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Sérgio Lessa e Ivo Tonet CAPÍTULO I: As grandes linhas do debate ideológico Existe apenas duas formas “radicais” de pensar a sociedade: Forma conservadora: a qual afirma que o homem é essencialmente burguês, pois é sempre dominado pelo espírito de acumulação privada de riqueza. Dessa forma, a história nas mais seria que a afirmação deste individualismo em diferentes situações. Por isso, a sociedade comunista seria uma completa impossibilidade. Forma revolucionária: a qual afirma que os homens são individualistas porque a sociedade burguesa os faz assim, e não porque sejam bons ou ruins por natureza. Ou seja, se os homens construíram o capitalismo e o individualismo burguês, podem também superá-lo e construir uma sociedade emancipada da opressão. CAPÍTULO 2: A relação do homem com a natureza: o trabalho. 1 – Prévia-ideação e objetivação Para Marx, o trabalho é o fundamento do ser social. Através do trabalho, o homem, ao transformar a natureza, também se transforma. Quando os homens constroem a realidade objetiva, também se constroem como indivíduos. Para compreender o ser social existem 3 aspectos decisivos: 1. A natureza sozinha não pode criar ferramentas para suprir as necessidades humanas. Ex: o machado é uma transformação de um pedaço da natureza e criado pelo homem, através da objetivação de uma prévia-ideação. 2. A prévia-ideação é sempre uma resposta a uma necessidade concreta, ou seja, ela é sempre uma resposta a uma dada necessidade. Resposta essa que é antecipada o seu resultado final na consciência. 3. A objetivação é a prática da alternativa escolhida pelo individuo através da prévia- ideação. Como toda objetivação origina uma nova situação, a história jamais se repete. Exemplo: 1. Há uma necessidade: quebrar o coco; 2. Há várias alternativas para atender a esta necessidade (jogar o coco no chão, queimar o coco, construir um machado, etc.); 3. O indivíduo projeta, em sua consciência, o resultado (prévia-ideação) de cada alternativa; 4. Ao ter escolhido a alternativa uma vez que o resultado foi previamente ideado, o indivíduo age objetivamente, transformando a natureza construindo algo novo Em síntese, para existirem, os homens devem necessariamente transformar a natureza, assim, este ato de transformação é o trabalho. O trabalho é o processo de produção da base material da sociedade pela transformação da natureza. Da prévia-ideação à sua objetivação: isto é trabalho. Vale enfatizar que para Marx, nem toda atividade humana é trabalho, mas apenas a transformação da natureza. Pois, ao transformar a natureza, o indivíduo também se transforma a si próprio e à sociedade. 1- Prévia-ideação 2- objetivação 3- transformação da natureza 4- origina uma nova situação. Todo ato de trabalho produz uma nova situação, na qual novas necessidades e novas possibilidades irão surgir; Todo ato de trabalho modifica também o indivíduo, pois este adquire novos conhecimentos e habilidades que não possuía antes, bem como novas TRANFORMAR A NATUREZA AUTOTRANSFORM AÇÃO DO HOMEM ADQUIREM NOVAS HABILIDADES E CONHECIMENTOS ferramentas que também antes não possuía; Todo ato de trabalho, portanto, dá origem a uma nova situação, tanto objetiva quanto subjetiva. Assim, esta nova situação possibilitará aos indivíduos novas prévias- ideações, novos projetos e, deste modo, novos atos de trabalho, os quais, modificando a realidade, darão origem a novas situações, e assim por diante. CAPÍTULO 3: O trabalho e a sociedade 2- Objetivação e sociedade Os atos individuais influenciam a vida social. A objetivação do machado é resultado da evolução da sociedade anterior. Impactando na sociedade e consequência futura na história dos homens. Ou seja, não há ato humano fora da história, fora da sociedade. Para Marx, toda ação dos indivíduos tem uma dimensão social Assim, o trabalho é uma expressão do desenvolvimento anterior de toda a sociedade. Esse novo objeto (machado) promove alterações na situação histórica conduzindo ao desenvolvimento futuro. 3- Objetivação e conhecimento A generalização do conhecimento ocorre quando um conhecimento de um caso singular (construção de um machado) se transforma em um conhecimento genérico que pode ser útil em diversas circunstâncias. A partir do novo conhecimento adquirido com a construção do machado para atender a sua necessidade, o homem amplia o seu conhecimento sobre outras coisas. Nesse caso, ao construir machados, os indivíduos aprendem a distinguir as pedras uma das outras. Esse conhecimento passa a se tornar patrimônio de toda a sociedade (se generalizando a todos os indivíduos), pois, o que era domínio apenas de uma pessoa torna-se conhecimento de toda a sociedade. Três níveis de generalização resultante da objetivação: 1. O nível objetivo: o objeto produzido passa a ser influenciado e a influenciar toda a sociedade. Sua história adquire, assim, uma dimensão genérica: é, agora, parte da história; 2. O nível subjetivo, que se subdivide em dois sub-níveis: a. O conhecimento de um caso singular (construir o machado) se eleva a um conhecimento acerca da realidade em geral. Este conhecimento genérico da realidade pode ser aplicado em circunstâncias muito distintas daquelas em que se originou. b. O conhecimento de um indivíduo se difunde por toda a sociedade, tornando-se patrimônio da humanidade. 3. O trabalho é o fundamento do ser social porque, através da transformação da natureza, produz a base material da sociedade. Todo processo histórico de construção do indivíduo e da sociedade tem, nesta base material, o seu fundamento.