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G eologia B iologia e Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes CoMponenTes do pRoJeCTo: Livro do aluno (2 volumes) Caderno de actividades Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) 11 ano G eo lo gi a B io lo gi a e 11 ano B io lo gi a e G eo lo gi a P la n e ta c om V id a B IO LO G IA ( Vo lu m e 1 ) A santillana publicou a obra Biologia e Geologia 11.o ano em 2 volumes para reduzir o peso a transportar pelos alunos. os dois volumes não podem ser vendidos separadamente. C . P ro du to *5 11 01 14 01 * 919354 CAPA.indd 1 07/04/15 19:52 Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) G eo lo gi a B io lo gi a e 11 an ano 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 1 2 MODELO DIDÁCTICO Unidade A apresentação dos conteúdos inicia-se com a exploração de imagens e uma actividade de diagnóstico. Na página seguinte apresenta-se um texto introdutório, que destaca ideias fundamentais para a exploração dos conteúdos da unidade. Ao texto associa-se uma imagem, que comple- menta ou ilustra a informação transmitida. Páginas informativas O texto informativo apresenta uma linguagem sim- ples e clara, sem nunca perder o rigor científico. É complementado com fotografias ou ilustrações que facilitam a compreensão dos conteúdos. Os conceitos fundamentais são resumidos na sec- ção «A RETER», sob a forma de texto ou esquema. Na disciplina de Biologia e Geologia, os conteúdos serão explo- rados em dois manuais. Para mais facilmente perceber como poderá tirar partido deste manual, fazemos agora uma breve apresentação da sua estrutura. No manual são desenvolvidas quatro unidades, organizadas da seguinte forma: Jorge Ferreira e Manuela Ferreira Consultor Científico: Carlos Ribeiro Planeta com Vida GEOLOGIA (Volume 2) 11 an ano G eo lo gi a B io lo gi a e Cristina Carrajola, Maria José Castro e Teresa Hilário Consultores Científicos: Ana Isabel Correia e Rui Gomes Planeta com Vida BIOLOGIA (Volume 1) 11 an ano G eo lo gi a B io lo gi a e 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 2 3 Páginas informativas No desenvolvimento da unidade propõem-se activi- dades que visam a aplicação dos conhecimentos adqui- ridos, actividades experimentais e saídas de campo. Palavras-chave e síntese No fim de cada unidade, apresentam-se os termos mais importantes, de acordo com o programa, e uma síntese dos respectivos conteúdos. Actividades As actividades iniciam-se com um diagrama de con- ceitos, cujo grau de dificuldade aumenta progressiva- mente ao longo do manual. Os exercícios propostos, desenvolvidos a partir da exploração de fotografias e gráficos, entre outros docu- mentos, relacionam diferentes conteúdos da unidade. Jogo de simulação e CTSA Nestas páginas, são propostas actividades de explo- ração e discussão de documentos e situações reais que evidenciam a importância do desenvolvimento da Ciência e da tecnologia, no dia-a-dia, na sociedade e no ambiente. Páginas informativas Apresentam-se também curiosidades e aprofundam- -se alguns temas, promovendo o debate e facilitando a compreensão dos conteúdos. Os termos fundamentais são traduzidos para inglês, como forma de ajudar na realização de pesquisas e na investigação a partir de outras fontes de informação. 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 3 Crescimento e renovação celular p. 8 Crescimento e renovação celular p. 12 DNA e síntese proteica p. 12 Mitose p. 37 ACTIVIDADES p. 45 Crescimento e renovação dos tecidos versus diferenciação celular p. 48 ACTIVIDADES p. 55 CTSA p. 56 5 2 5 1 2 5 1 1 5 1 4 ÍNDICE 5unidade 6unidade Reprodução p. 58 Reprodução assexuada p. 62 Estratégias reprodutoras p. 62 ACTIVIDADES p. 73 Reprodução sexuada p. 75 Meiose e fecundação p. 76 Reprodução sexuada e variabilidade p. 85 ACTIVIDADES p. 92 Ciclos de vida: unidade e diversidade p. 94 ACTIVIDADES p. 105 JOGO DE SIMULAÇÃO p. 108 CTSA p. 109 6 3 6 2 2 6 2 1 6 2 6 1 1 6 1 BIOLOGIA A vida e os seres vivos 919354 001-007_Indice 31/1/08 14:35 Page 4 5 7unidade Evolução biológica p. 112 Unicelularidade e multicelularidade p. 116 ACTIVIDADES p. 128 Mecanismos de evolução p. 129 ACTIVIDADES p. 159 JOGO DE SIMULAÇÃO p. 163 CTSA p. 164 7 2 7 1 8unidade Sistemática dos seres vivos p. 166 Sistemas de classificação p. 170 Diversidade de critérios p. 177 Taxonomia e nomenclatura p. 183 ACTIVIDADES p. 191 Sistema de classificação de Whittaker modificado p. 193 ACTIVIDADES p. 211 CTSA p. 214 ANEXOS p. 216 GLOSSÁRIO p. 220 BIBLIOGRAFIA p. 223 8 2 8 1 2 8 1 1 8 1 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 5 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 6 BIOLOGIA A vida e os seres vivos Como explicar a grande diversidade dos seres vivos? 919354 indice_001-007 18/1/08 16:34 Page 7 5unidade 8 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 008-035_U5 31/1/08 14:36 Page 8 Crescimento e renovação celular Crescimento e renovação celular 12 5 1 Crescimento e renovação dos tecidos versus diferenciação celular 48 5 2 Que processos são responsáveis pela unidade e pela variabilidade celular? Como explicam o crescimento dos seres vivos? 919354 008-035_U5 31/1/08 14:36 Page 9 A D E F 5unidade Crescimento e renovação celular 1. Classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — O DNA de um indivíduo altera-se ao longo do tempo. B — O DNA de um indivíduo é igual em todas as suas células, excepto nas reprodutoras. C — A produção de proteínas na célula não depende do seu DNA. D — Na Natureza, existe clonagem. E — No ser humano, a divisão celular termina no final da adolescência. F — Uma célula pode manter-se viva sem DNA, contudo não se divide. G — Todas as células com núcleo têm capacidade de divisão. H — O DNA tem um papel fundamental na manutenção da vida da célula. I — A constituição e a estrutura do DNA são diferentes nos seres procariontes e nos eucariontes. J — O crescimento dos seres vivos implica a ocorrência de divisão celular. O QUE JÁ SABE, OU NÃO... B C O que permitirá explicar a diversidade de formas e funções de células de um mesmo organismo? Às vezes, a observação de uma determinada célula, durante um curto período de tempo, pode revelar grandes mudanças no seu interior. O que se estará a passar? G H De que modo se relaciona a informação contida no DNA com o aspecto de um ser vivo? 10 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 10 Um dos desafios que os cientistas têm vindo a enfrentar é o de explicar como é que, a partir de uma única célula inicial, o ovo, se origina um indivíduo adulto multicelular, diferenciado e funcional. A história da Biologia do século XX, e certamente a do século XXI, procura responder claramente a questões como: — Onde e de que forma se encontram registadas as instruções para a construção da célula? — O que determina e comanda as divisões celulares? — Por que razão, à medida que o indivíduo acumula células, estas, apesar de serem cópias umas das outras, se tornam cada vez mais diversas e se organizam em órgãos, que, no seu conjunto, formam seres dinâmicos, coordenados e funcionais? — O que fará com que algumas células deixem de cumprir regras estipuladas, dando início ao desenvolvimento de tumores? Fig. 1 No núcleo das células dos eucariontes, o DNA está localizado nos cromossomas, que, em determinados momentos da vida celular, são bem visíveis. INTRODUÇÃO Embora ainda não exista resposta exacta para todas estas questões, não há dúvida de que uma molécula muito especial ocupa um papel central no processo de crescimento e renovação celular — o DNA (Fig. 1). Sabe-se, hoje, que cabe a esta molécula a responsabilidade tanto da divisão celular comodo controlo da actividade da própria célula. u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 11 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 11 12 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 5 1 Crescimento e renovação celular […] uma dupla totalmente ignorante da química dos nucleótidos, desejosa de encaixar o DNA numa hélice. […] Ao pensar nos anos suados na preparação de ácidos nucleicos e nas horas sem conta gastas na sua análise, não pude deixar de me sentir desconcertado. ERWIN CHARGAFF, acerca de Watson e Crick DNA e síntese proteica Apesar de, já em 1869, Miescher, após ter trabalhado com gló- bulos brancos de pus humano, ter identificado uma molécula exclusiva do núcleo, constituída por C, H, O, N e P, que designou por nucleína e que não é mais do que o actualmente conhecido DNA, só muitos anos mais tarde vieram a ser atribuídos a esta molécula os papéis que hoje lhe conhecemos. Como se chegou ao modelo do DNA e ao conhecimento da sua importância? Nas décadas de 20 e 30 do século passado, os bioquímicos, além de já conhecerem o DNA, sabiam que no núcleo das células exis- tiam cromossomas (Fig. 2); sabiam que estes continham DNA e pro- teínas; sabiam, ainda, que o metabolismo celular resultava da actuação equilibrada de enzimas e que estas eram produzidas a partir de informações contidas no núcleo, melhor dizendo, nos cromossomas. Inferiram, então, ainda que não houvesse comprova- ção experimental, que o núcleo deveria conter exemplares de cada enzima/proteína da célula. À medida que a célula necessitasse, seriam feitas cópias. Ao DNA caberia a função de proporcionar uma estrutura sobre a qual se dispunha a «colecção» de proteínas. A inversão destas suposições ficou a dever-se a uma série de experiências científicas. 5 1 1 Fig. 2 Aspecto de um cromossoma humano fotografado ao ME (A) e montagem fotográfica de microscopia óptica do cariótipo (conjunto dos cromossomas) de uma célula humana (B). A B Cromatídeo Centrómero 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 12 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 13 EXPERIÊNCIA DE GRIFFITH (1928) 1. Analise a experiência realizada por Griffith, em 1928, e responda às questões. Interessado em conhecer o modo de actuação dos pneumococos, bactérias que provocam a pneumonia, e sabendo da existência de duas estirpes distintas da espécie Streptococcus pneumoniae, a forma R (com aspecto rugoso e não virulenta) e a forma S (de aspecto liso e altamente virulenta), Griffith idealizou a experiência seguinte: Método ACTIVIDADE Resultados 1.1 Com base nos dados da figura, justifique as designações de: a) virulenta, atribuída à forma S; b) não virulenta, atribuída à forma R. 1.2 Griffith concluiu, a partir da análise dos resultados desta experiência, que existia nas bactérias S um «princípio transformante» capaz de alterar as bactérias R. Comente as suas conclusões. 1.3 É possível identificar, com base na interpretação desta experiência, a molécula responsável pela determinação das características da célula? Justifique a sua resposta. Griffith provou com a sua experiência que, algures numa célula, existe uma substância química que permanece intacta após a morte celular e que é capaz de determinar o destino (as características) da mesma. Porém, continuou por identificar a natureza química deste «princípio transformante». A B C D O rato morre. Foram encontradas bactérias S vivas no sangue. Formas S vivas (virulentas). Formas R vivas (não virulentas). As formas S virulentas foram mortas pelo calor. As formas R vivas foram misturadas com formas S mortas. O rato sobrevive. Não foram encontradas bactérias no sangue. O rato sobrevive. Não foram encontradas bactérias no sangue. O rato morre. Foram encontradas bactérias vivas no sangue. Fig. 3 Experiência do microbiólogo britânico Frederick Griffith. A B C D 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 13 14 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Apesar de os resultados obtidos por Avery, Mac Leod e Mac Carthy, em 1944, não deixarem dúvidas quanto ao papel da molécula de DNA, a evidência obtida é apenas indirecta, por exclusão de par- tes. A comunidade científica da época não estava preparada para elevar o DNA à categoria de molécula responsável pelo comando da vida celular. Foram necessários mais alguns anos, novos conhe- cimentos e novas experiências para tal ocorrer. EXPERIÊNCIA DE AVERY, MAC LEOD E MAC CARTHY (1944) 1. Dando continuidade à experiência de Griffith, Avery e os seus colaboradores conceberam e aplicaram a experiência seguinte. Analise-a e responda às questões. Método Resultados 1.1 Identifique o objectivo de Avery e seus colaboradores ao executar esta experiência. 1.2 Para cada uma das montagens, A, B e C: a) identifique as biomoléculas presentes no inoculado; b) refira a hipótese que se pretende testar. 1.3 Qual é a conclusão que pode ser tirada desta experiência? ACTIVIDADE Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de protéases(2) Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de polissacarases(3) Streptococcus pneumoniae R vivas + Princípio transformante(1) sujeito a actuação prévia de protéases(2) e de polissacarases(3) A B C Fig. 4 Experiência de Avery, Mac Leod e Mac Carthy. (1) O princípio transformante foi obtido a partir de bactérias da estirpe S mortas e sujeito a métodos de extracção à base de álcool, que destrói os lípidos da célula. (2) As protéases são enzimas que destroem as proteínas. (3) As polissacarases são enzimas que destroem os polissacáridos. O rato morre. O rato morre. O rato morre. 919354 008-035_U5 31/1/08 14:38 Page 14 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 15 EXPERIÊNCIA DE HERSHEY E CHASE (1952) 1. Analise a experiência seguinte, leia atentamente os dados fornecidos e resolva as questões propostas. Método Resultados 1.1 Justifique a utilização de meios contendo alternadamente S ou P radioactivos. 1.2 Interprete os resultados obtidos por Hershey e Chase, comparando-os com os que foram obtidos por Avery e seus colaboradores. ACTIVIDADE Os fagos cresceram em meio contendo P radioactivo. Os fagos cresceram em meio contendo S radioactivo. Dados: A — O modelo biológico usado nesta experiência foram os fagos, vírus que infectam as bactérias e se replicam dentro destas, acabando por as destruir passado pouco tempo. B — Os vírus são observáveis só ao microscópio electrónico. São constituídos apenas por proteínas e por um ácido nucleico, normalmente o DNA. C — Os fagos injectam o seu DNA na célula hospedeira, deixando a sua cápsula proteica de fora. O material que penetra na bactéria utiliza as moléculas desta para fazer várias cópias suas. D — As proteínas contêm S, além de C, H, O e N, enquanto o DNA contém P, além de C, H, O e N. E — A utilização de átomos radioactivos permite acompanhar o seu percurso na célula. Os vírus marcados infectaram as bactérias. Após pouco tempo de centrifugação, os restos dos vírus foram separados das bactérias infectadas. Por centrifugação, obtiveram-se dois estratos: no fundo, as bactérias infectadas, e, por cima, o sobrenadante com os restos virais. Com as experiências de Hershey e Chase, foi definitivamente aceite pela comunidade científica que o DNA é a molécula que con- tém a informação para a organização e o funcionamento da célula. Estava-se, contudo, ainda longe de saber de que forma os constituin- tes desta molécula (já todos conhecidos na época) se organizam. A maior parte do P radioactivo aparece no depósito das bactérias. A maior parte do S radioactivo aparece no fluido sobrenadante. Fig. 5 Experiência de Hershey e Chase. Depósito Fluido sobrenadante A experiência de Hershey e Cha- se ficou conhecida pela marca de uma batedeira, Warning, por- que, na ausência de material laboratorial muito sofisticado,foi esta batedeira de uso doméstico, emprestada por um colega de laboratório, que lhes permitiu separar os vírus (sobrenadante) das bactérias (sedimento). CURIOSIDADE A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 15 16 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Em 1950, Chargaff, após a realização de experiências extrema- mente rigorosas, tinha conseguido isolar e quantificar as bases azo- tadas de amostras de DNA de organismos diferentes. Das suas experiências pôde concluir aquilo que ficaria conhecido por Regras de Chargaff, e que, resumidamente, são: • o DNA de indivíduos diferentes apresenta quantidades dife- rentes de cada uma das bases azotadas (adenina, timina, gua- nina e citosina); • em todas as moléculas de DNA, a quantidade de bases púri- cas (bases de duplo anel, guanina e adenina) é igual à quan- tidade de bases pirimídicas (bases de anel simples, timina e citosina), sendo a quantidade de adenina igual à de timina, e a quantidade de citosina igual à de guanina. Não tendo um impacto imediato, as conclusões de Chargaff são, contudo, a base para a explicação dos processos vitais coman- dados pelo DNA — a sua própria replicação e a síntese proteica. Mais ou menos na mesma altura, a jovem física Rosalind Franklin (Fig. 6) dedicava-se a fotografar biomoléculas com técnicas de difracção de raios X. Utilizando amostras extremamente purifi- cadas de DNA, obteve fotografias do mesmo, que ajudaram a per- ceber a natureza helicoidal da estrutura desta molécula. Em 1953, o biólogo James Watson e o físico e bioquímico Francis Crick (Fig. 7), apoiados nas conclusões obtidas por Chargaff, Franklin e outros, propuseram, em trabalho publicado na revista Nature, um modelo para a molécula de DNA — a dupla hélice: duas cadeias polinucleotídicas com as estruturas de fosfato e açúcar viradas para o exterior, e as bases complementares, unidas por ligações por pontes de hidrogénio, a ocupar o interior da hélice. Pela publicação do seu traba- lho, viriam a receber, em 1962, o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina, dando início a uma nova era na Biologia. A B Fig. 6 Rosalind Franklin (A), cientista que obteve as fotografias por difracção de raios X da molécula de DNA (B). Fig. 7 Watson e Crick, ao lado do modelo de DNA por eles idealizado. Na molécula de DNA, a quantidade de bases púricas (adenina e guanina) é igual à das bases pirimídicas (timina e citosina). A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 16 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 17 ACTIVIDADE OS CONTRIBUTOS PARA OS TRABALHOS DE WATSON E CRICK 1. Analise o texto e comente a necessidade de haver um intercâmbio de informação científica acerca das várias matérias actualmente em estudo. «Crick e Watson não eram verdadeiros especialistas em nenhuma das áreas da Ciência que se juntaram para dar uma imagem da dupla hélice. Donohue sabia mais acerca das formas das moléculas e sobre as pontes de hidrogénio; Franklin era melhor em cristalografia dos raios X; Chargaff compreendeu as relações entre as bases, e assim por diante. Mas, em particular, a contribuição de Watson consistiu na capacidade de ver o aspecto do conjunto, de reunir o que era necessário, proveniente de várias disciplinas especializadas, e aparecer com algo de novo, que era maior do que a soma das partes e que nenhum dos especialistas foi capaz de compreender, pois viam apenas as árvores sem se aperceberem da floresta.» JOHN GRIBBIN, À Procura da Dupla Hélice (adaptado) DNA DNA RNA RNA nucleótido nucleotide ribose ribose desoxirribose deoxyribose base azotada nitrogenous base Ácidos nucleicos — constituição Os ácidos nucleicos, DNA e RNA, são polímeros constituídos por monómeros denominados nucleótidos. Os nucleótidos (Fig. 8) são constituídos por um açúcar (uma pentose), ligado pelo carbono 5 a um ácido fosfórico e pelo carbo- no 1 a uma base azotada. A um nucleótido sem o grupo fosfato (conjunto formado pela pentose e pela base azotada) é atribuída a designação de nucleósido. Nos nucleótidos de RNA, a pentose encontrada é a ribose, enquanto nos nucleótidos de DNA é a desoxirribose. É a presença destas pentoses distintas que justifica os nomes atribuídos aos áci- dos: ácido ribonucleico (RNA) e ácido desoxirribonucleico (DNA). Existem cinco tipos de bases azotadas agrupadas em duas categorias: as bases púricas, de duplo anel, e as bases pirimídi- cas, de anel simples. PFosfato O O– –O O OCH2 H H H OH H OH 5' 4' 3' 2' 1' β Pentose Base azotada Fig. 8 Configuração geral de um nucleótido. Os ácidos nucleicos são formados por nucleótidos que possuem um açúcar (pentose), um ácido fosfórico e uma base azotada. A RETER O açúcar (pentose) do RNA é a ribose, e o açúcar do DNA é a desoxirribose. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 17 18 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s No DNA e no RNA encontram-se duas bases púricas diferentes, a adenina e a guanina, e duas bases pirimídicas: • citosina e timina, no DNA; • citosina e uracilo, no RNA. É possível encontrar oito tipos diferentes de nucleótidos (Fig. 9) (quatro em cada tipo de ácido nucleico). Os vários nucleótidos ligam-se entre si formando cadeias polinucleotídicas (Fig. 10). Estas ligações de natureza covalente designam-se por ligações fosfodiéster e envolvem o carbono 3 de um nucleótido e o carbono 5 do nucleótido seguinte. P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H H N N NN P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H H HN H2N N NN P O O– –O O OCH2 O O H H H OH H H HN CH3 N P O O– –O O OCH2 NH2 O H H H OH H H N N A Desoxirribonucleótido de adenina. Desoxirribonucleótido de guanina. Desoxirribonucleótido de timina. Desoxirribonucleótido de citosina. P O O– –O O OCH2 NH2 H H H OH H OH N N NN P O O– –O O OCH2 O H H H OH H OH HN H2N N NN P O O– –O O OCH2 O O H H H OH H OH HN N P O O– –O O OCH2 NH2 O H H H OH H OH N N B Ribonucleótido de adenina. Ribonucleótido de guanina. Ribonucleótido de uracilo. Ribonucleótido de citosina. Fig. 9 Diversidade de desoxirribonucleótidos (A) e de ribonucleótidos (B). CA A C T TG GT T Nucleótido Cadeia polinucleotídica Ácido fosfórico Base azotada Pentose Fig. 10 Aspecto de uma cadeia polinucleotídica. As bases azotadas do RNA são a adenina, a citosina, a guanina e o uracilo. No DNA, podem encontrar-se as três primeiras e, ainda, a timina. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 18 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 19 DNA — ácido desoxirribonucleico No DNA, uma cadeia polinucleotídica emparelha (liga-se) com uma outra, formando uma estrutura em dupla cadeia. A união entre as duas cadeias é estabelecida através de ligações por pontes de hidrogénio entre as bases complementares de cadeias opostas (a adenina estabelece duas ligações com a timina, e a guanina esta- belece três ligações com a citosina). Para que o plano de complementaridade das bases seja estabe- lecido, as cadeias apresentam-se orientadas em sentido oposto, isto é, são antiparalelas. Assim, enquanto uma cadeia apresenta o car- bono 5 (C5 ou extremidade 5’) livre numa extremidade da molé- cula, a outra cadeia apresenta o carbono 3 (C3 ou extremidade 3’) livre, passando-se o inverso na extremidade oposta do DNA. A ESTRUTURA DA MOLÉCULA DE DNA 1. Analise a figura, que representa o modelo de DNA como hoje é aceite, e responda às questões. 1.1 Apresente uma justificação para: a) as regras de Chargaff; b) o diâmetro constante do DNA; c) o facto de no DNA, molécula viscosa, a viscosidade diminuir quando é sujeita a aquecimento, sabendo que este mesmo método destrói ligações por pontes de hidrogénio; d) o facto de a uma maior quantidade de guanina, numa molécula de DNA, corresponder uma maior quantidade de energia necessária para separar as duas cadeias. 1.2 Estabeleça uma relação entre a posição ocupada pelas bases azotadas na molécula de DNA eo seu carácter hidrofóbico. ACTIVIDADE 5’ 5’ 5’ 3’ 3’ 3’ 5’ 3’ 5’ 5’ 3’ 3’ 5’ 3’ 5’ 3’ AT A T CG – O OP O H2C H2C H H H H H GC OH OPO3 – OHOPO3 – 3’ 5’ O – O P O O H H H H O H N H C O O O O C HC CH3 N C O O T N N N CH CH HC CC N N C N A H H H – O OP O O H2C H H H H H O H2C H H H H H O – O OP O H2C H2C H H H H H O – O P O H H H H H N H H C O OC HC N CO O C N N N CHCC N N N C N G H H H H H O CC N C N C N N N N N C C C N C G H H H H H H O – O P O O O – O P O O O CH HC–O OP O O H2C H H H H HO O H2C H H H H H O CC N C N T N N O N N C C C N C A H CH2 H H Fig. 11 Aspecto da dupla cadeia do DNA. Cada fosfato liga-se ao C3 de um açúcar e ao C5 de outro açúcar. As ligações por pontes de hidrogénio (representadas a vermelho) entre as bases complementares mantêm as duas cadeias unidas. Na molécula de DNA, ocorre emparelhamento de bases: adenina com timina, e citosina com guanina. A RETER � � � � � 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 19 20 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A molécula de DNA é formada por duas cadeias polinucleotídicas, antiparalelas e enroladas em hélice. A RETER O DNA tem uma estrutura tridimensional, como as fotografias de Franklin demonstraram. O ângulo de ligações entre as bases azotadas obriga a molécula a «torcer-se», adquirindo, assim, a forma de uma hélice (Fig. 12). As moléculas de DNA são únicas na sua composição geral e na estrutura. Nas várias células somáticas de um mesmo indivíduo, elas são, em condições normais, exactamente iguais. Em diferentes indivíduos, o DNA pode variar no número de nucleótidos, na per- centagem relativa das quatro bases e na sequência com que estas se apresentam. RNA — ácido ribonucleico As moléculas de RNA são sintetizadas no núcleo, por comple- mentariedade, a partir do molde de uma cadeia do DNA. Esta síntese é possível porque existe complementaridade entre as bases dos nucleótidos do RNA e as do DNA (A-U/T-A/G-C). Nas células, podemos encontrar três tipos diferentes de RNA: o RNA mensageiro (mRNA), o RNA ribossómico (rRNA) e o RNA de transferência (tRNA). O mRNA é uma molécula de cadeia simples e de vida curta. É sintetizado no núcleo, a partir de uma porção de DNA (gene), que é transcrita e em seguida migra para o citoplasma, onde participa na síntese de uma dada proteína e se desintegra depois. Durante a vida da célula existem pelo menos tantos mRNA quantos os tipos de proteínas que a mesma produz. O rRNA é uma molécula de cadeia simples que se apresenta enrolada e juntamente com proteínas, constitui os ribossomas, organitos citoplasmáticos onde ocorre a etapa final da síntese pro- teica. Fig. 12 Estrutura tridimensional do DNA, onde é visível o seu aspecto de hélice. 3,41 nm 0,34 nm 2 nm C G CG C G CG C G CG C G C G A T AT AT A A T A T 5’ 3’ 5’ 3’ Existem três tipos diferentes de RNA: o mensageiro (mRNA), o de transferência (tRNA) e o ribossómico (rRNA). A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 20 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 21 anticodão anticodon núcleo nucleus membrana nuclear nuclear envelope O tRNA apresenta uma estrutura tridimensional que resulta de a sua única cadeia se enrolar e, em determinados locais, estabelecer ligações por pontes de hidrogénio entre bases complementares de nucleótidos inicialmente afastadas (Fig. 13). Há vários tRNA no citoplasma das células, tendo cada um deles capacidade de se ligar a um único aminoácido. A estrutura típica de um tRNA apresenta dois locais característi- cos: a extremidade 3’, que termina em todos os tRNA com a sequência CCA, através da qual este se liga ao aminoácido; um conjunto de três nucleótidos, designados por anticodão, diferentes em cada tRNA, e que determina o aminoácido a que este se pode ligar. É através do anticodão que o tRNA emparelha temporariamente com mRNA. É possível estabelecer um quadro comparativo dos ácidos nucleicos: Nos últimos anos foram identificados novos tipos de moléculas de RNA, globalmente conhecidos por pequenos RNA devido às suas dimensões. Sabe-se que desempenham um papel fundamental na regulação da expressão dos genes. No entanto, continua por esclarecer o seu modo específico de actuação. DNA — localização e organização do DNA na célula Nas células eucarióticas, o DNA encontra-se no núcleo. Este organito celular é envolvido por uma dupla membrana — membra- na nuclear — que apresenta continuidade com as restantes mem- branas da célula, nomeadamente com o retículo endoplasmático. A C C Fig. 13 Representações do tRNA. Local de ligação ao aminoácido, sempre CCA. Pontes de hidrogénio entre bases complementares. Anticodão, constituído por três bases, local de ligação ao mRNA. ÁCIDOS NUCLEICOS Características DNA mRNA, rRNA e tRNA Pentose Bases azotadas Percentagem das bases Estrutura Variedade Localização Período de duração Desoxirribose A, T, G, C A=T e G=C Cadeia dupla Um só tipo Núcleo, mitocôndria e cloroplasto Longa Ribose A, U, G, C Variável Cadeia simples Três tipos: mRNA, tRNA e rRNA Núcleo e citoplasma Curta 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 21 A dupla membrana nuclear é atravessada por poros — poros nucleares —, que facilitam a circulação de algumas moléculas entre o núcleo e o citoplasma. A membrana nuclear, estável na maior parte da vida celular, desintegra-se, contudo, quando a célula se prepara para se dividir, reconstituindo-se no final da divisão celular. Dentro do núcleo é possível observar ainda uma estrutura típi- ca, o nucléolo (Fig. 14), que está implicado na formação dos ribos- somas, e um fluido rico em substâncias variadas, o nucleoplasma. 22 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s cromossoma chromosome centrómero centromere cromatídeo chromatid cariótipo karyotype Nucleossoma (10 nm de diâmetro) Histonas Dupla hélice de DNA (2 nm de diâmetro) Fig. 15 Organização do DNA no interior das células eucarióticas. A molécula de DNA pode encontrar-se no núcleo, associada a proteínas, formando a cromatina. A RETER Cromatídeo Centrómero Cromossoma 700 nm � � � ��� Fig. 14 Núcleo de uma célula visto ao microscópio electrónico. Membrana nuclear Núcleo Nucléolo Retículo endoplasmático rugoso O DNA é uma molécula muito grande e encontra-se dentro do núcleo, que é relativamente pequeno (por exemplo, estima-se que o DNA humano meça cerca de 2 m, enquanto o núcleo das respec- tivas células mede 0,5 �m de diâmetro). Este facto só pode ser explicado se o DNA se encontrar densamente compactado. No núcleo, esta molécula está associada a proteínas específicas, as his- tonas, formando a cromatina. As histonas desempenham um papel fundamental, oferecendo uma estrutura que, por um lado, assegura o compactamento do DNA (Fig. 15) e, por outro lado, esta- biliza as suas cargas negativas, conferidas pelos ácidos fosfóricos, dado que estas proteínas apresentam cargas positivas. Em determinados momentos da vida das células, relacionados com o processo de divisão celular, a cromatina sofre uma forte con- densação. Nessa altura é possível observar que ela é composta, dependendo do organismo, por uma ou mais entidades distintas, denominadas cromossomas. A cromatina pode ser constituída apenas por uma molécula de DNA; contudo, para preparar a divisão celular, esta cadeia dupla forma uma cópia de si própria. Inicialmente, as duas moléculas mantêm-se unidas, ligadas por proteínas, as coesinas. Em determinado momento do ciclo celular, as coesinas são removidas quase na totalidade, fican- do restrita a um pequeno local — o centrómero. Esta constrição primária do cromossoma mantém unidas as duas moléculas de DNA, que, nesta fase, se encontram altamente condensadas. É, então, possível observar nitidamente os cromossomas (ao MOC), constituí- dos por dois braços — os cromatídeos — unidos pelo centrómero.O conjunto de todos os cromossomas de uma célula constitui o cariótipo. 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 22 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 23 EXTRACÇÃO DE DNA DA BANANA Material • Banana. • Caixa de Petri. • Sal de cozinha. • Banho-maria. • Água destilada. • Espátulas. • Álcool comercial a 96º. • Vidro de relógio. • Pacote de 250 mL de sumo de ananás. • Vareta de vidro. • Detergente líquido para loiça • Pipetas de 5 e 20 mL. (preferencialmente incolor). • Frigorífico com congelador. • Gobelés de 250 mL. • Bisturi. • Provetas de 10, 20, 50 e 100 mL. • Tubo de ensaio grande. • Gaze. • Suporte de tubos de ensaio. • Funil. Procedimento 1 — Coloque o álcool no frigorífico para que arrefeça bem. 2 — Pese 50 g de banana cortada em rodelas numa caixa de Petri. 3 — Com uma espátula, macere a banana. 4 — Pese 3 g de sal num vidro de relógio. 5 — Num gobelé de 250 mL, coloque 90 mL de água destilada aquecida a 60 ºC. 6 — Dissolva o sal na água e adicione 10 mL de detergente, mexendo lentamente. 7 — Junte a banana macerada à solução salina com detergente e mexa lentamente durante alguns minutos. 8 — Coloque a gaze num funil e filtre o preparado obtido para um gobelé (Fig. 16). 9 — Ao filtrado obtido (120 mL), adicione 25 mL de sumo de ananás. 10 — Meça 20 mL do preparado anterior para um tubo de ensaio. 11 — À solução filtrada adicione, muito lentamente, 20 mL de álcool frio, com o tubo de ensaio ligeiramente inclinado. Deve distinguir-se uma fase alcoólica (sobrenadante) e uma fase aquosa (inferior). 12 — Deixe repousar cerca de 5 minutos. 13 — Começará a ver um novelo branco a formar-se no sobrenadante alcoólico (Fig. 17). É o DNA! ACTIVIDADE LABORATORIAL Fig. 16 Etapa 8 do procedimento: filtração. Não se esqueça de: • usar bata; • cumprir as regras de segurança do laboratório. Fig. 17 Etapa 13 do procedimento: o DNA sobre a mistura efectuada. O DNA das células procarióticas é mais pequeno, mais simples e, normalmente, restringe-se a uma única molécula circular, não associada a histonas. Nas células eucarióticas, além do DNA nuclear, é possível encon- trar ainda DNA no interior das mitocôndrias e dos cloroplastos, designando-se respectivamente por DNA mitocondrial e DNA plasti- dial. Estas moléculas, apesar de se encontrarem no interior de células eucarióticas, são em tudo semelhantes ao DNA dos procariontes. 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 23 24 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Discussão 1 — Que substância foi adicionada, no decurso da experiência, para neutralizar a carga negativa do DNA e facilitar a extracção? 2 — O que se fez para ajudar a quebrar mecanicamente as membranas das células? 3 — Que substância, contendo enzimas, foi adicionada para ajudar à destruição da bicamada fosfolipídica das membranas celulares? 4 — Qual é a substância em que o DNA é insolúvel e que, por isso, provoca a sua precipitação e visualização? 5 — Que aspecto apresenta o DNA extraído? Nota: Este protocolo poderá aplicar-se, com obtenção de resultados evidentes, noutro tipo de matéria vegetal (cebola, ervilhas, morango e favas) ou, ainda, em matéria animal (salmão, fígado e timo). O conhecimento cada vez mais profundo da estrutura e do funcionamento da molécula de DNA tem permitido ao Homem perceber que o pode manipular e utilizar na resolução de inúmeros problemas da vida quotidiana. • Descubra algumas das aplicações das tecnologias relacionadas com a manipulação do DNA, recorrendo a fontes variadas (jornais, revistas e livros) e/ou aos sítios da Internet a seguir sugeridos (ou a outros que achar interessantes): http://www.sobresites.com/ciencia/dna.htm http://www.iq.usp.br/disciplinas/dbq/dnata/apresentacao/patern.htm http://orbita.starmedia.com/jurifran/ajdna.html • Apresente as suas pesquisas sob a forma de um cartaz, a afixar fora da sala de aula, onde deve referir: a técnica, a aplicação da mesma e as fontes bibliográficas ou da Internet. Poderá contribuir para que os seus colegas aprofundem os seus conhecimentos sobre este assunto, desenvolvido em inúmeras séries televisivas, a que provavelmente muitos gostarão de assistir. PESQUISAR E DIVULGAR 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 24 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 25 Quais são as funções do DNA? O DNA é a molécula que contém a informação para todas as actividades da célula. Uma vez que as células se dividem, é necessá- rio que a molécula de DNA consiga transmitir às células-filhas a informação que possui. Por outro lado, é esta molécula que permite a obtenção das diferentes proteínas necessárias para a constituição e o funcionamento celulares. O processo de duplicação da molécula de DNA, designado por replicação, origina, no final, duas moléculas exactamente iguais à molécula-mãe (pois só desta maneira é preservada a informação). Replicação Quando Watson e Crick propuseram o seu modelo para a molécula do DNA (em dupla hélice), propuseram também um mecanismo simples para a duplicação da molécula do DNA. Teoricamente, este processo poderia ocorrer por três métodos diferentes: a replicação poderia ser semiconservativa, conservativa e dispersiva. A molécula de DNA é capaz de se duplicar em duas, exactamente iguais — replicação. A RETER replicação replication EXPERIÊNCIAS DE MESELSON E STAHL 1. Em 1957, dois investigadores, Meselson e Stahl, realizaram uma série de experiências na tentativa de descobrir o processo da replicação. Analise os dados e os resultados obtidos e responda às questões. ACTIVIDADE Hipótese 1 Replicação semiconservativa Hipótese 2 Replicação conservativa Hipótese 3 Replicação dispersiva Molécula parental 1.ª geração de moléculas-filhas 2.ª geração de moléculas-filhas Fig. 18 As hipóteses para o processo da replicação. 919354 008-035_U5 09/03/27 12:54 Page 25 26 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Estes investigadores utilizaram, como material biológico, bactérias da espécie Escherichia coli. Um grupo de bactérias foi cultivado durante várias gerações em meio com 14N, e outro grupo, num meio contendo 15N (um isótopo pesado de N). Ao isolarem e centrifugarem o DNA das duas amostras, Meselson e Stahl confirmaram a existência de duas bandas diferentes (Fig. 19A) no tubo da centrífuga. As bactérias do meio com 15N foram transferidas, em seguida, para um meio de cultura contendo azoto leve (14N), onde permaneceram durante o tempo necessário à sua divisão. Quando isolaram e centrifugaram o DNA dessas células, os investigadores verificaram que este apresentava densidade intermédia no tubo da centrífuga (Fig. 19B). As bactérias permaneceram ainda durante outra geração no meio de cultura com 14N, tendo depois sido isolado e centrifugado o seu DNA (Fig. 19C). 1.1 Refira as diferenças existentes entre os modelos apresentados na figura 18. 1.2 Como se apresentam, no tubo da centrífuga, as bandas das cadeias de DNA formadas depois da segunda divisão? 1.3 Represente os resultados que seria previsto obter ao fim de outra geração. 1.4 Identifique a hipótese de replicação que é apoiada pelos resultados apresentados nos tubos da centrífuga. 15N15N 14N14N 15N14N 15N14N 14N14N A B C Fig. 19 Resultados da experiência de Meselson e Stahl. DNA 14N14N e 15N15N centrifugado. Ao fim de uma geração DNA 15N14N centrifugado. Ao fim de duas gerações. Fig. 20 Replicação do DNA: cadeias pesadas (A); cadeias intermédias (B); cadeias leves (C). Os resultados das experiências indicam que o DNA se duplica por síntese semiconservativa. A RETER Ao observar atentamente os resultados obtidos pelos investiga- dores, verifica-se que aqueles estão de acordo com a hipótese semi- conservativa, que refere que, numa molécula de DNA, cada cadeia- -mãe serve de molde para a síntese de uma cadeia-filha. Ao fim de uma replicação. No fim da segunda replicação. A B B B C C B 919354 008-035_U5 6/16/08 3:05 PM Page 26u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 27 O DNA humano replica cerca de 50 bases por segundo. CURIOSIDADE Qual é o mecanismo de replicação do DNA? O processo de replicação do DNA é bastante complexo e envol- ve a participação de várias enzimas, pois a molécula tem de sofrer desenrolamento, separação de cadeias e construção das novas cadeias. A DNA polimerase é a enzima mais importante neste processo, promovendo: • a formação de ligações por pontes de hidrogénio entre bases complementares (A com T e G com C); • a ligação do açúcar de um nucleótido com o fosfato do nucleótido seguinte; • a correcção de erros que possam existir. Cada cadeia-mãe serve de molde para a replicação, sendo os nucleótidos adicionados por complementaridade de bases e sempre inseridos no sentido 5’–3’. Devido ao antiparalelismo da cadeia de DNA parental, as cadeias-filhas não crescem da mesma forma: a cadeia que copia a cadeia 3’–5’ forma-se de modo contínuo; a cadeia que copia a cadeia 5’–3’ forma-se de modo descontínuo, em pequenas porções, que são depois ligadas pela enzima DNA ligase (Fig. 21). A replicação do DNA assegura que todas as células somáticas de um ser vivo pluricelular tenham a mesma informação genética. P 5’ P A T P P G C C P P A T P P G P P A T P P C G P P A T P P 5’ 3’ T A OH OH 3’ Fig. 21 Replicação do DNA. Cadeias complementares Cadeia-filha DNA ligase DNA polimerase Extremidade 3’ Extremidade 5’ Extremidade 5’ (termina em 5’ fosfato) Extremidade 3’ (termina em 3’ hidroxilo) DNA polimerase Cadeia-filha 919354 008-035_U5 09/03/27 12:57 Page 27 28 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s gene gene genoma genome transcrição transcription Como é que, a partir do DNA, se obtêm proteínas? Pouco depois de Watson e Crick terem publicado a estrutura da molécula do DNA, descreveram a relação entre os ácidos nuclei- cos e as proteínas como um fluxo de informação na célula — «Dogma Central» da Biologia. A sequência de nucleótidos que contém a informação para sinte- tizar uma proteína ou uma molécula de RNA é designada por gene. O conjunto de todos os genes de um ser vivo é o seu genoma, permitindo este a constituição e o funcionamento do mesmo. O DNA não consegue sintetizar a proteína directamente. No núcleo, no início do processo, forma-se uma molécula de mRNA que transporta a informação contida no gene até ao citoplasma, mais especificamente até ao ribossoma, onde a mensagem é trans- formada em cadeia polipeptídica (Fig. 22). Transcrição O mRNA forma-se no núcleo, por complementaridade, a partir da informação contida na molécula de DNA. Este processo, a que se dá o nome de transcrição, só se realiza na presença de uma enzi- ma, a RNA polimerase. Na transcrição, a molécula de mRNA é formada a partir de uma das duas cadeias da molécula de DNA (cadeia-molde). O mRNA é polimerizado exclusivamente no sentido 5’–3’, e as bases empare- lham-se por complementaridade, ocupando o uracilo o lugar da timina (U emparelha com A) (Fig. 23). Fig. 22 Do DNA às proteínas. Fig. 23 Transcrição. Fig. 24 Início da transcrição. Replicação Transcrição Tradução Proteína Citoplasma Núcleo DNA RNA A RNA polimerase liga-se ao promotor, zona inicial do gene (Fig. 24), promovendo a separação pontual da dupla hélice do DNA e a polimerização dos ribonucleótidos que vão constituir a molécula de mRNA. Esta, à medida que vai sendo fabricada, liberta-se da cadeia-molde de DNA, que vai recuperando a sua estrutura original (em dupla hélice). Quando a RNA polimerase atinge uma sequên- cia de DNA designada por local de terminação, liberta-se desta molécula, que retoma a sua estrutura original (Fig. 25). 3’ 3’ 3’ 5’ 5’ 5’ DNA RNA T T T T T G G GG G GG GCC C C C C C A A A AAA U UU U U U G C Cadeia-molde de DNA RNA polimerase Gene Promotor do DNA ��� 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 28 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 29 Fig. 25 Fim da transcrição. Nas células eucarióticas, a molécula de mRNA que acabou de ser replicada (transcrito primário) sofre um processo de maturação antes de sair do núcleo. A fase seguinte — tradução — realiza-se no citoplasma. Na molécula de mRNA imatura existem porções — os intrões — que não contêm informação para a síntese da proteína e que, antes de a molécula passar para o citoplasma, são removidas. As porções que permanecem — os exões — são expressas na fase seguinte, originando uma proteína. É o conjunto dos exões que deixa o núcleo através de um dos poros da membrana nuclear (Fig. 26). O processo de remoção dos intrões é designado por matu- ração, processamento ou splicing. Fig. 26 Os processos de transcrição e de maturação do mRNA. Exão A Intrão 1 Exão B Transcrição Intrão 2 Exão C Cadeia molde de DNA 3’ Exão A Intrão 1 Exão B Maturação Intrão 2 Exão A Exão B Exão C Exão Cpré-mRNA 5’ mRNA NÚCLEO CITOPLASMA Membrana nuclear Transporte através de um poro Nos seres procariontes, a molécula de mRNA não sofre matura- ção e todas as fases da síntese proteica ocorrem no mesmo local, dado que não há núcleo individualizado nas células destes seres. Tradução A tradução permite que a mensagem contida no mRNA seja descodificada e utilizada para fabricar uma proteína. As proteínas são constituídas por aminoácidos (nos seres vivos, existem 20 ami- noácidos diferentes), unidos por ligações peptídicas. Local de terminação RNA em crescimento RNA RNA polimerase Nos eucariontes, o mRNA abandona o núcleo depois de sofrer maturação. A RETER tradução translation A transcrição é a passagem da informação do DNA para o RNA. A formação do mRNA é o primeiro passo da síntese proteica. A RETER ��� 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 29 30 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s O código genético é um conjunto de codões (três ribonucleótidos) e a sua correspondência com os aminoácidos. A RETER código genético genetic code codão codon Para que se sintetize uma proteína, é indispensável um código que estabeleça a ponte entre a informação contida no mRNA (que, por sua vez, se formou a partir do DNA) e os aminoácidos necessários para constituir essa proteína. Como estará codificada a informação no DNA? Será que uma determinada sequência de nucleótidos determina a incorporação de um aminoácido específico? Como combinar 4 tipos de ribonucleótidos para codificar 20 aminoácidos diferentes? Se fosse utilizado 1 ribonucleótido para 1 aminoácido, existi- riam apenas, nas proteínas, 4 aminoácidos diferentes. Se fossem utilizados 2 ribonucleótidos, existiriam 16 combina- ções (42), e nas proteínas haveria apenas 16 diferentes aminoácidos. Associando 3 ribonucleótidos, obtém-se 64 diferentes combinações (43), valor suficiente para codificar os 20 diferentes aminoácidos que existem nas proteínas. O código genético é constituído por tripletos de ribonucleóti- dos, designados por codões (obtidos por transcrição de tripletos de desoxirribonucleótidos, por vezes, designados por codogenes). Cada codão codifica um aminoácido, e alguns aminoácidos são, inclusivamente, codificados por mais do que um codão; por exem- plo, os codões UUU e UUC codificam ambos o aminoácido fenila- lanina (diz-se, nestes casos, que o código genético é degenerado, e estes codões denominam-se sinónimos). O codão AUG é o codão iniciador, correspondendo ao aminoácido metionina, e os codões UAA, UAG e UGA são codões de terminação. Todas as espécies de seres vivos utilizam o mesmo código gené- tico — o código genético é universal —, evidenciando uma origem comum (à excepção de alguns codões utilizados nas mitocôndrias e em certos protozoários ciliados). Muitos trabalhos foram efectua- dos até se decifrar o código genético. COMO DECIFRAR O CÓDIGO GENÉTICO? 1. Leia com atenção a descrição seguinte e responda às questões. Marshall Nirenberg e Heinrich Matthaei, em 1961, elaboraram umasérie de experiências que levaram à decifração do código genético. Utilizaram moléculas de mRNA, sintetizadas em laboratório, e todas as substâncias químicas e estruturais necessárias à tradução foram extraídas da bactéria Escherichia coli. Depois de sintetizada a molécula de mRNA, os investigadores colocaram-na no meio de cultura, onde obtiveram os polipéptidos que se encontram no quadro apresentado à direita. 1.1 Identifique, justificando, os codões que codificam os aminoácidos fenilalanina (Fen), lisina (Lis) e prolina (Prol). 1.2 Que codões existem na molécula de mRNA sintetizada na quarta experiência? 1.3 Consultando o código genético representado na página 31, complete o quadro. ACTIVIDADE ETAPAS DA SÍNTESE PROTEICA Transcrição Maturação Tradução A RETER Molécula EXPERIÊNCIAS Sequência UUUUUUUUUUUU… Fen-Fen-Fen-Fen-… mRNA Polipéptido AAAAAAAAAAAA…mRNA Lis-Lis-Lis-Lis-…Polipéptido CCCCCCCCCCCC…mRNA Prol-Prol-Prol-Prol-…Polipéptido AUAUAUAUAUAU…mRNA Polipéptido 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 30 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 31 Na decifração do código genético participaram ainda muitos outros investigadores, que desenvolveram experiências semelhantes às de Nirenberg e Matthaei. No código genético, os codões sinónimos diferem uns dos outros, muitas vezes, pela base existente na terceira posição. A degenerescência do código protege os organismos de altera- ções que possam ocorrer no DNA e que substituem um codão por outro sinónimo, não se modificando, desta forma, a sequência de aminoácidos da proteína. No processo da síntese proteica, a molécula de mRNA não faz o reconhecimento directo dos aminoácidos que constituirão a pro- teína. Nesta síntese há a participação do RNA de transferência (tRNA). Na molécula de tRNA, existe um tripleto de bases complemen- tares do codão do mRNA — anticodão — e também o local de ligação do tRNA ao aminoácido correspondente a esse anticodão. Por exemplo, uma molécula de tRNA com o anticodão CCU é com- plementar do codão GGA e tem ligado a si o aminoácido glicina. CÓDIGO GENÉTICO SEGUNDA BASE UUU (Phe/F) Fenilalanina UUC (Phe/F) Fenilalanina UUA (Leu/L) Leucina UUG (Leu/L) Leucina, iniciação CUU (Leu/L) Leucina CUC (Leu/L) Leucina CUA (Leu/L) Leucina CUG (Leu/L) Leucina, iniciação AUU (Ile/I) Isoleucina, iniciação AUC (Ile/I) Isoleucina AUA (Ile/I) Isoleucina AUG (Met/M) Metionina, iniciação GUU (Val/V) Valina GUC (Val/V) Valina GUA (Val/V) Valina GUG (Val/V) Valina, iniciação U UCU (Ser/S) Serina UCC (Ser/S) Serina UCA (Ser/S) Serina UCG (Ser/S) Serina CCU (Pro/P) Prolina CCC (Pro/P) Prolina CCA (Pro/P) Prolina CCG (Pro/P) Prolina ACU (Thr/T) Treonina ACC (Thr/T) Treonina ACA (Thr/T) Treonina ACG (Thr/T) Treonina GCU (Ala/A) Alanina GCC (Ala/A) Alanina GCA (Ala/A) Alanina GCG (Ala/A) Alanina C UAU (Tyr/Y) Tirosina UAC (Tyr/Y) Tirosina UAA (Stop) UAG (Stop) CAU (His/H) Histidina CAC (His/H) Histidina CAA (Gln/Q) Glutamina CAG (Gln/Q) Glutamina AAU (Asn/N) Asparagina AAC (Asn/N) Asparagina AAA (Lys/K) Lisina AAG (Lys/K) Lisina GAU (Asp/D) Ácido aspártico GAC (Asp/D) Ácido aspártico GAA (Glu/E) Ácido glutâmico GAG (Glu/E) Ácido glutâmico A UGU (Cys/C) Cisteína UGC (Cys/C) Cisteína UGA (Stop) UGG (Trp/W) Triptofano CGU (Arg/R) Arginina CGC (Arg/R) Arginina CGA (Arg/R) Arginina CGG (Arg/R) Arginina AGU (Ser/S) Serina AGC (Ser/S) Serina AGA (Arg/R) Arginina AGG (Arg/R) Arginina GGU (Gly/G) Glicina GGC (Gly/G) Glicina GGA (Gly/G) Glicina GGG (Gly/G) Glicina G U C A G U C A G U C A G U C A G U C A G P R IM E IR A B A S E TE R C E IR A B A S E anticodão anticodon A tradução é uma etapa da síntese proteica em que as moléculas de tRNA que transportam os aminoácidos correctos são recrutadas e associam estas moléculas ao péptido em formação. A RETER 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 31 32 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Os ribossomas são constituídos por uma subunidade maior e por outra menor (Fig. 27). No processo da tradução, a sequência de codões do mRNA dá origem à síntese de uma proteína nos ribosso- mas. Nos seres eucariontes, estes organitos encontram-se associa- dos ao retículo endoplasmático rugoso, para onde a proteína vai ser lançada. A tradução inicia-se com a ligação do mRNA à subunidade menor do ribossoma, e com o reconhecimento do codão iniciador (AUG) pelo tRNA correspondente (anticodão UAC, com o aminoá- cido metionina — met). Todos os péptidos começam por uma metionina, salvo raras excepções. Em seguida estabelece-se a liga- ção da subunidade maior (Fig. 28). Nesta subunidade, existem dois locais importantes: o local P, onde se encontra ligado o tRNA com o aminoácido metionina, e o local A, onde se liga o tRNA seguinte, complementar do segundo codão. Fig. 27 Constituição de um ribossoma. 