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CA de colo uterino O câncer de colo uterino é o terceiro tipo de câncer ginecológico que mais acomete a população feminina, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Locais que não têm adequado acesso aos programas de rastreamento e prevenção do câncer de colo do útero, acabam sendo alvo de sua morbimortalidade. É uma doença de crescimento lento e silencioso, iniciada por transformações intraepiteliais progressivas, que evoluem em 10 a 15 anos para a neoplasia invasiva. É um câncer que atinge mulheres jovens – 47% dos diagnósticos ocorrem antes dos 35 anos de idade e, A incidência estimada de câncer do colo do útero no Brasil no ano de 2016 é de 16.340 casos, e existem grandes diferenças regionais na incidência da doença, sendo no Norte a maior incidência. Estima-se que o carcinoma epidermoide represente 80% dos cânceres do colo uterino. Os demais padrões histológicos são adenocarcinoma (15%) e carcinoma adenoescamoso (3 a 5%), sendo que uma pequena fração dos cânceres do colo são neuroendócrinos ou de pequenas células Fatores de risco: promiscuidade, infecções sexualmente transmissíveis (IST), má higiene genital, desnutrição, coitarca precoce, uso de anticoncepcional oral combinado (ACO), tabagismo, imunidade, baixo nível socioeconômico, multiparidade, agentes químicos, exposição à radiação ionizante, e deficiência de alfa 1 antitripsina, mas o principal fator para o seu desenvolvimento é o papilomavírus humano (HPV) subtipos 16 e 18(os tipos 16, 18, 31, 35, 39, 45, 51, 52, 56 e 58 causam a maioria dos tumores invasivos) Em mais de 99% dos cânceres de colo uterino é detectada a presença do HPV. Os tipos histológicos mais comuns são células escamosas (HPV 16) e adenocarcinoma (HPV 18). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Como o câncer do colo uterino é inicialmente assintomático, o exame preventivo é essencial. Quando ocorrem, os sintomas mais comuns são sangramento vaginal anormal, sangramento após relação sexual e secreção vaginal (líquida, mucosa, com mau cheiro ou até mesmo purulenta). Nos quadros de doença avançada, os pacientes podem se queixar de dor lombar com irradiação para os membros inferiores ou de dor pélvica. Outras manifestações encontradas em quadros de doença avançada são sinais intestinais ou urinários como hematúria, hematoquezia ou eliminação de fezes/urina pela vagina. EXAME FÍSICO: Os achados do exame físico variam desde aspecto normal até colo uterino evidentemente alterado com lesão exofítica, endurada, em forma de placa, ulcerada ou endofítica. Entre os sinais encontrados em pacientes com doença regionalmente avançada estão aqueles do envolvimento parametrial, paracervical ou vaginal, edema de membros inferiores e linfadenopatia inguinal. A doença a distância pode se manifestar com ascite, derrame pleural e linfadenopatia supraclavicular. O carcinoma epidermoide do colo uterino pode se disseminar via extensão direta ou por via linfática e hematogênica. O tumor pode invadir diretamente paramétrios, corpo do útero, vagina, bexiga, reto e cavidade peritoneal. RASTREAMENTO CITOPATOLOGICO Recomendações: O método de rastreamento do ca do colo do útero e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico. Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual e, se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual. O rastreamento antes dos 25 anos deve ser evitado. Os exames periódicos devem seguir até os 64 anos de idade e, naquelas mulheres sem história prévia Hanna L MED 16 de doença neoplásica pré-invasiva, interrompidos quando essas mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos (B). Para mulheres com mais 64 anos de idade e que nunca se submeteram ao exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos os exames forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais. Para garantir boa representação celular do epitélio do colo do útero, o exame citopatológico deve conter amostra do canal cervical, preferencialmente, coletada com escova apropriada, e da ectocérvice, coletada com espátula tipo ponta longa (espátula de Ayre) Amostra