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2018 Contabilidade e Finanças PúbliCas Prof.ª Carla Moser Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª Carla Moser Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M899c Moser, Carla Contabilidade e finanças públicas. / Carla Moser – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 224 p.; il. ISBN 978-85-515-0218-1 1.Finanças públicas - Contabilidade. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 351.72 III aPresentação Caro acadêmico, Seja bem-vindo à disciplina de Contabilidade e Finanças Públicas. Vamos conhecer um pouco da Administração Pública, as regras das suas finanças e a Contabilidade Pública, que é o mecanismo de geração das informações financeiras para seus diversos tipos de usuários. Vamos entender que a gestão financeira dos administradores públicos e demais pessoas que trabalham na Administração Pública é mais eficiente e transparente através da Contabilidade Pública. Neste caderno, você, acadêmico, encontrará informações para reconhecer os aspectos teóricos que envolvem o cotidiano dos ingressos e saídas dos recursos públicos pelos cofres dos órgãos estatais e as regras que devem ser seguidas para a realização de uma gestão responsável e transparente. Na Unidade 1 iniciamos nossos estudos com a abordagem sobre o setor público destacando a Administração Pública e suas peculiaridades. Após conhecermos o campo de aplicação da Contabilidade Pública, podemos entender a sua origem e evolução histórica. Neste contexto é importante compreendermos os conceitos e o funcionamento do sistema contábil governamental, bem como dos procedimentos contábeis básicos para a elaboração do orçamento público, de acordo com a Lei federal nº 4.320/1964. Continuamos a Unidade 1 com os estudos dos princípios de uma importante lei que veio regulamentar os dispositivos gerais sobre finanças públicas, descritos na nossa Constituição Federal CF/88, a Lei de Responsabilidade Fiscal, mais conhecida como LRF. As questões que envolvem o orçamento público e suas características são objeto da Unidade 2, com destaque aos instrumentos de planejamento orçamentário (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual), a execução orçamentária e os controles contábeis necessários para o regime de adiantamentos, os créditos orçamentários e créditos adicionais. Caberá à Unidade 3 apresentar as receitas e despesas públicas sob o aspecto orçamentário: a classificação, codificação e etapas, tanto das receitas como das despesas públicas. Também vamos conhecer os sistemas de execução e acompanhamento da gestão pública através do Relatório Resumido de Execução Orçamentária – RREO e do Relatório de Gestão Fiscal – RGF. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Lembre-se: este caderno é apenas um dos meios de você alcançar o conhecimento. O mais importante é aguçar seu instinto de pesquisa para complementar sua formação. Outra fonte para atingir seu objetivo, “o conhecimento”, é através da leitura de jornais, revistas e livros. Bons estudos, será um prazer estar com você! Profª Carla Moser NOTA V VI VII UNIDADE 1 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA .................................. 1 TÓPICO 1 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA BRASILEIRA .............. 4 2.1 O ESTADO BRASILEIRO ............................................................................................................... 4 2.2 OS PODERES NO BRASIL ............................................................................................................. 6 2.2.1 Poder legislativo ..................................................................................................................... 7 2.2.2 Poder executivo ....................................................................................................................... 7 2.2.3 Poder judiciário ....................................................................................................................... 8 2.3 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL ................................................... 9 2.3.1 Administração direta .............................................................................................................. 10 2.3.2 Administração indireta .......................................................................................................... 10 2.4 CONTROLADORIA GOVERNAMENTAL ................................................................................. 11 2.5 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................................................... 12 3 O CAMPO DE APLICAÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA ............................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16 TÓPICO 2 – A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA .......................................................... 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONTABILIDADE PÚBLICA ............................. 20 2.1 DEFINIÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA ......................................................................... 21 2.2 USUÁRIOS DA CONTABILIDADE PÚBLICA ........................................................................... 21 2.3 INFORMAÇÃO CONTÁBIL .......................................................................................................... 22 3 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO ............................................................... 23 3.1 OBJETO E OBJETIVO ...................................................................................................................... 24 3.2 ORGANIZAÇÃO DA CONTABILIDADE ...................................................................................24 3.3 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS BÁSICOS PARA A ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO DE ACORDO COM A LEI Nº 4.320/64 ........................................... 25 4 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL GOVERNAMENTAL ........................................... 25 4.1 PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO – PCASP ....................................... 26 4.2 SISTEMA DE INFORMAÇÕES ..................................................................................................... 29 4.2.1 Informações patrimoniais ...................................................................................................... 29 4.2.2 Informações orçamentárias ................................................................................................... 29 4.2.3 Informações de controle......................................................................................................... 29 4.3 REGIMES CONTÁBEIS .................................................................................................................. 30 4.3.1 Regime de caixa ...................................................................................................................... 31 4.3.2 Regime de competência ......................................................................................................... 31 4.3.3 Regime misto ........................................................................................................................... 31 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 sumário VIII TÓPICO 3 – A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF ................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 A LRF E AS FINANÇAS PÚBLICAS ................................................................................................. 36 2.1 ORIGEM DA LRF ............................................................................................................................ 37 2.2 OBJETIVOS E ABRANGÊNCIA .................................................................................................... 38 2.3 PRINCÍPIOS ..................................................................................................................................... 40 2.4 A LRF E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL ...................................................................................... 41 2.5 A LRF E A LEI FEDERAL Nº 4.320/64 .......................................................................................... 44 3 PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO, TRANSPARÊNCIA, FISCALIZAÇÃO E CONTROLE NA LRF ........................................................................................................................... 46 3.1 A LRF E O PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO .................................................................... 46 3.2 TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO DOS RECURSOS FISCAIS .................................................. 50 3.3 A FISCALIZAÇÃO E O CONTROLE DA GESTÃO FISCAL .................................................... 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 58 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 63 UNIDADE 2 – O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS ............................... 65 TÓPICO 1 – ORÇAMENTO PÚBLICO ............................................................................................... 67 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 67 2 CONCEITO E FINALIDADE ............................................................................................................. 68 3 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................................................................................... 69 4 ESPÉCIES DE ORÇAMENTO ............................................................................................................ 71 4.1 ORÇAMENTO TRADICIONAL .................................................................................................... 72 4.2 ORÇAMENTO ATRAVÉS DE PROGRAMAS OU ORÇAMENTO-PROGRAMA................. 73 4.3 NOVO ORÇAMENTO DE DESEMPENHO ................................................................................ 75 4.4 ORÇAMENTO BASE ZERO .......................................................................................................... 75 4.5 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO .................................................................................................. 76 5 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS ................................................................................................... 77 5.1 UNIDADE OU TOTALIDADE ...................................................................................................... 78 5.2 UNIVERSALIDADE ........................................................................................................................ 79 5.3 ANUALIDADE OU PERIODICIDADE ........................................................................................ 79 5.4 EXCLUSIVIDADE............................................................................................................................ 80 5.5 ORÇAMENTO BRUTO ................................................................................................................... 81 5.6 LEGALIDADE .................................................................................................................................. 81 5.7 PUBLICIDADE ................................................................................................................................. 82 5.8 TRANSPARÊNCIA .......................................................................................................................... 82 5.9 NÃO VINCULAÇÃO ...................................................................................................................... 82 5.10 EQUILÍBRIO ................................................................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 84 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 85 TÓPICO 2 – PLANO PLURIANUAL – PPA ...................................................................................... 87 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PPA ................................................................................................ 88 3 A ESTRUTURA DO PPA ..................................................................................................................... 90 3.1 DIRETRIZES DE GOVERNO ......................................................................................................... 90 3.2 PROGRAMAS .................................................................................................................................. 92 3.3 OBJETIVOS .......................................................................................................................................94 3.4 AÇÕES ............................................................................................................................................... 94 3.5 METAS ............................................................................................................................................... 95 IX RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................96 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................97 TÓPICO 3 – LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO ..................................................99 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................99 2 CONCEITO E FINALIDADE ...........................................................................................................100 3 COMPETÊNCIAS DA LDO..............................................................................................................102 4 RISCOS FISCAIS, PRIORIDADES E METAS FISCAIS.............................................................104 4.1 ANEXO DE RISCOS FISCAIS ......................................................................................................104 4.2 ANEXO DE PRIORIDADES E METAS .......................................................................................105 4.3 ANEXO DE METAS FISCAIS .......................................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 4 – LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA .....................................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS ..............................................................................................114 2.1 NORMAS LEGAIS APLICÁVEIS ................................................................................................115 2.2 TIPOS DE ORÇAMENTO QUE COMPÕEM A LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL ..............116 2.2.1 Orçamento fiscal ...................................................................................................................117 2.2.2 Orçamento de investimentos ..............................................................................................118 2.2.3 Orçamento da seguridade social ........................................................................................119 3 CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS ....................................................................................................120 3.1 CONCEITO .....................................................................................................................................120 3.2 CRÉDITOS ADICIONAIS .............................................................................................................121 3.2.1 Créditos suplementares .......................................................................................................123 3.2.2 Créditos especiais .................................................................................................................123 3.2.3 Créditos extraordinários ......................................................................................................124 3.2.4 Fontes dos créditos adicionais ............................................................................................124 4 CICLO ORÇAMENTÁRIO E SUAS ETAPAS ...............................................................................126 4.1 ELABORAÇÃO ..............................................................................................................................127 4.2 ESTUDO E APROVAÇÃO ............................................................................................................129 4.3 EXECUÇÃO ....................................................................................................................................130 4.4 CONTROLE E AVALIAÇÃO .......................................................................................................131 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................132 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................135 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136 UNIDADE 3 – AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO ................................................................................137 TÓPICO 1 – RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS ...................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139 2 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS E EXTRAORÇAMENTÁRIAS ..............................................140 2.1 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS ..................................................................................................142 2.2 RECEITAS EXTRAORÇAMENTÁRIAS .....................................................................................143 3 ETAPAS DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA...................................................................................145 3.1 PLANEJAMENTO DO ORÇAMENTO ......................................................................................146 3.1.1 Previsão ..................................................................................................................................147 3.2 EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO .................................................................................................148 3.2.1 Lançamento ...........................................................................................................................148 3.2.2 Arrecadação ...........................................................................................................................149 X 3.2.3 Recolhimento .........................................................................................................................149 4 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS E EXTRAORÇAMENTÁRIAS .............................................150 4.1 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS..................................................................................................152 4.2 DESPESAS EXTRAORÇAMENTÁRIAS ....................................................................................153 5 ETAPAS DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA ..................................................................................155 5.1 FIXAÇÃO DA DESPESA ..............................................................................................................156 5.2 DESCENTRALIZAÇÕES DE CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS .............................................157 5.3 PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA ........................................................158 5.4 PROCESSO DE LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO ....................................................................159 5.5 EMPENHO ......................................................................................................................................159 5.5.1 Empenho estimativo .............................................................................................................161 5.5.2 Empenho global ....................................................................................................................1615.5.3 Empenho ordinário ..............................................................................................................162 5.6 EM LIQUIDAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA .............................................163 5.7 PAGAMENTO ................................................................................................................................164 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS ........................................................................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS ..........................................................................170 3 CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA PELA NATUREZA DAS RECEITAS ........................171 3.1 CATEGORIA ECONÔMICA DAS RECEITAS ..........................................................................173 3.2 ORIGEM DAS RECEITAS.............................................................................................................174 3.3 ESPÉCIE DAS RECEITAS .............................................................................................................175 3.4 DESDOBRAMENTOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE PECULIARIDADES DA RECEITA .176 3.5 TIPO .................................................................................................................................................176 4 FONTES OU DESTINAÇÃO DE RECURSOS .............................................................................177 5 CLASSIFICAÇÃO PARA APURAÇÃO DO RESULTADO PRIMÁRIO .................................178 6 CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA....................................................................................................180 6.1 CLASSIFICAÇÃO INSTITUCIONAL .........................................................................................181 6.2 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL ................................................................................................182 6.2.1 Função ....................................................................................................................................186 6.2.2 Subfunção ..............................................................................................................................186 6.3 CLASSIFICAÇÃO POR ESTRUTURA PROGRAMÁTICA .....................................................187 6.3.1 Programa ................................................................................................................................187 6.3.2 Ação ........................................................................................................................................188 6.4 CLASSIFICAÇÃO POR NATUREZA .........................................................................................189 6.4.1 Categoria Econômica ............................................................................................................191 6.4.2 Grupo de Natureza da Despesa..........................................................................................193 6.4.3 Modalidade de Aplicação ....................................................................................................193 6.4.4 Elemento de Despesa ...........................................................................................................195 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 XI TÓPICO 3 – ACOMPANHAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA ...................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 CONTROLE E ACOMPANHAMENTO DAS FINANÇAS PÚBLICAS ..................................204 2.1 DEFINIÇÃO ....................................................................................................................................205 2.2 RESULTADOS FISCAIS ................................................................................................................206 3 RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA .............................................207 4 RELATÓRIO DE GESTÃO FISCAL ................................................................................................210 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................214 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................217 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................218 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................219 XII 1 UNIDADE 1 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a origem, abrangência, objetivos e princípios da LRF; • compreender o papel da LRF na gestão das finanças públicas; • identificar quem compõe a administração pública direta e indireta; • conhecer e distinguir as entidades do setor público que utilizam a contabilidade pública; • evidenciar pontos relevantes da evolução histórica da contabilidade pública nacional; • reconhecer a importância da contabilidade pública como fornecedor de informações sobre finanças públicas; • entender e distinguir os tipos de controles, tais como: controle interno e controle externo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 2 – A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA TÓPICO 3 – A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1 INTRODUÇÃO O setor público brasileiro vem evoluindo para uma administração gerencial, sabe-se que este progresso não surgiu da boa vontade dos gestores, mas da aprovação de leis mais rígidas e com regras transparentes para a utilização dos recursos públicos. Nesse contexto, podemos citar a Constituição Federal de 1988, a Lei Federal nº 4.320, de 1964, e a Lei Complementar nº 101, de 2000, como exemplos de normas a serem seguidas em relação às finanças públicas. O processo de gerenciamento das finanças públicas deve ser amparado por informações concretas, fidedignas, claras e, principalmente, em tempo real para a tomada de decisões. Essas informações podem ser conseguidas por várias formas, contudo o meio mais eficaz é através da contabilidade pública. Para identificarmos a composição da Administração Pública, neste Tópico 1 vamos estudar a estrutura e organização político-administrativa brasileira. Entenderemos a formação do Estado, quais são seus poderes e quem faz parte da administração pública direta e indireta é o primeiro passo para uma boa compreensão do tema. Continuamos este tópico com os estudos voltados à controladoria governamental, dando foco ao sistema de controle interno, aos princípios da administração pública e à identificação do setor público. Você estará aptoa conhecer e distinguir as entidades do setor público que utilizam a contabilidade pública. Vamos juntos, nessa caminhada de conhecimentos. Aos estudos! UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 4 2 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO POLÍTICO- ADMINISTRATIVA BRASILEIRA A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CF/88, mais conhecida como Constituição Federal, é a nossa lei maior, onde encontramos as normas para a composição do Estado, bem como a divisão dos poderes, a forma de governo, as competências de cada ente da federação. Ensina o pesquisador Dantas (2011) que o Brasil é um Estado do tipo federativo, segundo ordenamento da nossa Constituição Federal. Já a organização político-administrativa compreende os seguintes entes autônomos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. No Brasil, nosso país, a União, os Estados e o Distrito Federal possuem competências para exercerem atividades legislativas, judiciárias e executivas com exceção dos Municípios brasileiros, que mesmo fazendo parte do pacto federativo não possuem o poder judiciário (FACHIN, 2008). O governo, através dos seus gestores, eleitos pelo povo, determina os caminhos da Administração Pública. O fluxo financeiro do Estado é gerido na Administração Pública Direta e Indireta. Seguindo o norteamento federal, que criou a estrutura da administração através do Decreto-Lei nº 200/1964, tanto a União, os Estados, como os Municípios possuem administração pública direta e indireta (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010). 2.1 O ESTADO BRASILEIRO A formação do Estado, composto pelo seu povo, território e soberania, surge da necessidade que o homem individual tem de defender a si, aos seus e ao seu patrimônio (SILVA, 2011). Já na concepção dos autores Alexandrino e Paulo (2011, p. 13), os três elementos povo, território e soberania são indissociáveis e indispensáveis, verifique: O Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo soberano. Esses três elementos são indissociáveis e indispensáveis para a noção de um estado independente: o povo, em um determinado território, organizado segundo sua livre e soberana vontade. O Estado é formado pelo território, povo e soberania, já para exercer esta soberania a sociedade busca governantes que irão compor a administração pública. Dentre a conceituação de vários dicionários, apresentamos as definições de Estado do autor Cunha (2007, p. 122): TÓPICO 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 5 Estado – 1. Comunidade humana que se atribui o monopólio legítimo da violência física, nos limites de um território definido [...]. 2. Organização que detém a soberania na unidade territorial onde é sediada. 3. A sociedade (1) como organização política. 4. Personalização do governo da sociedade soberana. 5. Aquilo que é visto ou tomado como representação jurídica da sociedade soberana. v. nação, país, pátria, poder público. Seguindo os ensinamentos de Cunha (2007), verificamos que toda a estrutura político-administrativa é consequência do exercício da soberania, através de poderes, em proveito do seu povo com a organização territorial. O Estado se estrutura conforme as funções principais e acessórias ou preponderantes e específicas que deve exercer. Na visão de Silva (2011), cada poder foi criado para desempenhar sua função principal, porém, na constância das suas atividades, acaba tendo que desenvolver funções típicas de outros poderes. Confira no quadro a seguir: QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES FUNÇÕES PREPONDERANTES FUNÇÕES ESPECÍFICAS Legislativa Principal Normativa Acessórias Administrativa Judicativa Controle Interno Executiva Principal Administrativa Acessórias Normativa Judicativa Controle Interno Judiciária Principal Judicativa Acessórias Administrativa Normativa Controle Interno FONTE: Silva (2011, p. 3) “Na busca de atender ao interesse coletivo, o Estado se organiza de tal forma que possa cumprir com suas principais funções, que são: a Legislativa, a Judiciária e a Executiva” (VEIGA, 2011, p. 17). Acadêmico, perceba que o Estado brasileiro possui várias funções para desempenhar e que suas atividades são destinadas ao bem comum do povo. Assim, compreendemos que há necessidade de uma estrutura para gerir os recursos recebidos e dispensados nessas atividades. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 6 2.2 OS PODERES NO BRASIL Sobre a separação dos poderes, Dantas (2011) afirma que a Constituição Federal adota um sistema de mecanismos para limitar o poder do Estado, já que o cidadão deve ser resguardado de eventuais arbitrariedades. Corrobora estes ensinamentos Carvalho Filho (2013), quando afirma que a independência e a harmonia entre os poderes vêm da Constituição, que exige uma estrutura própria e determina suas funções. A separação dos poderes se fundamenta nos seguintes elementos, segundo Dantas (2011, p. 221): A chamada separação dos poderes está fundamentada em dois elementos essenciais: o primeiro é a especialização funcional, significando que cada órgão é especializado em uma função estatal; o segundo, a independência orgânica, que exige que cada um daqueles órgãos possa exercer sua função especializada de forma verdadeiramente independente, sem qualquer subordinação aos demais. (grifos do autor) Desde a promulgação da nossa Carta Maior, houve mudanças nas instituições que representam os poderes no nosso país. O autor Barroso (2016) comenta que, pelo Brasil ter uma essência presidencialista, o Poder Legislativo sofreu uma crise de identidade; já o Poder Judiciário, na nossa história recente, teve uma ascensão institucional, com influência em vários processos criminais de agentes políticos. Consoante as orientações da escritora Veiga (2011, p. 22), cada poder institucional tem suas atribuições específicas: A cada um destes Poderes é atribuída uma função precípua. Ao Poder Legislativo é atribuída a função normativa de elaboração da lei; ao Poder Executivo é atribuída a função administrativa de aplicar a lei e zelar pelo cumprimento da mesma; ao Poder Judiciário é atribuída a função judicial que é a aplicação coativa da lei aos litigantes. Em seguida, vamos visualizar os poderes que cada ente da federação possui para desempenhar as funções de governo necessárias em sua área de competência: QUADRO 2 – ENTES FEDERATIVOS E PODERES ENTE FEDERATIVO PODERES UNIÃO Legislativo Executivo Judiciário ESTADOS Legislativo Executivo Judiciário DISTRITO FEDERAL LegislativoExecutivo MUNICÍPIOS LegislativoExecutivo FONTE: A autora TÓPICO 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 7 Sobre a disposição dos poderes na capital brasileira, orienta o estudioso Fachin (2008, p. 381) que: “O Distrito Federal tem poderes Legislativo e Executivo próprios. O Poder Judiciário que atua no Distrito Federal é organizado e mantido pela União”. Acadêmico, entenda que é saudável a independência entre os diversos poderes. Desta forma evitamos que haja arbitrariedades ou até abuso do poder em relação às funções principais dos diversos órgãos públicos. Agora vamos estudar as particularidades do Legislativo, do Executivo e do Judiciário. 2.2.1 Poder legislativo A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu artigo 44, prescreve como deve ser a organização dos poderes: quando tratamos do Poder Legislativo Federal, nos deparamos com a instituição do Congresso Nacional, que é formada por duas casas, a dos senadores e a dos deputados federais. Também é na nossa Lei Maior que encontramos o processo legislativo federal, como são propostas, votadas e sancionadas as nossas leis. Diferente da União, nos Estados, Distrito Federal e Municípios, este poder é desempenhado pela Assembleia Legislativa de cada estado federado e do Distrito Federal; já nos municípios, pela Câmara de Vereadores. De acordo com o entendimento do escritor Barroso (2016, p. 508), o Legislativoatualmente teve uma crise institucional perante o envolvimento de parlamentares em escândalos, verifique: No que toca ao Poder Legislativo, cabe assinalar a recuperação de suas prerrogativas dentro do novo quadro democrático, embora permaneça visível o decréscimo de sua importância no processo legislativo. É certo, contudo, que, como contrapartida, expandiram-se suas competências de natureza fiscalizatória e investigativa. Merecem registro, também, algumas disfunções estruturais e funcionais do sistema político brasileiro, que têm comprometido a representatividade e a legitimidade da classe política. Consoante as orientações de Barroso (2016), o Legislativo, que tem a prerrogativa de propor, alterar e votar as leis, atualmente assume um papel mais investigativo devido ao aumento de denúncias voltadas aos políticos e governantes. 2.2.2 Poder executivo A função administrativa é predominante no Poder Executivo, porém, como nosso modelo constitucional não é rígido, tanto o Judiciário e o Legislativo desempenham estas funções em seu dia a dia (ALEXANDRINO; PAULO, 2011). UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 8 A representatividade do Poder Executivo brasileiro é apresentada pelo estudioso Slomski (2003, p. 362), observe: O Poder Executivo, na União, é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado [...]. Nos Estados e no Distrito Federal, é exercido pelo Governador, auxiliado pelos Secretários de Estado. Nos Municípios, é exercido pelo Prefeito Municipal, com auxílio de Secretários Municipais. Explica o pesquisador Dantas (2011) que a competência do Executivo é o efetivo governo, cabendo ao representante da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, instituir as políticas públicas necessárias. 2.2.3 Poder judiciário Ao Poder Judiciário cabe exercer a pacificação social através da solução das ações impetradas na sua organização, este é o entendimento do autor Dantas (2011). Na Constituição Federal, artigo 92, encontramos disposta a organização deste poder. Explica Slomski (2003, p. 362) a composição deste poder: O Poder Judiciário é composto pelo Supremo Tribunal Federal, pelo Superior Tribunal de Justiça, pelos Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, pelos Tribunais e Juízes do Trabalho, pelos Tribunais e Juízes Eleitorais, pelos Tribunais e Juízes Militares e pelos Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal. O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional. Acadêmico, perceba que nos Municípios não há o Poder Judiciário. Nem por isto não seja executada a justiça, já que, dependendo da lide, poderá ser resolvida a ação na justiça mais adequada. IMPORTANT E Acadêmico, você sabe qual o sentido objetivo e a abrangência da Administração Pública? Em relação ao sentido objetivo e a abrangência da Administração Pública, a autora Di Pietro (2013, p. 55) ensina: “[...] abrange o fomento, a polícia administrativa e o serviço público. Alguns autores falam em intervenção como quarta modalidade, enquanto outros a consideram como espécie de fomento”. (grifos do autor). Fonte: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013. TÓPICO 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 9 2.3 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL A Administração Pública, segundo orientações dos estudiosos Alexandrino e Paulo (2011), é o conjunto de órgãos, entidades, pessoas jurídicas e agentes que desempenham a função administrativa. Dependendo da sua estrutura jurídica, pode dividir-se em administração direta e administração indireta. Em relação à abrangência da Administração Pública, o autor Slomski (2003, p. 359) ensina que: “A administração pública é exercida pelos órgãos da administração direta, pelos órgãos da administração indireta e polos órgãos da administração delegada”. Os escritores Alexandrino e Paulo (2011, p. 18) orientam que a conceituação de Administração Pública pode ser considerada sob a ótica do sentido amplo e do sentido estrito, como podemos observar: Administração pública em sentido amplo abrange os órgãos de governo, que exercem função política, e também os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa. [...] em sentido estrito só inclui os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente administrativa, de execução dos programas de governo. Ficam excluídos os órgãos políticos e as funções políticas, de elaboração das políticas públicas. (grifos dos autores) A Administração Pública pode ser considerada como todo o aparelhamento do Estado, sua organização, para que possamos ter serviços públicos adequados a todas as políticas públicas (SLOMSKI, 2003). Caro acadêmico, o Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, tem como objetivo dispor sobre a organização e estabelecer diretrizes para a Administração Federal. Em seu artigo 4º determina que a Administração Pública divide-se em Administração Pública Direta e Indireta. Vamos entender esta divisão! DICAS Acadêmico: Para saber mais sobre fomento, polícia administrativa, serviço público e intervenção, sugerimos a leitura complementar do livro: Direito administrativo descomplicado, na página 21. Fonte: ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 19. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2011. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 10 2.3.1 Administração direta Para determinar quem faz parte da Administração Direta, explica o escritor Slomski (2003, p. 359) que: “A administração direta compreende a organização administrativa do Estado” (grifo do autor). Segundo a escritora Di Pietro (2013), a administração direta é a centralização dos serviços públicos, conforme a competência de cada ente da federação. No mesmo sentido explica que quando há distribuição interna, dentro da mesma pessoa jurídica, dessas competências, ocorre a desconcentração. Quando falamos de organização hierárquica, onde vários órgãos subordinam-se dentro da mesma estrutura da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, estamos falando da administração direta. 2.3.2 Administração indireta Encontramos no Decreto-Lei nº 200/67 que a Administração Indireta compreende as diversas categorias de entidades com personalidade jurídica própria, conforme segue: autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas. Em relação à abrangência da Administração Indireta, orienta o escritor Slomski (2003, p. 360) que: “A administração indireta é a atividade administrativa caracterizada como serviço público, deslocado do Estado, para outra entidade por ele criada” (grifos do autor). Nesse sentido, explica Di Pietro (2013) que a administração indireta é um exemplo de descentralização dos serviços públicos, já que estavam concentrados na administração direta. Esta cria outra pessoa jurídica, com personalidade própria, para desempenhar as atividades estatais ou não. IMPORTANT E Acadêmico, você sabe o que é Administração Pública delegada? Sobre a Administração Pública delegada, o autor Slomski (2003, p. 360) orienta: “[...] é a que descentraliza a atividade do Estado para a órbita privada. Essa consiste na delegação do exercício de encargos públicos a terceiros, por meio de concessão (com contrato) ou permissão (sem contrato)”. FONTE: SLOMSKI, Valmor. Manual de contabilidade pública: um enfoque na contabilidade municipal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. TÓPICO 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 11 2.4 CONTROLADORIA GOVERNAMENTAL A gestão pública mundial segue um processo que visa substituir a administração burocrática e ultrapassada pela gerencial, com foco na prestação de serviços públicos eficientes e com maior abrangência (TCE/SC, 2002). A controladoria governamental é a procura da eficiência e eficácia naAdministração Pública, já que sugere um funcionamento orquestral entre os diversos órgãos que compõem esta administração, com o intuito de produzir políticas públicas adequadas à população (SLOMSKI, 2009). No setor público podemos entender a controladoria como controle interno, em seus vários sentidos, sistema ou órgão central. O controle interno é o realizado diretamente pelos funcionários públicos, através de um sistema de controle interno ou de uma estrutura organizacional de controle interno. Orienta o estudioso Albuquerque (2008, p. 391) que: “O Controle Interno é aquele realizado por estruturas organizacionais instituídas no âmbito da própria entidade controlada, compreendendo um conjunto de atividades, planos, métodos e procedimentos estruturados e integrados”. De acordo com os escritores Cruz e Glock (2003, p. 20), controle interno pode ser entendido da seguinte forma: A expressão controle interno pode ser entendida como a conjunção de todos os procedimentos de controle exercidos de forma isolada ou sistêmica no âmbito de uma organização, contrapondo-se ao termo controle externo. Já a conjunção controles internos passa a ideia de um conjunto ou parte de tais procedimentos. (grifos dos autores) A finalidade do controle interno está determinada na Constituição Federal (BRASIL, 1988), no Art. 74, incisos I ao IV: Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 12 O controle interno desempenha várias funções para atender sua finalidade constitucional, tais como: orientação, fiscalização, avaliação, entre outras atividades. Resumem estas atividades os estudiosos Soares e Moser (2011, p. 95-96): Portanto, podemos destacar que o órgão de controle interno é aquele que efetivamente orienta, fiscaliza e ajuda o administrador público na gestão. E que, ainda, é o responsável direto pelo controle das contas públicas e deverá orientar todos os setores da administração para o pleno atendimento da legislação e o cumprimento das metas planejadas. Consoante as orientações de Albuquerque (2008), a LRF estabeleceu funções adicionais para os controles internos, a assinatura e a fiscalização dos Relatórios de Gestão Fiscal, bem como a verificação do cumprimento das metas da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Acadêmico, segundo os autores apresentados, nós podemos observar que a controladoria tem participação especial no desenvolvimento de uma gestão responsável e vem ao encontro do estabelecido, como objetivo, da LRF. 2.5 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Na atuação da Administração Pública é necessário seguir os fundamentos elencados na nossa Constituição Federal no caput do artigo 37, que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. A legalidade fundamenta-se no dever de a atuação administrativa estar restrita ao ordenamento jurídico vigente. Praticar, na atividade funcional, apenas o que a lei determina é o intuito deste princípio (GRANZIERA, 2002). Para o pesquisador Carvalho Filho (2013), impessoal ou impessoalidade é o que não se refere a uma pessoa determinada ou em especial. Então conclui- se que nas atividades funcionais ou decisões deve o administrador pensar no coletivo como um todo, jamais a pessoas específicas. Não devemos confundir com ações para determinados grupos especiais, por exemplo, a construção de rampas para cadeirantes (grifo nosso). A autora Di Pietro (2013, p. 382) entende que: “O princípio da moralidade, [...], exige da Administração comportamento não apenas lícito, mas também consoante com a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de equidade, a ideia comum de honestidade”. Para garantir o acesso à informação e a participação popular, tanto para opinar como para impugnar as ações públicas, há necessidade de que os atos públicos respeitem o princípio da publicidade. Esse princípio é tão imperioso que, dependendo do ato administrativo, se comprovada a falta de publicidade, poderá deixar de produzir efeitos (GRANZIERA, 2002). TÓPICO 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 13 Em relação ao princípio da eficiência, o texto constitucional objetiva que, na área pública, em todo seu aparato de serviços no atendimento aos contribuintes e na manutenção das atividades do governo prevaleça a economicidade, a redução de recursos públicos, a qualidade dos serviços, o rendimento funcional. Para isso é necessário que o serviço seja prestado por pessoas capazes, no menor tempo possível, da forma mais econômica e que satisfaça a necessidade do usuário (CARVALHO FILHO, 2013). Podemos observar que no desempenho das atividades da Administração Pública deve-se respeitar no mínimo os princípios constitucionais. Então você, acadêmico, fiscalize os serviços públicos e, caso encontre alguma irregularidade, sempre denuncie. 