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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 
2 CONCEITUANDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA ................................... 5 
2.1 A Violência no Brasil........................................................................... 14 
2.2 Tipologia da violência ......................................................................... 15 
3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ......................................................................... 17 
3.1 Consequências físicas e psicológicas da violência doméstica para a 
saúde da mulher .................................................................................................... 19 
3.2 O papel do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência 
doméstica 21 
3.3 Importância do atendimento psicológico ............................................ 27 
4 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ........... 29 
4.1 Entendendo os conceitos de violência, abuso e exploração sexual 
infantil 33 
4.2 Aspectos legais da violência sexual contra crianças e adolescentes . 34 
4.3 Consequências do Abuso Sexual ....................................................... 38 
4.4 Formas de Abuso Sexual ................................................................... 39 
4.5 Consequências e aspectos psicológicos observados na vítima de abuso 
sexual infantil ......................................................................................................... 40 
4.6 O papel do psicólogo na prevenção do abuso e violência sexual ...... 50 
4.7 A avaliação psicológica como meio de recuperação da vítima .......... 54 
4.8 Intervenção psicológica para vítimas de abuso sexual: aspectos gerais 
e pesquisas recentes ............................................................................................. 56 
4.9 Vínculo terapêutico e objetivos centrais do tratamento ...................... 56 
4.10 Tempo de tratamento ...................................................................... 57 
4.11 Modalidades terapêuticas ............................................................... 58 
 
3 
 
5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 63 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 CONCEITUANDO O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA 
 
Fonte: bpoder360.comr 
O fenômeno da violência é um dos grandes desafios enfrentados na atualidade. 
À medida que se configura como um recorte social, perpassando o cotidiano de todos 
de forma muitas vezes atordoante, verifica-se a necessidade de buscar compreensões 
e enfrentamentos dessa realidade sócio-humana, complexa e contemporânea. “A 
violência possui ligações profundas com a desigualdade entre as classes e a exclusão 
social, dessa forma, seu enfrentamento não pode eximir-se da melhoria do sistema 
de proteção social, do fortalecimento das políticas sociais e da garantia de direitos”. 
(SILVA, 2005, p. 20 apud SILVA H; 2007). 
É um fenômeno universal, cotidianamente toma-se conhecimento de fatos 
acontecidos em diferentes partes do mundo. É difícil de entendê-lo e conviver com 
ele. A todos afeta, sejam suas vítimas de diferentes classes sociais, etnias, culturas e 
religiões, conforme SILVA H; (2007). 
Hoje existe uma grande diversidade de estudos e abordagens sobre o tema 
violência, oportunizando uma aproximação à compreensão deste fenômeno. 
Recorrendo a uma compreensão filosófica, nos remetemos ao conceito de violência 
utilizado por Chauí. Autora reconhecida não só pela sua produção acadêmica, mas 
pela participação efetiva no contexto do pensamento e da política brasileira, conforme 
SILVA H; (2007). 
 
6 
 
A palavra violência vem do latim vis, que significa força. Chauí (1998 apud 
SILVA H; 2007) em seus estudos ainda aponta outros significados ao conceito de 
violência, a saber: 
 Desnaturar: tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de 
algum ser, conforme SILVA H; (2007). 
 Coagir, constranger, torturar, brutalizar: todo ato de força contra a 
espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém, conforme SILVA H; 
(2007). 
 Violar: todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa 
valorizada positivamente por uma sociedade, conforme SILVA H; (2007). 
 Todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações que alguém ou 
uma sociedade define como justas e como um direito, conforme SILVA 
H; (2007). 
 É um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra 
alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela 
opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror, conforme SILVA H; 
(2007). 
Chauí ainda salienta que a violência se opõe a ética, pois trata os sujeitos 
como se fossem coisas e não seres humanos. A violência se opõe à ética 
porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade 
como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou 
passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito 
racional, voluntário, livre e responsável, tratá-lo não como humano e sim 
como coisa, fazendo-lhe violência nos cinco sentidos em que demos a esta 
palavra. (CHAUÍ, 1998 apud SILVA H; 2007). 
Chama atenção também para as questões dos valores que estão enraizados 
na sociedade e regem a conduta dos homens. Em nossa cultura, a violência é 
entendida como o uso da força física, e do constrangimento psíquico para obrigar 
alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação 
da integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém. Eis porque o 
assassinato, a tortura, a injustiça, a mentira, o estupro, a calúnia, a má-fé, o roubo são 
considerados violência, imoralidade e crime. (CHAUÍ, apud SILVA, 2005, p. 21 apud 
SILVA H; 2007). 
 
 
7 
 
Segundo alguns autores (BOULDING, 1981, MINAYO e ASSIS, 1993 apud 
SANTANA J; et al., 2005), a violência pode ser classificada em: 
 Estrutural – aquela que advém da conduta política do Estado e seus 
governantes ao privilegiar alguns grupos em detrimento de outros, 
determinando as desigualdades e produzindo a exclusão, conforme 
SANTANA J; et al., (2005). 
 Cultural – impressa na cultura de um povo, seus preconceitos e valores 
(racismo, machismo, religião, entre outros), conforme SANTANA J; et 
al., (2005). 
 De resistência – manifestada pelos grupos oprimidos e subjugados como 
resposta à violência estrutural e cultural sofridas (os negros, os sem-
terra, os homossexuais etc.); e conforme SANTANA J; et al., (2005). 
 De delinquência – expressa nas formas mais visíveis ao senso comum, 
como o crime contra o patrimônio, o roubo, assalto, entre outros, 
conforme SANTANA J; et al., (2005). 
De acordo com SANTANA J; et al., (2005), a violência ocorre nas escolas, nas 
instituições, nos locais de trabalho, mas acontece principalmente nos lares ondea 
relação de poder e hierarquia entre os adultos e as crianças e adolescentes é muito 
forte, sendo que aí leva a denominação de violência doméstica. A seguir, sinalizamos 
os tipos mais comuns e seus sinais clínicos: 
 Abuso físico – toda e qualquer ação não acidental, única ou repetida, 
que produz dano físico ou lesão corporal, através de castigo, surras, 
açoites etc. Ao atendimento de saúde, deve-se suspeitar dos casos cuja 
explicação para as lesões não convence claramente, conforme 
SANTANA J; et al., (2005) 
 Abuso sexual – é o ato ou jogo sexual praticado por pessoa em estado 
psicossexual superior ao da criança ou adolescente. Acompanham 
lesões ou edema na região genital sem explicação plausível; criança 
pequena com infecções urinárias recorrentes deve deixar o profissional 
de saúde em alerta para iniciar a investigação conforme SANTANA J; et 
al., (2005) 
 Abuso psicológico – configura-se pela rejeição, subestima, 
isolamento, exigir da criança além do que pode apresentar, levá-la a 
 
8 
 
construir ideias negativas sobre si e o mundo. A criança ou adolescente 
apresenta comportamento polarizado, ou deprimido ou exibicionista, 
conforme SANTANA J; et al., (2005) 
 Negligência – não dispensar à criança ou adolescente os recursos 
materiais e afetivos para suprir suas necessidades, quando há 
condições para tal. Em não havendo recursos próprios, deve-se recorrer 
a outras alternativas. A criança se apresenta ao serviço de saúde ou à 
escola, descuidada, com vestes não apropriadas ao clima. Demonstra 
baixa autoestima e desinteresse pelo seu entorno, conforme SANTANA 
J; et al., (2005) 
Seguindo a linha de pensamento filosófico, nos reportarmos as compreensões 
de Hannah Arendt conhecida como a pensadora da liberdade. Sua obra é fundamental 
para se entender e refletir sobre os tempos atuais. Seu trabalho filosófico além de 
abarcar o tema da violência, também faz parte de seus estudos os temas como a 
política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral e a condição da 
mulher. Possui uma das mais vigorosas reflexões sobre o assunto, considera que 
nenhum historiador nem pesquisador deveria ser alheio ao imenso papel que a 
violência sempre desempenhou na História, conforme SILVA H; (2007). 
Para Arendt (apud PERISSINOTTO, 2004 apud SILVA H; 2007) a violência é 
inerente ao ato de fazer, fabricar e produzir. Dando continuidade à sua análise a autora 
a identifica com o ato de matar e violar. A violência não se identificaria com qualquer 
ato coativo, mas apenas com aquele que opera, no caso das relações sociais, sobre 
o corpo físico do oponente, matando-o. A violência para Arendt é a expansão do vigor 
a partir da inserção de uma lógica instrumental. 
Onde os comandos não são mais obedecidos, os meios de violência são 
inúteis; e a questão desta obediência não é decidida pela relação de mando 
e obediência, mas pela opinião e, por certo, pelo número daqueles que a 
compartilham. Tudo depende do poder por trás da violência. (ARENDT, 1994, 
p. 39 apud SILVA H; 2007). 
A violência dramatiza causas e possibilita à sociedade a compreensão de seus 
próprios limites. Ao analisar as causas da violência no mundo moderno, a autora 
evidencia a noção de instrumentalidade. “(...) A violência é por natureza instrumental, 
como todos os meios, ela sempre depende da orientação e da justificação pelo fim 
 
9 
 
que almeja. E aquilo que necessita de justificação por outra coisa não pode ser a 
essência de nada”. (ARENDT, 1994, p. 41 apud SILVA H; 2007). 
A violência, sendo instrumental por natureza, é racional à medida que é eficaz 
em alcançar o fim que deve justificá-la. E posto que, quando agimos, nunca 
sabemos com certeza quais serão as consequências eventuais do que 
estamos fazendo. (ARENDT, 1994, p. 58 apud SILVA H; 2007). 
Minayo (1994 apud SILVA H; 2007), socióloga coordenadora científica do 
Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVE), 
evidencia que a violência é um dos eternos problemas da teoria social e da prática 
política e relacional da humanidade. Não se conhece nenhuma sociedade onde a 
violência não tenha estado presente. Sempre existiu a preocupação do homem em 
entender a essência deste fenômeno “sua natureza, suas origens e meios 
apropriados, a fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da convivência social”. 
(MINAYO, 1994, p.07 apud SILVA H; 2007). 
Conforme a autora a violência não é uma, mas sim múltipla. De origem latina, 
o vocábulo vem da palavra vis, que significa força e se refere às noções de 
constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro. No seu sentido 
material, o termo parece neutro, mas quem analisa os eventos violentos descobre que 
eles se referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo poder e a vontade de domínio 
e aniquilamento do outro, e que suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, 
lícitas ou ilícitas, segundo normas sociais mantidas por aparatos legais da sociedade 
ou por usos e costumes naturalizados. Mutante, a violência designa, pois, realidades 
muito diferentes. Há violências toleradas e há violências condenadas, conforme SILVA 
H; (2007). 
E desde o início da modernidade, ela se enriquece de novas formas, cada vez 
mais complexas e, ao mesmo tempo, mais fragmentadas e articuladas. (MINAYO, 
2003; 2006 apud SILVA H; 2007) expressa a dificuldade de se conceituar este 
fenômeno, haja vista, ser um fenômeno da ordem do vivido, cujas manifestações 
provocam ou são provocadas por uma forte carga emocional de quem a comete, de 
quem a sofre e de quem a presencia. 
A violência se apresenta ora como manifestação da dinâmica e da trajetória de 
uma sociedade, ora como fenômeno específico que se destaca e influencia essa 
mesma dinâmica social. Nunca existiu uma sociedade sem violência, mas sempre 
existiram sociedades mais violentas que outras, cada uma com sua história. A 
 
10 
 
violência não pode ser analisada nem tratada fora da sociedade que a produz. 
(MINAYO, 1994 apud SILVA H; 2007). 
De acordo com a autora a violência é um desafio para a sociedade, e não 
apenas um mal, podendo ser também um elemento de mudanças. (...) trata-
se de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, mas seu espaço 
de criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. (...). Daí se conclui, 
também que na configuração da violência se cruzam problemas da política, 
da economia, da moral, do direito, da Psicologia, das relações humanas e 
institucionais, e do plano individual. (MINAYO, 1994, p.08 apud SILVA H; 
2007). 
Em seus estudos tem como aporte a obra de Chenais (1981 apud SILVA H; 
2007) que distingue três definições de violências que contemplam tanto o âmbito 
individual quanto o coletivo: no centro de tudo, a violência física, que atinge 
diretamente a integridade corporal e que pode ser traduzida nos homicídios, 
agressões, violações, torturas, roubos a mão armada; a violência econômica, que 
consiste no desrespeito e apropriação, contra a vontade dos donos ou de forma 
agressiva, de algo de sua propriedade e de seus bens, e, por último, a violência moral 
e simbólica, aquela que trata da dominação cultural, ofendendo a dignidade e 
desrespeitando os direitos dos outros. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). 
De acordo com SILVA H; (2007), nesta direção, Minayo desenvolve uma 
análise das três fontes explicativas para a violência, sob o ponto de vista filosófico e 
sociológico: 
 Uma delas considera como expressão as crises sociais que levam a 
população mais atingida negativamente, à revolta frente a sociedade ou 
ao Estado que não conseguem lhe dar respostas adequadas. Apresenta 
como exemplos Tquecville, que explica a violência do povo na 
Revolução Francesa como reação a uma situação insuportável, Fanon 
que a justifica como vingança dos pobres e explorados, Sorel que a 
define como o mito necessário para a transformação da sociedade 
burguesa desigual numa sociedadeigualitária de base popular, Sartre 
que a considera como um fenômeno inevitável no universo da escassez 
e das necessidades sociais. (MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). 
 Caráter racional e instrumental da violência, que constituiria um meio 
para atingir fins específicos. Tenta explicar como atores excluídos do 
campo político utilizam a violência para conseguir se manter no palco do 
 
11 
 
poder. Consideram a pessoa violenta como um ser consciente que atua 
no campo de interações. Apresenta como exemplos Engels, que 
valorizava a violência como um acelerador do desenvolvimento 
econômico, e Hannah Arendt que a considera como um meio e um 
instrumento para a conquista do poder, e ressalta que só existe violência 
quando há incapacidade de argumentação e de convencimento. 
(MINAYO, 2006 apud SILVA H; 2007). 
 Forte articulação entre violência e cultura. Recorre a Norbert Elias que 
em sua obra tem como fio condutor o papel civilizatório da modernidade 
que criou mecanismos de institucionalização e de solução de conflitos, 
levando os indivíduos a dominar sua agressividade e suas pulsões 
violentas, Freud que apresenta várias interpretações da violência no 
mesmo sentindo, em diferentes etapas de seu pensamento. (MINAYO, 
2006 apud SILVA H; 2007). 
No Brasil o foco sobre a área da violência vem do impacto que ela apresenta 
na vida da população, bem como por extensão, no setor da saúde. Ela é um risco para 
o processo vital dos seres humanos, pois, ameaça à vida, altera a saúde, produz 
enfermidades, ocasionando muitas vezes até a morte. (MINAYO, 2004 apud SILVA H; 
2007). 
Por ser um fenômeno sócio-histórico, a violência não é, em si, uma questão 
de saúde pública e nem um problema médico típico. Mas afeta fortemente a 
saúde: 1) provoca morte, lesões e traumas físicos e um sem-número de 
agravos mentais, emocionais e espirituais; 2) diminui a qualidade de vida das 
pessoas e das coletividades; 3) exige uma readequação da organização 
tradicional dos serviços de saúde; 4) coloca novos problemas para o 
atendimento médico preventivo ou curativo e 5) evidencia a necessidade de 
uma atuação muito mais específica, interdisciplinar, multiprofissional, 
intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos cidadãos. Nos 
últimos anos, o setor saúde introduziu o tema em sua pauta, consciente de 
que pode contribuir para sua discussão e prevenção. (MINAYO, 2006, p. 45 
apud SILVA H; 2007). 
Conforme Veronese (2006 apud SILVA H; 2007) a violência é abuso da força, 
usar de violência é agir sobre alguém ou fazê-lo agir contra a sua vontade, 
empregando a força ou a intimidação. É forçar, obrigar. É também brutalidade, sevícia, 
maus-tratos, cólera e fúria. De acordo com Silva (2005 apud SILVA H; 2007) para se 
discutir sobre violência é importante que esta seja considerada mais que um 
fenômeno prejudicial, deve ser cuidadosamente investigada e discutida em todas as 
 
12 
 
suas facetas, haja vista, ser esta um fenômeno social que se constitui e é constituído 
por diversas causas, podendo levar também a consequências diversas e graves. 
A violência pode ser gerada por muitos fatores e a cada novo estudo, novas 
possibilidades de geração da violência são apontadas. Em todas as suas 
manifestações é hoje, um dos principais problemas que estamos enfrentando. “Deixou 
de ser um fato exclusivamente policial para ser um problema social que afeta a 
sociedade como um todo. (...) A sociedade está com medo, está aterrorizada frente à 
falta de perspectivas e soluções para o aumento desenfreado da violência”. (BAIERL 
e ALMENDRA, 2002, p. 59 apud SILVA H; 2007). 
Buscando uma compreensão deste fenômeno a partir da visão do Serviço 
Social nos remetemos ao Assistente Social Vicente de Paula Faleiros, que vem 
trazendo estudos significativos em relação a violência. Para o autor a violência é um 
processo social relacional complexo e diverso. É um processo relacional, pois deve 
ser entendido na estruturação da própria sociedade e das relações interpessoais, 
institucionais e familiares. (FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). 
A sociedade se estrutura nas relações de acumulação econômica e de poder, 
nas contradições entre grupos e classes dominantes e dominados bem como 
por poderes de sexo, gênero, etnias, simbólicos, culturais, institucionais, 
profissionais e efetivos. A relação de poder, assim, é complexa, por envolver 
tanto o contexto social mais geral como as relações particulares que devem 
ser tecidas junto, numa perspectiva histórica e dinâmica. É um processo 
diversificado em suas manifestações: familiares, individuais, coletivas, no 
campo e na cidade, entre os diferentes grupos e segmentos, e atinge tanto o 
corpo como a psique das pessoas. (...) A conflitualidade é fundante da 
existência social, na esfera da dinâmica social e familiar, e mesmo a 
existência do sujeito dividido entre o desejo e as normas sociais de proibição 
da realização do desejo. (FALEIROS, 2007, p. 27 apud SILVA H; 2007). 
O impacto da violência é tanto o de produzir a desigualdade como provocar 
uma dinâmica de enfrentamentos. A violência, de acordo com o autor, é entendida na 
estrutura social dos conflitos, nas relações complexas de poder, na correlação de 
forças gerais e particulares. É entendida como uma relação desigual de poder, 
implicando a negação do outro, da diferença, da tolerância e das oportunidades. Como 
conseguinte, traduz-se em prejuízo, dano ou sofrimento e infringe o pacto social de 
convivência, de garantia de direitos e de modo civilizatório fundado nos direitos 
humanos. (FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). 
 
