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RECREAÇÃO, ATIVIDADES RÍTMICAS, DANÇA E CULTURA POPULAR Hairlaine Treici Freitas R E C R E A Ç Ã O , A T IV ID A D E S R ÍT M IC A S , D A N Ç A E C U LT U R A P O P U L A R H ai rla in e Tr ei ci F re ita s Curitiba 2021 Recreacao, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular çã Hairlaine Treici Freitas Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. F866r Freitas, Hairlaine Treici Recreação, atividades rítmicas, dança e cultura popular / Hairlaine Treici Freitas. – Curitiba: Fael, 2021. 208 p. il. ISBN 978-65-86557-53-4 1. Cultura e educação 2. Dança – Estudo e ensino I. Título CDD 796.307 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Conceitos de recreação, lazer e tempo livre | 7 2. O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações | 23 3. Introdução aos jogos e brincadeiras | 43 4. História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas | 63 5. Ensino das diferentes manifestações de dança | 81 6. Introdução à expressão | 97 7. O estudo do movimento | 115 8. Musicalidade | 135 9. Dança e sua multiplicidade | 153 10. O ensino da dança | 171 Gabarito | 193 Referências | 201 Prezado(a) aluno(a), O movimento, o lúdico, a musicalidade e a dança são concei- tos e terminologias que se relacionam. Estes termos sempre esti- veram muito presentes em minha vida, ou pela cultura familiar ou pelas experiências sociais que foram se desenvolvendo na minha infância e adolescência. As vivências que tive na ginástica rítmica (esporte que prati- quei na infância) foram fundamentais para formar a pessoa que sou hoje. Por isso, escrever sobre este tema foi um prazer, pois trata-se de escrever sobre a educação física que amo e que é parte da evo- lução e, por isso, está sempre em um processo de transformação. Carta ao Aluno – 6 – Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular Espero que a leitura desta obra seja parte integrante de sua formação, e que por meio desta leitura você seja instigado a pesquisar, estudar e produ- zir materiais que vão além do que está nestas páginas – porque um escrito nunca é o início, ele sempre é o começo de uma pequena revolução. Que este escrito vire práticas e movimento, pois, como diria Paulo Freire: “a educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conheci- mento posta em prática” (FREIRE, 1983). 1 Conceitos de recreação, lazer e tempo livre Há diversas causas para a perda de espaço das atividades lúdicas. O crescimento das cidades é uma delas, porque com o aumento de distâncias, aumenta-se a dificuldade de se deslocar para encontros. Não existir espaços públicos suficientes para lazer é outra das causas, pois poderia facilitar o encontro de crian- ças. Ademais, o mundo globalizado, a falta de tempo, a inserção da mulher no mercado de trabalho, a existência de brinquedos industrializados que chamam muito mais a atenção que outras atividades, interferem na forma das atividades acontecerem. Por isso é importante as crianças terem a oportunidade de desenvolver atividades físicas em que possam correr, brincar e descobrir suas limitações pelo movimento corporal. O propósito deste capítulo é esclarecer os conceitos que envolvem a recrea- ção e o lazer. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 8 – 1.1 Conceitos de recreação Entende-se por recreação as atividades em que acontece diversão ou nas quais se relaxa e se propõe entretenimento. Infinitas são as pos- sibilidades dentro da recreação, especialmente porque cada indivíduo desenvolve interesses de diversas formas quando está em diversão. Tendo em vista a individualidade biológica, em que as experiências, os interes- ses e as vantagens são diferentes para cada pessoa, a forma de atividade recreativa em alguns pontos converge para a mesma proposta enquanto em outras diverge. Pensando nas atividades mais generalizadas, pelas quais a maioria das pessoas se interessa, podemos citar ir ao cinema, realizar uma ati- vidade ao ar livre ou ambiente fechado, aproveitar a natureza e praticar ações esportivas como dança, futebol, ginástica e corrida. A recreação se difere de outras situações, como dormir, em que a proposta é relaxamento, pois para ser considerada uma atividade recreativa é necessária a partici- pação ativa das pessoas nas atividades desenvolvidas. É comprovado que as pessoas que se dedicam a atividades de recrea- ção costumam sofrer menos de estresse, angústia e ansiedade. Mas o que é recreação? Pode ser entendida como a atividade física ou mental que o indivíduo usa para satisfazer necessidades de ordem física, psíquica e social para sentir prazer. Quadro 1.1 – Classificação das atividades recreativas Grandes jogos: alto número de partici- pantes; difícil se ser dominado. Revezamento ou estafetas: constitui-se pelo revezamento dos participantes para a realização de tarefas; é uma atividade em grupo que preza pelas potencialida- des individuais, indicada para a infância. Jogos sensoriais: utilizam os sentidos (tato, visão, audição etc.) e desenvolvem o pensamento, dimi- nuindo a tensão. Pequenos jogos: extraem dos partici- pantes características individuais como velocidade destreza, e força. Jogos combinados: exigem mais de uma aptidão física, como correr, saltar, girar. Aquáticos: jogos realizados na água, com excelente valor terapêutico por diminuí- rem o impacto causado pelo solo. Jogos sociais de mesa: têm caráter educativo, sem esti- mular os jogos de azar. Fonte: Ferreira (2006). – 9 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre Objetivos da recreação (FERREIRA, 2006): 2 integrar o indivíduo ao meio social; 2 desenvolver o conhecimento mútuo e a participação grupal; 2 facilitar o agrupamento por idade ou afinidades; 2 desenvolver ocupação para o tempo ocioso: 2 gerar hábitos de relações interpessoais; 2 desinibir e desbloquear; 2 desenvolver a comunicação verbal e a não verbal; 2 descobrir habilidades lúdicas; 2 desenvolver adaptação emocional; 2 descobrir sistemas de valores; 2 dar evasão ao excesso de energia e aumentar a capacidade mental do indivíduo. Figura 1.1 – Crianças na recreação Fonte: Shutterstock.com/lakshmiprasada S Saiba mais A palavra recreação vem do latim recreare, que significa restaurar, renovar, recuperar; dar pausa no trabalho para o descanso; distração, recreio. RECREAÇÃO. Dicionário Online de Português. c2021. Disponível em: https://www.dicio.com.br/aurelio. Acesso em: 18 abr. 2021. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 10 – Enquanto a recreação busca uma forma mais livre de encontrar o pra- zer em atividades, os jogos são brincadeiras mais dirigidas e relaciona- das ao coletivo; com eles, a criança trabalha outras questões importantes relacionadas ao campo afetivo e ao faz de conta. A recreação, portanto, dá conta de práticas mais diversas, já o jogo está ligado a relações de estratégia, análise, lidar com derrotas e adversários e outras estruturas cognitivas. Marcelino (2008) aponta que “a palavra recreação tem o sen- tido de divertimento, relaxamento, restabelecimento corporal para o traba- lho”. Para Cavallari e Zacharias (2009), a recreação deve ter o intuito de propiciar o exercício da criatividade, de forma que ofereça estimulação e ânimo, e não obrigação. Cada grupo escolhe uma recreação de acordo com interesses comuns, culturais e econômicos dos participantes. Ainda segundo Cavallari e Zacharias (2009 apud MACHADO et al. [S.d.]), “há grande diferença entre uma aula e um momento de recreação durante uma aula, pois na aula sempre será preferência o objetivo cultural ou formativo, enquanto a recreação tem comoobjetivo apenas o fato de recrear”. Figura 1.2 – Crianças jogando Fonte: Shutterstock.com/Africa Studio 1.2 Recreação, lazer e tempo livre: correlações Tendo em vista os conceitos de recreação, relacionaremos e diferen- ciaremos recreação e lazer com conceitos de teóricos que estudam ambos – 11 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre os assuntos. Dentro da estrutura do que chamamos de lazer, o indivíduo adulto é apresentado como parte integrante, mas a recreação muitas vezes é dada como algo relacionada à infância. Não seria, portanto, aquilo que fazemos em nosso tempo livre, durante as horas de lazer, uma recrea- ção? “A recreação surgiu de forma natural, instintiva e espontânea e deve ser valorizada como auxílio no desenvolvimento, ensino, aprendizagem onde o educador através dos conteúdos da disciplina possa utilizar como forma de despertar na criança o interesse pela escola e pelo aprendizado” (SOUZA, 2007). Note que nessa apresentação as palavras educador e criança se apresentam. Agora analisemos a seguinte contextualização de lazer: O lazer é o estado de espírito em que o ser humano se coloca, ins- tintivamente não deliberadamente, dentro do seu tempo livre indi- vidual ou familiar, em busca do lúdico (diversão, alegria, entre- tenimento). Recreação é o fato, ou importância que o indivíduo escolhe espontânea e deliberadamente, através do qual ele satisfaz (sacia) seus anseios voltados ao lazer (comunhão familiar, inclusão social, descanso espiritual) (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2009) Esses teóricos utilizam os termos ser humano, indivíduo e família, portanto, como um ato praticado por todos e em todo contexto social. Para Melo e Alves Jr. (2003), lazer é um fenômeno moderno que surgiu com a diminuição da carga horária de trabalho, típico do modelo de produção fabril desenvolvido a partir da Revolução Industrial. Tendo em vista que, a partir do momento em que passa a concretizar essa vontade cha- mada lazer, uma pessoa está tendo sua recreação; portanto, não é a atividade, e sim o fato de estar concretizando o anseio de relaxar. Porém, Melo e Alves Jr. (2003) afirmam que: recreação é uma circunstância, uma atitude, já que um tempo livre maior surge não como concessão dos donos dos meios de produ- ção, e sim como conquista das organizações das classes trabalha- doras. Correlacionando os termos: recreação e lazer são uma fase conquistada por uma classe que por muitos anos foi obrigada a trabalhar horas e horas sem repouso. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 12 – Marcelino (2008) explica que originalmente lazer e recreação eram apresentados de forma distinta, o primeiro sendo o tempo, e a segunda componente. Figura 1.3 – Lazer ao ar livre Fonte: Shutterstock.com/Sergey Novikov Silva e Marcelino (2011) trazem uma versão da origem das palavras recreação e lazer. O termo recreação pode ser ressaltado a partir de duas posições. Cavallari e Zacharias (2009), trazem características básicas que devem ser observadas e que, caso quebradas, não há desenvolvimento da recreação pelo praticamente da forma mais ampla: “A recreação deve ser livremente e espontânea, dando escolha do que fazer e na hora, que quiser fazer, se for a uma aula deixar a criança escolher os materiais desejados por ela, sem esperar benefícios ou resultados específicos”. A recreação tende a levar o praticante a estados psicológicos positivos e ao relaxa- mento, sem regras, exigências ou sentimento de culpa. Já Pinto (2008) cita que “inúmeras e rápidas mudanças sociopolí- ticas e culturais desafiam a construção de conhecimentos necessários à formação de cidadãos considerando diferentes tempos, espaço e ativida- des cotidianas colocando como o principal desafio para a educação e para o lazer de hoje”. Maduro (2010) coloca que pensar sobre lazer em nossa sociedade não é uma tarefa fácil já que vivemos em um mundo muito desi- gual. Tendo em vista que há desfavorecidos e outros tentando se favorecer, analisando esse ponto de vista socioeconômico podemos identificar que os – 13 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre termos recreação e lazer muito têm a ver com as estruturas da comunidade do indivíduo. Isso influencia muito, pois para viajar ou ir ao cinema é pre- ciso dinheiro, mas se uma pessoa, mesmo que tenha condições financeiras não der importância ao lazer e ao tempo que deve ser dispendido para tal, não irá desfrutar dele da mesma forma. Figura 1.4 – Pessoas em momento de lazer Fonte: Shutterstock.com/Lucky Business Marcuse (1971) dá o seguinte conceito de lazer: “O lazer é uma forma de alienação, uma ilusão de autossatisfação das necessidades do indivíduo, porquanto estas necessidades são criadas e manipuladas pelas forças econômicas da produção e do consumo de massa, conforme o inte- resse de seus donos”. Também temos Dumazedier (1976): o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entre- gar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. Além de Requixa (1977): “uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social”; Gael- zer (1979): “como a harmonia entre a atitude, o desenvolvimento integral e a disponibilidade de se mesmo. É um estado mental ativo associado a uma Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 14 – situação de liberdade, de habilidade e de prazer”; Dieckert (1984): “um evento que une os benefícios da prática de esportes (propícios à saúde) com a satisfação proporcionada ao indivíduo que o pratica, propondo a socialização do esporte (lazer, esporte para todos)”; Marcelino (2008): “como a cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível”; Pagni (2012): “uma área de estudo e uma atividade pedagógica que tem como objeto especifico o movimento corporal humano. Objeto este que é produzido historicamente para uma determinada população que, de forma diferenciada, espontânea, o desenvolve, segundo sua cultura, como atividade de lazer”. Podemos concluir que não existe o melhor conceito de lazer. Por isso, é muito importante contextualizar pesquisador e período para obtermos uma relação aproximada da forma social como o lazer estava apresentado. É possível perceber, portanto, que o período histórico e a sociedade inter- ferem em como o conceito de lazer é definido. Figura 1.5 – Pintura de pessoas em momento de recreação e lazer Fonte: Shutterstock.com/Archv 1.3 Recreação na educação básica Brincar é importante e sempre teve presença marcante no universo infantil. Hoje temos mais consciência do valor do brincar, que é objeto de estudo de historiadores, psicólogos, sociólogos, antropólogos e educadores. As brincadeiras e jogos proporcionam a noção da construção da cultura infan- – 15 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre til, do psíquico, do sensorial e do social das crianças. Sabendo que o lúdico é fundamental para a educação e o desenvolvimento, trazemos o seguinte conceito: “o jogo e a criança caminham juntos desde o momento que se fixa a imagem da criança como um ser que brinca” (KISHIMOTO, 2007). Figura 1.6 – Criança brincando em pracinha Fonte: Shutterstock.com/FamVeld As brincadeiras de infância se perpetuam e são renovadas de geração em geração. O lúdico é ferramenta fundamental para a criança se relacio- nar com o mundo. Huizinga (2001), analisa o jogo como elemento cultu- ral, e coloca que o lúdico não é uma atividade inata, biológica, não surge de forma natural: O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livrementeconvertidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana. Tendo em vista essas características, é fundamental para o desen- volvimento infantil, principalmente ao se compreender que a cultura tem caráter lúdico, que a criança estabeleça vínculos sociais, ajustando-se ao grupo e aceitando a participação de outros em suas brincadeiras, obede- cendo às regras traçadas pelo grupo e propondo modificações. No jogo, segundo Oliveira (2001), a criança aprende a ganhar e a per- der. Na experiência lúdica, a criança cultiva fantasia e vivencia amizade Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 16 – e solidariedade, que são importantes para o desenvolvimento da solida- riedade. Às vezes a brincadeira é desvalorizada em relação a outras ati- vidades consideradas mais produtivas, e acaba por ocupar um espaço de espera, de intervalo da dita “produtividade”. Entretanto, é crucial valorizar a brincadeira, e não apenas permitir que ela ocorra, mas também propor- cionar que aconteça e suscitá-la. Ao observarmos a forma que as crianças brincam, percebe-se como utilizam e organizam os brinquedos, o que está relacionado com seus con- textos de vida e expressam suas visões de mundo. Debortoli (2005) apre- senta que o brincar faz surgir, em especial na educação infantil, um viés pedagógico, fazendo da brincadeira um conteúdo. Já na prática podemos encontrar diversos materiais, entre eles o brinquedo, que são colocados à disposição das crianças de maneira livre, como se apenas sua presença garantisse o uso por elas. Em sua pesquisa de doutorado, Debortoli (2005) analisou as media- ções de algumas professoras e verificou que elas tinham dificuldade de reconhecer seu lugar social e a importância de medicações sistemáti- cas utilizando o brinquedo. Seguem algumas categorias usadas pelas professoras no estudo para defender a inclusão do brincar na educação infantil (quadro 1.3). Quadro 1.3 – Categorias para defender a inclusão do brincar na educação infantil Brincadeira pedagógica Recreação Brincadeira livre Brincadeira dirigida Uso de brin- quedos e jogos para favorecer aprendizagens escolares. Dinâmicas criadas para ensinar brin- cadeiras sem que novas relações e significados pos- sam emergir des- ses momentos. Momentos em que as crianças brin- cam sem inter- ferência e sem mediação das pro- fessoras. M a n e i r a s “certas” de brincar. Fonte: Debortoli (2005). Pinto (2008) indica que as brincadeiras são uma linguagem que per- corre toda nossa existência. Por meio de gestos, sons, expressões, infle- – 17 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre xões, declarações e imagens que se inter-relacionam podemos nos relacio- nar com o meio, estabelecendo nossa forma de trabalho nessa linguagem – mas isso deve ser feito com consciência. O educador precisa compreen- der que o brincar tem relação com seu trabalho. É necessário reconhecer que o brincar, está presente no mundo da criança, do jovem e do adulto, sendo ferramenta fundamental de relação do indivíduo com o meio e com os outros. Figura 1.7 – Adultos em momento de recreação Fonte: Shutterstock.com/Impact Photography Para Maduro (2010), O lúdico nas interfaces das relações educativas, que a ludicidade como ferramenta pedagógica é extremamente valiosa, uma vez que traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento da criança, por estimulá-la crescer na linha da socialização, aumentando sua criatividade, expressão corporal, e participação no processo de aprendizagem. Segundo Gomes (2008), a criança não é um adulto em miniatura, e “despertar o interesse pelo aprendizado é o melhor instrumento pedagó- gico utilizado pelo professor, concebido como um simples facilitador do processo de conhecimento”. Com o aluno como centro do ensino, deve- -se valorizar o processo ao invés do resultado, com estímulo à atenção, à curiosidade e ao interesse, para que aprenda com espontaneidade, prazer e alegria. Para isso, é importante destacar atividades características do uni- verso infantil, como jogos e brincadeiras. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 18 – No art. 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente é apresentado o seguinte: “A criança e ao adolescente cabe o direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua fase peculiar de pessoa em desenvolvimento” (BRASIL, 1990). O lazer, para Gomes (2008), é algo a ser priorizado pelo poder público, pela iniciativa privada, pela universidade, pelas diversas instituições sociais e pela comunidade, que devem se comprometer com o lazer da população, e repensar as barreiras ideológicas, opressoras e excludentes. No art. 58 do Estatuto da Criança e do Adolescente é exposto que: “No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garan- tindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura” (BRASIL, 1990). Saiba mais Sugestão de leitura: Capítulo IV – Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer – Artigo 58 do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1999. Atividades físicas e recreativas são um meio de prevenir doenças físicas e mentais, proporcionando melhor qualidade de vida e desenvolvi- mento social. De acordo com Souza (2007), produz integração com outras pessoas ou grupos com diferentes afinidades ou culturas. Ide (2000) coloca, em relação à importância do jogo para o desenvolvi- mento da criança, que ele possibilita um aprendizado que respeita o ritmo e as capacidades, e propicia a integração com o mundo. Dessa forma, também é um ótimo recurso para inclusão escolar de crianças com deficiência. Além disso, Ide (2000) ressalta que como o jogar é livre de pressões e avaliações, traz sensação de liberdade, o que estimula a aprendizagem, a moralidade, o interesse, a descoberta e a reflexão. A aquisição do conhecimento físico e a exploração do meio ambiente permite à criança estabelecer relações e desenvolver raciocínio lógico-matemático, fundamentais para o desenvolvi- mento das habilidades de cálculo, leitura e escrita. – 19 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre Quando jogo é realizado e proposto por meio da exploração corpórea, incluindo a possibilidade de brincar com o próprio corpo, permite que a criança encontre oportunidades para se desenvolver de forma mais relacional. Ferreira (2006) apresenta que, quando brinca, a criança amplia sua capacidade corporal, a percepção e a relação com o outro e acaba desco- brindo o mundo e conhecendo suas leis e suas regras. Segundo Vygotsky (1984), “o brincar se configura como uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas pos- sibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos”. Para Borba (2007), “o brincar e o jogar são espaços de apropriação e constituição, pelas crianças, de conhecimentos e habilidades no âmbito das práticas corporais, da linguagem, da cognição, dos valores e da sociabili- dade”. Já Kishimoto (2007) alega que o jogo incorpora a imagem e o sentido que cada sociedade lhe atribui. Portanto, é por meio desses conceitos que podemos verificar como cada espaço escolar oferece, de acordo com sua sociedade, um valor aos jogos e às brincadeiras não só como ferramenta para propiciar momentos de lazer mas também como ferramenta de ensino. Ao brincar e jogar, as crianças são sujeitos de sua experiência social, organizando com autonomia suas ações e suas interações, criando regras de convivência social e de participação nas brincadeiras. O relacionamento com a brincadeira e o jogo possibilita uma forma de compreender a criança como sujeito que produz históriase culturas com sua linguagem, indo além da capacidade de visualizá-la apenas como aluno. A recreação é uma atividade importantíssima no desen- volvimento de uma criança em fase escolar, mas muitas vezes as instituições de ensino retiram essas atividades da grade escolar por pensarem que são dispensáveis (FALCÃO et al., 2012). Ao brincar na recreação da escola, a criança adquire aprendizados de forma natural, gradativa e prazerosa, desenvolvendo habilidades como (A IMPORTÂNCIA... [S.d.]): 2 locomoção; 2 raciocínio; 2 espírito de equipe; Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 20 – 2 resistência física e psicológica; 2 criação de estratégias; 2 motivação; 2 criatividade; 2 comunicação; 2 espírito de liderança; 2 noções de tempo e de espaço; 2 interpretação de situações; 2 curiosidade; 2 motricidade; 2 coragem; 2 desinibição; 2 convivência; 2 saber perder; 2 respeito ao próximo; 2 aceitação de limites; 2 autonomia; 2 atenção; 2 cooperação. Há diversos jogos, brincadeiras e atividades que podem ser aplicadas nas escolas; ao utilizá- -las, pode-se aproveitar as vivências para desenvol- ver a motricidade e outras habilidades nas crianças, como relação interpessoal e inteligência operacional. Figura 1.8 – Crianças felizes Fonte: Shutterstock.com/Monkey Business Images – 21 – Conceitos de recreação, lazer e tempo livre Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter meninos sem escola, mas mais triste é vê- -los enfileirados em salas sem ar, com exercícios esté- reis, sem valor para a formação humana. Carlos Drummond de Andrade Saiba mais No podcast Pé na Orelha, o contexto “Dança é coisa séria ou é brinca- deira?” é apresentado no episódio 60. “A gente tem que levar dança mais a sério! Tem que parar de achar que dança é brincadeira! Não dá para ficar brincando com dança, gente... Ou dá? Será que brincadeira e coisa séria são coisas tão distintas assim? Será que são incompatíveis? E a dança? Sobrevive só com coisa séria, ou só com brincadeira? E qual é a cara dessa dança sem uma dessas ideias? Dá para separar? E o que significa ‘coisa séria’ na real?… Janina Arnaud e Isabel Willadino se juntaram a Tati Sanchis e Henrique Bian- chini para uma conversa deliciosa, cheia de filosofia, poesia e vontade de melhorar.” Escute no Spotify: https://open.spotify.com/episode/77dchfHfVezxSu1 hLWWJrS?si=KX95Ih9NQ3uDzYgmq2bKtg. Acesso em: 6 set. 2020. Atividades 1. Qual é a definição de recreação? 2. Lazer e recreação são diferentes? Justifique: 3. De acordo com o capítulo, qual é o melhor conceito de lazer? Formule: 4. Quais são os benefícios de aplicar jogos e brincadeiras às crianças? 2 O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Devido à falta de espaço nas grandes cidades brasileiras, grande parte das conhecidas brincadeiras de rua ficaram restritas ao pátio da escola ou à aula de Educação Física. Além disso, por influência da mídia em geral, aumentou a procura por brinquedos eletrônicos. Mas é possível conciliar a tecnologia com as brinca- deiras populares. Sobre esse assunto, fica o questionamento: direcionar as brincadeiras, com caráter educativo, seria tirar a liberdade de expressão das crianças? Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 24 – O ser humano está em constante aprendizado. E sabe-se que esse aprendizado só ocorre em condições ambientais favoráveis. A brincadeira favorece a criatividade e a espontaneidade, desenvol- vendo o hábito da pesquisa, da exploração, da comunicação, da imagi- nação e da criação. Além disso, manifesta o desejo de ser mais velho, de ser adulto; e, para o adulto, de ser criança. Para a criança, a brincadeira significa progressão; para o adulto, regressão. O propósito deste capítulo é relacionar os conceitos que envolvem a noção do que é lúdico, com os conceitos de brinquedo e jogo. 2.1 A importância do lúdico, do jogo e do brinquedo Segundo Apolo (2007), diversos dados científicos, de grande rele- vância, cairão por água abaixo se, na prática, não tivermos consciência de como aplicar atividades de acordo com a realidade das crianças, que sejam próprias para seu mundo, para sua visão e maturação. Das ativida- des comuns de qualquer criança, a que mais desperta sua atenção e seu interesse é, com certeza, a brincadeira. É por meio desta que a criança se expressa e interage com o ambiente e a sociedade, como vimos no capítulo anterior. Porém, devemos lembrar que o mundo está cada vez mais se distan- ciando da natureza, e que as crianças vivem realidades completamente diferentes. Além disso, o mundo em que vivem está em constante muta- ção, aliado ao avanço da tecnologia. O progresso trouxe a globalização, e as crianças deixaram de brincar ao ar livre e em grupos. Muitas vezes, por falta de espaço ou tempo, tendo em vista que as atividades extracurriculares têm sido muito utilizadas para ocupar o espaço que antes era da recreação. Coube, então, aos pro- fissionais da Educação a missão de fazer, em suas atividades, um retorno a estas práticas lúdicas, possibilitando estas experiências que deveriam surgir do tempo livre para lazer das crianças. A perda do meio ambiente próprio, ou até da capacidade de brincar, produz efeitos irreparáveis na vida de uma criança. – 25 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Figura 2.1 – Brinquedo de bolhas de sabão Fonte: Shutterstock.com/ Yuliya Evstratenko Estudos revelam que, ao brincar, as células cerebrais formam diversas conexões sinápticas, criando uma densa rede de ligações entre os neurô- nios, que passam sinais eletroquímicos de uma célula a outra, como apre- senta Catania (1999). Assim, entendemos que o brincar exercita as dife- rentes funções cerebrais, fazendo que sinapses dos neurônios do cérebro surjam em grande número. Ainda pensando nas habilidades que o brincar proporciona, o cerebelo, que fica na base do crânio, é a parte do cérebro responsável pelo equilíbrio, pela coordenação motora e pelo controle dos músculos. É pelos estímulos físicos e sensoriais intensos das brincadeiras que se reforçam as ligações sinápticas cerebelares, que, por sua vez, favo- recem o desenvolvimento motor das crianças. Ainda segundo Catania, os movimentos proporcionados pelas brin- cadeiras colaboram, em muito, para o amadurecimento dos tecidos mus- culares, pois o envio de sinais nervosos diversos para os músculos permite a distribuição e o crescimento das fibras musculares de resposta rápida, essenciais para atividades de intenção aeróbia. Saiba mais Palavra lúdico: Adjetivo Feito através de jogos, brincadeiras, atividades criativas. Que faz referência a jogos ou brinquedos: brincadeiras lúdicas. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 26 – Que tem o divertimento acima de qualquer outro propósito; divertido. Que faz alguma coisa simplesmente pelo prazer de a fazer. Na psicologia, refere-se à manifestação artística ou erótica que aparece na idade infantil e se acentua na adolescência, aparecendo sob a forma de jogo. Etimologia (origem da palavra lúdico). Lud + ico. (Dicionário Aurélio, disponísvel em: https://www.dicio.com.br/aurelio). A criança interage com o mundo por meio da brincadeira. Para interagir com o mundo adulto, ela brinca com jogos de imitação, como casinhas, bone- cos(as) etc. Para se enturmar e conhecer sua cultura e traduções, há as brinca- deiras com artes, cantigas e cirandas. Para se relacionar com a natureza e com- preendê-la, brinca com elementos como areia, chuva etc (BRASIL, 2019). Já os jogos de competição e cooperação entram no âmbito das brin- cadeiras que geram desenvolvimento e amadurecimento cognitivo e inte- rações sociais e interpessoais. Tudo isso mostra o quanto a cultura do brincar é importante e necessária – não somente para o desenvolvimento da criança, em suas diversas dimensões (linguagem, motricidade, neuro- desenvolvimento e área socioafetiva), mas também comoforma de esta se relacionar com o ambiente e a cultura em que está inserida, podendo sentir-se como parte integrante da sociedade. Figura 2.2 – Crianças brincando ao ar livre Fonte: Shutterstock.com/ Jacob Lund – 27 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações 2.2 O lúdico, o jogo e o brinquedo O jogo acompanha o homem desde início dos tempos, constituindo uma dimensão fundamental em sua vida. Conforme Carneiro (2007), devemos entender o jogo como um fenômeno antropológico, ou seja, pre- sente na cultura humana, atuando decisivamente na geração desta e sendo por ela transformado. Pode-se dizer que o jogo foi e é uma constante em todas as civilizações, nas quais esteve ligado a diferentes manifestações: sagradas, festivas, de guerra, de espetáculo, de lazer, educativas, terapêu- ticas etc. O jogo, segundo Gilles Brougere, citado por Carneiro (2007), pos- suía, na antiga Roma, um aspecto religioso. Havia jogos em homenagem a vários deuses, ou seja, atos e ritos oferecidos a eles como um presente. Outra característica interessante refere-se ao caráter contemplativo: tra- tava-se de jogos em que a exibição era mais importante que a participação, uma vez que eram competidos por escravos, para o deleite dos expectado- res. Já na Grécia Antiga, os jogos eram realizados em forma de lutas, con- cursos, combates, atividades ginásticas e também manifestações teatrais. Além dos conhecidos jogos Olímpicos (inaugurados em 776 a.C.), havia outros, como os jogos Pítios e os Nemeus, que eram realizados também em honra às divindades. Dessa forma, jogar simbolizava “a celebração e a reenergização da vida e do mundo, na qual cooperar, lutar, vencer, superar, perder ou morrer (atos comuns nos jogos) eram atitudes entendidas como elemen- tos pertinentes e necessários à regeneração cósmica, fundamental para a sobrevivência da sociedade” (BROUGÈRE, 1998 apud WITTZORE- CKI 2009, p. 40). No livro A formação do símbolo na criança, de 1946, Jean Piaget, citado por Carneiro (2007), relacionou a brincadeira e o jogo com o desen- volvimento cognitivo da criança. Para esse estudioso, a criança adapta a realidade e os fatos às suas possibilidades e esquemas de conhecimento, manifestando isso também no brincar. Segundo a psicanálise, e, de acordo com Carneiro (2007), podemos expressar nossos desejos de forma simbólica quando sonhamos, fantasia- mos ou brincamos. É comum, por exemplo, observar uma criança brincar Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 28 – repetidamente com algo que lhe provocou sofrimento. É no jogo, portanto, que a criança pode recriar situações, de modo a elaborar e suportar episó- dios traumáticos, dolorosos ou mesmo prazerosos. Winnicott, também citado por Carneiro (2007), argumenta que brin- car pode interessar tanto ao psicoterapeuta quanto ao professor. Sua teori- zação acerca do brincar assenta-se eminentemente nas primeiras relações, ou seja, nas relações primárias do bebê com a mãe. Para esse autor, se o processo de separação entre o bebê e sua mãe for bem-sucedido e capaz de inspirar confiança, cria-se entre os dois uma zona intermediária ou de transição (entre a experiência de sentir-se fundido e separado) que é deno- minada de espaço potencial ou transicional. Segundo Mariotti (2004), na aparente singeleza dos jogos infantis o adulto sensível pode descobrir uma valiosa chave de entendimento e comu- nicação com as crianças, porque, cada vez que joga, a criança está apren- dendo a investigar, a descobrir, a aceitar e amar o mundo de que faz parte. A atividade de uma criança jogando, no geral não merece nossa atenção, porém seu desenvolvimento sucede enquanto ela joga, simplesmente. Segundo Carneiro (2007), os jogos podem ser 2 de campo: realizados em médios e grandes espaços, que permi- tem aos participantes grandes deslocamentos, com ou sem uso de materiais diversos. Por exemplo: jogos com bola (‘bobinho”, “caçador”) e jogos de correr (“pega-pega”, “nunca três”). 