3 O CAMPO DE APLICAÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA Sobre o campo de aplicação da contabilidade pública, o estudioso Andrade (2013, p. 15-16) esclarece que: “[...] a contabilidade pública é utilizada pelos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, tanto na administração direta quanto na administração indireta”. Entretanto, Andrade (2013) relembra que na administração pública indireta apenas as fundações públicas, as autarquias e as estatais dependentes são obrigadas a utilizar a contabilidade pública. Explica que as estatais independentes (empresas públicas e sociedades de economia mista) devem utilizar da contabilidade específica ao seu ramo de atividade porque concorrem com o mercado comum. Conforme o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público – MCASP (2017, p. 24), o setor público deve utilizar obrigatoriamente a contabilidade pública para registrar os atos e fatos que alteram ou venham a alterar o patrimônio público, verifique quem deve cumprir estas regras: As normas estabelecidas no MCASP aplicam-se, obrigatoriamente, às entidades do setor público. Estão compreendidos no conceito de entidades do setor público: os governos nacional (União), estaduais, distrital (Distrito Federal) e municipais e seus respectivos poderes (abrangidos os tribunais de contas, as defensorias e o Ministério Público), órgãos, secretarias, departamentos, agências, autarquias, fundações (instituídas e mantidas pelo poder público), fundos, consórcios públicos e outras repartições públicas congêneres das administrações direta e indireta (inclusive as empresas estatais dependentes). No art. 1º, § 2º e § 3º, da LRF, fica claro que os RELATÓRIOS DE GESTÃO FISCAL E O RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA devem contemplar, obrigatoriamente, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na sua administração direta e indireta. A exceção fica com as estatais independentes, empresa pública e sociedades de economia mista que não dependam de recursos públicos (grifos nossos). UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 14 É importante destacar que, para compor os relatórios exigidos na Lei de Responsabilidade Fiscal, deve-se utilizar da contabilidade pública, tanto com o sistema de informações patrimonial, orçamentário e de controle. DICAS Acadêmico: Os contadores públicos contam com um órgão federal para buscarinformações sobre a Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Leia com atenção MCASP (2017, p. 416): A Secretaria do Tesouro Nacional (STN), na condição de órgão central do Sistema de Contabilidade Federal, atua junto aos entes da Federação de modo a normatizar procedimentos que possibilitem a evidenciação orçamentária e patrimonial do setor público. Propicia, assim, uma harmonização contábil de toda a Federação, atendendo à base legal, aos princípios da ciência contábil e aos esforços de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade do Setor Público, em atendimento à Portaria MF nº 184/2008 e ao Decreto nº 6.976/2009. FONTE: MCASP. Manual de contabilidade aplicada ao setor público. 7. ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2017. Disponível em: <https://www. tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/563508/MCASP+7%C2%AA%20 edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Republica%C3%A7%C3%A3o+2017+06+02. pdf/3f79f96f-113e-40cf-bbf3-541b033b92f6>. Acesso em: 19 jul. 2018. 15 Neste tópico, você aprendeu que: • O Estado Brasileiro é formado pelos entes federados, União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Para a organização de seus serviços, conta com três poderes independentes e harmônicos entre si, que são Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. • A Administração Pública pode ser Direta (concentração de serviços) e Indireta (descentralização de serviços). • A Administração Pública deve seguir no desempenho de suas atividades a princípios constitucionais que estão no Artigo 37, que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. • A controladoria governamental é fundamental para que o gerenciamento das finanças públicas seja efetivo e que sejam respeitados os princípios norteadores da Administração Pública. • A contabilidade pública é o meio de gerar informações sobre o patrimônio público e sua evolução. Por este motivo, a LRF relaciona quem deve utilizar esta contabilidade e, consequentemente, integrar os relatórios bimestrais e quadrimestrais de execução e gestão fiscal. • O setor público é o campo de aplicação da contabilidade pública. RESUMO DO TÓPICO 1 16 Prezado acadêmico, para que possamos avaliar a compreensão dos conteúdos a que tivemos acesso até o momento, o convido a responder aos questionamentos dispostos a seguir: 1 Na República Federativa do Brasil encontramos três poderes independentes e harmônicos entre si, que são: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. Cada poder desempenha nas suas atividades funções típicas e atípicas. Assinale a alternativa em que o(s) ente(s) da federação não conta(m) com Poder Judiciário próprio: a) ( ) Municípios. b) ( ) Estados. c) ( ) União e Estados. d) ( ) Estados e Municípios. 2 A Lei de Responsabilidade Fiscal veio estabelecer normas relacionadas às finanças públicas com o intuito de impor responsabilidade na gestão fiscal e preencher a lacuna, existente, entre a Constituição Federal e a Lei nº 4.320/64. Nos artigos 1º e 2º, determinou quem deve utilizar contabilidade pública. Assinale a alternativa CORRETA que corresponde a todas entidades obrigadas a utilizarem a contabilidade governamental: a) ( ) Toda a administração pública indireta. b) ( ) Toda a administração pública direta e indireta. c) ( ) Apenas a administração pública direta. d) ( ) Toda a administração pública direta e indireta, exceto as estatais independentes. 3 Um dos passos importantes para o controle das finanças públicas é controlar o fluxo de atividades desde a geração das receitas e despesas até a execução final. Quando este processo é realizado pelos envolvidos em cada área em que acontecem as atividades, chamamos de sistema de controle interno. Já quando houver um setor, departamento ou profissional destinado a determinar, auditar e controlar, chamamos de controladoria ou controle interno: a) ( ) Verdadeiro. b) ( ) Falso. AUTOATIVIDADE 17 4 A Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 37, determina que as atividades funcionais dos gestores e do funcionalismo público devem seguir princípios. Esses princípios servem como pilares no desempenho das atividades da administração pública direta e indireta, todos os serviços públicos devem ser realizados utilizando essas premissas. Identifique os referidos princípios: a) ( ) Legalidade. b) ( ) Moralidade. c) ( ) Publicidade. d) ( ) Eficiência. e) ( ) Especialidade. f) ( ) Impessoalidade. 18 19 TÓPICO 2 A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A contabilidade é uma ciência social que traduz em informações a evolução do patrimônio de uma entidade. Quando tratamos do nosso país, esse patrimônio pertence a todos os cidadãos brasileiros. A contabilidade pública é a responsável pela geração de informações voltadas à evolução do patrimônio do setor público. Para reconhecermos a importância da contabilidade pública, como fornecedora de informações sobre finanças públicas, há necessidade de conhecermos a origem e evolução histórica desta ciência no Brasil. Além da origem e evolução da contabilidade pública brasileira, neste Tópico 2 vamos estudar a sua definição, bem como conhecer os tipos de informações geradas pelo sistema de informação contábil governamental. Este tópico traz, para você, informações que vão lhe permitir conhecer e distinguir o objeto, o objetivo e a organização dos serviços da contabilidade pública. Também serão apresentados os procedimentos contábeis básicos para a elaboração do orçamento público, conforme a Lei Federal nº 4.320/64. Vejamos, a partir de agora, como a contabilidade pública pode auxiliar na gestão dos recursos financeiros da Administração Pública! Aos estudos! UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 20 2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONTABILIDADE PÚBLICA A contabilidade surgiu com a necessidade de o ser humano conhecer e quantificar o que se tem, não se tem registro de quem a inventou, porém, o primeiro registro de um sistema completo de escrituração, por partidas dobradas, foi o dos arquivos municipais de Gênova, na Itália, em 1340. O primeiro livro impresso que trata das partidas dobradas foi publicado em 1494 com autoria do Frei Luca Pacioli (SLOMSKI, 2003). Complementa os ensinamentos o estudioso Carvalho (2008, p.1), observe: O orçamento na Administração Pública representa um dos mais antigos instrumentos de planejamento e execução das finanças públicas. Mesmo que de forma rudimentar, o planejamento sempre se fez presente na história da humanidade [...]. No Brasil, segundo Slomski (2003), a contabilidade pública aparece quando D. João VI veio com a família à nossa terra e instalou seu governo provisório, isso em 1808. Já para Carvalho (2008, p. 1): “Desde a Constituição de 1824, até a atual, 1988, alguns artigos foram dedicados às finanças públicas (orçamentos), [...]”. Encontramos no MCASP (2017, p. 21) o referencial para a convergência da contabilidade pública às normas internacionais, verifique: [...] primeiro marco histórico foi a edição da Lei nº 4.320/1964, que estabeleceu importantes regras para propiciar o controle das finanças públicas, bem como a construção de uma administração financeira e contábil sólida no país, tendo como principal instrumento o orçamento público. Deste modo, o orçamento público ganhou significativa importância no Brasil. Como consequência, as normas relativas a registros e demonstrações contábeis, vigentes até hoje, acabaram por dar enfoque sobretudo aos conceitos orçamentários, em detrimento da evidenciação dos aspectos patrimoniais. Outro importante avanço na área das finanças públicas foi a edição da Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que estabeleceu para toda a Federação, direta ou indiretamente, limites de dívida consolidada, garantias, operações de crédito, restos a pagar e despesas de pessoal, dentre outros, como intuito de propiciar o equilíbrio das finanças públicas e instituir instrumentos de transparência da gestão fiscal. Atualmente, foi instituída a Secretaria do Tesouro Nacional – STN para normatizar e informar a classe contábil pública sobre os instrumentos e mudanças no setor público. A STN e o Conselho Federal de Contabilidade – CFC trabalham em conjunto para convergir todas as normas contábeis às normas internacionais. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 21 2.1 DEFINIÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA Através dos ensinamentos do escritor Silva (2011, p. 43), extraímos que: [...] a contabilidade é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação e controle relativas aos atos e fatos administrativos, e a Contabilidade Pública é uma especialização voltada para o estudo e a análise dos fatos administrativos que ocorrem na administração pública. Já o autor Andrade (2013) ressalta que a contabilidade pública é a destinada a registrar e demonstrar as alterações do patrimônio público, levando em consideração todas as mutações ocorridas no processo de gestão deste patrimônio. No entendimento de Angélico (2009, p. 107-108), “[...] Contabilidade Pública é a disciplina que aplica, na administração pública, as técnicas de registros e apurações contábeis em harmonia com as normas gerais do Direito Financeiro”. Corrobora com os mesmos ensinamentos o autor Carvalho (2008, p. 149) sobre essa definição: “[...] é o ramo da Contabilidade que estuda, orienta, controla e registra os atos e fatos da administração pública, demonstrando o seu patrimônio e as suas variações, bem como acompanha e demonstra a execução do orçamento”. Acadêmico, perceba que são diversas as definições desta ciência, entretanto todas esclarecem que é voltada ao patrimônio público, aos registros dos fatos e atos, acompanha as finanças públicas através do orçamento público. 2.2 USUÁRIOS DA CONTABILIDADE PÚBLICA Em relação aos usuários da contabilidade pública verificamos que há uma gama muito grande de interessados nas informações. A NBCTSPEC (2016) não identifica os usuários da contabilidade pública apenas interpreta que devemos preparar as informações conforme a necessidade de quem solicita as informações (independente de quem sejam), destaca que as informações sejam organizadas com o objetivo de prestar contas, permitir o controle e facilitar a tomadas de decisões. Já vários autores, como Slomski (2003), Silva (2011), Andrade (2013), comentam em suas obras a questão de usuários internos e externos, para prestação de contas, controles, pesquisas e tomadas de decisões. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 22 Em relação aos usuários da contabilidade pública, o autor Silva (2017, p. 1) revela o interesse de três usuários: Os cidadãos, pois estes são os principais financiadores dos gastos realizados pelo governo. Os órgãos de controle, sejam eles de controle externo, como o Poder Legislativo e os tribunais de contas, ou mesmo de controle interno, no caso as controladorias governamentais. As instituições financeiras, pois se utilizam da informação contábil para identificar a capacidade de pagamento dos entes governamentais. (grifo do autor) Acadêmico, concluímos que os usuários da Contabilidade Pública são muitos e com diversos objetivos. Como usuários internos, podemos citar o controle interno, o gestor, o funcionário público, o representante do Legislativo. Já como usuário externo, podemos exemplificar como os Tribunais de Contas, o Ministério Público, os agentes financeiros, os cidadãos, entre outros, que, por motivos específicos ou não, necessitam das informações públicas. IMPORTANT E Acadêmico: Você já se questionou quais as informações que gostaria de obter da Administração Pública? Pesquise nas páginas do governo federal, estadual ou municipal, da rede mundial de computadores, e confirme se estas informações estão disponíveis. 2.3 INFORMAÇÃO CONTÁBIL A informação contábil no setor público está voltada às variações do patrimônio público, contudo são necessárias, também, as informações orçamentárias, bem como as de controles ou compensação. As decisões da formatação das informações, segundo o MCASP (2017), devem contemplar: As decisões sobre a seleção, a localização e a organização da informação são tomadas em resposta às necessidades dos usuários pela informação sobre os fenômenos econômicos, financeiros, orçamentários e de outra natureza. Na prática, essas decisões estão interligadas e podem ter implicações sobre o conteúdo do relatório e a forma de como ele é organizado. Conforme a NBCTSPEC (2016, p. 5), a maioria das entidades do setor público tem como objetivo produzir serviços à população sem a obtenção de lucro. Nesse sentido, necessita prestar contas dos recursos que captou dos contribuintes TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 23 IMPORTANT E Acadêmico, você sabe onde e como consultar as normas de contabilidade pública já convergidas às normas internacionais? É simples, confira na legislação publicada pelo Conselho Federal de Contabilidade, na sua página na rede mundial de computadores, lá estarão as normas convergidas. e aplicou na sociedade. Veja como esta norma interpreta as necessidades dos usuários dos RCPGs – Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público: Portanto, os usuários dos RCPGs das entidades do setor público precisam de informações para subsidiar as avaliações de algumas questões, tais como: (a) se a entidade prestou seus serviços à sociedade de maneira eficiente e eficaz; (b) quais são os recursos atualmente disponíveis para gastos futuros, e até que ponto há restrições ou condições para a utilização desses recursos; (c) a extensão na qual a carga tributária, que recai sobre os contribuintes em períodos futuros para pagar por serviços correntes, tem mudado; e (d) se a capacidade da entidade para prestar serviços melhorou ou piorou em comparação com exercícios anteriores. Contudo, entendemos que as informações contábeis devem ser apresentadas, conforme as orientações de Machado Jr. e Reis (2011), através de relatórios oficiais, como o Relatório de Gestão Fiscal, o Relatório Resumido de Execução Orçamentária, o Balanço Patrimonial, o Balanço Orçamentário, entre outros explícitos na legislação, bem como com relatórios elaborados especificamente para as necessidades de cada usuário. 3 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO Acadêmico, a contabilidade aplicada ao setor público é a contabilidade pública. Compreendemos como setor público toda a administração direta e indireta. Porém, na administração pública indireta, apenas as estatais independentes não são obrigadas a utilizar esta contabilidade. Vamos entender agora o seu objeto, objetivo, a organização dos serviços contábeis e os procedimentos contábeis básicos para a elaboração do orçamento público de acordo com a Lei nº 4.320/64. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 24 3.1 OBJETO E OBJETIVO O objeto da contabilidade é o patrimônio, no setor público e na contabilidade aplicada nesta área; no sentido mais amplo, é o patrimônio público que é composto por seus bens, direitos e obrigações (CARVALHO, 2013). Em relação aos objetivos da contabilidade pública, podemos utilizar como parâmetro as instruções do Conselho Federal de Contabilidade – CFC e as normas da Secretaria do Tesouro Nacional – STN. A Norma Brasileira de Contabilidade Aplicada ao Setor Público – Estrutura Conceitual – NBCTSPEC, aprovada em 23 de setembro de 2016 pelo CFC, determina que: “Os objetivos da elaboração e divulgação da informação contábil estão relacionados ao fornecimento de informações sobre a entidade do setor público que são úteis aos usuários dos RCPGs para a prestação de contas e responsabilização (accountability) e tomada de decisão” (grifo nosso). Para melhor entendimento dos objetivos dainformação contábil, entenda que o significado da sigla RCPGs é Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público. Continuando com as orientações do NBCTSPEC (2016), os objetivos da informação contábil, pública, são determinados nas necessidades dos usuários dos RCPGs. 3.2 ORGANIZAÇÃO DA CONTABILIDADE A Lei Federal nº 4.320/64, a partir do artigo 83, regulamenta a contabilidade pública. Ensinam os estudiosos Machado Jr. e Reis (2011) que a contabilidade pública deve ser organizada de tal forma que possa respeitar as normas da Lei Federal nº 4.320/64. Nesse sentido, tal organização deverá proporcionar a visualização da situação de qualquer pessoa que arrecade receitas, efetue despesas, administre ou guarde bens que pertençam ao setor público. Encontramos no MCASP (2017) que tal contabilidade deve organizar- se para produzir informações com características qualitativas aos seus usuários. Essas informações devem adequar-se às necessidades do requerente, contudo é imprescindível que sejam: relevantes, com representação fidedigna, compreensíveis, tempestivas, comparáveis e verificáveis. A organização da contabilidade governamental, pelos ensinamentos de Andrade (2013), deve contemplar o desempenho de funções específicas, como: o registro dos atos e fatos, o fornecimento de informações interpretadas, o controle dos métodos de acompanhamento e fiscalização das demonstrações financeiras e a análise com eficiência dos registros patrimoniais, orçamentários e de controle. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 25 3.3 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS BÁSICOS PARA A ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO DE ACORDO COM A LEI Nº 4.320/64 A Lei Federal nº 4.320/64 continua sendo, juntamente à LRF, a lei que trata de vários procedimentos básicos para a elaboração do Orçamento Anual da administração Pública. Nesse sentido encontramos no artigo 32 e 33 orientações sobre a elaboração da lei do orçamento. A Constituição Federal, as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas dos Municípios determinam o prazo para o envio do projeto de lei da Lei Orçamentária Anual – LOA. A Lei Federal nº 4.320/64, no artigo 32, determina como o Poder Legislativo deve agir caso não receba a proposta do chefe do Poder Executivo. A referida lei de finanças públicas, também, no seu artigo 33, cria regras em relação ao tipo de emendas legislativas que não poderão alterar a LOA: Art. 32. Se não receber a proposta orçamentária no prazo fixado nas Constituições ou nas Leis Orgânicas dos Municípios, o Poder Legislativo considerará como proposta a Lei de Orçamento vigente. Art. 33. Não se admitirão emendas ao projeto de Lei de Orçamento que visem a: a) alterar a dotação solicitada para despesa de custeio, salvo quando provada, nesse ponto, a inexatidão da proposta; b) conceder dotação para o início de obra cujo projeto não esteja aprovado pelos órgãos competentes; c) conceder dotação para instalação ou funcionamento de serviço que não esteja anteriormente criado; d) conceder dotação superior aos quantitativos previamente fixados em resolução do Poder Legislativo para concessão de auxílios e subvenções. Acadêmico, verifique que o Poder Legislativo está limitado no seu poder de legislar perante este instrumento de planejamento financeiro. Vale ressaltar que cabe ao chefe do Poder Executivo elaborar e enviar para o Legislativo o projeto de lei da LOA. 4 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL GOVERNAMENTAL Através do registro contábil, utilizando a ordenação de contas do plano de contas, obtemos a informação que o usuário espera. Utilizamos justamente o PCASP para que possamos apresentar em relatórios as informações segmentadas sob a natureza patrimonial, orçamentária e de controle (SILVA, 2011). UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 26 A contabilidade pública deve contemplar subsistemas de informações, por determinação da Lei Federal nº 4.320/64, contudo, com a convergência às normas internacionais e o STN como elo para orientar os contabilistas, agregou-se o subsistema financeiro ao patrimonial e o de compensação ao de controle. O sistema de informações da contabilidade pública é formado por subsistemas de informações quanto à natureza das contas elencadas no PCASP. Veja o quadro a seguir: QUADRO 3 – ESTRUTURA DO CÓDIGO DA CONTA CONTÁBIL PCASP Natureza da informação Classes Patrimonial 1. Ativo 2. Passivo 3. Variações Patrimoniais Diminutivas 4. Variações Patrimoniais Aumentativas Orçamentária 5. Controles da Aprovação do Planejamento e Orçamento 6. Controles da Execução do Planejamento e Orçamento Controle 7. Controles Devedores 8. Controles Credores FONTE: MCASP (2017, p. 343) IMPORTANT E Acadêmico, é importante que você conheça e entenda o PCASP. Sugerimos a leitura da Parte IV do MCASP. FONTE: MCASP. Manual de contabilidade aplicada ao setor público. 7. ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2017. Disponível em: <https://www. tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/563508/MCASP+7%C2%AA%20 edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Republica%C3%A7%C3%A3o+2017+06+02. pdf/3f79f96f-113e-40cf-bbf3-541b033b92f6>. Acesso em: 19 jul. 2018. 4.1 PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO – PCASP As informações que a contabilidade pública deve gerar são organizadas e estruturadas através de um conjunto de contas padronizado que se chama Plano de contas aplicado ao setor público – PCASP. O conceito de plano de contas, segundo o MCASP (2017, p. 340), é: Plano de contas é a estrutura básica da escrituração contábil, formada por uma relação padronizada de contas contábeis, que permite o registro contábil dos atos e fatos praticados pela entidade de maneira padronizada e sistematizada, bem como a elaboração de relatórios gerenciais e demonstrações contábeis de acordo com as necessidades de informações dos usuários. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 27 Para o pesquisador Silva (2011), o plano de contas tem a função de apresentar o elenco de contas, qual a função individual de cada conta e como a conta se movimenta, ou seja, o seu funcionamento. A estrutura do código das contas do PCASP está dividida em sete níveis de desdobramento, confira como está formada, no quadro a seguir: QUADRO 4 – ESTRUTURA DO CÓDIGO DA CONTA CONTÁBIL X . X . X . X . X . XX . XX 1º Nível – Classe (1 dígito) 2º Nível – Grupo (1 dígito) 3º Nível – Subgrupo (1 dígito) 4º Nível – Título (1 dígito) 5º Nível – Subtítulo (1 dígito) 6º Nível – Item (2 dígitos) 7º Nível – Subitem (2 dígitos) FONTE: MCASP (2017, p. 343) Agora vamos compreender como fica o PCASP estruturado com as contas já determinadas pelo STN até o segundo nível, confira no quadro a seguir: QUADRO 5 – PCASP SETOR PÚBLICO SEGUNDO NÍVEL PCASP 1 – Ativo 1.1 - Ativo Circulante 1.2 - Ativo Não Circulante 2 – Passivo e Patrimônio Líquido 2.1 - Passivo Circulante 2.2 - Passivo Não Circulante 2.3 - Patrimônio Líquido 3 – Variação Patrimonial Diminutiva 3.1 - Pessoal e Encargos 3.2 - Benefícios Previdenciários e Assistenciais 3.3 - Uso de Bens, Serviços e Consumo de Capital Fixo 3.4 - Variações Patrimoniais Diminutivas Financeiras 3.5 - Transferências e Delegações Concedidas 3.6 - Desvalorização e Perda de Ativos e Incorporação de Passivos 3.7 - Tributárias 3.8 - Custo das Mercadorias Vendidas, dos Produtos Vendidos e dos Serviços Prestados 3.9 - Outras Variações Patrimoniais Diminutivas 4 – Variação Patrimonial Aumentativa 4.1 - Impostos,Taxas e Contribuições de Melhoria 4.2 - Contribuições 4.3 - Exploração e venda de bens, serviços e direitos 4.4 - Variações Patrimoniais Aumentativas Financeiras 4.5 - Transferências e Delegações Recebidas 4.6 - Valorização e Ganhos com Ativos e Desincorporação de Passivos 4.9 - Outras Variações Patrimoniais Aumentativas UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 28 5 – Controles da Aprovação do Planejamento e Orçamento 5.1 - Planejamento Aprovado 5.2 - Orçamento Aprovado 5.3 - Inscrição de Restos a Pagar 6 – Controles da Execução do Planejamento e Orçamento 6.1 - Execução do Planejamento 6.2 - Execução do Orçamento 6.3 - Execução de Restos a Pagar 7 – Controles Devedores 7.1 - Atos Potenciais 7.2 - Administração Financeira 7.3 - Dívida Ativa 7.4 - Riscos Fiscais 7.5 - Consórcios Públicos 7.8 - Custos 7.9 - Outros Controles 8 – Controles Credores 8.1 - Execução dos Atos Potenciais 8.2 - Execução da Administração Financeira 8.3 - Execução da Dívida Ativa 8.4 - Execução dos Riscos Fiscais 8.5 - Execução dos Consórcios Públicos 8.8 - Apuração de Custos 8.9 - Outros Controles FONTE: MCASP (2017, p. 343-344) DICAS Acadêmico, entenda os objetivos do PCASP: a. padronizar os registros contábeis das entidades do setor público; b. distinguir os registros de natureza patrimonial, orçamentária e de controle; c. atender à administração direta e à administração indireta das três esferas de governo, inclusive quanto às peculiaridades das empresas estatais dependentes e dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS); d. permitir o detalhamento das contas contábeis, a partir do nível mínimo estabelecido pela STN, de modo que possa ser adequado às peculiaridades de cada ente; e. permitir a consolidação nacional das contas públicas; f. permitir a elaboração das Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público (DCASP) e dos demonstrativos do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) e do Relatório de Gestão Fiscal (RGF); g. permitir a adequada prestação de contas, o levantamento das estatísticas de finanças públicas, a elaboração de relatórios nos padrões adotados por organismos internacionais – a exemplo do Government Finance Statistics Manual (GFSM), do Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como o levantamento de outros relatórios úteis à gestão; h. contribuir para a adequada tomada de decisão e para a racionalização de custos no setor público; e i. contribuir para a transparência da gestão fiscal e para o controle social. Fonte: MCASP. Manual de contabilidade aplicada ao setor público. 7. ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2017. Disponível em: <https://www. tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/563508/MCASP+7%C2%AA%20 edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Republica%C3%A7%C3%A3o+2017+06+02. pdf/3f79f96f-113e-40cf-bbf3-541b033b92f6>. Acesso em: 19 jul. 2018. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 29 4.2 SISTEMA DE INFORMAÇÕES A estrutura do PCASP está dividida em oito classes, as quais representam informações de natureza patrimonial, classes 1 a 4, de natureza orçamentária, classes 5 e 6, e de natureza de controle, nas classes 7 e 8 (MCASP, 2017). 4.2.1 Informações patrimoniais As informações patrimoniais relacionam-se ao antigo subsistema financeiro e o patrimonial, agora estão todos no mesmo grupo de contas formando apenas um grupo pelas orientações do MCASP (2017, p. 342): “[...] Natureza de Informação Patrimonial: registra, processa e evidencia os fatos financeiros e não financeiros relacionados com a composição do patrimônio público e suas variações qualitativas e quantitativas”. Por intermédio desse sistema de informações é que a contabilidade pública representa dados financeiros (entradas e saídas deste fluxo), o controle das variações patrimoniais qualitativas e quantitativas, a entrada e saída de bens, o resultado do exercício e o acumulado, as obrigações a curto e longo prazo, entre outras (SLOMSKI, 2003). 4.2.2 Informações orçamentárias Estas informações estão relacionadas às estimativas da receita e da despesa orçamentária, bem como com a execução do orçamento público, os créditos adicionais e os resultados orçamentários. Todo o controle do que foi orçado e realizado pode ser verificado através deste sistema (SILVA, 2011). As informações orçamentárias estão dispostas nas classes 5 e 6 do PCASP e apresentam dados sobre o planejamento orçamentário. É o que determina o MCASP (2017, p. 342): “[...] Natureza de Informação Orçamentária: registra, processa e evidencia os atos e os fatos relacionados ao planejamento e à execução orçamentária”. 4.2.3 Informações de controle Nesse sistema de informações, através de controles credores e devedores, podemos apurar custos, disponibilidade financeira por fonte de recursos, contratos, convênios, operações de crédito, dívida ativa, controles contingentes, entre outros que sejam necessários (SILVA, 2011). UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 30 As informações de controle são representadas pelas classes 7 e 8, representam o controle da dívida ativa, de contratos, da disponibilidade financeira, entre outros, conforme exposto no MCASP (2017, p. 342): “[...] Natureza de Informação de Controle: registra, processa e evidencia os atos de gestão cujos efeitos possam produzir modificações no patrimônio da entidade do setor público, bem como aqueles com funções específicas de controle”. DICAS Acadêmico: As informações contidas neste caderno de estudos devem ser complementadas com pesquisas em jornais, livros, revistas, reportagens, entre outros meios de informação. O MCASP é o material mais atualizado para entender sobre contabilidade pública, lá você encontra todas as informações necessárias para ser um profissional dessa área. Disponível em:<https://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/563508/MCASP+7 %C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Republica%C3%A7%C3%A3o+2017 +06+02.pdf/3f79f96f-113e-40cf-bbf3-541b033b92f6>. Acesso em: 19 jul. 2018. 4.3 REGIMES CONTÁBEIS No momento da escrituração contábil, para garantir características qualitativas e demonstrar o fato contábil conforme a sua realidade, seguindo os princípios contábeis cabíveis, utilizamos a prática de três regimes de escrituração, quais sejam: regime de caixa, regime de competência e regime misto (ANDRADE, 2013). Orienta o estudioso Slomski (2003, p. 31) que, na contabilidade do setor público, utilizamos o regime misto para contemplar as normas das duas leis específicas de finanças públicas, a LRF e a Lei Federal nº 4.320/64. Entenda quando será utilizado: [...] Impondo, dessa maneira, um regime contábil de escrituração misto para a contabilidade pública brasileira. Assim, no Brasil, o regime de escrituração contábil é o regime misto, qual seja, para a receita orçamentária o regime de caixa e para a despesa orçamentária o regime de competência. Caro acadêmico, agora que sabemos qual é o utilizado pela contabilidade pública, vejamos qual é o procedimento de cada um desses regimes contábeis. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE PÚBLICA BRASILEIRA 31 4.3.1 Regime de caixa Orienta o estudioso Carvalho (2008, p. 162) que: No regime de caixa, também chamado regime de gestão anual, é aquele em que são consideradas receitas e despesas do exercício, tudo o que se receber ou pagar durante o ano financeiro, mesmo que se trate de receitas e despesas referentes aos exercícios anteriores. Consoante as orientações do escritor Andrade (2013), a Lei Federal nº 4.320/64 determina que em relação a este regime, a receita pública, quando se tratar de informações orçamentárias, deverá ser utilizado o regime de caixa. IMPORTANT E Acadêmico, você quer saber mais sobre a funcionalidade dos regimes contábeis? Sugerimos a leitura do Livro: Contabilidade pública. Fonte: ANGÉLICO, João. Contabilidade pública. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 4.3.2 Regime de competência Para o autorAndrade (2013, p. 9), há uma relação do regime de competência com o princípio contábil da oportunidade: Este princípio está diretamente relacionado ao Princípio da Oportunidade, pois se refere à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações efetuadas de forma imediata, com a extensão correta, independentemente das causas que as originaram. “No regime de competência, ou regime de exercício, também denominado regime jurídico, os tributos lançados e não arrecadados, bem como as despesas empenhadas e não pagas, são apropriados ao exercício como se de fato [...] houvessem sido realizados” (CARVALHO, 2008, p. 162). 4.3.3 Regime misto Na contabilidade pública brasileira, utilizamos a mistura dos dois regimes, é o que orienta o escritor Angélico (2009, p. 113): “O regime contábil adotado no Brasil é o misto, isto é, adota-se ao mesmo tempo o regime de caixa e o regime de competência”. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 32 Atualmente, seguindo a Lei Federal nº 4.320/64, as receitas sob a ótica orçamentária são registradas pelo regime de caixa, já as despesas consagradas como competência pelo seu empenhamento. Entretanto, segundo a LRF, no seu artigo 50, esclarece que todas as despesas serão registradas pelo regime de competência, e pelo regime de caixa o fluxo de caixa em caráter complementar. Para o doutrinador Andrade (2013, p. 9-10), essa união de regimes significa: Regime contábil que mescla o regime de caixa e o regime de competência para a apuração dos resultados dos exercícios. No Brasil, já o adotamos na contabilidade das instituições públicas, conforme a aplicação do entendimento geral adotado com relação ao que preceitua o art. 35, incisos I e II, da Lei nº 4.320/64. Entretanto, pelos novos conceitos e convergência para as normas internacionais de contabilidade adota-se o regime de competência. Acadêmico, devemos sempre nos atualizar em relação às orientações do MCASP (2017), porque este é um tema que está convergindo às normas internacionais de contabilidade, podendo a qualquer momento surgir uma interpretação nova da legislação vigente. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A contabilidade pública era voltada para uma gestão orçamentária e atualmente apresenta controles patrimoniais, além dos orçamentários. • O campo de atuação da contabilidade pública é o setor público (administração direta e indireta), seu objeto é o patrimônio público, já os objetivos são muitos, podemos destacar o fornecimento de informações qualitativas na área financeira. • As informações contábeis são destinadas aos vários tipos de usuários da contabilidade pública, principalmente, para a tomada de decisões, para o controle e financiamentos. • O PCASP está estruturado em sete níveis e oito classes para que produza informações de natureza orçamentária, patrimonial e de controle. • O processo de elaboração da LOA deve seguir as normatizações da Lei Federal nº 4.320/64. • Os regimes contábeis para efetuarmos os registros dos atos e fatos podem ser: de competência, de caixa e misto. O regime misto é utilizado na contabilidade pública. 34 Prezado acadêmico, para que possamos avaliar a compreensão dos conceitos a que tivemos acesso até o momento, o convido a responder aos questionamentos dispostos a seguir: 1 A contabilidade pública, também conhecida como contabilidade governamental ou contabilidade aplicada ao setor público, CASP, é uma ciência aplicada ao estudo do patrimônio público das entidades do terceiro setor. Essa afirmação é: a) ( ) Verdadeira. b) ( ) Falsa. 2 O objeto da contabilidade pública é o patrimônio público. Os atos e fatos são registrados e na compilação destes registros obtemos informações sobre as mutações deste objeto. Assinale as alternativas que são exemplos dessas mudanças no patrimônio: a) ( ) A diminuição dos recursos financeiros nas contas bancárias. b) ( ) A substituição de um vereador. c) ( ) O aumento do imobilizado de uma prefeitura. d) ( ) A diminuição da dívida fundada da União. e) ( ) A troca do ministro da Educação. 3 Segundo Andrade (2013, p. 8), os regimes contábeis são adotados para o registro contábil, veja: “Esta expressão é utilizada para consolidar ‘Princípios e Convenções Contábeis Geralmente Aceitos’, no tocante a premissas contábeis básicas adotadas no momento da escrituração contábil, a fim de resguardar a transcrição da realidade do fato contábil”. Qual dos regimes contábeis é utilizado na contabilidade governamental? a) ( ) Regime de caixa. b) ( ) Regime de competência. c) ( ) Regime misto. 4 O plano de contas das entidades públicas é criado de acordo com as necessidades do setor. É através do PCASP que os profissionais de contabilidade registram as mutações do patrimônio público. Na área pública, quais as naturezas de informações em que o PCASP está estruturado: a) ( ) patrimonial, financeira e compensação. b) ( ) financeira, orçamentária e controle. c) ( ) patrimonial, orçamentária e controle. d) ( ) orçamentária, patrimonial e financeira. AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 3 A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A trajetória da administração pública brasileira obedeceu a uma série de desordens, desvios, crises e irresponsabilidade no que diz respeito à gestão dos gastos públicos. Em um ambiente de dívidas e baixa nos investimentos das diversas políticas públicas, surgiu a necessidade de se criar regras com o intuito de gerir o controle dos gastos e determinar a responsabilidade por parte de quem utiliza o dinheiro público. A previsão legal, que rege normas de finanças públicas, determinada na Constituição Federal de 1988, necessitava de regulamentação. Foi apenas em 2000 que a consolidação da Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF) ocorreu com o propósito de regulamentar, normatizar e estabelecer uma utilização responsável e coerente do dinheiro público. Esse novo código de conduta passa a ser então uma diretriz para a eficiência na gestão dos administradores públicos. Neste tópico vamos compreender o papel da LRF na gestão das finanças públicas. Para atingirmos nosso objetivo, é necessário conhecermos os motivos que deram origem à Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como identificar a abrangência (quem deve respeitar a nova legislação), seus objetivos e princípios. Continuamos, no Tópico 3, os estudos sobre as normas advindas da LRF em relação ao planejamento orçamentário, transparência, controle e fiscalização da gestão dos recursos fiscais do governo. Com este conhecimento, você poderá visualizar o ambiente e as normas que envolvem as finanças públicas. Seja bem-vindo, iniciamos nossa caminhada. Aos estudos! 36 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 2 A LRF E AS FINANÇAS PÚBLICAS A Lei de Responsabilidade Fiscal veio estabelecer normas relacionadas às finanças públicas com o intuito de impor responsabilidade na gestão fiscal e preencher a lacuna, existente, entre a Constituição Federal e a Lei nº 4.320/64 (CRUZ et al., 2012). A finalidade desta lei em relação às finanças públicas pode ser percebida já em seu Art. 1º, observe: “Art. 1º. Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição”. A LRF veio responsabilizar os gestores que não forem responsáveis com as finanças públicas. Para o pesquisador Gattringer (2006), os administradores públicos necessitam ter atenção às receitas públicas decorrentes da arrecadação dos tributos, a utilização de bens e a remuneração de serviços públicos, caso contrário, poderão acarretar em responsabilidade pessoal ao agente causador de prejuízos aos cofres públicos. O enfrentamento de todos esses pontos relevantes para gerir e controlar um Estado necessita de condiçõesharmônicas, meios e esforços que ajudem a calcular os riscos, atingir metas e obter resultados positivos. “A novidade da Lei de Responsabilidade Fiscal reside no fato de responsabilizar especificamente a parte da gestão financeira a partir de um acompanhamento sistemático do desempenho mensal, trimestral, anual e plurianual” (CRUZ et al., 2012, p. 2). Na visão do TCE/SC (2002, p. 10), a LRF vem introduzir regras de equilíbrio financeiro nas finanças públicas, bem como responsabilizar os governantes que desrespeitam, sem motivos, a regra de gastar apenas o que se dispõe: Se fosse possível resumir a Lei em apenas uma frase, poderíamos fazê- lo afirmando que o Poder Público somente pode assumir obrigações até o limite de que já dispõe (pay as you go), em outras palavras: os responsáveis pela observância das normas da Lei de Responsabilidade Fiscal devem manter o equilíbrio nas contas públicas. (grifo nosso) A legislação punitiva relacionada aos crimes de responsabilidade na gestão fiscal pode ser aplicada tanto aos gestores (penalidades pessoais) e, também, aos entes federativos (penalidades institucionais). Toda a legislação punitiva que se relacione aos crimes de responsabilidade na gestão fiscal pode ser utilizada na defesa do direito a uma conduta adequada. Entenda que é possível utilizar a legislação anterior à LRF, como o Código Penal, crimes de responsabilidade de membros dos poderes da União e dos estados, crimes de responsabilidade dos prefeitos e vereadores, lei de improbidade administrativa, entre outras. A Lei de Responsabilidade Fiscal veio introduzir a gestão gerencial e responsável nas administrações públicas. Para atingir sua finalidade, determina regras de planejamento, transparência, controle e responsabilização direcionadas à gestão dos recursos financeiros, disponibilidades, endividamento, entre outros. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 37 IMPORTANT E Acadêmico, você sabe onde e quem pode denunciar infrações à LRF? Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar ao respectivo Tribunal de Contas e ao órgão competente do Ministério Público o descumprimento das prescrições estabelecidas nesta Lei Complementar. Fonte: Art. 73-A, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>. 2.1 ORIGEM DA LRF Apesar de a Lei de Responsabilidade Fiscal ser inovadora, em termos de prática concreta, diante do cenário de oscilações das finanças públicas no Brasil, suas raízes provêm de inspirações em outros países, tomando como ponto de partida a experiência internacional (TCE/SC, 2002). Dentre os vários modelos, já utilizados, de regras para implantar a gestão fiscal responsável, segundo os autores Nascimento e Debus (2002, p. 6), foram escolhidos, como exemplos para a nossa LRF, os seguintes modelos: Os modelos que foram tomados como referencial para a elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal são: o Fundo Monetário Internacional, organismo do qual o Brasil é Estado-membro, e que tem editado e difundido algumas normas de gestão pública em diversos países; a Nova Zelândia, através do Fiscal Responsibility Act, de 1994; a Comunidade Econômica Europeia, a partir do Tratado de Maastricht; e, os Estados Unidos, cujas normas de disciplina e controle de gastos do governo central levaram à edição do Budget Enforcement Act, aliado ao princípio de “accountability”. (grifo nosso) O Fiscal Transparency do Fundo Monetário Internacional (FMI) é um modelo que vários países utilizaram e com o qual obtiveram iniciativas bem- sucedidas, no sentido de evitar o surgimento de grandes déficits públicos e, como consequência, a elevação dos níveis da dívida. Este modelo tem como objetivo evidenciar informações orçamentárias de modo fácil e compreensivo pelo controle social. Os artigos 54 e 55, da LRF, são exemplos da utilização deste princípio do FMI na lei brasileira (TOLEDO JR; ROSSI, 2005). O modelo da Nova Zelândia, tomado como inspiração para o nosso, brasileiro, que, de acordo com Soares (2012), difere dos outros modelos, pois não prevê metas fiscais, admite afastamentos temporários; considera perigosa a perda de credibilidade pelo não cumprimento de metas; teme pela manipulação de informação para ajustá-las às metas fixadas, entre outros. Já para Toledo Jr 38 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA e Rossi (2005), a política fiscal da Nova Zelândia tem os objetivos de reduzir a dívida pública a níveis prudentes e manter certo nível de reservas patrimoniais, para enfrentar fatores imprevisíveis, que são os chamados riscos fiscais. O Tratado de Maastricht, assinado na cidade holandesa do mesmo nome, na visão de Nascimento e Debus (2002), representou um marco na união da Europa, cujo novo bloco que se formara no continente chamara-se União Europeia. O tratado estabeleceu várias metas para facilitar a circulação das pessoas, produtos e serviços, com a finalidade de estabilizar a política do continente. Sobre o Tratado de Maastricht, ressaltam Toledo Jr e Rossi (2005, p. 9) que: “[...] Vêm daí nossas metas de resultado, avençadas na lei de diretrizes orçamentárias [...]”