Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/351605690 DIVERSIFICAÇÃO, ASSOCIAÇÃO E CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS NO CERRADO Chapter · May 2021 CITATIONS 0 READS 89 3 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Part of Master's Dissertation Project View project PhD thesis project View project Jairo Fernando Pereira Linhares None 49 PUBLICATIONS 114 CITATIONS SEE PROFILE Maria Ivanilde de Araujo Rodrigues State University of Maranhão 30 PUBLICATIONS 104 CITATIONS SEE PROFILE João Paulo Dias State University of Minas Gerais, Ituiutaba, Brazil 6 PUBLICATIONS 9 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Jairo Fernando Pereira Linhares on 15 May 2021. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/351605690_DIVERSIFICACAO_ASSOCIACAO_E_CONSORCIACAO_DE_PLANTAS_FRUTIFERAS_NO_CERRADO?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/351605690_DIVERSIFICACAO_ASSOCIACAO_E_CONSORCIACAO_DE_PLANTAS_FRUTIFERAS_NO_CERRADO?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Part-of-Masters-Dissertation-Project?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/PhD-thesis-project?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jairo-Pereira-Linhares-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jairo-Pereira-Linhares-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jairo-Pereira-Linhares-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ivanilde-Rodrigues-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ivanilde-Rodrigues-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Maria-Ivanilde-Rodrigues-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao-Paulo-Dias?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao-Paulo-Dias?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao-Paulo-Dias?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jairo-Pereira-Linhares-2?enrichId=rgreq-4beb1302ff7068fb8e200bb919abd1e6-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MTYwNTY5MDtBUzoxMDIzNzYxNTE2MDc3MDU2QDE2MjEwOTUxNzQwNzg%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Cultivo de frutíferas em clima tropical Cultivo de frutíferas em clima tropical 2 Dias & Mata (2021) C9682 Cultivo de frutíferas em clima tropical/Org.: Dias & Mata ─ Campina Grande: EPTEC, 2021. 142 f.: il. color. ISBN: 978-65-00-23023-9 1. Frutas. 2. Produção. 3. Brasil. I. Dias, João Paulo Tadeu. II. Mata, Jhansley Ferreira da. III. Título. CDU 631/63 Os capítulos ou materiais publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do Editor responsável. Sua reprodução parcial está autorizada desde que cite a fonte. Créditos de Imagens da Capa Pixabay Editoração, Revisão e Arte da Capa Paulo Roberto Megna Francisco Conselho Editorial Djail Santos (CCA-UFPB) Dermeval Araújo Furtado (CTRN-UFCG) George do Nascimento Ribeiro (CDSA-UFCG) Josivanda Palmeira Gomes (CTRN-UFCG) João Miguel de Moraes Neto (CTRN-UFCG) José Wallace Barbosa do Nascimento (CTRN-UFCG) Juarez Paz Pedroza (CTRN-UFCG) Lúcia Helena Garófalo Chaves (CTRN-UFCG) Luciano Marcelo Fallé Saboya (CTRN-UFCG) Paulo da Costa Medeiros (CDSA-UFCG) Paulo Roberto Megna Francisco (CTRN-UFCG) Soahd Arruda Rached Farias (CTRN-UFCG) Virgínia Mirtes de Alcântara Silva (CTRN-UFCG) Cultivo de frutíferas em clima tropical 3 Dias & Mata (2021) João Paulo Tadeu Dias Jhansley Ferreira da Mata Cultivo de frutíferas em clima tropical 1.a Edição Campina Grande-PB 2021 Cultivo de frutíferas em clima tropical 4 Dias & Mata (2021) Realização Apoio Cultivo de frutíferas em clima tropical 5 Dias & Mata (2021) Sumário Sumário ...................................................................................................................................................................................................... 5 Agradecimentos ...................................................................................................................................................................................... 6 Prefácio....................................................................................................................................................................................................... 7 Capítulo I.................................................................................................................................................................................................... 8 CARACTERÍSTICAS GERAIS DE CULTIVO DE FRUTÍFERAS TROPICAIS ......................................................................... 8 Capítulo II ............................................................................................................................................................................................... 31 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FRUTÍFERAS TROPICAIS ............................................................................................ 31 Capítulo III .............................................................................................................................................................................................43 ECOFISIOLOGIA DOS CITROS E DO ABACAXIZEIRO CULTIVADOS EM CLIMA TROPICAL................................... 43 Capítulo IV .............................................................................................................................................................................................. 54 IRRIGAÇÃO EM FRUTÍFERAS DE CLIMA TROPICAL ............................................................................................................ 54 Capítulo V ............................................................................................................................................................................................... 65 MÉTODOS DE CULTIVO DE FRUTÍFERAS CONVENCIONAIS E ORGÂNICAS .............................................................. 65 Capítulo VI .............................................................................................................................................................................................. 76 POLINIZAÇÃO POR ABELHAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA FRUTÍFERAS CULTIVADAS ...................................... 76 Capítulo VII ............................................................................................................................................................................................ 89 AVANÇOS E TÉCNICAS DE MELHORAMENTO DE FRUTÍFERAS TROPICAIS PARA RESISTÊNCIA DE DOENÇAS ................................................................................................................................................................................................ 89 Capítulo VIII ....................................................................................................................................................................................... 103 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS COM FRUTÍFERAS NATIVAS .................................................................. 103 Capítulo IX ........................................................................................................................................................................................... 114 DIVERSIFICAÇÃO, ASSOCIAÇÃO E CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS NO CERRADO .................... 114 Capítulo X ............................................................................................................................................................................................ 123 CONSERVAÇÃO E QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE FRUTOS TROPICAIS ................................................................. 123 Índice Remissivo ............................................................................................................................................................................... 139 Curriculum dos Autores e Organizadores .............................................................................................................................. 140 Cultivo de frutíferas em clima tropical 6 Dias & Mata (2021) Agradecimentos Os organizadores e autores agradecem à Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, bem como, os coordenadores, diretores, vice representantes respectivos e, em especial, cabe o agradecimento aos colegas e professores pela colaboração e parceria em instituições parceiras que tanto contribuíram para a realização desta obra. Os organizadores Cultivo de frutíferas em clima tropical 7 Dias & Mata (2021) Prefácio O Brasil é um país de dimensões continentais, com vastas áreas agricultáveis e clima propício, na maioria dos meses do ano, para o cultivo de frutas, especialmente, as frutas de clima tropical e subtropical. Ademais, o país possui uma população enorme e crescente, tendo um potencial excelente para comércio de frutas frescas, processamento, industrialização e consumo de diversas frutas, de diferentes formas. Antes de qualquer cultivo de plantas frutíferas em clima tropical, deve-se ter em mente as características gerais do cultivo e das espécies de interesse, tais como: métodos e técnicas de propagação de plantas; métodos de germinação de sementes frutíferas (especialmente para produção de “pé-franco” ou porta-enxerto); ecofisiologia das principais espécies cultivadas em ambiente tropical (por exemplo, citros e abacaxizeiro, dentre outras); floração e frutificação de plantas frutíferas (atentando para as épocas de produção e comercialização); cultivo de frutíferas em sistema convencional, orgânico e suas variantes; utilização de resíduos na fertilização (manutenção, correção e adubação de cobertura) de frutíferas; recuperação de áreas degradadas com espécies frutíferas adequadas ao ambiente tropical; diversificação, associação e consorciação de plantas frutíferas; controle fitossanitário rigoroso em frutíferas; técnicas e métodos de colheita, conservação e qualidade pós-colheita de frutas tropicais, dentre outras. Certamente, este livro vem contribuir para o desenvolvimento tecnológico e produtivo da fruticultura, principalmente, o cultivo de frutíferas tropicais no país. Consiste em informações técnicas e científicas, coletadas e organizadas, com o intuito de orientar os produtores, técnicos, professores, alunos, cientistas, bem como, qualquer pessoa interessada no cultivo de frutíferas em ambiente tropical. João Paulo Tadeu Dias Jhansley Ferreira da Mata Cultivo de frutíferas em clima tropical 8 Dias & Mata (2021) Capítulo I CARACTERÍSTICAS GERAIS DE CULTIVO DE FRUTÍFERAS TROPICAIS João Paulo Tadeu Dias Introdução Antes de iniciar o cultivo de plantas frutíferas tropicais deve-se salientar algumas características gerais, tais como: métodos e técnicas de propagação de plantas; métodos de germinação de sementes frutíferas; floração e frutificação de plantas frutíferas; métodos de cultivo de frutíferas convencionais e orgânicas; utilização de resíduos na fertilização de frutíferas; controle fitossanitário em frutíferas; dentre outros métodos produtivos e tecnológicos apresentadas nos capítulos posteriores. Métodos e técnicas de propagação de plantas Métodos e técnicas de propagação de plantas são utilizados desde os primórdios da agricultura para buscar um maior número de plantas e perpetuar as características produtivas e comerciais favoráveis destas plantas. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) normatiza o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), além de dar outras providências sobre o conceito de propagação e produção de mudas, mediante Decreto n. 5.153, de 23/07/2004, que aprova o regulamento da Lei 10.711, de 05/08/2003 e, define propagação: “A reprodução, por sementes propriamente ditas, ou a multiplicação, por mudas e demais estruturas vegetais, ou a concomitância dessas ações, e; Semente: material de reprodução vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de semeadura (BRASIL, 2003)”. A propagação de plantas basicamente seria um conjunto de métodos e técnicas utilizados em conjunto de forma a perpetuar as espécies de maneira controlada, aumentando o número de plantas e garantindo a manutenção de características agronômicas tidas como favoráveis às cultivares. Para Cultivo de frutíferas em clima tropical 9 Dias & Mata (2021) quaisquer espécies de plantas, nativas ou exóticas, silvestres ou cultivadas, a propagação e, consequentemente, a formação da nova muda constitui ponto principal. Historicamente, quando o ser humano passou de tribos nômades, que basicamente caçavam e coletavam frutos e raízes para sobreviver e, progressivamente, passaram a comunidades assentadas, que plantavam para o seu sustento, a humanidade deu um salto gigantesco no desenvolvimento da sociedade.Sabe-se que por volta do ano 8.000 a.C. no Oriente Médio existiu um primórdio de agricultura rudimentar e percebeu-se que cravando talos lenhosos de videiras, oliveiras e figueiras, conseguia preservar as características de interesse e formar novas plantas. Cerca de 2.000 a.C. começou-se o uso da técnica de enxertia na Grécia, Oriente Médio, Egito e China. Posteriormente, órgãos de reserva de cebola e alho eram utilizados para propagação no Mediterrâneo; na África tropical utilizava-se pedaços do colmo para propagação de cana-de-açúcar; na América do Sul adotava-se a batata inteira ou parte dela para propagação; na Ásia era feita propagação com estacas de bambu; por volta dos séculos XVIII e XIX houve grande descoberta de espécies e intercambio destas entre Europa, Japão, China, Índias Orientais, Austrália, África e América; além disso, a partir de 1940, passou-se a fazer uso de substâncias promotoras de enraizamento em estacas, como as auxinas sintéticas (TOOGOOD, 2007). Vale destacar a importância dos equipamentos e ferramentas utilizados ao longo do tempo para propagação de plantas, tais como: enxadas, pás, canivetes, canivetes de enxertia, fitas plásticas, tesouras de poda, podões, regadores e mangueiras para irrigação, dentre outros, que constantemente deve-se fazer a manutenção, bem como, a limpeza e desinfecção para uso na propagação de plantas. Normalmente, também se utiliza algum substrato isento de pragas, doenças e plantas daninhas, como o próprio solo, terra de barranco peneirada, areia, materiais compostados (como estercos de animais e restos culturais), misturas comerciais (contendo ou não corretivos e ou fertilizantes), casca de arroz carbonizada, fibra de coco, vermiculita (argila expandida), perlita (material de origem vulcânica), turfa (um misto de vegetal decomposto com sphagnum de musgos), só para citar alguns. Recipientes diversos são utilizados na propagação como vasos de barro ou plástico, sacolas plásticas, bandejas plásticas ou de poliestireno expandido (isopor), caixa de madeira ou ripa, caixa de propagação feita de alvenaria e preenchida com areia ou outro substrato. Os ambientes mais comuns para propagação são os naturais como a própria mata ou pomar e, os ambientes artificiais, como as casas de vegetação feitas de vidro, estufas plásticas do tipo capela, túnel alto, túnel médio ou túnel baixo, câmaras de nebulização, viveiros telados com plástico ou sombrite 50%, dentre muitos outros. Sugere- se o uso de equipamentos e acessórios como as bancadas feitas de madeira, ferro ou alvenaria, os sensores (de água, temperatura, umidade, ventiladores e exaustores), equipamentos de irrigação (como os aspersores, micro aspersores, gotejadores, nebulizadores), termômetros e outros. A propagação de plantas se divide em duas: propagação sexuada e propagação assexuada. A propagação sexuada, reprodução ou propagação por sementes, basicamente se utiliza a semente como estrutura reprodutiva, sendo feita para a maioria das plantas conhecidas. A propagação sexuada por sementes possibilita grande variação populacional, resultando em características distintas, devido aos Cultivo de frutíferas em clima tropical 10 Dias & Mata (2021) intercambio de gametas e genes proporcionado pela polinização cruzada. Botanicamente, a semente é resultado do óvulo fertilizado e desenvolvido, que devido aos cruzamentos dos gametas, possibilita grande variação genética, como vigor distinto, frutos sem padrão (cor, formato, tamanho, sabor, açúcares, acidez e nutrientes). O método de preparo das sementes consiste na escolha do progenitor ou planta-mãe detentora de sementes sadias, de plantas adultas e produtivas. Recomenda-se, de maneira geral, a seleção dos maiores e melhores frutos situados externamente a copa das plantas; retirar toda a polpa (pois pode conter inibidores de germinação); lavar as sementes em água corrente; secar à sombra; se necessário proceder a extração da casca ou tegumento duro (que pode ser uma barreira ao processo germinativo do embrião da semente); proceder a semeadura rápida, pois o poder germinativo do embrião presente na semente, decresce após a colheita. A propagação assexuada, vegetativa ou multiplicação consiste em utilizar partes vegetativas, tais como raízes, caules, brotos ou folhas para gerar uma nova planta. Planta esta, com características genéticas idênticas ao progenitor, constituindo um clone da planta doadora de material vegetal. Duas propriedades intrínsecas da célula vegetal são importantes no processo de propagação assexuada: a totipotência e a desdiferenciação. A totipotência é a capacidade que as células vegetais possuem de organizar e formar um novo indivíduo, mantendo a constituição genética necessária, sem haver recombinação genética. A desdiferenciação vegetal é o processo pelo qual uma célula diferenciada adulta, regride ou retorna à um estádio indiferenciado e, de acordo com o estímulo provocado, origina novos tipos de células. É o que acontece no método ou técnica de propagação assexuada por estacas caulinares, muito utilizado na horticultura e fruticultura, onde tecidos ou células adultas do caule podem vir a formar células ou tecidos vasculares, raízes iniciais e brotações novas para constituir um novo indivíduo. O método de estaquia pode ser feito com estacas de raízes, caules, brotos ou folhas. O mais comum é o uso de estacas caulinares herbáceas ou lenhosas. De maneira geral, coleta-se estacas o ano todo, contudo, prefere-se o período de inverno para as espécies de clima subtropical ou temperadas. Comumente, as estacas preparadas com três a cinco gemas e em torno de 10 a 15 cm de comprimento. Existem espécies de fácil, mediano e difícil enraizamento. Para as espécies de difícil enraizamento pode- se utilizar reguladores vegetais de crescimento, promotores de enraizamento como o ácido indolbutírico (IBA, sigla em inglês), uma substância sintética similar ao hormônio vegetal do grupo das auxinas, com o objetivo de aumentar a concentração endógena de auxinas nos tecidos e induzir a formação de raízes. O ácido indolbutírico é um dos mais utilizados e melhores estimuladores do enraizamento. O ácido naftaleno acético (NAA) também pode ser usado, no entanto, é mais tóxico e deve ser usado em concentrações menores. Normalmente, aplica-se auxina na base da estaca, provocando um aumento de concentração, que pode ter efeito estimulador até um ponto máximo, a partir desse ponto qualquer aumento na concentração de auxina é inibitório ao enraizamento. Cultivo de frutíferas em clima tropical 11 Dias & Mata (2021) A aplicação dos reguladores de crescimento pode acontecer por via seca por polvilhamento em talco ou via úmida por solução hidroalcóolica em solventes orgânicos (como o etanol, metanol, éter, dentre outros). Vale ressaltar a importância do binômio, concentração e tempo de aplicação. Para tratamento lento (12 ou 24 horas, por exemplo), adota-se uma concentração baixa. Para tratamento rápido (5, 10, 20 segundos, por exemplo) utiliza-se uma concentração alta. Outro método ou técnica bastante utilizada na propagação de plantas é a enxertia. Tradicionalmente, obtém-se o porta-enxerto ou “cavalo” por sementes e, em alguns casos, por estaquia, como acontece com os porta-enxertos de videira. O porta-enxerto é responsável por todo sistema radicular, suas características de desenvolvimento, resistência às pragas e doenças, bem como, adversidades edafoclimáticas. O enxerto, também denominado “cavaleiro” ou copa é responsável pela formação e desenvolvimento de toda parte aérea, bem como a produção de frutos. Os objetivos básicos da enxertia referem-se à resistência ou tolerância às pragas, doenças ou adversidade de solo e clima, antecipar a produção, uniformizar a planta e diminuir o porte. Dentre as diferentes técnicas de enxertia, destacam-se a enxertia por garfagem e a enxertia por borbulhia.A enxertia por garfagem pode ser feita em fenda cheia (tradicional), inglês simples ou inglês complicado. A enxertia por borbulhia (utiliza menos material vegetal que a garfagem) pode ser feita em forma de T invertido, T normal ou de placa. Geralmente, a enxertia pode ser realizada o ano todo, porém prefere-se evitar o período de chuvas, pois pode causar o insucesso da técnica ou método. A enxertia por garfagem é feita a altura de cerca de 20 a 30cm da base do colo do porta-enxerto, o caule deve apresentar coloração bronzeada e diâmetro de um lápis (cerca de 0,8 cm), os garfos (que constituirão a parte superior da planta ou copa) deve ser de matrizes selecionadas e produtivas, os garfos são feitos cortando-se os ponteiros com cinco a oito centímetros e fazendo a retirada dos pecíolos foliares, realiza-se o corte da parte basal do garfo em forma de bisel duplo ou “cunha” e, posteriormente, o corte do centro do caule do porta-enxerto até cerca de três centímetros e insere-se o garfo rente (casca com casca) ao porta-enxerto. Finalmente, procede-se a amarração do enxerto com fita de enxertia ou fitilho plástico para proteger o local do enxerto. Deve-se atentar para o a compatibilidade ou incompatibilidade do material utilizado como porta-enxerto e enxerto (copa). Se ocorrer incompatibilidade, o enxerto pode não se desenvolver ou pode-se formar um crescimento exagerado dos tecidos na região de enxertia denominado “pé-de-elefante” ou “pata-de-elefante”. A apomixia é outro método de propagação assexuada feita pela semente, formada e desenvolvida por tecidos da nucela (tecidos de reserva), sem a fusão dos gametas e dando origem ao embrião nucelar ou adventício, proveniente das células de tecido materno. Tais plantas oriundas dessas sementes são clones do material progenitor. O processo de apomixia tem certa importância para amoreira-preta, mangueira e citros, produzindo a sementes com embrião de origem nucelar e sementes com o embrião de origem gamética. Cultivo de frutíferas em clima tropical 12 Dias & Mata (2021) O método ou técnica da mergulhia pode ser no solo ou aérea. Quando a mergulhia for aérea também é conhecida como alporquia. A técnica da mergulhia ou alporquia passa a ter considerável importância para plantas nativas ou exóticas, nas quais se tem grande dificuldade em se produzir mudas. O método ou técnica de produção vegetal ou propagação por cultura de tecidos ou cultivo “in vitro”, também conhecido como micropropagação. As plantas produzidas por cultura de tecidos passam a ser uma opção interessante ao produtor de mudas ou viveirista. É uma opção não comercial, do ponto de vista do alto preço da muda produzida pelo custo com mão-de-obra capacitada e qualificada que demanda, estrutura específica e ambiente controlado e climatizado, bem como, altamente rígido em relação ao controle fitossanitário. No entanto, a qualidade da muda ou planta conseguida é muito superior aos demais métodos e práticas de propagação, visto a uniformidade e padrão das plantas, alto vigor e sanidade comprovada. Para plantas com grandes problemas fitossanitários como o abacaxizeiro, morangueiro, a batateira, a bananeira, a batata-doce e a mandioquinha-salsa, é um método importante de propagação de plantas. Independentemente do método ou técnica escolhida para propagação de plantas, é imprescindível a utilização de material vegetal com sanidade comprovada, oriundo de plantas vigorosas e altamente produtivas, de forma a buscar o melhor para a formação inicial de um plantio, pomar, lavoura comercial ou novo cultivo. Métodos de germinação de sementes frutíferas A produção brasileira de frutas une atrativos diversos e condições muito favoráveis para produzir, gerar renda e empregos, exportar e auxiliar no saldo positivo da balança comercial da economia, ao longo de todo o ano. A estimativa de produção foi de 43,5 milhões de toneladas em 2017, abaixo das 44,8 milhões de toneladas do ano anterior, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). O Brasil encontra-se na terceira posição entre os maiores produtores mundiais de frutas, com produção expressiva de cerca de 22 espécies e tantas outras exploradas e consumidas localmente, atrás de China e Índia (KIST et al., 2018). Independentemente da espécie de fruta produzida, existe o consenso de que o ponto principal em qualquer cultivo é a propagação da planta e produção da muda frutífera, sendo a semente, na maioria das vezes, a estrutura principal de propagação das frutíferas. A propagação é o conjunto de técnicas ou artifícios destinados a perpetuar as espécies de forma controlada. Os objetivos principais são de aumentar o número de plantas, garantindo a manutenção das características agronômicas das cultivares. Botanicamente, semente é considerada o resultado da fertilização e desenvolvimento do óvulo. A semente como principal arcabouço destinado a propagação é descrita pela Legislação Brasileira, Lei 10.711, de 05/08/2003, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como sendo: Cultivo de frutíferas em clima tropical 13 Dias & Mata (2021) “Material de reprodução vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de semeadura (BRASIL, 2003). Souza, Iara e Samuel (2016), relataram sobre a importância e o processo germinativo das sementes. Durante o processo evolutivo, as plantas desenvolveram formas de propagação assexuada (vegetativa ou multiplicação) e propagação sexuada (reprodutiva ou por sementes) para produzir descendentes. A maioria das espécies de plantas cultivadas ou selvagens, nativas ou exóticas apresenta propagação sexuada (reprodutiva ou por sementes), em que o diásporo é considerado a unidade de dispersão da espécie. No caso específico de plantas anuais, a semente é o fim de uma geração e o início de uma outra geração. Esse diásporo é a forma de dispersão, multiplicação, sobrevivência e preservação das espécies e da biodiversidade, uma vez que, o código genético representa a principal forma de disseminação das características hereditárias nos diferentes ambientes. Portanto, a função da semente viva é sua germinação, crescimento e desenvolvimento do embrião, originando uma nova planta. O sucesso do estabelecimento do novo indivíduo no tempo-espaço e o vigor da nova plântula são, em grande parte, determinados por características bioquímicas e ecofisiológicas. Durante o processo de formação das sementes ocorre a expansão do eixo embrionário, resultante da absorção de água e do acúmulo de substâncias de reserva, como os lipídeos, carboidratos e proteínas, sendo a fase final, a maturação das sementes. Nesta fase final, podem ocorrer várias transformações morfológicas e fisiológicas que, em sementes ortodoxas, culminam com a desidratação, podendo perder até 90% do seu peso em água. Os diásporos são representados, em sua maioria, pelas sementes. No entanto, em muitas espécies, o diásporo é o fruto, que pode conter além de semente, brácteas, pericarpo ou parte dele e o perianto. Em muitas sementes, o final do processo de maturação fisiológica está associado à desidratação das sementes. Podendo ser: Sementes ortodoxas: o teor de água varia de 5 a 10% de sua massa fresca (exemplo: soja, feijão, pau-brasil, milho) e podem ser desidratadas a níveis baixos de umidade; Sementes intermediárias: toleram dessecação entre 10 e 13% de umidade, mas quando desidratadas a 7% perdem significativamente a viabilidade (exemplo: café, mamão, dendê, nim); Sementes recalcitrantes: sementes com teor de água entre 60 a 70% de sua massa fresca, não toleram dessecação em níveis de umidade entre 15 a 20%. Viabilidade curta da semente (exemplo: araucária, cacau, coco, manga, abacate). Ao serem dispersas da planta-mãe (produtora de sementes),as sementes indicam que uma nova geração está se iniciando. A germinação e, posteriormente, o estabelecimento da plântula ocorrem quando as condições intrínsecas (da própria semente) e extrínsecas (do ambiente) são favoráveis. Para a retomada do crescimento do embrião é necessário que as sementes não apresentem inibidores Cultivo de frutíferas em clima tropical 14 Dias & Mata (2021) naturais de germinação, como o ácido abscísico (ABA) e que as condições ambientais sejam favoráveis, como: disponibilidade de água, presença de oxigênio e temperatura. As sementes expostas a essas condições ambientais favoráveis, germinam e são chamadas quiescentes, desempenhando importante papel no início do desenvolvimento da plântula, porque entram em repouso, com o metabolismo praticamente paralisado e representa um hiato no ciclo dos vegetais. Sementes quiescentes apresentam baixa atividade metabólica, suficiente apenas para manter o embrião vivo. Nesse estado, as sementes são capazes de se manter vivas por muitos anos e, em alguns casos, quando armazenadas em herbários e museus, podem sobreviver por mais de 100 anos. Algumas sementes ainda podem apresentar diferentes tipos de dormência de acordo com a origem, sendo elas (HARTMANN et al., 2011): Dormência primária: se manifesta quando se completa seu ciclo de desenvolvimento; Dormência secundária: sementes que não apresentam dormência, germinam normalmente, mas quando expostas a fatores ambientais desfavoráveis são induzidas ao estado de dormência. A dormência pode ser perdida com o tempo, tornando-se quiescente. Podendo o embrião continuar dormente, devido à sua imaturidade, presença de substâncias inibidoras, como o ABA, cumarinas, compostos fenólicos e taninos, bem como, à exigência de temperatura e luz, como é o caso das sementes fotoblásticas positivas. A dormência fisiológica ou endógena é própria do embrião, que ocorre devido à presença de inibidores naturais como o ABA ou a ausência de promotores como o ácido giberélico (GA) no embrião. O método de quebra de dormência é frequentemente associado à quebra da relação ABA/GA. A dormência física ou tegumentar é imposta pela casca e ou outros tecidos (endosperma, pericarpo ou órgãos extraflorais), devido a: 1-Impedimento da absorção de água pela presença de cutículas cerosas, camadas suberizadas e esclereides lignificados; 2-Dureza mecânica pelo tegumento rígido que não permite a emersão da radícula, ou ainda, interferência nas trocas gasosas pelo tegumento pouco permeável ao oxigênio; 3-Retenção de inibidores pelo tegumento, que evita lixiviação de inibidores do interior da semente. A presença de dormência em algumas sementes não é necessariamente uma desvantagem. Em alguns casos, o método de quebra de dormência pode ser conseguido por luz de comprimento de onda na região do espectro vermelho. O método de quebra de dormência pode ser acelerado pela exposição das sementes às condições flutuantes, como as que ocorrem em regiões de clima temperado, em que há ciclos sazonais de temperatura. As sementes não sofrem a influência de um fator, mas de vários fatores que ocorrem simultaneamente. Um bom exemplo é o caso das sementes fotoblásticas positivas. Cultivo de frutíferas em clima tropical 15 Dias & Mata (2021) A dormência de sementes pode ter variadas causas, portanto, antes da escolha do método de quebra de dormência e retomada da germinação, deve-se, primeiramente, tentar descobrir a causa, além da existência de ciclos de sensibilidade das sementes aos processos de superação de dormência. Isto pode influir em maior ou menor sucesso na aplicação do método de quebra de dormência. Quando a dormência é causada por desequilíbrio entre promotores e inibidores da germinação ou que impedem a germinação, devem ser empregados métodos que aumentam a ação de estimuladores de germinação ou que impedem a ação dos inibidores, como a estratificação, a aplicação direta de substâncias (como giberelinas, citocininas e etileno) e lixiviação. A eficiência da quebra de dormência é uma das principais características a se considerar na escolha do método. Dessa forma, antes de se optar por um método, deve-se observar o grau de eficiência e o elevado grau de reprodutibilidade. Outro método consiste na remoção parcial ou total do revestimento protetor da semente para facilitar a entrada de água (embebição), considerada como início da germinação. O tegumento seminal ou testa age como barreira nas trocas gasosas ou na entrada de luz, bem como, impedimento à saída de inibidores endógenos, ou ainda, fornece inibidores para o crescimento, impedindo a germinação. O método de remoção do revestimento protetor por tratamentos mecânicos diversos é denominado escarificação, podendo ser feita com ferramentas ou materiais cortantes ou abrasivos. A escarificação também pode ser realizada por meio de agentes químicos fortes, como o ácido sulfúrico concentrado. Também, recomenda-se o método físico da água para lavagem dos inibidores de crescimento presentes nas sementes. O método de escarificação pode ser usado em algumas sementes que podem ter a dormência quebrada quando hidratada ou exposta a baixas ou altas temperaturas. Entre os agentes ou métodos químicos utilizados para a quebra de dormência estão: ácidos (ácido sulfúrico), ácido nítrico (HNO3), hipoclorito de sódio (NaClO3), nitrato de potássio (KNO3), etanol (CH3CH2OH) e a água oxigenada (H2O2). Os reguladores de crescimento têm papel importante na quebra de dormência de sementes, dentre esses destacam-se as giberelinas (GA3 ou ácido giberélico, GA4 e GA7), as citocininas (benziladenina e cinetina) e etileno. Geralmente, os reguladores de crescimento apresentam maiores resultados quando associados a fatores como luz e outros reguladores (balanço). A aplicação exógena de ABA e GA3 pode atuar de modo inverso no controle da síntese de enzimas envolvidas na degradação das paredes celulares do endosperma. Muitos anos atrás, foi observado que alguns comprimentos de onda da luz produzem efeitos na germinação de algumas sementes. Por exemplo, na alface a luz vermelha (660nm) induz um grande aumento na germinação. Já, a luz vermelho-extremo, vermelho-distante ou vermelho-longo (730nm) induz inibição da germinação. A luz é absorvida por um pigmento denominado fitocromo (uma cromo proteína) que, dependendo do comprimento de onda da luz que ele absorve, converte-se em duas formas: a) FV (inativa): comprimento de onda 660nm converte-se na segunda forma; b) FVe (ativa): comprimento de 730nm tem absorção máxima de luz. Por isso, a indução na germinação ocorre na maior parte das sementes fotoblásticas. Cultivo de frutíferas em clima tropical 16 Dias & Mata (2021) Também, pode ser utilizado como método de quebra de dormência de algumas espécies com aplicação de luz branca, como para pereira brava, macieira, pessegueiro e espécies florestais. Em alguns casos, o efeito da luz depende da temperatura como para a alface, que ser insensível à luz a temperatura de 20oC, no entanto, em temperatura mais elevada (aproximadamente 35oC) tornam-se fotoblásticas. Para responder a luz a semente deve ser hidratada e, em alguns casos, utilizar o método de escarificação. Scalon et al. (2009), avaliando o potencial germinativo de gabiroba (Campomanesia sp.), uma frutífera do Cerrado, testaram diferentes métodos e verificaram que os tratamentos hormonais com bioestimulante Stimulate®, contendo auxina, giberelina e citocinina, foi o mais eficiente. Oliveira et al. (2002) verificaram que, a semente de Bacuri (Platonia insignis Mart.) recomenda-se para acelerar a emergência de radículas, efetuar dois cortes laterais no plano dorsal/ventral da semente, sendo um método simples e econômico, além da redução no tempo. Morais Júnior et al. (2015), concluíram que a fragmentação dos pirênios de mucuri (Byrsonima crassifóliaL. Rich.) seguida de imersão por 24 horas em solução de ácido giberélico na concentração de 500mg L-1 foi o método mais eficiente para promover a germinação. Floração e frutificação de plantas frutíferas O tronco e os ramos formam o esqueleto que sustenta as folhas, órgãos de floração e frutificação, gemas e frutos. Em plantas frutíferas lenhosas, as gemas constituem-se nos órgãos vegetativos por excelência, pois delas depende todo o crescimento e o desenvolvimento das frutas. De acordo com a sua posição na planta, as gemas podem ser classificadas em terminais, axilares, secundárias e basais. Já pela estrutura, elas podem ser classificadas em vegetativas, floríferas e mistas. O processo de formação das gemas inicia-se com a brotação e, de forma evolutiva durante o período vegetativo, parte delas permanecem vegetativas, enquanto as demais se diferenciam em gemas floríferas. Segundo as espécies, as gemas floríferas podem ser formadas antes da brotação, durante a brotação ou posteriormente a abertura das gemas vegetativas. Geralmente, em plantas frutíferas de clima temperado, o processo de diferenciação de gemas ocorre no final da primavera ou no verão, ou seja, seis a oito meses antes da abertura na primavera seguinte. Este processo é realizado de forma evolutiva, começa com a diferenciação floral (escamas, sépalas, pétalas, estames e primórdio do pistilo) e termina com a abertura da flor na primavera. Trabalhos desenvolvidos, em seis cultivares de pessegueiro, concluíram que o início da diferenciação floral ocorre em meados de janeiro a meados de fevereiro (verão), podendo adiantar de 15 a 20 dias dependendo dos fatores climáticos. As datas de final da meiose mantiveram-se para a mesma cultivar, com diferenças inferiores a 10 dias. O processo de indução floral é largamente estudado em fruticultura. De acordo com a teoria de Klaus e Kraybill, em 1918, o processo dependia da relação carbono/nitrogênio (C/N), sendo a teoria, se essa relação fosse moderadamente alta, haveria indução floral, entretanto, se ela fosse baixa, favoreceria Cultivo de frutíferas em clima tropical 17 Dias & Mata (2021) o crescimento vegetativo. Estudos posteriores demonstraram que, além do carbono e nitrogênio, estão envolvidos hormônios endógenos. Na atualidade se admite que a indução floral depende do balanço hormonal e da nutrição e, é claramente favorecido pela massa fotossintética e pelos tratos culturais aplicados às frutíferas. Algumas práticas culturais, tais como, o anelamento de ramos e o uso de reguladores vegetais, substâncias artificiais similares aos hormônios vegetais, como o etileno, estimulam a indução floral. Ao passo que, a presença de frutas em quantidades elevadas concorre com a indução floral, principalmente pela relação que existe com a síntese e translocação de giberelinas das sementes dos frutos e nos ápices de crescimento, estabelecendo, ao longo de muitas safras ou ciclos produtivos, o que se caracteriza de alternância de produção. A prática cultural da poda pode diminuir esse fenômeno. A formação do fruto se dá por fecundação do óvulo ou pelo processo de partenocarpia. No primeiro caso, processo mais comum, para a formação do fruto é necessário que haja formação do grão de pólen, polinização, germinação do pólen, crescimento do tubo polínico e fecundação. O processo de floração apresenta uma duração variável, podendo chegar até 25 dias, sendo que se denomina de plena floração quando de 50 a 70% das flores estão abertas. As plantas frutíferas, com exceção de serem auto férteis como o pessegueiro, necessitam de polinização cruzada como forma de garantir uma boa produção no pomar. Particularmente no caso das macieiras, pereiras e ameixeiras é necessário o plantio intercalado de plantas produtoras de grãos de pólen (polinizadoras), numa proporção de 10 a 20% para garantir uma boa polinização, fecundação e ou fertilização e, consequentemente, produção de frutos no pomar. A presença de insetos polinizadores ajuda a minimizar os riscos no cultivo. Portanto, insetos como abelhas, no período de floração é uma prática amplamente indicada e ou recomendada. O processo de formação de frutos começa com a floração, fecundação e vingamento, e termina com a maturação. A duração varia de menos de um mês, como no caso do morangueiro, até 16 meses, como no caso de algumas cultivares de laranjeira. O desenvolvimento dos frutos com sementes é representado por uma curva sigmóide simples, ao passo que, para frutas com caroço são representados por uma curva sigmóide dupla. Durante esse processo, a fruta passa por diferentes fases, como: a) Multiplicação celular: fase com duração de 10 a 30 dias, com divisão celular intensa, fazendo com que a fruta atinja praticamente o número total de células; b) Elongação celular: as células acumulam água e nutrientes, provocando aumento no volume e tamanho do fruto. Esta fase dura de 30 a 90 dias. No caso de frutas de caroço, como o pêssego e a ameixeira, pode ocorrer paralisação do crescimento do fruto para dar lugar ao desenvolvimento do caroço, sendo que a duração é variável para cultivares precoces e tardias; c) Maturação: nesta fase ocorrem uma série de transformações bioquímicas, tais como a diminuição da acidez, aumento dos teores de açúcares, alterações na cor e aroma, dentre outras. O Cultivo de frutíferas em clima tropical 18 Dias & Mata (2021) aumento do tamanho ocorre fundamentalmente devido ao acúmulo de água. A duração desta fase varia de 10 a 30 dias. No decorrer do desenvolvimento dos frutos ocorrem uma sucessão de fenômenos fisiológicos que podem provocar a queda precoce dos frutos. Além disso, em qualquer época podem ocorrer quedas acidentais provocadas por vento, chuva, chuva de granizo, pragas e doenças, dentre outros fatores incontroláveis da natureza. Tais quedas podem ser: a) Queda dos frutos no vingamento (estádios iniciais de desenvolvimento): ocorrem queda prematura de flores e frutos mal fecundados. Pode ocorrer queda de até 95% da floração total, tal situação pode ser agravada quando acontecer, simultaneamente, com geadas, chuvas em excesso ou falta de polinização; b) Queda no enchimento dos frutos (“June drop”): nesta fase ocorre competição entre frutos, normalmente no final do período de multiplicação celular e início do engrossamento do fruto. Nesta fase podem cair de 10 a 30% dos frutos presentes na planta, situação esta, agravada por problemas nutricionais e climáticos; c) Queda na pré-colheita: forma-se uma camada de abscisão entre o fruto e o pedúnculo, o que facilita a queda dos frutos. É comum em espécies frutíferas como a macieira e a pereira. Alguns fenômenos climáticos podem agravar a situação como longos períodos de seca, ventos constantes e fortes, incidência de pragas e doenças. Os frutos caem antes do tempo e, quase sempre, ainda estão inadequados para o consumo. O uso de regulador vegetal como o ácido naftaleno acético (NAA), em baixas concentrações aplicadas na forma de pulverizações podem diminuir os efeitos da queda pré-colheita (FACHINELLO, 2009). Outros fatores, como apresenta Simão (1971; 1998) estão relacionados à floração e, consequentemente, frutificação. Esses fatores podem ser internos e externos, pois nem todas as plantas frutificam regularmente todos os anos, diferindo de região para região (localização) e de acordo com o processo de cultivo, plantas que frutificam bem em determinadas condições ecológicas (ambientais) e plantas que deixam a desejar em outras condições ecológicas. Vários fatores internos afetam a frutificação das plantas frutíferas, mas dentre eles podemos citar: a) evolução; b) genéticos e; c) fisiológicos. Na natureza, os vegetais cruzam-se livremente, este é o fator de garantia de manutenção do vigor da espécie, no entanto, aquilo que naturalmente é uma vantagem, nem sempre o é, em condições de cultivo.Por causa da polinização cruzada aparecem aleatoriamente formações distintas, oferecendo dificuldades à autopolinização, tornando em certos casos impraticável. Plantas auto férteis apresentam sérios entraves à exploração econômica, necessitando estudo biológico e uma disposição ou distribuição particular no pomar, para produzirem. A tendência evolutiva afeta a distribuição e o número de flores nos ramos e altera o comportamento, sendo importantes os seguintes casos: as flores incompletas (como no caso do caquizeiro, mamoeiro e figueira); heterostilia (com estilos e estames de comprimento variáveis, como Cultivo de frutíferas em clima tropical 19 Dias & Mata (2021) no caso da videira e figueira); arranjamento estrutural dificultando a polinização (como em macieira var. Deliciosa); dicogamia (fenômeno da maturação do estigma e da antera em tempos diferentes como em mangueira, abacateiro, anonáceas e figueira); desenvolvimento parcial da flor ou botões floríferos (em mangueira, pecã, videira, oliveira e ameixeira); inviabilidade de grão de pólen (em ameixeira, mangueira e algumas variedades de videira, macieira e pereira). A influência genética na frutificação está associada a constituição do citoplasma. A falta de frutificação pode estar associada ao hibridismo (levando a esterilidade, ausência de sementes e ou produção de frutos partenocárpicos, como em híbridos de pessegueiro, ameixeira, bananeira, macieira, videira e tamareira); incompatibilidade entre o pólen e óvulos da mesma planta (em videira, pereira, macieira, ameixeira e oliveira), dentre outros. Do ponto de vista fisiológico, a baixa frutificação ou presença reduzida de sementes podem estar relacionadas à deficiência nutritiva da frutífera, devido às causas como: desenvolvimento lento ou anormal do tubo polínico; polinização antecipada ou retardada (em caquizeiro, pereira e ameixeira); além das condições internas