Prévia do material em texto
As gônadas masculinas (testículos) situam-se fora do abdome, no escroto, uma estrutura semelhante a uma bolsa, derivada da pele e da fáscia da parede abdominal. O testícu- lo localiza-se dentro do processo vaginal, uma extensão separada do peritôneo, o qual atravessa a parede abdominal pelo canal inguinal. Os anéis inguinais profundos e superfi- ciais são as aberturas profundas e superficiais do canal ingui- nal. Os vasos e os nervos alcançam os testículos no funícu- lo espermático, que se posiciona dentro do processo vaginal; o ducto deferente acompanha os vasos, mas se separa deles no orifício do processo vaginal para se unir à uretra. Além de permitir a passagem do processo vaginal e de seu conteúdo, o canal inguinal também dá passagem a vasos e nervos para o suprimento da genitália externa. Os espermatozóides deixam o testículo pelos dúctulos eferentes e vão em direção ao ducto espiralado do epidídi- mo, que continua como ducto deferente. As glândulas aces- sórias eliminam seus conteúdos no ducto deferente ou na porção pélvica da uretra. A uretra se origina no colo da bexiga. Em toda sua extensão, ela é rodeada pelo tecido vascular cavernoso. Sua porção pélvica, que é envolvida pelo músculo estriado ure- tral e recebe secreções de várias glândulas, leva à porção secundária do pênis na saída pélvica. Nesse local unem-se mais dois corpos cavernosos para formar o corpo do pênis, que se localiza abaixo da pele da parede corpórea. Alguns músculos agrupados ao redor da saída pélvica contribuem para a constituição da raiz do pênis. O ápice ou parte livre do pênis é coberto por pele modificada – o tegumento peniano –, o restante está incluso no prepúcio. As caracte- rísticas topográficas dos órgãos de importantes espécies de animais domésticos estão demonstradas na Figura 1-1. O testículo e o epidídimo são supridos pela artéria testi- cular, que se origina da aorta dorsal, próxima ao sítio embrionário do testículo. A artéria pudenda interna supre a genitália pélvica e seus ramos partem do arco isquiático da pelve para nutrir o pênis. A artéria pudenda externa deixa a cavidade abdominal via canal inguinal para suprir o pênis, o escroto e o prepúcio. A linfa do testículo e do epidídimo é drenada para os linfonodos aórtico lombares. A linfa das glândulas acessórias, da uretra e do pênis é drenada para os nodos sacral e ilíaco medial. A linfa do escroto, do prepúcio e dos tecidos ao redor do pênis é drenada para os linfonodos inguinais superficiais. Nervos aferentes e eferentes (simpáticos) acompanham a artéria testicular para os testículos. O plexo pélvico supre as fibras autônomas (simpáticas e parassimpáticas) para a genitália pélvica e para os músculos lisos do pênis. Os ner- vos sacrais suprem as fibras motoras para os músculos estria- dos do pênis e as fibras sensoriais para a parte livre do pênis. Fibras aferentes do escroto e do prepúcio atravessam princi- palmente o nervo genitofemoral. DESENVOLVIMENTO Desenvolvimento Pré-natal O testículo se desenvolve no abdome, medialmente ao rim embrionário (mesonéfro). O plexo dos ductos testicula- res se desenvolve conectado aos túbulos mesonéfricos e, então, ao ducto mesonéfrico para formar o epidídimo, o ducto deferente e a glândula vesicular. A próstata e a glân- dula bulbouretral se formam a partir do seio urogenital embrionário e o pênis forma-se da tubulação e do alonga- mento do tubérculo que se desenvolve a partir do orifício do seio urogenital. Dois agentes produzidos no testículo fetal são responsá- veis por sua diferenciação e desenvolvimento (1). O andró- geno fetal determina o desenvolvimento do trato reprodutor masculino. A “substância inibidora Mülleriana”, uma glico- proteína, é responsável pela supressão do ducto paramesoné- frico (Mülleriano), a partir do qual se desenvolvem o útero e a vagina (2). Anormalidades na diferenciação e no desen- volvimento das gônadas e dos ductos podem resultar em diferentes graus de intersexualidade (3). 