. Ainda neste cenário internacional, sobre o Budget Enforcement Act, Toledo Jr e Rossi (2005, p. 10) mostram a importância do movimento para a inspiração da LRF: Tal plano contempla apenas o Governo Federal [...] esse programa americano inspirou o hoje obrigatório instituto da limitação de despesa (empenho), prescrito no art. 9 da Lei Complementar n. 101, de 2000. Demais disso, ao instituir o pay as you go (pague para prosseguir), o Budget Enforcement Act sugeriu-nos a compensação financeira de novas despesas obrigatórias de caráter continuado, quer mediante o aumento permanente das receitas, quer por meio do corte permanente de outras despesas (art. 17). (grifo nosso) Para os estudiosos Monteiro e Pivatto (2014, p. 136), a concepção do surgimento da LRF vem através do seguinte contexto: Diante de um cenário nacional marcado pelo elevado nível de tributação e a pouca efetividade dos gastos públicos, notadamente em relação à baixa qualidade da educação, saúde e segurança pública, bem como a limitada capacidade de investimento em melhorias estruturais que possibilitem avanços mais significativos para a economia e para a sociedade, a LRF surgiu e ainda mantém o importante papel de disciplinar a gestão dos recursos públicos, atribuindo aos gestores obrigações e monitoramento permanente, objetivando a manutenção do equilíbrio entre receitas e despesas. Acadêmico, perceba que são diversas as influências internacionais para nosso modelo de Lei de Responsabilidade Fiscal. Assim, vemos as principais características desses movimentos ressurgirem, objetivando o controle adequado e a transparência às ações do governo. 2.2 OBJETIVOS E ABRANGÊNCIA Sobre o objetivo da LRF, Machado Jr. e Reis (2011) afirmam que, pelo seu teor, a lei procura fazer com que o gestor público se conscientize da necessidade da adoção de uma gestão responsável com vistas ao equilíbrio das contas governamentais. Os autores defendem que, nesses termos, fica muito difícil aceitar um déficit sem uma justificativa plausível. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 39 O principal objetivo da LRF é ressaltar o princípio da responsabilidade, do planejamento com um foco na execução gerencial das contas públicas. O autor Soares (2012) corrobora no mesmo sentido, quando comenta que esta lei surgiu em um momento difícil da história das finanças públicas do país, quando fez-se necessário limitar os gastos públicos e impor metas numéricas aos administradores públicos, em todas as esferas governamentais. Os gestores entenderam que a LRF conduz ao equilíbrio fiscal e para evitar problemas com as sanções e a responsabilização, investirão em controle de receitas e despesas. É a explicaçãodo professor Wisintainer (2006, p. 159): “[...] após a entrada em vigor da Lei Complementar nº 101/2000, de 4 de maio de 2000, [...] tornou-se obrigatória a busca incessante pelo equilíbrio das contas públicas, principalmente no que se refere à arrecadação de receita e desembolsos de despesas”. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. É um código de conduta para os administradores públicos que passaram a respeitar normas e limites para administrar as finanças, prestando contas de quanto e como gastam os recursos da sociedade (TCE/SC, 2002). A Lei de Responsabilidade Fiscal abrange os três poderes da administração pública. Segundo o autor Khair (2001, p. 13): Estão sujeitos à Lei de Responsabilidade Fiscal os Poderes Executivo, Legislativo, inclusive Tribunais de Contas, e Judiciário, bem como o Ministério Público e os órgãos da administração direta, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes. No art. 1º, § 2º e § 3º, da LRF, encontramos delineada a abrangência deste código de conduta fiscal. Observe quem se obriga a seguir as normas vigentes: Art. 1º [...] § 2º As disposições desta Lei Complementar obrigam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. § 3º Nas referências: I - à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estão compreendidos: a) o Poder Executivo, o Poder Legislativo, neste abrangidos os Tribunais de Contas, o Poder Judiciário e o Ministério Público; b) as respectivas administrações diretas, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes; II - a Estados entende-se considerado o Distrito Federal; III - a Tribunais de Contas estão incluídos: Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado e, quando houver, Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de Contas do Município. É importante destacar, segundo Toledo Jr e Rossi (2005), que a LRF é bastante abrangente e inclui a Administração Direta e Indireta, excetua apenas as empresas estatais que não dependem da arrecadação governamental. A responsabilidade não fica restrita ao chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos), vem responsabilizar os demais poderes e suas estruturas governamentais. 40 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA IMPORTANT E Acadêmico, entenda o termo: Empresa estatal dependente – empresa controlada que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária. Fonte: (TCE/SC 2002, p. 17) 2.3 PRINCÍPIOS Os princípios são elementos que fundamentam o ordenamento jurídico, representam os valores a serem perseguidos. As regras trazidas pela lei devem estar em consonância com estes valores. No caso da LRF, seu objetivo é o equilíbrio financeiro, fundamentando-se nos princípios de: planejamento, transparência, controle e responsabilidade (TCE/SC, 2002). A LRF é toda construída, também, nos princípios constitucionais expressos no Art. 37, que representam os pilares para o funcionamento da administração pública: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]” (grifo nosso). Entendemos que este código de conduta busca o equilíbrio fiscal e a responsabilidade na gestão pública através do planejamento, transparência e controle de gastos por parte das administrações públicas federais, estaduais e municipais, além de outros objetivos claramente identificados. Esse é o entendimento de Gomes (2006, p. 116-117): A ideia principal da Lei Complementar 101/2000 – LRF está resumida neste artigo primeiro, o qual ressalta como princípio da responsabilidade fiscal a existência de planejamento, transparência, definição e cumprimento de limites e metas de receita e despesa, operações de crédito, bem como qualquer fator ou procedimento que possa comprometer o equilíbrio das contas públicas. Resumindo o § 1º, do art. 1º da LRF, verificamos que através da responsabilização, do planejamento, da transparência e do controle procura-se prevenir, corrigir e alcançar o equilíbrio das contas públicas, no que tange: • ao cumprimento de metas e resultados entre receitas e despesas; • a limites, visando ao equilíbrio das contas públicas; • a condições para a renúncia de receitas; TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 41 • a condições para a geração de despesas com pessoal; • à geração de despesas com a seguridade social e outras; • à geração de despesas com as dívidas consolidada e mobiliária; • às operações de crédito, inclusive por antecipação da receita; • à concessão de garantias; e • à inscrição em restos a pagar. A STN (2013, p. 17) esclarece como devem ser as atitudes do gestor público responsável: O administrador público que atua de acordo com o modelo de responsabilidade na gestão fiscal é aquele que se empenha na preservação do equilíbrio das contas públicas por meio da observação das normas e limites de gastos previstos em lei, e principalmente na prestação de contas sobre o quanto e como se gastam os recursos colocados à disposição da administração pela sociedade (grifo nosso). Acadêmico, conforme os autores orientam, os princípios nem sempre são expressos na legislação, muitas vezes estão descritos de forma subliminar, mas aparecem para nos nortear em relação aos objetivos e regras da lei. DICAS Acadêmico: As informações contidas neste caderno de estudos devem ser complementadas com pesquisas em jornais, livros, revistas, reportagens, entre outros meios de informação. Você, como contribuinte, deve se atualizar e saber o que está acontecendo em relação ao seu dinheiro, que vai aos cofres públicos. 2.4 A LRF E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL Buscamos, nos ensinamentos do doutrinador Alkmin (2009, p. 741), a interpretação do significado de finanças públicas, inserido no texto constitucional brasileiro: As finanças públicas representam o conjunto de recursos públicos arrecadados pelo Estado, através da cobrança de tributos junto à sociedade, e a gestão de tais recursos pelo Ente estatal, visando o custeio de sua atividade e a realização dos investimentos necessários ao desenvolvimento do País. O tema finanças públicas compreende várias matérias, como: o orçamento, a dívida pública interna e externa, as políticas cambiais, monetárias e fiscais, dentre outras. (grifo nosso) 42 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF passou a existir mediante a entrada em vigor da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Esta lei foi criada visando atender, de maneira especial, aos artigos 163 até 169 da Constituição Federal de 1988, que esclarecem a obrigatoriedade de criação de uma lei complementar para instituir normas de finanças públicas, bem como o estabelecimento de outras particularidades concernentes ao planejamento orçamentário. De 1988 até a aprovação da LRF, existiam lacunas no que tange à regulamentação das normas de gestão financeira e patrimonial dos entes federativos, é o que orientam os pesquisadores Cruz et al. (2012, p. 3): A retaguarda constitucional mencionada para a Lei de Responsabilidade Fiscal é o Capítulo II do Título VI da Constituição Federal, de 5-10-1988, que trata das normas gerais de finanças públicas e dos orçamentos. Especificamente, os arts. 163, 164, 165, 166, 167, 168 e 169 são os que integram o referido título. No art. 165 da Constituição Federal de 1988, há o § 9º que remete para uma futura lei complementar a incumbência de: estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial e da administração direta e indireta, bemcomo para instituição e funcionamento de fundos. Portanto, o assunto da cobertura legal para a normatização pretendida na Lei de Responsabilidade Fiscal é uma decorrência da aplicação do texto constitucional que somente agora passa a contar com essa lei complementar. Complementam os autores Nascimento e Dubes (2002, p. 5) que a LRF substitui outras legislações que regulamentavam parte das finanças públicas, a exemplo da chamada Lei Camata II: A LRF atende também ao artigo 169 da Carta Magna, que determina o estabelecimento de limites para as despesas com pessoal ativo e inativo da União a partir de Lei Complementar. Neste sentido, ela revoga a Lei Complementar n º 96, de 31 de maio de 1999, a chamada Lei Camata II (artigo 75 da LRF). Em seguida apresentamos um quadro com o resumo das matérias contidas no art. 163 ao art. 169, da Constituição Federal, para que você, acadêmico, possa compreender a dimensão dos conteúdos que compreendem as finanças públicas: QUADRO 6 – RESUMO DOS ART. 163 AO ART. 169 DA CONSTITUIÇÃO ARTIGOS MATÉRIAS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Artigo 163 Finanças públicas, dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público, concessão de garantias pelas entidades públicas, emissão e resgate de títulos da dívida pública, fiscalização financeira da administração pública direta e indireta, operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 43 Artigo 164 A competência da União para emitir moeda através do Banco Central. Vedações ao Banco Central na concessão de empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira. A comercialização, através do Banco Central, sobre títulos de emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros. Destino das disponibilidades de caixa da União que deverão ser depositadas no Banco Central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei. Artigo 165 Instrumentos de planejamento orçamentário: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. Artigo 166 O processo de tramitação e aprovação, incluindo prazos do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. Artigo 167 Vedações para o processo orçamentário, como: • o início de programas ou projetos não incluídos na LOA; • a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; • a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; • a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, com exceções; • a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino, para realização de atividades da administração tributária; • a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; • a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; • a concessão ou utilização de créditos ilimitados, a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização legislativa; • a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; • a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social. Artigo 168 Prazos para repasses financeiros e orçamentários destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público e à Defensoria Pública. Artigo 169 Limites das despesas com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. FONTE: A autora, adaptado da Constituição Federal (BRASIL, 1988) 44 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA O universo que a Lei de Responsabilidade Fiscal regulamenta para impor a gestão responsável e o equilíbrio nas contas públicas é bastante amplo. Esta Lei Complementar procura dar o norte, nos seus 75 artigos, aos entes federativos brasileiros. 2.5 A LRF E A LEI FEDERAL Nº 4.320/64 A aplicabilidade da LRF teve início no ano 2000, contudo, a busca pelo equilíbrio financeiro na Administração Pública já existe há mais tempo. Antes mesmo da criação da Constituição Federal de 1988, já se falava em controle de orçamentos regulamentados por meio da Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964 (Lei nº 4.320/64). No art. 1º, da Lei Federal 4.320, aprovada em 17 de março de 1964, encontramos expresso seu objetivo, que é: “Art. 1º Esta lei estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal [...]” (grifo nosso). Nascimento e Dubes (2002, p. 5) orientam que a LRF não revoga a Lei nº 4.320/64, que determina normas gerais de direito financeiro por mais de 40 anos, mesmo antes da atual Constituição Federal: A LRF não substitui nem revoga a Lei nº 4.320/64, que normatiza as finanças públicas no País há quase 40 anos. Embora a Constituição Federal tenha determinado a edição de uma nova lei complementar em substituição à Lei 4.320, não é possível prever até quando o Congresso Nacional concluirá os seus trabalhos em relação ao projeto já existente. A respeito da relação entre a LRF e a Lei nº 4.320/64, Machado Jr. e Reis (2011, p. 1) ensinam que: A Lei 4.320, [...], conjugou duas técnicas utilizadas em dois sistemas de informações para o controle: o orçamento e a contabilidade. O orçamento, entretanto, evoluiu para aliar-se ao planejamento, surgindo o orçamento-programa como especialização devendo, na prática, operar como ele entre os sistemas de planejamento e de finanças. Com isso torna-se possível a operacionalização dos planos, porque monetariza, isto é, coloca-os em função dos recursos financeiros disponíveis, permitindo que o planejador tenha os pés no chão, em face das disponibilidades dos recursos financeiros. Esta é, sem dúvidas, a ideia central da Lei de Responsabilidade Fiscal. (grifo nosso) Continuando com as orientações de Machado Jr. e Reis (2011), a LRF abrange mais conteúdos que a Lei nº 4.320/64, porque vai além da regulamentação do orçamento público, criando regras de endividamento, índices de despesas, e introduzindo a transparência para as finanças públicas. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 45 As duas leis versam sobre finanças públicas, a mais antiga de forma geral e a mais recente com temas específicos, porém, caso haja conflito entre elas, prevalecerá o prescrito na mais recente, são orientações dos pesquisadores Nascimento e Debus (2002, p. 12): [...] a Lei Complementar n° 101, de 2000 - LRF, não revogaa Lei nº 4.320/64. Os objetivos das duas normas são distintos: enquanto a Lei nº 4.320/64 estabelece as normas gerais para a elaboração e o controle dos orçamentos e balanços, a LRF estabelece normas de finanças públicas voltadas para a gestão fiscal. Por outro lado, a Constituição Federal deu à Lei nº 4.320/64 o status de Lei Complementar. Mas, existindo algum dispositivo conflitante entre as duas normas jurídicas, prevalece a vontade da Lei mais recente. (grifo nosso) Os estudiosos Cruz et al. (2012) afirmam que a novidade da LRF, em relação às outras normas financeiras, é a introdução da responsabilização do gestor e o efetivo acompanhamento do desempenho financeiro do ente federativo através de demonstrativos mensais, trimestrais, anuais e plurianuais. Já para Nascimento e Debus (2002), a LRF alterou os conceitos de dívida fundada, empresa estatal dependente, operações de crédito, alterou o tratamento dos restos a pagar e atribui à contabilidade pública funções novas, no controle orçamentário e financeiro, garantindo-lhe um caráter mais gerencial. Os autores Toledo Jr. e Rossi (2005) lembram que tramita no Congresso Nacional, projeto de lei complementar para a alteração e substituição da Lei nº 4.320/64. Os mesmos estudiosos afirmam que o objetivo é criar normas que enfocarão os aspectos mais corriqueiros (do dia a dia) da execução dos instrumentos de planejamento orçamentário PPA, LDO e LOA. IMPORTANT E Acadêmico, você sabe onde e quem pode denunciar infrações à LRF? Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar ao respectivo Tribunal de Contas e ao órgão competente do Ministério Público o descumprimento das prescrições estabelecidas nesta Lei Complementar. Fonte: Art. 73-A, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>. 46 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 3 PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO, TRANSPARÊNCIA, FISCALIZAÇÃO E CONTROLE NA LRF Com a aprovação da LRF, iniciou, no Brasil, um processo de administração mais gerencial e democrático dos recursos públicos. Neste sentido, os princípios de planejamento, transparência e controle da Administração Pública se tornaram vitais para a eficácia da Lei de Responsabilidade Fiscal. Através da desburocratização do acesso da sociedade nos negócios públicos, houve incentivo para que o controle externo pudesse atuar com maior eficácia. DICAS Acadêmico, neste tópico, vamos reforçar os ensinamentos do planejamento orçamentário como princípio da Lei de Responsabilidade Fiscal. O orçamento público e suas características é o assunto que estudaremos na Unidade 2. 3.1 A LRF E O PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO Para que a administração pública possa desenvolver suas atividades desempenhando serviços públicos à população são necessários diversos tipos de planejamento, como: planejamento territorial, assistencial, educacional, entre outros. O planejamento orçamentário é necessário para que os outros planejamentos se tornem realidade (ANDRADE et al., 2008) . A Constituição Federal aprimorou o planejamento do setor público, o que era necessário, veja os ensinamentos dos pesquisadores Nascimento e Debus (2002, p. 16): “A Constituição de 1988, no tocante ao planejamento na administração pública, teve a clara preocupação de institucionalizar a integração entre os processos de planejamento e orçamento, ao tornar compulsória a elaboração dos três instrumentos básicos para esse fim”. No que diz respeito ao planejamento orçamentário, segundo Albuquerque (2008), a LRF regulamentou e tornou obrigatória a adoção de três instrumentos oficiais, que são: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual – LOA. A LRF aperfeiçoou a sistemática determinada pela norma constitucional, dando novas atribuições à Lei Orçamentária e à Lei de Diretrizes Orçamentárias. Entenda a ordem de elaboração e aprovação dos instrumentos de planejamento, conforme a orientação dos autores Nascimento e Debus (2002, p. 16): TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 47 O primeiro deles, o Plano Plurianual - PPA, destinado às ações de médio prazo, coincidindo com a duração de um mandato do chefe do Executivo; o Orçamento Anual, para discriminar os gastos de um exercício financeiro; e a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, para servir de ligação entre aqueles dois instrumentos. De maneira geral, a LRF implica: no planejamento e cumprimento de metas de receitas e despesas (reduzindo o grau de endividamento e o déficit público), na observância dos limites de gastos, inclusive de pessoal, e na obediência às demais condições estabelecidas, tais como as relacionadas à renúncia de receita e à obrigatoriedade de ações de planejamento orçamentário e governamental. Acadêmico, seguindo as orientações dos doutrinadores Andrade et al. (2008), observamos que, antes das alterações oriundas da nossa Constituição Federal e regulamentadas pela LRF, o planejamento orçamentário brasileiro era incipiente, necessitava de técnicas que pudessem auxiliar o equilíbrio fiscal. Agora, com a regulamentação apresentada pela LRF, os diversos entes governamentais começam a apresentar resultados de equilíbrio nas contas públicas. No projeto de lei complementar que resultou na LRF, o art. 3º, da Seção I, do Capítulo II, tratava especificamente da regulamentação do Plano Plurianual – PPA. Este artigo foi vetado e impossibilitou que a LRF regulamentasse o PPA. Vejamos o conteúdo que foi vetado pelo Poder Executivo, conforme a visão dos doutrinadores Cruz et al. (2012, p. 14) em relação a este instrumento de planejamento governamental: Art. 3º (VETADO) O projeto de lei do plano plurianual de cada ente abrangerá os respectivos Poderes e será devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. §1º (VETADO) Integrará o projeto Anexo de Política Fiscal, em que serão estabelecidos os objetivos e metas plurianuais de política fiscal a serem alcançados durante o período de vigência do plano, demonstrando a compatibilidade deles com as premissas e objetivos das políticas econômica nacional e de desenvolvimento social. §2º (VETADO) O projeto de que trata o caput será encaminhado ao Poder Legislativo até dia 30 de abril do primeiro ano do mandato do chefe do Poder Executivo. (grifo do autor) Em se tratando das justificativas aos vetos do Poder Executivo, encontramos o seguinte resumo: prazo muito reduzido para a sua elaboração (já que a equipe de governo inicia seus trabalhos no ano de elaboração do PPA) e as metas fiscais, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, podem vir a substituir as previstas no anexo de política fiscal (CRUZ et al., 2012). É importante ressaltar que, apesar dos vetos ao Plano Plurianual, na LRF este instrumento de planejamento orçamentário governamental continua em vigor, seguindo as orientações descritas no texto constitucional, as quais serão tema de destaque na Unidade 2. 48 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA O principal objetivo da LDO é o de atuar como norteadora da Lei Orçamentária Anual – LOA, o orçamento do exercício subsequente. Conforme o autor Rezende (2005, p. 18): “A LDO estabelece um conjunto de instruções em termos de normas de forma e conteúdo com que a lei orçamentária de cada exercício deve ser apresentada [...]”. Formulada anualmente, a LDO tem como alicerce o Plano Plurianual e busca identificar as prioridades de investimentos contidas neste instrumento. Apesar de ser uma ferramenta de planejamento, elaborada todos os anos, existe ainda uma série de contestações no que diz respeito ao prazo da LDO. Seu tempo não pode ser estimado em apenas um ano, pois sua vigência supera esse período. É o que explica o autor Carvalho (apud VIANA, 2009, p. 38): Uma LDO foi sancionada e publicada em 30/06/2005.Esta norma orientará a elaboração da LOA cuja vigência será em 2006 e ainda estabelece regras orçamentárias a serem executadas ao longo de todo o exercício financeiro de 2006. Assim, sua vigência não coincide com o exercício financeiro, e a aplicabilidade de suas regras extrapola um ano. Segundo determina a Constituição Federal de 1988, no artigo 166, § 4º, a elaboração e possíveis emendas da LDO deverão ser planejadas e executadas de modo a não conflitar com o que foi descrito no PPA. Em maio de 2000, o artigo 4º, Inciso I, da Lei de Responsabilidade Fiscal, trouxe alguns acréscimos de competências para LDO: Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá ao disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e: I - disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no art. 9º e no inciso II do § 1º do art. 31; [...] e) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; f) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; [...]. Para garantir o equilíbrio entre receitas e despesas, ou seja, o equilíbrio fiscal, a LRF estabelece a exigibilidade de planejar o Anexo de Metas Fiscais e o de Riscos Fiscais, que deverão estar contidos na LDO. As determinações do Anexo de Metas Fiscais e do Anexo de Riscos Fiscais, de acordo com o artigo 4º, § 1º e § 3º, são as seguintes: Art. [...] § 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. [...] TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 49 § 3º A lei de diretrizes orçamentárias conterá Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem. Em relação à efetividade das alterações na LDO, os pesquisadores Andrade et al. (2008, p. 73) afirmam: Dentre as diversas alterações introduzidas pela LRF, merecem destaque o Anexo de Metas Fiscais [...] e também o Anexo de Riscos Fiscais [...] os quais são essenciais para o acompanhamento das finanças públicas e para a obtenção/manutenção do equilíbrio das contas públicas. Em outras palavras, o Anexo de Riscos Fiscais constituiu a obrigação do gestor público de analisar episódios que possam comprometer a harmonia financeira, tais como a ocorrência de fatos não programados, bem como projetar ações preventivas diante da consolidação destes num determinado período de tempo. A LOA deverá, a princípio, seguir a parametrização estipulada pela LDO com relação ao seu conteúdo, que estabelece as ações mais importantes dela constantes (com base no PPA), e a LOA “proverá os recursos necessários para cada ação constante da LDO” (REZENDE, 2005, p. 18). Com a vinda da Lei de Responsabilidade Fiscal, as determinações para a LOA ampliaram-se devido às normas editadas nos artigos 5º e 7º. Conforme disposto no artigo 5º, Incisos I a III, da LRF: Art. 5°. O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as normas desta Lei Complementar: I - conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas constantes do documento de que trata o § 1º do art. 4º; II - será acompanhado do documento a que se refere o § 6o do art. 165 da Constituição, bem como das medidas de compensação a renúncias de receita e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; III - conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, destinada ao: a) (VETADO) b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. O art. 45 da LRF inova, determina ao gestor a responsabilidade de preservar o patrimônio público, limita a inclusão de novos projetos de infraestrutura na LOA ou em seus créditos adicionais, apenas poderão ocorrer após atender aos projetos em andamento, e às despesas de conservação do patrimônio público. 50 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA Em relação às regras para a elaboração do projeto de lei da LOA, a LRF enfatizou, principalmente, a importância da compatibilidade entre os três instrumentos de planejamento orçamentário. Também destacou a importância do acompanhamento da renúncia de receita com sua efetiva compensação para não interferir no equilíbrio fiscal, o acompanhamento das despesas de caráter continuado e a vinculação da utilização da reserva de contingência ao expresso no Anexo de Riscos Fiscais. IMPORTANT E Acadêmico: É importante ressaltar que a gestão responsável com realização de equilíbrio fiscal exige o respeito de várias normas que afetam o planejamento das receitas públicas, das despesas e dos dispositivos que podem gerar dívidas, inclusive, o endividamento público. Por este motivo, a LRF versa sobre regras diretamente ligadas à previsão das receitas, metas bimestrais de arrecadação e desembolsos, renúncia de receitas e estratégias de compensação financeira, despesas de pessoal e seguridade social, transferências voluntárias, restos a pagar, conservação e manutenção do patrimônio e endividamento público, entre outros. Leia os artigos 5º ao 47 da LRF para compreender melhor as inovações no orçamento público. Fonte: Art. 73-A, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/Leis/lcp/Lcp101.htm> Acesso em: 17 jul. 2018. 3.2 TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO DOS RECURSOS FISCAIS A transparência das contas públicas representa a possibilidade de a população analisar as atividades financeiras do governo. É o que orienta Soares (2012, p. 122): “O objetivo da transparência na gestão fiscal é o de possibilitar à população o acesso às informações das atividades financeiras do Estado, de forma clara e objetiva”. Na LRF, a transparência é considerada um dos princípios básicos para garantir a gestão financeira responsável. Observe o prescrito no §1º do art. 1º e reflita: “Art. 1º [...] § 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, [...]” (grifo nosso). As atividades de gerência dos recursos financeiros dos entes públicos devem respeitar o princípio da transparência. Ensina Albuquerque (2008, p. 104-105) quais são os documentos que devem ser amplamente divulgados, segundo a LRF: [...] A transparência da gestão, na forma preconizada na LRF, se realiza mediante elaboração e divulgação dos seguintes documentos: Plano Plurianual – PPA; Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO; TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 51 Lei Orçamentária Anual – LOA; Prestação de contas e respectivo parecer prévio; Relatório Resumido da Execução Orçamentária – RREO; Relatório de Gestão Fiscal - RGF. Em relação aos instrumentos de planejamento orçamentário (PPA, LDO e LOA), a transparência não se limita apenas à publicação das leis. A LRF exige o incentivo à participação da população tanto no processo de elaboração como no processo de aprovação destes instrumentos. Analise os dispositivos legais, no art. 48, parágrafo único, inciso I, da LRF: Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versõessimplificadas desses documentos. Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; [...] (grifo nosso) Nascimento e Debus (2002, p. 81) ressaltam a importância do incentivo à participação popular, observe: “A transparência da gestão pública exige também o incentivo à participação popular e pela realização de audiências públicas, tanto durante a elaboração como no curso da discussão dos planos, da lei de diretrizes orçamentárias e dos orçamentos”. Para facilitar o acesso à informação, foi aprovada no ano de 2009 a Lei Complementar nº 131. Esta nova legislação acrescentou dispositivos à LRF e determinou a utilização de meios eletrônicos para a divulgação de informações sobre a execução orçamentária e financeira. Acompanhe os dispositivos legais dos artigos nº 48 e 48-A, como segue: Art. 48 [...] Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante: [...] II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A. Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a: I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado; II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. 52 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA É importante ressaltar que o Estado desempenha serviços para a população e estes serviços são financiados com os tributos arrecadados dos contribuintes. Nota-se que os financiadores do Estado, “os contribuintes”, têm o direito de conhecer como a sua participação financeira é aplicada. “Ainda quanto à Transparência, é importante ressaltar que é direito do cidadão conhecer o resultado da gestão financeira e orçamentária [...]” (GATTRINGER; GOMES, 2003, p. 33). O acesso à informação é muito mais que um dever do Estado, é um direito do cidadão. A Constituição Federal garante este direito no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216. Para regulamentar este direito, foi editada a conhecida Lei de Acesso à Informação, a Lei Federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Acadêmico, neste livro de estudos serão evidenciados os seguintes instrumentos de transparência: na Unidade 2 o PPA, a LDO e a LOA; na Unidade 3, os relatórios de Execução Orçamentária e os de Gestão Fiscal, que permitem a transparência e o acompanhamento da execução orçamentária e da gestão fiscal. DICAS Agora que você aprendeu sobre transparência da gestão fiscal, faça a diferença e verifique como o seu dinheiro, dos tributos, é aplicado. Basta acessar a página (na rede mundial de computadores) das contas públicas do seu Município, seu Estado e da União. Para garantir a transparência dos atos de gestão fiscal são exigidos, pela Constituição Federal, e normatizados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, determinados relatórios que reproduzem o desempenho fiscal do ente da federação. Estes documentos são denominados Relatório de Gestão Fiscal – RGF e Relatório Resumido da Execução Orçamentária – RREO. Já a prestação de contas é uma determinação constitucional, prescrita no art. 70, onde determina que qualquer pessoa física ou entidade pública que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos, ou pelos quais a União responda, deverá prestar contas. A LRF veio regulamentar a prestação de contas dos gestores e proporcionar a divulgação do parecer dado às contas públicas. A transparência da gestão fiscal inclui a prestação de contas dos gestores, sob a ótica de vários aspectos. “Três são os aspectos abordados, nesta seção, quanto às prestações de contas: a sua composição, as condições para a emissão do respectivo parecer prévio e o seu conteúdo” (NASCIMENTO; DEBUS, 2002, p. 90). TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 53 As contas dos gestores serão analisadas e posteriormente devem receber um parecer prévio, que normalmente é disponibilizado na rede mundial de computadores, na página virtual dos tribunais de contas. “Todas estas prestações de contas receberão parecer prévio do Tribunal de Contas, separadamente, que exercerá o papel de controle externo” (SOARES, 2012, p. 132). Resume de forma simples a importância de prestar contas, que vem ao encontro das exigências da LRF, o autor Slomski (2003, p. 367): Na administração pública, é, certamente, onde mais deve estar presente a filosofia da accountability (dever de prestar contas), pois, quando a sociedade elege seus representantes, espera que os mesmos ajam em seu nome, de forma correta, e prestem contas de seus atos (grifo do autor). 3.3 A FISCALIZAÇÃO E O CONTROLE DA GESTÃO FISCAL O controle na administração pública é voltado para várias áreas, como a patrimonial, a financeira, a operacional, entre outras. O autor Albuquerque (2008, p. 386) explica os fundamentos do controle da gestão pública: O controle da gestão pública se realiza mediante adoção de um amplo conjunto de mecanismos, jurídicos e administrativos, por meio dos quais se exerce o poder de fiscalização e de revisão da atividade de todos os agentes públicos, em qualquer das esferas de governo e em todos os poderes da República, sempre tendo como fundamento o princípio da legalidade. A fiscalização, como podemos visualizar na citação anterior, é um poder necessário para que o controle se realize. “Por fiscalização entende-se o poder de verificar se os agentes, pessoas e órgãos integrantes da administração pública estão cumprindo adequadamente suas atribuições e competências” (ALBUQUERQUE, 2008, p. 386) (grifo do autor). Os autores Nascimento e Debus (2002, p. 91) ressaltam que: “A responsabilidade pela fiscalização quanto ao cumprimento das normas de gestão fiscal é atribuída ao Poder Legislativo, este com o auxílio do Tribunal de Contas, e aos sistemas de controle interno de cada Poder e do Ministério Público”. Corrobora nesse sentido Soares (2012, p. 133) e explica quais as informações que devem ser analisadas pelos tribunais de contas: Os tribunais de contas são responsáveis por averiguar os cálculos dos limites da despesa total com pessoal de cada poder e órgão, por meio do exame dos relatórios de execução orçamentária e de gestão fiscal, visando verificar o cumprimento da lei de diretrizes orçamentárias, isto é, o confronto entre o planejamento e a execução. 54 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA Outro agente que tem legitimidade em fiscalizar o gestor público é o Ministério Público. A atuação do Ministério Público junto aos tribunais de contas, segundo Mussi (2009), é independente, por ser um órgão autônomo, cuja atuação dá-se na defesa da ordem jurídica. Tem presença obrigatória nas sessões de julgamento de contas, auditorias, representações e denúncias. A fiscalização na administração pública, segundo a Constituição Federal, compreende várias áreas, como: contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial.O controle também será exercido nas áreas apresentadas, já que a fiscalização é atribuição inerente do controle (ALBUQUERQUE, 2008). Como qualquer entidade privada, as entidades do setor público possuem sistemas de controle, eles devem ser considerados como um duplo controle: o controle interno e o controle externo (SLOMSKI, 2003). A LRF, pelos estudos do pesquisador Fernandes (2001), identifica dois controles na administração pública, o interno e o externo, e os nomeia, conforme segue: • controle interno, pela própria autoridade administrativa; • controle externo, pelo Poder Legislativo; • controle externo, pelos Tribunais de Contas; • controle externo, pelo Ministério Público; • controle externo, pelo Poder Judiciário; • controle externo, pela sociedade em geral; • controle misto, pelo Conselho de Gestão Fiscal. O controle da gestão pública, conforme apresentado pelos autores, pode ser dividido em dois segmentos, o controle interno e o controle externo. Vamos, agora, conhecer os atores responsáveis por esses controles públicos. O controle interno é o realizado diretamente pelos funcionários públicos, através de um sistema de controle interno ou de uma estrutura organizacional de controle interno. Orienta o estudioso Albuquerque (2008, p. 391) que: “O controle interno é aquele realizado por estruturas organizacionais instituídas no âmbito da própria entidade controlada, compreendendo um conjunto de atividades, planos, métodos e procedimentos estruturados e integrados”. DICAS No Tópico 1, nesta unidade, detalhamos o controle interno quando apresentamos a controladoria governamental. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 55 O controle externo, na União, é exercido pelo Poder Legislativo Federal, auxiliado pelo Tribunal de Contas da União e suas funções são discriminadas no art. 71, incisos I ao XI, da Constituição Federal. Para os outros entes da Federação, as funções estão descritas nas constituições estaduais e nas suas leis orgânicas. O Legislativo, segundo o texto constitucional, faz o julgamento das contas do gestor. Para exercer seu papel de julgador, necessita, primeiro, analisar todo o contexto da gestão fiscal e desempenhar suas funções em conformidade com a LRF no art. 59, incisos I ao VI. Na Lei de Responsabilidade Fiscal foram introduzidos mecanismos que incentivaram e intensificarão o controle externo, por exemplo, a divulgação de informações e índices de gestão fiscal pela rede de computadores mundial. Nesse contexto, os órgãos instituídos, Poder Legislativo e Tribunais de Contas, entre outros, podem fiscalizar com mais agilidade a administração financeira. Já o controle social tem a oportunidade de acompanhar, sem interferência da burocracia, a gestão de seus tributos. Os tribunais de contas têm a responsabilidade de fiscalizar a aplicação da Lei de Responsabilidade. É o que orientam os escritores Cruz et al. (2012, p. 207): “O acompanhamento da situação de cada uma das imposições decorrentes da presente Lei Complementar sobre os entes estatais caberá, [...] principalmente, aos Tribunais de Contas”. A função fiscalizadora dos tribunais de contas é bastante ampla, envolve várias atividades. Para o doutrinador Mussi (2009, p. 65), a fiscalização é um conjunto de atividades inerentes ao controle externo: Essa função compreende a realização de levantamentos, auditorias, inspeções, acompanhamentos e monitoramentos, relacionados com a atividade de controle externo. Envolve a apreciação da legalidade dos atos de concessão de aposentadorias, reformas e pensões e de admissão de pessoal no Serviço Público Federal, a fiscalização de receitas, e de atos e contratos administrativos em geral. Explica o pesquisador Fazzio Júnior (2007, p. 87) a competência dos Tribunais de Contas em relação aos Municípios: “[...] examinar e emitir parecer sobre a prestação anual de contas da administração financeira [...], bem como julgar as contas dos responsáveis por bens e valores públicos de sua administração direta, indireta e fundacional”. Corrobora neste sentido Mussi (2009, p. 64), sobre a função e a contribuição do Tribunal de Contas da União, em relação à transparência da gestão pública: Além de outras competências estabelecidas no art. 71 da CF, cabe ao TCU auxiliar o Congresso Nacional na fiscalização da Administração Pública Federal, por meio de determinações em questões relacionadas à detecção de fraudes e desperdícios, recomendações de melhorias para a gestão pública, adoção de medidas preventivas e punição de responsáveis por má gestão, gestão ilegal ou fraudulenta. Assim, a ação do Tribunal contribui para a transparência e a melhoria do desempenho da Administração Pública. (grifo nosso) 56 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA “O Tribunal de Contas do Estado é órgão auxiliar ao Poder Legislativo (Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais), mas com ele não tem vínculo de subordinação hierárquica, já que, constitucionalmente, é autônomo” (FAZZIO JÚNIOR, 2007, p. 87). IMPORTANT E Acadêmico, é importante que você conheça e entenda a estrutura do Estado, seus poderes, funções, a administração pública e os órgãos públicos. Sugerimos a leitura do 1º Capítulo - Direito Administrativo e Administração Pública, do livro Manual de Direito Administrativo. Fonte: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013. O Ministério Público possui diversas funções determinadas pela Constituição Federal, que estão ligadas à defesa do patrimônio público, dos direitos do cidadão ou na questão tributária. A atuação do Ministério Público, quando tratamos de administração pública, tem sido cada vez mais ativa ao longo dos anos, atuando diretamente nos tribunais de contas dos estados (SOARES, 2012, p. 150). O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas tem a missão de promover a ordem jurídica e o regime democrático como guarda da lei e fiscal de sua execução, no âmbito da fiscalização das contas públicas, além de zelar pelo efetivo respeito da execução orçamentária, contábil, financeira, operacional e patrimonial do Estado e dos municípios. Já o Poder Judiciário deve ser provocado para garantir o controle da administração pública. Seguindo o devido processo legal, tomada decisão definitiva (que é imutável) sobre as questões apreciadas, exerce uma espécie de controle sobre a gestão pública (SANTOS, 2009). A transparência introduzida pela LRF é um mecanismo que incentivou o controle externo informal, o realizado por órgãos não governamentais. “Além de contar com os instrumentos formalmente institucionalizados, o controle da gestão pública deve ser realizado por toda a sociedade” (ALBUQUERQUE, 2008, p. 389). Consoante aos ensinamentos de Soares (2012, p. 155): “Por meio da transparência pública se exerce o controle social, e o cidadão passa a acompanhar e, quando for caso, denunciar atos ilegais, ilegítimos e antieconômicos praticados por administradores públicos”. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 57 Na visão de Albuquerque (2008, p. 389), a sociedade, no exercício de controle social, tem a prerrogativa para solicitar auxílio ao controle instituído, interno e externo: Para tanto, a sociedade conta com o apoio de instituições específicas, os órgãos do controle interno e externo, podendo acioná-los na forma prevista no § 2º do art. 74 da Constituição, que faculta a qualquer cidadão denunciar irregularidades ou ilegalidades [...]. A sociedade pode controlar a gestão da administração pública, ainda, através do acompanhamento das obras públicas, da avaliação do atendimento pelos serviços públicos ou participando dos Conselhos Governamentais, que normalmente são compostos por funcionários públicos e representantes de instituições não governamentais (SLOMSKI, 2003). Acadêmico, nota-se que o controle social sempre existiu, porém com menos eficácia, devido aosprocessos burocráticos a que se submetia. Atualmente essa fiscalização pode ser realizada através de mecanismos mais acessíveis, como: jornais, revistas, murais e pela rede mundial de computadores. 