de nutrição. A improdutividade pode estar associada a fatores externos como: presença de elementos minerais no solo; plantas enxertadas (o que pode ocorrer em caquizeiro, videira, laranjeira doce enxertada sobre limão cravo ou laranjeira caipira); poda excessiva de ramos; localidade influindo no comportamento e frutificação (como em mangueira e videira); época (estações) do ano; idade e vigor da planta (macieira e pereira produzindo à medida que envelhecem, bem como, videira Moscatel de Alexandria e coco-da-baía). Os fatores do clima também influenciam a frutificação, destacando-se, temperatura (macieira em temperatura ao redor de 20oC favorece germinação de pólen, por exemplo, além do mamoeiro que em épocas de temperatura mais baixa ou altitude elevada produz bem); luz (macieira e mangueira não florescem à sombra); chuvas durante o florescimento (reduz frutificação em abacateiro, mangueira, videira, macieira e ameixeira); falta de água ou umidade (abacateiro, mangueira, macieira, oliveira, caquizeiro e citros perdem grande quantidade de frutos); ventos intensos e fortes (em mangueira de 15 a 20% dos frutos se desprendem); pragas e doenças (ferrugem da jabuticabeira e goiabeira, oídio e antracnose em videira e mangueira, dentre muitas outras). A floração e frutificação de plantas frutíferas é amplamente influenciada pelos fatores internos e externos e, estes, pelo monitoramento constante e manejo no pomar, buscando as melhores práticas culturais e métodos de cultivo para um pomar produtivo e com qualidade de frutos. Métodos de cultivo de frutíferas convencionais e orgânicas De maneira geral, encontra-se amplamente distribuído no mundo duas vertentes ou sistemas de cultivo agrícola e, no caso do cultivo de frutíferas não é diferente, encontra-se o sistema de cultivo Cultivo de frutíferas em clima tropical 20 Dias & Mata (2021) convencional e o sistema de cultivo orgânico. No entanto, existem diferenças acentuadas entre os dois sistemas no que se refere à abordagem e aplicações das práticas culturais. Contrapondo esse sistema de cultivo, encontra-se a agricultura orgânica ou sistema de cultivo orgânico, que segundo Neves et al. (2000) seria onde: “O manejo da unidade de produção agrícola visa promover a agrobiodiversidade e os ciclos biológicos, procurando a sustentabilidade social, ambiental e econômica da unidade, no tempo e espaço.” De acordo com as disposições da Lei n. 10.831, de 23 de dezembro de 2003, a agricultura orgânica tem como princípio básico o estabelecimento do equilíbrio com a natureza, por meio da aplicação de técnicas naturais de adubação, controle do solo e de pragas (BRASIL, 2003). No cultivo orgânico recomenda-se o uso de corretivos e fertilizantes naturais, de solubilidade e liberação lenta, além de ação gradativa. Prioriza-se o equilíbrio de nutrientes, nas suas formas orgânicas, evitando os excessos e contribuindo para manter os atributos do solo e da água. A implantação de frutíferas usa insumos e recursos, em sua maioria, advindos da própria propriedade, como fibras vegetais, madeira, bambu, além de minimizar o uso de máquinas e equipamentos, priorizando e valorizando a mão-de-obra familiar ou local, gerando emprego e renda. As adubações de plantio (fundação) e coberturas (manutenção), normalmente, empregam fertilizantes orgânicos ou extratos vegetais (caldas nutricionais), ou ainda, rochas moídas (apatitas, fosforita) e matéria orgânica decomposta (húmus), além de adubações verdes (com leguminosas, como mucuna, leucena, feijão-de-porco). A condução das frutíferas é realizada com o uso de práticas culturais, normalmente associadas, como o cultivo intercalar, rotação de culturas, poda de formação, poda de limpeza ou verde, poda de frutificação, aplicação ou pulverização de caldas nutricionais ou fitoprotetoras (como o extrato de nim, calda bordalesa, calda sulfocálcica, bokashi, dentre outras), roçada ou capina das entrelinhas das plantas em cultivo. A prática da colheita e comercialização, normalmente certificada e fiscalizada, prioriza o bem- estar dos produtores e da população, qualidade organoléptica diferenciada, qualidade fitossanitária garantida (uma vez que, os produtos usados na produção são naturais ou biodegradáveis), qualidade comercial (atentando para o ponto de colheita ideal de cada espécie frutífera) e qualidade nutricional (com altos níveis de nutrientes e antioxidantes favoráveis à saúde humana). Entretanto, a agricultura orgânica deve e pode ser bem gerida, pois se conduzida desconforme aos princípios e normas pode ocasionar contaminação microbiana ou parasítica (pela grande quantidade de estercos e resíduos que utiliza); aumento no teor de nitratos nas plantas como consequência do crescente aporte de fertilizantes orgânicos ricos em nitrogênio como os estercos. Os nitratos podem ser reduzidos a nitritos, que combinados com aminas formam nitrosaminas, substâncias potencialmente cancerígenas; além disso, podem ter um alto custo produtivo pela utilização de insumos caros e muita mão-de-obra. No entanto, isso pode ser minimizado ou superado pelo processo de Cultivo de frutíferas em clima tropical 21 Dias & Mata (2021) certificação e agregação de valor aos produtos, tendo grande valor de mercado e demanda crescente ao longo dos anos. Em vista dos dois sistemas de produção apresentados, conclui-se que de maneira geral, os principais métodos e ou práticas adotadas, tanto no cultivo convencional quanto no orgânico de frutíferas, estão alicerçados no preparo e correção do solo, implantação da cultura, adubação, condução da cultura, podas, controle de plantas daninhas e manejo fitossanitário, além da colheita e comercialização. As principais diferenças residem na intensividade do uso do solo e no emprego de insumos com maior ou menor solubilidade no solo, além da forma de aplicação e ação que fungicidas, inseticidas, herbicidas, dentre outros insumos e agrotóxicos, bem como, de produtosmenos agressivos ao homem e o ambiente, que procuram manter o agroecossistema em equilíbrio, proporcionando o melhor retorno econômico em ambos os sistemas de produção. Utilização de resíduos na fertilização de frutíferas No Brasil, país onde o agronegócio é extremamente relevante, representando aproximadamente 24% do Produto Interno Bruto (PIB) da federação. A produção agrícola representa, deste valor 70% da arrecadação, refletindo na manutenção do saldo positivo da balança comercial brasileira de importações e exportações. Anualmente, a fruticultura participa com cerca de US$10 bilhões em valor bruto inserido dentro da produção agrícola. A fruticultura brasileira é uma das mais diversas, com 22 espécies principais e outras espécies difundidas por diferentes áreas do país. Com aproximadamente 43,5 milhões de toneladas anuais produzidas no ano de 2017, em cerca de 2,0 milhões de hectares e, consequentemente, ocupando a terceira colocação mundial de produtores de frutas, atrás de Índia e China (KIST et al., 2018). Portanto, vale afirmar que o Brasil é um país essencialmente agrícola e que, cerca de um terço das riquezas produzidas no país vêm do recurso natural, o solo. Assim, justifica a importância de estudos relativos a esse fator de produção tão primordial para o país. No Brasil, os rendimentos produtivos das frutíferas permanecem aquém dos rendimentos que podem ser alcançados comparado à países tradicionais no cultivo de frutas. De maneira geral, os solos possuem limites naturais (baixa fertilidade natural, seria um deles) para nutrir as plantas e sustentar a produção vegetal (PARENT & GAGNÉ, 2010). A degradação da qualidade dos solos reduz esses limites naturais, ao mesmo tempo que pode deteriorar a qualidade da água para os diferentes usos. É inaceitável, na atualidade, crer que o emprego de quaisquer tecnologias possa compensar uma gestão incorreta desse recurso natural imprescindível, o solo. Em função do melhoramento genético de variedades ou cultivares, ao longo de décadas, as plantas frutíferas aumentaram o potencial produtivo e a qualidade das produções, entretanto, a exigência, a exploração de nutrientes e o uso desses nutrientes também aumentou. Ademais, os solos do Cultivo de frutíferas em clima tropical 22 Dias & Mata (2021) Brasil são naturalmente ácidos e pobres em termos de fertilidade, além de serem submetidos à intensa exploração, levando-os a exaurir sua capacidade de prover as plantas em nutrientes. A acidez associada a insuficiência do balanço de nutrientes, são fatores que interferem na produtividade agrícola, especialmente em solos das regiões tropicais do planeta (ROZANE; BRUNETTO; NATALE, 2017). A fertilidade do solo tem direta relação com a nutrição mineral das plantas. Os vegetais extraem do solo, os elementos nutricionais necessários para suprir satisfatoriamente suas exigências e manifestar todo o seu potencial genético em produção e qualidade. No entanto, há grande variação na capacidade do solo suprir as plantas em nutrientes. Solos de regiões tropicais, na maioria das vezes, não conseguem fornecer em quantidade, diversidade e qualidade necessárias de todos os nutrientes exigidos pelas plantas frutíferas. Convém destacar a importância do uso e manejo de resíduos agrícolas, sobretudo vegetais, sempre que possível para complementar ou substituir a adubação convencional com fertilizantes minerais e satisfazer as exigências nutricionais das plantas frutíferas. Segundo a Lei n. 6.894, de 16 de dezembro de 1980 (Redação dada pela Lei nº 12890, de 2013) fertilizante seria “a substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, fornecedora de um ou mais nutrientes vegetais.” Os resíduos além de serem fonte de macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre) e micronutrientes (boro, ferro, zinco, manganês, cobre, molibdênio), podem aumentar o conteúdo de carbono de fontes orgânicas no solo e, por consequência, incrementar os teores de matéria orgânica no solo, principalmente em solos degradados, além de promover melhorias nos atributos físicos, químicos e biológicos, o que é conhecido em diferentes sistemas de cultivo que trabalham com resíduos, sobretudo, o sistema de cultivo orgânico. Todavia, no Brasil, estudos adicionais devem ser realizados no intuito de escolher as melhores fontes de resíduos orgânicos a serem utilizados nos pomares, as melhorias nos atributos do solo nas diferentes condições ecofisiológicas ou edafoclimáticas, além do impacto no crescimento do sistema radicular, da parte aérea, da produção, além do balanço nutricional das frutíferas. De maneira geral, resíduos são quaisquer materiais oriundos das atividades industriais ou humanas que não seja aproveitado, na forma líquida ou sólida. Ou ainda, segundo a legislação de 2 de agosto de 2010: “Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólidos ou líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou que exijam para isso soluções técnica ou economicamente viáveis em face da melhor tecnologia disponível” (BRASIL, 2010). Dentre os principais resíduos tratados e reutilizados na agricultura pode-se citar os resíduos de animais (como os dejetos de bovinos, aves, suínos, equinos, digestão bovina, resíduos de frigorífico, utilizados e transformados em estercos), resíduos agroindustriais (do processamento de alimentos, Cultivo de frutíferas em clima tropical 23 Dias & Mata (2021) vinhaça e torta de filtro do processamento da cana-de-açúcar e fibras vegetais), resíduo de tratamento de esgoto e água (lodo), fosfogesso, escoria de siderurgia, restos de poda e controle de plantas daninhas, sobras culturais em final de ciclo (como no caso da parte aérea do abacaxizeiro), dentre muitos outros. As limitações de emprego de resíduos utilizados na agricultura, se dá em vista da quantidade de resíduos produzida (a exemplo do montante de dejetos de suínos produzida em criações confinadas) e da forma de tratamento e reutilização dos mesmos, de maneira a evitar contaminação de solo e das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas. Cardoso, Oyamada e Silva (2015) evidenciaram que, a contaminação dos lençóis freáticos é o principal problema ambiental causado pelo manejo inadequado dos dejetos suínos e que existem tratamento como: lagoas de decantação, esterqueiras, bioesterqueiras, biodigestores, compostagem e cama sobreposta. Estes, buscam minimizar os impactos ambientais causados pelos dejetos, uma vez que a escolha do processo ocorre pela quantidade de dejetos produzida. No Brasil prevalece o uso de esterqueiras e lagoas de decantação, todavia, entre as propriedades integradas a grandes empresas do ramo alimentício destaca-se o uso de biodigestores, além da compostagem e a cama sobreposta são alternativas de tratamento menos utilizadas. As limitações sobre o uso de alguns resíduos, a exemplo do lodo de esgoto, referem-se quanto ao seu emprego em culturas agrícolas, onde o consumo se dá, de modo geral, in natura, a exemplo das hortaliças e frutíferas. Hirata et al. (2015) referem-se as possíveis limitações referentes a: a) composição do lodo e taxa de aplicação; b) contaminação do solo; c) contaminação dos alimentos; d) possível patogenicidade e; e) liberação de odores indesejados. No entanto, pode ser uma alternativa para cultivo de plantas ornamentais e flores de corte, bem como, recuperação de áreas degradadas por possuir alta taxa de aplicabilidade, além de resultados positivos sobre a reconstituição do solo e flora. A Instrução Normativa Nº 17, de 18 de Junho de 2014, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), estabelece regulamento técnico para os sistemas orgânicos deprodução e sobre utilização de resíduos, normatiza a produção animal, destinando os resíduos da produção e respeitando a legislação ambiental aplicável; uso de outros produtos permitidos, desde que não contenham resíduos contaminantes oriundos do processo de fabricação; uso de composto proveniente de resíduos orgânicos domésticos, resíduos de alimentos oriundos de comercialização, preparo e consumo em estabelecimentos comerciais e industriais, bem como, materiais vegetais de podas e jardins; uso de resíduos de origem vegetal; resíduos de biodigestores e de lagoas de decantação e fermentação são permitidos desde que seu uso e manejo não causem danos à saúde e ao meio ambiente, além de permitidos desde que bioestabilizados; dentre outras coisas. A adição de resíduos orgânicos como composto orgânico, dejetos de aves e esterco bovino são os mais conhecidos e utilizados para promover maior crescimento, aumento de produtividade e melhora dos parâmetros qualitativos (como cor, sabor, textura, dentre outros) em comparação aos fertilizantes minerais de alta solubilidade. Provavelmente, essas características possam estar associadas aos processo de liberação lenta de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), além dos micronutrientes, o que pode aumentar o sincronismo com a absorção das plantas, sem considerar que esses resíduos podem Cultivo de frutíferas em clima tropical 24 Dias & Mata (2021) ser considerados condicionadores (produtos que melhoram alguma propriedade física ou físico-química e, consequentemente, biológica) do solo como, por exemplo, do ponto de vista físico provocam o aumento da retenção da umidade do solo; aumento da porosidade e fornecedores de energia bioquímica para reações microbiológicas do solo; melhora a estrutura do solo (agente cimentante); facilita a drenagem da água; aumenta a circulação de ar no solo; reduz a variação de temperatura; amortiza o impacto direto das gotas de chuva; aumenta a disponibilidade e absorção de nutrientes; bem como, aumenta a superfície específica dos coloides para reações no solo. As propriedades químicas do solo são favorecidas por: aumento da capacidade de troca catiônica (CTC); aumenta a adsorção de cátions; eleva ou diminui o potencial hidrogeniônico (pH); complexa o alumínio tóxico; controla a presença de elementos que podem ser tóxicos (como o ferro, manganês e metais pesados) pela capacidade de fixar, quelar ou complexar tais elementos; auxilia na recuperação de solos salinos; aumenta o poder tampão do solo; fixa nitrogênio do ar e fornece substâncias estimulantes de crescimento. A matéria orgânica advinda dos resíduos também influência nas propriedades biológicas do solo, tais como: aumenta a atividade de microrganismos; aumenta a atividade de micorrizas (fungos arbusculares que aumentam a superfície radicular e a absorção de nutrientes); aumenta a atividade de bactérias do gênero Rhizobium (fixadoras de N2 atmosférico) e aumenta a atividade de minhocas (as quais, arejam o solo e transformam a matéria orgânica fresca em matéria orgânica decomposta – húmus). Por isso, os resíduos orgânicos podem e devem ser utilizados aplicados de forma única, parcelada ou complementar aos fertilizantes minerais em pomares de plantas frutíferas. Diante disso, pode-se concluir que, a utilização de resíduos na fertilização de frutíferas é uma prática recomendável, ambientalmente correta, economicamente viável e segura ao ser humano, desde que respeitada os preceitos, requisitos e normas de segurança. Controle fitossanitário em frutíferas Uma das vertentes mais importantes no cultivo e produção de plantas frutíferas é o controle fitossanitário das espécies. O controle fitossanitário, em geral, abrange práticas e métodos convencionais ou alternativos, naturais ou sintéticos de manejo de pragas, doenças (principalmente causadas por fungos, bactérias, nematoides ou vírus) e plantas daninhas, nos diferentes cultivos e, neste caso em particular, no cultivo de frutíferas. Questões importantes devem ser abordadas sobre o uso desordenado e indiscriminado de agrotóxicos pela agricultura convencional, a complexidade dos sistemas naturais e dos agroecossistemas, as tecnologias de proteção de plantas frutíferas, bem como, as possíveis alterações nos sistemas produtivos, buscando sistemas mais próximos da sustentabilidade agrícola. Cultivo de frutíferas em clima tropical 25 Dias & Mata (2021) Uma parte expressiva do tempo do agricultor, custos operacionais e pessoais, aquisição e uso de produtos, ferramentas e ou serviços são utilizadas visando maior e melhor controle fitossanitário das plantas e, com as espécies frutíferas não é diferente. O uso intensivo, abusivo e indiscriminado de agrotóxicos pela agricultura convencional tem provocado vários problemas ambientais, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais; intoxicação de um número cada vez maior de agricultores; resistência de patógenos, de pragas e doenças, além de plantas daninhas (ou invasoras) a determinados agrotóxicos; desequilíbrio biológico, alterando a ciclagem de nutrientes e matéria orgânica; diminuindo ou eliminando a biodiversidade, especialmente de microrganismos benéficos (CAMPANHOLA & BETTIOL, 2003). A legislação fitossanitária brasileira, Lei 7.802 de 11 de julho de 1989 e Decreto 4.074 de 4 de janeiro de 2002, define agrotóxico e afins como sendo: “a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinado ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias ou produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento” (BRASIL, 2002). A legislação também denomina e considera sinônimo de agrotóxico, produtos denominados de pesticidas, produtos fitossanitários ou defensivos agrícolas. Grande parte dos agrotóxicos aplicados é perdida no campo. Estima-se que aproximadamente 90% dos agrotóxicos aplicados não atinjam o alvo, sendo dissipados para o meio ambiente, atingindo o solo e podendo chegar a reservatórios e cursos d’água. As perdas, em geral, devem-se a aplicação inadequada, tanto no momento desfavorável quanto em relação a tecnologia empregada. Medidas de controle deveriam ser empregadas somente quando fossem atingidos os níveis de dano econômico. Evitando o uso excessivo de produtos, sobretudo agrotóxico, além de diminuir custo com mão-de-obra, equipamentos e recursos diversos. O uso de cultivares resistentes é fundamental para os diferentes sistemas agrícolas. Trata-se de um método de controle fitossanitário barato e de fácil utilização para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas em frutíferas. Associado a este método, recomenda-se a aquisição de sementes ou qualquer outro material propagativo como mudas, de produtores e ou viveirista idôneos, fiscalizados e credenciados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A remoção do material infectado pelo patógeno também pode ser utilizado como controle alternativo evitando contaminações ou diminuindo contaminações futuras de novos ciclos de pragas ou doenças no cultivo de frutíferas. O monitoramento constante aliado a identificação de plantas atípicas Cultivo de frutíferas em clima tropical 26 Dias & Mata (2021) ou com sintomas perceptíveis de pragas ou doenças devem ser sistematicamente eliminadas do cultivo, prática essa conhecida como “roguing”. Métodos alternativos de controle fitossanitário em frutíferas têm sido preferidos e priorizados, como o uso do controle biológico de pragas e doenças, utilizando microhimenópteros e parasitoides (como ocorre em diversos países como, por exemplo, China, Estados Unidos, França, Israel, República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Espanha). Outro exemplo é o controle das moscas-das-frutas por controle hidrotérmico e físico obtido pela imersão dos frutos em água quente (a 46oC) e o uso de armadilhas na área de cultivo. Para algumas doenças de plantas frutíferas, o destaque fica por conta do uso da técnica alternativa de premunização com estirpes fracas de vírus da tristeza dos citros, como ocorre com praticamente todas as mudas de laranja Pera comercializadas no país. Outro caso de sucesso é o uso de Baculovirus anticarsia utilizado em diversas culturas para o controle de lagartas. A utilização de matéria orgânica, tanto por meio de incorporação ao solo, como após transformação em húmus ou biofertilizante, deve ser considerado como um método alternativo de controle de pragas, doenças e plantas daninhas. A matéria orgânica possui um efeito nutricional, fornecendo macro e micronutrientes, bem como, outros metabólitos como antibióticos e hormônios. Portanto, a adição regular de matéria orgânica pode estimular a atividade de microrganismos primários, especialmente fungos, bactérias, ácaros, nematoides e artrópodes, que podem auxiliar no controle de fitopatógenos. Por exemplo, a supressão de Phytophthora cinnamoni Rands. em abacate cultivado na Austrália. Diversas outras práticas culturais, associadas ou não, podem contribuir para a eficiência e duração do controle fitossanitário em frutíferas, como: cultivo consorciado, adubação verde, solarização, rotação de culturas, pousio da área, uso de caldas nutricionais e ou fitoprotetoras, manejo cultural (catação e eliminação de frutos ou partes de ramos atacados, bem como, poda das partes afetadas), adubação equilibrada, controle e disponibilidade de água, dentre muitas outras. Produtos orgânicos ou agroecológicos cultivados com métodos alternativos têm tido demanda crescente e sido bastante valorizados no Brasil e no mundo. Venon et al. (2016), relataram importantes estratégias de manejo de pragas em frutíferas, destacando o controle biológico, manutenção da cobertura vegetal (especialmente nas entrelinhas), controle mecânico e cultural (com coleta e destruição de pragas, além do ensacamento dos frutos), controle comportamental (utilizando armadilhas contendo feromônios), inseticidas botânicos e caldas fitoprotetoras (como o extrato do fumo ou de nim, calda bordalesa ou sulfocálcica, dentre outras). Outra tecnologia bastante importante no controle fitossanitário em frutíferas é a aplicação e, dentro desta, a pulverização de produtos, agrotóxicos, caldas nutricionais e fitoprotetoras, bem como, dos extratos botânicos. Tradicionalmente, no controle fitossanitário em frutíferas se utiliza pulverização em alto volume, com calda aplicada até o ponto de escorrimento em função das dificuldades em se cobrir de Cultivo de frutíferas em clima tropical 27 Dias & Mata (2021) maneira correta todas as partes das frutíferas, justamente por sua diversidade de porte e densidade de ramos, folhas e frutos. Por isso, os equipamentos são robustos, de grande tamanho, requerem alta potência dos tratores e equipamentos (com grande consumo de energia, pulverização excessiva de calda e queima de combustíveis fósseis em demasia), acarretando alto custo. Atualmente, há uma busca por máquinas e equipamentos menores, mais eficientes, além da redução do volume gasto na aplicação. Vale ressaltar a capacitação e treinamento do operador de máquinas, que deve ser periódico e o uso obrigatório do Equipamento de Proteção Individual (EPI), conforme preconiza a Instrução Normativa n. 31 do MAPA, minimizando erros na aplicação e reduzindo possíveis contaminações ou intoxicações do aplicador/operador. Dentre as espécies frutíferas tropicais que mais se destacam no cenário atual estão os citros, o abacaxi e a banana. No caso de frutíferas arbóreas como os citros, que ocupam maior área na fruticultura nacional, existem exemplos de eficiência no controle fitossanitário, empregando manutenção, inspeção, calibração e regulagem dos equipamentos, que podem resultar em diminuição significativa do volume de aplicação, reduzindo custos e melhorando a eficiência (FERREIRA, 2013). Os citros podem ser atacados por bactérias como as causadoras do cancro-cítrico, clorose- variegada-dos-citros (CVC) e o Huanglongbing (HLB) que acarretam sérios prejuízos à citricultura. O controle é cultural e preventivo, evitando a entrada do agente causal. Após estabelecimento das doenças, o controle passa a ser físico pela eliminação de parte ou totalidade da planta contaminada, além do controle de insetos vetores. As doenças fúngicas, como podridão-floral-dos-citros, mancha-marrom-de- alternaria, em condições favoráveis, requerem um grande número de pulverizações, o que pode resultar em aumento dos custos e prejuízos ao meio ambiente. No pós-colheita pode ocorrer os bolores e podridão-azeda, diminuindo a quantidade e a qualidade dos frutos produzidos. Doenças virais, como a leprose-dos-citros é a que mais onera os custos pelo uso de acaricidas para controle do vetor (KUPPER et al., 2016). O abacaxizeiro é afetado principalmente pelo fungo causador da fusariose (Fusarium gottiforme), que ataca a planta em todos os estádios de desenvolvimento. A fusariose tem como sintoma característico a exudação de goma, principalmente do centro dos frutilhos. O uso de variedades resistentes como ‘Imperial’, ‘Vitória’ e ‘IAC Fantástico’ é um eficiente método de controle. O controle preventivo com mudas sadias também é indicado. Recomenda-se a eliminação de restos culturais e plantas infectadas como medida auxiliar (FERREIRA et al., 2011). Com relação à cultura da banana, a principal praga no Norte de Minas Gerais, Semiárido e Sudeste, é a broca-do-rizoma e, em seguida, pelos tripes. A primeira é provocada por um besouro de coloração escura e com 9 a 13mm. Os danos são causados pelas larvas que se alimentam do rizoma, formando galerias, podendo levar a planta ao tombamento e morte. Deve-se fazer o monitoramento e uso de iscas atrativas do tipo “queijo” ou “telha” e inseticida, perfazendo um total de 20 iscas por hectare e um nível de controle de dois a cinco insetos por isca. O método principal de controle é o uso de mudas sadias. Também, pode-se usar o fungo entomopatogênico Bauveria bassiana ou inseticida. As principais Cultivo de frutíferas em clima tropical 28 Dias & Mata (2021) doenças são: sigatoka-amarela (e ou negra), mal-do-Panamá, antracnose-dos-frutos e mosaico-da- bananeira, além de nematoides. Na primeira e mais importante doença, observa-se estrias e manchas de coloração parda, em forma oval alongada, envolta por halo amarelado. O manejo da sigatoka-amarela deve ser com drenagem do solo, controle de plantas daninhas, desfolha parcial ou total, desbaste para evitar excesso de plantas e, uso de fungicidas específicos. O mal-do-Panamá causa amarelecimento das folhas mais velhas para as folhas mais novas, rachaduras e coloração parda-avermelhada do pseudocaule. As medidas de controle consistem em plantar material propagativo sadio, evitar áreas com histórico da doença, pH do solo próximo a neutralidade, adubação criteriosa, evitar estresse hídrico, controle de brocas e nematoides, além de variedades resistentes (RODRIGUES et al., 2011). O controle fitossanitário em frutíferas em um país de clima tropical como o Brasil deve ser sempre baseado na escolha de variedades resistentes, uso de material propagativo (sementes e mudas) sadio, monitoramento, manejo cultural com eliminação do inoculo inicial com podas ou eliminação da planta afetada, catação e eliminação de frutos infectados, uso de armadilhas atrativas, bem como, manejo correto de plantas daninhas, adubação equilibrada e, em última instancia, em casos de ataque severo,fazer uso de fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros produtos. O manejo fitossanitário criterioso e bem feito pode proporcionar ao fruticultor maiores ganhos econômicos, advindos de rendimentos produtivos maiores e frutas de melhor qualidade. Considerações finais Vale ressaltar a importância de se conhecer os métodos e técnicas de propagação, especialmente os métodos de germinação de sementes, os processos de floração e frutificação, os diferentes métodos de cultivo, as técnicas de utilização de resíduos na fertilização, além do controle fitossanitário em frutíferas, objetivando maiores ganhos em produção e qualidade das frutas, bem como, desenvolver uma fruticultura viável, lucrativa e sustentável. Referências BRASIL. Lei 10.711, de 05/08/2003. Brasília, DF, 2003. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=3518C4A7260B87C65 369BE587AED50A8.node2?codteor=216570&filename=LegislacaoCitada+-PL+3477/2004. Acesso em: 06/05/2019. BRASIL. Lei n. 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm>. Acesso em: 05/05/2019. Cultivo de frutíferas em clima tropical 29 Dias & Mata (2021) BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Seção p. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 05/05/2019. BRASIL. Lei n. 6.894, de 16 de dezembro de 1980. Legislações. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos- agricolas/fertilizantes/legislacoes>. Acesso em: 16/05/2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Lei 7.802, de 11 de julho de 1989. Diário Oficial da União, Brasília. CAMPANHOLA, C.; BETTIOL, W. Métodos alternativos de controle fitossanitário. Jaguariúna–SP, Embrapa Meio Ambiente, 2003. 279p. CARDOSO, B. F.; OYAMADA, G. C.; SILVA, C. M. Produção, tratamento e uso dos dejetos suínos no Brasil. Desenvolvimento em Questão, v.13, n.32, p.127-145, 2015. FACHINELLO, J. C. Fruticultura: fundamentos e práticas. Embrapa Clima Temperado, 2009. 176 p. FERREIRA, E. A.; SILVA, J.R.; ALMEIDA, G.V.B. de; SANTOS, W.V. Abacaxi. EPAMIG. Informe Agropecuário, v.32, n.264, p.7-16, 2011. FERREIRA, M. C. Avanços tecnológicos na pulverização de frutíferas. In: Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação. Sintag, 6, 2013, Londrina. Anais...Londrina, 2013. HARTMANN, H. T.; KESTER, D. E.; DAVIS JUNIOR, F. T.; GENEVE, R. L. Plant Propagation: principles and practices. 8 ed. Boston: Prentice – Hall, 2011. 915 p. HIRATA, D.; KNIESS, C. T.; CORTESE, T. T. P.; QUONIAM, L. O uso de informações patentárias para a valorização de resíduos industriais: o caso do lodo de tratamento de esgoto doméstico. Revista de Ciências da Administração, v.1, n.1, p.55-71, 2015. Cultivo de frutíferas em clima tropical 30 Dias & Mata (2021) KIST, B. B.; CARVALHO, C.; TREICHEL, M.; SANTOS, C. E. Anuário Brasileiro de Fruticultura 2018. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2018. 88p. KUPPER, K. C.; FERRAZ, L. P.; SILVA, A. C.; COLETTA FILHO, H. D. Doenças dos citros. Informe Agropecuário. Manejo de doenças de fruteiras de clima temperado, subtropical e tropical, Belo Horizonte, v. 37, n. 291, p. 36-53, 2016. MORAIS JÚNIOR, O. P. D.; LEÃO, É. F., SILVA, F. C. D., SILVA, D. C. D., AGUIAR, J. T. D., PEIXOTO, N. Métodos para superação da dormência em sementes de murici. Revista Agrotecnologia, v.6, n.1, p.01-02, 2015. OLIVEIRA, F. C. Métodos para acelerar a germinação de sementes de bacuri (Platonia insignis Mart.). Revista Brasileira de Fruticultura, v.24, n.1, p.151-154, 2002. PARENT, L. E.; GAGNÉ, G. Guide de référence en fertilization. 2 ed. Québec: CRAAQ, 2010. 473p. ROCHA, I. T. M.; SILVA, A. V., SOUZA, R. F., FERREIRA, J. T. P. Uso de resíduos como fonte de nutrientes na agricultura. Revista Verde, v.8, n.5, p.47-52, 2013. RODRIGUES, M. G. V.; Donato R. L.; DIAS, M. S. C.; SILVA, J. T. A. Banana. EPAMIG. Informe Agropecuário, v.32, n.264, p.35-48, 2011. ROZANE, D. E.; BRUNETTO, G.; NATALE, W. Manejo da fertilidade do solo em pomares de frutíferas. Informações Agronômicas, n.160, p.16-29, 2017. SCALON, S. P. Q.; LIMA, A. A. D., SCALON FILHO, H., VIEIRA, M. D. C. Germinação de sementes e crescimento inicial de mudas de Campomanesia adamantium Camb.: efeito da lavagem, temperatura e de bioestimulantes. Revista Brasileira de Sementes, v.31, n.2, p.096-103, 2009. SIMÃO, S. Tratado de Fruticultura. Piracicaba: Fealq, 1998. 757p. SOUZA, J. R.; IARA, F.; SAMUEL, J. C. Germinação e dormência de sementes. 2016. 4p. TOOGOOD, A. Enciclopédia de la propagacíon de plantas. 1ª ed. Barcelona: Royal Horticultural Society, Editora Blume, 2007. 320p. VENON, M. et al. Manejo agroecológico das pragas das frutíferas. Informe Agropecuário, v.37, n.293, p.94-103, 2016. Cultivo de frutíferas em clima tropical 31 Dias & Mata (2021) Capítulo II GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FRUTÍFERAS TROPICAIS Elisângela Aparecida da Silva Dênia Pires de Almeida Introdução Na natureza, em termos botânicos, as sementes são estruturas especiais que participam da reprodução dos vegetais, da sua disseminação e da proteção da espécie, abrigando em seu interior o embrião que dará origem a uma nova planta. A semente é constituída por casca (cobertura protetora, tegumento ou testa), tecido de reserva (endospermático, cotiledonar ou perispermático) e tecido meristemático (eixo embrionário ou embrião). As sementes começam a se desenvolver a partir da fecundação, passando por diversas transformações, onde ocorre a formação de tecidos diferenciados (histodiferenciação), seguindo até o amadurecimento do óvulo (maturação do embrião). Durante este processo, ao final da maturação da semente, o embrião entra numa fase quiescente em resposta à dessecação, com redução do seu metabolismo, atingindo botanicamente o estágio que pode ocorrer a dispersão. Para originar uma nova planta, também chamada de seedling, a semente passa pelo processo de germinação (Figura 1). Morfologicamente, a germinação é a transformação do embrião em plântula. Sob o ponto de vista fisiológico, consiste na retomada do metabolismo e do crescimento, e reinício da transcrição do genoma. Bioquimicamente, a germinação se refere à diferenciação sequencial dos caminhos oxidativos e de síntese, retomada dos processos bioquímicos característicos do crescimento vegetativo e do desenvolvimento (JANN & AMEN, 1980). Figura 1. Germinação de sementes de mangabeira (Hancornia speciosa G.) (A) Sementes colocadas para germinar e (B) estágios pós-seminais. Cultivo de frutíferas em clima tropical 32 Dias & Mata (2021) Assim, de maneira resumida, pode-se definir a germinação como um processo irreversível, que consiste na retomada do crescimento do embrião, que resulta na ruptura da cobertura da semente e na emergência da plântula. A germinação tem início com a embebição, ativando o metabolismo e proporcionando o crescimento do eixo embrionário. Do ponto de vista fisiológico, o final do processo de germinação é marcado pela emergência do eixo embrionário, em geral da radícula, que atravessa a casca da semente. Do ponto de vista agronômico, o final da germinação é marcado com a emergência da plântula acima do nível do solo. A germinação é afetada por diversos fatores, podendo estes serem intrínsecos ou extrínsecos às sementes. Como fatores intrínsecos, podem ser citados a ocorrência de dormência,a qualidade da semente e o potencial de germinação da espécie. Já como fatores extrínsecos, têm-se a disponibilidade de água em quantidades adequadas, faixas de temperaturas, disponibilidade de oxigênio e luz; sendo a água o fator considerado como mais essencial. Segundo Taiz et al. (2017), a absorção de água pelas sementes é necessária para gerar a pressão de turgor que potencializa a expansão celular, que é a base do crescimento e do desenvolvimento vegetativo. De acordo com a absorção de água pelas sementes, em condições normais, divide-se o processo de germinação em três fases (conhecido como padrão trifásico), sendo: fase I, onde ocorre a rápida hidratação das membranas (embebição); fase II, reiniciam-se os processos metabólicos (transcrição e tradução) e expansão celular, com declínio da embebição; e fase III, retomada do crescimento pelo embrião, mitoses, síntese de DNA, maior mobilização de reservas e aumento rápido da taxa de absorção de água. Em muitas espécies o aumento de volume da semente, devido à absorção de água, pode proporcionar o rompimento da sua casca, e logo em seguida, pode ou não ocorrer a emergência da radícula. Considerado como marco final da germinação, a emergência da radícula pode ocorrer logo após o rompimento da casca da semente ou pode depender do amolecimento do endosperma. Após a protrusão da radícula, o estágio que se segue é denominado de estabelecimento de plântula, que consiste na rápida mobilização de reservas que estimulam o crescimento, até a plântula adquirir a competência de se tornar fotossintetizante, o que ocorre com o aparecimento da primeira folha. A mobilização de reservas armazenadas é feita a partir dos tecidos do cotilédone, endosperma ou, em algumas raras espécies, do perisperma. De maneira geral, sementes de tamanho maior apresentam maiores quantidades de reserva, o que resulta na disponibilidade de nutrientes por um tempo maior, até a planta se tornar autotrófica. Durante o crescimento do caulículo, a germinação pode ser denominada, do ponto de vista agronômico, de germinação hipógea, quando os cotilédones permanecem no solo (ex.: abacateiro) ou germinação epígea, quando os cotilédones são expostos acima da superfície do solo (ex.: tamarindeiro) (Figura 2). Cultivo de frutíferas em clima tropical 33 Dias & Mata (2021) Figura 2. Emergência de plântulas e classificação quanto ao destino do cotilédone: (A) germinação hipógea em abacateiro (Persea americana Mill.) e (B) germinação epígea em tamarindeiro (Tamarindus indica L.). No final da etapa de maturação, ainda na planta, sementes de algumas espécies não sofrem redução do teor de água, sendo geralmente dispersas com elevados graus de umidade, não atingindo o pré-requisito de se tornar quiescente, estado que antecede a germinação. O conhecimento da semente em relação ao seu teor de água quando madura é importante, visto que este parâmetro define a tolerância à dessecação, o que afeta o processo de germinação, em vistas de produção de mudas. Segundo Taiz et al. (2017), quanto à tolerância à dessecação, as sementes são classificadas em: - Ortodoxas: toleram a dessecação e temperaturas baixas, apresentam o teor de água em torno de 10% (variável entre as espécies), sendo armazenáveis no estado seco por períodos variáveis, dependendo da espécie. Exemplo: sementes de tamareira (Phoenix dactylifera L.), uma palmeira frutífera, muito apreciada na época do Império Romano e que teve suas sementes germinadas após 2 mil anos (SALLON et al., 2008), considerada a semente mais antiga do mundo a germinar. - Recalcitrantes: não toleram a dessecação e as baixas temperaturas, sendo liberadas pelas plantas com elevados teores de água e com metabolismo ativo. Sofrem deterioração quando desidratadas e não sobrevivem ao armazenamento. Exemplo: sementes de mangabeira (Hancornia speciosa G.), que perdem rapidamente a viabilidade, com o passar do tempo, após a extração dos frutos. Algumas literaturas consideram a classificação de sementes intermediárias, sendo aquelas que apresentam teor de água moderado, toleram parcialmente a secagem e podem tolerar temperaturas baixas, dependendo da espécie. Conhecer a categoria da semente em relação à tolerância à dessecação se faz necessário para obter sucesso na germinação, permitindo manejar o tempo entre a coleta e semeadura, definir condições de armazenamento, visando manter a viabilidade e vigor por maior tempo possível, garantindo a longevidade da semente. Além do conhecimento do teor de umidade da semente, outros fatores internos e/ou externos devem ser levados em consideração para que se obtenha sucesso na germinação e na produção de mudas. Um fator intrínseco à semente e que merece atenção na propagação de espécies frutíferas via Cultivo de frutíferas em clima tropical 34 Dias & Mata (2021) seminífera, é a presença da dormência, que ocorre quando uma semente viável não consegue germinar mesmo quando todas as condições ambientais necessárias são adequadas, tais como temperatura, disponibilidade de água e luz. Segundo Taiz et al. (2017), a dormência da semente é um fenômeno que bloqueia temporalmente o processo de germinação. Essa separação temporal, do ponto de vista ecológico, é importante; pois garante tempo para a dispersão da semente por uma maior distância geográfica, podendo maximizar a possibilidade de sobrevivência da plântula, evitando a germinação sob condições desfavoráveis. No entanto, sob a ótica de obter plântulas de espécies de interesse econômico para a produção de mudas, como no caso da fruticultura, este fenômeno não é interessante, pois pode reduzir a porcentagem de germinação, além de provocar desuniformidade entre as plântulas. Existem tipos de dormência, que podem ser devido ao envoltório da semente (dormência imposta pela casca/tegumento), ao grau de desenvolvimento morfológico do embrião e dormência interna, que reflete condições fisiológicas do embrião (dormência do embrião). Outra classificação de dormência é quanto ao momento que ocorre, ou seja, sua origem; podendo ser do tipo primária e secundária. A dormência primária é característica da espécie, programada geneticamente e se instala na maturação da semente, em geral induzida pelo ácido abscísico (ABA). Já a dormência secundária, ocorre esporadicamente ou pode ser induzida, após a maturidade ou dispersão, em resposta ao ambiente, devido às condições desfavoráveis para a germinação. A dormência de sementes possui um determinante primário: a razão entre dois hormônios vegetais que estão envolvidos na regulação da germinação: ABA (ácido abscísico) e o GA (giberilinas). Segundo a teoria do balanço dos hormônios, a atividade destes depende da quantidade de cada um deles presente nos tecidos-alvo e da capacidade desses tecidos para detectar e responder a cada hormônio (TAIZ et al., 2017). Neste sentido, o equilíbrio entre os hormônios promotores (giberilinas, citocininas e etileno) e inibidores da germinação (ABA); exerce papel fundamental no processo. As quantidades desses hormônios são reguladas por reações de síntese e degradação/desativação, sendo o equilíbrio controlado a nível genético por fatores de transcrição e afetado pelas condições ambientais, tais como temperatura e luz (TAIZ et al., 2017). Devido a essa ação dos hormônios, muitas sementes dormentes conseguem superar a dormência existente quando são submetidas a tratamentos com giberilinas, por exemplo, o que altera a razão ABA:GA. Na produção de mudas via seminífera, a dormência precisa ser superada para que a germinação ocorra no tempo desejado e com regularidade. Para isso existem diversos métodos de superação da dormência, que podem ser utilizados de forma isolada ou em conjunto, a depender da espécie e/ou genótipo e o tipo de dormência que precisa ser quebrada. Dentre os diversos métodos, os mais utilizados se baseiam em escarificaçãoquímica, escarificação mecânica, estratificação, uso de reguladores vegetais, choque de temperatura, imersão em água quente e fermentação, por exemplo. Cultivo de frutíferas em clima tropical 35 Dias & Mata (2021) Sementes e fruticultura A utilização de sementes na fruticultura comercial tem aplicações pontuais, sendo utilizada para a produção de porta-enxertos; para a produção de mudas de espécies que tem a propagação seminífera como opção viável de propagação, preservando as características de interesse; e para o caso de espécies que ainda demandam mais pesquisas para técnicas de propagação, tais como as espécies frutíferas nativas. Na pesquisa, principalmente; a utilização de sementes permite a obtenção de novas cultivares e cultivares revigoradas a partir de clones nucelares. Nos programas de melhoramento, as sementes têm papel fundamental na busca por variabilidade genética e/ou transferência de alguma característica de interesse agronômico, a partir de hibridações entre progenitores. Devido à variedade de espécies frutíferas tropicais e suas particularidades quanto aos aspectos de germinação, neste capítulo abordaremos brevemente características germinativas de sementes de abacateiro, maracujazeiro e das anonáceas. Germinação de sementes de abacateiro O abacateiro (Persea americana Mill.) é uma espécie frutífera da Família Lauraceae, cultivada em locais de clima tropical e subtropical, tendo sua produção comercial de mudas realizada através da técnica da enxertia, onde os porta-enxertos são propagados via seminífera pelos viveiristas. De maneira geral, a propagação dos porta-enxertos via sementes não apresenta problemas que dificultam a germinação. No entanto, o fato de as sementes apresentarem a policaulia, passa a ser necessário o uso de técnicas para reduzir este fenômeno, quando o mesmo não é desejado. As sementes são eurispérmicas, ou seja, possuem formato irregular; exalbuminosas, coloração