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Hiole Nolasco Hipertrofia e dilatação do coração − Quando uma câmara cardíaca se hipertrofia ou dilata, 3 situações podem acontecer com uma onda de ECG: o Maior duração devido ao maior tempo necessário para se despolarizar; o Maior amplitude devido à geração de mais corrente elétrica; o Desvio do eixo elétrico devido à movimentação de maior percentagem da corrente elétrica total através da câmara expandida. − O eixo normal do QRS está entre +90° e 0° (faixa estendida +90° a -30°); − Se complexo QRS for positivo em DI e aVF = normal. o O vetor QRS aponta para esquerda e para baixo, então quando a corrente elétrica é gerada, tanto DI quanto aVF irão registrar um complexo positivo, pois a corrente está indo em suas direções. Como no quadrante entre +90° e 0° ambas as derivações são positivas, esse é o eixo normal do QRS. − Desvios de eixo o Avaliar o QRS em DI e aVF para identificar em qual quadrante está o desvio de eixo. o Exemplo: ▪ Se a onda está negativa em DI, a corrente está se afastando do ângulo 0° e positiva em aVF, a corrente está se aproximando dessa derivação, então há um desvio de eixo para a direita. o Lembrar sempre que DI é 0° e aVF +90° e que onda positiva quer dizer que está se aproximando e onda negativa se afastando, depois é só posicionar o vetor no quadrante. − Definição precisa do eixo o Depois de analisar DI e aVF e determinar em qual quadrante está o desvio; o Identificar em qual derivação tem uma onda bifásica e traçar uma linha perpendicular a ela. Hiole Nolasco − Identificar o eixo do complexo QRS, da onda P e da onda T no ECG a seguir: Hiole Nolasco Aumento atrial − Como a onda P demonstra a despolarização atrial, sendo a primeira parte correspondente ao átrio direito e a segunda ao átrio esquerdo, é através dela que vamos identificar se há hipertrofia atrial direita ou esquerda. − As derivações a serem analisadas serão DII e V1: o DII: quase paralela ao fluxo de corrente; o V1: perpendicular ao fluxo de corrente. − Onda P normal: o Duração < 0,12 segundos; o Maior amplitude não deve exceder 2,5 mm; o DII: onda positiva; o V1: onda bifásica. ✓ Aumento atrial direito – P pulmonale: o Vai estar alterada a primeira parte da onda P; o “Onda P apiculada” 1. DII: amplitude > 2,5mm (em ritmos sinusais); a. Quanto maior a amplitude, mais acurado será o laudo, então o valor deve ser descrito. 2. V1: primeira parte da onda positiva e com amplitude > 1,5mm; o Diagnóstico: critérios 1 e/ou 2 presentes. o Não há alteração na duração da onda P. ✓ Aumento atrial esquerdo – P mitral: 1. Onda P > 0,12 segundos, independente da derivação e se o ritmo é sinusal ou não; 2. V1: segunda parte da onda negativa com largura e profundidade maiores que 1mm (Critério de Morris – mais específico); o Diagnóstico: critérios 1 e/ou 2 presentes; ✓ Aumento biatrial – cardiopatia grave com comunicação entre os átrios o No mínimo 1 critério de hipertrofia de AD + 1 de AE (não precisam estar na mesma derivação). Aumento ventricular COMPLEXO QRS ✓ R: qualquer onda positiva de um QRS ✓ Q: 1ª onda negativa que antecede ao 1º R, se estiver presente ✓ S: qualquer onda negativa, depois do R ✓ Aumento ventricular direito − Em adultos, vê-se pouco, quando está presente ou tem cor-pulmonale ou estenose mitral; − Está presente até os 14 anos; − V1 normalmente tem uma pequena onda R e uma onda S profunda − V1: R ≥ S − V6: S ≥ R − Muitos pacientes têm sobrecarga biventricular, porém as alterações de sobrecarga de VE não deixam que a de VD seja percebida. ✓ Aumento ventricular esquerdo − Primeiro buscar o critério de Cornell, pois é mais específico. o Índice de Cornell ▪ R de aVL + S de V3 ≥ 28 mm em homens ▪ R de aVL + S de V3 ≥ 20 mm em homens ▪ Especificidade 90% e sensibilidade 40% − Se não encontrado, buscar Sokolow-Lyon o Sokolow-Lyon ▪ S de V1 + R de V5 ou V6 ≥ 35 mm • Deve ser utilizado a derivação onde o R é maior, geralmente é maior em V5, mas pode variar; Hiole Nolasco • O ponto de início do QRS deve ser usado como referência. O que estiver