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Funções cognitivas Funções cognitivas GT-6: “Um tapa no cérebro” Obj.1 Identificar as funções cognitivas Cognição: aquisição de conhecimento; capacidade de pensar, de assimilar esse conhecimento; percepção. Ação de conhecer, de perceber, de ter ou de passar a ter conhecimento sobre algo. Atenção Capacidade de manter o foco em estímulos específicos Relacionada ao lobo parietal A essência da atenção é constituída pela: focalização, concentração e consciência Dirigimos a atenção para o estímulo que julgamos importante, e os outros estímulos passam a fazer parte do “fundo”, não sendo focos da atenção Todas as funções cognitivas dependem da atenção pré-requisito para o processo de memorização Há modos de atenção ativos e passivos: · Atenção ativa: controlada pelos objetivos ou pelas expectativas do individuo · Atenção passiva: controlada por estímulos externos, como um ruido alto Outras classificações: · Atenção seletiva (focalizada): quando há dois ou mais estímulos e o indivíduo escolhe um ao qual prestará atenção. Só é possível devido ao mecanismo de inibição presente no controle atencional, suprimindo informações irrelevantes do ambiente, ou seja, seleciona estímulos e evita ser distraído. Ela controla as informações relevantes para a memória de curta duração. Ex: estudar ao invés de assistir TV, mesmo que ela esteja ligada e fazendo ruídos no fundo · Atenção dividida (multitarefas): caracteriza-se pela capacidade do indivíduo em prestar atenção em mais de um estímulo ao mesmo tempo. Ex: conversar enquanto dirige veículo; trabalhar no computador enquanto fala ao telefone · Atenção voluntária (tenacidade): capacidade de direcionar, voluntariamente, a vida mental para estímulo específico · Atenção espontânea (vigilância): capacidade não intencional de redirecionar a atenção a estímulos novos · Atenção sustentada: capacidade de manter foco atencional em um determinado estímulo ou tarefa, durante um período mais prolongado consistência da resposta, sendo importante para processos cognitivos, como codificação, armazenamento, planejamento e resolução de problemas. Ex: Estar atento a tudo o que é dito durante uma longa palestra, é um exemplo. · Atenção externa: seleção e modulação da informação sensorial · Atenção interna: seleção, modulação e manutenção da informação gerada internamente Memória A capacidade de armazenar informações, lembrar delas e utilizá-las no presente Fixação, armazenamento e evocação dos estímulos e vivencias Há a memória do passado e a memória prospectiva (lembrar de compromisso futuro) O bom funcionamento da memória depende inicialmente do nível de atenção. Região temporal medial hipocampo e amigdala são muito importantes na codificação e formação de novas memorias Para que o bom armazenamento aconteça outras atividades cognitivas, como a capacidade de percepção e associação, são importantes para que as informações possam ser armazenadas com sucesso A formação das memórias se dá pela entrada das informações pelas vias sensoriais na forma de estímulos, sendo então processados pelo cérebro em diferentes regiões, resultando em memórias. Achados sobre a memória são sensíveis ao contexto – eles dependem das interações dos quatros fatores, ou seja, do que acontece na codificação dependem dos participantes usados, dos eventos a serem lembrados e das condições de recuperação da memória. Aprendizagem e memória têm estágios: codificação armazenamento recuperação Sistemas de armazenamento de informações: · Memória declarativa: armazenamento (e a evocação) do material está disponível para a consciência e pode ser expresso mediante a linguagem (“declarativa”). É uma forma de memória de longo prazo. · Ex: capacidade de se recordar de um número de telefone, de uma canção ou das imagens de algum evento passado. · Há dois tipos de memória declarativa: memória episódica e a memória semântica. · Memória episódica: relacionada a experiências pessoais ou eventos que ocorreram em determinado