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Francisco Charles Nunes da Costa Relacionamentos Abusivos Fortaleza - CE Agosto de 2022 Francisco Charles Nunes da Cota Relacionamentos Abusivos Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Digital Descomplica, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel tecnólogo em Investigação Criminal e Psicologia Forense. Fortaleza - CE Agosto de 2022 RESUMO O presente estudo objetiva descrever sobre como são os relacionamentos abusivos. Sobre a sua metodologia, trata-se de uma revisão bibliográfica e qualitativa, onde foram utilizados artigos científicos buscados nas bases de dados online. Conclui- se que a violência contra a mulher faz parte de um grande fenômeno histórico, cultural e social que ainda atualmente viola diversos direitos considerados inalienáveis ao ser humano, como a dignidade, o respeito e a vida. Sendo assim, a violência não se restringe apenas a determinada classe social, mas sim enraizada na formação social da população. Portanto, os relacionamentos abusivos passaram a se tornar um grande problema da saúde pública, já que eles são constituídos de um sujeito abusador e uma vítima. O abusador exerce o seu poder e força sobre a vítima de maneira física, emocional, sexual, psicológica, patrimonial ou moral. Esses relacionamentos abusivos ainda são compostos, geralmente, por quatro fases, sendo elas a fase da tensão, da explosão, das desculpas e da lua de mel. Fazendo com que a vítima fique presa a esse relacionamento pela dificuldade de romper seja por medo, esperança de mudança, ideal de amor difundido ou vergonha. Palavras-chave: Relacionamentos Abusivos. Violência Doméstica. Vítima. Ciclos. 1 INTRODUÇÃO O relacionamento abusivo pode ser definido como aquele em que há a presença de violência de vários desdobramentos de forma institucional, cotidiana e natural. Essas relações abusivas ocorrem contra parceiros íntimos podendo ser namorados, cônjuges amantes e amásios, sendo assim são as relações no qual ocorre uma submissão (D´AGOSTINI et al., 2021). Geralmente, dentro dos relacionamentos abusivos, a mulher é a vítima, isso ocorre por conta da violência contra a mulher ser caracterizada como um fenômeno social que ocorre em diversos âmbitos, principalmente no doméstico, caracterizado pelo abuso psicológico, físico, emocional ou sexual (MALVEIRA, 2020; LUDERMIR; SOUZA, 2021). De acordo com o tema proposto surgiu a seguinte questão norteadora: Como é o ciclo dos relacionamentos abusivos? Para responder a problemática o objetivo geral foi descrever sobre como são os relacionamentos abusivos. Enquanto os objetivos específicos foram relatar sobre a definição dos relacionamentos abusivos, descrever os tipos de abusos ocorridos nesse tipo de relacionamento e relatar sobre o ciclo dos relacionamentos abusivos. O presente estudo justifica-se pela importância em divagar sobre um tema de extrema importância, afim de explanar sobre as causas e características dos relacionamentos abusivos, principalmente pelo fato de que as vítimas desses relacionamentos podem levar a consequências psicológicas pelo resto de suas vidas. Esse trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, onde foram utilizados artigos científicos buscados nas bases de dados online Scielo, PubMed e Google Acadêmico. Os artigos científicos utilizados estavam no idioma português e foram publicados entre 2012 e 2022, indicando um tempo recorte de 10 anos. Os critérios de inclusão foram artigos científicos publicados no idioma português, que obtinham o tema proposto no resumo e nos objetivos e que foram publicados entre 2012 e 2022. Já os critérios de exclusão foram artigos duplicados, incompletos, pagos e que no momento da leitura completa não tinham os pontos certos para o desenvolvimento do presente estudo. Os artigos foram escolhidos de acordo com as seguintes fases: primeiro, excluíram-se as duplicações. Então, os artigos remanescentes foram triados por título, resumo e texto completo. Os artigos foram selecionados com base nos critérios de elegibilidade acima citados. Caso a elegibilidade não pudesse ser determinada durante a triagem inicial do título e do resumo, obteve-se o texto completo dos artigos passando por uma primeira leitura criteriosa, para determinar a inclusão. 