acima é positivo e tudo que estiver abaixo é negativo; ▪ Especificidade 80% e sensibilidade 50% − Se encontrou qualquer um dos critérios acima, buscar Strain, que é uma anomalia de ST-T, que acontece quando a doença já está instalada há um tempo, sendo esse um fator prognóstico. o Strain ▪ Rebaixamento do segmento ST e inversão de onda T; • V1, V2 eV3 → Ventrículo direito; • DI, aVL, V5 e V6 → Ventrículo esquerdo. • Se for encontrado em V1, V2 e V3, sem os critérios de hipertrofia de VD, o achado será caracterizado como uma injúria, de causa então desconhecida, já que o Strain é um achado secundário à alteração de repolarização de VD − Se não encontrou nenhum dos critérios acima, buscar Índice de Romhilt-Estes o Índice de Romhilt-Estes: ▪ S de V1 ≥ 24 mm ▪ Especificidade 100% e sensibilidade 20%. Hipertrofia ventricular Ventrículo Direito Esquerdo Precordiais 1. V1: onda R > onda S 2. V6: onda S > onda R 1. Índice de Cornell a. R de aVL + S de V3 ≥ 28 mm em homens b. R de aVL + S de V3 ≥ 20 mm em homens 2. Sokolow-Lyon a. S de V1 + R de V5 ou V6 ≥ 35 mm 3. Índice de Romhilt-Estes a. S de V1 ≥ 24 mm Anormalidades secundárias da repolarização na hipertrofia ventricular - Strain Depressão do segmento ST com e inversão da onda T; V1, V2 eV3 → Ventrículo direito; DI, aVL, V5 e V6 → Ventrículo esquerdo. Exemplo de laudo: hipertrofia de ventrículo esquerdo pelo Índice de Cornell, com anormalidades secundárias da repolarização, padrão Strain (DI, aVL, V4, V5 e V6). Bloqueios de ramo ✓ Bloqueio de ramo direito: − Pode acontecer em cardiopatia isquêmica (lesão proximal de DA); cardiopatia chagásica (associação com bloqueio direito anterossuperior) e hipertensão pulmonar (TEP, CIA). − Quando o ramo direito é bloqueado, os elétrons primeiro vão sempre utilizar a via muscular para conduzir de um lado para o outro, isso vai promover um gasto maior de tempo, alargando o QRS, porém o desenho que será visto principalmente em V1 vai ser diferente do bloqueio de ramo esquerdo, mesmo que ambas tenham o QRS alargado. − Despolariza o septo médio, V1 capta a eletricidade vindo em sua direção, gerando uma onda positiva (R), os elétrons vão descer em direção ao septo baixo, que está bloqueado pois não tem o ramo direito. − Então os elétrons vão seguir as vias normais do ramo esquerdo, havendo então uma troca de posição, pois normalmente despolariza septo médio, baixo e vias livres; agora vai despolarizar primeiro a parede livre de VE e depois vai despolarizar o septo baixo, em sentido contrário e depois o VD, gerando um vetor 3, onde V1 vai ver a 2ª atividade elétrica indo em sentindo contrário, mostrando uma onda negativa (S) e a 3ª e 4ª atividades elétricas vem em sua direção mostrando agora uma onda positiva (R’). Isso mostra um desenho típico, RSR’. − Quando a despolarização do septo baixo acontece muito cedo, antes da despolarização da parede livre de VE, mostrando um desenho diferente, o R talhado, visto também em V1. − QRS > 120 ms; − Complexo RSR' em V1 ou V2; − R talhado em V1. Hiole Nolasco ECG demonstrando BRD típico: assincronia entre os ventrículos gera prolongamento do QRS; forças terminais orientadas para a direita e anteriormente, como resultado do atraso da condução no ventrículo direito; padrão do complexo QRS resultante é rsR’ em V1 e onda S larga e negativa em V6 e em DI – aqui não representada. ✓ Bloqueio de ramo esquerdo (3º grau): − Tudo que levar à sobrecarga de VE pode levar ao seu desligamento: o Cardiopatia isquêmica (irrigação da descendente anterior, pior prognóstico no IAM); o Cardiopatia hipertensiva (pode traduzir hipertrofia); o Miocardiopatiadilatada (até 30% dos casos). − À medida que o fluxo elétrico passa pelo ramo esquerdo, vai promovendo a contração do septo médio → septo baixo → parede livre → porção basal (não é visto pois é um vetor de baixa amplitude). − Quando há bloqueio de ramo esquerdo, na parte superior do tronco, os elétrons passam a descer pelo ramo direito e “atravessam” o músculo do septo interventricular, conseguindo assim ativar o ramo medial, e por