Text Material Preview
24.1 Sistema digestório e homeostasia O sistema digestório contribui para a homeostasia ao fragmentar os alimentos em substâncias que podem ser absorvidas e utilizadas pelas células do corpo. Também absorve água, vitaminas e minerais, e elimina escórias metabólicas do corpo. Os alimentos que consumimos contêm inúmeros nutrientes, que são utilizados para formar novos tecidos corporais e reparar tecidos danificados. A comida também é vital para a vida, porque é a nossa única fonte de energia química. No entanto, a maioria dos alimentos que consumimos são compostos por moléculas que são grandes demais para serem usadas pelas células do corpo. Portanto, os alimentos precisam ser clivados em moléculas que sejam pequenas o suficiente para entrar nas células, em um processo conhecido como digestão. Os órgãos envolvidos na fragmentação dos alimentos – coletivamente chamados sistema digestório – são o foco deste capítulo. Tal como o sistema respiratório, o sistema digestório é um sistema tubular. Ele se estende da boca ao ânus, forma uma grande área de superfície em contato com o ambiente externo, e apresenta correlação significativa com o sistema circulatório. A combinação da ampla exposição ambiental com a estreita associação com os vasos sanguíneos é essencial para o processamento do alimento que nós comemos. A especialidade médica que aborda a estrutura, a função, o diagnóstico e o tratamento das doenças do sistema digestório é chamada gastrenterologia. A especialidade médica que lida com o diagnóstico e tratamento das doenças do reto e do ânus é chamada proctologia. Aspectos gerais do sistema digestório • • 1. 2. 3. 4. 5. 6. OBJETIVOS Identificar os órgãos do sistema digestório Descrever os processos básicos realizados pelo sistema digestório. Dois grupos de órgãos compõem o sistema digestório (Figura 24.1): o canal alimentar1 e os órgãos digestórios acessórios. O canal alimentar é um tubo contínuo que se prolonga da boca ao ânus ao longo das cavidades torácica e abdominopélvica. Os órgãos do canal alimentar incluem a boca, a maior parte da faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso. O comprimento do canal alimentar é de aproximadamente 5 a 7 m em uma pessoa viva em decorrência do tônus dos músculos da parede do canal alimentar). No cadáver, é mais longo (aproximadamente 7 a 9 m), por causa da perda do tônus muscular após a morte. Os órgãos digestórios acessórios incluem os dentes, a língua, as glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas. Os dentes ajudam na fragmentação física dos alimentos, e a língua auxilia na mastigação e na deglutição. Os outros órgãos digestórios acessórios, no entanto, nunca entram em contato direto com os alimentos. Eles produzem ou armazenam secreções que fluem para o canal alimentar por meio de ductos; as secreções ajudam na decomposição química dos alimentos. O canal alimentar contém o alimento desde o momento em que ele é consumido até quando é digerido e absorvido ou eliminado. Contrações musculares na parede do canal alimentar fragmentam fisicamente os alimentos, agitandoos e impulsionandoos desde o esôfago até o ânus. As contrações também ajudam a dissolver os alimentos, misturandoos com os líquidos secretados no canal alimentar. As enzimas secretadas pelos órgãos digestórios acessórios e as células que revestem o canal alimentar fragmentam os alimentos quimicamente. FUNÇÕES DO SISTEMA DIGESTÓRIO Ingestão: colocação dos alimentos na cavidade oral. Secreção: liberação de água, ácido, tampões e enzimas para o lúmen do canal alimentar. Mistura e propulsão: agitação e movimento dos alimentos ao longo do canal alimentar. Digestão: fragmentação mecânica e química dos alimentos. Absorção: passagem dos produtos digeridos do canal alimentar para o sangue e linfa. Defecação: eliminação das fezes do canal alimentar. Figura 24.1 Órgãos do sistema digestório. Os órgãos do canal alimentar são a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso. Os órgãos digestórios acessórios incluem os dentes, a língua, as glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas e estão indicados em vermelho. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 1. 2. 3. Quais estruturas do sistema digestório secretam enzimas digestórias? Em geral, o sistema digestório executa seis processos básicos: Ingestão. Este processo envolve colocar os alimentos e líquidos na cavidade oral. Secreção. Diariamente, as células nas paredes do canal alimentar e nos órgãos digestórios acessórios secretam um total de aproximadamente 7 ℓ de água, ácido, tampões e enzimas para o lúmen do canal alimentar. Mistura e propulsão. Contração e relaxamento alternados do músculo liso das paredes do canal alimentar misturam os alimentos e secreções e movemnos em direção ao ânus. Esta capacidade do canal alimentar de misturar e mover o material ao longo do seu comprimento é chamada motilidade. Digestão. Processos mecânicos e químicos fragmentam os alimentos ingeridos em pequenas moléculas. Na digestão mecânica, os dentes cortam e trituram os alimentos antes de eles serem engolidos; em seguida, os músculos lisos do estômago e do intestino delgado agitam o alimento para ajudar ainda mais no processo. Como resultado, as moléculas do alimento são dissolvidas e bem misturadas às enzimas digestórias. Na digestão química, as grandes moléculas de carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos dos alimentos são clivadas em moléculas menores por meio da hidrólise (ver Figura 2.15). As enzimas digestórias produzidas pelas glândulas salivares, língua, estômago, pâncreas e intestino delgado catalisam essas reações catabólicas. Poucas substâncias dos alimentos podem ser absorvidas sem digestão química. Estas incluem as vitaminas, os íons, o colesterol e a água. Absorção. A entrada nas células epiteliais de revestimento do lúmen do canal alimentar dos líquidos, íons e produtos da digestão ingeridos e secretados é chamada absorção. As substâncias absorvidas passam para o sangue ou linfa e circulam até as células do corpo. Defecação. Escórias metabólicas, substâncias não digeridas, bactérias, células descamadas da túnica mucosa do canal alimentar e materiais digeridos que não foram absorvidos ao longo do canal alimentar deixam o corpo através do ânus, em um processo chamado defecação. O material eliminado é denominado fezes. TESTE RÁPIDO Quais componentes do sistema digestório são órgãos do canal alimentar, e quais são órgãos digestórios acessórios? Quais órgãos do sistema digestório entram em contato com os alimentos, e quais são algumas de suas funções digestórias? Que tipos de moléculas de alimentos são submetidos à digestão química e quais não o são? 24.2 • 1. 2. 3. Camadas do canal alimentar OBJETIVO Descrever a estrutura e função das camadas que formam a parede do canal alimentar. A parede do canal alimentar desde a parte inferior do esôfago até o canal anal tem o mesmo o arranjo básico de quatro camadas de tecido. As quatro camadas, de profunda para superficial, são a túnica mucosa, a tela submucosa, a túnica muscular e a túnica serosa/túnica adventícia (Figura 24.2). Túnica mucosa A túnica mucosa, ou revestimento interno do canal alimentar, é uma membrana mucosa. É composta por (1) uma camada de epitélio em contato direto com o conteúdo do canal alimentar, (2) uma camada de tecido conjuntivo denominada lâmina própria, e (3) uma camada fina de músculo liso (lâmina muscular da mucosa). O epitélio na boca, faringe, esôfago e canal anal é feito principalmente de epitélio escamoso estratificado não queratinizado, que tem uma função protetora. O epitélio colunar simples, que atua na secreção eabsorção, reveste o estômago e os intestinos. As zônulas de oclusão que vedam firmemente as células epiteliais colunares simples vizinhas uma à outra restringem os extravasamentos intercelulares. A taxa de renovação das células epiteliais do canal alimentar é rápida: a cada 5 a 7 dias, descamam e são substituídas por células novas. Localizadas entre as células epiteliais estão as células exócrinas que secretam muco e líquidos para o lúmen do canal alimentar, e vários tipos de células endócrinas, chamadas coletivamente células enteroendócrinas, que secretam hormônios. A lâmina própria é composta por tecido conjuntivo areolar contendo muitos vasos sanguíneos e linfáticos, que são as vias pelas quais os nutrientes absorvidos no canal alimentar alcançam os outros tecidos do corpo. Esta camada apoia o epitélio e ligao à lâmina muscular da mucosa (discutida adiante). A lâmina própria também contém a maior parte das células tecido linfoide associado à mucosa (MALT). Esses nódulos linfáticos proeminentes contêm células do sistema imunológico que protegem contra doenças (ver Capítulo 22). O MALT é encontrado em todo o canal alimentar, especialmente nas tonsilas, no intestino delgado, no apêndice vermiforme e no intestino grosso. Uma fina camada de fibras musculares lisas chamada lâmina muscular da mucosa produz múltiplas pequenas pregas na túnica mucosa do estômago e intestino delgado, que aumentam a área de superfície para a digestão e absorção. Os movimentos da lâmina muscular da mucosa asseguram que todas as células absortivas sejam totalmente expostas ao conteúdo do canal alimentar. Tela submucosa A tela submucosa consiste em tecido conjuntivo areolar que liga a túnica mucosa à túnica muscular. Contém muitos vasos sanguíneos e linfáticos que recebem moléculas dos alimentos absorvidos. Uma extensa rede de neurônios conhecida como plexo submucoso (que será descrito adiante) também está localizada na tela submucosa. A tela submucosa também pode conter glândulas e tecidos linfáticos. Figura 24.2 Camadas do canal alimentar. Variações neste plano de base podem ser encontradas no esôfago (Figura 24.9), estômago (Figura 24.12), intestino delgado (Figura 24.19) e intestino grosso (Figura 24.24). As quatro camadas do canal alimentar, da profunda à superficial, são a túnica mucosa, a tela submucosa, a túnica muscular e a túnica serosa. 4. 5. 24.3 Quais são as funções da lâmina própria? Túnica muscular A túnica muscular da boca, faringe e partes superior e média do esôfago contém músculo esquelético que produz a deglutição voluntária. O músculo esfíncter externo do ânus é esquelético, possibilitando o controle voluntário da defecação. No restante do canal alimentar, a túnica muscular consiste em músculo liso, que geralmente é encontrado em duas lâminas: uma camada interna de fibras circulares e uma camada externa de fibras longitudinais. As contrações involuntárias do músculo liso ajudam a fragmentar os alimentos, misturálos às secreções digestórias e leválos ao longo do canal alimentar. Entre as camadas da túnica muscular está um segundo plexo de neurônios – o plexo mientérico (ver adiante). Túnica serosa Estas partes do canal alimentar que estão suspensas na cavidade abdominal têm uma camada superficial chamada túnica serosa. Como o próprio nome indica, a túnica serosa é uma membrana serosa composta por tecido conjuntivo areolar e epitélio escamoso simples (mesotélio). A túnica serosa é também chamada peritônio visceral, porque forma uma parte do peritônio, que examinaremos em detalhes em breve. O esôfago não tem túnica serosa; em vez disso, apenas uma única camada de tecido conjunto areolar chamada túnica adventícia forma a camada superficial deste órgão. TESTE RÁPIDO Em que ponto do canal alimentar a túnica muscular é composta por músculo esquelético? O controle deste músculo esquelético é voluntário ou involuntário? Nomeie as quatro camadas do canal alimentar e descreva suas funções. Inervação do canal alimentar OBJETIVO • Descrever o suprimento nervoso do canal alimentar. O canal alimentar é regulado por um conjunto intrínseco de nervos conhecido como sistema nervoso entérico e por um conjunto extrínseco de nervos que fazem parte da divisão autônoma do sistema nervoso. Sistema nervoso entérico Já abordamos o sistema nervoso entérico (SNE), o “encéfalo do intestino”, no Capítulo 12. Ele é composto por aproximadamente 100 milhões de neurônios que se estendem desde o esôfago até o ânus. Os neurônios do SNE são organizados em dois plexos: o plexo mioentérico e o plexo submucoso (ver Figura 24.2). O plexo mioentérico ou plexo de Auerbach está localizado entre as camadas de músculo liso longitudinal e circular da túnica muscular. O plexo submucoso é encontrado no interior da tela submucosa. Os plexos do SNE consistem em neurônios motores, interneurônios e neurônios sensitivos (Figura 24.3). Como os neurônios motores do plexo mioentérico irrigam as camadas musculares lisas longitudinais e circulares da túnica muscular, este plexo controla principalmente a motilidade do canal alimentar, particularmente a frequência e força de contração da túnica muscular. Os neurônios motores do plexo submucoso irrigam as células secretoras do epitélio da túnica mucosa, controlando as secreções dos órgãos do canal alimentar. Os interneurônios do SNE interligam os neurônios dos plexos mioentérico e submucoso. Os neurônios sensitivos do SNE irrigam o epitélio da túnica mucosa e contêm receptores que detectam estímulos no lúmen do canal alimentar. A parede do canal alimentar contém dois tipos principais de receptores sensitivos: (1) quimiorreceptores, que respondem a determinados produtos químicos dos alimentos presentes no lúmen, e (2) mecanorreceptores, como os receptores de estiramento, que são ativados quando o alimento distende a parede de um órgão do canal alimentar. Divisão autônoma do sistema nervoso Embora os neurônios do SNE possam funcionar de modo independente, eles estão sujeitos à regulação pelos neurônios da divisão autônoma do sistema nervoso. O nervo vago (NC X) fornece fibras parassimpáticas à maioria das partes do canal alimentar, com exceção da última metade do intestino grosso, que é suprida pelas fibras parassimpáticas da medula espinal sacral. Os nervos parassimpáticos que suprem o canal alimentar formam conexões neurais com o SNE. Os neurônios pré ganglionares parassimpáticos do nervos vago e esplênico pélvico fazem sinapse com os neurônios pósganglionares parassimpáticos localizados nos plexos mioentéricos e submucoso. Alguns dos neurônios pósganglionares parassimpáticos, por sua vez, fazem sinapse com neurônios do SNE; outros inervam diretamente o músculo liso e glândulas no interior da parede do canal alimentar. Em geral, a estimulação dos nervos parassimpáticos que inervam o canal alimentar causa aumento da secreção e motilidade por meio do aumento na atividade dos neurônios do SNE. Figura 24.3 Organização do sistema nervoso entérico. O sistema nervoso entérico é composto por neurônios dispostos nos plexos mioentérico e submucoso. 6. 7. 24.4 • Quais são as funções dos plexos mioentérico e submucoso do sistema nervoso entérico? Os nervos simpáticos que irrigam o canal alimentar emergem das partes torácica e lombar superior da medula espinal. Como os nervos parassimpáticos, estes nervos simpáticos formam conexões neurais com o SNE. Os neurônios pós ganglionares simpáticos fazem sinapse com neurônios localizados no plexo mioentérico e plexo submucoso. Em geral, os nervos simpáticos que irrigam o canal alimentar causam uma diminuição na secreção e motilidade GI por meio da inibição dos neurôniosdo SNE. Emoções como raiva, medo e ansiedade podem retardar a digestão, porque estimulam os nervos simpáticos que suprem o canal alimentar. Vias re exas gastrintestinais Muitos neurônios do SNE são componentes das vias reflexas que regulam a secreção e motilidade em resposta a estímulos presentes no lúmen do canal alimentar. Os componentes iniciais da via reflexa GI típica são os receptores sensitivos (como os quimiorreceptores e receptores de estiramento), que estão associados a neurônios sensitivos do SNE. Os axônios destes neurônios sensitivos podem fazer sinapse com outros neurônios localizados no SNE, SNC ou SNA, informando estas regiões em relação à natureza do conteúdo e grau de distensão do canal alimentar. Os neurônios do SNE, SNC ou SNA posteriormente ativam ou inibem glândulas e músculo liso, alterando a secreção e motilidade do canal alimentar. TESTE RÁPIDO Como o sistema nervoso entérico é regulado pela divisão autônoma do sistema nervoso? O que é uma via reflexa gastrintestinal? Peritônio OBJETIVO Descrever o peritônio e suas pregas. O peritônio é a maior túnica serosa do corpo; consiste em uma camada de epitélio escamoso simples (mesotélio) com uma camada de suporte subjacente de tecido conjuntivo areolar. O peritônio é dividido em peritônio parietal, que reveste a parede da cavidade abdominal, e peritônio visceral, que abrange alguns dos órgãos da cavidade e constitui sua túnica serosa (Figura 24.4A). O espaço estreito contendo líquido seroso lubrificante que se encontra entre as partes parietal e visceral do peritônio é chamado cavidade peritoneal. Em algumas doenças, a cavidade peritoneal pode tornarse distendida pelo acúmulo de vários litros de líquido, uma condição chamada ascite. Figura 24.4 Relação das pregas peritoneais entre si e com os órgãos do canal alimentar. O tamanho da cavidade peritoneal em (A) foi exagerado para dar ênfase. O peritônio é a maior túnica serosa do corpo. 1. 2. 3. 4. 5. Qual prega peritoneal liga o intestino delgado à parede posterior do abdome? Como você verá em breve, alguns órgãos ficam na parede posterior do abdome e são recobertos por peritônio apenas em sua face anterior; eles não estão na cavidade peritoneal. Estes órgãos, incluindo os rins, os colos ascendente e descendente do intestino grosso, o duodeno do intestino delgado e o pâncreas, são ditos retroperitoneais. Ao contrário do pericárdio e das pleuras, que revestem de modo regular o coração e os pulmões, o peritônio contém grandes pregas que se entrelaçam entre as vísceras. As pregas ligam os órgãos uns aos outros e às paredes da cavidade abdominal. Também contêm vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos que suprem os órgãos abdominais. Há cinco pregas peritoneais principais: omento maior, ligamento falciforme, omento menor, mesentério e mesocolo: O omento maior, a maior prega peritoneal, reveste o colo transverso e as serpentinas do intestino delgado como um “avental de gordura” (Figura 24.4A, D). O omento maior é uma dupla camada que se dobra sobre si mesma, fornecendo um total de quatro camadas. Dos anexos ao longo do estômago e do duodeno, o omento maior se estende para baixo anteriormente ao intestino delgado, e então gira e se estende para cima e se insere ao colo transverso. O omento maior normalmente contém muito tecido adiposo. Seu conteúdo de tecido adiposo pode aumentar muito com o ganho de peso, contribuindo para a característica “barriga de cerveja” vista em alguns indivíduos com sobrepeso. Os diversos linfonodos do omento maior fornecem macrófagos e plasmócitos que produzem anticorpos que ajudam no combate e contenção das infecções do canal alimentar. O ligamento falciforme insere o fígado à parede abdominal anterior e diafragma (Figura 24.4B). O fígado é o único órgão digestório que está inserido na parede abdominal anterior. O omento menor surge como uma prega anterior na túnica serosa do estômago e do duodeno, e conecta o estômago e o duodeno ao fígado (Figura 24.4A, C). É o caminho para os vasos sanguíneos que chegam ao fígado e contém a veia porta do fígado, a artéria hepática comum e o ducto colédoco, junto com alguns linfonodos. Uma prega em forma de leque do peritônio, chamada mesentério, liga o jejuno e o íleo do intestino delgado à parede posterior do abdome (Figura 24.4A, D). Esta é a maior prega peritoneal, e normalmente está cheia de gordura, e contribui bastante para a abdome volumoso visto em indivíduos obesos. Estendese da parede posterior do abdome, circunda o intestino delgado e, em seguida, retorna à sua origem, formando uma estrutura de dupla camada. Entre as duas camadas estão vasos sanguíneos e linfáticos e linfonodos. Duas pregas separadas de peritônio, chamadas mesocolo, ligam o colo transverso (mesocolo transverso) e colo sigmoide (mesocolo sigmoide) do intestino grosso à parede posterior do abdome (Figura 24.4A). O mesocolo também abriga vasos sanguíneos e linfáticos para o intestino. Juntos, o mesentério e o mesocolo mantêm os intestinos frouxamente no lugar, possibilitando o movimento conforme as contrações musculares misturam e movem os conteúdos luminais ao longo do canal alimentar. 8. 9. 