Prévia do material em texto
Indaial – 2022 Pública Prof.ª Danrlei Anderson Peyerl 2a Edição contabilidade Elaboração: Prof.ª Danrlei Anderson Peyerl Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: Caro acadêmico, seja bem-vindo à Disciplina de Contabilidade Pública. A Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o ramo da ciência contábil que tem como finalidade, no processo gerador de informações, aplicar os princípios contábeis e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público. E essas entidades são: órgãos, fundos, fundações públicas e pessoas jurídicas de Direito Público ou que, possuindo personalidade jurídica de Direito Privado, recebam, guardem, movimentem, gerenciem ou apliquem recursos públicos, na execução de suas atividades. Seremos capazes de compreender que o objetivo da Contabilidade Pública é fornecer aos usuários informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e patrimonial do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social. Essa, por último, pautada na função social de fornecer informações que sejam compreensíveis e úteis aos cidadãos no desempenho de sua soberana atividade de controle do uso de recursos e patrimônio público pelos agentes públicos. Na Unidade 1, abordaremos, inicialmente, os principais aspectos da Administração Pública, tratando da divisão dos poderes, da estrutura e seus princípios. Posteriormente, trataremos dos conceitos e princípios introdutórios aplicados à Contabilidade Pública, seguido da apresentação do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Por último, discutiremos os marcos legais da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, mais especificamente, a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que estabelece as normas gerais do Direito Financeiro, Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece as normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e, por fim, as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público e demais legislações aplicadas à Contabilidade Pública. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos o Orçamento Público. Nessa unidade, buscaremos estudar os principais instrumentos do ciclo de planejamento das contas públicas, que inclui a elaboração do Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual, necessários para a viabilização da prestação dos serviços públicos para o bem-estar da coletividade. A seguir, aprofundaremos nossas discussões sobre o conceito e a finalidade do Orçamento Público, os tipos de orçamentos, os princípios orçamentários, suas alterações e seu ciclo. Por último, abordamos a classificação das receitas e despesas públicas, suas fontes e destinação de recursos. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos os principais aspectos conceituais e legais da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, seus regimes de contabilização orçamentária e contábil, suas variações orçamentárias e patrimoniais, seus subsistemas APRESENTAÇÃO de informação contábil, em termos do sistema orçamentário, financeiro, patrimonial e de custos, apresentando ao final o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público. Na sequência, serão apresentados os principais lançamentos contábeis do setor público, mais especificamente, os lançamentos típicos de execução de receitas e despesas orçamentárias. Finalmente, trataremos das Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público, com o objetivo de compreender e avaliar os resultados alcançados e os aspectos orçamentários, econômico-financeiros e físicos do patrimônio das entidades do setor público e suas mutações, bem como as demonstrações exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Por tudo isso, este Livro didático servirá de orientação para você começar a construir e organizar o seu conhecimento ao longo deste período de estudos, sobre Contabilidade Pública. Bons estudos, será um prazer estar com você nesta caminhada! Prof. Danrlei Anderson Peyerl Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ELEMENTOS INTRODUTÓRIOS AO SETOR PÚBLICO ........................... 1 TÓPICO 1 - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 DIVISÃO DOS PODERES ...................................................................................... 32.1 PODER LEGISLATIVO ............................................................................................................9 2.2 PODER EXECUTIVO ..........................................................................................................12 2.3 PODER JUDICIÁRIO ...........................................................................................................14 3 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................... 14 3.1 ADMINISTRAÇÃO DIRETA ..................................................................................................15 3.2 ADMINISTRAÇÃO INDIRETA ............................................................................................. 17 4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................... 21 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................24 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................25 TÓPICO 2 - CONCEITO E APLICABILIDADE DA CONTABILIDADE PÚBLICA ..... 27 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 27 2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO ...........................................................................................28 2.1 CONCEITO ............................................................................................................................34 2.2 OBJETIVO ........................................................................................................................... 35 2.3 OBJETO ...............................................................................................................................36 2.4 PATRIMÔNIO .......................................................................................................................38 2.5 CAMPO DE APLICAÇÃO ................................................................................................... 42 3 PRINCÍPIOS APLICADOS À CONTABILIDADE PÚBLICA ..................................43 4 MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO .................... 48 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................52 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................53 TÓPICO 3 - LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA .............. 57 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 57 2 LEI Nº 4.320, DE 17 DE MARÇO DE 1964 ..........................................................58 3 LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 4 DE MAIO DE 2000 .....................................60 4 NORMAS BRASILEIRAS APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA ...............65 5 DEMAIS LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA ................ 67 LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 79 UNIDADE 2 — ORÇAMENTO PÚBLICO ..................................................................85 TÓPICO 1 — PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL ...............................................87 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................87 2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO .............................................................87 2.1 PLANO PLURIANUAL ........................................................................................................ 93 2.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS ........................................................................ 95 2.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL ...........................................................................................98 3 SERVIÇOS PÚBLICOS ...................................................................................... 101 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 107 AUTOATIVIDADE .................................................................................................108 TÓPICO 2 - ORÇAMENTO PÚBLICO .................................................................... 111 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 111 2 CONCEITO E FINALIDADE ................................................................................ 111 3 TIPOS DE ORÇAMENTOS ................................................................................. 114 4 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS ....................................................................... 116 5 CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS ..........................................................................117 5.1 CRÉDITOS ADICIONAIS .................................................................................................... 119 5.1.1 Fontes dos créditos adicionais ............................................................................. 121 5.1.2 Suplementares .........................................................................................................122 5.1.3 Especiais ....................................................................................................................122 5.1.4 Extraordinários .........................................................................................................122 6 CICLO ORÇAMENTÁRIO ...................................................................................124 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................128 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 129 TÓPICO 3 - RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS.................................................131 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................131 2 RECEITA PÚBLICA ............................................................................................131 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA ....................................................... 134 2.1.1 Classificação da receita orçamentária por natureza ...................................... 134 2.1.2 Classificação da receita orçamentária por indicador de resultado primário ............................................................................................ 140 2.1.3 Classificação da receita orçamentária por esfera orçamentária.................... 141 3 DESPESA PÚBLICA ..........................................................................................142 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA ................................................................... 143 3.1.1 Classificação qualitativa e quantitativa da despesa orçamentária ............ 143 3.1.2 Classificação funcional da despesa orçamentária ........................................ 144 3.1.3 Classificação por natureza da despesa orçamentária .................................. 146 4 FONTE OU DESTINAÇÃO DE RECURSOS ........................................................ 152 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 155 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 162 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 163UNIDADE 3 — CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO ..................... 165 TÓPICO 1 — CONTABILIDADE PÚBLICA E SUBSISTEMAS DE INFORMAÇÕES .......................................................................... 167 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 167 2 REGIMES DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL ......................................................168 2.1 RECEITA SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO ...............................................................171 2.2 RECEITA SOB O ENFOQUE PATRIMONIAL ...................................................................171 2.3 DESPESA SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO ...........................................................172 2.4 DESPESA SOB O ENFOQUE PATRIMONIAL ................................................................173 3 SUBSISTEMAS DE INFORMAÕES .................................................................... 173 4 PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO .................................... 176 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................184 AUTOATIVIDADE .................................................................................................185 TÓPICO 2 - CONTABILIZANDO NO SETOR PÚBLICO ........................................ 187 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 187 2 CARACTERÍSTICA QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL .................188 3 EXECUÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA .....................................................189 3.1 LANÇAMENTOS TÍPICOS DE EXECUÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA ............. 191 4 EXECUÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA ................................................... 197 4.1 EMPENHO .......................................................................................................................... 199 4.2 RESTOS A PAGAR ........................................................................................................... 201 4.3 LANÇAMENTOS TÍPICOS DE EXECUÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA .........203 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................... 209 AUTOATIVIDADE .................................................................................................210 TÓPICO 3 - DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS AO SETOR PÚBLICO ......................................................................... 213 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 213 2 BASE LEGAL E NORMATIVA ............................................................................214 3 BALANÇOS APLICADOS AO SETOR PÚBLICO ...............................................214 3.1 BALANÇO ORÇAMENTÁRIO ............................................................................................215 3.2 BALANÇO FINANCEIRO ................................................................................................. 218 3.3 BALANÇO PATRIMONIAL ................................................................................................221 4 DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS ..................................... 226 5 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO .....................227 6 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA .................................................... 228 7 NOTAS EXPLICATIVAS .................................................................................... 233 8 DEMONSTRAÇÕES EXIGIDAS PELA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL 234 8.1 RELATÓRIO RESUMIDO DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA ......................................234 8.2 RELATÓRIO DE GESTÃO FISCAL ..................................................................................235 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 238 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 245 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 246 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 248 1 UNIDADE 1 - ELEMENTOS INTRODUTÓRIOS AO SETOR PÚBLICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a organização político-administrativa do nosso país; • compreender os motivos pelas quais existe a separação – tripartição – dos poderes; • identificar as funções típicas e atípicas de cada poder; • identificar quem compõe a Administração Direta e Indireta de cada um dos poderes; • conhecer os Princípios Fundamentais da Administração Pública; • compreender o conceito, objetivo, objeto, patrimônio e campo de aplicação de estudo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público; • conhecer e aplicar os Princípios de Contabilidade no setor público; • conhecer e compreender o propósito do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público; • conhecer a legislação que norteia a Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 2 – CONCEITO E APLICABILIDADE DA CONTABILIDADE PÚBLICA TÓPICO 3 – LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1 INTRODUÇÃO Para que possamos iniciar nossos estudos sobre a Contabilidade Aplicada ao Setor Público temos que compreender os principais fundamentos e conceitos da Administração Pública. Para isso, tomaremos como base a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o Direito Administrativo, uma vez que a disciplina jurídica da Administração Pública no Brasil centraliza-se no Direito Administrativo. Esse último, é o ramo do direito público que trata de princípios e regras que disciplinam a função administrativa e que abrange entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração Pública na consecução do interesse público e coletivo. Considerando que o Direito Administrativo, ramo autônomo no campo do Direito, em sua essência, disciplina a atuação da Administração Pública, e que o objeto de estudo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o patrimônio público, é necessário conhecer algumas noções básicas sobre a estrutura e o funcionamento da Administração Pública. Para fins deste Livro didático, a Administração Pública será entendida como “um conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições políticas de cúpula no exercício de funções de governo, que organizam a realização das finalidades públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades para a população” (MEDAUAR, 2020, p. 43). Nesse sentido, para iniciarmos nossos estudos sobre a Contabilidade Aplicada ao Setor Público, no Tópico 1, abordaremos a divisão de poderes, que, de acordo com o disposto em nossa Constituição Federal, se divide em Legislativo, Executivo e Judiciário. Na sequência, abordaremos de forma sucinta e didática a estruturação da Administração Pública, mais objetivamente sobre a Administração Direta e Indireta, as diferenças em suas estruturas internas, bem como suas especificidades. Por fim, discutiremos os cinco princípios fundamentais da Administração Pública presentes no Artigo 37 de nossa Constituição Federal as quais condicionam o padrão que a Administração Pública (em todos os seus poderes) devem seguir. São eles: Legalidade; Impessoalidade; Moralidade; Publicidade; e Eficiência. Aos estudos! 2 DIVISÃO DOS PODERES A República Federativado Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados (26 estados, além do Distrito Federal) e Municípios (5.570 municípios) e do Distrito Federal (IBGE, 2021), constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: i. a soberania; ii. a cidadania; iii. a dignidade da pessoa humana; iv. os TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e v. o pluralismo político (BRASIL, 1988). Para fins da organização do Estado, a organização político-administrativa de nosso país compreenderá a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos de nossa Constituição Federal (BRASIL, 1988). Em seu Artigo 2º, nossa Carta Magna divide os Poderes da União, independentes e harmoniosos entre si: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, para evitar que um dos Poderes usurpe as funções de outro. Para Medauar (2020, p. 28), “a separação dos poderes apresenta-se como um dos pressupostos da existência do Direito Administrativo, pois, se a Administração [Poder Executivo] não estivesse separada dos outros poderes [Legislativo e Judiciário] do Estado, dificilmente poderia existir um direito específico que disciplinasse sua atuação”. Apresentamos no Quadro 1 a composição dos poderes de nossa República Federativa. QUADRO 1 – COMPOSIÇÃO DOS PODERES FONTE: Adaptado de Silva (2011, p. 28) e Brasil (1988) PODER LEGISLATIVO Federal Senado Federal Câmara de Deputados Tribunal de Contas da União Estadual Assembleia Legislativa Tribunal de Contas do Estado Conselhos de Contas dos Municípios Municipal Câmara de VereadoresTribunal de Contas Municipal (se houver) PODER EXECUTIVO Federal Presidência e Vice-Presidência da RepúblicaMinistérios Estadual Governador e Vice-Governador do EstadoSecretarias Estaduais Municipal Prefeito e Vice-Prefeito MunicipalSecretarias Municipais e Departamentos Auxiliares PODER JUDICIÁRIO Federal Supremo Tribunal Federal Superior Tribunal de Justiça Superior Tribunal Militar Tribunal Superior Eleitoral Tribunal Superior do Trabalho Tribunais Regionais Federais Tribunais Regionais do Trabalho Tribunais Regionais Eleitorais Conselho Nacional de Justiça Estadual Tribunal de Justiça 5 A tripartição dos poderes, como também é chamada a separação dos poderes, difundiu-se na formulação de Montesquieu (MEDAUAR, 2020), segundo a qual se distinguiam três funções estatais – a legislação, execução e jurisdição –, que deveriam ser atribuídas em três órgãos distintos e independentes entre si (MONTESQUIEU, 2000). No livro, “O Espírito das Leis”, Montesquieu (2000) esclarece que quando há a união dos três poderes em um único indivíduo (e.g. monarquias), a liberdade do povo está presa e, portanto, a voz do povo não terá força e todas as atividades praticadas pelo governo não serão contestadas, pois esse direito não é concedido ao povo. Portanto, a tripartição de poderes vem para garantir que todos os indivíduos de uma nação sejam ouvidos e que o poder não seja concentrado nas mãos de uma única pessoa, visando manter a paz social e assegurar o gozo da liberdade, evitando arbitrariedades e autoritarismo (PELICIOLI, 2006). A análise dos escritos de Montesquieu (2000, p. 167-168; 172-173) permite compreender suas concepções sobre a tripartição dos poderes, para quem: Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes [sic] e o poder executivo daqueles que dependem do direito civil. Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne invasões. Com o terceiro, ele castiga os crimes, ou julga as querelas [sic] entre os particulares. Chamaremos a este último poder de julgar [Poder Judiciário] e ao outro simplesmente poder executivo do Estado. [...] E o Judiciário Municipal? Caro acadêmico, perceba que no Quadro 1, na divisão de poderes, não há Poder Judiciário Municipal, pois os municípios não possuem um Poder Judiciário próprio. O Poder Judiciário (Federal ou Estadual) não divide sua atuação em municípios, mas em comarcas. Comarcas são extensões territoriais do Poder Judiciário, podendo abranger mais de uma unidade municipal. Os juízes possuem jurisdição – poder de decidir as causas – sobre uma comarca, não um município, ou seja, mais de um município pode estar contido em uma única comarca. Sua atuação é sempre federal, quando o assunto é de interesse da União, ou estadual, quando o interesse é local ou regional (Estadual ou Municipal), portanto, no âmbito municipal, a atividade judiciária é exercida pelo Poder Judiciário Estadual. Os prédios da Justiça Federal estarão localizados em diversos municípios, especialmente nas capitais, assim como os da Justiça Estadual, para receber os processos da região, embora isso não signifique que a Justiça Federal atue em causas regionais ou municipais. FONTE: <encurtador.com.br/eCKLN>. Acesso em: 6 dez. 2021. ATENÇÃO 6 Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade; porque se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las tiranicamente. Tampouco existe liberdade se o poder de julgar [Poder Judiciário] não for separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas [sic] entre os particulares. [...] O poder executivo deve estar entre as mãos de um monarca, porque esta parte do governo, que precisa quase sempre de uma ação instantânea, é mais bem administrada por um do que por vários; ao passo que o que depende do poder legislativo é com frequência mais bem ordenado por muitos do que por um só. Pois, se não houvesse monarca e o poder executivo fosse confiado a um certo número de pessoas tiradas [sic] do corpo legislativo, não haveria mais liberdade, porque os dois poderes estariam unidos, participando as mesmas pessoas, por vezes, e podendo sempre participar de um e de outro. Portanto, uma vez que nossa Constituição Federal prevê que os poderes sejam autônomos como pressuposto de legitimidade do Estado Democrático de Direito, as ações entre os três poderes precisam ser articuladas para que juntos possam atingir as finalidades públicas e serem harmoniosos entre si. No nosso país, a tripartição dos poderes realiza-se através da atribuição de funções governamentais a órgãos específicos, para isso, cada um dos três poderes possuem funções típicas e atípicas. A função típica seria a função inerente e intrínseca a cada função devido a sua natureza, enquanto a função atípica em virtude da natureza dessas funções pertenceria, inicialmente, a outros órgãos, ou seja, aquela exercida com preponderância é a típica, e a função exercida com menos preponderância é a atípica (GOUVEIA; AMARAL, 2008). Em seguida, visualizaremos no Quadro 2 a função típica e atípica de cada um dos três poderes para realizar sua própria gestão administrativa, financeira, patrimonial e de controle. 7 QUADRO 2 – FUNÇÃO TÍPICA E ATÍPICA DOS PODERES FONTE: Adaptado de Silva (2011, p. 3) e Medauar (2020, p. 31-32) Por exemplo, o Poder Legislativo tem como principal função organizar, elaborar e atualizar o ordenamento jurídico do Estado, que é sua função típica e preponderante, mas ainda administra seus órgãos, momento em que exerce uma atividade típica do Poder Executivo. Da mesma forma, a edição de Medidas Provisórias pelo Presidente da Repúblicaé uma função atípica do Poder Executivo, visto que sua função típica é a prática de atos de chefia de Estado, de chefia de governo e atos administrativos. Portanto, mesmo havendo a separação dos poderes, pode-se perceber por meio das funções típicas e atípicas exemplificadas anteriormente a inexistência de uma separação absoluta de funções (MEDAUAR, 2020). Para um melhor entendimento da divisão dos poderes e suas funções típicas e atípicas, apresentamos a seguinte figura: PODER FUNÇÃO TÍPICA ATÍPICA LEGISLATIVO Normativa, na elaboração de leis e fiscalização do Poder Executivo Administrativa Judicativa Controle Interno EXECUTIVO Administrativa, com repercussão imediata na coletividade Normativa Judicativa Controle Interno JUDICIÁRIO Judicativa, com atuação no direito objetivo e a pacificação social Administrativa Normativa Controle Interno 8 FIGURA 1 – MODELO DE SEPARAÇÃO DOS PODERES FONTE: <https://bityli.com/znpEVq>. Acesso em: 8 dez. 2021. Na sequência, serão apresentadas as finalidades e particularidades de cada um dos poderes de nossa República Federativa, com base no disposto em nossa Carta Magna. Caro acadêmico, para saber mais sobre a organização dos poderes e suas funções típicas e atípicas, sugere-se a leitura do artigo intitulado “Organização dos poderes e suas funções típicas e atípicas segundo a Constituição Federal de 1988” de Daniel Otávio Genaro Gouveia e Sérgio Tibiriçá Amaral. Nesse artigo, os autores apresentam uma análise da forma como os três poderes de organizam, descrevendo suas funções típicas e atípicas e exemplificando-as, com base na nossa atual Constituição Federal. FONTE: GOUVEIA, D. O. G.; AMARAL, S. T. Organização dos poderes e suas funções típicas e atípicas segundo a Constituição Federal de 1988. In: IV ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E III ENCONTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. 4., 2008, Presidente Prudente. Anais [...] Presidente Prudente: Intertemas, 2008. NOTA 9 2.1 PODER LEGISLATIVO A Constituição Federal de 1988, no Título IV que trata da Organização dos Poderes, no Capítulo I discorre sobre o Poder Legislativo (BRASIL, 1988). O Poder Legislativo, de acordo com o Artigo 44 da Constituição Federal de 1988, é exercido pelo Congresso nacional, que é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, organizando-se como um poder bicameral (nesse sistema cada uma das Casas Legislativas inicia o processo legislativo e a outra o revisa). Nos Estados, Distrito Federal e Municípios, o Poder Legislativo é exercido pela Assembleia Legislativa e Câmara de Vereadores, respectivamente. Quanto às atribuições do Congresso Nacional, nossa Carta Magna disciplina o seguinte: Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: I- sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas; II- plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado; III- fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; IV- planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento; V- limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União; VI- incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembléias Legislativas; VII- transferência temporária da sede do Governo Federal; VIII- concessão de anistia; IX- organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal; X- criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b; XI- criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública; XII- telecomunicações e radiodifusão; XIII- matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações; XIV- moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal; XV- fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I- resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; 10 II- autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar; III- autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias; IV- aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; V- sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; VI- mudar temporariamente sua sede; VII- fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; VIII- fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; IX- julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo; X- fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; XI- zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes; XII- apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; XIII- escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União; XIV- aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; XV- autorizar referendo e convocar plebiscito; XVI- autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; XVII- aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares. XVIII- decretar o estado de calamidade pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167-B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição. Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada. § 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer de suas Comissões, por sua iniciativa e mediante entendimentos com a Mesa respectiva, para expor assunto de relevância de seu Ministério. § 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não – atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas. Com base nas atribuições dispostas anteriormente, observa-se que o Artigo 48 enumera uma série de matérias que podem ser objeto de lei, que dependem da aprovação do Congresso Nacional e da sanção do Presidente da República, enquanto 11 o Artigo 49 enumera as competências exclusivas do Congresso Nacional, que são veiculadas por decreto legislativo, para o qual não é exigida a sanção do Presidente da República. É importante ressaltar que o Congresso Nacional também é responsável pelocontrole e fiscalização do Poder Executivo, por meio do disposto nos Artigos 49 e 50. Cabe ao Congresso Nacional, portanto, legislar sobre as matérias de competência da União, por meio da elaboração de emendas constitucionais, de leis complementares e ordinárias, e de outros atos normativos com força de lei e a fiscalização e controle dos atos administrativos praticados pelo Poder Executivo (CONGRESSO NACIONAL, 2021). No que se refere à Contabilidade Aplicada ao Setor Público, além da aprovação em matéria de assuntos do sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas (Art. 48; I; BRASIL, 1988) e do Plano Plurianual, Diretrizes Orçamentárias, Orçamento Anual, Operações de Crédito, Dívida Pública e Emissões de Curso Forçado (Art. 48; II; BRASIL, 1988), o Poder Legislativo é responsável pela fiscalização contábil, financeira e orçamentária com o auxílio dos Tribunais de Contas das contas públicas (Art. 70-75; Seção IX; Capítulo I; Título IV; BRASIL, 1988). Mais especificamente: Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. [...] Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. § 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. § 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros. 12 Caro acadêmico, fique tranquilo, estudaremos com profundidade nas próximas unidades do nosso Livro didático, os assuntos relacionados à função de aprovação do Poder Legislativo do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentário Anual (LOA) e aprovação das contas públicas. Nesse ponto, é importante entender que o papel do Poder Legislativo é muito importante para as atividades relacionadas à Contabilidade Pública. Caro acadêmico, a Câmara dos Deputados representa a população dos Estados, uma vez que é composto por representantes eleitos pelo povo (Art. 45; BRASIL, 1988), enquanto o Senado Federal representa os Estados, eleitos segundo o princípio majoritário (Art. 46; BRASIL, 1988). Nesse sentido, exerça seu poder de cidadão (Art. 1; BRASIL, 1988) e exija de seus representantes eleitos tudo o que foi prometido nas campanhas eleitorais. Fique de olho! Questione e fiscalize-os constantemente. ESTUDOS FUTUROS NOTA 2.2 PODER EXECUTIVO No Capítulo II, Título IV, a Constituição Federal de 1988 trata do Poder Executivo (BRASIL, 1988). O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado (Art. 76; BRASIL, 1988), no compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição Federal, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil (Art. 78; BRASIL, 1988), tendo a função de governar a nação e administrar os interesses públicos. Nos Estados, Distrito Federal e Municípios, o Poder Executivo é exercido pelo Governador, auxiliado pelos Secretários de Estado e pelo Prefeito Municipal, com auxílio dos Secretários Municipais, respectivamente. Nossa Carta Magna disciplina o seguinte, em relação às atribuições do Poder Executivo: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I- nomear e exonerar os Ministros de Estado; II- exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III- iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV- sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V- vetar projetos de lei, total ou parcialmente; 13 Caro acadêmico, você sabe quais são os crimes de responsabilidade que não podem ser cometidos pelos Chefes do Poder Executivo Federal, Estadual e Municipal? Nossa Constituição Federal (Art. 85; BRASIL, 1988) elenca como crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente: i. a existência da União; ii. o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; iii. o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; iv. a segurança interna do País; v. a probidade na administração; vi. a lei orçamentária (grifos nossos); e vii. o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Os crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente da República, Ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal, Governadores e Secretários de Estado, são regulados pela Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, enquanto os cometidos por Prefeitos e Vereadores são regidos pelo Decreto- Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967. INTERESSANTE VI- dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; [...] XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; XXIV- prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; [...] (BRASIL, 1988). Observa-se pelos dispostos que o Poder Executivo é, segundo o próprio termo, aquele que executa as matérias anteriormente deliberadas pela Constituição Federal e pelo Congresso Nacional, ou seja, tem a função de executar e fazer cumprir as leis elaborados pelo Poder Legislativo e dar início a esse processo (e.g. I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais; leis que orientam o planejamento governamental e que serão estudadas na Unidade 2). São exemplos de atividades da responsabilidade de órgãos da Administração Pública situados no Poder Executivo (MEDAUAR, 2020): i. pavimentação de ruas; ii. coleta de lixo; iii. limpeza de vias e locais públicos; iv. educação e ensino público; v. saúde pública; vi. construção de rodovias; vii. transporte público; e viii. entre outros. 14 2.3 PODER JUDICIÁRIO Por fim, no Capítulo III, último do Título IV da Constituição Federal de 1988,que trata da Organização dos Poderes, apresenta-se o Poder Judiciário (BRASIL, 1988). Constitucionalmente, o Poder Judiciário tem a função garantir os direitos individuais, coletivos e sociais, bem como resolver conflitos entre cidadãos, entidades e o Estado, gozando de autonomia administrativa e financeira (Art. 99; BRASIL, 1988). 3 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Medauar (2020, p. 43), a Administração Pública, como objeto de estudo do Direito Administrativo, encontra-se inserida no Poder Executivo, podendo ser considerado sob o ângulo funcional e sob o ângulo organizacional, conforme descreve: No aspecto funcional, Administração Pública significa um conjunto de atividades do Estado que auxiliam as instituições políticas de cúpula no exercício de funções de governo, que organizam a realização das finalidades públicas postas por tais instituições e que produzem serviços, bens e utilidades para a população (grifos do autor). [...] Sob o ângulo organizacional, Administração Pública representa o conjunto de órgãos e entes estatais que produzem serviços, bens e utilidades para a população, coadjuvando as instituições políticas de cúpula no exercício das funções de governo (grifos do autor). Portanto, do ponto de vista funcional, a Administração Pública representaria o conjunto de atividades desempenhadas pelo Poder Executivo que não se enquadram na legislação e jurisdição, como a coleta de lixo, enquanto, do ponto de vista organizacional, a Administração Pública estaria vinculada à estrutura necessária, em termos de órgãos (e.g. ministérios), indispensável ao desempenho das atividades típicas do Poder Executivo (MEDAUAR, 2020). Em decorrência do disposto no Artigo 1º da Constituição Federal de 1988, em nossa organização político-administrativa existem níveis de poder político- administrativo e administrativo, cada um com sua própria estrutura administrativa, o que implica em uma divisão vertical e horizontal da Administração Pública (MEDAUAR, 2020). Tais divisões são explicitadas no Quadro 3. 15 Portanto, tendo compreendido a função do Poder Executivo em cada um dos entes da Federação (vertical), é necessário compreender a divisão da Administração Pública em Administração Direta e Administração Indireta (horizontal). Essa divisão ocorre por conta do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 (BRASIL, 1967), que estudaremos a seguir. 3.1 ADMINISTRAÇÃO DIRETA A Administração Direta da Administração Federal consiste em serviços integrados à estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios (Art. 4; I; BRASIL, 1967). Medauar (2020, p. 49) esclarece que a segregação entre Administração Direta e Administração Indireta estendeu-se aos níveis estadual e municipal, razão pela qual essas expressões foram consolidadas no ordenamento jurídico brasileiro. Na definição de Medauar (2020, p. 59, grifo do autor), a “Administração Direta é o conjunto dos órgãos integrados na estrutura da chefia do [Poder] Executivo e na estrutura dos órgãos auxiliares da chefia do [Poder] Executivo”. Em outras palavras, significa dizer que são os órgãos (pastas governamentais) diretamente vinculados QUADRO 3 – ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FONTE: Adaptado de Medauar (2020) e Brasil (1967) VERTICAL HORIZONTAL Administração Federal Administração Direta Administração IndiretaAdministração Estadual Administração Municipal ↔ ↔ Medauar (2020) ressalta que a existência de uma estrutura administrativa própria em cada ente da Federação faz com que ocorra uma nova divisão vertical e horizontal, no âmbito de cada estrutura. Caro acadêmico, para saber mais sobre a estrutura organizacional do Poder Executivo Federal, consulte o Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 (com alterações posteriores). Esse decreto dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. NOTA NOTA 16 e subordinados ao Chefe do Poder Executivo de um governo, cujas atividades para cumprir sua finalidade são exercidas pela ação conjunto de diversos outros órgãos ou departamentos. Na União, a Administração Direta é composta pelos Ministérios, nos Estados pelas Secretarias de Estado e nos Municípios pelas Secretarias Municipais. Por exemplo, para que o Ministério da Economia do Governo Federal (Administração Direta) exerça suas competências e atribuições (Art. 31; BRASIL, 2019), é necessária a atuação conjunta das seguintes Secretarias (órgãos) (Art. 32; BRASIL, 2019): i. Secretaria Especial da Fazenda; ii. Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil; iii. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho; iv. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais; v. Secretaria Especial Desestatização, Desinvestimento e Mercados; vi. Secretaria Especial de Emprego, Produtividade e Competitividade; vii. Secretária Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital; e viii. Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos. O funcionamento conjunto de todos esses órgãos faz com que o Ministério da Economia, representado pelo Ministro da Economia, a exercer as suas funções de Estado. Na sequência, apresentamos no Quadro 4 mais alguns exemplos de Administração Direta. QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ADMINISTRAÇÃO DIRETA 1, 2, 3 ENTE POLÍTICO ENTIDADE ÓRGÃO (1º nível) SUBÓRGÃO (2º nível) UNIDADE ADMINISTRATIVA (3º nível)ADMINISTRAÇÃO União Administração Federal Governo Federal Ministério da Educação [...] Secretaria de Alfabetização Diretoria de Alfabetização Baseada em Evidências Diretoria de Políticas de Alfabetização [...] [...] Estado Administração Estadual Governo do Estado de Santa Catarina Secretaria de Estado da Fazenda [...] Diretoria de Administração Tributária Consultoria de Gestão de Administração Tributária [...] [...] Município Administração Municipal Prefeitura Municipal de Joinville Secretaria de Administração e Planejamento Unidade de Apoio Operacional [...] Unidade de Gestão Unidade de Orçamento 17 3.2 ADMINISTRAÇÃO INDIRETA A Administração Indireta compreende as seguintes categorias de entidades: i. Autarquias; ii. Empresas Públicas; iii. Sociedades de Economia Mista; e iv. Fundações Públicas (Art. 4; II; BRASIL, 1967), em que na Administração Federal ficará vinculada ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua atividade principal (BRASIL, 1967). Fique tranquilo, esse vínculo de subordinação ficará mais claro nos exemplos apresentados no Quadro 6. Na definição do Artigo 5º do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 (grifos nossos): I- Autarquia – o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. II- Empresa Pública – a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. III- Sociedade de Economia Mista – a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. 1 Os exemplos não representam totalmente as estruturas organizacionais destas entidades. 2 As entidades destacadas em negrito representam os órgãos do Poder Executivo, cuja natureza jurídica é da Administração Direta. 