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DESCRIÇÃO O conceito de Psicomotricidade, a descrição das áreas de aplicação de sua abordagem e a sistematização de suas práticas e principais componentes. PROPÓSITO Compreender o conceito e a origem da Psicomotricidade a fim de apresentar conhecimentos estruturantes de sua prática como as áreas de atuação, o processo de estimulação para o desenvolvimento, os elementos de sua prática e a aplicação no ambiente terapêutico e educacional. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever conceitos de Psicomotricidade atual e ao longo de seu percurso histórico MÓDULO 2 Identificar as áreas de atuação da prática psicomotora e o emprego dos conceitos de Psicomotricidade no desenvolvimento humano MÓDULO 3 Reconhecer os elementos básicos de organização da prática psicomotora INTRODUÇÃO Existem perguntas que desencadeiam o desenvolvimento do nosso estudo: por que conhecer a Psicomotricidade? O que ela nos oferece como ciência para a construção de uma prática? Quais são seus objetivos? De onde ela surgiu? Serão apresentados conceitos iniciais referentes ao campo de conhecimento da Psicomotricidade, compreendendo tal ciência como fundamental para a contribuição aos atendimentos de indivíduos com desenvolvimento típico, atípico e acometidos por debilidades temporárias ou permanentes. A importância desse conteúdo está fundamentada no fato de que devemos entender de maneira objetiva como a Psicomotricidade é aplicada no atendimento educacional e terapêutico em diversos ambientes. Será descrito o conceito da Psicomotricidade com base na definição indicada pela Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP) e serão apontados os principais marcos ocorridos no percurso do surgimento e da evolução de tal ciência e prática. Isso permitirá uma compreensão mais detalhada a respeito de aplicação da Psicomotricidade nas mais diversas áreas de atuação, indicando seus recursos e suas estratégias mais comuns, em uma abordagem prática para obtenção da melhor promoção do desenvolvimento humano. MÓDULO 1 Descrever conceitos de Psicomotricidade atual e ao longo de seu percurso histórico O QUE É PSICOMOTRICIDADE? É hábito das produções científicas apresentar o objeto de estudos intencionados, entretanto, vamos iniciar nosso percurso com uma pequena conversa sobre Psicomotricidade. Vamos compreender a Psicomotricidade em um contexto mais recente, uma vez que a evolução tecnológica e científica, às quais estamos submetidos na contemporaneidade, influenciam sobremaneira as práticas educativas, clínicas e terapêuticas. Uma das ciências que mais tem apresentado crescimento nos últimos tempos são as Neurociências, que têm orientado de forma significativa transformações nas práticas referidas. Inúmeras perguntas são necessárias para a construção do nosso conhecimento, o qual, orientado por um princípio definido pela própria Neurociência, se estrutura de forma mais eficiente a partir de questionamentos, lacunas, dúvidas e curiosidade. Fonte: Olga Strelnikova/Shutterstock O que é Psicomotricidade? O crescimento conceitual da Psicomotricidade tem sido expressivo nos últimos tempos, somado ainda ao fato de sua regulamentação ter sido alcançada em 03 de janeiro de 2019, após uma grande luta. O recente reconhecimento e a consequente regulamentação da Psicomotricidade como categoria profissional impulsionaram uma revolução significativa em seu campo de conhecimento. Houve grandes avanços na estruturação de delimitações importantes para a normatização de sua prática como: Elaboração do currículo mínimo para a implantação de cursos de graduação Validação de protocolos de avaliação Definição dos campos de atuação de acordo com uma estrutura legislativa Embora sua regulamentação seja recente, a Psicomotricidade é significativamente antiga como abordagem de reabilitação, de terapia e educativa em âmbito mundial. É de conhecimento geral a importância dessa prática aplicada à promoção do desenvolvimento humano nos diversos ambientes. O que é Psicomotricidade? De acordo com a ABP (2012), podemos apresentar sua definição como: [...] A CIÊNCIA QUE TEM COMO OBJETO DE ESTUDO O HOMEM ATRAVÉS DO SEU CORPO EM MOVIMENTO E EM RELAÇÃO AO SEU MUNDO INTERNO E EXTERNO, BEM COMO SUAS POSSIBILIDADES DE PERCEBER, ATUAR, AGIR COM O OUTRO, COM OS OBJETOS E CONSIGO MESMO. ESTÁ RELACIONADA AO PROCESSO DE MATURAÇÃO, ONDE O CORPO É A ORIGEM DAS AQUISIÇÕES COGNITIVAS, AFETIVAS E ORGÂNICAS. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (ABP, 2012). De maneira simples, podemos organizar a definição de Psicomotricidade como: Psicomotricidade é a ciência que tem por objeto de estudo o homem, por meio do seu corpo em movimento, das relações consigo mesmo, com os objetos, com os outros e com o ambiente, entendendo o corpo como a fonte das aquisições cognitivas motoras e afetivas, assim como o meio que possibilita a expressão e a relação do sujeito. Entendendo melhor essa definição, vamos trabalhar inicialmente com a compreensão de cada conceito embutido nestas palavras. Iniciamos com a compreensão de que Psicomotricidade é uma expressão complexa que contém dois componentes. De uma maneira intencional e essencialmente didática, podemos identificar o componente mental (PSICO) e o componente corporal (MOTRICIDADE). É importante ressaltar que a divisão apresentada entre PSICO e MOTRICIDADE se estabelece unicamente para uma compreensão didática, uma vez que sua concepção é a de que esses componentes são inseparáveis, indissociáveis. COMPONENTE MENTAL (PSICO) Refere-se aos aspectos mentais, portanto, cognitivos e afetivos da formação do ser humano. javascript:void(0) COMPONENTE MOTOR (MOTRICIDADE) Refere-se aos aspectos orgânicos, portanto, biológicos e motrizes do sujeito. Fonte: Portal de Educação a Distância Ambos os componentes estão conectados a uma mesma expressão, o que fortalece a ideia de que realmente são indissociáveis, ou seja, um indivíduo é constituído pela ação mútua entre sua psiquê e seu corpo. Desse modo, o indivíduo é composto por uma psiquê dotada de sensações, de reações biológicas, de movimento, de ações e por um corpo dotado de subjetividade, de expressão, de comunicação e de emoções. Assim, podemos definir o sujeito compreendido pela Psicomotricidade. Psico + Motricidade A Psicomotricidade utiliza eminentemente a estrutura corporal para promoção do desenvolvimento do sujeito, ou seja, o movimento corporal nas suas diversas características é o principal instrumento de trabalho estruturado nessa prática. É importante ressaltar que o movimento e a estrutura corporal especificamente não são entendidos de maneira isolada, e sim compreendidos nas relações possíveis de serem estabelecidas com: Outros indivíduos O ambiente Os objetos Indivíduos javascript:void(0) Consigo mesmo O corpo e o movimento estão presentes em um processo contínuo de relação com seus componentes pessoais internos e com os elementos que pertencem ao ambiente externo. Temos que ressaltar a especificidade de compreensão que a prática psicomotora possui a respeito do corpo, como uma estrutura que capta todas as informações advindas do meio, ou seja, todos os estímulos necessários para o seu desenvolvimento e, portanto, para o alcance adequado das aquisições inerentes ao desenvolvimento humano. O processo de “maturação” indicado na definição de Psicomotricidade apresentada anteriormente refere-se ao desenvolvimento neurobiológico, das estruturas que possibilitam a organização cada vez mais complexa das funções corporal, cognitiva e