24.5 • • • CORRELAÇÃO CLÍNICA | Peritonite Uma causa comum de peritonite, uma in amação aguda do peritônio, é a contaminação do peritônio por microrganismos infecciosos, que podem resultar de feridas acidentais ou cirúrgicas na parede do abdome, ou pela perfuração ou ruptura dos órgãos abdominais. Se, por exemplo, as bactérias ganham acesso à cavidade peritoneal por meio de uma perfuração intestinal ou ruptura do apêndice vermiforme, podem produzir uma forma aguda e potencialmente fatal de peritonite. Um tipo menos grave (embora ainda doloroso) de peritonite pode resultar do atrito das superfícies peritoneais in amadas uma contra a outra. O aumento do risco de peritonite é uma preocupação especial para aqueles que dependem da diálise peritoneal, um procedimento em que o peritônio é usado para ltrar o sangue quando os rins não funcionam adequadamente (ver Correlação clínica | Diálise, na Seção 26.7). TESTE RÁPIDO Onde estão localizados o peritônio visceral e o peritônio parietal? Descreva os locais de inserção e as funções do mesentério, mesocolo, ligamento falciforme, omento menor e omento maior. Boca OBJETIVOS Identificar a localização das glândulas salivares e descrever as funções de suas secreções Descrever a estrutura e as funções da língua Identificar as partes de um dente normal e comparar as dentições decídua e permanente. A boca, também chamada cavidade oral ou bucal, é formada pelas bochechas, palatos duro e mole e língua (Figura 24.5). As bochechas formam as paredes laterais da cavidade oral. São recobertas pela pele externamente e por túnica mucosa internamente, que consiste em epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Os músculos bucinadores e o tecido conjuntivo encontramse entre a pele e as túnicas mucosas das bochechas. As partes anteriores das bochechas terminam nos lábios. Figura 24.5 Estruturas da boca (cavidade oral). A boca é formada pelas bochechas, palatos duro e mole, e língua. Qual é a função da úvula? Os lábios são pregas carnudas que circundam a abertura da boca. Eles contêm o músculo orbicular da boca e são recobertos externamente por pele e internamente por túnica mucosa. A face interna de cada lábio está ligada à sua gengiva correspondente por uma prega de túnica mucosa na linha média chamada frênulo do lábio. Durante a mastigação, a contração dos músculos bucinadores nas bochechas e do músculo orbicular da boca nos lábios ajuda a manter os alimentos entre os dentes superiores e inferiores. Estes músculos também ajudam na fala. O vestíbulo da boca da cavidade oral é o espaço delimitadoexternamente pelas bochechas e lábios e internamente pelos dentes e gengivas. A cavidade própria da boca é o espaço que se estende das gengivas e dentes às fauces, a abertura entre a cavidade oral e a parte oral da faringe. O palato é uma parede ou septo que separa a cavidade oral da cavidade nasal, e forma o céu da boca. Esta importante estrutura torna possível mastigar e respirar ao mesmo tempo. O palato duro – a parte anterior do céu da boca – é formado pelas maxilas e palatinos e é recoberto por túnica mucosa; ele forma uma partição óssea entre as cavidades oral e nasal. O palato mole, que forma a parte posterior do céu da boca, é uma partição muscular em forma de arco entre a parte oral da faringe e a parte nasal da faringe que é revestida por túnica mucosa. Pendurada na margem livre do palato mole encontrase uma estrutura muscular em formato de dedo chamada úvula. Durante a deglutição, o palato mole e a úvula são atraídos superiormente, fechando a parte nasal da faringe e impedindo que os alimentos e líquidos ingeridos entrem na cavidade nasal. Lateralmente à base da úvula estão duas pregas musculares que descem pelas laterais do palato mole: anteriormente, o arco palatoglosso se estende até o lado da base da língua; posteriormente, o arco palatofaríngeo se estende até o lado da faringe. As tonsilas palatinas estão situadas entre os arcos, e as tonsilas linguais estão situadas na base da língua. Na margem posterior do palato mole, a boca se abre para a parte oral da faringe por meio das fauces (Figura 24.5). Glândulas salivares A glândula salivar é uma glândula que libera uma secreção chamada saliva na cavidade oral. Normalmente, é secretada apenas uma quantidade suficiente de saliva para manter as túnicas mucosas da boca e da faringe úmidas e para limpar a boca e os dentes. Quando o alimento entra na boca, no entanto, a secreção de saliva aumenta e o lubrifica, dissolvendoo e iniciando a decomposição química dos alimentos. A túnica mucosa da boca e da língua contém muitas pequenas glândulas salivares que se abrem diretamente, ou indiretamente, via ductos curtos, na cavidade oral. Estas glândulas incluem as glândulas labial, bucal e palatina nos lábios, bochechas e palato, respectivamente, e as glândulas linguais na língua, todas dando uma pequena contribuição para a saliva. No entanto, a maior parte da saliva é secretada pelas glândulas salivares maiores, que se encontram além da túnica mucosa da boca, em ductos que levam à cavidade oral. Há três pares de glândulas salivares maiores: as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais (Figura 24.6A). As glândulas parótidas estão localizadas inferior e anteriormente às orelhas, entre a pele e o músculo masseter. Cada uma delas secreta saliva na cavidade oral por meio de um ducto parotídeo, que perfura o músculo bucinador para se abrir em um vestíbulo oposto ao segundo dente molar maxilar (superior). As glândulas submandibulares são encontradas no assoalho da boca; são mediais e parcialmente inferiores ao corpo da mandíbula. Seus ductos, os ductos submandibulares, passam sob a túnica mucosa em ambos os lados da linha média do assoalho da boca e entram na cavidade própria da boca lateralmente ao frênulo da língua. As glândulas sublinguais estão abaixo da língua e superiormente às glândulas submandibulares. Seus ductos, os ductos sublinguais menores, se abrem no assoalho da boca na cavidade própria da boca. Figura 24.6 As três glândulas salivares maiores – parótida, sublingual e submandibular. As glândulas submandibulares, mostradas na micrografia óptica (B), que consistem principalmente em ácinos serosos (porções da glândula secretoras de líquido seroso) e alguns ácinos mucosos (porções da glândula secretoras de muco); as glândulas parótidas consistem apenas em ácinos serosos; e as glândulas sublinguais consistem principalmente em ácinos mucosos e alguns ácinos serosos. A saliva lubrifica e dissolve os alimentos e começa a decomposição química de carboidratos e lipídios. Qual é a função dos íons cloreto na saliva? Composição e funções da saliva Quimicamente, a saliva é composta por 99,5% de água e 0,5% de solutos. Entre os solutos estão íons, incluindo o sódio, o potássio, o cloreto, o bicarbonato e o fosfato. Também estão presentes alguns gases dissolvidos e substâncias orgânicas, incluindo a ureia e ácido úrico, o muco, a imunoglobulina A, a enzima bacteriolítica lisozima e a amilase salivar, uma enzima digestória que atua sobre o amido. Nem todas as glândulas salivares fornecem os mesmos ingredientes. As glândulas parótidas secretam um líquido aquoso (seroso) que contém amilase salivar. Como as glândulas submandibulares contêm células semelhantes às encontradas nas glândulas parótidas, além de algumas células mucosas, secretam um líquido que contém amilase, mas que é espessada com muco. As glândulas sublinguais contêm principalmente células mucosas, de modo que secretam um líquido muito mais espesso que contribui com apenas com uma pequena quantidade de amilase salivar. A água na saliva fornece um meio para a dissolução de alimentos, de modo que eles possam ser provados pelos receptores gustativos e de modo que as reações digestórias possam ter início. Os íons cloreto na saliva ativam a amilase salivar, uma enzima que inicia a degradação do amido na boca em maltose, maltotriose e αdextrina. Os íons bicarbonato e fosfato tamponam alimentos ácidos que entram na boca, de modo que a saliva é apenas ligeiramente ácida (pH entre 6,35 e 6,85). As glândulas salivares (como as glândulas sudoríparas da pele) ajudam a remover moléculas residuais do corpo, que respondem pela presença de ureia e ácido úrico na saliva. O muco lubrifica o alimento para que ele possa ser movimentado facilmente na boca, modelado em uma bola e deglutido. A imunoglobulina A (IgA) impede a ligação de microrganismos, de modo que eles não são capazes de penetrar o epitélio, e a enzima lisozima mata as bactérias; no entanto, estas substâncias não estão presentes em quantidades suficientes para eliminar todas as bactérias da boca. Salivação A secreção de saliva, a chamada salivação, é controlada pela divisão autônoma do sistema nervoso. A quantidade de saliva secretada diariamente varia consideravelmente, mas em média é de 1.000 a 1.500 m ℓ . Normalmente, a estimulação parassimpática promove a secreção contínua de uma quantidade moderada de saliva, o que mantém as túnicas mucosas úmidas e lubrifica os movimentos da língua e dos lábios durante a fala. A saliva é então engolida e ajuda a umedecer o esôfago. Eventualmente, a maior parte dos componentes da saliva é reabsorvida, o que impede a perda de líquidos. A estimulação simpática domina durante o estresse, resultando em ressecamento da boca. Se o corpo fica desidratado, as glândulas salivares param de secretar saliva para conservar a água; o ressecamento da boca resultante contribui para a sensação de sede. Beber não só restaura a homeostasia da água corporal, mas também umedece a boca. A sensação e o sabor dos alimentos também são potentes estimuladores das secreções das glândulas salivares. Produtos químicos nos alimentos estimulam os receptores nas papilas gustativas, e os impulsos são transmitidos das papilas gustativas para dois núcleos salivares no tronco encefálico (núcleos salivatório superior e salivatório inferior). Os impulsos parassimpáticos que retornam pelas fibras dos nervos facial (VII) e glossofaríngeo (IX) estimulam a secreção de saliva. A saliva continua sendo intensamente secretada durante algum tempo depois que o alimento é ingerido; esse fluxo de saliva lava a boca edilui e isola os restos de produtos químicos irritantes, como molhos saborosos (mas picantes!). Cheirar, ver, ouvir ou pensar em alimentos também podem estimular a secreção de saliva. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Caxumba Embora nenhuma das glândulas salivares possa ser alvo de uma infecção nasofaríngea, o vírus da caxumba (paramixovírus) normalmente ataca as glândulas parótidas. A caxumba é a in amação e o aumento das glândulas parótidas acompanhada por febre moderada, mal-estar (desconforto geral) e dor extrema na garganta, especialmente ao engolir alimentos ou sucos ácidos. O inchaço ocorre em um ou ambos os lados da face, ligeiramente anterior ao ramo da mandíbula. Em aproximadamente 30% dos homens depois da puberdade, os testículos também podem in amar; a esterilidade raramente ocorre, porque o envolvimento testicular geralmente é unilateral (apenas um testículo). Desde 1967, quando a vacina para a caxumba se tornou disponível, a incidência da doença tem diminuído drasticamente. Língua A língua é um órgão digestório acessório composto de músculo esquelético recoberto por túnica mucosa. Juntamente com seus músculos associados, forma o assoalho da cavidade oral. A língua é dividida em metades laterais simétricas por um septo mediano que se estende por todo o seu comprimento, e está ligado inferiormente ao hioide, processo estiloide do temporal e mandíbula. Cada metade da língua consiste em um complemento idêntico de músculos extrínsecos e intrínsecos. Os músculos extrínsecos da língua, que se originam fora da língua (inseremse aos ossos na região) e se inserem nos tecidos conjuntivos da língua, incluem os músculos hioglosso, genioglosso e estiloglosso (ver Figura 11.7). Os músculos extrínsecos movem a língua de um lado para o outro e para dentro e para fora para manobrar os alimentos para a mastigação, moldar o alimento em massa arredondada e forçar o alimento para a parte de trás da boca para ser engolido. Eles também formam o assoalho da boca e mantêm a língua em sua posição. Os músculos intrínsecos da língua se originam e se inserem no tecido conjuntivo da língua. Eles alteram a forma e o tamanho da língua para a fala e deglutição. Os músculos intrínsecos incluem os músculos longitudinal superior, longitudinal inferior, transverso da língua e vertical da língua. O frênulo da língua, uma prega de túnica mucosa na linha média da face inferior da língua, se insere ao assoalho da boca e ajuda a limitar o movimento da língua posteriormente (ver Figuras 24.5 e 24.6). Se o frênulo da língua da pessoa é anormalmente curto ou rígido – uma condição chamada anquiloglossia – dizse que a pessoa tem a “língua presa”, por causa do prejuízo à fala resultante. A condição pode ser corrigida cirurgicamente. As faces dorsal (face superior) e lateral da língua são recobertas por papilas, projeções da lâmina recobertas por epitélio escamoso estratificado (ver Figura 17.3). Muitas papilas contêm papilas gustativas, os receptores para gustação (gosto). Algumas papilas não têm papilas gustativas, mas contêm receptores para o tato e aumentam o atrito entre a língua e o alimento, facilitando para a língua mover a comida na cavidade oral. Os diferentes tipos de paladar são descritos em detalhes na Seção 17.2. As glândulas linguais na lâmina própria da língua secretam muco e um líquido seroso aquoso que contém a enzima lipase lingual, que atua em até 30% dos triglicerídios (óleos e gorduras) dietéticos e os converte em ácidos graxos mais simples e diglicerídios. Dentes Os dentes (Figura 24.7) são órgãos digestórios acessórios localizados nos soquetes dos processos alveolares da mandíbula e da maxila. Os processos alveolares são recobertos pela gengiva, que se estende ligeiramente para dentro de cada soquete. Os soquetes são revestidos pelo ligamento periodontal, que consiste em tecido conjuntivo fibroso denso que ancora os dentes às paredes do soquete e age como um amortecedor de impacto durante a mastigação. Figura 24.7 Um dente típico e estruturas circundantes. Os dentes são ancorados em soquetes dos processos alveolares da mandíbula e da maxila. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Tratamento de canal O tratamento de canal é um procedimento de várias etapas em que todos os vestígios de tecido pulpar são removidos da cavidade pulpar e do canal da raiz do dente de um dente com uma doença grave. Depois de fazer um furo no dente, os canais da raiz do dente são retirados e irrigados para remover as bactérias. Em seguida, os canais são tratados com medicação e são hermeticamente fechados. A coroa dani cada é então reparada. O tipo de tecido é o componente principal dos dentes? Um dente típico tem três grandes regiões externas: a coroa, a raiz e o colo. A coroa é a parte visível acima do nível das gengivas. Embutidos no soquete estão uma a três raízes. O colo é a junção constrita entre a coroa e a raiz, próximo da linha das gengivas. Internamente, a dentina forma a maior parte do dente. A dentina consiste em um tecido conjuntivo calcificado que confere ao dente a sua forma e rigidez. É mais rígida do que o osso, em razão do seu maior teor de hidroxiapatita (70% versus 55% do peso seco). A dentina da coroa é recoberta pelo esmalte, que consiste principalmente em fosfato de cálcio e carbonato de cálcio. O esmalte é também mais duro do que o osso, em decorrência do seu maior teor de sais de cálcio (aproximadamente 95% do peso seco). Na verdade, o esmalte é a substância mais dura do corpo. Serve para proteger o dente do desgaste da mastigação. Também protege contra ácidos que podem facilmente dissolver a dentina. A dentina da raiz é recoberta por cemento, outra substância semelhante ao osso, que insere a raiz ao ligamento periodontal. A dentina de um dente envolve um espaço. A parte alargada do espaço, a cavidade pulpar, situase no interior da coroa e é preenchida pela polpa do dente, um tecido conjuntivo contendo vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos. Extensões estreitas da cavidade pulpar, chamadas canais da raiz do dente, percorrem a raiz do dente. Cada canal da raiz do dente tem uma abertura em sua base, o forame do ápice do dente, por meio do qual os vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos entram no dente. Os vasos sanguíneos trazem nutrição, os vasos linfáticos oferecem proteção, e os nervos fornecem sensibilidade. O ramo da odontologia que se preocupa com a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças que afetam a polpa, a raiz, o ligamento periodontal e o osso alveolar é conhecido como endodontia. A ortodontia é o ramo da odontologia que se preocupa com a prevenção e correção dos dentes anormalmente alinhados; a periodontia é o ramo da odontologia que se preocupa com o tratamento de condições anormais dos tecidos que circundam imediatamente os dentes, como a gengivite. Os seres humanos têm duas dentições, ou conjuntos de dentes: decídua e permanente. A primeira delas – os dentes decíduos, também chamados dentes de leite ou dentes primários – começa a aparecer por volta dos 6 meses de idade; aproximadamente dois dentes aparecem a cada mês subsequente, até que os 20 dentes estejam presentes (Figura 24.8A). Os incisivos, que estão mais próximos da linha média, têm a forma de um cinzel e são adaptados para cortar os alimentos. Eles são ditos incisivos centrais ou laterais, de acordo com sua posição. Ao lado dos incisivos movendose posteriormente estão os caninos, que têm uma face pontiaguda chamada cúspide. Os caninos são usados para rasgar e triturar os alimentos. Os incisivos e caninos têm apenas uma raiz cada. Posteriormente aos caninos estão o primeiro e segundo molares decíduos, que têm quatro cúspides. Os molares maxilares (superiores)têm três raízes; os molares mandibulares (inferiores) têm duas raízes. Os molares esmagam e trituram os alimentos para preparálos para a deglutição. Figura 24.8 Dentições e momentos de erupção. Uma letra (dentes decíduos) ou número (dentes permanentes) designa cada dente. Os dentes decíduos começam a irromper aos 6 meses de idade, e aparecem aproximadamente dois dentes a cada mês subsequente, até que todos os 20 dentes estejam presentes. Os momentos de erupção são indicados entre parênteses. Há 20 dentes no conjunto decíduo completo e 32 dentes no conjunto permanente completo. Quais dentes permanentes não substituem dente decíduo algum? Todos os dentes decíduos caem – geralmente entre os 6 e 12 anos – e são substituídos pelos dentes permanentes (secundários) (Figura 24.8B). A dentição permanente contém 32 dentes que irrompem entre os 6 anos e a idade adulta. O padrão se assemelha à dentição decídua, com as seguintes exceções. Os molares decíduos são substituídos pelo primeiro e segundo prémolares (bicúspides), que têm duas cúspides e uma raiz e são usados para a trituração e moagem. Os molares permanentes, que irrompem na boca posteriormente aos prémolares, não substituem dente decíduo algum e irrompem conforme a mandíbula cresce para acomodálos – os primeiros molares permanentes aos 6 anos (molares dos 6 anos), os segundos molares permanentes aos 12 anos (molares dos 12 anos) e os terceiros molares permanentes (dentes serotinos ou do siso) após os 17 anos de idade, se é que irrompem. Muitas vezes, a mandíbula humana não tem espaço suficiente posteriormente aos segundos molares para acomodar a erupção dos terceiros molares. Neste caso, os terceiros molares permanecem incorporados ao osso alveolar e são ditos impactados. Eles costumam causar pressão e dor e devem ser removidos cirurgicamente. Em algumas pessoas, os terceiros molares podem ser pequenos ou podem nem se desenvolver. Digestão mecânica e química na boca A digestão mecânica na boca resulta da mastigação, em que o alimento é manipulado pela língua, triturado pelos dentes e misturado com saliva. Como resultado, a comida é reduzida a uma massa macia flexível, facilmente engolida, chamada bolo alimentar. As moléculas de alimento começam a se dissolver na água da saliva, uma atividade importante porque as enzimas podem reagir com as moléculas do alimento apenas em um meio líquido. Duas enzimas, a amilase salivar e a lipase lingual, contribuem para a digestão química na boca. A amilase salivar, que é secretada pelas glândulas salivares, inicia a degradação do amido. Os carboidratos dietéticos são açúcares monossacarídios e dissacarídios ou polissacarídios complexos, como os amidos. A maior parte dos carboidratos que ingerimos são amidos, mas apenas os monossacarídios podem ser absorvidos para a corrente sanguínea. Assim, os dissacarídios e amidos ingeridos precisam ser clivados em monossacarídios. A função da amilase salivar é começar a digestão do amido pela fragmentação do amido em moléculas menores, como a maltose dissacarídea, a maltotriose trissacarídea e polímeros de glicose de cadeia curta chamados αdextrina. Mesmo que o alimento normalmente seja deglutido muito rapidamente para que todos os amidos sejam fragmentados na cavidade oral, a amilase salivar no alimento ingerido continua agindo sobre os amidos por aproximadamente 1 h, tempo em que os ácidos do estômago inativamna. A saliva contém também lipase lingual, que é secretada pelas glândulas linguais na língua. Esta enzima tornase ativa no ambiente ácido do estômago e, assim, começa a funcionar após o alimento ser deglutido. Ela cliva os triglicerídios (óleos e gorduras) em ácidos graxos e diglicerídios. Um diglicerídio consiste em uma molécula de glicerol ligada a dois ácidos graxos. A Tabela 24.1 resume as atividades digestórias na cavidade oral. TABELA 24.1 Resumo das atividades digestórias na boca. ESTRUTURA ATIVIDADE RESULTADO Bochechas e lábios Mantêm os alimentos entre os dentes Alimentos uniformemente mastigados durante a mastigação Glândulas salivares Secretam saliva Revestimento da boca e faringe umedecido e lubri cado. A saliva amacia, hidrata e dissolve a comida e limpa a boca e os dentes. A amilase salivar fragmenta o amido em maltose, maltotriose e α-dextrinas Língua Músculos extrínsecos da língua Movem a língua de um lado para o outro e para dentro e para fora O alimento é manobrado para a mastigação, moldado em um bolo alimentar e manobrado para ser deglutido Músculos intrínsecos da língua Alteram a forma da língua Deglutição e fala Papilas gustativas Servem como receptores para a gustação (paladar) e presença de alimento na boca Secreção de saliva estimulada pelos impulsos nervosos provenientes das papilas gustativas para os núcleos salivatórios no tronco encefálico para as glândulas salivares Glândulas linguais Secretam lipase lingual Triglicerídios clivados em ácidos graxos e diglicerídios 10. 11. 12. 13. 24.6 • 14. 24.7 • Dentes Cortam, laceram e trituram os alimentos Alimentos sólidos são reduzidos a partículas menores para serem deglutidos TESTE RÁPIDO Que estruturas formam a boca? Como as glândulas salivares maiores são distinguidas de acordo com sua localização? Como é regulada a secreção de saliva? Quais são as funções dos dentes incisivos, caninos, prémolares e molares? Faringe OBJETIVO Descrever a localização e função da faringe. Quando o alimento é inicialmente ingerido, ele passa da boca para a faringe, um tubo afunilado que se estende dos cóanos ao esôfago posteriormente e à laringe anteriormente (ver Figura 23.2). A faringe é composta por músculo esquelético e revestida por túnica mucosa; é dividida em três partes: a parte nasal da faringe, a parte oral da faringe e a parte laríngea da faringe. A parte nasal da faringe atua apenas na respiração, mas as partes oral e laríngea da faringe têm funções digestórias e respiratórias. A comida engolida passa da boca para as partes oral e laríngea da faringe; as contrações musculares dessas áreas ajudam a impulsionar o alimento para o esôfago e, em seguida, para o estômago. TESTE RÁPIDO Quais são os dois sistemas de órgãos a que a faringe pertence? Esôfago OBJETIVO Descrever a localização, anatomia, histologia e funções do esôfago. O esôfago é um tubo muscular colabável de aproximadamente 25 cm de comprimento que se encontra posteriormente à traqueia. O esôfago começa na extremidade inferior da parte laríngea da faringe, passa pelo aspecto inferior do pescoço, e entra no mediastino anteriormente à coluna vertebral. Em seguida, perfura o diafragma através de uma abertura chamada hiato esofágico e termina na parte superior do estômago (ver Figura 24.1). Às vezes, uma parte do estômago se projeta acima do diafragma através do hiato esofágico. Esta condição, chamada hérnia de hiato, é descrita na seção Terminologia técnica no final do capítulo. Histologia do esôfago A túnica mucosa do esôfago consiste em epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e lâmina muscular da mucosa (músculo liso) (Figura 24.9). Próximo ao estômago, a túnica mucosa do esôfago também contém glândulas mucosas. O epitélio escamoso estratificado associado aos lábios, boca, língua, parte oral da faringe, laringe e esôfago confere proteção considerável contra a abrasão e desgaste de partículas de alimento que são mastigadas, misturadas com secreções e deglutidas. A tela submucosa contém tecido conjuntivo areolar, vasos sanguíneos e glândulas mucosas. A túnica muscular do terço superior do esôfago é de músculo esquelético, o terço intermediário é de músculo esquelético e liso, e o terço inferior é de músculo liso. Em cada extremidade do esôfago, a túnica muscular se tornaligeiramente mais proeminente e forma dois esfíncteres – o esfíncter esofágico superior (EES), que consiste em músculo esquelético, e o esfíncter esofágico inferior (EEI), que consiste em músculo liso e está próximo do coração. O esfíncter esofágico superior controla a circulação de alimentos da faringe para o esôfago; o esfíncter esofágico inferior regula o movimento dos alimentos do esôfago para o estômago. A camada superficial do esôfago é conhecida como túnica adventícia, em vez de túnica serosa como no estômago e nos intestinos, porque o tecido conjuntivo areolar desta camada não é recoberto por mesotélio e porque o tecido conjuntivo fundese ao tecido conjuntivo das estruturas circundantes do 15. 