satisfatória para avaliação: Designa amostra que apresente células em quantidade representativa, bem distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que sua observação permita uma conclusão diagnóstica. Células presentes na amostra Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero: − Células escamosas. − Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial). − Células metaplásicas. DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO: O diagnóstico de câncer invasivo é confirmado com exame histológico, mas também deve-se proceder o exame físico completo. Essa investigação inclui inspeção do colo uterino, avaliação do seu tamanho e exame cuidadoso de toda a vagina. As dimensões do tumor e o envolvimento do paramétrio são mais bem avaliados por meio de exame com toque retovaginal. As regiões inguinal e supracervical devem ser inspecionadas buscando-se por linfadenopatia. Os seguintes exames e procedimentos são permitidos pela FIGO como parte do estadiamento do câncer do colo uterino: Radiografia do tórax, Pielografia intravenosa, Enema baritado, Radiografias do esqueleto, Colposcopia/biópsia, Conização do colo uterino, Cistoscopia, Proctoscopia. Outros exames e procedimentos que podem ser realizados, mas sem alterar o estadiamento da FIGO, são: Tomografia computadorizada Ressonância magnética Tomografia por emissão de pósitrons (PET) Ultrassonografia Cintilografia com radioisótopos Laparoscopia Laparotomia ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO – FIGO 2018: Estádio I: Carcinoma restrito ao colo uterino. – IA: Carcinoma invasivo que só pode ser diagnosticado por microscopia, com profundidade máxima de invasão inferior a 5 mm. IA1 corresponde à invasão estromal menor que 3 mm em profundidade, e IA2 invasão maior ou igual a 3 mm, e menor que 5 mm. – IB: Carcinoma invasivo com profundidade de invasão maior ou igual a 5 mm, mas lesão limitada à cérvice uterina. IB1 é a invasão maior ou igual a 5 mm de profundidade e menor que 2 cm na maior dimensão (extensão). IB2 é a invasão maior ou igual a 2 cm e menor que 4 cm, e IB3 é a invasão maior ou igual a 4 cm. Estádio II: O carcinoma invade além do útero, mas não se estende ao terço inferior da vagina ou à parede pélvica. – IIA: Nesse caso o envolvimento é limitado aos dois terços superiores da vagina, mas sem envolvimento do paramétrio. IIA1 é a invasão menor que 4 cm na maior dimensão, e IIA2 é a invasão maior ou igual a 4 cm. – IIB: É o envolvimento do paramétrio, mas não da parede pélvica. Estádio III: O carcinoma acomete o terço inferior da vagina, podendo se estender à parede pélvica, causar hidronefrose ou rim não funcionante e/ou envolver os linfonodos pélvicos e/ou para-aórticos. – IIIA: Há envolvimento do terço inferior da vagina, mas não há extensão à parede pélvica. – IIIB: O carcinoma se estende à parede pélvica, podendo causar hidronefrose ou rim não funcionante, mas é preciso excluir outras causas. – IIIC: Há envolvimento dos linfonodos pélvicos e/ou para-aórticos, independentemente do tamanho do tumor ou de sua extensão. É preciso representação por exame de imagem ou por histopatológico. O IIIC1 consiste em metástases apenas para os linfonodos pélvicos, e o IIIC2 em metástases para linfonodos para-aórticos. Estádio IV: Carcinoma que se estendeu para além da pelve, podendo acometer a bexiga ou o reto. – IVA: Disseminação do tumor para órgãos adjacentes(bexiga e reto). – IVB: Disseminação para órgãos distantes. É importante lembrar que o câncer de colo de útero pode se disseminar por continuidade para a vagina e corpo do útero, por contiguidade para os paramétrios, paracolpos, bexiga e reto, e também por vias linfática e hematogênica, de forma indireta. MANEJO TERAPÊUTICO CONFORME O SEU ESTADIAMENTO – FIGO 2018: Estádio IIA2 em diante: O tratamento será feito apenas com quimiorradioterapia primária. Explicando os tratamentos: – A conização a frio equivale à excisão do tipo 3, que consiste na retirada cirúrgica de parte da ectocérvice e canal cervical do colo uterino, em forma de cone. – A histerectomia tipo I, também conhecida como histerectomia simples ou