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SUMÁRIO 
 
Introdução ....................................................................................................................... 3 
Assistência de enfermagem em grandes queimados ....................................................... 3 
Etiologias das queimaduras ............................................................................................ 3 
Queimaduras Elétricas .................................................................................................... 4 
Queimaduras Inflamáveis ............................................................................................... 5 
Queimaduras Sólidas ...................................................................................................... 5 
Queimaduras Gasosas ..................................................................................................... 5 
Queimaduras por Radiação ............................................................................................. 5 
CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS ................................................................. 6 
QUEIMADURAS ANATÔMICAS ESPECÍFICAS.................................................... 12 
Fisiopatologia e manifestações clínicas da queimadura ............................................... 15 
Fisiopatologia geral das queimaduras ........................................................................... 20 
Fisiopatologia do metabolismo do queimado ............................................................... 26 
Assistência de enfermagem de urgência ....................................................................... 29 
Primeiro atendimento do paciente queimado................................................................ 40 
Assistência de enfermagem ao cliente queimado (casos) ............................................. 48 
Atendimento no centro de queimados .......................................................................... 51 
Fisiologia do Enxerto .................................................................................................... 61 
Assistência de enfermagem ao paciente portador de enxerto de pele ........................... 62 
Assistência de enfermagem na prevenção e controle da úlcera de estresse no paciente 
queimado .................................................................................................................................. 76 
Assistência de enfermagem nas complicações das queimaduras.................................. 81 
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 88 
 
 
3 
 
Introdução 
 
Entende-se por queimadura o quadro resultante da ação direta ou indireta do 
calor sobre o organismo humano. A despeito de o prognóstico ter melhorado 
dramaticamente, em especial graças ao reconhecimento da importância do debridamento 
precoce e ao progresso no emprego de substitutos biológicos da pele, as queimaduras 
ainda configuram importante causa de mortalidade. Esta se deve principalmente à 
infecção que pode evoluir com septicemia, assim como à repercussão sistêmica, com 
possíveis complicações renais, adrenais, cardiovasculares, pulmonares, 
musculoesqueléticas, hematológicas e gastrointestinais. Além disso, as queimaduras 
resultam em considerável morbidade pelo desenvolvimento de sequelas, estando entre 
as mais graves a incapacidade funcional, especialmente quando atinge as mãos, as 
deformidades estéticas, sobretudo da face, e também aquelas de ordem psicossocial. As 
queimaduras, dependendo da localização, podem ainda causar complicações 
neurológicas, oftalmológicas e geniturinárias. Decorre daí o fato de a correta abordagem 
inicial do queimado ser essencial para o prognóstico a curto e longo prazo. 
 
Assistência de enfermagem em grandes queimados 
 
As lesões que resultam do contato direto ou exposição a quaisquer fontes: 
térmica, química, elétrica ou radio ativa, terminam em queimaduras. 
As lesões por queimadura podem ocorrer quando a energia de uma fonte de calor 
é transferida para os tecidos corporais. A profundidade da lesão varia em função da 
temperatura e duração da exposição. 
 Na população em geral, as ocorrências são mais comuns no sexo masculino 
(57,74%), nos indivíduos de raça branca (71,745), nas crianças de 0-10 anos (46,5%), 
causadas por líquidos aquecidos (44,98%). 
 
Etiologias das queimaduras 
 
Queimaduras Térmicas 
 
São causadas por exposição ou contato com chamas, líquidos, semilíquidos e 
 
4 
 
semissólidos quentes. 
Exemplo: explosão em acidentes de automóveis, lesões por substâncias 
escaldantes, roupas em chamas e combustão de depósitos de líquidos inflamáveis. 
Frio – Congelamento: As queimaduras por frio são raríssimas em nosso país, 
sendo verificadas algumas de origem profissional. 
Calor – Líquidos aquecidos: O calor é o grande responsável pela elevação do 
índice das queimaduras. 
Nos líquidos aquecidos encontramos a maior parte dos acidentes, principalmente 
no grupo infantil, provocado por sopas quentes, chás, água fervente, café, radiador de 
carro, etc. 
 
Queimaduras por Agentes Químicos 
São causadas por contato dos tecidos corporais com ácidos potentes, álcalis ou 
compostos orgânicos. Podem resultar do contato com certos produtos de limpeza 
doméstica e diversos agentes químicos usados na indústria e agricultura. 
As queimaduras químicas podem ter maior ou menor gravidade, dependendo do 
tipo de agente causador (ácido ou base), da concentração deste agente e da duração do 
contato. O primeiro cuidado deve ser uma limpeza da área afetada com água corrente, 
por um período mínimo de 30 minutos. 
 
Queimaduras Elétricas 
São provocadas pelas correntes elétricas, transmitidas por todo o corpo. A 
extensão da queimadura é influenciada pela duração do contato, nível de voltagem e 
trajeto que a corrente elétrica segue quando passa pelo corpo. Podem resultar do contato 
com fio elétrico exposto ou defeito da eletricidade ou poderosas linhas de alta voltagem. 
Caracterizam-se por apresentar lesão no ponto de entrada da corrente elétrica, no 
ponto de saída e em todo o trajeto. Um cuidado especial deve ser tomado nos casos em 
que há rabdomiólise. Ao se verificar uma urina muito escura, o queimado deve ser 
hidratado até se obter uma diurese de 100 ml/hora. Se não houver melhora da turvação 
urinária, deve-se aumentar a infusão de líquidos e administrar manitol 25 g. 
Posteriormente, devem ser administradas doses de manutenção de 12,5 g de ringer/litro, 
para manter a diurese esperada. 
Se houver acidose metabólica, esta deve ser corrigida pela administração de 
 
5 
 
bicarbonato de sódio. 
 
Queimaduras Inflamáveis 
 
As substâncias inflamáveis também são responsáveis por elevado número de 
queimaduras, sobretudo o álcool em suas diversas utilizações, até em desodorantes. O 
petróleo e todos os seus derivados, como gasolina, querosene e todos os solventes de 
tintas geralmente produzem queimaduras graves por atingirem grande área corporal. O 
gás de cozinha é responsável por elevado índice de mortalidade. 
 
Nos inflamáveis ainda podemos incluir a pólvora, utilizada na fabricação de 
fogos de artifícios e até em trabalhos religiosos. Atingem com maior frequência mãos e 
face. 
 
Queimaduras Sólidas 
Nas queimaduras por sólidos aquecidos, aparece com maior frequência o ferro 
de passar roupa, chapas de fogão, escapamento de motocicleta e outros. Geralmente, 
este tipo de queimadura, embora de extensão corporal restrita, atinge camadas mais 
profundas. 
 
Queimaduras Gasosas 
Representados por caldeiras e panelas de pressão: geralmente seus candidatos 
são pessoas não habilitadas à cozinha. Atingem, com frequência, face e pescoço, 
podendo lesar também membros superiores e parte do tórax. A complicação maistraumatizante está relacionada com a queimadura dos olhos. 
 
Queimaduras por Radiação 
O mais frequente é o banho de sol de forma inadequada, tanto quanto ao período 
do dia quanto ao tempo de exposição, reforçado pelo uso indiscriminado de substâncias 
fotossensíveis em forma de bronzeadores que são sempre responsáveis pelas 
queimaduras de 2. º grau. 
Há ocorrências de preparados caseiros como o viticomim, chá de folha de figo 
que contém a furocumarina (substância química que provoca queimaduras graves), 
 
6 
 
coquetéis de chá de beterraba, coca-cola, etc. 
A gravidade destas queimaduras está na grande extensão de área corporal 
atingida, geralmente quase cem por cento, devido ao uso de roupas de banho sumárias 
levando com frequência à hospitalização. 
Mais raras são as queimaduras acidentais produzidas por Raios X e Raios Gama 
(Césio 137 – isótopo radioativo) nos tratamentos radioterápicos aplicados por 
profissionais desatentos. Geralmente atingem áreas corporais restritas, porém já 
comprometidas por outras patologias. 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS 
 
As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a quantidade de tecido 
cutâneo atingido. Essa classificação se faz associando a extensão corpórea lesada à 
profundidade da queimadura. 
 
Primeiro Grau 
 
São as mais superficiais e caracterizam-se pela 
perda da epiderme. A lesão se manifesta com eritema, e a 
queimadura é dolorosa. A epitelização se faz 
espontaneamente, sem deixar cicatrizes ressuscitantes. A 
queimadura solar é um exemplo. 
✓ Lesão da 
epiderme 
✓ Ausência de 
flictenas 
✓ Hiperemia 
✓ Sem repercussões 
hemodinâmicas 
✓ Restauração 
 
Segundo Grau 
 
 
 
 
7 
 
Há perda de toda a epiderme e parte da derme. Há possibilidade de cura 
espontânea através da epitelização originada das células da camada basal dos anexos 
contidos na derme residual. 
Queimaduras de segundo grau superficiais são dolorosas e há presença de 
bolhas. As queimaduras de segundo grau profundas assemelham-se, ao exame 
microscópico, às queimaduras de terceiro grau. Não são dolorosas e curam-se após 
várias semanas. 
 
✓ Epiderme e derme são atingidas 
✓ Presença de flictenas 
✓ Hiperemia, edema e dor 
✓ Preserva anexos epidérmicos 
✓ Baixa probabilidade de sequelas 
✓ Regeneração 
 
Segundo Grau – (Profundo): 
 
Quando toda a epiderme e a maioria dos 
elementos da derme são destruídos, as queimaduras 
são classificadas como parciais profundas. O tecido 
necrosado é aderido e geralmente não há presença de 
bolhas. A dor pode estar presente, mas com menor 
intensidade. 
✓ Maior 
destruição do colágeno dérmico 
✓ Apêndices cutâneos profundos preservados 
✓ Dolorosa, superfície esbranquiçada 
✓ Sequelas cicatriciais 
✓ Regeneração lenta 
Terceiro Grau 
A espessura total da pele está comprometida. 
Geralmente é indolor, não se cura espontaneamente e 
requer transplante de pele. Pode comprometer tecidos 
 
 
8 
 
mais profundos. 
✓ Necrose de coagulação da pele, TCSC, músculo, ossos. 
✓ Esbranquiçada a carbonizada, indolor. 
✓ Profundas alterações locais e sistêmicas 
✓ Enxertia cutânea obrigatória 
 
RESUMO 
Primeiro Grau Restauração 
Segundo Grau Regeneração 
Terceiro Grau Enxerto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DA ÁREA QUEIMADA 
 
• Regra dos 9 
• Tabela de Lund e Browder 
• Palma da mão 
 
Regra dos 9 
É um método prático e rápido de calcular a área corporal comprometida. Porém, 
não é muito precisa, dando margem a erros de cálculo. É atribuído a cada segmento 
corporal o valor 9 ou múltiplo deste. 
 
 
9 
 
Para queimaduras maiores e mais espalhadas, usa-se a REGRA DOS 9% 
(vide figura abaixo): 
 
Um 
adulto de 
frente: 
9% = 
rosto 
9% = 
tórax 
9% = 
abdômen 
9% = 
perna direita 
9% = 
perna esquerda 
9% = os 2 
braços 
1% = órgãos genitais. 
55%=Sub-total 
Agora, de costas: 
9% = costas 
9% = abdômen 
9% = perna direita 
9% = perna esquerda 
9% = os 2 braços 
45%=Sub-total 
55%(frente) + 45%(costas) = 100% da área do corpo. 
 
Palma Da Mão 
Uma regra prática para avaliar a extensão das queimaduras pequenas ou 
localizadas é compará-las com a superfície da palma da mão do acidentado, que 
corresponde, aproximadamente a 1% da superfície corporal. 
Método simples que, em condições de urgência, permiti avaliar a extensão das 
 
10 
 
áreas lesadas, não sendo muito exato o seu resultado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É um método mais exato de estimar a extensão de uma queimadura, que 
 
Tabela De Lund e Browder 
 
 
11 
 
reconhece o percentual da ASCT de diversas regiões anatômicas, principalmente a 
cabeça e as pernas, e as alterações com o crescimento. Ao dividir o corpo em áreas 
muito pequenas e ao fornecer uma estimativa da proporção da ASCT compatível com 
certas regiões do corpo, pode-se obter uma estimativa confiável da ASCT queimada. A 
avaliação inicial é feita na chegada do paciente ao hospital e é revisada no segundo e 
terceiro dia pós-queimadura porque comumente a demarcação não está clara até esse 
período. 
✓ O mais avançado método de cálculo 
de área queimada 
✓ Levar em consideração as várias 
faixas de idade com precisão 
 
 
12 
 
 
QUEIMADURAS ANATÔMICAS ESPECÍFICAS 
 
Queimaduras de diferentes áreas anatômicas requerem tratamentos específicos. 
A consulta com um centro de queimados é fortemente recomendada para pacientes com 
queimaduras no rosto, pés, olhos, axilas, períneo, mãos e articulações importantes. 
 
A) Queimaduras Faciais 
Queimaduras faciais são consideradas lesões sérias e usualmente requerem 
tratamento em um hospital. A possibilidade de dano no trato respiratório deve sempre 
ser considerada. 
 
13 
 
Devido ao rico suprimento de sangue e ao tecido areolar frouxo, as queimaduras 
faciais são associadas com a formação extensiva de edema. Para minimizar essa 
formação de edema, o tronco superior e a cabeça do paciente devem ser elevados a um 
ângulo de 30 graus se o paciente não estiver em choque. Nas crianças, a elevação da 
cabeça pode diminuir o potencial de convulsões durante a ressuscitação. 
 
B) Queimaduras dos Olhos 
Um exame cuidadoso dos olhos deve ser completado o mais rápido possível, 
porque a rápida evolução do edema de pálpebra tornará o exame extremamente difícil 
depois disso. A fluoresceína deve ser usada para identificar uma lesão de córnea. 
Queimaduras químicas nos olhos devem ser enxaguadas com grandes quantidades de 
soro fisiológico conforme o indicado. 
É indicada a instilação de um colírio leve durante o período máximo do edema 
da pálpebra. Pomadas ou colírios antibióticos podem ser usados se foi diagnosticada 
uma lesão de córnea, mas devem ser empregadas somente após consultar o centro de 
queimados. 
Soluções oftálmicas contendo esteroides podem ser perigosas e devem ser 
evitadas. 
A tarsorrafia (Operação de sutura das pálpebras) nunca é indicada na fase aguda. 
 C) Queimaduras dos Ouvidos 
As queimaduras dos ouvidos requerem com antecedência um exame do canal 
externo e do tímpano, antes que o edema ocorra. É importante determinar se a otite 
externa ou a otite média estão presentes, especialmente nas crianças. 
Evite traumas adicionais ou pressão no ouvido. Não se deve usar curativos de 
pressão e não se deve permitir o uso de travesseiros sob a cabeça. 
 
D) Queimaduras das Mãos 
Queimaduras menores das mãos podem resultar somente em incapacidade 
temporária e inconveniência; contudo, lesões térmicas mais extensas podem causar 
perda permanente da função. 
O aspecto mais importante da avaliação física é determinar a situação vascular e 
a possível necessidade de uma escarotomia. A presença de um pulso radial não exclui a 
síndrome de compartimento. A monitoração dos pulsos digitais e palmarescom o 
medidor de fluxo ultrasônico é o meio mais preciso de avaliar a perfusão dos tecidos na 
 
14 
 
mão. 
Eleve a extremidade queimada acima do nível do coração para minimizar a 
formação de edema. A movimentação dos membros envolvidos por cinco minutos a 
cada hora diminuirá o edema. Curativos somente prejudicarão a capacidade de 
monitorar a circulação e devem ser evitados. 
 
E) Queimaduras dos Pés 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assim como com as queimaduras das extremidades superiores, é importante 
avaliar a circulação dos pés em intervalos regulares. O edema deve ser diminuído 
elevando-se a extremidade, e curativos devem ser evitados da mesma forma como com 
as queimaduras das mãos. 
 
F) Queimaduras da Genitália e Períneo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Queimaduras no pênis requerem a inserção imediata de um cateter Foley para 
manter a abertura da uretra. O cateter deve ser fixado externamente para reduzir o 
 
15 
 
trauma mecânico da parede da bexiga ou da uretra. 
Uma escarotomia dorsal também pode ser indicada em queimaduras 
circunferências. 
O edema escrotal, embora geralmente impressionante, não necessita de 
tratamento específico. 
Queimaduras do períneo podem ser difíceis de controlar, contudo, não é 
necessária uma colostomia de desvio. 
 
Queimaduras por Piche 
 
Queimaduras por piche geralmente são queimaduras de contato. O componente 
betume não é absorvido por si mesmo e não tóxico. O tratamento de emergência 
consiste em resfriar o material derretido com água fria. 
A remoção física do piche não é uma emergência. A necessidade urgente é 
esfriar a queimadura. Aplicações frias são indicadas para parar o processo de 
combustão. O piche aderente deve então ser coberto com uma pomada a base de 
vaselina para estimular seu emulsionamento. Após a remoção do piche, avalie a 
profundidade e a seriedade da queimadura. 
 
Fisiopatologia e manifestações clínicas da queimadura 
A necessidade metabólica do queimado é 6 vezes superior ao normal, fazendo 
com que o índice calórico se torne insuficiente para alcançar a alta demanda do 
organismo. 
 
Fisiopatologia Local 
Noções anatomofisiológicas da pele 
As alterações locais que ocorrem na queimadura influenciam diretamente na 
fisiologia geral. 
Um adulto com peso corpóreo em torno de 70 Kg tem cerca de 4.000cm³ de 
pele. Ele especifica em 1 cm³ de pele os seguintes elementos anatômicos: 
- Células – 6.000.000 
- Vasos sanguíneos – 1m 
- Nervos – 4 m 
 
16 
 
- Corpúsculos sensitivos – 5.000 
- Glândulas sudoríparas 100 
- Glândulas sebáceas – 15 
- Folículos sebáceos – 5 
 
A pele e todos os seus anexos protegem o corpo contra invasões de 
microrganismos, produtos químicos e radiações ultravioletas. Tem importante função na 
regulação da temperatura corporal e atua como sensor, informando ao indivíduo o 
estado do meio ambiente. 
A pele é constituída por duas camadas principais: epiderme e derme. 
 
Epiderme: de origem ectodérmica, é constituída de várias camadas celulares, a 
maioria das quais originada das células germinativas que sofrem divisões frequentes do 
estado basal. A sua camada mais externa é constituída pelo estrato córneo, não vivo, que 
descama continuamente. A epiderme é desprovida de nervos e é também avascular, 
recebendo nutrição das papilas do tecido conjuntivo. 
Derme: de origem mesenquimal, é constituída de grossos feixes de tecido 
fibroso entre os quais encontram-se vasos sanguíneos, folículos pilosos, glândulas 
sebáceas e músculos eretores de pelo. A derme não tem capacidade regenerativa, é 
constituída essencialmente por fibras. O organismo substitui a derme perdida através de 
processo cicatriciais de substituição e não recomposição. 
Funções da pele: 
Protege o organismo contra a invasão de microrganismos através das 
propriedades bactericidas, bacteriostáticas e da própria integridade. 
Impede as perdas hídricas e salinas, evitando a desidratação pela ação química e 
biológica. 
 Mantém a temperatura corporal através de mecanismos termo-reguladores. Uma 
pessoa adulta normal evapora em torno de 700 a 800 ml/dia. Para a evaporação de 1g de 
água a 37ºC o organismo necessita uma quantidade de calor correspondente a 0,586 
K/Cal. 
As perdas hídricas através das queimaduras chegam de 123 a 143 ml de 
água/hora/m², necessitando para isso o consumo médio de 1.730 a 2.010 K/Cal/dia. 
A pele tem função secretora através das glândulas sudoríparas e sebáceas, 
eliminando água, sais minerais, graxos e outros. Tem função sensorial, através das 
 
17 
 
terminações nervosas sensitivas, que proporcionam a percepção da dor, tato, variações 
térmicas etc. É sintetizador da Vitamina D, com ajuda da luz solar, e um órgão 
delimitador do corpo. 
A atuação do calor sobre a pele produz uma série de alterações locais que 
resultam da dor, perda de líquidos, destruição dos tecidos e, consequentemente, a 
infecção, com repercussões gerais. 
 