emocional. Fonte: Juan Aunion/Shutterstock É importante ainda entender que a promoção do desenvolvimento harmônico do sujeito e do seu autoconhecimento tem como essencialidade a capacitação do sujeito da percepção de si, da ação deste no mundo e de expressão por meio de suasrelações. A prática psicomotora objetiva a realização intencional da ação dos indivíduos no mundo, entendendo que o ser humano é composto segundo uma visão de globalidade. Segundo Lapierre e Aucouturier (1984), o sujeito deve ser compreendido na dimensão psíquica do seu corpo e na dimensão corporal do seu psiquismo, assim como devemos considerar a relação mútua entre a atividade psíquica e a função motora desse indivíduo. A Psicomotricidade compreende o movimento como uma atividade psíquica consciente, considerando a contínua integração da motricidade elevada ao nível do “desejar” e do “querer fazer”, ressaltando a intencionalidade do sujeito em sua ação por meio de seu corpo. A prática psicomotora, em suas diversas vertentes de atuação, deve ser realizada por profissionais devidamente habilitados, ou seja, exclusivamente por psicomotricistas. Entretanto, outros profissionais como professor de Educação Física, pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros podem fazer o uso de estratégias psicomotoras em sua prática, como especialistas. ATENÇÃO O psicomotricista é o profissional da área de saúde, terapia, reeducação e educação que pesquisa, avalia, previne e trata do homem na aquisição, no desenvolvimento e nos transtornos da integração somatopsíquico e da retrogênese (ABP, 2012). Fonte: Shutterstock Os sentidos. O público-alvo desta prática são crianças em fase de desenvolvimento, bebês de alto risco, crianças com dificuldade/atrasos no desenvolvimento global, pessoas portadoras de necessidades especiais: deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas, família e terceira idade. Os ambientes de atuação podem ser: creches e escolas especiais, clínicas multidisciplinares, consultórios, clínicas geriátricas, postos de saúde, hospitais e empresas (ABP, 2012). HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE O berço da Psicomotricidade foi a França, sob influência das ciências biológicas como Medicina, Psiquiatria, Neurologia, Neuropsiquiatria. Alguns personagens de tais ciências, como Wernick, em 1807, organizaram a ideia de que as disfunções corporais estavam relacionadas a causas psíquicas com o intuito de vencer um modelo anatômico e clínico. Iniciou então um movimento conceitual na busca de estabelecer relação entre aspectos de ordem psíquica e de ordem motora. Fonte: Wikipedia Ernest Duprè em 1907 começou a estabelecer uma relação estreita entre o psiquismo e a motricidade, apontando uma relação entre a habilidade motora e a deficiência mental sem causas neurológicas (paralelismo psicomotor). Fonte: Wikipedia Henri Wallon, em 1925, indicou uma relação entre comportamento tônico e os estados emocionais, buscando explicar que esses estados interferiam na estruturação do caráter do sujeito. Ele considerava o movimento como uma primeira relação do indivíduo com o meio. Fonte: Wikipedia Piaget, em 1936, entendia que o desenvolvimento infantil, organizado nos aspectos cognitivo, afetivo e moral, se estruturava a partir das ações sensório-motoras realizadas pelas crianças. Fonte: U.S. National Library of Medicine – Digital Collections Em 1936, Arnold Gesell elaborou uma escala do desenvolvimento infantil em faixas etárias. Tais conhecimentos foram sendo agregados de forma sensível ao que mais tarde seria o campo de conhecimento da Psicomotricidade. Fonte: CNAHES. Temos ainda a contribuição de George Heuyer que, em 1925, em sua prática de Psiquiatria infantil, usou o termo Psicomotricidade para apontar a relação entre o desenvolvimento da motricidade, da afetividade e da inteligência. Edouard Guilmain, por volta de 1935, criou o que foi denominado de exame psicomotor, com o principal objetivo de estruturar os programas de terapia com a inclusão de exercícios que desenvolviam a atenção, a educação sensorial e os trabalhos manuais. Fonte: Wikipedia Em 1911, Henry Head, estruturou trabalhos sobre o esquema corporal referenciados a partir de uma visão fisiológica. Fonte: Wikipedia Paul Schilder em 1941 organizou a concepção de imagem corporal sob uma visão teórica da Psicanálise. Fonte: Wikiwand Ajuriaguerra, em 1947, influenciado por Duprè, Wallon e Piaget, redefiniu os transtornos psicomotores, interligando o movimento consciente, intencional, as praxias e a relação desses com a ação do sujeito no mundo. Esse neuropsicólogo, na década de 50, com Diatkine e Lebovici, estruturou técnicas educativas com o objetivo de tratar os distúrbios psicomotores. Nesse período, no Hospital Henri-Rouselle, foi utilizada uma nova metodologia, onde foram apontados os grandes eixos da Psicomotricidade: Equilíbrio (esquerda/direita) Coordenação visomotora Organização espacial e temporal Esquema corporal Lateralidade Domínio tônico Em 1963, houve a oficialização da Psicomotricidade, com a certificação em reeducação psicomotora e a seguir, Jean Bergès, Renè Diatkine, Lebovici, Launay, Jolivet Melanie Klein, Donald Winnicott, René Spitz, Margaret Mahler, Willian Reich, Paul Schilder, Jacques Lacan, Maud Mannoni, René Zazzo, Sami-Ali, Françoise Dolto, por volta dos anos 70, fortaleceram a concepção do componente relacional da Psicomotricidade como fundamental na prática terapêutica. SAIBA MAIS Jean Bergès, neste período, criou uma técnica de diagnóstico e relaxação que promoveu uma influência para além da Psicanálise: análise bioenergética, Gestalt-terapia e psicodrama. André Lapierre, Bernard Aucouturier, Jean Le Boulch e Pierre Vayer, por volta dos anos 80, criaram a corrente de reeducação psicomotora eclética proveniente da educação física. Françoise Desobeau, Iann Beltz, Huget Bucher, Germaine Rossel, Fançoise Geromini e Giselle Soubiran criaram as abordagens terapêuticas psicomotoras. A partir dos anos 60, foi estabelecida uma relação estreita entre o corpo e o movimento na reabilitação, onde deficiências motoras, sensoriais e mentais eram trabalhadas por meio da integração corpo-mente com pouca referência ao termo Psicomotricidade. Foi constituída uma formação específica para o atendimento de determinadas deficiências, com incentivo a atividades eminentemente corporais, como: a ginástica rítmica, dança, jogos de dramatização e educação gestual. Marly Fróes realizou cursos na Itália e na França, organizando a partir de então atendimentos na ABBR e no Instituto Helena Antipoff, no Rio de Janeiro, oferecendo atendimento a deficientes e excepcionais com auxílio de Martha Lovisaro. Fonte: ABBR Em Belo Horizonte, em 1968, houve um avanço na adoção da reeducação psicomotora trazida do Instituto Claparèd e da Clínica Psiquê, onde a avaliação psicomotora fazia parte do diagnóstico psicopedagógico. Em São Paulo, foram aplicadas as Técnicas de relaxação Michaux, Le Bom Départ e de Théa Bugnet. Gruspun, em 1976, publicou o livro Distúrbios neuróticos da criança, que tratava dos distúrbios da Psicomotricidade. Antônio Lefebvre criou uma escala de avaliação do desenvolvimento psicomotor e, neste mesmo período, a Psicomotricidade foi incluída como disciplina na faculdade de Logopedia da UFRJ (atual Fonoaudiologia). O método Ramain foi criado em 1968 como a primeira formação no Brasil realizada por Simone Ramain, sob coordenação de Solange Thiers. Por volta dos anos 70, houve uma eclosão da Psicomotricidade no Brasil com a utilização de duas tendências: ABORDAGEM