus fundamentos econômicos. O alinhamento aos Estados Unidos ocorreu naquilo que passou a 
ser chamado de Consenso de Washington, segundo o qual o neoliberalismo acaba por se tornar a 
política desses Estados também – então recém‑saídos de longas e sangrentas ditaduras militares. 
Os governos de Fernando Collor de Melo, no Brasil (entre 1990 e 1992 – que marcou época por 
ser o primeiro presidente eleito do Brasil de forma direta na Nova República e também por seu 
impeachment em 1992, com intensa mobilização popular nas ruas do Brasil) e no caso dos vizinhos 
argentinos, era o governo de Carlos Menem (entre 1989 e 1999). A crise política no Brasil alçou ao 
comando do executivo nacional Itamar Franco (1992‑4), que desenvolveu ainda mais esse aspecto 
continental, tendo deixado a articulação do processo sob responsabilidade de seu Ministro das 
Relações Exteriores, entre 1992‑3, Fernando Henrique Cardoso, que posteriormente foi eleito 
presidente do país.
As ambiguidades da época são bem apontadas por Pecequilo (2012, p. 41), uma vez que 
internamente ocorre a manutenção do Plano Real e o governo segue a cartilha neoliberal de 
privatizações com redução da presença do Estado em diversos setores, mas externamente não 
enfatiza a participação na OMC ou a América Latina – o que nos indica não ser a região uma 
prioridade de seu governo uma vez que foi preferida a articulação com potências de outros 
continentes como a China, a Rússia e a Índia. Esse quadro, no entanto, sofre uma reviravolta nos 
dois governos de Luis Inácio Lula da Silva (2003‑2010), com sua ênfase no papel da liderança do 
Brasil e na intensificação das articulações regionais próximas, no caso, dos parceiros vizinhos. Foi 
emblemático em seu governo, a aproximação da Venezuela, sob o governo de Hugo Chávez (entre 
1999 e 2012) e também com Cuba.
165
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Equador
Trópico de Capricórnio
Brasil
 Guianas
1 – Guiana Francesa
2 – Suriname
3 – República Cooperativa da Guiana
 América Andina
4 – Venezuela
5 – Equador
6 ‑ Peru
7 – Bolívia
8 – Chile
9 – Colômbia
 América Platina
10 ‑ Paraguai
11 – Argentina
12 – Uruguai
Figura 50 – Países da América do Sul
Disponível em: https://bit.ly/3b1kDu0. Acesso em: 16 jun. 2022.
Em termos continentais, a maior articulação econômica foi obra da administração Clinton e 
uma tendência retomada com Obama. Diversas cúpulas continentais ocorreram para assegurar a 
implementação daquilo que foi alardeado como sendo a democracia e a boa governança. No ano 2000, 
ocorreu a I Cúpula de Brasília e da reunião dos chefes de Estado sulamericanos nasceu uma proposta 
de Integração da Infraestrutura Regional Sul‑Americana (IIRSA), dando ênfase a setores locais como 
telecomunicações, transportes e energia – problemas comuns aos diversos países.
As mudanças podem ser percebidas em termos de um salto qualitativo, nas palavras de Pecequilo (2012)
Também foi apresentado o conceito de “globalização assimétrica”, de crítica 
moderada à globalização (SILVA, 2009), e retomados os contatos com as 
potências regionais do mundo em desenvolvimento. A reaproximação 
do Brasil com nações como a China, Rússia e Índia não trazia, porém, 
um sentido político mais amplo, mas representava a quebra dos padrões 
de alinhamento que dominaram os anos 1990. Esse salto qualitativo foi 
observado a partir do governo Lula (2003/2010). Lula consolidou o fim dos 
alinhamentos e imprimiu uma nova agenda interna e externa para o país. Em 
termos internos, a retomada de políticas sociais (Fome Zero, investimentos 
em saúde e educação) e de ações de desenvolvimento, trouxe uma nova 
166
Unidade III
era de crescimento econômico, que levou à consolidação da estabilidade e 
a diminuição da vulnerabilidade do país. Na dimensão externa, essa política 
levou a ganhos de poder com o reforço do poder brando brasileiro e a 
retomada de seu papel de líder do Terceiro Mundo. A ênfase na cooperação 
Sul‑Sul, mas sem abandonar o Norte‑Sul, reforçaram a atuação brasileira no 
mundo e na região. Em termos globais, isso significou a aproximação com 
os países emergentes, posturas mais assertivas no multilateralismo e, na 
região, observou‑se a continuidade da IIRSA e o lançamento do projeto da 
Comunidade Sul‑Americana de Nações (Casa) em 2004, depois renomeada 
UNASUL (União Sul‑Americana de Nações) a partir de 2007. Em 2004, ainda, 
o Brasil passou a líder a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti 
(Minustah), demonstrando seu papel afirmativo e assertivo na região e nas 
Nações Unidas (PECEQUILO, 2012, p. 46‑7).
Ressaltamos, no entanto, outro aspecto fundamental que ganhou força – apesar de muitas vezes 
não ser muito presente nos noticiários regionais da época – que foram as reações ao movimento 
genericamente tratado por globalização.
Carlos Fuentes, eminente escritor mexicano, observou com muita propriedade os momentos críticos 
que envolveram o início do século XXI e registrou sua visão de mundo e percepção do que estava 
ocorrendo num livro chamado Contra Bush, de 2004.
A necessidade de restaurar uma ordem jurídica internacional, multilateral 
e confiável, dedicada a resolver os conflitos políticos mediante negociação 
diplomática e os conflitos sociais mediante solidariedade internacional. 
Subjacentes aos eventos [...] existem seis bilhões de seres humanos à espera 
de um mundo de cooperação que se ocupe da vasta pauta do trabalho e 
da saúde, da educação e da habitação. Não teremos um mundo justo e 
equilibrado se não atendermos a essas necessidades. Exaltar o “choque de 
civilizações” propicia os fundamentalismos violentos de um e de outro lado, 
esquecendo que todos somos descendentes de encontros de civilizações 
e que nos incumbe respeitar as diferenças e somar as semelhanças das 
grandes culturas humanas. [...] O presidente Bill Clinton declarou, com 
grande propriedade: ‘não se vencerá o terror se não se conseguir determinar 
a maneira de um mundo interdependente’. Esse é o grande problema de 
nossa época e George W. Bush não contribuiu para resolvê‑lo, somente para 
exacerbá‑lo (FUENTES, 2004, prefácio).
Vale lembrar que o vice de Bush era Cheney e que da administração pública ele passou a controlar 
uma corporação, a Halliburton Incorporated, que administra mais de cem mil funcionários e que chega 
a faturar anualmente mais de quinze bilhões de dólares e que essa empresa é grande produtora e 
fornecedora de insumos e tecnologia petrolífera. E, segundo Fuentes (2004),
167
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A Halliburton Inc. ampliou seus interesses da Argélia a Angola, da Nigéria à 
Venezuela, do Mar do Norte ao Oriente Médio, e da Birmânia a Bangladesh. 
“Os Estados Unidos não tem amigos, têm interesses”, disse cinicamente John 
Foster Dulles, secretário de Estado do presidente Eisenhower. Mais sutil, 
Cheney declarou: “É lamentável que o bom Deus não haja posto as jazidas 
de petróleo nas nações democráticas” (FUENTES, 2004, p. 13).
Carlos Fuentes relata ainda, em um texto de 18 de janeiro de 2001, com o título “Adeus, Mr. Clinton”, 
o seguinte:
Num jantar com Gabriel García Marquez e Bernardo Sepúlveda, perguntei ao 
presidente Clinton quem eram seus piores inimigos. Sem hesitar, o presidente 
respondeu: “a extrema direita fundamentalista’ (FUENTES, 2004, p. 25).
As complexas relações entre México e Estados Unidos também foram objeto de discussões no início 
do século XX, sendo que em 2001 indicava Carlos Fuentes que Vicente Fox, presidente mexicano, e 
George W. Bush se encontraram em Guanajuato, no México, para discutir quatro pontos, a saber: drogas, 
trabalho, comércio e energia.
Por ocasião da reafirmação de seus princípios, Bush e seu o procurador geral John Ashcroft tomaram 
medidas para combater o terror, a saber,
– Criação de tribunais militares secretos para julgar e condenaras 
pessoas suspeitas de ser, poder ser ou querer ser terroristas.
– Faculdade arbitrária do executivo para decidir quem vai ser julgado 
pelos tribunais ad hoc.
– Celebração de julgamentos secretos em alto‑mar ou em bases 
militares como Guantánamo, em Cuba.
– Abolição de jurados e sua substituição por comissões de oficiais das 
forças armadas.
– Supressão do direito do acusado de se comunicar com seus advogados.
– Revogação do princípio de que toda pessoa é inocente até prova em 
contrário, em favor do princípio de culpabilidade e, em consequência, 
da responsabilidade do acusado em provar que é inocente.
– Advogados defensores impostos pelo tribunal, sem consulta do acusado.
– O acusado e seus advogados não terão acesso aos documentos da 
acusação.
– A culpabilidade não exigirá, como estabelece o direito vigente, provas 
“além de qualquer dúvida razoável”.
168
Unidade III
– Bastará a decisão majoritária e discricional dos juízes militares.
– Não haverá direito a apelações (FUENTES, 2004, p. 62‑3).
Fuentes alega que
Apesar de todas as salvaguardas, [...] o governo de Bush Jr. diz não. E o faz 
para afirmar que os EUA não estão sujeitos a nenhuma lei ou jurisdição 
superior aos próprios EUA. Paradoxo dos paradoxos: na era da globalização, 
quando se celebra ou lamenta, conforme o caso, a morte das soberanias 
nacionais, a potência máxima do mundo afirma sua própria soberania em 
grau sem precedentes, pelo menos, desde a época do Império Romano. Sem 
poderes limitantes ou equilíbrios potenciais, os Estados Unidos dizem ao 
mundo: minha soberania é inviolável, a sua não. Ou seja, neste mundo existe 
uma regra para os EUA, e outra para os demais países (FUENTES, 2004, p. 83).
Afirma o mesmo autor que Bush é um “tratadicida” (FUENTES, 2004, p. 84), ficando evidente o tom 
das acusações. Não significa que ao relacioná‑las aqui estejamos corroborando com todos os pontos 
ressaltados, mesmo porque o fundamental é seu olhar crítico. Lembra Fuentes que na administração que 
chama de Bush Jr. os Estados Unidos ficaram contra o Tratado de Kioto e a favor das emissões nocivas 
de gases. Contra o Protocolo sobre Armas Nucleares. Contra o Tratado de Experiências Nucleares. Contra 
o Tratado de Minas Antipessoais. A favor da exploração petrolífera em zonas ecológicas do Alasca. E a 
favor de medidas protecionistas do aço e dos gigantescos subsídios à agricultura.
Exemplo de aplicação
Você consegue relacionar as discussões ecológicas presentes no início do século XXI em relação ao 
desmatamento, poluição e esgotamento de recursos hídricos – além de problemas de planejamento e 
infraestrutura, com as questões apresentadas em conferências ambientais internacionais, tais como a 
ECO‑1992?
Mencionamos, ainda, as mais recentes alterações em termos de política externa nas Américas quando 
por ocasião da Cúpula das Américas, em 2014, no Panamá, a imprensa especializada pôde noticiar um 
gesto que simboliza uma sensível alteração das relações entre Estados Unidos e Cuba quando seus 
chefes de Estados – Barack Obama e Raul Castro – apareceram juntos em um cumprimento que, de 
alguma maneira, acena para novas relações para o século XXI.
7.6.1 Estados Unidos e o início da era Trump – 2017
O final da era Obama foi marcado pela eleição, em 2016, do Republicano de Donald Trump, 
derrotando a candidata democrata e ex‑primeira dama, Hillary Clinton – candidatura que sucederia a 
Obama, que não podia concorrer a um terceiro mandato. A eleição foi muito discutida, pois o sistema 
norte‑americano é bastante diferente do brasileiro, uma vez que Hillary Clinton obteve mais votos entre 
a população, mas como não venceu no colégio eleitoral não ficou com o cargo.
169
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
No Brasil, na Nova República, não temos eleições por colégio eleitoral. 
O último caso recente foi a eleição indireta de Tancredo Neves, derrotando 
Paulo Maluf, em 1984, para o primeiro mandato pós‑Ditadura Cívico Militar 
(1964‑1985), mas com a morte de Tancredo Neves o cargo ficou com José 
Sarney. Sobre isso, indicamos dois filmes:
O PACIENTE: o caso Tancredo Neves. Direção: Sérgio Resende. Brasil: 
Globo Filmes, 2018. 100 min.
TANCREDO: a travessia. Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2011. 104 min.
Em sua campanha, Trump adotou como slogan “Make America Great Again!” (Torne a América Grande 
Novamente!), e estruturou suas propostas como a antítese da era Obama, prometendo retirar o país de 
acordo internacionais relacionados à proteção ambiental, tornar mais rigorosa a política anti‑imigração 
– tendo como ponto mais famoso e controverso a construção de um muro entre os Estados Unidos e 
o México, custeado pelos próprios mexicanos. O governo Trump tem sido marcado na política externa 
por debates relacionados a tarifas e aumento de taxas externas, rivalizando muitas vezes com a nova 
potência emergente no início do Terceiro Milênio e, também, no século XXI – a China. Na política interna, 
em dezembro de 2019 foi processado e teve encaminhado o seu pedido de impeachment – aprovado 
pela Câmara dos Representantes (semelhante à Câmara dos Deputados no Brasil), mas absolvido pelo 
Senado, o que encerrou o caso.
Podemos considerar que a história da América Contemporânea ganha complexidade à medida que 
chega cada vez mais próxima de nossa época. Isso equivale a dizer que é preciso desenvolver cada 
vez mais a capacidade de analisar criticamente as informações que circulam, as produções da grande 
imprensa e mesmo de diversas áreas culturais. Se a chamada era Trump começa envolvida em grandes 
discussões, beirando crises, é sinal de que novos tempos se anunciam. Não se está dizendo com isso que 
são tempos de grandes rupturas ou calamidades, mas que é importante ter o olhar atento para todas as 
referências que são produzidas e que podem influenciar nossa maneira de pensar e entender o mundo.
Se a Era Trump se inicia com o debate sobre uma possível crise na globalização – marcada na Europa 
pela saída da Inglaterra da União Europeia, naquilo que se convencionou, na grande imprensa, chamar 
de Brexit (vocábulo formado pela junção das palavras inglesas Britain e exit, que juntas formam a 
ideia de saída britânica) – antes mesmo da eleição de Trump –, muitos outros temas aparecem na 
ordem do dia.
A promessa de construção de um muro na fronteira com o México visando impedir a entrada 
de imigrantes, tidos como ilegais, as ações contrárias à entrada de muçulmanos no país, as disputas 
comerciais com a China e a saída de tratados internacionais de proteção ambiental são ações que 
reiteram um dos grandes lemas de campanha de Trump: a América em primeiro lugar.
170
Unidade III
É curiosa essa crise e os ataques à globalização, pois esta teve como um de seus motores os EUA, 
com a implementação do neoliberalismo do governo de Ronald Reagan. Na atualidade, o debate sobre o 
desemprego intensifica‑se e discussões nacionalistas e xenofóbicas têm marcado presença nos debates 
e na mídia, principalmente, com a presença cada vez mais intensa da imigração.
 Saiba mais
Para conhecimentos adicionais a respeito da produção cultural e da 
construção do imaginário norte‑americano sobre a crise no mundo do 
trabalho e o impacto das relações entre os norte‑americanos e os chineses, 
indicamos o filme:
INDÚSTRIA americana. Direção: Steven Bognar; Julia Reichert. EUA: 
Higher Ground Productions, 2019. 110 min.
E sobre o ano final da era Obama, indicamos:
THE final year. Direção: Greg Barker. EUA: Motto Pictures, 2017. 89 min.
7.6.2 América: território de tensões e enormes possiblidades nos anos iniciais da 
década de 2020
Para trazer aqui a diversidade das questões que envolvem os povos e países americanos no início 
do século XXI, podemos mencionar as muitas dificuldades enfrentadas pelo governo venezuelano de 
Nicolás Maduro, desde 2013, ou ainda a polarização de projetos políticos e de sociedade que envolveu 
a Argentina em 2019, quando nas eleições presidenciais, Alberto Fernández, e sua vice CristinaKirchner, 
derrotaram o então presidente Mauricio Macri – representando o retorno ao cenário político da velha 
referência argentina ao peronismo O partido de Fernández é o Partido Justicialista (PJ), que lançou em 
sua posse o programa Argentina sem Fome.
Em termos de relações internacionais, o quadro é de incertezas, pois o destino do Mercosul é 
uma grande incógnita, considerando que é formado pelo Brasil, pela Argentina, pelo Paraguai, pelo 
Uruguai e pela suspensa Venezuela – que enfrenta internamente um quadro de oposição ao presidente 
e de crise humanitária. Vale ressaltar que muitas possibilidades estão em aberto, alternativas que 
envolvem a superpotência mundial – Estados Unidos, passando por países como o Brasil e chegando 
aos vizinhos argentinos.
7.7 Colômbia e o narcotráfico
Um caso emblemático à ação dos Estados Unidos na América Latina é a história recente da 
Colômbia com a enorme violência que a assolou nos anos de 1980 e 1990 em função do narcotráfico. 
