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Anatomia Radicular Endodontia: Estudo da morfologia, fisiologia e patologia pulpar e dos tecidos perirradiculares. Engloba ciências básicas, práticas laboratoriais e clínicas, enfatizando a importância da prevenção, diagnóstico e, quando necessário, o tratamento das doenças envolvendo a polpa dental e periápice. O tratamento de canal é uma prevenção, para evitar a extração dentária, tendo em mente que inicialmente deve-se sempre tentar preservar a estrutura dentária, através de capeamento pulpar, restauração e se não possível, partir para e endodontia. É a anatomia do sistema de canais radiculares (SCR) que ditará os parâmetros sob os quais o tratamento endodôntico deve ser realizado, tendo impacto direto sobre seu índice de sucesso. Ao olhar para a anatomia de um dente e perceber que sua anatomia é muito complexa, chega-se a conclusão que o tratamento de canal será muito mais difícil, tomando cuidados extras para que se tenha sucesso no tratamento. Radiografia em endodontia: Radiografia convencional: Somente informações básicas, como: Número de raízes Severidade da curvatura radicular Presença de calcificações e reabsorções Porém, por ser bidimensional e o dente ser tridimensional, a radiografia não possibilita ver: Grau de achatamento dos canais Presença de istmos (comunicação entre um canal e outro) Canais acessórios e deltas apicais O que nos possibilita essa visualização é a radiografia digital e tomografia computadorizada. A tomografia computadorizada favoreceu a endodontia pois, através dela conseguimos ver a presença de canais extras, localização de canais, quando o dente se encontra calcificado, conseguimos saber em que terço radicular o canal começa, entre outros. Anatomia Radicular: Antigamento se estudava a anatomia dos canais dentários através de um processo chamado de diafanização, que consiste em: Permitir que todo o tecido calcificado, ou seja, todo tecido duro do dente fique cristalizado, injeta uma substância dentro do canal e consegue-se observar a parte do canal radicular. Esse processo foi feito por Werner Spalteholz; Prinz. O estudo de Walter Hess, consistiu em aplicar uma substância de borracha dentro do canal e conseguia ver a anatomia. Com isso, ele conseguiu observar que o dente não é formado por um único canal e sim formado por uma trama de canais, conhecido como sistema de canais radiculares. Nos dias atuais temos a micro tomografia computadorizada, onde consegue-se verificar todos os sistemas de canais. Porém só é possível realizar em dentes que já foram extraídos, conseguindo estudar as diferentes variações anatômicos dos grupos de elementos dentários. Anatomia radicular propriamente dita: Cavidade pulpar: espaço que abriga a polpa. Dividida em: Câmara pulpar Canais radiculares A anatomia radicular irá seguir a anatomia externa do dente. Ex: Se eu possuo um molar, a cavidade da câmara pulpar irá ter todos os lados que um dente em sua parte externa tem. Então, assim que realizar o acesso endodôntico , ele irá ter o formato da minha coroa, no caso do molar, terá o formato da oclusal. Ao observar a coroa, é possível perceber que na junção amelo-dentinária tem uma reentrância, tendo essa mesma reentrância na cavidade pulpar, sendo necessária a sua remoção para que a lima entre sempre reta dentro do canal. T: Teto da câmara pulpar C: Cornos pulpares P: Paredes (V, L/P, D e M) A: Assoalho da câmara pulpar Diferentes alturas da câmara pulpar: A câmara pulpar possui diferentes alturas, dependendo da idade do dente e as agressões externas que ele sofre durante a vida. Um dente jovem, possui uma câmara pulpar grande, pois é um dente recém erupcionado e ainda não possui deposição de dentina secundária suficiente para diminuir a quantidade de dentina no espaço da câmara pulpar. Com a formação de dentina