Dor 
 
A dor é uma das primeiras queixas do queimado. É o resultado da ação do calor 
sobre a pele, excitando os filetes nervosos sensitivos. As queimaduras superficiais são 
mais dolorosas que as de 3.º grau, em virtude de grande número de filetes nervosos não 
terem sido destruídos. O inverso ocorre na queimadura profunda, quando a maior parte 
das células sensitivas são destruídas e as remanescentes são protegidas pelos tecidos 
desvitalizados, só reaparecendo posteriormente, após a perda desta crosta. 
A dor deve ser o primeiro sintoma a ser tratado, pois é um fator desencadeante 
de uma série de alterações neuroendócrinas que podem levar ao choque neurogênico. 
 
Perda local de líquidos 
O calor provoca no local queimado uma vasodilatação da rede capilar da derme, 
aumentando a permeabilidade capilar dos vasos, permitindo um extravasamento do 
plasma para o espaço intersticial. 
A formação de vesícula se deve possivelmente à ativação de enzimas 
proteolíticas na pele. 
O líquido coletado na superfície descola a epiderme da derme formando as 
vesículas. O rompimento destas flictenas leva a uma perda real deste conteúdo, 
ocorrendo o contrário no caso de ser mantida a integridade vesicular. Após 48 horas, a 
reabsorção do líquido se faz paulatinamente pela drenagem dos linfáticos e pelos 
capilares venosos, atingindo a sua totalidade, em média, no final de uma semana. 
Este líquido é importante para o organismo por ser semelhante ao plasma 
sanguíneo, rico em eletrólito e proteínas. Sua perda contribui para o desequilíbrio hidro-
eletrolítico e hemodinâmico, interferindo em todo o organismo, necessitando uma 
intervenção que vise compensar essas perdas. 
 
18 
 
 
Destruição dos tecidos 
A destruição dos tecidos no local queimado está diretamente relacionada com a 
intensidade e o tempo de ação do agente calórico. De uma maneira geral, existe uma 
proporcionalidade entre a profundidade das queimaduras e a quantidade de calor que 
atuou no local. 
As lesões apresentam-se com características diversas, segundo a maior ou menor 
intensidade da fonte calórica e o tempo de atuação de cada agente. Estas características 
se apresentam da seguinte forma: 
 
Consequência da ação de pouco calor 
Produz poças alterações, atingindo somente a camada externa da pele. O calor 
produz uma vasodilatação dos capilares superficiais da derme, levando a congestão 
intravascular local que se manifesta por eritema e dor. O epitélio permanece, mas não 
significa que suas células não estejam danificadas. 
As queimaduras de 1.º grau estão caracterizadas nesta descrição; cicatrizam 
espontaneamente em poucos dias. 
 
Consequência do calor de intensidade média 
 
 A ação do calor na pele produz vasodilatação e consequente permeabilização 
capilar aos líquidos. 
A histamina decorrente da destruição celular nas queimaduras ativa outros 
elementos que vão favorecer a permeabilidade vascularpara a saída de eletrólitos e 
proteínas que, por sua vez, aumentam a evasão dos líquidos até produzir a hipovolemia. 
Uma das consequências da hipovolemia é o retardo da microcirculação local que, 
sofrendo outras interferências, leva à formação de microtrombos. 
A volta à normalidade só é possível mediante a recuperação da integridade 
capilar. A dor é intensa no princípio, atenuando com a formação das vesículas e 
voltando a se intensificar com a rotura do epitélio. 
As queimaduras do 2.º grau apresentam estas características e geralmente 
epitelizam espontaneamente em torno de 2 semanas. A infecção pode transformar uma 
queimadura de 2.º grau em 3.º grau, exigindo enxertia de pele para sua cicatrização. 
 
19 
 
 
Consequência da ação do calor intenso em curto período 
O calor intenso e rápido atinge profundamente o local em que atua, produzindo 
destruição fulminante do tecido, levando à mumificação celular. Não há tempo para a 
formação de vesículas, pelo fato de o sangue coagular nos vasos. A região, mesmo à 
distância da área queimada, depende da irrigação destes vasos, produzindo a escara 
seca. 
A dor é intensa até a destruição parcial ou total das células nervosas, 
desaparecendo com a formação da escara e reaparecendo após a eliminação desta, que 
deixam descobertos alguns neurônios remanescentes. Geralmente, esta escara não tem 
tendência para infecção, devido ao dessecamento celular que dificulta a vida dos 
microrganismos. 
Estas características são compatíveis com as queimaduras de 3.º grau, que não 
regeneram espontaneamente, necessitando de enxertia de pele e longa internação. 
 
Consequência da ação de média quantidade de calor durante um longo 
período de tempo. 
Nesta intensidade calórica, a destruição dos tecidos processa-se em 2 fases. 
Primeiro, há todo o processo de formação de vesículas, semelhante à descrição da 
queimadura de 2.º grau. Na segunda fase, ocorre a coagulação do sangue nos vasos, 
surgindo todas as alterações já mencionadas com a ação do calor intenso num curto 
período. 
O edema transforma a necrose em escara úmida favorável à infecção. A dor está 
presente com intensidade, no início do processo, atenuando com a destruição dos 
tecidos nervosos. Estas características identificam uma queimadura de 3.º grau. 
O calor produz outras consequências sobre o revestimento cutâneo, como 
desequilíbrio iônico com a saída de potássio e entrada de sódio nas células, que por si só 
desencadeia uma série de alterações gerais. 
A anóxia tissular, como resultado da deficiência circulatória, é uma 
consequência. 
A destruição das hemácias, levando a hemoglobinemia e hemoglobinúria, 
presentes nas queimaduras elétricas significativas, altera a taxa de hematócrito e 
consequentemente o estado geral do paciente. 
Todas estas alterações, mesmo tratadas adequadamente, podem propiciar a 
 
20 
 
infecção local com intensidade variável. 
 
Fisiopatologia geral das queimaduras 
 
Sistema Respiratório 
O envenenamento por fumaça resulta da inalação dos produtos de combustão. A 
resposta pulmonar inclui uma reação inflamatória localizada, uma redução na ação ciliar 
dos Brônquios e uma redução no surfactante alveolar. 
O edema de mucosa, ocorre nas vias aéreas de menor calibre, levando a uma 
sibilância audível à ausculta. Após várias horas, pode ocorrer o encharcamento do 
epitélio brônquico e pode desenvolver a traqueobronquite hemorrágica. 
O cliente pode apresentar discreta hipertensão arterial, resultando em uma 
redução nos níveis de tensão de oxigênio arterial. 
 
Insuficiência Respiratória 
 
A insuficiência respiratória pode ser definida como a incapacidade dos pulmões 
de arterializar o sangue circulante nos alvéolos. A taxa de arterialização do sangue é 
considerada normal quando o PO² arterial encontra-se entre 75 e 100 mmHg. A 
insuficiência respiratória pode ocorrer também quando há aumento da resistência das 
vias aéreas por obstrução, causando dispneia, mesmo quando o PO² e o PCO² são 
normais. 
 A fisiopatologia da insuficiência respiratória pode ser dividida em duas fases, a 
aguda e a tardia. 
 
Insuficiência respiratória aguda 
 
Todo paciente crítico ou politraumatizado tem tendência a desenvolver 
insuficiência respiratória aguda e desequilíbrio ácido-básico. 
A insuficiência respiratória aguda, desencadeada insidiosamente com poucos 
sinais, é capaz de provocar distúrbios nos órgãos vitais, exigindo percepção aguçada da 
equipe que permanece ao lado do paciente. Clinicamente, pode-se suspeitar de 
hipoxemia na presença de agitação, taquicardia, taquipneia, sudorese ou cianose. 
 
21 
 
O sistema respiratório alveolar é composto de alvéolos capilares e revestimento 
alveolar, onde estão presentes as células pneumócitos tipo I, ocupando 97% da 
superfície alveolar, que são responsáveis pelo transporte de gás. As células pneumócitos 
tipo II revestem 3% da superfície restante. Carregam a substância surfactante que tem a 
função de impedir o colabamento alveolar por ocasião da expiração. 
Há dois tipos principais de alterações respiratórias agudas no queimado: lesões 
por gases tóxicos e superaquecidos e insuficiência respiratória pós-traumática. 
A inalação de substâncias aquecidas como ar quente, principalmente o vapor 
d’água, é capaz de produzir sérios danos à integridade do revestimento da árvore 
respiratória, podendo chegar até os alvéolos no caso do vapor d’água. Em geral, as 
queimaduras térmicas do aparelho respiratório limitam-se às vias aéreas superiores, 
podendo provocar o aparecimento de edema capaz de obstruir parcial ou totalmente as 
vias aéreas. 
A inalação de gases nocivos como a fumaça resultante da combustão de 
produtos tóxicos pode produzir alterações relacionadas coma fisiologia respiratória, 
dentre elas: 
 Interrupção dos movimentos ciliares, prejudicando a remoção de resíduos 
nocivos do aparelho respiratório; 
 Diminuição dos surfactantes, predispondo ao colapso alveolar; 
 Lesão capilar-alveolar levando ao edema já discutido na fisiologia local das 
queimaduras; 
Obstrução das vias aéreas pelas rolhas de fuligem e outras. 
A inalação de fumaça geralmente contém altos índices de monóxido de carbono, 
um gás tóxico capaz de produzir hipóxia anêmica pelo fato de a hemoglobina apresentar 
uma afinidade de combinação de 200 a 300 vezes maior pelo monóxido de carbono do 
que pelo O², não ficando mais disponível para carrear O² até a sua reposição natural que 
ocorre em torno de 120 dias. 
 Por conseguinte, a inalação de fumaça em ambiente fechado é uma ocorrência 
altamente letal por ser resultante da combustão de produto irritante, levando a hipóxia e 
asfixia. 
A insuficiência respiratória pós-traumática ou consolidação pulmonar 
progressiva, também chamada pulmão de choque, é uma forma de edema pulmonar que 
ocorre quando a integridade da membrana alvéolo-capilar pulmonar é rompida por 
combinação de diversas causas, geralmente não infecciosas. É uma alteração comum 
 
22 
 
não só nos queimados, mas também em portadores de traumas em geral. 
O edema que ocorre na célula do endotélio leva à diminuição da complacência 
alveolar, interferindo diretamente no volume do ar movimentado nos alvéolos. O quadro 
poderá evoluir para o colapso alveolar, que é a fase culminante do processo. O colapso 
pulmonar poderá ocorrer pela diminuição dos surfactantes, pela complacência pulmonar 
ou por outras causas. 
Diversos fatores contribuem para a diminuição dos surfactantes, destacando-se: 
✓ O choque, que pode 
desencadear a hipofunção pulmonar e consequentemente a perda dos 
surfactantes; 
✓ A toxidade por O², caracterizada pela dosagem excessiva 
de O² por longo período de tempo, principalmente através de respirador 
artificial, 
✓ A toxemia por septicemia, produzindo lesão capilar 
alveolar. 
 
A alteração respiratória aguda específica do queimado é a obstruçãodas vias 
aéreas superiores decorrente do edema produzido por queimadura de face e pescoço. 
A limitação da expansão pulmonar, própria dos portadores de queimaduras 
extensas do tórax, é acentuada nas queimaduras circulares de 3.º grau, podendo ser 
indicada a escarotomia (incisão que vai relaxar as placas necróticas que circulam o 
tórax). 
A diminuição da complacência pulmonar também pode ocorrer por aplicação 
excessiva de líquidos por via endovenosa, decorrente da conduta terapêutica adotada, 
levando a hipervolemia, que pode evoluir para edema agudo do pulmão, principalmente 
após 48 horas de queimadura, quando o edema começa a ser absorvido. 
O conhecimento da fisiopatologia da insuficiência respiratória aguda permite 
detectar a gravidade da hipóxia e considerá-la como prioridade na conduta terapêutica 
do queimado. 
 
Insuficiência respiratória tardia 
O sistema respiratório do queimado é sede de inúmeras agressões que 
acompanham todo o processo da queimadura, desde a fase inicial até a recuperação 
total. 
 
23 
 
Na fase tardia ocorrem várias complicações comuns no queimado, entre elas, 
pneumonia e broncopneumonia, embolia pulmonar e outros. 
 
Pneumonia e Broncopneumonia 
 
É um processo inflamatório do pulmão, geralmente causado por agentes 
infecciosos. Outros fatores contribuem, como agentes predisponentes desde a fase 
precoce, dentre eles a aspiração de conteúdo gástrico nas alterações de consciência, 
inalação de fumaça tóxica, imobilização no leito, dificuldade da expansibilidade 
pulmonar quando há queimadura circular do tórax, agravando-se nas de 3.º grau, 
diminuição da capacidade pulmonar de erradicar bactérias, como já descrito 
anteriormente. A própria queimadura infectada é uma fonte de infecção pulmonar. A 
desnutrição provocada pelo alto gasto energético no queimado produz fraqueza que 
interfere na expansão do tórax. Outro fator que favorece a infecção é a própria 
contaminação levada pelo instrumental usado na intubação, traqueostomia e aspirações 
de secreções. A pneumonia poderá evoluir para broncopneumonia, que é um processo 
inflamatório pneumônico dos brônquios e de todo o parênquima pulmonar adjacente. 
 
Embolia pulmonar 
Pode se originar na fase aguda, caracterizada pela destruição dos tecidos. 
A ação do calor sobre a pele ricamente vascularizada pode alterar o revestimento 
endotelial, podendo chegar até a coagulação intravascular. A destruição das hemácias, 
que põe em liberdade às hemoglobinas causando a hemoglobinemia, pode favorecer a 
formação de microtrombos. A tromboplastina liberada na destruição tissular em 
quantidades elevadas na corrente circulatória leva à trombose. 
Outras causas que desencadeiam o trombo-embolismo na fase tardia são a 
imobilização prolongada, a idade avançada, varizes de membros inferiores e alterações 
cardiovasculares. 
Toda condição que reduz a velocidade do fluxo sanguíneo pode produzir um 
trombo e consequentemente embolia. 
 
Choque 
O estado de choque é uma condição clínica frequente e uma das primeiras a 
 
24 
 
ocorrer no queimado. O conhecimento da fisiopatologia do estado de choque é 
indispensável a toda equipe, para que as medidas sejam tomadas em tempo hábil. 
É difícil definir o estado de choque, devido às variáveis que interferem nas 
manifestações clínicas do organismo. Foi constatado que o resultado final é sempre uma 
perfusão tecidual inadequada com hipóxia celular em grandes áreas do organismo, 
podendo evoluir para a irreversibilidade na ausência de tratamento adequado em tempo 
hábil, com o que concordam vários autores. O choque pode ser classificado em 
hipovolêmico, cardiogênico, neurogênico e séptico. É difícil o aparecimento do choque 
isoladamente sem que ocorram outras alterações no organismo. 
 
Choque hipovolêmico – ocorre pelo déficit de volume líquido circulante, 
provocado pela perda de plasma e do sangue intravascular. 
 
Choque cardiogênico – resulta da insuficiência cardíaca, ou seja, 
funcionamento deficiente da bomba cardíaca, causando diminuição do débito cardíaco. 
Vários fatores funcionam como desencadeantes, entre eles, a embolia pulmonar e a 
hipovolemia tardia. Caracteriza-se pelo aumento da pressão no leito venoso e da 
resistência periférica. 
Choque neurogênico – tem como fatores desencadeantes à dor e o estresse 
causado pela queimadura. É caracterizado pelo aumento de volume do compartimento 
vascular, sem alterar o volume sanguíneo real, levando a baixa perfusão tecidual. 
 Choque séptico – é decorrente de septicemia, causado por gram-positivos, 
gram-negativos e fungos (cândida albicans). Comum em queimados é reconhecido pela 
hipovolemia e depressão da função cardíaca. 
 
Fisiopatologia do Choque 
O organismo, sofrendo uma injúria como a queimadura, desperta a reação de 
compensação e libera pela medula adrenal catecolaminas que vão atuar nas arteríolas 
venosas e arteriais dos principais órgãos, produzindo vasoconstrição, favorecendo o 
fluxo sanguíneo cardíaco e cerebral. 
Todos os choques em suas diversas fases afetam diretamente a microcirculação. 
Primeiramente, produzindo uma hipovolemia, através da contração dos esfíncteres 
précapilares das arteríolas, levando à hipotensão capilar que, consequentemente, resulta 
em movimentos de líquidos para o espaço vascular, aumentando o volume sanguíneo. 
 
25 
 
Após a compensação do volume sanguíneo, os esfíncteres pré-capilares que tinham se 
fechado voltam à função normal. 
Na ausência de tratamento o organismo sofre outra crise. É o choque que 
persiste, instalando-se a 2.ª fase e agravando o quadro. Nesta fase os shunts 
arteriovenosos se dilatam desviando o fluxo arterial de volta para o sistema venoso. As 
células que recebiam sua nutrição através da microcirculação entram em sofrimento, o 
metabolismo se processa com déficit acentuado de oxigênio, glicose, e outros elementos 
trazidos pelo sangue arterial. Os produtos residuais decorrentes do metabolismo 
aumentam. A histamina é liberada e o esfíncter pós-capilar se fecha tornando o fluxo 
lento com poucos capilares em atividade. Inicia-se a 3.ª fase ou fase de 
descompensação, com interferência da acidose metabólica no esfíncter pré-capilar, que 
se abre, enquanto os pós-capilares permanecem fechados. A atuação da histamina ativa 
a hialuronidase que, por sua vez, atua sobre o ácido hialurônico, favorecendo a 
permeabilidade capilar, permitindo a evasão do líquido plasmático e das moléculas dos 
eletrólitos, seguidos de proteínas de menor volume molecular (como a albumina) para o 
espaço intersticial. Este fato produz um aumento da pressão hidrostática e oncótica, de 
modo a atrair líquidos das áreas próximas. 
O extravasamento do líquido plasmático com os elementos do sangue do espaço 
vascular para o intersticial produz um retardo na microcirculação local. Agrava-se o 
quadro, aumentando a acidose que, em presença da tromboplastina, ativa o sistema de 
coagulação intravascular, favorecendo a aglutinação das hemácias, leucócitos e 
plaquetas, resultando em microtombos. Enquanto tudo isto ocorre, a circulação 
arteriovenosa continua a suprir os elementos necessários às áreas vitais do cérebro e do 
coração. 
Na 4.ª fase, ou de recuperação, se for administrado o tratamento correto, o 
volume sanguíneo efetivo é restabelecido, os esfíncteres pré e pós-capilares são 
relaxados permitindo a remoção dos elementos figurados do sangue para a circulação 
sistêmica. As células muito danificadas são recuperadas total ou parcialmente. Na 
ausência de conduta adequada, o processo evolui para o óbito. 
Os sintomas mais comuns do choque são: palidez, frio, pele úmida, taquipneia, 
isquemia dos lábios, gengivas, língua e pálpebras, pulso filiforme, hipotensão, 
taquiesfigmia. 
 
 
26 
 
Sistema Cardio vascular 
Imediatamente após uma lesão de queimadura, substâncias vaso ativas como: 
catecolamina, histaminae serotonina, são liberadas dos tecidos lesados. 
Essas substâncias causam aumento na permeabilidade capilar, permitindo que o 
plasma extravase para dentro do tecido ao redor. O calor direto lesa os vasos e aumenta 
a permeabilidade capilar; a lesão direta da membrana celular permite a entrada de sódio 
e saída de potássio da célula, levando a um aumento do líquido intracelular e intersticial 
e depleção do volume de líquido intravascular. 
Queimados extensos apresentam edema corporal generalizado, tanto no tecido 
queimado como no não queimado e aumento da circulação do volume de sangue 
intravascular. A frequência cardíaca aumenta, pela liberação de catecolaminas. 
A perda de líquido por evaporação através do ferimento queimado é 4-20 vezes 
maior que o normal e permanece elevada até que seja obtido o fechamento completo do 
ferimento. Se o espaço intravascular não for reposto com líquidos intravenosos, o 
cliente pode ter um choque hipovolêmico. 
 
Sistema Gastrintestinal e Renal 
O organismo reage inicialmente, desviando sangue dos rins, reduzindo a taxa de 
filtração glomerular, causando oligúria. O fluxo de sangue para o mesentério também é 
diminuído, levando ao desenvolvimento do íleo paralítico e disfunção gastrintestinal em 
clientes com queimaduras superiores a 255 de área total superficial do corpo. 
 
Sistema imune 
Ocorre alteração no funcionamento dos neutrófilos e macrófagos, depressão da 
atividade linfocitária, resultando em aumento do risco para infecção e septicemia. 
 