A estruturação de cartéis de drogas ganhou notoriedade internacional, tal como o Cartel de Cali e o 
Cartel de Medellín – comandado por Pablo Escobar, morto pela polícia do país em 1993. Atentados 
a bomba, grupos paramilitares, sequestros e assassinato de candidatos presidenciáveis, tornando a 
171
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
situação crítica em 1989 com a morte de três candidatos. Entre 1994 e 1998, o país foi comandado 
pelo presidente Ernesto Samper, que não conseguiu reverter o quadro de enorme instabilidade interna e 
ainda seria acusado de receber dinheiro do narcotráfico e não acatou as pressões de ceder aos Estados 
Unidos no combate às drogas.
 Saiba mais
Para saber mais leia:
MÁRQUEZ, G. G. Notícia de um sequestro. São Paulo: Record, 1996.
E para aprofundar a leitura:
SILVA, K. C. Análise discursiva de “Notícia de um sequestro”, de Gabriel 
García Márquez: na fronteira entre o Jornalismo e a Literatura. 2007. 
Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Minas Gerais, 
Belo Horizonte, 2007.
Entre 1998 e 2002 o quadro geral começou a ser alterado quando Andrés Pastrana Arango consegue 
iniciar acordos com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ativas desde a década de 
1964 como uma guerrilha de origem marxista). No final de seu governo aproxima‑se dos Estados Unidos, 
e daí nasceu o chamado Plano Colômbia, segundo o qual a Colômbia recebeu enormes somas – na casa 
de um bilhão de dólares – e também treinamento para forças militares para o combate ao narcotráfico. 
Os conservadores estavam ganhando espaço na política interna pelo combate às drogas e com o seu 
sucessor Álvaro Uribe, que é eleito com a promessa de intensificar essa luta naquilo que foi chamado de 
“segurança democrática”.
a segurança da lei e da ordem sem prejuízo das liberdades democráticas, 
mas a sua tomada de posse foi assinalada por explosões em Bogotá, das 
quais resultaram 20 vítimas mortais. Uribe, cujo pai foi assassinado pelas 
FARC, estava determinado a desmantelar as guerrilhas e declarou estado de 
emergência (WILLIAMSON, 2012, p. 607).
A enorme comoção popular com as mortes e sequestros fortalecia Uribe, que consegue do Congresso 
a autorização para o segundo mandato e
Em face da crescente indignação pública com o interminável problema da 
tomada de reféns pelas guerrilhas – em julho de 2007 ocorreram manifestações 
nas ruas contra os raptos e a violência – Uribe tentou desmantelar as forças 
paramilitares de direita e entrou em complexas negociações com as FARC 
para trocar reféns por guerrilheiros presos. O presidente venezuelano, Hugo 
Chávez, mediou estas conversações durante algum tempo, mas sua postura 
branda com a guerrilha criou tensões com Uribe (WILLIAMSON, 2012, p. 607).
172
Unidade III
O governo federal intensificou o combate às FARC e, em 2008, o líder fundador do grupo, Pedro 
Antonio Marín, conhecido como “Tirofijo”, foi morto por uma ação oficial. Depois disso, as ações do 
governo passaram a ser mais de inteligência e infiltrações e este consegue libertar reféns antigos e 
notórios, tal como Ingrid Betancourt, mantida em cativeiro por seis anos. Tendo aprovado a possibilidade 
de um segundo mandato em um forte clima de acusações de compra de votos no Congresso para 
conseguir a aprovação dessa medida, Uribe chegou a propor um referendo para um terceiro mandato, 
que inicialmente foi permitido pelo Senado, mas, mesmo que aparentemente o povo estavesse a favor, 
o Judiciário vetou a decisão.
Narcotráfico, guerrilhas, grupos paramilitares e as Forças Armadas do governo 
são os personagens principais da realidade colombiana de hoje e integram, 
frequentemente, as manchetes dos noticiários de televisão, rádio e jornais 
impressos no país e no mundo. Enquanto esses vários grupos disputam o 
poder, a população colombiana convive com carências de serviços básicos 
e a ameaça constante da violência, o que revela uma realidade que mais se 
parece com literatura fantástica. Gabriel García Márquez faz um recorte da 
realidade colombiana, em meados da década de 1990, em “Notícia de um 
sequestro”: a verdade é que o país estava encerrado em um círculo infernal. 
Por um lado, os extraditáveis se negavam a entregar‑se ou a moderar a 
violência, porque a polícia não lhes dava trégua. Escobar havia denunciado 
por todos os meios que a polícia entrava a qualquer hora nas comunidades 
de Medellín, pegava dez menores ao acaso e os fuzilava sem maiores 
averiguações em botequins e descampados. [...]. Os terroristas também não 
davam trégua nas matanças às traições de policiais nem nos atentados e 
sequestros. Por seu lado, os movimentos guerrilheiros mais antigos e fortes, 
o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias 
(FARCs) acabavam de responder com todo o tipo de atos terroristas à 
primeira proposta de paz do governo de César Gavíria (MÁRQUEZ, 1996, 
p.144 apud SILVA, 2007. p. 26).
O Plano Colômbia representou, assim, um esforço de sobrevivência do governo para conseguir 
estruturar suas instituições, pois, do contrário, sofria sérios riscos de desaparecer.
 Saiba mais
Para saber mais sobre o Plano Colômbia e outros temas da América 
Latina Contemporânea, recomendamos:
SADER, E. et al. Latinoamericana. Enciclopédia Contemporânea da 
América Latina e do Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006.
173
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
7.8 Venezuela e Chávez
Ainda tratando da mesma região e lembrando o antagonismo entre Uribe e Hugo Chávez, fazemos 
referência aqui à Venezuela. A partir do momento em que o governo de Carlos Andrés Pérez, da Acción 
Democrática, retorna ao poder e alinha‑se às medidas neoliberais ditadas pelo Fundo Monetário 
Internacional (FMI), provoca uma explosão popular de manifestações contrárias que sofrem forte 
repressão do Exército,
A capital foi varrida por uma onda de motins e pilhagens – um episódio 
que ficou conhecido como Caracazo – que não tardou a alastrar a outras 
cidades. [...] Dois anos após o Caracazo, um grupo de jovens oficiais do 
Exército, chefiado por Hugo Chávez, tentou um golpe contra Pérez. Tinham 
formado o Movimento Revolucionário Bolivariano, inspirados pela revolução 
socialista das forças armadas do Peru nos anos 1970, e também pelo ideal de 
Simón Bolívar de uma união continental dos Estados hispano‑americanos 
(WILLIAMSON, 2012, p. 608).
Apesar do esforço para chegar ao poder, o movimento fracassou e Chávez acabou preso por quase 
dois anos. Vale enfatizar que seus companheiros continuavam ativos na oposição ao governo de Carlos 
Andres Perez. Conforme aponta Williansom (2012), o presidente Perez foi impugnado por corrupção e 
preso em 1994. A inflação subiu e as reações à austeridade se intensificaram. Em 1998, Chávez foi eleito 
com 56% dos votos. A promessa da Revolução Bolivariana assusta setores mais conservadores que, 
na visão dos bolivarianos, seriam uma oligarquia perdulária e corrupta que simplesmente esbanjava e 
dilapidava os enormes recursos petrolíferos do país em seu benefício próprio,enquanto milhões estavam 
na indigência.
Figura 51 – Venezuela: Simón Bolívar e Hugo Chávez
Disponível em: https://bit.ly/3zynuEV. Acesso em: 16 jun. 2022.
A mística construída em torno de Bolívar foi fundamental para a sobrevivência do movimento e, 
em 1999, um referendo constata que 88% da população era favorável a uma nova constituição. Os 
chavistas conquistaram 119 das 131 cadeiras no Congresso Nacional – o produto final também passou 
por um referendo e 71% da população aprovou a constituição eminentemente contrária aos interesses 
das antigas oligarquias do país.
174
Unidade III
Uma inovação importante – na Venezuela e, de um modo geral, também 
na América Latina – era a atribuição de três lugares aos representantes 
eleitos dos povos indígenas, dos quais existiam 26 grupos étnicos distintos, 
correspondendo a 1,4% da população. [...] A constituição de 1999 também 
criou uma comissão eleitoral independente e um novo órgão governativo 
designado “Poder Cidadão”, dirigido por um Conselho Moral Republicano 
de três elementos [...]. Em 2000, Chávez candidatou‑se à reeleição, como a 
sua nova constituição lhe permitia fazer, e voltou a vencer, com 59% dos 
votos, tendo os seus apoiantes obtido 55% dos lugares na recém‑formada 
Assembleia Nacional (WILLIAMSON, 2012, p. 610).
O discurso bolivariano foi estruturado inserindo os setores historicamente excluídos da Venezuela 
e em torno do combate às antigas oligarquias – buscando reformas na educação, na estrutura agrária e 
principalmente, no setor petrolífero – com a PDVSA (leia‑se pedevesa, que é a Petróleos de Venezuela 
S.A.). A principal reação ao chavismo explode em 11 de 2002 com golpe contra Chávez no qual ele 
foi derrubado e reinstalado no poder. A crise atinge o setor petrolífero que entrou em greve e, para 
legitimar um afastamento de Chávez, a oposição conseguiu a realização de um referendo para que 
Chávez deixasse a presidência, mas ele venceu em agosto de 2004 e permaneceu, com respaldo popular 
na condição de mandatário do país.
 Saiba mais
Para conhecer mais sobre o contexto e do que estava envolvido, 
recomendamos o documentário:
A REVOLUÇÃO não será televisionada. Direção: Kim Bartley; Donnacha 
O’Briain. Irlanda, 2003. 74 min.
Os constantes confrontos para derrubar o presidente contribuíram para a retórica chavista 
do “socialismo do século XXI”, com sua democracia “proativa e participativa”, por meio de comitês 
populares e com o Partido Socialista Unido da Venezuela. Cooperativas de trabalhadores foram criadas, 
supermercados subsidiados pelo governo, programas educativos se espalharam e chegaram às favelas 
(“bairros de lata”, no livro de Williamson) e na Misión Barrio Adentro, serviços de saúde gratuitos são 
oferecidos por médicos e dentistas cubanos. A Venezuela, oficialmente se chama República Bolivariana 
da Venezuela e sob o governo Chávez articula uma aliança pró‑Cuba, aproximando‑se da Bolívia, do 
Equador, de Honduras, do Paraguai, da Argentina – formando o bloco chamado de ALBA – e no governo 
de Lula, do Brasil. Em termos internacionais, o ponto alto é o combate às ações internacionais de Bush 
no Iraque – caracterizadas como Imperialismo, de acordo com Williamson (2012).
Sob o comando de Chávez, a economia tornou‑se cada vez mais dependente das exportações de 
petróleo e isso tem causado problemas frente às oscilações de preços internacionais pois, em julho 
de 2008 era de U$122 e, em começo de 2009, caiu para U$40. Apesar de negado em 2007, o projeto 
175
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
de reeleição indeterminada foi reapresentado em 2009 e aprovado com 54% dos votos. Na análise de 
Williamson (2012), percebe‑se que Chávez havia encontrado uma maneira de neutralizar os opositores 
liberais utilizando suas próprias normas, ou seja, eleições livres e referendos, sendo que o eleitorado 
votou nada menos do que 15 vezes entre 1998 e 2009.
O quadro geral latino‑americano de princípios do século XXI estava pendendo para os setores mais 
populares como, por exemplo, o Movimento Cocaleiro na Bolívia, que alçou à presidência Evo Morales, ou 
as constantes manifestações de populações de origem indígena no Equador – de forma geral podemos 
observar que existe uma valorização da identidade indígena e de participação popular, sendo isso muito 
recente se a permissão de voto aos indígenas – final da década de 1970 e início de 1980.
A aproximação bolivariana do regime socialista de Cuba tem provocado a oposição ferrenha dos 
setores mais liberais da Venezuela, e a crise se tornou mais aguda com a doença e morte de seu líder, 
Hugo Chávez, em 2013, quando a oposição ao sucessor Nicolás Maduro volta a se estruturar em torno 
de Capriles, derrotado politicamente em seu antichavismo.
Vale lembrar que a grande imprensa latino‑americana, o que inclui o Brasil, taxou o governo de 
Chávez, de 1999 a 2013, de ditadura populista, mas é fundamental questionar de que forma isso se 
sustenta uma vez que o projeto bolivariano, além de seus aspectos sociais, encerrou um domínio político 
de três partidos que durou mais de 40 anos, após o final da ditadura de Pérez Jiménez – acordo conhecido 
como Pacto de Punto Fijo, firmado em 1958.
7.9 Movimentos sociais e culturais nas Américas
Apesar da construção midiática se desenvolver, em grande medida, em torno das ideias de consenso 
e progresso no que diz respeito à globalização, estudos mais criteriosos se desenvolveram a partir das 
recorrentes manifestações contrárias à globalização. As revoltas e protestos que são cada vez mais 
frequentes, além da ocorrência do Fórum Social Mundial, demonstram que é falsa a ideia largamente 
difundida de benefícios a todos e de aceitação dos rumos do neoliberalismo benéfico a todos.
“O brasileiro tem alma de cachorro de batalhão; aparece uma palavra nova 
e sai todo mundo atrás”. A frase de Nelson Rodrigues descreve exatamente 
o que aconteceu com a globalização. O assunto virou uma verdadeira 
mania nacional. A atitude varia do encantamento ao pânico, do fascínio à 
repulsa. Mas há um quase consenso de que se trata de um debate altamente 
prioritário (HIRST, 1998, p. 9).
E com tamanha acidez desconfortante prossegue,
Em um país como o nosso, ainda marcado pelas inibições e hábitos mentais 
do período colonial, a ampla difusão de avaliações extravagantes sobre a 
suposta “globalização” ou “mundialização”, da economia tem produzido 
estragos consideráveis. A qualidade do debate tem deixado muito a desejar. 
Nunca tantos disseram tanta bobagem em tão pouco tempo. Segundo 
176
Unidade III
as versões mais exaltadas, estaríamos indefesos diante de movimentos 
irreversíveis e forças internacionais avassaladoras. Aos Estados nacionais, 
especialmente na periferia subdesenvolvida, só restaria a submissão e a 
aceitação passiva de um processo inexorável de desenvolvimento das forças 
produtivas em escala global (HIRST, 1998, p.16‑17).
 Saiba mais
Recomendamos consultar o verbete movimentos sociais do seguinte livro:
SADER, E. et al. Latinoamericana. Enciclopédia Contemporânea da 
América Latina e do Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006.
7.9.1 Movimentos sociais contra-hegemônicos
A partir de 1999, ocorreu uma intensificação das críticas que passaram a explodir em manifestações 
antiglobalização e, dentre outros aspectos, se dá ênfase à tentativa de quebrar o silêncio da grande 
mídia em manifestações na cidade de Seattle e outras, passando por Gênova em 2001, protestos contra 
a Alca, contra a Guerra do Iraque, passando por Porto Alegre e a noção desenvolvida por Milton Santos 
da necessidade de uma outra globalização, contra uma globalização vista como perversa. A noção de 
globalização feita “por baixo” ou ainda o combate ao slogan neoliberal de Margareth Thatcher “There is 
no alternative”, produziram outros olhares e estratégias de ação.
De acordo com Martins, frente às grandes mudanças e às crescentes contestações,
vivemos numa época de grandes incertezas e uma enorme aceleração do 
tempo histórico. Mais do que nunca parecemvivas as palavras de Marx de 
que “tudo que é sólido se desmancha no ar”. A integração da economia 
mundial se intensifica e, com ela, o choque entre as forças sociais, políticas 
e ideológicas, provocando resultados inesperados. Captar o movimento da 
crescente articulação entre o global e as particularidades regionais, nacionais 
e locais é um dos maiores desafios das Ciências Sociais contemporâneas. 
O fin de siècle definitivamente se foi e, com ele, o fim da história. Emerge 
com a força da vida, mesmo ao olhar menos atento, um mundo paradoxal: 
decadente e intenso, apático e vital, ordenado e caótico, privado e público, 
violento e pacífico, de ódios e esperanças, de indiferenças e memória, de 
anonimatos e identidades. Mapear suas forças dinâmicas e as encruzilhadas 
que se apresentam permite não apenas a compreensão de uma realidade 
de aparente non sense, mas iluminar a intervenção social e política para 
tornar possível imprimir na realidade o selo de nossos desejos (MARTINS, 
2011, p. 11).
177
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Assim, para o autor, o movimento de globalização do capital, das mídias e das tecnologias abre de 
alguma maneira uma série de possibilidades. A menção direta à era da insegurança e os pares opostos 
ajudam a dar a dimensão das incertezas sem, contudo, impossibilitar alternativas.
Quando se trata da globalização nos discursos midiáticos, do senso comum e mesmo em ambientes 
de discussões acadêmicas, não é raro as pessoas serem taxativas. No entanto, podemos lembrar que 
diversas outras crenças do passado que, em sua época, pareciam eternas e imutáveis, hoje estão bem 
distante de nossa vivência história. E como ser diferente se as sociedades se modificam constantemente 
pois os homens se modificam constantemente?
Devemos ressaltar que, apesar do movimento da globalização ter fortes características econômicas, 
essa não é a única dimensão do real que afeta a vida das pessoas. O trabalho e as relações sociais se 
modificaram desde a década de 1970 e o final do século XX e início do XXI são tempos de incertezas e 
de possibilidades.