extrafascial, consiste na retirada do corpo e colo do útero. – A traquelectomia radical consiste na remoção parcial ou total do colo do útero, por via vaginal, de um seguimento dos paramétrios e dos fundos de saco vaginais adjacentes, associada à linfadenectomia pélvica. É feita principalmente por videolaparoscopia. É uma opção cirúrgica para pacientes que desejam preservar o útero. Embora os dados de gravidez após esse procedimento sejam escassos, alguns casos foram descritos. É possível que a paciente apresente recorrência e, nesse caso, está indicado tratamento definitivo com cirurgia ou radioterapia. – Histerectomia radical: Pode ser classificada em histerectomia radical tipo I, II, III, IV ou V. Histerectomia tipo II (Piver II): Consiste na remoção de parte dos paramétrios e uterossacros, terço superior da vagina, linfadenectomia pélvica sistemática e linfadenectomia para-aórtica seletiva. Há remoção medial dos ligamentos cardinais e uterossacros. Difere da histerectomia tipo III pois preserva o ramo ureteral até o ureter, já que a artéria uterina é seccionada a nível do ureter; tem o ligamento cardinal seccionado próximo à dissecção ureteral; tem apenas o ligamento vesicouterino anterior seccionado, preservando o posterior; a vagina tem uma margem menor removida. Histerectomia tipo III (Wertheim-Meigs): Há remoção também de todo o paramétrio, dissecção dos linfonodos pélvicos, e retirada da maior parte dos ligamentos uterossacros e cardinais e do terço superior da vagina. É possível preservar os ovários, se a paciente desejar manter sua função hormonal. Histerectomia tipo IV: Consiste também na remoção do tecido periureteral, artéria vesical superior e até três quartos da vagina. Histerectomia tipo V: Também há ressecção de parte do terço distal do ureter e da bexiga. – Radioterapia primária: É uma opção terapêutica para todos os estádios de câncer de colo uterino, exceto o IVB. Geralmente é realizada em duas fases, inicialmente a convencional e depois a braquiterapia. Mas nos estádios I e IIa a cirurgia é mais indicada, por causar menos efeitos colaterais. – Quimiorradioterapia: A quimioterapia sensibiliza as células à radioterapia, melhorando o controle locorregional. É feita durante a radioterapia. – Radioterapia adjuvante: É necessária na presença de margens cirúrgicas positivas. Também pode ser utilizada se presença de metástases para linfonodos pélvicos, invasão do tecido paracervical e invasão cervical profunda. OBS: Pacientes em estádio IVB, como já têm metástase a distância, não têm indicação de radioterapia, mas sim de quimioterapia exclusiva, visando controle sintomático e aumento da sobrevida. A radioterapia é reservada para complicações, como por exemplo dor refratária ou sangramento. VIGILÂNCIA PÓS-TRATAMENTO: as pacientes devem ser examinadas a cada 3 meses nos primeiros 2 anos, a cada 6 meses nos 3 anos seguintes e anualmente daí em diante. A avaliação deve incluir revisão completa dos sistemas e exame físico com esfregaço de Papanicolaou quando da consulta de acompanhamento. A maioria das recorrências vaginais é assintomática e só pode ser identificada por meio de citologia. Para as pacientes com doença em estágio IIB ou superior, recomenda-se uma radiografia anual do tórax. Qualquer massa palpável deve ser submetida à biópsia para afastar doença recorrente. PROGNÓSTICO: CA de endométrio Epidemiologia a) a incidência está aumentando rapidamente em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento: no Brasil, foram estimados, para o ano de 2016, 6.950 casos novos, com risco estimado de 6,74 casos a cada cem mil mulheres. No mundo, o câncer de corpo uterino é a segunda neoplasia ginecológica mais incidente, com incidência de 319.605 casos e 76.160 mortes estimadas em 2012. O adenocarcinoma do endométrio é mais comumente diagnosticado em mulheres de mais idade, sendo que o pico de incidência ocorre na sexta década de vida; b) com o aumento da expectativa de vida da população feminina, aumentou o grupo de risco para carcinoma do endométrio, formado por mulheres na pós-menopausa; Sendo Carcinomas de endométrio tipo I dependentes de estrogênios. A