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AULA 1 FORMULAÇÃO, PLANEJAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 2 Se, num passado não tão distante, a procura por bens e serviços era maior do que a oferta, hoje esse cenário mudou drasticamente. Consumidores ávidos por maior qualidade e menor preço muitas vezes preferem esperar semanas por compras online realizadas fora do país do que comprar por um preço maior o mesmo item em sua própria cidade. Esse cenário de ampla oferta e amplo acesso às tecnologias de informação mudou não apenas a dinâmica dos negócios, mas também a maneira pela qual todos nos relacionamos. Muitas vezes, para permanecerem ativas e cumprir com seus objetivos num mundo de hiperconcorrência, empresas, organismos e até mesmo governos são forçados a cooperar. A cooperação serve não apenas para a prosperidade e o sucesso dos envolvidos, mas para a resolução de problemas comuns, que requerem esforços conjuntos. Para ter uma cooperação de sucesso, no entanto, a estratégia e o entendimento do atual cenário global são essenciais. Esses são os temas tratados a seguir! TEMA 1 – GLOBALIZAÇÃO E A NOVA FORMA DE SE FAZER NEGÓCIOS Globalização é um daqueles termos muito comentados, mas pouco entendidos realmente. Existem aqueles que acham que a globalização é algo novo, recente, ligado ao avanço da internet. E não é. A globalização é um fenômeno antigo: o próprio Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, buscou expandir ao mundo conhecido de então aspectos diversos da vida e da cultura helênica da época. A partir do momento em que as Revoluções Industriais alteram os paradigmas produtivos – de um modo de produção artesanal para um modo de produção em escala industrial –, passa a haver uma maior oferta de uma série de produtos. Com isso, além de uma redução geral de preços motivada pela maior oferta de produtos, passa a haver um excedente exportável. É em torno do início do século XX que a eletricidade e o aço passam a se difundir, colaborando ainda mais para a globalização. Concomitantemente, a humanidade passa a desenvolver tecnologias mais e mais novas, como o telefone, o avião, o telégrafo e tantos outros facilitadores da vida. Após 1945, surgem organizações internacionais interessadas em regular o ambiente internacional, seja para assuntos de paz e guerra, seja para assuntos financeiros e de comércio. É a partir desse momento que se atingem novos padrões em termos de cooperação internacional. 3 Ainda que, ao pensarmos em organizações internacionais, pensemos principalmente na Organização das Nações Unidas (ONU), existem várias outras que promovem cooperação, criam políticas públicas globais e definem padrões e parâmetros internacionais, tais como a Organização da Aviação Civil Internacional, a União Postal, a Organização Mundial da Saúde ou a Organização Internacional do Trabalho. Corroborando com a integração global, as telecomunicações se revolucionam a partir da década de 1980, e as tecnologias bancárias tornam-se mais e mais modernas. Os impactos de todas essas mudanças são vários: os transportes de navios e aviões maiores e mais rápidos se tornam mais eficientes; as comunicações, as transferências financeiras, os acordos internacionais e tantos outros aspectos acabam por industrializar, integrar e desenvolver o mundo cada vez mais. Por conta disso, as economias tornam-se mais integradas e os estilos de vida em muitos lugares – principalmente no Ocidente – convergem para gostos e preferências semelhantes. Tudo isso colabora para que muitas empresas se tornem globais e impõe novos desafios a governos e sociedades. Basta que vejamos um símbolo, um logotipo, em qualquer lugar do mundo, para sabermos a qual empresa e a qual produto tal marca se refere. TEMA 2 – CULTURA E GESTÃO Internacionalmente, é comum que o profissional ingresse em diferentes ambientes, em diferentes países, caracterizados por diferentes culturas e hábitos. Consequentemente, cada um desses ambientes traz diversos padrões de comportamento considerados normais. Com esses comportamentos, os hábitos do consumidor, as leis e diretrizes e uma série de outras dimensões devem chamar a atenção dos profissionais que atuam em mais de um país. O próprio termo cultura pode ter uma acepção ampla: frequentemente se diz que esta ou aquela pessoa é uma pessoa “culta”, referindo-se aos seus conhecimentos e comportamento. No entanto, para as relações e projetos internacionais, cultura “refere-se aos padrões de orientação aprendidos, compartilhados e duradouros em uma sociedade. As pessoas demonstram sua cultura por meio de valores, ideias, atitudes, comportamentos e símbolos” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). 4 Por isso, um gesto que para você pode parecer comum, quando feito em um ambiente que não seja o seu pode ser um grande insulto. A figa, por exemplo, que para alguns significa sorte, na Itália representa uma ofensa. Quando elevamos essa lógica ao mundo dos negócios, temos que tomar muito cuidado na hora de prospectar um produto ou elaborar um projeto: A cultura influencia uma gama de intercâmbios interpessoais bem como operações de cadeia de valor como desenvolvimento de produto e serviço, marketing e vendas. Os administradores devem criar produtos e embalagens levando em conta os aspectos culturais, inclusive em relação a cores. Se por um lado o vermelho pode ser bonito para os russos, por outro é símbolo de luto na África do Sul (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). A chance de sucesso diminui à medida que a cultura é desconsiderada e, consequentemente, aumenta à medida que a empresa se preocupa com o fator cultural. Essas questões chegam a manifestar um risco: o risco da gestão intercultural, que, quando ignorado, pode trazer sérias consequências aos envolvidos. Outro ponto de peso no que tange à cultura é que suas diferenças acabam por travar acordos globais de cooperação. É o caso da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979. Muitos países – por razões culturais e religiosas – não fazem parte do acordo, o que limita sua aplicação e respeito. TEMA 3 – INTERNACIONALIZAÇÃO Compreendendo um amplo rol de atuações globais, sejam públicas ou privadas, a internacionalização, como fenômeno, pode ter várias definições. Uma primeira definição pode ser “o movimento de indivíduos e empresas para operações internacionais” (Welch; Loustarinen, 1988). Outra definição possível é “a transferência de bens e serviços através de fronteiras entre países utilizando métodos diretos e indiretos” (Leonidou; Katsikeas, 1996). Uma terceira definição seria o “processo através do qual as empresas aumentam sua consciência em relação às influências diretas e indiretas das transações internacionais em seu futuro, e por isso, passam a estabelecer e conduzir operações e transações com empresas de outros países” (Beamish et al., 2002). Essa definição é interessante, pois trata da internacionalização como algo natural para o futuro e para o crescimento das empresas. 5 A essas três definições podem somar-se várias outras, que, de alguma maneira, descrevem a internacionalização como um fenômeno ou processo por meio do qual as empresas buscam o exterior e as operações internacionais. É interessante notar que a internacionalização é tratada como um processo, ou seja, uma concatenação de atos. Isso significa que ela não ocorre do dia para a noite, mas abrange diversas fases. Existem também outros autores que percebem na internacionalização um processo empreendedor. Ou seja, desse ponto de vista, a busca por mercados internacionais viria de uma característica comportamental do empresário e não de motivações econômicas ou políticas. TEMA 4 – MODOS DE ENTRADA E OPERAÇÃO EM MERCADOS INTERNACIONAIS Existem vários possíveis modos deentrada num mercado estrangeiro, que vão desde exportações até investimentos diretos estrangeiros, passando por joint ventures, franquias e licenciamentos. A cada uma dessas formas corresponde um projeto diferente que deverá ser planejado, elaborado e executado pela empresa ou órgão interessado. A forma mais básica de internacionalização é a exportação ou importação. Exportar significa pegar um bem no mercado doméstico e vendê-lo para alguém no exterior. Importar é o exato oposto: é trazer/comprar algo de fora. Em ambos os casos, não apenas produtos são transacionados, mas também serviços e tecnologia. Tem sido frequente, por exemplo, que Secretarias de Saúde dos estados comprem equipamentos no exterior para hospitais ou clínicas odontológicas. Outras formas um pouco mais arriscadas são as franquias. Uma franquia é um tipo de contrato pelo qual alguém (o franqueado) se compromete a seguir as normas técnicas de uma empresa já consolidada (franqueadora). Para o franqueado é positivo, pois é possível iniciar um negócio já conhecido do grande público. Para o franqueador, o benefício é a cooperação e a possibilidade de entrar em outro mercado utilizando o conhecimento do parceiro comercial. Em termos de parceria, existe a internacionalização via joint venture, que é um empreendimento conjunto no qual duas empresas ou órgãos distintos unem- se para abrir um negócio no exterior, para explorar uma oportunidade ou para dividir os custos de importar ou comprar uma nova tecnologia para explorar em 6 um determinado país. Pode ser o caso, por exemplo, de uma empresa brasileira e de uma empresa estadunidense que se unem para criar um produto específico para venda nos demais países latinos. A forma mais arriscada de internacionalização chama-se investimento estrangeiro direto e consiste em ir até outra nação, comprar uma empresa que existe lá ou criar uma organização do zero, construindo uma sede, contratando pessoas e comprando maquinário e matéria-prima por conta própria. É o que fizeram, por exemplo, as empresas automobilísticas que se instalaram no Brasil. Todas essas possibilidades nos permitem afirmar que a internacionalização é um fenômeno que se desdobra em múltiplas possibilidades: Figura 1 – Múltiplas possibilidades de desdobramento da internacionalização Aqui, então, nos defrontamos com uma outra questão: por qual modo de entrada optar? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Em primeiro lugar, porque isso varia de empresa para empresa, de produto para produto ou de serviço para serviço. Antes de mais nada, você deve entender a realidade da organização na qual trabalha e as expectativas do cliente ou usuário. Atento a essas questões, cabe escolher a forma que mais se adapte à sua situação. Deve- se ter em mente também o seguinte: Cada estratégia de entrada possui vantagens e desvantagens, apresentando demandas específicas sobre os recursos gerenciais e financeiros da empresa. De modo geral, as exportações, o licenciamento e a franquia exigem um nível relativamente baixo de comprometimento gerencial e de alocação de recursos. Por outro lado, o IDE e as iniciativas INTERNACIONALIZAÇÃO Investimento Estrangeiro Exportações Joint Ventures 7 colaborativas com participação acionária necessitam de um nível mais elevado de comprometimento e recursos. (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Além disso, é necessário que você cogite também um outro ponto: a necessidade por mudanças ou adaptações no seu produto ou serviço. Essas mudanças vão desde o idioma da embalagem ou do manual do usuário até questões relativas à legislação do local para onde esse produto ou serviço está sendo exportado. Por exemplo, no Brasil não se pode oferecer às crianças produtos pintados com tintas que tenham metais pesados em sua composição. Assim como nós, brasileiros, devemos respeitar essa regulamentação, as empresas estrangeiras que quiserem vender brinquedos aqui também precisarão respeitá-las. Outros produtos, por outro lado, são padronizados, como peças para automóveis ou computadores. Tudo depende, como dito anteriormente, do produto ou serviço e do cliente. O seu projeto internacional deverá levar todos esses fatores em consideração e efetuar as mudanças necessárias com o mínimo dispêndio de recursos. Tenha em mente que a cada modo de entrada e operação corresponde uma estratégia e, consequentemente, um projeto: as características específicas de um produto ou serviço, tais como sua composição, fragilidade, perecibilidade e razão entre seu valor e peso, podem afetar de modo significativo o tipo de estratégia de internacionalização a ser adotada (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). É entendendo bem a sua empresa e as expectativas do cliente que seu projeto terá maiores chances de sucesso. Não se esqueça de que, ao buscar clientes no exterior, você concorre com rivais locais, com aquelas empresas do país de destino, já bem ambientadas e acostumadas com os gostos e costumes locais. Por mais difícil e trabalhoso que pareçam os projetos internacionais, quando conduzidos corretamente, tais projetos são altamente rentáveis e nos ensinam muito! TEMA 5 – A BUSCA DE OPORTUNIDADES PARA INTERNACIONALIZAR Mas como encontrar oportunidades para internacionalizar a minha empresa? Novamente, esta não é uma pergunta de fácil resposta. Ainda assim, existem mecanismos que nos permitem estar mais atentos às oportunidades e que nos permitem percebê-las ou criá-las com maior facilidade. 