Consideramos que existe recentemente um movimento de aumento da massa crítica e da preocupação 
com o envolvimento de diversas sociedades no sentido de perceber como globalização efetivamente 
afeta a vida das pessoas.
Ressaltamos que é fundamental perceber discordâncias e a necessidade de se criar categorias 
que possam dar conta dos fenômenos que se nos apresentam e também funcionar como aspectos 
propositivos sempre tendo como horizonte aquilo que para Fernando seria a função mais importante de 
se estudar história. Vale dizer, que a função seria desconstruir mitos e não contribuir para sua afirmação. 
Em suas palavras, “conhecer o passado é a única maneira de nos libertarmos dele, isto é, destruir os seus 
mitos” (NOVAIS, 1985, contracapa).
 Saiba mais
Para desenvolver esse olhar, sugerimos a leitura de
LOPES, M. A. (org.). Fernand Braudel: tempo e história. Rio de Janeiro: 
FGV, 2008. p. 184.
SANTOS, A. S. O tempo e a história em torno de Fernand Braudel. História 
da Historiografia, Ouro Preto, n. 7, p. 305‑311, out./nov. 2011. Disponível 
em: https://bit.ly/3b3K4Ly. Acesso em: 16 jun. 2022.
Ressaltamos aqui a importância de dominar as noções de globalização e neoliberalismo como forma 
de aprofundar a percepção dos eventos que nos cercam no dia a dia. Nossa intenção é criar subsídios 
para que tenhamos a capacidade de estabelecer diálogos relevantes em sala de aula, elencamos aqui 
alguns dos movimentos mais recentes ocorridos no Brasil e nas Américas que podem dar elementos para 
que os alunos percebam a História não como algo distante e abstrato e sim como parte de suas vivências 
e também como elementos que influenciam mais ou menos seu dia a dia.
178
Unidade III
Tratando dos movimentos antiglobalização, Breno Bringel e Enara Echart Muñoz produziram um texto 
chamado “Dez anos de Seattle”, o movimento antiglobalização e a ação coletiva transnacional, em 2010,
Em primeiro lugar, sua enorme heterogeneidade derivada da união de 
amplos setores da esquerda (política e social) e de diversas lutas (geradoras 
de eixos temáticos que conformam o movimento antiglobalização); em 
segundo lugar, o caráter espetacular de seu repertório de ações coletivas 
(o que contribuiu para a sua inclusão na agenda midiática) que se articula 
entre o pacifismo, os vários tipos de ação direta, as estratégias de inovação 
cultural e a resistência ativa, entre outras; em terceiro, a utilização das novas 
Tecnologias de Informação e Comunicação, com iniciativas que surgem 
desde Seattle como Indymedia, passando pelo media center de Gênova 
ou os diferentes canais de contra‑informação, os quais se constituíram 
em ferramentas‑chave em todo o mundo para canalizar a informação 
contada pelos próprios movimentos sociais, mas que também funcionam 
como instrumentos de participação, mobilização e criação de identidade; 
em quarto lugar, a horizontalidade como forma de organização política, a 
partir de um sistema de tomada de decisões de caráter assembleário e por 
consenso, desvinculado do centralismo, das fortes hierarquias e da lógica 
da representatividade, e uma estrutura organizativa descentralizada em 
forma de redes; em quinto lugar, a presença de uma conexão glocal, cujo 
lema pensar globalmente, atuar localmente funciona como impulsor 
de uma engrenagem que permite identificar a globalização neoliberal 
como causa principal de diversos conflitos locais, com a importância da 
visibilização global dos conflitos e também dos trabalhos de base mais 
invisíveis; finalmente, em sexto lugar, uma radicalidade reivindicativa 
frente a um modelo socioeconômico que se pretendia infalível (BRINGEL; 
MUÑOZ, 2010, p. 29‑30).
A ação desses movimentos, ao desenvolver a noção de glocal coloca as redes de informações não 
mais contra as manifestações, ao contrário, lançando mão delas para poder justamente aparecer e 
ganhar mais adeptos. Considerando que não existe uma coordenação unificada dos movimentos, as 
demandas que aparecem são múltiplas e mais do que isso, as respostas são também variadas.
 Saiba mais
Para desenvolver ainda mais o assunto, propomos a leitura
GIOVANNI, J. R. Seattle, Praga, Gênova: política antiglobalização 
pela experiência da ação de rua. 2007. Dissertação (Mestrado) – FFLCH, 
Departamento de Antropologia, São Paulo, 2007.
Para pensar na efetivação das críticas, assista ao filme:
A BATALHA de Seattle. Direção: Stuart Townsend. França, 2008. 99 min.
179
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Genericamente, os manifestantes são o de “Povo de Seattle”, indicação bastante ampla para as 
diferentes demandas envolvidas.
7.9.1.1 Movimentos sociais contra-hegemônicos: México: Chiapas, EZLN
Para entender de que maneira a globalização e o neoliberalismo acabaram sendo percebido pelas 
populações diretamente envolvidas no processo de liberalização econômica é importante eleger alguns 
dos movimentos que surgiram como respostas estruturadas tal como ocorreu como levante iniciado em 
Chiapas, no mesmo dia em que entrava em vigor o tratado de livre‑comércio entre os Estados Unidos 
(Nafta) a 1º de janeiro de 1994. No caso, nossa referência direta é a eclosão de uma revolta em Chiapas que 
foi sangrentamente reprimida e a considerar os relatos mais vivos e recentes das ações do Exército 
Zapatista de Libertação Nacional.
O Estado de Chiapas, teatro do levantamento, é o mais pobre de um México 
já pobre, com uma população cuja maioria não chega a ganhar dois dólares 
diários. Em 1992, milhares de camponeses indígenas chiapanecos desfilaram 
contra as comemorações oficiais pelos quinhentos anos da colonização 
espanhola em San Cristóbal de las Casas, capital do Estado. A insurreição 
de 1994, contrariamente a uma ideia largamente difundida, não foi uma 
“surpresa”. Desde a década de 1980 diversos “programas sociais” do governo 
mexicano, como o Pronasol, ou dos organismos internacionais, procuravam 
na verdade desativar o que diversosobservadores já chamavam de “bomba 
chiapaneca”, uma “bomba social” de efeito retardado que não demorará a 
explodir. A partir de 1994, uma vasta literatura composta por dezenas de 
livros e centenas de artigos passou a discutir a natureza da luta zapatista e a 
sua projeção atual, nem sempre com uma posição simpática ao movimento 
(ARELLANO, 2002, p. 9).
No entanto, a grande mídia ignora os acontecimentos em Chiapas e o movimento ganhou repercussão 
internacional principalmente pela instrumentalização de ferramentas ligadas à internet. Ao contrário do 
discurso oficial da época, as denúncias de execuções e forte repressão puderam assim romper a muralha 
da opinião oficial.
Em dezembro de 1997, o massacre de Acteal punha em evidência a falência 
da “saída dialogada” para a crise mexicana. Em 1999, a luta estudantil 
maciça na capital mexicana testemunhava a entrada em cena de uma nova 
geração de lutadores (ARELLANO, 2002, p. 10).
Diferentemente de outros movimentos de contestação, na mobilização em Chiapas,
Há algo novo que não encontramos em levantes anteriores. Não buscam 
apenas mudanças locais ou regionais para si mesmos, mas exigem também 
uma transformação da vida nacional. Por isso, anunciam: “Tudo para todos, 
nada para nós”. Tampouco querem o poder para eles mesmos, mas chamam 
a “sociedade civil inteira para participar na transformação democrática da 
180
Unidade III
vida nacional. [...] pelos artigos de intelectuais mexicanos (a maior 
parte de artistas e intelectuais estão em torno desse movimento), 
podemos aprender como essa força insurgente, de caráter indígena 
pluriétnico e de identidade zapatista, foi reconhecida por lei na sua 
realidade e nas causas da sua revolução. [...] Na proposta indígena e 
na do EZLN [Exército Zapatista de Libertação Nacional], a autoridade, o 
poder, a comunidade têm outro significado. Por isso, “a experiência de 
centenas de anos mostra”, diz Luiz Hernández Navarro, que “a luta pela 
terra, pela apropriação do projeto produtivo, pelo bem‑estar social e 
a defesa dos direitos humanos é insuficiente e limitada se não se luta 
pela modificação das relações de poder que possibilite a participação 
dos próprios indígenas e da sociedade no seu conjunto na solução dos 
problemas e na construção de uma pátria menos injusta” (ARELLANO, 
2002, p. 13‑5).
A estratégia de mobilização social para a sobrevivência das populações locais e também da 
própria luta acabou resultando em atos que ganharam significado e apoio internacionais. E com 
essa intensa mobilização, as discussões se intensificam e a propaganda do movimento também. 
As filmagens dos eventos e das ações ganharam o mundo e se transformaram, inclusive em um 
documentário da marcha até chegarem ao Zócalo da Cidade do México em 1997, chamados Marcos, 
estamos aqui.
 Saiba mais
Para saber mais, assista ao documentário:
MEMÓRIAS Cubanas: Marcos, estamos aqui. Direção: Gianni Minà. Cuba,
2007. 72 min.
As raízes da mobilização social chiapaneca podem, em alguma medida, ser localizadas com a 
presença de um movimento intenso de organização popular desde a década de 1960 e ao mesmo 
tempo, de forte e violenta repressão das forças da “ordem”. Pesquisando as origens do Movimento 
Zapatista, Igor Andreo afirma que
Segundo o Subcomandante Insurgente Marcos, em entrevista concedida a 
Yvon Le Bot, a origem do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) 
remonta à chegada ao estado mexicano de Chiapas, no princípio da década 
de 1970, de um grupo urbano, marcado por um ideário marxista‑leninista. A 
maior parte das múltiplas e dissonantes interpretações sobre as origens do 
EZLN coincidem em afirmar que este grupo urbano consistia em uma célula 
das Fuerzas de Liberación Nacional (FLN). Fundada em 1969, a FLN era um 
grupo político militar partidário às características da Revolução Cubana e 
marcado por sua forma rígida de recrutamento, pela não utilização de táticas 
de assalto e sequestro e por sua discrição e paciência (ANDREO, 2013, p. 31).
181
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
O movimento resiste até princípios da década de 1980 quando parte dele se interna na Selva 
Lacandona, no estado de Chiapas, e lá se desenvolve o EZLN com características um pouco diversas das 
práticas da FLN. A própria estratégia de mobilização também via internet na década de 1990 é um traço 
distintivo, sendo inclusive possível acessar na rede mundial de redes de computadores, as declarações 
do EZLN e do Subcomandante Marcos.
Igor Andreo aponta a dimensão política e cultural em seus aspectos sociais num México repleto de 
questões ligadas à terra que explodiram em revoltas, revoluções e constantes conflitos entre camponeses, 
proprietários e forças governamentais no século XX. Andreo, sinaliza que
No México, o ejido, em linhas gerais, constitui‑se como uma forma jurídica da 
posse da terra, cuja propriedade pertence ao Estado, que fornece o usufruto 
coletivo a agrupamentos campesinos comunitários e com autoridades 
locais reconhecidas legalmente. A exploração coletiva da terra era uma 
prática comum na Mesoamérica no período do domínio da Confederação 
Mexicana, que foi apropriada pelos espanhóis, sendo substituída pelo 
sistema de encomiendas. Paulatinamente o sistema de encomiendas foi 
desaparecendo frente a outras formas de posse e exploração da terra, mas 
somente foi abolido legalmente e por completo em território mexicano com 
a Constituição de 1917, sob a promessa de restabelecer o sistema de ejidos, 
que foi concretizado, ao menos parcialmente, apenas com a reforma agrária 
conduzida pelo presidente Lázaro Cárdenas a partir de 1934. Em 1960, 23% 
das terras cultivadas no México eram ejidos. Em 1992, o então presidente 
Carlos Salinas de Gortari promulgou reformas legais que acabavam com o 
direito legal à reforma agrária (conquistado com a Constituição de 1917) 
e regularizavam a posse fundiária dos ejidos por meio do Programa de 
Certificación de Derechos Ejidales y Titulación de Solares (Procede), que 
concedia títulos de direitos parcelares a cada ejidatário particular, o que os 
convertia em micro‑proprietários com direitos de uso e aproveitamento da 
parcela atribuída (ANDREO, 2013, p. 58).
Podemos indicar que uma grave questão para a sociedade mexicana é o problema das terras e 
recentemente da transformação da terra em valor capitalista e não em meio de vida coletivo – como era 
tratada tradicionalmente. O combate oficial às formas tradicionais de organização comunitárias resvalou 
na questão do indigenismo na sociedade mexicana sendo que muitos defenderam a integração do indígena 
de forma a dissolver seus traços particulares num esforço que certamente é uma afronta à sua cultura pois,
O período de 1940 a 1970 caracterizou‑se pelo refluxo das mobilizações 
indígenas surgidas no sexênio de Lázaro Cárdenas e, desde a década de 
1940, por uma efetiva colocação em prática, por intermédio do ‘Instituto 
Nacional Indigenista’ (INI), das políticas indigenistas: o indigenismo é 
um movimento generoso que tratou de redimir os índios, elevando sua 
forma de vida. Mas interpretou sua “redenção” como uma integração na 
cultura nacional dominante, criollo e mestiça, por meio do abandono, [...] 
182
Unidade III
paulatino, do que constituía sua diferença (VILLORO, 2002, p. 174 apud 
ANDREO, 2013, p. 61).
E buscando delimitar a questão da terra Andreo avalia que,
O estado de Chiapas possui 77.500 km2 e, na década 1960, contava com 
aproximadamente 1.200.000 habitantes, sendo 400.000 indígenas, dentre 
os quais cerca de 250.000 eram tzeltales, tojolabales, tzotziles ou choles. 
(a) [...] concepção agrarista prevalecente na Constituição Nacional, que 
considera os direitos dos camponeses [...] mas não os direitos dos indígenas 
como comunidades. Ao não considerar na legislação o status legal 
diferencial das comunidades indígenas, nenhum direito coletivo histórico 
e territorial pode ser legalmente reclamado (VOS, 2002, p.135‑182 apud 
ANDREO, 2013, p. 64).
A essa vertente, digamos que territoriale indígena, da explicação sobre o movimento de Chiapas, passa‑se 
ao que é o cerne da discussão de Igor Andreo, vale dizer, a influência que o Bispo de Chiapas, Samuel Ruiz 
García, que posteriormente à sua chegada à San Cristóbal de Las Casas, aderiu à Teologia da Libertação 
atuando de forma enfática e decisiva na defesa dos povos da região. Nas palavras do próprio Samuel 
Ruiz García,
A evangelização tal como se estava levando a cabo no continente, era 
simplesmente uma destruição de culturas e uma ação dominadora. [...] 
Então, que coisa era evangelizar? (ANDREO, 2013, p. 69).
A Teologia da Libertação, ou para alguns, Cristianismo da Libertação, tem seus fundamentos no 
Concílio Vaticano II, em 1962, também conhecido como XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica – se 
estendendo até 1965. Não existe unanimidade quanto ao nascimento das discussões sociais que se 
envolveram na religião um a vez que alguns autores preferem o protagonismo de setores estudantis 
e também de populações excluídas politicamente e também miseráveis a consideram como obra de 
membros do alto clero católico.
Ao sublinhar que a Igreja é o Povo de Deus na história e que somos chamados 
à santidade pelo Espírito que recebemos no batismo e confirmação, 
recupera‑se o sentido do povo portador do evangelho. Um povo que pode 
e deve comunicar a mensagem salvífica recebida. Um povo evangelizador, 
que, portanto, tem como uma de suas funções fazer teologia (ANDREO, 
2013, p. 87).
A partir do Concílio Vaticano II, diversas conferências episcopais passaram a ocorrem na América 
Latina como em 1968 em Medellín, na Colômbia, em São Paulo em novembro de 1969, Montevidéu 
(Uruguai) também em 1969, em 1970 em Bogotá (Colômbia), duas vezes, e em Buenos Aires (Argentina), 
em 1972 em Sucre (Bolívia).
183
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A Teologia da Libertação situava seu ideário nos oprimidos concretos 
presentes na América Latina, o foco crítico‑libertador dos teólogos europeus 
era voltado contra o Estado ou as instituições, tornando‑se assim abstrato, 
pois válido para todos os homens, ou seja, para nenhum homem concreto, 
o que [...] resultava em mais um instrumento de manutenção da opressão 
(ANDREO, 2013, p. 97).
E em termos práticos, começam a surgir na América Latina comunidades eclesiais de bases (CEB), em que
Pensam‑se celebrações litúrgicas, orações e leituras da Escritura em 
grupo, em comum. Os temas mais polêmicos de natureza estritamente 
teológica cedem precedência às experiências de luta e de oração 
(ANDREO, p. 2013, p. 98).
No trabalho da professora e historiadora Zilda Márcia Grícoli Iokoi,
[...] as comunidades eclesiais de base procuraram ocupar todos os espaços 
sociais, mas foram as comunidades agrárias que mais puderam exercer sua 
influência agregadora. Essa função das comunidades agrárias devia‑se à 
forma intrínseca de ser da comunidade camponesa, onde vivido está em 
sintonia com a cultura e não com a exterioridade, como nas comunidades 
urbanas (IOKOI, 1999, p. 240 apud ANDREO, 2013, p. 101).
As considerações mais comuns a respeito do início da organização dos zapatistas oscilam entre a 
Teologia da Libertação e a ênfase no uso da Teoria da Dependência como elemento de explicação para 
a tomada de consciência social.
