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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 CONCEITUANDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA ................................... 5 2.1 A Violência no Brasil........................................................................... 14 2.2 Tipologia da violência ......................................................................... 15 3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ......................................................................... 17 3.1 Consequências físicas e psicológicas da violência doméstica para a saúde da mulher .................................................................................................... 19 3.2 O papel do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica 21 3.3 Importância do atendimento psicológico ............................................ 27 4 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ........... 29 4.1 Entendendo os conceitos de violência, abuso e exploração sexual infantil 33 4.2 Aspectos legais da violência sexual contra crianças e adolescentes . 34 4.3 Consequências do Abuso Sexual ....................................................... 38 4.4 Formas de Abuso Sexual ................................................................... 39 4.5 Consequências e aspectos psicológicos observados na vítima de abuso sexual infantil ......................................................................................................... 40 4.6 O papel do psicólogo na prevenção do abuso e violência sexual ...... 50 4.7 A avaliação psicológica como meio de recuperação da vítima .......... 54 4.8 Intervenção psicológica para vítimas de abuso sexual: aspectos gerais e pesquisas recentes ............................................................................................. 56 4.9 Vínculo terapêutico e objetivos centrais do tratamento ...................... 56 4.10 Tempo de tratamento ...................................................................... 57 4.11 Modalidades terapêuticas ............................................................... 58 3 5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 63 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CONCEITUANDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA Fonte: bpoder360.comr O fenômeno da violência é um dos grandes desafios enfrentados na atualidade. À medida que se configura como um recorte social, perpassando o cotidiano de todos de forma muitas vezes atordoante, verifica-se a necessidade de buscar compreensões e enfrentamentos dessa realidade sócio-humana, complexa e contemporânea. “A violência possui ligações profundas com a desigualdade entre as classes e a exclusão social, dessa forma, seu enfrentamento não pode eximir-se da melhoria do sistema de proteção social, do fortalecimento das políticas sociais e da garantia de direitos”. (SILVA, 2005, p. 20 apud SILVA H; 2007). É um fenômeno universal, cotidianamente toma-se conhecimento de fatos acontecidos em diferentes partes do mundo. É difícil de entendê-lo e conviver com ele. A todos afeta, sejam suas vítimas de diferentes classes sociais, etnias, culturas e religiões, conforme SILVA H; (2007). Hoje existe uma grande diversidade de estudos e abordagens sobre o tema violência, oportunizando uma aproximação à compreensão deste fenômeno. Recorrendo a uma compreensão filosófica, nos remetemos ao conceito de violência utilizado por Chauí. Autora reconhecida não só pela sua produção acadêmica, mas pela participação efetiva no contexto do pensamento e da política brasileira, conforme SILVA H; (2007). 6 A palavra violência vem do latim vis, que significa força. Chauí (1998 apud SILVA H; 2007) em seus estudos ainda aponta outros significados ao conceito de violência, a saber: Desnaturar: tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser, conforme SILVA H; (2007). Coagir, constranger, torturar, brutalizar: todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém, conforme SILVA H; (2007). Violar: todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade, conforme SILVA H; (2007). Todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma sociedade define como justas e como um direito, conforme SILVA H; (2007). É um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror, conforme SILVA H; (2007). Chauí ainda salienta que a violência se opõe a ética, pois trata os sujeitos como se fossem coisas e não seres humanos. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, voluntário, livre e responsável, tratá-lo não como humano e sim como coisa, fazendo-lhe violência nos cinco sentidos em que demos a esta palavra. (CHAUÍ, 1998 apud SILVA H; 2007). Chama atenção também para as questões dos valores que estão enraizados na sociedade e regem a conduta dos homens. Em nossa cultura, a violência é entendida como o uso da força física, e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação da integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém. Eis porque o assassinato, a tortura, a injustiça, a mentira, o estupro, a calúnia, a má-fé, o roubo são considerados violência, imoralidade e crime. (CHAUÍ, apud SILVA, 2005, p. 21 apud SILVA H; 2007). 7 Segundo alguns autores (BOULDING, 1981, MINAYO e ASSIS, 1993 apud SANTANA J; et al., 2005), a violência pode ser classificada em: Estrutural – aquela que advém da conduta política do Estado e seus governantes ao privilegiar alguns grupos em detrimento de outros, determinando as desigualdades e produzindo a exclusão, conforme SANTANA J; et al., (2005). Cultural – impressa na cultura de um povo, seus preconceitos e valores (racismo, machismo, religião, entre outros), conforme SANTANA J; et al., (2005). De resistência – manifestada pelos grupos oprimidos e subjugados como resposta à violência estrutural e cultural sofridas (os negros, os sem- terra, os homossexuais etc.); e conforme SANTANA J; et al., (2005). De delinquência – expressa nas formas mais visíveis ao senso comum, como o crime contra o patrimônio, o roubo, assalto, entre outros, conforme SANTANA J; et al., (2005). De acordo com SANTANA J; et al., (2005), a violência ocorre nas escolas, nas instituições, nos locais de trabalho, mas acontece principalmente nos lares ondea relação de poder e hierarquia entre os adultos e as crianças e adolescentes é muito forte, sendo que aí leva a denominação de violência doméstica. A seguir, sinalizamos os tipos mais comuns e seus sinais clínicos: Abuso físico – toda e qualquer ação não acidental, única ou repetida, que produz dano físico ou lesão corporal, através de castigo, surras, açoites etc. Ao atendimento de saúde, deve-se suspeitar dos casos cuja explicação para as lesões não convence claramente, conforme SANTANA J; et al., (2005) Abuso sexual – é o ato ou jogo sexual praticado por pessoa em estado psicossexual superior ao da criança ou adolescente. Acompanham lesões ou edema na região genital sem explicação plausível; criança pequena com infecções urinárias recorrentes deve deixar o profissional de saúde em alerta para iniciar a investigação conforme SANTANA J; et al., (2005) Abuso psicológico – configura-se pela rejeição, subestima, isolamento, exigir da criança além do que pode apresentar, levá-la a 8 construir ideias negativas sobre si e o mundo. A criança ou adolescente apresenta comportamento polarizado, ou deprimido ou exibicionista, conforme SANTANA J; et al., (2005) Negligência – não dispensar à criança ou adolescente os recursos materiais e afetivos para suprir suas necessidades, quando há condições para tal. Em não havendo recursos próprios, deve-se recorrer a outras alternativas. A criança se apresenta ao serviço de saúde ou à escola, descuidada, com vestes não apropriadas ao clima. Demonstra baixa autoestima e desinteresse pelo seu entorno, conforme SANTANA J; et al., (2005) Seguindo a linha de pensamento filosófico, nos reportarmos as compreensões de Hannah Arendt conhecida como a pensadora da liberdade. Sua obra é fundamental para se entender e refletir sobre os tempos atuais. Seu trabalho filosófico além de abarcar o tema da violência, também faz parte de seus estudos os temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral e a condição da mulher. Possui uma das mais vigorosas reflexões sobre o assunto, considera que nenhum historiador nem pesquisador deveria ser alheio ao imenso papel que a violência sempre desempenhou na História, conforme SILVA H; (2007). Para Arendt (apud PERISSINOTTO, 2004 apud SILVA H; 2007) a violência é inerente ao ato de fazer, fabricar e produzir. Dando continuidade à sua análise a autora a identifica com o ato de matar e violar. A violência não se identificaria com qualquer ato coativo, mas apenas com aquele que opera, no caso das relações sociais, sobre o corpo físico do oponente, matando-o. A violência para Arendt é a expansão do vigor a partir da inserção de uma lógica instrumental. Onde os comandos não são mais obedecidos, os meios de violência são inúteis; e a questão desta obediência não é decidida pela relação de mando e obediência, mas pela opinião e, por certo, pelo número daqueles que a compartilham. Tudo depende do poder por trás da violência. (ARENDT, 1994, p. 39 apud SILVA H; 2007). A violência dramatiza causas e possibilita à sociedade a compreensão de seus próprios limites. Ao analisar as causas da violência no mundo moderno, a autora evidencia a noção de instrumentalidade. “(...) A violência é por natureza instrumental, como todos os meios, ela sempre depende da orientação e da justificação pelo fim 9 que almeja. E aquilo que necessita de justificação por outra coisa não pode ser a essência de nada”. (ARENDT, 1994, p. 41 apud SILVA H; 2007). A violência, sendo instrumental por natureza, é racional à medida que é eficaz em alcançar o fim que deve justificá-la. E posto que, quando agimos, nunca sabemos com certeza quais serão as consequências eventuais do que estamos fazendo. (ARENDT, 1994, p. 58 apud SILVA H; 2007). Minayo (1994 apud SILVA H; 2007), socióloga coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVE), evidencia que a violência é um dos eternos problemas da teoria social e da prática política e relacional da humanidade. Não se conhece nenhuma sociedade onde a violência não tenha estado presente. Sempre existiu a preocupação do homem em entender a essência deste fenômeno “sua natureza, suas origens e meios apropriados, a fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da convivência social”. (MINAYO, 1994, p.07 apud SILVA H; 2007). Conforme a autora a violência não é uma, mas sim múltipla. De origem latina, o vocábulo vem da palavra vis, que significa força e se refere às noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro. No seu sentido material, o termo parece neutro, mas quem analisa os eventos violentos descobre que eles se referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo poder e a vontade de domínio e aniquilamento do outro, e que suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas, segundo normas sociais mantidas por aparatos legais da sociedade ou por usos e costumes naturalizados. Mutante, a violência designa, pois, realidades muito diferentes. Há violências toleradas e há violências condenadas, conforme SILVA H; (2007). E desde o início da modernidade, ela se enriquece de novas formas, cada vez mais complexas e, ao mesmo tempo, mais fragmentadas e articuladas. (MINAYO, 2003; 2006 apud SILVA H; 2007) expressa a dificuldade de se conceituar este fenômeno, haja vista, ser um fenômeno da ordem do vivido, cujas manifestações provocam ou são provocadas por uma forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem a presencia. A violência se apresenta ora como manifestação da dinâmica e da trajetória de uma sociedade, ora como fenômeno específico que se destaca e influencia essa mesma dinâmica social. Nunca existiu uma sociedade sem violência, mas sempre existiram sociedades mais violentas que outras, cada uma com sua história. A 10 violência não pode ser analisada nem tratada fora da sociedade que a produz. (MINAYO, 1994 apud SILVA H; 2007). De acordo com a autora a violência é um desafio para a sociedade, e não apenas um mal, podendo ser também um elemento de mudanças. (...) trata- se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço de criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. (...). Daí se conclui, também que na configuração da violência se cruzam problemas da política, da economia, da moral, do direito, da Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano individual. (MINAYO, 1994, p.08 apud SILVA H; 2007). Em seus estudos tem como aporte a obra de Chenais (1981 apud SILVA H; 2007) que distingue três definições de violências que contemplam tanto o âmbito individual quanto o coletivo: no centro de tudo, a violência física, que atinge diretamente a integridade corporal e que pode ser traduzida nos homicídios, agressões, violações, torturas, roubos a mão armada; a violência econômica, que consiste no desrespeito e apropriação, contra a vontade dos donos ou de forma agressiva, de algo de sua propriedade e de seus bens, e, por último, a violência moral e simbólica, aquela que trata da dominação cultural, ofendendo a dignidade e desrespeitando os direitos dos outros. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). De acordo com SILVA H; (2007), nesta direção, Minayo desenvolve uma análise das três fontes explicativas para a violência, sob o ponto de vista filosófico e sociológico: Uma delas considera como expressão as crises sociais que levam a população mais atingida negativamente, à revolta frente a sociedade ou ao Estado que não conseguem lhe dar respostas adequadas. Apresenta como exemplos Tquecville, que explica a violência do povo na Revolução Francesa como reação a uma situação insuportável, Fanon que a justifica como vingança dos pobres e explorados, Sorel que a define como o mito necessário para a transformação da sociedade burguesa desigual numa sociedadeigualitária de base popular, Sartre que a considera como um fenômeno inevitável no universo da escassez e das necessidades sociais. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). Caráter racional e instrumental da violência, que constituiria um meio para atingir fins específicos. Tenta explicar como atores excluídos do campo político utilizam a violência para conseguir se manter no palco do 11 poder. Consideram a pessoa violenta como um ser consciente que atua no campo de interações. Apresenta como exemplos Engels, que valorizava a violência como um acelerador do desenvolvimento econômico, e Hannah Arendt que a considera como um meio e um instrumento para a conquista do poder, e ressalta que só existe violência quando há incapacidade de argumentação e de convencimento. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). Forte articulação entre violência e cultura. Recorre a Norbert Elias que em sua obra tem como fio condutor o papel civilizatório da modernidade que criou mecanismos de institucionalização e de solução de conflitos, levando os indivíduos a dominar sua agressividade e suas pulsões violentas, Freud que apresenta várias interpretações da violência no mesmo sentindo, em diferentes etapas de seu pensamento. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). No Brasil o foco sobre a área da violência vem do impacto que ela apresenta na vida da população, bem como por extensão, no setor da saúde. Ela é um risco para o processo vital dos seres humanos, pois, ameaça à vida, altera a saúde, produz enfermidades, ocasionando muitas vezes até a morte. (MINAYO, 2004 apud SILVA H; 2007). Por ser um fenômeno sócio-histórico, a violência não é, em si, uma questão de saúde pública e nem um problema médico típico. Mas afeta fortemente a saúde: 1) provoca morte, lesões e traumas físicos e um sem-número de agravos mentais, emocionais e espirituais; 2) diminui a qualidade de vida das pessoas e das coletividades; 3) exige uma readequação da organização tradicional dos serviços de saúde; 4) coloca novos problemas para o atendimento médico preventivo ou curativo e 5) evidencia a necessidade de uma atuação muito mais específica, interdisciplinar, multiprofissional, intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos cidadãos. Nos últimos anos, o setor saúde introduziu o tema em sua pauta, consciente de que pode contribuir para sua discussão e prevenção. (MINAYO, 2006, p. 45 apud SILVA H; 2007). Conforme Veronese (2006 apud SILVA H; 2007) a violência é abuso da força, usar de violência é agir sobre alguém ou fazê-lo agir contra a sua vontade, empregando a força ou a intimidação. É forçar, obrigar. É também brutalidade, sevícia, maus-tratos, cólera e fúria. De acordo com Silva (2005 apud SILVA H; 2007) para se discutir sobre violência é importante que esta seja considerada mais que um fenômeno prejudicial, deve ser cuidadosamente investigada e discutida em todas as 12 suas facetas, haja vista, ser esta um fenômeno social que se constitui e é constituído por diversas causas, podendo levar também a consequências diversas e graves. A violência pode ser gerada por muitos fatores e a cada novo estudo, novas possibilidades de geração da violência são apontadas. Em todas as suas manifestações é hoje, um dos principais problemas que estamos enfrentando. “Deixou de ser um fato exclusivamente policial para ser um problema social que afeta a sociedade como um todo. (...) A sociedade está com medo, está aterrorizada frente à falta de perspectivas e soluções para o aumento desenfreado da violência”. (BAIERL e ALMENDRA, 2002, p. 59 apud SILVA H; 2007). Buscando uma compreensão deste fenômeno a partir da visão do Serviço Social nos remetemos ao Assistente Social Vicente de Paula Faleiros, que vem trazendo estudos significativos em relação a violência. Para o autor a violência é um processo social relacional complexo e diverso. É um processo relacional, pois deve ser entendido na estruturação da própria sociedade e das relações interpessoais, institucionais e familiares. (FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). A sociedade se estrutura nas relações de acumulação econômica e de poder, nas contradições entre grupos e classes dominantes e dominados bem como por poderes de sexo, gênero, etnias, simbólicos, culturais, institucionais, profissionais e efetivos. A relação de poder, assim, é complexa, por envolver tanto o contexto social mais geral como as relações particulares que devem ser tecidas junto, numa perspectiva histórica e dinâmica. É um processo diversificado em suas manifestações: familiares, individuais, coletivas, no campo e na cidade, entre os diferentes grupos e segmentos, e atinge tanto o corpo como a psique das pessoas. (...) A conflitualidade é fundante da existência social, na esfera da dinâmica social e familiar, e mesmo a existência do sujeito dividido entre o desejo e as normas sociais de proibição da realização do desejo. (FALEIROS, 2007, p. 27 apud SILVA H; 2007). O impacto da violência é tanto o de produzir a desigualdade como provocar uma dinâmica de enfrentamentos. A violência, de acordo com o autor, é entendida na estrutura social dos conflitos, nas relações complexas de poder, na correlação de forças gerais e particulares. É entendida como uma relação desigual de poder, implicando a negação do outro, da diferença, da tolerância e das oportunidades. Como conseguinte, traduz-se em prejuízo, dano ou sofrimento e infringe o pacto social de convivência, de garantia de direitos e de modo civilizatório fundado nos direitos humanos. (FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). 13 Apresenta como sinônimos de violência: desarmonia, desconformidade, desequilíbrio, desigualdade, desproporção, desunidade, diferença, discordância, discrepância, disparidade, dessemelhança, dessimetria, dissimilitude, inconformidade. Amplia seus estudos introduzindo como componente o medo, que por sua vez, faz com que as testemunhas e as vítimas não denunciem os agressores, ameaçados por eles com o uso de mais violência. O medo, como a outra face da violência, envolve a subjetividade, o imaginário, a precaução, o retraimento e a defesa. (FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). Schmickler (1997 apud SILVA H; 2007) também vem fazendo estudos significativos na área do Serviço Social sobre a violência. De acordo com a autora, a história nos mostra que as manifestações de violência tiveram características peculiares em cada época, em que formas mais bárbaras e cruéis conviviam com as suas formas mais sutis. Ainda, segundo a autora, estudos de diferentes áreas mostram que a violência que ocorre nos centros urbanos e no ambiente familiar é potencializada por vários fatores de ordem social como a pobreza, o desemprego, a exclusão social, o consumo e tráfico de drogas, o alcoolismo, as aglomerações urbanas, etc. (SCHMICKLER, 1997 apud SILVA H; 2007). A violência de que é palco a urbes surpreende-nos e nos assusta a cada dia. Ela tem seus lócus no espaço urbano, mas também está presente nos lares e nas formas mais sutis como as humilhações, a exclusão social, os preconceitos, o desrespeito às minorias, o cerceamento das formas de expressão... (SCHMICKLER, 1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). A violência de que somos sujeitos e objetos faz parte das nossas vidas como os comportamentos e os gestos mais simples. Não é sem motivo que o mundo, hoje, vive as consequências de um processo em que o uso indiscriminado do poder e o desrespeito à vida contribuem para montar um cenário de grandes injustiças, de desigualdades, de desrespeito às diferenças. O homem parece mesmo ser o lobo do homem. (SCHMICKLER, 1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). Essas definições apresentadas a partir de alguns autores selecionados e que abordam o tema violência, permitem a reflexão e o reconhecimento de que tal fenômeno aparece nos diferentes espaços estruturais da vida em sociedade. É a partir da análise dessesdiversos autores de diferentes áreas que entende-se que a violência, pela sua natureza complexa, envolve as pessoas na sua totalidade biopsíquica e social, de forma dinâmica. Cada vez mais sente-se a necessidade de 14 incluir a compreensão mais específica dos fatores e contextos que propiciam comportamentos, ações e processos violentos, conforme SILVA H; (2007). É fato observado que existem na realidade histórica, sociedades mais violentas que outras, sejam quais forem os tipos de manifestações do fenômeno. É fruto de inúmeras observações e pesquisas e deve ser sempre analisada como um fenômeno que faz parte de processos históricos complexos. Sempre existirão elementos gerais e específicos na forma de apresentação e reprodução desse fenômeno. Por fim, a violência se realiza como parte da história humana e social, seja qual for sua especificidade, conforme SILVA H; (2007). Por que o homem é violento? Que motivações o levam a exceder os limites? Em que circunstâncias a violência acontece? Quais são as determinações que levam o homem à violência? Notificar os casos de violência? Tornar públicas as ocorrências? (SCHMICKLER, 1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). Essas questões estão nos debates de profissionais de diferentes áreas: assistentes sociais, advogados, psicólogos, sociólogos, filósofos, médicos, entre outros. Constata-se que todas as pessoas são vulneráveis a este risco, porém as mais vulneráveis como as mulheres, crianças, adolescentes e idosos são os principais alvos e apresentam características distintas, conforme SILVA H; 2007. 2.1 A Violência no Brasil O Brasil é um país com a maior miscigenação da América e quiçá do mundo, em virtude de que a sua colonização, teve a sua formação com descendências de vários povos, que vieram em busca de um mundo novo; outros já habitavam o país e há aqueles que foram trazidos à força. Segundo Camargo (2005 apud OLIVEIRA V; 2014), ‘’ os primeiros a chegarem ao Brasil foram aqueles que tinham sido excluídos de sua sociedade, os condenados, perseguidos, judeus convertidos ao cristianismo, pessoas sem família e sem posses, enfim, quem não tinha mais nada a perder’’. É lamentável que a história do Brasil esteja marcada pela violência contra os mais fracos. Por isso ainda reflete o extermínio. Ela se iniciou com o massacre de índios, com a exploração da mulher pelo homem, com a escravidão dos negros. Esta história que não é tão antiga está presente até hoje na sociedade, conforme OLIVEIRA V; (2014). 15 A violência está presente de tal modo, em cada um dos passos e gestos do homem atual que não se pode deixar de indagar se ela é um fenômeno continuo na vida do homem. Há mais de duas décadas atrás Odalia (1986 apud OLIVEIRA V; 2014) já dizia que: ‘’ a violência, no mundo de hoje, parece tão clara em nosso dia-a- dia que pensar e agir em função dela deixou de ser um ato circunstancial, para se transformar numa forma do modo de ver e de viver o mundo do homem’’. Logo, pode- se dizer que a violência está na mente dos homens, do apego a tudo que dá prazer, a rejeição a tudo que ameaça, quer seja pessoa, coisa ou ideia. Odalia (1986 apud OLIVEIRA V; 2014) prossegue ainda dizendo que a violência está de tal modo arraigada em cada um dos passos e gestos do homem moderno que não se pode deixar de indagar se ela é um fenômeno típico de nossa época; se é um traço essencial que individualiza nosso tempo. Isto é, será a violência, em nossos dias, um elemento estrutural que permite diferençar nosso estilo de vida, nossas condições de viver em sociedade, daquelas que viviam há cem, duzentos ou trezentos anos atrás? Resuma-se a questão: a violência hoje é um modo de ser do homem contemporâneo? (ODALIA. 1986, p.12-3). Embora possa ser verdade que violência, seja uma das características da vida do homem contemporâneo, não se pode negar que ela acompanha os passos do homem, tida como condições básica da sobrevivência, conforme OLIVEIRA V; (2014). 2.2 Tipologia da violência Em sua resolução WHA49.25 de 1996, em que declarava a violência como um importante problema de saúde pública, a Assembléia Mundial da Saúde convocou a OMS para desenvolver uma tipologia da violência que caracterizasse os diferentes tipos de violência e os elos que os conectavam. Há poucas tipologias existentes, e nenhuma é muito abrangente, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). De acordo com DAHLBERG L; et al., (2006), a tipologia aqui proposta divide a violência em três amplas categorias, segundo as características daqueles que cometem o ato violento: Violência autodirigida, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). Violência interpessoal, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). Violência coletiva, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 16 A categorização inicial estabelece uma diferença entre a violência que uma pessoa inflige a si mesma, a violência infligida por outro indivíduo ou por um pequeno grupo de indivíduos e a violência infligida por grupos maiores, como estados, grupos políticos organizados, grupos de milícia e organizações terroristas, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). De acordo com DAHLBERG L; et al., (2006), estas três categorias amplas são ainda subdivididas, a fim de melhor refletir tipos mais específicos de violência: Violência auto-infligida é subdividida em comportamento suicida e agressão auto-infligida. O primeiro inclui pensamentos suicidas, tentativas de suicídio – também chamadas em alguns países de "para- suicídios" ou "auto-injúrias deliberadas" – e suicídios propriamente ditos. A autoagressão inclui atos como a automutilação, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). Violência interpessoal divide-se em duas subcategorias: 1) violência de família e de parceiros íntimos – isto é, violência principalmente entre membros da família ou entre parceiros íntimos, que ocorre usualmente nos lares; 2) violência na comunidade – violência entre indivíduos sem relação pessoal, que podem ou não se conhecerem. Geralmente ocorre fora dos lares. O primeiro grupo inclui formas de violência tais como abuso infantil, violência entre parceiros íntimos e maus-tratos de idosos. O segundo grupo inclui violência da juventude, atos variados de violência, estupro ou ataque sexual por desconhecidos e violência em instituições como escolas, locais de trabalho, prisões e asilos, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). Violência coletiva acha-se subdividida em violência social, política e econômica. Diferentemente das outras duas grandes categorias, as subcategorias da violência coletiva sugerem possíveis motivos para a violência cometida por grandes grupos ou por países. A violência coletiva cometida com o fim de realizar um plano específico de ação social inclui, por exemplo, crimes carregados de ódio, praticados por grupos organizados, atos terroristas e violência de hordas. A violência política inclui a guerra e conflitos violentos a ela relacionados, violência do estado e atos semelhantes praticados por grandes grupos. A 17 violência econômica inclui ataques de grandes grupos motivados pelo lucro econômico, tais como ataques realizados com o propósito de desintegrar a atividade econômica, impedindo o acesso aos serviços essenciais, ou criando divisão e fragmentação econômica. É certo que os atos praticados por grandes grupos podem ter motivação múltipla, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Fonte: bemquerermulher.org.br A violência é um fenômeno histórico e social, que apresenta diferentes conteúdos e formas nas diversas sociedades, de acordo com a variação de valores culturais que influenciam os juízos éticos de cada uma delas. As diferenças culturais dificultam a conceituação da violência, todavia certos aspectos que a envolve são mantidos, nas diversas sociedades e culturas, permitindo sua caracterização (LUCENA et al., 2012 apud FREITAS R;2015). A violência doméstica é caracterizada como todo o tipo de violência que inclui membros do grupo, sem função parental, e que residam no espaço doméstico, sendo incluídas também pessoas que não convivam constantemente no mesmo ambiente (NARVAZ; KOLLER, 2006 apud FREITAS R; 2015). 18 Quando se fala em violência doméstica, a mulher é sem dúvida a principal vítima que nos vem em pensamento. Segundo Fonseca; Ribeiro; Leal (2012 apud FREITAS R; 2015), a violência contra a mulher é todo ato criminal praticado por motivos de gênero, dirigido contra uma mulher. E segundo dados da literatura, alguns estudiosos concordam que esse tipo de violência sempre existiu na sociedade, e que está associada a vários fatores, principalmente a questões de gênero. É definido ainda como qualquer ato de violência de gênero que tenha como resultado ou venha a resultar em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a mulher, até mesmo ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade, quer seja em público ou na vida privada (CAVALCANTI et al., 2014 apud FREITAS R; 2015). Em todo mundo, pelo menos uma em cada três mulheres já foi vítima de violência doméstica. Na maioria dos casos, a mulher é espancada, coagida ao sexo ou sofreu alguma outra forma de abuso durante a vida. O agressor, normalmente é um membro de sua própria família (na maioria dos casos seu próprio parceiro). A violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos humanos no mundo e, infelizmente, o menos reconhecido (DAY et al., 2003 apud FREITAS R; 2015). Logo, na sua forma mais peculiar, a violência doméstica é expressa como o desejo que um indivíduo tem em querer controlar e dominar o outro, numa clara manifestação de poder. Quando acarreta a violência, é porque houve um esgotamento do diálogo entre os parceiros, ou seja, teve fim a interação saudável e do respeito entre os cônjuges, de forma que envolve atos repetitivos, e que vão se agravando com frequência e intensidade, conforme FREITAS R; (2015). Podendo estes fatos resultar em danos físicos e emocionais permanentes, tanto para a vítima quanto para seus filhos. Onde tanto a vítima quanto o agressor apresentam imensas dificuldades em expressar seus sentimentos de maneira amorosa, o que resulta em conflito por meio da agressão física, verbal ou psicológica (FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, 2006 apud FREITAS R; 2015). 