2 de salão: realizados em espaços mais fechados e de menor mobi- lidade. São divididos em: 2 jogos sensórios (atuando sobre os sentidos, proporcionando sensações agradáveis e desafiadoras); 2 jogos motores (envolvendo atividades de coordenação motora e agilidade); 2 jogos intelectuais (como xadrez, quebra-cabeça, charadas, damas, dominó). Segundo Darido (2007), tão fascinante quanto jogar, a palavra jogo emerge dos dicionários possibilitando-nos interpretações diversas. Podería- – 29 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações mos dizer que o jogo é um universo compreendido muito bem pelas crianças e, ao mesmo tempo, um fenômeno extremamente complexo. Para o autor, a preocupação com o fenômeno jogo, apesar de intensa, vem muito mais de estudiosos da educação. À Educação Física, coube, até agora, o interesse pelos jogos em si, com sua utilização, muitas vezes, quase que despreocupada. A respeito do jogo, inúmeros autores teceram considerações extrema- mente ricas. Talvez a mais famosa conceituação, embora às vezes contes- tada, seja a de Huizinga (2001), citado por Darido (2007): (...) o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida den- tro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana” (Rangel, 2008, p. 33). Para Darido (2007), tanto a brincadeira quanto o esporte são manifes- tações do fenômeno jogo. O jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida, uma simula- ção lúdica da realidade, que se manifesta, que se concretiza quando as pessoas fazem esporte, quando lutam, quando fazem ginástica, ou quando as crianças brincam (p. 69). Figura 2.3 – Meninos jogando futebol Fonte: Shutterstock.com/ Fotokostic Segundo Darido (2007), podemos identificar que o jogo possui alguns aspectos, como possuir regras, ser prazeroso, não é uma obrigação, possui Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 30 – tempo e lugar próprios etc. Assim, o jogo traz alguns conceitos, como os limites, a liberdade e a invenção. Darido coloca ainda que o jogo facilita o que é difícil, e por isso é tão utilizado pela pedagogia e pela psicologia, e possui portanto um papel crucial para formação da personalidade infantil. Toda criança brinca e joga. Por isso, mesmo que jogos e brincadeiras não sejam restritos a crianças, quando pensamos neles, automaticamente os associamos ao público infantil. Mas hoje já vemos idosos utilizando jogos para recreação e, ampliando o olhar, vemos que jogos como os que utilizam cartas são praticados por todas as idades. 2.2.1 A importância do jogo e da brincadeira Há relatos de jogos e brincadeiras desde a Antiguidade. Nas caver- nas, há registros de desenhos nas suas paredes simulando jogos. Tais evi- dências auxiliam a confirmar que os jogos estiveram presentes em todas as civilizações. A famosa brincadeira de amarelinha, empinar pipa, jogar pedrinhas, são práticas que podem ter surgido na Grécia e no Oriente, o que comprova a universalidade dos jogos infantis. As brincadeiras variam entre as regiões, como letra das canções, nome dos jogos, mas a essência permanece a mesma. No Brasil, herdamos dos por- tugueses, índios e negros uma quantidade considerável de jogos e brincadeiras. Figura 2.4 – Jogo de tabuleiro Fonte: Shutterstock.com/ Fotyma – 31 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Rosa (2016) realizou uma pesquisa no município de Alvorada/RS com crianças de uma escola da rede pública estadual, com o objetivo de identificar a importância dos espaços para prática do lazer, de jogos e brincadeiras, como a escola, a casa, a rua, as praças e os parques. A pes- quisa se deu por intermédio de um questionário, pelo qual Rosa (2016) constatou que os espaços públicos oferecidos eram insuficientes para a fruição dos momentos de lazer, e essa falta de espaçostinha relação com a falta de uma política pública com ações voltadas para o lazer, e, apesar de a pesquisa ter sido feita em um único município brasileiro, essa é a realidade representada por muitas outras regiões quando se fala em ins- tituições públicas. O estado, juntamente com os municípios, deveria oferecer o acesso ao esporte e ao lazer – direito garantido na constituição – fomentando, nas praças e parques, encontros descontraídos e prazerosos das famílias, os quais servem como estímulo e motivação às crianças e aos jovens para a prática de esportes, brincadeiras e jogos ao ar livre, bem como para o contato entre as pessoas, promovendo, assim, o desenvolvimento social, a cooperação, a interação e o desenvolvimento psicomotor. Chamamos organizações desportivas públicas, ou de caráter público, as unidades administrativas, as entidades, os órgãos ou as sociedades cria- das pelas administrações públicas para desenvolver políticas públicas de incentivo ao esporte e construção e gestão de complexos desportivos (SANTANA, 2011). Essas organizações desenvolveram-se na medida em que as instituições públicas passaram a destinar recursos ao esporte, fun- damentalmente a partir de 1980, com as prefeituras democráticas, e por intermédio de competências assumidas pelas comunidades autônomas, de acordo com Carneiro (2007). Nem todos os municípios possuem estrutura para o desenvolvimento de atividades físicas voltadas ao bem-estar da população. Carneiro (2007) apresenta que o esporte e o lazer, conforme preconizam os artigos 6º e 127 da Constituição Federal, são direitos de cada cidadão, e o Estado deve grantir o acesso ao esporte e ao lazer como forma de mudar o quadro de vulnerabilidade social, atuando como instrumentos de formação integral dos indivíduos e, consequentemente, possibilitando o desenvolvimento da Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 32 – convivência social, a construção de valores, a promoção da saúde e o apri- moramento da consciência e da cidadania. A seguir são apresentados os resultados encontrados na pesquisa de Rosa (2016): Figura 2.5 – Gráfico referente ao questionário Faz atividade ou brincadeira 50 Faz brincadeiras ou jogos em casa 45 Não realiza brincadeiras em casa 5 Fonte: adaptada de Rosa (2016). Figura 2.6 – Gráfico referente ao questionário Onde sua família realiza os momentos de lazer? – 33 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Casa 31 Parques e Praças 11 Shopping 7 Sítio 1 Fonte: adaptada de Rosa (2016). Segundo a Secretaria Estadual do Esporte e Lazer e Fundação de Esporte e Lazer do RS (2014), o lazer foi reconhecido como direito de toda a população, na década de 1980, período em que o país viveu o resta- belecimento da democracia, num processo marcado por ampla participa- ção da sociedade e que culminou na Constituição Federal de 1988. A Constituição Federal não apenas determina o fomento a práticas desportivas formais e não formais como dever do Estado, como também afirma que ambas devem ser tomadas como forma de promoção social. Segundo Vieira (2011) citado pela Secretaria Estadual de Esporte e Lazer e Fundação de Esporte e Lazer do RS (2014), a responsabilidade de Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 34 – ação acaba por recair sobre a esfera municipal, a qual se relaciona dire- tamente com o cidadão. Dessa forma, o Governo Federal deve oferecer subsídios aos Municípios para que os programas sociais atinjam seus objetivos de superação da marginalidade, sendo esta considerada como característica daquele que se encontra à margem dos processos sociais, posto que alterações de comportamento exigem programas continuados capazes de possibilitar o desenvolvimento de novos valores, baseados em uma maior reintegração à sociedade, permitindo o desprendimento de antigas atitudes. Há um acordo conceitual importante, na medida em que se acredita que, no tempo e no espaço de lazer, a manifestação cultural esportiva apre- senta-se como possibilidade a ser vivenciada por todos que a acessam. Desse modo, pode ser uma experiência que colabora para a emancipação humana, o que deve motivar a ação consciente e decidida de estímulo ao lazer esportivo (SILVA JÚNIOR, 2006, [S.p.]). Figura 2.7 – Criança admirando balão Fonte: Shutterstock.com/ Iam_Anupong Segundo Mariotti (2004), tempo livre é o que fica isento da satisfa- ção das necessidades vitais de um indivíduo (alimento, descanso, higiene, por exemplo), assim como de exigências (estudar, trabalhar, aprender um idioma). A relação com a atividade recreativa se dá quando nesta experi- menta-se a vivência do “não obrigatório”, quando o tempo que ocupamos nela é lúdico. Neste sentido, como atividade de cunho próprio, sem rédeas, – 35 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações sem limites. Mas o tempo livre não é, necessariamente, uma condição indispensável para que a brincadeira tenha lugar. 2.3 Jogos e brincadeiras para aplicação A seguir, foram selecionadas algumas brincadeiras que possuem um formato mais lúdico, e não requerem muitos materiais. É importante ressaltar que, para cada faixa etária ou de desenvolvi- mento, existem algumas brincadeiras que melhor se encaixarão. Cabe ao professor analisar e propor a que melhor se relaciona. Sugere-se, também, realizar adaptações, de modo a permitir que, tanto nas regras quanto no formato, a participação da criança e do grupo seja de forma protagonista. Caixinha de surpresas 1- Prepare uma caixinha com tarefas engraçadas e feche-a bem. 2- Coloque os participantes do grupo sentados em círculo. 3- A caixinha deverá circular de mão em mão até um sinal dado, ou ao som de uma música que todos deverão cantar batendo palmas até que pare, subitamente. 4- Aquele que estiver com a caixinha quando é dado o sinal, ou quando a música para, deverá tirar da caixinha uma papeleta e execu- tar a tarefa prescrita. 5- A brincadeira continua enquanto houver papéis na caixinha. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a- importancia-da-recreacao-e-educacao-fisica-nas-escolas/50585. Cruzado ou descruzado 1- Coloque o grupo todo disposto em forma circular. 2- Apresente dois objetos que se possam cruzar - dois lápis, por exemplo. 3- Os dois lápis serão passados ao primeiro vizinho. 4- A pessoa que passa o lápis deverá declarar “cruzado” ou então “des- cruzado” momento em que o animador julgará e dirá “certo” ou “errado”. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 36 – Cruzado ou descruzado 5- O truque está em que, enquanto quem passa os lápis diz cruzado ou descruzado referindo-se aos lápis, o animador diz certo ou errado refe- rindo-se à perna de quem passa, perna cruzada ou descruzada. 6- O brinquedo prossegue até todos descobrirem o truque. 7- Quem descobrir não divulgará sua descoberta, mas fará coro ao ani- mador no julgamento “certo ou errado”. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a- importancia-da-recreacao-e-educacao-fisica-nas-escolas/50585. Fui à feira 1- Coloque o grupo reunido em círculo. 2- Comece falando: “Fui à feira e comprei bananas” 3- O seguinte participante deverá repetir a frase e acrescentar mais um produto. Exemplo: “Fui à feira e comprei bananas e laranjas.” 4- Quem se distrair ou quebrar a sequência, sai da brincadeira. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a- importancia-da-recreacao-e-educacao-fisica-nas-escolas/50585. Morto-vivo 1- Disponha os alunos de frente para a criança que for escolhida como líder, que é quem dará os comandos: “morto”, quando todos devem se abaixar, e “vivo”, quando todos devem se levantar. 2- A dificuldade aumenta conforme a velocidade e a sequência ditada pelo líder. 3- Quem se engana, passa a ser o líder. 4- Ganham os participantes que não se enganarem. Fernandes ([S.d.]). – 37 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Telefonesem fio 1- Coloque a turma em fila, uma ao lado da outra. As crianças transmi- tem uma mensagem no ouvido da criança que está mais próxima. 2- A mensagem pode ser uma palavra ou frase escolhida por quem está na ponta, ou sugerida por outra pessoa. 3- Iniciado o jogo, os participantes têm que dizer ao ouvido de quem está ao seu lado a mensagem escolhida. 4- Se alguém não entender bem a mensagem, tem que repassá-la mesmo assim, uma vez que esta não pode ser repetida. 5- As mensagens costumam ser modificadas ao longo do jogo, e o último fala em voz alta o resultado. Fernandes ([S.d.]). Estátua 1- As crianças se posicionam de forma aleatória e dançam ao som da música, mas quando ela for parada, os participantes não podem se mexer mais, permanecendo na forma como estavam quando a música parou. 2- Depois disso, você ou um aluno escolhido deve passar pelos partici- pantes avaliando quem permanece imóvel como uma estátua. 3- Pode apenas passar entre os participantes ou falar com eles e fazer caretas tentando fazer com que eles se mexam. 4- Quem se mexer, passa a auxiliar a professora a identificar quem se movimenta. Fernandes ([S.d.]). Detetive 1- Escreva em um papelzinho a palavra “detetive”; em outro, “ladrão”, e, de acordo com o número de participantes, escreva papeizinhos com a palavra “vítima”. 2- Faça um sorteio e depois organize as crianças em roda, sentadas ou em pé, para o jogo começar. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 38 – Detetive 3- Assim, o participante que pegou o papel de “ladrão” tem que arriscar e piscar para os outros participantes - um por vez - para tentar matá-los, mas sem que seja percebido. 4- Se o participante para quem o ladrão piscar for uma “vítima”, dirá “morri”, mas, se for o “detetive”, o ladrão é descoberto, fazendo com o que jogo acabe. Fernandes ([S.d.]). Dança das cadeiras 1- Coloque cadeiras dispostas em roda ou viradas de costas uma para as outras, em duas fileiras. 2- Deve ter uma cadeira a menos que o número de participantes. 3- Com o auxílio de música, as crianças devem começar a correr, em fila, em volta das cadeiras até que você pare ou abaixe o som. Cada par- ticipante tem que tentar ocupar um lugar para se sentar. 4- O participante que ficar em pé, sai do jogo, e, com a sua saída, sai também uma cadeira, até o fim do jogo. Todos que saem devem cantar a música e bater palmas no ritmo. Fernandes ([S.d.]). Quente ou frio 1- Esconda um objeto, que será procurado pelos alunos. 2- À medida que uma criança se aproxima do local onde o objeto foi escondido, você diz «quente», mas, ao contrário, quanto mais distante, diz “frio”. 3- Você pode ajudar ainda mais dizendo que “está esquentando” ou “está tão frio que congela”. 4- Quem encontrar o objeto, passa a comandar a brincadeira da próxima vez. Fernandes ([S.d.]). – 39 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Espelho 1- Em duplas, e posicionadas de forma aleatória em um espaço, as crian- ças têm que imitar os movimentos de quem está à sua frente, tal como se uma fosse o espelho da outra. 2- Uma criança pode ser escolhida como líder e será a responsável por avaliar quem consegue imitar melhor a criança à sua frente. 3- Ganha quem conseguir ser mais fiel aos gestos do seu companheiro. Fernandes ([S.d.]). Queimada 1- Divida os alunos em dois grupos. Cada equipe deve ocupar um lado de um campo chamado de campo de batalha, cujo meio deve ser mar- cado com um risco no chão. 2- Com uma bola, as crianças tentam acertar nos participantes da equipe adversária. As atingidas, são «queimadas», e saem do jogo. 3- Quando uma equipe lança a bola, a outra tem que tentar segurar e, em seguida, mandar a bola novamente para o lado oposto do campo para tentar atingir os adversários, ou então os integrantes têm que tentar escapar da bola sem sair dos limites do campo. 4- Ganha quem ficar por último, ou seja, aquele que não for “queimado”. Fernandes ([S.d.]). Pular elástico 1- Para essa brincadeira, é preciso um elástico de, pelo menos, 3 metros, o qual será amarrado pelas pontas, e haver, no mínimo, três participan- tes. 2- Duas crianças colocam o elástico na altura dos tornozelos e se distan- ciam para mantê-lo esticado, com a forma de um retângulo. 3- Outra criança tenta saltar o elástico, para dentro e para fora, sem se embaraçar nele. 4- São feitos vários movimentos com o elástico, saltando e o cruzando entre os pés. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 40 – Pular elástico 5- A dificuldade aumenta à medida que a altura do elástico vai subindo ao longo do jogo. Fernandes ([S.d.]). Jogo do Stop 1- Numa folha de papel, as crianças devem fazer colunas com os temas que querem preencher ao longo do jogo (nome, cor, fruta, carro, objeto, país, entre outros). 2- Uma das colunas deve ser reservada para a soma dos pontos. 3- Antes de cada partida, dizem “stop”, e cada participante mostra quan- tos dedos quiser. 4- O número de dedos corresponde às respectivas letras do alfabeto: 1 é A, 2 é B e assim por diante. 5- Depois de conhecida a letra, as crianças começam a preencher cada item da lista com um nome iniciado por essa letra. 6- Quem terminar de preencher primeiro, grita “stop” e o restante dos participantes para de escrever. 7- Ao fim de cada partida, os pontos são somados, sendo que cada um dos itens preenchidos vale 10, mas se alguém tiver preenchido com o mesmo nome, o item passa a valer 5 pontos. 8- Ganha quem tiver mais pontos. Fernandes ([S.d.]). Escravos de Jó 1- Coloque os alunos sentados em roda e na posse de objetos semelhan- tes (pedrinhas ou copinhos, por exemplo). As crianças vão passando os objetos para a criança ao lado, ao som da canção Escravos de Jó. 2- Ao cantar a palavra “tira”, a criança levanta o objeto do chão, depois, na sequência do verso, “bota”, devolve o objeto para o chão, e, no “deixa ficar”, a criança volta a passar o objeto para quem está ao seu lado. – 41 – O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações Escravos de Jó 3- No “zigue-zigue-zá”, do verso “Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-zá”, a criança passa o objeto para a frente e volta atrás sem o soltar. Fernandes ([S.d.]). QRCode No canal Mundo Das Crianças Tv, no YouTube, é possível conhecer a rítmica desta canção: Link: https://www.youtube.com/ watch?v=iFwV4Q24KbU. Acesso em: 21 set. 2020 É importante salientar a função do professor como “condutor” destas práticas, uma vez que estas brincadeiras antigamente eram passadas de criança para criança, em espaços de lazer, e hoje, com a diminuição destes espaços, muitas crianças desconhecem estas atividades. Também é o professor quem pode incentivá- las, com o protagonismo das crianças, dos adolescentes, e de jovens e adultos. Também é o profes- sor quem pode incentivá- -las, com o protagonismo das crianças, dos adolescentes, e de jovens e adultos. As brincadeiras podem ser utilizadas no recreio escolar, nos intervalos de alguma ativi- Figura 2.8 – Crianças brincando, guiadas por adulto Fonte: Shutterstock.com/ Kzenon Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 42 – dade dirigida, e, inclusive em dias de chuva, quando a atividade em quadra não seja possível. Saiba mais Cartilha de orientação de jogos e brincadeiras das culturas populares na Primeira Infância http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Cartilha- CriancaFeliz_web.pdf Desenvolvida pelo Ministério da Cidadania, Secretaria Especial da Cultura, Secretaria da Diversidade Cultural, Departamento de Promo- ção da Diversidade Cultural, Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano e Departamento de Atenção à Primeira Infância, com Produção Edito- rial e Coordenação-geral de Renata de Carvalho Ferreira Machado e Gilvani Pereira Grangeiro, esta publicação tem o objetivo de mostrar um pouco das brincadeiras e brinquedos da cultura popular e tradicio- nal do Brasil paraa primeira infância. As atividades desta cartilha estão apresentadas por faixas etárias, do nascimento até os cinco anos. Atividades 1. Em que dimensão ocorre o desenvolvimento da criança por intermédio das brincadeiras? 2. O que são e como se classificam os jogos de salão? 3. Quais princípios podem ser verificados no jogo? Qual a ideia de formato do jogo? 4. Qual a função do professor na condução dos jogos e brincadeiras? 3 Introdução aos jogos e brincadeiras O jogos e as brincadeiras são muito mais numerosos do que os registrados. É impossível reproduzir o universo lúdico das crianças sem utilizar estes dois elementos. Compreender a histó- ria do brincar é um trabalho de pesquisadores pelo mundo todo. São diversas fotografias de jogos e brincadeiras de acordo com seu tipo, material, funcionamento, temas e formatos. Essa prática social e cultural da criança tem grande significado no lugar em que a sociedade concede à criança e às representações que essa sociedade faz da infância. A ideia deste capítulo não é organizar um catálogo de jogos e brincadeiras, mas, por meio dos tópicos, vamos contextualizar a história da brincadeira e do jogo para que possas compreender que tanto as práticas do passado quando as atuais se cruzam e são fundamentais no desenvolvimento humano. O uso da tecnologia também pode estimular o imagi- nário e a criatividade. Porém, não estimula muito as vivências corporais, que são fundamentais para nosso desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor. Na literatura, nos jornais ou nas biografias, a lembrança dessas práticas foi conservada pelos folcloristas do século XIX e por etnólogos do século XX. Nas sociedades trandicionais, ainda se conserva parte destas práticas, o que nos permite a redescoberta de brincadeiras utilizadas, a maneira como eram realizadas e como elas ocorriam. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 44 – Figura 3.1 – Criança brincando com bolha de sabão Fonte: Shutterstock.com/AMidesign 3.1 História dos jogos e das brincadeiras Para pensarmos na história dos jogos e das brincadeiras, precisamos levar em conta essa dimensão, implicando em leituras dos pedagogos e dos educadores. Os jogos aparecem na literatura geral e somente a partir do século XVIII na literatura infantil. A partir deste material é que sabe- mos sobre a importância da utilização pedagógica e terapêutica dos jogos e brincadeiras nos trabalhos científicos brasileiros atuais. É importante ressaltar que a representação da cultura da infância oferecida pela litera- tura infantil ocupa um lugar especial na construção da história dos jogos e das brincadeiras. Os jogos e brincadeiras testemunham o olhar da criança e da sua cultura infantil; é por meio das representações que a criança se comunica com o mundo à sua volta. O mesmo vale para o adolescente, o adulto e a as pessoas da terceira idade. Cada país opera a sua própria sín- tese entre as raízes culturais locais e as que vêm de fora, e é assim que nas- cem seus jogos e brincadeiras regionais. A história da criança e da infância é, no Brasil, uma história sem dúvida muito complexa; para construir a história do jogo e da brincadeira nesse país, é preciso pesquisar muito as fontes, analisar e interpretar as que se parecem com as ferramentas e os conceitos que devem ser especificamente adaptados à história, à cultura e à sociedade brasileira. – 45 – Introdução aos jogos e brincadeiras Tendo em vista que o Brasil é um país muito grande, diversas são as brincadeiras tradicionais. Algumas delas são características de regiões específicas. Entre as principais, podemos citar: 2 amarelinha 2 cabra-cega 2 esconde-esconde 2 passa anel 2 cabo de guerra. 2 queimada 2 batata quente 2 pula sela 2 morto-vivo 2 elástico 2 bambolê 2 bola de gude Figura 3.2 – Brincadeira com bola de gude e bambolê Fonte: Shutterstock.com/Robert Kneschke Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 46 – QRCode No link a seguir, do blog Como Educar Filhos, conheça algumas das brincadei- ras mais realizadas nas regiões Nor- deste e Sudeste do Brasil para ensinar as crianças. Link: http://comoeducarseusfilhos.com. br/blog/6-brincadeiras-infantis-do-nor- deste-e-do-sudeste/ 3.2 Jogos cooperativos Dentre os jogos, vamos dar destaque aos jogos cooperativos. Este tipo de jogo tem como principal objetivo socializar as pessoas por meio de atividades que normalmente estão presentes nos jogos recreativos. Apesar de os jogos competitivos serem importantes no processo pedagógico, os jogos cooperativos podem ser utilizados como um recurso para antecipar as atividades competitivas esportivas e colaborar para desenvolver o tra- balho em equipe. Para Soler (2002) e Brotto (2001), os jogos cooperativos são aque- les em que se joga em conjunto com alguém, e não contra. O objetivo da prática é unir os participantes, com uma meta coletiva, e não individual. Assim, os jogos cooperativos têm como foco a superação de desafios e obstáculos, e não a superação do outro. Algumas competências que podem ser adquiridas com estas práticas são a empatia, a cooperação e a comunicação. 3.2.1 História e classificação dos jogos cooperativos Os jogos cooperativos tiveram início na década de 1950, nos Esta- dos Unidos da América (SOLER, 2002). Na década de 1970, o professor Orlick (1999), da Universidade de Ottawa, no Canadá, foi um dos princi- – 47 – Introdução aos jogos e brincadeiras pais difusores desse tipo de jogo. Orlick organizou os jogos cooperativos em três categorias, a saber: 2 jogos cooperativos sem perdedores – formados por um único grande time; 2 jogos de resultado coletivo – duas ou mais equipes, com forte traço de cooperação generalizado (dentro de cada equipe e entre equipes). O objetivo principal desse tipo de jogo é realizar metas em comum. 2 jogos de inversão – o praticante tem uma interdependência com a equipe. O professor deve auxiliar para que o jogo cooperativo aconteça, somente intervindo quando necessário. Deve ainda propiciar um ambiente favorável para que o praticante se sinta motivado em jogar. Quadro 3.1 – Comparação entre jogos competitivos e cooperativos Jogos competitivos Jogos cooperativos São divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos. Alguns têm o sentimento de derrota. Todos têm sentimento de vitória. Alguns são excluídos por falta de habilidade. Todos se envolvem independente de suas habilidades. Aprende-se a ser desconfiado e egoísta. Aprende-se a compartilhar e confiar. Divisão por categorias (meninos versus meninas). Há mistura de grupos, com um nível de aceitação mútua. Os perdedores são excluídos e tor- nam-se observadores. Os jogadores estão envolvidos por mais tempo no jogo. Os jogadores não se solidarizam e ficam “felizes” quando algo de ruim acontece aos outros. Aprende-se a se solidarizar com os sentimentos dos outros. Os jogadores são desunidos. Os jogadores têm um senso de unidade. Os jogadores perdem a confiança em si. Desenvolvem autoconfiança. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 48 – Jogos competitivos Jogos cooperativos Pouca tolerância à derrota desen- volve em alguns um sentimento de desistência face a dificuldades. A habilidade de perseverar face às dificuldades é fortalecida. Poucos se tornam bem-sucedidos. Todos encontram um caminho para se desenvolver. Fonte: Walker (1987). 3.3 Competências e habilidades relacionadas à prática dos jogos e brincadeiras Para compreendermos as competências e habilidades relacionadas à prática dos jogos e das brincadeiras, é fundamental contextualizar com o documento vigente que orienta a educação básica quanto ao desenvolvi- mento de competências e habilidades no ensino formal – a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A BNCC é um documento feito pelo Minis- tério da Educação (2018), o qual define as aprendizagens essenciais para alunos brasileiros no Ensino Básico. Objetivaque todos os estudantes tenham a preservação do direito ao acesso ao conhecimento, independen- temente das diferenças sociais ou culturais. A BNCC serve de referência para o desenvolvimento dos currículos das redes municipais, estaduais e federal. Ela pode ser uma balizadora da qualidade da educação nas escolas públicas e particulares do país. Para atividades em contraturno e em escolas especializadas, é interes- sante se utilizar deste documento, a fim de justificar a importância dos serviços prestados. Segundo a BNCC, dez competências gerais devem nortear a produ- ção de conhecimento de todas as disciplinas escolares. Os alunos devem aprender a (BNCC, 2018): 1. aplicar os conhecimentos sobre o mundo para compreender a realidade e construir uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. – 49 – Introdução aos jogos e brincadeiras 2. promover pensamento científico, crítico e criativo para encontrar e solucionar problemas de diferentes áreas. 3. valorizar e participar de manifestações artísticas e culturais do Bra- sil e do mundo. 4. utilizar diferentes linguagens (verbal, corporal, sonora, digital…) para produzir e compartilhar conhecimento. 5. compreender, utilizar e criar tecnologias digitais nas diversas prá- ticas sociais para compartilhar e produzir conhecimento, resolver problemas e exercer protagonismo. 6. valorizar a diversidade e apropriar-se de conhecimentos que colaborem no mundo do trabalho, exercício da cidadania e pro- jeto de vida. 7. promover os direitos humanos, consciência socioambiental e o consumo responsável com base em informações confiáveis. 8. conhecer e preservar a própria saúde física e emocional. 9. exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a coope- ração, valorizando a pluralidade sociocultural sem preconceitos. 10. agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, fle- xibilidade, resiliência e determinação, em defesa da ética, demo- cracia, inclusão, sustentabilidade e solidariedade. A seguir, iremos verificar as habilidades eu desenvolvo quando jogo ou realizo brincadeiras (7 HABILIDADES... [S.d.]): 1. Criatividade Ao brincar, utilizamos imagens, cenários, cores, desafios etc., o que exige grande imaginação e criatividade. Jogos e brinca- deiras auxiliam as crianças no desenvolvimento da criatividade, que está potencializado nessa fase da vida. Ao aprimorar essa habilidade, a criança pode então explorá-la de outras formas nas tarefas do cotidiano. 2. Trabalho em equipe Os jogos podem ajudar a trabalhar esta competência tão impor- tante, pois os jogos exigem interação e o trabalho pelo bem do coletivo. Mesmo em jogos individuais, há interação, pois preci- samos trocar ideias, informações etc. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 50 – 3. Raciocínio lógico O jogo exige raciocínio lógico, realizar ações em sequência. Por isso, essa habilidade é amplamente trabalhada. 4. Resolução de problemas Durante o jogo podem surgir problemas, e a habilidade de resolver problemas se fará importante para obter sucesso/ven- cer a partida. 5. Comunicação Em muitos jogos, é necessário trabalhar em equipe. Para isso, é preciso aprender a ter uma boa comunicação O contato com outras pessoas estimula o aprimoramento dessa habilidade. 6. Pensamento abstrato Em brincadeiras e jogos, muitas vezes precisamos pensar de forma abstrata, ou seja, o pensamento sobre o que não está no meio físico. A organização dessas ideias na mente é um estímulo para desenvolver essa competência, que é importante em diver- sas situações da vida. 7. Resiliência Resiliência é a habilidade em vivenciar um problema e manter o equilíbrio emocional. Essa competência relaciona-se com supe- rar frustrações, o que pode acontecer com frequência em jogos, afinal, às vezes o planejado pode não dar certo, e o resultado do jogo não ser satisfatório, ou ser necessário recomeçar tudo o que foi feito. A resiliência traz a capacidade de compreender que esse tipo de situação acontece e organizar os pensamentos, bus- cando no raciocínio lógico a resolução de problemas e a supera- ção do ocorrido. Ainda pensando no desenvolvimento de habilidades durante a prática de jogos e brincadeiras, a Universidade de Harvard, dentro do seu cen- tro de desenvolvimento infantil, produziu um guia com estas habilidades. Este material chama-se: Como usar brincadeiras para ensinar habilida- des essenciais a crianças. Acesse em: https://developingchild.harvard.edu/ – 51 – Introdução aos jogos e brincadeiras media-coverage/como-usar-brincadeiras-para-ensinar-habilidades-essen- ciais-a-criancas-segundo-harvard/ Neste material, atividades são sugeridas para serem aplicadas por pais e professores, para desenvolver crianças, tendo em vista a formação de adul- tos prontos para o futuro no mercado de trabalho e nas relações humanas. A seguir, os dados contidos neste material, explicados pela BBC Brasil: Para bebês de 6 a 18 meses de idade - Brincar de “esconde/achou!” ajuda a exercitar a memória, ao desafiar o bebê a lembrar quem está escondido e a esperar que a pessoa se revele. - Esconda um brinquedo sob um pano e peça ao bebê que o pro- cure; aumente o desafio à medida que ele identifique os objetos. Ao lembrar a mudança de lugar do brinquedo, ele exercita a memó- ria. Crianças maiores vão se divertir se escondendo e escutando o adulto enquanto ele a procura. Uma variação dessas brincadeiras é esconder um objeto sob um de três copos virados para baixo e pedir que a criança adivinhe em qual ele está. - Jogos de imitação divertem e desafiam o bebê a acompanhar as ações dos adultos, lembrá-las e esperar sua vez de repeti-las. Podem ser desde repetir gestos ou ordenar os brinquedos de certo modo (por exemplo, empilhar blocos ou colocar animais dentro de um cercadinho), para depois pedir ao bebê que repita (IDOETA, 2018, [S.p.]). Para crianças de 18 a 36 meses - Brincar de jogar e pegar bola, pular, correr para cima e para baixo em uma ladeira. Estipule regras simples, como correr até uma linha de chegada - Narrar a brincadeira da criança ajuda-a a entender como a lingua- gem descreve suas ações. À medida que a criança cresce, é possível lançar perguntas: “O que você vai fazer a seguir?” ou “Quero ver você colocar a bola dentro do pote. Quais as formas de se fazer isso?” - Pedir à criança que separe objetos por tamanho, forma ou cor, por exemplo, exige da criança entender as regras da atividade, memorizá-la e segui-la. - Brincar de imitar adultos com objetos do dia a dia (panelas, vassouras) ou de imaginar, deixando a criança determinar qual “papel” ela e o adulto devem interpretar (IDOETA, 2018, [S.p.]). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 52 – Para crianças de 3 a 5 anos: - Brincar de imaginar ajuda a criança a desenvolver pensamentos complexos e a interpretar um papel por exemplo recriando uma ida ao médico, montando sua peça de teatro ou contando uma história. - Estimular a criança a contar histórias, que vão crescendo em complexidade à medida que ela crescer estimulando a memória e o uso de informações de modo coerente. Ajude-as a criar suas próprias histórias e peças. - Brincadeiras de movimento com música, como “estátua” - tor- nando as tarefas mais difíceis à medida que a criança vencer os obs- táculos -, ajudam a ensinar a sincronizar palavras, ações e ritmos. - Já dá para estimular atividades silenciosas e de foco, como equi- librar-se em uma trave ou meio-fio da calçada, exercitar uma pose de ioga, jogar bingo ou fazer jogos de memória e quebra-cabeças mais complexos. Todos exercitam a flexibilidade cognitiva (IDO- ETA, 2018, [S.p.]). Para crianças de 5 a 7 anos: - Jogos com regras e desafios crescentes permitem às crianças exercitar habilidades como atenção, foco, memória operacional, cooperação e autocontrole. - Sugira jogos que sejam desafiadores, mas não em excesso, e esteja pronto para ajudar a negociar eventuais conflitos que sur- jam durantea atividade - por exemplo, usando cara ou coroa para designar de quem é a vez de jogar. - Estimule jogos de tabuleiro, de cartas e de estratégia. Algumas sugestões: Uno, Mico, Duvido (também chamado de Desconfio), Batalha Naval ou Damas. - Dança das cadeiras, “estátua”, queimada, batata-quente, músicas de repetição em que cada jogador acrescenta uma frase nova e ati- vidades semelhantes exigem que a criança esteja atenta, entenda regras, monitore as ações dos demais e reaja com agilidade. - É uma fase importante para estimular a prática de esportes organi- zados - jogos que exigem coordenação e exercício aeróbico, como o futebol, ajudam a melhorar a atenção. Atividades como ioga e tae kwon do exercitam o foco, a atenção e o controle das ações. - Atividades mais silenciosas podem exercitar a habilidade de resolver problemas, a autonomia e a reflexão. Bons exemplos são livros de atividades com labirintos e caça-palavras, quebra-cabe- ças ou jogos de adivinhar (IDOETA, 2018, [S.p.]). – 53 – Introdução aos jogos e brincadeiras Para crianças de 7 a 12 anos: - Nessa idade, é importante ir aumentando a complexidade das ati- vidades e estimular as que envolvem regras, movimentos, flexibi- lidade e atenção seletiva. - Jogos de baralho como Espadas e Bridge, Sudoku, palavras- -cruzadas e cubo de Rubik (ou cubo mágico) desafiam o cérebro e estimulam a memória operacional; games fantasiosos de regras complexas, como Minecraft e Dungeons & Dragons, ajudam a pra- ticar estratégias e objetivos. - Esportes organizados, instrumentos musicais e aulas de dança ajudam a praticar diversos aspectos das funções executivas. - Pular corda, com todas as suas variações, exige prática e foco. - Aulas de música ou corais estimulam a seguir ritmos e desenvol- ver coordenação (IDOETA, 2018, [S.p.]). Adolescentes - Atividades como esportes, ioga, meditação, música, teatro, jogos de estratégia (como xadrez) ou mesmo de computador (desde que com limites de tempo) ajudam a praticar foco, reduzir estresse, promover decisões menos impulsivas e gerenciar o próprio com- portamento (IDOETA, 2018, [S.p.]). 3.4 Os jogos e brincadeiras: planos de aula Agora que você já identifica as habilidades relacionadas ao trabalho das culturas corporais do movimento, você já pode realizar um plano de aula com jogos e brincadeiras. Pense no seguinte formato: 2 tema da aula; 2 objetivo (lembre-se de apresentar uma contextualização com a BNCC); 2 faixa etária; 2 tempo de aula; 2 materiais; Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 54 – 2 aquecimento; 2 desenvolvimento; 2 finalização, volta calma; 2 avaliação. Exemplo (IDF, 2020): 2 tema da aula – recreação. 2 objetos de conhecimentos – brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional. 2 faixa etária – crianças de 6 a 10 anos. 2 tempo de aula – 2 horas. 2 materiais – corda. 2 habilidades desenvolvidas: 2 o Experimentar, fruir e recriar diferentes brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional, reconhecendo e respeitando as diferenças indi- viduais de desempenho dos colegas. 2 o Explicar, por meio de múltiplas linguagens (corporal, visual, oral e escrita), as brincadeiras e os jogos populares do contexto comunitário e regional, reconhecendo e valori- zando a importância desses jogos e brincadeiras para suas culturas de origem. 2 o Planejar e utilizar estratégias para resolver desafios de brincadeiras e jogos populares do contexto comunitário e regional, com base no reconhecimento das características dessas práticas. 2 o Colaborar na proposição e na produção de alternativas para a prática, em outros momentos e espaços, de brinca- deiras e jogos e demais práticas corporais tematizadas na escola, produzindo textos (orais, escritos, audiovisuais) para divulgá-las na escola e na comunidade. – 55 – Introdução aos jogos e brincadeiras 1. Aquecimento Alongamento seguido de explanação sobre a atividade que será desenvolvida. 2. Desenvolvimento 2 Atividade 1: corda no chão Deve-se estender uma corda no pátio, formando curvas. O aluno deve caminhar sobre a corda com os dois pés, equi- librando-se. Em seguida, a atividade será repetida, porém dessa vez com um colega de cada lado segurando o aluno peço braço, para facilitar a realização da atividade. Como regra, não se deve pisar fora da corda. 2 Atividade 2: risonhos Os alunos devem ser colocados em círculo numa área aberta. Um dos alunos irá lançar uma bola para o alto e em seguida pegá-la no ar. Os demais devem rir sem parar, exceto quando a bola tocar o chão, ocasião em que deverão se calar imediatamente. Quem não conseguir parar de rir, deverá pagar uma prenda (responder a uma pergunta sobre algum conteúdo estudado, por exemplo). 2 Atividade 3: lencinho na mão Os alunos devem ser colocados em círculo no pátio, senta- dos no chão. Um deles deve receber um lenço, e em seguida irá caminhar em volta do círculo de alunos, deixando o lenço, sem que ninguém perceba, atrás de algum colega. Este colega deve pegar o lenço e correr atrás do primeiro aluno, tentando pegá-lo. Caso consiga, o aluno pego deve virar o pegador. Para salvar o fugitivo, ele deve se sentar no lugar em que o pegador estava sentado originalmente. 2 Atividade 4: bola na cabeça Devem ser formadas duas colunas com o mesmo número de participantes. O professor deve distribuir a bola para Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 56 – o primeiro jogador de cada coluna, os quais devem pas- sar a bola para o colega seguinte, com as duas mãos, por cima da própria cabeça. Os alunos do restante das colunas devem proceder de igual forma, até o último jogador de cada coluna, que deve então correr para a frente e repetir o exercício. Essa sequência deve ser repetida até o primeiro jogador voltar para a posição inicial na coluna. A equipe que realizar a tarefa por primeiro, sem deixar a bola cair no chão, é a vencedora. 3. Volta calma Ao final das atividades, os alunos devem ser posicionados em círculo e deve ser feita uma breve discussão sobre a aula – pon- tos mais apreciados, o poderia ser melhorado etc. 4. Relaxamento Os seguintes conceitos devem ser desenvolvidos: 2 entendimento sobre as características dos jogos; 2 participação de maneira interativa e cooperativa nas ati- vidades; 2 prática leal e cumprimento das regras propostas. Figura 3.4 – Criança em atividade de jogos cooperativos dirigido por professora Fonte: Shutterstock.com/Oksana Shufrych – 57 – Introdução aos jogos e brincadeiras A seguir, serão dados exemplos de jogos e brincadeiras para incluir no seu plano de aula. Serão divididos pelo formato de realização e classificação. 3.4.1 Jogos cooperativos 2 Pique bola na mão (BARTHOLO, 2009) Este jogo é um pega-pega que conta com um pegador e uma bola salvadora. O objetivo é passar essa bola entre os alunos, difi- cultando a ação do pegador. Os alunos devem cooperar entre si, fazendo a bola chegar até aqueles que estão em maior dificuldade. 2 Bola no lençol (BARTHOLO, 2009) Os alunos devem ser divididos em grupos de 4 ou 5 participan- tes. Cada grupos deve segurar as pontas de um lençol, aumen- tando sua superfície, e jogar a bola do lençol de um grupo para o outro, utilizando o próprio lençol para lançar a bola. Essa brin- cadeira tem como objetivo que a bola seja lançada de um grupo para o outro sem que toque o solo. 3.4.2 Jogos competitivos 2 O queijo é meu (BARTHOLO, 2009) Essa brincadeira tem como objetivo acumular bolas em uma equipe. Deve-se dividir uma quadra em quatro espaços iguais. Cada um desses espaços será a “casa” de uma equipe, que deve possuir 6 integrantes. Os integrantes de cada equipe serão dividi- dos em funções: 4 integrantes deverão ser os “gatos”, que devem permanecer em suas casas e passar o queijo (representado pela bola), impedindo que ele seja interceptado pelos “ratos” das outras equipes,que têm liberdade para entrar nas outras casas e tentar pegar a bola da equipe alheia. Vence o jogo a equipe que conseguir ficar com todas as bolas. 2 Nunca três (JOGOS E..., 2016) Os alunos devem correr aos pares, de mãos dadas. Um deles deve ser o pegador. Ao encostar em um aluno, uma pessoa da Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 58 – dupla ficará como seu par e o outro, o que não foi tocado, deverá soltar as mãos e será o novo pegador. 2 Corrida do tênis (JOGOS E..., 2016) Deve-se dispor os alunos em duas colunas. Um a um, devem cor- rer até o outro ponto da quadra, tirar o tênis e voltar para a sua coluna. Marca ponto a equipe que conseguir tirar primeiro todos os tênis. Depois que todos estiverem sem tênis, será dada a voz de comando para que todos os alunos se dirijam novamente ao local onde deixaram os sapatos e os coloquem. Depois de recolocarem os tênis, os alunos deverão se dispor em seus lugares na coluna. Vencerá a equipe que conseguir cumprir a tarefa primeiro. 2 Par e ímpar (JOGOS E..., 2016) Os participantes devem estar dispostos em duas fileiras, uma de costas para a outra. Uma fileira será a par e a outra será a ímpar. Quando o comandante disser par, a coluna par deverá fugir, e a ímpar tentará pegar os integrantes da fileira fugitiva. Pode-se aumentar dificuldade colocando algumas operações matemáti- cas, de forma que o resultado seja o número dito. 2 Ovo podre (JOGOS E..., 2016) Forme dois círculos, um dentro do outro. Um aluno deverá ficar de fora, andando em volta dos círculos com uma bolinha de meia e falando: “ovo podre, tá fedendo”. Em determinado momento, ele coloca a bola atrás de uma dupla e sai correndo, e deverá ser acompanhado pelos colegas. O último que chegar ao lugar é que fica com o “ovo podre”. 2 Jogo da velha com aro (JOGOS E..., 2016) Deve-se colocar os participantes separados em colunas de cinco pessoas, sempre uma coluna contra a outra. Eles não podem con- versar entre si e nem demorar muito para se posicionar no jogo da velha. Iniciado o jogo, os participantes deverão, um de cada vez, posicionar-se dentro de um aro (os aros estarão posiciona- dos no chão, formando um jogo da velha). Ganha a equipe que conseguir completar o jogo da velha. – 59 – Introdução aos jogos e brincadeiras 3.4.3 Jogos criativos 2 Bola imaginária (JOGOS E..., 2016) Deve-se distribuir os alunos em círculo. A brincadeira começa com um aluno imaginando uma bola, e em seguida a toca para outro colega. Este, por sua vez, imaginará outra bola, e deverá tocá-la para outro colega. Assim se sucede até que todos os alu- nos tenham brincado. A ideia é que cada aluno imagine uma bola de esporte e tamanho diferentes. 2 Coitadinho do gatinho (JOGOS E..., 2016) Com os alunos sentados em círculo, um aluno deverá engatinhar no centro do círculo. Em determinado momento deverá parar na frente de um colega, que repetirá três vezes “coitadinho do gati- nho”. Se o aluno que estiver falando a frase rir, ele deverá assu- mir o papel de gato; caso contrário, o gatinho deverá continuar, se dirigindo aos outros do círculo, miando, até que alguém ria. 2 Bomba (JOGOS E..., 2016) Deve-se posicionar os alunos em círculo e três participantes devem ser escolhidos para serem “bombas”. Um aluno, que não pode saber quem foram os escolhidos, deve adivinhar quem são as bombas, tocando aleatoriamente na cabeça de cada colega; quando isto acontecer, todos do círculo deverão gritar “bum” quando ele tocar em uma das bombas, com o intuito de assustar o colega. 2 A partitura (JOGOS E..., 2016) O professor ou aluno vai para a frente da turma com um papel e uma caneta e vai riscando esta folha. Quando os riscos vão subindo, os alunos deverão aumentar a entonação da voz, e quando o contrá- rio acontecer a entonação deverá diminuir, imitando uma partitura. 3.4.4 Jogos para dias de chuva 2 Dança das cadeiras (JOGOS E..., 2016) Deve-se dispor as cadeiras em círculo. Os alunos devem dançar a dança das cadeiras tradicional. Porém, ao invés de eliminar Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 60 – os alunos junto com a cadeira cada vez que a música é parada, elimina-se somente a cadeira, e deve-se dar um jeito para que se todos os alunos se sentem nas cadeiras restantes. A ideia é criar a cooperação por meio desta adaptação. 2 A travessia (JOGOS E..., 2016) Os alunos estarão em um canto da sala de aula e serão disponibi- lizados três colchonetes a eles. Será dito que a sala é um grande rio, e que eles deverão atravessá-lo, com a ajuda simplesmente dos três colchonetes. Tendo em vista estas atividades, distribua-as, levando em consi- deração o planejamento de área. Tente desenvolver as práticas de maneira a evoluir sua complexidade, levando em consideração o plano de ensino ou plano anual, o plano de unidade (bimestre, trimestre ou semestre) e, por fim, o plano de aula. Saiba mais Artigo: Para conhecer mais jogos e brincadeiras populares: Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/verAula.html?aula=16051 Neste material, os alunos elaboraram uma grande lista com todos os jogos e as brincadeiras que eles conheciam. Livro: BROTO, Fabio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Editora Palas Athena, 2013. Este livro destaca os principais aspectos do exercício da convivência, por meio do jogo e do esporte. É uma obra de referência para todos aqueles que têm como objetivo refletir a respeito de temas atuais como jogo, esporte, educação e pedagogia. – 61 – Introdução aos jogos e brincadeiras Atividades 1. Tendo em vista que em cada país os jogos e brincadeiras terão carcaterísticas relacionadas a sua história, como são as práticas no Brasil? Cite pelo menos três. 2. Qual é o objetivo dos jogos cooperativos? 3. Em quais categorias podemos dividir os jogos cooperativos? 4. Cite três brincadeiras tradicionais do Brasil. 4 História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Antigamente, tribos de diferentes línguas se comunicavam em longos percursos com batidas de tambores. O movimento corporal, o ritmo, eram percebidos e, assim, a informação era transmitida. Ser sensível à observação do movimento tornou- -se uma linguagem natural, embora o ser humano tenha perdido muito dessa forma de se expressar (GARCIA, [S.d.]). O movimento é uma ferramenta útil para o trabalho do ator e do bailarino, assim como o controle e desenvolvimentos dos seus hábitos. Movimentos internos, como o sentimento e o pen- samento, são refletidos nos olhos, nas expressões faciais e nas mãos (GARCIA, [S.d.]). Ao longo deste capítulo, vamos conhecer algumas questões relacionadas aos fundamentos da dança através da história – o pro- cesso da dança como prática física para começar a planejar uma aula de dança, levando em consideração os princípios aprendidos sobre desenvolvimento humano apresentados neste material. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 64 – 4.1 Dança arte e dança prática corporal A dança é uma expressão de arte que utiliza como base o movimento corporal. Há a forma teatral – realizada em palco, com danças coreogra- fadas – e a social – praticada ao ar livre, em clubes etc., de gêneros popu- lares, como o frevo, forró e danças de rua. E ambos os casos, os passos são cadenciados, são acompanhados de música e é criado um conjunto de movimentos, denominado coreografia (NOVA ESCOLA, 2007). Em relação ao corpo, a dança é uma forma de integração e expres- são individual e coletiva. Por meio dela, é possível exercitar a atenção, a percepção e a colaboração. Auxilia no desenvolvimento da autoimagem e da consciência corporal. Pensando no contexto escolar, é fundamental que essa prática esteja presente no aprendizado em sala, pois sabe-se que a ação física é a primeira forma de aprendizagem, e torna a criança mais exploradora, espontânea e livre (NOVA ESCOLA, 2007). “As descobertas feitas com o corpo deixammarcas, são apren- dizados efetivos, incorporados. Na verdade, são tesouros que guardamos e usamos como referência quando precisamos ser criativos em nossa profissão e resolver problemas cotidianos. Os movimentos são saberes que adquirimos sem saber, mas que também ficam à nossa disposição para serem colocados em uso” Esteban Lewin, psicólogo argentino e pesquisador em psico- motricidade Ao lado do teatro e da música, a dança é uma das três principais artes cênicas da Antiguidade. Tem por característica tanto os movimentos coreográficos quantos os improvisos (DANTAS, [S.d.]), e pode ser tida como expressão de arte ou apenas uma forma de se divertir. É uma das formas mais antigas de se expressar. Strazzacappa (2001) coloca que a dança existe desde os tempos do homem primitivo, como vimos no início do capítulo. Usar a dança nas aulas pode trazer um novo olhar, reflexões e mudan- ças, além do prazer em aprender de forma dinâmica – dançando. O ensino da dança no âmbito geral, ajuda no desenvolvimento físico e cognitivo além de contribuir para a socialização e o respeito a costumes e tradições. – 65 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas O aluno adquire autoconhecimento, desenvolve aspectos humanos diversos e aprende brincando, de forma lúdica, amenizando as tensões muitas vezes ocasionadas no processo de aprendizagem. A dança também pode aprimorar funções motoras, como coordena- ção, equilíbrio, flexibilidade, resistência, agilidade e elasticidade. Betti (2009) coloca que a educação por meio da dança auxilia os alunos na aplicação do que aprendem na escola para outras áreas da vida. De acordo com Ribeiro (2019), as brincadeiras, as danças populares e a dança acadêmica são exercícios corporais que permitem o desenvol- vimento de um corpo expressivo. Dessa forma, podemos entender que a expressão corporal é o início do ato de dançar. Isso porque, desenvol- vendo a expressão e criando movimentos, o indivíduo pode experimentar a dança significativa. Para Ribeiro (2019), o corpo é, então, o instrumento de maior comunicação com o mundo. Segundo Ribeiro (2019), a criança inicia uma gama grande de ações nesse momento – ela experimenta o mundo, bate palmas, ri, chora, explora a afetividade, os toques corporais, os sons, entre outras. Figura 4.1 – Professora em aula de dança Fonte: Shutterstock.com/Iakov Filimonov Na dança, podemos viver igualmente tempo e espaço; essa grande arte nos permite relacionar o artista e a obra ao mesmo tempo. A core- ografia na dança é, portanto, o formato que temos para compô-la. Nesta Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 66 – arte, a técnica não é fundamental, é somente instrumento para podermos comunicar algo. Mas não existe somente a coreografia, existe também a improvisação e, com uma boa pesquisa de música, é possível propor a improvisação de bailarinos e/ou alunos. Essa também é uma técnica dentro da dança que exige estudo e cuidado. A improvisação permite ao bailarino expressar-se com um sentimento momentâneo, tornando essa realidade espaço tempo muito mais sincronizado. É com certeza um elemento que depende muito mais do bailarino do que do professor ou do condutor desta prática. De uma improvisação pode-se desenvolver uma coreografia, mas sem esque- cer de que para improvisar é necessário conhecer muito bem a música e as etapas enquanto conhecimento musical, mapeamento e estrutura musical nesta nova prática. Algumas técnicas que podemos utilizar para relacionar música e dança: 2 canon, que é quando pessoas realizam movimento um após o outro em sequência. 2 retrógrada, que é quando pessoas realizam movimento em sequ- ência inversa. 2 espelhamento, que é quando as pessoas realizam o mesmo movi- mento um de frente para o outro. 2 sombreamento, que é quando uma pessoa atrás de outra realiza os movimentos em forma de cópia. 2 uníssono, que é quando duas ou mais pessoas realizam a mesma série de movimentos ou os meus movimentos ao mesmo tempo. 2 Além disso, podemos trabalhar dentro de uma sequência as pos- sibilidades de níveis: 2 alto – com os saltos e movimentos aéreos. 2 médio – com os movimentos realizados em pé na estrutura da altura dos bailarinos. – 67 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas 2 baixo – com todos os movimentos que são realizados no plano do solo, rolamentos, deslizamentos e movimentos agachados. Figura 4.2 – Professora de balé em escola de dança Fonte: Shutterstock.com/SFROLOV A dança é uma atividade física alegre, e proporciona bem-estar e estí- mulo aos praticantes. Segundo Szuster (2011), essa prática traz mais moti- vação, autoestima e determinação. As pessoas que dançam sentem-se mais tranquilas e felizes consigo mesmas e com os outros. Conforme Guimarães (2003), a dança como modo de viver traz saúde, por meio do domínio socioafetivo, psicomotor e perceptivo-cognitivo. 4.2 História da dança A dança sofreu e sofre transformações ao longo da história. Muitos ritos ainda a utilizam como foco principal, como casamentos, formaturas e festas de 15 anos, sendo a dança a comunicação para que a apresentação social ocorra (GARCIA, [S.d.]). Veremos a seguir a evolução histórica da dança. É comum notar que a dança evoluiu diretamente conduzida pela história humana. Veremos isso nos tópicos seguintes. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 68 – Figura 4.3 – Linha do tempo da história da dança Fonte: Ribeiro (2019, p. 70). 4.2.1 Dança na Era Primitiva De acordo com Ribeiro (2019), a dança nasceu da relação com a natureza e foi uma das primeiras manifestações artísticas do ser humano. Na Era Primitiva, 4000 a. C., ocorreram as primeiras invenções, como o fogo e a roda. Já nessa época, o homem dançava individualmente como forma de obter alimento, alterar as condições climáticas e acasalar. Ribeiro (2019) coloca ainda que a dança foi encontrada em vários registros de diversas partes do mundo. A partir da Arqueologia, observou- -se que havia rituais religiosos pautados na dança. As pinturas rupestres mostravam vários movimentos de dança nas rochas em cavernas. Assim, ficou convencionado que a dança foi a primeira linguagem humana. 4.2.2 Dança na Idade Antiga A Idade Antiga vai de 4000 anos a.C. até 476 d. C. Nesse período, o homem deixa de ser nômade e passa a se estabelecer em aldeias. A partir do desenvolvimento da agricultura, surgem os egípcios, os gregos e os romanos. – 69 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Para o Egito, a dança fazia parte de um ritual sagrado. Ribeiro (2019) coloca que, nesse período, a dança estava relacionada a fenômenos da natureza; portanto, dançar era visto como importante para desenvolver uma boa agricultura. As estações do ano foram compreendidas a partir da dança. Na civilização grega, a dança teve mais espaço, pois era considerada um dom dos imortais, que a utilizavam como forma de comunicação dos mortais para os deuses. Assim, atribuía-se à dança caráter religioso e mís- tico. Com a ideia de corpo e mente sãos, o homem grego elevou a dança ao apogeu (GARCIA, [S.d.]). De acordo com Brickman (1989), grandes filósofos tratavam a dança como a arte relacionada à educação, o que era importante para se formar um bom cidadão. Além disso, os gregos utilizavam a dança em ritos, festas, como uma forma de lazer, e como prática esportiva. Alguns movimentos de dança dessa época, especialmente na Grécia, seguem presentes na dança clássica. Saiba mais Em peças de teatro é muito comum verificar a dança. A prática come- çou com o povo grego e permanece até os dias de hoje. Acesse o vídeo intitulado Dualidade – Cia. Corpo em Cena Dança/Teatro, da companhia de dança Corpo em Cena, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=XTyCFLBwEzw. Acesso em: 6 out. 2020. Houve um processo de desvalorização da dança após algumas guer- ras na civilização romana. Para Ribeiro (2019), a repressão da práticada dança começou com o povo romano. 4.2.3 Dança na Idade Média Essa época foi marcada pelo grande poder atribuído à Igreja Católica. As relações humanas estavam muito focadas na religião, e a Igreja definia o que as pessoas podiam ou não fazer. Isso se estendeu à dança (RIBEIRO, 2019). Com os Imperadores Romanos Cristãos, a dança passou a ser con- denada, principalmente porque foi utilizada ao longo da história em ritu- Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 70 – ais de diversos deuses antigos, vista portanto como uma “dança profana”, contra os princípios monoteístas cristãos. Apesar disso, a classe popular continuou a dançar, em rituais de comu- nhão. Foram os camponeses que mantiveram viva a dança nesse período. 4.2.4 Dança na Idade Moderna A Idade Moderna foi marcada pelas navegações, que objetivavam dominar a América e a África. Foi um período marcado por expansão, conquistas e novas tecnologias. Ao mesmo tempo, a Reforma Protestante dividiu a igreja cristã entre católicos e protestantes, perdendo seu poder político. Ribeiro (2019) aponta essa conjunção de fatores levou à ideia de corpo como máquina, o que se refletiu em movimentos de dança, que trouxeram elementos das máquinas e das indústrias. Com a valorização da ciência, a dança passou a buscar a perfeição dos movimentos. Dessa forma, surge a dança erudita, elitizada. As artes, incluindo a dança, passaram a ser vistas como sinal de riqueza e poder. São dessa época os balés da Corte de Luís XIII, na França, seguindo a prática com o filho, Luís XIV, que aprimorou as apresentações. Surge aí o balé clássico (BOURCIER, 2001). Beauchamp, Lulli e Noverre são grandes coreógrafos que surgiram nesse período. Criam-se as primeiras companhias de dança, que trouxeram uma profissionalização para o ato, com salários e definição de contratos. 4.2.5 Dança na contemporaneidade A Era Contemporânea é marcada pela necessidade de expressão, novas formas de organização social e mudanças de pensamentos e valores. Nesse momento surgiram novas danças, como a moderna, em oposição à estrutura tradicional e rígida do balé clássico. Como um dos grandes nomes desse período, podemos citar Isadora Duncan, principal nome da dança moderna. Seus movimentos tinham como intuito se aproximar dos naturais, buscando a liberdade de expres- são por meio da dança. – 71 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Figura 4.4 – Isadora Duncan Fonte: Shutterstock.com/Everett Collection A dança moderna, geralmente, era dançada de pés descalços, com roupas leves, utilizando movimentos com técnicas de tensão e relaxa- mento. O fato de dançar descalço conferiu ao bailarino a possibilidade de explorar mais movimentos, como torções e desencaixes. Saiba mais Você a conhece? Isadora Duncan descrevia que, quando menina, havia dançado a ale- gria espontânea do crescimento. Já quando adolescente, a alegria se transformou em apreensão das correntes que estavam por vir. A baila- rina não trouxe novas técnicas à tona, mas uma nova concepção quanto ao conceito da dança: mais leve, fluída e natural. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 72 – Para Isadora, a dança devia ser não apenas uma arte expressiva, mas uma concepção de vida harmoniosa e flexível. Em sua análise, a dança não devia ser um mero conjunto de movimentos, nem a combinação mecânica de passos (DANTAS, 2007). Outras danças surgiram nesse período, como a dança do jazz, influen- ciada pelo movimento musical do jazz norte-americano, e utiliza técnicas do balé clássico e de estruturas desenvolvidas na dança moderna. Logo após a Primeira Guerra Mundial, a dança passou por uma nova transformação: o homem pós-guerra sentiu a necessidade de des- cobrir uma nova linguagem, uma nova forma de expressar suas necessi- dades. Segundo Brickman (1989), surgiu com isso a dança pós-moderna ou contemporânea, caracterizada pela experimentação e pela criação de novas estruturas. Na pós-moderna, os pés, que passaram das sapatilhas para descalços, começaram a calçar tênis. Os lugares de apresentação deixaram de ser somente os teatros, e passaram a incluir locais públicos, com roupas seme- lhantes às usadas comumente. A dança contemporânea veio com a proposta de pesquisa de movi- mento. Deu-se destaque a novas estruturas, técnicas somáticas, contato e improvisação. Buscou-se, além disso, novas formas de interação com o público. Para Brickman (1989), assim, a relação do bailarino com o chão, o palco e o local de dança são explorados. Outras manifestações artísticas somaram-se à dança nessa nova pro- posta, fazendo com que as artes se entrelaçassem e se relacionassem. Para Ribeiro (2019), vídeos, músicas, fotografias, artes plásticas e cultura digi- tal são incorporados à prática. Mesmo sem técnica ou padrão, a pesquisa do movimento ganhou foco, permitindo ao bailarino desenvolver novas expressões, privile- giando a consciência de movimento em detrimento à dança por meio do mero processo repetitivo. – 73 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Saiba mais Você quer ler? A zumba é uma modalidade de dança que invadiu as academias e tem sido tema de muitas discussões referentes à dança como cultura e à arte e à dança como cultura esportiva. Dentro dos ritmos trabalhados na zumba temos a salsa, o reggaeton, o zouk e a bachata. Você conhece algo sobre a Zumba? Leia um artigo que trata desse tema enquanto prática corporal. Disponível em: http://www.revistaintellec- tus.com.br/DownloadArtigo.ashx?codigo=556. Acesso em: 6 nov. 2019. Figura 4.5 – Pessoas dançando zumba Fonte: Shutterstock.com/Syda Productions. 4.3 A dança na Educação Física Considerando as vantagens proporcionadas pelo ato de dançar, sua utilização como atividade física surge quase que por consequência. Dan- çar utiliza o corpo de forma global, tanto em aspectos físicos quanto psi- Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 74 – cológicos e sociais. Sua prática pode ser regular, como forma de combater o sedentarismo e aumentando a qualidade de vida (SILVA; VALENTE; BORRAGINE, 2012). Toneli (2007) define a dança como a arte de mover o corpo em um determinado ritmo, com expressão de sentimentos e emoções. Dançar é algo instintivo. Pelo fato de utilizar baixo impacto, é uma prática saudá- vel, que melhora a autoestima e contribui para a socialização. Toneli (2007) aponta as vantagens da dança como atividade física, além da parte psicológica e emocional: 2 melhora o sistema cardiovascular e respiratório. 2 aumenta a circulação sanguínea. 2 mantém a pressão arterial controlada, ativa o sistema linfático. 2 libera endorfina. 2 proporciona fortalecimento muscular, auxilia no emagrecimento. 2 melhora a coordenação motora. 2 minimiza a depressão. 2 aumenta a autoestima. 2 possibilita a disciplina. 2 recupera a confiança. 2 reduz a tensão e a timidez. Além de ser uma atividade física que auxilia na saúde, a dança possibi- lita um ganho de consciência corporal, auxiliando na aprendizagem de fato- res como saber lidar melhor com erros – próprios e dos outros –, melhorando a integração e comunicação (SILVA; VALENTE; BORRAGINE, 2012). Tonelli (2007), aponta que, em sua pesquisa, fisioterapeutas citaram como atividades físicas que melhoram a qualidade de vida a ginástica labo- ral, os alongamentos e a dança. Segundo o autor, após meses de prática em dança, o aluno altera inclusive sua postura para enfrentamento da vida, tornando-se desinibido, confiante, sociável, corajoso, com melhor racio- cínio, criatividade, menos estressado e mais propenso a aceitar mudanças. – 75 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Os fundamentos técnicos da dança para a formação corporal envol- vem (SILVA; VALENTE; BORRAGINE, 2012): 2 força, 2 potência, 2 flexibilidade, 2 coordenação, 2 equilíbrio, 2 agilidade, 2 resistência muscular e cardiovascular.Um professor que quer incorporar a dança em suas aulas não pre- cisa necessariamente ser um exímio dançarino, mas utilizar-se de técnicas pedagógicas para desenvolvimento em seus alunos das estruturas expres- sivas da dança (RIBEIRO, 2019). Para efeitos de comparação, é como ensinar ginástica artística – é necessário conhecer seus fundamentos, mas não necessariamente ser um atleta. Para construir um plano de aula, deve-se ter em mente o que quere- mos ensinar, onde, por quanto tempo e qual música será utilizada. Além disso, devemos ter claros os objetivos da aula. Exemplo: Um professor de dança pretende ensinar a dança de roda estilo Coco. A aula será dada no pátio da escola e durará cerca de 50 minutos. Será utilizada uma caixa de som para tocar a música “Magalenha”. O objetivo da aula desse professor é vivenciar a dança popular, e as dimensões utilizadas serão as de frente, trás e diagonal, direita e esquerda, explorando os níveis médio e alto. Após essa aula, os alunos terão conhecido esse tipo de dança e con- seguirão se relacionar com ele, transmitindo o histórico que envolve as danças populares. Mas é importante, antes de começar qualquer prática rítmica, consi- derar o desenvolvimento humano em cada fase (MILLER, 2012). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 76 – 4.3.1 Desenvolvendo a aula de acordo com a faixa etária O primeiro passo na elaboração de uma aula de dança é considerar a faixa etária dos alunos, devido às diferentes formas de aprendizagem de cada etapa. Miller (2012) sugere que sejam considerados os desenvolvimentos cognitivos, motor, afetivo e social. O desenvolvimento cognitivo tem rela- ção com a forma com que aprendemos; o motor tem relação com os aspec- tos físicos de desenvolvimento; o afetivo diz respeito aos sentimentos; e o social a como nos relacionamos. O homem dança desde sempre, pois a comunicação gestual é algo de sua natureza. Assim, a ação motora é a primeira linguagem do ser humano. Na primeira infância, segundo Miller (2012), temos as seguintes etapas do desenvolvimento motor: 2 movimentos reflexos (até um ano de idade). 2 movimentos rudimentares (até os dois anos de idade). 