58 UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA LEITURA COMPLEMENTAR CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O Estado tem como função primordial o oferecimento de utilidades aos administrados, não se justificando sua atuação senão no interesse público. Assim, entende-se que todas as vezes que o Estado atua, o faz porque à coletividade deve atender. [...] O Estado, por seus diversos órgãos e nos diversos níveis da federação, estará prestando serviço por EXECUÇÃO DIRETA quando, dentro de sua estrutura administrativa – ministérios, secretarias, departamentos, delegacias –, for o titular do serviço e o seu executor. Assim, o ente federativo será tanto o titular do serviço quanto o prestador dele. Esses órgãos formam o que a doutrina chama de ADMINISTRAÇÃO CENTRALIZADA, porque é o próprio Estado que, nesses casos, centraliza a atividade. [...] Por outro lado, identifica-se a EXECUÇÃO INDIRETA quando os serviços são prestados por pessoas diversas das entidades formadoras da federação. Ainda que prestados por terceiros, insistimos, o Estado não poderá nunca abdicar do controle sobre os serviços públicos, afinal, quem teve o poder jurídico de transferir atividades deve suportar, de algum modo, as consequências do fato. Essa execução indireta, quando os serviços públicos são prestados por terceiros sob o controle e a fiscalização do ente titular, é conhecida na doutrina como DESCENTRALIZAÇÃO. [...] IMPORTANT E No texto a seguir, vamos conhecer parte de um artigo sobre a centralização e descentralização da administração pública. Leia com atenção, porque é importante para a sua compreensão dos conteúdos apresentados na Unidade 1. TÓPICO 3 | A GESTÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS E A LRF 59 A descentralização política ocorre quando o ente descentralizado exerce atribuições próprias que não decorrem do ente central. Tema que já foi abordado supra, a descentralização política decorre diretamente da Constituição (o fundamento de validade é o texto constitucional) e independe da manifestação do ente central (União). Já a descentralização administrativa ocorre quando o ente descentralizado exerce atribuições que decorrem do ente central, que empresta sua competência administrativa constitucional a um dos entes da federação, tais como os Estados- Membros, os municípios e o Distrito Federal, para a consecução dos serviços públicos. Assim, entende-se que, na descentralização administrativa, os entes descentralizados têm capacidade para gerir os seus próprios "negócios", mas com subordinação a leis postas pelo ente central. A descentralização administrativa se apresenta de três formas. Pode ser territorial ou geográfica, por serviços, funcional ou técnica e por colaboração. A descentralização territorial ou geográfica é a que se verifica quando uma entidade local, geograficamente delimitada, é dotada de personalidade jurídica própria, de direito público, com capacidade jurídica própria e com a capacidade legislativa (quando existente) subordinada a normas emanadas do poder central. No Brasil, podem ser incluídos nessa modalidade de descentralização os territórios federais, embora na atualidade não existam. A descentralização por serviços, funcional ou técnica é a que se verifica quando o poder público (União, Estados, Distrito Federal ou Município), por meio de uma lei, cria uma pessoa jurídica de direito público – autarquia e a ela atribui a titularidade (não a plena, mas a decorrente de lei) e a execução de serviço público descentralizado. Doutrina minoritária permite, ignorando o DL 200/67, a transferência da titularidade legal e da execução de serviço público à pessoa jurídica de direito privado. Essa classificação permitiria no Brasil a transferência da titularidade legal e da execução dos serviços às sociedades de economia mista e às empresas públicas. Na descentralização por serviços, o ente descentralizado passa a deter a "titularidade" e a execução do serviço nos termos da lei, não devendo e não podendo sofrer interferências indevidas por parte do ente que lhe deu vida. Deve, pois, desempenhar o seu mister da melhor forma e de acordo com a estrita demarcação legal. UNIDADE 1 | A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GERENCIAMENTO DAS FINANÇAS ATRAVÉS DA CONTABILIDADE PÚBLICA 60 A descentralização por colaboração é a que se verifica quando, por meio de contrato (concessão de serviço público) ou de ato administrativo unilateral (permissão de serviço público), se transfere a execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, conservando o poder público, in totum, a titularidade do serviço, o que permite ao ente público dispor do serviço de acordo com o interesse público. Feitas as distinções concernentes ao tema, vale recordar que a descentralização não se confunde com a desconcentração. A desconcentração é procedimento eminentemente interno, significando, tão somente, a substituição de um órgão por dois ou mais com o objetivo de acelerar a prestação do serviço. Na desconcentração, o serviço era centralizado e continuou centralizado, pois que a substituição se processou apenas internamente. Na desconcentração, as atribuições administrativas são outorgadas aos vários órgãos que compõem a hierarquia, criando-se uma relação de coordenação e subordinação entre um e outros. Isso é feito com o intuito de desafogar, ou seja, desconcentrar, tirar do centro um grande volume de atribuições para permitir o seu mais adequado e racional desempenho. [...]. FONTE: SANCHES, Salvador Infante. Centralização e descentralização da administração pública. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 35, 1º out. 1999. Disponível em: <https://jus.com.br/ artigos/334>. Acesso em: 16 jul. 2018. 61 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A finalidade da LRF é estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e o equilíbrio fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição. • O nosso modelo de lei foi inspirado na experiência internacional, em especial ao modelo apresentado pelo Fundo Monetário Internacional, ao modelo da Nova Zelândia, através do Fiscal Responsibility Act, ao modelo da Comunidade Econômica Europeia, através do Tratado de Maastricht e, também, ao modelo dos Estados Unidos, cujas normas de disciplina e controle de gastos do governo central levaram à edição do Budget Enforcement Act. • A LRF busca uma gestão financeira responsável, com equilíbrio fiscal, através dos princípios do planejamento, transparência e controle. • Os principais instrumentos de planejamento orçamentário são: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual – LOA. • É indispensável que, entre os instrumentos de planejamento orçamentário, PPA, LDO e LOA, haja compatibilidade entre receitas e, principalmente, despesas. A falta de compatibilidade pode gerar sanções ao gestor público. • A transparência da gestão, segundo a LRF, se realiza através da elaboração e divulgação dos seguintes documentos: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual, prestação de contas e respectivo parecer prévio das contas do gestor, relatório de gestão fiscal e relatório resumido da execução orçamentária. • Para consolidar a transparência, é necessário que sejam realizadas audiências públicas, tanto no processo de elaboração como no processo de aprovação dos instrumentos de planejamento orçamentário (PPA, LDO e LOA). • Outra determinação, aprovada pela Lei Complementar nº 131/2009, foi a obrigatoriedade de divulgar, através de meios eletrônicos, pela rede mundial de computadores, a execução orçamentária e financeira doente. Esta determinação democratizou o controle, que agora facilita o acompanhamento da sociedade em tempo real. 62 • A prestação de contas é uma determinação constitucional, prescrita no art. 70, onde determina que qualquer pessoa física ou entidade pública que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos, ou pelos quais a União responda, deverá prestar contas. • As prestações de contas do gestor, segundo a LRF em seu art. 49, devem ficar à disposição durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração (normalmente, na contabilidade), para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. • O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos Tribunais de Contas, e o sistema de controle interno de cada poder e do Ministério Público, fiscalizarão o cumprimento das normas da LRF. • As entidades do setor público possuem sistemas de controle, eles devem ser considerados como um duplo controle: o controle interno e o controle externo. • Na Lei de Responsabilidade Fiscal foram introduzidos mecanismos que incentivaram e intensificarão o controle externo, por exemplo, a divulgação de informações e índices de gestão fiscal pela rede de computadores mundial. São exemplos de controle externo os exercidos: pelo Poder Legislativo, pelos Tribunais de Contas, pelo Ministério Público, pelo Poder Judiciário, pelo Conselho de Gestão Fiscal e pela sociedade em geral. 63 Prezado acadêmico, leia o Tópico 3 e depois responda as questões a seguir: 1 A LRF presume que a responsabilidade fiscal e o equilíbrio fiscal sejam provenientes de ações planejadas com maior transparência e controle. Para isto implementou várias regras em relação à LDO e à LOA, bem como índices que devem ser respeitados para as despesas de pessoal e endividamento público, entre outros. Avalie e assinale a CORRETA: a) ( ) Verdadeiro. b) ( ) Falso. 2 A Lei de Responsabilidade Fiscal veio estabelecer normas relacionadas às finanças públicas com o intuito de impor responsabilidade na gestão fiscal e preencher a lacuna, existente, entre a Constituição Federal e a Lei nº 4.320/64 (CRUZ et al., 2012). Avalie as afirmativas e assinale a CORRETA, quanto à legislação punitiva relacionada aos crimes de responsabilidade na gestão fiscal: a) ( ) São apenas pessoais, ao gestor. b) ( ) São pessoais e institucionais, ao gestor e à entidade pública. c) ( ) São apenas institucionais, à entidade pública. d) ( ) Não existe penalidades, em outras leis, relacionadas ao desrespeito da LRF. 3 Quando tratamos de controle na administração pública, constatamos que este controle possui dupla origem: o controle interno e o controle externo. A LRF tornou o processo de apreciação das contas públicas mais acessível através do seu artigo 48. Assinale as alternativas CORRETAS identificando quem representa o controle externo de um município: a) ( ) Os vereadores e a Câmara Municipal. b) ( ) O Tribunal de Contas do Estado. c) ( ) O secretário de Administração e Finanças do município. d) ( ) A população. 4 O equilíbrio das contas públicas é um dos principais motivos da criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Assinale as alternativas CORRETAS que interferem no equilíbrio das contas públicas e são controladas pela LRF: a) ( ) Concessão de garantias. b) ( ) Inscrição de Restos a Pagar. c) ( ) Prazo de publicação do PPA. d) ( ) Número de vereadores dos municípios. e) ( ) Renúncia de receitas. f) ( ) Geração de despesas de pessoal. AUTOATIVIDADE 64 65 UNIDADE 2 O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • apresentar e esclarecer a conceituação, as características, as espécies e os princípios do orçamento público; • demonstrar e distinguir os instrumentos que fazem parte do planejamento orçamentário nacional: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA; • conhecer o ciclo orçamentário da Lei Orçamentária Anual e suas etapas; • proporcionar o conhecimento dos créditos orçamentários, os tipos de créditos adicionais e os recursos que podem ser utilizados para ampliar ou alterar o orçamento. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ORÇAMENTO PÚBLICO TÓPICO 2 – PLANO PLURIANUAL – PPA TÓPICO 3 – LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO TÓPICO 4 – LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 66 67 TÓPICO 1 ORÇAMENTO PÚBLICO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Planejar é necessário em todas as áreas, tanto na nossa vida particular como na profissional e muito mais nas atividades do Estado, que influenciam na vida, na rotina e nos relacionamentos da sociedade. É através dos instrumentos de planejamento orçamentário, onde resulta o orçamento público, que a Administração Pública planeja como vai arrecadar, como e onde vai aplicar os recursos financeiros do Estado. Você sabe qual é o tipo de orçamento obrigatório para os entes da federação? Como a Administração Pública decide que deverá aumentar tributos? Quais princípios devem ser utilizados para elaborar um orçamento? Quem elabora, quem aprova e quem executa o orçamento público? Essas são algumas das questões que você compreenderá após a leitura deste tópico. Caro acadêmico, neste tópico, vamos conhecer um pouco da história do orçamento público (no mundo e no Brasil), conheceremos o conceito e a finalidade do orçamento, bem como quais os tipos de orçamento que já foram utilizados no Brasil; para finalizar, conheceremos as bases para a elaboração dos orçamentos, os chamados princípios orçamentários. Seja bem-vindo, contamos com você a partir de agora. UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 68 2 CONCEITO E FINALIDADE Todos os Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário), em todas as esferas de governo, devem seguir o planejamento orçamentário aprovado. Vejamos os ensinamentos do autor Carvalho (2010, p. 28) sobre o conceito e finalidade do orçamento governamental: Orçamento público é um instrumento de planejamento adotado pela Administração Pública - União, Estados, Distrito Federal e Municípios -, realizado nas três esferas de poder – Executivo, Legislativo e Judiciário -, o qual prevê ou estima todas as receitas a serem arrecadadas e fixa as despesas a serem realizadas no exercício financeiro seguinte, objetivando a continuidade, eficácia, eficiência, efetividade e economicidade na qualidade dos serviços prestados à sociedade. (grifos do autor) O Poder Executivo, de cada ente da federação, deverá reunir as propostas de orçamento dos outros poderes e elaborar um projeto de lei, consolidado com a sua proposta orçamentária. “O orçamento público é uma lei de iniciativa do Poder Executivo [...]” (SLOMSKI, 2010, p. 304). Segundo orientações da NBCTSPEC (2016, p. 6), o orçamento público é uma exigência constitucional: “O governo e outras entidades do setor público elaboram orçamentos. No Brasil, a Constituição exige a elaboração do orçamento anual, a sua aprovação pelo Poder Legislativo e a sua disponibilização à sociedade”. O orçamento público possui enfoque em diversas áreas, como: política econômica, administrativa, jurídica, contábil e financeira. Observe a área que representa suas fases ou conteúdos, conforme a visão de Giacomoni (2012): • Política: quando apresenta o resultado do processo de avaliação de demandas a serem contempladas no orçamento. • Econômica: quando são destacadas as questões fiscais, receitas, despesas, déficits, dívidas públicas. • Jurídica: quando da aprovação da lei do orçamento, ele apresenta a estimativa das receitas e autoriza o limite de despesas. • Administração: quando demonstra a ação governamental e o desempenho durante a execução. • Financeira: perante a demonstraçãodos fluxos de receitas a arrecadar e de despesas a executar. • Contábil: é realizado através de códigos contábeis para demonstrar programas, funções, órgãos e unidades, bem como antecipa o resultado patrimonial desejado. A Lei de Responsabilidade Fiscal obriga o estímulo da participação popular no processo de elaboração e aprovação dos instrumentos de planejamento orçamentário, na definição do que é prioridade para a população. Além de ser aberto à participação popular, para a definição das prioridades quando da sua elaboração, feita pelo Poder Executivo, deve haver a participação popular no processo de apreciação e aprovação, feita pelo Poder Legislativo, no transcorrer do processo legislativo normal (ANDRADE, 2013). TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 69 É a nossa Constituição Federal que estabelece os instrumentos de planejamento orçamentário, já a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei nº 4.320/64 os regulamentam. A Lei Orçamentária Anual, conhecida como o orçamento público, é elaborada em consonância com o Plano Plurianual e segue as diretrizes da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Sobre o atual processo orçamentário, orienta o autor Silva (2011, p. 176): “Atualmente, o processo orçamentário está definido na Constituição de 1988, que estabeleceu como instrumentos de planejamento governamental os seguintes: Lei do Plano Plurianual; Lei de Diretrizes Orçamentárias; Lei do Orçamento Anual”. Em síntese, ensina Carvalho (2010, p. 28), o orçamento é: “[...] um processo contínuo, dinâmico e flexível, que traduz, em termos financeiros para determinado período (um ano), os planos e programas de trabalho do governo”. Acadêmico, vamos estudar os instrumentos de planejamento governamental, detalhadamente, nos Tópicos 2, 3 e 4 desta unidade. 3 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA Desde que o homem começou a viver em sociedade, o planejamento se fez presente na história, mesmo que de forma rudimentar (CARVALHO, 2010). No ano de 1215, na Inglaterra, foi imposta uma Carta Magna, pelo então rei João Sem-Terra. Seu ordenamento objetivava dar limites ao poder de tributar, bem como definir a realização dos gastos. Este ato é considerado pela maioria dos estudiosos como um marco na evolução do orçamento público, segundo Araújo e Arruda (2007). O objetivo do orçamento, entre outros, é auxiliar no controle da arrecadação e dos gastos. “[...] o orçamento público representa, historicamente, uma tentativa de restringir, de disciplinar o grau de arbítrio soberano, de estabelecer algum tipo de controle legislativo sobre a ação dos governantes, em face de suas prerrogativas de cobrarem tributos da população” (PISCITELLI; TIMBÓ, 2012, p. 33). A imposição de controle das receitas e despesas introduzidas pela Carta Magna inglesa de 1215, conforme Giacomoni (2012), evoluiu como legislação orçamentária e serviu de exemplo a outros países, como: França, Estados Unidos, entre outros. “[...] A trajetória histórica do orçamento inglês é especialmente importante em dois aspectos: primeiro, por delinear a natureza técnica e jurídica desse instrumento e, segundo, por difundir a instituição orçamentária para outros países” (GIACOMONI, 2012, p. 33). O primeiro orçamento público, elaborado segundo os moldes atuais, foi formalmente redigido na Grã-Bretanha (Inglaterra), em 1822, onde o Executivo presta contas para o Parlamento em relação às receitas e despesas (GIACOMONI, 2012). UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 70 O orçamento público brasileiro começou a ser delineado em 1824, pela Constituição Imperial, porém apenas em 1827 surgiu a primeira lei que versava sobre orçamento, ensinam os autores Araújo e Arruda (2007, p. 67): No Brasil, a origem do orçamento está ligada ao surgimento do governo representativo, sendo que a nossa primeira lei orçamentária data de 1827. Vale, todavia, mencionar que a Constituição do Império de 1824 já trazia disposições, ainda que de forma indireta, a respeito da matéria em seu artigo 172 [...]. O processo orçamentário proposto pela Constituição de 1824, segundo Giacomoni (2012), se resumia nas seguintes competências: o Executivo elaborava a proposta orçamentária, a Assembleia Geral (Câmara de Deputados e Senado) aprovava a lei orçamentária e a Câmara de Deputados tinha a prerrogativa da iniciativa das leis sobre impostos. Ressalta Carvalho (2010, p. 1), sobre a evolução orçamentária brasileira, que: “A Administração Pública brasileira, em seu processo histórico, acompanhou o processo mundial, prevendo em suas normas a elaboração de planejamentos ou orçamentos”. As constituições que surgiram após a de 1824 trouxeram retrocessos e evoluções ao processo orçamentário brasileiro. Verifique, no quadro a seguir, um resumo da evolução do orçamento público brasileiro quanto à sua elaboração, aprovação e execução: QUADRO 1 – TIPOS DE ORÇAMENTO NAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS PERÍODO TIPO DE ORÇAMENTO 1831 – 1891 Misto 1891 – 1934 Legislativo 1934 – 1937 Misto 1937 – 1946 Executivo 1946 – 1964 Misto 1964 – 1988 Executivo 1988 – dias atuais Misto FONTE: Soares e Moser (2011, p. 65) Atualmente encontramos na Constituição Federal de 1988 o ordenamento e a normatização geral sobre o orçamento público brasileiro. Nosso orçamento tem um processo misto, o Poder Executivo elabora e o Poder Legislativo aprova (ALBUQUERQUE, 2008). O orçamento público também segue as normas contábeis que estão sendo convergidas com o entendimento internacional sobre a conceituação, estrutura e elaboração (NBCTSPEC, 2016). TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 71 NOTA Caro acadêmico: Para ampliar seus conhecimentos em relação à história do orçamento público nas constituições brasileiras, leia o conteúdo da seguinte referência: GIACOMONI, James. Orçamento público. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 4 ESPÉCIES DE ORÇAMENTO A classificação do orçamento público depende do foco em que será analisado. Vejamos a seguir algumas das classificações utilizadas. “O orçamento governamental não é ainda uma disciplina. É uma área de estudo que interessa a várias disciplinas, o que garante ao orçamento suas diferentes naturezas: política, econômica, administrativa, jurídica, contábil, financeira” (GIACOMONI, 2012). Quanto à elaboração do orçamento, segundo o regime jurídico, pode-se classificá-lo em legislativo, executivo ou misto. O autor Silva (2011, p. 188-189) apresenta a conceituação de cada um destes tipos: • legislativo: é o orçamento cuja elaboração, votação e aprovação é da competência do Poder Legislativo, cabendo ao Executivo a sua execução. Esse tipo é utilizado em países parlamentaristas; • executivo: é o orçamento cuja elaboração, aprovação, execução e controle é da competência do Poder Executivo. É utilizado em países onde impera o poder absoluto; • misto: é o orçamento elaborado e executado pelo Poder Executivo, cabendo ao Poder Legislativo a sua votação e controle. Esse tipo é utilizado pelos países em que as funções legislativas são exercidas pelo Congresso ou Parlamentarismo, sendo sancionado pelo Chefe do Poder Executivo. Este é o tipo utilizado no Brasil. (grifos do autor) A classificação constitucional, determinada no Art. 165, § 5º, orienta a apresentação segregada no orçamento público no seguinte contexto: fiscal, investimentos e seguridade social. Os autores Piscitelli e Timbó (2012, p. 40) orientam quanto ao significado das três classificações: • O fiscal, referente aos Poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário), seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; • O de investimentos das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto (excluída, portanto, a parte referente ao custeio); • O da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidospelo Poder Público. (grifos nossos) UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 72 Segundo Carvalho (2010), outra classificação é a que considera a forma de elaboração do orçamento e a sua evolução na administração pública. São exemplos dessa classificação: o orçamento-programa, o orçamento tradicional, o orçamento de desempenho, o orçamento de base zero, o orçamento participativo etc. Sob a ótica da classificação do orçamento público através da sua evolução, encontramos, também, a classificação do orçamento público tradicional e o orçamento público moderno. Esta é a visão de Giacomoni (2012) quando orienta que, ao ponto de partida tradicional, do orçamento, foram agregando novas funções e nesta evolução surgem: o orçamento-programa, o orçamento por desempenho, entre outros orçamentos. NOTA Os tipos de orçamento fiscal, orçamento de investimentos e orçamento da seguridade social serão abordados no Tópico 4, porque devem compor a Lei Orçamentária Anual. 4.1 ORÇAMENTO TRADICIONAL Este orçamento é o ponto de partida no desenvolvimento do orçamento público, no qual o objetivo é aprovar a previsão de receitas e autorizar as despesas, que serão controladas. O orçamento público tradicional surgiu na Inglaterra e seu principal objetivo era o controle dos gastos públicos para evitar o aumento tributário, segundo ensinamentos do pesquisador Giacomoni (2012, p. 55): [...] o orçamento público surgiu, como instrumento formalmente acabado, na Inglaterra, por volta de 1822. O liberalismo econômico encontrava-se em pleno desenvolvimento, havendo forte consciência contrária ao crescimento das despesas públicas, pois isso determinaria aumentos na carga tributária. Este tipo de orçamento, segundo os ensinamentos dos pesquisadores Soares e Moser (2011), não observava as necessidades da população, era elaborado sem técnicas de planejamento e procurava, através da experiência do ano anterior, alocar receitas para o seu objeto, que eram as despesas. Enfim, era utilizado como um mero instrumento de autorização e não para o planejamento orçamentário de ações públicas. Para os autores Araújo e Arruda (2007, p. 70/71): “O orçamento tradicional, também conhecido como orçamento clássico, é o processo de elaboração do orçamento em que é enfatizado o objeto de gasto” (grifos dos autores). TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 73 O estudioso Silva (2011, p. 206) orienta como são as bases de estudo do orçamento tradicional: No processo tradicional, os orçamentos de cada exercício são elaborados tomando por base o nível de atividades do exercício anterior, determinando-se o seu custo e acrescentando-se a esse custo um incremento para compensar a inflação e uma carga de trabalho para o ano seguinte. Esse processo não requer revisão detalhada das operações em andamento e dos níveis de gastos. O orçamento tradicional adota a base orçamentária existente e examina apenas os incrementos ou reduções que projetam o nível corrente de despesas para o futuro. Para Piscitelli e Timbó (2012), o orçamento tradicional foi modificando-se de acordo com a evolução da administração pública e as exigências da sociedade. Através da legislação foram implementadas novas funções para o orçamento, que resultaram em maior controle, avaliação e gerenciamento não apenas da autorização para o uso das receitas, mas em busca de resultados mais eficientes. A principal função do orçamento público era ser um instrumento disciplinador das finanças públicas, fazendo com que fosse possível um controle político sobre os gestores ou executivos do orçamento (GIACOMONI, 2012). 4.2 ORÇAMENTO ATRAVÉS DE PROGRAMAS OU ORÇAMENTO- PROGRAMA O orçamento realizado através dos programas de governo é o atual modelo de orçamento para os órgãos públicos, o autor Carvalho (2010, p. 6) destaca a sua função e exemplifica: O orçamento-programa caracteriza-se pelo fato de a elaboração orçamentária ser feita em função daquilo que se pretende realizar no futuro, ou seja, é um moderno instrumento de planejamento que permite identificar os programas de trabalho dos governos, seus projetos e atividades a serem realizados e ainda estabelecer os objetivos, as metas, os custos e os resultados alcançados, avaliando-os, divulgando seus resultados com a maior transparência possível. (grifo do autor) O orçamento-programa é o que deve ser adotado no Brasil, encontramos esta normativa no Art. 2º, da Lei nº 4.320/64: “Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade”. (grifo nosso) UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 74 Ensina o estudioso Andrade (2013, p. 45) como deve ser o controle, após a LRF, deste tipo de orçamento: O orçamento-programa é claramente um documento de significado político, e a responsabilidade de geri-lo recai sobre os que detêm, de fato, poder de decisão. Após sua aprovação, pelo Poder Legislativo, as ações prosseguem na fase de execução orçamentária, onde o controle do processo de decisão está inteiramente sob a responsabilidade do Poder Executivo. [...] O orçamento-programa é, pois, a evolução do controle preventivo, sinalizando uma nova sistemática de apropriação e controle de recursos públicos. Afirmam Araújo e Arruda (2007, p. 71) que a principal diferença entre o orçamento tradicional e o orçamento-programa: “[...] é que o orçamento-programa parte da previsão de recursos para que sejam definidos as atividades e os projetos que serão executados, enquanto no orçamento tradicional a previsão dos recursos constitui a etapa final do processo de planejamento”. Orienta o professor Albuquerque (2008) que a classificação funcional- programática exigida nos orçamentos públicos é a pura representação do orçamento-programa. Atualmente a classificação exige os seguintes códigos para identificar os programas de governo: função, subfunção, programa, ações (projeto, atividade ou operações especiais). Aprecie, no quadro a seguir, um comparativo entre o orçamento clássico e sua evolução para o orçamento-programa. QUADRO 2 – O ORÇAMENTO TRADICIONAL E O ORÇAMENTO-PROGRAMA Orçamento tradicional ou clássico Orçamento-programa 1. O orçamento é desvinculado do planejamento, ou seja, não há integração entre planejamento e orçamento. 1. Existe integração entre planejamento e orçamento. Essa integração está prevista em norma legal (CF, LRF e na Lei nº 4.320/1964). 2. As decisões orçamentárias são tomadas a partir das necessidades ou do poder político dos dirigentes das unidades organizacionais. 2. As decisões orçamentárias são tomadas com base em critérios e análises técnicas das alternativas possíveis e em função dos recursos existentes. 3. A alocação dos recursos visa à consecução de meios. A ênfase é o objeto do gasto. 3. A alocação de recursos visa à consecução de objetivos, metas, diretrizes e prioridades. 4. N a e l a b o r a ç ã o d o o r ç a m e n t o s ã o consideradas as necessidades financeiras das unidades organizacionais com base em dados históricos (do passado). 4. Na elaboração do orçamento são considerados todos os custos dos programas, inclusive dos que ultrapassam o exercício financeiro. 5. A estrutura do orçamento dá ênfase aos aspectos contábeis da gestão. 5. A estrutura do orçamento está voltada para os aspectos administrativos e de planejamento. 6. Praticamente inexistem sistemas de acompanhamento e avaliação dos programas de trabalho e dos resultados alcançados. 6. Utilização sistemática de indicadores e padrões de medição dos trabalhos e avaliação dos resultados. TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 75 7. Os principais critérios de classificação da despesa são as unidades administrativas. 7. Principal critério de classificação de despesa é o funcional-programático (funções e programas). 8. O controle visava avaliar a legalidade no cumprimentodo orçamento. 8. O controle visa avaliar a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações governamentais. FONTE: Carvalho (2010, p. 23-24) 4.3 NOVO ORÇAMENTO DE DESEMPENHO O orçamento de desempenho busca definir os propósitos, as finalidades para as quais as dotações ou créditos orçamentários são consignados. O objeto do gasto não é tão importante, o que interessa é o que se faz com o produto adquirido (o desempenho) (SOARES; MOSER, 2011). Uma das evoluções do orçamento tradicional é o orçamento de desempenho, que busca reconhecer os benefícios que são almejados, observe os estudos do autor Albuquerque (2008, p. 191): Essa modalidade de orçamento representou uma evolução do orçamento tradicional, buscando melhorar o processo orçamentário de forma que o gestor pudesse ter mecanismo de avaliar não apenas o montante dos gastos, mas também os resultados da ação governamental. O foco, portanto, deixava de ser simplesmente demonstrar em que os recursos eram gastos, mas passava a buscar a indicação dos benefícios que seriam obtidos. Assim, além da dimensão contida no orçamento tradicional, o objeto do gasto, o orçamento de desempenho incorporava uma segunda dimensão, o programa de trabalho, buscando medir o desempenho organizacional. Salienta Albuquerque (2008), sobre a diferença do orçamento-programa e o orçamento de desempenho, que o segundo não é tão eficiente, porque deixa de relacionar e identificar o orçamento com o planejamento das políticas públicas. 4.4 ORÇAMENTO BASE ZERO Para os pesquisadores Soares e Moser (2011), o orçamento base zero é uma técnica de elaboração do orçamento-programa. No processo orçamentário, ele se baseia na necessidade de justificativa de todos os programas sempre que se inicia um novo ciclo orçamentário e os valores estabelecidos não são com base no realizado no ano anterior. Na visão do professor Silva (2011, p. 206), o orçamento base zero, também conhecido como orçamento por estratégia, é uma técnica que apresenta as seguintes características: “[...] a revisão crítica dos gastos tradicionais de cada área; [...] a criação de alternativas para facilitar a escala de prioridades a serem levadas para decisão superior”. UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 76 Já o pesquisador Albuquerque (2008, p. 192) apresenta um resumo da criação e do funcionamento do orçamento base zero, vamos apreciar: [...] outra técnica, criada por Peter Phyrr para a empresa Texas Instruments no final dos anos 1960, conhecida como orçamento base zero, que consiste basicamente em se realizar, a cada período de elaboração do orçamento, ampla reavaliação de todas as despesas demandadas pelos órgãos de governo, como se no período anterior nenhuma despesa houvesse se realizado (a base de comparação é zero). Com isso, realiza-se o questionamento quanto às efetivas necessidades de recursos para cada um dos programas, sem nenhuma consideração quanto aos montantes executados no período anterior. (grifos nossos) Continuando com os ensinamentos de Albuquerque (2008), o orçamento base zero não é compatível com o planejamento do Plano Plurianual, obrigatório no sistema orçamentário brasileiro, já que as estimativas de recursos são determinadas previamente, e dispensa a revisão anual. 4.5 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO Na história brasileira, o orçamento participativo teve início nas administrações públicas municipais: “No Brasil, as administrações municipais participativas tornaram-se realidade a partir da experiência pioneira realizada em Lages (SC), no final dos anos 70, a qual se seguiram, nos anos 80, as experiências de Boa Esperança (ES), de Diadema (SP) e de Recife (PE)” (GIACOMONI, 2012, p. 258). Nesta espécie de orçamento, a Administração Pública, através de legislação própria, chama a população para participar do processo decisório, por meio de lideranças associativas através de audiências públicas. A sociedade não exerce apenas o poder opinativo, mas vota em programas mais adequados para a sua comunidade. Este processo orçamentário requer transparência dos critérios em votação e informações que nortearão a tomada de decisões (SOARES; MOSER, 2011). Para que o orçamento seja participativo, deve haver uma estrutura apropriada para organizar as assembleias, as propostas encaminhadas pelas comunidades e a forma de acatar as decisões. Nesse sentido, orienta o autor Giacomoni (2012) que é necessária a instituição de legislação própria, onde seja elencada a estrutura do poder da comunidade, os passos a serem seguidos na elaboração e os papéis destinados a todos os atores do orçamento participativo. TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 77 DICAS Quer saber mais sobre orçamento participativo? Pesquise na página oficial, da internet, da cidade de Porto Alegre (RS), pela lei que criou este orçamento, verifique qual é a estrutura e como funciona. Em 2015 iniciou o orçamento participativo na cidade de Rodeio (SC), mais um lugar que você poderá pesquisar. Boa pesquisa! 5 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS Todos os entes da Federação, em todos os Poderes, devem respeitar os princípios orçamentários (gerais e específicos) no processo de elaboração, estudo e aprovação, execução, controle e avaliação do orçamento público. Estabelece o MCASP (2017, p. 32): Os Princípios Orçamentários visam estabelecer regras norteadoras básicas, a fim de conferir racionalidade, eficiência e transparência para os processos de elaboração, execução e controle do orçamento público. Válidos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todos os entes federativos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios –, são estabelecidos e disciplinados por normas constitucionais, infraconstitucionais e pela doutrina. (grifos nossos) Os princípios básicos podem ser gerais ou específicos, gerais quando são aplicados tanto para as receitas quanto para as despesas públicas, por exemplo, a uniformidade; já os específicos são destinados a fundamentar apenas as receitas ou apenas as despesas, por exemplo, o princípio da não afetação da receita, que está diretamente ligado às receitas do orçamento público. Na figura a seguir, você poderá identificar mais claramente essa segregação: FIGURA 1 – ESTRUTURA DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS Princípios orçamentários Princípios orçamentários gerais (de receita e de despesa) Substanciais - Anualidade - Unidade - Universalidade - Equilíbrio - Exclusividade Formais ou de apresentação - Especificação - Publicidade - Clareza - Uniformidade - Precedência Princípios orçamentários específicos (só das receitas) - Não afetação da receita - Legalidade da tributação FONTE: Silva (2011, p. 189) UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 78 Destacam os estudiosos Araújo e Arruda (2007, p. 67) que: “Os princípios básicos do orçamento são axiomas fundamentais que surgiram da necessidade de apresentar uma linguagem uniforme para elaborar e interpretar apropriadamente os orçamentos anuais”. A importância da utilização dos princípios orçamentários em todos os instrumentos de planejamento orçamentário é destacada pelo estudioso Moraes (2011, p. 1794): O legislador constituinte reservou à lei complementar a disposição sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; e o estabelecimento de normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a instituição e o funcionamento de fundos, que deverão seguir os princípios orçamentários. Os princípios orçamentários são resultados de várias legislações e, também, da doutrina, por este motivo não há consenso absoluto entre os diversos autores. Acadêmico, neste tópico, vamos estudar os princípios orçamentários apresentados pelo Manual de contabilidade aplicado ao setor público (MCASP). 5.1 UNIDADE OU TOTALIDADE O orçamento público deve respeitar o princípio da unidade, também conhecidopor princípio da totalidade. Para atender a este princípio é necessário que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios elaborem e aprovem um único orçamento para cada esfera de governo. Por exemplo, o Município, ao elaborar seu orçamento único (fiscal, seguridade social e de investimentos), reunirá todas as receitas e as despesas dos Poderes Executivo e Legislativo (PISCITELLI; TIMBÓ, 2012). A finalidade do princípio da unidade é evitar que sejam elaborados vários orçamentos, com valores desencontrados. A previsão legal deste princípio é a Lei nº 4.320/64, no Art. 2º, apresenta o MCASP (2017, p. 33): Previsto, de forma expressa, pelo caput do art. 2º da Lei nº 4.320/1964, determina existência de orçamento único para cada um dos entes federados – União, estados, Distrito Federal e municípios – com a finalidade de se evitarem múltiplos orçamentos paralelos dentro da mesma pessoa política. Albuquerque (2008) ressalta que a nossa Constituição Federal, em seu Art. 165, § 5º, incisos I ao III, também determina que os orçamentos fiscais, da seguridade social e de investimentos sejam apresentados de forma unificada, vindo ao encontro do princípio da unidade determinado pela Lei nº 4.320/64. TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 79 A apresentação de orçamentos múltiplos (paralelos) facilitaria o descontrole orçamentário e, por consequência, provável déficit de orçamento, é o que destaca o autor Giacomoni (2012). Esclarece o autor Silva (2011) que o princípio orçamentário da unidade também está relacionado ao princípio de unidade de caixa, específico para a fase do recolhimento da receita, onde todos os recursos devem fluir para uma conta única de disponibilidades. 5.2 UNIVERSALIDADE Nos mesmos fundamentos do princípio da unidade, baseia-se o princípio da universalidade. Todas as receitas e todas as despesas devem fazer parte do orçamento, que será uno. Encontramos no MCASP (2017, p. 33) a legislação, a conceituação e a abrangência deste princípio: Estabelecido, de forma expressa, pelo caput do art. 2º da Lei nº 4.320/ 1964, recepcionado e normatizado pelo §5º do art. 165 da Constituição Federal, determina que a LOA de cada ente federado deverá conter todas as receitas e despesas de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público. Vários autores, como Andrade et al. (2008), Silva (2011), interpretam o princípio da universalidade como sendo equivalente ao princípio do orçamento bruto. Esse não é o entendimento do MCASP (2017). “Este princípio é de fundamental importância, porque estabelece que todas as receitas e todas as despesas devem constar da Lei Orçamentária pelos seus valores totais, vedadas quaisquer deduções. É também denominado princípio do orçamento bruto” (SILVA, 2011, p. 191). Para conhecer o total de potencialidades da arrecadação, dominar a extensão do comprometimento das despesas e controlar essa equação é importante que seja respeitado o princípio da universalidade, segundo os autores Araújo e Arruda (2007). 5.3 ANUALIDADE OU PERIODICIDADE A anualidade ou periodicidade é o princípio que padroniza o orçamento para ser executado em um determinado período, que no Brasil se refere ao ano civil ou ano financeiro (1º de janeiro até 31 de dezembro de cada ano). Os autores Araújo e Arruda (2007, p. 68) explicam detalhadamente que: [...] este princípio orçamentário preconiza que as previsões da receita e a fixação da despesa devem sempre se referir a um período limitado de tempo. Consequentemente, a cada exercício, o Poder Executivo terá que solicitar nova autorização do Poder Legislativo para cobrar e arrecadar tributos, bem como para aplicar os recursos obtidos. UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 80 A determinação legal deste princípio está inserida no caput do Art. 2º, da Lei nº 4.320/64, que determina o exercício financeiro representar um ano, o mesmo que será a execução do orçamento, a realização das receitas e despesas na LOA. Já no Art. 34 da Lei nº 4.320/64, determina que o exercício financeiro coincidirá com o ano civil, ou seja, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Em se tratando da lei orçamentária anual, a nossa Constituição Federal menciona o termo anual, o que nos remete ao princípio da anualidade. Essa normatização encontra-se no Art. 165, § 5º e § 8º, no Art. 166, § 3º, e o Art. 167, inciso I (CARVALHO, 2010). 5.4 EXCLUSIVIDADE A previsão legal deste princípio encontra-se no § 8º do Art. 165 da Constituição Federal, onde está expresso que não deverão constar na LOA matérias diversas das previsões das receitas e da fixação das despesas, com exceção da abertura de créditos suplementares e a contratação de operações de crédito. Para Silva (2011, p. 196), o princípio da exclusividade: “[...] é o que decorre do aspecto jurídico [...] significando que a lei de meios não poderá conter dispositivo estranho à fixação das despesas e previsão das receitas [...]” A lei orçamentária deve respeitar as diretrizes da LDO, o princípio da exclusividade determina que o conteúdo da proposta e, posteriormente, do orçamento aprovado seja exclusivo para receitas e despesas. Há exceções autorizadas que o autor Carvalho (2010, p. 88) explica: “Estabelece que a lei orçamentária anual não pode conter dispositivos estranhos à fixação das despesas e previsão das receitas, ressalvada a autorização para a abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação da receita” (grifo do autor). Os autores Andrade et al. (2008) apresentam exemplos de matérias que são estranhas à lei do orçamento, que normalmente os gestores insistiam em inserir nos projetos de lei do orçamento: • alienação de bens imóveis; • criação de cargos; • reestruturação de carreira; • alteração na estrutura administrativa; • alteração na legislação tributária, entre outras. O orçamento público tem prazos céleres para sua votação. Por causa da rapidez de sua tramitação, foi necessário proibir a inclusão de outras matérias na LOA, explica o autor Giacomoni (2012, p. 78): “Esse princípio surgiu com o objetivo de impedir que a Lei de Orçamento, em função da natural celeridade de sua tramitação no Legislativo, fosse utilizada como meio de aprovação de matérias outras que nada tinham que ver com questões financeiras”. TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 81 5.5 ORÇAMENTO BRUTO O princípio do orçamento bruto vem ao encontro da transparência nas contas públicas, está previsto no Art. 6º da Lei nº 4.320/ 64 (o mesmo que consagra o princípio da universalidade), quando determina que as receitas devem ser registradas pelo valor bruto vedadas possíveis deduções. Na elaboração e execução do orçamento, é necessário que as despesas e receitas apareçam nas suas totalidades, Carvalho (2010, p. 97) apresenta um exemplo deste princípio: Esse princípio estabelece que as receitas e despesas devam ser demonstradas na LOA pelos seus valores totais, isto é, sem deduções ou compensações. Exemplo: a proposta orçamentária da União deve ser apresentada sem as deduções dos recursos a serem transferidos aos fundos de participação dos estados e municípios. (grifo do autor) É importante destacar que este princípio tem o objetivo de impedir a inclusão na LOA de importâncias líquidas, apenas pelo saldo de alguma transação entre receitas, despesas e suas deduções ou compensações (GIACOMONI, 2012). 5.6 LEGALIDADE A nossa Constituição Federal apresenta vários princípios para a administração pública respeitar: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Entre eles o da legalidade, que significa: “Apresenta o mesmo fundamento do princípio da legalidade aplicado à administração pública, segundo o qual cabe ao Poder Público fazer ou deixar de fazer somente aquilo que a lei expressamente autorizar, ou seja, se subordina aos ditames da lei” (MCASP, 2017). O princípio da legalidade para o orçamentopúblico também está expresso na Constituição Federal no Art. 165, incisos I ao III, observe: “Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual; II – as diretrizes orçamentárias; III – os orçamentos anuais”. O sistema orçamentário brasileiro é todo estruturado sob o princípio da legalidade. Por este motivo os instrumentos de planejamento orçamentário são submetidos à aprovação do Poder Legislativo e se tornam leis. “O princípio da legalidade orienta a estruturação do sistema orçamentário. Em função desse princípio, o planejamento e o orçamento são realizados através de leis (PPA, LDO e LOA)” (CARVALHO, 2010). UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 82 5.7 PUBLICIDADE Após a aprovação do orçamento, no Legislativo, transforma-se em lei. Todas as leis devem ser publicadas para o conhecimento da população, não é diferente para o orçamento. Orientam Araújo e Arruda (2007, p. 70) que: “[...] o orçamento público deverá ser publicado para que toda a comunidade possa tomar conhecimento dos objetivos do Estado e para que ele possa ter validade [...]”. Em relação à obrigatoriedade e fundamentação legal do princípio básico da publicidade, ensina o MCASP (2017, p. 34): Princípio básico da atividade da Administração Pública no regime democrático está previsto no caput do art. 37 da Magna Carta de 1988. Justifica-se especialmente pelo fato de o orçamento ser fixado em lei, sendo esta a que autoriza aos Poderes a execução de suas despesas. Alerta Silva (2011) que a publicidade é a base essencial para que a democracia seja consolidada nos governos democráticos. Os atos governamentais devem ter ampla publicidade, para serem conhecidos pelo povo. O orçamento deve ser acessível para que a sociedade controle todo o processo de gerenciamento das contas públicas. 5.8 TRANSPARÊNCIA A administração pública tem a responsabilidade de divulgar, de forma ampla, o orçamento público, disponibilizar informações orçamentárias a qualquer pessoa, este princípio é o da transparência, segundo o MCASP (2017, p. 34): Aplica-se também ao orçamento público, pelas disposições contidas nos arts. 48, 48-A e 49 da LRF, que determinam ao governo, por exemplo: divulgar o orçamento público de forma ampla à sociedade; publicar relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal; disponibilizar, para qualquer pessoa, informações sobre a arrecadação da receita e a execução da despesa. Um dos pilares da lei de responsabilidade fiscal é a transparência na gestão pública financeira. Para atender a este princípio, como verificamos nas orientações do MCASP (2017), não basta apenas publicar, mas fazer com que a informação seja entendida pela população. 5.9 NÃO VINCULAÇÃO A própria Constituição Federal veda a vinculação de impostos para ações governamentais que não sejam as determinadas em seus dispositivos, como: educação, saúde, fundos especiais, como fundo de participação dos estados e dos municípios, entre outros. Veja o que prescreve o Art. 167 da Carta Magna: TÓPICO 1 | ORÇAMENTO PÚBLICO 83 Art. 167. São vedados: [...] IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, §2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, §8º, bem como o disposto no §4º deste artigo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003); [...] §4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993). Também conhecido como princípio da não afetação da receita, consoante aos ensinamentos de Slomski (2010), preceitua que, além das receitas serem recolhidas em caixa único do Tesouro, não devem sofrer vinculação diferente das apresentadas pelo ordenamento jurídico constitucional. Explica Giacomoni (2012) que o propósito desse princípio é não comprometer os impostos com determinados gastos (fixos), inviabilizando as despesas de manutenção, de investimentos e outras que vierem a surgir resultantes da administração pública. 