secundária ao longo do tempo em que esse dente se encontra dentro da boca, a câmara pulpar e os canais radiculares vão diminuindo de tamanho, ficando mais estreitos ou até mesmo atresiados. Nomenclatura dos canais que compõe o sistema de canais radiculares: Principal: Mais volumoso, visto em radiografias Recorrente: Sai do canal principal e volta para o canal principal Reticular: Entre o canal principal e o recorrente Secundário: Sai do canal principal no terço apical Cavo Inter-radicular: Sai da câmara pulpar em direção a furca Lateral ou Adventício: Sai do canal principal para a lateral da raiz Colateral ou Bifurcado: colateral ao canal principal Interconduto: Entre o canal principal e o colateral Acessório: Canal que sai do canal secundário na região apical Delta Apical: vários canais em direção ao ápice Conduto cavo inter-radicular: Não é muito comum, mas na formação do dente, ao invés de ter a união das duas raízes, tem a formação de um canal. Pode provocar lesão de furca, e é bem difícil achar esse canal. Delta Apical: Recebe esse nome pois parece o delta de um rio. Temos a imagem abaixo, de exemplo, onde vemos um rio e a saída de vários riozinhos para o rio principal. Por isso o nome Delta Apical. Comum, principalmente em incisivos e pré molares. Geralmente se tem o limite entre o canal, a dentina e o semento, por isso chamamos de CDC, e logo após esse CDC se tem a saída para o forame maior (forame principal) e os forames dos canais secundários, chamados de foraminas. Nessa imagem pode-se observar diferentes Delta Apicais. Ao virar a raiz ao contrário percebe-se várias saídas de foraminas. Portanto, ao se realizar o tratamento de canal, não consegue-se atingir com o instrumento, esse canais, portanto o ideal é limpar da melhor maneira possível com a substância irrigadora ou com a medicação intra-canal, todos esses canais, para que na obturação, o material obturador vede esses canais. Classificação de Weine: A classificação de Weine é um sistema que determina a tipologia anatômica dos diferentes complexos do canal radicular. A classificação do sistema de canais radiculares apresenta 4 tipologias: I: há apenas um único canal radicular. Ele segue desde a câmara pulpar até o ápice; (1 entrada e 1 saída) II: há dois canais separados. Além disso, eles saem da câmara pulpar para ficarem unidos no ápice. Dessa forma, há formação de apenas um canal; (2 entradas e 1 saída) III: neste caso há dois canais que são separados e distintos. Eles deixam a câmara pulpar e saem da raiz. Isso por meio de um forame apical separado; (2 entradas e 2 saídas) IV: neste caso há um canal radicular que sai da câmara pulpar. Desta maneira, ele se divide em dois canais radiculares a partir de dois forames apicais separados. (1 entrada e 2 saídas) Todos os dentes possuem uma inclinação na cavidade oral e é muito importante saber dessa inclinação na hora que for realizar o acesso, pois se não respeitar a inclinação pode perfurar a coroa do dente. Formas de apresentação do forame apical: A raiz do dente é formada por três partes. Canal radicular: Terço cervical: parte mais próxima da coroa Terço médio Terço apical: maior quantidade de alterações da anatomia, demandando mais cuidados. O forame pode ser junto com o forame radicular, ou seja, ao se observar a radiografia do elemento dentário, o forame acompanha o final da raiz. (1° imagem). Ele pode estar mais para a lateral ou literalmente muito para a lateral, conhecido como paraapical. Devemos colocar o material restaurador sempre de 0,5 a 1mm aquém da patência, ou seja, do finalzinho do forame, pois é a região mais estreita do canal (limite CDC). Essa região mais estreita do canal nos da uma formade segurança, pois desse modo evita a sobre instrumentação, ou seja, evita que o material obturador saia do canal, e com isso, estando tudo limpo, o organismo cela