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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Adilson Rodrigues Camacho
 Prof. Maurício Felippe Manzalli
Colaboradores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
 Profa. Viviane Paes Macedo
Ciência Política
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Professores conteudistas: Adilson Rodrigues Camacho / Maurício Felippe Manzalli
Adilson Rodrigues Camacho 
Doutor em Ciências pelo Programa de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da 
Universidade de São Paulo – FFLCH-USP (2008), com mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita Filho – FCT-Unesp (1994) e graduação em Geografia (bacharelado e licenciatura) pela Universidade 
de São Paulo (1990). Professor titular na UNIP e na Fundação Armando Alvares Penteado, em cursos de graduação e 
pós-graduação. Tem experiência em estudos socioambientais municipais e regionais. Atua principalmente nas linhas 
de pesquisa ligadas a epistemologia da geografia, metodologias de planejamento, qualificação dos usos de recursos 
(diagnóstico e prognóstico socioambiental) associada à adequação das políticas públicas às demandas locais.
Maurício Felippe Manzalli 
Possui graduação em Economia pela UNIP (1995) e é mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (2000). Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração 
e coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade, tanto na modalidade presencial quanto 
na Educação a Distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente nas áreas ligadas ao setor de 
transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C172c Camacho, Adilson Rodrigues.
Ciência Política / Adilson Rodrigues Camacho, Maurício Felippe 
Manzalli – São Paulo: Editora Sol, 2018.
224 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-005/18, ISSN 1517-9230.
1. Política. 2. Estado. 3. Filosofia. I. Manzalli, Maurício Felippe. 
II. Título.
CDU 32
A-XIX
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade
 Ricardo Duarte
 Lucas Ricardi
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Sumário
Ciência Política
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 A POLÍTICA: O QUE É, COMO ACONTECE E POR QUÊ ........................................................................9
1.1 O fenômeno político: poderes, política e ciência política .................................................. 10
1.2 Como o poder aparece: diferenças e desigualdade social ................................................... 14
1.3 Política no plano da existência ....................................................................................................... 29
2 CIÊNCIA DO PODER E DA POLÍTICA .......................................................................................................... 39
2.1 A política e sua institucionalização: das formas elementares de poder 
aos arranjos sociais de Estado ............................................................................................................... 42
3 O FENÔMENO POLÍTICO: PODERES, CONTRATOS, REGRAS E NORMAS .................................... 43
3.1 Classificações de grupos políticos ................................................................................................. 46
4 ORIGENS E CONCEITOS DO ESTADO ........................................................................................................ 51
Unidade II
5 ESTADO, HISTÓRIA E ELEMENTOS ESSENCIAIS .................................................................................... 57
5.1 Teoria geral do Estado ........................................................................................................................ 67
5.1.1 População e demografia ...................................................................................................................... 85
5.1.2 Território: aspectos físicos, biológicos e culturais ..................................................................... 90
5.1.3 Governo: soberania e autonomia ..................................................................................................... 95
5.1.4 Fronteiras internas.................................................................................................................................. 97
6 O ESTADO CONTEMPORÂNEO: POPULAÇÃO OU POVOS? FRACASSO 
DA AUTODETERMINAÇÃO .............................................................................................................................111
6.1 Povos: quem são o povo, a nação e os estrangeiros ............................................................112
6.2 Estado-nação como solução e problema .................................................................................117
Unidade III
7 A POLÍTICA NO ÂMBITO INTERNACIONAL ..........................................................................................132
7.1 Colonização e autodeterminação: decolonização ...............................................................133
7.2 Blocos, grupos e demais associações de poder por interesses, 
“espaço interestatal” ...............................................................................................................144
7.2.1 Governança supranacional: a Organização das Nações Unidas ....................................... 150
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8 O PENSAMENTO CLÁSSICO SOBRE A POLÍTICA E A VARIEDADE DE 
ORGANIZAÇÕES DE PODER: O CRIVO DA FILOSOFIA..........................................................................160
8.1 Platão e o nascimento da reflexão sobre a política .............................................................163
8.2 Aristóteles, as constituições e a dinâmica da polis .............................................................171
8.3 Maquiavel, a política e o Estado moderno .............................................................................1758.4 Hobbes e os pressupostos da teoria do contrato social .....................................................178
8.5 Locke, a comunidade política e o direito à propriedade ....................................................189
8.6 Montesquieu e a distribuição social dos poderes .................................................................194
8.7 Rousseau e as bases do Estado democrático ..........................................................................198
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APRESENTAÇÃO
Este livro-texto foi pensado como mais um meio de comunicação entre professores e alunos, com o 
propósito de estimular dúvidas nos discentes. Sim, dúvidas. As dúvidas são preciosas e merecem muito 
respeito do educador, pois, além de colocá-lo em movimento, permitem que esteja alerta, sempre à 
procura de melhores soluções. É preferível questionar a dar respostas prontas de terceiros. O poder da 
dúvida, da curiosidade que a enraíza, do enfrentamento do erro (que nos afasta de nossas ignorâncias) 
é proporcional à abertura ao incômodo, à estranheza, ao desconcerto. De fato, traz sensações com 
imenso potencial de aprendizado efetivo. Aproveite as provocações (bifurcações e incertezas) para sentir 
e experimentar portas e caminhos. Trata-se de ter experiências.
A obra parte dos saberes vividos e de experiências, no plano comum da existência (política), e segue 
em direção aos principais elementos e temas da ciência política, pois avaliamos que desse modo os 
conceitos adquirem mais sentido. 
Tais caminhos devem-se à nossa grande preocupação com a distância entre os estudantes e os 
assuntos analisados. A leitura pode ser uma mediação ineficiente entre aluno e conhecimento, quando 
o texto é mero desfile de questões e temas indistintos. Como transformar essa relação?
Nossa pequena contribuição nessa imensa maratona em direção ao conhecimento envolve algumas 
escolhas. As principais delas são: preferimos sempre as alternativas às certezas; o debate a doutrinas; 
preferimos, portanto, a exposição de lados e versões a uma racionalidade única. E, mais importante, queremos 
que o estudante tenha genuíno interesse pela política, que o atravessa em todas as suas relações, bem como 
pelos assuntos institucionais do poder, que definem, também, sua existência como ser social, cidadão. 
Assim, examinaremos os temas poder e política, primeiramente, no nível da vida cotidiana, do mundo 
da vida, bem como os rumos do poder no plano das questões de Estado, povo, nação e território. Desse 
modo, devem surgir questões para o aluno sobre suas relações com as formas e ações da política. 
As discussões sobre o Estado envolvem a dimensão nacional (“o dentro” do país), o “entre-nações” e 
o espaço internacional (“o fora” do país, o global). 
O texto traz, por fim, os autores responsáveis pelas bases do pensamento político clássico e moderno, 
perfilado durante os demais capítulos, que examinam seus fundamentos filosóficos. 
Ótima leitura a todos!
INTRODUÇÃO
A ideia condutora deste livro-texto é a política, a arte e a técnica de alcançar aquilo de que se 
precisa, o que se deseja. 
Destacaremos o valor da política nas diversas fases da vida. Veremos como ela se manifesta em 
situações cotidianas e nas relações internacionais. 
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É fato que não podemos sobreviver sem água, do mesmo modo que não conseguimos construir 
relações sociais e melhorar a condição de vida de um povo sem a política, tamanha a sua relevância.
Falaremos do nascimento da política e o que motivou sua existência. Vamos trazer à tona a discussão 
sobre natureza e cultura, como bases de nossas necessidades psicossociais. Também abordaremos como 
as práticas políticas tornam-se objeto de interesse científico, com as ciências políticas.
Em nossa análise, ilustraremos as formas sociais, instituições, que construímos para alcançar o 
progresso. Passaremos, então, ao plano mais elaborado da engenharia política de congregação das 
necessidades e dos desejos, o Estado nacional. Com isso, não estamos afirmando sua excelência ou 
superioridade sobre outras alternativas de organização social, muito pelo contrário, esclarecemos suas 
mazelas e vícios, muito maiores que suas virtudes. 
Trataremos da política na escala internacional, ou seja, entre os Estados-nações, ressaltando o nível 
de operação dos agentes globais. 
Encerraremos nosso estudo acentuando os olhares dos clássicos do pensamento político, recorrendo 
aos temas tratados durante o livro-texto, porém com o crivo filosófico. Assuntos que terão destaque 
são: liberdade, organização, economia, sobrevivência, força, propriedade e convivência.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Unidade I
1 A POLÍTICA: O QUE É, COMO ACONTECE E POR QUÊ 
A Terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que sabemos, sua 
natureza pode ser singular no universo, a única capaz de oferecer aos seres 
humanos um habitat no qual eles [possam] mover-se e respirar sem esforço 
nem artifício. O mundo – artifício humano – separa a existência do homem 
de todo ambiente meramente animal, mas a vida, em si, permanece fora 
desse mundo artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos 
os outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem-se esforçando 
por tornar “artificial” a própria vida, por cortar o último laço que faz do 
próprio homem um filho da natureza. O mesmo desejo de fugir da prisão 
terrena manifesta-se na tentativa de criar a vida em uma proveta, no desejo 
de misturar, “sob o microscópio, o plasma seminal congelado de pessoas 
comprovadamente capazes a fim de produzir seres humanos superiores” e 
“alterar(-lhes) o tamanho, a forma e a função”; e talvez o desejo de fugir 
à condição humana esteja presente na esperança de prolongar a duração 
da vida humana para além do limite dos cem anos. Esse homem futuro, 
que, segundo os cientistas, será produzido em menos de um século, parece 
motivado por uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi 
dada – um dom gratuito vindo do nada (secularmente falando) –, que ele 
deseja trocar, por assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. Não há 
razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar essa troca, tal como 
não há motivo para duvidar de nossa atual capacidade de destruir toda a 
vida orgânica da Terra. A questão é apenas se desejamos usar nessa direção 
nosso novo conhecimento científico e técnico – e esta questão não pode ser 
resolvida por meios científicos: é uma questão política de primeira grandeza 
e, portanto, não deve ser decidida por cientistas profissionais nem por 
políticos profissionais (ARENDT, 1981, p. 1-2). 
Falar sobre política nos leva a um dualismo (caráter antagônico, irreconciliável, das forças 
constitutivas). Foquemos essa dualidade: um lado representa os planos da ação efetiva, das práticas; o 
outro, os planos da crença e da teoria, das instituições.
Dito de outro modo, a política está no mundo da vida, no cotidiano de todos, bem como nas 
instituições, com regras e objetivos abstratos. 
Nossos pensadores clássicos da política tratam-na evidenciando a vida comum e as instituições. 
Mais adiante também o faremos, mais ou menos ao modo de Paulo Sérgio Peres (2008). 
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Unidade I
1.1 O fenômeno político: poderes, política e ciência política 
Neste livro-texto,destacaremos a política como condição humana (tudo é ligado à diversidade de 
posições, divergências e convergências) e como dimensão social (uma via de realização social dos poderes). 
Vamos traçar duas perspectivas sobre a distribuição do poder, no âmago da relação indivíduo-sociedade, 
das escalas locais às internacionais.
Como encontrar a unidade, as conexões entre a política individual (interna), dos sujeitos privados, 
agentes em busca de realização social, e a política coletiva (externa), dos agregados de interesses, 
associações de agentes com interesses convergentes, ou não, reunidos pela democracia?
Política é, então, o exercício individual e coletivo do poder, está em toda parte, com regras, normas 
e contratos (direito e legalidade) e seus graus de legitimidade. O que há de bastante palpável na política 
é sua condição existencial e reflexiva, portanto, objeto teórico da filosofia e da ciência. 
Dahl (1988, p. 5-6) sugere que todo o conhecimento acumulado não é “panaceia para compreensão” 
e solução de questões políticas, pois algumas perguntas, desde as muito antigas ou clássicas até as 
mais contemporâneas, permanecem sem respostas. “Exigem novas perspectivas e problematizações e 
reflexões, baseando-se de modo crítico em Aristóteles, Weber e Lasswell”.
Como podemos ver em Dahl, 
Sobre esta questão, um importante ponto de partida (embora não 
inteiramente claro) é a obra de Aristóteles, Política, escrita entre 335 e 332 
a.C. Na primeira parte da Política, Aristóteles argumenta contra os que 
alegam que todos os tipos de autoridade são idênticos. Procura distinguir a 
autoridade do líder político, em uma associação ou polis (cidade), de outros 
tipos de autoridade, tais como a exercida pelo senhor sobre o escravo, pelo 
marido sobre a esposa, pelos pais sobre os filhos.
Aristóteles admite, porém, que pelo menos um aspecto da associação 
política é a existência de autoridade, ou governo. Com efeito, Aristóteles 
define a polis, ou associação política, como “a associação mais soberana 
e inclusiva”. Para ele, a constituição é “a organização de uma polis, com 
respeito a seus órgãos, de modo geral, mas especialmente com referência 
àquele órgão particular, que é soberano em todos os assuntos”. 
Um dos critérios utilizados por Aristóteles para classificar as constituições é 
a determinação da parte do corpo coletivo em que se localiza a autoridade 
ou o governo.
Desde os tempos de Aristóteles, acreditava-se que uma relação política 
devia implicar de algum modo a autoridade, o governo ou o poder. Assim, 
por exemplo, um dos mais importantes sociólogos modernos, o alemão Max 
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CIÊNCIA POLÍTICA
Weber (1864-1920), afirmou que uma associação devia ser considerada 
política na medida em que “a implementação da sua ordem é levada a cabo 
continuamente, dentro de uma certa área, mediante a aplicação e a ameaça 
da força física por parte dos administradores”. Portanto, embora Weber 
tenha acentuado o aspecto territorial da associação política, do mesmo 
modo como Aristóteles, ele especificou que uma relação de autoridade ou 
de governo constituía uma das suas características essenciais.
Para dar um último exemplo, um importante cientista político contemporâneo, 
Harold Lasswell, define a ciência política, enquanto disciplina empírica, como 
“o estudo da formação do poder e da participação do poder”, afirmando que 
um “ato político” é uma ação executada “em uma perspectiva de poder” 
(DAHL, 1988, p. 4).
O autor reconhece as bases teóricas que vêm da Antiguidade grega, assim como os nomes 
consagrados do pensamento sobre política. Nessa linha, seleciona os citados representantes (três) de 
diferentes períodos, afirmando que, “indubitavelmente, tudo que Aristóteles e Weber chamariam de 
‘político’ seria ‘político’ também para Lasswell”, mas este estenderia a abrangência da sua definição de 
modo a “incluir algumas coisas que Weber e Aristóteles deixariam de fora: uma empresa e um sindicato, 
por exemplo, teriam aspectos ‘políticos’” (DAHL, 1988, p. 4).
O trabalho de Dahl é um clássico. Se, por um lado, como dissemos, ele relativiza a importância da 
reflexão clássica, por outro, corrobora a expansão do conceito de política ao conceituá-la como sistema 
político: “Vamos definir, portanto, um sistema político, audaciosamente, como qualquer estrutura 
persistente de relações humanas que envolva controle, influência, poder ou autoridade, em medida 
significativa” (DAHL, 1988, p. 13-14).
Zygmunt Bauman, na obra Em Busca da Política, expõe o absurdo da vida social baseada em 
crenças contraditórias. 
As crenças não precisam ser coerentes para que se acredite nelas. E as que 
costumam ter crédito hoje – nossas crenças – não são exceção. Com efeito, 
achamos que a questão da liberdade, por exemplo, pelo menos na “nossa 
parte” do mundo, está concluída e (descontando correções menores aqui 
e acolá) resolvida da melhor maneira possível. De qualquer forma, não 
sentimos necessidade (de novo, salvo irritações menores e fortuitas) de ir 
para as ruas protestar e exigir maior liberdade do que já temos ou achamos 
ter. Mas, por outro lado, tendemos a crer com a mesma convicção que pouco 
podemos mudar – sozinhos, em grupo ou todos juntos – na maneira pela 
qual as coisas ocorrem ou são produzidas no mundo. Acreditamos também 
que, se pudéssemos mudar alguma coisa, seria inútil e até irracional pensar 
em um mundo diferente do que existe e aplicar os músculos em fazê-lo 
surgir por acharmos que é melhor do que este aqui. Como cultivar essas 
duas crenças ao mesmo tempo é um mistério para qualquer pessoa treinada 
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Unidade I
no raciocínio lógico. Se a liberdade foi conquistada, como explicar que 
entre os louros da vitória não esteja a capacidade humana de imaginar um 
mundo melhor e de fazer algo para concretizá-lo? E que liberdade é essa 
que desestimula a imaginação e tolera a impotência das pessoas livres em 
questões que dizem respeito a todos? 