lugar e em determinado momento lembranças autobiográficas · Memória semântica: conhecimento geral sobre o mundo, conceitos, linguagem e assim por diante. · Memória não declarativa(de procedimentos): é implícita, não há recordação consciente. · Essas memórias envolvem habilidades e associações que são evocadas em um nível inconsciente. · Ex: Lembrar como discar o telefone, como andar de bicicleta ou escovar os dentes. São ações que fazemos sem estar conscientes de alguma memória sobre como fazer aquilo Categorias temporais da memória: · Memoria imediata: Capacidade rotineira de manter na consciência, durante alguns segundos, experiências em andamento. · A capacidade desse registro é muito ampla, envolvendo todas as modalidades (visual, verbal, táctil), e está na base de um sentido contínuo de presente. · A memória é efetiva durante poucos segundos. · Memória de curto prazo(memória de trabalho): armazena informações por alguns segundos a minutos, usada para atingir determinado objetivo comportamental. Elas podem desaparecer por completo ou tornassem memórias de longo prazo, caso ocorra consolidação da memória. · Ex: uma pessoa discar um número de telefone que alguém acabou de lhe dizer ou repetir algumas frases de um texto lido naquele exato momento · Memória de prazo intermediário: dura minutos a horas · Memória de longo prazo: retém a informação de forma mais permanente, durante dias, semanas ou mesmo durante a vida toda. Parte das informações armazenadas na memória imediata e na memória de curto prazo seja armazena na memória de longo prazo. Sua capacidade de armazenamento é ilimitada. Engrama: marcas das experiências vividas que ficam em nosso cérebro, base fisica para memoria armazenada rede de conexões entre neurônios Priming: memória de uma exposição inicial é expressa inconscientemente pela melhora no desempenho em um tempo posterior. Mostra que uma informação previamente conhecida tem influência, embora possamos estar completamente inconscientes do seu efeito no comportamento subsequente. Importância da associação para o armazenamento da informação: Essa capacidade é limitada, mas pode ser drasticamente aumentada. A capacidade da memória de curta duração depende muito daquilo que a informação significa para o indivíduo e quão facilmente ela pode ser associada com uma informação que já foi armazenada. Armazenamento de longa duração: Memórias de longa duração são amplamente armazenadas no córtex cerebral. Uma vez que regiões corticais diferentes possuem diferentes funções cognitivas, os sítios armazenam informações que reflita a função cognitiva correspondente a porção encefálica Memória e Envelhecimento: A contagem de sinapses no córtex geralmente diminui na idade avançada, embora o número de neurônios não mude muito, sugerindo que são principalmente as conexões entre os neurônios que são perdidos à medida que envelhecemos, consiste com a ideia de que as redes de conexões que representam a memória, o engrama, estejam se deteriorando. Essas diversas observações são consistentes com a dificuldade que muitas pessoas idosas apresentam em fazer associações, por exemplo, lembrar nomes detalhes ou experiências recentes, e com o declínio nos escores de testes de memória em função da idade. Esquecimento: Capacidade de apagar fatos ocorridos, se não fosse por isso, nossos encéfalos estariam oprimidos pelo colosso de informações inúteis que são codificadas em nossas memórias imediatas. A capacidade de esquecer informações sem importância pode ser tão decisiva para a atividade mental quanto reter informação que seja significativa. Embora o esquecimento seja um processo mental normal e aparentemente essencial, ele também pode se manifestar de forma patológica, uma condição denominada amnésia. Causas comuns de amnésia: Oclusão vascular de artérias cerebrais, tumores de linha média, traumas, cirurgias, deficiênciade vitamina b1 e a terapia eletroconvulsiva. Linguagem O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de combinar um sistema de