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Sumário
IParte - A revelação
1. Revelação Divina ..............................................................................................................4
2. Paradoxo, Mistério e Contradição ........................................................................................7
3. Revelação Geral Imediata e Mediada
..................................................................................9
4. A Revelação Especial e a Bíblia
........................................................................................11
5. A Lei de Deus..................................................................................................................12
6. Os Profetas de Deus........................................................................................................13
7. O Cânon das Escrituras...................................................................................................14
8. A Interpretação da Bíblia.................................................................................................16
9. A Interpretação Pessoal ..................................................................................................18
IIParte - A Natureza e os Atributos de Deus
10. A Incompreensibilidade de Deus....................................................................................20
11. A Triunidade de Deus....................................................................................................22
12. A Auto-Existência de Deus.............................................................................................23
13. A Onipotência de Deus..................................................................................................24
14. A Onipresença de Deus..................................................................................................26
15. A Onisciência de Deus...................................................................................................27
16. A Santidade de Deus .....................................................................................................29
17. A Bondade de Deus.......................................................................................................30
18. A Justiça de Deus..........................................................................................................32
IIIParte - As Obras e os Decretos de Deus
19.A Criação......................................................................................................................34
20. A Providência ...............................................................................................................36
21. Os Milagres ..................................................................................................................38
22. A Vontade de Deus........................................................................................................39
23. A Aliança.......................................................................................................................41
24. A Aliança das Obras......................................................................................................42
IVParte - Jesus Cristo
25. A Divindade de Cristo....................................................................................................44
26. A Subordinação de Cristo..............................................................................................45
27. A Humanidade de Cristo................................................................................................46
28. A Impecabilidade de Cristo............................................................................................47
29. O Nascimento Virginal...................................................................................................48
30. Jesus Cristo como o Unigênito.......................................................................................49
31. O Batismo de Cristo.......................................................................................................51
32. A Glória de Cristo..........................................................................................................52
33. A Ascensão de Cristo.....................................................................................................53
34. Jesus Cristo como Mediador..........................................................................................55
35. Os Três Ofícios de Cristo ...............................................................................................56
36. Os Títulos de Jesus.......................................................................................................57
PARA COMPREENDER AS ESCRITURAS
O preparo doutrinário dos convertidos é sempre um desafio para a igreja. Onde encon-
trar material? Qual será o nível adequado9 Que formatação e abordagem serão mais conveni-
entes?
É um privilégio apresentar Verdades Essenciais da Fé Cristã aos pastores e líderes. Cria-
da por RC Sproul, mestre em Bíblia, essa obra foi originalmente publicada em um só volume,
mas decidimos dividi-la em três cadernos e acrescentar as perguntas para avaliação e discus-
são, buscando torná-la mais útil no preparo dos crentes. A lista de assuntos dos dois outros
cadernos encontra-se em cada um deles.
Nossa época defende que basta crer, não importa em quê. Uma vez que a fé cristã é pro-
posicional e a Palavra de Deus é a regra de fé e prática para o cristão, o conflito está armado e
precisaremos de boa bagagem bíblica para resistir aos ataques do subjetivismo, do relativismo
ou do agnosticismo dos nossos dias.
Esta série certamente vai ajudar-nos a melhor compreender as Escrituras e a termos
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mais firmeza em nossa fé.
Por isso, bom estudo.
Cláudio Marra–Editor
PARTE
I
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REVELAÇÃO DIVINA 1
Salmos 19.1-14; Efésios 3.1-13; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4
Tudo o que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar
significa “tirar o véu”. Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que está
encoberto.
Quando meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual
para comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes,
fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão “Vamos Fazer
um Trato”. Eu escondia os presentes destinados a ele, por exemplo, dentro de uma
gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira. Então lhe dava algumas opções:
“Você pode ganhar o que está na gaveta da minha escrivaninha ou o que está no meu
bolso”. O ponto principal do jogo era o “grande trato do dia”. Eu colocava três
cadeiras, uma ao lado da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol
encobria um presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na
segunda o presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele
havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade.
Meu filho escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final,
sempre permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava
determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente principal
junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta aparecendo por
baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou cuidadosamente aquela
cadeira. Ganhei de novo!
A parte mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava
escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura especulação.
A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o lençol era removido
e o presente ficava exposto.
O mesmo acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre
Deus é mera tolice. Se queremos conhecê-lode verdade, temos de depender daquilo
que ele revela sobre si mesmo.
A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na
natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio desonhose visões.
As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas
Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em Jesus
Cristo, tornando-se ser humano — o que os teólogos chamam de “encarnação”.
O autor da Carta aos Hebreus escreveu:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Hebreus 1.1,2
Embora a Bíblia fale das “diversas maneiras” em que Deus se revela,
distinguimos entre dois tipos principais de revelação — a geral e a especial.
A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e
(2) é revelada para uma audiência geral.
Conteúdo geral
A revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. “Os céus
proclamam a glória de Deus”, diz o salmista. A glória de Deus é manifesta nas obras
das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que nenhuma criatura pode
deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e sua divindade (Rm 1.18-23).
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A revelação na natureza, porém, não proporciona uma revelação plena de Deus. Não
nos dá informações sobre o Deus Redentor que encontramos na Bíblia. O Deus que se
revela na natureza, entretanto, é o mesmo Deus que se revela na Bíblia.
Público geral
Nem todas as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do
Evangelho. A luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugares, em
todo o tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem
um testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória
do seu Criador.
O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro
plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença.
Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua
própria mãe. Não existe a tal “Mãe Natureza”. A natureza em si mesma não tem
poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si, é estéril. O poder de
produzir vida reside no Autor da natureza—Deus. Colocar a natureza como a fonte de
vida é confundir a criatura com o Criador. Todas asformas de adoração da natureza,
portanto, são atos de idolatria e silo abomináveis para Deus.
A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O
ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a
Bíblia diz: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1). Quando as
Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de “insensato”, elas estão
fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa
ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor
é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura.
DEUS
REVELAÇÃO
SERES HUMANOS
Semelhantemente, o agnóstico nega a validade da revelação geral. () agnóstico,
porém, é menos berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de
Deus. Pelo contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de
uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu
julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. A luz da
clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é menos
abominável para Deus do que a do ateísta militante.
Para qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração'estão abertos, a glória de
Deus é maravilhosa de se ver — desde os bilhões de universos no firmamento, até as
partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós
servimos!
Sumário
1. O cristianismo é uma religião revelada.
2. A revelação de Deus é uma automanifestação. Ele remove o véu que nos impede de
conhecê-lo.
3. Não podemos conhecer a Deus por meio de especulação.
4. Deus se revelou de várias maneiras ao longo da História.
5. A revelação geral é comunicada a todos os seres humanos.
6. O ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem
ser a verdade.
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7. A insensatez tem por fundamento a negação de Deus.
8. A sabedoria tem por fundamento o temor de Deus.
Para discussão e avaliação
1. Qual a diferença entre “Conteúdo geral” e “público geral”?
2. Que argumentos o autor usa para combater a ideia da natureza como “mãe”?
3. Qual a diferença entre ateísmo e agnosticismo?
4. Que revelações sobre o caráter e a natureza de Deus podem ser observadas na natureza?
5. Há alguma forma convincente de tentarmos explicar a origem da vida e de todas as
coisas criadas excluindo completamente a existência de Deus? Porquê?
6. Certas pessoas ouvem a pregação da Palavra de Deus por muitos anos sem nenhuma
reação diante de suas verdades. Permanecem indiferentes a tudo o que diz respeito a
Deus e às coisas santas. Mas, no momento em que se convertem, tudo aquilo que sempre
ouviram com indiferença passa a fazer sentido para eles e de repente sua atenção é
despertada. O que aconteceu com essas pessoas que chegam até mesmo a dizer: “Como é
que eu não compreendi isso antes?”
Revelação geral:
Deus, o Criador.
Revelação Especial:
Deus o Redentor, é
revelado aos que
ouvem.
Revelação comunicada a
todos os humanos
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PARADOXO, MISTÉRIO E CONTRADIÇÃO 2
Mateus 13.11; Mateus 16.25; Romanos 16.25-27; 1 Coríntios2.7; 1Coríntios 14.33
Ainfluência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as religiões orien-
tais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no entendimento. Uma nova forma de misti-
cismo tem surgido, a qual exalta o absurdo como a marca registrada da verdade religiosa. Lembre-
mo-nos da máxima do Zen Budismo, de que “Deus é uma mão batendo palmas” como uma ilustra-
ção desse padrão.
Dizer que Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação
confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamento. Soa “profundo”
e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e descobrirmos que na raiz é simplesmente destituída
de sentido.
A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opõe ao Autor
de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão.
O Cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada, porque irraci-
onalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na própria Bíblia. Exis-
tem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas linhas
divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distingui-las.
Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos. Ne-
nhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas sobre Deus que sa-
bemos serem verdadeiras, a despeito da nossa incapacidade de entendê-las totalmente. Não temos
um ponto de referência humano para entender, por exemplo, um ser que é três em termos de pes-
soa, mas um só em essência (a Trindade), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas distin-
tas, humana e divina (a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são “elevadas”
demais para podermos compreendê-las.
Encontramos problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade exis-
te, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. Amaioria das
pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do mo-
vimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexospor milênios. Há muito mistério sobre a
realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto no absurdo. A
irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal para qualquer
verdade.
O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como “uma cãibra entre as
orelhas”. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de
paradoxofreqüentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia clara-
mente o papel legítimo e a função do paradoxo. A palavraparadoxo vem de uma raiz grega que signi-
fica “parecer ou aparentar”. Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista “parecem”
contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, freqüentemente pode-se encontrar
as soluções. Por exemplo, Jesus disse: Quem perde a vida por minha causa achá-la-á (Mt.10:39).
Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que “Deus é uma mão batendo palmas”. Soa
como uma contradição. O que Jesus queria dizer, contudo, é que se alguém perde sua vida em um
sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos diferentes,
não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo relacio-
namento com a mesma pessoa.
O termo paradoxo é freqüentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição,
agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma
contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da não-contradição
declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não
pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamen-
tal de todas as leis da lógica.
Ninguém pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente incom-
preensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto, certamente ele pode reco-
nhecê-las pelo que são—falsidades. A palavra contradiçãovem do latim “falar contra”. Às vezes é
chamada uma antinomia, que significa “contra a lei”. Para Deus, falar em contradições seria ser in-
telectualmente anormal, falar com uma língua bipartida. Até mesmo insinuar que o Autor da ver-
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dade poderia cair em contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A contra-
dição é a arma do mentiroso — o pai da mentira, que despreza a verdade.
Existe uma relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir ambos.
Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de contato entre ambos os
conceitos é seu caráter ininteligível. Os mistérios podem não ser claros para nós agora simplesmen-
te porque nos falta a informação ou a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete que no céu te-
remos mais luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode resolver os atu-
ais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na Terra para resolver uma ób-
via contradição
Sumário
1.Paradoxoé uma contradição aparenteque, quando examinada com mais cuidado, pode
apresentar uma solução.
2.Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser solucionado.
3.Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. E impossível ser resolvida, tanto pe-
los mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como no mundo vindouro.
Para discussão e avaliação
1. Quais são alguns dos mistérios da fé e da natureza que o autor cita neste capítulo?
2. Qual é o ponto em comum entre mistério e contradição? E em que aspecto eles são dife-
rentes?
3. Por causa dos seus paradoxos, a Bíblia tem sido considerada a “mãe de todas as heresi-
as”. Com que auxílio contamos, a partir de textos bíblicos como 2 Coríntios 4.3-6 e João
14.16,17 e 26 para não cairmos no erro de ensinar falsas idéias a partir de textos extraí-
dos da própria Bíblia?
4. A Bíblia fala de um mistério que esteve oculto desde os tempos eternos, mas que foi reve-
lado à humanidade através da vida e obra de Jesus Cristo (Rm.16.25-27). Você crê que
outros mistérios só serão revelados na eternidade, quando estivermos junto ao Pai? Quais
seriam alguns destes mistérios para você?
5. Qual é a sua atitude diante da Bíblia quando você se depara comtextos que apresentam
aparentes contradições?
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REVELAÇÃO GERAL IMEDIATA E MEDIADA 3
Salmos 19.1-4; Atos 14.8-18; Atos 17.16-34; Romanos 1.18-23; Romanos 2.14-15
Quando eu era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a
ordem usando o advérbio imediatamente. Ela dizia: “Filho, vá para o seu quartoimediatamente”.
Minha mãe usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia
ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo imediato significa algo
mais. Significa que algo acontece sepassar por nenhum agente, objeto ou meio intermediários. E
uma ação que ocorre sem a participação de intermediários.
Na teologia bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral— aquela que é comunica-
da por meio de um agente intermediário e aquela que é comunicada diretamente. Quando falamos
de revelação geral mediada, nos referimos à revelação transmitida por meio de alguma coisa. Quan-
do os céus revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus manifesta sua gló-
ria. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação dá testemunho do seu
Criador.
A Bíblia diz que a toda a Terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com freqüên-
cia nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver de maneira superficial. Es-
tamos desatentos diante da maravilha que Deus nos proporciona em sua gloriosa criação. Estamos
desligados e fora de contato. As idéias religiosas são inúteis se não expressam algo real.
A presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes estamos
cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do que simplesmente pa-
rar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um aroma suave ou um perfume agradável.
Ela transpira a glória do seu Criador. Todos nós estamos em contato com a revelação divina, quan-
do reconhecemos a glória de Deus na natureza. A natureza não é divina. A glória de Deus, entretan-
to, enche a natureza e é revelada nela e por meio dela.
Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela direta-
mente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata.
O apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João Calvino fa-
lou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada pessoa. Ele disse:
Nós, inquestionavelmente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da di-
vindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo
conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmen-
te amplia. (Institutas, II,I,43).
Todas as culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a incurável
natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no seu âmago. O caráter de tal
religiosidade pode ser grosseiramente idolatra, mas até mesmo a idolatria, ou melhor, principalmen-
te a idolatria, dá uma evidência desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas jamais des-
truído. Lá bem no fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas Leis. Pro-
curamos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por mais que nos es-
forcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode ser abafada, mas jamais ser des-
truída.
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Sumário
1. A glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediada pela criação de Deus.
2. Os seres humanos são religiosospor natureza.
3. Deus implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se
chama revelação geral imediata.
Para discussão e avaliação
1. Como a natureza é instrumento para a revelação geral mediada de Deus?
2. Onde é que Deus implantou o senso inato de si mesmo nos seres humanos?
3. Que fato confirma a natureza religiosa da humanidade?
4. Se toda a humanidade tem a lei de Deus gravada em seus corações, porque nem to-
dos obedecem a esta lei?
5. É possível pessoas não terem o conhecimento da Palavra de Deus e mesmo assim le-
varem vidas honestas e íntegras, em relação aos padrões dos homens?
6. A revelação de Deus através da natureza é suficiente para a salvação de alguém? (Rm
1.18-23)
7. A consciência humana funciona como um indicador da existência de Deus? Porquê?
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REVELAÇÃO ESPECIAL E A BÍBLIA 4
Salmos 119; João 17.17; 1 Tessalonicenses 2.13; 2 Timóteo 3.15-17; 2 Pedro 1.20-21
Quando foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: “Está
escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt
4.4). Historicamente, a igreja tem efeito ecoar o ensino de Jesus, afirmando que a Bíblia é a
vox Dei, a “voz de Deus” ou o verbum Dei, a “Palavra de Deus”. Chamar a Bíblia de “a Palavra
de Deus” não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de Deus, ou que caiu do céu
num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a atenção para seus muitos autores
humanos. Se a estudarmos cuidadosamente, percebemos que cada autor humano tem seu
próprio estilo literário peculiar, seu próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros
aspectos. Já que a produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela conside-
rada Palavra de Deus?
Bíblia é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, acreditada pela
igreja, de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias opiniões,
mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Toda Escritura
é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). A palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que
significa “sopro de Deus”. Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar
de nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando.
Embora a Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a
fonte suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas palavras, di-
zendo: “Assim diz o Senhor”. Por isso Jesus também podia dizer: “A tua palavra é a verdade”
(Jo 17.17) e “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35).
A palavra inspiração também chama a atenção para o processo pelo qual o Espírito San-
to superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para que as pa-
lavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos como Deus superin-
tendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto, não significa que Deus ditou sua
mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia. Ao invés disso, o Espírito Santo comunicou as
exatas palavras de Deus por intermédio dos escritores humanos.
Os cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última análise,
Deus é seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso, sua palavra é totalmente
verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer literatura humana, elaborada pelos meios
normais, está sujeita a erros. A Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia
foi inspirada por Deus e a sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros.
Isso não significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de erro,
mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também não significa
que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O escritor do livro de Eclesiastes,
por exemplo, declara que “no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhe-
cimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). O escritor estava falando do ponto de vista do de-
sespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de acordo com ou-
tros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao revelar a falsa argumentação de
um homem desesperado.
Sumário
1. A inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra.
2. Deus é a fonte suprema da Bíblia.
3. Deus é o superintendente supremo da Bíblia.
4. Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros.
Para discussão e avaliação
1. O que significa a expressão “A Bíblia é um livro divino-humano”?
2. O que é inspiração?
3. Por que o autor afirma que Deus é a fonte suprema da Bíblia?
4. O que o autor quis dizer ao afirmar que Deus é o superintendente da Bíblia?
5. Sua fé nas Escrituras seria abalada caso alguma escavação arqueológica descobrisse hoje uma
terceira carta que Paulo escreveu aos coríntios e que não foi incluída na Bíblia?
6. Como é que podemos saber de fato que o que lemos na Bíblia vem de Deus?
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7. Há alguma coisa, hoje, além da Bíblia, que dita regras e normas de condutas para a vida dos
crentes? Se sim, a sua autoridade é inferior, superior ou está em pé de igualdade com as Escri-
turas Sagradas?
8. “O sopro inspirativo” de Deus ainda sopra por outros meios hoje? Quais seriam alguns deles?
A LEI DE DEUS 5
Êxodo20:1-17; Salmos 115:3; Mateus 5:17-20; Romanos 7:7-25; Gálatas3:23-29
Deus governa seu universo por meio de leis. A própria natureza opera sob seu governo
providencial. As assim chamadas leis da natureza descrevem meramente a maneira normal de
Deus estabelecer a ordem em seu universo. Essas "leis" são expressões da sua vontade sobe-
rana.
Deus não está sujeito a nenhuma lei fora de si mesmo. Não existe nenhuma regra cósmi-
ca independente a qual Deus seja obrigado a obedecer. Ao contrário, Deus é a sua própria lei.
Isso significa simplesmente que ele age de acordo com seu próprio caráter moral, o qual não
só é moralmente perfeito, mas também é o padrão supremo da perfeição. Suas ações são per-
feitas porque sua natureza é perfeita e ele sempre age de acordo com sua natureza. Portanto,
Deus nunca é arbitrário, extravagante ou caprichoso. Ele sempre faz o que é certo.
Como criaturas de Deus, também se requer de nós que façamos o que é certo. Deus exige
que vivamos segundo sua lei moral, a qual ele nos revelou na Bíblia. Alei de Deus é o padrão
supremo de justiça e a norma suprema para se julgar o certo e o errado. Como nosso criador
soberano, Deus tem autoridade para impor obrigações sobre nós, exigir nossa obediência e
obrigar nossa consciência. Deus também tem o poder e o direito de punir a desobediência
quando violamos sua lei. (Pecado pode ser definido como desobediência à lei de Deus.)