 
13 
 
Apresenta como sinônimos de violência: desarmonia, desconformidade, 
desequilíbrio, desigualdade, desproporção, desunidade, diferença, discordância, 
discrepância, disparidade, dessemelhança, dessimetria, dissimilitude, 
inconformidade. Amplia seus estudos introduzindo como componente o medo, que 
por sua vez, faz com que as testemunhas e as vítimas não denunciem os agressores, 
ameaçados por eles com o uso de mais violência. O medo, como a outra face da 
violência, envolve a subjetividade, o imaginário, a precaução, o retraimento e a defesa. 
(FALEIROS, 2007 apud SILVA H; 2007). 
Schmickler (1997 apud SILVA H; 2007) também vem fazendo estudos 
significativos na área do Serviço Social sobre a violência. De acordo com a autora, a 
história nos mostra que as manifestações de violência tiveram características 
peculiares em cada época, em que formas mais bárbaras e cruéis conviviam com as 
suas formas mais sutis. 
Ainda, segundo a autora, estudos de diferentes áreas mostram que a violência 
que ocorre nos centros urbanos e no ambiente familiar é potencializada por vários 
fatores de ordem social como a pobreza, o desemprego, a exclusão social, o consumo 
e tráfico de drogas, o alcoolismo, as aglomerações urbanas, etc. (SCHMICKLER, 
1997 apud SILVA H; 2007). 
A violência de que é palco a urbes surpreende-nos e nos assusta a cada dia. 
Ela tem seus lócus no espaço urbano, mas também está presente nos lares 
e nas formas mais sutis como as humilhações, a exclusão social, os 
preconceitos, o desrespeito às minorias, o cerceamento das formas de 
expressão... (SCHMICKLER, 1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). 
A violência de que somos sujeitos e objetos faz parte das nossas vidas como 
os comportamentos e os gestos mais simples. Não é sem motivo que o 
mundo, hoje, vive as consequências de um processo em que o uso 
indiscriminado do poder e o desrespeito à vida contribuem para montar um 
cenário de grandes injustiças, de desigualdades, de desrespeito às 
diferenças. O homem parece mesmo ser o lobo do homem. (SCHMICKLER, 
1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). 
Essas definições apresentadas a partir de alguns autores selecionados e que 
abordam o tema violência, permitem a reflexão e o reconhecimento de que tal 
fenômeno aparece nos diferentes espaços estruturais da vida em sociedade. É a partir 
da análise dessesdiversos autores de diferentes áreas que entende-se que a 
violência, pela sua natureza complexa, envolve as pessoas na sua totalidade 
biopsíquica e social, de forma dinâmica. Cada vez mais sente-se a necessidade de 
 
14 
 
incluir a compreensão mais específica dos fatores e contextos que propiciam 
comportamentos, ações e processos violentos, conforme SILVA H; (2007). 
 É fato observado que existem na realidade histórica, sociedades mais violentas 
que outras, sejam quais forem os tipos de manifestações do fenômeno. É fruto de 
inúmeras observações e pesquisas e deve ser sempre analisada como um fenômeno 
que faz parte de processos históricos complexos. Sempre existirão elementos gerais 
e específicos na forma de apresentação e reprodução desse fenômeno. Por fim, a 
violência se realiza como parte da história humana e social, seja qual for sua 
especificidade, conforme SILVA H; (2007). 
Por que o homem é violento? Que motivações o levam a exceder os limites? 
Em que circunstâncias a violência acontece? Quais são as determinações 
que levam o homem à violência? Notificar os casos de violência? Tornar 
públicas as ocorrências? (SCHMICKLER, 1997, p. 74 apud SILVA H; 2007). 
Essas questões estão nos debates de profissionais de diferentes áreas: 
assistentes sociais, advogados, psicólogos, sociólogos, filósofos, médicos, entre 
outros. Constata-se que todas as pessoas são vulneráveis a este risco, porém as mais 
vulneráveis como as mulheres, crianças, adolescentes e idosos são os principais 
alvos e apresentam características distintas, conforme SILVA H; 2007. 
2.1 A Violência no Brasil 
O Brasil é um país com a maior miscigenação da América e quiçá do mundo, 
em virtude de que a sua colonização, teve a sua formação com descendências de 
vários povos, que vieram em busca de um mundo novo; outros já habitavam o país e 
há aqueles que foram trazidos à força. Segundo Camargo (2005 apud OLIVEIRA V; 
2014), ‘’ os primeiros a chegarem ao Brasil foram aqueles que tinham sido excluídos 
de sua sociedade, os condenados, perseguidos, judeus convertidos ao cristianismo, 
pessoas sem família e sem posses, enfim, quem não tinha mais nada a perder’’. 
É lamentável que a história do Brasil esteja marcada pela violência contra os 
mais fracos. Por isso ainda reflete o extermínio. Ela se iniciou com o massacre de 
índios, com a exploração da mulher pelo homem, com a escravidão dos negros. Esta 
história que não é tão antiga está presente até hoje na sociedade, conforme OLIVEIRA 
V; (2014). 
 
15 
 
A violência está presente de tal modo, em cada um dos passos e gestos do 
homem atual que não se pode deixar de indagar se ela é um fenômeno continuo na 
vida do homem. Há mais de duas décadas atrás Odalia (1986 apud OLIVEIRA V; 
2014) já dizia que: ‘’ a violência, no mundo de hoje, parece tão clara em nosso dia-a-
dia que pensar e agir em função dela deixou de ser um ato circunstancial, para se 
transformar numa forma do modo de ver e de viver o mundo do homem’’. Logo, pode-
se dizer que a violência está na mente dos homens, do apego a tudo que dá prazer, 
a rejeição a tudo que ameaça, quer seja pessoa, coisa ou ideia. 
Odalia (1986 apud OLIVEIRA V; 2014) prossegue ainda dizendo que a 
violência está de tal modo arraigada em cada um dos passos e gestos do 
homem moderno que não se pode deixar de indagar se ela é um fenômeno 
típico de nossa época; se é um traço essencial que individualiza nosso tempo. 
Isto é, será a violência, em nossos dias, um elemento estrutural que permite 
diferençar nosso estilo de vida, nossas condições de viver em sociedade, 
daquelas que viviam há cem, duzentos ou trezentos anos atrás? Resuma-se 
a questão: a violência hoje é um modo de ser do homem contemporâneo? 
(ODALIA. 1986, p.12-3). 
Embora possa ser verdade que violência, seja uma das características da vida 
do homem contemporâneo, não se pode negar que ela acompanha os passos do 
homem, tida como condições básica da sobrevivência, conforme OLIVEIRA V; (2014). 
2.2 Tipologia da violência 
Em sua resolução WHA49.25 de 1996, em que declarava a violência como um 
importante problema de saúde pública, a Assembléia Mundial da Saúde convocou a 
OMS para desenvolver uma tipologia da violência que caracterizasse os diferentes 
tipos de violência e os elos que os conectavam. Há poucas tipologias existentes, e 
nenhuma é muito abrangente, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 
De acordo com DAHLBERG L; et al., (2006), a tipologia aqui proposta divide a 
violência em três amplas categorias, segundo as características daqueles que 
cometem o ato violento: 
 Violência autodirigida, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 
 Violência interpessoal, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 
 Violência coletiva, conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 
 
 
16 
 
A categorização inicial estabelece uma diferença entre a violência que uma 
pessoa inflige a si mesma, a violência infligida por outro indivíduo ou por um pequeno 
grupo de indivíduos e a violência infligida por grupos maiores, como estados, grupos 
políticos organizados, grupos de milícia e organizações terroristas, conforme 
DAHLBERG L; et al., (2006). 
De acordo com DAHLBERG L; et al., (2006), estas três categorias amplas são 
ainda subdivididas, a fim de melhor refletir tipos mais específicos de violência: 
 Violência auto-infligida é subdividida em comportamento suicida e 
agressão auto-infligida. O primeiro inclui pensamentos suicidas, 
tentativas de suicídio – também chamadas em alguns países de "para-
suicídios" ou "auto-injúrias deliberadas" – e suicídios propriamente 
ditos. A autoagressão inclui atos como a automutilação, conforme 
DAHLBERG L; et al., (2006). 
 Violência interpessoal divide-se em duas subcategorias: 1) violência de 
família e de parceiros íntimos – isto é, violência principalmente entre 
membros da família ou entre parceiros íntimos, que ocorre usualmente 
nos lares; 2) violência na comunidade – violência entre indivíduos sem 
relação pessoal, que podem ou não se conhecerem. Geralmente ocorre 
fora dos lares. O primeiro grupo inclui formas de violência tais como 
abuso infantil, violência entre parceiros íntimos e maus-tratos de idosos. 
O segundo grupo inclui violência da juventude, atos variados de 
violência, estupro ou ataque sexual por desconhecidos e violência em 
instituições como escolas, locais de trabalho, prisões e asilos, conforme 
DAHLBERG L; et al., (2006). 
 Violência coletiva acha-se subdividida em violência social, política e 
econômica. Diferentemente das outras duas grandes categorias, as 
subcategorias da violência coletiva sugerem possíveis motivos para a 
violência cometida por grandes grupos ou por países. A violência 
coletiva cometida com o fim de realizar um plano específico de ação 
social inclui, por exemplo, crimes carregados de ódio, praticados por 
grupos organizados, atos terroristas e violência de hordas. A violência 
política inclui a guerra e conflitos violentos a ela relacionados, violência 
do estado e atos semelhantes praticados por grandes grupos. A 
 
17 
 
violência econômica inclui ataques de grandes grupos motivados pelo 
lucro econômico, tais como ataques realizados com o propósito de 
desintegrar a atividade econômica, impedindo o acesso aos serviços 
essenciais, ou criando divisão e fragmentação econômica. É certo que 
os atos praticados por grandes grupos podem ter motivação múltipla, 
conforme DAHLBERG L; et al., (2006). 
3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
Fonte: bemquerermulher.org.br 
A violência é um fenômeno histórico e social, que apresenta diferentes 
conteúdos e formas nas diversas sociedades, de acordo com a variação de valores 
culturais que influenciam os juízos éticos de cada uma delas. As diferenças culturais 
dificultam a conceituação da violência, todavia certos aspectos que a envolve são 
mantidos, nas diversas sociedades e culturas, permitindo sua caracterização 
(LUCENA et al., 2012 apud FREITAS R;2015). 
A violência doméstica é caracterizada como todo o tipo de violência que inclui 
membros do grupo, sem função parental, e que residam no espaço doméstico, sendo 
incluídas também pessoas que não convivam constantemente no mesmo ambiente 
(NARVAZ; KOLLER, 2006 apud FREITAS R; 2015). 
 
 
 
18 
 
 Quando se fala em violência doméstica, a mulher é sem dúvida a principal 
vítima que nos vem em pensamento. Segundo Fonseca; Ribeiro; Leal (2012 apud 
FREITAS R; 2015), a violência contra a mulher é todo ato criminal praticado por 
motivos de gênero, dirigido contra uma mulher. E segundo dados da literatura, alguns 
estudiosos concordam que esse tipo de violência sempre existiu na sociedade, e que 
está associada a vários fatores, principalmente a questões de gênero. 
É definido ainda como qualquer ato de violência de gênero que tenha como 
resultado ou venha a resultar em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para 
a mulher, até mesmo ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária da 
liberdade, quer seja em público ou na vida privada (CAVALCANTI et al., 2014 apud 
FREITAS R; 2015). 
Em todo mundo, pelo menos uma em cada três mulheres já foi vítima de 
violência doméstica. Na maioria dos casos, a mulher é espancada, coagida ao sexo 
ou sofreu alguma outra forma de abuso durante a vida. O agressor, normalmente é 
um membro de sua própria família (na maioria dos casos seu próprio parceiro). A 
violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos 
humanos no mundo e, infelizmente, o menos reconhecido (DAY et al., 2003 apud 
FREITAS R; 2015). 
Logo, na sua forma mais peculiar, a violência doméstica é expressa como o 
desejo que um indivíduo tem em querer controlar e dominar o outro, numa clara 
manifestação de poder. Quando acarreta a violência, é porque houve um esgotamento 
do diálogo entre os parceiros, ou seja, teve fim a interação saudável e do respeito 
entre os cônjuges, de forma que envolve atos repetitivos, e que vão se agravando com 
frequência e intensidade, conforme FREITAS R; (2015). 
Podendo estes fatos resultar em danos físicos e emocionais permanentes, 
tanto para a vítima quanto para seus filhos. Onde tanto a vítima quanto o agressor 
apresentam imensas dificuldades em expressar seus sentimentos de maneira 
amorosa, o que resulta em conflito por meio da agressão física, verbal ou psicológica 
(FÓRUM NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, 2006 apud 
FREITAS R; 2015). 
 
19 
 
3.1 Consequências físicas e psicológicas da violência doméstica para a saúde 
da mulher 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica 
contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a 
integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por 
círculo vicioso de “idas e vindas” aos serviços de saúde e o consequente aumento 
com os gastos neste âmbito (GROSSI, 1996 apud FONSECA P; et al., 2006). 
Cada tipo de violência gera, segundo Kashani e Allan (1998 apud FONSECA 
P; et al., 2006), prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, 
moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, 
como as inflamações, contusões, hematomas, ou crônicas, deixando sequelas para 
toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de 
deficiências físicas, entre outras. 
Os sintomas psicológicos frequentemente encontrados em vítimas de violência 
doméstica são: insônia, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, falta de 
apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, 
ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos 
autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio 
(KASHANI; ALLAN, 1998 apud FONSECA P; et al., 2006). 
Objetivando compreender a interface entre tais aspectos teóricos e sua 
realidade no âmbito social, iniciou-se uma pesquisa, caracterizada pela realização de 
25 entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica, de faixa etária entre 18 
e 55 anos. Quanto à escolaridade destas mulheres, 84% não chegaram a concluir o 
Ensino Médio. No tocante à situação conjugal, 72% já estavam separadas de seus 
parceiros no momento da pesquisa, conforme FONSECA P; et al., (2006). 
Um percentual de 96% das entrevistadas relatou sofrer algum tipo de 
consequência decorrente da situação de violência. Dentre estas, o aumento da 
pressão arterial, dores no corpo, principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir, 
foram os sintomas físicos mais relatados, correspondendo a um total de 66,6%. Em 
alguns casos, a presença de algum, ou até mais de um, desses sintomas contribuiu 
para a procura de acompanhamento médico, conforme FONSECA P; et al., (2006). 
 