Para Löwy – provavelmente incomodado com a perda da força da Teoria 
da Dependência – a Conferência de Puebla marcou o início de uma reação 
da ala conservadora da Igreja, uma vez que ocorreu uma transformação 
no entendimento acerca da missão e das opções da Igreja, ampliando‑os 
suficientemente ao ponto de permitir que cada corrente pudesse interpretar 
de acordo com suas próprias tendências; enquanto para Libânio e Oliveros 
Maqueo essa ampliação estava ligada a um aprofundamento das questões 
espirituais que possibilitou a consolidação da Teologia da Libertação 
(ANDREO, 2013, p. 103).
Existe sim um pensamento místico que alimenta a ação,
o primeiro é a denúncia do sistema capitalista dependente como injusto, 
de maneira mais categórica do que muitos setores marxistas, uma vez que 
carregado de uma repulsa moral; o segundo é a utilização do marxismo 
para compreender as causas da pobreza e as contradições do capitalismo; 
o terceiro é a opção em favor dos pobres e da solidariedade com sua luta 
184
Unidade III
de autolibertação; o quarto é o desenvolvimento de comunidades cristãs 
de base entre os pobres como alternativa ao modo de vida individualista 
imposto pelo sistema capitalista; o quinto é uma nova leitura da Bíblia, 
voltada para o Êxodo, visto como paradigma da luta de um povo por sua 
libertação; o sexto é a luta contra a idolatria materialista identificada 
com o sistema capitalista; o sétimo é a libertação humana histórica como 
antecipação da salvação humana em Cristo; e, por fim, uma crítica a 
teologia dualista tradicional como fruto da filosofia platônica e não da 
tradição bíblica, onde a história humana e a divina são distintas, entretanto, 
inseparáveis (ANDREO, 2013, p. 105).
Em 1968, em Melgar, na Colômbia, o bispo Samuel Ruiz entrou em contato com formas alternativas 
de problematizar a realidade em que estavam inseridas as pessoas de seu bispado.
[...] o antropólogo Gerardo Reichel‑Dolmatoff [...] me fez ver que a 
evangelização tal como se estava levando a cabo no continente, era 
simplesmente uma destruição de culturas e uma ação dominadora [...] 
Aquela explanação me deixou aturdido, confuso [...] Parei e perguntei 
ao antropólogo: “Nas culturas indígenas que o senhor conhece [...] a 
religião é algo secundário ou fundamental?”. Dolmattof me respondeu: 
“Em todas as culturas indígenas que conheço, a religião é um elemento 
definitivamente aglutinante de todos os fatores culturais”. [...] Fiquei com 
uma incógnita terrível [...] “Então que coisa era evangelizar? Era destruir 
culturas? [...] Por que permitiu Deus a existência de tantas culturas? 
(ANDREO, 2013, p. 117).
Na Conferência de Medellín, na Colômbia, Samuel Ruiz alinhou‑se aos setores realmente críticos do 
clero na América Latina afirmando, inclusive,
Creio que o que fez Medellín foi descobrir, com a sociologia, a situação 
de marginalização e dependência que viviam os povos da América Latina 
[...] Até então a Igreja havia estado unida às elites econômicas e de 
dominação; partia‑se daquele conceito de que os desenvolvidos deviam 
ajudar os subdesenvolvidos. Mas em Medellín nós bispos nos deparamos 
com a análise sociológica da época: a da marginalização. E começamos 
a descobrir que os marginalizados não estão assim porque querem sê‑lo, 
mas que é o sistema que os marginaliza [...] E que inseri‑los na sociedade 
em tais condições significa não reconhecer que o sistema marginaliza. 
Enquanto se inseriam dez ou quinze ao sistema mediante um processo de 
ajuda, o sistema já havia fabricado mil marginalizados (FAZIO, p. 95 apud 
ANDREO, 2013, p. 120).
Um dos momentos significativos para a construção do EZLN foi quando, no final da década de 1960, 
muitas comunidades indígenas migraram para viver na Selva Lacandona. Com a presença de diversos 
185
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
grupos, o bispo Samuel Ruiz autoriza a organização da catequese na língua dos indígenas, principalmente 
os tzeltal, mas também aos chiapanecos de origem maia. A nova orientação se preocupava com a 
realidade indígena não mais como imposição de uma única e unilateral visão de mundo. Andreo (2013) 
prefere chamar os grupos de neozapatistas quando afirma que as palavras de ordem eram “Por um 
mundo onde caibam todos os mundos” ou “Nunca mais um México sem nós”.
[...] entre 14 e 17 de outubro de 1974, no próprio auditório municipal de San 
Cristóbal de Las Casas, havia representantes de 327 comunidades indígenas, 
com 587 delegados tzeltales, 330 tzotziles, 152 tojolabales e 161 choles, 
número apresentados por Andreo (2013, p. 193), e que completa que no 
universo populacional chiapaneco havia 96.000 tzeltales, 84.000 tzotziles, 
13.000 tojolabales e 48.000 choles (ANDREO, 2013, p. 157).
A politizaçãoentre os indígenas era cada vez mais significativa e considerando a necessidade de 
problematizarmos aqui o Exército Zapatista de Libertação Nacional, Arturo Warman informa que,
Em 1994, o EZLN não apareceu como um movimento ou insurgência 
indígena, mas como um foco de guerra prolongada, com bases indígenas, 
mas cujo objetivo central era propiciar a mudança (revolucionária) do 
regime político‑administrativo mexicano por um regime de orientação 
socialista: Ainda que fosse evidente que as bases insurgentes do 
zapatismo consideravam‑se indígenas, não se postulavam reivindicações 
específicas dessa condição. Foi a opinião pública, orientada pelos meios 
de comunicação, quem identificou o zapatismo como uma insurreição 
indígena e mobilizou‑se para evitar sua repressão. O EZLN, em um 
processo gradual, mas acelerado, assumiu essa identificação que protegia, 
garantia apoio e simpatia. Desde 1996 converteu‑se em polo e interlocutor 
definitivo no debate nacional sobre a questão indígena (WARMAN, 2003, 
p. 8 apud ANDREO, 2013, p. 266).
Apesar disso que foi exposto, na visão do próprio EZLN eles seriam indígenas em sua essência e 
origem, pois a direção é dos próprios nativos por meio do Comité Clandestino Revolucionario Indígena 
– Comandancia Geral del Ejército Zapatista de Liberación Nacional. Em meios às controvérsias relativas 
às origens e orientações mais gerais, Andreo (2013) com grande lucidez explica que o fundamental é 
que a questão indígena colocou‑se na pauta de discussões com o governo federal. Em 21 de fevereiro de 
1994 são iniciadas as negociações com o governo federal que resultaram nos Acuerdos de San Andrés 
sobre Derechos y Cultura Indígena.
 Saiba mais
Para saber mais, acesse as declarações zapatistas:
MÉXICO. Primeira Declaração da Selva Lacandona. 1994. Disponível em: 
https://bit.ly/3Ok9gf7. Acesso em: 16 jun. 2022.
186
Unidade III
Para o governo federal, o problema explode com o levante zapatista em 1º de janeiro de 
1994, quando o EZLN passa a ser reprimido pelo governo, chega‑se a formação de uma “mesa de 
negociações” na qual participam o subcomandante Marcos, 18 membros da Comandancia General, 
o comissário para a paz Camacho Solís e como mediador o próprio bispo Samuel Ruiz. Para se 
estabelecer uma mesa de negociações efetiva e que realmente pudesse dar conta das demandas 
havia a exigência, pelos rebeldes, de garantias de uma participação democrática no país. Exigia‑se 
também respeito e reconhecimento da autonomia daquela população dentro do pacto federal. No 
entanto o que se segue frustra esses sonhos. O que se sucede é uma violenta repressão por parte 
do governo federal mexicano, amplamente denunciada na bibliografia especializada relativa ao 
movimento zapatista.
 Saiba mais
Das obras mais acessíveis relativas ao movimento zapatista indicamos:
GENNARI, E. EZLN. Passos de uma rebeldia. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
HARVEY, N. La rebelión de Chiapas. La lucha por la tierra y la democracia. 
México: Era, 2000.
BRIGE, M. Votán‑Zapata. A marcha indígena e a sublevação temporária. São 
Paulo: Xamã, 2002.
Recomendamos, ainda, a leitura:
QUIJANO, A. Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Dossiê 
América Latina. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 55, set./dez. 2005. 
Disponível em: https://bit.ly/2wig72t. Acesso em: 14 jun. 2022. 
O lema zapatista do EZLN proclama “El mundo que queremos es uno donde quepan muchos 
mundos”, o que para nós se traduz como “Queremos um mundo onde caibam todos os mundos”. Assim, 
em carta ao presidente da república Vicente Fox, datada de 22 de março de 2001, os 23 comandantes e 
a delegação do EZLN escrevem:
Nós temos a vontade de diálogo verdadeiro e de chegar à paz logo mas, 
como deixamos claro [...] os povos zapatistas pediram três sinais a seu 
governo para ver se sua vontade de diálogo é verdadeira [...] não confiamos 
na palavra e sim nos fatos [...] nós não queremos humilhar ninguém, mas 
não vamos deixar que nos humilhem e enganem. Nós não queremos que 
terminem vencidos nem o senhor nem os seus soldados. Nós queremos 
diálogo com verdade e respeito [...] nós não temos nosso exército ocupando 
as casas de vocês ou dos que fazem parte de sua equipe, nem fizemos 
prisioneiro ninguém de se governo. Nós queremos que a solução da guerra 
187
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
seja também a solução das causas da guerra, porque senão ela vai se repetir, 
por isso nós estamos reivindicando o reconhecimento constitucional dos 
direitos e da cultura indígenas (BRIGE, 2002, p. 176).
Deve‑se ressaltar que, desde 1994, o EZLN mobiliza‑se claramente contra a exclusão indígena por 
meio de declarações chamadas de Declarações Selva Lacandona, iniciando as ações contra o então 
presidente Carlos Salinas de Gortari e elencando nada menos que onze pontos: terra, trabalho, moradia, 
alimentação, saúde, educação, independência, liberdade, democracia, justiça e paz.
Segundo o que aponta Brige (2002, p. 207), os zapatistas afirmam que “caminharemos então pelo 
mesmo caminho da História. Mas não a repetiremos. Somos os de antes, mas somos novos”. Podemos 
inserir aqui, ainda, a lembrança fundamental do papel político e cultural das mulheres nas comunidades 
uma vez que em muitas declarações à classe política, é pela voz feminina que elas são feitas.
No que se refere às discussões sobre direitos, além do já mencionado sobre a educação, o combate ao 
preconceito étnico, tão presente na América Latina, e para isso poderia contribuir a aceitação de que os 
nativos devem ter acesso aos direitos trabalhistas, valorização de sua medicina tradicional e também das 
decisões quando ao uso de recursos naturais. A ênfase do EZLN é da ideia presente desde a Revolução 
Mexicana de 1910 que de a terra deve ser de quem trabalha e isso é que dá a condição de liberdade, o 
que é uma referência direta aos ideias de Emiliano Zapata – daí seu zapatismo. A ação coletiva é posta 
como soberana, sendo Marcos um subcomandante uma vez que tomam como lema, e prática, que é 
preciso “mandar obedecendo” (ANDREO, 2013, p. 281).
O levante zapatista coloca‑se, ainda, claramente contrário aos efeitos do neoliberalismo sobre as 
populações indígenas do país e também às condições de inserção internacional do México no bloco do 
Nafta. A globalização econômica, tão referida e discutida aqui, aparece como referência em diversos 
movimentos políticos e sociais, daí nossa escolha em tratar os aspectos mais relevantes da História 
Contemporânea das Américas sob sua sombra.
No entanto, para se entender a História das Américas, ao menos dos anos finais do século XX aos 
primórdios do século XXI, é fundamental questionar a ideia de que não existe alternativa nos rumos das 
sociedades e no caso estamos incluindo os latinos e também os norte‑americanos na discussão posto 
que alguns autores se referem às demandas de mudanças como o “espírito de Seattle”.
7.9.1.2 Movimentos sociais contra-hegemônicos: Porto Alegre, Brasil: Fórum Social 
Mundial (FSM)
Se é correto afirmar, como aqueles que participaram da fundação do Fórum Social Mundial, em Porto 
Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, de que “um outro mundo é possível”, é preciso se discutir historicamente 
como essas demandas surgiram como se apresentam para as sociedades americanas. A agenda dos 
movimentos sociais que se organiza nesse momento traz, constantemente, palavras de ordem contra a 
predominância do Fundo Monetário Internacional (FMI), contra ações do Banco Mundial e também como 
a busca de alternativas políticas críticas. As reuniões da Organização Mundial do Comércio tornaram‑se o 
188
Unidade III
símbolo de uma determinada globalização neoliberal que alguns identificam como um modelo imposto 
via protagonismo da Inglaterra de Thatcher e as administrações norte‑americanas desde Reagan até 
as Eras Bush e Clinton. Nesse ínterim, os fundamentos neoliberais são colocados em prática com o 
Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), assinado entre Estados Unidos, Canadáe México 
em 1993 e que entrou em funcionamento em 1994 com sérias reações entre os mexicanos, como o 
movimento zapatista, por exemplo, e além disso, em 1996, ainda no México, 4.000 pessoas se reuniram 
no chamado I Encontro Intercontinental pela Humanidade e contra o Neoliberalismo.
Pensadores como David Harvey e Eric Hobsbawm são alçados à condição de ícones do pensamento 
crítico por seus posicionamentos anti‑hegemônicos. No âmbito brasileiro, o geógrafo Milton Santos é uma 
referência fundamental na construção de pensamentos alternativos. Ainda segundo aspectos levantados 
por Leite (2003),
Presenciamos, depois de 1997, a uma aceleração das resistências. Entre 
abril e junho daquele ano, tivemos a primeira Marcha Europeia contra 
a precariedade e as exclusões, que terminou em junho, em Amsterdã, 
na Holanda, por ocasião da Cúpula Europeia, com uma manifestação 
de 50 mil pessoas. Em maio, a reunião da III Cúpula Sindical paralela à 
reunião ministerial da Alca, em Belo Horizonte, formou a Aliança Social 
Continental. Entre junho e agosto, um novo Encontro Intercontinental pela 
Humanidade e contra o Neoliberalismo ocorreu em Barcelona, propondo 
a formação de uma Ação Global dos Povos, efetivada oito meses depois. 
Em outubro, no contexto da crise financeira na Ásia, é formado o Jubileu 
2000, constituído por organizações cristãs e sociais que iniciam uma 
campanha pelo cancelamento da dívida dos países pobres. [...] Em abril, 
é realizada, como atividade da Aliança Social Continental, a Cúpula dos 
Povos das Américas, paralela à II Cúpula Presidencial das Américas. [...] Em 
seguida, durante o II Encontro Anual do G‑7, em Birminghan, na Inglaterra, 
temos uma manifestação de 70 mil pessoas, puxada pelo Jubileu 2000, 
pela anulação da dívida dos países pobres. [...] Protestos se repetem no 
II Encontro Ministerial da OMC realizado em Genebra. Em 3 de julho é 
formado na França a ATTAC, movimento cidadão visando promover uma 
campanha pela taxação das transações financeiras internacionais (a taxa 
Tobin). [...] O ano de 1999 começa com a realização em Zurique, na Suíça, 
do encontro internacional, “O outro Davos”, simultaneamente à reunião 
do Fórum Econômico Mundial [...] ATTAC, Fórum Mundial das Alternativas, 
Coordenação contra o AMI e Strutural Adjustment Parcipatory Review 
International, que promoviam o encontro alternativo, já trabalhavam, 
nessa reunião, com a ideia de “uma outra”. Esses mesmos setores voltaram 
a se encontrar, junto com outros, em junho, no Encontro Internacional “Um 
outro mundo é possível”, realizado em Paris. [...] em 12 de outubro temos o 
Primeiro Grito dos Excluídos Latino‑Americano, cujo lema era “Por trabalho, 
justiça e vida” [...] de 18 a 21 de novembro ocorre o Encontro Internacional 
pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e da Cúpula Sul‑Sul sobre a 
Dívida, em Johannesburgo, na África do Sul (LEITE, 2003, p. 40‑1).
189
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Ao que parece, segundo a visão do autor, a ênfase deve ser dada à questão da mobilização, no 
movimento global posto em 1999 mais de 50.000 pessoas foram às ruas de Seattle nos Estados Unidos 
contra uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que impediu a reunião, ocorrendo 
algo semelhante ao que se passou anteriormente em 1996 em Cingapura e 1998 em Genebra. Em 
Seattle, participaram 1.449 organizações de 89 países sob coordenação da rede ecologista Friends of 
Earth. Essas manifestação se configuraram como a expressão da importância da articulação via rede 
mundial de computadores – naquilo que seria caracterizado como “netwar” Uma vez que foi pela rede 
que uma lista intitulada Stop WTO Round (Pare a rodada da OMC).
O presidente dos EUA, Bill Clinton, chegou a ser impedido de discursar na noite de gala de Seattle 
aos delegados da OMC em função de protestos.
 Saiba mais
Para compreender o grande ciclo de movimentos antiglobalização que 
pulularam nesse momento, recomendamos a leitura:
LEITE, J. C. De Seattle a Gênova: o ciclo de protestos. In: LEITE, J. C. Fórum 
Social Mundial: a história de uma invenção política. São Paulo: Fundação 
Perseu Abramo, 2003.