lesão precursora é a hiperplasia atípica. Esses tumores representam a maioria dos cânceres de endométrio, são restritos ao útero e têm prognóstico favorável. Carcinomas de endométrio tipo II, que evoluem independentemente da exposição aos estrogênios. Ocorrem com maior frequência em afrodescendentes e surgem em cenário de endométrio atrófico. Comparados ao tipo I, o diagnóstico tende a ocorrer em idade mais avançada e em estágio mais tardio. O prognóstico geral também é mais menos favorável. c) existem várias doenças com perfis moleculares diferentes dentro do que denominamos de câncer do endométrio; d) o câncer do endométrio é o segundo câncer mais frequente na síndrome de Lynch, ficando atrás apenas do câncer colorretal e precedendo este câncer em cerca de 50% das vezes, em pacientes afetadas. Etiologia O principal fator de risco para o CE é a exposição prolongada aos estrógenos, sem oposição da progesterona. Desconsiderando as situações de uso clínico de estrógenos exógenos (por exemplo, tratamento dos sintomas climatéricos, uso de tamoxifeno para o tratamento de câncer de mama), essa situação ocorre mais comumente em duas circunstâncias: 1) obesidade e 2) síndrome dos ovários policísticos (SOP). A obesidade atinge níveis epidêmicos no mundo desenvolvido e também nas regiões em desenvolvimento, contribuindo para o aumento da incidência da neoplasia. Na pós-menopausa, o tecido adiposo periférico constitui o principal local de síntese do estrogênio. Outros fatores como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica, a própria idade (o CE é mais frequente na pós-menopausa), nuliparidade, infertilidade, idade precoce da menarca, idade tardia da menopausa e a história familiar/predisposição genética (síndrome de Lynch) também devem ser considerados. Classificação histológica do CE: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), subdivide os tumores nos seguintes tipos histológicos: 1) carcinoma endometrioide; 2) carcinoma mucinoso; 3) carcinoma seroso; 4) carcinoma de células claras; 5) tumores neuroendócrinos (subdividido em tumores neuroendócrinos de baixo grau e de alto grau); 6) adenocarcinoma misto; 7) carcinoma indiferenciado; 8) carcinoma desdiferenciado. O carcinossarcoma uterino possui dois componentes: o epitelial (componente principal) e o sarcomatoso ou mesenquimal. Esse tipo de tumor apresenta comportamento biológico agressivo, similar aos carcinomas de alto grau uterinos, e está associado às mutações TP53 em até 60% dos casos. FISIOPATOLOGIA O endométrio pode receber estímulo de estrógenos sem oposição da progesterona por diversas vias ou mecanismos: 1) iatrogênico (por exemplo, reposição hormonal apenas com estrógenos); 2) produção de estrógenos por meio de tumores funcionais (por exemplo, tumor da célulada granulosa); 3) perimenopausa, que cursa com níveis elevados de hormônio folículo- -estimulante (FSH), diminuição da reserva ovariana e ciclos anovulatórios frequentes; 4) obesidade, que cursa com resistência à insulina, aumento dos níveis de insulina, diminuição dos níveis da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG, do inglês sex hormone binding globulin) e aromatização de andrógenos para estrógenos; 5) SOP, que cursa com hiperinsulinemia, aumento da relação hormônio luteinizante (LH)/FSH, hiperandrogenemia e ciclos anovulatórios. O estrogênio leva à proliferação das glândulas CA Tipo I: associados a mutações envolvendo a via do PTEN ou apresentam evidência de instabilidade de microssatélites. CA Tipo II: associados a mutações p53 e a mutações envolvendo HER2/neu endometriais, atuando como um agente promotor. O processo pode ser revertido pela administração de terapia com progestágenos, que podem agir como agentes supressores. Em pacientes de risco, um clone mutante pode se desenvolver em glândulas endometriais fenotipicamente normais. Esse clone mutante pode ser selecionado e progredir com o auxílio dos estrógenos sem oposição da progesterona. Com o acúmulo de dano genético, fenômeno esse ainda não completamente elucidado, o clone mutante pode proliferar, causando progressão para HA/NIE. Modificadores