19 3.1 Consequências físicas e psicológicas da violência doméstica para a saúde da mulher A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento com os gastos neste âmbito (GROSSI, 1996 apud FONSECA P; et al., 2006). Cada tipo de violência gera, segundo Kashani e Allan (1998 apud FONSECA P; et al., 2006), prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, como as inflamações, contusões, hematomas, ou crônicas, deixando sequelas para toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de deficiências físicas, entre outras. Os sintomas psicológicos frequentemente encontrados em vítimas de violência doméstica são: insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998 apud FONSECA P; et al., 2006). Objetivando compreender a interface entre tais aspectos teóricos e sua realidade no âmbito social, iniciou-se uma pesquisa, caracterizada pela realização de 25 entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica, de faixa etária entre 18 e 55 anos. Quanto à escolaridade destas mulheres, 84% não chegaram a concluir o Ensino Médio. No tocante à situação conjugal, 72% já estavam separadas de seus parceiros no momento da pesquisa, conforme FONSECA P; et al., (2006). Um percentual de 96% das entrevistadas relatou sofrer algum tipo de consequência decorrente da situação de violência. Dentre estas, o aumento da pressão arterial, dores no corpo, principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir, foram os sintomas físicos mais relatados, correspondendo a um total de 66,6%. Em alguns casos, a presença de algum, ou até mais de um, desses sintomas contribuiu para a procura de acompanhamento médico, conforme FONSECA P; et al., (2006). 20 Um grande número de mulheres, que corresponde a um total de 41,6%, relatou como principal consequência psicológica decorrente da violência sofrida, o sentimento de tristeza, que influencia no cumprimento de suas atividades. Muitas afirmaram sentir menos vontade de exercer seus afazeres diários, desejo de chorar frequentemente, além de querer consumir bebidas alcoólicas mais do que o habitual, conforme FONSECA P; et al., (2006). Estados de ansiedade, estresse e agressividade também foram mencionados por 16,6% das entrevistadas, que admitiram estar mais nervosas e impacientes com amigos, familiares e até mesmo com os filhos. A insegurança foi uma característica encontrada nas falas de 12,5% das vítimas, uma vez que sentiam-se indefesas e acuadas, em função de não terem a quem recorrer para obter um apoio nesta situação, conforme FONSECA P; et al., (2006). A violência psicológica compromete a saúde mental, ao interferir na crença que a mulher possui sobre sua competência, isto é, sobre a habilidade de utilizar adequadamente seus recursos para o cumprimento das tarefas relevantes em sua vida. A mulher pode apresentar distúrbios na habilidade de se comunicar com os outros, de reconhecer e comprometer-se, de forma realista, com os desafios encontrados, além de desenvolver sentimento de insegurança concernente às decisões a serem tomadas. Ocorrências expressivas de alterações psíquicas podem surgir em função do trauma, entre elas, o estado de choque, que ocorre imediatamente após a agressão, permanecendo por várias horas ou dias (BRASIL, 2001 apud FONSECA P; et al., 2006). Para tentar suportar essa realidade, a mulher precisa abdicar não somente de seus sentimentos, mas também de sua vontade. Com isso, ela passa a desenvolver uma autopercepção de incapacidade, inutilidade e baixa autoestima pela perda da valorização de si mesma e do amor próprio (MILLER, 1999 apud FONSECA P; et al., 2006). Viver em um estado de constante medo foi uma experiência relatada por 12,5% das mulheres entrevistadas, que, constantemente, imaginam o momento em que seu parceiro poderá voltar a agredi-la, deixando, até mesmo, de desfrutar de seus instantes de lazer, como sair com amigos e receber familiares, pois tudo isto pode soar como provocação e consequente retorno às agressões, conforme FONSECA P; et al., (2006). 21 3.2 O papel do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica A mulher que convive ou já conviveu, durante algum tempo, com a violência perpetrada pelo parceiro, geralmente, tem um comprometimento psicológico, como a dificuldade de mudar sua realidade, uma vez que “a pessoa sob jugo não é mais senhora de seus pensamentos, está literalmente invadida pelo psiquismo do parceiro e não tem mais um espaço mental próprio” (HIRIGOYEN, 2006, p. 182 apud MONTEIRO F; 2012). Por esta razão ela necessita de uma ajuda externa que a auxilie a criar mecanismos para mudar sua realidade e superar as sequelas deixadas pelo processo de submissão às situações de violência. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). O psicólogo,independente, da abordagem ou método escolhido para realizar esse tipo de atendimento, deverá primeiramente criar um “rapport” e um vínculo terapêutico com a vítima, fazendo com que ela se sinta num ambiente seguro e confiável, pois, somente desta forma, ela conseguirá compartilhar as experiências vividas que lhe causaram sofrimento. (SOARES, 2005; PIMENTEL, 2011 apud MONTEIRO F; 2012). Outro objetivo do atendimento psicológico às vítimas é fazer com que elas resgatem sua condição de sujeito, bem como sua autoestima, seus desejos e vontades, que ficaram encobertos e anulados durante todo o período em que conviveram em uma relação marcada pela violência. Desta forma, elas poderão ter coragem para sair da relação que, durante muito tempo, tirou delas a condição de ser humano, tornando-as alienadas de si mesmas, conforme MONTEIRO F; (2012). Este é um processo que continua ativo durante um longo período no psiquismo da mulher, mesmo que ela já tenha colocado um ponto final na relação. Pois, no período em que sofreu as violências, o parceiro a desqualificava de todas as formas, através da violência psicológica e moral. (HIRIGOYEN, 2006; SOARES, 2005 apud MONTEIRO F; 2012). A introjeção das mensagens impostas pelo seu agressor fez com que sua autoestima se tornasse cada vez menor, fazendo-a se sentir cada vez mais como um objeto, deixando de ser um sujeito dotado de vontades e saberes (HIRIGOYEN, 2006; SOARES, 2005 apud MONTEIRO F; 2012). De acordo com Bastos (2009 apud MONTEIRO F; 2012) a escuta do terapeuta quando feita de forma adequada e ativa, 22 é um fator de facilitação da autoexpressão da pessoa em atendimento psicológico, mas escutar não é o mesmo que ouvir. Quando a pessoa diz estar ouvindo algo, isto se remete, ao próprio fato de estar conseguindo a partir do seu aparelho auditivo assimilar sons. Quando se fala em escuta, fala-se mais do que simplesmente ouvir. A escuta é quando, além de ouvir, nós prestamos atenção naquilo que está sendo dito, esta é uma atenção flutuante, ou seja, que não se prende a um determinado ponto da fala do outro, mas sim, no todo do que está sendo dito. A escuta ativa prende a atenção do profissional que o faz prestar mais atenção e curiosidade sobre o que está por vir na fala do sujeito. Quando se utiliza a escuta ativa o psicólogo pode fazer intervenções inesperadas, que faça com que o sujeito pense de forma diferente da que havia pensado até então, conforme MONTEIRO F; (2012). No trabalho feito com as mulheres vítimas de violência é fundamental que o psicólogo faça uma escuta ativa. “É preciso ajudá-las a verbalizar, a compreender sua experiência e, então, levá-las a criticar essa experiência” (p. 183). Pois, a partir da compreensão e da ampliação da consciência de suas experiências, a mulher conseguirá se proteger da violência, bem como resgatar sua identidade. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). É necessário que o profissional tenha paciência e saiba ou aprenda a lidar com a frustração. Se ele possui um papel muito ativo na psicoterapia, querendo que a mulher elabore e realize mudanças, a seu modo e seu tempo, poderá encontrar dificuldades para conduzir o tratamento e, inclusive, fazer que com que a mulher se sinta pressionada a ponto de desistir do processo terapêutico, conforme MONTEIRO F; (2012). O ritmo do trabalho feito com mulheres vítimas de violência, muitas vezes, é mais lento, e marcado por altos e baixos. As mulheres, mesmo durante o tratamento, podem vir a reatar o relacionamento com o agressor. Neste momento, o psicólogo deverá tomar cuidado para não julgar esta decisão a seu próprio modo. É um trabalho que exige do profissional muita paciência, pois a mulher precisa mudar sua visão a respeito de fenômenos, que foram naturalizados por ela. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Segundo Hirigoyen (2006 apud MONTEIRO F; 2012), existem algumas etapas que devem ser seguidas no processo terapêutico com mulheres que já foram ou são vítimas de violência doméstica. O primeiro passo da psicoterapia é fazer com que a mulher enxergue a violência sofrida tal qual ela é. Muitas mulheres possuem dificuldades para perceber que se 23 encontram numa relação perpetuada pela violência. Até pelo fato de já terem tomado a violência sofrida como algo natural, principalmente, quando se trata da violência psicológica, que ocorre de forma mais sutil o que dificulta sua identificação. A partir do momento em que a mulher reconhece a violência sofrida, que este tipo de comportamento é abusivo e traz sofrimentos para sua pessoa ela terá capacidade de mobilizar recursos para sair dessa situação. A mulher que foi vítima de violência, em muitos casos, é transformada em abjeto pelo seu companheiro e depois por ela mesma que aceita e introjeta de forma passiva aquilo que o homem diz a seu respeito. O psicólogo fará o papel de auxiliar a mulher a perceber que ela experienciou uma situação de violência praticada pelo seu companheiro ou ex-companheiro, mas que a culpa não foi dela. Muitas mulheres justificam a ação praticada pelo homem culpando-se ou atribuindo a causa da violência a fatores externos a ele. Contudo, isto é um dos objetivos dos homens violentos. Eles negam a responsabilidade pelo ato agressivo e tentam de todas as formas fazer com que a mulher acredite que a culpa foi dela. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Muitas vítimas possuem dificuldade para reconhecer a violência como algo fora do padrão normal de relacionamento. Muitas se perguntam se a atitude do parceiro foi uma violência ou não. Uma das intervenções que o psicólogo poderia fazer seria questionar a pergunta da vítima, a fim de fazer com que ela mesma pense e chegue a sua conclusão. Uma boa pergunta seria: “Se você fizesse a mesma coisa, como é que seu cônjuge reagiria? ”. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). A psicoterapia se diferencia do atendimento psicossocial em grupo ou individual, pois, na psicoterapia, o principal objetivo é ampliar a consciência da significação dada pela vítima às agressões do parceiro, do processo de negação e repressão de experiências, que podem acirrar o sofrimento e o conflito com o outro. Já na intervenção psicossocial o objetivo é empoderar a vítima para transformar ou sair da situação de violência, descobrindo formas de lutar pelos seus direitos, realizar seus desejos e objetivos de vida. (TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud MONTEIRO F; 2012). Na psicoterapia, o psicólogo precisa adotar uma postura ativa e mostrar para a mulher de maneira clara, que as atitudes aparentemente normais do parceiro, que lhe causaram algum tipo de vergonha, ou insegurança, ne verdade são de caráter violento. (TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud MONTEIRO F; 2012). 24 Nesse contexto, o psicólogo não deve adotar uma postura neutra, pois as mulheres vítimas de violência buscam apoio e assistência. O terapeuta pode intervir solicitando ao paciente que nomeie aquilo que é agressivo para ele e fale como se sente diante de um comportamento agressivo, sem negar suas emoções, pois, assim, o paciente consegue sair do bloqueio emocional. Esta intervenção auxilia o paciente a dar nome à violência sofrida, bem como, a reconhecer suas emoções que durante muitos anos foram negadas e reprimidas. Auxilia no processo de construção do sujeito, como ser no mundo. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Outra etapa do processo terapêutico é fazer com que a mulher não se sinta responsável ou culpada pela violência sofrida. Pois o parceiro, utilizando-se de vários tipos de manipulação, a fez acreditar que a culpa é dela. Na psicoterapia o caminho é fazer com que a pessoa se sinta responsável pelo próprio destino. No atendimento à vítima, o trabalho também será feito desta forma, evidenciando as possibilidades de mudança que a pessoa vitimada pode fazer em relaçãoao agressor e isso só depende dela. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Na psicoterapia, o objetivo é trabalhar para que as vítimas se sintam livres de uma culpa que não é delas. Para que isso seja feito, a vítima deve saber que quando se encontra numa relação de violência a dificuldade de reagir é maior, porque ela se encontra sob influência e manipulação do outro, o que impede a percepção da realidade tal como ela é. Quando a mulher consegue enxergar que ela não é culpada, que na verdade é vítima e quem deve se responsabilizar pela relação violenta é o parceiro, as soluções começam a aparecer. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). No entanto, a atuação do psicólogo deve ter esse formato quando a relação conjugal violenta é assimétrica. Isto é, o homem assume, visivelmente, o papel de dominador e a mulher de dominada. Nesse papel, a mulher se sente frágil e impotente diante de seu agressor, submetendo-se a este e introjetando a culpa que é dele. Nesse contexto, a mulher vivencia uma situação de impasse, pois embora esteja sofrendo na relação, a possibilidade de separação também é insuportável, devido ao sentimento de incapacidade para reconstruir sua vida sem o parceiro, conforme MONTEIRO F; (2012) 25 Na violência conjugal assimétrica, a vítima, geralmente, mantém uma relação de co-dependência em relação ao agressor, tornando-se indispensável o resgate da autoestima, autoconfiança e autonomia através de um processo de conscientização de si mesma, de suas necessidades, desejos, potencialidades e capacidade para transformar sua vida e promover sua autorrealização independente do outro. (TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud MONTEIRO F; 2012). No contexto da violência a mulher possui uma autoestima baixa, não acredita em si mesma, pois aprendeu durante anos a ser submissa, sem autonomia para tomar decisões e fazer escolhas por conta própria. É esse o fenômeno do assujeitamento que deverá ser trabalhado na psicoterapia. Uma das possibilidades de realizar esse trabalho é pedir para que ela faça listas contendo seus pontos positivos e suas conquistas diante da vida. Desta forma, ela perceberá que é capaz de alcançar novos objetivos, terá possibilidades de pensar em novos sonhos e metas para sua vida. É um processo de libertação, de reconquista e reconhecimento. A pessoa consegue superar o sofrimento psíquico quando possui uma boa autoimagem, quando tiveram na infância boas experiências afetivas, produzindo o sentimento de segurança e confiança em si mesma. Para conseguir mudar sua história a mulher precisa, primeiramente, aceitar a história que construiu até o momento. É a partir da aceitação de si mesma e da sua história que ocorrem as possibilidades de mudança subjetiva. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Outro aspecto importante a ser trabalhado durante o processo terapêutico é aprender a estabelecer limites. Em um relacionamento marcado pela violência, onde o homem exerce seu poder e dominação sobre a mulher, esta fica impossibilitada de reagir e colocar seus limites. Portanto, uma etapa importante do processo é ensinar a mulher a impor suas vontades. Quando a mulher demarca seus limites de forma clara, o parceiro os compreende e percebe que não pode ultrapassá-los, conforme MONTEIRO F; (2012). Na terapia, isso não acontece do dia para a noite, é um processo longo, no qual as mudanças podem ser percebidas aos poucos. “Dizer eu não quero permite retomar o poder. É importante ser senhora das suas escolhas. ” (p.187). A mulher precisa reconhecer seu próprio limite para estabelecê-los. Algumas se perguntam se amam o agressor o suficiente. Contudo, a questão não é o amor. A questão é se apesar do amor, o relacionamento nos faz bem. Se amamos algo que para nossa 26 saúde física, psíquica e mental nos é destrutivo, qual caminho devemos escolher? (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). Quando a mulher se encontra num processo de psicoterapia ela começa a recuperar sua capacidade crítica sobre as coisas que são boas ou ruins para ela. Percebem quando começa a ocorrer uma violência e quando o homem é violento e percebe também que estes comportamentos do homem servem para esconder seus próprios medos e fragilidades. “A submissão cessa quando a vítima se conscientiza de que, se não ceder, o outro não terá nenhum poder”. (HIRIGOYEN, 2006, p.188 apud MONTEIRO F; 2012). Trabalhado esses aspectos acima, poderá ser feito com o paciente, uma análise da sua história individual, a fim de compreender em quais momentos da sua vida ela se tornou vulnerável a este tipo de relacionamento e criar possibilidades de mudanças subjetivas. É importante analisar e compreender se existem na mulher traços de codependência emocional. Assim como uma pessoa pode torna-se dependente de substâncias entorpecentes como álcool ou drogas. A mulher pode se tornar dependente do parceiro agressor, conforme MONTEIRO F; (2012). A codependência pode ser compreendida como “uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da exposição prolongada de um indivíduo a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas que evitam a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais”. É importante compreender se a mulher possui características co-dependentes porque quando se descobre o problema é possível encontrar uma solução, bem como direcionar o tratamento da psicoterapia. (BEATTIE, 1992 apud MONTEIRO F; 2012). Muitos desses procedimentos também são aplicados no atendimento psicossocial individual e de grupo, a diferença é que nesse tipo de atendimento as questões emocionais ligadas a situações mal resolvidas no passado e os mecanismos de defesa que dificultam a consciência dos motivos que a fazem permanecer na relação violenta não são trabalhados, como acontece no atendimento psicoterápico individual, conforme MONTEIRO F; (2012). 27 No acompanhamento psicológico com a mulher, vítima de violência doméstica, o psicólogo deve ajudá-la a transformar sua autoimagem e a resgatar sua autoestima, que durante a relação violenta pode ter sido minada com sentimentos de menos valia, impotência, incapacidade, culpa e insegurança, conforme MONTEIRO F; (2012). Outra questão importante que o psicólogo deve trabalhar com a vítima é a ampliação da consciência, para que ela perceba os motivos que a fazem continuar na relação, que a fazem permanecer fixada no algoz. O profissional deve ajudá-la a identificar quais são as perdas e os ganhos que ela tem ao continuar fixada na relação. Outro aspecto importante a ser trabalhado é auxiliar a vítima a mobilizar energia, para sair da situação de submissão e do papel de dominada no qual se encontra. Para isso a vítima precisa mudar sua postura diante do agressor ou reconstruir sua vida longe dele. (TENÓRIO, 2012 apud MONTEIRO F; 2012). 3.3 Importância do atendimento psicológico O psicólogo, é de fato um profissional muito importante para o atendimento psicológico desta mulher vítima de violência doméstica e independente de qual abordagem ou procedimento usará para seu atendimento, é necessário inicialmente criar uma interação terapêutica com a vítima, fazendo com que a mesma sinta-se segura e confiável, como sendo uma forma de ponto de partida para fazer com que a vítima consiga entender quais as experiências vividas que lhe ocasionaram sofrimento (SOARES, 2005; PIMENTEL, 2011apud SANTOS e OLIVEIRA, 2018, p.06 apud SIMIANO R; et al., 2018). Assim, Hirigoyen (2006 apud SIMIANO R; et al., 2018) e Monteiro (2012 apud SIMIANO R; et al., 2018) reafirmam que diante das consequências da violência doméstica a mulher pode necessitar do auxílio do psicólogo para criar estratégias psicológicas que lhe permitam superar as implicações da violência vivida, alterar sua realidade, e resgatarsua condição de sujeito com desejos e vontades. Desta forma, através da escuta ativa há a possibilidade de a mulher vítima de violência doméstica, em atendimento psicológico, refletir de diferentes formas, para que a partir de um olhar crítico da experiência, consiga se proteger do fenômeno da violência e resgatar sua autonomia e identidade. 28 De fato, é um trabalho considerando lento pelo fato de a mulher necessitar modificar a ideia do que até então era natural. É aí que entra o psicólogo, atuando no papel de acolhimento e orientação, para que a mulher perceba que foi violentada e que tenha o reconhecimento de que a culpa não deve ser atribuída a si própria e tão pouco os motivos externos que levou o agressor praticar o ato, a fim de que a mesma crie recursos para sair de tal situação (HIRIGOYEN, 2006, p.185 apud SIMIANO R; et al., 2018). O ritmo do trabalho feito com mulheres vítimas de violência, muitas vezes, é mais lento, e marcado por altos e baixos. As mulheres, mesmo durante o tratamento, podem vir a reatar o relacionamento com o agressor. Neste momento, o psicólogo deverá tomar cuidado para não julgar esta decisão a seu próprio modo. É um trabalho que exige do profissional muita paciência, pois a mulher precisa mudar sua visão a respeito de fenômenos que foram naturalizados por ela (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO 2012, p.22 apud SIMIANO R; et al., 2018). Na psicoterapia é possível ampliar a consciência da vítima quanto às violências perpetradas pelo agressor, tanto no processo de negação quanto na contenção de experiências. E, ainda trabalhar com estratégias que possibilitem o empoderamento da vítima a fim de modificar ou sair da situação de violência, descobrindo as formas de lutar pelos seus direitos e desejos de vida (TENÓRIO, 2012 apud MONTEIRO 2012, p.23). Logo, também é de fundamental importância que o profissional faça uma escuta ativa. Segundo Hirigoyen (2006, p. 183 p.23 apud SIMIANO R; et al., 2018) “é preciso ajudá-las a verbalizar, a compreender sua experiência e, então, levá-las a criticar essa experiência”. Pois, a partir da compreensão e da ampliação da consciência de suas experiências, a mulher conseguirá se proteger, bem como resgatar sua identidade. [...] A escuta ativa prende a atenção do profissional que o faz prestar mais atenção e curiosidade sobre o que está por vir na fala do sujeito. Quando se utiliza a escuta ativa o psicólogo pode fazer intervenções inesperadas, que faça com que o sujeito pense de forma diferente da que havia pensado até então (BASTOS, 2009 apud MONTEIRO 2012, p.22, p.23 apud SIMIANO R; et al., 2018). 29 Por fim, de fato é necessário citar que na intervenção profissional dos casos de violência doméstica, o psicólogo apresenta um atendimento vinculado à intervenção da justiça. “[...] é preciso realizar intervenções mantendo relação com o contexto jurídico e social no qual a vítima e o autor estão inseridos criando um espaço terapêutico e estratégias de intervenção psicossocial a fim de facilitar as mudanças subjetivas” (COSTA, BRANDÃO, 2005 apud MONTEIRO 2012, p.21 apud SIMIANO R; et al., 2018). Para tanto, os atendimentos não se limitam em apenas atendimento privado, sendo realizado em um ambiente diferenciado, com intervenção tanto individual quanto em grupos de modo socioeducativos. Logo, como o atendimento é realizado torna-se um trabalho multidisciplinar em conjunto com a justiça (COSTA & BRANDÃO, 2005 apud MONTEIRO, 2012, p.21 apud SIMIANO R; et al., 2018). 4 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Fonte: streetleastwestfeel.live 30 A violência sexual é uma das mais graves violações aos direitos humanos de crianças e adolescentes. Essa forma de violência é multideterminada e suas raízes são históricas, sociais e culturais, baseadas sempre em uma relação desigual e de poder. As consequências dessa violação de direito trazem marcas e prejuízos em diferentes contextos de suas vidas, conforme VICINGUERA B; (2019). A violência sexual de crianças e adolescentes provoca sérios danos físicos, emocionais e sociais, e seu entendimento vem sendo construído ao longo dos anos com diversos atores da comunidade nacional e internacional de proteção, promoção e defesa de direitos das crianças e dos adolescentes (MORESCHI, 2018, p. 40 apud VICINGUERA B; 2019). Para atuar na proteção de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, é imprescindível conhecer as diferentes formas de expressão dessa violação, suas características e consequências, bem como os contextos de ocorrência. O trabalho deve sempre contemplar uma atuação baseada no interesse superior dos indivíduos, sendo indispensável aos profissionais orientar suas intervenções no preceito da proteção integral e nas diretrizes do Estatuto da Criança e Adolescente, conforme VICINGUERA B; (2019). A violência contra crianças e adolescentes é um dos maiores problemas no âmbito social e da saúde enfrentados pela sociedade atualmente. Ocorre em diferentes âmbitos e manifesta-se de diversas formas, podendo ser definida como “o ato ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém) ” (Houaiss apud BALBINOTTI, 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) violência é o uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação (DAHLBERG E KRUG, 2006, p. 1167 apud MIORANZA A; et al., 2018). Conforme os mesmos autores, esta definição faz uma associação da intencionalidade com a realização do ato, independente do resultado que foi produzido. A palavra "poder", em complemento à frase "uso de força física", expande a natureza de um ato violento e amplia o conceito usual de violência, para a inclusão de atos que resultam de uma relação de poder, de acordo com MIORANZA A; et al., (2018). 31 Já para Chauí (1985 apud Araújo; apud MIORANZA A; et al., 2018), a violência é uma relação de forças que se caracteriza de um lado pela dominação e de outro pela coisificação do sujeito. O referido estudo teve como objetivo compreender o abuso sexual intrafamiliar, observando sua relação com famílias que praticam o incesto, além de tratar dos impactos que esta violência causa na vida de crianças e adolescentes. A violência intrafamiliar é considerada uma ação ou omissão por parte de algum integrante da família, mesmo que não tenha laços sanguíneos, que cause danos ao outro indivíduo (MAGALHÃES et al., 2017 apud MIORANZA A; et al., 2018). É uma forma de relação social, física, política, um problema de saúde pública, que está diretamente relacionado ao modo que o homem produz e reproduz suas condições sociais de existência, ao passo que nega valores considerados universais, como liberdade, respeito, igualdade e a própria saúde fica e mental. (ADORNO, 1988 apud FLORENTINO, 2015 apud MIORANZA A; et al., 2018). É considerada também, um fenômeno histórico que está presente no cotidiano de crianças e adolescentes de todos os segmentos e classes sociais. Por serem mais vulneráveis e dependentes, acabam sendo maiores vítimas de atos abusivos e maus- tratos, no qual os principais agressores são pessoas que deveriam zelar por sua proteção e deixá-los a salvo de qualquer ação desumana e violenta (MAGALHÃES et al., 2017 apud MIORANZA A; et al., 2018). O abuso sexual infantil intrafamiliar é apenas uma das muitas formas de violência a que uma criança/adolescente está exposta no lar e não tem distinção de raça, cor, etnia ou condição social. Acontece de modo velado e, muitas vezes, não é relatado às autoridades competentes (BALBINOTTI, 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). É um problema universal que atinge milhares de vítimasde forma silenciosa e disfarçada, de ambos os sexos e não costuma obedecer nenhuma regra como nível social e econômico por exemplo. (FLORENTINO, 2015 apud MIORANZA A; et al., 2018). 32 Conforme Saffioti e Almeida (1995 apud PENSO et al., 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018), o abuso sexual é uma forma de violência na qual o agressor propõe à vítima atividades de natureza sexual, de forma coercitiva e/ou sedutora. Há um processo de dominação física e psicológica, no qual o poder do autor do abuso é normalmente de natureza violenta e autoritária (Campos & Faleiros, 2000 apud PENSO et al., 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). Neste sentido, O abuso sexual gera problemas na saúde destas vítimas como depressão, agressividades, diversos distúrbios psicológicos, que se configura pelo exercício da força, a qual acaba sendo imposta por silenciamentos, segredos, cumplicidade e sedução (Faleiros, 2003 apud PENSO et al., 2009), podendo ocorrer desde atos em que não há o contato sexual, como o voyerismo, exibicionismo, produção de fotos, até o contato sexual propriamente dito, sem ou com penetração (CAMINHA, 2000 apud MIORANZA A; et al., 2018). Florentino (2015, p. 139 apud MIORANZA A; et al., 2018) pontua que o abuso sexual é caracterizado por qualquer ação de interesse sexual de um ou mais adultos em relação a uma criança/adolescente, podendo ocorrer tanto no âmbito intrafamiliar – relação entre pessoas que tenham laços afetivos, quanto no âmbito extrafamiliar – relação entre pessoas que não possuem parentesco. Segundo a World Health Organization – WHO (Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2002 apud DELL'AGLIO; MOURA E SANTOS, 2011), o abuso sexual é praticado por pessoas que estão em um estágio de desenvolvimento e maturidade superior ao da vítima. Esse tipo de violência é um fenômeno que ocorre através de uma dinâmica de funcionamento específica, iniciando-se de modo sutil e na medida em que o abusador conquista a confiança da vítima, os contatos sexualizados tornam- se mais íntimos (CAMINHA, 2000 apud MIORANZA A; et al., 2018). De modo geral, pode-se pensar no abuso sexual infantil como uma relação de poder desigual, uma vez que o agressor utiliza-se da confiança e dependência da criança/ adolescente, com o objetivo de apoderar-se de sua sexualidade. Já a vítima, assume uma posição submissa, sendo incapaz de compreender a natureza real desta relação no contexto de tantas outras que mantém com seus progenitores e/ou cuidadores (PENSO et al., 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). 33 Na maioria dos casos, nota-se que o abuso sexual intrafamiliar nem sempre deixa marcas físicas nas vítimas, justamente por não ocorrer mediante violência física. O agressor se utiliza da lealdade e confiança que a criança/adolescente deposita nele para cometer o abuso e garantir então, o seu silêncio (Jonzon & Lindbland, 2004 apud DELL'AGLIO E SANTOS, 2010 apud MIORANZA A; et al., 2018). Essa situação pode ser mantida em segredo por gerações, o que acaba dificultando a revelação e a busca de ajuda (Narvaz & Koller, 2004 apud DELL'AGLIO E SANTOS, 2010 apud MIORANZA A; et al., 2018). Para Dell’aglio e Santos (2010 apud MIORANZA A; et al., 2018), essa é uma das formas de violência mais preocupantes existentes no Brasil. É uma realidade complexa, com muitas particularidades e doenças psicológicas específicas, que poderão afetar a capacidade da criança em revelar a situação abusiva. Também causa grande impacto em diferentes áreas do comportamento da vítima como depressão, descontrole, anorexia, problemas de concentração, digestivos, fobias, sensação de estar sujo, entre outros. (RODRIGUES, 2014 apud MIORANZA A; et al., 2018). Estudiosos inclusive apontam que o abuso sexual infantil se constitui em uma das expressões que mais afetam as estruturas da saúde, nas questões psíquicas e emocionais na vida do sujeito (LIMA E DIOLINA, 2013 apud MIORANZA A; et al., 2018). 4.1 Entendendo os conceitos de violência, abuso e exploração sexual infantil A Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1995 define o abuso sexual infantil como um fenômeno que envolve maus tratos sofridos por crianças e adolescentes. Alguns autores definem que a expressão “abuso sexual” é entendida como sendo um sinônimo de violência sexual, mas apesar da semelhança são termos diferentes (FURNISS, 1993; LAMOUR, 1997; SOUZA; SILVA, 2002 apud SANTOS R; 2020). Para Rocha (2006), a referência à violência sexual implica no uso de força física ou psicológica, incluindo os atos praticados contra menores ou pessoas incapazes de compreender o significado de tais ações. Quando se trata “de pessoas com deficiência, que fazem parte de um grupo ainda mais vulnerável por estar mais exposta a maioria das condições de risco, tanto no âmbito familiar como no meio social. ” (FERREIRA, 2009, p. 1 apud SANTOS R; 2020). 