As duas crenças não combinam, mas cultivar ambas não é sinal de inépcia 
lógica. Nem uma nem outra é, de forma alguma, fantasiosa. Nossa 
experiência comum tem mais do que o suficiente para sustentar cada uma 
delas. Somos bem realistas e racionais ao acreditar no que acreditamos. 
Por isso, é importante saber por que o mundo em que vivemos continua a 
nos enviar esses sinais evidentemente contraditórios. E é importante saber 
também como podemos viver com essa contradição; e, sobretudo, por que 
a maior parte do tempo não a notamos e, quando o fazemos, não ficamos 
particularmente preocupados (BAUMAN, 2000, p. 10).
O filósofo polonês afirma que estamos sem pontes e sem lugares prontos para empreender os 
desafios de reanimação da política, identificando os impasses.
O aumento da liberdade individual pode coincidir com o aumento da 
impotência coletiva na medida em que as pontes entre a vida pública e 
a privada são destruídas ou, para começar, nem foram construídas; ou, 
colocando de outra forma, uma vez que não há uma maneira óbvia e fácil 
de traduzir preocupações pessoais em questões públicas e, inversamente, de 
discernir e apontar o que é público nos problemas privados. Em nosso tipo 
de sociedade, as pontes estão de modo geral ausentes e a arte da tradução 
raramente é praticada em público. 
Enquanto a arte da tradução se encontra no atual e lamentável estágio, 
as únicas queixas ventiladas em público são um punhado de agonias e 
ansiedades pessoais que, no entanto, não se [tornam] questões públicas 
apenas por estarem em exibição pública (BAUMAN, 2000, p. 10-11).
Concluindo seuraciocínio, destaca: “À falta de pontes firmes e permanentes e com as habilidades 
de tradução não praticadas ou completamente esquecidas, os problemas e agruras pessoais não se 
transformam e dificilmente se condensam em causas comuns” (BAUMAN, 2000, p. 11).
Para Bauman (2000, p. 11), vivemos em um tempo de política esvaziada. Com “pessoas que se sentem 
inseguras, preocupadas com o que lhes reserva o futuro e temendo pela própria incolumidade, [elas] não 
podem realmente assumir os riscos que a ação coletiva exige”. E continua: 
As instituições políticas existentes, criadas para ajudá-las a combater 
a insegurança, são de pouca ajuda. Em um mundo que se globaliza 
rapidamente, em que grande parte do poder – a parte mais importante 
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CIÊNCIA POLÍTICA
– foi retirada da política, essas instituições não podem fazer muito para 
fornecer segurança ou garantias. O que podem fazer e o que fazem o mais 
das vezes é deslocar a ansiedade difusa e dispersa para um único elemento 
de Unsicherheit – o da segurança, único campo em que algo pode ser feito 
e visto. O problema, porém, é que se fazer algo efetivamente para curar ou 
ao menos mitigar a inquietude e incerteza exige ação unificada, a maioria 
das medidas empreendidas sob a bandeira da segurança são divisórias, 
semeiam a desconfiança mútua, separam as pessoas, dispondo-as a farejar 
inimigos e conspiradores por trás de toda discordância e divergência, 
tornando, por fim, ainda mais solitários os que se isolam. O pior de tudo: 
se tais medidas nem chegam perto da verdadeira fonte da ansiedade, 
desgastam toda a energia que essas fontes geram, energia que poderia 
ser utilizada de modo muito mais efetivo se canalizada para o esforço 
de trazer o poder de volta ao espaço público politicamente administrado 
(BAUMAN, 2000, p. 11).
 Observação
Unsicherheit, para Zygmunt Bauman (2000, p. 11), é uma palavra 
poderosa e um sinal dos tempos. Diz o seguinte: “o mais sinistro e 
doloroso dos problemas contemporâneos pode ser mais bem entendido 
sob a rubrica Unsicherheit, termo alemão que funde experiências 
para as quais outras línguas podem exigir mais palavras – incerteza, 
insegurança e falta de garantia”.
Para ele, “o verdadeiro poder ficará à distância segura da política e a política permanecerá impotente 
para fazer o que se espera da política”. Seu projeto de resgate da política afirma, explicitamente, que 
esta deve “exigir de toda e qualquer forma de união humana que se justifique em termos de liberdade 
humana para pensar e agir, e pedir que deixe o palco caso se recuse ou não consiga fazê-lo” (BAUMAN, 
2000, p. 11-14).
A busca de Zygmunt Bauman é a de uma ágora possível, de um espaço público de qualidade, com “o 
poder de volta ao espaço público politicamente administrado”. Para ele, o poder foi retirado da política. 
Diz que isso implica um corte entre a imanência do poder republicano e seu plano institucional, abstrato. 
Acentua que há um declínio do questionamento, que devemos pensar em liberdades individuais e 
coletivas, debatendo o assunto. 
Nesse contexto, Bauman traz à tona duas questões:
• Qual é a relação entre globalização capitalista, esvaziamento da política (com a retirada do poder), 
incerteza, insegurança e falta de garantias?
— Unsicherheit.
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Unidade I
• Qual é o seu projeto de sociedade?
— Pontes! Assevera que elas são necessárias para refazer os caminhos cortados. 
A política no plano existencial, em seu sentido mais concreto, das relações sociais cotidianas, é o 
que ocupa Bauman. Põe-se de frente com o descrédito generalizado com a política, o fazer político 
institucionalizado, embora também enxergue esperança na política (re)conquistada, ressignificada; daí, 
o título de seu livro – Em Busca da Política. 
Assim como o professor emérito Giannotti, Bauman vê a contradição como pedra de toque para 
a discussão, a reflexão. Seu ponto de partida é a constatação de crenças contraditórias perfazendo 
as tramas da modernidade: uma crença desmedida na liberdade; a outra, na impossibilidade de que 
essa liberdade sirva à mudança. O autor assume as dificuldades lógicas e ontológicas em lidar com 
essas perspectivas. 
 Observação
Bauman se refere a uma expectativa próxima daquela que um garoto 
tem de fazer 18 anos para emancipar-se, tornar-se independente. Retrata 
uma idealização de ruptura, de liberdade sem medidas. Normalmente, 
desmentida, insatisfeita. 
As estruturas sociais (horizontais e verticais), tomadas do ponto de vista histórico, são 
formas-conteúdo cujas dimensões vêm continuamente reelaborando e aprofundando laços 
pessoais e coletivos – desenraizando-se culturalmente – conforme sua organização política. 
A direção, a fisionomia e a territorialidade de um povo e/ou de uma nação dependem da 
configuração do poder, como bem acentua o geógrafo Paul Claval (1979), figura que estudaremos 
mais adiante. Ele é um dos grandes responsáveis por integrar as racionalidades antropológicas, 
etnológicas, geográficas, econômicas e políticas, encadeando fenômenos complexos de modo 
simples e didático, sem reducionismos.
 Lembrete
A política está no mundo da vida, no cotidiano de todos, bem como nas 
instituições, com regras e objetivos abstratos.
1.2 Como o poder aparece: diferenças e desigualdade social
Poder alguma coisa é estar em condições de realizá-la. A análise do 
poder é, em um primeiro sentido, a análise da gama de ações que se 
sabe aplicar à modificação do meio, explorá-lo e dele retirar o que é 
necessário para a vida.
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CIÊNCIA POLÍTICA
O poder não é apenas sobre poder fazer as coisas por si mesmo, é também 
fazer com que sejam realizadas por outros. Ao império direto sobre o 
mundo, acrescenta-se, assim, um império indireto, que é ao mesmo tempo 
um império sobre os outros (CLAVAL, 1979, p. 11-12). 
Os fatos do poder têm uma dimensão espacial que se relaciona com os 
elementos que eles incorporam. São fatos organizacionais que envolvem 
a mobilização de recursos físicos e dependem indiretamente da maneira 
como são explorados e utilizados pela sociedade; são fatos relacionados, 
cujo alcance varia muito com a quantidade de informação, cuja troca 
promove a legibilidade dos códigos adotados. A geometria das formas mais 
puras de poder, relação hierárquica absoluta e autoridade, é relativamente 
simples, porque coloca apenas um pequeno número de elementos. A 
geometria dos fatos de influência aparece como mais complexa e mais 
variável: a cada figura da dominação associa-se um tipo particular de 
configuração. É importante analisar esta geometria das formas básicas de 
poder (CLAVAL, 1979, p. 21).
Paul Claval (1979, p. 11) sublinha a todo momento que “a vida social está inscrita no espaço e no 
tempo”, lembra em toda a sua obra que “é feita de ação sobre o meio e interação entre os homens. 
Conecta pessoas que, para sobreviver, devem obter do meio ambiente a alimentação, a energia e as 
matérias-primas de que precisam”. 
Há unidade em sua concepção de vida social, pois o ambiental e o social transformam-se nas 
dimensões física, biológica e cultural do poder. E há ubiquidade da política, como quer e acerta Robert 
Dahl (CLAVAL, 1979, p. 13).
Paul Claval abriu as trilhas antropológicas e geográficas (estatuto do humano e de sua territorialidade 
diversa) da reflexão e espacialização do poder. Assim, a cultura, marca original de cada grupo, requer 
“comunicaçõesque reduzem a viscosidade natural e a opacidade do espaço”, somente desse modo 
sendo mantida e reproduzida (1979, p. 11).
O poder sobre a natureza está na base da economia elementar e da evolução, produzindo toda a 
degradação ambiental a que estamos sujeitos, ao passo que o poder de uns sobre outros se reflete nas 
relações pelo surgimento de dissimetrias e desequilíbrios acintosos: 
Vários níveis podem ser distinguidos: 
1) A situação mais simples é a do poder puro: a relação é perfeitamente 
dissimétrica, o que comanda não deve nada àqueles que ele dirige; ele pode 
usá-los como meios para alcançar os fins que ele estabeleceu para si mesmo; 
ele age dando ordens e executando-as sem hesitação. 
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Unidade I
2) O exercício do poder é facilitado quando aqueles que a ele estão 
submetidos aceitam a situação como natural e reconhecem a legitimidade 
da autoridade. 
3) A dissimetria nem sempre é tão marcada como no poder puro e na 
autoridade; aparece nas relações em que cada qual dá e recebe, mas 
desigualmente: aí estamos lidando com jogos de influência. 
4) Finalmente, há casos em que o desequilíbrio não é percebido pelos atores do 
relacionamento: a liberdade de alguns é reduzida sem que se apercebam; então, 
falamos sobre o efeito da dominação inconsciente (CLAVAL, 1979, p. 12).
Para o autor, as dificuldades em pesquisar e estudar as questões diretamente ligadas ao poder 
dão-se porque assumem múltiplas formas: “para alcançar os mesmos resultados, as sociedades utilizam 
tipos de relação muito diferentes, o que explica a variedade de organizações espaciais dos grupos e a 
complexidade de sua arquitetura” (CLAVAL, 1979, p. 12). Ele diz que as raízes do poder estão nesse duplo 
eixo: submissão ecológica antropocêntrica (toda a natureza está à mercê dos interesses humanos) e 
sujeição de outros seres humanos (o que contraria as principais máximas éticas de igualdade).
Assim, o geógrafo destaca uma questão de ordem fundamental:
A igualdade de filósofos e moralistas é postulada: é o que qualquer 
indivíduo merece, qualquer que seja sua idade e suas forças, na medida 
em que seja, será ou estará na posse das capacidades que tornam a 
dignidade humana. Situações reais têm desigualdades de fato. O poder 
é a consequência: é muito natural, mesmo que vá contra as aspirações 
idealistas (CLAVAL, 1979, p. 12).
Ele passa a enumerar os casos gerais com a finalidade de exemplificar e apontar um panorama de 
relações comuns de poder, no seio da vida humana.
a) A criança chega em um estado de dependência absoluta. Ela tem habilidades, 
mas estas não se desenvolvem automaticamente. Potencialidades exigem, 
para se revelar, estímulos fornecidos pelo ambiente material e social. Sem 
relações com o mundo e com os outros, a aculturação seria impossível: os 
modelos que permitem entender o que está acontecendo e se preparar para 
as escolhas são feitos pela sociedade, em particular a sociedade próxima dos 
pais, o grupo primário (CLAVAL, 1979, p. 12).
O autor detalha o modo como essas relações ocorrem:
A criança vive muito fortemente sua dependência: ela precisa de proteção, 
amor e carinho para resistir ao ambiente que a rodeia e ameaça. Ela é, desde 
cedo, a experiência ambígua das relações de poder: ela constantemente se 
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CIÊNCIA POLÍTICA
confronta com a vontade de seus pais em sua conquista do meio ambiente; 
este traz-lhe, no entanto, a segurança que lhe é necessária. A atitude 
resultante é composta de revoltas e submissão aceita porque expressa 
humilhação e alívio: é nesse sentido que Pierre Legendre fala do amor da 
censura que lhe parece caracterizar a nossa sociedade.
A relação de poder assume sua dimensão social através dos conflitos que 
a criança vive com seu pai. Seus impulsos profundos a transformam em 
direção a sua mãe, mas ela encontra em seu pai um rival com quem é 
invejável; ela aspira a eliminá-lo para permanecer mestre do que é mais 
caro para ela. O pai aparece como o intruso, o outro, o representante de uma 
ordem externa que é violenta, mas devemos aceitar se queremos entrar no 
jogo dos adultos e nos tornar adultos.
Fora do grupo primário, o poder tem outras raízes [além] das dificuldades da 
aculturação – mas tira proveito, quando se manifesta, dos reflexos ambíguos 
que a socialização criou para todos. 
b) O poder às vezes nasce do uso do constrangimento físico: a imposição 
da força obriga sua vontade. Enquanto somente podem confiar em seus 
músculos e sua determinação, sua ação rapidamente encontra um limite: 
aqueles que são dominados podem unir-se e libertar-se.
O poder também nasce da capacidade de alguns para influenciar aqueles que 
os atendem: ao serem atraentes, convincentes... Pressionando, eles aceitam 
seus pontos de vista, provocam dedicação, despertam anexos. Assim, vemos 
que nos grupos emergem líderes cuja autoridade é reconhecida pela maioria 
e que [eles] conseguem influenciar o comportamento de todos.
Que o poder assim tem raízes psicológicas individuais e coletivas é 
indubitável, mas, se não encontrasse outra justificativa, permaneceria tão 
limitado em suas manifestações que dificilmente mereceria ser estudado. 
Além disso, implementando uma multidão de relações opostas, seus efeitos 
quase se cancelariam. 
c) O poder é indispensável para a solução de um grande número de problemas. 
O ambiente resiste à iniciativa dos homens: quando estão isolados, algumas 
empresas lhes são proibidas. Para tirar o máximo partido do meio ambiente, 
as ações devem ser organizadas. No campo da vida de relação, é o mesmo: 
desde que não tenhamos certeza dos termos de uma troca, desde que não 
existam convenções para dar valor constante aos bens, os signos ou os seres 
que passam de um a outro, as questões são exaustivamente solucionadas 
uma a uma; cada transação pode avançar ou recuar na escala de prestígio 
de consideração e de influência; a preocupação igualitária dá-lhe um valor 
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Unidade I
político: você não deve permitir que outros ganhem mais do que você ganha 
(CLAVAL, 1979, p. 12-13).
Claval (1979, p. 14) caracteriza o contrato social como “metáfora” ou “mito” fundador do pensamento 
sobre o social da modernidade. Assevera que “a aceitação de regras comuns facilita a vida social, libera 
o indivíduo da obsessão da má-fé: ele sabe que será tratado com justiça enquanto as convenções forem 
respeitadas pelas partes. Isso permite ampliar a esfera da vida de relação” (p. 128). Contrato social, 
fundado no movimento contratualista, ou ainda jusnaturalista, como um grande acordo que a todos 
envolve tanto nas obrigações quanto nos direitos, é fundamental ao raciocínio político, por isso será 
tratado de modo crítico em vários trechos do livro-texto.
A síntese de seu raciocínio deveria estar na base da reflexão, das ações e intervenções na realidade, 
pois Paul Claval, já em suas primeiras linhas, aponta a divisão entre os que insistem “nos mecanismos, 
nos automatismos, nas regulações inconscientes e benéficas” e os que, como ele próprio em seu livro, 
pretendem mostrar que “o jogo social nunca é inocente”, pois, “atrás das retroações que limitam 
aparentemente o poder dos indivíduos, desmascara-se a ideologia que oculta os mecanismos reais e 
leva a esquecer o peso desigual dos participantes e os que instituíram as regras sociais e com elas se 
beneficiam” (CLAVAL, 1979, p. 7).