3 CAPÍTULO 1 Anatomia da Reprodução Masculina E. S. E. HAFEZ Descida dos Testículos Durante a descida dos testículos (4), a gônada migra cau- dalmente dentro do abdome para o anel inguinal profundo. Então atravessa a parede abdominal para emergir no anel inguinal superficial, o qual é, de fato, a maior dilatação do fora- me do nervo genitofemoral (L3, L4). O testículo completa essa migração incluindo-se completamente no escroto. A descida é precedida pela formação do processo vaginal, no qual o saco peritoneal estende-se até a parede abdominal e abriga o liga- mento inguinal do testículo. O ligamento inguinal da gônada é freqüentemente chamado de gubernáculo testis e termina na região dos rudimentos escrotais. A descida segue a linha do gubernáculo testis. O tempo da descida varia (Tab. 1-1). No cavalo, geralmente, o epidídimo entra no canal inguinal antes dos testículos e parte do ligamento inguinal que conecta o tes- tículo e o epidídimo (ligamento próprio do testículo) perma- nece estendida até o nascimento. 4 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 1-1. Diagrama do trato reprodutor masculino visto em dissecação lateral esquerda. a, ampola; bu, glândula bulbouretral; cab. e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; cp, crus esquerda do pênis, separada do ísquio esquerdo; dd, ducto deferente; dp, divertículo dorsal do prepúcio; ppp, prepúcio pré-peniano; pl, parte livre do pênis; pp, prega prepucial; p, próstata; r, reto; rp, músculo retrator do pênis; e, escroto; fs, flexura sigmóide; t, testículo; pu, processo uretral; gv, glândula vesicular. (Adaptado de Popesko, Atlas der topographischen anatomie der Haustiere. Vol. 3, Jena: Fischer, 1968.) TOURO CACHAÇO GARANHÃO CARNEIRO Espermatócitos primários nos túbulos seminíferos Algumas vezes, os testículos não entram no escroto. Nessa condição (criptorquidismo), os testículos e o epidídi- mo não encontram a temperatura necessária, embora a fun- ção endócrina do testículo não esteja prejudicada. Machos criptorquídicos bilaterais, portanto, mostram desejo sexual discreto mas são estéreis. Ocasionalmente, algumas vísceras abdominais passam pelo orifício do processo vaginal e entram no escroto; a hérnia escrotal é particularmente comum em porcos. Desenvolvimento Pós-natal Cada componente do trato reprodutor de todos os ani- mais domésticos desenvolve-se em tamanho relativo ao tamanho do corpo e passa por diferenciação histológica. A competência funcional não é concluída simultaneamente em todos os componentes do sistema reprodutor. Assim, no touro, a capacidade de ereção do pênis precede o apareci- mento do espermatozóide no ejaculado em vários meses. Em carneiros, o segmento terminal do epidídimo torna-se mor- fologicamente “adulto” em 6 semanas, o que não acontece com o segmento inicial até a 18ª semana (5). Na puberdade, todos os componentes do sistema reprodutor masculino alcançam suficiente estágio avançado de desenvolvimento para que o sistema como um todo seja funcional. O período de rápido desenvolvimento que precede a puberdade é conhecido como período pré-puberdade, embora algumas vezes também seja referido como “puberdade”. Durante o período pós-puberdade, o desenvolvimento continua e o trato reprodutor alcança maturidade sexual total após meses ou até mesmo anos da idade em que ocorreu a puberdade. Em cavalos, um aumento significativo no peso testicular, na produção diária de espermatozóides e na reserva de esperma epididimal ocorre até 15 anos de idade. Algumas importan- tes mudanças anatômicas que ocorrem durante o desenvol- vimento pós-natal estão resumidas na Tabela 1-1. TESTÍCULOS E