Fisiopatologia do metabolismo do queimado 
 O queimado sofre uma série de alterações gerais, cuja intensidade varia de 
acordo com o paciente e a gravidade do caso. 
Entre as diversas áreas atingidas, a metabólica tem influência decisiva sobre as 
respostas do organismo ao tratamento. 
O metabolismo pode ser definido como um conjunto de fenômenos sofridos 
pelos alimentos capazes de transformá-los em elementos complexos integrantes dos 
 
27 
 
tecidos (anabolismo) e, destes, em substâncias simples (catabolismo), produtora de 
energia para todo o organismo. O gasto metabólico aumenta progressivamente com a 
queimadura. O consumo de O² se torna elevado, normalizando-se gradativamente por 
ocasião da cicatrização da lesão. 
O estresse da queimadura é um fator desencadeante de uma série de alterações 
endócrinas nas glândulas supra-renais, dentre elas a liberação aumentada das 
catecolaminas que atuam diretamente na glicogenólise hepática, liberando glicose e 
ácidos graxos e sobre o pâncreas, dificultando a liberação de insulina. 
A glicose é o suporte energético que sustenta o hipermetabolismo do queimado. 
Portanto, o organismo busca todos os meios para aumentar a taxa de glicose. 
Diversos outros hormônios atuam como mediadores dessa resposta metabólica, 
como os glicocorticoides, o hormônio do crescimento e o glucagon. O resultado final no 
grande queimado é sempre um balanço nitrogenado negativo. Parte do nitrogênio 
eliminado pela urina é decorrente da degradação proteica na área queimada, sendo que a 
maior quantidade da degradação de aminoácidos é proveniente da massa muscular. 
Diante da demanda crescente de energéticos, o organismo utiliza os aminoácidos para 
manter a taxa metabólica. 
O fornecimento de calorias abaixo dos gastos, em cada caso, resulta no rápido 
consumo das reservas do organismo, levando à destruição, com todas as consequências 
graves para o queimado, como: Diminuição da massa muscular pelo consumo de seus 
aminoácidos, o que torna os músculos respiratórios débeis, propiciando a insuficiência 
respiratória e consequentes patologias secundárias; Dificuldade de cicatrização das 
lesões, mantendo a exposição do organismo a infecções; Deficiência imunológica, 
levando a infecções graves. Outros fatores que interferem no equilíbrio metabólico do 
queimado são anorexia, íleo paralítico, úlcera de Curling e até os distúrbios metabólicos 
decorrentes de medidas terapêuticas, como administração de antibióticos e terapêuticas 
tópicas. Tanto quanto possível, deve-se manter um balanço nitrogenado positivo durante 
a evolução pós-queimadura. A manutenção positiva deste balanço resulta em acentuada 
redução nas complicações infecciosas, caindo à taxa de mortalidade e propiciando a 
recuperação precoce. 
Um grande queimado deve receber o dobro das demandas calóricas e proteicas 
normais para poder manter um balanço nitrogenado positivo, isto é, em torno de 4.000 
Kcal por 24 horas. 
 
 
28 
 
FASE DE EMERGÊNCIA / REANIMAÇÃO DO CUIDADO DA 
QUEIMADURA 
 
Cuidado do Local 
Qualquer pessoa que encontre uma vítima de queimadura pela primeira vez pode 
se sentir indefesa. A aparência da pessoa queimada pode ser, aterrorizante. Pode ser 
difícil não dar atenção à aparência da pessoa em lugar de se concentrar nas feridas por 
queimadura consiste em evitar a lesão para o agente de resgate. 
 
 
 
PROCEDIMENTO DE EMERGÊNCIA NA CENA DO FOGO 
Extinguir as chamas 
Quando as vestes pegam fogo, as chamas são extintas como as vítimas deitando 
no chão e rolando (“cair e rolar”); pode ser usada qualquer coisa disponível que abafe as 
chamas como um cobertor, tapete ou capa. Ficar em pé força a vítima a respirar as 
chamas e a fumaça e correr aumenta as chamas. Se a fonte da queimadura for elétrica, a 
fonte de eletricidade deve ser desconectada. 
Resfriar a queimadura 
Depois que as chamas são extintas, a área queimada e as roupas aderidas são 
embebidas em água fria, por breve período de tempo, a fim de resfriar a ferida e 
estancar o processo da queima. Quando uma queimadura for sustentada, a aplicação da 
água fria é a melhor medida de primeiros socorros. 
Embeber intermitentemente a área queimada em água fria ou aplicar toalhas frias 
propicia o alívio evidente e imediato da dor e limita o edema e a lesão tecidual locais. 
Entretanto, nunca aplique gelo diretamente nas queimaduras, nunca envolva as vítimas 
de em queimaduras em gelo e nunca use curativos ou compressas frias por mais de 
alguns minutos; esses procedimentos podem agravar a lesão tecidual e levar a 
hipotermia nos pacientes com grandes queimaduras. 
Remover objetos restritivos 
 Quando possível, remova imediatamente as roupas. As roupas que aderiram 
podem permanecer na posição, quando resfriadas. As outras roupas e todas as joias 
devem ser removidas para possibilitar a avaliação e para evitar a constrição secundária 
 
29 
 
ao edema em desenvolvimento rápido. 
Cobrir a ferida 
A queimadura deve ser coberta o mais rápido possível para minimizar a 
contaminação bacteriana e diminuir a dor ao evitar que o ar entre em contato a 
superfície lesada. Os curativos esterilizados são melhores, mas qualquer tecido limpo e 
seco pode ser utilizado como um curativo de emergência. Não devem ser usados 
pomadas e cremes. Além do curativo, nenhum medicamento ou material deve ser 
aplicado à ferida por queimaduras. 
 
 
Irrigar as queimaduras causadas por substâncias químicas 
As queimaduras por substâncias químicas decorrem do contato com material 
corrosivo são imediatamente irrigadas. Muitos laboratórios de substâncias químicas 
possuem um chuveiro de alta pressão para essas emergências. Quando essa lesão 
acontece em casa, afaste o agente químico, remova as roupas de imediato e lave todas as 
áreas do corpo que tenham entrado em contato a substância química. O enxágue pode 
ocorrer no chuveiro ou em qualquer outra fonte de água corrente contínua. Quando uma 
substância química penetra nos olhos ou fica próxima a eles, os olhos devem ser 
imediatamente lavados com água limpa e fria. Os resultados para paciente com 
queimaduras por substâncias químicas melhoram com a lavagem rápida da lesão no 
local. 
 
Assistência de enfermagem de urgência 
Este tipo de assistência geralmente é prestado em prontos-socorros ou hospitais. 
Deve atuar no atendimento de urgência equipe especializadaou devidamente 
treinada. 
O paciente queimado apresenta características próprias, como estresse, medo, 
ansiedade, irritabilidade, depressão, etc., que vão intensificar o sintoma da dor, 
influenciando diretamente em todos os demais sintomas presentes no quadro clínico do 
queimado. 
A qualidade da assistência de enfermagem é decisiva na recuperação precoce do 
paciente e na prevenção de sequelas físico-psicossocias. 
O paciente deve ser recebido em sala própria para atendimento de queimados até 
 
30 
 
24 horas após o acidente (considerado não infectado); colocado em mesa revestida de 
campo estéril, removidos toda vestimenta, joias e demais objetos de adorno, para 
melhor observação da área queimada. A equipe deve estar devidamente paramentada, 
isto é, usando avental, gorro, máscara e luvas estéreis. 
A assistência, para fins didáticos está dividida em local e sistêmica. 
 
Tratamento geral ou sistêmico imediato 
Visa prevenir os sintomas de anóxia, dor, choque e infecção que devem ser 
tratados o mais precocemente possível. 
 
Tratamento da anóxia 
A anóxia pode ser resultante da insuficiência respiratória ou da anóxia tecidual. 
Deve ser corrigida imediatamente, através de administração de O2 úmido por cateter 
nasal, principalmente nos casos evidentes de acidentes ocorridos em ambientes fechados 
com inalação de fumaça. O paciente pode apresentar, além de rouquidão, queimadura 
total ou parcial dos pelos das narinas e edema. Quando associada às queimaduras da 
face e pescoço que apresentam edema acentuado, o paciente corre o risco de edema de 
orofaringe, o que deve ser evitado, mediante observação constante e, se necessário, 
entubação ou traqueostomia. 
O material necessário para estes procedimentos deves estar em condições de uso 
na sala de urgência. Os pacientes com este quadro deverão ser observados 
constantemente durante 48 horas após o acidente. 
 
Tratamento do Choque 
 O tratamento do choque se caracteriza pelo restabelecimento e manutenção do 
volume líquido circulante. 
O desencadeamento do choque se dá só pela perda de líquidos, mas por vários 
outros fatores já descritos anteriormente, como a dor, o estresse etc. 
O choque é um dos sintomas principais da fase aguda das queimaduras e se não 
prevenido ou tratado precocemente causa vários problemas, chegando a ser irreversível 
e levando o paciente à morte prematura. 
O tratamento consiste na reposição dos líquidos perdidos, a qual deverá ser 
iniciada imediatamente após a coleta de amostra de sangue para exames e da sedação do 
 
31 
 
paciente na sala de urgência. A via escolhida deve ser a periférica, até a avaliação geral 
da necessidade quantitativa de hidratação. 
Para o cálculo dos líquidos que serão infundidos deverão ser consideradas a 
extensão e profundidade da área queimada, o peso do paciente e fatores de risco, como 
idade, patologias preexistentes que influenciarão no estado geral do paciente, entre elas, 
as cardiopulmonares, as nefropáticas, vasculares e outras. 
Em geral, adultos com queimaduras acima de 20% de Superfície Corporal 
Queimada e crianças com queimaduras acima de 10% de (SCQ) deverão ser hidratadas 
por via endovenosa, além da oral. 
Em todos os casos de grandes queimados e em alguns de médio queimados, a 
hidratação deverá ser fita através de uma veia calibrosa (flebotomia ou intracath). 
Controle de reposição de líquidos 
 
O cálculo da quantidade e volume dos líquidos a ser reposta não deve ser 
inflexível e sim adaptado às necessidades específicas de cada paciente, evitando a super 
ou subhidratação. O indicador mais preciso da quantidade adequada é o volume 
urinário. Porém, há outros fatores que devem ser observados, como: 
- Condições gerais do acidentado; 
- Exame do sistema cardiovascular ou respiratório; 
- Idade (geriátricos e crianças toleram menos infusões rápidas, devido às 
características do sistema cárdio-respiratório); 
- Outras patologias preexistentes. 
 
Controle laboratorial 
O hematócrito permite acompanhar a regressão ou progressão da 
hemoconcentração na fase aguda. Outros fatores podem surgir, interferindo nas 
características e no volume sanguíneo, como hemólise das hemácias, úlcera de Curling e 
outros, alterando o resultado do hematócrito a ponto de não servir mais como parâmetro 
para a hidratação adequada. 
Controle dos dados vitais: pulso e P.A, frequência respiratória e P.V.C. 
 
Controle da diurese 
Deverá ser cateterizada a bexiga com sonda vesical de demora. 
 
32 
 
O volume urinário horário no adulto deve manter-se entre 30 a 60 ml/h, 
principalmente nas primeiras 48 horas e, na criança, 1 ml/kg de peso. A redução da 
diurese indica hidratação insuficiente e consequentemente problema renal. O volume 
aumentado indica administração hídrica excessiva ou lesão renal. Estas alterações 
deverão ser corrigidas mediante mudança na conduta terapêutica. 
 
Prevenção de infecção 
A infecção é muito temida no queimado, pois os resultados são funestos, 
retardando a recuperação ou levando a morte. 
A prevenção deve ser iniciada o mais precocemente possível, no hospital, já no 
atendimento de urgência, usando sala asséptica, pessoal treinado e adequadamente 
paramentado. 
Em alguns casos, onde as condições higiênicas da queimadura são precárias, 
utiliza-se antibiótico profilático. 
Rotineiramente, é feita a prevenção do tétano em queimados. Esta infecção é 
grave e quase sempre fatal. 
Os pacientes não imunizados ou que receberam vacina completa há mais de 10 
anos, ou aqueles que não receberam as 3 doses da vacina, devem receber imunização 
ativa e passiva. 
 Alguns serviços preferem fazer a imunização completa nos pacientes com mais 
de 5 anos de vacinação, com 3 doses, fundamentados no princípio do risco da 
conservação inadequada da vacina. 
 
Imunização ativa 
Compreende a administração de um antígeno para estimular a formação de 
anticorpos contra o tétano. Em geral, são necessárias 2 a 3 semanas para se formarem os 
anticorpos. 
 
Imunização passiva 
Compreende a administração de anticorpos formados previamente, tem vida 
curta de atuação, em torno de 3 semanas. 
Geralmente, as crianças estão vacinadas, de acordo com esquema de imunização, 
com a vacina tríplice e os pais ou responsáveis precisam ser ajudados a relembrar o 
 
33 
 
mesmo acontece com as jovens que foram vacinadas no pré-natal. Na indecisão quanto 
a estar ou não imunizado, o paciente deverá receber a imunização ativa e passiva como 
se não tivesse recebido a vacina anteriormente. 
 
Tratamento imediato, no local da área queimada. 
O tratamento local tem por objetivo aliviar e tratar os sinais e sintomas que 
surgem na queimadura, como a dor, perda de líquidos, destruição dos tecidos e infecção. 
O curativo local tem por objetivo isolar e proteger a lesão do meio ambiente por 
tempo suficientemente capaz de recuperá-la. O manejo consciente da área queimada é 
de extrema importância, visando à profilaxia de infecções e a epitelização rápida da 
área. 
 
Método de tratamento local das queimaduras 
Os métodos empregados no tratamento local das queimaduras são dois, o de 
exposição e o de oclusão, já preconizados e usados por seus pesquisadores no início 
deste século. Geralmente, na assistência ao médico e grande queimado são usados 
simultaneamente, o que intitularemos de misto. 
 
Método de oclusão 
O curativo fechado, ou método de oclusão, compreensão e pouso (OCR), é 
indicado nas queimaduras dos pés, mãos, membros, queimaduras de 3.º grau, circular de 
tórax e em tratamento ambulatorial. 
 
Material para confecção do curativo 
- Pacote de curativo (pinça anatômica, pinça dente de rato, tesoura); 
- Cuba rim; 
- Gazes cirúrgicas; 
- Gazes de morim ou rayon; 
- Gazes de rolo ou para queimados, medindo 10x150 cm; 
- Algodão hidrófilo, na ausência deste usar algodão ortopédico;- Atadura de crepe; 
- Fita adesiva ou esparadrapo. 
 
 
34 
 
Soluções e material acessório 
- Soro fisiológico; 
- Sabão líquido neutro; 
- Benzina; 
- Éter; 
- Hamp revestido de saco plástico para lixo. 
 
Procedimento 
Limpar a área com soro fisiológico, com auxílio das pinças, tesouras e gazes; 
retirar os tecidos desvitalizados, detritos e corpos estranhos, como resíduos de vestes; 
tratamento aplicado nos primeiros socorros. 
Existem serviços (Clínica de Queimados e Cirurgia Reparadora – C.Q.C.R – 
H.M.C.C) onde é feita a ressecção de vesículas existentes, mesmo as que não estão 
rotas. 
Conduta a que não se alinham. 
Há duas correntes que deferem condutas diferentes a respeito do tratamento das 
queimaduras com vesículas. 
Aqueles que defendem o não debridamento das vesículas justificam que o 
líquido contido nestas é semelhante ao plasma do sangue e a drenagem favorece a 
espoliação do paciente. Parte deste líquido é reabsorvida posteriormente para o espaço 
intravascular, razão pela qual as vesículas deverão permanecer até a troca do curativo, 
quando serão ressecadas. O debridamento expõe precocemente a área queimada à ação 
de microorganismos. 
Os que usam o método de debridamento das vesículas afirmam que o líquido 
acumulado no interstício dérmico descola a epiderme do derma formando as vesículas. 
Quanto maior a coleção de líquidos dentro das vesículas maiores a área de 
descolamento tornando mais vulnerável o rompimento espontâneo com perda real de 
líquidos. 
A percentagem de líquidos reabsorvida das vesículas até a troca do curativo não 
é tão significativa. Também no cálculo da reposição hídrica não é considerada esta 
reabsorção. 
Portanto, a drenagem não altera a volemia do paciente. 
O rompimento espontâneo das vesículas mais vulneráveis sob o curativo 
funciona como meio de cultura para os germes, que invadem as vesículas não rotas, 
 
35 
 
transformando-as em bolsa de secreção purulenta. 
 
Confecção do curativo 
1.ª camada – cobrir a área queimada e uns 10 cm de pele íntegra adjacente com 
gazes de rayon ou morim, embebidas em soro fisiológico ou vaselina. O morim ou 
rayon deve ser cortado em cada volta circular ao redor do membro ou tórax, prevenindo 
o garroteamento pela formação de edema, facilitando a retirada na troca do curativo; 
2.ª camada – cobrir as gazes de malha fina com gaze para queimado ou gaze de 
rolo. Esta deve ser colocada em ziguezague ou vaivém, atendendo a mesma finalidade 
de prevenção de garroteamento; 
3.ª camada – cobrir a gaze de rolo com um algodão hidrófilo em forma circular e 
uniformemente por toda região; 
4.ª camada – enfaixar compressivamente com ataduras de gazes elásticas (tipo 
crepom). Fixar o curativo com fita adesiva ou tiras de esparadrapo, de tal forma que 
garanta a integridade do curativo por 3 a 4 dias, apesar da movimentação do paciente. 
Cuidados especiais devem ser tomados ao se fazer o curativo nas mãos e pés. Os 
dedos da mão deverão ser envolvidos separadamente com rayon ou morim e, na 2.ª 
camada, com gaze cirúrgica. Posteriormente, deverão ser enfaixados em posição 
funcional, isto é, com os dedos levemente fletidos, como se estivessem segurando uma 
bola de vôlei. Os dedos dos pés também deverão ser envolvidos separadamente, até a 2.ª 
camada, e colocados posteriormente em posição de 90 graus em relação à perna. Esta 
medida visa prevenir a queda plantar, tão comum em pacientes de longa internação com 
movimentos limitados. 
As queimaduras de 3.º grau com circular de membros e tórax geralmente 
necessitam da escarotomia, que consiste em incisões longitudinais, feitas com bisturi, 
para aliviar a compressão que o tecido lesado pode exercer neste local, trazendo 
dificuldade circulatória nos membros e respiratória do tórax. Estes locais, após a 
oclusão com curativos, devem ser observados visando sustar hemorragias, que são 
frequentes. 
A observação da aparência externa do curativo é importante. Quando o 
revestimento externo (atadura de crepe) do curativo está úmido ou sujo, é sinal que 
deixou de ser oclusivo. 
Está sujeito a infecção e deve ser trocado mesmo que a data prevista esteja 
distante. 
 
36 
 
 
Finalidade das gazes utilizadas no curativo 
✓ Gaze de malha fina (rayon ou morim) visa a não 
aderência na área queimada, facilitando a troca de curativos e 
favorecendo a drenagem de secreções. O rayon é mais indicado porque 
os fios não absorvem secreções; portanto, não aumentam o diâmetro, 
favorecendo a drenagem de secreções de forma mais abundante. 
✓ Gaze de rolo ou para queimados – favorece a absorção da 
secreção que drena através da 1.ª camada e permite a proteção da área 
queimada de maneira uniforme, o que não seria possível com gazes 
cirúrgicas, que dificultam a confecção do curativo pelo deslizamento das 
unidades. 
✓ Algodão hidrófilo – permite a absorção da secreção que 
drena através da 2.ª camada do curativo e promove a compressão 
uniforme da área queimada, reduzindo a dor e oferecendo maior 
conforto ao paciente, protegendo-o de traumas secundários na 
movimentação. 
 
O algodão ortopédico não é o mais indicado porque tem menos capacidade de 
absorção. Sua elasticidade é inexistente, o que pode prejudicar a circulação na área 
envolvida, principalmente na formação do edema. 
Atadura de crepom – tem por objetivo a compressão uniforme e suave, além de 
fixação do curativo. O enfaixamento deve obedecer ao princípio fisiológico da 
circulação sanguínea, permitindo compressão uniforme decrescente da extremidade para 
a raiz dos membros. A absorção da perfusão periférica e edemas acentuados permite a 
avaliação do enfaixamento. 
O curativo deverá ser reforçado com fita adesiva ou tiras de esparadrapo, 
permitindo a sua integridade apesar dos movimentos, até a troca, que poderá ocorrer 3 a 
5 dias após. 
 