castanho-médio e tamanho grande, apresentando em média de 50mm de comprimento e 40mm de largura. Quanto ao número de embriões, são consideradas monoembriônicas e apresentam o fenômeno da policaulia, fato que levou muitas literaturas considerarem como poliembrionia (OLIVEIRA et al., 2010). Segundo Paixão et al. (2016), a policaulia observada nas sementes de abacateiro pode ser de interesse quando se deseja produzir clones de porta-enxertos, visando estabelecimento de um jardim clonal. Neste sentido, quando se pretende a obtenção de maior número de caulículos por semente, devem ser selecionadas aquelas de maior massa, acima de 81g, por apresentarem maior porcentagem de policaulia. A germinação é do tipo hipógea e a emergência inicia em torno de 30 a 33 dias após a semeadura, podendo acorrer até 60 dias nas condições de viveiro, atingindo a estabilização da germinação em torno da quinta e oitava semana (OLIVEIRA et al., 2010; PAIXÃO et al., 2016). Para a formação de porta-enxertos a partir das sementes, as mesmas deverão ser extraídas de frutos fisiologicamente maduros, selecionados em função da sanidade da planta, vigor, produtividade, Cultivo de frutíferas em clima tropical 36 Dias & Mata (2021) condições climáticas do local e compatibilidade com a variedade copa de interesse. Por se tratar de uma espécie de polinização cruzada, altamente heterozigótica e devido à segregação genética, as plântulas obtidas apresentam variabilidade entre si. Neste sentido, é preferível que a seleção dos frutos seja feita no menor número possível de plantas, para reduzir as variações no porta-enxerto. Algumas práticas aceleram a germinação, tais como a remoção do endocarpo delgado que fica aderido ao tegumento e o corte de uma porção apical em torno de 1 a 2 cm, dependendo do tamanho da semente, sendo considerado que esta prática também reduz a policaulia (TEIXEIRA, 1991). Outros pré- tratamentos para acelerar a germinação também podem ser utilizados, tais como remoção do tegumento, corte basal, corte lateral, escarificação por punção, escarificação na base da semente e a combinação deles. Após a emergência, caso haja ocorra o fenômeno da policaulia, seleciona-se apenas um dos caulículos, que será conduzido para receber o enxerto. Esse desbaste é necessário para evitar a competição, não sendo justificável que se conduzam mais de um. Para preservar a condição sanitária da semente, alguns tratamentos podem ser adotados, tais como a imersão em água a temperatura de 49 a 50°C por 30 minutos, considerado um tratamento hidrotérmico para eliminação de patógenos. Após terem sido retiradas da imersão em água, as sementes devem ser deixadas para secar na sombra. Outra possibilidade de tratamento das sementes é com fungicidas específicos ou hipoclorito de sódio, principalmente quando adotado algum pré-tratamento de corte ou escarificação. Consideradas recalcitrantes, as sementes de abacate não toleram longos períodos de armazenamento, e o mais indicado é que sejam colocadas para germinar logo que retiradas dos frutos, após terem sido lavadas para remoção de restos de polpa e secas a sombra em local ventilado. No entanto, caso o período de produção da semente não coincida com o tempo necessário para a obtenção dos melhores ramos para a enxertia, as condições de armazenamento indicadas são em refrigeração (temperatura variando entre 4 e 9°C, dependendo da variedade botânica), com manutenção de umidade elevada e acondicionadas em embalagens plásticas. A semeadura pode ser realizada em canteiros ou diretamente em sacos de polietileno, colocando a semente com a parte mais plana para baixo e a parte pontiaguda para cima. Considerando a profundidade de semeadura proporcional ao tamanho da semente, a mesma deverá ser colocada a 5 cm de profundidade. Como substrato, pode ser utilizada areia grossa, usual em canteiros ou sementeiras; e formulações de substratos indicados para a espécie e que favoreçam a germinação e emergência da plântula. É de extrema importância considerar a sanidade do material utilizado como substrato, devendo este estar livre de pragas e patógenos que possam prejudicar a semente e a germinação. O fornecimento de água deve ser feito sempre que necessário para manter o substrato úmido para absorção pela semente, mas sem excesso; que poderia prejudicar a aeração do substrato e consequentemente a germinação, além do favorecimento de doenças fúngicas que ocorrem pela má Cultivo de frutíferas em clima tropical 37 Dias & Mata (2021) drenagem. Quando as plântulas atingem cerca de 1 cm de diâmetro e 20 cm de altura, é possível realizar a enxertia da variedade copa de interesse. Germinação de sementes de maracujazeiros Os maracujazeiros pertencem à família Passifloraceae, na sua maioria originários da América Tropical, e produzem frutos muito apreciados para o consumo in natura e para o processamento industrial. Além do cultivo voltado para o mercado de produção de frutos, os maracujazeiros são bastante apreciados do ponto de vista ornamental, pela beleza de suas flores; e medicinal, pelos seus fitoconstituintes (FALEIRO et al., 2019). No Brasil, a principal espécie cultivada para produção de frutos é o maracujazeiro Passiflora edulis Sims., que representa cerca de 90% dos pomares comerciais, com predominância da forma P. edulis f. flavicarpa (maracujazeiro amarelo), que apresenta frutos de casca amarela e são maiores que a forma típica P. edulis f. edulis (maracujazeiro roxo). Outras espécies também são cultivas em menor escala, tais como P. alata Curtis, P. setacea DC. e P. cincinnata Mast., por exemplo; além de espécies nativas com foco de estudos para testes de porta-enxertos. Segundo Meletti et al. (2012) e Faleiro et al. (2019), a produção de mudas para implantação do pomar em escala comercial, se dá principalmente pela utilização de sementes, apesar das vantagens proporcionadas por mudas obtidas viaenxertia e estaquia. Devido à curta longevidade dos pomares de maracujazeiro, cerca de um a dois anos, a utilização de sementes para a formação de mudas é uma forma simples e econômica para obtenção de grande número de plantas em curto espaço de tempo. Para a utilização de sementes na formação de mudas, têm sido relatados diversos problemas de germinação, variáveis entre espécies e até mesmo entre genótipos, como observado por Alexandre et al. (2004) e Santos et al. (2015). De modo geral, tem sido observada baixa porcentagem e germinação desuniforme, devido à irregularidade de início e término da mesma, não ocorrendo em sincronia. As dificuldades relatadas para a germinação de sementes das passifloráceas estão ligadas desde a ocorrência de dormência, recalcitrância, qualidade genética e fisiológica, sendo que estes fatores podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto (FALEIRO et al., 2019). Um fator que dificulta a germinação de maracujazeiros é a presença do arilo, uma mucilagem que envolve as sementes. Semelhante a uma capa gelatinosa ou saco, o arilo é rico em pectinas, podendo conter substâncias inibidoras e redutoras da germinação, como constatado por Martins et al. (2010), o que dificulta a embebição na fase I da germinação. Neste sentido, o arilo deve ser removido, o que pode ser realizado através de métodos mecânicos, químicos ou biológicos. Um dos métodos mais utilizado na remoção de arilo em maracujazeiro-amarelo (P. edulis f. flavicarpa) e maracujazeiro-doce (P. alata Curtis) é através da fricção das sementes em peneira de malha fina, acrescentando cal virgem ou areia grossa. Em P. edulis f. flavicarpa a fermentação natural da polpa, também pode ser utilizada como método de remoção do arilo, com posterior lavagem em água corrente, Cultivo de frutíferas em clima tropical 38 Dias & Mata (2021) utilizando peneira de malha fina. Para este método, Colombo et al. (2018) obtiveram maiores porcentagens de germinação e maior índice de velocidade de emergência, quando a fermentação foi realizada por cinco dias. Comercialmente, as sementes de maracujazeiro-amarelo já se apresentam com arilo removido. Outro fator que pode afetar a germinação das sementes de algumas espécies de maracujazeiros é a ocorrência de dormência. De modo geral, as passifloráceas apresentam dormência, podendo ser uma combinação de dormência mecânica, física e química (devido aos envoltórios das sementes), dormência morfológica e fisiológica, dependendo da espécie e do genótipo. No caso do maracujazeiro amarelo, Rego et al. (2014) concluíram que, a dormência é imposta pelo tegumento, revestimento das sementes que pode ser escarificado com a remoção total do mesmo utilizando um mini torno, considerado um método fácil de executar, barato e seguro para o operador. O maracujá-cincinnata ou maracujá-do-mato (P. cincinnata Mast.), é uma espécie nativa que produz frutos muito apreciados, além de ser importante para obtenção de porta-enxertos, pois apresenta tolerância à seca e às doenças causadas por bactérias e fungos. No entanto, a espécie apresenta dormência nas sementes, e esse fato tem dificultado a obtenção de mudas da espécie e carece de mais estudos na área. Oliveira Júnior et al. (2010) indicam que, as sementes dessa espécie devem ser secas à sombra, com posterior escarificação usando lixa ou aquecidas em banho-maria por 5 minutos a 50°C, caso a semeadura seja realizada sem armazenamento das sementes, após a extração dos frutos. Outra possibilidade é a utilização de giberilinas para estimular a germinação, pois estas aumentam a transcrição do mRNA da α-amilase, enzima responsável pela degradação de reservas (TAIZ et al., 2017) e tem sido indicada para a germinação de sementes de P. cincinnata Mast. Em estudo realizado por Moura et al. (2018), foi concluído que o uso de GA4+7 + N-(fenilmetil)-aminopurina na concentração de 0,3% potencializa a emergência e vigor das sementes de P. cincinnata Mast., tanto para aquelas colocadas para germinar logo após a retirada do fruto, quanto para as que foram armazenadas em câmaras frias, por seis anos. O armazenamento das sementes de maracujá-cincinnata também pode ser utilizado como estratégia para superação de dormência, o que foi constatado por Junghans e Junghans (2017), para dois acessos da espécie, sendo que aos dois anos de armazenamento, as sementes colocadas para germinar apresentaram emergência mais uniforme e mais rápida. A ocorrência e o tipo de dormência em sementes de maracujazeiros são muito variáveis entre as espécies, e devido ao fato de ocorrerem variações entre genótipos, torna-se necessário estudos mais específicos para cada caso. No entanto, é possível afirmar que todas elas têm relação direta com inibidores presentes no envoltório da semente. Germinação de sementes de anonáceas As anonáceas compreendem um grupo de frutíferas tropicais e subtropicais (Família Annonaceae), com as principais espécies pertencentes ao gênero Annona, sendo a maioria originária da Cultivo de frutíferas em clima tropical 39 Dias & Mata (2021) América Tropical e um híbrido importante, originário da Austrália. As principais espécies importantes a nível de comercialização de frutos para consumo in natura e indústria de polpa são a atemoia, um híbrido entre Annona cherimoia Mill. x Annona squamosa L.; a cherimoia (Annona cherimoia Mill.); a graviola (Annona muricata L.) e a pinha, ata ou fruta-do-conde (Annona squamosa L.). Em relação às anonáceas nativas do Brasil, destaca-se o araticum ou marolo (Annona crassiflora Mart.), frutífera do Cerrado, bastante procurada pela indústria para a produção de polpas e sorvetes. A germinação de sementes de anonáceas, de maneira geral, ocorre de forma lenta e desuniforme, o que dificulta a obtenção de plantas em viveiros. A lentidão do processo de germinação se dá, principalmente, pela particularidade das anonáceas em absorver lentamente a água. Os problemas relacionados à irregularidade da germinação têm sido relacionados com a ocorrência de dormência, podendo ser devido ao tegumento resistente, à presença de substâncias inibidoras e a embriões imaturos, com dormência morfológica e/ou fisiológica (PEREIRA et al., 2019). Dentre as espécies citadas, a A. squamosa têm sido propagada via seminífera, e a seguir serão discutidas algumas particularidades na germinação das sementes, diante dos resultados de pesquisa até o momento. Pereira et al. (2011) afirmam que, devido à relativa uniformidade das plantas em campo, a propagação da espécie pode ser realizada via sementes, tanto para a produção de mudas da espécie, quanto para a formação de porta-enxertos. Em A. squamosa, Martínez-Maldonado et al. (2013) concluíram que, a germinação das sementes ocorre em dois estágios separados e consecutivos, onde num primeiro momento ocorre a ruptura da testa (tegumento externo da semente) e depois a ruptura do endosperma culminando no alongamento radicular. Neste caso, as restrições de crescimento do embrião se dão devido à testa da semente e ao endosperma, este último apresentando as paredes celulares espessadas devido à presença de galactomananos (polissacarídeos de reserva), que neste caso funcionam como proteção ao embrião, devido à sua dureza. Neste sentido, é importante que se utilizem estratégias que favoreçam o enfraquecimento tanto da testa quanto do endosperma. Enzimas relacionadas à degradação do endosperma, como as enzimas hidrolíticas α e β-amilase, permitem que sejam fornecidos compostos ricos em energia para o pequeno embrião, característico das anonáceas e atuam consequentemente enfraquecendo o tecido endospermático (TAIZ et al., 2017). Resultados de pesquisa indicam o uso de giberilinas como as melhores opções para superar a dormência em sementes de pinha, promovendo maior porcentagem de germinação, podendo ainda promover uma sincronia no processo, como compilado porPereira et al. (2019) e como verificado por Menegazzo et al. (2012; 2013). O mecanismo de dormência em sementes de A. squamosa não está completamente elucidado, mas diante dos resultados de pesquisas realizadas, conclui-se que o tegumento não é impermeável, porém oferece resistência à entrada de água, que resulta na embebição lenta (Fase I da germinação). Segundo Ferreira et al. (2019), existem variações no tempo de embebição entre as espécies de anonáceas, sendo observados valores de 5 horas para as sementes de A. squamosa, até valores de 70 horas, como para as espécies A. purpurea e A. emarginata. Neste caso, juntamente com a utilização de Cultivo de frutíferas em clima tropical 40 Dias & Mata (2021) giberilinas, deve-se considerar a possibilidade de utilização de tratamentos relativos ao envoltório tais como a remoção, cortes e abrasões via escarificação do tegumento, que podem acelerar o processo de aquisição de água pelas sementes, como constatado por Vasconcelos et al. (2015), que associou a utilização de ácido giberélico com a escarificação mecânica através de fricção na região de protrusão da radícula. Considerações finais A utilização de sementes na fruticultura depende do conhecimento das características relacionadas ao processo de germinação e suas particularidades para cada espécie que se pretende propagar. Uma germinação bem-sucedida é o primeiro passo para a obtenção de mudas de qualidade, com características agronômicas ideais para o estabelecimento da planta no campo. Na propagação de plantas via sementes para produção comercial de mudas frutíferas, deve-se levar em consideração as necessidades específicas para cada espécie, a partir do conhecimento dos fatores intrínsecos e extrínsecos que podem afetar a germinação, permitindo assim, direcionar as melhores técnicas e estratégias para obtenção de plântulas com qualidade e uniformidade. Referências ALEXANDRE, R. S.; JÚNIOR, A. W.; NEGREIROS, J. R. S.; PARIZZOTTO, A.; BRUCKNER, C. H. Germinação de sementes de genótipos de maracujazeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, p.1239-1245, 2004. COLOMBO, R. C.; COSTA, D. S.; CARVALHO, D. U.; CRUZ, M. A.; ROBERTO, S. R. Methods of aril removal and lightness conditions on seeds physiological quality of sour passion fruits. Brazilian Journal of Biology, v.79, n.3, p.404-409, 2019. FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V.; JUNGHANS, T. G.; JESUS, O. N. DE; MIRANDA, D.; OTONI, W. C. Advances in passion fruit (Passiflora spp.) propagation. Revista Brasileira de Fruticultura, v.41, n.2, e- 155, 2019. JANN, R. C.; AMEN, R. D. What is germination? In: KLAN, A. A. (Ed.). The physiology and biochemistry of seed dormancy and germination. 2. ed. Amsterdam: North-Holland, 1980. p.7-28. JUNGHANS, T.; JUNGHANS, D. Armazenamento e vigor de sementes de dois acessos de Passiflora cincinnata. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2017. Cultivo de frutíferas em clima tropical 41 Dias & Mata (2021) MARTINEZ-MALDONADO, F. E.; MIRANDA-LASPRILLA, D.; MAGNITSKIY, S. Sugar apple (Annona squamosa L., Annonaceae) seed germination: morphological and anatomical changes. Agronomía Colombiana, v.31, n.2, p.176-183, 2013. MARTINS, C. M.; VASCONCELLOS, M. A. da S.; ROSSETTO, C. A. V.; CARVALHO, M. G. de. Prospecção fitoquímica do arilo de sementes de maracujá amarelo e influência em germinação de sementes. Ciência Rural, v.40, n.9, p.1934-1940, 2010. MELETTI, L. M. M.; CAVICHIOLI, J. C.; PACHECO, C. A. Cultivares e produção de mudas. In: Maracujá. Informe Agropecuário, v.33, p.35-42, 2012. MENEGAZZO, M. L.; OLIVEIRA, A. C.; KULCZYNSK, S. M.; SILVA, E. A. Efeitos de métodos de superação de dormência em sementes de pinha (Annona squamosa L.). Revista Agrarian, v.5, n.15, p.29-35, 2012. MENEGAZZO, M. L.; KULCZYNSK, S. M.; OLIVEIRA, A. C.; SILVA, E. A. Produção de mudas de pinha em diferentes recipientes utilizando métodos de superação de dormência em sementes. Revista Agrarian, v.6, n.20, p.121-129, 2013. OLIVEIRA, I. V. M.; COSTA, R. S.; MÔRO, F. V.; MARTINS, A. B. G.; SILVA, R. R. S. Caracterização morfológica do fruto, da semente e desenvolvimento pós-seminal do abacateiro. Comunicata Scientiae, v.1, n.1, p.69- 73, 2010. OLIVEIRA JÚNIOR, M. X.; SÃO JOSÉ, A. R.; REBOUÇAS, T. N. H.; MORAIS, O. M.; DOURADO, F. W. N. Superação de dormência de maracujá-do-mato (Passiflora cincinnata Mast.). Revista Brasileira de Fruticultura, v.32, n.2, p.584-590, 2010. PAIXAO, M. V. S.; LOPES, J. C.; SCHMILDT, E. R.; ALEXANDRE, R. S.; MENEGHELLI, C. M. Avocado seedlings multiple stems production. Revista Brasileira de Fruticultura, v.38, n.2, e-221, 2016. PEREIRA, M. C. T.; NIETSCHE, S.; COSTA, M. R.; CRANE, J. H.; CORSATO, C. D. A.; MIZOBUTSI, E. H. Anonáceas: pinha, atemoia e graviola. In: Cultivo tropical de fruteiras. Informe Agropecuário, v.32, n.264, p.26-34, 2011. REGO, M. M.; REGO, E. R.; NATTRODT, L. P. U.; BARROSO, P. A.; FINGER, F. L.; OTONI, W. C. Evaluation of different methods to overcome in vitro seed dormancy from yellow passion fruit. African Journal of Biotechnology, v.13, n.36, p.3657-3665, 2014. Cultivo de frutíferas em clima tropical 42 Dias & Mata (2021) SALLON, S.; SOLOWEY, E.; COHEN, Y.; KORCHINSKY, R.; EGLI, M.; WOODHATCH, I.; SIMCHONI, O.; KISLEV, M. Germination, genetics and growth of an ancient date seed. Science, v.320, Issue. 5882, p.1464, 2008. SANTOS, C. E. M.; MORGADO, M. A. D.; MATIAS, R. G. P.; WAGNER JÚNIOR, A.; BRUCKNER, C. H. Germination and emergence of passion fruit (Passiflora edulis) seeds obtained by self- and open- pollination. Acta Scientiarum. Agronomy, v.37, n.4, p.489-493, 2015. TAIZ, L.; ZEIGER, E.; MØLLER, I. M.; MURPHY, A. Fisiologia e Desenvolvimento Vegetal. 6. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2017. 888p. TEIXEIRA, C. G. Cultura do abacate. In: TEIXEIRA, C. G. et al. Abacate: cultura, matéria prima, processamento e aspectos econômicos. 2. ed. Campinas-SP: ITAL, 1991. p.1-54, 250p. (Série Frutas Tropicais, 8). VASCONCELOS, L. H. C.; VENDRUSCULO, E. P.; VASCONCELOS, R. F.; SANTOS, M. M.; SELEGUINI, A. Utilização de métodos físicos e de fitorreguladores para superação de dormência em sementes de pinha. Revista de Agricultura Neotropical, v.2, n.4, p.20-24, 2015. Cultivo de frutíferas em clima tropical 43 Dias & Mata (2021) Capítulo III ECOFISIOLOGIA DOS CITROS E DO ABACAXIZEIRO CULTIVADOS EM CLIMA TROPICAL Jhansley Ferreira da Mata João Paulo Tadeu Dias Introdução A ecofisiologia refere-se às relações da ecologia com a fisiologia vegetal. A ecologia é a parte da Biologia (estudo dos seres vivos) que estuda as relações dos seres vivos entre si e, destes com o meio. O termo foi usado pela primeira vez em 1866 por Ernest Hackel da junção do termo grego “oikos” (casa) e “logos” (estudo). Portanto, ecologia significa o estudo do ambiente ou habitat dos seres vivos (PROCÓPIO, 2018). A fisiologia vegetal refere-se ao estudo das funções, mecanismos e os processos da vida das plantas, explicando princípios biofísicos e bioquímicos. Por assim dizer, a Ecofisiologia estuda o meio ambiente e suas relações com processos bioquímicos e biofísicos afetando o crescimento e desenvolvimento vegetal. As plantas cultivadas em regiões de clima tropical (segundo Köppen-Geiger classificado em Aw) faixa que recebe alta radiação solar (Figura 1) aumentando a quantidade de alimentos, pois este provém da transformação, pela fotossíntese, da energia solar em energia armazenada nos compostos de carbono rico em energia. Assim, nos meses em região de cerrado as variações são menores durante o ano, e mesmo nos meses mais frios tem-se radiação solar suficiente para fazer agricultura, como o cultivo da cultura deabacaxi e citros (CASTRO, 1987). Cultivo de frutíferas em clima tropical 44 Dias & Mata (2021) Aw - Clima tropical com estação seca na faixa demarcada entre 30º e -30º. Figura 1. Nova classificação de Köppen-Geiger, anos 1980–2016. Fonte: adaptado de Beck et al. (2018). Ecofisiologia dos citros Dentre as espécies vegetais de maior importância para o mundo e para o Brasil destacam-se as diferentes espécies de citros, pertencentes ao gênero Citrus e gêneros afins como o Fortunella e o Poncirus, todos da família Rutaceae (BARBIERI, 2009). As espécies de maior interesse e cultivo são as laranjas, tangerinas, limões, limas doces e ácidas, pomelos, cidras e toranjas. Plantas originárias, em sua maioria, de regiões subtropicais e tropicais do globo, especialmente sudeste asiático, como China e Japão. Geralmente, as plantas são perenes, de porte médio arbóreo ou arbustivo, flores brancas e aromáticas, além de frutos botanicamente denominados de hesperídio (KOLLER, 2013). Na atualidade, o cultivo encontra-se disseminado por quase todas as regiões do planeta, sendo o Brasil, um dos maiores produtores, consumidores e exportadores, principalmente de suco de laranja concentrado e congelado. A atividade citrícola exige muita mão-de-obra, principalmente durante o período da colheita, gera empregos e impacta diretamente na economia dos 350 municípios de São Paulo e Triângulo Mineiro, sendo atividade dominante. Estima-se um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 6,5 bilhões em todos os elos da sua cadeia produtiva e cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos (NEVES & TROMBIN, 2017). A ecofisiologia trata do estudo sistemático e generalizado do ambiente, ou seja, os fatores edafoclimáticos (referentes aos tipos e características dos diferentes solos e climas) influenciando o desenvolvimento vegetal e, especialmente neste estudo, sobre o desenvolvimento das espécies cítricas. Os fatores edafoclimáticos interferem demasiadamente no crescimento vegetal, desenvolvimento e maturação fisiológica, reprodução e multiplicação, sobrevivência, produção e senescência vegetal, em especial das diferentes espécies de citros (MONTEIRO, 2009; SCHNEIDER, Cultivo de frutíferas em clima tropical 45 Dias & Mata (2021) 2016). Os principais fatores edáficos são o ar, a solução (água) do solo e a granulometria/composição dos constituintes minerais e orgânicos do solo. Condições como a composição e a granulometria dos constituintes minerais e orgânicos, a condutividade hidráulica e elétrica do solo, capacidade de troca de íons (ânions e, principalmente, cátions), o potencial hidrogênio iônico (pH), além de fatores referentes à fauna e flora de seres microscópicos, associados aos fatores do clima, como a composição e quantidade de gases atmosféricos (sobretudo O2), luz em quantidade e qualidade, temperatura, umidade e ou precipitação pluviométrica, além do vento, dentre outros – influenciam os processos fisiológicos dos cultivos agrícolas e, dentre esses, dos citros (MONTEIRO, 2009). A ecofisiologia dos citros, a influência do clima, as consequências ecofisiológicas do solo e manejo da irrigação, variação sazonal da fotossíntese e a fixação dos frutos, além do crescimento vegetativo, permitem entender os efeitos e quais as práticas devem ser adotadas, bem como as recomendações de cultivares para cada região (SILVA, 2013). Os citros são cultivados em solos com grande diversidade de características físicas e químicas, entretanto, desenvolve-se melhor em solos que tenham proporção equilibrada de areia e argila (textura média) para garantir boa aeração, facilidade de drenagem, boa retenção de água e capacidade de troca de cátions (CTC). A profundidade efetiva recomendada do solo para cultivo dos citros deve ser de, no mínimo, um metro para garantir sustentação das plantas e maior exploração do solo pelas raízes (AZEVEDO, 2003). Os citros não toleram solos salinos, porém sua sensibilidade aos sais depende de vários fatores como porta-enxerto, combinação porta-enxerto/copa, solo, clima, método de irrigação, etc. De maneira geral, a produtividade de pomares citrícolas reduz em 13% para cada 1,0 dS m-1 de aumento da condutividade elétrica do solo, acima do valor limite de 1,4 dS m-1. Os efeitos da salinidade são o estresse osmótico causado pela redução da absorção de água, efeitos tóxicos dos íons Cl- e Na+ sobre as células e desequilíbrios nutricionais ocasionados pelos efeitos tóxicos desses íons (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Quando há redução na produtividade das plantas causadas pela salinidade, sem haver acúmulo excessivo de Cl- e Na+ nos tecidos e sem sintomas aparentes de toxidez nas folhas, provavelmente o efeito predominante da salinidade sobre as plantas é o estresse osmótico. Teores de sódio maiores que 0,25 g Kg-1 e de cloro superiores a 0,5 g Kg-1 indicam a presença de salinidade no solo, com possíveis efeitos adversos no desenvolvimento e produção das plantas citrícolas (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Quanto às diferenças entre os porta-enxertos em relação a tolerância à salinidade causada por cloreto, a ordem decrescente entre os porta-enxertos usada no Brasil é a seguinte: Tangerina “Sunki” > Tangerina “Cleópatra” > Limão “Cravo” > Limão “Rugoso” > Poncirus trifoliata > Citrange “Troyer” > Citrange “Carrizo”. Já, a ordem de tolerância ao sódio é a seguinte: Tangerina “Cleópatra” > Limão “Rugoso” > Limão “Cravo” > Citrumelo “Swingle” > Citrange “Troyer” > Tangerina “Sunki” > Citrange “Carrizo”. Portanto, verifica-se que a Tangerina “Cleópatra” e o Limão “Cravo” são os mais tolerantes à Cultivo de frutíferas em clima tropical 46 Dias & Mata (2021) salinidade, enquanto os trifoliados Citrumelo “Swingle” e Citrange “Troyer” e “Carrizo”, os mais susceptíveis (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Os citros são plantas muito sensíveis à falta de oxigênio no solo causada por excesso de umidade, com exceção do Poncirus trifoliata, cujas plantas toleram solos mais úmidos. Devido à alta demanda por oxigênio no solo, as plantas devem ser cultivadas em solos profundos e com boa drenagem para se desenvolverem de maneira satisfatória, serem produtivas e terem longevidade de cultivo (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). O potencial hidrogênio iônico (pH) é uma propriedade das mais importantes do solo, pois influencia a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Os citros se desenvolvem melhor em solos com pH entre 6,0 e 7,0, bem estruturados fisicamente e drenados (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Com a interferência humana, o ciclo de vida das plantas é alterado, devido principalmente, a remoção da vegetação natural e plantio de espécies cuja evolução ocorreu em condições de clima e de solo diferentes das existentes no local de plantio e condução do pomar (Figura 2). Um importante quesito responsável pela redução da fertilidade dos solos é a exportação de nutrientes pelos frutos colhidos, cuja quantidade depende da adubação, solo, clima e relação porta- enxerto/copa. A ordem de exportação de macronutrientes é a seguinte: nitrogênio (N) > potássio (K) > Ca (cálcio) > fósforo (P) > magnésio (Mg) > enxofre (S), e a ordem com relação aos micronutrientes é de: ferro (Fe) > zinco (Zn) > boro (B) > manganês (Mn) > cobre (Cu). Os nutrientes exportados ou absorvidos pelas plantas devem ser repostos para que a produtividade dos pomares seja mantida e ou aumentada (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). O clima exerce enorme influência sobre o crescimento, vigor e longevidade das plantas citrícolas, bem como, na quantidade e qualidade dos frutos produzidos. Os citros desenvolvem-se melhor em regiões com clima ameno, desde que adequados e regime pluviométrico de cerca de 1.200mm anuais, bem distribuídos durante todo o ano, podendo haver irrigação suplementar durante o ciclo produtivo. Por exemplo, em regiões citrícolas do Nordeste do Brasil, normalmente as maioresintensidades de chuva ocorrem de março a agosto (inverno). Embora, a limitação climática ao longo de outros meses possa ser contornada com o uso de irrigação, especialmente em áreas com regime pluvial abaixo de 700mm, percebe-se que a maioria dos produtores não adotaram a irrigação. A altitude mais favorável encontra-se de 20 a 500 m e o regime pluviométrico mais adequado entre 1.000 a 1.800mm. Com relação a umidade relativa, umidade muito alta pode ser favorável ao ataque de pragas e doenças, sobretudo as doenças fúngicas. Um dos elementos climáticos que mais influencia os citros é a temperatura que, além de ter efeito acentuado na quantidade, afeta demasiadamente a qualidade dos frutos. Os frutos produzidos em climas frios têm melhor coloração da casca e da polpa, devido a formação de antocianinas, bem como, teores mais elevados de açúcares e ácidos orgânicos, o que acentuam o sabor das frutas. Nos climas quentes, os frutos são menos coloridos externa e internamente, com teores mais baixos de açúcares e acidez, o que resulta em frutos mais doces, contudo de paladar mais pobre. Sob temperaturas elevadas o período Cultivo de frutíferas em clima tropical 47 Dias & Mata (2021) de maturação-floração é bastante encurtado e os frutos permanecem pouco tempo na planta depois de maduros. O clima quente é favorável ao cultivo dos pomelos e toranjas, limas ácidas e doces, além dos limões verdadeiros. Vale ressaltar que, as condições climáticas do Brasil permitem desenvolver uma citricultura tropical, do entorno da linha do Equador até próximo ao paralelo 20º de latitude Sul, com temperaturas mais elevadas e, uma citricultura menos tropical e mais subtropical/temperada, nas regiões da referida latitude até o Rio Grande do Sul, com clima mais frio (EMBRAPA, 2003). A laranjeira e os diferentes citros, de maneira geral, preferem climas com temperatura de 23 a 32º C e umidade relativa do ar elevada. Acima de 40oC e abaixo de 13oC, a taxa de fotossíntese diminui consideravelmente, o que resulta em perda de produtividade (IAC, 2005). Flutuações anormais dos fatores ambientais podem ter consequências bioquímicas e fisiológicas negativas para as plantas e, com certeza, para os citros também (DIAS & COSTA, 2018). A origem das plantas cítricas nos sub-bosques das florestas asiáticas com clima úmido, cujas características fisiológicas não são favoráveis em condições de alta demanda hídrica atmosférica, comum em climas quentes e secos. Atualmente, dentre as regiões produtoras de citros, as principais estão em clima subtropical úmido (entre 20o a 40o de latitude), onde a temperatura do solo e do ar atingem valores inferiores a 15oC no inverno e a precipitação anual varia de 1.200 a 1.500mm. Para os citros, a relação entre cultivar, clima e o solo, sobressai o fator clima como fator que influencia no crescimento, produção e qualidade de frutos cítricos. Dentre os fatores climáticos, a temperatura é considerada o fator mais importante por sua influência na qualidade, tamanho e formato, coloração e estádio de maturação dos frutos. Em climas frios, a determinação do ponto de colheita baseado na mudança de coloração da casca é mascarada pela aceleração da redução de clorofila e o aumento de pigmentos carotenóides na casca dos frutos. Estas alterações de pigmentação não permitem que se estabeleça uma boa correlação entre cor da casca e maturação interna do fruto. O aumento da concentração de açúcares ocorre durante toda a fase de crescimento e maturação dos frutos, diretamente relacionado com o processo fotossintético e a temperatura, além da intensidade de luz. O florescimento dos citros é determinante para a produtividade que, por sua vez, é condicionado pelo estado fisiológico das plantas e pelas condições ambientais. Baixas temperaturas e reduzida disponibilidade hídrica são os principais fatores que regulam a indução ao florescimento. Durante o inverno, as plantas diminuem o crescimento devido ao início da dormência pela baixa umidade do solo e temperatura abaixo de 12-13oC ou estresse hídrico, reduzindo o metabolismo. Esse fenômeno estimula a transformação de gemas vegetativas em gemas reprodutivas, devido ao balanço hormonal promovido pela condição climática. Após as primeiras chuvas (acima de 20mm) inicia-se o florescimento por volta dos meses de agosto e outubro no estado de São Paulo e Minas Gerais. As laranjeiras apresentam padrões distintos de crescimento dependendo do clima da região. Em condições tropicais, as plantas vegetam durante praticamente todo o ciclo anual, devido as altas Cultivo de frutíferas em clima tropical 48 Dias & Mata (2021) temperaturas e disponibilidade de recursos hídricos. Em climas subtropicais, o crescimento das laranjeiras pode ser dividido em duas fases: uma fase de crescimento intenso na primavera e verão, e; uma fase de paralisação do crescimento da parte aérea (copa) no outono e inverno. Os citros cessam o crescimento vegetativo da parte aérea e das raízes em temperaturas próximas a 13oC. Com o aumento progressivo da atividade metabólica, com o máximo desenvolvimento em temperatura de cerca de 30oC. A baixa disponibilidade sazonal de água também reduz o crescimento dos citros, afetando copa e raízes, bem como, o fornecimento de fotoassimilados para as plantas. O entendimento dos fatores ecofisiológicos (de solo e clima) e sua relação com o desenvolvimento das plantas cítricas deve ser objetivo de árduo estudo e pesquisa, buscando as melhores formas de cultivo e almejando maiores produtividades e produções com qualidade comercial, visual, nutricional, organoléptica e sanitária, além de beneficiar toda a cadeia produtiva citrícola e o consumidor final (Figura 2). Figura 2. Citricultura: Mudas de Rubin (A); Mudas de Valência Americana (B); Enxertia e mudas (C); Produção (D) e Transporte e Armazenamento. Ecofisiologia do abacaxizeiro O Brasil possui grande diversidade de solos e climas, o que proporciona uma enorme variedade de cultivos agrícolas, exigindo entender e conhecer as respostas ecofisiológicas das plantas. As espécies frutíferas tornam-se uma possibilidade vantajosa, como opção para aumentar a biodiversidade e diversificar cultivos, mais adaptados às condições ecofisiológicas ou edafoclimáticas (de solo e clima) de cada região. A B C E D Cultivo de frutíferas em clima tropical 49 Dias & Mata (2021) Fatores do ambiente como solo, temperatura, insolação, fotoperíodo, umidade relativa, precipitação e ventos, dentre outros – são fatores de seleção de genótipos de espécies frutíferas adaptados onde deverão exprimir o melhor de sua fisiologia, resultando em crescimento, desenvolvimento e produção satisfatórios. Dentre as espécies frutíferas que merecem destaque encontra-se o abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril). O abacaxi é denominado “rei dos frutos” por possuir coroa e enorme aceitação comercial no Brasil e no mundo. Sua origem é a América do Sul, e dentre os países sul-americanos, o Brasil, sendo um dos mais importantes centros de origem de diversidade genética da espécie (Figura 3). Figura 3. Abacaxicultura: Início do Período Reprodutivo (A); Planta de Abacaxi (B) e Fim do Período Reprodutivo (C). Fonte: França (2019). O abacaxizeiro é uma planta do grupo do Metabolismo Ácido das Crassuláceas (Crassulacean Acid Metabolism – CAM), dentro deste existem diferentes subtipos: 1- Plantas com enzima málica dependente de dinucleotido de dicotianamida e adenina (NADH); 2- Plantas com enzima málica dependente de nicotinamida adenina dinucleotido fosfato (NADP) e; 3- Plantas com enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), estando o abacaxizeiro neste grupo (WEISE; WIJK; SHARKEY, 2011; ARAGÓN et al., 2012). No entanto, alguns pesquisadores divergem sobre o metabolismo dessa planta como sendoCAM facultativa, quando se encontra em ambiente com menor radiação e temperatura, e com boa quantidade de água, ela se comporta com planta do ciclo fotossintético de Calvin/Benson (C3), e quando sob luminosidade excessiva, déficit hídrico ou altas temperaturas que tornam a absorção diurna de CO2 menos favorável, essa planta comporta-se como CAM (BORLAND, 2002; LUTTGE, 2004), ou CAM constitutiva, em que mesmo em condições ideais de crescimento, essa bromélia expressaria o metabolismo CAM (MEDINA et al., 2004; SAYED, 2001). Quando o metabolismo CAM está sendo utilizado, o CO2 é absorvido durante a noite e utilizado na carboxilação do fosfoenolpiruvato (PEP) pela ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxilase (PEPcase) originando oxalacetato (OAA). Por ação da aspartato aminotransferase, o OAA é convertido a aspartato, que é rapidamente transportado para o vacúolo, juntamente com os íons H+, causando acidificação noturna típica das plantas CAM. Durante o A B C Cultivo de frutíferas em clima tropical 50 Dias & Mata (2021) dia, ocorre a descarboxilação do aspartato pela enzima PECK e a fixação do CO2 pela enzima ribulose 1,5 bifosfato carboxilase oxigenase (Rubisco) reduzindo o teor deste ácido nos tecidos foliares. Temperatura e luminosidade são os fatores climáticos que mais interferem na fotossíntese e, consequentemente, no desenvolvimento do abacaxizeiro, estando interligados entre si e plenamente atendidos no cultivo tropical. O crescimento e desenvolvimento do abacaxizeiro são bastante influenciados pela temperatura, sendo a faixa de temperatura adequada entre 22 e 32oC, com ótima ao redor de 24oC. A amplitude térmica de 8 a 14oC são ideais para o desenvolvimento do abacaxizeiro. No amadurecimento, temperaturas em torno de 27oC contribuem para boa formação dos frutos, “olhos planos” e elevação de açúcares solúveis (FERREIRA et al., 2011). Temperaturas inferiores a 21oC ou superiores a 32oC, reduzem o crescimento de raízes e folhas. Por ser uma espécie tipicamente tropical são toleráveis até 40oC, desde que por pouco tempo. Entretanto, valores acima deste causam queimaduras nas folhas e frutos, através da solarização. Quando a temperatura do ar atinge 32oC, o fruto fica sujeito a queima pelo sol. Os danos são mais graves quando os frutos estão maduros e se encontram tombados. Temperaturas constantes próximas a 0oC reduzem a absorção de nutrientes e, no caso de ocorrência de geadas, as plantas apresentam secamento nas folhas e atraso no crescimento. A temperatura-base (Tb: abaixo da qual a planta não se desenvolve) e os graus-dias (GD: quantidade de energia, em graus dia, acima da temperatura-base para que a planta complete a fase correspondente à emissão da inflorescência até a colheita) para os cultivares são: “Rondon” = 5oC Tb e 2.300 GD e; “Cayenne” = 9oC Tb e 2.020 GD. Este resultado é útil para o planejamento da época de indução floral, em função da data de colheita e para subsidiar o zoneamento agroclimático da cultura. A pluviosidade é importantíssima para a cultura, a necessidade hídrica embora baixa é permanente (FERREIRA et al., 2011). A falta de chuvas retarda o desenvolvimento da planta e do fruto, além de ocasionar problemas na diferenciação floral, influenciando o rendimento. Regiões com pluviometria de 1.000 a 1.500mm anuais atendem as necessidades da cultura, entretanto, tendo em vista sua baixa transpiração e uso eficiente da água pode manter seus níveis de produtividade tanto em regiões com precipitações abaixo quanto acima desses valores. Ferreira et al. (2011) apontaram que, nas regiões tropicais onde esta condição não é atendida, é indispensável o uso da irrigação para se ter maior eficiência produtiva. Entre os benefícios da irrigação estão a possibilidade de redução do ciclo, aumento da produtividade e o escalonamento da produção. Frutos colhidos em períodos frios e secos são mais coloridos do que em clima quente e úmido. No entanto, a abertura das flores em períodos chuvosos aumenta o risco de Fusariose. A luminosidade atua sobre o crescimento vegetativo, produtividade e qualidade do fruto do abacaxizeiro. O abacaxizeiro se desenvolve melhor em locais com alta incidência de radiação solar, contribuindo para o rápido desenvolvimento da planta e redução do ciclo produtivo, estando relacionado com a temperatura e o fotoperíodo. A insolação mínima necessária ao bom desenvolvimento e produção está entre 1.200 e 1.500 horas ano-1 enquanto que o ótimo está entre 2.500 Cultivo de frutíferas em clima tropical 51 Dias & Mata (2021) a 3.000 horas ano-1 (FERREIRA et al., 2011). A redução da luminosidade pode provocar a floração natural do abacaxizeiro, além de induzir a produção de frutos pequenos. O abacaxizeiro é considerado uma planta de dia curto, uma vez que a interrupção do período de escuro suprime o efeito indutor do encurtamento do dia sobre o florescimento. Após atingir o crescimento e porte adequado, inicia-se a sua floração (em dias curtos), pois o desenvolvimento da inflorescência é tanto mais rápido quanto menor o período de luz (oito horas ou menos). O vento deve ser considerado importante, pois a planta apresenta um sistema radicular bastante superficial, com pouca sustentação, uma grande massa foliar e quase sempre cultivada em solos arenosos, a planta apresenta pouca resistência ao vento. Ventos intensos podem provocar o tombamento da planta ou a quebra do pedúnculo, com perda do fruto. Também podem contribuir para aumentar a incidência de fungos como Thirlaviopsis paradoxa e Fusarium, que penetram nos ferimentos provocados pelo atrito das folhas e, destas com o fruto. O abacaxizeiro desenvolve um sistema radicular limitado que se concentra nos primeiros 15 cm de solo, não tolerando excesso de água. Por isso, se adapta melhor em solos arenosos com boa drenagem. Os terrenos planos com pouca declividade, de até 3% são os preferidos, pois facilitam a mecanização e diminuem o risco de erosão. Além do mais, os solos cultivados com o abacaxizeiro são mantidos limpos ou com pouca cobertura vegetal, na maior parte do ciclo (Figura 3). Na escolha do local para plantio, dar preferência para solos de topografia plana que favoreça a mecanização, atentando para práticas conservacionistas de solo, imprescindíveis em áreas declivosas. A área também deve ter acesso fácil ao trânsito de veículos, carregamento de insumos e trazendo a produção. Atentar para a presença de mananciais hídricos para irrigação, se necessária. A acidez elevada pode limitar o cultivo do abacaxizeiro em solos tropicais. Após análise de solo, deve-se elevar a saturação de bases (V%) a 60%. Ademais, a faixa de potencial hidrogeniônico (pH) tida como ideal para a cultura é entre 5,0 e 6,0 (FERREIRA et al., 2011). Vale ressaltar que as propriedades do solo e as características do clima, em especial, a temperatura e a luminosidade, exercem papel preponderante no desenvolvimento da cultura do abacaxizeiro. Tais fatores ecofisiológicos devem ser atentados e atendidos a fim de se escolher as melhores regiões ou áreas para cultivo do abacaxizeiro, objetivando uma alta produção, rentabilidade da cultura e boas qualidades de fruta para o consumidor. Considerações finais A atividade fotossintética é a base para a produção de reservas na planta, nas quais constitui a matéria prima, assim a necessidade de frutas oriundas do abacaxizeiro e citricultura, onde em condições de solo e clima favoráveis tem-se aumentado a produtividade, sendo necessária para a alimentação da população mundial. Desse modo, o cultivo de citros e abacaxi em regiões de clima tropical pode chegar no potencial máximo de produtividade, uma vez que é uma região que oferece condições edafoclimáticas Cultivo de frutíferas em clima tropical 52 Dias & Mata (2021) favoráveis ao crescimento e desenvolvimento das culturas, como: radiação solar, temperatura, fotoperíodo,umidade do solo e ambiente, quanto ao bioma cerrado, quando necessário, deve-se realizar a correção da acidez e nutricional do solo conforme a necessidade da cultura, assim tendo uma boa produtividade das culturas cultivas em regiões de clima tropical. Referências ARAGÓN, C.; CARVALHO, L.; GONZÁLEZ, J.; ESCALONA, M.; AMÂNCIO, S. The physiology of ex vitro pineapple (Ananas comosus L. Merril var MD-2) as CAM or C3 is related by environmental conditions. Plant Cell Reports, v.31, n.4, p.757-769, 2012. AZEVEDO, C. L. L. Sistema de produção de citros para o Nordeste. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Sistema de Produção. 2003. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosNordeste/index.htm. Acesso em: 12/05/21. BARBIERI, R. F. Monitoramento da qualidade ambiental de áreas citrícolas utilizando formigas (Hymenoptera: Formicidae) como bioindicadores. 