A referida cisão está na base do pensamento moderno,separando a realidade, posta, de um lado, sob 
o foco de perspectivas naturalizantes que, no limite, instituem o funcionamento perfeito de sistemas 
(os referidos automatismos, mencionados por Claval) e, de outro, sob o foco de perspectivas de fundo 
político (que não deixam de ser filosóficas e/ou científicas). São visões de mundo diferentes por serem 
baseadas em equilíbrio ou conflitos; são determinantes das práticas sociais.
Paul Claval (1979), ao tratar o que chama de “geometria das formas elementares de poder”, apresenta os 
dois tipos básicos de relação de poder, o que se submete ao “poder puro” e o que se conforma à “autoridade”. 
• o poder puro: caracterizado pela ação da força no alcance dos objetivos de uns sobre os outros, o que 
também define a escala necessária ao estabelecimento das estruturas e dos instrumentos de aplicação; 
• a autoridade: de base ideológica e econômica, aceita, portanto, sob efeito de acordos quanto à 
delegação e representatividade, bem como de discursos indutores das ações.
Claval procura dar conta das espacializações do poder nas várias escalas, além de se debruçar sobre 
o que denomina “geometria das formas complexas de poder”, demonstrando como é erigida a trama 
social. Para tanto, aponta as relações:
• entre indivíduo e sociedade;
• sociais ou impessoais;
• societais ou customizados;
• societárias, pertinentes às instituições políticas.
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A principal busca de Paul Claval, articuladora das demais, é pelas territorialidades (regiões mantidas, 
ocupadas) e territorializações (em processo de ocupação).
Os conceitos espaciais são fundamentais para a reflexão sobre a realidade e para nela interferir. 
Eles são vitais em razão da condição espacial de todos os seres e coisas. São eles: lugar, território, 
região e espaço geográfico. Eles têm papel crucial na lida com as estratégias dos agentes em exercício 
de seus poderes.
 Saiba mais
A respeito dos conceitos elencados, recomendamos o texto de 
Werther Holzer:
HOLZER, W. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem 
e lugar, território e meio ambiente. Território, ano lI, n. 3, p. 77-85, jul./dez. 1997.
 Lembrete
O poder sobre a natureza está na base da economia elementar e da 
evolução, produzindo toda a degradação ambiental a que estamos sujeitos, 
ao passo que o poder de uns sobre outros se reflete nas relações pelo 
surgimento de dissimetrias e desequilíbrios acintosos.
Para Paul Claval (1979), estudioso da vida social, nossa sociedade indaga ansiosamente sobre o 
poder. Ele comenta obras que marcaram seu tempo em busca de esclarecimento das origens, formas e 
papéis do poder no mundo contemporâneo. Contudo, elas tratam, infelizmente, de agregados abstratos 
(índices estatísticos isolados, indicadores de atividade econômica, política, cultural), sem suas raízes 
ecológicas, sem os habitat, sem as distâncias a percorrer, sem dispersões a organizar, concebendo as 
entidades sociais como desprovidas de território, de modo “a-espacial”. É nessa frente que Paul Claval 
quer atuar, compreendendo as estruturas de “grandes grupos em grandes países”, garantindo “sua 
colaboração em tarefas de monitoramento e controle” dos recursos planetários. 
Há organizações hierárquicas emergentes, e Claval (1979) as chama de poder puro, designando-as 
como incapazes de criar a coesão indispensável às sociedades modernas. Também a questão da 
autoridade é trazida à reflexão, por fornecer a liga simbólica necessária a quaisquer projetos de expansão 
de grupos e sociedades. Todavia, Paul Claval adverte que o jogo de influências e o alargamento de 
domínios desencadeiam tensões que, o mais das vezes, confrontam-na. A autoridade, em meio aos 
sistemas de crença que lhe dão amparo e algum sentido, materializa-se (ou “espacializa-se”) no mundo 
como divisões em espaços, mais fechados e privativos que abertos. Entra em cena a discussão sobre a 
função do público, suas definições e expressões.
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A autoridade desempenha uma atribuição geográfica elementar em nosso mundo. Na medida em 
que os sistemas de crença nos quais se baseia são questionados, toda a divisão do mundo em grandes 
espaços é colocada em xeque (se trouve en porte à faux).
Há uma discussão essencial sobre a vitalidade política e cultural dos espaços públicos, em especial 
com Jürgen Habermas, Richard Sennett, Roberto DaMatta e Nelson Saldanha. 
A relevância dos espaços públicos para o exercício social de construção histórica e simbólica do 
humano (sociabilidade, convivência, trocas em geral) é expressa tanto em atividades locais, como ganhar 
as ruas, em blocos de carnaval ou manifestações políticas, quanto em eventos regionais, nacionais e 
globais, como movimentos sociais de maior alcance por educação, saúde e políticas públicas. 
Quando escrevia Espaço e Poder, Paul Claval (1979) via uma retomada das questões de poder pelos 
pesquisadores, colocando em primeiro plano o papel do poder, da dominação, da influência ou da 
autoridade. Contudo, segundo o autor, “insistia-se sobretudo nos mecanismos, nos automatismos, nas 
regulações inconscientes e benéficas”. 
O autor reitera continuamente a intenção de clarificar “o jogo social”, que “nunca é inocente”, o 
que se descobre analisando movimentos e estratégias históricas (determinantes, em diferentes graus) 
que interferem limitando, deslocando e neutralizando o poder de cada indivíduo. Daí a importância 
dos estudos territoriais dos processos sociais no desmascaramento das racionalidades e ideologias que 
ocultam as intenções reais dos agentes promotores da dinâmica institucional (os que instituíram as 
regras sociais e com elas se beneficiam), fazendo-nos esquecer o peso político desigual entre estes 
e os participantes comuns. O problema maior é que se comuns são alguns, não há comunicação que 
unifique. Então, surge a questão: como ser povo além da artificialidade de nação?
Para ele: 
O poder surge, assim, como um elemento de explicação indispensável, 
que é, porém, mais invocado do que analisado: denunciam-se os modelos 
clássicos de equilíbrio para ressaltar a existência de conflitos e tensões onde 
antes não se viam a harmonia e o entendimento. Na massa considerável 
das publicações que dão destaque ao papel dos fatos da dominação, é 
surpreendente constatar a pobreza das reflexões sobre a natureza do poder, 
a diversidade de suas manifestações e seu lugar no conjunto da arquitetura 
social (CLAVAL, 1979, p. 7).
Uma constante de seu raciocínio é o interesse pelos “aspectos concretos da vida social, pela articulação 
espacial dos grupos, pelas redes que os unem, pelas fronteiras que os separam, pelos domínios por onde 
se estendem” (CLAVAL, 1979, p. 7-8).
O geógrafo francês aponta a satisfação corrente no meio acadêmico com respostas superficiais do 
tipo: “uma coletividade, uma classe ou um indivíduo são capazes de impor sua vontade aos outros”. 
Então, ele diz: tudo fica explicado? Apenas aparentemente, segundo ele, porque 
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Seria esquecer a influência da distância e da extensão: dependendo 
de como um homem age sobre os outros, impondo-lhes sua vontade 
pela força, ou levando-os a aceitar a autoridade de que está investido, 
ou jogando com seus dons e a simpatia que sabe criar à sua volta, ou 
tirando partido de sua posição econômica, de sua situação geográfica 
ou de sua aptidão para inventar novas soluçõese fazer com que sejam 
adotadas, os limites espaciais de sua influência variam. Em certos casos, 
nada retém os impulsos que partem dele; em outros, sua dominação se 
detém quase que imediatamente. As sociedades são modeladas pelo 
alcance das relações assimétricas: algumas são necessariamente curtas; 
outras unem, sem nada perder de sua eficácia, os pontos mais distantes 
(CLAVAL, 1979, p. 8).
Um tema, mais especificamente uma via de interpretação dos avanços nos estudos do poder, diz 
respeito à identificação das modernizações de TI: 
A cibernética e a teoria dos sistemas revolucionaram a pesquisa em ciência 
política, ressaltando a análise das redes de relação e dos circuitos de 
informação: o modelo de autorregulação ou de sujeição recém-explorado 
no domínio das ciências aplicadas não definia um tipo de organização que 
operava em qualquer corpo político? (CLAVAL, 1979, p. 8-9).
Tais estudos impulsionaram as modelizações e quantificações de uma vertente das ciências 
políticas, mas não muito exitosa. Para Paul Claval (1979, p. 9), Michel Foucault foi o grande 
responsável pelos avanços das ideias nesse campo, evidenciando as “técnicas de controle e de 
vigilância, fazendo-se historiador minucioso do grande ‘encarceramento’ da época clássica e, depois, 
dos procedimentos penitenciários”, explorando os meios de o todo social coagir moral e fisicamente 
seus membros, “exercendo em relação a eles uma inquisição mais ou menos permanente. Assim, 
o poder que ele analisa não é, simplesmente, negativo: é repressão, certamente, mas também 
inovação, instituição de ordem nova” (CLAVAL, 1979, p. 9).
O autor associa os estudos de Foucault a certas pesquisas realizadas em outros países, nos 
Estados Unidos, particularmente, onde os teóricos das organizações fizeram progredir um pouco, 
nas mesmas linhas, a teoria do exercício do poder. Ao mencionar o trabalho de Robert Dahl, 
diz que ele superou as teses sobre a origem da riqueza, mostrando também os “limites das 
generalizações de Floyd Hunter, de Wright Mills e, em uma geração anterior, de Robert Lynd” 
(CLAVAL, 1979, p. 9).
A teoria das organizações, em suas vertentes experimental ou especulativa, envereda tanto por 
caminhos pouco conhecidos quanto por outros pouco ou nada evidentes, em busca da gênese e lógica 
de agrupamentos sociais, sendo preciosa nessa empreitada, pois, ao basear-se em estudos etnográficos, 
arqueológicos, historiográficos, geográficos, de história da economia, entre outros, concorre para 
restaurar a compreensão complexa.
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Claval acentua o seguinte: 
Interessamo-nos pela sua faceta mais importante para compreender a 
arquitetura espacial das sociedades e para apreender o jogo das assimetrias 
que ao mesmo tempo limita e garante o exercício da liberdade. A grande 
lição dos fatos do poder é que não há, no espaço, liberdade sem um mínimo 
de organização, que essa organização é uma ameaça para cada pessoa e 
restringe a autonomia das escolhas: as alienações da humanidade moderna 
têm sua origem no desenvolvimento de dominações indispensáveis à 
formação de áreas de grande circulação e de livre deslocamento (CLAVAL, 
1979, p. 10).
Para Paul Claval, 
A autoridade apresentou menos atrativos aos pesquisadores contemporâneos: 
eles só a abordam sob um aspecto, de tal maneira lhes parece difícil 
justificá-la no âmbito de uma sociologia ou de uma “politicologia” racionais. 
Os historiadores e os juristas não sofrem do mesmo constrangimento: não 
são teóricos da adequação perfeita dos meios aos fins, mas constatam a 
existência de autoridades reconhecidas como legítimas pelos que estão a 
ela sujeitos; entre eles, Jean Gottmann encontrou o essencial da inspiração 
de sua grande obra sobre o território – uma das que mais contribuíram para 
o conhecimento racional das relações entre o poder e o espaço (CLAVAL, 
1979, p. 9).
O pesquisador francês segue a exposição sobre política mencionando o papel fundamental de 
Max Weber na definição do ponto de partida da análise moderna ao estabelecer as categorias poder, 
autoridade, dominação ou influência.
“Na medida em que a autoridade e o poder variam em função das doutrinas daqueles que os exercem 
ou sofrem, a contribuição da reflexão normativa, desde Hobbes, Locke ou Rousseau, integrou-se, mas 
sob uma forma nova, à teoria contemporânea dos aspectos espaciais do poder” (CLAVAL, 1979, p. 9).
 Saiba mais
Recomendamos os textos de Viviane Forrester e de Jacques Généreux 
sobre os horrores da economia e da política. Généreux dialoga com as teses 
de Forrester.
FORRESTER, V. Horror econômico. São Paulo: Unesp, 1997.
GÉNÉREUX, J. O horror político. São Paulo: Bertrand, 1999.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Paul Claval enumera as relações intrínsecas entre a sociedade e o poder. Diz que as diferenças que 
nos caracterizam não podem ser confundidas com desigualdades! Nessa conjuntura, é vital destacarmos 
um trecho sobre o assunto, feito pelo doutor em geografia Gilvan Charles Cerqueira de Araújo.
 Notas sobre as relações de poder e o território
[...]
1. Sobre o poder
Inevitavelmente, a fundamentação dessas características territoriais perpassa pelo 
conceito de poder, por isso [são] necessárias algumas concepções de poder e suas fontes de 
emanação para com o território. Nessa relação do poder com o território é que inicialmente 
a concepção de poder se torna importante e, após esse passo, leva o conceito para suas 
zonas de uso corrente e também mais complexas, como o Estado, os governos e as classes 
sociais.
Dos principais autores que tratam da problemática do poder, faremos uso de um 
concentrado conjunto de propostas, contando com uma pequena genealogia do conceito 
feita por Lebrun (1981); o poder discursivo e a maneira pela qual o poder ora foi tratado 
em sua proximidade com a economia, ora em relação à ciência jurídica, e como superar 
essa dicotomia de Michel Foucault (1979); a figuração do poder e suas formas extremadas 
nos conflitos sociais e sua relação com o uso da violência, em Hannah Arendt (1994); as 
interpretações políticas do poder em seu formato vertical de ação ao longo da história dos 
Estados e suas formas de governo, em Burdeau (2005) e Dallari (1976).
Gérard Lebrun (1981) faz um retorno histórico do poder. Basicamente, o autor elabora 
uma dialética epistemológica entre a concepção clássica de poder dominador e coercitivo, 
historicamente ligado à ideia de Estado, e também busca e reflete sobre a crítica às teorias 
anglo-saxônicas do poder enquanto “soma zero” – uma herança da teoria dos jogos, na qual 
em algum momento, para cada dominado, haverá um dominante e vice-versa, fechando 
o sistema em si. Nesse sentido é que o autor nos apresenta a definição da ideia de poder, 
aproximando-se do poder enquanto manifestação de forças:
Em suma, o poder não é um ser, “alguma coisa que se adquire, se 
toma ou se divide, algo que se deixa escapar”. É o nome atribuído a 
um conjunto de relações que formigam por toda parte na espessura 
do corpo social (poder pedagógico, pátrio poder, poder do policial, 
poder do contramestre, poder do psicanalista, poder do padre etc.) 
(LEBRUN, 1981, p. 8).
Durante toda sua exposição, Lebrun (1981) valoriza o importante papel dos teóricos 
renascentistas e modernos em suas elucubrações a respeito do Estado. Em uma tentativa de 
aliar as teorias clássicas de poder central do soberano ao poder multifacetado e diluído dos 
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contemporâneos, o autor propõe a transferência da dominação pela manipulação estatal, 
vistas nos dias de hoje pela aliança simbiótica entre liberalismo e regimes democráticos de 
governo. Portanto, para o autor, “o Estado moderno é menos abertamente dominador, e 
mais manipulador; preocupa-se menos em reprimir a desobediência do que em preveni-la. 
É feito menos para punir do que para disciplinar” (LEBRUN, 1981, p. 33).
Segundo Foucault (1979), há uma diferenciação das forças existente entre os indivíduos 
de uma sociedade. Isso quer dizer que o poder não está localizado apenas em uma direção, 
localidade ou organismo, como os Estados, escolas e prisões, mas sim em todas as trocas de 
experiência dos sujeitos. 
A crítica do filósofo francês é pautada em duas extremidades de contrariedade em 
relação às concepções históricas de poder. Por um lado, temos, como Lebrun (1981) ressalta, 
a tradição do poder estatal na figura do soberano, por outro, a corrente marxista de 
alinhamento do poder com as forças produtivas no desenrolar da história pelas sociedades. 
Nas palavras de Foucault, temos a seguinte situação entre esses dois extremos:
No caso da teoria jurídica clássica, o poder é considerado como um 
direito de que se seria possuidor como de um bem e que se poderia, 
por conseguinte, transferir ou alienar, total ou parcialmente, por um 
ato jurídico ou um ato fundador de direito, que seria da ordem da 
cessão ou do contrato. O poder é o poder concreto que cada indivíduo 
detém e que cederia, total ou parcialmente, para constituir um poder 
político, uma soberania política. Nesse conjunto teórico a que me 
refiro, a constituição do poder político se faz segundo o modelo 
de uma operação jurídica que seria da ordem da troca contratual. 