essa abertura com o ligamento periodontal. Patência: entrar com o instrumento no canal desde o seu início, até o seu final. Mantendo o canal sempre todo limpo. Alterações na anatomia interna: 1 2 3 Anomalias dentárias: Essas anomalias podem atrapalhar o tratamento de canal. Dens Invaginatus: Formação de dentina para dentro do dente. Principalmente em incisivos laterais superiores. Fusão: Dois dentes que se fundem, tendo 2 coroas e 2 canais. Geminação: 2 coroas, porém, somente 1 canal, sendo ele bem amplo, assim como o ápice. Microdontia: Dente muito pequeno Macrodontia: Dente muito grande Taurodontia: Câmara pulpar muito ampla, canal se divide no terço cervical, médio ou apical. Dilaceração: raiz tortuosa Canal em forma de C: muito comum em segundos molares superiores Outros fatores: Agressões: mecânica, térmica, química ou bacteriana (Sempre que o dente sofre um agressão, a polpa tende a se retrair) Idade do dente: O 1° Molar inferior é o dente mais antigo da cavidade oral, ou seja, quanto mais o paciente mastiga, mais teremos a formação de secundária e com isso a câmara pulpar vai diminuindo cada vez mais. Presença de reabsorções: -Reabsorções externas, que em alguns casos impossibilitam o tratamento. -Reabsorções internas, onde se vê um canal, uma área radiolúcida circunscrita e a continuação desse canal. É possível realizar o tratamento desse canal e vedar a reabsorção. Presença de calcificações: Muito perigosas, pois podem ser somente na câmara pulpar, conhecida como cálculo pulpar. Grupos dentários: Incisivo Central Superior: Dente: ICS Raízes: 1= 100% Canais: 1=100% Mínimo: 18.0mm Máximo: 28.5mm Possui um canal bem amplo e fácil de fazer. A câmara pulpar mais próxima da incisal é mais fina, então ao realizar o acesso, se não tomar cuidado pode acabar saindo pela vestibular. Em alguns casos a raiz pode estar inclinada para a vestibular. Incisivo Lateral Superior: ILS Raízes: 1 = 100% Canais: 1 = 97% Mínimo: 18,5mm Máximo: 29,5mm Médio: 22,1mm O incisivo lateral superior normalmente tem uma curvatura da raiz para a disto palatina. Inciso Central Inferior: ICI Raízes: 1 = 100% Canais: 1 = 73,4% 2= 26,6% Mínimo: 16,5mm Máximo: 27,5mm Médio: 21,0mm Quando o canal for muito para a vestibular ou para a lingual, ao realizar o acesso é necessário procurar outro canal. Incisivo Lateral Inferior: ILI Raizes: 1 = 100% Canais: 1 = 84,6% 2 = 15,4% Mínimo: 17,0 mm Máximo: 29,0 mm Médio: 22,3 mm O incisivo central superior pode ter uma curvatura para a vestibular. Incisivo lateral superior: geralmente possui uma curvatura para distal ou palatina Incisivos inferiores podem ter a presença de dois canais (Classificação de Weine), pois no terço cervical é bem achatado, e esse achatamento pode levar a presença de dois canais. Canino Superior: Dente: CS Raizes: 1 = 100% Canais: 1 = 100% Mínimo: 20,0 mm Máximo: 33,5 mm Médio: 27,2% mm A raiz vai afinando de uma forma bem abrupta no terço apical. Canino Inferior: CI Raizes: 1 = 94% 2 = 6% Canais: 1 = 88,2% 2 = 11,8% Mínimo: 19,5 mm Máximo: 32,0 mm Médio: 25,0 mm É mais comum o canino inferior ter dois canais ao invés do canino superior. O canino superior possui uma curvatura para a vestibular, afinando bastante a raiz, tendo que tomar cuidado para não perfurar. Canino inferior precisa de um cuidado, pois pode possuir dois canais e ter um delta apical. O canino superior possui poucas variações, além de poder ter a presença de canais laterais e acessórios e ter uma curvatura para a vestibular. O canino inferior pode ter a presença de 2 canais, com a câmara pulpar única e a divisão dos canais logo abaixo ou 2 canais separados. Primeiro Pré-Molar Superior: Dente: 1° PMS Raizes: 1 = 35,5% 2 = 61,0% 3= 3,5% Canais: 1 = 8,3% 2 = 84,2% 3 = 7,5% Mínimo: 17,0 mm Máximo: 25,5 mm Médio: 21,4 mm As raízes podem estar separadas ou fusionadas, mas geralmente