16. 24.8 • mediastino, através do qual ele passa. A túnica adventícia insere o esôfago às estruturas adjacentes. Figura 24.9 Histologia do esôfago. Uma vista com alta ampliação do epitélio escamoso estratificado não queratinizado é mostrada na Tabela 4.1F. O esôfago secreta muco e transporta o alimento até o estômago. Em que camadas do esôfago estão localizadas as glândulas que secretam muco lubrificante? Fisiologia do esôfago O esôfago secreta muco e transporta os alimentos para o estômago. Ele não produz enzimas digestórias nem realiza absorção. TESTE RÁPIDO Descreva a localização e histologia do esôfago. Qual é o seu papel na digestão? Quais são as funções dos esfíncteres esofágicos superior e inferior? Deglutição OBJETIVO Descrever as três fases da deglutição. O movimento do alimento da boca para o estômago é alcançado pelo ato de engolir, ou deglutição (Figura 24.10). A deglutição é facilitada pela secreção de saliva e muco e envolve a boca, a faringe e o esôfago. A deglutição ocorre em três fases: (1) a fase voluntária, em que o bolo alimentar é passado para a parte oral da faringe; (2) a fase faríngea, a passagem involuntária do bolo alimentar pela faringe até o esôfago; e (3) a fase esofágica, a passagem involuntária do bolo alimentar através do esôfago até o estômago. A deglutição é iniciada quando o bolo alimentar é forçado para a parte posterior da cavidade oral e pelo movimento da língua para cima e para trás contra o palato; essas ações constituem a fase voluntária da deglutição. Com a passagem do bolo alimentar para a parte oral da faringe, começa a fase faríngea involuntária da deglutição (Figura 24.10B). O bolo alimentar estimula os receptores da parte oral da faringe, que enviam impulsos para o centro da deglutição no bulbo e parte inferior da ponte do tronco encefálico. Os impulsos que retornam fazem com que o palato mole e a úvula se movam para cima para fechar a parte nasal da faringe, o que impede que os alimentos e líquidos ingeridos entrem na cavidade nasal. Além disso, a epiglote fecha a abertura da laringe, o que impede que o bolo alimentar entre no restante do trato respiratório. O bolo alimentar se move pelas partes oral e laríngea da faringe. Quando o esfíncter esofágico superior relaxa, o bolo alimentar se move para o esôfago. Figura 24.10 Deglutição. Durante a fase faríngea (B) a língua sobe contra o palato, a parte nasal da faringe é fechada, a laringe sobe, a epiglote veda a laringe e o bolo alimentar é passado para o esôfago. Durante a fase esofágica (C), o alimento se move ao longo do esôfago até o estômago via peristaltismo. A deglutição é o mecanismo que move o alimento da boca para o estômago. 17. 18. 19. A deglutição é uma ação voluntária ou involuntária? A fase esofágica da deglutição começa quando o bolo alimentar entra no esôfago. Durante esta fase, o peristaltismo, uma progressão de contrações e relaxamentos coordenados das camadas circular e longitudinal da túnica muscular, empurra o bolo alimentar para a frente (Figura 24.10C). (O peristaltismo ocorre em outras estruturas tubulares, incluindo outras partes do canal alimentar e ureteres, ductos biliares e tubas uterinas; no esôfago é controlado pelo bulbo.) Na seção do esôfago imediatamente superior ao bolo alimentar, as fibras musculares circulares se contraem comprimindo a parede esofágica e comprimindo o bolo alimentar em direção ao estômago. As fibras longitudinais inferiores ao bolo alimentar também se contraem, o que encurta esta seção inferior e empurra suas paredes para fora para que possam receber o bolo alimentar. As contrações são repetidas em ondas que empurram o alimento em direção ao estômago. Os passos e se repetem até que o bolo alimentar alcança os músculos do esfíncter esofágico inferior. O esfíncter esofágico inferior relaxa e o bolo alimentar se move para o estômago. O muco produzido pelas glândulas esofágicas lubrifica o bolo alimentar e reduz o atrito. A passagem do alimento sólido ou semissólido da boca ao estômago leva de 4 a 8 s; alimentos muito moles e líquidos passam em aproximadamente 1 s. A Tabela 24.2 resume as atividades digestórias da faringe e do esôfago. TESTE RÁPIDO O que significa deglutição? O que ocorre durante as fases voluntária e faríngea da deglutição? O peristaltismo “empurra” ou “puxa” o alimento ao longo do canal alimentar? TABELA 24.2 Resumo das atividades digestórias na faringe e no esôfago. ESTRUTURA ATIVIDADE RESULTADO Faringe Fase faríngea da deglutição Move o bolo alimentar da parte oral da faringe à parte laríngea da faringe e ao esôfago; fecha as passagens de ar Esôfago Relaxamento do esfíncter esofágico superior Possibilita a entrada do bolo alimentar da parte laríngea da 24.9 • faringe no esôfago Fase esofágica da deglutição (peristaltismo) Empurra o bolo alimentar esôfago abaixo Relaxamento do esfíncter esofágico inferior Possibilita a entrada do bolo alimentar no estômago Secreção de muco Lubri ca o esôfago para a passagem suave do bolo alimentar CORRELAÇÃO CLÍNICA | Doença do re uxo gastresofágico Se o esfíncter esofágico inferior não se fecha adequadamente após o alimento ter entrado no estômago, o conteúdo do estômago pode retornar (re uxo) para a parte inferior do esôfago. Esta condição é conhecida como doença do re uxo gastresofágico (DRGE). O ácido clorídrico (HCl) do conteúdo estomacal pode irritar a parede esofágica, resultando em uma sensação de queimação que é chamada azia (em inglês, heartburn, porque é experimentada em uma região muito próxima ao coração; não está relacionada com problema cardíaco algum). A ingestão de álcool e o tabagismo podem causar o relaxamento do esfíncter, agravando o problema. Os sintomas da DRGE muitas vezes podem ser controlados ao evitar alimentos que estimulem fortemente a secreção de ácido gástrico (café, chocolate, tomate, alimentos gordurosos, suco de laranja, hortelã-pimenta, hortelã-comum e cebola). Outras estratégias para reduzir a acidez incluem tomar bloqueadores da histamina-2 (H2) de venda livre, como o Tagamet HB® ou o Pepcid AC®, 30 a 60 min antes de comer para bloquear a secreção de ácido e neutralizar o ácido que já foi secretado com antiácidos como o Tums® ou o Maalox®. Os sintomas têm menor probabilidade de ocorrer se o alimento for ingerido em pequenas quantidades, e se a pessoa não se deitar logo após uma refeição. A DRGE pode estar associada ao câncer de esôfago. Estômago OBJETIVO Descrever a localização, anatomia, histologia e funções do estômago. O estômago é um alargamento do canal alimentar em formato de J diretamente inferior ao diafragma no abdome. O estômago liga o esôfago ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado (Figura 24.11). Como uma refeição pode ser consumida muito mais rapidamente do que os intestinos podem digerila e absorvêla, uma das funções do estômago é servir como uma câmara de mistura e reservatório de retenção. Em intervalos adequados após o alimento ter sido ingerido, o estômago força uma pequena quantidade de material até a primeira parte dointestino delgado. A posição e o tamanho do estômago variam continuamente; o diafragma o empurra inferiormente a cada inspiração e o puxa superiormente a cada expiração. Vazio, tem aproximadamente o tamanho de uma salsicha grande, mas é a parte mais distensível do canal alimentar e pode acomodar uma grande quantidade de comida. No estômago, a digestão de amido e triglicerídios continua, a digestão das proteínas começa, o bolo alimentar semissólido é convertido em um líquido, e determinadas substâncias são absorvidas. Anatomia do estômago O estômago tem quatro regiões principais: a cárdia, o fundo gástrico, o corpo gástrico e a parte pilórica (Figura 24.11). A cárdia circunda a abertura do esôfago ao estômago. A porção arredondada superior e à esquerda da cárdia é o fundo gástrico. Inferior ao fundo gástrico está a grande parte central do estômago, o corpo gástrico. A parte pilórica pode ser dividida em três regiões. A primeira região, o antro pilórico, liga o corpo ao estômago. A segunda região, o canal pilórico, leva à terceira região, o piloro, que por sua vez se conecta ao duodeno. Quando o estômago está vazio, a túnica mucosa forma grandes rugas, as pregas gástricas, que podem ser vistas a olho nu. O piloro se comunica com o duodeno do intestino delgado por meio de um esfíncter de músculo liso chamado músculo esfíncter do piloro. A margem medial côncava do estômago é chamada curvatura menor; a margem lateral convexa é chamada curvatura maior. 1. 2. 3. 4. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Piloroespasmo e estenose pilórica Duas anormalidades do músculo esfíncter do piloro podem ocorrer em bebês. No piloroespasmo, as bras de músculo liso do músculo esfíncter do piloro não são capazes de relaxar normalmente, de modo que o alimento não passa facilmente do estômago para o intestino delgado, o estômago torna-se demasiadamente cheio, e o bebê vomita com frequência para aliviar a pressão. O piloroespasmo é tratado com fármacos que relaxam as bras musculares do músculo esfíncter do piloro. A estenose pilórica é o estreitamento do óstio pilórico que deve ser corrigido cirurgicamente. O sintoma característico é o vômito em jato – a pulverização de vômito líquido a alguma distância da criança. Histologia do estômago A parede do estômago é composta pelas mesmas camadas básicas que o restante do canal alimentar, com certas modificações. A superfície da túnica mucosa é uma camada de células epiteliais colunares simples, chamada células mucosas da superfície (Figura 24.12). A túnica mucosa contém a lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e a lâmina muscular da mucosa (músculo liso) (Figura 24.12). As células epiteliais se estendem até a lâmina própria, onde formam colunas de células secretoras chamadas glândulas gástricas. Várias glândulas gástricas se abrem na base de canais estreitos chamadas criptas gástricas. Secreções de várias glândulas gástricas fluem para cada cripta gástrica e, em seguida, para dentro do lúmen do estômago. FUNÇÕES DO ESTÔMAGO Mistura a saliva, os alimentos e o suco gástrico para formar o quimo. Serve como reservatório para o alimento antes da liberação para o intestino delgado. Secreta suco gástrico, que contém HCl (mata bactérias e desnatura proteínas), pepsina (começa a digestão de proteínas), fator intrínseco (auxilia na absorção de vitamina B12) e lipase gástrica (auxilia na digestão de triglicerídios). Secreta gastrina no sangue. Figura 24.11 Anatomia externa e interna do estômago. As quatro regiões do estômago são a cárdia, o fundo gástrico, o corpo gástrico e a parte pilórica. Depois de uma grande refeição, seu estômago ainda tem pregas gástricas? Figura 24.12 Histologia do estômago. O suco gástrico é composto pelas secreções combinadas das células mucosas, células parietais e células principais gástricas. Onde o HCl é secretado e quais são suas funções? As glândulas gástricas contêm três tipos de células glandulares exócrinas que secretam seus produtos para o lúmen do estômago: as células mucosas do colo, as células principais gástricas e as células parietais. Tanto as células mucosas superficiais quanto as células mucosas do colo secretam muco (Figura 24.12B). As células parietais produzem fator intrínseco (necessário para a absorção de vitamina B12) e ácido clorídrico. As células principais gástricas secretam pepsinogênio e lipase gástrica. As secreções das células mucosa, parietal e principal gástrica formam o suco gástrico, que totaliza 2.000 a 3.000 m ℓ /dia. Além disso, as glândulas gástricas incluem um tipo de célula enteroendócrina, a célula secretora de gastrina, que está localizada principalmente no antro pilórico e secreta o hormônio gastrina na circulação sanguínea. Como veremos em breve, esse hormônio estimula vários aspectos da atividade gástrica. Três camadas adicionais encontramse profundamente à túnica mucosa. A tela submucosa do estômago é composta por tecido conjuntivo areolar. A túnica muscular tem três camadas de músculo liso (em vez das duas encontradas no esôfago e nos intestinos delgado e grosso): uma camada longitudinal externa, uma camada circular média e fibras oblíquas internas. As fibras oblíquas estão limitadas principalmente ao corpo gástrico. A túnica serosa é composta por epitélio escamoso simples (mesotélio) e tecido conjuntivo areolar; a porção da túnica serosa que recobre o estômago é parte do peritônio visceral. Na curvatura menor do estômago, o peritônio visceral se estende para cima até o fígado como o omento menor. Na curvatura maior do estômago, o peritônio visceral continua para baixo como o omento maior e reveste os intestinos. Digestão mecânica e química no estômago Alguns minutos depois de o alimento entrar no estômago, ondas de peristaltismo passam pelo estômago a cada 15 a 25 s. Poucas ondas peristálticas são observadas na região do fundo gástrico, que tem principalmente uma função de armazenamento. Em vez disso, a maior parte das ondas começa no corpo gástrico e se intensifica à medida que alcança o antro pilórico. Cada onda peristáltica move o conteúdo gástrico do corpo gástrico para baixo para dentro do antro pilórico, em um processo conhecido como propulsão. O óstio pilórico normalmente permanece quase, mas não completamente, fechado. Como a maior parte das partículas de alimento no estômago inicialmente são demasiadamente grandes para passar através do estreito óstio pilórico, elas são forçadas para trás para o corpo gástrico, em um processo conhecido como retropulsão. Ocorre então outra rodada de propulsão, movendo as partículas de alimentos de volta para o antro pilórico. Se as partículas de alimento continuam sendo demasiadamente grandes para passar através do óstio pilórico, a retropulsão ocorre novamente e as partículas são comprimidas de volta para o corpo gástrico. Em seguida, ocorre ainda outra rodada adicional de propulsão, e o ciclo continua se repetindo. O resultado líquido destes movimentos é que o conteúdo gástrico é misturado ao suco gástrico, por fim sendo reduzido a um líquido com consistência de sopa chamado quimo. Uma vez que as partículas de alimento no quimo são suficientemente pequenas, elas podem passar através do óstio pilórico, em um fenômeno conhecido como esvaziamento gástrico. O esvaziamento gástrico é um processo lento: apenas aproximadamente 3 mℓ de quimo se movem através do óstio pilórico de cada vez. Os alimentos podem permanecer no fundo gástrico durante aproximadamente 1 h sem serem misturados ao suco gástrico. Durante este tempo, a digestão pela amilase salivar das glândulas salivares continua. Logo, no entanto, a ação de agitação mistura o quimo com o suco gástrico ácido, inativando a amilase salivar e ativando a lipase lingualproduzida pela língua, que começa a digerir os triglicerídios em ácidos graxos e diglicerídios. Embora as células parietais secretem os íons hidrogênio (H+) e íons cloreto (Cl–) separadamente no lúmen do estômago, o efeito líquido é a secreção de ácido clorídrico (HCl). As bombas de prótons alimentadas pela H+K+ ATPase transportam ativamente o H+ para o lúmen enquanto trazem os íons potássio (K+) para dentro da célula (Figura 24.13). Ao mesmo tempo, o Cl– e o K+ se difundem para fora para o lúmen através dos canais de Cl– e K+ da membrana apical. A enzima anidrase carbônica, que é especialmente abundante nas células parietais, catalisa a formação de ácido carbônico (H2CO3) a partir da água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). Quando o ácido carbônico se dissocia, ele fornece uma fonte pronta de H+ para as bombas de prótons, mas também produz íons bicarbonato (HCO3–). Conforme o HCO3– se acumula no citosol, ele sai da célula parietal na troca por Cl– via antiportadores Cl–HCO3– na membrana basolateral (próxima da lâmina própria). O HCO3– se difunde nos capilares sanguíneos próximos. Esta “maré alcalina” de íons bicarbonato entrando na corrente sanguínea após uma refeição pode ser grande o suficiente para elevar ligeiramente o pH do sangue e deixar a urina mais alcalina. Figura 24.13 Secreção de HCl (ácido clorídrico) pelas células parietais do estômago. As bombas de próton, alimentadas pelo ATP, secretam H+; O Cl– se difunde para o lúmen do estômago através dos canais de Cl–. Qual molécula é a fonte dos íons hidrogênio que são secretados no suco gástrico? A secreção de HCl pelas células parietais pode ser estimulada por várias fontes: a acetilcolina (ACh) liberada pelos neurônios parassimpáticos, a gastrina secretada pelas células secretoras de gastrina e a histamina, que é uma substância parácrina liberada pelos mastócitos na lâmina própria das proximidades (Figura 24.14). A acetilcolina e a gastrina estimulam as células parietais a secretar mais HCl na presença de histamina. Em outras palavras, a histamina atua sinergicamente, melhorando os efeitos da acetilcolina e da gastrina. Os receptores das três substâncias estão presentes na membrana plasmática das células parietais. Os receptores de histamina nas células parietais são chamados receptores H2; eles medeiam respostas diferentes do que os receptores H1 envolvidos nas respostas alérgicas. Figura 24.14 Regulação da secreção de HCl. A secreção de HCl pelas células parietais pode ser estimulada por diversas fontes: acetilcolina (ACh), gastrina e histamina. Entre as fontes que estimulam a secreção de HCl, qual é um agente parácrino que é liberado pelos mastócitos na lâmina própria? O líquido fortemente ácido do estômago mata muitos microrganismos dos alimentos. O HCl desnatura parcialmente as proteínas dos alimentos e estimula a secreção de hormônios que promovem o fluxo da bile e do suco pancreático. A digestão enzimática das proteínas também começa no estômago. A única enzima proteolítica (que digere proteína) no estômago é a pepsina, que é secretada pelas células principais gástricas. A pepsina rompe certas ligações peptídicas entre os aminoácidos, fragmentando uma cadeia proteica de muitos aminoácidos em fragmentos peptídicos menores. A pepsina é mais efetiva no ambiente ácido do estômago (pH 2); tornase inativa em um pH mais alto. O que impede que a pepsina digira as proteínas das células do estômago junto com os alimentos? Em primeiro lugar, a pepsina é secretada em uma forma inativa chamada pepsinogênio; nesta forma, ela não é capaz de digerir proteínas nas células principais gástricas que a produzem. O pepsinogênio não é convertido em pepsina ativa até que tenha entrado em contato com o ácido clorídrico secretado pelas células parietais ou moléculas de pepsina ativa. Em segundo lugar, as células epiteliais do estômago são protegidas do suco gástrico por uma camada de 1 a 3 mm de espessura de muco alcalino secretado pelas células mucosas da superfície e células mucosas do colo. Outra enzima do estômago é a lipase gástrica, que cliva os triglicerídios (gorduras e óleos) das moléculas de gordura (como as encontradas no leite) em ácidos graxos e monoglicerídios. Um monoglicerídio é composto por uma molécula de glicerol ligada a uma molécula de ácido graxo. Esta enzima, que tem um papel limitado no estômago adulto, opera melhor a um pH entre 5 e 6. Mais importante do que qualquer lipase lingual ou lipase gástrica é a lipase pancreática, uma enzima secretada pelo pâncreas para o intestino delgado. Apenas uma pequena quantidade de nutrientes é absorvida no estômago, porque suas células epiteliais são impermeáveis à maior parte dos materiais. No entanto, as células mucosas do estômago absorvem um pouco de água, íons e ácidos graxos de cadeia curta, bem como determinados fármacos (especialmente o ácido acetilsalicílico) e álcool. Dentro de 2 a 4 h após a ingestão de uma refeição, o estômago já esvaziou seu conteúdo para o duodeno. Os alimentos ricos em carboidratos permanecem menos tempo no estômago; alimentos ricos em proteína permanecem um pouco mais, e o esvaziamento é mais lento após uma refeição rica em gordura contendo grandes quantidades de triglicerídios. A Tabela 24.3 resume as atividades digestórias do estômago. TABELA 24.3 Resumo das atividades digestórias no estômago. 20. 21. 22. 23. 