Algumas leis na Bíblia são baseadas diretamente no caráter de Deus. Tais leis refletem
os elementos transculturais e permanentes das relações divinas e humanas. Outras leis foram
planejadas de acordo com condições temporárias da sociedade. Isso significa que algumas leis
são absolutas e eternas, enquanto que outras podem ser anuladas por Deus por razões histó-
ricas, tais como as leis alimentares e cerimoniais de Israel. Somente o próprio Deus pode re-
vogar tais leis Os seres humanos em hipótese alguma têm a autoridade para anular as leis de
Deus
Não somos autônomos. Ou seja, não podemos viver de acordo com nossas próprias leis.
A condição moral da humanidade é de heteronomia: vivemos sujeitos à lei de outrem. A forma
específica da heteronomia sob a qual vivemos é a teonomia, ou seja, a lei de Deus.
Autonomia = auto nomos = lei própria
Heteronomia = hetero nomos = lei de outrem
Teonomia = Theos nomos = lei de Deus
Sumário
1. Deus governa o universo por meio de leis. A lei da gravidade é um exemplo de uma das
leis de Deus para a natureza. As leis morais de Deus são exibidasnos Dez Mandamentos
2. Deus tem a autoridade para impor obrigações sobre suas criaturas.
3. Deus age de acordo com a lei do seu próprio caráter.
4. Deus revela sua lei moral à nossa consciência e nas Escrituras.
5. Somente Deus tem a autoridade para revogar suas leis.
Para discussão e avaliação
1.Por que as leis cerimoniais e dietéticas de Israel foram anuladas por Deus?
2. Como soberano, que autoridade tem Deus sobre nós, em relação à lei?
3.Por que a lei de Deus é perfeita?
4.Que conseqüências podemos sofrer por desobedecer a lei de Deus? Cite alguns exem-
plos.
5. Que privilégios obtemos em obedecer à lei de Deus?
6. As leis de Deus privam o homem de privilégios que ele poderia desfrutar caso elas não
13
existissem?
OS PROFETAS DE DEUS 6
Deuteronômio 18.15-22; Isaías 6; Joel2.28-32; Mateus 7.15-20; Efésios 4.11-16
Os profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de Deus e
que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam transmitir a nós. Deus
transmitiu sua palavra através dos lábios e dos escritos dos profetas.
A profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação atuais da palavra
de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de tal maneira pelo Espírito Santo que su-
as palavras eram palavras de Deus. Por isso as mensagens proféticas geralmente eram prefaciadas com
a frase: "Assim diz o Senhor".
Os profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta à adoração
pura e à obediência a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira como a adoração dos
israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual, eles não condenavam nem atacavamas for-
mas originais de adoração que Deushaviadado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem
anarquistas religiosos Sua tarefa era purificar, não destruir, reformar, não substituir o culto de Israel.
Os profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade. Eram a
consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também funcionavam como promotores le-
gais da aliança de Deus. Eles “intimavam” a nação por ter violado os termos da aliança com Deus.
Os profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente para serem
Seu porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para exercê-la. O chamado imediato de
Deus, juntamente com o poder do Espírito Santo, constituíam as credenciais dos profetas.
Os falsos profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os oráculos de
Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões — dizendo ao povo somente o que este queria ouvir.
Os verdadeiros profetas freqüentemente eram severamente perseguidos e rejeitados por seus contempo-
râneos por se recusarem a comprometer a proclamação de todo o conselho de Deus.
Geralmente, os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e "profetas menores". Essa
distinção não se refere à maior ou menor importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos
canônicos. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram
mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas menores, porque seus livros são bem menores.
Os apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas do Antigo
Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o fundamento da igreja.
Sumário
1. Os profetas do Antigo Testamento foram agentes da revelação
divina.
2. A profecia envolvia pré-anúncio e anúncio.
3. Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos isra-
elitas.
4. Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham au-
toridade para
serem seus profetas.
5. Os falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e fala-
vam o que o povo queria ouvir.
6. Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume enão pela importân-
cia dos seus escritos.
Para discussão e avaliação
1. Quais eram as credenciais de um profeta no Antigo Testamento?
2. Qual era o ministério dos profetas no Antigo Testamento?
3. Hoje em dia, o dom de profeta tem sido muitas vezes entendido pelas igrejas evangélicas como
aquela pessoa que prevê o futuro, revelando coisas tais como o que vai acontecer com a vida dapessoa,
com quem ela vai se casar, qual emprego vai arrumar etc. Este tipo de profeta segue o modelo mostrado
no A. Testamento?
4. Há falta de profetas na igreja de hoje, que mostrem os seus desvios e a chamem de volta ao ar-
rependimento e à prática da justiça? Por quê?
5. Seriam esses profetas hoje tão necessários para a igreja como foram os da época do Antigo
Testamento para o povo de Israel? Por quê?
6. Os seus ditos e/ou escritos teriam o mesmo peso de autoridade que os que estão registrados
IN
S
P
IR
A
Ç
Ã
O
DEUS = Autor Supremo
Autores Humanos
BÍBLIA
14
na Bíblia?
7. Quais aspectos da vida e do culto da igreja evangélica seriam repreendidos caso os profetas do
Antigo Testamento realizassem seus ministérios hoje?
O CÂNON DAS ESCRITURAS 7
Lucas 24.44-45; 1 Coríntios 15.3-8; 2 Timóteo 3.16-17; 2 Pedro 1.19-21; 2 Pedro 3.14-16
Geralmente pensamos na Bíblia como um livro grande. Na verdade, trata-se de uma pe-
quena biblioteca composta de 66 livros individuais. Juntos, tais livros compõem o que cha-
mamos cânon da Escritura Sagrada. O termo cânon deriva-se de uma palavra grega que signi-
fica "vara de medir", "padrão", ou "norma". Historicamente, a Bíblia tem sido a regra autorita-
tiva de fé e prática na Igreja.
Com referência aos livros que compõem o Novo Testamento, existe completo acordo entre
católicos romanos e protestantes. Existe, entretanto, forte divergência entre os dois grupos so-
bre o que deveria ser incluído no Antigo Testamento. Os católicos romanos consideram os li-
vros chamados apócrifos como sendo canônicos, enquanto o protestantismo histórico não os
considera. (Os livros apócrifos foram escritos depois que o Antigo Testamento já estava com-
pleto e antes que começasse o Novo Testamento.) O debate concernente aos apócrifos concen-
tra-se na questão mais ampla do que era considerado canônico pela comunidade judaica.
Existem fortes evidências de que os apócrifos não eram incluídos no cânon palestino dos ju-
deus. Por outro lado, tudo indica que os judeus que viviam no Egito teriam incluído tais livros
(traduzidos para o grego) no cânon alexandrino. Evidências recentes, entretanto, lançam dúvi-
das sobre isso.
Alguns críticos da Bíblia argumentam que a Igreja não tinha a Bíblia como tal até quase
o início do quinto século. Isso, porém, é uma distorção de todo o processo do desenvolvimento
canônico. A Igreja reuniu-se em concilio em várias ocasiões nos primeiros séculos para decidir
as disputas sobre quais livros pertenciam propriamente ao cânon. O primeiro cânon formal do
Novo Testamento foi criado pelo herege Marcião, o qual produziu sua própria versão expurga-
da da Bíblia. Para combatê-lo, a Igreja descobriu que era preciso declarar qual o conteúdo
exato do Novo Testamento.
Embora a grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo Testa-
mento claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve al-
guns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito debatida. Esses li-
vros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.
Houve também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não fo-
ram incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas
por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. (Esse
ponto é menosprezado pelos críticos que alegam que mais de dois mil volumes resultaram
numa lista de 27. Daí eles perguntam: "Quais são as probabilidadesde que os 27 selecionados
sejam os corretos?") De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon fo-
ram realmente levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Di-
daquê. Estes livros não foram incluídos no cânon das Escrituras porque não foram escritos
por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada
aos apóstolos
Alguns cristãos ficam preocupados com o fato de que houve um processo de seleção his-
tórica. Ficam perturbados com a dúvida: "Como podemos saber que o cânon do Novo Testa-
mento inclui os livros certos?" A teologia tradicional católica romana responde a essa pergunta
apelando para a infalibilidade da igreja. A igreja então é vista como "criadora" do cânon, tendo,
portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. O protestantismo clássico nega que a igre-
ja seja infalível e também que ela "tenha criado" o cânon. A diferença entre o catolicismo ro-
mano e o protestantismo pode ser resumida da seguinte maneira:
Visão do Catolicismo Romano.
O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis.
Visão do Protestantismo Clássico.
O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis.
15
Visão dos Críticos Liberais.
O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis.
Embora os protestantes creiam que Deus teve um cuidado especial e providencial para
assegurar que os livros certos fossem incluídos, nem por isso consideram que ele tenha torna-
do a igreja infalível. Os protestantes também lembram aos católicos romanos que a igreja não
"criou" o cânon A igreja identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das Escritu-
ras. O termo usado pela igreja em Concilio foi "recipimus", que significa "nós recebemos".
Qual foi o critério de avaliação dos livros? As assim chamadas marcas de canonicidade
incluíam o seguinte: 1. Tinham de ter autoria ou endosso apostólico; 2 Tinham de ser recebi-
dos como autoritativos pela igreja primitiva; 3. Tinham de estar em harmonia com os livros a
respeito dos quais não havia dúvidas.
Embora numa época de sua vida Martinho Lutero tenha questionado a canonicidade de
Tiago, posteriormente mudou de opinião. Não existe nenhuma razão séria para se ter um mí-
nimo de dúvida de que os livros atualmente incluídos no cânon do Novo Testamento não se-
jam os verdadeiros.
Sumário
1. O termo cânon deriva-se do grego e significa "norma" ou "padrão". O cânon é usado
para descrever a lista autoritativa de livros que a igreja reconheceu como Escrituras Sagradas,
e portanto sua "regra" de fé e prática.