GENERALISTA Qualquer abordagem corporal era considerada uma prática psicomotora. ABORDAGENS BASEADAS EM LINHAS OU MÉTODOS ESPECÍFICOS Ramain, Le Boulch, Picq e Vayer, Hughett Bucher e Dália Costalat. SAIBA MAIS Nesta época, os métodos avaliativos também tinham grande importância, como os propostos por Ozeretsky, Huget Bucher e a escala de desenvolvimento infantil Gesell. Em 1976, Françoise Desobeau veio ao Brasil, a convite da Beatriz Saboya, e fundou a Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora (SITP), acarretando um marco significativo no avanço da prática psicomotora no Brasil. As técnicas utilizadascom o intuito utilitário para reeducação psicomotora, com abordagem mais específica em relação à debilidade, foram de modo gradativo substituídas pela terapia psicomotora, e de modo associado foram utilizadas abordagens com proposta educativa por meio de atividades espontâneas e livres, valorizando o jogo e o brincar, com utilização de objetos dinâmicos afetivos e de construção. Segundo Morizot (2010), devemos observar que a Psicomotricidade é compreendida como uma ciência, e uma atividade que considera o organismo de forma integral e possibilita a expressão da subjetividade do indivíduo, o que poderíamos também relacionar com a forma de compreensão do indivíduo de uma forma integral. Assim, o ato motor do sujeito é uma maneira de expressão de suas expressões e, portanto, um modo de comunicação de sua personalidade. Segundo esta ideia, descrita por Morizot, a criança percebida em sua ação lúdica fica envolvida em atividades em que vivencia uma possibilidade de projeção e simbolização. Tais atividades permitem o desenvolvimento da criança a construir representações e, portanto, o desenvolvimento das funções simbólicas a partir de elementos inconscientes. DICA O adulto que interage com a criança em uma proposta terapêutica pode desenvolver atividades com ações verbais e não verbais, que valorizam outras dinâmicas como escuta, olhar, toque, entre outros. Um dos elementos enaltecidos na prática psicomotora é a ação espontânea, pois neste tipo de atividade a criança é valorizada em seu desejo, o que lhe possibilita orientar suas ações mediadas por suas próprias escolhas, exercitando elementos importantes como: agressividade, desejos, emoções, motivação. Em 1977, Beatriz Sabóia torna-se titular da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, e foi realizado, em 1980, o primeiro congresso de Psicomotricidade no Brasil na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Foi criado ainda o estatuto de normas de admissão, critérios de titulação, elaboração de currículo básico e formação em Psicomotricidade no Brasil. SAIBA MAIS A partir de então, obtivemos o desenvolvimento da prática, da construção científica da Psicomotricidade atingindo sua regulamentação no ano de 2019, passando pela realização de Formações e institucionalização de cursos de graduação em Psicomotricidade. Durante os anos que se seguiram, houve um processo de implantação do curso de formação para psicomotricistas como a graduação e o processo de aquisição da titulação por meio do cumprimento do dossiê definido pela Sociedade Brasileira de Psicomotricidade com a determinação de requisitos obrigatórios, como: formação teórica, prática pessoal e profissional e supervisão. Em 1983, houve a implantação do curso de pós-graduação em Psicomotricidade no Instituto Brasileiro de Reabilitação por intermédio de Regina Morizot e, desde então, houve o surgimento de outros cursos de pós-graduação em diversas instituições. Finalmente, em 2019, aconteceu a tão esperada regulamentação da profissão de psicomotricista no Brasil. Nesta viagem na história da construção e surgimento da Psicomotricidade no Brasil, até os dias atuais, pudemos entender o quão complexa foi sua estruturação, oriunda de conhecimentos de advindos de áreas tão importantes para a compreensão do ser humano. Vamos continuar organizando a compreensão sobre a Psicomotricidade a fim de entendermos essa ciência em seu contexto aplicado, em seu significado prático, a ser apresentado no módulo 2. Esse significado organiza-se em torno da sistematização de uma proposta em prol do desenvolvimento do sujeito, dividido em três vertentes: EDUCAÇÃO PSICOMOTORA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA TERAPIA PSICOMOTORA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA Proporciona ao desenvolvimento harmônico do sujeito. REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA Atua no tratamento de sintomas físicos ou psíquicos, onde há um desenvolvimento atípico. TERAPIA PSICOMOTORA Tem como proposta a intervenção nas instâncias psíquicas por meio de abordagens e dinâmicas corporais. A imagem a seguir reúne a trajetória da Psicomotricidade. Fonte: O autor O desenvolvimento da psicomotricidade ao longo dos anos. TRATANDO DOS CAMINHOS PARA FORMAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE ALÉM DA GRADUAÇÃO VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. IDENTIFIQUE A QUESTÃO QUE OFERECE COERÊNCIA EM RELAÇÃO AO CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE. A) A ação da Psicomotricidade está voltada essencialmente para a prática motora. B) A estimulação psicomotora mantém relação direta com a estimulação precoce. C) A Psicomotricidade não estabelece a promoção do desenvolvimento infantil. D) A educação psicomotora promove uma ampliação da qualidade das aquisições fundamentais para aprendizagens futuras. E) A Psicomotricidade não estabelece relação com o público infantil, sendo uma atividade essencialmente destinada à reabilitação de idosos frágeis. 2. SÃO ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A PSICOMOTRICIDADE: APRENDIZAGEM, EXPERIMENTAÇÃO CORPORAL, GESTO ESPONTÂNEO, EXPRESSÃO CORPORAL. RESUMIDAMENTE, A PSICOMOTRICIDADE: A) Busca compreender o indivíduo de forma integral: cognição e afeto. B) Entende o movimento como único elemento importante para o desenvolvimento. C) Percebe o corpo como fonte de todas as aquisições inerentes ao desenvolvimento humano. D) Observa o indivíduo de forma objetiva, onde a sua motricidade não estabelece relação com a sua formação cognitiva ou afetiva. E) Percebe o desenvolvimento humano de forma dissociada em relação ao dualismo mente/corpo. GABARITO 1. Identifique a questão que oferece coerência em relação ao conceito de Psicomotricidade. A alternativa "D " está correta. As demais opções apresentam incoerências em relação aos conceitos apresentados pela Psicomotricidade. A alternativa “A” apresenta a psicomotora voltada essencialmente para a prática motora, mas essa prática se preocupa com a formação integral do indivíduo, portanto, suas funções motora, cognitiva e socioafetiva. A opção “B” indica a prática como apresentando relação direta com a estimulação precoce, o que não consiste em uma afirmativa correta, pois há um respeito ao desenvolvimento infantil no que diz respeito à oferta dos estímulos em plena adequação ao estágio de maturação da criança. A opção “C” apresenta um engano quando aponta que a Psicomotricidade NÃO promove o desenvolvimento infantil. E a alternativa “E” indica que a Psicomotricidade é uma abordagem para idosos, o que é uma inverdade. 