8 Mas, afinal de contas, o que é uma oportunidade? “É uma situação na qual mudanças na tecnologia ou nas condições políticas, sociais e demográficas geram potencial para criar algo novo” (Baron; Shane, 2013). Esse “algo novo” pode ser um produto, um serviço ou uma nova maneira de fazer algo. Um fato gerador de oportunidades são as leis e mudanças políticas. Por exemplo, é proibido remanufaturar pneus no Brasil. No Paraguai, por outro lado, isso é permitido. Assim, uma empresa que remanufaturava no Brasil pode fazê-lo no Paraguai. Uma outra fonte de oportunidades são os novos conhecimentos. Antigamente, não se sabia dos benefícios à saúde trazidos pelo Goji Berry. Hoje, por outro lado, esses benefícios são amplamente conhecidos. Assim, as empresas podem oferecer produtos com Goji Berry para vários mercados, como iogurtes, pães ou barras de cereais. O mesmo vale para o crescimento de uma determinada classe social. Hoje, em alguns lugares do mundo, a classe C está crescendo rapidamente, o que gera oportunidades para oferecer produtos e serviços destinados a esse público, conhecido como o público da base da pirâmide: O preço é uma parte importante da base para crescimento em mercados da base da pirâmide. Telefones GSM eram vendidos por US$ 1.000,00 na Índia. O mercado, obviamente, era limitadíssimo. Como o preço médio caiu para US$ 300,00 as vendas aumentaram. Entretanto, quando a Reliance, uma provedora de telefones celulares lançou sua promoção “Monsoon Hungama” (ou “batalha das monções”), que oferecia 100 minutos de ligações gratuitas na compra de um telefone móvel multimídia, com entrada de US$ 10,00 e prestações mensais de US$ 9,25 a empresa recebeu 1 milhão de pedidos em dez dias (Prahalad, 2010). Da mesma forma que o crescimento da classe C constitui uma oportunidade para negócios, o crescimento das demais classes também. Pode-se oferecer produtos e serviços mais caros, de maior valor agregado para as classes mais abastadas, por exemplo. Ser capaz de perceber essas particularidades de crescimento social e econômico, regulamentações políticas e novos conhecimentos é essencial para o profissional de relações internacionais. Nesse caso, muitos ficam em dúvida: “mas então eu tenho que ler todos os jornais do mundo para saber de todas as novidades?” É claro que não! Mas você precisa estar atento ao mundoque o cerca para encontrar oportunidades para internacionalizar sua empresa. Observe, por exemplo, os países que mais importam aquilo que sua empresa fabrica ou os países mais carentes do serviço que sua empresa presta. Para a cooperação internacional, aplicam-se as mesmas regras. Se você trabalha em algum órgão público, por exemplo, pode pesquisar boas práticas de 9 gestão de outros países que se destaquem num dado segmento. O Canadá possui uma saúde pública invejável, e buscar soluções, sistemas de gestão e exemplos de lá pode ser muito proveitoso. A Alemanha e Holanda possuem infraestrutura de primeiríssimo nível. Entender como esses países efetuam planejamento e controle de qualidade de suas obras pode permitir que você aplique essas lições em seu trabalho. Mais do que isso, olhar o que é feito de diferente ou valoroso em outros países para replicar aqui essas lições pode ser a porta de entrada para cooperações entre cidades, estados, governos ou até mesmo órgãos públicos. 10 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. III Encontro de Estudos em Estratégia, São Paulo, 9-11 maio 2007. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/3ES695.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2019. BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Cengage Learning, 2013. BEAMISH, P. W. et al. International management: text and cases. New York: McGraw-Hill/Irwin, 2002. BELL, M.; PAVITT, K. The development of technological capabilities, In: HAQUE, I. U. (Ed.), Trade, technology and international competitiveness. Washington DC: The World Bank, 1995. BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The limits of explanation: testing the internalization theory of the multinational enterprise. 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Comércio exterior e negociações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012. 11 PRAHALAD, C. K. A riqueza na base da pirâmide. Porto Alegre: Bookman, 2005. SARFATI, Gilberto. Manual de Diplomacia Corporativa – a construção das relações internacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007. SEITENFUS, R. Manual das organizações internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria e Editora do Advogado, 2005. WELCH, L. S.; LUOSTARINEN, R. Internationalization: evolution of a concept. Journal of General Management, v. 14, n. 2, p. 34-55, 1988. AULA 2 FORMULAÇÃO, PLANEJAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 2 TEMA 1 – ESTRATÉGIA E PLANEJAMENTO – DEFINIÇÕES INICIAIS Todo caminho tem um começo. Com a cooperação internacional não é diferente. Sua formulação depende de pensamento, planejamento, definição e aprendizado. Se a cooperação tiver um planejamento falho, seu resultado também será falho. É importante que ambas as organizações, empresas ou órgãos que se uniram em prol de um esforço remem em conjunto para atingir um objetivo final que seja benéfico para ambos. A estratégia é uma maneira que se escolhe para se chegar a algum lugar ou para atingir determinado objetivo. Colocando de outra forma, “estratégia é um plano, ou algo equivalente – uma direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho para ir daqui até ali” (Ahlstrand; Lampel; Mintzberg, 2010). Para que serve? Veja: “a estratégia deve conduzir uma organização através de mudanças e reformas de maneira a assegurar crescimento e sucesso sustentáveis. Sem uma estratégia claramente definida, as organizações tendem a perder o rumo, como um barco sem velas nem leme em meio a uma tempestade” (Carter; Clegg; Kornberger, 2010). Ou seja, a estratégia serve para que empresas, órgãos ou entidades saibam onde estão, aonde querem chegar e o que farão para chegar lá. Sabendo onde se está e aonde se quer chegar, traçar a estratégia fica mais fácil. É como se você estivesse em frente a uma montanha e precisasse decidir o que fazer para chegar ao outro lado: escalando, cavando um túnel ou desviando. Essa lógica da estratégia como um caminho a ser percorrido com um curso de ação tem sido utilizada desde os anos 1950 para auxiliar as empresas a atingirem seus objetivos. Estudiosos da área de gestão estratégica acabaram por criar as chamadas “estratégias genéricas”, que seriam aquelas passíveis de utilização por diversas organizações de diversos portes e segmentos. A primeira delas é a chamada estratégia de diferenciação. Trata-se de criar um produto ou serviço exclusivo da empresa, algo diferenciado, que só a empresa tenha daquela forma. É o caso da Nike, da Coca-Cola, da Apple e de tantas outras grandes empresas com produtos únicos. No terceiro setor, é possível perceber o surgimento de diversas instituições que têm se proposto a abordar áreas específicas, acolher pessoas em situações distintas da maioria – caso de ONGs que apoiam o tratamento de 3 doenças raras, por exemplo – ou também projetos sociais em locais onde ainda não havia. A segunda das estratégias genéricas é a de liderança de custos. É o caso das empresas que não visam criar nada de altamente inovador ou diferenciado, mas buscam oferecer determinado produto pelo preço mais baixo. Chamada também de “política de preços” ou “liderança de custos” essa estratégia parte da economia de escala: produzir muito a baixos preços. No setor público, podemos ver essa estratégia em licitações, por exemplo, em que o valor dos itens para aquisição precisa ser o mais baixo possível. Por fim, a terceira estratégia genérica consiste na chamada estratégia de enfoque, ou seja, a empresa foca suas atividades e seus esforços para oferecer produtos e serviços para um pedaço pequeno do mercado, buscando um tipo único de comprador, muitas vezes pouco interessado em preços baixos. O melhor exemplo possível desse tipo de estratégia é a fabricante de aviões Embraer. Não é todo mundo que pode comprar um avião executivo, não é mesmo? Essas estratégias genéricas podem ser escolhidas por uma empresa ou órgão qualquer, conforme realidade. Da mesma forma, podem ser aplicadas de alguma maneira, seja por meio da criação de um produto único e diferenciado, seja por meio do oferecimento de produtos baratos ou com foco em um mercado específico. Muitos são aqueles que criticam essas estratégias justamente por serem genéricas demais. Ainda assim, elas podem servir aos mais diversos interesses, e seu propósito é, justamente, serem genéricas. TEMA 2 – APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Um tema bastante importante é a aprendizagem organizacional. Mais do que ter membros com conhecimento sobre suas áreas de atuação, mais do que ser capaz de disseminar seus conhecimentos, a organização preocupada com o futuro deve ser capaz de aprender e reaprender. Isso tem a ver com uma necessidade atual de mercado de vários players: se inventar e reinventar a cada momento.É justamente para isso que serve a aprendizagem organizacional. E o que é isso? “A aprendizagem organizacional é a junção de diversos conhecimentos, que permite que a empresa treine e capacite seus profissionais e colaboradores em prol da conquista de bons resultados.” (Marques, 2014). “Qual é a importância 4 disso?”, você pode pensar! Bem, a importância é o que profissionais treinados são capazes de fazer que outros não preparados não fazem. Em outras palavras, “profissionais que estão em constante aprendizado conseguem melhorar seu rendimento, motivação, produtividade, e tornam-se ainda mais engajados – e, por consequência, aumentam substancialmente os ganhos positivos para a organização.” (Marques, 2014). Outra forma de entendermos esse ponto tão fascinante da gestão é: Aprendizagem organizacional pode ser entendida como o alcance de novos, múltiplos e contínuos conhecimentos sobre as dinâmicas e demandas corporativas, seja de maneira direta e/ou indireta, dentro e fora da empresa. Entretanto, embora busque uma formalização do conhecimento, 80% do que aprendemos em nosso ambiente de trabalho se dá de maneira informal, ou seja, através dos exemplos dos líderes, colegas, do aprendizado com os erros, e, em especial, pela troca e acúmulo de experiências. Isso, porém, não significa que aquilo que aprendemos em cursos e treinamentos não possa ser aplicado efetivamente em nosso trabalho na empresa. A aprendizagem organizacional é uma junção de conhecimentos formais e informais, que permite à organização criar seus próprios modelos de gestão, coerentes com as suas necessidades e pautados no que ela precisa para alcançar os resultados. (Marques, 2017) A aprendizagem organizacional abrange nossa capacidade de juntar todo o nosso acervo de conhecimentos em prol da organização, ao mesmo tempo em que serve para que a organização utilize de todo o repositório de conhecimentos de seus colaboradores de forma simultânea: “a aprendizagem organizacional compreende a noção de que há, na organização, uma relação mútua de influência entre ela e seus colaboradores” (Takahashi, 2015). Deve haver uma simbiose, uma relação de mão dupla entre a organização e seus colaboradores para que ocorra a aprendizagem organizacional. Empresa que aprende é aquela que considera conhecimentos e experiências dos funcionários e os utiliza no plano de fundo do mercado no qual atua. É o caso, por exemplo, das empresas como a Whirpool, que veem nas sugestões dos colaboradores e de seus familiares novas possibilidades para lançar novos produtos. Assim surgiu, por exemplo, a ideia do forno que assa à vapor e do refrigerador inverso. Esse tipo de organização é, não por acaso, inovadora. A aprendizagem organizacional é de suma importância para casos de cooperação, uma vez que pode ser o objetivo central da junção de esforços de entidades diferentes: aliar-se àqueles que sabem ou dominam uma área desconhecida. É a aprendizagem organizacional que possibilita o melhor aproveitamento das experiências cooperativas. 5 TEMA 3 – COMPETÊNCIA ORGANIZACIONAL Certamente você já viu o termo competência ser utilizado como adjetivo a determinado profissional que têm certas características de trabalho. No entanto, a partir de meados do século XX, percebeu-se que as organizações também desenvolvem competências. Edith Penrose, em 1959, no livro A Teoria do Crescimento da Firma, dá início ao que podemos chamar de Visão Baseada em Recursos. Penrose (1959) sugere que a empresa é um reservatório de recursos cuja utilização é realizada por meio de um arcabouço administrativo. Os produtos ou serviços oferecidos ao mercado pelas empresas seriam, então, uma das combinações possíveis do uso desses recursos, de maneira que expressam as potencialidades básicas das empresas. O grau de controle desses recursos seria, também, direcionador do desempenho da organização. Nesse contexto, a expansão das empresas seria fruto do uso mais eficiente de seus recursos. Contribuindo para esse entendimento, Prahalad e Hamel (1990) aproximaram o conceito de competência e a visão baseada em recursos do contexto organizacional. Os autores colocam as competências essenciais como o aprendizado coletivo de uma organização. Fernandes (2006), ao interpretar as leituras dos autores citados, explica que Prahalad e Hamel ponderam que as organizações de sucesso se apoiam em alguns recursos especiais, qualificados como competências essenciais, estas que, por sua vez, conferem a uma organização vantagem competitiva sustentável, constituindo as “raízes da competitividade”. Um dos pontos mais importantes dessa discussão é que, em termos de recursos, o conhecimento é o principal ativo intangível e estratégico de uma organização. Essa ideia é fundamental para que consigamos compreender e extensão e aplicabilidade do que se passou a chamar de “gestão por competências”. Takehashi (2015) nos lembra também os importantes autores Prahalad e Hamel, dos quais já falamos por diversas vezes no decorrer de nossos estudos: Para Prahalad e Hamel (1990), competência é a capacidade de combinar, misturar, e integrar recursos, produtos e serviços, sendo resultante da aprendizagem coletiva da organização. Sobre essa capacidade, os autores citam como exemplos a competência da Honda de elaborar designs de motores leves e a competência da Sony de miniaturização dos produtos. (Takehashi, 2015) 6 É importante compreender que a aprendizagem organizacional permite à empresa desenvolver competências distintas, que lhes confere vantagens frente aos concorrentes e aos demais players de mercado. Toda essa vantagem só é possível pelo conhecimento, que, transferido e compartilhado entre os membros de uma organização, gera inovações, novas ideias, novos serviços ou novas formas de atender o cliente ou melhorar o funcionamento da própria empresa. Podemos afirmar que: Numa organização, o conhecimento é amplamente disseminado e toma várias formas, mas sua qualidade é revelada na diversidade de capacitações que a empresa possui como resultado desse conhecimento. Enquanto a maior parte do conhecimento de uma organização tem suas raízes na especialização e experiência de cada um de seus membros, a empresa oferece um contexto fisico, social e cultural para que a prática e o crescimento desse conhecimento adquiram significado e propósito. (Choo, 2003) E qual deve ser esse propósito? No mínimo, garantir que a empresa ou organização se desenvolva, se mantenha e cresça em dado mercado. A cooperação deve beber da fonte da aprendizagem para que nutra os frutos esperados dela. Quando dois entes cooperam entre si, precisa haver uma troca simbiótica de aprendizagens e conhecimentos para que os objetivos estratégicos da cooperação sejam cumpridos. TEMA 4 – CONHECIMENTO E VANTAGEM COMPETITIVA Até aqui