ESCROTO Os testículos estão protegidos na parede do processo vaginal ao longo da linha de fixação epididimal. A posição no escroto e a orientação do eixo maior do testículo diferem de acordo com as espécies (Fig. 1-1). A organização dos túbulos e dos ductos dentro do testículo do touro é mostra- da na Figura 1-2. As características histológicas e citológicas dos componentes celulares dos túbulos seminíferos estão resumidasna Tabela 1-2. A rede testicular é revestida por epitélio cuboidal não-secretório. O tamanho testicular varia ao longo do ano em animais de estação reprodutiva sazonal (carneiro, garanhão, came- lo). A remoção de um testículo resulta em considerável aumento da gônada remanescente (mais de 80% de aumen- to no peso). No criptorquídico unilateral, a remoção do tes- tículo que desceu pode ser seguida pela descida do testículo abdominal à medida que ele cresce. As células intersticiais (Leydig), que se situam entre os túbulos seminíferos, secretam hormônios masculinos nas veias testiculares e nos vasos linfáticos. As células esper- matogênicas do túbulo dividem-se e diferenciam-se para formar espermatozóides. Pouco antes da puberdade, as células de sustentação (Sertoli) do túbulo formam uma barreira (6) que isola as células germinativas em diferen- ciação da circulação geral. Essas células de sustentação contribuem para a produção do fluido tubular e podem pro- duzir o fator inibidor Mülleriano encontrado no fluido da rede em machos adultos (2). As células de sustentação não aumentam em número após a chegada da puberdade. Este pode ser o limite da espermiogênese. A produção de esper- ma aumenta com a idade no período pós-puberdade e está sujeita às mudanças sazonais em várias espécies. A castra- ção de machos pré-púberes suprime o desenvolvimento sexual. Mudanças regressivas no comportamento e na CAPÍTULO 1: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 5 Variável nas partes dos túbulos seminíferos de cada testículo Espermatozóides nos túbulos seminíferos Espermatozóides na cauda do epidídimo Espermatozóides no ejaculado Conclusão da separação entre pênis e parte pré-peniana do prepúcio Idade em que cada animal pode ser considerado sexualmente “maduro” A descida dos testículos dirige-se ao escroto na metade da vida fetal (touro, carneiro), no último quarto da vida fetal (cachaço) ou apenas pouco antes/após o nascimento (garanhão). TA B E L A 1-1. Desenvolvimento do Trato Reprodutor Masculino em Animais Domésticos (Semanas) TOURO CARNEIRO CACHAÇO GARANHÃO 24 12 10 32 16 20 56 40 16 20 60 42 18 22 64-96 32 > 10 20 4 150 > 24 30 90-150 (variável) Hafez-Cap 01 26/6/03 01:33 AM Page 5 TABELA 1-2. Histologia Funcional dos Testículos dos Mamíferos estrutura ocorrem após a castração de machos adultos. A castração é um procedimento-padrão na criação animal para modificar o comportamento agressivo do macho e eli- minar qualidades de carcaça indesejáveis, por exemplo, em cachaços. Desordens na espermatogênese são causadas por mudan- ças nos parâmetros dos espermatozóides no ejaculado ou por infertilidade. Turner et al. (7) conduziram extensos estudos para identificar as proteínas que podem desempenhar papéis mais importantes na espermatogênese e são subseqüente- mente transportadas para a corrente sangüínea. A inervação autônoma do testículo desempenha papel muito importante nas funções de regulação do trato genitu- rinário masculino. Mecanismos adrenérgicos, colinérgicos, não-adrenérgicos e não-colinérgicos (NANC) operam de maneira orquestrada para assegurar confiável armazenagem e liberação de urina da vesícula urinária, para regular o transporte e o armazenamento de espermatozóides no trato reprodutor e para coordenar a emissão/ejaculação das glân- dulas sexuais acessórias (8). 