símbolos (palavras) a fim de se comunicar, embora a comunicação não se constitua unicamente num processo verbal. Tanto a fala quanto a escrita são processos em que o indivíduo seleciona as palavras que conhece e as organiza num determinado contexto, dentro das regras gramaticais de seu idioma. Há uma lateralização da linguagem, sendo cada hemisfério responsável por funções distintas o hemisfério esquerdo está associado à articulação, capacidade de mover a boca para falar (lobo frontal) e compreensão (lobo temporal) de linguagem, assim como no reconhecimento da palavra aspectos verbais da linguagem O hemisfério direito está associado aos aspectos prosódicos e afetivos emocionais da linguagem. As estruturas envolvidas são o cerebelo, córtex motor, nervos motores, núcleos da base Área de Broca (planejamento motor da linguagem) e Área de Wernicke (compreensão da linguagem). Assim, para uma comunicação ser satisfatória, o indivíduo precisa compreender uma determinada informação para entender a seguinte, e daí por diante até o fim de um texto ou uma conversa. Mesmo que a pessoa leia um texto com muita atenção e compreensão, dificilmente as frases serão armazenadas exatamente iguais como aparecem no texto. Apenas as informações mais relevantes, como palavras-chave e as ideias centrais, serão necessárias para a compreensão e armazenamento na memória de longo prazo. Aspectos centrais da comunicação: sensorial (aferente da linguagem), correspondendo aos olhos e ouvidos; e motor (eferente da linguagem) correspondendo a vocalização e seu controle. · Afasias: É quando a capacidade de compreender ou produzir linguagem está abolida, poupando a capacidade de perceber os estímulos relevantes e de produzir palavras. O quefalta a esses pacientes é a capacidade de reconhecer ou de empregar o valor simbólico das palavras, de forma que estão privados da compreensão linguística, da organização gramatical e da entonação que distingue a linguagem de sons sem sentido. · Afasia da área de broca: Elas vêm de lesões do lobo frontal inferior, em 2/3 da área triangular e a área opercular, ela afeta a capacidade de produzir linguagem eficientemente. Essa deficiência é denominada afasia motora ou expressiva e é também como afasia de broca. Tais afasias devem ser diferenciadas da disartria, que é a incapacidade de mover os músculos da face e da língua que medeiam o ato de falar. Ex: O paciente não pode se exprimir de forma apropriada, porque os aspectos organizacionais da linguagem, ou seja, sua gramática, estão desordenados. Palavras emitidas vagarosamente com grande esforço. Ex: ‘’Sina..leiro....certo?’’. · Afasia de Werncike: Conhecida também como afasia receptiva ou sensorial, geralmente reflete lesão no giro supramarginal e no giro angular. Na afasia de Wernicke a compreensão da palavra é afetada. O discurso é fluente e bem estruturado, entretanto, faz pouco ou nenhum sentido, pois as palavras e o significado não estão corretamente ligados. Ex: “Já escovou os dentes hoje? Rapaz, estou nervoso, de vez em quando sou pego e depois ponho um ovo na geladeira”. Deficiências de leitura ou escrita, alexias e agrafias, são distúrbios separados, que se originam de áreas encefálicas relacionadas, porém distintas. · Afasia de condução: Esses distúrbios originam-se de lesões em vias que conectam regiões frontais e temporais relevantes, como o fascículo arqueado da matéria branca subcortical que liga as áreas de broca e de Wernicke. A interrupção dessa via pode levar a uma incapacidade de produzir respostas apropriadas à comunicação ouvida, embora a comunicação seja compreendida. É uma afasia rara e de diagnóstico difícil. Função viso espacial – executiva Relacionada ao córtex pré-frontal do lobo frontal O funcionamento executivo normal depende da integridade de “redes frontais”, ou seja, da integridade não apenas dos lobos frontais, mas das estruturas corticais e subcorticais a eles conectadas. Correspondem ao conjunto de operações mentais que organizam e direcionam os diversos domínios