você certamente já percebeu como a aprendizagem organizacional se relaciona com o conhecimento da empresa. Deve ter entendido também que as competências empresariais são resultado de aprendizagens bem trabalhadas. Essas competências podem ser usadas pelas empresas como forma de alavancar suas vantagens competitivas. E o que são vantagens competitivas? “Em geral, uma empresa possui vantagem competitiva quando é capaz de gerar maior valor econômico do que suas concorrentes.” (Barney; Hesterly, 2017). Por certo que uma empresa na qual prepondera a ideia de saber agir responsável e reconhecido, mobilizando, integrando e transferindo recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo (Fleury; Fleury, 2001), é uma empresa que dispõe de vantagens competitivas. E no que consiste a ideia de valor econômico gerada pelas vantagens competitivas? Bem, na “diferença entre os benefícios percebidos e obtidos por um 7 cliente que compra produtos ou serviços de uma empresa”(Barney; Hesterly, 2017). Ou seja: vantagem competitiva é o que faz você comprar Coca-Cola mesmo quando os concorrentes apresentam preços mais em conta. As vantagens competitivas têm também outras características: podem ser temporárias ou sustentáveis. Temporárias são aquelas de curta duração, enquanto as vantagens sustentáveis perduram-se no tempo e asseguram ganhos frequentes e estáveis para a empresa que as possui. A inovação pode ser um exemplo. Dificilmente uma inovação será uma vantagem competitiva eterna: pelo contrário. É justamente aqui que entra a importância da gestão do conhecimento como forma de gerar e alavancar vantagem competitiva. Veja a citação abaixo: As organizações tendem a se concentrar muito mais em atividades operacionais ‘aqui e agora’, do que em planos efetivos para o futuro e nas estratégias para alcançar objetivos de médio e longo prazos. No que diz respeito à gestão do conhecimento e suas práticas, como já dissemos, o foco não só é muito mais operacional, mas também direcionado a um ou outro setor da organização. Invariavelmente isso gera um obstáculo para a gestão do conhecimento e, pior, para toda organização. Quando o conhecimento atua apenas no campo operacional, grande parte de sua utilidade fica restrita ao meio, às ações e aos processos da organização no presente. Atrelado à gestão estratégica, contudo, o conhecimento torna-se uma fonte de vantagem competitiva não apenas para o agora, mas também para o futuro. Para tanto, o primeiro passo a ser dado é amalgamar o conhecimento à visão estratégica da organização e usá-lo como ferramenta para a construção de cenários. (Carvalho, 2012) E o que tudo isso quer dizer? Bem, vamos com calma. Em um primeiro momento, as organizações – em especial as brasileiras – possuem uma grande dificuldade para pensar a médio e longo prazos e, por isso, centram seus esforços e recursos no presente. Em atividades de cooperação, por outro lado, os planos futuros devem ser uma preocupação cotidiana. Em primeiro lugar, muitas vezes o prazo para se atingir o objetivo da cooperação é bastante pequeno. Dependendo do tipo de cooperação, há pouco tempo para transferir muitos recursos, para dar treinamento a muitas pessoas ou mesmo para desenvolver algo em conjunto. Quando se trata, por exemplo, de parcerias entre algum órgão público e a iniciativa privada, existem muitas leis que regulam essa cooperação, tornando-a rígida e burocrática. É aí que entra a necessidade do planejamento. Tradicionalmente, quanto maior o tempo despedido no planejamento, aumentando as vantagens para diminuir as fraquezas ou futuros problemas, melhores são os resultados do produto. 8 TEMA 5 – GESTÃO ESTRATÉGICA PARA A COOPERAÇÃO O estudo de criação, funcionamento e manutenção das vantagens competitivas faz parte de um pedaço da gestão chamado administração estratégica ou estratégia, como visto anteriormente. Essa é uma área que surge em meados do século XX, quando a concorrência se intensifica e as empresas precisam se preocupar com planos de ação para seguir, maximizando seus recursos e os utilizando da melhor forma. Segundo Carter, Clegg e Kornberger (2010) “a estratégia deve conduzir uma organização através de mudanças e reformas de maneira a assegurar crescimento e sucesso sustentáveis. Sem uma estratégia claramente definida, as organizações tendem a perder o rumo, como um barco sem velas nem leme em meio a uma tempestade”. Hoje em dia, no mundo da hiperconcorrência, ficar perdido e sem rumo não parece uma boa opção, concorda? É justamente por isso que a estratégia vem ganhando mais e mais importância. Talvez não seja necessário ter uma estratégia se eu tiver monopólio de alguma coisa, se meus clientes forem obrigados a comprar de mim. No entanto, a partir do momento em que surge a concorrência, ela pode mudar tudo. Como então, podemos enxergar a estratégia? Muitas vezes, a estratégia é vista como a definição de um plano para atingir determinado resultado, e o que mais deva ser feito para se chegar até lá. No entanto, estratégia é mais o do que isso: “estratégia é um plano, ou algo equivalente – uma direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho para ir daqui até ali” (Ahlstrand; Lampel; Mintzberg, 2010). Na ideia de estratégia, existem as chamadas estratégias deliberadas, intenções planejadas que devem ser concretizadas, e as chamadas estratégias emergentes, que foram surgindo no decorrer das atividades da empresa e não eram inicialmente planejadas. Ainda com tudo isso, não basta apenas que você trace a estratégia da sua empresa, da sua organização ou do seu projeto. Você precisa considerar o ambiente e o setor no qual está operando. A lucratividade e o “potencial de uma organização é determinado pela estrutura da indústria e do mercado no qual ela opera” (Carter; Clegg; Kornberger, 2010). Admitir isso significa entender que, ainda que tenhamos uma excelente estratégia, pode haver setores de operação mais complicados do que outros. “O fato de algumas empresas serem consistentemente mais lucrativas do que outras não pode ser explicado em função 9 de suas escolhas estratégicas; pelo contrário, é a atratividade da indústria que determina a lucratividade” (Carter; Clegg; Kornberger, 2010). E como podemos encaixar a cooperação nisso? Em primeiro lugar, pela importância do planejamento. Seguidamente, é a nossa capacidade de gerenciar a cooperação de estimular a aprendizagem organizacional e criar vantagens competitivas que faz com que uma estratégia não apenas se destaque, mas também tenha sucesso. As estratégias precisam ser constantemente adaptadas. Nas empresas gestoras de conhecimento, essas adaptações são mais fáceis, uma vez que, para a estratégia ser construída, foram levados em consideração aprendizados e saberes de múltiplos membros da organização. 10 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M.; AVRICHIR, I. Teorias de Negócios Internacionais e a entrada de multinacionais no Brasil de 1850 a 2007. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 10, n. 28, p. 234-248, 2008. Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/6536/teorias-de-negocios- internacionais-e-a-entrada-de-multinacionais-no-brasil--de-1850-a-2007/i/pt-br>. Acesso em: 6 ago. 2019. BELL, M.; PAVITT, K. The Development of Technological Capabilities. Technology and International Competitiveness. Washington, DC: The World Bank, 1995. BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The limits of explanation: testing the internalization theory of the multinational enterprise. Journal of International Business Studies, v. 19, n. 2, p. 181-193, 1988. 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SEITENFUS, R. Manual das organizações internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria e Editora do Advogado, 2005. 12 WELCH, L. S.; LUOSTARINEN, R. Internationalization: evolution of a concept. Journal of General Management, v. 14, n. 2, p. 34-55, 1988. AULA 3 FORMULAÇÃO, PLANEJAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 2 INTRODUÇÃO A cooperação internacional ajuda países, empresas e entidades a cumprir com seus variados objetivos. Para cooperar internacionalmente, existem (em nível governamental) as organizações internacionais e (em nível privado) diversos tipos de projetos distintos, como joint-ventures ou global sourcing. Dentre todas as possibilidades existentes, acertar no tipo correto de cooperação depende não só das partes envolvidas, mas dos sistemas políticos e jurídicos dos quais provieram. O sucesso em empreendimentos internacionais decorre da atenção aos detalhes e às diferenças, como será visto adiante. TEMA 1 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Um tema que tem sido recorrente nos noticiários é o do meio ambiente e dos crescentes danos ambientais que o homem tem causado ao planeta. As correntes dos oceanos, os ventos e ainda vários outros agentes encarregam-se de espalhar pelo mundo fumaças tóxicas e detritos diversos. Tendo em mente esse cenário, você acredita que o Brasil, sozinho, consegue combater a poluição global? Parece que não, não é mesmo? Podemos tentar, sem dúvidas, mas sem o apoio das demais nações, nossos esforços podem acabar sendo em vão. Assim como as questões ambientais, existem diversas outras nas quais a cooperação internacional é essencial. Não adianta, por exemplo, um país sozinho tentar alterar todo um cenário que depende de esforços coletivos. Imaginemos outro exemplo: você viaja com sua família, de carro, até a Argentina ou qualquer outro país vizinho. Ao chegar lá, as leis de trânsito são completamente diversas. Para-se no sinal verde, avança-se no sinal vermelho e é permitido estacionar nas calçadas. Seria muito difícil ir para lá a turismo, e cargas terrestres saindo daqui para lá também teriam dificuldades. É por esses e vários motivos que existe a cooperação internacional: para promover coesão e unicidade entre normas e países: Cooperação internacional significa governos e instituições desenvolvendo padrões comuns e formulando programas que levam em consideração benefícios e também problemas que, potencialmente, podem ser estendidos para mais de uma sociedade e até mesmo para toda a comunidade internacional (Sato, 2010). É justamente para cooperar e para promover a cooperação que existem várias organizações internacionais, especializadas nos mais diversos temas. Assim 3 como meio ambiente, um outro tema internacionalmente importante é a cooperação econômica para evitar crises financeiras, cooperação para energia atômica, cooperação para a cultura, cooperação para a alimentação e tantas outras. Para cada um desses temas, existe uma organização internacional especializada, composta por profissionais especialistas. Assim como os países cooperam para resolver problemas conjuntos, as empresas também podem fazê-lo. Existem, inclusive, projetos internacionais destinados a estabelecer as bases para a cooperação empresarial internacional em diversas áreas. Um exemplo simples envolve companhias aéreas. Digamos que você queira ir do Brasil até a Austrália. É do outro lado do mundo, e nenhuma companhia aérea nacional faz essa rota. No entanto, pode ser que uma companhia aérea brasileira tenha parceria com a companhia australiana. Nesse caso, a empresa brasileira o leva até o Chile, onde suas malas automaticamente são direcionadas ao avião da empresa australiana, que conduz você no resto do percurso. Uma dessas parcerias é a “One World”, composta por companhias aéreas de vários locais do mundo. Outra forma de cooperação pode ser a cooperação técnica entre governos, que desejem trocar conhecimentos de uma área específica. O Brasil, certa vez, efetuou um acordo de cooperação técnica com a Ucrânia para o desenvolvimento conjunto de foguetes aeroespaciais. Outros governos fazem a mesma coisa: o governo dos Estados Unidos fez um acordo com a União Europeia para combater as fraudes financeiras. Além das companhias aéreas e dos países, acordos internacionais de cooperação podem servir para facilitar um determinado processo de internacionalização. Imagine que sua empresa tenha diversas lojas no território brasileiro, e você quer vender seus produtos na Argentina. Num dado momento, você encontra uma empresa argentina com várias lojas espalhadas pelas grandes cidades daquele país. Assim, ambas as organizações podem cooperar: sua empresa vende os produtos argentinos nas lojas brasileiras, e a empresa argentina vende os produtos brasileiros em suas lojas também. Pode ser firmado, por exemplo, um contrato internacional de joint-venture, e pode ser criado um projeto conjunto de cooperação e crescimento. Essas são apenas algumas dos milhares de formas de se cooperar internacionalmente. Esse caminho auxilia os participantes, pois pressupõe a troca de conhecimentos e o crescimento conjunto. Em vez de concorrerem entre si, os 4 parceiros fortalecem-se, buscando um mesmo objetivo ou um objetivo complementar. É interessante notar que a cooperação não tem limites, e pode se aplicar a diversas áreas, desde que não seja nada ilegal. Esse tipo de projeto pode ser muito útil para empresas que estão iniciando suas atividades internacionais e que, portanto, têm pouca experiência. Juntas, o risco dilui-se. Um outro exemplo de cooperação internacional pode ser um consórcio de exportação, em que várias empresas de um mesmo setor dividem os custos e riscos de suas primeiras exportações. Em vez de apenas uma empresa arcar com todos os custos de um projeto de exportação, com profissionais de comércio exterior, relações internacionais e direito aduaneiro, esses custos podem ser diluídos por várias empresas que exportarão juntas. No mercado interno, as empresas concorrementre si e mantêm sua individualidade, mas, por terem objetivos externos comuns, essas empresas agrupam-se. Um exemplo é o consórcio de exportação “Wines of Brasil”, que reúne produtores de vinhos da região da Serra Gaúcha que, juntos, exportaram pela primeira vez. Hoje, essas empresas exportam em escala maior, muitas por conta própria. TEMA 2 – ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E COOPERAÇÃO Anteriormente, você viu algumas das muitas justificativas para a cooperação, uma vez que há um grande número de problemas que os países não conseguem resolver por conta própria. Meio ambiente, crises econômicas, normas gerais de trânsito são apenas algumas das várias áreas nas quais é necessária uma discussão conjunta. Para facilitar esse processo, são criadas organizações internacionais específicas, com foco para tratar de alguns temas especiais. As organizações internacionais são formadas por países e têm personalidade jurídica própria e objetivo e campo de atuação bem definidos. Além dos exemplos já vistos, você consegue imaginar algum outro no qual seja necessária a atuação de uma organização? Em torno do ano de 2008, a gripe H1N1 motivou fechamento de aeroportos, cancelamentos de aulas e de viagens internacionais. Entre 2014 e 2015, um surto do vírus ebola assolou uma série de países africanos. A saúde é um outro campo em que se torna necessária a cooperação global para avanços em conjunto. Afinal, um surto de uma doença não conhece fronteiras e pode alastrar-se com facilidade inacreditável. É justamente para tratar desse tipo de problema que surge, por exemplo, a OMS – Organização Mundial da Saúde. 