2. São elementos fundamentais para a Psicomotricidade: aprendizagem, experimentação corporal, gesto espontâneo, expressão corporal. Resumidamente, a Psicomotricidade: A alternativa "C " está correta. Esta afirmação é coerente com os pressupostos da Psicomotricidade. As demais alternativas estão incorretas porque apresentam enganos. A opção “A” indica que a visão integral do indivíduo é composta apenas de cognição e afeto, não apontando os aspectos social e afetivo. A opção “B” aponta equivocadamente que a Psicomotricidade desmerece a aprendizagem dos conteúdos em detrimento do movimento. A “D” é uma negação falsa. A “E” dissocia o indivíduo que deve ser entendido de forma una. MÓDULO 2 Identificar as áreas de atuação da prática psicomotora e o emprego dos conceitos de Psicomotricidade no desenvolvimento humano A PRÁTICA PSICOMOTORA As estratégias utilizadas na prática psicomotora se organizam por meio de abordagem corporal, ou seja, as estratégias elencadas se utilizam da estrutura corporal para a promoção do desenvolvimento do sujeito. ATENÇÃO A prática psicomotora, portanto, utiliza o corpo em movimento para a promoção do desenvolvimento humano. Como apontado, a prática psicomotora pode ser aplicada em diversos ambientes: AMBIENTE REEDUCATIVO No ambiente reeducativo, a reeducação psicomotora atua na perspectiva de minimizar os danos causados por uma lesão ou por um sintoma expresso. É uma prática que busca a promoção de qualidade de vida por meio da atuação desse sujeito com mais expressividade, autonomia e qualidadenas atividades de vida diária. Atua na busca de uma adaptação qualitativa da funcionalidade desse sujeito aos hábitos de vida diária. AMBIENTE TERAPÊUTICO No ambiente terapêutico a terapia psicomotora desenvolve-se por meio de abordagem corporal, buscando intervir nas instâncias psíquicas, nas elaborações psíquicas instaladas no sujeito. Elas podem ser reestruturadas por meio da mobilização corporal. Na prática terapêutica, faz-se uso de várias estratégias como manipulações, trabalho respiratório, massagem, dramatizações, jogos espontâneos, estimulação sensorial, entre outros mecanismos com a utilização da capacidade sensorial do corpo, na busca de uma associação com as instâncias psíquicas do sujeito. AMBIENTE EDUCACIONAL Na esfera educacional, a educação psicomotora atua no viés preventivo, ou seja, objetiva a construção do desenvolvimento harmônico do sujeito, com o intuito de evitar o surgimento de determinados transtornos possíveis de serem contornados por meio de uma organização psicomotora qualitativa e antecipatória. As estratégias utilizadas na prática educativa da Psicomotricidade são estratégias que se organizam em torno de jogos de ações corporais livres, atividade espontânea, jogos cognitivos, jogos corporais, jogos dramáticos, exploração do ambiente, exploração do próprio corpo, exploração do corpo dos outros, exploração de objetos e experimentação desses objetos. Fonte: O autor. Área de atuação da Psicomotricidade. VERTENTES DE ABORDAGEM DA PSICOMOTRICIDADE O conjunto da prática psicomotora reúne uma infinidade de ações corporais que venham a proporcionar a descoberta de possibilidades para construção: Da consciência do próprio corpo Da consciência de si De uma possibilidade de expressão por meio do seu corpo de forma harmônica A tríade: consciência do próprio corpo, consciência de si e capacidade de expressão por meio do seu corpo é construída de acordo com a estruturação denominada por Vitor da Fonseca de noção de corpo. NOÇÃO DE CORPO É essencial para o desenvolvimento harmônico do sujeito porque é meio pelo qual o indivíduo consegue perceber seu corpo como um todo e estar consciente de suas partes. É por meio da noção de corpo ainda que este consegue realizar suas ações de interação com o ambiente, com os outros, com os objetos e consigo mesmo. Por meio da ação e relações referidas, o sujeito constrói a percepção e a consciência do próprio corpo, a consciência de si, dos seus processos corporais e psíquicos e se torna capaz de expressar os seus desejos, as suas intenções, as suas demandas e suas necessidades em adequação ao ambiente e a sua individualidade. javascript:void(0) A prática psicomotora respeita alguns princípios básicos e fundamentais para a sua estruturação, esses princípios são: VALORIZAÇÃO DA ATIVIDADE ESPONTÂNEA A Psicomotricidade compreende inicialmente que a atividade espontânea é fundamental para o desenvolvimento da criança em seus aspectos formadores (cognição, motricidade e afetividade). GARANTIA DO PRAZER NA PRÁTICA CORPORAL Parte do princípio de que a atividade espontânea, o prazer, o desejo e a individualidade são elementos que devem coexistir continuamente na prática corporal com vistas ao desenvolvimento integral, portanto, são concebidos como elementos indissociáveis na prática corporal. RESPEITO À INDIVIDUALIDADE Segundo os princípios da Psicomotricidade, a prática corporal se estrutura a partir de uma organização prévia, definida a priori, e possui uma idealização antecipatória. A partir dessas ações, é possível observar o que o indivíduo possui enquanto demanda e necessidade. Levando em conta os elementos trazidos pelo paciente/aluno, a prática é então efetivada. INCENTIVO À EXPRESSÃO DO DESEJO DA CRIANÇA A prática psicomotora é construída a partir de um momento de escuta da criança. São feitas observações quanto aos seus desejos, às suas demandas, ao seu estado emocional, ao seu estado corporal momentâneo, enfim, às suas necessidades. A partir dessa escuta, a proposta psicomotora se constrói em plena comunhão de ideias, conhecimento teórico, técnico- conceitual e de necessidades. Como apontado, o desenvolvimento, segundo os conceitos psicomotores, é composto por uma compreensão do indivíduo em todos os seus aspectos. Sendo assim, a proposta de desenvolvimento oferecida a esse indivíduo se dá através do movimento, isto é, através de uma abordagem corporal. No entanto, apesar de essa abordagem ser corporal, sua ação é muito mais ampla, pois acaba envolvendo também elementos de ordem emocional e cognitiva. E seu objetivo é a promoção do desenvolvimento harmônico do indivíduo. A Psicomotricidade entende que o desenvolvimento psicomotor ocorre de maneira natural e gradativa, e que sofre interferência de fatores que podem ser categorizados em externos e internos, ou ainda em práxicos e subjetivos. FATORES EXTERNOS São fatores que interferem no processo de desenvolvimento psicomotor relacionados às interferências do “outro” e do meio. FATORES INTERNOS São os que se relacionam com as necessidades afetivas, fisiológicas e intencionais do indivíduo. PRÁXICOS De modo geral, são os movimentos, a manipulação de objetos. SUBJETIVOS São relacionados aos desejos e às relações do indivíduo. O processo global do desenvolvimento psicomotor compõe-se de elementos pertencentes às várias instâncias da formação do indivíduo, são eles: Estrutural (neuroanatômicos) Socioafetiva (relacionais/simbólicos) Cognitiva (conceituais) Esse desenvolvimento demanda estimulação para se estruturar de forma harmônica. Essa estimulação, por sua vez, ocorre através de atitudes diversas na relação da criança com a mãe, em seguida, com o pai, avós etc. e, posteriormente, nas suas experiências motoras e afetivas com o mundo. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: tartanparty/Shutterstock ATENÇÃO O desenvolvimento psicomotor compreende todo o processo maturacional da estrutura anatomoneurológica e emocional da criança, desde seu primeiro movimento reflexo, passando por seus gestos, até os movimentos mais complexos e intencionais. Os diferentes processos que integram o desenvolvimento psicomotor não são fenômenos separáveis. Por conta disso, a maturação neurológica, o desenvolvimento do esquema e da imagem corporal, os processos de lateralização, as coordenações, o equilíbrio, o ritmo, e, até mesmo, o desenvolvimento cognitivo e da linguagem devem ser abordados em seu conjunto (THOMPSON, 2000). A prática psicomotora se organiza com base na exploração do corpo, dos objetos, do ambiente, na descoberta, na provocação de curiosidade e no prazer. O momento inicial é estruturado em um processo de escuta dos indivíduos envolvidos na prática, garantindo e valorizando uma construção espontânea, onde a individualidade de cada sujeito envolvido é respeitada, a criatividade é provocada, e o prazer é garantido. Fonte: tartanparty/Shutterstock Desse modo, podemos identificar que, na realização da prática psicomotora, o sujeito se percebe como autor da sua ação e da sua construção. Essa ciência se preocupa com a construção da noção de corpo a partir das conquistas de consciência corporal, consciência de si e expressão harmônica de si. A construção da percepção do próprio corpo ocorre por meio da estruturação do que chamamos de organização psicomotora, a qual é constituída por sua vez pelos aspectos psicomotores, que são: lateralidade, equilíbrio, coordenação motora ampla, coordenação motora fina, noção de espaço, noção de tempo, esquema corporal e imagem corporal. Esses elementos constituem a base da movimentação corporal valorizada na prática psicomotora. Os movimentos são realizados segundo a combinação desses aspectos. EXEMPLO Quando uma criança corre, está realizando uma organização corporal que necessita e se utiliza de: coordenação motora, equilíbrio, lateralidade, noção de espaço, noção de tempo, esquema e imagem corporal.Coordenação motora porque ela precisa organizar os seus músculos de forma harmônica e organizada em contração e relaxamento dos diferentes grupos musculares para que a realização do movimento seja eficiente. A criança também precisa perceber o espaço necessário para deslocar o seu corpo durante a realização do movimento que deve ser organizado em uma posição inicial, intermediária e final, ou seja, é necessária uma sequência de posições para sua realização harmônica, uma percepção espacial e temporal do movimento. Fonte: O autor Os aspectos psicomotores. Ao correr, a criança precisa utilizar os dois lados do seu corpo de maneira harmônica (lateralidade) para que o movimento seja eficiente. Precisa perceber o seu corpo e as suas partes distintas (esquema corporal) para organizá-las na realização motora, precisa ainda se perceber capaz (imagem corporal) de realizar a corrida, para efetivamente fazê-la. Por fim, a criança deve organizar seu corpo em uma determinada postura dinâmica, portanto, em equilíbrio para realização harmônica do movimento. Tudo isso se faz necessário para que o movimento seja realizado. Estes são os aspectos psicomotores e, se pararmos para pensar, a nossa realização corporal vista de uma forma mais ampla demanda continuamente e incessantemente desses elementos para a atuação no mundo. Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock Nada realizamos sem a participação do nosso corpo, é por meio dele que nossa existência é possível. É tácito o conhecimento a respeito da prática psicomotora quanto ao desenvolvimento integral do sujeito. É importante ressaltar que essa prática mantém a especificidade de utilizar uma abordagem que favoreça o desenvolvimento por meio da estimulação do conjunto de receptores periféricos. Tais receptores são distribuídos por todo o corpo, são estruturas capazes de captar estímulos sensoriais diversos, das diversas categorias existentes no corpo como um todo. Fonte: Tomsickova Tatyana/Shutterstock Esta característica vai ser tratada de forma mais específica no próximo módulo, entretanto, temos que compreender inicialmente a especificidade da prática psicomotora aos aspectos da realização motora integrada ao aspecto cognitivo e ao aspecto afetivo. Cabe-nos perguntar como organizamos o nosso movimento, o nosso pensamento e como produzimos os nossos sentimentos a partir do processamento das nossas emoções. O que nos orienta para a compreensão mais detalhada a respeito desse processo, que é organizado na integração dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento humano, as Neurociências. Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock Temos de entender que a realização do movimento tem o seu controle em bases neurais, assim como a cognição, que também apresenta controle neural para a sua organização, e a expressão das emoções, que, de modo, semelhante depende da ativação das mesmas estruturas neurais. Desse modo, podemos observar que esses três elementos estão conectados a partir do centro de processamento de cada um deles: as áreas corticais envolvidas no comando ou controle dessas expressões. São áreas comuns e isso pode ficar mais claro quando entendemos que o movimento é realizado a partir de um processo de percepção e planificação, a cognição depende de uma organização tônica para ser constituída, e as emoções são presentes, uma vez que são ativados neuroquímicos responsáveis por organizar nossos estados emocionais quando nos movimentamos e utilizamos nosso pensamento. A FUNÇÃO COGNITIVA E A FUNÇÃO MOTORA Trataremos da relação entre as funções cognitivas e as funções motoras. De um modo geral, elas ocorrem segundo um mesmo roteiro. A captação do estímulo, que se dá na estrutura corporal, é transmitida ao cérebro onde é processada e associada a uma informação anteriormente adquirida e onde é programada uma nova resposta, habitualmente, efetuada pelo corpo. ATENÇÃO A estrutura corporal é um ambiente de trocas e composição com informações já existentes, não é apenas um local de passagem. As mesmas estruturas envolvidas na percepção, no movimento corporal ou na manipulação dos objetos são também responsáveis pela conceitualização e pelo raciocínio. Contamos com o fato de que o desenvolvimento do indivíduo se dá por meio do acúmulo dos registros provenientes das vivências, deste modo, podemos compreender a experiência como o conjunto de informações de natureza. Perceptual Motora Emocional Social Linguística Podemos apontar características mais específicas proporcionadas por tais experiências, como a capacidade de desenvolvimento de esquemas imagéticos, mapas perceptuais, percepção de deslocamento, equilíbrio, formas, construção de representações estruturais, orientações e muitos outros. Fonte: myboys.me/Shutterstock O corpo deve ser compreendido e considerado como o centro de recepção das informações necessárias para a construção dos circuitos organizadores da capacidade cognitiva que, por sua vez, deve ser considerada como componente da estrutura corporal e da realização motora. Portanto, o corpo deve ser considerado como o centro da experiência e da cognição humana. De maneira inversa, a aprendizagem humana é consequência da experiência corporal e motora. Aprendemos porque agimos, e agimos por meio de nossos pensamentos. ATENÇÃO A ação humana é uma atividade de adaptação ao mundo que envolve o indivíduo, o que gera a aprendizagem que decorre dos movimentos, dos pensamentos e das sensações. A nossa motricidade representa um comportamento, uma ação intencional, planificada, e não apenas um ato mecânico, ou seja, somos possuidores de uma motricidade voluntária que é dependente de nossa vontade e de nossa antecipação. O movimento humano é decorrente de uma organização biológica e de uma estrutura neurológica, que envolvem planejamento, organização prévia, cálculo, portanto, cognição e efetivação do movimento, realização motora, ação propriamente dita. Fonte: DGLimages/Shutterstock A evolução humana nos permitiu a aquisição de uma postura e