6 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 1-2. Representação esquemática do sistema tubular dos testículos e do epidídimo no touro (para simplificar, o sistema ductal da rete testis foi omitido). cab. e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; corp. e, corpo do epidídimo; dd, ducto deferente; de, ducto do epidídimo; def, dúctulo eferente; lb, lóbulo com túbulos seminíferos; rt, rete testis; tr, túbulo reto; t, testículo. (Simplificado de Blom e Christensen. Nord Vet Med 1968; 12:453.) SEGMENTO CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS Cápsula branca, espessa, de tecido conjuntivo que envolve os testículos; formada principalmente de séries entrelaçadas de fibras colágenas. Aparecem como grandes estruturas isoladas, com perfil arredondado ou oblongo; aparência varia devido ao complexo enovelado dos túbulos em muitos ângulos e níveis diferentes. Entre os túbulos localizam-se massas de células intersticiais (Leydig) que produzem o hormônio sexual masculino. Situa-se na região mais externa do túbulo; núcleos arredondados aparecem como uma camada irregular dentro do tecido conjuntivo circundante. Os núcleos são pequenos e de coloração escura devido à presença de um grande número de grânulos de cromatina. Túnica albugínea Túbulos seminíferos Espermatogônia Localizados exatamente no interior de uma camada irregular de espermatogônias e células de Sertoli; os núcleos são maiores e mais claros do que os das espermatogônias. Espermatócitos primários Divisões de maturação e espermatócitos secundários normalmente não são visualizados no túbulo devido à curta duração desses estágios. Espermatócitos secundários Localizadas internamente em relação aos espermatócitos primários. A camada de espermátides pode conter várias células em espessura. Os espermatozóides situam-se ao longo da margem do lúmen. As cabeças dos espermatozóides estão alojadas em profundas pregas na superfície das células de Sertoli. Espermátides Grandes e relativamente claras, exceto pelo nucléolo proeminente e negro. O citoplasma é difuso e seus limites são indefinidos. Células de Sertoli A inervação adrenérgica pode desempenhar um papel na modulação da função epididimária. A inervação simpáti- ca dentro do epidídimo é necessária para eventos neuromus- culares requeridos para o transporte do sêmen. A absorção neuronal pode desempenhar um importante papel na manu- tenção da função epididimária (8). Termorregulação dos Testículos Para um funcionamento eficiente, os testículos dos mamíferos devem ser mantidos em uma temperatura mais baixa que a do corpo. Características anatômicas dos testí- culos e do escroto permitem a regulação da temperatura tes- ticular. Receptores de temperatura localizados na pele escro- tal podem provocar respostas para diminuir a temperatura do corpo todo e provocar palpitação e transpiração (9). A pele escrotal é ricamente dotada de grandes glândulas sudo- ríparas adrenérgicas, e seu componente muscular (dartos) permite alterar a espessura e a área da superfície do escroto e variar a proximidade de contato do testículo com a parede do corpo. No cavalo, esta ação pode ser suportada pelo mús- culo liso no interior do funículo espermático e túnica albu- gínea, a qual pode abaixar ou elevar os testículos. Em condi- ções de frio, esses músculos lisos se contraem, elevando o testículo e enrugando e engrossando a parede do escroto. Em condições de calor, os músculos relaxam, abaixando o testí- culo para o interior do escroto penduloso de parede fina. As vantagens oferecidas por esse mecanismo são realçadas pela relação especial das artérias e veias. Em todos os animais domésticos, a artéria testicular é uma estrutura convoluta na forma de cone, cuja base dispõe- se no pólo cranial ou dorsal do testículo. Essas convoluções arteriais estão intimamente relacionadas ao chamado plexo pampiniforme das