34 O abuso sexual infantil é descrito como toda situação em que uma criança ou um adolescente é utilizado para gratificação sexual de pessoas, geralmente mais velhas. O uso do poder pela assimetria entre abusador e abusado é o que mais caracteriza essa situação. Segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), compreende-se que, o abusador se aproveita do fato de a criança ter sua sexualidade despertada para consolidar a situação de acobertamento. A criança se sente culpada por sentir prazer e isso é usado pelo abusador para conseguir o seu consentimento (ABRAPIA, 2002, n.p.1 apud SANTOS R; 2020). De acordo com Bezerra (2006, p. 7 apud SANTOS R; 2020) o abuso sexual “[...] é uma conduta sexual com a criança levada a cabo por um adulto ou por outra mais velha [...]”, ao contrário da violência sexual, que segundo Ferreira (2009, p. 9 apud SANTOS R; 2020) representa um tipo de agressão “[...] em que não há força física para obtenção do prazer sexual, ou seja, podendo ser configurado por meio de diversas ações, todas violentas em essência, mas não necessariamente fisicamente violentas”. Segundo Santos e Ippolito (2009, apud IBIAPINA; ROCHA, 2013, p. 5 apud SANTOS R; 2020) o abuso sexual “[...] é a situação em que crianças ou adolescentes utilizam ou são levadas para gratificação sexual de pessoas, geralmente mais velhas”, cuja violência que envolve poder, coação ou sedução, sendo praticada, geralmente, no contexto intrafamiliar e social das vítimas. “Não é o toque, nem a violência física e nem a falta de consentimento que vão definir o abuso sexual, mas sim a sexualidade vinculada ao desrespeito ao indivíduo e aos seus limites” (COHEN, 2000, p. 4 apud SANTOS R; 2020). Nesse sentido, o abuso sexual ocorre por meio de um ato criminoso no qual uma pessoa adulta ou com idade superior à vítima submete a criança ou o adolescente, com ou sem consentimento, para satisfazer-se, impondo a força física, ameaça ou pela sedução e charme, com palavras ou com ofertas de presentes, conforme SANTOS R; (2020). 4.2 Aspectos legais da violência sexual contra crianças e adolescentes No contexto internacional, em relação aos direitos das crianças e dos adolescentes, 196 nações signatárias da ONU realizaram uma convenção sobre à temática em 20 de novembro de 1989, cuja vigência foi em 2 de setembro de 1990, representando um instrumento basilar de direitos humanos, cujo Brasil ratificou o 35 documento em seu ordenamento jurídico um ano depois, através do Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990, reconhece-se direitos a cuidados e assistência especiais de crianças e adolescentes, conforme SANTOS R; (2020 apud SANTOS R; 2020). Reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão. [...] A criança, em virtude de sua falta de maturidade física e mental, necessita proteção e cuidados especiais,inclusive a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento (BRASIL, 1990b, n.p apud SANTOS R; 2020). Na CF de 1988, mais especificamente no art. 227, caracteriza-se que é dever “da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente [...] o direito [...] à dignidade, o respeito [...], além de colocá-los a salvo de exploração, violência, crueldade” (BRASIL, 1988). Vale frisar que, no Brasil, diferentemente da especificação da Convenção sobre os Direitos das Crianças que considera como sendo os sujeitos menores de 18 anos, de acordo com o ECA, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, em seu art. 2, caracteriza-se “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990a, n.p apud SANTOS R; 2020.). Desse modo, no que tange à violência sexual, segundo o texto normativo da Convenção sobre os Direitos das Crianças, Art. 19 - Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela (BRASIL, 1990b, n.p. apud SANTOS R; 2020). De modo complementar, a CF de 1988,em seu art. 227, Inciso VII, parágrafo 4, promulga que “a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente” (BRASIL, 1988 apud SANTOS R; 2020), tal como determina o Código Penal brasileiro, em seu Capítulo II, do art. 217 ao art. 218-C, ao caracterizar os crimes de: sedução, estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente, favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia. 36 No ECA de 1990, em seu art. 101, Inciso XI, parágrafo 2, caso seja caracterizado a violência ou o abuso sexual, expressa-se o afastamento do convívio familiar, como também no art. 130, tem-se que, “[...] verificada a hipótese de maus- tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar [...] o afastamento do agressor da moradia” (BRASIL, 1990a). O abuso sexual normalmente acontece no âmbito familiar sem o uso de força ou violência física, sendo alcançado através da confiança e do laço emocional estabelecido entre o agressor e a vítima. Num ambiente em que supostamente a criança deveria sentir-se protegida, o que torna o crime ainda mais grave, pois pode ser silenciada e perpassa gerações, conforme SANTOS R; (2020). Inclusive, compete destacar que, segundo texto normativo do ECA de 1990, em seus art. 241 a 241-E, específica sobre os crimes envolvendo registros de cenas sexuais explícitas ou pornográficas envolvendo crianças e adolescentes, bem como o art. 244-A trata dos crimes de submeter crianças e adolescentes a prostituição e exploração sexual. Segundo a ABRAPIA, a verdadeira incidência do abuso sexual é desconhecida, acreditando ser uma das condições de maior subnotificação e sub- registro: em todo o mundo estima-se que sejam 12 milhões de pessoas a cada ano que sofrem algum tipo de violência sexual desta natureza (ABRAPIA, 2002 apud SANTOS R; 2020). Durante muito tempo, as violências sexuais contra crianças e adolescentes ocorrem no Brasil e em países de todos os níveis de desenvolvimento e renda, podendo afetar crianças de todas as idades e em diferentes contextos. Meninos e meninas são vítimas de violência sexual, mas as meninas estão em maior risco. No contexto histórico social, no ato de violência sexual prevalece uma “cultura de dominação e de discriminação social, econômica, de gênero e de raça, devido a concepções autoritárias e repressoras de uma sociedade paternalista” (TONON; AGLIO, 2009, p. 4 apud SANTOS R; 2020). No Brasil, em 2002, dados levantados pela ABRAPIA indicam que: A cada minuto, uma criança é vítima de violência doméstica. Diariamente 18 mil crianças são espancadas, e pelo menos 100 morrem, 63% são abusadas sexualmente. São 6,5 milhões de casos de violência por ano, sendo que mais da metade é praticada dentro de casa. Acidentes e violência doméstica provocam 64% das mortes de crianças e adolescentes no país (ABRAPIA, 2002, n.p. apud SANTOS R; 2020). 37 A situação da violência contra criança é mais trágica ainda se considerar que, os números levantados pela ABRAPIA em 2002, não representam a totalidade dos casos de violência existentes na sociedade, pois muitos não são denunciados porque, conforme SILVA (1990 apud FERREIRA, 2009, p. 41 apud SANTOS R; 2020) “[...] a violência física é cercada por um silêncio, tendo em vista que esse assunto causa vergonha, culpa, medo e desafia os tabus culturais”. A partir desse prisma delineado dos elementos jurídicos e estatísticos da violência sexual contra crianças e adolescentes, convém ressaltar os aspectos biopsicossociais desta problemática, por representar uma demanda de saúde pública, cujas implicações podem ser percebidas em função do “processo saúde doença, pela alta prevalência e devido ao efeito deletério que causa ao indivíduo, às famílias e à sociedade. ” (SOARES et al, 2016, p. 88 apud SANTOS R; 2020). Desse modo, a violência sexual infantil pode ser caracterizada como sendo relativa a atos que envolvem contato de cunho sexualizado, inclusive sem a ocorrência de penetração genital, anal ou oral, tais como: “o exibicionismo, prática de carícias e manipulação de genitália, mama ou ânus, realizada por adulto ou adolescente de mais idade. ” (PFEIFFER; SALVANGNI, 2005, p. 200 apud SANTOS R; 2020). Sendo assim, constata-se que, em geral, as crianças e adolescentes vítimas de violência sexual desenvolvem problemas biopsicossociais que ultrapassam os limites imediatistas dos atos abusivos, apresentando elementos que necessitam de apoio interdisciplinar, objetivando reduzir os traumas causados pelos crimes sofridos (OLIVEIRA et al, 2005 apud SANTOS R; 2020). Nas vitimizações sexuais, além das lesões físicas sofridas, as pessoas tornam – se mais vulneráveis a outros tipos de violência. [...] diante dessa magnitude de eventos seu enfrentamento tem sido um grande desafio para a sociedade (BRASIL, 2010, n.p. apud SANTOS R; 2020). De modo complementar, segundo Ballone (2003 apud SANTOS R; 2020), observa-se que, em razão da criança ou adolescente vítima de violência sexual não ser estruturada psicologicamente e nem ter a maturidade ética e moral da agressão sofrida, torna-se potencialmente vulnerável a desenvolver traumas emocionais. Geralmente, a criança abusada sexualmente, principalmente por familiares ou pessoas significativas, desenvolve a perda da autoestima, torna-se retraída, perde a confiança nos adultos e pode até chegar a considerar o suicídio (BALLONE, 2003, n.p apud SANTOS R; 2020). 38 Portanto, para um melhor entendimento das nuances envolvendo a violência sexual contra criança e adolescente é de suma importância apreciar as diferenciações conceituais entre violência, abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes, bem como as características do agressor, os sinais e sintomas desenvolvidos nas vítimas, conforme SANTOS R; (2020). 4.3 Consequências do Abuso Sexual Crianças e adolescentes que foram abusadas sexualmente tendem a apresentar uma diferente visão do mundo, ou melhor, por terem sofrido esse tipo de violência, podem se tornar adultos com problemas de relacionamento com outras pessoas. Segundo Silva (2002 apud Oliosi; Mendonça; Boldrine, 2010, p. 30 apud OLIVEIRA I; et al., 2015): A criançae o adolescente violentados sexualmente poderão sofrer consequências físicas: lesões físicas gerais, lesões genitais, gravidez geralmente problemática, ISTs/AIDS, disfunções sexuais e psicológicas tais como, sentimento de culpa, autodesvalorização, depressão, medo da intimidade quando adultos, negação de relacionamentos afetivos, distúrbios sexuais, suicídio, e problemas de personalidade e identidade, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). Ainda, Machado (2005 apud REZENDE, 2011, p. 6 apud OLIVEIRA I; et al., 2015) complementa que “Algumas vítimas não apresentam sintomas ou esses se manifestam de forma menos intensa, enquanto outras desenvolvem graves problemas emocionais, sociais ou psiquiátricos”. Enfim, de acordo com o posicionamento dos autores supracitados percebe-se que são várias as consequências que afetam crianças e adolescentes que foram expostos a violência sexual, porém, algumas delas apresentam-se de forma menos intensa do que outras. Mas algumas consequências podem ser diferenciadas de acordo com a forma como ocorreu o abuso, sendo com contato físico ou não, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 39 4.4 Formas de Abuso Sexual O abuso sexual se apresenta de diferentes formas, seja com contato físico ou sem contato físico. Diante disso, Sánchez (1995 apud OLIVEIRA I; et al., 2015) diferencia esses tipos de abuso como sendo o primeiro tipo, o abuso sexual sem contato físico, que pode ser o abuso sexual verbal, envolvendo conversas abertas sobre atividades sexuais que podem despertar o interesse da criança ou adolescentes; telefonemas obscenos em que a maioria das ligações são feitas por adultos, especialmente do sexo masculino, podendo gerar ansiedade na criança, adolescente e família; exibicionismo que é chocar a vítima, é em parte motivado por esta reação; voyeurismo, ou seja, a experiência pode perturbar e assustar a criança ou o adolescente, sendo que a internet atualmente influencia o voyeur. Também outros tipos de abuso sem contato físico envolvem mostrar para crianças fotos ou vídeos pornográficos, como por exemplo, fotografar crianças nuas ou em posições sedutoras com objetivos sexuais. Sánchez (1995 apud OLIVEIRA I; et al., 2015) explica que o segundo tipo de abuso é abuso sexual com contato físico, que está relacionado a casos envolvendo estupro, o qual do ponto de vista legal, é ato que ocorre quando da penetração vaginal com o uso de violência e ameaças, sendo que em crianças e adolescentes de até 14 anos, a violência é presumida; outra forma é o atentado violento ao pudor em que o adulto força a criança ou adolescente a praticar atos libidinosos, sem penetração vaginal, utilizando-se da violência ou de grave ameaça. Há também o incesto que envolve qualquer relação de caráter sexual entre um adulto e uma criança ou adolescente e entre adolescente com uma criança, quando existe laço familiar; o assédio sexual que é a proposta de contato sexual; quando é utilizada, na maioria das vezes, o agente exerce uma posição de poder sobre a vítima, que é chantageada e ameaçada pelo agressor, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). O autor ainda destaca como abuso sexual com contato físico, o abuso sexual intrafamiliar em que há a relação incestuosa, representando a maioria dos casos de abuso sexual, e o abuso sexual extrafamiliar em que o abusador é alguém em quem a criança confia como médicos, educadores, padres e pastores, responsáveis por atividades de lazer, entre outros, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 40 Diante das formas de abuso sexual apresentadas acima, é importante ressaltar que independente de que forma o abuso seja realizado, o mesmo traz consequências à vida social das crianças e adolescentes e fazem com que as mesmas apresentem comportamentos diferentes, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 4.5 Consequências e aspectos psicológicos observados na vítima de abuso sexual infantil É sabido que a vítima de abuso sexual infantil carrega consequências após o abuso. Portanto, este capítulo discorrerá sobre aspectos observados, desde físicos até psicológicos, descreve, ainda, o que esse ato tão cruel causa na vida de uma criança de curto e ao longo prazo, conforme LIMA J; (2016). Estudos apontam que a violência sofrida nos primeiros anos de vida, deixa sequelas para a vida toda. (BRASIL, 2002 apud LIMA J; 2016). O abuso sexual na infância é uma triste realidade, encaixada no quadro negro da quebra do direito da criança ao respeito, enquanto ser humano e um futuro cidadão, acarretando consequências em sua vida. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). Nas palavras de Sant’ Anna e Baima (2008 apud LIMA J; 2016), o abuso sexual infantil pode ocasionar consequências emocionais, físicas, sociais e sexuais. Essas implicações podem manifestar-se de múltiplas maneiras, podendo ser devastadoras e definitivas. Entre as possíveis consequências, entre curto e longo prazo está a depressão e estresse pós-traumático. Conforme descreve Carvalho (2005 apud LIMA J; 2016), a modificação inesperada de comportamentos da criança ou adolescente pode sinalizar violência sexual. Os sinais físicos do abuso são mais fáceis de serem vistos que os sinais emocionais, dessa forma torna-se de suma importância estar atento a estas transformações. Alguns sinais físicos que podem ser exibidos pelas crianças e/ou adolescentes são: dificuldade de andar; inchaços e dores nas áreas genitais e/ou anais; danos e sangramentos sem causa aparente; dificuldade para dormir, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), secreções vaginais ou penianas; dificuldade em controlar a bexiga e o intestino e, infecção urinária. 41 Os indícios comportamentais são: comportamento sexual impróprio para a fase em que está vivenciando; vergonha exagerada; autoflagelação; fuga de casa e medo em voltar; hiperativismo ou hipoativismos, comportamento infantilizado, masturbação excessiva; choros sem causa visível e rebeldia excessiva. Deste modo as consequências possíveis provocadas pelo abuso sexual nas crianças ou adolescentes são: sentimento de culpa e vergonha; sentimento de ser perversa suja e de mínimo valor; perda da confiança nas outras pessoas; receio constante de sofrer novo abuso; e, depressão. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). De acordo com algumas pesquisas publicadas nas últimas décadas é possível descrever as seguintes consequências do processo de vitimização, tais como: traumas físicos, infecções e doenças venéreas, desordens menstruais, distúrbios de sono e de alimentação, dificuldades de aprendizagem, uso de álcool e drogas, fugas, prostituição, etc. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). Segundo Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016), culpa e vergonha, medo e embaraço, dúvida e incerteza são elementos que impedem a criança de ir atrás daqueles que poderiam protegê-la. Ela começa a se esconder, afastar dos seus companheiros, evita intimidades com outros adultos por receio de que o “segredo” possa ser descoberto, tudo isso para encobrir a vergonha e a culpa. O isolamento e solidão aumentam o terror, tornando-a mais dependente do abusador. A criança se sente encurralada sem saída, condenada a aguentar o abuso sexual até ter idade suficiente para escapar. (SANDERSON, 2005 apud LIMA J; 2016). Carvalho (2005 apud LIMA J; 2016), diz que a culpa é o sentimento mais presente depois da vítima ter suportado um abuso, pois ela vem a se sentir como provocadora, inativa e permissiva a tal fato. Mas, diferentes sentimentos tais como baixa autoestima, timidez, fobias, angústia e desmotivação também são bastante comuns. A criança ao ser abusada está sendo desrespeitada como indivíduo, tendo seus direitos transgredidos na maioria das vezes por sujeitos que obrigatoriamente deveriam cuidar, respeitar e proteger, conforme LIMA J; (2016). 42 O comportamento de cada criança é distintodiante de uma situação parecida. Algumas podem gostar e permanecer com a “brincadeira”, outras irão padecer, podendo causar fobias e reações físicas sem origem orgânica, só por chegar perto de quem abusou, outras ainda, podem acreditar que não pertencem ao meio infantil e se fechar, pode ter sentimento de estar suja ou não se sentirem importantes e amadas e falarem até em suicídio. Salientando que o abuso sexual irá deixar marcas psicológicas na criança no decorrer de sua vida, atrapalhando seu progresso psicoafetivo, consequentemente a aparição de depressões e insegurança sexual, afetando as identificações que a criança poderia estabelecer evitando que sua adolescência seja à época de reconstrução de significados. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). O autor deixa claro que uma criança que é abusada sexualmente, irá carregar marcas psicológicas para vida toda, além de serem despertadas para o sexo mais cedo, de maneira desconfigurada e traumática. Estas vítimas ainda podem dar segmentos de comportamentos psicopatológicos, como horror a parceiros que tenham mesmo sexo que seu agressor, ou ainda se tornarem promíscuos e terem uma sexualidade impulsiva e até mesmo serem infectadas por seus próprios agressores com Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) ou riscos de gravidez, ou ainda danos físicos decorrentes do abuso. Além destes prejuízos ainda pode desenvolver transtornos da personalidade. (CARVALHO, 2005; CHAGAS; MORETTO, 2014 apud LIMA J; 2016). Diante de todo o exposto acima, verifica-se que essas consequências são levadas para a vida adulta, tais como: problemas de relacionamento social e conquistas profissionais; disfunções sexuais; depressão, suicídio; encanto pela dor e sofrimento; autoflagelação; ataques de pânico e pesadelos bastante vívidos; ocorrências ao abuso de sedativos; problema em manter o peso na faixa almejada; e, problema de sustentar relacionamentos sexuais duradouros. Pode ainda, desenvolver personalidade dissociativa ou borderline ·. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). Uma pesquisa documentada foi realizada com 1028 pessoas que haviam sofrido abuso sexual e físico na infância. Os sintomas mais expostos e com mais frequência foram a inabilidade de ouvir o outro, períodos de esquecimento, comportamentos imprevistos, sensação de não estar num mundo real e djavus, conforme LIMA J; (2016). 43 Os sintomas que também foram expostos, mas não com grande frequência são: artefatos e sujeitos com aparência ilusória, não reconhecer sua própria letra em escritos manuais, ter a impressão de serem duas pessoas distintas, não distinguir pertences próprios como antigos, achar que partes do corpo não fazem parte de si, achar que uma ocorrência real era apenas uma fantasia, ter fantasias idealizadas como reais. Portanto é indispensável ressaltar que os resultados obtidos deram maior ênfase aos achados pautados ao abuso físico, sobretudo com sintomas de uma personalidade dissociativa, sendo o transtorno da personalidade múltipla o mais grave dos transtornos, podendo ser uma possível implicação do abuso sexual na infância. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). Os autores Sant’Anna e Baima (2008 apud LIMA J; 2016) realizaram uma pesquisa em uma clínica-escola com intuito de reconhecer e descrever aspectos clínicos em procedimentos psicoterápicos de mulheres com histórico de abuso sexual na infância, mostrando informações sobre o ato abusivo, sobre os sintomas observados na vida adulta e sobre o desenvolvimento do processo psicoterápico. “O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie (protocolo CEP/UPM nº 634/06/04). ” Seguindo as amostras da pesquisa os indicadores sobre os sintomas que podem estar relacionados ao abuso sexual na infância são: Sintomas psíquicos: ansiedade, depressão, ideação suicida, dificuldade de confiar em alguém, baixa autoestima, insegurança, dificuldade de tomar decisões, sentimento de frustação e inaptidão, imaturidade, culpa, fantasias de liberdade, pensamentos intrusivos, perda de memória, conforme LIMA J; (2016). Sintomas comportamentais: revitimização, promiscuidade, tentativas de suicídio, isolamento e retraimento, agressividade, comportamentos compulsivos, necessidade de controle e uso de substancias químicas, conforme LIMA J; (2016). Sintomas no âmbito sexual: não sente prazer no ato sexual, sente-se como objeto no ato sexual, não tem desejo e evita o ato sexual, sente- se culpa após o ato sexual e tem relações sexuais com pessoas desconhecidas, conforme LIMA J; (2016). 44 Sintomas no âmbito interpessoal: dificuldade de estabelecer relacionamentos duradouros sofre agressões físicas ou verbais, dificuldade de superar decepção amorosa, preocupação excessiva com a opinião dos outros conforme LIMA J; (2016). Sintomas orgânicos: perturbações de sono, transtornos alimentares e outros transtornos somáticos conforme LIMA J; (2016). O fato de não revelar o abuso pode contribuir para o aumento de sintomas. Por não conseguir revelar a ninguém, a vítima não recebe cuidado e tratamento no período dos acontecimentos abusivos, o que pode manter a vítima numa situação de abuso por um longo tempo e causar danos psíquicos difíceis de serem revertidos. Certificou- se na amostra que o abuso sexual não foi relatado como queixa primária, uma vez que 89% dos casos foram revelados pelas pacientes como um fato entre outros em sua história de vida, conforme LIMA J; (2016). Em 44,5% dos casos da amostra, o abuso sexual ocorreu entre cinco e dez anos de idade, período em que se inicia a estruturação da personalidade e de inclusão na sociedade, o que intensifica as chances de distúrbios psíquicos estruturais ocasionando danos na vida adulta. Em 33,3% dos casos da amostra, o abuso ocorreu na primeira fase da adolescência época em que, a partir do aparecimento das características sexuais secundárias, o surgimento da sexualidade se apressa e a identidade começa a ganhar contornos mais concretos, conforme LIMA J; (2016). Uma vez que as chances de perturbações na esfera sexual é identitária. Os tipos de abuso sexual relatados foram 11,7% o ato sexual com penetração, 35,3% masturbação forçada, 33,3% carícias nos órgãos genitais 17,6% excitação sexual frente à nudez total ou parcial da vítima. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 2016). Os traumas na infância podem ser originados de incestos, abusos sexuais ou alguns episódios que possam ter desenvolvido um estresse pós-traumático. Sintomas psiquiátricos, incluídos a este transtorno, encontrados na fase adulta são: fobias, alucinações auditivas, comportamento suicida, depressão, ansiedade, abuso de substâncias e comportamento compatível com personalidade Borderline. (CARVALHO, 2005; BELTRAN, 2010 apud LIMA J; 2016). De acordo com Sanderson (2004 apud LIMA J; 2016), acredita-se que o abuso sexual na infância precoce, incluindo o abuso sexual em crianças, pode perturbar a maturação saudável do cérebro, e, em particular, o sistema 45 límbico, em razão dos níveis de estresse associados à sexualização prematura. O estresse leva a secreção de hormônios esteroides supra-renais, que incluem glicorticóides humanos necessários para a resposta do tipo lutar, fugir ou paralisar. (SANDERSON, 2004 p.184 apud LIMA J; 2016). Diante disso, como consequências, as lembranças podem não ser armazenadas como sensações somáticas e imagens visuais, refletindo no sistema não declarativo. “Além dos efeitos cognitivos, e das consequências psicológicas, a criança também pode ser afetada em termos de formação, armazenamento, consolidação e recuperação de memória. ” (SANDERSON, 2004, p. 185 apud LIMA J; 2016). De acordo com LIMA J; (2016), vários acontecimentos estão interligados em uma variedade de distúrbios psiquiátricos, em particular o distúrbio de estresse pós- traumático (PTSD),transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e distúrbios de conduta, distúrbios de personalidade antissocial. Alguns desses acontecimentos podem aparecer na infância, outros só podem vir à tona na idade adulta, como depressão, abuso de substâncias, automutilação, distúrbio de personalidade limítrofe (BPD), distúrbios dissociativos e distúrbios dismórfico corporal (BDD). Sendo assim: [...] as experiências de desenvolvimento do abuso sexual na infância precoce têm um impacto significativo no desenvolvimento neurobiológico, o que afeta não apenas a organização unificada do eu e a regulação da emoção, mas também cria um complexo mundo interno cheio de ansiedades para a criança. A combinação de alterações neurobiológicas no cérebro em desenvolvimento pode resultar em risco ampliado de distúrbio de estresse pós-traumático. (SADERSON, 2004, p.187 apud LIMA J; 2016). De acordo com apud LIMA J; (2016), para fazer o diagnóstico do distúrbio de estresse pós-traumático alguns critérios precisam estar presentes: A vivência de um episódio traumático que causaria sintoma de sofrimento na maioria dos sujeitos, como uma séria ameaça a vida de uma pessoa ou à sua integridade física, ou a de uma pessoa a quem ela é apegada, conforme LIMA J; (2016) Uma constante reexperimentação do acontecimento, por meio de lembranças, sonhos, sentimentos entre outros, conforme LIMA J; (2016) Fuga persistentes de estímulos associados ao trauma, como: perspectiva de futuro diminuída, amnesia psicogênica, entre outros, conforme LIMA J; (2016) 46 Constantes sintomas de excitação aumentada, como: Dificuldade de pegar no sono, irritabilidade ou ataques de raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância, reação de susto excedida e reação fisiológica quando exposto a acontecimento que simbolizam aspectos do episódio traumático ou que são semelhantes a ele”. (SANDERSON, 2004 apud LIMA J; 2016). Muitos desses critérios de diagnóstico refletem, sem dúvida em sintomas observados em crianças que sofreram abuso sexual. Porém existem sintomas que não podem ser explicados pelo estresse pós-traumático como, vergonha, autoculpa, culpa, comportamentos autodestrutivos, “revitimização”, comportamentos sexuais e crenças distorcidas sobre si mesmas e sobre os outros e a fragmentação do sentido do eu. Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016) aponta também consequências, dinâmicas traumatológicas, são elas: Sexualização traumática: explica como a vivência sexual da criança é moldada de forma inapropriada e disfuncional, conforme LIMA J; (2016). O impacto psicológico da sexualização traumática gera aumento da importância dos temas sexuais, confusão sobre identidade sexual e sobre as normas sexuais. A confusão de sexo com amor, a doação de carinho e as sensações de excitação podem levar a uma aversão a qualquer tipo de intimidade, especialmente intimidade sexual. Isso resulta em sinais e sintomas comportamentais, como preocupações sexuais e comportamentos sexuais compulsivos, atividade sexual precoce, comportamento sexual agressivo ou promiscuidade e prostituição em crianças mais velhas (SADERSON, 2004, p. 191 apud LIMA J; 2016). Estigmatização: foca nas mensagens que o abusador passa para a criança, alterando sua percepção. Na maioria das vezes o abusador culpa a criança, para que ela possa se sentir culpada, má e sem valor. O impacto está relacionado com a criança se auto avaliar como a causadora do abuso ela se enxerga como a “sedutora”, sentindo vergonha, culpa, autoestima diminuída e a sensação de ser diferente dos outros, o que culmina a uma necessidade de fugir e se isolar. Em decorrência disto a vítima fica isolada e quando emite essa conduta de fuga se torna mais ansiosa podendo ter comportamentos de automutilação, delinquência ou em alguns casos o suicídio, conforme LIMA J; (2016). 47 Traição: quando o abusador é um membro da família, um amigo ou alguém que a criança depositou confiança ou depende para as suas necessidades básicas. Alguns sintomas observados comuns de traição na criança são apego e submissão, desconfiança em relação aos adultos, principalmente do mesmo sexo do abusador (a). Sendo assim a vítima pode se tornar mais vulnerável a mais abuso, conforme LIMA J; (2016). Falta de poder: a criança sente- se impossibilitada de se resguardar do abuso, incapaz de fazer os outros acreditarem nela e causando impacto como, ansiedade, medo, senso de eficiência diminuído, necessidade de controle, identificação com o agressor e percepção de si mesmo como vítima, conforme LIMA J; (2016). De acordo com Brasil (1999 apud LIMA J; 2016), as mulheres que sofreram violência sexual na infância ficam mais vulneráveis a outros tipos de violência futuramente, à prostituição, ao uso de drogas, às doenças sexualmente transmissíveis, às doenças ginecológicas, aos distúrbios sexuais, a depressão e ao suicídio, causando sequelas físicas e psicológicas. Em relação à prostituição a maioria delas era proveniente de famílias de classe média e haviam passado por um longo processo de vitimização sexual no lar e para escapar deste processo foge de casa, e uma vez na rua, o meio de sobrevivência acaba sendo o da prostituição. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). O sofrimento psíquico proveniente de situações de abuso sexual coloca a vítima na posição de sobrevivente, da criança que se refugia de maneira precária no mundo interno, detendo um segredo sob o manto do silêncio. (HISGAIL, 2007 apud LIMA J; 2016). Os conhecimentos vivenciados na infância e na adolescência, positivas ou negativas, refletem-se na personalidade adulta. As dificuldades inevitáveis se tornam mais mansas quando enfrentadas com afeto e solidariedade. A violência provoca sentimentos como o desamparo, o medo, a culpa ou a raiva, que, não podendo ser revelados, se transformam em condutas distorcidas, perpetuando-se por famílias seguidas. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). 48 Ainda afirmam que são conhecidas também inúmeras consequências psíquicas e sociais desenvolvidas a curto e a longo prazo para crianças vitimizadas na infância, com sérias implicações emocionais, disfunções sociais psicogênicas, dificuldades no relacionamento com pessoas em geral e do sexo oposto em particular, problemas no relacionamento conjugal, relacionamento difícil e conturbado com os filhos entre outros, conforme LIMA J; (2016). Quanto maior a diferença na idade entre vítima e agressor, mais graves são as implicações; o nível de parentesco e afinidade entre o agressor e a vítima quanto mais perto, maior o impacto; a topografia do ato sexual, carícias, exibição de órgãos sexuais, penetração etc.; o nível de agressão e ameaças; o período do abuso e a constância dos atos; as particularidades do contexto familiar e o suporte dado à vítima antes, durante e depois da revelação são fatores que determinam o impacto do abuso sexual. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 2016). Segundo a descrição de Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016) sobre o impacto do abuso sexual em crianças, existem alguns fatores associados a esse impacto são eles: a idade da criança ou adolescente na época do abuso; a duração e a frequência do abuso sexual; os tipos de atos sexuais; o uso da força ou violência; o relacionamento da criança com o abusador; a idade e o sexo do abusador e os efeitos da revelação. Por seguinte, faz necessário discorrer sobre cada um deles. A idade da criança na ocasião do abuso: há controvérsias entre pesquisadores e profissionais que estudam essa área, alguns pesquisadores desvendaram que quanto mais nova a criança mais vulnerável ela é ao trauma em razão de sua capacidade de se impressionar com os fatos enquanto outros argumentam que a ingenuidade da criança mais nova de alguma forma a protege do dano e se der estigmatizada, conforme LIMA J; (2016). Traumassofridos por crianças muito pequenas com menos de três anos de idade, quando o cérebro ainda não está totalmente desenvolvido tem a capacidade de remodelá-lo, diz pesquisas neurobiológicas. Mesmo que a criança não sinta o abuso como algo ofensivo isso não significa que ela não tenha um impacto, se não a curto prazo, mas potencialmente em longo, prazo, conforme LIMA J; (2016). 49 A duração e a frequência do abuso sexual: Diante de alguns estudos foi descoberto que, quanto mais frequente e duradouro for o abuso sexual em crianças, maior será seu impacto e maiores serão as probabilidades de a criança ficar traumatizada, conforme LIMA J; (2016). Tipo de atividade sexual: Diante de algumas pesquisas nota-se nitidamente que o tipo de abuso que a vítima vivência mostra a gravidade do impacto. Tentativas de coito ou o coito em si, cunilingua, felação, sexo oral no ânus e coito anal relatam ter graves traumas comparados aos que vivenciaram exploração dos genitais sem roupa ou que foram sujeitos a toques não desejados, conforme LIMA J; (2016). Força física e violência: Quando o abuso é acompanhado de força física, violência o impacto se torna consideravelmente negativo na vida da criança, ou seja, quanto mais violência e força física o abusador utiliza maior será o impacto, conforme LIMA J; (2016). Relacionamento da criança com o abusador: é necessário analisar a proximidade e qualidade do relacionamento entre criança e o abusador. Alguns estudos mostram que quanto maior o laço de sangue maior o impacto na vida da vítima. Esse momento não gera somente quando é de laços sanguíneos, gera também quando há a quebra de confiança que a criança depositou no abusador, podendo ser um amigo da família, professor, ou alguém que se comportava como um amigo. Essa traição da confiança depositada naquele sujeito pode representar uma diferença importantíssima na gravidade do impacto do abuso sexual, conforme LIMA J; (2016). Idade e tipo do abusador: estudos anteriores indicavam que, quanto mais velho fosse o abusador, mais traumático seria o impacto. Pode acontecer também de o abuso vir de outra criança ou adolescente fazendo com que a vítima se sinta mais envolvida, porque é outra criança, dando uma visão de um parecer mais aceitável. Quanto ao sexo do abusador, no caso se for uma mulher o impacto do abuso sexual infantil aumenta, pois pode refletir em valores culturais, pois as mulheres são vistas na sociedade como as que tomam conta das crianças, conforme LIMA J; (2016). Os efeitos de revelação: para muitas crianças é extremamente difícil revelar o abuso sexual, elas podem pensar que as pessoas não acreditarão nela, ou que irão puni-la. Dessa forma, muitas crianças não revelam o abuso, mas revelam sutilmente em desenhos, comportamentos, o que requer uma sensibilidade para entender o que a criança está tentando transmitir. Diante disso as crianças sentem muito medo dos 50 pais perante a revelação. Se a resposta for negativa, poderá agravar mais, se for positiva poderá diminuir o impacto. Enfatizando que se a criança for questionada na hora da revelação poderá ter o efeito de traumatizar mais uma vez, conforme LIMA J; (2016). Ressaltando que cada vítima de abuso sexual tem sua singularidade influenciando cada uma em suas características próprias nos efeitos gerados na vida presente e adulta. Entretanto, a complicação da situação e da quantidade de variáveis envolvidas é necessário lembrar que sintomas como ansiedade, medo, ocorrência de pesadelos, depressão retraimento social, queixas somáticas e comportamentos agressivos são frequentes em crianças que sofreram o abuso. Lembrando que existe a possibilidade de esses sintomas desaparecerem com o tempo (12 a 18 meses depois do ocorrido), podendo assim nem persistir na vida adulta. No entanto, há uma parcela de casos que pioram com o tempo, por isso faz-se necessário aprofundar a concepção sobre o abuso sexual na infância e suas consequências na vida adulta das vítimas. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 2016). Segundo Cótica; Xavier; Eygo (2015 apud LIMA J; 2016), o abuso sexual marca a vida inteira de suas vítimas e traz implicações sérias nos relacionamentos amorosos. Embora as vítimas não reparem tamanha gravidade de terem sido abusadas na infância e de como isso ocasiona consequências na vida adulta. As autoras ainda corroboram com a seguinte concepção, o abuso sexual pode se revelar de múltiplas maneiras podendo ser definitivas e devastadoras, resultando no desenvolvimento de quadros psicopatológicos. A vítima carrega sempre a sensação de que aconteça o que acontecer sempre será vista como uma criatura indigna, suja e desprezível pelo fato que vivenciou. A falta da capacidade de dizer “não” perdura por um longo tempo, conforme LIMA J; (2016). 4.6 O papel do psicólogo na prevenção do abuso e violência sexual De acordo com BATISTA K; et al., (2014), o profissional da psicologia poderá utilizar de intervenções e técnicas específicas do campo da psicologia em um trabalho preventivo para que não haja avanços nas diversas patologias que o abuso e a violência sexual podem causar em crianças e adolescentes que já sofreram o abuso e/ou a violência. 51 Para (MINAYO 2006, apud FLORENTINO 2014 apud BATISTA K; et al., 2014), muitos profissionais ainda estão atuando de maneira limitada. A autora tipifica duas grandes formas ou modelos de atuação profissional que, segundo ela, trata-se de intervenções de pouca eficiência. A primeira seria por intermédio daqueles profissionais que não saem do campo teórico e da reflexão filosófica. Já na segunda, seriam os profissionais que atuam somente na questão operacional, fundamentados e preocupados principalmente com a constatação e reparação dos danos biológicos, emocionais e sociais. A autora intensifica a necessidade de os profissionais trabalharem não apenas com modelos epidemiológicos, mas, também, com a compreensão dos contextos na abordagem dos processos violentos. Quando falamos de abuso e violência sexual infanto-juvenil existem inúmeras vertentes que podem fazer com que o profissional não consiga lidar com tamanha complexidade, o assunto engloba questões morais e culturais, que se forem isoladas podem dificultar no processo de auxílio ao menor que foi abusado e violentado. A autora destaca a relação do profissional com a teoria, o trabalho dentro das unidades é árduo e com diversas facetas que dentro das teorias não são colocadas, sendo assim o profissional precisa ter estratégias eficazes que sobressaiam à teoria já que na prática funcionam de maneira diferente, conforme BATISTA K; et al., (2014). Destaca ainda sobre a preocupação de alguns profissionais somente em ver a necessidade de reparar apenas os agravos biológicos, emocionais e sociais, a autora nos faz refletir de como podemos trabalhar com vítimas de abuso e violência sexual em um todo, onde devem se conglomerar em seus atendimentos que o abuso e a violência necessitam ser enxergadas de diversas maneiras para que assim cheguem a uma estratégia de acompanhamento, conforme BATISTA K; et al., (2014). A prática profissional do psicólogo junto com as políticas públicas de Assistência Social é a de um profissional da área social produzindo suas intervenções em serviços, programas e projetos afiançados na proteção social, a partir de um compromisso ético e político de garantia dos direitos dos cidadãos ao acesso à atenção e proteção da Assistência Social. A partir da interface entre várias áreas da Psicologia, estas ações estão sendo construídas numa perspectiva interdisciplinar, uma vez que vão constituindo várias funções e ocupações que devem priorizar a qualificação da intervenção social dos trabalhadores da Assistência Social. (FLORENTINO 2014 apud BATISTA K; et al., 2014). 52 De acordo com FLORENTINO (2014 apud BATISTA K; et al., 2014),o Psicólogo dentro da assistência social é um servidor da área social onde o mesmo irá afligir sua demanda em trabalhos de intervenções de acordo com o serviço social, são também cabíveis ao seu papel desenvolver suas atividades em projetos que tem como cunho a proteção social, sem dúvidas para que haja bons resultados o trabalho precisa ser feito com compromisso para com a sociedade, dentro de um trabalho ético onde são garantidos aos cidadãos o acesso total a proteção e da assistência social. A autora indaga sobre a importância da junção entre psicologia e a assistência social, onde devem e precisam ser priorizadas as duas áreas que serão de suma importância no processo dessa problemática. De acordo com as revisões literárias os fatores sociais, culturais e econômicos são presentes na maior parte dos casos de abuso sexual e a violência sexual em crianças e adolescentes, mas que não se apontam como únicos fatores para tal ato. Sendo os elementos histórico-culturais essenciais para a compreensão e o debate dos casos de abuso sexual praticados contra crianças e adolescentes, não é possível afirmar que as inserções socioeconômicas e culturais sejam os únicos ou mesmo os principais fatores que determinam as situações de violência, pois, ao contrário desta representação, existe uma série de outras questões igualmente relevantes que merecem a atenção (MOREIRA; VASCONCELOS, 2003apud FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014). O autor MOREIRA; VASCONCELOS, (2003 apud FLORENTINO 2014 apud BATISTA K; et al., 2014) salienta as justificativas de que as crianças e adolescentes estejam em situações que favorecem a esse ato delituoso alguns deles, são a vulnerabilidade social e econômica onde crianças e adolescentes estão propensos e de forma totais expostos a esses tipos de violências e suas famílias sentem grandes dificuldades para a superação deste trauma que não é apenas das vítimas, mas um sofrimento familiar. A pobreza não é a causa determinante para estas situações, uma vez que existem diversos fatores que podem levar o fato, sendo que alguns deles estão caracterizados a falta de emprego, o nível de escolaridade baixa, o uso do álcool ou substâncias psicoativas. Segundo FLORENTINO (2014 apud BATISTA K; et al., 2014) os históricos de violência na infância e a doença mental também levam a grandes causas do abuso sexual infanto-juvenil. 53 O profissional necessita de estratégias que o façam conhecer de maneira profunda e integrada sobre o histórico das crianças e adolescentes vítimas de abusos e violências sexuais, além de investigar a fundo seus contextos familiares e culturais. É de grande relevância que o abuso e a violência sexual sejam tratados de maneira absoluta, onde o auxílio psicológico deve ser estabelecido para a criança e toda a família, conforme BATISTA K; et al., (2014). É fundamental que toda a família tenha o direito a uma avaliação psicológica, sobretudo a criança, o adulto não agressor e, inclusive, o agressor. O objetivo de se trabalhar com toda a família é observar como cada sujeito percebe a violência ocorrida. Assim, a primeira pessoa a ser atendida deverá ser sempre a criança ou o adolescente que sofreu o abuso, de maneira que, inicialmente, a intervenção do profissional deverá se atentar para a vinculação positiva e o estabelecimento da confiança entre a equipe e os protagonistas da violência (CRAMI, 2005apud FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014). O profissional da psicologia necessita saber lidar com todo o contexto da problemática inserido nesse processo, a vítima do abuso ou violência sexual criança ou adolescente e em conjunto trabalhar também com o agressor. Segundo o autor (CRAMI, 2005 apud FLORENTINO; FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014) a criança ou adolescente devem ser os primeiros acolhidos e atendidos, o autor indaga também que é fundamental acolher a vítima e dar a ela tempo necessário para que ela possa pensar e então quando preparada possa compartilhar de seu momento doloroso. O psicólogo deve respeitar a forma com que a história é transmitida pela criança ou adolescente, á vitima merece ser escutada, de acordo com sua realidade. Na perspectiva de (CRAMI, 2005 apud FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014) os profissionais necessitam estar capacitados para lidar com este público, para que assim possam identificar quais são os danos emocionais e psicológicos que o abuso e a violência sexual podem causar em crianças e adolescentes vítimas do abuso e violência sexual. Uma das principais atribuições do psicólogo do CREAS, ao iniciar o atendimento ou acompanhamento junto às vítimas, consiste em estarem habilitados a identificar quais são os danos emocionais (já instalados) e a gravidade dos mesmos (CRAMI, 2005 APUD; apud BATISTA K; et al., 2014). As ações devem ser planejadas de modo a permitir uma intervenção especializada, personalizada e individual, onde os profissionais possam alcançar as determinações subjetivas que reforçam sua reprodução no tempo e no espaço (CUNHA; SILVA; GIOVANETTI, 2008 apud FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014). 54 O profissional necessita estar atento e preparado para observar e identificar os agravos psíquicos e emocionais bem como também analisar sobre os agravos emocionais absorvidos pela criança ou adolescente. As estratégias e ações por parte do profissional estudadas e esquematizadas de forma individual. O atendimento individual é indispensável para a intervenção de crianças e adolescentes vítimas de abuso e violência sexual onde serão trabalhadas as desordens causadas pelo abuso ou violência sexual, a psicoterapia individual auxiliará a vítima em reconhecer os sentimentos causados pela situação, conforme BATISTA K; et al., (2014). 4.7 A avaliação psicológica como meio de recuperação da vítima A avaliação psicológica, serve como instrumento processual com finalidade probatória. Nesse contexto, o psicólogo atua através de entrevistas e análise comportamental das vítimas, com o intuito de coletar dados que auxiliarão a cognição do juízo. Porém, tendo em vista que a lesão no abuso sexual não é apenas física, mas também psicológica, esse tipo de avaliação pode contribuir também de outras formas, como no auxílio da recuperação das vítimas conforme SOUZA M; (2009). As consequências do abuso sexual de crianças e adolescentes são extremamente graves. Dentre essas consequências, é possível destacar medo, hiperssexualização do comportamento, perda de confiança em outras pessoas e agressividade. Além disso, transtornos como Estresse Pós-Traumático (TEPT), Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Abuso de Substâncias, também são relacionados ao abuso sexual. (GAVA, PELISOLI, DELL’AGLIO, 2013, p. 141 apud SOUZA M; 2009). Nesse contexto, os danos verificados nas vítimas podem variar de acordo com cada indivíduo. Sendo assim, enquanto algumas crianças e adolescentes podem manifestar os quadros abordados acima, outros podem permanecer inafetados pelo evento traumático vivido. Logo, considerar a avaliação psicológica apenas como perícia judicial, muitas vezes pode ser um ato ineficiente, tendo em vista que a perícia se dará com base na busca por sintomas que podem sequer existir, ou, ainda, serem em decorrência de algum outro trauma anterior ao abuso, conforme SOUZA M; (2009). 