endócrinos podem levar à involução da HA/NIE (por exemplo, progestágeno). A mulher pode apresentar espessamento endometrial em exame de ultrassom (US) transvaginal com sangramento uterino anormal. Com o contínuo acúmulo de múltiplos eventos genéticos, a HA/NIE pode progredir para transformação de CE. MANIFESTAÇÃO CLINICA: quadro clínico clássico à apresentação de pacientes com câncer de endométrio é sangramento uterino. Entretanto, outros sintomas podem ser encontrados, incluindo distensão abdominal, dor pélvica ou dispareunia. Contudo, os cânceres endometriais de tipo II podem se manter assintomáticos até a doença ter avançado, quando, então, podem ocorrer sintomas sistêmicos (náuseas, vômitos, alteração no ritmo intestinal, anorexia). DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de CE é feito mediante a avaliação histológica de tecido endometrial. As mulheres com HA/NIE ou CE classicamente apresentam sangramento pós- menopausa, ou seja, aquele quando transcorreram pelo menos 12 meses desde o último período menstrual, em mulheres que não estão sob terapia hormonal (TH) para sintomas climatéricos. Já as pacientes na pré- menopausa ou perimenopausa apresentam sangramento intermenstrual ou menstruação prolongada e frequentemente têm antecedente de menstruação irregular, disfuncional, que sugere anovulação. As mulheres em uso de TH devem ser investigadas quando apresentarem sangramento não programado. Essas mulheres com os sintomas supradescritos devem ser submetidas à anamnese completa e ao exame físico e ginecológico, incluindo o exame especular para a visualização do colo uterino e vagina. O US transvaginal com a medida da espessura da linha endometrial é o exame complementar inicial. Na paciente com sangramento pós- menopausa, o espessamento endometrial ≥ 4 mm deve ser investigado. Se < 4 mm e ausência de qualquer irregularidade no endométrio, a biópsia de endométrio será necessária se houver recorrência do sangramento. O diagnóstico de câncer de endométrio, geralmente, é feito a partir de biópsia de endométrio ou dilatação e curetagem. Se a amostra for negativa, mas a suspeita clínica for alta, haverá indicação de investigação complementar que poderá ser feita com amostragens repetidas do endométrio (preferencialmente por biópsia), histeroscopia diagnóstica ou exames de imagem da pelve (normalmente ultrassonografia ou ressonância magnética [RM]) Nas pacientes na pós-menopausa em uso de TH, assintomáticas, o limite superior da linha endometrial é 8 mm. Se apresentarem sangramento vaginal, a biópsia é necessária se > 5 mm. Entretanto, o diagnóstico definitivo de CE é por amostra histológica, e na persistência de sangramento, mesmo com US transvaginal normal, a investigação deve prosseguir. As mulheres em uso de tamoxifeno menopausadas devem ser informadas sobre o risco aumentado de HE, CE e sarcoma endometrial. Qualquer sangramento vaginal na usuária de tamoxifeno menopausada deve ser investigado com biópsia. A biópsia de endométrio com Pipelle® é realizada ambulatorialmente, e a histeroscopia cirúrgica (B) é indicada para casos em que as mulheres não têm condições para biópsia endometrial ambulatorial (por exemplo, estenose cervical, intolerância ao exame ambulatorial por dor) ou para aquelas de alto risco para CE. O sangramento pós-menopausa recorrente pode ser investigado com histeroscopia com biópsia endometrial, e a histerectomia total pode ser considerada em caso de sangramento pós-menopausa recorrente já devidamente investigado, com biópsia(s) negativa(s) TRATAMENTO DA HIPERPLASIA ENDOMETRIAL As pacientes com hiperplasia benigna (HB) têm um risco de progredir para CE de menos de 5% em 20 anos, e a maioria dos casos de HB regride espontaneamente durante o seguimento.Portanto, para essas pacientes, a observação apenas com biópsias de endométrio, para avaliar a regressão da HB, deve ser considerada, sobretudo se alguns fatores de risco puderem ser revertidos. No entanto, o tratamento com progestágenos resulta em maior taxa de regressão da doença quando comparado apenas com observação. O sistema intrauterino (SIU) liberador de levonorgestrel é a