cognitivos categoriais para que funcionem de maneira biologicamente adaptativa. Com o aumento da memória de trabalho o indivíduo desenvolve a função executiva, ou seja, o controle consciente dos pensamentos, emoções e ações para atingir metas e solucionar problemas Quando as funções executivas falham, o indivíduo perde a autonomia, tornando-se anormalmente dependente, o que é descrito, por exemplo, como “passividade”, “docilidade”, “indiferença”. Compreendem um conceito neuropsicológico que se aplica as atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução de tarefas, incluindo: raciocínio, análise, lógica, formulação de objetivos, conceitos, estratégias, tomada de decisões, resolução de problemas, motivação, auto-regulação, insight, abstração, manipulação de conhecimentos adquiridos e flexibilidade mental. · Praxias: é a capacidade de realizar atividades motoras coordenadas e eficazes de movimentos aprendidos, ato motor sequenciado. · Apraxia: atividade motora deficiente que não pode ser realizada por fraqueza, descoordenação, tônus muscular alterado, bradicinesia, distúrbio do movimento, demência, afasia ou pouca cooperação. Falha em realizar um movimento não é evidência de apraxia. Para ser considerada apraxia, a ação deve ser feita de forma incorreta ou os componentes do ato devem ser realizados de maneira imprecisa. · Gnosia: é a capacidade de reconhecer adequadamente estímulos sensoriais complexos com o uso dos sentidos, como visual, tátil, audição, como quando a pessoa enxerga, ouve e sente, apreendendo os significados, identificando pessoas conhecidas ou lugares familiares. · Agnosia: incapacidade de reconhecimento que não pode ser explicada por problemas na sensibilidade primária (tato, visão, audição) ou na cognição. · As habilidades visuoconstrutivas (parietal): capacidade de realizar atividades formativas ou construtivas relacionadas à habilidade de montar ou manejar partes físicas organizadamente, formando um objeto ou imagem única. Do mesmo modo, podem estar relacionadas com o desenho livre, cópia de figuras geométricas ou objetos, de forma bidimensional ou tridimensional, reprodução de letras e palavras escritas. Isto é, qualquer tipo de ação em que a manipulação resulte em um produto desejado. A realização das atividades visuoconstrutivas requer algumas condições, como a percepção visual, o comportamento motor, o raciocínio espacial, a capacidade para monitorar o próprio desempenho e a formulação de planos ou metas. Consciência A consciência pode ser descrita como o fluxo contínuo de alerta, tanto dos arredores como dos pensamentos sequenciais, permitindo ter noção do que se passa a sua volta e percepção. A consciência, nesse sentido, é “caracterizada pela experiência de percepções, pensamentos, consciência do mundo exterior e, frequentemente em seres humanos, a autoconsciência Relacionada a percepção do ambiente, comunicação social e compreensão do que outras pessoas estão pensando, controle das emoções A consciência esta associada ao córtex cingulado anterior e ao córtex pré-frontal dorsolateral · Consciência rebaixada corresponde ao paciente sonolento/atordoado/torporoso, que é com ausência de resposta a estímulos comuns. · Consciência preservada é quando paciente está lúcido/consciente. · Confusão Mental: qualquer grau de rebaixamento do nível da consciência, excetuando-se o coma. Estreitamentos da consciência são estados crepusculares, que são estados que o paciente parece estar totalmente voltado para dentro. Perambula como que ausente psiquicamente, automático e sem objetivos claramente definidos. Tem habitualmente natureza epilética ou dissociativa.Abstração Ação de abstrair, de analisar isoladamente um aspecto, contido num todo, sem ter em consideração sua relação com a realidade. Por exemplo, abstraindo uma bola de futebol de couro, por uma bola de futebol, retemos apenas a informação enxuta das propriedades e comportamentos de uma bola de futebol. Orientação Capacidade de um indivíduo conseguir situar-se