2 movimentos fundamentais (até os sete anos de idade). Em cada uma dessas etapas, é crucial para o desenvolvimento a rela- ção da criança com o ambiente que a cerca. Ao final da fase de desenvol- vimento dos movimentos fundamentais, dá-se início à fase de socializa- ção, e então as brincadeiras cantadas de roda se tornam importantes para explorar nossa expressão. Para Ribeiro (2019), a partir de então a criança passa a experimentar o mundo, explorando toques corporais, afetividade, sons etc. Por sua vez, na segunda infância ocorre a transição da fase motora fundamental para a fase motora especializada, momento em que é impor- tante considerar o histórico de expressão rítmica da criança. A partir de então, deve-se acrescentar as habilidades motoras no planejamento. Dan- ças em equipe e criações coletivas são importantes nesse período, que é muito social. – 77 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas Saiba mais Dança para bebês Figura 4.6 – Dançar é uma ótima maneira de fortalecer o vínculo com os seus filhos Fonte: Shutterstock.com/Monkey Business Images Durante os primeiros meses após o nascimento de um filho (também chamados de “quarto trimestre”), criar um vínculo com o bebê é um dos principais focos dos pais. De acordo com Urska Gestrin, especia- lista em dança e dona do Latino Bambino, dançar é uma ótima maneira de fortalecer o vínculo com o seu filho – além de outros benefícios. Disponível em: https://br.vida-estilo.yahoo.com/como-as-aulas-de- -danca-podem-ajudar-os-novos-pais-a-se-conectarem-com-seus- -bebes-072010446.html Dança para adultos Em reportagem, mulheres acima de 30 anos que praticam balé, tendo iniciado esta prática já na fase adulta, são entrevistadas sobre os benefícios encontrados durante esta prática. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/mulheres-adul- tas-rompem-tabus-e-dao-primeiros-passos-na-danca. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 78 – Dança para idosos O Mal de Alzheimer é uma doença até hoje sem cura, progressiva e das que mais cresce em todo o mundo. Essa condição traz muito sofri- mento aos portadores e suas famílias. Entretanto, uma pesquisa recente conduzida pelo Centro Alemão para Doenças Neurodegenerativas de Magdeburgo, publicada no Frontiers in Human Neuroscience, revelou que a dança pode ser uma excelente aliada dos idosos na prevenção do Alzheimer. O estudo durou 18 meses e foi realizado com 26 pessoas. Para saber mais, acesse: https://br.jetss.com/estilo_de_vida/ saude_/2020/10/estudo-conclui-que-dancar-e-a-maneira-mais-efetiva- -de-prevenir-o-alzheimer/. Atividades 1. De acordo com nossos estudos, na primeira infância, para Mil- ler (2012), a relação da criança com o ambiente que a cerca é fundamental para seu desenvolvimento enquanto indivíduo. Ao final dessa fase, dá-se início a socialização, período em que é desenvolvida a relação da criança com as outras pessoas. É, por- tanto, a fase de desenvolvimento da comunicação e da expres- são. Quais são as etapas do desenvolvimento motor? 2. De acordo com Cone e Cone (2015), ao planejar uma aula de dança, é preciso levar em consideração o objetivo a ser alcan- çado e a faixa etária a ser atendida. Além disso, é preciso obser- var os tipos de aulas de dança e qual mais se encaixa com a que está sendo planejada. Entre os mais comuns, temos a dança pessoal ou em grupo. CONE, T. P.; CONE; S. L. Ensinando dança para crianças. 3. ed. São Paulo: Manole, 2015. A respeito desse tipo de dança, o que é levado em consideração em sua prática? – 79 – História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas 3. A dança é uma atividade física alegre que traz sensações de bem- -estar e dá estímulo para a pessoa que a pratica. Segundo Szuster (2011), o que essa prática de atividade desenvolve no indivíduo? 4. Na dança, podemos viver igualmente tempo e espaço; essa grande arte nos permite relacionar o artista e a obra em um mesmo tempo. A coreografia na dança, portanto, é o formato que temos para compô-la. Nesta arte, a técnica não é funda- mental, ela é somente instrumento para podemos comunicar algo. Existem algumas técnicas que podemos utilizar para rela- cionar música e dança. Entre elas, temos o canon. A que se refere esta técnica? 5 Ensino das diferentes manifestações de dança Ao considerar a dança como arte comunicativa, é preciso compreender que os signos e símbolos ensinados por meio dela trarão maior repertório ao ato de se expressar. Assim, nossa comu- nicação externa será ampliada quanto mais dançarmos. Ademais, há melhora da percepção corporal interna (GARCIA, [S.d.]). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 82 – Dançar é uma prática muito envolvente, porém, é necessário entender da dança para poder praticá-la. Por meio dela, o professor precisa desen- volver técnicas e processos para ensinar as estruturas desta prática. Ao final do capítulo, veremos sobre a metodologia de ensino e o plano de aula de dança. 5.1 A dança na escola Segundo Ribeiro (2019), os elementos estruturantes da dança são as ações corporais, os tempos rítmicos e os espaços determinados com o objetivo de transmitir uma intenção. Ribeiro (2019) define os elementos estruturantes da dança como sendo: 2 as ações corporais – pesquisa das possibilidades dos movimentos articulares; 2 o tempo – reconhecimento do ritmo individual e coletivo; 2 o espaço – possibilidades do corpo de se expressar em direções, planos e trajetórias; 2 a intenção – linguagem da dança por meio da qual as mensagens são transmitidas. Figura 5.1 – Elementos estruturantes da dança Fonte: Ribeiro (2019, p. 114). Esses elementos devem ser utilizados para a aula acontecer. O pro- cesso pedagógico deve considerar o desenvolvimentohumano em cada fase. Assim, o corpo deve ser considerado uma unidade que é composta – 83 – Ensino das diferentes manifestações de dança pelos elementos biológicos, cognitivos, sociais políticos e emocional (GARCIA, [S.d.]). Figura 5.2 – Os fundamentos da dança devem ser estudados com atenção Fonte: Ribeiro (2019, p. 110). 5.1.1 Fundamentos pedagógicos para o ensino da dança Para iniciar este tópico, vamos retomar as palavras de Ribeiro (2019) apresentadas no capítulo anterior: para abordar a dança em sala de aula, o professor não precisa necessariamente saber dançar muito bem; só é pre- ciso usar técnicas pedagógicas para ensinar ao aluno as estruturas expres- sivas da dança. Por esse motivo, justifica-se a necessidade de realizar uma boa fundamentação pedagógica antes de dar uma aula (GARCIA, [S.d.]). Podemos utilizar como exemplo a ginástica artística: para ensiná-la, o pro- fessor precisa dominar seus fundamentos, e não ser necessariamente um atleta desta área. (GARCIA, [S.d.]). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 84 – Figura 5.3 – Ginasta artística Fonte: Shutterstock.com/Victoria VIAR PRO 5.2 Dança criativa e planos de aula Para desenvolver o processo criativo empregado na concepção de uma dança, Cone e Cone (2015) nos apresentam o seguinte modelo: 2 estudar os movimentos usando os elementos da dança; 2 selecionar os movimentos com base nos estudados; 2 escolher uma sequência de movimentos; 2 decidir em que porção do espaço esses movimentos serão executados; 2 praticar a sequência e introduzir mudanças; 2 praticar a nova sequência; 2 executar a dança completa. Com base nessa proposta, podemos verificar algumas variantes: 2 o que se quer trabalhar (objetivo da aula); 2 escolha dos movimentos (desenvolvimento da aula para a reali- zação do objetivo); 2 a porção do espaço que será utilizada (local, dimensão, plano etc.); 2 a prática (treino da técnica); – 85 – Ensino das diferentes manifestações de dança 2 e a execução propriamente dita (avaliação para analisar se o objetivo foi alcançado, incluindo a finalização da aula). Assim, iremos ver como desenvolver um plano de aula que alcance os resultados desejados. Neste quadro, apresentamos temáticas para a dança criativa: Quadro 5.1 – Quadro de temáticas de dança criativa Temas Tópicos Literatura Poemas, romances, livros de história, contos fol-clóricos e poemas escritos pelos alunos. Feriados Feriados nacionais, culturais e religiosos. Eventos sociais Aniversários, formaturas e demais datas come-morativas. Máquinas Lavador de automóveis, eletrodomésticos e com-putadores. Atividades diárias Jantares em família e jogos. Mídia Vídeos, programas de televisão e filmes. Atividades escolares Intervalos, caminhada pelos corredores e hora do lanche. Sentimentos Tristeza, medo, alegria, raiva e excitação. Estações Folhas do outono, neve e gelo, diversão ao sol e flores da primavera. Amizade Dança com nomes, dança com pares e danças sobre aceitação ou ajuda. Fonte: Adaptação de Cone e Cone (2015). Com base no que aprendemos, agora é preciso compreender como estruturar uma aula de dança. Deve-se considerar: 2 proposta; 2 faixa etária; 2 música; 2 objetivos da prática; Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 86 – 2 avaliação de resultados aula. O primeiro momento deve durar de 5 a 10% do tempo de aula, destinado à introdução e preparação para a prática. Deve-se explicar a prática, resumir as etapas realizadas e dar um contexto para a prática, como histórico e pontos importantes. Além disso, deve-se também aque- cer os alunos, com exercícios de aquecimento e alongamento focados nas áreas do corpo que mais serão utilizadas. Algumas sequências sim- ples com movimentos globais podem ser apresentadas durante o aqueci- mento (GARCIA, [S.d.]). O segundo momento é a fase de desenvolvimento, que utiliza de 35% a 40% da aula. É o momento principal, em que serão desenvolvidos e praticados as técnicas e os movimentos da dança. Nesta hora, deve-se explorar temáticas, níveis, plano etc. Podem e devem ser utilizados vários posicionamentos, como fila, coluna, linha etc. (GARCIA, [S.d.]). O terceiro momento, por fim, tem a duração de 5% a 10% da aula. Esse será o momento avaliativo, utilizado para criações coreográficas e improvisações, em que os alunos apresentarão o que foi adquirido do con- teúdo apresentado. É fundamental que seja considerado no programa de aulas de dança o fato de que o programa deve desenvolver a educação por meio da dança, e não ter os movimentos como objetivos finais ou como meta. O professor deve levar em consideração as seguintes habilidades para desenvolver em suas aulas: 2 desenvolver, por meio do movimento, a consciência de um indi- víduo integral – corpo, mente e emoção centralizados; 2 ampliação do repertório de movimento; 2 autoconhecimento corporal por meio da interação social; 2 observação e análise do movimento; 2 formação estética; 2 análise crítica da dança. – 87 – Ensino das diferentes manifestações de dança Figura 5.4 – Crianças maiores dançando Fonte: Shutterstock.com/ksana05 Na aula, deve-se levar em consideração a necessidade de feedback, pois por intermédio dele será possível perceber a necessidade de reforço e mais motivação para dar continuidade ao trabalho. Além disso, o fee- dback é fundamental para acompanhar o desenvolvimento do aluno, de suas emoções e ações relacionadas à aula. Os tópicos a seguir podem ser selecionados pelo professor para desenvolver essa prática: 2 conhecimento pleno da habilidade motora proposta; 2 ser capaz de descrever e relembrar (mentalmente) a atividade realizada; 2 identificar os aspectos corretos e os incorretos da atividade desempenhada; 2 observar o desempenho do aluno naquela atividade antes e depois de uma nova prática; 2 descrição do aluno do que foi feito; 2 estabilidade emocional; 2 capacidade de relacionar/respeitar o aluno com necessidades educacionais especiais; 2 senso de humor e habilidade para jogar/brincar; Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 88 – 2 franqueza e honestidade; 2 resistência e vigor. Sugere-se que os professores planejem suas práticas de dança de expressão corporal tendo em vista alunos com necessidades educacionais especiais, para que eles desenvolvam essas habilidades também. Da Teoria à Prática Vamos praticar Imagine que você possui uma turma do quarto ano e precisa desenvol- ver uma aula de expressão corporal com a temática “natureza”. Utilizando o quadro a seguir, monte uma aula levando em consideração a faixa etária com que vai trabalhar e os conhecimentos adquiridos ao longo dos nossos estudos. Quadro 5.2 – Planejamento de aula Planejamento de aula Tema: Data: Série: Professor: Disciplina: Escola: Conteúdo Objetivos Desenvolvimento Materiais Avaliação Duração Descrever o conteúdo a ser abordado Objetivo ou intenção que se deseja alcançar com a aula Roteiro passo a passo de como será realizada a aula Materiais necessá- rios para a realização da aula Método a ser utilizado para avaliar se o aluno aprendeu o conteúdo Tempo de duração da aula Com esses conceitos teóricos e com a prática realizada, é possível contextualizar prática e teoria e montar seus próprios planos de aula. O planejamento, na docência, é fundamental e faz parte do processo de pre- paração da aula. – 89 – Ensino das diferentes manifestações de dança Da Teoria à Prática Vamos relacionar os conteúdos com a prática docente? Ao longo do capítulo, aprendemos algumas questões relacionadas aos funda- mentos da dança. Aprendemos a planejar uma aula de dança, considerando princípios sobre desenvolvimento humano, tema e estrutura da aula, levando em consideração os princípios aprendidos sobre desenvolvimento humano, escolha de tema e estrutura da aula. Na primeira infância, o desenvolvimento motor ocorre nas seguintes etapas: movimentosreflexos (até um ano), movimentos rudimentares (até dois anos) e fundamentais (até 7 anos). Nelas, é fundamental a relação da criança com o ambiente para o correto desenvolvimento. Em seguida a essas fases, inicia-se a fase de socialização. Segundo Ribeiro (2019), a criança inicia uma gama grande de ações nesse momento, ela experimenta o mundo, bate palmas, ri, chora, explora a afetivi- dade, os toques corporais, os sons, entre outras. Levando em consideração o texto acima apresentado no capítulo 4, experi- mente elaborar uma proposta de aula que permita o desenvolvimento rítmico expressivo na primeira infância. Referência RIBEIRO, S. R. Atividades rítmicas e expressivas: a dança na educação física. Curitiba: InterSaberes, 2019. Modelo: Plano de aula Tema: Poses Objetivos: Os alunos praticarão habilidades de concentração e conceitos de movimento. Será trabalhado também equilíbrio e coordenação. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 90 – Duração: 25 minutos de aula. Local: 2 Grande área aberta para as crianças se movimentarem. Materiais utilizados: 2 Aparelho de som. Introdução com duração de 5 minutos. A temática pose será debatida. Como deve ser uma pose? Quando ficamos para- dos no dia a dia? Será pedido aos alunos que iniciem uma corrida no local e com uma voz de comando será dito que eles precisam parar e não se moverem. Várias poses de diferentes temáticas devem ser exploradas, por exemplo: dor- mindo, congelado, de cimento etc. Desenvolvimento com duração de 15 minutos 2 Os alunos devem se espalhar. 2 Deve-se explicar que quando a música começar, os alunos devem se mover ou mesmo dançar. 2 Devem permanecer nessa atividade até a música parar. 2 Quando a música parar, devem fazer uma pose qualquer e mantê-la até que a música inicie novamente. Avaliação com duração de 5 minutos. Cada aluno mostrará para a turma a pose que mais gostou. A avaliação será baseada na participação, seguindo instruções e simples observação. Saiba mais O uso do vídeo como uma proposta de ensino de dança-educação Muitos artistas já têm usado o vídeo como recurso didático para ensinar a dança. Qualquer profissão pode utilizar-se dessa ferramenta, basta que seja feita alguma formação direcionada para isso. No artigo de Ida – 91 – Ensino das diferentes manifestações de dança Mara Freire, intitulado Dança-Educação: o corpo e o movimento no espaço do conhecimento, a autora desenvolve a proposta de videoeducação. O artigo tem como objetivo refletir sobre a dança-educação, tendo como cenário uma experiência intercultural envolvendo professores e pes- quisadores do Brasil e da Inglaterra. Segundo Freire (2001) ela apre- senta a dança como área de conhecimento, comparando o ensino e a formação de professores nos dois países. Com base nisso, explicita a relação entre criar, executar e observar como meta para apreciação da dança, discutindo o uso do vídeo como uma estratégia para o ensino de dança-educação e reconhecendo seus espaços de aprendizagem como possibilidades de trocas culturais e ressignificação do corpo singular e múltiplo, com base em abordagens da dança contemporânea. Freire (2001) apresenta que o uso de videodança sobre um trabalho de dança profissional tem uma ampla aplicação no ensino de dança. No entanto, não como algo para se copiar, mas para as crianças terem novas ideias de movimentos. Ela exemplifica que durante a exibição de um vídeo, por exemplo, podem ser identificados muitos tipos de saltos em dança e isso pode ser observado e discutido, abrindo novas possibili- dades de saltar em diferentes formas, algumas das quais não poderiam ser imaginadas sem ter o vídeo como ponto de partida. Para a pesquisa- dora, as crianças podem ser encorajadas a tentar realizar o movimento para elas mesmas, adaptá-los e refiná-los, de modo que ampliem seu próprio vocabulário de movimentos. Em sua pesquisa, ela apresenta que, para mostrar como se dança samba e capoeira no Brasil, por exemplo, foi verificado que o vídeo dança em sala de aula capacitava seus alunos para observarem e discutirem os estilos da dança e conhecerem mais sobre o contexto em que essas manifestações culturais podem ser encontradas. Através do estudo de algumas partes selecionadas do vídeo, os estudantes, após as aulas, foram capazes de: • Identificar os movimentos presentes no samba e na capo- eira, por exemplo: quais são as ações? Eles se movem rápido ou lento? Os movimentos são amplos ou restritos? Como é usado o espaço para dançar? Em quais níveis e direções? • Descrever as caraterísticas e estilos de cada dança. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 92 – • Descobrir sobre as tradições e origens do samba e da capo- eira, o que foi ouvido por meio do vídeo, comentando e dis- cutindo as informações. • Copiar algumas ações e padrões rítmicos do movimento, observados, e colocar em suas próprias coreografias. • Usar a imaginação para adaptar e/ou alterar os movimentos observados, como também manter as caraterísticas dos res- pectivos estilos de dança. • Apreciar as similaridades e diferenças entre os movimentos de samba e capoeira. • Apreciar o tipo de música e dos instrumentos usados para dançar samba e acompanhar a capoeira (FREIRE, 2001, p. 23) Segundo a pesquisadora, o vídeo selecionado para trabalhar com os estudantes mostrou os modos informais de dançar samba e capoeira na comunidade brasileira. Ela ainda alega que usar vídeos de companhias de dança pode demonstrar exemplos de dança excelentes, que o pro- fessor pode não conseguir demonstrar ou realizar. No entanto, Freire (2001) ressalva que eles servem como modelo, estimulando-nos a elevar o padrão e a qualidade da dança em educação, mas não deve substituir o papel do professor como mediador dessa interação. 5.3 Formatos de aulas de dança em espaços de ensino da dança Há muitos tipos de dança: jazz, salsa, salsa cubana, hip-hop, balé, tango, funk, dança de salão, dança do ventre, e neste tópico vamos citar alguns. Se relacionarmos todas as danças típicas às épocas e culturas do mundo, muitas serão as danças a apresentar. Por isso, foram selecio- nados os tipos de dança mais conhecidos da atualidade para apresentar suas características. – 93 – Ensino das diferentes manifestações de dança 2 Balé clássico O balé clássico é um dos tipos de dança mais conhecidos pelo mundo, marcado pela busca da técnica perfeita e muita des- treza. Os bailarinos profissionais estudam desde pequenos esta técnica. Hoje, muitas academias oferecem aulas de balé adulto, para quem deseja praticar de forma despretensiosa. O balé tam- bém é um ótimo exercício para quem quer um trabalho corporal completo e diferenciado. 2 Jazz dance Muito utilizado em coreografias do gênero do teatro musical, o jazz dance foi desenvolvido a partir de danças africanas. O jazz ganhou fama nos Estados Unidos e foi base para a construção do Jazz Musical. Outros estilos surgiram a partir do jazz tradicio- nal, como o pop jazz, jazz moderno e o contemporâneo e jazz street. Ainda que a base seja clássica, o jazz permite movimentos muito mais soltos, com músicas populares. 2 Contemporâneo A dança contemporânea é um segmento da dança moderna e é uma boa opção para quem gosta de explorar diferentes formas, planos e ritmos do corpo. O estilo de dança contemporâneo é ótimo para aumentar a consciência corporal e força muscular por meio de movimentos. Além disso, o gênero contempla muitas expressões artísticas, como dramaturgia original, uso de tecno- logia, performance e artes plásticas. 2 Sapateado O sapateador utiliza passos que emitem sons dos sapatos. Muito estilosa, esta dança ajuda quem quer melhorar o ritmo e a coordenação motora. Diversas músicas são utilizadas com este estilo. 2 Flamenco O flamenco, em geral, é composto por três elementos artísticos: música, dança e guitarra (violão). Além disso, muitas vezes há Recreação,Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 94 – membros que tocam palmas. A relação entre os artistas é seme- lhante à do jazz, e há uma estrutura básica a seguir. Seus movi- mentos incluem movimentos de percussão de pés e intrincados movimentos de mãos, braços e corpo. 2 Dança de rua A dança de rua tem grande influência da cultura do hip-hop (África), e é uma das modalidades de dança mais representativas em eventos, competições e espetáculos de dança. É dançada com roupas usuais e diversos são seus formatos. 2 Stiletto O stiletto é uma modalidade que surgiu há pouco tempo, em homenagem às divas do pop. As aulas são feitas de salto alto e as coreografias têm muita sensualidade. Praticado por homens e mulheres, o stiletto pode ser encontrado em diversas academias. 2 Dança africana O estilo é bastante enérgico, o ritmo é intenso e todo o corpo fica envolvido durante os movimentos. Lembrando que há mui- tos estilos de dança africana diferentes, dependendo das regiões, tradições e culturas distintas. Tradicionalmente, a dança é livre e parte do centro do corpo em direção às extremidades. O contato com o chão é um fator importante, pois traz o “enraizamento” e a força que advém da terra. 2 Dança do ventre Originada no Egito Antigo, a dança do ventre mistura ritmo, passos precisos e delicados, sensualidade e vários outros ele- mentos. Os movimentos dessa dança são marcados principal- mente pelas batidas de quadril, movimentos ondulatórios e sin- tonia com a música. 2 Dança country Também chamada de dança em linha, a dança country é uma sequência de passos coreografados em que os dançarinos reali- – 95 – Ensino das diferentes manifestações de dança zam os mesmos movimentos ritmados ao som do country. Já a dança em si é realizada frequentemente em grupo; todos ficam alinhados e realizam os passos mais comuns dessa dança. 2 Zouk Zouk é uma dança que mistura o estilo musical afro-caribenho calipso ao estilo musical urbano que surgiu em Camarões, cha- mado makossa. Os passos mais comuns de Zouk são a popular cobrinha, que é uma onda sinuosa e a passagem ou bandeja. 2 Tango Essa dança é feita a par e possui um estilo musical específico, também chamado de Tango. Nesta dança, os pares deslizam pelo salão em ritmo sincopado por meio do compasso binário. Com- bina movimentos de pernas em pares enlaçados com giros de um dos bailarinos. 2 Samba Esta dança mistura os batuques africanos e os bailados indíge- nas para a construção da música e da dança. Também é impor- tante lembrar que essa dança pode ser feita individualmente, em grupo ou ainda a par. Seus elementos combinam movimentos de quadril e de pernas. 2 Zumba Embora não seja um estilo de dança, especificamente, a Zumba é um programa fitness em que os participantes dançam diversos ritmos e estilos musicais com o objetivo de perder peso ou toni- ficar os músculos. Na Zumba, podemos ver movimentos clás- sicos de diversas danças latinas, como o mambo e a salsa. Há ainda aqueles que incluem outros estilos diferentes, como hip- -hop e até mesmo dança do ventre. 2 Bolero A dança em si é bem parecida com outras danças de salão, sendo inclusive uma grande influência para a criação de outras danças, Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 96 – como o mambo, o samba-canção, a salsa e o chá-chá-chá. Seus movimentos de pares enlaçados envolvem movimentos de perna e giros. Atividades 1. Para ensinar os fundamentos da ginástica artística, como reversão ou arco, o professor precisa vivenciar a prática e conhecer como se dão os fundamentos técnicos envolvidos. Conforme vimos, é importante entender que o ensino, no entanto, difere-se da neces- sidade de o professor ser um bailarino profissional. Dessa forma, qual estrutura deve ser utilizada para ensinar a dança? 2. Qual o modelo para desenvolver o processo criativo empregado na concepção de uma nova dança, segundo Cone e Cone (2015)? 3. Para elaborarmos uma aula de dança, é necessário levar em con- sideração a faixa etária escolhida para o público a ser atendido. Isso porque, em cada etapa, aprendemos e nos desenvolvemos de alguma maneira. Nessa perspectiva de desenvolvimento humano, o que é preciso levar em consideração ao preparar uma aula de dança? 4. Segundo o documento desenvolvido pela universidade de Har- vard, cite uma atividade sugerida para desenvolver com bebês de 3 a 5 anos. 6 Introdução à expressão Ao longo dos nossos estudos, analisaremos a expressão e a consciência corporal, bem como os processos metodológicos do ensino do movimento. Neste capítulo, teremos a oportunidade de: 2 compreender a prática corporal e a expressão corporal no processo de ensino-aprendizagem; 2 entender como se dá a dança enquanto prática corporal; 2 diferenciar a expressão corporal de consciência corporal. É necessário compreender a diferença entre expressão e consciência corporal para poder entender o quanto a expressão corporal é importante para o estudo do movimento. Enquanto a expressão corporal diz respeito ao gesto, a consciência corporal diz respeito ao entendimento que temos do próprio corpo. Além de ter todo o entendimento a respeito da diferenciação entre expressão e consciência corporal, desenvolveremos a nossa compreensão a respeito do funcionamento do processo de ensino do movimento corporal. Vamos começar? Bons estudos! Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 98 – 6.1 Introdução aos conceitos de Expressão e Consciência Corporal Quando utilizamos a expressão “consciência corporal”, apesar de entendermos que essas palavras juntas já explicam o sentido, ainda é pre- ciso analisar a dicotomia entre consciência corporal e expressão corpo- ral. Compreendemos, mesmo que basicamente, como movimentamos o nosso corpo e, dessa forma, todos possuímos alguma consciência corpo- ral. Porém, vamos questionar o seguinte: por que precisamos desenvolver a consciência corporal? A expressão corporal é a linguagem básica humana e, antes de nos comunicarmos por meio da fala, já a utilizávamos. Por intermédio de expressões de choro do bebê, ou o clássico “fazer beiço”, já são expressas as primeiras necessidades dele, como a fome. Já por meio do bocejo ou do apertar de olhos, o bebê expressa que está com sono. Cada corpo possui seus próprios signos para comunicar sentimentos e emoções. Essa capacidade humana é chamada de expressão corporal. Segundo Brickman (1989), a expressão corporal é o modo natural pelo qual os seres humanos revelam suas peculiaridades. Ainda de acordo com o autor, essa habilidade pode ser ensinada e desenvolvida, sendo reconhecida enquanto uma disciplina. Como disciplina, busca resgatar, cuidar e desenvolver as potencialidades humanas inerentes ao movi- mento corporal. Já a consciência corporal é a consciência que temos do nosso próprio corpo. Não se constitui em uma disciplina, porém, pode ser desenvolvida por meio de técnicas e práticas corporais. Portanto, para desenvolver a consciência corporal, devemos explorar as possibilidades de movimento, como o controle e a expressão corporal. Conhecer um pouco sobre a estru- tura corporal anatômica (os músculos, ossos e órgãos) contribui para o desenvolvimento da expressão corporal. Dessa forma, compreende-se a consciência corporal não somente de maneira conceitual, mas também sensorial, por intermédio da exploração das possibilidades corporais, o que desenvolverá o conhecimento sobre nosso próprio corpo. Não existe um objetivo definido quanto ao modelo que queremos chegar, não existe um “conhecer perfeito” do corpo, inclusive porque – 99 – Introdução à expressão temos corpos variados e conhecer essa diversidade e suas especificidades é muito importante dentro desse processo. Assim, compreendemos que nosso corpo é único e, portanto, tem suas particularidades. Os trabalhos de alongamento e força são importantes no desenvol- vimento da expressão corporal para obtermos mais consciênciasobre o corpo. Essas duas qualidades corporais, força e alongamento, possibili- tarão a realização, de maneira mais eficiente, de gestos e movimentos, porém, a expressão não se vincula diretamente à potência muscular. Quando pensamos em gesto, tendemos a pensar muito no movimento de mãos e braços e não lembramos de rosto, pés, coluna, entre outros. O nosso corpo se expressa de muitas maneiras e é importante que conheça- mos todas as possibilidades expressivas corporais. Está a expressão ligada à emoção? Sim. No entanto, controlar as emo- ções é parte do processo de aquisição da consciência corporal. Conhecer nossos limites e possibilidades nos permitirá ampliar a qualidade da nossa comunicação como um todo. Tanto a expressão quanto a consciência corporal são fundamentais para o ser humano. Todavia, enquanto uma permite o relacionamento com o ambiente externo, a outra envolve a nossa relação pessoal com o corpo, portanto, é uma relação interna. Figura 6.1 − Mulher em movimento expressivo Fonte: Shutterstock.com/fizkes As técnicas para desenvolver cada uma podem ser um pouco diferen- tes. Na expressão corporal, são desenvolvidas as habilidades comunicativas Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 100 – do movimento por meio de mímica, interpretação, teatro e dança. A consci- ência corporal, por sua vez, utiliza práticas diversas para o reconhecimento do corpo. É o conhecer a si mesmo, as habilidades que o corpo possui, como ele se movimenta, as potencialidades existentes e suas limitações. Portanto, com a expressão corporal e aulas direcionadas para aprender a se expressar, acabamos conhecendo mais a respeito do nosso próprio corpo. 6.2 Expressão Corporal De onde vem o termo “expressão corporal”? Vem do latim expressi- õnis, que está associado ao adjetivo exprimere. Pensando nessa palavra, temos o seguinte: o prefixo ex se refere a colocar para fora, externar; e primere diz respeito a pressionar. Logo, o significado da expressão seria “colocar para fora de maneira pressionada”. Já o termo corporal vem do latim corporãlis, que, obviamente, rela- ciona-se com corpo, do latim corpus. O sufixo al provém do latim ãlis, que significa pertencer a. Portanto, é “aquilo que pertence ao corpo”. Logo, expressão corporal seria “colocar para fora aquilo que pertence ao corpo”. Pensando na relação com pressionar, seria “aquilo que externaliza- mos do corpo quando algo nos pressiona”. Portanto, quando nos sentimos pressionados por uma emoção interna, o nosso corpo se comunica por meio da expressão corporal. Esclarecendo: o nosso corpo, por intermédio de gestos e movimentos, é capaz de comunicar sentimentos, ideias e emo- ções, sem o uso da fala ou da escrita. Existem algumas expressões que são espontâneas e, com trabalho, podemos desenvolver um controle desses gestos. No teatro, é possí- vel desenvolver técnicas expressivas para serem utilizadas no dia a dia. Temos, ainda, a dança e a mímica como elementos artísticos que nos auxi- liam no desenvolvimento da expressão corporal, que tornam aquele gesto espontâneo em uma técnica para comunicar algo artisticamente. Nos esportes também fazemos uso da expressão corporal, assim como na ginástica rítmica; na patinação artística; em algumas atividades de relaxamento e concentração, como a ioga; ou nas artes marciais, como o tai chi. – 101 – Introdução à expressão Muitas vezes, ela também é utilizada como meio terapêutico. De acordo com Abrel e Silva (1977), na década de 40, nos Estados Unidos, surgiu a dançaterapia, que, rapidamente, alastrou-se pelo mundo como uma prática muito procurada para aliar relaxamento à expressão e toni- cidade. A proposta, na qual houve a união entre dança e psicologia, ini- cialmente, foi realizada em pacientes com transtornos mentais. Esta se mostrou muito eficaz. Saiba mais Muitos países e povos possuem suas regras e normas referentes à lin- guagem corporal, a qual, muitas vezes, é uma disciplina escolar. De acordo com Cousins (2011), na Itália, a linguagem de mãos é chamada de Quirologia. Na cultura italiana existe uma complexa gama de mãos, em que cada gesto possui uma expressão, um “dizer”. Já se catalogou 200 gestos na Itália e acredita-se que esse costume se deu para que os antigos italianos pudessem se comunicar sem que os invasores compre- endessem sua linguagem durante a invasão de austríacos e espanhóis. Deduz-se que esse costume já vinha da Grécia Antiga e foi desenvol- vido pelos italianos, no período em que eles tiveram seu país invadido. Figura 6.2 – Italiano gesticulando Fonte: Shutterstock.com/Bolyuk Studio Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 102 – Como podemos desenvolver a expressão corporal? Que tipo de aula é própria para a expressão corporal? De acordo com Ribeiro (2019), desen- volver uma prática rítmica criativa permite que a habilidade seja desenvol- vida. Tanto as brincadeiras cantadas como as danças de roda, por exemplo, permitem ao professor explorar e desenvolver a expressão corporal com as crianças nas aulas. As práticas constituem uma importante atividade educativa, pois, por meio delas, a criança consegue experimentar movimentos expressivos em um espaço social coletivo. Além disso, explorar com outras crianças per- mite o desenvolvimento de símbolos corporais, que perdurarão pela vida toda. De acordo com Ribeiro (2019), as brincadeiras, as danças populares e a dança acadêmica são exercícios corporais que permitem o desenvolvi- mento de um corpo expressivo. Dessa forma, podemos entender que a expressão corporal é o iní- cio do ato de dançar. Isso porque, desenvolvendo a expressão e criando movimentos, o indivíduo pode experimentar a dança significativa. Para Ribeiro (2019), o corpo é, então, o instrumento de maior comunicação com o mundo. Portanto, mais do que uma prática corporal específica, a expressão corporal está associada a diversas práticas corporais, tanto na sua relação com a dança como na comunicação dentro da perspectiva de linguagem não verbal, o que chamamos de linguagem corporal. Conhecido como o introdutor da expressão corporal no Brasil, Klauss Vianna desenvolveu seu trabalho principalmente na área do teatro brasi- leiro, sendo preparador corporal de atores, para que eles desenvolvessem a consciência de seus corpos e para que tivessem uma melhor expressão para atuar por meio da fala e de gestos. Neves (2008) descreve que ele escreveu e datilografou um documento chamado de expressão corporal, no qual desenvolveu o pensamento em relação a esse tema. Para Klauss, ter consciência de suas próprias emoções estava sempre relacionado a ter consciência do seu corpo, portanto, as nossas emoções ficavam refletidas na imagem do nosso corpo. Foi um grande pesquisador da anatomia humana e vinculava a musculatura, o ar e ações dos estados físicos e psíquicos com a expres- – 103 – Introdução à expressão são corporal. Neves (2008) ainda conta que ele descreveu a movi- mentação corporal que se relaciona com os sentimentos, como medo e ameaça, alegando que, toda vez que o indivíduo se sente assim, ele se contrai, com o fim de se proteger. Seu trabalho sempre esteve vin- culado à relação física criativa e artística do corpo, proporcionando a expressão do homem. Ele acreditava que, por intermédio de um método no qual corpo e mente dialogam, era possível recuperar aten- ções físicas e emocionais. Por meio de sua pesquisa e de outros pesquisadores foi possível com- preender melhor a expressão corporal humana, relacionando-a com uma prática terapêutica capaz de resolver os problemas do interior humano. 