2. Além dos 66 livros da Bíblia aceitos pelos protestantes, os católicos romanos também
aceitam os Livros Apócrifos como Escritura autoritativa.
3. Para combater as heresias, a Igreja descobriu que era preciso declarar quais livros ti-
nham sido reconhecidos como sendo autoritativos.
4. Existem alguns livros no cânon que foram assuntos de debate (Hebreus, Tiago, 2 Pe-
dro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) e alguns livros cuja inclusão foi considerada, mas que
não foram admitidos no cânon, incluindo 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê.
5. A Igreja não criou o Cânon, mas apenas reconheceu os livros que tinham as marcas de
canonicidade e que portanto tinham autoridade na Igreja.
6. As marcas de canonicidade incluíam: (1) autoria ou endosso apostólico; (2) autoridade
reconhecida na Igreja primitiva e (3) estar em harmonia com os livros que já faziam parte in-
questionável do cânon.
Para discussão e avaliação
1. Por que os livros apócrifos não foram aceitos pelos protestantes como sendo canôni-
cos?
2. Por que os livros de 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê não foram incluídos
no cânon do Novo Testamento?
3. Como podemos saber que o cânon do Novo Testamento incluiu os livros certos?
4. Qual a diferença entre a visão dos católicos romanos, dos protestantes e da crítica li-
beral quanto ao cânon?
5. Que perigo está por trás do fato de aceitarmos a doutrina de que a Igreja criou o câ-
non e não apenas o reconheceu?
6. Podem homens falhos decidir qual livro é e qual não é inspirado por Deus? Que ins-
trumentos utilizaram para isso?
7. Em que podemos identificar a soberania do Espírito Santo na formação do cânon?
16
A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 8
Atos 15.15-16; Efésios 4.11-16; 2 Pedro 1.16-21; 2 Pedro 3.14-18
Qualquer documento escrito, para poder ser compreendido, precisa ser interpretado.
Nosso país possui indivíduos altamente capacitados, cuja tarefa diária é interpretar a Consti-
tuição. Eles formam o Supremo Tribunal Federal. Interpretar a Bíblia é uma tarefa muito mais
solene do que interpretar a Constituição de um país. Requer grande cuidado e diligência.
A Bíblia é o seu próprio Supremo Tribunal. A regra principal de interpretação bíblica é:
"A Bíblia é sua própria intérprete". Esse princípio significa que a Bíblia deve ser interpretada
pela própria Bíblia. O que é obscuro em uma parte da Bíblia pode ser esclarecido em outra
parte. Interpretar a Bíblia pela Bíblia significa que não devemos colocar uma passagem contra
outra. Cada texto deve ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas tam-
bém à luz do contexto da Bíblia como um todo.
Além disso, entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação
da Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito dessa idéia de
interpretação. Interpretação literal, estritamente falando, significa que devemos interpretar a
Bíblia assim como está escrito. Um substantivo é interpretado como substantivo e um verbo,
como um verbo. Quer dizer que todas as formas usadas na redação da Bíblia devem ser inter-
pretadas de acordo com as regras normais que regem tais formas. Poesia deve ser tratada co-
mo poesia. Relatos históricos devem ser tratados como História. Parábolas como parábolas,
hipérboles como hipérboles, e assim por diante.
Nesse aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com as regras que governam a in-
terpretação de qualquer outro livro. Em algumas de suas características, a Bíblia é diferente
de qualquer outro livro que já foi escrito. Em termos de interpretação, entretanto, deve ser tra-
tada como qualquer outro livro.
A Bíblia não deve ser interpretada de acordo com nossos próprios desejos e preconceitos.
Devemos buscar entender o que ela de fato diz e nos guardarmos de forçar nossos próprios
pontos de vista sobre ela. Este é o passatempo dos hereges: buscar base bíblica para doutri-
nas falsas que não têm base no texto. O próprio Satanás citou as Escrituras de maneira ilegí-
tima, num esforço para seduzir Jesus Cristo a pecar (Mt 4.1-11).
A mensagem básica da Bíblia é simples e clara o suficiente para que até uma criança
possa entender. Mesmo assim, o "alimento sólido" da Bíblia requer estudo e atenção cuidado-
sos para ser entendido adequadamente. Algumas questões tratadas na Bíblia são tão comple-
xas e profundas que mantêm os maiores eruditos constantemente envolvidos no esforço de re-
solvê-las.
Existem alguns princípios de interpretação que são básicos para todo estudo saudável da
Bíblia. Incluem o seguinte: (1) As narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens de
"ensino". Por exemplo, a história de Abraão oferecendo Isaque no Monte Moriá pode sugerir
que Deus não sabia que Abraão tinha uma fé genuína. As passagens didáticas da Bíblia, po-
rém, deixam claro que Deus é onisciente; (2) aquilo que é implícito sempre deve ser interpre-
tado à luz do que é explícito; nunca deve ser o contrário. Isto é, se um texto específico parece
ter uma idéia ou lição implícita, não devemos aceitar a implicação como correta se for contrá-
ria a algo que é declarado explicitamente em outro lugar da Bíblia; (3) as leis da lógica gover-
nam a interpretação da Bíblia. Por exemplo, se sabemos que todos os gatos têm cauda, não
podemos deduzir que alguns gatos não têm. Se é verdade que alguns gatos não têm cauda,
então nãopode ser verdade também que todos os gatos têm. Isso não é apenas uma questão
de leis técnicas de inferência; é uma questão de senso comum. Mesmo assim, a grande maio-
ria das interpretações equivocadas da Bíblia é causada por deduções ilegítimas extraídas da
Bíblia.
17
Sumário
1. A Bíblia é sua própria intérprete.
2. Devemos interpretar a Bíblia literalmente — assim como está escrito.
3. A Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro.
4. Partes obscuras da Bíblia devem ser interpretadas pelas partes mais claras.
5. O implícito deve ser interpretado à luz do explícito.
6. As leis da lógica governam aquilo que pode ser racionalmente deduzido da Bíblia.
Para discussão e avaliação
1. O que significa a regra principal da interpretação bíblica "A Escritura sagrada é sua
própria intérprete"?
2. O que o autor quer dizer quando afirma que a Bíblia deve ser interpretada como qual-
quer outro livro?
3. O que significa para você o fato de que a Bíblia tanto pode ser entendida por uma cri-
ança, quanto há passagens que envolvem um esforço intenso e prolongado por parte dos es-
tudiosos para esclarecê-la?
4. Qual é o principal motivo pelo aparecimento da maioria das interpretações errôneas
de passagens bíblicas?
5. De que maneira uma correta interpretação da Bíblia pode afetar a vida de alguém?
6. Se todos podem ler e entender a Bíblia, não corremos o risco de haver diferentes in-
terpretações para a mesma passagem? Como fazemos num caso destes?
7. Como o sentido de um texto obscuro pode ser esclarecido?
18
A INTERPRETAÇÃO PESSOAL 9
Neemias 8.8; 2 Timóteo 2.15; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4; 2 Pedro 1.20,21
Dois dos grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação
pessoal da Bíblia e a sua tradução para a língua do povo. O próprio Lutero colocou em foco
essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um concilio no qual foi acu-
sado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele declarou:
"A menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará cativa da
Palavra de Deus — não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado.
Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que
Deus me ajude. Amém."
A declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua vernácula,
tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja Católica Romana o direito exclusivo de interpre-
tação. O povo não mais ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as tradições
ou ensino eclesiástico como tendo autoridade igual à da Palavra de Deus. Segundo, colocou a
interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais problemática. Levou aos mesmos ex-
cessos sobre os quais a Igreja Romana estava envolvida — interpretações subjetivas do texto
que levam ao afastamento da fé cristã histórica.
O subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da inter-
pretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de interpretar a Bíblia da
maneira que bem entende. Juntamente com o "direito" de interpretar as Escrituras vem tam-
bém a responsabilidade de interpretá-las corretamente. Os crentes têm liberdade de descobrir
as verdades das Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias verdades. São
chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e evitar os perigos do subjeti-
vismo.
Portanto, buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a
Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar entender o que a Pala-
vra diz em seu contexto antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de aplicá-
la à nossa vida. Uma declaração em particular pode ter numerosas aplicações pessoais possí-
veis, mas só pode ter um único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva junto
consigo a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de cera" que pode
ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete.
Sumário
1. A Reforma deu à Igreja uma tradução da Bíblia na língua comum e a cada crente o di-
reito e a responsabilidade de interpretar a Bíblia pessoalmente.
2. A tradição da igreja, embora seja instrutiva como um guia, não tem autoridade igual à
da Bíblia.
3. A interpretação pessoal não equivale a uma licença para o subjetivismo.
4. O princípio da interpretação pessoal leva consigo a obrigação de buscar a interpreta-
ção correta da Bíblia.
5. Embora cada texto bíblico tenha múltiplas aplicações, ele tem um único significado
correto.
Para discussão e avaliação
1. Antes do movimento da Reforma Protestante, como era feita a interpretação bíblica?
2. Por que a interpretação bíblica, colocada na mão do povo, demonstrou ter sido um
problema surgido com o movimento da Reforma Protestante?
19
3. Qual a diferença entre interpretar e aplicar o texto bíblico?
4. Por que o subjetivismo apresenta tanto risco para a correta interpretação bíblica?
5. Livre exame da Bíblia tem levado crentes a praticarem a "livre interpretação" da Bíblia
em benefício próprio? Como?
6. Livre exame da Bíblia contribui para o crescimento espiritual do cristão? Por quê?
7. Por que os cristãos não fazem uma única interpretação da Bíblia, aceita por todos,
que evitaria divergências e o surgimento de tantas denominações diferentes?
8. Um mesmo texto da Bíblia pode falar de diferentes maneiras com alguém? Como isso
é possível?