de uma marcha denominada bípede, ou seja, nós nos apoiamos e nos deslocamos sustentados verticalmente em relação ao eixo central de nosso corpo. Nossa evolução enquanto espécie também nos possibilitou a especialização de movimentos finos em partes específicas de nosso corpo, como em nossas extremidades. Fomos dotados do que chamamos de motricidade fina, que são movimentos com controle detalhado e minucioso que nos capacita à realização de movimentos delicados e precisos. Tal motricidade é expressa em movimentos das mãos, dos pés, dos dedos, da língua, da boca, da faringe e da laringe, o que nos permite uma manipulação dos objetos de modo minucioso e preciso, além da capacidade de produção da linguagem oral. Fonte: UvGroup/Shutterstock Essas características demandam uma alta capacidade no que se refere ao controle e execução. Portanto, é necessária uma maior integração entre a motricidade e a cognição indicando uma capacidade sensorial, perceptiva e psicológica em plena conexão. Desse modo, entendemos que a motricidade humana voluntária depende de nossa vontade e envolve procedimentos motores e cognitivos em plena interação, como a identificação da situação externa, a seleção de resposta, a intenção, a tomada de decisão, o planejamento da resposta, a execução do movimento e a verificação e estimação das consequências e a reorganização do movimento. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA PROMOVE: A) Readaptação funcional B) Um trabalho individualizado na busca de elaborações psíquicas de elementos subjetivos C) O desenvolvimento harmônico de acordo com uma perspectiva preventiva D) O atendimento exclusivamente a crianças deficientes E) Uma atividade que substitui as disciplinas formais da escola, pois desenvolve a cognição 2. EM RELAÇÃO AOS ASPECTOS PSICOMOTORES: A) Devem ser estimulados por meio de estratégias que os abordem isoladamente. B) Podem ser estimulados por meio deestratégias que os abordem isoladamente. C) São estimulados por meio de estratégias psicomotoras onde estes são abordados de forma associada. D) Os aspectos psicomotores podem ser estimulados de forma isolada ou associada. E) Não há possibilidade de relacionar os aspectos psicomotores. GABARITO 1. A educação psicomotora promove: A alternativa "C " está correta. Apresenta uma afirmação correta de acordo com os pressupostos psicomotores. Dentre as práticas psicomotoras, temos ainda: a reeducação psicomotora e a terapia psicomotora. 2. Em relação aos aspectos psicomotores: A alternativa "C " está correta. Apresenta uma afirmação correta e completa a respeito da forma como devem ser trabalhados os aspectos psicomotores. As demais alternativas estão erradas por apresentarem inconsistência conceitual em suas afirmações: A alternativa “A” está errada na medida em que afirma que os elementos psicomotores devem ser trabalhados de forma independente, a alternativa “B” está errada na medida em que afirma que os elementos psicomotores podem ser trabalhados de forma independente, a opção “D” faz uma afirmação sem sentido e a alternativa “E” indica que os elementos psicomotores são dissociáveis. MÓDULO 3 Reconhecer os elementos básicos de organização da prática psicomotora A PRÁTICA PSICOMOTORA E O MOVIMENTO Outro elemento importante na compreensão da visão contemporânea da prática psicomotora é a conexão estabelecida com os conhecimentos proporcionados pela Neurociência, na definição da motricidade como algo organizado em plena comunhão com a nossa cognição e a nossa emoção. É necessário considerar que as áreas corticais que organizam a nossa motricidade também são responsáveis por nossas funções cognitivas e emocionais, portanto, são funções humanas indissociáveis. ÁREAS CORTICAIS Córtex cerebral = É a camada mais superficial do cérebro. Pode ser subdividido em: lobo frontal, lobo occipital, lobo parietal e lobo temporal. javascript:void(0) Fonte: Chinnapong/Shutterstock Além da condição de comunicação entre a motricidade e a cognição, temos a orientação científica, também indicada pela Neurociência, que a motricidade está intimamente conectada às nossas instâncias emocionais. Essa relação íntima entre motricidade, cognição e emoção pode ser entendida de maneira clara por meio de uma relação simples apresentada no exemplo de um movimento como o salto. Quando uma criança recebe orientação para realização de um salto, ela recebe um estímulo auditivo, como a ativação de suas estruturas corticais para identificar o estímulo audível. Diante de tal decodificação, remete-se a imagens, a lembranças que se referem àquele conceito de salto relacionado ao que foi emitido por meio do estímulo auditivo. Fonte: Robert Kneschke/Shutterstock Saltar explorando material diversificado. Essas áreas cognitivas ativam uma representação daquilo que foi solicitado a transformar em planificação da ação. Portanto, para a organização do movimento como resposta, é necessária a percepção das estruturas corporais envolvidas no futuro movimento a ser realizado como a percepção do espaço, o cálculo de sua execução de movimento e vários outros elementos. A criança põe-se a realizar o movimento por meio da emissão dessa informação a seus órgãos efetores. Nesse momento, ela é ativada emocionalmente pelo prazer da realização motora, ou desprazer pelas imagens que são geradas. A partir dessa realização, há uma ativação de lembranças e de uma série de outras instâncias emocionais (como o medo ou a prontidão) para realização motora, que são elementos emocionais presentes na forma de usar o nosso corpo, nas nossas ações cotidianas. Os elementos emocionais presentes na ação corporal são considerados na prática psicomotora como essenciais, uma das características específicas dessa prática é justamente enaltecer a integralidade da formação humana. Fonte: Jimmy Tran/Shutterstock Equilíbrio associado a sensações de coragem e medo. A psicomotricidade, relacionada à concepção da Neurociência, indica que a praxia humana (movimento intencional) é organizada em um conjunto de interações denominada de neuromotricidade, ou seja, uma organização que se inicia desde a captação de estímulos e finaliza com a efetivação de uma realização motora. De modo mais detalhado, podemos entender a realização motora da seguinte forma: um estímulo é captado por qualquer um de nossos receptores sensoriais, sejam auditivos, visuais, somatossensoriais, vestibulares ou proprioceptivos. Esses estímulos captados são traduzidos em linguagem elétrica (despolarização da membrana do receptor periférico específico) e química (transmissão sináptica), são transmitidos aos centros nervosos responsáveis (coluna vertebral, no caso dos movimentos reflexos, e movimentos automatizados; e córtex, no caso dos movimentos voluntários); uma vez no córtex, essa mensagem é decodificada, processada, associada a alguma memória anteriormente registrada. A partir daí, é elaborada uma resposta adequada ao estímulo recebido. SAIBA MAIS Afirmam Vayer e Toulouse (1985) que a criança, no decorrer de sua ação e interação com o meio ambiente, potencializa sua capacidade de apreensão do mundo, pois utiliza, de maneira cada vez mais complexa, seus receptores. Essa utilização possibilita que a sensação original se transforme, através do sistema nervoso, em informação significante. A estimulação sensorial tratada na prática psicomotora compreende toda e qualquer informação que possa ser oferecida ao corpo captada por nossos receptores e processada pelas estruturas do sistema nervoso responsáveis pela integração dessas informações. SAIBA MAIS O