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SÍNTESE DA APRESENTAÇÃO - ZORA HURSTON
Nascida em 7 de janeiro de 1981 em Notasulga, no Alabama, Zora Neale Hurston foi
uma das maiores antropólogas da história. Contudo, não são todas as pessoas que sabem
disso. E essa questão é devida a uma série de apagamentos, mas ainda chegaremos lá. Já no
texto “Como me sinto uma pessoa de cor?”, Hurston nos conta que passou sua infância em
Eatonville, uma pequena cidade na Flórida. A cidade era profundamente marcada pela
história negra, sobretudo porque foi um lugar construído por e para pessoas negras. Ali
também era caminho para Orlando, e diversas pessoas brancas, sobretudo, passavam por lá.
Zora Hurston traz esse momento para dizer que a diferença para ela naquele momento era que
os brancos eram apenas as pessoas que passavam por sua cidade mas nunca viveram lá.
Em Eatonville, a antropóloga dizia ser “a Zora de todo mundo”, pois tinha um
convívio e uma conexão muito boas com a cidade. Essa situação, todavia, fora rompida aos
13 anos quando a família de Hurston se muda para Jacksonville, cidade bem maior dali da
região. Além disso, não era uma das cidades negras. A nova dinâmica trouxe uma experiência
completamente diferente para a autora:
Quando desembarquei em Jacksonville, não era mais a mesma. Parecia que eu tinha
sofrido uma mudança marítima. Eu não era mais a Zora do Condado de Orange, eu
era, agora, uma pequena garota de cor. Descobri isso de algumas maneiras. No meu
coração e também no espelho, me tornei negra-garantida para não sair nem correr
(HURSTON, 2021, p.47)
Descobrir-se negra/o é um processo geralmente marcado por uma experiência
dolorosa. Em diversas circunstâncias surge sob o signo da heteroidentificação, geralmente
acompanhada de doses cavalares de racismo. Com a autora, então, não foi diferente. Havia
sempre alguém, segundo Zora, para lembrá-la que é negra, lembrá-la da escravidão.
Já na vida adulta, Hurston formou-se na Howard University, em Washington -
instituição que é conhecida por ser uma das faculdades e colégios historicamente negros dos
Estados Unidos. Em 1925, torna-se aluna de Franz Boas na Universidade de Columbia, em
Nova Iorque. E foi justamente na ilha de Manhattan que Zora experimentou diversas facetas
da negritude. Desde o Harlem Renaissance - movimento cultural o qual participou, até o The
New World Cabaret, casa de dança onde ia e se sentia sem cor enquanto se movimentava ao
som do jazz. Contudo, o contato com seus colegas da parte norte dos Estados Unidos
reservou também uma expectativa (que ela quase sempre frustrava) de que se contasse
histórias de dor e sofrimento por ter vivido no sul do país por tantos anos.
A autora escreveu diversas obras ao longo de sua vida. Uma das principais e mais
marcantes é Barracoon, que fora escrito em 1931, porém só veio a público no ano de 2018.
Nesse livro ela conta a história de Cudjo Lewis, o último homem negro vivo que tinha
memória do processo de escravização à época. De nome original Oluale Kossola, o homem
foi escravizado no Benin quando tinha 15 anos. À época a escravização já era considerada
ilegal nos EUA. A história é contada em primeira pessoa, evocando relatos próximos à
oralidade narrados por Kossola.
Além de Barracoon, Hurston também escreveu Mules and men, Their Eyes Were
Watching God, além de outros ensaios e textos em revistas - principalmente na revista Negro
World. Sua produção, contudo, não contou com apoio nem de seu próprio orientador para ser
publicada. Ela faleceu em 1960, aos 69 anos, na Flórida, enterrada como indigente. A
redescoberta só ocorreu pela escritora Alice Walker que fez um verdadeiro trabalho
investigativo ao longo de uma década para encontrar a ossada de Hurston e sua publicação
inédita. Ainda assim, parte desta publicação, mesmo nos Estados Unidos, só emergiu para o
mundo recentemente.
Há quase cem anos Zora Hurston lançava mão de temáticas e metodologias que só
foram começar a figurar com frequência na ordem do dia da Antropologia décadas depois. E
até mesmo hoje sua contribuição segue sendo tratada em segundo plano, quase como um
folclore. A locomotiva do epistemicídio segue a todo vapor.
HURSTON, Zora Neale. Como eu me sinto uma pessoa de cor. Ayé: Revista de
Antropologia, 2021.

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