PARTE
II
20
A INCOMPREENSIBILIDADE DE DEUS 10
Jó 38.1-41.34; Salmos 139. 1-18; Isaías 55.8-9; Romanos 11.33-36; 1Coríntios2.6-16
Durante uma palestra nos Estados Unidos, um estudante perguntou ao teólogo suíço
Karl Barth: "Dr. Barth, qual foi a coisa mais profunda que o Senhor já aprendeu em seu estu-
do da teologia?" Barth pensou por um momento e depois respondeu: "Jesus me ama, isto eu
sei, pois a Bíblia assim o diz" (trecho de corinho para crianças). Os estudantes sorriram diante
da resposta tão simplista, mas a risada deles tornou-se um sorriso tímido quando lentamente
perceberam que Barth estava falando sério.
Karl Barth deu uma resposta simples para uma pergunta profunda. Ao fazer isso, estava
chamando a atenção pelo menos para duas noções de vital importância. (1) Na verdade cristã
mais simples reside uma profundidade que pode ocupar a mente das pessoas mais brilhantes
por toda uma vida. (2) Mesmo no aprendizado da teologia mais sofisticada, realmente nunca
ultrapassamos o nível de uma criança no entendimento das misteriosas profundidades e ri-
quezas do caráter de Deus.
João Calvino usava outra analogia. Ele dizia que Deus fala conosco numa espécie de
balbucio. Como os pais se empenham em falar numa "linguagem de bebê", quando se dirigem
a seus filhos pequenos, assim também Deus, para se comunicar conosco, míseros mortais,
precisa condescender a falar de maneira que possamos compreender.
Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe
uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas;
Deus é um ser infinito. Nisso reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o infi-
nito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em todo
estudo posterior de teologia: "O finito não pode apreender (ou conter) o infinito". Nada é mais
óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço finito.
Esse axioma comunica uma das doutrinas mais importantes do Cristianismo ortodoxo. E
a doutrina da incompreensibilidade de Deus. O termo pode ser mal-interpretado. Pode nos su-
gerir que, já que o finito não pode "apreender" o infinito, então não podemos saber nada sobre
Deus. Se Deus está além da compreensão humana, isso não insinua que toda a nossa discus-são religiosa não passa de tagarelice teológica e que, quando muito, somos deixados com um
altar destinado a um Deus desconhecido?
Essa de maneira alguma é a intenção. A incompreensibilidade de Deus não significa que
não sabemos nada sobre ele. Antes significa que nosso conhecimento é parcial e limitado,
muito além de um conhecimento ou de uma compreensão plena. O conhecimento que Deus
nos dá por meio da revelação é real e útil. Podemos conhecer a Deus na mesma medida em
que ele escolhe se revelar a nós. O finito pode "apreender" o infinito, mas o finito jamais pode-
rá abarcar completamente o infinito. Sempre haverá mais sobre Deus do que podemos apre-
ender
A Bíblia se refere a isso da seguinte maneira: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor,
nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre " (Dt
29.29). Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus — o oculto e o revelado. Uma por-
ção do conhecimento divino permanece oculta de nossa vista. Trabalhamos à luz do que Deus
nos revelou.
21
Sumário
1. Existe um profundo significado mesmo na verdade cristã mais simples.
2. Não importa quão profundo seja o nosso conhecimento teológico, sempre haverá mui-
tos aspectos da natureza e caráter de Deus que permanecerão um mistério para nós.
3. Nenhum ser humano pode ter um conhecimento pleno de Deus.
4. A doutrina da incompreensibilidade de Deus não significa que não podemos conhecer
nada sobre ele. Significa que nosso conhecimento é limitado, restringido por nossa humanida-
de.
Para discussão e avaliação
1. O que significa o axioma teológico "O finito não pode conter o infinito"?
2. A noção da grandeza de Deus não pode nos desanimar na busca de conhecê-lo mais?
Não seria inútil, de nossa parte, continuar tentando compreender um Deus que é de todo in-
compreensível?
3. Que verdade da fé cristã soa como mais profunda para você? E qual parece ser a mais
simples?
22
A TRIUNIDADE DE DEUS 11
Deuteronômio 6.4; Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.14; 1 Pedro 1.2
A doutrina da Trindade é difícil e complexa para nós. As vezes pensamos que o Cristia-
nismo ensina a noção absurda de que 1 + 1 + 1 = 1. Esta equação é claramente falsa. O termo
Trindade não descreve a relação de três deuses, mas de um único Deus que é três pessoas.
Trindade não significa triteismo, ou seja, que existem três seres que juntos são Deus. A pala-
vra Trindade é usada num esforço para definir a plenitude da Deidade, tanto em termos da
sua unidade como da sua diversidade.
A formulação histórica da Trindade é que Deus é um em essência e três em pessoas.
Embora tal fórmula seja misteriosa e mesmo paradoxal, de maneira nenhuma é contraditória.
A unidade da Deidade é afirmada em termos de essência ou ser, enquanto que sua diversidade
é expressa em termos de pessoas.
Embora o termo trindade não seja encontrado na Bíblia, o conceito claramente está lá.
Por um lado, a Bíblia afirma veementemente a unidade de Deus (Dt 6.4). Por outro lado, ela
afirma claramente a plena divindade das três pessoas da Deidade: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. A Igreja tem rejeitado as heresias do modalismo e do triteismo. O modalismo nega a
distinção das pessoas dentro da Deidade, alegando que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas
modos pelos quais Deus se revela. O triteismo, por outro lado, declara falsamente que existem
três seres que juntos formam Deus.
O termo pessoa não significa uma distinção em essência mas uma diferente subsistência
na Divindade. A subsistência na Deidade é uma diferença real, mas não essencial, no sentido
de uma diferença no ser. Cada pessoa subsiste ou existe "sob" a pura essência divina. Subsis-
tência é uma diferença dentro do escopo do ser, não um ser ou uma essência separada Todas
as pessoas da Deidade possuem todos os atributos divinos.
Existe também uma distinção na obra realizada pelas pessoas da Trindade Num sentido,
a obra da salvação é comum a todas as três pessoas da Trindade Mesmo assim, na maneira de
atividade existem diferentes operações assumidas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O
Pai inicia a criação e a redenção; o Filho redime a criação; o Espírito Santo regenera e santifi-
ca, aplicando a redenção aos crentes.
A Trindade não se refere a partes de Deus ou mesmo a seus papéis. As analogias huma-
nas, como a do homem que é pai, filho e marido, não conseguem captar o mistério da nature-
za de Deus.
A doutrina da Trindade não explica plenamente o mistério do caráter de Deus. Ao contrá-
rio, simplesmente estabelece o limite do qual não devemos passar. Define os limites da nossa
reflexão finita. Exige que sejamos fiéis à revelação bíblica de que em um sentido Deus é um e
em outro sentido diferente ele é três.
Sumário
1. A doutrina da Trindade afirma a triunidade de Deus.
2. A doutrina da Trindade não é uma contradição: Deus é um em essência e três em pessoa.
3. A Bíblia afirma que Deus é único e também afirma a divindade do Pai, do Filho e do Espírito
Santo.
23
4. A Trindade distingue-se pelo trabalho realizado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
5. A doutrina da Trindade estabelece os limites da especulação humana a respeito da natureza de
Deus.
Para discussão e avaliação
1. O que são as doutrinas do "monismo" e do "triteísmo"?
2. Quais são as diferentes operações do Pai, Filho e Espírito Santo na obra da salvação?
3. De que modo a doutrina da Trindade pode afetar nossa vida de oração?
4. Que diferença faz sabermos das obras que cada uma das três pessoas da Trindade realizou e
continua realizando no plano da salvação?
5. A doutrina da Trindade pode atrapalhar um incrédulo a aceitar o evangelho como verdadeiro?
Ela deveria ser ensinada para alguém que está sendo evangelizado? Por quê?
6. Quando adoramos a Deus, adoramos uma só pessoa, ou três?
A AUTO EXISTÊNCIA DE DEUS 12
Salmos 90.2; João 1.1-5; Atos 17.22-31; Colossenses 1.15-20; Apocalipse 1.8
Quando a Bíblia declara que Deus é o Criador do universo, ela indica que Deus mesmo é
incriado. Existe uma distinção crucial entre o Criador e a criação. A criação porta o selo do
Criador e testemunha de sua glória. A criação, porém, nunca deve ser adorada. Ela não é su-
prema.
É impossível que alguma coisa crie a si mesma. O conceito de autocriação é uma contra-
dição de termos, uma afirmação sem sentido. Peço ao leitor que faça uma pausa e pense um
pouco. Nada pode ser autocriado. Nem mesmo o próprio Deus pode criar a si mesmo. Para que
Deus pudesse criar a si mesmo, teria de existir antes de si mesmo. Nem mesmo Deus pode fa-
zer isso.
Todo efeito deve ter uma causa. Isso é verdadeiro (por definição). Deus, porém, não é um
efeito. Ele não tem um início e, portanto, não tem uma causa antecedente. Ele é eterno. Ele
sempre foi ou é. Ele tem, dentro de si, o poder de ser. Ele não necessita de assistência de fon-
tes externas para continuar a existir. Isso é o que se subentende pela idéia de auto-existência.
Bem compreendido, trata-se de um conceito sublime e impressionante. Não conhecemos nada
que se compare a ele. Tudo o que percebemos em nossa estrutura de referência é dependente
e foi criado. Não podemos compreender plenamente algo como auto-existente.
Entretanto, só porque é impossível (por definição) que uma criatura seja auto-existente,
não significa que seja impossível para o Criador ser auto-existente. Deus, assim como nós,
não pode ser autocriado. Deus, porém, diferentemente de nós, pode ser auto-existente. De fa-
to, essa é a própria essência da diferença entre o Criador e a criação. E isso que faz dele o ser
supremo e a fonte de todos os outros seres.