[...] No outro caso – concepção marxista geral de outra coisa, da 
funcionalidade econômica do poder. Funcionalidade econômica no 
sentido de que o poder teria essencialmente como papel manter 
relações de produção e reproduzir uma dominação de classe que 
o desenvolvimento e uma modalidade própria da apropriação das 
forças produtivas tornaram possível. O poder político teria nesse caso 
encontrado na economia sua razão de ser histórica (FOUCAULT, 1979, 
p. 174-175).
O viés econômico que permeia a história é inegável, mas o importante é não deixar para 
trás o substrato que tanto as instituições quanto os interesses econômicos fundamentam, 
ou seja, a repressão, a dominação e a manipulação não só dos soberanos, mas também 
de todos que por alguma contingência específica estiverem exercendo o domínio sob 
outro indivíduo ou comunidade: “o poder é essencialmente repressivo. O poder é o 
que reprime a natureza, os indivíduos, os instintos, uma classe. Quando o discurso 
contemporâneo define repetidamente o poder como sendo repressivo, isto não é uma 
novidade” (FOUCAULT, 1979, p. 175).
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Não há por que negar a mobilidade escalar do poder, indo dos mais colossais aparelhos 
estatais de controle até os comandos imperativos vociferados por coronéis ou burocratas 
em vilas e comunidades isoladas. Assim, conseguimos extrair o caráter “essencialista” do 
poder, colocando-o como forças em processos contraditórios de manifestação:
A partir do momento em que tentamos escapar do esquema 
economicista para analisar o poder, encontramo-nos mediatamente 
na presença de duas hipóteses: por um lado, os mecanismos do 
poder seriam de tipo repressivo, ideia que chamarei por comodidade 
de hipótese de Reich; por outro lado, a base das relações de poder 
seria o confronto belicoso das forças, ideia que chamarei, também 
por comodidade, de hipótese de Nietzsche (FOUCAULT, 1979, p. 176).
Outra importante representante do pensamento político e filosófico contemporâneo, 
Hannah Arendt (1994) – apesar de haver concordância com o pensamento de Michel 
Foucault, a autora resgata a importância do poder coletivo, caso assim não fosse, a própria 
ideia de Estado perderia o seu fundamento1 –, aprofunda a questão do poder de repressão 
do Estado, por meio da validação legítima do uso da violência adquirida pela justificativa de 
consenso de nomeação do aparelho estatal como protetor da ordem social. 
E nessa reflexão entre o poder, o jogo de forças e a validação da autoridade é que Arendt 
explora a violência como expressão máxima de visibilidade concreta do poder manifestado. 
No entanto, assim como há a necessidade dessa aceitação coletiva, a autora também reitera 
que devemos conceber o poder em seu formato impessoal, coletivo, multiverso para além 
do indivíduo:
O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo 
e permanece em existência apenas na medida em que o grupo 
conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está “no poder”, na 
realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um 
certo número de pessoas para agir em seu nome (ARENDT, 1994, p. 36).
O poder acaba por se enraizar das instituições para os seus representantes pessoais, e o 
instrumento de sua perduração diante da população subalterna será a mais clara possível, a 
violência: “[...] Os que vivem sob um déspota não tem nenhum interesse pessoal em obedecer 
às injunções que lhe são feitas ou respeitar as proibições que vêm limitar sua liberdade. Se 
o senhor não pudesse recorrer à força física, ninguém se curvaria às suas ordens” (CLAVAL, 
1979, p. 23).
1 “O uso da força é um dos elementos da vida internacional. Nos Estados, o governo dispõe do monopólio 
legal do recurso à violência e o utiliza para tornar impossível o uso privado da coação física: a imagem normal 
da vida política é a de relação desenvolvida pacificamente pela negociação e a concessão, ou de regimes calmos, 
estabelecidos depois de breves choques, revoluções ou guerra civis: mesmo quando estas se prolongam, a luta 
armada surge como um elemento anormal contra a natureza” (BURDEAU, 2005, p. 203).
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Por essa razão, as punições aos dissidentes à ordem dominante serão avassaladoras e 
inegociáveis; assim o foram com os revoltosos na Bahia, no Maranhão, em Minas Gerais 
e no Rio de Janeiro e, mais do que punir, o objetivo principal era utilizar este símbolo do 
mando do poder como exemplificação para as outras pessoas, a favor ou não de algum tipo 
de posicionamento contrário aos comandos do rei.
Em concordância tanto com Foucault como com Arendt, Georges Burdeau (2005) diz 
que o poder é o encontro desigual de forças. A manifestação dessa desigualdade gerará a 
visibilidade do poder enquanto diminuição ou sobrepujamento dos dominados diante do 
comando e ordens de quem domina [...] “todo o problema do Poder se deve a essa dualidade 
dos elementos que o constituem e se influenciam reciprocamente: a vontade de um chefe 
e o poder de uma ideia que, a um só tempo, o sustenta e o supera” (BURDEAU, 2005, p. 6).
Além de Burdeau (2005), haverá outros autores que reafirmarão a importância do 
poder em grande magnitude, o poder do Estado. Essa concepção clássica, apesar de termos 
demonstrado a opinião dos autores em ultrapassá-la, ainda é recorrente nos estudos 
jurídicos e políticos. Por isso, assim como Lebrun (1981) lembra-nos da importância do 
poder estatal, é Dallari (1976, p. 40) que apresenta algumas diretrizes quando o interesse 
for discutir o Estado e suas maneiras de uso e manifestação do poder:
a) O poder, reconhecido como necessário, quer também o 
reconhecimento de sua legitimidade, o que se obtém mediante o 
consentimento dos que a ele se submetem. 
b) Embora o poder não chegue a ser puramente jurídico,ele age 
concomitantemente com o direito, buscando uma coincidência entre 
os objetivos de ambos.
c) Há um processo de objetivação, que dá precedência à vontade 
objetiva dos governados ou da lei, desaparecendo a característica de 
poder pessoal.
d) Atendendo a uma aspiração à racionalização, desenvolveu-
se uma técnica do poder, que o torna despersonalizado (poder do 
grupo, poder do sistema), ao mesmo tempo que busca meios sutis de 
atuação, colocando a coação como forma extrema.
Eis que chegamos então à questão central da qual nos propomos tratar, que é a relação 
entre o Estado e o território. Não apenas geógrafos voltados a assuntos ligados à política irão 
defender o estudo dessa relação. A negligência da geografia para com a política é lembrada 
por Foucault (1979) em sua afirmação do protagonismo do espaço e dos geógrafos. 
E também mais enfaticamente temos Burdeau (2005, p. 15) defendendo a retomada 
dos estudos históricos sobre o Estado e o território, pois, se o território “[...] é assim ligado 
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à ideia do Estado, ele exige, para que a ideia não se desagregue, que o Estado se empenhe 
em aprimorar as relações entre os indivíduos e seu contexto geográfico”. Por essas razões, 
os geógrafos possuem lugar cativo no aprofundamento de estudos a respeito dessa relação, 
por seu arcabouço teórico e fundamentação conceitual:
As dimensões espaciais dos fatos do poder foram negligenciadas. A 
geografia política voltou-se prematuramente para a análise do Estado 
e não soube dissecar as engrenagens dos governos e sua articulação 
sobre a sociedade civil. A parte de influência, autoridade e poder 
que existe na sociedade civil à margem das estruturas propriamente 
políticas foi esquecida pela maioria dos sociólogos e economistas e 
exagerada pelos marxistas que negaram a importância do Estado, 
elemento da superestrutura, tratado com um desprezo um pouco 
altaneiro. Uma visão justa dos problemas implica que a extensão 
e a distância sejam levadas em conta em toda interpretação dos 
elementos sociais, e que seja concedido um lugar às assimetrias das 
arquiteturas sociais (BURDEAU, 2005, p. 215).
O que autor está afirmando nada mais é que a preocupação em unir esferas 
complementares, em uma análise que se volte para elementos como sociedade civil, território, 
instituições estatais, história cultural, características econômicas (e observemos que ele 
critica o economicismo da história, assim como Foucault), e a revalidação da importância 
da superestrutura. Em suma, para se falar de indivíduo e sociedade, há de se ter em mente 
que entre a terra e o homem há muito mais que instintos, valoração monetária e fins de 
uso imediato.
O poder e suas relações na sociedade possuem diferentes faces de manifestação, a 
depender da situação em que ele está sendo analisado, por isso há, como afirma Foucault, 
ora a tendência econômica, ora a histórica ou cultural.
E justamente por se tratar de uma conceituação de primeira grandeza nas ciências 
sociais é que o poder terá na geografia um lugar cativo, relacionado a estudos específicos 
no que tange à sua expressão espacial. E nesse sentido nos voltamos agora à maneira pela 
qual o poder passa a ser estudado na ciência geográfica, ou seja, por meio de seu potencial 
político, econômico e cultural.
2. Poder e espaço geográfico, as faces do território
[...]
Pode-se, nesse momento, propor um aprofundamento em relação a esse importante e 
imprescindível conceito-chave do pensamento geográfico que é o território. Vejamos o que 
diz Marcos Saquet (2007, p. 142) sobre o território, apresentando-nos uma definição ampla 
e contundente sobre esse conceito:
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O homem age no território, espaço (natural e social) de seu habitar, 
produzir, viver objetiva e subjetivamente. O território é um espaço 
natural, social e historicamente organizado e produzido, e a 
paisagem é o nível do visível e percebido desse processo. O território 
é chão, formas espaciais, relações sociais, e tem significados; 
produto de ações históricas (longa duração) que se concretizam em 
momentos distintos e superpostos, gerando diferentes paisagens. 
Há, no território: identidade e/ou enraizamento e conexões nos 
níveis nacional e internacional; heterogeneidade e unidade; 
natureza e sociedade; um processo histórico com definições 
territoriais específicas para cada organização social e o aparente, 
que corresponde à paisagem. 
Reincidentemente, com a premissa espacial, o próprio Raffestin (1993) nos conecta 
diretamente com o que foi exposto anteriormente sobre as relações de poder, mas nesse 
caso essas relações são observadas e analisadas em sua expressão espacial, ou melhor, 
geograficamente. Para o autor:
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. 
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma 
ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um 
programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, 
concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o 
ator “territorializa” o espaço. [...] O território, nessa perspectiva, 
é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia, [seja] 
informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo 
poder (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
E por meio dessa citação voltamos à situação, ou seja, a ação do poder em um 
determinado lugar (sítio), configurando assim o que outros autores chamarão da presença 
política e da própria política no espaço geográfico, que acabou por se tornar ao longo dos 
anos um dos ramos mais profícuos de estudos pela geografia.
Na confluência da presença das relações de poder no espaço geográfico com a potência 
material de análise desse posicionamento é que o território se fortalece epistemologicamente. 
Em suma, é pelo território que a materialidade da realidade objetiva se torna passível de 
análise teórica e metodológica pelo labor geográfico, pois nele se agregam a potência e 
a inerência material do mundo em que vivemos em conjunto com as relações sociais (de 
poder), formando múltiplos territórios e territorialidades.
E nesse entendimento do conceito de território consideram-se as facetas simbólica 
e subjetiva que compõem esses territórios, pois além do domínio, controle e posse 
da terra, há a filiação a essa área do espaço geográfico, que lhe dá uma significação 
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própria, engendrando as territorialidades,2 que, somadas às relações de poder, aumentam 
consideravelmente o grau de importância que os territórios possuem para um indivíduo 
ou uma sociedade: “A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade vem 
de sua materialidade, enquanto o espaço reúne a materialidade e a vida que a anima” 
(SANTOS, 1996, p. 51).
[...].
Adaptado de: Araújo (2017, p. 24-32). 
1.3 Política no plano da existência
Nos capítulos iniciais de Ética a Nicômaco, Aristóteles aplica o termo 
“política” a um assunto único – a ciência da felicidade humana – subdividido 
em duas partes: a primeira é a ética e a segunda é a política propriamente 
dita. A felicidade humana consistiria em uma certa maneira de viver, e 
a vida de um homem [seria] o resultado do meio em que ele existe, das 
leis, dos costumes e das instituições adotadas pela comunidade à qual ele 
pertence. Na zoologia de Aristóteles, o homem é classificado como um 
“animal social por natureza”, que desenvolvesuas potencialidades na vida 
em sociedade, organizada adequadamente para seu bem-estar. A meta 
da “política” é descobrir primeiro a maneira de viver que leva à felicidade 
humana, e depois a forma de governo e as instituições sociais capazes de 
assegurar aquela maneira de viver. A primeira tarefa leva ao estudo do 
caráter (ethos), objeto da Ética a Nicômaco; a última conduz ao estudo da 
constituição da cidade-Estado, objeto da Política. Esta, portanto, é uma 
sequência da Ética, e é a segunda parte de um tratado único, embora seu 
título corresponda à totalidade do assunto. Aliás, já na geração anterior a 
Aristóteles, Platão, seu mestre, havia abrangido as duas partes do assunto 
em um só diálogo – A República.
No esquema global das ciências segundo Aristóteles, a “política” pertence 
ao grupo das ciências práticas, que buscam o conhecimento como um meio 
para a ação, em contraposição às ciências teóricas (a metafísica e a teologia, 
por exemplo), cujo conhecimento é um fim em si mesmo. As ciências práticas 
se subdividem, por sua vez, em conformidade com a sistemática dicotômica 
de Aristóteles, em dois grupos: as ciências “poiéticas” (ou seja, produtivas), 
que nos ensinam a produzir coisas, e as ciências no sentido mais estrito, que 
nos mostram como agir; as primeiras visam a algum produto ou resultado, 
enquanto a prática mesma do conhecimento adquirido é o próprio fim no 
2 “Portanto, todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional 
e simbólico, pois exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar ‘funções’ quanto para produzir ‘significados’” 
(HAESBAERT, 2004, p. 3).
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caso das últimas. As primeiras incluem as profissões e os ofícios, e as últimas 
abrangem as chamadas “belas-artes” (a música e a dança, por exemplo), que 
são em si mesmas um fim.
A ciência prática por excelência é a “política”, isto é, a ciência do bem-estar 
e da felicidade dos homens como um todo; ela é prática no sentido mais 
amplo da palavra, pois estuda não somente o que é a felicidade (o assunto da 
Ética), mas também a maneira de obtê-la (o assunto da Política); ao mesmo 
tempo ela é prática no sentido mais estrito, pois leva à demonstração de 
que a felicidade não é o resultado de ações, mas é em si mesma uma certa 
maneira de agir (KURY, 1985, p. 7). 
A política nasce da diversidade e se encaminha em busca da felicidade, é uma premissa ao modo 
aristotélico e confirmado por Hannah Arendt. Então, fazemos política porque somos diferentes. 
Assim, se fôssemos idênticos, algo bastante chato, não haveria política. Política é o resultado de 
nossa condição humana, como bem afirma Hannah Arendt em seus livros A Condição Humana e 
O Que é Política?
Somos diferentes, logo fazemos política. Parece muito simples.
O excerto a seguir traz uma parte do raciocínio complexo de Hannah Arendt sobre a política nas 
escalas e circunstâncias individual e planetária: 
Essa contradição [entre a liberdade política e a vida] manifesta-se 
da maneira mais palpável porque sempre foi prerrogativa da política 
exigir, em certas circunstâncias, o sacrifício da vida dos homens que 
nela participam. Só que, é claro, essa exigência deve ser entendida 
no sentido de exigir-se do indivíduo que sacrifique sua vida para o 
processo de vida da sociedade; de fato, existe aqui uma relação que 
pelo menos impõe um limite para o risco de vida: ninguém pode ou deve 
arriscar sua vida se com isso colocar em perigo a vida da Humanidade. 
Ainda voltaremos a examinar essa relação, que como tal chegou à 
nossa consciência porque só agora dispomos da possibilidade de pôr 
um fim à vida da Humanidade e de toda a vida orgânica; na verdade, 
quase não existe uma categoria política e quase não existe um conceito 
político tradicional que, medido nessa mais jovem possibilidade, não se 
tenha demonstrado ultrapassado na teoria e inaplicável na prática e, 
na verdade, justamente porque, em certo sentido, o que está em jogo 
hoje, pela primeira vez, também na política externa, é a vida, ou seja, a 
sobrevivência da Humanidade.
Mas essa relação da própria liberdade com a sobrevivência da 
Humanidade não risca do mapa a oposição entre liberdade e vida, na 
qual se assentou toda a coisa política e que continua decisiva para 
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todas as virtudes especificamente políticas. Até se poderia dizer, com 
muito direito, que é esse próprio fato, de que hoje o que está em jogo 
na política é a existência nua e crua de todos, o sinal mais evidente da 
calamidade em que nosso mundo caiu – calamidade que, entre outras 
coisas, consiste em a política ameaçar ser riscada da face da Terra. 