5080 bases de RNA (2 a 3 moléculas) 49 proteínas 1900 bases de RNA (1 única molécula) 33 proteínas A metionina e o aminoácido, transportado pelo tRNA ligado ao local A do ribossoma, estabelecem entre si uma ligação peptídica, e o ribossoma avança na molécula de mRNA. No local P fica o tRNA que transporta o segundo aminoácido, e ao local A liga-se um novo tRNA. Após ocorrer outra ligação peptídica entre os aminoácidos, o ribossoma volta a progredir na molécula de mRNA, que assim é lido em sequência, dando origem a um novo polipéptido (Figs. 29 e 30). Met U UA A C G A Met U UA A C G B Fig. 28 Fase de iniciação da tradução. Fig. 29 Ribossoma em funcionamento. tRNA iniciador mRNA Codão iniciador Pequena subunidade de ribossoma Local P Local A Grande subunidade de ribossoma Moléculas de tRNA Polipéptido Subunidade maior Subunidade menormRNA Subunidade maior Subunidade menor Além dos locais A e P, actualmente considera-se a existência de um terceiro local no ribossoma — o local E — correspondente ao local de saída do tRNA. RIBOSSOMAS 919354 008-035_U5 6/2/08 12:44 Page 32 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 33 É de notar que a mesma molécula de mRNA pode ser traduzida em simultâneo por mais do que um ribossoma, havendo assim a formação de várias proteínas iguais (Fig. 31). Fig. 30 Crescimento (alongamento ou elongação) do polipéptido. Aminoácido Polipéptido Local P Local A mRNA Codões Anticodão Reconhecimento do codão. Codão stop Formação da ligação peptídica. Nova ligação peptídica Deslocação do mRNA. Ribossoma Polipéptido Proteínas estabilizadoras mRNA 3’ 5’ Fig. 31 Síntese simultânea de vários péptidos a partir do mesmo mRNA. ��� ��� �� � Ocupação do local P. ��� 3’ 3’ 3’ 3’ 5’ 5’ 5’ 5’ D A B C 919354 008-035_U5 31/1/08 14:38 Page 33 34 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A síntese da proteína termina quando surge no mRNA um dos codões de terminação ou stop (UGA, UAG ou UAA), pois não há tRNA correspondentes a esses codões. O último tRNA liberta-se do ribossoma, separando-se as suas subunidades (que podem depois ser reutilizadas), e a proteína é libertada, adquirindo a sua estrutura tridimensional (Fig. 32). E se ocorrerem erros durante estes processos? A possibilidade que a célula tem de manter a informação do seu DNA nas células-filhas é extremamente importante, pois, desta forma, as características dos seres vivos são preservadas por várias gerações. No processo da replicação do DNA, a DNA polimerase revê a sequência formada e tem a capacidade de corrigir a maior parte dos erros que possam ter ocorrido durante o processo. Mas, apesar desta revisão, por vezes existem erros que perma- necem. Estes, designados por mutações génicas, afectam a sequên- cia do DNA e, consequentemente, podem afectar a sequência de aminoácidos da proteína fabricada a partir do gene alterado. Um exemplo típico de mutação diz respeito à alteração que ocor- re no genehumano que codifica a molécula de hemoglobina das hemácias, dando origem à anemia falciforme (Fig. 33). A substituição de um único nucleótido provoca uma alteração na sequência pro- teica (o aminoácido ácido glu- tâmico — Glu — é substituído por valina — Val). Esta altera- ção tem como consequência a modificação da conformação da molécula de hemoglobina, que por sua vez altera a forma das hemácias (facto que teve rele- vância na origem do nome desta doença). Esta característica pro- voca uma diminuição da capa- cidade de transporte de oxigé- nio no indivíduo (Fig. 34). G C U Arg Lys Cys Gly Met G G GCU UA A A A A Fig. 32 Conclusão da síntese proteica (A). Os diferentes componentes separam-se (B). Para a formação de uma proteína, são necessários: ribossoma, mRNA e vários tRNA associados a aminoácidos. A RETER Mutações génicas são alterações na sequência de bases do DNA. A RETER mutação génica genic mutation C A T G U Val A mRNA Hemoglobina mutante C T T G A Glu A mRNA DNADNA Hemoglobina normal Fig. 33 Mutação génica que ocorre na anemia falciforme. Alelo normal que codifica a hemoglobina Alelo mutante que codifica a hemoglobina A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 34 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 35 A alteração de nucleótidos no DNA origina alelos diferentes, que podem afectar a sequência de aminoácidos na proteína. A RETER Existem vários tipos de mutações génicas. Há casos de substi- tuição de base (ou nucleótido, como no exemplo anterior), mas também existem situações de deleção de bases (em que uma ou mais bases são suprimidas) ou de inserção de bases (em que uma ou mais bases são acrescentadas) (Fig. 35). Todas estas alterações vão afectar a transcrição e podem afectar ou não a tradução, depen- dendo do local e do tipo da alteração. Fig. 34 Hemácia normal (A) e hemácia alterada (B). Quando há codões sinónimos, a mutação pode não provocar qualquer alteração na cadeia de aminoácidos. Também são possí- veis modificações num único aminoácido, não alterando significati- vamente o funcionamento da proteína. Outros casos, como o da anemia falciforme, provocam danos graves nos indivíduos que as possuem. As mutações podem também consistir na adição, na remoção ou no rearranjo de sequências de nucleótidos, afectando regiões mais extensas de DNA. Embora algumas possam ser bastante prejudiciais, as mutações são responsáveis por pequenas alterações nos seres vivos de uma espécie, permitindo a existência de variabilidade, essencial para a evolução das espécies, como veremos mais tarde, na Unidade 7. G G G G GC CA AU U U U Met Lys Phe Gly Ala A A C C C C CG GT TA A A AT Gene normal Substituição de uma base Deleção de uma base T C C T C CG GT TA A A A AT T C C C G GC TT TA A A CT A G G A G GC CA AU U U U Met Lys Phe Ser Ala A A G G G C CG AA AU U U G Met Lys Leu Ala His A U mRNA mRNA mRNA Fig. 35 Mutações génicas. As mutações podem ser prejudiciais ao ser vivo que as sofre ou vitais para a sobrevivência da espécie. A RETER A B 919354 U5_p008-035 18/1/08 16:35 Page 35 36 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s De que modo as células asseguram a sua continuidade? Sendo a célula a unidade básica da estrutura e da função de qualquer ser vivo, é de esperar que nela se encontre a resposta quando se pretende descobrir o modo como esses seres asseguram a sua integridade e a manutenção da espécie. A célula enfrenta o grande desafio de realizar a divisão celular, ori- ginando duas células-filhas, cujos núcleos possuem toda a informação contida no DNA da célula-mãe e com citoplasma suficiente para desempenhar as suas funções futuras. A grande maioria dos tecidos de um organismo adulto possui células diferenciadas, que se dividem e originam células-filhas, com características semelhantes entre si. Nas células somáticas dos organismos multi- celulares eucariontes, a interfase, a mitose (divi- são nuclear) e a citocinese (divisão do citoplas- ma) constituem o ciclo celular (Fig. 36), que possibilita o crescimento, a reposição das células mortas e a reparação dos tecidos. Por vezes, em alguns organismos, este processo também permi- te originar clones, reproduzindo-se assim o indiví- duo por formação de cópias exactas dele próprio. O ciclo celular tem uma duração muito apro- ximada em células do mesmo tipo, podendo variar bastante entre células de tecidos diferentes. A interfase (com as fases G1, S e G2) corres- ponde ao período de crescimento de uma nova célula, que pode ser cerca de 90% do tempo de duração de um ciclo completo e em que ocorre actividade metabólica intensa. Durante a interfase, em G1 (G de «gap» — intervalo), a célula pode permanecer durante bastante tempo até atingir o tamanho adequado e as condições propícias à divisão. Nesta fase, a célula sintetiza enzimas e outras moléculas necessárias para assegurar o seu funcionamento, assim como sistemas de membranas e variados organitos. No período S (S de «synthesis» — síntese), ocorre a replicação de todo o DNA presente no núcleo, assim como a síntese de proteí- nas a ele associadas. Os cromossomas são agora constituídos por dois cromatídeos unidos pelo centrómero. O principal papel da fase G2 é confirmar que a replicação dos cromossomas está completa e, ainda, que os eventuais «estragos» provocados na molécula de DNA estão reparados. A síntese protei- ca é intensa neste período. No final da interfase, as células que possuem centríolos (todas as eucarióticas, à excepção das que constituem os fungos e a maio- ria das plantas) apresentam-nos agora duplicados. As células ani- mais possuem centrossomas, onde estão localizados os centríolos. • O homem tem cerca de 1012 de células por altura do nascimento. • O ciclo celular das células me- ristemáticas da raiz do feijoeiro dura cerca de 19 horas, mas o das células embrionárias do ouriço-do-mar fica completo em duas horas. CURIOSIDADE interfase interphase mitose mitosis citocinese cytokinesis ciclo celular cell cycle Final da interfase da célula-mãe. Citocinese G1 Intervalo de crescimento da célula. (Os cromossomas ainda não estão duplicados, porque ainda não ocorreu replicação do DNA.) S Intervalo em que ocorre replicação do DNA. (Os cromossomas ficam duplicados no final deste período.) G2 Intervalo após a replicação do DNA, em que a célula se prepara para se dividir. Teló fase Aná fas e Me táf as e Pr óf as e I N T E R FA S E M I T O S E Cada célula-filha inicia a interfase. Fig. 36 Representação esquemática do ciclo celular: interfase, mitose e citocinese. Os triângulos vermelhos assinalam pontos de controlo do ciclo. • Durante a interfase, a célula prepara-se para a divisão nuclear. • Em G1, cada cromossoma é composto por um cromatídeo e em G2, por dois cromatídeos. A RETER C IC LO C E LU LA R Interfase Mitose Citocinese A RETER Fase G1 Fase S Fase G2 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 36 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 37 Mitose Após a fase G2, a célula está apta para dar início à divisão defi- nitiva do seu material nuclear. No seu núcleo existem agora cro- mossomas que se duplicaram na fase S, ou seja, cada um deles está associado a uma cópia, rigorosamente igual, de si próprio, sendo composto por dois cromatídeos. A mitose decorre em quatro estádios: prófase, metáfase, aná- fase e telófase. 5 1 2 prófase prophase metáfase metaphase anáfase anaphase telófase telophase MITOSE Nesta etapa, a mais longa da mitose, os cromossomas assumem, progressivamente, um aspecto mais curto e espesso, que se deve ao facto de ocorrer uma condensação da cromatina (DNA e proteínas associadas). Começam agora a visualizar-se os dois cromatídeos-irmãos, ou seja, duas moléculas de DNA rigorosamente iguais, unidas por uma região de cromatina muito condensada — o centrómero. Os centrossomas, já duplicados, começam a migrar para pólos opostos da célula e iniciam o desenvolvimentode microtúbulos (filamentos de proteínas globulares). Por outro lado, o nucléolo dissipa-se até desaparecer, e a membrana nuclear desorganiza-se, assumindo a forma de pequenas vesículas. No decorrer desta fase, a célula encontra-se sem membrana nuclear, e os microtúbulos vão crescendo a partir dos centrossomas, localizados em pólos opostos da célula. Quando um microtúbulo, vindo de um dos pólos, estabelece ligação com um dos cromatídeos, o microtúbulo que cresceu do pólo oposto fixa-se ao cromatídeo-irmão do primeiro. Forma-se assim, ocupando toda a célula, um fuso acromático (formação de microtúbulos, fusiforme), que, no momento em que todas as fibras atingem o mesmo comprimento, obriga a um posicionamento dos cromossomas no plano equatorial do fuso (placa equatorial ou mitótica). É a etapa mais curta da mitose, mas inclui acontecimentos determinantes no sucesso deste processo, já que assegura uma separação definitiva e rigorosa dos cromatídeos-irmãos. A anáfase inicia-se, abruptamente, com a separação simultânea de todos os cromatídeos-irmãos, devido à perda de coesão gerada pela desorganização do centrómero. Estes são então puxados pelos microtúbulos do fuso acromático, efectuando a ascensão polar, ao mesmo tempo que a célula se alonga ligeiramente, aumentando a distância entre os pólos do fuso (centrossomas). Quando os dois conjuntos de cromossomas atingem os pólos opostos da célula, inicia-se a telófase. Nesta altura, os cromossomas descondensam-se, devido à descompactação do DNA, a membrana nuclear reorganiza-se e os nucléolos reaparecem. Logo que os núcleos estão completamente formados, a telófase termina. Fica, assim, concluído o processo da mitose. P ró fa se M et áf as e A ná fa se Te ló fa se A célula possui o DNA duplicado e prepara-se para a divisão nuclear. Par de centríolos Membrana nuclear Os microtúbulos formam o fuso acromático. Placa equatorial ou mitótica Ocorre a ascensão polar. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 37 38 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s MITOSE A RETER Prófase Metáfase Anáfase Telófase No entanto, o processo de divisão da célula não está concluído, já que é necessário separar completamente as duas células-filhas, tornando-as independentes. Assim, de um modo continuado, segue- -se a redistribuição equitativa dos organitos celulares e a clivagem do citoplasma. Citocinese A citocinese, divisão do citoplasma, depende da formação de um anel de contracção (estrutura composta por filamentos de acti- na e miosina, proteínas estruturais) ligado à face citoplasmática da membrana plasmática e a meio da distância entre os dois centrosso- mas (Fig. 37). Durante muitos anos assumiu-se que estes filamentos se dispunham paralelamente em relação ao plano de divisão da célula e que, à custa de energia da molécula de ATP, se contraíam, puxan- do a membrana plasmática, a que estavam ligados, para o interior da célula, até que o citoplasma fosse dividido em duas porções. Após a replicação do DNA, os dois cromatídeos-irmãos permanecem ligados, espaçadamente, ao longo dos braços cromossómicos, por acção de proteínas (coesinas), que na metáfase são removidas na quase totalidade. Contudo, na região do centrómero é mantida a coesão até ao início da anáfase, quando uma enzima faz a hidrólise destas proteínas, e estas, ao serem degradadas, libertam os cromatídeos-irmãos. OS CENTRÓMEROS Prófase Cromatídeos-irmãos Cromossomas-filhos Proteína que promove a coesão Metáfase Anáfase Condensação dos cromossomas Na realidade, permanece ainda por esclarecer a orientação efectiva dos filamentos no anel de contracção, mas sabe-se que o citoplas- ma não se limita a ser estrangulado para originar duas células-filhas (Fig. 38). Na citocinese animal, a contracção do anel de actina e A B Fig. 38 As células-filhas, resultantes da citocinese, podem entrar em interfase logo que estão formadas (após a divisão do citoplasma). São células com o mesmo número de cromossomas que a célula-mãe. Fig. 37 Citocinese. Representação esquemática (A); imagem de microscópio electrónico (B). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 38 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 39 miosina é acompanhada pela adição de membrana plasmática por fusão de vesículas golgianas. (Durante muitos anos pensou-se que esta actividade vesicular ocorria apenas na citocinese das células vegetais.) No caso das células que apresentam parede celular, a força de contracção dos filamentos de actina não é suficiente perante a rigi- dez dessa estrutura. Nesta situação forma-se a placa celular, a partir da disposição, na região mediana da célula, de vesículas golgianas que se fundem do centro para a periferia. Estas vesículas contribuem para a forma- ção das novas secções da membrana plasmática e, simultaneamente, libertam os materiais de construção da parede celular (hemicelulose, pectina e glicoproteínas). A placa celular cresce até se fundir com a membrana plasmática da célula inicial, formando agora duas célu- las distintas (Fig. 39). No caso da célula vegetal, a citocinese tem de ser acompanhada da formação da nova parede celular. A RETER A B Fig. 39 Representação esquemática da citocinese em células vegetais (A), destacando-se uma imagem de microscópio óptico (B) onde se pode observar a formação da placa celular. DIFERENÇAS NO CICLO CELULAR CÉLULAS Animais Vegetais MITOSE CITOCINESE Existência de centrossoma, estrutura formada pelos centríolos, que organiza o fuso acromático. Ausência de centrossoma: a função deste é desempenhada por estruturas similares. Formação do anel de contracção, dividindo o citoplasma em duas porções semelhantes. Existe adição de membrana plasmática. Formação da placa celular, que permite a constituição de membrana plasmática e também de parede celular. ACTIVIDADE AS FASES DA MITOSE 1. Considere as fotografias, obtidas no microscópio óptico, de uma célula em mitose e responda às questões. 1.1 Faça a legenda de cada uma das imagens, indicando a fase da mitose correspondente. 1.2 Ordene as imagens de modo a indicar a sequência correcta destas fases da mitose. 1.3 Refira as fases em que os cromossomas se poderão encontrar constituídos por dois cromatídeos. 1.4 Que factos observáveis nas fotografias permitem afirmar que se trata de uma célula vegetal? Fig. 40 Célula em mitose. A B C D E F 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 39 40 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Qual é o destino das novas células? As células-filhas, formadas a partir da divisão nuclear mitótica, asseguram não só a continuidade da célula-mãe mas ainda a manu- tenção das características hereditárias desta, já que cada uma delas possui uma quantidade e uma qualidade de DNA exactamente iguais às do DNA da progenitora. Após a mitose e a citocinese, as células podem seguir diferentes processos: • diferenciação e maturação (é o que acontece com as hemá- cias que, após a sua formação, deixam de cumprir o ciclo celular) (Fig. 41A); • entrada em fase G1 prolongada (também chamada G0, ocorre em células com longo período de vida e que raramente se dividem, como é o caso de algumas células do fígado), entran- do mais tarde em fase de síntese e mitose (Fig. 41B); • início de uma nova fase de síntese e preparação para uma nova mitose (como acontece no ovo ou zigoto) (Fig. 41C). Controlo da divisão celular As células possuem mecanismos que lhes permitem assegurar que certas condições foram garantidas antes de passar à fase seguinte do processo de divisão celular. Estes mecanismos são de extrema importância, já que regulam todo o ciclo celular (Fig. 42) e impedem a progressão do fenómeno antes de estarem asseguradas as bases para que o objectivo de cada fase seja cumprido. Após terminar a divisão celular, a célula pode continuar a dividir-se, manter-se em fase G1 ou diferenciar-se e especializar-se. A RETER Fig. 41 Ciclo celular e os possíveis percursos pelos quais as células-filhas podemenveredar após a conclusão da mitose. A B C 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 40 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 41 Existem proteínas, organizadas em sistemas, responsáveis pela progressão do ciclo celular através da sua activação e da sua inacti- vação sucessivas. Perto do final da fase G1, actua um destes sistemas de controlo, determinando se a célula permanece nesta fase ou passa para a fase S. No final de G2, o controlo verifica se a fase S ocorreu de modo correcto e se a célula está em condições de realizar a mitose. Outro controlo ocorre na transição metáfase-anáfase, atrasando- -a no caso de alguns cromossomas não estarem correctamente liga- dos ao fuso acromático. O que acontece quando estes pontos de controlo não cumprem a sua função? O crescimento e a reprodução dos seres vivos multicelulares dependem do controlo da divisão celular e do ritmo da morte celular. O ciclo celular possui pontos de controlo, constituídos por proteínas que verificam se a replicação do DNA foi completa e cor- recta, e até se os nutrientes presentes na célula são os necessários e suficientes para o seu desenvolvimento. O sucesso da célula na identificação e na correcção de problemas depende desta vigilância. Após o estudo da síntese proteica, ficou claro que a formação das proteínas existentes nas células é da responsabilidade do DNA — isto é, das informações nele contidas sob a forma de genes. Se o controlo do ciclo celular é feito por complexos proteicos, então alterações nos genes codificantes destas proteínas poderão traduzir- -se num ineficaz controlo do ciclo celular e, consequentemente, em transformações nas células. De facto, mutações em genes responsáveis pela síntese de proteí- nas envolvidas no controlo do ciclo celular podem levar a que estas permitam a continuação da divisão celular em células com o DNA danificado e não reparado, ou que a anáfase ocorra antes de todos os cromatídeos se encontrarem correctamente ligados aos microtúbulos do fuso. Qualquer uma destas situações originará erros que poderão comprometer não só o desenrolar do ciclo, mas também o normal funcionamento da célula e do organismo a que esta pertence. DIVISÃO INTERFASE G1 S G2 MITOSE Controlo G1 Controlo S Controlo G2 Controlo metáfase Fig. 42 Fases do ciclo celular e principais pontos de controlo do mesmo. Os pontos de controlo asseguram o sucesso da divisão celular. A RETER Através da mitose e da citocinese, os dois conjuntos de cromossomas estão separados, e as células-filhas completaram a sua formação. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 41 42 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s O que acontece à célula quando todos os mecanismos normais de controlo falham? Quando estes mecanismos de controlo se encontram compro- metidos, a célula perde a capacidade de regular o seu próprio ciclo de divisões. Nesta situação, pode verificar-se um crescimento des- controlado da célula devido à sucessão ininterrupta de divisões, a replicação de cromossomas com erros ou, ainda, a ocorrência da morte fora da altura prevista de acordo com a sua função no orga- nismo. Formam-se então massas anormais de células (tumores) que per- deram o controlo dos seus ciclos celulares. Se estas massas crescem lentamente e as células se mantêm no seu tecido habitual, o tumor é benigno (Fig. 43A). No caso das células cancerosas, verificam-se alte- rações nas suas membranas celulares e no seu metabolismo; as células saem dos tecidos habituais e entram nos vasos sanguíneos ou linfáticos, fazendo-se transportar com os fluidos que aí cir- culam. Mais tarde, instalam-se noutros tecidos, invadindo-os e ini- ciando aí novos tumores — metástases (Fig. 43B e 43C). Estas células podem desenvolver-se a partir de qualquer tecido e dentro de qualquer órgão, através de complexos processos de transformação. Hoje, já são conhecidas muitas substâncias químicas, denomi- nadas carcinogéneas, que se reconhecem como capazes de induzir a formação de cancro. Algumas destas substâncias são de uso industrial, como o benzeno; outras estão associadas ao estilo de vida, como o álcool ou o alcatrão dos cigarros, e outras, ainda, são utilizadas em experiências laboratoriais. Mas também as radiações ou a luz solar são consideradas potenciais agentes carcinogéneos. Fig. 43 Esquema de um tumor benigno em que não ocorre saída das células do tecido habitual (A). Representação de tumores malignos e a sua forma de actuação (B) e (C). Fotografia de microscopia electrónica de uma célula cancerosa (D). A C D B Tumor benigno Tumor maligno O descontrolo do ciclo celular pode resultar em cancro. A RETER 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 42 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 43 OBSERVAÇÃO DAS DIFERENTES FASES DA MITOSE Material • Microscópio óptico composto. • Agulha de dissecação. • Lâminas. • Vidro de relógio. • Lamelas. • Papel de filtro. • Bisturi. • Papel de limpeza. • Pinça. • Carmim acético ou orceína acética. • Conta-gotas. • Meristemas caulinares de ervilha, feijão ou cebola. ACTIVIDADE LABORATORIAL Não se esqueça de: • usar bata; • cumprir as regras de segurança do laboratório. Nota: A utilização de preparações definitivas, com tecidos vegetais em mitose, será de grande utilidade para a comparação com as preparações extemporâneas realizadas ou mesmo como alternativa à elaboração destas. Procedimento 1 — Alguns dias antes da actividade de microscopia, prepare o material biológico de modo a obter os meristemas necessários. 2 — Corte aproximadamente 1 cm da extremidade do vértice radicular do material biológico escolhido e coloque-o num vidro de relógio. 3 — Numa lâmina, coloque duas gotas de carmim acético. 4 — Com a pinça, retire o ápice radicular do vidro de relógio e deposite-o sobre o carmim acético. 5 — Coloque a lamela e dissocie o tecido, pressionando sobre esta com o cabo de uma agulha de dissecação. Espere um minuto. 6 — Elimine o excesso de corante da preparação com o papel de filtro. 7 — Observe o material ao microscópio óptico. 8 — Elabore esquemas das fases do ciclo celular observadas. 9 — Legende os esquemas e identifique as fases observadas. 10 — Elabore o relatório desta actividade. Discussão 1 — Justifique a identificação atribuída por si a cada um dos esquemas. 2 — Compare o aspecto das células observadas à medida que se afasta da extremidade radicular relativamente a: a) fase do ciclo celular em que se encontram; a) dimensão das células. A B Fig. 44 Preparação dos meristemas. Montagem inicial (A); resultado após quatro dias (B). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 43 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Adenina • Guanina • Timina • Citosina • Uracilo • Cromatina • Fase G1 • Fase S • Fase G2 • Microtúbulos • Placa equatorial • Placa celular • Fuso acromático Essenciais • Cariótipo • Cromossoma • Cromatídeo • Centrómero • DNA • RNA • Nucleótido • Bases azotadas • Ribose • Desoxirribose • Replicação • Transcrição • Tradução • Codão • Anticodão • Codogene • Código genético • Gene • Genoma • Mutação génica • Ciclo celular • Interfase • Mitose • Prófase • Metáfase • Anáfase • Telófase • Citocinese Necessários • Núcleo • Membrana nuclear • RER • Ribossoma • Citoplasma • Centríolo • Complexo de Golgi • Parede celular • Nucléolos Síntese de conhecimentos • Os ácidos nucleicos (DNA e RNA) são constituídos por unidades denominadas nucleótidos. Estes, por sua vez, são constituídos por uma pentose, um fosfato e uma base azotada. • O DNA apresenta uma estrutura em dupla hélice, constituída por duas cadeias antiparalelas ligadas por pontes de hidrogénio entre bases complementares. • O DNA e o RNA diferem na constituição, na estrutura e na função. • Na célula, o DNA encontra-se no núcleo, associado a proteínas, constituindo a cromatina. • O processo de duplicação da molécula de DNA é designado por replicação e origina no finalduas moléculas exactamente iguais à molécula-mãe. • A sequência de nucleótidos que permite sintetizar uma proteína ou uma molécula de RNA é designada por gene. O conjunto de todos os genes de um ser vivo é o seu genoma. • Na síntese proteica, há a considerar a transcrição (formação de uma molécula de mRNA por complementaridade, a partir da informação contida na molécula de DNA), a maturação do mRNA (onde são eliminados os intrões) e a tradução (formação do polipéptido, no ribossoma). • Mutações génicas são alterações que podem ocorrer na sequência do DNA (substituição, deleção ou inserção de bases), capazes de modificar a proteína fabricada a partir desse gene. • O ciclo celular é constituído por interfase, mitose e citocinese, que garantem a divisão celular com formação de duas células-filhas exactamente iguais à célula-mãe. • Na interfase ocorre a replicação de todo o DNA da célula-mãe e a preparação para a mitose, na qual ocorre a divisão do núcleo, seguida de citocinese (a divisão do citoplasma). • A célula possui mecanismos de controlo do ciclo celular, e, quando estes mecanismos falham, podem ocorrer doenças no indivíduo, como, por exemplo, cancro. 44 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 44 ACTIVIDADESACTIVIDADES Crescimento e renovação celular 1. Construa um mapa de conceitos para cada um dos conteúdos seguintes: a) ácidos nucleicos; b) ciclo celular. 2. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações que se seguem, referentes ao DNA. A — A adenina e a timina são bases púricas. B — Nos nucleótidos do DNA, o açúcar é a ribose. C — O fosfato e a pentose, devido ao seu carácter hidrofílico, ocupam o interior da molécula de DNA. D — As ligações entre dois nucleótidos de cadeias opostas são estabelecidas por pontes de hidrogénio. E — As moléculas de DNA são sintetizadas no núcleo. 3. Estabeleça a correspondência correcta entre as letras da chave e as afirmações seguintes, considerando que se referem a um fragmento de DNA constituído por 244 nucleótidos. u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 45 4. Considere o fragmento de ácido nucleico expresso na figura e responda às questões apresentadas. 4.1 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. O ácido nucleico representado é… A — … o DNA. C — … o mRNA. B — … o tRNA. D — Nenhum dos anteriores. 4.2 Dos locais da célula apresentados, seleccione aqueles em que é possível encontrar esta molécula. A — Nucléolo. D — Citoplasma. B — Cromatina. E — Núcleo. C — Ribossomas. 5. Estabeleça a correspondência correcta entre as letras da chave e as afirmações seguintes. CHAVE A — Igual a 244 B — Superior a 244 C — Inferior a 244 AFIRMAÇÕES I. Número de desoxirriboses. II. Número de adeninas. III. Número de ligações por pontes de hidrogénio. IV. Número de ligações fosfodiéster. V. Número de bases pirimídicas. VI. Número de ácidos fosfóricos. A — U U — A C — G C — G G — C CHAVE A — DNA B — RNA C — Os dois ácidos nucleicos D — Nenhum dos ácidos nucleicos AFIRMAÇÕES I. Pode ser encontrado no núcleo. II. Possui ribose. III. Nunca contém uracilo. IV. Contém guanina. V. Tem vida curta. VI. É constituído por aminoácidos. VII. Possui uracilo e adenina. VIII. O número de bases púricas é sempre igual ao das pirimídicas. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 45 ACTIVIDADES 6. Estabeleça a correspondência correcta entre as letras da chave e as afirmações seguintes. 7. Observe o esquema da figura e responda às questões. 7.1 Qual é o ácido nucleico representado? 7.2 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. O processo representado designa-se por… A — … tradução. C — … transcrição. B — … replicação. D — … duplicação. 7.3 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. Os números 1, 2, 3 e 4 representam, respectivamente, … A — … citosina, guanina, uracilo e adenina. B — … guanina, citosina, adenina e timina. C — … citosina, guanina, timina e adenina. D — … adenina, citosina, guanina e uracilo. 7.4 Complete a frase, seleccionando a opção correcta. O processo representado encontra-se numa célula em fase… A — … G1 C — … G2 B — … S D — … mitose 8. Seleccione a(s) opção(ões) que completa(m) correctamente a frase. A replicação… A — … ocorre da mesma maneira em ambas as cadeias da dupla hélice. B — … produz sempre três cópias da molécula de DNA. C — … utiliza a enzima DNA polimerase. D — … envolve complementaridade de bases. E — … utiliza desoxirribonucleótidos. F — … produz muitos erros. G — … origina duas moléculas iguais. 9. A sequência de bases num gene que permite a formação do péptido X é: TACAACGTTGTAGGACTA 9.1 Represente o mRNA formado a partir deste gene. 9.2 Como se designa o processo em que se forma o mRNA? 9.3 Usando o código genético que se encontra na página 31, identifique a sequência de aminoácidos do péptido X. 10. A sequência de bases de um codogene é ATG. Identifique, no processo da tradução, o anticodão do tRNA correspondente a esse codogene. 11. Qual é o número mínimo de bases do gene que codifica uma proteína que apresenta 1360 aminoácidos? 46 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s CHAVE A — Centrómero B — Cariótipo C — Cromatídeo D — Cromossoma E — Cromatina AFIRMAÇÕES I. Porção de DNA associada a proteínas, altamente condensada. II. Conjunto de todos os cromossomas de uma célula. III. Local por onde se mantêm unidos os dois cromatídeos. IV. Cada uma das partes do cromossoma após a replicação do DNA. V. Associação entre DNA e proteínas nucleares com um baixo grau de condensação. A G 1 G 2 A 4 C 3 T G 2 A 4 C 3 T G 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 46 12. Observe a figura, que representa células do vértice vegetativo da raiz de cebola. 12.1 Refira a razão pela qual se pode afirmar que se está perante um tecido em crescimento. 12.2 Construa a legenda da figura, identificando as fases assinaladas pelos números de 1 a 4. 12.3 As células de 1 a 4 representam etapas do ciclo celular. Estabeleça a ordem correcta dos acontecimentos e identifique a fase que não se encontra representada na figura. 12.4 As células na fase representada por 1 são difíceis de visualizar (aparecem raramente). Isto deve-se ao facto de esta fase… A — … nem sempre ocorrer. B — … ser mais rápida do que as outras. C — … ser mais longa do que as outras. D — … ser aquela em que ocorrem fenómenos menos importantes. 12.5 Estabeleça a correspondência correcta entre as afirmações que se seguem e os números, que na figura representam fases de mitose. A — Termina a formação do fuso acromático. B — Os cromossomas dispõem-se na região mediana da célula. C — Reorganiza-se a membrana nuclear. D — Os cromossomas encontram-se em condensação. E — A distância entre cromatídeos-irmãos é crescente. F — Ocorre a divisão do centrómero. G — Forma-se a placa equatorial. H — Antecede a fase G1. 12.6 Indique, de entre os números representados na figura, aquele que corresponde ao estádio da célula que escolheria se pretendesse obter um cariótipo deste indivíduo. Justifique a sua resposta. 12.7 Considerando que a colchicina é uma substância que inibe a polimerização das proteínas do fuso acromático, infira sobre o que poderia acontecer ao tecido representado, depois de exposto àquele agente despolimerizador de microtúbulos. 13. No gráfico pode observar-se o que acontece à quantidade de DNA ao longo do ciclo celular. Analise-o e responda às questões. 13.1 Indique a fase do ciclo celular a que correspondem os intervalos: a) [0-1]; b) [1-2]; c) [4-5]. 13.2 Como se poderá explicar o traçado vertical do gráfico em 5? 13.3 Considere que o núcleo da célula cujo ciclo celular aqui se representa tem seis cromossomas. Indique o número de cromossomas e de cromatídeos-irmãos presentes na célula nos intervalos: a) [3-4]; b) [5-6]; c) [6-7]. 14. Refira a importância da fase S na manutenção das características nas células-filhas. 15. Como se pode justificara existência de um sistema de controlo do ciclo antes da ocorrência da fase representada pelo intervalo 4-5? u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 47 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo Q ua nt id ad e de D N A Q1 Q2 3 2 1 4 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 47 48 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 5 2 Crescimento e regeneração de tecidos versus diferenciação celular Os exemplos de desenvolvimento que a Natureza oferece por toda a parte aos nossos olhos fizeram precisar que os fetos talvez já estivessem contidos e completamente formados dentro de cada ovo. KASPAR WOLFF (século XVIII) A mitose nos seres multicelulares Se, para os seres unicelulares, mitose significa reprodução, para os seres multicelulares tem um significado distinto. Nestes seres, a mitose está implicada nos processos de crescimento, renovação de células, reparação de tecidos e, em alguns casos, renovação de órgãos. Considerando que o crescimento de um ser multicelular se faz, entre outros fenómenos, por acréscimo do número de células, torna- -se evidente o contributo da mitose no processo de crescimento. Há seres vivos com crescimento ilimitado, como, por exemplo, as plantas. Nestas existem tecidos em constante divisão — os teci- dos meristemáticos —, responsáveis pela produção contínua de novas células, que, após diferenciação, integram os vários órgãos da planta. Já nos animais o crescimento é limitado, terminando quando o indivíduo atinge a idade adulta. Apesar disso, as mitoses conti- nuam naturalmente a acontecer, dado que, mesmo em situações normais, existem células que estão constantemente a ser renovadas. Exemplo deste facto são as células humanas da epiderme e do san- gue. As primeiras resultam de mitoses sucessivas de células da camada basal da epiderme, que vão migrando para a superfície e substituindo as que morrem; as segundas resultam da divisão de células da medula óssea e, por terem um tempo de duração determinado (por exemplo, as hemácias duram cerca de 120 dias), renovam-se com regularidade. Em situações de lesões sofridas em tecidos, cujas células em condições normais não se dividem, ocorrem mitoses nas células vizinhas da zona afectada, o que permite, ao fim de algum tempo, a reparação do tecido lesionado. É de realçar que a capacidade de reparação dos tecidos varia entre estes, existindo alguns (como, por exemplo, o tecido nervoso) em que tal fenómeno não se ve- rifica. Em alguns seres vivos permanece, mesmo enquanto adultos, a capacidade de renovação de órgãos. Esta não se verifica em humanos, sendo, contudo, observável noutras espécies de animais. Exemplos disso são o crescimento da cauda de alguns répteis após amputação e o crescimento de braços perdidos em estrelas-do-mar (Fig. 45). Nas plantas, esta capacidade é muito frequente. É possível a uma planta, através de mitoses, seguidas de diferenciação, regenerar, A mitose pode estar relacionada com a reprodução do ser vivo ou ocorrer para assegurar o crescimento e a renovação/regeneração celular. A RETER Fig. 45 Estrela-do-mar em regeneração. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 48 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 49 a partir de um pequeno segmento do indivíduo original, raízes, cau- les e folhas. Este facto é aproveitado pelo Homem na agricultura, para reproduzir espécies favoráveis. Assim sendo, mesmo para os seres multicelulares, a mitose também pode corresponder a reprodução. Quando tal acontece, obtemos indivíduos geneticamente iguais entre si — os clones —, e o processo que permite obtê-los designa-se por clonagem. Diferenciação celular Os seres multicelulares diferenciados são constituídos por variadíssimas células resultantes da divisão de uma célula inicial — o ovo ou zigoto. Este contém a informação genética do novo indiví- duo, sendo uma célula indiferenciada ou totipotente (tem a capacidade de originar as múltiplas células com características varia- das de um mesmo organismo). As células resultantes das sucessivas mitoses do ovo, a partir de determinada altura, transformam-se em células especializadas, isto é, células com morfologia e fisiologia específicas. O processamento da diferenciação celular pode ser comparado à utilização de um único livro de receitas (DNA original) que todas as células recebem, mas a partir do qual confeccionam apenas algu- mas receitas (Fig. 46), de acordo com o tecido e o órgão a que per- tencem e a função que desempenham. clone clone clonagem cloning célula especializada specialized cell célula indiferenciada undifferentiated cell A clonagem é um processo que, através de divisão celular por mitose, assegura a obtenção de seres vivos geneticamente iguais ao progenitor. A RETER Gene inactivo Gene activo Gene das enzimas da glicólise Gene do cristalino Gene da insulina Gene da hemoglobina Célula do pâncreas Células embrionárias do cristalino Neurónio Fig. 46 Expressão génica em diferentes células do mesmo indivíduo. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 49 50 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A regulação da expressão génica é complexa e ainda não total- mente conhecida. Nos eucariontes, este fenómeno parece ser mais complexo do que nos procariontes. Tal facto resultará de factores como: maior quantidade de informação genética nos eucariontes (as bactérias possuem, geralmente, um único cromossoma com um número de genes que não ultrapassa as centenas, enquanto as células humanas têm cerca de 30 000 genes); compartimentação da célula eucariótica, podendo a regulação ocorrer em locais diferentes da mesma; multi- celularidade de alguns eucariontes, obrigando as várias células a diferenciar-se em sentidos diferentes. Considerando que uma célula é caracterizada pelas proteínas funcionais que possui, será de esperar que a regulação ocorra em qualquer etapa da produção dessa mesma proteína (Fig. 47). A diferenciação celular depende da expressão génica, que é controlada por mecanismos de regulação da síntese proteica. A RETER Os intrões são retirados Pré-RNA mensageiro Os exões são ligados RNA mensageiro maturado Núcleo Poro nuclear Citoplasma Polipéptido Aminoácidos Ribossoma tRNA DNA Exão Intrão Fig. 47 Expressão génica em eucariontes. A expressão pode ser regulada durante a transcrição, o processamento e a tradução. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 50 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 51 Exões ou DNA RNA transcrito mRNA Fig. 48 A expressão génica pode ser regulada durante o processamento, podendo formar-se dois mRNA a partir de um só mRNA transcrito. Nos seres eucariontes, a regulação da expressão dos genes pode ocorrer durante várias fases: • Transcrição dos genes. As células diferenciadas transcre- vem apenas alguns dos muitos genes que possuem. Este facto está relacionado com o próprio processo de compacta- ção do DNA, que dificulta o acesso à transcrição de certos genes, e com a presença de proteínas específicas — factores de transcrição — que determinam quais são os genes a serem expressos em cada célula. • Processamento do mRNA. O resultado da transcrição de um gene é um mRNA imaturo constituído por intrões e exões. Durante o processamento, são extraídos os intrões e ligados os exões. O mRNA maturo dará origem a um poli- péptido diferente do que resultaria da forma imatura do mesmo RNA. Podem mesmo formar-se diferentes mRNA a partir de um mesmo mRNA transcrito (Fig. 48). • Tradução. O tempo de vida das moléculas de mRNA poderá ser uma forma de controlar a produção de determinadas proteínas. Por exemplo, nas bactérias, o mRNA dura apenas alguns minutos, o que poderá justificar a capacidade destes seres de alterarem rapidamente a quantidade das suas proteí- nas, em resposta a variações do meio; já em hemácias de alguns vertebrados, o mRNA que contém a informação para a síntese da hemoglobina tem um período de duração igual ao da própria célula,ou seja, esta proteína está continua- mente a ser produzida. Outra forma de controlar a tradução é a utilização de inibidores (Fig. 49). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 51 52 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Heme Hemes Inibidor inactivo Ausência do grupo heme Presença do grupo heme Inibidor activo Tradução Polipéptidos de hemoglobina Molécula de hemoglobina O início da tradução é bloqueado. mRNA Não há tradução. Fig. 49 Controlo durante a tradução: o papel do inibidor e do grupo heme no início da síntese da hemoglobina. • Pós-tradução. Mesmo após ter terminado a tradução, é pos- sível controlar a expressão dos genes, removendo porções de um dado polipéptido, transformando-o e tornando-o, final- mente, funcional. Tal facto parece ocorrer com a insulina: esta é produzida no pâncreas, mas só se torna funcional — isto é, só adquire as suas propriedades de hormona — quando lhe é removida a porção central da cadeia polipeptídica (Fig. 50). Nos procariontes, o processo de regulação génica parece estar essencialmente restrito à transcrição. Nos eucariontes, além dos genes que codificam proteínas, o DNA possui inúmeras sequências nucleotídicas cujo produto final são pe- quenas moléculas de RNA que regulam a expressão de outros genes. S S S S S S S S S S S S Corte Polipéptido inicial Insulina (hormona activa) Corte Fig. 50 Controlo após a tradução: a remoção de parte do polipéptido torna a insulina activa. 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 52 u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 53 Que agentes ambientais podem afectar os processos de diferenciação celular? Todos os agentes ambientais capazes de provocar alterações no DNA acabam por afectar a expressão dos genes iniciais de uma célula. Dentro destes agentes, salientam-se as radiações, algumas drogas e algumas infecções virais. Sabe-se, actualmente, que as radiações ionizantes e as radia- ções ultravioletas (UV) são capazes de induzir danos no DNA, nomeadamente em genes envolvidos no controlo do ciclo celular, na reparação do DNA e na apoptose (morte celular geneticamente programada). Está também provado que, para determinados valo- res de dose de radiação, praticamente todas as mitoses dos órgãos em constante regeneração são inibidas. As radiações podem, por- tanto, ser nocivas, e actuar como agentes mutagénicos. Determinadas drogas, como, por exemplo, a talidomida, podem impedir a correcta transcrição de alguns dos genes envolvidos na angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos num tecido vivo) dos membros ou de órgãos internos, provocando efeitos tera- togénicos (ausência de diferenciação correcta de alguns órgãos) (Fig. 51). Alguns vírus são também agentes que influenciam e/ou regulam a expressão dos genes das células que parasitam. Para tal, após intro- duzirem o seu material genético no interior das células e o integra- rem no genoma do hospedeiro, usam a maquinaria enzimática destas células para expressar os genes virais. As células passam a expressar assim genes que não são seus. Exemplos destes vírus, parasitas da espécie humana, são, entre outros, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) (Fig. 52) e o vírus do papiloma humano (HPV). Fig. 51 Angiogénese. Existem factores do ambiente que interferem na estrutura do DNA e dos seus genes e, por isso, podem alterar a síntese proteica e a diferenciação celular. A RETER Fig. 52 Vírus da imunodeficiência humana (HIV). 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 53 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Factores de tradução • Apoptose • Angiogénese • Agentes mutagénicos Essenciais • Célula indiferenciada • Célula especializada • Clone • Clonagem Necessários • Transcrição • Tradução • Maturação Síntese de conhecimentos • Nos seres multicelulares, a mitose tem um papel fundamental nos processos: — de crescimento; — de renovação de células; — de reparação de tecidos lesionados; — de regeneração de órgãos. • O desenvolvimento de um ser multicelular envolve, além do crescimento, fenómenos de diferenciação celular. • Nos seres eucariontes, o controlo da expressão génica pode ocorrer: — durante a transcrição; — durante o processamento ou maturação do mRNA; — durante a tradução; — na pós-tradução. • A diferenciação celular pode ser afectada por agentes ambientais, como, por exemplo: — as radiações; — os vírus; — as drogas. 54 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 54 ACTIVIDADESACTIVIDADES Crescimento e regeneração de tecidos versus diferenciação celular 1. Leia atentamente o texto seguinte, adaptado de um artigo publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2006. No portuense Instituto de Engenharia Biomédica desenvolvem-se biomateriais e métodos de diagnóstico não invasivos e estudam-se aplicações médicas para as nanotecnologias (investigação e aplicação ao nível da molécula). Os biomateriais podem parecer um pouco distantes da nossa realidade quotidiana, mas, se pensarmos que aquilo com que o dentista nos restaura um dente tem de ser compatível com o nosso organismo, percebemos que os biomateriais são mais vulgares do que julgamos. «Trata-se de materiais que são colocados na fractura e actuam como ponte, ligando as duas partes que se partiram e promovendo o crescimento de novo tecido. Não se trata de uma mera substituição. Estes materiais promovem a regeneração dos tecidos e depois degradam-se no organismo», explica o director do INEB. Se a regeneração óssea já é uma realidade, o mesmo ainda não é possível com lesões nervosas. 