veias testiculares (10). Neste mecanismo contracorrente, o sangue arterial que está entrando no testí- culo é resfriado pelo sangue venoso que está partindo do tes- tículo. No carneiro, o sangue das artérias testiculares dimi- nui 4 oC no seu curso desde o anel inguinal superficial até a superfície dos testículos; o sangue nas veias é aquecido a um grau semelhante entre os testículos e o anel superficial. A posição das artérias e veias próxima à superfície dos testícu- los tende a aumentar a perda direta de calor dos testículos. No cachaço, o escroto é menos pendular (Fig. 1-1) e a trans- piração é menos eficiente. Isso pode explicar a menor dife- rença entre as temperaturas escrotal e retal (3,2 oC) (11). EPIDÍDIMO E DUCTOS DEFERENTES Três componentes anatômicos do epidídimo são reco- nhecidos (Fig. 1-2). A cabeça do epidídimo,na qual há um número variável de dúctulos eferentes (13 a 20) (12), une- se ao ducto do epidídimo. Isso forma uma estrutura achata- da aplicada a um dos pólos dos testículos. O estreito corpo do epidídimo termina no pólo oposto à cauda expandida do epidídimo. A região central de cada ducto eferente mostra grande atividade secretória (13). O enovelado ducto do epi- dídimo é muito longo (touro, 36 m; cachaço, 54 m). A parede do ducto do epidídimo possui uma proeminente camada de fibras musculares circulares e um epitélio pseudo-estratifica- do de células colunares. Três segmentos de ductos do epidí- dimo podem ser distintos histologicamente; isto não coinci- de com a região anatômica macroscópica (14). Há uma progressiva diminuição na altura do epitélio e dos estereocílios e um aumento do lúmen ao longo dos três segmentos. Os dois primeiros segmentos estão relacionados com a maturação espermática, enquanto o segmento termi- nal destina-se ao armazenamento de esperma. O lúmen dos túbulos do epidídimo é revestido por um epitélio de camada basal formado por células pequenas e por uma camada superficial de células ciliadas colunares altas. A mucosa do ducto deferente dispõe-se em pregas lon- gitudinais. Próximo à terminação do epidídimo, o epitélio assemelha-se ao epidídimo: as células não-ciliadas têm pequena atividade secretória. O lúmen é revestido por epi- télio pseudo-estratificado. A ampola do ducto deferente é recoberta por ramificações das glândulas tubulares, as quais, no garanhão, são altamente desenvolvidas e contri- buem com ergotioneína no ejaculado. O ducto ejaculatório entra na uretra. A absorção do fluido e a espermiofagia ocorrem no epitélio do ducto ejaculatório (15). A micros- copia eletrônica de varredura tem sido usada para avaliar a ultra-estrutura funcional dos órgãos reprodutivos com ênfase à espermatogênese (Fig. 1-3). Grandes volumes de fluido (mais de 60 ml no carneiro) partem dos testículos diariamente, e a maior parte é absorvida na cabeça do epi- dídimo pelo segmento inicial do ducto do epidídimo. O transporte de espermatozóides ao longo do epidídimo ocorre por volta de 9 a 13 dias. A maturação dos espermatozóides ocorre durante a passagem pelo epidídimo e a sua motilida- de aumenta quando eles entram no corpo do epidídimo. O meio ambiente da cauda do epidídimo fornece aos esperma- tozóides fatores que acentuam a habilidade da fertilização. Os espermatozóides dessa região possuem maior fertilidade que os encontrados no corpo do epidídimo (14). O armazenamento de espermatozóides no epidídimo conserva a capacidade de fertilização durante várias sema- nas; a cauda do epidídimo é o principal órgão de armazena- mento e contém cerca de 75% do total dos espermatozóides epididimários. A habilidade especial da cauda do epidídimo em armazenar espermatozóides depende da manutenção da temperatura escrotal baixa e da ação do hormônio sexual masculino (16). O depósito de espermatozóides na ampola constitui somente