autor Lundy-Ekman (1998), indica que o encéfalo no adulto possui áreas corticais que se ajustam continuamente a partir das experiências na medida em que a nova informação se transforma em memória, alterando também a maneira de seu processamento, fazendo com que sejam adquiridas novas funções. À medida que as experiências são vividas, os indivíduos organizam o que o autor chamou de mapas funcionais no córtex cerebral, proporcionados pelos registros, expressos nas sinapses, decorrentes da estimulação oriunda dos estímulos sensoriais durante a ação muscular. O PROCESSO NEURAL DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL NA PRÁTICA PSICOMOTORA A PRÁTICA PSICOMOTORA E A INTEGRAÇÃO SENSORIAL Fonte: O autor Esquema 1. O caminho percorrido pela informação sensorial inicia-se nos canais sensoriais, finalizando no novo padrão de resposta. A prática psicomotora se organiza baseada nesse processo, denominado de integração sensorial. É uma prática que pode ser caracterizada como “multissensorial” uma vez que valoriza todas as capacidades sensoriais do indivíduo como fundamentais para construção da noção de corpo e da estrutura psicomotora. O desenvolvimento proporcionado pela prática psicomotora por meio dos estímulos sensoriais associados e diversos é fundamental para a qualidade da organização psicomotora da criança uma vez que valoriza atividades que estimulam a estrutura corporal de forma enriquecida. O corpo age, ou seja, oferece realizações de acordo com o que ele recebe do meio em que está inserido. Portanto, sem o processo de integração sensorial, o corpo estará incapacitado de realizar respostas, de reagir ao ambiente. Fonte: Photographee.eu/Shutterstock Essa integração das informações sensoriais é decorrente de um processamento das informações recebidas pelos sensores e associada a informações preexistentes, construídas e armazenadas a partir de experiências anteriores. Com isso, é gerado um novo padrão de resposta, um aprimoramento alcançado. Em outras palavras, é acrescida ao corpo uma nova possibilidade de reação e de ação no ambiente. SAIBA MAIS A função de integração das aferências dos estímulos sensoriais captados de forma contínua, permite que a motricidade voluntária e intencional seja possível, pois os circuitos neurais envolvidosnessa função controlam e supervisionam o movimento. A motricidade voluntária, diferente da motricidade reflexa e da motricidade automatizada, é muito solicitada na perspectiva do trabalho da Psicomotricidade, uma vez que a prática psicomotora intenciona a aquisição da noção de corpo e a tomada de consciência dos movimentos. Proporcionar ao indivíduo a percepção de seu corpo e de sua realização motora qualifica a sua ação e promove também uma melhor possibilidade de expressão de suas intenções e de seus desejos. A tomada de consciência de nosso próprio corpo, resultante do conjunto de experiências vividas, mobiliza estruturas anatômicas, fisiológicas, mecanismos sociais, afetivos e culturais. A motricidade humana, de acordo com tais características, age de acordo com a sua organização interna e não é definida pela mera reação a algum estímulo externo. É um processo reflexivo, antecipatório, planejado, portador de consciência, sensibilidade e cognição. A capacidade cognitiva e perceptual nos permite tomar decisões a respeito da nossa capacidade de expressão e utilidade de nossos gestos e ações. Estes, por sua vez, ampliam nossa capacidade de comunicação e interação com o ambiente que nos cerca, sendo possível maior aprendizagem. Entendemos que as interações são valorizadas nesta prática, as interações corporais, sociais e afetivas são elementos fundamentais para a constituição do desenvolvimento psicomotor. Este princípio encontra ressonância nas teorias de autores de importância expressiva na ciência do desenvolvimento humano, como Piaget, Vigotsky e Wallon. SAIBA MAIS Piaget nos aponta a importância da experimentação sensório-motora para a estruturação da cognição da criança. Wallon nos aponta como essencial a experiência tônica e afetiva na construção da personalidade e pensamento da criança. Vigotsky indica as relações sociais como desencadeadoras do desenvolvimento da linguagem, portanto, da inteligência dos indivíduos. Desse modo, passamos a entender o lugar que as relações ocupam na promoção do desenvolvimento na prática psicomotora. Essa prática destaca alguns aspectos fundamentais nas construções das relações, como enaltecer a escuta em relação às necessidades e demandas alheias, assim como respeitar os aspectos individuais de construção simbólicas. Em situações de conflito, o olhar para a subjetividade envolvida nos comportamentos torna-se essencial. Segundo sua perspectiva teórica, a Psicomotricidade orienta que devem ser considerados alguns aspectos importantes, como ampliar as observações a respeito dos sujeitos envolvidos no processo, buscando identificar possíveis sinais de fragilidade na condução dos comportamentos; e preservar a postura de afetividade, de escuta e acolhimento, buscando compreender os processos subjetivos das relações e dos comportamentos, procurando ainda manter a atitude de compreensão, e não de julgamento. ATENÇÃO Segundo as orientações propostas na abordagem psicomotora, situações de conflito podem ser evitadas por meio de procedimentos de antecipação ao fato desencadeador do conflito. Tal antecipação pode ser possível por meio de algumas ações importantes, como o conhecimento prévio da forma de organização dos comportamentos, a organização da postura corporal, o tônus de aproximação, a tonalidade de voz, e o direcionamento atitudes de um modo geral dos sujeitos envolvidos. O mediador atuante por meio das estratégias psicomotoras deve organizar sua intervenção buscando sempre um cenário de acolhimento, de atitudes positivas e de respeito às regras coletivas. É importante ainda atentar ao fato de que as soluções não podem ser terceirizadas quanto à sua responsabilização, logo, deve-se buscar desenvolver habilidades que proporcionem a capacidade de assumir uma postura mais harmônica nas relações. O conhecimento psicomotor nos possibilita entender que o estabelecimento do vínculo é fundamental para a construção de relações saudáveis. Os adultos, nas relações, são os indivíduos que possuem mais recursos internos comparativamente às crianças, portanto, são os mais capacitados para construir espaços onde as relações possam ser harmônicas. Para identificar as razões provocadores de conflito em outros indivíduos, é importante termos consciência dos nossos elementos de fragilidade. Quando identificamos o acontecimento de uma cena de conflito extrema, na verdade, essa cena é uma consequência de outras situações de conflitos anteriores de menor proporção que foram desmerecidas em sua importância. Muitas vezes, as causas de um comportamento “etiquetado” como inadequado podem estar baseadas em disfunções emocionais ou até mesmo em disfunções de ordem biológica. Devemos incentivar os comportamentos positivos, e não condenar a priori os comportamentos inadequados. Muitas vezes, um comportamento apresentado como inadequado por uma criança pode estar retratando o que podemos chamar de um "pedido de socorro", portanto, devemos considerar as suas motivações. A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO O adulto que se propõe estimular o desenvolvimento da criança deve se atentar ao fato de que essa orientação pressupõe algumas condições fundamentais, como: escuta, conhecimento prévio da realidade da criança, afetividade, disponibilidade