1.1 Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as frases que se seguem. A — Os biomateriais estimulam a mitose das células com as quais contactam. B — Na regeneração, ocorre formação de células diferentes das que lhe dão origem. C — Quanto maior é o grau de diferenciação de uma célula, maior é a sua capacidade de regeneração. D — Os neurónios regeneram-se facilmente. E — As células ósseas são células indiferenciadas. 1.2 Comente a frase seguinte, relacionando-a com a importância dos trabalhos referidos no texto. «A regeneração de tecidos e órgãos é uma capacidade de todos os seres multicelulares.» 2. A mitose desempenha um papel essencial para os seres vivos. Seleccione a(s) opção(ões) que não se relaciona(m) com processos em que a mitose desempenha um papel importante. A — Crescimento. B — Regeneração de órgãos. C — Diferenciação celular. D — Reparação de tecidos. 3. Seleccione a opção que completa correctamente as frases seguintes. A formação de uma célula especializada a partir de uma célula indiferenciada faz-se por (…). Nos (…), este processo é mais complexo, o que pode resultar, entre outros fenómenos, do facto de esses seres apresentarem (…). A — diferenciação celular […] procariontes […] compartimentação da célula B — clonagem […] eucariontes […] maior quantidade de informação genética C — mitose […] procariontes […] menor quantidade de informação genética D — diferenciação celular […] eucariontes […] maior quantidade de informação genética 4. Refira as diferenças existentes entre procariontes e eucariontes na regulação da expressão génica. 5. Comente a afirmação seguinte. «Nem todos os fumadores desenvolvem cancro do pulmão; no entanto, há maiores probabilidades de estas pessoas contraírem esta doença.» 5.1 Identifique alguns agentes carcinogéneos com que habitualmente convivemos. u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 55 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 55 Descrita pela primeira vez em 1934, a fenil- cetonúria (PKU), um dos erros hereditários mais comuns, é uma alteração genética do metabo- lismo da fenilalanina que causa atraso mental. Está associada a mutações no braço longo do cromossoma 12 (12q22-12q24.1), no gene que codifica a fenilalanina hidroxilase (PAH); dado que a fenilcetonúria possui um modo de trans- missão recessivo, apenas os indivíduos que apresentam ambas as cópias doalelo mutado manifestam os sintomas. Esta enzima catalisa, no fígado, a transformação da fenilalanina (ami- noácido presente nos alimentos e essencial à nossa nutrição) em tirosina. Desta insuficiência bioquímica vai resultar uma acumulação de feni- lalanina no sangue, que é posteriormente trans- formada em ácido fenilpirúvico, inibidor do desen- volvimento cerebral, provocando um atraso mental muito grave em crianças não tratadas. Assim, enquanto os níveis normais de fenilalanina no sangue são de, aproximadamente, 1 a 3 mg/dl, os níveis de fenilalanina plasmática em doentes fenilcetonúricos não tratados chega aos 30 mg/dl e, por vezes, ultrapassa estes valores. O tratamento da PKU é dietético: o objecti- vo é manter os níveis de fenilalanina plasmática abaixo dos valores considerados. A taxa de inci- dência da fenilcetonúria é de 1/10 000 recém- -nascidos. Já foram identificadas mais de 328 muta- ções no gene da PAH. A primeira foi a modifica- ção de uma única base (GT para AT). Actualmente, é possível anular o efeito da não funcionalidade desta enzima, retirando para análise umas gotas de sangue do bebé («teste do pezinho»), antes de este atingir a idade em que, no caso de possuir a deficiência, o cérebro pode ser atingido. Se a análise que deve ser realizada nos pri- meiros dias de vida da criança — diagnóstico precoce — for positiva (se revelar acumulação de fenilalanina), o bebé terá de ser sujeito a um regime alimentar pobre nesse aminoácido. Esta dieta deve ser fornecida à criança desde o nas- cimento até aos 14 anos, quando o seu sistema nervoso já não é afectado pelo excesso de feni- lalanina. Contudo, é necessário ter em atenção que o excesso de fenilalanina no sangue das mães com fenilcetonúria influencia o feto. A fenilala- nina afecta o sistema nervoso em desenvolvi- mento, com a probabilidade de as crianças nas- cerem com microcefalia e atraso mental, a não ser que a progenitora seja sujeita a uma dieta pobre em fenilalanina. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ dispomim.cgi?id=261600 http://www.fenilcetonuria.com.br/fenilcetonuria.html http://www.cienciaviva.pt/projectos/concluidos/ genomahumano/artigos/ index.asp?lang=pt&accao=showTexto3&projecto=22 http://hdl.handle.net/1822/6246 Fenilcetonúria CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente DOC. 1 1. Retire do texto dados que comprovem que a fenilcetonúria é determinada por mutações génicas. 2. Quais são as possíveis consequências deste tipo de mutação génica na vida de uma criança não sujeita ao «teste do pezinho»? 3. Discuta a importância do Programa Nacional do Diagnóstico Precoce. 4. Informe-se sobre outras doenças metabólicas detectadas pelo «teste do pezinho». ACTIVIDADES PAH Fenilcetonúria Cromossoma 12 Fig. 53 Localização do gene PAH no cromossoma 12. 56 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 56 Em 1956, a talidomida foi introduzida no mercado. Devido às suas características farmaco- lógicas, foi largamente utilizada por grávidas no combate a insónias, ansiedade e enjoos matinais. Sendo um medicamento não sujeito a receita médica, o seu consumo espalhou-se rapidamente. Apesar de este medicamento ter sido testado previamente, os procedimentos, na época, não eram tão exigentes como os actuais. A talidomida tinha sido testada em vários animais, tendo-se manifestado atóxica. (Mais tarde, veio a descobrir- -se que ela manifestava toxicidade, especialmente em coelhos e humanos.) No final da década de 50, começam a apare- cer relatos de crianças com anomalias teratogéni- cas, isto é, com malformações que incluíam a ausência ou o encurtamento de braços, pernas e dedos, além de perturbações no desenvolvimento de órgãos internos. Só em 1961 se estabeleceu a relação directa entre o nascimento de crianças teratogénicas e o consumo de talidomida pelas suas mães durante a gravidez. Até ser retirada do mercado, estima-se que tenham nascido entre 10 000 e 15 000 crian- ças com estas malformações. A talidomida foi alvo de estudos profundos, sabendo-se hoje que é uma molécula com carac- terísticas químicas semelhantes às das bases púricas do DNA (adenina e guanina). Quando em solução, liga-se rapidamente à guanina, intercalando-se no DNA em regiões ricas nesta base. Embora a talido- mida não possua efeitos mutagénicos, sabe-se, contudo, que é capaz de impedir a correcta trans- crição de alguns genes envolvidos na angiogénese (formação de novos vasos sanguíneos num tecido vivo) dos membros ou de órgãos internos. Assim, as crianças que, durante o seu desenvolvimento embrionário, contactaram com esta droga viram prejudicado o alongamento ou a formação dos seus membros e/ou órgãos internos, como, por exemplo, os ouvidos. Um dos grandes desafios da medicina actual é o combate ao aparecimento e à propagação do cancro. Estudos relativamente recentes provaram que a metástase (migração de células tumorais para zonas distantes) é precedida de um fenómeno de angiogénese. Nos tumores malignos, as células endoteliais encontram-se dormentes durante algum tempo, podendo, quando sujeitas a determinados factores e estímulos, iniciar fases de crescimento activo e a consequente neovascularização. Conhecendo o modo de funcionamento da talidomida, considerou-se a hipótese de começar a administrá-la em doentes com tumores, a fim de impedir a sua progressão. A administração da talidomida é feita, hoje, de forma extremamente restrita, e os pacientes são obrigados a utilizar méto- dos contraceptivos eficazes, bem como a controlar regularmente uma possível gravidez. A talidomida é também usada no combate a infecções graves e aos efeitos da quimioterapia nos pacientes a ela submetidos. http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/ talidomida/histria.htm http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/ talidomida/terato.htm http://www.mni.pt/guia/index.php?file=guia-artigo&cod=56 Talidomida — passado negro, futuro promissor DOC. 2 1. Identifique o modo de funcionamento da talidomida que justifica não só os efeitos catastróficos causados no passado, mas também as esperanças da sua utilização no futuro. 2. Discuta a necessidade de sujeitar os medicamentos a introduzir no mercado a várias fases de experimentação, devendo passar obrigatoriamente por primatas e, sempre que possível, por humanos. 3. Critique a afirmação seguinte. «A venda livre de medicamentos, isto é, a não sujeição a receita médica obrigatória, pode ter consequências negativas para a saúde pública.» 4. Identifique a razão pela qual se exige um rigoroso plano de contracepção aos actuais pacientes consumidores de talidomida. 5. Apoiando-se em dados do texto, especule sobre a probabilidade de os indivíduos que nasceram vítimas da talidomida transmitirem as suas malformações aos descendentes. ACTIVIDADES u n i d a d e 5 C r e s c i m e n t o e r e n o v a ç ã o c e l u l a r 57 919354 U5_p036-057 18/1/08 16:36 Page 57 6unidade 58 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 58 Reprodução Reprodução assexuada 626 1 Reprodução sexuada 756 2 Ciclos de vida: unidade e diversidade 94 6 3 Que processos são responsáveis pela unidade e pela variabilidade celulares? Reprodução e variabilidade — que relação? 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 59 A 6unidade Reprodução 1. Classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — Todos os seres vivos se reproduzem. B — Todos os seres vivos possuem células sexuais. C — Na reprodução assexuada, os descendentes são iguais entre si. D — Nas plantas, não há reprodução sexuada. E — Nos animais, a reprodução é sempre sexuada. F — Na reprodução sexuada, há sempre a intervenção de dois indivíduos. G — Sempre que os seres se reproduzem, o número de cromossomas do descendente duplica. H — O grão de pólen é o gâmeta masculino das plantas. I — Nos animais, os gâmetas têm metade do número de cromossomas das outras células. J — O ovo é a primeira célula de todos os seres vivosque se reproduzem sexuadamente. O QUE JÁ SABE, OU NÃO... B C Quais serão as diferenças na reprodução destes seres vivos? Serão estes seres vivos da mesma espécie? F G O que haverá de comum entre os fenómenos representados? 60 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s D E 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 60 A reprodução é a capacidade que todos os seres vivos possuem de originar descenden- tes, idênticos a si, perpetuando, desta forma, a espécie. Será que todos os seres vivos têm o mesmo tipo de reprodução? Nos seres vivos, existem dois tipos de reprodução: a reprodução sexuada e a reprodu- ção assexuada. Na reprodução sexuada, os progenitores produzem células sexuais, que se unem, ori- ginando a primeira célula do novo ser: o ovo ou zigoto (Fig. 1). Na reprodução assexuada, não existe união de células sexuais, sendo o novo ser origi- nado a partir de um único progenitor. Quais serão as vantagens e as desvantagens de cada um destes tipos de reprodução? Fig. 1 Fecundação: a origem de um ovo humano. INTRODUÇÃO Todos os seres vivos se reproduzem e podem adoptar diferentes estratégias para o conseguir. u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 61 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 61 62 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 6 1 Reprodução assexuada Todos os seres derivam de outros seres, mais antigos, por transfor- mações sucessivas. Afirmação atribuída a Anaximandro de Mileto (610-546 a. C.) Na reprodução assexuada, existe um único organismo pro- genitor que se divide por mitose e que pode originar, num curto espaço de tempo, um grande número de descendentes. Todos estes seres são exactamente iguais entre si, denominando-se, por isso, clones. Podem, no entanto, ocorrer mutações espontâneas, que, desta forma, originam variações nos descendentes. Estratégias reprodutoras Existem seres de diversos grupos que se reproduzem assexua- damente, dos mais simples, os procariontes (bactérias), a alguns de dimensões consideráveis, como certas plantas e inclusive animais. Este tipo de reprodução existe igualmente nos protozoários e nos fungos. Todos estes seres vivos apresentam diversos tipos de reprodu- ção assexuada. Bipartição No processo da bipartição, que ocorre nos seres vivos unicelulares, nas bactérias (Fig. 2) e nos protozoários (Fig. 3), a célula replica o seu DNA e separa-se em duas células-filhas de dimen- sões muito semelhantes, geralmente de menores dimensões do que as do progenitor. Um processo muito idêntico também ocor- re em seres de maiores dimensões, como as anémonas-do-mar (Fig. 4). Neste caso particular desta estratégia reprodutiva assexuada, ocorre a divisão longitudinal do organismo. 6 1 1 Fig. 2 Bactérias em bipartição. reprodução assexuada asexual reproduction bipartição binary fission A mitose é o processo de divisão celular da reprodução assexuada. A RETER Fig. 3 Amebas em bipartição. Fig. 4 Anémonas-do-mar em divisão longitudinal. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 62 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 63 fragmentação fragmentationDivisão múltipla Neste processo, o núcleo do ser divide-se várias vezes, ocor- rendo a divisão do citoplasma no final. A divisão múltipla pode ocorrer em alguns protozoários, como o Plasmodium, causador da malária (Fig. 5). Fig. 5 Sangue de um indivíduo afectado com malária. Células infectadas com o endoparasita, que sofreu divisão múltipla (os pontos negros no interior das hemácias são os núcleos do plasmódio). Quando ocorre a divisão do citoplasma, as células rompem-se e libertam os parasitas. É a destruição sincronizada de muitas hemácias que produz a febre e o frio característicos da doença. Fragmentação Na fragmentação, o indivíduo divide-se em várias porções, que originam, cada uma delas, um novo ser. É possível observar este processo de reprodução na planária (Fig. 6). O mesmo fenómeno também pode acontecer nas estrelas-do- -mar, em algas filamentosas ou em fungos (Fig. 7). Fig. 6 Numa planária, cada fragmento origina, por sua vez, uma nova planária. Fig. 7 Fragmento de estrela-do-mar a regenerar o indivíduo completo. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 63 64 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s gemulação budding partenogénese parthenogenesis Gemulação O processo de gemulação ocorre em leveduras (fungos unice- lulares) e em cnidários (Figs. 8 e 9). Este processo inicia-se com o aparecimento de uma pequena protuberância (gema, gémula ou gomo), que vai crescendo com a mesma aparência que o indivíduo adulto, até à sua separação. Este novo indivíduo tem geralmente menores dimensões do que o progenitor, atingindo as dimensões de adulto já na sua vida independente. Partenogénese A partenogénese é um processo em que o gâmeta feminino (óvulo) de algumas espécies de animais se desenvolve, formando um novo ser, sem que tenha havido fecundação. Por este processo podem ser originados indivíduos diplóides(1), pela divisão do ovó- cito (sem que tenha ocorrido formação completa do gâmeta) ou pela divisão do resultado da fusão do glóbulo polar(1) com o óvulo. Podem ainda ser originados indivíduos haplói- des(1) quando se desenvolvem a partir da divisão do óvulo. Nas abelhas, Apis mellifera, as abelhas- -rainhas, fêmeas férteis, produzem óvulos haplói- des que podem ou não ser fecundados pelos espermatozóides dos zângãos, machos férteis: • Os óvulos não fecundados, haplóides, desenvolvem-se por partenogénese e ori- ginam zângãos haplóides. • Os óvulos que são fecundados dão origem a fêmeas, obreiras ou rainha, conforme a alimentação que tiverem. Existem muitas outras espécies que se repro- duzem por partenogénese, como alguns anfíbios, peixes, répteis (Fig. 10) e até aves. Fig. 9 Anémona-do-mar em gemulação. Fig. 8 Hidra de água doce em gemulação. Fig. 10 Dragão-de-komodo que nasceu por partenogénese num jardim zoológico britânico. Nota: (1) Consulte o glossário existente no fim deste manual. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 64 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 65 esporulação sporulation esporo spore multiplicação vegetativa vegetative propagation Esporulação O processo de esporulação assexuada ocorre em algumas espécies de fungos, em que os esporos são originados através do processo mitótico. O processo de esporulação realiza-se na extremidade de hifas especializadas, dando origem a exósporos (Fig. 11), ou no interior de estruturas especializadas, os esporângios (Fig. 12), formando-se os endósporos. Fig. 12 Esporângio de Rhizopus nigricans. Fig. 11 Exósporos de Penicillium. Multiplicação vegetativa Nas plantas, existe também a possibilidade de obter, por mul- tiplicação vegetativa, novos indivíduos a partir de diferentes par- tes do progenitor. Seguem-se alguns exemplos de várias dessas estratégias reprodutoras. • Rizomas — caules subterrâneos horizontais, que armaze- nam substâncias de reserva, podendo, a espaços regulares, produzir raízes, folhas e flores (Fig. 13). Se houver separação do rizoma em várias partes, resultam plantas-filhas; é o que acontece, por exemplo, nos fetos e no trevo. • Estolhos — caules aéreos, finos, que possuem crescimento horizontal e originam novas plantas, a espaços regulares, em cada nó (Fig. 14). Até ao desenvolvimento completo da planta-filha, esta é alimentada pela planta-mãe. Quando a planta-filha consegue produzir os seus compostos orgânicos, o estolho seca e degenera, tornando-a independente; é o que se verifica, por exemplo, no morangueiro. Fig. 13 Rizoma. Fig. 14 Estolhos de morangueiro. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 65 66 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s • Tubérculos — caules subterrâneos entumecidos, como, por exemplo, a batata (Fig. 15), ricos em substâncias de reserva, que possuem «olhos» ou gemas, saliências que vão originar novas folhas e uma nova planta. Fig. 15 A batata é um tubérculo. Fig. 16 O bolbo do alho (Allium sativum) é constituído por bolbilhos. Cada bolbilho pode originar uma nova planta.Fig. 17 Réplicas de Bryophyllum. • Bolbos — caules subterrâneos verticais, de forma cónica, com várias escamas carnudas, podendo cada uma delas ori- ginar uma nova planta; é o caso da cebola, do alho (Fig. 16) e dos gladíolos. • Réplicas — pequenas plântulas que são originadas nas extre- midades das folhas de algumas plantas, como o Bryophyllum (Fig. 17). Quando formadas, as pequenas plantas caem no solo e formam raízes, ficando independentes da planta-mãe. Na agricultura, existe também a possibilidade de propagar as plantas, nomeadamente as árvores, utilizando processos artificiais. Estes permitem manter as boas características da planta ou melho- ram a produção ou a qualidade dos frutos, por exemplo. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 66 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 67 A multiplicação de plantas por via vegetativa artificial pode ser feita de várias maneiras, adaptando-se cada espécie melhor a umas do que a outras. Estes processos são: estacaria, mergulhia, alpor- quia e enxertia. Multiplicação vegetativa artificial O processo de estacaria consiste em enterrar um ramo de uma planta, desprovido da maior parte das folhas, que sofreu um corte na diagonal na zona a enterrar, de maneira a criar raízes (Fig. 18). A estacaria pode ser realizada com caules (Fig. 19A), com folhas (Fig. 19B) ou com raízes (Fig. 19C). Fig. 18 Parreiral obtido por estacaria. A B C Fig. 19 Estacaria. O processo de mergulhia consiste no enraizamento de uma parte da planta que se pretende propagar. Após a criação de raízes, procede-se ao destacamento da mesma para obtenção da muda. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 67 A alporquia é um processo que ocorre quando não existem ramos flexíveis que possam ser enterrados. Assim, o ramo é envol- vido em solo, que se cobre com um plástico, até aquele ganhar raí- zes (Fig. 21). 68 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Fig. 20 Mergulhia. Fig. 21 Alporquia. A mergulhia é realizada utilizando ramos flexíveis, que se dobram e enterram parcialmente, ficando a extremidade do ramo no exterior (Fig. 20). A enxertia é uma técnica que permite reproduzir e melhorar as plantas. Na enxertia, promove-se a união dos tecidos de duas plan- tas, geralmente da mesma espécie, passando a formar-se uma planta com duas partes: o enxerto e o porta-enxerto. O enxerto é a parte de cima, que vai produzir os frutos da variedade desejada; o porta- -enxerto é o sistema radicular, que tem como funções básicas o suporte da planta, o fornecimento de água e de nutrientes e a adap- tação às condições do solo, ao clima e às doenças. A enxertia pode ser realizada por encosto, por borbulha ou por garfo. No encosto, aproxima-se do ramo a enxertar uma planta enrai- zada, que vai servir de porta-enxerto. Desbastam-se ambos os ramos e põem-se em contacto essas duas zonas até que se unam. Corta-se depois o ramo enxertado abaixo do enxerto, permanecendo este unido ao porta-enxerto (Fig. 22). 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 68 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 69 Na enxertia de borbulha utiliza-se uma porção da planta a pro- pagar (borbulha ou gema) que vai ser fixada ao porta-enxerto, após o corte de parte do mesmo (abertura em forma de T, que pode ser normal ou invertido). Por último, ligam-se as duas regiões para que se mantenha o contacto (Fig. 23). Fig. 22 Enxertia de encosto. Na enxertia de garfo utiliza-se um ramo da planta que se pre- tende enxertar e que vai ser inserida numa fenda do porta-enxerto (Fig. 24). Enxerto Gema Xilema e floema Borbulha A A B Fig. 23 Enxertia de borbulha (A); borbulha no porta-enxerto (B). Ráfia Porta-enxerto B Enxerto (garfo) Ráfia Porta-enxerto Fig. 24 Enxertia de garfo. REPRODUÇÃO ASSEXUADA A RETER Bipartição Divisão múltipla Fragmentação Gemulação Partenogénese Multiplicação vegetativa Esporulação 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 69 70 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Vantagens e desvantagens da reprodução assexuada A reprodução assexuada é um processo natural de clonagem, método de replicação do organismo parental através do qual, por mitoses, se obtêm cópias geneticamente iguais às do progenitor — os clones. Uma das vantagens deste processo é os seres vivos que não se deslocam para outros locais ou que vivem isolados poderem reproduzir-se sem necessidade de encontrar um parceiro e sem gasto de energia na produção de gâmetas e na fecundação. Outra vantagem é a possibilidade de um rápido crescimento populacio- nal, por exemplo, nas bactérias (que se reproduzem em menos de três horas, cerca de trinta minutos em algumas espécies), se existi- rem condições favoráveis, obtêm-se populações de milhões de seres em pouco mais de vinte e quatro horas. Na agricultura, a possibilidade de as plantas se propagarem vegetativamente proporcionou, ao longo do tempo, a produção de grande número de plantas, com um mínimo de esforço e despesa. Na realidade, muitas das árvores de fruto e ornamentais foram pro- pagadas assexuadamente a partir de caules ou folhas de uma planta com boas características. Muitas outras plantas são propagadas a partir de fragmentos de raízes ou caules subterrâneos (por exem- plo, as batatas). As plantas também podem ser multiplicadas em laboratório, utilizando técnicas de cultura de células (Fig. 25). A partir de frag- mentos de um único exemplar (progenitor), os cientistas isolam células e promovem o seu desenvolvimento em novos indivíduos. Com estas técnicas, é possível chegar a um número ilimitado de seres geneticamente iguais e, desta forma, obter-se plantas de reprodução lenta (por exemplo, coqueiros) ou plantas com caracte- rísticas especiais (por exemplo, flores grandes, como as orquídeas). Esta técnica produz um elevado número de plantas todas iguais, num período de tempo reduzido (Fig. 26). Podem ainda ser utilizadas técnicas de engenharia genética, que melhoram as características originais das plantas, introduzindo genes com interesse nas células que vão ser clonadas. Estas técnicas são aplicadas para obter mono- culturas, grandes áreas com uma única variedade de planta que apresenta grande interesse, do ponto de vista económico, para o Homem. A grande desvantagem da reprodução asse- xuada é o facto de todos os descendentes do mesmo progenitor serem geneticamente iguais (a população é uniforme). Se as condições ambientais do local se modificarem e deixarem de ser propícias a esses indivíduos, estes podem desaparecer. Numa população com variabilidade genética, porém, alguns seres conseguem sobre- viver nas novas condições ambientais e, por isso, manter-se. Fig. 25 Planta em crescimento numa cultura de células. Cada uma destas células, se isolada das restantes e em meio nutritivo propício, pode originar uma planta completa. Fig. 26 Planta de macieira obtida por cultura de células, em meio nutritivo propício. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 70 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 71 OBSERVAÇÃO MICROSCÓPICA DE LEVEDURAS EM GEMULAÇÃO E DE BOLORES EM ESPORULAÇÃO Material • Glucose. • MOC. • Água destilada. • Pipeta de Pasteur. • Agulha de dissecação. • Estufa. • Lamelas. • Caixa de Petri. • Laranja madura. • Proveta. • Matraz. • Pão. • Fermento de padeiro. • Lâminas. • Pinça. Procedimento Observação 1 1 — Coloque num matraz 80 mL de água destilada. 2 — Dissolva 10 g de glucose e perfaça 100 mL de solução. 3 — Adicione 10 gramas de fermento de padeiro. 4 — Tape e coloque o matraz na estufa a 25 ºC. Aguarde 40 minutos. 5 — Com a pipeta, retire um pouco do conteúdo do matraz e monte-o entre a lâmina e a lamela. 6 — Observe a preparação ao MOC, utilizando objectivas de ampliação diferente. Procure encontrar leveduras em divisão. 7 — Faça um esquema legendado das observações efectuadas. 8 — Registe, se possível, o tempo que uma levedura leva a dividir-se (para tal, foque uma levedura no início do processo de divisão e, sem mexer na preparação, observe-a até à separação das duas células). Observação 2 1 — Corterodelas de laranja, coloque-as numa caixa de Petri e deixe-as expostas ao ar durante 24 horas. 2 — Cubra a caixa com papel de alumínio. 3 — Coloque-a num local húmido e quente durante cerca de uma semana. 4 — Observe a laranja à lupa e esquematize o que vê. 5 — Retire, com a ajuda da pinça e da agulha, uma pequena porção do micélio formado sobre a laranja. Monte-a sobre uma gota de água destilada, entre a lâmina e a lamela. 6 — Observe a preparação ao MOC em várias ampliações. 7 — Faça um esquema legendado das observações efectuadas. Observação 3 1 — Coloque um pouco de pão humedecido noutra caixa de Petri e deixe-o exposto ao ar durante 24 horas. 2 — Cubra a caixa com papel de alumínio. 3 — Conserve-a num local húmido e quente durante cerca de uma semana. 4 — Observe o pão à lupa e esquematize o que vê. 5 — Retire, com a ajuda da pinça e da agulha, uma pequena porção do micélio formado sobre o pão e monte-a sobre uma gota de água destilada, entre a lâmina e a lamela. 6 — Observe ao MOC utilizando diferentes ampliações. 7 — Faça um esquema legendado das observações efectuadas. Discussão 1 — Descreva o processo global de divisão das leveduras. 2 — Quais são as características dos descendentes relativamente ao progenitor? 3 — Mencione algumas vantagens do processo de reprodução assexuada na manutenção das espécies. 4 — Calcule ao fim de quanto tempo existirá uma colónia de aproximadamente 1000 leveduras, tendo em conta o tempo de divisão das mesmas. 5 — Caracterize o processo de formação de esporos no pão e na laranja. 6 — Quantos serão os cromossomas dos esporos em relação à célula-mãe dos esporos? 7 — Caracterize os seres formados por este processo de reprodução assexuada. ACTIVIDADE LABORATORIAL Não se esqueça de: • usar bata; • cumprir as regras de segurança do laboratório. Fig. 27 Leveduras. Fig. 28 Penicillium (exósporos). Fig. 29 Bolor do pão (endósporos). 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 71 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Divisão múltipla Essenciais • Bipartição • Fragmentação • Gemulação • Partenogénese • Multiplicação vegetativa • Esporulação • Esporo Necessários • Mitose Síntese de conhecimentos • Todos os seres vivos se reproduzem. • Na reprodução assexuada, há um único ser vivo progenitor, que, por mitose, pode originar grande número de descendentes num curto espaço de tempo. • • A reprodução assexuada é um processo natural de clonagem, permitindo obter descendentes geneticamente iguais ao progenitor, os clones. • As vantagens da reprodução assexuada são: — a obtenção de descendentes sem necessidade de um parceiro; — ausência de gasto de energia na produção de gâmetas e na fecundação; — um rápido crescimento populacional. • A desvantagem da reprodução assexuada é a existência de uniformidade genética em todos os descendentes. A uniformidade genética pode provocar o desaparecimento rápido da totalidade dos descendentes, se existirem modificações ambientais e as novas condições forem desfavoráveis. 72 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s EXISTEM DIVERSOS TIPOS DE REPRODUÇÃO ASSEXUADA Bipartição Partenogénese Multiplicação vegetativa Esporulação Divisão múltipla Fragmentação Gemulação 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:37 Page 72 ACTIVIDADESACTIVIDADES Reprodução assexuada 1. Observe as imagens seguintes e responda às questões. u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 73 1.1 Identifique os processos de reprodução assexuada representados nas imagens. 1.2 Quais são as principais diferenças existentes entre os processos A e B? 1.3 Fundamente a afirmação seguinte. «A Natureza pode ser colonizada muito facilmente com processos deste tipo.» 1.4 Justifique a afirmação seguinte. «Na reprodução assexuada, o progenitor e os descendentes possuem as mesmas características genéticas.» 2. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes. A — Na reprodução assexuada, os descendentes são diferentes do progenitor. B — A reprodução assexuada pode ser considerada um processo de clonagem. C — Na reprodução assexuada, podem ocorrer muito frequentemente mutações génicas. D — A reprodução assexuada implica uniformidade entre os descendentes e o progenitor. E — O processo de divisão celular que ocorre na reprodução assexuada é a mitose. 3. Observe as imagens seguintes e responda às questões. A B A B 3.1 Identifique os processos de reprodução assexuada representados nas imagens. 3.2 Explique os processos representados, indicando as diferenças e as semelhanças entre eles. 3.3 Qual é o processo de divisão nuclear que ocorre neste tipo de reprodução assexuada? 919354 058-085_U6 6/16/08 3:07 PM Page 73 74 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s ACTIVIDADES 3.4 Os corais são, na sua maioria, provenientes de reprodução assexuada. Quais são as possíveis consequências de alterações ambientais que ocorram eventualmente nos recifes de coral? 4. Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação. Um exemplo de processo de multiplicação vegetativa… A — … é a bipartição. B — … é a gemulação. C — … é a fragmentação. D — … são os estolhos. E — … é a partenogénese. 5. Observe a figura e responda às questões. 5.1 Fundamente a afirmação seguinte. «As réplicas que se encontram na extremidade desta folha de Bryophyllum são clones.» 5.2 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. No tipo de reprodução representado existe… A — … mitose. B — … meiose. C — … síntese proteica. D — … síntese de DNA. E — Duas das opções anteriores. F — Três das opções anteriores. 6. Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte. A partenogénese é o desenvolvimento de um embrião a partir de… A — … um óvulo fecundado. B — … um ovo. C — … um óvulo não fecundado. D — … um espermatozóide. E — … uma célula somática. 7. Estabeleça a relação correcta entre a chave e as expressões. CHAVE A — Vantagem da reprodução assexuada B — Desvantagem da reprodução assexuada EXPRESSÕES I. Rápida colonização. II. Ausência de variabilidade genética. III. Inexistência de gasto de energia na procura de parceiro. IV. Baixa resistência a alterações ambientais. 8. Refira as vantagens económicas e sociais para o Homem, da reprodução assexuada de algumas espécies vegetais. 9. Pesquise a existência de desvantagens para o ambiente, da utilização massiva pelo Homem de métodos de reprodução assexuada de espécies vegetais. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 74 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 75 gâmetas gametes6 2 Reprodução sexuada E há mais. Para tornar fecunda uma perdiz, basta que ela se encon- tre sob o vento: muitas vezes bastou mesmo ouvir o canto do macho num tempo em que estivesse disposta a conceber, ou que o macho tivesse passado voando por cima dela e ela tivesse respirado o odor que ele exalava. ARISTÓTELES Ao observarmos atentamente o mundo vivo à nossa volta, torna-se evidente a semelhança entre os descendentes e os seus progenitores, independentemente da espécie em causa. Facilmente nos apercebemos também de que, embora ocorra uma imensa diversidade, existem muitas características comuns entre todos os indivíduos da mesma espécie. Por outro lado, faz parte das concepções fundamentais da Biolo- gia, já desde o século XIX, a ideia de que todas as células provêm de outras, preexistentes, assim como se sabe já há bastante tempo que alguns seres vivos se reproduzem sexuadamente, ou seja, necessitam de promover a união de duas células especializadas para concretiza- rem a sua perpetuação em novos indivíduos. Estas duas células especialmente diferenciadas, os gâmetas, unem-se numa única nova célula, o ovo ou zigoto, através de um processo designado por fecun- dação (Fig. 30). É este fenómeno que leva a questionar o processo de formação destas células sexuais. Teori- camente, se os gâmetas fossem produzidos por mitose, o ovo ou zigoto resultante da fecundação deveria pos- suir o dobro dos cromossomas de cada gâmeta. Uma alteração tão drástica no númerode cópias de cada gene deveria acarretar diferenças significativas de gera- ção para geração. Foram estes factos que tornaram evidente que deveria existir um mecanismo especial de divisão celular que permitisse reduzir para metade o número de cromossomas destas células. Na reprodução sexuada ocorre a união de duas células sexuais para a formação de um ovo ou zigoto. A RETER NÚMERO DE CROMOSSOMAS DE VÁRIAS ESPÉCIES 1. Observe e analise o quadro ao lado, que se refere ao número de pares de cromossomas de várias espécies, animais e vegetais, e responda às questões que se seguem. 1.1 Apresente uma hipótese para explicar o facto de se verificar sempre, para qualquer espécie com reprodução sexuada, um número par de cromossomas. 1.2 Se os gâmetas do sapo possuíssem um número de cromossomas igual ao representado, qual seria o número de cromossomas de uma célula somática deste animal ao fim de quatro gerações? 1.3 Qual deverá ser o número de cromossomas dos gâmetas do cavalo para assegurar a manutenção da quantidade de cromossomas na espécie? ACTIVIDADE SER VIVO N.º DE PARES DECROMOSSOMAS Mosca Arroz Sapo Macaco Homem Batateira Cavalo Cão Cabra 06 12 13 21 23 24 32 39 52 Fig. 30 Na formação de um ovo (animal) há união de um óvulo com um espermatozóide. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 75 76 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s meiose meiosis diplóide diploid haplóide haploid divisão reducional reduction division divisão equacional equational division Meiose e fecundação A reprodução sexuada envolve a ocorrência, alternada, de fecundação e meiose, um tipo de divisão nuclear que ocorre ape- nas em células diplóides especializadas, em alturas particulares da vida de um organismo, e que difere da mitose, pois assegura a redução do número de cromossomas para metade. Esta divisão nuclear acontece quando um determinado tipo de célula diplóide (2n), ou seja, com a quantidade de cromossomas característica das células somáticas da espécie, necessita de criar células sexuais — gâmetas — com um número de cromossomas reduzido a metade — célula haplóide (n). A divisão celular meiótica é um fenómeno observável em alguns tipos de tecidos específicos, como, por exemplo, aqueles que pertencem aos órgãos sexuais, responsáveis pela produção das células sexuais (gamêtas ou esporos). 6 2 1 Meiose Este tipo de divisão nuclear faz parte de um ciclo celular espe- cial em que ocorrem várias etapas até à formação das células-filhas: a interfase pré-meiótica, a meiose e a citocinese. Embora possa parecer que este tipo de ciclo é em tudo seme- lhante ao anteriormente estudado, e em que a divisão do núcleo acontecia por mitose, existem profundas diferenças, pois a meiose implica duas divisões celulares que originam quatro células haplóides: • a primeira (meiose I) é uma divisão reducional — produz duas células haplóides a partir da célula diplóide inicial; • a segunda (meiose II) é uma divisão equacional — separa os cromatídeos-irmãos das células haplóides anteriormente formadas. As células somáticas são todas as células diplóides de um organismo, com excepção dos gâmetas e das células que lhes deram origem. As células germinativas encontram-se nos órgãos sexuais, são diplóides e têm capacidade de sofrer meiose para originar gâmetas (haplóides). As células sexuais são células haplóides especializadas na reprodução. FORMAÇÃO DE GÂMETAS Ovo Gâmetas n n + Meiose Fecundação 2n Fig. 31 Por cada par de cromossomas existente nas células somáticas, um cromossoma será de origem materna, e o outro, de origem paterna. Através da meiose, uma célula diplóide (2n) forma quatro células-filhas haplóides (n). A RETER 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 76 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 77 Na meiose acontece uma divisão reducional (meiose I) logo seguida de uma divisão equacional (meiose II). Antes destas fases, ocorre uma única replicação do DNA durante a interfase. A RETER O processo inicia-se com a interfase, ao longo da qual ocorre o crescimento da célula germinativa e a replicação do DNA. Como na mitose, também aqui se consideram três etapas: • a fase G1, em que se inicia o crescimento celular; • a fase S, em que o DNA duplica; • a fase G2, em que termina a preparação para a meiose com a síntese de proteínas e a conclusão do crescimento celular. Após este período, tem lugar a meiose, que consiste em duas divisões celulares sequenciais e complementares (podendo ocorrer, ou não, um período de separação, muito breve, entre ambas) com uma única duplicação no DNA (na já referida fase S da interfase inicial). Meiose I (divisão reducional) Compreende quatro fases distintas: prófase I, metáfase I, aná- fase I e telófase I. A prófase I é uma fase longa, em que ocorrem fenómenos complexos e extremamente importantes. Em alguns organismos pode ter a duração de vários anos. Os cromossomas, agora já duplicados devido aos fenómenos da fase S, iniciam a sua condensação. Apresentam-se então muito finos, havendo dificuldade em distinguir os dois cromatídeos- -irmãos, mas ao longo do processo vão ficando mais espessos e mais curtos. Nas células diplóides, como na célula germinativa original, cada cromossoma aparece representado duas vezes, sendo cada um dos elementos do par proveniente de um dos progenitores. Assim, nesta fase da meiose, e devido ao espessamento dos cromossomas, é possível a visualização dos dois cromossomas do mesmo par — cromossomas homólogos. Verifica-se, então, um emparelhamento dos cromossomas homó- logos (Fig. 32), designado por sinapse. Nesta fase, o termo «bivalente» pode ser utilizado para referir o par de homólogos, e o termo «tétra- da», para designar os quatro cromatídeos que compõem um par. Durante este período, ocorre uma aproximação tão estreita entre os dois cromossomas homólogos, que pode promover a troca de fragmentos entre os seus cromatídeos — crossing-over. cromossomas homólogos homologous chromosomes crossing-over crossing-over MEIOSE I A RETER Prófase I Metáfase I Anáfase I Telófase I Na mulher, a formação de gâme- tas inicia-se durante o desenvol- vimento embrionário. Porém, a meiose I fica bloqueada na pró- fase I, e o processo é retomado e concluído só quando a rapariga atinge a adolescência. CURIOSIDADE Na prófase I há emparelhamento dos cromossomas homólogos, e os seus cromatídeos trocam fragmentos através de crossing-over. A RETER Fig. 32 Na prófase I ocorre emparelhamento dos cromossomas homólogos. Crossing-over 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 77 78 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Numa célula diplóide da espécie humana, à excepção do par de cromossomas sexuais, que pode possuir dois cromossomas diferentes (XY no caso do homem), todos os outros possuem dois cromossomas (homólogos) com forma, tamanho e informação genética equivalentes. Os dois cromossomas de um par de homólogos encontram-se durante a fecundação, tendo um origem materna, e o outro, origem paterna. As células somáticas humanas possuem 46 cromossomas, ou seja, 23 pares de cromossomas homólogos. Assim, diz-se que, no homem, as células somáticas são diplóides (2n=46) e os gâmetas são haplóides (n=23). CROMOSSOMAS Fig. 33 No caso da mulher, o par de cromossomas sexuais é constituído por dois cromossomas X. Como cada um deles provém de um dos progenitores, as informações contidas nos seus genes, embora equivalentes, podem ser diferentes (exemplo: surdez versus audição normal). CROSSING-OVER 1. Analise a figura seguinte, que representa esquematicamente o crossing-over, e responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Compare os cromatídeos-irmãos do cromossoma A, antes e depois do crossing-over, e indique o que se verifica relativamente a: a) forma e dimensões; b) origem do material genético. Fig. 34 Na prófase I, ocorre crossing-over, uma interacção entre cromatídeos de um par de homólogos que origina novas combinações de genes. Par de cromossomas homólogos O crossing-overpromove uma recombinação do material genéti- co por meio da ruptura, e posterior ligação, de porções análogas de cromatídeos-irmãos, de forma recíproca, devido ao seu empare- lhamento íntimo. Originam-se, assim, dois cromatídeos (de um mesmo par de cromossomas homólogos) que, apesar de completos, possuem alelos (formas alternativas da existência de cada gene) diferentes das combinações alélicas originais. Origem paterna Origem materna A B 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 78 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 79 Os cromossomas homólogos começam, então, a repelir-se lentamente, e os seus quatro cromatídeos são agora bem visíveis. O número de crossing-overs que ocorrem por meiose e entre cada par de homólogos é, em regra, reduzido. Por fim, o nucléolo e a membrana nuclear dissociam-se, e os centrossomas, contendo cada um deles um par de centríolos (no caso das células animais), já divididos, afastam-se para pólos opos- tos e iniciam a formação dos microtúbulos. Durante a metáfase I, o fuso acromático diferencia-se comple- tamente, e os bivalentes alinham num plano mediano na célula, entre os dois pólos, constituindo a placa equatorial. Os dois cromossomas homólogos de um par alinham-se na placa equatorial em posições paralelas (um mais perto de um pólo e o outro mais perto do pólo contrário). Encontram-se ligados aos microtúbulos do fuso pelos centrómeros e estão posicionados de forma que cada um deles está mais próximo de um dos pares de centríolos (pólos do fuso). Na metáfase I, cada par de cromossomas homólogos dispõe-se paralelamente na placa equatorial, sendo aleatória a posição ocupada por cada elemento do par. A RETER NÚMERO DE COMBINAÇÕES POSSÍVEIS NA SEGREGAÇÃO DE CROMOSSOMAS 1. Se, numa determinada célula diplóide, existirem três pares de cromossomas homólogos, estes poderão colocar-se na placa equatorial, durante a metáfase I, em quatro disposições diferentes. Assim, poderão surgir nos gâmetas oito combinações diferentes entre os cromossomas maternos e paternos (23 � 8). A fórmula geral é 2n, em que 2 é o número de alelos, materno e paterno, de cada gene, e n é o número de pares de cromossomas. Analise a imagem e responda à questão. ACTIVIDADE 1.1 Considerando que, numa célula germinativa humana (diplóide), existem 23 pares de cromossomas homólogos, calcule o número de combinações possíveis aquando da formação de um gâmeta (haplóide). Combinações possíveis ou ou ou 1 2 3 Fig. 36 A disposição dos homólogos na placa equatorial vai condicionar o património genético das células-filhas, já que, na ascensão polar, os cromossomas vão migrar para os pólos de acordo com a posição que aqui ocupam. Fig. 35 Na metáfase I, os cromossomas homólogos dispõem-se na placa equatorial. Placa equatorial 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 79 80 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Na anáfase I, os microtúbulos encurtam e cada um dos cro- mossomas homólogos migra para um dos pólos opostos. Ocorre, assim, a segregação dos homólogos, sem que tenha havido separa- ção dos centrómeros (Fig. 37). Os diferentes pares de cromossomas separam-se, dirigindo-se para um dos pólos da célula. Esta ascen- são polar acontece de forma aleatória, sendo possível qualquer combinação desde que os dois elementos do par se desloquem para pólos opostos. Os cromossomas homólogos paternos e maternos são, assim, repartidos pelos dois pólos por recombinação intercro- mossómica. Na telófase I, os cromossomas, constituídos por dois cromatí- deos-irmãos, voltam a alongar-se, descondensando o seu material genético, tornando-se menos visíveis. O nucléolo reaparece, assim como a membrana nuclear. Volta a ocorrer síntese proteica, e, por fim, o citoplasma sofre divisão. Estão agora formadas duas células haplóides, cada uma delas com um cromossoma de cada um dos pares de homólogos (Fig. 38). Fig. 37 Segregação dos homólogos durante a anáfase I. Na anáfase I, deverá ocorrer separação dos homólogos, deslocando-se cada elemento do par para um dos pólos. A RETER Na telófase I, os cromossomas chegam aos pólos da célula e completa-se a primeira divisão da meiose. A RETER Meiose II (divisão equacional) Esta segunda divisão pode ou não iniciar-se imediatamente a seguir à telófase I. No entanto, em qualquer uma das situações, nunca ocorrerá nova síntese de DNA. Na prófase II, o par de centríolos volta a dividir-se, e estas novas estruturas encaminham-se para pólos opostos. Fig. 38 No final da telófase I formam-se duas células haplóides. 