24.10 ESTRUTURA ATIVIDADE RESULTADO Túnica mucosa Células mucosas da superfície e células mucosas do colo Secretam muco Formam uma barreira protetora que impede a digestão da parede do estômago Absorção Uma pequena quantidade de água, íons, ácidos graxos de cadeia curta e alguns fármacos entram na corrente sanguínea Células parietais Secretam fator intrínseco Necessárias para a absorção de vitamina B12 (usada na formação de eritrócitos, ou eritropoese) Secretam ácido clorídrico Matam microrganismos nos alimentos; desnaturam proteínas; convertem o pepsinogênio em pepsina Células principais gástricas Secretam pepsinogênio A pepsina (forma ativada) cliva as proteínas em peptídios Secretam lipase gástrica Quebra os triglicerídios em ácidos graxos e monoglicerídios Células secretoras de gastrina Secretam gastrina Estimulam as células parietais a secretar HCl e as células principais gástricas a secretar pepsinogênio; contrai o esfíncter esofágico inferior, aumenta a motilidade do estômago e relaxa o músculo esfíncter do piloro Túnica muscular Ondas de mistura (movimentos peristálticos leves) Agitam e quebram sicamente os alimentos e misturam-nos com o suco gástrico, formando o quimo. Força o quimo através do óstio pilórico Óstio pilórico Abre-se para possibilitar a passagem do quimo para o duodeno Regula a passagem do quimo do estômago para o duodeno; impede o re uxo do quimo do duodeno para o estômago CORRELAÇÃO CLÍNICA | Vômitos Os vômitos ou êmese são a expulsão forçada do conteúdo da parte alta do canal alimentar (estômago e, às vezes, duodeno) pela boca. Os estímulos mais fortes para os vômitos são a irritação e a distensão do estômago; outros estímulos incluem imagens desagradáveis, anestesia geral, tontura e determinados fármacos, como a mor na e derivados de digitálicos. Os impulsos nervosos são transmitidos para o centro do vômito na medula espinal, e os impulsos que retornam se propagam para a parte alta do canal alimentar, o diafragma e os músculos do abdome. Os vômitos envolvem espremer o estômago entre o diafragma e os músculos abdominais e expelir o conteúdo através dos esfíncteres esofágicos abertos. O vômito prolongado, especialmente em crianças e idosos, pode ser grave, porque a perda do suco gástrico ácido pode levar a alcalose (pH do sangue maior do que o normal), desidratação e danos ao esôfago e dentes. TESTE RÁPIDO Compare o epitélio do esôfago com o do estômago. Como cada um deles é adaptado à funçãodo órgão? Qual é a importância das pregas gástricas, células mucosas da superfície, células mucosas do colo, células principais gástricas, células parietais e células secretoras de gastrina no estômago? Qual é o papel da pepsina? Por que ela é secretada em uma forma inativa? Quais são as funções da lipase gástrica e da lipase lingual no estômago? Pâncreas • OBJETIVO Descrever a localização, anatomia, histologia e função do pâncreas. Do estômago, o quimo passa para o intestino delgado. Como a digestão química no intestino delgado depende da atividade do pâncreas, do fígado e da vesícula biliar, consideraremos em primeiro lugar as atividades destes órgãos digestórios acessórios e suas contribuições para a digestão no intestino delgado. Anatomia do pâncreas O pâncreas, uma glândula retroperitoneal que mede aproximadamente 12 a 15 cm de comprimento e 2,5 cm de espessura, encontrase posteriormente à curvatura maior do estômago. O pâncreas consiste em uma cabeça, um corpo e uma cauda e geralmente está ligado ao duodeno por dois ductos (Figura 24.15A). A cabeça do pâncreas é a porção expandida do órgão, próxima da curva do duodeno; superiormente e à esquerda da cabeça estão o corpo do pâncreas central e a cauda do pâncreas afilada. Figura 24.15 Relação do pâncreas com o fígado, vesícula biliar e duodeno. O detalhe (B) mostra pormenores do ducto colédoco e do ducto pancreático, que formam a ampola hepatopancreática e se esvaziam no duodeno. As enzimas pancreáticas digerem amidos (polissacarídios), proteínas, triglicerídios e ácidos nucleicos. Que tipo de líquido é encontrado no ducto pancreático? E no ducto colédoco? E na ampola hepatopancreática? Os sucos pancreáticos são secretados pelas células exócrinas em pequenos ductos que por fim se unem para formar dois ductos maiores, o ducto pancreático e o ducto acessório. Estes, por sua vez, levam as secreções até o intestino delgado. O ducto pancreático ou ducto de Wirsung é o maior dos dois ductos. Na maior parte das pessoas, o ducto pancreático se une ao ducto colédoco que vem do fígado e vesícula biliar e entra no duodeno como um ducto comum dilatado chamado ampola hepatopancreática ou ampola de Vater. A ampola se abre em uma elevação da túnica mucosa duodenal conhecida como papila maior do duodeno, que se situa aproximadamente 10 cm inferior ao óstio pilórico do estômago. A passagem do suco pancreático e biliar por meio da ampola hepatopancreática para o duodeno do intestino delgado é regulada por massa de músculo liso que circunda a ampola conhecida como músculo esfíncter da ampola hepatopancreática ou esfíncter de Oddi. O outro grande ducto do pâncreas, o ducto pancreático acessório (ducto de Santorini), sai do pâncreas e esvaziase no duodeno aproximadamente 2,5 cm acima da ampola hepatopancreática. Histologia do pâncreas O pâncreas é composto por pequenos aglomerados de células epiteliais glandulares. Aproximadamente 99% dos aglomerados, chamado ácinos, constituem a porção exócrina do órgão (ver Figura 18.18B, C). As células no interior dos ácinos secretam uma mistura de líquidos e enzimas digestórias chamadas suco pancreático. O 1% restante dos aglomerados, as chamadas ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langerhans), formam a porção endócrina do pâncreas. Estas células secretam os hormônios glucagon, insulina, somatostatina e polipeptídio pancreático. As funções destes hormônios são discutidas no Capítulo 18. Composição e funções do suco pancreático O pâncreas produz diariamente de 1.200 a 1.500 m ℓ de suco pancreático, um líquido claro e incolor que consiste 24. 25. 26. 24.11 • principalmente em água, alguns sais, bicarbonato de sódio e várias enzimas. O bicarbonato de sódio dá ao suco pancreático um pH ligeiramente alcalino (7,1 a 8,2) que tampona o suco gástrico ácido no quimo, interrompe a ação da pepsina do estômago e cria o pH apropriado para a ação das enzimas digestórias no intestino delgado. As enzimas no suco pancreático incluem uma enzima para digerir amido chamada amilase pancreática; várias enzimas que digerem proteínas em peptídios chamadas tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase; a principal enzima que digere triglicerídios em adultos, chamada lipase pancreática; e as enzimas que digerem ácidos nucleicos chamadas ribonuclease e desoxirribonuclease, que digerem ácido ribonucleico (RNA) e ácido desoxirribonucleico (DNA) em nucleotídios. As enzimas pancreáticas que digerem proteínas são produzidas em uma forma inativa, tal como a pepsina é produzida no estômago como pepsinogênio. Como são inativas, as enzimas não digerem as células do próprio pâncreas. A tripsina é secretada em uma forma inativa chamada tripsinogênio. As células acinares pancreáticas também secretam uma proteína denominada inibidor da tripsina, que se combina a qualquer tripsina formada acidentalmente no pâncreas ou no suco pancreático e bloqueia a sua atividade enzimática. Quando o tripsinogênio alcança o lúmen do intestino delgado, encontra uma enzima de ativação da borda em escova chamada enteroquinase, que divide parte da molécula tripsinogênio para formar a tripsina. Por sua vez, a tripsina atua sobre os precursores inativos (chamados quimotripsinogênio, procarboxipeptidase e proelastase) para produzir a quimotripsina, a carboxipeptidase e a elastase, respectivamente. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Pancreatite e câncer de pâncreas A in amação do pâncreas, como pode ocorrer em associação ao uso abusivo de álcool ou por cálculos biliares crônicos, é chamada pancreatite. Em um estado mais grave conhecido como pancreatite aguda, a qual está associada a ingestão pesada de álcool ou obstrução das vias biliares, as células pancreáticas podem liberar tripsina em vez de tripsinogênio ou quantidades insu cientes de inibidor da tripsina, e a tripsina começa a digerir as células pancreáticas. Os pacientes com pancreatite aguda geralmente respondem ao tratamento, mas as crises recorrentes são a regra. Em algumas pessoas a pancreatite é idiopática, o que signi ca que sua causa é desconhecida. Outras causas de pancreatite incluem a brose cística, altos níveis de cálcio no sangue (hipercalcemia), altos níveis de ácidos graxos no sangue (hiperlipidemia ou hipertrigliceridemia), alguns fármacos e determinadas doenças autoimunes. No entanto, em aproximadamente 70% dos adultos com pancreatite, a causa é o alcoolismo. Muitas vezes, o primeiro episódio acontece entre os 30 e 40 anos de idade. O câncer de pâncreas geralmente afeta pessoas com mais de 50 anos e ocorre mais frequentemente no sexo masculino. Tipicamente, existem poucos sintomas até que a doença alcance um estágio avançado; frequentemente não há sintomas antes que haja metástases para outras partes do corpo, como os linfonodos, fígado ou pulmões. A doença é quase sempre fatal e é a quarta causa mais comum de morte por câncer nos EUA. O câncer de pâncreas tem sido associado a alimentos gordurosos, consumo elevado de álcool, fatores genéticos, tabagismo e pancreatite crônica. TESTE RÁPIDO Descreva o sistema de ductos que conectam o pâncreas ao duodeno. O que são ácinos pancreáticos? Como suas funções diferem das funções das ilhotas pancreáticas? Quais são as funções digestórias dos componentes do suco pancreático? Fígado e vesícula biliar OBJETIVO Descrever a localização, anatomia, histologia e funções do fígado e da vesícula biliar. O fígado é a glândula mais pesada do corpo, pesando aproximadamente 1,4 kg em um adulto médio. De todos os órgãos do corpo, é o segundo em tamanho, perdendo apenas para a pele. O fígado encontrase inferiormente ao diafragma e ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e parte das regiões epigástricas da cavidade abdominopélvica (ver Figura 1.12B). A vesículabiliar é um saco em forma de pera que está localizado em uma depressão da face posterior do fígado. Mede de 7 a 10 cm de comprimento e normalmente pende da margem inferior anterior do fígado (Figura 24.15A). Anatomia do fígado e da vesícula biliar O fígado é quase totalmente recoberto pelo peritônio visceral e é completamente coberto por uma camada de tecido conjuntivo denso irregular que se encontra profundamente ao peritônio. O fígado é dividido em dois lobos principais – um 1. 2. 3. lobo hepático direito grande e um lobo hepático esquerdo menor – pelo ligamento falciforme, uma prega do mesentério (Figura 24.15A). Embora muitos anatomistas considerem que o lobo direito inclui o lobo quadrado inferior e o lobo caudado posterior, de acordo com a morfologia interna (principalmente a distribuição dos vasos sanguíneos), os lobos quadrado e caudado mais apropriadamente pertencem ao lobo hepático esquerdo. O ligamento falciforme se estende da face inferior do diafragma entre os dois lobos principais do fígado até o seu aspecto superior, ajudando a suspender o fígado na cavidade abdominal. Na margem livre do ligamento falciforme está o ligamento redondo, um remanescente da veia umbilical do feto (ver Figura 21.30A, B); este cordão fibroso se estende do fígado ao umbigo. Os ligamentos coronários direito e esquerdo são extensões estreitas do peritônio parietal que suspendem o fígado do diafragma. As partes da vesícula biliar incluem o amplo fundo da vesícula biliar, que se projeta inferiormente além da margem inferior do fígado; o corpo da vesícula biliar, a parte central; e o colo da vesícula biliar, a parte afunilada. O corpo e o colo se projetam superiormente. Histologia do fígado e da vesícula biliar Histologicamente, o fígado é composto por vários componentes (Figura 24.16AC): Hepatócitos. Os hepatócitos são as principais células funcionais do fígado e realizam uma grande variedade de funções metabólicas, secretoras e endócrinas. São células epiteliais especializadas com 5 a 12 lados que compõem aproximadamente 80% do volume do fígado. Os hepatócitos formam arranjos tridimensionais complexos chamados lâminas hepáticas. As lâminas hepáticas são placas de hepatócitos de uma célula de espessura limitada em ambos os lados por espaços vasculares revestidos por células endoteliais chamados sinusoides hepáticos. As lâminas hepáticas são estruturas irregulares altamente ramificadas. Os sulcos nas membranas celulares entre hepatócitos vizinhos fornecem espaços para os canalículos (descritos a seguir) para os quais os hepatócitos secretam bile. A bile, um líquido amarelo, marrom ou verdeoliva secretado pelos hepatócitos, atua tanto como um produto de excreção quanto como uma secreção digestória. Canalículos de bile. Os canalículos de bile são pequenos ductos entre os hepatócitos que coletam a bile produzida pelos hepatócitos. Dos canalículos de bile, a bile passa para os dúctulos biliares e, em seguida, para os ductos biliares. Os ductos biliares se unem e, por fim, formam os ductos hepáticos esquerdo e direito, que são maiores e se unem e saem do fígado como o ducto hepático comum (ver Figura 24.15). O ducto hepático comum juntase ao ducto cístico da vesícula biliar para formar o ducto colédoco. Por ele, a bile entra no duodeno do intestino delgado para participar da digestão. Sinusoides hepáticos. Os sinusoides hepáticos são capilares sanguíneos altamente permeáveis entre fileiras de hepatócitos que recebem sangue oxigenado de ramos da artéria hepática e sangue venoso rico em nutrientes de ramos da veia porta do fígado. Recordese de que a veia porta do fígado traz o sangue venoso dos órgãos gastrintestinais e baço para o fígado. Os sinusoides hepáticos convergem e entregam o sangue a uma veia central. A partir das veias centrais, o sangue flui para as veias hepáticas, que drenam para a veia cava inferior (ver Figura 21.28). Em contraste com o sangue, que flui em direção à veia central, a bile flui na direção oposta. Nos sinusoides hepáticos também estão presentes fagócitos fixos chamados células estreladas do fígado, que destroem eritrócitos e leucócitos envelhecidos, bactérias e outros materiais estranhos do sangue venoso que drena do canal alimentar. Juntos, o ducto biliar, um ramo da artéria hepática e um ramo da veia hepática são chamados tríade portal. Figura 24.16 Histologia do fígado. Histologicamente, o fígado é composto por hepatócitos, canalículos de bile e sinusoides hepáticos. 1. 2. 3. Que o tipo de célula no fígado é fagocítica? Os hepatócitos, o sistema de ductos biliares e os sinusoides hepáticos podem ser organizados em unidades anatômicas e funcionais de três maneiras diferentes: Lóbulo hepático. Durante anos, os anatomistas descreveram o lóbulo hepático como sendo a unidade funcional do fígado. De acordo com este modelo, cada lóbulo hepático tem o formato de um hexágono (estrutura de seis lados) (Figura 24.16D, à esquerda). No seu centro está a veia central, e irradiando para fora dele estão fileiras de hepatócitos e sinusoides hepáticos. Localizada nos três cantos do hexágono está uma tríade portal. Este modelo baseiase em uma descrição do fígado de porcos adultos. No fígado humano é difícil encontrar estes lóbulos hepáticos bem definidos circundados por camadas espessas de tecido conjuntivo. Lóbulo portal. Este modelo enfatiza a função exócrina do fígado, isto é, a secreção biliar. Por conseguinte, o ducto biliar de uma tríade portal é considerado o centro do lóbulo portal. O lóbulo portal tem uma forma triangular e é definido por três linhas retas imaginárias que ligam três veias centrais que estão mais próximas à tríade portal (Figura 24.16D, à direita). Este modelo não ganhou ampla aceitação. Ácino hepático. Nos últimos anos, a unidade estrutural e funcional preferida do fígado é o ácino hepático. Cada ácino hepático é uma massa ligeiramente oval que inclui partes de dois lóbulos hepáticos vizinhos. O eixo curto do ácino hepático é definido por ramos da tríade portal – ramos da artéria hepática, veia e ductos biliares – que correm ao longo da margem dos lóbulos hepáticos. O eixo longo do ácino é definido por duas linhas curvas imaginárias, que ligam duas veias centrais mais próximas ao eixo curto (Figura 24.16D, parte inferior). Os hepatócitos do ácino hepático estão dispostos em três zonas ao redor do eixo curto, sem fronteiras nítidas entre eles (Figura 24.16E). As células na zona 1 são as mais próximas aos ramos da tríade portal e as primeiras a receber oxigênio, nutrientes e toxinas que chegam pelo sangue que entra. Estas células são as primeiras a captar a glicose e armazenála como glicogênio após uma refeição e clivam o glicogênio em glicose durante o jejum. Também são as primeiras a mostrar alterações morfológicas após a obstrução do canal biliar ou exposição a substâncias tóxicas. As células da zona 1 são as últimas a morrer se a circulação for prejudicada e as primeiras a se regenerar. As células da zona 3 são as mais distantes dos ramos da tríade portal e são as últimas a mostrar os efeitos da obstrução biliar ou exposição a toxinas, as primeiras a mostrar os efeitos da circulação prejudicada, e as últimas a se regenerar. As células da zona 3 são também as primeiras a mostrar evidências de acúmulo de gordura. As células da zona 2 têm características estruturais e funcionais intermediárias entre as células das zonas 1 e 3. O ácino hepático é a menor unidade estrutural e funcional do fígado. Sua popularidade e apelo se baseiam no fato de proporcionar uma descrição e interpretação de (1) padrões lógicos de armazenamento e liberação de glicogênio e (2) efeitos tóxicos, degeneração e regeneração em relação à proximidadedas zonas acinares com os ramos da tríade portal. A túnica mucosa da vesícula biliar é composta por epitélio colunar simples disposto em pregas semelhantes às do estômago. A parede da vesícula biliar carece de uma tela submucosa. A túnica muscular média da parede é constituída por fibras de músculo liso. A contração das fibras musculares lisas ejeta o conteúdo da vesícula biliar para dentro do ducto cístico. O revestimento exterior da vesícula biliar é o peritônio visceral. As funções da vesícula biliar são armazenar e concentrar a bile produzida pelo fígado (até dez vezes) até que ela seja necessária no intestino delgado. No processo de concentração, a túnica mucosa da vesícula biliar absorve água e íons. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Icterícia A icterícia é uma coloração amarelada da esclera (parte branca dos olhos), pele e túnicas mucosas em decorrência do acúmulo de um composto amarelo chamado bilirrubina. Depois que a bilirrubina é formada a partir da decomposição do pigmento heme de eritrócitos envelhecidos, é transportada para o fígado, onde é processada e eventualmente excretada na bile. As três principais categorias de icterícia são a (1) icterícia pré-hepática, decorrente do excesso de produção de bilirrubina; (2) icterícia hepática, decorrente da doença congênita do fígado, cirrose hepática ou hepatite; e (3) icterícia extra-hepática, decorrente do bloqueio da drenagem de bile por cálculos biliares ou câncer intestinal ou pancreático. Como o fígado de um recém-nascido funciona mal na primeira semana ou próximo disso, muitos bebês têm uma forma leve de icterícia chamada icterícia neonatal ( siológica), que desaparece conforme o fígado amadurece. Normalmente, é tratada expondo a criança à luz azul, que converte a bilirrubina em substâncias que os rins são capazes de excretar. Suprimento sanguíneo para o fígado O fígado recebe sangue proveniente de duas fontes (Figura 24.17). Pela artéria hepática obtém sangue oxigenado, e pela veia porta do fígado recebe sangue venoso contendo nutrientes recémabsorvidos, fármacos e, possivelmente, microrganismos e toxinas do canal alimentar (ver Figura 21.28). Ramos tanto da artéria hepática quanto da veia porta do fígado levam o sangue para os vasos sinusoides hepáticos, onde o oxigênio, a maior parte dos nutrientes e determinadas substâncias tóxicas são absorvidas pelos hepatócitos. Os produtos dos hepatócitos e os nutrientes necessários por outras células são secretados de volta para o sangue, que então drena para a veia central e, por fim, para uma veia hepática. Como o sangue do canal alimentar passa pelo fígado como parte da circulação porta hepática, o fígado é frequentemente o local para metástases de câncer que se originam no canal alimentar. Funções do fígado e da vesícula biliar Os hepatócitos secretam diariamente de 800 a 1.000 mℓ de bile, um líquido amarelo, marrom ou verdeoliva. Ele tem um pH entre 7,6 e 8,6 e é constituído principalmente por água, sais biliares, colesterol, um fosfolipídio chamado lecitina, pigmentos biliares e vários íons. Figura 24.17 Fluxo sanguíneo hepático: fontes, percurso através do fígado e retorno ao coração. O fígado recebe sangue oxigenado da artéria hepática e sangue venoso rico em nutrientes da veia porta do fígado. Durante as primeiras horas após uma refeição, como a composição química do sangue muda à medida que ele flui ao longo dos sinusoides hepáticos? CORRELAÇÃO CLÍNICA | Provas de função hepática As provas de função hepática (PFH) são exames de sangue para medir a presença de determinadas substâncias químicas liberadas pelos hepatócitos. Estas incluem a globulinase albumina, a alanina aminotransferase (ALT), a aspartato aminotransferase (AST), a fosfatase alcalina (ALP), a gamaglutamil-transpeptidase (GGT) e a bilirrubina. As PFH são utilizadas para avaliar e monitorar doenças ou danos hepáticos. As causas mais comuns de elevação nas enzimas hepáticas incluem anti-in amatórios não esteroides, hipolipemiantes, alguns antibióticos, álcool etílico, diabetes, infecções (hepatite viral e mononucleose), cálculos biliares, tumores do fígado e uso excessivo de toterápicos, como cava-cava, confrei, poejo, raiz do dente-de-leão, solidéu (escutelária) e éfreda. O principal pigmento biliar é a bilirrubina. A fagocitose dos eritrócitos envelhecidos libera ferro, globina e bilirrubina (derivada do heme) (ver Figura 19.5). O ferro e a globina são reciclados; a bilirrubina é secretada na bile e, por fim, é decomposta no intestino. Um de seus produtos de degradação – a estercobilina– dá às fezes a sua coloração marrom normal. A bile é parcialmente um produto de excreção e parcialmente uma secreção digestória. Os sais biliares, que são sais de sódio e sais de potássio dos ácidos biliares (principalmente ácidos quenodesoxicólico e cólico), desempenham um papel na emulsificação, a fragmentação de grandes glóbulos lipídicos em uma suspensão de pequenos glóbulos lipídicos. Os pequenos glóbulos lipídicos apresentam uma área de superfície muito grande que possibilita que a lipase pancreática realize mais rapidamente a digestão dos triglicerídios. Os sais biliares também ajudam na absorção de lipídios após a sua digestão. Embora os hepatócitos liberem bile continuamente, aumentam sua produção e secreção quando o sangue do sistema porta contém mais ácidos biliares; assim, conforme a digestão e a absorção prosseguem no intestino delgado, a liberação de bile aumenta. Entre as refeições, depois que a maior parte da absorção ocorreu, a bile flui para dentro da vesícula biliar para armazenamento, porque o músculo do esfíncter da ampola hepatopancreática (ver Figura 24.15) fecha a entrada para o duodeno. O esfíncter circunda a ampola hepatopancreática. • • • • • • • • • 27. 