consequência, os fascículos do ramo esquerdo. Como o músculo não é um tecido de boa condução elétrica, essa passagem demora mais tempo, e essa onda QS é alargada, QRS ≥ 120 ms. o Padrão QS – cone de sorvete, com QRS ≥ 120 ms. − Quando o bloqueio é na parte final do tronco, ainda é possível propagar um pequeno estímulo, que por ser pequeno, é demonstrado no ECG como uma pequena onda R. o Micro R, com S profundo, com QRS ≥ 120 ms. − Pode aparecer o R talhado em DI, V5 e V6. o Não precisa estar presente para dar laudo, mas pode ser um achado nessas derivações. − Quando QRS ≥ 140 ms, o VD contrai primeiro e o coração fica em 3 tempos, átrio, VD e VE, assim o paciente fica com dispneia, por exemplo. O tratamento é a re-sincronização, melhorando em até 25% a fração de ejeção. − Todo o BRE destrói o ST-T de todas as derivações do ECG; − Como a despolarização é feita de maneira anômala, toda a repolarização também será, então o ST-T estará alterado em todas as derivações, não devendo a alteração de segmento ST ser usada como critério para isquemia cardíaca nesse caso. Caso o paciente chegue com suspeita de IAM na emergência e tenha um BRE, deve ir direto para UTI e durante o internamento devem ser feitos exames como cintilografia ou CAT. ECG de um BRE típico: assincronia entre os ventrículos, que acarreta aumento da duração do QRS; vetor anormal resultando na perda de forças septais e perda de ondas q em DI, aVL e V6; ativação tardia do ventrículo esquerdo resultando em ondas R positivas e amplas em derivações laterais; e segmento ST e a onda T em direção oposta ao vetor do complexo QRS. Hiole Nolasco ✓ Bloqueio do ramo anterossuperior do ramo esquerdo: − Pode ser congênito, ou secundário à dilatação ou hipertrofia do VE. − Não causa distúrbio funcional grave, mas é um achado que chama atenção para lesão de órgão-alvo. − Os elétrons vão descer, ativando o VE de baixo para cima, da direita para esquerda, através da parede posterior, ganhando a parte anterior do coração, isso vai gerar um desvio de QRS para a esquerda, sempre que visto o desvio de eixo para a esquerda, procurar: 1. Bloqueio do ramo esquerdo 2. Sobrecarga de ventrículo esquerdo 3. Infarto na parede inferior 4. Bloqueio divisional anterossuperior do ramo esquerdo (é laudado apenas na ausência dos 3 superiores – é um diagnóstico de exclusão). − Quando o bloqueio divisional estiver associado ao BRD tem que pedir sorológico para Chagas. − QRS > 120 ms; − QRS ≤ 30° (desvio de eixo para a esquerda) CRITÉRIOS PARA BLOQUEIOS DE RAMOS Bloqueio de ramo direito 1. QRS ≥ 120 ms 2. Complexo RSR' em V1 ou V2 3. R entalhado em V1 Bloqueio de ramo esquerdo (3º grau) 1. Padrão QS – cone de sorvete, com QRS ≥ 120 ms 2. Micro R, com S profundo, com QRS ≥ 120 ms Bloqueio de ramo anterossuperior E 1. QRS ≥ 120 ms; 2. QRS ≤ 30° (desvio de eixo para a esquerda) ISQUEMIA, LESÃO E NECROSE Parede acometida Derivações Septal V1 e V2 Anterior V3 e V4 Antero-septal V2 e V3 V2, V3 e V4 V1, V2, V3 e V4 Tem que descrever as derivações acometidas Lateral V5 e V6 Antero-lateral V4 e V5 V3, V4 e V5 V4, V5 e V6 V3, V4, V5 e V6 Tem que descrever as derivações acometidas Lateral alta DI e aVL Anterior extensa V1, V2, V3, V4, V5, V6, DI e aVL Inferior DIII e aVF aVF e DII DIII, aVF e DII Tem que descrever as derivações apenas quando 2 delas forem acometidas Posterior (dorsal) V7, V8, V9, ondas R amplas em V1 e V2 VD V3R, V4R − Nenhuma derivação sozinha pode avaliar isquemia lesão e necrose. A isquemia acontece em uma parede, que é estudada a partir de um conjunto de derivações, no mínimo duas e contíguas!!! − A parede inferior é a única que tem subdivisões, podendo ter um infarto que pegue DII e aVF por exemplo ou DIII com aVF, permitindo que ela seja analisada dessas 3 formas. o No ECG o nome é o mesmo, quando for apenas parte da parede inferior, tem que especificar entre parênteses em qual derivação está a isquemia, isso contribui para avaliação da progressão da isquemia, que pode vir a acometer as 3 derivações. Hiole Nolasco Deve-se lembrar que nem toda alteração é doença