2 DESENVOLVIMENTO Os relacionamentos abusivos podem ser definidos em relações no qual haja vínculos íntimos afetivos entre o agressor e a vítima envoltos por atos de violência sexual, física ou psicológica, onde o agressor tem a intenção de manter o controle sobre a vítima. Esse controle pode ser exercido por meio de laços marcados por repressão a vítima, persuasão, hostilidade, distrações por controlem e indiferença, sendo assim a relação abusiva tem como objetivo subordinar a vítima por meio de recursos emocionais (D´AGOSTINI et al., 2021; LUDERMIR; SOUZA, 2021). Antigamente, as mulheres encaravam a violência como um fenômeno natural, principalmente quando ela estava relacionada a uma relação conjugal ou dentro do ambiente doméstico, que era reconhecido como uma esfera privada, onde o Estado não tinha o poder de intervir (MAIA, 2017). Porém, por causa dos movimentos feminista, pela década de 1970, a violência contra a mulher ganhou um grande destaque passando a ser tratada como um problema social, desmistificando assim a esfera privada envolta do ambiente domiciliar. Vale discorrer que a violência contra a mulher ocorre por meio de ações e atitudes do homem, ela ainda pode assumir diversas vertentes sendo elas moral, física, sexual, psicológica e patrimonial (MALVEIRA, 2020). De acordo com a organização SOS Mulher e Família as pessoas abusivas geralmente são sobreviventes de abuso, onde o seu comportamento abusivo varia desde o abuso verbal, emocional, físico ou até mesmo sexual. Onde uma pessoa que é abusiva emocional, na maioria das vezes também é abusiva verbalmente ou em outros aspectos (CARVALHO; FREITAS, 2022). A presença da violência nos relacionamentos afetivos depende bastante de como cada parceiro subjetiva-se e subjetiva o outro na relação, fazendo com que o relacionamento seja sustentado pela violência de gênero que é caracterizada por qualquer ato que acarrete em dano emocional ou físico pode meio de abuso de poder em uma relação pautada em assimetria e desigualdade entre os gêneros (PEREIRA; CAMARGO; AOYAMA, 2018). A agressão física de autoria feminina pode ser justificada por ser uma maneira de revidar a agressão vinda do masculino, o tapa é um dos tipos de agressão mais praticados pelas meninas que geralmente são precedidos por agressões verbais, ameaças e comportamentos controladores (D´AGOSTINI et al., 2021). Sendo assim, pode-se definir os relacionamentos abusivos como aqueles em que ocorre o excesso do controle e do poder gerando um sentimento de posse na objetificação do outro, esses comportamentos se iniciam de maneira sutil e podem acabar ultrapassando os limites do que é considerado sadio (CARVALHO; FREITAS, 2022). Em relação a violência psicológica, ela pode ser refletida como um parâmetro de regras e limites de convivência, sendo bastante complexas na identificação por terceiros e na denúncia, já que ela não possui materialidade. Enquanto a violência verbal como extensão da psicológica é uma das mais recorrentes nas relações entre os jovens, principalmente pelo fato dela ser bastante banalizada, se tornando aceitável e comum em algumas situações (MAIA, 2017). As causas que podem colaborar para os atos abusivos nos relacionamentos são experiências de violência infantil como negligência e abusos, violência no ciclo familiar,fantasias sobre o parceiro, indícios de depressão, permanência da mulher na relação abusiva, relacionamento como resolução de conflitos pessoais, culpa pelos atos abusivos sofridos e a privação de suportes básicos como saúde, educação e moradia (LUDERMIR; SOUZA, 2021). Já as manifestações dos atos abusivos correm de várias maneiras como por meio de violência física, sexual, patrimonial, psicológica e moral, que podem acabar resultando em homicídio. No caso da violência moral ela compreende a prática de injúria, calúnia ou difamação, entretanto a violência patrimonial é aquele em que ocorre a contenção, diminuição ou aniquilação dos bens ou pertences (CARVALHO; FREITAS, 2022). Vale ponderar que existe um círculo vicioso do abuso que comporta diversas naturezas de violência, no qual esse ciclo precisa ser quebrado. No começo, o relacionamento possui aquele encantamento inicial, que é considerado como a fase de idealização, nos casos dos relacionamentos abusivos a tensão precede o encantamento fazendo como eu situações irrelevantes geram grandes conflitos (D´AGOSTINI et al., 2021). Esses conflitos fazem com que o abusado se sinta culpado ou confuso, em seguida acaba ocorrendo abusos verbais, físicos, emocionais e brigas. Nesses momentos o sujeito abusador convence o seu alvo de que ele o fez perder o controle afim de tentar amenizar o ocorrido. Logo entra a fase de lua de mel onde ocorre as promessas e juras de amor constantes, como indicado na figura 1 (MALVEIRA, 2020). Figura 1 – As fases mais comuns dos relacionamentos abusivos Fonte: Heemann (2020, online). Essas fases do ciclo se reiniciam e se repetem diversas vezes até que o sujeito abusado perceba que precisa de ajuda para quebrar esse ciclo. No entanto, nem todas as relações