temporo espacialmente (em relação ao ambiente) e quanto a si mesmo. Existem a orientação autopsíquica que corresponde a identidade do eu, e a orientação alopsíquica que está relacionada ao mundo externo (temporal e espacial) Percepção Tomada de consciência dos estímulos sensoriais, é definida como o conjunto de processos ativos pelos quais selecionamos, reconhecemos, organizamos e interpretamos as sensações. Ela é uma função cognitiva que se constitui de processos pelos quais o sujeito é capaz de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos órgãos sensoriais. visão, audição, gustação, tato e olfato Por exemplo, se um indivíduo tem seus olhos vendados e lhe são oferecidos alguns objetos para tatear, ele é capaz de reconhecer - através de informações armazenadas – a textura, a forma e depois nomear o objeto. O mesmo processo ocorre com os outros sentidos como o olfato (reconhecer que é “cheiro de fumaça"), a gustação (identificar se algo é doce ou salgado), a audição (saber que um som é do canto de pássaros), ou a visão (identificar um obstáculo ao dirigir um veículo e desviá-lo). Agnosias: Déficits na capacidade de percepção dos estímulos sensoriais. Ex: Incapacidade de reconhecer um objeto pela visão. Alucinações: Percepção sem objeto com alterações: visuais/auditivas /olfativas /tácteis/cenestésicas. Obj.2 Relacionar as funções cognitivas com as áreas cerebrais · Atenção: tronco encefálico , tálamo, regiões posteriores e frontais (alerta), colículo superior, tálamo, junção temporoparietal, lobo parietal superior, campo visual frontal (orientação), córtex pré-frontal e cíngulo anterior (executiva). · Função executiva: Circuitos fronto-estriato-cerebelares bilateralmente e córtex pré-frontal · Memória episódica: circuitos fronto-têmporo-parietais (codificação), formação hipocampal e regiões límbicas (armazenamento), regiões límbicas e circuitos pré-frontais (recuperação). Armazenamento difuso pelo córtex, associado aos sistemas sensoriais (episódica), córtex temporal (episódica), córtex temporal (semântica) e núcleos da base (procedural). · Linguagem / memória semântica : diversas regiões corticais e subcorticais, sobretudo no hemisfério esquerdo. Incluem as áreas de Broca e Wernick, giro supramarginal, giro angular, lobo temporal anterior e posterior, sulco pré-central e a área de associação frontal · Habilidades visuoespaciais: lobo parietal (representações alocêntricas), núcleo caudado (representações egocêntricas), córtex visual e parietal (percepção e organização visual), hipocampo (formação e uso de mapas espaciais), lobo frontal (memória de trabalho visuoespacial) Obj.3 Associar as habilidades e sintomas deficitários com a função cognitiva envolvida Lesões no córtex associativo parietal Há o elo entre lesões no lobo parietal e déficits de atenção. Síndrome de negligência contralateral: A característica mais notável dessa síndrome é a incapacidade de perceber ou de prestar atenção em objetos, ou mesmo em partes do próprio corpo, em uma parte do espaço, apesar da acuidade visual e das outras sensações somáticas e motoras estarem intactas. Indivíduos afetados são incapazes de relatar, responder ou se orientar em relação a estímulos do lado do corpo oposto a lesão. Na maioria dos casos o lado esquerdo é o negligenciado. Esses indivíduos também podem apresentar dificuldades em realizar atividades motoras com o lado negligenciado, como por exemplo vestir-se, desenhar ou pegar objetos. Os sinais de negligência podem ser muito sutis, como uma falha temporária na atenção contralateral que rapidamente melhora a medida que o paciente se recupera, ou podem ser muito profundos, como a negação permanente da existência do lado do corpo e do espaço extra pessoal oposto ao lado da lesão. O lobo parietal inferior é a principal região cortical que controla a atenção. É importante observar que a síndrome de negligência contralateral está associada especificamente com lesão do córtex parietal direito. Acredita-se que a distribuição desigual entre