O conceito de auto-existência não viola nenhuma lei da razão, da lógica ou da ciência. É
uma noção racionalmente válida. Em comparação, o conceito da autocriação viola as leis maisbásicas da razão, da lógica e da ciência — a lei da não-contradição. A auto-existência é racio-
nal; a autocriação é irracional.
A noção de alguma coisa ser auto-existente não só é racionalmente possível, como é raci-
onalmente necessária. Além disso, a razão exige que se algo é, então algo deve ter, em si mes-
mo, o poder de ser. De outra maneira nada existiria. A menos que algo exista em si mesmo,
não seria possível existir absolutamente nada.
Talvez a questão mais antiga e mais profunda de todas seja: por que existe algo, ao invés
de nada? Uma resposta necessária pelo menos para parte desta pergunta é por que Deus exis-
te. Deus existe em si mesmo eternamente. Ele é a fonte e o manancial de toda existência. Só
ele tem, em si mesmo, o poder de existir. O apóstolo Paulo declara nossa dependência do po-
der do ser de Deus para nossa própria existência, quando diz: "Pois nele vivemos, e nos move-
mos, e existimos (At 17.28).
Sumário
1 Todo efeito deve ter uma causa.
2. Deus não é um efeito; Ele não tem uma causa.
3. Aautocriação é um conceito irracional.
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4. A auto-existência é um conceito racional.
5. A auto-existência não só é racionalmente possível, mas é racionalmente necessária.
Para discussão e avaliação
1. Deus é autocriado ou auto-existente? Por quê?
2. Por que o autor afirma que autocriação é irracional e auto-existência é racional?
3. Por que o autor afirma que a noção da auto-existência não só é possível, como também neces-
sária?
4. Se Deus existe antes de tudo, sempre existiu e é a origem criadora de tudo, há alguma coisa
que possa ser maior do que Deus?
5. Por que o homem moderno continua recusando aceitar a idéia de que Deus é a causa de tudo o
que foi criado?
6. O que podemos fazer quando compreendemos a verdade da "auto-existência" de Deus?
7. Como a compreensão da "auto-existência" de Deus pode afetar nossa adoração e nossos atos de cul-
to?
A ONIPOTÊNCIA DE DEUS 13
Gênesis 17.1; Salmos 115.3; Romanos 11.36; Efésios 1.11; Hebreus 1.3
Todo teólogo mais cedo ou mais tarde tem de responder a uma pergunta feita por um
aluno, a qual é colocada como um "quebra-cabeça que não pode ser montado". A antiga per-
gunta é: Deus pode criar uma pedra tão grande que ele mesmo não possa movê-la? A primeira
vista, essa pergunta parece encurralar o teólogo com um dilema insolúvel. Se respondermos
que sim, estamos dizendo que existe algo que Deus não pode fazer: Ele não pode mover a pe-
dra. Se respondermos que não, então estamos declarando que Deus não pode criar tal pedra.
De qualquer maneira que respondermos, seremos forçados a pôr limites no poder de Deus.
Esse problema nos faz lembrar de uma outra charada: O que acontece quando uma força
irresistível se choca contra um objeto irremovível? Podemos conceber uma força irresistível.
Podemos, igualmente, conceber um objeto irremovível. O que não podemos conceber é a coe-
xistência dos dois. Se uma força irresistível encontra um objeto irremovível, e o objeto se mo-
ve, o mesmo não poderia mais ser chamado com propriedade de irremovível. Se o objeto não
se mover, então nossa força "irresistível" não poderia mais ser chamada, com propriedade, ir-
resistível. Portanto, vemos que a realidade não pode conter ambos — uma força irresistível e
um objeto irremovível.
Enquanto isso, voltemos à rocha que não pode ser movida. O dilema colocado aqui (como
no caso da força irresistível) é um falso dilema. É falso porque é construído sobre uma premis-
sa falsa. Supõe que "onipotência" significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Como termo
teológico, contudo, onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. A Bíblia in-
dica várias coisas que Deus não pode fazer: Ele não pode mentir (Hb 6.18). Não pode morrer.
Não pode ser eterno e criado. Não pode agir contra sua própria natureza. Não pode ser Deus e
não ser Deus ao mesmo tempo e na mesma relação.
O que onipotência realmente significa é que Deus mantém poder absoluto sobre sua cri-
ação. Nenhuma parte da criação está fora do alcance e da abrangência do seu controle sobe-
rano. Portanto, existe uma resposta correta para o dilema da pedra. O quebra-cabeça pode ser
montado. A resposta é não. Deus não pode criar uma pedra tão grande que não seja capaz de
movê-la. Por quê? Se Deus criasse tal pedra, ele estaria criando algo sobre o qual não teria
poder. Estaria assim destruindo sua própria onipotência. Deus não pode deixar de ser Deus;
ele não pode deixar de ser onipotente.
Quando a virgem Maria estava confusa pelo anúncio do anjo Gabriel a respeito da con-
cepção de Jesus no ventre dela, o anjo lhe disse: “para Deus não haverá impossíveis em todas
as suas promessas " (Lc 1.37). Aqui o anjo lembra Maria da onipotência de Deus. Creio que
mesmo os anjos são capazes de usar hipérbole. Estreitamente considerado, o anjo expressou
uma teologia equivocada. Mas a compreensão bíblica mais ampla, porém, aponta para o sen-
tido de que o poder de Deus vai muitíssimo além do poder da criatura. O que pode ser impos-
sível para nós é possível para Deus. Dizer que nada é impossível para Deus significa que ele
pode fazer qualquer coisa que queira fazer. Seu poder não é limitado por limitações finitas.
Nada ou "coisa nenhuma" pode restringir seu poder. Mesmo assim, seu poder é ainda restrin-
gido pelo quê e quem ele é. O pecado é impossível para ele porque ninguém pode pecar sem
25
querer pecar. Deus não pode cometer pecado porque jamais desejará fazê-lo. Jó chegou ao
âmago dessa questão quando declarou: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos po-
de ser frustrado (Jó 42.2).
Para o cristão, a onipotência de Deus é uma grande fonte de conforto. Sabemos que o
mesmo poder que Deus demonstrou ao criar o universo está à disposição dele para assegurar
nossa salvação. Ele mostrou esse poder na saída do povo de Israel do Egito. Mostrou seu po-
der sobre a morte na ressurreição de Cristo. Sabemos que nenhuma parte da criação pode
frustrar seus planos para o futuro. Não existe nem uma molécula independente, solta no uni-
verso, e que seja capaz de comprometer os planos de Deus. Embora os poderes e as forças
deste mundo ameacem fazer isso, não tememos. Podemos descansar no conhecimento de que
nada pode resistir ao poder de Deus. Ele é o Deus Todo-Poderoso.
Sumário
1. Onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Ele não pode agir con-
tra sua natureza.
2. Onipotência refere-se ao poder soberano de Deus, sua autoridade e seu controle sobre
a ordem criada.
3. A onipotência, embora seja uma ameaça para o ímpio, é uma fonte de conforto para o
crente.
4. O mesmo poder que Deus exibiu na criação é manifestado na nossa redenção.
5. Nada no universo pode atrapalhar ou frustrar os planos de Deus.
Para avaliação e discussão
1. O que significa a onipotência de Deus?
2. Por que a doutrina da onipotência divina é fonte de conforto para o homem?
3. Medo e pavor são reações corretas diante da consciência plena do poder de Deus?
4. Que áreas da vida são afetadas quando começamos a compreender a extensão do po-
der de Deus?
5. Deus pode impedir que a maldade continue progredindo tão rapidamente como acon-
tece nos dias de hoje? Se pode, por que ele não o faz?
26
A ONIPRESENÇA DE DEUS 14
Jó 11.7-9; Jeremias 23.23. 24; Atos 17.22-31
Projeção astral não passa de fantasia. Pessoas podem afirmar que podem deixar seus
corpos e fazer uma viagem à Califórnia ou à índia e voltar sem precisar usar um trem, avião
ou navio. Na verdade estão iludidas ou estão tentando enganar os outros com tais alegações.
Mesmo que a alma ou o espírito de uma pessoa pudesse se "projetar" dessa maneira e "pe-
rambular" pelo planeta, tais viagens só poderiam incluir um lugar de cada vez. Nosso espírito
humano continua sendo finito e nem agora nem nunca será capaz de estar em mais de um lu-
gar ao mesmo tempo. Somente um Espírito infinito tem o poder da onipresença.Quando falamos da onipresença de Deus geralmente queremos dizer que sua presença
está em todos os lugares. Não existe um lugar onde Deus não esteja. Mesmo assim, sendo es-
pírito. Deus não ocupa um lugar, no sentido físico em que os objetos ocupam lugar no espaço.
Deus não tem propriedades físicas que ocupem lugar no espaço. A chave para entender esse
paradoxo é pensar em termos de outra dimensão. Abarreira entre Deus e nós não é uma bar-
reira de tempo ou espaço. Para se encontrar com Deus, não existe um "aonde" ir ou um
"quando" vai acontecer. Estar na presença imediata de Deus é entrar numa outra dimensão.
Existe um segundo aspecto da onipresença de Deus que freqüentemente negligenciamos.
A idéia de omnis relaciona-se não somente com os lugares onde Deus está, mas também a
quanto dele está presente naquele determinado lugar. Deus não só está presente em todos os
lugares, mas Deus está totalmente presente em cada lugar. Isso é chamado sua imensidade.
Os crentes que moram em São Paulo experimentam a plenitude da presença de Deus, en-
quanto que os crentes que moram em Moscou experimentam a mesma presença. Sua imensi-
dade, pois, não se refere ao seu tamanho, mas à sua capacidade de estar totalmente presente
em todos os lugares.