uma pequena parte da reserva de esper- matozóides extragonadais. Pequeno número de espermato- zóides sem motilidade aparece constantemente no ejaculado coletado semanas ou meses após a castração. GLÂNDULAS ACESSÓRIAS A próstata e as glândulas bulbouretrais eliminam suas secreções na uretra, onde, por ocasião da ejaculação, essas secreções são misturadas com a suspensão fluida dos esperma- tozóides e com secreções ampulares do ducto deferente. CAPÍTULO 1: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 7 Weber et al. (17) demonstraram mudanças volumétricas nas glândulas acessórias do garanhão, resultado de estimulação sexual (volume aumentado) e ejaculação (volume reduzido). Anatomia Comparativa VESÍCULAS SEMINAIS. Elas se posicionam lateralmente às porções terminais de cada ducto deferente. Em ruminan- tes, são glândulas lobuladas compactas. No cachaço, são grandes e menos compactas. No garanhão, são grandes sacos glandulares piriformes. O ducto das vesículas seminais e o ducto deferente podem compartilhar um ducto ejaculatório comum que se abre na uretra. GLÂNDULA PROSTÁTICA. Uma distinta parte externa lobulada do corpo posiciona-se fora do delgado músculo ure- tral, e uma secundária parte interna ou disseminada envolve a uretra pélvica. A próstata disseminada estende-se caudal- mente tanto quanto os ductos das glândulas bulbouretrais. O corpo da próstata é pequeno no touro e grande no cachaço. No garanhão, a glândula prostática é totalmente externa. GLÂNDULAS BULBOURETRAIS. Elas são dorsais à uretra e localizam-se próximas à terminação dessa porção pélvica. No touro, elas estão quase ocultas pelo músculo bulboespon- joso. Elas são grandes no cachaço e contribuem com um componente semelhante a gel no sêmen desse animal. Em ruminantes e cachaços, os ductos das glândulas bulboure- trais abrem-se no recesso uretral (18). GLÂNDULAS URETRAIS. O touro carece de glândulas ure- trais comparativamente ao homem (19). Essas glândulas, no cavalo, têm sido consideradas comparáveis com a próstata dis- seminada de ruminantes. 8 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 1-3. Micrografias eletrônicas de varredura (MEV) (A). Superfície luminal do ducto eferente com células ciliadas e não-ciliadas e um espermatozóide. (B) Microvilos pequenos na superfície luminal e células não-ciliadas nos ductos eferentes. A gota citoplasmática do espermatozóide (CD), o acrossomo (A) e a peça intermediária (MP) são visíveis (6.500 3). (C) Secção transversal do túbulo seminífero (ST). Note os vários “estágios” da espermatogênese revestindo o tecido muscular. (A e B extraídos de Connell CJ. Spermatogenesis. In: Hafez ESE, ed. Scanning Electron Microscopy of Human Reproduction. Ann Arbor, MI: Ann Arbor Science Pubs, 1978. C, cortesia do Dr. Larry Johnson, de Johnson L, et al. Am J Vet Res 1978.) Hafez-Cap 01 15/1/04 07:55 AM Page 8 Função Além de fornecer veículo líquido para o transporte de espermatozóides, a função das glândulas acessórias é pouco conhecida, embora muito se saiba sobre os agentes químicos específicos com os quais elas contribuem para o ejaculado (20, 21). Frutose e ácido cítrico são importantes componen- tes das secreções da vesícula seminal dos ruminantes domes- ticados. Ácido cítrico isolado é encontrado na vesícula seminal de garanhões; a vesícula seminal de cachaços con- tém pouca frutose e é caracterizada por conter grande quan- tidade de ergotioneína e inositol. Os espermatozóides da cauda do epidídimo são capazes de fertilização quando inseminados sem a adição de secreções das glândulas acessórias. A fração semelhante ao gel forma um tampão na vagina das fêmeas acasaladas. Na prática da insemi- nação artificial, tal fração é removida do sêmen por filtração. Em animais grandes, é possível palpar por via retal algu- mas glândulas acessórias. As