Pois o risco a ser corrido por aquele que lida na esfera política – na 
qual deve levar tudo a conselho, antes de sua vida – diz respeito não à 
vida da sociedade ou da nação ou do povo, para o qual ele sacrificaria 
sua vida; diz respeito muito mais à liberdade, tanto a própria como a 
do grupo ao qual o indivíduo pode pertencer, e com ela a segurança 
da existência do mundo no qual esse grupo ou esse povo vive, e que 
ela construiu no trabalho de gerações para encontrar um alojamento 
seguro e calculado a longo prazo para agir e conversar – quer dizer para 
as verdadeiras atividades políticas. Em circunstâncias normais, ou seja, 
nas circunstâncias que eram decisivas na Europa desde a Antiguidade 
romana, a guerra era de fato apenas a continuação da política por 
outros meios e isso significa que ela sempre podia ser evitada se um 
dos adversários decidisse aceitar as exigências do outro. Tal aceitação 
poderia custar a liberdade, mas não a vida.
Essas circunstâncias, como todos sabemos, hoje não existem mais; 
quando olhamos para trás, elas nos parecem uma espécie de paraíso 
perdido. Mas se o mundo em que vivemos agora também não deriva 
e nem se explica – de maneira causal ou no sentido de um processo 
automático – pelos tempos modernos, mesmo assim ele cresceu 
no solo desses tempos modernos. No que concerne à coisa política, 
isso significa que tanto a política interna para a qual o objetivo mais 
elevado era a própria vida como a política externa que se orientava pela 
liberdade como o bem mais elevado viam na força e no agir violento seu 
verdadeiro conteúdo (ARENDT, 2002, p. 30).
Um tema que lhe é muito caro, a preservação da vida, depreende da tensão entre os imperativos 
da política interna (ações que dependem do indivíduo) e as ameaças da política externa (relações que 
tomam o indivíduo), internacional.
Reafirmamos, em consonância com Zygmunt Bauman, aquilo que nos move neste livro-texto: a 
política somente é importante porque está na vida diária, no cotidiano de todos. Ela está em toda 
parte, em qualquer passo dado. Assim, precisamos levar esse conteúdo para a política profissional, 
institucionalizada.
O texto que destacaremos a seguir é da obra 10 Lições sobre Hannah Arendt (2012), de 
Luciano Oliveira.
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Terceira lição
[...]
Quando Arendt se refere à política em um sentido positivo, está se referindo ao que foi a 
experiência da polis grega! Arendt, recordemos, foi aluna de Heidegger e deste guardou algo 
do seu método: “A volta dele aos filósofos gregos, sua luta com a etimologia mesma das 
palavras que eles utilizaram, para lhes recapturar a primeira e fresca apreensão da maravilha 
e terror do Ser”. Seguindo suas pegadas, Arendt repetidas vezesexplicita a sua visão da 
política como estando baseada na experiência grega clássica. Em A Condição Humana, um 
capítulo sobre o que seria a essência da ação política se chama, exatamente, “A solução 
grega”. E mais tarde dirá:
Empregar o termo “político” no sentido da polis grega não é nem 
arbitrário nem descabido. Não é apenas etimologicamente e nem 
somente para os eruditos que o próprio termo, que em todas as 
línguas europeias ainda deriva da organização historicamente ímpar 
da cidade-Estado grega, evoca as experiências da comunidade que 
pela primeira vez descobriu a essência e a esfera do político.
A resposta sobre o que seria tal essência, que ela exploraria mais sistematicamente no 
livro de 1958, já está no conjunto de manuscritos [...] em alemão que só em 1993 foram 
publicados na Alemanha, com o título Wast ist Politik?, e que Jerome Kohn publicou em uma 
versão inglesa com o título Introdução na política, preservando assim a ideia de introducere 
– “fazer entrar”. Foi na Grécia Antiga – mais exatamente em Atenas –, na época de seu 
maior esplendor, que ela, a política, apareceu, em um espaço um tanto simbólico que os 
gregos chamaram de polis. Ali, os homens livres e iguais – aqueles que estavam libertos 
das necessidades laborais da vida – compareciam e davam-se à experiência política por 
excelência, a ação, ou seja, o ato de vir a público e, em companhia de seus pares, iniciar com 
palavras e atos algo novo cujo resultado não podia ser conhecido de antemão.
Diferentemente do que pode parecer ao senso comum, que tradicionalmente vincula o 
“milagre grego” à época da imbatível tríade Sócrates-Platão-Aristóteles, a polis ateniense 
que Arendt tanto admira é anterior ao período que Platão inaugura. Citando-a: “A política 
como tal existiu tão raramente e em tão poucos lugares, que, falando historicamente, 
só umas poucas épocas extraordinárias a conheceram”. Na Grécia Antiga, essa “época 
extraordinária” já tinha passado quando emergiu o pensamento político grego que mais 
conhecemos, do qual Platão e Aristóteles são os nomes mais conhecidos. Mas o período 
inaugurado pelos diálogos socráticos já assinala a decadência da polis, e tal decadência, 
pelo menos no plano teórico, chega a ser debitada na conta de ninguém menos do que 
o próprio Platão – pelo seu esforço de “libertar o filósofo dos assuntos políticos”. Por que 
isso? Porque foi a polis ateniense que condenou Sócrates à morte! A explicação é dada 
pela própria Arendt:
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O hiato entre a filosofia e a política se abriu historicamente com o 
julgamento e condenação de Sócrates, que na história do pensamento 
político é um momento crítico análogo ao julgamento e condenação 
de Jesus na história da religião. Nossa tradição de pensamento político 
começou quando a morte de Sócrates levou Platão a desesperar da 
vida da polis.
Viriam daí, de um lado, a hostilidade platônica ao reino das opiniões múltiplas e voláteis 
vigentes na polis, onde as decisões seriam fruto de um exercício permanente de discussão e 
persuasão, e, de outro, a valorização da figura do “rei-filósofo”, espécie de expert detentor de 
um saber acima da plebe e gozando de um privilégio sobre os cidadãos ordinários. Começava 
a decadência da política como o agir comum de cidadãos livres, daí em diante – em um 
processo que chegou ao paroxismo nos tempos modernos – reduzidos, quando muito, à 
condição de eleitores ocasionais. Confundem-se aqui processos históricos e culturais que 
incluem desde a decadência de Atenas e, posteriormente, da República romana, até a 
desvalorização da “esfera política” promovida pelo cristianismo, ao assimilá-la “ao mundo 
terrestre da concupiscência”.
Assim, Platão carrega a responsabilidade de ter substituído a práxis da persuasão 
pela ideia de dominação na ordem do político. O movimento atinge sua culminância, no 
alvorecer da Modernidade, com o pensamento de Hobbes, que estabelece uma equivalência 
significativa entre o exercício do poder e o emprego da força bruta. Tal concepção tinha se 
tornado natural às vésperas do século XX, estando presente em pensadores tão diferentes 
quanto Marx ou Weber, autor da célebre definição do poder como o monopólio do exercício 
da violência: 
É nesse contexto que nasce a ideia de que a política é uma 
necessidade, de que a política em sentido amplo é apenas um meio 
para se alcançarem fins mais elevados situados fora dela e de que ela 
deve, portanto, justificar-se em termos desses fins.
Em suma, um mal necessário. A conexão entre essa “volta aos gregos” e a crítica a Marx 
se aclara quando se considera que a participação na polis nada tinha a ver com finalidades 
práticas como a satisfação das necessidades, assunto doméstico por definição. Ou seja, 
enquanto Arendt, na esteira dos gregos, vê na política a mais nobre atividade humana, Marx a 
vê como um estorvo do qual convém um dia se livrar. Entendamo-nos: Marx é, como Arendt, 
um libertário. Afinal, o que quer a revolução tão esperada por ele senão libertar o homem 
do império da necessidade? Mas é aqui, justamente, que as coisas se complicam. Lembremos 
que o grego que tinha assento na polis era um homem liberto das necessidades materiais da 
existência, e, portanto, livre para discutir e deliberar com seus pares, igualmente libertos. Havia 
o mundo privado da casa, no qual tais necessidades eram satisfeitas à base da dominação 
sobre as mulheres e os escravos, e no qual não havia que se falar em deliberação, e havia a 
“esfera pública”, na qual não havia dominação, mas igualdade. Entre uma coisa e outra, nada. 
Não havia o que Arendt vai chamar de “sociedade” ou de “o social”. Por uma série de razões 
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que não vem ao caso abordar – até pela imensidão do assunto –, posteriormente ao declínio 
da polis ocorreu um fenômeno que adquirirá uma importância cada vez maior e que Arendt 
assim descreve: “A esfera da vida e de suas necessidades práticas, que na Antiguidade como 
na Idade Média fora considerada a esfera privada por excelência, ganhou uma nova dignidade 
e adentrou a arena pública em forma de sociedade”. 
Estamos aqui diante de um fenômeno que nos é inteiramente familiar: uma concepção 
de política “na qual o Estado é visto como uma função da sociedade”, algo como “um mal 
necessário em prol da liberdade social”, prevalecente no mundo moderno. É aqui onde se 
introduz a crítica a Marx, que se alguma finalidade vê na política é justamente a de pôr-se 
a serviço dessas necessidades, evidentemente para superá-las, e, com isso, decretando seu 
próprio fim, por ter se tornado supérflua.
Marx, para Arendt, atribuíra ao trabalho uma importância suprema na vida humana [...].
Fonte: Oliveira (2012, p. 19-21). 
Hannah Arendt e Zygmunt Bauman são fundamentais nesse assunto, pois ambos procuram 
a vida nos conceitos, em seu conteúdo social. Vão além do exercício teórico, seus trabalhos são 
exercícios políticos. 
Nesse ponto do texto, enfatiza-se a face mais elementar, mais básica da política, aquela do nosso 
dia a dia. Quando queremos ou precisamos seguir uma direção, trilhar um caminho, trata-se de ação 
política, conforme acentua Arendt, citada por Lincoln de Abreu Penna em sua resenha sobre a autora: 
[...] Hannah não pretendia escrever um trabalho acadêmico clássico, uma 
ciência política convencional. Desejava ocupar-se de uma outra dimensão 
da política, aquela na qual ela se revela por inteiro, isto é, a política que tem 
a ver com as condições básicas da existência humana. É esta introdução que 
se propôs a examinar.
Partindo da premissa segundoa qual o sentido da política é a liberdade, 
Hannah Arendt sugere que comecemos a recuperar o seu sentido original, 
pois a história do século XX é a história, se não de sua supressão, pelo menos 
de sua obstrução. A frequência de guerras e revoluções nesse século “têm 
em comum entre si o fato de serem símbolos da força“, tornando o convívio 
com a liberdade mais uma utopia do que uma conquista real e construtiva 
(PENNA, [s.d.]).
Arendt destaca temas como pluralidade, diálogo e negociação: 
“A política”, diz ela, “baseia-se na pluralidade dos homens”. Em seguida, 
acrescenta, “política trata da convivência entre diferentes”. Assim, se a 
pluralidade implica coexistência de diferenças, a igualdade a ser alcançada 
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através desse exercício de interesses, quase sempre conflitantes, é a liberdade, 
e não a justiça, pois é aquela, a liberdade, que distingue “o convívio dos 
homens na polis de todas as outras formas de convívio humano que eram 
bem conhecidas dos gregos” (PENNA, [s.d.]).
E o autor continua:
[...] na política, temos de diferenciar entre objetivo, meta e sentido. 
[...] A esses três elementos de todo agir político – ao objetivo que persegue, 
à meta que idealiza e pela qual se orienta e ao sentido que nele se revela 
durante sua execução – agrega-se um quarto, aquele que na verdade jamais 
é motivo imediato do agir, mas que o põe em andamento. Vou mencionar 
esse quarto elemento de princípio do agir e com isso sigo Montesquieu, que, 
em sua discussão sobre as formas do Estado, em Esprit des Lois, descobriu 
esse elemento pela primeira vez. Se se quiser entender esse princípio em 
termos psicológicos, pode-se então dizer que é a convicção básica que 
um grupo de homens compartilha entre si, e essas convicções básicas 
que desempenharam um papel no andamento do agir político nos foram 
transmitidas em grande número, embora Montesquieu só conheça três delas 
– a honra nas monarquias, a virtude nas repúblicas e o medo nas tiranias.
Ao sustentar que a política é algo vital para os indivíduos e para a sociedade, 
Hannah é atual. O fato de os políticos, os profissionais, estarem padecendo 
uma rejeição tão grande por parte do cidadão comum não quer dizer 
que o exercício da política esteja comprometido. Ao contrário, a vocação 
“autárquica”, como diz Hannah, ou simplesmente o destino comum da 
humanidade fortalece a sua convicção de que o “objetivo da política é a 
garantia da vida no sentido mais amplo”. E este sentido, o da libertação, será 
tão satisfatório quanto mais o homem puder caminhar em busca de seus 
objetivos sem amarras institucionais (PENNA, [s.d.]).
Se nos basearmos em José Arthur Giannotti (2014), vamos encontrar três classes de contradição: 
uma, idealista, representada por Hegel; outra, materialista, defendida por Marx; a última, com Carl 
Schmitt à frente.
Para Giannotti (2014, p. 4), “a política é muito mais que disputa pelo poder”. Afirma que “disputa é 
entendida de diversas maneiras, mas, tanto à esquerda como à direita, principalmente como contradição”. 
O autor mostra, porém, que a contradição (“no seu sentido estrito, a contradição, como junção de 
uma proposição e sua negativa, bloqueia o pensamento”) pode ser uma via privilegiada de análise e 
reflexão. Contradição que tanto pode travar o encadeamento do raciocínio quanto abri-lo, como faz 
Hegel (GIANNOTTI, 2014, p. 4). 
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Hegel faz dela o núcleo de qualquer devir, mas para isso pensa o ser e o nada 
se determinando mutuamente, vindo a ser a partir dessa tensão. Ao pensar 
a luta de classes como uma contradição, Marx se ajusta a esse modelo. 
Somente assim pode ver nos conflitos do capital e do trabalho um vetor que 
os supere e conserve suas potencialidades, criando outra figura que abriria 
uma nova época da história. No entanto, se a contradição é uma figura do 
discurso, como ela pode penetrar todo o real? Somente se ambos, o discurso 
e o real, tiverem a mesma estrutura (GIANNOTTI, 2014, p. 4-5).
Trata-se de uma equivalência ontológica entre realidade e linguagem. Isto é, ao serem ambas 
revestidas do mesmo material e ordenadas pelo mesmo sentido, remetem uma à outra. Ao perscrutarmos 
a realidade, estaríamos em condição de falar (e pensar sobre ela), enquanto o discurso nos levaria até a 
realidade. É um procedimento próprio da condição de equivalência ou de ontologias homólogas. É por 
isso que a linguagem pode trazer o real (tem essa aspiração e esse potencial) como raciocínio encadeado. 
 Saiba mais
Para obter mais conhecimentos sobre ontologia e ontologia homóloga, 
leia as seguintes obras: 
MERLEAU-PONTY, M. A estrutura do comportamento. São Paulo: 
Martins Fontes, 2006. 
___. A fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
___. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2005.
A contradição é fundamental para a comunicação didática. Assim, Giannotti aponta o modo como 
Karl Marx abriu-se para o tema: 
Marx nunca poderia aceitar esse “idealismo” [de Hegel]. Contudo, essa recusa 
deixa uma sobra no seu pensamento político. A passagem do capitalismo 
para o socialismo demanda a destruição do Estado, que no fundo é a 
imagem das relações capitalistas posta a serviço delas, e a substituição da 
política pela organização racional dos assuntos humanos. O resultado, como 
sabemos, foi o terror revolucionário, cada vez mais terror quando se tornava 
menos revolucionário (GIANNOTTI, 2014, p. 5).
Aprofundando o tema, destacamos o excerto a seguir:
Contrapondo-se fervorosamente ao marxismo, o jurista alemão Carl 
Schmitt também pensou a política como uma contradição, aquela entre 
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amigos e inimigos, que articularia os homens antes mesmo que o Estado 
se organizasse como instância do poder – contradição que se resolve 
quando os amigos se aglutinam em um soberano, aquele capaz de decidir 
os casos de exceção. Nada mais natural então que aderisse ao nazismo 
(GIANNOTTI, 2014, p. 6).