3 Na Administração Pública Municipal, o 2º nível equivale à Unidade Administrativa (3º nível) da Administração Pública Federal e Estadual. FONTE: Adaptado de <http://portal.mec.gov.br/institucional/estrutura-organizacional>;<https://www.sef. sc.gov.br/institucional/organograma>; <https://www.joinville.sc.gov.br/institucional/sap/>. Acesso em: 07 mar. 2022. Você conhece a estrutura organizacional do seu Estado ou Município? Caso você tenha interesse em conhecer, acesse o website dos poderes desejados e veja como eles se estruturam em termos da repartição dos poderes e da Administração Direta e Indireta. DICA 18 IV- Fundação Pública – a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. Medauar (2020, p. 65, grifo do autor) descreve a Administração Indireta como “o conjunto de entidades personalizadas que executam, de modo descentralizado, serviços e atividades de interesse público”. Simplificando, os órgãos da Administração Indireta são entidades descentralizadas da Administração Direta, autorizadas pelo Chefe do Poder Executivo, para exercer alguma atividade administrativa, caracterizada como serviço público ou de interesse público, para prover ao Estado a satisfação de seus fins administrativos (KOHAMA, 2012). Por exemplo, em consonância com o texto constitucional, a educação pública é direito de todos e dever do Estado (Art. 205; Art. 206; IV; BRASIL, 1988), cabendo à União (Governo Federal) a responsabilidade pelas instituições federais de ensino superior: as universidades (BRASIL, 1996). Nesse sentido, para que a União possa garantir a oferta do ensino superior público gratuito, o Presidente da República autoriza a criação de Universidades e Institutos Federais (Autarquias em Regime Especial), órgãos descentralizados vinculados ao Ministério da Educação (Administração Direta), para garantir o acesso público da população ao ensino superior e o cumprimento de sua finalidade administrativa constitucionalmente estabelecida. Apresentamos no Quadro 5 um compilado com as principais características dos tipos de entidades da Administração Indireta, distinguindo-as de acordo com suas especificidades. QUADRO 5 – COMPARATIVO ENTRE AS ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA Característica Autarquia Empresa Pública Sociedade de Economia Mista Fundação Pública Privada Previsão Art. 5º; I Art. 5º; II Art. 5º; IIII Art. 5º; IV Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 Criação Criada por Lei Autorizada por Lei Criada por Lei Autorizada por Lei Base Constitucional Capítulo VII; Seção I; Art. 37; XIX “somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação” Atividades Administra- tiva Econômi- ca Econômica Social Social Personalidade Jurídica Direito Público Direito Privado Direito Público Direito Privado 19 Na sequência, apresentamos no Quadro 6 alguns exemplos de Administração Indireta. Legendas: S.A. – Sociedade Anônimas; IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; FUNCATE – Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais. FONTE: O autor Bens Público Privado Público Privado Capital Público 100% Público Público Privado Público Privado Regime de Contratação Estatutário CLT Estatutário CLT Licitação Sim, com base na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 – Antiga Lei das Licitações (com vigência até 1º de abril de 2023) e, posteriormente, com base na Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021 – Nova Lei de Licitações Exemplos Banco Central Correios Petrobras S.A. IBGE FUNCATE Caro acadêmico, caso seja do seu interesse entender mais sobre as características e diferenças entre as entidades da Administração Indireta, recomendo a leitura do 5º Capítulo da 22ª edição do livro Direito Administrativo Moderno da escritora Odete Medauar. Nele você encontrará esses aspectos discutidos em profundidade e à luz do ordenamento jurídico nacional. Caro acadêmico, você sabia que as Sociedades de Economia Mista estão sujeitas à Lei das Sociedades por Ações – Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976? Nos termos do Artigo 235, as sociedades anônimas de economia mista estão sujeitas a essa lei, sem prejuízo das disposições especiais da legislação federal, bem como quando companhias abertas de economia mista estão também sujeitas às normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários. No entender, “[...] o Estado visa assegurar aos participantes, aos quais oferece associação, os mesmos direitos e garantias de que fruem os acionistas das demais companhias, sem prejuízo das disposições especiais da lei federal” (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010, p. 23). DICA IMPORTANTE 20 QUADRO 6 – EXEMPLOS DE ADMINISTRAÇÃO INDIRETA 1, 2, 3 1 Os exemplos não representam totalmente as estruturas organizacionais destas entidades. 2 As entidades destacadas em negrito representam os órgãos do Poder Executivo, cuja natureza jurídica é da Administração Indireta. 3 Na Administração Pública Municipal, o 2º nível equivale à Unidade Administrativa (3º nível) da Administração Pública Federal e Estadual. 4 O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é um Autarquia Especial do Poder Executivo Federal, atualmente subordinada ao Ministério do Trabalho e da Previdência. 5 A Fundação Escola de Governo (ENA) é uma Fundação de Direito Público do Poder Executivo Estadual, atualmente subordinada à Secretaria de Estado da Administração. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3JV3eQg>; <https://bit.ly/3iW55bm>; <https://bit.ly/3NMtHlo>. Acesso em: 7 mar. 2022. ENTE POLÍTICO ENTIDADE ÓRGÃO (1º nível) SUBÓRGÃO (2º nível) UNIDADE ADMINISTRATIVA (3º nível)ADMINISTRAÇÃO União Administração Federal Governo Federal Ministério do Trabalho e Previdência [...] Instituto Nacional do Seguro Social 4 [...] Diretoria de Atendimento Diretoria de Benefícios [...] [...] Estado Administração Estadual Governo do Estado de Santa Catarina Secretaria de Estado da Administração [...] Fundação Escola de Governo 5 [...] Diretoria Técnico-Científica Diretoria do Arquivo Público [...] [...] Município Administração Municipal Prefeitura Municipal de Joinville Companhia Águas de Joinville Departamento de Trânsito de Joinville Unidade Administrativo-Financeira Unidade da Escola Pública de Trânsito Unidade de Operações Unidade de Trânsito Hospital Municipal São José Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos do Município de Joinville 21 Caro acadêmico, fique atento à personalidade jurídica da Administração Indireta! Medauar (2020) explica que as entidades da Administração Indireta têm personalidade jurídica própria e que ela não deve ser confundida com a personalidade jurídica da entidade maior à qual estão vinculadas (e.g. União), uma vez que tendo personalidade jurídica, essas entidades realizam atividades e atos jurídicos em seu próprio nome. IMPORTANTE 4 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Todos os agentes públicos, no exercício das suas funções públicas nos órgãos e entidades da Administração Pública, devem orientar-se nos seguintes princípios constitucionais: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (grifos nossos)” [...] (BRASIL, 1988). Com base no instrumento constitucional, a seguir explicamos a essência de cada princípio, tendo como base os escritos de Di Pietro (2020) e Medauar (2020): • O princípio da legalidade nos diz que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite. Portanto, todos os atos administrativos devem estar previamente autorizados em lei. Assim, enquanto na administraçãoprivada é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autorizar. • O princípio da impessoalidade diz respeito à necessidade de o Estado, ao elaborar as leis e aplicá-las, atuar de forma imparcial perante terceiros, não podendo beneficiar ou causar danos a pessoas específicas, visando atingir o bem-estar e social de toda a coletividade, uma vez que os interesses públicos têm precedência sobre os interesses individuais (DI PIETRO, 2020). Além disso, o princípio da impessoalidade vincula os atos do agente público ao órgão ou entidade administrativa em nome do qual o agente público age, ou seja, o ato de um agente público representa o ato do órgão. Por exemplo, o ato ilícito de um servidor público representa, em verdade, ato ilícito praticado pelo órgão em que esse servidor está lotado. • O princípio da moralidade assegura a ideia de honestidade nas práticas administrativas praticadas por agentes públicos, embora seja um princípio de difícil expressão verbal (MEDAUAR, 2020) e que alguns autores entendem como um conceito já absorvido pelo conceito de legalidade em si (DI PIETRO, 2020). Em essência, esse princípio visa garantir que os atos administrativos praticados pelos agentes públicos sejam pautados em preceitos éticos e morais, vinculando a moralidade administrativa ao conceito do “bom administrador”. Nesse sentido, 22 portanto, um agente público, ao identificar uma oportunidade jurídica de se beneficiar de algo, não poderá fazê-lo devido à limitação imposta pelo princípio da moralidade administrativa. • O princípio da publicidade obriga a Administração Pública a dar ampla divulgação aos seus atos administrativos de forma a possibilitar o controle de terceiros, interno e externamente. Esse princípio busca dar transparência aos atos administrativos e garantir o direito de controle e fiscalização da sociedade, um dos requisitos para a eficácia e moralidade dos atos administrativos. A transparência é a regra, o segredo e o sigilo são a exceção! • O princípio da eficiência determina que a Administração Pública deve atuar de modo célere e preciso, fazendo a utilização eficaz dos recursos públicos, para satisfazer as necessidades coletivas. Portanto, o agente público deve se empenhar para obter o melhor resultado (eficaz) com o mínimo de recursos (eficiente). É importante frisar que, em nome da eficiência, a legalidade não deve ser sacrificada, portanto, o princípio da eficiência e o princípio da legalidade devem ser conciliados (MEDAUAR, 2020). É necessário enfatizar que o princípio da impessoalidade, moralidade e publicidade estão intrinsicamente ligados. Medauar (2020, p. 126-127, grifo nosso) assim explica: “[...] a impessoalidade configura-se meio para atuações dentro da moralidade; a publicidade, por sua vez, dificulta medidas contrárias à moralidade e impessoalidade; a moralidade administrativa, de seu lado, implica observância da impessoalidade e da publicidade”. Portanto, esses e os demais princípios constituem as bases para o funcionamento da Administração Pública. Por fim, apresentamos na Quadro 7 a seguir um resumo descritivo de cada um dos princípios fundamentais que devem alicerçar o funcionamento de toda a Administração Pública. QUADRO 7 – “LIMPE” FONTE: Adaptado de <https://bityli.com/VNJNWN>. Acesso em: 13 dez. 2021. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE PUBLICIDADE EFICIÊNCIA Atenção e submissão às leis, respeitando os interesses coletivos acima dos interesses privados. Tratamento igual a todos os cidadãos e cidadãs. Atuação sem favoritismo e sem autopropaganda por parte dos agentes públicos. Preservação da ética e da moral (nos termos da lei) em todas as ações por parte dos agentes públicos. Priorização da transparência e da prestação de contas em todas as ações que envolvem os recursos ou informações de interesse público. Execução dos serviços públicos com qualidade, respeitando e fazendo o bom uso do orçamento público (sem desperdícios). 23 Segue uma dica para você nunca esquecer os cinco princípios constitucionais da Administração Pública. As iniciais de cada princípio presente no Artigo 37 de nossa Constituição Federal formam a sigla denominada “LIMPE”: (L) Legalidade; (I) Impessoalidade; (M) Moralidade; (P) Publicidade; e (E) Eficiência. Guarde essa sigla e você não se esquecerá desses princípios! Para uma visão mais contemporânea da Administração Pública, recomenda- se a leitura do artigo intitulado “O perfil da Administração Pública no século XXI: uma releitura à luz dos direitos fundamentais” de Luiz Carlos Figueira de Melo e Marcella Rosiére de Oliveira, publicado em 2018 na Revista Digital de Direito Administrativo da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto. Nesse artigo, os autores abordam esses aspectos sobre suas novas formas de expressão e instrumentos de ação. FONTE: MELO, L. C. F.; OLIVEIRA, M. R. O perfil da Administração Pública no século XXI: uma releitura à luz dos direitos fundamentais. Revista Digital de Direito Administrativo, v. 5, n. 2, p. 97-118, 2018. DICA NOTA 24 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A organização político-administrativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição Federal de 1988. • De acordo com a Constituição Federal de 1988, os poderes são divididos em Legislativo, Executivo e Judiciário, apresentando-se como um dos pressupostos da existência do Direito Administrativo, ramo autônomo no campo do Direito que, em sua essência, disciplina a atuação da Administração Pública. • As ações entre os três poderes precisam ser articuladas para que juntos possam atingir as finalidades públicas e serem harmoniosas entre si. • Cada um dos três poderes possui funções típicas e atípicas; a que é exercida com preponderância é a típica e a função exercida secundariamente é a atípica. • O Poder Legislativo, Executivo e Judiciário tem como principal função organizar, elaborar e atualizar o ordenamento jurídico do Estado; governar a nação e administrar os interesses públicos; e garantir os direitos individuais, coletivos e sociais, bem como resolver conflitos entre cidadãos, entidades e o Estado, respectivamente. • A Administração Pública é dividida em Administração Direta e Indireta. A primeira composta pelos órgãos diretamente ligados aos entes da federação e a segunda pelos órgãos descentralizados e autônomos para em nome do Chefe do Poder Executivo do ente, exercer alguma atividade administrativa. • As Sociedades de Economia Mista (Administração Indireta) estão sujeitas à Lei das Sociedades por Ações – Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. • A Administração Pública – direta e indireta – de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios obedecerá aos princípios previstos no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988, que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 A tripartição de poderes, como também é chamada a separação dos poderes, difundiu-se nas discussões apresentadas por Montesquieu (MONTESQUIEU, 2000). Nesse sentido, considerando suas concepções, disserte sobre a tripartição dos poderes a partir da divisão de poderes estabelecida em nossa Constituição Federal de 1988. FONTE: MONTESQUIEU. O espírito das leis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 851 p. 2 Considerando a função típica e, tendo como base de análise a União e a função de cada poder, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Legislativo. II- Executivo. III- Judiciário. ( ) Sanciona, promulga e veta leis. Coloca programas de governo em prática, bem como pode propor leis e emendas constitucionais. ( ) Garante direitos e resolve conflitos entre cidadãos, entidades e o Estado. Assegura o cumprimento da Constituição Federal e tema palavra final nas questões que envolvem suas normas. ( ) Propõe leis, emendas à Constituição Federal, Medidas Provisórias, Decretos e Resoluções. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II – I – III. b) ( ) III – II – I. c) ( ) II – III – I. d) ( ) I – II – III. 3 Para assegurar a plena fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, no que tange aos entes públicos, a Constituição Federal de 1988 prevê dois tipos de controle. Acerca disso, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Controle Interno e Privado. b) ( ) Controle Externo e Público. c) ( ) Controle Interno e Externo. d) ( ) Controle Público e Privado. AUTOATIVIDADE 26 4 Em decorrência do disposto no Artigo 1º da Constituição Federal de 1988, existem níveis de poder político-administrativo e administrativo em nossa organização político- administrativa, implicando em uma divisão vertical e horizontal da Administração Pública. Nesse sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A Administração Direta consiste em serviços integrados à estrutura administrativa do Poder Executivo e demais órgãos auxiliares subordinados ao Chefe deste Poder. ( ) Na União, a Administração Direta é composta pelas Secretarias, nos Estados pelas Secretarias de Estado e nos Municípios pelas Secretarias Municipais. ( ) A Administração Indireta executa de forma descentralizada, serviços e atividades de interesse público, sem vínculo de subordinação ao Chefe do Poder Executivo. ( ) A Administração Indireta compreende as seguintes categorias de entidades: Autarquias; Empresas Públicas; Sociedades de Economia Mista; e Fundações Públicas e Privadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – F. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) V – V – F – V. d) ( ) F – F – F – V. 5 Os agentes públicos, no exercício das suas funções nos órgãos e entidades da Administração Pública, devem orientar-se em diferentes tipos de princípios. Nesse sentido, considerando os preceitos apresentados nesta unidade, disserte especificamente sobre a finalidade dos cinco princípios constitucionais da Administração Pública. 27 CONCEITO E APLICABILIDADE DA CONTABILIDADE PÚBLICA 1 INTRODUÇÃO Piscitelli e Timbó (2010) indicam que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público constitui uma das subdivisões da Contabilidade Aplicada a diferentes tipos de atividades, de entidades e que tem seu campo de atuação o das pessoas jurídicas de Direito Público – União, Estados, Distrito Federal, Municípios (Administração Direta) e suas autarquias (Administração Indireta) –, bem como o de algumas de suas entidades vinculadas – fundações públicas e empresas públicas –, essas pelo menos quando utilizam recursos públicos à conta do Orçamento Público dos entes federativos. Em termos práticos, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público é um dos ramos mais complexos da ciência contábil (KOHAMA, 2012) e visa proporcionar a coleta, o registro e o controle dos atos e fatos que afetam o patrimônio público, em específico os fatos e atos de natureza orçamentária e financeira (LIMA; CASTRO, 2012). Portanto, considerando o escopo de trabalho da Contabilidade Pública e suas características especiais em relação a outras áreas de atuação da contabilidade, é necessário compreender as terminologias e refinar conceitos específicos dessa área, que é o nosso objeto de estudo para este tópico. Nesse sentido, para dar continuidade aos nossos estudos, no Tópico 2, abordaremos questões relacionadas às concepções introdutórias da Contabilidade Aplicada ao Setor Público em termos de conceito, objetivo, objeto, patrimônio e campo de aplicação de estudo dessa área da Ciência Contábil. Posteriormente, discutiremos os princípios aplicados à Contabilidade Pública, especificamente os princípios da entidade, continuidade, oportunidade, registro pelo valor original, competência e prudência. Por fim, apresentaremos o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, instrumento que visa colaborar com o processo de elaboração e execução do orçamento, além de auxiliar no resgate do objeto da contabilidade como ciência, que é o patrimônio, em particular, o patrimônio público. Aos estudos! UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 28 2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO Antes de iniciarmos as discussões específicas sobre os temas abordados neste tópico, iremos, primeiramente, compreender as principais diferenças entre a Contabilidade Tradicional aplicada às pessoas jurídicas de Direito Privado e a Contabilidade Pública aplicada às pessoas jurídicas de Direito Público. Essas diferenças e particularidades são apresentadas no Quadro 8. QUADRO 8 – DIFERENÇAS ENTRE A CONTABILIDADE PÚBLICA E A TRADICIONAL ASPECTOS CONTABILIDADE PÚBLICA CONTABILIDADE TRADICIONAL Legislação Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 Princípios Contábeis E Entidade C Continuidade O Oportunidade R Registro pelo Valor Original C Competência P Prudência A Atualização Monetária (E) Princípios Orçamentários U Unidade ou Totalidade - Não há equivalente U Universalidade A Anualidade ou Periodicidade E Exclusividade O Orçamento Bruto L Legalidade P Publicidade T Transparência N Não-Vinculação E Equilíbrio Regime de Escrituração Regime Misto Regime de Competência Regime de Caixa: Receitas Regime de Competência: Despesas Receitas e Despesas Resultado ( + ) Superávit ( + ) Lucro ( - ) Déficit ( - ) Prejuízo 29 Legendas: E - Excluído; I - Incluído. FONTE: Adaptado de <https://bityli.com/Yiq82py>. Acesso em: 13 dez. 2021. Com base nos aspectos apresentados, explicamos as principais diferenças: • A Contabilidade Tradicional é disciplinada pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, enquanto a Contabilidade Pública é regida pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços dos entes da República Federativa do Brasil. • O dicionário da Oxford Languages define o substantivo “Princípio” como “o primeiro momento da existência (de algo), ou de uma ação ou processo; começo, início” e “o que serve de base a alguma coisa; causa primeira, raiz, razão” (PRINCÍPIO, 2022). Em termos práticos, os “Princípios Contábeis” são as normas a serem observadas por – todos – os profissionais da contabilidade no exercício de sua profissão e aplicadas no objeto de estudo da ciência contábil: o Patrimônio. Os “Princípios Contábeis de Contabilidade (PFC)” foram inicialmente publicados pelo Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução CFC nº 750, de 29 de dezembro de 1993 e, posteriormente alterada pela Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010, que atualiza e consolida as disposições da Resolução CFC nº 750/1993. Além dos “Princípios de Contabilidade (PC)” – nova denominação dada pela Resolução CFC nº 1.282/2010 –, aplica-se também na Contabilidade Pública os “Princípios Orçamentários”, essas dispostas na Lei nº 4.320/1964 e na Constituição Federal de 1988, por conta do Orçamento Público. • Os “Fatos Administrativos” e “Atos Administrativos” correspondem aos atos realizados pela administração, privada ou público de uma entidade, que modifica (e.g. pagamentos e recebimentos) ou não (e.g. apreensão de mercadorias) o patrimônio Sistemas de Informação Contábil Sistema Orçamentário Não há equivalenteSistema Financeiro (E) Sistema Patrimonial e de Resultado Sistema Patrimonial e de Resultado Sistema de Compensação Não há equivalente Sistema de Custos (I) Demonstra- ções Contá- beis Balanço Orçamentário Balanço Não há equivalenteFinanceiro Patrimonial Patrimonial Demonstração das Variações Patrimoniais Demonstração do Resultado do Exercício Demonstração dos Fluxos de Caixa Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Demonstração dosLucros ou Prejuízos Acumulados Não há equivalente Demonstração do Valor Adicionado (se companhia de capital aberto) Notas-Explicativas 30 da entidade, respectivamente. Enquanto a Contabilidade Tradicional deve controlar os fatos administrativos e, eventualmente, controlar os atos administrativos, na Contabilidade Pública, os fatos e atos administrativos são controlados, para isso, contabilizamos os fatos administrativos nas contas patrimoniais e de resultado e os atos administrativos em contas de compensação. • As diferenças em relação ao regime de escrituração contábil ocorrem por conta do principal instrumento de controle dos entes públicos, o Orçamento Público. Portanto, considerando que esse instrumento de controle não está presente nas entidades de Direito Privado – pelo menos não na medida e na forma como o Orçamento Público e os sistemas de informações contábeis do setor público são estruturados –, ocorre essa diferença nos regimes de escrituração. • Superávit ou Déficit versus Lucro ou Prejuízo? Enquanto as entidades de Direito Privado apuram o lucro ou prejuízo no final do exercício financeiro, as entidades de Direito Público apuram o superávit ou déficit, que pode ser orçamentário, financeiro e patrimonial. Superávit e Déficit são opostos. Enquanto o superávit é o excedente, o déficit é o saldo negativo. Portanto, o superávit seria o equivalente ao lucro do período e déficit o prejuízo do período. Essas terminologias são diferentes devido à finalidade dessas entidades. Enquanto as entidades privadas desenvolvem atividades econômicas com fins comerciais, visando à geração de lucro aos proprietários e acionistas, as entidades públicas visam à prestação de serviços públicos, sem fins lucrativos e, portanto, ao final do exercício financeiro, não visam lucros, mas o equilíbrio financeiro das contas públicas. • Uma questão muito específica e peculiar da Contabilidade Pública em relação à Contabilidade Tradicional são os seus sistemas independentes de informação contábil, aqui menciono os sistemas de informação orçamentário, financeiro, patrimonial e de custos, respectivamente. Enquanto a Contabilidade Tradicional controla os fatos administrativos contabilizando-os nas contas patrimoniais e de resultado, a Contabilidade Pública contabiliza seus fatos administrativos nas contas patrimoniais e de resultado e os atos administrativos em contas de compensação. Entretanto, considerando que a estrutura de informações contábeis do setor público trabalha com esses sistemas independentes e tem a sua estrutura informacional centrada no Orçamento Público, as contabilizações, quase que em sua totalidade, dão-se de forma interligada e através do sistema orçamentário, financeiro, patrimonial e de custos. Essa estrutura informacional e contábil será compreendida mais adiante, neste momento o importante é entender que na Contabilidade Pública são utilizados mais sistemas de informação contábil – em comparação com a estrutura do setor privado – do que na Contabilidade Tradicional, e que eles visam fornecer um nível mais elevado de informação contábil e patrimonial e transparência pública. • As demonstrações contábeis no setor público são “[...] a representação estruturada da situação patrimonial, financeira, [orçamentária] e do desempenho da entidade” (STN, 2021a, p. 486), enquanto as demonstrações contábeis no setor privado correspondem apenas à situação patrimonial e financeira dessas entidades. Entretanto, embora o interesse das demonstrações contábeis no setor público pela 31 Lei nº 4.320/1964 tenha um enfoque orçamentário e financeiro, a convergência às Normas Internacionais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público – International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) – aproximou as demonstrações contábeis do setor público das do setor privado, aumentando significativamente o poder informacional das demonstrações contábeis do setor público para usuários internos e externos. Para um melhor entendimento do campo de aplicação da Contabilidade Pública, apresentamos a seguinte representação visual: FIGURA 2 – CAMPO DE APLICAÇÃO DA CONTABILIDADE PÚBLICA FONTE: Adaptado de Rosa (2011, p. 15) 32 Caro acadêmico, fique tranquilo! Aprofundaremos os temas que foram apresentados resumidamente neste tópico. Nos próximos tópicos e unidades, estudaremos: • Princípios Aplicados à Contabilidade Pública. • Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. • Normas Internacionais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. • Orçamento Público. • Princípios Orçamentários. • Variações Orçamentárias e Patrimoniais. • Sistema de Informação Contábil no Setor Público. • Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público. O objetivo da apresentação desses assuntos nesta seção foi para permitir que você percebesse que existem diferenças e semelhanças entre a Contabilidade Tradicional e a Contabilidade Pública. Esperamos que a apresentação desse panorama inicial tenha ajudado a inseri-lo no mundo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público! ESTUDOS FUTUROS Compreendida as principais diferenças entre a Contabilidade Tradicional e a Contabilidade Pública, você já se perguntou quem são os usuários das informações da Contabilidade Aplicada ao Setor Público? Vários se interessam pelas informações contábeis e financeiros dos entes públicos, por esse motivo, apresentamos no Quadro 9 os tipos e seus respectivos usuários. QUADRO 9 – TIPOS DE USUÁRIOS TIPOS DE USUÁRIOS USUÁRIOS Usuários relacionados com a regulação legislativa e elaboração dos atos normativos pertinentes Poder Judiciários Poder Legislativo Poder Executivo Dirigentes de cada entidade e seus desdobramentos técnicos e administrativos Usuários da previdência social Trabalhadores ativos Empresários Sindicatos Beneficiários de aposentadorias e pensões Usuários relacionados com a prestação de contas dos governantes Interesse no cumprimento da legalidade e utilização correta dos recursos públicos Poder Legislativo Tribunal de Contas Cidadãos em geral Interesse geral nas ações administrativas Contribuintes Empresários Trabalhadores 33 FONTE: Silva (2011, p. 16) Com relação aos tipos e usuários, Silva (2011, p. 16-17) explica: Os grupos dos cidadãos estão interessados nas demonstrações contábeis com o objetivo de avaliar as condições financeiras e a probabilidade de aumento de impostos ou de taxas de serviço. Nesses grupos podem ser encontradas diversas associações de defesa do cidadão com interesse nos relatórios para exigir o aumento da aplicação em determinadas funções, como, por exemplo: educação, saúde, saneamento etc. Aos membros do Poder Legislativo, na condição de usuário, cumpre avaliar a condição financeira global, inclusive a estrutura da dívida e os recursos disponíveis, calculando a dívida consolidada liquida. O objetivo desse grupo de usuários é monitorar o resultado nominal e o resultado primário para assegurar o cumprimento da “regra de ouro” das finanças públicas, que proíbe operações de crédito (empréstimos) com o objetivo de dar cobertura a despesas correntes. Preocupam- se, ainda, com o nível e as fontes de recursos e o nível e tipos de gasto, principalmente nas funções em que estabeleceram aplicação mínima [constitucional], com Educação e Saúde. Os investidores e credores precisam da informação sobre recursos financeiros disponíveis e preocupam-se com a avaliação das responsabilidades atuais e contingentes, bem como a posição da dívida consolidada do governo com o objetivo de identificar sua habilidade para continuar arrecadando e comprometendo recursos, principalmente em relação à continuidade de certos gastos de natureza fixa. Para isso, precisam conhecer os resultados operacionais e os dados de fluxo monetário (atual e futuro), com o objetivo de fazer análise das tendências e identificar pontos fortes e pontos fracos na geração de recursos, principalmente para amortização da dívida. Tendo compreendido as diferenças eos tipos e usuários da informação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, discutiremos especificamente o conceito, objetivo, objeto, patrimônio e campo de aplicação da Contabilidade Pública a seguir. Para isso, teremos como base a Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público – NBC TSP Estrutura Conceitual –, emitido pelo Conselho Federal de Contabilidade, no sentido de (CFC, 2016, p. 4): Usuários relacionados com os aspectos econômicos e financeiros do Estado Como financiadores Bancos públicos Bancos privados Entidades de crédito e financiamento em geral Como investidores Bancos em geral Agências de rating Cidadãos em geral Usuários relacionados com o controle interno Dirigentes da entidade de todos os níveis Representantes dos funcionários e trabalhadores 34 A Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público (Estrutura Conceitual) estabelece os conceitos que devem ser aplicados no desenvolvimento das demais Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) destinados às entidades do setor público. Além disso, tais conceitos são aplicáveis à elaboração e à divulgação formal dos Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público (RCPGs). Para complementar e compor o conceito, objetivo, objeto, patrimônio e campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, também faremos uso da Resolução CFC nº 1.128 (CFC, 2008a) e 1.129 (CFC, 2008b), ambas de 21 de novembro de 2008, que tratam da Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação e Patrimônio e Sistemas Contábeis Aplicados ao Setor Público, respectivamente. Embora ambas as resoluções tenham sido revogadas com a publicação da NBC TSP Estrutura Conceitual (CFC, 2016), os textos expressos nessas resoluções são de grande valia para a compreensão desses temas. Vamos lá? 2.1 CONCEITO De acordo com o item 3 da Resolução CFC nº 1.128/2008 – NBC T 16.1 – Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação –, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público é “o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, Caro acadêmico, quando discutimos a primeira diferença entre Contabilidade Tradicional e Contabilidade Pública, apresentamos a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços dos entes da República Federativa do Brasil. Passamos agora a explicar do que se trata o Direito Financeiro. De acordo com Harada (2021, p. 17), o Direito Financeiro é “[...] o ramo do Direito Público que estuda a atividade financeira do Estado sob o ponto de vista jurídico”, cuja matéria de estudo se desdobra sobre a receita, despesa, orçamento e crédito público, voltando seu estudo sobre as finanças públicas. Harada (2021) destaca que diversos doutrinadores contemporâneos reconhecem o Direito Financeiro como ramo autônomo, embora suas conexões com o Direito Administrativo. Piscitelli (2021) ressalta que as três principais fontes do Direito Financeiro são, respectivamente: i. a Constituição Federal de 1988; ii. a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964; e iii. a Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal –, sendo a Lei nº 4.320/1964 o principal marco legislativo do Direito Financeiro no Brasil (p. 3). FONTE: HARADA, K. Direito Financeiro e Tributário. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2021. 920 p. PISCITELLI, T. Direito Financeiro. 7. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2021. 271 p. NOTA 35 Caro acadêmico, você já se perguntou como a Contabilidade Pública pode ser utilizada como instrumento de controle social? A Contabilidade Pública é um instrumento de controle social e de empoderamento da sociedade no exercício da democracia, em particular, quando atua nos espaços de participação que lhe são proporcionados pelo próprio Estado (AUGUSTINHO; OLIVEIRA; GUIMARÃES, 2015, p. 183). Assim, a participação da população no controle e monitoramento dos gastos públicos, por meio das informações contábeis disponíveis nos Portais de Transparência, se revelam na visão dos autores atributos de primeira ordem para viabilizar o acompanhamento da aplicação dos recursos públicos. Nesse sentido, para saber mais sobre o assunto, recomendamos a leitura do artigo intitulado “Disclosure e Accountability nas Demonstrações Contábeis Públicas como Instrumentos de Controle Social” da autoria de Sônia Maria Augustinho, Antonio Gonçalves de Oliveira e Inácio Andruski Guimarães, cujo objetivo é conhecer o nível de entendimento dos líderes comunitários da cidade de Curitiba sobre as informações extraídas do Balanço Orçamentário. FONTE: AUGUSTINHO, S. M.; OLIVEIRA, A. G.; GUIMARÃES, I. A. Disclosure e accountability nas demonstrações contábeis públicas como instrumentos de controle social. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), v. 9, n. 2, 2015. INTERESSANTE os Princípios de Contabilidade [– Resolução CFC nº 750, de 29 de dezembro de 1993 –] e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público” (CFC, 2008a, p. 3). 2.2 OBJETIVO O objetivo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é: “fornecer aos usuários informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e física do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social” (CFC, 2008a, p. 3). Além de fornecer informações aos diversos usuários, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público possui função social, entre a qual “deve refletir, sistematicamente, o ciclo da administração pública [planejamento; programação; orçamentação; execução; controle; avaliação] para evidenciar informações necessárias à tomada de decisões, à prestação de contas e à instrumentalização do controle social” (CFC, 2008a, p. 3). 36 2.3 OBJETO O objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o estudo do patrimônio público (CFC, 2008a, p. 3). Rosa (2011, p. 7) sobre o patrimônio público ressalta: [...] assim entendido como o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não. Engloba ainda os direitos e bens adquiridos, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público. Tais direitos e bens devem ser portadores de benefícios, ou representar um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerentes à prestação de serviços públicos, ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações. Para isso, o sistema contábil, segundo a Resolução CFC nº 1.128/2008 – NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis – representa a “estrutura de informações sobre identificação, mensuração, registro, controle, evidenciação e avaliação dos atos e dos fatos da gestão do patrimônio público, com o objetivo de orientar e suprir o processo de decisão, a prestação de contas e a instrumentalização do controle social” (CFC, 2008b, p. 4, grifo nosso). Portanto, para que o sistema contábil possa controlar esses tipos de informações e fornecer informações úteis para o processo de tomada de decisão dos gestores públicos, além de auxiliar a prestação de contas e ser um instrumento de controle social, faz-se necessário uma ampla estrutura de informação contábil. Nesse sentido, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público “é organizada na forma de sistema de informações, cujos subsistemas, conquanto possam oferecer produtos diferentes em razão da respectiva especificidade, convergem para o produto final, que é a informação sobre o patrimônio público” (CFC, 2008b, p. 4, grifo nosso). Para isso, o sistema contábil deverá ser estruturado nos seguintes subsistemas de informações: i. orçamentário;ii. patrimonial; iii. custos (subsistema incluído em 2013); e iv. compensação. A norma – NBC T 16.2 (CFC, 2008b, grifo nosso) – define cada subsistema da seguinte forma: Orçamentário – registra, processa e evidencia os atos e os fatos relacionados ao planejamento e à execução orçamentária; Patrimonial – registra, processa e evidencia os fatos financeiros e não financeiros relacionados com as variações qualitativas e quantitativas do patrimônio público; Custos – registra, processa e evidencia os custos dos bens e serviços, produzidos e ofertados à sociedade pela entidade pública, consoante a NBC T 16.11; Compensação – registra, processa e evidencia os atos de gestão cujos efeitos possam produzir modificações no patrimônio da entidade do setor público, bem como aqueles com funções específicas de controle. 37 Dessa forma, o sistema contábil terá como partes os subsistemas de informações, esses integrados entre si e a outros subsistemas de informações (e.g. sistema de folha de pagamentos), que irão fornecer diferentes informações em razão das suas especificadas e particularidades, direcionando para o controle do patrimônio público. De acordo com a NBC T 16.2, o sistema contábil deve subsidiar a administração pública sobre (CFC, 2008b, p. 4): (a) desempenho da unidade contábil no cumprimento da sua missão; (b) avaliação dos resultados obtidos na execução das ações do setor público com relação à economicidade, à eficiência, à eficácia e à efetividade; (c) avaliação das metas estabelecidas pelo planejamento; (d) avaliação dos riscos e das contingências; (e) conhecimento da composição e movimentação patrimonial. Apresentamos na Figura 3 a representação do Sistema de Informação Contábil no Setor Público conforme o Conselho Federal de Contabilidade. FIGURA 3 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL NO SETOR PÚBLICO FONTE: Gama, Duque e Almeida (2014, p. 188) Acadêmico, neste tópico nosso objetivo não é entrar nas especificidades de cada subsistema de informação contábil. Neste momento, é importante entender que, para poder estudar o patrimônio público, a contabilidade se utiliza de vários tipos de informações contábeis, que juntos fornecem as informações necessárias para o estudo do patrimônio público. 38 Caro acadêmico, o Sistema de Informação Contábil no Setor Público está estruturado em subsistemas de informação cuja natureza das suas funções produzem informações distintas e específicas, nomeadamente: orçamentário, financeiro, patrimonial, custos e compensação. Em 2009, o subsistema financeiro, por conta da Resolução CFC nº 1.268 de 10 de dezembro de 2009 (CFC, 2009), foi excluído desse amplo sistema de informação e passou a ser controlado no subsistema patrimonial (conforme pode ser observado na Figura 3). Até então, esse subsistema tinha a função de registrar, processar e evidenciar os fatos relacionados aos ingressos e aos desembolsos financeiros, bem como as disponibilidades no início e final do período (CFC, 2008b). Dessa forma, os fatos anteriormente registrados no subsistema financeiro passam a ser registrados no subsistema patrimonial. Caro acadêmico, estudaremos em profundidade na Unidade 3 do nosso Livro didático, os subsistemas de informação contábil e os sistemas de contas, especificamente os subsistemas: i. orçamentário; ii. patrimonial; e de iii. custos. Nesse ponto, é importante entender que o Sistema de Informação Contábil no Setor Público é formado por esses subsistemas, que em conjunto convergem para o produto de estudo da Contabilidade Pública, que é a informação sobre o patrimônio público. INTERESSANTE ESTUDOS FUTUROS 2.4 PATRIMÔNIO O patrimônio público é definido como “o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações” (CFC, 2008b, p. 2-3). De acordo com Kohama (2012, p. 191, grifo do autor), o patrimônio público, por analogia, “compreende o conjunto de bens, direitos e obrigações avaliáveis em moeda corrente, das entidades que compõem a Administração Pública”. Para contextualizar, apresentamos a estruturação do patrimônio público na Tabela 1. 39 FONTE: Adaptada de NBC T 16.2 (CFC, 2008b, p. 3-4) Segundo o Artigo 99 e demais artigos do Capítulo III do Livro II do Código Civil – Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002, grifo nosso), são bens públicos: Art. 99. São bens públicos: I- os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II- os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III- os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. TABELA 1 – ESTRUTURAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO PATRIMÔNIO PÚBLICO ATIVO PASSIVO Recursos controlados pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem para a entidade benefícios econômicos futuros ou potencial de serviços. Obrigações presentes da entidade, derivadas de eventos passados, cujos pagamentos se esperam que resultem para a entidade saídas de recursos capazes de gerar benefícios econômicos ou potencial de serviços. A classificação dos elementos patrimoniais considera a segregação em “circulante” e “não circulante”, com base em seus atributos de conversibilidade e exigibilidade. CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos seus passivos. 