5.10 EQUILÍBRIO O princípio do equilíbrio não está expresso no Manual de contabilidade aplicado ao setor público, mas em se tratando de matéria orçamentária, está implícito nos seus ordenamentos. Segundo Giacomoni (2012, p. 79): “De todos os princípios clássicos, esse é o que tem merecido maior atenção, fora do âmbito específico do orçamento, interessando de perto outras áreas econômicas, como finanças públicas, política fiscal, desenvolvimento econômico etc.”. Os autores Andrade et al. (2008, p. 155) ensinam o objetivo do equilíbrio orçamentário: “Este princípio visa coibir a previsão de receitas fictícias, sendo sua aplicação obrigatória na formulação do orçamento. Ele orienta que o valor fixado para as despesas num exercício financeiro seja compatível com o valor previsto para as receitas”. O equilíbrio entre as receitas e despesas deve existir, mas Albuquerque (2008) ressalta que muitos autores defendem a premissa de este equilíbrio respeitar o mandato do gestor, não necessariamente que seja anual. 84 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O orçamento público, brasileiro, é do tipo orçamento-programa e desenvolvido pelo sistema misto. • As peças de planejamento orçamentário no Brasil são: o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. • Os tipos de orçamento mais utilizados são: orçamento tradicional, orçamento- programa, orçamento por desempenho, orçamento por resultados e o orçamento participativo. • O orçamento é uma técnica de planejamento financeiro utilizada na área pública desde 1822, quando foi redigido e apresentado ao Parlamento inglês. • Os princípios orçamentários representam as bases que deverão ser utilizadas para a elaboração dos orçamentos públicos, estão descritos de forma explícita e implícita nas legislações pertinentes às finanças públicas (Constituição Federal, Lei nº 4.320/64, LRF etc.). • Tanto a quantidade, como seus nomes e conceitos não são consenso entre os diversos autores desta área. Seguindo o MCASP (2017), encontramos os seguintes princípios orçamentários: o Unidade ou Totalidade. o Universalidade. o Anualidade ou Periodicidade. o Exclusividade. o Orçamento Bruto. o Legalidade. o Publicidade. o Transparência. o Não Vinculação. o Equilíbrio. 85 AUTOATIVIDADE Caro acadêmico, vamos avaliar a compreensão dos conceitos aos quais tivemos acesso até agora. Responda os questionamentos dispostos a seguir: 1 “É o PPA que define, para um período de quatro anos, as grandes prioridades nacionais e regionais, com metas para cada área de atuação: saúde, educação, saneamento, transportes e energia, entre outras” (CECCHERINI, 2018, p. 1). A Lei nº 4.320/64 determina no seu art. 2º qual é o tipo de orçamento que deve ser utilizado pelos entes federativos. Quanto à nomenclatura utilizada para indicar o tipo de orçamento obrigatório no Brasil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Orçamento base zero. b) ( ) Orçamento-programa. c) ( ) Orçamento tradicional. d) ( ) Orçamento clássico. 2 Os princípios orçamentários são regras que dão suporte à construção e à execução do orçamento público. No caso de o chefe do Poder Executivo de um município incluir no projeto de lei da LOA a autorização para alteração da alíquota do imposto territorial e predial urbano, este prefeito está infringindo o princípioorçamentário: a) ( ) da legalidade. b) ( ) da exclusividade. c) ( ) da afetação da receita. d) ( ) do orçamento-bruto. 3 Dentre os vários tipos de orçamento que podem ser associados ao orçamento- programa existe o que: “[...] a Administração Pública, através de legislação própria, chama a população para participar do processo decisório, por meio de lideranças associativas através de audiências públicas. A sociedade não exerce apenas o poder opinativo, mas também vota em programas mais adequados para a sua comunidade” (SOARES; MOSER, 2011). Qual orçamento estamos contextualizando? a) ( ) Orçamento base zero. b) ( ) Orçamento-programa. c) ( ) Orçamento tradicional. d) ( ) Orçamento participativo. 86 87 TÓPICO 2 PLANO PLURIANUAL – PPA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O processo de planejamento orçamentário brasileiro é desenvolvido através de programas de governo (orçamento-programa), desenvolvido pelo regime misto (para a aprovação e a execução). O primeiro instrumento que deve ser elaborado é o Plano Plurianual – PPA, depois a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e, por fim, a Lei Orçamentária Anual – LOA. Os instrumentos de planejamento, PPA, LDO e LOA, cada qual com o desempenho das atribuições que lhe foram conferidas por intermédio de leis, não poderão apresentar incoerência entre si, conforme estabelecem a Constituição Federal e a LRF. Para assegurar a ocorrência dessa compatibilidade, a ligação existente entre os três instrumentos de planejamento deve ser expressa deste modo: primeiramente, o PPA é formulado, logo após, a LDO, esta deverá ser compatível com o PPA e, por último, a LOA, que deverá ser compatível com o PPA e a LDO. Os sonhos da administração pública, para quatro anos, são planejados através de programas de governo, onde são expressas as diretrizes de governo, seus objetivos, as ações que serão desenvolvidas e as metas, quantificadas, que deverão ser alcançadas. Esta estrutura resume o conteúdo do PPA. Acadêmicos, no Tópico 2 serão apresentados os objetivos e o conceito do Plano Plurianual, também vamos descrever sobre a estrutura que o compõe: diretrizes de governo, programas, objetivos, ações e metas. Venha conosco e amplie seus conhecimentos! UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 88 2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PPA O planejamento orçamentário, governamental, é composto pelo Plano Plurianual – PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual – LOA. Segundo Silva (2011), cabe ao primeiro instrumento o papel de documento estratégico, e aos demais, desenvolver o planejamento operacional da administração pública. Para a melhor compreensão dos instrumentos de planejamento orçamentário, apresentamos a figura a seguir: FIGURA 2 – PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO A Responsabilidade Fiscal e o Planejamento PPA: Programas compostos por ações Ações têm metas para 4 anos LDO: Define diretrizes para a elaboração e execução do orçamento Apresenta as metas para cada ano LOA: Elaborada conforme diretrizes da LDO Reserva recursos para as metas do ano FONTE: Lima e Castro (2012, p. 14) O TCE/SC (2002) orienta que o PPA abrangerá as diretrizes, objetivos e metas para o período quadrienal que compreende o segundo ano do mandato do gestor responsável pela sua elaboração e o primeiro ano do mandato do gestor subsequente, e que devem ser especificadas todas as obras que a administração pública pretende realizar. Andrade (2013, p. 24) sintetiza a essência do PPA: “É a transformação, em lei, dos ideais políticos divulgados durante a campanha eleitoral, salientando os interesses sociais [...] atende aos objetivos da Lei de Responsabilidade, que visa ao crescimento econômico e à expansão das ações de governo”. TÓPICO 2 | PLANO PLURIANUAL – PPA 89 Albuquerque (2008) alerta que no processo de elaboração do PPA devem ser utilizadas metodologias que garantam a visão estratégica na alocação dos recursos públicos e, também, para desenvolver as ações de governo de forma regionalizada e ampla, já que este instrumento contempla um período de aplicação de quatro anos. Observe o que orientam os estudiosos Andrade et al. (2008, p. 20) sobre os objetivos deste instrumento de planejamento orçamentário: O Plano Plurianual (PPA) é o instrumento que expressa o planejamento do governo federal, estadual ou municipal para um período de quatro anos, tendo como objetivo principal conduzir os gastos públicos, durante a sua vigência, de maneira racional, de modo a possibilitar a manutenção do patrimônio público e a realização de novos investimentos. Na visão de Machado Jr. e Reis (2011, p. 66), o PPA tem como objetivo a continuidade das ações governamentais: “O Plano Plurianual tem por objetivo, em síntese, dar continuidade às administrações, a fim de evitar as paralisações de obras e de outros serviços que, ao invés de beneficiarem, prejudicam em muito as populações municipais”. Quanto à sua abrangência, o PPA deve ser elaborado por todos os entes federativos, consolidando seus Poderes, a Administração Direta e Indireta. “É uma Lei que abrangerá os respectivos Poderes na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios; será elaborada no primeiro ano de mandato do Executivo e terá vigência de quatro anos” (SLOMSKI, 2010, p. 304). É importante esclarecer que o Plano Plurianual constitui uma obrigação dos administradores públicos e não apenas de uma ferramenta optativa de planejamento. Segundo os autores Toledo Jr. e Rossi (2005, p. 36): [...] sem amparo no plurianual, a expansão da atividade governamental equivale a despesa não autorizada, irregular e lesiva ao patrimônio público (art. 15 c/c os arts. 16, II, e 17, § 4º), submetendo o ordenador a responder por crime contra as finanças públicas (Lei nº 10.028, de 19.10.00; inserção do art. 359-D no Código Penal). O PPA é o instrumento que agrega e estabelece as grandes diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública, de todos os entes federativos, para as despesas de capital e as relativas aos programas de duração continuada. Nenhum investimento cuja execução seja superior ao exercício financeiro pode ter início sem que esteja contemplado no plano plurianual (ALKMIM, 2009). Tanto a Constituição Federal como a Lei de Responsabilidade Fiscal orientam em relação à necessidade de compatibilidade dos instrumentos de planejamento orçamentário. “O PPA é muito importante porque, além de ser para médio prazo (vigência de quatro anos), é o primeiro instrumento que deverá ser realizado para nortear a elaboração das outras peças orçamentárias” (SOARES; MOSER, 2011, p. 119). UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 90 3 A ESTRUTURA DO PPA O ordenamento jurídico brasileiro, segundo orientações do autor Viana (2009), determina que tanto o PPA como a LDO e a LOA sejam instrumentos de planejamento orçamentário aprovados por leis ordinárias de iniciativa própria do Poder Executivo. O PPA estabelecerá de forma regionalizada o planejamento estratégico do governo através de programas que devem conter como estrutura: a) as diretrizes, objetivos, metas e ações para as despesas de capital e outras despesas delas decorrentes; b) as diretrizes, objetivos, metas e ações para programas de duração continuada (SILVA, 2011). O Plano Plurianual é o instrumento que explicita o modo como o governo enxerga e procura construir o desenvolvimento do Estado. [...] Anteriormente à Constituição de 1988 havia o OPI – Orçamento Plurianual de Investimentos, que se limitava a planejar os investimentos e não chegava a abranger diretrizes, objetivos e metas para toda a administração federal, envolvendo as despesas de capital, as despesas decorrentes das despesas de capital e as despesas dos programas de duração continuada, como hoje contempla o PPA (ALBUQUERQUE, 2008, p. 145). Os pesquisadores Cruz et al. (2012, p. 16) orientam sobre a necessidade das ações de governo para complementar a estrutura do PPA: “Oplano plurianual deve ser visto como um instrumento necessário que dele derivam todas as demais ações de governo”. O mesmo entendimento é apresentado por Aguiar (2004, p. 40): “O Plano Plurianual também é um Plano de Trabalho de Governo, de natureza político-administrativa, aprovado por lei, em torno do qual a Administração reúne todas as ações governamentais [...]”. (grifos do autor) 3.1 DIRETRIZES DE GOVERNO Encontramos na Constituição Federal, no § 1º, do Art. 165, a definição e a obrigação das diretrizes de governo no Plano Plurianual, observe: “Art. 165 [...] § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes [...]” (grifo nosso). Os estudiosos Andrade et al. (2008, p. 24) apresentam sua interpretação sobre as diretrizes que devem constar no PPA: Portanto, as diretrizes do PPA são orientações, indicações e princípios estratégicos que nortearão as ações do governo municipal durante o período de sua vigência com vistas a alcançar os seus objetivos, atendendo aos anseios da população e melhorando a sua qualidade de vida. No PPA do Governo Federal as diretrizes são tratadas como macro-objetivos. TÓPICO 2 | PLANO PLURIANUAL – PPA 91 As diretrizes de governo são conhecidas como um nível abstrato da formulação do planejamento governamental, afirmam os autores Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 101): “[...] São o conjunto de programas, ações, e de decisões orientadoras dos aspectos envolvidos no planejamento, sendo ainda o nível mais abstrato para a formulação geral do governo. São, portanto, os objetivos por meio de programas”. Nos ensinamentos do autor Andrade (2013, p. 25), verificamos a importância das diretrizes de governo como caminho traçado para um bom planejamento orçamentário: Apontam ou traçam as direções, regulam os planos de governo, estabelecem critérios para o planejamento. São “bússolas” que dão rumo ao planejamento e são os resultados principais ou maiores, em longo prazo, que necessitarão ser desenvolvidos e que se pretendem alcançar. São, pois, o conjunto de programas, ações e de decisões orientadoras dos aspectos envolvidos no planejamento, sendo ainda o nível mais abstrato para a formulação geral do plano de governo. As diretrizes têm seus objetivos e estabelecem critérios macros que definem as estratégias de governo. Cada diretriz é detalhada por programas, que podem ser especificados por seus respectivos objetivos. (grifo do autor) As diretrizes de governo devem ser elaboradas pelos gestores, devem ser ajustadas em relação às necessidades regionais e aos recursos de cada ente federativo. Há a necessidade de que a visão estratégica do governo seja convertida em diretrizes que servirão de base para a formulação dos programas de governo (ALBUQUERQUE, 2008). IMPORTANT E Acadêmico: Não existe um modelo específico de formulário ou demonstrativo preestabelecido, para orientar como se preenche um programa de governo. Por este motivo é necessário que você pesquise nas leis do PPA, da União, dos Estados e dos Municípios, para que reconheça as informações em comum: diretrizes, objetivos, metas e ações. Não esqueça: essas legislações estão nas páginas oficiais, na rede mundial de computadores, da Administração Pública. UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 92 3.2 PROGRAMAS Nos programas estão concretizadas as ações que deverão ser desenvolvidas para que os objetivos do programa sejam atingidos. Orienta o pesquisador Andrade (2013, p. 25) que: São o instrumento de organização da atuação governamental. Articulam o conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum e preestabelecido, mensuradas por indicadores estabelecidos no Plano Plurianual, visando à solução de um problema ou ao atendimento de uma necessidade ou demanda da sociedade. Os programas de governo são instrumentos das diretrizes e devem estabelecer os objetivos (resultados esperados dos programas). São executados pelas ações (mensuráveis por metas). Esses programas integram PPA e orçamento, e são, portanto, o elo de integração entre esses dois instrumentos de planejamento. Encontramos na Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, no Art. 2º, alínea a, o seguinte conceito de programa: “Art. 2º [...]. a) Programa, o instrumento de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual [...]”. Orientam Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 101) que os programas são: “[...] os instrumentos das diretrizes e devem estabelecer os objetivos (resultados esperados dos programas) [...] executados pelas ações (mensuráveis por metas)”. Os programas organizam e estruturam o planejamento governamental, já que são conjuntos de ações orçamentárias e não orçamentárias, na forma de ações, projetos, atividades e operações especiais que resultam em mudanças na realidade concreta (GIACOMONI, 2012). Na visão dos pesquisadores Andrade et al. (2008), os programas procuram racionalizar as ações do governo, são de fácil apresentação à sociedade, vindo ao encontro da transparência exigida pela LRF. Segundo os mesmos autores, o programa deverá conter os seguintes elementos: • Código identificador: um número sequencial que identificará o programa e será utilizado para identificar sua realização na Lei Orçamentária Anual; • Denominação: o nome que o distinguirá dos demais, normalmente relacionado com a sua finalidade; • Objetivos: os resultados a serem alcançados; • Público-alvo: a quem se destina o programa, identifica com maior precisão os beneficiados pelo programa; • Indicadores: unidades de medida para identificar o desempenho da execução; • Órgão responsável pelo seu gerenciamento: setor responsável pelo controle do programa, mesmo no caso de realização por mais de um órgão ou unidade; • Gerente de programa: pessoa responsável para viabilizar, controlar e prestar contas do programa; e TÓPICO 2 | PLANO PLURIANUAL – PPA 93 • Custo global do programa: valor estimado para a realização das ações com as metas determinadas. Segundo Lima e Castro (2012), toda a ação do Estado deve ser estruturada em programas, que podem ser classificados em: a) finalísticos; b) de gestão das políticas públicas; c) de serviços ao Estado; d) de apoio administrativo. Cada programa deverá evidenciar o órgão ou gerente que será responsável pelo seu gerenciamento, independentemente se for desenvolvido por diversas unidades governamentais, também deverá ser introduzido um sistema informatizado de gerenciamento e, por fim, deve-se controlar prazos e custos dos programas. Conforme a visão do doutrinador Giacomoni (2012), os programas são classificados segundo a finalidade que pretendem atingir ou desenvolver, observe as duas modalidades que o autor apresenta: • Programas finalísticos: correspondem aos programas temáticos que desenvolvem ações para atender às necessidades da sociedade, são ofertados bens e serviços diretamente à sociedade e podem ser controlados através dos resultados medidos por indicadores; • Programas de apoio às políticas públicas e áreas especiais: são as ações voltadas aos programas de gestão, para a oferta de serviços do Estado, bem como para a formulação, coordenação, supervisão e a avaliação das políticas públicas. Ressalta a NBCTSPEC (2016, p. 6) que os programas de gestão, os que têm continuidade, podem sofrer interferência das altas e baixas da arrecadação: “Muitos programas do setor público são de longo prazo, e a capacidade para cumprir os compromissos depende dos tributos e das contribuições a serem arrecadados no futuro”. Apresentamos na figura a seguir, com o intuito de melhorar a vossa compreensão, um resumo do conteúdo que deve compor um programa do Plano Plurianual: FIGURA 3 – RESUMO DO CONTEÚDO DE UM PROGRAMA DO PPA PARA AS RELATIVAS AOS PROGRAMAS DE DURAÇÃO CONTINUADA. PARA AS DESPESAS DE CAPITAL E OUTRAS DELAS DECORRENTES; E E METAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAOS OBJETIVOSASDIRETRIZES PLANO PLURIANUAL - PPA DIRETRIZES OBJETIVOS METAS FONTE: Carvalho (2010, p. 36) UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 94 3.3 OBJETIVOS Para que as diretrizes governamentais sejam alcançadas através de programas, finalísticos (temáticos) ou de apoio (gestão), necessitam ser detalhados os resultados esperados, que são os objetivos. O autor Andrade (2013, p. 25) apresenta o seguinte conceito: Os objetivos são o detalhamento ou a decomposição dos programas, que deverão ser atendidos, de forma a concretizar as diretrizes, indicando os resultados pretendidos pela Administração a serem realizados pelas ações. Em linguagem comum, o objetivo é o histórico ou a descrição que se dá para uma diretriz ou para um programa. Os objetivos que estão nos programas são mais analíticos (programáticos), ensinam os estudiosos Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 91-92): “[...] Programas resultantes da decomposição das grandes linhas de ação em objetivos mais analíticos (programáticos) e, portanto, mais específicos”. Para que o programa seja elaborado de forma eficiente, é necessário o detalhamento dos objetivos do programa, evidenciar com clareza o problema que se quer combater ou qual demanda da sociedade se pretende satisfazer. Os objetivos devem esclarecer o público-alvo a ser atingido, bem como identificar os indicadores que serão utilizados para satisfazer os resultados pretendidos (ANDRADE et al., 2008). 3.4 AÇÕES O objetivo, ou o que se pretende alcançar, é realizado através das ações planejadas e posteriormente executadas. Sobre este tema, Andrade (2013, p. 26) ensina: “As ações são as iniciativas necessárias para cumprir os objetivos dos programas sobre os quais devem ser estabelecidas as metas”. A realização dos objetivos dos programas acontecerá pela execução de ações, é o que orientam Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 92): “[...] Ações estabelecidas para a execução em conjunto, contribuindo para a concretização dos objetivos dos programas. O desdobramento das ações dar-se-á de acordo com a sua natureza, dividindo-se em projetos, atividades e operações especiais”. As ações governamentais podem ser representadas no planejamento orçamentário brasileiro conforme a determinação da Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, no seu Art. 2º. Leia atentamente: Art. 2º Para os efeitos da presente Portaria, entendem-se por: a) Programa, o instrumento de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual; b) Projeto, um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou TÓPICO 2 | PLANO PLURIANUAL – PPA 95 o aperfeiçoamento da ação de governo; c) Atividade, um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo; d) Operações Especiais, as despesas que não contribuem para a manutenção das ações de governo, das quais não resulta um produto, e não geram contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. (grifos nossos) Observe que a ação deve ser classificada em projeto, atividade ou operação especial, conforme o resultado de sua ação, o tempo de realização e o produto a ser alcançado ou agregado ao patrimônio público. Segundo as orientações dos autores Andrade et al. (2008), no momento da criação das ações, devem ser observadas e identificadas as seguintes informações: código identificador, denominação, tipo de ação (projeto, atividade ou operação especial), unidade orçamentária responsável pela sua execução, supervisão da ação, produto, unidade de medida, metas, região a ser atendida pela ação e custo da ação. Acadêmico, observe que a ação reúne várias informações, tanto econômicas como sociais e gerenciais. É através da ação que serão realizados os objetivos dos programas, ou melhor, são concretizadas as mudanças desejadas para implementar programas finalísticos ou de apoio às políticas públicas. 3.5 METAS As metas são os verdadeiros mecanismos de indicadores que permitem a avaliação ou mensuração de forma qualitativa e quantitativa das ações do governo. Essas são as orientações do autor Andrade (2013, p. 26): “São a mensuração das ações de governo para definir quantitativa e qualitativamente o que se propõe ser atendido e qual parcela da população se beneficiará com a referida ação”. Apontam para o mesmo sentido os ensinamentos dos autores Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 101-102): [...] Metas – São a mensuração das ações de governo para definir quantitativamente o que se propõe ser atendido e qual parcela da população se beneficiará com a referida ação. É a unidade de medida que explicita, em termos concretos, o volume de trabalho a ser realizado e o tempo necessário para realizá-lo, permitindo a mensuração e a avaliação de políticas, programas, atividades e projetos. É importante ressaltar, segundo Albuquerque (2008), que os indicadores das ações (metas) devem proporcionar o controle do desempenho da execução da ação. Para isto devem apresentar os custos ou investimentos projetados para o atendimento da ação, a indicação do tempo (período) para executar, a determinação do público-alvo (beneficiários) e quais recursos serão utilizados para o seu financiamento. 96 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O PPA abrangerá as diretrizes, objetivos e metas para o período quadrienal que compreende o segundo ano do mandato do gestor responsável pela sua elaboração e o primeiro ano do mandato do gestor subsequente, e que devem ser especificados todos os investimentos que a administração pública pretende realizar. • O PPA estabelecerá de forma regionalizada o planejamento estratégico do governo através de programas que devem conter como estrutura: o As diretrizes, objetivos, metas e ações para as despesas de capital e outras despesas delas decorrentes; o As diretrizes, objetivos, metas e ações para programas de duração continuada. • Os programas são classificados segundo a finalidade que pretendem atingir ou desenvolver. Podem ser programas temáticos (finalísticos) ou de gestão (apoio ou serviços de Estado). • Os elementos básicos para compor um programa, segundo doutrina majoritária, são: o código identificador; o denominação; o objetivos; o público-alvo; o indicadores; o órgão responsável pelo gerenciamento; o custo global do programa. 97 AUTOATIVIDADE Acadêmico, agora que terminamos o Tópico 2, vamos responder os questionamentos dispostos a seguir: 1 “O objetivo principal da maioria das entidades do setor público é prestar serviços à sociedade, em vez de obter lucros e gerar retorno financeiro aos investidores. Esses serviços incluem, por exemplo: programas e políticas de bem-estar, educação pública, segurança nacional e defesa nacional” (MCASP, 2017, p. 22). O Plano Plurianual representa o planejamento estratégico da Administração Pública em relação aos investimentos e ao fornecimento de serviços públicos. Quanto ao PPA e ao período que compreende sua vigência, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O PPA é o planejamento para 4 anos. b) ( ) O PPA é o planejamento para 5 anos. c) ( ) O PPA é o planejamento para 3 anos. d) ( ) O PPA é o planejamento para 2 anos. 2 Os programas do PPA podem ser classificados segundo sua finalidade. Com referência aos ensinamentos de Giacomoni (2012), os programas são classificados em finalísticos e de apoio às políticas e áreas especiais. Como são conhecidos estes programas? a) ( ) Programas temáticos e de gestão. b) ( ) Programas educacionais e gerenciais. c) ( ) Programas temáticos e alternativos. d) ( ) Programas gerenciais e alternativos. 3 O PPA é elaborado pelo Poder Executivo e encaminhado para análisee aprovação pelo Poder Legislativo. Quanto ao período de elaboração do PPA, a elaboração será realizada no primeiro ano de mandato do gestor. Quem tem a competência de fazer e enviar o projeto de lei do PPA? a) ( ) A elaboração e envio será de responsabilidade do Presidente da Câmara de Vereadores. b) ( ) A elaboração e envio será de responsabilidade do chefe do Poder Executivo de cada ente da Federação. c) ( ) A elaboração e envio será de responsabilidade do Presidente do STF – Supremo Tribunal Federal. d) ( ) A elaboração e envio será de responsabilidade do chefe do Poder Legislativo de cada ente da Federação. 98 4 “O período do PPA é o mesmo do mandato presidencial: quatro anos. Mas esses períodos não são coincidentes. O PPA fica em vigor do segundo ano do mandato atual até o primeiro ano do mandato seguinte, quando o governo prepara um novo PPA, para ser discutido e votado no Congresso” (CECCHERINI, 2018, p. 1). Se as eleições para governador serão em 2018 e a posse do eleito será em 2019, qual será a vigência do PPA que será elaborado pelo governador eleito em 2018? a) ( ) 2018 a 2021. b) ( ) 2020 a 2023. c) ( ) 2019 a 2022. d) ( ) 2018 a 2022. 99 TÓPICO 3 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A Lei de Diretrizes Orçamentárias é o segundo instrumento de planejamento orçamentário, nesta lei estarão evidenciados os resultados almejados pelo gestor público em relação à execução do orçamento público e as medidas que garantirão o equilíbrio fiscal. Já os anexos de prioridades e metas, riscos fiscais e metas fiscais, partes integrante da LDO, são os instrumentos para avaliar se a gestão pública realizou um planejamento adequado. A LDO atua como intermediadora entre os outros instrumentos orçamentários, pois, além de priorizar as metas do PPA, ela também determina a forma de apresentação da LOA. Tanto a Constituição Federal como a LRF elegeram esta peça orçamentária para determinar as regras que deverão ser obedecidas pela LOA, tanto na elaboração como, principalmente, na execução dos programas de governo. Essas regras preestabelecidas são os pilares para que seja alcançado o tão almejado equilíbrio das finanças públicas e a gestão responsável dos recursos públicos. A Lei de Diretrizes Orçamentárias define limites gerenciais que devem ser respeitados no cálculo das metas fiscais, por exemplo: os limites e condições para renúncia de receitas, a geração de novas despesas, a contratação de dívidas, a realização de operações de crédito e a concessão de garantias, a conservação e evolução do patrimônio público, a origem e a aplicação dos recursos de alienação de bens patrimoniais, a margem da expansão das despesas de caráter continuado, entre outros. Vamos proporcionar a você, acadêmico, neste tópico, o conhecimento da finalidade e do conceito de LDO, bem como apresentar suas competências e os objetivos dos anexos obrigatórios: o anexo de metas e prioridades, o anexo de riscos fiscais e o anexo de metas fiscais. Vamos aos estudos! 100 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 2 CONCEITO E FINALIDADE Os parâmetros que devem ser utilizados na elaboração do orçamento público anual, as prioridades que serão executadas, bem como as metas a serem atingidas são a razão da edição da Lei de Diretrizes Orçamentárias, consoante os ensinamentos de Alkmim (2009). Encontramos a fundamentação legal para a obrigatoriedade da Lei de Diretrizes Orçamentárias na Constituição Federal, no Art. 165, inciso II, e seu conteúdo básico no § 2º do mesmo artigo, verifique: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: [...] II - as diretrizes orçamentárias; [...] § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Já toda a regulamentação do seu conteúdo é discorrida na Lei de Responsabilidade Fiscal, no Art. 4º, como podemos observar na Unidade 1 deste livro de estudos. Nesse sentido, o estudioso Slomski (2010, p. 305) apresenta um resumo da finalidade da LDO: a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II do art. 4º, no art. 9º e no inciso II do § 1º do art. 31 da LRF; c) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; d) demais condições e exigências para transferência de recursos a entidades públicas e privadas. (grifo do autor) O principal objetivo da LDO é o de atuar como norteadora do orçamento do exercício subsequente (LOA), com base nos programas do PPA. Conforme os autores Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 102): “Constituindo parte integrante de um sistema orçamentário, a LDO deverá ter seu conteúdo compatível com o PPA (Plano Plurianual), que é o plano que antecede no processo de planejamento, e com a LOA (Lei Orçamentária Anual), que lhe sucede”. A respeito da vigência da LDO, é anual e o mesmo exercício financeiro do orçamento, já que a sua finalidade é dar o norte para a LOA, ressalta Viana (2009, p. 38) que: Diferentemente do que ocorre com o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias é elaborada apenas para um exercício financeiro, devendo se guiar pelas premissas que foram aprovadas pela lei do PPA. No que pese ser elaborada para um determinado exercício financeiro, seus efeitos sempre extrapolam um ano, tendo em vista que uma de suas funções é estabelecer nortes para elaboração da lei orçamentária, [...]. (grifos nossos) TÓPICO 3 | LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO 101 Sobre a essência ou finalidade da Lei de Diretrizes Orçamentárias, o autor Carvalho (2010, p. 40) esclarece que: “A LDO é o instrumento propugnado pela Constituição para fazer a ligação (transição) entre o PPA (planejamento estratégico) e as leis orçamentárias anuais”. A respeito dos prazos de envio e de devolução para sanção do projeto de lei para a LDO, orienta Silva (2011, p. 184) que: Até a entrada em vigor da Lei Complementar que regule o assunto, o projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias será encaminhado ao Poder Legislativo até oito meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. É importante que a sanção da LDO seja anterior ao envio do projeto da LOA, ressaltam os autores Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 102-103): “Fato importante é que o Projeto da LDO deverá ser encaminhado e aprovado antes da remessa da LOA, uma vez que o Orçamento-Programa Anual terá que ser elaborado com base na LDO já aprovada”. (grifos dos autores) A LDO é um instrumento de planejamento orçamentário, de iniciativa do chefe do Poder Executivo, que veio trazer ao sistema orçamentário público normas mais exigentes relacionadas às metas fiscais, para atingir equilíbrio nas contas públicas, e a prevenção de riscos fiscais para inibir a surpresa, sem reservas, na execução orçamentária (ALBUQUERQUE, 2008). DICAS Caro acadêmico: É importante que você pesquise e conheça exemplos de LDO´s. Novamente sugerimos que acesse a internet, nas páginas oficiais dos entes federativos, procure a Lei de Diretrizes Orçamentárias vigente e leia os dispositivos que regulam a LOA. Compare a LDO de um município com a de outro município e relacione as semelhanças e as diferenças. 102 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS As competências da Lei de Diretrizes Orçamentárias estão dispostas na Constituição Federal e também na Lei de Responsabilidade Fiscal, a principal competência é definir as prioridades que deverão ser escolhidas nas ações do PPA para serem executadasna LOA do próximo ano: Na LDO são definidas as diretrizes que orientarão a Administração na elaboração da proposta orçamentária e na sua execução, sendo selecionadas dentre as diversas ações governamentais constantes no PPA aquelas que serão prioritárias durante a elaboração da LOA e da execução, compatibilizando-as com os recursos públicos arrecadados, proporcionando assim condições para que as demandas específicas da sociedade sejam priorizadas (ANDRADE et al., 2008, p. 73). O estudioso Albuquerque (2008) destaca como competências para a LDO: a) realizar o papel intermediário entre o PPA e a LOA; b) a apresentação do anexo de prioridades, anexo de riscos fiscais e metas fiscais; c) a definição de formas de avaliação de resultados dos programas; d) a orientação para o orçamento; e) a definição da política de aplicação dos recursos das agências financeiras oficiais de fomento; f) a alteração na legislação tributária, entre outras. Buscamos no entendimento dos autores Luiz, Gomes e Salum (2005, p. 103) as explicações sobre a necessidade de incluir no projeto de lei da LDO as alterações tributárias e as que interfiram nas despesas de pessoal: A LDO, como se verifica, é um meio para se atingir um fim: o Orçamento-Programa Anual. Para tanto, caberá a ela definir tanto as normas para a elaboração da LOA quanto conter dispositivos sobre questões que, de alguma forma, se reflitam diretamente no Orçamento- Programa. Por isto, devem constar da LDO as alterações na legislação tributária da entidade, que se refletem na receita orçamentária, bem como a autorização para a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público [...]. (grifos nossos) As competências legais, dispostas para este instrumento de planejamento orçamentário, podem ser interpretadas como o conteúdo que deve ser apresentado no projeto de lei das diretrizes orçamentárias. No quadro a seguir, adaptamos um resumo dos conteúdos obrigatórios a serem apresentados no projeto que deverá ser encaminhado ao Poder Legislativo: 3 COMPETÊNCIAS DA LDO TÓPICO 3 | LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO 103 QUADRO 3 – RESUMO DA LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS Conteúdo da LDO CF/1988 LRF/2000 - definir as metas e prioridades da Administração Pública; - dar orientações básicas para a elaboração da lei orçamentária anual; - dispor sobre as alterações na legislação tributária; - estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento; - dispor sobre a política de pessoal e encargos sociais. - dispor sobre o equilíbrio entre receitas e despesas; - definir os critérios e formas de limitação de empenho; - estabelecer as normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; - estabelecer as condições e exigências para a transferência de recursos a entidades públicas e privadas; - definir o montante e forma de utilização da reserva de contingência; - dispor sobre a contratação excepcional de horas extras; - autorizar o ente a auxiliar o custeio de despesas atribuídas a outros entes da Federação; - definir critérios para o início de novos projetos; - definir as despesas consideradas irrelevantes; - definir as condições para a renúncia de receitas; - definir as prioridades para o próximo exercício; - definir o anexo de metas fiscais; - definir o anexo de riscos fiscais. FONTE: Adaptado de Andrade et al. (2008, p. 74) Corrobora com os mesmos ensinamentos em relação às matérias constitucionais para a LDO o autor Moraes (2011, p. 1794): A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. A LRF projetou maior relevância à LDO, que, além da definição das prioridades, da definição e avaliação das metas fiscais e da determinação de medidas para recompor os riscos fiscais, segundo Carvalho (2010, p. 41), deve dispor sobre: • Equilíbrio entre receitas e despesas; • Critérios e forma de limitação de empenho, a ser verificado no final de cada bimestre quando se verificar que a realização da receita poderá comprometer os resultados nominal e primário estabelecidos no anexo de metas fiscais e para reduzir a dívida ao limite estabelecido pelo Senado Federal; • Normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; • Demais condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e privadas. (grifos do autor) 104 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS Alerta Aguiar (2004) que a ausência, no projeto de lei da LDO, de anexos obrigatórios, como o de metas fiscais, permitirá a cobrança de multa pelo Tribunal de Contas ao chefe do Poder Executivo. IMPORTANT E Caro acadêmico: É importante que você pesquise e aprofunde seus conhecimentos a respeito do processo legislativo das leis orçamentárias e as possibilidades de emendas parlamentares. Sugerimos a leitura do Livro: Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. Fonte: MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011. 4 RISCOS FISCAIS, PRIORIDADES E METAS FISCAIS Até a constituição do Conselho de Gestão Fiscal, previsto no artigo 67, da LRF, não ser formada, a Secretaria do Tesouro Nacional – STN é o órgão da União competente para editar normas gerais de contabilidade pública e dos anexos que devem constar na LDO. Utilizando-se de portarias, a STN atualiza a forma de como demonstrar as informações obrigatórias dos anexos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (SOARES; MOSER, 2011). Em 14 de junho de 2018, com a publicação da Portaria Nº 389, a 9ª edição dos Manuais de Demonstrativos Fiscais – MDF vem orientar a elaboração dos anexos de riscos fiscais e metas fiscais para todos os entes da Federação a partir de 2015. Podemos observar que tanto o anexo de riscos fiscais como o anexo de metas fiscais são modelos previamente estabelecidos para uniformizar as informações no território nacional. Já para o anexo das prioridades e metas, utiliza-se do formato apresentado no PPA (ANDRADE et al., 2008). 4.1 ANEXO DE RISCOS FISCAIS Os riscos fiscais ficarão evidenciados no Anexo de Riscos Fiscais, o pesquisador Carvalho (2010, p. 41) comenta a respeito da prevenção de riscos: A LRF prevê ainda que a lei de diretrizes orçamentárias conterá Anexo de Riscos Fiscais, no qual serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem (grifo do autor). TÓPICO 3 | LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO 105 A Secretaria do Tesouro Nacional publicou o Manual dos Demonstrativos Fiscais – MDF, com o intuito de apresentar informações mínimas e uniformizadas para todos os entes federativos. Vejamos a conceituação de riscos fiscais apresentada no MDF (2018, p. 39), para a melhor compreensão do tema: Riscos Fiscais podem ser conceituados como a possibilidade da ocorrência de eventos que venham a impactar negativamente as contas públicas, eventos estes resultantes da realização das ações previstas no programa de trabalho para o exercício ou decorrentes das metas de resultados, correspondendo, assim, aos riscos provenientes das obrigações financeiras do governo. Os riscos fiscais podem ser classificados em dois grandes grupos: os riscos orçamentários e os riscos da dívida. Observe como oautor Carvalho (2010, p. 42- 43) os identifica ou diferencia: Os riscos orçamentários referem-se à possibilidade de as receitas previstas não se realizarem ou a necessidade de execução de despesas inicialmente não fixadas ou orçadas a menor durante a execução do orçamento. [...] Os riscos da dívida referem-se a possíveis ocorrências, externas à administração, que, caso sejam efetivadas, resultarão em aumento do serviço da dívida pública no ano de referência. (grifos do autor) Orienta Viana (2009) que este anexo tem como objetivo definir a forma de utilização e o montante da reserva de contingência, com base na receita corrente líquida, para o atendimento unicamente de passivos contingentes e riscos fiscais eventuais e imprevistos. O Anexo de Riscos Fiscais é obrigatório na composição da LDO, segundo a LRF, Art. 4º, § 3º. O MDF (2014, p. 36) ressalta a função deste anexo como instrumento orientador da LOA: “O Anexo de Riscos Fiscais deverá integrar o projeto de lei de diretrizes orçamentárias de cada ente da federação que orientará a elaboração do projeto de lei orçamentária anual”. 4.2 ANEXO DE PRIORIDADES E METAS A Constituição Federal, no Art. 166, § 2º e § 4º, determina que a Lei de Diretrizes Orçamentárias deve dispor das prioridades da administração e apresentar compatibilidade com os programas apresentados no Plano Plurianual: Art. 165. [...] § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal [...] § 4º Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional. (grifos nossos) 106 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS Buscamos nos conhecimentos do pesquisador Albuquerque (2008, p. 165) a explicação sobre o conteúdo do Anexo de Prioridades e sua finalidade: “A Lei de Diretrizes Orçamentárias definirá, em seu Anexo de Prioridades e Metas, as despesas que terão precedência na alocação dos recursos no projeto e na Lei Orçamentária do exercício subsequente, bem como em sua execução” (grifo nosso). A LDO é a lei intermediadora entre os instrumentos orçamentários, prioriza as metas do PPA e determina a forma de apresentação da LOA. A comprovação de que as despesas do orçamento anual são compatíveis com o PPA é necessária, deve ser elaborado um demonstrativo que comprove a observância da compatibilidade (SOARES; MOSER, 2011). Ressalta o autor Albuquerque (2008) que, neste anexo, não há necessidade de serem elencadas, ou apresentadas, como prioridade as despesas relativas aos programas sociais existentes e as de manutenção dos órgãos e entidades que integram os orçamentos fiscal e da seguridade social. Em sua justificativa, explica que a Constituição Federal já privilegia estas despesas em relação às determinadas no Anexo de Prioridades e Metas. 4.3 ANEXO DE METAS FISCAIS As metas fiscais foram normatizadas pela LRF e objetivam apresentar o planejamento da Administração Pública em relação ao equilíbrio fiscal nas contas públicas. São orientações do estudioso Andrade (2013, p. 32): “Entende-se como o relatório-base para o equilíbrio das contas públicas e a chave para a gestão responsável”. A Lei de Crimes Fiscais, Lei nº 10.028/2000, é bastante severa em relação à ausência deste anexo na LDO, no seu Art. 5º, II, § 1º, determina a aplicação de multa no valor de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoal. A abrangência necessária para a elaboração do anexo de metas fiscais, que compõe a LDO, é apresentada no MDF (2018, p. 47), verifique: O Anexo de Metas Fiscais abrangerá os órgãos da Administração Direta dos Poderes, e entidades da Administração Indireta, constituídas pelas autarquias, fundações, fundos especiais, e as empresas públicas e sociedades de economia mista que recebem recursos dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social (empresas estatais dependentes), inclusive sob a forma de subvenções para pagamento de pessoal e custeio, ou de auxílios para pagamento de despesas de capital, excluídas, neste caso, aquelas empresas lucrativas que recebam recursos para aumento de capital. (grifos dos autores) TÓPICO 3 | LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO 107 Viana (2009, p. 39) resume o conteúdo que deve ser apresentado no Anexo de metas fiscais como: [...] metas anuais relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário, montante da dívida pública, evolução do patrimônio líquido, origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos, avaliação da situação financeira e atuarial dos regimes geral de previdência social, próprio dos servidores e outros programas estatais de natureza atuarial e demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. Resumimos, no quadro a seguir, o objetivo individual de cada demonstrativo necessário na composição do Anexo de metas fiscais. Leia com atenção e analise o quão importantes são estes demonstrativos, para evidenciar o comprometimento do gestor público com o alcance de uma gestão responsável. QUADRO 4 – METAS FISCAIS QUE DEVEM COMPOR A LEI DE DIRETRIZES FISCAIS DEMONSTRATIVO NOME OBJETIVO SEGUNDO MDF (2018) 1 METAS ANUAIS O demonstrativo tem por objetivo, além de dar transparência sobre as metas fiscais relativas ao ente da Federação, dando base à avaliação da política fiscal estabelecida pelo chefe do Poder Executivo para o triênio, orientar a elaboração do projeto de lei orçamentária anual de forma a permitir o alcance das metas conforme planejado. 2 AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DAS METAS FISCAIS DO EXERCÍCIO ANTERIOR A finalidade desse demonstrativo é estabelecer uma comparação entre as metas fixadas e o resultado obtido no exercício financeiro do segundo ano anterior ao ano de referência da LDO, incluindo análise dos fatores determinantes para o alcance ou não dos valores estabelecidos como metas. 