coronariana, se o caso clínico não for compatível, tem que pesquisar outras possíveis causas: − Anormalidades eletrolíticas; − Status cardíaco pós-cirúrgico – é uma isquemia transitória pós-operatória, que o ECG normaliza com o tempo; − Anemia; − Febre; − Acidose ou alcalose; − Catecolaminas, drogas; − Processos abdominais agudos; − Anormalidades endócrinas; − Alterações metabólicas; − Acidentes cerebrovasculares; − Doenças como: miocardites, pericardites, miocardiopatias, embolia pulmonar, amiloidose, infecções, doenças sistêmicas e pulmonares; − Indivíduos saudáveis, incluindo atletas bem treinados. REGIÃO LESÃO CRITÉRIO Clínica S U B E P IC Á R D IC A Isquemia (mais comum) Onda T negativa, ≥ 1mm, pontiaguda, simétrica, denominada alteração primária da repolarização ventricular Diagnóstico diferencial: − Insuficiência coronariana aguda e crônica; − Outras condições cardíacas: espasmo coronário, pericardite, miocardite, miocardiopatias, PVM, hipertrofias ventriculares, bloqueios de ramo, pré- excitação ventricular taquiarritmias; − Extracardíacas: padrão juvenil, AVC, fármacos, distúrbios hidroelétricos e ácidos básicos, hipóxia, uremia, choque, sepse, anemia, doenças endócrinas, pancreatite; − Fisiológicas: hiperventilação, extremos de temperatura, taquicardia, exercício, sono, mudanças posturais, ansiedade; − Técnicas: troca ou posicionamento inadequado de eletrodos, inércia excessiva do ECG. Injúria Supradesnivelamento de segmento ST ≥ 1mm − Pericardite aguda, hipercalemia, aneurisma septal, padrão de repolarização precoce, síndrome de Takotsubo, bloqueio de ramo esquerdo, síndrome de brugada, angina de Prinzmetal. S U B E N D O C Á R ID C A Isquemia Onda T positiva, apiculada, simétrica e ampla, sendo > 10 mm nas derivações precordiais e > 5 mm nas derivações periféricas − É praticamente restrita à insuficiência coronária, como observado na fase aguda da angina do peito ou no período imediatamente anterior ao IAM. Diagnóstico diferencial: − Vagonotia, hiperpotassemia, pericardite e sobrecarga diastólica. Injúria Infradesnivelamento de segmento ST ≥ 1mm INJÚRIA − A onda P vai acontecer, vai disparar o QRS, mas o segmento ST não volta para a linha de base, ou fica mais alto, com supra, ou o segmento ST vai ficar abaixo da linha de base, ou seja, infra. − É um infarto até que se prove o contrário. − Uma subendocárdica pode evoluir para a subepicárdica, mas a subepicárdica não pode se transformar em uma subendocárdica. Essa evolução não é o mais comum, mas pode acontecer. − O supra de ST ocorre quando está ocorrendo a morte celular, mas o ponto J sempre retornará ao segmento de base (variando de 3 a 7 dias), caso não voltar, ficou com uma sequela na parede, como um aneurisma. Quanto mais cedo o supra voltar para o lugar, mais cedo a artéria foi recuperada. Hiole Nolasco − Sempre que houver um supra, observar se há um espelho adicional, ou seja, um infra na parede contrária. Quando a anomalia é muito grande, como nos infartos muito grandes, a parede contralateral recebe a imagem em espelho. O supra sempre é superior ao infra, então no laudo o infra deve constar como imagem em espelho. NECROSE− Alteração histológica irreversível: o Não gera potencial de ação; o Não produz vetores; o Não se despolariza e não se repolariza; o Não se contrai. Apenas conduz o estímulo. − A necrose altera o QRS, sendo representada pela onda q patológica e define a existência do infarto do miocárdio. − Onda Q patológica é de morfologia larga e profunda, com as seguintes características (exceto em aVR): 1. ≥ 1 mm de largura e > 3 mm de amplitude; 2. > ¼ da amplitude total do QRS. ▪ Esse critério sozinho já caracteriza a onda Q patológica. − As morfologias mais representantes da necrose elétrica são: o Q-S: ▪ Vale mais do que um Q patológico. ▪ Não precisa medir, basta apenas existir. ▪ Se somado com Q patológico = zona inativada. o Q-r ou Q-R: − DII: Onda T negativa = isquemia; − DIII e aVF: Q-S = necrose; − V5 e V6: Strain = Sobrecarga de VE; − Isquemia e necrose da parede inferior, com sobrecarga de VE.