28. 29. 30. 31. 24.12 CORRELAÇÃO CLÍNICA | Cálculos biliares Se a bile contém sais biliares ou lecitina insu cientes ou excesso de colesterol, o colesterol pode se cristalizar formando cálculos biliares. À medida que crescem em tamanho e quantidade, os cálculos biliares podem causar obstrução mínima, intermitente ou completa ao uxo de bile da vesícula biliar para o duodeno. O tratamento consiste no uso de medicamentos que dissolvem o cálculo biliar, litotripsia (terapia por ondas de choque) ou cirurgia. Para as pessoas com uma história de cálculos biliares ou para as quais os fármacos ou a litotripsia não são opções, a colecistectomia – a remoção da vesícula biliar e do seu conteúdo – é necessária. Mais de meio milhão de colecistectomias são realizadas a cada ano nos EUA. Para evitar os efeitos colaterais resultantes da perda da vesícula biliar, os pacientes devem fazer alterações no estilo de vida e alimentação, incluindo: (1) limitar a ingestão de gordura saturada; (2) evitar o consumo de bebidas alcoólicas; (3) ingerir pequenas quantidades de comida durante uma refeição e fazer de 5 a 6 pequenas refeições por dia, em vez de 2 a 3 refeições maiores; e (4) tomar suplementos vitamínicos e minerais. Além de secretar bile, que é necessária para a absorção das gorduras dietéticas, o fígado desempenha outras funções vitais: Metabolismo de carboidratos. O fígado é especialmente importante na manutenção de um nível normal de glicose no sangue. Quando a glicose no sangue está baixa, o fígado cliva o glicogênio em glicose e libera glicose para a corrente sanguínea. O fígado também pode converter determinados aminoácidos e o ácido láctico em glicose, e pode converter outros açúcares, como a frutose e a galactose, em glicose. Quando a glicemia está elevada, como ocorre logo depois de uma refeição, o fígado converte a glicose em glicogênio e triglicerídios para armazenamento Metabolismo de lipídios. Os hepatócitos armazenam alguns triglicerídios; clivam ácidos graxos para gerar ATP; sintetizam lipoproteínas, que transportam ácidos graxos, triglicerídios e colesterol de e paraas células do corpo; sintetizam colesterol; e utilizam o colesterol para produzir sais biliares Metabolismo de proteínas. Os hepatócitos desaminam (removem o grupo amino, NH2) dos aminoácidos, de modo que eles possam ser utilizados para a produção de ATP ou ser convertidos em carboidratos ou gorduras. A amônia (NH3) resultante é então convertida em ureia, que é muito menos tóxica e é excretada na urina. Os hepatócitos também sintetizam a maior parte das proteínas plasmáticas, como a alfaglobulina e betaglobulina, a albumina, a protrombina e o fibrinogênio Processamento de fármacos e hormônios. O fígado desintoxica substâncias, como o álcool etílico, e excreta medicamentos como a penicilina, a eritromicina e as sulfonamidas na bile. Também pode alterar quimicamente ou excretar hormônios tireóideos e esteroides, como estrogênio e aldosterona Excreção de bilirrubina. Conforme observado anteriormente, a bilirrubina, derivada do grupo heme de eritrócitos envelhecidos, é absorvida pelo fígado a partir do sangue e secretada na bile. A maior parte da bilirrubina da bile é metabolizada no intestino delgado por bactérias e eliminada nas fezes Síntese de sais biliares. Os sais biliares são utilizados no intestino delgado durante a emulsificação e absorção de lipídios Armazenamento. Além do glicogênio, o fígado é o principal local de armazenamento de determinadas vitaminas (A, B12, D, E e K) e minerais (ferro e cobre), que são liberadas do fígado quando necessárias em outras partes do corpo Fagocitose. As células estreladas do fígado fagocitam eritrócitos envelhecidos, leucócitos e algumas bactérias Ativação da vitamina D. A pele, o fígado e os rins participam na síntese da forma ativa da vitamina D. As funções do fígado relacionadas com o metabolismo são discutidas em mais detalhes no Capítulo 25. TESTE RÁPIDO Esboce e nomeie um diagrama das zonas de células de um ácino hepático. Descreva as vias de fluxo sanguíneo para dentro, através e para fora do fígado. Como o fígado e a vesícula biliar se conectam ao duodeno? Uma vez que a bile foi formada pelo fígado, como é coletada e transportada para a vesícula biliar para ser armazenada? Descreva as principais funções do fígado e da vesícula biliar. Intestino delgado OBJETIVOS • • 1. 2. 3. Descrever a localização e a estrutura do intestino delgado Identificar as funções do intestino delgado. A maior parte da digestão e absorção de nutrientes ocorre em um tubo longo chamado intestino delgado. Por causa disto, sua estrutura é especialmente adaptada a estas funções. O seu comprimento isoladamente já fornece uma grande área de superfície para a digestão e a absorção, e a área é aumentada ainda por pregas circulares, vilosidades e microvilosidades. O intestino delgado começa no músculo esfíncter do piloro do estômago, serpenteia a parte central e inferior da cavidade abdominal e, por fim, se abre no intestino grosso. A média é de 2,5 cm de diâmetro; seu comprimento é de aproximadamente 3 m na pessoa viva e de cerca de 6,5 m no cadáver, em razão da perda do tônus do músculo liso após a morte. Anatomia do intestino delgado O intestino delgado é dividido em três regiões (Figura 24.18). A primeira é o duodeno, a região mais curta, que é retroperitoneal. Iniciase no músculo esfíncter do piloro do estômago e tem a forma de um tubo em C. Estendese por aproximadamente 25 cm até que se funde com o jejuno. Duodeno significa “12”; é assim chamado porque é quase tão longo quanto a largura de 12 dedos. O jejuno é a próxima parte e tem aproximadamente 1 m de comprimento e se estende até o íleo. Jejuno significa “vazio”, que é como ele é encontrado no momento da morte. A última e mais longa região do intestino delgado, o íleo, mede aproximadamente 2 m e juntase ao intestino grosso em um esfíncter de músculo liso chamado óstio ileal. FUNÇÕES DO INTESTINO DELGADO As segmentações misturam o quimo com os sucos digestórios e colocam a comida em contato com a túnica mucosa para a absorção; o peristaltismo impulsiona o quimo ao longo do intestino delgado. Completa a digestão de carboidratos, proteínas e lipídios; inicia e completa a digestão de ácidos nucleicos. Absorve aproximadamente 90% da água e dos nutrientes que passam pelo sistema digestório. Figura 24.18 Anatomia do intestino delgado. (A) As regiões do intestino delgado são o duodeno, o jejuno e o íleo. (B) Pregas circulares aumentam a área de superfície para a digestão e absorção no intestino delgado. A maior parte da digestão e absorção ocorre no intestino delgado. Qual é a parte mais longa do intestino delgado? Histologia do intestino delgado A parede do intestino delgado é composta pelas mesmas quatro camadas que formam a maior parte do canal alimentar: túnica mucosa, tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa (Figura 24.19B). A túnica mucosa é composta de uma camada epitelial, lâmina própria e lâmina muscular da mucosa. A camada epitelial da túnica mucosa do intestino delgado é composta por epitélio colunar simples que contém muitos tipos de células (Figura 24.19C). As células absortivas do epitélio liberam enzimas que digerem o alimento e contêm microvilosidades que absorvem os nutrientes no quimo do intestino delgado. As células caliciformes também são encontradas no epitélio, secretando muco. A túnica mucosa do intestino delgado contém muitas fendas profundas revestidas com epitélio glandular. As células que revestem as fendas formam as glândulas intestinais ou criptas de Lieberkühn, e secretam suco intestinal ( ver adiante). Além das células absortivas e células caliciformes, as glândulas intestinais também contêm células de Paneth e células enteroendócrinas. As células de Paneth secretam lisozima, uma enzima bactericida, e são capazes de realizar fagocitose. Estas células podem atuar na regulação da população microbiana do intestino delgado. São encontrados três tipos de células enteroendócrinas nas glândulas do intestino delgado: células S, células CCK e células K, que secretam os hormônios secretina, colecistocinina (CCK) e polipeptídio inibidor gástrico (PIG), respectivamente. Figura 24.19 Histologia do intestino delgado. Pregas circulares, vilosidades e microvilosidades aumentam a área da superfície do intestino delgado para a digestão e absorção. Qual é a importância funcional da rede de capilares sanguíneos e vaso lactífero no centro de cada vilosidade? A lâmina própria da túnica mucosa do intestino delgado contém tecido conjuntivo areolar e tecido linfoide associado à mucosa (MALT) abundante. Os nódulos linfáticos solitários são mais numerosos na parte distal do íleo (ver Figura 24.20C). Grupos de nódulos linfáticos chamados nódulos linfáticos agregados também são encontrados no íleo. A lâmina muscular da mucosa do intestino delgado é constituída por músculo liso. A tela submucosa do duodeno contém glândulas duodenais (Figura 24.20A) que secretam um muco alcalino que ajuda a neutralizar o ácido gástrico no quimo. Às vezes, o tecido linfático da lâmina própria se estende através da lâmina muscular da mucosa até a tela submucosa. A túnica muscular do intestino delgado é constituída por duas camadas de músculo liso. A camada externa, mais fina, contém fibras longitudinais; a camada interna, mais espessa, contém fibras circulares. Com exceção de uma porção principal do duodeno, que é retroperitoneal, a túnica serosa (ou peritônio visceral) envolve completamente o intestino delgado. Embora a parede do intestino delgado seja composta pelas mesmas quatro camadas básicas que o restante do canal alimentar, as característicasestruturais especiais do intestino delgado facilitam o processo de digestão e absorção. Estas características estruturais incluem as pregas circulares, as vilosidades e as microvilosidades. As pregas circulares são pregas da túnica mucosa e tela submucosa (ver Figuras 24.18B e 24.19A). Estas saliências permanentes, que têm aproximadamente 10 mm de comprimento, começam perto da extremidade proximal do duodeno e terminam próximo da porção média do íleo. Algumas se estendem por toda a circunferência do intestino enquanto outras se estendem por apenas parte da circunferência. As pregas circulares aumentam a absorção pelo aumento da área de superfície e fazem com que o quimo se mova em espiral, em vez de em linha reta, conforme passa pelo intestino delgado. No intestino delgado também há vilosidades, que são projeções digitiformes da túnica mucosa que medem de 0,5 a 1 mm de comprimento (ver Figura 24.19B, C). Numerosas vilosidades (20 a 40 por mm2) aumentam muito a área de superfície do epitélio disponível para a absorção e digestão e dão à túnica mucosa intestinal um aspecto aveludado. Cada vilosidade é recoberta por epitélio e tem um centro de lâmina própria; incorporados ao tecido conjuntivo da lâmina própria estão uma arteríola, uma vênula, uma rede capilar e um vaso lactífero, que é um capilar linfático (ver Figura 24.19C). Os nutrientes absorvidos pelas células epiteliais que recobrem a vilosidade atravessam a parede de um capilar ou vaso lactífero para entrar no sangue ou na linfa, respectivamente. Figura 24.20 Histologia do duodeno e íleo. As microvilosidades do intestino delgado contêm várias enzimas da borda em escova que ajudam a digerir os nutrientes. Qual é a função do líquido secretado pelas glândulas duodenais? Além das pregas circulares e vilosidades, o intestino delgado também tem microvilosidades, que são projeções da membrana apical (livre) das células absortivas. Cada microvilosidade é uma projeção cilíndrica de 1 μm de comprimento recoberta por membrana, que contém um feixe de 20 a 30 filamentos de actina. À microscopia óptica, as microvilosidades são muito pequenas para serem visualizadas individualmente; em vez disso, formam uma linha felpuda chamada borda em escova. Esta se estende para o lúmen do intestino delgado (Figura 24.20D). Estimase que haja 200 milhões de microvilosidades/mm2 de intestino delgado. Como as microvilosidades aumentam substancialmente a área da superfície da membrana plasmática, grandes quantidades de nutrientes digeridos conseguem se difundir para as células absortivas em um dado período. A borda em escova também contém várias enzimas da borda em escova, que têm funções digestórias (discutidas adiante). Papel do suco intestinal e das enzimas da borda em escova Aproximadamente 1 a 2 ℓ de suco intestinal, um líquido amareloclaro, são secretados diariamente. O suco intestinal contém água e muco e é ligeiramente alcalino (pH 7,6). O pH alcalino do suco intestinal é decorrente da sua elevada concentração de íons bicarbonato (HCO3–). Juntos, os sucos pancreático e intestinal fornecem um meio líquido que auxilia na absorção de substâncias a partir do quimo do intestino delgado. As células absortivas do intestino delgado sintetizam diversas enzimas digestórias, chamadas enzimas da borda em escova, e inseremnas na membrana plasmática das microvilosidades. Assim, parte da digestão enzimática ocorre na superfície das células absortivas que revestem as vilosidades, em vez de exclusivamente no lúmen, como ocorre em outras partes do canal alimentar. Entre as enzimas da borda em escova estão quatro enzimas que digerem carboidratos chamadas αdextrinase, maltase, sacarase e lactase; enzimas que digerem proteínas chamadas peptidases (aminopeptidase e dipeptidase); e dois tipos de enzimas que digerem nucleotídios, as nucleosidases e fosfatases. Além disso, conforme as células absortivas se desprendem no lúmen do intestino delgado, dividemse e liberam enzimas que ajudam a digerir nutrientes no quimo. Digestão mecânica no intestino delgado Os dois tipos de movimentos do intestino delgado – segmentações e um tipo de peristaltismo chamado complexo mioelétrico migratório – são controlados principalmente pelo plexo mioentérico. As segmentações são contrações localizadas de mistura que ocorrem em partes do intestino distendido por um quimo volumoso. As segmentações misturam o quimo aos sucos digestórios e colocam as partículas de alimentos em contato com a túnica mucosa para serem absorvidos; elas não empurram o conteúdo intestinal ao longo do canal alimentar. Uma segmentação iniciase com a contração das fibras musculares circulares de uma parte do intestino delgado, uma ação que comprime o intestino em segmentos. A seguir, as fibras musculares que circundam o meio de cada segmento também se contraem, dividindo novamente cada segmento. Por fim, as fibras que se contraíram inicialmente relaxam, e cada pequeno segmento se une com o pequeno segmento adjacente, de modo a formar grandes segmentos novamente. Conforme essa sequência de eventos se repete, o quimo patina para frente e para trás. As segmentações ocorrem mais rapidamente no duodeno, aproximadamente 12 vezes por minuto, e de modo progressivamente mais lento até cerca de oito vezes por minuto no íleo. Este movimento é semelhante a comprimir alternadamente o meio e, em seguida, as extremidades de um tubo de pasta de dentes tampado. Depois de a maior parte de uma refeição ter sido absorvida, o que diminui a distensão da parede do intestino delgado, a segmentação para e o peristaltismo começa. O tipo de peristaltismo que ocorre no intestino delgado, denominado complexo mioelétrico migratório (CMM), iniciase na parte inferior do estômago e empurra o quimo para a frente ao longo de um trecho curto do intestino delgado antes de cessar. O CMM desce lentamente pelo intestino delgado, alcançando o final do íleo em 90 a 120 min. Em seguida, outro CMM começa no estômago. Ao todo, o quimo permanece no intestino delgado por 3 a 5 h. Digestão química no intestino delgado Na boca, a amilase salivar converte o amido (um polissacarídio) em maltose (um dissacarídio), maltotriose (um trissacarídio) e αdextrina (fragmento de amido de cadeia curta ramificada com 5 a 10 unidades de glicose). No estômago, a pepsina converte as proteínas em peptídios (pequenos fragmentos de proteínas), e as lipases lingual e gástrica convertem alguns triglicerídios em ácidos graxos, diglicerídios e monoglicerídios. Assim, o quimo que entra no intestino delgado contém carboidratos, proteínas e lipídios parcialmente digeridos. A conclusão da digestão dos carboidratos, proteínas e lipídios é um esforço coletivo do suco pancreático, bile e suco intestinal no intestino delgado. Digestão de carboidratos Mesmo que a ação da amilase salivar possa continuar no estômago por um tempo, o pH ácido do estômago destrói a amilase salivar e encerra a sua atividade. Assim, apenas alguns amidos são fragmentados quando o quimo deixa o estômago. Esses amidos que ainda não foram clivados em maltose, maltotriose e αdextrina são clivados pela amilase pancreática, uma enzima do suco pancreático que atua no intestino delgado. Embora a amilase pancreática atue sobre o glicogênio e os amidos, não influencia outro polissacarídio chamado celulose, uma fibra vegetal não digerível que é comumente chamada “fibra” enquanto passa pelo sistema digestório. Depois que a amilase (salivar ou pancreática) clivou o amido em fragmentos menores, uma enzima da borda em escova chamada αdextrinaseage nas αdextrinas resultantes, desencaixando uma unidade de glicose de cada vez. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Intolerância à lactose Em algumas pessoas, as células absortivas do intestino delgado não produzem lactase su ciente, o que, como você acabou de ver, é essencial para a digestão da lactose. Isso resulta em uma condição chamada intolerância à lactose, em que a lactose não digerida no quimo faz com que seja retido líquido nas fezes; a fermentação bacteriana da lactose não digerida resulta na produção de gases. Os sinais e sintomas da intolerância à lactose incluem diarreia, atulência, distensão e cólicas abdominais após o consumo de leite e laticínios. Os sinais/sintomas podem ser relativamente leves ou intensos o su ciente para exigir atenção médica. O teste do hidrogênio expirado muitas vezes é usado para ajudar no diagnóstico de intolerância à lactose. Pouquíssimo hidrogênio é detectado na respiração de uma pessoa normal, mas o hidrogênio está entre os gases produzidos quando a lactose não digerida no colo é fermentada por bactérias. O hidrogênio é absorvido do intestino e transportado pela corrente sanguínea para os pulmões, onde é expirado. As pessoas com intolerância à lactose devem optar por uma dieta que restrinja a lactose (mas não o cálcio) e ingerir suplementos alimentares para ajudar na digestão da lactose. As moléculas de sacarose, lactose e maltose ingeridas – três dissacarídios – permanecem intactas até chegarem ao intestino delgado. Três enzimas da borda em escova digerem os dissacarídios em monossacarídios. A sacarase cliva a sacarose em 1 molécula de glicose e 1 molécula de frutose; a lactase digere a lactose em 1 molécula de glicose e 1 molécula de galactose; e a maltase divide a maltose e a maltotriose em 2 e 3 moléculas de glucose, respectivamente. A digestão de carboidratos termina com a produção de monossacarídios, que o sistema digestório é capaz de absorver. Digestão das proteínas Lembrese de que a digestão das proteínas começa no estômago, onde elas são fragmentadas em peptídios pela ação da pepsina. Enzimas no suco pancreático – tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase – continuam clivando as proteínas em peptídios. Embora todas estas enzimas convertam proteínas inteiras em peptídios, suas ações diferem um pouco, porque cada uma cliva ligações peptídicas entre aminoácidos diferentes. A tripsina, a quimotripsina e a elastase clivam a ligação peptídica entre um aminoácido específico e o seu vizinho; a carboxipeptidase cliva o aminoácido na extremidade carboxila de um peptídio. A digestão de proteínas é completada por duas peptidases da borda em escova: a aminopeptidase e a dipeptidase. A aminopeptidase cliva aminoácidos na extremidade amina de um peptídio. A dipeptidase divide dipeptídios (dois aminoácidos unidos por uma ligação peptídica) em aminoácidos individuais. Digestão de lipídios Os lipídios mais abundantes na dieta são os triglicerídios, os quais consistem em uma molécula de glicerol ligada a três moléculas de ácidos graxos (ver Figura 2.17). As enzimas que dividem os triglicerídios e os fosfolipídios são chamadas lipases. Recordese de que existem três tipos de lipase que podem participar da digestão de lipídios: a lipase lingual, a lipase gástrica e a lipase pancreática. Embora parte da digestão de lipídios ocorra no estômago pela ação das lipases gástrica e lingual, a maior parte da digestão ocorre no intestino delgado pela ação da lipase pancreática. Os triglicerídios são fragmentados pela lipase pancreática em ácidos graxos e monoglicerídios. Os ácidos graxos liberados podem ser ácidos graxos de cadeia curta (com menos de 10 a 12 átomos de carbono) ou ácidos graxos de cadeia longa. Antes que um grande glóbulo de lipídio contendo triglicerídios possa ser digerido no intestino delgado, ele primeiro deve passar por uma emulsificação – um processo no qual o grande glóbulo lipídico é dividido em várias gotículas pequenas de gordura. Lembrese de que a bile contém sais biliares, os sais de sódio e de potássio dos ácidos biliares (principalmente ácido quenodesoxicólico e ácido cólico). Os sais biliares são anfipáticos, o que significa que cada sal biliar tem uma região hidrofóbica (não polar) e uma região hidrofílica (polar). A natureza anfipática dos sais biliares lhes possibilita emulsificar um grande glóbulo lipídico: as regiões hidrofóbicas dos sais biliares interagem com o grande glóbulo lipídico, enquanto as regiões hidrofílicas dos sais biliares interagem com o quimo intestinal aquoso. Por conseguinte, o grande glóbulo lipídico é separado em vários glóbulos lipídicos pequenos, cada um com aproximadamente 1 μm de diâmetro. As pequenas gotículas de gordura formadas a partir da emulsificação fornecem uma grande área de superfície que possibilita a ação mais eficaz da lipase pancreática. Digestão dos ácidos nucleicos O suco pancreático contém duas nucleases: a ribonuclease, que digere o RNA, e a desoxirribonuclease, que digere o DNA. Os nucleotídios que resultam da ação das duas nucleases são adicionalmente digeridos por enzimas da borda em escova chamadas nucleosidases e fosfatase em pentoses, fosfatos e bases nitrogenadas. Estes produtos são absorvidos via transporte ativo. Absorção no intestino delgado Todas as fases químicas e mecânicas da digestão, da boca ao intestino delgado, são controladas de modo a alterar os alimentos