6.3 Consciência corporal O autoconhecimento é a consciência corporal e a utilizamos para a realização de todo tipo de atividade, seja cotidiana ou para a prática de exercícios físicos. Com a consciência corporal, além de saber o potencial corporal que possui, o indivíduo também aprende a respeito dos limites, ou seja, até onde seu corpo pode ir em um esforçofísico. Esse conhecimento é fundamental para os indivíduos em qualquer faixa etária. Conhecer nosso corpo envolve compreender nossos movi- mentos, nossa relação com o ambiente e com a música. Entender como o corpo funciona evita lesões, traz maior qualidade e funcionalidade ao corpo. Isso porque, com a consciência corporal, melhoramos nossos esquemas corporais. Algumas práticas nos permitem conhecer mais o funcionamento do corpo, como a ioga, o pilates, a própria dança e, inclusive, as aulas de expressão corporal. Contudo, vale ressaltar que toda atividade física realizada com atenção é capaz de desenvolver uma melhor per- cepção corporal. Em um processo pedagógico de dança, são explorados os aspec- tos sociais, temporais e expressivos (RIBEIRO, 2019). Assim, uma das melhores formas de explorar o corpo, percebê-lo e desenvolver o autoco- nhecimento é por meio da dança. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 104 – Figura 6.3 – Crianças em dança cultural Fonte: Shutterstock.com/Talukdar David Autoconhecer-se é fundamental para se ter qualidade de vida por- que, por meio desse conhecimento, entendemos também sobre aquilo que gostamos e não gostamos. Por intermédio desse autoconhecimento, ganhamos mais consciência corporal. Portanto, a habilidade de conhecer o próprio corpo é chamada de consciência corporal e essa deve ser desen- volvida desde a infância. Conhecer o próprio corpo nos permite aproveitar melhor suas poten- cialidades, mantendo, dessa forma, uma boa saúde. Quanto mais cons- cientes forem realizadas essas práticas do nosso cotidiano, como sentar, levantar, subir escadas, caminhar e correr, menor será a chance de termos lesões e, por isso, a consciência corporal é tão fundamental. Vamos analisar uma situação-problema: a dança como prática corporal - expressão e consciência corporal. Tanto a expressão corporal quanto a consciência corporal são fundamentais para o ser humano. Toda- via, enquanto uma permite que o ser humano se relacione com o ambiente externo, com pessoas, a outra envolve a nossa relação pessoal com o nosso corpo, portanto, é uma relação interna. A expressão corporal é, então, uma das práticas corporais para se conquistar maior consciência corporal. Aprendemos como nosso corpo pode transmitir aquilo que sentimos e a maneira com que sentimos cada emoção. – 105 – Introdução à expressão Assim, são dois aprendizados diferentes. Enquanto a expressão cor- poral se refere a aprender a transmitir o que sentimos, a consciência cor- poral diz respeito a aprender sobre como nosso corpo funciona em suas capacidades e potencialidades. Enquanto a expressão corporal é a linguagem corporal, por meio da qual demonstramos nossas emoções, a consciência corporal é o conhe- cimento do seu próprio corpo. Uma aula de expressão corporal é, por- tanto, uma aula que aborda as possibilidades corporais para transmitir o que sentimos. Já para desenvolvermos a consciência corporal, diversas práticas podem contribuir com esse aprendizado, tais como: ioga, pilates, ginásticas e dança. Figura 6.4 - Casal dançando em expressão de oposição Fonte: Shutterstock.com/Tutti Frutti 6.4 Planos e direção na dança A direção, o plano e a dimensão são pontos fundamentais nas estrutu- ras da dança. Essas constituem o que chamamos de estruturas espaciais. Para Ribeiro (2019), o espaço na dança é compreendido pelo domínio dessas estruturas. A direção se refere ao percurso do corpo no espaço. Seu ponto de início é no centro do corpo, sendo que as direções podem ser para frente, para trás, para a esquerda, para a direita, para as diagonais e para cima ou para baixo. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 106 – Figura 6.5 – Variações das dimensões relacionadas às direções dos movimentos na dança Fonte: Ribeiro (2019, p. 128). Os planos, por sua vez, são os níveis de altura, nos quais o movi- mento é realizado, tendo como referência a linha média da cintura. Eles podem ser altos, médios e baixos. Já a dimensão está relacionada à extensão que o corpo adquire durante o movimento. Ela é determinada por forças de oposição, quando o movimento recebe altura e profundidade. Dentro desses conceitos, temos, portanto, a kinesfera, que é tudo aquilo que podemos alcançar com todas as partes do corpo, tendo em vista uma esfera que envolve o corpo humano. Dentro do conceito de movi- mento, em relação à esfera que envolve o corpo, temos: 2 a relação de fluxo, que se refere às tensões musculares, com a qual o movimento é realizado; 2 a fluência do movimento e seus graus de atenção; 2 os movimentos de giro, que são os movimentos de suspensão para voltar o corpo no próprio eixo, utilizando equilíbrio e desequilíbrio; 2 os autos, que utilizam os eixos verticais e horizontais, movimentando o corpo sem uso de apoio. O corpo fica suspenso no ar, podendo ser realizado com um pé, dois pés ou com apoio de uma outra pessoa; 2 o conceito de eixo, que parte, principalmente, do centro do corpo, como de movimentação, sustentação e equilíbrio; 2 a relação de peso que envolve as forças utilizadas para movi- mentar o corpo. – 107 – Introdução à expressão Ainda pensando em movimento, temos o conceito de espaço, que é a associação entre o corpo e o meio, em relação ao seu próprio corpo ou em relação a outro corpo ou objeto. No conceito de espaço, veremos também o conceito de níveis, que se relaciona com as alturas utilizadas para se realizar os movimentos. Por exemplo, ao realizar um movimento de salto, usamos o nível alto acima da cabeça ou, quando utilizamos o movimento de rastejar pelo chão, utilizamos o nível baixo, pois estamos trabalhando abaixo do nível da cintura. Referente ao conceito de movimento, ainda temos o deslocamento, que é o ponto para o qual você se desloca na dança, que pode ser realizado de diversas formas, como andando, correndo ou sendo arrastado. Pode ter várias linhas, ser reto, curvo, individual ou em grupo. Por fim, temos o tempo que está relacionado com a velocidade com que são executados os movimentos, podendo ser rápido, moderado e lento. Muitas vezes, o tempo é chamado de qualidade do movimento. As seis direções dimensionais são os elementos mais básicos para a orientação espacial. São elas: frente; trás; direita; esquerda; cima e baixo. Já as doze direções diametrais são: direita-alta; esquerda-baixa; esquerda- -alta; direita-baixa; direita-frente; esquerda-trás; esquerda-frente; direita- -trás; frente-alta; trás-baixa; trás-alta; frente-baixa. Temos, ainda, as oito direções diagonais: alto-direita-frente; baixo-esquerda-trás; alto-esquerda- -frente; baixo-direita-trás; alto-esquerda-trás; baixo-direita-frente; alto- -direita-trás; baixo-esquerda-frente. Figura 6.6 – Direções na dança Fonte: elaborada pela autora. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 108 – Dentro das possibilidades de movimento, temos a dimensão e a dire- ção. A dimensão se relaciona com a orientação no espaço e os planos são: plano da mesa, plano da porta e plano da roda. Já a direção se relaciona com a trajetória na qual nos movimentamos no espaço. É, portanto, o termo que utilizamos para explicar o sentido para onde vamos nos movimentar. Figura 6.7 – Coreografia de sombreamento Fonte: Shutterstock.com/SFROLOV 6.5 Princípios metodológicos do ensino da dança e do movimento Para uma execução de dança, é imprescindível que conheçamos esse instrumento, o que inclui aspectos anatômicos e cinesiológicos. Você sabe explicar, por exemplo, como um corpo, com seus ossos rígi- dos, pode se movimentar? Para que isso ocorra, as protagonistas da fun- ção são as articulações. De acordo com Haas (2011), elas são conexões entre dois ossos. Quadro 6.1 – Movimentos articulares Ação Movimento Exemplo Flexão “Dobrar” uma articulação Flexão do quadril: a região anterior do quadril se dobra no grand battemente devant – 109 – Introdução à expressão Ação Movimento Exemplo Extensão Retificaruma articulação Cotovelo se estende na posi-ção de flexão no solo Abdução Afastar do centro Braços à la seconde: movi- mento a partir dos lados do corpo para a segunda posição Adução Aproximar do centro Assemblé: aproximação dos membros inferiores Rotação lateral Rodar para fora Turnout: grand plié em segunda posição Rotação medial Rodar para dentro Articulação do ombro roda medialmente para apoiar a mão no quadril Flexão plantar Abaixar a planta do pé Relevê na ponta Dorsiflexão Levantar o dorso do pé Apoio do calcanhar no solo, levantando-se o antepé Fonte: Haas (2011, p. 2). Dividindo o corpo em regiões, temos a cabeça, o tronco, os mem- bros superiores e inferiores. Vamos entender melhor sobre cada uma delas? Vejamos! 2 Cabeça: os movimentos são realizados pela articulação do pes- coço e coluna cervical. Os movimentos são de flexão/extensão, flexão lateral, rotação e circundução. 2 Tronco: suas articulações são as vértebras, que compõem a coluna vertebral. Os movimentos realizados são de flexão/exten- são, flexão lateral, rotação, circundução e translação. 2 Membros superiores: muitas são as articulações envolvidas aqui. O ombro e a cintura escapular realizam os movimentos de elevação/depressão, retração/protração, adução/abdução, fle- xão/extensão, rotação interna/externa e circundução. Já os coto- velos realizam os movimentos de flexão/extensão e supinação/ Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 110 – pronação. Temos, ainda, o punho, com movimentos de flexão/ extensão, inclinação ulnar/radial e circundução. Por fim, há os artelhos das mãos, com movimentos de flexão/extensão, adução/ abdução e circundução. 2 Membros inferiores: entre as articulações envolvidas aqui, temos o quadril e a pelve. Os movimentos executados são de anteversão/retroversão, flexão/extensão, rotação interna/ externa, abdução/adução, inclinação lateral e circundução. Ainda temos os joelhos com flexão/extensão e tornozelos com movimentos de dorsiflexão, flexão plantar, adução/abdução e circundução. Assim como nos membros superiores, há os artelhos, porém dos pés, com movimentos de flexão/extensão, abdução/adução e circundução. Figura 6.8 – Regiões do corpo e seus movimentos – 111 – Introdução à expressão Fonte: Ribeiro (2019, p. 154). O corpo é o instrumento principal na orquestra da dança. Sem ele, o bailarino não possui o item fundamental para transmitir as mensagens que deseja. Compreender esta máquina fantástica, em sua multiplicidade, permitirá ao indivíduo o melhor uso para se comunicar e se relacionar com o mundo. A dança é uma das principais ferramentas para que esta comunicação ocorra. O indivíduo expressa aquilo que sente, seus anseios e suas emoções por meio da dança. Entender a dança e ensiná-la é ampliar os formatos de comunicação dos humanos com o mundo. Saiba mais Vamos saber um pouco mais? Para o coreógrafo e bailarino Jomar Mesquita, quando criamos uma coreografia, pensamos em harmonia e montagem de pequenas sequ- ências de movimento para, ao final, haver um espetáculo. Segundo Mesquita, o figurino, a cenografia, a iluminação, a trilha sonora e a coreografia são as vozes que compõem um espetáculo. Esse importante coreógrafo brasileiro, de Minas Gerais, ainda ressalta que não basta ele- ger músicas boas, colocar passos legais de dança, ter um bom figurino Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 112 – e utilizar bons efeitos de luz. Se não houver a harmonia de todas as vozes, o espetáculo pode ser um desastre. De acordo com Mesquita, os princípios da criação coreográfica, para que ela seja realizada de forma consciente, são: 2 unidade; 2 variedade; 2 repetição; 2 contraste; 2 transições; 2 sequência > ritmo; 2 clímax; 2 proporção; 2 equilíbrio (X tensão); 2 harmonia. Quer saber ainda mais? Na página Dança em pauta você encontra tudo sobre a visão de Jomar Mesquita e os princípios estéticos na criação de uma coreografia. Disponível em: <http://site.dancaempauta.com.br/principios-esteticos- -na-criacao-de-uma-coreografia/>. Acesso em: 3 nov. 2020. Atividades 1. A expressão e a consciência corporal são fundamentais para o ser humano. Enquanto uma permite que o indivíduo se relacione com o ambiente externo, a outra envolve a relação pessoal com o corpo. Na expressão corporal, por exemplo, são desenvolvi- das as habilidades comunicativas do movimento, por meio de mímica, interpretação, teatro e dança. Já na consciência corpo- ral, utiliza-se práticas para o reconhecimento do corpo. Dessa forma, conceitue expressão corporal. – 113 – Introdução à expressão 2. Com a expressão corporal e aulas direcionadas para desenvolvê- -la, é possível aprender a se expressar. Tal forma de expressão colabora com a comunicação entre as pessoas. Por meio da consciência corporal, conhecemos nosso próprio corpo, como ele se comunica, como se relaciona, quais seus limites e suas potencialidades. Sendo assim, conceitue consciência corporal. 3. O autoconhecimento pode ser entendido como a consciência corporal. Com o desenvolvimento dela, aprendemos a respeito dos limites e das potencialidades do nosso corpo, ou seja, até onde podemos ir ao realizarmos um esforço físico. Por isso, é tão importante desenvolver tal habilidade. Assim sendo, o que significa conhecer nosso corpo? 4. Na dança, a direção, o plano e a dimensão são pontos funda- mentais. Esses componentes constituem o que chamamos de estruturas espaciais. Para Ribeiro (2019), o espaço na dança é compreendido pelo domínio dessas estruturas. A direção, como sabemos, refere-se ao percurso do corpo no espaço. Tendo como início o centro do corpo, quais são as direções? 7 O estudo do movimento Como estudar o movimento – algo tão interno e natural? Como visto em outros capítulos, mesmo inertes estamos nos movimentando incessantemente. É possível analisar todo tipo de movimento? De que forma? Este capítulo apresentará estudos de um dos maiores estudiosos do movimento: Rudolf Laban. Segundo Laban (1978), existe uma diferença entre os movi- mentos de dança e mímica ou teatro. Isso porque, enquanto a dança usa o movimento como linguagem poética, a mímica ou o teatro criam a prosa do movimento. Para compreendermos melhor a respeito de todos os pontos, neste capítulo veremos os fatores do movimento, a importância dos estudos e métodos desenvolvidos por Rudolf Laban, e a cria- ção de um plano de aula de dança eficiente para o entendimento dos movimentos. Vamos começar! Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 116 – 7.1 Os fatores do movimento: fluência, espaço, peso e tempo A mímica originou a dança e o drama, e teve seu início no traba- lho, que garantiu nossa existência material, e na oração, que desenvolveu nossa espiritualidade. A mímica é, portanto, um movimento corporal que pode ser até traduzido em palavras (GARCIA, [S.d.]). Muitos momentos da vida cotidiano poder ser expressos por estados emocionais e mentais, como o soco, o torcer, o deslizar, o sacudir etc. São ações básicas e ao mesmo tempo cruciais para a expressão da mente e das emoções; também modifi- cam a voz, e a forma de se expressar, pois permitem utilizar diferentes entona- ções (LABAN, 1978). Os elementos do movimento, que são iguais no trabalho e na expressão, trazem uma dimensão nova para os significados dos movi- mentos da dança. “A observação e a assimila- ção das características do movimento de uma pes- soa são essenciais para o trabalho em dança – habi- lidades que podem ser adquiridas e aperfeiçoa- das por meio de exercí- cios” (GARCIA, [S.d.]). Laban (1978) reali- zou uma pesquisa sobre esforço, observando o movimento humano. O Figura 7.1 – Laban com sua cinesfera Fonte: CC BY-NC-ND 2.0 – 117 – O estudo do movimento autor relacionou o movimento à Revolução Industrial e ao desenvolvi- mento dos grandes centros urbanos, os quais acabaram por alterar a expe- riência dogesto e do movimento (GARCIA, [S.d.]). Laban, além de pesquisador, era coreógrafo, e era de seu interesse fazer uma análise do corpo e dos movimentos. Melina (2017) coloca que Laban queria adquirir esses conhecimentos para incrementar a educação corporal de crianças e jovens e melhorar o desenvolvimento profissional de atores e bailarinos. Seu estudo considerava as modalidades básicas de movimento. Assim, Laban utilizava os movimentos naturais do homem como base, ou seja, a respiração e o repouso – que podem ser realizados de forma automática, mas que de igual forma podem ser conscientes, como por exemplo quando queremos nos expressar por meio do nosso corpo (GARCIA, [S.d.]). Conforme Laban (1978), os movimentos poderiam ser classificados em: 2 atitude relaxada ou enérgica, relativa ao peso; 2 atitude linear ou flexível, relacionada ao espaço; 2 atitude curta ou prolongada, relacionada ao tempo; 2 atitude liberta ou controlada, referindo-se à fluência. Exemplo: Uma professora de dança realiza uma atividade com seus alunos com o objetivo de fazê-los entender a classificação de movi- mentos feita por Laban. Solicita então que as crianças prestem atenção em quatro cenas: uma pena caindo, um chute a gol, um abraço carinhoso e o balançar das mãos. A atividade é relacionar cada situação apresentada com as atitudes que Laban elenca. Os alunos responderam da seguinte forma: parte deles ligou a pena caindo ao movimento relaxado, linear e prolongado; o chute ao movimento enérgico, linear, curto e controlado; o abraço cari- nhoso foi classificado como enérgico, prolongado e controlado; porém, quanto ao espaço, alguns alunos relacionaram a flexível e outros a linear, afinal, essa classificação depende de interpre- tação e não é uma determinação estática. Já o balançar de mãos foi classificado como flexível, enérgico, prolongado e liberto. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 118 – Após essa prática, a professora sugeriu que selecionassem outros movimentos do cotidiano e experimentassem relacionar com a classificação das atitudes de Laban. Surgiram algumas ações: • varrer a casa; • escrever no caderno; • correr no pátio; • levar a colher até a boca. Faça, agora, a classificação dessas ações. Você consegue classificá-las assim como os alunos fizeram com as ante- riores? Nem todas se enquadram nas atitudes de Laban, afinal cabe interpretação em algumas e essa interpreta- ção é realizada por aquele que vê a ação. Por exemplo: o balançar de dedo ao dizer não pode ser enérgico, linear, curto e controlado quando uma mãe o direciona para seu filho pequeno que está prestes a arremessar um brinquedo. Todavia, a mesma atitude pode ser relaxada e prolongada quando tomada de forma tranquila como resposta a um questionamento sim- ples como “Você já realizou a tarefa?”, resposta: “Ainda não.” Assim, Laban determinou os fatores que influenciam e determinam o movimento: peso, espaço, tempo e fluência – ou seja, o movimento possui fluência, é realizado em um espaço, a partir de um peso e em determinado tempo. Esses fatores modificam as características do movimento. Se combi- nados, Laban os classifica como “temas do movimento” (MELINA, 2017). Vejamos a seguir cada um dos fatores citados. 7.1.1 Fluência Este é o primeiro fator observado no desenvolvimento do movimento nas pesquisas de Laban. Relaciona-se com a continuidade ou não do movimento. Há o movimento livre e o movimento controlado. No movi- mento livre, espalhamo-nos pelo espaço com um movimento expandido e contínuo. Mas no movimento controlado, temos a sensação de conten- ção – um movimento realizado com cuidado, em restrição de espaço, com limitação (LABAN, 1978). – 119 – O estudo do movimento Na fluência representa-se a emoção por meio do movimento, por meio do conter e do liberar. Melina (2017) coloca que a fluência liberada relaciona-se com expansão entrega e projeção; já a fluência controlada relaciona-se com restrição, cuidado e retração do movimento. Para mani- festar as impressões do movimento (contínuo e liberado), é preciso utilizar a tensão muscular (músculo tenso ou relaxado). 7.1.2 Espaço O espaço é onde ocorrem os movimentos. Somos influenciados por ele e de igual forma o influenciamos, estando em movimento – mudando nossa ocupação no espaço – ou em repouso. Laban (1978) coloca que o espaço é possível nas seguintes formas: 2 Kinesfera – espaço pessoal do tamanho das extremidades sem trocar a base, ou seja, sem locomoção. É toda área que podemos alcançar com as partes do corpo – o quadro que delimita o espaço pessoal (GARCIA, [S.d.]). Figura 7.2 – Planos Fo nt e: <h ttp :// m ic ro ci tie s.n et /p or tfo lio /m ea su rin g- sp ac e/ >. A ce ss o em : 4 n ov . 2 02 0. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 120 – 2 Planos – é um espaço bidimensional. São espaços nos quais per- corre o movimento, como são os planos aprendidos em Cinesio- logia ou Biomecânica. Há os planos sagital, coronal e transver- sal, nesse caso com outras nomenclaturas. O chamado plano da porta combina altura e largura; o plano da roda combina profun- didade e altura; e o plano da mesa combina largura e profundi- dade. Tal descrição é didática por relacionar um plano com um objeto (GARCIA, [S.d.]). Figura 7.3 – Dimensões de Laban Fonte: <http://www.labananalyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/ space_harmony_choreutics/planes/laban_dimensional_planes.htm>. Acesso em: 4 nov. 2020. 2 Cubo, tetraedro, octaedro, icosaedro e dodecaedro – Laban (1978) determina o suporte de movimentação do bailarino com as figuras geométricas. Isso traz definição de altura, nível e dire- ção dos movimentos, que se tangem. Por isso, Laban fez muitos de seus estudos com base no icosaedro. – 121 – O estudo do movimento Figura 7.4 – Figuras de Laban Fonte: http://www.labananalyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/ space_harmony_choreutics/planes/laban_dimensional_planes.htm. Acesso em: 4 nov. 2020. Laban (1978) ainda coloca que os movimentos partem do centro para as outras direções – frente, trás, direita, esquerda e diagonais. Figura 7.5 – Direções do movimento de Rudolf Laban Fonte: Laban (1978, p. 71) Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 122 – 7.1.3 Peso A cruz de esforços demonstra o peso, como forte ou pesado e leve ou fraco (MELINA, 2017). Quando forte ou pesado, significa que o uso da força muscular traz um movimento bruto. Um exemplo é quando deixamos o corpo ceder à força da gravidade, uma atitude passiva que tem como resultado a descida, um movimento pesado realizado pelo nosso corpo (GARCIA, [S.d.]). Já quando leve ou fraco, o movimento é na direção contrária, ou seja, para cima, em oposição à força da gravidade. Um exemplo é a suspensão do corpo temporariamente (GARCIA, [S.d.]). 7.1.4 Tempo O fator tempo também pode ser tratado como ritmo, e tem relação com a velocidade do movimento. Envolve acentos, intervalos, duração e intensidade. Laban (1978) classifica o tempo como rápido, moderado ou lento. O ritmo rápido é a aceleração constante ou rápida sem alterações; o lento é o movimento vagaroso ou a velocidade diminuída até finalmente parar; e o moderado é o meio-termo entre os anteriores. É importante des- tacar que a classificação do tempo/ritmo é subjetiva, pois é a determinação do que é lento ou rápido é relativa – a conclusão varia de pessoa para pessoa (GARCIA, [S.d.]). Iremos a seguir estudar a classificação dos temas de movimento, feita por Laban. 7.2 Temas de movimento de Rudolf Laban: elementar e avançado Para Laban, a grandeza do teatro e da dança estava no fato de des- pertarem nas pessoas o sentimento de serem responsáveis pelo próprio destino. Os estudos de Laban foram tão importantes para a arte e a edu- cação que são utilizados ainda hoje como material de estudo nas univer- sidades de dança e teatro (MELINA, 2017). Sua abordagempermite que o artista construa e desconstrua sua dança. Os formatos de dança e os – 123 – O estudo do movimento modelos coreográficos utilizados na atualidade tiveram como inspiração os seus estudos (GARCIA, [S.d.]). A seguir, veremos então os estudos sobre dança de Laban. 7.2.1 Labanotação A “labanotação” é o método de notação da dança criado por Laban. Este método propõe uma análise do movimento quanto a sua localização no espaço e intensidade. A partir disso, pode ser desenvolvida uma espé- cie de partitura do movimento, parecida com a da música. Essa partitura é uma forma de registrar os movimentos, com símbolos gráficos, um eixo vertical e um plano bidimensional (MELINA, 2017). Mais tarde, Laban parou de utilizar esse método, pois percebeu que ele apontava o corpo em sua posição, e o seu interesse estava nos pontos de transição percorridos pelo corpo (MELINA, 2017). Assim, surge em 1960 uma nova forma de notação na dança, a notação Motif, criada pelos pupilos de Laban. A diferença estava no tipo de informação transmitida. A grande diferença entre ela e a labanotação está no tipo de informação que é transmitida (GARCIA, [S.d.]). Na notação Motif, a informação é mais simples, o que permite livre interpretação e recriação, transformando coreografias ou sequências de movimento (MELINA, 2017). Figura 7.6 – Cena de A mesa verde Fonte: Domínio Público. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 124 – Há ainda hoje encontros de labanotadores ou notadores de dança no mundo todo, em que são debatidas a notação em dança e as transfor- mações da proposta, com o objetivo de aprimorar a técnica e difundi-la (GARCIA, [S.d.]). 7.2.2 Movimento como linguagem Laban (1978) também coloca que no movimento há símbolo de lin- guagem, e por isso é passível de interpretação e registro. Ele coloca que corpo, esforço, forma e espaço se inter-relacionam (GARCIA, [S.d.]). O corpo descreve estrutural e fisicamente as características do ser humano quando em movimento – qual parte está se movendo, quais partes estão conectadas, quais influenciam outras... Observa, portanto, a organi- zação do corpo (GARCIA, [S.d.]). O esforço, é a dinâmica e a qualidade do movimento, a compreensão de como o movimento se dá, em qual ritmo, se a motivação é interna ou externa. O esforço é dividido em fatores básicos: fluxo, peso, tempo e espaço, isolados ou combinados (GARCIA, [S.d.]). Já a forma trata das possibilidades plásticas do corpo, posturas e mudanças de volume. Laban (1978) coloca ainda que o corpo interage e se relaciona com o ambiente ao seu redor. Por fim, no espaço observa-se o movimento e sua conexão com o ambiente. Nessa categoria, Laban (1978) apresenta a exploração da esfera pessoal de movimento (kinesfera). 7.2.3 Outros trabalhos de Laban Em seus estudos sobre domínio do movimento, Laban (1978) tam- bém aponta que é necessário que os estudiosos da área cultivem a prática da observação, para desenvolverem melhor o trabalho expressivo. Laban progrediu seus estudos, apresentando outros fatores, como o recolher e o espalhar que, segundo ele, seriam as principais atitudes corporais realizadas pelo ser humano ao se movimentar. Um exemplo de recolher seriam os movimentos de trazer alguma coisa para o centro do – 125 – O estudo do movimento corpo; já o espalhar poderia ser o movimento de empurrar algo para longe do centro corporal. O recolher é mais flexível, o espalhar é mais direto (LABAN, 1978). Há inclusive a possibilidade de fazer combinações des- sas formas. Laban coloca que as posições arabesque e attitude são remanescen- tes dos movimentos de recolher e empurrar. Além disso, coloca o recolher com o agarrar que comprime o espaço em uma única dimensão. O empur- rar, por sua vez, se relaciona com o repelir, que irradia do centro do corpo para algum ponto no espaço (GARCIA, [S.d.]). Nesse âmbito, o balé é visto como “uma necessidade interna do homem em um mundo intenso demais para ser traduzido em palavras: o mundo silencioso da ação simbólica. Essas são mais que simples represen- tações de ações comuns da vida cotidiana, são os silenciosos movimentos recheados de emoção” (GARCIA, [S.d.]). Laban (1978) ainda coloca que é necessário buscar um equilíbrio entre a movimentação natural e a dita “pomposa” de antigamente, pois muitos bailarinos, na busca por mais naturalidade, acabam não conse- guindo representar os detalhes sutis de movimentação e desenvolvendo um teatro vazio e sem movimento. A mímica, afinal de contas, traduz a significação dos movimentos (GARCIA, [S.d.]). 7.2.4 Temas do movimento O principal legado de Rudolf Laban para a linguagem do movi- mento são os temas do movimento, utilizados em diversas áreas, como educação, dança, teatro, terapia e trabalho. Trata-se de combinações relacionadas com os fatores do movimento (fluência, espaço, tempo e peso) (LABAN, 1978). Um dos temas criados por Laban é o tema de luta, no qual há uma ação de movimento forte, rápida e direta, ou seja, o ato de socar. Alter- nando esse tema para o peso leve, teríamos a ação de pontuar; alterando para o tempo lento, teríamos a ação de pressionar; e substituindo o espaço para indireto, teríamos a ação de chicotear (GARCIA, [S.d.]). O quadro 7.1 resume essas ações. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 126 – Quadro 7.1 – Movimentos do tema de luta Socar Pontuar Pressionar Chicotear Tempo Rápido Rápido Lento Rápido Peso Forte Leve Forte Forte Espaço Direto Direto Direto Indireto Fonte: elaborada pelo autor. Outro tema é o de atitude indulgente, em que a ação é um movi- mento leve, lento e indireto – o ato de flutuar. Ao contrário do que ocorre no tema de luta, se o peso for modificado para forte, temos a ação de torcer; se o tempo for substituído para rápido, temos a ação de sacudir; e se o espaço for alterado de indireto para direto, temos a ação de deslizar (GARCIA, [S.d.]). O quadro 7.2 resume essas ações. Quadro 7.2 – Movimentos do tema de atitude indulgente Flutuar Torcer Sacudir Deslizar Tempo Lento Lento Rápido Lento Peso Leve Forte Leve Leve Espaço Indireto Indireto Indireto Direto Fonte: elaborada pelo autor. Laban (1978) realizou trabalhos de dança para o povo. Nessa pro- posta, a dança deveria servir a todos, ter estrutura simples e instigar bai- larinos e não bailarinos a dançarem de maneira colaborativa. Ainda nesse viés comunitário, Laban (1978) auxiliou operários a estudar os movimen- tos utilizados em seu trabalho e desenvolverem métodos para realizá-los da melhor maneira possível. Agora que pudemos compreender os temas do movimento estudados por Rudolf Laban, partiremos para a montagem do plano de uma aula de dança. Veremos, então, na prática, nossos conhecimentos adquiridos até aqui. Acompanhe! – 127 – O estudo do movimento 7.3 Plano de aula de dança O primeiro passo no planejamento de uma aula é definir o seu obje- tivo, que determinará todos os outros pontos. O objetivo da aula é o foco final da sua realização, é o que você deseja que seu aluno aprenda/desen- volva. No caso de uma aula de dança popular, o professor pode ter como objetivo que o aluno aprenda uma dança, ou então que desenvolva técni- cas de giro, melhore a flexibilidade dos membros inferiores, monte uma coreografia etc. Sendo assim, é importante relacionar o objetivo à idade e ao nível em que o aluno se encontra (GARCIA, [S.d.]). Em seguida, deve-se considerar a duração da aula, que permitirá planejar cada momento, evitando que o objetivo da aula seja tratado de maneira muito extensa ou, ao contrário, muito superficial. A divisão da aula em momentos que atendam a todos os objetivos é essencial. A pri- meira parte da aula deve ser destinada para contextualização e preparação; em seguida, desenvolve-se a técnica, a sequência de movimentos e a core- ografia; ao fim, o alongamento, o relaxamento e a avaliação dos objetivos, identificando se eles foram alcançados ou não (GARCIA, [S.d.]). Cone e Cone (2015,p. 30 apud GARCIA, [S.d.]) trazem um exemplo de divisão de aula: 2 Introdução e aquecimento: o professor pede aos alunos que criem, por meio de um trabalho colaborativo, uma história sobre as folhas que caem. 2 Aquecimento: […] o professor estabelece uma contagem para determinar as paradas em que eles se mantêm no formato de folha imóveis; e inclui movimentos de balanço. 2 Desenvolvimento: o professor e os alunos criam uma história sobre folhas que caem. As palavras-chave da história são regis- tradas em um cartaz. As crianças elaboram, junto com o profes- sor, movimentos correspondentes a cada uma da palavras-chave e criam uma dança. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 128 – 2 Atividade da apoteose: o professor conta a história enquanto as crianças dançam. A música utilizada varia. Uma é lenta e suave, e outra, rápida e forte. 2 Encerramento: o professor pede que os alunos expliquem o que sentiram dançando ao som de diferentes tipos de músicas (CONE; CONE, 2015, p. 50). Chega a etapa da definição de materiais – colchões, aparelho de som, instrumentos musicais etc. Os materiais também podem estar relacionados aos objetivos da aula – por exemplo, em uma aula na qual o objetivo é trabalhar com ritmos binários, ternários e quaternários, os alunos podem criar um chocalho artesanal feito com copo de plástico, sementes e sacola (GARCIA, [S.d.]). Portanto, no plano de aula devem constar: materiais utilizados em seu desenvolvimento, tempo necessário e objetivos a serem atingidos ao final do ensino (GARCIA, [S.d.]). 