 
20 
 
Um grande número de mulheres, que corresponde a um total de 41,6%, relatou 
como principal consequência psicológica decorrente da violência sofrida, o sentimento 
de tristeza, que influencia no cumprimento de suas atividades. Muitas afirmaram sentir 
menos vontade de exercer seus afazeres diários, desejo de chorar frequentemente, 
além de querer consumir bebidas alcoólicas mais do que o habitual, conforme 
FONSECA P; et al., (2006). 
Estados de ansiedade, estresse e agressividade também foram mencionados 
por 16,6% das entrevistadas, que admitiram estar mais nervosas e impacientes com 
amigos, familiares e até mesmo com os filhos. A insegurança foi uma característica 
encontrada nas falas de 12,5% das vítimas, uma vez que sentiam-se indefesas e 
acuadas, em função de não terem a quem recorrer para obter um apoio nesta 
situação, conforme FONSECA P; et al., (2006). 
A violência psicológica compromete a saúde mental, ao interferir na crença que 
a mulher possui sobre sua competência, isto é, sobre a habilidade de utilizar 
adequadamente seus recursos para o cumprimento das tarefas relevantes em sua 
vida. A mulher pode apresentar distúrbios na habilidade de se comunicar com os 
outros, de reconhecer e comprometer-se, de forma realista, com os desafios 
encontrados, além de desenvolver sentimento de insegurança concernente às 
decisões a serem tomadas. Ocorrências expressivas de alterações psíquicas podem 
surgir em função do trauma, entre elas, o estado de choque, que ocorre imediatamente 
após a agressão, permanecendo por várias horas ou dias (BRASIL, 2001 apud 
FONSECA P; et al., 2006). 
Para tentar suportar essa realidade, a mulher precisa abdicar não somente de 
seus sentimentos, mas também de sua vontade. Com isso, ela passa a desenvolver 
uma autopercepção de incapacidade, inutilidade e baixa autoestima pela perda da 
valorização de si mesma e do amor próprio (MILLER, 1999 apud FONSECA P; et al., 
2006). 
Viver em um estado de constante medo foi uma experiência relatada por 12,5% 
das mulheres entrevistadas, que, constantemente, imaginam o momento em que seu 
parceiro poderá voltar a agredi-la, deixando, até mesmo, de desfrutar de seus 
instantes de lazer, como sair com amigos e receber familiares, pois tudo isto pode 
soar como provocação e consequente retorno às agressões, conforme FONSECA P; 
et al., (2006). 
 
21 
 
3.2 O papel do psicólogo no atendimento às mulheres vítimas de violência 
doméstica 
A mulher que convive ou já conviveu, durante algum tempo, com a violência 
perpetrada pelo parceiro, geralmente, tem um comprometimento psicológico, como a 
dificuldade de mudar sua realidade, uma vez que “a pessoa sob jugo não é mais 
senhora de seus pensamentos, está literalmente invadida pelo psiquismo do parceiro 
e não tem mais um espaço mental próprio” (HIRIGOYEN, 2006, p. 182 apud 
MONTEIRO F; 2012). Por esta razão ela necessita de uma ajuda externa que a auxilie 
a criar mecanismos para mudar sua realidade e superar as sequelas deixadas pelo 
processo de submissão às situações de violência. (HIRIGOYEN, 2006 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
O psicólogo,independente, da abordagem ou método escolhido para realizar 
esse tipo de atendimento, deverá primeiramente criar um “rapport” e um vínculo 
terapêutico com a vítima, fazendo com que ela se sinta num ambiente seguro e 
confiável, pois, somente desta forma, ela conseguirá compartilhar as experiências 
vividas que lhe causaram sofrimento. (SOARES, 2005; PIMENTEL, 2011 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
Outro objetivo do atendimento psicológico às vítimas é fazer com que elas 
resgatem sua condição de sujeito, bem como sua autoestima, seus desejos e 
vontades, que ficaram encobertos e anulados durante todo o período em que 
conviveram em uma relação marcada pela violência. Desta forma, elas poderão ter 
coragem para sair da relação que, durante muito tempo, tirou delas a condição de ser 
humano, tornando-as alienadas de si mesmas, conforme MONTEIRO F; (2012). 
Este é um processo que continua ativo durante um longo período no psiquismo 
da mulher, mesmo que ela já tenha colocado um ponto final na relação. Pois, no 
período em que sofreu as violências, o parceiro a desqualificava de todas as formas, 
através da violência psicológica e moral. (HIRIGOYEN, 2006; SOARES, 2005 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
A introjeção das mensagens impostas pelo seu agressor fez com que sua 
autoestima se tornasse cada vez menor, fazendo-a se sentir cada vez mais como um 
objeto, deixando de ser um sujeito dotado de vontades e saberes (HIRIGOYEN, 2006; 
SOARES, 2005 apud MONTEIRO F; 2012). De acordo com Bastos (2009 apud 
MONTEIRO F; 2012) a escuta do terapeuta quando feita de forma adequada e ativa, 
 
22 
 
é um fator de facilitação da autoexpressão da pessoa em atendimento psicológico, 
mas escutar não é o mesmo que ouvir. Quando a pessoa diz estar ouvindo algo, isto 
se remete, ao próprio fato de estar conseguindo a partir do seu aparelho auditivo 
assimilar sons. Quando se fala em escuta, fala-se mais do que simplesmente ouvir. 
A escuta é quando, além de ouvir, nós prestamos atenção naquilo que está 
sendo dito, esta é uma atenção flutuante, ou seja, que não se prende a um 
determinado ponto da fala do outro, mas sim, no todo do que está sendo dito. A escuta 
ativa prende a atenção do profissional que o faz prestar mais atenção e curiosidade 
sobre o que está por vir na fala do sujeito. Quando se utiliza a escuta ativa o psicólogo 
pode fazer intervenções inesperadas, que faça com que o sujeito pense de forma 
diferente da que havia pensado até então, conforme MONTEIRO F; (2012). 
No trabalho feito com as mulheres vítimas de violência é fundamental que o 
psicólogo faça uma escuta ativa. “É preciso ajudá-las a verbalizar, a compreender sua 
experiência e, então, levá-las a criticar essa experiência” (p. 183). Pois, a partir da 
compreensão e da ampliação da consciência de suas experiências, a mulher 
conseguirá se proteger da violência, bem como resgatar sua identidade. 
(HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
É necessário que o profissional tenha paciência e saiba ou aprenda a lidar com 
a frustração. Se ele possui um papel muito ativo na psicoterapia, querendo que a 
mulher elabore e realize mudanças, a seu modo e seu tempo, poderá encontrar 
dificuldades para conduzir o tratamento e, inclusive, fazer que com que a mulher se 
sinta pressionada a ponto de desistir do processo terapêutico, conforme MONTEIRO 
F; (2012). 
O ritmo do trabalho feito com mulheres vítimas de violência, muitas vezes, é 
mais lento, e marcado por altos e baixos. As mulheres, mesmo durante o tratamento, 
podem vir a reatar o relacionamento com o agressor. Neste momento, o psicólogo 
deverá tomar cuidado para não julgar esta decisão a seu próprio modo. É um trabalho 
que exige do profissional muita paciência, pois a mulher precisa mudar sua visão a 
respeito de fenômenos, que foram naturalizados por ela. (HIRIGOYEN, 2006 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
Segundo Hirigoyen (2006 apud MONTEIRO F; 2012), existem algumas 
etapas que devem ser seguidas no processo terapêutico com mulheres que 
já foram ou são vítimas de violência doméstica. O primeiro passo da 
psicoterapia é fazer com que a mulher enxergue a violência sofrida tal qual 
ela é. Muitas mulheres possuem dificuldades para perceber que se 
 
23 
 
encontram numa relação perpetuada pela violência. Até pelo fato de já terem 
tomado a violência sofrida como algo natural, principalmente, quando se trata 
da violência psicológica, que ocorre de forma mais sutil o que dificulta sua 
identificação. A partir do momento em que a mulher reconhece a violência 
sofrida, que este tipo de comportamento é abusivo e traz sofrimentos para 
sua pessoa ela terá capacidade de mobilizar recursos para sair dessa 
situação. 
A mulher que foi vítima de violência, em muitos casos, é transformada em 
abjeto pelo seu companheiro e depois por ela mesma que aceita e introjeta de forma 
passiva aquilo que o homem diz a seu respeito. O psicólogo fará o papel de auxiliar a 
mulher a perceber que ela experienciou uma situação de violência praticada pelo seu 
companheiro ou ex-companheiro, mas que a culpa não foi dela. Muitas mulheres 
justificam a ação praticada pelo homem culpando-se ou atribuindo a causa da 
violência a fatores externos a ele. Contudo, isto é um dos objetivos dos homens 
violentos. Eles negam a responsabilidade pelo ato agressivo e tentam de todas as 
formas fazer com que a mulher acredite que a culpa foi dela. (HIRIGOYEN, 2006 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
Muitas vítimas possuem dificuldade para reconhecer a violência como algo fora 
do padrão normal de relacionamento. Muitas se perguntam se a atitude do parceiro 
foi uma violência ou não. Uma das intervenções que o psicólogo poderia fazer seria 
questionar a pergunta da vítima, a fim de fazer com que ela mesma pense e chegue 
a sua conclusão. Uma boa pergunta seria: “Se você fizesse a mesma coisa, como é 
que seu cônjuge reagiria? ”. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
A psicoterapia se diferencia do atendimento psicossocial em grupo ou 
individual, pois, na psicoterapia, o principal objetivo é ampliar a consciência da 
significação dada pela vítima às agressões do parceiro, do processo de negação e 
repressão de experiências, que podem acirrar o sofrimento e o conflito com o outro. 
Já na intervenção psicossocial o objetivo é empoderar a vítima para transformar ou 
sair da situação de violência, descobrindo formas de lutar pelos seus direitos, realizar 
seus desejos e objetivos de vida. (TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud 
MONTEIRO F; 2012). 
Na psicoterapia, o psicólogo precisa adotar uma postura ativa e mostrar para a 
mulher de maneira clara, que as atitudes aparentemente normais do parceiro, que lhe 
causaram algum tipo de vergonha, ou insegurança, ne verdade são de caráter 
violento. (TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud MONTEIRO F; 2012). 
 
24 
 
Nesse contexto, o psicólogo não deve adotar uma postura neutra, pois as 
mulheres vítimas de violência buscam apoio e assistência. O terapeuta pode intervir 
solicitando ao paciente que nomeie aquilo que é agressivo para ele e fale como se 
sente diante de um comportamento agressivo, sem negar suas emoções, pois, assim, 
o paciente consegue sair do bloqueio emocional. Esta intervenção auxilia o paciente 
a dar nome à violência sofrida, bem como, a reconhecer suas emoções que durante 
muitos anos foram negadas e reprimidas. Auxilia no processo de construção do 
sujeito, como ser no mundo. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
Outra etapa do processo terapêutico é fazer com que a mulher não se sinta 
responsável ou culpada pela violência sofrida. Pois o parceiro, utilizando-se de vários 
tipos de manipulação, a fez acreditar que a culpa é dela. Na psicoterapia o caminho é 
fazer com que a pessoa se sinta responsável pelo próprio destino. No atendimento à 
vítima, o trabalho também será feito desta forma, evidenciando as possibilidades de 
mudança que a pessoa vitimada pode fazer em relaçãoao agressor e isso só depende 
dela. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
Na psicoterapia, o objetivo é trabalhar para que as vítimas se sintam livres de 
uma culpa que não é delas. Para que isso seja feito, a vítima deve saber que quando 
se encontra numa relação de violência a dificuldade de reagir é maior, porque ela se 
encontra sob influência e manipulação do outro, o que impede a percepção da 
realidade tal como ela é. Quando a mulher consegue enxergar que ela não é culpada, 
que na verdade é vítima e quem deve se responsabilizar pela relação violenta é o 
parceiro, as soluções começam a aparecer. (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 
2012). 
No entanto, a atuação do psicólogo deve ter esse formato quando a relação 
conjugal violenta é assimétrica. Isto é, o homem assume, visivelmente, o papel de 
dominador e a mulher de dominada. Nesse papel, a mulher se sente frágil e impotente 
diante de seu agressor, submetendo-se a este e introjetando a culpa que é dele. 
Nesse contexto, a mulher vivencia uma situação de impasse, pois embora esteja 
sofrendo na relação, a possibilidade de separação também é insuportável, devido ao 
sentimento de incapacidade para reconstruir sua vida sem o parceiro, conforme 
MONTEIRO F; (2012) 
 
 
25 
 
 Na violência conjugal assimétrica, a vítima, geralmente, mantém uma relação 
de co-dependência em relação ao agressor, tornando-se indispensável o resgate da 
autoestima, autoconfiança e autonomia através de um processo de conscientização 
de si mesma, de suas necessidades, desejos, potencialidades e capacidade para 
transformar sua vida e promover sua autorrealização independente do outro. 
(TENÓRIO, comunicação pessoal, 28/10/2012 apud MONTEIRO F; 2012). 
No contexto da violência a mulher possui uma autoestima baixa, não acredita 
em si mesma, pois aprendeu durante anos a ser submissa, sem autonomia para tomar 
decisões e fazer escolhas por conta própria. É esse o fenômeno do assujeitamento 
que deverá ser trabalhado na psicoterapia. Uma das possibilidades de realizar esse 
trabalho é pedir para que ela faça listas contendo seus pontos positivos e suas 
conquistas diante da vida. Desta forma, ela perceberá que é capaz de alcançar novos 
objetivos, terá possibilidades de pensar em novos sonhos e metas para sua vida. É 
um processo de libertação, de reconquista e reconhecimento. A pessoa consegue 
superar o sofrimento psíquico quando possui uma boa autoimagem, quando tiveram 
na infância boas experiências afetivas, produzindo o sentimento de segurança e 
confiança em si mesma. Para conseguir mudar sua história a mulher precisa, 
primeiramente, aceitar a história que construiu até o momento. É a partir da aceitação 
de si mesma e da sua história que ocorrem as possibilidades de mudança subjetiva. 
(HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
Outro aspecto importante a ser trabalhado durante o processo terapêutico é 
aprender a estabelecer limites. Em um relacionamento marcado pela violência, onde 
o homem exerce seu poder e dominação sobre a mulher, esta fica impossibilitada de 
reagir e colocar seus limites. Portanto, uma etapa importante do processo é ensinar a 
mulher a impor suas vontades. Quando a mulher demarca seus limites de forma clara, 
o parceiro os compreende e percebe que não pode ultrapassá-los, conforme 
MONTEIRO F; (2012). 
 Na terapia, isso não acontece do dia para a noite, é um processo longo, no 
qual as mudanças podem ser percebidas aos poucos. “Dizer eu não quero permite 
retomar o poder. É importante ser senhora das suas escolhas. ” (p.187). A mulher 
precisa reconhecer seu próprio limite para estabelecê-los. Algumas se perguntam se 
amam o agressor o suficiente. Contudo, a questão não é o amor. A questão é se 
apesar do amor, o relacionamento nos faz bem. Se amamos algo que para nossa 
 
26 
 
saúde física, psíquica e mental nos é destrutivo, qual caminho devemos escolher? 
(HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO F; 2012). 
Quando a mulher se encontra num processo de psicoterapia ela começa a 
recuperar sua capacidade crítica sobre as coisas que são boas ou ruins para ela. 
Percebem quando começa a ocorrer uma violência e quando o homem é violento e 
percebe também que estes comportamentos do homem servem para esconder seus 
próprios medos e fragilidades. “A submissão cessa quando a vítima se conscientiza 
de que, se não ceder, o outro não terá nenhum poder”. (HIRIGOYEN, 2006, p.188 
apud MONTEIRO F; 2012). 
Trabalhado esses aspectos acima, poderá ser feito com o paciente, uma 
análise da sua história individual, a fim de compreender em quais momentos da sua 
vida ela se tornou vulnerável a este tipo de relacionamento e criar possibilidades de 
mudanças subjetivas. É importante analisar e compreender se existem na mulher 
traços de codependência emocional. Assim como uma pessoa pode torna-se 
dependente de substâncias entorpecentes como álcool ou drogas. A mulher pode se 
tornar dependente do parceiro agressor, conforme MONTEIRO F; (2012). 
 A codependência pode ser compreendida como “uma condição emocional, 
psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da exposição 
prolongada de um indivíduo a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas que 
evitam a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas 
pessoais e interpessoais”. É importante compreender se a mulher possui 
características co-dependentes porque quando se descobre o problema é possível 
encontrar uma solução, bem como direcionar o tratamento da psicoterapia. (BEATTIE, 
1992 apud MONTEIRO F; 2012). 
Muitos desses procedimentos também são aplicados no atendimento 
psicossocial individual e de grupo, a diferença é que nesse tipo de atendimento as 
questões emocionais ligadas a situações mal resolvidas no passado e os mecanismos 
de defesa que dificultam a consciência dos motivos que a fazem permanecer na 
relação violenta não são trabalhados, como acontece no atendimento psicoterápico 
individual, conforme MONTEIRO F; (2012). 
 