elas estão separadas. Ao realizar o acesso, sempre procurar o canal vestibular e o canal palatino. A raiz vai afinando na região apical. Segundo Pré-Molar Superior: 2° PMS Raizes: 1 = 94,6% 2 = 5,4% Canais: 1 = 53,7% 2 = 46,3% Mínimo: 17,0 mm Máximo: 26,0 mm Médio: 21,8 mm Pode acontecer de ter 1 raiz e 2 canais, se possuir 2 canais, um canal estará bem para a vestibular e outro para a lingual. Ao realizar o acesso e encontrar um canal bem no meio do dente, este possui apenas 1 canal. Se possuir mais de 1 raiz, irão ser fusionadas. O Primeiro Pré-molar Superior pode apresentar uma trama reticular entre os canais, pode possuir dois canais separados que se unem e separam novamente, podem apresentar 3 canais. Primeiro Pré-Molar Inferior: 1° PMI Raizes: 1 = 82% 2 = 18% Canais: 1 = 66,6% 2 = 31,3% 3 = 2,1% Mínimo: 17,0 mm Máximo: 26,5 mm Médio: 21,6 mm Após o molar inferior, é o mais difícil de se fazer. Se possuir mais de 1 canal, se torna mais difícil pois, os canais se bifurcam no terço médio para apical. A variação anatômica mais comum é de 1 raiz e 2 canais, sendo esse bifurcado no terço médio. Segundo Pré-Molar Inferior: Dente: 2° PMI Raizes: 1 = 92% 2 = 8% Canais: 1 = 89,3% 2 = 2,7% Mínimo: 17,5 mm Máximo: 27,5 mm Médio: 22,1 mm Pode aparecer 1 raiz com 2 canais. O Primeiro Pré-molar inferior pode começar junto e se bifurcar no terço médio. O Segundo Pré-molar inferior pode apresentar alterações como: taurodontismo ou canais em forma de C, ou seja, canais amplos do inicio ao fim. Primeiro Molar Superior: Dente: 1° MS Raizes: 3 = 100% Canais: 3 = 30% 4 = 70% Mínimo: V = 15,6 mm P = 17,2 mm Máximo: V = 25,1 mm P = 25,6 mm Médio: 21,5 mm A raiz MV possui 2 canais. A raiz palatina tem uma curvatura para vestibular, já as raízes vestibulares irão ter uma curvatura para distal, além da raiz distal ser um pouco mais reta que as outras. A raiz mesial tem o canal mésio vestibular e mésio palatino ou mésio vestibular 1 e mésio vestibular 2. Na raiz distal tem o canal disto vestibular. O canal palatino é o canal mais amplo e geralmente ele é acessado primeiro para guiar os próximos. Existe uma linha escura entre os canais, guiando na hora do acesso. A raiz mésio vestibular pode ter: - Apenas 1 canal - 2 canais, começando unidas e se bifurcando no terço apical - 2 canais, começando separadas, tendo uma trama entre eles e terminando juntos. - 2 canais independentes - 3 canais terminando em somente 1. Segundo Molar Superior: Dente: 2° MS Raizes: 3 = 100% Canais: 3 = 50% 4 = 50% Mínimo: 17,5 mm Máximo: 27,0 mm Médio: 21,0 mm As raízes são mais juntas, retas e na maioria das vezes, podem estar fusionadas. A raiz MV pode ter 2 canais e as raízes são mais curtas se comparadas com o 1° Molar superior. Na raiz palatina pode ter a presença de 2 canais. Primeiro Molar Inferior: Dente: 1° MI Raizes: 2 = 97,5% 3 = 2,5% Canais: 2 = 8,0% 3 = 56,0% 4 = 36,0% Mínimo: 19,0 mm Máximo: 27,0 mm Médio: 21,0 mm Possui dois canais na raiz mesial, sendo eles MV e ML e somente 1 canalna raiz distal. A raiz ML geralmente vai ser um pouco maior que a MV e as raízes mesiais irão apresentar uma curvatura para a distal. A raiz mesial pode ter: - 2 canais juntos (MV e ML) - Canais separados - Começarem em 2 e terminarem em 1 - Podendo ter um terceiro canal na raiz mesial, chamado de mésio medial Segundo Molar Inferior: Dente: 2° MI Raizes: 2 = 98,5% 3 = 1,5% Canais: 2 = 16,2% 3 = 72,5% 4 = 11,3% Mínimo: 19,0 mm Máximo: 26,0 mm Médio: 21,7 mm 2 canais na raiz mesial, sendo eles MV e ML e 1 canal na raiz dista. É um dente que sofre várias alterações, como: Canais em forma de C ( quando acessar o dente irá ter forma de C). Os canais em forma de C possuem dificuldade de limpeza, porque tem um istmo muito grande Taurodontia Canal único Pode ter 1 raiz extra na raiz distal e possuir 2 canais na raiz distal. (Radix Endomolaris)