Método de exposição 
Consiste na exposição completa da área queimada ao meio ambiente. Este 
método é usado para o tratamento de queimaduras de face, pescoço, períneo e tórax de 
 
37 
 
pacientes internados e adultos conscientes. Deve ser evitado nestas regiões, se houver 
exposição de ossos, vasos sanguíneos, nervos e tendões. 
 
Procedimento 
O curativo da área queimada consiste na limpeza da queimadura e região 
circunvizinha com soro fisiológico e sabão neutro, retirando-se corpos estranhos e 
ressecando as vesículas com auxílio de gazes, pinças e tesouras manuseadas com 
delicadeza e habilidade. Nos pacientes com queimadura circular de tórax aos quais for 
indicada a hospitalização, optar pela exposição, mantendo um coxim sob a parte do 
tórax que ficará apoiada no leito. 
O coxim compreende as mesmas camadas do curativo oclusivo, sendo 
substituída à atadura de crepe pelo campo estéril. Este é confeccionado com técnica 
asséptica, de forma inversa à que se faria no paciente, isto é, de dentro para fora, 
seguindo a sequência descrita: abre-se o campo estéril em tamanho proporcional ao da 
região a ser protegida, usando-se uma mesa ou a própria cama do paciente, 
acolchoando-se todo o campo com algodão hidrófilo; recobre-se todo o algodão com 
gaze de rolo aberta, coloca-se em cima o morim ou rayon umedecido com soro 
fisiológico. Põe-se o paciente no leito sobre o coxim, no decúbito indicado, de maneira 
que não flexione o corpo, evitando enrolar as camadas e permitindo uniformidade em 
toda a extensão. 
Toda extensão da área queimada exposta deve repousar sobre campos estéreis 
que deverão revestir o leito. A sustentação de lençóis e cobertores é feita com arco de 
proteção de metal estéril ou, na impossibilidade, devidamente lavado com água e sabão 
e desinfetado. A primeira peça que fica em contato com o arco deve ser campo estéril. 
Sobre este repousarão o lençol, cobertores e colcha. O ambiente deve ser aquecido em 
lugares de clima frio. 
Em geral, após as 48 horas, surge uma crosta fina e lisasemelhante ao esmalte 
sobre a área queimada, resultante do dessecamento do plasma. Esta crosta é chamada de 
curativo biológico. Tem a finalidade de proteger o local queimado contra 
microrganismos, diminui a perda de líquidos, impedindo a evaporação, atenuando a dor 
e isolando as terminações nervosas do contato com o ar. 
 
 
38 
 
Comparação entre os dois métodos de curativos 
Os empregos dos dois métodos (oclusivo e explosivo) dão bons resultados, 
desde que tenham indicação precisa para a aplicação. 
Exposição – Vantagem 
Custo: mais econômico gasto mínimo de material e mão-de-obra. 
Porém, nem todos concordam com esta afirmativa. 
Observação das lesões: permite a observação constante das lesões, 
possibilitando surpreender no início qualquer foco infeccioso. 
Aplicação do método: ideal para face e períneo, locais onde se abrem vários 
artifícios com drenagem de secreções naturais exigindo higiene frequente. 
Proliferação dos germes: o dessecamento do plasma sobre as lesões constitui 
um meio desfavorável à proliferação de germes. 
 Curativos: não há troca de curativos dolorosa. Os curativos são simples, 
restringindo a limpeza diária das secreções sem causar grande desconforto ao paciente. 
 Mobilização: permite movimentação espontânea, possibilitando a observação 
de deformidades de posição e sua correção precoce. No entanto, esta mobilização deve 
ser a estritamente necessária para evitar solução de continuidade e conservar a 
integridade da crosta protetora, podendo haver focos infecciosos em pontos onde esta se 
rompe. 
Desvantagens 
- Aplicação do método: limitado, contra-indicado em queimaduras 
profundas, extensas ou circulares e não indicada para aplicação em ambulatório. 
- Tolerância: nas primeiras 48 horas, enquanto as crostas não se 
formarem, a dor e a sensação de desconforto são mais intensas, exigindo a 
administração de sedativos. 
- Contaminação: favorece a contaminação mesmo em isolamento parcial, 
com observação de técnica asséptica e limpeza rigorosa do ambiente, exigências não 
comumente encontradas na maioria dos hospitais da comunidade brasileira. 
- Proteção contra as variações térmicas: A exposição protege menos o 
paciente contra as variações térmicas do meio ambiente. A temperatura deve ser 
mantida constantemente no verão e inverno. O paciente descoberto não deve sentir frio 
ou calor. 
- Perda de líquidos: Nas primeiras 48 horas, a perda de líquidos é maior 
devido à evaporação, intervendo-se esta situação na fase tardia. Duas condições básicas 
 
39 
 
interferem na evaporação da água através da pele: uma relacionada com o paciente e 
outra relacionada com o meio ambiente (umidade do ar, temperatura ambiente e aeração 
local). 
 
Curativo oclusivo – Vantagens 
- Aplicação do método: Em geral, tem menos contra-indicações. Mantém 
a lesão em repouso durante a fase de agressão, facilitando a recuperação. É indicado 
especialmente para queimaduras circulares e profundas, tratamento ambulatorial, 
crianças, pessoas agitadas ou deficientes mentais. 
- Tolerância: O alívio da dor é mais rápido, a oclusão isola os ferimentos 
dos estímulos externos; posteriormente, a situação é inversa. 
- Contaminação: Evita a contaminação pela oclusão. Ideal para ambientes 
de hospitais superlotados e com déficit de pessoal especializado. 
- Proteção contra as variações térmicas: Nos climas frios, a oclusão é 
mais tolerada, protegendo melhor o paciente. No verão a situação é inversa. 
- Perda de líquidos: A perda inicial de líquidos é menor na oclusão, por evitar a 
evaporação. O contrário ocorre posteriormente, em virtude da absorção dos líquidos nas 
bandagens dos curativos, intensificando as perdas reais. 
 
Desvantagens da Oclusão 
- Custo: é mais dispendioso, exigindo muito material e mão-de-obra 
especializada para troca de curativos. 
- Observação das lesões: a presença ou ausência de infecção só pode ser 
avaliada através de hipertermia, dor, odor fétido, aspecto externo do curativo (dados 
indiretos). 
- Proliferação de germes: a oclusão da área possibilita condições 
favoráveis à proliferação de germes pelo calor, umidade e ausência de claridade. 
- Curativos: a necessidade da troca do curativo periódica torna a 
aplicação do método mais traumatizante para o paciente e equipe de enfermagem. Nos 
intervalos da troca há queixas de desconforto geral, odor fétido, prurido, calor etc. Na 
confecção do curativo, se a compressão não for uniforme, o paciente se queixa de dor e 
formigamento e apresenta alteração da perfusão periférica e edema local. 
 
40 
 
- Mobilização: a oclusão dificulta a mobilização das articulações do 
membro afetado, impossibilita a verificação de deformidades de posicionamento e sua 
correção precoce. No entanto, o paciente fica mais livre para se movimentar, sendo 
também mais fácil o seu transporte. 
 
Primeiro atendimento do paciente queimado 
Exame básico (ATLS) 
 
A – Vias Aéreas 
Suspeitar de lesão de via aérea sempre que a história ou o exame físico 
justificarem. Lembrese que os sinais de comprometimento podem ser tardios e não 
devemos aguardar que se instale uma insuficiência respiratória franca, já que isso pode 
inviabilizar o acesso a uma via aérea definitiva por intubação e exigir uma abordagem 
cirúrgica. 
 
B – Boa Respiração 
Além dos danos causados pelas lesões térmicas da via aéreas, da inalação de 
produtos tóxicos que produzem traqueobronquites químicas, edema e pneumonia, outro 
importante fator de agravamento respiratório é a intoxicação por monóxido de carbono. 
Sempre considere a possibilidade de intoxicação por monóxido de carbono em 
queimado com história de lesão em ambiente fechado. 
O diagnóstico da intoxicação é clínico e é feito principalmente pela história. 
Quando os níveis séricos de CO são inferiores a 20%, não costuma haver sinais clínicos. 
Com níveis mais elevados, pode haver: Cefaleia e náusea (20 a 30%), confusão (30 
40%), coma (40 a 60%) e morte (>60%). 
O tratamento consiste em oferecer O2 em altas concentrações por máscara ou 
ventilação assistida, sempre em sistema sem recirculação. 
C – Circulação 
D – Dano Neurológico 
E – Exposição 
 
Volume sanguíneo circulante: 
Num queimado, até mesmo a medida da pressão arterial pode ser difícil. A 
monitoração do débito urinário é uma das formas mais fidedignas de se avaliar a 
 
41 
 
qualidade do volume circulante. Torna-se então obrigatória à sondagem vesical nos 
queimados com mais de 20% de superfície corpórea queimada. A diurese recomendada 
é de 1 ml/Kg por hora para crianças com menos de 30 Kg, ou 30 a 50 ml por hora para 
os adultos. 
A estimativa do volume a ser infundido pode ser feita através da formula: 
 
Este volume deve ser infundido com solução de Ringer lactato. Nas primeiras 8 
horas após a queimadura, o paciente deve receber 50% do volume calculado, nas outras 
16 horas deve receber os outros 50%. 
É bom lembrar que esta formula serve somente para estimar o volume 
necessário, o objetivo final é garantir volume circulante e a perfusão tecidual, avaliada 
através do débito urinário. 
 
Outros cuidados: 
1. Pesar o paciente: muitas vezes a única oportunidade de se avaliar o peso 
do queimado é na admissão, já que nos casos mais graves os cuidados intensivos não 
permitem a pesagem. 
2. Sondagem nasogástrica: está indicada em queimados com mais de 20% 
de superfície queimada. Ela vai diminuir a distensão gástrica e evitar náuseas, vômitos e 
distensão abdominal. 
3. Sedação da dor: deve ser administrada por via endovenosa. Como pode 
haver hipoxia ou hipovolemia, a administração de sedativos deve ser feita em doses 
pequenas e frequentes. 
4. Antibióticos: não há indicação para uso profilático de antibióticos. Eles 
devem ser utilizados somente para tratar as infecções que podem surgir durante o 
tratamento. 
5. Cuidados com a ferida: Nãodevemos romper as bolhas na fase aguda da 
queimadura. Para dar mais conforto ao paciente, podemos lavar a área queimada e 
cobri-la com compressas úmidas em soro morno. 
6. Queimaduras circunferências: pacientes com queimaduras de terceiro 
grau que acometem toda a superfície de um membro podem desenvolver um quadro 
isquêmico progressivo relacionado à instalação de edema tecidual. Nestes casos, está 
 
42 
 
indicada uma escarotomia, procedimento que deve ser realizado na sala de emergência e 
que garante a viabilidade funcional do membro. 
 
Critérios para transferência: 
A tabela traz os critérios da Associação Americana de queimaduras para a 
transferência de pacientes vítimas de queimaduras. Estes critérios não devem ser 
encarados como normas rígidas, mais sim como orientações gerais. 
Lembre-se que na transferência toda documentação referente ao atendimento 
prestado deve acompanhar o paciente, inclusive: 
1. Folha de registro do atendimento ao queimado, contendo superfície 
queimada e respectiva profundidade de cada área. 
2. Descrição de todos os cuidados prestados no atendimento, inclusive do 
volume e tipo de infusões oferecidas, drogas administradas e resultados de exames. 
 
 
 
43 
 
Tabela: Triagem de pacientes vítimas de queimaduras 
 
 
Reposição hidro-eletrolítica (grande queimado) 
 
Cateterizar preferencialmente veia periférica de grosso calibre e calcular 
reposição inicial: 
Pela fórmula de Parkland: 4 ml/kg de peso corporal/percentagem SQC, de 
Ringer com Lactato. Sendo que, para fins de cálculo inicial, programa-se que a metade 
deste volume deva ser infundida nas primeiras 8 horas após a queimadura. Exemplo: 
Homem 70kg com 30% SQC 
Volume de Ringer = (4ml/kg x 70kg) x 30 = 8400ml 
 
44 
 
Grande queimado adulto: iniciar 2.000 ml de Ringer com Lactato para correr 
em 30 minutos; 
Grande queimado criança: iniciar 30 ml/kg para correr em 30 minutos. 
Independentemente do esquema inicial escolhido, deve-se observar diurese a partir da 
primeira hora, e controlar a hidratação para que se obtenha 0,5 a 1ml/kg/hora ou (30-
50ml) em adultos e 1ml/kg/h em crianças. 
Antibioticoterapia 
Antibióticos são utilizados no caso de uma suspeita clínica ou laboratorial de 
infecção. Não utilizar antibiótico profilático. 
 
Nutrição para queimados 
 
É sabido por todos os membros da equipe de saúde que a qualidade da 
alimentação é um fator de muita importância na manutenção da saúde de qualquer 
pessoa sadia, determinando a própria qualidade de vida. Em se tratando de indivíduos 
com alterações de saúde, a nutrição assume uma importância redobrada. Quanto ao 
queimado, a alimentação merece tanta atenção quanto à conduta adotada no tratamento 
sistêmico e local. O queimado, mais do que qualquer outro paciente, necessita de dieta 
hiperproteica e hipercalórica, rica em sais minerais e vitaminas, fatores indispensáveis 
na reposição das perdas calóricas, reconstituição dos tecidos lesados e na manutenção 
do equilíbrio imunológico. 
O atendimento destas necessidades seria mais bem atingido com a participação 
ativa não só do médico, nutricionista e enfermeiro, mas de toda a equipe envolvida com 
o tratamento do paciente. 
O enfermeiro e sua equipe administram a alimentação e hidratação do queimado, 
muitas vezes totalmente dependente e imobilizado devido a queimaduras extensas e 
profundas. É muito importante a orientação que o enfermeiro dá a sua equipe quanto aos 
fatores que facilitam a aceitação da dieta, tais como: ausência de dor no momento da 
alimentação (se necessário, administrar com antecedência os analgésicos prescritos); 
ausência de odor desagradável no ambiente (evitar trocas de curativos e de roupa de 
cama de outros pacientes da enfermaria no mesmo momento); posicionamento 
adequado do leito e do paciente; disponibilidade da pessoa que alimenta; aspecto e 
temperatura do alimento etc. Cabe ao enfermeiro o controle e aceitação da dieta em 
 
45 
 
cada período, por ser comum a anorexia no queimado. Quando esta ocorrer, levar o fato 
para discussão em grupo multiprofissional, podendo parte do problema ser transferido 
para a família, desde que esta aceite e tenha condições de aquisição, disponibilidade de 
tempo para preparar, transportar e administrar o alimento adequado. Outra conduta que 
a equipe poderá adotar é a complementação da dieta via oral, por sonda gástrica ou, 
mais apropriadamente, por sonda enteral, desde que o aparelho digestivo do paciente 
não ofereça nenhuma contra-indicação, como úlcera de Curling, diarreias, vômitos e 
outros. 
O queimado que recebe nutrição enteral deverá ser monitorizado pela 
enfermagem. 
O processo começa com a introdução de uma sonda tipo Dobbhoff por via 
transnasal para o estômago, onde permanece até ser transportada para o duodeno, sob 
ação do peristaltismo gastrintestinal. Em pacientes conscientes e que cooperam, como é 
o caso de quase todos os queimados, a inserção do cateter é um procedimento simples, 
dispensando o uso de mandril. Em torno de 8 a 24 horas deve-se fazer uma radiografia 
abdominal para observar o posicionamento do cateter (duodeno), podendo ser feita à 
fixação definitiva. 
Se a sonda permanecer no estômago, não atingindo o intestino delgado, a dieta 
deverá ser preparada e administrada como gástrica e não como enteral. 
A vantagem da alimentação por sonda enteral sobre a sonda nasogástrica, entre 
outras, é que não existe o risco de regurgitação do conteúdo gástrico, com possível 
aspiração pulmonar. 
A ficha de monitorização dos cuidados de enfermagem com o paciente em uso 
de nutrição enteral deverão registrar os seguintes dados: 
 
✓ Identificação do paciente 
✓ Registro das características do paciente, tipo e número da 
sonda, data da introdução, peso normal, altura, punho etc; 
✓ Administração da dieta: devem ser anotados 
característicos volumes prescritos e administrado, visando identificar 
alterações na aceitação e problemas de infusão da dieta. Cuidados devem 
ser mantidos para evitar obstrução da sonda e aplicar a infusão no tempo 
correto. Quando forem administrados outros nutrientes deverão ser 
registrados volumes e soluções infundidos; 
 
46 
 
✓ Complicações com a sonda – são registrados 
posicionamento inadequado, obstrução e saídas acidentais 
✓ Reações do paciente: sede, fome, anorexia e complicações 
gastrintestinais são reações que indicam não só o nível de tolerância da 
dieta, como são parâmetros para alterações da mesma; 
✓ Eliminações: volume urinário, número e aspecto das fezes 
eliminadas, este é um índice relevante na observação da tolerância à 
dieta. Através destas eliminações, é possível avaliar o balanço 
nitrogenado indispensável para adequar a oferta calórica; 
✓ Atividade física: é registrado o número de sessões de 
fisioterapia e exercício físico; 
✓ Medidas antropométricas: são registrados peso, altura, 
circunferência do braço e punho, prega do tríceps e prega subescapular 
duas vezes por semana. Estes dados são indispensáveis e deverão ser 
acrescidos de exames laboratoriais (albumina sérica, transferrina sérica e 
linfócitos), que permitem determinara inicialmente o grau de desnutrição 
e necessidade proteica. São constantemente reavaliados, através do 
acompanhamento e evolução do estado nutricional do paciente. 
 
Na administração da dieta enteral alguns cuidados devem ser observados, como 
sejam: 
✓ Orientar o paciente sobre o 
tratamento; 
✓ Manter o paciente em 
decúbito elevado (Fowler entre 30 a 45.º); 
✓ Anotar a quantidade exata administrada (em ml) 
nos horários padronizados; 
✓ Aspirar à sonda com seringa de 50 ml antes de 
ligar a dieta. Se a saída do conteúdo for superior a 150 ml, fazer 
pausa alimentar de 2 horas e anotar; 
✓ Injetar soro glicosado a 5% pela sonda, quando a 
dieta não estiver ligada (durante a pausa), ou de acordo com a 
prescriçãomédica; 
 
47 
 
✓ Controlar o gotejamento, para evitar administração 
em ml/hs superior a quantidade prescrita; 
✓ Anotar quantidade de 
alimentação aceita por via oral; 
✓ Anotar sempre que ocorrer vômito (volume e 
aspecto). Neste caso, deve-se interromper a dieta e manter a 
sonda aberta; 
✓ Anotar sempre que houver 
regurgitação; 
✓ Anotar o número e aspecto das 
evacuações; 
✓ Anotar o número de 
vezes de obstrução das sondas, caso isto ocorra; 
✓ Anotar a saída da sonda 
(quando acidental ou provocada); 
✓ Pesar o paciente pela 
manhã em jejum. Anotar (maca-balança); 
✓ Anotar a diurese de 24 horas. O balanço deverá ser 
fechado às 6:00 horas. Observar requisição de exames de 
laboratório; 
✓ Fazer e registrar glicosúria a cada 
4 horas; 
✓ Não esquecer a dieta, para não 
deteriorar; 
 
Em grandes queimados, após reavaliação do estado nutricional, poderá ser 
instituída paralelamente a nutrição parenteral, que exige da enfermagem cuidados 
redobrados. O controle é feito através da ficha de monitorização de cuidados de 
enfermagem, onde deverão constar vários detalhes a respeito do paciente. 
 
Suporte nutricional 
 
É um aspecto muito importante no tratamento do queimado. O aumento do gasto 
energético do queimado excede o de qualquer outro tipo de trauma. 
 
48 
 
O suporte nutricional deve ser iniciado de preferência até 4 horas após o trauma 
e deve-se utilizar o trato gastrintestinal sempre que possível, por via oral, sonda gástrica 
ou a combinação de ambas. 
Sempre que necessário deve-se associar a Nutrição Parenteral Prolongada, pois 
as necessidades proteicas calóricas são grandes. 
 