5 Além da OMS, existem organizações internacionais para as alfândegas, para a aviação civil, para as questões postais, para o trabalho, para as telecomunicações, para a energia atômica, para o turismo e muitas outras de finalidade específica. Cada vez mais, o tema da cooperação internacional ganha importância, pois mais e mais o mundo está interconectado. Assim, dificilmente um problema em saúde ou finanças afetará apenas uma nação. Sociedades ricas e pobres têm sido afligidas pelos mesmos males, que requerem respostas e tratamento conjunto. Para facilitar e agilizar as respostas internacionais a essas questões específicas, são criadas várias organizações internacionais. É importante que cada uma delas tenha em seu quadro profissionais específicos, que poderão analisar questões com conhecimento e base técnica. Para que você entenda essa necessidade com maior facilidade, pense no seguinte exemplo: você teve na sua casa um problema sério com a fiação elétrica, que precisa de extensa manutenção. Para resolver esse problema, você procuraria um encanador? Possivelmente não. Da mesma forma, se seu dente está doendo muito, você marcaria uma consulta com um advogado? Seria mais prudente procurar um dentista... Em casos de repercussão internacional, essas organizações estão prontas para auxiliar os países a conter epidemias, resolver problemas e tomar decisões de forma rápida e acertada. A OMS, por exemplo, enviou médicos e pesquisadores para a África para analisar o surto de ebola. Esses profissionais colhem amostras, analisam pacientes e buscam uma solução. Essas diversas organizações são financiadas pelos países que a compõem e que a criaram, que fornecem a verba necessária para o custeio de suas operações. Dessa forma, constroem-se laboratórios, pesquisam-se tecnologias e buscam-se os melhores profissionais das mais diversas áreas para participar dos processos de cooperação ou trabalhar nos quadros de funcionários. TEMA 3 – COOPERAÇÃO EMPRESARIAL E GLOBAL SOURCING Você já se perguntou o que faz com que tantas empresas busquem produzir no mercado asiático? Muitas vezes a questão custo de mão de obra pode parecer primordial. No entanto, existem muitos outros fatores que impactam na decisão de produzir na Ásia, na África ou no Oriente Médio. De forma geral, podemos dizer 6 que as empresas estão constantemente buscando por vantagens competitivas, ou seja, por maneiras de conseguir produzir coisas melhores a preços mais baixos. Nessa busca, não é só o valor da mão de obra que importa: incentivos governamentais, custos logísticos, infraestrutura e carga tributária são outros fatores de alto peso. Não à toa, tem-se falado tanto em global sourcing nos últimos anos. Mas, afinal, o que é isso? “É a aquisição de produtos ou serviços de fornecedores independentes ou de subsidiárias da própria empresa localizadas no exterior para consumo no país de origem ou em outro” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Se traduzíssemos o termo, teríamos algo como “fornecimento global”. O GS se pauta pelo correto aproveitamento das diferenças entre valores de itens de produção mundo afora. É justamente por isso que tantas empresas de manufatura produzem na China: os chineses possuem a maior população do mundo e, consequentemente, a maior força de trabalho. Como há uma abundância inequívoca em mão de obra, o valor dessa mão de obra cai. Assim, empresas de todos os locais do mundo assinam contratos de joint- venture (empreendimento conjunto) com potenciais fornecedores chineses. Assim, se uma empresa chinesa produz meus produtos com as minhas especificações técnicas e de qualidade, essa empresa está contratualmente proibida de oferecer o mesmo item para outras organizações. O que acontece em relação à mão de obra na China acontece também em outras nações, cada qual com sua particularidade. A Alemanha tem os melhores centros de engenharia do mundo, assim como a Itália tem os melhores designers. Como consequência, quando se quer algo intensivo nesses fatores – engenharia ou design – busca-se um desses dois países. O avanço da globalização tem proporcionado que um número cada vez maior de empresas possa utilizar-se do GS. Dentre várias características importantes a esse respeito, podemos destacar que o global sourcing se traduz na importação de mercadorias e serviços continuamente. É uma estratégia de entrada que envolve uma relação contratual entre o comprador (a empresa focal) e uma fonte externa de abastecimento. O global sourcing envolve a terceirização de tarefas de manufatura ou serviços específicos com as filiais da própria empresa ou com fornecedores independentes (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). É o que grandes empresas do mundo fazem. Compram-se itens baratos pelo mundo para produzir algo de valor no seu país. Ou então, uma mesma empresa tem filiais pelo mundo nas quais consegue aproveitar-se das condições locais para 7 ser mais eficiente em cada uma das partes do processo produtivo. É o caso de muitas empresas farmacêuticas, que cada vez mais têm desenvolvido pesquisas em países em desenvolvimento graças ao incentivo dos governos e problemas de saúde pública. TEMA 4 – SISTEMAS POLÍTICOS NO AMBIENTE INTERNACIONAL O macroambiente de negócios internacionais compõe-se de pelo menos duas dezenas de países. Cada um deles possui seus costumes, leis, religiões e empresas. Essas empresas competem não apenas dentro das próprias fronteiras, mas também noutros países onde seus produtos ou serviços podem ser aceitos ou competitivos. Apesar de verdadeira, essa é uma visão simplista da realidade internacional. Por trás de todas as leis, religiões e empresas existem vários outros fenômenos e realidades, nem sempre de fácil percepção. Vejamos: além da religião, idioma e costumes, quais são as principais diferenças entre o Brasil e o Irã? No Brasil, somos governados por um presidente da república, eleito democraticamente mediante votos diretos. No Irã, ainda que haja um presidente, este se submete ao Líder Supremo, que é uma autoridade religiosa e política. O Líder Supremo indica chefes dos demais poderes e é o mesmo desde 1989. Ou seja, há uma diferença fundamental entre o governo de ambosos países. Isso se dá, pois cada país possui um sistema político diferente. Mas o que é um sistema político? “Um sistema político refere-se a um conjunto de instituições formais que constituem um governo. Abrange corpos legislativos, partidos políticos, grupos de lobby e sindicatos” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Por exemplo: tais instituições podem ser tripartidas, com Executivo, Legislativo e Judiciário; ou unas, quando o chefe do executivo controla as demais. Este último caso é característico dos países totalitários, que não são democráticos. Democrático é o país em que o voto é aberto, livre e de igual valor. Totalitário é o país controlado por um ditador ou governante absoluto, sem pluralismo político e sem liberdade de expressão. E qual é a função de um sistema político? As principais funções de um sistema político consistem em instaurar a estabilidade com base nas leis, prover proteção contra ameaças externas e reger a alocação de recursos valiosos dentre os membros de urna sociedade. O sistema político de cada país é relativamente único, resultando de um contexto histórico, econômico e cultural em particular. Cada sistema político evolui em função das demandas dos eleitores e 8 como parte da evolução do ambiente nacional e internacional. Os eleitores são os indivíduos e as organizações que dão sustentação ao regime político e são os receptores dos recursos governamentais. No que se refere à regulamentação e ao controle dos negócios, os sistemas políticos variam - do controle estatal de empreendimentos econômicos e do comércio interno à intervenção governamental mínima nas atividades comerciais. Na história recente, podem-se distinguir três principais tipos de sistema político: totalitarismo, socialismo e democracia (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Regimes totalitários são aqueles como o norte-coreano, em que o chefe do Executivo tem controle absoluto sobre os demais poderes e membros da sociedade: Um governo totalitário busca controlar não só todas as questões econômicas e políticas, mas também as atitudes, os valores e as crenças de seus cidadãos. Com frequência, toda a população é mobilizada para dar sustentação ao Estado e a uma ideologia política ou religiosa. Os Estados totalitários são geralmente teocráticos (baseados em religião) ou seculares (laicos). De modo geral, há um partido estatal liderado por um ditador, como Kim Jong-il na Coreia do Norte. A filiação partidária é obrigatória para os que desejam progredir na hierarquia social e econômica (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Regimes socialistas são aqueles como a ex-União Soviética, onde não há propriedade privada e o Estado controla os meios de produção. Democrático é o regime em que os poderes do estado são regulados e controlados e no qual os cidadãos elegem seus representantes diretamente. Mas qual é a importância dessa discussão para os negócios? É importante que você saiba que Cada país é caracterizado por diversos sistemas políticos e legais que impõem significativos desafios à estratégia e ao desempenho corporativo. Os gestores das empresas devem aderir a leis e regulamentações que regem as transações comerciais. Por exemplo, as tarifas de importação impostas por um governo levam muitas organizações a ingressar em mercados estrangeiros por meio do investimento direto estrangeiro (IDE) em vez da exportação (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). Quando se investe em países politicamente instáveis, existe grande chance de perda do valor investido. Atualmente, existem os indicadores de risco como o chamado “risco país”. Essa expressão refere-se à “exposição a uma perda em potencial ou a efeitos adversos sobre as operações e a lucratividade de uma empresa causados por desdobramentos no ambiente político e/ou legal de um país” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). 9 TEMA 5 – SISTEMAS LEGAIS NO AMBIENTE INTERNACIONAL No Brasil, cada estado da federação possui sua lei civil e criminal, criada por conta própria? Não! A lei criminal é a mesma no país todo, há apenas um Código Penal assim como um Código de Processo Penal. E digamos que um estado queira criar leis criminais diferentes, é possível? Não, pois nosso sistema jurídico não confere aos estados essa autonomia. E o que é um sistema jurídico? Um sistema jurídico refere-se a um conjunto de interpretações e aplicações das leis. As normas de conduta são estabelecidas por leis, regulamentos e regras. Um sistema legal incorpora instituições e procedimentos para assegurar a ordem e solucionar disputas em atividades comerciais, bem como proteger a propriedade intelectual e taxar a produção econômica (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). O Brasil é um estado de direito constitucional. As normas são feitas “de cima para baixo”, ou seja, com base na Constituição Federal. Qualquer norma feita ou pela União ou pelos Estados ou pelos Municípios que vá contra a Constituição pode ser anulada. Nesse caso, entende-se por estado de direito “a existência de um sistema judiciário em que as regras são claras, de domínio público, cumpridas de forma justa e amplamente respeitadas por indivíduos, organizações e o governo” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). No Brasil, nossa Constituição (promulgada em 1988) é suprema e soberana, e dela derivam nossos direitos e garantias fundamentais. Ou seja, existe uma relação de superioridade entre nossa Constituição e as demais normas legais brasileiras. Mas será que todos os países adotam esse tipo de sistema legal? Não! Nos Estados Unidos, a Constituição permite que os estados criem suas leis específicas. Existem também países que adotam sistemas legais predominantemente religiosos, em que o sistema jurídico deriva das leis e mandamentos da religião predominante. É o que se chama de teocracia. E como relacionar sistemas legais com os negócios? Simples: Os negócios internacionais prosperam nessas sociedades em que prevalece o estado de direito. Por exemplo, nos Estados Unidos, o Securities and Exchange Act incentiva a confiança nas transações comerciais ao exigir que as empresas públicas divulguem com frequência seus indicadores financeiros aos investidores. Os sistemas legais podem ser minados por corrosão do respeito à lei, fraca autoridade governamental ou restrições opressivas que tentam coibir o comportamento predominante na sociedade. Na ausência do estado de direito, a atividade econômica pode ser impedida, e as empresas têm que lidar com uma grande incerteza (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). 10 Isto é: o sistema jurídico, o respeito às leis e a clareza em relação ao processo de sua elaboração são fatores que afetam o risco dos negócios, uma vez que podem gerar segurança ou incerteza. 11 REFERÊNCIAS ALVARENGA NETO, R. C. D. A. Gestão do conhecimento em organizações – proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Saraiva, 2014. AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. III Encontro de Estudos em Estratégia, São Paulo, 9-11 maio 2007. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/3ES695.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2019. BELL, M.; PAVITT, K. The development of technological capabilities, In: HAQUE, I. U. (Ed.), Trade, technology and international competitiveness. Washington DC: The World Bank, 1995. BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. 