119 f. Dissertação (Mestrado). Instituto de Biociências de Botucatu. Universidade Estadual Paulista. Botucatu, 2009. CASTRO, P. R. C. Ecofisiologia da produção agrícola. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato. 1987. 249p. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema de Produção de Citros para o Nordeste. AZEVEDO, C. L. L. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Sistema de Produção. 2003. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosNEPequenosProdutores/i ndex.htm. Acesso em: 12/05/21. FERREIRA, E. A.; SILVA, J. R.; ALMEIDA, G. V. B.; SANTOS, W. V. Abacaxi. Informe Agropecuário, v.32, n.264, p.7-16, 2011. IAC. Instituto Agronômico de Campinas. Citros: principais informações e recomendações de cultivo. Boletim Técnico, 200. 2005. Disponível em: http://www.iac.sp.gov.br/imagem_informacoestecnologicas/43.pdf. Acesso em: 12/05/21. KOLLER, O. L. Citricultura catarinense. Florianópolis: Epagri, 2013. 319p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 53 Dias & Mata (2021) LUTTGE, U. Ecophysiology of crassulacean acid metabolism (CAM) in Clusia species: physiological/biochemical characterisation and intercelular localization of carboxylation and decarboxylation process in three species which exhibit diferent degrees of CAM. Planta, v.205, n.3, p.342-351, 1998. MEDINA, E.; ZIEGLER, H., LUTTGE, U., TRIMBORN, P., FRANCISCO, M. Light conditions during growth as revealed by δ13C values of leaves of primitive cultivars of Ananas comosus, an obligate CAM species. Functional Ecology, p.298-305, 1994. MONTEIRO, J. E. B. A. Agrometeorologia dos cultivos: o fator meteorológico na produção agrícola. (Org) MONTEIRO, J. E. B. A. Brasília, DF: INMET, 2009. 530p. NEVES, M. F.; TROMBIN, V. G. Anuário da citricultura 2017. 1 ed. São Paulo, CitrusBr, 2017. Marcos Fava Neves/Vinicius Gustavo Trombin. Disponível em: <http://www.citrusbr.com/download/biblioteca/CitrusBR_Anuario_2017_alta.pdf>. Acesso em: 02/08/2019. PROCÓPIO, M. T. B. S. Ecologia integral e teologia da libertação animal: relações e implicações para a fé cristã e sua práxis. 149f. Dissertação (Mestrado em Teologia). FAGE-MG, Belo Horizonte, 2018. SAYED, O. H. Crassulacean acid metabolism 1975-2000, a check list. Photosynthetica, v.39, n.3, p.339- 352, 2001. SCHNEIDER, L. A. Citricultura: respostas fisiológicas da irrigação e fertirrigação no sistema de produção. 33f. TCC (Curso de Agronomia). Faculdade de Agronomia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016. SILVA, E. A. Trocas gasosas e potencial hídrico no desenvolvimento inicial de cultivares apirênicas de citros. 73f. Tese (Doutorado). Agronomia/Fitotecnia. Universidade Federal de Lavras. Lavras, 2013. SIQUEIRA, D. L.; SALOMÃO, L. C. Citros do plantio à colheita. Editora UFV. 2017. 278p. WEISE, S. E.; WIJK, K. J. V.; SHARKEY, T. D. The role of transitory starch in C3, CAM, and C4 metabolism and opportunities for engineering leaf starch accumulation. Journal of Experimental Botany, v.26, n.9, p.3109-3118, 2011. Cultivo de frutíferas em clima tropical 54 Dias & Mata (2021) Capítulo IV IRRIGAÇÃO EM FRUTÍFERAS DE CLIMA TROPICAL João Alberto Fischer Filho Daniela Fernanda da Silva Fuzzo Introdução As frutíferas são culturas que apresentam elevados padrões de rentabilidade, alto custo de produção e em sua grande maioria são sensíveis a falta de água. Em função disto, fruticultores têm adotado a irrigação como técnica para o cultivo de frutíferas, até mesmo em plantas de menores sensibilidades ao déficit hídrico, como os citros e abacaxi, para garantir as necessidades hídricas das plantas perante as incertezas das chuvas. A irrigação é uma prática agronômica que tem por objetivo fornecer água para as plantas em quantidade suficiente e no momento adequado, pelo umedecimento do solo (BERNARDO et al., 2006). Em regiões onde a precipitação não é capaz de satisfazer a demanda evapotranspiratória, a prática da irrigação se torna imprescindível para que os cultivos possam expressar o seu potencial. A duração e a necessidade hídrica de cada fase dependem da cultura e das condições de clima e solo, considerando que cada organismo reage de forma diferente ao estresse hídrico (KRANNER et al., 2010). Especificamente frutíferas de clima tropical requerem quantidades elevadas de água para completarem seu ciclo, em razão de ficarem expostas as variações do clima ao longo do ano e tenderem a apresentar, durante o seu desenvolvimento, elevadas taxas de evapotranspiração, sendo em alguns períodos superiores a 5 mm/dia (SOUSA et al., 2011), então, a adoção da irrigação se faz necessária para suprir a demanda por água pelas plantas. A aplicação de água via irrigação pode ser realizada por diferentes métodos (aspersão, localizada e superfície). A escolha do método de irrigação para cada cultura e o manejo a ser realizado é fundamental para viabilizar a adoção do sistema. Diante disso, neste capítulo serão abordados os métodos de irrigação, além das características agronômicas e necessidades hídricas de frutíferas visando altas produtividades e melhoria na qualidade dos frutos. Cultivo de frutíferas em clima tropical 55 Dias & Mata (2021) Métodos e manejo da irrigação Métodos de irrigação Os principais métodos de irrigação são por superfície, aspersão e localizada. A escolha de qual adotar em frutíferas deve partir de uma análise técnica, social e econômica. Entre os fatores preponderante na escolha do método sobressaem a cultura a ser irrigada, quantidade e qualidade de água disponível, tipo e uniformidade do solo e o clima da região. Irrigação por superfície Os sistemas de irrigação por superfície caracterizam-se por utilizar a superfície do solo para condução e distribuição da água, por meio de gravidade. É um método de irrigação não pressurizado e com menor custo. Se enquadra os sistemas por sulco, faixa e inundação. Sendo o método por sulco mais recomendado para frutíferas, por possibilitar a distribuição da água apenas próximo ao sistema radicular da planta. É o sistema de irrigação mais antigo e adotado no mundo, principalmente em cultivos de arroz, caracterizando-se por utilizar altos volumes de água. A irrigação de superfície requer, em sua grande maioria, a sistematização da área e declividade de 2 a 6%, o que gera elevada movimentação de terra e impossibilita o uso em determinadas localidades. O uso deste sistema de irrigação apresenta algumas desvantagens que podem limitar seu uso em frutíferas, tais como, baixa eficiência (próximo a 50%), dificuldade de circulação de máquinas, impossibilidade de usar a fertirrigação, regiões com baixa disponibilidade hídrica, entre outros fatores. É um sistema recomendado para diversas frutíferas, porém o seu uso tem diminuído com o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes. Irrigação por aspersãoA irrigação por aspersão caracteriza-se pela aplicação de água de forma artificial, simulando a chuva. Neste tipo de sistema a água é aplicada por meio de aspersores, os quais possibilitam o fracionamento do jato de água na forma de gotas. Entre os sistemas de irrigação por aspersão destacam- se: aspersão convencional, por pivô central e autopropelido. Os métodos de aspersão convencional e pivô central são os mais comuns em frutíferas. A irrigação por aspersão convencional caracteriza-se pela utilização de tubulações móveis de engate rápido e fixas, além dos aspersores. Permitem muitas possibilidades de adaptações, visando redução no uso da mão de obra, adequação as diferentes situações de campo, os quais culminam na melhoria da eficiência da irrigação (MANTOVANI et al., 2007). Possibilita o uso da irrigação em pequenas e médias propriedades, por apresentar médio custo de instalação e permitir a adoção de um sistema móvel. Cultivo de frutíferas em clima tropical 56 Dias & Mata (2021) O pivô central é constituído por uma linha lateral suspensa com movimentação circular. A aplicação da água é feita por aspersores, difusores ou emissores, localizados em bengalas ou sobre a linha lateral (Figura 1A). É um dos sistemas de irrigação que mais cresce no Brasil, sendo adotado em médias e grandes áreas. Em frutíferas, a aspersão é muito utilizada na formação de mudas, em viveiros, em razão de apresentar boa eficiência de aplicação de água, próximo a 90%. Em plantas já estabelecidas, o molhamento da parte aérea pode provocar aumento na incidência de doenças, portanto, deve-se preterir a aplicação via subcopa em plantas suscetíveis. O uso da irrigação por aspersão apresenta-se como uma solução prática para ser utilizada em frutíferas, por possibilitar a adoção de diferentes aspersores, pressões de trabalho, layout e manejo do sistema. Por aplicar altos volumes de água, a adoção do manejo eficiente é necessária para redução do desperdício, está sujeito à deriva, e de encharcamento e/ou enxurrada em solos com problemas de infiltração de água. Irrigação localizada A irrigação localizada caracteriza-se pela aplicação de água em baixo volume e alta frequência, realizada por meio de gotejadores e micro aspersores. É um sistema que opera em baixas pressões e com alta eficiência de aplicação, superior a 90%, em razão da aplicação da água apenas em áreas próximas ao sistema radicular das plantas. A irrigação localizada possibilita ajustes de instalação para adequar a cada cultura, facilitando o seu uso na fruticultura. O sistema por gotejamento apresenta mangueiras de polietileno, onde estão inseridos os emissores (dentro ou fora da linha), espaçados geralmente, entre 0,15 e 1,00 m de distância. Por apresentar no mercado uma grande variedade de modelos de emissores, espaçamentos e vazões, é um sistema que consegue se ajustar as diferentes condições de produção. Na micro aspersão são utilizados micro aspersores, que se assemelham aos aspersores convencionais, porém com menor vazão. São instalados nas linhas no espaçamento desejado pelo irrigante, e por aplicarem água em apenas uma porção do solo, geralmente são localizados próximo a parte vegetativa das plantas. A irrigação localizada apresenta maior custo de aquisição quando comparada aos métodos de irrigação por superfície e aspersão, porém o seu uso tem se destacado em frutíferas (Figura 1B). Uma das vantagens é permitir o uso da fertirrigação, otimizando a aplicação de água e nutrientes de forma conjunta, melhorando a eficiência nutricional. Outros benefícios desse sistema é a redução da incidência de doenças e de plantas daninhas, por não molhar a parte aérea da planta e apenas uma região da superfície do terreno. Destaca-se como vantagens também, a adaptação a diferentes tipos de solos, topografia e qualidade de água. Ao se adotar o método de irrigação localizada, podem aparecer problemas como entupimento de emissores e distribuição do sistema radicular das plantas próximo ao local da irrigação. Deste modo, Cultivo de frutíferas em clima tropical 57 Dias & Mata (2021) a adoção de limpeza do sistema e o manejo adequado da irrigação são primordiais para o seu bom funcionamento. Figura 1. (A) Pivô central em limão Tahiti. (B) Gotejamento em banana nanica. Fonte: (A) - João A. Fischer Filho, Fazenda Costa Melo – Paranapuã/SP, janeiro de 2013; (B) - André F. Santos Silva, Sítio Santa Terezinha – Bebedouro/SP, abril de 2019. Manejo de irrigação A água é um dos fatores mais limitantes para o desenvolvimento vegetal, sendo que a escassez ou o excesso afetam a produção das plantas. Entre os métodos de manejo da irrigação disponíveis, os mais usados na prática baseiam-se em: (1) turno de rega fixo; (2) medidas do teor da água no solo; (3) balanço hídrico diário via solo ou clima. Para tanto, deve-se conhecer as necessidades hídricas da cultura e fazer o monitoramento da água disponível para a planta, visando determinar quando e quanto aplicar de água. O monitoramento da água pode ser realizado via solo, clima, planta e pela interação destes. Via planta É realizado por meio de equipamentos ou técnicas, que medem o estado hídrico das folhas, da planta, do fluxo de seiva, ou por verificação visual de sintomas de déficit hídrico. O uso deste monitoramento é dificultado em razão da necessidade maior de mão-de-obra e falta de informações adequadas para todas culturas, o que pode reduzir a precisão do método. O monitoramento via planta, geralmente, é utilizado de forma complementar aos demais. Via solo O solo tem por característica armazenar água, sendo assim, podem ser adotados equipamentos e métodos para determinar ou estimar o teor de água disponível no solo. O monitoramento de água no solo pode ser feito de forma direta (método gravimétrico) ou indireta, com a utilização de diferentes dispositivos. Cultivo de frutíferas em clima tropical 58 Dias & Mata (2021) O uso do método gravimétrico é preciso e utilizado para validar outros métodos, sendo considerado como padrão. Ele caracteriza-se por retirar amostras do solo e determinar a umidade pelo método-padrão de estufa. Dentre os métodos indiretos, destacam-se o uso de tensiômetros, sensores, sonda de nêutrons e TDR. Métodos indiretos não exigem a retirada de amostras do solo, sendo a leitura realizada no campo. Em frutíferas recomenda-se que os sensores sejam instalados próximos ao caule das plantas. O monitoramento de água via solo apresenta certa precisão, porém, em razão da necessidade de equipamentos específicos e de problemas de operacionalidade (mão-de-obra, frequência de leituras e número de pontos representativos da área), o uso deste é limitado. Via clima O monitoramento via clima é realizado por meio da estimativa do consumo de água pelas culturas, ou seja, com base na evapotranspiração da cultura (ETc). Sendo assim, com base na disponibilidade inicial de água no solo e a determinação da ETc é possível determinar a lâmina e o momento de irrigação. Esta metodologia vem ganhando espaço no manejo de irrigação, em razão da disponibilidade de estações agrometeorológicas acessíveis aos irrigantes (MANTOVANI et al., 2007), as quais disponibilizam os valores de evapotranspiração de referência (ETo) diariamente, e da disponibilidade dos coeficientes de cultivo (Kc) para as mais variadas culturas, o que facilita a determinação da ETc. A lâmina de irrigação aplicada nas culturas e o momento de ser aplicada irão depender da cultura e das condições locais. Sendo assim, a adoção de planilhas eletrônicas ou de softwares para o gerenciamento da irrigação é essencial para realizar o manejo da irrigação A escolha do método ideal para realizar o manejo da irrigação irá depender da disponibilidade de dados climáticos na região e dos equipamentos necessários. É recomendável a associação de dois ou mais deles.A finalidade destes é determinar a quantidade de água a ser aplicada via irrigação, de modo a proporcionar que o solo retorne ao seu teor de água máximo, possibilitando condições para o desenvolvimento satisfatório das culturas. Necessidades hídricas em frutíferas de clima tropical As necessidades hídricas em frutíferas de clima tropical estão ligadas às condições climáticas, umidade do solo e estádio de desenvolvimento da planta. O uso de dados precisos de quando e quanto aplicar de água é de suma importância para explorar o máximo potencial produtivo e rendimento da cultura. Além de permitir o uso racional da água e a obtenção de uma produção economicamente viável. Cultivo de frutíferas em clima tropical 59 Dias & Mata (2021) Abacaxi (Ananas comosus L. Merril) O abacaxi é consumido na maioria dos países e produzido fundamentalmente nos de clima tropical e subtropical. É tido como uma planta com necessidades hídricas relativamente baixas, apresentando características de vegetais adaptados a clima seco, no entanto, maiores rendimentos e frutos de qualidade são obtidos quando a cultura é bem suprida com água. Em geral, a necessidade hídrica da planta aumenta com o grau de desenvolvimento vegetativo, portanto, é menor durante o início do ciclo vegetativo e aumentando sucessivamente. Porém, o suprimento hídrico é crítico durante os primeiros dois meses após o plantio, fase em que observa o desenvolvimento das raízes, o estresse hídrico nesta fase pode prejudicar a produção da cultura. Segundo Silva et al. (2017), a partir do segundo mês as necessidades hídricas crescem de modo contínuo, em razão do desenvolvimento da planta, até atingir o sexto mês após o plantio. Em relação aos métodos de irrigação, os mais indicados são os de superfície (sulcos), de aspersão e irrigação localizada (COELHO et al., 2000). Os autores enfatizam que o gotejamento é mais propício em solos de textura média a argilosos, onde o sistema pode ser dimensionado com duas fileiras de plantas por linha lateral de gotejamento e a micro aspersão pode ser também usada, preferencialmente, elevando as hastes dos microaspersores, a fim de atingir uma área de aspersão maior. Os coeficientes de cultivo (kc) em função dos estádios da planta, segundo Doorenbos e Kassan (1994), variam entre 0,4 a 0,5 para todo o período de crescimento. O abacaxizeiro não tolera excessos e nem déficit hídrico, desta forma, em regiões que apresentam períodos secos prolongados a prática da irrigação torna-se muitas vezes indispensável, visto que a demanda diária de água pode variar de 1,3 a 5,0mm (ROTONDANO e MELO, 2007). Em condições naturais, a pluviosidade ideal para cultivo do abacaxizeiro está na faixa de 1.000 a 1.500mm, bem distribuída ao longo do ano. É uma cultura sensível ao déficit hídrico, principalmente, no período vegetativo, pois é neste período que são determinados o tamanho e as características do fruto, e na floração à colheita, visto que o déficit hídrico pode afetar a produção, o peso do fruto e a qualidade. Banana (Musa spp.) A banana é uma fruta consumida in natura no mundo todo, por se tratar de uma cultura de clima tropical é exigente em temperatura elevada e boa disponibilidade de água para seu desenvolvimento. O período de estabelecimento e fase inicial do desenvolvimento vegetativo determinam o potencial de crescimento e frutificação, sendo essenciais os suprimentos adequados de água e nutrientes nesse período (ROBINSON e GALÁN SAÚCO, 2010). Segundo Doorenbos e Kassam (1994), as maiores produções de banana estão associadas a uma precipitação total anual de 1.200mm nos trópicos úmidos e 2.200mm nos trópicos secos, sendo que em condições de sequeiro está entre 2.000 a 2.500 mm/ano. O coeficiente de cultura (Kc) varia com as fases Cultivo de frutíferas em clima tropical 60 Dias & Mata (2021) fenológicas, sendo 0,4; 0,7; 1,0; 0,9 e 0,75, respectivamente, nas fases inicial, de desenvolvimento, intermediária, final do ciclo e colheita. A bananeira é exigente em água e sua produtividade tende a aumentar com a evapotranspiração, que depende da disponibilidade de água no solo. A limitação de água é um fenômeno universal e representa grande obstáculo na produção de banana (RAVI et al., 2013; MUTHUSAMY et al., 2014; KISSEL et al., 2015), principalmente nas regiões semiáridas dos trópicos e subtrópicos. Robinson e Galán Saúco (2010), consideram essa aparente ineficiência evidência da baixa tolerância da cultura à seca e da necessidade de irrigação para produção comercial. É comum o uso do método de irrigação de superfície para essa cultura (COELHO et al., 2000), principalmente em sulcos. Entretanto a aspersão sub copa, o gotejamento e, principalmente, a micro aspersão tem sido muito usados para essa cultura. O consumo de água pelo uso do método da irrigação por superfície resulta num dispêndio de água anual entre 2000 e 3000mm. O método de aspersão também ocasiona alto consumo de água, podendo estar entre 1500 e 2000mm por ciclo. A irrigação localizada resulta numa considerável economia de água, passando a se utilizar entre 600 e 750mm com por ciclo (COELHO et al., 2000). Mahouachi (2009) submeteu plantas jovens de bananeira “grande Naine” à seca durante 62 dias, cultivadas em vaso, observou redução significativa logo após 34 dias de estresse hídrico e maior queda em todo período de seca, o autor considera a expansão do pseudocaule a característica de crescimento mais sensível ao déficit hídrico, e sugere uso da sua contração e expansão como ferramenta para definir o cronograma de irrigação. Citros O gênero Citrus é o mais importante da família Rutaceae, existindo numerosas espécies cultivadas em caráter comercial. Em sua grande maioria é desenvolvida sob condições de sequeiro, com isso o suprimento de água se constitui num dos principais fatores limitantes à produção destas culturas (CRUZ, 2003). A eficiência do uso da água nos citros é bastante baixa quando comparada a outras plantas C3, seu fruto por possuir casca coriácea, com baixa densidade estomática e altos níveis de cera, contribuem para a conservação total de água da árvore (BOMAN, 1996). Neste contexto, o propósito da irrigação em pomares de citros é minimizar os efeitos perniciosos do estresse hídrico sobre o crescimento, os rendimentos e qualidade de frutos (CRUZ, 2003). A disponibilidade de água é o principal fator de controle da produtividade em condições não irrigadas, indicando que o florescimento, o crescimento do fruto e a maturação, são as fases que mais necessitam de água (TEJERO et al., 2012). Apesar da quantidade de água necessária para o cultivo variar entre 900 e 1200 mm/ano (DOORENBOS & KASSAM, 1994). O uso da irrigação em pomares cítricos proporciona inúmeros benefícios, assegura boa florada e adequado pegamento de frutos, o que induz à produção de melhor qualidade (VELLAME et al., 2010). Cultivo de frutíferas em clima tropical 61 Dias & Mata (2021) A qualidade do suco também é afetada pelas condições climáticas. De acordo com Volpe et al. (2002), a produção de suco com alta qualidade necessita, igualmente, de frutos com alta qualidade, sendo está avaliada através das suas características físico-químicas que, por sua vez, variam durante o período de maturação e dependem, entre outros fatores, das condições meteorológicas durante a formação e maturação dos frutos. Em relação ao Kc, Allen et al. (1998) recomendam valores de Kc para citros entre 0,70 e 0,75 para diferentes estádios fenológicos quando o grau de cobertura é em torno de 70% e a altura de plantas é no máximo 4 m. Os métodos de irrigação por superfície (sulcos) e aspersão sub copa tem sido usados; porém, mais comum em uso pelos produtores é a micro aspersão e o gotejamento, onde os emissores podem ser dispostos próximos às plantas ou entre as plantas na fileira da cultura (COELHO et al.,2000). Ocorrendo mudanças nas condições ambientais em termos de radiação e diferenças entre a pressão de vapor nas folhas e no ar, a planta aumenta a resistência estomática. Com isso, tem-se analisado as semelhanças de demanda hídrica de plantas cítricas em regiões úmidas e secas (COELHO et al., 2011). Tal efeito sobre a parte aérea foi observado em citros por Magalhães Filho et al. (2009), que também evidenciaram diminuição da parte aérea em plantas de 'Cravo' e de 'Trifoliata', com indicação da existência de um mecanismo de adaptação à seca que priorizou o crescimento das raízes, sob estresse hídrico. Os autores associam esta resposta ao mecanismo de defesa contra o déficit hídrico, visto que, sob tal condição, as plantas investem em mais biomassa para o sistema radicular objetivando aumentar a capacidade de absorção de água e nutrientes. Manga (Mangífera indica L.) A mangueira é uma das mais importantes frutíferas do Brasil no aspecto socioeconômico, contribuindo significativamente para a pauta de exportações brasileiras de frutas frescas, fortalecendo a balança comercial (REIS et al., 2011). O manejo adequado da água está relacionado com outros fatores como nutrição, aplicação de fito-reguladores, tratos fitossanitários e principalmente estresse hídrico e indução floral (SIMÃO, 2004). A mangueira se adapta em regiões que apresentam estações seca e chuvosa bem definida. A exigência mínima em termos de precipitação é de 1.000 mm/ano, sendo cultivada, entretanto em regiões que apresentam de 500 a 2.500 mm/ano. A ocorrência de um período mais seco (menos de 60mm) durante 4 a 5 meses determina altas produções, por causa da diminuição do ataque de fungos, do favorecimento da floração, polinização e fixação dos frutos (COSTA et al., 2008). Segundo Santos et al. (2016), o estresse hídrico tem como impacto primário evitar a emissão de fluxos vegetativos na mangueira, sua utilização na indução floral diminui a síntese de Giberelinas, considerado um promotor de crescimento, além do vínculo direto à produção de etileno, que é o hormônio responsável pela maturação dos órgãos da planta. Cultivo de frutíferas em clima tropical 62 Dias & Mata (2021) Os valores do Kc da cultura para os ciclos de cultivo variaram de 0,3 a 0,8 em função da fase fenológica, conforme recomendação de Simão et al. (2004), também utilizado por Reis et al. (2011). Segundo Coelho et al. (2000), os métodos de irrigação por superfície (sulcos), bem como a aspersão sub copa, podem ser usados, entretanto, o sistema mais comum de irrigação da mangueira tem sido o da microaspersão. Considerações finais A utilização de irrigação é uma estratégia dos fruticultores para reduzir os riscos associados à atividade, viabilizar a produção de frutas em regiões com restrições hídricas e permitir aumentos expressivos da produtividade e qualidades das frutas. A fruticultura é uma das atividades agrícolas que mais têm demandado conhecimentos relativos à irrigação, em razão da utilização de frutíferas de alto valor econômico. A demanda hídrica de frutíferas demonstra necessidade da complementação das chuvas, por meio da irrigação. A seleção do método e manejo de irrigação para cada cultura deve levar em consideração as características da planta, as condições climáticas, de solo e de cultivo e disponibilidade de recursos hídricos. Tais escolhas são essenciais para o sucesso do sistema de irrigação na fruticultura. Referências ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration - Guidelines for computing crop water requirements. Roma: FAO Irrigation and Drainage, Paper 56, 1998. 297p. BERNARDO, S.; SOARES, A.; MANOVANI, E. Manual de irrigação. Viçosa: Editora UFV, 2006. 625p. BOMAN, B. Citrus: understanding its irrigation requirements. Irrigation Journal, v.16, n.2, p.8-11, 1996. COELHO, E. F.; SOUÇA, V. Ç. de.; AGUIAR NETTO, A. de O.; OLIVEIRA, A. S. de. Manejo de irrigação em fruteiras tropicais. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura (Embrapa Circular Técnica n.40). 2000. COELHO, E. F.; COELHO FILHO, M. A.; MAGALHAES, A. F. de J.; OLIVEIRA, A. S. de. Irrigação e fertirrigação em citros. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, Cap.14, p.413-439. 2011. COSTA, A. N.; COSTA, A. F. S.; CAETANO, L. C. S.; VENTURA, J. A. Recomendações técnicas para a produção de manga. Vitória: Incaper, 2008. 56p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 63 Dias & Mata (2021) CRUZ, A. C. R. Consumo de água por cultura de citros cultivada em latossolo vermelho amarelo. 104f. Tese. (Doutorado em Agronomia.) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Universidade de São Paulo. Piracicaba, 2003. DOORENBOS, J.; KASSAM, A. H. Efeito da água no rendimento das culturas. Campina Grande: UFPB, 1994. 306p. KISSEL, E.; VAN ASTEN, P.; SWENNEN, R.; LORENZEN, J.; CARPENTIER, S. C. Transpirationefficiency versus growth: Exploring the banana biodiversity for drought tolerance. Scientia Horticulturae, v.185, p.175-182, 2015. KRANNER, I.; MINIBAYEVA, F. V.; BECKETT, R. P.; SEAL, C. E. What is stress?concepts, definitions and applications in seed science. New Phytologist, v.188, n.3, p.655-673, 2010. MAGALHÃES FILHO, J. R.; AMARAL, L. R.; MACHADO, D. F. S. P.; MEDINA, C. L.; MACHADO, E. C. Deficiência hídrica, trocas gasosas e crescimento de raízes em laranjeira ‘valência’ sobre dois tipos de porta-enxerto. Bragantia, v.67, n.1, p.75-82, 2008. MAHOUACHI, J. Changes in nutrient concentrations and leaf gas exchange parameters in banana plantlets under gradual soil moisture depletion. Scientia Horticulturae, v.120, n.4, p.460-466, 2009. MANTOVANI, E. C.; BERNARDO, S.; PALARETTI, L. F. Irrigação: princípios e métodos. Viçosa: Editora UFV, 2007. 351p. MUTHUSAMY, M.; UMA, S.; BACKIYARANI, S.; SARASWATHI, M. S. Computational prediction, identification, and expression profiling of microRNAs in banana (Musa spp.) during soil moisture deficit stress. Journal of Horticultural Sciences & Biotechnology, v.89, n.2, p.208-214, 2014. RAVI, I.; UMA, S.; VAGANAM, M. M.; MUSTAFFA, M. M. Phenotyping bananas for drought resistance. Frontiers in Physiology, v.4, n.1, p.1-15, 2013. REIS, J. B. R. S.; JESUS, A. M.; DIAS, M. S. C.; CASTRICINI, A.; DIAS, J. R. Efeito de lâminas de irrigação e doses de PBZ na pós-colheita da mangueira cv. HADEN no norte de Minas Gerais. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada, v.5, n.3, p.214-224, 2011. ROBINSON, J. C.; GALÁN SAÚCO, V. Bananas and plantains. 2. ed. Oxford: CAB International, 2011. 311p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 64 Dias & Mata (2021) SANTOS, M. R.; DONATO, S. L. R.; COELHO, E. F.; JUNIOR, P. R. F. C.; CASTRO, I. N. Irrigation deficit strategies on physiological and productive parameters of 'Tommy Atkins' mango. Revista Caatinga, v.29, n.1, p.173–182, 2016. SIMÃO, A. H.; MANTOVANI, E. C.; SIMÃO, F. R. Irrigação e fertirrigação na cultura da mangueira. In: Manga: produção integrada, industrialização e comercialização. ROZANE, D. A. et al. (Ed.). Viçosa: UFV, 2004. p.233-302. SOUSA, V. F.; MAROUELLI, W. A.; COELHO, E. F.; PINTO, J. M.; COELHO FILHO, M. A. Irrigação e fertirrigação em fruteiras e hortaliças. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2011. 771p. TEJERO, I. G.; ZUAZO, H. D.; SEVILHA, J. A.; FERNANDEZ, J. L. M.; Impact of water stress on citrus yield. Agronomy for Sustainable Development, v.32, n.3, p.651-659, 2012. VELLAME, L. M.; COELHO FILHO, M. A.; PAZ, V. P. S.; COELHO, E. F. Stem heat balance method to estimate transpiration of young orange and mango plants. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.14, n.6, p.594-599, 2010. VOLPE, C. A; SCHÖFFEL, E. R.; BARBOSA, J. C. Influência da soma térmica e da chuva durante o desenvolvimento de laranjas 'Valência' e 'Natal' na relação entre sólidos solúveise acidez e no índice tecnológico do suco. Revista Brasileira de Fruticultura, v.24, n.2, p.436-441, 2002. Cultivo de frutíferas em clima tropical 65 Dias & Mata (2021) Capítulo V MÉTODOS DE CULTIVO DE FRUTÍFERAS CONVENCIONAIS E ORGÂNICAS Izabela Thais dos Santos Guilherme Constantino Meirelles Eliana Fernandes Souza Antônio dos Santos Júnior Introdução A produção de frutas no Brasil para consumo direto somada a produção destinada ao processamento, coloca o país como terceiro produtor mundial, sendo superado apenas pela China e Índia, respectivamente, cultivando mais de 2 milhões de hectares, de norte a sul, com espécies temperadas e tropicais que proporcionam uma enorme diversidade frutos. O volume total produzido tem se mantido próximo de 40 milhões de toneladas e com um calendário de safra ao longo do ano todo. Além disso, a cadeia produtiva da fruticultura gera mais de 5 milhões de empregos em áreas onde outras atividades de produção de alimentos não seriam viáveis economicamente como, por exemplo, o semiárido brasileiro, atingindo a expressiva marca de 16% de todos os empregos dentro do agronegócio (IBGE, 2019). Segundo Silva (2019), a fruticultura brasileira encontra-se em expansão que é influenciada pelas condições edafoclimáticas favoráveis a produção de frutíferas. De maneira geral, encontra-se amplamente distribuído no mundo duas vertentes ou sistemas de cultivo agrícola e, no caso do cultivo de frutíferas não é diferente, encontra-se o sistema de cultivo convencional e o sistema de cultivo orgânico. No entanto, existem diferenças acentuadas entre os dois sistemas no que se refere à abordagem e aplicações das práticas culturais. O sistema de cultivo convencional parte do princípio da utilização de insumos agrícolas para obter o maior rendimento financeiro, porém vem trazendo preocupações a qualidade dos produtos agrícolas e a poluição do meio ambiente (MARIANI & HENKES, 2014). A agricultura orgânica, tem como princípio básico a diversificação de culturas, que contribua na manutenção do equilíbrio do sistema, tendo em vista a utilização de matéria orgânica para a manutenção do sistema por meio da ciclagem de Cultivo de frutíferas em clima tropical 66 Dias & Mata (2021) nutrientes (SANTANA et al., 2018). Visando manter a sustentabilidade do sistema, com o uso de métodos alternativos no controle de pragas, doença e plantas daninhas. O sistema convencional e orgânico na fruticultura apresentam índices de rentabilidade muito próximos, porém, no sistema orgânico vem crescendo o número de consumidores interessados em adquirir produtos livres de resíduos químicos, entretanto, no sistema convencional, tem uma estrutura produtiva, um diferencial rentável e um mercado consolidado e rentável, podendo ainda prevalecer (MADAIL et al., 2007). Tendo em vista a importância da fruticultura convencional e orgânica na cadeia produtiva brasileira, faz-se necessário o estudo sobre os métodos e técnicas associados a estas tendo como objetivo a produção e a sustentabilidade do ambiente agrícola. Manejo de frutíferas em sistema convencional No cultivo convencional prevalece à busca da maior produtividade por meio da utilização intensa de insumos externos, o que no curto prazo de tempo traz resultados econômicos visíveis, como o aumento da produtividade e eficiência agrícola, além de diminuir a migração rural e melhorar a renda. No entanto, em longo prazo, pode trazer danos ambientais (sobretudo pelo cultivo em monocultura), além de substituir a mão-de-obra pelo uso de tecnologia (SILVA JÚNIOR et al., 2014). Ademais, a agricultura convencional baseia-se em três pilares: uso de agroquímicos (fertilizantes e insumos sintéticos, agrotóxicos, dentre outros), mecanização (tratores, plantadora, colhedora, máquinas e equipamentos, etc.) e, manipulação genética (seleção e melhoramento vegetal, cultivares melhoradas e ou transgênicos). No cultivo convencional recomenda-se o uso de corretivos, adubos e fertilizantes sintéticos, além de fertilizantes orgânicos como fonte de nutrientes, para tal associação deve-se atentar ao uso excessivo visando prevenir danos ao agroambiente. A implantação de frutíferas utiliza uma grande quantidade de insumos e recursos externos, além de máquinas e equipamentos agrícolas. As adubações de plantio e de cobertura, empregam uma grande quantidade de adubos sintéticos e nutrientes. A condução das frutíferas é realizada com o uso de práticas culturais isoladas ou combinadas, como a poda de formação, poda de limpeza ou verde, poda de frutificação, monitoramento, aplicação ou pulverização de agrotóxicos, além de, roçada ou capina manual ou mecânica (controle de plantas daninhas). O uso de reguladores vegetais possibilita um aumento da área de produção de frutas, incrementando a qualidade e produtividade das fruteiras, assim os principais reguladores utilizados em frutíferas são aminoetoxivinilglicina, ácido naftaleno acético, benziladenina, etefom, ácido indolbutírico, ácido giberélico, Proexadiona cálcica, etil-trinexapac, clorfenuron, ácido abscísico, tidiazuron, cianamida, Paclobutrazol, Metamitron e Cyclanilide (PETRI et al., 2016). O processo de colheita e comercialização prioriza o rendimento, a economia e, em geral, o lucro exorbitante, em detrimento a qualidade organoléptica (cor, sabor e aroma), qualidade fitossanitária (respeito ao período de carência, dose e Cultivo de frutíferas em clima tropical 67 Dias & Mata (2021) forma correta de aplicação de agrotóxicos), qualidade comercial (com atenção ao ponto ideal de colheita das frutas) e qualidade nutricional (quantidade de nutrientes de cada fruta em questão). Manejo de frutíferas em sistema orgânico No cultivo orgânico recomenda-se o uso de corretivos e fertilizantes naturais, de solubilidade e liberação lenta, além de ação gradativa. Prioriza-se o equilíbrio de nutrientes, nas suas formas orgânicas, evitando os excessos e contribuindo para manter os atributos do solo e da água. A implantação de frutíferas usa insumos e recursos, em sua maioria, advindos da própria propriedade, como fibras vegetais, madeira, bambu, além de minimizar o uso de máquinas e equipamentos, priorizando e valorizando a mão-de-obra familiar ou local, gerando emprego e renda. As adubações de plantio (fundação) e coberturas (manutenção), normalmente, empregam fertilizantes orgânicos ou extratos vegetais (caldas nutricionais), ou ainda, rochas moídas (apatitas, fosforita) e matéria orgânica decomposta (húmus), além de adubações verdes (com leguminosas, mucuna, leucena e feijão-de-porco). A condução das frutíferas é realizada com o uso de práticas culturais, normalmente associadas, como o cultivo intercalar, rotação de culturas, poda de formação, poda de limpeza ou verde, poda de frutificação, aplicação ou pulverização de caldas nutricionais ou fitoprotetoras (como o extrato de nim, calda bordalesa, calda sulfocálcica, bokashi, dentre outras), roçada ou capina das entrelinhas das plantas em cultivo. O uso dos reguladores de crescimento naturais são substâncias que atuam no crescimento das plantas, sendo, auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico, que fazem parte de compostos das plantas ou da parte fisiológica que podem ser utilizados comercialmente como reguladores vegetais. Assim a quebra da dormência em frutas de sistemas orgânicos não pode ser utilizado produtos químicos (PETRI et al., 2016). A prática da colheita e comercialização, normalmente é certificada e fiscalizada, prioriza o bem- estar dos produtores e da população, qualidade organoléptica diferenciada, qualidade fitossanitária garantida (uma vez que os produtos usados na produção são naturais ou biodegradáveis), qualidade comercial (atentando para o ponto de colheita ideal de cada espécie frutífera) e qualidadenutricional (com altos níveis de nutrientes e antioxidantes favoráveis à saúde humana). Entretanto, a agricultura orgânica deve e pode ser bem gerida, para evitar contaminações, além disso, podem ter um alto custo produtivo pela utilização de insumos caros e muita mão-de-obra, porém, isso pode ser minimizado ou superado pelo processo de certificação e agregação de valor aos produtos, tendo grande valor de mercado e demanda crescente ao longo dos anos. Manejo de solo O preparo convencional do solo, é realizado basicamente em duas etapas, que são o preparo primário e o secundário, que tem como objetivo adequar as condições do solo para o desenvolvimento Cultivo de frutíferas em clima tropical 68 Dias & Mata (2021) de plantas cultivadas, eliminando camadas compactadas, promovendo maior infiltração de água e aeração, além de proporcionar a incorporação de corretivos e da matéria orgânica longo do perfil do solo. O preparo primário, consiste das operações iniciais da camada do solo, realizadas com arados recomendado para corte e inversão da camada de solo e subsoladores recomendados para descompactar camadas subsuperficiais. Por outro lado, o preparo secundário refere-se ao destorroamento e nivelamento da camada de solo que já passou pelo preparo primário, a afim de que se tenha boa incorporação de corretivos ao longo do perfil do solo e facilidade no plantio (ALVARENGA; CRUZ; VIANA, 2008). O preparo e a manutenção do solo na agricultura orgânica devem levar em consideração o conjunto de propriedades como minerais, ar, água, fauna e matéria orgânica que está presente no solo. O preparo mínimo do solo é um sistema que preconiza a menor mobilização do solo, visando a diminuição da compactação causada pelo tráfego de máquinas e, o gasto energético das operações agrícolas, reparos e manutenção, os quais serão tanto menores, quanto menor for o número de máquinas envolvidas nas atividades de preparo do solo, além de manter a matéria orgânica e conservar o solo contra a erosão (ANJOS et al., 2010). O cultivo mínimo do solo, visa o mínimo revolvimento do solo com maquinário agrícola, objetivando a manutenção dos resíduos vegetais, com técnicas de rotação de cultura, consorcio, cultivo em faixa de adubo verde (com raízes fortes como guandu, crotalárias, entre outras) para evitar a utilização da subsolagem (ALMEIDA; COELHO; PRIES, 2016; PENTEADO, 2001). O sistema de plantio direto não há prévio revolvimento do solo, sendo o plantio realizado sob a palhada remanescente da cultura anterior ou das plantas daninhas, reduzindo assim o impacto da erosão do solo (SALTON; HERNANI; FONTES, 1998). O plantio direto é definido como o plantio com revolvimento do solo apenas no sulco ou cova onde se deposita a muda e o fertilizante, em contraste com sistema de plantio convencional e cultivo mínimo. O plantio direto elimina, portanto, as operações de aração, gradagens e outros métodos convencionais de preparo do solo, sendo o manejo das plantas daninhas realizado com herbicidas em aplicações antes e, ou após o plantio. E visa o acúmulo e a manutenção de resíduos vegetais na superfície do solo (LOSS et al., 2010). Correção e adubação do solo O melhoramento genético de frutíferas tem proporcionado incremento na produção e na qualidade dos frutos. Contudo, com a melhoria da carga produtiva tem o aumento na demanda por nutrientes que serão alocados para os frutos, fazendo-se necessário fornecer tais insumos por meio da correção e adubação dos solos, seguindo as exigências das culturas (NATALE et al., 2012). Pomares de plantas frutíferas podem permanecer na área agrícola por longos períodos conforme observados em citros, mangueira, cajueiro, etc. Desta maneira, devido ao sistema radicular pivotante e o grande volume de solo explorado pelas plantas perenes, faz-se necessário a correção do solo com o Cultivo de frutíferas em clima tropical 69 Dias & Mata (2021) objetivo incrementar o desenvolvimento radicular em função da redução dos níveis tóxicos de alumínio, e a disponibilidade de nutrientes na solução do solo devido à elevação do pH. Diante disto, antes de indicar a necessidade de correção e da adubação do solo, o produtor devera conhecer as caraterísticas químicas e físicas do solo, por meio da análise do solo nas camadas superficiais (0 – 20 cm) e subsuperficiais (20 – 40 cm). Na recomendação da correção do solo deve-se analisar a necessidade de calagem e de gessagem, efetuando a aplicação de calcário e de gesso agrícola de modo a corrigir o solo. Já a recomendação de nutrientes deve-se observar a disponibilidade deste no solo e a exigência das plantas, e repor a quantidade faltante, no plantio e/ou em cobertura. O calcário é incorporado no solo na aração ou na gradagem, de modo a ser distribuído de maneira uniforme na superfície e em profundidade ao longo do perfil do solo. Todavia, em plantios já estabelecidos a correção do solo deverá ser realizado por aplicações superficiais sem o revolvimento do solo, de modo a corrigir a acidez de forma lenta, levando em consideração sempre a análise do solo (NATALE et al., 2012). Ainda, segundo Azevêdo (2003), a aplicação do calcário pode ser realizada a lanço em área total ou em faixa de plantio. O gesso agrícola pode ser utilizado para auxiliar no aprofundamento do sistema radicular das plantas. Solos que há limitações químicas como acidez (baixo pH e teor elevado de Al3+), baixa saturação por bases e baixos teores de nutrientes, necessitam de manejo adequado do solo visando a melhoria nos atributos químicos do solo para ter uma produção bem sucedida, deste modo, faz-se necessário o emprego da correção do solo por meio de aplicações de calcário dolomítico para elevar o pH do solo, gesso mineral aumenta o teor de cálcio e complexa o alumínio do solo e o fosfato natural disponibiliza fosforo para o solo (BORGES et al., 2016). Com relação a adubação de plantio, é necessário fazer recomendações baseadas em análise do solo e exigências das culturas, podendo ser maior ou menor em função da espécie. Em cultivos de bananeira observa-se grande demanda de nutrientes para assegurar o bom desempenho vegetativo e reprodutivo, sendo o potássio e o nitrogênio, seguido por cálcio, magnésio, enxofre, fósforo que são macronutrientes, e os micronutrientes, cloro, manganês, ferro, zinco, boro e cobre, em ordem decrescente os mais requeridos pela cultura (MATOS, 2012). No sistema orgânico pode ser utilizado aplicação de esterco bovino e a aplicação de adubo mineral mais esterco de caprino, onde constatou-se que a densidade do solo observada foi de respectivamente de 1,35 e 1,51 g cm-3 para áreas de cultivo de gravioleira ‘Morada’ (MALTA et al., 2019a). Para Ishaq et al. (2001), a compactação do solo pode reduzir o rendimento das culturas devido ao aumento da resistência no crescimento do sistema radicular afetando a diminuição da eficiência no uso da água e nutrientes. A porosidade total para adubação mineral, esterco bovino e esterco de ave ambos com 0,46 m-3.m-3, foi satisfatória (MALTA et al., 2019a). Em relação aos outros nutrientes o esterco bovino influenciou positivamente os teores de potássio, sódio, carbono e matéria orgânica do solo, sendo mais indicada para a gravioleira ‘Morada’, não afetando no solo os teores de cálcio, magnésio, alumínio, hidrogênio + alumínio, além da densidade e porosidade total (MALTA et al., 2019a). Cultivo de frutíferas em clima tropical 70 Dias & Mata (2021) A adubação verde proposta por Feitosa et al. (2009) em figueiras (Ficus carica L.), usando cobertura viva de Crotalaria juncea manejada em um corte; Crotalaria juncea manejada em dois cortes; cobertura viva com grama batatais (Paspalum notatum - gramínea rizomatosa herbácea perene) e cama aviaria de adubo, proporcionou maior comprimento de ramos e emissão total de folhas em cobertura viva de crotálaria e com crotálariacom poda quando comparado com cobertura viva de grama batatais. Quando há padronização da irrigação, os