 
 
27 
 
No acompanhamento psicológico com a mulher, vítima de violência doméstica, 
o psicólogo deve ajudá-la a transformar sua autoimagem e a resgatar sua autoestima, 
que durante a relação violenta pode ter sido minada com sentimentos de menos valia, 
impotência, incapacidade, culpa e insegurança, conforme MONTEIRO F; (2012). 
Outra questão importante que o psicólogo deve trabalhar com a vítima é a 
ampliação da consciência, para que ela perceba os motivos que a fazem continuar na 
relação, que a fazem permanecer fixada no algoz. O profissional deve ajudá-la a 
identificar quais são as perdas e os ganhos que ela tem ao continuar fixada na relação. 
Outro aspecto importante a ser trabalhado é auxiliar a vítima a mobilizar energia, para 
sair da situação de submissão e do papel de dominada no qual se encontra. Para isso 
a vítima precisa mudar sua postura diante do agressor ou reconstruir sua vida longe 
dele. (TENÓRIO, 2012 apud MONTEIRO F; 2012). 
3.3 Importância do atendimento psicológico 
O psicólogo, é de fato um profissional muito importante para o atendimento 
psicológico desta mulher vítima de violência doméstica e independente de qual 
abordagem ou procedimento usará para seu atendimento, é necessário inicialmente 
criar uma interação terapêutica com a vítima, fazendo com que a mesma sinta-se 
segura e confiável, como sendo uma forma de ponto de partida para fazer com que a 
vítima consiga entender quais as experiências vividas que lhe ocasionaram sofrimento 
(SOARES, 2005; PIMENTEL, 2011apud SANTOS e OLIVEIRA, 2018, p.06 apud 
SIMIANO R; et al., 2018). 
Assim, Hirigoyen (2006 apud SIMIANO R; et al., 2018) e Monteiro (2012 apud 
SIMIANO R; et al., 2018) reafirmam que diante das consequências da violência 
doméstica a mulher pode necessitar do auxílio do psicólogo para criar estratégias 
psicológicas que lhe permitam superar as implicações da violência vivida, alterar sua 
realidade, e resgatarsua condição de sujeito com desejos e vontades. Desta forma, 
através da escuta ativa há a possibilidade de a mulher vítima de violência doméstica, 
em atendimento psicológico, refletir de diferentes formas, para que a partir de um olhar 
crítico da experiência, consiga se proteger do fenômeno da violência e resgatar sua 
autonomia e identidade. 
 
28 
 
De fato, é um trabalho considerando lento pelo fato de a mulher necessitar 
modificar a ideia do que até então era natural. É aí que entra o psicólogo, atuando no 
papel de acolhimento e orientação, para que a mulher perceba que foi violentada e 
que tenha o reconhecimento de que a culpa não deve ser atribuída a si própria e tão 
pouco os motivos externos que levou o agressor praticar o ato, a fim de que a mesma 
crie recursos para sair de tal situação (HIRIGOYEN, 2006, p.185 apud SIMIANO R; et 
al., 2018). 
O ritmo do trabalho feito com mulheres vítimas de violência, muitas vezes, é 
mais lento, e marcado por altos e baixos. As mulheres, mesmo durante o 
tratamento, podem vir a reatar o relacionamento com o agressor. Neste 
momento, o psicólogo deverá tomar cuidado para não julgar esta decisão a 
seu próprio modo. É um trabalho que exige do profissional muita paciência, 
pois a mulher precisa mudar sua visão a respeito de fenômenos que foram 
naturalizados por ela (HIRIGOYEN, 2006 apud MONTEIRO 2012, p.22 apud 
SIMIANO R; et al., 2018). 
Na psicoterapia é possível ampliar a consciência da vítima quanto às violências 
perpetradas pelo agressor, tanto no processo de negação quanto na contenção de 
experiências. E, ainda trabalhar com estratégias que possibilitem o empoderamento 
da vítima a fim de modificar ou sair da situação de violência, descobrindo as formas 
de lutar pelos seus direitos e desejos de vida (TENÓRIO, 2012 apud MONTEIRO 
2012, p.23). 
Logo, também é de fundamental importância que o profissional faça uma escuta 
ativa. Segundo Hirigoyen (2006, p. 183 p.23 apud SIMIANO R; et al., 2018) “é preciso 
ajudá-las a verbalizar, a compreender sua experiência e, então, levá-las a criticar essa 
experiência”. Pois, a partir da compreensão e da ampliação da consciência de suas 
experiências, a mulher conseguirá se proteger, bem como resgatar sua identidade. 
[...] A escuta ativa prende a atenção do profissional que o faz prestar mais 
atenção e curiosidade sobre o que está por vir na fala do sujeito. Quando se 
utiliza a escuta ativa o psicólogo pode fazer intervenções inesperadas, que 
faça com que o sujeito pense de forma diferente da que havia pensado até 
então (BASTOS, 2009 apud MONTEIRO 2012, p.22, p.23 apud SIMIANO R; 
et al., 2018). 
 
 
 
 
 
29 
 
Por fim, de fato é necessário citar que na intervenção profissional dos casos de 
violência doméstica, o psicólogo apresenta um atendimento vinculado à intervenção 
da justiça. “[...] é preciso realizar intervenções mantendo relação com o contexto 
jurídico e social no qual a vítima e o autor estão inseridos criando um espaço 
terapêutico e estratégias de intervenção psicossocial a fim de facilitar as mudanças 
subjetivas” (COSTA, BRANDÃO, 2005 apud MONTEIRO 2012, p.21 apud SIMIANO 
R; et al., 2018). 
Para tanto, os atendimentos não se limitam em apenas atendimento privado, 
sendo realizado em um ambiente diferenciado, com intervenção tanto individual 
quanto em grupos de modo socioeducativos. Logo, como o atendimento é realizado 
torna-se um trabalho multidisciplinar em conjunto com a justiça (COSTA & BRANDÃO, 
2005 apud MONTEIRO, 2012, p.21 apud SIMIANO R; et al., 2018). 
4 VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
 
Fonte: streetleastwestfeel.live 
 
 
 
30 
 
A violência sexual é uma das mais graves violações aos direitos humanos de 
crianças e adolescentes. Essa forma de violência é multideterminada e suas raízes 
são históricas, sociais e culturais, baseadas sempre em uma relação desigual e de 
poder. As consequências dessa violação de direito trazem marcas e prejuízos em 
diferentes contextos de suas vidas, conforme VICINGUERA B; (2019). 
A violência sexual de crianças e adolescentes provoca sérios danos físicos, 
emocionais e sociais, e seu entendimento vem sendo construído ao longo 
dos anos com diversos atores da comunidade nacional e internacional de 
proteção, promoção e defesa de direitos das crianças e dos adolescentes 
(MORESCHI, 2018, p. 40 apud VICINGUERA B; 2019). 
Para atuar na proteção de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, 
é imprescindível conhecer as diferentes formas de expressão dessa violação, suas 
características e consequências, bem como os contextos de ocorrência. O trabalho 
deve sempre contemplar uma atuação baseada no interesse superior dos indivíduos, 
sendo indispensável aos profissionais orientar suas intervenções no preceito da 
proteção integral e nas diretrizes do Estatuto da Criança e Adolescente, conforme 
VICINGUERA B; (2019). 
A violência contra crianças e adolescentes é um dos maiores problemas no 
âmbito social e da saúde enfrentados pela sociedade atualmente. Ocorre em 
diferentes âmbitos e manifesta-se de diversas formas, podendo ser definida como “o 
ato ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou 
intimidação moral contra (alguém) ” (Houaiss apud BALBINOTTI, 2009 apud 
MIORANZA A; et al., 2018). 
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) violência é o uso de força física 
ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra 
um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, 
dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação (DAHLBERG E 
KRUG, 2006, p. 1167 apud MIORANZA A; et al., 2018). 
Conforme os mesmos autores, esta definição faz uma associação da 
intencionalidade com a realização do ato, independente do resultado que foi 
produzido. A palavra "poder", em complemento à frase "uso de força física", expande 
a natureza de um ato violento e amplia o conceito usual de violência, para a inclusão 
de atos que resultam de uma relação de poder, de acordo com MIORANZA A; et al., 
(2018). 
 
31 
 
Já para Chauí (1985 apud Araújo; apud MIORANZA A; et al., 2018), a violência 
é uma relação de forças que se caracteriza de um lado pela dominação e de outro 
pela coisificação do sujeito. O referido estudo teve como objetivo compreender o 
abuso sexual intrafamiliar, observando sua relação com famílias que praticam o 
incesto, além de tratar dos impactos que esta violência causa na vida de crianças e 
adolescentes. 
A violência intrafamiliar é considerada uma ação ou omissão por parte de algum 
integrante da família, mesmo que não tenha laços sanguíneos, que cause danos ao 
outro indivíduo (MAGALHÃES et al., 2017 apud MIORANZA A; et al., 2018). É uma 
forma de relação social, física, política, um problema de saúde pública, que está 
diretamente relacionado ao modo que o homem produz e reproduz suas condições 
sociais de existência, ao passo que nega valores considerados universais, como 
liberdade, respeito, igualdade e a própria saúde fica e mental. (ADORNO, 1988 apud 
FLORENTINO, 2015 apud MIORANZA A; et al., 2018). 
É considerada também, um fenômeno histórico que está presente no cotidiano 
de crianças e adolescentes de todos os segmentos e classes sociais. Por serem mais 
vulneráveis e dependentes, acabam sendo maiores vítimas de atos abusivos e maus-
tratos, no qual os principais agressores são pessoas que deveriam zelar por sua 
proteção e deixá-los a salvo de qualquer ação desumana e violenta (MAGALHÃES et 
al., 2017 apud MIORANZA A; et al., 2018). 
O abuso sexual infantil intrafamiliar é apenas uma das muitas formas de 
violência a que uma criança/adolescente está exposta no lar e não tem distinção de 
raça, cor, etnia ou condição social. Acontece de modo velado e, muitas vezes, não é 
relatado às autoridades competentes (BALBINOTTI, 2009 apud MIORANZA A; et al., 
2018). É um problema universal que atinge milhares de vítimasde forma silenciosa e 
disfarçada, de ambos os sexos e não costuma obedecer nenhuma regra como nível 
social e econômico por exemplo. (FLORENTINO, 2015 apud MIORANZA A; et al., 
2018). 
 
 
 
 
 
32 
 
Conforme Saffioti e Almeida (1995 apud PENSO et al., 2009 apud MIORANZA 
A; et al., 2018), o abuso sexual é uma forma de violência na qual o agressor propõe à 
vítima atividades de natureza sexual, de forma coercitiva e/ou sedutora. Há um 
processo de dominação física e psicológica, no qual o poder do autor do abuso é 
normalmente de natureza violenta e autoritária (Campos & Faleiros, 2000 apud 
PENSO et al., 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). Neste sentido, 
O abuso sexual gera problemas na saúde destas vítimas como depressão, 
agressividades, diversos distúrbios psicológicos, que se configura pelo exercício da 
força, a qual acaba sendo imposta por silenciamentos, segredos, cumplicidade e 
sedução (Faleiros, 2003 apud PENSO et al., 2009), podendo ocorrer desde atos em 
que não há o contato sexual, como o voyerismo, exibicionismo, produção de fotos, até 
o contato sexual propriamente dito, sem ou com penetração (CAMINHA, 2000 apud 
MIORANZA A; et al., 2018). 
Florentino (2015, p. 139 apud MIORANZA A; et al., 2018) pontua que o abuso 
sexual é caracterizado por qualquer ação de interesse sexual de um ou mais 
adultos em relação a uma criança/adolescente, podendo ocorrer tanto no 
âmbito intrafamiliar – relação entre pessoas que tenham laços afetivos, 
quanto no âmbito extrafamiliar – relação entre pessoas que não possuem 
parentesco. 
Segundo a World Health Organization – WHO (Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & 
Lozano, 2002 apud DELL'AGLIO; MOURA E SANTOS, 2011), o abuso sexual é 
praticado por pessoas que estão em um estágio de desenvolvimento e maturidade 
superior ao da vítima. Esse tipo de violência é um fenômeno que ocorre através de 
uma dinâmica de funcionamento específica, iniciando-se de modo sutil e na medida 
em que o abusador conquista a confiança da vítima, os contatos sexualizados tornam-
se mais íntimos (CAMINHA, 2000 apud MIORANZA A; et al., 2018). 
De modo geral, pode-se pensar no abuso sexual infantil como uma relação de 
poder desigual, uma vez que o agressor utiliza-se da confiança e dependência da 
criança/ adolescente, com o objetivo de apoderar-se de sua sexualidade. Já a vítima, 
assume uma posição submissa, sendo incapaz de compreender a natureza real desta 
relação no contexto de tantas outras que mantém com seus progenitores e/ou 
cuidadores (PENSO et al., 2009 apud MIORANZA A; et al., 2018). 
 
 
 
33 
 
Na maioria dos casos, nota-se que o abuso sexual intrafamiliar nem sempre 
deixa marcas físicas nas vítimas, justamente por não ocorrer mediante violência física. 
O agressor se utiliza da lealdade e confiança que a criança/adolescente deposita nele 
para cometer o abuso e garantir então, o seu silêncio (Jonzon & Lindbland, 2004 apud 
DELL'AGLIO E SANTOS, 2010 apud MIORANZA A; et al., 2018). Essa situação pode 
ser mantida em segredo por gerações, o que acaba dificultando a revelação e a busca 
de ajuda (Narvaz & Koller, 2004 apud DELL'AGLIO E SANTOS, 2010 apud 
MIORANZA A; et al., 2018). 
Para Dell’aglio e Santos (2010 apud MIORANZA A; et al., 2018), essa é uma 
das formas de violência mais preocupantes existentes no Brasil. É uma realidade 
complexa, com muitas particularidades e doenças psicológicas específicas, que 
poderão afetar a capacidade da criança em revelar a situação abusiva. Também 
causa grande impacto em diferentes áreas do comportamento da vítima como 
depressão, descontrole, anorexia, problemas de concentração, digestivos, fobias, 
sensação de estar sujo, entre outros. (RODRIGUES, 2014 apud MIORANZA A; et al., 
2018). 
Estudiosos inclusive apontam que o abuso sexual infantil se constitui em uma 
das expressões que mais afetam as estruturas da saúde, nas questões 
psíquicas e emocionais na vida do sujeito (LIMA E DIOLINA, 2013 apud 
MIORANZA A; et al., 2018). 
4.1 Entendendo os conceitos de violência, abuso e exploração sexual infantil 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1995 define o abuso sexual 
infantil como um fenômeno que envolve maus tratos sofridos por crianças e 
adolescentes. Alguns autores definem que a expressão “abuso sexual” é entendida 
como sendo um sinônimo de violência sexual, mas apesar da semelhança são termos 
diferentes (FURNISS, 1993; LAMOUR, 1997; SOUZA; SILVA, 2002 apud SANTOS R; 
2020). 
Para Rocha (2006), a referência à violência sexual implica no uso de força física 
ou psicológica, incluindo os atos praticados contra menores ou pessoas incapazes de 
compreender o significado de tais ações. Quando se trata “de pessoas com 
deficiência, que fazem parte de um grupo ainda mais vulnerável por estar mais 
exposta a maioria das condições de risco, tanto no âmbito familiar como no meio 
social. ” (FERREIRA, 2009, p. 1 apud SANTOS R; 2020). 
 