A doutrina da onipresença de Deus com razão nos enche de perplexidade. Além da reverência
que ela gera, essa doutrina também se revela confortadora. Podemos sempre ter certeza da
atenção integral de Deus. Nunca vamos ter de esperar na fila ou marcar um horário para estar
com Deus. Quando estamos na presença de Deus, ele não está preocupado com os aconteci-
mentos do outro lado do planeta. Esta doutrina evidentemente, de maneira alguma é confor-
tante para o não-crente. Não existe lugar para se esconder de Deus. Não existe nenhum canti-
nho do universo onde Deus não esteja. O ímpio que está no infernonão está separado de Deus
— está separado somente de sua benevolência. A ira de Deus está constantemente com ele.
Davi, que muitas vezes exaltou a glória da onipresença de Deus nos Salmos, nós dá um resu-
mo poético desta doutrina:
Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos
céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se
tomo as asas da alvorada e me detenha nos confins dos mares, ainda lá me haverá
de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Salmo 139.7-10
Sumário
1. Somente um Espírito infinito pode ser onipresente.
2. Deus não é limitado pelo tempo e espaço. Seu Ser transcende o tempo e o espaço.
27
3. A onipresença de Deus inclui sua imensidade, pela qual ele pode estar presente em
sua plenitude em todo tempo, em todos os lugares.
4. A onipresença de Deus é um conforto para o crente e um terror para o não-crente.
Para discussão e avaliação
1.Comente esta frase: "Estar na presença de Deus é entrar em uma nova dimensão".
2.Por que a doutrina da onipotência divina é motivo de conforto para o cristão?
3.Por que ela é fonte de desconforto para o descrente?
4.A comunhão pessoal com Deus pode ser afetada mediante a correta compreensão da
sua onipresença?
5.Pode esta doutrina servir de "desculpa" para alguns cristãos freqüentarem lugares que
não sejam convenientes a um cristão ir? Por quê?
6.Se Deus está em todo o lugar, por que nos reunimos num templo, em um determinado
momento, para um serviço religioso chamado "culto de adoração"?
A ONISCIÊNCIA DE DEUS 15
Salmos 147.5; Ezequiel 11.5; Atos 15.18; Romanos 11.33-36; Hebreus 4.13
Minha primeira experiência com o conceito de onisciência foi com algo relacionado com
meu entendimento infantil sobre o Papai Noel. Alguém me disse que ele "fazia uma lista e a
conferia duas vezes". Eu também pensava que o coelho da Páscoa vivia no sótão da nossa casa
(fora da época da Páscoa) de onde podia me vigiar sem ser visto.
A palavra onisciência significa "ter todo (omnis) conhecimento (ciência)". É um termo que
só pode ser aplicado apropriadamente a Deus. Somente um ser infinito e eterno é capaz de
conhecer todas as coisas. O conhecimento de uma criatura finita é sempre limitado por um
ser finito.
Deus, sendo infinito, é capaz de reconhecer todas as coisas, entender todas as coisas e
assimilar tudo. Ele nunca aprende algo ou adquire um novo conhecimento. O futuro, bem co-
mo o passado e o presente, são totalmente conhecidos por ele. Nada pode surpreendê-lo.
Devido ao fato de que o conhecimento de Deus excede imensamente o nosso (porque é
muito mais elevado), alguns cristãos acreditam que o pensamento de Deus difere radicalmente
em natureza do nosso. Por exemplo, tem-se tornado comum entre os cristãos a afirmação de
que Deus opera numa lógica diferente da nossa. Esse conceito é conveniente quando tropeça-
mos num ponto difícil em nossa teologia. Se nos encontramos fazendo afirmações contraditó-
rias, aliviamos nossa tensão apelando para a lógica diferente de Deus. Podemos dizer: "Isso
pode ser contraditório para nós, mas não na mente de Deus".
Tal raciocínio é fatal para o Cristianismo. Por quê? Se Deus de fato tem uma lógica dife-
rente, ou seja, aquilo que é contraditório para nós é lógico para ele, então não temos razão pa-
ra confiar numa única palavra da Bíblia. Qualquer coisa que a Bíblia nos diga então pode sig-
nificar exatamente o oposto para Deus. Na mente de Deus, o bem e o mal podem não ser
opostos e o Anticristo pode na verdade ser o Cristo.
O conhecimento superior de Deus lhe permite resolver mistérios que nos deixam perple-
xos. Isso, porém, aponta para uma diferença de grau no conhecimento de Deus, não para uma
diferença no tipo de lógica que ele usa. Visto que Deus é racional, nem ele mesmo pode conci-
liar contradições.
A onisciência de Deus também emana da sua onipotência. Deus não é todo-ciente sim-
plesmente por ele aplicar seu intelecto superior num estudo profundo do universo e todo o seu
conteúdo. Ao contrário, Deus conhece tudo porque ele criou tudo e sua vontade prevalece so-
bre tudo. Como o governante soberano sobre o universo, Deus tem o controle do universo.
Embora alguns teólogos tentem separar as duas coisas, é impossível para Deus conhecer to-
das as coisas sem ter o controle e é impossível para ele controlar tudo sem conhecer tudo.
Como todos os atributos de Deus, a onisciência e a onipotência são interdependentes, duas
partes necessárias do todo
A onisciência de Deus, como sua onipotência e onipresença, também se relaciona ao
tempo. O conhecimento de Deus é absoluto no sentido em que ele é eternamente consciente
de todas as coisas. O intelecto de Deus é diferente do nosso no sentido em que ele não tem de
"acessar" informações, como um computador tem de acessar um arquivo. Todo o conhecimen-
to está sempre diretamente diante dele.
28
O conhecimento que Deus tem de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Para o cren-
te, essa idéia oferece segurança — Deus está no controle, ele entende. Deus não fica confuso
diante dos problemas que nos confundem. Para o não-crente, entretanto, a doutrina destaca o
fato de que a pessoa não pode esconder-se de Deus. Seus pecados estão expostos. Como Adão,
eles tentam ocultar-se. Não existe, porém, nenhum lugar no universo em que o olhar de Deus,
seja em amor ou em ira, não possa perscrutar.
A onisciência de Deus é também uma parte crucial da sua promessa de introduzir a jus-
tiça no mundo. Para que um juiz possa estabelecer um veredicto perfeitamente justo, primeiro
tem de conhecer todos os fatos. Nenhuma evidência pode ser oculta do escrutínio de Deus. Ele
conhece todas as circunstâncias atenuantes.
Sumário
1.Onisciência significa "todo conhecimento".
2.Somente um ser infinito pode possuir conhecimento infinito
3. Deus tem um grau de conhecimento muito mais elevado do que o das criaturas, mas
que é do mesmo tipo de lógica.
4. Atribuir um tipo diferente de lógica a Deus é fatal para o Cristianismo
5. A onisciência de Deus é baseada em seu ser infinito e em sua onipotência.
6.A onisciência de Deus é crucial para o seu papel como Juiz do universo.
Para discussão e avaliação
1.Por que é perigoso pensar que os pensamentos de Deus diferem radicalmente do tipo
do nosso?
2.Por que a doutrina da onisciência de Deus é motivo tanto de segurança como de per-
turbação?
29
A SANTIDADE DE DEUS 16
Êxodo 3.1-6; 1 Samuel 2.2; Salmos 99.1-9; Isaías 6.1-13; Apocalipse 4.1-11
A primeira oração que aprendi quando criança foi uma simples ação de graças à mesa de
refeições: "Deus é grande; Deus é bom; e nós lhe agradecemos este alimento".
As duas virtudes atribuídas a Deus nesta oração, grandeza e bondade, podem ser defini-
das por uma única palavra bíblica — santo. Quando falamos da santidade de Deus, costuma-
mos associá-la quase que exclusivamente com sua pureza e justiça. Certamente a idéia de
santidade contém essas virtudes, mas elas não são o significado primário de santidade.
A palavra bíblica santo tem dois significados distintos. O significado primário é "separa-
ção" ou "distinção". Quando dizemos que Deus é santo, chamamos a atenção para a profunda
diferença que existe entre ele e todas as criaturas. Referimo-nos à majestade transcendente de
Deus, sua augusta superioridade, em virtude do quê ele é digno de toda honra, reverência,
adoração e louvor. Ele é "distinto" ou diferente de nós em sua glória. Quando a Bíblia fala de
objetos santos, de pessoas santas ou de tempo santo, ela se refere a coisas que foram postas à
parte, consagradas ou diferenciadas pelo toque de Deus sobre elas. O solo onde Moisés estava
em pé, perto da sarça ardente, era um solo santo, porque Deus estava presente ali de uma
maneira especial. E a proximidade do divino que torna o ordinário subitamente extraordinário,
e torna aquilo que é comum em algo incomum.
O significado secundário de santo se refere às ações puras e justas de Deus. Deus faz o
que é certo. Ele nunca faz o que é errado. Deus sempre age de maneira certa porque sua natu-
reza é santa. Assim, podemos distinguir entre a justiça interna de Deus (sua natureza santa) e
a justiça externa de Deus (suas ações).
Porque Deus é santo, ele é grandioso e bom. Não há nenhum mal misturado à sua bon-
dade. Quando-somos chamados para ser santos, isso não significa que participamos da ma-
jestade divina de Deus, mas que devemos ser diferentes da nossa natureza pecaminosa nor-
mal como criaturas caídas. Somos chamados para espelhar e refletir o caráter e a atividade
moral de Deus. Temos que imitar sua bondade.
Sumário
1. Santidade tem dois significados distintos: (1) "distinção" ou ser "separado" e (2) "puro e
justo nas ações".
2. Somos chamados para ser santos — para refletir a justiça e a pureza de Deus
Para discussão e avaliação
1.Quais são os dois sentidos bíblicos para a palavra “santo”?
2.O que significa o primeiro?
3.O que significa o segundo?
4.Deus nos pede coisas impossíveis de se realizarem? Então qual é o verdadeiro signifi-
cado da exortação bíblica para sermos santos? Nós podemos ser realmente santos nesta vida?
5.Que conseqüências a compreensão da santidade de Deus pode trazer para a vida práti-
1. Distinção(majestade)
=
2. Pureza (justiça)
SANTO
30
ca do cristão?