40 Na sequência, apresentamos no Quadro 10 alguns exemplos de bens públicos. QUADRO 10 – EXEMPLOS DE BENS PÚBLICOS FONTE: O autor Kohama (2012, p. 192) enfatiza que, do ponto de vista da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, “deve ser entendido como patrimônio público somente aquele passível de contabilização”, pois os bens públicos de uso comum não integram o patrimônio contábil dos órgãos e entidades da Administração Pública (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010) e, portanto, tais bens não são contabilizados no Ativo do ente estatal. Por exemplo, os bens descritos como de uso comum do povo – como os mares, rios, estradas, parques, jardins, praias ou monumentos – não são incorporados ao patrimônio contábil do ente público, apesar dos recursos dispendidos na aquisição, construção, conservação e reforma constituírem despesas orçamentárias. Quintana et al. (2011) esclarecem que a gestão dos bens públicos envolve fases distintas, as quais se destacam: i. recebimento e aceite; ii. tombamento; iii. incorporação (escrituração contábil); iv. movimentação; e v. desfazimento (desincorporação ou baixa). A descrição dessas etapas é apresentada na Tabela 2. BENS DE USO COMUM Mar Rios Ruas Rodovias (seu uso pode ser gratuito ou não – e.g. cobrança de pedágio) Parques (seu uso pode ser gratuito ou não – e.g. cobrança de entrada) BENS DE USO ESPECIAL Hospitais Escolas Teatros Veículos Equipamentos BENS DOMINICAIS Terrenos das Operações das ForçasArmadas Terrenos da Marinha Terras devolutas Títulos da Dívida Pública Prédios Públicos desativados 41 TABELA 2 – DESCRIÇÃO DA GESTÃO DOS BENS PÚBLICOS FONTE: Adaptada de Quintana et al. (2011) RECEBIMENTO ↓ Entrega do material ou bem solicitado ao órgão público no local previamente acordado para o recebimento. Exemplo: entrega do material ou bem na Secretaria de Educação. ACEITE ↓ Declaração de que o material ou bem solicitado satisfaz às especificidades. Exemplo: Conferências do material ou bem pela Secretaria de Educação. TOMBAMENTO ↓ Os equipamentos e materiais permanentes deverão ser tombados pelo órgão público, ou seja, receberão números sequenciais de registro patrimonial, os quais deverão ser aplicados, mediante gravação, fixação de plaqueta ou etiqueta apropriada, exceção essa para os casos de material bibliográfico, o qual o registro patrimonial poderá ser aposto mediante carimbo. INCORPORAÇÃO ↓ Realizado o tombamento do bem público, o mesmo deve ser incorporado ao patrimônio da entidade estatal, por meio dos lançamentos contábeis nos subsistemas de informação contábil do setor público. MOVIMENTAÇÃO ↓ Refere-se a cessão e a transferência gratuita de posse e troca de responsabilidade, sendo a primeira realizada entre órgãos ou entidades da Administração Pública e a última dentro de um mesmo órgão ou entidade. Exemplo: Secretário da Fazenda cede o uso de uma ou mais de suas dependências para um órgão da Secretaria de Saúde. DESFAZIMENTO Desincorporação ou baixa é a exclusão, retirada ou desagregação de bens constantes no patrimônio contábil de uma entidade pública, por meio da cessão, alienação ou outras formas de desfazimento, por exemplo: extravio, dano, obsolescência ou desuso. Exemplo: Alienação de equipamentos de esterilização da Secretaria de Saúde em decorrência de obsolescência programada. Caro acadêmico, além da classificação dos bens públicos expressos pelo Código Civil, o patrimônio público deve ser analisado sob dois outros aspectos: qualitativo e quantitativo. Silva (2011) esclarece que sob o aspecto qualitativo, o patrimônio deve ser avaliado quanto às fontes de recursos (origem) e a forma como esses mesmos recursos são aplicados (finalidade), enquanto sob o aspecto quantitativo, o patrimônio é expresso em termos de um valor numérico sintético, ou seja, valores monetários. NOTA 42 2.5 CAMPO DE APLICAÇÃO O campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é, essencialmente, o das pessoas jurídicas de Direito Público – União, Estados, Distrito Federal e Municípios e suas autarquias –, bem como o de algumas de suas entidades vinculadas – fundações e empresas públicas – (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010) abrangendo todos os entes do setor público, as quais foram definidas de acordo com a NBC T 16.1 (CFC, 2008a, p. 2) como: [...] órgãos, fundos e pessoas jurídicas de direito público ou que, possuindo personalidade jurídica de direito privado, recebam, guardem, movimentem, gerenciem ou apliquem dinheiros, bens e valores públicos, na execução de suas atividades. Equiparam-se, para efeito contábil, as pessoas físicas que recebam subvenção, benefício, ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público. Com base nessa definição, aplica-se a Contabilidade Aplicada ao Setor Público às pessoas de Direito Público, bem como às entidades vinculadas que recebam recursos público oriundos do Orçamento Público, quais sejam, as fundações de Direito Público ou Privado e empresas públicas, bem como as pessoas físicas que recebam algum tipo de subvenção ou benefício oriundos de recursos públicos. Ainda segundo a norma, as entidades abrangidas pelo campo de aplicação devem observar as normas e as técnicas próprias da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, considerando-se o seguinte escopo (CFC, 2008a, p. 3-4, grifo nosso): (a) integralmente, as entidades governamentais, os serviços sociais e os conselhos profissionais; (b) parcialmente, as demais entidades do setor público, para garantir procedimentos suficientes de prestação de contas e instrumentalização do controle social. Portanto, em relação à observância das técnicas da Contabilidade Aplicada ao Setor Público pelas entidades abrangidas pelo âmbito de atuação das normas, devem ser considerados os escopos anteriormente mencionados. Caro acadêmico, para saber mais sobre o conceito, objetivo, objeto, patrimônio, campo de aplicações e outros aspectos da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, recomendamos a leitura de toda a NBC TSP Estrutura Conceitual. Nessa resolução, o Conselho Federal de Contabilidade, considerando o processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais, aprovou a “Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público”, elaborada a partir do Pronunciamento intitulado “The Conceptual Framework for General Purpose Financial Reporting by Public Sector Entities”, emitido pelo International Public Sector Accounting Standards Board da International Federation of Accountants (IPSASB/IFAC). Acesse em: https://bit.ly/38ltwgA. DICA 43 FONTE: O autor Observa-se que, inicialmente, a Resolução CFC nº 530, de 23 de outubro de 1981, foi a primeira norma emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade a respeito dos Princípios Fundamentais de Contabilidade – com a publicação da Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010, os Princípios Fundamentais de Contabilidade passam a se chamar Princípios de Contabilidade –, em vista à necessidade de fixar os princípios de contabilidade vigentes no Brasil. Em seguida, a Resolução CFC nº 750/1993 revogou a Resolução CFC nº 530/81 e estabeleceu em seu Artigo 3º os seguintes princípios: i. da Entidade; ii. da Continuidade; iii. da Oportunidade; iv. do Registro pelo Valor Original; v. da Atualização Monetária (complementada pela Resolução CFC nº 900, de 22 de março de 2001); vi. da Competência; e vii. da Prudência. Na sequência, a Resolução CFC nº 774, de 16 de dezembro de 1994, aprovou o Apêndice I da Resolução CFC nº 750/1993, a fim de interpretar os princípios e proporcionar um melhor entendimento 3 PRINCÍPIOS APLICADOS À CONTABILIDADE PÚBLICA O Conselho Federal de Contabilidade é o órgão responsável por regulamentar e fiscalizar o exercício do profissional de Contabilidade e, para tanto, emite normas técnicas e profissionais por meio de resoluções para disciplinar as Normas Brasileiras de Contabilidade. Entre as normas, estão os Princípios de Contabilidade. As resoluções que tratam dessa temática são evidenciadas a seguir. QUADRO 11 – LEGISLAÇÃO SOBRE PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE RES. PUBLICAÇÃOD.O.U RESOLUÇÃO EMENTAVIGOR REVOGADA 530/81 26/01/1982 Não Sim750/93 Aprova os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC) – Norma NBC T 1. Fonte: https://bit.ly/370CEqd.DOC 750/93 31/12/1993 Não SimNBC TSP Dispõe sobre os PFC. Fonte: https://bit.ly/3723Uoi.DOC 774/94 18/01/1995 Não Sim1.282/10 Aprova o Apêndice I à Resolução sobre PFC. Fonte: https://bit.ly/378iDxR.doc 900/01 03/04/2001 Não Sim1.282/10 Dispõe sobre a aplicação do Princípio da Atualização Monetária. Fonte: https://bit.ly/3iWBYoA.DOC 1.111/07 05/12/2007 Não SimNBC TSP Aprova o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/93 sobre os PFC. Fonte: https://bit.ly/3uPEQJi.doc 1.282/10 02/06/2010 Não SimNBC TSP Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os PFC. Fonte: https://bit.ly/3qTSV7g.doc 1.367/11 29/11/2011 Não SimNBC TSP Altera o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/93, aprovado pela Resolução CFC nº 1.111/07. Fonte: https://bit.ly/3K29aXw.doc 44 da matéria e, posteriormente, a Resolução CFC nº 1.111, de 29 de novembro de 2007, aprovou o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993, com o objetivo de fornecer maior esclarecimento sobre o conteúdo e abrangência dos Princípios de Contabilidade sob a perspectiva do Setor Público. Por fim, aResolução CFC nº 1.367, de 25 de novembro de 2011, alterou o Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993, visando adequar as atualizações implementadas pela Resolução CFC nº 1.282/2010. Contudo, com a publicação da NBC TSP Estrutura Conceitual em 4 de outubro de 2016, ficou estabelecido que ficassem revogadas, a partir de 1º de janeiro de 2017, as Resoluções CFC nº 750/1993, nº 1.111/2007, nº 1.282/2010 e nº 1.367/11, que tratavam dos Princípios de Contabilidade, sob o argumento de que se encontravam referenciados e ampliados em Estruturas Conceituais específicas. Nas palavras do Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2021, s.p.): Instrumento fundamental do processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP) ao padrão internacional, editado pela Federação Internacional de Contadores (IFAC, na sigla em inglês), a Estrutura Conceitual (NBC TSP) foi publicada pelo Conselho Federal de Contabilidade no dia 4 de outubro de 2016. Essa norma antecede a convergência das demais, apresentando os conceitos basilares para a elaboração e divulgação de informação contábil de propósito geral pelas entidades do setor público. Até o final de 2016, serão publicadas as primeiras cinco NBC TSP convergidas, produzindo efeitos a partir de janeiro de 2017. Ao ser publicada no Diário Oficial da União (DOU), a NBC TSP EC revogou as resoluções do CFC que aprovaram as normas aplicáveis ao setor público NBC T 16.1 a 16.5, parte da NBC T 16.6 e, ainda, a Resolução [CFC] nº 750/1993, que dispõe sobre os Princípios de Contabilidade, e a 1.111/2007, que trata da interpretação dos princípios sob a perspectiva da área pública. Revogar a Resolução [CFC] nº 750/1993, porém, não significa que os Princípios de Contabilidade estejam extintos. A revogação das resoluções visa à unicidade conceitual, indispensável para evitar divergências na concepção doutrinária e teórica, que poderiam comprometer aspectos formais das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). Caro acadêmico, conhecer as normativas emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) é de extrema importância para o exercício da profissão contábil no Brasil. Fique ligado! Para acessar e conhecer a legislação do nosso conselho, acesse a página oficial do CFC e vá para o guia de legislação. Lá você encontrará todas as normativas editadas pelo CFC. IMPORTANTE 45 Na sequência, apresentamos no Quadro 12 o conteúdo dos enunciados dos Princípios de Contabilidade contidos no Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993, aprovada pela Resolução CFC nº 1.111/2007 com nova redação dada pela Resolução CFC nº 1.367/2011 e, suas respectivas interpretações no setor público. QUADRO 12 – ENUNCIADO DOS PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE APLICADOS AO SETOR PÚBLICO 1 Apêndice II da Resolução CFC nº 750/1993, aprovado pela Resolução CFC nº 1.111/2007 com redação dada Resolução CFC nº 1.367/2011 Perspectiva do Setor Público (Resolução CFC nº 1.111/2007 com redação dada Resolução CFC nº 1.367/2011) ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA ENTIDADE Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, a um conjunto de pessoas, a uma sociedade ou a uma instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único. O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou a agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico-contábil. O Princípio da Entidade se afirma, para o ente público, pela autonomia e responsabilização do patrimônio a ele pertencente. A autonomia patrimonial tem origem na destinação social do patrimônio e a responsabilização pela obrigatoriedade da prestação de contas pelos agentes públicos. ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE Art. 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. No âmbito da entidade pública, a continuidade está vinculada ao estrito cumprimento da destinação social do seu patrimônio, ou seja, a continuidade da entidade se dá enquanto perdurar sua finalidade. 46 ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. O Princípio da Oportunidade é base indispensável à integridade e à fidedignidade dos processos de reconhecimento, mensuração e evidenciação da informação contábil, dos atos e dos fatos que afetam ou possam afetar o patrimônio da entidade pública, observadas as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. A integridade e a fidedignidade dizem respeito à necessidade de as variações serem reconhecidas na sua totalidade, independentemente do cumprimento das formalidades legais para sua ocorrência, visando ao completo atendimento da essência sobre a forma. ENUNCIADO DO REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL Art. 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. § 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas: I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações; e II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos seguintes fatores: a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis; Nos registros dos atos e fatos contábeis será considerado o valor original dos componentes patrimoniais. Valor Original, que ao longo do tempo não se confunde com o custo histórico, corresponde ao valor resultante de consensos de mensuração com agentes internos ou externos, com base em valores de entrada – a exemplo de custo histórico, custo histórico corrigido e custo corrente; ou valores de saída – a exemplo de valor de liquidação, valor de realização, valor presente do fluxo de benefício do ativo e valor justo. 47 b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; c) Valorpresente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor Justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. § 2º São resultantes da adoção da atualização monetária: I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo; II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência, o do Patrimônio Líquido; e III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional em um dado período. ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA Princípio revogado a partir da publicação da Resolução CFC nº 1.367/2011. ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA Art. 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. O Princípio da Competência aplica-se integralmente ao Setor Público. 48 ENUNCIADO DO PRINCÍPIO DA PRUDÊNCIA Art. 10º O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. As estimativas de valores que afetam o patrimônio devem refletir a aplicação de procedimentos de mensuração que prefiram montantes, menores para ativos, entre alternativas igualmente válidas, e valores maiores para passivos. A prudência deve ser observada quando, existindo um ativo ou um passivo já escriturado por determinados valores, segundo os Princípios do Valor Original, surgirem possibilidades de novas mensurações. 1 A transcrição dos enunciados dos princípios corresponde integralmente aos dos documentos originais e, portanto, mantém suas características e, consequentemente, erros gramaticais e ortográficos. FONTE: Adaptado de Rosa (2011, p. 296-307) e Conselho Federal de Contabilidade (1993, 2007, 2011). Portanto, embora essas resoluções tenham sido revogadas, esses princípios e outros novos estão contemplados na NBC TSP Estrutura Conceitual, na tentativa de circunscrever os limites da prática contábil e precisam ser consideradas por todos os contadores do país, de modo que tais princípios estabelecem a base teórica que regulamenta os critérios a serem seguidos para a elaboração das demonstrações contábeis e informações sobre a evolução do patrimônio da Administração Pública (SILVA, 2011). 4 MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) do Ministério da Economia (ME), por meio da publicação da Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 117, de 28 de outubro de 2021, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no § 2º do Art. 50 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – no que diz respeito da escrituração e consolidação das contas públicas, editaram e aprovaram a 9ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (STN, 2021a) – Parte I – Procedimentos Contábeis Orçamentários –, aplicado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, com validade em todo o território nacional a partir do exercício de 2022, como segue: Art. 2º A contabilidade no âmbito da União, dos Estados, do Distrito 49 A descrição da finalidade de cada Parte da 9ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público encontra-se no Quadro 13. Federal e dos Municípios, observará as orientações contidas na Parte I do MCASP – Procedimentos Contábeis Orçamentários, sem prejuízo do atendimento dos instrumentos normativos vigentes. Esse manual “visa colaborar com o processo de elaboração e execução do orçamento, além de contribuir para resgatar o objeto da contabilidade como ciência, que é o patrimônio”, possibilitando “a análise de demonstrações contábeis adequadas aos padrões internacionais, sob os enfoques orçamentário e patrimonial, com base em um Plano de Contas Nacional” (STN, 2021). Portanto, com vistas à consolidação das contas públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sob a mesma base conceitual, a STN/SOF/ME elencam as seguintes considerações para a publicação do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público: Considerando a necessidade de: a) aprimorar os critérios de reconhecimento de despesas e receitas orçamentárias; b) instituir instrumento eficiente de orientação comum aos gestores nos três níveis de governo, mediante consolidação, em um só documento, de conceitos, regras e procedimentos de reconhecimento e apropriação das receitas e despesas orçamentárias; e c) elaborar demonstrativos de estatísticas de finanças públicas em consonância com os padrões e regras estabelecidas nos acordos e convênios internacionais de que a União for parte, conforme previsto no inciso XVIII do Art. 7º do Decreto nº 6.976, de 2009, e no inciso XXV do Art. 49 do Anexo I do Decreto nº 9.745, de 2019; e Considerando a necessidade de proporcionar maior transparência sobre as contas públicas e de uniformizar a classificação das receitas e despesas orçamentárias; [...] A Secretaria do Tesouro Nacional, editou, também, através da 9ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público os seguintes instrumentos: i. Parte Geral; ii. Parte II – Procedimentos Contábeis Patrimoniais; iii. Parte III – Procedimentos Contábeis Específicos; iv. Parte IV – Plano de Contas Aplicado ao Setor Público; e v. Parte V – Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público. Caro acadêmico, outras versões do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) podem ser consultadas diretamente no website da Secretaria do Tesouro Nacional, e seu pleno conhecimento é recomendado para um maior aprofundamento dos temas tratados nesta e nas próximas unidades de nosso Livro didático. Acesse a 9ª edição do MCASP em: https:// sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943. DICA https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943 50 QUADRO 13 – DESCRIÇÃO DA FINALIDADE DAS PARTES DA 9ª EDIÇÃO DO MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO PARTE (Título) DESCRIÇÃO Parte I Procedimentos Contábeis Orçamentários (p. 35) [...] visa dar continuidade ao processo que busca reunir conceitos, regras e procedimentos relativos aos atos e fatos orçamentários e seu relacionamentocom a contabilidade. Também tem como objetivo a harmonização, por meio do estabelecimento de padrões a serem observados pela Administração Pública, no que se refere à receita e à despesa orçamentária, suas classificações, destinações e registros, de modo a permitir a evidenciação e a consolidação das contas públicas nacionais. Para cumprimento do objetivo de padronização dos procedimentos, esse Manual procura descrever rotinas e servir como instrumento orientador para os procedimentos relacionados às receitas e às despesas orçamentárias. Busca, assim, melhorar a qualidade e a consistência das informações prestadas a toda a sociedade, de modo a possibilitar o exercício da cidadania no processo de fiscalização da arrecadação das receitas e da execução das despesas, bem como o efetivo controle social sobre as contas dos Governos Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Parte II Procedimentos Contábeis Patrimoniais (p. 160) [...] apresenta o conjunto de conceitos, regras e procedimentos relativos aos atos e fatos patrimoniais e seu relacionamento com a Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Visa também à harmonização dos padrões a serem observados pela Administração Pública, no que se refere às variações patrimoniais, classificações, destinações e registros, para permitir a evidenciação e a consolidação das contas públicas nacionais. [...] Nesse aspecto, devem ser atendidos as normas contábeis voltadas para o reconhecimento, mensuração e evidenciação de ativos e passivos e suas variações patrimoniais, contribuindo para o processo de convergência às normas internacionais, respeitada a base legal nacional. A compreensão da lógica dos registros patrimoniais é importante para o entendimento da formação, composição e evolução do patrimônio. Parte III Procedimentos Contábeis Específicos Nessa versão do manual houve a padronização dos conceitos e procedimentos contábeis relacionados ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); Concessões de Serviços Públicos; Operações de Crédito; Regime Próprio de Previdência Social (RPPS); Dívida Ativa; Precatórios em Regime Especial; e Consórcios Públicos. 51 FONTE: Adaptado de 9ª edição do MCASP (STN, 2021a) Parte IV Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (p. 463) [...] a necessidade de evidenciar com qualidade os fenômenos patrimoniais e a busca por um tratamento contábil padronizado dos atos e fatos administrativos no âmbito do setor público tornaram imprescindível a elaboração de um plano de contas com abrangência nacional, cuja metodologia, estrutura, regras, conceitos e funcionalidades permitissem a obtenção de dados que atendessem aos diversos usuários da informação contábil. Visando a atender a essas necessidades, a STN editou o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP). Nessa Parte do Manual serão apresentados a estrutura do PCASP, baseada na natureza da informação contábil; o mecanismo de consolidação das contas nacionais em cada ente da Federação; o uso dos atributos da conta contábil, que permitem o cumprimento de determinações legais; as principais regras de integridade do PCASP, dentre outras informações. Parte V Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público (p. 484) [...] tem como objetivo padronizar a estrutura e as definições dos elementos que compõem as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público (DCASP). Tais padrões devem ser observados pela União, estados, Distrito Federal e municípios, permitindo a evidenciação, a análise e a consolidação das contas públicas em âmbito nacional, em consonância com o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP). Caro acadêmico, estudaremos com profundidade na Unidade 3 do nosso Livro didático, o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP). Nesse ponto, é importante compreender que o PCASP se alinha ao papel de disponibilizar informação aos diversos usuários da informação contábil do setor público, padronizando o Plano de Contas utilizados por todos os órgãos da Administração Pública. ESTUDOS FUTUROS 52 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Contabilidade Tradicional é disciplinada pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 e a Contabilidade Pública é regida pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. • A Contabilidade Tradicional é aplicada às pessoas jurídicas de Direito Privado e a Contabilidade Pública é aplicada às pessoas jurídicas de Direito Público, bem como aprendeu as principais características e diferenças entre estes dois ramos da contabilidade, conforme observado no Quadro 8. • As entidades públicas visam a prestação de serviços públicos sem fins lucrativos, com vista ao equilíbrio financeiro das contas públicas, motivo pelo qual, ao final do exercício financeiro, apuram superávit ou déficit. • Os Princípios de Contabilidade estabelecidos pelo Conselho Federal de Contabilidade são: i. da Entidade; ii. da Continuidade; iii. da Oportunidade; iv. do Registro pelo Valor Original; v. da Competência; e vi. da Prudência. • A Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público. • A Contabilidade Aplicada ao Setor Público visa fornecer aos usuários informações sobre os resultados orçamentários, econômicos, financeiros e físicos do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social. • O objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o estudo do patrimônio público. • O campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é, essencialmente, o das pessoas jurídicas de Direito Público, bem como o de algumas de suas entidades vinculadas, abrangendo todos os entes do setor público. • O Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público visa colaborar com o processo de elaboração e execução do orçamento, além de contribuir para resgatar o objeto da contabilidade como ciência, que é o patrimônio. 53 1 Considerando os aspectos introdutórios da Contabilidade Aplicada ao Setor Público quanto ao campo de atuação, conceito, objetivo, objeto e patrimônio discutidos, analise as colunas a seguir e associe corretamente os conceitos com às respectivas definições: I- Campo II- Conceito III- Objetivo IV- Objeto V- Patrimônio ( ) Conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações. ( ) Estudo do patrimônio público. ( ) Fornecer informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e física do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social. ( ) Pessoas jurídicas de Direito Público, bem como o de algumas de suas entidades vinculadas, abrangendo todos os entes do setor público. ( ) Ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – IV – III – I – II. b) ( ) IV – III – II – I – V. c) ( ) III – II – I – IV – V. d) ( ) V – I – IV – II – III. 2 Tratando-se, especificamente, do objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor Público que é o patrimônio público, aqui entendido comoo conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, bem como os direitos e bens adquiridos, AUTOATIVIDADE 54 produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, disserte sobre como o Sistema de Informação Contábil no Setor Público está estruturado na concepção do Conselho Federal de Contabilidade. 3 Como vimos, os “Princípios Contábeis” são as normas a serem observadas por – todos – os profissionais da contabilidade no exercício de sua profissão e aplicados no objeto de estudo da ciência contábil: o Patrimônio. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir e assinale a alternativa CORRETA que representa um dos princípios da contabilidade: a) ( ) Competência. b) ( ) Universalidade. c) ( ) Equilíbrio. d) ( ) Publicidade. 4 Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas às Ciências Contábeis e sua observância constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade emanadas do Conselho Federal de Contabilidade. Discorra, brevemente, sobre a essência de cada um deles. 5 O Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) visa colaborar com o processo de elaboração e execução do orçamento e análise de demonstrações contábeis adequadas aos padrões internacionais, sob os enfoques orçamentário e patrimonial. Considerando o propósito das partes do MCASP, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público (DCASP) visam padronizar a estrutura e as definições dos elementos que compõem as DCASP, permitindo a análise e a consolidação das contas públicas em âmbito nacional, em consonância com o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público. ( ) O Plano de Contas Aplicado ao Setor Público permite evidenciar com qualidade os fenômenos patrimoniais e a busca por um tratamento contábil padronizado dos atos e fatos administrativos no âmbito do setor público. ( ) Os Procedimentos Contábeis Específicos visam padronizar conceitos e procedimentos contábeis relacionados a temas específicos. ( ) Os Procedimentos Contábeis Orçamentários visam iniciar o processo que busca reunir conceitos, regras e procedimentos relativos aos atos e fatos orçamentários e seu relacionamento com a contabilidade. ( ) Os Procedimentos Contábeis Patrimoniais visam apresentar o conjunto de conceitos, regras e procedimentos relativos aos atos e fatos patrimoniais e financeiros e seu relacionamento com a Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 55 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V – V. b) ( ) F – F – F – V – V. c) ( ) F – V – V – V – F. d) ( ) F – V – V – F – F. 56 57 TÓPICO 3 - LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA 1 INTRODUÇÃO Não importa o tipo de organização para a qual trabalhemos, para a contabilidade em geral, o cumprimento da legislação é obrigatório e fundamental no dia a dia da nossa profissão. Entretanto, na Contabilidade Aplicada ao Setor Público é ainda mais. No âmbito do Direito Privado, é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, vigorando o princípio da autonomia de vontade, enquanto no âmbito do Direito Público, visto que o princípio da legalidade representa total subordinação à previsão legal, os agentes da Administração Pública devem sempre agir de acordo com a lei e fazer apenas o que a lei autoriza. Portanto, há maior subordinação aos preceitos normativos e legais. Nesse sentido, os serviços de contabilidade no setor público serão prestados com plena observância das normas e instrumentos legais, observado para isso o diploma básico aplicável à Contabilidade Pública, a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços dos entes federativos da República Federativa do Brasil, harmonicamente com as normas de finanças públicas voltadas à responsabilidade na gestão fiscal previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, oficialmente Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Além desses, também devem ser observadas todas as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade e todos os demais instrumentos legais e normativos expedidos por outros órgãos reguladores e de controle interno e externo da Administração Pública. Acadêmico, neste último tópico da Unidade 1, apresentaremos e discutir as legislações acima mencionadas e evidenciaremos as demais legislações aplicáveis à Contabilidade Aplicada ao Setor Público, buscando introduzi-lo a esta área da ciência contábil. Portanto, embora exista uma grande e extensa quantidade de instrumentos legais e normativos aplicáveis no setor público, esses existem para orientar e padronizar a prestação dos serviços de contabilidade e uniformizar os procedimentos orçamentários, financeiros, patrimoniais e de custos adotados por todos os entes da Administração Pública da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Aos estudos! UNIDADE 1 58 2 LEI Nº 4.320, DE 17 DE MARÇO DE 1964 A Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, ao estatuir normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o disposto no Art. 5º, inciso XV, letra b, da Constituição Federal de 1946 – que representou um marco para a Administração Pública e vem regulamentando e disciplinando as finanças públicas no Brasil há mais de cinco décadas com pouquíssimas mudanças –, conjugou duas técnicas de controle: o orçamento e a contabilidade (REIS; MACHADO JR., 2012). Na visão dos autores, o orçamento apresenta-se como um instrumento de planejamento e controle, que o gestor público dispõe para “equacionar” esse planejamento em termos realísticos e exequíveis, enquanto a contabilidade apresenta-se como um processo gerador de informações sobre o que realizou, realiza ou realizará em termos financeiros (REIS; MACHADO JR., 2012). Cabe destacar que esse dispositivo legal não possui relação com a atual Constituição Federal de 1988, uma vez que na época vigorava a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Entretanto, a Lei nº 4.320/1964 foi recepcionada pela atual Constituição com status de Lei Complementar, uma vez que em seu inciso I do Artigo 163 traz que a matéria de finanças públicas será tratada através dessa lei. Nesse sentido, essa lei – em conjunto com os demais instrumentos normativos e legais – possibilita a obtenção uniforme de dados estatísticos orçamentários, financeiros e patrimoniais, bem como permite a consolidação dos orçamentos e balanços do setor público brasileiro (REIS; MACHADO JR., 2012). Assim, de acordo com Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (STN, 2021a, p. 25): “[...] o primeiro marco histórico foi a edição da Lei nº 4.320/1964, que estabeleceu importantes regras para propiciar o controle das finanças públicas, bem como a construção de uma administração financeira e contábil sólidas no País, tendo como principal instrumento o orçamento público”. Delineamos os tópicos abrangidos pela legislação no Quadro 14. QUADRO 14 – ESQUEMATIZAÇÃO DOS TÓPICOS DA LEI Nº 4.320/1964 TÍTULO I – Lei de Orçamento Capítulo I – Disposições Gerais Capítulo II – Receita Receitas Correntes Receitas de Capital Capítulo III – Despesa Despesas Correntes Despesas de Capital TÍTULO II – Proposta Orçamentária Capítulo I – Conteúdo e Forma da Proposta Orçamentária Capítulo II – Elaboração da Proposta Orçamentária Previsões Plurienais Previsões Anuais TÍTULO III – Elaboração da Lei de Orçamento TÍTULO IV – Exercício Financeiro TÍTULO V – Créditos Adicionais 59 FONTE: Adaptado de Brasil (1964) Serão apresentados nos próximos tópicos e unidades do nosso Livro didático as especificidades de cada um dos temas apresentados no Quadro 14, porém, observa-se que a lei busca tratar especificamentedos aspectos orçamentários e contábeis aplicados ao setor público, tratando-se especificamente do enfoque contábil, a lei estabelece em suas disposições gerais: Art. 83. A contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados. Art. 84. Ressalvada a competência do Tribunal de Contas ou órgão equivalente, a tomada de contas dos agentes responsáveis por bens ou dinheiros públicos será realizada ou superintendida pelos serviços de contabilidade. Art. 85. Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros. Art. 86. A escrituração sintética das operações financeiras e patrimoniais efetuar-se-á pelo método das partidas dobradas. Art. 87. Haverá controle contábil dos direitos e obrigações oriundos de ajustes ou contratos em que a administração pública for parte. Art. 88. Os débitos e créditos serão escriturados com individuação do devedor ou do credor e especificação da natureza, importância e data do vencimento, quando fixada. Art. 89. A contabilidade evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira patrimonial e industrial. Observa-se que a lei coloca a contabilidade como técnica de processamento de informações para o controle e avaliação da gestão patrimonial de ordem universal, ou seja, abrange todos os atos e fatos administrativos, buscando individualizar a responsabilidade pela gestão dos recursos públicos (REIS; MACHADO JR., 2012). Quanto à individualização dessa responsabilidade, os autores fazem a seguinte observação: o contador público é responsável pelo conteúdo informativo das demonstrações contábeis, enquanto o agente público é responsável pelos atos praticados que deram TÍTULO VI – Execução do Orçamento Programação da Despesa Receita Despesa TÍTULO VII – Fundos Especiais TÍTULO VIII – Controle da Execução Orçamentária Controle Interno Controle Externo TÍTULO IX – Contabilidade Orçamentária e Financeira Patrimonial e Industrial Balanços TÍTULO X – Autarquias e Outras Entidades TÍTULO XI – Disposições Finais 60 origem aos fatos representados pela contabilidade nas demonstrações contábeis (REIS; MACHADO JR., 2012). Portanto, o contador será responsável pela correta contabilização dos atos e fatos administrativos e o agente público pela prática legal de todos os atos e fatos administrativos de gestão. 3 LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 4 DE MAIO DE 2000 A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, como sua própria denominação indica, dispõe sobre normas de finanças públicas, amparada pelo Capítulo II do Título VI da Constituição Federal de 1988. Abraham (2020) esclarece que essa lei foi criada para “dar corpo à política de estabilização fiscal, bem como para regulamentar dispositivos da Constituição que demandavam uma lei complementar sobre matérias financeiras”, especificamente, nos Artigos 163, 165 e 169, da Constituição Federal de 1988. Em vista disso, Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF – “apresentou-nos uma nova cultura de gestão pública, baseada no planejamento, na transparência, no controle e no equilíbrio das contas públicas e na imposição de limites para determinados gastos e para o endividamento” (ABRAHAM, 2020, p. 8). Embora a lei tenha sido aprovada na década de 2000 – tendo à época Fernando Henrique Cardoso como Presidente da República –, a LRF ainda tem sido objeto de alterações e aperfeiçoamentos, que indicamos a seguir: i. Lei Complementar nº 131/2009; ii. Lei Complementar nº 156/2016; iii. Lei Complementar nº 159/2017; iv. Lei Complementar nº 164/2018; e v. Lei Complementar nº 173/2020, essa última, em decorrência do enfrentamento da pandemia da COVID-19 e, mais recentemente, ocorreram duas outras alterações por meio das Leis Complementares nº 177/2021 e 178/2021. Portanto, é notório a relevância que essa lei tem para o controle dos gastos públicos e a busca do equilíbrio fiscal, bem como para a responsabilização dos agentes públicos por sua conduta em relação às finanças públicas. Caro acadêmico, para os fins da Lei de Responsabilidade Fiscal, entende-se que: A despesa total com pessoal (Art. 18; BRASIL, 2000) é o somatório dos gastos do ente da federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência, não sendo computados algumas despesas previstas em lei (Art. 19; § 1; BRASIL, 2000). Conquanto, a receita corrente líquida (Art. 2; IV; BRASIL, 2000) é o somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, menos as deduções previstas em lei. IMPORTANTE 61 Abraham (2020, p. 37) identifica três características essenciais para o alcance do objetivo da LRF: o planejamento, a transparência e o equilíbrio nas contas públicas. Que em suas palavras: O planejamento decorre do papel conferido às leis orçamentárias como instrumentos de gestão global, ao aproximar as atividades de programação e execução dos gastos públicos, através do estabelecimento de metas fiscais e do seu acompanhamento periódico. A transparência fiscal promove o acesso e a participação da sociedade em todos os fatores relacionados com a arrecadação financeira e a realização das despesas públicas. Incentiva a participação popular nas questões orçamentárias, além de facilitar o acesso e dar ampla divulgação aos relatórios, pareceres, contas públicas e demais documentos da gestão fiscal. O equilíbrio nas contas públicas é considerado a “regra de ouro” da lei. Por ele, busca-se balancear as receitas e as despesas públicas, de maneira a permitir ao Estado dispor de recursos necessários e suficientes à realização de toda a sua atividade, garantindo, assim, seu crescimento sustentado. Com relação à transparência da gestão fiscal, determina-se que: Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. § 1º A transparência será assegurada também mediante: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II - liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda o padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no Art. 48-A. [...] Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. Afinal, o que se entende por responsabilidade na questão fiscal? A resposta encontra-se no § 1º do Artigo 1º da LRF, conforme segue: § 1º A responsabilidade na gestãofiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange à renúncia de receita, 62 geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar (BRASIL, 2000). Para tanto, a LRF considera os seguintes aspectos como parâmetros para o atingimento dos seus objetivos: i. planejamento; ii. transparência; iii. prevenção de riscos e correção de desvios; iv. equilíbrio das contas públicas; v. cumprimento de metas de resultados entre receita e despesas; e vi. fixação de limites e condições para renúncias de receitas e geração de despesas (ABRAHAM, 2020, p. 37). Dentre esses parâmetros, as despesas com pessoal são consideradas como um dos aspectos mais relevantes dos gastos públicos, dedicando um capítulo específico à matéria. A esse respeito, a LRF estabelece, em seu Artigo 19º, que a despesa total com pessoal, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: QUADRO 15 – DESPESAS COM PESSOAL: LIMITES FONTE: Adaptado de Lei complementar nº 101 (BRASIL, 2000) ESFERA (Limite Global) Art. 19 PODER/ÓRGÃO (Repartição do Limite Global) Art. 20 LIMITE (%) MÁXIMO PRUDENCIAL Art. 22 ALERTA Art. 59, § 1º, II União (50%) Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União 2,50 2,38 2,25 Judiciário 6,00 5,70 5,40 Executivo 40,90 38,86 36,81 Ministério Público da União 0,60 0,57 0,54 Estados (60%) Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Estado 3,00 2,85 2,70 Judiciário 6,00 5,70 5,40 Executivo 49,00 46,55 44,10 Ministério Público dos Estados 2,00 1,90 1,80 Municípios (60%) Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Município 6,00 5,70 5,40 Poder Executivo 54,00 51,30 48,60 Caro acadêmico, para os fins da Lei de Responsabilidade Fiscal, entende-se que: A despesa total com pessoal (Art. 18; BRASIL, 2000) é o somatório dos gastos do ente da federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e IMPORTANTE 63 Os limites impostos às despesas com pessoal – assim como os demais limites estabelecidos na lei – têm por objetivo racionalizar os gastos públicos e tornar mais eficientes e eficazes a gestão e o uso desses recursos. Por exemplo, se forem ultrapassados os limites da repartição do limite global de despesas com pessoal entre os poderes, órgãos e entes federativos – o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes (Art. 23; BRASIL, 2000) –, o ente não poderá: i. receber transferências voluntárias; ii. obter garantia, direta ou indireta, de outro ente; e iii. contratar operações de crédito, ressalvadas as destinadas ao pagamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal (Art. 23; § 3; BRASIL, 2000). Para dar efetividade a suas regras, a LRF prevê sanções institucionais e pessoais pelo descumprimento de suas normas. Abraham (2020, p. 87, grifo nosso) explica que: As sanções institucionais apresentam natureza financeira e alcançam o próprio ente, órgão ou poder que descumpriu as normas da LRF. As punições podem ser: 1) suspensão das transferências voluntárias (exceto para a saúde, assistência social e educação); 2) suspensão da contratação de operações de crédito; 3) suspensão de obtenção de garantias. As sanções pessoais, como o próprio nome indica, são aplicáveis diretamente à pessoa do agente público que violar a legislação fiscal, com sanções de natureza política (como a suspensão dos direitos políticos e a perda de cargo eletivo), administrativa (como a proibição de contratar com o Poder Público) e civil (como o pagamento de multas e restituição ao Erário), bem como penas de natureza criminal, que podem ensejar a restrição à liberdade. Portanto, ao prever essas sanções aos gestores públicos, a LRF busca garantir a efetividade das disposições e objetivos do Direito Financeiro, sinalizando ao cidadão que “a coisa pública terá o seu devido tratamento a partir de uma gestão eficiente e responsável, e não mais estará dotada, como outrora já se viu, apenas de uma aparente proteção” (ABRAHAM, 2020, p. 87). Um “exemplo” de sanção pessoal em decorrência de crime de responsabilidade fiscal foi o impeachment da Presidente Dilma Rousseff em 2016, que na época das acusações se baseava em violações das normas do Direito Financeiro e Orçamentário. vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência, não sendo computados algumas despesas previstas em lei (Art. 19; § 1; BRASIL, 2000). Conquanto, a receita corrente líquida (Art. 2; IV; BRASIL, 2000) é o somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, menos as deduções previstas em lei. 64 Finalmente, considerando o que você aprendeu até aqui, você já se perguntou se a Lei nº 4.320/1964 e a LRF não conflitam entre si, uma vez que versam sobre aspectos semelhantes? A resposta é: não! A esse respeito, Abraham (2020, p. 41, grifo do autor) explica: Apesar de ambas as leis – LC 101/2000 e Lei 4.320/1964 – apresentarem um conjunto de normas gerais sobre Direito Financeiro e regras específicas para a elaboração, execução e controle do orçamento público, seus enfoques e objetivos são distintos, permitindo uma convivência harmônica entre os diplomas e complementaridade de seus dispositivos, sem que ocorra entrechoque de normas. Enquanto a LRF apresenta normas para melhorar a qualidade da gestão fiscal, pautada no planejamento, transparência, controle e responsabilidade, a Lei 4.320/1964 destina-se a disciplinar os procedimentos para a elaboração e o controle do orçamento e dos balanços de todas as entidades de direito público, com foco nas informações e demonstrações contábeis orçamentárias, financeiras e patrimoniais. Importa destacar que a LRF não alterou as regras que tratam da lei que aprova o orçamento anual, mas tão somente acrescentou dispositivos para aperfeiçoá-la, tais como aqueles relativos à reserva de contingência, dívida mobiliária e refinanciamento da dívida. Nesse sentido, a Lei nº 4.320/1964 e a LRF são leis que não se dissociam, mas se complementam – coexistindo harmonicamente – e, portanto, no processo de geração das informações contábeis – orçamentário, financeiro, patrimonial e de custos –, caberá ao contador público aplicar essas, e todas as demais normas aplicáveis, ao setor público. Caro acadêmico, entender e compreender as disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é extremamente importante para o contador público. Embora a responsabilidade primária pela gestão eficiente e eficaz dos recursos públicos recaia aos titulares dos poderes eleitos, é a informação gerada pela Contabilidade Pública que indica se a sua gestão cumpre as regras da LRF. Portanto, o contador público, sendo responsável pela geração e gestão da informação contábil e pelo controle desse tipo de informação, é um importante membro da gestão de qualquer governo, no que diz respeito à observância dos preceitos legais da LRF. Portanto, caso seja do seu interesse entender mais sobre esse assunto, recomendo a leitura integral da 3ª edição do livro Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada do escritor Marcus Abraham. Nele você encontrará todos os aspectos da Lei de Responsabilidade Fiscal discutidos e comentadosem profundidade e à luz do ordenamento jurídico nacional. FONTE: ABRAHAM, M. Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada. 3 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 364 p. NOTA 65 4 NORMAS BRASILEIRAS APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA Desde a década de 2000, o Brasil se preocupa em adotar os padrões internacionais na elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, a começar pelas Normas Internacionais de Contabilidade (International Financial Reporting Standards - IFRS). Foi então que em novembro de 2008, com o objetivo de construir um conjunto de normas embasadas cientificamente dentro da Administração Pública, o Conselho Federal de Contabilidade, com o objetivo de permitir a comparabilidade na avaliação – do desempenho – de entidades do setor público, bem como para enfatizar o objeto de estudo da ciência contábil, que é o patrimônio, emitiu as primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP), em consonância com as Normas Internacionais de Contabilidade Pública (International Public Sector Accounting Standards – IPSAS), emitidas pela Federação Internacional do Contadores (Internationall Federation of Accountants - IFAC). Na concepção de Lima (2018, p. 62): [...] o papel das [NBC TSP] foi o de introduzir uma estrutura conceitual junto aos contadores públicos da perspectiva patrimonial, preparando esses profissionais para absorverem adequadamente os conceitos abordados nos padrões contábeis internacionais e nos fundamentos da Teoria Contábil quanto aos critérios de mensuração, reconhecimento e evidenciação dos ativos e passivos públicos. Entre os argumentos apresentados para a edição das [NBC TSP], considerou-se que até aquele momento não havia no Brasil Normas brasileiras de Contabilidade específicas para o Setor Público, o fato de o modelo contábil até então vigente se basear exclusivamente na Lei nº 4.320/1964 e na Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, e de não ser adotada a Contabilidade Patrimonial no âmbito da Administração Pública brasileira. Consequentemente, a publicação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público busca “contribuir para o reconhecimento, a mensuração e a evidenciação de atos e fatos administrativos fundamentados na Teoria da Contabilidade, de modo que, [...] a Contabilidade Pública brasileira reflita a essência das transações governamentais e seu impacto no patrimônio” (LIMA; SANTANA; GUEDES, 2009). Nesse sentido, até o final do ano de 2021, estavam em vigor as seguintes Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público: QUADRO 16 – LISTAGEM DAS NORMAS BRASILEIRAS NBC TSP – DO SETOR PÚBLICO NBC TSP – DO SETOR PÚBLICO Correlação IFACNBC Resolução CFC Nome da Norma NBC TSP ESTRUTURA CONCEITUAL DOU 04/10/16 Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público Conceptual Framework NBC TSP 01 DOU 28/10/16 Receita de Transação sem Contraprestação IPSAS 23 66 NBC TSP 02 DOU 28/10/16 Receita de Transação com Contraprestação IPSAS 9 NBC TSP 03 DOU 28/10/16 Provisões, Passivos Contingentes eAtivos Contingentes IPSAS 19 NBC TSP 04 DOU 06/12/16 Estoques IPSAS 12 NBC TSP 05 DOU 06/12/16 Contratos de Concessão deServiços Públicos: Concedente IPSAS 32 NBC TSP 06 DOU 28/9/17 Propriedade para Investimento IPSAS 16 NBC TSP 07 DOU 28/9/17 Ativo Imobilizado IPSAS 17 NBC TSP 08 DOU 28/9/17 Ativo Intangível IPSAS 31 NBC TSP 09 DOU 28/9/17 Redução ao Valor Recuperável deAtivo Não Gerador de Caixa IPSAS 21 NBC TSP 10 DOU 28/9/17 Redução ao Valor Recuperável deAtivo Gerador de Caixa IPSAS 26 NBC TSP 11 DOU 31/10/18 Apresentação das Demonstrações Contábeis IPSAS 1 NBC TSP 12 DOU 31/10/18 Demonstração dos Fluxos de Caixa IPSAS 2 NBC TSP 13 DOU 31/10/18 Apresentação de Informação Orçamentária nas Demonstrações Contábeis IPSAS 24 NBC TSP 14 DOU 31/10/18 Custos de Empréstimos IPSAS 5 NBC TSP 15 DOU 31/10/18 Benefícios a Empregados IPSAS 39 NBC TSP 16 DOU 31/10/18 Demonstrações Contábeis Separadas IPSAS 34 NBC TSP 17 DOU 31/10/18 Demonstrações Contábeis Consolidadas IPSAS 35 NBC TSP 18 DOU 31/10/18 Investimento em Coligada e em Empreendimento Controlado em Conjunto IPSAS 36 NBC TSP 19 DOU 31/10/18 Acordos em Conjunto IPSAS 37 NBC TSP 20 DOU 31/10/18 Divulgação de Participações em Outras Entidades IPSAS 38 NBC TSP 21 DOU 31/10/18 Combinações No Setor Público IPSAS 40 NBC TSP 22 DOU 28/11/19 Divulgação sobre Partes Relacionadas IPSAS 20 NBC TSP 23 DOU 28/11/19 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro IPSAS 3 NBC TSP 24 DOU 28/11/19 Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis IPSAS 4 NBC TSP 25 DOU 28/11/19 Evento Subsequente IPSAS 14 NBC TSP 26 DOU 26/11/19 Ativo Biológico e Produto Agrícola IPSAS 27 NBC TSP 27 DOU 04/11/20 Informações por Segmento. IPSAS 18 NBC TSP 28 DOU 04/11/20 Divulgação de informação Financeira do Setor Governo Geral IPSAS 22 NBC TSP 29 DOU 04/11/20 Benefícios Sociais IPSAS 42 NBC T 16.11 1.366/11 Sistema de Informação de Custos doSetor Público não há FONTE: Adaptado de <https://bityli.com/pTug2X>. Acesso em: 9 dez. 2021. 67 De acordo com Lima (2018), as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, buscam uma linha de atuação o mais semelhante às IPSAS, retirando apenas aqueles itens que conflitam diretamente com o atual arcabouço legal no Brasil – especialmente a Constituição Federal de 1988, a Lei nº 4.320/1964 e a Lei de Responsabilidade Fiscal –, por isso nossa convergência é em busca da harmonização contábil, preservando uma linguagem contábil internacional, respeitando as legislações e diversidades do nosso país. 5 DEMAIS LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA Na Contabilidade Aplicada ao Setor Público, além da aplicação e observância dos preceitos constitucionais, das normas gerais de Direito Financeiro, das normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e das normas contábeis emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, existem também diversos outros instrumentos legais que devem ser observados. Evidenciamos alguns exemplos – não todos – de outros instrumentos legais e normativos aplicados à Contabilidade Pública no Quadro 17. QUADRO 17 – DEMAIS LEGISLAÇÕES APLICADAS À CONTABILIDADE PÚBLICA Caro acadêmico, na Unidade 3 de nosso Livro didático, que tratará da Contabilidade Pública e Subsistemas de Contas, Contabilização no Setor Público e as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público – especialmente neste tópico –, já utilizaremos os conceitos e rotinas apresentados nas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Para isso, usaremos as NBC TSP evidenciadas no Quadro 16. ESTUDOS FUTUROS LEGISLAÇÃO EMENTA Lei nº 5.172, de 25 de out. de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios (http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm). Lei nº 8.429, de 2 de jun. de 1992 Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do Art. 37 da Constituição Federal; e dá outras providências (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l8429.htm). Lei nº 8.666, de 21 de jun. de 1993 Regulamenta o Art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm). 68 LEGISLAÇÃO EMENTA Lei nº 9.715, de 25 de nov. de 1998 Dispõe sobre as contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP, e dá outras providências (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9715.htm). Portaria nº 42, de 14 de abr. de 1999 Atualiza a discriminação da despesa por funções de que tratam o incisoI do §1º do Art. 2º e §2º do Art. 8º, ambos da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece os conceitos de função, subfunção, programa, projeto, atividade, operações especiais, e dá outras providências (https://bit. ly/3h8QdWq). Lei nº 10.028, de 19 de out. de 2000 Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, a Lei no 1.079, de 10 de abril de 1950, e o Decreto-Lei no 201, de 27 de fevereiro de 1967 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10028.htm). Portaria Interministerial nº 163, de 4 de mai. de 2001 Dispõe sobre normas gerais de consolidação das Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e dá outras providências (https://bit.ly/3HheBzz). Resolução do Senado Federal nº 43, de 2001* * Resolução Republicada Dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências (https://legis. senado.leg.br/norma/582604). Portaria STN nº 448, de 13 de set. de 2002 Detalha e classifica a natureza de despesas: material de consumo e material permanente (https://bit.ly/3haz3aO). Decreto nº 6.170, de 25 de jul. de 2007 Dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse, e dá outras providências (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/ d6170.htm). Resolução do Senado Federal nº 48, de 21 de dez. de 2007 Dispõe sobre os limites globais para as operações de crédito externo e interno da União, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal e estabelece limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno (https://legis. senado.leg.br/norma/576233). Portaria MF nº 184, de 25 de ago. de 2008 Dispõe sobre as diretrizes a serem observadas no setor público (pelos entes públicos) quanto aos procedimentos, práticas, elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, de forma a torná-los convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (https:// bit.ly/3JJSzaz). Lei Complementar nº 131, de 27 de mai. de 2009 Acrescenta dispositivos à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm). Decreto nº 6.976, de 7 de out. de 2009 Dispõe sobre o Sistema de Contabilidade Federal e dá outras providências (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/ d6976.htm). Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de nov. de 2009 Dispõe sobre normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação das contribuições sociais destinadas à Previdência Social e as destinadas a outras entidades ou fundos, administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) (https://bit.ly/3sbTP09). 69 LEGISLAÇÃO EMENTA Portaria STN nº 665, de 30 de nov. de 2010 Atualiza os Anexos no 12 (Balanço Orçamentário), no 13 (Balanço Financeiro), no 14 (Balanço Patrimonial), no 15 (Demonstração das Variações Patrimoniais), no 18 (Demonstração dos Fluxos de Caixa), no 19 (Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido) e no 20 (Demonstração do Resultado Econômico) da Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, e dá outras providências (https://bit.ly/3DwdHPv). Lei nº 12.527, de 18 de nov. de 2011 Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do Art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências (https://bit.ly/3iTFboQ). Lei nº 13.019, de 31 de jul. de 2014 Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; define diretrizes para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil; e altera as Leis nºs 8.429, de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999 (https://bit.ly/3wXNgB3). Portaria Interministerial nº 424, de 30 de dez. de 2016 Estabelece normas para execução do estabelecido no Decreto nº 6.170, de 25 de julho de 2007, que dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse, revoga a Portaria Interministerial nº 507/MP/MF/CGU, de 24 de novembro de 2011 e dá outras providências (https://bit.ly/3uGd3Le). Decreto nº 10.540, de 5 de nov. de 2020 Dispõe sobre o padrão mínimo de qualidade do Sistema Único e Integrado de Execução Orçamentária, Administração Financeira e Controle (https:// bit.ly/3iXpEo2). Lei nº 14.113, de 25 de dez. de 2020 Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), de que trata o Art. 212-A da Constituição Federal; revoga dispositivos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007; e dá outras providências (http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14113.htm). Instrução Normativa STN nº 3, de 7 de jan. de 2021 Disciplina a captação de dados em cadastros de adimplência ou sistemas de informações financeiras, contábeis e fiscais geridos pelos órgãos e entidades da União e o fornecimento de informações acerca do cumprimento de requisitos fiscais por estados, Distrito Federal e municípios, seus órgãos e entidades, e organizações da sociedade civil pelo Sistema de Informações sobre Requisitos Fiscais – Cauc (https://bit. ly/3K1FVnT). Lei nº 14.133, de 1º de abr. de 2021 Lei de Licitações e Contratos Administrativos (http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm). Portaria nº 819, de 30 de abr. de 2021 Regulamenta a disponibilização das informações e dos dados contábeis, orçamentários e fiscais para fins do § 4º do Art.º 13 e do §4º do Art. 16 da Lei nº 14.113, de 25 de dezembro de 2020 (Portaria nº 819, de 30 de abr. de 2021). FONTE: O autor Cabe destacar que existem ainda mais legislações aplicáveis a todos os órgãos e outras aplicáveis em situações específicas (e.g. Legislações aplicáveis aos Consórcios Públicos). Ademais, além da observância dos instrumentos normativos aplicáveis a todos os entes da Administração Pública, faz-se necessário, observar os instrumentos legais e normativos aplicáveis no âmbito específico da União, dos Estados, Municípios 70 e do Distrito Federal. Por exemplo, os municípios precisam observar os instrumentos legais e normativos aplicáveis à contabilidade expedidos pela União, pelos Estados, pelo Tribunal de Contas do seu Estado e, eventualmente, os instrumentos normativos emitidos no âmbito do próprio município. Portanto, recomenda-se que, ao realizar o estudo sobre a Contabilidade Aplicada ao Setor Público, faz-se necessário o acompanhamento constante das legislações já publicadas – pois elas são frequentemente alteradas – e o acompanhamento dos novos instrumentos normativos e legais que, porventura, venham a ser emitidos. Nessa área da contabilidade, a atualização é constante! 71 AS NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE APLICADAS AO SETOR PÚBLICO E A LEGISLAÇÃO CONTÁBIL PÚBLICA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA À LUZ DA TEORIA CONTÁBIL Diana Vaz de Lima Cláudio MoreiraSantana Marianne Antunes Guedes 1 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 recepcionou a Lei nº 4.320/1964 como normalizadora do direito financeiro do setor público, que acabou por constituir-se no principal diploma legal da Contabilidade Pública brasileira. Passados 12 anos da promulgação da Constituição, foi editada, em 2000, a Lei Complementar nº. 101, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), constituindo-se, também, como ponto de referência. Recentemente, tendo como perspectiva a modernização e o aperfeiçoamento da gestão voltada para uma adequada evidenciação do patrimônio público e para o resgate de procedimentos contábeis suportados por conceitos e princípios, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tem empreendido esforços fundamentados em três diretrizes: a promoção do desenvolvimento conceitual, o fortalecimento institucional da Contabilidade Pública e a convergência às normas internacionais de Contabilidade. Um dos resultados dessa iniciativa foi a publicação pelo CFC, em 2008, das primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T 16), alinhadas às Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (IPSAS), objetivando contribuir para o reconhecimento, a mensuração e a evidenciação de atos e fatos administrativos fundamentados na Teoria da Contabilidade, de modo que, além de cumprir os aspectos legais e formais, a Contabilidade Pública brasileira reflita a essência das transações governamentais e seu impacto no patrimônio. Diante do exposto, o presente estudo verifica se os critérios de mensuração, reconhecimento e evidenciação presentes nas NBC T 16 estão contemplados na legislação contábil em vigor aplicada ao setor público, com a perspectiva de contribuir em futuras alterações na legislação que regulamenta os procedimentos contábeis aplicados ao setor público, bem como na melhoria da qualidade da informação contábil junto aos seus usuários. LEITURA COMPLEMENTAR 72 2 ASPECTOS CONCEITUAIS E LEGAIS [...] 2.3 A CONTABILIDADE PÚBLICA E A TEORIA DA CONTABILIDADE 2.3.1 A importância de um arcabouço conceitual Segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p. 84), o referencial conceitual acerca da Contabilidade surgiu por meio de um processo de busca pelos princípios, em que foi verificada a importância do estabelecimento de padrões. Citando o Financial Accounting Standards Board (FASB), os autores esclarecem que os padrões de Contabilidade devem ser medidos “[...] em termos do seu valor para a sociedade como um todo, em termos da criação de um sistema de informação financeira confiável.” Assim, as regras contábeis destinam-se a “[...] proporcionar informação relevante e confiável sobre a qual as decisões econômicas possam se apoiar com um grau razoável de segurança” (BERESFORD apud HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 84-85). A Ciência Contábil está fundamentada num arcabouço teórico que contempla padrões e princípios, denominado Teoria da Contabilidade. Essa, segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p. 32), “[...] pode ser definida como um conjunto coerente de princípios hipotéticos, conceituais e pragmáticos que formam um quadro geral de referência para a investigação da natureza da Contabilidade.”. Como referencial conceitual, a Teoria da Contabilidade possibilita a padronização dos procedimentos contábeis, constituindo, assim, um meio para que se possam compreender, analisar e comparar a informação. Para os profissionais de Contabilidade, a Teoria Contábil representa o alicerce conceitual que possibilita a interpretação dos fatos e eventos econômicos cuja contabilização ainda não esteja suportada pela regulação contábil. A sólida definição dos principais conceitos contábeis serve de base para a correta aplicação em situações práticas (NIYAMA; SILVA, 2008) e orienta novas práticas e novos procedimentos (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Portanto, a não observância desse arcabouço conceitual pode levar a interpretações enviesadas e comprometer a confiabilidade da informação que se queira evidenciar, tanto no setor público quanto no setor privado. Segundo o Internacional Accounting Standards Board (apud NIYAMA; SILVA, 2008), a estrutura conceitual da Doutrina Contábil pode ser aplicada a todas as entidades, sejam elas privados ou públicas. Para Hendriksen e Van Breda (1999), é necessário definir, explicitamente, ativos e passivos e analisar especificamente a sua natureza básica. Para Niyama e Silva (2008, p. 117), a “[...] sólida definição dos principais conceitos contábeis serve de base para a correta aplicação em situações práticas”. 73 O Ativo, segundo a definição do IASB (apud NIYAMA; SILVA, 2008, p. 118), é “[...] um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados, do qual se espera que futuros benefícios econômicos resultem para a entidade”. Para adaptar esse conceito ao setor público, é preciso considerar que as decisões de aplicação de recursos nos Ativos não possuem a preocupação com a apuração do lucro líquido. Assim, na área pública, o desafio está na mensuração dos benefícios sociais que serão gerados pelos ativos por meio da prestação dos serviços públicos. Para a NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis, publicado pela Resolução CFC 1.129/2008, o Ativo: “[...] compreende os direitos e bens, tangíveis ou intangíveis adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelo setor público, que represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro” (NBC T 16.2, item 4, a). No Passivo, citando novamente o IASB, Niyama e Silva (2008, p. 146) preceituam que ele constitui uma “[...] obrigação presente da entidade, resultante de eventos passados, cuja liquidação se espera resulte em um desembolso de recursos pela entidade, contendo benefícios econômicos”. Contudo, da mesma forma que o Ativo, o conceito de Passivo deve ser adaptado à realidade do Setor Público. Nesse sentido, a NBC T 16.2 estabelece que no grupo do Passivo devem estar compreendidas “[...] as obrigações assumidas pelas entidades do setor público ou mantidas na condição de fiel depositário, bem como as contingências e as provisões” (item 4, b). A partir dos conceitos de Ativo e Passivo, obtém-se o de Patrimônio Líquido (PL). Segundo a estrutura conceitual do IASB (apud NIYAMA; SILVA, 2008, p. 174), o PL representa “[...] o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzir todos os seus passivos.” A NBC T 16.2 reforça essa definição ao afirmar que o patrimônio líquido “[...] representa a diferença entre o ativo e o passivo.” (item 4, c). 2.3.2 A teoria da contabilidade e as NBCASP Atualmente, a Teoria Contábil tem passado por um momento de transição. Observa-se uma maior proximidade entre ela e as práticas contábeis e “[...] uma grande discussão sobre temas como convergências de normas contábeis, padronização, aplicação da contabilidade em setores específicos, entre outros” (NIYA-MA; SILVA, 2008, p. 9). A tendência de padronização de procedimentos contábeis e de convergência também está presente no Setor Público, tanto que a Internacional Federation of Accountants (IFAC), tomando como referência os padrões aplicados ao setor empresarial, elaborou as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (Internacional Public Sector Accounting Standards – IPSAS). As IPSAS, que estão em processo de adoção por diversos países, buscam, de modo geral, a convergência dos critérios de reconhecimento de Receitas e Despesas, Ativos e Passivos, bem como da forma de evidenciação da situação financeira, dos resultados do exercício, das mutações da posição financeira e das mutações no patrimônio líquido no âmbito do Setor Público. 74 Segundo informações apresentadas pelo auditor principal do Inter-American Development Bank – BID, Ronaldo J. Rotter, no 18º Congresso Brasileiro de Contabilidade, (CFC, 2008), a Costa Rica é o melhor exemplo na região, já que adotou as IPSAS ainda em 1998, tendo implementado 21 dos seus 26pronunciamentos. O Peru formalizou a adoção das IPSAS, mas ainda não as implementou. O Uruguai, desde 2004, estabeleceu as IPSAS como padrão apenas para o orçamento. O Canadá estabeleceu um Comitê do Setor Público para estabelecer normas para a Contabilidade, porém as IPSAS ainda não são adotadas por lá. Ainda segundo Rotter, a Austrália e a Nova Zelandia não adotam as IPSAS, mas possuem um bem estabelecido sistema governamental usando o International Financial Reporting Standards – IFRS (padrões de relatórios financeiros internacionais voltados para o setor empresarial), contudo, devido aos problemas enfrentados em sua implementação, já estão pensando em adotar as IPSAS nos próximos dois a três anos. A Inglaterra também adota as IFRS para o governo, e seus gestores estão pensando em designar as IPSAS como segundo padrão. A Comissão Europeia e as diversas entidades do Sistema das Nações Unidas também estão em processo de implementar as IPSAS. (CFC, 2008). No Brasil, o CFC, na qualidade de órgão regulador das práticas contábeis e de membro da IFAC, instituiu grupo de trabalho para desenvolver as primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, em consonância com os fundamentos das IPSAS. As normas elaboradas foram submetidas a audiências públicas, com espaço para discussão e apresentação de sugestões. Como resultado desse trabalho, as dez primeiras normas foram publicadas ao final de 2008, trazendo as seguintes temáticas: a) NBC T 16. 1 – Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação. b) NBC T 16.2 – Patrimônio e Sistemas Contábeis. c) NBC T 16.3 – Planejamento e Seus Instrumentos Sob o Enfoque Contábil. d) NBC T 16.4 – Transações no Setor Público. e) NBC T 16.5 – Registro Contábil. f) NBC T 16.6 – Demonstrações Contábeis. g) NBC T 16.7 – Consolidação das Demonstrações Contábeis. h) NBC T 16.8 – Controle Interno. i) NBC T 16.9 – Depreciação, Amortização e Exaustão. j) NBC T 16.10 – Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor Público. Em resumo, as dez primeiras NBCASP têm como objetivo fornecer um novo arcabouço conceitual para a Contabilidade Aplicada ao Setor Público e contribuir para a uniformização de práticas e procedimentos contábeis, em virtude da dimensão e da diversidade da estrutura da Administração Pública brasileira. Ao mesmo tempo, elas visam avançar na consolidação e integração com as normas internacionais. 75 [...] 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo verificar a adequação da legislação aplicada ao Setor Público em vigor (Lei 4.320/64 e LRF) e os fundamentos da teoria contábil presentes nas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T 16), confrontando-se os critérios de mensuração, reconhecimento e evidenciação. Com relação ao critério de mensuração, verificou-se que a legislação em vigor carece de conceitos e apresenta métodos de avaliação parciais, enquanto as NBC T 16 estabelecem definições tanto de mensuração e avaliação, bem como dos métodos empregados para avaliar ou mensurar os itens, em conformidade com a doutrina contábil. Quanto ao reconhecimento, na legislação contábil aplicável ao Setor Público há divergências quanto ao regime contábil a ser adotado, enquanto as NBC T 16 estabelecem que as receitas e despesas devem ser reconhecidas pelos respectivos fatos geradores (competência integral), independentemente do momento da execução orçamentária. Sobre o critério de evidenciação, verificou-se que as demonstrações contábeis exigidas pela Lei nº 4.320/64 apresentam estruturas peculiares, fundamentadas no controle do orçamento público, enquanto a LRF exige a elaboração de demonstrativos fiscais, contemplando informações de natureza orçamentária e financeira. Os resultados mostraram que apesar de se apresentarem como marcos da legislação contábil pública brasileira, a Lei nº. 4.320/1964 e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não incorporaram em sua essência os fundamentos da Teoria da Contabilidade no que se refere aos itens analisados, distanciando a legislação vigente da teoria contábil. Percebe-se, pois, a necessidade da incorporação dos conceitos originários da teoria no corpo da legislação contábil aplicada ao setor público, haja vista que um arcabouço conceitual sólido pode servir de orientação a profissionais em situações práticas e facilita a compreensão, a análise e a comparação da informação pelos usuários da Contabilidade Pública, visando evitar, assim, interpretações que possam comprometer a confiabilidade da informação contábil. Nesse sentido, verificou-se que as premissas presentes nas NBC T 16 podem contribuir para embasar as alterações na legislação contábil pública de forma que ela trate, com maior clareza, dos aspectos patrimoniais da Contabilidade Pública. FONTE: Adaptada de LIMA, D. V.; SANTANA, C. M.; GUEDES, M. A. As Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao setor público e a legislação contábil pública brasileira: uma análise comparativa à luz da teoria contábil. Journal of Accounting, Management and Governance, [s.l.], v. 12, n. 2, 2009. 76 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que estabelece as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços dos entes federativos da República Federativa do Brasil, normatiza toda a Contabilidade Pública. • A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, ao instituir a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF –, estabelece um conjunto de normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações para prevenir riscos e corrigir desvios que possam afetar o equilíbrio das contas públicas. • A Lei nº 4.320/1964 e a LRF são leis que coexistem harmonicamente e tratam de assuntos diferentes. A primeira busca disciplinar os procedimentos para a elaboração e o controle do orçamento e dos balanços, enquanto a segunda visa melhorar a qualidade da gestão fiscal das contas públicas. • As Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade introduziram no país uma estrutura conceitual nos padrões contábeis internacionais e nos fundamentos da Teoria Contábil quanto aos critérios de mensuração, reconhecimento e evidenciação dos ativos e passivos públicos. • Além da aplicação e observância dos preceitos constitucionais, das normas gerais de Direito Financeiro, das normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e das normas contábeis emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, vários outros instrumentos legais devem ser considerados pelos contadores públicos. 77 1 A Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, ao estabelecer as normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal, coloca a contabilidade como técnica de processamento de informações para o controle e avaliação da gestão patrimonial dos entes da Administração Pública. Diante disso, assinale a alternativa que representa um dos objetivos da elaboração e divulgação da informação contábil. a) ( ) Exercer soberania sobre os usuários das informações contábeis. b) ( ) Fornecer informações úteis aos diversos usuários. c) ( ) Desinstrumentalização do controle social. d) ( ) Auxiliar na responsabilização civil dos agentes públicos. 2 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas. Diante disso, assinale qual parâmetro é contemplado pela Lei de Responsabilidade Fiscal para atingir seus objetivos. a) ( ) Cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas. b) ( ) Relatório da Execução Orçamentária. c) ( ) Relatório de Gestão Orçamentária. d) ( ) Dívida consolidada e imobiliária. 3 A transparência – em cumprimentoao princípio da publicidade – de todos os atos e fatos da Administração Pública é extremamente importante, razão pela qual a Lei de Responsabilidade Fiscal foi alterada para incluir em sua redação disposições que determinem a disponibilização de informações detalhadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A esse respeito, assinale a alternativa CORRETA que indica o instrumento legal que acrescentou essas disposições à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000: a) ( ) Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. b) ( ) Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016. c) ( ) Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017. d) ( ) Lei Complementar nº 164, de 18 de dezembro de 2018. 4 A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e visa prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas de cada ente federativo. Nesse sentido, com base na LRF, disserte sobre a quem se destina sua observância. AUTOATIVIDADE 78 5 A edição e publicação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP) em consonância com as Normas Internacionais de Contabilidade Pública (IPSAS) permitiu a comparabilidade na avaliação do desempenho de entidades do setor público nacional e internacional, bem como enfatizaram o objeto de estudo da ciência contábil: o patrimônio. Nesse sentido, acerca das NBC TSP, editadas e publicadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, disserte sobre os avanços trazidos para a Contabilidade Pública. 79 REFERÊNCIAS ABRAHAM, M. Lei de Responsabilidade Fiscal Comentada. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 364 p. AUGUSTINHO, S. M.; OLIVEIRA, A. G.; GUIMARÃES, I. A. Disclosure e accountability nas demonstrações contábeis públicas como instrumentos de controle social. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), [s.l.], v. 9, n. 2, 2015. BRASIL. Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento. Brasília, DF: Presidência da República, 10 abr. 1950. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1079.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Esta- dos, dos Municípios e do Distrito Federal. Brasília, DF: Presidência da República, 17 mar. 1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organiza- ção da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 25 fev. 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm. Acesso em: 9 dez. 2021. BRASIL. Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a responsa- bilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 27 fev. 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre- to-lei/del0201.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, DF: Presidência da República, 15 dez. 1976. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao.htm. Acesso em: 5 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 21 jun. 1993. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 20 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. 80 BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras pro- vidências. Brasília, DF: Presidência da República, 4 maio 2000. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 10 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. Acrescenta dispositivos à Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Brasília, DF: Presidência da República, 27 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016. Estabelece o Plano de Auxílio aos Estados e ao Distrito Federal e medidas de estímulo ao reequilíbrio fiscal; e altera a Lei Complementar nº 148, de 25 de novembro de 2014, a Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, a Medida Provisória nº 2.192-70, de 24 de agosto de 2001, a Lei nº 8.727, de 5 de novembro de 1993, e a Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Brasília, DF: Presidência da República, 28 dez. 2016. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp156.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017. Institui o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal e altera as Leis Complementa- res nº 101, de 4 de maio de 2000, e nº 156, de 28 de dezembro de 2016. Brasília, DF: Presidência da República, 19 maio 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/lcp/lcp159.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 164, de 18 de dezembro de 2018. Acrescenta §§ 5º e 6º ao art. 23 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsa- bilidade Fiscal), para vedar a aplicação de sanções a Município que ultrapasse o limite para a despesa total com pessoal nos casos de queda de receita que especifica. Brasí- lia, DF: Presidência da República, 18 dez. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp164.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019. Estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios; altera as Leis nos 13.334, de 13 de setembro de 2016, 9.069, de 29 de junho de 1995, 11.457, de 16 de março de 2007, 9.984, de 17 de julho de 2000, 9.433, de 8 de janeiro de 1997, 8.001, de 13 de março de 1990, 11.952, de 25 de junho de 2009, 10.559, de 13 de novembro de 2002, 11.440, de 29 de dezembro de 2006, 9.613, de 3 de março de 1998, 11.473, de 10 de maio de 2007, e 13.346, de 10 de outubro de 2016; e revoga dispositivos das Leis nos 10.233, de 5 de junho de 2001, e 11.284, de 2 de março de 2006, e a Lei nº 13.502, de 1º de novembro de 2017. Brasília, DF: Presidência da República, 18 jun. 2019. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. 81 BRASIL. Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020. Estabelece o Progra- ma Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19), altera a LeiComplementar nº 101, de 4 de maio de 2000, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 27 maio 2020.Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/lcp/lcp173.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 177, de 12 de janeiro de 2021. Altera a Lei Comple- mentar nº 101, de 4 de maio de 2000, para vedar a limitação de empenho e movimen- tação financeira das despesas relativas à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico custeadas por fundo criado para tal finalidade, e a Lei nº 11.540, de 12 de novembro de 2007, para modificar a natureza e as fontes de receitas do Fundo Nacio- nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e incluir programas desen- volvidos por organizações sociais entre as instituições que podem acessar os recursos do FNDCT. Brasília, DF: Presidência da República, 12 jan. 2021. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp177.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 178, de 13 de janeiro de 2021. Estabelece o Progra- ma de Acompanhamento e Transparência Fiscal e o Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal; altera a Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016, a Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017, a Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020, a Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, a Lei nº 12.348, de 15 de dezembro de 2010, a Lei nº 12.649, de 17 de maio de 2012, e a Medida Provisória nº 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e dá outras pro- vidências. Brasília, DF: Presidência da República, 13 jan. 2021. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp178.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Adminis- trativos. Brasília, DF: Presidência da República, 1º abr. 2021. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14133.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. CONGRESSO NACIONAL. Atribuições – Congresso Nacional, Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/institucional/atribuicoes. Acesso em: 9 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TSP Estrutura Conceitual, de 23 de setembro de 2016. Aprova a NBC TSP Estrutura Conceitual – Estrutura Concei- tual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/ NBCTSPEC.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.111, de 29 de novem- bro de 2007. Aprova o Apêndice II da Resolução CFC nº. 750/93 sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/ docs/Res_1111.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.128, de 21 de no- vembro de 2008a. Aprova a NBC T 16.1 - Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1128.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. 82 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.129, de 21 de novem- bro de 2008b. Aprova a NBC T 16.2 - Patrimônio e Sistemas Contábeis. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1129.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.268, de 10 de de- zembro de 2009. Altera, inclui e exclui itens das NBC T 16.1, 16.2 e 16.6 que tratam das Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas aplicadas ao Setor Público e dá outras providências. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1268.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010. Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Disponível em: https://www1.cfc. org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1282.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.367, de 25 de no- vembro de 2011. Altera o Apêndice II da Resolução CFC n.º 750/93, aprovado pela Resolução CFC n.º 1.111/07. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/ Res_1367.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 530, de 23 de outubro de 1981. Aprova Princípios Fundamentais de Contabilidade. Norma NBC-T 1. Disponí- vel em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_530.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 750, de 29 de de- zembro de 1993. Dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC). Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_750.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 774, de 16 de dezem- bro de 1994. Aprova o Apêndice à Resolução sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_774.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 900, de 22 de março de 2001. Dispõe sobre a aplicação do Princípio da Atualização Monetária. Disponível em: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_900.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Revogação da Resolução nº 750/1993: contexto e considerações. Disponível em: https://cfc.org.br/noticias/revogacao-da- -resolucao-no-7501993-contexto-e-consideracoes/. Acesso em: 29 dez. 2021. DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 33. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2020. 1136 p. GAMA, J. R.; DUQUE, C. G.; ALMEIDA, J. E. F. Convergência brasileira aos padrões in- ternacionais de contabilidade pública vis-à-vis as estratégias top-down e bottom-up. Revista de Administração Pública, [s.l.], v. 48, p. 183-206, 2014. 83 GOUVEIA, D. O. G.; AMARAL, S. T. Organização dos poderes e suas funções típicas e atí- picas segundo a Constituição Federal de 1988. In: IV ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIEN- TÍFICA E III ENCONTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. 4., 2008, Presidente Prudente. Anais [...] Presidente Prudente: Intertemas, 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil – IBGE Cidades. 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/panorama. Acesso em: 6 dez. 2021. KOHAMA, H. Contabilidade pública: teoria e prática. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 404 p. LIMA, D. V. Orçamento, Contabilidade e Gestão no Setor Público. São Paulo: Atlas, 2018. 363 p. LIMA, D. V.; CASTRO, R. G. Contabilidade pública: integrando União, Estados e Muni- cípios (Siafi e Siafem). 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 230 p. LIMA, D. V.; SANTANA, C. M.; GUEDES, M. A. As Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao setor público e a legislação contábil pública brasileira: uma análise com- parativa à luz da teoria contábil. Journal of Accounting, Management and Gover- nance, [s.l.], v. 12, n. 2, 2009. MEDAUAR, O. Direito administrativo moderno. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Fó- rum, 2020. 462 p. MONTESQUIEU. O espírito das leis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 851 p. PELICIOLI, A. C. A atualidade da reflexão sobre a separação dos poderes. Revista de Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal, a. 43, n. 169, 21-30, 2006. PISCITELLI, R. B.; TIMBÓ, M. Z. F. Contabilidade pública: uma abordagem da adminis- tração financeira pública. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 452 p. PRINCÍPIO. In: Oxford Languages. Disponível em: <https://bityli.com/jxZkC>. Acesso em: 7 mar. 2022. QUINTANA, A. C.; MACHADO, D. P.; QUARESMA, J. C. C.; MENDES, R. C. Contabilidade pública: de acordo com as novas Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao setor público e a Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Atlas, 2011. 243 p. REIS, H. C.; MACHADO JÚNIOR, J. T. A Lei 4.320 comentada e a Lei de responsabi- lidade fiscal. 34. ed. Rio de Janeiro: IBAM: Lumen Juris, 2012. 270 p. ROSA, M. B. Contabilidade do setor público. São Paulo: Atlas, 2011. 561 p. SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (STN). Manualde Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP). 9. ed. Brasília: Tesouro Nacional, 2021a. 563 p. Disponível em: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943. Acesso em: 29 dez. 2021. 84 SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (STN). Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP). 2021b. Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov. br/publicacoes/manual-de-contabilidade-aplicada-ao-setor-publico-mcasp/2021/26. Acesso em: 29 dez. 2021. SILVA, L. M. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2011. 