34 
 
O abuso sexual infantil é descrito como toda situação em que uma criança ou 
um adolescente é utilizado para gratificação sexual de pessoas, geralmente 
mais velhas. O uso do poder pela assimetria entre abusador e abusado é o 
que mais caracteriza essa situação. Segundo a Associação Brasileira 
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), 
compreende-se que, o abusador se aproveita do fato de a criança ter sua 
sexualidade despertada para consolidar a situação de acobertamento. A 
criança se sente culpada por sentir prazer e isso é usado pelo abusador para 
conseguir o seu consentimento (ABRAPIA, 2002, n.p.1 apud SANTOS R; 
2020). 
De acordo com Bezerra (2006, p. 7 apud SANTOS R; 2020) o abuso sexual 
“[...] é uma conduta sexual com a criança levada a cabo por um adulto ou por outra 
mais velha [...]”, ao contrário da violência sexual, que segundo Ferreira (2009, p. 9 
apud SANTOS R; 2020) representa um tipo de agressão “[...] em que não há força 
física para obtenção do prazer sexual, ou seja, podendo ser configurado por meio de 
diversas ações, todas violentas em essência, mas não necessariamente fisicamente 
violentas”. 
Segundo Santos e Ippolito (2009, apud IBIAPINA; ROCHA, 2013, p. 5 apud 
SANTOS R; 2020) o abuso sexual “[...] é a situação em que crianças ou adolescentes 
utilizam ou são levadas para gratificação sexual de pessoas, geralmente mais velhas”, 
cuja violência que envolve poder, coação ou sedução, sendo praticada, geralmente, 
no contexto intrafamiliar e social das vítimas. “Não é o toque, nem a violência física e 
nem a falta de consentimento que vão definir o abuso sexual, mas sim a sexualidade 
vinculada ao desrespeito ao indivíduo e aos seus limites” (COHEN, 2000, p. 4 apud 
SANTOS R; 2020). 
Nesse sentido, o abuso sexual ocorre por meio de um ato criminoso no qual 
uma pessoa adulta ou com idade superior à vítima submete a criança ou o 
adolescente, com ou sem consentimento, para satisfazer-se, impondo a força física, 
ameaça ou pela sedução e charme, com palavras ou com ofertas de presentes, 
conforme SANTOS R; (2020). 
4.2 Aspectos legais da violência sexual contra crianças e adolescentes 
No contexto internacional, em relação aos direitos das crianças e dos 
adolescentes, 196 nações signatárias da ONU realizaram uma convenção sobre à 
temática em 20 de novembro de 1989, cuja vigência foi em 2 de setembro de 1990, 
representando um instrumento basilar de direitos humanos, cujo Brasil ratificou o 
 
35 
 
documento em seu ordenamento jurídico um ano depois, através do Decreto n. 
99.710, de 21 de novembro de 1990, reconhece-se direitos a cuidados e assistência 
especiais de crianças e adolescentes, conforme SANTOS R; (2020 apud SANTOS R; 
2020). 
Reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento 
de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de 
felicidade, amor e compreensão. [...] A criança, em virtude de sua falta de 
maturidade física e mental, necessita proteção e cuidados especiais,inclusive 
a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento (BRASIL, 
1990b, n.p apud SANTOS R; 2020). 
Na CF de 1988, mais especificamente no art. 227, caracteriza-se que é dever 
“da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente [...] o direito 
[...] à dignidade, o respeito [...], além de colocá-los a salvo de exploração, violência, 
crueldade” (BRASIL, 1988). Vale frisar que, no Brasil, diferentemente da especificação 
da Convenção sobre os Direitos das Crianças que considera como sendo os sujeitos 
menores de 18 anos, de acordo com o ECA, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, em 
seu art. 2, caracteriza-se “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos 
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” 
(BRASIL, 1990a, n.p apud SANTOS R; 2020.). 
Desse modo, no que tange à violência sexual, segundo o texto normativo da 
Convenção sobre os Direitos das Crianças, Art. 19 - Os Estados Partes 
adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e 
educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de 
violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou 
exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia 
dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável 
por ela (BRASIL, 1990b, n.p. apud SANTOS R; 2020). 
De modo complementar, a CF de 1988,em seu art. 227, Inciso VII, parágrafo 4, 
promulga que “a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da 
criança e do adolescente” (BRASIL, 1988 apud SANTOS R; 2020), tal como determina 
o Código Penal brasileiro, em seu Capítulo II, do art. 217 ao art. 218-C, ao caracterizar 
os crimes de: sedução, estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de 
lascívia mediante presença de criança ou adolescente, favorecimento da prostituição 
ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, 
divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo 
ou de pornografia. 
 
36 
 
No ECA de 1990, em seu art. 101, Inciso XI, parágrafo 2, caso seja 
caracterizado a violência ou o abuso sexual, expressa-se o afastamento do convívio 
familiar, como também no art. 130, tem-se que, “[...] verificada a hipótese de maus-
tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade 
judiciária poderá determinar [...] o afastamento do agressor da moradia” (BRASIL, 
1990a). O abuso sexual normalmente acontece no âmbito familiar sem o uso de força 
ou violência física, sendo alcançado através da confiança e do laço emocional 
estabelecido entre o agressor e a vítima. Num ambiente em que supostamente a 
criança deveria sentir-se protegida, o que torna o crime ainda mais grave, pois pode 
ser silenciada e perpassa gerações, conforme SANTOS R; (2020). 
Inclusive, compete destacar que, segundo texto normativo do ECA de 1990, em 
seus art. 241 a 241-E, específica sobre os crimes envolvendo registros de cenas 
sexuais explícitas ou pornográficas envolvendo crianças e adolescentes, bem como o 
art. 244-A trata dos crimes de submeter crianças e adolescentes a prostituição e 
exploração sexual. Segundo a ABRAPIA, a verdadeira incidência do abuso sexual é 
desconhecida, acreditando ser uma das condições de maior subnotificação e sub-
registro: em todo o mundo estima-se que sejam 12 milhões de pessoas a cada ano 
que sofrem algum tipo de violência sexual desta natureza (ABRAPIA, 2002 apud 
SANTOS R; 2020). 
Durante muito tempo, as violências sexuais contra crianças e adolescentes 
ocorrem no Brasil e em países de todos os níveis de desenvolvimento e renda, 
podendo afetar crianças de todas as idades e em diferentes contextos. Meninos e 
meninas são vítimas de violência sexual, mas as meninas estão em maior risco. No 
contexto histórico social, no ato de violência sexual prevalece uma “cultura de 
dominação e de discriminação social, econômica, de gênero e de raça, devido a 
concepções autoritárias e repressoras de uma sociedade paternalista” (TONON; 
AGLIO, 2009, p. 4 apud SANTOS R; 2020). No Brasil, em 2002, dados levantados 
pela ABRAPIA indicam que: 
A cada minuto, uma criança é vítima de violência doméstica. Diariamente 18 
mil crianças são espancadas, e pelo menos 100 morrem, 63% são abusadas 
sexualmente. São 6,5 milhões de casos de violência por ano, sendo que mais 
da metade é praticada dentro de casa. Acidentes e violência doméstica 
provocam 64% das mortes de crianças e adolescentes no país (ABRAPIA, 
2002, n.p. apud SANTOS R; 2020). 
 
37 
 
A situação da violência contra criança é mais trágica ainda se considerar que, 
os números levantados pela ABRAPIA em 2002, não representam a totalidade dos 
casos de violência existentes na sociedade, pois muitos não são denunciados porque, 
conforme SILVA (1990 apud FERREIRA, 2009, p. 41 apud SANTOS R; 2020) “[...] a 
violência física é cercada por um silêncio, tendo em vista que esse assunto causa 
vergonha, culpa, medo e desafia os tabus culturais”. 
A partir desse prisma delineado dos elementos jurídicos e estatísticos da 
violência sexual contra crianças e adolescentes, convém ressaltar os aspectos 
biopsicossociais desta problemática, por representar uma demanda de saúde pública, 
cujas implicações podem ser percebidas em função do “processo saúde doença, pela 
alta prevalência e devido ao efeito deletério que causa ao indivíduo, às famílias e à 
sociedade. ” (SOARES et al, 2016, p. 88 apud SANTOS R; 2020). 
Desse modo, a violência sexual infantil pode ser caracterizada como sendo 
relativa a atos que envolvem contato de cunho sexualizado, inclusive sem a ocorrência 
de penetração genital, anal ou oral, tais como: “o exibicionismo, prática de carícias e 
manipulação de genitália, mama ou ânus, realizada por adulto ou adolescente de mais 
idade. ” (PFEIFFER; SALVANGNI, 2005, p. 200 apud SANTOS R; 2020). 
Sendo assim, constata-se que, em geral, as crianças e adolescentes vítimas 
de violência sexual desenvolvem problemas biopsicossociais que ultrapassam os 
limites imediatistas dos atos abusivos, apresentando elementos que necessitam de 
apoio interdisciplinar, objetivando reduzir os traumas causados pelos crimes sofridos 
(OLIVEIRA et al, 2005 apud SANTOS R; 2020). 
Nas vitimizações sexuais, além das lesões físicas sofridas, as pessoas 
tornam – se mais vulneráveis a outros tipos de violência. [...] diante dessa 
magnitude de eventos seu enfrentamento tem sido um grande desafio para a 
sociedade (BRASIL, 2010, n.p. apud SANTOS R; 2020). 
De modo complementar, segundo Ballone (2003 apud SANTOS R; 2020), 
observa-se que, em razão da criança ou adolescente vítima de violência sexual não 
ser estruturada psicologicamente e nem ter a maturidade ética e moral da agressão 
sofrida, torna-se potencialmente vulnerável a desenvolver traumas emocionais. 
Geralmente, a criança abusada sexualmente, principalmente por familiares 
ou pessoas significativas, desenvolve a perda da autoestima, torna-se 
retraída, perde a confiança nos adultos e pode até chegar a considerar o 
suicídio (BALLONE, 2003, n.p apud SANTOS R; 2020). 
 
38 
 
Portanto, para um melhor entendimento das nuances envolvendo a violência 
sexual contra criança e adolescente é de suma importância apreciar as diferenciações 
conceituais entre violência, abuso e exploração sexual contra crianças e 
adolescentes, bem como as características do agressor, os sinais e sintomas 
desenvolvidos nas vítimas, conforme SANTOS R; (2020). 
4.3 Consequências do Abuso Sexual 
Crianças e adolescentes que foram abusadas sexualmente tendem a 
apresentar uma diferente visão do mundo, ou melhor, por terem sofrido esse tipo de 
violência, podem se tornar adultos com problemas de relacionamento com outras 
pessoas. Segundo Silva (2002 apud Oliosi; Mendonça; Boldrine, 2010, p. 30 apud 
OLIVEIRA I; et al., 2015): 
 A criançae o adolescente violentados sexualmente poderão sofrer 
consequências físicas: lesões físicas gerais, lesões genitais, gravidez geralmente 
problemática, ISTs/AIDS, disfunções sexuais e psicológicas tais como, sentimento de 
culpa, autodesvalorização, depressão, medo da intimidade quando adultos, negação 
de relacionamentos afetivos, distúrbios sexuais, suicídio, e problemas de 
personalidade e identidade, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 
Ainda, Machado (2005 apud REZENDE, 2011, p. 6 apud OLIVEIRA I; et al., 
2015) complementa que “Algumas vítimas não apresentam sintomas ou esses se 
manifestam de forma menos intensa, enquanto outras desenvolvem graves problemas 
emocionais, sociais ou psiquiátricos”. 
Enfim, de acordo com o posicionamento dos autores supracitados percebe-se 
que são várias as consequências que afetam crianças e adolescentes que foram 
expostos a violência sexual, porém, algumas delas apresentam-se de forma menos 
intensa do que outras. Mas algumas consequências podem ser diferenciadas de 
acordo com a forma como ocorreu o abuso, sendo com contato físico ou não, 
conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 
 
39 
 
4.4 Formas de Abuso Sexual 
O abuso sexual se apresenta de diferentes formas, seja com contato físico ou 
sem contato físico. Diante disso, Sánchez (1995 apud OLIVEIRA I; et al., 2015) 
diferencia esses tipos de abuso como sendo o primeiro tipo, o abuso sexual sem 
contato físico, que pode ser o abuso sexual verbal, envolvendo conversas abertas 
sobre atividades sexuais que podem despertar o interesse da criança ou 
adolescentes; telefonemas obscenos em que a maioria das ligações são feitas por 
adultos, especialmente do sexo masculino, podendo gerar ansiedade na criança, 
adolescente e família; exibicionismo que é chocar a vítima, é em parte motivado por 
esta reação; voyeurismo, ou seja, a experiência pode perturbar e assustar a criança 
ou o adolescente, sendo que a internet atualmente influencia o voyeur. 
Também outros tipos de abuso sem contato físico envolvem mostrar para 
crianças fotos ou vídeos pornográficos, como por exemplo, fotografar crianças nuas 
ou em posições sedutoras com objetivos sexuais. Sánchez (1995 apud OLIVEIRA I; 
et al., 2015) explica que o segundo tipo de abuso é abuso sexual com contato físico, 
que está relacionado a casos envolvendo estupro, o qual do ponto de vista legal, é ato 
que ocorre quando da penetração vaginal com o uso de violência e ameaças, sendo 
que em crianças e adolescentes de até 14 anos, a violência é presumida; outra forma 
é o atentado violento ao pudor em que o adulto força a criança ou adolescente a 
praticar atos libidinosos, sem penetração vaginal, utilizando-se da violência ou de 
grave ameaça. 
Há também o incesto que envolve qualquer relação de caráter sexual entre um 
adulto e uma criança ou adolescente e entre adolescente com uma criança, quando 
existe laço familiar; o assédio sexual que é a proposta de contato sexual; quando é 
utilizada, na maioria das vezes, o agente exerce uma posição de poder sobre a vítima, 
que é chantageada e ameaçada pelo agressor, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 
O autor ainda destaca como abuso sexual com contato físico, o abuso sexual 
intrafamiliar em que há a relação incestuosa, representando a maioria dos casos de 
abuso sexual, e o abuso sexual extrafamiliar em que o abusador é alguém em quem 
a criança confia como médicos, educadores, padres e pastores, responsáveis por 
atividades de lazer, entre outros, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 
 
 
40 
 
Diante das formas de abuso sexual apresentadas acima, é importante ressaltar 
que independente de que forma o abuso seja realizado, o mesmo traz consequências 
à vida social das crianças e adolescentes e fazem com que as mesmas apresentem 
comportamentos diferentes, conforme OLIVEIRA I; et al., (2015). 
4.5 Consequências e aspectos psicológicos observados na vítima de abuso 
sexual infantil 
É sabido que a vítima de abuso sexual infantil carrega consequências após o 
abuso. Portanto, este capítulo discorrerá sobre aspectos observados, desde físicos 
até psicológicos, descreve, ainda, o que esse ato tão cruel causa na vida de uma 
criança de curto e ao longo prazo, conforme LIMA J; (2016). 
Estudos apontam que a violência sofrida nos primeiros anos de vida, deixa 
sequelas para a vida toda. (BRASIL, 2002 apud LIMA J; 2016). O abuso sexual na 
infância é uma triste realidade, encaixada no quadro negro da quebra do direito da 
criança ao respeito, enquanto ser humano e um futuro cidadão, acarretando 
consequências em sua vida. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). 
Nas palavras de Sant’ Anna e Baima (2008 apud LIMA J; 2016), o abuso sexual 
infantil pode ocasionar consequências emocionais, físicas, sociais e sexuais. Essas 
implicações podem manifestar-se de múltiplas maneiras, podendo ser devastadoras 
e definitivas. Entre as possíveis consequências, entre curto e longo prazo está a 
depressão e estresse pós-traumático. 
Conforme descreve Carvalho (2005 apud LIMA J; 2016), a modificação 
inesperada de comportamentos da criança ou adolescente pode sinalizar violência 
sexual. Os sinais físicos do abuso são mais fáceis de serem vistos que os sinais 
emocionais, dessa forma torna-se de suma importância estar atento a estas 
transformações. Alguns sinais físicos que podem ser exibidos pelas crianças e/ou 
adolescentes são: dificuldade de andar; inchaços e dores nas áreas genitais e/ou 
anais; danos e sangramentos sem causa aparente; dificuldade para dormir, Infecções 
Sexualmente Transmissíveis (ISTs), secreções vaginais ou penianas; dificuldade em 
controlar a bexiga e o intestino e, infecção urinária. 
 