os dois hemisférios dessa função cognitiva de relação com o espaço, seja devida ao córtex parietal direito mediar a atenção a ambos os lados, direito e esquerdo, do corpo e do espaço extrapessoal, enquanto o hemisfério esquerdo medeia a atenção apenas referente ao lado direito. Dessa forma, lesões parietais no lado esquerdo tendem a ser compensadas pelo lado direito intacto. Em contraste, quando o córtex parietal direito estiver lesionado, existe pouca ou nenhuma capacidade compensatória do hemisfério esquerdo para mediar a atenção ao lado esquerdo do corpo ou do espaço extrapessoal. Pacientes com essa síndrome não são deficientes da atenção somente do lado esquerdo do seu corpo, mas com relação ao lado esquerdo dos objetos em geral. Lesões do córtex associativo temporal: Déficits de reconhecimento Essa parte do encéfalo é responsável pelo reconhecimento e pela identificação de estímulos que os indivíduos são expostos, principalmente estímulos complexos. Dessa forma, lesão em qualquer dos lobos temporais podem resultar em dificuldade para reconhecer, identificar e designar diferentes categorias de objetos. Esses distúrbios coletivamente chamados de agnosias. Uma das agnosias mais bem estudadas após a lesão do córtex temporal é a incapacidade de reconhecer e de identificar faces, que é a prosopagnosia. Após uma lesão nos lobos temporais, tipicamente no lobo temporal direito, os pacientes são frequentemente incapazes de identificar indivíduos familiares por suas características faciais e, em alguns casos, não reconhecem face alguma. Ainda assim, tais indivíduos estão perfeitamente conscientes da apresentação de alguns tipos de estímulos visuais e podem descrever sem dificuldades determinados aspectos ou elementos desses estímulos. O lobo temporal inferior medeia o reconhecimento de faces e lesões nele causam deficiência de reconhecimento. Lesões no lobo temporal direito levam agnosias para faces e objetos, enquanto lesões correspondentes no lobo temporal esquerdo tendem a produzir dificuldades linguísticas. Dependendo da lateralidade, da localização e do tamanho da lesão no córtex temporal, agnosias podem ser tão específicas como para faces humanas, ou tão gerais como uma incapacidade de nomear objetos mais familiares. Lesões no córtex associativo frontal: Déficiencias de planejamento O córtex frontal apresenta um repertório de funções mais amplas que qualquer outra região neocortical, o que é consistente com o fato do lobo frontal ser o maior lobo em humanos. Ele tem o papel da manutenção da personalidade individual. O córtex frontal integra informações complexas de percepção oriundas dos córtices sensoriais e motor, assim como dos córtices temporal e parietal. O resultado é uma apreciação de si próprio em relação ao mundo externo, que permite que os comportamentos sejam planejados e executados normalmente. Quando essa capacidade fica comprometida, o indivíduo afetado frequentemente apresenta dificuldades para executar comportamentos complexos adequados às circunstâncias. Um paciente com uma lesão de córtex associativo frontal fica com a capacidade de planejar o futuro comprometida, assim como sua iniciativa e criatividade, ainda que tenha a capacidade de aprender procedimentos complexos. Essas deficiências na capacidade normal de adequar comportamentos a necessidades presentes e futuras éinterpretada, o que não é de se estranhar, como uma mudança no “caráter” do paciente. Ex: O caso que pela primeira vez chamou a atenção para as consequências de uma lesão no lobo frontal foi o de Phineas Gage, um trabalhador da Ferrovia Rutland e Burlington na metade do século XIX, em Vermont. Naquele tempo, o modo convencional de explodir uma rocha era socar pólvora em um buraco utilizando um pesado bastão de metal. Gage, o capataz do grupo, era popular e respeitado e estava realizando esse procedimento certo dia em 1848, quando o bastão que utilizava produziu uma faísca, causando uma explosão que arremessou o bastão – de cerca de 1 metro de comprimento