abusivas são pautadas nesse ciclo com essas fases, porém a maioria segue dessa maneira, sendo composto por quatro fases que se repetem e se intensificam aumentando cada vez mais o risco da vítima de ser gravemente ferida ou assassinada (MALVEIRA, 2020). Na primeira fase, como já mencionado, ocorre a tensão no relacionamento, geralmente o homem culpa a mulher por não estar satisfeito e utiliza dessa desculpa para responsabilizá-la pela violência cometida. E a mulher passa a se sentir culpada e responsável pela agressão, internalizando assim as falas do autor (MAIA, 2017; (LUDERMIR; SOUZA, 2021). Já a segunda fase, chamada de explosão da violência, é quando o homem exerce seu poder e força contra a companheira, por meio de agressões físicas, psicológicas ou sexuais, uma fase marcada por um alto descontrole do abusador. Na terceira fase, que é a fase das desculpas, o homem acaba admitindo sua responsabilidade pelo ato ocorrido e tenta diminuir a gravidade do seu abuso pelo perdão (PEREIRA; CAMARGO; AOYAMA, 2018). Por fim, na quarta fase ou fase da Lua de Mel, ocorre a reconciliação do casal, nesse momento o homem faz juras de amor, promessas de mudança e carinho. Nesse momento as mulheres se tornam mais resistentes a violência e ficam com esperanças de que o parceiro irá mudar, o que acaba desencadeando a abertura de um novo ciclo (CARVALHO; FREITAS, 2022). Por conseguinte, mesmo sofrendo violência constante, a maioria das mulheres ainda continuam nas relações abusivas por bastante tempo, por conta desse sentimento de esperança. Já outros fatores que contribuem para a permanência no relacionamento é a dependência da renda do abusador, bens em comum, subsistência ou qualquer lógica inconsciente ou consciente que justifique a sua permanência em um relacionamento abusivo (PEREIRA; CAMARGO; AOYAMA, 2018). 3 CONCLUSÃO Conclui-se que a violência contra a mulher faz parte de um grande fenômeno histórico, cultural e social que ainda atualmente viola diversos direitos considerados inalienáveis ao ser humano, como a dignidade, o respeito e a vida. Sendo assim, a violência não se restringe apenas a determinada classe social, mas sim enraizada na formação social da população. Portanto, os relacionamentos abusivos passaram a se tornar um grande problema da saúde pública, já que eles são constituídos de um sujeito abusador e uma vítima. O abusador exerce o seu poder e força sobre a vítima de maneira física, emocional, sexual, psicológica, patrimonial ou moral. Esses relacionamentos abusivos ainda são compostos, geralmente, por quatro fases, sendo elas a fase da tensão, da explosão, das desculpas e da lua de mel. Fazendo com que a vítima fique presa a esse relacionamento pela dificuldade de romper seja por medo, esperança de mudança, ideal de amor difundido ou vergonha. REFERÊNCIAS CARVALHO, Viviane; FREITAS, Talita. Relacionamento abusivo: o ciclo de aprisionamento e dependência emocional. JNT [online] v. 2, n. 36, p. 429-439, 2022. Disponível em: https://jnt1.websiteseguro.com/index.php/JNT/article/viewFile/1591/1080. Acesso em: 08 ago. 2022. D´AGOSTINI, Marina et al. Representações sociais sobre relacionamento abusivo. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.2, p. 20701-20721, feb. 2021. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/viewFile/25423/20273?__cf _chl_tk=ErKXuj17cBHajYugQbu0QkLef42TbSmcdwLVBuD3DrA-1660245740-0- gaNycGzNCSU. Acesso em: 07 ago. 2022. HEEMANN, Thimotie. Relacionamento Abusivo. 2020. Disponível em: https://twitter.com/thim3108/status/1323372504229027841. Acesso em: 11 ago. 2022. LUDERMIR, Raquel; SOUZA, Flávio. Moradia, patrimônio e sobrevivência: dilemas explícitos e silenciados em contextos de violência doméstica contra a mulher. Rev. Brasil. Estud. Urbanos Reg. [online] v. 23, p. 1-25, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbeur/a/6qctjHCTyCjHVrQSxPy6gZp/?lang=pt. Acesso em: 07 ago. 2022. MAIA, Laura. A cultura do machismo e sua influência na manutenção dos relacionamentos abusivos. Orientadora: Neide Cascaes. Tese (Artigo) – Conclusão de Curso de Psicologia, Universidade do Sul de Santa Catarina, Santa Catarina. 26 f. 2017. MALVEIRA, Ulielma. Como ocorre o rompimento e a permanência do relacionamento abusivo em mulheres? Tese (Monografia) – Conclusão do Curso de Psicologia, Centro Universitário FAMETRO, Fortaleza. 27 f. 2020. PEREIRA, Daniely; CAMARGO, Vanessa; AOYAMA, Patricia. Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: um estudo prático. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva [online] v. 20, n. 2, p. 10-25, 2018. Disponível em: https://rbtcc.webhostusp.sti.usp.br/index.php/RBTCC/article/view/1026. Acesso em: 09 ago. 2022.