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 80 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 81 O nucléolo e a membrana nuclear voltam a sofrer desorganiza- ção e desaparecem. Os microtúbulos iniciam a formação do fuso meiótico. Os cromossomas, cada um constituído por dois cromatídeos- -irmãos ligados pelo centrómero, iniciam a sua condensação. A metáfase II começa com a deslocação dos cromossomas para a região mediana da célula, entre os dois pólos. O fuso meiótico fica então formado, e cada um dos cromosso- mas fica posicionado de tal forma que cada cromatídeo-irmão esta- belece ligação firme apenas com os microtúbulos que emanam de um dos pólos. Esta fase termina com a formação da placa equato- rial, em que os cromatídeos permanecem ligados ao fuso. Na anáfase II, o centrómero de cada um dos cromossomas sofre divisão longitudinal, fazendo com que os dois cromatídeos- -irmãos se libertem, podendo deslocar-se para pólos opostos devi- do a proteínas motoras e a interacções dos centrómeros com os microtúbulos em encurtamento. Cada cromatídeo passa agora a ser considerado um cromossoma, pois ganha individualidade. A meiose finaliza-se com a telófase II, durante a qual os cro- mossomas terminam a migração para os pólos e os núcleos são reconstituídos com a diferenciação do invólucro nuclear e do nucléolo, formando-se assim quatro núcleos haplóides (Fig. 39). O fenómeno de citocinese, que teve o seu início na anáfase II, conclui-se logo que termina a migração dos cromossomas para os pólos. Todas as estruturas e organitos são distribuídos equitativa- mente pelas células-filhas, ocorre a formação de um anel contráctil de microfilamentos de actina e miosina (proteínas) e, como na mitose, o processo termina quando as novas células estão comple- tamente individualizadas. No caso das células vegetais, o modo de formação da parede celular é semelhante ao que foi descrito na mitose. Fig. 39 Na meiose II ocorre divisão equacional e formam-se quatro células-filhas haplóides. Entre a meiose I e a II não ocorre replicação do DNA. A RETER Na anáfase II acontece a separação dos cromatídeos-irmãos, deslocando-se os elementos do par para pólos opostos. A RETER MEIOSE II A RETER Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 81 82 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Regulação da meiose Também durante este tipo de divisão celular, em que o núcleo se divide por meiose, existem mecanismos moleculares reguladores. Com os avanços na biologia molecular foi possível obter mui- tos dados sobre estes mecanismos reguladores. Conhecem-se já inúmeras proteínas que interagem para assegurar que a progressão do fenómeno ocorra dentro da normalidade. A finalização da fase G1 e o início da fase S, a entrada da célula em divisão nuclear (meiose), o estado dos cromossomas na prófase I ou os acontecimentos da metáfase II são exemplos de alguns momentos-chave para o sucesso do fenómeno e que são regulados por estes complexos proteicos. Ainda em relação a esta progressão das células germinativas ao longo do ciclo celular meiótico, pode dizer-se que outros factores, extracelulares, são também responsáveis pelo decorrer das diferen- tes etapas. No entanto, apesar de muitos pontos de controlo asse- gurarem o sucesso deste fenómeno, por vezes podem subsistir erros que vão originar, no final, gâmetas com deficiências quanto ao número ou à morfologia dos cromossomas. As células formadas, haplóides, deverãoter um número de cro- mossomas correspondente a metade daquele que existia numa célula somática. Na anáfase I, a segregação tem de ocorrer entre os pares de homólogos, para que cada nova célula receba um repre- sentante de cada par. Se este fenómeno não decorrer dentro da nor- malidade, é possível que, no final, os gâmetas tenham um número de cromossomas diferente ao esperado (Fig. 40). Um fenómeno semelhante pode resultar de anomalias na anáfase II. Também através do crossing-over, descrito na prófase I, poderão ocorrer alterações que levem à perda, à troca ou à repetição de por- ções de DNA (um ou vários genes) (Fig. 41). Estas alterações, mutações cromossómicas, podem afectar o número de cromossomas (como no primeiro caso) ou a sua morfologia (quando existe alteração na sequência de genes). No entanto, em ambas as situações se formam gâmetas que, se vierem a ser utilizados numa fecundação, originam uma célula, o ovo, com uma carga genética diferente do normal, o que, provavelmen- te, resulta no desenvolvimento de um organismo com algum tipo de deficiência. Fig. 40 A síndrome de Down é causada pela trissomia do par 21 (três cromossomas em vez dos dois habituais). mutação cromossómica chromosome mutation Durante a divisão celular (interfase e meiose), existem vários pontos de controlo. A RETER DeleçãoDuplicação Fig. 41 A alteração na estrutura dos cromossomas dos gâmetas, tanto por perda como por duplicação de porções destes (onde se encontram inúmeros genes), são mutações que levam a deficiências no novo ser. Porção de cromossoma duplicada Porção de cromossoma removida 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 82 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 83 OBSERVAÇÃO DE FASES DA MEIOSE Procedimento 1 — Observe ao microscópio, na objectiva de menor ampliação, as preparações definitivas da meiose, conseguindo uma perspectiva geral do material. 2 — Utilize a objectiva de ampliação média, seleccionando regiões que lhe parecem conter células em meiose. Recorra à imagem seguinte como auxílio no seu trabalho e consulte o manual para esclarecer as suas eventuais dúvidas. 3 — Esquematize, legendando, as diferentes fases da meiose que for observando. Atente em todas as fases da meiose I e da meiose II. 4 — Apresente uma justificação para a designação que atribuiu a cada uma das fases. 5 — Responda à questão central desta actividade. ACTIVIDADE LABORATORIAL Teoria Reprodução sexuada — meiose. Princípios Conceitos Conclusão Resultados Que alterações ocorrerão numa célula durante a meiose? Fig. 42 Fases da meiose em Lilium grandiflorum. Prófase I (A); metáfase I (B); metáfase I, em corte longitudinal (B1); anáfase I (C); telófase I (D); prófase II (E); metáfase II (F); anáfase II (G); telófase II (H); citocinese (I). A B B1 C D E F G H I 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 83 84 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Algumas anomalias genéticas podem ser detectadas antes do nascimento. Para isso, os médicos recorrem a vários exames, dos quais se salientam a amniocentese e a colheita de amostras de vilosidades coriónicas (protuberâncias minúsculas da placenta). A obtenção de uma amostra de sangue do cordão umbilical (análise percutânea de sangue umbilical) é também útil para fazer análises rápidas de cromossomas, sobretudo no final da gravidez, quando na ecografia se tiverem detectado anomalias no feto. Muitas vezes, os resultados obtêm-se em 48 horas. PESQUISAR E DIVULGAR Além destas tecnologias, que podem auxiliar na resolução de problemas relacionados com a reprodução humana, existe hoje uma grande variedade de métodos para ultrapassar obstáculos que impedem um casal de conseguir a formação de gâmetas, a fecundação ou mesmo a gestação. A investigação na manipulação da reprodução humana é uma das áreas de estudo em relevo no panorama científico da actualidade. A lei portuguesa (Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho) define já o que é lícito praticar-se, em Portugal, no âmbito da Procriação Medicamente Assistida (PMA). • Recolha outras informações sobre doenças genéticas detectáveis antes do nascimento. • Analise o texto apresentado à direita, sobre uma mulher que foi mãe aos 64 anos, e pesquise sobre o assunto. Algumas sugestões de orientação da pesquisa: — O que é a fertilização in vitro? — Em que situações é aplicada? — É praticada no nosso país? • Organize um pequeno dossier sobre estes temas (diagnóstico pré-natal e PMA), onde poderá arquivar os artigos de interesse que encontrou sobre o assunto. • Escreva um pequeno artigo exprimindo a sua opinião, devidamente fundamentada, e discuta-o com a turma. • Consulte, por exemplo, os sítios seguintes: — http://jn.sapo.pt/2006/01/03/sociedade/contaminacao_dna_fertilizacao_in_vit.html — http://saude.sapo.pt/gP9B/295111.html — http://www.igc.gulbenkian.pt/static/medpub_docs/media/dna/definicoes.html Fig. 43 A amniocentese e a colheita de amostras de vilosidades coriónicas são métodos que ajudam a detectar anomalias no feto. ALGUMAS DOENÇAS GENÉTICAS DETECTÁVEIS ANTES DO NASCIMENTO Doença Incidência Fibrose quística Distrofia muscular de Duchenne Hemofilia A Doença de Huntington Drepanocitose 1 em cada 2500 pessoas de etnia caucasiana 1 em cada 3300 nascimentos masculinos 1 em cada 8500 nascimentos masculinos 4 a 7 em cada 100 000 1 em cada 400 pessoas de etnia africana nos EUA http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D268%26cn%3D1759 (adaptado) Uma turca de 64 anos foi mãe, tendo-se tornado a segunda mulher mais velha a dar à luz. Memnune Tiryaki tentava engravidar havia 35 anos. O seu desejo concretizou-se graças à fertilização in vitro. CURIOSIDADE 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 84 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 85 REPRODUÇÃO SEXUADA • Grande variabilidade de características nos descendentes; • Maior capacidade de adaptação e de sobrevivência dos indivíduos perante alterações ambientais; • Maior possibilidade de evolução dos seres vivos (facilita o aparecimento de novas formas). • Processo lento; • Grande consumo de energia pelos seres vivos, pois tem de ocorrer: — formação de gâmetas; — encontro dos gâmetas; — fecundação. Reprodução sexuada e variabilidade Devido ao facto de, na meiose, ocorrerem duas divisões conse- cutivas com uma única duplicação do DNA, o resultado final é a formação de células haplóides capazes de participar no processo de fecundação, originando um ovo com o número de cromossomas característico das células somáticas da espécie. Assim, unindo-se os gâmetas (n) masculino e feminino, é reposta, na nova célula diplói- de (2n), a quantidade de DNA. A quantidade de DNA duplica na fase S da interfase (Fig. 44A), é reduzida a metade durante a anáfase da primeira divisão da meiose (Fig. 44B) e volta a diminuir na anáfase da segunda divisão da meiose (Fig. 44C). Durante a fecundação, a jun- ção dos dois gâmetas vai permitir que a quanti- dade de DNA volte ao valor 2Q. No entanto, a grande importância da meiose não fica reduzida a este aspecto, pois as conse- quências genéticas deste fenómeno são vitais para a existência de tão grande variabilidade entre os seres vivos. Na prófase I, o crossing-over é um mecanismo responsável pela recombinação genética, pois permite a reorganização do material presente nos cromossomas provenientes dos progenitores (recom- binação intracromossómica). Posteriormente, na metáfase I, a orientação dos bivalentes na placa equatorial, que ocorre de forma aleatória, volta a aumentar as hipóteses de novas combinações, uma vez que esta posição deter- mina os cromossomas que vão ascender a cada pólo na anáfase I (recombinação intercromossómica). Também na anáfase II, com a segregação dos cromatídeos-irmãos e a repartição ao acaso dos vários cromatídeos pelos pólos, separação ao acaso dos cromatí- deos, se multiplicam as hipóteses de diversidade. Devido a estes factores, ao contrário da mitose, que permite manter as características das espécies sem quaisquer variações, a meiose é o fenómeno responsávelpela diversidade verificada mesmo entre os descendentes e os progenitores. É esta variedade que possibilita, em condições adversas, a sobrevivência dos indiví- duos da espécie que melhor se adaptam às variações ocorridas. 6 2 2 Q 2Q 4Q Quantidade de DNA Tempo A B C Fig. 44 Variação da quantidade de DNA durante a meiose. Vantagens Desvantagens 919354 U6_p058-085 18/1/08 16:38 Page 85 86 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s DIFERENÇAS ENTRE MITOSE E MEIOSE Após a duplicação do DNA, ocorre uma divisão nuclear que origina duas células diplóides, geneticamente idênticas. O número de cromossomas das células-filhas é igual ao da célula-mãe. Pode ocorrer em células haplóides ou em células diplóides. Não há, normalmente, emparelhamento de cromossomas homólogos (cada cromossoma comporta-se independentemente do outro). Geralmente, não ocorre crossing-over. As células-filhas podem sofrer várias divisões mitóticas seguidas. Em cada ciclo celular formam-se duas células, diplóides ou haplóides (com o mesmo número de cromossomas que a célula-mãe). Centrómeros dividem-se longitudinalmente na anáfase. Após a duplicação do DNA, ocorrem duas divisões nucleares que originam quatro células haplóides, geneticamente diferentes. O número de cromossomas de cada célula-filha é metade do da célula-mãe. Ocorre apenas em células diplóides. Há emparelhamento de cromossomas homólogos. Há crossing-over entre cromatídeos de cromossomas homólogos. As células-filhas não podem sofrer nova divisão meiótica. Em cada ciclo celular formam-se quatro células haplóides (gâmetas ou esporos). Os centrómeros dividem-se longitudinalmente apenas na anáfase II. Mitose Meiose As principais diferenças entre mitose e meiose (Fig. 45) encontram- -se resumidas no quadro seguinte. Mitose Meiose Prófase (início) Prófase (final) Metáfase Anáfase Prófase I (início) Prófase I (final) Metáfase I Anáfase I Anáfase II Telófase Telófase (final) Fig. 45 Localização das principais diferenças entre mitose e meiose. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 86 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 87 REPRODUÇÃO SEXUADA VERSUS VARIABILIDADE Material • 18 peças de lego (2x2) amarelas. • 18 peças de lego (2x2) verdes. • 18 peças de lego (2x2) vermelhas. • 18 peças de lego (2x2) azuis. Procedimento 1 — Comece por distribuir as peças entre si e o seu parceiro, de modo que cada um fique com a totalidade das peças de duas cores. 2 — Cada um dos parceiros deverá, com as peças de uma determinada cor, construir torres de 6, 5, 4 e 3 peças, respectivamente. Desta forma, simula-se a construção dos cromossomas herdados de um dado progenitor. 3 — Repita o procedimento com as peças da outra cor. Acabou de obter os cromossomas herdados do outro progenitor. 4 — Faça pares com os cromossomas das mesmas dimensões. 5 — De forma aleatória, troque peças (em número igual) entre pares de cromossomas. 6 — Separe os pares em dois grupos, de modo que cada um seja portador de um exemplar de um dado cromossoma. 7 — Junte um dos seus conjuntos com um outro obtido pelo seu colega. 8 — Disponha os conjuntos aos pares, por ordem crescente de tamanho. 9 — Registe os resultados sob a forma de desenho ou fotografia. 10 — Repita os procedimentos 7 e 8 para os conjuntos que tinham sobrado. 11 — Repita os procedimentos de 2 a 10. 12 — Compare os seus resultados (esquemas ou fotografias) com os dos restantes grupos de alunos da turma. ACTIVIDADE LABORATORIAL Discussão 1 — Identifique o que se pretende simular nos passos: a) 4; b) 5; c) 6; d) 7. 2 — O que representam os grupos obtidos no passo 8? 3 — O que pode concluir quando compara os resultados obtidos dentro do seu grupo e entre o seu grupo e os restantes? 4 — Tire conclusões quanto ao contributo da meiose e da fecundação para a variabilidade conseguida durante a reprodução sexuada. Nota: Este trabalho deverá ser realizado por um grupo de dois alunos. Fig. 46 Desenvolvimento da actividade experimental. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 87 88 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Que estratégias de reprodução sexuada adoptam os seres vivos? A reprodução sexuada, apesar de exigir um maior dispêndio de energia, revelou-se mais eficaz para as espécies que a adoptam, dado que assegura maior diversidade e, consequentemente, maior capacidade de sobrevivência a variações no meio. A reprodução sexuada implica a produção de células sexuais, a promoção do seu encontro e, finalmente, a sua fusão — fecundação. Nos animais, as únicas células sexuais são os gâmetas. Existem dois tipos diferentes de gâmetas — os masculinos (espermatozói- des) e os femininos (óvulos). Ambos resultam de processos de meiose, que ocorre em estruturas especializadas, as gónadas (tes- tículos, gónadas masculinas, e ovários, gónadas femininas). Nas plantas, além dos gâmetas, encontram-se também outras células sexuais, os esporos, que resultam de meiose e são produzidos em estruturas designadas por esporângios. Os gâmetas nas plantas resultam de mitoses. Como nos animais, é possível distinguir gâmetas femininos (oosferas) e gâmetas masculinos (anterozóides), formados, respectivamente, nos arquegónios e nos anterídios. Estes últimos, porque correspondem aos órgãos da planta onde se formam os gâmetas, recebem a designação de gametângios. Alguns indivíduos, animais ou plantas, conseguem produzir os dois tipos de gâmetas, designando-se por hermafroditas. Em alguns casos, a produção de gâmetas é simultânea e pode ocorrer autofecundação, denominando-se hermafroditismo sufi- ciente. Nestas situações, um único progenitor reproduz-se sexuada- mente. Este processo, aparentemente pouco eficiente, dado que não assegura um grande acréscimo de diversidade, é a única solução que algumas espécies encontram para se reproduzir. Os animais que parasitam internamente outras espécies, como a ténia, têm uma probabilidade mínima de se cruzar com outro indivíduo da mesma espécie e do sexo oposto, e algumas espécies de plantas, como a ervilheira, possuem flores cujas peças reprodutoras estão isoladas do exterior pelas pétalas e pelas sépalas, apresentam her- mafroditismo completo (Fig. 47). A B Fig. 47 A ténia, endoparasita, apresenta hermafroditismo completo (A), como a ervilheira, que apresenta as peças reprodutoras encerradas no perianto (B). gónada gonad gametângio gametangium fecundação fertilization hermafrodita hermaphroditi 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 88 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 89 Noutros casos, apesar da dupla produção de gâmetas, a autofe- cundação não é possível (Fig. 48). Tal facto pode ser atribuído, por exemplo, a uma incompatibilidade anatómica de contacto entre os gâmetas. Na minhoca, os locais de libertação de ambos os gâmetas são distantes, e, como tal, a autofecundação torna-se impossível, necessitando estes animais de recorrer à dupla fecundação. Cada animal age simultaneamente como macho e fêmea, libertando espermatozóides que fecundarão o óvulo do parceiro e, simultanea- mente, recebendo deste espermatozóides que irão fecundar os seus óvulos. A descendência possui, assim, cromossomas de ambos os progenitores. Um fenómeno semelhante pode ocorrer em plantas cujas flores apresentam anteras a um nível inferior ao carpelo. Mais uma vez, a autofecundação fica interdita. A impossibilidade de um hermafrodita se auto-reproduzir acaba por apresentar vantagens, pois a necessidade de recorrer a um parceiro garante a diversidade da descendência. Para que exista fecundação, é necessário sincronismo na pro- dução de gâmetas por parte dos dois progenitores, o que pode resultar quer de estímulos ambientais (em animais e plantas) quer de estímulos sociais (exclusivamente em animais). É de notar que as paradas nupciais, por um lado, ou a percepção do acasalamento de outros indivíduos da mesma espécie, por outro, promovem a libertação de gâmetas. Finalmente, a fusão das células sexuais — fecundação — tam- bém tem de estar em harmonia como próprio ser vivo e com o seu habitat. Assim sendo, é possível falar de fecundação externa (Fig. 49), quando o encontro dos gâmetas ocorre no meio ambiente. Tal tipo de união de gâmetas restringe-se apenas ao meio aquático e, como tal, às espécies que aí se reproduzem (algas e animais aquáticos). Esta fecundação exige uma produção maciça de gâmetas, dado que a probabilidade de estes se encontrarem é baixa, bem como uma produção simultânea dos mesmos. A B Fig. 48 A minhoca, apesar de possuir ambos os aparelhos reprodutores, necessita de recorrer a uma fecundação cruzada (A), como algumas flores cujas anteras se situam abaixo do estigma (B). O salmão percorre grandes dis- tâncias para encontrar as condi- ções ambientais ideais para a libertação dos seus gâmetas. CURIOSIDADE Estigma Anteras 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 89 90 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Fig. 49 Fecundação externa: os gâmetas encontram-se na água, fora do corpo dos animais. No meio terrestre, é necessário uma fecundação interna, pois, se assim não fosse, quer a mobilidade dos gâmetas quer a hidrata- ção do ovo (ou zigoto) estariam comprometidas. Como vantagem deste processo, podemos registar a poupança energética na produção de gâmetas. Algumas espécies, como, por exemplo, a humana, restringem a produção de gâmetas femininos a um único por ciclo sexual. A fecundação interna exige que se crie uma forma de deposi- tar um tipo de gâmetas no interior do organismo do sexo oposto (Fig. 50). Esta exigência foi ultrapassada, na maioria dos animais, com o desenvolvimento de um órgão copulador nos machos — o pénis — e, nas plantas mais evoluídas, com o crescimento de um tubo polínico — estrutura que resulta da germinação de um grão de pólen — que assegura o depósito dos anterozóides perto da oosfera. A B Fig. 50 Os animais terrestres (A) recorrem à fecundação interna, como as plantas angiospérmicas (B). 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 90 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 91 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Tétrada • Bivalente Essenciais • Meiose • Divisão reducional • Divisão equacional • Haplóide • Diplóide • Cromossomas homólogos • Crossing-over • Mutação cromossómica • Fecundação • Gâmetas • Gónada • Hermafrodita Necessários • Interfase • Fase G1 • Fase S • Fase G2 • Prófase • Metáfase • Anáfase • Telófase • Fuso acromático • Placa equatorial • Citocinese • Ovo ou zigoto • Cromossomas • Cromatídeos-irmãos Síntese de conhecimentos • A reprodução sexuada envolve dois fenómenos que ocorrem alternadamente: meiose e fecundação. • Antes da meiose ocorre a interfase, em que a célula se prepara para a divisão, crescendo, sintetizando proteínas e replicando o seu DNA. • Na meiose, ocorrem duas divisões celulares consecutivas (meiose I e meiose II), com apenas uma duplicação do DNA (realizada na interfase), que transformam uma célula diplóide (2n) em quatro haplóides (n). • A primeira divisão da meiose é reducional — formam-se duas células-filhas haplóides a partir de uma célula-mãe diplóide — e acontece em quatro fases: prófase I, metáfase I, anáfase I e telófase I. • A prófase I é uma fase longa durante a qual ocorrem fenómenos de extrema importância para garantir a variabilidade genética (crossing-over). • A segregação dos homólogos na anáfase I e a separação dos cromatídeos-irmãos na anáfase II são outros fenómenos que contribuem para gerar diversidade de características. • Existe controlo dos fenómenos da meiose, mantido por complexos proteicos que actuam em determinados momentos do processo. • Os fenómenos de crossing-over, de segregação dos homólogos e de separação dos cromatídeos podem, se ocorrerem alguns erros, originar alterações na estrutura ou no número de cromossomas e levar ao aparecimento de mutações cromossómicas. • A meiose assegura a variabilidade genética, o que é vantajoso para as espécies por aumentar a sua capacidade de subsistência em condições adversas. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 91 ACTIVIDADES 92 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Reprodução sexuada 1. Elabore um mapa de conceitos relativo à reprodução sexuada. 2. Considerando que os fenómenos evidenciados na imagem seguinte ocorrem na mesma divisão da meiose, refira: a) a designação das fases A e B; b) a ordem pela qual ocorrem estas etapas; c) o fenómeno evidenciado em B. 2.1 Qual é a consequência do acontecimento representado em A? Justifique a sua resposta. 2.2 Por que razão não se pode confundir a fase A com uma fase da mitose? 3. Estabeleça a correspondência correcta entre as afirmações que se seguem e as letras da chave. A B 4. A imagem seguinte esquematiza uma das divisões consecutivas que acontecem durante a meiose. Analise-a e responda às questões. CHAVE A — Meiose B — Mitose C — Ambos os processos D — Nenhum dos processos AFIRMAÇÕES I. Ocorre duas vezes a duplicação do DNA. II. A célula inicial pode ser haplóide. III. A interfase precedente inclui as fases G1, S e G2. IV. Há alteração da ploidia da célula inicial. V. Envolve o fenómeno de replicação do DNA. VI. Aumenta a variabilidade na espécie. VII. Há alteração do número de cromossomas. VIII. Formam-se duas células-filhas. IX. Está na base dos fenómenos de reprodução assexuada. X. As células-filhas têm metade do número de cromossomas da célula-mãe. 4.1 Qual é a divisão representada? Justifique com dois dados da imagem. 4.2 Faça a legenda dos números da imagem referentes às fases que se sucedem ao longo deste processo. I II III IV V 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 92 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 93 4.3 Apresente uma explicação para as diferentes designações utilizadas em IV e V. 4.4 Qual é o fenómeno, que ocorre nos cromossomas, que permite o acontecimento evidenciado em III? 4.5 Se uma célula possuir 20 cromossomas no momento em que inicia a divisão celular, refira o número de cromossomas que possuirá quando atingir a fase representada na imagem com: a) o número I; b) o número V. 5. Identifique a divisão da meiose (I, II ou ambas) em que ocorre cada um dos fenómenos seguintes: A — Dá-se a formação do fuso acromático. B — Os cromossomas homólogos dispõem-se na região mediana da célula. C — Precede a citocinese. D — Os cromatídeos ascendem aos pólos. E — Os cromossomas sofrem descondensação. F — A distância entre cromatídeos-irmãos é crescente. G — Visualizam-se os bivalentes. H — Ocorre crossing-over. I — Há ruptura do centrómero. J — A célula passa de diplóide a haplóide. 6. Analise atentamente o gráfico seguinte e responda às questões. 6.1 Refira a fase da divisão celular a que correspondem os períodos marcados no gráfico com as letras A, B e C. 6.2 Identifique, justificando, o fenómeno que terá ocorrido no momento assinalado com D. 6.3 Seleccione a opção que permite completar o texto, de modo a criar uma afirmação correcta sobre o gráfico. «Se uma célula somática, com 30 cromossomas, entrar em divisão celular e sofrer meiose, apresentará, na metáfase I, (…) pares de cromossomas e (…) cromatídeos-irmãos. Quando for atingida a fase C, deverão ascender a cada um dos pólos (…) cromatídeos-irmãos.» A — 15 […] 30 […] 15 B — 15 […] 60 […] 15 C — 15 […] 30 […] 30 D — 30 […] 60 […] 30 E — 15 […] 30 […] 60 7. Refira alguns dos erros que podem ocorrer durante o processo da meiose, enumerando também as possíveis consequências. Q 2Q 4Q Quantidade de DNA Tempo A B C D 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 93 94 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s ciclo de vida life cycle alternância de fases nucleares alternation of nuclear phases 6 3 Ciclos de vida: unidade e diversidade Uma das características inerentes aos seres vivos é a sua capaci- dade de reprodução. Os seres vivos com reprodução sexuada pas- sam por processos específicos. O conjunto de etapas por que passa um indivíduo desde a sua formação até à concepção de outro organismo semelhantea si denomina-se ciclo de vida (Fig. 51). Zigoto (2n) Gâmetas (n) Esporos (n) Esporófito (2n) Gametófito (n) Fase diplóide Fase haplóide Mitose Mitose Mitose MeioseFecundação Fig. 51 Ciclo de vida geral de todas as plantas. CICLOS DE VIDA TÊM EM COMUM A RETER Meiose Fecundação Células sexuais Ovo ou zigoto Alternância de fases nucleares O que há de comum em todos os ciclos de vida? Os ciclos de vida de todos os seres vivos apresentam aspectos comuns, nomeadamente: • a ocorrência de meiose, que permite, em determinado momen- to do ciclo, formar células haplóides (n), contribuindo para a diversidade da espécie; • a ocorrência de fecundação, que corresponde à fusão de gâmetas, repondo a diploidia no ciclo celular e contribui também para a variabilidade da espécie; • a presença de células sexuais, células especializadas que são sempre haplóides, podendo ser gâmetas (comuns a todos os ciclos) ou esporos (presentes apenas em alguns ciclos); • a presença de ovo ou zigoto, célula inicial de todos os seres vivos quando recorrem à reprodução sexuada, que é sempre diplóide; • a alternância de fases nucleares (apesar de estas poderem ter durações variadas), existe em todos os ciclos uma fase haplóide (que, no mínimo, se resume aos gâmetas) e uma fase diplóide (que, no mínimo, é representada pelo zigoto); a passagem da fase haplóide para a fase diplóide é da respon- sabilidade da fecundação, enquanto a passagem da fase diplóide para a fase haplóide se deve à meiose. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 94 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 95 Em que diferem os ciclos de vida? A principal diferença entre os ciclos de vida está relacionada com o momento em que ocorre a meiose. Esta pode dar-se em três momentos diferentes, o que tem implicações na caracterização do ciclo. Assim sendo, podemos considerar: • Meiose pré-gamética — a meiose ocorre para que se dê a formação dos gâmetas (Fig. 52A). Como antecedem a fecun- dação, estas células são, nestes casos, as únicas entidades haplóides. O ciclo designa-se por diplonte. Exemplos de seres vivos onde ocorre este tipo de ciclo são os animais e algumas algas. • Meiose pós-zigótica — a meiose ocorre logo após a forma- ção do zigoto (Fig. 52B). Assim sendo, o zigoto é a única estru- tura diplóide do ciclo, que, por isso, se designa por haplonte. Indivíduos com este tipo de ciclo são, por exemplo, algumas algas e fungos. • Meiose pré-espórica — a meiose ocorre para que se dê for- mação dos esporos (Fig. 52C). Acontece só em indivíduos que apresentem dois tipos de células sexuais (gâmetas e esporos). Nestes seres existe uma geração produtora de esporos (gera- ção esporófita ou esporófito) e uma geração produtora de gâmetas (geração gametófita ou gametófito). A geração esporófita inicia-se com o ovo ou zigoto e termina com a meiose, que leva à produção de esporos; assim, todas as células das estruturas desta geração são diplóides, existindo correspondência entre a geração esporófita e a fase diplóide. A geração gametófita inicia-se com os esporos e termina com a fecundação. Todas as células das estruturas desta geração são haplóides, sendo possível estabelecer uma correspondência entre a geração gametófita e a fase haplóide. Os ciclos de vida destes indivíduos designam-se por haplodiplontes. – + + GâmetaGâmetas – Gâmeta Fecundação Meiose Zigoto A – + + GâmetaEsporos – GâmetaFecundação Meiose Zigoto C – + + GâmetaCélulas haplóides – Gâmeta Fecundação Meiose Zigoto B Fig. 52 Meiose pré-gamética (A); meiose pós-zigótica (B); meiose pré-espórica (C). LOCALIZAÇÃO DA MEIOSE A RETER Meiose pós-zigótica Meiose pré-espórica Meiose pré-gamética 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 95 96 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s CICLOS DE VIDA 1. Observe e analise os esquemas e as figuras que se seguem. ACTIVIDADE 1.1 Justifique a designação atribuída a cada um dos ciclos. 1.2 Identifique as estruturas e os fenómenos comuns aos três ciclos. 1.3 Refira o nome das estruturas pertencentes à geração gametófita, no ciclo B. 1.4 Identifique o fenómeno responsável por: a) reduzir a metade o número de cromossomas; b) repor a diploidia. 1.5 Comente a afirmação seguinte. «Em qualquer dos ciclos representados, os descendentes serão necessariamente diferentes entre si e diferentes dos seus progenitores.» 1.6 Procure uma explicação plausível que justifique que os indivíduos com mais sucesso evolutivo tendam a ter, nos seus ciclos de vida, fases diplóides prolongadas. Adulto (n) Esporo (n) Gâmetas (n) Masculino Feminino Fase haplóide (n) Fase diplóide (2n) Zigoto (2n) MEIOSE FECUNDAÇÃO Ciclo haplonte Algumas algas e fungos. A Gametófito (n) Esporo (n) Gâmetas (n) Masculino Feminino Fase haplóide (n) Fase diplóide (2n) Zigoto (2n)Esporângio (2n) Esporófito (2n) MEIOSE FECUNDAÇÃO Ciclo haplodiplonte Todas as plantas. B Gâmetas (n) Masculino Feminino Fase haplóide (n) Fase diplóide (2n) Zigoto (2n) Adulto (2n) MEIOSE FECUNDAÇÃO Ciclo diplonte Todos os animais. C Fig. 53 Os seres vivos apresentam ciclos de vida diferentes, que se podem organizar em três tipos: haplonte, haplodiplonte e diplonte. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:38 Page 96 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 97 Como se processa a reprodução sexuada em Chlamydomonas? Chlamydomonas é uma alga verde, unicelular e biflagelada. Raramente recorre à reprodução sexuada, multiplicando-se, por norma, por bipartição. Contudo, quando os níveis de azoto no meio são escassos, ou quando as condições de luminosidade são adversas, a Chlamydomonas opta pela reprodução sexuada. Nestas situações, as células vegetativas (haplóides) formam vários gâmetas (de 4 a 32), por mitoses sucessivas. Estes são iguais às células vegetativas, ainda que mais pequenos, e morfologica- mente idênticos entre si. Apesar de não se distinguirem morfologi- camente, os gâmetas têm comportamentos diferenciados, nunca ocorrendo fecundação entre dois gâmetas com origem na mesma célula vegetativa. Durante a fecundação, por fusão de dois gâmetas, forma-se um zigoto (primeira e única estrutura diplóide do ciclo). Este possui inicialmente quatro flagelos, mas rapidamente os perde. Envolve-se numa espessa e resistente parede celulósica, recebendo a designa- ção de zigósporo. Este caracteriza-se pela sua elevada resistência a temperaturas extremas e a situações de pouca humidade. Quando as condições ambientais se tornam favoráveis, o zigoto germina, ocorrendo uma meiose (Fig. 54). Cada zigoto forma quatro novos indivíduos haplóides. Estes, inicialmente mais pequenos, acabam por crescer, completando o ciclo de reprodução sexuada da alga (Fig. 55). Célula vegetativa Ovo/ /zigoto Gâmeta + Gâmeta – FECUNDAÇÃO Fase haplóide Fase diplóide MEIOSE Fig. 54 Localização da meiose e da fecundação no ciclo de vida de Chlamydomonas. A RETER Meiose Ciclo Fecundação Pós-zigótica Haplonte Externa e dependente da água 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 97 98 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Zigósporo (2n) Zigoto (2n) Tipo – Tipo + Gâmetas + (n) Gâmetas – (n) MEIOSE FECUNDAÇÃO FASE DIPLÓIDE FASE HAPLÓIDE Fig. 55 Esquema do ciclo de vida de Chlamydomonas. CICLO DE VIDA DE CHLAMYDOMONAS 1. Sabendo que a Chlamydomonas é um dos seres vivos que podem optar pela reprodução sexuada ou pela reprodução assexuada, responda às questões. 1.1 Enumere vantagens, para esta alga, do recurso à reprodução: a) assexuada; b) sexuada. 1.2 Refira uma vantagem da ausência de fecundação entre gâmetas provenientes da mesma célula vegetativa. ACTIVIDADE 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 98 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 99 Como se processa a reprodução sexuada no musgo? No musgo, o gametófito é multicelular e fotossintético; tem uma vida independente e corresponde à geração dominante. No gametófito diferenciam-se os órgãos produtores de gâmetas — os gametângios. Cada gametângio feminino (arquegónio) produz, pormitose, um único gâmeta feminino — oosfera. Este é imóvel e fica encerrado no gametângio. Os gametângios masculinos (anterídios) produzem, por mito- se, vários gâmetas masculinos — os anterozóides, pequenas células com dois flagelos. Estes abandonam os anterídios e deslocam-se em direcção ao gametângio feminino, para aí penetrarem e se fundirem com a oosfera. A fecundação é interna e dependente da água, ini- ciando uma nova geração — a geração esporófita. Da fecundação resulta uma célula diplóide (2n) — ovo ou zigoto —, que, por mitoses sucessivas, origina um esporófito. Este inicia a sua formação dentro do arquegónio e, portanto, ligado ao gametófito. A ligação permanece ao longo de toda a vida do espo- rófito. O esporófito é temporário, heterotrófico e dependente do gametófito. Na extremidade do esporófito diferencia-se a cápsula (esporân- gio), órgão produtor de esporos. Os esporos são produzidos por meiose; por essa razão, a meiose é designada por pré-espórica (Fig. 56). Quando as condições ambientais são favoráveis, a cápsula liberta os esporos, os quais, por mitoses sucessivas, originam um gametó- fito jovem — protonema. Este continua a crescer, transformando- -se num gametófito (Fig. 57). ESPORO PROTONEMA Anterídio Anterozóide MUSGO/ /GAMETÓFITO Arquegónio Oosfera FECUNDAÇÃO Fase haplóide — geração gametófita Fase diplóide — geração esporófita MEIOSE Esporângio Esporófito Ovo/ /zigoto Fig. 56 Localização da meiose e fecundação no ciclo de vida do musgo. A RETER Meiose Ciclo Geração dominante Pré-espórica Haplodiplonte Gametófita Características da geração não dominante Temporária, heterotrófica e dependente Fecundação Interna e dependente da água 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 99 100 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s MEIOSE FECUNDAÇÃO FASE DIPLÓIDE FASE HAPLÓIDE Cápsula Seda Esporófito (2n) Esporângio Opérculo Esporos Peristoma Esporos (n) Esporos a germinar Protonema Gametófito feminino Gametófito masculino Arquegónio Anterídio Arquegónio Anterozóide Oosfera Oosfera Ovo Embrião Esporófito jovem Fig. 57 Ciclo de vida do musgo. 919354 086-111_U6 31/1/08 14:41 Page 100 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 101 OBSERVAÇÃO DE ESTRUTURAS DO CICLO DE VIDA DO MUSGO Procedimento 1 — Seleccione musgos com hastes finas. 2 — Com a ajuda de uma pinça, retire um musgo e observe-o à lupa. 3 — Faça um esquema legendado da observação. 4 — Retire a cápsula a um musgo. Coloque-a sobre uma lâmina, esmague-a, faça uma preparação microscópica e observe-a ao MOC. 5 — Esquematize e legende a observação. 6 — Observe ao MOC preparações definitivas de protonemas de musgo. Esquematize-as. 7 — Observe ao MOC preparações definitivas de arquegónios e anterídios. Esquematize os resultados obtidos. ACTIVIDADE LABORATORIAL Teoria Princípios Conceitos Conclusão Discussão A — Relacione as cores apresentadas pelas gerações gametófita e esporófita com a forma de obtenção de alimento. B — Relacione a posição da cápsula com a função por esta desempenhada. C — Procure uma justificação para a ligação que o esporófito mantém com o gametófito. D — Justifique a classificação atribuída a este ciclo de vida. Resultados Quais são as características do ciclo de vida do musgo? 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 101 102 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Como se processa a reprodução sexuada nos animais? Apesar da diversidade de estratégias reprodutoras, todos os animais apresentam ciclos de vida com um padrão comum (Fig. 58). Todas as células somáticas dos animais são diplóides, possuindo cromossomas oriundos de ambos os progenitores. Os animais têm órgãos especializados onde são produzidos os gâmetas: as gónadas (os testículos são as gónadas masculinas, e os ovários, as gónadas femininas). Nestes órgãos existem células germinativas que sofrem processos de meiose, dando origem a gâmetas. Os gâmetas masculi- nos, espermatozóides, são flagelados e têm pequenas dimensões, enquanto os gâmetas femininos, óvulos, têm maiores dimensões e são imóveis. Da junção de um espermatozóide e de um óvulo resul- ta um zigoto, que originará um novo indivíduo diplóide (Fig. 59). O ciclo de vida dos animais apresenta, como os outros ciclos de vida, alternância de gerações. A fase haplóide fica restrita apenas aos gâmetas, pertencendo todas as outras estruturas à fase diplóide, pelo que o ciclo recebe a designação de diplonte. Existem também outros seres vivos, mais simples, que apresen- tam o mesmo tipo de ciclo de vida — por exemplo, o Fucus, alga castanha. Espermatozóides FECUNDAÇÃO Fase haplóide Fase diplóide MEIOSE Ovários Óvulos Indivíduo adulto Ovo/ /zigoto Testículos Fig. 58 Localização da meiose e da fecundação no ciclo de vida de um animal. A RETER Meiose Ciclo Fecundação Pré-gamética. Diplonte. Variável. Nalgumas espécies de vida aquática pode ser externa. Em todas as espécies terrestres é interna. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 102 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 103 Testículos Ovário Zigoto Óvulo Espermatozóides MEIOSE FECUNDAÇÃO FASE DIPLÓIDE FASE HAPLÓIDE Folículo Tubo seminífero Fig. 59 Ciclo de vida de um animal. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 103 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Ciclo haplonte • Ciclo diplonte • Ciclo haplodiplonte • Meiose pré-espórica • Meiose pré-gamética • Meiose pós-zigótica • Esporófito • Gametófito • Anterozóide • Oosfera Essenciais • Ciclo de vida • Alternância de fases nucleares Necessários • Meiose • Fecundação • Gametângio • Gónada • Espermatozóide • Óvulo Síntese de conhecimentos • O ciclo de vida é o conjunto de etapas por que passa um indivíduo desde a sua formação até à concepção de outro organismo semelhante a si. • Em todos os ciclos de vida ocorre meiose e fecundação, tendo como consequência a alternância de gerações. • Em todos os ciclos de vida existem gâmetas (haplóides) e zigoto (diplóide). • Os ciclos distinguem-se pelo momento em que ocorre a meiose. • • De acordo com o momento em que ocorre a meiose, existem três tipos de ciclos de vida: — ciclos haplontes (meiose pós-zigótica); — ciclos diplontes (meiose pré-gamética); — ciclos haplodiplontes (meiose pré-espórica). • Os ciclos haplontes são característicos dos fungos e de algumas algas. • Os ciclos diplontes são característicos dos animais. • Os ciclos haplodiplontes são característicos das plantas. 104 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s MEIOSE Pré-espórica Pré-gamética Pós-zigótica Para produção de esporos. Para produção de gâmetas. Quando ocorre na germinação do zigoto. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 104 ACTIVIDADESACTIVIDADES Ciclos de vida 1. Elabore um mapa de conceitos relativo à reprodução dos seres vivos. 2. Observe atentamente as imagens seguintes e responda às questões. 2.1 Faça as legendas dos elementos assinalados com os números de 1 a 5. 2.2 Identifique as fases X e Y. 2.3 Identifique o modo de divisão celular responsável pelo processo Z. 2.4 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. As estruturas 1 distinguem-se das estruturas 3… A — … pelo número de cromossomas. B — … pelo tipo de cromossomas. C — … pela autonomia na germinação. D — … pelo cariótipo. 2.5 Seleccione a opção que completa correctamente a frase. O ciclo representado na figura é… A — … haplonte. C — … diplonte. B — … haplodiplonte. D — Nenhuma das opções anteriores. 2.6 Em B e C estão representadas fases de determinados processos de divisão celular do mesmo indivíduo. Analise as afirmações e seleccione a opção que melhor as define. Fase Y Fase X Meiose Fecundação Z Mitose 3 — Gâmetas 2 1 5 4 A B C u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 105 CHAVE AFIRMAÇÕES A — Todas as afirmações são verdadeiras. B — Todas as afirmações são falsas. C — Apenas as afirmações 1 e 2 são verdadeiras. D — Apenas as afirmações 2 e 3 são verdadeiras.I. B pode ser observada durante a produção das estruturas 1. II. C foi observada durante o processo Z. III. C foi observada durante a formação da estrutura 3. 919354 086-111_U6 6/16/08 3:08 PM Page 105 ACTIVIDADES 106 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 3. Estabeleça a correspondência correcta entre os elementos da chave e as afirmações que se lhes seguem. 4. Analise as três afirmações sobre ciclos de vida e seleccione a opção que melhor as caracteriza. 5. Seleccione a opção que apresenta a sucessão de estruturas num ciclo haplodiplonte. A — Gâmetas; zigoto; gametófito; esporos; esporófito. B — Zigoto; gâmetas; gametófito; esporos; esporófito. C — Zigoto; esporófito; gâmetas; gametófito; esporos. D — Gâmetas; zigoto; esporófito; esporos; gametófito. 6. Analise o texto que se segue e responda às questões. «O Fucus é uma alga castanha que cresce nas praias rochosas. As suas características especiais permitem-lhe viver em meios com luminosidade variável, podendo sobreviver fora de água durante períodos consideráveis. A alga adulta, diplóide, apresenta locais específicos — os conceptáculos — onde se produzem anterozóides e oosferas. Estes são libertados na água. Os anterozóides, pequenos e flagelados, deslocam-se até à oosfera, maior e imóvel, consumando a fecundação. O zigoto fixa-se numa rocha e completa o ciclo de vida.» 6.1 Seleccione a opção que permite preencher os espaços de modo a obter uma afirmação correcta. Os conceptáculos são os (…) do Fucus, e nestes ocorre (…). A — gametângios […] mitose C — gametângios […] meiose B — esporângios […] mitose D — esporângios […] meiose CHAVE A — Verdadeiro para todos os ciclos de vida. B — Verdadeiro para alguns ciclos de vida. C — Falso para todos os ciclos de vida. AFIRMAÇÕES I. O zigoto é haplóide. II. Os gâmetas são haplóides. III. Estão presentes gâmetas. IV. Estão presentes esporos. V. Os gâmetas resultam de meiose. VI. Ocorre alternância de gerações. VII. Os gâmetas são morfologicamente distintos entre si. VIII. A fase haplóide inicia-se com o zigoto. AFIRMAÇÕES I. O zigoto é sempre diplóide, independentemente do ciclo. II. Os gâmetas são, em todos os ciclos, resultado directo de meiose. III. Há alternância de fases nucleares em todos os ciclos. CHAVE A — Todas as afirmações são verdadeiras. B — Todas as afirmações são falsas. C — Apenas as afirmações 1 e 2 são verdadeiras. D — Apenas as afirmações 1 e 3 são verdadeiras. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 106 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 107 6.2 Seleccione a opção que permite preencher os espaços de modo a obter uma afirmação correcta. O ciclo de vida do Fucus é (…), e, portanto, semelhante ao (…). A — haplonte […] da Chladmydomonas B — haplodiplonte […] do musgo C — haplodiplonte […] da Chlamydomonas D — diplonte […] dos animais E — haplonte […] do musgo 7. Analise os gráficos, referentes a diferentes ciclos de vida, e responda às questões que se seguem. 7.1 Estabeleça a correspondência correcta entre os números da figura e os termos que se seguem. A — Gametófito B — Esporófito C — Gâmetas D — Esporos E — Zigoto 7.2 Classifique os ciclos A, B e C. 7.3 Seleccione a opção que permite preencher os espaços de modo a obter uma afirmação correcta. Entre 2 e 3 ocorre a (…), e entre 4 e 5 ocorre a (…). A — fecundação […] meiose B — mitose […] meiose C — fecundação […] mitose D — meiose […] mitose 8. Comente a afirmação seguinte. «Os animais terrestres possuem obrigatoriamente fecundação interna.» 8.1 Refira as vantagens da fecundação interna relativamente à fecundação externa. 8.2 Refira os «obstáculos» que os seres vivos que recorrem a este tipo de fecundação tiveram de ultrapassar. 9. Explique por palavras suas as diferenças que podem existir entre o hermafroditismo e a autofecundação. 9.1 Enumere alguns exemplos representantes das duas situações. 2n n 1 2 5 3 4 tempo A 2n n 6 7 tempo B 2n n 8 9 tempo C 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 107 Questões centrais: • Será lícito experimentar a clonagem humana? • Que razões levam a que a investigação sobre células estaminais para fins regenerativos (a chamada «clonagem terapêutica») tenha suscitado polémica por questões éticas e morais? • Tendo como base estas questões centrais e as notícias que se seguem, organize um debate (com investigação prévia) com as personagens sugeridas ou outras que considerar interessantes. Fontes bibliográficas: Para construir a sua personagem, recorra às informações que se encontram no manual escolar sobre clonagem e pesquise na biblioteca da Escola. Poderá ainda consultar os seguintes sítios: • http://www.juntospelavida.org/clon-vita.html • http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/Ciencia/Clonag01.htm • http://www.mni.pt/destaques/?cod=1743&MNI=71f7fc57352973b73beaa27adb3ea48e Personagens: Moderador, médico, biólogo, representante da Associação de Defesa dos Direitos Humanos, representante dos Activistas dos Direitos dos Doentes e representante da Igreja. JOGO DE SIMULAÇÃO Proposta para canalizar 2500 milhões de euros para experiências nesta área vai a votos na Califórnia em 2 de Novembro. O governador da Califórnia apoia a investi- gação sobre células estaminais embrionárias. […] A manifestação de apoio à Proposta 71, como é conhecida, comporta riscos políticos para Schwarzenegger, eleito pelo Partido Repu- blicano, pois a posição do presidente George W. Bush é a de limitar o financiamento de experiências com células estaminais a culturas estabelecidas antes de 9 de Agosto de 2001, quando anunciou essa decisão à nação. O pro- blema reside no facto de estas células serem colhidas em embriões com cerca de seis dias de desenvolvimento, quando não são mais do que bolinhas microscópicas, embora impliquem a destruição dos embriões. Mas como têm o potencial de se transformar em vários tipos de células, são vistas como possíveis tratamentos para doenças hoje incuráveis, como a doença de Parkinson ou a diabetes. As limitações estabelecidas por Bush são criticadas pelos cientistas e por activistas dos direitos de doentes que poderiam beneficiar de terapias baseadas nas células estaminais. Entre estes, encontram-se várias pessoas célebres, como os filhos do ex-presidente Ronald Reagan, que foi vítima da doença de Alzheimer, e o actor Christopher Reeve, que estava parali- sado do pescoço para baixo havia nove anos e faleceu recentemente. […] Público, 22 de Outubro de 2004 (adaptado) […] O propósito de criar uma cópia geneti- camente idêntica de um ser humano é consis- tente com o termo «clonagem humana reprodu- tiva»; porém, o de criar células estaminais para medicina regenerativa não deve ser definido como clonagem terapêutica. É que o objectivo desta última técnica não é fazer uma cópia do tecido do receptor, mas antes de criar um teci- do geneticamente compatível com o deste. […] Bert VOGELSTEIN, Bruce ALBERTS, Kenneth SHINE — Science, vol. 295, 15 de Fevereiro de 2002 (adaptado) Schwarzenegger apoia o financiamento da investigação sobre células estaminais 108 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 108 u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 109 A clonagem na agricultura resulta na pro- dução de tecidos vegetais a partir de uma pequena amostra de uma planta, que é coloca- da num recipiente de vidro com um meio nutri- tivo adequado. Clones perfeitos de plantas são produzidos em estufas esterilizadas e com um controlo cuidado da luminosidade, da temperatura e da humidade. A técnica é utilizada na indústria de plantas de interiores e em florestação. No caso da florestação, a micropropagação fornece resultados imediatos, ao passo que a obtenção de sementes de árvores geneticamente homo- géneas pelos meios tradicionais levaria mais de cem anos. Enciclopédia Mundial Multimédia On-Line multiplicação dos órgãos que possam regenerar a planta a propagar (fase 2). A fase 3 consiste no enraizamento dos rebentos já micropropagados,enquanto a últi- ma fase passa pela aclimatização das plântulas já desenvolvidas. Depois de um período de crescimento em estufa, as plantas são finalmen- te transferidas para o terreno, não sem antes existir uma rigorosa caracterização fisiológica. A metodologia de propagação in vitro é prá- tica comum na Europa e nos Estados Unidos — a maior parte das plantas importadas e vendi- das em viveiros foi germinada com base neste processo. http://www.barlavento.online.pt/index.php/ noticia?id=12734&tnid=2 (adaptado) A clonagem na agricultura moderna CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente DOC. 1 1. Em que tipo de reprodução se baseia a micropropagação? 