 
 
41 
 
Os indícios comportamentais são: comportamento sexual impróprio para a fase 
em que está vivenciando; vergonha exagerada; autoflagelação; fuga de casa e medo 
em voltar; hiperativismo ou hipoativismos, comportamento infantilizado, masturbação 
excessiva; choros sem causa visível e rebeldia excessiva. Deste modo as 
consequências possíveis provocadas pelo abuso sexual nas crianças ou adolescentes 
são: sentimento de culpa e vergonha; sentimento de ser perversa suja e de mínimo 
valor; perda da confiança nas outras pessoas; receio constante de sofrer novo abuso; 
e, depressão. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). 
De acordo com algumas pesquisas publicadas nas últimas décadas é possível 
descrever as seguintes consequências do processo de vitimização, tais como: 
traumas físicos, infecções e doenças venéreas, desordens menstruais, distúrbios de 
sono e de alimentação, dificuldades de aprendizagem, uso de álcool e drogas, fugas, 
prostituição, etc. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). 
Segundo Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016), culpa e vergonha, medo e 
embaraço, dúvida e incerteza são elementos que impedem a criança de ir atrás 
daqueles que poderiam protegê-la. Ela começa a se esconder, afastar dos seus 
companheiros, evita intimidades com outros adultos por receio de que o “segredo” 
possa ser descoberto, tudo isso para encobrir a vergonha e a culpa. 
O isolamento e solidão aumentam o terror, tornando-a mais dependente do 
abusador. A criança se sente encurralada sem saída, condenada a aguentar o abuso 
sexual até ter idade suficiente para escapar. (SANDERSON, 2005 apud LIMA J; 
2016). Carvalho (2005 apud LIMA J; 2016), diz que a culpa é o sentimento mais 
presente depois da vítima ter suportado um abuso, pois ela vem a se sentir como 
provocadora, inativa e permissiva a tal fato. 
Mas, diferentes sentimentos tais como baixa autoestima, timidez, fobias, 
angústia e desmotivação também são bastante comuns. A criança ao ser abusada 
está sendo desrespeitada como indivíduo, tendo seus direitos transgredidos na 
maioria das vezes por sujeitos que obrigatoriamente deveriam cuidar, respeitar e 
proteger, conforme LIMA J; (2016). 
 
 
 
 
42 
 
O comportamento de cada criança é distintodiante de uma situação parecida. 
Algumas podem gostar e permanecer com a “brincadeira”, outras irão padecer, 
podendo causar fobias e reações físicas sem origem orgânica, só por chegar perto de 
quem abusou, outras ainda, podem acreditar que não pertencem ao meio infantil e se 
fechar, pode ter sentimento de estar suja ou não se sentirem importantes e amadas e 
falarem até em suicídio. Salientando que o abuso sexual irá deixar marcas 
psicológicas na criança no decorrer de sua vida, atrapalhando seu progresso 
psicoafetivo, consequentemente a aparição de depressões e insegurança sexual, 
afetando as identificações que a criança poderia estabelecer evitando que sua 
adolescência seja à época de reconstrução de significados. (CARVALHO, 2005 apud 
LIMA J; 2016). 
O autor deixa claro que uma criança que é abusada sexualmente, irá carregar 
marcas psicológicas para vida toda, além de serem despertadas para o sexo mais 
cedo, de maneira desconfigurada e traumática. Estas vítimas ainda podem dar 
segmentos de comportamentos psicopatológicos, como horror a parceiros que tenham 
mesmo sexo que seu agressor, ou ainda se tornarem promíscuos e terem uma 
sexualidade impulsiva e até mesmo serem infectadas por seus próprios agressores 
com Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) ou riscos de gravidez, ou ainda 
danos físicos decorrentes do abuso. Além destes prejuízos ainda pode desenvolver 
transtornos da personalidade. (CARVALHO, 2005; CHAGAS; MORETTO, 2014 apud 
LIMA J; 2016). 
Diante de todo o exposto acima, verifica-se que essas consequências são 
levadas para a vida adulta, tais como: problemas de relacionamento social e 
conquistas profissionais; disfunções sexuais; depressão, suicídio; encanto pela dor e 
sofrimento; autoflagelação; ataques de pânico e pesadelos bastante vívidos; 
ocorrências ao abuso de sedativos; problema em manter o peso na faixa almejada; e, 
problema de sustentar relacionamentos sexuais duradouros. Pode ainda, desenvolver 
personalidade dissociativa ou borderline ·. (CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). 
Uma pesquisa documentada foi realizada com 1028 pessoas que haviam 
sofrido abuso sexual e físico na infância. Os sintomas mais expostos e com mais 
frequência foram a inabilidade de ouvir o outro, períodos de esquecimento, 
comportamentos imprevistos, sensação de não estar num mundo real e djavus, 
conforme LIMA J; (2016). 
 
43 
 
 Os sintomas que também foram expostos, mas não com grande frequência 
são: artefatos e sujeitos com aparência ilusória, não reconhecer sua própria letra em 
escritos manuais, ter a impressão de serem duas pessoas distintas, não distinguir 
pertences próprios como antigos, achar que partes do corpo não fazem parte de si, 
achar que uma ocorrência real era apenas uma fantasia, ter fantasias idealizadas 
como reais. Portanto é indispensável ressaltar que os resultados obtidos deram maior 
ênfase aos achados pautados ao abuso físico, sobretudo com sintomas de uma 
personalidade dissociativa, sendo o transtorno da personalidade múltipla o mais grave 
dos transtornos, podendo ser uma possível implicação do abuso sexual na infância. 
(CARVALHO, 2005 apud LIMA J; 2016). 
Os autores Sant’Anna e Baima (2008 apud LIMA J; 2016) realizaram uma 
pesquisa em uma clínica-escola com intuito de reconhecer e descrever aspectos 
clínicos em procedimentos psicoterápicos de mulheres com histórico de abuso sexual 
na infância, mostrando informações sobre o ato abusivo, sobre os sintomas 
observados na vida adulta e sobre o desenvolvimento do processo psicoterápico. “O 
projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana 
Mackenzie (protocolo CEP/UPM nº 634/06/04). ” Seguindo as amostras da pesquisa 
os indicadores sobre os sintomas que podem estar relacionados ao abuso sexual na 
infância são: 
 Sintomas psíquicos: ansiedade, depressão, ideação suicida, 
dificuldade de confiar em alguém, baixa autoestima, insegurança, 
dificuldade de tomar decisões, sentimento de frustação e inaptidão, 
imaturidade, culpa, fantasias de liberdade, pensamentos intrusivos, 
perda de memória, conforme LIMA J; (2016). 
 Sintomas comportamentais: revitimização, promiscuidade, tentativas 
de suicídio, isolamento e retraimento, agressividade, comportamentos 
compulsivos, necessidade de controle e uso de substancias químicas, 
conforme LIMA J; (2016). 
 Sintomas no âmbito sexual: não sente prazer no ato sexual, sente-se 
como objeto no ato sexual, não tem desejo e evita o ato sexual, sente-
se culpa após o ato sexual e tem relações sexuais com pessoas 
desconhecidas, conforme LIMA J; (2016). 
 
44 
 
 Sintomas no âmbito interpessoal: dificuldade de estabelecer 
relacionamentos duradouros sofre agressões físicas ou verbais, 
dificuldade de superar decepção amorosa, preocupação excessiva com 
a opinião dos outros conforme LIMA J; (2016). 
 Sintomas orgânicos: perturbações de sono, transtornos alimentares e 
outros transtornos somáticos conforme LIMA J; (2016). 
O fato de não revelar o abuso pode contribuir para o aumento de sintomas. Por 
não conseguir revelar a ninguém, a vítima não recebe cuidado e tratamento no período 
dos acontecimentos abusivos, o que pode manter a vítima numa situação de abuso 
por um longo tempo e causar danos psíquicos difíceis de serem revertidos. Certificou-
se na amostra que o abuso sexual não foi relatado como queixa primária, uma vez 
que 89% dos casos foram revelados pelas pacientes como um fato entre outros em 
sua história de vida, conforme LIMA J; (2016). 
Em 44,5% dos casos da amostra, o abuso sexual ocorreu entre cinco e dez 
anos de idade, período em que se inicia a estruturação da personalidade e de inclusão 
na sociedade, o que intensifica as chances de distúrbios psíquicos estruturais 
ocasionando danos na vida adulta. Em 33,3% dos casos da amostra, o abuso ocorreu 
na primeira fase da adolescência época em que, a partir do aparecimento das 
características sexuais secundárias, o surgimento da sexualidade se apressa e a 
identidade começa a ganhar contornos mais concretos, conforme LIMA J; (2016). 
Uma vez que as chances de perturbações na esfera sexual é identitária. Os 
tipos de abuso sexual relatados foram 11,7% o ato sexual com penetração, 35,3% 
masturbação forçada, 33,3% carícias nos órgãos genitais 17,6% excitação sexual 
frente à nudez total ou parcial da vítima. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 
2016). 
Os traumas na infância podem ser originados de incestos, abusos sexuais ou 
alguns episódios que possam ter desenvolvido um estresse pós-traumático. Sintomas 
psiquiátricos, incluídos a este transtorno, encontrados na fase adulta são: fobias, 
alucinações auditivas, comportamento suicida, depressão, ansiedade, abuso de 
substâncias e comportamento compatível com personalidade Borderline. 
(CARVALHO, 2005; BELTRAN, 2010 apud LIMA J; 2016). 
De acordo com Sanderson (2004 apud LIMA J; 2016), acredita-se que o 
abuso sexual na infância precoce, incluindo o abuso sexual em crianças, 
pode perturbar a maturação saudável do cérebro, e, em particular, o sistema 
 
45 
 
límbico, em razão dos níveis de estresse associados à sexualização 
prematura. O estresse leva a secreção de hormônios esteroides supra-renais, 
que incluem glicorticóides humanos necessários para a resposta do tipo lutar, 
fugir ou paralisar. (SANDERSON, 2004 p.184 apud LIMA J; 2016). 
Diante disso, como consequências, as lembranças podem não ser 
armazenadas como sensações somáticas e imagens visuais, refletindo no sistema 
não declarativo. “Além dos efeitos cognitivos, e das consequências psicológicas, a 
criança também pode ser afetada em termos de formação, armazenamento, 
consolidação e recuperação de memória. ” (SANDERSON, 2004, p. 185 apud LIMA 
J; 2016). 
De acordo com LIMA J; (2016), vários acontecimentos estão interligados em 
uma variedade de distúrbios psiquiátricos, em particular o distúrbio de estresse pós-
traumático (PTSD),transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e 
distúrbios de conduta, distúrbios de personalidade antissocial. Alguns desses 
acontecimentos podem aparecer na infância, outros só podem vir à tona na idade 
adulta, como depressão, abuso de substâncias, automutilação, distúrbio de 
personalidade limítrofe (BPD), distúrbios dissociativos e distúrbios dismórfico corporal 
(BDD). Sendo assim: 
[...] as experiências de desenvolvimento do abuso sexual na infância precoce 
têm um impacto significativo no desenvolvimento neurobiológico, o que afeta 
não apenas a organização unificada do eu e a regulação da emoção, mas 
também cria um complexo mundo interno cheio de ansiedades para a criança. 
A combinação de alterações neurobiológicas no cérebro em desenvolvimento 
pode resultar em risco ampliado de distúrbio de estresse pós-traumático. 
(SADERSON, 2004, p.187 apud LIMA J; 2016). 
De acordo com apud LIMA J; (2016), para fazer o diagnóstico do distúrbio de 
estresse pós-traumático alguns critérios precisam estar presentes: 
 A vivência de um episódio traumático que causaria sintoma de 
sofrimento na maioria dos sujeitos, como uma séria ameaça a vida de 
uma pessoa ou à sua integridade física, ou a de uma pessoa a quem ela 
é apegada, conforme LIMA J; (2016) 
 Uma constante reexperimentação do acontecimento, por meio de 
lembranças, sonhos, sentimentos entre outros, conforme LIMA J; (2016) 
 Fuga persistentes de estímulos associados ao trauma, como: 
perspectiva de futuro diminuída, amnesia psicogênica, entre outros, 
conforme LIMA J; (2016) 
 
46 
 
 Constantes sintomas de excitação aumentada, como: Dificuldade de 
pegar no sono, irritabilidade ou ataques de raiva, dificuldade de 
concentração, hipervigilância, reação de susto excedida e reação 
fisiológica quando exposto a acontecimento que simbolizam aspectos do 
episódio traumático ou que são semelhantes a ele”. (SANDERSON, 
2004 apud LIMA J; 2016). 
Muitos desses critérios de diagnóstico refletem, sem dúvida em sintomas 
observados em crianças que sofreram abuso sexual. Porém existem sintomas que 
não podem ser explicados pelo estresse pós-traumático como, vergonha, autoculpa, 
culpa, comportamentos autodestrutivos, “revitimização”, comportamentos sexuais e 
crenças distorcidas sobre si mesmas e sobre os outros e a fragmentação do sentido 
do eu. Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016) aponta também consequências, 
dinâmicas traumatológicas, são elas: 
 Sexualização traumática: explica como a vivência sexual da criança é 
moldada de forma inapropriada e disfuncional, conforme LIMA J; (2016). 
O impacto psicológico da sexualização traumática gera aumento da 
importância dos temas sexuais, confusão sobre identidade sexual e sobre as 
normas sexuais. A confusão de sexo com amor, a doação de carinho e as 
sensações de excitação podem levar a uma aversão a qualquer tipo de 
intimidade, especialmente intimidade sexual. Isso resulta em sinais e 
sintomas comportamentais, como preocupações sexuais e comportamentos 
sexuais compulsivos, atividade sexual precoce, comportamento sexual 
agressivo ou promiscuidade e prostituição em crianças mais velhas 
(SADERSON, 2004, p. 191 apud LIMA J; 2016). 
 Estigmatização: foca nas mensagens que o abusador passa para a 
criança, alterando sua percepção. Na maioria das vezes o abusador 
culpa a criança, para que ela possa se sentir culpada, má e sem valor. 
O impacto está relacionado com a criança se auto avaliar como a 
causadora do abuso ela se enxerga como a “sedutora”, sentindo 
vergonha, culpa, autoestima diminuída e a sensação de ser diferente 
dos outros, o que culmina a uma necessidade de fugir e se isolar. Em 
decorrência disto a vítima fica isolada e quando emite essa conduta de 
fuga se torna mais ansiosa podendo ter comportamentos de 
automutilação, delinquência ou em alguns casos o suicídio, conforme 
LIMA J; (2016). 
 
47 
 
 Traição: quando o abusador é um membro da família, um amigo ou 
alguém que a criança depositou confiança ou depende para as suas 
necessidades básicas. Alguns sintomas observados comuns de traição 
na criança são apego e submissão, desconfiança em relação aos 
adultos, principalmente do mesmo sexo do abusador (a). Sendo assim a 
vítima pode se tornar mais vulnerável a mais abuso, conforme LIMA J; 
(2016). 
 Falta de poder: a criança sente- se impossibilitada de se resguardar do 
abuso, incapaz de fazer os outros acreditarem nela e causando impacto 
como, ansiedade, medo, senso de eficiência diminuído, necessidade de 
controle, identificação com o agressor e percepção de si mesmo como 
vítima, conforme LIMA J; (2016). 
De acordo com Brasil (1999 apud LIMA J; 2016), as mulheres que sofreram 
violência sexual na infância ficam mais vulneráveis a outros tipos de violência 
futuramente, à prostituição, ao uso de drogas, às doenças sexualmente 
transmissíveis, às doenças ginecológicas, aos distúrbios sexuais, a depressão e ao 
suicídio, causando sequelas físicas e psicológicas. Em relação à prostituição a maioria 
delas era proveniente de famílias de classe média e haviam passado por um longo 
processo de vitimização sexual no lar e para escapar deste processo foge de casa, e 
uma vez na rua, o meio de sobrevivência acaba sendo o da prostituição. (AZEVEDO; 
GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). 
O sofrimento psíquico proveniente de situações de abuso sexual coloca a 
vítima na posição de sobrevivente, da criança que se refugia de maneira precária no 
mundo interno, detendo um segredo sob o manto do silêncio. (HISGAIL, 2007 apud 
LIMA J; 2016). Os conhecimentos vivenciados na infância e na adolescência, positivas 
ou negativas, refletem-se na personalidade adulta. As dificuldades inevitáveis se 
tornam mais mansas quando enfrentadas com afeto e solidariedade. A violência 
provoca sentimentos como o desamparo, o medo, a culpa ou a raiva, que, não 
podendo ser revelados, se transformam em condutas distorcidas, perpetuando-se por 
famílias seguidas. (AZEVEDO; GUERRA, 1988 apud LIMA J; 2016). 
 