No contexto da construção de um pensamento contra‑hegemônico, ocorre o I Fórum Social Mundial, 
realizado em Porto Alegre, de 25 a 30 de janeiro de 2001 – movimento que articula diversos outros 
movimentos sociais.
Quando o G‑8 se reúne em Gênova, no início de julho, estava preparado 
o maior protesto até então realizado, envolvendo cerca de 300 mil 
manifestantes. Do outro lado, o governo de Berlusconi, de direita, estava 
firmemente resolvido a enfrentar o movimento, preparando uma forte 
repressão aos manifestantes, na sequência da linha dos governos centrais 
de criminalizar as manifestações, apresentando‑as como atos de minorias 
de vândalos. [...] a repressão aos protestos terminou no assassinato de um 
jovem manifestante, Carlo Giuliani, pela polícia italiana (LEITE, 2003, p. 57).
Um pouco antes dessa ação em Gênova – que simbolizou a inflexão e a disposição de repressão –, 
ocorria a organização do Fórum Social Mundial afirmando que
O FSM compreenderá três tipos de atividades: I) uma série de sessões plenárias 
diárias com palestras e exposições de personalidades convidadas; II) o maior 
número possível de encontros com a apresentação de iniciativas em curso 
e troca de experiências; III) reuniões de entrosamento e articulação entre 
190
Unidade III
organizações sociais que desenvolvem o mesmo tipo de luta. As plenárias 
serão programadas pelos organizadores do FSM, segundo temário que será 
definido; os encontros e reuniões serão programados a partir dos interesses 
e solicitações dos participantes do FSM (LEITE, 2003, p. 65).
O FSM ocorreu, como já mencionado, entre 25 e 30 de janeiro sob o lema “Um outro mundo é possível” 
e contou com 4 mil delegados e 16 mil participantes credenciados de 117 países, 1870 jornalistas (sendo 
356 estrangeiros) e ainda segundo Leite (2003), um número desconhecido de participantes eventuais 
em 16 plenárias, 400 oficinas e 20 testemunhos – sendo que a intervenção de Michael Löwy ganhou 
destaque por colocar a discussão nos seguintes termos, Davos e Porto Alegre, dois projetos antogônicos 
(LEITE, 2003, p. 70).
 Saiba mais
Recomendamos que assista aos filmes:
ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. 
Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2006. 89 min.
TRABALHO interno. Direção: Charles Ferguson. EUA, 2010. 109 min.
CAPITALISMO: uma história de amor. Direção: Michael Moore. EUA, 
2009. 120 min.
No FSM não se apresentava um pensamento único e dogmático, sendo seu caráter mais marcante 
justamente a pluralidade, tanto é que não é uma tarefa simples a recuperação de todas as discussões 
levantadas na primeira edição e nas subsequentes.
A partir da segunda edição, as discussões ganham traços mais fortes em torno da defesa da 
abolição da dívida externa de países pobres; do controle da circulação de capitais e impostos 
internacionais para a redistribuição de riquezas e o financiamento do desenvolvimento; moratória 
contra a OMC para reordenar os caminhos do comércio internacional; controle público de empresas 
transnacionais; defesa de direitos dos trabalhadores; promoção da economia solidária; implantação 
e desenvolvimento de sistemas de saúde e de educação públicos e gratuitos; defesa da soberania 
popular na produção de alimentos; defesa dos meios de comunicação de massa democráticos; 
defesa do direito à manutenção da identidade dos povos para sobrevivência de minorias; propostas 
de desarmamentos; direitos humanos como realização de direitos econômicos, sociais, culturais e 
ambientais; defesa da construção de alternativas ao Banco Mundial, ao Fundo Monetário Internacional 
e à Organização Mundial de Comércio.
As três primeiras edições do FSM ocorreram em Porto Alegre em 2001, 2002 e 2003, sendo que depois 
eles começaram a ser caracterizados pela mobilidade, rumando para diferentes cidades pelo mundo.
191
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEASaiba mais
Para uma cronologia detalhada do contexto das três primeiras edições dos 
FSM recomendamos que visite o site do Fórum Social Mundial, onde também 
encontrará referências à memória do movimento e os projetos futuros:
Disponível em: www.forumsocialportoalegre.org.br. Acesso em: 
16 jun. 2022.
7.9.1.3 Movimentos sociais: Brasil e os 20 centavos
Marcelo Pomar (apud JUDENSNAIDER, 2013, p. 9) faz a retrospectiva de um movimento social 
existente no Brasil há mais de uma década, mas que, para a grande mídia, parecia inexistir.
Já se vai uma década: Salvador, Bahia, agosto de 2003. Milhares de pessoas 
ocupam as principais vias da cidade durante mais de três semanas. As ruas 
são o grande palco das manifestações, que têm protagonismo juvenil, 
mas atingem toda a sociedade. Trata‑se de uma revolta popular. Uma luta 
para derrubar mais um aumento de tarifas de ônibus na capital baiana, 
curiosamente, de vinte centavos – de R$ 1,30 para R$ 1,50. [...] Sentam, 
junto à prefeitura, para negociar um conjunto de pautas e conquistas para 
o movimento. Emplacam várias, mas capitulam na central: a redução da 
tarifa. Importantes registros dessa história seguem sendo o documentário 
do cineasta Carlos Pronzato, A Revolta do Buzu, e a cobertura realizada pelo 
Centro de Mídia Independente (CMI‑Brasil) (JUDENSNAIDER, 2013, p. 9).
Em seguida, Marcelo Pomar continua a apresentar os diversos movimentos que tiveram em seu elemento 
principal essa mesma demanda: As Revoltas da Catraca em Florianópolis, Santa Catarina, junho de 2004 e 
maio de 2005. A partir daí apresenta a articulação de diversos movimentos existentes pelo país,
Paralelamente ao desenvolvimento político desigual e complexo do 
MPL, as avenidas do Brasil são tomadas de norte a sul por uma onda de 
mobilizações urbanas, ainda que espaçadas. Quase todas as capitais do país 
assistem, na última década, a alguma manifestação juvenil relacionada 
a transporte, ainda que não sejam sempre fruto de uma intervenção 
orgânica do Movimento Passe Livre. Cidades como Salvador, Florianópolis, 
Porto Alegre e Curitiba; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória; 
Aracajú, Maceió, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Natal e Teresina; Belém, São 
Luís, Rio Branco e Manaus; Distrito Federal, Goiânia e Cuiabá registraram 
[...] manifestações com a temática do “passe livre” ou contra o aumento 
das tarifas. Além das capitais, uma porção de outras cidades grandes e 
médias, como Joinville (SC) e Campinas (SP), para citar duas, entram na 
lista (JUDENSNAIDER, 2013, p. 13).
192
Unidade III
Em maio de 2009, o governo do Distrito Federal determina o passe livre para os estudantes a partir 
de 2010 e, em janeiro de 2015, a prefeitura de São Paulo anuncia que o passe livre para os estudantes 
começa a valer em fevereiro de 2015.
Uma das principais novidades no transporte público em 2015, o passe livre 
para estudantes, começará a funcionar nos ônibus municipais na próxima 
segunda‑feira (2). A gratuidade é válida para alunos do Ensino Fundamental 
e Médio da rede pública, de universidade pública com renda familiar per 
capita de até R$ 1.182 e de universidade privada beneficiários do Prouni, 
Fies, Bolsa Universidade ou Cotas Sociais. De Secretaria Executiva de 
Comunicação (SÃO PAULO, Secretaria de Comunicação, 2015).
Para Marcelo Pomar, resgatando a trajetória que, ao menos parcialmente, desenvolveu o MPL indica que
um novo movimento toma forma, como uma forte característica 
comum – para o bem e para o mal: é constituído em sua maior parte 
por jovens que tem aversão aos meios institucionais, como partidos 
políticos e a disputa de espaços de poder no Estado.[...] no entanto, 
atuam politicamente na sociedade e impactam uma nova realidade nos 
âmbitos dos municípios. Articulam‑se em rede, em relações de poder 
mais horizontais. Dominam técnicas, sobretudo associadas à tecnologia, 
e sua linguagem política é menos engessada, se comparada aos grupos 
tradicionais de organizações de juventude de esquerda. Tudo isso ajuda 
a construir um conjunto de condições subjetivas para junho de 2013 [...] 
com mais de doze milhões de pessoas indo às ruas protestar (Pesquisa do 
Ibope) (JUDENSNAIDER, 2013, p. 15).
Quando, em junho de 2013, o Movimento Passe Livre de São Paulo dá início a mais uma jornada de 
lutas, certamente não tem dimensão das proporções que sua ação pode tomar. E, numa frase que pode 
passar desapercebida pelo leitor mais ligeiro, Marcelo Pomar afirma que “ainda me parece necessário 
dizer que o MPL não inventou a roda no movimento social” (JUDENSNAIDER, 2013, p. 17).
A cronologia é fundamental,
06/06: Primeiro Grande Ato, 15 detidos, MPL é criminalizado; 07/06: 
imprensa condena vandalismo e atribui protagonismo a partidos; 
governo e Metrô se manifestam; MPL se defende de acusações; 
Primeiras tentativas de interlocução com a Prefeitura; Segundo Grande 
Ato; Promotor pede morte de manifestantes; 08 e 09/06: Imprensa 
reforça tese de vandalismo; Protagonismo é atribuído a partidos; 
Haddad é chamado a apresentar agenda para tarifa; Prefeitura desenha 
estratégia; Promotor se desculpa; 10/06: prefeito e governador viajam 
a Paris; promotor sofre inquérito; Vereadores do PT explicam relação 
193
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
com Passe Livre; MPL se declara aberto ao diálogo; Juventude do PT 
adere à luta contra o aumento; Goiânia suspende o aumento; 11/06: 
MPL solicita reunião com prefeito e governador; Rejeição de Haddad 
aumenta; Prefeito e governador seguem em Paris; Na Câmara, situação 
e oposição se manifestam sobre protestos; aumenta adesão no terceiro 
grande ato; manifestantes são presos, entre eles um jornalista; sede do 
PT é depredada; 12/06: disseminação de relatos de violência policial 
nas redes sociais; imprensa denuncia vandalismo e difunde imagem 
de policial agredido; governador e prefeito condenam violência 
em protestos; rigor penal contra detidos; Ministério Público tenta 
mediação com prefeitura e governo; jornais televisivos pedem ação 
firme contra vandalismo; 13/06: jornais impressos pedem repressão 
dura; organizações de direitos civis condenam abuso e prisão de 
jornalista; MPL publica artigo na Folha; Suplicy pede intermediação; 
quarto grande ato mobiliza dezenas de milhares; polícia monta 
estratégia de guerra; jornais televisivos mudam abordagem; Datena 
apoia protesto; denúncias de abusos nas redes sociais; Nabil Bonduki 
oferece assistência jurídica; Ministro da Justiça oferece apoio federal à 
repressão; 14/06: discurso contra abuso policial torna‑se hegemônico 
na imprensa e nas redes sociais; pesquisa Datafolha mostra apoio a 
protestos; organizações de direitos humanos condenam atuação da 
polícia e PT se divide; prefeitura convoca Conselho da Cidade para 
se reunir com MPL; Alckmin defende ação da polícia. 15 e 16/06: 
Datafolha mostra insatisfação no transporte público; O Globo mostra 
relevância dos 20 centavos; jornais criticam a polícia; famosos 
apoiam protestos; segurança pública chama negociação sobre trajeto 
da próxima manifestação; imprensa adota nova postura. 17/06: 
dispersão da pauta das manifestações; Alckmin ordena suspensão do 
uso de armas menos letais; trajeto e acompanhamento policial são 
negociados com a Segurança Pública; MPL se reúne com secretário 
e prefeito; MPL faz coletiva de imprensa; ex‑presidentes apoiam 
mobilização; quinto grande ato reúne cem mil pessoas; manifestação 
no Rio supera expectativas; imprensa consolida apoio a manifestações 
pacíficas; MPL é entrevistado no Programa Roda Vida; 18/06: pauta 
difusa aparece com força nos meios de comunicação; MPL angaria 
apoio no Conselho da Cidade; sete prefeituras anunciam revogação do 
aumento; presidenta se pronuncia sobre protestos; sexto grande ato; 
prefeitura é depredada e ocorrem saquem a lojas; postura suspeita da 
polícia militar; ataques de manifestantes aos meios de comunicação; 
imprensa reforça distinção entre vândalos e manifestantes pacíficos; 
19/06: imprensa repercute caos da noite anterior e ausênciada polícia; 
Haddad convoca coletiva: não haverá revogação; jogo político nos 
gabinetes de São Paulo e Rio de Janeiro; Alckmin e Haddad anuncia 
revogação do aumento.
194
Unidade III
E no epílogo,
Em entrevista à imprensa, dias depois da revogação, o prefeito atribuiu o 
sucesso do MPL ao “resultado de movimentos de placas tectônicas muito 
diferentes, que de certa maneira não tinham relação entre si”. A essa fortuita 
conjunção de fatores se dava outrora o nome de fortuna. Sobre ela, escreveu 
um diplomata florentino: em tempos de guerra, nada é de maior importância 
que saber usar a oportunidade – reflexão que serve bem a ambos os lados da 
história (JUDENSNAIDER, 2013, p. 224).
Pablo Ortellado, ainda na obra de Judensnaider (2013), afirma,
Quando os movimentos se reuniram em Seattle para um bloqueio “não 
violento” da Rodada do Milênio da Organização Mundial do Comércio e um 
grupo dissidente questionou a estratégia da não violência, tudo passou a girar 
em torno do Black Bloc. “A violência dos Black Bloc faz parte do mundo que 
queremos?” “A violência da resistência deve ser julgada da mesma maneira 
que a violência da opressão?”, “Afinal, destruir propriedade é mesmo violento?” 
Como resultado do debate, emergiu meses depois a doutrina da diversidade 
de táticas, na qual as formas de luta são todas acolhidas no espírio zapatista 
do mundo onde cabem muitos mundos. [...] Em 2011, a revista canadense 
Adbusters divulgou um cartaz no qual uma bailarina dançava sobre o touro 
que simboliza a bolsa de valores de Nova York, convocando ativistas a 
ocuparem Wall Street. No alto do cartaz, lia‑se a instigante pergunta: “Qual 
é nossa única demanda?” O objetivo da provocação era estimular os futuros 
ocupantes a mimetizar a mobilização egípcia que tinha tomado a praça Tahir 
com uma demanda única clara: a saída de Mubarak. [...] No quinto comunicado, 
o movimento anuncia sua única demanda: “Acabar com a pena de morte é 
nossa única demanda... Acabar com a desigualdade de renda é nossa única 
demanda... Acabar com a pobreza é nossa única demanda... Acabar com a 
guerra é nossa única demanda”. Os sonhos dos ocupantes não cabiam em uma 
demanda única. O movimento decidiu que não queria os seus 20 centavos 
(JUDENSNAIDER, 2013, p. 229‑33).
Assim, apesar da dispersão do movimento com a colaboração da grande imprensa que multiplica das 
demandas para os mais variados aspectos, observamos que
A redução redirecionou a lógica da tarifa, da ampliação para a redução 
crescente, até o limite lógico da tarifa zero. Ao conquistar a revogação do 
aumento, a tarifa zero foi imediatamente lançada no coração do debate 
político. A dupla vitória de reduzir o custo da passagem e trazer para a 
centralidade do debate público a tarifa zero por meio de uma ação autônoma 
com uma estratégia clara é o mais importante legado dos protestos de junho. 
Ele não é apenas um novo paradigma para as lutas sociais no Brasil, mas um 
195
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
modelo de ação que combina a política horizontalista e contracultural dos 
novos movimentos com um maduro sentido de estratégia (JUDENSNAIDER, 
2013, p. 237).
8 CULTURA NAS AMÉRICAS
Ao se discutir as realidades sociais nas Américas e depois de passarmos por importantes movimentos 
políticos e contestatórios, vale ainda fazer uma menção a alguns aspectos de transformações que 
ocorreram no final do século XX e início do século XXI na área da cultura. Para não ficarmos apenas 
em uma extensa lista de notáveis nas artes ou de outsiders exemplares e rebeldes, optamos por discutir 
aspectos amplos das mudanças no mundo das artes.
É prática dos historiadores [...] tratar os fatos das artes, por mais óbvias 
e profundas que sejam suas raízes na sociedade, como de algum modo 
separáveis de seu contexto contemporâneo, como um ramo ou tipo de 
atividade humana sujeito às suas próprias regras, e capaz de ser julgado 
como tal. [...] A tecnologia revolucionou as artes de modo mais óbvio, 
tornando‑as onipresentes. [...] Na década de 1980, cerca de 80% de um país 
como o Brasil tinha acesso à televisão. Isso é mais surpreendente que o fato 
de nos EUA o novo veículo ter substituído tanto o rádio quanto o cinema 
como a forma padrão de diversão popular na década de 1950, e na próspera 
Grã‑Bretanha na década de 1960 (HOBSBAWM, 1995, p. 485).
A simples constatação de que nosso mundo está cada vez mais devotado às tecnologias da informação 
não é capaz de explicar como isso ocorreu e como influencia nossas relações com as artes.