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Em casos de ajuda humanitária, por exemplo, o transporte rápido e eficiente dos materiais pode ser a diferença entre a vida e morte. TEMA 1 – PAPEL DA LOGÍSTICA INTERNACIONAL NA COOPERAÇÃO PRIVADA Os negócios internacionais têm preocupações bastante amplas, tais como o entendimento das razões pelas quais as nações comercializam e como elas o fazem. Agora, pensemos por um instante: o que seria dos negócios internacionais ou dos projetos de cooperação sem a logística? Como transportar as toneladas de soja que saem do Brasil para a China, os manufaturados que saem da China para o Brasil e o suco de laranja que sai do Brasil para os Estados Unidos? Sem logística, não é possível a existência de trocas comerciais. Com o passar dos anos, em especial no decorrer do século XX, as trocas comerciais se intensificam. Como consequência, a logística precisou se aprimorar. Junto das ideias de logística internacional para a cooperação, passa a haver necessidade de aumentar a rapidez e eficiência dos transportes para satisfazer clientes cada vez mais exigentes e situações cada vez mais urgentes. Uma das características de nosso tempo é que hoje temos uma oferta de bens e produtos maior do que a demanda. Assim, os consumidores tornaram-se o público a ser conquistado. Mas o que a logística tem a ver com isso? Tem tudo a ver. Pense por um instante nas grandes redes de lojas virtuais que você conhece. Quais são os concorrentes de Amazon, Submarino, eBay e Mercado Livre? Muitas vezes os concorrentes não são as demais lojas online, mas as lojas físicas nas quais o consumidor pode obter o produto que deseja sem que precise esperar sua entrega. Por conta dessa nova lógica, tem-se exigido cada vez mais não só da logística, mas de seus profissionais. Justamente por isso que se pode dizer: 3 Um dos grandes obstáculos da logística num ambiente globalizado é justamente utilizar diferentes estratégias para melhorar a eficiência da cadeia logística, fazendo com que as empresas consigam competir em diferentes mercados. [...] Este ambiente competitivo e dinâmico faz com que haja a necessidade de um ambiente integrado internamente e um nível de relacionamento forte junto às outras empresas parceiras. A logística tornou-se uma importante ferramenta para ganhar competitividade e ajustar os fluxos de materiais a esta realidade veloz, em que a redução de tempo na distribuição, estocagem e movimentação dos produtos serão a chave competitiva para o comércio internacional (Coelho, 2011). Você consegue perceber como as trocas internacionais simplesmente não existem sem a logística? Além desse íntimo relacionamento entre essas duas áreas profissionais e do conhecimento, existe uma outra questão que passa a preocupar gestores de todo o mundo: o chamado gerenciamento da cadeia de suprimentos, que engloba todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente, no atendimento de um pedido de um cliente. A cadeia de suprimentos não inclui apenas fabricantes e fornecedores, mas também transportadoras, depósitos, varejistas e os próprios clientes. Dentro de cada organização, como, por exemplo, uma fábrica, a cadeia de suprimentos inclui todas as funções envolvidas no pedido do cliente, como desenvolvimento de novos produtos, marketing, operações, distribuição, finanças, e o serviço de atendimento ao cliente entre outras (Chopra; Meindl, 2003, p. 2). Veja a extensão das preocupações que a cadeia de suprimentos aborda. Agora estenda esse pensamento para uma escala internacional: como gerenciá-las da melhor forma, considerando as grandes distâncias que separam os países e continentes? Além disso, existem muitas empresas que trabalham com a chamada cadeia global de valor: ou seja, essas organizações dividem suas atividades industriais por todo o mundo. A pesquisa de novos produtos fica num país, a matriz em outro e a fabricação num terceiro. É a logística a responsável por unir todos esses componentes e transportá-los até seus clientes pelo mundo todo. Entende porque sem a logística não há comércio internacional? TEMA 2 – CADEIAS LOGÍSTICAS INTERNACIONAIS Para que você entenda bem a cadeia logística internacional, deve antes de mais nada ter a clara ideia da cadeia logística ou cadeia de abastecimento de forma geral. O que é isso? Bem, a cadeia de abastecimento: corresponde ao conjuntode processos requeridos para obter materiais, agregar-lhes valor de acordo com a concepção dos clientes e consumidores e disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os clientes e consumidores desejarem. Além de ser um processo bastante extenso, a cadeia apresenta modelos que variam de 4 acordo com as características do negócio, do produto e das estratégias utilizadas pelas empresas para fazer com que o bem chegue às mãos dos clientes e consumidores (Bertaglia, 2012, p. 4). A cadeia de abastecimento, portanto, inclui ações envolvem pegar uma matéria-prima numa determinada localidade, transformá-la, alterá-la e entregá-la como um produto para um cliente em algum lugar, seja numa loja, seja num armazém de um website ou qualquer ponto no qual o consumidor final pode adquiri-la de alguma maneira. O que se percebeu nos últimos anos é que administrar a cadeia de abastecimento “exige o entendimento dos impactos que serão causados nas organizações, em seus processos e na sociedade” (Bertaglia, 2012, p. 4). Infelizmente ainda é comum que indústrias inteiras parem sua fabricação por falta de alguma matéria-prima ou de algum componente. Se essa indústria efetuou algum contrato de compra e venda com algum cliente, atrasos podem ser penalizados por multas que afetarão diretamente a lucratividade da organização. E internacionalmente? As cadeias logísticas internacionais de suprimento compreendem a necessidade de estender a lógica da integração para fora das fronteiras da empresa e das fronteiras do país, incluindo fornecedores e clientes; considerando que, modernamente, a vantagem competitiva de uma empresa se baseia na produtividade (custo adequado) e diferenciação do produto (inovação, qualidade e nível de serviço), com benefícios para todas as partes envolvidas (Robles; Nobre, 2016, p. 61). Ou seja, a logística deixa de ser apenas uma preocupação com matérias- primas, materiais, produtos e entregas, e passa a ser uma fonte de vantagens ou desvantagens competitivas conforme é administrada. Hoje, num mundo freneticamente integrado, entender a cadeia logística internacional é essencial para alavancar a competitividade de uma determinada organização. Nesse ponto, muitos alunos questionam: como ser mais competitivo se as normas logísticas nacionais e internacionais são as mesmas? Keedi aborda o tema: Embora os processos em geral se apresentem relativamente uniformes para qualquer empresa, pois as normas são nacionais e internacionais e, portanto, afetando da mesma maneira todos os atores que estão no palco, a forma de ação de cada empresa proporciona um resultado completamente diferente para cada uma delas. Isso ocorre ainda que a mercadoria ou o serviço transacionado seja exatamente igual ao apresentado por seus concorrentes, inclusive para entrega aos mesmos importadores e destinos finais (Keedi, 2011, p. 75). 5 Ou seja: a eficiência e competitividade de sua empresa deixa de depender apenas dela, da qualidade de seus produtos ou de seus preços, e passa a depender também de você. Pense por um instante na guerra do Iraque ou na invasão do Afeganistão. O que você diria a respeito da eficiência do transporte de armas, blindados e soldados dos Estados Unidos até lá? Desafios semelhantes são aqueles com os quais as empresas se defrontam, uma vez que internacionalmente, na cadeia de abastecimento de exportação, a distribuição física das mercadorias sofre o impacto de diferentes agentes presentes no ambiente externo, portanto, a utilização e aprimoramento das técnicas de logística internacional devem adaptar-se a uma realidade empresarial em constante mudança (Silva, 2008, p. 132). Se, domesticamente, já é complicado ajustar a cadeia de abastecimento, e internacionalmente? Você deve estar preparado para entender cada aspecto do fluxo logístico entre dois pontos, pois só assim você poderá pensar em maneiras e mecanismos para agilizar e melhorar seus processos logísticos internacionais. Em muitos projetos de cooperação o prazo é um ponto bastante crítico, e é o bom entendimento da logística que pode ajudar as partes envolvidas a realizar suas tarefas. TEMA 3 – TRANSPORTE INTERNACIONAL Internacionalmente, transporte e logística estão intrinsecamente ligados. A união entre os dois temas e áreas chega a ser – ou parecer – inseparável em alguns momentos, pois uma coisa não pode acontecer sem a outra. Para entendermos melhor essa questão vamos pensar inicialmente: o que é transporte? Bem, uma definição possível é: “meio de movimentação de estoques ao longo das cadeias de suprimentos pelo modal utilizado por uma empresa, ou seja, terrestre (rodoviário, ferroviário e dutoviário); aquaviário (marítimo, fluvial e lacustre) ou aéreo” (Robles, Nobre, 2016, p. 80). Se buscarmos entender um pouco mais a respeito, veremos que as ideias de transporte vêm desde os primórdios da humanidade: A etimologia indica que a palavra “transporte” tem origem no latim e significa mudança de lugar. Transportar é conduzir, levar pessoas ou cargas de um local para o outro. E, ao voltar-se o olhar para o que se conhece das histórias dos primórdios da Humanidade, as cargas eram transportadas diretamente pelos próprios Homens, limitado a sua capacidade física (Silveira, 2014). 6 Nesse contexto, quanto mais se intensificam as trocas comerciais, maior torna-se a necessidade de aprimorar os meios de transporte. A partir do Renascimento e do final da Idade Média, as trocas comerciais internacionais intensificaram-se gradualmente. Nesse cenário de comércio internacional e interdependência crescente, a logística internacional e o transporte têm papel cada vez mais preponderante. Ou seja: os custos e meios logísticos escolhidos por você vão tornar uma operação viável ou inviável. Nesses casos, “a tomada de decisão da logística de transporte deve passar pela correta opção entre os modos e as operações disponíveis e viáveis, que poderão proporcionar o alcance das metas propostas” (Keedi, 2011, p. 26). Por isso, é importante que você esteja ciente das vantagens, desvantagens, benefícios e malefícios que cada uma das opções de transporte pode trazer em relação à carga, entrega, prazo e custo. E como escolher a forma correta? Eis uma questão fundamental dentro do transporte internacional de hoje! Considere o seguinte: A escolha do modo transporte tem como fatores específicos distâncias, volume ou tamanho dos lotes, as características e densidades da carga (granel sólido ou líquido, carga conteinerizada e cargas especiais ou de projeto) e suas especificidades, por exemplo, resfriadas, congeladas, alimentos, químicas e de movimentação perigosa, facilidades de acondicionamento, facilidades de manuseio, etc. [...] Além disso, há que se considerar condições de disponibilidade de infraestrutura e no caso do comércio internacional, a condição geográfica (Robles; Nobre, 2016, p. 80). Além disso, existem algumas outras questões a serem consideradas na hora de se pensar o transporte internacional. São características a se ter em mente na hora do planejamento de transporte: • Disponibilidade: Capacidade que cada modal em atender as entregas prontamente, sendo o modal rodoviário o melhor qualificado ao oferecer o serviço porta-a-porta (door-to-door), o qual representa sua principal vantagem ao evitar transbordos e manuseios adicionais de embalagens e cargas. • Velocidade: Tempo de trânsito em uma rota, desde a origem ao ponto de destino. O aéreo é o mais rápido de todos os modais. • Confiabilidade: Habilidade de entregar no tempo declarado e acordado, de maneira satisfatória. Os dutos têm melhor destaque nessa característica na relação Tempo de Trânsito (transit time) e Índice Falhas ou Avarias. • Capacidade: Possibilidade do modal de transporte lidar com qualquer tipo e quantidade de carga. O transporte aquaviário é o de maisdestaque. 7 • Frequência: Quantidade de movimentações programadas e realizadas por período de tempo. Os dutos se sobressaem pelo seu tempo contínuo (Robles; Nobre, 2016, p. 80). Perceba como não basta apenas entender do transporte internacional em si, com suas possibilidades e características: o profissional dessa área deve sempre ter em mente a cadeia de valor como um todo, entendendo como a escolha de um ou outro modal influencia no valor final do produto. TEMA 4 – INTERMEDIÁRIOS E FACILITADORES NOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Você sabe qual o porte da maioria das empresas que existem? Apenas uma pequena parcela das organizações é de grande porte, e a imensa maioria são pequenas e médias. Nesses casos, é mais difícil que essas empresas menores tenham em sua própria estrutura profissionais de logística, comércio exterior e relações internacionais exclusivamente alocados para cuidar do comércio internacional da organização. Na maioria das vezes, o que ocorre é que tais empresas multiplicam as funções desses profissionais, que deixam de cuidar especificamente de poucas atribuições relacionadas a sua formação e ampliam sua área de atuação. Para ajudar essas empresas e facilitar os trâmites internacionais de comércio é que existem os chamados intermediários no comércio. São pessoas ou empresas que facilitam seu trabalho, ligando as duas pontas da cadeia industrial: quem quer vender algo com quem precisa comprar essa coisa. E esses intermediários trabalham em vários segmentos que podem facilitar a inserção empresarial internacional e também a cooperação: Um intermediário do canal de distribuição é especializado em oferecer uma gama de serviços logísticos e de marketing a empresas focais, como parte da cadeia internacional de suprimentos, tanto no país de origem quanto no exterior. Intermediários como os distribuidores e os representantes de vendas geralmente se localizam em mercados estrangeiros e fornecem serviços de distribuição e marketing em nome das empresas focais. Trata-se de negócios independentes em seus respectivos mercados, que atuam sob contrato (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010, p. 44). Isto é, são empresas e profissionais de áreas diversas que auxiliam o entrante nas atividades internacionais a melhor organizar suas operações. Não basta que você venda para outro país, você deve pensar em como o consumidor final terá acesso ao seu produto. Será em lojas próprias? Loja de terceiros? Como 8 funcionará o envio de documentos, processos e eventual maquinário num projeto de cooperação? Seja qual for a escolha, há a necessidade