E o autor continua: 
Mas é o caminho mais rápido para sublinhar que, ao partir da contradição 
para tentar entender a política, abre-se uma brecha que pode encaminhar a 
decisão para o lado do terror. Compreende-se, assim, por que alguns autores, 
procurando evitar esse caminho, mergulham ou na solução bem ajustada 
do comportamento racional em vista dos fins dados ou nos equilíbrios do 
contrato social. No entanto, mudamos de patamar se levarmos em conta 
que os conceitos de contradição e de decisão ganham novo sentido depois 
do tsunami que atingiu a filosofia no século XX. Aliás, a história da filosofia 
não é a narração dessas grandes avalanches? De um lado, a fenomenologia 
heideggeriana retoma o conceito de práxis, ao dar enorme ênfase às 
questões relativas à decisão, entendidas muito mais como abertura para 
o Ser do que atividade meramente humana. E a abertura para o Ser é 
configurada pela linguagem. De outro lado, Wittgenstein, ensinando que o 
sentido das palavras se articula nos seus usos, passa a estudar a contradição 
no nível das linguagens cotidianas. Definida formalmente, ela vale tão só 
para os sistemas formais, deixando na sombra seu funcionamento nos 
vários níveis do contradizer. Nesse novo universo, a contradição assume um 
significado, o que não acontecia na lógica formal enquanto ela manteve a 
matriz aristotélica. E, provida de significado, ela nos encaminha para um 
novo questionamentoda política.
Esse último ponto é tratado no Apêndice, que se ocupa particularmente 
de Wittgenstein. Seria melhor que fosse lido como introdução, mas, 
considerando sua relativa dificuldade, talvez seja conveniente mordê-lo no 
fim. A dificuldade é que esse texto está sempre presente.
[...]
Convém indicar àqueles poucos amigos que me têm lido no decorrer dos 
anos o salto que este novo texto pretende dar. Até agora não tinha me 
dado conta do alcance do potencial explicativo que ganha a contradição 
quando assume um sentido. Em vez de se reduzir à conjunção de um signo 
proposicional e sua negação, ela passa a articular um ato de negação que se 
nega em um determinado jogo de linguagem. Consiste em uma “atividade” 
de contradizer que, se não exprime algo, não deixa de exteriorizar o bloqueio 
de duas atividades expressivas, as quais incitam uma decisão que, como tal, 
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abre novas formas de exprimir, propiciando um novo jogo de linguagem e 
novos procedimentos de juízo.
Muitas vezes, inspirado em Carl Schmitt, já me referira à política como o 
conflito entre amigos e inimigos, mas como um dado que me obrigava a 
pensá-la até suas raízes, quando os agentes se defrontam dispostos a 
arriscar a própria vida. Agora essa oposição vem a integrar a essência da 
política, ou melhor, determina uma regra a ser obedecida pelos agentes para 
que eles próprios se tornem políticos. Procuro agora descrever o jogo de 
linguagem que articula a política, descrever a sua gramática. Procedo, pois, 
a uma análise conceitual.
Ao ser vista como contradição significativa, a luta entre amigos e inimigos 
passa a exteriorizar uma comunidade entre eles, uma “mesmidade”, que, 
embora não seja algo pressuposto, não é um nada. Vem a ser graças 
ao comportamento que os agentes exteriorizam quando, no limite, 
se dispõem a morrer para manter suas formas de vida ameaçadas por 
outros. Pensando esse modo, livro-me da tradição grega que considerava 
a política na polis ou, na mesma linha, no contrato social, na imaginação, 
no Espírito Absoluto, no ser genérico do homem, e assim por diante. Em 
outras palavras, deixo de ser obrigado a supor que a política se realiza 
em uma sociedade já pronta para poder pensá-la como o que apronta a 
sociedade para novas decisões.
Além do mais, se a contradição é quebrada pela decisão, esta não nasce 
tão só de um ato criador totalizante, mas da instalação de novos jogos de 
linguagem que abrem o espaço para poder dizer o sim, o não, assim como 
para recuperar certas bases indubitáveis que amigos e inimigos possam 
aceitar. Por isso, a contradição política melhor se resolve na democracia, 
quando os representantes de cada grupo performam suas representações 
levando em consideração a atividade dos inimigos.
Visto que a comunidade política se constitui tendo no horizonte a contradição 
em processo entre amigos e inimigos, ela perde qualquer base objetiva ou 
subjetiva. Não se apoia em um povo que legisla por e para si mesmo, dotado 
de um poder constituinte, ou que recolhe uma tradição projetando-a para o 
futuro. Também não se constitui por sujeitos dotados de direitos, sejam eles 
conferidos pelo Estado, seja pelo simples fato de todos serem humanos. Ainda 
menos pelo direito de ter direitos. Embora minha investigação se associe 
aos autores que tentam pensar a constituição do sujeito político além dos 
limites do Estado moderno, não é por isso que procuro o terreno firme de 
uma polis ou de uma subjetividade. Ao admitir que o próprio sujeito político 
se constitua mediante suas diversas exteriorizações, não sou obrigado a 
supor algo que o determine, a não ser o próprio modo de se exteriorizar 
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de encontro ao inimigo. Desse modo, não é a própria contradição in fieri 
[em via de se tornar] que delimita o espaço em que os juízos e as decisões 
políticas se articulam? Em um regime ditatorial, o inimigo, depois de ser 
identificado, tende a ser eliminado. Em um regime democrático, o inimigo, 
reconhecido no horizonte, passa a ser reiteradamente neutralizado, criando 
assim um novo espaço para que se mantenha a oposição entre adversários 
e aliados. Nessas condições, porém, tudo trabalha para que a contradição 
se torne opaca, deixando lugar para que tão só opere a governança do 
cotidiano. Sem a possibilidade de morte no horizonte, o futuro se oculta 
(GIANNOTTI, 2014, p. 4-12).
Timothy Snyder apresenta vinte lições do século XX adaptadas às atuais circunstâncias, 
prevenindo-nos que: 
Poderíamos ser tentados a pensar que nossa herança democrática nos protege 
automaticamente dessas ameaças. É uma ideia equivocada. Nossa própria 
tradição exige que se examine a história a fim de compreender as fontes 
mais profundas da tirania e de refletir sobre as respostas apropriadas. Os 
americanos não são mais sábios do que os europeus que viram a democracia 
dar lugar ao fascismo, ao nazismo ou ao comunismo [suas exacerbações...] 
no século XX. Nossa única vantagem é poder aprender com a experiência 
deles. E este é um bom momento para isso (SNYDER, 2017, p. 7).
2 CIÊNCIA DO PODER E DA POLÍTICA
Estas têm sido questões centrais na demarcação teórica de dois tipos 
de abordagem que competiram e dominaram o desenvolvimento da 
ciência política desde os primeiros decênios do século XX, quais sejam, o 
institucionalismo e o comportamentalismo.
No âmbito desse embate, e após duas “revoluções” de paradigma, uma 
nova abordagem veio a prevalecer na análise do fenômeno político 
nos últimos quarenta anos – o neoinstitucionalismo. Na verdade, o 
paradigma neoinstitucional, atualmente, é hegemônico na ciência 
política (PERES, 2008).
Definir ciência política é entrar no plano do pensamento sobre a política que vimos na prática; é 
preciso, então, trazê-la como ação, viva, e como história. 
Como já estudamos, há na formação da ciência política uma dualidade e, por vezes, uma visão 
dualista fundante:
• dualidade nas práticas individual-coletivas em busca de sobrevivência e melhorias;
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• ciência que busca explicar a unidade complexa por meio de concepções, modelos e 
instrumentos mecânicos simplórios, reproduzindo a realidade de modo a transfigurá-la, por 
vezes até mesmo inconscientemente.
No primeiro caso, as buscas dependem de disposições concretas, perdendo potência no senso comum. 
Se não perderem, podem alcançar um nível colaborativo. No segundo cenário, no plano teórico-abstrato, 
há elaborações institucionais, projetos para administrar as ações individuais. Apresentam certa dubiedade: 
a institucionalização da vida social tem por retórica e panaceia o projeto político e a melhoria da vida 
coletiva, e há imenso descrédito do aparato institucional (estatal), dificilmente público. Isto é, viver é 
um fenômeno existencial precípuo e, em decorrência disso, organizamos de modo dissimétrico nossas 
próprias ações, com a permissão da cisão social. 
Conforme Matheus Passos (2017), ciência política é o estudo do fenômeno político, tanto no sentido 
amplo quanto naquele mais estrito. Enquanto no primeiro plano trata-se da análise do fato propriamente 
dito, no outro, o objeto de interesse volta-se para os aspectos institucionais, do Estado, de seu aparelho 
e das relações estabelecidas em torno dele.
Amparado em Norberto Bobbio, Matheus Passos (2017) define esse nível dos fatos como tudo o que 
é ligado à cidade, ao urbano, ao civil,ao público e que é pertinente às dinâmicas sociais. Diz que é a arte 
do governo de uma maneira geral, assemelhando-se à política no plano da existência, do modo como 
destacamos há pouco. Já no sentido estrito, a política remete aos termos de referência polis e Estado, 
isto é, política institucional, profissional. 
Ambos os planos baseiam-se em relações de poder, agentes atuando e afetando-se mutuamente, 
seja no plano da vida social prática, seja nas relações com o Estado. 
Já vimos que o saber sobre a política, tanto o clássico como o contemporâneo, é bastante politizado, 
pois pensa com propósito, é político, representa setores da sociedade, é motivado por ideias. 
A política é prática, mas devemos refletir sobre suas intenções e direções. 
Se temos os clássicos, a exemplo de Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Maquiavel, Hobbes, Locke 
e tantos outros, hoje temos a disciplina acadêmica e científica, debruçada sobre o fenômeno político, 
com a específica denominação de ciência política. Em geral, dizemos que é uma área do conhecimento 
que se institucionalizou nas universidades anglo-saxãs, particularmente estadunidenses, influenciando 
países europeus desenvolvidos, e mais tarde também os “periféricos”. 
Matheus Passos (2017) expande o sentido da política para o plano da existência. A diferença entre 
filosofia política e ciência política, segundo ele, é que a filosofia trata do que deve ser, e a ciência, do que é.
Ciência implica previsibilidade, e os elementos típicos do pensamento e do fazer científico são: 
descrição, explicação e previsão. No que diz respeito à questão do poder, temos o Estado agindo sobre 
a sociedade e vice-versa. Poder é a capacidade de um agente definir o comportamento de outro. O 
exercício do poder dá-se pela via ideológica (convencimento); via econômica; via coercitiva.
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Acentuaremos dois exemplos dessa relação de poder. De início, imaginemos um sujeito A atuando 
sobre o sujeito B. Para que a relação ocorra, é necessário o seguinte: 
• O sujeito A deve ter meios para mudar B.
• O sujeito B deve alterar o comportamento em função de A (de acordo com as ações e intenções 
dele). Se houver mudança de comportamento, mas não aquela preconizada pelo sujeito A, ele não 
cumpriu a relação de poder. 
• O sujeito A deve realizar seus objetivos.
Agora, temos a figura do pai e do filho. O pai (poder) pode dar palmadas em seu filho. Os meios, as 
vias de exercício do poder, são sempre territoriais. O poder potencial é expresso pela ameaça, já o atual 
é o que está sendo exercido.
Leonardo Avritzer (2016) diz que a ciência política no Brasil tem surgimento tardio (impulsionada no 
período discricionário da ditadura militar) e a divide em três fases: 
• Heroica (1960-1985): influência dos Estados Unidos da América, com os programas de fomento. 
• Estagnação relativa das universidades públicas (1985): aposentadorias e concentrações no eixo 
São Paulo-Rio.
• Profissionalização e expansão (2000): abertura de cursos e formação de doutores.
Um pouco mais sobre a diferença entre filosofia e ciência política
Mais do que em seu desenvolvimento histórico, o Estado é estudado em si mesmo, 
em suas estruturas, funções, elementos constitutivos, mecanismos, órgãos etc., como 
um sistema complexo, considerado em si mesmo e nas relações com os demais sistemas 
contíguos. Convencionalmente, hoje, o imenso campo de investigação está dividido 
entre duas disciplinas até didaticamente distintas: a filosofia política e a ciência política. 
Como todas as distinções convencionais, também esta é lábil e discutível. Quando 
Hobbes chamava de philosophia civilis o conjunto das análises sobre o homem em suas 
relações sociais, nela também compreendia uma série de considerações que hoje seriam 
incluídas na ciência política. Ao contrário disso, Hegel deu aos seus Princípios de Filosofia 
do Direito (1821) o subtítulo de Staatwissenschaft im Grundrisse, “Fundamentos da 
ciência do Estado”. Na filosofia política, são compreendidos três tipos de investigação: 
a) da melhor forma de governo ou da ótima república; b) do fundamento do Estado, 
ou do poder político, com a consequente justificação (ou injustificação) da obrigação 
política; c) da essência da categoria do político ou da politicidade, com a prevalente 
disputa sobre a distinção entre ética e política. Essas três versões da filosofia política são 
exemplarmente representadas, no início da Idade Moderna, por três obras que deixaram 
marcas indeléveis na história da reflexão sobre a política: Utopia (1516), de More, com o 
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desenho da república ideal; Leviatã (1651), de Hobbes, que pretende dar uma justificação 
racional e, portanto, universal da existência do Estado e indicar as razões pelas quais 
os seus comandos devem ser obedecidos; e O Príncipe (1513), de Maquiavel, na qual, 
ao menos em uma de suas interpretações (a única, aliás, que dá origem a um “ismo”, o 
maquiavelismo), seria mostrado em que consiste a propriedade específica da atividade 
política e como se distingue ela enquanto tal da moral.
Por “ciência política” entende-se hoje uma investigação no campo da vida política 
capaz de satisfazer a essas três condições: a) o princípio de verificação ou de falsificação 
como critério da aceitabilidade dos seus resultados; b) o uso de técnicas da razão que 
permitam dar uma explicação causal em sentido forte ou mesmo em sentido fraco do 
fenômeno investigado; c) a abstenção ou abstinência de juízos de valor, a assim chamada 
“valoratividade”. Considerando as três formas de filosofia política descritas, observe-se que 
a cada uma delas falta ao menos uma das características da ciência. A filosofia política 
como investigação da ótima república não tem caráter valorativo; como investigação do 
fundamento último do poder, não deseja explicar o fenômeno do poder, mas justificá-lo, 
operação que tem por finalidade qualificar um comportamento como lícito ou ilícito, o que 
não se pode fazer sem a referência a valores; como investigação da essência da política, 
escapa a toda verificação ou falsificação empírica, na medida em que isso que se chama 
presunçosamente de essência da política resulta de uma definição nominal e, como tal, não 
é verdadeira nem falsa.
Fonte: Bobbio (1994, p. 55-56).
2.1 A política e sua institucionalização: das formas elementares de poder aos 
arranjos sociais de Estado 
A vida social limita-se, quando não institucionalizada, a sistemas estreitos, 
dificilmente maiores do que o grupo primário [no qual] a criança é formada. 
Em tal escala, os benefícios do grupo são modestos, embora indispensáveis 
para a aculturação. As pessoas geralmente querem tirar mais proveito da 
comunidade; elas querem se beneficiar da exploração eficiente do meio 
ambiente, o que é permitido pela maior especialização e pelo uso de 
equipamentos e materiais mais poderosos. Para conseguir isso, elas devem 
quebrar as cadeias do universo limitado de interações espontâneas. A 
institucionalização das relações empurra os limites do universo acessível, 
mas abre a porta para as formas sociais de poder: é o outro lado da moeda 
(CLAVAL, 1979, p. 14). 
Como vimos, a política pode ser tomada em dois planos, mas nos interessa, agora, considerá-la 
sob a ótica da unidade. Assim, as práticas individuais e sociais (as ações e os “fatos”) sofreriam 
transformações com os impactos do campo jurídico-institucional, adaptando-se a estes ao mesmo 
tempo que os fosse criando (claro que isso é mais verdadeiro para aqueles mais próximos do poder 
decisório). Contudo,de qualquer forma, os planos não seriam dicotômicos, mas complementares e 
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CIÊNCIA POLÍTICA
mutuamente conversíveis. Seria preciso explicar como a vida comum se torna formal, institucional, 
como ela se mundaniza ao pautar, ao determinar as ações individuais. 
Na unidade da ação, estariam o indivíduo e as estruturas conceituais e teóricas formalizadas como 
instituições (campo contratual, para os contratualistas). Tal unidade é a saída para que o pensamento 
científico dê conta da diversidade humana.