 
 
48 
 
Ainda afirmam que são conhecidas também inúmeras consequências psíquicas 
e sociais desenvolvidas a curto e a longo prazo para crianças vitimizadas na infância, 
com sérias implicações emocionais, disfunções sociais psicogênicas, dificuldades no 
relacionamento com pessoas em geral e do sexo oposto em particular, problemas no 
relacionamento conjugal, relacionamento difícil e conturbado com os filhos entre 
outros, conforme LIMA J; (2016). 
Quanto maior a diferença na idade entre vítima e agressor, mais graves são as 
implicações; o nível de parentesco e afinidade entre o agressor e a vítima quanto mais 
perto, maior o impacto; a topografia do ato sexual, carícias, exibição de órgãos 
sexuais, penetração etc.; o nível de agressão e ameaças; o período do abuso e a 
constância dos atos; as particularidades do contexto familiar e o suporte dado à vítima 
antes, durante e depois da revelação são fatores que determinam o impacto do abuso 
sexual. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 2016). 
Segundo a descrição de Sanderson (2005 apud LIMA J; 2016) sobre o impacto 
do abuso sexual em crianças, existem alguns fatores associados a esse impacto são 
eles: a idade da criança ou adolescente na época do abuso; a duração e a frequência 
do abuso sexual; os tipos de atos sexuais; o uso da força ou violência; o 
relacionamento da criança com o abusador; a idade e o sexo do abusador e os efeitos 
da revelação. Por seguinte, faz necessário discorrer sobre cada um deles. 
A idade da criança na ocasião do abuso: há controvérsias entre 
pesquisadores e profissionais que estudam essa área, alguns pesquisadores 
desvendaram que quanto mais nova a criança mais vulnerável ela é ao trauma em 
razão de sua capacidade de se impressionar com os fatos enquanto outros 
argumentam que a ingenuidade da criança mais nova de alguma forma a protege do 
dano e se der estigmatizada, conforme LIMA J; (2016). 
 Traumassofridos por crianças muito pequenas com menos de três anos de 
idade, quando o cérebro ainda não está totalmente desenvolvido tem a capacidade 
de remodelá-lo, diz pesquisas neurobiológicas. Mesmo que a criança não sinta o 
abuso como algo ofensivo isso não significa que ela não tenha um impacto, se não a 
curto prazo, mas potencialmente em longo, prazo, conforme LIMA J; (2016). 
 
 
 
49 
 
A duração e a frequência do abuso sexual: Diante de alguns estudos foi 
descoberto que, quanto mais frequente e duradouro for o abuso sexual em crianças, 
maior será seu impacto e maiores serão as probabilidades de a criança ficar 
traumatizada, conforme LIMA J; (2016). 
Tipo de atividade sexual: Diante de algumas pesquisas nota-se nitidamente 
que o tipo de abuso que a vítima vivência mostra a gravidade do impacto. Tentativas 
de coito ou o coito em si, cunilingua, felação, sexo oral no ânus e coito anal relatam 
ter graves traumas comparados aos que vivenciaram exploração dos genitais sem 
roupa ou que foram sujeitos a toques não desejados, conforme LIMA J; (2016). 
Força física e violência: Quando o abuso é acompanhado de força física, 
violência o impacto se torna consideravelmente negativo na vida da criança, ou seja, 
quanto mais violência e força física o abusador utiliza maior será o impacto, conforme 
LIMA J; (2016). 
Relacionamento da criança com o abusador: é necessário analisar a 
proximidade e qualidade do relacionamento entre criança e o abusador. Alguns 
estudos mostram que quanto maior o laço de sangue maior o impacto na vida da 
vítima. Esse momento não gera somente quando é de laços sanguíneos, gera também 
quando há a quebra de confiança que a criança depositou no abusador, podendo ser 
um amigo da família, professor, ou alguém que se comportava como um amigo. Essa 
traição da confiança depositada naquele sujeito pode representar uma diferença 
importantíssima na gravidade do impacto do abuso sexual, conforme LIMA J; (2016). 
Idade e tipo do abusador: estudos anteriores indicavam que, quanto mais 
velho fosse o abusador, mais traumático seria o impacto. Pode acontecer também de 
o abuso vir de outra criança ou adolescente fazendo com que a vítima se sinta mais 
envolvida, porque é outra criança, dando uma visão de um parecer mais aceitável. 
Quanto ao sexo do abusador, no caso se for uma mulher o impacto do abuso sexual 
infantil aumenta, pois pode refletir em valores culturais, pois as mulheres são vistas 
na sociedade como as que tomam conta das crianças, conforme LIMA J; (2016). 
Os efeitos de revelação: para muitas crianças é extremamente difícil revelar 
o abuso sexual, elas podem pensar que as pessoas não acreditarão nela, ou que irão 
puni-la. Dessa forma, muitas crianças não revelam o abuso, mas revelam sutilmente 
em desenhos, comportamentos, o que requer uma sensibilidade para entender o que 
a criança está tentando transmitir. Diante disso as crianças sentem muito medo dos 
 
50 
 
pais perante a revelação. Se a resposta for negativa, poderá agravar mais, se for 
positiva poderá diminuir o impacto. Enfatizando que se a criança for questionada na 
hora da revelação poderá ter o efeito de traumatizar mais uma vez, conforme LIMA J; 
(2016). 
Ressaltando que cada vítima de abuso sexual tem sua singularidade 
influenciando cada uma em suas características próprias nos efeitos gerados na vida 
presente e adulta. Entretanto, a complicação da situação e da quantidade de variáveis 
envolvidas é necessário lembrar que sintomas como ansiedade, medo, ocorrência de 
pesadelos, depressão retraimento social, queixas somáticas e comportamentos 
agressivos são frequentes em crianças que sofreram o abuso. Lembrando que existe 
a possibilidade de esses sintomas desaparecerem com o tempo (12 a 18 meses 
depois do ocorrido), podendo assim nem persistir na vida adulta. No entanto, há uma 
parcela de casos que pioram com o tempo, por isso faz-se necessário aprofundar a 
concepção sobre o abuso sexual na infância e suas consequências na vida adulta das 
vítimas. (SANT’ANNA; BAIMA, 2008 apud LIMA J; 2016). 
Segundo Cótica; Xavier; Eygo (2015 apud LIMA J; 2016), o abuso sexual marca 
a vida inteira de suas vítimas e traz implicações sérias nos relacionamentos amorosos. 
Embora as vítimas não reparem tamanha gravidade de terem sido abusadas na 
infância e de como isso ocasiona consequências na vida adulta. 
As autoras ainda corroboram com a seguinte concepção, o abuso sexual pode 
se revelar de múltiplas maneiras podendo ser definitivas e devastadoras, resultando 
no desenvolvimento de quadros psicopatológicos. A vítima carrega sempre a 
sensação de que aconteça o que acontecer sempre será vista como uma criatura 
indigna, suja e desprezível pelo fato que vivenciou. A falta da capacidade de dizer 
“não” perdura por um longo tempo, conforme LIMA J; (2016). 
4.6 O papel do psicólogo na prevenção do abuso e violência sexual 
De acordo com BATISTA K; et al., (2014), o profissional da psicologia poderá 
utilizar de intervenções e técnicas específicas do campo da psicologia em um trabalho 
preventivo para que não haja avanços nas diversas patologias que o abuso e a 
violência sexual podem causar em crianças e adolescentes que já sofreram o abuso 
e/ou a violência. 
 
51 
 
Para (MINAYO 2006, apud FLORENTINO 2014 apud BATISTA K; et al., 
2014), muitos profissionais ainda estão atuando de maneira limitada. A autora 
tipifica duas grandes formas ou modelos de atuação profissional que, 
segundo ela, trata-se de intervenções de pouca eficiência. A primeira seria 
por intermédio daqueles profissionais que não saem do campo teórico e da 
reflexão filosófica. Já na segunda, seriam os profissionais que atuam somente 
na questão operacional, fundamentados e preocupados principalmente com 
a constatação e reparação dos danos biológicos, emocionais e sociais. A 
autora intensifica a necessidade de os profissionais trabalharem não apenas 
com modelos epidemiológicos, mas, também, com a compreensão dos 
contextos na abordagem dos processos violentos. 
Quando falamos de abuso e violência sexual infanto-juvenil existem inúmeras 
vertentes que podem fazer com que o profissional não consiga lidar com tamanha 
complexidade, o assunto engloba questões morais e culturais, que se forem isoladas 
podem dificultar no processo de auxílio ao menor que foi abusado e violentado. A 
autora destaca a relação do profissional com a teoria, o trabalho dentro das unidades 
é árduo e com diversas facetas que dentro das teorias não são colocadas, sendo 
assim o profissional precisa ter estratégias eficazes que sobressaiam à teoria já que 
na prática funcionam de maneira diferente, conforme BATISTA K; et al., (2014). 
Destaca ainda sobre a preocupação de alguns profissionais somente em ver a 
necessidade de reparar apenas os agravos biológicos, emocionais e sociais, a autora 
nos faz refletir de como podemos trabalhar com vítimas de abuso e violência sexual 
em um todo, onde devem se conglomerar em seus atendimentos que o abuso e a 
violência necessitam ser enxergadas de diversas maneiras para que assim cheguem 
a uma estratégia de acompanhamento, conforme BATISTA K; et al., (2014). 
A prática profissional do psicólogo junto com as políticas públicas de 
Assistência Social é a de um profissional da área social produzindo suas intervenções 
em serviços, programas e projetos afiançados na proteção social, a partir de um 
compromisso ético e político de garantia dos direitos dos cidadãos ao acesso à 
atenção e proteção da Assistência Social. A partir da interface entre várias áreas da 
Psicologia, estas ações estão sendo construídas numa perspectiva interdisciplinar, 
uma vez que vão constituindo várias funções e ocupações que devem priorizar a 
qualificação da intervenção social dos trabalhadores da Assistência Social. 
(FLORENTINO 2014 apud BATISTA K; et al., 2014). 
 
 
 
52 
 
De acordo com FLORENTINO (2014 apud BATISTA K; et al., 2014),o 
Psicólogo dentro da assistência social é um servidor da área social onde o mesmo irá 
afligir sua demanda em trabalhos de intervenções de acordo com o serviço social, são 
também cabíveis ao seu papel desenvolver suas atividades em projetos que tem como 
cunho a proteção social, sem dúvidas para que haja bons resultados o trabalho precisa 
ser feito com compromisso para com a sociedade, dentro de um trabalho ético onde 
são garantidos aos cidadãos o acesso total a proteção e da assistência social. A 
autora indaga sobre a importância da junção entre psicologia e a assistência social, 
onde devem e precisam ser priorizadas as duas áreas que serão de suma importância 
no processo dessa problemática. 
De acordo com as revisões literárias os fatores sociais, culturais e 
econômicos são presentes na maior parte dos casos de abuso sexual e a 
violência sexual em crianças e adolescentes, mas que não se apontam como 
únicos fatores para tal ato. Sendo os elementos histórico-culturais essenciais 
para a compreensão e o debate dos casos de abuso sexual praticados contra 
crianças e adolescentes, não é possível afirmar que as inserções 
socioeconômicas e culturais sejam os únicos ou mesmo os principais fatores 
que determinam as situações de violência, pois, ao contrário desta 
representação, existe uma série de outras questões igualmente relevantes 
que merecem a atenção (MOREIRA; VASCONCELOS, 2003apud 
FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014). 
O autor MOREIRA; VASCONCELOS, (2003 apud FLORENTINO 2014 apud 
BATISTA K; et al., 2014) salienta as justificativas de que as crianças e adolescentes 
estejam em situações que favorecem a esse ato delituoso alguns deles, são a 
vulnerabilidade social e econômica onde crianças e adolescentes estão propensos e 
de forma totais expostos a esses tipos de violências e suas famílias sentem grandes 
dificuldades para a superação deste trauma que não é apenas das vítimas, mas um 
sofrimento familiar. A pobreza não é a causa determinante para estas situações, uma 
vez que existem diversos fatores que podem levar o fato, sendo que alguns deles 
estão caracterizados a falta de emprego, o nível de escolaridade baixa, o uso do álcool 
ou substâncias psicoativas. Segundo FLORENTINO (2014 apud BATISTA K; et al., 
2014) os históricos de violência na infância e a doença mental também levam a 
grandes causas do abuso sexual infanto-juvenil. 
 
 
 
 
53 
 
O profissional necessita de estratégias que o façam conhecer de maneira 
profunda e integrada sobre o histórico das crianças e adolescentes vítimas de abusos 
e violências sexuais, além de investigar a fundo seus contextos familiares e culturais. 
É de grande relevância que o abuso e a violência sexual sejam tratados de maneira 
absoluta, onde o auxílio psicológico deve ser estabelecido para a criança e toda a 
família, conforme BATISTA K; et al., (2014). 
É fundamental que toda a família tenha o direito a uma avaliação psicológica, 
sobretudo a criança, o adulto não agressor e, inclusive, o agressor. O objetivo 
de se trabalhar com toda a família é observar como cada sujeito percebe a 
violência ocorrida. Assim, a primeira pessoa a ser atendida deverá ser 
sempre a criança ou o adolescente que sofreu o abuso, de maneira que, 
inicialmente, a intervenção do profissional deverá se atentar para a 
vinculação positiva e o estabelecimento da confiança entre a equipe e os 
protagonistas da violência (CRAMI, 2005apud FLORENTINO apud BATISTA 
K; et al., 2014). 
O profissional da psicologia necessita saber lidar com todo o contexto da 
problemática inserido nesse processo, a vítima do abuso ou violência sexual criança 
ou adolescente e em conjunto trabalhar também com o agressor. Segundo o autor 
(CRAMI, 2005 apud FLORENTINO; FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 2014) a 
criança ou adolescente devem ser os primeiros acolhidos e atendidos, o autor indaga 
também que é fundamental acolher a vítima e dar a ela tempo necessário para que 
ela possa pensar e então quando preparada possa compartilhar de seu momento 
doloroso. O psicólogo deve respeitar a forma com que a história é transmitida pela 
criança ou adolescente, á vitima merece ser escutada, de acordo com sua realidade. 
Na perspectiva de (CRAMI, 2005 apud FLORENTINO apud BATISTA K; et al., 
2014) os profissionais necessitam estar capacitados para lidar com este público, para 
que assim possam identificar quais são os danos emocionais e psicológicos que o 
abuso e a violência sexual podem causar em crianças e adolescentes vítimas do 
abuso e violência sexual. 
Uma das principais atribuições do psicólogo do CREAS, ao iniciar o 
atendimento ou acompanhamento junto às vítimas, consiste em estarem 
habilitados a identificar quais são os danos emocionais (já instalados) e a 
gravidade dos mesmos (CRAMI, 2005 APUD; apud BATISTA K; et al., 2014). 
As ações devem ser planejadas de modo a permitir uma intervenção 
especializada, personalizada e individual, onde os profissionais possam 
alcançar as determinações subjetivas que reforçam sua reprodução no tempo 
e no espaço (CUNHA; SILVA; GIOVANETTI, 2008 apud FLORENTINO apud 
BATISTA K; et al., 2014). 
 
54 
 
O profissional necessita estar atento e preparado para observar e identificar os 
agravos psíquicos e emocionais bem como também analisar sobre os agravos 
emocionais absorvidos pela criança ou adolescente. As estratégias e ações por parte 
do profissional estudadas e esquematizadas de forma individual. O atendimento 
individual é indispensável para a intervenção de crianças e adolescentes vítimas de 
abuso e violência sexual onde serão trabalhadas as desordens causadas pelo abuso 
ou violência sexual, a psicoterapia individual auxiliará a vítima em reconhecer os 
sentimentos causados pela situação, conforme BATISTA K; et al., (2014). 
4.7 A avaliação psicológica como meio de recuperação da vítima 
A avaliação psicológica, serve como instrumento processual com finalidade 
probatória. Nesse contexto, o psicólogo atua através de entrevistas e análise 
comportamental das vítimas, com o intuito de coletar dados que auxiliarão a cognição 
do juízo. Porém, tendo em vista que a lesão no abuso sexual não é apenas física, mas 
também psicológica, esse tipo de avaliação pode contribuir também de outras formas, 
como no auxílio da recuperação das vítimas conforme SOUZA M; (2009). 
As consequências do abuso sexual de crianças e adolescentes são 
extremamente graves. Dentre essas consequências, é possível destacar medo, 
hiperssexualização do comportamento, perda de confiança em outras pessoas e 
agressividade. Além disso, transtornos como Estresse Pós-Traumático (TEPT), Déficit 
de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Abuso de Substâncias, também são 
relacionados ao abuso sexual. (GAVA, PELISOLI, DELL’AGLIO, 2013, p. 141 apud 
SOUZA M; 2009). 
Nesse contexto, os danos verificados nas vítimas podem variar de acordo com 
cada indivíduo. Sendo assim, enquanto algumas crianças e adolescentes podem 
manifestar os quadros abordados acima, outros podem permanecer inafetados pelo 
evento traumático vivido. Logo, considerar a avaliação psicológica apenas como 
perícia judicial, muitas vezes pode ser um ato ineficiente, tendo em vista que a perícia 
se dará com base na busca por sintomas que podem sequer existir, ou, ainda, serem 
em decorrência de algum outro trauma anterior ao abuso, conforme SOUZA M; (2009). 
 