parâmetros de produção da figueira não alteram pelos diversos tipos de cobertura viva do solo. No entanto, a leguminosa crotalária podada tem maior aporte de N e biomassa seca vindo da deiscência natural de folíolos. A adubação da fruticultura com resíduos industriais e urbanos vem ganhando espaço afim de diminuir custo em adubação. Os materiais que apresentam alto potencial de utilização em viveiros, são provenientes de bagaço de cana, tortas, lixo e esgotos urbanos. Esses materiais, em geral, são ricos em sua composição química, sendo capazes de propiciar benefícios para o desenvolvimento das plantas (CUNHA et al., 2005). Muitos resíduos podem ser utilizados como fontes orgânica e nutritivas para a fruticultura. O esterco de ovino e o húmus de minhoca proporciona aumento nas características morfológicas em mudas de goiabeira (Psidium guajava L.), porém para beneficiar o crescimento das mudas de goiabeira a proporção deve ser 40% do material orgânico seja o esterco bovino, o esterco ovino ou o húmus de minhoca, incorporada ao substrato, porém, em dose crescente das fontes orgânicas há redução do fosforo no substrato (OLIVEIRA et al., 2013). O uso de lodo de curtume como adubo foliar, em maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) possibilitou ganhos em suas características de desenvolvimento como altura de planta, diâmetro de copa e massa seca da parte aérea das mudas, porém, há acumulo de cromo nos tecidos como caule e raiz em função do aumento da dose de lodo no substrato, podendo causar intoxicação nas plantas, entretanto, não foi observado tal efeito deletério. Deste modo, adubação de lodo de curtume é uma alternativa de adubação foliar em suplementação ou substituição a adubação química em mudas de maracujá-amarelo, pelos benefícios proporcionados as plantas (BERILLI et al., 2016). O uso de adubação com esterco de caprino em gravioleira proporcionou maior valor no teor de nitrogênio, porém, o maior teor de fosforo e potássio, foi na adubação com esterco bovino (MALTA et al., 2019b). Manejo fitossanitário O manejo de plantas daninhas em frutíferas nos sistemas convencional e orgânico pode ser realizado pelo: controle preventivo com a aquisição mudas de produtores idôneos e livres de infestantes como tiririca (Cyperus rotundus); o cultural implica em fornecer melhores condições para o desenvolvimento e o estabelecimento do pomar (de modo que a cultura leve vantagem sobre as infestantes) por meio de descompactação do solo, adensamento de plantio, adubação e irrigação localizada, controle de pragas e doenças, além de, adoção de plantas de cobertura na entrelinha de Cultivo de frutíferas em clima tropical 71 Dias & Mata (2021) plantio; o controle mecânico consiste no emprego de práticas para a eliminação das invasoras por meio de efeito físico-mecânico, seja por tração humana, animal ou tratorizada, promovendo o arranquio, capina e a roçada manual ou mecanizada; o controle físico é de fundamento importância nos pomares pois promovem a cobertura do solo (reduz a incidência de radiação fotossinteticamente ativa das plantas daninhas impedindo principalmente a germinação de sementes fotoelásticas positivas, caso germine a plântula necessita superar o impedimento físico para se estabelecer). O controle químico é exclusivo em pomares com sistema convencional, deve-se levar em consideração se o produto é registrado para a cultura, além da adoção de alguns critérios devem ser levados em consideração para a escolha, como a avaliação da eficácia no controle das plantas daninhas presente na área, da seletividade e da persistência no solo, bem como aplicação nos períodos de máxima sensibilidade das invasoras. Para Penteado (2001), em pomares com sistema orgânico, utiliza-se métodos alternativos como extrato de alho que tem ação herbicida. Além do uso de Eletroherb equipamento que libera uma descarga elétrica nas plantas daninhas controlando por meio de eletrocussão (OLIVEIRA et al., 2007). A ocorrência de pragas na fruticultura é um problema crítico que influencia toda a cadeia produtiva, podendo afetar a safra atual e as safras futuras e levar a morte de todo pomar. As principais pragas do pessegueiro, ameixeira e nectarineira são: Mosca-da-fruta, mariposa oriental, cochonilha branca, pulgão da falsa crespeira, formigas. Nas culturas de citros são: Mosca do mediterrâneo, lagarta dos citros, broca dos galhos da laranjeira, cochonilhas, pulgão preto, pulgão verde, ácaro da falsa ferrugem. Na macieira e pereira são piolho de São José, Pulgão lanígero. Na goiabeira são as brocas das mirtáceas e as cochonilhas de cera. O monitoramento de pragas nos sistemas convencional e orgânico em pomar, pode ser realizado por meio e armadilhas, para realização da identificação e controle de pragas. O controle no pomar convencional pode ser realizado pela captura da praga, ensacamento das frutas, corte dos galhos e frutos infestados, evitar a presença de plantas hospedeiras, e pode ser realizado também por meio do controle químico com produtos específicos (FACHINELLO; NACHTIGAL; KERSTEN, 2008). No pomar orgânico o controle pode ser realizado por plantas defensivas como, Confrei, Cravo de defunto, Fumo (nicotina), Neem (Nim), Pimenta e Urtiga, auxilia no controle de pulgão, acaro e algumas lagartas, tripés e outras pragas. Para evitar danos nos frutos pode ser feito o ensacamento, armadilhas luminosas e iscas alternativas (PENTEADO, 2001). O controle de doenças em frutíferas convencional e orgânica inicia desde a produção de mudas que deve ser realizado em locais protegidos, uso de solo sem contaminantes com o uso de mudas sadias e se possível com resistência a doença de determinado local, fazer o tratamento das mudas, e no pomar controlar vetores de doenças, bem como fazer o manejo para evitar a disseminação. As principais doenças do pêssego, ameixa e nectarina são a podridão parda, bacteriose, creseperira verdadeira, ferrugem e sarna, nos citros são a gomose, verugose, queda anormal de frutas jovens, cancro cítrico, tristeza exocorte, declínio, clorose variegada e fumagina (FACHINELLO; NACHTIGAL; KERSTEN, 2008). Cultivo de frutíferas em clima tropical 72 Dias & Mata (2021) O monitoramento de doenças pode ser através do caminhamento em campo, com o objetivo de identificar qual método será mais eficaz no controle (SANTANA et al., 2018). O controle no pomar convencional pode ser realizado por meio do controle químico com produtos específico. Em pomar orgânico, faz o uso da solarização, visando a utilização de temperatura não muito elevada para o controle da microbiota do solo sem causar perdas significativas da vida do solo (MICHEREFF e BARROS, 2001). Outro mecanismo que pode ser usado é extrato de alho no controle de doenças como míldio e ferrugens (PENTEADO, 2001). Para o controle da antracnose causada nas bananas, tem-se o tratamento térmico com a imersão da banana orgânica em água quente 40°C/20 min, no combate do C. musae onde não alterou a qualidade sensorial e físico química da banana (VILAPLANA et al., 2018). Tratos culturais de frutíferas No cultivo convencional de fruteiras pode ser realizado as podas para homogeneizar a produção e aumento da qualidade das frutas, as podas podem ser do tipo decisiva, relativa e de pouca importância dependendo do tipo de pomar que está sendo cultivado, as modalidades de podas são a poda de formação, de frutificação, poda de rejuvenescimento e de limpeza, as podas podem ser realizadas na época da seca, no outono (FATINELLO; NACHTIGAL; KERSTEN, 2008). O trato cultural em pomar orgânico deve conservar as plantas daninhas sob controle, na véspera da florada e da poda realizar o tratamento de inverno, com desfolha de plantas caducas (de climas temperados), monitorar e controlar focosde infestação e quebrar a dormência em gemas (com óleo mineral 1 a 3%), precedido de podas, irrigação (por aspersão, irrigação por sulco ou gotejamento) e adubação orgânica alternativas (PENTEADO, 2001). Deste modo, os cuidados com os pomares devem levar em conta o raleio e desbaste de fruto, manutenção da sanidade e nutricional das plantas, e manejo do solo. A produção de melão no Piauí, com adubação mineral (150g de NPK), esterco e cinzas vegetais, além de que a adubação com cinzas gerou a menor produtividade de frutos e sólidos solúveis (ºBrix) em relação a adubação mineral e com esterco. Considerações finais Conclui-se que de maneira geral, que as principais práticas adotadas tanto no sistema cultivo convencional quanto no orgânico de frutíferas estão alicerçados no preparo e correção do solo, implantação da cultura, adubação, condução da cultura, podas, controle de plantas daninhas e manejo fitossanitário, além da colheita e comercialização. As principais diferenças residem na intensidade do uso do solo e no emprego de insumos químicos ou orgânico com maior ou menor solubilidade no solo, além da forma de aplicação e ação dos defensivos agrícolas fungicidas, inseticidas, herbicidas, dentre outros insumos e agrotóxicos, bem como, Cultivo de frutíferas em clima tropical 73 Dias & Mata (2021) de produtos menos agressivos ao meio, que procuram manter o agroecossistema em equilíbrio, proporcionando o melhor retorno econômico em ambos os sistemas de produção. Referências ALMEIDA, A.; COELHO, L. R.; PRIES, A. C. D. Sistemas agroecológicos de produção de frutíferas. Taubaté: UNITAU, 2016. 177p. ALVARENGA, R. C.; CRUZ, J. C.; VIANA, J. H. M. Cultivo do milho. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produção, 2008. 517 p. ANJOS, J. B.; DIAS, R. C. S.; COSTA, N. D.; CUNHA, T. J. F. Sistema de produção de melancia. Embrapa Semiárido. Sistemas de Produção, 2010. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Melancia/SistemaProducaoMelancia/in dex.htm. Acesso em: 12/05/21. AZEVÊDO, C. L. L. Sistemas de produção de citros para o Nordeste. Embrapa, 2003. Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosNordeste/index.htm. Acesso em: 12/05/21. BERILLI, S. S.; ZOOCA, A. A. F.; REMBINSKI, J.; SALLA, P. H. H.; ALMEIDA, J. D.; MARTINELI, L. Influência do acúmulo de cromo nos índices de compostos secundários em mudas de café conilon. Coffee Science, v.11, n.4, p.512-520, 2016. BORGES, A. L.; SOUZA, L. S.; ROSA, R. C. C. Preparo e manejo do solo nos seus atributos químicos em cultivo orgânico. In: Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água, 20, 2016, Foz do Iguaçu. Anais...Foz do Iguaçu, 2016. CUNHA, A. O.; ANDRADE, L. A.; BRUNO, R. L. A.; SILVA, J. A. L.; SOUZA, V. C. Efeitos de substratos e das dimensões dos recipientes na qualidade das mudas de Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex D.C.) Standl.1. Revista Árvore, v.29, n.4, p.507-516, 2005. FACHINELLO, J. C.; NACHTIGAL, J. C.; KERSTEN, E. Fruticultura fundamentos e práticas. Pelotas 2008. 176 p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 74 Dias & Mata (2021) FEITOSA, H. O.; GONÇALVES, F. M.; CARVALHO, C. M.; GUERRA, G. M. Influência da adubação orgânica e da cobertura viva em figueira com irrigação suplementar. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada, v.3, n.2, p.88–94, 2009. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção agrícola municipal 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: < https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5457>. Acesso em: 06 de jul. 2019. ISHAQ, M.; IBRAHIM, M.; HASSAM, A.; SAEED, M.; LAL, R. Effects of subsoil compaction on culture in Punjab, Pakistan: II. Root growth and absorption of wheat and sorghum nutrients. Soil & Tillage Research, v.60, p.153-161, 2011. LOSS, A.; PEREIRA, M. G.; SCHULTZI, N.; DOS ANJOS, L. H. C.; DA SILVA, E. M. R. Quantificação do carbono das substâncias húmicas em diferentes sistemas de uso do solo e épocas de avaliação. Bragantia, v.69, n.4, p 913-922, 2010. MADAIL, J. C. M.; ANTUNES, L. E.; BELARMINO, L. C.; SILVA, B. A.; GARDIN, J. A. Avaliação econômica dos sistemas de produção de morango: convencional, integrado e orgânico. Embrapa. Comunicado Técnico 181, Pelotas-RS, 2007. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/- /publicacao/746072/avaliacao-economica-dos-sistemas-de-producao-de-morango-convencional- integrado-e-organico. Acesso em: 12/05/21. MALTA, A. O.; PEREIRA, W. E.; TORRES, M. N. N.; MALTA, A. O.; SILVA, E. S.; SILVA, S. I. A. Atributos físicos e químicos do solo cultivado com gravioleira, sob adubação orgânica e mineral. Revista PesquisAgro, v.2, n.1, p. 11-23, 2019a. MALTA, A. O.; PEREIRA, W. E.; TORRES, M. N. N.; MALTA, A. O.; MEDEIROS, D. A.; DIAS, J. A. Teores foliares de NPK em gravioleira sob adubação orgânica e mineral. Revista PesquisAgro, v.2, n.1, p. 47-56, 2019b. MATOS, A. P. Produção integrada de fruteiras tropicais. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Cruz das Almas, 2012, 376p. MARIANI, C. M.; HENKES, J. A. Agricultura orgânica x agricultura convencional soluções para minimizar o uso de insumos industrializados. R. Gest. Sust. Ambient., v.3, n.2, p.315-338, 2014. MICHEREFF, S. J.; BARROS, R. Proteção de plantas na agricultura sustentável. (eds) BARROS, R. Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2001. 368p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 75 Dias & Mata (2021) NATALE, W.; ROZANE, D. E.; PARENT, L. E.; PARENT, S. E. Acidez do solo e calagem em pomares de frutíferas tropicais. Revista Brasileira de Fruticultura, v.34, n.4, p.1294-1306, 2012. OLIVEIRA, F. T.; HAFLE, O. M.; MENDONÇA, V.; MOREIRA, J. N.; MENDONÇA, L. F. M. Fontes e proporções de materiais orgânicos na germinação de sementes e crescimento de plantas jovens de goiabeira. Rev. Bras. Frutic., v.35, n.3, p.866-874, 2013. PENTEADO, S. R. Agricultura orgânica. Piracicaba: ESALQ-Divisão de Biblioteca e Documentação, 2001. 41p. OLIVEIRA, M. F.; KARAM, D.; CRUZ, J. C.; COSTA, T. C. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; ALVARENGA, R. C.; OLIVEIRA, A. C.; QUEIROZ, L. R. Plantas espontâneas e produção orgânica. Comunicado Técnico. Sete Lagoas, MG, Embrapa, 2007. 5p. PETRI, J. L.; HAVERROTH, F. J.; LEITE, G. B.; SEZERINO, A. A.; COUTO, M. Reguladores de crescimento para frutíferas de clima temperado. Florianópolis: Epagri, 2016, 141p. SALTON, C.; HERNANI, L. C.; FONTES, C. Z. Sistema plantio direto. O produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília: Embrapa-SPI, Dourados: Embrapa-CPAO, 1998. SANTANA, M. B.; ARAÚJO, J. F.; GALVÃO, E. R.; SILVA, V. S. G.; SILVA, A. C. Desempenho da romã em sistema de produção orgânico. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v.16, n.2, p.1-8, 2018. SILVA, I. D. A fruticultura e sua importância econômica, social e alimentar. In: Simpósio Nacional de Tecnologia em Agronegócio, 11, 2019, Ourinhos. Anais...Ourinhos, 2019. SILVA JÚNIOR, P. B.; DE SOUZA, P.; DE SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J. Estudo comparativo entre agricultora orgânica e convencional no cultivo do morango em Rancho Queimado (SC). Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais, v.5, n.1, p.115-128, 2014. VILAPLANA, R.; HURTADO, G.; VALENCIA-CHAMORRO, S. Hot water dips elicit disease resistance against anthracnose caused by Colletotrichum musae in organic bananas (Musa acuminata). LWT - Food Science and Technology, v.95, p.247–254, 2018. Cultivo de frutíferas em clima tropical 76 Dias & Mata (2021) Capítulo VI POLINIZAÇÃO POR ABELHAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA FRUTÍFERAS CULTIVADAS Elisângela Aparecida da Silva Larissa Rodrigues de Azevedo Câmara Introdução No Brasil, a fruticultura é uma das maiores atividades econômicas, sendo considerada geradora de riqueza e distribuidora de renda, proporcionando uma das maiores rentabilidadespor hectare no país. De acordo com dados do último Anuário Horti e Fruti, nosso país é o terceiro maior produtor de frutas no mundo, com uma produção estimada em 43 milhões de toneladas em pouco mais de dois milhões de hectares, ficando atrás da China e da Índia (CARVALHO et al., 2020). Em relação à geração de empregos, a atividade representa cerca de seis milhões de empregos diretos, o que corresponde a 27% do total da mão de obra do setor agrícola brasileiro (CNA, 2018). Os avanços em técnicas de manejo, práticas culturais e suas combinações, tais como a fertilização adequada dos solos, uso racional de irrigação, cultivares adaptadas para cada região e estratégia de podas; têm sido fatores decisivos para aumentar a produtividade, otimizando o uso de insumos, além de permitir uma utilização racional de produtos fitossanitários nos pomares, fator este de elevada importância para preservação da saúde humana e do meio ambiente. Conjuntamente com essas tecnologias de produção para aumentos na produtividade, a polinização, no Brasil, vem sendo reconhecida como de fundamental importância para a obtenção de frutos em quantidade e com qualidade para o mercado, cada vez mais exigente. Muitas plantas de importância econômica, incluindo espécies frutíferas, dependem da polinização para produzir frutos ou sementes, ou mesmo para incrementar e melhorar qualitativamente a sua produção. De acordo com Witter et al. (2014), uma polinização bem-sucedida está diretamente relacionada com um melhor rendimento da cultura, podendo promover aumento no número de sementes e frutos vingados, além de, adicionalmente, melhorar a qualidade dos frutos, através de incremento em tamanho, peso, valores nutritivos, melhoria da aparência, influenciando positivamente na antecipação e uniformização no amadurecimento, além de elevar o tempo de prateleira. Cultivo de frutíferas em clima tropical 77 Dias & Mata (2021) Nas plantas as flores são as estruturas reprodutivas e geralmente são constituídas pelas sépalas (protegem os botões florais), pétalas (protegem os órgãos reprodutores e atraem polinizadores), estames (parte masculina) e pistilo (parte feminina). Cada estame está formado pelo filete e a antera, onde são produzidos os grãos de pólen. O pistilo é formado pelo ovário, que contém os óvulos, o estilo e o estigma na parte superior. Quando as flores apresentam estames e pistilos, elas são denominadas de flores perfeitas ou hermafroditas, como é o caso das flores de macieiras, abacateiros e maracujazeiros. No entanto, quando as flores apresentam somente estames ou somente pistilos, elas recebem a denominação de flores imperfeitas. Neste caso, as flores masculinas e femininas podem estar presentes na mesma planta, como ocorre em meloeiro ou em plantas separadas, como ocorre em mamoeiro (WITTER et al., 2014). A polinização nas angiospermas consiste na transferência do pólen contido na antera do estame para o estigma do pistilo da flor (TAIZ et al., 2017). Esse processo pode ocorrer de três maneiras diferenciadas: (1) por polinização cruzada (polinização indireta, xenogamia ou alogamia), que ocorre quando os grãos de pólen de uma flor são transportados para o estigma da flor de outra planta; (2) a geitonogamia, que ocorre quando os grãos de pólen de uma flor são transportados para o estigma de outra flor na mesma planta; e (3) através da autopolinização (polinização direta ou autogamia) que ocorre quando os grãos de pólen de uma flor são transportados para o estigma da mesma flor. Para garantir o sucesso reprodutivo, as plantas utilizam atrativos, tais como a coloração vistosa, o perfume que exalam e a disponibilidade de recursos florais (pólen, néctar, óleo e resina), que consistem numa otimização da morfologia floral para garantir a visitação dos órgãos reprodutivos pelos polinizadores e viabilizar a polinização cruzada (MARQUES et al., 2015; TAIZ et al., 2017). Essa transferência dos grãos de pólen pode ser realizada por agentes abióticos ou bióticos. Os agentes abióticos são compostos pela água (hidrofilia), proveniente de chuvas e pelos ventos (anemofilia). Já a polinização biótica é realizada por seres vivos. Esses agentes polinizadores são segregados em nove grupos distintos, composto pelo grupo das abelhas, que correspondem a 66,3% das espécies de polinizadores, seguido pelos besouros (9,2%), borboletas (5,2%), mariposas (5,2%), aves (4,4%), vespas (4,4%), moscas (2,8%), morcegos (2%) e hemípteros (0,4%). Como grupo mais representativo de polinizadores, as abelhas contemplam aproximadamente 48% do total de espécies identificadas como visitantes florais em plantas cultivadas para a produção de alimentos (WOLOWSKI et al., 2019). Segundo Freitas e Bonfim (2017), as abelhas são consideradas importantes polinizadores pois reúnem um conjunto de características, tais como: cobertura do corpo por pelos e/ou cerdas onde os grãos de pólen ficam aderidos enquanto visitam as flores, anatomia e tamanhos variáveis, abundância em todos os biomas e riqueza de espécies. Enquanto visitam as flores, as abelhas tocam no pólen presente nas anteras, esses grãos ficam presos às cerdas do seu corpo e assim são transportados involuntariamente de uma flor para outra enquanto realizam a busca por alimento. No estigma, cada grão de pólen, caso seja compatível geneticamente, desenvolve um tubo que cresce até alcançar o óvulo Cultivo de frutíferas em clima tropical 78 Dias & Mata (2021) no ovário, fecundando-o. Assim, a fecundação dos óvulos da flor depende do sucesso da polinização. Uma vez fecundados, os óvulos se transformam em sementes e o ovário em fruto (DELAPLANE & MAYER, 2000). Dessa forma, fica evidente a função ecológica e econômica das abelhas na agricultura, visto que grande parte das plantas cultivadas não apresenta a autofecundação e não possuem capacidade de frutificação na ausência de polinização. Após muitos anos de desvalorização dos serviços ecossistêmicos promovidos por esses insetos no sistema produtivo brasileiro e, através de estudos e evidências científicas, as abelhas foram reconhecidas no sistema produtivo brasileiro como essenciais para a produção de diversas culturas (KLEIN et al., 2020). Conhecidas pelo nome comum de abelha melífera ou doméstica, as abelhas Apis mellifera L., 1758 (Hymenoptera: Apidae) destacam-se como os principais agentes polinizadores pelo fato de estarem mundialmente dispersas, serem facilmente manejadas, formarem colmeias populosas, apresentar constância floral durante o forrageamento e hábito alimentar generalista (WITTER et al., 2014). Além disso, são consideradas mais eficientes devido a uma espécie de fidelização alimentar, pois as abelhas só deixam certas áreas em busca de outras fontes de alimento quando não existem mais flores a visitar naquele local. Não obstante, estudos recentes apontam que o sucesso da polinização para a maioria das culturas depende da atuação conjunta de mais de uma espécie e, que a abelha melífera suplementa, mas não substitui os serviços de polinização prestados pelas abelhas nativas (WITTER et al., 2014). Devido ao importante papel das abelhas nativas nos serviços ecossistêmicos de polinização muitos produtores já realizam práticas de preservação da fauna nativa, objetivando a manutenção das abelhas próximo das áreas de cultivos (WITTER et al., 2014). As principais práticas consistem em: conhecer e preservar os ninhos das espécies nativas, evitar uso de produtos fitossanitários adotando como substituto o controle biológico e outras estratégias de manejo ambientalmente corretas, evitar uso de fogo nas lavouras e/ou entorno, manter áreas de proteção e reservas legais, sendo estas importantes locais de nidificação e busca por alimentos secundários pelas abelhas, favorecer locais para nidificação oferecendo troncos, blocos de madeira ou bambus e proporcionar corredores ecológicos para fluxo dasabelhas entre as áreas de produção e a área nativa (IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES- SILVA, 2010). Infelizmente, a ampla utilização de produtos fitossanitários juntamente com a destruição dos hábitats naturais pela fragmentação ambiental, tem sido apontada como algumas das causas do declínio das populações nativas e domésticas de abelhas não só em território brasileiro, mas em nível mundial. Mediante a esse cenário global, a polinização assistida, ou seja, a instalação de colmeias direcionadas para polinização de lavouras e pomares, em especial para otimização da produtividade das frutíferas, torna-se dia após dia item indispensável para melhorias na produtividade e qualidade dos frutos, em especial em cultivos que apresentam dependência de polinização. Cultivo de frutíferas em clima tropical 79 Dias & Mata (2021) Desta forma, considera-se que a taxa de dependência (TD) da polinização varia de acordo a espécie vegetal, podendo ser dividida categoricamente em: essencial (incremento de 90 a 100% na produção com a ação de polinizadores), alta (40 a 90%), moderada (10 a 40%) e baixa (0 a 10%) (KLEIN et al., 2007 citados por KLEIN et al., 2020). Baseados nestas categorias, Giannini et al. (2015), Wolowski et al. (2019) e Klein et al. (2020), compilaram estudos que indicam o grau de dependência de espécies cultivadas no Brasil, sendo indicado pelos primeiros autores citados o valor desse serviço ecossistêmico, considerando o valor da produção anual das culturas. Dentre as espécies frutíferas onde o serviço ecossistêmico de polinização é considerado essencial, ou seja, sem a polinização quase não há frutificação (TD média de 95%), o maracujazeiro (Passiflora edulis Sims.) é o exemplo de frutífera agrupada nesta categoria quanto à taxa de dependência e que a polinização é realizada por abelhas. Na categoria de alta dependência (TD média de 65%), o abacateiro (Persea americana Mill.), a macieira (Malus domestica Borkh.), o cajueiro (Anacardium occidentale L.), a ameixeira (Prunus domestica L.), a aceroleira (Malpighia emarginata DC.) e o guaranazeiro (Paullinia cupana) são frutíferas que apresentam a polinização realizadas por abelhas. Com a taxa de dependência moderada (TD média de 25%), são exemplos a amoreira preta (Rubus sp.), a laranjeira (Citrus sinensis L. Osbeck), o coqueiro (Cocos nucifera L.) e a goiabeira (Psidium guajava L.); enquanto a lichieira (Litchi chinensis Sonn.) e o caquizeiro (Diospyros kaki L.) são exemplos de frutíferas com baixa taxa de dependência (TD média de 5%) (WOLOWSKI et al., 2019; KLEIN et al., 2020). Devido à variedade de frutíferas e suas particularidades no processo de frutificação, a seguir serão abordados alguns aspectos da polinização do maracujazeiro (TD essencial), do abacateiro (TD alta) e da laranjeira (TD moderada), espécies que apresentam diferentes taxas de dependência de polinização por abelhas e que apresentam produção e qualidade melhoradas quando estes insetos se fazem presentes. Maracujazeiro O maracujazeiro amarelo (P. edulis Sims.), frutífera pertencente à Família Passifloraceae, é uma das espécies de passifloras mais cultivadas no mundo, devido ao seu expressivo valor econômico. Na fruticultura, o cultivo de maracujazeiros é destacado pelo rápido retorno econômico comparado a outros cultivos, além de ser uma ótima opção para a agricultura familiar e em pequenas propriedades. Existem duas formas desta espécie: P. edulis f. edulis (casca roxa) e P. edulis f. flavicarpa O. Deg. (casca amarela), ambas cultivadas no Brasil, porém com predomínio da segunda (SILVA et al., 2012). Na literatura, é unânime a consideração da categoria essencial em relação à taxa de dependência da polinização pelo maracujazeiro, visto que a frutificação e qualidade dos frutos são dependentes da formação de sementes, através da polinização e fertilização dos óvulos (GIANINNI et al., 2015; WOLOWSKI et al., 2019; KLEIN et al., 2020). A polpa comercial do fruto de maracujá é extraída a partir do arilo, uma capa gelatinosa que envolve as sementes. Dessa forma, o número de grãos de pólen depositados sobre o estigma e a diversidade de doadores polínicos durante a polinização, afetam a Cultivo de frutíferas em clima tropical 80 Dias & Mata (2021) quantidade de sementes, influenciando no tamanho do fruto e na quantidade de polpa (BRUCKNER et al., 2012). As flores do maracujazeiro do gênero Passiflora são hermafroditas (flores perfeitas, apresentam estames e pistilos), porém apresentam três mecanismos para impedir a autopolinização: (a) são auto incompatíveis (não se autofecundam); (b) apresentam o atributo temporal de dicogamia protândrica, sendo que neste caso a liberação do grão de pólen pelas anteras ocorre antes do estigma estar receptivo; e (c) barreira física com a separação espacial dos órgãos reprodutivos, com pistilos localizados acima dos estames (hercogamia) (ROUBIK, 2018; KLEIN et al., 2020). Considerada como espécie alógama, para que ocorra a fertilização no maracujazeiro, a polinização precisa ser realizada com grãos de pólen de constituição genética diferente da planta receptora (polinização cruzada), o que não se torna um empecilho na maioria dos pomares da cultura, que são formados com mudas obtidas via seminífera, e apresentam variedade genotípica na área. No entanto, os grãos de pólen são considerados pesados e pegajosos, não sendo transportados pelo vento, necessitando de agentes bióticos na polinização (BRUCKNER et al., 2012). A transferência de grãos de pólen entre as flores de plantas diferentes de maracujazeiros, na natureza, é eficientemente realizada pelas abelhas chamadas de mamangavas de toco (Xylocopa spp.), que são abelhas de grande porte, compatíveis com a estrutura floral (posição das anteras e do estigma das flores), encaixando-se perfeitamente como agentes polinizadores da cultura, resultado da coevolução das espécies (BRUCKNER et al., 2012; KLEIN et al., 2020). Visitantes florais como A. mellifera coletam pólen e néctar, contudo são significativamente menores em tamanho quando comparado com Xylocopa sp. Desta forma, durante a visitação das flores, acabam não tocando as partes reprodutivas e assim não realizam a polinização, reduzindo a disponibilidade de pólen para os polinizadores efetivos do maracujazeiro. Em alguns casos, a simples presença de outro visitante floral como A. mellifera, pode provocar o comportamento de afugentamento do polinizador, tornando desta forma um inseto indesejado durante o período de florescimento da cultura, já que ele compete pelos mesmos recursos alimentares. O androginóforo colunar, presente nas flores do maracujazeiro é uma extensão do receptáculo da flor, que eleva as partes reprodutivas acima do nível de inserção das pétalas e sépalas, o que justifica a necessidade de insetos grandes para que ocorra a efetiva polinização. Estes insetos são atraídos pela coloração vistosa das flores, que são aromáticas e ricas em néctar. Nas visitas às flores para consumir o néctar acumulado na câmara nectarífera, as abelhas maiores tocam com o tórax os órgãos reprodutivos florais, ocorrendo a deposição de pólen de diferentes plantas no dorso, e conforme visitam diferentes flores realizam a polinização cruzada. A ausência desses insetos de tamanho ideal para a polinização do maracujazeiro acarreta perdas na produção, com queda das flores não polinizadas. Neste caso, na falta de polinizadores naturais, é indicada a polinização artificial da cultura, realizada manualmente, porém, esta prática pode onerar os custos de produção (BRUCKNER et al., 2012, KLEIN et al., 2020). Cultivo de frutíferas em clima tropical 81 Dias & Mata (2021) Diante da importância da polinização por abelhas em maracujazeiro, é fundamental que se instalem caixas racionais com ninhos ou troncos de madeira morta para nidificação e povoamento desses insetos, objetivando aumentar a populaçãona área agrícola (FREITAS & OLIVEIRA FILHO, 2003). Outra estratégia é manejar a área próxima ao pomar de maracujazeiro, considerando cultivos e espécies que sejam atrativas para as mamangavas, tais como a crotalária, visando aumentar a disponibilidade de alimentos (pólen e néctar) para a manutenção das abelhas na área de cultivo (BRUCKNER et al., 2012; SILVA et al., 2014; KLEIN et al., 2020). Abacateiro O abacateiro (P. americana Mill.), frutífera tropical da Família Lauraceae, é uma espécie apreciada no Brasil e no mundo, sendo seus frutos considerados um dos mais nutritivos. Apesar do consumo interno do fruto ser considerado baixo, quando comparado com países como o México e Estados Unidos; e da produção ser quase que totalmente voltada para o mercado interno, o Brasil produz abacates para exportação, tanto in natura, quanto na forma de polpa congelada e óleo. As flores dos abacateiros são perfeitas (hermafroditas), agrupadas em inflorescências, apresentam um atributo temporal na sua biologia, que recebe o nome de dicogamia protogínica e que merece atenção para obtenção de polinização e frutificação adequadas para a exploração comercial da cultura. Nestas flores os órgãos masculinos (estames) e femininos (pistilos) amadurecem em momentos diferentes, e no caso da dicogamia do tipo protogínica, que ocorre em abacateiros, os pistilos amadurecem antes dos estames, ou seja, a parte feminina da flor amadurece primeiro. Na natureza, esse fenômeno consiste numa estratégia para inibir e/ou diminuir a autopolinização, favorecendo a polinização cruzada (TAIZ et al., 2017). De acordo com o comportamento sexual das flores, as variedades de abacateiros são agrupadas como grupo floral A e grupo floral B. Quando as flores apresentam sua primeira abertura pela manhã como femininas, fechando próximo das 12 horas e voltando a abrir como masculinas, apenas na tarde do dia seguinte (ficando fechadas aproximadamente 24 horas), essas variedades são enquadradas no grupo floral A. Já no grupo floral B, a primeira abertura, que também é na fase feminina (protoginia), ocorre no período da tarde, fechando à noite e realizando a segunda abertura na manhã do dia seguinte, como masculinas (ficando fechada por cerca de 12 horas) (DUARTE et al., 2018). Devido a variação temporal na maturação das partes reprodutivas das flores, recomenda-se que sejam plantadas variedades que floresçam na mesma época e que sejam de grupos florais diferentes, favorecendo a polinização e consequentemente o sucesso da frutificação. No processo de polinização do abacateiro, a autopolinização até pode ocorrer em alguns casos específicos (CARABALÍ-BANGUERO et al., 2018). Porém, na exploração comercial da cultura, indica-se que além da utilização de variedades dos diferentes grupos florais (A e B), seja preconizada a utilização de colmeias de A. mellifera próximo à área do pomar, para que ocorra a efetiva frutificação. No Brasil, a Cultivo de frutíferas em clima tropical 82 Dias & Mata (2021) adoção dessa estratégia já é utilizada por fazendas tradicionais na produção de abacates, tais como a Fazenda Jaguacy, no município de Bauru/SP, que aluga colmeias de apicultores para os serviços de polinização e outras propriedades em MG, que também dispõem de colmeias próximos às áreas dos pomares. Em termos de necessidade de polinizadores, a cultura é considerada de alta dependência (TD = 0,65), apresentando grande aumento de produção com atuação dos insetos polinizadores (redução de 40 a <90% sem polinizadores) (CARABALÍ-BANGUERO et al., 2018; KLEIN et al., 2020). A abelha A. mellifera é um inseto que desempenha o papel de visitante floral mais importante para o abacateiro, sendo considerada um polinizador efetivo da cultura, a qual produz muitas flores atrativas (consideradas de média a alta atratividade), com disponibilidade de pólen e néctar, recompensas açucaradas adicionais para os polinizadores (READ et al., 2017; KLEIN et al., 2020) (Figura 1). Figura 1. Inflorescência de abacateiro (A), com detalhe a polinização por Apis mellifera (B) e frutificação (C). Dados compilados por Delaplane e Mayer (2000), recomendam em média 4,5 colmeias de abelhas melíferas por hectare. Esse número, considerado de alta densidade de colmeia/hectare, se deve ao fato que, essas abelhas são facilmente atraídas por outras espécies que estejam florescendo próximo, ou seja, são flores concorrentes. É possível estimar os valores monetários, em dólares ou reais, dos serviços ecossistêmicos prestados pelos polinizadores nas culturas, seguindo a metodologia proposta por Gallai e Vaissière (2009) e considerando o valor da produção anual da cultura. Desta forma, no cultivo do abacateiro, os valores do serviço ecossistêmico de polinização no Brasil, com base na taxa de dependência e na produção da cultura, foram estimados em torno de US$ 36 milhões, segundo Gianinni et al. (2015). Citros No caso da citricultura, a necessidade de polinização para que ocorra a fecundação do óvulo e consequentemente a fixação dos frutos é variável, existindo, por exemplo: (a) cultivares que apresentam muitas sementes e que necessitam que as flores sejam polinizadas e fecundadas para a produção de frutos, (b) variedades que produzem por partenocarpia, sem a necessidade de polinização e fecundação Cultivo de frutíferas em clima tropical 83 Dias & Mata (2021) para formação dos frutos, e (c) espécies que precisam apenas que as flores sejam polinizadas, sem que haja a fecundação, para que ocorra o desenvolvimento dos frutos (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Considerando a variedade de plantas cítricas e suas particularidades quanto à necessidade de polinização, Klein et al. (2020) consideram que a taxa de dependência deste grupo de frutíferas se enquadra na categoria baixa (TD média de 5%), visto que muitas espécies são agamospérmicas ou partenocárpicas (ocorre a formação de frutos sem a fecundação). No entanto, os pomares de laranja (C. sinensis L. Osbeck) são exemplos de espécie, com variedades como a ‘Pêra-Rio’, que são beneficiadas por melhorias na qualidade dos frutos quando ocorre a visitação por insetos, principalmente de abelhas (MALERBO-SOUZA et al., 2003; GAMITO & MALERBO-SOUZA, 2006; GIANINNI et al. 2015; RIBEIRO et al., 2017). Para confirmar essa informação, Malerbo-Souza et al. (2003) verificaram que as flores de laranjeiras ‘Pêra-Rio’ que foram visitadas por abelhas produziram maior quantidade de frutos, sendo estes mais pesados, menos ácidos e com maior número de sementes por gomo, quando comparadas às flores que não tiveram a visitação por abelhas, através da proteção por armações de arame revestidas de tecido de nylon. Gamito e Malerbo-Souza (2006) observaram que a porcentagem de frutificação em laranjeiras ‘Pêra-Rio’ aumentou com a presença das abelhas, sendo a A. mellifera o inseto mais frequente nas flores, preferindo coletar néctar comparado ao pólen. Também observaram que os frutos originados de flores que receberam a visita das abelhas foram maiores, mais doces e com maior quantidade de vitamina C comparado com aqueles que não receberam a visita destes insetos. Gianinni et al. (2015) e Wolowski et al. (2019) consideram que, a taxa de dependência das laranjeiras é moderada (TD média de 25%), porém, em termos de valores dos serviços ecossistêmicos, dentre as culturas com dados compilados, a laranjeira ocupa o terceiro lugar, representando 5% dos R$ 43 bilhões estimados no país (WOLOWSKI et al., 2019), o que favorece a integração da citricultura com a apicultura. Essa grande contribuição em termos financeiros, deve-se ao fato da grande área cultivada com laranjas no país, sendo o maior produtor mundial da fruta (CARVALHO et al., 2020). As flores das laranjeiras frequentemente são hermafroditas, podendo ocorrer tanto a autopolinização quanto a polinização cruzada. Os grãos de pólen são transportadospor insetos, principalmente as abelhas; ou pelo vento, sendo este um agente polinizador de importância menor, devido às características dos grãos de pólen serem viscosos, pegajosos e aderentes (MALASPINA et al., 2015). As abelhas A. mellifera são os insetos observados em maior frequência e quantidade na visitação das flores em laranjeiras, visto que estas produzem néctar com qualidade e quantidade, o que as tornam altamente atrativas para as abelhas (GAMITO & MALERBO-SOUZA, 2006; KLEIN et al., 2020). Considerando os resultados observados por pesquisas na produção de laranjeiras quando se utilizam abelhas melíferas para polinização, em uma mesma variedade, Klein et al. (2020) e Malaspina et al. (2015) afirmam que a produção pode aumentar em 30 e 35%, respectivamente. Neste sentido, iniciativas têm sido criadas para orientar o citricultor quanto aos benefícios da utilização de colmeias em seus pomares, bem como ações visando proteger as abelhas. Um exemplo de iniciativa é o Cultivo de frutíferas em clima tropical 84 Dias & Mata (2021) lançamento do Manual de Boas Práticas – Citricultura e Apicultura em 2015, pelo Fundecitrus, Fundo de Defesa da Citricultura. Com informações importantes e linguagem simples, o manual busca orientar citricultores e apicultores com a metodologia de determinação da porcentagem de floração no pomar, visando direcionar as pulverizações sem prejudicar os inimigos naturais e os polinizadores, e incentivando o plantio de espécies arbóreas nativas em área de preservação permanente, recuperação de áreas e reserva legal, para tornarem-se opções estratégicas para as abelhas. Como resposta aos investimentos em políticas e boas práticas na produção, os fruticultores estão adotando a criação racional de abelhas próximo aos pomares, em especial a espécie A. mellifera. Além do serviço polinizador das abelhas, outros produtos oriundos da apicultura diversificam a renda da propriedade, em especial o mel (MALASPINA et al., 2015). Inicialmente praticado na América do Norte e Europa, o aluguel e deslocamento de colmeias para a polinização assistida já é realidade em todo o mundo, inclusive no Brasil. Para o produtor que não deseja desenvolver seu próprio apiário, o sistema consiste em deslocar colmeias saudáveis e ativas de A. mellifera para áreas propícias ao redor das lavouras e pomares no início da florada, garantindo que as abelhas realizem o forrageamento nessas áreas e contribuam efetivamente para o serviço ecossistêmico de polinização. O custo desse serviço pode variar de acordo com o grau de dependência da cultura agrícola, número de colmeias que deverão ser empregadas na área e disponibilidade do serviço na região. Nos Estados Unidos os preços podem variar de US$40 a US$200 dólares por mês ou por florada. Já no Brasil os preços praticados no mercado podem variar de R$80 a R$90 reais por colmeia, sendo que esse valor pode ser cobrado por hectare a cada 45 dias ou até mesmo por florada completa (VOLLET NETO et al., 2018). A prática de aluguel de colmeias no Brasil é adotada para atender a polinização de maçã e melão (VOLLET NETO et al., 2018), de laranjas (MALASPINA et al., 2015) e recentemente vem sendo utilizada por produtores do Espírito Santo para melhorar a produção no cafeeiro, principalmente na produção de Coffea canephora (VOLLET NETO et al., 2018; KLEIN et al., 2020). Ao adotar o serviço de polinização assistida, o agricultor e o apicultor envolvidos devem respeitar as técnicas de criação e manejo das abelhas, levando em consideração uma série de cuidados inerentes à apicultura, que garantam a produtividade do pomar juntamente com a integridade das abelhas e qualidade dos produtos da colmeia (mel, própolis, etc.). O principal deles é o de respeitar a distância mínima de segurança de residências, locais de circulação de pessoas e instalações zootécnicas. Além disso, deve-se assegurar que haja apenas uma colmeia por instalação (suporte), e que a mesma esteja seguramente distante da próxima colmeia. Esses cuidados podem evitar os ataques quando as abelhas se sentirem ameaçadas. A espécie A. mellifera, é considerada doméstica pela Portaria nº 93/1998 do IBAMA e existe em todos os continentes. Predomina no Brasil um híbrido fértil conhecida popularmente como abelha Africanizada, oriunda do cruzamento natural entre as subespécies Apis mellifera scutellata (Lepeletier, 1836), de origem africana, e as europeias como a Apis mellifera L., 1758, a Apis mellifera ligustica Spinola, Cultivo de frutíferas em clima tropical 85 Dias & Mata (2021) 1806 e a Apis mellifera carnica Pollman, 1879. Este híbrido manteve muitas das características da subespécie africana, como alta produtividade, alta capacidade de enxameação, maior resistência a doenças e patógenos (WHITFIELD et al., 2006). Devido a estes motivos, a escolha pela criação e manejo de abelhas africanizadas é amplamente difundida em todo território brasileiro, principalmente por sua alta produção de mel, principal produto da apicultura e que inclusive pode variar suas características e/ou qualidade em função da flora apícola (plantas visitadas pelas abelhas), visto que o mel produzido por distintas floradas apresentam diferentes características organolépticas (cor, sabor e aroma). Considerações finais A fruticultura brasileira é uma das atividades agrícolas mais importantes no país, que apresenta potencial de expansão da área plantada, capacidade de produção de frutas de qualidade e com possibilidade de aumento no número de exportações. A utilização de diversas tecnologias no campo e o avanço no conhecimento científico proporcionaram, ao longo dos anos, aumentos de produtividade e qualidade consideráveis na produção das espécies frutíferas cultivadas. O potencial produtivo da fruticultura observado no território nacional conta com um aliado especial: a polinização por abelhas. Devido aos serviços ecossistêmicos de polinização prestados por estes insetos, é possível incrementar a produção em termos quantitativos e qualitativos, tornando os pomares mais produtivos e lucrativos. A possibilidade de aliar a fruticultura com a apicultura é uma opção interessante para obtenção de maior rentabilidade, principalmente quando essas atividades são realizadas pela agricultura familiar. Neste sentido, torna-se imprescindível o conhecimento sobre a taxa de dependência de polinização pela espécie frutífera, as espécies de abelhas polinizadoras para a cultura e das práticas para preservar e proporcionar um ambiente propício para a preservação dessas espécies nos entornos da área agrícola. Apesar dos avanços nesta área no conhecimento, ainda existem muitas pesquisas que devem ser realizadas. Referências BRUCKNER, C. H.; SANTOS, C. E. M.; RÊGO, M. M.; LIRA JÚNIOR, J. S. Biologia floral e polinização. In: Maracujá. Informe Agropecuário, v.33, n.269, p.54-62, 2012. CARABALÍ-BANGUERO, D.; MONTOYA-LERMA, J.; CARABALÍ-MUÑOZ, A. Efecto de la exclusión de insectos visitantes florales en el cuajado de frutos de Persea americana (Lauraceae) cv. Hass. Acta Zoológica Mexicana, v.34, p.1-9, 2018. Cultivo de frutíferas em clima tropical 86 Dias & Mata (2021) CARVALHO, C.; KIST, B. B.; BELING, R. R. Anuário Brasileiro de Horti & Fruti 2020. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2019. 96p. CNA. Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil. Cenário Hortifruti Brasil 2018. Disponível em: https://abrafrutas.org/wp-content/uploads/2019/09/Relatorio-Hortifruti.pdf. Acesso em: 15 de abril de 2020. DELAPLANE, K. S.; MAYER, D. F. Crop Pollination by Bees. Wallingford, UK: CABI, 2000. 344 p. DUARTE, A.; LOPES, R.; FURTADO, J.; DUARTE, J. Alguns aspetos da floração e vingamento do abacateiro. Revista da Associação Portuguesa de Horticultura, n.129, 2018. FREITAS, B. M.; OLIVEIRA FILHO, J. H. Ninhos racionais para mamangava (Xylocopafrontalis) na polinização do maracujá-amarelo (Passiflora edulis). Ciência Rural, v.33, n.6, p.1135-1139, 2003. FREITAS B. M.; BOMFIM I. G. A. A necessidade de uma convivência harmônica da agricultura com os polinizadores. In: CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS. Importância dos polinizadores na produção de alimentos e na segurança alimentar global. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2017.124p. GALLAI, N.; VAISSIÈRE, B. E. Guidelines for the economic valuation of pollination services at a national scale. Food and Agriculture Organization-FAO. Rome, 2009. Disponível em: http://www.fao.org/3/a- at523e.pdf. Acesso em: 12 de maio de 2020. GAMITO, L. M.; MALERBO-SOUZA, D. T. Visitantes florais e produção de frutos em cultura de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck). Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.28, n.4, p.483-488, 2006. GIANNINI, T.; CORDEIRO, G.; FREITAS, B.; SARAIVA, A.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. The Dependence of Crops for Pollinators and the Economic Value of Pollination in Brazil. Journal of Economic Entomology, v.108, n.3, p.849-857, 2015. IMPERATRIZ-FONSECA, V. L.; NUNES-SILVA, P. As abelhas, os serviços ecossistêmicos e o Código Florestal Brasileiro. Biota Neotropica, v.10, n.4, p.59-62, 2010. KLEIN, A. M.; FREITAS, B. M.; BOMFIM, I. G. A.; BOREUX, V.; FORNOFF, F.; OLIVEIRA, M. O. A Polinização Agrícola por Insetos no Brasil: um Guia para Fazendeiros, Agricultores, Extensionistas, Políticos e Cultivo de frutíferas em clima tropical 87 Dias & Mata (2021) Conservacionistas. Albert-Ludwigs University Freiburg, Nature Conservation and Landscape Ecology, 2020. 162p. MALASPINA, O.; CINTRA-SOCOLOWSHI, P. C; MIRANDA, M. P.; VOLPE, H. X. L. Manual de boas práticas: citricultura - apicultura. 1. ed. Araraquara: Fundecitrus, 2015. 15p. Disponível em: https://www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manual_detalhes/manual-de-boas praticas- citricultura---apicultura/55. Acesso em: 12 de maio 2020. MALERBO-SOUZA, D. T.; NOGUEIRA-COUTO, R. H.; COUTO, L. A. Polinização em cultura de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck, var. Pera-Rio). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.40, n.4, p.237-242, 2003. MARQUES, M. F.; MENEZES, G. B.; DEPRÁ, M. S.; DELAQUA, G. C. G.; HAUTEQUESTT, A. P.; MORAES, M. C. M. Polinizadores na agricultura: ênfase em abelhas. Rio de Janeiro: Funbio, 2015. 36p. READ, S.; HOWLETT, B.; JESSON, L. K.; PATTEMORE, D. Insect visitors to avocado flowers in the Bay of Plenty, New Zealand. New Zealand Plant Protection, v.70, p.38-44, 2017. RIBEIRO, G. S.; ALVES, E. M.; CARVALHO, C. A. L. Biology of pollination of Citrus sinensis variety ‘Pera Rio’. Revista Brasileira de Fruticultura, v.39, n.2, 2017. ROUBIK, D. (Ed). The Pollination of Cultivated Plants. A Compendium for Practitioners. v.2. Roma: Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), 2018. 266p. SILVA, A. F.; RABELO, M. F. R.; SATURNINO, H. M. Passifloraceae: botânica e espécies de interesse econômico. In: Maracujá. Informe Agropecuário, v.33, p.7-23, 2012. SILVA, C. I.; MARCHI, P.; ALEIXO, K. P.; SILVA, B. N.; FREITAS, B. M.; GARÓFALO, C. A.; IMPERATRIZ- FONSECA, V. L.; OLIVEIRA, P. E. A. M.; SANTOS, I. A. Manejo dos polinizadores e polinização de flores do maracujazeiro. 1. ed. Fortaleza, CE: Fundação Brasil Cidadão, 2014. 59p. SIQUEIRA, D. L.; SALOMÃO, L. C. C. Citros: do plantio à colheita. Viçoca-MG: Ed. UFV, 2017. 278p. TAIZ, L.; ZEIGER, E.; MØLLER, I. M.; MURPHY, A. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 888p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 88 Dias & Mata (2021) VOLLET NETO, A.; BLOCHTEIN, B.; VIANA, B.; SANTOS, C. F.; MENEZES, C.; SILVA, P. N.; JAFFÉ, R.; AMOEDO, S. Desafios e recomendações para o manejo e o transporte de polinizadores. 1ª ed. São Paulo: A.B.E.L.H.A., 2018. 100p. WHITFIELD, C. W.; BEHURA, S.K.; BERLOCHER, S. H.; CLARK, A. G.; JOHNSTON, J. S.; SHEPPARD, W. S.; SMITH, D. R.; SUAREZ, A. V; WEAVER, D.; TSUTSUI, N. D. Thrice out of Africa: ancient and recent expansions of the honey bee, Apis mellifera. Science, v.314, n.5799, p.642‐645, 2006. WITTER, S.; NUNES-SILVA, P.; BLOCHTEIN, B.; LISBOA, B. B.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. As abelhas e a agricultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014. 143p. WOLOWSKI, M.; AGOSTINI, K.; RECH, A. R.; VARASSIN, I. G.; MAUÉS, M.; FREITAS, L.; SILVA, C. I. Relatório temático sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos no Brasil (BPBES). São Carlos, SP: Editora Cubo, 2019. Disponível em: https://www.bpbes.net.br/producto/polinizacao-producao-de- alimentos/. Acesso em: 27 de abril de 2020. Cultivo de frutíferas em clima tropical 89 Dias & Mata (2021) Capítulo VII AVANÇOS E TÉCNICAS DE MELHORAMENTO DE FRUTÍFERAS TROPICAIS PARA RESISTÊNCIA DE DOENÇAS Dênia Pires de Almeida Elisângela Aparecida da Silva Introdução A busca por materiais resistentes a doenças é um dos principais objetivos dos programas de melhoramento vegetal, pois, devido às elevadas perdas agrícolas por ataques de patógenos, altos custos para o produtor e também pela possibilidade de contaminação do ambiente e do aplicador no uso de produtos fitossanitários, torna-se imprescindível à seleção de genótipos resistentes para o avanço da agricultura, incluindo as espécies frutíferas. Desenvolvimento Devido ao grande número de espécies de frutíferas tropicais e a existência de excelentes livros que descrevem o melhoramento das mesmas (JAIN & PRIYADARSHAN, 2009; BRUCKNER e SANTOS, 2018), seria redundante repetir essa informação. Portanto, neste capítulo, abordaremos os avanços e perspectivas nas técnicas aplicadas ao melhoramento para resistência às principais doenças de frutíferas tropicais como o abacaxi e os citros (Figura 1). Cultivo de frutíferas em clima tropical 90 Dias & Mata (2021) Figura 1. Representação ilustrativa de aplicação de técnicas ao melhoramento para resistência às principais doenças de frutíferas tropicais como o abacaxi e os citros. O abacaxizeiro (Ananas comosus (L.) Merr. var. comosus) é uma espécie frutífera tropical, tradicionalmente cultivada em regiões mais quentes e tem o Brasil como um dos seus principais centros de diversidade genética (FERREIRA et al., 2011). De acordo com dados do último Anuário Horti e Fruti, o abacaxi é uma das principais frutas em produção e valor na fruticultura do Brasil, que ocupa o terceiro lugar em nível mundial nesta cultura, representando 9,5% do total produzido no mundo (CARVALHO et al., 2020). Os frutos dos citros, devido às suas características sensoriais e ampla capacidade de adaptação das plantas às diferentes condições climáticas, são os mais produzidos e economicamente importantes no mundo. Por produzirem frutos com características diferentes entre espécies, que são bastante heterogêneas, as plantas cítricas são separadas por uma classificação agronômica em oito grupos, sendo: laranjeiras-doces, laranjas azedas, tangerinas, limas, limões, pomelos, toranjas e cidras (SIQUEIRA & SALOMÃO, 2017). Ocupando lugar de destaque, as laranjas são as frutas mais produzidas no Brasil, que é considerado o maior exportador mundial de suco de laranja. No Cinturão Citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro o processamento total da laranja na safra 2018/19 é estimado em 236,7 milhões de caixas de laranjas de 40,8 quilos (CARVALHO et al., 2020). Dentre as doenças que afetam o cultivo do abacaxizeiro, a fusariose, causada pelo fungo Fusarium subglutinans f. sp. ananas (Syn.: Fusarium guttiforme) tem sido considerada a doença mais grave (AQUIJE et al., 2011; FERREIRA et al., 2011). A doença atinge quase todas as partes da planta, danificando particularmente os frutos e vértices-tronco, apresentandocomo sintoma característico a exsudação de goma. Outra doença de grande importância mundial é a podridão radicular causada por Phytophthora cinnamomi. Cultivo de frutíferas em clima tropical 91 Dias & Mata (2021) Nos citros algumas doenças são transmitidas por insetos vetores. Uma delas é a clorose variegada dos citros (CVC) causada pela bactéria Xylella fastidiosa, que é limitada ao xilema e transmitida por meio de borbulhas e por insetos vetores das Famílias Cercopidae ou Cicadellidae que se alimentam nos vasos do xilema das plantas. Outra doença muito mais difundida e grave na citricultura, é o cancro cítrico causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri. Além dessas doenças, outras também são importantes, tais como a leprose causada pelo vírus Citrus leprosis virus (CiLV) e transmitida pelo ácaro Brevipalpus phoenicis; a pinta preta ou mancha preta causada pelo fungo Phyllosticta citricarpa; a morte súbita, que é uma doença com causa não confirmada; a tristeza dos citros causada pelo Citrus tristeza virus (CTV); o greening, huanglongbing ou ainda HLB, doença causada pela bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus e a gomose ou podridão-do-colo causada pelo fungo Phytophthora nicotianae var. parasitica (MACHADO et al., 2011), que afeta não somente os citros mas também o abacaxi, sendo que esse fungo é responsável por diversas perdas de importância econômica, tendo como principal sintoma a formação de cancros na região do colo da planta, os quais promovem a exsudação de goma. Algumas frutíferas tropicais têm um período juvenil longo, como as culturas do abacaxi e citros, o que faz com que o tempo de lançamento de uma cultivar resistente a doenças seja demorado e oneroso. No entanto, com os avanços das técnicas moleculares, o sequenciamento de genomas e análises de bioinformática, esse tempo pode ser reduzido. Uma escolha muito importante para iniciar o programa de melhoramento visando resistência a doenças, é a busca por genitores que possuam genes de resistência a determinada doença. Essa resistência das plantas no geral é baseada na teoria gene-a-gene (FLOR, 1971), e para o abacaxi e os citros, possivelmente não é diferente. Essa teoria se baseia em que para cada gene que condiciona resistência no hospedeiro (R) existe um gene complementar no patógeno que condiciona virulência (Avr). Quando o gene R no hospedeiro da planta e o gene Avr no patógeno estão presentes, a interação planta-patógeno é incompatível e o hospedeiro exibe total resistência ao patógeno (Figura 2). Cultivo de frutíferas em clima tropical 92 Dias & Mata (2021) Figura 2. Representação ilustrativa de como possivelmente funciona a teoria-de-Flor em patossitemas abacaxi-fusariose e citros-cancro cítrico. O mecanismo de evolução da defesa desenvolvido pelas plantas se baseia em um sistema Zig- Zag proposto por Jones e Dangl (2006), onde há coevolução entre patógeno e o hospedeiro. Na primeira fase, as plantas detectam padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs), que nada mais são que estruturas dos patógenos, no caso de fungos pode ser a quitina, em bactérias a flagelina e nos vírus o RNA de fita dupla viral (dsRNA), por meio de receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) para induzir imunidade desencadeada por padrões (PTI). Na segunda fase, patógenos virais e não virais bem- sucedidos entregam efetores/supressores que interferem no PTI e no silenciamento, resultando em suscetibilidade desencadeada por efetor (ETS). Na terceira fase, um efetor ou supressor é reconhecido direta ou indiretamente por uma proteína NB-LRR, ativando a imunidade desencadeada por efetor (ETI), uma versão amplificada do PTI que frequentemente passa um limiar para indução de resposta hipersensível (HR) e morte celular programada. Na quarta fase, são selecionados isolados de patógenos que perderam ou modificaram o efetor/supressor especificamente reconhecido e talvez tenham ganhado um novo efetor que pode ajudar o patógeno a suprimir a ETI. Um novo alelo NB-LRR da planta é então desenvolvido e selecionado que pode reconhecer o efetor recém-adquirido, resultando novamente na ETI (Figura 3). Cultivo de frutíferas em clima tropical 93 Dias & Mata (2021) Figura 3. Figura ilustrativa de possível sistema em Zig-Zag em patossitemas abacaxi-fusariose e citros- cancro cítrico. Para desenvolver novas estratégias de controle para prevenção de doenças em citros e abacaxi dentre outras frutíferas tropicais, é essencial expandir e consolidar o conhecimento da interação molecular das plantas com seus patógenos. Os genes de resistência a doenças têm contribuído para a sobrevivência e prosperidade das plantas. A maior classe de genes de resistência a doenças (R) nas plantas consiste de genes que codificam domínios do sítio de ligação a nucleotídeos (NBS-NB-LRR). Com o desenvolvimento da tecnologia de sequenciamento, todas as sequências genômicas de numerosas plantas tornaram-se disponíveis ao público, incluindo o abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.) (MING et al., 2015) e do genoma de espécies e gêneros próximos de citros (XU et al., 2013; WU et al., 2014), que estão disponíveis nos bancos de dados: Phytozome V12.1 e National Center for Biotechnology Information (NCBI). A partir desses bancos de dados, podem ser realizadas buscas de genes que codificam o domínio NBS destas espécies. No abacaxi um total de 177 genes codificadores de NBS foram identificados usando critérios de análise automatizados e manuais, e esses representam cerca de 0,6% do número total de genes previstos de abacaxi (ZHANG et al., 2016). Já em citros os autores Wang et al. (2015), fizeram uma análise comparativa em todo o genoma de Citrus sinensis e Citrus clementine e identificaram 618 genes NBS em C. clementina, 650 e 508 genes NBS em C. sinensis na China e nos Estados Unidos, respectivamente. A identificação e caracterização dos genes NBS em abacaxi e citros produziu um valioso recurso genômico e melhor compreensão dos genes R nessas espécies, o que facilitará o desenvolvimento de cultivares resistentes a doenças. A partir da identificação de genes R nos genomas é possível identificar marcadores moleculares funcionais, que poderão ser utilizados na caracterização de acessos nos bancos de germoplasma para a busca por novos genes de resistência. Programas tradicionais de melhoramento de abacaxi e citros usando hibridação e seleção recorrente sempre encontraram dificuldades genéticas devido à heterozigosidade, Cultivo de frutíferas em clima tropical 94 Dias & Mata (2021) autoincompatibilidade, necessidade de melhorar um grande número de características simultaneamente e barreiras botânicas em citros como a apomixia nucelar adventícia. O melhoramento do abacaxizeiro no mundo tem se concentrado em 10 cultivares, sendo mais utilizada a ‘Smooth Cayenne’. Como resultado dos trabalhos de melhoramento genético do abacaxizeiro no Brasil, quatro variedades resistentes à fusariose já foram recomendadas entre 2003 e 2010, para plantio nas regiões onde essa doença constitui o principal fator limitante à exploração comercial da cultura. Três dessas variedades, BRS Imperial (2003), BRS Vitória (2006) e BRS Ajubá (2009), foram geradas e lançadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, enquanto a IAC Fantástico (2010) foi gerada e lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e se encontram registradas no site de Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Já o grupo que engloba as plantas cítricas, tem grande diversidade de gênero, espécie, variedades e clones, no entanto, um número relativamente pequeno é usado em cultivos comerciais (OLIVEIRA et al., 2014). O cultivo de praticamente uma única cultivar favorece a erosão genética, logo se torna muito importante a busca por variabilidade e o uso de ferramentas biotecnológicas nosprogramas de melhoramento. O melhorista faz essa busca de variabilidade em bancos de germoplasma, que são de grande importância para evitar a erosão genética das culturas agrícolas. No passado esses bancos eram compostos somente por meio de características morfológicas, mas a partir de avanços em técnicas moleculares, como o uso de marcadores e sequenciamento, é possível caracterizá-los quanto à presença de genes, nível de diversidade, qual progenitor é mais bem recomendado para a realização de cruzamentos, entre outros. O germoplasma de abacaxi é mantido em várias coleções ao redor do mundo. As mais importantes são as coleções mantidas no Brasil, na área experimental da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas-BA, com preservação ex situ, em condições de campo. Existem outras coleções, tais como a mantida em Martinica (França) e no Havaí (Estados Unidos), parcialmente caracterizadas com descritores morfológicos. Em relação ao germoplasma de citros no Brasil, ele é mantido no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do IAC, em Cordeirópolis-SP e na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas-BA. Outros locais mantêm coleções e bancos de germoplasma espalhados pelo mundo, como por exemplo, no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, Riverside, Califórnia, EUA); no Repositório Nacional de Germoplasma de Citros (sigla em inglês-NCGR) em Beibei, na China; coleção de variedades de citros da Universidade da Califórnia em Riverside; banco de germoplasma do Instituto Valenciano de Investigações Agrarias (IVIA) em Moncada, Valência na Espanha; Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (CIRAD-INRA), San Giuliano, Córsega, França; dentre outros. A maioria desses bancos de germoplasma vem sendo mantida no campo. No entanto, em função de certas doenças, como huanglongbing e de seus vetores, parte desses germoplasmas está sendo transferida para ambientes protegidos. Acessos selecionados dessas coleções são responsáveis pelo Cultivo de frutíferas em clima tropical 95 Dias & Mata (2021) atual perfil de variedade, mas as coleções devem ser melhor exploradas especialmente para porta- enxertos e novos híbridos. Apesar da existência dos materiais em bancos de germoplasma, poucos estudos têm sido realizados para caracterização de genes de resistência presentes nestes acessos, tanto de abacaxizeiro quanto na citricultura. Para o avanço no melhoramento, torna-se cada vez mais importante essa caracterização, para que se possa identificar maior número de genes de resistência e realizar os cruzamentos entre parentais promissores, visto que, os patógenos de sucesso frequentemente evoluem mudando a conformação das proteínas produzidas pelo gene Avr e não mais são reconhecidos pelos produtos dos genes R do hospedeiro, levando a “quebra de resistência” (BERA et al., 2017). A resistência a doenças conferida por um único gene R geralmente não tem durabilidade, e para que a resistência seja duradoura e o abacaxizeiro ou os citros sejam cultivados por longo período de tempo nas propriedades rurais, é necessário se conhecer quais são esses genes R que caracterizam a resistência e realizar piramidação gênica de múltiplos genes R nesses cultivares (PATROTI et al., 2019). Melhoristas podem então usar seleção assistida por marcadores moleculares, sejam eles funcionais ou associados a um loco de resistência para identificar e piramidar gene R desejado ou até mesmo a introdução do agrupamento de genes R em bloco em um único loco genético através da engenharia genética. Além dos marcadores funcionais advindos de sequências gênicas conservadas, as técnicas de sequenciamento permitiram também o desenvolvimento de marcadores moleculares, como sequências simples repetidas (SSR) e polimorfismo de nucleotídeo único (SNP), ferramentas valiosas com grande potencial no programa de melhoramento genético, pois permitem a identificação de um ou poucos genes-alvo cruciais para melhoria genética ou modificação genética. Os marcadores podem ser utilizados no mapeamento genético de genes e/ou locos de características quantitativas (QTLs) ligados à resistência. Mapa genético é uma técnica utilizada para entender a herança da resistência ou suscetibilidade a doenças e pragas, e/ou ainda; tolerância a estresses abióticos como temperatura, nutrição, água, dentre outros e para localizar genes importantes no genoma. O mapeamento genético de características agronômicas é de fundamental importância em programas de melhoramento, e sua utilidade tem sido amplamente demonstrada na seleção assistida por marcadores (SAM) e na identificação e clonagem de genes candidatos. A SAM é uma técnica muito utilizada nos programas de melhoramento, pois se baseiam no rastreio de genótipos com resistência a determinada doença através de marcadores associados a genes e/ou QTLs. Devido ao avanço nas técnicas de sequenciamento, surgiram outras técnicas importantes para realização de seleção de genótipos promissores nos programas de melhoramento, como a técnica de seleção genômica ampla (sigla em inglês-GWAS), que através do uso de marcadores SNPs permite detectar e identificar regiões importantes (QTLs) e genes que controlam e explicam determinados fenótipos em cultivares e em acessos de germoplasma em todo genoma da espécie. Essas informações Cultivo de frutíferas em clima tropical 96 Dias & Mata (2021) contribuem significativamente para a obtenção de cultivares mais produtivas, tolerantes ou resistentes a determinada doença ou praga. Assim, o GWAS também pode ser incorporado na seleção assistida por marcadores e auxiliar programas de melhoramento. Em abacaxi tem sido empregado os métodos de análise GWAS e QTL para identificar marcadores SNP e DArTseq associados a resistência a doenças. Os marcadores tipo Diversity arrays technology (DArT) são baseados em hibridização de micro arranjos para genotipagem de centenas de locos em um único ensaio (JACCOUD et al., 2001). Já os marcadores do tipo DArTseq é a integração das tecnologias de sequenciamento e método original de DArT, e tem se demonstrado bastante eficiente e atualmente vem sendo utilizado em programas de melhoramento genético. Sanewski et al. (2017) identificaram com sucesso genes locais associados à resistência ou suscetibilidade a Phytophthora cinnamomi no abacaxizeiro usando a abordagem DArTseq. Este trabalho é o primeiro que relata o uso metodologias DArTseq e GWAS para abacaxi. Em citros, a partir de dados de mapeamento genético, Cuenca et al. (2016) desenvolveram um marcador SNP (denominado SNP08), utilizado atualmente para a seleção assistida de genótipos resistentes ao fungo causador de mancha-marron-de-alternária nos programas de melhoramento de citros na Espanha (IVIA) e França (CIRAD-INRA). Outro trabalho desenvolvido é o de Dwivedi et al. (2016), que relatam pela primeira vez os SNPs nos conjuntos de dados expressed sequence tag (EST) de Citrus sinensis (laranja doce) infectados por Xylella fastidiosa e suas anotações apontam o envolvimento de oito genes candidatos a Citrus sinensis na patogênese da clorose variegada dos citros. Alguns trabalhos com abacaxi e citros também têm sido desenvolvidos por técnicas de engenharia genética e edição gênica para resistências a algumas doenças. A engenharia genética permite o direcionamento de genes exógenos específicos de plantas da mesma espécie ou espécie diferentes ou até mesmo de microrganismos para planta de interesse, a fim de melhorar alguma característica de importância científica, econômica ou ambiental, enquanto que, a edição gênica se baseia no silenciamento ou superexpressão de determinado gene, não sendo preciso inserção de genes de outros organismos. São exemplos de edição de genoma as técnicas de uso de nucleases “dedos de zinco” – ZFN (Zinc-finger nucleases), TALENs (transcription activator-like effectornucleases), mutagênese dirigida por oligonucleotídeos e sistema CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeat) em programas de melhoramento. Em algumas áreas do mundo, como nos Estados Unidos (Departamento de Agricultura-USDA), na Argentina (Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentação, Argentina) (WALTZ, 2018; WHELAN & LEMA, 2019) e no Brasil (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança CTNBio), plantas editadas pelo genoma que não contêm DNA exógeno são consideradas equivalentes às plantas produzidas por melhoramento convencional, isenta de medidas regulatórias adicionais aplicadas a plantas transgênicas. No entanto, tanto as técnicas de transgênicos convencionais e edição de genoma continuam sendo ferramentas poderosas para o aprimoramento das culturas. Cultivo de frutíferas em clima tropical 97 Dias & Mata (2021) Contudo não existe nenhuma variedade transgênica de abacaxi e citros registrada no CTNBio. Mas existem trabalhos em aprovação pela CTNBio na busca por cultivares de citros com resistência a patógenos. A instituição Alellyx Applied Genomics, solicita a liberação planejada no meio ambiente de citros geneticamente modificado para resistência ao vírus da leprose dos citros (CiLV) e de resistência a CVC. Outro pedido de aprovação é do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) que solicitam avaliar a repelência das plantas cítricas geneticamente modificadas a partir da emissão de repelentes voláteis ao vetor do HBL, o psilídeo Diaphorina citri. Em citros há relatos de trabalhos voltados para a criação de plantas transgênicas para resistência a algumas doenças como ao vírus da tristeza dos citros (Citrus tristeza virus - CTV) ou a clorose variegada dos citros (CVC) (CERVERA et al., 2010; MUNIZ et al., 2012; CASERTA et al., 2017). Hao et al. (2016) super expressaram e clonaram uma proteína vegetal modificada para transformação em citros mediada por Agrobacterium. A expressão foi confirmada por análise molecular. Plantas transgênicas de citros foram inoculadas com Xanthomonas citri e Candidatus Liberibacter asiaticus em várias concentrações, e foi observada uma redução significativa nos sintomas de cancro cítrico e greening nessas plantas transgênicas quando comparadas com plantas não transgênicas (HAO et al., 2016). No entanto, há carência de informação à população e certa relutância da mesma em aceitar os transgênicos, especialmente suco de laranja e de abacaxi, associando o uso de transgênicos como prejudicial à saúde. Uma alternativa seria o uso da técnica de CRISPR/Cas9, que ultimamente tem sido uma grande preocupação na comunidade científica para melhorar a resistência das culturas aos estresses bióticos. Entretanto, para a cultura do abacaxi não há trabalhos relatando o uso dessa técnica visando resistência às doenças. Mas com relação à citricultura, há alguns estudos utilizando o CRISPR/Cas9 como ferramenta para a edição do genoma visando resistência às doenças cítricas (JIA et al., 2016, 2017; PENG et al., 2017; LEBLANC et al., 2018; WANG et al., 2019). Como exemplo, tem se estudado muito o gene LOB1 de suscetibilidade para Xanthomonas citri que é regulado por um gene efetor PthA4 de X. citri (HU et al., 2014; ABE & BENEDETTI, 2016). Embora o CRISPR/Cas9 seja uma tecnologia promissora para desenvolvimento de resistência a doenças, existem vários desafios a serem superados para sua utilização nas culturas do abacaxi e citros. Considerações finais Na fruticultura, a produção de abacaxi e citros é uma atividade comercial de grande importância no Brasil e mundialmente. Para permanecer no mercado tanto nacional quanto internacional, os fruticultores têm o grande desafio de controlar pragas e doenças, o que altera os custos de produção, além das possibilidades de contaminação do aplicador e do ambiente com produtos fitossanitários e o surgimento de pragas e patógenos resistentes. Nesse cenário, a tecnologia é de fundamental importância para o desenvolvimento de variedades de abacaxi e de citros resistentes. Cultivo de frutíferas em clima tropical 98 Dias & Mata (2021) O desenvolvimento de novas variedades resistentes a doenças depende principalmente de encontrar novos genes-alvo para edição. Para isso, o conhecimento de mecanismos de interação planta- patógeno, melhor entendimento de acessos de bancos de germoplasma, associação entre técnicas de genômica, bioinformática sempre relacionando com o fenótipo é fundamental para encontrar esses genes-alvo. Logo a execução de técnicas convencionais e moleculares em conjunto são de grande importância para se obter variedades resistentes, em menor tempo e com maior eficiência. A geração de plantas modificadas usando edição transgênica e técnicas genômicas, visando reduzir a suscetibilidade nas áreas de produção de abacaxi e citros, é uma alternativa que pode possibilitar um cultivo sustentável com menor impacto ambiental. O avanço tecnológico abre um universo de possibilidades no melhoramento genético do abacaxizeiro e dos citros, permitindo a superação das barreiras genéticas e biológicas existentes. Dessa forma, ainda há muito em que se avançar nos programas de melhoramento dessas frutíferas. Referências ABE, V. Y.; BENEDETTI, C. E. Additive roles of PthAs in bacterial growth and pathogenicity associated with nucleotide polymorphisms in effector-binding elements of citrus canker susceptibility genes. Molecular Plant Pathology, v.17, n.8, p.1223-1236, 2016. AQUIJE, G. M. D. V.; KORRESA, A. M. N.; BUSS, D. S.; VENTURA, J. A.; FERNANDES, P. M. B.; FERNANDES, A. A. R. Effects of leaf scales of different pineapple cultivars on the epiphytic stage of Fusarium guttiforme. Crop Protetion, v.30, p.375–378, 2011. BERA, S.; MORENO-PÉREZ, M. G.; GARCÍA-FIGUERA, S.; PAGÁN, I.; FRAILE, A.; PACIOS, L. F.; GARCÍA- ARENAL, F. Pleiotropic effects of resistance-breaking mutations on particle stability provide insight into life history evolution of a plant RNA virus. Journal of Virology, v.91, n.18, p.e00435-17, 2017. BRUCKNER, C. H.; SANTOS, C. E. M. Melhoramento de fruteiras tropicais. 2. ed. Viçosa-MG. Editora UFV, 2018. 318p. CARVALHO, C.; KIST, B. B.; BELING, R. R. Anuário Brasileiro de Horti & Fruti 2020. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2019. 96p. CASERTA, R.; SOUZA-NETO, R. R.; TAKITA, M. A.; LINDOW, S. E.; SOUZA, A. A. Ectopic expression of Xylella fastidiosa rpfF conferring production of diffusible signal factor in transgenic tobacco and citrus alters Cultivo de frutíferas em clima tropical 99 Dias & Mata (2021) pathogen behavior and reduces disease severity. Molecular Plant-Microbe Interactions, v.30, n.11, p.866-875, 2017. CERVERA, M.; ESTEBAN, O.; GIL, M.; GORRIS, M. T.; MARTÍNEZ, M. C.; PENA, L. CAMBRA, M. Transgenic expression in citrus of single-chain antibody fragments specific to Citrus tristeza virus confers virus resistance. Transgenic Research, v.19, n.6, p.1001-1015, 2010. CUENCA, J.; ALEZA, P.; GARCIA-LOR, A.; OLLITRAULT, P.; NAVARRO, L. Fine mapping for identification of citrus alternaria brown spot candidate resistance genes and development of new SNP markers for marker-assisted selection. Frontiers in Plant Science, v.7, p.1948, 2016. DANGL, J. L.; MCDOWELL, J. M. Two modes of pathogen recognition by plants. Proceedings of the National Academy of Sciences, v.103, n.23, p.8575-8576, 2006. DWIVEDI, U. N.; TIWARI, S.; PRASANNA, P.; AWASTHI, M.; SINGH, S.; PANDEY, V. P. Citrus functional genomics and molecular modeling in relation to Citrus sinensis (Sweet Orange) infection with Xylella fastidiosa (Citrus Variegated Chlorosis). OMICS: a Journal of Integrative Biology, v.20, n.8, p.485-490, 2016. FERREIRA, E. A.; SILVA, J. R.; ALMEIDA, G. V. B.; SANTOS, W. V. Abacaxi. In: Cultivo tropical de fruteiras. Informe Agropecuário, v.32, n.264, p.7-16, 2011. FLOR,H. H. Current status of the gene-for-gene concept. Annual Review of Phytopathology, v.9, n.1, p.275-296, 1971. HAO, G.; STOVER, E.; GUPTA, G. Overexpression of a modified plant thionin enhances disease resistance to citrus canker and huanglongbing (HLB). Frontiers in Plant Science, v.7, p.1078, 2016. HU, Y.; ZHANG, J.; JIA, H.; SOSSO, D.; LI, T.; FROMMER, W. B.; BING, Y.; FRANK, F. W.; NIAN, W.; JEFFREY, B. J. Lateral organ boundaries 1 is a disease susceptibility gene for citrus bacterial canker disease. Proceedings of the National Academy of Sciences, v.111, n.4, p.521-529, 2014. JACCOUD, D. K.; PENG, K.; FEINSTEIN, D.; KILIAN, A. Diversity arrays: a solid state technology for sequence information independent genotyping. Nucleic Acids Research, v.29, n.4, p.25, 2001. JAIN, S. M.; PRIYADARSHAN, P. M. Breeding plantation tree crops: tropical species. v.84. New York: Springer, 2009. 627p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 100 Dias & Mata (2021) JIA, H.; ORBOVIC, V.; JONES, J. B.; WANG, N. Modification of the PthA4 effector binding elements in type I CsLOB1 promoter using Cas9/sg RNA to produce transgenic Duncan grapefruit alleviating XccDpthA4:dCsLOB1.3 infection. Plant Biotechnology Journal, v.14, n.5, p.1291-1301, 2016. LEBLANC, C.; ZHANG, F.; MENDEZ, J.; LOZANO, Y.; CHATPAR, K.; IRISH, V. F.; JACOB, Y. Increased efficiency of targeted mutagenesis by CRISPR/Cas9 in plants using heat stress. The Plant Journal: For Cell and Molecular Biology, v.93, n.2, p.377-386, 2018. MACHADO, M. A.; CRISTOFANI-YALY, M.; BASTIANEL, M. Breeding, genetic and genomic of citrus for disease resistance. Revista Brasileira de Fruticultura, v.33, p.158-172, 2011. MING, R.; VANBUREN, R.; WAI, C. M.; TANG, H.; SCHATZ, M. C.; BOWERS, J. E.; WANG, M.; CHEN, J.; BIGGERS, E.; ZHANG, J.; HUANG, L.; ZHANG, L.; MIAO, W.; ZHANG, J.; YE, Z.; MIAO, C.; LIN, Z.; WANG, H.; ZHOU, H.; YIM, W. C.; PRIEST, H.D.; ZHENG, C.; MARGARET, W.; EDGER, P. P.; GUYOT, R.; GUO, H.; GUO, H.; ZHENG, G.; SINGH, R.; SHARMA, A.; MIN, X.; ZHENG, Y.; LEE, H.; GURTOWSKI, J.; SEDLAZECK, F. J.; HARKESS A.; MCKAIN, M. R.; LIAO, Z.; FANG, J.; LIU, J.; ZHANG, X.; ZHANG, Q.; HU, W.; QIN, Y.; WANG, K.; CHEN, L.; SHIRLEY, N.; LIN, Y.; LIU, L.; HRNANDEZ, A. G.; WRIGHT, C .L.; BULONE, V.; TUSKAN, G. A.; HEATH, K.; ZEE, F.; MOORE, P. H.; SUNKAR, R.; LEEBENS-MACK, J. H.; MOCKLER, T.; BENNETZEN, J. L.; FREELING, M.; SANKOFF, D.; PATERSON, A. H.; ZHU, X.; YANG, X.; SMITH, J. A. C.; CUSHMAN, J. C.; PAULL, R. E.; YU, Q. The pineapple genome and the evolution of CAM photosynthesis. Nature Genetics, v.47, n.12, p.1435-1442, 2015. MUNIZ, F. R.; DE SOUZA, A. J.; STIPP, L. C. L.; SCHINOR, E.; FREITAS, W.; HARAKAVA, R.; STACH- MACHADO, D. R.; REZENDE, J. A. M.; MOURÃO, F. A. A. F.; MENDES, B. M. J. Genetic transformation of Citrus sinensis with Citrus tristeza virus (CTV) derived sequences and reaction of transgenic lines to CTV infection. Biologia Plantarum, v.56, n.1, p.162-166, 2012. OLIVEIRA, R. P.; FILHO, W. S. S.; MACHADO, M. A.; FERREIRA, E. A.; SCIVITTAR, W. B.; GESTEIRA, A. S. Melhoramento genético de plantas cítricas. Informe Agropecuário, v.35, n.281, p.22-29, 2014. PATROTI, P.; VISHALAKSHI, B.; UMAKANTH, B.; SURESH, J.; SENGUTTUVEL, P.; MADHAV, M. S. Marker- assisted pyramiding of major blast resistance genes in Swarna-Sub1, an elite rice variety (Oryza sativa L.). Euphytica, v.215, n.11, p.179, 2019. Cultivo de frutíferas em clima tropical 101 Dias & Mata (2021) PENG, A.; CHEN, S.; LEI, T.; XU, L.; HE, Y.; WU, L.; YAO.L.; ZOU, X. Engineering canker-resistant plants through CRISPR/Cas9-targeted editing of the susceptibility gene CsLOB1 promoter in citrus. Plant Biotechnology Journal, v.15, n.12, p.1509-1519, 2017. SANEWSKI, G.; KO, L.; INNES, D.; KILIAN, A.; CARLING, J.; SONG, J. DArTseq molecular markers for resistance to Phytophthora cinnamomi in pineapple (Ananas comosus L.). Australasian Plant Pathology, v.46, n.5, p.499-509, 2017. SANSALONI, C. C.; PETROLI, C.; JACCOUD, D.; CARLING, J.; DETERINF, F.; GRATTAPAGLIA, D.; KILLIAN, A. Diversity Arrays Techonology (DArT) and next-generation sequencing combined: genome-wide, high throughput, highly informative genotyping for molecular breeding of Eucalyptus. BMC Proceedings, v.5, p.54, 2011. SIQUEIRA, D. L.; SALOMÃO, L. C. C. Citros: do plantio à colheita. Viçoca-MG: Ed. UFV, 2017. 278p. WALTZ, E. With a free pass, CRISPR-edited plants reach market in record time. Nature Biotechnology, v.36, p.6-7, 2018. WANG, Y.; ZHOU, L.; LI, D.; DAI, L.; LAWTON-RAUH, A.; SRIMANI, P. K.; DUAN, Y.; LUO, F. Genome-wide comparative analysis reveals similar types of NBS genes in hybrid Citrus sinensis genome and original Citrus clementine genome and provides new insights into non-TIR NBS genes. PLoS One, v.10, n.3, 2015. WHELAN, A. I.; LEMA, M. A. Regulation of Genome Editing in Plant Biotechnology: Argentina. In: DEDERER H. G.; HAMBURGER, D. (eds). Regulation of Genome Editing in Plant Biotechnology. Cham, Suiça: Springer, p.19-62, 2019. WU, G. A.; PROCHNIK, S.; JENKINS, J.; SALSE, J.; HELLSTEN, U.; MURAT, P. X.; RUIZ, M.; SCALABRIN, S.; TEROL, J.; TAKITA, M. A.; LABADIE, K.; POULAIN, J.; COULOUX, A.; JABBARI, K.; CATTONARO, F.; FABBRO, C. D.; PINOSIO, S.; ZUCCOLO, A.; CHAPMAN, J.; GRIMWOOD, J.; TADEO, F. R.; ESTORNELL, L. .H.; MUÑOZ- SANZ, J. V.; IBANEZ, V.; ORTEGA-HERRERO, A.; ALEZA, P.; PÉREZ-PÉREZ, J.; RAMÓN, D.; BRUNEL, D.; LURO, F.; CHEN, C.; FARMERIE, W. G.; DESANY, B.; KODIRA, C.; MOHIUDDIN, M.; HARKINS, T.; FREDRIKSON, K.; BURNS, P.; LOMSADZE, A.; BORODOVSKY, M.; REFORGIATO, G.; FREITAS-ASTÚA, J.; QUETIER, F.; NAVARRO, L.; ROOSE, M.; WINCKER, P.; SCHMUTZ, J.; MORGANTE, M.; MACHADO, M. A.; TALON, M.; JAILLON, O.; OLLITRAUULT, P.; GMITTER, F ROKHSAR, D. Sequencing of diverse mandarin, pummelo and orange genomes reveals complex history of admixture during citrus domestication. Nature Biotechnology, v.32, n.7, p.656-662, 2014. Cultivo de frutíferas em clima tropical 102 Dias & Mata (2021) XU, Q.; CHEN, L.; RUAN, X.; CHEN, D.; ZHU, A.; CHEN, C.; BERTRAND, D.; JIAO, W.; HAO, B.; LYON, M. P.; CHEN, J.; GAO, C. S.; XING, F.; LAN, H.; CHANG, J.; GE, X.; LEI, Y.; HU, Q.; MIAO, Y.; WANG,L.; XIAO, S.; BISWAS, M. K.; ZENG, W.; GUO, F.; CAO, H.; YANG, X.; XU, X.; CHENG, Y.; XU, J.; LIU, J.; LUO, O. J.; TANG, Z.; GUO, W.; KUANG, H.; ZHANG, H.; ROOSE, M. L.; NAGARAJAN, N.; DENG, X RUAN, Y. The draft genome of sweet orange (Citrus sinensis). Nature Genetics, v.45, n.1, p.59-66, 2013. ZHANG, X.; LIANG, P.; MING, R. Genome-wide identification and characterization of nucleotide-binding site (NBS) resistance genes in pineapple. Tropical Plant Biology, v.9, n.3, p.187-199, 2016. Cultivo de frutíferas em clima tropical 103 Dias & Mata (2021) Capítulo VIII RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS COM FRUTÍFERAS NATIVAS Joel Soares Vieira Ubiramar Ribeiro Cavalcante João Paulo Tadeu Dias Introdução Segundo NBR 10703 da ABNT (1989), a degradação do solo é apontada como sendo a alteração adversa das características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto os estabelecidos em planejamento, como os potenciais. De acordo com Tavares (2008), para a identificação de áreas degradadas é necessária a observação das condições do solo, da vegetação, da drenagem e de infiltração do solo, o efeito de borda, a fauna existente, as características do entorno. A partir disso, é possível buscar formas de recuperação mais adequada para a área, levando em conta o grau de degradação e características regionais. É importante ressaltar que além da perda da capacidade de produção de alimentos, madeira e outros produtos e da perda e/ou redução drástica da biodiversidade, contaminação decursos d’água, e outros impactos ambientais, as áreas degradadas podem gerar também impactos visuais negativos que podem causar desconforto as pessoas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) estima-se que a área com pastagens plantadas degradadas seja de 9,9 milhões de hectares e terras degradadas (erodidas, desertificadas, salinizadas, etc.) com 0,8 milhões de hectares. No entanto, a área degradada pode chegar a pelo menos 30 milhões de hectares no Brasil, devido as atividades e ou ações que degradam o meio ambiente, como supressão de vegetação (para atividades agrícolas, mineração, assentamentos humanos, dentre outras), visto que podem ser extremamente agressivas ao meio ambiente. Na tentativa de minimizar ou recuperar os danos ao meio ambiente, sobretudo, diminuir as áreas degradadas, o Brasil e outros países vêm se organizando para participar de acordos multilaterais em Cultivo de frutíferas em clima tropical 104 Dias & Mata (2021) favor de uma agricultura mais sustentável e integrada aos preceitos ambientais, sociais e econômicos, prova disso são os acordos do qual o Brasil é signatário. Até dezembro de 2011, o Brasil estava participando da implementação de 233 acordos de cooperação bilaterais e multilaterais, 22% dos quais em temas ambientais. O foco prioritário de acordos bilaterais é a temática ambiental, como: a) Brasil-Alemanha: conservação das florestas tropicais, energia renovável e eficiência energética; b) Brasil-Espanha: meio ambiente, turismo, desenvolvimento profissional, agricultura e aquicultura, e administração pública; c) Brasil-França: agricultura e meio ambiente; d) Brasil-Japão: meio ambiente, transportes e energia (BRASIL, 2016). Vale ressaltar que, o cumprimento desses acordos internacionais facilita novos acordos comerciais, sobretudo em um país onde a importância do agronegócio na exportação de produtos agrícolas e, consequentemente, na balança comercial é tão grande, gerando renda, desenvolvimento econômico e empregos em inúmeras localidades. O desenvolvimento econômico pode estar associado a expansão da área agrícola, sobretudo, em áreas degradadas, que podem e devem ser recuperadas. O conceito de recuperação e área degradada, como devem ser entendidos, estão expressos segundo a Instrução Normativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes (ICMBIO), n. 11, de 11 de dezembro de 2014, sendo: “Recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original. Área degradada: aquela impossibilitada de retornar por uma trajetória natural a um ecossistema que se assemelhe ao estado inicial, dificilmente sendo restaurada, apenas recuperada”. A recuperação de áreas degradadas está intimamente ligada à ciência da restauração ecológica. Restauração ecológica pode ser compreendida como o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído. Um ecossistema é considerado recuperado – e restaurado – quando contém recursos bióticos e abióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou subsídios adicionais. Cresce o interesse pela preservação e plantio de plantas nativas e, em especial de frutíferas nativas, e a demanda por informações sobre as espécies recomendadas para a recuperação de áreas degradadas e recomposição da flora da área de reserva legal e matas ciliares. Aliado a isso, existe o intuito de aumentar a oferta de alimento para a avifauna, com uso de frutíferas nativas, principalmente em locais voltados para o ecoturismo e turismo rural, além de razões conservacionistas e contemplativas. O plantio de frutíferas nativas é primordial para a melhoria da qualidade ambiental das fazendas, cada vez mais considerada pelos mercados exigentes, tanto nacionais quanto internacionais. Cultivo de frutíferas em clima tropical 105 Dias & Mata (2021) Aspectos relacionados a restauração para recuperação de áreas degradadas O governo brasileiro, buscando se adequar a novas demandas do mundo contemporâneo, e atendendo aos acordos internacionais dos quais é signatário, através da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa em território brasileiro, vê no plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área, como uma atividade de menor dano ambiental. Portanto, se bem conduzido, e respeitando as limitações legais e ambientais existentes, se torna uma atividade desejável de ser implementadas, sobremaneira em propriedades rurais para fins de plantio em áreas de reservas legais previstas no código florestal, áreas de proteção permanentes (APP’s), corredores ecológicos, etc. A Lei 12.651, de 2012, que substitui várias outras normativas e refere que a adequação ambiental é assim o cumprimento de que as propriedades produtivas necessariamente tenham as suas Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal cobertas por vegetação nativa. Em muitas situações, entretanto, a localização dessas áreas coincide com a área produtiva da propriedade, como as áreas ciliares em pequenas propriedades, o que exige a proposição de estratégias ou métodos alternativos de restauração. Aspectos básicos relacionados à restauração que são empregados para recuperação de áreas degradadas. Regeneração natural A regeneração natural consiste em todo e qualquer tipo de espécie vegetal nativa (ervas, arbustos, palmeiras, árvores) que se estabeleça naturalmente e se desenvolva nas áreas de restauração ecológica. A presença desses regenerantes representa grande importância para o projeto de restauração, visto que quanto maior ela for, menor a necessidade de introdução de indivíduos (mudas, sementes) na área a ser restaurada. Adicionalmente, a regeneração natural permite a chegada de outras formas de vida vegetal, como arbustos, ervas e palmeiras, que são de elevada importância para acelerar o desenvolvimento da área em processo de restauração, reduzindo