corporal, autoconhecimento, evitar julgamentos, conhecimento teórico a respeito dos aspectos do desenvolvimento humano, dedicação, sentimento de empatia, entre outros. Fonte: Photographee.eu/Shutterstock De modo geral, o desenvolvimento pressupõe situações de evolução, maturação, crescimento, mudanças. Todo processo de desenvolvimento é composto por um organismo que possui um complexo de características e que, ao longo de um período, de acordo com determinadas interferências, sofre alterações em suas estruturas iniciais, adquirindo novas formas e novas organizações. Tais alterações verificam-se em duas vertentes: qualitativa e quantitativa. O desenvolvimento humano é um processo que acompanha o indivíduo em toda a sua existência. Trata-se de um complexo de articulações que abrange aspectos orgânicos, sociais, cognitivos, afetivos, motores e ambientais. As mudanças sofridas pelo ser humano ocorrem simultânea e continuamente em todos os aspectos de sua organização. No entanto, para que possamos entender melhor o seu desenvolvimento, faz-se necessária uma divisão metodológica da formação do ser humano, compreendendo-se uma formação biológica e uma formação psíquica. Segundo Papalia e Olds (2000), essa divisão pode ser feita de maneira mais específica, enfocando o desenvolvimento sob três aspectos: COGNITIVO PSICOSSOCIAL FÍSICO COGNITIVO As mudanças na capacidade mental – que incluem aprendizagem, memória, raciocínio, pensamento e linguagem – constituem o desenvolvimento cognitivo. PSICOSSOCIAL O desenvolvimento psicossocial é constituído pelo desenvolvimento da personalidade e do social decorrente das mudanças no modo de ser, de reagir, no comportamento e na capacidade de relação de um indivíduo. FÍSICO As mudanças no corpo, no cérebro, na capacidade sensorial e nas habilidades motoras são pertinentes ao desenvolvimento físico. O estudo do desenvolvimento humano é de extrema importância para o exercício de uma prática terapêutica/pedagógica de qualidade. Afinal, não podemos perder de vista o fato de que o ser humano, receptor dos estímulos oferecidos, é um indivíduo inserido em um contexto de aquisições, em um momento específico de seu desenvolvimento, isto é, mais ou menos maduro para a captação e sedimentação de determinadas aprendizagens. De acordo com Gallahue e Ozmum (2001, p. 78), SEM UM PROFUNDO CONHECIMENTO DOS ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO HUMANO, OS EDUCADORES SOMENTE PODEM SUPOR AS TÉCNICAS EDUCACIONAIS APROPRIADAS E OS PROCEDIMENTOS DE INTERFERÊNCIA. Assim, os educadores/terapeutas têm a possibilidade de respeitar o momento de evolução do indivíduo e oferecer estímulos adequados. VERIFICANDO O APRENDIZADO1. NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL, TEMOS A ETAPA “CAPTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SENSORIAIS”: A) Que pode ser potencializada pelas experiências de cada indivíduo. B) Que tem como ponto fundamental o desenvolvimento da lateralidade. C) Que é proveniente unicamente do espaço. D) Que depende da percepção, ou seja, o processamento da informação através do tato. E) Que depende do esquema corporal, pois a criança precisa ter consciência do seu corpo. 2. O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL É COMPOSTO POR ALGUMAS ETAPAS FUNDAMENTAIS: A) Captação de informações sensoriais, processamento destas informações, associações com informações pré-existentes e aquisição de um novo padrão de resposta B) Captação de informações sensoriais, retenção como memória, comparação com padrões anteriormente adquiridos e aquisição de novo padrão de resposta C) Captação de informações sensoriais, processamento destas informações, retenção como memória e aquisição de um novo padrão de resposta D) Captação de informações sensoriais e motoras, retenção como memória, processamento destas informações e reação reflexa E) Captação de informações sensoriais e motoras, processamento destas informações, reação reflexa e retenção como memória GABARITO 1. No processo de integração sensorial, temos a etapa “captação das informações sensoriais”: A alternativa "A " está correta. A captação das informações sensoriais é o primeiro passo para o processo de integração sensorial. Esta etapa do processo é potencializada pelas experiências prévias. 2. O processo de integração sensorial é composto por algumas etapas fundamentais: A alternativa "A " está correta. Apresenta a sequência correta das etapas como acontece o processo de integração sensorial: captação de informações sensoriais, processamento destas informações, associações com informações pré-existentes e aquisição de um novo padrão de resposta. As demais alternativas apresentam uma sequência errada. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo visto os conceitos aqui apresentados, estamos de posse do conjunto inicial de conhecimentos a respeito da Psicomotricidade. Traçamos um percurso onde foram apresentados o conceito desta ciência e seu roteiro de surgimento enquanto prática. Compreendemos do que se trata a Psicomotricidade em seu universo terapêutico, educacional e de reabilitação. Entendemos ainda sua atuação por meio de uma oferta de estímulos que incidem sobre toda a estrutura corporal, compreendendo uma visão de integralidade no que se refere ao desenvolvimento humano. De modo simples, entendemos que a Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o atendimento ao ser humano, compreendendo sua estrutura psíquica e corporal de maneira integrada. Por ela, o corpo recebe os estímulos com intenção de enriquecimento sensorial e estruturação dos aspectos psicomotores vislumbrando um desenvolvimento harmônico da criança, do jovem, do adulto ou do idoso. A sua origem enquanto prática se deu no ambiente de conhecimento da Neuropsicologia por demanda de identificação das causas de debilidades específicas que não eram originadas em estruturas ou funcionamento orgânico, e sim possuíam causas afetivas. Desde sua origem, inúmeras ciências contribuíram para o desenvolvimento da Psicomotricidade enquanto área de conhecimento e prática, organizando áreas distintas de atuação, como a reeducação, terapia e educação. A prática da Psicomotricidade organiza suas estratégias de intervenção no sujeito por meio do corpo em movimento estruturado em suas inúmeras características. O princípio que norteia esta ciência é o de que os estímulos proporcionados são captados, decodificados e integrados, e respostas novas de maior qualidade são elaboradas, entendendo este processo por meio do conceito neurocientífico de integração sensorial. A Psicomotricidade compreende que o corpo é a fonte de todas as aquisições de desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor e social. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ABP, O que é psicomotricidade. In: Psicomotricidade. Consultado em meio eletrônico em: 19 ago. 2020. FONSECA, V. da. Neuropsicomotricidade: ensaio sobre as relações entre corpo, motricidade, cérebro e mente. 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Para saber mais sobre a importância da Psicomotricidade, leia o artigo A Psicomotricidade como ferramenta Inclusiva da Criança Autista na Educação Infantil, de Odete Varelo Bezerra e demais colaboradores. Leia o trabalho de conclusão de curso de Maria Verônica Silva de Queiroz, cujo título é A formação pessoal em psicomotricidade. Procure saber sobre a Associação Brasileira de Psicomotricidade, em cujo site você pode encontrar artigos e matérias sobre a temática. CONTEUDISTA Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);