em formas que possam passar através das células epiteliais absortivas que revestem a túnica mucosa e entrar nos vasos sanguíneos e linfáticos subjacentes. Estas formas são os monossacarídios (glicose, frutose e galactose) a partir dos carboidratos; aminoácidos individuais, dipeptídios e tripeptídios a partir das proteínas; e ácidos graxos, glicerol e monoglicerídios a partir dos triglicerídios. A passagem destes nutrientes digeridos do canal alimentar para o sangue ou linfa é chamado absorção. A absorção de materiais ocorre por meio da difusão, difusão facilitada, osmose e transporte ativo. Aproximadamente 90% de toda a absorção de nutrientes ocorre no intestino delgado; os outros 10% ocorrem no estômago e no intestino grosso. Qualquer material não digerido ou não absorvido que sobra no intestino delgado passa para o intestino grosso. Absorção de monossacarídios Todos os carboidratos são absorvidos como monossacarídios. A capacidade do intestino delgado de absorver monossacarídios é imensa – estimase que seja de aproximadamente 120 g por hora. Como resultado, todos os carboidratos dietéticos que são digeridos normalmente são absorvidos, deixando apenas a celulose não digerível e as fibras nas fezes. Os monossacarídios passam do lúmen através da membrana apical por difusão facilitada ou transporte ativo. A frutose, um monossacarídio encontrado nas frutas, é transportada por difusão facilitada; a glicose e a galactose são transportadas para as células de absorção das vilosidades por transporte ativo secundário, que é acoplado ao transporte ativo de Na+ (Figura 24.21A). O transportador tem sítios de ligação a uma molécula de glicose e dois íons sódio; a menos que os três locais estejam preenchidos, substância alguma é transportada. A galactose compete com a glicose pelo uso do mesmo transportador. (Como tanto o Na+ quanto a glicose ou galactose se movem no mesmo sentido, este é um simportador.) Os monossacarídios então saem das células de absorção através de suas superfícies basolaterais via difusão facilitada e entram nos capilares das vilosidades (Figura 24.21B). Absorção de aminoácidos, dipeptídios e tripeptídios A maior parte das proteínasé absorvida como aminoácidos por meio de um processo de transporte ativo que ocorre principalmente no duodeno e no jejuno. Aproximadamente metade dos aminoácidos absorvidos são encontrados na alimentação; a outra metade vem do próprio corpo, como as proteínas dos sucos digestórios e as células mortas que se desprendem da superfície da túnica mucosa! Normalmente, 95 a 98% das proteínas no intestino delgado são digeridos e absorvidos. Diferentes transportadores transportam tipos distintos de aminoácidos. Alguns aminoácidos entram nas células de absorção das vilosidades via processos ativos de transporte secundário dependentes do Na+, que são semelhantes ao transportador de glicose; outros aminoácidos são transportados ativamente por si só. Pelo menos um simportador traz dipeptídios e tripeptídios em conjunto com íons H+; os peptídios são então hidrolisados em aminoácidos simples no interior das células absortivas. Os aminoácidos saem das células absortivas por difusão e entram nos capilares das vilosidades (Figura 24.21). Tanto os monossacarídios quanto os aminoácidos são transportados do sangue para o fígado por meio do sistema porta hepático. Se não forem removidos pelos hepatócitos, eles entram na circulação geral. Absorção de lipídios e sais biliares Todos os lipídios da dieta são absorvidos por difusão simples. Os adultos absorvem aproximadamente 95% dos lipídios presentes no intestino delgado; em razão da sua menor produção de bile, os recémnascidos absorvem apenas aproximadamente 85% dos lipídios. Como resultado de sua emulsificação e digestão, os triglicerídios são principalmente fragmentados em monoglicerídios e ácidos graxos, que podem ser tanto ácidos graxos de cadeia curta quanto ácidos graxos de cadeia longa. Os ácidos graxos de cadeia curta pequenos são hidrofóbicos, contêm menos de 10 a 12 átomos de carbono e são mais hidrossolúveis. Assim, podem se dissolver no quimo intestinal, passam através das células absortivas via difusão simples, e seguem o mesmo trajeto dos monossacarídios e aminoácidos em um capilar sanguíneo de uma vilosidade (Figura 24.21A). Os ácidos graxos de cadeia curta grandes (com mais de 10 a 12 átomos de carbono), os ácidos graxos de cadeia longa e os monoglicerídios são maiores e hidrofóbicos. Como não são hidrossolúveis, têm dificuldade em ser suspensos no ambiente aquoso do quimo intestinal. Além do seu papel na emulsificação, os sais biliares também ajudar a tornar mais solúveis esses ácidos graxos de cadeia curta grandes, ácidos graxos de cadeia longa e monoglicerídios. Os sais biliares no quimo intestinal os circundam, formando pequenas esferas chamadas micelas, cada uma delas medindo de 2 a 10 nm de diâmetro e incluindo 20 a 50 moléculas de sais biliares (Figura 24.21A). As micelas se formam em decorrência da natureza anfipática dos sais biliares: as regiões hidrofóbicas dos sais biliares interagem com os ácidos graxos de cadeia curta grandes, ácidos graxos de cadeia longa e monoglicerídios, e as regiões hidrofílicas dos sais biliares interagem com o quimo intestinal aquoso. Uma vez formadas, as micelas se movem do interior do lúmen do intestino delgado para a borda em escova das células absortivas. Nesse momento, os ácidos graxos de cadeia curta grandes, os ácidos graxos de cadeia longa e os monoglicerídios se difundem para fora das micelas em direção às células absortivas, deixando para trás as micelas no quimo. As micelas repetem continuamente esta função de travessia ao se deslocar da borda da escova pelo quimo de volta ao lúmen do intestino delgado para captar mais ácidos graxos de cadeia curta grandes, ácidos graxos de cadeia longa e monoglicerídios. As micelas também solubilizam outras grandes moléculas hidrofóbicas, como as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e o colesterol que podem estar presentes no quimo intestinal, e auxiliar em sua absorção. Estas vitaminas lipossolúveis e moléculas de colesterol são envolvidas nas micelas juntamente com os ácidos graxos de cadeia longa e monoglicerídios. Figura 24.21 Absorção de nutrientes digeridos no intestino delgado. Para simplificar, todos os alimentos digeridos são mostrados no lúmen do intestino delgado, embora alguns nutrientes sejam digeridos por enzimas da borda em escova. Os ácidos graxos de cadeia longa e os monoglicerídios são absorvidos pelos vasos lactíferos; os outros produtos da digestão entram pelos capilares sanguíneos. Um monoglicerídio pode ser maior do que um aminoácido. Por que os monoglicerídios podem ser absorvidos por difusão simples mas os aminoácidos não? Uma vez nas células absortivas, os ácidos graxos de cadeia longa e monoglicerídios são recombinados para formar triglicerídios, que se agregam em glóbulos juntamente com os fosfolipídios e o colesterol e tornamse revestidos com proteínas. Estes grandes massas esféricas, de aproximadamente 80 nm de diâmetro, são chamados quilomícrons. Os quilomícrons deixam as células absortivas via exocitose. Como são grandes e volumosos, os quilomícrons não conseguem penetrar nos capilares sanguíneos – os poros nas paredes dos capilares sanguíneos são muito pequenos. Em vez disso, os quilomícrons entram pelos vasos lactíferos, que têm poros muito maiores do que os capilares sanguíneos. Dos vasos lactíferos, os quilomícrons são transportados pelos vasos linfáticos para o ducto torácico e entram no sangue na junção entre as veias jugular interna esquerda e subclávia esquerda (Figura 24.21B). O revestimento proteico hidrofílico que envolve cada quilomícron mantém os quilomícrons suspensos no sangue e impede que eles grudem uns nos outros. Dentro de 10 min após a absorção, aproximadamente metade dos quilomícrons já foram removidos do sangue à medida que passam pelos capilares sanguíneos do fígado e do tecido adiposo. Esta remoção é realizada por uma enzima ligada à superfície apical das células endoteliais capilares, chamada lipoproteína lipase, que cliva os triglicerídios em quilomícrons e outras lipoproteínas em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos se difundem para os hepatócitos e células adiposas e se combinam ao glicerol durante a ressíntese dos triglicerídios. Duas ou três horas depois de uma refeição, alguns quilomícrons permanecem no sangue. Depois de participar na emulsificação e absorção de lipídios, a maior parte dos sais biliares é reabsorvida por transporte ativo no segmento final do intestino delgado (íleo) e devolvida pelo sangue ao fígado pelo sistema porta hepático para reciclagem. Este ciclo de secreção de sais biliares pelos hepatócitos na bile, reabsorção pelo íleo e secreção na bile é chamado circulação ênterohepática. A insuficiência de sais biliares, quer decorrente da obstrução dos canais biliares ou da remoção da vesícula biliar, pode resultar na perda de até 40% dos lipídios dietéticos pelas fezes decorrente da redução na absorção de lipídios. Há vários benefícios em incluir algumas gorduras saudáveis na dieta. Por exemplo, as gorduras retardam o esvaziamento gástrico, o que propicia a saciedade. As gorduras também aumentam a sensação de saciedade, desencadeando a liberação de um hormônio chamado colecistocinina. Por fim, as gorduras são necessárias para a absorção de vitaminas lipossolúveis. Absorção de eletrólitos Muitos dos eletrólitos absorvidos pelo intestino delgado são provenientes das secreções gastrintestinais, e alguns são parte dos alimentos e líquidos ingeridos. Lembrese de que os eletrólitos são compostos que se separam em íons na água e conduzem eletricidade. Os íons sódio são transportadosativamente para fora das células absortivas por bombas de sódio potássio basolaterais (Na+K+ ATPases) depois que se moveram para as células absortivas por difusão e transporte ativo secundário. Assim, a maior parte dos íons sódio (Na+) das secreções do canal alimentar é recuperada e não é perdida nas fezes. Os íons negativamente carregados bicarbonato, cloreto, iodeto e nitrato podem seguir passivamente o Na+ ou serem transportados ativamente. Os íons cálcio também são absorvidos ativamente em um processo estimulado pelo calcitriol. Outros eletrólitos, como os íons ferro, potássio, magnésio e fosfato, são também absorvidos via mecanismos de transporte ativo. Absorção de vitaminas Como você acabou de ver, as vitaminas lipossolúveis A, D, E e K são incluídas nas micelas com os lipídios dietéticos ingeridos, e são absorvidas por difusão simples. Quase todas as vitaminas hidrossolúveis, como grande parte das vitaminas B e C, também são absorvidas por difusão simples. A vitamina B12, no entanto, combinase ao fator intrínseco produzido pelo estômago, e esta combinação é absorvida no íleo por meio de um mecanismo de transporte ativo. Absorção de água O volume total de líquido que entra no intestino delgado a cada dia – aproximadamente 9,3 ℓ – vem da ingestão de líquidos (~ 2,3 ℓ ) e das várias secreções gastrintestinais (~7,0 ℓ ). A Figura 24.22 descreve os volumes de líquido ingerido, secretado, absorvido e excretado pelo canal alimentar. O intestino delgado absorve aproximadamente 8,3 ℓ de líquido; o restante passa para o intestino grosso, onde a maior parte desse restante – aproximadamente 0,9 ℓ – também é absorvida. Apenas 0,1 ℓ (100 mℓ) de água é excretado nas fezes por dia. Toda a absorção de água no canal alimentar ocorre via osmose do lúmen dos intestinos por meio das células absortivas e para os capilares sanguíneos. Como a água pode atravessar a túnica mucosa intestinal em ambos os sentidos, a absorção de água a partir do intestino delgado depende da absorção de eletrólitos e nutrientes para manter um equilíbrio osmótico com o sangue. Os eletrólitos, monossacarídios e aminoácidos absorvidos estabelecem um gradiente de concentração de água que promove a absorção de água por osmose. Figura 24.22 Volumes diários de líquido ingerido, secretado, absorvido e excretado do canal alimentar. Toda a absorção de água no canal alimentar ocorre por osmose. Quais são os dois órgãos do sistema digestório que secretam a maior parte do líquido? A Tabela 24.4 resume as atividades digestórias do pâncreas, do fígado, da vesícula biliar e do intestino delgado. A Tabela 24.5 resume as enzimas digestórias e suas funções no sistema digestório. TABELA 24.4 Resumo das atividades digestórias no pâncreas, fígado, vesícula biliar e intestino delgado. ESTRUTURA ATIVIDADE Pâncreas Libera suco pancreático no duodeno via ducto pancreático para auxiliar na absorção (ver Tabela 24.5 que descreve as enzimas pancreáticas e suas funções) Fígado Produz a bile (sais biliares) necessária para a emulsi cação e absorção de lipídios Vesícula biliar Armazena, concentra e entrega bile ao duodeno por meio do ducto colédoco Intestino delgado Principal local de digestão e absorção de nutrientes e água no canal alimentar Túnica mucosa/tela submucosa 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. Glândulas intestinais Secretam suco intestinal para auxiliar na absorção Células absortivas Digerem e absorvem nutrientes. Células caliciformes Secretam muco Células entero-endócrinas (S, CCK, K) Secretam secretina, colecistoquinina e polipeptídio inibidor gástrico Células de Paneth Secretam lisozima (enzima bactericida) e fazem fagocitose Glândulas duodenais Secretam um líquido alcalino para tamponar os ácidos do estômago, e muco para proteção e lubri cação Pregas circulares Pregas da túnica mucosa e tela submucosa que aumentam a área de superfície para a digestão e absorção Vilosidades Projeções digitiformes da mucosa que são locais de absorção do alimento digerido e que aumentam a área de superfície para a digestão e absorção Microvilosidades Projeções microscópicas recobertas por membrana de células epiteliais de absorção que contêm enzimas da borda em escova (listadas na Tabela 24.5) e que aumentam a área de superfície para a digestão e absorção Túnica muscular Segmentação Tipo de peristaltismo: contrações alternantes das bras musculares lisas circulares que produzem segmentação e ressegmentação de seções do intestino delgado; mistura o quimo com os sucos digestórios e coloca o alimento em contato com a mucosa para ser absorvido Complexo mioelétrico migratório (CMM) Tipo de peristaltismo: ondas de contração e relaxamento das bras circulares e longitudinais do músculo liso que passam pelo comprimento do intestino delgado; movem o quimo em direção ao óstio ileal TESTE RÁPIDO Liste as regiões do intestino delgado e descreva suas funções. De que maneira a túnica mucosa e a tela submucosa do intestino delgado são adaptadas à digestão e à absorção? Descreva os tipos de movimento que ocorrem no intestino delgado. Explique as funções da amilase pancreática, aminopeptidase, lipase gástrica e desoxirribonuclease. Qual é a diferença entre digestão e absorção? Como são absorvidos os produtos finais dos carboidratos, proteínas e lipídios digeridos? Por quais vias os nutrientes absorvidos chegam ao fígado? Descreva a absorção de eletrólitos, vitaminas e água pelo intestino delgado. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Absorção de álcool etílico Os efeitos intoxicantes e incapacitantes do álcool etílico (etanol) dependem dos seus níveis sanguíneos. Como o álcool é lipossolúvel, começa a ser absorvido no estômago. No entanto, a área de superfície disponível para absorção é muito maior no intestino delgado do que no estômago, de modo que quando o álcool passa para o duodeno, é mais rapidamente absorvido. Assim, quanto mais tempo o etanol permanecer no estômago, mais lentamente o nível sanguíneo sobe. Como os ácidos graxos no quimo desaceleram o esvaziamento gástrico, o nível sanguíneo de álcool sobe mais lentamente quando alimentos ricos em gordura, como pizza, hambúrgueres ou nachos, são consumidos junto com as bebidas alcoólicas. Além disso, a enzima álcool desidrogenase, que está presente nas células da túnica mucosa do estômago, degrada uma parte do álcool em acetaldeído, que não é intoxicante. Quando o esvaziamento gástrico é mais lento, um percentual proporcionalmente maior de álcool será absorvido e convertido em acetaldeído no estômago e, assim, menos álcool irá alcançar a corrente sanguínea. Considerando um consumo idêntico de álcool, as mulheres frequentemente desenvolvem níveis sanguíneos mais elevados de álcool (e, portanto, se embriagam mais) do que os homens de tamanho comparável, porque a atividade da enzima álcool desidrogenase gástrica é até 60% mais baixa em mulheres do que em homens. Os homens de origem asiática também têm níveis mais baixos desta enzima gástrica. TABELA 24.5 Resumo das enzimas digestórias. ENZIMA FONTE SUBSTRATOS PRODUTOS SALIVA Amilase salivar Glândulas salivares Amidos (polissacarídios) Maltose (dissacarídio), maltotriose (trissacarídio) e α-dextrina Lipase lingual Glândulas linguais na língua Triglicerídios (óleos e gorduras) e outros lipídios Ácidos graxos e diglicerídios SUCO GÁSTRICO Pepsina (ativada a partir do pepsinogênio pela pepsina e ácido clorídrico) Células principais gástricas Proteínas Peptídios Lipase gástrica Células principais gástricas Triglicerídios (óleos e gorduras) Ácidos graxos e monoglicerídios SUCO PANCREÁTICO Amilase pancreática Células acinares pancreáticas Amidos (polissacarídios) Maltose (dissacarídio), maltotriose (trissacarídio) e α-dextrinas Tripsina (ativada a partir do tripsinogênio pela enteroquinase) Células acinares pancreáticas Proteínas Peptídios Quimotripsina (ativada a partir do quimotripsinogênio pela tripsina)Células acinares pancreáticas Proteínas Peptídios Elastase (ativada a partir da proelastase pela tripsina) Células acinares pancreáticas Proteínas Peptídios Carboxipeptidase (ativada a partir da procarboxipeptidase pela tripsina) Células acinares pancreáticas Aminoácido na extremidade carboxila dos peptídios Aminoácidos e peptídios Lipase pancreática Células acinares pancreáticas Triglicerídios (gorduras e óleos) que foram emulsionados pelos sais biliares Ácidos graxos e monoglicerídios Nucleases Ribonuclease Células acinares pancreáticas Ácido ribonucleico Nucleotídios Desoxirribonuclease Células acinares pancreáticas Ácido desoxirribonucleico Nucleotídios ENZIMAS DA BORDA EM ESCOVA NA MEMBRANA PLASMÁTICA DAS MICROVILOSIDADES α-dextrinase Intestino delgado α-dextrinas Glicose 24.13 • 1. 2. 3. 4. 5. Maltase Intestino delgado Maltose Glicose Sacarase Intestino delgado Sacarose Glicose e frutose Lactase Intestino delgado Lactose Glicose e galactose Enteroquinase Intestino delgado Tripsinogênio Tripsina Peptidases Aminopeptidase Intestino delgado Aminoácido na extremidade amina dos peptídios Aminoácidos e peptídios Dipeptidase Intestino delgado Dipeptídios Aminoácidos Nucleosidases e fosfatases Intestino delgado Nucleotídios Bases nitrogenadas, pentoses e fosfatos Intestino grosso OBJETIVO Descrever a anatomia, a histologia e as funções do intestino grosso. O intestino grosso é a parte terminal do canal alimentar. As funções globais do intestino grosso são concluir a absorção, produzir determinadas vitaminas, formar fezes e expulsar as fezes do corpo. Anatomia do intestino grosso O intestino grosso (Figura 24.23), com aproximadamente 1,5 m de comprimento e 6,5 cm de diâmetro em seres humanos vivos e cadáveres, se estende do íleo ao ânus. Está ligado à parede posterior do abdome por seu mesocolo, que é uma camada dupla de peritônio (ver Figura 24.4A). Estruturalmente, as quatro principais regiões do intestino grosso são o ceco, o colo, o reto e o canal anal (Figura 24.23A). FUNÇÕES DO INTESTINO GROSSO A agitação das saculações do colo, o peristaltismo e o peristaltismo da massa movem o conteúdo do colo para o reto. As bactérias do intestino grosso convertem as proteínas em aminoácidos, clivam os aminoácidos e produzem algumas vitaminas B e vitamina K. Absorção de um pouco de água, íons e vitaminas. Formação das fezes. Defecação (esvaziamento do reto). Figura 24.23 Anatomia do intestino grosso. As regiões do intestino grosso são o ceco, o colo, o reto e o canal anal. Quais partes do colo são retroperitoneais? A abertura do íleo para o intestino grosso é guardada por uma prega de túnica mucosa chamada óstio ileal, que possibilita que os materiais do intestino delgado passem para o intestino grosso. Pendurado inferiormente ao óstio ileal está o ceco, uma pequena bolsa de aproximadamente 6 cm de comprimento. Anexado ao ceco existe um tubo espiralado com aproximadamente 8 cm de comprimento, chamado apêndice vermiforme. O mesentério do apêndice vermiforme, chamado mesoapêndice, insere o apêndice vermiforme na parte inferior do mesentério do íleo. A extremidade aberta do ceco se funde a um tubo longo chamado colo, que é dividido em ascendente, transverso, descendente e sigmoide. Tanto o colo ascendente quanto o descendente são retroperitoneais; o colo transverso e o sigmoide não o são. Fiel ao seu nome, o colo ascendente sobe pelo lado direito do abdome, alcança a face inferior do fígado e vira abruptamente para a esquerda de modo a formar a flexura direita do colo. O colo continua cruzando o abdome até o lado esquerdo como o colo transverso. Ele se curva sob a extremidade inferior do baço no lado esquerdo formando a flexura esquerda do colo, e desce até o nível da crista ilíaca como o colo descendente. O colo sigmoide começa perto da crista ilíaca esquerda, projetase medialmente em direção à linha média, e termina como o reto aproximadamente no nível da terceira vértebra sacral (S III). CORRELAÇÃO CLÍNICA | Apendicite A in amação do apêndice vermiforme, a chamada apendicite, é precedida pela obstrução do lúmen do apêndice vermiforme pelo quimo, in amação, corpo estranho, carcinoma do ceco, estenose ou dobras do órgão. É caracterizada por febre alta, contagem de leucócitos elevada e contagem de neutró los superior a 75%. A infecção que se segue pode resultar em edema e isquemia e pode progredir para gangrena e perfuração no prazo de 24 h. Normalmente, a apendicite começa com dor referida na região umbilical do abdome, seguida de anorexia, náuseas e vômitos. Depois de várias horas, a dor se localiza no quadrante inferior direito (QID) do abdome e é contínua, difusa ou grave, e intensi ca-se com a tosse, espirros ou movimentos do corpo. A apendicectomia (remoção do apêndice vermiforme) precoce é recomendada, porque é mais seguro operar do que o risco de uma ruptura, peritonite e gangrena. Embora antigamente fosse necessária uma cirurgia abdominal de grande porte, atualmente as apendicectomias normalmente são realizadas por via laparoscópica. O reto mede aproximadamente 15 cm de comprimento e se situa anteriormente ao sacro e cóccix. Os 2 a 3 cm terminais do intestino grosso são chamados canal anal (Figura 24.23B). A túnica mucosa do canal anal é disposta em pregas longitudinais chamadas colunas anais, que contêm uma rede de artérias e veias. A abertura do canal anal para o exterior, o chamado ânus, é guardada pelo músculo esfíncter interno do ânus comporto por músculo liso (involuntário) e pelo esfíncter externo do ânus composto por músculo esquelético (voluntário). Normalmente, estes esfíncteres mantêm o ânus fechado, exceto durante a eliminação das fezes. Histologia do intestino grosso A parede do intestino grosso contém as quatro camadas típicas encontradas no restante do canal alimentar: túnica mucosa, tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa. A túnica mucosa é composta por epitélio colunar simples, lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e lâmina muscular da mucosa (músculo liso) (Figura 24.24A). O epitélio contém principalmente células absortivas e caliciformes (Figura 24.24B, D). As células absortivas atuam principalmente na absorção de água; as células caliciformes secretam muco, que lubrifica a passagem do conteúdo do colo. Tanto as células absortivas quanto as caliciformes estão localizadas em glândulas intestinais tubulares longas e retas, que se estendem por toda a espessura da túnica mucosa. Nódulos linfáticos solitários são também encontrados na lâmina própria da mucosa e podem se estender através da lâmina muscular da mucosa até a tela submucosa. Em comparação com o intestino delgado, a túnica mucosa do intestino grosso não tem tantas adaptações estruturais que aumentem a área de superfície. Não há pregas circulares nem vilosidades; no entanto, as células absortivas apresentam microvilosidades. Por conseguinte, ocorre muito mais a absorção no intestino delgado do que no intestino grosso. Figura 24.24 Histologia do intestino grosso. Glândulas intestinais formadas por células epiteliais colunares simples e células caliciformes se estendem por toda a espessura da túnica mucosa. Qual a função das células caliciformes no intestino grosso? A tela submucosa do intestino grosso é constituída por tecido conjuntivo areolar. A túnica muscular consiste em uma camada externa de músculo liso longitudinal e uma camada interna de músculo liso circular. Ao contrário de outras partes do canal alimentar, as partes de músculos longitudinais são espessas, formando três bandas bem definidas chamadas tênias do colo que estão na maior parte do comprimento do intestino grosso (ver Figura 24.23A). A tênias do colo são separadas por trechos de parede com pouco ou nenhum músculo longitudinal. As contrações tônicas das bandas unemo colo em várias bolsas chamadas saculações do colo, que dão ao colo uma aparência enrugada. Uma única camada de músculo liso circular situase entre as tênias do colo. A túnica serosa do intestino grosso é parte do peritônio visceral. Pequenas bolsas de peritônio visceral cheias de gordura estão associadas às tênias do colo e são chamadas apêndices omentais do colo. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Pólipos no colo Os pólipos no colo geralmente são tumores benignos de desenvolvimento lento que surgem a partir da túnica mucosa do intestino grosso. Muitas vezes, não causam sintomas. Quando ocorrem, incluem diarreia, sangue nas fezes e eliminação de muco pelo ânus. Os pólipos são removidos por colonoscopia ou cirurgia, porque alguns deles podem se tornar cancerosos. Digestão mecânica no intestino grosso A passagem do quimo do íleo para o ceco é controlada pela ação do óstio ileal. Normalmente, este óstio permanece parcialmente fechado, de modo que a passagem do quimo para o ceco geralmente ocorre de modo lento. Imediatamente após uma refeição, o reflexo gastroileal intensifica o peristaltismo no íleo e força um eventual quimo em direção ao ceco. O hormônio gastrina também relaxa o óstio. Sempre que o ceco é distendido, o grau de contração do óstio ileal se intensifica. Os movimentos do colo começam quando substâncias passam pelo óstio ileal. Como o quimo se move pelo intestino delgado a uma velocidade razoavelmente constante, o tempo necessário para uma refeição passar para o colo é determinado pelo tempo de esvaziamento gástrico. Conforme o alimento passa pelo óstio ileal, enche o ceco e acumulase no colo ascendente. Um movimento característico do intestino grosso é a agitação das saculações do colo. Neste processo, as saculações do colo permanecem relaxadas e são distendidas enquanto se enchem. Quando a distensão alcança um determinado ponto, as paredes se contraem e espremem o conteúdo para a próxima saculação do colo. O peristaltismo também ocorre, embora em um ritmo mais lento (3 a 12 contrações por minuto) do que nas partes mais proximais do canal alimentar. Um último tipo de movimento é o peristaltismo em massa, uma forte onda peristáltica que começa aproximadamente na metade do colo transverso e leva rapidamente o conteúdo do colo para o reto. Como os alimentos no estômago iniciam esse reflexo gastrocólico no colo, o peristaltismo em massa geralmente ocorre 3 ou 4 vezes/dia, durante ou imediatamente após uma refeição. Digestão química no intestino grosso A fase final da digestão ocorre no colo por meio da ação das bactérias que habitam o lúmen. O muco é secretado pelas glândulas do intestino grosso, mas não são secretadas enzimas. O quimo é preparado para a eliminação pela ação de bactérias, que fermentam quaisquer carboidratos restantes e liberam hidrogênio, dióxido de carbono e gases metano. Estes gases contribuem para os flatos no colo, denominada flatulência quando é excessiva. As bactérias também convertem quaisquer proteínas restantes em aminoácidos e fragmentam os aminoácidos em substâncias mais simples: indol, escatol, sulfeto de hidrogênio e ácidos graxos. Um pouco de indol e escatol é eliminado nas fezes e contribui para o seu odor; o restante é absorvido e transportado para o fígado, onde estes compostos são convertidos em compostos menos tóxicos e excretados na urina. As bactérias também decompõem a bilirrubina em pigmentos mais simples, incluindo a estercobilina, que dá às fezes a sua coloração marrom. Os produtos bacterianos que são absorvidos pelo colo incluem várias vitaminas necessárias para o metabolismo normal, entre as quais algumas vitaminas B e a vitamina K. Absorção e formação de fezes no intestino grosso Até agora o quimo permaneceu no intestino grosso por 3 a 10 h, tornouse sólido ou semissólido por causa da absorção de água e agora é chamado fezes. Quimicamente, as fezes consistem em água, sais inorgânicos, células epiteliais da túnica mucosa do canal alimentar, bactérias, produtos da decomposição bacteriana, materiais digeridos e não absorvidos e partes não digeríveis de alimentos. Embora 90% de toda a absorção de água ocorra no intestino delgado, o intestino grosso absorve o suficiente para tornálo um órgão importante na manutenção de equilíbrio hídrico do corpo. Dos 0,5 a 1,0 ℓ de água que entra no intestino grosso, tudo exceto aproximadamente 100 a 200 mℓ normalmente é absorvido por osmose. O intestino grosso também absorve íons, incluindo sódio e cloreto, e algumas vitaminas. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Sangue oculto O termo sangue oculto se refere ao sangue que não é detectável a olho nu. O principal valor diagnóstico da pesquisa de sangue oculto é o rastreamento de câncer colorretal. Duas substâncias frequentemente examinadas à procura de sangue oculto são as fezes e a urina. Existem vários tipos de produtos para pesquisa de sangue oculto nas fezes. Os testes são baseados em mudanças de cor quando os reagentes são adicionados às fezes. O sangue oculto na urina pode ser detectado em casa usando tiras reagentes de leitura rápida. Re exo de defecação Os movimentos peristálticos em massa empurram o material fecal do colo sigmoide para o reto. A distensão resultante da parede retal estimula os receptores de estiramento, que iniciam um reflexo de defecação que resulta na defecação, a eliminação das fezes do reto por meio do ânus. O reflexo de defecação ocorre do seguinte modo: em resposta à distensão da parede retal, os receptores enviam impulsos nervosos sensitivos para a medula espinal sacral. Impulsos motores da medula viajam ao longo dos nervos parassimpáticos de volta para o colo descendente, colo sigmoide, reto e ânus. A contração resultante dos músculos longitudinais retais encurta o reto, aumentando assim a pressão em seu interior. Esta pressão, junto com contrações voluntárias do diafragma e dos músculos abdominais, além do estímulo parassimpático, abrem o músculo esfíncter interno do ânus. O músculo esfíncter externo do ânus é controlado voluntariamente. Se for voluntariamente relaxado, a defecação ocorre e as fezes são expelidas através do ânus; se for voluntariamente contraído, a defecação pode ser adiada. Contrações voluntárias do diafragma e dos músculos abdominais auxiliam na defecação ao aumentar a pressão no interior do abdome, que empurra as paredes do colo sigmoide e do reto para dentro. Se a defecação não ocorrer, as fezes voltam para o colo sigmoide até que a próxima onda de peristaltismo em massa estimule os receptores de estiramento, novamente produzindo a vontade de defecar. Em crianças, o reflexo de defecação provoca esvaziamento automático do reto, porque o controle voluntário do músculo esfíncter externo do ânus ainda não se desenvolveu. O número de defecações em um determinado período de tempo depende de vários fatores, como a dieta, a saúde e o estresse. A variação normal de atividade intestinal vai de 2 ou 3 defecações por dia a 3 ou 4 defecações por semana. CORRELAÇÃO CLÍNICA | Fibra dietética A bra dietética é composta por carboidratos vegetais que não são digeridos – como a celulose, a lignina e a pectina – encontrados em frutas, legumes, grãos e feijões. A bra insolúvel, que não se dissolve na água, inclui as partes brosas ou estruturais das plantas, como as cascas de frutas e verduras e o revestimento em torno de farelo de grãos de trigo e de milho. A bra insolúvel passa pelo canal alimentar majoritariamente inalterada, mas acelera a passagem do material pelo canal alimentar. A bra solúvel, que se dissolve em água, forma um gel que retarda a passagem do material pelo canal alimentar. Ela é encontrada em abundância no feijão, na aveia, na cevada, no brócolis, nas ameixas, nas maçãs e nas frutas cítricas. As pessoas queoptam por uma dieta rica em bras reduzem o risco de desenvolver obesidade, diabetes, aterosclerose, cálculos biliares, hemorroidas, diverticulite, apendicite e câncer colorretal. As bras solúveis também ajudam a diminuir os níveis sanguíneos de colesterol. O fígado normalmente converte o colesterol em sais biliares, que são liberados no intestino delgado para ajudar na digestão de gordura. Após ter realizado a sua tarefa, os sais biliares são reabsorvidos pelo intestino delgado e reciclados para o fígado. Como a bra solúvel se liga aos sais biliares para impedir a sua reabsorção, o fígado produz mais sais biliares para substituir os que foram perdidos nas fezes. Assim, o fígado utiliza mais colesterol para produzir mais sais biliares e o nível de colesterol do sangue cai. A diarreia é um aumento da frequência, do volume e do teor de líquido das fezes causado por aumento na motilidade e diminuição na absorção pelos intestinos. Quando o quimo passa muito rapidamente pelo intestino delgado e as fezes passam muito rapidamente pelo intestino grosso, não há tempo suficiente para a absorção. A diarreia frequente pode resultar em desidratação e desequilíbrio eletrolítico. A motilidade excessiva pode ser causada pela intolerância à lactose, estresse e microrganismos que irritam a túnica mucosa gastrintestinal. A constipação intestinal se refere à defecação infrequente ou difícil causada pela diminuição da motilidade do intestino. Como as fezes permanecem no colo por períodos prolongados, ocorre uma absorção excessiva de água, e as fezes tornamse ressecadas e duras. A constipação intestinal pode ser causada por maus hábitos (adiar a defecação), espasmos do colo, teor insuficiente de fibras na dieta, ingestão inadequada de líquidos, falta de exercício, estresse emocional e certos medicamentos. Um tratamento comum é um laxante suave, como o leite de magnésia, que induz à defecação. No entanto, 39. 40. 41. 42. 43. 24.14 • • muitos médicos afirmam que os laxantes viciam, e que adicionar fibras à dieta, aumentar a prática de exercícios físicos e aumentar a ingestão de líquido são maneiras mais seguras de controlar este problema comum. A Tabela 24.6 resume as atividades digestórias do intestino grosso. A Tabela 24.7 resume as funções de todos os órgãos do sistema digestório. TABELA 24.6 Resumo das atividades digestórias no intestino grosso. ESTRUTURA ATIVIDADE FUNÇÃO(ÕES) Lúmen Atividade bacteriana Clivagem de carboidratos, proteínas e aminoácidos não digeridos em produtos que podem ser expelidos pelas fezes ou absorvidos e desintoxicados pelo fígado; sintetiza algumas vitaminas B e a vitamina K Túnica mucosa Secreta muco Lubri ca o colo; protege a túnica mucosa Absorção A absorção de água solidi ca as fezes e contribui para o equilíbrio hídrico do corpo; os solutos absorvidos incluem os íons e algumas vitaminas Túnica muscular Agitação das saculações do colo Move o conteúdo de uma saculação do colo para outra por meio das contrações musculares Peristaltismo Move o conteúdo ao longo do comprimento do colo por contrações de músculos circulares e longitudinais Peristaltismo em massa Força o conteúdo para o colo sigmoide e o reto Re exo de defecação Elimina as fezes por contrações no colo sigmoide e no reto TESTE RÁPIDO Quais são as principais regiões do intestino grosso? Como a túnica muscular do intestino grosso difere daquela do restante do canal alimentar? O que são saculações do colo? Descreva os movimentos mecânicos que ocorrem no intestino grosso. O que é defecação e como ela ocorre? Quais atividades ocorrem no intestino grosso que mudam o seu conteúdo para fezes? Fases da digestão OBJETIVO Explicar as três fases da digestão Descrever os principais hormônios que regulam as atividades digestórias. As atividades digestórias ocorrem em três fases que se sobrepõem: a fase cefálica, a fase gástrica e a fase intestinal. Fase cefálica Durante a fase cefálica da digestão, o olfato, a visão, o pensamento ou o gosto inicial da comida ativam centros neurais no córtex cerebral, no hipotálamo e no tronco encefálico. O tronco encefálico então ativa os nervos facial (NC VII), glossofaríngeo (NC IX) e vago (NC X). Os nervos facial e glossofaríngeo estimulam as glândulas salivares a secretar saliva, enquanto o nervo vago estimula as glândulas gástricas a secretar suco gástrico. A finalidade da fase cefálica da digestão é preparar a boca e o estômago para o alimento que está prestes a ser ingerido. TABELA 24.7 Resumo dos órgãos do sistema digestório e suas funções. • ÓRGÃO FUNÇÃO(ÕES) Língua Manobra os alimentos para a mastigação, modela o alimento em um bolo alimentar, manobra os alimentos para a deglutição, detecta sensações de paladar e inicia a digestão dos triglicerídios Glândulas salivares A saliva produzida por essas glândulas amacia, hidrata e dissolve os alimentos; limpa a boca e os dentes; inicia a digestão do amido Dentes Cortam, dilaceram e pulverizam os alimentos sólidos em partículas menores para serem deglutidas Pâncreas O suco pancreático tampona o suco gástrico ácido no quimo, interrompe a ação da pepsina do estômago, cria o pH apropriado para a digestão no intestino delgado e participa na digestão de carboidratos, proteínas, triglicerídios e ácidos nucleicos Fígado Produz a bile, que é necessária para a emulsi cação e a absorção dos lipídios no intestino delgado Vesícula biliar Armazena e concentra a bile e libera-a para o intestino delgado Boca Veja as funções da língua, das glândulas salivares e dos dentes, os quais se encontram na cavidade oral. Além disso, os lábios e as bochechas mantêm os alimentos entre os dentes durante a mastigação, e as glândulas vestibulares que revestem a boca produzem saliva Faringe Recebe um bolo alimentar da cavidade oral e passa-o ao esôfago Esôfago Recebe um bolo alimentar da faringe e passa-o ao estômago; isto requer o relaxamento do esfíncter esofágico superior e a secreção de muco Estômago Ondas de mistura combinam a saliva, os alimentos e o suco gástrico, o que ativa a pepsina, inicia a digestão de proteínas, mata microrganismos dos alimentos, ajuda a absorver a vitamina B12, contrai o esfíncter esofágico inferior, aumenta a motilidade do estômago, relaxa o músculo esfíncter do piloro e move o quimo para o intestino delgado Intestino delgado A segmentação mistura o quimo com os sucos digestórios; o peristaltismo impulsiona o quimo para o óstio ileal; as secreções digestórias do intestino delgado, pâncreas e fígado completam a digestão dos carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos; as pregas circulares, vilosidades e microvilosidades ajudam a absorver aproximadamente 90% dos nutrientes digeridos Intestino grosso A agitação das saculações do colo, o peristaltismo e o peristaltismo em massa dirigem o conteúdo do colo para o reto; bactérias produzem algumas vitaminas do complexo B e a vitamina K; ocorre a absorção de um pouco de água, íons e vitaminas; defecação Fase gástrica Quando o alimento chega ao estômago, começa a fase gástrica da digestão. Mecanismos neurais e hormonais regulam esta fase, a fim de promover a secreção e motilidade gástrica. Regulação neural. O alimento de qualquer tipo distende o estômago e estimula os receptores de estiramento em suas paredes. Os quimiorreceptores no estômago monitoram o pH do quimo no estômago. Quando as paredes do estômago são distendidas ou o pH aumenta porque proteínas entraram no estômago e tamponaram um pouco do seu ácido, os receptores de estiramento e quimiorreceptores são ativados, e um ciclo de feedback negativo neural é acionado (Figura 24.25). Dos receptores de estiramento e quimiorreceptores, os impulsos nervosos se propagam para o plexo submucoso, onde ativam neurônios parassimpáticos e entéricos. Os impulsos nervosos resultantes causam ondas de peristaltismo econtinuam estimulando o fluxo de suco gástrico das glândulas gástricas. As ondas peristálticas misturam os alimentos com o suco gástrico; quando as ondas se tornam fortes o suficiente, uma pequena quantidade de quimo passa pelo esvaziamento gástrico para o duodeno. O pH do quimo do estômago cai (tornase mais ácido) e a • distensão das paredes do estômago diminui, porque o quimo passou para o intestino delgado, suprimindo a secreção de suco gástrico Regulação hormonal. A secreção gástrica durante a fase gástrica também é regulada pelo hormônio gastrina. A gastrina é liberada pelas células secretoras de gastrina das glândulas gástricas em resposta a vários estímulos: distensão do estômago pelo quimo, proteínas parcialmente digeridas no quimo, pH elevado do quimo decorrente dos alimentos no estômago, cafeína no quimo gástrico e acetilcolina liberada pelos neurônios parassimpáticos. Quando é liberada, a gastrina entra na corrente sanguínea, percorre todo o corpo e, por fim, chega a seus órgãosalvo no sistema digestório. A gastrina estimula as glândulas gástricas a secretar grandes quantidades de suco gástrico. Ela também reforça a contração do esfíncter esofágico inferior para impedir o refluxo do quimo ácido para o esôfago, aumenta a motilidade do estômago e relaxa o músculo esfíncter do piloro, que promove o esvaziamento gástrico. A secreção de gastrina é inibida quando o pH do suco gástrico cai abaixo de 2,0; é estimulada quando o pH aumenta. Este mecanismo de feedback negativo ajuda a proporcionar o baixo pH ideal para o funcionamento da pepsina, a matar microrganismos e a desnaturar proteínas no estômago. Fase intestinal A fase intestinal da digestão começa quando o alimento entra no intestino delgado. Ao contrário dos reflexos iniciados durante as fases cefálica e gástrica, que estimulam a atividade de secreção e motilidade do estômago, os reflexos que ocorrem durante a fase intestinal têm efeitos inibitórios que retardam a saída do quimo do estômago. Isso impede que o duodeno seja sobrecarregado com mais quimo do que pode suportar. Além disso, as respostas que ocorrem durante a fase intestinal promovem a digestão continuada dos alimentos que chegaram ao intestino delgado. Estas atividades da fase intestinal da digestão são reguladas por mecanismos neurais e hormonais Figura 24.25 Regulação por feedback negativo neural do pH do suco gástrico e da motilidade gástrica durante a fase gástrica da digestão. Os alimentos que entram no estômago estimulam a secreção de suco gástrico e provocam ondas de peristaltismo vigorosas. • • Por que a comida inicialmente faz com que o pH do suco gástrico suba? Regulação neural. A distensão do duodeno pela presença de quimo causa o reflexo enterogástrico. Os receptores de estiramento da parede duodenal enviam impulsos nervosos para o bulbo, onde inibem o estímulo parassimpático e estimulam os nervos simpáticos que inervam o estômago. Como resultado, a motilidade gástrica é inibida e há um aumento na contração do músculo esfíncter do piloro, o que diminui o esvaziamento gástrico Regulação hormonal. A fase intestinal da digestão é mediada por dois hormônios principais secretados pelo intestino delgado: a colecistocinina e a secretina. A colecistocinina (CCK) é secretada pelas células CCK das glândulas intestinais no intestino delgado em resposta ao quimo contendo aminoácidos de proteínas parcialmente digeridas e ácidos graxos de triglicerídios parcialmente digeridos. A CCK estimula a secreção de suco pancreático, que é rico em enzimas digestórias. Também provoca a contração da parede da vesícula biliar, que comprime a bile armazenada na vesícula biliar para o ducto cístico e ao longo do ducto colédoco. Além disso, a CCK provoca o relaxamento do esfíncter da ampola hepatopancreática, que possibilita que o suco pancreático e a bile fluam para o duodeno. A CCK também retarda o esvaziamento gástrico por meio da promoção da contração do músculo esfíncter do piloro, produz saciedade pela ativação do hipotálamo no encéfalo, promove o crescimento normal e manutenção do pâncreas, e incrementa os efeitos da secretina. O quimo ácido que entra no duodeno estimula a liberação de secretina pelas células S das glândulas intestinais no intestino delgado. Por sua vez, a secretina estimula o fluxo de suco pancreático que é rico em íons bicarbonato (HCO3–) para tamponar o quimo ácido que entra no duodeno a partir do estômago. Em adição a este importante efeito, a secretina inibe a secreção de suco gástrico, promove o crescimento normal e a manutenção do pâncreas, e incrementa os efeitos da CCK. De modo geral, a secretina causa o tamponamento do ácido do quimo que chega ao duodeno e diminui a produção de ácido no estômago. A Tabela 24.8 resume os principais hormônios que controlam a digestão. 