custos de manutenção. A presença ou não da regeneração natural e o grau de sua expressão dependem de fatores locais como o nível de degradação do solo e do banco de sementes local, bem como da proximidade com remanescentes naturais de vegetação e da existência de fluxo de propágulos entre esses remanescentes e a área a ser restaurada. Em situações em que ocorre esse fluxo, a chegada e o estabelecimento de espécies de recobrimento rápido, de adensamento do maciço vegetal ou do seu enriquecimento com espécies de ciclo mais longo torna-se muito mais factível em curto prazo, dispensando a adoção de ações artificiais de introdução destas espécies. Todavia, em situações de maior isolamento e fragmentação florestal, o fluxo de propágulos torna-se muito menos provável, exigindo a adoção de intervenções artificiais (NAVE et al., 2016). Cultivo de frutíferas em clima tropical 106 Dias & Mata (2021) Nesse contexto os projetos de restauração de áreas degradadas, devem basear-se no desencadeamento ou na aceleração do processo de sucessão ecológica, que é a dinâmica através da qual uma comunidade vegetal evolui no tempo, tendendo a tornar-se, progressivamente, mais complexa, diversificada e estável (Tabela 1). Tabela 1. Características dos diferentes grupos sucessionais das espécies arbóreas das florestas nativas Grupos Sucessionais Pioneiras Secundárias iniciais Secundárias tardias Crescem a pleno sol Crescem a pleno sol ou na sombra Crescem na sombra Crescem rápido (5 m em 2 anos) Crescem mais ou menos rápido (3,5 m em 2 anos) Crescem lentamente (2,5 m em 2 anos) Vida curta (5 a 15 anos) Vida média (25a 35 anos) Vida longa (80 a 150 anos) Sementes permanecem no solo por muito tempo (anos ou décadas) Sementes permanecem pouco tempo no solo Sementes permanecem muito pouco tempo no solo Sementes não germinam na sombra Sementes germinam na sombra ou na luz Sementes germinam na sombra Fonte: Attanasio (2008). O agrupamento das espécies em conjuntos sucessionais, conforme seu comportamento ecológico, facilita os trabalhos de restauração de matas ciliares, áreas de preservação permanente e reserva legal (ATTANASIO, 2008). Nucleação Nucleação é a proposta de criar pequenos habitats (núcleos) dentro da área degradada de forma a induzir uma heterogeneidade ambiental, propiciando ambientes distintos no espaço e no tempo. Os núcleos têm o papel de facilitar o processo de recrutamento de novas espécies dos fragmentos vizinhos, do banco de sementes local e também influenciam os novos núcleos formados ao longo do tempo. Dessa forma, são criadas condições para a regeneração natural, como a chegada de espécies vegetais, animais e microrganismos e a formação de uma rede de interações entre eles. A ideia da nucleação por meio da implantação dos núcleos é disparar gatilhos ecológicos no processo de regeneração natural. Os núcleos são elementos capazes de formar novas populações, novos nichos de regeneração e gerar conectividade na paisagem (SMA, 2011). Cultivo de frutíferas em clima tropical 107 Dias & Mata (2021) Sistemas agroflorestais (SAF) Um dos métodos alternativos que podem ser empregados para recuperação de áreas degradadas são os sistemas agroflorestais (SAF), na tentativa de conjugar conservação e produção no uso da terra. A restauração dessas áreas pode incluir o manejo agroflorestal, além da exploração de produtos não madeireiros, como os oriundos da apicultura e da fruticultura, em especial, a fruticultura tropical. Para as áreas de Reserva Legal também pode haver aproveitamento econômico, mediante o manejo sustentável previamente autorizado pelo órgão ambiental competente (MORAES et al., 2013). De acordo com Amador e Viana (1998), um Sistema Agroflorestal (SAF) é um sistema de uso da terra conservacionista em que plantas de espécies agrícolas são combinadas com espécies arbóreas sobre a mesma unidade de manejo da terra. Apesar de, na maioria dos casos, ser um sistema visando à produção agrícola contínua, ele pode ser utilizado apenas como uma ferramenta para viabilizar economicamente os trabalhos de restauração de áreas degradadas, envolvendo elementos silviagrícolas, silvipastoris, agrossilvipastoris e agroflorestais. Enriquecimento de espécies O enriquecimento visa ao aumento da diversidade vegetal em áreas onde já existam indícios de regeneração natural, como as capoeiras; pode ser feito com o plantio (parcial) ou semeadura de espécies que atraiam animais, ou que tenham potencial econômico. Dar preferência a espécies nativas locais, identificando especialmente seus produtos madeireiros e não-madeireiros (frutos, sementes, mel) (MORAES et al., 2013). Plantio total O plantio total é uma técnica que implica o maior e mais custoso grau de intervenção. Os plantios devem ser feitos prioritariamente em áreas onde a regeneração não ocorre naturalmente, ou ocorre muito lentamente. Em ambos os casos, os plantios têm a função de acelerar o processo de sucessão secundária, ou mesmo propiciar condições para que ele ocorra. As alterações na temperatura, na umidade, na luminosidade e nas condições físico-químicas do solo, proporcionam melhoras na sua estrutura e um incremento na fertilidade. Do ponto de vista da regeneração da floresta, os plantios funcionam como verdadeiros poleiros, atraindo principalmente aves e morcegos dispersores de frutos e sementes, responsáveis pela introdução de novas espécies na área e pela intensificação do processo. O retorno da floresta vai depender inicialmente do combate à vegetação invasora, através do sombreamento pelas mudas de árvores plantadas, que devem encontrar condições adequadas para o estabelecimento (MORAES et al., 2013). Cultivo de frutíferas em clima tropical 108 Dias & Mata (2021) Potencial de utilização de espécies frutíferas nativas na recuperação de áreas degradadas Independente da técnica ou programa de recuperação de áreas degradadas que se adota, torna- se primordial o uso de espécies frutíferas nativas, pois os benefícios da interação com a fauna, contribuindo com a sucessão ecológica, consequentemente a regeneração dos ecossistemas. A importância de manter espécies, frutíferas nativas é que essas atraem uma diversidade de animais, atuando assim como agentes dispersores. Assim como a água e o vento, os animais são grandes responsáveis pela chuva de sementes (o conjunto de todas as sementes de diferentes espécies que chegam a um determinado ambiente). É muito importante tê-los na comunidade, pois eles são os principais agentes dispersores de sementes e frutos. Eles podem dispersar por diferentes comportamentos, tais como: Carregar as sementes grudadas em seu pelo; Comer algumas sementes, e enterrar outras, para comer depois (com isso, acabam plantando); Manter as sementes por algum tempo no trato digestivo e as regurgitar em locais distantes e; Ingerir os frutos, e defecar as sementes, onde isso acontecer, possivelmente nascerá uma planta. O comportamento do animal em transportar as sementes e “plantá-las” é fundamental na dispersão das plantas para outras áreas. Isso deve ser levado em conta quando se pretende restaurar: devemos prever estratégias para atrair os animais, e com isso, as sementes que eles dispersam (SANT’ANNA, 2011). Portanto a escolha de plantas frutíferas nativas vai colaborar para atração de animais e a dispersão das sementes, contribuindo assim para a sucessão ecológica e a restauração ecológica da área degradada. Os animais, insetos, morcegos e aves, têm uma participação muito importante na restauração das matas ciliares, pois são os principais responsáveis pela polinização e pela dispersão de sementes. Os animais são responsáveis por cerca de 95% da polinização e por 75 a 95% da dispersão das espécies de árvores nativas tropicais. Por isso, não há florestas sem animais (FERRETTI, 2004). Os sistemas agroflorestais sucessionais em especial, têm sido uma das alternativas tecnológicas para restaurar florestas, recuperar áreas degradadas, restabelecer a fauna local e, por meio de consórcios com espécies de importância econômica e cultural, são importantes fontes de renda e alimentar para os agricultores familiares, além de sua relevância para conservação do meio ambiente (SIQUEIRA et al., 2015). A restauração através da nucleação baseia-se em estudos que mostram que a vegetação remanescente, em uma área degradada, representada por pequenos fragmentos ou até mesmo por árvores isoladas, atua como núcleo de expansão da vegetação, por atrair animais que participam da dispersão de sementes. São diversas as técnicas para a restauração através da nucleação, sendo que o plantio de mudas é uma forma efetiva de ampliar o processo de nucleação. A implantação de mudas produzidas em viveiros florestais é uma forma de gerar núcleos capazes de atrair maior diversidade biológica para as áreas degradadas (REIS, 2003). Cultivo de frutíferas em clima tropical 109 Dias & Mata (2021) A produção de ilhas de vegetação sugere a formação de pequenos núcleos onde são colocadas plantas de distintas formas de vida. Espécies com maturação precoce têm a capacidade de florir e frutificar rapidamente atraindo predadores, polinizadores, dispersores e decompositores para os núcleos formados. Isso gera condições de adaptação e reprodução de outros organismos. Devem-se buscar espécies nativas, principalmente as que possuem forte interação com a fauna (espécies com frutos e sementes atrativos à fauna) e com funções nucleadoras.Recomenda-se que também sejam escolhidas espécies ameaçadas de extinção, de forma a garantir a preservação da diversidade biológica local (KAGEYAMA & GANDARA, 2000). É importante e prestar atenção na relação da vegetação com a fauna, que atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes (no caso de matas ciliares) (PIOLLI et al., 2004). O trabalho de Duboc (2004), destaca dezenas de espécies nativas do bioma cerrado que podem ser utilizadas na recuperação de áreas degradadas das matas de galerias, cerrado ou enriquecimento de vegetação onde ela já existe, com objetivo de apenas aumentar a densidade. A riqueza da flora nativa do cerrado engloba espécies de interesse madeireiro, ornamental, medicinal, condimentar e alimentar. Além de serem atrativos para a fauna e interesse apícola como o landim, pinha do brejo, jenipapo, faveira, cagaita, baru, ingá, aroeirinha, amburana, araçá-da-mata, bacupari-da-mata, laranjinha-do- cerrado, pimenta de macaco, maria-podre, marmelada-de-bezerro, etc. A escolha dessas espécies com potencial alimentar para a fauna silvestre é muito importante na regeneração natural no processo de sucessão. Essa eficiência está associada aos sistemas de produção de sementes, da dispersão, da dormência e da formação de bancos de sementes e plântulas. De acordo com Duboc (2004), o cultivo de espécies nativas do bioma cerrado contribui para preservação da riqueza de sabores das frutas do Bioma Cerrado. Dentre essas, destacam-se: a cagaita, o baru, a mangaba, o pequi, o araticum, o jatobá, o jenipapo, o ingá, o puçá, a mama-cadela e o buriti. Todas apresentam sabor peculiar e exóticas muito apreciado pela população desta e de outras regiões do Brasil, contribuindo assim para renda para as comunidades tradicionais e os produtores locais. Utilizando a técnica de plantio total, onde não tem possibilidade de recuperação natural, Moraes et al. (2013) recomenda que as espécies escolhidas para restauração sejam nativas, e que ainda obedeçam a alguns critérios: a) Rápido crescimento: como o objetivo mais importante do plantio é combater a vegetação invasora, as espécies arbóreas nativas devem ser agressivas, com taxas de crescimento que as tornem competitivas; b) Alta produção de frutos: outra característica que vai garantir o estabelecimento da espécie plantada e também colaborar para sua competitividade é a produção de frutos e sementes em grandes quantidades, acelerando a ocupação mais rápida da área degradada e enriquecendo o banco de Cultivo de frutíferas em clima tropical 110 Dias & Mata (2021) sementes do solo; é interessante também que as árvores frutifiquem o mais cedo possível, como as pioneiras; c) Atração da fauna: também com o objetivo de acelerar o processo de regeneração, as espécies plantadas devem produzir frutos que atraiam animais dispersores, que por sua vez podem trazer frutos e sementes de outras espécies; além de alimentos as espécies arbóreas oferecem abrigo à fauna dispersora; d) Interações interespecíficas: este critério envolve basicamente propriedades que algumas espécies arbóreas têm em desenvolver relações com microrganismos para aumentar a eficiência na captação de nutrientes, como as espécies leguminosas fixadoras de nitrogênio atmosférico e as espécies que desenvolvem interações micorrízicas. De acordo com Attanasio (2008), uma importante forma de acelerar o processo de recuperação num dado local, quando existe nas proximidades da área de recuperação um remanescente florestal, é a implantação de fontes de alimentação que atraiam animais dispersores, principalmente aves e morcegos, da floresta vizinha para a própria área de recuperação, trazendo, assim, sementes e propágulos de outras espécies e, como decorrência, incrementando a diversidade. A Tabela 2 apresenta uma listagem de espécies frutíferas que podem ser usadas para atrair dispersores. Tabela 2. Listagem de espécies atrativas de dispersores Família Nome Científico Nome Vulgar Tipo Nativa Consumidores Anacardiaceae Tapirira guianensis Peito-de-pomba frutos sim aves Annonaceae Rollinia sylvatica Araticum frutos sim aves, macacos Annonaceae Xylopia spp. Pindaíba, Pimenta-de- macaco frutos sim aves Araliaceae Dendropanax Maria-mole frutos sim aves Cuneatum Araliaceae Shefflera morototoni Mandioqueira frutos sim aves Arecaceae Syagrus Jerivá frutos sim aves romanzofianum Burseraceae Protium almecega Almíscar frutos sim aves Cannabaceae Trema micrantha* Crindiúva, Pau- pólvora frutos sim aves Clusiaceae Callophylum Guanandi frutos sim morcegos brasiliensis Euphorbiaceae Pera glabrata Tamanqueira sim aves Fabaceae Andira spp. Morcegueira frutos sim morcegos Fabaceae Copaifera langsdorffii Pau-de-óleo, Copaíba sementes (arilo) sim aves Fabaceae Erythrina spp. Mulungu flores sim aves (beija- flores) Fabaceae Hymenaea courbaril Jatobá frutos sim macacos, roedores Fabaceae Inga spp.* Ingá frutos sim aves Flacourtiaceae Casearia spp. Espeteiros frutos sim aves Cultivo de frutíferas em clima tropical 111 Dias & Mata (2021) Flacourtiaceae Casearia sylvestris* Guaçatonga frutos sim aves Lauraceae Ocotea spp. Canelas frutos sim aves Magnoliaceae Magnolia ovata Pinha-do-brejo sim aves Miristicaceae Virola sebifera Bicuíba frutos sim aves Moraceae Ficus spp. Figueira frutos sim aves Moraceae Maclura tinctoria Taiúva frutos sim aves Myrsinaceae Myrsine spp. Capororoca frutos sim aves Myrtaceae Eugenia spp. frutos sim aves, peixes Myrtaceae Marlierea edulis Cambucá frutos sim aves, peixes Myrtaceae Myrcia spp. Cambuci frutos sim aves Rhamnaceae Colubrina glandulosa* Saguaragi- vermelho frutos sim aves Rhamnaceae Rhamnidium elaeocarpum* Saguaragi- amarelo frutos sim aves Rubiaceae Alibertia sessilis Marmelo-do- cerrado frutos sim mamíferos Rubiaceae Genipa americana* Jenipapo frutos sim peixes Rutaceae Zanthoxyllum spp. Mamica-de-porca frutos sim aves Sapindaceae Allophylus edulis Chal-chal, Fruta- defaraó frutos sim aves Solanaceae Solanum lycocarpum Lobeira frutos sim mamíferos Urticaceae Cecropia Embaúba-branca frutos sim aves, macacos pachystachya* Verbenaceae Aegiphila lhotzkiana* Pau-de-papagaio frutos sim aves Verbenaceae Vitex spp. Tarumãs frutos sim aves * Espécies de rápido crescimento, recomendadas para a ação de adensamento. Fonte: Attanasio (2008). Considerações finais Toda a sociedade precisa estar envolvida na conservação dos remanescentes de ecossistemas naturais, bem como na restauração das áreas degradadas. Esse processo é essencial para o provimento de serviços ambientais prestados pelas áreas naturais, como é o caso de água de qualidade para consumo, disponibilidade de animais polinizadores das culturas agrícolas, controle biológico de pragas, estabilidade climática entre outros benefícios. Aliar o cultivo de espécies nativas, principalmente as frutíferas contribui para dar um aproveitamento econômico da floresta, o que é permitido na legislação ambiental tanto para as Áreas de Preservação Permanente de pequenas propriedades, como para a Reserva Legal de todos os imóveis rurais brasileiros. É importante que todos os envolvidos na produção agropecuária do Brasil, busquem alternativas para a adequação ambiental (como prevê a legislação) dos imóveis rurais, sem descartar as possibilidades de aproveitamento econômico das Áreas de Preservação Permanentes restauradas de pequenos imóveis rurais e da Reserva Legal de todos os imóveis rurais, visando a melhoria de renda do proprietário rural. Cultivo de frutíferas em clima tropical 112 Dias & Mata (2021) Os projetos de restauração ecológica deverão ser desenvolvidosde maneira a focar a restauração de alta diversidade de espécies regionais, aumentando as chances de sucesso do plantio e a restauração ecológica. O emprego de plantas frutíferas surge como opção de restauração parcial e ou recuperação de áreas degradadas; constitui fonte de descanso, abrigo e alimento para a avifauna dispersora de sementes; além de fornecer mais uma alternativa de alimento e renda para as comunidades tradicionais e os produtores locais. Referências ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10703 – Degradação do solo. São Paulo, 1989. AMADOR, D. B.; VIANNA, V. M. Sistemas agroflorestais para a recuperação de fragmentos florestais. Série Técnica IPEF, 12 (32), p.105-110, Piracicaba. 1998. ATTANASIO, C. M. Manual Técnico: Restauração e Monitoramento da Mata Ciliar e da Reserva Legal para a Certificação Agrícola - Conservação da Biodiversidade na Cafeicultura. Piracicaba, SP: Imaflora, 2008. 60p. BRASIL. Lei Nº 12.651, de 25 de Maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Legislativo, Brasília, 2012. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Brasil: 5º relatório nacional para a Convenção Sobre Diversidade Biológica. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. (Coord) SCARAMUZZA, C. A. de M. Brasília: MMA, 2016. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/biodiversidade/conven%C3%A7%C3%A3o-da-diversidade- biol%C3%B3gica/relatorios-brasileiros.html. Acesso em: 12/05/21. DUBOC, E. Cultivo de espécies nativas do bioma cerrado. Comunicado Técnico 110. MAPA – EMBRAPA. Planaltina, 2004. FERRETTI, A. R. Recomposição florestal com essências nativas do Estado de São Paulo. In: CRESTANA, M. S. M. Florestas. Sistemas de recuperação com essências nativas, produção de mudas e legislações. Cati (SAASP), 2006. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006: Segunda Apuração. Rio de Janeiro, 2012. Cultivo de frutíferas em clima tropical 113 Dias & Mata (2021) KAGEYAMA, P.; GANDARA, F. B. Recuperação de Áreas Ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO-FILHO, H. (Ed.). Matas Ciliares: Conservação e Recuperação. São Paulo: Universidade de São Paulo, p. 325-347, 2000. MORAES, L. F. D.; ASSUMPÇÃO, J. M.; PEREIRA, T. S.; LUCHIARI, C. Manual técnico para a restauração de áreas degradadas no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2013. 84 p. NAVE, A. G.; RODRIGUES, R. R.; BRANCALION, P. H. S.; FARAH, F. T.; SILVA, C. C.; LAMONATO, F. H. F. Manual de Restauração Ecológica. Execução: Bioflora Tecnologia da Restauração. Bahia, 2016. 55 p. PIOLLI, A. L.; CELESTINI, R. M.; MAGON, R. Teoria e prática em recuperação de áreas degradadas: plantando a semente de um mundo melhor. PLANETA ÁGUA – Associação de Defesa do Meio Ambiente. Serra Negra, 2004. 55 p. REIS, A.; BECCHARA, F. C.; ESPÍNDOLA, M. B.; VIEIRA, N. K.; SOUZA, L. L. Restauração de áreas degradadas: a nucleação como base para incrementar os processos sucessionais. Natureza & Conservação, v.1, n.1, 2003. SANT’ANNA, C. S.; TRES, D. R.; REIS, A. Restauração Ecológica: Sistemas de Nucleação. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Unidade de Coordenação do Projeto de Recuperação das Matas Ciliares., Reimpressão da 1.ed. São Paulo, 2011. 63 p. SMA. Secretaria do Meio Ambiente. Restauração ecológica: sistemas de nucleação. São Paulo, , 2011. SIQUEIRA, E. R. de; SIQUEIRA, P. Z. R. de; FONTES, M. A.; RABANAL, J. E. M. Sistemas agroflorestais sucessionais. Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2015. (Documentos/Embrapa Tabuleiros Costeiros. Aracajú, 2015. 19 p. TAVARES, S. R. L. Áreas degradadas: conceitos e caracterização do problema. In: Curso de Recuperação de Áreas Degradadas. Rio de Janeiro. 2008. Disponível em: https://www.ufjf.br/analiseambiental/files/2012/02/curso_rad_2008.pdf. Acesso em: 12/05/21. Cultivo de frutíferas em clima tropical 114 Dias & Mata (2021) Capítulo IX DIVERSIFICAÇÃO, ASSOCIAÇÃO E CONSORCIAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS NO CERRADO Jairo Fernando Pereira Linhares Maria Ivanilde de Araujo Rodrigues João Paulo Tadeu Dias Introdução Atualmente, o bioma cerrado é considerado a savana mais rica em biodiversidade do mundo, o Cerrado brasileiro reúne uma grande diversidade de paisagens naturais, mais de 10.000 espécies de plantas e 1.575 espécies de animais, sem mencionar as espécies desconhecidas que, devido à atividade humana podem ser extintas antes de serem catalogadas e estudadas com detalhes. No Cerrado brasileiro é encontrado um terço da biodiversidade e cerca de 5% da flora e fauna mundiais. É denominado por alguns como savana, devido à relação ecológica e fisionômica existente, esse bioma é composto de dois grupos de espécies, um grupo formado basicamente por árvores e arbustos e um segundo formado pelo estrato herbáceo (FERREIRA & CAMARGOS, 2016). Entre chapadões e vales, com vegetação variando do campo seco às matas de galeria, o Cerrado se estende por uma vastidão de dois milhões de quilômetros quadrados, ocupando um quarto do território nacional. Em linha reta, atravessa mais de 1.200 km de Leste para Oeste e mais de 1.000 km de Norte a Sul, na região central do Brasil. Com toda essa vastidão e exuberância, entre águas claras, flores e céu azul, esta é uma paisagem dominante nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão, Piauí e Distrito Federal, além de ser encontrado em pequenos trechos em outros sete estados brasileiros. Por outro lado, habitam secularmente as áreas de Cerrado, Povos e Comunidades Tradicionais como, quilombolas, raizeiros, geraizeiros, vazanteiros e veredeiros, bem como outros grupos desconhecidos por grande parte da sociedade nacional brasileira. Esses grupos humanos desenvolveram uma lógica que leva em conta o aproveitamento e o manejo dos recursos naturais existentes e as limitações de cada ecossistema que compõe o bioma Cerrado, destinando as áreas de chapada para a criação de gado extensivo e para a prática do extrativismo (plantas frutíferas, medicinais, tinturas, artesanato, etc.) e as regiões mais baixas como às margens dos cursos de rios e córregos para Cultivo de frutíferas em clima tropical 115 Dias & Mata (2021) o estabelecimento das habitações e instalação dos roçados, que contribuem para o aumento da chamada agrobiodiversidade. Desenvolvimento O uso de espécies nativas do Cerrado, pode se revelar numa alternativa econômica para o aproveitamento sustentado na região, onde várias são as espécies que possuem utilização regional e muitas delas enquadram-se como plantas multiuso, ou seja, possuem mais de uma utilidade (ALMEIDA et al., 1998). Outro aspecto em relação ao interesse pelas fruteiras do Cerrado está o despertar de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO em prospectar novas fontes de alimento no mundo, tem aumentado o interesse da comunidade científica por espécies alimentícias desconhecidas por grande parte da comunidade científica, bem como, da população em geral. Espécies frutíferas nativas do Cerrado, pouco conhecidas dos principais centros urbanos do país, como o araticum, jatobá, pequi, mangaba, cagaita, buriti, baru, babaçu, macaúba e outras, constituem fontes importantes de fibras, proteínas, vitaminas, minerais, óleos saturados e insaturados presentes em polpas e sementes. Essas frutas (apresentam variadas formas, cores atrativas e sabor peculiar) são consumidas de diferentes formas pelas populações locais e regionais que constituem uma importante fonte de alimentos. Por outro, uma parcela crescente de consumidores está desenvolvendo um olhar crítico, dando preferências a alimentos mais naturais e nutritivos, receptivosa novos sabores e experiências sensoriais, aliado a isso, preocupam-se com o impacto dos seus hábitos alimentares no meio ambiente. Graças a essa nova tendência, a gastronomia sustentável vem se firmando e ganhando novos adeptos. No seu aspecto ecológico, os frutos são consumidos por animais silvestres como pássaros, roedores, tatus, canídeos, morcegos, etc. – funcionando esses, como dispersores naturais de sementes, contribuindo assim, para a manutenção da biodiversidade do bioma Cerrado. Por outro lado, o Cerrado encontra-se ameaçado por uma série de fatores ao longo do tempo. Pouco alterado até a década de 1950, o Cerrado apresenta na atualidade forte pressão antrópica, estando pouco a pouco, se convertendo em plantações de soja, algodão, trigo, pastagens e, consequentemente, crescentes rebanhos de gado. Ameaçado pela expansão desordenada das fronteiras agrícolas, que já ocupam cerca de 50% da região do Cerrado. Até agora, o Cerrado possui menos de 2% de sua área protegida por unidades de conservação, como parques nacionais e reservas biológicas. Mais do que a enorme biodiversidade de espécies medicinais, florísticas, paisagística, alimentícia e frutífera, a devastação põe em risco uma região rica em água, berço das principais bacias hidrográficas brasileiras, além da sobrevivência cultural e material dos habitantes da região (CATÁLOGO CERRADO, sd). Cultivo de frutíferas em clima tropical 116 Dias & Mata (2021) Outro aspecto pouco considerado no que se refere às ameaças à biodiversidade, é o papel que o homem tem sobre a dispersão das espécies no ambiente, pois ao alterarem o ambiente de ocorrência dessas espécies, o ser humano proporciona condições para que algumas espécies mais aptas se dispersem e se desenvolvam em maior número que as espécies menos adaptadas, como por exemplo, podemos citar o avanço das formações florestais de babaçu em direção à região amazônica em decorrências das queimadas. Outro aspecto importante a ser considerado, mas que tem influência direta na produção agrícola, é a diminuição das áreas de refúgio de diversos inimigos de pragas agrícolas, por ocasião do desmatamento da mata nativa onde ocorrem as espécies frutíferas, aumentam com isso os danos à agricultura e aumento dos custos de produção pelo crescente uso de agrotóxicos nas lavouras, além dos danos ambientais ocasionados. As espécies invasoras também estão entre os principais fatores que afetam a biodiversidade local (inclusive de frutíferas), apresentam excelente capacidade de adaptação ao ambiente e grande potencial biótico, colonizando o ambiente e impedindo que as espécies nativas completem o seu ciclo biológico (MMA, 2006). Algumas espécies invasoras se estabelecem melhor em áreas desmatadas, como por exemplo, a leucena (Leucaena leucocephala; Fabaceae), com a retração das matas nativas elas vão ocupando o espaço e se estabelecendo de modo a não permitir que a vegetação nativa se recomponha, a não ser que haja intervenção humana para o seu controle, o que não é uma tarefa fácil, nem tão pouco barata, pois envolve uso intensivo de mão-de-obra. Portanto, as interferências humanas no ambiente alteram a diversidade e a abundância das espécies, o que acarreta o desequilíbrio ecológico nos ecossistemas, bem como podem incidir sobre a base de cadeias produtivas praticadas pelos povos e comunidades tradicionais, ora podendo proporcionar benefícios pelo aumento de estoques de espécies de importância econômica, a exemplo do babaçu, ora pode haver reduções nos estoques naturais de outras espécies também de importância econômica, comprometendo assim, a sustentabilidade da atividade extrativa. Essa situação apresentada contraria o entendimento de Homma (2008), pois segundo o autor, a economia extrativa apresenta limitações quanto ao aumento do mercado, pois como o extrativismo é regido apenas pela existência fixa dos estoques naturais, não considerando, portanto, que o desequilíbrio ambiental pode aumentar a oferta de determinados produtos extrativos. Por fim, o maior dos problemas ambientais de dimensões globais causados em grande medida pelo homem, as mudanças climáticas, causam consequências adversas sobre os bioma como um todo, alterando o regime hídrico e climático de forma tão rápida, causando inundações, secas, variações nas temperaturas médias globais, não permitindo que as espécies nativas e ou aclimatadas, principalmente as que ocupam nichos ecológicos específicos, possam se adaptar na mesma velocidade que essas transformações, ameaçando tanto espécies silvestres como cultivadas. Contudo, ações a nível global tem se preocupado com o quadro de perdas da biodiversidade. A Estratégia Global para Conservação de Plantas (Global Strategy for Plant Conservation, GSPC), instituída Cultivo de frutíferas em clima tropical 117 Dias & Mata (2021) a partir do desenvolvimento de estratégias para a conservação da diversidade biológica, no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica – CDB tem como objetivo a longo prazo, refrear a continuada perda da diversidade de plantas. A Estratégia se propõe a ser uma ferramenta com uma abordagem ecossistêmica para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, dando destaque para o papel vital das plantas na estruturação e no funcionamento de sistemas ecológicos, garantindo a provisão dos bens e serviços proporcionados por tais sistemas (JBRJ, 2006). Em se tratando de métodos que atendem ao que dispõe a Estratégia Global para Conservação de Plantas para reverter o quadro de ameaças à diversidade vegetal na agricultura está a integração lavoura-pecuária-floresta – ILPF, sistemas agroflorestais – SAF’s, quintais agroflorestais, dentre outros. Balbino, Barcellos, Stone (2011) define o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta – ILPF como um “Sistema que integra os componentes: lavoura, pecuária e floresta, em rotação, consórcio ou sucessão, numa mesma área. A componente lavoura pode ser utilizada na fase inicial de implantação do componente florestal ou em ciclos durante o desenvolvimento do sistema.” Segundo o Código Florestal Brasileiro, Lei 12.651/2012 e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2019), os sistemas agroflorestais – SAF’s são sistemas produtivos que podem se basear na sucessão ecológica, semelhantes aos ecossistemas naturais, em que árvores exóticas ou nativas são consorciadas com culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras, arbustivas, de acordo com um arranjo espacial e temporal pré-estabelecido, com alta diversidade de espécies e interações entre as espécies. Geralmente, nos sistemas agroflorestais são realizados plantios de sementes e ou de mudas, onde os recursos e o retorno da produção são gerados de maneira permanente e em diversos estratos de sucessão ecológica. São sistemas que otimizam o uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para a produção agropecuária, além de serem utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. Diante disso, as espécies frutíferas, nativas ou exóticas, seriam ótimas opções e estariam perfeitamente compondo e recuperando as áreas, especialmente, áreas degradadas. Vale destacar que, o emprego de plantas frutíferas do Cerrado em sistemas agroflorestais, além desempenhar um papel importante no equilíbrio ecológico nos agroecossistemas, contribui para a diversificação da produção agrícola, notadamente na pequena agricultura familiar, e com isso, garantem entradas escalonadas de receita ao longo do ano, aumentando a renda, e contribuindo para a fixação do homem no campo. Em se tratando de aspectos ecológicos, o enraizamento profundo permite um aproveitamento eficiente de água e dos minerais do subsolo em comparação com as lavouras de grãos. Como são espécies nativas, são adaptadas perfeitamente às condições do Cerrado.A utilização de áreas abertas e abandonadas para plantio e ou conservação das espécies frutíferas pode reduzir os custos para os produtores, visto que, as áreas estão preparadas e limpas para o plantio, exigindo apenas investimentos em corretivos, adubações e práticas conservacionistas. Isso Cultivo de frutíferas em clima tropical 118 Dias & Mata (2021) obviamente observando-se o nível de degradação do solo, para que outras medidas sejam necessárias, encarecendo a recuperação das áreas em questão. Algumas espécies para plantio comerciais em curto prazo, como o araticum e a mangaba são precoces, com quatro a seis anos para início de produção devem ser consideradas. Algumas mudas produzidas por sementes de frutíferas nativas e de porte herbáceo-arbustivo como a gabiroba, pêra-do- cerrado, marmelada, caju, iniciaram frutificação a partir de dois anos após plantio. Araticum, pequi, baru, cagaita e mangaba frutificam após quatro ou cinco anos após plantio (PASQUALETO & PEREIRA, 2011). Gonçalves e Duarte (2015) relataram que um sistema promissor para ser adotado na região do Cerrado brasileiro é o Sistema Agroflorestal (SAF) que alia de maneira favorável a diversificação, associação e consorciação de plantas. Segundo Abdo, Valeri e Martins (2008) o SAF constituiria em um “sistema de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras) são manejadas em associação com plantas herbáceas, culturas agrícolas e ou forrageiras em integração com animais, em uma mesma unidade de manejo, de acordo com o arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e interações ecológicas entre seus componentes. Nesse modelo de exploração agrícola são utilizadas culturas agrícolas e ou pastagens com espécies florestais”. Os sistemas agroflorestais podem contribuir para a solução de problemas no uso dos recursos naturais, por causa das funções biológicas, e socioeconômicos que podem cumprir (COELHO et al., 2016). Espécies como o pequizeiro e a mangabeira podem ser cultivadas consorciadas. A longo prazo, o pequizeiro tem custo de implantação e manutenção baixo comparadas aos outros cultivos perenes, além de outros benefícios como: reflorestamento; venda de produtos e subprodutos da colheita gerando renda adicional; pode ser consorciada com pastagens e outras culturas; pode gerar sombra e até melhorar as condições do pasto pelo sombreamento ralo que provoca. No plantio de mangabeira sugere-se um espaçamento de 6 x 6 m, devido ao amplo espaçamento, a mangabeira pode ser consorciada com outras culturas nas entrelinhas, no entanto, deve-se ter o cuidado de deixa-las a pelo menos 1,5 m da copa da mangabeira. As culturas que podem ser utilizadas são: feijão, melancia, abóbora, mandioca e leguminosas usadas para adubação verde, além de outras frutíferas como o coqueiro (SILVA JUNIOR et al., 2006; GONÇALVES; DUARTE; TSUKAMOTO FILHO, 2015). Outro método que faz uso do consórcio entre plantas são os quintais agroflorestais, que são considerados como uma das formas tradicionais mais antigas de uso da terra, promovendo a sustentabilidade para milhões de pessoas no mundo (NAIR, 2006). Muito embora, os quintais agroflorestais se assemelhem aos sistemas agroflorestais em relação aos seus componentes (agrícolas e florestais), diferem nos seguintes aspectos: Os quintais são sistemas de produção importantíssimos para os agricultores tradicionais. São nos quintais que os agricultores fazem seus experimentos (agricultoras e agricultores- Cultivo de frutíferas em clima tropical 119 Dias & Mata (2021) experimentadores) com espécies pouco conhecidas por eles, onde passam a observar o desenvolvimento das mudas e passam a conhecer sobre formas de condução das espécies, em razão da proximidade existente entre a moradia do agricultor e o local de cultivo, permitindo maior possibilidade de observação por parte do agricultor. Esses sistemas funcionam como um importante banco de germoplasma on farm, tanto para as espécies destinadas ao cultivo nos próprios quintais, quanto para aquelas que serão transplantadas para outros sistemas de cultivo, como por exemplo, os roçados. Por fim, estudos sobre os componentes existentes nos quintais agroflorestais, dão informações valiosas sobre a autoecologia das espécies, distribuição espacial das espécies no sistema, e formas de manejo adotadas, dados de produção, etc. Outra modalidade de cultivo em que as plantas frutíferas entram como um componente importante no sistema é a agricultura urbana ou periurbana, modalidade de agricultura praticada dentro de áreas urbanas ou na sua periferia. A sua prática é um fenômeno recente no mundo, mas a sua prática tem-se popularizado através da mídia. O ambiente onde esta modalidade de agricultura é praticada requer alguns cuidados. Um dos cuidados observados é em relação à prática da agricultura urbana e periurbana é referente à contaminação dos solos e da água por esgoto e metais pesados, principalmente nas regiões mais pobres das cidades, onde a sua atividade é mais praticada. Outro aspecto que deve ser levado em conta é a proximidade das rodovias, pois a emissão de fumaça proveniente da combustão de combustíveis fósseis dos veículos contamina os frutos. Não obstante, independentemente do sistema de produção a ser adotado, o conhecimento da autoecologia das espécies a serem utilizadas é imprescindível para o êxito do método adotado. Outras possibilidades de utilização das frutíferas são: o plantio em áreas de proteção ambiental, o enriquecimento da flora das áreas pobres, a recuperação de áreas desmatadas ou degradadas por pastagens, formação de pomares domésticos ou comerciais, o plantio em áreas de reflorestamento (parques e jardins) e, em áreas acidentadas. Desta forma, evita-se o extrativismo predatório e conservam-se as espécies. A criação e implementação de unidades de conservação de uso sustentável, como Reservas Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável, bem como, os territórios quilombolas e indígenas, poderão assegurar em certa medida a diversidade de acessos aos bancos genéticos de plantas frutíferas do Cerrado. Em suma, um sistema que integre diversificação de espécies, associação de criações e ou cultivos, bem como, consorciação de culturas frutíferas é o que se busca, visando sustentabilidade ambiental, econômica e social. Tão-somente deve-se atentar para a escolha e implantação das espécies frutíferas adequadas para cada ambiente, almejando melhor adaptação e garantindo sucesso. Cultivo de frutíferas em clima tropical 120 Dias & Mata (2021) Considerações finais O emprego de plantas frutíferas nativas do Cerrado, contribuem sobremaneira para a implementação de quintais agroflorestais, sistemas agroflorestais, e de Integração-Lavoura-Pecuária atualmente adotados como estratégia para refrear o atual quadro de degradação do Cerrado. Por se tratarem de espécies adaptadas ao ambiente, se tornam extremamente eficientes na absorção de água e retirada de nutrientes das camadas mais profundas do solo, exercendo grande importância na composição dos sistemas, contribuindo para a ciclagem de nutrientes, retirando nutrientes que percolaram a grandes profundidades no solo que retornam às camadas mais superficiais do solo na forma de serapilheira, que após passarem pelo processo de mineralização por ação de insetos, miriápodes, entre outros seres detritívoros que fazem a redução física da biomassa vegetal, permitem que os fungos na presença de umidade no solo, mineralizem a biomassa e aumentem a fertilidade do solo, reduzindo a acidez, e permitindo que outras espécies menos adaptadas a essas condições possam se desenvolver de forma mais eficiente. O emprego de plantas frutíferas em quintais agroflorestais, sistemas agroflorestais, Integração- Lavoura-Pecuária, atende perfeitamente as necessidades tanto da pequena agriculturafamiliar, quanto aos grandes produtores e empreendimentos agrícolas, cada um dentro de suas especificidades. O pequeno produtor diversifica a produção, permitindo maiores entradas de capital ao longo do ano, além de cumprir com suas responsabilidades para com a legislação ambiental. E o grande produtor rural, ou empreendimento rural, atendendo a legislação ambiental, aumentando suas produtividades, contribuindo com reduções de custos quanto à reposição da fertilidade do solo via adubação química, cria áreas de refúgio para inimigos naturais de pragas, tornando o sistema mais equilibrado. A adoção de plantas frutíferas na composição dos sistemas agroflorestais e de Integração- Lavoura-Pecuária, se bem planejados e apoiados por políticas públicas que atende ao que se refere à Estratégia Global para Conservação de Plantas, podem formar em grande escala, corredores ecológicos, e contribuirá sobremaneira para a prática de uma agricultura para o Cerrado mais sustentável. Referências ALBUQUERQUE, U. P. Etnobiologia e biodiversidade. NUPEEA, 2005. 78p. ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. 464p. BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. D.; STONE, L. F. Marco referencial: integração lavoura-pecuária-floresta. Embrapa Cerrados. Embrapa Cerrados-Livro científico (ALICE), 2011. 130p. Cultivo de frutíferas em clima tropical 121 Dias & Mata (2021) BRASIL. Lei 12.651/2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 13/05/21. Brasília, 2012. CATALOGO CERRADO. Cerrado que te quero vivo. 44 p. Programa de Pequenos Projetos Ecos sociais (PPP-ecos). Edição 2010. Disponível em: https://www.icv.org.br/drop/wp- content/uploads/2013/08/catalogocerrado.pdf. Acesso em: 12/05/21. COELHO, J. V.; IWATA, B. F.; COSTA, T. G. A.; CUNHA, L. M.; CLEMENTINO, G. E. S.; SANTOS, J. G. P. Implantação de sistema agroflorestal em área de Cerrado piauiense. In: Reunião Nordestina de Ciência do Solo, 3, 2016, Aracaju. Anais...Aracaju, 2016. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Estratégia de recuperação. Sistemas Agroflorestais – SAFs. Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigo-florestal/sistemas- agroflorestais-safs>. Acesso em: 09/05/19. FERREIRA, D. C.; CAMARGOS, N. M. S. A natureza do cerrado e a implantação de sistemas agroflorestais para recuperação de áreas degradadas no município de Itapuranga - Goiás – Brasil. RPGeo, v.3, n.1, p.118-131, 2016. GONÇALVES, K. G.; DUARTE, G. S. D.; TSUKAMOTO FILHO, A. A. Espécies frutíferas do Cerrado e seu potencial para os SAFs. Flovet – Boletim do grupo de Pesquisa da Flora, Vegetação e Etnobotânica, v.1, n.7, p.64-79, 2015. HOMMA, A. K. O. Extrativismo, biodiversidade e biopirataria na Amazônia. Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, DF, 2008. 97p. JBRJ. Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Estratégia global para a conservação de plantas. Rio de Janeiro. Rede Brasileira de Jardins Botânicos. Disponível em: https://www.bgci.org/files/All/Key_Publications/gspc_portugues.pdf. Acesso em: 22/07/2019. MMA. Ministério do Meio Ambiente. Espécies exóticas invasoras: situação brasileira. Brasília. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/174/_publicacao/174_publicacao17092009113400.pdf. Acesso em: 22/07/2019. NAIR, P. K. P. An Evaluation of the structure and function of tropical homegardens. Agricultural Systems, v.21, p.279-310, 1986. Cultivo de frutíferas em clima tropical 122 Dias & Mata (2021) PASQUALETO, A.; PEREIRA, M. E. Desenvolvimento sustentável com ênfase em frutíferas do Cerrado. Estudos, v.38, n.2, p.333-363, 2011. SILVA, S. M. C.; NASCIMENTO, J. L.; NAVES, R. V. Produção de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) irrigada e adubada nas condições do estado de Goiás. Bioscience Journal, v.22, n.2, p.43-51, 2006. Cultivo de frutíferas em clima tropical 123 Dias & Mata (2021) Capítulo X CONSERVAÇÃO E QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE FRUTOS TROPICAIS Josef Gastl Filho Introdução A etapa de conservação na pós-colheita é de extrema importância para garantia da qualidade sanitária, nutricional e sensorial dos frutos tropicais, tendo essa operação como objetivo central permitir que estas cheguem ao consumidor final no ponto ideal de maturação, sem danos mecânicos, biológicos ou químicos. Tendo ciência da importância desta etapa, o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias de conservação na etapa de pós-colheita são essenciais para dirimir as perdas que ocorrem em função, por exemplo, do mau manuseio e do transporte, que representam quase metade das perdas ocorridas (KAWANO et al., 2016). Desenvolvimento Estas perdas pós-colheita podem estar relacionadas, com outros fatores, tais como colheita de frutos imaturos, controle inadequado de qualidade nas etapas da produção, incidência e gravidade de danos mecânicos, exposição a temperaturas inadequadas e demora no consumo (KADER & ROLLE, 2004). De acordo com Lima (2016), as perdas de frutos tropicais podem ser classificadas em quantitativas, qualitativas e nutricionais. As perdas qualitativas consistem da perda de água ou de matéria seca, como também perdas por manuseio inadequado e perdas acidentais, as qualitativas, por sua vez, são perdas no sabor, aroma, deterioração na textura e aparência, enquanto que as nutricionais se trata da redução de nutrientes em decorrência de reações metabólicas dos frutos. As principais causas das perdas, segundo Chitarra e Chitarra (2005), são as primárias que podem ser de ordem fisiológica normal, decorrente de fatores endógenos metabólicos que ocorrem em todos os sistemas vivos, fisiológica anormal, decorrente de condições de estresse, fitopatológica e perdas por Cultivo de frutíferas em clima tropical 124 Dias & Mata (2021) danos mecânicos, enquanto as secundárias podem são resultado método de colheita, embalagem e manuseios incorretos, transporte e refrigeração ou armazenamento inadequados, sistemas de comercialização ineficientes e legislação. Tendo em vista, minimizar e garantir a segurança alimentar, são empregadas diversas tecnologias para a conservação dos frutos na pós-colheita, as principais são os métodos físicos, que consistem do tratamento térmico, modificação de atmosfera e refrigeração. Outros métodos que têm sido cada vez mais aplicados são a radiação gama, o ozônio (O3) em sua fase gasosa ou diluído em meio aquoso e a radiação ultravioleta C (UV-C) (KAWANO et al., 2016), além do uso de polímeros nos frutos e a utilização de embalagens adequadas. Serão tratados neste capítulo alguns métodos de conservação de frutos tropicais que vêm sendo estudados no Brasil nos últimos anos, sendo eles, o uso do permanganato de potássio (KMnO4), 1- Metilciclopropeno (1-MCP), armazenamento refrigerado, aplicação de revestimentos naturais tais como de fécula de mandioca e amido de milho. Antes de tratar detalhadamente cada um dos métodos de conservação para os frutos, é preciso frisar que, existem dois tipos de frutos em relação ao amadurecimento, são eles, os climatéricos e não climatéricos, sendo esta classificação determinante na escolha da tecnologia de conservação. Os frutos climatéricos apresentam no início do estádio de amadurecimento um curto, porém abrupto, marcante aumento na intensidade respiratória e na síntese do hormônio vegetal etileno, sendo que as maiores taxas respiratórias ocorrem quando o fruto atinge a maturação fisiológica, ocorrendo o amadurecimento e envelhecimento de maneira rápida, demandando grande quantidade de energia metabólica. Exemplos desse tipo de fruto são banana, goiaba, manga,mamão, melancia e abacate (COSTA et al., 2011). Enquanto que, os frutos não climatéricos são aqueles que apresentam um declínio lento e constante da sua intensidade respiratória após a colheita, necessitando de um longo período para completar o processo de amadurecimento, que ocorre durante toda a maturação. Um dos principais motivos é a reduzida síntese de etileno quando comparado com os frutos climatéricos. São exemplos laranja, tangerina, uva, pitaya e abacaxi, que devem ser colhidos em seu estádio ótimo de maturação (CALBO et al., 2007; COSTA et al., 2011). O armazenamento refrigerado é essencial para a conservação pós-colheita, pois reduz a velocidade das reações químicas e enzimáticas, resultando na lenta a degradação fisiológica, física e química dos frutos frescos (PRILL et al., 2012a). A banana é um dos frutos tropicais que usualmente se utilizam do armazenamento refrigerado, tendo em vista tanto a sua conservação quanto o controle do processo de maturação, de modo, que o fruto atinja aos padrões visuais e sensoriais padronizados pelo mercado, com frescor, sabor característico, aroma e coloração normal e textura firme (FERNANDES et al., 2010; PRILL et al., 2011; SARMENTO et al., 2015). Cultivo de frutíferas em clima tropical 125 Dias & Mata (2021) A temperatura de resfriamento utilizada para a banana varia de 13,9 a 23,9°C, entretanto, a faixa de temperatura, bem como o período de armazenamento a frio está condicionada a diversas variáveis, tais como a cultivar, estádio de colheita, umidade relativa, gás ativador, ar atmosférico, circulação de ar e exaustão (FERNANDES et al., 2010; PRILL et al., 2011). Fernandes et al. (2010) verificaram que, a temperatura de 13°C aplicada em bananas totalmente verdes do tipo “Nanicão” pelo período de 17 dias retardou o amadurecimento, e os frutos completaram o processo de amadurecimento na climatização, entretanto, ocorreu elevada perda de massa e apresentaram menor teor de açúcar. Os autores ainda inferiram que os frutos armazenados totalmente verdes por 38 dias a 13°C e 28 dias a 25°C não completam o processo de amadurecimento, apresentando reduzido aumento de sólidos solúveis, açúcares totais e redutores, além de elevada perda de massa. Ao avaliarem a banana “Prata-anã” armazenada totalmente verde por 20 dias a temperatura de 12°C e umidade relativa de 93%, Prill et al. (2011), verificaram que elas mantêm os atributos de qualidade sensorial por no mínimo três dias após o desverdecimento. Lima et al. (2014) recomenda que bananas da cultivar “BRS Caipira” sejam armazenadas a temperaturas de 14°C e umidade relativa de 53% pelo período máximo de 21 dias. Sarmento et al. (2015) relata que, bananas 'Prata Catarina' podem ser comercializadas por até 21 dias de armazenamento na temperatura de 14°C e 84% UR, sem perda da qualidade. A combinação de tecnologias na conservação de pós-colheita também se faz importante, como verificado no estudo de Prill et al. (2012a), em que foi combinado o uso da embalagem de polietileno de baixa densidade com o sachê de permanganato de potássio em frutos de banana “Prata-anã” a temperatura de armazenamento de 12°C que resultou no retardamento do processo de maturação. Outro fruto tropical que têm ganhado espaço nos últimos anos no mercado brasileiro é a Pitaya. No estudo de Brunini e Cardoso (2011) sobre o armazenamento refrigerado de pitaya de polpa branca, verificaram que temperatura de 8°C conservou eficientemente a qualidade sensorial, além do mais ocorreu menor perda de massa fresca, podendo a vida útil do fruto ser prolongada por até 25 dias. Segundo Sanches et al. (2017), a pitaya de polpa vermelha armazenada a 10°C têm vida útil de até 16 dias, quando associada aos revestimentos a base de amido, sem esta, a vida útil não passa dos 12 dias. Os mesmos autores ainda afirmam que quando armazenadas a temperatura de 25°C, a vida útil dos frutos é de 12 dias quando os frutos são revestidos com amido de mandioca e amido de milho, sem o revestimento a vida útil é de 8 dias apenas. Duarte et al. (2017) afirmam que, o tipo de adubação aplicado influi diretamente nas características sensoriais e na conservação pós-colheita dos frutos de pitaya. Outra técnica de conservação pós-colheita empregada é a atmosfera controlada e modificada, em que se realiza o controle e a modificação da atmosfera de armazenamento dos frutos com o objetivo de retardar o amadurecimento para que eles cheguem ao seu destino em ótima qualidade (COSTA et al., 2011). Vários estudos têm avaliado a combinação do uso da embalagem plástica de polietileno de baixa densidade, permanganato de potássio (KMnO4) e da temperatura de refrigeração, tendo sido verificados Cultivo de frutíferas em clima tropical 126 Dias & Mata (2021) resultados proeminentes, com retardamento do processo de maturação e consequente aumento do tempo de conservação de diversos frutos tropicais, como a banana (PRILL et al., 2012a; PRILL et al., 2012b; FONSECA, 2015; FALCÃO et al., 2017), mamão (SILVA et al., 2010; COSTA et al., 2014), manga (NEVES et al., 2008; SANTOS et al., 2011a; MEDEIROS et al., 2011; ALENCAR, 2019), pinha (SANCHES et al., 2019), mangaba (NASSER et al., 2015), sapoti (FREITAS et al., 2017a) e goiaba (QUEIROS, 2017). O permanganato de potássio é um absorvedor não corrosivo que promove a oxidação do etileno à água, gás carbônico, dióxido de manganês e potássio, auxiliando na redução da intensidade da taxa respiratória no pico climatério de alguns frutos. Após a reação com o etileno, passam da cor violeta para a marrom sendo um indicativo da necessidade da substituição dos sachês (QUEIROS, 2017). De acordo com Freitas et al. (2017a), a vida útil de sapoti é prolongada por dez dias com o uso de sachês de permanganato de potássio, em condições de atmosfera modificada a temperatura de 25oC e umidade relativa de 54%. A pinha, segundo Sanches et al. (2019) têm sua maturação atrasada quando utilizados sachês de 3 g de permanganato de potássio em atmosfera modifica a temperatura de 13oC. De acordo com Nasser et al. (2015), os frutos da mangaba, quando armazenados a temperaturas de 3oC e 80% de umidade, mantêm suas características sensoriais quando aplicado sachês de 2 a 3 g de permanganato de potássio, sendo que esta substância não interfere nos teores de sólidos solúveis, ácido ascórbico, acidez titulável e pH. A conservação pós-colheita dos frutos de goiaba "Pedro Sato" foi eficaz quando esta foi armazenada em condições de atmosfera modificada, com o uso de embalagem de polietileno de baixa densidade que retardou o amadurecimento em mais de 5 dias em temperatura ambiente, juntamente com o permanganato de potássio (QUEIROS, 2017). Em seu estudo, Falcão et al. (2017) constataram que, houve o retardamento do processo de maturação e, consequentemente, maior tempo de conservação de frutos de banana prata e nanica quando submetidas às condições que combinaram embalagem plástica de polipropileno, do bloquinho de gesso com permanganato de potássio e temperatura de refrigeração 13°C. Os mesmos autores ainda afirmam que os bloquinhos absorvedores de etileno não interferiram nas características de qualidade dos frutos durante o período de armazenamento. Nos estudos de Prill et al. (2012a) e Prill et al. (2012b) a combinação do uso da embalagem de polietileno de baixa densidade com o sachê de permanganato de potássio resultou no retardamento do processo de maturação dos frutos de banana 'Prata-Anã', quando armazenada a 12°C. Silva et al. (2010) ao estudarem a combinação de atmosfera modificada, embalagem plástica de polipropileno e permanganato de potássio para mamão "Golden" armazenado a temperatura ambiente, constataram que, o permanganato de potássio manteve os frutos verdes por 15 dias de armazenamento de 20oC, sendo que as doses de 1 a 4 g mantiveram as características sensoriais dos frutos após a remoçãoda embalagem. Outro caso semelhante, é o estudo de Costa et al. (2014) que inferiu que, o armazenamento do mamão "Sunrise solo" com sachês de permanganato de potássio associado à embalagem de PVC foi Cultivo de frutíferas em clima tropical 127 Dias & Mata (2021) efetiva na conservação das qualidades sensoriais e nutricionais por pelo menos 12 dias, a temperatura ambiente. Santos et al. (2011a) verificaram que, o uso da atmosfera modificada obtida por meio de filmes plásticos de PVC e polietileno associados ou não com o permanganato de potássio, reduziram a perda de massa dos frutos de manga "Tommy Atkins", sendo que as embalagens plásticas associadas à temperatura de 12oC e umidade de 88% retardou o amadurecimento dos frutos. Alencar (2019) verificou em seu estudo que, o uso de embalagem plástica associada ao sachê de permanganato de potássio, na conservação pós-colheita de mangas "Tommy Atkins‟, proporcionou menor perda de massa, além de ter retardado a maturação dos frutos. Outra técnica que vêm sendo utilizada e estudada nos últimos anos com o objetivo de aumentar a vida pós-colheita dos frutos tropicais é o regulador vegetal 1-metilciclopropeno (1-MCP), composto gasoso que inibe a percepção de etileno por ligar-se de maneira irreversível à proteína receptora do etileno, atrasando o amadurecimento, inibindo a perda de firmeza dos frutos, retardando a mudança de cor, reduzindo a taxa respiratória e a produção de etileno, e proporcionando, portanto, aumento da vida útil pós-colheita (BOMFIM et al., 2011; TREVISAN et al., 2013). O regulador vegetal 1-MCP têm sido estudado em frutos de várias frutíferas tropicais, visando a maior conservação pós-colheita, sendo alguma delas a manga (BONFIM et al., 2011; CORDEIRO et al., 2014; TRINDADE et al., 2015), o mamão (TREVISAN et al., 2013; FAÇANHA, 2016; OHASHI et al., 2016), a ameixa (HENDGES et al., 2013), o abacaxi (MACHADO et al., 2014), a nêspera (EDAGI et al., 2011), o sapoti (MORAIS et al., 2007), a banana (PINHEIRO et al., 2010; LIMA et al., 2019; FRANCALINO et al., 2019; BARBOSA et al., 2019), a atemoia (LUNDGREN, 2017). Em manga, Bomfim et al. (2011) observaram que, o 1-MCP foi eficiente em retardar o amadurecimento dos frutos em condições ambiente e sob refrigeração. Os autores recomendam o uso da concentração de 600 nL L-1 de 1-MCP, tanto no armazenamento refrigerado quanto a temperatura ambiente, sendo que sob condições de refrigeração, os frutos ficaram armazenados por 35 dias sem perder suas características. Por sua vez, Cordeiro et al. (2014) observaram que, a aplicação de 200 nL L-1 de 1 MCP foi suficiente para manter frutos da manga "Palmer" armazenados por 12 dias, havendo influência positiva quanto às características de coloração, firmeza, sólidos solúveis, relação sólidos solúveis/acidez titulável, pH, amido e açúcares. Em seu estudo, Trindade et al. (2015) constataram que, uso de 1-MCP nas doses de 300 e 600 nL L-1, em manga 'Palmer' no estádio de maturação 2, traz benefícios à aparência dos frutos, embora se restrinja a efeitos temporários sobre a firmeza de polpa e a degradação de amido. Enquanto que as doses de 600 e 1.000 nL L-1 aplicadas no estádio de maturação 3, limita a perda de firmeza da polpa e mantém a aparência dos frutos em condições de comercialização até o vigésimo quarto dia. Segundo Pinheiro et al. (2010), a aplicação de 50 nL L-1 de 1-MCP durante 12 horas foi responsável por prolongar a vida pós-colheita de frutos de banana maçã submetidas ao armazenamento Cultivo de frutíferas em clima tropical 128 Dias & Mata (2021) a 25oC e 85% de umidade relativa, em 11 dias. Os mesmos autores afirmam que, a aplicação por apenas 9 horas prolonga a vida útil dos frutos em apenas 8 dias. Por sua vez, Lima et al. (2019) e Francalino et al. (2019) verificaram que, o 1-MCP não afetou a perda de massa dos frutos de banana maçã e retardou o processo de amadurecimento dos frutos. Para o mamão "Golden", Trevisan et al. (2013) verificaram que, a aplicação de 1-MCP na concentração de 100 nL.L-1 em associação a 2,5 µL.L-1 de etileno, proporciona o aumento do tempo de conservação, sem que haja prejuízos no seu processo de maturação. Ohashi et al. (2016) verificaram que, a aplicação de 1-MCP por 24 horas em frutos de mamão "Solo", em condições de armazenamento de 20°C durante 10 dias, retardou o amadurecimento, proporcionando um atraso de 7 dias na perda de firmeza. O regulador vegetal, segundo mesmos autores, não interferiu no acúmulo de açúcares pelos frutos. De acordo com Machado et al. (2014), a aplicação do regulador vegetal 1-MCP antes do revestimento polimérico, estende o tempo de vida útil do fruto conservando sua qualidade sensorial e nutricional. Com relação à aplicação de 1-MCP em associação com ácido salícilio em ameixa "Laetitia", Hendges et al. (2013), inferiram que ocorre o retardamento do processo de maturação dos frutos, com a consequente manutenção da qualidade. Edagi et al. (2011) observaram que, a aplicação do regulador vegetal 1-MCP em associação ao salicilato de metila em frutos de nêspera "Fukuhara", foi eficiente no controle do escurecimento interno da polpa, sem afetar os aspectos sensoriais e nutricionais. Segundo Morais et al. (2007), a aplicação de 1-MCP prolongou a vida útil dos frutos de sapotizeiro em 6 dias, sendo que, segundo os mesmos autores, o retardo na perda da firmeza e a redução na perda de massa foram os principais fatores que contribuíram para a conservação dos sapotis por mais tempo, sendo as doses de 200 e 400 nL.L-1 as mais eficientes. Lundgren (2017) verificou que, a aplicação de 1-MCP associado ao armazenamento refrigerado foi eficiente no controle do amadurecimento dos frutos de atemoia "Thompson", sendo que, quanto maior a dosagem do regulador vegetal, menores eram as taxas respiratórias, da mesma forma ocorreu com a perda de massa pelos frutos. Outra técnica que tem sido utilizada e estudada nos últimos anos é a aplicação de revestimentos naturais em frutos tropicais, visando prolongar sua vida útil e, consequentemente, conservar a sua qualidade sensorial e nutricional. Os principais revestimento naturais estudados são a fécula de mandioca (SANTOS et al., 2011b; SARMENTO et al., 2015; AZERÊDO et al., 2016; GOMES FILHO et al., 2016; FREITAS et al., 2017b; NUNES et al., 2017; COSTA et al., 2019), a pectina (MONTIBELLER et al., 2016; COSTA et al., 2019; OLIVEIRA, 2020), o amido de milho (SANTOS et al., 2011c; BESSA et al., 2015), o revestimento de própolis verde (CUNHA et al., 2017; BARBOSA et al., 2018; OLIVEIRA, 2018; ABREU, 2019). Cultivo de frutíferas em clima tropical 129 Dias & Mata (2021) Os revestimentos com polímeros têm como finalidade principal atuar como barreiras contra fatores ambientais, que podem reduzir perdas de qualidade causada pelas deteriorações física, química e microbiológica (AZEREDO et al., 2010). Os polímeros biodegradáveis utilizados como revestimentos em frutos, consistem de uma alternativa com boa relação custo-benefício no acondicionamento de frutas em atmosfera modificada (DAIUTO et al., 2012; SILVA et al., 2014). Esta técnica tem sido continuamente utilizada como tratamento para ampliar a vida útil de frutos, reduzindo perdas e mantendo a qualidade. A aplicação dessas coberturas é feita diretamente na superfície das frutas, sendo membranas finas e imperceptíveis a olho nu (ASSIS & BRITO, 2014). Essas membranas preenchem de forma parcial os estômatos e lenticelas, o que reduz a transferência de umidade (transpiração) e as trocas gasosas (respiração) (ASSIS et al., 2009). Na composição dos revestimentos comestíveis, de um modo geral, os polissacarídeos apresentam boa resistência às trocas gasosas, boa resistência a danos mecânicos e propriedades fungicidas (OLIU et al., 2008; CASTRICINI et al., 2010). Os lipídios auxiliam na redução da perda de massa e aumento dotempo de armazenamento (VIEIRA et al., 2009; RIBEIRO et al., 2009). E as proteínas ajudam na manutenção sensorial e propriedades físico-químicas (GAGO, 2006; ZOCCHE, 2010). Os revestimentos comestíveis podem ser aplicados em frutas de duas formas diferentes, a primeira dela é por meio da imersão do fruto em uma solução filmogênica, em seguida o alimento é deixado em repouso até que a água evapore e se forme uma película sobre a fruta, a segunda maneira é por meio de aspersão, sendo o processo semelhante, porém neste a solução é aspergida sobre o alimento (JUNIOR et al., 2010). Oliveira (2018), verificou em seu estudo que a aplicação de extrato etanólico de própolis verde 20% prolongou significativamente a vida útil de frutos de mamão "Formosa" por oito dias quando comparado com os frutos que não passaram pelo tratamento, tento o sido o amadurecimento retardado em 2 dias, além de outros benefícios, como a redução da perda de massa, redução de severidade de doenças espontâneas em pós-colheita. Em seu estudo, Abreu (2019) verificou que, a aplicação de revestimento de cera de carnaúba enriquecida com própolis vermelha aliado à refrigeração proporcionou retardo no amadurecimento de frutos de acerola, proporcionando maior vida útil. Cunha et al. (2017) constataram que, os extratos hidroalcoólicos de própolis do tipo silvestre e do tipo verde alecrim na forma de revestimento pode estender a vida útil do maracujá-amarelo, uma vez que, proporciona a menor perda de massa durante 16 dias de armazenamento a temperatura ambiente, não ocorrendo interferência na firmeza, sólidos solúveis, acidez titulável, relação entre sólidos solúveis e acidez titulável e pH dos frutos de maracujá-amarelo A pectina é um polissacarídeo que pode ser usado também na preparação de revestimentos comestíveis. Assim como no estudo de Oliveira (2020), que observou que a aplicação de revestimento à base de pectina do pomelo em frutos do abacate proporcionou a redução na perda de massa. Cultivo de frutíferas em clima tropical 130 Dias & Mata (2021) Em seu estudo Montibeller et al. (2016) verificaram que, ao final do período de armazenamento as bananas "Caturra" revestidas com filmes de pectina apresentaram menor perda de massa e mantiveram dentro do limite permitido (7%) até os 4,9 dias. Santos et al. (2011b), concluíram que o uso de cera, fécula de mandioca e embalagens plásticas de PVC e polietileno, associado ao armazenamento refrigerado, foi eficiente na conservação pós-colheita de mangas 'Tommy Atkins' tratadas hidrotermicamente. Costa et al. (2019), ao avaliar a influência da aplicação de fécula de mandioca e pectina em frutos de banana "Prata anã" observaram que, houve aumento significativa no aumento da vida útil, assim como conservação das características dos frutos. Os autores ainda afirmam, que a utilização do revestimento fécula de mandioca, quando considerado a relação custo benefício é mais indicada. Santos et al. (2011c), ao avaliarem a influência de revestimentos com as películas de fécula de mandioca e amido de milho sobre a conservação pós-colheita de frutos de manga ‘Tommy Atkins’ concluíram que, quando associados ao armazenamento refrigerado perda de massa dos frutos é reduzida drasticamente. Pereira et al. (2006), observaram que frutos de mamão Formosa 'Tainung 1' tiveram sua vida útil pós-colheita prolongada em quatro dias com revestimentos comestíveis à base de fécula de mandioca a 1 e 3%, sem terem sua qualidade prejudicada em função do retardamento do processo de maturação. Oliveira et al. (2017), inferiram que os frutos de goiaba “paluma” armazenados sob refrigeração e diferentes concentrações de fécula de mandioca apresentaram vida útil de 15 dias. Os mesmos autores ainda afirmam que a fécula de mandioca associado com a refrigeração, retardou o amadurecimento dos frutos, principalmente nos frutos revestidos na concentração de 2% da fécula de mandioca, proporcionando um melhor aspecto e conservação pós-colheita. De acordo com Silva et al. (2019), o uso de revestimento de fécula de mandioca contribuiu na conservação da qualidade pós-colheita dos frutos de maracujá amarelo. Em seu estudo, Freitas et al. (2019) observaram que, a vida útil pós-colheita dos frutos de cajá foi de 8 dias para os tratados com fécula de mandioca ou fécula de mandioca associada ao PVC e de 6 dias para o controle. Vieira et al. (2009) concluíram que, biofilmes à base de fécula de mandioca de 1 a 3%, associados ao óleo de girassol a 0,05%, retardam o amadurecimento de mangas 'Tommy Atkins' em pelo menos quatro dias em condição ambiente, sem prejuízo aos atributos de qualidade dos frutos. Nunes et al. (2017), ao avaliarem a conservação pós-colheita de frutos de mamão "Formosa", concluíram que o biofilme de fécula de mandioca manteve a qualidade dos frutos, além de reduzir a perda de massa, e aumentar o tempo de vida útil do produto. Cultivo de frutíferas em clima tropical 131 Dias & Mata (2021) Considerações finais Como visto, são diversas as técnicas de conservação pós-colheita dos frutos tropicais, sendo de extrema importância, uma vez que permitem a manutenção das qualidades sensorial e nutricional dos frutos pelo maior tempo possível até chegar ao consumidor final. As técnicas de conservação pós-colheita dos frutos tropicais, quase sempre estão associadas de forma harmônica entre si, o que torna o processo de conservação mais eficiente, do que se as técnicas fossem aplicadas isoladamente. Referências ABREU, C. T. A. Desenvolvimento de biofilme comestível enriquecido com própolis vermelha aplicado no revestimento de acerola (Malpighia emarginata). 101f. Dissertação (Mestrado em Nutrição). Faculdade de Nutrição. Programa de Pós Graduação em Nutrição. Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2019. ALENCAR, I. A. S. Conservação pós-colheita de mangas ‘tommy atkins’ acondicionadas em embalagens plásticas associadas a absorvedores de etileno. 31f. TCC (Graduação). Curso de Agronomia. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano. Petrolina, 2019. ASSIS, O. B. G.; BRITTO, D. DE. Revisão: coberturas comestíveis protetoras em frutas: fundamentos e aplicações. Brasilian Journal of Food Technology, v.17, p.87–97, 2014. ASSIS, O. B. G.; BRITO, D.; FORATO, L. A. O uso de biopolímeros como revestimentos comestíveis protetores para conservação de frutas in natura e minimamente processadas. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Embrapa Instrumentação Agropecuária. São Carlos, 2009. 23p. AZEREDO, H. M. C.; BRITTO, D.; ASSIS, O. B. G. Chitosan Edible Films and Coatings – A review. In: DAVIS, S. P. (ed.) Chitosan: manufacture, properties and usage. Happauge, NY: Nova Science Publishers, p.179- 194, 2010. AZERÊDO, L. P. M.; SILVA, S. D. M.; LIMA, M. A. C.; DANTAS, R. L.; PEREIRA, W. E. Quality of ‘tommy atkins’ mango from integrated production coated with cassava starch associated with essential oils and chitosan. Revista Brasileira Fruticultura, v.38, n.1. p.141-150, 2016. Cultivo de frutíferas em clima tropical 132 Dias & Mata (2021) BARBOSA, L. F. S.; ALVES, A. L.; DE SOUSA, K. D. S. M.; NETO, A. F.; CAVALCANTE, Í. H. L.; VIEIRA, J. F. Qualidade pós-colheita de banana ‘Pacovan’ sob diferentes condições de armazenamento. Magistra, v.30, p.28–36, 2019. BESSA, R. A.; OLIVEIRA, L. H.; ARRAES, D. A.; BATISTA, E. S.; NOGUEIRA, D. H.; SILVA, M. S.; RAMOS, P. H.; LOIOLA, A. R. Filmes de amido e de amido/zeólita aplicados no recobrimento e conservação de goiaba (Psidium guajava). Revista Virtual de Química, v.7, n.6, p.2190-2201, 2015. BOMFIM, M. P.; LIMA, G. P. P., JOSÉ, A. R. S., VIANELLO, F., OLIVEIRA, L. M. D. Conservação pós-colheita de manga 'Tommy Atkins' com 1-metilciclopropeno. Revista Brasileira Fruticultura, v.33, n.1, p.290- 297, 2011. BRUNINI, M. A.; CARDOSO, S. S. Qualityof stored pitayas fruits white pulp at different temperatures. Revista Caatinga, v.24, n.3, p.78-84, 2011. CALBO, A. G.; MORETTI, C. L.; HENZ, G. P. Respiração de Frutas e Hortaliças. Brasília: Embrapa, 2017. 10p. CASTRICINI, A.; CONEGLIAN, R. C. C.; VASCONCELLOS, M. A. S. Qualidade e amadurecimento de mamões ‘golden’ revestidos por película de fécula de mandioca. Revista Trópica – Ciências Agrárias e Biológicas, v.4, n.1, p.32-41, 2010. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2 ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA, 2005. 783 p. CORDEIRO, M. H. M.; MIZOBUTSI, G. P., DA SILVA, N. M., OLIVEIRA, M. B., DA MOTA, W. F., SOBRAL, R. R. S. Conservação pós-colheita de manga var. Palmer com uso de 1-metilciclopropeno. Magistra, v.26, n.2, p.103-114, 2014. COSTA, A. S.; RIBEIRO, L. R. R.; KOBLITZ, M. G. Uso de atmosfera controlada e modificada em frutos climatéricos e não-climatéricos. Sitientibus série Ciências Biológicas, v.11, n.1, p.1–7, 2011 COSTA, L. C.; COSTA, R. R., RIBEIRO, W. S., NUNES, A. S., DOS SANTOS, M. B. H. Conservação pós-colheita de mamão ‘sunrise solo’ sob atmosfera modificada e permanganato de potássio. Rev. Iber. Tecnología Postcosecha, v.15, n.2, p.127-134, 2014. Cultivo de frutíferas em clima tropical 133 Dias & Mata (2021) COSTA, M. S.; SOUZA COSTA, J. D.; GOMES, J. P.; NETO, A. F.; ANDRADE, R. O.; LIMA, G. S. Conservação de bananas ‘prata anã’ revestida com fécula de mandioca e pectina. Agrarian, v.12, n.46, 2019. CUNHA, M. C.; PASSOS, F. R.; MENDES, F. Q.; SILVA, S. A.; ALMEIDA, W. L.; NASSER, V. L. Extrato de própolis na conservação pós-colheita de maracujá-amarelo. Interciencia, v.42, n.5, p.320-323, 2017. DAIUTO, E. R.; MINARELLI, P. H.; VIEITES, R. L.; ORSI, R. O. Própolis e cera vegetal na conservação de abacate ‘Hass’. Semina: Ciências Agrárias, v.33, n.4, p.1463–1474, 2012. DUARTE, M. H.; QUEIROZ, E. D. R.; ROCHA, D. A.; COSTA, A. C.; ABREU, C. M. P. D. Qualidade de pitaia (Hylocereus undatus) submetida à adubação orgânica e armazenada sob refrigeração. Brazilian Journal of Food Technology, v.20, e2015115, 2017. EDAGI, F. K.; SASAKI, F. F.; SESTARI, I.; TERRA, F. D. A. M.; GIRO, B.; KLUGE, R. A 1-metilciclopropeno e salicilato de metila reduzem injúrias por frio em nêspera 'Fukuhara' refrigerada. Ciência Rural, v.41, n.5, p.910-916, 2011. FAÇANHA, R. V. Estudo das relações entre etileno e 1-metilciclopropeno (1-MCP) em mamões "Golden". 119f. Tese (Doutorado). Curso de Ciências. Universidade de São Paulo. Piracicaba, 2016. FALCÃO, H. A. S.; FONSECA, A. O.; OLIVEIRA FILHO, J. G.; PIRES, M. C.; PEIXOTO, J. R. Armazenamento de variedades de bananas em condições de atmosfera modificada com permanganato de potássio. Revista de Agricultura Neotropical, v.4, n.4, p.1-7, 2017. FERNANDES, E. G.; LEAL, P. A. M.; SANCHES, J. Climatização e armazenamento refrigerado na qualidade pós-colheita de bananas 'nanicão'. Bragantia, v.69, n.3, p.735-744, 2010. FONSECA, A. O. Armazenamento de variedades de bananas em condições de atmosfera modificada com uso de permanganato de potássio. 30f. TCC (Graduação). Curso de Agronomia. Universidade de Brasília. Brasília, 2015. FRANCALINO, P. B. et al. Perda de massa e coloração da casca da banana-maçã sob armazenamento refrigerado com aplicação de 1-metilciclopropeno. In: Semana Agronômica - Tecnologia e Sustentabilidade na Agropecuária do Cerrado, 8, 2019, Goianésia. Anais.... Goianésia, 2019. FREITAS, R. V. S.; LIMA, A. P. A.; SILVA, M. M.; ANDRADE, G. L.; DA SILVA PEREIRA, J. C. Storage of mombin fruits coated with cassava starch and PVC film. Revista Caatinga, v.30, p.244–249, 2017b. Cultivo de frutíferas em clima tropical 134 Dias & Mata (2021) FREITAS, W. E. S.; W. E., BEZERRA ALMEIDA, M. L.; DANTAS DE MORAIS, P. L.; CURNHA MOURA, A. K.; SALES JÚNIOR, R. Potassium permanganate effects on the quality and post-harvest conservation of sapodilla (Manilkara zapota (L.) P. Royen) fruits under modified atmosphere. Acta Agronómica, v.66, n.3, p.331-337, 2017a. GAGO, M. B. P.; SERRA, M.; RIO, M. A. D. Color change of fresh-cut apples coated with whey protein concentrate-based edible coatings. Postharvest Biology and Technology, v.39, n.1, p.84-92, 2006. GOMES FILHO, A.; OLIVEIRA, T. F.; OLIVEIRA, S. L.; SILVA, G. G.; CHAGA, L. M. Qualidade pós-colheita de goiabas ‘pedro sato’ tratadas com diferentes concentrações de fécula de mandioca associadas a substâncias antifúngicas. Revista AGRIES, v.2, n.1, 2016. HENDGES, M. V.; STEFFENS, C. A.; AMARANTE, C. V. T.; TANAKA, H. Amadurecimento e qualidade de ameixas 'Laetitia' tratadas com ácido salicílico e 1-metilciclopropeno. Revista Ceres, v.60, n.5, p.668- 674, 2013. JUNIOR, E. B.; MONARIM, M. M. S.; CAMARGO, M.; MAHL, C. E. A.; SIMÕES, M. R.; SILVA, C. F. Efeito de diferentes biopolímeros no revestimento de mamão (Carica papaya L.) minimamente processado. Revista Varia Scientia Agrárias, v.1, n.1, p.131-142, 2010. KADER, A. A.; ROLLE, R. S. The role of post-harvest management in assuring the quality and safety horticultural crops. Food and Agriculture Organization. Agricultural Services Bulletin 152. 2004. 52p. KAWANO, B. R. Frutas e hortaliças: tecnologias para a conservação pós-colheita. 2016. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/agroanalysis/article/download/69196/66781. Acesso em: 10 mar. 2020. LIMA, A. P. A.; FRANCALINO, P. B.; ANDRADE, G. L.; SILVA, M. M.; PEREIRA, J. C. SILVA. Atributos de qualidade da banana-maçã sob armazenamento refrigerado com aplicação de 1-metilciclopropeno. In: Congresso Interdisciplinar – Cerrado, sua riqueza e diversidade, 11, 2019, Goianésia. Anais....Goianésia: Faculdade Evangélica de Goianésia, 2019. LIMA, J. D. A. Métodos para conservação de frutas e hortaliças. 53f. TCC (Graduação). Curso de Agronomia. Universidade de Brasília. Brasília, 2016. Cultivo de frutíferas em clima tropical 135 Dias & Mata (2021) LIMA, O. S.; SOUZA, E. G.; AMORIM, E. P.; PEREIRA, M. E. C. Ripening and shelf life of 'BRS Caipira' banana fruit stored under room temperature or refrigeration. Ciência Rural, v.44, n.4, p.734-739, 2014. LUNDGREN, G. A. Conservação de atemoia submetida a 1-metilciclopropeno. 79f. Dissertação (Mestrado). Curso de Agronomia. Universidade Estadual Paulista. Botucatu, 2017. MACHADO, F. L. C.; LIMA, R. M. T.; ALVES, R. E.; FIGUEIREDO, R. W. Influence of waxing coupled to 1- methylcyclopropene on compositional changes in early harvested 'Gold' pineapple for export. Acta Scientiarum. Agronomy, v.36, n.2, p.219-225, 2014. MEDEIROS, E. A. A.; SOARES, N. D. F. F.; POLITO, T. D. O. S.; SOUSA, M. M. D.; SILVA, D. F. P. Sachês antimicrobianos em pós-colheita de manga. Revista Brasileira Fruticultura, v.33, n.1, p.363-370, 2011. MONTIBELLER, M. J.; ZAPAROLLI, F. B.; OLIVEIRA, B. G.; PIETROWSKI, G. D. A. M.; ALMEIDA, D. M. Efeito de filmes de polímeros naturais na conservação de banana cv. Caturra (Musa paradisiaca L.). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, v.18, n.1, p.11-19, 2016. MORAIS, P. L. D.; LIMA, L. C. D. O.; ALVES, R. E.; DONIZETI, J.; ALVES, A. D. P. Conservação pós-colheita de sapoti submetido a diferentes doses de 1-metilciclopropeno. Revista Ceres, v.54, n.316, p.517-525, 2007. NASSER, F. A. C. M.; BOLIANI, A. C.; NASSER, M. D.; PAGLIARINI, M. K.; MENDONÇA, V. Z. Uso de sachê de permanganato de potássio na pós-colheita de mangabas. Nativa, v.3, n.4, p.246-251, 2015. NEVES, L. C.; BENEDETTE, R. M.; SILVA, V. X. D.; PRILL, M. A. D. S.; ROBERTO, S. R.; VIEITES, R. L. Qualidade pós-colheita de mangas, não-refrigeradas, e submetidas ao controle da ação do etileno. Revista Brasileira Fruticultura, v.30, n.1, p.94-100, 2008. NUNES, A. C. D.; NETO, A. F.; NASCIMENTO, I. K.; DE OLIVEIRA, F. J.;MESQUITA, R. V. C. Armazenamento de mamão “formosa” revestido à base de fécula de mandioca. Revista de Ciências Agrárias, v.40, n.1, p.254-263, 2017. OHASHI, T. L.; FOUKARAKI, S.; CORRÊA, D. S.; FERREIRA, M. D.; TERRY, L. Influence of 1- methylcyclopropene on the biochemical response and ripening of ‘solo’ papayas. Revista Brasileira de Fruticultura, v.38, n.2, e-791, 2016. Cultivo de frutíferas em clima tropical 136 Dias & Mata (2021) OLIU, O. G.; FORTUNY, S. R.; BELIOSO, M. O. Using polysaccharide-based edible coatings to enhance quality and antioxidant properties of fresh-cut melon. Food Science and Technology, v.41, p.862-1870, 2008. OLIVEIRA, J. C. F. Efeito do revestimento de própolis verde na qualidade de frutos de mamão formosa (Carica papaya L.). 40f. TCC (Graduação). Curso de Agronomia. Universidade Federal de Mato Grosso. Sinop, 2018. OLIVEIRA, L. C. S. Avaliação físico-química do abacate (Persea americana Mill.) com uso de revestimento comestível produzido à base da pectina do pomelo (Citrus grandis). 38f. TCC (Graduação). Curso de Engenharia de Alimentos. Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Goiano. Rio Verde, 2020. OLIVEIRA, L. M.; RODRIGUES, M. H. B. S.; BOMFIM, M. P.; SOUSA, V. F. O.; TRIGUEIRO, R. W. P.; MELO, E. N. Uso de coberturas comestíveis a base de fécula de mandioca associado à refrigeração na qualidade pós-colheita de goiaba paluma. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.12, n.3, p.540-546, 2017. OSTA, T. L. E. Desenvolvimento e caracterização de filmes e blendas poliméricas de quitosana, pectina e fécula de mandioca para revestimento em frutos. 75f. Dissertação (Mestrado). Curso de Ciências. Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Mossóro, 2018. PEREIRA, M. E. C.; SILVA, A. S.; BISPO, A. S. R.; SANTOS, D. B.; SANTOS, S. B.; SANTOS, V. J. Amadurecimento de mamão formosa com revestimento comestível à base de fécula de mandioca. Ciência e Agrotecnologia, v.30, n.6, p.1116-1119, 2006. PINHEIRO, A. C. M.; VILAS BOAS, E. V. B.; BOLINI, H. M. A. Prolongamento da vida pós-colheita de bananas-maçã submetidas ao 1-metilciclopropeno (1-MCP) - qualidade sensorial e física. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.30, n.1, p.132-137, 2010. PRILL, M. A. S.; NEVES, L. T.; CAMPOS, A. J. D.; SILVA, S.; CHAGAS, E. A.; ARAÚJO, W. F. Aplicações de tecnologias pós-colheita para bananas 'Prata-Anã' produzidas em Roraima. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.16, n.11, 2012b. PRILL, M. A. S.; NEVES, L. C.; TOSIN, J. M.; CHAGAS, E. A. Atmosfera modificada e controle de etileno para bananas 'Prata-Anã' cultivadas na Amazônia Setentrional Brasileira. Revista Brasileira Fruticultura, v.34 n.4, 2012a. Cultivo de frutíferas em clima tropical 137 Dias & Mata (2021) PRILL, M. A. S.; NEVES, L. C.; GRIGIO, M. L.; DE VASCONCELOS, L. L.; SILVA, S.; CHAGAS, E. A.; DE CAMPOS, A. J. Climatização de bananas ‘Prata-Anã’: métodos e tempos para o desverdecimento após o armazenamento refrigerado. Revista Agro@mbiente On-line, v.5, n.2, p.134-142, 2011a. QUEIROS, P. F. Uso de embalagens plásticas na conservação, pós-colheita e qualidade de goiabas “pedro sato”. 41f. Tese (Doutorado). Curso de Agronomia. Universidade de Brasília. Brasília, 2017. RIBEIRO, T. P.; LIMA, M. A. C.; TRINDADE, D. C. G.; SANTOS, A. C. N.; AMARIZ, A. Uso de revestimentos à base de dextrina na conservação pós-colheita de manga ‘Tommy Atkins’. Revista Brasileira de Fruticultura, v.31, n.2, p.343-351, 2009. SANCHES, A. G.; DA SILVA, M. B.; MOREIRA, E. G. S.; DOS SANTOS, E. X.; MENEZES, K. R. P.; CORDEIRO, C. A. M. Ethylene absorber (KMnO4) in postharvest quality of pinha (Anona squamosa L.). Emirates Journal of Food and Agriculture, v.31, n.8, p.605-612, 2019. SANCHES, A. G.; DA SILVA, M. B.; MOREIRA, E. G. S.; CORDEIRO, C. A. M. Fontes de amido e temperatura de armazenamento na manutenção da qualidade pós-colheita da pitaya de polpa vermelha. Colloquium Agrariae, v.13, n.2, p.41-54, 2017. SANTOS, A. E. O.; DE ASSIS, J. S.; BERBERT, P. A.; SANTOS, O. O. D.; BATISTA, P. F.; DE A GRAVINA, G. Influência de biofilmes de fécula de mandioca e amido de milho na qualidade pós-colheita de mangas ‘Tommy Atkins’. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.6, n.3, p.508-513, 2011c. SANTOS, A. E. O.; DE ASSIS, J. S.; BATISTA, P. F.; DOS SANTOS, O. O. Utilização de atmosfera modificada na conservação pós-colheita de mangas ‘Tommy Atkins’. Revista Semiárido De Visu, v.1, n.1, p.10-17, 2011. SANTOS, A. E. O.; GRAVINA, G. A.; BERBERT, P. A.; ASSIS, J. S.; BATISTA, P. F.; SANTOS, O. O. Efeito do tratamento hidrotérmico e diferentes revestimentos na conservação pós-colheita de mangas ‘Tommy Atkins’. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v.6, n.1, p.140-146, 2011b. SARMENTO, J. D. A.; DE MORAIS, P. L. D.; ALMEIDA, M. L. B.; DA SILVA, G. G.; ROCHA, R. H. C.; DE MIRANDA, M. R. A. Qualidade pós-colheita da banana 'Prata Catarina' submetida a diferentes danos mecânicos e armazenamento refrigerado. Ciência Rural, v.45, n.11, p.1946-1952, 2015. SILVA, A. C. G.; SILVA, N. S.; SOUSA, F. F. Pós-colheita do maracujá amarelo com revestimentos a base de amido da entrecasca de mandioca. Revista Verde, v.14, n.2, p.238-245, 2019. Cultivo de frutíferas em clima tropical 138 Dias & Mata (2021) SILVA, D. A.; OLIVEIRA, J. K.; SANTOS, C. M.; BERY, C. C. S.; CASTRO, A. A.; SAANTOS, J. A. B. The use of sodium alginate-based coating and cellulose acetate in papaya post-harvest preservation. Acta Scientiarum. Technology, v.36, n.3, p.569-573, 2014. SILVA, D. F. P.; SALOMÃO, L. C. C.; CECON, P. R.; SIQUEIRA, D. L. Efeito de absorvedor de etileno na conservação de mamão "Golden", armazenado à temperatura ambiente. Revista Ceres, v.57, n.6, p.706- 715, 2010. TREVISAN, M. J.; JACOMINO, A. P.; CUNHA JUNIOR, L. C.; ALVES, R. F. Aplicação de 1-metilciclopropeno associado ao etileno para minimizar seus efeitos na inibição do amadurecimento do mamão 'golden'. Revista Brasileira de Fruticultura, v.35, n.2, p.384-390, 2013. TRINDADE, D. C. G.; LIMA, M. A. C.; ASSIS, J. S. Ação do 1-metilciclopropeno na conservação pós-colheita de manga 'Palmer' em diferentes estádios de maturação. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.50, n.9, p.753-762, 2015. VIEIRA, E. L.; PEREIRA, M. E. C.; SANTOS, D. B.; LIMA, M. A. C. Aplicação de biofilmes na qualidade da manga ‘Tommy Atkins’. Magistra, v.21, n.3, p.165-170, 2009. ZOCCHE, L. Avaliação da eficiência, aceitação visual e sensorial de acerolas tratadas com biofilmes comestíveis. Medianeira, PR. 22f. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Medianeira, 2010. Cultivo de frutíferas em clima tropical 139 Dias & Mata (2021) Índice Remissivo ambientes, 8, 13, 29, 111, 123 associação, 3, 69, 78, 114, 136, 139, 148, 149 Brasil, 3, 12, 24, 25, 26, 30, 32, 33, 43, 45, 51, 53, 54, 55, 57, 65, 72, 77, 89, 92, 93, 95, 96, 97, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 106, 109, 110, 113, 114, 119, 120, 127, 129, 132, 140, 143 clima, 1, 3, 10, 11, 15, 18, 21, 32, 41, 50, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 59, 60, 61, 63, 64, 67, 68, 69, 70, 88 colheita, 3, 9, 20, 23, 31, 51, 55, 58, 70, 75, 78, 79, 86, 103, 118, 137, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160 consorciação, 3, 136, 139 convencional, 3, 22, 23, 25, 28, 65, 77, 78, 80, 81, 84, 85, 86, 88, 113 cultivo, 3, 7, 12, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 29, 30, 33, 43, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 58, 60, 61, 62, 63, 68, 70, 71, 73, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 85, 86, 87, 88, 93, 95, 97, 106, 110, 115, 126, 129, 138 diversificação, 3, 77, 136, 139 ecofisiologia, 3, 50, 52 fitossanitário, 3, 7, 12, 23, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 83, 86 floração, 3, 7, 17, 18,19, 20, 22, 33, 54, 59, 70, 73, 99, 102 frutas, 3, 12, 17, 18, 19, 24, 29, 32, 33, 54, 61, 72, 73, 77, 78, 79, 84, 85, 89, 101, 105, 106, 126, 133, 150, 153, 154, 156 frutificação, 3, 7, 17, 20, 21, 22, 33, 70, 78, 79, 85, 91, 93, 95, 96, 97, 98, 136 orgânico, 3, 22, 23, 25, 27, 77, 79, 82, 83, 84, 85, 86, 87 pós-colheita, 3, 147, 152 produção, 3, 7, 10, 12, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 33, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 48, 52, 53, 55, 57, 59, 60, 61, 62, 63, 66, 67, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 77, 78, 79, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 95, 96, 97, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 114, 115, 119, 123, 126, 127, 129, 130, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 142, 147, 163 propagação, 3, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 33, 39, 40, 41, 46, 47 recuperação, 3, 26, 27, 99, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 129, 130, 136, 138, 140 tecnológico, 3, 76, 115 tropicais, 3, 7, 24, 25, 31, 40, 45, 51, 56, 59, 60, 74, 77, 88, 105, 107, 109, 115, 120, 125, 142, 143, 144, 145, 147, 149, 152, 153 Curriculum dos Autores e Organizadores Antônio dos Santos Júnior Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Fitotecnia. antonio_agronomia@yahoo.com.br Daniela Fernanda da Silva Fuzzo Geógrafa, Mestra em Agricultura Tropical e Subtropical, Doutora em Engenharia Agrícola, Professora UEMG (Unidade Frutal-MG), cursos de Engenharia Agronômica e Geografia. daniela.fuzzo@uemg.br Dênia Pires de Almeida Engenheira Agrônoma, Mestre e Doutora em Genética e Melhoramento, Professora UEMG (Unidade Frutal-MG), curso de Engenharia Agronômica. denia.almeida@uemg.br Eliana Fernandes Souza Engenheira de Alimentos, Mestranda em produção vegetal na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/Montes Claros. eng.eliana10@gmail.com Elisângela Aparecida da Silva Engenheira Agrônoma, Mestre e Doutora em Agronomia (Fitotecnia/Produção Vegetal), Professora UEMG (Unidade Frutal-MG), curso de Engenharia Agronômica. elisangela.aparecida@uemg.br Guilherme Constantino Meirelles Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciência e Tecnologia Animal, doutorando em Agricultura na Universidade Estado Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Botucatu, São Paulo. gui_meirelles2312@hotmail.com Izabela Thais dos Santos Engenheira Agrônoma, Mestre em Agricultura, doutoranda em Agricultura na Universidade Estado Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Botucatu, São Paulo iza_agro@yahoo.com.br Cultivo de frutíferas em clima tropical 141 Dias & Mata (2021) Jairo Fernando Pereira Linhares Engenheiro Agrônomo, Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas, Doutor em Agronomia (Horticultura), Especialista em Educação Ambiental e Gestão participativa de Recursos Hídricos. jairoivini29@yahoo.com.br Jhansley Ferreira da Mata Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia (Produção Vegetal), Professor UEMG (Unidade Frutal-MG), cursos de Engenharia Agronômica e Tecnologia em Alimentos. Linha de Pesquisa: ecofisiologia de sementes, espécies infectantes e cultivadas; uso e conservação de recursos naturais. jhansley.mata@uemg.br João Alberto Fischer Filho Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia (Ciências do Solo), Professor UEMG (Unidade Frutal-MG), cursos de Engenharia Agronômica e Administração joao.fischer@uemg.br João Paulo Tadeu Dias Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia (Horticultura), Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, além de professor. Linha de Pesquisa: fisiologia e bioquímica de plantas hortícolas; fisiologia e bioquímica de plantas frutíferas; propagação de plantas hortícolas; propagação de plantas frutícolas. diasagro2@gmail.com Joel Soares Vieira Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Olericultura), Especialista em Ciências Ambientais, professor Universidade Aberta Integrada de Minas Gerais (Unidade de Ituiutaba-MG), cursos Online e Presencial de Meio Ambiente, Agronomia, Agronegócio e Informática. josovi41@yahoo.com.br Josef Gastl Filho Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Federal de Uberlândia. josef.gastl@hotmail.com Cultivo de frutíferas em clima tropical 142 Dias & Mata (2021) Larissa Rodrigues de Azevedo Câmara Zootecnista, Mestre e Doutora em Zootecnia (Nutrição/Produção animal), Professora UEMG (Unidade Frutal-MG), cursos de Engenharia Agronômica. larissa.camara@uemg.br Maria Ivanilde de Araujo Rodrigues Farmacêutica-Bioquímica, Mestre em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal), Doutora em Ciências Biológicas (Botânica), professora da Universidade Estadual do Maranhão. miar29@gmail.com Ubiramar Ribeiro Cavalcante Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Olericultura), Especialista em Ciências Ambientais, professor UEMG (Unidade de Ituiutaba-MG), cursos de Agronomia, Tecnologia em Gestão Ambiental e Tecnologia em Agronegócio. ubiramarrc@gmail.com View publication statsView publication stats https://www.researchgate.net/publication/351605690