de distribuir, nacionalizar, e seguir as regras do país de destino. Além dos intermediários existem também os facilitadores. Sua atuação é semelhante, mas não apenas entre duas entidades – compradora e vendedora – mas em uma gama de atuação mais ampla. Um facilitador é uma empresa ou um indivíduo com experiência em consultoria jurídica, bancária, despacho aduaneiro ou em serviços correlatos de apoio, que prestam assistência a empresas focais na realização de transações internacionais. Dentre eles há provedores de serviços logísticos, agentes de carga, bancos e outros empreendimentos de suporte, que auxiliam as empresas focais no desempenho de funções específicas. Um agente de carga é um provedor de serviços logísticos especializado em providenciar embarques internacionais para empresas exportadoras, como se fosse um agente de viagem para cargas (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010, p. 14). Veja só quantos meandros existem nesse setor! Dependendo do tipo de transação no qual você estiver envolvido, você poderá utilizar um ou mais intermediários ou facilitadores. Independentemente de qual seja, é essencial construir uma relação de confiança com esses parceiros. Veja os comentários a respeito dessa empresa na internet, busque descobrir quais são seus clientes e qual sua satisfação com a empresa. Existem intermediários não apenas para transporte, mas também para pesquisa de mercado, para financiamento, para efetuar seguros e outros serviços bancários, para efetuar divulgação dos produtos e serviços; enfim, numa grande variedade de profissões e especialidades. Um outro ponto que você deve dominar é o entendimento da própria empresa e de sua cadeia de valor, ou seja, dos pontos onde você é mais ou menos competitivo. Pense por um instante: se formos comparar a questão de qualidade da infraestrutura e valor da mão de obra, onde seria mais vantajoso estabelecer uma filial: no Brasil ou na China? É na China, uma vez que a infraestrutura desse país é muito melhor do que a brasileira e o valor da mão de obra é bem mais barato. É esse tipo de escolha que você deve ser capaz de fazer. TEMA 5 – RISCOS LOGÍSTICOS PARA A COOPERAÇÃO Uma das características fundamentais da logística internacional é o alto uso do transporte marítimo internacional. Uma breve olhada no mapa nos permite entender porque, afinal, não se pode sempre contar com meios rodoviários ou 9 fluviais. No caso brasileiro, ainda que sejamos um país irrigado pelos mais diversos rios, nem sempre tais canais possibilitam a navegação de cargas. Ora por terem afluentes estreitos, ora por não serem profundos o suficiente, acaba restando aos mares e oceanos uma boa parte do comércio global. Existem aqueles que considerem errado falarmos apenas em transporte marítimo, pois pelos meios aquaviários ainda podem existir os transportes fluviais e lacustres. Nessa aula não entraremos nessa questão, uma vez que tais modalidades pouco acontecem no Brasil O transporte marítimo é um dos mais antigos. Por meio dele, “muitos descobridores desbravavam os mares em seus barcos em busca de novas terras. Cidades importantes se desenvolveram nas costas marítimas devido à demanda de trabalho e comércio com outros países e cidades” (Bertaglia, 2012, p. 301). Dentro da lógica dos transportes marítimo e/ou aquaviários, sabe-se que o veículo mais importante são os navios, que podem assumir diversas formas e configurações. Trata-se de uma das formas de transporte mais seguras. No entanto, é um pouco mais lenta e demorada do que outras formas de transporte. Quando nós estudamos o transporte marítimo, vimos que existem vários tipos de navio diferentes, cada qual servindo a um propósito. Ainda com essa diversidade de transportadores, eis um problema: é absolutamente impossível utilizar somente o transporte marítimo, uma vez que alguém tem que, de alguma maneira, levar a mercadoria até o porto de origem, e outro alguém deve buscá-la no porto de destino. O mesmo não acontece com o transporte rodoviário ou terrestre, uma vez que esse é um dos únicos meios que pode pegar a carga na origem e entregá-la diretamente no destino. Os riscos do transporte terrestre ligam-se à questão do tempo – pois dependendo do trajeto pode ser bastante demorado – e à questão de segurança – uma vez que as estradas podem apresentar diversos percalços num dado caminho. E o transporte aéreo? Bem, como todos sabemos, é realizado por aviões de diversos portes que efetuam diversas rotas. Tal qual ocorre no transporte marítimo, o transporte aéreo não é “porta a porta”, sendo que algum outro modal deve levar a mercadoria até o ponto de embarque e retirá-la no destino. Ainda assim, é um transporte internacional muito utilizado hoje para mercadorias de maior valor. O maior problema do transporte aéreo é justamente seu custo. É a mais ágil e a mais segura das formas de transporte existentes. Em casos de cooperação humanitária, o transporte aéreo é o preferido para o envio de ajuda e para o resgate de pessoas. 10 REFERÊNCIAS BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. São Paulo: Saraiva, 2012. CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. Pearson: São Paulo, 2010.CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. São Paulo: Prentice Hall, 2003. COELHO, L. C. Logística no comércio exterior. Logística descomplicada, 2011. Disponível em: <https://www.logisticadescomplicada.com/logistica-no-comercio- exterior>. Acesso em: 11 ago. 2019. KEEDI, S. Logística de transporte internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2011. ROBLES, L. T.; NOBRE, M. Logística internacional. Curitiba: Intersaberes, 2016. SILVA, L. A. T. Logística no comércio exterior. Editora Aduaneiras: São Paulo, 2008. SILVEIRA, E. A. O contrato e a logística no transporte internacional de cargas por via marítima: Aspectos de direito e da justiça brasileira. Centro de Direito Internacional, 2014. Disponível em: <https://docplayer.com.br/836501-O- contrato-e-a-logistica-notransporteinternacionaldecargasporviamaritimaaspectos- de-direito-e-da-justica-brasileira.html>. Acesso em: 11 ago. 2019. AULA 5 FORMULAÇÃO, PLANEJAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 2 CONVERSA INICIAL A globalização, os avanços nas tecnologias de comunicação e os transportes internacionais mais eficientes tornaram o mundo um lugar mais próximo e encurtaram distâncias. Muitas coisas boas derivam dessa proximidade, como uma oferta de produtos de melhor qualidade a preços menores; as trocas de tecnologia e ainda os acordos e organizações internacionais. Há, no entanto, uma face preocupante dessa situação: os conflitos, as mudanças climáticas, o terrorismo, e tudo aquilo que se vê nos noticiários e que não afeta apenas uma nação, mas o mundo todo. TEMA 1 – COOPERAÇÃO EM PROBLEMAS COMUNS É notório que, isoladamente, países não conseguem resolver certos problemas que requerem esforços em nível global. Muitas vezes, nem mesmo pequenos blocos regionais dão conta de desafios tão grandes. Hoje, com múltiplos tratados internacionais versando sobre os mais variados temas, e com várias Organizações Internacionais de abrangência global ou regional, a cooperação é mais fácil. No entanto, não foi sempre assim. Houve um tempo no qual os Estados não eram aliados, mas inimigos ferozes uns dos outros, podendo um país tentar interferir nas questões internas de outro. O que hoje pode não fazer sentido algum, era a realidade há alguns séculos. Se, por exemplo, a aliança do meu vizinho com outra nação, ou mesmo um casamento real de algum país geograficamente próximo não me agradava, eu, soberano, poderia declarar guerra, invadir, pilhar, destruir e matar. Quem coloca ordem nesse caos é o que chamamos de Direito Internacional Público (DIP). O DIP pode ser entendido como “o conjunto de normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina direitos e obrigações dos sujeitos, especialmente nas relações mútuas dos estados e, subsidiariamente, das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, bem como dos Indivíduos” (Casella, 2011, p. 50). Como você pode perceber, temos no DIP uma regulamentação de entes públicos e de seus comportamentos. Uma grande marca em sua existência foi a chamada Paz de Westphalia, de 1648. A Paz de Westphalia consiste nos tratados 3 de Munster e Osnabruck, que colocaram fim à Guerra dos 30 anos entre diversas potências europeias. Como aponta Casella (2011, p. 101): Esses tratados acolheram muitos dos ensinamentos de Hugo Grócio, surgindo daí o direito internacional tal como o conhecemos hoje em dia, quando triunfa o princípio da igualdade jurídica dos estados, estabelecem- se as bases do princípio do equilíbrio europeu, e surgem ensaios de regulamentação internacional positiva. Podem ser apontados não somente o conceito de neutralidade na guerra, em relação aos estados beligerantes, como também fazer paralelo, entre o princípio então adotado, da determinação da religião do estado pelo governante, o que seria o ponto de partida do princípio contemporâneo da não ingerência nos assuntos internos dos estados. Desde então, o desenvolvimento do direito internacional marchou rapidamente. Assim, pode-se perceber que se tem, a partir desse momento, uma evolução no Direito Internacional, em suas fontes e em seus elementos. A partir de então, a comunidade internacional oscilou entre momentos de progresso e retrocesso em matéria de cooperação. Contemporaneamente, as Convenções de Haia (1898 e 1907), por exemplo, visam estabelecer regras comuns para banir a crueldade desnecessária em conflitos internacionais. Atualmente: Poluição e necessidade de controle da ação do homem sobre o meio ambiente podem ser ameaças muito mais sérias e concretamente presentes para o futuro da humanidade que o terrorismo, e este, assim como o crime organizado, ou a lavagem de dinheiro, deve ser coibido mediante cooperação judiciária internacional, nunca unilateralmente, por medidas internas, oriundas de qualquer estado. (Casella, 2011, p. 45) Esses temas demonstram apenas a ponta da necessidade de cooperação, num mundo mais complexo e interligado. Mais do que isso, existem outros temas em que a cooperação internacional faz parte de nosso cotidiano sem que, muitas vezes, percebamos: cooperação bancária para transferências internacionais, cooperação para contratos internacionais e sua execução, convenções a respeito de temas médicos e sanitários e tantos outros que tornam nosso mundo um local mais seguro. TEMA 2 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E AJUDA HUMANITÁRIA Como se demonstrou anteriormente, a cooperação internacional cresceu exponencialmente depois da institucionalização dos tratados de 1648, e aumentou ainda mais na segunda metade do século XX. Os desenvolvimentos do Direito Internacional Público permitiram sua expansão e aprofundamento. Como afirma Casella (2010, p. 436-7): 4 todos e cada um dos países, no mundo pós-moderno, tem de se conscientizar dos imperativos da cooperação internacional. Isso se faz imperativo em um mundo no qual a interdependência pauta de modo cada vez mais acentuado as relações interestatais. Isto faz que os países tenham ao mesmo tempo de cuidar de suas agendas internas e internacionais, e as exigências estruturais e operacionais de cada uma destas. Soberania, inserção internacional, desenvolvimento econômico e social, equilíbrio de câmbio e pagamentos, cooperação internacional e m assuntos os mais variados nem sempre são fáceis de compatibilizar, mas simultaneamente estarão presentes para todos e cada um dos estados. Por conta disso, é possível afirmar que não existe independência, existe interdependência. O comércio internacional nos aproximou e aprofundou nossos laços. Mais do que em termos econômicos, a cooperação pode ter lugar em aspectos humanitários. Foi o historiador Eric Hobsbawm (1917 – 2012) que apontou para as catástrofes e calamidades que marcaram o século XX. Para Hobsbawm, esse foi o “século dos conflitos”, e assim não poderia deixar de ser: guerras mundiais, genocídios e o desenvolvimento de novas tecnologias de extermínio contribuíram para a precisão dessa alcunha. É nesse ponto que entra a importância da ajuda humanitária. A ONG Médicos Sem Fronteiras define ajuda humanitária como: aquela prestada em momentos de necessidades agudas, quando um grande número de vidas está em risco, e implica uma resposta rápida e ágil. Essas necessidades podem surgir em consequência de desastres provocados por conflitos, epidemias, fenômenos naturais e climáticos, e turbulências sociais. O único critério da prestação de ajuda humanitária deve ser as necessidades das populações atendidas, sem discriminação de etnia, cor, gênero, religião ou convicção política (MSF, 2019). A ajuda humanitária consiste, então, num importante mecanismo para minorar os efeitos negativos de algum tipo de catástrofe ou desastre, buscandoproteger as pessoas em estado de necessidade. Atualmente, ONGs como a Médicos Sem Fronteiras, Anistia Internacional, Save the Children, a Cruz Vermelha e ainda outras são conhecidas por prestar esse tipo de assistência. Entre os exemplos que se pode elencar de ajuda humanitária internacional está a Missão de Paz da ONU no Haiti, liderada pelo Brasil; o apoio do Médicos Sem Fronteiras na República Democrática do Congo e as várias ONGs e Organizações Internacionais que uniram esforços para coibir o avanço do Ebola no continente africano. Pode-se afirmar que: Durante a última década, a comunidade humanitária iniciou uma série de iniciativas interagências para melhorar a qualidade, responsabilidade e desempenho em acção humanitária. Quatro das iniciativas mais conhecidas são as de rede ativas de aprendizagem para Accountability e 5 Desempenho em Ação Humanitária (ALNAP), Parceria Responsabilidade Humanitária (HAP), People In Aid e do Projeto Esfera. Representantes dessas iniciativas começou a se reunir em uma base regular, em 2003, a fim de compartilhar problemas comuns e harmonizar as atividades sempre que possível. (Wikipedia) Há, ainda, cooperação humanitária e de paz no quadro das Nações Unidas, como será visto adiante. TEMA 3 – OPERAÇÕES GLOBAIS DE PAZ A Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais mortal da história. O número de pessoas que pereceram entre 1939 e 1945 é alvo de debates, mas aceita-se que passe de 60 milhões de mortos. Sobre as cinzas da tragédia, a Organização das Nações Unidas nasceu em 1945. Sua Carta Constitutiva (conhecida como Carta das Nações Unidas ou, simplesmente como Carta) é seu documento fundamental e um dos mais importantes documentos do Direito Internacional Público. É a Carta que obriga os Estados Membros a seguirem as disposições ali contidas: isso vale para a cooperação, para atos armados ou mesmo para a eleição do Secretário Geral das Nações Unidas: Todo estado tem o direito de tomar, nos limites estabelecidos pelo direito internacional e pela Carta das Nações Unidas, todas as medidas visando à sua defesa e conservação. Não pode, contudo, tomar medidas capazes de atingir outro estado que não o ameace militarmente, ou, em outras palavras, não se justifica a prática de atos contra estado que possa ser considerado uma ameaça futura. Num caso, não existe intervenção, mas o exercício de atividade legítima; no outro, ocorrerá uma intervenção, como tal condenada pelo direito internacional. (Casella, 2011, p. 480) Em relação aos conflitos armados, a Carta prevê apenas duas possibilidades para que um país pegue armas contra outro: para prevenir ato de agressão ou em legítima defesa. Além disso, a Carta da ONU dispõe sobre a composição da organização. A ONU divide-se em seis órgãos principais: A Assembleia Geral; O Conselho de Segurança; A Corte Internacional de Justiça; O Secretariado; O Conselho Econômico e Social e; Conselho de Tutela das Nações Unidas. 