Rompimento de flictenas 
 
Argumentos para manutenção das bolhas: 
· O conteúdo das bolhas é semelhante ao plasma e é reabsorvido quando estas 
estão integras, evitando maior espoliação. 
· A ressecção precoce expõe a área que fica sujeita à contaminação e 
proliferação de bactérias. 
 
Argumentos para remoção das bolhas: 
· As bolhas podem romper-se sob o curativo transformando-se em meio de 
cultura com secreção purulenta. 
· As quantidades de líquido que é reabsorvido das bolhas não são tão 
significativas, assim sua drenagem também não vai alterar o cálculo de reposição. 
· Há dificuldade de reabsorção quando o líquido se coagula no interior das 
bolhas. 
 
Assistência de enfermagem ao cliente queimado (casos) 
O paciente queimado apresenta troca gasosa prejudicada, podendo estar 
relacionada com dano alveolar e obstrução das vias aéreas. 
 
Cuidados: 
· Manter via aérea permeável 
· Avaliar padrão respiratório e presença de respiração ruidosa 
· Administrar oxigênio umidificado 
· Observar presença de escarro carbonáceo, rouquidão, dispneia, tosse, pelo 
nasal chamuscado (ocorrem com as lesões por inalação). 
· Observar edema de vias aéreas superiores 
 
49 
 
O cliente apresenta déficit de volume circulante, diminuição do débito cardíaco e 
alteração da perfusão periférica. 
 
Cuidados: 
· Manter reposição volêmica adequada 
· Peso diário e balanço hídrico 
· Reposição de volume conforme prescrição médica: a reposição endovenosa nas 
primeiras 24 horas deve ser rigorosa 
· Evitar líquidos via oral nas primeiras 24 horas 
 
 
 
A resposta sistêmica às queimaduras envolve: diminuição do retorno venoso, 
troca gasosa prejudicada e diminuição de perfusão tecidual em vários órgãos. 
 
Cuidados: 
· Monitorizar sinais vitais, ritmo cardíaco, nível de consciência, padrão 
respiratório e perfusão periférica. 
· Verificar pulso periférico 
 
As queimaduras circunferências apresentam edema que dificulta a circulação 
local 
 
Cuidados: 
· Avaliar queimaduras circunferências (membros e tórax) 
· Verificar pulso distal do membro 
 
O cliente pode apresentar choque hipovolêmico 
 
Cuidados: 
· Estar atento aos sinais de insuficiência renal 
· Passagem de sonda vesical de demora, com controle rigoroso de diurese 
(mínimo de 30 ml/h). 
· Observar presença de oligúria e anúria 
 
50 
 
 
O cliente queimado apresenta quadro de hipotermia devido à perda imensurável 
de líquido pela pele. 
 
Cuidados: 
· Manter paciente aquecido, área corpórea protegida, para evitar perda de líquido 
e de calor. Sugere-se utilização de plástico estéril sobre a área queimada para facilitar 
retenção de líquido e calor. 
Evita-se utilização de compressas úmidas para evitar hipotermia 
 
Outros cuidados 
· Manter ambiente asséptico 
· Colocar arco de proteção 
· Glicemia capilar se o cliente estiver recebendo NPP 
· Observar sinais de íleo paralítico 
· Estar atento a sinais de: agitação e diminuição do nível de consciência 
(choque hipovolêmico) 
 
Tratamento da lesão do paciente queimado 
 
Queimadura de Primeiro Grau 
Analgesia via oral ou intramuscular e hidratação local com compressas úmidas. 
 
Queimadura de Segundo Grau 
 
Além da analgesia e hidratação local também é necessária limpeza do local, 
debridamento de bolhas (bolhas íntegras não precisam ser debridadas) e confecção de 
curativos. O curativo pode ser realizado com gazes vaselinadas (para não aderir à lesão) 
e gazes secas, chumaço de algodão e ataduras. Nos membros o curativo deve ser 
oclusivo e deve-se evitar oclusão em orelhas e períneo. A troca do curativo deve ser 
feita a cada 2 ou 3 dias até que se atinja a cicatrização entre 8 e 10 dias. O paciente deve 
ser mantido em repouso e com o membro elevado. 
 
 
51 
 
Queimadura de Terceiro Grau 
 
O paciente deve ser encaminhado a um centro especializado no atendimento a 
queimados. 
 
Atendimento no centro de queimados 
No Centro de Queimados, após a estabilização do paciente e dos cuidados 
iniciais, o seguimento do paciente compreende os seguintes aspectos: 
 
Escarectomia 
 
 
 
 
 
 
52 
 
 
 
De acordo com o período evolutivo da queimadura, a ressecção do tecido 
desvitalizado poderá ser feita em três períodos: escarectomia imediata, precoce e tardia. 
 
Escarectomia imediata: de uso limitado, indicada nas queimaduras de 3.º grau 
pouco extensas, que não sejam de etiologia química ou elétrica. É realizada no ato de 
admissão do paciente, resolvendo imediatamente o problema de tecido desvitalizado e 
todos subsequentes. Para utilização deste método é necessário que a instituição ofereça 
alguns recursos, como banco de sangue, com disponibilidade de diversos grupos 
sanguíneos e fatores RH; banco de pele, para curativos biológicos; equipe cirúrgica 
disponível, bem como salas cirúrgicas equipadas. É importante que o paciente esteja em 
boas condições físicas. 
 
Escarectomia precoce: geralmente executada entre os 10.º e 14.º dia pós-
queimadura, período em que os tecidos desvitalizados começam a ser diferenciado dos 
viáveis por se delimitarem e soltarem. A vantagem sobre o método anterior é justamente 
o conhecimento evidente do tecido necrosado, poupando o viável. A sua indicação está 
restrita às condições de cada paciente, devendo ser observados a profundidade e 
extensão da queimadura, bem como o estado geral do paciente e disponibilidade de 
recursos na clínica, como banco de pele e outros. 
 
Escarectomia tardia: é indicada para os grandes queimados e casos de necrose 
acentuada. Pode ser feita com anestesia geral ou não durante as trocas de curativos, 
independente da modalidade dos mesmos. A escarectomia é feita através da ressecção 
parcial do tecido necrosado na medida em que se vão soltando. O sangramento é 
 
53 
 
inexpressivo e a dor pode ser suportável. A desvantagem do método está em favorecer a 
proliferação dos microrganismos, devido ao longo período de exposição da lesão, 
aumentando a desvitalização do tecido e possibilitando infecção invasiva, como sepse e 
outras. O método exige hospitalização prolongada, maior número de troca de curativos, 
retardoda enxertia de pele e demora do tratamento, favorecendo o aparecimento de 
sequelas funcionais e estéticas. 
 Os cuidados de enfermagem imediatos no pós-curativo com anestesia geral 
dizem respeito aos controles dos sinais vitais e PVC, se for o caso; aspiração de 
secreções orofaríngea, se necessário; proteção e/ou restrição no leito para evitar quedas; 
infusão das soluções cristaloides e coloides; posicionamento adequado no leito, 
evitando sequelas; observação constante da área ressecada, controlando hemorragias 
que são frequentes devido às lesões de vasos no ato cirúrgico. Em geral, um 
Enfaixamento compressivo da área sangrantes resolve o problema, não sendo necessário 
desfazer o curativo oclusivo para sutura. 
O paciente deve ser hidratado e alimentado por via oral logo que desapareçam os 
sintomas de desconforto da anestesia geral. 
O alívio das queixas dolorosas deve ser feito com a administração de 
analgésicos. Não deve ser esquecido o apoio psicológico e a recreação do paciente. 
 
Fasciotomia 
Procedimento realizado na emergência por cirurgião experiente, indicado 
quando se suspeita de síndrome de compartimento no antebraço ou perna, geralmente 
em lesões decorrentes da passagem de corrente de alta voltagem. 
 
Broncoscopia 
 Indicada quando se suspeita de lesão por inalação, geralmente resultado de 
acidentes em que a vítima ficou em local fechado, podendo ter sido exposta à fumaça ou 
em pacientes com queimaduras de face. 
 
Desbridamento cirúrgico 
Indicado praticamente em todos os 
casos de queimaduras de terceiro grau. 
É considerado o método ideal por 
 
54 
 
resolver em um só ato cirúrgico a eliminação da necrose. A desvantagem do método 
está em transformar uma área mista, isto é, onde há queimadura de 2.º e 3.º graus, em 
queimadura profunda, pela ressecção também de ilhotas do derma capazes de epitelizar 
espontaneamente. 
A ressecção do tecido necrosado é feita com tesoura e bisturi. O curativo é 
traumatizante, agressivo, produzindo hemorragias que poderão ser 
 sustadas com compressas embebidas com soro fisiológico frio, suturas 
de vasos de maior calibre e compressões locais. Normalmente é necessário 
 fazer transfusão de sangue na sala cirúrgica ou, posteriormente, no pós-
operatório imediato, já na enfermaria. 
A troca do próximo curativo obedece às necessidades de cada paciente. Em geral 
acontece em torno de 2 a 3 dias após, podendo repetir-se ou não a anestesia geral. 
 
Enxertia 
O sucesso de uma enxertia de pele depende muito da qualidade da assistência de 
enfermagem no pré, trans e pós-operatório. Esta assistência será tanto mais eficiente na 
medida em que os membros da equipe estiverem mais bem preparados para prestar 
assistência qualificada e específica a cada paciente nas diversas fases do tratamento. O 
enfermeiro, como líder da equipe, deve manter treinamento constante, formal e 
informal, qualificando estes profissionais em sua área de ação. 
A enxertia de pele consiste no transplante de um fragmento de pele, isto é, 
separação deste tecido de revestimento do seu local de origem, para colocação e 
reintegração em outra parte do organismo. Pode ser chamado de transplante livre de 
pele. 
A indicação para enxertia de pele obedece a 3 fatores fundamentais: 
profundidade, extensão e localização da queimadura. A profundidade é o fator mais 
decisivo na indicação para enxertia. Como já foi mencionado em capítulos anteriores, 
toda queimadura de 3.º grau necessita de enxertia de pele para a cicatrização. Porém, 
queimaduras profundas, mas pouco extensas, cicatrizam espontaneamente através de 
crescimento celular das bordas da lesão para o centro. Apresentam, como fator 
indesejável, sequelas de retração que podem interferir no quadro estético e criar 
problemas funcionais, dependendo da localização, como proximidade de articulações, 
pálpebras, dorso das mãos, etc. 
A enxertia de pele também está indicada nas queimaduras de 2.º grau profundas, 
 
55 
 
quando localizadas em regiões onde a pele é fina, móvel e elástica, como nas áreas 
acima citadas. A cicatrização espontânea, nessas áreas, pode apresentar retração com 
alteração funcional e estética. 
A enxertia de pele se torna obrigatória em toda queimadura de 3.º grau extensa, 
devido à destruição total do epitélio germinativo, tornando impossível a cicatrização. 
 
Classificação dos Enxertos 
Podemos classificar os enxertos de pele em vários grupos, de acordo com 
características como: 
✓ Quanto à origem; 
✓ Quanto à espessura; 
✓ Quanto à forma; 
✓ Quanto ao destino. 
 
Quanto à origem 
No seu devido tempo, a cobertura da área cruenta poderá ser efetuada através de 
três tipos de enxerto: autógenos, homogêneos e heterogêneos. 
 
Autógenos ou auto-enxerto: assim chamados quando o enxerto é transplantado 
para o mesmo indivíduo. É o mais usado e o único definitivo, por não apresentar 
problemas de rejeição. 
Uma das dificuldades da aplicação do auto-enxerto nos grandes queimados é a 
escassez de área doadora; mesmo assim, alguns recursos são tentados, como o 
reaproveitamento da área doadora em torno de 12 a 16 dias após a retirada da pele (em 
enxertos finos ou intermediários). Outra forma é o uso do enxerto em malha, que 
permite cobrir uma área três vezes maior do que a área doadora. 
O avanço tecnológico vem favorecendo os cientistas que continuam pesquisas 
nesta área. Os meios de comunicação têm divulgado progressos, com a pesquisa sobre a 
reprodução de pele no laboratório para uso em quinze dias. Após diversos processos de 
tratamento laboratorial, a célula do tecido epitelial está pronta, em 15 dias, para uso em 
lâminas de 3x8 cm. A grande vantagem do processo é a reprodução ilimitada destas 
lâminas, resolvendo o problema das grandes áreas queimadas em receber enxerto. 
 
 
56 
 
Homogêneos ou homoenxertos: é o enxerto realizado entre seres vivos da 
mesma espécie (homem para homem). 
O homoenxerto é considerado um curativo biológico. O método apresenta várias 
vantagens; entre elas, protege a área cruenta e impede a perda de líquidos, eletrólitos e 
proteínas. Com isto, a sobrevida do grande queimado pode ser aumentada. Previne e 
combate à infecção de superfície, melhora o quadro febril e da dor. A principal 
vantagem está em estimular a cicatrização das queimaduras superficiais, permitindo 
uma rápida cicatrização e a formação de um tecido de granulação ideal que favorece a 
integração do futuro auto-enxerto nas queimaduras de 3.º grau, garantindo o sucesso da 
enxertia definitiva. 
As fontes para obtenção dos homoenxertos são os cadáveres (difícil obtenção 
por questões jurídicas e familiares), os segmentos de tecidos retirados em cirurgias 
convencionais, como dermolipectomias abdominais, plásticas de mama e doações de 
familiares. O uso da membrana amniótica é tema de trabalhos de pesquisa de alguns 
colegas. Depois de descoberta de que as células de Langerhans presentes na pele são 
responsáveis pelo desencadeamento do processo de rejeição, está tornando definitivo o 
enxerto homogêneo. Após tratamento laboratorial, estas células são destruídas, tornando 
possível o transplante de pele mesmo entre pessoas totalmente incompatíveis. O 
aperfeiçoamento deste trabalho promete para o futuro um melhor prognóstico para os 
grandes queimados. 
 
Heterogêneos ou Heteroenxertos: quando o enxerto é transplantado para um 
outro ser vivo de espécie diferente. Este tipo de enxerto pode também ser chamado de 
curativo biológico. 
As principais fontes para obtenção dos heteroenxertos são o cão e o porco. 
Trabalhos mostram que antigamente o uso da pele do cão mostrou menos vantagem que 
o uso da pele do porco. A pele de porco pode ser encontrada em três formas: fresca, 
liofilizada e congelada. Quando a opção for pele fresca é necessária à observação da 
mesma durante 24 a 48 horas para garantia da ausência de contaminação.A pele liofilizada é desprovida de algumas das propriedades encontradas na pele 
fresca. Para usá-la, deve-se imergi-la em soro fisiológico durante 15 a 30 minutos. É 
usada como curativo biológico. No entanto, não estimula a neoformação vascular na 
área receptora e é eliminada espontaneamente em torno de quatro a cinco dias após 
aplicação. 
 
57 
 
A pele de porco congelada é um lançamento mais recente. Antes do uso, é 
necessário o descongelamento com auxílio de soro fisiológico durante 1 a 2 minutos. 
Como já foram mencionados anteriormente, estes tipos de enxerto funcionam 
apenas como curativo, apresentando algumas vantagens sobre os curativos comuns, 
quais sejam: 
✓ Melhora metabólica do grande queimado pela 
diminuição da perda de líquidos através da evaporação, e de 
proteínas pela drenagem; 
✓ Diminuição da dor, permitindo a movimentação; 
✓ Favorece o acompanhamento constante da 
evolução local por não ser necessária à oclusão com bandagens; 
✓ Proteção da área lesada contra contaminação e 
outros. 
✓ Paralelo a este tipo de tratamento local, chamado 
de pré-enxertia, existem os substitutos sintéticos da pele humana, 
que têm finalidade semelhante à dos enxertos homogêneos e 
heterogêneos. Muito se tem pesquisado a respeito. 
 
Quanto à espessura 
Em relação à espessura, os enxertos podem ser classificados em enxertos finos, 
intermediários e espessos. 
Enxertos finos: são aqueles que contém aproximadamente partes iguais de 
epiderme e derme. Apresentam como vantagem a epitelização precoce da área doadora 
e retorno das características normais da pele, como a coloração, elasticidade e outras. 
Possibilitam também a reutilização da área doadora num período mais curto de tempo, 
sendo, portanto, indicados nos grandes queimados. No entanto, a área receptora 
apresenta problemas referentes à estética e à funcionalidade, devido à menor 
elasticidade, que está relacionada com a espessura da lâmina enxertada. 
Enxertos intermediários: assim chamados quando possuem epiderme e um 
terço de espessura de derme. A reintegração na área receptora se dá com facilidade e 
permite boa resistência à área enxertada, após a reintegração. O aspecto estético e 
funcional final é bom. Quanto à área doadora, a nova pele apresenta características 
quase idênticas à anterior. É um dos enxertos mais usados no tratamento dos queimados. 
Enxertos espessos: possuem a epiderme de dois terços da espessura da derme. 
 
58 
 
A reintegração é dificultada quando há presença de infecção na receptora. A 
cicatrização da doadora também se torna mais demorada predispondo à infecção. Com a 
ocorrência de infecção, esta área poderá ser transformada em lesão de 3.º grau, 
necessitando também de enxerto para sua epitelização. 
Existe ainda o enxerto total de pele, onde é retirada a pele com todos os seus 
elementos (epiderme e derme), deixando a doadora somente com o tecido subcutâneo 
(método não utilizado no tratamento do queimado). 
Quanto à forma 
Quanto à forma, os enxertos podem ser classificados em puntiforme, 
estampilhas, laminares e em malhas. 
Enxertos puntiformes: de uso raro, devido aos resultados estéticos e funcionais 
indesejáveis, tanto na área receptora como na doadora. Consiste na retirada de pequenas 
áreas puntiformes de pele total e na colocação destas na receptora. Demanda tempo e 
paciência do especialista. 
Foram os primeiros enxertos a serem utilizados no revestimento de área cruenta. 
Enxertos em estampilhas ou selos: consiste em pequenos retalhos de pele em 
forma de selos, com espessura média e fina, que são colocados sobre a área receptora. 
Como desvantagem aponta-se a estética, devido à retração interinsular. É indicado nas 
receptoras com presença de secreções. Os enxertos em pequenas lâminas facilitam a 
drenagem e favorecem a reintegração. A outra indicação é em casos de deficiência de 
área doadora em grandes queimados. A utilização destes selos, constituindo ilhas de 
pele, permite o crescimento centrífugo da pele sobre a área cruenta, cobrindo maior área 
em menor tempo. 
No entanto, o aspecto estético deixa a desejar. 
Enxertos em lâmina: são tiras de pele medindo, em média, vinte centímetros. 
São colocadas uma justaposta à outra cobrindo áreas extensas, resultando num melhor 
aspecto estético e funcional, garantindo a cura em menor tempo. É indicado para 
revestimento de face, pescoço etc. Exige maior habilidade técnica do especialista para a 
retirada das lâminas. 
Enxerto em malha, reticulares ou Mesh Graft: são usados para revestir 
grandes queimados com déficit de área doadora. Estas lâminas de pele apresentam 
soluções de continuidade semelhantes à rede. Após a invenção do aparelho de Tanner e 
Vaderpret, foram utilizados para transformar lâminas de pele em rede, aumentando 
assim três vezes seu tamanho normal, permitindo o revestimento de maior área 
 
59 
 
queimada. As outras vantagens são: melhor adaptação à área receptora; favorecer a 
drenagem de secreções através de suas malhas, ajudando na integração do enxerto; 
diminuir o tempo e o número de cirurgias a que o queimado estaria exposto. Como 
desvantagem cita-se o aspecto estético em locais visíveis e funcionais nas articulações. 
Quanto ao destino 
Os enxertos quanto ao destino podem ser classificados em definitivos ou 
provisórios. Os enxertos autógenos geralmente são definitivos: os homogêneos e 
heterogêneos são provisórios e chamados de curativos biológicos por melhorarem as 
condições da área receptora e favorecem a reintegração do enxerto definitivo. 
 
Instrumentos utilizados na retirada de pele para enxerto 
 
Faca de Blair-Brown: o primeiro aparelho criado por Blair com a finalidade de 
retirar a pele para enxerto. Para a obtenção do enxerto na espessura desejada, bastava 
inclinar mais ou menos o ângulo da faca em relação à área doadora. Posteriormente, este 
instrumento sofreu várias modificações visando seu aperfeiçoamento. Hoje é possível a 
graduação da espessura do enxerto a ser obtido graduando os parafusos reguladores. É 
um instrumento de fácil manejo que permite bons resultados nas mãos do especialista. 
 