O afastamento da Europa foi mais óbvio ainda na arte mais visivelmente 
insistente, a arquitetura. [...] O movimento moderno na arquitetura na verdade 
construíra pouca coisa entre as guerras. [...] Nos EUA, que o desenvolveu ainda 
mais e acabou, através de redes de hotéis americanas que se instalaram como 
teias de aranha no mundo na década de 1970, exportando uma forma peculiar 
de palácio de sonho para executivos em viagem e turistas prósperos. Em suas 
mais características versões, eram facilmente reconhecíveis por uma espécie 
de nave central ou conservatório gigante, em geral com árvores, plantas e 
fontes internas; elevadores transparentes deslizando visíveis por dentro ou 
por fora das paredes; vidro e iluminação teatral por toda parte. Iriam ser para 
a burguesia de fins do século XX o que o teatro de ópera padrão fora para 
sua antecessora do século XIX. Mas o movimento moderno criou igualmente 
destacados monumentos em outras partes: Le Corbusier (1887‑1965) construiu 
toda uma capital na Índia (Chandigarth); Oscar Niemeyer [...], grande parte de 
outra no Brasil (Brasília); enquanto talvez o mais belo dos grandes produtos 
do movimento moderno – também construído mais por encomenda pública 
do que por patronato privado ou lucro – se encontra na Cidade do México, o 
Museu Nacional de Antropologia (1964) (HOBSBAWM, 1995, p. 486).
196
Unidade III
A literatura que nos é particularmente relevante ganha ainda mais espaço nas Américas e começa a 
ser lida em outras paragens.
Na América Latina, os escritores renomados, quase independentemente de suas 
opiniões políticas, podiam esperar postos diplomáticos, de preferência em Paris, 
onde a localização da Unesco dava a cada país que assim o desejasse várias 
oportunidades de colocar cidadãos nas vizinhanças dos cafés da Rive Gauche. 
Os professores sempre esperavam temporadas como ministros de gabinete, de 
preferência o de Economia, mas a moda em fins da década de 1980 de pessoas 
ligadas às artes concorrerem como candidatos presidenciais (como fez um bom 
romancista no Peru), [...] parece nova (HOBSBAWM, 1995, p. 491).
E tratando do ressurgimento do romance,
Podemos encontrar grandes romances [...] certamente os encontraremos 
na América Latina, cuja ficção, até então desconhecida fora dos países 
interessados, tomou o mundo literário a partir da década de 1950. O romance 
mais sem hesitação e instantaneamente reconhecido como obra‑prima em 
todo o globo veio da Colômbia, um país que a maioria das pessoas educadas 
no mundo desenvolvido tinha problemas até para identificar no mapa, antes 
de ser identificado com a cocaína: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García 
Márquez (HOBSBAWN, 1995, p. 494).
Quando se pensa em manifestações artísticas e se toma a Europa como a referência fundamental, 
se está preso aos cânones do século XIX. No decorrer do XX, Nova Iorque substituiu Paris e Londres e, 
na América Latina, diversas são as correntes emergentes e de grande relevância artística tais como suas 
discussões de vanguardas apresentadas por Schwartz (2008), na obra Vanguardas Latino‑Americanas: 
Polêmicas, Manifestos e Textos Críticos, num rol que apresentamos a seguir: Manifesto da poesia Pau 
Brasil; Manifesto Antropófago; Klaxon no Brasil; Futurismo; Maquinismo e Estética; Construtivismo; 
Expressionismo; Surrealismo; Estética Vanguardista e Revolução; Manifesto por uma Arte Revolucionária 
Independente; Nacionalismo versus Cosmopolitismo. Existe um pensamento Hispano‑americano?Nacionalismo e Vanguardismo na Literatura e na Arte; Modernismo e Ação Regionalismo; Antropofagia 
versus Verde‑Amarelismo.
Se considerarmos o século XIX como o momento da ruptura com as metrópoles ibéricas, devemos 
lembrar que os Estados nacionais não emergem do processo já estruturados e prontos politicamente. 
Assim, as discussões identitárias são um dos mais importantes traços na América Latina, persistindo, 
inclusive, no decorrer do século XX.
Schwartz (2008, p. 604 e seguintes), apresenta a discussão das identidades na América Latina, tratando 
da Raça Cósmica, de José Vasconcelos, em 1925, no México. Aborda ainda a Brasilidade com Monteiro 
Lobato, Paulo Prado, Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda com o capítulo sobre “O Homem 
Cordial”, de 1936, em seu livro clássico Raízes do Brasil. Schwartz ressalta também as preocupações 
sociais ao trazer Indigenismo de Mariátegui e, para encerrar as discussões, apresenta como manifestações 
197
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
identitárias o Gaúcho e o Negrismo e Negritude. Quase um século depois, nos Estados Unidos, a situação 
de conflito étnico explode naquilo que ficou conhecido como uma rebelião urbana,
A redução do estado de bem‑estar, ao longo dos anos 1980 e 1990, 
também piorou as condições da vida de negros desproporcionalmente 
em relação aos brancos. Frustração com o racismo ainda existente, 
poucas oportunidades econômicas e violência policial provocaram vários 
motins urbanos desencadeados por questões raciais em Miami, Nova 
York e outras cidades nos anos 1980 e 1990. O evento mais marcante 
nas “relações de raça” na época foi a rebelião urbana de Los Angeles, 
em 1992. Em março de 1991, um motorista negro, Rodney King, foi 
parado na estrada e brutalmente espancado pela polícia. Uma pessoa 
filmou o incidente, que acabou amplamente divulgado pela mídia. Os 
quatro policiais julgados pela violência foram absolvidos, um ano mais 
tarde, por um júri branco. A população pobre de Los Angeles explodiu 
em reação: por cinco noites seguidas, multidões enfurecidas queimaram 
prédios, saquearam lojas e lutaram contra a polícia. Cinquenta e oito 
pessoas morreram, 2,3 mil ficaram feridas, 9,5 mil foram presas, mais de 
mil prédios foram destruídos e 10 mil danificados. Os danos financeiros 
somaram US$ 1 bilhão. A rebelião em Los Angeles foi diferente de 
outros motins urbanos do século XX em três aspectos. Primeiro, a ira dos 
manifestantes foi alimentada não somente pelo racismo, mas também 
pelo profundo mal‑estar econômico que tinha germinado há décadas 
na cidade. “Preste atenção ao que essas pessoas estão roubando” – 
comentou na ocasião a poetiza Meri Nana‑Anna Danquah –, “comida, 
fraldas, brinquedos”. Segundo, as pessoas envolvidas na rebelião eram 
de origem diversa. De acordo com a polícia, de todos os presos, 30% 
eram negros; 37% latino‑americanos; 7% brancos e 26% “outra etnia 
ou desconhecida”. Terceiro, além de atingir símbolos do poder público, os 
participantes direcionaram muito da sua fúria contra lojistas coreanos 
instalados nos bairros pobres negros e latino‑americanos da cidade. 
Como o historiador Mike Davis concluiu, a sublevação de Los Angeles 
foi uma “revolta social híbrida” dos pobres multirraciais e um conflito 
interétnico, refletindo simultaneamente os novos rumos e os velhos 
enigmas da sociedade americana (KARNAL, 2007, p. 265‑6).
Assim, o elemento de fratura social é evidente e nos faz questionar a imagem de igualdade e paz 
social tão alardeada quando se trata dos Estados Unidos e, dessa maneira, a discussão relativa aos 
direitos sociais é um dos traços mais marcantes na passagem do século XX para o século XXI, envolvendo 
além de elementos étnicos, que infelizmente parecem quase que “traço” americano, outros ligados às 
questões de gênero e identidade sexual e também cidadania.
198
Unidade III
Gays e lésbicas aumentaram sua visibilidade na vida americana nessas 
décadas, apesar da existência contínua de preconceitos. Comunidades 
de gays e lésbicas foram consolidadas nas grandes cidades, postas em 
evidência pelas passeatas anuais do Dia do Orgulho Gay, que atraíram 
enorme público em cidades como Nova York e São Francisco. Mas a 
violência física não era incomum e poucos ganhos legais foram de 
fato conquistados. Nos anos 1980 e 1990, além disso, os gays foram as 
primeiras pessoas a enfrentar a agonia da Aids, que matou mais de 427 mil 
americanos até 2000. [...] Os grandes movimentos sociais dos anos 1960 e 
1970 se enfraqueceram por causa da repressão, de novas pressões políticas 
e econômicas e das divisões internas. Lutas contra a opressão, entretanto, 
não desapareceram, continuando no nível local e às vezes atraindo atenção 
nacional e mobilização intensa, como algumas grandes manifestações em 
Washington nos anos 1990 em resposta às ameaças ao direito de aborto. 
[...] Diante de toda essa situação, muitos se desiludiram e abandonaram a 
militância nos movimentos. [...] Talvez a característica mais importante da 
passagem para o século XXI tenha sido o maior sucesso de uma nova força 
política – oposta às mudanças dos anos 1960 – em organizar e avançar 
seu projeto social. A “nova direita” refere‑se a um conjunto de correntes 
políticas, intelectuais, religiosas e culturais, que surgiu nos anos 1950 e 
1960 de várias fontes: eleitores brancos dos subúrbios preocupados com 
os impostos e os valores de suas propriedades, o término forçado da 
segregação racial e os “excessos” dos movimentos sociais dos anos 1960; 
intelectuais urbanos neoconservadores preocupados com a intromissão 
do Estado na economia e o declínio do respeito à autoridade; religiosos, 
em grande parte cristãos evangélicos, contrários aos novos valores sexuais 
e morais que emergiram dos anos 1960; e pessoas que compartilhavam 
várias dessas feições (KARNAL, 2007, p. 269).
Como as manifestações são múltiplas, lembramos que, em épocas de protestos, as músicas geralmente 
aparecem como catalisadores do pensamento crítico.
199
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
Indicamos o documentário a seguir, que pode ser uma valiosa 
contribuição para os estudos acerca da relação entre História e diversas 
linguagens, além de interações entre Artes, Língua Portuguesa e História, 
com temas relevantes como: pluralidade cultural, comportamento jovem, 
cultura de massa, televisão e Ditadura Militar.
UMA NOITE em 67. Direção: Renato Terra e Ricardo Calil. Brasil, 2010. 
93 min.
Tratando da mídia, da cultura pop e as guerras da cultura, Karnal (2007) aborda com propriedade o 
estado atual da cultura quando afirma que
As novas tecnologias e as tendências conservadoras na política 
e na sociedade fortemente influenciaram a produção cultural do 
fim do século XX. O computador pessoal, a internet (originalmente 
inventada para uso militar), o e‑mail, o VHS, o DVD e a televisão paga, 
usados regularmente, em 2000, pela vasta maioria dos americanos, 
revolucionariam muitos aspectos da vida cotidiana, mas não 
transformam as estruturas da sociedade. A promessa democrática 
das novas mídias foi eclipsada por objetivos mais amplos: a busca 
de mercados e audiências lucrativas resultou na padronização e 
banalização da cultura, que foi altamente susceptível aos ventos 
políticos da época. A mídia, seja nas formas convencionais da 
imprensa, rádio e televisão, seja na internet, se consolidou em enormes 
conglomerações, frequentemente em combinação com corporações de 
outros setores. A corporação General Electric, por exemplo, que produz 
de eletrodomésticos a armas nucleares, é dona da grande rede de TV 
NBC. [...] as gigantes da mídia americana limitaram a diversidade do 
discurso político, desviando atenção do seu próprio poder e criando o 
que intelectuais de esquerda como Noam Chomsky e Edward Herman 
chamaram de “manufatura do consentimento” (KARNAL, 2007, p. 271).
Apesar dessa construção hegemônica, existem olhares discordantes,
Numa série de documentários de sucesso de público, Michael Moore 
criticou, a seumodo peculiar, a concentração de riqueza, a hipocrisia 
política e o militarismo da sociedade americana. Mas para cada filme 
de Moore ou John Sayles, houve uma dúzia de filmes como Pearl 
Harbor (2001), do diretor Michael Bay, uma descarada distorção da 
200
Unidade III
história americana em favor do conservadorismo. Nos anos 1990, a 
nova natureza multicultural da sociedade americana passou a ser o 
foco de debates chamados “as guerras da cultura”. [...] Em 1992, o NEH 
convidou um grupo de historiadores sob a direção do proeminente 
historiador Gary Nash para redigir o que seriam as diretrizes nacionais 
para o estudo de História nas escolas do país. A proposta do grupo, que 
incluiu alguns elementos de multiculturalismo, foi duramente atacada 
por conservadores culturais e posteriormente rejeitada. Em 1994, o 
principal museu histórico no país, o Smithsonian, em Washington, 
organizou uma exibição sobre o lançamento das bombas atômicas 
contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. Os curadores sutilmente 
incluíram textos com argumentos de historiadores que questionavam 
os motivos do presidente Truman e evidenciavam as consequências horríveis 
dos ataques. Por 10 meses, as Forças Armadas, veteranos, políticos e 
grupos conservadores fizeram uma forte campanha contra o suposto 
“revisionismo histórico” da exibição, forçando o museu a cancelá‑la. 
[...] A democracia plena prometida pelo sistema passou a significar não 
a verdadeira liberdade política, mas a economia livre sem a resolução 
das iniquidades econômicas e sociais. Como mostraram a Batalha de 
Seattle, em 1999, as críticas à reação lenta e à insuficiente ajuda do 
governo federal dada às vítimas do devastador furação Katrina em 2005, 
em Nova Orleans, que afetou desproporcionalmente a população negra, 
e a greve nacional montada por imigrantes latino‑americanos em 2006 
para combater as restrições legais contra imigrantes, setores expressivos 
da população norte‑americana continuaram contestando as definições 
restritas de liberdade (KARNAL, 2007, p. 271).
 Saiba mais
Para saber mais, leia:
BUTCHER, P. A reinvenção de Hollywood: cinema americano e produção 
de subjetividade nas sociedades de controle. Revista Contemporânea, Rio 
de Janeiro, n. 3, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3xSiOZq. Acesso em: 
14 jun. 2022.
PAIVA, C. C. O cinema de Hollywood e a invenção da América. BOCC, 
Portugal, v. 1, n. 1, p. 1‑15, 2006. Disponível em: https://bit.ly/2HzfC92. 
Acesso em: 14 jun. 2022.
201
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
8.1 Cultura nas Américas: o caso das vanguardas
Tratando das vanguardas, indica Schwartz (2008):
a recusa inicial de estilos já exaustos deu à literatura fôlego para que 
retomasse o labor cognitivo e expressivo peculiar a toda ação simbólica. 
Depois de Macunaíma, das Memórias Sentimentais de João Miramar, dos 
Setes Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, de Adán Buenosayres 
(que o autor começou a escrever por volta de 1930), não parece licito 
separar, por escrito de geometria, a assimilação do princípio de geometria, 
a assimilação do princípio da liberdade formal e a autossondagem 
antropológica, pois ambas as tendências coexistem e se enlaçaram nos 
projetos mais criativos [...] Culturas que se compõem de estratos não 
europeus densos e significativos puderam inspirar um tipo de literatura 
“marcada”, se contraposta à das metrópoles. É o caso do Peru quéchua de 
Ciro Alegría e José Maria Arguedas; do México asteca e mestiço de Agustín 
Yáñez e Juan Rulfo; da Guatemala maya‑quiché de Asturias; do Paraguai 
guarani do primeiro Roa Bastos; da Cuba negra de Nicolás Guillén; do Porto 
Rico mestiço de Luis Palés Matos, das Antilhas mulatas de Carpentier, de 
Jean Price Mars, de Aimé Césaire. É o caso parcial do Nordeste brasileiro 
negro e mulato de Jorge de Lima. Todos se beneficiaram do vento de 
liberdade que soprou nos anos 1920. O sertão mineiro (luso, negro e 
caboclo) de Sagarana, o primeiro livro de novelas de Gimarães Rosa, não 
faz propriamente exceção nesse quadro, mas sinaliza um contexto peculiar 
ao Brasil onde o português nunca perdeu sua hegemonia no processo de 
mestiçagem linguística (SCHWARTZ, 2008, p. 39).
Em nosso livro‑texto, quando apresentamos a Revolução Mexicana, foi aos muralistas mexicanos 
que recorremos para buscar referências:
Siqueiros, Rivera e Orozco, a crítica já disse o quanto souberam fundir motivos 
da história nacional com sugestões formais do cubismo e do expressionismo 
[...] Nesta ordem de ideias, Siqueiros insistia: “aproximemo‑nos, de nossa 
parte, das obras dos antigos povoadores de nossos vales, os pintores e 
escultores índios (maias, astecas, incas); nossa proximidade de clima com 
eles nos dará a assimilação do vigor construtivo de suas obras, em que existe 
um claro conhecimento elementar da natureza, que nos pode servir de ponto 
de partida. Adotemos a sua energia sintética” (BELLUZZO, 1990, p. 242).