primeira linha de tratamento, porque apresenta maior taxa de regressão com menos efeitos colaterais.As mulheres que não quiserem usar o SIU podem ser tratadas com progestágenos contínuos como acetato de medroxiprogesterona 10 a 20 mg/dia ou noretisterona 10 a 15 mg/dia. Progestágenos cíclicos não devem ser usados para esse tratamento. A histerectomia total é indicada para mulheres com HB nos seguintes casos: quando não desejam preservar a fertilidade e tiveram progressão para HA/NIE, quando não apresentaram regressão histológica da HB, mesmo após 12 meses de tratamento, nos casos de recidiva com HE após o término do tratamento, quando os sintomas de sangramento persistem ou quando a paciente não deseja ou não adere ao seguimento Para as mulheres que desejam preservar a fertilidade ou não são candidatas à cirurgia, a primeira linha de tratamento é o SIU liberador de levonorgestrel, e os progestágenos orais são a segunda melhor alternativa. Quando a prole estiver completa, a histerectomia total deve ser oferecida, uma vez que o risco de recorrência da doença é alto e há possibilidade de progressão para CE Tratamento e Estadiamento do CA de Endométrio O tratamento cirúrgico padrão para CE estádio I é a histerectomia total com salpingo- oforectomia bilateral para tumores G1 ou G2 do tipo endometrioide, aparentemente confinados ao útero. Apesar de ser uma situação mais rara, mulheres na pré- menopausa com CE em estágio inicial, com infiltração miometrial < 50%, grau 1, podem ter os ovários preservados. A linfadenectomia em pacientes com risco intermediário (invasão miometrial > 50% ou grau 3 com invasão miometrial < 50%) não foi associada à melhor sobrevida, mas pode ser considerada com a finalidade diagnóstica para o correto estadiamento cirúrgico da doença. Entretanto, a linfadenectomia é recomendada para as pacientes de alto risco (grau 3 com invasão miometrial > 50%) Uma revisão da Cochrane publicada em 2017: não há evidência de que a linfadenectomia no CE diminua o risco de morte ou de recorrência da doença, comparada a não linfadenectomia em mulheres com doença em estágio I presumida. As mulheres submetidas a linfadenectomia apresentaram maior morbidade sistêmica associada àcirurgia e formação de linfedema/linfocele Para estadiamentos mais avançados, combinações de ampliação cirúrgica com radio/quimioterapia e hormonioterapia serão necessárias. Estudos prospectivos e retrospectivos mostraram que o mapeamento com linfonodo sentinela pode aumentar a detecção de metástase linfonodal com taxa de falso- negativo baixa em mulheres com doença aparentemente restrita ao útero. Risco baixo e intermediário-baixo — prognóstico excelente com tratamento apenas cirúrgico. não há indicação de terapia endócrina adjuvante Risco intermediário-alto —indicação de terapia adjuvante em razão do maior risco de recorrência local. Para a maioiria dos casos, a braquiterapia vaginal é suficiente. Alto risco — As pacientes com doença de alto risco devem ser tratadas com quimioterapia sistêmica adjuvante, que substituiu o uso de radioterapia. Doença com metástase extra-abdominal: O regime-padrão para quimioterapia combinada como primeira linha de tratamento para doença metastática é doxorrubicina, cisplatina e paclitaxel (PAC) Obs:Para as mulheres portadoras de mutação da síndrome de Lynch, o seguimento com exame ginecológico, US transvaginal e biópsia de endométrio deve ser oferecido e iniciado aos 35 anos, repetido anualmente até a realização da histerectomia.A histerectomia com salpingo-ooforectomia profilática, realizada preferentemente por meio de cirurgia minimamente invasiva (CMI), deve ser oferecida às portadoras de mutação para síndrome de Lynch aos 40 anos de idade Para mulheres com CE não endometrioide (alto risco), por exemplo, carcinomas seroso ou de células claras após-estadiamento completo: 1) Deve-se considerar quimioterapia adjuvante; 2) Para estádio Ia, invasão linfovascular ausente, considerar braquiterapia vaginal somente sem quimioterapia;(11) 3) Para estádio ≥Ib, considerar radioterapia externa além da quimioterapia, sobretudo para acometimento linfonodal por neoplasia