 
55 
 
Nesse diapasão, por conta dessa incerteza, e considerando que há realização 
de avaliação psicológica, o objetivo da utilização dessa ferramenta deve ser 
expandido de maneira a auxiliar à vítima, e não apenas o processo judicial. A 
realização da perícia é, muitas vezes, o primeiro contato da vítima com o profissional 
de psicologia. Sendo assim, é através da avaliação que aquela vítima dá os primeiros 
passos em uma terapia. Nessa senda, a vítima é obrigada a revisitar com detalhes a 
experiência traumática sofrida, o que é algo extremamente desgastante.Além disso, 
esse contato que ocorre durante a avaliação acaba criando os primeiros laços de 
confiança entre paciente (vítima) e terapeuta (perito), conforme SOUZA M; (2009). 
Considerando esse liame, se valer da avaliação psicológica apenas como 
perícia judicial pode agravar ainda mais os danos sofridas pela criança ou pelo 
adolescente. Isso porque, após revisitar o evento traumático durante a perícia, a vítima 
precisará repetir todo o procedimento ao iniciar nova terapia com um novo terapeuta. 
Trazer novamente todos aqueles traumas e sentimentos negativos podem fazer com 
que a vítima experimente mais uma vez a dor da violação da sua dignidade sexual, 
sendo isto muito gravoso, conforme SOUZA M; (2009). 
Portanto, a fim de promover de fato a recuperação do bem jurídico violado – 
nesse caso, a dignidade sexual da criança e do adolescente -, a avaliação psicológica 
deve ser considerada também como a primeira etapa de um acompanhamento 
psicológico judicial. Em outras palavras, deve-se utilizar todo o conhecimento e 
confiança adquiridos através das entrevistas e análises como um instrumento de 
recuperação. Esses primeiros passos são muito importantes e viabilizam a 
restauração, na medida do possível, da dignidade sexual violada, conforme SOUZA 
M; (2009). 
Ante o exposto, percebe-se que a utilização da avaliação psicológica apenas 
como perícia pode ser um desperdício, já que a construção de relação que se dá 
nesse processo é fundamental para o desenvolvimento de uma futura terapia. Sendo 
assim, a continuidade dessa relação permitiria reestruturar aspectos psicológicos da 
vítima, por mais básicos que sejam, conforme SOUZA M; (2009). 
 
 
 
 
56 
 
É claro que os recursos disponíveis ao Estado devem ser levados em 
consideração, afinal, a continuidade do acompanhamento psicológico ensejaria mais 
gastos financeiros. Entretanto, é papel do Estado, conforme a Constituição Federal, 
garantir direitos fundamentais. Nesse diapasão, se preocupar apenas em identificar e 
punir um crime, negligenciando a restauração do bem jurídico violado, é uma ofensa 
grave ao direito fundamental à dignidade, conforme SOUZA M; (2009). 
Assim sendo, é possível considerar a avaliação psicológica como forma de 
recuperação da vítima na medida em que representa a consolidação de uma base 
terapêutica, construída através da aproximação entre perito e vítima, capaz de 
amenizar danos já consolidados na esfera da dignidade sexual da criança e do 
adolescente, conforme SOUZA M; (2009). 
4.8 Intervenção psicológica para vítimas de abuso sexual: aspectos gerais e 
pesquisas recentes 
A intervenção terapêutica em casos de abuso sexual em crianças e 
adolescentes é complexa e precisa ser planejada considerando o impacto desta 
experiência para o desenvolvimento da vítima e da sua família, mudanças no 
ambiente imediato destas, disponibilidade de rede de apoio social e afetiva e fatores 
de risco e proteção associados. Conforme apresentado anteriormente, as crianças e 
os adolescentes são impactados de forma singular por experiências sexualmente 
abusivas. Dessa forma, tratamentos em diferentes modalidades (individual, familiar, 
grupo, farmacológico), bem como diferentes níveis de cuidados, podem ser 
necessários para diferentes crianças ou pela mesma criança em diferentes tempos 
(Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006). Alguns aspectos gerais do 
tratamento e estudos recentes sobre a efetividade das intervenções estão brevemente 
apresentados a seguir: 
4.9 Vínculo terapêutico e objetivos centrais do tratamento 
No tratamento da criança ou adolescente, independentemente do referencial 
teórico que fundamenta a intervenção, é necessário criar um clima de segurança e 
aceitação para que a criança adquira confiança e comece a se comunicar. O terapeuta 
deve buscar reverter os sentimentos de desespero, desamparo, impotência, 
 
57 
 
aprisionamento, isolamento e autoacusação, frequentemente apresentados pela 
criança. O resgate da autoestima e da esperança é fundamental, pois o abuso distorce 
a visão da criança do que a vida pode lhe oferecer. O trabalho do terapeuta consiste 
em transformar o ocorrido em uma influência para a vida, ao invés de ser obstáculo, 
motivando a criança a crescer e ver o futuro com esperança. O processo de resolução 
do trauma implica que a criança ou adolescente relembre, repita e re-experiencie o 
trauma (Zavaschi et al., 1991 apud HABIGZANG L; 2006). 
4.10 Tempo de tratamento 
O número de sessões de psicoterapia necessário para crianças e adolescentes 
que experienciaram algum evento traumático e desenvolveram transtorno do estresse 
pós-traumático é um fator que ainda deve ser pesquisado (Cohen, 2003 apud 
HABIGZANG L; 2006). O tempo de intervenção clínica pode variar devido ao 
referencial teórico que a fundamenta e aos fatores relacionados com a história de 
abuso e conseqüências desta para a vítima. Um estudo realizado para verificar fatores 
associados ao tempo que as crianças vítimas de abuso sexual permanecem em 
terapia e fatores que contribuem para abandono do tratamento por estas constatou 
que as variáveis relacionadas com o abuso mostraram- se fortemente correlacionadas 
com o número de sessões. Foi constatado que quanto mais cedo iniciaram os abusos, 
mais sessões de terapia foram necessárias. 
A psicopatologia decorrente do abuso também foi associada ao tempo de 
permanência em tratamento. Quanto maior a intensidade dos sintomas, maior o tempo 
de tratamento, sendo que depressão e comportamento agressivo ou delinqüente 
foram altamente correlacionados. Entre os fatores associados ao abandono do 
tratamento foram verificados: cuidador com sintomas psicopatológicos, crianças com 
freqüentes hospitalizações e tratamentos, mães jovens, pais solteiros, status 
socioeconômico, mães com histórico de problemas na infância (Horowitz, Putnam, 
Noll, & Trickett, 1997 apud HABIGZANG L; 2006). 
 
58 
 
4.11 Modalidades terapêuticas 
Diversas modalidades terapêuticas podem ser utilizadas como recursos para a 
intervenção. A literatura aponta intervenções na modalidade individual, grupal e 
familiar (Cohen & Mannarino, 2000b; Deblinger, Stauffer, & Steer, 2001; Furniss, 1993; 
Hayde, Bentovim, & Monck, 1995; Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006). 
Dentre as modalidades de tratamento, as pesquisas apontam que o formato grupal 
tem obtido resultados positivos. O grupo oportuniza à criança verificar que não está 
sozinha e tem a função de oferecer apoio e alívio emocional individual, através da 
assimilação consciente dos episódios abusivos. Busca, também, modificar o 
autoconceito das vítimas, de autodesprezo para autovalorização. Os grupos devem 
ser constituídos por participantes da mesma faixa-etária. 
 Dessa forma, no período pré-escolar, o grupo auxilia a diminuir o isolamento e 
a melhorar as habilidades sociais apropriadas para a idade, sendo baseado em jogos. 
Nos grupos de crianças na latência, a capacidade de expressão verbal propicia que 
se fale sobre as mudanças ocorridas na vida com a revelação do abuso. Isto pode ser 
feito através de jogos apropriados para a idade e o uso de desenhos dirigidos 
(autorretrato, desenho da família, de um sonho, de uma casa). Tais exercícios de 
desenho permitem um caminho não-verbal para quebrar o segredo que mantinha 
essas crianças isoladas e impotentes, conforme HABIGZANG L; (2006). 
Os grupos envolvem, em geral, até dez crianças. Na adolescência, o apoio 
social do grupo de iguais é importante, sendo útil como modalidade de tratamento. Em 
geral, tem seis a oito participantes e oferece ao adolescente um ambiente no qual 
pode discutir seus sentimentos e os problemas específicos da adolescência, como as 
mudanças no corpo, os papéis, as escolhas, a sexualidade e o incesto. Nesta fase, 
em que as angústias são frequentemente atuadas na conduta, as vítimas de abuso 
podem apresentar fugas de casa, abuso de drogas,tentativas de suicídio e 
promiscuidade, o que deve ser associado ao problema do abuso sexual. Nos grupos 
são trabalhados os conceitos (bom, ruim), o que é seguro fazer e o que não é seguro, 
a colocação de limites para si e na relação com as outras pessoas e, ainda, o 
autocontrole. São, também, estimuladas a comunicação verbal e a transformação de 
ação em sentimentos (Zavaschi et al., 1991 apud HABIGZANG L; 2006). 
 
 
59 
 
Dessa forma, a grupoterapia para vítimas de abuso sexual apresenta-se como 
modalidade ótima para redução de sentimentos de diferença e auto-estigmatização 
das pacientes. O processo de grupo prioriza espaços para que as vítimas possam 
reestruturar pensamentos e sentimentos distorcidos, através do relato de sentimentos 
referentes ao abuso, da discussão das crenças de culpa pela experiência abusiva e 
do desenvolvimento de habilidades preventivas a outras situações abusivas. Essa 
modalidade terapêutica foi testada empiricamente com adolescentes vítimas de abuso 
sexual infantil (Kruczek & Vitanza, 1999 apud HABIGZANG L; 2006). Participaram do 
estudo 41 meninas com idades entre 13 e 18 anos. A avaliação diagnóstica pré-teste 
constatou que as adolescentes apresentavam quadros de depressão, transtorno do 
estresse pós-traumático e transtorno desafiador opositivo. A modalidade grupal 
promoveu mudanças em sentimentos e comportamentos disfuncionais e desenvolveu 
habilidades de enfrentamento eficazes para lidar com situações do cotidiano. 
Outro estudo, utilizando um modelo com pré e pós-teste com grupos controle e 
experimental verificou a eficácia de tratamentos em grupo para meninas vítimas de 
abuso (McGain & McKinzey, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). Foram avaliadas 30 
meninas vítimas de abuso sexual, com idades entre nove e 12 anos. 
De acordo com HABIGZANG L; (2006), o grupo em tratamento (n=15) foi 
pareado com o grupo controle (n=15) pela idade, severidade do abuso, intensidade 
de força usada durante o abuso e tempo de exposição ao abuso. Os autores utilizaram 
o Quay Revised Behavior Child Checklist (RBPC) e o Eyberg Child Behavior Inventory 
(ECBI) que avaliam alterações de comportamento antes e depois de seis meses da 
aplicação do programa de tratamento. Os pais ou cuidadores responderam aos dois 
instrumentos que avaliaram questões como autoestima, vergonha, depressão, 
ansiedade, problemas de conduta, agressividade, dificuldade de concentração e 
comportamentos excessivamente sexualizados. 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
O tratamento disponibilizado ao grupo experimental teve como objetivos: 
proporcionar um ambiente seguro, no qual as crianças podiam discutir livremente seus 
abusos; aumentar autoestima das crianças; prevenir a revitimização; evitar problemas 
psicológicos futuros; proporcionar modelos apropriados e não abusivos de homem e 
mulher; proporcionar suporte a criança com relação aos processos no Tribunal; educar 
a criança sobre passos práticos para autoproteção; facilitar a comunicação pela vítima 
sobre a dinâmica do abuso; criar um processo de autoajuda pelos pares para a 
criança; obter o apoio da família ao tratamento da criança; e, proporcionar a 
diminuição da sintomatologia e sofrimento decorrente do abuso, conforme 
HABIGZANG L; (2006). 
O tratamento demonstrou ser eficaz na redução de sintomas de ansiedade, 
particularmente descritos, tanto pelos pais quanto pelas meninas, como os mais 
proeminentes. Além disso, as dificuldades escolares foram reduzidas pela 
intervenção, bem como os problemas de conduta verificados na avaliação inicial. Os 
resultados encontrados apontaram diferenças significativas em todas as escalas dos 
instrumentos comparando o pré e pós-teste do grupo experimental. Os resultados do 
grupo controle não variaram muito nos dois tempos, o que comprovou a eficácia deste 
modelo de grupoterapia para meninas com idade entre nove e 12 anos (McGain & 
Mckinzey, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). A combinação de diferentes 
componentes de tratamento também têm sido foco de pesquisas. 
Um estudo avaliou o impacto do tratamento somente com as famílias e do 
tratamento com as famílias associado com a grupoterapia para as vítimas (Hayde, 
Bentovim, & Monck, 1995 apud HABIGZANG L; 2006). Participaram da pesquisa 47 
crianças vítimas de abuso e suas mães ou principal cuidador. As famílias que fizeram 
parte do estudo receberam um programa básico de atendimento familiar e, 
aleatoriamente, um subgrupo foi composto por crianças que receberam 
adicionalmente uma intervenção em grupo, considerando sua idade, estágio do 
desenvolvimento e sexo. A pesquisa iniciou com entrevistas conduzidas para 
avaliação clínica e foi finalizada com entrevistas para comunicar o fim do tratamento. 
Questionários padronizados foram utilizados nas avaliações inicial e final. 
 
 
 
61 
 
Os resultados dos tratamentos, tendo como base os escores dos instrumentos 
aplicados antes e depois do tratamento, apontaram que as crianças apresentaram 
significativas melhoras no inventário de depressão e na escala completada pelos 
cuidadores com relação à saúde e aos problemas de comportamentos das crianças. 
As avaliações clínicas apontaram benefícios significativos da grupoterapia. As 
crianças e as mães avaliaram positivamente a oportunidade de conhecer outras 
pessoas com experiências similares proporcionadas pela grupoterapia, conforme 
HABIGZANG L; (2006). 
Sessenta e cincos por cento das crianças demonstraram ter resolvido o 
sentimento de culpa com relação ao abuso, 78% demonstraram ter aprendido boas 
habilidades para prevenir futuros abusos e 41% apresentaram um melhor 
entendimento das origens do abuso. Além disso, foi verificado que a relação entre 
mãe e criança melhorou e as famílias desenvolveram habilidades para identificar 
necessidades da criança de acordo com sua idade (Hayde, Bentovim, & Monck, 1995 
apud HABIGZANG L; 2006). 
Poucos estudos controlados têm sido realizados para avaliar os resultados de 
tratamentos com crianças vítimas de abuso sexual, devido a uma série de obstáculos 
(Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 2006): 
 Dificuldade em identificar sintomas devido à falta de capacidade das 
crianças em descrever alterações comportamentais, afetivas e 
cognitivas, uma vez que suas habilidades metacognitivas, auto 
perceptiva e vocabulário ainda estão em desenvolvimento, e o uso de 
informações de pais e professores pode, em alguns casos, ser 
incompatíveis, conforme HABIGZANG L; (2006). 
 Dificuldade em obter amostras homogêneas, devido a diferenças, tais 
como idade, gênero, nível socioeconômico, tempo de exposição ao 
abuso e severidade deste, que impossibilitam uma padronização de 
procedimentos, conforme HABIGZANG L; (2006). 
 Dificuldade em controlar a interferência de outras experiências de vida 
da criança, uma vez que o abuso sexual é apenas uma parte da história 
desta, que na maioria dos casos vêm acompanhada de outras formas 
de violência extra e intrafamiliar. Dessa forma, a melhoria das crianças 
não depende apenas da eficácia do tratamento, mas do funcionamento 
 
62 
 
dos adultos cuidadores da criança. A saúde mental dos pais, conflito 
conjugal, dinâmica familiar, presença de eventos estressores, o nível 
socioeconômico da família, fatores culturais e comunitários influenciam 
no grau e manutenção da melhoria, conforme HABIGZANG L; (2006). 
Apesar dos obstáculos descritos, as pesquisas que utilizam a Terapia 
Cognitiva- Comportamental (TCC) como forma de tratamento têm apresentado 
melhores resultados quando comparada com outras formas de tratamento não-focais 
para crianças e adolescentes com sintomas de ansiedade, depressão e problemas 
comportamentais decorrentes de violência sexual (Cohen, Mannarino, & Knudsen, 
2005; Deblinger, Stauffer, & Steer, 2001; Saywitz et al., 2000 apud HABIGZANG L; 
2006). Além disso, TCC focada no trauma tem apresentado alta eficácia na redução 
de sintomas do transtornodo estresse pós-traumático (Cohen, Mannarino, & Rogal, 
2001; Cohen, 2003 apud HABIGZANG L; 2006) e na reestruturação de crenças 
disfuncionais com relação à experiência abusiva (Celano, Campbell, & Lang, 2002 
apud HABIGZANG L; 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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