Dermátomo manual ou Dermátomo de tambor ou Dermátomo de Padgett 
Dermátomo cilíndrico criado por Padgett em 1939. Outros cientistas 
aperfeiçoaram o invento dando maior precisão na graduação do mesmo. É mais versátil 
que a faca de Blair. Em mãos hábeis é capaz de retirar até pele das regiões intercostais e 
regiões curvas. 
 
Dermátomo elétrico 
Existem vários tipos de dermátomo elétrico a partir do modelo de Brown, que 
levou o nome do inventor. Este instrumental permite bons resultados mesmo nas mãos 
de especialistas pouco experientes. Possibilitam a obtenção de lâminas da extensão da 
espessura do enxerto desejado e diminuem o tempo operatório nos queimados. Hoje há 
modelos que permitem a retirada de enxertos até da mucosa, como o dermátomo elétrico 
de Castroviejo. 
 
 
60 
 
 
Além dos instrumentos de retirada de pele para enxerto, existe o aparelho de 
TannerVanderput, criado pelos autores que lhe deram o nome em 1963. É utilizado no 
preparo da pele para enxertia. A função deste instrumental é expandir a pele, 
transformando-a em uma malha que aumenta três vezes mais o seu tamanho. 
 
Conservação da pele para enxerto (banco de pele) 
A pele homogênea, autógena ou heterogênea pode ser retirada e estocada, para 
uso posterior, dentro de um período de tempo determinado pelas condições da 
conservação. 
O prolongamento da vitalidade de uma célula ou tecido pode ser obtido de dois 
modos: 
1.Garantindo-lhes um meio nutriente e proporcionando um modo de diluir e 
neutralizar os produtos tóxicos de seu catabolismo; 
2. reduzindo o seu metabolismo. 
 
A maneira de alcançar estes objetivos é através do acondicionamento no frio. 
Para tanto, faz-se necessário uma geladeira doméstica graduada na temperatura de 4.ºC.O frio reduz o metabolismo celular, diminuindo o consumo de oxigênio e nutrientes e, 
consequentemente, os resíduos tóxicos catabólicos. 
Existem diversos estudos referentes ao tempo de estocagem da pele para 
enxerto, de acordo com a temperatura adotada. Em geladeiras comuns, a 4o.C, a pele 
abrange até 21 dias. 
Porém, sua vitalidade é maior até 7 dias após a retirada da doadora. 
O acondicionamento da pele para conservação em geladeira obedece à técnica 
adotada em cada serviço. O procedimento consiste em esticar a pele mantendo a face 
epidérmica sobre o morim, levemente vaselinada, cobrindo a face dérmica com gaze 
embebida em soro fisiológico, associado a uma solução de penicilina cristalina, 
dobrando ou envolvendo em seguida a pele delicadamente sobre si mesma e guardando-
a em recipientes estéreis, que deverão ser rotulados com os dados do doador e a data da 
retirada da pele. A estocagem com antibiótico visa à prevenção de infecção. A imersão 
de toda a pele na solução de soro fisiológico não é aconselhável, devido à maceração. 
Outros processos de conservação de pele poderão ser utilizados, como o de 
refrigeração em meio nutriente, que tem por objetivo aumentar o tempo de conservação 
 
61 
 
da mesma. A solução salina-balanceada contém percentagem de nutrientes semelhante 
ao do plasma, encarecendo o processo de conservação. 
O congelamento é uma outra tentativa de conservação de pele por tempo 
indefinido. A desvantagem é a utilização de uma substância de ação protetora contra a 
formação de cristais que lesam as células por ação mecânica e desequilíbrio iônico. 
A liofilização da pele é um outro método também complexo para a estocagem da 
pele. A pele sob este tratamento mantém as características físicas, mas não as 
biológicas, servindo apenas como um curativo, sem vitalidade. 
Existem pesquisas em andamento do assunto, que poderão superar os 
tradicionais métodos de conservação da pele. 
 
Fisiologia do Enxerto 
Toda vez que o organismo humano sofre uma agressão, uma série de fatores 
físico-químicos tenta reparar os danos, lutando para reconstruir a lesão. O enxerto de 
pele é uma ajuda humana neste processo de reparação do tecido de revestimento do 
corpo. 
A integração do enxerto no leito receptor se faz através de vários fatores que 
influenciam na vascularização do enxerto. Existem três fatores principais: a 
vascularização do leito receptor, a total imobilização do enxerto e o relacionamento 
imunológico doador/receptor. 
Nas primeiras 48 a 72 horas o enxerto de pele é nutrido por um processo de 
embebição plasmática em que o plasma é absorvido da área doadora pelos capilares 
existentes no enxerto. 
Logo após a colocação do enxerto, justaposta à área receptora há a formação de 
uma rede de fibrina que prende o enxerto no leito e, através desta rede, processa-se a 
migração de células do tipo linfócito. Dentro de 24 horas há a degeneração de uma série 
de camadas do enxerto, com grande parte das camadas superficiais e dos endotélios dos 
vasos. Após este período, apesar da degeneração de parte do enxerto, ocorre 
concomitantemente a proliferação dos elementos celulares que, entre 6 ou 8 dias, 
ultrapassa em intensidade a degeneração. 
A substituição da rede de fibrina formada logo após a colocação do enxerto se dá 
nas 48 horas por tecido de granulação e formação dos novos capilares, que se 
interligarão com os já existentes no enxerto. Porém, a maior parte da irrigação se 
processa entre 4 e 5 dias através das alças capilares que emergem do tecido de 
 
62 
 
granulação da área receptora, penetrando na derme do enxerto. Estabelecida a irrigação 
sanguínea do enxerto, o processo para a regeneração da área é grande, com reintegração 
do enxerto. 
O aspecto do enxerto, nesta fase, muda de arroxeado para rosado, indicando uma 
boa “pega”. O processo se estabiliza em torno de 8o. dia pós-enxertia. 
 
Assistência de enfermagem ao paciente portador de enxerto de pele 
A assistência de enfermagem ao paciente portador de enxerto de pele deve ser 
abrangente e específica a cada paciente. 
Nos tipos de enxertos homogêneos ou autógenos, a conduta adotada pelo médico 
na enxertia varia em cada caso de profissional para profissional, podendo ser oclusivos 
com ou sem suturas, expostos, colocados na sala de cirurgia, ou no leito, após 
posicionamento adequado do paciente. 
Não se deve esquecer o preparo do leito para receber o paciente, observando a 
colocação de campos estéreis, arcos de proteção para lençóis e cobertores e coxins para 
posicionamento e/ou curativos de decúbito, se indicado. 
No pós-enxertia imediato, há diversas variáveis que interferem no planejamento 
da assistência, como o tipo de anestesia adotado (geral, raqui, local), personalidade e 
idade do paciente, assim como patologias preexistentes (epilepsia, delirium-tremens, 
deficiência mental etc). Em geral, nos serviços de tratamento do queimado, a sala de 
operação fica na própria clínica e os pacientes vão direto da sala de operação para o 
quarto ou enfermaria de origem, não passando pela sala de recuperação pós-anestésica, 
necessitando vigilância constante até a total recuperação do nível de consciência. 
A observação, entre outros cuidados, deve estar voltada para a área doadora 
(sangramento), podendo estar exposta ou ocluída, e para a receptora, evitando atrito no 
leito ou com o próprio corpo, caso em que pode deslocar e contaminar o enxerto. Os 
demais cuidados no pós-operatório imediato são semelhantes aos de qualquer cirurgia. 
Não havendo contra-indicação, o paciente deve ser alimentado com dieta leve, logo 
após recupere a consciência, considerando a necessidade de superalimentação devido 
aos inúmeros procedimentos a que será submetido. Os pacientes com enxerto de face 
devem evitar a mastigação para não deslocar o enxerto. A alimentação, de preferência, 
deve ser semilíquida e pastosa, administrada por canudinhos e colher. A limpeza bucal e 
peribucal devem ser feitas após cada refeição para prevenção de infecção. 
A assistência no pós-operatório mediato visa o atendimento das necessidades 
 
63 
 
básicas. 
O queimado é um paciente totalmente dependente da enfermagem. O 
planejamento da assistência deve estar voltado para o posicionamento no leito, que 
exige técnicas apropriadas, principalmente nos casos de enxerto da face anterior do 
pescoço, axilas e períneo. A mudança de decúbito exige muita criatividade, 
principalmente para os portadores de enxertos extensos. 
Nos enxertos expostos, os cuidados locais já se iniciam no pós-imediato, como a 
secagem do plasma, que drena para a pele íntegra, a perfuração com agulhas ou tesouras 
das vesículas de plasma e sangue sob as lâminas de enxerto e a pressão delicada do 
enxerto contra a receptora, nos locais em que o contato está falho, permitindo uma 
justaposição total do enxerto no leito receptor. Posteriormente, se houver 
formação de secreção purulenta, esta deve ser drenada sempre que necessário com o 
auxílio de pinças, gazes, tesouras e feito limpeza com soro fisiológico. 
Nos curativos oclusivos, em geral, a troca dá-se no 4o dia pós-enxerto. Alguns 
sinais e sintomas observados podem antecipar a troca, entre eles: hipertermia, odor 
fétido, umidade, manchas externas, edemas, garroteamento etc. A troca do curativo 
exige pessoal de enfermagem especializado. Só assim será evitada uma série de 
agressões na incisão, como o deslocamento do enxerto. Na troca do curativo simples, a 
última camada (rayon ou morim) normalmente está aderida. Não deverá ser removida. 
No caso de aderência parcial, a secreção poderá ser removida usando-se gazes 
cirúrgicas secas (em forma de mata-borrão) e embebidas em soro fisiológico para 
limpeza mais profunda. A conduta é direcionada a cada caso. 
A troca de curativos tipo “curativo de Brown”, indicado para posicionar o 
enxerto suturado usado em local móvel, favorece a completajustaposição à receptora e 
exige ainda mais habilidade do profissional de enfermagem. 
As trocas subsequentes dos curativos de enxerto poderão ser em dias alternados, 
ou de acordo com as condições de cada caso. Os curativos de áreas doadoras expostas 
consistem na secagem de secreção sero-sanguinolenta que drena através das malhas do 
rayon ou morim; estas gazes deverão ser mantidas até a epitelização da área, o que, em 
geral, acontece em torno de 10o.dia. O vaselinamento das gazes duas vezes ao dia 
facilita o deslocamento sem trauma da área. Em áreas doadoras oclusivas, a troca do 
curativo pode se dar na mesma época da receptora. Porém, a última camada do curativo 
nunca deve ser removida antes da epitelização total, quando também deverá ser untada 
com vaselina estéril. 
 
64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Enxertia de pele parcial Área Doadora Dermatomo de 
Blair 
 
 
 
 
RETIRADA DE PELE ÁREA DOADORA 
 
 
 
65 
 
 
ÁREA ENXERTADA GAZE VASELINADA CURATIVO 
OCLUSIVO 
 
 
Mais figuras em transparências 
Curativo biológico 
No caso de feridas excisadas, quando não se dispõe de pele autógena suficiente 
para a cobertura da ferida, ou em lesões de segundo grau profundo, ou lesões que 
necessitem de cobertura temporária eficiente, pode-se utilizar membranas biológicas. 
 
Curativos sintéticos 
Existe atualmente uma gama enorme de materiais sintéticos que podem 
substituir a pele temporariamente. 
 
Balneoterapia 
Muito usada no passado, a indicação é rara atualmente. 
Conta-se que há séculos a balneoterapia já era utilizada no tratamento do 
queimado, evidentemente não com os mesmos recursos de hoje. O método consistia em 
imergir o paciente em água salina a 38.ºC, com a finalidade de limpar a área queimada. 
O processo foi evoluindo e chegou até nós co as inovações atuais, descritas a seguir: 
A balneoterapia consiste na imersão do queimado em uma banheira revestida de 
 
 
66 
 
plástico (descartável), contendo solução salina isotônica morna, a 0,9% na temperatura 
de 37/38o.C, durante 15 a 20 minutos, duas a três vezes por semana. 
A solução isotônica, devido à pressão osmótica, evita a desidratação ou absorção 
dos líquidos através da área cruenta. 
A balneoterapia tem por objetivos: 
✓ Favorecer a retirada das últimas camadas de gazes aderidas, 
remover secreções e parte de tecidos necrosados; 
✓ Prevenir sequelas de posicionamento e de retração cicatricial, 
mediante movimentos e exercícios ativos, executados em condições favoráveis 
encontrados na imersão; 
✓ Promover a cicatrização da lesão pela estimulação da circulação 
sanguínea. 
A principal contra-indicação da conduta, no momento, é a auto-infecção. No 
grande e médio queimado, geralmente há áreas infectadas e não infectadas. O processo 
favorece a disseminação microbiana. Considerando que o queimado é 
imunologicamente deprimido, os microrganismos existentes nos orifícios naturais (ânus, 
vagina, uretra) e aqueles existentes na pele íntegra, unhas etc., também se tornam 
infectantes da área queimada. 
As outras contra-indicações, menos relevantes, são mais bem controladas. Entre 
elas, as mais comuns são: 
 Lipotimia: ocorre pela hipotensão arterial, provocada pela vasodilatação dos 
vasos sanguíneos em contato com a solução morna e pela perda de líquidos sero-
sanguinolentos da queimadura. 
Hemorragia Capilar: ocorre pela vasodilatação capilar e até de vasos mais 
calibrosos, já danificados pela necrose ou por infecção de suas paredes. 
Maceração da área queimada: acontece por excesso de banhos (quando 
executados diariamente). 
A prática da balneoterapia exige instalações apropriadas, equipamentos e 
instrumental específico, bem como equipe de enfermagem treinada para a realização de 
todo processo. 
A sala de balneoterapia deve ser anexa à sala de curativos, ou ter espaço 
suficiente para a confecção dos mesmos (dimensões em torno de 14m²). Deve obedecer 
aos princípios de prevenção de infecção quanto às paredes, tetos, pisos e janelas, 
lembrando-se que deve oferecer resistência adequada ao vapor d’água. A banheira deve 
 
67 
 
estar instalada cerca de 70 cm acima do piso, para facilitar o transporte do paciente e 
toda a movimentação da enfermagem, evitando problemas de coluna vertebral na equipe 
de enfermagem. A banheira deve ser graduada de 20 em 20 litros até 150 litros d’água, 
ter torneiras de água quente e fria. Fazem parte do material da sala: termômetros para 
medir a temperatura da água, balança, para pesar o sal que será adicionado à água e 
tesoura de Lister para retirar curativo sujo. 
O pessoal de enfermagem que executar a técnica deve estar paramentado com 
gorro, máscara, avental e luvas estéreis. O local deve ter hamp revestido com saco 
plástico para coleta do curativo sujo. É necessário secar o paciente com campos estéreis 
após retirá-lo da banheira. A confecção de novo curativo obedece à sequência rotineira, 
com ou sem pomadas antimicrobianas. 
 
Troca de curativo com banho de chuveiro 
Desde que o paciente tenha condições para sentar-se ou ficar em pé, está 
indicado o curativo com indicação de banho, não tendo este método às desvantagens da 
auto-infecção. 
A instalação do ambiente é simples. Faz-se necessário um banheiro espaçoso, 
que facilite a movimentação do paciente e do pessoal da enfermagem e que tenha 
chuveirinho manual, co pressão suave de jato d’água. A porta deve ser ampla e 
suficiente para entrada de cadeiras simples e de cadeiras de rodas próprias para banho. 
Devem fazer parte do material acessório: 
hamp forrado com saco plástico, para coletar curativo sujo; local adequado para 
colocar tesoura de Lister; sabão neutro; campos estéreis, para secar e proteger o paciente 
após o banho. O membro da equipe de enfermagem que executar a técnica deve estar 
paramentado com luvas, gorro, máscara e avental plástico longo sob o avental cirúrgico, 
para proteger-se contra a água do chuveiro. 
Na limpeza da área queimada e regiões circunvizinhas são usadas pinças e 
compressas embebidas em sabão líquido neutro. 
Ao término do banho, a pele sã é seca com campos estéreis e o paciente é 
envolto em outro campo, sendo transportado para a sala de curativos, onde o 
procedimento obedece à rotina de curativo com ou sem pomadas. 
 
 
68 
 
Curativos sob anestesia geral 
É indicado para os pacientes com sensibilidade acentuada à dor, para crianças, 
visando à prevenção de traumas psíquicos, e ainda, pacientes com grandes áreas 
queimadas ou com abundante tecido necrosado que não tenham contra-indicações de 
anestesia geral. 
A enfermagem faz o preparo físico e psicológico do paciente com antecedência. 
Este preparo consiste em orientar o paciente sobre o procedimento, visando sua 
participação ativa. No aspecto físico, são feitos higiene corporal, tricotomias, coleta de 
sangue para exames (prova cruzada, hematócrito, tempo de sangramento e coagulação), 
peso, sinais vitais e jejum de 6 horas para crianças e 8 horas para adultos. 
O período de jejum deve ser o menor possível evitando a espoliação do paciente 
que, já comprometido com a queimadura, ainda poderá passar por várias anestesias e 
consequentes jejuns até a cura. 
O curativo é realizado em sala cirúrgica, podendo ter várias finalidades que vão 
desde a simples troca das gazes com limpeza superficial da área queimada, quando na 
ausência de necrose, até a ressecção de necroses extensas e profundas, objetivando 
apressar o momento da enxertia da pele. Evita-se, assim, a espoliação protéico-calórica 
e hidroeletrolítica, bem como o declínio imunológico e a invasão de microrganismos. 
A remoção destas necroses ou escaras são chamadas cirurgicamente de 
escarectomia. Existem três métodos usados para remoção destas crostas:método 
químico; método enzimático e método cirúrgico. 
Método químico: emprega-se aqui o ácido pirúvico, usado desde 1944. Tem a 
vantagem de não ser traumatizante e não provocar sangramento, eliminando o tecido 
desvitalizado em torno de 6 a 8 dias após a primeira aplicação. O curativo pode ser 
trocado de 2 em 2 dias. A desvantagem está em favorecer a infecção local por manter o 
PH baixo. 
 
Infecção no grande queimado 
A infecção é um grande e difícil problema que a equipe de saúde enfrenta em 
relação ao paciente grande queimado. 
Com o avanço e progresso da tecnologia a mortalidade vem diminuindo dia a 
dia, graças ao aperfeiçoamento dos métodos de tratamento, técnicas assépticas e melhor 
preparo das equipes que tratam desses pacientes. 
Apesar de todo avanço tecnológico ainda é grande o número de complicações 
 
69 
 
infecciosas, como broncopneumonia, infecção urinária, infecção por cicatrização 
venosa, supurações de queimaduras e septicemias. 
Todos os pacientes que sofrem queimaduras, com comprometimento de mais de 
20% da superfície corporal, colonizam um ou mais microrganismos. Quando o número 
de microrganismos na lesão apresenta-se igual ou superior a 10 5 por grama de tecido, o 
que é superior à capacidade de defesa antiinfecciosa local, a colonização se transforma 
em infecção. 
Apesar de todos os esforços empregados na assepsia, antissepsia e 
antibioticoterapia, 35% dos pacientes adquirem infecção na primeira semana, 20% na 
segunda semana e 7% dos pacientes na terceira e quarta semana, sendo que as infecções 
das lesões dependem da extensão e profundidade das queimaduras. 
 
Alterações locais 
A injúria térmica de que o paciente queimado é acometido elimina as barreiras 
que impedem a invasão de microrganismos nos tecidos epiteliais, reduzindo a circulação 
devido à necrose da derme e epiderme, causando destruição e trombose da 
vascularização, favorecendo a multiplicação dos agentes que colonizam a lesão. 
 
Alterações da resposta antiinfecciosa 
O estresse causado pela queimadura, além das alterações metabólicas, leva o 
grande queimado a sofrer depressão de seus mecanismos de defesas antiinfecciosas. 
Esta depressão se deve fundamentalmente à queda das concentrações séricas das 
imunoglobulinas, principalmente das Ig G. Considera-se esta queda de concentração um 
indício de mau prognóstico. 
 