Também é preciso procurar no tempo os princípios longínquos de organização, como diz Luiz 
Fernando da Silva Pinto (2012, p. 49-50):
A pesquisa aqui empreendida (O Trigo, a Água e o Sangue) relaciona-se 
diretamente à aventura do homem em tempos muito remotos, buscando 
identificar as raízes estratégicas do Ocidente, como já afirmado. Trata-se de 
uma investigação razoavelmente complexa quando comparada ao tempo 
de Atenas, Esparta e o mundo de Alexandre da Macedônia, uma vez que 
documentos e referências escritas já são bem mais presentes. Outro fato 
complicador é que durante vários milênios vão operar conjuntamente as 
comunidades, as polis, a Suméria, os povos mesopotâmicos, os hititas, o Egito, 
os fenícios, os gregos ásperos, os gregos micênicos e Creta, providenciando 
todos eles as suas respectivas soluções de equilíbrio estratégico, os ambientes 
estratégicos. Trocando experiências, mas não necessariamente todos unidos. 
Aliás, de fato, desunidos.
Uma questão muito especial, já ressaltada, é a profunda influência dos 
arranjos comunitários, antecedendo a organização das polis e a presença 
dos caçadores-coletores, que durante milênios tiveram que praticar 
desenhos autossustentados para sua própria sobrevivência. Assim, a 
presente investigação confere um cuidado extremo à comunidade e seus 
múltiplos aspectos, infelizmente ainda pouco enfatizada nos estudos 
relativos à Grande Antiguidade. A meu ver, existe uma resistência natural dos 
pesquisadores a abordar o tema comunitário – pelo menos no mundo rural 
– pelo fato de não terem tido a oportunidade de vivenciar (como pessoas) 
quadros semelhantes aos ocorridos no passado, uma vez que na sua maioria 
massacrante podem ser definidos como do gênero homo urbanus. Da rua 
calçada para a universidade na cidade! Homens do asfalto! Ou então de 
sofisticados campi, gramados e arborizados. 
3 O FENÔMENO POLÍTICO: PODERES, CONTRATOS, REGRAS E NORMAS
“É possível fazer sobre esse mito do contrato social toda uma série de interpretações e de filosofias 
políticas. Elas têm certos traços comuns. Elas despem as hierarquias religiosas tradicionais de sua 
influência política: já não é mais em um além transcendente que a autoridade encontra suas raízes” 
(CLAVAL, 1979, p. 130).
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Em Espaço e Poder, Claval trata dos fundamentos ideológicos do mundo contemporâneo. Examina 
ideologias sociais, iniciando pela Reforma e sua influência no contrato social. O traço comum entre elas 
é um certo igualitarismo. O mito fundador é o do pacto “celebrado entre todos os membros do povo de 
Deus” (CLAVAL, 1979, p. 129). 
Hobbes é o teórico de um sistema político no qual o poder e a autoridade são ilimitados, vivendo 
em meio a inúmeros conflitos e insegurança em todos os níveis; pleiteava, portanto, um ambiente com 
direitos consolidados por um soberano forte. Todavia, “todos possuem a mesma aptidão de aceitar o que 
se conforma aos termos do pacto, ou de rejeitar o que o contradiz” (CLAVAL, 1979, p. 130).
O Estado hegeliano corresponde a essa visão, racionalizando o poder institucional que prefigura as 
bases do Estado moderno. 
Segundo o autor, são concepções que “não têm a complexidade das pirâmides de regras e o 
prestígio das sociedades de ordens: comportam apenas dois estágios, o da autoridade e o da massa 
que lhe está submissa”. E reitera: “A versão hobbesiana do contrato social prolonga, portanto, no 
mundo racional, a visão tradicional da hierarquia política e a liberta daquilo que vinha limitar o 
exercício da vontade do príncipe: ela o libera do magistério moral que a Igreja e a religião exerciam 
até então” (CLAVAL, 1979, p. 131).
Duas proposições diferentes, a de John Locke e a de Jean-Jacques Rousseau, são mais determinantes 
no pensamento contemporâneo. 
Locke, ao propor o liberalismo democrático e representativo, fundamenta-o sobre a educação, signo 
da mudança, e o trabalho, que a viabiliza, juntamente com a propriedade, como estudaremos adiante. 
Se para Hobbes a propriedade é danosa e fonte de insegurança entre os seres humanos, para Locke é 
anterior ao contrato, mas portadora das possibilidades individuais de progresso social do indivíduo.
Ele coloca o poder em um circuito que parte dos cidadãos, remonta até o 
soberano, para descer de novo até eles: o príncipe não está mais acima de 
tudo, ele é a emanação do conjunto, pensa por ele, age por ele e leva em 
conta seus problemas, suas dificuldades e as soluciona quando a iniciativa 
individual não o pode fazer (CLAVAL, 1979, p. 133). 
Rousseau modifica o mito do contrato social ao introduzir a ideia da perversidade engendrada pela 
sociedade. Destaca a necessidade de assinar um novo contrato para um mundo melhor. Será o fruto de 
uma ação coletiva ou de um movimento de entusiasmo? O início de uma era de inocência? A Revolução 
Francesa inaugura uma série de revoluções que levam aos estados totalitários que Hegel justifica pela 
ideia de um mundo em construção. A violência até encontra sua justificativa na grandeza do trabalho 
a ser feito. 
Marx apreende o poder do esquema hegeliano, mas para ele o que está no fim da história não é a 
ideia, mas o homem. Ele percebeu que o proletariado é o instrumento da última fase da história: é o 
único grupo consciente das transformações necessárias para o fim.
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Do contrato, podemos, então, retomar a ideia de unidade, algo próximo da síntese anunciada por 
Paulo Sérgio Peres (2008, p. 54): 
[...] Vários autores vêm discutindo as diferenças e as semelhanças entre as 
vertentes neoinstitucionais das referidas áreas de conhecimento, bem como 
das escolas que coabitam o campo da análise política. Contudo, curiosamente, 
há poucos trabalhos concentrados no próprio desenvolvimento histórico de 
tal paradigma na ciência política. Sob tal perspectiva, meu objetivo neste 
texto é fazer uma breve reconstrução histórica do desenvolvimento teórico e 
metodológico do paradigma neoinstitucionalista da ciência política a partir 
da concepção de “revolução de paradigmas” – enquadramento também já 
utilizado, em alguma medida, por alguns. Como procurarei mostrar, no caso 
específico da abordagem política, tal revolução envolveu dois processos 
sucessivos, sendo um deles de oposição e o outro de síntese. No primeiro 
caso, uma oposição radical à abordagem comportamentalista que floresceu 
nos anos de 1920-1930 e se tornou hegemônica ao longo das décadas de 
1940-1950-1960; no segundo caso, a articulação sintética de elementos 
do próprio comportamentalismo, com elementos do que se convencionou 
chamar de antigo institucionalismo.
Seja pela perspectiva da dimensão política do comportamento, seja pela da abordagem das 
representações institucionais, há um deslocamento pendular da “análise econômica dos fenômenos 
políticos sob a ótica dos paradoxos das decisões coletivas e a crise do behaviorismo a partir da segundametade da década de 1960” (PERES, 2008). 
O autor também encontra a corrente neoinstitucional, que tem como característica teórica central 
a síntese epistemológica e metodológica de parte do comportamentalismo com parte do “antigo” 
institucionalismo. Suas preocupações são: neoinstitucionalismo; comportamentalismo; história da 
ciência política e instituições políticas.
Os contemporâneos, tanto os de linhagem crítica como os liberais clássicos, retomam e fundam 
seu raciocínio necessariamente nos contratos, no contrato social moderno, com seus desdobramentos 
jurídicos e políticos. 
Para Locke e Montesquieu, os poderes ou a divisão dos poderes representam a pedra de toque para 
a discussão do modo como determinada nação se governará. 
Se, então, a política (em seu sentido banal, e até mesmo formal) e aquilo que dela transparece 
emergem como aparência e como motivações intrínsecas, envolvem a ética e a melhoria de status, 
sempre há distorções e patologias, e é também verdadeiro que somente fazemos política porque 
podemos! Autonomia e emancipação! Ambas são alicerçadas no poder. É preciso ser livre para ter poder, 
só assim há república!
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Liberdade leva-nos à ideia de república, de democracia, e seus agentes são os recebedores do destino 
das ações. 
A ideia de contrato é um recurso muito parcial, mas didático, para expressar o jogo de obrigações 
e deveres dos agentes associados. A alternativa seria uma história minudente das construções 
institucionais (societais) dos acordos baseados na moral, no medo da dominação, nos desafios 
momentâneos dos grupos...
O contrato social ou o grande acordo de obrigações entre as partes, para Norberto Bobbio (1896, 
p. 61), é “o princípio de legitimação das sociedades políticas” estabelecido sobre consenso. O autor 
desenvolve essa ideia demonstrando de que modo os direitos dos contratos, do natural ao civil (público 
e privado), desenrolam-se historicamente.
3.1 Classificações de grupos políticos
E o colecionador do museu, como o administrador colonial e o nosso 
antropólogo vitoriano evolucionista, tem uma verdadeira mania 
classificatória. De fato, ele concebe a ciência do homem como uma espécie 
de arte de classificação, sua tarefa sendo a de obter exemplares típicos das 
etapas pelas quais tem caminhado a humanidade, no seu avanço até o nosso 
tempo e, sobretudo, a nossa sociedade. O problema não é colocar os objetos 
lado a lado (como fazem os museus modernos hoje em dia), mas situá-los 
um atrás do outro, dentro de um eixo temporal, revelador do progresso 
(LEACH, 1983, p. 8-9).
[...] Gostaria de reunir alguns dos temas do estudo como um todo. Afirmei 
que, hoje em dia, os programas políticos radicais devem basear-se em uma 
conjunção da política de vida e da política gerativa. As questões de política de 
vida tornaram-se proeminentes graças à influência conjunta da globalização 
e da destradicionalização – processos que possuem forte conotação ocidental, 
mas que estão afetando as sociedades em todo o mundo. Os planos de ação 
política precisam ser de caráter gerativo, na medida em que a reflexividade 
passa a ser o elo entre os dois outros grupos de influência. A política de vida 
está centrada no seguinte problema: como viveremos após o fim da natureza 
e da tradição? Tal questão é “política” no sentido amplo, de que ela implica 
um julgamento entre diferentes afirmações de modo de vida, mas também no 
sentido mais restrito, de que ela se impõe profundamente em áreas ortodoxas 
de atividade política (GIDDENS, 1996, p. 279).
Se Leach (1983) nos lembra dos perigos das classificações baseadas em modelos instrumentalizados, 
como o evolucionista, Giddens nos remete ao jogo ideológico entre direita e esquerda.
Leach (1983) segue a linha crítica que explicita as intenções subjacentes na utilização dos 
termos, nunca neutros, como primitivos ou subdesenvolvidos (por causa do parâmetro europeu), 
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estratos de renda (neutralizando a concentração), índices e indicadores (manipuláveis, quando 
desacompanhados de metodologia), além das referidas esquerda e direita (o mais das vezes servindo 
ao maniqueísmo eleitoreiro).
Exemplo desse uso expansionista é o trecho de Leach:
Vale, entretanto, continuar assinalando que, na sociedade na qual floresce 
uma antropologia evolucionista, floresce igualmente a ânsia da conquista. 
Ou, como já colocou Hannah Arendt falando do imperialismo, a ânsia da 
expansão pela expansão. Assim, se Cecil Rhodes dizia que, se pudesse, iria 
anexar os planetas, Tylor, Spencer e Frazer classificariam todos os costumes, 
situando-os em uma escala evolutiva apropriada. À megalomania de Cecil 
Rhodes, sonhando nostalgicamente com a anexação de tudo, corresponde – 
sem exageros – a perspectiva legislativa de Tylor, quando acredita que todo 
o universo deve estar determinado. Nas suas palavras: “se em algum lugar 
há leis, estas devem existir em toda parte”. O Império Britânico, portanto, 
reproduz-se em vários níveis. Seus políticos desejam sua expansão. Seus 
antropólogos ampliam as fronteiras da ciência do homem, descobrindo 
“leis” e, assim fazendo, realizam a anexação social da magia, do sacrifício, 
da religião exótica e elementar, da couvade, do casamento por captura e 
de toda a legião de costumes que o mundo ocidental desvenda e com que 
entra em contato após sua expansão. O trajeto da ciência é, pois, homólogo 
ao ciclo da sociedade, que, por sua vez, tem a mesma curvatura do indivíduo 
que elabora as ideias, transformando-as em teorias (LEACH, 1983, p. 8-9).
Quanto à esquerda e à direita, continuamos com Norberto Bobbio, que atribui à classificação papel 
fundamental na ciência política: 
Não obstante ser a díade seguidamente contestada por muitas partes e com 
vários argumentos – e de modo mais intenso, mas sempre com os mesmos 
argumentos, nestes tempos recentes de confusão geral – as expressões 
“direita” e “esquerda” continuam a ter pleno curso na linguagem política. 
Todos os que as empregam não dão nenhuma impressão de usar palavras 
irrefletidas, pois se entendem muito bem entre si.
Nestes últimos anos, entre analistas políticos e entre os próprios atores da 
política, boa parte do discurso político tem girado em torno da pergunta: 
“Para onde vai a esquerda?”. São cada vez mais frequentes, a ponto mesmo 
de se tornarem repetitivos e enfadonhos, os debates sobre o tema “o futuro 
da esquerda” ou “o renascimento da direita”. Ajustam-se seguidamente as 
contas com a velha esquerda para buscar a fundação de uma esquerda nova 
(mas se trata sempre de esquerda). Ao lado da velha direita, derrotada, surgiu 
com desejo de revanche uma “nova direita”. Os sistemas democráticos com 
partidos numerosos continuam a ser descritos como se estivessem dispostos 
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em um arco que vai da direita à esquerda, ou vice-versa. Não perderam nada 
de sua força significante expressões como “direita parlamentar”, “esquerda 
parlamentar”, “governo de direita”, “governo de esquerda’”. No interior 
dos próprios partidos, as várias correntes que disputam o direito de dirigir 
segundo os tempos e as ocasiões históricas costumam se chamar com os 
velhos nomes de “direita” e “esquerda”. Quando nos referimos aos políticos, 
não temos nenhuma hesitação em definir, por exemplo, Occhetto como de 
esquerda e Berlusconi como de direita (BOBBIO, 1995a, p. 63-64).
Continuando suaavaliação, ele acentua:
Não obstante as repetidas contestações, a distinção entre direita e esquerda 
continua a ser usada. Se assim for, o problema se desloca: agora, não se 
trata mais de comprovar sua legitimidade, mas de examinar os critérios 
propostos para a sua legitimação. Em outras palavras: desde que “direita” 
e “esquerda” continuam a ser usadas para designar diferenças no pensar 
e no agir políticos, qual a razão, ou quais as razões da distinção? Não se 
deve esquecer que a contestação da distinção nasceu precisamente da 
ideia de que os critérios até então adotados ou não seriam rigorosos ou 
ter-se-iam tornado enganosos com o passar do tempo e a mudança das 
situações. Felizmente, ao lado dos contestadores, sempre existiram, e nestes 
últimos anos são mais numerosos do que nunca, também os defensores, que 
propuseram soluções para a questão do critério ou dos critérios. E como as 
respostas dadas são mais concordantes que discordantes, a distorção acaba 
sendo, de certo modo, por elas ratificada (BOBBIO, 1995a, p. 73).
Dividir objetos e bens e classificar a realidade são ações, intelectuais e/ou políticas, baseadas no 
poder; são sempre atos de poder. 
Há inúmeras qualificações lançadas sobre o tecido social, não vamos nos estender nesse mérito. 
Trata-se da própria escolha dos nomes, dos termos de referência. É o universo da comunicação, que 
aproxima e afasta, dependendo de quanto as pessoas dominam as regras, os códigos.
Desse modo, as chancelas de direita e de esquerda para atitudes e bandeiras políticas, para Bobbio e 
Anthony Giddens, são razoavelmente atuais e funcionam contemporaneamente e, embora necessitem 
de revisões, apresentam dados de realidade. São etiquetas e atribuições mais fáceis de manejar, mesmo 
com toda a volatilidade mencionada. 
Tratando das classificações, Robert Dahl destaca as dificuldades desse processo: 
A “explosão de informação” a que nos referimos se fez acompanhar de uma 
inundação de tipologias – propostas de classificação dos sistemas políticos. 
Na verdade, o termo “tipologia” ficou tão na moda entre os cientistas 
políticos, na década de 1960, que afastou outros termos perfeitamente 
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úteis, porém mais tradicionais, como “classificação”. No Sétimo Congresso 
Mundial da Associação Internacional de Ciência Política, em 1967, sessões 
inteiras foram devotadas ao tópico: “Tipologias dos Sistemas Políticos”.