7.3.1 Modelos de planos de aula e avaliação Vamos pensar nos planos de aula e planejamento das aulas de dança tendo em vista que também teremos que avaliá-las?! Você já imaginou como fará isso? E para que servem os planos de aula? Veremos a seguir. Os planos de aula são um roteiro para o professor. A partir disso, pode ser feita uma sequência metodológica que desenvolva o assunto desejado. É reco- mendada a construção de quatro a seis planos de aula para trabalhar com cada assunto. A seguir, um exemplo para a educação infantil (GARCIA, [S.d.]): Proposta da aula: musicalidade e percussão rítmica. Faixa etária: entre 4 e 6 anos. Local: sala de dança. Aula 1 Tema: músicas e estilos musicais. – 129 – O estudo do movimento Material a ser utilizado: aparelho de som. Objetivo: apresentar diferentes estilos musicais e escolher uma música que agrade ao grupo. Desenvolvimento: após a escolha musical, ensaiar a música esco- lhida. Tempo de aula: 3 horas. Aula 2 Tema: instrumentos musicais e som. Materiais a serem utilizados: diversos instrumentos musicais. Objetivo: apresentar diferentes instrumentos musicais para o grupo. Desenvolvimento: experimentar os instrumentos musicais, tentar encontrar nas músicas qual som cada um faz e representar com partes do corpo o som de cada instrumento. Tempo de aula: 3 horas. Aula 3 Tema: produzindo o próprio instrumento. Materiais a serem utilizados: caixinhas de Tic-Tac recicladas, sementes de arroz, feijão, milho, fita-crepe, canetinhas coloridas e cola. Objetivo: produzir e praticar seu próprio instrumento. Desenvolvimento: experimentar os diferentes sons dos materiais a serem utilizados e escolher o mais adequado para produzir o ins- trumento. Tempo de aula: 3 horas. Aula 4 Tema: ensaio e apresentação final. Objetivo: preparar a apresentação final. Desenvolvimento: retomar a música escolhida na Aula 1, ensaiar com o instrumento produzido na Aula 3 e fazer um vídeo para que todos se vejam na televisão da escola. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 130 – Tempo de aula: 3 horas. Por fim, não podemos nos esquecer de desenvolver um método ava- liativo para a aula de dança. Nesse momento, é importante levar em consideração o envolvimento dos alunos. Observe o quadro a seguir. Quadro 7.3 – Modelo de avaliação de aula de dança para crianças Nome da experiência de aprendizagem Descrição da experiência Dança das fitas da amizade na vizinhança As crianças utilizaram fitas coloridas em uma dança sobre a comemoração da ami- zade em uma comunidade. Nuvens flutuantes e panca- das de chuva As crianças exploraram e expressaram as formas e os movimentos das nuvens em uma dança que representava a conexão de nuvens isoladas para formar uma grande nuvem carregada de chuva. Correr, saltitar, pular e saltar Um texto poético serviu de acompanha- mento para quatro danças, cujo objetivo era expressar as palavras que formavam um ritmo por meio de rima. Parque infantil As crianças recriaram as atividades relacio- nadas com o brincar em um escorregador, em um balanço ou em uma gangorra, movi- mentando-se em diferentes níveis e direções. Ondas do oceano e nadadores O espaço da dança se transformou em um oceano e uma praia, empregando-se a mudança de nível das ondas e as ações dos nadadores para a criação de uma dança sobre um dia de praia. Fonte: Cone e Cone (2015, p. 114). No quadro 7.3, Cone e Cone (2015) colocam um modelo de avaliação da aula de dança para crianças. Assim, podemos perceber que entender sobre os movimentos corporais e saber os objetivos da aula tornam a prá- tica algo natural. – 131 – O estudo do movimento Saiba mais Um pouco mais sobre Laban: Rudolf Von Laban nasceu na Bratislava, em 1879. Foi criador de vários centros de pesquisa nos quais buscava pesquisar o retorno aos movi- mentos naturais, na sua espontaneidade e riqueza, desenvolvendo consciência no bailarino. Inspirou diversos coreógrafos europeus e teve como pupilos os principais bailarinos e bailarinas da Europa. Desenvolveu uma notação de movimento conhecido como Labanota- ção. Foi o autor de várias coreografias famosas, além de desenvolver trabalhos como pesquisador da dança e do teatro. Trabalhou com gru- pos profissionais de onde saíram os mais importantes nomes da dança expressiva europeia. Boa parte da sua pesquisa e dos métodos de dança desenvolvidos por ele sobre o uso do movimento humano são até hoje utilizados como base para uma melhor compreensão do movimento corporal e do homem e através de sua expressão na dança. Sua história se mistura com o período europeu da Segunda Guerra Mundial, e sua relação com Hitler é comentada nas obras literárias que versam sobre esse tema. De maneira muitas vezes controversa não se chega a uma conclusão quanto a ele se opor ou ter apoiado o nazismo na época. Galante e conquistador, teve diversas bailarinas ao seu redor. Era des- crito como bonito, elegante e de carisma inigualável. O fato é que além de excelente coreógrafo, era de inteligência notável, sabendo muitas línguas e se relacionava com facilidade. Você quer ler? Para saber ainda mais sobre o coreógrafo e pesquisador Rudolf Laban, suas ideias e metodologias aplicadas até hoje nas teorias do movimento, sugerimos a leitura do livro Domínio do movimento, organizado por Lisa Ulmann. Na obra, é possível compreender a genealogia da práxis do autor. Vale a pena pesquisar e ler o livro! Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 132 – No artigo intitulado Rudolf Laban inspira exposição com coreografias de dança inéditas, escrito por Mariana Marinho, temos a apresentação da exposição de Rudolf Laban no ano de 2016 no MAC USP de Ibirapuera. No artigo, parte da história do coreógrafo é apresentada, assim como as obras do pesquisador. Acesse o artigo completo por meio do link: <https://guia.folha.uol. com.br/exposicoes/2016/05/10002221-rudolf-laban-inspira-exposicao- -com-coreografias-de-danca-ineditas.shtml>. Acesso em: 3 nov. 2020. Atividades 1. Segundo a pesquisa de Laban (1978), os fatores que influenciam e determinam o movimento são denominados “fatores do movi- mento”. Para o pesquisador e coreógrafo, o movimento possui, portanto, uma fluência, é realizado em determinado espaço, com um peso, a partir de certo tempo. Tais fatores modificavam as características do movimento,sendo que, quando combinados, recebiam outra nomenclatura. LABAN, R. Domínio do movi- mento. São Paulo: Summus Editorial, 1978. Sendo assim, de acordo com nossos estudos, qual é o nome dado aos fatores do movimento quando combinados? 2. Como sabemos, o fluxo ou a fluência se referem à continuidade ou não de um movimento. De acordo com Laban (1978), trata-se do primeiro fator a ser observado no desenvolvimento do movi- mento. Nesse fator, temos a manifestação da emoção por meio do movimento, pois é no conter ou liberar que manifestamos o que sentimos. LABAN, R. Domínio do movimento. São Paulo: Summus Editorial, 1978. Com base nessas informações e em nossos estudos sobre a flu- ência, quais movimentos temos? 3. De acordo com Melina (2017), Rudolf Laban definia o espaço como o lugar por onde nos movimentamos. Para o pesquisador, – 133 – O estudo do movimento podemos influenciar o espaço, assim como podemos ser influen- ciados por ele. Além disso, ao espaço, Laban relacionava ima- gens tetraédricas para explicar as movimentações. MELINA, S. Laban plural: arte do movimento, pesquisa e genealogia da práxis de Rudolf Laban no Brasil. São Paulo: Summus Editorial, 2017. Com base nessas informações, como poderiam ser as formas no espaço? 4. De acordo com Laban (1978), um dos fatores do movimento se refere à velocidade com que o movimento é realizado. Envolve acentos, intervalos, duração e intensidade do movimento. Devido a suas características, é tida como um fator subjetivo, uma vez que pode variar de acordo com o que cada pessoa acre- dita. LABAN, R. Domínio do movimento. São Paulo: Summus Editorial, 1978. Com base nessas informações e em nossos estudos, qual fator é descrito anteriormente? 8 Musicalidade O ritmo e a musicalidade contribuem para que o corpo possa se expressar. Quando falamos em ritmo, estamos abran- gendo aspectos ligados a princípios musicais como pulso, pausa e intensidade. Já no aspecto musicalidade, transcorremos sobre as nuances musicais e a interpretação através de instrumentos ou até mesmo do corpo, que por si só é um instrumento musi- cal, tanto que tem dentro de si o metrômetro natural: o coração. Temos em nosso corpo o ritmo natural conduzido por esse órgão tão importante para a vida. Para interpretarmos a musicalidade, é necessária uma apren- dizagem por parte do corpo de como expressar aquilo que é escu- tado e mesmo para aqueles que não escutam – através da vibra- ção sonora, é possível interpretar ritmo por meio de movimentos. Nas próximas páginas, apresentaremos essas noções e algumas práticas que permitam compreender melhor essas terminologias. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 136 – 8.1 Ritmo versus Musicalidade Ribeiro (2019) explica que o ritmo se refere à capacidade de o ser humano compreender, organizar e interpretar estruturas temporais conti- das no movimento; ele se refere diretamente a uma capacidade do sistema nervoso central, que por isso está classificada como uma capacidade coor- denativa. Nesse contexto, temos que o corpo é portador de um ritmo bio- lógico, sendo que os movimentos musculares involuntários o produzem; assim, nosso corpo é como uma orquestra afinada e em grande sincronia. A menção na morfologia da palavra ritmo se origina no termo grego rhythmo, que significa sucessão regular de tempos fortes e fracos em uma frase musical. É, portanto, o ritmo que define o valor das notas de acordo com a intensidade e o tempo delas. Muitas vezes tratamos ritmo utilizando a denominação cadência, portanto, quando falamos que “somos cadencia- dos”, estamos indicando que a música está no ritmo. Relacionando com a música, vemos que o ritmo está diretamente ligado a ela, porém, mui- tas vezes, podemos denominar como ritmo outras formas de arte, como a poesia declamada, tendo em vista a forma como distribuímos as sílabas e utilizamos tempos fracos e fortes durante os versos. A palavra ritmo muitas vezes é usada para explicar a velocidade. Quando dizemos que algo está em um ritmo acelerado, estamos indicando que está se movendo rápido, agindo rápido. Já ao utilizá-la na expressão “ele diminuiu seu ritmo no trabalho” denota-se que alguém está traba- lhando menos, fazendo então uma relação com quantidade. Podemos classificar o ritmo em: 2 musical – quando relacionamos harmonia e melodia de instru- mentos musicais; 2 sinusal – diretamente ligado ao primeiro instrumento do homem, que é o próprio coração e se relaciona com a frequência cardíaca. Falando em ritmo, não podemos deixar de explicar que dentro do ritmo não temos somente som, mas também silêncio. A relação entre som e silêncio é o que dita o ritmo de algo. Ainda dentro de ritmo, constante- mente utilizamos o conceito de compasso, que se relaciona com os assen- tos que as notas musicais têm durante a composição musical. – 137 – Musicalidade Tavares (2013) apresenta que a música é o uso do som pelo ser humano. Segundo o autor, é uma forma de linguagem, então, para enten- dê-la, é necessário compreender a linguagem. A linguagem da música é polissêmica, pensando em linguagem como instrumento de interação social formador de conhecimento. Desde a barriga da mãe, o bebê já reage ao som. Assim como um adulto dança ao escutar uma música, quando a mãe se movimenta o bebê responde. De acordo com Tavares (2013), durante a flutuação na barriga da mãe, através dos constantes movimentos corporais dela, o bebê obe- dece a um som, um movimento e um ritmo, que são elementos funda- mentais da inspiração e estão impregnados no aparelho sensorial do corpo bem antes do nascimento. Diversas pesquisas relacionam o som ao estágio uterino, e Tavares (2013) explica que o feto é capaz de escutar muito antes que a mãe consiga perceber nele alguma reação. Tanto o som quanto o movimento físico desempenham um papel fundamental no desenvolvimento humano. Pesquisas realizadas há muito tempo provam que os movimentos corporais tanto do feto como da mãe moldam e amadurecem o cérebro da criança; nos primeiros meses da ges- tação, o feto flutua no líquido amniótico, e esses movimentos influenciam as estruturas sensoriais do equilíbrio. Segundo Schroeder (2010), é importante que em todo e qualquer con- texto de ensino-aprendizagem na área musical sejam integrados elementos musicais. Não se pode separar teoria de prática como também não é pos- sível desvincular ritmo de melodia e prática da escrita musical e lingua- gem musical tradicional. É importante incentivar a participação ativa do aluno na aprendizagem de música, pois, de acordo com o autor, por meio dos movimentos do corpo é possível concretizar elementos e ideias musi- cais trazendo vivências de seu mundo e contribuindo criativamente para o enriquecimento das atividades desenvolvidas na aula de Música. Acreditar no potencial educativo da música é um ponto de partida para um trabalho abrangente e efetivo do ensino dela. A aula de Música é uma grande ferramenta de educação e pode ser um momento importante de comunicação e expressão. Ensinar música é muito mais do que transmitir uma técnica para tocar instrumento ou noções teóricas; é permitir que o Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 138 – indivíduo se familiarize com a música por meio de um processo gradual que, segundo Schroeder (2000), é chamado de sensibilização. Ao mesmo tempo que inicia a parte rítmica, o professor pode começar um trabalho de melodia ou musicalidade, e é importante entender que esses termos estão trabalhando conjuntamente e que a música é um todo. O aspecto rítmico é inerente ao ser humano, de acordo com Schroeder (2000), e está ligado à parte fisiológica e ao movimento. A manifestação do ritmo da criança acontece intuitiva e espontaneamente. O autor indica que é necessária a existência do ritmo como elemento musical básico e que deve acontecer durante sua vivência. Um dos termos mais utilizados é pulsação, em que o ritmo ideal é a marcação do pulso de umamúsica que surge naturalmente, como quando pessoas movimentam a ponta dos pés, a cabeça, o corpo ou batem pal- mas ao ouvir uma melodia. Segundo Schroeder (2000), a pulsação é um elemento regulador do ritmo, e é imprescindível interiorizar a noção de pulso antes de compreender o ritmo. Uma sugestão do autor para facilitar o entendimento do aluno é fazer uma analogia entre a pulsação da música e a pulsação humana colocando os dedos no próprio punho ou a mão no pescoço ou sobre o coração, para que seja possível perceber a regularidade que é a constância das batidas. Pode-se propor que, apesar de haver varia- ção de velocidade durante os movimentos do pulso, eles mantêm sua regu- laridade e, a partir dessa experiência, é possível apresentar que a música é como o coração se expressa por meio da pulsação ou do pulso. Outro conceito importante é o de acento ou compasso, que está dire- tamente relacionado à pulsação, por isso é entendido após a ideia de pulso. O acento determina a visão de compasso e, consequentemente, sua forma. Para chegarmos à noção teórica de compasso e fórmula de compasso, pre- cisamos identificar o acento musical através da percepção do acento em canções já conhecidas. Schroeder (2000) apresenta como sugestão de prá- tica cantar uma música com a qual já se esteja acostumado e perceber, com flexões de tronco, o balanço dos braços, como existem acentos diferentes durante a música mesmo ela se mantendo igual. Definimos como ritmo binário quando há o acento de 2 em 2 pulsos; ritmo ternário quando o acento ocorre de 3 em 3 pulsos; ritmo quaternário quando o acento ocorre de 4 em 4 pulsos. Em algumas músicas não é pos- – 139 – Musicalidade sível perceber esses acentos, por isso as chamamos de complexas. Veja a seguir alguns exemplos: 2 Ritmo binário: merengue, pop 2 Ritmo ternário: valsa, forró 2 Ritmo quaternário: samba, salsa 2 Ritmos complexos: tango, música clássica Veja alguns exemplos de como praticar com os alunos a ideia de ritmo e musicalidade apresentados por Schroeder (2000). Figura 8.1 – Exercícios para aula de pulso Fonte: Schroeder (2000, p. 32). Figura 8.2 – Exercício de aula 2 Fonte: Schroeder (2000, p. 32). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 140 – Confira uma sugestão de prática para cumprimento do som para intro- duzir a ideia de sons longos e curtos apresentada por Schroeder (2000). Figura 8.3 – Exercício de aula 3 Fonte: Schroeder (2000, p. 33). A frase musical, portanto, é composta de 8 tempos musicais. Se é um ritmo binário, tem 4 repetições para formar uma frase musical; já no ritmo quaternário, tem 2 repetições. Um bloco musical é formado de 4 frases musicais e, portanto, de 32 tempos; normalmente, a primeira frase se chama pergunta e a segunda frase, resposta, repetindo a nuance nas próximas 2 frases musicais. Na prática a seguir, a ideia é ter uma noção de compasso. – 141 – Musicalidade Figura 8.4 – Exercício de aula 4 Fonte: Schroeder (2000, p. 33) A ideia da prática apresentada por Schroeder é permitir a compreen- são rítmica e de esquemas de ritmo, no caso o quaternário, para entender como funciona cada formato de ritmo. Figura 8.5 – Exercício de aula 5 Fonte: Schroeder (2000, p. 33). Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 142 – Figura 8.6 – Demonstração do exercício Fonte: Schroeder (2000, p. 34). Indo além nos conceitos musicais, pensaremos em gêneros musicais. De acordo com Tavares (2013), os gêneros podem aparecer mesclados em diversas composições, porém se subdividem em: 2 religioso – tem como finalidade fazer uma oração a um ser divino, agradecer, fazer um pedido e louvar independentemente de religião; 2 profano – que não tem intenção religiosa, serve para relaxar, dançar, ninar, brincar, guerrear e anunciar algo; 2 tradicional étnico – consiste na música de raiz feita pelo povo normalmente com caráter ritualístico; 2 folclórico ou cultura popular – normalmente com música criada de forma coletiva, aceita pela comunidade, transmitida pela tradição oral e não se sabe quem é compositor; 2 erudito – feita normalmente por pessoas que estudaram Música formalmente e que seguem determinados padrões de composição; – 143 – Musicalidade 2 popular urbano – é a música feita por um compositor conhe- cido que normalmente alcança todas as camadas da sociedade, características de centros urbanos e com certo apoio da mídia; 2 criado pela indústria cultural – música feita para ser assimi- lada por muitas pessoas, com estrutura de composição simples e intenção de incentivar o consumo alienado da população. 2 Ainda na análise das formas musicais, Tavares (2013) apresenta a seguinte classificação: 2 concerto – obra musical na qual frequentemente um instrumento solista contrasta com um conjunto de orquestra; 2 sonata – sinfonia composta para ser executada por um grupo menor de instrumentos musicais e que não precisa de uma orquestra inteira; 2 rock – estilo que surgiu na década de 1960 e tem várias for- mas musicais com semelhança no canto e instrumentos elétri- cos amplificados. Após compreendermos a música, ficam as seguintes questões: quem fez essa música? Quando? Essas perguntas dizem respeito ao contexto no qual a música foi criada, pois pode ter uma representatividade de um período da história e apresentar características comuns da época. Como foi criada, segundo Tavares (2013), apresenta uma relação de movimentos musicais, como o impressionismo, a jovem guarda e a bossa nova. É importante com- preender o contexto de produção para poder analisar a música fazendo refe- rência também ao lugar de origem, por exemplo, música inglesa, música nordestina e ópera chinesa. Só com questionamentos como esses é possível perceber que, dependendo da época e do lugar, as músicas têm característi- cas distintas diretamente relacionadas com o contexto em que foram criadas. 8.2 Diferentes estilos musicais, história e características É sabido que os povos da pré-história criavam e executavam música para as mais diversas situações, portanto o homem nunca parou de fazer Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 144 – música, já que ela faz parte da vida de praticamente todos os povos e de todas as épocas. Segundo Tavares (2013), como estilo musical que deu iní- cio à música, podemos citar a música étnica, feita pelos povos que viviam de forma mais primitiva, como tribos indígenas e povos da África, da Ásia e da Oceania. De acordo com Tavares (2013), esse gênero musical, na maioria das vezes, está relacionado a rituais religiosos e tem ligação íntima com a natureza, por isso também, algumas vezes, é chamado de música ritualística. Elas têm características específicas e são executadas por muitos tipos de instrumentos musicais, com técnicas vocais diferentes das que estamos acostumados a escutar atualmente. O autor ainda enfatiza que esse tipo de música é pouco conhecido, e a maioria dos povos que mantêm as tradições musicais foi dizimada pela cultura ocidental e pela dominação de povos que eram considerados mais desenvolvidos. Algumas músicas étni- cas sobreviveram até hoje, permitindo a análise e o estudo desse gênero musical. A comparação da música étnica de diversos povos e a suposição sobre algumas características dessa música primitiva como era na pré- -história, por exemplo, apresentam as seguintes características: 2 íntima relação com os elementos da natureza; 2 transmissão de geração em geração através da fala; 2 acompanhada de dança; 2 responsável pela formação dos indivíduos; 2 acompanhada de instrumentos musicais feitos com materiais naturais. Figura 8.7 – Instrumento musical feito com coco e barbante Fonte: Shutterstock.com/ lazyllama – 145 – Musicalidade Tavares (2013) explica que, com entrevistas e conversa coletiva sobre o assunto, foi desenvolvida a seguinte lista para comparar estilos de música de diversos tempos e lugares: 2 música para ninar;2 música para guerrear; 2 música de divertimento; 2 música de oração; 2 música para casamento em rituais em geral; 2 música de trabalho; 2 música para publicidade; 2 música para acompanhar imagens, trilha sonora; 2 músicas para relaxar; 2 músicas para curar; 2 músicas para seduzir; 2 músicas para educar; 2 músicas para contar histórias; 2 músicas para dançar. A essa última denominação é que vamos nos ater nas páginas a seguir. 8.3 Desenvolvendo o fraseamento e a musicalidade através da dança Analisaremos, então, qual é a relação entre musicalidade e seu uso prático na dança, a qual não precisa necessariamente ser acompanhada de música. Segundo Schroeder (2000), muitas vezes associamos música a dança, o que gera algumas controversas, pois ao fazer isso consideramos que são idênticas e esquecemos que cada uma dessas artes tem caracte- rísticas específicas e suas identidades. Schroeder (2000) apresenta ainda que dança e música são artes independentes e consideradas por muitos Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 146 – estudiosos como manifestações artísticas que se aproximam, porém uma é distinta da outra. Constantemente relacionamos o uso de música dança não de forma que seja necessária a existência de uma para que a outra ocorra, mas con- sideramos a música indispensável para a dança. Como opção pessoal, de acordo com Schroeder (2000), não é um problema em si, desde que não influencie na ideia de criação coreográfica. O autor ainda explica que existem bailarinos e coreógrafos que consideram a dança uma con- cretização da música, porém o fato de dar enfoque na música em suas criações não diminui a importância dos dançarinos nem tira a qualidade de suas coreografias. Tendo a música como fator central ou não, as obras continuam sendo danças. É comum hoje que corógrafos optem por trabalhar com música em suas coreografias até mesmo com músicas ao vivo. Essa relação é intensa, mas não podemos discutir dança sem abor- dar o corpo, que é o fator principal da comunicação entre essas duas artes. Como apresen- tado neste capítulo, o ser humano usa o corpo como forma de comuni- cação pelo movimento antes mesmo da fala, portanto, antes de domi- nar a linguagem oral, o homem pré-histórico já utilizava movimentos corporais para passar mensagens. Na dança quem se comunica é o corpo, transmitindo percepções, sensações e emoções através das qualidades expressivas no espaço. Muitas vezes, em espetáculos de dança, a música é utilizada como aliada da expres- são do corpo. Então, nessa perspectiva, a música é uma aliada do artista na dança. Figura 8.8 – Dançarinos de jazz Fonte: Shutterstock.com/conrado – 147 – Musicalidade Schroeder (2000) destaca que a escolha do tipo da música para a exe- cução de movimentos sincronizados muitas vezes tem a ver com a marcação do pulso para que seja possível ser localizado dentro da música. É possível mudar drasticamente dependendo da escolha da música, portanto ela não é condição essencial para a dança; porém, quando é usada, alia o sentido audi- tivo à visão, dando ao público um entendimento melhor do que está sendo dançado e permitindo focar a atenção nos elementos da arte. Tanto a dança pode influenciar a música quanto o ritmo musical pode influenciar a dança; portanto, para Schroeder (2000), existe uma recipro- cidade entre essas duas artes. As descobertas realizadas no estudo sobre dança e música são inúmeras, e as conclusões de algumas pesquisas per- mitem entender melhor a riqueza de aprendizagem e a troca estabelecida entre elas. Na dança, portanto, temos as seguintes situações distintas já apre- sentadas: 2 a dança relacionada ao ritmo; 2 a dança relacionada à melodia. Uma determina qual pulso e dinâmica serão utilizados na realização dos movimentos, enquanto a outra tem sua relação em como será desen- volvida a estrutura coreográfica. Portanto, a pesquisa da música a ser uti- lizada é fundamental para a criação coreográfica, se essa for a escolha do coreógrafo. E o que é uma coreografia? Coreografia é uma palavra prove- niente do grego e seu significado é a escrita da dança. 8.3.1 A escrita da dança A palavra coreografia vem do grego koreos, que significa dança, movimento; e da palavra grega grafia, que significa escrita. Coreografia, portanto, é um conjunto de movimentos que, organizados, têm o objetivo de transmitir uma mensagem; é a base da dança, mas cada estilo de dança apresenta características específicas que se relacionam com os movimen- tos e a sintonia da música. As coreografias podem ser realizadas por uma única pessoa, chamadas de monólogas, ou por um grupo, em uma coreo- grafia conjunta. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 148 – Figura 8.9 – Coreografia de hip hop Fonte: Shutterstock.com/ Lucky Business Como se monta uma coreografia? O primeiro passo é escolher a música que será utilizada; depois, pensar se será usada a música toda – normalmente, sugere-se utilizar no máximo três minutos dela, podendo fazer edições. Isso feito, é necessário realizar um mapeamento da música, que nada mais é do que determinar as nuances que ela apresenta para poder colocar os movimentos de acordo com a estrutura musical. Sobre como coreografar, destacamos as seguintes dicas: 2 a música pode inspirar os passos de dança, mas não necessa- riamente precisa ser o ponto fundamental; o caminho inverso, escolhendo primeiramente os movimentos e depois as músicas que combinem com eles também é possível. 2 para o mapeamento, é interessante escutar a música muitas vezes, levando em consideração ritmo, musicalidade e letra. 2 pensar em quantos bailarinos haverá na coreografia também é fundamental, porque para utilizar deslocamentos é necessário saber o tempo que será necessário para isso. 2 é fundamental que os movimentos combinem com a intensidade da música. Para uma aula de dança, quais seriam as músicas ideais? Para o balé clássico em geral são escolhidas músicas clássicas, mas cada momento – 149 – Musicalidade da aula precisa de certa intensidade. Por exemplo, inicia-se normalmente com adágio, que tem andamento mais lento e permitem realizar aqueci- mento e movimentos na barra. Depois, começa-se a elevar a intensidade, aumentando os movimentos, e passa-se a utilizar mais dinâmicas, como alegro, que é um estilo mais animado de música. Hoje já existem listas prontas para aulas de balé clássico no Spotify, por exemplo. Veja sugestões de lista de reprodução para utilizar: 2 Musique pour le cours de danse paris classique, de Ellina Akimova 2 Musique de danse classique, de Musique de Ballet Academy 2 La danse par le disque, barre et milieu, de Colette Astruc 2 Danse classique: Complete Course, de Anne Thomas 2 Ballets pour enfants, de The Royal Ballet – Royal Opera House 2 Musique classique, musique de danse, de Trio Raisner 2 Echauffement musique de danse classique, de Ballet Jazz Compagnie CDs de Delma Nicolace Saiba mais Delma Nicolace Natural de Ribeirão Preto (SP), bacharel em música (Piano) pela Funda- ção Mineira de Artes, licenciada em Música pela Universidade Metropo- litana de Santos (Unimes), pós-graduada em Musicalização pelo Instituto de Pós-Graduação e Extensão (IPGEX) e mestre em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) de Lisboa (Por- tugal), Delma Nicolace trabalhou como pianista correpetidora no Teatro Palácio das Artes de Belo Horizonte (MG) e na Itália, nos teatros Cárcano e La Scala, em Milão. De 2002 a 2012, atuou como pianista acompanha- dora das aulas de Dança Clássica e de Balé de Repertório da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (ETBB). Atualmente, atua como pianista acompa- nhadora das aulas de Balé Clássico na Escola de Dança do Conservatório Nacional e na Companhia Nacional de Bailado em Lisboa. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 150 – Alguns de seus CDs: Músicas para Ballet Repertório; Músicaspara Ballet Ópera e Barroco nas Pontas; Músicas para Ballet Baby Class; Músicas para Ballet Repertório vol. 2; Músicas para Ballet Brasileiríssima; Músicas para Ballet Repertório vol. 3; Músicas para Ballet Jazz, Rag and Blues; Músicas para Ballet Brasileiríssimas vol. 2; Músicas para Ballet Repertório vol. 4; Músicas para Ballet Baby Class vol. 02; Aplicativo Ballet Music by Delma Nicolace; CD Vaganova Method Music for Ballet Class, CD Italian Music for Ballet Class, App Magic of Ballet Music Trilogy, Sheet Music Italian Music for Ballet Class; Sheet Music Vocational Training 1st year for Ballet Class; e Vocational Training 2nd year for Ballet Class. De acordo com Ribeiro (2019), o ritmo faz parte da natureza comu- nicativa humana, por isso ritmo e movimento estão diretamente relacio- nados. Já a intenção, conforme Ribeiro (2019), refere-se ao exercício da expressão corporal. Essa, por sua vez, diz respeito à linguagem do ser humano na expressão de sentimentos, na comunicação e na consciência do próprio corpo. Trouxemos neste capítulo questões mais relacionadas à prática de aula e às relações coreográficas com o emprego da musicalidade. Como sugestão, o professor pode e deve elaborar as próprias playlists e coreografias, desenvolvendo, assim, um trabalho mais autoral em sua prática. Saiba mais Nosso coração é um órgão ritmado, que pode ser observado e corrigido, caso saia do padrão, pelo marca-passo. Cada pessoa tem um marca- -passo natural, o qual contém um gerador de impulsos elétricos com até três eletrodos, que são fios elétricos que conduzem o impulso gerado pelo marca-passo até o coração. Caso haja algum problema com esse sistema, arritmias ou bradicardias podem se instalar. SANTOS, V. S. dos. Marca-passo artificial. Mundo Educação, c2021. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/saude-bem- -estar/marcapasso-artificial.htm>. Acesso em: 6 nov. 2020. – 151 – Musicalidade Figura 8.11 – Corpo humano com marca-passo Fonte: Shutterstock.com/ peterschreiber.media Atividades 1. A frase musical é composta por 8 tempos musicais. Se é um ritmo binário, tem 4 repetições para formar uma frase musical; já no ritmo quaternário, tem 2 repetições. De quantas frases musicais e tempos é formado um bloco musical? 2. Segundo Schroeder (2000), a __________ é um elemento regu- lador do ritmo, e é imprescindível interiorizar a noção de pulso antes de compreender o ritmo. Uma sugestão do autor para facilitar o entendimento do aluno é fazer uma analogia entre a ________ da música e a humana. Qual conceito é apresentado nas duas frases? 3. De acordo com Tavares (2013), os gêneros podem aparecer mes- clados em diversas composições. Qual música consiste na música de raiz feita pelo povo e normalmente com caráter ritualístico? 4. Descreva o estilo musical rock: 9 Dança e sua multiplicidade A dança é uma das expressões artísticas mais antigas. Talvez seja a primeira forma de celebração do homem e de sua mais simples expressão de adoração. Na pré-história dançava-se pela vida, pela sobrevivência; em seguida, o homem evoluiu e a dança obteve características sagradas – eram místicas e acompanhavam os rituais. Na Grécia, a dança ajudava nas lutas e na conquista do corpo perfeito. Porém, na Idade Média a dança se tornou profana, ressur- gindo como celebrativa somente no Renascimento. A história da dança acompanha a evolução das artes. Vere- mos, neste capítulo, seus contextos históricos, suas estruturas e características. Estudaremos, também, a dança como instrumento de inclusão social, pois por meio dela podemos aproximar, sociali- zar e fortalecer as relações de afeto e colaboração. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 154 – 9.1 A evolução da dança no contexto histórico A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, jun- tamente com o teatro e a música. Sua evolução é crucial para o estudo da história da arte, para utilizar a dança como profissão, para dançarinos em competições oficiais ou para professores de dança. Além de ser útil para fins de estudos, a história da dança enriquece o conhecimento cultural pessoal e nos faz compreender melhor a evolução de todos os seus estilos. Vejamos alguns estilos desenvolvidos na história da dança: 9.1.1 Dança primitiva De acordo com Portinari (1989), é a dança que surge de maneira espontânea e é praticada por uma comunidade. Geralmente utilizada na celebração de um ritual específico –colheitas ou chegada das estações do ano. Na cultura indígena, é utilizada em festas, nos preparativos para a guerra e em rituais de passagem. 