8.2 Cultura nas Américas: o caso das vanguardas e o modernismo literário 
no Brasil
Tratando do modernismo na primeira metade do século XX, comparadas ao percurso intelectual de 
Mário de Andrade, as mudanças operadas na estética e na ideologia de Oswald de Andrade, a partir 
202
Unidade III
dos anos 1930, são bem mais perceptíveis, radicais e salutarmente contraditórias. Mário da Silva Brito 
aponta justamente para sua “coragem de desdizer, de retratar‑se, de dialeticamente contradizer‑se, 
de rever‑se a si mesmo, corrigindo enganos, equívocos e às vezes irritada visão de pessoas, fatos e 
circunstâncias” (ANDRADE, 2004, p. 18):
O primeiro texto significativo dessa reviravolta intelectual é uma espécie 
de manifesto, hoje clássico, em que Oswald renega violentamente seu 
passado. É o “antiprefácio” a Serafim Ponte Grande, datado de 1933, ou seja, 
quatro anos após o término do romance. É uma espécie de mea‑culpa por 
seu passado pequeno‑burguês (“um palhaço de classe”) e por ter visitado 
Londres sem ter percebido Karl Marx. No texto, ele revela seu desejo de ser, 
pelo menos, “casaca de ferro na Revolução Proletária”. A evolução política 
de Oswald faz com que ele repense totalmente o seu papel na sociedade e 
passe a assumir, a partir dos anos 1930 (denominados pelo próprio Oswald 
como a “Era Revolucionária de 1930”), a postura de um intelectual engagé. 
Se já representara para ele um desafio durante a virada socializante dos 
anos 1930, tal missão se intensificaria ainda mais com os eventos que 
culminaram na Segunda Guerra. [...] O papel do intelectual e do artista 
é tão importante hoje como o do guerreiro de primeira linha (ANDRADE, 
2004, p. 99‑100 apud SCHWARTZ, 2008, p. 87).
8.3 Cultura nas Américas: discurso de Gabriel García Márquez no recebimento 
do Nobel de Literatura: a solidão da América
Para enfatizar o valor literário dos latino‑americanos no decorrer das décadas de 1960, 1970, 
1980 e 1990, além da primeira década do século XXI, remetemos a uma parte do discurso do escritor 
colombiano Gabriel García Márquez por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel de Literatura. Após 
fazer um arrazoado do que era a América Latina Colonial, o autor empreende uma aproximação com o 
tempo presente tão intensa que merece seu registro aqui,
[...] América Latina, essa pátria imensa de homens alucinados e mulheres 
históricas, cuja tenacidade sem fim se confunde com a lenda. Não tivemos, 
desde então, um só instante de sossego. [...] Os desaparecidos pela repressão 
somam quase 120 mil: é como se hoje ninguém soubesse onde estão todos 
os habitantes da cidade de Upsala. Numerosas mulheres presas grávidas 
deram à luz em cárceres argentinos, mas ainda se ignora o paradeiro de seus 
filhos, que foram dados em adoção clandestina ou internados em orfanatos 
pelas autoridades militares. Por não querer que as coisas continuem assim, 
morreram cerca de duzentas mil mulheres e homens em todo o continente, 
e mais de cem mil pereceram em três pequenos e voluntariosos países da 
América Central – Nicarágua, El Salvador e Guatemala. Se fosse nosEstados 
Unidos, a cifra proporcional seria de um milhão e 600 mil mortes violentas 
em quatro anos. [...] O país que poderia ser feito com todos os exilados e 
emigrados forçados da América Latina teria uma população mais numerosa 
203
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
que a da Noruega. [...] Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e 
malandros, todos nós, criaturas daquela realidade desaforada, tivemos que 
pedir muito pouco à imaginação, porque para nós o maior desafio foi a 
insuficiência de recursos convencionais para tornar nossa vida acreditável. 
Este é, amigos, o nó de nossa solidão. [...] Pois se estas dificuldades nos 
deixam – nós, que somos de sua essência – atordoados, não é difícil entender 
que os talentos racionais deste lado do mundo, extasiados na contemplação 
de suas próprias culturas, tenham ficado sem um método válido para nos 
interpretar [...] (MÁRQUEZ, 2009, p. 8‑13).
E ajusta o discurso a fim de ressaltar como a América Latina é única e não inferior à Europa,
A interpretação da nossa realidade a partir de esquemas alheios só contribui 
para tornar‑nos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada 
vez mais solitários. Talvez a Europa venerável fosse mais compreensiva se 
tratasse de nos ver em seu próprio passado. [...] Por que a originalidade que 
é admitida sem reservas em nossa literatura nos é negada com todo tipo 
de desconfiança em nossas tentativas tão difíceis de mudança social? Por 
que pensar que a justiça social que os europeus desenvolvidos tratam de 
impor em seus países não pode ser também um objetivo latino‑americano, 
com métodos distintos e em condições diferentes? [...] diante a opressão, 
do saqueio e do abandono, nossa resposta é a vida. [...] meu mestre 
William Faulkner, disse nesse mesmo lugar: “Eu me nego a admitir o fim do 
homem”. [...] Diante desta realidade assombrosa, que através de todo tempo 
humano deve ter parecido uma utopia, nós, os inventores de fábulas que 
acreditamos em tudo, nos sentimos no direito de acreditar que ainda não é 
demasiado tarde para nos lançarmos na criação da utopia contrária. Uma 
nova e arrasadora utopia da vida, onde ninguém possa decidir pelos outros 
até mesmo a forma de morrer, onde as estirpes condenadas a cem anos 
de solidão tenham, enfim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre 
a terra. [...] Por isso é natural que eu me interrogasse, lá naquele bastidor 
secreto onde costumamos enfrentar‑nos às verdades mais essenciais que 
conformam nossa identidade, qual terá sido o sustento constante da minha 
obra, o que pode ter chamado a atenção, de forma tão comprometedora, 
desse tribunal de árbitros tão severos (MÁRQUEZ, 2009, p. 8‑13).
Ressalta o autor nessa passagem a originalidade e a necessidade de se pensar a América em si. A 
menção à história da repressão no continente é dramática, uma vez que estabelece um paralelo para pensar 
numa equivalência de impacto se os ocorridos tivessem lugar nos Estados Unidos e, a partir desse trecho, 
o autor passa a enfatizar outro aspecto para além da violência e da barbárie das ditaduras, passa a falar 
da qualidade das pessoas e da sua produção artística. García Marquez passa a reivindicar a necessidade de 
se interpretar as culturas em seus próprios códigos e não com transposições equivocadas e muitas vezes 
imprecisas, no mínimo. Assim, procuramos pontuar diversos aspectos da complexa vida nas Américas, em 
suas mais diversas facetas, mas tomando sempre o cuidado de não acreditar simplesmente nas aparências 
204
Unidade III
mais superficiais da realidade, alardeando o que muitas vezes é apenas o senso comum que nos atrapalha 
na complexa tarefa de entender nossa realidade americana para além da construção dos mitos.
205
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Resumo
Para finalizar nosso livro sobre a América Contemporânea, escolhemos 
retornar à problematização lançada na primeira unidade e abordar de 
que maneira o mundo globalizado e o neoliberalismo foram construídos 
– pensando mais especificamente como influenciaram as relações entre 
os Estados Unidos e seus vizinhos. Dessa maneira, tratamos do avanço 
do pensamento liberal economicamente mais conservador socialmente e 
chegamos às discussões sobre inclusão e exclusão social no seio da maior 
potência econômica e militar do final do século XX e início do século XXI. 
Tratamos da “pavimentação” dos caminhos que conduziram Reagan e 
Bush “pai” ao Salão Oval da Casa Branca e também dos significados dos 
governos de Clinton e de Bush “filho”, tratando sempre da preocupação 
em entender a interface entre a política interna e a política externa dos 
Estados Unidos. Dessa forma, era inevitável abordar o 11 de Setembro, mas 
o transformamos mais em um referencial do que o tratamos como objeto 
das discussões. Serve esse momento para entender ações no governo de 
Bush “filho” e depois dos discursos de Barack Obama no esforço de resgatar 
a liderança mundial norte‑americana.
O contexto social da América Latina não fica de lado e, por isso, tratamos 
de graves crises envolvendo o narcotráfico na Colômbia e de seu combate, 
além das discussões em torno da figura de Hugo Chávez.
Uma discussão fundamental nessa parte do livro é a construção dos 
movimentos de reação ao neoliberalismo e à globalização, além a crescente 
demanda por participação política nas sociedades americanas. Então 
apresentamos movimentos sociais como o levante do Exército Zapatista de 
Libertação Nacional (EZLN), no México, o Fórum Social Mundial, em Porto 
Alegre e a Revolta dos 20 Centavos, em 2013, no Brasil – ressaltando como 
no início do século XXI são muitas as demandas sociais, apesar da retórica 
desenvolvida com a globalização.
Para finalizar, apresentamos algumas discussões relativas às artes no 
continente e também acerca da importância da literatura na construção 
disso, que dificilmente é possível de se determinar como sendo o americano.
206
Unidade III
 Exercícios
Questão 1. (Enade 2005) “Numa manhã clara de setembro de 1976, Orlando Letelier, influente 
ex‑embaixador chileno em Washington, jazia morto e mutilado em Sheridan Circle na Embassy 
Row, em Washington, com o seu carro despedaçado por uma bomba acionada por controle remoto. 
Apenas alguns meses antes, os esquadrões da morte na Argentina tinham sequestrado e executado 
um ex‑presidente da Bolívia e dois dos líderes políticos mais proeminentes do Uruguai” (JOHN DINGES).
O texto faz referência:
A) À Aliança para o Progresso, criada pelos Estados Unidos em 1961, como um instrumento para 
combater o avanço do comunismo na América Latina.
B) À Operação Condor, que eliminou dezenas de opositores das ditaduras militares da América do Sul.
C) Aos Corpos da Paz formados pelos Estados Unidos para atuar na América Latina.
D) À Operação Pan‑americana, criada em 1959, para combater o tráfico de drogas no continente 
americano.
E) À ação policial patrocinada pela Comunidade das Nações Sul‑americanas contra os crimes de 
lavagem de dinheiro.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Aliança para o Progresso acabou em 1971.
B) Alternativa correta.
Justificativa: a Operação Condor foi uma operação secreta que reuniu membros de governos 
ditatoriais sul‑americanos e dos EUA para eliminar opositores aos regimes vigentes. Suspeita‑se que o 
ex‑presidente João Goulart tenha sido assassinado por agentes dessa operação.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: os Corpos da Paz, a não ser que seja provado um possível envolvimento com o 
anticomunismo, foi um programa criado para promover a saúde em países pobres.
207
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Operação Pan‑americana foi criada para eliminar a miséria e, assim, esvaziar o 
discurso socialista. Foi criada por Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil, e, em princípio, foi pacífica.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a alternativa é totalmente absurda.
Questão 2. (Enade2011) Muitos historiadores do Tempo Presente testemunharam processos de 
redemocratização acontecidos após o fim das ditaduras militares e civis implantadas nas décadas de 1960 
e 1970 na América Latina. Durante a década de 1980, diversos desses historiadores participaram de 
movimentos populares clamando pelo fim dos regimes autoritários.
Considerando o processo de redemocratização acima mencionado, analise as afirmações que 
se seguem.
I – No Chile, o movimento levou, em 1989, à eleição de Patrício Aylwin, que assumiu o poder no 
lugar de Augusto Pinochet, propondo reformas democratizantes de restabelecimento as liberdades civis.
II – No Peru, na década de 1980, os movimentos Sendero Luminoso e Tupac Amaru apoiaram 
politicamente Alan Garcia e, posteriormente, Alberto Fujimori no processo de redemocratização.
III – No Haiti, na década de 1980, enquanto em outros países latino‑americanos aconteciam lutas 
pela redemocratização, estabelecia‑se um governo ditatorial, pondo fim ao período democrático iniciado 
na década de 1950 por François Duvalier.
É correto apenas o que se afirma em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa A.
208
Unidade III
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: no Chile, embora os avanços tenham sido tímidos, houve um expurgo da época do 
mandato de Pinochet.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o Sendero Luminoso e o Tupac Amaru se opunham violentamente ao governo de 
Fujimori, tido como um representante do neoliberalismo.
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: ao contrário, o Haiti saíra de regimes ditatoriais justamente nesse período.
209
REFERÊNCIAS
Audiovisuais
A BATALHA de Seattle. Direção: Stuart Townsend. França, 2008. 99 min.
BOA noite, e boa sorte. Direção: George Clooney. EUA, 2005. 90 min.
OS BOSTONIANOS. Direção: James Ivory. EUA, 1984, 115 min.
CAMINHO para Guantánamo. Direção: Michael Winterbottom. Reino Unido, 2006. 95 min.
CAPITALISMO: uma história de amor. Direção: Michael Moore. EUA, 2009. 120 min.
CHICOGRANDE. Direção: Felipe Cazals. México, 2010. 95 min.
CIDADÃO Kane. Direção: Orson Welles. EUA, 1941. 119 min.
O DIA Seguinte. Direção: Nicholas Meyer. EUA, 1983. 127 min.
ENCONTRO com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá. Direção: Silvio Tendler. Brasil, 
2006. 89 min.
O ENCOURAÇADO Potemkin. Direção: Sergueï Mikhailovich Eisenstein e Grigori Aleksandrov. União 
Soviética, 1925. 72 min.
ESTRELANDO Pancho Villa. Direção: Bruce Beresford. EUA, 2003. 112 min.
EVITA. Direção: Alan Parker. EUA, 1996. 134 min.
THE final year. Direção: Greg Barker. EUA: Motto Pictures, 2017. 89 min.
HOLANDA, C. B. Apesar de você. Intérprete: Chico Buarque de Holanda. In: Chico Buarque. Philips, 
1978. 1 disco. Lado B, faixa 6.
HOMO sapiens 1900. Direção: Peter Cohen. Suécia, 1998. 89 min.
INDÚSTRIA americana. Direção: Steven Bognar; Julia Reichert. EUA: Higher Ground Productions, 2019. 
110 min.
OS INFRATORES. Direção: John Hillcoat. EUA, 2012. 115 min.
OS INTOCÁVEIS. Direção: Brian De Palma. EUA, 1987. 119 min.
210
A INVENÇÃO de Hugo Cabret. Direção: Martin Scorcese. EUA, 2011. 126 min.
O LABIRINTO do Fauno. Direção: Guillermo del Toro. Espanha; México, 2006. 112 min.
A LUTA pela Esperança. Direção: Ron Howard. EUA, 2005. 144 min.
MAD Max. Direção: George Miller. Austrália, 1979. 93 min.
MAD Max 2: A caçada continua. Direção: George Miller. Austrália, 1981. 95 min.
MAD Max 3: Além da Cúpula do Trovão. Direção: George Miller. Austrália, 1985. 105 min.
MAUÁ, o Imperador e o Rei. Direção: Sergio Rezende. Brasil, 1999. 135 min.
MEMÓRIAS cubanas: Marcos, estamos aqui. Direção: Gianni Minà. Cuba: 2007. 72 min.
UMA NOITE em 67. Direção: Renato Terra e Ricardo Calil. Brasil, 2010. 93 min.
O PACIENTE: o caso Tancredo Neves. Direção: Sérgio Resende. Brasil: Globo Filmes, 2018. 100 min.
QUESTÃO de Honra. Direção: Rob Reiner. EUA, 1992. 138 min.
REDS. Direção: Warren Beatty. EUA, 1981. 194 min.
A REVOLUÇÃO não será televisionada. Direção: Kim Bartley; Donnacha O’Briain. Irlanda, 2003. 74 min.
TANCREDO: a travessia. Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2011. 104 min.
NO TEMPO das borboletas. Direção: Mariano Barroso. EUA; México, 2001. 95 min.
TEMPOS Modernos. Direção: Charles Chaplin. EUA, 1936. 83 min.
TRABALHO interno. Direção: Charles Ferguson. EUA, 2010. 109 min.
AS VINHAS da ira. Direção: John Ford. EUA, 1940. 130 min.
VIVA Zapata! Direção: Elia Kazan. EUA, 1952. 115 min.
VOTO feminino no Brasil completa 83 anos nesta terça‑feira. 2015. 1 áudio. (5m40s). Publicado por 
Rádio EBC. Disponível em: https://bit.ly/3HhMP7W. Acesso em: 16 jun. 2022.
211
Textuais
AGGIO, A. O Chile de Allende: entre a derrota e o fracasso. In: FICO, C. et al. (org.). Ditadura e 
Democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
ALMEIDA, P. R. Brasileiros na Guerra Civil Espanhola, 1936‑1939: combatentes brasileiros na luta contra 
o fascismo. Revista Sociologia e Política, Curitiba, a. 4, n. 12, 1999. Disponível em: https://bit.ly/3xJu22b. 
Acesso em: 14 jun. 2022.
ALTMAN, M. Hoje na história: 1937 “Massacre da Salsinha”: ditador dominicano ordena erradicação de 
haitianos. Opera Mundi, São Paulo, 2 out. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3O53cqM. Acesso em: 
16 jun. 2022.
ALVES, F. N. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o centenário da Doutrina Monroe. Biblos, 
Rio Grande, v. 16, p. 87‑96, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3mKZqHc. Acesso em: 14 jun. 2022.
ANDRADE, O. Ponta de lança. São Paulo: Globo, 2004.
ANDREO, I. L. Teologia da libertação e cultura maia chiapaneca: o congresso indígena de 1974 e as 
raízes do Exército Zapatista de Libertação Nacional. São Paulo: Alameda, 2013.
ANGELO, V. A. Operação Condor: ditaduras se uniram para perseguir adversários. UOL, 2 set. 2008. 
Disponível em: https://bit.ly/3Qqy5rE. Acesso em: 22 jun. 2015.
ANTUNES, P. Ditaduras militares e institucionalização dos serviços de informação na Argentina, no 
Brasil e no Chile. In: FICO, C. et al. (org.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e 
perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
ARAÚJO, M. P. et al. Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho. Rio de 
Janeiro: Ponteio, 2013.