376 p. 85 ORÇAMENTO PÚBLICO UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender e distinguir os três instrumentos de planejamento governamental: Plano Plurianual (PPA); Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); Lei Orçamentária Anual (LOA); • compreender o que são serviços públicos, algumas de suas características e quem é o responsável por executá-los; • apresentar a importância do Orçamento Público para a consecução dos serviços públicos; • compreender e distinguir os três diferentes tipos de orçamentos, os princípios orçamentários, os créditos adicionais e o ciclo orçamentário do Orçamento Público; • compreender e distinguir a organização e a estrutura dos orçamentos; • reconhecer e especificar formas de ampliação e alteração do Orçamento Público; • compreender e diferenciar a classificação das receitas e despesas públicas nos seus diferentes níveis de classificação; • identificar as fontes ou destinação de recursos do Orçamento Público. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL TÓPICO 2 – ORÇAMENTO PÚBLICO TÓPICO 3 – RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 86 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 87 TÓPICO 1 — PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O planejamento organizacional é uma tarefa de extrema importância para qualquer tipo de organização, seja ela com fins lucrativos ou não. O planejamento possibilita identificar a realidade de algo ou de um contexto, avaliar as alternativas, identificar os caminhos possíveis, construir um ponto de referência futuro, delimitar o processo adequado e reavaliar todo o processo para alcançar resultados específicos. Para isso, em nossa Constituição Federal de 1988, no Art. 165, destacam-se os seguintes instrumentos de planejamento governamental: o Plano Plurianual (PPA); a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O processo de elaboração e discussão desses três instrumentos de planejamento deve ser capaz de expressar a responsabilidade de um governo perante a sociedade, pois o Orçamento Público deve ser capaz de indicar os objetivos perseguidos por uma nação (SILVA, 2011). Há apenas uma observação importante a ser feita, que ficará mais clara com a leitura desta unidade: o conceito de planejamento governamental não deve ser confundido com o Orçamento Público, que, apesar de interligados, representam momentos distintos nesse processo de planejamento. Além disso, é por meio do planejamento governamental que é possível à Administração Pública identificar as necessidades, interesses e aspirações da nação e planejar o atendimento dessas demandas, por meio da prestação de serviços públicos. Portanto, considerando que o planejamento governamental é estruturado em programas, diretrizes, objetivos e metas, com vistas a orientar as ações econômicas para o ciclo de um governo, no Tópico 1, abordaremos cada um dos instrumentos de planejamento definidos em nossa Constituição Federal de 1988 e, em seguida, abordaremos o que são serviços públicos, algumas de suas características e quem são os responsáveis por executá-los. Aos estudos! 2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO De acordo com Quintana et al. (2011, p. 6), “o planejamento é a primeira etapa em qualquer processo de gestão, seja na entidade pública ou na empresa privada, pois por meio dele serão traçados os desejos, as intenções, as expectativas, o futuro projetado para essa entidade ou empresa”, portanto, o planejamento é o ponto de partida para uma 88 administração eficiente e eficaz da máquina pública. Na Administração Pública (direta e indireta), o planejamento torna-se mais do que fundamental, pois é uma determinação legal, ocorrendo por meio do Orçamento Público. Como instrumentos de planejamento governamental, a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 165, estabelece a hierarquia do processo de planejamento e os responsáveis por sua elaboração e, respectivamente, execução: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I- o plano plurianual [PPA]; II- as diretrizes orçamentárias [LDO]; III- os orçamentos anuais [LOA] (BRASIL, 1988). Rosa (2011, p. 27) ressalta que “essa estrutura legal tem por objetivo amparar a tarefa do planejamento, com vistas à melhor alocação dos recursos públicos, promovendo a integração entre o planejamento e o orçamento anual”, cuja hierarquia é apresentada constitucionalmente. A princípio, compete ao Plano Plurianual (PPA) estabelecer as diretrizes, objetivos e metas de médio prazo da Administração Pública (direta e indireta). Em seguida, cabe à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enunciar as políticas públicas e respectivas prioridades para o exercício seguinte. Por último, concerne à Lei Orçamentária Anual (LOA) estimar a receita e fixar a programação das despesas para o exercício financeiro. Nesse sentido, verifica-se que esses três instrumentos de planejamento governamental estão relacionados entre si: a LDO, ao identificar no PPA as ações que terão prioridade no exercício seguinte, torna-se o elo entre o PPA e a LOA, que é o instrumento que viabiliza a execução do plano de trabalho do exercício. Nota-se que, de acordo com a forma definida no texto constitucional, há uma hierarquia entre os instrumentos de planejamento. Rosa (2011, p. 28) assim explica: “deve a lei do PPA anteceder a LDO e a LOA, servindo-lhes de guia” e, de igual modo, “a LDO, com base no PPA, deve estabelecer a formulação da LOA e fixar as prioridades de alocação”. Nesse sentido, de acordo com Silva (2011, p. 181), “o PPA, a LDO e a LOA são componentes básicos do planejamento governamental”, que pode ser dividido em estratégico, que tem o PPA como documento básico e operacional, que tem como instrumentos a LDO e a LOA. Seguindo essa divisão de plano estratégico e operacional, Silva explica: O Planejamento Estratégico compreende as diretrizes e interações que relacionam o presente ao futuro da organização e que vão tornando harmônicas as medidas adotadas em direção a uma estrutura idealizada (SILVA, 2011, p. 181). O Planejamento Operacional refere-se às diretrizes e interações presentes que, com base na situação atual e tendo em vista os recursos disponíveis, procura maximizar os resultados do período (SILVA, 2011, p. 183). 89 Apresentamos na Figura 1, uma exemplificação dos três instrumentos de planejamento governamental previstos na Constituição Federal de 1988. FIGURA 1 – PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL FONTE: Adaptado de Lima e Castro (2012, p. 14) e Lima (2018, p. 5) De acordo com a Constituição Federal de 1988, o exercício da função de planejamento é dever do Estado, tendo caráter determinante para o setor público e indicativo para o setor privado: “Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”. Considerando esse dispositivo constitucional, o processo de elaboração e discussãodos instrumentos de planejamento governamental é influenciado por diversos fatores, os quais são apresentados na Figura 2. 90 FIGURA 2 – FATORES QUE INFLUENCIAM O SISTEMA DE PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL FONTE: Silva (2011, p. 179) Observa-se que diversos fatores internos e externos afetam o processo de planejamento governamental e, portanto, precisam ser considerados pelos gestores públicos, sobretudo porque nesse processo de planejamento ele deve ser capaz de expressar com mais veracidade a responsabilidade do governo para com a sociedade que governa. Silva (2011) destaca que esse processo deve ser entendido como um processo racional para definir objetivos e determinar meios para alcançá-los, devendo obedecer a algumas características: • diagnóstico da situação existente; • identificação das necessidades de bens e serviços; • definição clara dos objetivos para a ação; • discriminação e quantificação de metas e seus custos; • avaliação dos resultados obtidos; e • estar integrado com os demais instrumentos de planejamento. Apresentamos na Figura 3, a estrutura do processo global de planejamento governamental. 91 Como vimos, o PPA, a LDO e a LOA são leis de iniciativa do Poder Executivo, entretanto, cabe ao Poder Legislativo de cada uma das esferas de governo avaliá-las e aprová-las. Nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988, são estabelecidos os prazos para encaminhamento e devolução dos instrumentos de planejamento orçamentário da União. Os demais entes da federação e, portanto, os estados e os municípios poderão, pelas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas, adotar prazos diferenciados para a tramitação das peças orçamentárias, até que lei complementar disponha sobre os prazos do PPA, da LDO e da LOA (Art. 165; § 9; I; BRASIL, 1988). Como exemplo, os prazos para encaminhamento ao Poder Legislativo e retorno ao Poder Executivo da União são apresentados no Quadro 1. FIGURA 3 – ESTRUTURA DO PROCESSO GLOBAL DE PLANEJAMENTO FONTE: Silva (2011, p. 181) Caro acadêmico! Os três instrumentos de planejamento governamental apresentados anteriormente são extremamente importantes para a Administração Pública, mas sobretudo para os cidadãos. Com o objetivo de apresentar de forma didática a importância desses instrumentos de planejamento, o Senado Federal criou um projeto denominado “Orçamento Fácil: um jeito simples de conhecer o orçamento público e participar!”. As animações são acessíveis, compreensíveis e lúdicas e comparam o orçamento público com o doméstico, assista a série de vídeos do projeto e compartilhe-os com as pessoas que você conhece. Acesse em: https://www12.senado.leg.br/orcamentofacil. DICA 92 Base constitucional Instrumento Encaminhamento ao Poder Legislativo pelo Poder Executivo Devolução ao Poder Executivo pelo Poder Legislativo Art. 35, § 2º, I do ADCT PPA Quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro. Até o encerramento da sessão legislativa do exercício financeiro em que for encaminhado. 31 de agosto 22 de dezembro Art. 35, § 2º, II do ADCT LDO Oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro. Até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. 15 de abril 17 de julho Art. 35, § 2º, III do ADCT LOA Quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro. Até o encerramento da sessão legislativa. 31 de agosto 22 de dezembro QUADRO 1 – PRAZOS DE ENCAMINHAMENTO E DEVOLUÇÃO FONTE: Adaptado de Silva (2011, p. 202) Na sequência, traçaremos um panorama de cada um dos instrumentos de planejamento que compõem o sistema orçamentário brasileiro, dando ênfase, posteriormente, à Lei Orçamentária Anual (LOA), objeto de registro e controle pela Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Caro acadêmico, você sabia que o Poder Legislativo não pode entrar em recesso se não tiver apreciado e aprovado a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)? A sessão legislativa pode ser ordinária ou extraordinária. A sessão legislativa ordinária corresponde a um ano de trabalhos legislativos, sendo dividida em dois períodos. A sessão legislativa ordinária começa no dia 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, com intervalo entre o dia 18 de julho e 31 de julho (Art. 57; BRASIL, 1988). Sendo assim, caso a casa legislativa não tenha apreciado e aprovado a LDO até o encerramento do primeiro período legislativo, o recesso não pode ser concedido (Art. 57; § 2; BRASIL, 1988), uma vez que sua aprovação estabelece quais serão as prioridades para o ano seguinte e é condição sine qua non para que o Poder Executivo possa iniciar o processo de elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA). INTERESSANTE 93 2.1 PLANO PLURIANUAL O primeiro passo na elaboração do Orçamento Púbico é a definição do Plano Plurianual (PPA). Segundo o Manual Técnico do Orçamento (MTO) (SOF, 2021), o PPA é o instrumento de planejamento de médio prazo do Poder Executivo do governo federal, estadual, distrital e municipal para um período de quatro anos, que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública – direta e indireta – para as despesas de capital e outras delas decorrentes, e para as relativas aos programas de duração continuada (Art. 165; I; § 1; BRASIL, 1988), ou seja, visa conduzir os gastos públicos de maneira racional, possibilitando a manutenção do patrimônio público e a realização de novos investimentos por meio dos programas e ações (LIMA; CASTRO, 2012). Rosa (2011) descreve que pelo disposto constitucional, o PPA deverá estabelecer, por região, as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública para as: • despesas de capital (investimentos e inversões financeiras); • despesas decorrentes das despesas de capital (e.g. despesas com manutenção de rodovias, ferrovias, hidrovias e hospitais implantados); e • despesas – correntes e de capital – relativas aos programas de duração continuada. Ademais, os planos e programas nacionais, regionais e setoriais serão elaborados em consonância com o PPA e apreciados pela respectiva casa legislativa em qualquer dos níveis de governo, portanto, após a aprovação desse instrumento de planejamento, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) devem ser compatíveis com os planos previstos e aprovados no PPA. Assim, cabe ao Congresso Nacional, à Assembleia Legislativa dos Estados e às Câmaras de Vereadores, a apreciação e aprovação do PPA da União, dos Estados e dos Municípios, respectivamente. O PPA é um instrumento de planejamento cuja lei é uma iniciativa do Poder Executivo a ser executado no período correspondente a um mandato político, contado a partir do exercício financeiro seguinte ao de sua posse, atingindo o primeiro exercício financeiro do próximo mandato, visando traduzir em programas de governo as propostas políticas divulgadas nas campanhas eleitorais. Em outras palavras, o período do PPA é o mesmo do mandado do chefe do Poder Executivo, mas esses períodos não coincidem porque o PPA vigora do segundo ano de mandado até o primeiro ano do mandado seguinte. Por exemplo, um Governador Estadual empossado em 2019 executará o último ano do PPA de seu antecessor (2017-2019) no primeiro ano de seu mandato e estabelecerá um novo PPA para os próximos quatro anos (2020-2023), executando apenas três anos dele PPA (2020-2022), caso não seja reconduzido – na possibilidade – ao cargo. Quanto aos programas, cada um será apresentado no PPA com seus respectivos dados qualitativos e quantitativos. Rosa (2011, p. 29-30) esclarece que os programas são “entendidos como instrumento de organização da ação governamental, que articula 94 um conjunto de ações com vistas ao alcance dos objetivos nele estabelecidos, devendo, assim, manter articulação e integração com os orçamentos anuais”. Um exemplo de programa de governo é apresentado na Figura 11. FIGURA 4 – EXEMPLIFICAÇÃODE UM PROGRAMA DE GOVERNO FONTE: Lima (2018, p. 6) Na Lei nº 13.971, de 27 de dezembro de 2019, que institui o PPA da União para o período de 2020 a 2023, os programas são classificados segundo a finalidade que pretendem atingir ou desenvolver em programas finalísticos e programas de gestão. Os programas finalísticos estabelecem um conjunto de ações orçamentárias e não orçamentárias, suficientes para enfrentar problemas da sociedade, conforme objetivo e meta, enquanto os programas de gestão estabelecem o conjunto de ações orçamentárias e não orçamentárias, que não são passíveis de associação aos programas finalísticos, relacionadas à gestão das empresas estatais, com as respectivas categorias econômicas e indicação das fontes de financiamento (BRASIL, 2019a). Caro acadêmico! Considerando o grande número de termos e expressões pouco conhecidos por serem de natureza técnica da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, o Congresso Nacional criou um glossário de termos orçamentários. Acesse em: https://www.congressonacional.leg.br/legislacao- e-publicacoes/glossario-orcamentario. DICA 95 Ressalta-se que cada ente da federação deve estabelecer, em ato próprio, a estrutura, códigos e classificações de seus programas, respeitando as legislações pertinentes. Lima (2018) e Lima e Castro (2012) ressaltam que cada programa deve, obrigatoriamente, conter: o objetivo, o órgão responsável, o valor global, o prazo de conclusão, a fonte de financeiro (recurso), o indicador que quantifique a situação que o programa tenha por fim modificar, as metas – qualitativas e quantitativas – correspondentes aos bens e serviços necessários para atingir o objetivo, as ações não orçamentárias e a regionalização das metas. Cabe destacar que o PPA não é imutável e, portanto, poderá ser revisto – e deve – ou alterado, com a exclusão ou alterações de programas existentes, ou a inclusão de novos programas, mediante proposta do Poder Executivo e aprovação do Poder Legislativo (ROSA, 2011). 2.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS Se o PPA é responsável por estabelecer as diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública para o horizonte de quatro anos, cabe a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) nortear a elaboração dos orçamentos anuais, compreendendo as metas e prioridades da Administração Pública, estabelecendo as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável da dívida pública, visando orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), dispondo sobre as alterações na legislação tributária e estabelecendo a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (Art. 165; § 2; BRASIL, 1988). Logo, a LDO é vinculada a um exercício financeiro, ou seja, de periodicidade anual, tornando-se o elo entre o PPA e a LOA (LIMA; CASTRO, 2012), sempre em consonância com o PPA (QUINTANA et al., 2011). No que tange a LRF, a LDO atenderá o disposto no § 2º do Artigo 165 da Constituição Federal de 1988 e disporá também sobre (Art. 4; BRASIL, 2000): Caro acadêmico, ficou curioso para saber quais os programas de governo da União? Caso você tenha interesse em conhecer os programas do Plano Plurianual do Poder Executivo Federal, acesse o website do Ministério da Economia e veja os programas existentes e seus desdobramentos para sua região. Acesse em: https://bit.ly/3uWNSV5. INTERESSANTE 96 • equilíbrio entre receitas e despesas; • critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no Artigo 9º e no inciso II do § 1º do Artigo 31 da LRF; • normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; e • condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas. Ainda a LRF determina (Art. 4; BRASIL, 2000, grifo nosso): § 1º Integrará o projeto de [LDO o] Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. § 2º O Anexo conterá, ainda: I- avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior; II- demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e metodologia de cálculo que justifiquem os resultados pretendidos, comparando-as com as fixadas nos três exercícios anteriores, e evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica nacional; III- evolução do patrimônio líquido, também nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos; IV- avaliação da situação financeira e atuarial: a) dos regimes geral de previdência social e próprio dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador; b) dos demais fundos públicos e programas estatais de natureza atuarial; V- demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. § 3º A [LDO] conterá [o] Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem. § 4º A mensagem que encaminhar o projeto [de LDO] da União apresentará, em anexo específico, os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus principais agregados e variáveis, e ainda as metas de inflação, para o exercício subsequente. Kohama (2012, p. 44) explica que o Anexo de Riscos Fiscais “é aquele demonstrativo em que se destacam os passivos contingentes e outros riscos que possam provocar um aumento do endividamento, como, por exemplo, queda da arrecadação, decréscimo da atividade econômica, entre outros eventos que possam impactar negativamente as contas públicas”. Portanto, para que esses eventos sejam classificados como riscos fiscais, uma condição necessária é que não possam ser controlados ou evitados pelo governo. 97 Com o objetivo de uniformizar procedimentos, descrever rotinas e servir de instrumento de racionalização de métodos relacionados à elaboração dos anexos exigidos pela LRF, a STN do ME, por meio da publicação da Portaria nº 924, de 8 de julho de 2021, no uso de suas atribuições e considerando a necessidade de padronização dos demonstrativos fiscais nos três níveis de governo, de forma a garantir a consolidação das contas públicas na forma estabelecida no Artigo 51 da LRF, editou e aprovou a 12ª edição do Manual de Demonstrativos Fiscais (STN, 2021b), com validade em todo o território nacional a partir do exercício de 2022, visando: [..] estabelecer regras de harmonização a serem observadas, de forma permanente, pela Administração Pública para a elaboração do Anexo de Riscos Fiscais (ARF), do Anexo de Metas Fiscais (AMF), do Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) e do Relatório de Gestão Fiscal (RGF), e define orientações metodológicas, consoante os parâmetros definidos pela Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, intitulada Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF. Rosa (2011) enfatiza que o cumprimento dos prazos de encaminhamento e apreciação estabelecidos no Quadro 1 pelos dois poderes é fundamental, pois o não cumprimento do prazo de encaminhamento da LDO pelo chefe do Poder Executivo pode motivar a instauração de processo por crime de responsabilidade contra a lei orçamentária (Art. 165; BRASIL, 1988), nos termos da Constituição Federal de 1988 e das leis específicas que tratam sobre o tema. Na sequência, discutiremos a forma mais operacional do processo de planejamento governamental, a Lei Orçamentária Anual (LOA). Nesta última fase do processo, os departamentos de planejamento e de contabilidade possuem grande responsabilidade na correta preparação dos textos e anexos, razão pela qual buscamos prezarpor um maior detalhamento. Caro acadêmico! Outras versões do Manual de Demonstrativos Fiscais (MDF) podem ser consultadas diretamente no website da Secretaria do Tesouro Nacional, e seu pleno conhecimento é recomendado para um maior aprofundamento dos temas tratados nesta e nas próximas unidades de nosso Livro de estudos. Acesso em: https://bit.ly/3LH3T8h. DICA 98 Caro acadêmico! Caso você tenha interesse em conhecer a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do Poder Executivo Federal, acesse o website da Câmara dos Deputados destinado a esse fim e consulte as diretrizes orçamentárias estabelecidas para a elaboração do orçamento anual, bem como os anexos determinados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Acesse em: https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-orcamentarias/ldo. DICA 2.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL Inicialmente, é preciso entender que “o orçamento anual existe para viabilizar o alcance dos objetivos e metas propostos no PPA, em conformidade com as diretrizes fixadas pela LDO” (QUINTANA et al., 2011, p. 23) e é um “documento que apresenta, em termos monetários, as receitas orçamentárias e as despesas orçamentárias” (LIMA, 2018, p. 15) que a Administração Pública pretende realizar no exercício financeiro, elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo, o qual será convertida em Lei Orçamentária Anual (LOA). Lima (2018, p. 15) ressalta que a LOA é o orçamento propriamente dito, traduzindo “em termos financeiros, para determinado período, os planos e programas de trabalho, ajustando o ritmo de execução ao fluxo de recursos previstos, de modo a assegurar a contínua e oportuna liberação desses recursos”. Nesse sentido, a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, disciplina: Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade universalidade e anualidade. § 1° Integrarão a Lei de Orçamento: I- Sumário geral da receita por fontes e da despesa por funções do Governo; II- Quadro demonstrativo da Receita e Despesa segundo as Categorias Econômicas, na forma do Anexo nº 1; III- Quadro discriminativo da receita por fontes e respectiva legislação; IV- Quadro das dotações por órgãos do Governo e da Administração. § 2º Acompanharão a Lei de Orçamento: I- Quadros demonstrativos da receita e planos de aplicação dos fundos especiais; II- Quadros demonstrativos da despesa, na forma dos Anexos nºs 6 a 9; III- Quadro demonstrativo do programa anual de trabalho do Governo, em termos de realização de obras e de prestação de serviços. Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei. Parágrafo único. Não se consideram para os fins deste artigo as operações de crédito por antecipação da receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias, no ativo e passivo financeiros. 99 Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada, ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2° (BRASIL, 1964). Portanto, a LOA conterá a estimativa de todas as receitas e, com base em sua estimativa, serão fixadas todas as despesas da Administração Pública, compreendendo um único orçamento, as estimativas de todos os poderes, ou seja, integrarão a LOA do Governo Federal, por exemplo, as receitas e despesas orçadas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Ressalta-se que a elaboração da LOA é realizada por meio de uma estimativa do quanto se espera arrecadar e das despesas que se pretende incorrer e, portanto, não se trata de dinheiro, mas uma autorização de gastos em função da estimativa da arrecadação (LIMA; CASTRO, 2012), em que, somente poderão ser realizadas despesas devidamente autorizadas pelo Poder Legislativo (LIMA, 2018). A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 165, § 5º, incisos I a III, estabelece que a LOA compreenderá: I- o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II- o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III- o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público (BRASIL, 1988, grifo nosso). Observa-se que a LOA compreende um único orçamento, porém, dividido em Orçamento Fiscal, Orçamento de Investimento das Empresas Estatais e Orçamento da Seguridade Social. Nesse sentido, com relação ao conteúdo e forma da proposta orçamentária, a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece que: Art. 22. A proposta orçamentária que o Poder Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos estabelecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, compor-se-á: I- Mensagem, que conterá: exposição circunstanciada da situação econômico-financeira, documentada com demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos financeiros exigíveis; exposição e justificação da política econômico-financeira do Governo; justificação da receita e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de capital; II- Projeto de Lei de Orçamento; III- Tabelas explicativas, das quais, além das estimativas de receita e despesa, constarão, em colunas distintas e para fins de comparação: a) A receita arrecadada nos três últimos exercícios anteriores àquele em que se elaborou a proposta; b) A receita prevista para o exercício em que se elabora a proposta; c) A receita prevista para o exercício a que se refere a proposta; d) A despesa realizada no exercício imediatamente anterior; e) A despesa fixada para o exercício em que se elabora a proposta; e 100 f) A despesa prevista para o exercício a que se refere a proposta. IV- Especificação dos programas especiais de trabalho custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decompostas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social e administrativa. Parágrafo único. Constará da proposta orçamentária, para cada unidade administrativa, descrição sucinta de suas principais finalidades, com indicação da respectiva legislação (BRASIL, 1964). Ademais, a LOA deve ser elaborada de forma compatível com o PPA, com a LDO e com as normas da LRF (Art. 5; BRASIL, 2000, inclusões e grifo nosso), devendo: I- conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas constantes do documento de que trata o § 1º do Art. 4º [Anexo de Metas Fiscais]; II- será acompanhado do documento a que se refere o § 6º do Art. 165 da Constituição [do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia], bem como das medidas de compensação a renúncias de receita e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; III- conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, destinada ao: a) (VETADO) b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. Também devem ser observados os seguintes itens (Art. 5; § 1 ao 6; BRASIL, 2000): § 1º Todas as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual, e as receitas que as atenderão, constarão da lei orçamentária anual. § 2º O refinanciamento da dívida pública constará separadamente na lei orçamentária e nas de crédito adicional. § 3º A atualização monetária do principal da dívida mobiliáriarefinanciada não poderá superar a variação do índice de preços previsto na lei de diretrizes orçamentárias, ou em legislação específica. § 4º É vedado consignar na lei orçamentária crédito com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada. § 5º A lei orçamentária não consignará dotação para investimento com duração superior a um exercício financeiro que não esteja previsto no plano plurianual ou em lei que autorize a sua inclusão, conforme disposto no § 1o do Art. 167 da Constituição. § 6º Integrarão as despesas da União, e serão incluídas na lei orçamentária, as do Banco Central do Brasil relativas à pessoal e aos encargos sociais, custeio administrativo, inclusive os destinados a benefícios e assistência aos servidores, e a investimentos. 101 No Brasil, a metodologia utilizada para a elaboração da LOA é a denominada “Orçamento-Programa”, adotada pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Essa metodologia expressa, financeira e fisicamente, os programas de trabalho de governo, possibilitando a integração do planejamento com o orçamento, a quantificação de objetivos e a fixação de metas, as relações insumo-produto, as alternativas programáticas, o acompanhamento físico-financeiro, a avaliação de resultados e a gerência por objetivos. Quanto aos prazos para encaminhamento da LOA pelo Poder Executivo e apreciação pelo Poder Legislativo, Lima (2018) ressalta que “cada ente público definirá os prazos para envio, aprovação e sanção de seus respectivos instrumentos orçamentários”, em que “na inexistência de instrumento legal nesse sentido, passam a prevalecer os prazos definidos pela Constituição Federal para a União”, de acordo com os prazos estabelecidos e apresentados, anteriormente, no Quadro 16. 3 SERVIÇOS PÚBLICOS De acordo com Medauar (2020, p. 329), a expressão “serviço público” é frequentemente utilizada em um sentido amplo, para englobar toda e qualquer atividade exercida pela Administração Pública. Seguiremos a concepção da autora, entendendo o serviço público como um capítulo do Direito Administrativo, que diz respeito à atividade exercida no âmbito das atribuições da Administração Pública, inserida no Poder Executivo. No entendimento de Di Pietro (2020, p. 128), definir serviço público não é tarefa fácil, “pois a sua noção sofreu consideráveis transformações no decurso do tempo, quer no que diz respeito aos seus elementos constitutivos, quer no que concerne a sua abrangência”. Na definição de Medauar (2020, p. 329), serviço público “refere-se à atividade prestacional, em que o poder público propicia algo necessário à vida coletiva, como, por exemplo: água, energia elétrica, transporte urbano”. Di Pietro (2020, p. 135) a define como “toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente público”. Portanto, serviços públicos, em sentido estrito, é toda prestação direta e indireta de serviços à população, exercida pela Administração Pública – direta e indireta – ou delegada por concessão, permissão ou autorização, ou de pessoas jurídicas criadas pelo Estado com essa finalidade, sob condições impostas e fixadas pelo Poder Executivo, visando atender as necessidades coletivas. Observa-se que os serviços públicos podem abranger atividades de responsabilidade exclusiva da Administração Pública e outras por ele delegadas. Nesse sentido, os serviços que competem exclusivamente à Administração Pública são considerados “serviços públicos propriamente ditos”, enquanto os prestados por delegação são considerados “serviços de utilidade pública”. 102 Na sequência, apresentamos no Quadro 2 alguns exemplos de serviços públicos propriamente ditos e serviços de utilidade pública. QUADRO 2 – SERVIÇOS PÚBLICOS PROPRIAMENTE DITOS E DE UTILIDADE PÚBLICA FONTE: Adaptado de Kohama (2012, p. 2-3) Di Pietro (2020) ressalta que existem certos princípios inerentes à caracterização da atividade como serviço público: a continuidade do serviço público, a mutabilidade do regime jurídico e a igualdade dos usuários. Em linhas gerais, o princípio da continuidade do serviço público determina que o serviço público não pode parar, constituindo aplicação do princípio da continuidade; o princípio da mutabilidade do regime jurídico autoriza alterações no regime de execução do serviço para adequar ao interesse público; e o princípio da igualdade dos usuários estabelece que a pessoa que reúna às condições legais tem direito à prestação do serviço, sem qualquer distinção de caráter pessoal. Além desses princípios, outros são mencionados na Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos: Art. 6 Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas [...] (BRASIL, 1995). É importante ressaltar que a paridade de tratamento vinculado ao princípio da igualdade dos usuários não torna a prestação do serviço gratuita, pois a gratuidade não foi estabelecida como princípio do serviço público (MEDAUAR, 2020). Embora às vezes o ordenamento jurídico determine a gratuidade – a Constituição Federal de 1988 assegura a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais (Art. 206; IV) –, SERVIÇOS PÚBLICOS PROPRIAMENTE DITOS SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA Defesa e Segurança do Território Nacional; Serviços prestados a consumidores domiciliares: Emissão de moeda; - Eletricidade; - Telefone; - Água; e - Gás. Controle e Fiscalização de instituições de crédito; Manutenção do Serviço Postal; e Manutenção do Serviço Aéreo Nacional. 103 a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 prevê a possibilidade de serem estabelecidas tarifas “em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários” (Art. 13, BRASIL, 1995). Di Pietro (2020) ressalta que vários critérios têm sido adotados para classificar os serviços públicos, os quais apresentamos no Quadro 3. QUADRO 3 – CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS PRÓPRIOS SERVIÇOS PÚBLICOS IMPRÓPRIOS São aqueles que, atendendo a necessidades coletivas, o Estado assume como seus e os executa diretamente ou indiretamente. São aqueles que, embora atendendo também a necessidades coletivas, como os anteriores, não são assumidos nem executados pelo Estado, seja direta ou indiretamente, mas apenas por ele autorizados, regulamentados e fiscalizados. QUANTO AO OBJETO ADMINISTRATIVOS COMERCIAIS OU INDUSTRIAIS SOCIAIS É aquele que a Administração Pública executa para atender as suas necessidades internas ou preparar outros serviços que serão prestados ao público, tais como os da imprensa oficial, das estações experimentais e outros dessa natureza. Entretanto, para Di Pietro (2020) a expressão é equívoca porque também costuma ser usada em sentido mais amplo para abranger todas as funções administrativas, distinguindo-as da legislativa e jurisdicional e ainda para indicar os serviços que não são usufruídos diretamente pela comunidade, ou seja, no mesmo sentido de serviço público uti universi, adiante referido. Além disso, abrange as atividades- meio, nem sempre inseridas no conceito de serviço público em sentido técnico preciso, conforme Medauar. É aquele que a Administração Pública executa, direta ou indiretamente, para atender às necessidades coletivas de ordem econômica. Na visão de Di Pietro (2020), esses serviços não se confundem com aqueles a que faz referência o Artigo 173 da Constituição Federal de 1988, ou seja, não se confundemcom a atividade econômica que só pode ser prestada pelo Estado em caráter suplementar da iniciativa privada. É o que atende a necessidades coletivas em que a atuação do Estado é essencial, mas que convivem com a iniciativa privada, tal como ocorre com os serviços de saúde, educação, previdência, cultura, meio ambiente; são tratados na Constituição no capítulo da ordem social e objetivam atender aos direitos sociais do homem, considerados direitos fundamentais pelo Artigo 6º da Constituição Federal de 1988. 104 QUANTO À MANEIRA COMO CONCORREM PARA SATISFAZER AO INTERESSE GERAL UTI SINGULI UTI UNIVERSI São aqueles que têm por finalidade a satisfação individual e direta das necessidades dos cidadãos. Entram nessa categoria determinados serviços comerciais e industriais do Estado (energia elétrica, luz, gás, transportes) e de serviços sociais (ensino, saúde, assistência e previdência social). São prestados à coletividade, mas usufruídos apenas indiretamente pelos indivíduos. Entram nessa categoria os serviços de defesa do país contra o inimigo externo, dos serviços diplomáticos, dos trabalhos de pesquisa científica, de iluminação pública, de saneamento. Di Pietro (2020) ressalta que quanto a este último serviço, o Supremo Tribunal Federal, pela Súmula nº 670, consagrou o entendimento de que “o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa”, exatamente por não ser usufruído uti singuli e não se enquadrar no conceito contido no Artigo 145, II, da Constituição Federal de 1988. FONTE: Adaptado de Di Pietro (2020, p. 141-144) A Constituição Federal de 1988 sobre serviços públicos estabelece o seguinte: Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado (BRASIL, 1988). Nesse sentido, a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 veio regulamentar o dispositivo constitucional previsto no Artigo 175. Para os fins do disposto nesta lei, considera-se (Art. 2): I- poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão; II- concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade concorrência ou diálogo competitivo, a pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; 105 III- concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegados pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade concorrência ou diálogo competitivo, a pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado; IV- permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco. Quando se tratar de formas de gestão que impliquem a delegação à entidade privada, Di Pietro (2020, p. 145) esclarece que alguns critérios devem ser considerados (grifos da autora): a. para o serviço público de natureza comercial ou industrial, que admita a cobrança de tarifa do usuário, o instituto adequado é a concessão ou permissão de serviço público, em sua forma tradicional, regida pela Lei nº 8.987/95, ou a concessão patrocinada; também é admissível a franquia (hoje já prevista para as atividades do correio); trata-se de formas de gestão que não podem ser utilizadas para: (1) atividades exclusivas do Estado, porque são indelegáveis por sua própria natureza; (2) serviços sociais, porque estes são prestados gratuitamente e, portanto, incompatíveis com a concessão tradicional (a menos que possam ser mantidos exclusivamente com receitas alternativas) e com a concessão patrocinada, que se caracterizam pela cobrança de tarifa dos usuários; (3) os serviços uti universi, não usufruíveis diretamente pelos cidadãos, como a limpeza pública, por exemplo, cuja prestação incumbe ao poder público, com verbas provenientes dos impostos; Caro acadêmico, você sabe o que é uma licitação? Licitação é o processo pelo qual a Administração Pública contrata obras, serviços, compras e alienações. Em outras palavras, a licitação é a forma como a Administração Pública pode comprar e vender bens e serviços. O contrato administrativo bilateral decorrente do processo licitatório é o ajuste em cláusulas contratuais entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que há um acordo para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas. São três os principais objetivos de uma licitação: i. selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração Pública; ii. garantir igualdade de condições a todos que queiram contratar com o Poder Público; e iii. promover o desenvolvimento nacional sustentável. Atualmente, as licitações e contratos administrativos são regulamentados pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que será revoga completamente a partir de 1º de abril de 2023, quando a Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021 substituirá o atual ordenamento. IMPORTANTE 106 b. para o serviço público de natureza comercial ou industrial, sem cobrança de tarifa do usuário, o instituto cabível é a concessão administrativa; c. para os serviços sociais, são possíveis os contratos de gestão com as organizações sociais e a concessão administrativa; d. para qualquer tipo de serviço público é possível a gestão associada entre entes federativos, por meio de convênios de cooperação ou consórcios públicos, previstos no artigo 241 da Constituição e disciplinados pela Lei nº 11.107, de 6-4-05. Nesse sentido, o vínculo entre os serviços públicos e planejamento governamental – PPA, LDO e LOA – está no entendimento de que é por meio do processo de planejamento que o governo identifica e prioriza os serviços públicos essenciais e identifica as necessidades de novos serviços e, então, consegue especificar e determinar os gastos e investimentos necessários para manter esses serviços e suprir as necessidades prioritárias da sociedade. Caro acadêmico! Caso seja do seu interesse entender mais sobre as características e diferenças dos serviços públicos, recomendo a leitura do 14º Capítulo da 22ª edição do livro Direito Administrativo Moderno da escritora Odete Medauar, bem como que assista a série de vídeos explicativos da Advocacia-Geral da União: AGU Explica, sobre o tema. Neles você encontrará estes aspectos discutidos em profundidade e à luz do ordenamento jurídico nacional. Vídeo 1 – Apresentação (https://youtu.be/Bs4hs8tfVHI) Vídeo 2 – A importância do orçamento (https://youtu.be/u37F1fBwvEU) Vídeo 3 – O sistema brasileiro (https://youtu.be/OKsr6mdR1bc) Vídeo 4 – O que é o PPA (https://youtu.be/hG1Vd_SsgCc) Vídeo 5 – Elaboração e aprovação do PPA (https://youtu.be/IeFch6LTb2c) Vídeo 6 – O que é LDO (https://youtu.be/Q66ZSkBLKr0) Vídeo 7 – Elaboração e prazo de votação da LDO (https://youtu.be/c1-7KkcxHUI) Vídeo 8 – O que é a LOA (https://youtu.be/CWUNV7wOwYo) Vídeo 9 – Elaboração da LOA (https://youtu.be/hdbAbKafuTU) Vídeo 10 – Despesas obrigatórias (https://youtu.be/g7Xyk5sSnIU)Vídeo 11 – Vinculação de receitas (https://youtu.be/OPdGF5QGXyE) Vídeo 12 – A dívida pública (https://youtu.be/Z5CtY2BlKxc) Vídeo 13 – O refinanciamento da dívida pública (https://youtu.be/-yy5NJrcX-0) Vídeo 14 – As fases da despesa pública (https://youtu.be/ZcqgaEjJ7Aw) Vídeo 15 – Restos a pagar (https://youtu.be/o5j63z790Gs) Vídeo 16 – Receitas e despesas: primárias e financeiras (https:// youtu.be/lB6ofoyonxc) Vídeo 17 – Resultado primário e resultado nominal – Parte 1 (https:// youtu.be/cmmm-hk31Yo) Vídeo 18 – Resultado primário e resultado nominal – Parte 2 (https:// youtu.be/Eg1XGMhMFLQ) Vídeo 19 – Contingenciamento (https://youtu.be/9BE7roZwmaQ) DICA 107 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) são instrumentos do processo de planejamento governamental. • O PPA estabelece as diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública, visando traduzir as propostas políticas divulgadas nas campanhas eleitorais em programas de governo e é executado no período correspondente a um mandato político. • A LDO estabelece as políticas públicas e respectivas prioridades para o exercício seguinte, orientando a elaboração dos orçamentos anuais, em consonância com o PPA. • A LOA estima a receita e fixar a programação das despesas para o exercício financeiro, possibilitando o alcance dos objetivos e metas propostos no PPA, em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela LDO. • A estimativa de arrecadação e as despesas que se pretende incorrer, previstas na LOA, se trata de uma autorização de gastos em função da estimativa de arrecadação. • A LDO e a LOA devem ser compatíveis com os planos previstos e aprovados no PPA. • O PPA, a LDO e a LOA são leis de iniciativa do Poder Executivo, cabendo ao Poder Legislativo de cada uma das esferas de governo avaliá-las e aprová-las. • A metodologia utilizada para a elaboração da LOA é denominada “Orçamento- Programa”. • Serviço público é toda prestação direta e indireta de serviços à população, exercida pela Administração Pública – direta e indireta – ou delegada por concessão, permissão ou autorização pelo Poder Executivo. 