e 4 a 5cm de diâmetro – como um projétil através de seu olho esquerdo, destruindo, no trajeto, boa parte de seu encéfalo frontal. Gage, que não chegou a perder a consciência, foi levado rapidamente a um médico local, que tratou de seu ferimento. Uma infecção estabeleceu-se, provavelmente destruindo tecido adicional do lobo frontal, e Gage ficou invalido por diversos meses. Por fim, ele se recuperou e voltou a ficar bem, ao menos aparentemente. Aqueles que conheciam Gage, entretanto, estavam plenamente conscientes de que ele não era o “mesmo” indivíduo que havia sido antes. O sujeito moderado, trabalhador e completamente decente havia, em função de seu acidente, tornando-se um indivíduo grosseiro, sem moderação ou consideração que não mais podia adequar-se a uma convivência social normal, ou ao tipo de planejamento prático que havia permitido a Gage obter o sucesso social e econômico de que desfrutava. Obj.4 Conhecer os testes que avaliam as funções cognitivas Mini Exame do Estado Mental: · É o teste de rastreio cognitivo mais usado no mundo. · É usado como exame de RASTREIO e não como forma de diagnóstico, ou seja, ele indica que algo está errado e que precisa de mais investigação. · O MEEM tem limitações de sensibilidade e especificidade, sendo afetado pela idade, pelo sexo, pela escolaridade e pela bagagem cultural. · Leva cerca de 10 minutos para ser aplicado e tem uma série de perguntas com atribuições de pontos. · A pontuação máxima é 30 e o desempenho normal mínimo varia com a idade e com o nível educacional. Teste do Relógio: · Avalia várias funções cognitivas: memória, função motora, executiva e compreensão verbal, visuoconstrutiva. · O teste consiste em pedir para o paciente desenhar um relógio com números e depois desenhar os ponteiros marcando alguma hora. · Rastreia síndromes demenciais. · Interpretação: <7 sugere demência 6-8 suspeita 9-10 normal · Alterações: Heminegligência (lobo parietal): desenhar os ponteiros só de um lado Lesão no lobo frontal: desenhar de maneira confusa e desorganizada. Comprometimento cognitivo: pode levar a não lembrar da disposição correta dos números ou como se marca uma hora específica. Teste de Fluência Verbal: · Pedir para o paciente falar em voz alta o maior número de palavras pertencentes a um determinado grupo semântico (por exemplo, nome de animais, vegetais,...). · Se o paciente disser nomes de classes de animais e depois nomes de animais dessa classe, não conta o nome da classe (ex: pássaro, canário, corno - a palavra “pássaro” não será pontuada). · Avalia a capacidade de armazenamento, habilidade de recuperar a informação guardada na memória, capacidade de organizar o pensamento e as estratégias para a busca de palavras. · Pontuação: O ponto de corte para o teste de FV é feito de acordo com a escolaridade. Analfabetos: 9 pontos Entre 1 e 8 anos de estudo: 12 pontos Acima de 9 anos: 13 pontos. Obj.5 Elucidar os efeitos deletérios da maconha (síndrome amotivacional) · Mecanismo de ação: A maconha se liga aos receptores GABAérgicos, inibindo a liberação pré-sináptica de GABA e estimulando a liberação de dopamina. Dopamina ⟶ neurônios pós-sinápticos ⟶ núcleos accumbens ⟶ aumenta mais ainda a liberação de dopamina. A Cannabis sativa contém aproximadamente 400 substâncias químicas, entre as quais destacam-se pelo menos 60 alcalóides conhecidos como canabinóides responsáveis pelos seus efeitos psíquicos. Classificados em dois grupos: canabinóides psicoativos (THC) e não-psicoativos (canabidiol e canabinol). Os canabinóides são lipossolúveis, se acumulando principalmente nos órgãos com nível de gordura elevado (cérebro, testículos e tecido adiposo). Alguns pacientes podem exibir os sintomas e sinais de intoxicação por até 12 a 24 h, devido à liberação lenta dos canabinóides a partir do tecido adiposo. As taxas de absorção orais são mais elevadas (90% a 95%) e lentas (30 a 45 minutos) em relação à absorção pulmonar (50%). Os efeitos da absorção pulmonar podem demorar entre 5 a 10 minutos para