posições dessas glândulas em relação ao corpo do pênis estão demonstradas na Figura 1-4. CAPÍTULO 1: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 9 FIGURA 1-4. A genitália pélvica, entre os ossos pélvicos, em vista dorsal. a, ampola; be, músculo bulboesponjoso; bu, glândula bulbouretral; dd, ducto deferente; ic, músculo isquiocavernoso; cp, corpo da glândula prostática; u. pel, uretra pélvica; rp, músculo retrator do pênis; vu, vesícula urinária; gv, glândula vesicular. (Diagramas do touro, cachaço e garanhão redesenhados por Nickel R. Tierarztl Umschau 1954;9:386.) GaranhãoCachaço Touro Carneiro castradointeiro No porco, o tamanho das glândulas bulbouretrais pode ser usado para diferenciar o animal criptorquídico do castra- do. Após a castração pré-puberdade, as glândulas bulboure- trais são pequenas. Em cachaços com testículo retido, as glândulas são de tamanho normal (22). Essas diferenças podem ser facilmente percebidas, ventralmente ao reto, com o dedo inserido no ânus. PÊNIS E PREPÚCIO Estrutura No pênis dos mamíferos, três corpos cavernosos são agregados ao redor da uretra peniana. O corpo esponjoso do pênis – que envolve a uretra – é amplo. Esse bulbo é recober- to por músculo bulboesponjoso estriado. O corpo cavernosodo pênis surge como uma parte da crus do arco isquiático, o qual é recoberto por músculo isquiocavernoso. Uma cober- tura espessa (túnica albugínea) inclui os corpos cavernosos. Em ruminantes e suínos, o músculo retrator do pênis contro- la o comprimento efetivo do pênis e sua ação na flexura sig- móide. No garanhão, os corpos cavernosos contêm espaços cavernosos grandes; durante a ereção, o considerável aumento de tamanho resulta do acúmulo de sangue nesses espaços. No touro, carneiro e cachaço, os espaços caverno- sos do corpo cavernoso do pênis são pequenos, exceto na crus e na curva distal da flexura sigmóide. Em ruminantes e suínos, o orifício do prepúcio é contro- lado pelo músculo cranial do prepúcio; um músculo caudal também pode estar presente. No cachaço, há um grande divertículo dorsal no qual a urina e debris epiteliais se acu- mulam. Ereção e Protrusão A estimulação sexual produz a dilatação das artérias que suprem os corpos cavernosos do pênis (especialmente a crus). O pênis endurecido e reto dos ruminantes é determi- nado pelo músculo isquiocavernoso, que bombeia sangue dos espaços cavernosos da crus para dentro do restante do corpo cavernoso do pênis. Falhas de ereção (impotência) são provocadas por defeitos estruturais bem como por causas psicológicas (23). O aumen- to da pressão no corpo cavernoso do pênis produz considerável alongamento com pequena dilatação no pênis dos ruminantes e suínos (24). Quando o pênis do touro é protruído, o prepú- cio é invertido e estendido acima do órgão protruído. Em serviço normal, isso ocorre após a introdução. Se isso ocorrer antes, o pênis entra no vestíbulo e a introdução não pode ser concluída. A penetração do pênis do touro dura cerca de 2 segundos e seu enrijecimento após o desembainhamento através do prepúcio, com freqüencia ocorre abruptamente assim que o ligamento apical dorsal assegura sua ação de conservar o órgão ereto. O recolhimento do pênis para dentro do prepúcio se dá após cessar a pressão nos espaços cavernosos. A arquitetura fibrosa do corpo cavernoso do pênis na região da flexura sig- móide tende a formar novamente a flexão, que é auxiliada pelo encurtamento do músculo retrator do pênis. A porção termi- nal de mais ou menos 5 cm do pênis do cachaço é espiralada (Fig. 1-5), e durante a ereção o comprimento total visível da extremidade livre do pênis mostra-se espiralado (24). A intro- dução do pênis dura até 7 minutos, tempo em que é ejaculado um grande volume de sêmen. O desvio em espiral não ocorre no carneiro ou bode, e a introdução é de curta