55 Nesse diapasão, por conta dessa incerteza, e considerando que há realização de avaliação psicológica, o objetivo da utilização dessa ferramenta deve ser expandido de maneira a auxiliar à vítima, e não apenas o processo judicial. A realização da perícia é, muitas vezes, o primeiro contato da vítima com o profissional de psicologia. Sendo assim, é através da avaliação que aquela vítima dá os primeiros passos em uma terapia. Nessa senda, a vítima é obrigada a revisitar com detalhes a experiência traumática sofrida, o que é algo extremamente desgastante.Além disso, esse contato que ocorre durante a avaliação acaba criando os primeiros laços de confiança entre paciente (vítima) e terapeuta (perito), conforme SOUZA M; (2009). Considerando esse liame, se valer da avaliação psicológica apenas como perícia judicial pode agravar ainda mais os danos sofridas pela criança ou pelo adolescente. Isso porque, após revisitar o evento traumático durante a perícia, a vítima precisará repetir todo o procedimento ao iniciar nova terapia com um novo terapeuta. Trazer novamente todos aqueles traumas e sentimentos negativos podem fazer com que a vítima experimente mais uma vez a dor da violação da sua dignidade sexual, sendo isto muito gravoso, conforme SOUZA M; (2009). Portanto, a fim de promover de fato a recuperação do bem jurídico violado – nesse caso, a dignidade sexual da criança e do adolescente -, a avaliação psicológica deve ser considerada também como a primeira etapa de um acompanhamento psicológico judicial. Em outras palavras, deve-se utilizar todo o conhecimento e confiança adquiridos através das entrevistas e análises como um instrumento de recuperação. Esses primeiros passos são muito importantes e viabilizam a restauração, na medida do possível, da dignidade sexual violada, conforme SOUZA M; (2009). Ante o exposto, percebe-se que a utilização da avaliação psicológica apenas como perícia pode ser um desperdício, já que a construção de relação que se dá nesse processo é fundamental para o desenvolvimento de uma futura terapia. Sendo assim, a continuidade dessa relação permitiria reestruturar aspectos psicológicos da vítima, por mais básicos que sejam, conforme SOUZA M; (2009). 56 É claro que os recursos disponíveis ao Estado devem ser levados em consideração, afinal, a continuidade do acompanhamento psicológico ensejaria mais gastos financeiros. Entretanto, é papel do Estado, conforme a Constituição Federal, garantir direitos fundamentais. Nesse diapasão, se preocupar apenas em identificar e punir um crime, negligenciando a restauração do bem jurídico violado, é uma ofensa grave ao direito fundamental à dignidade, conforme SOUZA M; (2009). Assim sendo, é possível considerar a avaliação psicológica como forma de recuperação da vítima na medida em que representa a consolidação de uma base terapêutica, construída através da aproximação entre perito e vítima, capaz de amenizar danos já consolidados na esfera da dignidade sexual da criança e do adolescente, conforme SOUZA M; (2009). 4.8 Intervenção psicológica para vítimas de abuso sexual: aspectos gerais e pesquisas recentes A intervenção terapêutica em casos de abuso sexual em crianças e adolescentes é complexa e precisa ser planejada considerando o impacto desta experiência para o desenvolvimento da vítima e da sua família, mudanças no ambiente imediato destas, disponibilidade de rede de apoio social e afetiva e fatores de risco e proteção associados. Conforme apresentado anteriormente, as crianças e os adolescentes são impactados de forma singular por experiências sexualmente abusivas. Dessa forma, tratamentos em diferentes modalidades (individual, familiar, grupo, farmacológico), bem como diferentes níveis de cuidados, podem ser necessários para diferentes crianças ou pela mesma criança em diferentes tempos (Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006). Alguns aspectos gerais do tratamento e estudos recentes sobre a efetividade das intervenções estão brevemente apresentados a seguir: 4.9 Vínculo terapêutico e objetivos centrais do tratamento No tratamento da criança ou adolescente, independentemente do referencial teórico que fundamenta a intervenção, é necessário criar um clima de segurança e aceitação para que a criança adquira confiança e comece a se comunicar. O terapeuta deve buscar reverter os sentimentos de desespero, desamparo, impotência, 57 aprisionamento, isolamento e autoacusação, frequentemente apresentados pela criança. O resgate da autoestima e da esperança é fundamental, pois o abuso distorce a visão da criança do que a vida pode lhe oferecer. O trabalho do terapeuta consiste em transformar o ocorrido em uma influência para a vida, ao invés de ser obstáculo, motivando a criança a crescer e ver o futuro com esperança. O processo de resolução do trauma implica que a criança ou adolescente relembre, repita e re-experiencie o trauma (Zavaschi et al., 1991 apud HABIGZANG L; 2006). 4.10 Tempo de tratamento O número de sessões de psicoterapia necessário para crianças e adolescentes que experienciaram algum evento traumático e desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático é um fator que ainda deve ser pesquisado (Cohen, 2003 apud HABIGZANG L; 2006). O tempo de intervenção clínica pode variar devido ao referencial teórico que a fundamenta e aos fatores relacionados com a história de abuso e conseqüências desta para a vítima. Um estudo realizado para verificar fatores associados ao tempo que as crianças vítimas de abuso sexual permanecem em terapia e fatores que contribuem para abandono do tratamento por estas constatou que as variáveis relacionadas com o abuso mostraram- se fortemente correlacionadas com o número de sessões. Foi constatado que quanto mais cedo iniciaram os abusos, mais sessões de terapia foram necessárias. A psicopatologia decorrente do abuso também foi associada ao tempo de permanência em tratamento. Quanto maior a intensidade dos sintomas, maior o tempo de tratamento, sendo que depressão e comportamento agressivo ou delinqüente foram altamente correlacionados. Entre os fatores associados ao abandono do tratamento foram verificados: cuidador com sintomas psicopatológicos, crianças com freqüentes hospitalizações e tratamentos, mães jovens, pais solteiros, status socioeconômico, mães com histórico de problemas na infância (Horowitz, Putnam, Noll, & Trickett, 1997 apud HABIGZANG L; 2006). 58 4.11 Modalidades terapêuticas Diversas modalidades terapêuticas podem ser utilizadas como recursos para a intervenção. A literatura aponta intervenções na modalidade individual, grupal e familiar (Cohen & Mannarino, 2000b; Deblinger, Stauffer, & Steer, 2001; Furniss, 1993; Hayde, Bentovim, & Monck, 1995; Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006). Dentre as modalidades de tratamento, as pesquisas apontam que o formato grupal tem obtido resultados positivos. O grupo oportuniza à criança verificar que não está sozinha e tem a função de oferecer apoio e alívio emocional individual, através da assimilação consciente dos episódios abusivos. Busca, também, modificar o autoconceito das vítimas, de autodesprezo para autovalorização. Os grupos devem ser constituídos por participantes da mesma faixa-etária. Dessa forma, no período pré-escolar, o grupo auxilia a diminuir o isolamento e a melhorar as habilidades sociais apropriadas para a idade, sendo baseado em jogos. Nos grupos de crianças na latência, a capacidade de expressão verbal propicia que se fale sobre as mudanças ocorridas na vida com a revelação do abuso. Isto pode ser feito através de jogos apropriados para a idade e o uso de desenhos dirigidos (autorretrato, desenho da família, de um sonho, de uma casa). Tais exercícios de desenho permitem um caminho não-verbal para quebrar o segredo que mantinha essas crianças isoladas e impotentes, conforme HABIGZANG L; (2006). Os grupos envolvem, em geral, até dez crianças. Na adolescência, o apoio social do grupo de iguais é importante, sendo útil como modalidade de tratamento. Em geral, tem seis a oito participantes e oferece ao adolescente um ambiente no qual pode discutir seus sentimentos e os problemas específicos da adolescência, como as mudanças no corpo, os papéis, as escolhas, a sexualidade e o incesto. Nesta fase, em que as angústias são frequentemente atuadas na conduta, as vítimas de abuso podem apresentar fugas de casa, abuso de drogas,tentativas de suicídio e promiscuidade, o que deve ser associado ao problema do abuso sexual. Nos grupos são trabalhados os conceitos (bom, ruim), o que é seguro fazer e o que não é seguro, a colocação de limites para si e na relação com as outras pessoas e, ainda, o autocontrole. São, também, estimuladas a comunicação verbal e a transformação de ação em sentimentos (Zavaschi et al., 1991 apud HABIGZANG L; 2006). 59 Dessa forma, a grupoterapia para vítimas de abuso sexual apresenta-se como modalidade ótima para redução de sentimentos de diferença e auto-estigmatização das pacientes. O processo de grupo prioriza espaços para que as vítimas possam reestruturar pensamentos e sentimentos distorcidos, através do relato de sentimentos referentes ao abuso, da discussão das crenças de culpa pela experiência abusiva e do desenvolvimento de habilidades preventivas a outras situações abusivas. Essa modalidade terapêutica foi testada empiricamente com adolescentes vítimas de abuso sexual infantil (Kruczek & Vitanza, 1999 apud HABIGZANG L; 2006). Participaram do estudo 41 meninas com idades entre 13 e 18 anos. A avaliação diagnóstica pré-teste constatou que as adolescentes apresentavam quadros de depressão, transtorno do estresse pós-traumático e transtorno desafiador opositivo. A modalidade grupal promoveu mudanças em sentimentos e comportamentos disfuncionais e desenvolveu habilidades de enfrentamento eficazes para lidar com situações do cotidiano. Outro estudo, utilizando um modelo com pré e pós-teste com grupos controle e experimental verificou a eficácia de tratamentos em grupo para meninas vítimas de abuso (McGain & McKinzey, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). Foram avaliadas 30 meninas vítimas de abuso sexual, com idades entre nove e 12 anos. De acordo com HABIGZANG L; (2006), o grupo em tratamento (n=15) foi pareado com o grupo controle (n=15) pela idade, severidade do abuso, intensidade de força usada durante o abuso e tempo de exposição ao abuso. Os autores utilizaram o Quay Revised Behavior Child Checklist (RBPC) e o Eyberg Child Behavior Inventory (ECBI) que avaliam alterações de comportamento antes e depois de seis meses da aplicação do programa de tratamento. Os pais ou cuidadores responderam aos dois instrumentos que avaliaram questões como autoestima, vergonha, depressão, ansiedade, problemas de conduta, agressividade, dificuldade de concentração e comportamentos excessivamente sexualizados. 60 O tratamento disponibilizado ao grupo experimental teve como objetivos: proporcionar um ambiente seguro, no qual as crianças podiam discutir livremente seus abusos; aumentar autoestima das crianças; prevenir a revitimização; evitar problemas psicológicos futuros; proporcionar modelos apropriados e não abusivos de homem e mulher; proporcionar suporte a criança com relação aos processos no Tribunal; educar a criança sobre passos práticos para autoproteção; facilitar a comunicação pela vítima sobre a dinâmica do abuso; criar um processo de autoajuda pelos pares para a criança; obter o apoio da família ao tratamento da criança; e, proporcionar a diminuição da sintomatologia e sofrimento decorrente do abuso, conforme HABIGZANG L; (2006). O tratamento demonstrou ser eficaz na redução de sintomas de ansiedade, particularmente descritos, tanto pelos pais quanto pelas meninas, como os mais proeminentes. Além disso, as dificuldades escolares foram reduzidas pela intervenção, bem como os problemas de conduta verificados na avaliação inicial. Os resultados encontrados apontaram diferenças significativas em todas as escalas dos instrumentos comparando o pré e pós-teste do grupo experimental. Os resultados do grupo controle não variaram muito nos dois tempos, o que comprovou a eficácia deste modelo de grupoterapia para meninas com idade entre nove e 12 anos (McGain & Mckinzey, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). A combinação de diferentes componentes de tratamento também têm sido foco de pesquisas. Um estudo avaliou o impacto do tratamento somente com as famílias e do tratamento com as famílias associado com a grupoterapia para as vítimas (Hayde, Bentovim, & Monck, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). Participaram da pesquisa 47 crianças vítimas de abuso e suas mães ou principal cuidador. As famílias que fizeram parte do estudo receberam um programa básico de atendimento familiar e, aleatoriamente, um subgrupo foi composto por crianças que receberam adicionalmente uma intervenção em grupo, considerando sua idade, estágio do desenvolvimento e sexo. A pesquisa iniciou com entrevistas conduzidas para avaliação clínica e foi finalizada com entrevistas para comunicar o fim do tratamento. Questionários padronizados foram utilizados nas avaliações inicial e final. 61 Os resultados dos tratamentos, tendo como base os escores dos instrumentos aplicados antes e depois do tratamento, apontaram que as crianças apresentaram significativas melhoras no inventário de depressão e na escala completada pelos cuidadores com relação à saúde e aos problemas de comportamentos das crianças. As avaliações clínicas apontaram benefícios significativos da grupoterapia. As crianças e as mães avaliaram positivamente a oportunidade de conhecer outras pessoas com experiências similares proporcionadas pela grupoterapia, conforme HABIGZANG L; (2006). Sessenta e cincos por cento das crianças demonstraram ter resolvido o sentimento de culpa com relação ao abuso, 78% demonstraram ter aprendido boas habilidades para prevenir futuros abusos e 41% apresentaram um melhor entendimento das origens do abuso. Além disso, foi verificado que a relação entre mãe e criança melhorou e as famílias desenvolveram habilidades para identificar necessidades da criança de acordo com sua idade (Hayde, Bentovim, & Monck, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). Poucos estudos controlados têm sido realizados para avaliar os resultados de tratamentos com crianças vítimas de abuso sexual, devido a uma série de obstáculos (Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006): Dificuldade em identificar sintomas devido à falta de capacidade das crianças em descrever alterações comportamentais, afetivas e cognitivas, uma vez que suas habilidades metacognitivas, auto perceptiva e vocabulário ainda estão em desenvolvimento, e o uso de informações de pais e professores pode, em alguns casos, ser incompatíveis, conforme HABIGZANG L; (2006). Dificuldade em obter amostras homogêneas, devido a diferenças, tais como idade, gênero, nível socioeconômico, tempo de exposição ao abuso e severidade deste, que impossibilitam uma padronização de procedimentos, conforme HABIGZANG L; (2006). Dificuldade em controlar a interferência de outras experiências de vida da criança, uma vez que o abuso sexual é apenas uma parte da história desta, que na maioria dos casos vêm acompanhada de outras formas de violência extra e intrafamiliar. Dessa forma, a melhoria das crianças não depende apenas da eficácia do tratamento, mas do funcionamento 62 dos adultos cuidadores da criança. A saúde mental dos pais, conflito conjugal, dinâmica familiar, presença de eventos estressores, o nível socioeconômico da família, fatores culturais e comunitários influenciam no grau e manutenção da melhoria, conforme HABIGZANG L; (2006). Apesar dos obstáculos descritos, as pesquisas que utilizam a Terapia Cognitiva- Comportamental (TCC) como forma de tratamento têm apresentado melhores resultados quando comparada com outras formas de tratamento não-focais para crianças e adolescentes com sintomas de ansiedade, depressão e problemas comportamentais decorrentes de violência sexual (Cohen, Mannarino, & Knudsen, 2005; Deblinger, Stauffer, & Steer, 2001; Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006). Além disso, TCC focada no trauma tem apresentado alta eficácia na redução de sintomas do transtornodo estresse pós-traumático (Cohen, Mannarino, & Rogal, 2001; Cohen, 2003 apud HABIGZANG L; 2006) e na reestruturação de crenças disfuncionais com relação à experiência abusiva (Celano, Campbell, & Lang, 2002 apud HABIGZANG L; 2006). 63 5 BIBLIOGRAFIA ALVES, Cláudia. Violência doméstica. Uc, [S. l.], p. 1-27, 2005. BACELAR DE SOUZA, Mariana. A importância da avaliação psicológica no abuso sexual de crianças e adolescentes. 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