iniciarem. A maconha é a droga ilícita mais usada mundialmente. Nos EUA, 40% da população adulta já experimentaram maconha uma vez pelo menos. No Brasil, um levantamento realizado em 1997 com estudantes do ensino fundamental e do ensino médio em 10 capitais brasileiras, mostra que a maconha é a droga ilícita mais utilizada. O uso da maconha geralmente é intermitente e limitado: os jovens param por volta dos seus 20 anos e poucos entram num consumo diário por anos seguidos. · Complicações agudas: déficits motores (ex: prejuízo da capacidade para dirigir automóveis) e cognitivos (ex: perda de memória de curto prazo, com dificuldade para lembrar de eventos que ocorreram imediatamente após o uso de cannabis) costumam acompanhar a intoxicação. Uma pesquisa observou que o uso recente de maconha esteve relacionado com declínio no nível de QI nos usuários graves de maconha, isto é, nos usuários que fumavam ao menos 5 baseados por semana. · Sintomas psiquiátricos: o consumo de maconha pode desencadear quadros temporários de natureza ansiosa, como ataque de pânico, ou de natureza psicótica. Normalmente não há necessidade de medicação. A maconha é capaz de piorar quadros de esquizofrenia, além de constituir um importante fator desencadeador da doença em indivíduos predispostos. Desse modo, pacientes esquizofrênicos usuários de maconha e seus familiares devem ser orientados acerca dos riscos envolvidos. O mesmo se aplica aos indivíduos com fatores de risco e antecedentes familiares para a doença. · Complicações crônicas: ainda há pouco consenso a respeito das complicações crônicas do consumo de maconha. Funcionamento cognitivo: Há evidência de que o uso prolongado de maconha é capaz de causar prejuízos cognitivos relacionados à organização e integração de informações complexas, envolvendo vários mecanismos de processos de atenção e memória. Tais prejuízos podem aparecer após poucos anos de consumo. Processos de aprendizagem podem apresentar déficits após períodos mais breves de tempo. Prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos como aumento da vulnerabilidade à distração, afrouxamento das associações (há lógica na conversa, mas as ideias não são bem articuladas), erros em testes de memória, incapacidade de rejeitar informações irrelevantes e piora da atenção seletiva. Porém um estudo comparando usuários pesados de maconha com ex-usuários pesados e com usuários recreacionais, constatou que os déficits cognitivos, apesar de detectáveis após sete dias de consumo pesado, são reversíveis e relacionados ao consumo recente de maconha e não estão relacionados ao uso cumulativo ao longo da vida. Alguns estudos mostraram que quanto mais precoce é a idade em que se inicia o uso da cannabis, maiores são as associações com o comprometimento neuropsicológico. · Dependência: devido à dificuldade de quantificar a quantidade de maconha que atinge a corrente sanguínea, não há doses formais definidas de THC que produz a dependência. O risco de dependência aumenta conforme a extensão do consumo. Apesar disso, alguns usuários diários não se tornam dependentes ou desejam parar o consumo. A maioria dos usuários não se torna dependente e uma minoria desenvolve uma síndrome de uso compulsivo semelhante à dependência de outras drogas. Um estudo observouque, entre os usuários analisados que utilizavam maconha há 3 ou mais anos, 61,8% preenchiam critérios para dependência de maconha. · Síndrome amotivacional: diminuição progressiva da motivação (apatia e improdutividade) ligada ao uso crônico da maconha. Apatia e capacidade reduzida para concentração, para a adoção de rotinas ou para a aquisição de novos conhecimentos. É provável que a motivação reduzida possa ser um dos caminhos que conduzem ao comprometimento da aprendizagem, pois o THC pode ser um obstáculo para o aprendizado baseado em recompensas. Os usuários da cannabis apresentam capacidade reduzida de síntese da dopamina estriatal, o comprometimento da síntese de dopamina poderia explicar o estado amotivacional.