3 METAS FISCAIS ATUAIS COMPARADAS COM AS FIXADAS NOS TRÊS EXERCÍCIOS ANTERIORES O objetivo do Demonstrativo é dar transparência às informações sobre as metas fiscais dos três exercícios anteriores e dos três exercícios seguintes, para uma melhor avaliação da política fiscal do ente federativo, de forma a permitir a análise da política fiscal em uma linha do tempo, combinando execução passada e perspectivas futuras, validando a consistência dessas últimas. 4 EVOLUÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO O Demonstrativo da Evolução do Patrimônio Líquido deve trazer em conjunto uma análise dos valores apresentados, com as causas das variações do PL do ente da Federação, por exemplo, fatos que venham a causar desequilíbrio entre as variações ativas e passivas e outros que contribuam para o aumento ou a diminuição da situação líquida patrimonial. 108 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 5 ORIGEM E APLICAÇÃO DOS RECURSOS OBTIDOS COM A ALIENAÇÃO DE ATIVOS O objetivo do Demonstrativo é assegurar a transparência da forma como o ente utilizou os recursos obtidos com a alienação de ativos, com vistas à preservação do patrimônio público. 6 AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO FINANCEIRA E ATUARIAL DO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES A avaliação atuarial deve ser feita com base no Anexo 10 – Demonstrativo da Projeção Atuarial do Regime Próprio dos Servidores, publicado no RREO do último bimestre do segundo ano anterior ao ano de referência da LDO. Eventuais mudanças no cenário socioeconômico que ensejem revisão das variáveis consideradas nas projeções atuariais implicam a elaboração de novas projeções. 7 ESTIMATIVA E COMPENSAÇÃO DA RENÚNCIA DE RECEITA O Demonstrativo tem por objetivo dar transparência às renúncias de receita previstas no projeto de LDO, para uma melhor avaliação do seu impacto nas metas fiscais fixadas, além de orientara elaboração da LOA considerando o montante das renúncias fiscais concedidas. Apesar de esse demonstrativo ter por base legal o art. 4°, § 2°, inciso V, da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, ele visa a dar transparência também ao cumprimento dos requisitos exigidos para a concessão ou ampliação de benefícios de natureza tributária, dispostos no art. 14 da LRF. 8 MARGEM DE EXPANSÃO DAS DESPESAS OBRIGATÓRIAS DE CARÁTER CONTINUADO O objetivo do Demonstrativo é dar transparência às novas Despesas Obrigatórias de Caráter Continuado previstas, se estão cobertas por aumento permanente de receita e redução permanente de despesa, para avaliação do impacto nas metas fiscais estabelecidas pelo ente, além de orientar a elaboração da LOA considerando o montante das Despesas Obrigatórias de Caráter Continuado concedidas. FONTE: A autora Continuando com os ensinamentos do MDF (2018, p. 56), entendemos que todos os indicadores para conduzir a política fiscal do ente da Federação estão resumidos no Anexo de metas fiscais, observe: Representam os resultados a serem alcançados para variáveis fiscais visando atingir os objetivos desejados pelo ente da Federação quanto à trajetória de endividamento no médio prazo. Pelo princípio da gestão fiscal responsável, as metas representam a conexão entre o planejamento, a elaboração e a execução do orçamento. Esses parâmetros indicam os rumos da condução da política fiscal para os próximos exercícios e servem de indicadores para a promoção da limitação de empenho e de movimentação financeira. (grifos dos autores) TÓPICO 3 | LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO 109 Acadêmico, fica evidente a preocupação da LRF em demonstrar, de forma transparente, o acompanhamento das metas fiscais projetadas nos anos anteriores com os resultados obtidos. Perceba que o demonstrativo 2 e o demonstrativo 3 servem de base para avaliar o resultado do planejamento da Administração Pública (se obteve equilíbrio fiscal ou não). IMPORTANT E Acadêmico: Para complementar seus estudos é necessário que você pesquise no MDF (2018) como são elaborados os anexos de riscos fiscais e o de metas fiscais. Neste manual constam todas as informações necessárias para preencher os anexos de acordo com as informações de cada ente federativo. Disponível em: <https://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/663733/MDF+9% C2%AA%20Edi%C3%A7%C3%A3o/7cd89da1-944e-4fa3-b709-66221da36ab4>. Acesso em: 21 ago. 2018. 110 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O principal objetivo da LDO é o de atuar como norteadora do Orçamento do exercício subsequente (LOA), com base nos programas do PPA. • A Lei de Diretrizes Orçamentárias, segundo a Constituição Federal e a Lei de Responsabilidade Fiscal, deverá: o dispor sobre o equilíbrio entre receitas e despesas; o definir os critérios e formas de limitação de empenho; o definir as normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; o dispor sobre as condições e exigências para a transferência de recursos a entidades públicas e privadas; o definir o montante e forma de utilização da reserva de contingência; o dispor sobre a contratação excepcional de horas extras; o autorizar o ente a auxiliar o custeio de despesas atribuídas a outros entes da Federação; o definir critérios para o início de novos projetos; o definir as despesas consideradas irrelevantes; o definir as condições para a renúncia de receitas; o definir e apresentar as prioridades para o próximo exercício; o definir e apresentar o anexo de metas fiscais; o definir e apresentar o anexo de riscos fiscais. • São anexos obrigatórios na composição da LDO: anexo de prioridades e metas, o anexo de riscos fiscais e o anexo de metas fiscais. 111 Prezado acadêmico, leia o Tópico 3 e depois responda as questões a seguir: 1 A LDO, entre outras funções constitucionais e as trazidas pela LRF, norteia a elaboração do orçamento anual da Administração Pública. O prazo para enviar anualmente a LDO é 15 de abril de todos os anos. Você percebeu que a LDO deve ser entregue antes do PPA? Como fica a compatibilidade das três peças orçamentárias, já que a LDO deve buscar as prioridades anuais do PPA: a) ( ) No primeiro ano não terá compatibilidade entre as peças orçamentárias. b) ( ) No primeiro não terá compatibilidade entre as peças orçamentárias, porque o PPA deverá absorver as metas da LDO aprovada no ano anterior. c) ( ) No primeiro terá compatibilidade entre as peças orçamentárias, porque o PPA deverá absorver as metas da LDO aprovada no ano. d) ( ) No primeiro terá compatibilidade entre as peças orçamentárias, porque o PPA deverá absorver as metas da LOA aprovada no ano anterior. 2 A LDO atua como intermediadora entre os outros instrumentos orçamentários, pois, além de priorizar as metas do PPA, ela determina a forma de apresentação da LOA. Tanto a Constituição Federal como a LRF elegeram esta peça orçamentária para determinar as regras que deverão ser obedecidas pela LOA, tanto na elaboração como, principalmente, na execução dos programas de governo. Essas regras preestabelecidas são os pilares para que seja alcançado o tão almejado equilíbrio das finanças públicas e a gestão responsável dos recursos públicos. Com referência aos anexos obrigatórios a serem apresentados na LDO, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Prioridades fiscais, riscos fiscais e metas fiscais. b) ( ) Prioridades e metas, riscos contingentes e metas fiscais. c) ( ) Prioridades e metas, riscos fiscais e metas fiscais. d) ( ) Prioridades e metas, riscos fiscais e metas eólicas. 3 A Lei de Responsabilidade Fiscal, no §1º, do seu Art. 1º, esclarece que o planejamento é necessário para a gestão fiscal responsável e para o equilíbrio fiscal, confira: “A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar”. BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em: <http:// http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 14 ago. 2018. AUTOATIVIDADE 112 O Planejamento Orçamentário, no Brasil, se concretiza com a elaboração, aprovação e execução de três instrumentos legais interdependentes. O 1º tem vigência de quatro anos, é um planejamento de médio prazo, o 2º apresenta metas fiscais para o próximo exercício e mais dois subsequentes e, por fim, o 3º tem vigência de um ano. Assinale a alternativa que apresenta o nome correspondente destes instrumentos, na mesma ordem das características apresentadas: a) ( ) 1º Plano Plurianual, 2ª Lei Orçamentária Anual e 3ª Lei de Diretrizes Orçamentárias. b) ( ) 1º Plano Plurianual, 2ª Lei de Diretrizes Orçamentárias e 3ª Lei Orçamentária Anual. c) ( ) 1ª Lei Orçamentária Anual, 2º Plano Plurianual e 3ª Lei de Diretrizes Orçamentárias. d) ( ) 1ª Lei de Diretrizes Orçamentárias, 2º Plano Plurianual e 3ª Lei Orçamentária Anual. e) ( ) 1ª Lei de Diretrizes Orçamentárias, 2ª Lei Orçamentária Anual e 3º Plano Plurianual. 4 A LDO é um instrumento de planejamento orçamentário, de iniciativa do chefe do Poder Executivo, que veio trazer ao sistema orçamentário público normas mais exigentes relacionadas às metas fiscais, para atingir equilíbrio nas contas públicas, e a prevenção de riscos fiscais para inibir a surpresa, sem reservas, na execução orçamentária (ALBUQUERQUE, 2008). Quanto às competências da LDO, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Determinar regras para aumento da remuneraçãode pessoal e limitação de despesas. b) ( ) Determinar regras para limitação de despesas e transição de chefe do Poder Executivo. c) ( ) Determinar regras para aumento da remuneração de pessoal e transição de chefe do Poder Executivo. d) ( ) Determinar regras para alterações tributárias, contratação de operação de crédito e especificar como deverão ser as transições de chefes do Poder Legislativo. 113 TÓPICO 4 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Todo o processo de planejamento orçamentário governamental se concretiza na execução do terceiro e último instrumento de planejamento: a Lei Orçamentária Anual. Nesta fase é que são arrecadadas as receitas públicas e podem ser autorizadas as despesas públicas consignadas no orçamento. A LOA, ao obedecer aos critérios de elaboração impostos pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, terá como objetivo disponibilizar orçamento para as obras, investimentos e despesas para a manutenção das atividades priorizadas na LDO e estabelecidas no PPA. Todos os recursos planejados para desenvolver as políticas públicas que atendem às demandas da sociedade estão autorizados na Lei Orçamentária Anual, que também é conhecida como lei dos meios ou orçamento público anual. A transparência e o controle dos recursos públicos são princípios que sustentam a responsabilidade na gestão fiscal. A execução da LOA proporciona que a administração pública elabore e publique o Relatório de Gestão Fiscal e o Relatório Resumido da Execução Orçamentária, tornando suas ações transparentes e permitindo que o controle interno e externo fiscalize as ações públicas. Caro acadêmico, abordaremos, no Tópico 4, as características e a conceituação da Lei Orçamentária Anual, as normas que são aplicadas no orçamento público anual, os tipos de orçamento que compõem a LOA, bem como os créditos do orçamento e as etapas do ciclo orçamentário. Vamos, juntos, conhecer a famosa Lei de Meios ou LOA! 114 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS A Lei Orçamentária Anual é o instrumento de planejamento orçamentário que contém a apresentação da previsão das receitas do próximo ano, bem como promoverá a fixação e liberação das despesas para as ações definidas ao ano seguinte. Orienta Andrade (2013, p. 42) que a LOA: “[...] também chamada Lei de Meios, é, pois, uma lei especial que contém a discriminação da receita e da despesa pública, de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do governo [...]”. Ressalta o autor Albuquerque (2008, p. 189) que a LOA não é apenas utilizada para controle de gastos, e sim um planejamento das ações a serem realizadas: “Com a evolução dos conhecimentos e técnicas de planejamento e de gestão das ações de política pública, o orçamento deixou de ser exclusivo sistema de controle do poder político e passou a adquirir caráter de instrumento inerente ao planejamento”. O Poder Executivo elabora o orçamento a partir de estimativas de quanto se espera arrecadar e quais ações do PPA (despesas) se pretende realizar. Na LOA os atos programados no PPA, e destacados como prioridade na LDO, são quantificados em dotações ou despesas, com o objetivo de serem autorizadas pelo Poder Legislativo e realizadas na execução do orçamento (LIMA; CASTRO, 2012). A LOA é uma lei que abrange a totalidade dos Poderes, órgãos, administração direta e indireta de determinado ente da Federação (União, Estados, DF e Municípios). Resume a finalidade da LOA o estudioso Carvalho (2010, p. 46): “Tem por finalidade a concretização dos objetivos e metas estabelecidos no Plano Plurianual. É o que podemos chamar de orçamento por excelência ou orçamento propriamente dito”. Vejamos o entendimento de Alkmim (2009, p. 742) em relação ao conceito e às características da Lei Orçamentária Anual: A lei orçamentária anual compreende o orçamento propriamente dito e contém, na verdade, três espécies de orçamento: o orçamento fiscal, o orçamento dos investimentos e o orçamento da seguridade social. Qualquer projeto ou programa para ser iniciado depende de sua inclusão na lei orçamentária anual. Corrobora neste mesmo sentido, sobre a integração do orçamento fiscal, de investimentos e da seguridade social na Lei Orçamentária Anual, o autor Moraes (2011, p. 1794): A lei orçamentária anual compreenderá o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; o orçamento de investimentos das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta e indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. (grifos nossos) TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 115 O orçamento anual é um instrumento que pode ser alterado, com anuência do Poder Legislativo, para adequar o planejado às condições econômicas e sociais do exercício em execução, verifique a interpretação do pesquisador Carvalho (2010, p. 46): É um processo contínuo, dinâmico e flexível, que traduz em termos financeiros para determinado período – um ano – os planos e programas de trabalho do governo. É o cumprimento ano a ano das etapas do PPA, em consonância com a LDO e a LRF. O prazo de encaminhamento do projeto de lei da LOA para a apreciação e votação do Poder Legislativo é 31 de agosto ou quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro. Ressaltam, também, os autores Luiz, Gomes e Salum (2005) que, segundo a legislação, o projeto deverá ser devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. O pesquisador Moraes (2011, p. 1794) ressalta o princípio da exclusividade para a Lei Orçamentária Anual: “[...] não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e a contratação de operação de crédito, [...]”. Verifique que a vedação de dispositivos estranhos dá-se para evitar o oportunismo de gestores mal-intencionados, que se utilizariam do processo célere de tramitação da LOA. É importante destacar que o orçamento público é fundamental para a análise do desempenho dos gestores, ensina a NBCTSPEC (2016, p. 6): “Devido à importância do orçamento público aprovado, as informações que possibilitam aos usuários compararem a execução orçamentária com o orçamento previsto facilitam a análise quanto ao desempenho das entidades do setor público”. Continuando com as orientações do NBCTSPEC (2016, p. 6), através da comparação da execução do orçamento pode-se identificar o desempenho, tanto legal como gerencial, das finanças públicas: “A elaboração de demonstrativo que apresenta e compara a execução do orçamento com o orçamento previsto é o mecanismo normalmente utilizado para demonstrar a conformidade com os requisitos legais relativos às finanças públicas”. 2.1 NORMAS LEGAIS APLICÁVEIS A Lei Orçamentária Anual segue várias legislações que regulamentam seu ciclo orçamentário, por exemplo: a Constituição Federal, a Lei nº 4.320/64, a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras normas aplicáveis apenas aos Estados e aos Municípios (Constituições Estaduais e Leis Orgânicas). Na Constituição Federal, as matérias orçamentárias encontram-se contidas no Art. 163 ao Art. 169. É importante ressaltar que a Lei nº 4.320/94 foi recepcionada pela nossa Carta Magna e continuou a regulamentar a contabilidade pública, bem como a lei orçamentária dos entes federativos (CARVALHO, 2010). 116 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS Em termos de legislação pertinente ao orçamento anual, que está em vigor, os estudiosos Andrade et al. (2008, p. 145) citam a Lei nº 4.320/64 como importante norma balizadora. Leiaatentamente: A Lei nº 4.320/1964, norma que regulamentou a Contabilidade Pública brasileira, institucionalizou a classificação funcional-programática, inseriu princípios orçamentários, definiu os conceitos e as classificações das receitas e despesas públicas, dispôs sobre o conteúdo da proposta orçamentária e da Lei Orçamentária Anual (LOA), introduziu, portanto, as regras básicas sobre o planejamento orçamentário. Em conformidade com o autor Viana (2009, p. 42), os gestores devem observar as Portarias interministeriais nº 42 e, também, nº 163: [...] A Lei Orçamentária Anual deverá ser elaborada considerando os anexos da Lei 4.320/64, bem como regulamentações posteriores, em especial quanto à classificação da receita e da despesa, conforme Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, Portaria Interministerial STN/ SOF nº 163, de 04 de maio de 2001 e a Portaria Conjunta nº 3, de 14 de outubro de 2008. A Lei de Responsabilidade Fiscal, nos Artigos 5º ao 7º, apresenta as normas aplicáveis à Lei Orçamentária Anual. Este tema foi abordado na Unidade 1, quando apresentamos as regras da LRF e o planejamento orçamentário. Vejamos as orientações dos autores Andrade et al. (2008, p. 145) para complementar o assunto: A LRF também trouxe diversos dispositivos que tratam da elaboração da LOA, destacando a necessidade de comprovação da compatibilidade de seu projeto com os demais instrumentos de planejamento, definindo regras sobre a previsão da receita e fixação da despesa, introduzindo normas para a inclusão de novos projetos, revigorando alguns princípios orçamentários, exigindo a inclusão dos orçamentos das empresas estatais dependentes na LOA, dentre outros assuntos. O autor Albuquerque (2008) ressalta que o Ministério do Orçamento e Gestão, o Ministério do Planejamento e o Ministério da Fazenda editam normas regulamentares, através de portarias ou instruções, sobre questões orçamentárias que devem ser seguidas, no que couber, pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. 2.2 TIPOS DE ORÇAMENTO QUE COMPÕEM A LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL Destacam os pesquisadores Piscitelli e Timbó (2012, p. 79) que antes de 1987 o projeto de lei da Lei Orçamentária Anual apenas era elaborado com o destaque de um orçamento, o fiscal: [...] A lei orçamentária anual compõe-se dos orçamentos fiscal – que chegou a ser o único formalmente submetido ao Congresso (e que, inclusive, até 1987, sequer incluía as operações de crédito) -, de investimento das estatais (empresas sob o controle da União) e o da seguridade social (das áreas de previdência, saúde e assistência social). TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 117 Observe que a LOA é um documento único, um projeto de lei que abrangerá todos os órgãos do ente federativo, mas na composição deste projeto que virará a lei do orçamento estarão destacados de forma individual e depois consolidados os demonstrativos relacionados às informações fiscais, às de investimentos e às de seguridade social. Esta normatização é encontrada na Constituição Federal, no Art. 165, § 5º, incisos I, II e III. 2.2.1 Orçamento fiscal O orçamento fiscal é o mais conhecido, onde contempla as receitas e as despesas destinadas para manter a maioria dos serviços públicos, segundo o autor Slomski (2010, p. 306), compreende: “[...] orçamento fiscal referente aos Poderes da União, dos Estados e dos Municípios, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público” (grifo do autor). Na interpretação dos termos “orçamento” e “fiscal”, podemos ser levados a interpretar este tipo de orçamento de forma equivocada e não conseguimos nos aproximar ao entendimento dos constituintes, quando da elaboração da Constituição Federal. O termo orçamento é a previsão das receitas e das despesas em um determinado período, já o termo fiscal está relacionado ao fisco, ao poder de tributar, porém este orçamento não contém apenas as receitas tributárias, contém todos os tipos de receitas (originárias, ordinárias, derivadas) (ANDRADE et al. 2008). Continuando com os ensinamentos dos pesquisadores Andrade et al. (2008, p. 147), encontramos explicações sobre o conteúdo do orçamento fiscal: O orçamento fiscal, portanto, abrange todas as receitas e todas as despesas projetadas para o exercício financeiro a que se refere a LOA, referentes aos Poderes Legislativo e Executivo, seus órgãos, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, excetuando- se apenas as receitas e despesas das entidades que compõem o orçamento de investimentos e da seguridade social. Na mesma linha de conceituação, os professores Araújo e Arruda (2007, p. 78) ensinam que: O orçamento fiscal representa o plano de ação fiscal implementado pelo setor governamental para um determinado exercício financeiro. Conforme podemos inferir da Constituição Federal, esse orçamento detalha as receitas que poderão ser arrecadadas pelo Estado, pelo exercício do poder fiscalizador, entre outras, assim como suas respectivas utilizações em programas governamentais. (grifo dos autores) Acadêmico, note que este orçamento é o que envolve a maioria das despesas do governo, em todos os entes federativos, porque contempla a grande força arrecadadora do Estado e em contrapartida é de onde são oferecidos os diversos serviços que dão suporte ao funcionamento da Administração Pública. “[...] Por sua abrangência e dimensão, o orçamento fiscal constitui-se no principal dos três orçamentos [...] há evidente exagero na amplitude concedida pela Constituição Federal ao conteúdo do orçamento fiscal” (GIACOMONI, 2012, p. 230). 118 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS 2.2.2 Orçamento de investimentos O orçamento de investimentos deve consolidar as informações sobre os investimentos do governo nas empresas estatais, são aportes direcionados ao capital social e ao destino dessas integrações, e segundo o autor Slomski (2010, p. 306), compreende: “[...] orçamento de investimento das empresas em que a União, os Estados e os Municípios, direta ou indiretamente, detenham a maioria do capital social com direito a voto” (grifo do autor). Os autores Araújo e Arruda (2007, p. 78) conceituam o orçamento de investimentos e ressaltam a necessidade de implementar legislação apropriada para este orçamento: O orçamento de investimento, conforme a Constituição Federal, corresponde à programação de investimentos de todas as empresas de que a União, o Estado ou o Município participem direta ou indiretamente, detendo a maioria do capital social com direito a voto. Em função da ausência de critérios específicos na Lei nº 4.320/64, o orçamento de investimentos carece de normas sobre a elaboração, execução, prestação de contas e avaliação. (grifo dos autores) Em relação à composição do orçamento de investimentos, orienta o estudioso Silva (2011, p. 185): O orçamento de investimentos das empresas em que a administração pública detenha direta ou indiretamente a maioria do capital social com direito a voto detalhará as fontes de recursos e a programação de seus investimentos. Para cumprir o mandamento constitucional, o orçamento de investimentos de cada empresa deverá indicar os objetivos e metas compatibilizadas com o plano plurianual e as diretrizes orçamentárias e, ainda, discriminar as receitas e despesas operacionais para evidenciar o déficit ou superávit resultante. O dispositivo constitucional que versa sobre o orçamento foi regulamentado pela LRF, onde determina que as estatais dependentes devem ser excluídas do orçamento de investimentos e, por consequência, compor o orçamento fiscal. Apenas as estatais independentes comporão o orçamento de investimentos. Observe a afirmação de Albuquerque (2008, p. 205): “Em relação ao Orçamento de investimento, nele somente constarão as empresas estatais independentes. [...] que devem seguiras regras orçamentárias estabelecidas na Constituição e na Lei nº 4.320/64 apenas no que se refere às despesas de investimentos”. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 119 NOTA Caro acadêmico, você sabe distinguir empresa estatal dependente das independentes? Pesquise, é importante você dominar estes conceitos e saber diferenciá-las. 2.2.3 Orçamento da seguridade social O orçamento da seguridade social reúne as informações básicas que envolvem todas as entidades vinculadas à administração direta e indireta, bem como os fundos instituídos e mantidos nas áreas de saúde, assistência social e previdência social. Orienta Carvalho (2010, p. 52): A Seguridade Social [...] compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Quanto ao orçamento da seguridade social é importante mencionar que envolve três grandes áreas: • Saúde; • Previdência; • Assistência Social. No mesmo sentido são os ensinamentos dos autores Lima e Castro (2012, p. 22) sobre este orçamento: “[...] o orçamento da seguridade social, que abrange todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da Administração Direta e Administração Indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público” (grifo dos autores). A abrangência das informações de seguridade social, que os constituintes idealizaram, está expressa no Art. 194, da Constituição Federal: “[...] A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Apesar de o orçamento da seguridade social estar consolidado na LOA, é importante destacar, segundo os autores Andrade et al. (2008), que seus recursos vinculados não poderão ser utilizados para atender despesas diversas das finalidades para as quais foram arrecadados (saúde, assistência ou previdência). Exemplifica que normalmente estes recursos são provenientes do Sistema Único de Saúde, do Fundo Nacional de Assistência Social, do Regime Geral de Previdência Social e dos Regimes Próprios de Previdência Social, entre outros. 120 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS DICAS Caro acadêmico: Parte dos recursos arrecadados nas loterias oficiais (Mega-Sena, Quina etc.) compõe as receitas do Instituto Nacional da Previdência Social – INSS. Pesquise a respeito, confirme esta informação, saiba qual é o percentual destinado à Previdência Social. Você pode acessar este endereço eletrônico: <http://www1.caixa.gov.br/loterias/loterias/ megasena/distribuicao.asp>. 3 CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS Caro acadêmico, em relação aos créditos orçamentários vamos abordar a sua conceituação, identificar os créditos iniciais e os adicionais, bem como as fontes para implementá-los no orçamento público. 3.1 CONCEITO Ao aprovar a lei do orçamento são aprovados os créditos do orçamento, estes créditos estão vinculados às ações governamentais onde indicam a instituição que os utilizarão, a função e subfunção das despesas, o programa de governo e qual a natureza da despesa, conforme orientações de Andrade (2013, p. 122): “São definidos pela combinação da classificação institucional, funcional, programática e econômica, tendo um valor definido para a execução orçamentária anual, na forma adotada pelo planejamento”. Orienta Giacomoni (2012, p. 303) que os créditos do orçamento são resultado da programação das ações governamentais: Considerando que é a programação de trabalho constante do orçamento que condiciona a execução financeira da instituição pública, como providência preliminar são preparados registros, em âmbito analítico, que possibilitam a classificação e o lançamento de cada despesa nos títulos orçamentários apropriados. (grifo nosso) Os créditos orçamentários são os recursos disponíveis para a realização das despesas e são lançados conforme a LOA, no primeiro dia do exercício financeiro, segundo orientações de Andrade (2013, p. 122): “São autorizações abertas que designam o montante de recursos disponíveis numa dotação, consignada na própria lei do orçamento. Seus lançamentos ocorrem, normalmente, no início do exercício”. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 121 Os créditos orçamentários são os originários da aprovação da LOA, seguindo os ensinamentos do autor Silva (2011, p. 212): Os recursos para execução dos programas de trabalho do governo são especificados através dos Créditos Orçamentários aprovados pelo Poder Legislativo no orçamento anual. Tais créditos são discriminados pelos órgãos e unidades orçamentárias segundo a classificação institucional [...]. (grifo do autor) Orienta o estudioso Giacomoni (2012, p. 303) a diferença entre os créditos orçamentários e as dotações orçamentárias, expressões normalmente confusas para o leitor: A lei orçamentária é organizada na forma de créditos orçamentários, aos quais estão consignadas dotações. Em consequência da imprecisão com que são utilizadas na legislação, é comum o emprego das expressões crédito orçamentário e dotação como sinônimos. Na realidade, o crédito orçamentário é constituído pelo conjunto de categorias classificatórias e contas que especificam as ações e operações autorizadas pela lei orçamentária. [...] Por seu turno, dotação é o montante de recursos financeiros com que conta o crédito orçamentário. (grifos do autor) Analisando os ensinamentos do autor Giacomoni (2012), ao iniciar o exercício financeiro registram-se os créditos do orçamento, com as classificações necessárias para reconhecer quem vai desenvolver as ações programadas, e no mesmo instante são registradas as dotações para que fique evidenciado o acompanhamento da evolução dos saldos das dotações e, por consequência, identificar o desempenho da programação do orçamento. Os créditos do orçamento são regulamentados pela Lei nº 4.320/64, no Art. 40 ao Art. 46, e dividem-se em créditos orçamentários e créditos adicionais. 3.2 CRÉDITOS ADICIONAIS Os créditos adicionais são apropriados durante a execução orçamentária, através de autorizações, para suprir dotações não relacionadas ou insuficientes para a realização das despesas necessárias, de acordo com o estudioso Silva (2011, p. 212): “Os créditos adicionais são autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na lei do orçamento”. A fundamentação legal para os créditos adicionais, seus tipos possíveis destes créditos, está expressa na Lei nº 4.320/64, no Art. 40 e Art. 41, leia atentamente: Art. 40. São créditos adicionais as autorizações de despesa não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento. Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em: I - suplementares, os destinados a reforço de dotação orçamentária; II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica; 122 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública. Destaca, resumidamente, o autor Albuquerque (2008, p. 207) quais situações podem alterar os créditos do orçamento e justifica os créditos adicionais: O orçamento anual é produto de um processo de planejamento que incorpora as intenções e as prioridades da coletividade. Entretanto, é possível que durante a execução do orçamento ocorram situações, fatos novos ou mesmo problemas não previstos na fase de elaboração. Assim, existe a necessidade de mecanismos que venham a corrigir estas falhas de previsão e retifiquem o orçamento. Estes mecanismos são denominados Créditos Adicionais. Os créditos adicionais podem ser classificados em suplementares, especiais ou extraordinários, de acordo com a natureza da necessidade de suplementação, dotações insuficientes, não autorizadas e até pela sua urgência (MACHADOJR; REIS, 2011). FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS ADICIONAIS CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS CRÉDITOS ESPECIAIS CRÉDITOS SUPLEMENTARES CRÉDITOS ADICIONAIS FONTE: A autora IMPORTANT E Acadêmico: É importante que você compreenda a diferença de créditos adicionais e os institutos dos remanejamentos, transposições e transferências. Sugerimos a leitura do livro A Lei 4.320 comentada: e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Fonte: MACHADO JR, J. Teixeira; REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4.320 comentada: e a Lei de Responsabilidade Fiscal. 33. ed. Rio de Janeiro: IBAM, 2011. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 123 3.2.1 Créditos suplementares Nas situações em que os créditos orçamentários e, também, os créditos especiais que foram abertos forem insuficientes para atender às despesas programadas, a legislação permite a abertura de créditos orçamentários suplementares, segundo Machado Jr. e Reis (2011). Os créditos suplementares são utilizados para complementar ou aumentar, dentro do exercício financeiro, os créditos orçamentários insuficientes, é o que esclarece Andrade (2013, p. 122): São créditos que visam suplementar, complementar ou reforçar despesas insuficientemente consignadas no orçamento, autorizadas por lei e abertos por decreto do chefe do Poder Executivo, com obrigatória indicação de recursos que viabilizam o crédito, conforme o § 1º do art. 43 da Lei nº 4.320/64. A Lei Orçamentária pode, desde já, prever um limite em percentual ou valor. Sua vigência limita-se ao exercício financeiro. Nos ensinamentos de Piscitelli e Timbó (2012, p. 49), encontramos exemplos aplicáveis aos créditos suplementares: “[...] destinados a reforço de dotação orçamentária (caso típico dos acréscimos de despesas de pessoal, por subestimativa da previsão, por aumento dos vencimentos etc.)”. (grifo nosso) A autorização para os créditos suplementares deverá ser através de lei, pode ser a própria LOA, já a abertura deverá ser por decreto do chefe do Poder Executivo, sendo necessário informar quais recursos serão utilizados para esses créditos adicionais (SLOMSKI, 2010). Nota-se que os créditos suplementares podem ser frequentes nas épocas em que a economia nacional não estiver controlada, a inflação ou a valorização de determinados produtos ou serviços podem interferir diretamente nas projeções das dotações de despesas públicas e torná-las insuficientes. 3.2.2 Créditos especiais Quando for necessária a abertura de novos programas, ou a criação de despesas não contempladas na Lei Orçamentária Anual, são utilizados os créditos especiais para regularizar a situação orçamentária, segundo o estudioso Andrade (2013, p. 123): São créditos abertos durante o exercício para amparar novos programas e despesas que não figuram no orçamento, ou seja, que não possuam dotações orçamentárias específicas. São autorizadas por lei específica e abertos por decreto do chefe do Poder Executivo e exigem indicação de recursos conforme o § 1º do art. 43 da Lei nº 4.320/64. 124 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS Os créditos especiais são utilizados, conforme orientação dos autores Piscitelli e Timbó (2012, p. 49), nos seguintes casos, por exemplo: [...] os especiais, destinados a despesas para as quais não haja dotação específica (o que geralmente ocorre, por exemplo, em relação às despesas decorrentes da criação de órgãos, ou o que se torna, enfim, necessário sempre que não tenha havido previsão para determinada categoria ou grupo de despesa, de qualquer atividade ou projeto de uma unidade); Diferente dos créditos suplementares, a vigência dos créditos especiais pode ser superior ao exercício financeiro. “Sua vigência é para o exercício financeiro e pode-se estender até o exercício seguinte, se for aberto nos últimos quatro meses do exercício, desde que sejam reabertos por decreto do Executivo e até os limites dos saldos residuais” (ANDRADE, 2013, p. 123). 3.2.3 Créditos extraordinários Nas situações em que o poder público necessita agir prontamente para atender despesas imprevisíveis, urgentes e, por este motivo, não serem previstas no orçamento, foram instituídos os créditos extraordinários, vejam a explicação de Lima e Castro (2012, p. 26): [...] créditos extraordinários: destinam-se a atender a despesas urgentes e imprevisíveis, como em caso de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Caracterizam-se pela imprevisibilidade do fato, que requer ação urgente do poder público, e por não decorrerem de planejamento e, pois, de orçamento. (grifo dos autores) Esse tipo de crédito adicional não é comum nos orçamentos públicos, devido à sua especificidade (despesas decorrentes de guerra, calamidade pública etc.). A Lei nº 4.320/64, no Art. 44, esclarece qual o instrumento necessário para autorizar e abrir os créditos extraordinários: “Art. 44. Os créditos extraordinários serão abertos por decreto do Poder Executivo, que deles dará imediato conhecimento ao Poder Legislativo”. 3.2.4 Fontes dos créditos adicionais Para a abertura de créditos adicionais, exceto os extraordinários, é necessário justificar e identificar quais recursos serão utilizados para que o orçamento continue apresentando equilíbrio. A Lei nº 4.320/64 apresenta, no art. 43, §1º ao § 3º e seus incisos, o ordenamento legal e as diversas fontes de recursos que poderão ser utilizadas: Art. 43. A abertura dos créditos suplementares e especiais depende da existência de recursos disponíveis para ocorrer a despesa e será precedida de exposição justificativa. § 1º Consideram-se recursos para o fim deste artigo, desde que não comprometidos: TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 125 I - o superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior II - os provenientes de excesso de arrecadação III - os resultantes de anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais, autorizados em Lei IV - o produto de operações de crédito autorizadas, em forma que juridicamente possibilite ao Poder Executivo realizá-las. § 2º Entende-se por superávit financeiro a diferença positiva entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, conjugando-se, ainda, os saldos dos créditos adicionais transferidos e as operações de crédito a eles vinculadas. § 3º Entende-se por excesso de arrecadação, para os fins deste artigo, o saldo positivo das diferenças acumuladas mês a mês entre a arrecadação prevista e a realizada, considerando-se, ainda, a tendência do exercício. § 4° Para o fim de apurar os recursos utilizáveis, provenientes de excesso de arrecadação, deduzir-se-á a importância dos créditos extraordinários abertos no exercício. Já os créditos extraordinários, pela característica da urgência e emergência, não necessitarão de apresentação da fonte de recursos, dispensam a indicação de recursos. No quadro a seguir reunimos as principais características das modalidades de créditos adicionais para que você possa visualizar e compreender de forma simplificada: QUADRO 5 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS MODALIDADES DE CRÉDITOS ADICIONAIS Espécie Suplementares Especiais Extraordinários Finalidade Reforço da categoria de programação existente na LOA. Atender a categoria de programação não contemplada no orçamento. Atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Autorização Prévia, podendo ser incluída na própria lei de orçamento ou lei especial. Prévia em lei especial. Independente. Forma de abertura Decreto do Presidente da República até o limite estabelecido em lei. Decreto do Presidente da República até o limite estabelecido em lei. Por meio de Medida Provisória. Recursos Indicação obrigatória. Indicação obrigatória. Independente de indicação. Valor/ Limite Obrigatório, indicado na lei de autorização e no decreto de abertura. Obrigatório, indicado na lei de autorização e no decreto de abertura. Obrigatório, indicado na Medida Provisória. VigênciaNo exercício em que foi aberto. No exercício em que foi aberto. No exercício em que foi aberto. Prorrogação Jamais permitida. Só para o exercício seguinte, se autorizado em um dos quatro últimos meses do exercício. Só para o exercício seguinte, se autorizado em um dos quatro últimos meses do exercício. FONTE: Lima e Castro (2012, p. 27) 126 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS IMPORTANT E Caro acadêmico: É fundamental que você conheça e entenda quais os recursos que poderão servir de fontes para os créditos adicionais. Sugerimos a leitura do livro: Contabilidade aplicada: uma abordagem da administração financeira pública. Fonte: PISCITELLI, Roberto Bocaccio; TIMBÓ, Maria Zulene Farias. Contabilidade aplicada: uma abordagem da administração financeira pública. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 4 CICLO ORÇAMENTÁRIO E SUAS ETAPAS A Lei Orçamentária Anual é construída e executada seguindo várias etapas distintas, que nomeamos de ciclo orçamentário ou processo orçamentário. As etapas mais comuns são denominadas: elaboração, estudo e aprovação, execução e avaliação (SLOMSKI, 2010). Concordam com o mesmo conceito os estudiosos Soares e Moser (2011, p. 77): “O ciclo orçamentário, ou sistema orçamentário, é definido como um processo de caráter contínuo e simultâneo, por meio do qual se elabora, aprova, executa e avalia a programação dos gastos do setor público nos aspectos físico e financeiro”. O ciclo orçamentário é um conjunto de etapas que se iniciam antes da execução do orçamento, os estudiosos divergem tanto da denominação das etapas quanto da quantidade de etapas. Vejamos o resultado dos estudos do autor Silva (2011, p. 225) em relação ao tema: O ciclo orçamentário corresponde ao período em que se processam as atividades peculiares do processo orçamentário, definindo-se como uma série de etapas que se repetem em períodos prefixados, segundo os quais os orçamentos são aprovados, votados, executados, os resultados, avaliados, e as contas, finalmente, aprovadas. Já para o pesquisador Giacomoni (2012) são quatro etapas, denominadas em: elaboração da proposta orçamentária, discussão, votação e aprovação da lei orçamentária, execução orçamentária, controle de avaliação da execução orçamentária. Observe com atenção a sequência das etapas que representam o ciclo orçamentário da Lei Orçamentária Anual, resumida na figura a seguir: TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 127 FIGURA 5 – RESUMO DO CICLO ORÇAMENTÁRIO DA LOA CICLO ORÇAMENTÁRIO 3 EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO 2 ESTUDOS E APROVAÇÃO 4 AVALIAÇÃO E CONTROLE 1 ELABORAÇÃO FONTE: A autora É importante visualizar, conforme o autor Giacomoni (2012), que o processo orçamentário ou ciclo orçamentário não é autossuficiente ou independente. Ressalta o mesmo estudioso que a LOA é o resultado de definições constantes do PPA que foram priorizadas pela LDO, então, caso ocorram alterações nos outros instrumentos de planejamento orçamentário, o ciclo orçamentário poderá ter interferências. Acadêmico, note que, apesar de não haver consenso na denominação das etapas do processo orçamentário, elas representam atividades que devem ser desempenhadas em um período maior que o exercício financeiro, inicial no ano anterior à execução e que vai até o término do exercício financeiro da execução orçamentária. 4.1 ELABORAÇÃO A elaboração da proposta orçamentária processa-se em passos determinados, desde a proposta orçamentária inicial, proveniente de cada unidade gestora, até a aprovação do projeto de lei do orçamento, que será encaminhado ao Poder Legislativo, o qual poderá emendá-lo antes da aprovação (SOARES; MOSER, 2011). Quanto à duração que a fase de elaboração compreende, orientam Piscitelli e Timbó (2012, p. 45) que: “O processo de elaboração e discussão da proposta orçamentária desenvolve-se praticamente durante todo o ano, a fim de permitir que o orçamento seja executado a partir do início do exercício financeiro seguinte”. 128 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS A elaboração do projeto de lei da LOA inicia com as propostas individuais de cada unidade executora, que são consolidadas e encaminhadas a um grupo técnico ou setor de planejamento que, por sua vez, faz os ajustes finais do projeto (inclui mensagem, tabelas, anexos) e o envia para o setor que encaminha ao Poder Legislativo. (LIMA; CASTRO, 2012) A fase da elaboração do ciclo orçamentário, segundo o autor Slomski (2010, p. 308), compreende: Fase de competência do Poder Executivo, em que, com base na Lei de Diretrizes Orçamentárias, são fixados os objetivos para o período, levando-se em conta as despesas correntes já existentes e aquelas a serem criadas. São feitos, também, estudos para a definição do montante de recursos orçamentários necessários para fazer frente às despesas de capital, com base no plano plurianual. Deve, nessa fase, ser formalizada a lei, de acordo com os anexos consoantes da Lei nº 4.320/64. É na LDO, aprovada para dar as diretrizes à Lei Orçamentária, que estão descritos os anexos e documentos necessários para acompanhar a proposta orçamentária ao Legislativo de cada ente federativo. Destaca, resumidamente, o autor Giacomoni (2012, p. 234) como a proposta orçamentária deve estar organizada, segundo a Lei nº 4.320/64, para enviar ao Poder Legislativo: I – Mensagem, que conterá: exposição circunstanciada da situação econômico-financeira, documentada com demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos financeiros exigíveis; exposição e justificação da política econômico-financeira do Governo; justificação da receita e da despesa, particularmente no tocante ao orçamento de capital. II – Projeto de Lei do Orçamento. III – Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesas, constarão em colunas distintas e para fins de comparação [...]. IV – Especificação dos programas especiais de trabalho custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decompostas em estimativas de custo das obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social e administrativa. V- Descrição sucinta das principais finalidades de cada unidade administrativa, com indicação da respectiva legislação. Acadêmico, quando apresentamos o planejamento segundo a LRF, na Unidade 1, percebemos que esta lei, no intuito de tornar a gestão pública eficiente, com responsabilidade, criou regras relacionadas ao planejamento, transparência, controle, entre outros. Na etapa da elaboração do ciclo orçamentário foi introduzido o procedimento, obrigatório, da realização de audiência pública, fundamentado na LRF, Art. 48, Inciso I, verifique: “Art. 48 [...]. I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos [...]”. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 129 4.2 ESTUDO E APROVAÇÃO O projeto de lei da LOA deve ser encaminhado para a apreciação do Poder Legislativo até quatro meses (31 de agosto) antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o término da sessão legislativa (22 de dezembro) (CARVALHO, 2010). Nesta fase do ciclo orçamentário, segundo o autor Slomski (2010, p. 308), são executadas as seguintes tarefas pelo Poder Legislativo: “[...] Fase de competência do Poder Legislativo, em que os representantes do povo, vereadores, deputados, senadores, aprovam e/ou emendam”. Os pesquisadores Soares e Moser (2011, p. 80) destacam como exemplo de aprovação a Lei Orçamentária da União, confira a seguir: “Após ser discutida e aprovada no Congresso Nacional, sancionada pelo Presidente da República, a proposta orçamentária é transformada em Lei (Lei Orçamentária Anual – LOA), e será utilizada por toda administração direta e indireta”. A etapa dos estudos e aprovação da LOA envolveo recebimento da proposta orçamentária (feita pelo Poder Executivo), a análise pelas diversas comissões do Poder Legislativo, a apreciação da população, a inserção de emendas, a votação da proposta, a devolução da proposta para o chefe do Executivo sancionar ou vetar, é o que esclarecem os pesquisadores Andrade et al. (2008, p. 145): [...] o Poder Executivo deve elaborar uma boa proposta orçamentária, a qual deverá ser devidamente apreciada e aprovada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo ou promulgada pelos Poderes Executivo ou Legislativo, transformando-se então na LOA, a qual conterá os orçamentos que viabilizarão a manutenção e a implementação das ações governamentais durante um exercício financeiro. Segundo Lima e Castro (2012, p. 10), nesta fase, os procedimentos devem compreender: Ao chegar ao Poder Legislativo, a proposta orçamentária é analisada pela Comissão de Orçamento e Finanças, onde recebe emendas parlamentares. Depois de aprovada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo chefe do Poder Executivo, a proposta orçamentária é transformada na Lei Orçamentária Anual (LOA). Nesta etapa, também fundamentada na LRF, Art. 48, Inciso I, fica evidente a necessidade de o Poder Legislativo incentivar a população para que participe de audiências públicas que deverão ser realizadas obrigatoriamente antes do início das votações. 130 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS DICAS Acadêmico: Você já participou de uma audiência pública para discutir a LOA do seu município? Participe desses eventos e exerça a cidadania. Normalmente os convites, para as audiências, estão nas páginas oficiais dos municípios, na internet. 4.3 EXECUÇÃO A execução é a fase do ciclo orçamentário, que, segundo o autor Slomski (2010, p. 309), cabe a todos os órgãos do governo, verifique: “[...] Fase em que é realizado aquilo que fora previsto nos projetos e atividades da referida Lei do Orçamento”. A arrecadação dos tributos e a autorização da despesa, durante o exercício financeiro, são as principais características da execução da LOA, é o que esclarecem Lima e Castro (2012, p. 11): A execução orçamentária inicia-se no primeiro dia de janeiro e termina em 31 de dezembro, coincidindo com o ano civil. Consiste na arrecadação de receitas de impostos, taxas, contribuição de melhoria, transferências [...] e na aplicação desses recursos nos projetos e atividades aprovadas na Lei Orçamentária Anual. Nesta etapa, onde são arrecadados os tributos e realizadas as despesas para que as ações do governo possam se concretizar, também são realizados, através da contabilidade pública, os registros das atividades orçamentárias. O resultado desses registros são os diversos relatórios produzidos para o acompanhamento, tanto do orçamento, quanto da evolução do patrimônio público e dos relatórios de controle. É importante destacar que na fase da execução orçamentária a LRF trouxe, através do Art. 48 e Art. 48ª, a obrigatoriedade da publicação do Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal, bem como a necessidade de apresentar em tempo real, na internet, o desenrolar das atividades de arrecadação e autorização de despesas. Sobre o início da execução orçamentária, alertam os pesquisadores Soares e Moser (2011, p. 81) que, segundo a LRF, é necessário fazer e publicar a programação financeira, que são metas de arrecadação bimestral e o cronograma do seu desembolso: “A execução orçamentária deve ser precedida de uma programação financeira de desembolso, que terá como objetivo alcançar a máxima racionalidade possível para a melhor aplicação dos recursos públicos”. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 131 Os estudiosos Piscitelli e Timbó (2012, p. 650) reforçam o mesmo ensinamento: “Após a publicação da Lei Orçamentária, o Poder Executivo dispõe de 30 dias para estabelecer a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso, de forma a cumprir as metas estabelecidas”. 4.4 CONTROLE E AVALIAÇÃO “A avaliação trata da organização, critérios e trabalhos que são utilizados para medir o nível dos objetivos fixados no orçamento e as modificações que ocorreram durante a sua execução” (SOARES; MOSER, 2011, p. 82). Ensinam os estudiosos Lima e Castro (2012, p. 11) que o controle da execução orçamentária é atividade exercida por dois segmentos, o controle interno e o controle externo, concomitantemente, tendo como objeto a verificação da legalidade, a fidelidade e o cumprimento dos programas: O controle da execução orçamentária e financeira se dará interna e externamente, devendo ser efetuados os controles sobre os seguintes aspectos (arts. 75 a 82 da Lei nº 4.320/64): • legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da receita ou a realização da despesa, o surgimento ou a extinção de direitos e obrigações; • fidelidade funcional dos agentes da administração, responsáveis por bens e valores públicos; • cumprimento do programa de trabalho expresso em termos monetários e em termos de realização de obras e prestação de serviços. (grifo nosso) A fase da avaliação do ciclo orçamentário, segundo o autor Slomski (2010, p. 309), é muitas vezes esquecida ou ignorada pelo Poder Executivo: • Essa fase, apesar de prevista, raramente é de fato realizada, pois, normalmente, ao se encerrar o exercício financeiro, o Executivo toma as iniciativas para iniciar a execução do novo orçamento e, assim, poucos recursos são destinados à avaliação do orçamento encerrado, naquilo que se refere à sua execução. Tanto no controle como na avaliação da execução orçamentária, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi a legislação que trouxe mudanças, necessárias, que visam à gestão responsável e o equilíbrio fiscal. Dentre as iniciativas, da LRF, citamos a divulgação periódica de relatórios, como RGF e RREO, e a divulgação em tempo real dos registros da execução orçamentária como grandes aliados para provocar e facilitar o controle social das finanças públicas e, em contrapartida, a avaliação social do desempenho dos gestores. 132 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS LEITURA COMPLEMENTAR PARA ENTENDER O ORÇAMENTO: PLANO PLURIANUAL (PPA) – BLOCO 2 O Plano Plurianual é uma espécie de carta de voo do governo federal. O chamado PPA sempre reúne as propostas do candidato que venceu a última eleição. O plano inclui as grandes obras que serão feitas num período de quatro anos – o tempo do mandato presidencial. Saiba mais sobre o assunto no segundo capítulo da série “Para entender o orçamento”. Você já imaginou como seria viver sem energia elétrica? Ter luz em casa não é uma coisa tão simples quanto parece. É preciso gerar essa energia e fazer com que ela chegue à casa das pessoas. E, para isso, o governo precisa fazer grandes investimentos, como a construção de estações de energia, linhas de transmissão e usinas hidrelétricas. Para acompanharmos a rede de energia elétrica, saímos de casa, passando pelos cabos de energia na rua, subestações, linhas de transmissão, até chegarmos a uma usina hidrelétrica. A construção de uma hidrelétrica é uma obra extremamente complexa e cara, que exige, antes de tudo, planejamento. Para grandes investimentos como esse, o governo elabora, a cada quatro anos, um plano, que é discutido e aprovado como lei pelo Congresso Nacional. É o chamado Plano Plurianual, também conhecido como PPA. É o PPA que define, para um período de quatro anos, as grandes prioridades nacionais e regionais, com metas para cada área de atuação: saúde, educação, saneamento, transportes e energia, entre outras. IMPORTANT E No texto a seguir, vamos conhecer uma reportagem especial sobre o Plano Plurianual - PPA. Esta reportagem faz parte de um programa de educação financeira da Câmara dos Deputados que se chama Para entender o Orçamento. Você pode compreender por que é importante a participação popular e o controle social do orçamento. Leia com atenção, é importantepara a sua melhor compreensão dos conteúdos apresentados na Unidade 2. TÓPICO 4 | LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA 133 Podemos dizer que o PPA é a grande lei de planejamento do país. É ele que faz o vínculo entre o plano estratégico do governo e os orçamentos de cada ano. O especialista em orçamento Marcos Mognatti diz que o PPA é uma espécie de plano de voo do governo: “O PPA, a gente pode dizer que ele é aquilo que saiu das urnas, o plano vencedor das urnas. Porque quando o governo vai fazer o seu PPA, ele traz para o planejamento aquelas propostas que foram aprovadas pelas urnas. Então, a ideia é a de que esse plano de voo sempre vai se basear naquela opção dada pelo eleitor”. O técnico em informática Alex Eufrásio, morador da Zona Leste de São Paulo, vai além: entender o orçamento ajuda até a votar de forma mais consciente: “Todo esse dinheiro já tem uma direção. A diferença entre um governante e outro é como ele vai fazer essa distribuição, como ele vai fazer para que tal área receba o investimento destinado a ela ou mais”. Alex começou a ler sobre o orçamento por conta própria, acompanhando o programa “Orçamento Fácil” do site do Senado Federal. E, agora, pesquisa tudo sobre o assunto na internet. Mas não são apenas grandes obras que estão no PPA. O governo também inclui no plano os gastos necessários para garantir a oferta permanente de determinados serviços públicos. Por exemplo, no caso da agricultura, o PPA prevê tanto obras para construir armazéns para estoque quanto financiamento e garantia de compra da produção para distribuir cestas básicas para a população carente. E é importante saber que nem todos os investimentos públicos do país estão no PPA do governo federal. Há ações que ficam a cargo de estados e municípios. Cada um deles tem suas próprias leis orçamentárias, inclusive seus próprios PPAs. Isso porque cada esfera de governo – federal, estadual ou municipal – tem suas próprias responsabilidades. Por exemplo, entre as ações que cabem aos municípios, estão: calçamento de ruas, transporte urbano, coleta de lixo etc. Os estados, por sua vez, são responsáveis pelo combate aos crimes comuns, reprimidos pela Polícia Militar e investigados pela Polícia Civil. Também formulam e executam políticas em áreas de competência comum com os governos federal e municipais, como educação, saúde e desenvolvimento urbano. Agora, vamos saber como é elaborado, a cada quatro anos, o Plano Plurianual, também conhecido como PPA. 134 UNIDADE 2 | O ORÇAMENTO PÚBLICO E SUAS CARACTERÍSTICAS Os diversos ministérios e órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário planejam suas propostas a partir de demandas que recebem de estados e municípios. Por exemplo, os investimentos em transportes surgem das necessidades da população, que pede providências das autoridades municipais. Se a solução for muito cara, como a construção de metrô, por exemplo, o município repassa o pedido para os governos estadual e federal. O Ministério do Planejamento, então, reúne todas as propostas dos ministérios e órgãos públicos, as organiza e envia para a Casa Civil da Presidência da República, na forma de um anteprojeto de lei. Só então o presidente da República envia para o Congresso Nacional o projeto do Plano Plurianual, o PPA. Isso deve acontecer até 31 de agosto do primeiro ano do seu mandato. No Congresso, o projeto do PPA é encaminhado para a Comissão Mista de Orçamento, onde é discutido e alterado pelos parlamentares. Segue, então, para o Plenário do Congresso, onde é votado até o dia 22 de dezembro. A sociedade pode participar desse processo por meio de sugestões aos deputados e senadores e também de audiências públicas. Depois de aprovado, o projeto volta ao Executivo para sanção do presidente e publicação como lei. O período do PPA é o mesmo do mandato presidencial: quatro anos. Mas esses períodos não são coincidentes. O PPA fica em vigor do segundo ano do mandato atual até o primeiro ano do mandato seguinte, quando o governo prepara um novo PPA, para ser discutido e votado no Congresso. Marcos Mognatti explica que caberá à LDO, Lei de Diretrizes Orçamentárias, fazer a ponte entre o PPA e o orçamento: “O PPA vem trazendo um planejamento para quatro exercícios. Sendo um instrumento de governo, mas para atender ao Estado, ele vai avançar sobre o primeiro ano do mandato seguinte. Então, a LDO, além de organizar a Lei Orçamentária, ela precisa dizer o quanto será feito, em cada exercício, das metas definidas no Plano Plurianual. Então, enquanto o PPA tem uma abrangência de quatro anos, uma visão estratégica de quatro anos, a LDO vai precisar – a cada ano – adaptar e determinar qual vai ser a meta e a prioridade para cada exercício financeiro.” E, a cada ano, é feita uma avaliação do PPA. Esses relatórios de avaliação ficam disponíveis para consulta na Internet. [...] FONTE: CECCHERINI, Mauro. Para entender o orçamento: Plano Plurianual (PPA). Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM- ESPECIAL/474598-PARA-ENTENDER-O-ORCAMENTO-A-IMPORTANCIA-BLOCO-1.html> Acesso em: 22 ago. 2018. 135 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A Lei Orçamentária Anual é o instrumento de planejamento orçamentário que contém a apresentação da previsão das receitas do próximo ano, bem como promoverá a fixação e liberação das despesas para as ações definidas ao ano seguinte. • A Lei Orçamentária Anual segue várias legislações que regulamentam seu ciclo orçamentário, por exemplo: a Constituição Federal, a Lei nº 4.320/64, a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras normas aplicáveis apenas aos Estados e aos Municípios (Constituições Estaduais e Leis Orgânicas). • Ao aprovar a lei do orçamento são aprovados os créditos do orçamento, estes créditos estão vinculados às ações governamentais onde indicam a instituição que os utilizarão, a função e subfunção das despesas, o programa de governo e qual a natureza da despesa. • Os créditos do orçamento são regulamentados pela Lei nº 4.320/64, no Art. 40 ao Art. 46, e dividem-se em créditos orçamentários e créditos adicionais. • Os créditos adicionais podem ser: créditos suplementares, créditos especiais e créditos extraordinários. • A Lei Orçamentária Anual é construída e executada através de várias etapas distintas, que nomeamos de ciclo orçamentário ou processo orçamentário. • O ciclo orçamentário é formado pelas seguintes etapas: elaboração, estudo e aprovação, execução e avaliação. 136 Prezado acadêmico, para que possamos avaliar a compreensão dos conceitos a que tivemos acesso até o momento, o convido a responder os questionamentos dispostos a seguir: 1 A Lei Orçamentária Anual é construída e executada seguindo várias etapas distintas, que nomeamos de ciclo orçamentário ou processo orçamentário. Estas etapas acontecem durante o planejamento e a execução da LOA. Identifique as etapas corretamente: a) ( ) elaboração, estudo e aprovação, execução e avaliação. b) ( ) aprovação, execução e avaliação. c) ( ) elaboração, estudo e aprovação e avaliação. d) ( ) elaboração, estudo e execução. 2 Observe que a LOA é um documento único, um projeto de lei que abrangerá todos os órgãos do ente federativo, mas na composição deste projeto que virará a lei do orçamento estará destacado de forma individual, e depois consolidado, o conjunto de três orçamentos. Quanto à denominação desses orçamentos que devem compor a LOA, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Orçamento de investimentos, orçamento plurianual e orçamento fiscal. b) ( ) Orçamento de investimentos, orçamento da seguridade social e plurianual. c) ( ) Orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento plurianual. d) ( ) Orçamento de investimentos, orçamento da seguridade social e orçamento fiscal. 3 Os créditos do orçamento podem ser alterados para adequar o planejamento à execução, através de créditos adicionais. Os créditos adicionais são apropriadosdurante a execução orçamentária, através de autorizações, para suprir dotações não relacionadas ou insuficientes para a realização das despesas necessárias (SILVA, 2011). Com referência aos tipos de créditos adicionais, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Créditos suplementares, complementares e extraordinários. b) ( ) Créditos suplementares, especiais e extraordinários. c) ( ) Créditos suplementares, especiais e complementares. d) ( ) Créditos complementares, especiais e extraordinários. AUTOATIVIDADE 137 UNIDADE 3 AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o conceito da receita e da despesa sob o enfoque orçamentário; • diferenciar as receitas e despesas orçamentárias das extraorçamentárias; • conhecer e identificar a classificação das receitas e das despesas que compõem o orçamento público; • identificar e distinguir as etapas das receitas e das despesas orçamentárias; • proporcionar a identificação do controle e acompanhamento das finanças públicas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en- contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS TÓPICO 3 – ACOMPANHAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA 138 139 TÓPICO 1 RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Nós estamos em contato com serviços públicos ou políticas públicas todos os dias de nossas vidas, melhor dizendo, fazem parte do nosso dia a dia. Também utilizamos os bens de uso coletivo e muitas vezes nos deslocamos até os bens de uso especial do setor público. Todos esses bens e serviços são financiados pelas receitas públicas e adquiridos através do processo de despesas ou investimentos públicos. A gestão dos recursos públicos nos remete ao controle e à aplicação, com eficiência e eficácia, dos diversos componentes do patrimônio público. Dentre estes componentes patrimoniais, encontramos as finanças públicas, que podem ser representadas pelos ingressos e saídas de recursos dos cofres públicos. Para o sucesso na gestão das finanças públicas é necessário, entre outros, conhecer as receitas e despesas públicas, identificar quais pertencem ao orçamento público e quais são meramente transitórias, isto é, que pertencem a outras pessoas físicas ou jurídicas. É através das despesas públicas autorizadas na Lei Orçamentária Anual que os sonhos dos investimentos em rodovias, pontes, saúde, educação, entre outros, são realizados. As despesas públicas, assim como as receitas públicas, se realizam respeitando determinadas fases, que devem ser autorizadas por gestores competentes e comprometidos com o bem público. Identificar e distinguir as etapas das receitas e despesas públicas, sob o enfoque orçamentário, é primordial para que o gestor público administre, de forma eficiente, o ciclo das entradas e saídas das fontes de recursos financiadoras da máquina pública e de seus investimentos. Caro acadêmico, neste tópico apresentaremos o tema “receitas e despesas públicas”; apresentaremos, também, o conceito dessas receitas e despesas, identificaremos as diversas etapas, estágios, que são evidenciadas no processo orçamentário do setor público. Seja bem-vindo, iniciamos nossa caminhada. Aos estudos! UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 140 2 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS E EXTRAORÇAMENTÁRIAS No setor público, como no privado, existe um fluxo de recebimentos ou ingressos de recursos aos cofres públicos. A totalidade destas entradas de recursos representa a receita pública, que por sua vez divide-se em receitas orçamentárias e receitas extraorçamentárias (SLOMSKI, 2010). Devemos lembrar que, entre os recursos que as entidades do setor público auferem, existem os que são meramente transitórios (devem ser devolvidos) e os que se incorporam de forma definitiva ao patrimônio público (SILVA, 2011). Na visão dos autores Lima e Castro (2012, p. 54), a definição das receitas públicas é compreendida por: Do ponto de vista orçamentário, as receitas públicas são classificadas em receitas orçamentárias (ingressos orçamentários pertencentes ao ente público, arrecadados exclusivamente para aplicações em programas e ações governamentais) e receitas extraorçamentárias (demais ingressos, que têm como destinação atender a exigências contratuais pactuadas para posterior devolução. (grifo do autor) A definição de receitas públicas, segundo Albuquerque (2008, p. 219), é: “As receitas públicas podem ser assim genericamente definidas como qualquer recurso obtido durante um dado período financeiro, mediante o qual o sujeito público pode satisfazer as despesas públicas que estão a seu cargo”. O MCASP (2017, p. 35) orienta, a todos os órgãos públicos ou entidades que necessitam atender, integral ou parcial, a contabilidade pública, quais as receitas que podem transitar nos cofres públicos: O orçamento é um importante instrumento de planejamento de qualquer entidade, seja pública ou privada, e representa o fluxo previsto de ingressos e de aplicações de recursos em determinado período. [...] Em sentido amplo, os ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado denominam-se receitas públicas, registradas como receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Em sentido restrito, chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias. (grifos nossos) Entretanto, o estudioso Silva (2011) explica que o termo receitas públicas deve ser aplicado, apenas, às receitas que servirão de suporte ao pagamento de despesas ou encargos para a manutenção das atividades governamentais, as que pertencem ao orçamento público. Para a melhor compreensão dos ingressos de receitas e a sua destinação, apresentamos o quadro a seguir: TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 141 QUADRO 1 – ESTRUTURA DOS RECEBIMENTOS DO ESTADO INGRESSOS QUE SERÃO RESTITUÍDOS NO FUTURO SIMPLES ENTRADAS DE CAIXA RECEITA PÚBLICA EFETIVA TODOS OS RECEBIMENTOS RECEITAS (ENTRADA) INGRESSOS QUE NÃO SERÃO RESTITUÍDOS FONTE: Silva (2011, p. 227) A responsabilidade do gestor público está inserida em todo o processo representado pelo quadro acima. Vale ressaltar que administrar de forma correta os recursos que deverão ser restituídos no futuro também é um dever destinado ao responsável pela gestão desse dinheiro. Dentre os vários conceitos de receitas públicas, Albuquerque (2008, p. 219) orienta que existem diferenças, também, sobre o enfoque patrimonial e orçamentário, o qual foi introduzido segundo interpretações e padronizações internacionais: O Manual de Procedimentos das Receitas Públicas [...] apresenta-se com conceitos de receita estabelecidos nas Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NICSP. Neste sentido, diferencia o conceito de receita sob o enfoque patrimonial (contábil) do conceito orçamentário. A diferenciação é importante, pois a NICSP requer a utilização do regime de competência para o registro de receitas e despesas e, por consequência, de ativos e passivos. Podemos observar que não há consenso na definição de receitas públicas. Na visão de alguns autores, as receitas públicas representam todos os ingressos aos cofres públicos, porém outros autores apresentados entendem que as receitas públicas são apenas as não passíveis de devolução. É importante que você conheça as receitas, tanto orçamentárias quanto as receitas extraorçamentárias, para compreender seus fluxos de entradas e saídas aos cofres públicos. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO142 2.1 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS As receitas orçamentárias são as verdadeiras receitas públicas, porque sua destinação é para o financiamento das necessidades do Estado. Na concepção de Silva (2011, p. 227): “Para fazer face a suas necessidades, o Estado dispõe de recursos ou rendas que lhe são entregues através da contribuição da coletividade”. A fim de realçar a importância da distinção dos ingressos financeiros meramente transitórios das receitas públicas, Albuquerque (2008, p. 217) ressalta que: “Nem todo ingresso de recursos nos cofres públicos representa receita orçamentária” (grifo do autor). Dentre os vários conceitos de “Receita Orçamentária”, encontramos no MCASP (2017, p. 36) o ordenamento para a sua interpretação de maneira adequada: São disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício orçamentário e constituem elemento novo para o patrimônio público. Instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, as receitas orçamentárias são fontes de recursos utilizadas pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. (grifos nossos) Corroboram estes ensinamentos Lima e Castro (2012), ao orientarem que necessariamente são recursos arrecadados em um espaço de tempo, em que se executa o orçamento, e sua utilização refere-se ao cumprimento de programas e ações governamentais do ente público arrecadador. No entendimento de Albuquerque (2008, p. 220), pode-se concluir sobre o termo utilizado para identificar estes recursos, como: “[...] Receita Orçamentária se reserva àqueles ingressos que se relacionam com o resultado orçamentário da entidade. [...] é todo o ingresso que pode ser utilizado para financiar uma despesa orçamentária”. Os autores Araújo e Arruda (2007, p. 92) exemplificam algumas receitas como orçamentárias, conforme o que segue: “A receita orçamentária representa valores constantes do orçamento, tais como tributos, rendas, transferências, alienações, amortização de empréstimos concedidos e operações de crédito superiores a 12 meses [...]” (grifo dos autores). Caro acadêmico, percebemos que as receitas orçamentárias financiam as políticas públicas, já que são ingressos que compõem o orçamento público e devem ser geridas com responsabilidade para seu melhor aproveitamento. Partiremos agora para o entendimento dos ingressos extraorçamentários, e na sequência, vamos compreender as etapas ou estágios da receita orçamentária. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 143 DICAS Caro acadêmico! Amplie seus conhecimentos, para isso leia mais sobre as receitas públicas no livro: Contabilidade pública na gestão municipal. FONTE: ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade aplicada na gestão municipal. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 2.2 RECEITAS EXTRAORÇAMENTÁRIAS O demonstrativo que representa adequadamente a situação patrimonial de um órgão público é o Balanço Patrimonial. Neste contexto, Slomski (2010) orienta que toda a receita extraorçamentária é representada como um passivo financeiro (obrigações com exigibilidade circulante) no Balanço Patrimonial. Assim que as receitas extraorçamentárias ingressam aos cofres públicos, cria-se a obrigação de restituir, a qual deve ser evidenciada patrimonialmente, ao contrário da maioria das receitas orçamentárias. Encontramos no MCASP (2017, p. 35) a definição das receitas extraorçamentárias, também conhecidas como ingressos extraorçamentários: Ingressos extraorçamentários são recursos financeiros de caráter temporário, do qual o Estado é mero agente depositário. Sua devolução não se sujeita a autorização legislativa, portanto, não integram a Lei Orçamentária Anual (LOA). Por serem constituídos por ativos e passivos exigíveis, os ingressos extraorçamentários em geral não têm reflexos no Patrimônio Líquido da Entidade. (grifos nossos) Araújo e Arruda (2007, p. 93) explicam que as receitas extraorçamentárias são todas as que ingressam aos cofres públicos e não pertencem ao ente arrecadador, observe: “[...] os valores provenientes de toda e qualquer arrecadação que não figure no orçamento do Estado. Portanto, não pertence ao Estado”. No transcorrer das atividades públicas, conforme MCASP (2017), podem ocorrer vários exemplos de ingressos financeiros que deverão ser repassados aos verdadeiros proprietários: • Os depósitos em caução: representam depósitos para garantir determinados acordos ou cumprimentos de contratos específicos em licitações, etc.; • As operações de crédito por antecipação da receita orçamentária: são também conhecidas como ARO, são exceções às demais operações de crédito e classificam-se como ingressos extraorçamentários para não serem registradas com duplicidade; • A emissão de moeda: é o ato emanado pelo Banco Central do Brasil – BCB. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 144 Os chamados Depósitos de Diversas Origens – DDO também são considerados receitas extraorçamentárias, já que não são previstos no orçamento, porém ocorrem no dia a dia porque são fatos financeiros decorrentes da gestão pública. Estes valores entram nos cofres públicos, normalmente são depositados em contas específicas, posteriormente serão, pela decisão administrativa ou sentença judicial, devolvidos (ALBUQUERQUE, 2008). Os ingressos meramente compensatórios ou restituíveis são realizados em duas fases, que compreendem: as retenções dos recursos nas contas públicas e o desembolso ou restituição ao verdadeiro proprietário. É necessário ressaltar que tanto o recebimento quanto a devolução independem de autorização legislativa, porque não pertencem ao orçamento público (SILVA, 2011). Relacionamos no próximo quadro vários exemplos de receitas orçamentárias e extraorçamentárias para que você, acadêmico, possa compará- las e diferenciá-las adequadamente: QUADRO 2 – DIFERENÇAS E SIMILARIDADES ENTRE RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS E EXTRAORÇAMENTÁRIAS Receitas orçamentárias Receitas extraorçamentárias A arrecadação e a amortização dependem de autorização legislativa. Essa autorização é na LOA ou em lei especial. A arrecadação e o pagamento independem de autorização legislativa. Porém, as ARO´s são receitas extraorçamentárias e dependem de autorização para a sua arrecadação. A autorização pode ser na LOA ou em lei especial. As ARO´s sempre dependem de autorização legislativa para a sua arrecadação. Porém, para o pagamento não há necessidade. Os valores previstos e recebidos devem constar nos balanços orçamentário e financeiro. Todos os valores recebidos devem constar no balanço financeiro. Não passam pelo Balanço Orçamentário. As receitas de operações de crédito (empréstimos a longo prazo) geram contrapartida no passivo não circulante do balanço patrimonial, mas não perdem a característica de receita orçamentária. Os depósitos de terceiros (receita extraorçamentária) são classificados no balanço patrimonial como uma obrigação do ente público. Se esses depósitos não forem reclamados em tempo hábil, serão convertidos em receita orçamentária e incorporados definitivamente ao patrimônio público. As receitas correntes causam modificação no patrimônio (saldo patrimonial ou patrimônio líquido). São receitas transitórias e, em princípio, não causam impacto no saldo patrimonial, mas aumentam as disponibilidades financeiras. Aumentam as disponibilidades financeiras, agregando definitivamente ao patrimônio público. Também aumentam as disponibilidades financeiras, mas não agregam definitivamente ao patrimônio público. Podem vir a integrar. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 145 A arrecadação é constante, ou seja, ocorre durante todo o exercício financeiro. A arrecadação é esporádica e os valores são geralmente baixos. É receita na essência do conceito. São apenas ingressos de recursos e não estão inseridas no conceito “específico” de receita, mas são registradas contabilmente comoreceitas. As operações de crédito que não sejam ARO são receitas orçamentárias – receitas de capital. As operações de crédito por antecipação da receita orçamentária – AROs são receitas extraorçamentárias, denominadas de débitos de tesouraria. FONTE: Carvalho (2010, p. 294-295) IMPORTANT E Caro acadêmico. Amplie seus conhecimentos, para isso acesse o link disponível em: <https://www.bcb. gov.br/htms/sobre/bcuniversidade/cartilhaBancoCentral.pdf> e leia o conteúdo que traz orientações a respeito da educação financeira e o processo da emissão e fabricação de moeda no Brasil. 3 ETAPAS DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA Para cada passo identificado que a receita orçamentária percorre ao ingressar nos cofres públicos, dá-se o nome de estágios ou etapas. As nomenclaturas utilizadas para identificar estas etapas são: previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento (ALBUQUERQUE, 2008). O autor Silva (2011) ensina que, para atender à responsabilidade fiscal na gestão das receitas públicas, o administrador deve instituir, prever e prover a efetiva arrecadação das receitas orçamentárias. Ao explanar sobre os estágios da receita orçamentária, Lima e Castro (2012, p. 56) orientam que é necessário, para gerir adequadamente o ingresso dos recursos, conhecer e distinguir as etapas: Considera-se estágio da receita orçamentária cada passo identificado que evidencia o comportamento da receita e facilita o conhecimento e a gestão dos ingressos de recursos. São estágios da receita orçamentária a previsão, o lançamento, a arrecadação e o recolhimento [...]. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 146 Para o MCASP (2017), as etapas da receita orçamentária ocorrem em duas fases específicas do orçamento público: o Planejamento e a Execução. Utilize o quadro abaixo para localizar as etapas da receita orçamentária relacionadas na fase do planejamento e as relacionadas com a fase da execução do orçamento público: QUADRO 3 – ETAPAS DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA Etapas da Receita Orçamentária Planejamento Previsão Lançamento Execução Arrecadação Recolhimento FONTE: Os autores, adaptado de MCASP (2017) Destaca o MCASP (2017, p. 57) a existência de receitas que são arrecadadas no exercício financeiro para as quais não houve previsão, quando da época do planejamento, ou então não ocorreu o lançamento. Acompanhe os exemplos: Há de se observar, contudo, que nem todas as etapas apresentadas ocorrem para todos os tipos de receitas orçamentárias. Como exemplo, apresenta-se o caso da arrecadação de receitas orçamentárias que não foram previstas, não tendo, naturalmente, passado pela etapa da previsão. Da mesma forma, algumas receitas orçamentárias não passam pelo estágio do lançamento, como é o caso de uma doação em espécie recebida pelos entes públicos. Acadêmico, seguindo as orientações dos autores apresentados, conclui-se que para uma gestão adequada da receita pública há necessidade de conhecermos as etapas que as receitas orçamentárias devem percorrer. Contudo, devemos conhecer também a classificação dessas receitas para podermos distinguir eventuais etapas dispensadas, a exemplo do exposto pelo MCASP (2017). 3.1 PLANEJAMENTO DO ORÇAMENTO O planejamento é um processo que registra o esperado para o futuro. Codifica os sonhos para que sejam realizados. O resultado do planejamento apenas se tornará eficiente se se adequá-lo à realidade e às possibilidades existentes (ANDRADE et al., 2008). A gestão eficiente inicia com um planejamento adequado e responsável, esta é a visão dos pesquisadores Andrade et al. (2008, p. 1): Considerando tratar-se de uma das funções da administração, o planejamento é indispensável ao administrador público responsável. Nesses aspectos, planejar é essencial, é o ponto de partida para a administração eficiente e eficaz da máquina pública, pois a qualidade do mesmo ditará os rumos para a boa ou má gestão, refletindo diretamente no bem-estar da população. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 147 Já em relação à previsão das receitas, no orçamento público, Albuquerque (2008) entende que um resultado eficiente deste planejamento das receitas que serão arrecadadas, no exercício fiscal, necessita respeitar um processo de metodologia de cálculos, observadas as disposições constantes na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 3.1.1 Previsão Na elaboração do orçamento, a Administração Pública realiza vários estudos relacionados à possibilidade de arrecadação, dos órgãos que comporão o orçamento consolidado. A fase do planejamento das receitas possíveis de arrecadação é a etapa que chamamos de previsão, é o que orienta Silva (2011, p. 236): “A previsão indica a expectativa da receita por parte da Fazenda Pública e configura o que se pretende arrecadar no exercício financeiro com o objetivo de custear os serviços públicos programados para o mesmo período”. Explicam a constitucionalização da previsão Lima e Castro (2012, p. 57): “[...] estimativa de arrecadação da receita, constante da Lei Orçamentária Anual – LOA, resultante de metodologia de projeção de receitas orçamentárias”. Albuquerque (2008, p. 232) acrescenta que a etapa da previsão para as receitas que serão arrecadadas, no exercício fiscal, deve respeitar um processo de metodologia para a estimativa dos cálculos, como podemos observar: É a estimativa do que se espera arrecadar durante o exercício e que consta da Lei Orçamentária Anual. Consiste na organização e no estabelecimento da metodologia de elaboração da estimativa segundo parâmetros macroeconômicos definidos. Araújo e Arruda (2007, p. 95) explicam a etapa da previsão das receitas: “[...] indica a expectativa da receita por parte da Fazenda Pública, configurando- se no detalhamento do que se pretende arrecadar no exercício financeiro, com o objetivo de custear os serviços governamentais programados para o mesmo período; [...]”. No MCASP (2017, p. 56) encontramos a relação sobre a previsão de receitas e o ato de elaborar o planejamento governamental: “A previsão implica planejar e estimar a arrecadação das receitas orçamentárias que constarão na proposta orçamentária”. Ao observar os ensinamentos dos autores, caro acadêmico, nota-se que a previsão é a única etapa da receita que pertence à fase do planejamento orçamentário. Verificamos que em função da arrecadação, o gestor público poderá fixar as despesas que darão suporte aos serviços públicos. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 148 3.2 EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO A execução do orçamento público é o processo onde arrecadamos as receitas e realizamos as despesas fixadas para um determinado exercício fiscal, é o que orientam Andrade et al. (2008). Ensina o MCASP (2017) que durante a execução do orçamento público encontramos três etapas ou estágios (distintos) para as receitas orçamentárias: o lançamento, a arrecadação e o recolhimento. Acadêmico, na execução do orçamento, pelo que os autores descrevem, são executadas atividades que denominamos de etapas, onde acontecem o lançamento, a arrecadação e o recolhimento das receitas públicas. Vamos, agora, distinguir estas etapas que ocorrem no dia a dia da gestão financeira dos órgãos públicos. 3.2.1 Lançamento Entendem Araújo e Arruda (2007) que quando a Fazenda Pública individualiza e cadastra os contribuintes, identificando a espécie de tributo, seu valor, vencimento e demais informações, ocorre a etapa que identificamos como lançamento. Os mesmos autores revelam os seguintes modos de lançamentos: • Direto: o exemplo do Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU), em que o Estado conhece objetivamente o valor a ser arrecadado; • Homologação: o exemplo do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), em que é aceito o valor pago e alterado caso houver fiscalização demonstrando alterações; • Declaração: o exemplo do Imposto de Renda (IR) que o Estado registra e cobra segundo declaraçãodo contribuinte. Já para os estudiosos Piscitelli e Timbó (2012, p. 143), as espécies de lançamento devem ser: “Há três espécies de lançamento: direto ou de ofício, por declaração e por homologação (autolançamento)”. O lançamento representa o direito que a Fazenda Pública tem de arrecadar a receita, é um controle patrimonial, segundo assinalam Lima e Castro (2012, p. 57): [...] é o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Orienta o MCASP (2017) que o lançamento é todo o procedimento vinculado que verifica e reconhece o fato gerador da obrigação e cria um direito ao Estado. Oportunizando o registro (contábil) do lançamento desta receita, sob o enfoque patrimonial, em um lançamento de direito que proporciona uma variação aumentativa do patrimônio público. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 149 3.2.2 Arrecadação Quando contribuintes, devedores ou depositantes (pessoas físicas ou jurídicas) efetuarem pagamentos, nas instituições financeiras, através da quitação de seus tributos, depósitos ou transferências de recursos, em favor da Fazenda Pública, ocorre a etapa da arrecadação (PISCITELLI; TIMBÓ, 2012). A arrecadação é o ato do pagamento de tributos, ou demais dívidas, diretamente às instituições financeiras, conveniadas para o recebimento destes recursos. Verifiquem que o contribuinte ou devedor recebe um documento ou autenticação de quitação, é o que prescreve o MCASP (2017, p. 56-57): Corresponde à entrega dos recursos devidos ao Tesouro pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente. Vale destacar que, segundo o art. 35 da Lei nº 4.320/1964, pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas, o que representa a adoção do regime de caixa para o ingresso das receitas públicas. Corroboram esse ensinamento Araújo e Arruda (2007, p. 96) quando afirmam que: “[...] arrecadação: representa o momento em que o contribuinte liquida suas obrigações para com o Estado junto aos agentes arrecadadores (bancos e funcionários fazendários); [...]” (grifo dos autores). A administração pública, através de um processo dinâmico, recebe as receitas orçamentárias, de acordo com Carvalho (2010), onde a arrecadação é a etapa que pertence à fase de execução. Na execução orçamentária da receita, inicia-se com o lançamento, em seguida a arrecadação e, posteriormente, o recolhimento para a conta única. 3.2.3 Recolhimento Os gestores públicos poderão apenas utilizar os recursos arrecadados das receitas públicas, conforme sua estimativa de programação financeira, quando ocorrer o recolhimento desses recursos ao caixa único do Tesouro Público, são as orientações dos pesquisadores Piscitelli e Timbó (2012). No entendimento de Araújo e Arruda (2007, p. 96), o recolhimento enfim integra os cofres públicos “[...] é o ato pelo qual os agentes arrecadadores entregam diretamente ao Tesouro Público o produto da arrecadação”. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 150 O recolhimento representa a entrega dos recursos arrecadados pelas instituições financeiras, em contas específicas do ente da federação, para o controle e utilização conforme sua programação financeira predeterminada, segundo ensinamentos de Lima e Castro (2012, p. 57): [...] é a transferência dos valores arrecadados à conta específica do Tesouro, responsável pela administração e controle da arrecadação e programação financeira, observando o Princípio da Unidade de Caixa, representado pelo controle centralizado dos recursos arredados em cada ente. (grifo nosso) No mesmo sentido sintetizam Piscitelli e Timbó (2012, p. 144): “O recolhimento caracteriza-se pela transferência do produto da arrecadação diretamente ao caixa do Tesouro”. Reforça o MCASP (2017) que deve ser observado o Princípio da Unidade de Tesouraria ou de Caixa, estabelecido nas legislações de finanças públicas, para que ocorram o controle e a execução da programação financeira, já estabelecida pelo ente arrecadador. DICAS Conheça a origem do princípio da unidade de caixa: Segundo o art. 56 da Lei nº 4.320/64, a administração pública deve respeitar a unidade de caixa ou, como expresso na lei, unidade de tesouraria. O que a lei estabelece por este artigo é uma forma de gestão de recursos financeiros conhecida por Caixa Único, que deve ser controlado pela unidade gestora. FONTE: Machado Jr. e Reis (2011) 4 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS E EXTRAORÇAMENTÁRIAS Em sentido amplo, ensinam Arruda e Araújo (2007), todos os dispêndios ou saídas de recursos dos caixas governamentais são considerados despesas públicas. À medida que compõem o orçamento, são despesas orçamentárias, já as despesas extraorçamentárias são as meras devoluções de recursos para os verdadeiros proprietários. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 151 As saídas de recursos, chamadas de despesas, dos cofres públicos, podem ser classificadas como despesas orçamentárias e despesas extraorçamentárias, orienta o autor Silva (2011, p. 247): Temos, portanto, desembolsos que, dentro de uma autorização legislativa, reduzem o patrimônio de forma definitiva e aqueles que se referem a restituições de valores recebidos anteriormente. No primeiro grupo, temos as Despesas Públicas (stricto sensu); no segundo, temos os desembolsos, cuja característica é o fato de serem simples saídas de numerário sem afetação no patrimônio. Em sentido restrito são consideradas, apenas, como despesas públicas as que pertencem ao orçamento público, que tenham sido aprovadas pelo processo legislativo e que têm a função de financiar os programas de governo, ensinam os estudiosos Lima e Castro (2012, p. 59): Define-se despesa pública como o conjunto de dispêndios da entidade governamental para o funcionamento dos serviços públicos. Nesse sentido, como parte do orçamento, a despesa compreende as autorizações para os gastos com as várias atribuições e funções governamentais. Em outras palavras, as despesas públicas correspondem à distribuição e ao emprego das receitas para o custeio de diferentes setores da entidade governamental e para os investimentos. Corroboram esse conceito os autores Andrade et al. (2008, p. 187): “Despesa pública é todo dispêndio realizado pelo Poder Público em prol do atendimento dos serviços e encargos assumidos no interesse geral da comunidade e para custeio de diferentes setores da Administração”. Este também é o entendimento e o que ensina o MCASP (2017, p. 69): “A despesa pública é o conjunto de dispêndios realizados pelos entes públicos para o funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade”. Apresentamos a figura a seguir para que você, acadêmico, possa compreender como funcionam os desembolsos dos cofres públicos, as chamadas despesas orçamentárias e despesas extraorçamentárias: UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 152 QUADRO 4 – ESTRUTURA DOS DESEMBOLSOS DO ESTADO DESEMBOLSOS RELATIVOS À RESTITUIÇÃO DE INGRESSOS ANTERIORES SIMPLES SAÍDAS DE CAIXA DESPESA PÚBLICA EFETIVA TODOS OS PAGAMENTOS DESPESAS (SAÍDAS) DESEMBOLSOS QUE NÃO TÊM CORRESPONDÊNCIA COM ENTRADAS ANTERIORES FONTE: Silva (2011, p. 248) Agora, acadêmico, para consolidar nossos conhecimentos, vamos aprofundar os estudos sobre a despesa pública e conhecer exemplos de despesas orçamentárias e extraorçamentárias. 