6 Desses, certamente o mais importante para fins de operações de paz é o Conselho de Segurança. Essas operações, segundo a ONU: são um instrumento singular e dinâmico, desenvolvido pela Organização para ajudar os países devastados por conflitos a criar as condições para alcançar uma paz permanente e duradoura. A primeira operação de paz das Nações Unidas foi estabelecida em 1948, quando o Conselho de Segurança autorizou a preparação e o envio de militares da ONU para o Oriente Médio para monitorar o Acordo de Armistício entre Israel e seus vizinhos árabes. Desde então, 63 operações de paz das Nações Unidas foram criadas. (A ONU) Quem determina a extensão de tais operações é o Conselho de Segurança das Nações Unidas, nos termos do art. 45 da Carta: A fim de habilitar as Nações Unidas a tomarem medidas militares urgentes, os membros das Nações Unidas deverão manter imediatamente utilizáveis, contingentes das forças aéreas nacionais para a execução combinada de uma ação coercitiva internacional. A potência e o grau de preparação desses contingentes, como os planos de ação combinada, serão determinados pelo Conselho de Segurança. (ONU) As operações de paz servem para restabelecer a ordem em locais atingidos por catástrofes naturais ou não, e compõe-se pelos exércitos dos membros das Nações Unidas cedidos à operação. No caso da operação de paz no Haiti, o Conselho de Segurança deu ao exército brasileiro o comando da operação. TEMA 4 – COOPERAÇÃO PARA O MEIO AMBIENTE E O COMBATE DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS O meio ambiente é um bem coletivo, ou seja, pertence à humanidade como um todo. Além disso, sua preservação é um dos máximos exemplos do que um país não pode fazer sozinho. Tomemos a Amazônia como exemplo. O Brasil poderia empreender todos os esforços possíveis para sua preservação. No entanto, se nossos vizinhos, pelos quais a Amazônia também se estende, não empreenderem ações de preservação, o esforço brasileiro terá menos impacto. A questão ambiental tem chamado a atenção internacional há algumas décadas: O desenvolvimento do direito internacional do meio ambiente coloca-se dentre os mais significativos das últimas décadas, porquanto, praticamente inexistente até 1972, tornou-se parte central do direito internacional, no contexto pós-moderno, e tema recorrente das negociações e esforços de regulamentações de caráter tanto interno como internacional. (Casella, 2011, p. 980) 7 A Conferência de Estocolmo de 1972 e a Conferência do Rio de 1992 são importantes marcos nesse desenvolvimento. Esses encontros suscitaram as ideias de Desenvolvimento Sustentável, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, as Convenções-Quadro sobre Mudança do Clima e sobre Diversidade Biológica, a Agenda 21, a Declaração de Princípios sobre as Florestas, a Declaração de Princípios sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e vários outros mecanismos de preservação e controle. De todas essas conferências e acordos, alguns princípios da Declaração sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento se destacam: Princípio 18: os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de desastres naturais ou outras emergências que possam vir a provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para ajudar os Estados afetados. Princípio 19: os Estados fornecerão, oportunamente, aos Estados potencialmente afetados, notificação prévia e informações relevantes acerca de atividades que possam vir a ter considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e se consultarão com estes tão logo seja possível e de boa-fé. Tais princípios consolidam o chamado “dever de informar”, o que facilita a cooperação e a ação integrada, tanto para prevenir desastres quanto para conter seus efeitos maléficos. Como apontam Mazzuoli et al. (2012, p. 319): O tema da cooperação internacional encontra na seara ambiental uma profícua área de trabalho, repleta de possibilidades e também desafios. À medida que contribui para a salvaguarda do meio ambiente, faz também operar a difusão da conscientização ambiental, necessária ao esclarecimento de quais direitos se têm (e se poderá ter) nesse domínio. Mais do que o dever de cooperar, é a obrigação de informar a pedra de toque do sistema contemporâneo das normas (internacionais e internas) de cunho ambiental, notadamente das que expressamente garantem o acesso à informação, a participação pública no processo de tomada de decisões e o ingresso dos cidadãos à justiça em matéria ambiental. Assim, percebe-se que ainda com as controvérsias envolvendo os Estados Unidos e a saída dos acordos a respeito do aquecimento global, essa temática continua caminhando para o entendimento internacional. 8 TEMA 5 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E O MUNDO PADRONIZADO A Revolução Industrialmudou o mundo para sempre. Se hoje temos computadores, aviões, automóveis, smartphones; roupas e móveis que não fabricamos com nossas próprias mãos, ou carne que não caçamos e matamos, devemos isso à Revolução Industrial, que mudou o paradigma produtivo da humanidade para sempre. Hoje, você vai ao mercado e compra sacos de arroz de um quilo, rolos de papel higiênico com metragem correta, folhas de papel A4 que cabem em sua impressora ou grafite para a lapiseira de tamanho 0,5 ou 0,7. Tudo isso devemos à padronização. Essa padronização faz com que a medida das folhas A4 seja a mesma em todo o mundo, que as voltagens das tomadas tenham mínimas variações e até mesmo os códigos aduaneiros das mercadorias sejam rigorosamente iguais. Das leis de trânsito até a aviação, o mundo passou por processos de padronização que garantem nosso entendimento mútuo. Nem sempre é fácil encontrar um falante de inglês no interior da China, um conhecedor de francês no cerrado brasileiro ou mesmo um lusófono em algumas regiões dos Estados Unidos. Mesmo sem falar o idioma, a sinalização de trânsito pode ser reconhecida, as tomadas são parecidas e as medidas de velocidade – quilômetros ou milhas – são razoavelmente semelhantes. Em alguns casos, foram Organizações Internacionais que facilitaram a cooperação internacional em matéria de padronização. Em outros, uma instituição privada, chamada ISO: International Organization for Standardization (ou Organização Internacional para Padronização em português). A ISO foi fundada em 1946 e em 1947 iniciou oficialmente suas atividades. Hoje, pode-se reconhecer que um local, uma instituição, uma empresa ou uma entidade respeita as normas globais de padronização pelo número atribuído pela ISO. Por exemplo, o famoso ISO 9001 de qualidade assegura requisitos mínimos de respeito a normas técnicas e de durabilidade. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Devido ao crescente número de exigências e a alta competitividade da economia internacional, as empresas dependem cada vez mais da sua capacidade de inovação para redução de custos. Nesse contexto, a normalização é utilizada como meio para se alcançar a redução de custos da produção e do produto final, mantendo ou melhorando sua qualidade. 9 Ainda antes da ISO surgiram instituições para a padronização, tais como a Comissão Internacional Eletrotécnica (IEC) ou as Associações Nacionais de Padronização (ISA). Hoje, podemos circular tranquilamente pelo mundo, pois, graças à cooperação e a normatização, um cabo USB sempre terá as mesmas dimensões, um pneu aro 15 sempre se encaixará numa roda aro 15 e US$ sempre significará Dólar e R$ sempre significará que um determinado preço está em Real. 10 REFERÊNCIAS AJUDA humanitária. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ajuda_humanit%C3%A1ria>. Acesso em: 20 ago. 2019. ALVARENGA NETO, R. Gestão do Conhecimento em Organizações – proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Saraiva, 2014. AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. In: _____. 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TEMA 1 – ANÁLISE INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS O que é análise de negócios? “É o conjunto de atividades e técnicas utilizadas para servir como ligação entre as partes interessadas, no intuito de compreender a estrutura, políticas e operações de uma organização e para recomendar soluções que permitam que a organização alcance suas metas” (IIBA, 2011, p. 21). A análise de negócios não se ocupa apenas do mundo ou do cenário externo das empresas ou organizações; também procura compreender o cenário interno para poder recomendar as melhores soluções, atitudes ou atividades para uma determinada empresa. Nesse sentido, a análise não apenas tenta entender as relações internacionais, mas também as próprias particularidades da organização. Parece uma meta audaciosa, não? E para que isso serve? Veja, a análise de negócios existe para “entender como a empresa funciona e permitir que atinja seu potencial, auxiliando-a a articular e realizar metas, reconhecer e aproveitar oportunidades, identificar e superar desafios” (Kuppersmith; Mulvey; Mcgoey, 2013, p. 39). Sendo assim, você pode utilizar a análise de negócios para entender sua empresa ou organização e quais são suas metas. Ao conjugá-la com a análise internacional, você pode sugerir passos e empreendimentos internacionais que a permitam atingir e superar metas, com o correto reconhecimento e aproveitamento de oportunidades. Obviamente, você deve ter alguns conhecimentos para que isso ocorra de fato. A análise de negócios possui, antes de mais nada, algumas responsabilidades fundamentais (Cadle; Paul; Turner, 2010): 3 Identificar as opções táticas que irá abordar em uma determinada situação e apoiar a execução da estratégia de negócios; Definir táticas que permitam à organização atingir sua estratégia; Apoio a implementação e o funcionamento dessas táticas; Redefinir táticas após sua implementação, perceber mudanças nos negócios e garantir alterações para assegurar o alinhamento contínuo com os objetivos de negócios. Assim, você pode perceber que a análise de negócios se comunica amplamente com a gestão de projetos. Da mesma forma que a gestão de projetos deveria criar programas e planos que auxiliassem a empresa a cumprir suas metas, a análise de negócios deve identificar a maneira mais fácil de fazer isso, o melhor caminho. Vejamos um exemplo diretamente conectado aos projetos internacionais: analistas perceberam que o mercado doméstico está em crise, e os consumidores, cada vez mais endividados, gastando cada vez menos e buscando as opções mais baratas cada vez mais. Assim, surgem algumas opções: diminuir o lucro da empresa, abaixando o preço final do produto ou serviço, ou buscar outro mercado mais aquecido, buscando uma parceria internacional ou exportações. Qual opção você escolheria? Perceba, ambas possuem riscos; a questão fundamental é definir quais riscos valem mais a pena enfrentar. Por um lado, baixar o preço final de um item pode impactar diretamente na rentabilidade da empresa, e reduzir a qualidade do produto ou serviço final pode afetar a reputação da companhia. Exportar, por sua vez, pode acarretar em alguns custos iniciais de adaptação. É importante ressaltar também que os analistas de negócios devem captar informações em diversas áreas diferentes para poder criar uma análise real e bem embasada. Muitas vezes, isso significa recorrer a diversas fontes dentro da própria empresa: Analistas de negócios devem analisar e sintetizar informações fornecidas por grande número de pessoas que interagem com o negócio, como clientes, colaboradores, profissionais de TI e executivos. O analista de negócios é responsável por desvendar as verdadeiras necessidades das partes interessadas, não simplesmente seus desejos explícitos. Em muitos casos, o analista de negócios irá trabalhar também para facilitar a comunicação entre unidades organizacionais. (IIBA, 2011 p. 23) 4 Entendidos esses pontos iniciais, você pode aprofundar-se neles e levar em conta questões internacionais, como riscos políticos e econômicos, ou ainda as diferenças culturais que envolvem as partes envolvidas num determinado projeto. TEMA 2 – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE NEGÓCIOS Agora que você já entendeu o básico da análise de negócios, está na hora de se familiarizar com alguns conceitos fundamentais! Esses conceitos vêm do próprio Babok (IIBA, 2011, p. 47): Domínio: “é uma área submetida à análise”; Soluções: “conjunto de mudanças no estado atual da organização que são feitas com o intuito de permitir que ela atenda a uma necessidade do negócio, resolva um problema ou se beneficie de uma oportunidade”; Requisitos: “condição ou capacidade necessária para uma parte interessada resolver um problema ou atingir um objetivo”. Além desses conceitos, existem outros? Claro. Os conceitos mencionados são aprofundados no Babok. Além desses conceitos essenciais, existem algumas habilidades críticas necessárias para que a análise de negócios efetivamente funcione. A primeira delas é a habilidade em comunicação. Como o analista trabalha com uma imensa gama de informações de fontes diferentes, é essencial ser capaz de “sintetizar informações fornecidas por grande número de pessoas que interagem com o negócio” (IIBA, 2011, p. 47). Além da comunicação, é importante ser capaz de pesquisar e analisar assuntos de forma detalhada, isto é, ir além do superficial, questionando-se