108 1 O Plano Plurianual (PPA) é, hierarquicamente, o primeiro dos instrumentos de planejamento de qualquer entidade da Administração Pública, estabelecendo um planejamento de médio prazo para o país, estado ou município com os programas e ações prioritárias. Com relação ao PPA, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Estabelece de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública – direta e indireta – para um período de quatro anos. ( ) Vigora no exercício financeiro referente ao segundo ano de mandado do chefe do Poder Executivo até o final do exercício financeiro do primeiro ano do mandato subsequente. ( ) Deve estabelecer as despesas de capital e outras delas decorrentes, e para as relativas aos programas de duração pré-estabelecidas. ( ) Deve ser estabelecido por lei de iniciativa do Poder Legislativo até quatro meses antes do final do primeiro exercício financeiro do início do mandato do chefe do Poder Executivo, e devolvido para a sanção até o encerramento da seção legislativa. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V. b) ( ) F – V – F – V. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) V – V – F – F. 2 Se cabe ao PPA estabelecer os programas e ações prioritárias da Administração Pública, a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) define as diretrizes para elaboração e execução do orçamento, estabelece as prioridades e metas da Administração Pública para o exercício financeiro seguinte. Em relação à LDO, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Estabelece as metas e prioridades da Administração Pública, estabelecendo as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável da dívida pública. ( ) Deverá consignar o demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. ( ) Avaliação do cumprimento das metas relativas aos dois últimos anos. ( ) Conterá o Anexo de Metas Fiscais e o Anexo de Riscos Fiscais. AUTOATIVIDADE 109 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – F b) ( ) F – V – V – F c) ( ) V – V – F – V. d) ( ) V – F – F – V 3 Elaborados os programas e ações prioritários da Administração Pública e as diretrizes para implementar esses programas e ações para o próximo ano, chegamos à última fase do processo de planejamento orçamentário com a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), fixando os valores que poderão ser gastos e evidenciando de onde virão os recursos para financiar essas despesas. Com relação à LOA, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Compreenderá o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos das empresas em que a Administração Pública, direta ou indiretamente, não detenha a maioria do capital social com direito a voto e o orçamento da seguridade social. ( ) Conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo. ( ) Compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito por antecipação da receita autorizadas em lei. ( ) Deverá ser elaborada de forma compatível com o PPA e a com a LDO. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – F – F – V. d) ( ) V – F – V – F. 4 É por meio do planejamento governamental que é possível à Administração Pública identificar as necessidades, interesses e aspirações da nação e planejar o atendimento dessas demandas, por meio da prestação de serviços públicos. Com base no ordenamento constitucional, disserte como é composto o sistema orçamentário brasileiro. 5 Há prazos tanto para os projetos orçamentários serem encaminhados ao Poder Legislativo quanto para que sejam devolvidos para a sanção do chefe do Poder Executivo. Considerando os prazos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), disserte sobre os prazos do processo de planejamento governamental. 110 111 ORÇAMENTO PÚBLICO 1 INTRODUÇÃO O orçamento é um dos instrumentos mais antigos e tradicionais utilizados para a gestão dos recursos públicos e está intimamente ligado ao sistema de planejamento governamental e aos objetivos que um governo pretende alcançar, por meio do qual um governo executa suas políticas públicas (ROSA, 2011). Diante disso, antes de ser um documento financeiro vinculado apenas à previsão das receitas e à fixação das despesas públicas, o orçamento é um instrumento de operacionalização das ações governamentais em consonância com os planos e diretrizes estabelecidos no processo de planejamento governamental. Portanto, em termos práticos, o Orçamento Público – convertido na Lei Orçamentária Anual (LOA) após apreciação e aprovação do Poder Legislativo – é o instrumento de planejamento que estima as receitas que um governo espera arrecadar e, com base nelas, autoriza um limite de gastos a ser realizado com tais recursos, com base nas metas e prioridades definidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Por englobar receitas e despesas, o orçamento é peça fundamental para o equilíbrio fiscal das contas públicas, estabilidade econômica e controle do endividamento público, nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Para dar continuidade aos nossos estudos, no Tópico 2, abordaremos as questões relacionadas ao conceito e finalidade do orçamento, apresentaremos os tipos de orçamentos previstos constitucionalmente, discutiremos os princípios orçamentários à luz do ordenamento jurídico, especificamente os princípiosda unidade ou totalidade, universalidade, anualidade ou periodicidade, exclusividade, orçamento bruto, legalidade, publicidade, transparência e não vinculação (não afetação) da receita de impostos. Por fim, discutiremos as questões relacionadas aos créditos orçamentários e apresentaremos as etapas do ciclo orçamentário, no que diz respeito à elaboração da proposta orçamentária, discussão, votação e aprovação da lei orçamentária, execução orçamentária e controle e avaliação da execução orçamentária. Aos estudos! 2 CONCEITO E FINALIDADE O orçamento pode ser definido como “o planejamento feito pela Administração Pública para atender, durante determinado período, os planos e programas de trabalho por ela desenvolvidos, por meio da planificação de receitas a serem obtidas e dos UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 112 dispêndios a serem efetuados”, cuja finalidade principal é nortear as ações públicas, “dando-lhe a autorização necessária para arrecadar e gastar dentro dos limites que se contém no próprio orçamento” (LIMA, 2018, p. 1). Em outras palavras, o orçamento é um plano que expressa em termos monetários, para o período de um ano, o programa de operações do governo e as formas de financiamento desse programa, possibilitando o alcance dos objetivos e metas propostos no PPA, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela LDO (QUINTANA et al., 2011). Lima e Castro (2012, p. 22) descrevem o orçamento da seguinte forma: O orçamento é um processo contínuo, dinâmico e flexível, que traduz, em termos financeiros, para determinado período, os planos e programas de trabalho, ajustando o ritmo de execução ao fluxo de recursos previstos, de modo a assegurar a contínua e oportuna liberação desses recursos. O estudo do orçamento pode ser feito de duas maneiras. No aspecto objetivo, “designa o ramo das Ciências das Finanças que estuda a Lei do Orçamento e o conjunto de normas que se refere a sua preparação, sanção legislativa, execução e controle, ou seja, considera a fase jurídica de todas as etapas do orçamento (preventiva, executiva e crítica)”, enquanto no aspecto subjetivo “constitui a faculdade adquirida pelo povo de aprovar a priori, por seus representantes legitimamente eleitos, os gastos que o Estado realizará durante o exercício” (SILVA, 2011, p. 172). Diante disso, na visão do autor, o orçamento está vinculado ao desenvolvimento dos princípios democráticos de direito e a ideia de soberania popular. O orçamento-programa, metodologia adotada pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, discrimina “as despesas segundo sua natureza, dando ênfase aos fins (e não aos meios), de modo a demonstrar em que e para que o governo gastará, e quem será responsável pela execução de seus programas” (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010, p. 30), com vistas a “pormenorizar a etapa do programa plurianual a ser realizada no exercício seguinte e que servirá de roteiro à execução coordenada do programa atual” (ROSA, 2011, p. 60). Essa metodologia permite “apresentar os propósitos e objetivos para os quais os créditos [orçamentários] se fazem necessários, os custos dos programas propostos para atingir àqueles objetivos e dados quantitativos que meçam as realizações e o trabalho levado a efeito em cada programa” (GIACOMONI, 2021, p. 159). O Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, determina que seja elaborado anualmente um orçamento-programa, que detalhará a etapa do programa plurianual a ser realizada no exercício seguinte e que servirá de roteiro para a execução coordenada do programa anual (Art. 16; BRASIL, 1967). Kohama (2012, p. 62) e Lima e Castro (2012, p. 23) descrevem que a metodologia do orçamento-programa permite: • melhor aproveitamento dos recursos; • atribuir recursos para o cumprimento de determinados objetivos e metas (e não para um conjunto de compras e pagamentos); • determinar os meios financeiros em bases mais realistas; 113 • critérios objetivos de análise e decisão; • atribuir responsabilidade ao administrador; • verificar se as atividades são as mais adequadas para o atingimento do objetivo; e • acompanhamento e controle, para que o atingimento do objetivo se concretize. Segundo Giacomoni (2021, p. 159), são elementos essenciais do orçamento- programa: • os objetivos e propósitos perseguidos pela instituição e para cuja consecução são utilizados os recursos orçamentários; • os programas, isto é, os instrumentos de integração dos esforços governamentais no sentido da concretização dos objetivos; • os custos dos programas medidos por meio da identificação dos meios ou insumos (pessoal, material, equipamentos, serviços etc.) necessários para a obtenção dos resultados; e • medidas de desempenho com a finalidade de medir as realizações (produto) e os esforços despendidos na execução dos programas. Apresentamos na Figura 5 um diagrama que mostra como os principais componentes do orçamento-programa estão relacionados. FIGURA 5 – PRINCIPAIS COMPONENTES DO ORÇAMENTO-PROGRAMA FONTE: Giacomoni (2021, p. 160) Nesse sentido, observa-se que o orçamento-programa é um instrumento de planejamento que apresenta os objetivos e define as metas a serem alcançadas, o que permite o acompanhamento físico e financeiro, a avaliação dos resultados e a gestão por objetivos (ROSA, 2011, p. 61). Portanto, é por meio do orçamento-programa que os gestores públicos planejam e executam as finanças públicas no prazo de um ano e dentro de um determinado mandato. 114 3 TIPOS DE ORÇAMENTOS Dada a importância do orçamento como instrumento de programação e controle da ação governamental (ROSA, 2011, p. 61), a Constituição Federal de 1988 (Art. 165; § 5; I-III; BRASIL, 1988) determina que a LOA compreenderá o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos e o orçamento da seguridade social, proporcionando uma visão ampla do conjunto integrado de ações planejadas pela Administração Pública (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010, p. 37). Nos ensinamentos de Crepaldi e Crepaldi (2013, p. 40, grifo dos autores): • O orçamento fiscal referente aos três poderes, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público – refere-se às receitas que serão aplicadas nos gastos com pessoal, custeio da máquina administrativa, transferência para outras entidades governamentais, bem como as despesas que irão gerar novos gastos (denominadas despesas de capital), cuja principal fonte de recursos são os tributos. • O orçamento de investimento das empresas em que a União, Estado ou Município, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto – tem como objetivo demonstrar a aplicação de recursos no capital social das empresas estatais, ou seja, aquelas em que o Estado detém o controle do capital social, bem como as receitas próprias destas empresas. • O orçamento da seguridade social abrange todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público. É importantíssimo, do ponto de vista de assistência ao cidadão, pois é através dos recursos nele previstos que o Estado (União, Estados e Municípios) deve prestar serviços relevantes à população como saúde, previdência e assistência social. O orçamento fiscal compreende o orçamento geral dos poderes da Administração Pública, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público (Art. 165; § 5; I; BRASIL, 1988), excluindo-se as dotações destinadas à seguridade social e as relativas aos investimentos das estatais não dependentes. Nesse sentido, esse orçamento contempla as receitas e as despesas destinadas à manutenção da maioria dos serviços públicos. Com relação ao conteúdo do orçamento fiscal, Rosa (2011, p. 62) descreve: O orçamento fiscal compreende todas as receitas originárias e derivadas* e todas as despesas fixadas na programação, referentes aos Poderes Legislativo,Executivo e Judiciário, abrangendo seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público. * As receitas originárias são aquelas que resultam das atividades do Estado (receita patrimonial e de serviço) e as receitas derivadas são as provenientes do setor privado e resultam de disposição legal, do poder de tributar da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (receita tributária). 115 O orçamento de investimentos corresponde à parcela do orçamento que compreende as dotações relativas a investimentos das empresas não dependentes (e.g. Petrobras, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Infraero; Correios) em que a Administração Pública, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto (Art. 165; § 5; II; BRASIL, 1988). Nos termos da LRF, é uma empresa estatal dependente, aquela que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária (Art. 2; III; BRASIL, 2000). Portanto, as estatais dependentes devem ser excluídas do orçamento de investimentos e, consequentemente, compor o orçamento fiscal e as estatais independentes comporão o orçamento de investimentos. O orçamento da seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social (Art. 194; BRASIL, 1988). O orçamento da seguridade social devendo ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, por meio de recursos dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais (Art, 195; I-IV; BRASIL, 1988): • do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, sobre: ο a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; ο a receita ou o faturamento; e ο o lucro. • do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; • sobre a receita de concursos de prognósticos; e do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. Observa-se que os recursos do orçamento da seguridade social provêm, essencialmente, da cobrança de tributos e contribuições (PISCITELLI; TIMBÓ, 2010), devendo a proposta do orçamento da seguridade social ser elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na LDO, assegurada a cada área a gestão de seus recursos (Art. 195; § 2; BRASIL, 1988). Portanto, esse orçamento destina-se à cobertura dos direitos garantidos pela Administração Pública, relacionados à saúde, previdência e assistência social (ROSA, 2011). 116 4 PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS Válidos para todos os poderes e entes federativos, os princípios orçamentários são estabelecidos e disciplinados por normas constitucionais, infraconstitucionais e pela doutrina contábil e jurídica e visam estabelecer diretrizes básicas de orientação, de modo a conferir racionalidade, eficiência e transparência à elaboração, execução e controle do orçamento público (STN, 2021a, p, 35). São princípios orçamentários: a unidade ou totalidade, a universalidade, a anualidade ou periodicidade, a exclusividade, o orçamento bruto, a legalidade, a publicidade, a transparência e a não vinculação (não afetação) da receita de impostos. • Unidade ou Totalidade: estabelece que todas as receitas e despesas, em cada exercício financeiro, devem integrar um único documento legal em cada esfera federativa, ou seja, uma única LOA deve aprovar o orçamento da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Art. 2; BRASIL, 1964). Por exemplo, o Estado – Poder Executivo – ao elaborar seu orçamento geral – fiscal, investimentos e da seguridade social – também integrará todas as receitas e despesas dos Poderes Legislativo e Judiciário, evitando ter múltiplos orçamentos. • Universalidade: estabelece que a LOA de cada ente da federação contenha todas as receitas e despesas necessárias à manutenção dos serviços públicos de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e mantidas pelo poder público, que será uno (Art. 2; Art. 3; Art. 4; BRASIL, 1964; Art. 165; § 5; BRASIL, 1988). • Anualidade ou Periodicidade: estabelece que a LOA deve ter vigência limitada a um período anual (Art. 2; BRASIL, 1964), ou seja, coincidirá com o ano civil de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano (Art. 34; BRASIL, 1964). • Exclusividade: estabelece que a LOA não conterá dispositivo alheio à previsão da receita e à fixação da despesa, ressalvada a autorização para abertura de créditos suplementares e a contratação de operações de crédito, ainda que com poder antecipação da receita (Art. 165; § 8; BRASIL, 1988). Portanto, assuntos alheios (e.g. alteração de legislações tributárias) às receitas e às despesas não devem ser tratados na LOA. • Orçamento Bruto: estabelece que todas as receitas e despesas devem constar na LOA pelo valor total e bruto, vedadas quaisquer deduções (Art. 6; BRASIL, 1964). Por exemplo, na LOA da União as receitas devem ser orçadas sem as deduções dos recursos, decorrentes por força da lei, a serem transferidos aos Estados e Municípios. • Legalidade: estabelece o mesmo fundamento do princípio da legalidade aplicado à Administração Pública (Art. 37; BRASIL, 1988), segundo o qual cabe ao poder público fazer ou deixar de fazer apenas o que a lei expressamente autorizar, sendo necessário a formalização legal das leis orçamentárias (Art. 165; BRASIL, 1988). Ressalta-se que todos os atos e fatos administrativos praticados pela Administração Pública devem se basear nesse princípio, bem como nos outros princípios constitucionais já apresentados. 117 • Publicidade: estabelece o mesmo fundamento do princípio da publicidade aplicado à Administração Pública, segundo o qual cabe ao poder público dar publicidade de todos os seus atos e fatos administrativos (Art. 37; BRASIL, 1988; Art. 48; BRASIL, 2000). • Transparência: estabelece a ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público dos planos, orçamentos e diretrizes orçamentárias, das prestações de contas e o respectivo parecer prévio, do Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) e do Relatório de Gestão Fiscal (RGF) e as versões simplificadas desses documentos (Art. 48; BRASIL, 2000), bem como que o ente público incentive a participação popular e realize audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão do PPA, da LDO e da LOA (Art. 48; § 1; I; BRASIL, 2000). • Não vinculação (não afetação) da Receita de Impostos: estabelece a não vinculação da receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas as situações específicas elencadas pela própria Constituição Federal de 1988 (Art. 167; IV; BRASIL, 1988). São exemplos de ressalvas à repartição do produto da arrecadação dos impostos aos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e Fundos de Participação dos Municípios (FPM); Fundos de Desenvolvimento das Regiões Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste (FCO), bem como a destinação de recursos para as áreas de saúde e educação, além do oferecimento de garantias para operações de crédito por antecipação de receitas (STN, 2021a, p. 37). Os princípios orçamentários são premissas resultantes de diversos instrumentos legais e normativos, bem como da doutrina contábil e jurídica e não há consenso entre os autores, razão pela qual os princípiosorçamentários aqui apresentados basearam- se nos enunciados da 9ª edição do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (2021a). 5 CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS Os recursos para execução dos programas de trabalho do governo são especificados através dos créditos orçamentários aprovados pelo Poder Legislativo na LOA (SILVA, 2011), pela combinação da classificação institucional, funcional, programática e econômica, expressa em valores monetários, na forma consignada de dotação Caro acadêmico! Embora a 9ª edição do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público não contemple o princípio do equilíbrio orçamentário, ele é apresentado por diversos autores. O princípio do equilíbrio orçamentário estabelece, de forma extremamente simplificada, que as despesas não devem ultrapassar as receitas previstas para o exercício financeiro, igualando-se os recursos obtidos através de sua atividade financeira para custeá-los. INTERESSANTE 118 orçamentária. Nesse sentido, considerando que alguns autores consideram créditos orçamentários e dotação orçamentária como sinônimos (ROSA, 2011), apresentamos no Quadro 4 a diferença entre esses dois temos. QUADRO 4 – DIFERENCIAÇÃO ENTRE CRÉDITO ORÇAMENTÁRIO E DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA FONTE: O autor Apresentamos no Quadro 5 um exemplo da estrutura completa da programação do crédito orçamentário e da dotação orçamentária. QUADRO 5 – EXEMPLO DA ESTRUTURA COMPLETA DA PROGRAMAÇÃO FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 35) CRÉDITO ORÇAMENTÁRIO DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA Programação da despesa Valor monetário orçado CRÉDITO ORÇAMENTÁRIO ESFERA: Orçamento Fiscal 10 CLASSIFICAÇÃO INSTITUCIONAL ÓRGÃO: Ministério da Infraestrutura 39 UNIDADE ORÇAMENTÁRIA: Dep. Nac. de Infra. de Transportes 252 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL FUNÇÃO: Transporte 26 SUBFUNÇÃO: Transporte 782 CLASSIFICAÇÃO PROGRAMÁTICA PROGRAMA: Transporte Terrestre 2075 AÇÃO: Construção de Trecho Rodoviário 7M64 FONTE DE RECURSOS GRUPO: Receitas Arrecadadas no Exercício Corrente 1 ESPECIFICAÇÃO: Recursos Ordinários 00 NATUREZA DA DESPESA CATEGORIA ECONÔMICA: Despesas de Capital 4 GRUPO DE NATUREZA: Investimentos 4 MODALIDADE DE APLICAÇÃO: Aplicação Direta 90 INDICADOR DE RESULTADO PRIMÁRIO Sim 2 CÓDIGO COMPLETO 10.39.252.26.782.2075.7M64.100.4490.2 DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA R$ 86.500.000,00 (oitenta e seis milhões e quinhentos mil reais) 119 A autorização legislativa para a realização da despesa constitui um crédito orçamentário, que pode ser inicial ou adicional (LIMA, 2018). Entende-se por crédito orçamentário inicial aquele aprovado pela LOA, incluído nos orçamentos fiscais, da seguridade social e de investimento das empresas estatais não dependentes e, quando houver necessidade de autorizações de despesas não computadas ou insuficientes, tem-se a possibilidade de buscar créditos adicionais, destinados a permitir ao Poder Executivo discricionariedade sobre o orçamento. 5.1 CRÉDITOS ADICIONAIS O processo de orçar as despesas públicas é complicado, porque diversas variáveis influenciam diretamente o processo, como o desempenho da economia e a necessidade por parte da sociedade de novos serviços públicos. Diante disso, o orçamento não pode ser visto como peça estática e imutável no tempo e poderá sofrer alterações, de acordo com as necessidades da Administração Pública. Nesse sentido, na hipótese de ocorrerem situações imprevistas quando da elaboração ou entraves, porventura surgidos durante a execução do orçamento, e para permitir a realização de novas despesas, inclusive as decorrentes de fatos imprevisíveis e ou urgentes (ROSA, 2011), a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, dispõe que o orçamento poderá sofrer alterações durante o exercício financeiro, mediante a criação de créditos adicionais. As situações podem ocorrer de duas maneiras: • o crédito orçamentário foi previsto no orçamento, mas a dotação que lhe foi consignada é insuficiente para atender às despesas; ou • o crédito orçamentário não foi previsto para atendimento de despesas. Nos termos da lei, créditos adicionais são as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente previstas na LOA (Art. 40), classificando-se em suplementares, especiais e extraordinários (Art. 41; I-III): • Suplementares: os destinados a reforço de dotação orçamentária já existente; • Especiais: os destinados a despesas para as quais não haja crédito orçamentário e dotação orçamentária específica; e Caro acadêmico! No próximo tópico do nosso Livro didático, aprofundaremos as questões relacionadas à classificação das receitas e despesas públicas. Nesse ponto, é importante entender a diferença entre o crédito orçamentário e a dotação orçamentária e saber diferenciá-los. ESTUDOS FUTUROS 120 • Extraordinários: os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública. Os créditos suplementares e especiais serão autorizados pelo Poder Legislativo por lei e abertos por decreto executivo (Art. 42; BRASIL, 1964) e os créditos extraordinários serão abertos por decreto do Poder Executivo, que dará imediato conhecimento ao Poder Legislativo (Art. 44; BRASIL, 1964). Por se tratar de créditos orçamentários relacionados à LOA, a iniciativa da lei é de competência exclusiva do Poder Executivo, no qual o Poder Legislativo aprecia o projeto e autoriza os créditos orçamentários – suplementares e especiais – por meio de lei, sendo a abertura dos créditos adicionais feito por decreto do chefe do Poder Executivo (ROSA, 2011, p. 69). Cumpre destacar que a abertura de créditos adicionais indicará, obrigatoriamente, a importância em termos financeiros, a espécie do crédito adicional – suplementares, especiais ou extraordinários – e a classificação da despesa, até onde for possível (Art. 45; BRASIL, 1964). Quanto ao prazo de vigência, os créditos adicionais ficarão restritos ao exercício em que forem abertos, salvo disposição legal expressa em contrário (Art. 45; BRASIL, 1964). Quanto aos créditos especiais e extraordinários, esses terão vigência no exercício em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente (Art. 167; § 2; BRASIL, 1988). A Figura 6 apresenta um esquema da vigência dos créditos adicionais. FIGURA 6 – ESQUEMA DE VIGÊNCIA DOS CRÉDITOS ADICIONAIS FONTE: Silva (2011, p. 219) 121 Ressalta-se que a LOA pode conter autorização para que o Poder Executivo abra créditos adicionais – não sendo dispositivo alheio à previsão de receitas e à fixação da despesa – até determinada importância obedecidas as disposições do artigo 43 (Art. 7; BRASIL, 1964), sendo vedada a transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização do Poder Legislativo (Art. 167; VI; BRASIL, 1988). Portanto, o Poder Executivo não pode transferir dotação orçamentária de uma categoria de programação para outra sem prévia autorização legislativa. 5.1.1 Fontes dos créditos adicionais A autorização e a abertura dos créditos suplementares e especiais dependerão da existência de recursos disponíveis para ocorrer a despesa e será precedida de exposição de justificativa (Art. 43; BRASIL, 1964). Consideram-se recursos para o pedido de créditos adicionais suplementares e especiais (Art. 43; § 1 - § 4; BRASIL, 1964): • o superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior; • os provenientes de excesso de arrecadação; • os resultantes de anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais, autorizados em lei; e • o produto de operações de crédito autorizadas, em forma que juridicamente possibilite ao poder executivo realizá-las. Nos termos dos parágrafos do Artigo 43 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964: • entende-se por superávit financeiro adiferença positiva entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, conjugando-se, ainda, os saldos dos créditos adicionais transferidos e as operações de crédito a eles vinculadas; • entende-se por excesso de arrecadação, para os fins desse artigo, o saldo positivo das diferenças acumuladas mês a mês entre a arrecadação prevista e a realizada, considerando-se, ainda, a tendência do exercício; e • para o fim de apurar os recursos utilizáveis, provenientes de excesso de arrecadação, deduzir-se-á a importância dos créditos extraordinários abertos no exercício. Sobre a anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais, autorizados em lei, Kohama (2012, p. 218, grifo do autor) explica que: Entende-se por anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais a redução de parte, ou integral, de dotações consignadas na Lei do Orçamento ou em créditos adicionais, pois, tendo sido devidamente autorizadas, já possuíam recursos financeiros de cobertura. Portanto, possuindo recursos financeiros de cobertura, ao serem anulados ou reduzidos, quer parcial ou totalmente, há sobra do recurso correspondente, que pode ser reaproveitado, por disponível, para ocorrer a despesa de novos créditos adicionais. 122 Ademais, os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto da LOA, ficarem sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa (Art. 166; § 8; BRASIL, 1988). A reserva de contingência – crédito orçamentário na forma consignada de dotação orçamentária – destinada a fazer face a passivos contingentes e outros riscos, bem como eventos fiscais imprevistos (Art. 5; III; b; BRASIL, 2000), poderá ser utilizada para abertura de créditos adicionais, (LIMA, 2018). Nos ensinamentos de Silva (2011, p. 222), a reserva de contingência “é uma dotação global não especificamente destinada a determinado programa ou unidade orçamentária, cujos recursos serão utilizados para abertura de créditos suplementares, quando se evidenciarem insuficientes durante o exercício as dotações constantes do orçamento anual”. 5.1.2 Suplementares Os créditos adicionais especiais visam reforçar as dotações orçamentárias já existentes (Art. 41; I; BRASIL, 1964) que, por qualquer motivo, tornaram-se insuficientes na execução da LOA (KOHAMA, 2012), somando-se à dotação consignada aos créditos orçamentários iniciais a que se destinou o reforço (ROSA, 2011). 5.1.3 Especiais Os créditos adicionais especiais visam atender a despesas para as quais não há dotação orçamentária específica (Art. 41; II; BRASIL, 1964). Podem ser utilizados, por exemplo, para cobrir despesas ocasionais ou essenciais que, por algum motivo, não foram consideradas na LOA (KOHAMA, 2012). Os novos créditos em que foram consignadas as dotações orçamentárias são apresentados separadamente, ou seja, em contas distintas (ROSA, 2011). 5.1.4 Extraordinários Os créditos adicionais extraordinários visam atender despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública (Art. 41; III; BRASIL, 1964). Sobre essa modalidade de crédito adicional, Rosa (2011, p. 71, grifo da autora) enfatiza que é importante compreender a diferença entre os termos utilizados pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, e pela Constituição Federal de 1988, conforme segue: Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964: Art. 41. [...] III- extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública. 123 Art. 44. Os créditos extraordinários serão abertos por decreto do Poder Executivo, que deles dará imediato conhecimento ao Poder Legislativo. Constituição Federal de 1988 Art. 167. [...] § 3º A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no Art. 62. Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I- relativa a: d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no Art. 167, § 3º. Nesse sentido, “a abertura de crédito extraordinário somente será admitida pela imprevisibilidade do fato para atender a despesa, ou seja, não foram previstas por estar além da capacidade humana de previsão do fato, o que requer ação urgente do poder público quando da ocorrência da situação” (ROSA, 2011, p. 71). Portanto, erros ou falhas na previsão orçamentária, mesmo para atender a alguma despesa, não podem ser abertos por meio de crédito adicional extraordinário, uma vez que os critérios constitucionais de excepcionalidade não são atendidos. Destaca-se que essa modalidade de crédito adicional dispensa a indicação das respectivas fontes de recurso, ao contrário dos créditos suplementes e especiais que, para autorização e abertura, exigem a existência de recursos disponíveis. Apresentamos um resumo simplificado das principais características das modalidades de créditos adicionais no Quadro 6. QUADRO 6 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS MODALIDADES DE CRÉDITOS ADICIONAIS ESPÉCIE SUPLEMENTARES ESPECIAIS EXTRAORDINÁRIOS Base legal Art. 41, I Art. 41, II Art. 41, III Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 Finalidade Reforço da categoria de programação já contemplada na LOA. Atender a categoria de programação não contemplada na LOA. Atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Autorização Prévia, podendo ser incluída na própria LOA ou em lei especial. Prévia, em lei especial. Independente. Forma de Abertura Autorizados por lei e abertos por decreto do chefe do Poder Executivo. Decreto do chefe do Poder Executivo. Art. 42 Art. 44 Recursos Indicação obrigatória. Independente de indicação. 124 Valor / Limite Obrigatório, indicado na lei de autorização e no decreto de abertura. Obrigatório, indicado na lei própria. Vigência No exercício em que foi aberto Prorrogação Jamais permitida. Só para o exercício seguinte, se autorizado em um dos quatro últimos meses do exercício. FONTE: Adaptado de Lima e Castro (2012, p. 27) 6 CICLO ORÇAMENTÁRIO O ciclo orçamentário corresponde ao período em que “se processam as atividades peculiares do processo orçamentário, definindo-se como uma série de etapas que se repetem em períodos prefixados, segundo os quais os orçamentos são preparados, votados, executados, os resultados avaliados, e as contas, finalmente, aprovadas” (SILVA, 2011, p. 225) e “consiste em buscar o nível máximo de satisfação das necessidades da população” (KOHAMA, 2012, p. 49). São etapas do ciclo orçamentário: a elaboração da proposta orçamentária, a discussão, votação e aprovação da lei orçamentária, a execução orçamentária e o controle e avaliação da execução orçamentária (SOF, 2021; LIMA, 2018; KOHAMA, 2012; QUINTANA et al., 2011). • Elaboração da proposta orçamentária: corresponde à fase em que o Poder Executivo elabora a proposta orçamentária inicial, com base nas informações definidas no PPA e na LDO (QUINTANA et al., 2011). Normalmente, cada órgão elabora sua proposta orçamentária considerando as disposições dos Artigos 27 a 31 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, e o órgão central de planejamento do ente público consolida a peça orçamentária para submissão ao Poder Legislativo (LIMA, 2018). • Discussão, votação e aprovação da lei orçamentária: corresponde à fase em que a proposta orçamentária é recebida, apreciada, votada e aprovada pelo Poder Legislativo. Kohama (2012, p. 51) destaca que essa fase “está configurada na necessidade de que o povo, através de seus representantes, intervenha na decisão de suas próprias aspirações, bem como na maneira de alcançá-las”.Quando sancionada pelo chefe do Poder Executivo, a proposta orçamentária é convertida na LOA e órgão central de planejamento do ente público incorpora, em cada unidade orçamentária, os respectivos créditos orçamentários (LIMA, 2018). • Execução orçamentária: corresponde à fase em que se inicia a execução orçamentária e financeira, que se estende por todo o exercício financeiro, compreendido entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano (Art. 34; BRASIL, 1964). A execução orçamentária é atribuição do Poder Executivo (QUINTANA et al., 2011) e consiste na arrecadação das receitas de impostos, taxas, contribuições de melhoria, transferências federais e estaduais, e na aplicação desses recursos nas despesas aprovadas na LOA (LIMA, 2018), para o cumprimento anual dos objetivos e metas determinados pela Administração Pública (KOHAMA, 2012). 125 • Controle e avaliação da execução orçamentária: corresponde à fase em que o controle da execução orçamentária e financeira de todos os entes federativos será exercido pelos Poderes Executivo e Legislativo, mediante controles interno (Art. 76-80; BRASIL, 1964) e externo (Art. 81-82; BRASIL, 1964). Nos termos da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, o controle da execução orçamentária e financeira compreende: ο a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da receita ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos e obrigações; ο a fidelidade funcional dos agentes da administração, responsáveis pelos bens e valores públicos; e ο o cumprimento do programa de trabalho expresso em termos monetários e em termos de realização de obras e prestação de serviços. Com relação aos controles interno e externo, tem-se que (BRASIL, 1964, grifo nosso): CAPÍTULO II Do Controle Interno Art. 76. O Poder Executivo exercerá os três tipos de controle a que se refere o Artigo 75, sem prejuízo das atribuições do Tribunal de Contas ou órgão equivalente. Art. 77. A verificação da legalidade dos atos de execução orçamentária será prévia, concomitante e subsequente. Art. 78. Além da prestação ou tomada de contas anual, quando instituída em lei, ou por fim de gestão, poderá haver, a qualquer tempo, levantamento, prestação ou tomada de contas de todos os responsáveis por bens ou valores públicos. Art. 79. Ao órgão incumbido da elaboração da proposta orçamentária ou a outro indicado na legislação, caberá o controle estabelecido no inciso III do Artigo 75. Parágrafo único. Esse controle far-se-á, quando for o caso, em termos de unidades de medida, previamente estabelecidos para cada atividade. Art. 80. Compete aos serviços de contabilidade ou órgãos equivalentes verificar a exata observância dos limites das cotas trimestrais atribuídas a cada unidade orçamentária, dentro do sistema que for instituído para esse fim. A unidade orçamentária é o menor nível da classificação institucional e refere-se às “unidades de planejamento e orçamento que desempenham o papel de coordenação dos processos do ciclo orçamentário [...], integrando e articulando o trabalho das suas unidades administrativas, sob orientação normativa e supervisão técnica do órgão central e do respectivo órgão setorial” (SOF, 2021, p. 106). NOTA 126 CAPÍTULO III Do Controle Externo Art. 81. O controle da execução orçamentária, pelo Poder Legislativo, terá por objetivo verificar a probidade da administração, a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos e o cumprimento da Lei de Orçamento. Art. 82. O Poder Executivo, anualmente, prestará contas ao Poder Legislativo, no prazo estabelecido nas Constituições ou nas Leis Orgânicas dos Municípios. § 1º As contas do Poder Executivo serão submetidas ao Poder Legislativo, com Parecer prévio do Tribunal de Contas ou órgão equivalente. § 2º Quando, no Município não houver Tribunal de Contas ou órgão equivalente, a Câmara de Vereadores poderá designar peritos contadores para verificarem as contas do prefeito e sobre elas emitirem parecer. Observa-se que a fase de controle e avaliação da execução orçamentária é uma das etapas mais importantes do processo orçamentário, pois é a fase em que as contas públicas são julgadas quanto à correta aplicação e legalidade dos gastos públicos pelo Poder Legislativo, com o auxílio dos Tribunais de Contas. Ressalta-se que o processo de julgamento das contas públicas se dá por meio de levantamentos contábeis e certificados de auditoria interna e externa (QUINTANA et al., 2011). Nesse sentido, Kohama (2012, p. 54) destaca que “a contabilidade é um instrumento que proporciona à Administração [Pública] as informações e controles necessários à melhor condução dos negócios públicos”, fornecendo informações de “todo o processo de planejamento e orçamentação e, em especial, as etapas que compõem o ciclo orçamentário” (KOHAMA,2012, p. 54). Apresentamos na Figura 7 uma representação esquematizada do ciclo orçamentário. 127 UOs: Unidades Orçamentárias. UAs: Unidades Administrativas. FONTE: Silva (2011, p. 226) FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMATIZADA DO CICLO ORÇAMENTÁRIO 128 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O orçamento é um plano que expressa em termos monetários, para o período de um ano, o programa de operações do governo e as formas de financiamento desse programa, possibilitando o alcance dos objetivos e metas propostos pela Administração Pública. • O orçamento-programa discrimina as despesas de acordo com sua natureza, dando ênfase aos fins (e não aos meios), demonstrando o que e para que o governo gastará e quem será responsável pela execução de seus programas. • A Lei Orçamentária Anual (LOA) compreenderá o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos e o orçamento da seguridade social. • Os princípios orçamentários estabelecidos pelo Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público são: i. a unidade ou totalidade; ii. a universalidade; iii. a anualidade ou periodicidade; iv. a exclusividade; v. o orçamento bruto; vi. a legalidade; vii. a publicidade; viii. a transparência; e ix. a não vinculação (não afetação) da receita de impostos. • Os recursos para a execução dos programas de trabalho do governo são especificados por meio de créditos orçamentários aprovados pelo Poder Legislativo e consignados na forma de dotações orçamentárias. • O orçamento poderá sofrer alterações no decorrer do exercício financeiro, mediante a criação de créditos adicionais. • Os créditos adicionais são autorizações de despesa não computadas ou insuficientemente previstas na LOA, podendo ser suplementares, especiais ou extraordinários. • As etapas do ciclo orçamentário pelo Manual Técnico do Orçamento são: i. a elaboração da proposta orçamentária; ii. a discussão, votação e aprovação da lei orçamentária; iii. a execução orçamentária; e iv. o controle e avaliação da execução orçamentária. 129 1 O orçamento, na esfera pública, é um instrumento de planejamento para atender, durante um exercício financeiro, os planos e programas de trabalho desenvolvidos pela Administração Pública, por meio do planejamento das receitas a serem obtidas e dos dispêndios a serem realizados. Com relação ao Orçamento Público, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A estrutura orçamentária, conforme legislação, conterá o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). ( ) A LOA compreenderá o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos das empresas em que a Administração Pública, diretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto e o orçamento da seguridade social. ( ) Fixa o montante dos recursos a serem arrecadados pela Administração Pública. ( ) Estima o montante dos recursos a serem aplicados pela Administração Pública. ( ) O orçamento anual é uma lei de iniciativa do Poder Executivo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – V – F. b) ( ) F – V – V – F – V. c) () F – V – V – V – F. d) ( ) V – F – F – F – V. e) ( ) V – V – F – F – V. 2 O orçamento público é um plano que expressa em termos monetários, para o período de um ano, que possibilita o alcance dos objetivos e metas propostos pela Administração Pública, compreendendo o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos e o orçamento da seguridade social. Nesse sentido, leia as afirmativas a seguir: I- A lei do orçamento anual compreenderá o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público. II- O orçamento fiscal compreenderá o orçamento geral dos poderes, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, inclusive as dotações destinadas aos investimentos das empresas estatais dependentes, nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Assinale a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADERESUMO DO TÓPICO 2 130 a) ( ) As duas afirmativas são verdadeiras. b) ( ) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. c) ( ) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa. d) ( ) As duas afirmativas são falsas. 3 Os princípios orçamentários são válidos para todos os poderes e entes federativos e conferem racionalidade, eficiência e transparência à elaboração, execução e controle do Orçamento Público. Nesse sentido, o princípio que estabelece a obrigação de prever todas as receitas e fixar todas as despesas na Lei Orçamentária Anual (LOA) é denominado: a) ( ) Unidade ou Totalidade. b) ( ) Universalidade. c) ( ) Anualidade ou Periodicidade. d) ( ) Exclusividade. 4 O ciclo orçamentário corresponde a uma série de etapas segundo as quais os orçamentos são preparados, discutidos, votados, executados e avaliados. Com base nos princípios orçamentários apresentados, disserte sobre a quem compete a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA). 