2. Que vantagens para a sociedade apresenta esta técnica? 3. Que desvantagens poderão advir, para uma espécie, se a sua multiplicação deixar de ocorrer naturalmente e ficar reduzida a este método? ACTIVIDADES Fig. 61 Estufa. Fig. 60 Multiplicação de plantas por micropropagação. Um processo de propagação in vitro pode subdividir-se normalmente em cinco fases, pas- sando a fase zero pela recolha dos ramos de árvores seleccionadas, que são submetidos a tratamentos químicos. A fase 1 contempla a iniciação das culturas em condições de assepsia, a que se segue a 919354 086-111_U6 7/2/08 13:06 Page 109 Fig. 16 Evoluções das plantas. • Em Julho de 1999, na revista BioEduca- ção, publicação da Associação Portuguesa de Biólogos / Ordem dos Biólogos, podia ler-se num artigo, sobre clonagem, do Professor Mário Sousa: […] A totipotência, a diferenciação, a divi- são, a apoptose e a imortalidade celular depen- dem da expressão de certos genes e do silen- ciamento de outros, num equilíbrio delicado e muito complexo, em que as inter-relações celu- lares (por contacto directo e por via de produtos de secreção) e com a matriz extracelular são determinantes. As tentativas in vitro de reverter a diferenciação das células somáticas, de modo a readquirirem a capacidade embrionária, foi sempre o sonho dos biólogos — por um lado, para se conhecerem os mecanismos que permi- tem a totipotência (estado indiferenciado), os que desencadeiam e mantêm o estado de dife- renciação num ou noutro tecido, os da apoptose e os da imortalidade celular; por outro lado, para que, dominando esses mecanismos, se pudesse gerar in vitro, e de novo, a totipotência a partir de células adultas diferenciadas. Uma vez induzida a indiferenciação, e graças ao seu potencial mitótico, poderia obter-se uma enor- me população de células, a que de seguida se induziria uma diferenciação celular específica, para assim se conseguirem tecidos e órgãos para transplante. Apesar de todos os avanços da biologia actual, este controlo é, ainda hoje, impossível. […] • Em 26 de Novembro de 2001, a em- presa Advanced Cell Technology (ACT), de Worcester (Massachusetts), publicou no Journal of Regenerative Medicine um relato do qual se destaca o excerto seguinte: Uma empresa americana anunciou ter rea- lizado, neste domingo, clonagem humana e partenogénese (em que um óvulo dá origem a um embrião sem necessidade de esper- matozóide). As experiências são consideradas extremamente polémicas e potencialmente revo- lucionárias. Em nenhum dos dois casos o objectivo é dar origem a bebés, mas é extrair células esta- minais de embriões — células que dão origem a qualquer órgão ou tecido. No futuro, essas célu- las podem servir como matérias-primas na obten- ção de órgãos para transplante. Se a origem das células for a clonagem ou a partenogénese, não haverá problema de rejeição: o DNA das novas células será igual ao do receptor.» http://epoca.globo.com/nd/20011126ct_a.htm (adaptado) Clonagem: onde termina a realidade e começa a ficção? DOC. 2 Fig. 62 Células estaminais. 110 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s • No dia 1 de Fevereiro de 2002, a agên- cia Lusa divulgou uma notícia, que viria a ser publicada na revista Science dessa mesma semana, sobre resultados de trabalhos realiza- dos na empresa ACT, referida no artigo anterior, da qual se extraiu o texto seguinte: Michael West […] afirmou que a sua equi- pa utilizou químicos para transformar um óvulo de macaco em embrião, um processo chamado partenogénese. A partenogénese é um processo especial de reprodução dos seres vivos, que pode ser normal ou provocado, no qual inter- vém um só gâmeta, não havendo, portanto, fecundação. Em seguida, os cientistas extraíram células estaminais deste embrião para as culti- varem, de forma a desenvolverem-se em teci- dos especializados. […] West acredita que a produção de embriões por partenogénese pode ultrapassar as objecções éticas levantadas por muitos dos que se opõem à clonagem terapêutica. Ao contrário da clonagem reprodutiva, que visa produzir uma pessoa, a clonagem terapêutica consiste no desenvolvimento de embriões até apenas alguns dias de vida, de forma a obterem-se células esta- minais destinadas a tratamentos médicos. […] No estudo, West e a sua equipa expu- seram 77 óvulos de macacos a químicos que causaram o seu desenvolvimento em embriões. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 110 «Os químicos fazem com que o ovo “pense” que contactou o esperma, transformando-se em embrião», explicou. Segundo o investigador, 28 dos 77 ovos iniciais desenvolveram-se em embriões, mas apenas quatro conseguiram alcan- çar um estádio avançado de pré-implantação, chamado blastócito. A partir destes blastócistos, os investigado- res conseguiram extrair com sucesso um único grupo de células embrionárias. Estas células, a que os cientistas chamaram Cyno-1, contêm a totalidade dos genes, todos pertencentes ao macaco-fêmea que produziu o óvulo. Na repro- dução «normal», um embrião recolhe metade dos genes da mãe e outra metade do pai. Em seguida, os investigadores utilizaram químicos para induzir as células estaminais a desenvolverem-se em células altamente espe- cializadas, incluindo cardíacas, musculares e cerebrais. A produção de células estaminais por par- tenogénese já tinha sido obtida em ratos, mas esta é a primeira vez que se concretiza em pri- matas não-humanos. […] http://www.mni.pt/destaques/?cod=1743&MNI= 71f7fc57352973b73beaa27adb3ea48e tempo» até às origens, para se tornarem em tudo semelhantes às CEE(1) verdadeiras. Já se sabia, desde Agosto do ano passado, que bastava activar quatro genes nas células da pele de ratinhos adultos para elas voltarem a ser pluripotentes (resultados obtidos pelos autores de um dos artigos da Nature). E o que a equipa de Plath fez agora, com a ajuda de vírus que infectam as células de ratinho, foi activar esses quatro genes (chamados Oct4, Sox2, c-Myc e Klf4). A dificuldade foi seleccionar ape- nas as células onde a activação dos genes se tinha verificado — cerca de uma em cada mil. O passo seguinte consistiu numa bateria de testes que provou, de forma convincente, que as células reprogramadas conseguem dar ori- gem a todas as células e tecidos de ratinho. Uma outra equipa relata na Nature que conseguiu mesmo fazer nascer ratinhos a partir do ADN das células reprogramadas. Plath e os seus colegas estão a tentar recriar o fenómeno em células humanas — o que poderá demorar ainda alguns anos. http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1296074 (adaptado) 1. De que modo a análise destes artigos contribui para que encaremos a Ciência como uma área do saber em constante construção? 2. Em que difere a clonagem terapêutica da clonagem reprodutiva humana? 3. Que problema de ordem ética, relativamente à clonagem terapêutica, poderá vir a ser ultrapassado com estas novas descobertas? ACTIVIDADES u n i d a d e 6 R e p r o d u ç ã o 111 • Em 6 de Junho de 2007, surgiu no jor- nal Público um artigo intitulado «Cientistas obtêm células estaminais embrionárias sem recorrer a embriões», baseado em artigos publi- cados nas revistas Nature e Cell Stem Cells, e do qual se destacaram alguns excertos: […] No artigo principal, publicado na Cell Stem Cells, a equipa de Kathrin Plath, da Uni- versidade da Califórnia, e colegas de Harvard anunciamque conseguiram, através de mani- pulações genéticas, reprogramar células da pele de ratinhos adultos, obrigando-as a «recuar no Fig. 63 Em laboratório foi já possível a obtenção de embriões de macaco a partir de um óvulo não fecundado. (1) Células estaminais embrionárias (CEE), com capacidade de gerar células beta do pâncreas para tratar a diabetes; células estaminais do sangue contra as leucemias; neurónios motores contra a doença de Parkinson, etc. 919354 U6_p086-111 18/1/08 16:39 Page 111 7unidade 112 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 112 Evolução biológica Unicelularidade e multicelularidade 116 7 1 Mecanismos de evolução 1297 2U7P113H1 Como é que a Ciência e a sociedade têm interpretado a grande diversidade dos seres vivos? 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 113 A E F G B C D 7unidade Evolução biológica 1. Classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — Todos os seres multicelulares são diferenciados. B — Todos os seres procariontes são unicelulares. C — As bactérias em contacto prolongado com um antibiótico tornam-se resistentes ao mesmo. D — As mutações podem beneficiar os indivíduos. E — Todos os seres eucariontes são multicelulares. F — Os seres vivos com reprodução sexuada não são os únicos seres que podem sofrer mutações. G — Quem evolui é a população, e não o indivíduo. H — De tanto se alimentarem das folhas das árvores mais altas, as girafas conseguiram aumentar o seu pescoço. I — A evolução biológica ocorreu das formas mais simples para as mais complexas. J — Uma borboleta colorida tem sempre vantagem em qualquer ambiente. O QUE JÁ SABE, OU NÃO... Seremos mesmo parentes? H I Qual foi o contributo destas ilhas e deste homem para o pensamento biológico? Será possível estabelecer uma origem comum para estes seres vivos? 114 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 114 A Terra ter-se-á formado há cerca de 4600 milhões de anos, e centenas de milhões de anos mais tarde a vida terá surgido à superfície do Planeta. Desde então, e até à actualida- de, as formas de vida têm vindo a sofrer alterações, pelo que uma grande diversidade de seres vivos povoa hoje os ambientes aéreos, terrestres e aquáticos, inclusive os mais inós- pitos e com condições aparentemente pouco propícias à existência de vida. Desde há muito tempo que o Homem se tem questionado sobre a origem da vida e das inúmeras espécies, tentando perceber a grande diversidade de organismos. Os avanços da Ciência e o desenvolvimento da tecnologia têm trazido respostas às inúmeras questões apresentadas e, por vezes, têm contribuído para a reformulação, ou completa mudança, de teorias que, ao longo dos séculos, têm sido apresentadas, na tentativa de responder a estas interrogações. Fig. 1 Diversidade. Ser unicelular, ameba (A); colónia de bactérias (B); seres multicelulares, algas (C). INTRODUÇÃO A evolução das células procarióticas, relativamente simples, para células eucarióticas, com maior complexidade, e dos seres unicelulares para seres plu- ricelulares está associada a um conjunto de acontecimentos extremamente importante na história da Terra. A grande diversidade de seres vivos (Fig. 1) é hoje explicada pelas teorias evolutivas, que, embora tenham alguns opositores, continuam a ser as que melhor respondem às questões levantadas. u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 115 A C B 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 115 116 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 7 1 Unicelularidade e multicelularidade No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o espírito de Deus movia-se sobre a face das águas. Livro do Génesis A observação do meio ambiente revela uma grande diversidade de seres vivos que povoam inclusivamente os mais inóspitos locais. De facto, as dimensões, as formas, a complexidade de funções e a capacidade de adaptação às alterações do meio são alguns dos aspectos que variam nos seres vivos e os tornam tão distintos. No entanto, todos estes seres têm algo em comum — a célula é a sua unidade básica de estrutura e função. DIVERSIDADE E UNIDADE DOS SERES VIVOS 1. Analise as imagens e responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Refira o que há de comum entre todos os seres vivos representados nas imagens. 1.2 Em C, o organismo é constituído por vários tipos de tecidos (muscular, nervoso e outros). Descreva a constituição de um tecido. 1.3 O organismo F poderá apresentar órgãos? Justifique a sua resposta. 1.4 Justifique a afirmação seguinte: «A ameba (B) nunca poderá possuir tecidos.» 1.5 As bactérias (E) são seres unicelulares. Enumere as características que as distinguem da ameba (B). Fig. 2 Na Natureza é possível encontrar uma imensa diversidade de seres vivos. A B C D E F 919354 112-143_U7 6/16/08 3:09 PM Page 116 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 117 Procarionte Prokaryote Eucarionte Eukaryote O número de células que pode constituir um ser vivo é um dos critérios que permitem a sua organização e distinção: • os organismos unicelulares, constituídos por uma única célula, são de menores dimensões e são, geralmente, os mais simples; • os seres multicelulares podem ser formados por um número de células muito elevado e apresentam dimensões e comple- xidade superiores. No entanto, o facto de um organismo vivo ser unicelular não implica a sua simplicidade, pois existem células procarióticas e célu- las eucarióticas que apresentam diferentes níveis de complexidade. Os seres procariontes (formados por uma célula procariótica), como as bactérias, são os mais simples e apresentam um elevado grau de sucesso, povoando todos os ambientes. No entanto, na Natureza existem, também, os seres eucariontes (formados por uma ou várias células eucarióticas), que apresentam níveis mais complexos de organização. Embora as diferenças presentes na estrutura celular dos orga- nismos seja relevante na sua distinção, existem aspectos que permi- tem estabelecer relações entre ambos os grupos e considerar um ancestral comum. DIVERSIDADE DE TIPOS DE CÉLULAS 1. Observe as imagens e responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Refira as duas diferenças fundamentais entre as células procarióticas e as células eucarióticas. 1.2 Enumere três aspectos, evidenciados nas imagens B e C, que permitem distinguir as duas células. 1.3 Quais são os organitos celulares, evidenciados em B e C, comuns às células eucarióticas animal e vegetal? 1.4 Refira as razões que inviabilizam que um animal (o elefante, por exemplo) seja constituído por uma única célula. Fig. 3 As estruturas das células procarióticas e das células eucarióticas vegetal e animal apresentam grandes diferenças. As células podem ser procarióticas (seres procariontes), apresentando uma organização simples, ou eucarióticas (seres eucariontes), revelando uma estrutura complexa. A RETER A B C Bactéria (célula procariótica) Célula eucariótica vegetal Célula eucariótica animal 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 117 118 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Uma vez que a teoria celular, pilar fundamental da Biologia, afirma que uma célula provém sempre de outra preexistente, a explicação para esta diversidade da estrutura celular relaciona-se com a história e a origem da vida na Terra. Os fósseis mais antigos, encontrados na África do Sul e na Austrália, datam de há cerca de 3500 milhões de anos (Fig. 4A) e apresentam as características dos procariontes. No entanto, um dos mais antigos fósseis de eucariontes já des- cobertos, acritarca, encontrado na China, pertence a um grupo de organismos unicelulares com 1800 milhões de anos (Fig. 4B). Este fóssil foi assim classificado por apresentar dimensões superiores às das células procarióticas e, ainda, pela complexidade da sua parede celular. A C B Fig. 4 Estromatólito,fóssil de células procarióticas descoberto na Austrália, com 3500 milhões de anos (A); acritarca, representante de um grupo, já extinto, de eucariontes (B); Euglena, ser unicelular actual, protista formado por uma célula eucariótica que apresenta diversos organitos (C). Mitocôndria Núcleo Cloroplasto Complexo de Golgi 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 118 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 119 OBSERVAÇÃO DE ORGANISMOS UNICELULARES E ORGANISMOS MULTICELULARES Procedimento 1 — Observe ao microscópio, na objectiva de menor ampliação, as preparações extemporâneas ou definitivas de: bactérias, paramécia, Volvox, elódea e corte transversal de folha. 2 — Seleccione a melhor objectiva para observar cada uma das preparações com maior pormenor. 3 — Esquematize cada um dos seres observados, legendando-os. Utilize as imagens seguintes para a comparação com o material observado e como auxílio na elaboração da legenda. 4 — Compare os vários organismos (ou órgão, no caso do corte de folha) entre si. ACTIVIDADE LABORATORIAL Teoria Unicelularidade e pluricelularidade Princípios Conceitos Conclusão Discussão 1 — Considere as bactérias e as paramécias e refira as semelhanças e as diferenças morfológicas entre estes organismos. 2 — Discuta os aspectos morfológicos comuns e diferentes entre os restantes seres observados. Resultados Que semelhanças e diferenças se verificam entre os diversos organismos observados? Bactérias Elodea Volvox Corte transversal de folha de planta superior Paramécia Fig. 5 Diferentes organismos em que se pode encontrar unidade e diversidade. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 119 120 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Aparecimento dos seres eucariontes O estudo dos fósseis evidencia que as primeiras células eram procarióticas, muito simples, sem membranas internas e com o DNA não encerrado num invólucro nuclear, e que só posterior- mente surgiram células eucarióticas, mais complexas, apresentando um sistema endomembranar bem desenvolvido. No entanto, esta análise, só por si, não permite saber em que sentido terão evoluído as primeiras para dar origem às células eucarióticas. O aparecimento das células eucarióticas foi explicado, até há algum tempo, pelo Modelo Autogénico. Segundo este modelo, terão resultado de um processo de complexificação de seres proca- riontes unicelulares. A célula constituinte destes seres apresentava invaginações na membrana plasmática, e algumas destas membra- nas terão sofrido especializações nas suas funções, originando siste- mas de membranas. A formação de um núcleo contendo o DNA terá ficado a dever-se a invaginações que cercaram esta molécula existente na célula (Fig. 6). Com este modelo, alguns factos relacio- nados com a estrutura da célula eucariótica são debilmente explica- dos, nomeadamente: se os organitos celulares se formaram através de uma sequência de invaginações da membrana plasmática, e se alguns possuem DNA (caso dos cloroplastos e das mitocôndrias), não seria de esperar que estas moléculas, tendo migrado do núcleo, apresentassem uma estrutura semelhante? O que se verifica é que o DNA presente nestes dois organitos possui uma estrutura muito mais próxima do DNA das bactérias do que do DNA do núcleo. Lynn Margulis, bióloga e professora na Universidade de Massa- chusetts, baseou-se na relevância das relações de simbiose entre seres vivos para apresentar outro modelo que explicasse, de forma mais coerente e de acordo com as observações, a transição para a célula eucariótica — Modelo Endossimbiótico (ou Teoria Endos- simbiótica) Sabe-se que a associação de células é frequente e pode trazer vantagens às células intervenientes. Segundo este modelo, células procarióticas heterotróficas teriam incorporado outras, com as quais estabeleceram uma relação simbiótica. As células terão permaneci- do intactas no seu interior, acabando por se converter em organitos da célula hospedeira. Fig. 6 Esquema representativo do Modelo Autogénico. Invaginação da membrana plasmáticaDNA Modelo Autogénico Autogenous Model Modelo Endossimbiótico Endosymbiotic Model O Modelo Autogénico explicou, durante bastante tempo, o aparecimento de células eucarióticas a partir de procarióticas. A RETER 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 120 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 121 Numa primeira etapa, a célula hospedeira terá incorporado bactérias aeróbias (capazes de utilizar o oxigénio, já presente na atmosfera, para provocar a degradação de compostos orgânicos e obter energia), que, depois, terão evoluído para mitocôndrias (Fig. 7A). Numa fase posterior terá ocorrido simbiose com cianobacté- rias (bactérias fotossintéticas), o que permite explicar a existência de plastos (cloroplastos e outros) em algas e plantas. As mitocôndrias das células eucarióticas são muito semelhantes a bactérias nas dimensões e na estrutura, além disso, possuem DNA próprio, o que lhes confere alguma autonomia relativamente à célula a que pertencem, pois podem dividir-se independentemente desta. Também os cloroplastos (Fig. 7B) se assemelham a algumas bactérias, e a sua incorporação por células procarióticas apresenta vantagens evidentes: as células aeróbias poderiam, assim, obter o oxigénio produzido neste organito e a matéria orgânica resultante da fotossíntese. O Modelo Endossimbiótico é o mais aceite para explicar o aparecimento das células eucarióticas e baseia-se nos princípios das relações simbióticas. A RETER A B Fig. 7 Estrutura dos organitos: mitocôndria (A) e cloroplasto (B). Reclinomonas americana é o pro- tista com mitocôndrias mais simples. Os genes destas mito- côndrias são semelhantes aos da bactéria causadora de tifo Rickettsia prowazekii. Esta bacté- ria parasita divide-se apenas den- tro de células eucarióticas, como acontece com as mitocôndrias. CURIOSIDADE 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 121 122 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Fig. 8 Modelo Endossimbiótico. Segundo o Modelo Endossimbiótico (Fig. 8), as membranas intracelulares terão derivado de invaginações da membrana plas- mática e, gradualmente, compartimentado a célula hospedeira, originando o sistema endomembranar. O núcleo parece ter sido for- mado a partir de uma destas invaginações da membrana plasmática. Como o DNA circular das células procarióticas se encontra ligado à membrana plasmática, é provável que tenha ocorrido o encerra- mento do mesmo num saco intracelular, formando um núcleo pri- mordial. Parede celular DNA Membrana celular Célula procariótica com parede celular. A perda da parede celular aumenta a flexibilidade da membrana plasmática, que possui muitos ribossomas. Quando as invaginações da membrana plasmática se fecham, formam-se compartimentos internos, um dos quais armazena o DNA (precursor do núcleo). Vesícula de endocitose DNA Lisossoma Elementos do citosqueleto Núcleo primordial Precursor do peroxissomaA quantidade crescente de DNA fica rodeada de membranas — cisternas do retículo endoplasmático. O citosqueleto ajuda a suportar o crescimento da célula e limita a flexibilidade da membrana plasmática. Núcleo Retículo endoplasmático Aparelho de Golgi Célula com núcleo, retículo endoplasmático e complexo de Golgi. Precursor da mitocôndria. Mitocôndria Precursor do cloroplasto. Mitocôndria Peroxissoma Retículo endoplasmático Invólucro nuclear Lisossoma Cloroplasto Elementos do citosqueleto Complexo de Golgi Célula eucariótica fotossintética. Segundo o Modelo Endossimbiótico, as mitocôndrias e os cloroplastos são organitos cujos ancestrais eram seres procariontes. A RETER A B C D E F G H 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 122 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 123 O Modelo Endossimbiótico continua a ter bastante aceitação, porque existem vários argumentos a seu favor: • A simbiose continua a ser um processo muito comum no mundo vivo. Continua a verificar-sea existência de relações simbióticas entre bactérias (procariontes) e protozoários (euca- riontes), entre outras. • As dimensões dos cloroplastos e das mitocôndrias são muito semelhantes às dos procariontes actuais. • A síntese proteica das mitocôndrias e dos cloroplastos é ini- bida por substâncias inibidoras de procariontes (estreptomi- cina e cloranfenicol), mas não por inibidores de eucariontes (cicloeximida). • O aminoácido iniciador da cadeia polipeptídica de uma mitocôndria ou de um cloroplasto é a formilmetionina, como nas bactérias, e não a metionina, como nos eucariontes (e nas arqueobactérias). • As mitocôndrias e os cloroplastos têm divisão autónoma. • O DNA das mitocôndrias e dos cloroplastos é semelhante, em estrutura, ao material genético bacteriano, pois não está associado a histonas. • Os cloroplastos possuem ribossomas com tamanho e caracte- rísticas muito semelhantes às dos ribossomas dos procariontes. Como e por que razão terão surgido os seres multicelulares? As relações simbióticas atrás referidas e o consequente apareci- mento de células eucarióticas terão tornado mais fácil a sobrevivên- cia dos organismos nessa fase da história da Terra. Por outro lado, as condições ambientais também se terão tornado diferentes e mais propícias à existência de vida. Assim sendo, ter-se-ão reunido condições para o desenvolvi- mento das células eucarióticas então formadas, e um aumento de dimensões terá sido uma consequência inevitável. No entanto, quando o tamanho da célula aumenta, a relação da sua área super- ficial com o seu volume diminui, porque a superfície não aumenta ao mesmo ritmo que o volume, não existindo compensação. O bom funcionamento da célula depende do seu metabolismo, e este conjunto de fenómenos está inteiramente dependente das trocas com o meio extracelular (entrada de substâncias necessárias, por exemplo, nutrientes e oxigénio, e eliminação de substâncias de excreção, como o dióxido de carbono). Assim, a relação entre a área superficial da célula e o seu volume não pode diminuir sem pôr em risco o seu equilíbrio (Fig. 9). Esta deve ter sido a razão pela qual, em determinada altura, as células eucarióticas começaram a sofrer divisão. Numa fase inicial, ter-se-ão formado colónias — grupos de células que, após divisão celular, permanecem juntas. Fig. 9 Variação da razão área/volume. 0 Volume R az ão á re a/ vo lu m e 1 2 3 4 A divisão celular está relacionada com a necessidade de equilíbrio na razão área/volume. A RETER Colónias Colonies Considerando um cubo com 1 cm de aresta, o seu volume será de 1 cm3, a sua área superficial de 6 cm2 e a razão área/volume de 6. Mas um cubo com 2 cm de aresta terá um volume de 8 cm3, uma área superficial de 24 cm2 e uma razão área/volume de apenas 3. ÁREA/VOLUME 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 123 Fig. 11 Um modelo da evolução dos eucariontes unicelulares até aos seres multicelulares com diferenciação celular. Protista unicelular Colónia Organismo multicelular primitivo com células interdependentes e especializadas Células locomotoras Células especializadas na síntese de matéria orgânica Organismo multicelular produtor de gâmetas Células somáticas (qualquer célula de um ser multicelular, com excepção das sexuais) Gâmeta — célula sexual 124 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Mas a verdadeira multicelularidade não se limita ao facto de existir um número de células agrupadas; é necessário que ocorra uma dependência funcional entre estas. A existência, ainda hoje, de seres vivos cujas células eucarióti- cas mantêm uma relação colonial veio ajudar a perceber a origem dos seres multicelulares. Em algumas destas colónias, embora ainda não exista diferen- ciação celular nem formação de tecidos, há uma distribuição de tarefas, o que implica a especialização de diversos grupos de células em diferentes funções e a coordenação destas actividades. A colónia de Volvox é formada por um conjunto de células envolto por uma camada de cerca de mil outras células biflagela- das. A reprodução assexuada, ou mesmo sexuada, está reservada a alguns grupos de células (Fig. 10). Provavelmente, estes seres coloniais deram origem aos verda- deiros seres multicelulares, por especialização crescente das suas células. Estes primeiros seres multicelulares terão surgido há cerca de mil milhões de anos, de acordo com os registos fósseis. Nem todos os seres multicelulares apresentam diferenciação celular; muitos deles apresentam conjuntos de células especializa- das que se organizam em tecidos e estes em órgãos cuja associação em sistemas dá origem ao organismo (Fig. 11). Fig. 10 Volvox é um protista formado por células eucarióticas associadas em colónia. Os seres coloniais podem ter sido os antecessores dos organismos multicelulares. A RETER 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 124 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 125 Com a multicelularidade, os seres vivos conseguiram resolver o problema que anteriormente foi equacionado, nomeadamente: • o aumento de dimensões com a conservação do equilíbrio da relação área/volume; • a manutenção da área necessária e suficiente para as trocas com o meio; • a diminuição da taxa metabólica (quantidade de energia neces- sária para manter o organismo) e o incremento da diversidade. No entanto, desde o aparecimento dos seres multicelulares até à grande diversidade de seres vivos que existe actualmente decorreu um longo período de tempo durante o qual se desenrolaram inú- meros processos, que constituem os mecanismos da evolução (Fig. 12). A maioria dos seres multicelulares apresenta uma especialização tão elevada, que se pode falar em diferenciação celular. A RETER Fig. 12 Evolução das formas de vida ao longo da história da Terra. Atmosfera anaeróbia, rica em hidrogénio 10% de oxigénio livre na atmosfera 20% de oxigénio livre na atmosfera, desenvolvimento da camada de ozono Linhagem Archaea D om ín io Ar ch ae a Ancestrais dos eucariontes Linhagem das bactérias Origem dos procariontes Origem endossimbiótica das mitocôndrias. Origem da mitose e meiose. Origem dos eucariontes, os primeiros protistas Origem endossimbiótica dos cloroplastos As bactérias fotossintéticas produtoras de oxigénio e os eucariontes primitivos tornam-se simbiontes. Origem dos animais Origem dos fungos Origem das plantas D om ín io Eu ka ria D om ín io B ac te ria Desenvolvimento de respiração aeróbia em vários grupos de bactérias. Simbiose entre seres aeróbios e início da formação dos eucariontes. 3800 milhões de anos 3200 milhões de anos 2500 milhões de anos 1200 milhões de anos 900 milhões de anos 435 milhões de anos Evolução química e molecular 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 125 126 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s RELAÇÃO BIÓTICA ENTRE UM PROTOZOÁRIO E UMA ALGA 1. Vorticella é um protozoário heterotrófico em cuja célula, em forma de sino, se podem encontrar numerosas células de uma alga autotrófica, Chlorella (Fig. 13A). Cada indivíduo de Chlorella encontra-se num vacúolo, isolado da restante célula de Vorticella através de uma membrana simples (Fig. 13B). A Vorticella fornece protecção e nutrientes minerais à alga; esta, por sua vez, retribui com a matéria orgânica, sintetizada através da fotossíntese, que é imprescindível à sua hospedeira. Analise as imagens e responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Identifique a relação biótica evidenciada na situação descrita. 1.2 Por que razão se pode afirmar que esta associação «contribui para o aumento da capacidade de sobrevivência» do hospedeiro? 1.3 Justifique a afirmação seguinte. «Os vacúolos que contêm a alga não podem exercer funções digestivas.» 1.4 Considere a relação biótica apresentada e a explicação dada pelo Modelo Endossimbiótico para o aparecimento de células eucarióticas que incluem mitocôndrias. Refira de acordo com o Modelo Endossimbiótico o papel desempenhado por: a) a Vorticella; b) a alga Chlorella.1.5 Apresente uma justificação para a afirmação seguinte, meramente hipotética. «Apesar de, no início da relação, os dois organismos possuírem quantidades de DNA muito semelhantes, se esta relação se mantiver é provável que a quantidade de DNA da alga diminua.» 1.6 Descreva a provável constituição celular do protozoário Vorticella, se esta relação biótica se mantiver. Fig. 13 Colónia de Vorticella observada ao microscópio (A); pormenor (B). A B Vacúolo digestivo Vacúolo contendo alga Chlorella 919354 112-143_U7 6/2/08 12:56 Page 126 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Diferenciação celular Essenciais • Procarionte • Eucarionte • Modelo Autogénico • Modelo Endossimbiótico • Colónias Necessários • Célula procariótica • Célula eucariótica • Organito celular • Unicelular • Multicelular • Diferenciação celular Síntese de conhecimentos • Quando se deu a origem da vida na Terra, devem ter surgido seres unicelulares e procariontes: seres cuja única célula apresentava uma estrutura muito simples. • O Modelo Autogénico explica a evolução dos seres procariontes para os seres eucariontes, através da especialização de sistemas de membranas, que resultam de invaginações da membrana plasmática. • O Modelo Endossimbiótico explica o aparecimento de células eucarióticas, mais complexas, através da manutenção de relações de simbiose entre células procarióticas e por invaginações sucessivas da membrana plasmática. • O aumento de volume das células eucarióticas levou à divisão celular e à formação de colónias de células. • Quando as células dos seres coloniais se começaram a especializar em funções distintas, mantendo-se interligadas e interdependentes, surgiram os seres multicelulares. • Os seres multicelulares desenvolveram grupos de células com funções muito distintas. • A diferenciação celular iniciou-se pela formação de tecidos que se organizaram em órgãos, incluídos em sistemas que, no seu conjunto, constituíram os organismos. u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 127 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 127 128 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s ACTIVIDADES Unicelularidade e multicelularidade 1. Elabore um mapa de conceitos relativo aos conteúdos desta subunidade. 2. Seleccione a opção que melhor traduz a sequência do aparecimento dos vários tipos de células/organismos no planeta Terra, de acordo com os conhecimentos actuais. A — Seres unicelulares e procariontes; seres multicelulares e eucariontes; seres unicelulares e eucariontes; seres coloniais. B — Seres unicelulares e procariontes; seres unicelulares e eucariontes; seres coloniais; seres multicelulares e eucariontes. C — Seres unicelulares e procariontes; seres coloniais; seres unicelulares e eucariontes; seres multicelulares e eucariontes. 3. Escolha a opção mais correcta para completar a afirmação que se segue. «O Modelo Endossimbiótico apresenta uma explicação para…» A — … o aparecimento de seres multicelulares a partir de seres unicelulares. B — … o aparecimento de seres multicelulares a partir de eucariontes. C — … o aparecimento de seres eucariontes a partir de procariontes. D — … o aparecimento de seres multicelulares a partir de procariontes. 4. Com base na afirmação seguinte e nos conhecimentos adquiridos nesta subunidade, responda às questões. «Alguns protozoários estabelecem relações simbióticas permanentes com bactérias aeróbias; mesmo não possuindo mitocôndrias, realizam a respiração aeróbia.» 4.1 O que entende por relação simbiótica? 4.2 Qual é a vantagem desta associação para os protozoários? 4.2.1 E para as bactérias? 4.3 Em que medida estes factos, observados na actualidade, reforçam o Modelo Endossimbiótico? 5. Observe as imagens, que mostram uma planta e uma colónia de Volvox, e apresente duas semelhanças e duas diferenças, relativas à estrutura e à organização celular, entre os organismos representados. 6. Seleccione as expressões que se referem a vantagens da multicelularidade em relação à unicelularidade. A — Diminuição de dimensões com equilíbrio da relação área/volume. B — Obtenção da área necessária para as trocas com o meio. C — Diminuição da taxa metabólica. D — Aumento da taxa metabólica. E — Aumento da diversidade. F — Diminuição da relação área/volume. G — Maior capacidade de resistência a alterações ambientais. H — Diminuição da diversidade. A B 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:40 Page 128 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 129 Fixismo Fixism Evolucionismo Evolutionism 7 2 Mecanismos de evolução A Natureza não faz nada bruscamente. LAMARCK No Mundo actual é possível encontrar uma grande diversidade de seres vivos, da mais pequena bactéria à grande baleia. Como se explica a origem de todas estas espécies de seres vivos? As hipóteses que explicam a origem das espécies integram-se em dois grandes grupos: • Fixismo. • Evolucionismo. As hipóteses fixistas consideram que os seres vivos actuais apresentam o mesmo aspecto desde que se formaram. As hipóteses evolucionistas consideram que os seres vivos se modificaram ao longo do tempo, de uma forma lenta e pro- gressiva. Fig. 14 Os recifes de coral são locais com uma grande diversidade de seres vivos. O Fixismo considera que as espécies são imutáveis, enquanto o Evolucionismo admite que as espécies podem sofrer transformações. A RETER 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 129 130 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s TEORIAS FIXISTAS A RETER Geração Espontânea Criacionismo Catastrofismo Na Antiguidade Clássica, os grandes filósofos gregos Platão (428-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.) consideraram que as espécies de seres vivos de então eram imutáveis desde o seu apare- cimento, influenciando o pensamento da sociedade da altura e durante centenas de anos. Aristóteles acreditava que os seres vivos eram criados a partir de matéria inanimada e que um princípio activo a transformava em matéria viva. Esta hipótese fixista é conhecida como Teoria da Geração Espontânea e só em 1864 foi completamente posta de parte por Pasteur (1822-1895), com a descoberta do processo de pasteurização. No entanto, a primeira hipótese fixista de que há conhecimento é o Criacionismo, referido na Bíblia, no Livro do Génesis. Segundo esta hipótese, os seres vivos foram criados por uma entidade divi- na, de uma só vez, e com as características actuais. Deve considerar-se ainda o Catastrofismo, preconizado por Cuvier (1769-1832). Devido à descoberta de fósseis (Figs. 15 e 16), com aspecto diferente entre si nos vários estratos rochosos e distin- tos dos seres vivos actuais, Cuvier imaginou que os seres vivos de um determinado local eram destruídos por catástrofes naturais, haven- do posteriormente um repovoamento a partir de locais próximos. As ideias de Cuvier, aceites durante algum tempo, foram con- testadas por Charles Lyell (1797-1875), que apresentou outra explicação para as diferenças encontradas entre os diferentes estratos de uma rocha. Segundo este geólogo britânico, os processos erosi- vos actuais, provocados pela acção da água e do vento, teriam exis- tido também no passado, sendo esta a explicação para a ausência de alguns fósseis em alguns estratos rochosos. Segundo Lyell, os acontecimentos geológicos são o resultado de processos da Natureza lentos e graduais. Estas ideias na área científica da Geologia tiveram também influência na fundamentação e aceitação de teorias mais concretas de Evolucionismo. Fig. 15 Fóssil de Archeopterix, encontrado em Berlim, que se encontra no Museu de História Natural de Londres. Fig. 16 Fóssil de trilobite. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 130 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 131 Que argumentos podem ser utilizados a favor do Evolucionismo? Muitos estudos e observações, realizados a partir do início do século XIX, apoiam a modificação gradual dos seres vivos no planeta Terra desde o seu aparecimento, há cerca de 3500 milhões de anos. A vidater-se-á iniciado com seres de grande simplicidade e, pro- gressivamente, foi-se tornando mais complexa. Argumentos paleontológicos No século XVIII, o estudo dos fósseis evidenciou a existência de diferenças significativas entre as espécies actuais e inúmeras espécies do passado, contrariando as ideias fixistas. Muitos dos fósseis que se encontram nas rochas sedimentares de vários locais do Mundo são vestígios de formas de vida inexistentes hoje em dia (Fig. 17). FORMA DE VIDA APARECIMENTO (CONHECIDO) em milhões de anos Seres procariontes Células eucarióticas Primeiros animais multicelulares Animais com concha Primeiros vertebrados (peixes) Anfíbios Répteis Mamíferos Primeiros primatas Primeiros macacos Australopitecos Humanos modernos Fonte: http://books.nap.edu/html/creationism/evidence.html 3500 2000 670 540 490 350 310 200 60 25 4 0 (�150 000 anos) Fig. 17 Fósseis de amonite. Encontraram-se também fósseis que apresentam características de dois grupos actuais, como o Archeopterix (Fig. 15). Este animal tem penas e asas — características de ave —, assim como dentes, cauda e garras — características de réptil. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 131 132 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Outro exemplo que se pode considerar é o Basilosaurus (Fig. 18D), um dos elos da cadeia evolutiva das baleias actuais. Neste fóssil observam-se quatro membros desenvolvidos. Tudo indica que as baleias tiveram como ancestral um mamífero terrestre, que sofreu modificações ao longo do tempo, de forma a sobreviver em ambiente aquático. A C E D B Fig. 18 As baleias actuais têm como ancestral um mamífero terrestre que evoluiu para espécies progressivamente mais adaptadas à água. Andrewsarchus: possível mamífero terrestre ancestral (A); Ambulocetus (B); Rodhocetus (C); Basilosaurus (D); Balaenoptera, baleia azul (E). Andrewsarchus (60-32 Ma) Ambulocetus (50-49 Ma) Rodhocetus (50-49 Ma) Membro posterior de Basilosaurus Fóssil de Basilosaurus (45-36 Ma) Balaenoptera (baleia-azul) 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 132 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 133 No registo fóssil encontram-se ainda muitos outros exemplos de formas de seres vivos de transição entre peixes e anfíbios (Fig. 19), entre anfíbios e répteis e entre répteis e mamíferos. Argumentos anatómicos Na anatomia dos seres vivos actuais, encontram-se também exemplos que podem ser considerados argumentos a favor do Evo- lucionismo. Se se observarem os membros anteriores do homem, do gato, da baleia e do morcego, verifica-se que são aparentemente muito diferentes, podendo ter funções distintas. Contudo, ao estudar a sua origem embrionária e ao observar o seu esqueleto, é possível detectar os mesmos ossos nas mesmas posições relativas. Estes órgãos são considerados órgãos homólogos (Fig. 20); a sua origem é explicada através da existência de um ancestral comum que sofreu evolução divergente: um órgão ancestral comum diversificou- -se devido a pressões ambientais distintas, pois cada ser vivo utiliza o seu órgão em diferentes condições e ambientes. Fig. 19 Fóssil de Ictiostega, peixe com patas, barbatana dorsal e pulmões primitivos, considerado uma forma intermédia entre os peixes e os vertebrados terrestres. Fig. 20 Estruturas homólogas de mamíferos, esqueletos dos membros anteriores: do homem (A); do gato (B); da baleia (C); do morcego (D). A B C D Órgãos homólogos são órgãos constituídos por partes semelhantes, dispostas segundo a mesma ordem. Estão relacionados com ancestrais comuns que sofreram evolução divergente. Podem ser, aparentemente, iguais ou muito distintos. A RETER Falanges CarpoMetacarpo Rádio Cúbito Úmero 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 133 134 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Outros exemplos de órgãos homólogos são os vários tipos de corações dos vertebrados ou, ainda, os vários tipos de caules das plantas: bolbos, algumas gavinhas, tubérculos e rizomas (Fig. 21). A B C D Fig. 21 Órgãos homólogos: bolbo (A); tubérculo (B); gavinhas (C); rizoma (D). Existem, por outro lado, espécies com órgãos que têm funções similares, com estrutura anatómica e origem embrionária diferentes, e que não possuem ancestrais comuns, tendo ocorrido uma adapta- ção a meios ambientes semelhantes, como, por exemplo, a asa de um insecto e a asa de uma ave (Fig. 22). Estas estruturas designam- -se por órgãos análogos. O corpo fusiforme dos peixes e dos mamíferos marinhos também é considerado um exemplo de analo- gia; apesar de não terem ancestrais comuns, peixes e mamíferos marinhos apresentam esta característica que beneficia o seu modo de locomoção em ambiente aquático (Fig. 23). Por serem seres vivos que não possuem ancestrais comuns mas que apresentam órgãos semelhantes, consequência de mecanismos adaptativos idênticos, diz-se que sofreram evolução convergente. A B Fig. 22 A asa de um insecto (A) e a asa de uma ave (B) são exemplos de órgãos análogos. Órgãos análogos são órgãos que, apesar de apresentarem funções semelhantes, resultam de ancestrais diferentes sujeitos a evolução convergente. A RETER 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 134 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 135 A B Fig. 23 Um exemplo de analogia: o corpo fusiforme dos peixes (A) e dos mamíferos marinhos (B). Também podem ser consideradas como argumentos anatómi- cos as denominadas estruturas vestigiais: estas parecem resultar de órgãos funcionais nos ancestrais, que regrediram. Exemplos des- tas estruturas são: • os ossos de patas nas cobras, como a pitão (Fig. 24); • as asas das aves corredoras, como o quivi ou a avestruz (Fig. 25); • os dentes nos embriões das baleias-de-barbas. No homem também existem órgãos vestigiais, como o apêndi- ce, os dentes caninos, os músculos auriculares das orelhas e as vér- tebras coccígeas (Fig. 26). Fig. 24 As pitões e as jibóias mantêm vestígios da cintura pélvica e dos membros posteriores. Fig. 25 As asas do quivi são rudimentares (estruturas vestigiais). Fig. 26 No homem, as vértebras coccígeas são o vestígio da antiga cauda. Vértebras coccígeas Vértebra Costela Osso pélvico Fémur Garra de membro posterior 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 135 136 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Argumentos bioquímicos Todos os seres vivos têm os mesmos tipos de moléculas orgâni- cas (ácidos nucleicos, lípidos, proteínas e glúcidos) e os mesmos tipos de compostos químicos básicos (cinco nucleótidos, vinte ami- noácidos e várias enzimas). Em comum têm ainda o código genético. Apesar de os seres vivos possuírem os mesmos tipos de molé- culas, estas não são exactamente iguais. Por exemplo, quanto mais próximos são os laços de parentesco, menores são as diferenças existentes na sequência de aminoácidos de uma proteína, e quanto mais afastados estiverem os seres vivos, maiores serão as diferenças encontradas. Na sequência de nucleótidos do DNA, as maiores ou menores semelhanças existentes também se explicam por maior ou menor proximidade nas relações de parentesco desses seres vivos. ARGUMENTOS A FAVOR DA EVOLUÇÃO A RETER Paleontológicos Anatómicos Citológicos Bioquímicos Outros SEMELHANÇAS BIOQUÍMICAS 1. Analise o diagrama seguinte, que representa a percentagem de diferenças nos aminoácidos entre todas as moléculas de hemoglobina a, de vários seres vivos, comparadas duas a duas. Responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Identifique a percentagem de aminoácidos diferentes nas moléculas de hemoglobina do tritão e do canguru. 1.2 Refira dois grupos de animais que apresentem entre si a diferença indicada na alínea anterior. 1.3 Identifique os grupos de seres vivos menos relacionados entre si quanto a esta molécula. Justifique a sua resposta. 1.4 Refira os grupos de seres vivos que lhe parecem ser mais próximos entre si, tendo em conta as diferenças apresentadas nesta molécula. Justifique a sua resposta. Science et Vie — Hors-Série, n.º 173, Dezembrode 1990 (adaptado) Tubarão Tubarão Carpa Tritão Galo Equidna Canguru Cão Homem Carpa Tritão Galo Equidna Canguru Cão Homem 0 59 61 60 60 55 57 53 0 53 51 54 51 48 49 0 45 50 48 46 44 0 34 29 31 25 0 35 30 26 0 23 19 0 16 0 Fig. 27 Percentagem de diferenças nos aminoácidos entre todas as moléculas de hemoglobina a de vários seres vivos. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 136 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 137 Argumentos citológicos Embora sejam muito diferentes entre si, os seres vivos são for- mados por células — unidades de constituição e funcionamento. Este facto pressupõe uma origem comum, reforçada, ainda, pela existência de um metabolismo celular idêntico em todos os seres vivos. Evolução das espécies Existem inúmeros factos científicos que apoiam a alteração das espécies ao longo do tempo, e, como tal, são fortes contributos para as teorias sobre evolução. Resta, contudo, encontrar uma explicação sobre a forma como as espécies evoluem. Qual foi a explicação de Lamarck para a evolução das espécies? O naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) (Fig. 28) elaborou a primeira teoria explicativa da evolução das espécies. Botânico do rei, exercendo funções no Jardim Botânico de Paris, Lamarck executou estudos taxonómicos que o induziram a concluir que as espécies não só se relacionam entre si, como sofrem alterações ao longo do tempo. Em 1809, este naturalista publicou a obra Philosophie Zoologique, em que expôs as suas ideias sobre esta temática. Segundo Lamarck, é a necessidade de adaptação ao ambiente que leva o indivíduo a iniciar o seu processo evolutivo. Segun- do o mesmo autor, as alterações são conseguidas e preservadas no indivíduo devido a dois fenómenos, cuja síntese ficou conhecida por Leis de Lamarck: • Lei do Uso e do Desuso — para rendibilizar a sua relação com o meio, os seres vivos tendem a usar mais um determi- nado órgão, o que tem como consequência o seu desenvolvi- mento, ou a usá-lo menos, o que causa a atrofia ou desapare- cimento do mesmo. Por exemplo, teria sido desta forma que as cobras, para melhor se movimentarem em espaços exíguos, teriam ficado com o corpo alongado, como consequência de se esticarem continuamente, e, em simultâneo, perdido as suas patas, por estas se revelarem inúteis durante a deslocação nesses mes- mos espaços (Fig. 29). Também os peixes das grandes profun- didades, aonde não chega a luz, teriam perdido a visão por não utilizarem os olhos. • Lei da Transmissão dos Caracteres Adquiridos — após ocorrer a modificação no indivíduo, pelo uso ou pelo desuso de um determinado órgão, essa alteração seria transmitida aos descendentes. Desta forma seriam fixadas as alterações na espécie. Lamarck inventou o sistema dicotómico de identificação de seres vivos, que teve muito êxito. Actualmente, as chaves dicotó- micas continuam a ser muito usa- das na identificação e classifica- ção de seres vivos. CURIOSIDADE Fig. 28 Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829). 