sobre as entrelinhas do que encontra. A partir do momento em que uma análise de negócios começa a ser feita, decisões serão tomadas, tendo o resultado dessa análise por base. Por isso, é importante que as informações coletadas na análise sejam bem organizadas e que o analista seja capaz de visualizar o cenário completo das informações que está coletando e sistematizando. Existem, é claro, algumas técnicas que o Babok sugere para analisar um determinado negócio, como brainstorming, análise de documentos, grupos focais e várias outras. Essas técnicas podem ser utilizadas de acordo com o tipo de informação que você deseja obter, e também de quem. Pessoas de maior grau hierárquico da organização normalmente não terão muito tempo nem vão se 5 dispor a participar de dinâmicas. Por outro lado, pessoas de níveis hierárquicos de entrada poderão se sentir estimuladas se participarem de alguma iniciativa assim. Utilizando essas técnicas, você pode obter um bom número de informações sobre a empresa que o capacitarão a encontrar uma estratégia adequada para que ela, por exemplo, se internacionalize. Tenha em mente que a análise de negócios deve focar o interesse maior do negócio, e não necessariamente a meta dos chefes: “você deve considerar as necessidades da empresa entrevistando e considerando seus líderes. Tenha certeza, no entanto, de que você está olhando para as necessidades do negócio, dentro do contexto do que o negócio está tentando fazer ou realizar, e não no que os líderes estão buscando” (Kuppersmith; Mulvey; Mcgoey, 2013, p. 40). Uma das formas de análise mais comuns é a chamada “análise corporativa”, que auxilia a entender o que o negócio busca e as melhores formas de alcançar essas metas. Ela “descreve as atividades de análise de negócios necessárias para identificar uma necessidade do negócio, problema ou oportunidade, definir a natureza de uma solução que atende a essa necessidade e justificar o investimento necessário para a entrega dessa solução” (Babok, 2011). Para os projetos internacionais, sejam eles privados ou cooperações governamentais, essa análise é de importância fundamental e vital, uma vez que, para se internacionalizar,muitas vezes são necessárias adaptações da empresa, dos produtos ou até de uma determinada estrutura de atendimento. Mas qual, afinal, deve ser o resultado de uma análise de negócios? Vejamos as possibilidades trazidas pelo Babok (2011): Expandir receitas aumentando vendas ou reduzindo custos; Aumentar a satisfação dos clientes e colaboradores; Ajustar-se a novas regulamentações; Aumentar a segurança. Seja qual for o resultado esperado pela sua empresa, a análise do negócio pode e deve fornecer mecanismos para que as vendas aumentem, os clientes e colaboradores sintam-se mais satisfeitos, ou que a empresa evolua ou melhore de alguma forma. Agora que você entendeu as características centrais da análise de negócios, está na hora de entender melhor a análise internacional. 6 TEMA 3 – ANÁLISE DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Até aqui você já estudou diversos aspectos ligados aos negócios internacionais, desde as formas de entrar no mercado externo – exportação, franquias, joint ventures, investimento estrangeiro direto – até alguns riscos, como os culturais, de segurança, geográficos, econômicos ou políticos. Com tantos fatores a considerar, como fazer a análise internacional? A primeira questão a considerar é o motivo pelo qual você está fazendo essa análise. Seria para internacionalizar? Se for, é importante focar aspectos econômicos, políticos e jurídicos primeiro. Seria para entender o risco que um país representa? Nesse caso, seu foco deve ser político, de segurança e cultural. A análise internacional, antes de mais nada, depende do que você espera obter com ela pois, delimitando um foco, você parte para seus elementos. Sendo esta uma aula de projetos internacionais, vamos partir do pressuposto de que seu objetivo seja a internacionalização. Muito da análise de negócios para a internacionalização parte da busca por oportunidades globais de mercado. E o que são essas oportunidades? Uma oportunidade global de mercado refere-se a uma combinação favorável de circunstâncias, localização ou momento, que ofereça perspectivas de exportação, investimento, suprimento ou parceria em mercados estrangeiros. Em várias localidades no exterior, a empresa pode perceber oportunidades: vender seus produtos e serviços; […] comprar matérias-primas. (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010, p. 362) Um acordo de livre comércio entre o Brasil e um país com o qual sua empresa queira fazer negócios pode ser, para você, uma oportunidade global de mercado. Para analisar se essa oportunidade vale ou não a pena, existem alguns fatores a considerar também. Não basta apenas encontrar uma oportunidade, deve-se garantir que ela seja explorada a contento. Em alguns casos, o risco ou o custo não compensam o retorno; em outros, apenas o risco é um impeditivo. Analisemos, a título de exemplo, a situação da Síria com muita frieza: o país está destruído, e sobrou pouca coisa. Esta é, em tese, uma oportunidade para vender coisas para lá. A pergunta que se coloca é: dados os sérios riscos de segurança, infraestrutura, política e geografia, vale a pena abrir uma empresa lá? Possivelmente não. Mundo afora, existe uma série de indicadores do chamado “risco país” que podem ajudar. Em alguns casos, um país está crescendo economicamente e as coisas parecem melhorar. Até que, por exemplo, altera-se o governo e os novos 7 mandatários não conseguem administrar bem o país. Esses casos afetam negativamente o risco país. Fazer análise internacional, no entanto, não depende apenas do cenário do local de destino. Assim como na análise de negócios, na análise internacional deve-se considerar também fatores internos à empresa: A seleção dos mercados para onde expandir as operações é determinada por fatores internos e externos à empresa. A nível interno, são aspectos como a capacidade de adaptar o produto (se necessário), a disponibilidade de recursos financeiros e técnicos, a experiência prévia nesses mercados, a existência de contatos com clientes […]. No plano dos fatores externos, é indispensável analisar questões como a dimensão atual (e potencial) do mercado, as condições econômicas, as políticas governamentais, […], entre outras (Ferreira; Reis; Serra, 2011, p. 136) E não é só isso! Veja o que mais você deve analisar: “preparo organizacional para a internacionalização; avaliar a adequação de produtos e serviços da empresa para os mercados externos; classificar os países para identificar mercados potenciais atrativos; avaliar o potencial, ou a demanda, de mercado de um determinado setor” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010, p. 362) Perceba que não há como padronizar análises internacionais, uma vez que precisam levar em conta uma série de variáveis importantes. Uma vez que você percebeu que certo país é atrativo e apresenta poucos riscos, não se jogue à internacionalização de imediato. Existem, ainda, mais coisas a considerar: Quem/quais são os líderes de mercado no país de destino? Quais as necessidades fundamentais dos clientes e como eu as satisfaço? Qual a estrutura do setor e quantos são os concorrentes? Como minha empresa vai se posicionar e quais produtos levará? Como fazer o marketing, as vendas, a propaganda, o relacionamento com os clientes e a distribuição dos produtos? A essas questões, ainda poderíamos somar outras. Até aqui você já deve ter percebido como analisar negócios internacionais: seria algo entre montar um quebra-cabeça e jogar xadrez. Além disso, sua busca por informações nunca cessa; enquanto houver dúvida, haverá pesquisa e análise. Somente assim você terá segurança em seu projeto e reduzirá os riscos, que são tantos! TEMA 4 – TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS Existem alguns temas recorrentes no noticiário internacional, com o qual todos estamos familiarizados. No entanto, existe muito mais a ser lido nas 8 entrelinhas do que as colunas econômicas e financeiras comentam. Se, no decorrer dos anos 2000, olhássemos para o futuro, veríamos como grande tendência a ascensão do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – à condição de líderes globais. E como estão esses países hoje? Brasil e Rússia desaceleraram suas economias e defrontam-se com a urgente necessidade de reformas para voltar a crescer. A África do Sul ainda promete crescer bastante, mas tem lidado com problemas críticos, como desemprego e imigração ilegal. A Índia escora seu crescimento no mercado interno, de mais de um bilhão de pessoas, e a China tende a continuar crescendo bastante pelas próximas décadas. Ambos os países necessitarão de uma quantidade crescente de commodities para alavancar a indústria interna. O crescimento chinês tende a desacelerar, mas ainda assim permanecerá alto – ou, pelo menos, maior do que o brasileiro. Muitas preocupações dos internacionalistas de hoje, no entanto, não se relacionam apenas com o cenário econômico, visto que existem nações com fortes promessas de crescimento. Um dos panos de fundo do cenário internacional hoje é a insegurança. Desde os anos 2000, o combate ao terrorismo tem tentado deixar o mundo um lugar mais seguro. Essa tentativa, na verdade, não tem se mostrado muito frutífera: cada vez mais grupos terroristas surgem, um mais cruel que o outro, e o Estado Islâmico é uma dessas ameaças à segurança global. Além da crise de segurança, outra crise surge para os próximos anos: a humanitária. Centenas de milhares de imigrantes têm deixado o país de origem para buscar em outras nações uma vida mais segura e tranquila. Como os países lidarão com esses novos habitantes? É uma questão ainda sem resposta. E o mercado de consumo, como fica? Possivelmente, mais consciente. De um lado, consumidores têm optado cada vez mais por produtos mais baratos. Assim, opções como fast fashion têm feito muito sucesso, e grifes destinadas às classes médias têm perdido um pouco a atratividade.Clubes de compra e de uso coletivo também conquistam novos adeptos, assim como itens sustentáveis. Por outro lado, o mercado do luxo surge como importante tendência, uma vez que se trata de um segmento mais resiliente às crises econômicas, no qual preços altos não inibem o consumo, e muitos países, mesmo aqueles em desenvolvimento, têm visto esse mercado crescer muito. 9 Em paralelo a todas essas tendências e perguntas, existe a revolução digital. Especialistas dizem que ela mal começou, ainda que estejamos 24 horas por dia conectados. Cada vez mais compraremos, nos comunicaremos e faremos negócio via web. Essa possibilidade não nos assusta mais como antigamente, uma vez que hoje até mesmo a compra de mês do supermercado pode ser feita on-line. A questão é que, para compras virtuais, não existem fronteiras. Assim, a concorrência das lojas físicas expande-se: lojistas de um determinado local já não concorrem mais com rivais locais ou do mesmo shopping, mas com qualquer outro vendedor do mundo que possua o mesmo produto. Não é à toa que lojas virtuais do exterior têm feito tanto sucesso entre nós. Por fim, o bem-estar, a indústria farmacêutica e da beleza tendem a continuar crescendo. A terceira idade de hoje, por exemplo, é muito mais ativa do que era no passado recente. Hoje as pessoas não almejam simplesmente viver mais, mas viver melhor, com melhor qualidade de vida. Assim, surgem oportunidades para oferecer produtos e serviços diretamente a essas pessoas. Não podemos esquecer que, qualquer que seja o problema, sempre existem possibilidades de avanço, seja nos negócios, na tecnologia ou na humanidade como um todo. TEMA 5 – O BRASIL NO CENÁRIO GLOBAL As trocas internacionais são crescentes ou estáveis? Se considerarmos o mundo como um todo, percebemos que o comércio internacional tem crescido continuamente nos últimos anos, o que é confirmado por estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ano após ano, o mundo tem comercializado mais, trocado mais e, como consequência, utilizado mais serviços logísticos. Mas e o Brasil, como fica nesse cenário? Será que aumentamos nossa participação no comércio global? Infelizmente, não. De acordo com a OMC, somos apenas o 25º exportador mundial. Esse dado nos mostra que, mesmo o Brasil sendo um país territorialmente extenso e promissor em diversas áreas, não conseguimos nos destacar no comércio internacional. A concorrência com outros países mais eficientes, com melhor infraestrutura e apoio às exportações, tem dificultado a atuação das empresas brasileiras. Um dos maiores responsáveis pelo nosso desempenho ruim é a burocracia. O Brasil possui mais de 3.600 normas de 10 comércio exterior, fazendo o país perder em competitividade e afugentando os empresários locais da atuação global. Perdemos, então, competitividade e participação no mercado global, por pura desorganização. Essa desorganização do governo e dos entes do setor público é o maior dos entraves ao crescimento do país. Nossa infraestrutura é outro problema. O Brasil é altamente dependente do transporte rodoviário, e os outros modais precisam de urgente atenção: Os modais brasileiros em geral apresentam problemas e precisam de investimentos do governo para melhoria e possível adequação das suas deficiências. O sistema rodoviário, o mais utilizado no país, enfrenta situação ruim fora dos eixos das grandes capitais. As estradas são precárias e não oferecem segurança ao transporte. O sistema adotado para as privatizações dos pedágios acabou por onerar o transporte, deixando o custo dos fretes mais alto. (Barboza, 2014) E quando pensamos em ferrovias, esses dados são ainda mais alarmantes. Existem obras inacabadas por todo o país, muitas delas sem projeto, que já drenaram uma quantidade imensa de dinheiro público e até agora estão longe de sua conclusão. 11 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. In: _____. (Org.). Internacionalização de empresas: teorias, práticas e casos. São Paulo: Atlas, 2009. p. 5-58. BARBOZA, M. A ineficiência da infraestrutura logística do Brasil. Revista Portuária: Economia e Negócios, Itajaí, 23 set. 2014. Disponível em: <http://www.revistaportuaria.com.br/noticia/16141>. Acesso em: 22 ago. 2019. BELL, M.; PAVITT, K. The development of technological capabilities. In: Haque, I. U. (Ed.). Trade, technology and international competitiveness. Washington, DC: The World Bank, 1995. p. 69-102. BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. 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