4.1 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS A tradução da despesa e da receita em orçamento nos reporta a uma linguagem essencialmente contábil, que deve respeitar codificação específica. Na concepção de Giacomoni (2012), a despesa pública é a que está inserida no orçamento público e pode ser chamada de despesa orçamentária.Albuquerque (2008, p. 286) salienta que, sob o enfoque orçamentário, as despesas públicas devem constar no orçamento em dotações próprias, acompanhe: “Em respeito ao princípio orçamentário da universalidade, todos os desembolsos orçamentários são caracterizados como despesa e deverão possuir previsão no Orçamento”. Já para os pesquisadores Piscitelli e Timbó (2012, p. 152), a despesa pública tem o seguinte fluxo patrimonial: Despesa Pública caracteriza um dispêndio de recursos do patrimônio público, representado essencialmente por uma saída de recursos financeiros, imediata – com redução de disponibilidades – ou mediata – com reconhecimento dessa obrigação. Seguindo as instruções da Lei nº 4.320/64, no art. 35, o MCASP (2017, p. 69) orienta que a despesa orçamentária é a que depende de autorização legislativa para ser executada, vejamos: “Dessa forma, despesa orçamentária é toda transação que depende de autorização legislativa, na forma de consignação de dotação orçamentária, para ser efetivada”. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 153 Dentre os vários conceitos de despesa orçamentária, os autores Andrade et al. (2008, p. 188) esclarecem que os créditos adicionais do orçamento também são despesas orçamentárias: “É a despesa que deriva da lei orçamentária ou de seus créditos adicionais, tendo como finalidade a realização de programas e ações governamentais” (grifo nosso). Corroboram esse conceito os pesquisadores Andrade et al. (2008, p. 188): “É a despesa que deriva da lei orçamentária ou dos seus créditos adicionais, tendo como finalidade a realização de programas e ações governamentais”. Acadêmico, perceba que a despesa orçamentária é aquela que consta do orçamento público, em sentido restrito, é a verdadeira despesa pública e, por fim, financia a continuidade dos serviços públicos. Vamos agora estudar as despesas extraorçamentárias, para podermos distingui-las, e na sequência conheceremos as etapas que as receitas públicas devem percorrer. 4.2 DESPESAS EXTRAORÇAMENTÁRIAS Os ingressos que pertencem a terceiros e entram nos cofres públicos são restituídos por meio das chamadas despesas extraorçamentárias, estas, por sua vez, são necessárias para formalizar o registro da devolução, explicam os estudiosos Andrade et al. (2008, p. 188): “É a despesa que não integra o orçamento público, tendo como finalidade o registro da entrega ou restituição de recursos pertencentes a terceiros que foram arrecadados a título de receita extraorçamentária”. As despesas extraorçamentárias são desembolsos de caixa ou repasses de recursos e não podem ser chamadas de despesas públicas, neste sentido sinaliza Albuquerque (2008, p. 286): “Vale lembrar que ‘despesa’ não se confunde com desembolso de caixa, pois alguns desembolsos representam meras saídas de recursos dos cofres públicos”. Os autores Arruda e Araújo (2007, p. 110) orientam como a despesa extraorçamentária deve ser identificada no demonstrativo contábil chamado balanço patrimonial, e acrescentam exemplos destes dispêndios públicos: As despesas extraorçamentárias são aquelas pagas à margem do orçamento. Portanto, elas independem de autorização do Poder Legislativo, pois se constituem em saídas do passivo financeiro, compensatórias de entradas no ativo financeiro, oriundas de receitas extraorçamentárias, que correspondem à restituição ou à entrega de valores recebidos como cauções, depósitos, consignações, entre outros. (grifo do autor) UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 154 Na visão do MCASP (2017, p. 69), a despesa extraorçamentária não consta na Lei Orçamentária, compreende recursos de receitas extraorçamentárias e, também, podem ser restos a pagar ou pagamento de operações de crédito por antecipação de receita: Dispêndio extraorçamentário é aquele que não consta na lei orçamentária anual, compreendendo determinadas saídas de numerários decorrentes de depósitos, pagamentos de restos a pagar, resgate de operações de crédito por antecipação de receita e recursos transitórios. Albuquerque (2008) alerta que, na nomenclatura das despesas extraorçamentárias, já é possível constatar que ela não circula pelo orçamento, é apenas saída financeira decorrente da própria gestão pública. O autor apresenta alguns exemplos dessas despesas: • Devolução de depósitos em caução, normalmente provenientes de contratos e representam garantias para a administração pública; • Devolução de depósitos judiciais, quando as causas judiciais são decididas e devem ser repassadas ao respectivo proprietário; • Devolução de depósitos para quem de direito, quando são retidos recursos, autorizados, e posteriormente repassados para o proprietário; • Pagamento de consignações, a devolução das retenções autorizadas em folha de pagamento. Ressaltamos que as despesas extraorçamentárias são fundamentais para formalizar e registrar as devoluções de recursos de terceiros, em contas de propriedade dos órgãos públicos. Seguem o ritual de repasse financeiro para as contas correntes dos verdadeiros proprietários dos recursos. DICAS Você sabe o que são os Restos a Pagar? Constituem Restos a Pagar ou resíduos passivos as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro, que não tenham sido canceladas pelo processo de análise e depuração e que atendam aos requisitos previstos em legislação específica, podendo ser inscritas como tal por se tratar de encargos incorridos no próprio exercício (LIMA; CASTRO, 2012, p. 82). TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 155 5 ETAPAS DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA As despesas públicas, como as receitas públicas, são reconhecidas em etapas, também conhecidas como estágios. Segundo a maioria dos estudiosos, estas etapas são: o empenho, a liquidação e o pagamento (PISCITELLI; TIMBÓ, 2012). No Manual de contabilidade aplicado ao setor público, 6ª edição, encontramos detalhadas várias etapas que se distribuem na fase do planejamento e na fase da execução do orçamento público. As etapas elencadas no MCASP (2017) são: • No Planejamento do Orçamento: fixação da despesa, descentralização de créditos orçamentários, programação orçamentária e financeira, processo licitatório e contratação; • Na Execução do Orçamento: empenho, liquidação e pagamento. Em Carvalho (2010, p. 407) encontramos menção à fase de controle e avaliação, que acrescenta o estágio que avalia o cumprimento de metas previstas no plano plurianual e, também, o estágio para comprovar a legalidade do gasto e avaliar os resultados. Observe o quadro a seguir: QUADRO 5 – ETAPAS DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA ETAPA SUBDIVISÃO PLANEJAMENTO 1. Fixação; 2. Descentralização de créditos orçamentários; 3. Programação orçamentária e financeira; 4. Processo de licitação. EXECUÇÃO 1. Empenho; 2. Liquidação; 3. Pagamento. CONTROLE E AVALIAÇÃO 1. Avalia o cumprimento de metas previstas no PPA; 2. Comprovar a legalidade do gasto e avaliar os resultados. FONTE: Carvalho (2010, p. 406) Neste tópico vamos dar ênfase às fases da previsão e da execução do orçamento, com o detalhamento dos seguintes estágios: fixação das despesas públicas, descentralização dos créditos orçamentários, programação orçamentária e financeira, processo de licitação e contratação, empenho, liquidação e pagamento. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 156 5.1 FIXAÇÃO DA DESPESA Sobre o planejamento das despesas, o MCASP (2017) destaca que durante a elaboração do planejamento são realizados estudos de toda a despesa (fixas e variáveis) para a análise da formulação do plano e ações governamentais. Estes planos e ações servem de base para a fixação da despesa orçamentária, a descentralização/movimentação de créditos, a programação orçamentária e financeira, e o processo de licitação e contratação. A fixação da despesa faz parte do planejamento e compreende a escolha e a concretização das ações que foram programadas nas ações de governo.Nesta etapa são apropriados os créditos orçamentários e as dotações para que as unidades orçamentárias possam desenvolver as ações de saúde, educação, administração, entre outras (SILVA, 2011). Na concepção do Manual de contabilidade aplicado ao setor público, deve ser no processo de fixação das despesas que serão determinados os índices de despesas, por exemplo, para a educação, saúde, para investimentos ou despesas livres: “A fixação da despesa refere-se aos limites de gastos, incluídos nas leis orçamentárias com base nas receitas previstas, a serem efetuados pelas entidades públicas” (MCASP, 2017, p. 98). Sobre o cálculo da fixação da despesa, orientam Andrade et al. (2008, p. 312), através do exemplo na esfera municipal, que devem ser considerados as despesas fixas e os investimentos: Para a previsão das despesas é necessário calcular aquelas que são fixas, ou seja, que ocorrem em todos os meses do ano, e as variáveis, que ocorrem esporadicamente, de forma a possibilitar a previsão dos investimentos e das inversões financeiras dentro da capacidade do município. Quanto à relação da fixação das despesas e o seu planejamento, o MCASP (2017, p. 98) preceitua que: “A fixação da despesa orçamentária insere-se no processo de planejamento e compreende a adoção de medidas em direção a uma situação idealizada, tendo em vista os recursos disponíveis e observando as diretrizes e prioridades traçadas pelo governo”. Acadêmico, nesta etapa é que são apropriados os créditos orçamentários e distribuídas as dotações orçamentárias que permitem a execução da despesa. Lembramos que a fixação é obrigatória, deve ser aprovada pelo Poder Legislativo, quando da aprovação da Lei Orçamentária Anual – LOA. A alteração ou readequação da fixação da despesa, quando não constar autorização no orçamento, deve acontecer com aprovação do Legislativo, através de lei ordinária. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 157 5.2 DESCENTRALIZAÇÕES DE CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS A descentralização dos créditos orçamentários são movimentações dos créditos orçamentários, desde que não sejam alteradas as classificações institucionais, funcional, programática e econômica, acompanhe as orientações do MCASP (2017, p. 98): As descentralizações de créditos orçamentários ocorrem quando for efetuada movimentação de parte do orçamento, mantidas as classificações institucional, funcional, programática e econômica, para que outras unidades administrativas possam executar a despesa orçamentária. As descentralizações de créditos orçamentários não se confundem com transferências e transposição [...] Corroboram este ensinamento os autores Piscitelli e Timbó (2012, p. 288), verifique: “Os créditos orçamentários podem ser descentralizados. A descentralização é a transferência, por uma unidade orçamentária ou administrativa para outra unidade, do poder de utilizar os créditos que lhe foram dotados ou que lhe tenham sido transferidos”. Para o pesquisador Albuquerque (2008, p. 308), a descentralização dos créditos compreende: “[...] a distribuição dos valores autorizados na lei orçamentária para as unidades administrativas responsáveis, em cada órgão, pela execução da despesa [...]”. Ressalta o MCASP (2017) que não são descentralização de créditos orçamentários as transferências e transposições de dotações, pelos motivos a seguir: a) não há alteração da programação financeira ou do valor de suas dotações, b) a unidade orçamentária continua com a sua classificação institucional, que foi aprovada na LOA. DICAS Conheça a diferença entre Crédito Orçamentário e Dotação: Entende-se por Crédito Orçamentário o correspondente ao detalhamento da despesa, expressa por meio de um conjunto de códigos que indica a estrutura programática (programa, ação, produto, subtítulo), a classificação funcional (função, subfunção), a esfera orçamentária, a categoria econômica e o GND, os indicadores de uso e de RP, e a fonte de recursos, não incluindo, entretanto, a modalidade de aplicação. Já a Dotação Orçamentária designa o valor, o montante de recursos orçamentários consignados a um crédito, seja inicial ou adicional. A expressão também é conhecida como ‘verba’ (PISCITELLI; TIMBÓ, 2012, p. 288). UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 158 5.3 PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA A programação orçamentária e financeira da despesa pública está prevista na LRF, que estabeleceu prazo de até 30 dias, após a aprovação da Lei Orçamentária Anual, nos termos em que determina a Lei de Diretrizes Orçamentárias, para a publicação deste ato (normalmente através de decreto) (CARVALHO, 2010). Segundo o entendimento dos autores Piscitelli e Timbó (2012, p. 156), a programação orçamentária e financeira não se encontra na Lei nº 4.320/64, mas consta na LRF: “Das etapas não mencionadas na legislação originária, a programação consiste no estabelecimento do cronograma de desembolso, de acordo com as necessidades, que se distribuem ao longo do exercício, e com as possibilidades condicionadas ao comportamento da receita”. Quanto à necessidade da programação de desembolso, para ser possível efetuar os pagamentos em dia, o autor Giacomoni (2012, p. 304) preceitua que: Como não ocorre automaticamente o ajuste entre a entrada efetiva das receitas e as necessidades de pagamento das despesas, o administrador deve precaver-se, programando a realização dos gastos de forma harmonizada com o comportamento do fluxo de entrada dos recursos. No entendimento dos autores Arruda e Araújo (2007, p. 115), a programação dá-se logo após a aprovação da Lei Orçamentária Anual, através de decreto do Poder Executivo com a publicação da programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso: A programação ocorre após a publicação da lei orçamentária, quando o setor competente, por meio de decretos, estabelece um programa de utilização dos créditos orçamentários aprovados para o exercício. Suas fases são: cronograma de desencaixe fixo; projeção do comportamento da receita; decreto executivo normativo. (grifo dos autores) Na execução do orçamento é comum haver a necessidade de modificações, que podem surgir por motivos diversos. Logicamente que, se for necessário alterar o cronograma de desembolso financeiro, deve-se corrigi-lo: “[...] o cronograma poderá ser alterado durante o exercício, tendo em vista modificações nas prioridades e, especialmente, no comportamento da arrecadação” (GIACOMONI, 2012, p. 304). IMPORTANT E Caro acadêmico: Amplie seus conhecimentos, para isso acesse o link disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/L8666cons.htm> e leia a Lei nº 8.666/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública. Nesta lei encontramos o processo licitatório aplicado para as diferentes modalidades de licitação. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 159 5.4 PROCESSO DE LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO A Constituição Federal, no art. 37, inciso XXI, determina que a administração pública deve seguir os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem como, nas aquisições como materiais, serviços, entre outros, deve realizar licitação pública. Orienta o MCASP (2017), sobre os preceitos constitucionais, que neste processo licitatório estão compreendidos diversos procedimentos administrativos que objetivam adquirir materiais, contratar obras e serviços, alienar ou ceder bens a terceiros, bem como fazer concessões de serviços públicos com as melhores condições para o Estado. Além dos princípios já citados no art. 37 da CF/88, deverão ser observados o da igualdade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e de outros que lhe são correlatos. “A realização das despesas no âmbito da administração pública, particularmente com a aquisição de bens e a contrataçãode serviços e obras, depende do cumprimento das regras de licitação” (GIACOMONI, 2012, p. 306). Sobre o processo licitatório, Albuquerque (2008, p. 308) ensina que compreende: “[...] a elaboração de projetos, a publicação de editais e a realização do evento de licitação, terminando com a escolha, por meio legal, do fornecedor dos bens ou serviços objeto da despesa”. Este processo pode ser deflagrado antes e durante o processo de execução do orçamento público. O processo licitatório é obrigatório, quando não dispensado ou inexigível. Explicam os estudiosos Araújo e Arruda (2007) que o objeto e o valor das compras devem ser classificados segundo as seguintes modalidades licitatórias, apresentadas na Lei Federal nº 8.666/93: convite, tomada de preços, concorrência, concurso, leilão e pregão. 5.5 EMPENHO Esse estágio inicia com a vigência da Lei Orçamentária Anual, após o período de planejamento. Respeitadas as normas de execução da programação financeira, as unidades orçamentárias podem utilizar seus créditos orçamentários, através do empenho (LIMA; CASTRO, 2012). Encontramos a conceituação de empenho na norma legal da Lei nº 4.320/64, em seu art. 58: “O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição”. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 160 Quanto à finalidade do empenho, pode-se dizer que é a redução da dotação orçamentária disponível com o intuito de efetuar o pagamento para o credor habilitado. “O empenho corresponde apenas ao ato do servidor responsável que estabelece a redução do valor da despesa a ser executado da dotação orçamentária” (ARRUDA; ARAÚJO, 2007, p. 117). O primeiro estágio da execução da despesa é o empenho, que, por sua vez, é emitido pela unidade gestora que recebeu a dotação orçamentária, através da lei orçamentária, segundo Carvalho (2010, p. 407): O empenho representa o primeiro estágio de execução da despesa e é emitido pela unidade que recebeu créditos orçamentários consignados no orçamento ou por descentralização de créditos de outro órgão ou unidade orçamentária. Com esse estágio (empenho) se inicia a execução da despesa pública. Piscitelli e Timbó (2012) ressaltam que o empenho está condicionado ao limite de créditos concedidos, seguindo a normatização da Lei nº 4.320/64, art. 59. O empenho, ao reservar seus créditos orçamentários, diminui o saldo dos créditos existentes para a realização da despesa pública. Este estágio é um ato de ordenamento da despesa autorizada em lei. As formalidades e composição do empenho são esclarecidas no MCASP (2017, p. 100): O empenho será formalizado mediante a emissão de um documento denominado “Nota de Empenho”, do qual devem constar o nome do credor, a especificação do credor e a importância da despesa, bem como os demais dados necessários ao controle da execução orçamentária. “[...] o empenho vincula dotações de créditos orçamentários para suprir pagamentos de obrigações assumidas, ou seja, o empenho da despesa é apenas o ato emanado de autoridade competente que compromete previamente dotações orçamentárias” (ARRUDA; ARAÚJO, 2007, p. 117). Quanto à importância do empenho, o autor Albuquerque (2008) explica que ele representa a garantia que o governo oferece ao fornecedor, de que a despesa pública conta com reserva de dotação orçamentária e aprovação da realização da despesa. Caso o valor do empenho seja insuficiente, poderá ser complementado, no caso de seu valor ser superior deverá ser anulado, e quando a despesa não for realizada, deverá ser totalmente anulado o empenho. Segundo o MCASP (2017), o empenho pode ser classificado em três modalidades, que são: empenho estimativo, empenho global e empenho ordinário. Vamos conhecer as características de cada modalidade de nota de empenho, a seguir. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 161 IMPORTANT E “A dotação ou verba orçamentária representa o detalhamento da despesa incluído em orçamento público, sempre vinculado a um programa de governo de uma unidade orçamentária, na qual são estabelecidos o montante da disponibilidade e os limites para sua realização” (ARRUDA; ARAÚJO, 2007, p. 117) (grifo dos autores). 5.5.1 Empenho estimativo O empenho estimativo deve ser utilizado para despesas com valores incertos. Sobre a finalidade do empenho estimativo, Giacomoni (2012, p. 312) ensina: O empenho por estimativa é utilizado quando não se pode determinar previamente o montante da despesa. Essa modalidade diz respeito a inúmeros tipos de gastos operacionais das repartições, que ocorrem regularmente, mas de valor variável, por exemplo, as despesas com o consumo de energia elétrica, água, serviços telefônicos, fretes, passagens, etc. (grifo do autor) Reforça esta orientação o MCASP (2014, p. 100), em suas explicações: “[...] Estimativo: é o tipo de empenho utilizado para as despesas cujo montante não se pode determinar previamente, tais como serviços de fornecimento de água e energia elétrica, aquisição de combustíveis e lubrificantes e outros [...]”. Caso as despesas empenhadas através da modalidade por estimativa estejam superiores aos valores realizados, deve ser anulado parcialmente o empenho através de autorização do ordenador da despesa. Já no caso de as despesas serem superiores ao reservado pelo empenho estimativo, deverá sofrer complementação (GIACOMONI, 2012). 5.5.2 Empenho global A modalidade de empenho global deve ser utilizada quando a despesa estiver determinada em valor fixo e for paga em parcelas, normalmente contratos de prestação de serviços contínuos. “Global: é o tipo de empenho utilizado para despesas contratuais ou outras de valor determinado, sujeitas a parcelamento, por exemplo, os compromissos decorrentes de aluguéis” (MCASP, 2017, p. 100). Vejamos os ensinamentos de Giacomoni (2012, p. 311-312) em relação à aplicação do empenho global: “Já o empenho global aplica-se no caso de despesas que, devidamente empenhadas, são pagas de forma parcelada. Esta modalidade é utilizada no empenho de despesas de pessoal, assim como de contratos de prestação de serviços e de realização de obras” (grifo do autor). UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 162 Corroboram estes ensinamentos sobre a modalidade de empenho global os estudiosos Arruda e Araújo (2007, p. 118): [...] empenho global: destina-se a atender despesa determinada e quantificada e a ser liquidada e paga parceladamente, em geral em cada mês, durante a fluência do exercício. Por exemplo, aquela relacionada a um contrato de aluguel com valor determinado; [...]. (grifo dos autores) Em suma, quando a despesa for paga de forma parcelada e o valor for previamente conhecido, deve-se utilizar a modalidade de empenho global, conforme normatiza a Lei nº 4.320/64, art. 60, § 3º. 5.5.3 Empenho ordinário Consoante aos ensinamentos do MCASP (2017, p. 100), a modalidade de empenho ordinário é a mais utilizada, vejamos: “[...] Ordinário: é o tipo de empenho utilizado para as despesas de valor fixo e previamente determinado, cujo pagamento deva ocorrer de uma só vez; [...]” (grifo nosso). Segundo o autor Giacomoni (2012, p. 311), esta modalidade tem as seguintes características: “O empenho é ordinário quando o valor exato da despesa é conhecido e cujo pagamento se dá de uma só vez”. Esta modalidade de empenho não é especificada na legislação, porém está consolidada nos ensinamentos da doutrina, é o que orientam Arruda e Araújo (2007, p. 118): "[...] É a modalidade de empenho mais comum na administração. A Lei n.º 4.320/64 somente especifica nos parágrafos 2.º e 3.º do art. 60 os empenhos por estimativa e global. Todavia, a doutrina é unânime em aceitar o empenho ordinário". DICAS Caro acadêmico: Segundo Lima e Castro (2012, p. 78), o empenho deverá ser anulado: • No decorrer do exercício: I. parcialmente, quando seu valor excedero montante da despesa realizada; II. totalmente, quando o serviço contratado não tiver sido prestado, quando o material encomendado não tiver sido entregue ou quando o empenho tiver sido emitido incorretamente. • No encerramento do exercício, quando o empenho referir-se a despesas não liquidadas, salvo aquelas que se enquadrarem nas condições previstas para restos a pagar. TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 163 5.6 EM LIQUIDAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA O segundo estágio da despesa na execução do orçamento, a liquidação, é a verificação do direito do fornecedor em relação ao serviço ou objeto prestado. Deve- se verificar com base nos títulos e documentos da despesa se os serviços ou objetos foram prestados de acordo com o proposto na compra (LIMA; CASTRO, 2012). O plano de contas aplicado ao setor público acrescentou uma fase, antes da liquidação, apenas para os casos em que a mercadorias tenham sido entregues e não tenha havido tempo hábil para a conferência imediata dos produtos, verifique o disposto no MCASP (2017, p. 100): O PCASP incluiu a fase da execução da despesa – “em liquidação”, que busca o registro contábil no patrimônio de acordo com a ocorrência do fato gerador, não do empenho. Essa regra possibilita a separação entre os empenhos não liquidados que possuem fato gerador dos que não possuem, evitando assim a dupla contagem para fins de apuração do passivo financeiro. Quanto aos demais lançamentos no sistema orçamentário e de controle, permanecem conforme a Lei nº 4.320/1964. (grifos nossos) Já a liquidação da despesa está normatizada na Lei nº 4.320/64, no art. 63, caput: “A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito [...]”. “O estágio da liquidação da despesa envolve, portanto, todos os atos de verificação e conferência, desde a entrada do material e prestação do serviço até o reconhecimento da despesa” (LIMA; CASTRO, 2012, p. 79). Sobre a necessidade da verificação dos documentos comprobatórios da despesa e as conferências em relação às compras efetuadas, encontramos o seguinte ordenamento no art. 63, parágrafo 1º, incisos I a III e parágrafo 2º, incisos I a III, da Lei nº 4.320/64, como podemos observar: Art. 63. [...] § 1º Essa verificação tem por fim apurar: I. a origem e o objeto do que se deve pagar; II. a importância exata a pagar; III. a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação. § 2º A liquidação da despesa, por fornecimentos feitos ou serviços prestados, terá como base: I. o contrato, ajuste ou acordo respectivo; II. a nota de empenho; III.os comprovantes da entrega do material ou da prestação efetiva do serviço. Reforça Silva (2011, p. 273) que a despesa liquidada toma forma de passivo para a administração pública, já que fora comprovado o direito adquirido do fornecedor: “[...] A liquidação da despesa implica, portanto, no reconhecimento de um passivo no patrimônio”. UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 164 IMPORTANT E Caro acadêmico: A fase “em liquidação”, quando necessária, é importante para representar o registro da despesa no passivo financeiro. Essa adaptação na contabilidade pública tornou-se necessária para a convergência às normas internacionais da contabilidade. FONTE: MCASP (2017) 5.7 PAGAMENTO O terceiro estágio da despesa, na execução do orçamento, é o pagamento, que, segundo o MCASP (2017, p. 101), podemos definir como: “O pagamento consiste na entrega de numerário ao credor por meio de cheque nominativo, ordens de pagamento ou crédito em conta, e só pode ser efetuado após a regular liquidação da despesa”. Segundo o autor Silva (2011), o pagamento realizado pela administração pública deve obedecer a várias formalidades específicas, que podem ser resumidas em: • Apenas poderão ser pagas despesas liquidadas. • Os pagamentos deverão ser realizados ao credor que consta na ordem de pagamento, caso seja ordem de pagamento coletiva, deve-se individualizar o credor e seus créditos individuais. • Segundo a Lei nº 4.320/64, o pagamento deve ser realizado por meio de ordem de pagamento, devidamente assinada por autoridade competente (ordenador da despesa, tesoureiro). • A ordem de pagamento deve ser conferida por órgão da contabilidade. • Os pagamentos podem ser feitos por cheques nominativos, crédito em conta ou ordens de pagamento. • Não devem ser feitas reservas ou condições aos pagamentos. • Pagamentos de precatórios devem ser realizados pela ordem de apresentação. No mesmo sentido em relação aos cuidados que devem ser tomados para a realização dos pagamentos na área pública, os autores Arruda e Araújo (2007, p. 118) orientam: Por fim, o pagamento representa a fase final do processo da despesa pública. O pagamento somente poderá ser efetuado quando ordenado após sua regular liquidação. Pode ser realizado mediante ordem bancária, cheque ou na boca do cofre. O pagamento da despesa pública será efetuado por tesouraria regularmente instituída, por estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamentos. Atualmente, são realizados mediante ordens bancárias eletrônicas. (grifo dos autores) TÓPICO 1 | RECEITAS PÚBLICAS E DESPESAS PÚBLICAS 165 Acadêmico, agora que conhecemos as fases da despesa, procuraremos, nos ensinamentos de Silva (2011), demonstrar de forma resumida a responsabilidade pela correção e regularidade da despesa, com seus responsáveis; identifique-os no quadro a seguir: QUADRO 6 – FASES E RESPECTIVAS RESPONSABILIDADES NA REGULARIZAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA FASE DESCRIÇÃO RESPONSÁVEL 1. Operacional Referente a todo o fluxo da aquisição de bens e serviços, até a entrega do objeto. Ordenadores de Despesa – Membros das Comissões de Licitação e responsáveis pela atestação do recebimento dos bens ou serviços. 2. Sistêmica Referente ao atendimento das normas dos órgãos centrais dos sistemas de Pessoal, Material, Transportes, Serviços etc. Dirigentes desses órgãos centrais. 3. Contábil e de Auditoria Referente à liquidação da despesa com o exame do cumprimento das condições contratuais e o reconhecimento da obrigação. Dirigentes dos órgãos de contabilidade e auditoria interna. 4. Pagamento Referente à emissão da Obrigação de Pagamento (OP) para crédito na conta do fornecedor. Dirigente do órgão financeiro – Tesouro – Diretor Financeiro. FONTE: Silva (2011, p. 274) DICAS Caro acadêmico: Os pagamentos no setor público apenas acontecerão após a liquidação da despesa e devem respeitar a ordem cronológica dos vencimentos, para evitar o favorecimento indevido de fornecedores. FONTE: Machado Jr. e Reis (2011) 166 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem as receitas e despesas orçamentárias e extraorçamentárias. • A maioria dos autores citados, assim como o Manual de contabilidade aplicado ao setor público, entendem que despesa pública é apenas a despesa orçamentária porque financia os serviços públicos. Já as despesas extraorçamentárias podem ser os restos a pagar, as restituições de operações de crédito por antecipação da receita, cauções ou a restituição de recursos de terceiros depositados nos cofres públicos. • As receitas orçamentárias são as que podem ser previstas no orçamento público e servem para financiar os serviços públicos, entre outros. Já as receitas extraorçamentárias são meramente recursos transitórios que não pertencem ao orçamento público. • As etapas das receitas públicas acontecem nos momentos de elaboração e de execução do orçamento público. • As etapas da receita pública são: a previsão, o lançamento, a arrecadação e o recolhimento. • A despesa pública pode ser classificada por vários aspectos, como: enfoque orçamentário ou patrimonial, se efetiva ou não efetiva, entre outras. • Tanto no planejamento quanto na execução do orçamento público ocorrem etapas ou estágiosda despesa pública. • Antes da execução da despesa, no planejamento, após a aprovação da LOA, acontecem as seguintes etapas: fixação da despesa, programação orçamentária e financeira, descentralização dos créditos orçamentários e o processo licitatório. • Na execução do orçamento público ocorrem os estágios mais conhecidos, que são: o empenho, em liquidação, a liquidação e o pagamento. • O empenho que faz a apropriação da verba orçamentária pode ser classificado em três modalidades: empenho global, empenho estimativo e empenho ordinário. RESUMO DO TÓPICO 1 167 Prezado acadêmico, para que possamos avaliar a compreensão dos conceitos a que tivemos acesso até o momento, o convido a responder aos questionamentos dispostos a seguir: 1 Os ingressos financeiros aos cofres do Estado podem ser classificados como receita pública, sob dois aspectos ou sentidos: restrito ou amplo. Avalie as afirmativas e assinale a CORRETA quanto ao termo “receita pública”, considerando apenas o sentido restrito: a) ( ) São todos os recursos que ingressam aos cofres públicos, tanto extraorçamentários como orçamentários. b) ( ) São os recursos que ingressam aos cofres públicos como receitas orçamentárias. c) ( ) São os recursos que ingressam aos cofres públicos como receitas extraorçamentárias. d) ( ) São apenas os recursos que foram previstos na Lei Orçamentária Anual, as receitas tributárias arrecadadas e não previstas no orçamento não são receitas públicas. 2 Em relação às receitas públicas no sentido amplo, considere as seguintes características: arrecadação e a amortização dependem de autorização legislativa, as receitas correntes causam modificação no patrimônio, é receita na essência do conceito. Com referência à denominação dessa receita, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Receita orçamentária. b) ( ) Receita extraordinária. c) ( ) Receita extraorçamentária. d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 3 Os ingressos de recursos nos cofres públicos que pertencem a terceiros são restituídos por meio das chamadas _______________. Avalie as afirmativas e assinale a CORRETA quanto ao preenchimento correto da lacuna: a) ( ) Despesas extraorçamentárias. b) ( ) Despesas orçamentárias. c) ( ) Despesas correntes. d) ( ) Despesas de capital. AUTOATIVIDADE 168 4 A despesa pública, tanto no planejamento quanto na execução, passa por estágios ou etapas. Quando da execução do orçamento público, à medida que vão acontecendo as despesas e se realizando as receitas, a despesa pode passar por três estágios. Com referência à denominação destes estágios, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Fixação, empenho e pagamento. b) ( ) Empenho, reserva e pagamento. c) ( ) Liquidação, fixação e pagamento. d) ( ) Empenho, liquidação e pagamento. 5 Quando da execução do orçamento, a despesa orçamentária passa pelo estágio do empenho, que pode ser de três modalidades segundo a formalização da negociação. Com referência à denominação das modalidades de empenho, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Estimativo, ordinário e normativo. b) ( ) Global, ordinário e normativo. c) ( ) Ordinário, global e estimativo. d) ( ) Normativo, estimativo e global. 169 TÓPICO 2 CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Quando o orçamento público é apresentado para a apreciação em audiências públicas, ou então, discutido no Poder Legislativo, as despesas são mais discutidas do que as receitas. Visto que as despesas podem viabilizar obras ou investimentos esperados pela população. Em tempos em que a sociedade organizada precisa conter despesas, ou produz menos devido à recessão, as receitas voltam a fazer a diferença. É preciso captar recursos, buscar ideias criativas com a finalidade de otimizar os ingressos de recursos nos cofres públicos. Através de codificações legais, que facilitam a interpretação das origens, fontes de recursos e aplicações, entre outros, o gestor poderá planejar e controlar de maneira mais eficiente, tanto as receitas como as despesas. Outra função relevante da classificação e codificação é adequar as informações para a geração dos relatórios exigidos pela LRF, tais como: os relatórios de gestão fiscal, execução orçamentária, anexos fiscais, entre outros. A classificação e padronização desta codificação é responsabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional – STN. Entre outras atribuições, a STN organiza procedimentos para a consolidação das contas públicas que devem apresentar bases confiáveis com a exclusão de duplicidades de transações entre os entes públicos. Neste tópico vamos abordar as classificações: • Das receitas públicas: classificação por categorias econômicas, classificação por fontes e destinação das receitas, ao final, a classificação para apuração do resultado primário; • Das despesas públicas: classificação institucional, funcional, por estrutura programática e a por natureza de despesa. Acadêmico, vamos a partir de agora conhecer e identificar a classificação obrigatória das receitas e despesas públicas. 170 UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO 2 CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS A primeira divisão que as receitas sofrem é a identificação de receitas orçamentárias ou extraorçamentárias. Nos ensinamentos do MCASP (2017), esta não é uma classificação, porque sua interpretação é em sentido restrito, que considera apenas como receita pública a orçamentária, visto que as extraorçamentárias serão restituídas e não pertencem ao ente público. Outra classificação importante, segundo o pesquisador Silva (2011, p. 229), é a que analisa sob a ótica do enfoque, a visão do orçamento ou a integralização ao patrimônio pelo direito de receber: “A receita da administração pública pode ser classificada nos seguintes enfoques: enfoque orçamentário; enfoque patrimonial”. Vejamos como Silva (2011) classifica as receitas sobre o seu enfoque: • Enfoque orçamentário: são todos os ingressos disponíveis para a cobertura das despesas orçamentárias e operações que financiam as despesas orçamentárias. Neste enfoque, a classificação da receita poderá ser: o Quanto à coercitividade: originária ou derivada; o Quanto às entidades destinatárias do orçamento: receita pública ou privada; o Quanto ao impacto na situação líquida patrimonial: receita orçamentária efetiva ou não efetiva. • Enfoque patrimonial: a receita representa um aumento nos benefícios econômicos, este enfoque pressupõe que o registro da receita seja realizado no momento do fato gerador, como direito. As receitas podem ser classificadas como: o Quanto à entidade que apropria a receita: receita pública ou privada; o Quanto à dependência da execução orçamentária: receita resultante da execução orçamentária ou receita independente da execução orçamentária. Para efeitos acadêmicos, classificam-se as receitas públicas em originárias e derivadas. As originárias representam as receitas que têm origem na atuação do Estado, como empresário, ou são oriundas do seu patrimônio, por exemplo, o recebimento do aluguel de um prédio público. Já as receitas derivadas são as obtidas através do patrimônio alheio, não do patrimônio público. As derivadas são resultado do poder que o Estado possui em tributar, do poder de polícia, entre outros (LIMA; CASTRO, 2012). TÓPICO 2 | CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS 171 As receitas orçamentárias quanto aos procedimentos contábeis, conforme expresso segundo o MCASP (2017, p. 35), devem ser classificadas em efetivas ou não efetivas: Para fins contábeis, quanto ao impacto na situação líquida patrimonial, a receita pode ser “efetiva” ou “não efetiva”: a. Receita Orçamentária Efetiva é aquela que, no momento do reconhecimento do crédito, aumenta a situação líquida patrimonial da entidade. Constitui fato contábil modificativo aumentativo. b. Receita Orçamentária Não Efetiva é aquela que não alteraa situação líquida patrimonial no momento do reconhecimento do crédito e, por isso, constitui fato contábil permutativo, como é o caso das operações de crédito. (grifos nossos) A classificação legal da receita orçamentária corresponde à sua natureza, que foi normatizada pela Lei nº 4.320/64, também quanto às suas fontes e destinações, bem como a identificação de recursos para a apuração do resultado primário, que sofreram a influência da normatização da LRF. 3 CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA PELA NATUREZA DAS RECEITAS Para representar as receitas públicas no orçamento do Estado é necessário, segundo Viana (2009), codificá-las. Essa codificação procura evidenciar o fato gerador da receita, sua normatização é identificada pela Lei nº 4.320/64, no seu art. 11. A codificação, de oito dígitos, com cinco níveis, da receita orçamentária quanto à natureza, é necessária para demonstrar as informações sobre a alocação da receita no orçamento público. O MCASP (2017, p. 37) apresenta a nomenclatura em que serão alocadas as receitas: Na União, para o exercício de 2016, incluindo a elaboração do Orçamento, entrou em vigor a nova estrutura de codificação das Naturezas de Receita, de forma a prover melhorias na estrutura de formação dos códigos da classificação, aplicando lógica integralmente voltada para a gestão das receitas orçamentárias. A nova codificação estrutura os códigos de forma a proporcionar extração de informações imediatas, a fim de prover celeridade, simplicidade e transparência, sem a necessidade de qualquer procedimento paralelo para concatenar dados. Tal alteração foi estabelecida pela Portaria nº 05, de 25 de agosto de 2015, que também determinou que os desdobramentos específicos para atendimento das peculiaridades de estados, Distrito Federal e municípios serão promovidos pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda. Ressalta-se que para os referidos entes, tal codificação é válida a partir do exercício financeiro de 2018, inclusive no que se refere à elaboração do respectivo projeto de lei orçamentária (que é elaborado durante o exercício de 2017). (grifos do autor). 172 UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO Para melhor compreendermos a nova estrutura da codificação da receita, a nova legislação cria a possibilidade de associar a receita principal com aquelas dela originadas, tais com as Multas e Juros, Dívida Ativa, Multas e Juros da Dívida Ativa. A associação é efetuada por meio de um código numérico de oito dígitos e cinco níveis, veja o quadro a seguir: QUADRO 7 – DETALHAMENTO DOS NÍVEIS DA CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS C O E DDDD T Categoria Econômica Origem Espécie Desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita Tipo FONTE: MCASP (2017, p. 37) Verificamos que, na codificação apresentada pela nova legislação, os primeiros três níveis apresentam apenas um dígito para cada nível, já o quarto nível apresenta quatro dígitos e o quinto nível um dígito, vejamos um exemplo prático desta classificação: QUADRO 8 – EXEMPLO DOS NÍVEIS DA CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS C Categoria Econômica 1 Receita Corrente O Origem 1 Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria E Espécie 1 Impostos DDDD Desdobramento para identificação das peculiaridades 3011 Impostos sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF T Tipo 1 Principal FONTE: MCASP (2017, p. 38) O exemplo apresentado no quadro acima representa a codificação (11130111) e a classificação da receita de Imposto Sobre a Renda de Pessoa Física, que é recolhido dos trabalhadores, neste caso, detalhamos a natureza da receita, que é representada pela: categoria econômica, origem, espécie, desdobramento para especificação das peculiaridades e tipo. Agora, acadêmico, vamos estudar individualmente cada um destes níveis e compreender como a receita orçamentária deve ser representada no orçamento e individualizar as informações obrigatórias das opcionais. TÓPICO 2 | CLASSIFICAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS 173 3.1 CATEGORIA ECONÔMICA DAS RECEITAS Orienta o estudioso Silva (2011, p. 235) que: “A receita orçamentária é classificada em Categorias Econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital que, por sua vez, desdobram-se em origens, espécie [...]” (grifo do autor). Na concepção de Machado Jr e Reis (2011), a divisão da categoria econômica pode ser interpretada em Operações Correntes (receitas e despesas correntes) e Operações de Capital (receitas e despesas de capital). No campo das receitas, quando Receitas Correntes utilizará o código 01 e quando das Receitas de Capital utilizará o código 02. Segundo Lima e Castro (2012), foi necessário que a Secretaria do Tesouro Nacional – STN acrescentasse à codificação da Lei nº 4.320/67, nova codificação que representasse as receitas correntes e de capital, que sejam arrecadadas entre órgãos que consolidam seus orçamentos e balanços. As chamadas receitas intraorçamentárias classificam-se em: receitas correntes intraorçamentárias e receitas de capital intraorçametárias. Acompanhe o próximo quadro, que demonstra a codificação da classificação econômica segundo o MCASP (2017), onde já demonstra a separação dos códigos para representar as entradas entre órgãos que compõem o mesmo orçamento, evitando que houvesse duplicação de informações tanto no orçamento, quanto em relatórios gerenciais e de gestão: QUADRO 9 – CODIFICAÇÃO DAS RECEITAS CONFORME A CATEGORIA ECONÔMICA Categoria Econômica da Receita 1. Receitas Correntes 7. Receitas Correntes Intraorçamentárias 2. Receitas de Capital 8. Receitas de Capital Intraorçamentárias FONTE: MCASP (2017, p. 39) O autor Giacomoni (2012, p. 139) explica que a mesma classificação econômica das receitas é feita para as despesas, porque o intuito é apresentar informações econômicas casadas. Isto é, apresentar comparativos entre a arrecadação e a utilização das receitas e despesas correntes, bem como das receitas e despesas de capital. Veja os ensinamentos do autor: A finalidade do critério é evidenciar os recursos que se destinam ao atendimento das Despesas Correntes e os que viabilizam a realização das Despesas de Capital. Recorda-se que idênticas categorias econômicas são adotadas na classificação da despesa: Despesas Correntes e Despesas de Capital. Esse paralelismo classificatório possibilita elaborar quadro-resumo que destaca o Orçamento das Operações Correntes, formado pelas Receitas e Despesas Correntes, e o Orçamento das Operações de Capital, constituído pelas Receitas e Despesas de Capital, de especial utilidade nas análises econômicas e sobre o resultado das contas públicas. (grifo do autor) 174 UNIDADE 3 | AS RECEITAS E AS DESPESAS PÚBLICAS SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO Encontramos exemplos dos ingressos, que podem ser receitas correntes e receitas de capital, nos ensinamentos dos autores Araújo e Arruda (2007, p. 92/93): As receitas correntes compreendem as receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, agropecuárias, industriais, de serviços, de transferências (recursos recebidos de outras pessoas jurídicas de direito público ou privado, independentemente de contraprestação direta de bens ou serviços) e outras receitas correntes, como multas, juros, restituições, indenizações, receitas da dívida ativa, de alienação de bens apreendidos, de aplicações financeiras, entre outras. [...] As receitas de capital compreendem as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas (operações de crédito); da conversão, em espécie, de bens e direitos (alienação de bens); amortização de empréstimos; recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender à formação de um bem de capital, estando vinculados à constituição ou aquisição do mesmo e, ainda, outras receitas, compreendendo a integralização de capital e outras. (grifo dos autores) Acadêmico, agora que identificamos o primeiro nível (1, 2, 7 e 8) da classificação