ARAÚJO, M. P. Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 1970. Ditadura 
e democracia na América Latina. In: FICO, C. et al. (org.). Ditadura e democracia na América Latina: 
Balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
ARELLANO, A. B. Chiapas: construindo a esperança. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ARRUDA, J. J. Nova história moderna e contemporânea. Bauru: Edusc, 2004.
ÁVILA, C. F. D. Ensaio geral do fim. Revista de História, 1º maio 2012. 
Disponível em: https://bit.ly/3MSnenl. Acesso em 22 jun. 2015.
BANDEIRA, L. A. M. O Barão de Rothschild e a questão do Acre. Revista Brasileira de Política Internacional, 
Brasília, v. 43, n. 2, dez. 2000. Disponível em: https://bit.ly/3b1JnSU. Acesso em: 16 jun. 2022.
212
BARBOSA, C. A. S. A Revolução mexicana. São Paulo: Unesp, 2010.
BARBUY, H. O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. Anais do Museu Paulista, v. 1, 
n. 4, p. 211‑261, 1996. Disponível em: https://bit.ly/3OfPQb3. Acesso em: 22 jun. 2015.
BELLUZZO, A. M. M. (org.) Modernidade: vanguardas artísticas na América Latina. São Paulo: Memorial 
da América Latina/Unesp, 1990.
BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório. Brasília: CNV, 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Sase realiza seminário com países da Unasul. Brasília, 2014. Disponível 
em: https://bit.ly/3Oe66cz. Acesso em: 16 jun. 2022.
BRASIL. Senado Federal. Secretaria da Informação Legislativa. Ato Institucional (n. 1), de 9 de abril de 
1964. Disponível em: https://bit.ly/39noIrX. Acesso em: 14 jun. 2022.
BRENER, J. 1929: a crise que mudou o mundo. São Paulo: Ática, 1998. (Coleção Retrospectiva do 
Século XX).
BRIGE, M. Votán‑Zapata. A marcha indígenae a sublevação temporária. São Paulo: Xamã, 2002.
BRINGEL, B.; MUNÕZ, E.E. Dez anos de Seattle, o movimento antiglobalização e a ação coletiva 
transnacional. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, n. 46, jan./abr. 2010.
BUTCHER, P. A reinvenção de Hollywood: cinema americano e produção de subjetividade nas sociedades de 
controle. Revista Contemporânea, Rio de Janeiro, n. 3, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3xSiOZq. Acesso 
em: 14 jun. 2022.
CANCIAN, R. Governo Vargas (1951‑1954): suicídio de Getúlio pôs fim à Era Vargas. UOL, 28 ago. 2013. 
Disponível em: https://bit.ly/2B41280. Acesso em: 14 jun. 2022.
CARNEIRO, M. B. A Guerra civil espanhola: lembranças e esquecimentos. Curitiba: UFPR, 2010.
CERVO, A. L. Sob o signo neoliberal: as relações internacionais da América Latina. Revista Brasileira 
de Política Internacional, v. 43, n. 2, p. 5‑27, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3OipfKD. Acesso em: 
14 jun. 2022.
CHOMSKY, N. 11 de Setembro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
COLBY, G. Seja feita a vossa vontade. A conquista da Amazônia: Nelson Rockefeller e o Evangelismo na 
Idade do Petróleo. Rio de Janeiro: Record, 1998.
COUTINHO, L. F. A opção bolivariana da diplomacia brasileira. Veja, 10 abr. 2015. Disponível em: 
https://bit.ly/3aPXcUc. Acesso em: 14 jun. 2022.
213
COUTINHO, L. F. A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul‑Americana–IIRSA como 
instrumento da política exterior do Brasil para a América do Sul. OIKOS, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, 
2008. Disponível em: https://bit.ly/3MRQ07l. Acesso em: 14 jun. 2022.
COUTINHO, L. F. Política externa brasileira para a América do Sul: as diferenças entre Cardoso 
e Lula. Civitas – Revista de Ciências Sociais, v. 1, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3zBxwVE. 
Acesso em: 14 jun. 2022.
DISCURSOS que mudaram o mundo. São Paulo: Folha Livros, 2010.
DONGHI, T. H. História da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
DORATIOTO, F. F. M. A política platina do Barão do Rio Branco. Revista Brasileira de Política Internacional, 
Brasília, v. 43, n. 2, dez. 2000. Disponível em: https://bit.ly/3MTgjtM. Acesso em: 14 jun. 2022.
DUSSEL, E. História de la Iglesia en América Latina. Medio milenio de coloniaje y liberación (1492‑1992). 
Madrid: Mundo Negro/Esquila Misional, 1992.
EBRAICO, P. R. B. M. As opções de geopolítica americana: o caso do golfo pérsico. 2005. Dissertação (Mestrado 
em Relações Internacionais) – PUC‑Rio, Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3aYg5nW. 
Acesso em: 16 jun. 2022.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1997.
FAZIO, C. Samuel Ruiz, El Caminante. México: Espasa Calpe, 1994.
FICO, C. O Golpe de 1964 e o papel do governo dos EUA. In: Ditadura e democracia na América Latina: 
balanço histórico e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
FINGUERUT, A. Entre George W. Bush (2000 – 2008) e Barack H. Obama (2009): a efetividade da Nova 
Direita no consenso político norte‑americano. Campinas: Unicamp, 2014.
FUENTES, C. Contra Bush. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
GENNARI, E. EZLN: passos de uma rebeldia. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
GIOVANNI, J. R. Seattle, Praga, Gênova: política antiglobalização pela experiência da ação de rua. 2007. 
Dissertação (Mestrado) – FFLCH, Departamento de Antropologia, São Paulo, 2007.
GOMBATA, M. “Imprensa aceitou a censura”, diz historiadora. Carta Capital, 17 jan. 2014. Disponível em: 
https://bit.ly/3QhnQpv. Acesso em: 14 jun. 2022.
GRINBAUM. Diário de Che Guevara sobre guerra do Congo é publicado no Reino Unido. Folha Online, 
Londres, 13 ago. 2000. Disponível em: https://bit.ly/3Hra53y. Acesso em: 22 jun. 2015.
214
HARVEY, D. O neoliberalismo: história e implicações. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
HARVEY, N. La rebelión de Chiapas. La lucha por la tierra y la democracia México: Era, 2000.
HEINSFELD, A. A busca da hegemonia regional: a recepção da doutrina do Big Stick no Brasil e 
na Argentina. CDN, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3NSjhQR. Acesso em: 14 jun. 2022.
HIRST, P. globalização em questão: a economia internacional e as possibilidades de governabilidade. 
Petrópolis: Vozes, 1998.
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX (1914‑1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HOLDER, C. Especial Natal 413 anos: “Trampolim da Vitória” dos EUA na 2ª Guerra. G1, Rio Grande 
do Norte, 24 dez. 2012. Disponível em: http://glo.bo/3Qm7ags. Acesso em: 14 jun. 2022.
IOKOI, Z. M. G. Movimentos sociais na América Latina: mística e globalização. In: COGGIOLA, O. (org.) 
América Latina: encruzilhadas da História Contemporânea. São Paulo: Xamã, 1999.
JENKINS, P. Uma história dos Estados Unidos da América. Lisboa: Texto & Grafia, 2012.
JIMÉNEZ, F. V. Cubanos en la guerra civil española. La presencia de voluntarios en las brigadas 
internacionales y el ejército popular de la república. Revista Complutense de Historia de América, 
Madrid, n. 25, 1999. Disponível em: https://bit.ly/3QjBkkt. Acesso em: 16 jun. 2022.
JUDENSNAIDER, E. Vinte centavos: a luta contra o aumento. São Paulo: Veneta, 2013.
JUDENSNAIDER, I. Santa Maria de Iquique, há cem anos. La Insignia, 25 nov. 2007. Disponível em: 
https://bit.ly/3NTrB2J. Acesso em: 14 jun. 2022.
KARNAL, L. et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.
KLEMI, A. M. M.; MENEZES, R. G. A resiliência do Mercosul: trajetória e lugar do bloco na integração 
regional. Revista do CEAM, n. 2, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3NY11FB. Acesso em: 14 jun. 2022.
KOCHER, B. Globalização: atores, ideias e instituições. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.
LEITE, J. C. Fórum social mundial: a história de uma invenção política. São Paulo: Fundação Perseu 
Abramo, 2003.
LLOSA, M. V. A festa do bode. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2011.
LOPES, M. A. (org.). Fernand Braudel: tempo e história. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
215
MARIN, D. C. Obama declara a morte de Osama Bin Laden. Estadão, 2 maio 2011. Disponível em: 
https://bit.ly/39nWahT. Acesso em: 14 jun. 2022.
MARINHO, H. A. M. P. Estados Unidos: o contexto dos anos 1970 e as crises do petróleo. Revista História 
em Reflexão. Dourados, v. 4, n. 7, jan/jun. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3tDdTce. Acesso em: 
22 jun. 2015.
MÁRQUEZ, G. G. Cem anos de solidão. Rio de Janeiro: Record, 2009.
MARTINS, C. E. Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina. São Paulo: Boitempo, 2011.
MASSON, P. A Segunda Guerra Mundial: história e estratégias. São Paulo: Contexto, 2011.
MAZZUCCHELLI, F. A crise em perspectiva: 1929 e 2008. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 82, 
p. 57‑66, nov. 2008. Disponível em: https://bit.ly/3zASMe7. Acesso em: 16 jun. 2022.
MELO, F. R. Família norte‑americana e miséria: análise das representações da pobreza e da instituição 
familiar em “As vinhas da Ira”, de 1940. Curitiba: UFPR, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3mKodLK. 
Acesso em: 16 jun. 2022.
MELLO FILHO, M. S. B. A. Economia política do governo Reagan: Estado Neoliberal, Tributação e Gasto 
Público Federal nos Estados Unidos da América entre 1981 e 1988. 2010. Dissertação (Mestrado em
Economia) – Instituto de Economia, Rio de Janeiro, 2010.
MENDES, R. A. S. América Latina: Interpretações da origem do imperialismo norte‑americano. Projeto 
História. Revista do Programa de Estudos Pós‑Graduados de História, v. 31, n. 2, 2005. Disponível em: 
https://bit.ly/3MQh7jo. Acesso em: 14 jun. 2022.
MÉNDEZ, N. P. Do lar para as ruas: capitalismo, trabalho e feminismo. Mulher e Trabalho, v. 5, 2011. 
Disponível em: https://bit.ly/3n68wPb. Acesso em: 14 jun. 2022.
MESTRIES, F. Testimonios del Congreso Indígena de San Cristóbal de las Casas. Octobre de 1974. In: 
MOGUEL, J. Historia de la cuestón agraria mexicana: los tiempos de la crisis 1970‑1982. México: Siglo 
Veintiuno, 1990.
MOCELLIN, R. História para o ensino médio: curso completo. São Paulo: Ibep, 2006.
MORAES, J. G. V. Caminhos das civilizações – história integrada: geral e Brasil. São Paulo: Atual, 1998.
NOVAIS, F. A. Portugal eBrasil na crise do antigo sistema colonial (1777‑1808). 3. ed. São Paulo: 
Hucitec, 1985.
OLIVEROS, M. S. J. R. Historia breve de la teología de la liberación (1962‑1990). In: ELLACURÍA, I.; 
SOBRINO, J. (org.). Mysterium liberationis: conceptos fundamentales de la teologia de la liberación. 
Madrid: Trotta, 1990. v. I.
216
PA, A. B. Los “archivos del horror” del Paraguay: los papeles que resignificaron la memoria del 
stronismo. In: FICO, C. et al. (org.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e 
perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
PADRÓS, E. S. Repressão e violência: segurança nacional e terror de Estado nas ditaduras 
latino‑americanas. In: FICO, C. et al. (org.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico 
e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
PAIVA, C. C. O cinema de Hollywood e a invenção da América. BOCC, Portugal, v. 1, n. 1, p. 1‑15, 2006. 
Disponível em: https://bit.ly/2HzfC92. Acesso em: 14 jun. 2022.
PECEQUILO, C. S. Os Estados Unidos e o século XXI. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
PEREA, H. Los mexicanos en la guerra de España. Universidad Veracruzana, [s.d.]. Disponível em: 
https://bit.ly/3HkIEYY. Acesso em: 16 jun. 2022.
PEREIRA, M. A. M. L. Voluntários brasileiros na guerra civil espanhola (1936‑1939): memória e 
militância política. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: 
ANPUH, 2011. p. 1‑14. Disponível em: https://bit.ly/3tAis7c. Acesso em: 14 jun. 2022.
PLANA, M. Pancho Villa e a revolução mexicana. São Paulo: Ática, 1996.
POMINI, I. P. Guerra Civil e autogestão: a revolução espanhola. In: SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E 
PODER: SOCIEDADE CIVIL, 7., 2012, Uberlândia. Anais [...] Uberlândia: Núcleo de Pesquisa em História, 
Cidade e Trabalho, Uberlândia, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3HkdqBa. Acesso em: 16 jun. 2022.
PRADO, M. L. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014.
QUIJANO, A. Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Dossiê América Latina. Estudos 
Avançados, São Paulo, v. 19, n. 55, set./dez. 2005. Disponível em: https://bit.ly/2wig72t. Acesso em: 
14 jun. 2022. 
REIS FILHO, D. A. et al. O século XX, o tempo das crises: revoluções, fascismos e guerras. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2000.
RIBEIRO, T. R. M. Das missões à Comissão: ideologia e projeto desenvolvimentista nos trabalhos da 
“Missão Abbink” (1948) e da Comissão Mista Brasil‑Estados Unidos (1951‑1953). 2012. Dissertação 
(Mestrado) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Rio de Janeiro, 2012. 
Disponível em: https://bit.ly/3zBZGzX. Acesso em: 16 jun. 2022.
ROCHA, R.; PANTOJA, T. As mobilidades da sátira na metaficção historiográfica: uma leitura de 
Galvez, imperador do Acre. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 25, p. 121‑147, 2005. 
Disponível em: https://bit.ly/3aY7B0l. Acesso em: 16 jun. 2022.
217
ROSAS, F. A aventura dos pracinhas brasileiros na segunda guerra mundial. El País, São Paulo, 20 abr. 
2014. Disponível em: https://bit.ly/3y0bM4V. Acesso em: 14 jun. 2022.
SADER, E. et al. Latinoamericana. Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São 
Paulo: Boitempo, 2006.
SANTOS, A. S. O tempo e a história em torno de Fernand Braudel. História da historiografia, Ouro Preto, 
n. 7, out./nov. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3b3K4Ly. Acesso em: 16 jun. 2022.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: 
Record, 2001.
SÃO PAULO. Consulado da Nicarágua em São Paulo. República da Nicarágua: história. Disponível em: 
http://https://bit.ly/39molOt. Acesso em: 22 jun. 2015.
SÃO PAULO. Secretaria de Comunicação. Passe livre começa a partir de segunda‑feira. 2015. Disponível 
em: https://bit.ly/3xtrC6r. Acesso em: 14 jun. 2022.
SCHILLING, V. EUA x América Latina: as etapas da dominação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984.
SCHWARTZ, J. Vanguardas Latino‑americanas: Polêmicas, manifestos e textos críticos. 2. ed. São Paulo: 
Edusp, 2008.
SENHORAS, E. M. A regionalização da segurança na América Latina. Boletim Meridiano 47, v. 11, n. 117, 
p. 12‑14, abr. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3xlfDb2. Acesso em: 16 jun. 2022.
SILVA, K. C. Análise discursiva de “Notícia de um sequestro”, de Gabriel García Márquez: na fronteira 
entre o Jornalismo e a Literatura. 2007. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de 
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
SOARES, D. L. Anarquistas na Guerra Civil Espanhola: uma abordagem a partir das obras literárias de 
Ernest Hemingway e André Malraux. Dissertação (Trabalho de Conclusão de Curso) – UFRGS, Porto 
Alegre, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3aSR3Xn. Acesso em: 16 jun. 2022.
SOUZA, M. Galvez, imperador do Acre. São Paulo: Marco Zero, 1983.
STEINBECK, J. Luta incerta. São Paulo: Record, 1963.
STEINBECK, J. As vinhas da ira. Rio de Janeiro: Record, 2013.
TOSO, S. G. Transición en las formas de lucha: motines peonales y huelgas obreras en Chile 
(1891‑1907). Historia, Santiago, v. 33, p. 141‑225, 2000. Disponível em: https://bit.ly/3mHRczs. Acesso 
em: 16 jun. 2022.
218
URQUIZO, F. L. Fui soldado de levita de esos de caballería. In: MOTA, M. B. História das cavernas ao 
terceiro milênio. São Paulo: Moderna, [s.d.].
VICENTE, M. M. A crise do Estado de bem‑estar social e a globalização: um balanço. São Paulo: Unesp, 
2009. Disponível em: https://bit.ly/3NR8BSk. Acesso em: 16 jun. 2022.
VILLA, M. A. A Revolução mexicana. São Paulo: Ática, 1993.
VOS, J. Una tierra para sembrar sueños: historia reciente de la Selva Lacandona, 1950‑2000. México: 
Fondo de Cultura Económica, 2002.
WARMAN, A. Los índios mexicanos en el umbral del milenio. México: Fondo de Cultura Económica, 2003.
WILLIAMSON, E. História da América Latina. Lisboa: 70, 2012.
WOLF, E. R. Guerras camponesas do século XX. São Paulo: Global, 1984.
219
220
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

Mais conteúdos dessa disciplina