Etiologia 
Os patógenos infectantes e colonizadores das queimaduras são, na maioria, os 
que habitam a pele, trato respiratório alto e intestino do paciente. 
Trabalhos realizados na Clínica de Queimados e Cirurgia Reparadora do 
Hospital Municipal, 
(PMSP), coincidentes com achados de literatura, responsabilizam os 
Staphylococcus e Pseudomonas como os principais causadores de infecções. Por sua 
vez as Enterobacteriaceae (Klebsiella, Escherichia Coli, Providencia e Alcaligenes) têm 
 
70 
 
sido representatividade entre os organismos infectantes. 
Os Streptococcus respondem por um número não desprezível de infecções, 
sendo mais comuns às provocadas pelo tipo D (Streptococcus faecalis, Streptococcus 
facium e Streptococcus durans, o que não coincide com os nossos achados. A maioria 
das infecções é de origem endógena. 
Trabalhos mostram que as infecções por fungos vêm aumentando, destacando-se 
as causadas por Cândida Albicans. É provável que as infecções fungicidas venham 
crescendo como consequência da aplicação de antimicrobianos inativos para fungos, da 
cateterização prolongada para monitorização da pressão venosa central e nutrição 
parenteral ou, ainda, do diabetes complicado com acidose. 
 
Profilaxia 
A profilaxia das infecções nas queimaduras deve iniciar-se a partir do primeiro 
atendimento com uso de técnica asséptica e cuidados locais, que compreendem: 
debridamento; excisão de tecidos desvitalizados; curativos e enxertia. A correção dos 
distúrbios respiratórios e circulatórios, que deve ser cuidado prioritário no atendimento 
ao queimado, juntamente com a imunização e suporte nutricional, são fundamentais na 
prevenção da infecção. 
É importante conhecer a epidemiologia das infecções no grande queimado para 
evitar que medidas inadequadas sejam tomadas, aumentando o problema e onerando o 
serviço. Esforços devem ser empregados no sentido de reduzir a contaminação 
microbiana que, pode se efetuar através de: 
1. Conhecimento de reservatórios infecciosos e sua transmissão; 
2. Critério no controle e na aplicação tópica de antimicrobianos; 
3. Higiene e antissepsia das mãos; 
4. Rigorosa técnica asséptica no atendimento ao paciente; 
5. Seleção e controle da contaminação de antissépticos; 
6. Limpeza e desinfecção de artigos críticos, semicríticos e não críticos; 
7. Limpeza e desinfecção do ambiente. 
 
Reservatório antiinfeccioso 
Considerando que a queimadura é colonizada e infectada normalmente por 
bactérias que habitam a pele, o trato respiratório superior, intestino ou a partir da flora 
 
71 
 
exógena e do meio ambiente, é importante conhecer o reservatório destes agentes 
infecciosos, como também sua transmissão. Entre estes reservatórios destacam-se: 
 
Agente infeccioso 
Staphylococcus aureus: é normalmente encontrado na nasofaringe, intestino, 
pele, queimadura, tanque de hidroterapia e artigos hospitalares; 
Pseudomas e Enterobacteriaceae: têm sido encontrados no intestino, 
queimadura, alimentos vegetais crus, água potável, tanques de hidroterapia, 
antissépticos, soluções aquosas e nebulizadores. 
Cândida Albicans e outros fungos: têm sido isolados no intestino e nas 
queimaduras. 
As estipes de Pseudomas encontradas nas fezes dos pacientes são, na maioria das 
vezes, idênticas às isoladas das queimaduras. 
O modo de transmissão destes agentes tem sido através de auto-infecção, exo-
infecção, por meio das mãos, cateterizações, curativos, tanque de hidroterapia e material 
de assistência respiratória. 
 
Higiene e assepsia das mãos 
Evidências mostram que as mãos dos profissionais de saúde e pacientes têm sido 
o veículo responsável pela transmissão de bactérias gram-negativas. 
A higiene das mãos deve ser feita com água e sabão antes e depois de qualquer 
manuseio com o paciente queimado, após os curativos, cateterizações, uso de comadres 
e outros artigos contaminados com secreção. 
Nas áreas críticas e semicríticas é recomendável, além da higiene das mãos, a 
antissepsia com solução detergente antisséptica, requerendo agentes germicidas capazes 
de inibir ou destruir microrganismos, sem provocar irritação ou sensibilização depois de 
repetido uso. Os antissépticos mais adequados são as soluções de IVPI a 10% (1% de 
iodo livre) 
 
Técnica asséptica 
O acesso e circulação na unidade de queimados devem ser limitados ao máximo. 
A equipe de saúde e visitantes devem fazer uso de avental estéril de mangas compridas, 
gorro e máscara. 
 
72 
 
O uso da sapatilha se torna desnecessário, de acordo com o conhecimento da 
epidemiologia das infecções em queimados. 
Antes de qualquer procedimento invasivo (biópsia, cateterizações, punções 
venosas, traqueostomia etc.) se faz necessário o uso de luvas, antecedido de degermação 
e antissepsia da pele ou da mucosa. 
Cada paciente que apresente área queimada extensa deve ter, para seu uso 
exclusivo, instrumentos que entram em contato direto com sua pele (termômetro, 
comadre, papagaio, estetoscópio). Quando isto não for possível, desinfetá-lo antes e 
após cada uso. 
Observação rigorosa da técnica asséptica deve ser feita por ocasião dos curativos 
e de qualquer procedimento de risco. 
 
Limpeza e desinfecção de artigos críticos, semicríticos e não críticos. 
Os artigos hospitalares se classificam de acordo com o risco potencial de 
transmissão de infecção. Eles podem ser críticos, semicríticos e não críticos. 
Os artigos considerados críticos são todos aqueles que entram em contato com 
tecidos subepiteliais,com o sistema vascular e outros órgãos isentos de flora microbiana 
própria, ou ainda, aqueles que estejam diretamente ligados a eles, incluindo-se neste 
grupo os instrumentos de corte ou de ponta, outros instrumentos cirúrgicos (pinças, 
afastadores, próteses, fios, cateteres venosos, drenos, etc.), soluções injetáveis, roupas 
utilizadas nos atos cirúrgicos, no grande queimado, berçário e outros pacientes 
imunodeprimidos que requerem isolamento protetor. 
Estes artigos devem ser esterilizados de acordo com sua natureza. Os termo-
resistentes devem ser submetidos a processos físicos que utilizam o calor e os 
termosensíveis a processos químicos ou irradiação. 
Artigos semicríticos são aqueles que entram em contato com a mucosa íntegra, 
capaz de impedir a invasão dos tecidos subepiteliais. Destacam-se, entre eles, os 
equipamentos de anestesia, assistência ventilatória, cateteres vesicais, nasogástricos, 
endoscópios, termômetros, medicamentos orais e inaláveis, tanques de hidroterapia, 
pratos, talheres e alimentos. 
Estes artigos devem ser usados isentos de bactérias, fungos e vírus; no caso de 
alimentos, o mais possível livre de germes. Deveriam ser usados isentos de qualquer 
microrganismo. No entanto, nem sempre é possível submetê-los a esterilização sem 
danificá-los, o que torna difícil a adoção desta medida. Eles devem ser desinfetados em 
 
73 
 
solução de glutaroldeído a 2% (durante 30 minutos), ou solução de detergente de fenóis 
sintéticos a 3%. 
Os serviços que possuírem câmaras de óxido de etileno podem esterilizar estes 
artigos após seleção dos mesmos e observação rigorosa de tempo de ventilação do 
material, (5 a 7 dias) a fim de evitar queimaduras pelo gás absorvido nas superfícies de 
plástico ou de borracha. 
A desinfecção das banheiras de hidroterapia deve ser feita através de instalação 
de filtro bacteriológico com capacidade suficiente para filtrar continuamente a água e a 
cloração contínua, e manter um residual de 0,1 a 0,6 mg/1 de cloro livre. Quando a 
filtração não for possível, recomenda-se a iodação, considerando-se que a atividade 
germicida do iodo é menos afetada pela matéria orgânica do que a do cloro. 
Artigos não críticos são todos aqueles que entram em contato apenas com a pele 
íntegra e, ainda, os que não entram em contato direto com o paciente. Destacam-se as 
mesas de Raio X, incubadoras sem umidificação, equipamento de hidroterapia e 
banheira (exceto nas unidades de queimados, onde este artigo é considerado 
semicrítico), equipamentos sanitários (pias, vasos, banheiras e ralos), artigos de higiene 
do paciente etc. 
Estes artigos, ao serem usados, devem estar isentos de microrganismos capazes 
de transmitir doenças infecciosas. Devem ser tratados de acordo com cada caso, 
utilizando-se a limpeza 𝑐𝑜2 água e sabão até a desinfecção. 
 
Limpeza e desinfecção do ambiente 
Pouco se conhece a respeito das infecções transmitidas através de superfícies 
contaminadas. 
As normas e rotinas de limpeza e desinfecção devem ser feitas norteadas pelo 
risco de transmissão de infecção que cada superfícies que oferecem maior risco de 
transmissão de infecção destacam-se o mobiliário e equipamentos que entram em 
contato com o paciente. 
Os pisos, peitoris de janelas, portas e maçanetas acumulam resíduos 
contaminados da atividade humana. Estas partículas são dispersas pela movimentação 
de corrente de ar e agitação do ambiente. Mesmo quando voltam a sedimentar, poucas 
bactérias sobrevivem. Mas perdem a virulência e pouco risco oferecem. 
A limpeza e desinfecção deve ser feita com água, sabão e solução desinfetante 
de fenóis sintéticos a 3%, ou hipoclorito de sódio a 1%. A periodicidade deve ser regida 
 
74 
 
pelo risco de transmissão de infecção que cada área oferece. 
 
Diagnóstico, tratamento e conduta frente a casos de infecção. 
O diagnóstico das infecções em pacientes queimados deve basear-se nos achados 
bacteriológicos (culturas e hemoculturas) e nas manifestações clínicas. 
A capacidade de invasão na corrente circulatória varia de acordo com o agente 
infectante, extensão da queimadura e resistência do indivíduo à infecção. As 
manifestações clínicas variam de acordo com o paciente e o tipo de infecção. 
Nas infecções não invasivas o paciente apresenta picos febris e leucocitose com 
desvio para a esquerda o que variam de intensidade de acordo com cada caso, podendo 
ocorrer ainda leucopenia, hipotermia e quadro de toxemia (com hemocultura negativa), 
nos casos graves, quando o agente causal é Pseudomas aeroginosa. 
O aspecto da ferida foi estudado, tendo apresentado as seguintes características: 
Infecção não invasiva Infecção invasiva sem 
septicemia 
Infecção invasiva com 
septicemia 
Camadas de granulação 
entre as bordas da ferida 
etecidos circunvizinhos. 
 
Granulação deteriorada, 
tecidos adjacentes pálidos 
edematosos. Superfície 
seca, crostosa, necrótica, 
nas queimaduras extensas. 
 
Dissolução de granulação, 
necrose negra pontilhada, 
superfície plana e 
amarelolaranja. 
 
Hemocultura 
A Hemocultura é indicada em diversas situações clínicas, tais como: 
✓ Estado febril súbito, acompanhado ou não de 
calafrios, mesmo na ausência de sinais de infecção; 
✓ Estado febril, associado 
à lesão cutânea inflamada ou supurada; 
✓ Suspeita de endocardite, mesmo que o paciente 
não apresente sinais e sintomas agudos; 
 
Infecções urinárias graves, pneumonia, abscessos peritoneais, viscerais e 
 
75 
 
pélvicos, septicemias e bacteremias. 
De preferência, a hemocultura deve ser colhida antes do início da 
antibioticoterapia. No entanto, o fato do paciente estar em uso de antibiótico não anula a 
sua indicação. É contraindicada sua coleta durante o pico febril, porque este resulta da 
ação sobre o centro termoregulador do pirogênio endógeno liberado por estimulação da 
lise microbiana que ocorreu anteriormente, sendo muito pequeno o número de 
microrganismos vivos na circulação. Por esta razão recomenda-se a coleta de três 
hemoculturas (45 ml de sangue semeado a 9 frascos) colhidos com uma a duas horas de 
intervalo, pela impossibilidade de se determinar o momento adequado para coleta. 
 
Cultura de secreção da queimadura 
 
Após a primeira, terceira e quinta semana da queimadura, a população 
microbiana da ferida tende a variar, quando em uso de antimicrobianos. Por isso as 
culturas de amostras da lesão devem ser feitas semanalmente para identificar 
microrganismos presentes e evitar superinfecções. É necessário que sejam observados 
alguns critérios na coleta da amostra, o que vai determinar a eficácia dos resultados. 
Técnica 
Remover a secreção superficial com gaze estéril e rolar sobre a superfície da 
lesão um swab umedecido em soro fisiológico estéril, durante quatro ou cinco vezes, e 
colocá-lo em um tubo com 10 ml de soro fisiológico, caldo glicosado ou tioglucolato. 
Identificar a amostra com os seguintes dados: nome, registro hospitalar, quarto, leito, 
número de dias após a queimadura, local de onde foi colhida a amostra, se está em uso 
de antimicrobiano local e data do início da aplicação. 
Tratamento 
A antibioticoterapia deve ser precedida de antibiograma, observando-se bem a 
flora bacteriana local e o grau de toxidade do antibiótico. Quando da vigência de 
septicemia sem conhecimento do agente causal, deve basear-se na frequência das 
bactérias infectantes no grande queimado, no caso, Pseudomas aeruginosas e 
Staphilococcus aureus. 
Septicemia 
A septicemia tem se mostrado uma das mais temíveis complicações para o 
grande queimado. Representa, se não a principal, uma das destacáveis causas de morte 
 
76 
 
entre esses pacientes, quando não diagnosticada precocemente e tratada adequadamente. 
Patogenia da septicemia 
Os parasitas penetram no corpo do queimado através da pele, principalmente. 
Uma vez estabelecidos no hospedeiro, os microrganismospodem multiplicar-se, 
ocasionando uma infecção local ou primária. Em seguida, vem a disseminação 
sistêmica. Os microrganismos existentes no sangue circulante, através da invasão direta 
de vasos (fato relativamente raro) ou pelo método comum de serem transportados pela 
linfa, alcançam o canal torácico e penetram no sistema nervoso. Na corrente sanguínea, 
propagam-se por outros órgãos e tecidos, podendo produzir lesões distantes ou 
secundárias, levando ao que se chama de septicemia, acompanhada de um intenso 
quadro toxêmico. Nas infecções produzidas pelo tétano, as lesões distantes são 
produzidas por toxinas elaboradas na lesão primária, sem disseminação sistêmica dos 
parasitas. 
A incidência e gravidade da septicemia variam de acordo com a superfície da 
área queimada, estado nutricional do paciente e do tipo de organismo infectante. 
 
Assistência de enfermagem na prevenção e controle da úlcera de estresse no 
paciente queimado 
Úlcera de Curling ou de Estresse foi o nome dado às úlceras encontradas em 
relação a grandes traumas, como as queimaduras. São aquelas surgidas durante um 
período de grande ansiedade. Recebeu o nome de Úlcera de Curling por ter sido ele 
quem apresentou o primeiro relato científico associando o estresse com a úlcera 
gastroduodenal (erosiva ou ulcerativa). 
O aparecimento da Úlcera de Curling em paciente queimado tem se mostrado 
relacionado com a extensão da queimadura, surgindo em pacientes com área corporal 
queimada a partir de 20%. 
Na maioria dos casos, as manifestações têm surgido a partir do 3.º dia pós-
queimadura. Estudos retrospectivos realizados em 54 pacientes queimados avaliados 
por gastroduodenoscopia precoce e seriada por fibras ópticas, relataram achados de 
lesões gástricas agudas em 83% dos pacientes, 5 horas após a queimadura. 
Não tem havido grande diferença na incidência em relação à idade e sexo. 
 
 
77 
 
Etiologia 
Entre as complicações do aparelho digestivo, as hemorragias e perfurações de 
lesões ulcerativas têm sido as mais temidas por todos que tratam de pacientes 
queimados. 
Apesar de muito estudada e discutida, a etiologia da Úlcera de Curling ainda 
permanece desconhecida. Entretanto, alguns fatores têm sido estudados e considerados 
de importância. 
Entre eles: 
1. Alterações da substância da mucosa gástrica 
A mucosa gástrica é protegida pelo muco que impede a ação direta do ácido 
clorídrico da ação das enzimas e toxinas bacterianas. É renovado constantemente pelo 
controle neurovegetativo e aumenta sob estimulação mecânica. 
 
2. Alterações da vascularização da mucosa do tubo digestivo 
Após a queimadura, dois mecanismos conduziriam a alterações da 
vascularização da mucosa do tubo digestivo: 
a) A estimulação ortossimpática, por ação nervosa direta e humoral, conduz 
a vasoconstrição e ao aumento da atividade dos shunts arteriovenosos na mucosa de 
todo tubo digestivo, variando de acordo com a intensidade e gravidade da queimadura. 
Como consequência da diminuição do fluxo arterial para a mucosa, há uma diminuição 
da capacidade de vitalização celular e produção de sucos digestivos e mucos, agravados 
pelo desequilíbrio energético; 
b) O segundo mecanismo ocorre porque, paralelamente, o sistema nervoso, 
através do córtex cerebral, atua sobre o hipotálamo que, agindo sobre os núcleos vagais, 
desencadeia uma resposta parassimpatomimética. O hipotálamo provoca estimulação 
hipofisária, determinando aumento do ACTH, hormônio antidiurético e, indiretamente, 
de corticosteroides. Surgem, como consequência áreas de congestão da mucosa 
gastrintestinal que se alteram com áreas de isquemia, consequente a ação 
ortossimpática. 
3. Aumento da difusão retrógrada de íons no estômago pela presença de 
ácido clorídrico 
O excesso de íons da mucosa gastroduodenal provoca liberação de substâncias 
vaso-ativas, com histamina e serotina, além da heparina, que causam edema e aumento 
da permeabilidade capilar que, através de estímulos, libera pepsina das glândulas 
 
78 
 
gástricas. Estes fatores são responsáveis pelo aparecimento de lesões gástricas 
ulceradas. 
 
Manifestações clínicas 
As manifestações clínicas têm se expressado normalmente pela hemorragia, leve 
ou maciça, com hematemese e melena. Não raramente, observam-se pequenas perdas 
sanguíneas que, se não observadas e tratadas, podem vir a comprometer o estado geral 
do paciente, quando permanecerem por muito tempo. 
Tem sido difícil diagnosticar a Úlcera de Curling, tanto pela ausência de 
manifestações clínicas, que podem variar desde a ausência de sintomas, como pela 
presença de hemorragias graves e síndromes perfurativas. 
 
 Tratamento e condutas frente a casos de úlcera de Curling 
O tratamento das ulcerações, agudas ou não, do tubo digestivo deve basear-se na 
profilaxia e controle da hemorragia gastrintestinal alta e grave, além da correção de 
outros desvios normais em pacientes queimados, com alterações eletrolíticas e da 
correção hidrogeniona. 
A profilaxia visando neutralizar a ação do suco gástrico deve ser feita através da 
administração de antiácidos. 
Na presença de hemorragia, o tratamento inclui lavagem gástrica com solução 
salina gelada, transfusões sanguíneas e medidas gerais de suporte, que têm surtido bons 
resultados em alguns casos menos graves. A indicação de cirurgia em casos de 
hemorragias maciças ou incontroláveis, que não respondem à transfusão sanguínea, é 
discutível, devido à extrema gravidade do paciente e à dificuldade de se estabelecer à 
sede precisa do sangramento. O elevado índice de mortalidade tem feito com que 
determinados serviços mantenham tratamento clínico conservador, na maioria dos 
casos. 
Os cuidados de enfermagem a pacientes com Úlcera de Estresse são os mesmos 
dispensados a pacientes com extensas queimaduras. 
 