44. 45. 46. 47. 24.15 • Outros hormônios do sistema digestório Além da gastrina, CCK e secretina, pelo menos 10 outros hormônios ditos intestinais são secretados e têm efeitos sobre o canal alimentar. Eles incluem motilina, substância P e bombesina, que estimulam a motilidade dos intestinos; o polipeptídio intestinal vasoativo (PIV), que estimula a secreção de íons e água pelos intestinos e inibe a secreção de ácido gástrico; o peptídio liberador de gastrina, que estimula a liberação de gastrina; e a somatostatina, que inibe a liberação de gastrina. Acreditase que alguns destes hormônios atuem como hormônios locais (parácrinos); outros são secretados no sangue ou até mesmo no lúmen do canal alimentar. Os papéis fisiológicos desses e de outros hormônios intestinais ainda estão sendo pesquisados. TABELA 24.8 Principais hormônios que controlam a digestão. HORMÔNIO ESTÍMULO E LOCAL DE SECREÇÃO AÇÕES Gastrina Distensão do estômago, proteínas parcialmente digeridas e cafeína no estômago, e alto pH do quimo estomacal estimulam a secreção de gastrina pelas células secretoras de gastrina enteroendócrinas, localizadas principalmente na túnica mucosa do antro pilórico do estômago Efeitos principais: promove a secreção de suco gástrico, aumenta a motilidade gástrica, promove o crescimento da túnica mucosa do estômago Efeitos secundários: contrai o esfíncter esofágico inferior, relaxa o músculo esfíncter do piloro Secretina O quimo ácido (alto nível de H+) que entra no intestino delgado estimula a secreção de secretina pelas células S enteroendócrinas na túnica mucosa do duodeno Efeitos principais: estimula a secreção de suco pancreático e bile, que são ricos em HCO3– (íons bicarbonato) Efeitos secundários: inibe a secreção de suco gástrico, promove o crescimento normal e manutenção do pâncreas, incrementa os efeitos da CCK Colecistocinina (CCK) Proteínas (aminoácidos), triglicerídios e ácidos graxos parcialmente digeridos que entram no intestino delgado estimulam a secreção de CCK pelas células enteroendócrinas da túnica mucosa do intestino delgado; a CCK também é liberada no encéfalo Efeitos principais: estimula a secreção de suco pancreático rico em enzimas digestórias, causa a ejeção de bile da vesícula biliar e a abertura do esfíncter da ampola hepatopancreática, induz à saciedade Efeitos secundários: inibe o esvaziamento gástrico, promove o crescimento normal e a manutenção do pâncreas, incrementa os efeitos da secretina TESTE RÁPIDO Qual é o objetivo da fase cefálica da digestão? Descreva o papel de gastrina na fase gástrica da digestão. Descreva as etapas do reflexo enterogástrico. Explique os papéis da CCK e da secretina na fase intestinal da digestão. Desenvolvimento do sistema digestório OBJETIVO Descrever o desenvolvimento do sistema digestório. Durante a 4a semana de desenvolvimento, as células da endoderme formam uma cavidade chamada intestinoprimitivo, o precursor do canal alimentar (ver Figura 29.12B). Logo depois, a mesoderme se forma e se divide em duas camadas (somática e esplâncnica), como mostrado na Figura 29.9D. A mesoderme esplâncnica se associa à endoderme do intestino primitivo; como resultado, o intestino primitivo tem uma parede de dupla camada. A camada endodérmica dá origem ao 48. 24.16 • 49. revestimento epitelial e glândulas da maior parte do canal alimentar; a camada mesodérmica produz o músculo liso e o tecido conjuntivo do canal alimentar. O intestino primitivo se alonga e se diferencia em um intestino anterior, um intestino médio e um intestino posterior (ver Figura 29.12C). Até a 5a semana de desenvolvimento, o intestino médio se abre no saco vitelino; depois desse momento, o saco vitelino se contrai e se separa do intestino médio, e o intestino médio é fechado. Na região do intestino anterior, aparece uma depressão formada por ectoderme, o estomodeu (ver Figura 29.12D), que se desenvolve na cavidade oral. A membrana orofaríngea é uma depressão da ectoderme e endoderme fundidas na superfície do embrião que separa o intestino anterior do estomodeu. A membrana se rompe durante a 4a semana de desenvolvimento, de modo que o intestino anterior é contínuo com o exterior do embrião por meio da cavidade oral. Outra depressão formada por ectoderme, o proctodeu, se forma no intestino posterior e continua até tornarse o ânus (ver Figura 29.12D). A membrana cloacal é uma membrana fundida de ectoderme e endoderme que separa o intestino posterior do proctodeu. Depois de se romper durante a 7a semana, o intestino posterior é contínuo com o exterior do embrião por meio do ânus. Assim, o canal alimentar forma um tubo contínuo da boca ao ânus. O intestino anterior se desenvolve em faringe, esôfago, estômago e parte do duodeno. O intestino médio é transformado no restante do duodeno, jejuno, íleo e partes do intestino grosso (ceco, apêndice vermiforme, colo ascendente e a maior parte do colo transverso). O intestino posterior se torna o restante do intestino grosso, exceto uma parte do canal anal que é derivada do proctodeu. Conforme o desenvolvimento progride, a endoderme de vários lugares ao longo do intestino anterior se desenvolve em brotos ocos que crescem na mesoderme. Esses brotos se tornarão glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas. Cada um destes órgãos mantém uma conexão com o canal alimentar por meio dos ductos. TESTE RÁPIDO Que estruturas se desenvolvem a partir do intestino anterior, do intestino médio e do intestino posterior? Envelhecimento e sistema digestório OBJETIVO Descrever os efeitos do envelhecimento sobre o sistema digestório. Mudanças globais do sistema digestório associadas ao envelhecimento incluem diminuição nos mecanismos de secreção, redução na motilidade dos órgãos digestórios, perda da força e do tônus do tecido muscular e suas estruturas de apoio, alterações do feedback neurossensorial relacionado com a liberação de enzimas e hormônios, e diminuição da resposta à dor e das sensações internas. Na parte superior do canal alimentar, alterações comuns incluem sensibilidade reduzida a irritações e feridas na boca, perda do paladar, doença periodontal, dificuldade de deglutição, hérnia de hiato, gastrite e úlcera péptica. As alterações que podem ocorrer no intestino delgado incluem úlceras duodenais, má absorção e má digestão. Outras doenças cuja incidência aumenta com a idade são apendicite, distúrbios da vesícula biliar, icterícia, cirrose e pancreatite aguda. Também podem ocorrer grandes alterações intestinais, como constipação intestinal, hemorroidas e doença diverticular. O câncer do colo ou do reto é bastante comum, bem como as obstruções e impactações intestinais. TESTE RÁPIDO Quais são os efeitos gerais do envelhecimento sobre o sistema digestório? • • • Agora que nossa exploração do sistema digestório terminou, você pode apreciar as muitas maneiras com que este sistema contribui para a homeostasia de outros sistemas do corpo examinando Foco na homeostasia | Contribuições do sistema digestório. Em seguida, no Capítulo 25, você descobrirá como os nutrientes absorvidos pelo canal alimentar participam nas reações metabólicas dos tecidos corporais. DISTÚRBIOS | DESEQUILÍBRIOS HOMEOSTÁTICOS Cárie dentária A cárie dentária envolve desmineralização gradual do esmalte e da dentina. Se não for tratada, os microrganismos podem invadir a polpa, causando inflamação e infecção, com posterior morte da polpa e abscesso do osso alveolar que circunda o ápice da raiz, exigindo tratamento de canal (ver seção 24.5). A cárie dentária começa quando as bactérias, agindo em açúcares, produzem ácidos que desmineralizam o esmalte. A dextrana, um polissacarídio viscoso produzido a partir da sacarose, faz com que as bactérias adiram aos dentes. Massas de células bacterianas, dextrana e outros restos celulares que aderem aos dentes formam a placa dentária. A saliva não é capaz de alcançar a superfície do dente para tamponar o ácido, porque a placa está recobrindo os dentes. Escovar os dentes depois de uma refeição remove a placa de superfícies planas antes que as bactérias possam produzir ácidos. Os dentistas também recomendam que a placa bacteriana entre os dentes seja removida a cada 24 h, com fio dental. Doença periodontal A doença periodontal é um termo coletivo para várias condições caracterizadas pela inflamação e degeneração da gengiva, osso alveolar, ligamento periodontal e cemento. Em uma dessas condições, chamada piorreia, os sintomas iniciais incluem o alargamento e a inflamação do tecido mole e o sangramento das gengivas. Sem tratamento, os tecidos moles podem deteriorar e o osso alveolar ser reabsorvido, causando afrouxamento dos dentes e retração das gengivas. As doenças periodontais são frequentemente causadas por má higiene bucal; por irritantes locais, como bactérias, alimentos impactados e fumaça de cigarro; ou por má oclusão dentária. Úlcera péptica Nos EUA, 5 a 10% da população desenvolve a úlcera péptica (UP). A úlcera é uma lesão crateriforme em uma membrana; as úlceras que se desenvolvem em áreas do canal alimentar expostas ao suco gástrico ácido são chamadas úlceras pépticas. A complicação mais comum da úlcera péptica é a hemorragia, que pode levar à anemia se for significativa. Em casos agudos, as úlceras pépticas podem levar ao choque e à morte. Três causas distintas de UP são reconhecidas: (1) a bactéria Helicobater pylori; (2) os antiinflamatórios não esteroides (AINE), como o ácido acetilsalicílico; e (3) a hipersecreção de HCl, como ocorre na síndrome de ZollingerEllison, um tumor produtor de gastrina, geralmente do pâncreas. Helicobater pylori (chamada antes Campylobater pylori) é a causa mais frequente de UP. Essa bactéria produz uma enzima chamada urease, que degrada a ureia em amônia e dióxido de carbono. Enquanto protege a bactéria da acidez do estômago, a amônia também danifica a túnica mucosa protetora do estômago e as células gástricas subjacentes. O microrganismo também produz catalase, enzima que pode proteger H. pylori da fagocitose por neutrófilos, além de várias proteínas de adesão que possibilitam que a bactéria se anexe às células gástricas. Várias abordagens são úteis no tratamento da úlcera péptica. A fumaça do cigarro, o álcool etílico, a cafeína e os AINE devem ser evitados, pois podem prejudicar os mecanismos de defesa da túnica mucosa, o que aumenta a suscetibilidade da túnica mucosa aos efeitos nocivos do HCl. Em casos associados aoH. pylori, o tratamento com uma associação de inibidor da bomba de prótons e 2 antibióticos geralmente resolve o problema. Antiácidos orais, como hidróxido de alumínio ou hidróxido de magnésio, são úteis porque tamponam temporariamente o ácido gástrico. Quando a hipersecreção de HCl é a causa da úlcera péptica, podem ser utilizados bloqueadores H2 (p. ex., cimetidina) ou inibidores da bomba de prótons como o omeprazol que bloqueia a secreção de H+ pelas células parietais. Doença diverticular Na doença diverticular, ocorrem evaginações em forma de saco da parede do colo denominadas divertículos, em locais em que a túnica muscular enfraqueceu e pode estar inflamada. O desenvolvimento dos divertículos é conhecido como diverticulose. Muitas pessoas que desenvolvem diverticulose não têm sintomas nem experimentam complicações. Dessas pessoas conhecidas por terem diverticulose, 10 a 25% acabam apresentando inflamação conhecida como diverticulite. Essa condição pode ser caracterizada por dor, constipação intestinal ou aumento na frequência de defecação, náuseas, vômitos e febre baixa. Como as dietas pobres em fibras contribuem para o desenvolvimento da diverticulite, os pacientes que passam a ingerir dietas ricas em fibras mostram alívio acentuado dos sintomas. Em casos graves, as porções afetadas do colo podem precisar ser removidas cirurgicamente. Se o divertículo se romper, a liberação de bactérias na cavidade abdominal pode causar peritonite. Câncer colorretal O câncer colorretal está entre as doenças malignas mais mortais, perdendo apenas para o câncer de pulmão no sexo masculino e para o câncer de pulmão e o câncer de mama em mulheres. A genética tem uma participação muito importante; a predisposição hereditária contribui para mais de 50% de todos os casos de câncer colorretal. A ingestão de álcool etílico e de dietas ricas em gordura animal e proteínas está associada ao aumento do risco de câncer colorretal; as fibras dietéticas, os retinoides, o cálcio e o selênio podem ser protetores. Os sinais e sintomas de câncer colorretal incluem diarreia, constipação intestinal, cólicas, dor abdominal e sangramento retal, visível ou oculto. Os tumores précancerosos na superfície da túnica mucosa, chamados pólipos, também aumentam o risco de desenvolvimento de câncer colorretal. O rastreamento à procura de câncer colorretal inclui pesquisa de sangue oculto nas fezes, toque retal, retossigmoidoscopia, colonoscopia e enema opaco. Os tumores podem ser removidos por via endoscópica ou cirúrgica. Hepatite A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por vírus, fármacos e produtos químicos, incluindo o álcool etílico. Clinicamente, são reconhecidos vários tipos de hepatite viral. A hepatite A (hepatite infecciosa) é causada pelo vírus da hepatite A (HAV) e é disseminada pela contaminação fecal de objetos, como alimentos, roupas, brinquedos e utensílios de cozinha (via orofecal). É geralmente uma doença leve em crianças e jovens adultos, caracterizada por perda do apetite, malestar, náuseas, diarreia, febre e calafrios. Pode ou não ocorrer icterícia. Este tipo de hepatite não causa danos permanentes ao fígado. A maior parte das pessoas se recupera em 4 a 6 semanas. A hepatite B é causada pelo vírus da hepatite B (HBV) e é transmitida principalmente pelo contato sexual, e seringas e equipamento de transfusão contaminados. Pode também ser transmitida por saliva e lágrimas. O HBV pode estar presente durante anos ou mesmo por toda a vida, e pode provocar cirrose e câncer do fígado. Os indivíduos que abrigam o HBV ativo também tornamse portadores. Já existem vacinas produzidas por meio da tecnologia de DNA recombinante para prevenir a infecção pelo vírus da hepatite B. A hepatite C, causada pelo vírus da hepatite C (HCV), é clinicamente semelhante à hepatite B. A hepatite C pode causar cirrose e, possivelmente, câncer de fígado. Nos países desenvolvidos, o sangue doado é testado à procura dos vírus das hepatites B e C. A hepatite D é causada pelo vírus da hepatite D (HDV). É transmitida como a hepatite B e, na verdade, o indivíduo precisa estar coinfectado pelo HBV antes de contrair a hepatite D. A hepatite D resulta em lesão hepática grave e tem uma taxa de mortalidade mais elevada do que a infecção isolada pelo HBV. A hepatite E é causada pelo vírus da hepatite E e se propaga da mesma forma que a hepatite A. Apesar de não causar doença hepática crônica, o vírus da hepatite E (HEV) tem uma taxa de mortalidade muito elevada em gestantes. TERMINOLOGIA TÉCNICA Acalasia. Condição causada por disfunção do plexo mioentérico em que o esfíncter esofágico inferior não consegue relaxar normalmente conforme o alimento se aproxima. Toda uma refeição pode se alojar no esôfago e entrar no estômago muito lentamente. A distensão do esôfago resulta em dor torácica, que é muitas vezes confundida com a dor de origem cardíaca. Afta. Úlcera dolorosa na túnica mucosa da boca que afeta as mulheres com mais frequência do que os homens, geralmente entre os 10 e 40 anos de idade; pode ser uma reação autoimune ou uma alergia alimentar. Borborigmo. Ruído semelhante a ruflar causado pela propulsão de gás pelos intestinos. Cirrose hepática. Distorção estrutural ou tecido cicatricial em decorrência da inflamação crônica decorrente da hepatite, produtos químicos que destroem hepatócitos, parasitas que infectam o fígado ou alcoolismo; os hepatócitos são substituídos por tecido conjuntivo fibroso ou adiposo. Os sinais/sintomas incluem icterícia, edema de membros inferiores, hemorragia não controlada e aumento da sensibilidade a fármacos. Cirurgia bariátrica. Procedimento cirúrgico que limita a quantidade de alimento que pode ser ingerido e absorvido, a fim de promover significativa perda de peso em indivíduos obesos. O tipo mais comum é chamado cirurgia de desvio gástrico. Em uma variante deste procedimento, reduzse o tamanho do estômago criandose uma pequena bolsa na parte superior do estômago do tamanho de uma noz. A bolsa, que corresponde a apenas 5 a 10% do estômago, é isolada do restante do estômago usando grampos cirúrgicos ou uma banda de plástico. A bolsa é ligada ao jejuno do intestino delgado, desviando, assim, do restante do estômago e do duodeno. O resultado é que pequenas quantidades de alimentos são ingeridas e menos nutrientes são absorvidos no intestino delgado. Isso leva à perda de peso. Colite. Inflamação da túnica mucosa do colo e do reto em que a absorção de água e sais é reduzida, produzindo fezes aquosas e com sangue e, em casos graves, desidratação e depleção de sal. Os espasmos da túnica muscular irritada provocam cólicas. Acreditase ser uma condição autoimune. Colonoscopia. Exame visual do revestimento do colo usando um endoscópio de fibra óptica flexível alongado chamado colonoscópio. É realizada para detectar alterações como pólipos, câncer e diverticulose; para coletar amostras de tecido; e para remover pequenos pólipos. A maior parte dos tumores do intestino grosso ocorre no reto. Colostomia. Desvio das fezes por uma abertura no colo, criando um “estoma” cirúrgico (abertura artificial) que é feito no exterior da parede abdominal. Essa abertura substitui o ânus, através da qual as fezes são eliminadas para uma bolsa usada no abdome. Diarreia do viajante. Doença infecciosa que resulta em evacuações frequentes de fezes pastosas, cólicas, dor abdominal, malestar, náuseas e, ocasionalmente, febre e desidratação. É contraída pela ingestão de alimentos ou água contaminados com material fecal contendotipicamente bactérias (especialmente Escherichia coli); vírus ou parasitas protozoários são causas menos comuns. Disfagia. Dificuldade para deglutir que pode ser causada por inflamação, paralisia, obstrução ou traumatismo. Doença inflamatória intestinal. Inflamação do canal alimentar que se manifesta de duas formas. (1) A doença de Crohn é a inflamação de qualquer parte do canal alimentar em que a inflamação se estende da túnica mucosa à tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa. (2) A colite ulcerativa consiste em inflamação da túnica mucosa do colo e do reto, geralmente acompanhada de hemorragia retal. Curiosamente, o tabagismo (cigarro) aumenta o risco de doença de Crohn, mas diminui o risco de colite ulcerativa. Flato. Presença de ar (gás) no estômago ou intestino, geralmente expelido através do ânus. Se o gás for expelido pela boca, é chamado eructação. O flato pode resultar do gás liberado durante a degradação de alimentos no estômago ou do ar ou substâncias contendo gás deglutidas, como refrigerantes. Gastrenterite. Inflamação da túnica mucosa do estômago e do intestino (especialmente o intestino delgado). Geralmente é causada por infecção viral ou bacteriana, que pode ser contraída pela ingestão de alimentos ou água contaminada ou pelo contato íntimo com outras pessoas. Os sinais/sintomas incluem diarreia, vômitos, febre, perda de apetite, cólicas e desconforto abdominal. Gastroscopia. Exame endoscópico do estômago em que o examinador consegue visualizar diretamente o interior do estômago à procura de úlcera, tumor, inflamação ou fonte de sangramento. Halitose. Odor desagradável na cavidade oral. Também é chamada de mau hálito. Hemorroidas. Veias retais superiores varicosadas (alargadas e inflamadas). As hemorroidas se desenvolvem quando as veias são colocadas sob pressão e ficam cheias de sangue. Se a pressão continuar, a parede da veia distende. Este vaso distendido extravasa sangue; o sangramento ou prurido é, em geral, o primeiro sinal de hemorroida. A distensão de uma veia também favorece a formação de coágulos, agravando ainda mais o edema e a dor. As hemorroidas podem ser causadas por constipação intestinal secundária a dieta pobre em fibras. Além disso, o esforço repetido durante a defecação força o sangue para baixo nas veias retais, aumentando a pressão nessas veias e possivelmente causando hemorroidas. Hérnia. Protrusão de todo ou de parte de um órgão através de uma membrana ou parede de cavidade, geralmente a cavidade abdominal. A hérnia de hiato (diafragmática) é a protrusão de uma parte do estômago para dentro da cavidade torácica através do hiato esofágico do diafragma. A hérnia inguinal é a protrusão do saco hernial pela abertura inguinal; pode conter uma parte do intestino na fase avançada e estenderse para o escroto, causando estrangulamento da parte herniada. Intoxicação alimentar. Doença súbita causada pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminados por bactérias, vírus ou protozoários ou uma toxina (veneno). A causa mais comum de intoxicação alimentar é a toxina produzida pela bactéria Staphylococcus aureus. A maior parte dos tipos de intoxicação alimentar causa diarreia e/ou vômitos, muitas vezes associados à dor abdominal. Má absorção. Várias condições nas quais os nutrientes dos alimentos não são absorvidos adequadamente. Isso pode ser decorrente de doenças que resultam na degradação imprópria de alimentos durante a digestão (em virtude de enzimas ou sucos digestórios inadequados), lesões na túnica mucosa do intestino delgado (por cirurgias, infecções e medicamentos como a neomicina e o álcool etílico) e comprometimento na motilidade. Os sinais/sintomas podem incluir diarreia, perda de peso, fraqueza, deficiências de vitaminas e desmineralização óssea. Má oclusão. Condição na qual as faces dos dentes maxilares (superiores) e mandibulares (inferiores) se encaixam mal. Náuseas. Desconforto caracterizado por perda do apetite e sensação de vômito iminente. Suas causas incluem irritação local do canal alimentar, doença sistêmica, doença ou lesão cerebral, esforço excessivo ou efeitos de medicamentos ou dosagem excessiva de fármacos.