5 A autorização legislativa para a realização da despesa constitui o crédito orçamentário, que pode ser inicial ou adicional. Com relação aos créditos adicionais, disserte sobre sua finalidade e suas respectivas modalidades de abertura. 131 TÓPICO 3 - RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS 1 INTRODUÇÃO A estimativa de receitas e a fixação de despesas é uma das fases mais importantes do processo orçamentário e são seus principais elementos, isso porque é por meio da projeção das receitas e despesas orçamentárias que a Administração Pública consegue prestar os serviços públicos, representando o conjunto de receitas que se pretende arrecadar e as diversas despesas que se pretendem realizar. Cumpre ressaltar um aspecto importante em relação às estimativas de receitas e despesas públicas: estimamos as receitas e fixamos as despesas, ou seja, a receita, como está prevista, pode ser arrecadada em nível inferior ou superior, já a despesa, por ser fixada, somente poderá ser realizada até o valor autorizado pelo Poder Legislativo, significando que, somente podem ser realizadas despesas até o valor do crédito orçamentário aprovado. Portanto, para uma gestão eficiente dos recursos públicos, é fundamental conhecer as principais características das receitas e despesas públicas e se o orçamento é compatível com os montantes projetados desses dois elementos. Resumidamente, as receitas públicas são o montante total dos recursos arrecadados e que serão incorporados ao patrimônio do ente público e as despesas públicas representam a aplicação de recursos públicos para atender às necessidades dos entes federativos. Nesse sentido, a credibilidade das projeções orçamentárias depende dos critérios com que se elabora a estimativa das receitas e despesas para o ano seguinte. Acadêmico, considerando que a compreensão do orçamento requer o conhecimento de sua estrutura, neste último tópico da Unidade 2, apresentaremos detalhadamente as características e classificações das receitas e despesas públicas. Apresentaremos e discutiremos suas definições e, posteriormente, suas classificações segundo a estrutura legal e normativa. Por fim, apresentaremos a classificação por fonte ou destinação de recursos, visando a ampla compreensão de todas as classificações discutidas, que se destinam a atender aos requisitos de “informação demandadas por todos os interessados nas questões de finanças públicas” (SOF, 2021, p. 33). Aos estudos! 2 RECEITA PÚBLICA A matéria pertinente à receita pública é disciplinada, em linhas gerais, pelos Artigos 2º, 3º, 6º, 9º, 11º, 35º, 56º e 57º da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 (SOF, 2021; LIMA, 2018). Desse modo, as receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres da Administração Pública, que se desdobram em receitas orçamentárias, UNIDADE 2 132 quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, e receitas extraorçamentárias, quando representam apenas entradas compensatórias (SOF, 2021). Portanto, em sentido estrito, são públicas apenas as receitas orçamentárias e, geralmente, por força do princípio orçamentário da universalidade, estão previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA), tornando-se fonte de recursos utilizados pela Administração Pública em programas e ações cuja finalidade principal é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade (STN, 2021a). Sobre esse desdobramento, Lima (2018, p. 19, grifo da autora) explica: Os ingressos extraorçamentários são recursos financeiros de caráter temporário, do qual o ente federado é mero agente depositário, portanto, não integra a sua LOA e a devolução não se sujeita à autorização legislativa. Por serem constituídos por ativos e passivos exigíveis (ou seja, pertencentes a terceiros), os ingressos extraorçamentários, em geral, não têm reflexos no patrimônio líquido do ente federado. São exemplos de ingressos extraorçamentários: os depósitos em caução, as fianças, as operações de crédito por Antecipação de Receita Orçamentária (ARO), a emissão de moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros. [A matéria pertinente à ARO é disciplinada, em linhas gerais, pelo Artigo 38 da Lei de Responsabilidade Fiscal, pelo parágrafo único do Artigo 3º da Lei nº 4.320, de 1964, e pelos Artigos 165, §8º, e 167, X, da Constituição Federal de 1988]. Por outro lado, [os ingressos orçamentários] representam as disponibilidades de recursos financeiros que ingressam no ente federado durante o exercício e aumentam seu saldo financeiro. Na prática, as receitas orçamentárias são as fontes de recursos utilizadas pelo ente federado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. Lima (2018) e Lima e Castro (2012) apontam que, dependendo do impacto no patrimônio líquido, a receita orçamentária pode ser “efetiva” ou “não efetiva”. O ingresso da receita orçamentária quando efetiva, afeta positivamente a situação líquida patrimonial do ente público, assemelhando-se ao conceito de receita à luz da Teoria Contábil, temos como exemplo a arrecadação de tributos. Por sua vez, quando não efetiva, o ingresso da receita orçamentária não afeta a situação líquida patrimonial e, portanto, não atende ao conceito de receita à luz da Teoria Contábil, tomando como exemplo a alienação de um bem do ente público. É importante ressaltar que qualquer que seja a receita (efetiva ou não efetiva), ela deve ser contabilizada para fins de evidenciação e controle (LIMA; CASTRO, 2012, p. 56). O Artigo 11 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece que a receita pública será classificada em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. São receitas correntes (§ 1º) as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de Direito Público ou Privado, quando destinadas a atender despesasclassificáveis em despesas correntes e são receitas de capital (§ 2º) as provenientes da realização de recursos financeiros 133 oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de Direito Público ou Privado, destinados a atender despesas classificáveis em despesas de capital e, ainda, o superávit orçamentário. A classificação da receita orçamentária, segundo a normal geral de Direito Financeiro (Art. 11; § 4) obedecerá ao seguinte esquema: Receitas correntes Receita tributária Impostos Taxas Contribuições de melhoria Receita de contribuições Receita patrimonial Receita agropecuária Receita industrial Receita de serviços Transferências correntes Outras receitas correntes Receitas de capital Operações de crédito Alienação de bens Amortização de empréstimos Transferências de capital Outras receitas de capital (BRASIL, 1964). A doutrina jurídica costuma classificar as receitas públicas, quanto à procedência, em Receitas Originárias e Receitas Derivadas (SOF; 2021; STN, 2021a, grifo nosso): Receitas públicas originárias, segundo a doutrina, são as arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Resultam, principalmente, de rendas do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado (receita de aluguel), de preços públicos, de prestação de serviços comerciais e de venda de produtos industriais ou agropecuários. Receitas públicas derivadas, segundo a doutrina, são as obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal. Decorrem de norma constitucional ou legal e, por isso, são auferidas de forma impositiva, como, por exemplo, as receitas tributárias e as de contribuições especiais. Diversos são os critérios adotados para sua classificação. Na sequência, discutiremos esses critérios para que possamos entender a correta classificação das receitas públicas. 134 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA A classificação das receitas orçamentárias é obrigatória para todos os entes da federação, sendo permitido seu desdobramento de acordo com suas respectivas necessidades (SOF, 2021). A receita orçamentária deve ser classificada segundo a natureza de receita, o indicador de resultado primário, a fonte ou destinação de recursos – por se tratar de uma classificação que associa a receita com a despesa, o assunto será́ tratado em uma seção própria – e a esfera orçamentária. 2.1.1 Classificação da receita orçamentária por natureza A classificação das receitas orçamentárias por natureza é estabelecida pelo § 4º do Artigo 11 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 e é de utilização obrigatória para todos os entes da federação, sendo facultado seu desdobramento para atender às respectivas peculiaridades (STN, 2021a, p. 39). No âmbito da União, sua codificação é regulamentada por meio de Portaria da SOF, e a normatização da codificação válida para os Estados e Municípios é feita por meio de Portaria Ministerial (SOF/STN) (SOF, 2021). A codificação de oito dígitos e cinco níveis da receita orçamentária é necessária para demonstrar as informações sobre a alocação da receita no orçamento público, visando proporcionar a extração imediata de informações a fim de prover celeridade, simplicidade e transparência na concatenação de dados (SOF, 2021), cujas posições ordinais são apresentadas no Quadro 7. QUADRO 7 – DETALHAMENTO DOS NÍVEIS DE CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 18) Verifica-se que na codificação apresentada, os primeiros três níveis apresentam apenas um dígito para cada nível, já o quarto nível apresenta quatro dígitos e o quinto nível um dígito. Iremos estudar individualmente cada um desses níveis e compreender como a receita orçamentária deve ser representada no orçamento. Quanto à categoria econômica, o § 1º e § 2º do Artigo 11 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, classificam as receitas orçamentárias em receitas correntes e receitas de capital, conforme demonstrado no Quadro 8. DÍGITO 1º 2º 3º 4º a 7º 8º SIGNIFICADO Categoria Econômica Origem Espécie Desdobramento para identificação de peculiaridades da receita Tipo CODIFICAÇÃO X X X X.XX.X X 135 FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 19-20) Com relação às receitas de operações intraorçamentárias, elas representam aquelas realizadas entre órgãos e outros entes da Administração Pública integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social de um mesmo ente federativo que consolidam seus orçamentos e balanços e, portanto, não representam novos ingressos de recursos nos cofres públicos do ente, mas apenas remanejamento de receitas entre seus órgãos (SOF, 2021). Portanto, essas classificações não constituem novas categorias econômicas de receita, mas apenas especificações das categorias econômicas existentes da receita orçamentária. A origem é o detalhamento das categorias econômicas, com vistas a identificar a procedência das receitas quando ingressam nos cofres públicos, classificando-as na sequência lógico-temporal na qual ocorrem naturalmente atos e fatos orçamentários, explorando “o fato de que se a existência de multas, juros, dívida ativa e multas e juros da dívida ativa decorrem do não pagamento da [receita orçamentária] dentro dos prazos estabelecidos em lei, então dependem da existência dessa receita e nela tiveram origem” (SOF, 2021, p. 20). Os códigos da origem para as receitas correntes e de capital, de acordo com a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 são apresentados no Quadro 9. QUADRO 9 – RECEITA ORÇAMENTÁRIA CONFORME A ORIGEM FONTE: SOF (2021, p. 21) QUADRO 8 – RECEITA ORÇAMENTÁRIA CONFORME A CATEGORIA ECONÔMICA RECEITAS CORRENTES São arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras, geralmente com efeito positivo sobre o Patrimônio Líquido. RECEITAS DE CAPITAL São arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras, entretanto, não provocam efeito sobre o Patrimônio Líquido. Código Categoria Código Categoria 1 Receitas Correntes 2 Receitas de Capital 7 Receitas Correntes Intraorçamentárias 8 Receitas de Capital Intraorçamentárias Categoria Econômica (1º dígito) Origem (2º dígito) 1. Receitas Correntes 7. Receitas Correntes Intraorçamentárias 1. Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 2. Contribuições 3. Receita Patrimonial 4. Receita Agropecuária 5. Receita Industrial 6. Receita de Serviços 7. Transferências Correntes 9. Outras Receitas Correntes 2. Receitas de Capital 8. Receitas de Capital Intraorçamentárias 1. Operações de Crédito 2. Alienação de Bens 3. Amortização de Empréstimos 4. Transferências de Capital 9. Outras Receitas de Capital 136 Quanto à descrição das origens que compõem as receitas correntes e de capital, essas são apresentadas no Quadro 10. QUADRO 10 – ORIGENS QUE COMPÕEM AS RECEITAS CORRENTES E DE CAPITAL RECEITAS CORRENTES ORIGEM DESCRIÇÃO Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria São decorrentes da arrecadação dos tributos previstos no Artigo 145 da Constituição Federal de 1988. Contribuições São oriundas das contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, conforme preceitua o Artigo 149 da Constituição Federal de 1988. Receita Patrimonial São provenientes da fruição de patrimônio pertencente ao ente público, tais como as decorrentes de aluguéis, dividendos, compensações financeiras/royalties, concessões, entre outras. Receita Agropecuária Receitas de atividades de exploração ordenada dos recursos naturais vegetais em ambiente natural e protegido. Compreende as atividades de cultivo agrícola, de cultivo de espécies florestais para produção de madeira, celulose e para proteção ambiental, de extração de madeira em florestas, de coleta de produtos vegetais, além do cultivo de produtos agrícolas. Receita Industrial São provenientes de atividades industriais exercidas pelo ente público, taiscomo a extração e o beneficiamento de matérias- primas, a produção e a comercialização de bens relacionados às indústrias mecânica, química e de transformação em geral. Receita de Serviços Decorrem da prestação de serviços por parte do ente público, tais como comércio, transporte, comunicação, serviços hospitalares, armazenagem, serviços recreativos, culturais etc. Tais serviços são remunerados mediante preço público, também chamado de tarifa. Transferências Correntes São provenientes do recebimento de recursos financeiros de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas de manutenção ou funcionamento que não impliquem contraprestação direta em bens e serviços a quem efetuou essa transferência. Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos vincula-se à determinação constitucional ou legal, ou ao objeto pactuado. Tais transferências ocorrem entre entidades públicas de diferentes esferas ou entre entidades públicas e instituições privadas Outras Receitas Correntes Constituem-se pelas receitas cujas características não permitam o enquadramento nas demais classificações da receita corrente, tais como indenizações, restituições, ressarcimentos, multas previstas em legislações específicas, entre outras. 137 FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 21-22) A espécie, nível de classificação vinculado à origem, permite qualificar com maior detalhe o fato gerador das receitas. Por exemplo, dentro da origem “Contribuições”, identificam-se as espécies “Contribuições Sociais”, “Contribuições Econômicas” e “Contribuições para Entidades Privadas de Serviço Social e de Formação Profissional” (SOF, 2021). Ressalta-se que “a partir do exercício de 2022, facultativamente, e 2023, obrigatoriamente, as receitas exclusivas dos Estados, Distrito Federal e municípios, serão identificadas nos 5º e 6º dígitos da codificação com números de “50” até “98” (STN, 2021a, p. 44). Um exemplo com os códigos relacionados às origens e espécies de receitas orçamentárias é apresentado no Quadro 11. RECEITAS DE CAPITAL ORIGEM DESCRIÇÃO Operações de Crédito Recursos financeiros da colocação de títulos públicos ou da contratação de empréstimos junto a entidades públicas ou privadas, internas ou externas. Alienação de Bens Ingressos financeiros provenientes da alienação de bens móveis, imóveis ou intangíveis de propriedade do ente público. O Artigo 44 da Lei de Responsabilidade Fiscal veda a aplicação da receita de capital derivada da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o financiamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos. Amortização de Empréstimos Ingressos financeiros provenientes da amortização de financiamentos ou empréstimos que o ente público haja previamente concedido. Embora a amortização do empréstimo seja origem da categoria econômica Receitas de Capital, os juros recebidos associados ao empréstimo são classificados em Receitas Correntes / de Serviços / Serviços e Atividades Financeiras / Retorno de Operações, Juros e Encargos Financeiros, pois os juros representam a remuneração do capital. Transferências de Capital Recursos financeiros recebidos de outras pessoas de Direito Público ou Privado destinados a atender despesas com investimentos ou inversões financeiras, independentemente da contraprestação direta a quem efetuou essa transferência. Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos vincula-se ao objeto. Tais transferências ocorrem entre entidades públicas de diferentes esferas ou entre entidades públicas e instituições privadas. Outras Receitas de Capital Registram-se nesta origem receitas cujas características não permitam o enquadramento nas demais classificações da receita de capital, tais como resultado do Banco Central, remuneração das disponibilidades do Tesouro, entre outras formas de rendimentos. 138 QUADRO 11 – RECEITA ORÇAMENTÁRIA CONFORME A ESPÉCIE (lista não exaustiva) FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 149) Foram reservados quatro dígitos para desdobramentos com a finalidade de identificar peculiaridades de cada receita, caso seja necessário, ou seja, esses dígitos podem ou não ser utilizados conforme a necessidade de especificação do recurso. A SOF (2021, p. 22) explica: Em 2021, as receitas exclusivas de Estados e Municípios utilizarão o número “8”, no quarto dígito (Ex.: 1.9.0.8.xx.x.x – Outras Receitas Correntes exclusivas de Estados e Municípios). A partir de 2022, inclusive elaboração do Orçamento, os 5º e 6º dígitos da codificação, que constituem parte dos desdobramentos, separam os códigos da União daqueles específicos dos demais entes federados, de acordo com a seguinte estrutura lógica: a) “00” até “49” identificam códigos reservados para a União, que poderão ser utilizados, no que couber, por Estados, DF e Municípios; b) “50” até “98” identificam códigos reservados para uso específico de Estados, DF e Municípios; e c) “99” será utilizado para registrar “outras receitas”, entendidas assim as receitas genéricas que não tenham código identificador específico, atendidas as normas contábeis aplicáveis. Um exemplo com os códigos de desdobramento para identificação de peculiaridades da receita é apresentado no Quadro 12. QUADRO 12 – RECEITA ORÇAMENTÁRIA CONFORME O DESDOBRAMENTO (lista não exaustiva) FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 131-148) Categoria Econômica Origem Espécie (3º dígito) 1. Receitas Correntes 1. Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 1. Impostos 2. Taxas 3. Contribuição de Melhoria Desdobramento para identificação de peculiaridades da receita (4º a 7º dígito) 3. Impostos sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza 01. Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF 02. Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ - Líquida de Incentivos 03. Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte 1. Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Trabalho 2. Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Capital 3. Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Remessa ao Exterior 4. Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Outros Rendimentos 139 O tipo, correspondente ao último dígito na natureza de receita, tem a finalidade de identificar o tipo de arrecadação a que se refere aquela natureza. Portanto, todo código de natureza de receita será finalizado com um dos dígitos mencionados, e as arrecadações de cada recurso – sejam da receita propriamente dita ou de seus acréscimos legais – ficarão agrupadas sob um mesmo código, sendo diferenciadas apenas no último dígito (SOF, 2021), conforme apresentado no Quadro 13. QUADRO 13 – RECEITA ORÇAMENTÁRIA CONFORME O TIPO FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 23) Quando, por exemplo, o Imposto de Renda Pessoa Física é recolhido, aloca-se a receita pública correspondente na natureza de receita código “1.1.1.3.01.1.1”, segundo o esquema apresentado no Quadro 14. QUADRO 14 – EXEMPLO DE CLASSIFICAÇÃO DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 18) Com base no nível de detalhamento da receita orçamentária apresentada, a classificação por natureza é a de nível mais analítico da receita, auxiliando na elaboração de análises econômico-financeiras sobre a atuação da Administração Pública (SOF, 2021). Tipo (8º dígito) 0. Natureza Agregadora 1. Receita Principal 2. Multa e Juros da Receita Principal 3. Dívida Ativa da Receita Principal 4. Multa e Juros da Dívida Ativa da Receita Principal 1.1.1.3.01.1.1 – Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Trabalho (Principal) X Categoria Econômica 1 Receita Corrente X Origem 1 Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria X Espécie 1 Impostos X XX X Desdobramento de peculiaridades da receita 3 01 1 Impostos sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Imposto sobre a Renda - Retido na Fonte - Trabalho X Tipo 1 Principal 140 2.1.2 Classificação da receita orçamentária por indicador de resultadoprimário A classificação da receita orçamentária – e da despesa orçamentária – para apuração do resultado primário não é obrigatória para todos os entes e foi instituída na União com o objetivo de identificar quais são as receitas e despesas que compõem o resultado primário do Governo Federal, que é representado pela diferença entre receitas e despesas primárias (STN, 2021a, p. 57). Com base nessa classificação, as receitas orçamentárias podem ser divididas em receitas primárias, quando seus valores são incluídos no cálculo do resultado primário e receitas financeiras, quando não são incluídas no citado cálculo, sendo (SOF, 2021, p. 24, grifo nosso): As receitas primárias referem-se, predominantemente, às receitas correntes que advêm dos tributos, das contribuições sociais, das concessões, dos dividendos recebidos pela União, da cota-parte das compensações financeiras, das decorrentes do próprio esforço de arrecadação das unidades orçamentárias, das provenientes de doações e convênios e outras também consideradas primárias. As receitas financeiras são geralmente adquiridas junto ao mercado financeiro, decorrentes da emissão de títulos, da contratação de operações de crédito por organismos oficiais, das aplicações financeiras da União, entre outras. Como regra geral, são aquelas que não alteram o endividamento líquido do Governo (setor público não financeiro), uma vez que criam uma obrigação ou extinguem um direito, ambos de natureza financeira, junto ao setor privado interno e/ou externo. A exceção a essa regra é a receita advinda dos juros de operações financeiras que, apesar de contribuírem com a redução do endividamento líquido, também se caracterizam como receita financeira. O resultado primário é calculado pela diferença entre receitas e despesas, excluindo-se da conta as receitas e despesas financeiras, e indica se os níveis de despesas orçamentários são compatíveis com sua arrecadação, ou seja, se as receitas primárias são capazes de suportar as despesas primárias. Silva (2011, p. 38) explica que o principal objetivo do cálculo é mostrar o comportamento fiscal do ente público no período e avaliar se o mesmo está operando dentro dos limites orçamentários e, consequentemente, evidenciar sua contribuição para a redução ou elevação do endividamento público. Caso essa diferença seja positiva, tem-se o superávit primário e caso seja negativa, tem-se um déficit primário. Na sequência, apresentamos no Quadro 15 um exemplo de cálculo de resultado primário. 141 QUADRO 15 – EXEMPLO DE APURAÇÃO DO RESULTADO PRIMÁRIO FONTE: Adaptado de Silva (2011, p. 39) Ressalta-se que, embora a classificação para apuração do resultado primário não tenha caráter obrigatório, ela facilita a demonstração desse resultado, que é obrigatória e deve ser publicado bimestralmente, conforme o demonstrativo previsto na LRF (Art. 53; III; BRASIL, 2000). 2.1.3 Classificação da receita orçamentária por esfera orçamentária A classificação por esfera orçamentária visa identificar se a receita pertence ao Orçamento Fiscal, da Seguridade Social ou de Investimento das Empresas Estatais, conforme descriminado no § 5º do Artigo 165 da Constituição Federal de 1988 (SOF, 2021). A mesma classificação também é válida para as despesas orçamentárias. RECEITA TOTAL 4.200.000 (-) Receitas de Aplicações Financeiras 600.000 (-) Receitas de Operações de Crédito 500.000 (-) Receitas de Alienações de Bens 100.000 (=) RECEITAS PRIMÁRIAS (I) 3.000.000 DESPESA TOTAL 3.550.000 (-) Despesa de Juros da Dívida 350.000 (-) Despesa de Amortização da Dívida 700.000 (=) DESPESAS PRIMÁRIAS (II) 2.500.000 (=) RESULTADO PRIMÁRIO (I – II) 500.000 Superávit Primário Caro acadêmico! Se você não estiver familiarizado com os temas de ordem tributária, recomendo a leitura da seção dedicada às noções básicas sobre tributos da 12ª edição do Manual Técnico de Orçamento (MTO) e da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, que dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional. Acesse em: https://bit.ly/3NMd7lw. DICA 142 3 DESPESA PÚBLICA A matéria relativa à despesa pública, bem como a receita pública, é regulamentada pela Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. A despesa pública é o conjunto de gastos realizados pela Administração Pública para o funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade, que se desdobram em despesas orçamentárias, quando detalhadas e fixadas no orçamento, estando, por conseguinte, autorizadas pelo Poder Legislativo e convertidas na Lei Orçamentária Anual (LOA) na forma de dotação orçamentária, para ser efetivada, e dispêndios extraorçamentários, quando independem de autorização legislativa e, portanto, não constam na LOA, para sua execução e desembolso (STN, 2021a). Assim como a receita orçamentária, dependendo do impacto no patrimônio líquido, a despesa orçamentária pode ser “efetiva” ou “não efetiva” (LIMA, 2018; LIMA; CASTRO, 2012). A realização da despesa pública, quando efetiva, afeta negativamente a situação líquida patrimonial do ente público e constitui fato contábil modificativo diminutivo, temos como exemplo a aquisição de materiais para distribuição gratuita. Por outro lado, quando não efetiva, a realização da despesa orçamentária não afeta a situação líquida patrimonial, tomando-se como exemplo a despesa com a aquisição de materiais para estoque. Em geral, a despesa orçamentária efetiva é despesa corrente e a despesa não efetiva normalmente se enquadra como despesa de capital (STN, 2021a). O Artigo 12 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece que a despesa pública será classificada em duas categorias econômicas: despesas correntes e despesas de capital. São despesas correntes as despesas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital e são despesas de capital aquelas despesas que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital (STN, 2021a, p. 82). A classificação da despesa orçamentária, segundo a normal geral de Direito Financeiro (Art. 13) obedecerá ao seguinte esquema: Despesas correntes Despesas de custeio Transferências correntes Despesas de capital Investimentos Inversões financeiras Transferências de capital (brasil, 1964). Diversos são os critérios adotados para sua classificação. Na sequência, discutiremos esses critérios para que possamos entender a correta classificação das despesas públicas. 143 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA A classificação das despesas orçamentárias, como no caso das receitas orçamentárias, é obrigatória para todos os entes da federação, sendo permitido seu desdobramento de acordo com suas respectivas necessidades (SOF, 2021). A despesa orçamentária deve ser classificada de acordo com seus aspectos qualitativos e quantitativos, funcionais e segundo a sua natureza, que é composta pela categoria econômica, pelo grupo de natureza da despesa e elemento de despesa. 3.1.1 Classificação qualitativa e quantitativa da despesa orçamentária A classificação qualitativa e quantitativa, seja física ou financeira, das despesas orçamentais está organizada em programas de trabalho. Do ponto de vista qualitativo, a programação orçamentária deve responder, de forma clara e objetiva, às questões que caracterizam o ato de orçar, enquanto do ponto de vista quantitativo, que tem a dimensão física e financeira, visa definir a quantidade de bens e serviços a serem entregues – por exemplo, no caso da vacinação de crianças, a meta física é o número de crianças vacinadas regionalmente – e estimar o montante necessário para realizar a ação orçamentária, respectivamente (SOF, 2021). As perguntas a serem respondidas em cada uma das classificações são apresentadas no Quadro 16. QUADRO 16 – CLASSIFICAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA CLASSIFICAÇÃO QUALITATIVA BLOCO DA ESTRUTURA ITEM DA ESTRUTURA PERGUNTA A SER RESPONDIDA Classificação por Esfera Esfera Orçamentária Em qual Orçamento? Classificação InstitucionalÓrgão Quem é o responsável por fazer? Unidade Orçamentária Classificação Funcional Função Em que áreas de despesa a ação governamental será realizada?Subfunção Estrutura Programática Programa O que se pretende alcançar com a implementação da Política Pública? Ação O que será desenvolvido para alcançar o objetivo do programa? 144 CLASSIFICAÇÃO QUANTITATIVA ITEM DA ESTRUTURA PERGUNTA A SER RESPONDIDA Categoria Econômica da Despesa Qual o efeito econômico da realização da despesa? Grupo de Natureza de Despesa Em qual classe de gasto será realizada a despesa? Modalidade de Aplicação De que forma serão aplicados os recursos? Elemento de Despesa Quais os insumos que se pretende utilizar ou adquirir? Fonte de Recursos De onde virão os recursos para realizar a despesa? Identificador de Resultado Primário Qual o efeito da despesa sobre o Resultado Primário? Dotação Qual o montante alocado? FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 33-34) Quanto à estrutura programática, cada ente da federação deve estabelecer em ato próprio a estrutura, códigos e classificações de seus programas, razão pela qual não a apresentaremos detalhadamente. Cumpre ressaltar, que as respostas às perguntas apresentadas visam orientar o processo de orçar as despesas orçamentárias, sendo obrigatória a observância de todos os itens da estrutura, com exceção da classificação do identificador de resultado primário pelos mesmos motivos apresentados na classificação da receita orçamentária. Quanto às demais classificações, serão apresentadas nas próximas seções. 3.1.2 Classificação funcional da despesa orçamentária A classificação funcional é formada por funções e subfunções e busca explicitar as áreas em que as despesas são realizadas e, portanto, cada atividade, projeto e operação especial da Administração Pública identificará a função e a subfunção a que se destinam (SOF, 2021). A codificação de cinco dígitos, os dois primeiros relativos às funções e os três últimos às subfunções, é, atualmente, estabelecida pela Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, que define função como “o maior nível de agregação das diversas áreas de despesa que competem ao setor público” e subfunção como “uma partição da função, visando a agregar determinado subconjunto de despesa do setor público” (BRASIL, 1999), cujas posições ordinais são apresentadas no Quadro 17 a seguir. 145 QUADRO 17 – DETALHAMENTO FUNCIONAL DE CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 36) Os códigos de classificação funcional, de acordo com a Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, são apresentados no Quadro 18. QUADRO 18 – CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA (lista não exaustiva) FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 161-164) Ressalta-se que o rol de funções e subfunções estabelecido pela Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, é comum e obrigatório para todos os entes da federação e permite a consolidação nacional dos gastos do setor público, conforme previsto na LRF (Art. 51; BRASIL, 2000). DÍGITO 1º e 2º 3º a 5º SIGNIFICADO Função Subfunção CODIFICAÇÃO XX XXX EXEMPLO 04.122 – Administração Geral 04. Administração 122. Administração Geral Função (1º e 2º dígito) Subfunção (3º a 5º dígito) 04. Administração 121. Planejamento e Orçamento 122. Administração Geral 123. Administração Financeira 124. Controle Interno 125. Normatização e Fiscalização 126. Tecnologia da Informação 127. Ordenamento Territorial 128. Formação de Recursos Humanos 129. Administração de Receitas 130. Administração de Concessões 131. Comunicação Social 10. Saúde 301. Atenção Básica 302. Assistência Hospitalar e Ambulatorial 303. Suporte Profilático e Terapêutico 304. Vigilância Sanitária 305. Vigilância Epidemiológica 306. Alimentação e Nutrição 146 3.1.3 Classificação por natureza da despesa orçamentária A classificação das despesas orçamentárias, por natureza, é estabelecida pelos Artigos 12 e 13 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 e é obrigatória para todos os entes da federação, sendo facultado seu desdobramento para atender às respectivas peculiaridades. O Artigo 8 da respectiva lei estabelece que as despesas orçamentárias serão identificadas por números de código decimal, na forma do respectivo Anexo IV, atualmente descriminados no Anexo II da Portaria Conjunta STN/SOF nº 163, de 4 de maio de 2001, consolidada pela Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 103, de 5 de outubro de 2021 (SOF, 2021, p. 63), cuja codificação de oito dígitos e cinco níveis da despesa orçamentária consta no Quadro 19. QUADRO 19 – DETALHAMENTO DOS NÍVEIS DE CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 63) Verifica-se que na codificação apresentada, os primeiros dois níveis apresentam apenas um dígito para cada nível, enquanto os outros três níveis possuem dois dígitos. Nesse sentido, assim como fizemos na classificação das receitas orçamentárias, estudaremos individualmente cada um desses níveis e entenderemos como a despesa orçamentária deve ser representada no orçamento. Quanto à categoria econômica, o Artigo 12 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, classifica as despesas orçamentárias em despesas correntes e despesas de capital, conforme demonstrado no Quadro 20. Destaca-se que a mesma classificação econômica das receitas é feita para as despesas, visa apresentar informações econômicas comparativas, ou seja, possibilitar a comparação entre a arrecadação e a utilização das dos recursos públicos segundo sua classificação econômica. Nesse sentido, uma receita orçamentária classificada como receita de capital deve corresponder a uma despesa de capital e o mesmo ocorre com as receitas e despesas correntes. DÍGITO 1º 2º 3º e 4º 5º e 6º 7º e 8º SIGNIFICADO Categoria Econômica Grupo de Natureza da Despesa Modalidade de Aplicação Elemento de Despesa Subelemento CODIFICAÇÃO X X XX XX XX CARÁTER Obrigatório Facultativo 147 QUADRO 20 – DESPESA ORÇAMENTÁRIA CONFORME A CATEGORIA ECONÔMICA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 64) Segundo o disposto no Artigo 12 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, as despesas correntes podem ser classificadas em despesas de custeio (§ 1º) ou transferências correntes (§ 2º) e as despesas de capital podem ser classificadas como investimentos (§ 4º), inversões financeiras (§ 5º) ou transferências de capital (§ 6º), conforme segue: § 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis. § 2º Classificam-se como Transferências Correntes as dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado. [..] § 4º Classificam-se como Investimentos as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. § 5º Classificam-se como Inversões Financeiras as dotações destinadas a: I- aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização; II- aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; III- constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. § 6º São Transferências de Capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivemdiretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública (BRASIL, 1964, grifo nosso). DESPESAS CORRENTES Classificam-se nessa categoria as despesas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. DESPESAS DE CAPITAL Classificam-se nessa categoria aquelas despesas que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. Código Categoria Código Categoria 3 Despesas Correntes 4 Despesas de Capital 148 O grupo de natureza, por sua vez, é um agregador de elemento de despesa com as mesmas características do objeto de gasto (SOF, 2021). Os códigos do grupo de natureza, de acordo com a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, são apresentados no Quadro 21. QUADRO 21 – DESPESA ORÇAMENTÁRIA CONFORME O GRUPO DE NATUREZA FONTE: SOF (2021, p. 64) Quanto à descrição dos grupos de natureza que compõem as despesas correntes e de capital, essas são apresentadas no Quadro 22. QUADRO 22 – NATUREZAS QUE COMPÕEM AS DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS Código Grupo de Natureza da Despesa (2º dígito) 1 Pessoal e Encargos Sociais 2 Juros e Encargos da Dívida 3 Outras Despesas Correntes 4 Investimentos 5 Inversões financeiras 6 Amortização da Dívida NATUREZA DESCRIÇÃO Pessoal e Encargos Sociais Despesas orçamentárias com pessoal ativo, inativo e pensionistas, relativas a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência, conforme estabelece o caput do Artigo 18 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Juros e Encargos da Dívida Despesas orçamentárias com o pagamento de juros, comissões e outros encargos de operações de crédito internas e externas contratadas, bem como da dívida pública mobiliária. Outras Despe- sas Correntes Despesas orçamentárias com aquisição de material de consumo, pagamento de diárias, contribuições, subvenções, auxílio- alimentação, auxílio-transporte, além de despesas da categoria econômica “Despesas Correntes” não classificáveis nos demais grupos de natureza de despesa. Investimentos Despesas orçamentárias com softwares e com o planejamento e a execução de obras, inclusive com a aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, e com a aquisição de instalações, equipamentos e material permanente. 149 FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 64-65) A modalidade de aplicação indica se os recursos públicos serão aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da mesma esfera de governo ou por outro ente da federação e suas respectivas entidades e visa eliminar a dupla contagem que possa existir dos recursos transferidos ou descentralizados (SOF, 2021). Os códigos da modalidade de aplicação constam na Portaria Conjunta STN/SOF nº 163, de 4 de maio de 2001, consolidada pela Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 103, de 5 de outubro de 2021 e são apresentados no Quadro 23. QUADRO 23 – DESPESA ORÇAMENTÁRIA POR MODALIDADE DE APLICAÇÃO (lista não exaustiva) FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 65-66) Inversões financeiras Despesas orçamentárias com a aquisição de imóveis ou bens de capital já em utilização; aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; e com a constituição ou aumento do capital de empresas, além de outras despesas classificáveis neste grupo. Amortização da Dívida Despesas orçamentárias com o pagamento e/ou refinanciamento do principal e da atualização monetária ou cambial da dívida pública interna e externa, contratual ou mobiliária. Código Modalidade de Aplicação (3º e 4º dígito) 90 Aplicações Diretas 91 Aplicação Direta Decorrente de Operação entre Órgãos, Fundos e Entida-des Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social. 92 Aplicação Direta de Recursos Recebidos de Outros Entes da Federação Decorrentes de Delegação ou Descentralização. 93 Aplicação Direta Decorrente de Operação de Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social com Consórcio Público do qual o ente participe. 94 Aplicação Direta Decorrente de Operação de Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social com Consórcio Público do qual o ente não participe. 95 Aplicação Direta à conta de recursos de que tratam os § 1 o e § 2o do Arti- go 24 da Lei Complementar no 141, de 13 de janeiro de 2012. 96 Aplicação Direta à conta de recursos de que trata o Artigo 25 da Lei Com-plementar no 141, de 13 de fevereiro de 2012. 99 A Definir 150 O elemento de despesa destina-se a identificar os objetos de gasto, tais como vencimentos e vantagens fixas, diárias, material de consumo, serviços de terceiros prestados por pessoas físicas ou jurídicas, obras e instalações, equipamentos permanentes e outros que a Administração Pública utiliza para a consecução de seus fins (SOF, 2021). Os códigos por elemento de despesa constam no Anexo II Portaria Conjunta STN/SOF nº 163, de 4 de maio de 2001, consolidada pela Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 103, de 5 de outubro de 2021 e são apresentados no Quadro 24. QUADRO 24 – DESPESA ORÇAMENTÁRIA POR ELEMENTO DE DESPESA (lista não exaustiva) Natureza da Despesa (2º dígito) Elemento de Despesa (5º e 6º dígito) 1. Pessoal e Encargos Sociais 01. Aposentadorias do RPPS, Reserva Remunerada e Re- formas dos Militares 03. Pensões do RPPS e do Militar 04. Contratação por Tempo Determinado 05. Outros Benefícios Previdenciários do Servidor ou do Militar 11. Vencimentos e Vantagens Fixas – Pessoal Civil 13. Obrigações Patronais 16. Outras Despesas Variáveis – Pessoal Civil 17. Outras Despesas Variáveis – Pessoal Militar 2. Juros e Encargos da Dívida 21. Juros sobre a Dívida por Contrato 22. Outros Encargos sobre a Dívida por Contrato 23. Juros, Deságios e Descontos da Dívida Mobiliária 24. Outros Encargos sobre a Dívida Mobiliária 3. Outras Despesas Correntes 30. Material de Consumo 32. Material, Bem ou Serviço para Distribuição Gratuita 33. Passagens e Despesas com Locomoção 35. Serviços de Consultoria 36. Outros Serviços de Terceiros – PF 37. Locação de Mão-de-Obra 38. Arrendamento Mercantil 39. Outros Serviços de Terceiros – PJ 40. Serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação – PJ 4. Investimentos 30. Material de Consumo 33. Passagens e Despesas com Locomoção 40. Serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação – PJ 51. Obras e Instalações 52. Equipamentos e Material Permanente 61. Aquisição de Imóveis 151 FONTE: Adaptado de STN (2021a, p. 98) Uma descrição dos códigos de elemento de despesas é apresentada no Quadro 25. QUADRO 25 – DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS DE DESPESAS (lista não exaustiva) FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 73-82) Quando, por exemplo, a Administração Pública realiza despesas orçamentárias com salários e vencimentos, a despesa pública correspondente é alocada na natureza de despesa código “3.1.90.11.01”, segundo o esquema apresentado no Quadro 26. 5. Inversões financeiras 61. Aquisição de Imóveis 63. Aquisição de Títulos de Crédito 64. Aquisição de Títulos Representativos Capital já Inte- gralizado 6. Amortização da Dívida 71. Principal da Dívida Contratual Resgatado 72. Principal da Dívida Mobiliária Resgatado 73. Correção Monetária ou Cambial da Dívida Contratual Resgatada ELEMENTO DESCRIÇÃO 01. Aposentadorias do RPPS, Reserva Remunerada e Reformas dos Militares Despesas orçamentárias com pagamento de aposentadorias de servidores inativos e de agentes vinculados à Administração Pública, pelo Regime Próprio de Previdência do Servidor - RPPS, por outros institutos própriosde previdência ou diretamente pela Administração Pública, de reserva remunerada e de reformas dos militares. 03. Pensões do RPPS e do Militar Despesas orçamentárias com pagamento de pensões civis, pelo Regime Próprio de Previdência do Servidor - RPPS, por outros institutos próprios de previdência ou diretamente pela Administração Pública, e de pensões militares, quando vinculadas a cargos públicos. 04. Contratação por Tempo Determinado Despesas orçamentárias com a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, de acordo com legislação específica de cada ente da Federação, inclusive obrigações patronais e outras despesas variáveis, quando for o caso. 152 QUADRO 26 – EXEMPLO DE CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 63) Com base no nível de detalhamento da despesa orçamentária apresentada, a classificação, por natureza, é a de nível mais analítico da despesa, e assim como nas receitas orçamentárias, auxilia na elaboração de análises econômico-financeiras sobre a atuação da Administração Pública. 