Naturalmente, os esquemas de classificação dos sistemas políticos são 
tão antigos quanto o próprio estudo da política. Aristóteles, por exemplo, 
produziu uma classificação baseada em dois critérios: o número relativo dos 
governantes (um, poucos ou muitos) e o critério de governo (se o “interesse 
comum” ou o “interesse próprio”) (DAHL, 1988, p. 70).
Robert Dahl acrescenta a proposta de Max Weber: 
Há cerca de meio século, porém, Max Weber criou uma classificação que 
tem tido ainda maior influência entre os cientistas sociais contemporâneos. 
Weber limitou sua atenção aos sistemas em que o governo era aceito como 
legítimo, e sugeriu que os líderes dos sistemas políticos poderiam defender 
sua legitimidade e que os membros desses sistemas [poderiam] aceitá-la 
com base em três critérios: 
1) Tradição. 
A legitimidade pode basear-se “na crença estabelecida na santidade de 
tradições imemoriais”, e na necessidade de obedecer a líderes que exercem 
sua autoridade de acordo com a tradição. Para Weber, este é o exemplo mais 
universal e primitivo de autoridade.
2) Qualidades pessoais excepcionais. 
A legitimidade se baseia na “devoção à santidade específica e excepcional, 
ao heroísmo ou caráter exemplar de um indivíduo”, e à ordem moral ou 
política que ele revelou ou instituiu. 
3) Legalidade. 
A legitimidade se baseia na crença de que o poder é exercido de modo legal; 
as regras constitucionais, leis e poderes das autoridades são aceitos como 
obrigatórios porque são legais. O que é feito legalmente é tido como legítimo. 
A cada uma destas três bases de legitimidade corresponde uma forma “pura” 
de autoridade: [a tradicional, a carismática e a legal].
As classificações de Weber e de Aristóteles foram quase postas de lado 
pelas novas tipologias da análise política. Alguns estudiosos sugerem que os 
sistemas políticos podem ser classificados como autocráticos, republicanos ou 
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totalitários; outros, como sistemas de mobilização, teocráticos, burocráticos 
ou de reconciliação; outros, ainda, como oligarquias modernizadoras, 
totalitárias, tradicionais e tradicionalistas, além de democracias tutelares e 
políticas, ou então como sistemas anglo-norte-americanos, europeus, pré-
industriais ou parcialmente industriais e totalitários; como sistemas políticos 
primitivos, impérios patrimoniais, impérios nômades ou de conquista, 
cidades-Estado, sistemas feudais, impérios burocráticos centralizados 
e sociedades modernas (democráticas, autocráticas, totalitárias e 
“subdesenvolvidas”). Dois investigadores aplicaram a técnica estatística 
da análise de fatores (factor analysis) e 68 características de 115 países, 
derivando indutivamente uma tipologia de oito espécies de sistema político. 
(Outro autor abandonou a linguagem tradicional, propondo que os sistemas 
políticos fossem classificados em amalgamados, prismáticos e refratados 
(fused, prismatic, refracted) (DAHL, 1988, p. 71).
Robert Dahl fala em “uma inundação de tipologias” e de um momento seguinte: “depois da 
inundação”, com reconsiderações. 
Diante de tantas tipologias, cabe a pergunta: Qual delas é a melhor? 
Obviamente, não há uma melhor tipologia. Existem milhares de critérios 
para classificar os sistemas políticos; os mais úteis serão os que elucidarem 
melhor o aspecto da política em que estivermos mais interessados. Um 
geógrafo classificaria os sistemas políticos de acordo com a área que 
ocupam; um demógrafo, pelo critério da população; um jurista, segundo seu 
código legal. Um filósofo ou teólogo, interessado em identificar “o melhor” 
sistema, usaria critérios éticos ou religiosos (DAHL, 1988, p. 71).
O autor continua expondo a arbitrariedade das classificações:
Um cientista social, querendo determinar como a revolução está associada 
às condições econômicas, poderia classificar os sistemas políticos pela renda 
relativa e a frequência dos movimentos revolucionários. Assim, como não há 
uma “melhor maneira” de classificar as pessoas, não há um modo exclusivo 
de distinguir e classificar os sistemas políticos que sejam melhores do que 
os outros para qualquer propósito (DAHL, 1988, p. 71).
A antropologia política traz-nos um valioso arsenal para a empresa crítica: 
O interesse da antropologia pela política existe desde os primórdios da 
disciplina. No contexto da tradição evolucionista, que marcou a fase 
inicial da antropologia, o foco recaía sobre as formas e sistemas de poder 
em sociedades “primitivas”, cujas características deveriam ser comparadas 
e classificadas em relação ao sistema político das sociedades modernas, 
vistas como mais evoluídas. Em relação à suposta evolução das formas de 
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organização política, traçava-se uma linha que ia desde a “horda primitiva” 
até o Estado moderno. Nessa época de hegemonia do evolucionismo, que 
poderíamos situar entre as últimas décadas do século XIX e o início da 
década de 1920, a grande maioria dos estudos antropológicos nãotomava 
a política como tema central de interesse, nem a antropologia política era 
pensada ou formalizada como uma subárea de estudos (KUSCHNIR, 2007, 
p. 9).
Outras classificações, mais polêmicas ainda, trazem termos como: estigmas, classes sociais e estratos.
4 ORIGENS E CONCEITOS DO ESTADO
“À base do critério histórico, a tipologia mais corrente e mais acreditada junto aos historiadores das 
instituições é a que propõe a seguinte sequência: Estado feudal, Estado estamental, Estado absoluto, 
Estado representativo” (BOBBIO, 1994, p. 114). 
A antropologia política traz seu importante arcabouço para entendermos a diversidade das 
organizações sociais, deslocando o foco da análise linear “viciada” e de racionalidade ultrapassada. 
Ao dissociar o entendimento da política da presença de instituições 
baseadas nos modelos da sociedade ocidental, a antropologia reafirmava a 
importância da pesquisa etnográfica para um entendimento mais profundo 
da vida social. A monografia de Evans-Pritchard sobre o sistema político Nuer 
é um dos marcos dessa perspectiva de análise, por mostrar que o sistema de 
parentesco era a chave da organização política daquela sociedade. A política 
não se revelava pelo surgimento de uma instituição central, e sim pela 
existência de um “relacionamento estrutural” de antagonismos persistentes 
e equilibrados. Estes eram expressos no relacionamento com povos vizinhos 
e entre diversos segmentos da sociedade Nuer e organizados em função 
de situações sociais específicas. O entendimento da estrutura política Nuer 
dependia da compreensão do princípio segmentário de organização dos 
diversos grupos, da “lógica da situação” que os constituía e do permanente 
conflito entre valores rivais dentro de um mesmo território (KUSCHNIR, 
2007, p. 10).
Essas aproximações ao tema da institucionalização dos processos psicossociais encontram eco 
em Paul Claval (1979, p. 95), quando este afirma o papel da “invenção da escrita” no “progresso das 
instituições políticas”, discorrendo sobre o protagonismo dos detentores dos saberes letrados (escribas) 
na organização da memória, do espaço e na reprodução social. Ele trata das redes de mudanças (ou 
famílias de inovação) engendradas pelos copistas e pela imprensa, mencionando as formas tradicionais 
de organização societal, chegando ao Estado.
Quanto às formas tradicionais, Claval afirma: 
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Não desapareceram, portanto, como as sociedades históricas: na Grécia 
clássica, não se perdeu a lembrança das tribos entre as quais a humanidade 
helênica se dividia inicialmente. Os grandes reformadores, como Clisteno, 
empenham-se em remover os obstáculos que essas estruturas herdadas 
opõem à evolução social (CLAVAL, 1979, p. 95).
Sobre o Estado, acentua o seguinte:
No escalão superior da vida social, as formas políticas são de dois tipos: o 
Estado, ou o regime feudal. Trata-se de sistemas há muito complementares 
e que se reclamam mutuamente, o que dá à história das civilizações 
intermediárias um aspecto cíclico – na China, por exemplo, ou nas civilizações 
islâmicas medievais, como mostram as reflexões de Ibn Khaldoun em seus 
Prolegômenos. A sorte do Estado depende de suas dimensões: quando a 
autoridade que permite o exercício do poder é de essência universalista, 
nada limita de direito a construção política, mas os meios de administração 
de que ela dispõe são insuficientes para assegurar sua perenidade. Se é 
limitada a um território exíguo, o domínio do espaço e dos homens é mais 
perfeito: cidade-Estado constitui a forma mais completa de construção 
política do mundo tradicional (CLAVAL, 1979, p. 96).
O autor prossegue sua análise qualificando os princípios de organização:
A) Sujeições ecológicas e dados econômicos. 
B) Transporte, moeda e troca. 
C) Informação, comunicação e escrita. 
D) Autoridade, ideologia e estruturas de comunicação (CLAVAL, 1979, p. 105).
Culmina sua digressão no Estado, assunto que estudaremos depois. 
Agora vamos acentuar um trecho sobre a institucionalização das sociedades humanas 
Trinta princípios sobre o surgimento e evolução do Estado
Estes princípios pretendem constituir uma teoria histórica do Estado e ser uma 
alternativa à teoria contratualista. Esta foi uma teoria útil quando surgiu porque validou, 
legitimou do ponto de vista ideológico, a transformação dos súditos em cidadãos, sendo, 
portanto, ingrediente da teoria histórica, mas ela própria não tem base na realidade 
histórica, nem tem condições de explicar a evolução política das sociedades modernas 
ou capitalistas, ou seja, não dá conta do desenvolvimento político que vem efetivamente 
ocorrendo desde a revolução capitalista.
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CIÊNCIA POLÍTICA
Surge o Estado Antigo
1. Os homens são guiados por suas necessidades inatas ou por seus instintos de: (a) 
sobrevivência, (b) convivência e (c) justiça.
2. Para tornarem os comportamentos previsíveis e, assim, poderem conviver, os homens 
necessitam de regras de convivência ou normas sociais.
3. Nas sociedades primitivas, nas quais não existe a produção regular de um excedente 
econômico (produção que excede o consumo necessário à sobrevivência), essas normas 
são definidas de forma tradicional e consensual, independendo de um poder superior para 
torná-las coercitivas (o Estado). (Nelas não há “estado de natureza” – uma guerra de todos 
contra todos: existe apenas guerra permanente entre as tribos ou clãs).
4. No momento em que surge esse excedente, o esforço bem-sucedido de alguns 
membros da sociedade para se apropriar desse excedente e transformá-lo em propriedade 
privada ou comum de uma oligarquia torna necessária a criação de um poder soberano, 
acima de todos os demais, [com um] Estado que defina as leis ou a ordem jurídica.
5. Surgem, então, as leis (as norma sociais dotadas de coercitividade) e o Estado Antigo: 
o sistema legal e a organização que o garante.
6. O Estado Antigo ou original surge quando uma minoria se transforma em oligarquia 
ao lograr impor unilateralmente sua lei (seu contrato) ao povo – ao restante da população 
de uma determinada sociedade em formação. Não se pode, portanto, afirmar que o Estado 
surgiu de um “contrato social”, pois um verdadeiro contrato implica liberdade de contratar 
e justiça comutativa.
7. A lei imposta pelo Estado Antigo ou lei oligárquica não é uma “lei natural”; é 
simplesmente a lei dotada de validade que a oligarquia logra impor com êxito à sociedade.
8. A lei oligárquica obriga apenas o povo, não a oligarquia, sendo, portanto, 
necessariamente injusta (desigual) e arbitrária.
9. Através da lei, a oligarquia se apropria do excedente econômico, reduzindo os vencidos 
na guerra à escravidão, impondo impostos e reduzindo os membros de sua sociedade (os 
súditos da oligarquia) à servidão ou então à simples pobreza.
10. A sociedade passa, assim, a ser dividida entre os ricos (a oligarquia) e os pobres, ou 
o povo.
11. A validade da lei oligárquica depende: (a) da segurança que garante aos súditos 
(a qual atende minimamente a sua necessidade de sobrevivência); (b) do grau de 
desequilíbrio de forças entre a oligarquia e o restante da sociedade – o povo; e (c) 
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Unidade I
da capacidade de persuasão dessa oligarquia de que sua lei atende minimamente ao 
instinto de justiça dos homens.
12. A lei oligárquica terá tanto mais validade quanto maior for o poder da oligarquia em 
relaçãoao povo, e, portanto, quanto mais for aceita sua lei.
13. O poder da oligarquia em relação ao povo será tanto maior e sua lei terá tanto mais 
validade quanto maior for sua vantagem em relação a duas variáveis básicas: conhecimento 
e comando de força militar.
14. Graças a sua vantagem de conhecimento, a oligarquia logra hegemonia 
ideológico-religiosa ou conhecimento, a oligarquia logra aceitação para sua lei.
15. Graças a sua força, essa lei oligárquica é dotada de coercitividade; não é mera norma 
social, mas norma do Estado.
16. Cada oligarquia busca constituir um império – a unidade político-territorial 
correspondente ao Estado Antigo na qual apenas o povo central (os súditos) está sujeito ao 
conjunto das leis oligárquicas, enquanto as colônias estão sujeitas apenas às leis do império, 
que asseguram a coleta dos impostos de forma que nelas sua cultura e suas próprias leis 
continuam vigentes.
17. O “objetivo político” do Estado Antigo é apenas o da segurança.
[...].
Fonte: Bresser-Pereira (2010, p. 1-2).
Norberto Bobbio (1988) traz as noções de público e privado, que assumem funções vitais na 
institucionalização das relações de poder, nas configurações políticas. 
Robert Heilbroner (1988), na obra A Natureza e a Lógica do Capitalismo, ao analisar detalhadamente 
o regime do capital (a composição e o movimento orgânico da acumulação capitalista), passa à 
exposição dos papéis das esferas política e econômica na distribuição do poder e na constituição do 
Estado nesse processo. 
Esse caminho também é trilhado por Atilio A. Boron (1994). O autor fala em “estadolatria” para 
evidenciar as posturas acríticas, naturalizantes, que tomam o Estado como inexorável, destacando 
uma fatalidade. 
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CIÊNCIA POLÍTICA
 Resumo
Nesta unidade, estudamos as nuances do poder e da política, 
primeiramente, no nível da vida cotidiana, do mundo da vida, bem como os 
rumos do poder no plano institucional (estatal). 
Discutindo o fenômeno político, analisamos o poder, a política e a 
ciência política. Nesse contexto, apresentamos as ideias sobre o poder e 
como ele aparece – a questão de fundo é a desigualdade social. 
Focalizamos a política no plano da existência. Passamos para o 
pensamento científico sobre o poder e sobre a política.
Fizemos uma introdução às teorias do Estado, envolvendo 
questionamentos interdisciplinares sobre os modos de o ser humano se 
organizar, isto é, algo de teoria das organizações.
Também tratamos de poderes, contratos, regras e normas. Avaliamos as 
classificações de grupos políticos e as origens e conceitos do Estado.
 Exercícios
Questão 1. O contratualismo é reconhecido por tencionar explicar os caminhos que levam 
as pessoas a formar governos e manter a ordem social. Com abertura de certos direitos para um 
governo ou outra autoridade, o Contrato Social é uma corrente filosófica que emergiu nos séculos 
XVI e XVIII.
As alternativas a seguir acentuam representantes contratualistas, EXCETO:
A) Immanuel Kant.
B) Thomas Hobbes.
C) John Locke.
D) Jean Jacques Rousseau.
E) Nicolau Maquiavel.
Resposta correta: alternativa E.
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Unidade I
Análise da questão
E) Alternativa correta. 
Justificativa: Maquiavel antecede o contratualismo, por isso não adere aos termos Estado de Natureza 
e Contrato Social, porém deixa claro sua opinião ao falar que a natureza humana é essencialmente má 
e que os seres humanos querem obter o máximo de ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo 
o bem quando forçados a isso.
Questão 2. Leia o texto a seguir de Bonavides (1995):
“Os conceitos de Sociedade e Estado, na linguagem dos filósofos e estadistas, têm sido empregados 
ora indistintamente, ora em contraste, aparecendo então a Sociedade como círculo mais amplo e o 
Estado como círculo mais restrito. A Sociedade vem primeiro; o Estado, depois. 
 [...]
O Estado como ordem política da Sociedade é conhecido desde a Antiguidade aos nossos dias. 
Todavia nem sempre teve essa denominação, nem tampouco encobriu a mesma realidade”.
As alternativas a seguir destacam etapas que compõem a evolução histórica do Estado, EXCETO:
A) Estado feudal.
B) Estado estamental.
C) Estado terrorista.
D) Estado absolutista.
E) Estado representativo.
Resolução desta questão na plataforma.

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