Posicionamento no leito e prevenção de deformidades 
O tratamento de pacientes queimados não tem tido o mesmo progresso 
tecnológico que outras especialidades. Poucas são as pessoas que se dedicam à pesquisa 
 
79 
 
sobre o assunto, principalmente no que se refere à prevenção de deformidades. Na 
maioria dos casos, as equipes procuram investir todos os recursos visando salvar apenas 
a vida do paciente, não se preocupando o suficiente com a prevenção de deformidades e 
sequelas que são variadas e abundantes. São elas que irão determinar a qualidade de 
vida destes pacientes. Em muitos casos, o tratamento das deformidades se torna mais 
doloroso e traumatizante do que a própria cura da área queimada. Apesar de contarmos 
com elevado número de serviços especializados em cirurgia plástica, a população não se 
beneficia destes por serem onerosos, passando a utilizar apenas os serviços de 
tratamento de urgência ao queimado que estão ao seu alcance. 
As queimaduras de 2.º grau profundo e de 3.º grau, geralmente são 
acompanhadas de sequelas que vão desde uma simples hipocromia ou hipercromia de 
pele, até sérias contraturas que interferem diretamente no aspecto estético e funcional. 
As áreas preferidas das contraturas são aquelas que apresentam tecido fino e móvel, 
como face anterior das mãos, pescoço, região facial etc. 
A formação de cicatrizes hipertróficas e contraturas é caracterizada pelo 
importante aumento da vascularização, fibroblastos, miofibroblastos, deposição de 
colágeno, material intersticial e edema. 
O número aumentado de miofibroblastos, com suas propriedades contráteis, 
associado ao mau posicionamento, pode exercer suficiente força para causar grave 
distorção das estruturas faciais e contraturas articulares. 
É importante lembrar que duas faces da área queimada, como axila e braço, 
braço e tórax e espaços interdigitais não podem permanecer justapostas, para evitar 
aderência cicatricial, devendo-se, portanto, manter o paciente em posicionamento de 
abdução, o que deve ser observado também nos pacientes com queimadurasde períneo 
e membros inferiores. A prevenção das deformidades está relacionada com a prática 
precoce e persistente do posicionamento adequado em cada segmento corporal, sendo 
imprescindível à colaboração de toda a equipe e principalmente do paciente. 
Nas queimaduras de 3.º grau do pescoço, com parte anterior e posterior do tórax, 
a posição indicada é a de hiperextensão do pescoço, mediante uso de coxim sob os 
ombros e ausência do travesseiro. É uma posição muito desconfortável, questionada por 
quase todos os pacientes, que insistem em retirar o coxim transformando-o em 
travesseiro. O travesseiro também é contra-indicado nos pacientes com queimadura do 
pavilhão auditivo visando prevenção de condrite. As contraturas axilares devem ser 
combatidas, embora seja difícil preveni-las. Para tanto, a posição adequada é a de 
 
80 
 
abdução dos braços a 90o, e do ombro a 10o, para evitar deslocamento anterior. 
As queimaduras do quadril e joelho poderão ser amenizadas com a abdução de 
mais de 20o da linha mediana. A dor leva o paciente a manter os membros em posição 
de conforto, que é a posição de contração. É indicado o uso de talas gessadas na região 
das articulações, mantendo-se os membros em extensão. Em alguns casos, a tala é usada 
só no período noturno, proporcionando ao paciente condições de movimentação e 
exercício de seus membros durante o dia. 
A movimentação das articulações deve ser mantida com o curativo oclusivo e 
durante a troca dos mesmos. Salienta-se, neste aspecto, a vantagem da balneoterapia, 
pelos benefícios físicos e mecânicos exercidos pela água sobre os tecidos. 
A prevenção de deformidades dos tornozelos e pés em posição anatômica com o 
uso de apoio plantar, evitando-se o encurtamento do tendão de Aquiles e toda a 
problemática para a correção posterior. Nos portadores de queimaduras no tórax 
posterior que se mantém em decúbito ventral, o posicionamento adequado dos pés pode 
ser facilitado com o encurtamento do colchão nos pés, deixando espaço para melhor 
acomodação do ângulo plantar. 
A mudança do decúbito na prevenção de escaras é imprescindível e às vezes 
complexa, quando se trata de um grande queimado, pelas poucas opções de áreas não 
lesadas. Outros recursos na prevenção destas complicações são os leitos de Clinitron, 
colchões d’água, de ar, de alpiste e outros. 
A utilização de outros materiais, como malhas usadas na fabricação de máscaras 
e curativos compressivos, é de grande valia na prevenção de cicatrizes hipertróficas. 
Este material é fabricado pela indústria nacional e apresenta uma desvantagem em 
relação ao material importado, em virtude de exercer pressão apenas em sentido lateral. 
O material importado exerce pressão em todas as direções da área onde é utilizado. 
Resumindo, as deformidades decorrentes de contraturas cicatriciais e hipertrofias 
cicatriciais provenientes de queimadura poderão ser suavizadas, e até prevenidas 
parcialmente, mediante posicionamento correto de cada segmento corporal do 
queimado, uso de coxins, talas gessadas, malhas compressivas, órteses, exercícios ativos 
e passivos com a participação imprescindível do paciente e colaboração de todos os 
membros da equipe, principalmente da enfermagem. 
 
 
81 
 
Assistência de enfermagem nas complicações das queimaduras 
 
Insuficiência Renal Aguda (IRA) 
 
A insuficiência renal aguda tem sido uma complicação frequente nos pacientes 
grandes queimados. Associada às infecções e outras complicações, tem representado um 
número de destaque nas causas de morte desses pacientes. 
Qualquer distúrbio orgânico que cause redução do fluxo sanguíneo renal, como 
hipovolemia, choque, fatores nefrotóxicos e infecção, leva a complicações como 
necrose tubular aguda, glomerulofrenite e necrose cortical, responsáveis pela 
insuficiência renal aguda. 
 
Manifestações clínicas 
As manifestações clínicas nesses pacientes variam de acordo com as alterações 
que ocorrem no metabolismo protéico mineral e com as variações da osmolaridade e 
concentração hidrogeniônica. 
Algumas manifestações de maior destaque e que devem ser observadas com 
maior atenção: 
Neuropsíquicas: (em doentes não dialisados), letargia, confusão mental, 
agitação, ansiedade, espasmo muscular e convulsão, que são normalmente associadas à 
intoxicação hídrica. 
Digestivas: anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, prostação e hemorragia, 
decorrentes de ulceração de tubo digestivo, especialmente estômago e intestino. 
Desconforto respiratório: é um sinal precoce de possível edema pulmonar e 
septicemia, anunciando sobrecarga de líquido, principalmente em pacientes idosos e 
crianças. 
Cardiovasculares: ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva), devido à 
sobrecarga hidroeletrolítica e mesmo à hipertensão, presentes após a hipervolemia e as 
arritmias secundárias aos distúrbios hidroeletrolíticos. 
Oligúria: esta manifestação indica necrose tubular aguda (volume urinário 
inferior a 20 ml/h e 400/600 ml nas 24 horas. Esta fase é acompanhada de elevação 
sérica de elementos normalmente excretados pelos rins (ureia, creatinina, ácido úrico, 
ácidos orgânicos, potássio e magnésio). Em alguns pacientes pode haver uma 
 
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diminuição da função renal (necrose tubular), com retenção nitrogenada crescente, 
embora o paciente esteja excretando 2 a 3 litros de urina diariamente. Esta é chamada 
insuficiência renal de alto débito, em forma não oligúrica. Nestes casos, o débito 
urinário deve ser perseguido para que não se induza uma sobrecarga líquida. A fase 
oligúria dura aproximadamente 10 a 20 dias. Com a evolução do estado do paciente, o 
débito urinário aumenta gradualmente, indicando que a função renal começou a 
melhorar. Com isso, há uma diminuição do poder de combinação do dióxido de carbono 
no sangue, instalando-se a acidose metabólica progressiva que sempre acompanha a 
IRA. Nestes casos, deve ser dada importância especial aos resultados gasométricos 
arteriais, além de se observar às funções respiratórias para que condutas ventilatórias 
adequadas sejam tomadas em tempo hábil). 
Anúria: observada em grandes queimados que receberam hidratação inadequada 
na fase aguda. Indica necrose cortical, vasculite e glomerulonefrite. 
Densidade urinária baixa: de 1.010 em relação a 1.030, o que normalmente 
indica hemoconcentração progressiva. Nesta fase, deve ser instalado tratamento 
adequado para impedir o catabolismo excessivo, garantindo a sobrevivência do 
paciente. Esta preocupação deve ser aumentada quando se tratar de paciente idoso 
(acima de 60 anos), crianças menores de 10 anos, e quando apresentarem outras 
patologias. 
 
Condutas e assistência de enfermagem frente a caso de Insuficiência Renal 
Aguda (IRA) 
Da ação pronta e eficiente da equipe depende a profilaxia, controle e tratamento 
da IRA. 
O balanço hidroeletrolítico deve ser criteriosamente observado, juntamente com 
a perda ponderal. 
A quantidade e velocidade de líquidos infundidos devem ser compatíveis com a 
pressão venosa central e volume urinário, sendo a diurese a medida mais importante 
quando avaliada isoladamente. 
O fluxo urinário deve ser mantido entre 30 e 60 ml por hora, devendo ser 
motorizado (medido e anotado de hora em hora). 
É importante que o enfermeiro saiba a quantidade de líquido que cada paciente 
se permite, através de avaliação contínua, combinados com o estado clínico do paciente 
e com a prescrição médica. 
 
83 
 
A perda ponderal dos pacientes que evoluem sem complicações é estimada entre 
200 e 500 g por dia, podendo atingir até 1000 g em casos graves. Constitui um sinal 
alerta a manutenção do peso acompanhado de hipertensão, edema, veias túrgidas no 
pescoço, ausculta com estertores úmidos, dispneia e taquicardia. Consequentemente, 
levarão ao edema pulmonar, se medidas coerentes não forem tomadas em tempo hábil. 
As perdas de sódio devem ser observadas e repostasna evidência de grandes 
perdas gastrintestinais (vômitos, diarreia e aspirações). 
A monitorização dos batimentos cardíacos deve receber atenção. Pulso acima de 
110 bpm sugere esforço cardíaco em compensar a queda do volume sanguíneo. 
A dieta deve ser cuidadosamente observada, limitando-se as proteínas, no intuito 
de diminuir a degradação proteica e impedir o acúmulo de produtos tóxicos finais. 
Devem ser reduzidos os alimentos que contenham potássio e fósforo, como a banana, 
frutas cítricas, suco e café. As necessidades calóricas devem ser satisfeitas através de 
alimentos ricos em carboidratos, uma vez que estes têm o poder de poupar proteínas. Na 
impossibilidade do paciente receber dieta por via digestiva, é indicada a alimentação 
parenteral, com bons resultados, visando evitar a queda do estado nutricional. 
A hiperpotassemia é o problema mais grave e urgente da IRA. O catabolismo 
protéico produz liberação do potássio da célula para os líquidos orgânicos, resultando 
em graves intoxicações por potássio. As fontes de potássio são: destruição tecidual, 
ingestão dietética, sangue no trato intestinal, transfusões de sangue e outras fontes 
(penicilina potássica) e o desvio extracelular, em resposta à acidose metabólica. 
Existem várias maneiras de corrigir a hiperpotassemia, sendo a diálise peritonial 
e a hemodiálise as mais eficientes. Entretanto, tratando-se de pacientes queimados sua 
indicação fica limitada, em virtude da presença de queimadura na região abdominal e da 
magnitude do catabolismo tecidual que ocorre em paciente com queimaduras extensas. 
 
Broncopneumonia 
A broncopneumonia tem sido uma das mais frequentes complicações do 
paciente grande queimado. Juntamente com a insuficiência renal e a septicemia, forma a 
tríade das complicações. 
Várias são as causas que levam o paciente grande queimado à infecção 
broncopulmonar. Entre elas, a aspiração de conteúdo gástrico e orofaríngeano, que 
normalmente ocorre durante o período de alteração de consciência que pode surgir em 
alguns casos, após queimadura, a diminuição da expansão pulmonar provocada por 
 
84 
 
queimaduras torácicas e a incapacidade de mobilização no leito, que facilita a retenção 
de secreções. 
As infecções da área queimada, juntamente com procedimentos invasivos como 
traqueostomia, intubação endotraqueal, aspirações e aparelhos respiratórios, têm sido 
responsabilizadas também pelo aparecimento das broncopneumonias nestes pacientes. 
 
Condutas e assistência de enfermagem frente a caso de broncopneumonia 
O sucesso do tratamento da broncopneumonia depende fundamentalmente da 
antibioticoterapia consciente e segura após isolamento do organismo infectante, com 
avaliação da sensibilidade aos antimicrobianos, fisioterapia respiratória e tratamento da 
insuficiência respiratória, quando em vigência. 
A grande variedade de microrganismos e cepas resistentes aos antimicrobianos 
existentes no ambiente hospitalar, variando de hospital para hospital, torna necessário o 
uso de criterioso de antimicrobianos, com base no isolamento dos agentes infectantes e 
suas resistências. 
Normalmente, no país, a antimicrobioterapia tem sido iniciada sem observação 
deste importante critério devido às dificuldades na realização dos exames 
bacteriológicos, demorando muito a chegar até as mãos do clínico os resultados. 
O tratamento, então, devem basear-se nos dados bacteriológicos, avaliação das 
cepas resistentes e nas manifestações clínicas, epidemiológicas e radiológicas. Apesar 
de não ser a melhor forma, não exclui a necessidade de exame para conhecer o agente 
etiológico. Deve ser utilizada na fase inicial e quando se tratar de casos graves. 
 
Fisioterapia Respiratória 
Algumas complicações, como obstrução das vias aéreas superiores e colapso 
alveolar, podem ser evitadas através de medidas intensivas, como mudança de decúbito 
postural, vibração e percussão manual sobre a caixa torácica (tapotagem), exercícios 
respiratórios, ventilação com pressão positiva, aspiração endotraqueal (com rigorosa 
técnica asséptica) e observação dos pacientes que precisam receber suplementação de 
oxigênio, o que deve ser feito através de máscaras com aplicação de oxigênio úmido na 
concentração de 4 a 8 litros/minuto, o suficiente para obtenção da concentração de 30 a 
40% de oxigênio. 
A enfermagem deve estar atenta às causas inerentes à queimadura que conduzem 
 
85 
 
o paciente à insuficiência respiratória, quais sejam: 
✓ Inalação de gases tóxicos e fuligem; 
✓ Queimaduras da face e pescoço que podem levar a 
uma obstrução das vias aéreas superiores, por edema; 
✓ Queimaduras extensas de tórax e abdomes alto, 
diminuindo a expansão pulmonar. 
 
Deve ser observado o desconforto respiratório, que tem sido sinal de alerta 
quando apresentado horas após a queimadura. 
Neste grupo estão incluídos aqueles pacientes que inalaram gases tóxicos e 
fuligem, ou tiveram ação direta do calor sobre as vias aéreas superiores e tórax. Pela 
rapidez e gravidade com que se desenvolvem as manifestações, a atuação da equipe 
deve ser pronta e eficiente através de: 
1. Observação rigorosa do aparecimento de desconforto respiratório; 
2. Controle de frequência respiratória; 
3. Encorajamento do paciente para inspirar profundamente e tossir; 
4. Observar a expansibilidade torácica e qualquer sinal de diminuição para 
avaliação da necessidade de escarotomia, quando se tratar de queimadura 
circunferencial de tórax; 
5. Observar presença de obstrução de vias aéreas superiores ou necessidade 
de ventilação artificial por medida de entubação; 
6. Observar a presença de broncoespasmo para que medidas adequadas 
sejam tomadas; 
7. Avaliação dos índices gasométricos, endoscópicos e radiológicos, o que 
varia de acordo com cada caso. 
A ventilação artificial deve ser instalada após a avaliação criteriosa de sua 
indicação. A utilização adequada desta medida visa reduzir o trabalho respiratório, 
diminuindo o consumo de oxigênio e a demanda de maior débito cardíaco. 
O enfermeiro deve colaborar na escolha do respirador, que sempre deve atender 
aos critérios seguintes: 
✓ Possuir sistema de alarme auditivo e visual para 
aumento ou diminuição bruscas de pressão intrapulmonar; nos 
aparelhos elétricos, alarme para interrupção de corrente elétrica; 
 
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✓ Fornecer opções para variação da fração de 
oxigênio inspirado (FIO2); 
✓ Oferecer opções para variação 
de pressão (suspiro); 
✓ Fácil de limpar e esterilizar; 
✓ Silencioso durante o uso. 
Observar presença de ansiedade e se está sendo oferecida ao paciente situação de 
conforto respiratório e segurança após a instalação do ventilador. 
Verificar o funcionamento e regulagem dos respiradores antes de serem 
conectadas às vias respiratórias do paciente. 
Observar sinais vitais, circulação capilar, coloração das extremidades. 
Após 15 a 20 minutos da instalação do respirador, colher gasometria. A FIO2 
deve ser reduzida progressivamente, visando obter uma PAO2 (pressão parcial de 
oxigênio no sangue arterial) entre 70 a 90 mmHg. Para maiores dados a respeito de 
aparelho, o leitor deve procurar a referência. 
Observar os pacientes que estão com respirador por mais de 72 horas; iniciar, se 
indicado, o desmame, intercalando-se períodos de respiração espontânea, com períodos 
de ventilação mecânica a cada hora, e aumentar progressivamente de acordo coma 
capacidade respiratória do paciente, associado à manutenção dos níveis gasométricos 
aceitáveis. Neste período deve-se observar: 
✓ Nível de consciência; 
✓ Grau de desconforto; 
✓ Pressão arterial; 
✓ Frequência cardíaca; 
✓ Frequência respiratória; 
✓ Gasometria arterial. 
Ao aparecimento de agitação, desconforto, sudorese, hipertensão, arritmia 
cardíaca e alterações do nível de consciência, deve-se religar imediatamente o 
respirador. 
 
 Tratamento e assistência deenfermagem ambulatorial do paciente 
queimado 
As pessoas que sofrem injúrias térmicas são tratadas ambulatorialmente, em sua 
maioria. 
 
87 
 
O primeiro atendimento normalmente é prestado em pronto-socorro nem sempre 
especializado e, às vezes, até em farmácia, em casos sem gravidade. Após o 
atendimento em pronto socorro, via de regra, os pacientes são encaminhados para 
serviços especializados, onde é indicado o tipo e local de tratamento. 
A triagem para o encaminhamento do tratamento ambulatorial depende do 
agente etiológico, da idade, da superfície corporal queimada e da área que foi queimada. 
Os casos de queimadura por ácidos, na sua maioria, merecem tratamento hospitalar. São 
encaminhados para o tratamento ambulatorial os adultos com menos de 15% da SCQ, e 
crianças com menos de 10% da SCQ (superfície corporal queimada), excluindo-se do 
grupo queimaduras, mesmo pequenas, mas consideradas de áreas críticas, como de face, 
por ser difícil prever o grau de edema que ocorrerá comprometendo a área do pescoço e, 
consequentemente, a glote; queimaduras extensas de mão; pela necessidade constante 
de ajuda, onde o autocuidado se torna impossível e nem sempre o paciente dispõe de um 
elemento da família para tal auxílio; queimaduras dos pés; devido à necessidade de 
deambulação e do posicionamento elevado dos membros, além do fato de estas lesões 
normalmente serem acompanhadas de edemas e exsudatos excessivos, facilitando o 
aparecimento de infecção se não tratados adequadamente; queimaduras de períneo e 
genitália, por necessitarem de posicionamento adequado (posição ginecológica), 
curativos abertos e higienização constantes (após cada micção e evacuação), exigindo 
atenção de enfermagem experiente para o tratamento. Com um bom cuidado 
normalmente evoluem bem, sem infecções, nem sequelas incapacitantes. 
O ambulatório para pacientes queimados deve estar, de preferência, inserido 
num contexto hospitalar, onde o paciente deve ser acompanhado não só pelo cirurgião 
plástico e equipe de enfermagem, mas também pelo fisioterapeuta e assistente social, 
facilitando o atendimento inclusive dos pacientes egressos do hospital. 
Não há necessidade de nenhum equipamento especializado, além do 
normalmente usados no atendimento a pacientes com pequenas áreas queimadas. 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
GEMPERLI, Rolf; DIAMANT, Jorge; ALMEIDA, Maria Flora de. O grande 
queimado. In: KNOBEL, Elias. Condutas no paciente grave. 2. ed., São Paulo: 
Atheneu, 1998. cap. 72, p. 937. 
TORTORA, J. Gerard. Corpo Humano – Fundamentos de anatomia e fisiologia. 
4. ed. Porto Alegre: Art. Méd, 2000. 
GUYTON, M. D.Arthur. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças, 5. ed. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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