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 137 138 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A B C Fig. 29 Lamarck explica a evolução do corpo da cobra pela necessidade que esta teve de o esticar (uso), provocando o seu alongamento. Simultaneamente, o facto de ter deixado de usar os seus membros (desuso) resultou na atrofia progressiva que levou ao seu desaparecimento. De acordo com a Teoria Lamarckista a evolução é: • motivada pela necessidade de adaptação ao meio; • centrada no indivíduo; • desenvolvida segundo dois mecanismos sequenciais: — uso ou desuso de determinado órgão; — transmissão das novas características à descendência. A RETER LAMARCKISMO 1. Analise atentamente as frases seguintes e responda às questões. A — Há milhares de anos que as crianças israelitas são circuncidadas, mas continuam a nascer com prepúcio. B — A imobilização dos membros, por exemplo em caso de paralisia, leva a uma atrofia dos mesmos. C — As omoplatas dos nadadores, devido ao tipo de exercício constante a que estão sujeitos, tendem a alargar. 1.1 Identifique as frases que: a) apoiam a Teoria Lamarckista; b) contrariam a Teoria Lamarckista. 1.2 Relacione cada uma das frases com uma das leis de Lamarck. 1.3 Sugira situações do conhecimento comum que, à primeira vista, possam apoiar a Teoria Lamarckista. 1.4 À luz de todos os conhecimentos biológicos por si adquiridos, elabore críticas à teoria em estudo. ACTIVIDADE Embora as ideias propostas por Lamarck tenham grande importância para a história da Biologia, dado que constituem a pri- meira explicação do mecanismo de evolução, por não terem sido suportadas por factos, não são aceites actualmente pela comunidade científica. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 138 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 139 Se a primeira lei de Lamarck pode ser apoiada por fenómenos visíveis, ou seja, se é possível relatar situações de alteração das características como resultado do uso diferenciado de um determi- nado órgão, o mesmo não acontece relativamente à segunda lei deste naturalista. Na realidade, não há evidências de que um indi- víduo possa transmitir à geração seguinte características adquiridas durante a sua vida. As novas descobertas científicas vieram demonstrar que as características de um indivíduo — fenótipo — são o resultado da interacção de dois factores: o seu genótipo (conjunto de genes her- dados dos progenitores) e a sua relação com o ambiente. A probabi- lidade de o ambiente alterar o genótipo de um indivíduo é mínima. Por exemplo, um ambiente radioactivo poderá induzir mutações, mas estas apenas se reflectirão na sua descendência se ocorrerem nas células da linha germinal (gâmetas). Porém, o fenótipo resultante dessas alterações não se expressará nas células somáticas do próprio. Se a mutação ocorrer em células somáticas manifestar-se-á ape- nas no indivíduo e não afectará a sua descendência. Assim sendo, não há probabilidade de um indivíduo transmitir à geração seguinte características adquiridas durante a sua vida. Qual foi a explicação de Darwin e Wallace para a evolução das espécies? Em 1858, ano em que os ensaios de Darwin (Fig. 30) e Wallace foram apresentados numa reunião da Sociedade Lineana, em Lon- dres, a comunidade científica apresentava-se receptiva à aceitação de uma teoria evolutiva, dado que se acumulavam evidências da mutabilidade das espécies, bem como provas de que a própria Terra havia sofrido várias transformações e que tinha uma idade muito superior àquela que anteriormente se supunha. Embora a popularidade de Darwin seja superior à de Wallace, ambos os naturalistas, isoladamente, chegaram a modelos evolutivos muito semelhantes. Apesar de te- rem apresentado os seus ensaios à comunidade científica em si- multâneo, um ano depois, em 1859, Charles Darwin publicou A Origem das Espécies, em que explicitou a sua teoria e expôs um vasto conjunto de provas por si recolhidas. O impacto da obra na comunidade civil pode ser a justificação para o facto de ape- nas o nome de Darwin ficar asso- ciado à Teoria da Selecção Na- tural, relegando para um plano secundário o nome de Wallace. Fig. 30 Charles Darwin. 919354 112-143_U7 31/1/08 14:43 Page 139 140 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s DIFERENTES CONTRIBUTOS PARA O DARWINISMO 1. Leia atentamente os textos seguintes, analise as imagens apresentadas e responda às questões. A — Charles Lyell comunicou à comunidade científica que a Terra, com uma idade muito superior àquela que até então se pensava, tinha vindo a sofrer mudanças geológicas de extrema lentidão. B — Thomas Malthus (1766-1834), economista e demógrafo britânico, publicou, em 1798, Ensaio sobre o Princípio da População, em que expôs a tese de que a um crescimento geométrico da população humana corresponde um crescimento aritmético das suas fontes alimentares (Fig. 31). O facto de o crescimento da população superar o da produção de alimentos fazia-o defender a ideia de que aregulação do crescimento populacional, a fim de evitar guerras e fomes, implicava o controlo da natalidade. C — Ao cruzarem espécimes com determinadas características preferenciais ao longo de várias gerações, os criadores de animais e plantas procedem a uma selecção artificial (Fig. 32). Com esta técnica conseguem obter, a partir de ancestrais comuns, raças distintas. O próprio Darwin era criador de pombos e conhecia bem esta técnica. D — Em 1831, Darwin iniciou uma viagem à volta do mundo a bordo do navio Beagle, com o objectivo de recolher informação oceanográfica e biológica. Na rota desta viagem estava incluído o arquipélago das Galápagos; enquanto explorava este arquipélago, Darwin apercebeu-se de duas situações peculiares: • embora as ilhas distassem cerca de mil quilómetros do continente sul-americano, existia uma grande semelhança entre os animais de ambos os locais; • as espécies animais apresentavam diferenças de ilha para ilha. ACTIVIDADE 2 4 6 8 Tempo 16 Progressão geométrica Ex.: Crescimento da população humana Progressão aritmética Ex.: Crescimento dos recursos alimentares Fig. 31 Relação entre o crescimento de uma população e o das suas fontes alimentares. Repolho Couve-flor Brócolos Couve-de-bruxelas Couve-galega Couve-rábano Fig. 32 A grande diversidade de couves actuais terá surgido a partir de uma única planta (mostardeira), tendo os agricultores manipulado os cruzamentos ao longo de muitas gerações. 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 140 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 141 1.1 De que modo as considerações de Lyell (texto A) a propósito da idade da Terra e das respectivas modificações poderão ter contribuído para que Darwin desenvolvesse uma teoria evolutiva para os seres vivos? 1.2 Analise a teoria de Malthus (texto B), aplicando-a ao crescimento de uma qualquer população animal, num ambiente natural, e relacionando as taxas de crescimento propostas por este demógrafo para a espécie humana e aquelas que são verificáveis numa população animal. 1.3 Não sendo aplicável o conceito de controlo de natalidade às populações animais, que mecanismos poderão regular o crescimento destas populações? 1.4 Após a análise do texto C, infira sobre o modo como o ambiente pode substituir o papel do «criador de animais e plantas». 1.5 Analise o texto D e justifique os factos observados por Darwin na sua exploração do arquipélago dos Galápagos, nomeadamente: a) as semelhanças entre as espécies encontradas no arquipélago e as do continente sul-americano; b) as variações nas espécies animais de ilha para ilha. Para a construção da sua teoria, Darwin baseou-se em dados observados por si e em dados apresentados em publicações de outras áreas do conhecimento, das quais tirou aplicações para a evolução dos seres vivos. Assim sendo, foram vários os contributos para o avanço dos trabalhos de Darwin: • Dados biogeográficos. Foi essencialmente a viagem a bordo do Beagle que permitiu a Darwin perceber que, se por um lado existe uma uniformidade entre todos os seres vivos à superfície da Terra — o que o levou a considerar uma possí- vel ancestralidade comum —, por outro lado existem varia- ções entre populações de locais relativamente próximos, o que o levou a admitir a possibilidade de cada uma delas ser o resultado de um processo de evolução condicionado por condições ambientais particulares (Fig. 33). 0 2000 km OCEANO ÍNDICO OCEANO OCEANOOCEANO PACÍFICO PACÍFICO ATLÂNTICO ÁFRICA ÁSIAEUROPAAMÉRICA DO NORTE AMÉRICA DO SUL Ilhas Galápagos Grã-Bretanha CHINA ÍNDIA Pinta Genovesa São Cristobal EspanholaSanta Maria Santa Cruz Santa Fé Santiago Isabela Tartaruga Fernandina Bartolomeu Marchena Fig. 33 Na sua viagem a bordo do Beagle (A), Darwin visitou o arquipélago das Galápagos (B), onde verificou que: animais distantes apresentavam características muito semelhantes, como as aves nativas das Galápagos e as aves nativas da costa do Pacífico (C e D); no próprio arquipélago, e ao longo das várias ilhas, os animais apresentavam variações, como os tentilhões que ficaram conhecidos como tentilhões de Darwin (E). A C D EB Viagem de Darwin no Beagle Galápagos Tentilhões de Darwin 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 141 142 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s • Dados geológicos. Com os trabalhos de Lyell, Darwin per- cebeu que a Terra tem um longo passado de transformações graduais e lentas. Associando a estes factos o conhecimento, já existente na época, de inúmeras espécies fósseis, revelando alterações nas formas vivas, Darwin deduziu que as espécies de seres vivos teriam sido também fruto de transformações. Darwin foi mais longe, ao verificar e valorizar a existência de variabilidade entre os indivíduos de uma população (Fig. 34). • Dados económicos. O trabalho de Malthus, aparentemente sem relação com a evolução das espécies, deu a Darwin o mote para a explicação do processo evolutivo. Transpondo os dados de Malthus para as comunidades animais, Darwin percebeu que em todas as populações nascem mais indiví- duos do que aqueles que o ambiente consegue suportar (por exemplo, o espaço ou os alimentos poderão ser factores limitantes); nestas condições, muitos dos animais morrem precocemente, sobrevivendo só alguns, que deixam descen- dência. • Dados de selecção artificial. A selecção artificial é uma técnica utilizada por todos os que se dedicam ao apuramento de raças, animais ou vegetais. Consiste em promover cruzamen- tos preferenciais entre indivíduos portadores das características Fig. 34 Nas diversas características de todas as populações, incluindo a humana, existe variabilidade. selecção artificial artificial selection 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 142 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 143 São-bernardo Husky siberiano Buldogue Cocker spaniel Pequinês ��������������������������������������� ��������������������������������������� ANCESTRAL DO CÃO Selecção artificial Chacal Coiote Raposa Lobo Cão-africano ��������������������������������������� ANCESTRAL DOS CANINOS Selecção natural Fig. 35 Consequências da selecção natural no aparecimento de novas espécies e da selecção artificial no «apuramento de raças». Darwin aplicou o princípio de selecção artificial ao processo da evolução. Se, com os trabalhos de Malthus, Darwin tinha percebido que nem todos os indivíduos têm hipótese de sobreviver e de se reproduzir, aplicando o conceito de selecção artificial concluiu que deveriam ser os seres vivos com as melhores características — não as características seleccionadas pelo criador, mas as que conferiam mais vantagens no meio natural — os que mais possibilidades tinham de sobreviver. Surgiu, assim, o conceito de selecção natural. desejadas pelo criador. Desta maneira, o mesmo assegura que a frequência das características seleccionadas aumenta progressivamente de geração em geração (Fig. 35). selecção natural natural selection 919354 U7_p112-143 18/1/08 16:41 Page 143 144 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Mecanismo de evolução segundo Darwin Para Darwin, a evolução ocorre dentro da população (conjun- to de indivíduos de uma espécie que coabitam no mesmo espaço geográfico e no mesmo período de tempo). Dentro da população existe heterogeneidade (Fig. 36), isto é, para qualquer característica considerada, há variabilidade entre os indivíduos. Na presença de determinadas condições ambientais, nem todos os indivíduos têm a mesma capacidade de sobrevivên- cia. Por exemplo, a existência de folhas apenas nos ramos mais altos das árvores, permite que os herbívoros de maior porte tenham maior facilidade em se alimentar. Assim sendo, em cada ambiente, e dentro de cada população, existem indivíduos com características mais vantajosas — mais aptos — e indivíduos com características menos vantajosas — menos aptos. A probabilidade de sobrevivên- cia e reprodução será maior nos primeiros e menor nos segundos (Fig. 37). Fig. 36Variabilidade na população humana. Fig. 37 Os ratos podem apresentar cores variadas. De acordo com as características do seu habitat, poderão passar mais ou menos despercebidos aos seus predadores, sobrevivendo mais ou menos tempo. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 144 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 145 Exercido pelo ambiente nas suas mais variadas vertentes, este fenómeno — que consiste em não conceder a todos os indivíduos a mesma probabilidade de sobreviver e de se reproduzir, e que Darwin designou por selecção natural — é, segundo o naturalista britânico, o grande motor da evolução. INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS NA SOBREVIVÊNCIA Material (por grupo) • 2 painéis de 1 m2.(1) • 1 folha de papel milimétrico. • 1 saco, com a etiqueta «População inicial», com 120 círculos de cartolina.(2) • 1 conjunto de lápis de cor.(3) • 1 saco com 100 círculos de cada cor, de cartolina. • Cronómetro ou relógio com segundos. • Pinças (opcional). Procedimento 1 — Escolhe-se um árbitro em cada grupo. 2 — Examinam-se os círculos de cartolina (cada um deles representa um indivíduo de uma determinada espécie, que apresenta grande diversidade, pois pode ter as várias cores representadas). 3 — Metade dos grupos usa um dos painéis, e a outra metade usa o outro painel. 4 — O árbitro distribui os 120 círculos — população inicial — por um dos painéis, enquanto os outros elementos não vêem. 5 — O árbitro chama os restantes elementos do grupo para «caçarem» os círculos que conseguirem, durante 20 segundos (podem utilizar pinça). 6 — Quando a «caça» acaba, os alunos devem recolher com cuidado os restantes círculos e dividi-los por cores. O árbitro deve registar estes dados num gráfico de barras, em papel milimétrico, usando os lápis com as cores respectivas. 7 — Adicionam-se três círculos da mesma cor, para simular a reprodução entre os círculos de papel, por cada círculo que não foi «caçado». Estes círculos, da mesma cor, adicionados representam a descendência. 8 — Repetem-se os passos 4, 5 e 6. 9 — Calcula-se o número de indivíduos da terceira geração, total e para cada uma das cores.(4) 10 — Analisam-se os gráficos com atenção. Discussão 1 — Quais são as cores dos círculos que sobreviveram melhor na segunda e na terceira gerações? Justifique a sua resposta. 2 — Qual é o efeito de captura de um círculo com uma determinada cor sobre o número de círculos dessa cor na geração seguinte? 3 — Imagine uma situação real de relação entre presa e predador e descreva a forma como uma ou mais características da população predadora ou da população presa podem mudar, ao longo do tempo, como resultado da selecção natural. http://books.nap.edu/openbook.php?record_id=5787& (adaptado) ACTIVIDADE LABORATORIAL (1) Cada painel apresenta um padrão diferente, simulando ambientes naturais (floral, folhoso, etc.). Deve ter várias cores e desenhos em que existam pequenos elementos. (2) 20 círculos de cada cor (podem ser feitos com um furador); seleccionam-se duas cores claras, incluindo o branco, e duas cores escuras — duas das cores devem aproximar-se às dos padrões dos painéis. (3) As cores são as mesmas que nos círculos de cartolina. (4) Os gráficos e os cálculos para os indivíduos da terceira geração podem ser realizados numa folha de cálculo de computador. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 145 146 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Os indivíduos portadores das melhores características, ao sobreviverem durante mais tempo, têm mais hipóteses de se repro- duzir e originarão mais descendentes. Partindo do princípio, obser- vável por Darwin, de que os filhos tendem a assemelhar-se aos pais, pode admitir-se que, de geração para geração, aumentará a fre- quência de indivíduos portadores das características vantajosas. Assim, de forma lenta e gradual, as populações tenderão a evoluir, sempre direccionadas pela pressão do ambiente. É de notar que os conceitos de mais e de menos aptos são rela- tivos; como consequência de uma alteração ambiental resultarão pressões selectivas distintas, premiando, desta forma, característi- cas alternativas. Críticas ao Darwinismo Aquando da exposição do trabalho de Darwin, e ao contrário do que tinha acontecido com Lamarck, a comunidade científica mostrou-se receptiva às ideias do naturalista britânico. No entanto, a publicação de A Origem das Espécies suscitou reacções de escândalo e protesto na comunidade em geral. Estas são comuns em todas as civilizações, quando confrontadas com teorias que põem em causa crenças e convicções. A teoria de Darwin, ou Darwinismo, como passou a ser conhe- cida, expunha um mecanismo evolutivo que, à medida que a Ciên- cia evolui e soma conhecimento, é cada vez melhor explicado. Inicialmente, o Darwinismo apresentava duas lacunas: afirmava, mas não explicava, a heterogeneidade das populações nem a forma como uma geração transmite as suas características às gerações seguintes (Fig. 38). Os avanços da Ciência neste campo foram inicia- dos pelos trabalhos de Gregor Mendel, e viriam mais tarde a colmatar estas lacunas. Darwin considera importantes para a evolução os factores seguintes: • variabilidade nas populações; • taxa de reprodução diferencial; • selecção natural. A RETER Darwin não explicava: • a heterogeneidade entre os indivíduos; • o mecanismo de transmissão das características entre gerações. A RETER Fig. 38 Diversidade. Darwin não explicava a origem da diversidade de características nem a forma como estas eram transmitidas à descendência. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 146 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 147 Outra das críticas feitas ao Darwinismo é a sua aparente incom- patibilidade com o registo fóssil. O Darwinismo considera a existên- cia de uma evolução lenta e gradual, mas o registo fóssil conhecido evidencia, por um lado, momentos de evolução rápida e, por outro, escassas formas fósseis de transição. Confrontado com esta crítica, Darwin admitia que faltava ainda encontrar muitos destes fósseis. Ainda hoje, a análise do registo fóssil continua a ser o «calcanhar de Aquiles» dos seguidores de Darwin — os neodarwinistas. Quais são as principais diferenças entre o Lamarckismo e o Darwinismo? As duas teorias apoiam-se nos mesmos factos, isto é, na modifi- cação das espécies; no entanto, não há consenso na explicação desse processo. Segundo a Teoria Darwinista: • a população é a unidade evolutiva; • nas populações existe heterogeneidade; • o ambiente actua sobre as populações exercendo selecção natural — os indivíduos mais aptos reproduzem-se mais e têm mais descendentes; • a população da geração seguinte apresentará um maior número de indivíduos portadores das características mais vantajosas. A RETER LAMARCKISMO VERSUS DARWINISMO 1. Analise atentamente as imagens, que apresentam a hipotética evolução de uma mesma espécie, segundo os modelos de Lamarck e de Darwin. Responda às questões. ACTIVIDADE 1.1 Enumere as diferenças entre os dois mecanismos, quanto ao papel desempenhado: a) pelo indivíduo; b) pelo ambiente. 1.2 Refira as diferenças existentes nas populações originais. 1.3 Identifique o mecanismo mais provável, de acordo com os conhecimentos científicos actuais. Fig. 39 Mecanismos de evolução segundo Lamarck e segundo Darwin. LAMARCKISMO DARWINISMO 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 147 148 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s LAMARCKISMO DARWINISMO Unidade evolutiva Agente activo Mecanismo Indivíduo Indivíduo Lei do Uso e do Desuso Lei da Transmissão dos Caracteres Adquiridos População Ambiente Selecção natural Qual foi a explicação dos neodarwinistas para a evolução das espécies? Algumas das lacunas da Teoria Darwinista viriam a ser colma- tadas com os conhecimentos científicos que se foram sucedendo, essencialmente, na área da Genética. Assim, como resultado da fusão entre a Teoria de Darwin e trabalhos nas áreas da genética mende- liana e da genética de populações,surgiu uma teoria que ficou conhecida por Teoria Sintética da Evolução ou Neodarwinismo. O Neodarwinismo reconhece a selecção natural enquanto agente principal da evolução que actua sobre a variabilidade das popula- ções. Em oposição a Darwin, os neodarwinistas encontraram uma explicação para este fenómeno. Para os defensores desta teoria, a variabilidade é da responsa- bilidade de dois fenómenos: mutações e recombinação génica (essencialmente associada à reprodução sexuada). As mutações são alterações que ocorrem no material genético de determinado indivíduo (Fig. 40). Se ocorrerem nas células germi- nativas (gâmetas), poderão ser transmitidas à geração seguinte. As mutações são, assim, um fenómeno capaz de gerar novos genes e, como tal, características inovadoras. O seu impacto, em termos evolutivos, poderá ser maior ou menor, consoante dota os indiví- duos mutantes de características vantajosas ou não. As mutações, para terem valor evolutivo, não podem impedir o indivíduo mutan- te de se reproduzir, fixando, assim, as novas variantes génicas, os novos genes na população. Fig. 40 A diversidade de características da mosca-da-fruta é consequência de várias mutações. Algumas mutações na mosca-da-fruta Olhos castanho-claros Olhos estreitos Asas atrofiadas A formação de um gene completamente novo é um fenómeno extraordinariamente raro, sendo mais comum a mutação originar uma variante de um gene preexistente, formando-se um novo alelo. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 148 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 149 Apesar de as mutações serem capazes de gerar novos alelos, a sua diminuta taxa de ocorrência nos eucariontes (existem inúmeros processos de reparação dos «erros») não pode ser responsável, por si só, pela vasta heterogeneidade de uma população. A recombinação génica, que ocorre durante a reprodução sexuada com uma frequên- cia significativa desempenha também, um papel muito importante. Nas espécies com reprodução sexuada ocorrem sempre dois fenómenos: meiose e fecundação. Ambos contribuem para gerar variabilidade. Durante a meiose, células diplóides geram células haplóides que vão estar envolvidas na fecundação. No decorrer da meiose, surgem dois momentos geradores de variabilidade: o crossing-over (durante a prófase I), em que cromossomas homólogos trocam segmentos (genes) entre si, originando novos cromossomas, porta- dores de combinações novas de alelos maternos e paternos; a repartição dos cromossomas homólogos (durante a anáfase I), que gera novas combinações de cromossomas paternos e maternos em cada pólo. Este último fenómeno gera novas combinações de cromossomas. As células formadas poderão possuir cromossomas de origem materna, paterna e mista (devido a fenómenos de crossing-over preexistentes). Aos processos descritos é necessário acrescentar o momento da fecundação, em que se fundem dois gâmetas, ao acaso, resultantes da diversidade gerada pela meiose de cada progenitor. Assim, muito dificilmente se repetem duas combinações simi- lares e, como tal, é quase impossível obter, por reprodução sexua- da, dois indivíduos exactamente iguais, ainda que sejam descen- dentes dos mesmos progenitores. Desta forma os neodarwinistas explicam a variabilidade genéti- ca dentro da população. Os indivíduos são considerados como por- tadores de combinações genéticas que os dotam de características vantajosas, ou não, para um ambiente específico (Fig. 41). Para os neodarwinistas, a variabilidade deve-se a: • mutações; • recombinação génica. A RETER Fig. 41 Numa população inicial de determinados insectos existe diversidade genética. Numa situação ambiental específica, como é a aplicação de insecticida, só os indivíduos portadores de um alelo mutante que confira resistência ao insecticida conseguem resistir — selecção natural. A geração seguinte é constituída por indivíduos portadores desse alelo. A população evolui, modificando a frequência relativa dos alelos dos seus genes. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 149 150 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A selecção natural vai actuar sobre a variabilidade dos indiví- duos. Alguns, os portadores dos melhores conjuntos de alelos, viverão mais tempo e, como tal, reproduzir-se-ão mais facilmente. Desta forma, os alelos codificadores das características vantajosas terão maior probabilidade de serem transmitidos à geração seguin- te. Nesta, a frequência dos mesmos alelos tenderá a aumentar, enquanto a frequência dos alelos codificadores de características menos vantajosas tenderá a diminuir. Assim, de modo lento e gradual, as populações tenderão a evo- luir, modificando o seu reservatório genético (conjunto de alelos de uma população e respectivas frequências). Segundo a Teoria Neodarwinista: • numa população existe variabilidade entre os indivíduos que a compõem, isto é, os indivíduos são portadores de diferentes conjuntos de alelos dos mesmos genes; • a variabilidade na população resulta das mutações e da recombinação génica (meiose e fecundação); • a selecção natural actua sobre os indivíduos, favorecendo os que são portadores dos melhores conjuntos de alelos; • os alelos codificadores das melhores características são transmitidos com mais frequência à geração seguinte; • o reservatório genético da população evolui, aumentando a frequência dos alelos responsáveis pelas características mais vantajosas. A RETER ESTUDO DE UM CASO DE EVOLUÇÃO 1. Leia atentamente o texto seguinte, analise as imagens referentes às mariposas salpicadas, Biston betularia, e responda às questões. Antes da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, a forma mais conhecida destas mariposas era a clara, salpicada (Fig. 42A). A forma escura (Fig. 42B) foi identificada pela primeira vez em 1848, perto de Manchester, e a sua frequência aumentou até constituir mais de 90% da população das áreas poluídas em meados do século XX. Em áreas despoluídas, a forma clara era ainda comum. A partir da década de 70, como resultado de práticas conservacionistas e consequente diminuição da poluição, a frequência das formas escuras diminuiu drasticamente (de cerca de 95% para menos de 10% em meados da década de 90). ACTIVIDADE Fig. 42 Biston betularia, forma clara original (A) e forma escura (B). A B 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 150 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 151 […] Em meados dos anos 50, Kettlewell explicou a mudança na frequência pela acção da caça visual por pássaros. A forma escura ficava camuflada de modo mais eficaz no tronco das árvores, onde a fuligem matou os líquenes. Por outro lado, as mariposas claras camuflavam-se melhor em áreas despoluídas. Alguns autores, entretanto, afirmam que B. betularia raramente permanece no tronco das árvores durante o dia, preferindo regiões mais altas e protegidas. Recentemente, experiências simulando a visão dos pássaros demonstraram que os líquenes, efectivamente, promovem uma boa camuflagem para as formas claras. Alguns estudos identificaram um aumento da quantidade destes líquenes, bem como da frequência de formas claras das mariposas, embora a correlação com a diminuição da poluição ainda não possa ser esclarecida. […] Um estudo de L. M. Cook conclui que, no melanismo industrial de B. betularia, o aumento original e a recente diminuição da frequência das formas escuras são notáveis exemplos de selecção genética natural, intimamente relacionada com a mudança do meio ambiente. Como a evolução é definida pela mudança na frequência das características herdadas ao longo do tempo, o facto de a frequência da forma escura da mariposa B. betularia (cujos padrões de coloração são regidos pelas Leis de Mendel) ter aumentado e agora diminuído em consequência das leis antipoluição é forte argumento a favor da evolução. Além disso, a velocidade e a direcção das mudanças podem ser explicadas apenas pela selecção natural, sendo, assim, prova da evolução darwinista. R. PAZZA, «As mariposas Biston betularia», in http://www.evoluindo.biociencia.org/biston.htm(adaptado) 1.1 Identifique o fenómeno responsável pelo aparecimento, em 1848, da forma escura da Biston betularia. 1.2 Represente graficamente a variação do número de indivíduos de formas escuras. 1.3 Explique a evolução das formas escuras de 1848 a 1970. 1.4 Explique a evolução das formas escuras de 1970 à actualidade. 1.5 Comente a afirmação seguinte: «O caso relatado evidencia a forma como a sociedade e a tecnologia podem influenciar o rumo da evolução de determinadas espécies.» Críticas ao Neodarwinismo As maiores críticas da comunidade científica ao Neodarwinis- mo surgem, essencialmente, pela voz dos paleontólogos, que não revêem no registo fóssil o processo defendido pelos seguidores de Darwin. A leitura do registo fóssil na Terra expõe uma vida que evolui, não de forma lenta e gradual, mas que ocorre por patamares, isto é, momentos de grande diversificação de formas de vida, que, nor- malmente, se sucedem a momentos de extinções em massa, inter- calados com períodos de alguma estabilidade evolutiva. Com base neste registo, e não negando os princípios básicos do Neodarwinismo, como são as mutações e a selecção natural, Niles Eldredge e Stephen Jay Gould, ambos paleontólogos, propuseram um modelo para a evolução designado por Modelo dos Equilí- brios Perturbados ou Pontuados. Segundo os mesmos autores, as espécies, geralmente, mudam pouco durante a maior parte da sua história, mas acontecimentos de especiação rápida (a partir de pequenas populações periféricas, em que a taxa de fixação das mutações é significativamente maior) perturbam ocasionalmente esta estabilidade. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:42 Page 151 152 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s RELATIVIDADE DO MAIS APTO Material • Folhas de papel A4. • Tesoura. • Molde de construção A. • Molde de construção B. • Fita métrica. Procedimento Considere que os modelos de construção A e B representam planos de formação de animais hipotéticos, com formas aerodinâmicas que lhes conferem adaptações para o voo. 1 — Construa o animal A seguindo as instruções do molde A. 2 — Construa o animal B seguindo as instruções do molde B. 3 — Faça os dois modelos voar, aplicando forças idênticas. 4 — Repita o passo cinco vezes para cada um dos modelos. 5 — Anote as distâncias percorridas por cada um dos modelos e calcule a respectiva média de distância de voo. Discussão Considere que o modelo A corresponde à variedade de animal original e que o modelo B corresponde a uma variedade resultante de uma alteração posterior. 1 — Identifique o que representa cada um dos moldes de construção. 2 — Refira o processo biológico que poderá estar na base do surgimento da variedade B. 3 — Identifique a variedade, A ou B, que está mais bem adaptada ao voo, tentando encontrar uma explicação para esse sucesso. 4 — Descreva as condições ambientais em que a espécie mais bem adaptada, actualmente, poderia ver invertido o seu potencial adaptativo. ACTIVIDADE LABORATORIAL Fig. 43 Moldes de construção com planos de formação de animais hipotéticos (A e B). A B 1 2 87 6 543 2 3 54 10 11 9 7 6 1 8 9 10 11 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 152 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 153 Processos que contribuem para a evolução das populações Vários estudos teóricos vieram demonstrar que o reservatório genético de uma população com reprodução sexuada não é alterado (ou seja, não evolui) se esta for numerosa, se todos os indivíduos que a constituem tiverem igual probabilidade de se reproduzir e se não sofrerem mutações, selecção natural ou migrações. Na Natureza muito dificilmente se reúnem todas as premissas descritas; assim, admite- -se que a maior parte das populações sofre processos evolutivos. São factores promotores da evolução: • mutações; • migrações; • deriva genética; • cruzamentos não-aleatórios; • selecção natural. Mutações As mutações — alterações do material genético — são capazes de gerar novos genes. A sua taxa de ocorrência é relativamente baixa e nem todas as mutações se conseguem fixar nas populações. Sempre que esta alteração dota o indivíduo de características que o tornam preterido aquando da reprodução, a mutação é eliminada da população com a morte do mesmo. As mutações acontecem ao acaso e, salvo raras execepções (por exemplo, radioactividade) não como consequência de alterações ambientais. As que têm maior sucesso são aquelas que, embora alterem o indivíduo, não impossibilitam, contudo, a sua reprodu- ção. Podem manter-se nas populações até ao momento em que, perante uma determinada alteração ambiental, conferem vantagens aos indivíduos que as possuem. Migrações A uma determinada população podem chegar indivíduos da mesma espécie provenientes de outras populações, que se integram na nova população e aí se reproduzem (Fig. 44). Se apresentam ale- los — formas alternativas de um gene — diferentes, ou os mesmos alelos mas com frequências distintas das da população original, existe alteração do reservatório genético e, como consequência, evolução da população. O mesmo fenómeno pode ocorrer nas situações em que existe saída de indivíduos da população, se as premissas anteriores ocorrerem. Fig. 44 Ao transportar sementes no seu bico durante o voo, o gaio-azul contribui para o fluxo de genes entre populações afastadas. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 153 154 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Deriva genética A deriva genética consiste na alteração da frequência dos alelos de uma determinada população, ao acaso e de uma geração para a seguinte. Este fenómeno não tende a acontecer em populações nume- rosas, em situações normais; pode, contudo, verificar-se quando estas populações são sujeitas a situações ambientais responsáveis pela morte de muitos indivíduos, conseguindo sobreviver apenas alguns deles. Nestas situações (por exemplo, em caso de incêndio), os sobreviventes não são necessariamente os mais aptos, mas aque- les que, por acaso, foram poupados. Sendo assim, a geração seguinte, que resultará da reprodução dos sobreviventes, poderá apresentar variações na frequência dos alelos. Quando as populações são pequenas, estão, normalmente, sujeitas a deriva genética, podendo existir flutuações consideráveis na frequência dos alelos de uma geração para a seguinte (Fig. 45). (As probabilidades aproximam-se da realidade apenas quando as amostras são numerosas.) DERIVA GENÉTICA CAUSADA PELA ACÇÃO DO HOMEM 1. Leia o texto seguinte e responda às questões. Os leões-marinhos, Mirounga angustirostris, do Norte da Califórnia sofreram, no final do século XIX, uma caça desenfreada motivada pelo uso da sua gordura na produção de óleo, de lubrificantes para máquinas e de sabão. A caça terminou quando os caçadores pensaram que a espécie estava extinta. Restava, contudo, uma população de cerca de 20-100 indivíduos. A protecção posterior desta população permitiu que ela proliferasse, sendo hoje constituída por alguns milhares de indivíduos. Estudos genéticos actuais desta população revelaram que a mesma apresenta uma diminuta diversidade, estando, por isso, muito sujeita a doenças, pelo que se teme pelo futuro da espécie. 1.1 Por que razão se pode considerar que a população de leões-marinhos é um exemplo de deriva genética? 1.2 Explique a baixa diversidade da população actual. 1.3 Estabeleça uma relação directa entre a variabilidade de uma população e a respectiva capacidade evolutiva. ACTIVIDADE Fig. 46 Leões-marinhos. Fenótipo da população do continente Fenótipo da população das ilhas Fig. 45 As aves migradoras podem transportar sementes de plantas do continente para as ilhas. Um número reduzido de sementes origina uma nova população, o que justifica a diferença entre os reservatórios genéticos das duas populações. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 154 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 155 Cruzamentos não-aleatórios Se, numa população, existirem cruzamentos preferenciais entre indivíduosportadores de determinado fenótipo, é provável que a frequência dos alelos responsáveis pelo mesmo se torne predomi- nante em detrimento da frequência de outros alelos. Os casos mais extremos de preferência de cruzamentos ocorrem, por exemplo, em plantas que se autofecundam. DERIVA GENÉTICA Com esta actividade pretende-se simular as variações ocorridas numa determinada população de insectos, que habita um local verdejante, quando sujeita a variação brusca de temperatura, responsável pela redução drástica do número de indivíduos da população. Material (por grupo) • Garrafa de plástico transparente (500 mL). • 60 berlindes, ou drageias de chocolate, de quatro cores diferentes (15 verdes, 15 brancos, 15 vermelhos e 15 amarelos). • Papel e lápis. Procedimento 1 — Calcule a frequência de cada fenótipo na geração inicial (conjunto dos 60 berlindes iniciais), considerando que cada berlinde corresponde a um indivíduo e que cada cor corresponde à expressão fenotípica de um determinado conjunto de genes. 2 — Coloque todos os berlindes na garrafa e agite-os de modo que a sua distribuição seja perfeitamente aleatória. Depois faça sair cerca de seis berlindes. 3 — Observe os berlindes que saíram da garrafa (correspondentes aos sobreviventes da geração inicial — G1). Assinale os fenótipos (cores) dos sobreviventes e as respectivas quantidades. 4 — Multiplique por 10 (número de possíveis descendentes) e obterá a virtual geração descendente (G2). 5 — Enumere os fenótipos presentes em G2 e calcule as respectivas frequências. 6 — Compare os seus resultados com os resultados obtidos pelos outros grupos. Discussão 1 — De acordo com os dados expostos, o que seria de prever, relativamente à variação das frequências de cada um dos fenótipos (cores), se esta população não fosse sujeita a factores motivadores de redução drástica da mesma? 2 — Compare os valores esperados com os que foram observados para G2. Justifique os resultados obtidos. 3 — Procure uma justificação para os resultados obtidos pelos diferentes grupos. ACTIVIDADE LABORATORIAL Fig. 47 Procedimento experimental. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 155 156 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Em alguns casos, e após actuação prolongada da selecção natu- ral em ambientes cujas pressões selectivas se mantêm constantes, as populações adaptam-se muito bem a esse meio, sendo cada vez mais homogéneas (por exemplo, populações constituídas apenas por indivíduos altos). Esta perda de variabilidade poderá ameaçar a própria população, se a mesma for submetida a variações ambien- tais. Numa população com muita variabilidade existem sempre indivíduos, ainda que poucos, com capacidade de sobrevivência nas novas condições, o que não acontece na maioria das popula- ções homogéneas. Tamanho do corpo Selecção Tamanho do corpo N úm er o de in di ví du os N úm er o de in di ví du os A Tamanho do corpo Selecção Tamanho do corpo N úm er o de in di ví du os N úm er o de in di ví du os B Tamanho do corpo N úm er o de in di ví du os N úm er o de in di ví du os Tamanho do corpo Selecção C Fig. 48 A acção da selecção natural pode beneficiar os indíviduos com: fenótipos intermédios (A); um dos fenótipos extremos (B); os dois fenótipos extremos (C). Selecção natural Pela forma persistente como actua, a selecção natural é um dos processos que mais contribuem para a evolução das populações. Acontece sempre que, numa população, os indivíduos têm diferen- tes taxas de sucesso, contribuindo de forma diferencial, com os seus alelos, para a geração seguinte. Pressionada pelo meio, a fre- quência dos alelos responsáveis pelas características adaptativas (Fig. 48) tende a aumentar. A selecção natural actua favorecendo um determinado fenótipo (ao qual corresponde uma dada associação de alelos). 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 156 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 157 Desde há muito tempo que o Homem tem tentado, muitas vezes com sucesso, obter linhagens de animais ou plantas cujas características apresentam particular interesse económico pela sua beleza ou pela sua capacidade de trabalho ou de produção de alimentos entre outros aspectos. Para isso, promove o cruzamento entre seres que, embora sejam da mesma espécie, manifestam aspectos diversos de uma determinada característica. Quando é alcançada uma fixação e uma uniformização das características transmissíveis desejadas, utiliza-se vulgarmente o termo «raça» para designar esses seres vivos. No entanto, em Biologia, aplica-se a designação de subespécie, cuja definição, segundo Templeton (1998), é a seguinte: «Uma subespécie (raça) é uma linhagem evolutivamente distinta dentro duma espécie. Esta definição requer que a subespécie esteja geneticamente diferenciada devido a barreiras à troca de genes que persistiram durante longos períodos de tempo; ou seja, a subespécie tem ter uma continuidade temporal, além da diferenciação genética observada.» • Descubra algumas das subespécies de animais que o Homem tem obtido ao longo dos tempos. Utilize bibliografia variada (jornais, revistas, livros) e/ou as páginas da Internet a seguir sugeridas (ou outras que achar interessantes). http://www.hospvetporto.pt/servicos/areas_detalhe/7.html http://www.tudosobrecavalos.com/racas_de_cavalos.php http://animais.jcle.pt/Cool http://mail.esa.ipcb.pt/bovinos.autoctones/fragoso.pdf http://pt.wikipedia.org/wiki/Bovino_Ramo_Grande http://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie • Apresente o resultado das suas pesquisas num póster, que poderá ser utilizado também para decoração da sua sala de aula, do laboratório ou da escola. PESQUISAR E DIVULGAR O gato doméstico (Felis silvestris catus, Lineu, 1758) tem sido, ao longo da história do Homem, um dos animais eleitos para companhia, vigilância e eliminação de pragas, como as dos ratos e de alguns insectos. A beleza e a diversidade de características dos exemplares desta espécie atraíram, desde há muito tempo, os criadores, que se dedicaram a cruza- mentos variados, com vista a obter animais cada vez mais exóticos e cobiçados pelos apreciadores. Assim, conhecem-se, neste momento, várias dezenas de «raças» que têm resultado das mais variadas combinações entre machos e fêmeas. Burmês silver é a designação atribuí- da a um animal resultante do cruza- mento entre um macho persa chin- chila e uma gata burmesa-lilás. Os registos dizem que este exemplar foi obtido na Grã-Bretanha, pela pri- meira vez, em 1981. O burmês parece ser um exemplar originário do Sri Lanka, já que ma- nuscritos dos séculos XIV e XVII ilus- tram animais que se assemelham bastante a esta variante. Outros regis- tos referem que, nos templos budistas da antiga Birmânia (actual Myanmar) do século XVI, os monges conviviam com gatos que, provavelmente, eram antepassados do burmês. CURIOSIDADE Fig. 49 Gatos burmeses. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 157 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Criacionismo • Geração Espontânea • Catastrofismo • Argumentos paleontológicos • Argumentos anatómicos • Argumentos citológicos • Argumentos bioquímicos • Lamarckismo • Darwinismo • Neodarwinismo Essenciais • Fixismo • Evolucionismo • Selecção natural • Selecção artificial Necessários • Espécie • Variabilidade • Mutação • Recombinação génica Síntese de conhecimentos • A origem das espécies pode ser explicada por hipóteses fixistas ou evolucionistas. • As teorias fixistas consideram que as espécies são imutáveis, ao longo do tempo. — O Criacionismo considera que os seres vivos foram criados por uma entidade divina. — A Teoria da Geração Espontânea defende que os seres vivos são formados a partir de matéria inorgânica com a participação de um princípio activo. — O Catastrofismo explica as descontinuidades existentes a nível fóssil por catástrofes, que podem ocorrer num determinado local, onde são destruídos todos os seres vivos, havendo depois um repovoamento. • O Evolucionismoconsidera que as espécies sofreram modificações ao longo do tempo. Existem observações que apoiam as ideias evolucionistas; são os designados argumentos a favor do Evolucionismo: — paleontológicos — estudo dos fósseis; — anatómicos — comparação da anatomia, interna e/ou externa, de seres vivos actuais; — citológicos — verificação de que todos os seres são constituídos por células; — bioquímicos — comparação das moléculas existentes nos seres vivos. • O Lamarckismo, a primeira teoria explicativa da evolução das espécies, considerava que o indivíduo, pelo uso ou desuso de um órgão, conseguia obter transformações que depois transmitia à descendência. • Para a elaboração da Teoria Darwinista contribuíram dados geológicos, biogeográficos, económicos e de selecção artificial. • Segundo Darwin, a selecção natural actua em populações heterogéneas, o que faz com que os indivíduos mais bem adaptados vivam mais tempo e originem mais descendência. As gerações seguintes apresentam maior número de indivíduos mais aptos. • O Neodarwinismo explica a variabilidade das espécies pelas mutações e pela recombinação génica. Segundo esta teoria, a selecção natural actua de forma a privilegiar a transmissão de determinados alelos ao longo das gerações. • As populações evoluem quando estão sujeitas a um dos factores seguintes: mutações, selecção natural, deriva genética, migrações e cruzamentos não-aleatórios. • As populações em que não existe variabilidade genética têm um potencial evolutivo muito baixo. 158 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 158 ACTIVIDADES Mecanismos de evolução 1. Elabore um mapa de conceitos relativo à evolução dos seres vivos. 2. Observe com atenção as figuras seguintes, que representam um cacto e uma eufórbia. Os cactos vivem originariamente em desertos na América do Norte, e estas eufórbias vivem originariamente em desertos africanos. São plantas com morfologias muito semelhantes. 2.1 Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação. Os cactos e as eufórbias possuem caules que podem ser considerados… A — … órgãos vestigiais. B — … órgãos análogos. C — … órgãos homólogos. D — … órgãos divergentes. 2.2 Escolha a opção que completa correctamente a afirmação. Os cactos e as eufórbias sofreram (…) como adaptação a meios ambientes (…). A — evolução convergente […] semelhantes B — evolução convergente […] diferentes C — evolução divergente […] diferentes D — evolução divergente […] semelhantes 3. Imagine que os seres A, B, C e D, pertencentes a espécies hipotéticas, possuem uma enzima que codifica uma reacção de metabolismo celular essencial para a sua sobrevivência. Esta enzima possui, em todos estes seres, 120 aminoácidos com sequências muito semelhantes, à excepção dos aminoácidos representados no quadro. Responda às questões. 3.1 Indique o número de aminoácidos diferentes entre os seres A e B, e B e D, na molécula representada. 3.2 Identifique as espécies com maior grau de parentesco. Justifique a sua resposta. 