duração. No cavalo, ela perdura por vários minutos. Emissão e Ejaculação A emissão consiste de movimentação do fluido esper- mático ao longo do ducto deferente para a uretra pélvica, onde ele é misturado com secreções das glândulas acessórias. A ejaculação é a passagem do sêmen resultante ao longo da uretra peniana. A emissão ocorre por ação dos músculos lisos sob o controle do sistema nervoso autônomo. A estimulação elétrica da ejaculação nos animais domésticos não passa de uma imitação dos mecanismos naturais complexos. Durante o serviço natural, as terminações nervosas sensoriais do tegu- mento peniano e dos tecidos penianos profundos são essen- ciais no processo de ejaculação. A passagem do sêmen através dos ductos deferentes é contínua durante a inatividade sexual. Prinz e Zaneveld (25) sugerem que durante a inatividade sexual ocorre um complexo processo cíclico ou casual de remoção de esperma- tozóides da cauda do epidídimo, o que pode ajudar na regu- lação das reservas de espermatozóides. A excitação sexual e 10 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 1-5. Diagramas mostrando a forma da extremidade livre do pênis. (A1) A forma do pênis pouco antes da introdução. (A2) A forma após a introdução, quando o desvio em espiral já ocorreu. (B) A forma do pênis durante a monta natural. (C) Não demonstra o grau total de espiralação que ocorre durante a monta. (D) Esquema após a injeção, demonstrando a dilatação dos corpos eréteis. (A1, A2 e B obtidas de fotografias. C e D, de espécimes fixados. Não esquematizados em escala.) Touro Touro Carneiro Cachaço Garanhão TABELA 1-3. Idade e Peso na Primeira Monta e Características do Sêmen a ejaculação são acompanhadas por contrações da cauda do epidídimo e do ducto deferente, as quais aumentam a taxa de fluxo. O número total de espermatozóides que passa no ducto deferente não sofre aumento com a atividade sexual. A contração muscular da parede do ducto é controlada por nervos autônomos simpáticos do plexo pélvico derivado dos nervos hipogástricos. Em garanhões normais, a estimulação de receptores � e o bloqueio de receptores � aumentam a concen- tração de espermatozóides no ejaculado (26). Durante a ejaculação, o músculo bulboesponjoso com- prime o bulbo peniano e, então, bombeia o sangue dele para dentro do restante do corpo esponjoso do pênis. Diferente do corpo cavernoso do pênis, este corpo cavernoso é nor- malmente drenado pelas veias distais; a pressão máxima durante a ejaculação é muito inferior àquela do corpo caver- noso do pênis (27). As ondas de pressão que passam abaixo da uretra peniana podem ajudar a transportar o ejaculado. As mudanças de pressão que ocorrem no corpo esponjoso do pênis durante a ejaculação são transmitidas para o corpo esponjoso da glande; a glande peniana aumenta de tamanho no carneiro, no bode e no garanhão, mas não no touro. ANIMAIS DE LABORATÓRIO Diferenças dos órgãos reprodutores masculinos entre espé- cies são mostradas na Figura 1-1. Esses órgãos podem se mover de uma posição totalmente escrotal para uma totalmente abdo- minal. As diferenças em relação ao tamanho das glândulas aces- sórias são refletidas nas características do sêmen (Tab. 1-3). CAPÍTULO 1: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA 11 Gato 9 3,5 kg 0,01-0,3 0,04 1,5-28 14 Cão 10-12 varia 2-25 9,0 0,6-5,4 1,3 Cobaia (Cavia porcellus) 3-5 450 g 0,4-0,8 0,6 0,05-0,2 0,1 Coelho 4-12 varia 0,4-6 1,0 0,5-3,5 1,5 De Hamner CE. The semen. In: Hafez ESE, ed. Reproduction and Breeding Techniques for Laboratory Animals. Philadelphia: Lea & Febiger, 1970. INÍCIO DA VIDA REPRODUTIVA VOLUME DE EJACULADO CONCENTRAÇÃO ESPERMÁTICA 108 POR ML ESPÉCIES Idade (meses) Peso Corporal Variação VariaçãoMédia Média REFERÊNCIAS 12 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL SUGESTÕES DE LEITURA