4 FONTE OU DESTINAÇÃO DE RECURSOS A classificação por fonte ou destinação de recursos visa agrupar receitas e despesas orçamentárias que tenham a mesma finalidade de aplicação, evidenciando os meios para atingir os objetivos públicos (STN, 2021a). Tal classificação é necessária porque uma mesma atividade pode ser financiada por recursos de receitas diferentes, tornando necessário “agrupar e catalogar, sob o mesmo código comum, as diferentes origens de receita que porventura devam ser aplicadas da mesma forma, no financiamento da mesma atividade [despesa] estatal” (STN, 2021a, p. 145). Tal classificação desempenha um papel duplo no processo orçamentário. Para as receitas orçamentárias, esse código tem como objetivo indicar a destinação dos recursos para a realização de determinadas despesas orçamentárias, enquanto para as despesas orçamentárias, identifica a origem dos recursos utilizados (STN, 2021a). Em termos legais, a fonte ou destinação de recursos advém da LRF, mais especificamente (BRASIL, 2000) (grifos nossos): Art. 8 [...] Parágrafo único. Os recursos legalmente vinculados à finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso. Art. 50. Além de obedecer às demais normas de contabilidade pública, a escrituração das contas públicas observará as seguintes: I- a disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo que os recursos vinculados ao órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem identificados e escriturados de forma individualizada; [...] 3.1.90.11.01 – Vencimentos e Salários X Categoria Econômica 3 Despesa Corrente X Grupo de Natureza 1 Pessoal e Encargos Sociais XX Modalidade de Aplicação 90 Aplicação Direta XX Elemento de Despesa 11 Vencimentos e Vantagens Fixas - Pessoal Civil XX Subelemento 01 Vencimentos e Salários 153 Portanto, observa-se que a classificação por fonte ou destinação de recursos serve para identificar se o ingresso de determinado recurso é vinculado ou não e, no caso de recursos vinculados, indicar a sua finalidade, podendo ser classificada em (STN, 2021a, p. 145): • Destinação Vinculada: é o processo de vinculação entre a origem e a aplicação de recursos, em atendimento às finalidades específicas estabelecidas pelo marco legal. Exemplo: recebimento de recursos de Termo de Convênio de Cooperação entre Entes Federados – União repassa recursos para um Município – para pavimentação de vias públicas. Como o termo de convênio visa a pavimentação de vias públicas, o recurso está vinculado a essa finalidade e não pode ser utilizado para outro fim. • Destinação Livre: é o processo de alocação livre entre a origem e a aplicação de recursos, para atender a quaisquer finalidades, desde que dentro do âmbito das competências de atuação do órgão ou entidade. • Exemplo: arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) destinado a custear as despesas orçamentárias do município. A classificação por fonte ou destinação de recursos deve ser feito desde a elaboração do orçamento – devendo ser contabilizados no momento da aprovação do orçamento como informação complementar em contas de controle orçamentário – até a sua execução, incluindo o ingresso, o comprometimento e a saída dos recursos orçamentários, havendo a necessidade de identificar no exercício corrente, os recursos arrecadados nos exercícios anteriores e que não foram comprometidos, os quais podem ser utilizados como superávit financeiro nos termos da LRF para abertura de créditos adicionais (STN, 2021a). A classificação por fonte ou destinação de recursos, obrigatória para todos os entes da federação, consiste em um código de três dígitos e é definida atualmente pela Portaria STN nº 710, de 25 de fevereiro de 2021 para os Estados, Distrito Federal e Municípios e pela Portaria SOF nº 15.073, de 26 de dezembro de 2019 para a União. O 1º dígito representa o grupo da fonte de recursos, servindo “para atender a finalidade de controle orçamentário dos créditos adicionais abertos com utilização de superávit financeiro” (SOF, 2021, p. 25), enquanto o 2º e o 3º representam a especificação da fonte de recurso. Uma explicação é apresentada no Quadro 27. QUADRO 27 – FONTE OU DESTINAÇÃO DE RECURSOS (UNIÃO) Cód. GRUPO da Fonte de Recurso (1º Dígito) 1 Recursos Arrecadados no Exercício Corrente 3 Recursos Arrecadados em Exercício Anteriores 7 Recursos de Operações de Crédito Ressalvadas pela Lei de Créd. Adic. da Regra de Ouro 9* Recursos Condicionados 154 * Objetiva identificar, na elaboração do Orçamento, os recursos oriundos de propostas de alterações na legislação da receita que estejam em tramitação no Congresso Nacional. ESTRUTURA 1º DÍGITO 2º e 3º DÍGITOS Grupo da Fonte de Recurso Especificação da Fonte de Recurso EXEMPLOS 1º DIGITO (Grupo da Fonte) 2º e 3º DÍGITOS (Especificação da Fonte) 1 - Rec. Arrec. no Exercício Corrente 00 - Recursos Ordinários 3 - Rec. Arrec. em Exercício Anteriores 02 - Transf. do Imposto Territorial Rural 9 - Recursos Condicionais 99 - Recursos Primários de Livre Aplicação FONTE: Adaptado de SOF (2021, p. 25-26) 155 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ORÇAMENTO PÚBLICO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A SOCIEDADE José Santo Dal Bem Pires Walmir Francelino Motta 1 INTRODUÇÃO Nas sociedades organizadas o sistema jurídico está estruturado para que os cidadãos, os destinatários das ações estatais, não sejam surpreendidos por medidas intempestivas tomadas pelos governantes. Esse fato, por si só, justifica a imprescindibilidade da existência do orçamento público, cujas origens se confundem com o surgimento do Estado de Direito. Aliás, a questão de ordem financeira do poder público foi a primeira área a ser atingida na passagem do Estado Absoluto para o Estado de Direito. A concepção de que os gastos dos governantes devem ser previamente autorizados vem desde o longínquo ano de 1217, com a edição da Magna Charta Libertatum do Reino Unido. A trajetória histórica do orçamento público remonta aos tempos de antanho, a uma época em que o rei ou imperador era o próprio Estado. Não havia, então, distinção entre as finanças particulares do soberano e as do Governo. Com o crescimento do Estado, tornou-se necessário proceder a uma melhor organização de suas receitas e despesas, nascendo assim o orçamento público. O seu aprimoramento o transformou em uma ferramenta indispensável para as instituições governamentais. Sua história foi marcada por árduas e multisseculares lutas políticas, que o tornaram um instrumento, absolutamente, necessário ao equilíbrio dos interesses antagônicos em volta do poder. Tem sido assim em todas as esferas de governo, desde a sua origem até os dias de hoje, em face de sua relevância para todos os segmentos da sociedade. A origem etimológica da palavra orçamento, de acordocom Pinto (1956), está, em geral, fortemente vinculada ao termo italiano orzare ou ao latino ordior, orsus, sum, ordiri (urdir), que tem o significado de planejar, calcular. Percebe-se que o efeito de planejar as ações está há muito tempo, intimamente, vinculado às ações orçamentárias. LEITURA COMPLEMENTAR 156 2 A EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO NO MUNDO Os países que mais se destacaram pelo desenvolvimento da técnica orçamentária foram a Inglaterra, a França e os Estados Unidos. [...] 3 A EVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO NO BRASIL A vinda do rei D. João VI ao Brasil permitiu ampliar a abertura dos portos brasileiros. Com maiores impostos aduaneiros, iniciou-se o processo de organização das finanças públicas, culminando com a criação, em 1808, do Erário Público e do Regime de Contabilidade. No Brasil, o orçamento público, também, sempre constituiu um poderosíssimo instrumento de controle dos recursos financeiros gerados pela sociedade, os quais retornam a essa mesma sociedade na forma de bens e serviços prestados. É tão importante que, historicamente, todas as constituições federais e estaduais, bem como as leis orgânicas dos municípios, sempre consagraram dispositivos sobre a programação como categoria do orçamento público, desde a época do Império até os dias atuais. A primeira constituição do Brasil, outorgada em 25/3/1824 por Dom Pedro I, atribuiu à Câmara dos Deputados a iniciativa das leis para instituir impostos (Art. 36, nº 1) e estabeleceu a exigência da apresentação de uma proposta de orçamento. No seu Art. 172 estabelecia: “O ministro da Fazenda, [...] apresentará à Câmara dos Deputados anualmente, [...] o orçamento geral de todas as despesas públicas do ano futuro e da importância de todas as contribuições e rendas públicas”. Dessa maneira, a competência de elaboração da proposta ficou a cargo do Executivo, porém a sua aprovação constituiu-se em competência da Assembleia Geral (Câmaras dos Deputados e Senado). Alguns tratadistas – entre eles Baleeiro – afirmam que “o primeiro orçamento nacional elaborado com esse dispositivo, que abrigava as principais regras da matéria, foi votado para o exercício de 1831-1832”. As décadas que se seguiram não evidenciaram registros maiores na questão da organização das finanças públicas. A segunda constituição brasileira, promulgada em 24/2/1891, veio logo após a Proclamação da República. Com ela foram implantadas importantes modificações na distribuição de competências para a elaboração, tramitação e aprovação do orçamento. O Poder Legislativo passou a ter competência para elaboração do orçamento de todos os poderes da nova República. 157 Por outro lado, a Lei nº 30, de 8 de janeiro de 1892, que fixava as responsabilidades do Presidente da República, estabelecia que a não apresentação da proposta de orçamento constituía crime contra as leis orçamentárias. Tal fato trouxe um impasse entre os poderes, só superado pela decisão tomada no sentido de que o Executivo apresentaria a proposta como subsídio ao Poder Legislativo, que deliberaria. Em 1922 foi aprovado pelo Congresso Nacional o Código de Contabilidade da União. Para a época, o Código foi considerado uma evolução tecnológica nas finanças públicas, ao imprimir novas normas técnicas que possibilitaram ordenar em nível de União e, posteriormente, por semelhança, nos Estados e municípios, procedimentos orçamentários, financeiros, patrimoniais, administrativos etc., visando à busca de melhor eficiência na gestão dos recursos. Em 1926, mediante uma reforma na constituição, foi finalmente realizada a transferência de competência da elaboração da proposta orçamentária para o Poder Executivo, o que já acontecia na prática. Com o advento da terceira constituição da Nação, outorgada em 16/7/1934, perdeu espaço o Legislativo e voltou a reinar absoluto o Executivo, a quem cabia elaborar e decretar o orçamento. Nela as questões de ordem orçamentária mereceram destaque, ao serem classificadas em uma seção própria. Nessa constituição, a competência para elaboração da proposta orçamentária era atribuída ao Presidente da República, cabendo ao Legislativo a sua votação com auxílio do Tribunal de Contas. Na realidade, a falta de ordem jurídico-constitucional e de leis complementares sobre limitações às emendas inseridas pelos legisladores deu ao orçamento uma modalidade do “tipo misto”, com coparticipação entre ambos os poderes. A quarta constituição brasileira foi decretada em 10/11/1937, como resultado de um regime político fortemente autoritário, denominado Estado Novo. Aqui as abordagens de ordem orçamentária também mereceram destaque, ao serem tratadas em capítulo especial com seis artigos. Segundo esses artigos, a proposta do orçamento deveria ser formatada por um departamento administrativo a ser criado junto à Presidência da República. A sua votação e aprovação caberiam não só à Câmara dos Deputados, mas também ao Conselho Fiscal, uma espécie de Senado Federal, que também contaria com dez membros de confiança nomeados pelo Presidente da República. Giacomoni afirma: “A verdade é que essas duas câmaras legislativas nunca foram instaladas e o Orçamento federal foi sempre elaborado e decretado pelo chefe do Executivo”. O regime estadonovista criou, em 1938, o Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), que iniciou o planejamento orçamentário no Brasil, tendo como objetivo principal organizar anualmente a proposta orçamentária, de acordo com as instruções do Presidente da República. 158 Em 1938, como resultado da Primeira Conferência de Técnicos da Contabilidade Pública e Assuntos da Fazenda, promovida pelo Governo Federal, foram feitas as primeiras tentativas de padronização, que tiveram como base o padrão orçamentário elaborado pelo Conselho Técnico de Economia e Finanças. A quinta constituição do Brasil foi promulgada em 18/9/1946, logo após a redemocratização do País. Pelo seu conteúdo, o Executivo continuou a elaborar o projeto de lei orçamentária, passando, porém, a encaminhá-lo às casas do Congresso para discussão e aprovação, inclusive com a prerrogativa de emendas. Essa constituição de 1946, denominada “planejamentista”, explicita as necessidades de se criarem planos setoriais e regionais, com reflexo direto na monetarização do orçamento, ao estabelecer vinculações com a receita. A experiência brasileira na construção de planos globais, até 1964, caracterizou-se por “contemplar somente os elementos de despesa com ausência da programação de objetivos, metas e recursos reais, intensificando as desvinculações dos Planos e dos Orçamentos”. O regime político resultante do movimento dos militares, em 1964, assumiu características autoritárias nunca vistas antes. Em consequência, a outorgada em 24/1/1967, estabeleceu regras de orçamento, única e exclusivamente, a favor do centralizador Poder Executivo, estendendo-as inclusive aos Estados e municípios. A grande decepção, em matéria de orçamento, ficou por conta da retirada sumária das prerrogativas do Poder Legislativo quanto às iniciativas de leis e emendas que criassem ou aumentassem despesas. Assim rezava o Artigo 65: É de competência do Poder Executivo a iniciativa das leis orçamentárias e das que abram créditos, fixem vencimentos e vantagens dos servidores públicos, concedam subvenção ou auxílio ou de qualquer modo autorizem, criam ou aumentam despesas. §1.º - Não será objeto de deliberação a emenda de que decorra aumento de despesa global ou de cada órgão, projeto ou programa, ou as que visem a modificar o seu montante, natureza e objetivo. O Executivo, ao encaminhar a proposta orçamentária, torna explícito o conflito de interesses entre as possíveis alocações de recursos e a distribuição dos custos entre os diversos segmentos da sociedade. Além disso, não transitavam pelo Poder Legislativo o orçamento monetário, que continha a programação da política monetária e cambial, e o orçamento das empresas estatais, que abrangia as empresaspúblicas, as sociedades de economia mista, suas subsidiárias e suas controladas, direta ou indiretamente, as autarquias, as fundações e os órgãos autônomos da administração indireta. Portanto, não passando pelo Poder Legislativo o orçamento monetário e o orçamento das empresas estatais, segundo Cruz, “as peças orçamentárias que iam ao encontro do Congresso Nacional tinham a inexpressiva participação de menos do que 20% dos recursos financeiros a movimentar”. 159 Apesar de tudo, de fundamental importância para o processo orçamentário em todas as esferas de governo – federal, estadual, municipal e do Distrito Federal – tem sido, indubitavelmente, o papel desempenhado pela Lei 4.320, de 17 março de 1964. Nesse seu longo período de vigência, em momento algum serviu de empecilho para o surgimento de significativas reformas orçamentárias e financeiras, da adoção de técnicas mais modernas, o que lhe dá, efetivamente, o honroso aspecto de lei básica de orçamento. Comumente conhecida como Lei 4320/64, estabeleceu, logo no seu Art. 2º: “A Lei de Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo...”. Em 1967, o Decreto-Lei 200, de 25 de março, criou o Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, com a competência de elaborar a programação orçamentária e a proposta orçamentária anual. Por sua vez, o Ministro instituiu a Subsecretaria de Orçamento e Finanças, hoje Secretaria de Orçamento Federal (SOF), com a atribuição de órgão central do sistema orçamentário. A década de 1980 iniciou-se, no campo político, com fortes pressões populares pela distensão do regime autoritário e abertura institucional. Os movimentos sociais ganharam as ruas e a finalidade da base política do regime veio à tona. Abriu-se espaço para as eleições – as “diretas já” – para Presidente da República, e para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A redemocratização do País e as liberdades individuais foram resgatadas. Finalmente, em 5 de outubro de 1988, o País recebeu sua sétima Carta Magna em vigor atualmente. Essa constituição atribuiu ao processo orçamentário uma seção especial e à parte: Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II das Finanças Públicas, Seção II dos Orçamentos. A partir da sua promulgação ocorreram mudanças substanciais na prática orçamentária, devido às alterações impostas. Como decorrência, em nível de Estados e municípios, novas práticas avançadas foram introduzidas. No campo técnico, as reformulações adotadas deram maior democratização às políticas públicas e uma participação mais ampla do Poder Legislativo no estabelecimento da programação econômico-financeira do Estado. Assim, a Constituição Federal (CF) resgatou as prerrogativas do Congresso Nacional de criar despesas e emendar a proposta orçamentária do Executivo e recuperou para a área de decisão do Poder Legislativo os assuntos referentes aos orçamentos das entidades descentralizadas. A hierarquia dos instrumentos de planejamento orçamentário integrado está estabelecida no Artigo 165 da CF, que diz: “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual; II – as diretrizes orçamentárias; III – os orçamentos anuais”. São documentos inovadores em relação aos processos orçamentários anteriores. Observa-se que todo o processo alocativo de recursos está sob a égide da lei, e nada se faz em termos de despesa pública sem que exista uma autorização legislativa. Na prática, é a plena vivência do princípio da universalização orçamentária na ordem constitucional. 160 RESUMO DO TÓPICO 3Em atendimento à própria Constituição Federal, surgiu em 2000, a Lei Complementar de Responsabilidade Fiscal – LRF, de n.º 101/2000, que introduziu inovações na administração das finanças públicas, instituindo mecanismos de transparência fiscal e controle social dos gastos públicos. Atualmente, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional a Lei de Responsabilidade Social – LRS –, objetivando assegurar e formalizar o compromisso dos governantes em cogerir os recursos públicos, com participação ativa da sociedade organizada. É preciso assegurar a destinação social dos tributos arrecadados, dando ao orçamento público a dimensão cidadã que precisava ter na sociedade. 4 CONCLUSÃO [...] Na verdade, o orçamento é, antes de tudo, uma decisão de governo ou um exercício de poder e, nesse sentido, não só uma questão técnica, mas também política. Isso significa que todo orçamento público implica a determinação de prioridades, relacionadas, por sua vez, com a capacidade de intervenção e negociação de certos setores da sociedade ou com opções do próprio governo local. O orçamento permite a identificação dos recursos disponíveis, que serão aplicados segundo as prioridades estabelecidas e afinadas com a política adotada pelo gestor público. Pode-se dizer que o desenvolvimento do orçamento público implicou num grande avanço para a democracia e para as liberdades individuais, ao corroborar, na sua trajetória histórica, a separação dos poderes, condição sine qua non para um regime político democrático. Ao longo do tempo transformou-se em um instrumento de bem- estar social, que deseja reduzir as despesas e diminuir a carga tributária. É sinônimo de esclarecimento das responsabilidades dos governantes perante a sociedade. Um bom orçamento pode prestar serviços e estimular o desenvolvimento. Se elaborado na direção certa, promove em muito o bem-estar social, mas se elaborado de forma errada, atrapalha e até inibe o desenvolvimento. A sua origem e seus fundamentos são encontrados na própria história dos regimes democráticos. A sua força, o seu prestígio e a sua expressão na vida das sociedades estão na razão direta da maior ou menor consciência política das nações. FONTE: PIRES, J. S. D. B.; MOTTA, W. F. A evolução histórica do orçamento público e sua importância para a sociedade. Enfoque: Reflexão Contábil, v. 25, n. 2, p. 16-25, 2006. 161 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres da Administração Pública, que se desdobram em receitas orçamentárias e extraorçamentárias. • As receitas orçamentárias representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário e as receitas extraorçamentárias representam apenas entradas compensatórias. • A receita orçamentária deve ser classificada de acordo com a natureza da receita, o indicador de resultado primário, a fonte ou destinação de recursos e a esfera orçamentária. • As despesas públicas são o conjunto de gastos realizados pela Administração Pública para o funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade, os quais se desdobram em despesas orçamentárias e dispêndios extraorçamentários. • As despesas orçamentárias representam as despesas detalhadas e fixadas no orçamento, estando, por conseguinte, autorizadas pelo Poder Legislativo e convertidas na Lei Orçamentária Anual (LOA) e os dispêndios extraorçamentários representam as despesas que não dependem de autorização legislativa e, portanto, não constam na LOA. • A despesa orçamentária deve ser classificada de acordo com seus aspectos qualitativos e quantitativos, funcionais e de acordo com sua natureza, que é composta pela categoria econômica, o grupo de natureza da despesa e o elemento de despesa. • A classificação por fonte ou destinação de recursos visa agrupar receitas e despesas orçamentárias que tenham a mesma finalidade de aplicação, evidenciando os meios utilizados para atingir os objetivos públicos. 162 REFERÊNCIAS 1 Considere a classificação da receita orçamentária, em que a origem é o detalhamento das categorias econômicas “Receitas Correntes” e “Receitas de Capital”, com vistas a identificar a natureza da procedência das receitas quando ingressam nos cofres da Administração Pública. Sobre as opções a seguir quesão de receitas orçamentárias, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Transferências Especiais e Transferências de Capital. b) ( ) Alienação de Passivos e Amortização de Empréstimos. c) ( ) Receita de Operações de Crédito e Orçamentário. d) ( ) Receita de Impostos, Taxas e de Contribuições de Melhoria. 2 Considere a classificação da despesa orçamentária de acordo com a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. A origem é o detalhamento das categorias econômicas “Despesas Correntes” e “Despesas de Capital”, as quais se dividem em agrupamentos. Com relação às despesas de capital, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Inversões Financeiras. b) ( ) Transferências Correntes. c) ( ) Despesas de Custeio. d) ( ) Despesas Corpóreas. 3 O Prefeito do Município de Cidade Azul autorizou, no exercício corrente, a contratação de empresa para realizar serviços de manutenção da frota de veículos da Secretaria Municipal de Educação, no valor estimado de R$ 150.000,00 e a alienação de dois ônibus escolares, pelo valor estimado de R$ 100.000,00. Considere a classificação orçamentária, que são classificadas, respectivamente, no grupo de natureza de despesa e na categoria econômica de receita. Diante disso, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Outras Despesas Correntes e Receita Patrimonial. b) ( ) Investimentos e Receita de Capital. c) ( ) Despesa de Capital e Receita de Capital. d) ( ) Outras Despesas Correntes e Receita de Capital. 4 O elemento de despesa é uma classificação que tem por finalidade identificar os objetos de gastos no âmbito de cada grupo de natureza de despesa. Disserte, brevemente, sobre como se dá a classificação dos elementos de despesa. 5 No que diz respeito à classificação por fonte ou destinação de recursos das receitas e despesas, disserte sobre suas características e finalidade no processo de execução orçamentária. AUTOATIVIDADE 163 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 5 dez. 2021. BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras pro- vidências. Brasília, DF: Presidência da República, 4 maio 2000. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 13.971, de 27 de dezembro de 2019a. Institui o Plano Plurianual da União para o período de 2020 a 2023. Disponível em: https://bit.ly/3uZLHzR. Acesso em: 16 jan. 2022. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Esta- dos, dos Municípios e do Distrito Federal. Brasília, DF: Presidência da República, 17 mar. 1964. Disponível em: https://bit.ly/35LgNTw. Acesso em: 29 dez. 2021. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Mu- nicípios. Disponível em: https://bit.ly/3r4Ohnn. Acesso em: 25 jan. 2022. BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de con- cessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Consti- tuição Federal, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l8987cons.htm. Acesso em: 15 jan. 2022. BRASIL. Portaria Conjunta STN/SOF nº 163, de 4 de maio de 2001. Dispõe sobre normas gerais de consolidação das Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Dis- trito Federal e Municípios, e dá outras providências. Disponível em: https://bit.ly/3NN- mO37. Acesso em: 25 jan. 2022. BRASIL. Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 103, de 5 de outubro de 2021. Divul- ga a Portaria Conjunta STN/SOF no 163, de 4 de maio de 2001, atualizada, e revoga os atos que menciona. Disponível em: https://bit.ly/3DMBFGn. Acesso em: 25 jan. 2022. BRASIL. Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999. Atualiza a discriminação da despesa por funções de que tratam o inciso I do §1º do art. 2º e §2º do art. 8º, ambos da Lei nº 4.320, de 17 de marco de 1964, estabelece os conceitos de função, subfunção, progra- ma, projeto, atividade, operações especiais, e dá outras providências. Disponível em: https://bit.ly/3Je9NMC. Acesso em: 25 jan. 2022. BRASIL. Portaria SOF nº 15.073, de 26 de dezembro de 2019b. Dispõe sobre a classificação orçamentária por fontes de recursos para aplicação no âmbito dos Orça- mentos Fiscal e da Seguridade Social da União. Disponível em: https://www.in.gov.br/ en/web/dou/-/portaria-n-15.073-de-26-de-dezembro-de-2019-235562265. Acesso em: 25 jan. 2022. 164 BRASIL. Portaria STN nº 710, de 25 de fevereiro de 2021. Estabelece a classifica- ção das fontes ou destinações de recursos a ser utilizada por Estados, Distrito Federal e Municípios. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-710-de- -25-de-fevereiro-de-2021-305389863. Acesso em: 25 jan. 2022. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Orçamento público: planejamento, elaboração e controle. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 250 p. DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2020. 1136 p. GIACOMONI, J. Orçamento público. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2021. 331p. KOHAMA, H. Contabilidade pública: teoria e prática. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 404 p. LIMA, D. V. Orçamento, Contabilidade e Gestão no Setor Público. São Paulo: Atlas, 2018. 363 p. LIMA, D. V.; CASTRO, R. G. Contabilidade pública: integrando União, Estados e Muni- cípios (Siafi e Siafem). 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 230 p. MEDAUAR, O. Direito administrativo moderno. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Fó- rum, 2020. 462 p. PISCITELLI, R. B.; TIMBÓ, M. Z. F. Contabilidade pública: uma abordagem da adminis- tração financeira pública. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 452 p. QUINTANA, A. C.; MACHADO, D. P.; QUARESMA, J. C. C.; MENDES, R. C. Contabilidade pública: de acordo com as novas Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao setor público e a Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Atlas, 2011. 243 p. ROSA, M. B. Contabilidade do setor público. São Paulo: Atlas, 2011. 561 p. SECRETARIA DE ORÇAMENTO FEDERAL (SOF). Manual Técnico do Orçamento (MTO). 12. ed. Brasília: Secretaria de Orçamento Federal, 2021. 189 p. Disponível em: https://bit.ly/3NMd7lw. Acesso em: 25 jan. 2022. SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (STN). Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP). 9. ed. Brasília: Tesouro Nacional, 2021a. 563 p. Disponível em: https://bit.ly/3LDQQo2. Acesso em: 29 dez. 2021. SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL (STN). Manual de Demonstrativos Fiscais (MDF). 12. ed. Brasília: Tesouro Nacional, 2021b. 676 p. Disponível em: https://sisweb. tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:40050. Acesso em: 25 jan. 2022. SILVA, L. M. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2011. 376 p. 165 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender e distinguir as diferenças entre o regime contábil e o regime orçamentário, as principais características das receitas e despesas públicas sob o enfoque patrimonial e orçamentário; • reconhecer os diferentes tipos de subsistemas de informação contábil e aspectos gerais do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP); • descrever os atributos das contas contábeis do PCASP e as características qualitativas da informação contábil; • compreender e distinguir os estágios da execução orçamentária das receitas e despesas e as principais características dos restos a pagar e suas classificações e as principais características das diferentes modalidades de empenhos; • praticar os principais lançamentos contábeis da execução orçamentária das receitase despesas e descrever seus reflexos nas naturezas de informação contábil; • especificar e reconhecer as principais características da estrutura e objetivos do conjunto das Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público. Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONTABILIDADE PÚBLICA E SUBSISTEMAS DE INFORMAÇÕES TÓPICO 2 – CONTABILIZANDO NO SETOR PÚBLICO TÓPICO 3 – DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS AO SETOR PÚBLICO 166 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 167 TÓPICO 1 — CONTABILIDADE PÚBLICA E SUBSISTEMAS DE INFORMAÇÕES UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O principal escopo de um sistema de informação contábil é gerar informações úteis para a tomada de decisão. Nesse sentido, o sistema de informação contábil do setor público representa a estrutura de informações sobre identificação, mensuração, avaliação, registro, controle e evidenciação dos atos e fatos administrativos no âmbito do setor público e tem como objetivo propiciar o equilíbrio das finanças públicas, orientar e suprir o processo decisório, a prestação de contas, responsabilização (accountability) e instituir instrumentos de transparência (CFC, 2008b). Em suma, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público está organizada na forma de um sistema de informação, cujos subsistemas, embora possam oferecer produtos distintos devido as suas especificidades, convergem para o produto da contabilidade, que é a informação sobre o patrimônio público (CFC, 2008b). Portanto, com a retomada do objeto de estudo da contabilidade, a necessidade de evidenciar os fenômenos patrimoniais, a busca por um tratamento contábil padronizado convergente aos padrões internacionais e a necessidade da consolidação das contas públicas, foi criado o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público, que adequou os dispositivos legais vigentes às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (STN, 2021a). Para iniciarmos os estudos desta última unidade, no Tópico 1, discutiremos as questões relacionadas aos regimes de escrituração e suas variações orçamentárias e patrimoniais, tendo em vista a legislação vigente e os princípios da ciência contábil. Na sequência, abordaremos questões relacionadas à estruturação do sistema de informação contábil no setor público e, finalmente, apresentaremos a metodologia, estrutura, regras, conceitos e funcionalidades por trás do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público, a fim de compreender os diferentes aspectos, no que diz respeito às informações orçamentárias, patrimoniais, de compensação e de custos. Aos estudos! 168 2 REGIMES DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL Nos termos da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 (BRASIL, 1964, grifos nossos): “Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: as receitas nele arrecadadas; II- as despesas nele legalmente empenhadas”. Com base no exposto, a norma estabelece que, para atender às demandas de informações da execução orçamentária, a escrituração do exercício financeiro (1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano) referente às receitas e despesas orçamentárias serão contabilizadas segundo os regimes de caixa e competência, quando da ocorrência do fato gerador (STN, 2021a). Destaca-se que o referido dispositivo da norma se refere à informação de natureza orçamentária e não contábil, em vista disso, disciplinou- se que para atender as informações de natureza patrimonial, suas variações, sejam independentes ou resultantes da execução orçamentária, devem ser registradas e evidenciadas (BRASIL, 1964; STN, 2021a, grifo nosso): Art. 85. Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros. Art. 100 As alterações da situação líquida patrimonial, que abrangem os resultados da execução orçamentária, bem como as variações independentes dessa execução e as superveniências e insubsistência ativas e passivas, constituirão elementos da conta patrimonial. Art. 104. A Demonstração das Variações Patrimoniais evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e indicará o resultado patrimonial do exercício. Caro acadêmico, o patrimônio público pode ser entendido como o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados” pelos entes da Administração Pública, que carreguem ou representem “um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades públicas e suas obrigações (LIMA, 2018, p. 115). NOTA 169 Nesse sentido, observa-se que, além do registro contábil referente à execução orçamentária (Art. 35; BRASIL, 1964), a contabilidade deve, tempestivamente, registrar as variações patrimoniais de todos os atos e fatos ligados à administração orçamentária, financeira e patrimonial, por meio do registro das Variações Patrimoniais Aumentativas e das Variações Patrimoniais Diminutivas (regime de competência) (Art. 85; Art. 100; BRASIL, 1964), evidenciado as mudanças na composição do patrimônio e os resultados econômico-financeiros de um determinado exercício (Art. 104; BRASIL, 1964; STN, 2021a). Ressalta-se que, na literatura contábil, são reconhecidos dois regimes de escrituração contábil – caixa e competência – e outras duas variações decorrentes desses regimes, o regime de caixa modificado e o regime de competência modificado, em que (LIMA, 2018, p. 53): • Regime de Caixa: a receita somente é registrada quando os valores são efetivamente recebidos, e as despesas não são reconhecidas até que sejam efetivamente pagas. Consequentemente, o regime de caixa inclui todos os recebimentos e pagamentos efetuados no exercício, mesmo aqueles relativos a exercícios anteriores. • Regime de Competência: “as receitas e despesas são reconhecidas tendo como base seu fato gerador (entrega do bem ou serviço), independentemente da entrada ou da saída de recursos financeiros”, na data e no mês da transação efetuada. Logo, as receitas lançadas e não arrecadadas no exercício são consideradas como receitas desse exercício, ainda que a sua efetiva arrecadação ocorra num novo exercício. • Regime de Caixa Modificado: “as transações são reconhecidas sob o regime de caixa ao longo do exercício, mantendo-se, contudo, os livros contábeis abertos após o seu término para o registro de pagamentos e recebimentos referentes ao exercício anterior”. • Regime de Competência Modificado: “os ativos e passivos são reconhecidos em sua integralidade; porém, com limitações na mensuração, além de as transferências e subsídios governamentais permanecerem sendo registrados com base no regime de caixa”. Lima (2018, p. 54) explica que “entende-se por fato gerador, aquele que dá origem ao ato ou fato administrativo, a partir dos quais, mediante adequado processo de mensuração, são feitos o reconhecimento e o registro na contabilidade”. Usualmente, pelo regime de competência, os fatos econômicos serão registrados na contabilidade na data e no mês exato da transação, utilizando-se para o registro a data do documento. Por exemplo, uma despesa realizada em abril com pagamento programado para setembro, deve ser contabilizada pelo regime de competência em abril e pelo regime de caixa em setembro, quando do pagamento dessa despesa. Consequentemente, em razão da interpretação do Artigo 35 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, tem-se que as receitas orçamentárias serão reconhecidas apenasno momento de sua arrecadação (regime de caixa) e as despesas orçamentárias no momento que ocorrer a reserva da dotação orçamentária (regime de competência). 170 Nesse sentido, no que se refere às informações de natureza orçamentária, entende-se que o regime contábil adotado na Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o regime misto (STN, 2021a). Entretanto, com o processo de convergência aos padrões internacionais e que as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público estabelecem que a divulgação das Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público deve ser elaborada com base no regime de competência, ficou estabelecido que as transações devem ser registradas no momento da ocorrência do fato gerador (STN, 2021a). Portanto, no que se refere às informações de natureza patrimonial, para evidenciar os impactos econômicos das receitas e despesas no patrimônio, deve haver o registro da Variação Patrimonial Aumentativa e da Variação Patrimonial Diminutiva pelo regime de competência, passando a ser registrados e reconhecidos contabilmente nas demonstrações do período em que ocorrerem (STN, 2021a; LIMA, 2018). Apresentamos na Figura 1, uma exemplificação dos regimes de escrituração. FIGURA 1 – EXEMPLIFICAÇÃO DOS REGIMES DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO FONTE: O autor Portanto, para atender ao dispositivo da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 e aos fundamentos das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público, estabeleceu-se que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público deve “conciliar” o regime de caixa com o regime de competência, conforme demonstrado no Quadro 1. 171 FONTE: Adaptado de STN (2021a, p. 106) Como resultado dessa “conciliação”, no enfoque orçamentário, as receitas orçamentárias serão reconhecidas pelo regime de caixa e as despesas orçamentárias pelo regime de competência, enquanto no enfoque patrimonial, as receitas e despesas serão reconhecidas pelo regime de competência e devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, independentemente do seu recebimento ou pagamento. 2.1 RECEITA SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO A receita, sob o enfoque orçamentário representa todos os ingressos de recursos disponíveis para atender às despesas orçamentárias, devendo o registro da receita orçamentária ocorrer no momento da arrecadação (Art. 35; I; BRASIL, 1964). Rosa (2011) explica que o objetivo da adoção do regime de caixa na abordagem orçamentária visa alcançar o equilíbrio da arrecadação efetiva das receitas orçamentárias, ou seja, o efetivo ingresso dos recursos nos cofres públicos, com a execução das despesas orçamentárias, de forma que a execução das despesas orçamentárias não exceda os montantes já arrecadados. 2.2 RECEITA SOB O ENFOQUE PATRIMONIAL A receita, sob o enfoque patrimonial, deve ser contabilizada a partir da ocorrência do fato gerador e corresponde a aumentos na situação patrimonial líquida da entidade (CFC, 2016). Nesse sentido, uma vez ocorrido o fato gerador da receita, o direito de receber pode ser registrado pelo regime de competência em contrapartida da Variação Patrimonial Aumentativa (STN, 2021a). Analogamente, a Variação Patrimonial Aumentativa representa as receitas de uma empresa de Direito Privado, semelhante às contas de resultado das receitas da Contabilidade Tradicional. QUADRO 1 – REGIMES DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO CONTAS DE NATUREZA DE INFORMAÇÃO ORÇAMENTÁRIA CONTAS DE NATUREZA DE INFORMAÇÃO PATRIMONIAL Evento Critério Base Normativa Evento Critério Base Normativa Receita Orçamentária Arrecadação Art. 35; I; Lei nº 4.320/1964 Variação Patrimonial Aumentativa Regime de Competência NBC TSP Estrutura Conceitual Regime de Caixa Despesa Orçamentária Empenho Art. 35; II; Lei nº 4.320/1964 Variação Patrimonial DiminutivaRegime de Competência 172 São exemplos de realização da Variação Patrimonial Aumentativa (STN, 2021a, p. 168): • Transações com contribuintes e terceiros, quando eles efetuarem o pagamento ou assumirem compromisso firme de efetivá-lo, quer pela ocorrência de um fato gerador de natureza tributária, investidura na propriedade de bens anteriormente pertencentes à entidade, ou fruição de serviços por ela prestados; • Quando da extinção, parcial ou total, de um passivo, qualquer que seja o motivo, sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior; • Geração natural de novos ativos, independentemente, da intervenção de terceiros; e • No recebimento efetivo de doações e subvenções. Por sua vez, são exemplos de fatos geradores das receitas públicas (BRASIL, 1966): • O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada deles no território nacional (Art. 19); • O imposto, de competência da União, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização fora da zona urbana do Município (Art. 29); • O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil; a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia ou a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II (Art. 35; I-III); e • O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município (Art. 32); 2.3 DESPESA SOB O ENFOQUE ORÇAMENTÁRIO A despesa, sob o enfoque orçamentário, representa todas as despesas legalmente comprometidas, devendo a despesa orçamentária ser registrada no momento da utilização e/ou reserva da dotação orçamentária (Art. 35; II; BRASIL, 1964). Rosa (2011) explica que as despesas orçamentárias correspondem à aplicação dos recursos financeiros arrecadados após autorização prévia do Poder Legislativo, sendo reconhecidas quando da utilização do crédito orçamentário (fato gerador) consignado no orçamento anual. 173 Portanto, as despesas orçamentárias não podem exceder o montante dos valores fixados no orçamento anual e o montante dos valores estimados de arrecadação da receita orçamentária. Por exemplo, se um município espera arrecadar R$ 1.000.000,00 em receitas orçamentárias, o montante máximo de despesas orçamentárias que o município pode incorrer será de igual valor. 2.4 DESPESA SOB O ENFOQUE PATRIMONIAL A despesa, sob o enfoque patrimonial, deve ser contabilizada a partir da ocorrência do fato gerador e corresponde a reduções na situação patrimonial líquida da entidade (CFC, 2016). Nesse sentido, uma vez ocorrido o fato gerador da despesa, independentemente do pagamento, o registro contábil pode ser realizado pelo regime de competência do dever a ser paga em contrapartida da Variação Patrimonial Diminutiva (STN, 2021a). Analogamente, a Variação Patrimonial Diminutiva representa as despesas de uma empresa de Direito Privado, semelhante às contas de resultado das despesas da Contabilidade Tradicional. São exemplos de realização da Variação Patrimonial Diminutiva (STN, 2021a, p. 168): • Quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por transferência de sua propriedade para terceiro; • Diminuição ou extinção do valor econômico de um ativo; • Pagamento de despesas de manutenção e reparo de ativos; • Pagamento de despesas de energia elétrica; e • Pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo. Por sua vez, são exemplos de fatos geradores das despesas públicas: • Recebimento dos serviços e consumo de bens ou materiais; • Prestação de serviços dos servidores públicos (despesas de