3.3 Identifique as espécies com menor grau de parentesco. Justifique a sua resposta. A u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 159 Cacto B Eufórbia SER POSIÇÕES DOS AMINOÁCIDOS 0-9 10 11 e 12 13 14 15 16-27 28 29 30-53 54 55 56 57-120 A B C D Legenda: V — valina; W — triptofano; F — fenilalanina; K — lisina; I — isoleucina; A — alanina; S — serina; C — cisteína; Y — tirosina; E — ácido glutâmico. … … … … V V W V … … … … F K F K I K K K A A S S … … … … C C S S Y W Y Y … … … … A E A E S S C C V F V V … … … … 919354 144-165_U7 09/03/27 12:59 Page 159 ACTIVIDADES 4. Considere as experiências seguintes, analise-as e responda às questões propostas. Experiência 1: Clones de plantas originárias de um dado local (A) foram cultivados em três locais distintos e a altitudes diferentes: Local A (origem) — situado a cerca de 1500 metros de altitude. Local B — localizado ao nível médio das águas do mar. Local C — localizado a cerca de 3000 metros de altitude. RESULTADO: Todas as plantas cresceram, mas de modo diferenciado. Experiência 2: Retiraram-se plantas da mesma espécie de quatro locais situados a diferentes altitudes (locais 1, 2, 3 e 4), que foram cultivadas num quinto local (5), localizado ao nível das águas do mar. RESULTADO: Todas as plantas cresceram, apresentando, contudo, diferenças de tamanhos e formatos, das folhas, mantendo as características originais dos seus progenitores. 4.1 Identifique o objectivo desta experiência. 4.2 Seleccione a opção que completa correctamente a frase seguinte: A experiência 1 permite concluir que… A — … o genótipo se altera, condicionado pelo ambiente. B — … a expressão do genótipo é moldada pelos factores ambientais. C — … na presença de condições ambientais diferentes, o indivíduo sofre mutações. D — … o fenótipo resulta apenas da expressão do genótipo. 4.3 Seleccione a opção que permite preencher os espaços e obter uma afirmação correcta. As plantas cultivadas no local 5 (experiência 2) apresentavam inicialmente genótipos (…) e fenótipos (…). A — iguais […] iguais B — diferentes […] diferentes C — iguais […] diferentes D — diferentes […] iguais 4.4 Seleccione a alternativa que permite preencher os espaços e obter uma afirmação correcta. Com o passar do tempo, as plantas originárias dos locais 1, 2, 3 e 4, e agora a crescer no local 5 (experiência 2), tornar-se-ão cada vez mais (…), o que resultará da acção de pressões selectivas (…), correspondendo a um processo de evolução (…). A — iguais […] semelhantes […] divergente B — diferentes […] distintas […] divergente C — iguais […] semelhantes […] convergente D — diferentes […] distintas […] convergente 160 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Experiência 1 Experiência 2 Local 1 Local 2 Local 3 Local 4 Local 5 A B 919354 144-165_U7 6/16/08 3:11 PM Page 160 u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 161 5. Foi apresentada uma explicação para a origem de uma espécie. Posteriormente, questionou-se se essa explicação seria lamarckista ou darwinista. Classifique com S (sim) as opções que apresentam argumentos inequivocamente lamarckistas ou darwinistas e com N (não) as opções que não defendem explicitamente nenhuma das duas teorias. A — A espécie resultou de um processo de evolução. B — O ambiente foi fundamental no processo de transformação desta espécie. C — A evolução da espécie resultou do esforço de cada indivíduo ao usar continuamente determinado órgão. D — A espécie resultou de um processo de criação divina e manteve-se inalterada desde a sua formação. E — Inicialmente, a espécie apresentava grande heterogeneidade, existindo indivíduos com diferentes capacidades de adaptação. F — A selecção natural é o processo responsável pela evolução da espécie. G — São as populações, e não os indivíduos, que evoluem. 6. Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte. As alterações genéticas numa população de bactérias sujeita à presença de antibióticos devem-se, numa perspectiva neodarwinista, a… A — … mutações e reprodução sexuada. B — … mutação e selecção natural. C — … adaptação à presença do antibiótico. D — … recombinação génica e selecção natural. 7. Considere a lista de conceitos usados pelas teorias evolutivas estudadas (Lamarckismo, Darwinismo e Neodarwinismo) e seleccione os que são darwinistas. I. Uso/desuso. II. Selecção natural. III. Mutações. IV. Transmissão das características adquiridas. V. Heterogeneidade das populações. VI. Variabilidade genética. 8. Considere os diagramas seguintes, que representam, de forma muito esquemática, o reservatório genético (conjunto de alelos) de uma dada população, em dois momentos separados por um grande intervalo de tempo. 8.1 Refira dois factos, observáveis na figura, que permitam afirmar que a população está em evolução. — Formas distintas do mesmo gene — Formas distintas do mesmo gene— Formas distintas do mesmo gene A B 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 161 ACTIVIDADES 8.2 Seleccione a opção que permite completar correctamente a afirmação seguinte. O aumento da frequência do gene é da responsabilidade de (…), e o aparecimento do gene poderá ser atribuído a (…). A — selecção natural […] mutações B — mutações […] migrações C — selecção natural […] deriva genética D — migrações […] cruzamentos não aleatórios 8.3 Considerando que codifica a cor clara e a cor escura, seleccione a opção que completa correctamente a afirmação seguinte. A variação na frequência destes genes poderá ter como justificação… A — … a poluição crescente do ambiente. B — … a diminuição da temperatura e o aumento da precipitação sob a forma de neve. C — … o aumento do número de predadores. D — … o aumento do alimento disponível. 8.4 Comente a seguinte afirmação, com base na análise da figura. « codifica uma característica não adaptativa.» 9. Leia o texto e responda às questões. Assim, o Lamarckismo, tanto quanto podemos julgar, é falso no domínio que sempre tem ocupado — como teoria biológica da hereditariedade genética. Contudo, e só por analogia, é o modo de «hereditariedade» de uma outra e muito diferente espécie de evolução — a evolução cultural humana. O Homo sapiens surgiu há pelo menos 50 000 anos, e não temos a mais pequena sombra de prova a favor de algum melhoramento genético desde essa altura. Suspeito que o Cro-Magnon médio poderia, convenientemente treinado, ter manejado computadores como os melhores dentre nós (eles até tinham cérebros um pouco maiores do que os nossos). Tudo o que conseguimos, para o bem ou para o mal, é um resultado da evolução cultural. E nós temo-la feito em taxas incomparavelmente superiores às de toda a história prévia da vida. Os geólogos não podem medir umas poucas centenas ou uns poucos milhares de anos no contexto geral da história do nosso planeta. No entanto, neste milimicrossegundo em que vivemos, transformámos a superfície do nosso planeta por intermédio da influência de uma invenção biológica inalterada — a consciência de nós próprios. Desde talvez uma centena de milhares de pessoas com machados até mais de 4000 milhões com bombas, foguetes, navios, cidades, televisões e computadores — e tudo isto sem que tenha havido substancial mudança genética. STEPHEN JAY GOULD, O Polegar do Panda, Gradiva, 1980 (adaptado) 9.1 Considere a afirmação: «O Lamarckismo […] é falso no domínio que sempre tem ocupado — como teoria biológica da hereditariedade humana.» Classifique com S (sim) as opções que poderão ser utilizadas, inequivocamente, como argumento da afirmação inicial e com N (não) as que não respeitam esta condição. A — O uso persistente de determinado órgão não o torna mais vigoroso. B — Alterações fenotípicas conseguidas durante a vida do indivíduo não são transmissíveis aos seus descendentes. C — O ambiente não altera o fenótipo. D — Alterações fenotípicas não provocam alterações genotípicas. E — O indivíduo transmite aos seus descendentes apenas os genes que ele próprio herdou. F — A não utilização de determinado órgão tem como consequência a atrofia do mesmo. G — O ambiente molda o genótipo, podendo alterar o fenótipo. H — A transmissão das características adquiridas nunca foi provada experimentalmente. 9.2 Comente a afirmação, tentando aplicar as Leis de Lamarck: «A evolução cultural humana é de natureza lamarckista.» 162 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 162 Questão central: • Como explicar o padrão de coloração do peixe-gato-de-ventre-escuro? • Tendo como base esta questão central, organize um debate com intervenção das personagens sugeridas, no sentido de explicar a possível origem e evolução da espécie contemplada no documento que se segue. Fontes bibliográficas: Para construir a sua personagem, recorra às informações sobre evolução que se encontram no manual escolar e as obras da biblioteca da Escola. Pode ainda consultar os seguintes sítios: • http://www.darwin-online.org.uk • http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Lamarck • http://www.simbiotica.org/teorias.htm Personagens: Moderador, criacionista, Lamarck, Darwin e defensor do Neodarwinismo. JOGO DE SIMULAÇÃO Alguns peixes-gato africanos da família Mochokidae nadam de costas para baixo. Entre eles, salientam-se os Synodontis nigriventris. Estes últimos alimentam-se de algas que obtêm raspando a página inferior das folhas das plan- tas aquáticas que abundam à superfície das águas. Ao contrário da generalidade dos peixes que apresentam o ventre claro, os S. negriven- tris (peixe-gato-de-ventre-negro), como o seu nome sugere, é escuro na sua superfície anató- mica inferior (ventre) e claro na sua parte estru- tural superior (dorso). A maioria dos predadores dos peixes deslo- cam-se abaixo destes, e quando olham para cima (para a claridade do sol) têm mais dificul- dade em localizar peixes com o ventre claro. STEPHEN JAY GOULD, O Sorriso do Flamingo, 1985 (adaptado) u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 163 Peixe-gato africano da família Mochokidae. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 163 O estudo da evolução dos seres vivos conti- nua a estar longe de ser um tema de consensos, motivando acesas discussões entre biólogos, filósofos e até políticos. De facto, quando Henri Bergson, filósofo e escritor francês, obteve o Prémio Nobel da Lite- ratura, em 1928, a ideia de um impulso vital (élan vital) causador da evolução ganhou prota- gonismo junto de muitos dos que encontravam sérios problemas no Darwinismo. Embora o facto de o autor ter sido galardoado com este prémio possa ter tido influência na divulgação e na aceitação das suas propostas, o que se tem verificado é que as perspectivas filosófica e reli- giosa da evolução têm mantido adeptos ao longo dos tempos. Segundo Bergson, o impulso vital (que se deve a Deus ou é o próprio Deus) é inerente à matéria e é a fonte da infinita variedade de for- mas de vida, assim como guia a evolução numa determinada direcção. O moderno movimento do «Desígnio Inteli- gente» (Intelligent Design, ID) baseou-se neste e noutros conceitos para explicar a diversidade de seres vivos e o aparecimento de novas espé- cies, associando-os a uma fonte inteligente, que os criacionistas concluíram ser o Criador. Em alguns estados dos Estados Unidos, assim como em alguns países da Europa (por exemplo, Itália), este assunto tem causado grande polémica, levando a intervenções políti- cas como a do presidente George Bush em Agosto de 2005, em que fez referência à teoria da evolução e ao ID como «diferentes escolas de pensamento». No entanto, a aceitação do movimento do ID como uma teoria é algo que causa repúdio a muitos elementos da comunidade científica. Na revista Ciência Hoje — Ciência e Tecnologia em directo, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, podia ler-se, em Setembro de 2005, num artigo de Duarte Barral: «Passo a explicar: uma teoria científica deve ter por base um conjunto de observações devidamente controladas que a testem e, em seguida, deve ser publicada em revistas da especialidade, depois de ter sido avaliada por alguns pares, para que todos os cientistas a possam julgar e pôr à prova. Por este motivo, uma teoria raramente se prova definitivamente. Trata-se mais de um modelo de trabalho que vai sendo testado e que vai resistindo, ou não, a todas as evidências que surgem. Neste aspecto, podemos dizer que a teoria da evolução é, por- ventura, a teoria mais bem sucedida e sólida que temos em ciência, pois resiste a todas as provas, do registo fóssil que tem sido encontra- do ao manancial de informação que a sequen- ciação do genoma humano trouxe. A evolução não explica tudo, mas é, de longe, o melhor modelo que temos. Se alguém quiser criar outro, poderá fazê-lo, como Darwin, mas isso requer que se sigam os passos que expus atrás e que a nova teoria explique o que a anterior não explicava. E aqui é que estáa questão principal — o ID não se apoia em obser- vações controladas nem foi submetido ao julga- mento e a testes de outros cientistas, nem con- segue explicar mais do que a teoria da evolução — é, sim, uma crença que, por isso, não deve ser confundida com Ciência, sob pena de enfra- quecer tanto o que é uma crença como o que é a Ciência. Poderá discutir-se o ID sob a pers- pectiva filosófica ou religiosa, mas não lado a lado com teorias científicas que verdadeiramente o são por terem seguido precisamente o método científico.» http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=1173&op=all (adaptado) O Criacionismo no século XXI CiênciaTecnologiaSociedadeAmbiente DOC. 1 1. Discuta em que áreas da sociedade poderão ser introduzidas profundas alterações que resultem da intervenção do poder político no campo da Ciência. 2. Em que medida a tecnologia poderá ter um papel determinante no futuro da Ciência? 3. Refira descobertas científicas na área da Biologia posteriores à apresentação da teoria de Darwin e que têm vindo a contribuir para a sua consolidação. 4. Se quiser saber mais sobre este tema, poderá recorrer aos sítios: http://www.vidaslusofonas.pt/henri_bergson.htm http://www.icr.org/article/3383/65 http://www.comciencia.br/200407/reportagens/ 04.shtml ACTIVIDADES 164 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 164 Quatro cientistas portuguesas publicaram, em meados de 2007, na revista Science, o resultado da sua investigação em bactérias, rea- lizada e financiada em Portugal. Utilizando uma técnica para identificar as mutações das bacté- rias que lhes conferiam resistência, puderam concluir que estes organismos «têm um poten- cial evolutivo extraordinariamente elevado». Isabel Gordo, uma das quatro cientistas do Instituto Gulbenkian da Ciência envolvidas na pesquisa, afirmou à Agência Lusa: «As bactérias adaptam-se muito mais rapidamente do que até agora se tinha admitido. Pensava-se que tinham uma capacidade de adaptação mil vezes inferior àquela que observámos. Este estudo contribui substancialmente para a compreensão de um problema central na teoria da evolução.» Segundo a mesma cientista, as conclusões desta investi- gação «têm implicações importantes na saúde pública, nomeadamente na resistência a antibió- ticos e medicamentos». Explicou ainda a investi- gadora que «seriam precisos cerca de 20 mil anos para tirar conclusões de um processo seme- lhante na espécie humana, já que o estudo ana- lisou mil gerações de bactérias, e, em humanos, cerca de 20 anos separam cada geração». http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=22959&op=all Cientistas portuguesas descobrem factos importantes sobre a evolução das bactérias DOC. 2 1. Indique qual deverá ser a característica das bactérias responsável pelo seu «potencial evolutivo extraordinariamente elevado». 2. Refira, dos vários factores evolutivos estudados, aquele que poderá ser responsável pela evolução das bactérias. 3. Segundo Isabel Gordo, uma das quatro investigadoras responsáveis por este estudo, estas descobertas «têm implicações importantes na saúde pública, nomeadamente na resistência a antibióticos e medicamentos». Comente a afirmação da investigadora, abordando os itens seguintes: — abuso excessivo de antibióticos por parte da população humana; — previsão da evolução das doenças provocadas por bactérias na população humana. 4. Comente o texto seguinte. De todas as espécies do Planeta, a espécie humana parece ser aquela em que a selecção natural tem mais dificuldade em manobrar, pela inexistência de predadores ou pela anulação da pressão do meio ambiente. Contudo, parece que a nossa espécie vê o seu futuro comprometido devido à acção de pequenos parasitas, como bactérias patogénicas ou mesmo os vírus. ACTIVIDADES u n i d a d e 7 E v o l u ç ã o b i o l ó g i c a 165 Fig. 50 Bactérias. Fig. 51 Pesquisa laboratorial. 919354 U7_p144-165 18/1/08 16:43 Page 165 8unidade 166 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 166 Sistemática dos seres vivos Sistemas de classificação 1708 1 Sistema de classificação de Whittaker modificado 193 8 2 Face à diversidade, que critérios são utilizados para sustentar um sistema de classificação dos seres vivos? 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 167 A G IH D B E C F 8unidade Sistemática dos seres vivos 1. Classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — Os seres vivos dividem-se em dois Reinos: Animal e Vegetal. B — O Reino é o grupo que, na classificação dos seres vivos, engloba um maior número de represen- tantes. C — Dois seres de espécies diferentes podem originar descendentes férteis. D — As algas são as plantas aquáticas. E — A espécie é o grupo em que os seres vivos têm maior grau de semelhança. F — Se dois seres vivos são da mesma espécie são também do mesmo reino. G — As classificações têm em conta apenas as características morfológicas dos seres vivos. H — O modo de nutrição pode ser utilizado como critério para classificar os seres vivos. I — Se um ser vivo tem clorofila, então é uma planta. J — Os cogumelos e os bolores são fungos. O QUE JÁ SABE, OU NÃO... Estes seres vivos estão classificados como animais ou como plantas? Quais serão os seus parentes mais próximos? Que semelhanças e diferenças existem entre estes seres vivos? 168 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 168 Desde o aparecimento da vida na Terra, esta diversificou-se em inúmeras formas (Fig. 1), dos seres mais pequenos e mais simples (como as bactérias) aos maiores e mais complexos (como algumas plantas e alguns animais). De todos os seres vivos que existem, actualmente, na Terra, já se identificaram aproxi- madamente 1 700 000 espécies, mas, de acordo com a maioria dos autores, o número real de espécies será muito superior (5 a 10 milhões, segundo alguns autores, e na ordem dos 30 a 150 milhões, segundo outros). Há grupos de seres vivos que, pelas suas dimensões e pela importância que os investi- gadores lhes atribuem, são muito estudados; outros grupos permanecem ainda, na sua quase totalidade, no domínio do desconhecimento. Como estudar tão grande diversidade? Para facilitar o seu trabalho, os investigadores agrupam os seres vivos segundo determinadas características, ou seja, utilizam uma ciência designada por Sistemática. Fig. 1 Numa floresta existe uma grande diversidade de seres vivos; no entanto, muitos deles não são visíveis. INTRODUÇÃO A Sistemática é a ciência que estuda e classifica os seres vivos, fazendo a descrição dos organismos e tentando perceber as relações de parentesco que existem entre eles. u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 169 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 169 170 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 8 1 Sistemas de classificação Se não se conhecerem os nomes das coisas, perde-se também o conhe- cimento da sua existência. CAROLUS LINNAEUS, Philosophia Botanica Na mente humana existe, desde sempre, a vontade e a necessi- dade de classificar os seres vivos. Após o estudo e a descrição dos diferentes organismos, para classificar é necessário organizar grupos de seres com as mesmas características, atribuindo-lhes posterior- mente um nome. Por que razão é necessário classificar os seres vivos? Havendo um número tão elevado de espécies, torna-se neces- sário agrupá-las para facilitar o seu estudo. Na classificação usam- -se critérios que podem ser variados e faz-se a distribuição dos seres vivos pelos grupos formados, de acordo com os critérios estipulados. A classificação consiste na interpretação de factos, que pode variar de investigador para investigador; por esta razão, ao longo do tempo, os seres vivos integraram grupos diferentes, con- soante os critérios utilizados e a interpretação que se fez destes. O próprio homem primitivo deve ter tido necessidade de clas-sificar os seres vivos, mas a sua classificação baseou-se, provavel- mente, em critérios de utilidade para a sua vida quotidiana. Conhe- cia plantas e animais comestíveis e os que o não eram, identificava animais perigosos e outros sem perigosidade, e até seres venenosos. A classificação utilizada pelo homem primitivo seria, pois, uma classificação prática, visando a satisfação das necessidades ali- mentares e de defesa. Actualmente, ainda se usam classificações que podem ser con- sideradas práticas — por exemplo, quando se atribui a designação de cogumelo venenoso, para diferenciar uma espécie de outra que seja comestível (Fig. 2), ou a de animal selvagem, distinguindo um ani- mal de outro que seja doméstico. classificação prática practical classification As classificações práticas tentam satisfazer as necessidades alimentares e de defesa do Homem. A RETER A Fig. 2 Cogumelo venenoso Amanita phalloides (A) e cogumelo comestível Tricholoma portentosum (B). B 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 170 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 171 Uma das primeiras classificações que se conhecem é a de Aris- tóteles (384-322 a. C.). Durante a sua vida, o filósofo grego classifi- cou os animais segundo critérios previamente definidos. Nesse tempo, havia conhecimento de cerca de mil espécies, todas elas macroscópicas, das quais cerca de 450 eram espécies de animais. Os critérios definidos por Aristóteles são descritos no seu livro Historia Animalium (Fig. 3). Aristóteles dividiu os seres vivos conhecidos em dois Reinos: o Reino dos Animais, móveis, e o das Plantas, imóveis; este pressu- posto foi aceite até ao século XVII. Actualmente, só existe conheci- mento da sua classificação para os animais, pois a das plantas nunca foi encontrada. A Fig. 3 História dos Animais, de Aristóteles, o principal estudo de Zoologia da Antiguidade (A); A Escola de Atenas, de Rafael, vendo-se Aristóteles (no centro, à direita) e Platão (no centro, à esquerda) (B). B Teofrasto (371-287 a. C.), um discípulo de Aristóteles, na sua Historia Plantarum (História das Plantas), classificou as plantas em ervas, subarbustos, arbustos e árvores. Cada grupo foi, ainda, divi- dido em subgrupos, com base na forma das folhas, no tipo de vida e no local onde a planta crescia. Este sistema incluía a descrição de cerca de 480 plantas. CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES ANIMAIS Fonte: http://www.ucmp.berkeley.edu/history/aristotle.html Enaima: com sangue vermelho (vertebrados) Anaima: sem sangue vermelho A — Quadrúpedes vivíparos (mamíferos) B — Aves C — Quadrúpedes ovíparos (répteis e anfíbios) D — Peixes E — Baleias A — Cefalópodes B — Crustáceos C — Insectos, aranhas, escorpiões e centípedes D — Animais com concha (maioria dos moluscos e equinodermes) E — Zoófitos ou animais-plantas (como a maioria dos cnidários) 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 171 172 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s As classificações de Aristóteles e de Teofrasto baseavam-se em características estruturais dos seres considerados, pelo que são designadas por classificações racionais. Por outro lado, as carac- terísticas utilizadas são em pequeno número, designando-se, assim, por classificações artificiais. A conquista de novas terras, noutros continentes, incrementou significativamente o conhecimento dos seres vivos existentes no Planeta; no início do século XVII, eram referidas cerca de dez mil espécies (o que tornava bastante difícil a utilização dos primitivos sistemas de classificação). O botânico sueco Carl Lineu (Fig. 4) (Linnaeus ou Von Linné, 1707-1778) admitiu, como Aristóteles, a divisão do mundo vivo em dois grandes grupos: o Reino Animal e o Reino das Plantas. Este naturalista, que era fixista, criou as bases da classificação, colocando os organismos numa hierarquia, ainda utilizada actual- mente. No seu livro Systema Naturae (10.ª edição, 1758) (Fig. 6), Lineu admitia a existência de seis classes de animais: Mammalia (mamífe- ros), Aves, Amphibia (anfíbios e répteis), Pisces (peixes), Insecta (insectos) e Vermes (todos os outros invertebrados). Lineu incluiu na classificação dos mamíferos algumas altera- ções importantes. Utilizou, por exemplo, o tipo de dentes como critério de classificação, tendo sido o primeiro naturalista a incluir as baleias e os morcegos nos mamíferos. Em 1735, na primeira edi- ção de Systema Naturae, Lineu apresentou o seu sistema sexual para a classificação das plantas, no qual os grupos eram formados com base no número e arranjo dos estames (órgãos masculinos) e nos carpelos (órgãos femininos) que estas possuíam (Fig. 7). Como con- sequência desta classificação, os grupos formados eram bastante artificiais: frequentemente, um mesmo grupo reunia espécies não relacionadas — por exemplo, as plantas sem órgãos sexuais óbvios foram todas incluídas na classe Cryptogamia (que agrupava algas, fungos, musgos e fetos). Noutros casos, espécies bastante relaciona- das foram inseridas em classes diferentes. Fig. 4 Carl Lineu. Fig. 5 Linnaea borealis. Fig. 6 Página de rosto da segunda edição do Systema Naturae. classificação racional rational classification classificação artificial artificial classification As classificações racionais utilizam características estruturais dos seres vivos. A RETER Durante a sua vida, Lineu escre- veu mais de 70 livros e 300 arti- gos científicos. CURIOSIDADE 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 172 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 173 Este sistema de classificação foi bastante contestado no seu tempo, e o próprio Lineu admitia que era um sistema de classifica- ção artificial, apesar de ser considerado também racional. O conhecimento relativo à quantidade e à variedade de seres vivos continuou a crescer, e nos finais do século XIX era reconhecido mais de um milhão de espécies, o que levou à necessidade de uma classificação baseada num número de características bastante mais elevado — classificação natural. Todas estas classificações continuavam a ser fixistas, pois baseavam-se no facto de os seres vivos não terem sofrido qualquer alteração após a sua criação, mantendo-se inalterados para sem- pre. Após Darwin ter explicitado a sua teoria da evolução (A Origem das Espécies, 1859), os sistemas de classificação passaram a ter em conta a história evolutiva dos seres vivos. As classificações que reflectem a evolução dos seres vivos são designadas por classificações filogenéticas e são consideradas mais rigorosas em vários aspectos, pois mostram as relações de parentesco que existem entre os seres vivos. Apesar disto, foram propostas várias destas classificações, consoante os critérios esco- lhidos e os diferentes pontos de vista sobre as relações evolutivas, com base nas mesmas características. A partir dos anos 20 do século XX, com a descoberta da teoria cromossómica da hereditariedade, surgiu uma nova ciência, desig- nada por Sistemática, que utiliza todos os novos dados, não se limitando às características morfológicas dos seres vivos. Na década de 60 do século XX começaram a utilizar-se métodos de estudo rela- tivos às biomoléculas e programas informáticos para fazer a análise dos dados obtidos. Fig. 7 Dupla página de Systema Naturae, (sexta edição, publicada em 1748), referente ao sistema sexual de Lineu que foi apresentado em 1735, na primeira edição da mesma obra. classificação natural natural classification classificação filogenética phylogenetic classification Sistemática Systematic As classificações artificiais usam um pequeno número de características dos organismos, enquanto as naturais utilizam o maior número de características possível. A RETER As classificações filogenéticas evidenciam a evolução dos seres vivos. A RETER 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:45 Page 173 174 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s As classificações filogenéticas, que também se designam por evolutivas ou filéticas, são verticais e dinâmicas,pois têm em conta o tempo ao longo do qual ocorreu a evolução dos organismos. Nestas classificações utiliza-se a chamada análise cladística, em que se procuram grupos de seres vivos que tenham um ancestral comum e que incluam todos os seus descendentes (os denomina- dos clados ou grupos monofiléticos). A identificação destes grupos permite a construção de esque- mas (Fig. 8) que reflectem o padrão evolutivo desses seres. A figura 8 compara quatro grupos (todos vertebrados) de acor- do com a presença ou ausência de um conjunto de características. Neste tipo de esquema (cladograma) têm especial importância as denominadas características ancestrais ou primitivas — aquelas que existem no ancestral e que são comuns a todos — e as chama- das características derivadas — aquelas que se modificaram, divergiram a partir do ancestral comum e que estão presentes ape- nas em alguns organismos. Os cladogramas, por vezes, revelam que as espécies mais seme- lhantes nem sempre são as que estão mais próximas filogenetica- mente. Fig. 8 Cladograma que mostra as relações de parentesco entre alguns vertebrados, com base em quatro características preestabelecidas. A cladística estabelece grupos onde engloba organismos que tenham um ancestral comum e todos os seus descendentes. A RETER RÉPTEIS MAMÍFEROS Coluna vertebral Pêlos Glândulas mamárias Gestação Gestação longa Tartaruga Ornitorrinco Canguru Castor C A R A C TE R ÍS TI C A S 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 174 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 175 É o que se passa com os crocodilos e os lagartos — embora tenham muitas semelhanças, o uso de métodos cladísticos permite concluir que os crocodilos são mais aparentados com as aves do que com os lagartos (Fig. 9). Se o factor tempo for associado ao cladograma, este transforma- -se numa árvore filogenética. Em cada ponto de ramificação, a árvore filogenética possui um ancestral, real ou hipotético, e cada ramo representa a linha evolutiva de um dado grupo (Fig. 10). Lagartos Cobras Crocodilos Aves Ancestral comum A Lagartos Cobras Crocodilos Aves Ancestral comum B Fig. 9 Cladograma que reflecte a proximidade entre as aves e os crocodilos (A); cladograma que representa a proximidade entre os crocodilos e os restantes répteis, com base nas características morfológicas (B). As árvores filogenéticas são esquemas que evidenciam a evolução dos seres vivos, ao longo do tempo, a partir de um ancestral comum. A RETER Fig. 10 Árvore filogenética dos ursos. árvore filogenética phylogenetic tree Urso-castanho Urso-polar Urso-negro-asiático Urso-negro-americano Urso-malaio Urso-beiçudo Urso-de-óculos Panda-gigante Racoon Panda-vermelho 10 15 20 25 30 35 40 Ma Ursidae Procyonidae Ancestral carnívoro comum 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 175 176 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s CONSTRUÇÃO DE UM CLADOGRAMA 1. Analise com atenção o quadro seguinte, que apresenta características primitivas ou ancestrais e características derivadas para um conjunto de animais. (Consulte o glossário na página 220.) ACTIVIDADE 1.1 Elabore um diagrama encaixante, colocando os animais do quadro-resumo no interior de rectângulos que incluem grupos de seres com características em comum. Utilize como referência o exemplo seguinte. As classificações modernas baseiam-se na teoria da evolução dos seres vivos. Para descobrir as relações que existem entre os seres vivos, devem comparar-se diferentes estruturas dos mesmos, que apresentem valor evolutivo, e que permitam evidenciar o ances- tral comum e as relações de parentesco entre eles. CARACTERÍSTICAS ANIMAIS Carapau Tartaruga Sapo Gibão Lampreia Homem Canguru Notocórdio e tubo nervoso dorsal Coluna vertebral e apêndices pares Membros inferiores pares Âmnio (saco amniótico) Glândulas mamárias Placenta Dentes caninos pequenos e orifício occipital anterior Total X X 2 X X X X 4 X X X 3 X X X X X X 6 X 1 X X X X X X X 7 X X X X X 5 Sardinha: notocórdio Macaco: placenta Homem: orifício occipital anterior Fig. 11 Diagrama encaixante. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 176 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 177 1.2 Usando o diagrama de rectângulos encaixantes, elabore um cladograma que traduza as relações evolutivas entre os vários animais considerados no quadro-resumo. Este representará as características partilhadas ao longo do tempo. Observe o exemplo da figura 12. 1.3 Refira três informações importantes que possam ser obtidas a partir do cladograma construído. 1.4 Analise a situação. «Três vertebrados desconhecidos foram descobertos por uma equipa de zoólogos, na floresta amazónica. Um dos animais é semelhante a um lagarto, outro é parecido com uma ratazana e o terceiro é semelhante a um peixinho-vermelho.» Inclua estes animais no seu cladograma e explique a razão da localização escolhida. http://www.indiana.edu/~ensiweb/lessons/mclad.ws.pdf (adaptado) Te m po N.º de características comuns Notocórdio Placenta Orifício occipital anterior Fig. 12 Cladograma que traduz as relações evolutivas entre a sardinha, o chimpanzé e o homem. Diversidade de critérios Na elaboração dos vários sistemas de classificação, pode ser uti- lizada uma grande diversidade de critérios. Estes foram evoluindo à medida que o estudo dos seres vivos se tornou cada vez mais pormenorizado. Inicialmente, os critérios usados eram os da morfologia externa; posteriormente, recorreu-se à análise da morfologia interna e da Fisiologia; mais recentemente, foram usados estudos de Embriolo- gia, Paleontologia, Citologia, Etologia e Bioquímica. 8 1 1 Sardinha Chimpanzé Homem 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 177 178 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Critérios morfológicos A morfologia externa (Fig. 13) corresponde ao aspecto de um ser vivo. Este pode, por vezes, ser bastante diferente entre seres vivos da mesma espécie, como acontece nos cães, nos girinos e nos adultos das espécies de anfíbios ou nas diversas formas das formi- gas de um formigueiro. Noutros casos, indivíduos de espécies dife- rentes têm aspecto morfológico muito semelhante, como os lobos e os cães (Fig. 14). A B Fig. 13 Girinos (A) e adulto de anfíbio (B); lagarta (C) e borboleta (D) (nos anfíbios e nos insectos existem metamorfoses, pelo que os juvenis são muito diferentes dos adultos da sua espécie). C D A B Fig. 14 Os cães, Canis familiaris, de raças diferentes são morfologicamente distintos (A, B e C); apesar de ser de uma espécie diferente, o lobo, Canis lupus, é muito semelhante a algumas raças de cães, como o husky siberiano (D). C D 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 178 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 179 Um aspecto a considerar na morfologia dos seres vivos é a simetria corporal. Alguns organismos são assimétricos, como as esponjas (Fig. 15A); outros têm um único plano de simetria, dizendo- -se, por isso, que apresentam simetria bilateral, como os coelhos (Fig. 15B); outros, ainda, têm vários planos de simetria, pelo que apre- sentam simetria radial, como no caso do ouriço-do-mar (Fig. 15C). Tipos de nutrição Os tipos de nutrição são um importante critério de classificação, pois indicam o papel do ser vivo nos ecossistemas. Os seres podem ser classificados quanto à sua fonte de carbono e quanto à sua fonte de energia. FONTE DE ENERGIAFONTE DE CARBONO Fotoautotróficos (CO2) Plantas e algumas bactérias Fotoeterotróficos Algumas bactérias Quimioautotróficos (CO) Algumas bactérias Quimioeterotróficos Animais, fungos e a maioria das bactérias Fototróficos utilizam a luz solar Quimiotróficos utilizam compostos químicos Autotróficos utilizam CO ou CO2 Heterotróficos utilizam compostos orgânicos C B Os seres fotoautotróficos e os quimioautotróficos são os seres produtores do ecossistema, ocupando a base de todas as cadeiasalimentares. Nos ambientes onde não existe luz, existem apenas seres quimioautotróficos, uma vez que os fotoautotróficos não con- seguem sobreviver nesses locais. A Fig. 15 A esponja é assimétrica (A); o coelho tem simetria bilateral (B); o ouriço-do-mar tem simetria radial (C). 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 179 180 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Os seres heterotróficos podem ser macroconsumidores ou micro- consumidores, utilizando a matéria orgânica sintetizada pelos produ- tores. Os macroconsumidores ingerem aquilo de que necessitam, ocor- rendo a digestão no interior do seu organismo, em cavidades diges- tivas (digestão extracelular), como acontece nos animais, ou no interior das células, como na ameba (Fig. 16) (digestão intracelular). Os microconsumidores, como os fungos (Fig. 17), realizam diges- tão da matéria orgânica fora do seu organismo, pois lançam no exterior enzimas digestivas que degradam os compostos e absorvem as moléculas mais simples (nutrientes). Nível de organização estrutural Este critério estabelece as bases da classificação actual e pode dividir os seres vivos em: • procariontes e eucariontes — os seres procariontes não têm núcleo individualizado por membrana nuclear nem possuem organitos do sistema endomembranar; já os seres eucariontes têm o núcleo individualizado e possuem organitos constituí- dos por membranas; • unicelulares e multicelulares — os seres unicelulares são cons- tituídos por uma única célula, como as bactérias ou as euglenas, enquanto os seres multicelulares possuem várias células; • indiferenciados e diferenciados — a diferenciação celular atinge vários graus de complexidade, existindo seres multicelu- lares que não têm diferenciação tecidular, como as algas; seres em que a diferenciação está reduzida, atingindo somente alguns tecidos, e ainda, no caso de outros organismos, como, por exemplo, os animais seres em que a diferenciação é muito com- plexa, com vários tecidos, órgãos e sistemas de órgãos (Fig. 18). Fig. 16 Ameba a ingerir uma paramécia (a digestão ocorre no interior da sua célula). Fig. 17 Os fungos lançam enzimas digestivas para o exterior das suas hifas e absorvem nutrientes que resultam da decomposição da matéria orgânica. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 180 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 181 A B C D Fig. 18 A bactéria Staphylococcus é um ser unicelular procarionte (A); a Euglena é um ser unicelular eucarionte (B); a alga Fucus é um ser multicelular indiferenciado (C); a planta Pinus ponderosa é um ser multicelular diferenciado (D). Critérios etológicos A Etologia é a ciência que estuda os comportamentos dos ani- mais. Alguns comportamentos, como a emissão de padrões de som por insectos ou o comportamento migratório das aves, servem para estabelecer relações entre organismos e podem definir espécies diferentes. Como exemplo, pode ser re- ferido o caso dos grilos havaia- nos Laupala paranigra e Laupala kohalensis, semelhantes morfolo- gicamente mas com padrões de som diferentes (Fig. 19). Ao emi- tir o som, o macho procura atrair as fêmeas; o que se verifica é que só as fêmeas da mesma espécie são realmente atraídas, existindo, desta forma, isolamento repro- dutor entre os indivíduos das duas espécies. 10 20 30 0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 Impulsos por segundo N úm er o de in di ví du os Laupala paranigra Laupala kohalensis Fig. 19 Os grilos do género Laupala produzem sons diferentes. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 181 182 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Critérios bioquímicos Estes são os critérios de classificação de utilização mais recente e os mais importantes. Pode analisar-se a sequência de biomoléculas como os aminoáci- dos de uma proteína ou a sequência de nucleótidos nos ácidos nucleicos (DNA mitocondrial, DNA cromossómico ou RNA ribos- sómico). Estes estudos põem em evidência as semelhanças e/ou as diferenças existentes entre organismos. Actualmente, é possível consultar na Internet as bases de dados dos genomas de várias espécies, o que facilita a realização dos estu- dos comparativos entre elas (Fig. 20). A utilização de critérios bioquímicos é particularmente impor- tante quando se estudam microrganismos, pois os restantes crité- rios são de difícil aplicação. Entre os estudos bioquímicos que se podem fazer, encontra-se a comparação de sequências de aminoácidos num polipéptido em diferentes espécies. O grau de semelhança na sequência de aminoá- cidos indica o grau de parentesco entre os organismos. Com estas comparações, é fácil constatar que os genes responsáveis por essas proteínas evoluíram a partir de um gene comum, herdado do mesmo ancestral, que se transformou à medida que as espécies se afasta- vam. Nem todas as proteínas evoluíram com a mesma rapidez: algumas parecem ter variado muito pouco, como o citocromo c, que apresenta relativamente poucas diferenças entre organismos próximos, e outras modificaram-se rapidamente e de forma signifi- cativa, como algumas albuminas do sangue. Estas últimas são muito úteis para encontrar as relações de parentesco entre organis- mos próximos, como, por exemplo, na filogenia dos ursos (Fig. 10). Fig. 20 Mapa que evidencia as semelhanças existentes entre o genoma humano (círculo exterior) e os genomas de diferentes espécies: chimpanzé, rato, ratazana, cão, galinha e peixe dânio-zebra. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 182 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 183 A maneira mais directa de determinar o grau de parentesco entre organismos é a comparação dos ácidos nucleicos constituintes. Por sua vez, o método mais directo e preciso de comparar os ácidos nucleicos é a análise da sequência do DNA. Desta maneira, é possível determinar as semelhanças e as diferenças existentes entre duas espécies. Esta comparação pode ser feita entre as moléculas de DNA mitocondrial, que é constituído por moléculas de menores dimen- sões e que parecem modificar-se cerca de dez vezes mais rapida- mente do que as do DNA nuclear, o que facilita a identificação das relações entre os organismos. Pode ainda ser analisada a sequência do RNA ribossómico. Como o DNA que codifica o RNA ribossómico se modifica mais lentamente do que o restante, as diferenças que existem na sequên- cia do RNA ribossómico podem ser usadas para encontrar os ramos mais antigos da árvore filogenética de todos os seres vivos. Taxonomia e nomenclatura A observação da Natureza tem levado o Homem a procurar explicar a imensa variedade de fenómenos e a grande diversidade de seres vivos. Esta busca incessante de conhecimento permitiu, ao longo do tempo, o avanço da Ciência, que, com o auxílio da tecno- logia, tem progredido e apresentado cada vez mais respostas para as interrogações do Homem. A quantidade (Fig. 21) e diversidade de seres vivos (cerca de dez milhões de espécies de eucariontes e um número indeterminado de procariontes), produto de milhões de anos de evolução, tem susci- tado curiosidade e sido objecto de inúmeros trabalhos. Neste caso, além da procura de explicações para a diversidade, surge um outro problema: como organizar os organismos de modo a tornar mais acessível o estudo desta imensa variedade? 8 1 2 Bactérias Nemátodes Crustáceos Protozoários Algas Vertebrados Moluscos Fungos Aracnídeos Plantas Insectos 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 milhões Espécies conhecidas Espécies por descobrir Fig. 21 Variação do número de espécies existentes na biosfera. CRITÉRIOS USADOS NA CLASSIFICAÇÃO DE SERES VIVOS A RETER Morfológicos Tipos de nutrição Tipos de organização estrutural Etológicos Bioquímicos Outros O DNA mitocondrial das plantas vasculares é muito pouco variá- vel e, por isso, pouco informati- vo para determinação de graus de parentesco. CURIOSIDADE 919354 166-192_U8 6/17/08 3:53 PM Page 183 184 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Taxonomia Taxonomy nomenclatura binominalbinominal nomenclature espécie species género genus A elaboração de uma figura que ilustre a biodiversidade, em que surgem representantes de vários grupos de seres vivos, pressu- põe um estudo das características morfológicas e fisiológicas dos organismos e um estudo comparativo entre eles, permitindo detec- tar semelhanças, diferenças e ancestrais comuns e, como tal, agru- par e nomear os seres envolvidos. A Taxonomia é uma área da Biologia que se dedica à classifi- cação, à identificação e à atribuição de nomes aos grupos de seres vivos estabelecidos. A Sistemática, baseada na Biologia Evolutiva e na Taxono- mia, dedica-se ao estudo da diversidade biológica e da história evolutiva dos seres vivos, pretendendo descobrir as relações entre os organismos e estabelecer um ancestral comum. Como e quando surgiu a Taxonomia? A Taxonomia moderna surgiu no século XVIII, quando o natura- lista sueco Carl Lineu tentou nomear e descrever todos os seres vivos então conhecidos. Em 1753, Lineu publicou Species Plantarum, em que descreveu, em latim, as espécies de plantas conhecidas na altura. Esta descrição, demasiado extensa por utilizar doze palavras — nomenclatura polinominal —, era até aí utilizada pelos naturalistas para referir uma determinada espécie. No entanto, Lineu usou, simul- taneamente, uma nova forma: manteve a primeira palavra da descri- ção referida e juntou-lhe uma segunda que considerou significativa para a identificação das características da espécie. Nasceu assim o sistema binominal, em latim, para atribuição de nome às espécies. O ano de 1758 é muitas vezes considerado aquele em que foi implementada a nomenclatura actual para a identificação de seres vivos. Efectivamente, neste ano, Lineu publicou a 10.ª edição do seu livro Systema Naturae e aplicou a nomenclatura binominal para classificar os seres vivos.(1) Este sistema veio simplificar o diálogo entre cientistas, uma vez que, por terem diferentes nacionalidades, podiam comunicar clara- mente, em latim, sem ocorrerem erros de linguagem (o latim conti- nua a ser usado por estas razões e também porque, sendo uma língua morta, não sofre alterações). Este naturalista propôs ainda uma hierarquia na classificação dos organismos, em que a espécie foi considerada a mais pequena unidade nesta organização. A designação atribuída a cada espécie é constituída pelo nome genérico, que designa o género — grupo mais abrangente que engloba um conjunto de espécies com muitas afinidades —, segui- do do restritivo específico que a define e a distingue das restantes. A Taxonomia identifica e nomeia os grupos de seres vivos. A Sistemática tenta estabelecer relações, entre os grupos de seres vivos determinados pela Taxonomia, baseando-se na história evolutiva. A RETER Lineu, considerado o pai da Taxonomia, usou pela primeira vez a nomenclatura binominal para atribuir nomes às espécies. A RETER Nota: (1) Para algas, fungos, briófitos (grupo que inclui os musgos, entre outros) e plantas vasculares, a data oficial, que consta no Código Internacional de Nomenclatura Botânica, é o ano de 1753. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 184 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 185 Quando escrito isoladamente, o restritivo específico nada signi- fica, uma vez que pode ser comum a várias espécies. Como exemplo, considerem-se as designações atribuídas a duas espécies diferentes: Lactuca sativa (alface) e Oryza sativa (arroz). Embora tenham o mesmo restritivo específico, estes nomes de espécies referem-se a plantas muito diferentes e com um parentesco afastado. Apesar de Lineu ter classificado todos os seres vivos então conhecidos em dois grandes grupos, a que chamou Reinos (Reino Animalia e Reino Plantae), outras categorias taxonómicas foram também estabelecidas de modo a criar uma hierarquia entre a espé- cie e o Reino. Assim, as várias espécies são englobadas em géneros, que fazem parte de famílias, estando estas, por sua vez, englobadas em ordens, que se organizam em classes. Nome: Avena fatua L. Nome: Avena pratensis L. Nome: Avena sativa L. Fig. 22 Várias espécies de aveia. Reino Kingdom família family ordem order classe class Lineu catalogou cerca de 7700 espécies de plantas e 4400 de animais. CURIOSIDADE Estas duas palavras que determinam a designação da espécie são escritas em latim e destacadas em itálico ou num tipo de letra, dis- tinto do que é utilizado no texto em que se inserem (ou com subli- nhado, se se tratar de um manuscrito). Considere-se o caso da aveia (Fig. 22). Avena fatua, Avena praten- sis e Avena sativa são designações atribuídas a três das oito espécies pertencentes ao género Avena. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 185 186 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s O botânico de Candolle, que viveu entre 1778 e 1841, introdu- ziu o uso do termo taxonomia e uma nova categoria ao agrupar várias classes de plantas na divisão, que passou a ser a categoria taxonómica a incluir maior diversidade destes seres vivos, dentro do Reino das Plantas. Já no século XX, o termo filo foi considerado equivalente a divi- são, sendo usado pelos zoólogos como uma categoria taxonómica do Reino animal (Fig. 23). Os organismos encontram-se então agrupados em categorias taxonómicas dispostas hierarquicamente, em que o Reino repre- senta o taxon (singular de taxa) mais abrangente, pois inclui uma grande diversidade de organismos, e a espécie é o grupo mais restrito, que engloba apenas indivíduos com as mesmas características morfológicas e fisiológicas, mostrando grandes semelhanças bioquímicas e no cariótipo, que se podem repro- duzir entre si e originar descendentes férteis. Actualmente, um nome científico serve para identificar uma espécie e não para fazer a sua descrição. Este sistema de classificação dos seres vivos é construído com base numa hierarquia de categorias taxonómicas e, para ser eficaz e rigoroso, deve ser universal. Também o sistema de nomenclatura, cujas regras estão consignadas no Código Internacional de Nomen- clatura Botânica e no Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, são seguidos por todos os cientistas. REINO FILO (ou DIVISÃO) CLASSE ORDEM FAMÍLIA GÉNERO ESPÉCIE Fig. 23 Representação esquemática da hierarquia dos vários grupos taxonómicos. Taxon (singular de taxa) é a designação atribuída a qualquer categoria taxonómica. A RETER A espécie é o grupo taxonómico mais restrito e o Reino é o mais abrangente. A RETER Apesar das especulações sobre o número total de espécies existentes na Terra, apenas 1 700 000 estão devidamente identificadas. Neste número, uma boa fracção pertence aos insectos, com cerca de 950 mil espécies (mais de 50%), o que permite entender que cerca de 70% das espécies conhecidas sejam invertebradas. No entanto, é muito provável que seja este o grupo em que ainda falta descobrir um maior número de espécies. CURIOSIDADE divisão division filo phylum taxa taxa 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 186 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 187 Reino Plantae Aproximadamente 275 000 espécies Divisão Tracheophyta Aproximadamente 250 000 espécies Classe Angiospermae Aproximadamente 235 000 espécies Ordem Rosales Aproximadamente 18 000 espécies Família Rosaceae Aproximadamente 3500 espécies Género Rosa Aproximadamente 500 espécies Espécie Rosa gallica Rosa-francesa- -dobrada C at eg or ia s m ai s re st rit as C at eg or ia s m ai s ab ra ng en te s Fig. 24 Classificação da rosa-francesa-dobrada. O homem pertence à espécie Homo sapiens, que foi nomeada pela primeira vez por Lineu. O Reino em que se inclui esta espécie, como o lince referido na actividade seguinte, é o Reino Animalia. Pesquise de modo a descobrir as várias categorias taxonómicas em que se insere a espécie humana, comparando-os com as que são referidas para o lince. • Construa um esquema em que se evidenciem os taxa comuns e diferentes a que pertencem o homem e o lince.• Faça o mesmo trabalho escolhendo outros seres vivos para comparar com o homem. Sugere-se a selecção de organismos como um peixe ou uma ave. Sítios com interesse: • http://linnaeus.nrm.se/botany/fbo/welcome.html.en • http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Campus/7472/nomnclas.html • http://www.estrellamountain.edu/faculty/farabee/biobk/biobooktoc.html PESQUISAR E DIVULGAR 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 187 188 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s CLASSIFICAÇÃO DO LINCE 1. Analise a figura seguinte, que apresenta um esquema onde se evidencia a classificação do lince, indicando as várias categorias taxonómicas em que este organismo está inserido. ACTIVIDADE 1.1 Refira o nome científico da espécie cujo nome vulgar é lince. 1.2 Identifique o restritivo específico desta designação. 1.3 Qual é a categoria taxonómica mais abrangente a que pertence o lince? Fig. 25 O lince é uma espécie pertencente ao género Felis. A este género pertencem outras espécies que apresentam muitas características em comum. Reino Animalia Filo Chordata Classe Mammalia Ordem Carnivora Família Felidae Género Felis Espécie Felis lynx (lince) Felis concolor (puma) Felis rufus (lince-americano) Felis manul (gato-de-pallas) Felis silvestris (gato-selvagem) Felis nigripes (gato-de-patas-negras) A atribuição de nomes científicos rege-se por códigos de nomenclatura. Estes códigos são revistos periodicamente no Con- gresso Internacional de Botânica e, no caso da Zoologia, existe uma comissão que se reúne para resolver as situações difíceis. A nomenclatura científica utiliza as regras seguintes: • na designação científica, os nomes são sempre em latim; • os nomes científicos escrevem-se em itálico ou num tipo de letra diferente do que é utilizado no texto em que se insere (quando o texto é manuscrito, esses nomes são sublinhados); • a espécie deve ser reconhecida por uma designação binomi- nal, em que o primeiro termo identifica o género e o segundo é o restritivo específico (o restritivo específico, escrito isola- damente, não tem qualquer significado); • o nome do género é um substantivo, simples ou composto, escrito com inicial maiúscula; • o restritivo específico é um adjectivo escrito só com minúsculas; • após o nome da espécie, deve referir-se (com inicial maiús- cula, sem sublinhado nem itálico, por extenso ou abreviada- mente, e sem qualquer pontuação intermediária) o nome do autor que primeiro o descreveu e denominou, seguindo-se uma vírgula e a data em que a descrição foi publicada pela primeira vez (por exemplo, «Lutra lutra L., 1758» significa que Lineu foi o primeiro a descrever e dar nome à espécie e que tal aconteceu em 1758); CATEGORIAS TAXONÓMICAS A RETER Reino Filo Classe Ordem Família Género Espécie 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 188 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 189 • a designação do género é uninominal, a das espécies é bino- minal e a das subespécies é trinominal; • em Zoologia, o nome da família resulta do radical do nome do género mais representativo, ao qual se acrescenta o sufixo -idae (por exemplo, na classificação do lince, o género é Felis, e a família, Felidae); • em Botânica, os nomes de família têm, quase sempre, a ter- minação -aceae (por exemplo, na classificação da roseira, o género é Rosa, e a família é Rosaceae). A fim de se poder, de forma simples, identificar um ser vivo, existem chaves dicotómicas — tabelas de dupla entrada que per- mitem fazer a selecção das características do ser vivo a identificar e chegar aos vários taxa a que este pertence. chave dicotómica dicotomic key Existem grupos de cientistas que supervisionam a aplicação das regras de nomenclatura. A RETER CLASSIFICAR ANIMAIS 1. Utilize as chaves dicotómicas que se encontram no anexo I (nas páginas 216 e 217) para identificar os seres vivos seguintes, de forma a conhecer o Reino, o filo e a classe a que pertencem. ACTIVIDADE A Psammodromus hispanicus (lagartixa) D Ciconia nigra (cegonha-negra) G Grapsus grapsus (caranguejo-fidalgo) B Omocestus viridulus (gafanhoto) E Bubo bubo (bufo-real) H Triturus alpestris (tritão) C Gadus morhua (bacalhau) F Lutra lutra (lontra-europeia) I Nephila clavipes (aranha) Fig. 26 Vários seres vivos. 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 189 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Nomenclatura polinominal • Divisão Essenciais • Sistema artificial • Sistema natural • Sistema prático • Sistema racional • Sistemática • Taxonomia • Taxa • Reino • Filo • Classe • Ordem • Família • Género • Espécie • Chave dicotómica • Árvore filogenética • Nomenclatura binominal Necessários • Características morfológicas • Características fisiológicas • Cariótipo • Seres procariontes • Seres eucariontes • Botânica • Zoologia • Seres fotossintéticos Síntese de conhecimentos • A existência de grande número de seres vivos levou à necessidade de os classificar. • As classificações práticas são utilizadas para satisfazer as necessidades do dia-a-dia. • As classificações racionais baseiam-se nas características estruturais dos seres vivos. Podem ser artificiais, quando utilizam poucas características, ou naturais, quando utilizam muitas características. • As classificações filogenéticas são aquelas que reflectem a evolução dos seres vivos. • Uma árvore filogenética é um diagrama que mostra as relações de parentesco entre os seres vivos. • Na classificação dos seres vivos pode utilizar-se uma grande diversidade de critérios: morfológicos, tipos de nutrição, nível de organização estrutural, etológicos e bioquímicos. • A Taxonomia é uma área da Biologia que se dedica à classificação, à identificação e à atribuição de nomes aos grupos de seres vivos estabelecidos. • A Sistemática apoia-se na Biologia Evolutiva e na Taxonomia para fazer o estudo da diversidade biológica e da história evolutiva dos seres vivos, pretendendo descobrir as relações entre os organismos e encontrar um ancestral comum. • O naturalista sueco Carl Lineu é considerado o pai da Taxonomia, porque foi ele que, no século XVIII, tentou descrever e nomear todos os seres vivos que conhecia usando o sistema binominal. • Lineu propôs uma hierarquia de categorias taxonómicas em que o Reino é a categoria mais abrangente e a espécie, a mais restrita. • As categorias taxonómicas hoje consideradas são: Reino, filo, classe, ordem, família, género e espécie. • Existem regras para a atribuição do nome científico aos seres vivos: o nome da espécie é composto por dois termos, em latim, em que a inicial do primeiro (relativo ao género) é escrita em maiúscula, e a do segundo (restritivo específico) em minúscula. 190 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 190 ACTIVIDADES Sistemas de classificação 1. Elabore um mapa de conceitos relativo: a) aos sistemas de classificação; b) à Sistemática. 2. Sabendo que Aristóteles classificou os animais em dois grupos — Enaima (animais com sangue vermelho) e Anaima (animais sem sangue vermelho) — e que Lineu classificou as plantas de acordo com o número de estames e de carpelos, tendo em conta a sua posição relativa, seleccione as afirmações verdadeiras. A — A classificação de Aristóteles é prática, e a de Lineu é racional. B — A classificação de Aristóteles é racional, e a de Lineu é natural. C — A classificação de Aristóteles é racional artificial, e a de Lineu é racional natural. D — Ambas as classificações são racionais artificiais. E — Ambas as classificações são racionais naturais. 3. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes. A — As classificações filogenéticas têm em conta o factor tempo. B — As classificações práticas consideram a morfologia dos organismos. C — As classificações naturais consideram as relações de parentesco entre os seres vivos. D — As classificações racionais fundamentam-se em características estruturais dosseres vivos. E — Os sistemas de classificação que se baseiam em critérios de utilização alimentar pelo homem são denominados práticos. F — Os cladogramas são diagramas em que estão explícitas as relações de parentesco entre os seres vivos. G — As classificações denominam-se artificiais quando se baseiam em muitas características. 4. Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação. Um ser fotoeterotrófico utiliza como fonte de energia (…) e como fonte de carbono (…), enquanto um ser quimioautotrófico utiliza como fonte de energia (…) e como fonte de carbono (…). A — luz solar […] CO2 […] compostos químicos […] CO B — luz solar […] compostos orgânicos […] compostos químicos […] CO C — compostos químicos […] compostos orgânicos […] luz solar […] CO D — luz solar […] CO2 […] compostos químicos […] compostos orgânicos 5. Seleccione a opção da chave que classifica correctamente as afirmações seguintes. u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 191 CHAVE A — A afirmação III é verdadeira; as afirmações I e II são falsas. B — A afirmação I é verdadeira; as afirmações II e III são falsas. C — As afirmações I e II são verdadeiras; a afirmação III é falsa. D — As afirmações I e III são verdadeiras; a afirmação II é falsa. AFIRMAÇÕES I. Se uma classe de animais compreende 250 000 espécies, o Reino a que pertence deve possuir um número de espécies superior. II. Os aspectos comuns entre indivíduos da mesma ordem são em maior número do que entre organismos do mesmo género. III. A família é um grupo mais abrangente do que a classe. 919354 166-192_U8 6/16/08 3:12 PM Page 191 192 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s ACTIVIDADES 6. Leia atentamente a afirmação seguinte e classifique as expressões com S (sim) ou N (não). A lontra e o leão pertencem à ordem Carnivora; então… A — … pertencem também à mesma família. B — … possuem obrigatoriamente o mesmo restritivo específico. C — … podem pertencer a géneros diferentes. D — … estão incluídos no mesmo filo. E — … se a lontra pertence ao Reino Animalia, o leão também pertence. F — … podem estar incluídos em classes diferentes. G — … a lontra pertence ao filo Chordata, mas o leão pode pertencer ou não. H — … estes animais poderão ser ou não da mesma espécie. 7. Na tabela seguinte encontra-se a classificação de uma espécie de gafanhoto. Utilize os termos propostos para completar correctamente a classificação científica deste organismo. CLASSIFICAÇÃO Reino Filo Arthropoda Classe Insecta Ordem Orthoptera Família Género Espécie A B C D TERMOS Acrididae Chorthippus paralellus Animalia Chorthippus 8. Considere os diagramas A e B, que representam seres vivos incluídos em dois grupos taxonómicos. Sabendo que um destes grupos é um Reino e outro é uma classe, classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F), as afirmações seguintes. A — Todos os seres vivos do diagrama B estão incluídos no diagrama A. B — O diagrama B representa uma classe. C — O diagrama A representa uma classe. D — Todos os seres vivos do diagrama A estão incluídos no diagrama B. E — O diagrama B é mais abrangente do que o diagrama A. F — Os seres vivos incluídos no diagrama A apresentam maior uniformidade de características do que os do diagrama B. G — O diagrama A inclui maior número de indivíduos do que o diagrama B. 8.1 Seleccione do quadro os termos que completam correctamente a frase seguinte. O lobo e o homem pertencem ao (…) e à (…), porque ambos apresentam pêlos como revestimento. O lobo é do género (…) e da família (…). Já o homem pertence ao género (…). A B TERMOS Ordem Carnivora Classe Mammalia Reino Animalia Canis Lupus Homo Sapiens Canidae Chordata 919354 U8_p166-192 18/1/08 16:46 Page 192 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 193 8 2 Sistema de classificação de Whittaker modificado Não há um só método para estudar as coisas. ARISTÓTELES O sistema de classificação dos seres vivos em grandes catego- rias taxonómicas (denominadas Reinos) que conhece actualmente maior aceitação é da autoria de Whittaker. No entanto, é importante conhecer diferentes sistemas apresentados anteriormente e as razões que os levaram a ser rejeitados em prol de outros. Efectivamente, já Aristóteles se dedicara à tarefa de agrupar os seres vivos, separando-os em dois grandes grupos: Animalia (ani- mal) e Plantae (vegetal) (Fig. 27). O critério que, basicamente, sustentava a classificação de Aris- tóteles era o facto de os primeiros apresentarem movimento e de os segundos serem imóveis. Apesar de esta classificação ter sido aceite durante muito tempo, as controvérsias acabaram por surgir. A invenção do microscópio, que permitiu visualizar seres vivos até aí desconhecidos, a Teoria da Evolução de Darwin e, ainda, a confusão resultante da falta de comunicação entre os cientistas, que originava classificações díspa- res para um mesmo organismo, levaram Haeckel, no século XIX, a apresentar um outro sistema de classificação (Fig. 28). Este natura- lista alemão considerou que bactérias, fungos e protozoários eram seres distintos das plantas e dos animais, e apresentou um terceiro Reino em que os incluiu: Protista. O facto de os fungos não apresentarem clorofila, não sendo, portanto, fotossintéticos, e de alguns protozoários terem essa carac- terística, ainda que possuíssem mobilidade, proporcionou a Haeckel argumentos para sustentar a sua proposta. Plantas vasculares Musgos e líquenes Algas Fungos Bactérias Bolores Ciliados Cordados Artrópodes Anelídeos Flagelados Platelm intes N em atelm intes M oluscos Eq uin od erm es Ce len ter ad os Espo ngiá rios U ni ce lu la r Es tru tu ra d e co m pl ex id ad e cr es ce nt eM ul tic el ul ar PLANTAE ANIMALIA ? Fig. 27 Sistema de classificação dos seres vivos em dois Reinos, proposto por Aristóteles. Animalia Animalia Plantae Plantae Protista Protista Aristóteles dividiu os seres vivos em dois grandes grupos: Reino Animalia e Reino Plantae. Haeckel, no século XIX, propôs a criação de um terceiro Reino — o Reino Protista. A RETER 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 193 194 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Monera Monera PLANTAE PROTISTA ANIMALIA M ul tic el ul ar Es tr ut ur a de c om pl ex id ad e cr es ce nt e U ni ce lu la r Bactérias Bolores Sarcodinas Algas Musgos Plantas vasculares Fungos Cordados Artrópodes AnelídeosMoluscos Eq uin od er m es Ce len ter ad os Es po ng iár ios Fig. 28 Sistema de classificação em três Reinos, de Haeckel. Já no século XX, considerou-se que as bactérias eram um grupo de organismos com características muito distintas das dos fungos e dos protozoários. O aparecimento, em meados desse século, do microscópio electrónico ajudou a conhecer estes seres e a classificá- -los como procariontes, distanciando-os assim dos seus anteriores companheiros de Reino. Foi Copeland (biólogo norte-americano) que em 1938 tentou resolver esta questão, apresentando um sistema de classificação em que introduziu um quarto Reino (Fig. 29), onde incluiu as bactérias: Monera. Archezoa Co m m em br an a nu cl ea r — c om pl ex id ad e cr es ce nt e Se m m em br an a nu cl ea r M ul tic el ul ar U ni ce lu la r PLANTAE PROTISTA ANIMALIA R ho do ph yt a Tr ac he op hy ta B ry op hy ta Ch ar op hy ta Ch lo ro ph yt a Ch ry so ph yt a Ph ae op hy ta O om yc ot a Py rr op hy ta Eu gl en op hy ta O pi st ho ko nt a In op hy ta Zy go m yc ot a As co m yc ot a B as id io m yc ot a Fu ng ill i Sa rc od in a M yx om yc ot a Ac ra si ae Pr ot op la st a Ci lio ph or a Po rif er a Co el en te ra ta M es oz oa Pl at yh el m in th es N em er te a As ch el m in th es Te nt ac ul at a M ol lu sc a Ec hi no de rm at a Ch ae to gn at ha Ch or da ta An ne lid a Ar th ro po da Zo om as tig ina Cn id os po rid ia MONERA Fig. 29 Sistema de classificação em quatro Reinos, de Copeland. No entanto, em 1969, Whittaker, baseado nos contributos das novas tecnologias, em que se salientam as técnicas de análise bio- química e as de microscopia, propôs uma nova alteração (Fig. 30). Havia necessidade de estabelecer um quinto Reino: Fungi. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 194 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 195 No século XX, Copeland estabeleceu um quarto Reino — o Reino Monera —, e Whittaker propôs a inserção de um quinto — o Reino Fungi. A RETER Whittaker passou a incluir os fungos neste novo grupo, por lhes ter reconhecido características que os distinguiam dos protis- tas. No Reino Protista considerou apenas os organismos eucariontes unicelulares. No entanto, várias linhas evolutivas apareciam que- bradas, uma vez que este sistema de classificação revelava falhas de perspectiva filogenética. Atendendo a estas limitações, Whittaker apresentou, em 1979, uma versão modificada. Outras propostas de classificação surgiram entretanto, mas o sistema de classificação sugerido por Whittaker em 1979 continua a ser aquele que maior consenso da comunidade cien- tífica reúne, por isso, será apresentado mais detalhadamente a seguir. PLANTAE PROTISTA ANIMALIA As co m yc ot a B as id io m yc ot a Po rife ra Co m m em br an a nu cl ea r — c om pl ex id ad e cr es ce nt e Se m m em br an a nu cl ea r M ul tic el ul ar U ni ce lu la r As ch el m in th es Te nt ac ul at a M oll us ca Ch ae tog na th a Ch or da ta An ne lid a Ar th ro po da MONERA Bryophyta Tracheophyta BacteriaCyanophyta Cn id os po rid ia Sp or oz oa Pl as m od io ph or om yc ot a H yp ho ch yt rid io m yc ot a Py rr op hy ta Ch ry so ph yt a Eu gl en op hy ta Rh od op hy ta Ch lo ro ph yt a Ch ar op hy ta Ph ae op hy ta O om yc ot a Ch yt rid io m yc ot a Zy go m yc ot a M yx om yc ot a Ac ra si om yc ot a La by rin th ul om yc ot a M es oz oa Co ele nt er ar a Ec hi no de rm at a Sar co din a Cilio ph oraZo om as tig in a FUNGI Fig. 30 Sistema de classificação de Whittaker de 1969. Sistema de classificação de Whittaker modificado, 1979 Em 1979, Whittaker manteve a divisão dos seres vivos em cinco Rei- nos (Fig. 31): • Monera; • Protista; • Fungi; • Plantae; • Animalia. A divisão deste novo sistema de classificação proposto, baseia-se em critérios de diferente ordem, no- meadamente: nível de organização estrutural, modo de nutrição e inte- racção do ser vivo no ecossistema. REINO PLANTAE REINO FUNGI REINO ANIMALIA REINO PROTISTA REINO MONERA Angiospérmicas Gimnospérmicas Felicíneas Licopodíneas Briófitas Equisetíneas Basidiomicetes Ascomicetes Zigomicetes Algas verdes Algas vermelhas Algas castanhas Dinoflagelados Mixomicetes Ciliados Zooflagelados Esporozoários Rizópodes Porifera Cnidária Moluscos Platelmintes Nematelmintes Equinodermes Artrópodes Cordados Anelídeos Pl an ta s co m se m en te s Eubactérias Ar qu eob acté rias Fig. 31 Diagrama representativo da distribuição dos seres vivos em cinco Reinos, segundo Whittaker, em 1979. Fungi Fungi 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 195 196 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Nível de organização Relativamente ao nível de organização estrutural, os seres vivos podem ser: • procariontes (Monera) ou eucariontes (Protista, Fungi, Plan- tae e Animalia); • unicelulares (Monera e Protista)(1) ou multicelulares (Protista(1), Fungi, Plantae e Animalia); • não diferenciados, com baixo nível de diferenciação (Monera, Protista e Fungi) ou diferenciados (Plantae e Animalia). Modo de nutrição Quanto ao modo de nutrição, os seres vivos podem ser: • autotróficos (Monera(1), Protista(1) e Plantae); • heterotróficos por ingestão (Protista(1) e Animalia); • heterotróficos por absorção (Monera(1), Protista(1) e Fungi). SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE WHITTAKER, 1979 A RETER Reino Animalia Reino Plantae Reino Protista Reino Fungi Reino Monera Plantae e Animalia Protista (parte) e Fungi Protista (parte) Monera Não diferenciadoDiferenciado UnicelularMulticelular EUCARIONTE PROCARIONTE Interacções nos ecossistemas No que diz respeito às interacções nos ecossistemas, os seres vivos podem desempenhar um de três papéis: • produtores (Monera, Protista e Plantae); • macroconsumidores (Protista e Animalia); • microconsumidores (Monera, Protista e Fungi). Monera (parte), Protista (parte) e Fungi Monera (parte), Protista (parte) e Plantae Protista (parte) e Animalia AbsorçãoIngestão HETEROTRÓFICOS AUTOTRÓFICOS Whittaker usou vários critérios para estabelecer o seu sistema de classificação dos seres vivos em cinco Reinos, nomeadamente: organização estrutural, modo de nutrição e interacção nos ecossistemas. A RETER Monera, Protista e Fungi Monera, Protista e Plantae Protista e Animalia MicroconsumidoresMacroconsumidores CONSUMIDORESPRODUTORES Nota: (1) Apenas parte dos seres deste Reino apresentam esta característica. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 196 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 197 IN TE R A C Ç Ã O N O S E C O S S IS TE M A S N ÍV E L D E O R G A N IZ A Ç Ã O E S TR U TU R A L M O D O D E N U TR IÇ Ã O PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS REINOS, SEGUNDO WHITTAKER, 1979 REINO Célula procariótica Célula eucariótica Unicelular Multicelular não diferenciado Multicelular diferenciado Parede celular presente Parede celular ausente Autotrófico fotossintético Autotrófico quimiossintético Heterotrófico por absorção Heterotrófico por ingestão Produtores Macroconsumidores Microconsumidores Exemplos Monera Protista Fungi Plantae Animalia Bactéria X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Ameba Cogumelo Pinheiro Camaleão CHAVE DICOTÓMICA 1. Tendo em conta as características dos diferentes Reinos propostos por Whittaker, construa uma chave dicotómica que torne possível distribuir os seres vivos pelos cinco Reinos. ACTIVIDADE 919354 193-219_U8 31/1/08 14:44 Page 197 198 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Quais são as novas perspectivas de classificação dos seres vivos? A classificação não é um processo natural e depende dos crité- rios utilizados pelo classificador; por isso, à medida que novos dados científicos são recolhidos, é possível que surjam outras pro- postas de classificação dos seres vivos. Após Whittaker ter proposto o seu sistema de classificação revisto, em 1979, várias alternativas foram apresentadas, variando o seu impacto na comunidade científica. Com base essencialmente em dados de ultra-estrutura micros- cópica das células e respectivos organitos citoplasmáticos, a bióloga norte-americana Lynn Margulis (1988-1996) propôs que os seres vivos fossem distribuídos por dois grandes Super-Reinos ou Domí- nios: Prokaria (em que incluía todos os seres procariontes) e Eukaria (em que reunia todos os seres eucariontes). Este último apresentava-se subdividido em quatro Reinos: Proctotista, Fungi, Plantae e Animalia. Em 1990, Woese (biólogo norte-americano) propôs um novo sistema de classificação. A partir de análises comparativas da sequência de nucleótidos em ácidos nucleicos, considerou ser per- tinente dividir os seres vivos em três grandes Domínios: Eubacteria, Archaeabacteria e Eukaria. Estudos recentes de genética permitiram- -lhe ainda concluir que (Fig. 32): • há um ancestral comum a todos os seres vivos, procariontes e eucariontes; • existem dois tipos distintos de procariontes, que foram desig- nados por Eubacteria (ou simplesmente Bacteria) e Archaea (ou Archaeabacteria); • a relação de ancestralidade é mais próxima entre os Archaea e os Eukaria (eucariontes) do que entre os Archaea e os Eubac- teria.Prokaria Prokaria Eukaria Eukaria Eubacteria Eubacteria Archaeabacteria Archaeabacteria Fig. 32 Os três Domínios Eubacteria, Archaeabacteria e Eukaria, propostos por Woese, e a respectiva relação filogenética. Eukaria Archaea Eubacteria Procariontes mais antigos Origem da vida Ancestral Presente Tempo Ancestral comum a todos os seres vivos actuais Ancestral comum a Archaea e Eukaria 919354 193-219_U8 31/1/08 14:45 Page 198 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 199 RELAÇÕES FILOGENÉTICAS 1. O quadro que se segue apresenta algumas das características de três seres vivos diferentes. Analise-o e responda às questões. 1.1 Com base na análise exclusiva das imagens, estabeleça a relação de parentesco mais óbvia entre os três indivíduos representados. 1.2 Analise os dados do quadro e indique aspectos que validem a hipótese que defende a existência de uma maior proximidade entre Methanospirillum hungatii e Papilio machaon. 1.3 Compare o sistema de classificação em três Domínios com o sistema proposto por Whittaker em 1979, tentando encontrar vantagens e desvantagens do primeiro. ACTIVIDADE S E N S IB IL ID A D E D O S R IB O S S O M A S A : E S TR U TU R A S C E LU LA R E S Domínio Exemplos Membrana nuclear Organitos citoplasmáticos Glucopéptidos na parede celular Ribossomas Codão iniciador RNA polimerase Cloranfenicol Estreptomicina Toxinas da difteria Eubacteria Archaea Eukaria Salmonella typhimurium Methanospirillum hungatii Papilio machaon Ausente Ausente Presente Ausente Ausente Presente Presente Ausente Ausente 70S 70S 80S Formilmetionina Metionina Metionina 1 tipo (diferente da dos eucariontes) 1 tipo (igual à dos eucariontes) 3 tipos Sim Não Não Sim Não Não Não Sim Sim PURVES, ORIANS, HELLER e SADAVA, Life — The Science of Biology (adaptado) 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 199 200 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Tendo em conta os dados genéticos, que apontam para uma maior proximidade filogenética entre alguns procariontes e os eucariontes, é possível concluir que o Reino Monera não é um reino monofilético (dado que não reúne todos os descendentes de um determinado ancestral). Esta é a razão pela qual Woese e vários cientistas na actualidade defendem a divisão do Reino Monera em dois grupos distintos. Os mesmos cientistas propõem a criação de uma categoria superior à do Reino, que também designaram por Domínio, tendo dividido os seres vivos em três grandes Domínios (Fig. 33): Eubacteria, Archaea e Eukaria. O Domínio Eukaria apresenta-se dividido em qua- tro Reinos: Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Esta proposta de classificação baseia-se, essencialmente, em dados de natureza molecular, no campo do estudo dos ácidos nucleicos, nomeadamente do RNA ribossómico. Por utilizar como base de classificação um número de características extremamente reduzido, é um sistema de classificação controverso, não reunindo consenso entre os investigadores. Apesar disso, a sua utilização na comunidade científica já é vasta. Quanto ao sistema de classificação dos seres vivos, o que foi proposto por Whittaker em 1979 continua a ser aquele que maior consenso reúne. Fig. 33 Representação filogenética dos três Domínios dos seres vivos: Archaea (Archaeabacteria), Eubacteria (Bacteria) e Eukarya (Protista, Plantae, Fungi e Animalia), segundo Woese. PLANTAE (Eucariontes multicelulares) ANIMALIA (Eucariontes multicelulares) FUNGI (Eucariontes multicelulares) PROTISTA (Eucariontes, unicelulares e multicelulares) ARCHAEABACTERIA (Procariontes, unicelulares) EUBACTERIA (Procariontes, unicelulares) Os sistemas de classificação mais recentes (de Woese e outros cientistas) propõem a criação de três grandes Domínios em que se incluem todos os seres vivos: Archaea, Bacteria e Eukaria. Este último engloba quatro Reinos: Protista, Fungi, Plantae e Animalia. A RETER 919354 193-219_U8 31/1/08 14:45 Page 200 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 201 EVOLUÇÃO DA TAXONOMIA 1. O esquema seguinte pretende demonstrar a evolução dos sistemas de classificação dos seres vivos. Analise-o e responda às questões. 1.1 Enumere razões que levaram a que os seres vivos tenham vindo a ser distribuídos por um número crescente de Reinos. 1.2 Identifique as vantagens da classificação de Whittaker, relativamente aos sistemas de classificação anteriores. 1.3 Refira uma razão pela qual a classificação de Whittaker ainda reúne maior consenso do que a classificação proposta por Woese. 1.4 Identifique os critérios que levaram Woese a dividir o Reino Monera em dois domínios: Archaea e Eubacteria. 1.5 Considere os seres vivos X, Y e Z, tenha em conta as suas características e integre-os nos sistemas de classificação de Haeckel, Whittaker e Woese. 1.6 Que conclusão pode tirar sobre o carácter persistente dos sistemas de classificação? ACTIVIDADE SER VIVO CARACTERÍSTICAS X Y Z Unicelular, procarionte com parede celular sem glucopéptido, vive em locais com temperaturas muito elevadas. Multicelular não diferenciado, células com parede celular com quitina, nutrição por absorção. Unicelular, com cloroplastos, móvel por meio de flagelos. LINEU HAECKEL COPELAND WHITTAKER WOESE EubacteriaMonera Protista Fungi Plantae Animalia Monera Protista Plantae Animalia Protista Plantae Animalia Plantae Animalia Archaeabacteria Protista Fungi Plantae Animalia E uk ar ia 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 201 202 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s A B Fig. 34 Methanopyrus são bactérias metanogénicas do Domínio Archaea (A) que sobrevivem nas fontes hidrotermais (B). O número de procariontes nos oceanos é 3 � 1028, cem milhões de vezes superior ao das estrelas visíveis no Universo. CURIOSIDADE Reino Monera Grupo de seres vivos com maior sucesso no Planeta, o Reino Monera é o Reino dos seres procariontes e, como tal, o dos mais pequenos de todos os seres. Inclui em simultâneo os seres vivos com menor diversidade de dimensão e formas e com maior diversidade metabólica. A única célula que constitui estes indivíduos: • tem sempre parede celular de natureza química diversa, mas nunca celulósica; • apresenta um cromossoma único, pequeno e circular, possuindo algumas espécies também fragmentos menores de DNA (plasmídeos); • não tem organitos citoplasmáticos membranares; • não possui citoesqueleto, o que a impede de sofrer mitose; a divisão celular é feita por fissão após replicação do DNA. Os Monera colonizam todos os tipos de habitat, sendo possível encontrá-los onde mais nenhum ser consegue sobreviver. Vivem em ambientes com limites extremos de temperatura (altas ou baixas), de pH (de meios muito ácidos a muito alcalinos) e de salinidade (Fig. 34). Do mesmo modo, é possível localizá-los em meios carentes de oxigénio (espécies anaeróbias) ou em meios ricos neste gás (espécies aeróbias). CARACTERÍSTICAS DOS CINCO REINOS TENDO COMO BASE O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO PROPOSTO POR WHITTAKER EM 1979 Do ponto de vista nutritivo, existem espécies autotróficas (fotossintéticas e quimiossintéticas) e também espécies heterotróficas (fotoeterotróficas e quimioeterotróficas). Os elementos autotróficos podem desempenhar o papel de produtores (Fig. 35) em cadeias alimentares de ecossistemas iluminados pela luz solar (espécies fotossintéticas) ou de ecossistemas que nunca recebem a luz, como os fundos oceânicos (espécies quimiossintéticas). A B Fig. 35 Cianobactérias: bactérias coloniais fotossintéticas (A) e pormenor de uma célula vista ao microscópio electrónico (B). 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 202 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 203 Existem espécies heterotróficas por absorção, assumindo o papel de microconsumidores nos ecossistemas. Nunca são macroconsumidores, pois nunca se alimentam por ingestão. Desempenham papéis importantes na biosfera — tornampossíveis determinadas fases de alguns ciclos de matéria, nomeadamente os ciclos do azoto, do enxofre, do carbono ou do oxigénio (Fig. 36). Algumas espécies são usadas na indústria alimentar, permitindo a produção de alimentos como o queijo ou os iogurtes. Outras espécies provocam doenças nos seres humanos ou noutros seres vivos (Figs. 37 e 38). Apresentam diferentes formas de locomoção: há espécies que são imóveis e outras que se movem recorrendo a flagelos (forma mais comum de mobilidade entre as bactérias) (Fig. 38), por deslizamento ou de outras formas. Fig. 36 Nitrobacter, bactérias que participam no ciclo do azoto, sendo fundamentais para a reciclagem deste elemento na biosfera. Reino Protista Dada a diversidade de células, modos de nutrição e interacções nos ecossistemas, este Reino distingue-se com mais facilidade pelas características que não apresenta do que pelas que possui. Sendo assim, considera-se que um ser vivo é um protista se for um eucarionte que não é nem um fungo, nem uma planta, nem um animal (Fig. 39). O Reino Protista é um grupo polifilético, pois não contém todos os descendentes de um mesmo ancestral. Neste Reino existem alguns seres mais relacionados com os animais, outros com as plantas e outros com os fungos. Se a maioria dos protistas é unicelular, existem outros, multicelulares, atingindo algumas espécies dimensões extraordinárias, como é o caso da alga castanha Laminaria (Fig. 40). Fig. 37 Treponema pallidum, bactéria causadora da sífilis humana. Fig. 38 Salmonella, uma bactéria que se move devido à presença de flagelos. Fig. 39 Euglena. Fig. 40 Laminaria, alga. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:47 Page 203 204 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s As células dos protistas, todas elas eucarióticas, apresentam, ou não, parede celular e possuem, ou não, estruturas de locomoção (Figs. 41 e 42). Alguns protistas são móveis e outros são imóveis. Do ponto de vista nutritivo, encontram-se neste Reino indivíduos fotossintéticos e indivíduos heterotróficos por ingestão ou por absorção. Como consequência, nos ecossistemas podem desempenhar papéis de produtores, microconsumidores ou macroconsumidores. Certos protistas são responsáveis por doenças que afectam o homem ou outros seres vivos (Fig. 43). Fig. 41 Ameba. Fig. 42 Paramécia. Fig. 43 Saprolegnia (oomycete), que provoca alterações em animais aquáticos. No interior do Reino Protista coexistem os ancestrais dos restantes três reinos dos eucariontes: Animalia, Fungi e Plantae. Reino Fungi O Reino Fungi agrupa organismos eucariontes heterotróficos por absorção, que possuem quitina na parede das suas células. Existem fungos unicelulares, como as leveduras (Fig. 44); no entanto, a maior parte é multicelular. As células dos fungos, que se caracterizam pela presença de parede celular de quitina e pela ausência de cloroplastos, organizam-se em estruturas filamentosas, as hifas, que se associam constituindo o micélio. Alguns fungos apresentam hifas com septos que individualizam as várias células, enquanto noutros fungos as hifas não apresentam septos, não sendo perceptíveis os limites celulares (Fig. 45). Fig. 45 Hifas.Fig. 44 Sacharomyces, levedura utilizada na produção de vários alimentos. Os fungos são, do ponto de vista nutritivo, heterotróficos por absorção, o que significa que sintetizam enzimas digestivas que libertam para o meio envolvente. No exterior, as enzimas procedem à transformação das macromoléculas orgânicas em produtos mais pequenos, que podem, posteriormente, ser absorvidos pelos fungos (Fig. 46). 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 204 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 205 Fig. 46 Amanita muscaria, fungo muito venenoso. Devido a esta forma de alimentação, os fungos desempenham um papel fundamental nos ecossistemas, funcionando como microconsumidores. Estes fungos são considerados saprófitas (Fig. 47) e, a par de algumas bactérias, são os principais responsáveis pela reciclagem dos elementos essenciais aos seres vivos na biosfera. Certos fungos parasitas utilizam os hospedeiros como fontes nutritivas, causando nestes últimos várias patologias (Fig. 48). Fig. 47 Rhizopus nigricans, bolor do pão. Fig. 48 Candida albicans (A) e Pneumocystis carinii (B), fungos causadores de doenças na espécie humana. A B Alguns fungos conseguem estabelecer relações permanentes (simbióticas) e vantajosas (mutualistas) com outros seres vivos (Fig. 49). Exemplos típicos do resultado deste tipo de reacções são os líquenes (associação entre fungos e cianobactérias ou entre fungos e algas verdes unicelulares) ou as micorrizas (associações entre fungos e raízes de plantas). Em ambos os casos, os fungos recebem matéria orgânica produzida pelo seu parceiro, que é recompensado com água e sais minerais, absorvidos com maior facilidade pelo fungo. Os fungos aparecem associados à indústria alimentar (fabrico de vinho, cerveja e pão) ou à indústria farmacêutica (produção de antibióticos) (Fig. 50). A B Fig. 49 Os líquenes (A) e as micorrizas (B) são exemplos de associações simbióticas entre fungos e outros seres vivos. A B Fig. 50 Penicilium (A) e leveduras (B), fungos utilizados na produção de antibióticos e no fabrico de alimentos, respectivamente. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 205 206 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s Fig. 51 Charophyta, alga que parece estar na origem de todas as plantas. Reino Plantae O Reino Plantae é monofilético, dado que todas as plantas descendem de um único ancestral (Fig. 51). É constituído por seres multicelulares com grau de diferenciação progressiva. As células vegetais apresentam parede celulósica, e muitas delas têm cloroplastos. As plantas são seres fotossintéticos e, como consequência, são grandes repositores de oxigénio na atmosfera e produtores de matéria orgânica nas cadeias alimentares dos ecossistemas terrestres. Apresentam reprodução sexuada. A fecundação, que resulta da união de células sexuais (oosfera e anterozóides), ocorre em estruturas especializadas, que protegem o embrião durante o seu desenvolvimento. embrionário são protegidos por tecidos da planta progenitora. O ciclo de vida das plantas é padronizado, sendo haplodiplonte. As plantas evoluíram a partir de algas verdes e sofreram pressões selectivas típicas do meio terrestre. Existe uma grande diversidade de plantas com diferentes graus de evolução (Figs. 52 a 55). Fig. 52 Musgos, plantas não vasculares. Fig. 53 Fetos, plantas vasculares sem sementes. Fig. 54 Pinheiro, planta gimnospérmica. Fig. 55 Amendoeira em flor, planta angiospérmica. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 206 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 207 Reino Animalia No Reino Animalia, todos os indivíduos são multicelulares, com graus crescentes de diferenciação. A célula animal caracteriza-se pela ausência de parede celular e de organitos fotossintéticos (cloroplastos). Os animais são heterotróficos por ingestão, o que significa que ingerem alimento (outros seres vivos ou os seus produtos derivados). Os alimentos são depois digeridos no interior do seu corpo (digestão intracorporal). A evolução destes seres permitiu o desenvolvimento de órgãos especializados na digestão. Por serem heterotróficos por ingestão, os animais são macroconsumidores, funcionando como elos de transferência de matéria orgânica ao longo de uma cadeia alimentar. Uma vez que os animais se nutrem de outros seres vivos, a mobilidade foi uma aquisição importante. Só assim a maior parte dos animais consegue chegar ao alimento ou, em situações mais primitivas, deslocar o alimento até si. Ao seu estilo alimentar parecem também estar associados os factores que favorecem a evolução de um sistema nervoso capaz de coordenar informações, como a localização de alimento e o reconhecimento e acção perante predadores e presas. O Reino Animalia é constituído por seres que foram evoluindo segundo um padrão de complexidade e diferenciação crescentes(Figs. 56 a 59). Fig. 56 Anémona, animal aquático muito simples. Fig. 57 Polvo, molusco aquático. Fig. 58 Colias eurydice, um dos muitos insectos. Fig. 59 Coelho, mamífero. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 207 208 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s OBSERVAÇÃO DE SERES VIVOS REPRESENTANTES DE DIVERSOS REINOS Material • Iogurte. • Azul-de-metileno. • Amostra de bolor (por exemplo, de tomate ou de citrinos). • Lamparina. • Ulva sp. (alface-do-mar). • Ansa de inoculação. • MOC. • Agulha de dissecação. • Lâminas e lamelas. • Fósforos. • Água destilada. Procedimento A. Observação de bactérias do iogurte 1 — Coloque uma gota de água numa lâmina. 2 — Com a ajuda de uma ansa de inoculação, retire uma pequena porção de iogurte e esfregue-a sobre a lâmina. 3 — Seque a lâmina passando-a ligeiramente pela chama de uma lamparina. 4 — Core o esfregaço obtido com azul-de-metileno e deixe actuar durante dois minutos. 5 — Lave a preparação, inclinando-a e fazendo passar água destilada, suavemente, sobre a mesma. Seque ao ar. 6 — Observe ao MOC e registe as observações. B. Observação de bolor 1 — Coloque uma gota de água numa lâmina. 2 — Com a ajuda de uma agulha de dissecação, ponha uma porção de bolor na lâmina. 3 — Coloque a lamela e pressione ligeiramente. 4 — Observe ao MOC e registe as observações. C. Observação de um corte de alface-do-mar (ulva sp.) 1 — Faça um corte transversal (o mais fino possível) de uma alface-do-mar. 2 — Observe ao MOC e registe as observações. Discussão 1 — Com base nos dados recolhidos durante a actividade laboratorial, justifique a colocação: a) das bactérias no Reino Monera; b) do bolor no Reino Fungi; c) da Ulva no Reino Protista. 2 — A partir de dados recolhidos durante a observação experimental, caracterize o bolor e a alga, quanto ao tipo de nutrição. 3 — Dos critérios utilizados por Whittaker no seu sistema de classificação, identifique os que foram evidenciados durante esta actividade experimental. ACTIVIDADE LABORATORIAL Fig. 60 Bactérias do iogurte. Fig. 61 Bolor de citrinos. Fig. 62 Alface-do-mar, Ulva sp. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 208 u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 209 PEDIPAPER FOTOGRÁFICO — AS ESPÉCIES DA ZONA INTERTIDAL Material • Calçado impermeável. • Máquina fotográfica. • Bloco de apontamentos. • Lápis. • Lupa de mão. • Fotocópia(s) da tabela I(1). Tarefas a realizar 1 — Esquematize numa folha A4 um corte transversal da praia, identificando as diferentes zonas existentes.(1) 2 — Observe, com atenção, os seres vivos da praia. Fotografe as diferentes espécies encontradas e preencha a tabela I.(1) 3 — Identifique, com a ajuda das informações fornecidas(1) ou de um guia de campo, as espécies encontradas. SAÍDA DE CAMPO A B C D E I J L F G H Fig. 63 Algumas espécies da zona intertidal: Ulva lactuca (A); Codium tomentosum (B); Lithophyllum tortuosum (C); Enteromorpha intestinalis (D); Chthamalus stellatus (E); Actinia equina (F); Corallina officinalis (G); Paracentrotus lividus (H); Fucus spiralis (I); Gibbula umbilicalis (J); Anemonia sulcata (L). (1) No anexo II (pág. 218), encontram-se informações adicionais sobre a zona intertidal, fotografias dos diferentes seres vivos e uma tabela que pode utilizar como auxiliar na identificação dos exemplares observados. 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 209 Conceitos/Palavras-chave Complementares • Domínio • Prokaria • Eukaria Essenciais • Eubacteria • Archaebacteria • Monera • Protista • Fungi • Plantae • Animalia Necessários • Eucarionte • Procarionte • Absorção • Digestão • Autotrófico • Heterotrófico Síntese de conhecimentos • O sistema de classificação de Whittaker de 1979 é aquele que reúne maior consenso na comunidade científica. • Anteriores ao sistema de classificação de Whittaker são: — o sistema de dois Reinos (Animalia e Plantae), proposto por Aristóteles; — o sistema de classificação de três Reinos, proposto por Haeckel (Animalia, Plantae e Protista); — o sistema de classificação de quatro Reinos, proposto por Copeland (Animalia, Plantae, Protista e Monera); — o sistema de classificação de cinco Reinos, proposto por Whittaker em 1969 (Animalia, Plantae, Protista, Monera e Fungi). • Posteriores ao sistema de classificação de Whittaker de 1979 são, por exemplo, o sistema de classificação proposto por Margulis (que divide os seres vivos em dois Super-Reinos, Prokaria e Eukaria) e o sistema que foi proposto por Woese (que distribui os seres por três Domínios (Archaeabacteria, Eubacteria e Eukaria). • Os critérios utilizados por Whittaker foram: nível de organização estrutural, tipo de nutrição e tipo de interacção nos ecossistemas. • Segundo o sistema de classificação de Whittaker de 1979, os seres vivos que se distribuem pelos cinco Reinos apresentam diferentes características: Monera — seres procariontes, com os diferentes tipos de nutrição (excepto a ingestão), podendo ser microconsumidores ou produtores. Protista — seres eucariontes unicelulares ou multicelulares, sem elevado grau de diferenciação, com todos os tipos de nutrição e desempenhando diferentes papéis nos ecossistemas. Fungi — seres eucariontes unicelulares ou multicelulares, que se nutrem por absorção e são sempre microconsumidores. Plantae — seres eucariontes multicelulares, com diferenciação crescente, autotróficos produtores. Animalia — seres eucariontes multicelulares, com diferenciação crescente, heterotróficos por ingestão e macroconsumidores. 210 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s REINO PLANTAE REINO FUNGI REINO ANIMALIA REINO PROTISTA REINO MONERA Angiospérmicas Gimnospérmicas Felicíneas Licopodíneas Briófitas Equisetíneas Basidiomicetes Ascomicetes Zigomicetes Algas verdes Algas vermelhas Algas castanhas Dinoflagelados Mixomicetes Ciliados Zooflagelados Esporozoários Rizópodes Porifera Cnidária Moluscos Platelmintes Nematelmintes Equinodermes Artrópodes Cordados Anelídeos Pl an ta s co m se m en te s Eubactérias Ar qu eob acté rias 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 210 ACTIVIDADES Sistema de classificação de Whittaker modificado 1. Elabore um mapa de conceitos relativo aos conteúdos desta subunidade. 2. Segundo o sistema de Whittaker de 1979, identifique o Reino a que pertencerá cada um dos seres vivos com as características apresentadas. 3. Da lista de características a seguir apresentada, seleccione aquelas que são atribuídas a um único Reino. A — Unicelularidade. B — Células procarióticas. C — Células com parede celular com quitina. D — Heterotrofia por absorção. E — Mobilidade. F — Células com cloroplastos. 4. Seleccione a opção que completa correctamente a afirmação. No sistema de classificação proposto em 1979, Whittaker não utilizou como critério de classificação… A — … a interacção nos ecossistemas. B — … o modo de nutrição. C — … a análise comparativa da sequência de nucleótidos do mRNA. D — … a organização estrutural. 5. O diagrama seguinte pretende representar um dos modelos de classificação dos seres vivos estudado. Sabendo que cada letra representa um Reino, responda às questões. 5.1 Poderia este sistema de classificação ser atribuído a Copeland? Justifique a sua resposta. 5.2 Identifique os reinos representados por: a) A; b) B. u n i d a d e 8 S i s t e m á t i c a d o s s e r e s v i v o s 211 REINOS I. Monera II. Protista III. Fungi IV. Plantae V. Animalia CARACTERÍSTICAS A — Multicelulares, diferenciados com nutrição por ingestão. B — Procariontes autotróficos. C — Autotróficos com tecidos. D — Organização celular em hifas. E — Eucariontes autotróficos multicelulares, não diferenciados. C D E B A 919354 U8_p193-219 18/1/08 16:48 Page 211 212 B I O L O G I A A v i d a e o s s e r e s v i v o s ACTIVIDADES 5.3 Considerando que todos os representantes de C e D são heterotróficos e que todos os representantes de C e E são multicelulares diferenciados,