9.1.2 Danças milenares A dança tinha caráter sagrado nas civilizações antigas, como a egíp- cia ou a mesopotâmica. Dançar era tido como uma forma dar honras aos deuses. Em países como o Japão e a Índia, ainda há esse costume. Já Gré- cia Antiga, dançar era tido como um ritual de culto aos deuses. Um exem- plo desse tipo de dança é a que era realizada nas festas do deus Baco, o deus do vinho. 9.1.3 Dança na Europa Ocidental A dança começa a perder seu caráter sagrado com a expansão do cristianismo na Europa. Como o cristianismo via o corpo como fonte de pecados, dançar era uma atitude considerada profana. Dessa forma, diferentemente de outras artes, a dança não podia aden- trar as igrejas; restringia-se às festas populares e às celebrações nos castelos. – 155 – Dança e sua multiplicidade 9.1.4 Dança no Renascimento (sécs. XVI e XVII) Aqui, a dança começa a ser vista como arte, e surgem manuais, pro- fessores especializados, e muito estudo. Na Itália, surgiu o balleto, que chegou à França quando do casamento da princesa Florentina Maria de Médici com o rei da França, Henrique IV (1553-1610) – era o início do balé, que ganhou destaque como arte digna de ser praticada pela corte. Na corte do rei Luís XIV (1638-1715) iniciaram-se os balés dramatizados, que possuíam coreografia, figurinos e uma narrativa. No final do século XVIII, surge a valsa, na Áustria e no Império Alemão. Figura 9.1 – Casal dançando valsa Fonte: Shutterstock.com/ Faces Portrait 9.1.5 Dança no Romantismo (séc. XIX) Com o surgimento do movimento artístico romântico, no século XIX, há a consolidação do balé como expressão artística (PORTINARI, Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 156 – 1989). Há a construção de grandes teatros, e o balé passa a ser então um espetáculo apresentado nesses locais. Na ópera, era obrigatório incluir um número de dança. No final do século XIX, as colônias americanas começam a criar suas próprias danças, com influência das danças europeias. Desta maneira, surge o choro e o samba, no Brasil; o tango, na Argentina e assim por diante. 9.1.6 Dança Moderna (séc. XX) O balé clássico sofreu uma ruptura com o surgimento da dança moderna, promovida no fim do século XIX e início do século XX. 9.1.7 Dança Contemporânea (sécs. XX e XXI) Considera-se dança contemporânea toda aquela que foi criada a partir da década de 1960 do século XX. Essa dança tinha como princípio a busca de novas linguagens. A ideia de criar e compor danças vem do Século XVII, com a utili- zação de sinais gráficos que representavam os movimentos apresentados. Ainda de acordo com Portinari (1989), essa ideia foi chamada de notação coreográfica no Século XIV, e foi aí que começou a se pensar nas ideias de coreografia e de coreógrafo como o responsável dessa criação, o pro- fissional dessa área. Da mesma forma que existe um compositor para a música, o core- ógrafo seria o compositor da dança e utilizaria sinais para registrar essa coreografia. No Capítulo 6 citamos Laban e o seu sistema de notação de dança. Ele foi um importante coreógrafo que se preocupou com essa anotação coreográfica. No entanto, nem sempre foi assim, nem sempre houve uma anotação, um registro de vídeo a respeito. Muitas coreografias somente sobreviveram porque foram passadas de bailarino para bailarino, professor para professore coreógrafo para coreógrafo. Vamos ver como surgiram os grandes coreógrafos na corte francesa de Francisco I a Luís XIV? – 157 – Dança e sua multiplicidade Durante a Idade Média, segundo Nunes (2015), gestos, contrações de corpo e rebolados corporais eram condenados pela igreja. Foi nesse período que a figura de um mestre de dança apareceu pela primeira vez, e seu nome é Hacen Ben Solomon. Para Portinari (1989) no Século XV a dança havia se tornado sinô- nimo de um comportamento refinado. Junto com o conhecimento de grego e latim, as aptidões para a música, as artes militares e a ginás- tica eram algumas das formas que diferenciavam a elite do restante da sociedade. A dança ocorria como uma parte dos eventos oficiais do Estado e podia ser realizada tanto ao ar livre, perante membros da corte, quanto diante de milhares de pessoas dos mais diversos níveis da sociedade. Para Nunes (2015), na Europa renascentista a dança era praticada nos mais diversos lugares: cortes, províncias, casas burguesas e praças de pequenas cidades. Muitos reis franceses tiveram uma forte ligação com as artes ou, mais especificamente, com a dança, como Francisco I, Henrique III e Luís XIV. Francisco I julgava necessário manter membros da corte ocupados e entretidos com danças, caças e outras atividades como forma de distrair a atenção destes e impedir sua ação em conspirações contra os interesses da coroa. Ainda segundo o mesmo autor, o rei Henrique III era apaixonado por dança e estava sempre cercado de professores de dança, com os quais frequentemente aprendia novos passos. Já Luís XIV começou suas aulas de dança com apenas 6 anos de idade e descobriu o potencial dessa prática como forma de entretenimento e distração para os cortesãos, dessa forma ele poderia dedicar-se com mais tranquilidade às suas ambições políticas. Sua primeira aparição em um balé foi no Balé de Cassandra, em 1651, quando tinha 12 anos. Segundo Nunes (2015), apesar da grande influência das danças pro- movidas na França, a Itália é o berço dos primeiros tratados de dança con- siderados significativos. Esses tratados mostravam uma atividade intensa das danças pelas cortes do norte da Itália e uma rivalidade entre as cidades do norte tentando contratar os melhores professores de dança para as cria- ções coreográficas das celebrações dinásticas importantes. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 158 – Domenico de Piacenza foi o autor do primeiro tratado de dança de que temos notícia até então. Ele coreografou as danças Bali e Morisques. Não só coreografou vários balés como também participou como dançarino conforme apresenta Nunes (2015). Ele considerava os seguintes funda- mentos necessários para uma boa dança: memória, espírito, avaliação e utilização do espaço. Durante o final do período medieval e início da era moderna, a equi- tação e a caça eram os símbolos de status da nobreza. A dança se tornou parte frequente nos entretenimentos da corte francesa no final do Século XIV e durante todo o Século XVI. De acordo com Nunes (2015), a popu- laridade da dança era bem evidente na grande maioria das cidades euro- peias e até nas praças era comum encontrar pessoas de todas as classes dançando, uma vez que não somente elite, mas a classe média abastada, os comerciantes e os juízes também buscavam aprender as danças. Figura 9.2 – Danças de corte Fonte: Imagem realizada pela autora. O estilo Minueto foi considerado a rainha das danças, de acordo com Portinari (1989), e foi introduzido na corte francesa por volta de 1650, no reinado de Luís XIV. Era considerado a expressão mais refinada do ritual de cortejo e foi a dança de salão a dois mais popular da sociedade aristocrática francesa até a chegada da Revolução Francesa. Os dançarinos olhavam-se, aproximavam-se, recuavam e o único contato físico entre eles era as mãos dadas com os cotovelos estendidos enquanto eles circulavam pelo salão. – 159 – Dança e sua multiplicidade Saiba mais Danças na corte de Luís XIV https://www.youtube.com/watch?v=_7RGQbxTeaw. Acesso em 18 abr. 2021. 9.2 Dança como prática corporal Dançar é a expressão do corpo com movimentos ritmados, que podem ser de improviso, advindos de treino, imitação, transformados ou criados. É uma prática corporal democrática, que faz bem à saúde. Mesmo sem acom- panhante, experiência e em qualquer idade, a dança é possível. É uma forma divertida de movimentar o corpo e auxilia na qualidade de vida. Diversos são os estilos de dança: jazz, salsa, samba, hip-hop, balé, tango, funk, dança de salão, dança do ventre, zouk são alguns exemplos. Isto colabora para que um maior número de pessoas se interesse por esta prática, afinal, em algum destes estilos a pessoa consegue se encaixar. Para combater o estresse, inatividade, obesidade dentre outros pro- blemas de saúde, muitos médicos sugerem a prática regular da dança. Além destes benefícios citados, a dança consegue auxiliar em aspec- tos socioafetivos, motores e cognitivos, e ainda estimula a criatividade. Dançar regularmente como atividade física, pode auxiliar para a manuten- ção de uma vida saudável e de melhor qualidade, pois proporciona condi- cionamento físico. Lima (2003) cita que o sedentarismo é considerado hoje um com- portamento de risco e visto como um problema de saúde pública. Se pre- servarmos uma criança e adultos ativos fisicamente, estaremos, conse- quentemente, proporcionando um melhor envelhecimento, diminuindo os índices de sedentários e idosos com problemas de osteoporose, pressão arterial, depressão, números de quedas e fraturas, entre outros. De acordo com Araújo e Araújo (2000), atividade física é considerada qualquer movimento corporal com gasto energético acima dos níveis de repouso produzido pelos Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 160 – músculos esqueléticos que resultem em gasto energético, não se preocupando com a magnitude desse gasto de energia. Já a ativi- dade física regular é a prática de exercícios diários ou pelo menos a maioria dos dias da semana. Há mudanças positivas quando as pessoas passam a adotar um estilo de vida mais ativo fisicamente, praticando exercícios físicos regularmente, incluindo sensação psicológica de bem-estar, função física, cognitiva, social e relatos de sintomas físicos evidenciando a redução de níveis de ansiedade e de depressão e a melhora de aptidão física nos indivíduos. Tendo em vista o baixo impacto utilizado na prática de dança, é esta uma prática recomen- dada a qualquer idade (SILVA; VALENTE; BORRAGINE, 2012). 9.2.1 A dança como prática regular de atividade física para melhor qualidade de vida Considerando que a dança é uma atividade que envolve o indivíduo de forma global e que pode ser praticada regularmente, trazendo preven- ção ao sedentarismo e aumentando a qualidade de vida das pessoas, dan- çar é a prática mais generalista dentre as recomendadas como atividade física regular. Além de ser um meio de prática de atividade física que auxilia na saúde, a dança possibilita ao praticante uma melhor consciência corporal, melhorando a integração e comunicação. Conforme Goobo e Carvalho (2005), o objetivo da dança é trabalhar com um mecanismo harmoniza- dor, respeitando as emoções, os estados fisiológicos, desenvolvendo habi- lidades de movimentos, exercendo possibilidades de autoconhecimento, possibilitando benefícios como a prevenção e combate de situações estres- santes, estimula a oxigenação do cérebro, melhora o funcionamento das glândulas, reforça os músculos e protege as articulações, proporciona conhecimento corporal, melhora a capacidade motora, melhora o desem- penho cognitivo, melhora a memória, concentração e atenção, propor- ciona cooperação e colaboração, contato social, criatividade, melhora a autoestima e autoimagem e estimula o resgate cultural. Segundo Toneli (2007) a prática da dança rompe padrões de compor- tamento, preconceitos hierárquicos, posturas físicas e psicológicasrígidas; – 161 – Dança e sua multiplicidade diminuem-se os empecilhos, quebrando assim o preconceito e a percepção de que as pessoas não podem se entrosar. Figura 9.3 – Dança como atividade física Fonte: Shutterstock.com/ Dmitry Zimin Outra pesquisa realizada por Tonelli (2007) com psicólogos trouxe uma relação de questões referentes aos problemas mais frequentes em trabalhadores. O resultado apontou desgaste físico, mental e emocional, pressão por excesso de trabalho e sintomas psicossomáticos. Tonelli (2007) afirma que os fundamentos técnicos da dança para a formação corporal envol- vem força, potência, flexibilidade, coordenação, equilíbrio, agili- dade, resistência muscular e cardiovascular. Afirma também que se estas capacidades físicas forem trabalhadas adequadamente, os movimentos de dança podem ser realizados repetidamente com eficiência e sem fadiga excessiva. Praticar uma atividade física de forma regular traz melhor qualidade de vida prevenção de doenças. E a dança é uma atividade física descon- traída e que proporciona prazer. 9.3 A dança como fator de inclusão social A dança inclusiva oferece meios para que todos dancem, com foco na capacidade e não na limitação. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 162 – São utilizadas várias técnicas de trabalho corporal. Algumas das metodologias são as seguintes (ESPAÇO CORPORAL, [S.d.]): 2 técnicas de contato improvisação, 2 exercícios de relaxamento, alongamento e fortalecimento; 2 sequências coreográficas; 2 atividades de apreciação. A dança inclusiva tem como objetivo proporcionar às pessoas com deficiência a possibilidade de desenvolver seu potencial ao realizar movi- mentos e habilidades artísticas. Foram e são desenvolvidas diferentes lin- guagens e pesquisas de movimento, o que faz com que a dança inclusiva ganhe cada vez mais espaço. Alguns pesquisadores alegam que esse nome – dança inclusiva – não corresponde mais à realidade. No início havia uma abordagem social, uma ideia de reabilitação, porém esse olhar atualmente incomoda. Funde-se muito com a dança de todos. Porém, nem fora do Brasil surgiu, ainda, uma nova nomenclatura. Marques (2010) coloca que a dança hoje é muito mais do que um passatempo. Ela consegue focar no desenvolvimento global da criança e do adolescente, além de favore- cer qualquer tipo de aprendizado. Para Lima e Bosque (2010), ensinar a dança para pessoas com deficiência exige a atitude do professor em despertar e orien- tar o aluno para o movimento, deixando-o livre para desenvolver o gesto adequado para expressar como percebeu e percebe aquilo que é proposto. Uma forma de fazer isso é trabalhar a dança como recreação. A dança para Figura 9.4 – Deficientes visuais dançando dança de salão Fonte: acervo do autor. – 163 – Dança e sua multiplicidade essas pessoas pode resultar em melhora nos aspectos afetivos, de sociali- zação, cognitivos e fisiológicos. É por meio da dança que o indivíduo tem a possibilidade de utili- zar o corpo em uma prática física, de uma maneira prazerosa, explorando sentimentos, e isso é ainda mais evidente para a pessoa com deficiência; para ela, a dança pode ser fundamental para seu desenvolvimento motor, pois traz estímulos diversos para experimentar movimentos, auxiliando o desenvolvimento corporal. As principais características da dança são a socialização e a integração das pessoas que a praticam. Como prática física, ela permite que qualquer pessoa, de qualquer idade, cor ou gênero participe do seu desenvolvimento. Conforme nos explica Cone e Cone (2015), o professor é o respon- sável por incluir todos os alunos, independentemente de suas caracterís- ticas individuais, nas aulas de dança. Para isso, é preciso fazer um bom planejamento e, ainda, deve-se realizar uma avaliação do indivíduo. Além disso, caso seja necessário, deve-se solicitar um laudo para o início dessa jornada do aluno com a dança. Neste ponto, inclusive, Cone e Cone (2015) ressaltam que um pro- grama bem analisado e planejado permite ao indivíduo com deficiência participar das aulas de dança e se desenvolver, sempre levando em consi- deração suas características. Figura 9.5 – A dança é muito benéfica para o corpo e não tem distinção Fonte: Shutterstock.com/ Zoja Hussainova Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 164 – Como forma de comunicação, a dança é essencial para o sujeito trabalhar suas dificuldades ou deficiências, tendo em vista que as aulas têm maior abertura que as outras disciplinas para as expressões corporal e emocional. Cone e Cone (2015) também sugerem que sejam feitas, em um pri- meiro momento, perguntas sobre a personalidade e as preferências pes- soais do indivíduo em questão. Alguns questionamentos poderiam ser: o que você deseja aprender? Quais as três coisas que deveríamos saber a seu respeito? Quais são seus principais objetivos na escola? O que você gosta de fazer em suas horas livres? O que os outros professores fazem para ajudá-lo a ter êxito? Você deseja fazer alguma pergunta? Os autores ainda mencionam que a dança é um agente de transforma- ção e inclusão social, tendo em vista a multiplicidade de atividades que podem ser utilizadas, além das temáticas de que o professor de dança pode fazer uso. É válido lembrar que o professor precisa se permitir entrar no mundo do indivíduo com deficiência e entendê-lo, bem como suas carac- terísticas, sua cultura e sua história, justamente para que a inclusão seja, de fato, realizada. Afinal, toda pessoa tem direito à participação social e ao acesso à educação (CONE; CONE, 2015). É por meio da dança que o sujeito pode adquirir habilidades coorde- nativas, bem como compartilhar experiências. A aula de dança é, dessa forma, um instrumento de ensino da linguagem não verbal, e pode desen- volver a comunicação. Para o desenvolvimento da criança com deficiência, nas aulas de dança, Cone e Cone (2015) sugerem um cartão de tarefas. No cartão, há dicas de como o aluno pode realizar os movimentos com base nos coman- dos, como “levante e abaixe as mãos”, “rode para trás”, “faça um alonga- mento longo”, entre outros. Essa necessidade de apresentar o roteiro da aula e repensar os métodos avaliativos é muito eficaz para que a criança perceba seu desenvolvimento nas aulas de dança. No quadro a seguir, temos um modelo de lista de verificação: – 165 – Dança e sua multiplicidade Quadro 9.1 – Cartão de tarefas ou lista de verificação Data: Atividade da dança Realizada Dança de aquecimento Movimentos lentos e rápidos Aprendendo a dança do gato Apresentando a história da dança do gato Compartilhando tempo Comportamento Seguiu as instruções Não gritou durante a aula Fonte: CONE; CONE, 2015, p. 103. Ainda de acordo com Cone e Cone (2015), os autores sugerem algumas reflexões quanto à dança inclusiva, as quais podemos obser- var a seguir. 2 Quais benefícios as crianças com deficiência obtêm ao participar de uma dança? 2 Considere uma acomodação para uma dança social: ela é segura para todos, além de proporcionar a inclusão de crianças com algum tipo de deficiência? 2 Pense a respeito de um tema para uma aula de dança criativa, como o ciclo da água ou ações animais: de que maneira você uti- lizaria uma programação mental como suporte para uma sequên- cia de atividades de aula? 2 Quais estratégias você pode empregar para ajudar um educador- -assistente ou um auxiliar a desempenhar efetivamente sua fun- ção, prestando assistência ao aluno com deficiência? Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 166 – 2 Em que local você pode encontrar informações sobre uma criança com algum tipo de deficiência? 2 Quais recursos estão disponíveis? 2 De que modo você pode incluir em sua aula de dança os objeti- vos do Programa de Educação Individualizada da Criança (IEP)? Saiba mais Plano do Programa de Educação Individual (IEP) O Plano do Programa de Educação Individual (IEP) é um programa escritodesenvolvido pela equipe de educação especial com a contribui- ção dos pais, e especifica os objetivos acadêmicos do aluno e o método para obter esses objetivos. O IEP é exigido pela IDEIA (Lei de Melhoria da Educação de Indiví- duos com Deficiência, 2014), a lei federal destinada a realizar os direitos do devido processo garantidos pelo PL94-142. Para saber mais, acesse: https://www.greelane.com/pt/recursos/for-educators/iep-individual- -education-program-3111299. Acesso em: 24 mar. 2021. 9.3.1 Contribuições da dança inclusiva A dança, além de ser uma excelente prática física, é uma forma de desen- volver a comunicação e a expressão corporal. Temos, também, que, além da sua característica lúdica, a dança é interdisciplinar e pode ser um instrumento de integração. Nas aulas de dança, pode-se desenvolver coordenação, equilí- brio, socialização, flexibilidade, força e ritmo do indivíduo incluso. Saiba mais Você quer ler? Na reportagem de Cesar Baima, intitulada Dançar é melhor para cérebro de idosos que exercícios, a dança é apresentada como um benefício para – 167 – Dança e sua multiplicidade a saúde do idoso. No artigo, há a menção a dois programas de ativida- des físicas, com uma pequena amostra de pessoas saudáveis de 68 anos de idade realizando a prática. A pesquisa atesta os benefícios da dança na saúde do cérebro dos idosos participantes. Você pode ler a repor- tagem completa por meio do link: https://oglobo.globo.com/sociedade/ saude/dancar-melhor-para-cerebro-de-idosos-que-exercicios-21750357. Saiba mais Academia Royal de Dança Para Nunes (2015), ela exprimia o objetivo de desenvolver uma dança polida e cortesã. Foi fundada com base no desejo do rei Luís XIV de que a França elevasse os padrões tanto da dança social quanto da tea- tral nos balés de corte. A academia foi formada pelos 13 mais velhos e experientes professores de dança que se reuniam uma vez por mês com o intuito de debater sobre a dança e as formas de aperfeiçoar as aulas, corrigindo possíveis erros que fossem introduzidos nela. A função da academia era analisar e padronizar a dança, divulgando as regras que foram estabelecidas pelos seus integrantes. Figura 9.6 – Letras-patentes da fundação da Academia Real de Dança Fonte: CC BY-SA 3.0. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 168 – Havia 12 estatutos criados pela academia, e o estatuto de número 7 cobrava uma espécie de registro profissional dos professores de dança, correndo o risco de serem multados aqueles que não o fizessem. Além disso, toda a composição coreográfica desenvolvida tinha que passar pela avaliação de professores de dança mais experientes, que fariam uma votação oral em data marcada pela assembleia. As regras não permaneceram por um longo tempo e, de acordo com Nunes (2015), a academia acabou não desempenhando o papel que lhe foi atribuído, vegetando por mais de um século, quando então sucumbiu em 1780. QRCode Para conhecer mais a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência, acesse: Link: https://www.cnmp.mp.br/portal/ images/lei_brasileira_inclusao__pes- soa__deficiencia.pdf Atividades 1. O que se considera como dança milenar? Esta dança é prati- cada atualmente? 2. Quem foi o autor do primeiro tratado de dança? 3. Dentre as principais características da dança, temos a socialização e a integração. A dança de salão como prática física permite que qualquer pessoa possa participar. Pensando na dança de maneira inclusiva, a autora sugere que seja feito um bom planejamento e que talvez um laudo seja necessário para colaborar com este início na dança do aluno especial. A autora ressalta que, com um bom planejamento e levando em consideração as características indivi- duais do aluno, a inclusão dentro da dança é possível. – 169 – Dança e sua multiplicidade CONE, T. P.; CONE; S. L. Ensinando dança para crianças. Trad. Lúcia Helena de Seixas Britas e Soraya Iomon de Oliveira. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2015 (Disponível em Minha Biblioteca). Levando em consideração o enunciado, segundo Cone (2015) qual é a responsabilidade do professor? 4. De acordo com Cone (2015), a dança é uma excelente forma de desenvolver a comunicação e expressão corporal. Esta última é fundamental, pois através dela outra habilidade muito impor- tante é desenvolvida: a consciência corporal. Algumas habilida- des podem ser desenvolvidas com as aulas de dança, entre elas a coordenação, a força e o equilíbrio. CONE, T. P.; CONE; S. L. Ensinando dança para crian- ças. Trad. Lúcia Helena de Seixas Britas e Soraya Iomon de Oliveira. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2015 (Disponível em Minha Biblioteca). Quais outras habilidades podem ser desenvolvidas? 10 O ensino da dança Nos capítulos anteriores, conhecemos a estrutura de frasea- mento e a relação entre música e dança. Estudamos coreografia, suas características e as principais danças e estilos. Fizemos uma contextualização dos principais ritmos que envolvem a dança, entendendo como se dança, que música utilizar e como se dá o processo coreográfico. Foram apresentadas algumas músicas e estilos de dança e como é possível criar uma coreografia, além da história da coreografia e dos primeiros coreógrafos. Neste capítulo, veremos os estilos de dança de origem latina, regional e brasileira, pois conhecer sua história e carac- terísticas é fundamental, não somente para a montagem coreo- gráfica, mas também para a montagem de sua aula. Essa etapa é sempre anterior à prática e é fundamental que ocorra um bom planejamento dela. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 172 – 10.1 Estilos de dança Diversos são os esti- los de dança e formatos de aulas que podem ser desenvolvidos com base na característica do tipo de dança a ser ensinada. A seguir, vamos conhe- cer um pouco de alguns estilos de dança e como a escolha musical faz dife- rença no desenvolvimento do plano de aula, tendo em vista uma aula de dança. Na proposta de dança criada por um coreógrafo profissional, o contato com um profissional da área será o ponto alto. É importante levar em consideração o nível dos alunos para aprender a coreografia, sendo que ela deve ser alinhada anteriormente com o profissional convidado. O mais interessante será a troca de conhecimentos entre profissional e alunos, tra- çando novos horizontes. A dança social ou de um período versa sobre aquela dançada socialmente, em grupos, na comunidade. Tanto o professor pode apre- sentar a dança social de outras épocas ou locais como os próprios alunos se tornam grandes colaboradores ao apresentarem sua dança social. Na dança cultural, o objetivo é apresentar eventos, tradições e heran- ças culturais de um povo ou uma época. Com ela, os alunos desenvolvem Figura 10.1 – Grupo de pessoas dançando juntas Fonte: Shutterstock.com/ Dragon Images Figura 10.2 – Dança de salão – tango Fonte: Shutterstock.com/ Pavel L Photo and Video – 173 – O ensino da dança o conhecimento da história e aprendem elementos importantes de outras culturas. Nesse caso, é importante contextualizar o ambiente e o povo que realiza a dança apresentada em aula, a fim de promover a valorização da cultura e o respeito a ela. Figura 10.3 – Dança folclórica Fonte: Shutterstock.com/ H1N1 Em relação ao jazz, é um estilo de dança que pode diferenciar de aula para aula e dependerá de uma renovação musical mais constante em suas aulas. Os professores que utilizam, por exemplo, um jazz moderno, utilizarão diferentes estilos de música dos professores de jazz clássico, que farão outras escolhas musicais. Seguem sugestões de músicas para o estilo jazz moderno: 2 Jóga de Björk 2 Iron de Woodkid 2 Stay de Rihanna 2 Gasolina de Jullie 2 Follow me de Muse 2 Time after time de Cyndi Lauper 2 A little less conversation de Elvis Presley 2 Can’t be tamed de Miley Cyrus Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 174 – 2 Je te donne de Jean-JacquesGoldman 2 Breathe me de Sia 2 Video games de Lana Del Rey 2 Hung up de Madonna 2 Say my name de Alex and Sierra 2 Rock your body de Justin Timberlake 2 Play hard de David Guetta Já para o estilo dança contemporânea e dança moderna, outras escolhas musicais serão feitas. Normalmente, no caso da dança contem- porânea, a escolha combina muito com a proposta dessa dança, que é de pesquisa de movimento. As músicas utilizadas para esse estilo terão uma pesquisa mais aprofundada relacionada ao que se propõem para a sua prática. Veja a seguir algumas sugestões de músicas para esse estilo de dança: 2 Mad world de Gary Jules 2 Circles de Post Malone 2 California king bed de Rihanna 2 Don’t you remember de Adele 2 Don’t start now de Dua Lipa 2 Make you feel my love de Adele 2 Catch me de Demi Lovato 2 Dance monkey de Tones and I 2 Comptine d�un autre été de Yann Tiersen 2 The scientist de Coldplay 2 Come away with me de Norah Jones 2 Memories de Maroon 5 2 Come home de OneRepublic – 175 – O ensino da dança 2 Chandelier de Sia 2 Only human de Jonas Brothers 10.2 Ritmos latinos e regionais Cores fortes e contrastantes e a energia da dança espanhola são vistas nas apresentações e festas de danças latinas até hoje. Zamoner (2013) rela- ciona essas danças espanholas com a influência africana como origem das danças latinas. Os africanos escravizados pelos colonizadores espanhóis descendiam de duas tribos principais que se localizavam no oeste afri- cano. São elas: Iorubá e Bantu. A dança e o batuque de tambores – feitos com pele de animal estendida sobre uma caixa acústica, que era feita de madeira ou cascas de frutos, como o coco – dessas tribos são caraterísticas que foram incorporadas à música espanhola e que deram origem à maioria das músicas encontradas na América Central e do Sul. Como um dos principais países de dança latina, podemos citar, de acordo com Ried (2003), Cuba, onde o desenvolvimento de ritmos foi grande. Nesse país tiveram origem o cha cha, o danzón, o bolero, a rumba e o mambo. Esse último é um dos mais famosos estilos emigrados de Cuba, que teve em sua origem a soma do son cubano às músicas de jazz e blues norte-americanas. Essa fusão criou um estilo único que, mesmo com a dupla origem, ficou conhecida como uma dança originalmente cubana por ter sido desenvolvida por cubanos que conseguiam sair de Cuba e se fixar em Miami, nos Estados Unidos. Ainda hoje Miami é conhecida por ter casas noturnas e de dança com show e música cubana. 10.2.1 Estilos de música latina Salsa é um estilo de música latina que, segundo Ried (2003), tem os seguintes ritmos: mambo, rumba, cha cha e merengue. Então, por que damos a esse estilo o nome de salsa? O nome salsa, segundo Zamoner (2013), foi dado para designar os estilos de música da América Central, entre os quais estão a cúmbia, o danzón, o son cubano, o mambo, a guaracha. Esse nome vem da tradução Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 176 – livre da palavra molho, que significa união de temperos. Portanto, todos esses “temperos” musicais seriam a salsa. Entre os estilos latinos e suas danças, podemos citar: 2 Merengue – originário da República Dominicana. Teve início na década de 1930, de acordo com Ried (2003). É tocado também no Haiti, na Venezuela e na Colômbia. Sua música tem anda- mento binário e é tocada por instrumentos de corda e percussão. Tem um forte movimento dos quadris que são característicos dessa dança. É muito parecido com o minueto francês e recebeu o nome de merengue como alusão aos combates da guerra de libertação dominicana, denominados “merengues”. Muito uti- lizado para brincadeiras nos bailes latinos, dançado em roda e com formações semelhantes à quadrilha junina brasileira. 2 Cúmbia – música simples e de andamento rápido. Os movi- mentos principais são “dois e dois” e os deslocamentos não são amplos. 2 Rumba – mistura de gêneros de danças espanholas e africanas. De origem cubana, popularizou-se nos Estados Unidos com a emigração dos cubanos. Tem como instrumentos base trompete, saxofone, congas, timbales, campana e maracas. 2 Cha cha – antigamente era conhecido como chá-chá-chá, ficou famoso na Europa e entrou para as danças competitivas latinas. Sua música é de andamento lento quaternário e recebeu esse nome em virtude do som dos pés dos dançarinos, que marcavam um contratempo na “pausa” da música entre as trocas de pés. 2 Mambo – de origem cubana, descende da dança rumba. Ficou famoso na música de Lou Bega, Mambo nº 5. É mais rápido que a rumba e tem características de sons mais de sopro por influ- ência dos músicos de jazz de Nova York, onde se desenvolveu. 2 Bachata – sua origem é porto-riquenha e tem por característica um som de reco-reco marcado pela campana no quarto tempo musical. Antigamente, era utilizado de maneira mais lenta e – 177 – O ensino da dança romântica como o bolero, hoje tem características mais pareci- das com a rumba. Saiba mais Os brasilienses aproveitam a variedade de opções de estilos musicais dançantes da cultura nacional e dos países vizinhos para participar de eventos artísticos, de aulas de dança e de festas baseadas na Amé- rica Latina. A capital abre as portas para prestigiar ritmos nacionais e de países vizinhos, acompanhando a tendência mundial de popularização Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ diversao-e-arte/2017/08/03/interna_diversao_arte,614643/os-indispen- saveis-ritmos-latinos-a-disposicao-dos-brasilienses.shtml>. Acesso em: 30 nov. 2020. Muitos ritmos são designados como ritmos latinos, todavia, ao longo deste tópico, destacamos os principais. Para conhecer um pouco mais sobre as músicas latinas, destacaremos a seguir algumas personalidades marcantes desse estilo. Entre as principais personalidades da música temos: Tito Puente, Marc Anthony, Gilberto Santa Rosa, Tito Nieves, Buena Vista Social Club (um dos grupos mais famosos de salsa do mundo), Hector Lavoe, Grupo Niche, Willie Colón, Juan Luis Guerra, Frankie Ruiz, Elvis Crespo, Grupo Africando, entre outras. Destacaremos a seguir La reina de la salsa, Celia Cruz. Nascida em 1925 na cidade de Havana, Celia Cruz saiu de Cuba aos 34 anos e fez fama em Miami e Nova York. Ficou famosa pelo grito “Azu- car” em suas músicas. Morreu em 2003, vítima de um tumor maligno no cérebro e foi velada nas cidades de Miami e Nova York, a pedido da can- tora em vida. Foi chamada de “La reina” por colegas e músicos no mundo todo. De timbre forte, suas músicas são famosas e tocadas em bailes de dança latina até hoje. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 178 – Figura 10.4 – Célia Cruz em homenagem em selo dos correios americanos Fonte: Shutterstock.com/ spatuletail 10.3 As danças de salão Vamos compreender um pouco mais sobre os estilos de dança social? O maxixe, criado no Rio de Janeiro, mais precisamente na peri- feria, por volta de 1870, ficou conhecido como “tango brasileiro”. Na época, era muito comum dançar tango nos salões brasileiros, além disso, grandes artistas escutavam esse estilo musical. Ele foi influenciado pela estrutura de dança de entrelaçar de pernas e pelo lundum – dança afri- cana com característica de umbigada, que, mais à frente, deu origem ao samba de gafieira. De forma sensual, o maxixe era dançado com os pés sendo arrasta- dos, sem se levantarem do chão, com pernas entrecruzadas e muito rebo- – 179 – O ensino da dança lado. Em virtude dos movimentos explícitos, chegou a ser proibida. Seu abraço remete ao forró, porém, no maxixe, os passos são mais curtos e com mais movimento de cintura. Apesar de ser um estilo rápido de dança, persiste até hoje e é ensinado nas escolas de dança do país inteiro, muito popular no Nordeste e no Rio de Janeiro (RIED, 2003). O lindy hop, de origem norte-americana, tem influência africana e é dançado ao som do swing jazz, carregando característicasque lembram o soltinho brasileiro. Uma das danças mais antigas, sua origem remonta à década de 1920, feita para dançar nos salões durante as apresentações das big bands (RIED, 2003). A base do sapateado e o charleston foram utilizados para incorporar o lindy hop e, apesar da segregação racial da época, negros e brancos lotavam os salões para dançar o estilo. Um tempo depois, a pedido de cineastas de Hollywood, a dança ganhou um caráter mais aberto e passou a aparecer na maioria dos filmes norte-americanos. Já a rumba, de origem cubana, recebeu influências dos ritmos africa- nos e do jazz. Criada na década de 1930 por influência das músicas levadas pelos espanhóis para Cuba e pelas danças africanas levadas pelos escravi- zados, a rumba era dançada de forma rápida e enérgica. Para dançá-la, o casal deveria afastar a pélvis e evitar contato físico, somente mantendo as mãos entrelaçadas – não se sabe se isso era para facilitar a execução dos passos ou por uma questão social, pois a dança contém extrema sensuali- dade. Em 1925, inclusive, foi banida do país por ser considerada inapro- priada (RIED, 2003). A bachata teve origem na República Dominicana na década de 1960 e é considerada o bolero da dança latina. De acordo com Ried (2003), ela é tocada em ritmo mais lento que a rumba, nos mesmos bai- les de encontros de latinos. Sua grande característica é o movimento de quadril no quarto tempo musical. Normalmente com tema romântico, tinha por intuito, nas festas, aproximar os casais, pois a rumba distan- ciava e não permitia “sentir” melhor o parceiro. Ela tem como grande nome na música o cantor Juan Luis Guerra. Atualmente, o destaque é Prince Royce, com a dança cantada em uma “levada” mais rápida que sua velocidade original. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 180 – O chá-chá-chá, por sua vez, é de origem cubana, derivado do mambo e da rumba e com origem nos anos de 1950 (RIED, 2003). Ele tem por característica a marcação de pés na “pausa” entre o deslocamento para frente e para trás. Da mesma maneira que a rumba, os casais não dan- çam tão próximos, apesar de suas letras terem conotação romântica. Além disso, muitos dos movimentos da rumba são executados nesse estilo, com a inserção do chassê, realizado na pausa da troca de pés. Diferentemente da maioria dos outros ritmos, o chá-chá-chá foi criado para acompanhar o som que era emitido quando os dançarinos dançavam um tipo de rumba mais lento. Podemos citar como grandes nomes que cantam o estilo, hoje, Carlos Santana e Rick Martin. Com relação ao forró, há uma ampla discussão quanto a sua origem. Alguns historiadores contam que seu nome deriva da palavra “forrobodó”, pois as festas eram animadas e davam a entender que, segundo a expressão nordestina, o “agito” era um forrobodó. Contudo, outros pesquisadores tratam seu nome como uma expressão norte-americana de “for-all”, que havia sido dada pelos “gringos” quando visitavam o Nordeste e iam às festas do povo. De acordo com Ried (2003), o forró é uma dança típica realizada entre casais, com movimentos de giro e quadril. Na década de 1980, surgiu um estilo de forró que, utilizando instrumentos musicais eletrôni- cos, passou a se chamar “forró eletrônico”. Por ser mais rápido, atraiu o público jovem e ganhou popularidade nos bailes de forró, principalmente em São Paulo. Entre seus passos mais básicos, temos “dois e dois”, “frente e trás” e a insistência ou pilão. Dança-se bem próximo e, normalmente, sua velocidade é rápida. O samba de gafieira originou-se do maxixe e começou a ser pra- ticado a partir do século XX. O nome vem da palavra francesa “gaffe” (gafe) e foi dado por um jornalista da época que, ao visitar os salões de dança, considerou que eram cometidas muitas “gafes” nos locais, tendo em vista a cultura e os bons costumes da época (RIED, 2003). É a música e a dança mais divulgada no Brasil, acompanhada por instrumentos como o violão, o cavaquinho, a percussão, o choro e a clarineta. O merengue é um ritmo da República Dominicana e muito dançado em Porto Rico, Haiti, Venezuela e Colômbia. É tocado com instrumen- – 181 – O ensino da dança tos como saxofone, acordeão, trompete e teclado. Sua base é diferente da maioria das músicas latinas binárias e seus movimentos são simples e de enlace de braços. Os movimentos do quadril é que ganham destaque no merengue, já que os de pé se assemelham a de uma marcha militar. O estilo tem como seus grandes representantes na música dois nomes: Elvis Crespo e Juan Luis Guerra. A salsa, apesar de ser considerada uma dança, denomina todos os rit- mos da América Central, como o chá-chá-chá, a rumba e o mambo. Con- forme nos explica Ried (2003), a denominação foi dada pela gravadora norte-americana de discos latinos Fania Records a fim de vender melhor as músicas dessa área da América. Figura 10.5 – Salsa Fonte: Shutterstock.com/ Igor Borodin Dentro dos estilos musicais, podemos mencionar a salsa Los Ange- les, dançada no tempo 1 da frase musical; a salsa Nova York, dançada no tempo 2 da frase musical; e a salsa Cubana, dançada no tempo 3 da frase musical. Outro estilo que deve ser citado é a salsa Bogaloo, que é o for- mato dançado na Colômbia e mundialmente conhecido por ter os maiores campeões de salsa nas competições internacionais. Como dito, tais estilos carregam os locais em que se desenvolveram e receberam características específicas de acordo com as danças locais. O bolero, ritmo de origem europeia, chegou a Cuba pelos espanhóis por volta do século XIX. Seus movimentos básicos são “dois e dois” e Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 182 – “frente e trás”. Em suas evoluções, temos os giros, as caminhadas e os cruzados. De acordo com Ried (2003), o nome desse ritmo foi dado para homenagear os vestidos usados por algumas dançarinas, os quais possu- íam bolas que eram chamadas de “boleiras”. O tango surgiu nos bairros mais humildes da Argentina e acabou se tornando um dos ritmos mais dançados e assistidos no mundo. Apesar da origem argentina, o tango sofreu influências de Itália, França e Espanha. Sua criação ocorreu quando homens argentinos carregadores de navios de Puerto Madero faziam filas nos bordéis e, durante a espera, escutavam tango (RIED, 2003). O zouk tem origem musical nas ilhas do Caribe. A palavra, porém, é de origem africana e significa “festa”. Se nome e música já não procedem do mesmo lugar, a dança também não. Com características do carimbó e das danças típicas do norte brasileiro, a dança do zouk tem origem no Brasil (RIED, 2003). Em virtude de sua fusão com a salsa, o estilo foi chamado de “lam- bada” no final da década de 1980 e ganhou o mundo no período. No entanto, ela ficou conhecida como uma dança proi- bida nos filmes norte-americanos e, academica- mente, teve dificuldade para se manter no Brasil. Com isso, os profissio- nais de dança que trabalhavam na Europa se uniram e passaram a chamar a dança novamente de zouk, a fim de tentar fortalecer o estilo. Então, a dança toma força e passa a ser dançada no Brasil com mais popularidade, sendo um dos ritmos mais comuns hoje, após a realização do Berg’s Con- gresso em 2004. Figura 10.6 – Zouk Fonte: Shutterstock.com/ Tatiana Chekryzhova – 183 – O ensino da dança Saiba mais Vamos saber mais sobre o bolero? Como nos explica Ried (2003), o bolero tem origem na Europa, mais precisamente na Espanha. Ele chegou a Cuba ainda no século XIX pelos colonizadores espanhóis. Como vimos, recebeu esse nome para home- nagear os vestidos usados por algumas bailarinas, que continham bolas chamadas de “boleiras”. Entre os boleros clássicos, podemos mencionar Usted, de Luis Miguel; Sábanas frias, de Maná e Rubén Blades; Corazón partío, de Alejandro Sanz; e Samba pa ti (acoustic), de Santana e Ottmar Liebert. Já entre as músicas modernas para se dançar o bolero temos Sway, de The Pussycat Dolls; Perfect love, de Simply Red; She willbe loved, do Maroon 5; e Caso sério, da Rita Lee. 10.3.1 Ritmos brasileiros – samba e pagode O samba é uma dança típica brasileira dançada ao som de pagode, bossa nova, samba rock e demais variações, tendo sua origem no maxixe. Recebeu influências do rock e, dessa fusão, nasceu a vertente de dança chamada samba-rock, muito comum na cidade de São Paulo. Além disso, como sua origem data do período em que o tango tinha forte presença nos salões brasileiros, muitos de seus movimentos foram incorporados ao samba. Já o pagode, enquanto música, tem como característica o mesmo significado de seu nome, ou seja, a reunião de diversos sambistas. Para se dançar o samba de gafieira, algumas músicas se encaixam melhor que outras. Dessa forma, quanto mais melódicas e tranquilas, melhor. Já para o pagode, as músicas mais rápidas e alegres são mais adequadas. 2 Alcione – Meu ébano.1 1 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Wo_KbGmrvIg>. Acesso em: 30 nov. 2020. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 184 – 2 Alcione e Emilio Santiago – Eu só sei que amei. 2 Art Popular – Meu fraco é mulher. 2 Djavan – Fato consumado.2 2 Martinho da Vila – Devagar, devagarinho. 2 Martinho da Vila – O pai da alegria. 2 The Black Eyed Peas feat. Sergio Mendes – Mas que nada.3 2 Luiz Melodia – Diz que fui por aí. 2 Seu Jorge – Burguesinha. 2 Seu Jorge – O samba tá aí. 2 Seu Jorge e Zeca Pagodinho – Samba do approach. 2 Dudu Nobre – Mordomia. 2 Zeca Pagodinho e Beth Carvalho – Camarão que dorme a onda leva. 2 Zeca Pagodinho e Dudu Nobre – Faixa amarela.4 2 Zeca Pagodinho e Sandra de Sá – Judia de mim. 2 Beth Carvalho – Amor de verdade. 2 Maria Rita – Casa de Noca. 2 Maria Rita – Num corpo só. 2 Maria Rita – Tá perdoado. 2 Maria Rita – Corpitcho.5 2 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PqfN8iwlEIk>. Acesso em: 30 nov. 2020. 3 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ucD0gTr66ho>. Acesso em: 30 nov. 2020. 4 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lhaBsl7kk5k>. Acesso em: 30 nov. 2020. 5 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XYT99yMuYB0>. Acesso em: 30 nov. 2020. – 185 – O ensino da dança 2 Maria Rita – Maltratar não é direito. 2 Casuarina – Tempo de Don Don. 2 Martinália – Chega. 2 Arlindo Cruz – O meu lugar.6 2 Martinália – Entretanto. 2 Turma do Pagode – Camisa 10. Se separarmos por velocidade as músicas apresentadas, podería- mos determinar quais serviriam para o pagode e quais serviriam para dançar samba? Vamos a um exemplo: Para dançar samba, poderíamos escolher: Eu só sei que amei, de Alcione e Emilio Santiago, que se encaixaria na proposta. Para dançar pagode: Burguesinha, de Seu Jorge, seria a escolha adequada. Portanto, ficaria como é apresentado no quadro a seguir. Quadro 10.1 – Samba e pagode – músicas Para dançar samba Para dançar pagode Alcione – Meu ébano Art Popular – Meu fraco é mulher Alcione e Emilio Santiago – Eu só sei que amei Martinho da Vila – O pai da ale- gria Seu Jorge – O samba tá aí Djavan – Fato consumado Martinho da Vila – Devagar, deva- garinho Seu Jorge – Burguesinha The Black Eyed Peas feat. Sergio Mendes – Mas que nada Seu Jorge e Zeca Pagodinho – Samba do approach Luiz Melodia – Diz que fui por aí Dudu Nobre – Mordomia 6 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TC3BhhraHgc>. Acesso em: 30 nov. 2020. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 186 – Para dançar samba Para dançar pagode Zeca Pagodinho e Beth Carvalho – Camarão que dorme a onda leva Zeca Pagodinho e Dudu Nobre – Faixa amarela Maria Rita – Casa de Noca Zeca Pagodinho e Sandra de Sá – Judia de mim Maria Rita – Num corpo só Beth Carvalho – Amor de verdade Maria Rita – Corpitcho Maria Rita – Tá perdoado Arlindo Cruz – O meu lugar Maria Rita – Maltratar não é direito Martinália – Chega Casuarina – Tempo de Don Don Martinália – Entretanto Turma do Pagode – Camisa 10 Fonte: elaborado pela autora. Lopes (2004) considera que o samba, na verdade, é uma síntese de múltiplas influências musicais que chegaram ao Brasil no século XVI. De acordo com o autor, os “[…] festejos das ruas em glória aos reis do congo, realçados por muita música e dança, seriam só uma recriação das celebra- ções que marcavam a entonação dos reis na África” (LOPES, 2004, p. 15). A atividade era tida como uma forma de sobrevivência dos costumes dos escravos para animarem suas vidas e o trabalho. De acordo com Lopes (2004), nos textos dos autos dramáticos e nos nomes das cantigas entoadas, muitos termos e expressões de origem dos idiomas quicongo e quimbundo eram utilizados. O termo “samba” tem origem africana e vem da palavra “semba”. O pesquisador Lopes (2004) descreve que a palavra samba era, no idioma quioco de Angola, o verbo utilizado para descrever o brincar, da expressão “cabriolar”, que vem de “agir como um cabrito”. Na raiz do samba, encontra-se a raiz do banta que deu origem à umbigada, um movimento muito comum nos passos de maxixe e nas rodas dançadas desse estilo. Já o pagode, que tem uma origem mais atual, no mundo contemporâ- neo, ganhou características do samba, porém teve a fusão com elementos de outros ritmos. As danças que cederam movimentos a esse estilo de dança são o forró, a salsa e o zouk. – 187 – O ensino da dança No Brasil, existem diversas regiões e cada uma delas possui suas músicas que se diferem em estilo e características umas das outras. Como vivemos em um país geograficamente extenso, é natural que as músi- cas mais do Sul recebam uma herança das danças dos pampas, portanto, características mais “sulistas”, como as músicas gaúchas e a chacarera argentina, que se parecem em estilo. Já no Norte do país, as músicas se mesclam com os estilos das músicas do Caribe, como o zouk e o carimbó. A seguir, vamos conhecer alguns estilos brasileiros regionais. 10.3.2 Samba e samba de gafieira Para Ried (2003), o samba de gafieira é uma das danças mais dança- das no Brasil. Sua origem se deu no estado do Rio de Janeiro, porém, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro, nas comunidades mais simples. Sua origem tem relação com as danças de matriz africana, como o lundum e o semba. A mescla das músicas dos tambores africanos unida a instrumentos de cordas das músicas jazzistas deu origem ao estilo musical samba e, para ele, passou a ser desenvolvida uma dança. Seus instrumentos prin- cipais são o cavaquinho, o pandeiro, o agogô, o repenique, o violão e, muitas vezes, alguns elementos de sopro, como o trompete e o saxofone. De acordo com Perna (2001), esses últimos instrumentos foram inseridos no samba por causa da forte influência que os músicos brasileiros tive- ram do rock norte-americano durante o período de desenvolvimento da música samba. Saiba mais No site Estatutos da Gafieira, desenvolvido pelo Itaú Cultural como um repositório de músicas do Brasil, uma listagem de músicas e músicos de samba é apresentada. Nela, é possível ver que tanto músicos antigos quanto atuais integram o grupo de músicos que desenvolvem o estilo musical samba. Para saber mais, entre no site pelo link: <https://enciclo- pedia.itaucultural.org.br/busca?categoria=musica&q=Samba>. Acesso em: 30 nov. 2020. Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 188 – No início, a estrutura musical do samba tinha característica binária, com o surdo sendo sempre a batida rítmica principal. No entanto, ao rece- ber as características musicais do rock, o samba se transforma em uma estrutura quaternária, com sua base marcada por piano e cavaquinho. 10.3.3 Forró Segundo Zamoner (2013), a origem do forró é nordestina, e dança e música se relacionam com a mesma designação. Tanto a música quanto a dança se conectam diretamente aos aspectos regionais nordestinos. Para Ried (2003), seu surgimento se dá no século XIX. Os instrumen- tos comuns são o triângulo, a zabumba e a sanfona. No entanto, tratando--se musicalmente, hoje existem muitos estilos de forró e alguns incor- poram aos instrumentos citados o teclado eletrônico e a guitarra, como acontece no forró eletrônico. Perna (2002) relata duas histórias da origem do nome forró. Uma está relacionada ao local no qual se dançava e que, por ser uma grande festa, era um forrobodó, e por isso o nome de forró para a dança. A outra história está associada à etimologia da palavra forró, que teria vindo da expressão “for all” utilizada pelos “gringos”, que vieram a turismo para o Nordeste, para se referirem às festas ocorridas por lá. A escolha do uso dessa expres- são deve-se à democratização dos locais onde essas festas ocorriam, pois permitiam a entrada de todas as pessoas. Sua disseminação no país deu-se muito por meio dos imigrantes nor- destinos. Tanto que uma das cidades em que mais se dança esse estilo, e que é considerada a “capital” do forró, segundo Zamoner (2013), é São Paulo. Existem por lá muitas escolas de dança de salão nas quais se ensina esse estilo, além de vários locais para dançá-lo. Entre eles, podemos citar o Canto da Ema, que é considerado um dos mais tradicionais, nele apre- sentam-se as principais bandas de forró do país, como Falamansa, Ras- tapé, Forróçana, entre outras. No Canto da Ema, pessoas de todos os locais do país se reúnem para dançar forró. O local também é famoso por ter uma das mais tradicionais festas juninas do país, que é apresentada na Figura 10.7. Bandas famosas – 189 – O ensino da dança de forró, além de se apresentarem, também já gravaram videoclipes nesse local, como o da música Amigo velho, da banda Falamansa. Dentre cantores famosos que cantam forró, destacam-se: Elba Rama- lho, Gabriel Diniz e Wesley Safadão. A banda mais famosa, que carrega o nome dessa música/dança, é Aviões do Forró, que tem por característica cantar somente esse estilo e levar para os seus shows um grupo de dança- rinos que dança durante toda apresentação no palco. Ainda podemos citar Alceu Valença, Calcinha Preta, Frank Aguiar, Genival Lacerda, Jackson do Pandeiro, Mastruz com Leite e Zé Ramalho. Saiba mais Você o conhece? Genival Lacerda, nascido em Campina Grande no ano de 1931, é um dos mais famosos cantores e compositores de forró. Teve como prin- cipais sucessos as músicas: Severina Xique Xique, De quem é esse jegue e Radinho de pilha. Durante sua carreira, gravou 70 discos e participou de diversos programas de TV, inclusive de filmes brasileiros. Fez compo- sição com músicos famosos como Elba Ramalho e Jackson do Pandeiro, esse último tornou-se seu concunhado. Famoso por balançar a barriga durante suas apresentações, sempre utilizou em sua vestimenta roupas tradicionais nordestinas, enaltecendo a cultura do Nordeste. Atualmente, a dança se divide em alguns estilos, que passaram a designar algumas diferenças no formato de seu ritmo e dança, de acordo com Perna (2012). Entre os atuais estilos estão: 2 o forró eletrônico, com instrumentação eletrônica e uma dança bem mais rápida e com movimentos enérgicos; 2 o forró tradicional, com movimentos tranquilos e o contato cor- poral durante maior parte do tempo da dança; 2 o forró arrasta pé, com uma música tranquila e a dança con- duzida com os pés mais rentes ao solo, sem saltito, nem mui- tos giros; Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 190 – 2 o forró universitário, que ganhou essa denominação em razão das festas que os universitários paulistas realizavam com esse estilo musical e colocavam movimentos de giro aprendidos de outras danças, como a salsa. Você Sabia? No dia 13 de dezembro é comemorado o dia internacional do forró. Nesse dia, muitas festividades relacionadas a esse estilo são realizadas por todo país e, principalmente, no Nordeste. Acesse o link a seguir para ler uma matéria que divulga o I Fórum de Forró de Raiz no Espírito Santo. Disponível em: <https://www.aquinoti- cias.com/2019/07/i-forum-de-forro-de-raiz-do-espirito-santo-sera-pro- movido-em-itaunas/>. Acesso em: 30 nov. 2020. No I Fórum de Forró de Raiz, pesquisadores, produtores e gestores públicos reuniram praticantes de forró e artistas desse gênero para reali- zar debates sobre como proteger e preservar as raízes do forró. O evento ocorreu em 17 e 18 de julho de 2019, na Vila de Itaúna, no município de Conceição da Barra, no Espírito Santo. Políticas públicas para preservar o forró também foram discutidas. Outros eventos importantes espalhados pelo país apresentam aulas, bai- les, shows e ciclos de debate sobre a temática forró, entre eles podemos citar: 2 Forró in Rio, que se realiza todo ano na cidade do Rio de Janeiro e reúne os forrozeiros da região Sudeste; 2 Encontro de Forró de Itaúna, que, como o nome sugere, é reali- zado anualmente na cidade mais famosa de Itaúna; 2 Encontro de Forró do Brasil, realizado em Porto Alegre de dois em dois anos e está em sua 6.ª edição. Realiza mais de 24 horas de forró ininterruptas, com duas grandes festas e a Mostra Brasi- leira de Forró. É organizado por Fábio Reis, grande campeão do estilo e DJ de forró, e Fábio Magalhães, proprietário do Gafieira Club escola de dança de Porto Alegre; – 191 – O ensino da dança 2 Forrózea, que é o encontro de forró da Baixada Santista, reúne diversos forrozeiros de São Paulo e do Nordeste brasileiro. 10.3.4 As relações entre samba de gafieira e forró O samba de gafieira é um dos ritmos mais comuns no Brasil, e sua história é permeada de personalidades cariocas que deram origem ao estilo e desenvolveram a música e a dança. Temos, portanto, a música e a dança de samba de gafieira. Durante anos, o estilo recebeu influências do rock, do jazz e do funk, modificando-se e recebendo elementos por meio de ins- trumentos e movimentos. O forró, por sua vez, em sua origem, tem mais de uma história. Enquanto dança, locais famosos, como o Canto da Ema, fazem parte da linha do tempo da dança e são fundamentais em seu desenvolvimento. Com o passar dos anos, sendo uma importante dança nas festividades juni- nas, o estilo se desenvolveu e adquiriu uma roupagem mais moderna, com elementos mais eletrônicos. Como estilos brasileiros, os dois são os mais conhecidos e praticados. Enquanto o samba tem sua origem no Sudeste, o forró tem no Nordeste. No entanto, o desenvolvimento das duas danças se entrecruza, conforme o samba de gafieira ganha espaço tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, e o forró acaba ganhando força em sua estrutura de dança em São Paulo. Saiba mais Ried (2003) nos apresenta o estado de flow, que é um dos principais fatores do estado de felicidade. A dança é um fator de qualidade de vida, pois propicia o estado de flow durante sua realização. Além disso, a prática age sobre o sistema cardiovascular e muscular de maneira cor- retiva e terapêutica. O incentivo educacional da dança de salão é uma proposta excelente para diversos fatores atuantes no processo educativo, visto que pro- move melhorias física e cognitiva, assim como ganho psicológico, com a melhora da autoestima e do humor. Tratando-se da dança de salão, o Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 192 – fator social deve ser destacado, pois influencia nas relações e no apren- dizado de como devemos nos portar e relacionar com os outros. Você quer ler? Desenvolvido com base em uma pesquisa que, após virar artigo, foi editada pela editora Phorte, o livro Dança de salão apresenta a dança de salão e sua potencialidade como prática de desenvolvimento motor no Ensino Fundamental. Na obra, os autores e pesquisadores Maria Apa- recida Coimbra Maia e Vanildo Rodrigues Pereira apresentam diversos testes físicos que foram feitos após a aplicação da dança de salão na educação básica. Atividades 1. Tipo de dança na qual o contato com um profissional da área será o ponto alto da proposta. Qual estilo de dança é apresentado nesse conceito? 2. Como um dos principais países de dança latina,o desenvolvi- mento de ritmos foi grande nesse país, sendo dele a origem do cha cha, do danzón, do bolero, da rumba e do mambo. De que país estamos falando? 3. Ritmo de origem europeia, chegou a Cuba pelos espanhóis por volta do século XIX. Seus movimentos básicos são “dois e dois” e “frente e trás”. Em suas evoluções, temos os giros, as cami- nhadas e os cruzados. De acordo com Ried (2003), o nome desse ritmo foi dado para homenagear os vestidos usados por algumas dançarinas. De qual ritmo estamos falando? 4. Tem origem musical nas ilhas do Caribe. A palavra, porém, é de origem africana e significa “festa”. Se nome e música já não pro- cedem do mesmo lugar, a dança também não. Com característi- cas do carimbó e das danças típicas do Norte brasileiro, a dança tem origem no Brasil (RIED, 2003). A qual ritmo nos referimos? Gabarito Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 194 – 1. Conceitos de recreação, lazer e tempo livre 1. Entende-se como recreação as atividades em que acontece diver- são ou com as quais se relaxa e se propõem entretenimento. 2. Marcelino (2008) indica que originalmente lazer e recreação eram apresentados de forma distinta, o primeiro visto como o tempo, enquanto a segunda como componente, uma prática do criar de novo, dar vida nova, com novo vigor. 3. É possível dizer que não existe o melhor conceito de lazer, afi- nal cada um deles foi proposto por um pesquisador que tem sua contextualização relacionada a sua história de vida e ao período em que realizou sua pesquisa. Por isso, é muito importante con- textualizar pesquisador e período para obter uma relação aproxi- mada da forma social em que o lazer estava apresentado. É pos- sível perceber, portanto, que o período histórico e a sociedade interferem em como o conceito lazer é apresentado. 4. Ao brincar, a criança adquire aprendizados de forma natural, gra- dativa e prazerosa, desenvolvendo habilidades como locomoção, raciocínio, espírito de equipe, resistência física e psicológica, criação de estratégias, motivação, criatividade, comunicação, espírito de liderança, noções de tempo e espaço, interpretação de situações, curiosidade, motricidade, coragem, desinibição, con- vivência, saber perder, respeito ao próximo, aceitação, limites, autonomia, atenção e cooperação. 2. O lúdico, o brinquedo, o jogo e suas relações 1. Por intermédio das brincadeiras ocorre o desenvolvimento da criança em diversas dimensões: linguagem, motricidade, neuro- desenvolvimento e área socioafetiva. 2. Os jogos de salão seriam aqueles realizados em espaços mais fechados e de menor mobilidade. São divididos em: jogos sen- soriais (atuando sobre os sentidos, proporcionando sensações agradáveis e desafiadoras); jogos motores (envolvendo ativi- – 195 – Gabarito dades de coordenação motora e agilidade); e jogos intelectuais (como xadrez, quebra-cabeça, charadas, damas, dominó). 3. Segundo Darido (2007), alguns princípios podem ser verifi- cados no jogo: ser regrado, prazeroso, estar fora da realidade, sem obrigação, absorvente, possuir tempo e lugar próprios etc. Desta forma, o jogo encerra em si a ideia de limites, liberdade e invenção. 4. A função do professor nos jogos e brincadeiras é de condutor destas práticas., uma vez que antigamente estas brincadeiras eram passadas de criança para criança em espaços de lazer, e, hoje, com a diminuição destes espaços, muitas crianças desco- nhecem estas atividades. 3. Introdução aos jogos e brincadeiras 1. Tendo em vista que o Brasil é um país muito grande, diversas são as brincadeiras tradicionais. Algumas delas são caracterís- ticas em regiões específicas. Dntre as principais, podemos citar amarelinha, esconde-esconde e cabra-cega. 2. Os jogos cooperativos têm como principal objetivo socializar as pessoas por meio de atividades que normalmente estão presentes nos jogos recreativos. 3. Podemos dividir em três categorias os jogos cooperativos: jogos cooperativos, jogos de resultado e jogos de inversão. 4. Tendo em vista que o Brasil é um país muito grande, diversas são as brincadeiras tradicionais. Dentre as principais, podemos citar: amarelinha, cabra-cega e esconde-esconde. 4. História, ensino e evolução da dança e das atividades rítmicas 1. Na primeira infância temos, portanto, segundo Miller (2012), as seguintes etapas do desenvolvimento motor: a etapa dos movi- Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 196 – mentos-reflexo (até um ano), a etapa dos movimentos rudimen- tares (até dois anos) e fundamentais (até 7 anos). 2. A dança pessoal ou em grupo pode ser criada pelos próprios alunos ou pelo professor, sendo executada pela turma. Nessa prática, a criatividade é levada em consideração e é muito inte- ressante para se trabalhar a colaboração, pois pode ser proposta uma montagem colaborativa da coreografia. 3. Segundo Szuster (2011) esta prática leva o indivíduo a ter mais motivação, autoestima e autodeterminação. Desse modo, os indivíduos que dançam podem se sentir mais tranquilos e mais felizes consigo mesmos e com os outros ao seu redor. 4. Canon é quando pessoas realizam movimentos um após o outro, em sequência. 5. Ensino das diferentes manifestações de dança 1. Dessa forma, a estrutura que deve ser utilizada para ensinar a dança utiliza os seguintes caminhos: 2 O que queremos ensinar. 2 Onde ensinaremos. 2 Quanto tempo levaremos para ensinar. 2 Qual música será utilizada. 2. Cone e Cone (2015) nos apresentam o seguinte modelo: 2 Estudar os movimentos usando os elementos da dança; 2 Selecionar os movimentos com base nos estudados; 2 Escolher uma sequência de movimentos; 2 Decidir em que porção do espaço esses movimentos serão executados; 2 Praticar a sequência e introduzir mudanças; 2 Praticar a nova sequência; – 197 – Gabarito 2 Executar a dança completa. 3. Na perspectiva de desenvolvimento humano, ao preparar uma aula de dança é preciso levar em consideração os desenvolvi- mentos cognitivos, motor, afetivo e social. 4. Segundo o documento elaborado pela universidade de Harvard, para bebês de 3 a 5 anos é sugerido propor o brincar de imaginar, que ajuda a criança a desenvolver pensamentos complexos e a interpretar um papel. Por exemplo: recriar uma ida ao médico, montar uma peça de teatro ou contar uma história. 6. Introdução à expressão 1. A expressão corporal é uma das práticas corporais usadas para que o indivíduo conquiste mais consciência corporal. Com isso, há mais versatilidade. 2. A consciência corporal se refere a aprender sobre como nosso corpo funciona em suas capacidades e potencialidades. É uma habilidade muito importante a ser desenvolvida, principalmente por bailarinos. 3. A consciência corporal envolve conhecer o nosso corpo e os nossos movimentos, nossa relação com o ambiente e a música. Por isso, este “conhecimento do corpo” é tão importante. 4. Sendo seu início no centro do corpo, as direções podem ser para frente, para trás, para a esquerda, para a direita, para as diago- nais, para cima ou para baixo. 7. O estudo do movimento 1. Tema do Movimento. 2. A fluência ou o fluxo é o primeiro fator observado no desenvol- vimento do movimento, nas pesquisas de Laban, estando rela- Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 198 – cionado à continuidade ou não do movimento. Temos, portanto, o movimento livre e o controlado. 3. Segundo Laban, as formas possíveis no espaço são cubo, tetrae- dro, octaedro, icosaedro e dodecaedro. 4. O fator do tempo está relacionado à velocidade com que o movi- mento é realizado pelo indivíduo. Envolve os acentos, os inter- valos, a duração e a intensidade da prática. Ele é um tanto subje- tivo, pois é muito difícil determinar o que é lento ou rápido, uma vez que essa conclusão varia de pessoa para pessoa. 8. Musicalidade 1. Um bloco musical é formado de 4 frases musicais e 32 tempos. 2. Segundo Schroeder (2000), a pulsação é um elemento regulador do ritmo, e é imprescindívelinteriorizar a noção de pulso antes de compreender o ritmo. Uma sugestão do autor para facilitar o entendimento do aluno é fazer uma analogia entre a pulsação da música e a humana. 3. A música tradicional étnica consiste na música de raiz feita pelo povo normalmente com caráter ritualístico. 4. O rock surgiu na década de 1960; em um sentido mais amplo, muitas formas musicais são incorporadas a ele, que tem seme- lhança com o canto e utiliza instrumentos elétricos amplificados. 9. Dança e sua multiplicidade 1. Nas civilizações antigas, como a egípcia ou a mesopotâmica, a dança tinha um caráter sagrado. Dançava-se como uma forma de honrar os deuses. Esse tipo de dança existe até hoje em países como Índia e Japão. 2. Domenico de Piacenza foi o autor do primeiro tratado de dança de que temos notícia até então. Ele coreografou as danças Bali – 199 – Gabarito e Morisques, e considerava os seguintes fundamentos necessá- rios para uma boa dança: memória, espírito, avaliação e utili- zação do espaço. 3. O professor deve planejar e levar em consideração a caracterís- ticas individuais de cada aluno, sendo responsável por incluir a todos os alunos em suas aulas de dança. 4. Nas aulas de dança, pode-se desenvolver coordenação, equilíbrio, socialização, flexibilidade, força e ritmo – por isso ela é uma prá- tica positiva e excelente para promover a inclusão. 10. O ensino da dança 1. O estilo é a dança criada por um coreógrafo profissional. 2. O país citado, que tem maior representação na música latina, é Cuba. 3. O estilo de dança apresentado é o bolero. 4. Na descrição nos referimos ao estilo zouk. Referências Recreação, Atividades Rítmicas, Dança e Cultura Popular – 202 – ABREU E SILVA, N. N. A Dança: uma arte a serviço da terapia. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1977. APOLO, A. A criança e o adolescente no esporte / como deveria ser. Rio de Janeiro. Editora Phorte, 2007. ARAUJO, D.S.M.S. e ARAUJO, C.G.S. Aptidão física, saúde e qua- lidade de vida relacionada a saúde de adultos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. V. 6, n. 5, Niterói, 2000. BARTHOLO, T. L. 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Nesta obra, você conhecerá sobre os fundamentos da recreação e do lazer, a organização, planejamento e desenvolvimento de atividades recreativas; relacionará os conceitos de recreação, lazer e tempo livre, entendendo como aplicar a recreação em empresas de atendimento no contraturno. Compreenderá os significados e possibilidades da dança: cultura, arte e educação, os estilos de dança como forma de arte e prática corporal. Entenderá como se dá a história da dança, compreendendo os princípios metodológicos do ensino desta prática. Conhecerá Laban e sua pesquisa de movimento, e poderá elaborar um plano de aula de dança criativa no âmbito do movimento humano. Ainda neste texto, serão apresentados diversos estilos de dança, e será possível entender a relação histórica das danças regionais e latinas, compreendendo sua aplicação em aula. Por fim, poderá compreender as linhas coreográficas, técnicas de transmissão, aplicação da dança de salão e seus diferentes estilos.