6.A santidade de Deus está relacionada com a exclusividade que Ele exige de todos os
seus filhos: "Não terás outros deuses diante de mim..."(Êx 20.3)? Porquê?
7.É verdadeira a afirmação que "somente um povo santo andará com o Senhor"? Sim,
não, por quê?
A BONDADE DE DEUS 17
Êxodo 34.6, 7; Salmos 25. 8-10; Salmos 100.1-5; Tiago 1.17
Uma das coisas mais divertidas da vida é ver um cachorrinho ou um gatinho perse-
guindo a própria sombra. Ficam tentando inutilmente apanhá-la. Quando eles se movem, a
sombra também se move. Isso não acontece com Deus. Tiago declara: “Toda boa dádiva e todo
dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou
sombra de mudança”(Tg 1.17).
Deus nunca muda. Com ele não existe “sombra de mudança”. Isso sugere que Deus é
imaterial e portanto não pode projetar uma sombra e também que não existe nele um "lado
sombrio", num senso figurativo ou moral. Sombras sugerem trevas, e em termos espirituais
trevas pressupõem o mal. Desde que não há mal em Deus, também nele não há nenhum sinal
de trevas. Ele é o Pai das luzes.
Quando Tiago acrescenta que não há “sombra de mudança” em Deus, não é suficiente
entender essa afirmação meramente em termos do ser imutável de Deus. Ela refere-se tam-
bém ao caráter de Deus. Deus não só é totalmente bom, como também é consistentemente
bom. Deus não sabe como ser outra coisa senão ser bom.
A bondade está tão intimamente conectada a Deus que até mesmo filósofos pagãos como
Platão equipararam a bondade suprema, a bondade mais elevada, ao próprio Deus. A bondade
de Deus refere-se tanto ao seu caráter quanto ao seu comportamento. Suas ações procedem e
emanam do seu ser. Ele age de acordo com o que ele é. Assim como uma árvore corruptível
não pode produzir frutos incorruptíveis, assim também um Deus incorruptível não pode pro-
duzir frutos corruptíveis.
A Lei de Deus reflete sua bondade. Deus é bom não porque obedece alguma lei cósmica
fora dele mesmo, que o julga, ou porque ele define o que é bom e portanto pode agir de forma
ilegal e usar sua autoridade para declarar que sua ação foi boa. A bondade de Deus tampouco
é arbitrária ou caprichosa. Deus obedece uma lei, mas a lei que ele obedece é a lei do seu pró-
prio caráter. Deus sempre age de acordo com seu próprio caráter, o qual é eterno, imutável e
intrinsecamente bom. Tiago ensina que todo dom perfeito e toda boa dádiva vêm de Deus. Ele
não só é o padrão supremo da bondade — ele é a Fonte de toda bondade.
Um dos versículos mais populares do Novo Testamento é Romanos 8.28: “Sabemos que
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito”. Esse texto sobre a providência divina é tão difícil de compreender
quanto é popular. Se Deusé capaz de fazer com que tudo o que nos acontece funcione para o
nosso bem; então, em última análise tudo o que nos acontece é positivo. Temos de ser cuida-
dosos aqui e colocar a ênfase na palavra última. No plano terreno, as coisas que nos aconte-
cem podem de fato ser ruins (devemos ter cuidado para não chamar o bem de mal ou o mal de
bem). Enfrentamos aflições, miséria, injustiças e muitos outros males. Ainda assim, Deus em
sua bondade transcende todas essas coisas e age nelas para o nosso bem. Para o cristão, no
final, não existem tragédias. No final, a providência de Deus opera em todos esses males que
estão próximos de nós para o nosso benefício.
Martinho Lutero entendeu esse aspecto da boa providência de Deus quando disse: “Se
Deus me dissesse para comer o estrume de animais que fica nas ruas, eu não só comeria, co-
mo iria saber que aquilo era bom para mim”.
Sumário
31
1. As criaturas têm sombras projetadas pelas trevas do pecado.
2. Não existe um lado sombrio em Deus.
3. Deus não está sujeito a nenhuma lei
Lei
Deus
4. Deus não está isento de lei.
Lei/DEUS
5. Deus é lei para si mesmo.
Para discussão e avaliação
1. O que significa a expressão bíblica "sombra de mudança"? (Tg 1.17)
2. Qual foi o filósofo pagão que equiparou a bondade maior com Deus?
3.Por que a lei de Deus reflete a sua bondade? Ela não parece demonstrar mais a severi-
dade de Deus?
4. Por que é difícil aceitarmos as coisas dolorosas da vida, mesmo sabendo que elas ope-
ram juntamente com o propósito de Deus para nós?
SOMBRA
DEUS SEM SOMBRA
CRIATURA
32
A JUSTIÇA DE DEUS 18
Gênesis 18.25; Êxodo 34.6, 7; Neemias 9.32, 33; Salmos 145.7; Romanos 9.14-33
Justiça é uma palavra que ouvimos diariamente. Ela é usada nos relacionamentospessoais,
nas convenções sociais, com respeito à legislação e nos vereditos pronunciados nos tribunais. Em-
bora seja muito comum, essa palavra tem deixado perplexos os filósofos que tentam defini-la.
Às vezes conectamos ou equipáramos justiça com aquilo que é conquistado ou merecido. Fa-
lamos sobre pessoas que receberam aquilo que mereciam em termos de recompensa ou de puni-
ção. As recompensas, porém, nem sempre são baseadas nos méritos. Suponha que façamos um
concurso de beleza e declaramos que um prêmio será dado à pessoa que for considerada mais bo-
nita. Se a "beleza" ganha o prêmio, não é porque exista algum mérito em ser bonito. Ao contrário,
ajustiça é feita quando o concorrente mais bonito é justamente recompensado com o prêmio. Se os
juízes votam em alguém que não consideram o mais bonito (por razões políticas ou porque foram
subornados), então o resultado do concurso será injusto.
Pelas razões como as mencionadas acima, Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa
aquilo que lhe é devido". O que é "devido" pode ser determinado por obrigações éticas ou por um
acordo pré-estabelecido. Se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que seu crime merece,
tal punição é injusta. Se alguém recebe uma recompensa inferior à que mereceu, então a recom-
pensa é injusta.
Como, pois, a misericórdia se relaciona com ajustiça? Misericórdia e justiça obviamente são
elementos diferentes, embora às vezes sejam confundidas. A misericórdia ocorre quando aquele
que errou recebe uma punição menor do que merçcia ou uma recompensa maior do que lhe era
devida.
Deus tempera sua justiça com misericórdia. Sua graça é essencialmente um tipo de misericórdia.
Deus é gracioso para conosco quando retém o castigo que merecemos e quando recompensa nossa obe-
diência, a despeito do fato de que é nossa obrigação obedecê-lo, de maneira que não há mérito e não
merecemos nenhuma recompensa. Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele nunca tem a
obrigação de ser misericordioso. Deus reserva a si o direito de exercer sua graça de acordo com o bene-
plácito de sua vontade. Por isso disse a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericór-
dia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão " (Rm 9.15).
Muitas pessoas às vezes se queixam de Deus não distribuir sua graça ou sua misericórdia igual-
mente a todas as pessoas, que ele, portanto, não é justo. Achamos que, se Deus perdoa uma pessoa,
então ele tem a obrigação de perdoar todas.
Vemos, porém, claramente nas Escrituras que Deus não trata todos da mesma maneira. Ele
se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a nenhum outro pagão no mundo antigo.
Revelou sua graça a Paulo de uma maneira que não revelou a Judas Iscariotes.
Paulo recebeu graça de Deus, Judas Iscariotes recebeu justiça. Misericórdia e graça são formas de
não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se o castigo de Judas fosse mais severo do que ele merecia,
então ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não requer que Judas também recebes-
se. Se graça é exigida de Deus, ou seja, se Deus é obrigado a ser gracioso, então não estamos mais fa-
lando de graça, mas de justiça.
Biblicamente, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, ele está fazendo o
que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta retórica, a qual só poderia ter uma resposta óbvia: "Não fa-
rá justiça o Juiz de toda a terra?" {Gn 18.25). Semelhantemente, o apóstolo Paulo formulou uma pergun-
ta retórica similar: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum " (Rm 9.14).
Sumário
1. Justiça é dar o que é devido.
2. Ajustiça bíblica está vinculada à retidão, ou seja, fazer o que é reto.
3. A injustiça está fora da categoria da justiça e é uma violação da justiça. A misericórdia também
está fora da categoria da justiça, mas não representa uma violação da justiça. -
33
Para discussão e avaliação
1.Qual é o exemplo que o autor cita para demonstrar que recompensa nem sempre é baseada no
mérito?
2.Quando somos recompensados por Deus pela nossa obediência, Ele está demonstrando graça
ou justiça? Por quê?
3.A justiça de Deus o obriga a punir todo pecado, conforme a lei: "A alma que pecar essa morrerá"
- Ezequiel 18.4. Então, como conseguimos o perdão dos nossos pecados?
4.Deus está obrigado a exercer sempre a justiça, pois ele é justo. Que conseqüência isto traz na
vida do cristão? E na do não-cristão?
5.Pode Deus exceder na aplicação da justiça a alguém? Ou pode ele recompensar alguém menos
do que ele merece? Por quê?
PARTE
III
34
A CRIAÇÃO 19
Gênesis 1; Salmos 33.19; Salmos 104.24-26; Jeremias 10.1-16; Hebreus 11.3
Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Eu tive um início; você teve um iní-
cio. Acasa onde moramos teve um início. As roupas que vestimos tiveram um início. Houve
um tempo em que nossas casas, nossas roupas, carros, máquinas de lavar não existiam; nem
nós mesmos existíamos. Essas coisas não eram. Nada pode ser mais óbvio.
Estamos cercados por coisas e pessoas que obviamente tiveram um início e por isso so-
mos tentados a pular para a conclusão de que tudo teve um início. Tal conclusão, entretanto,
seria um salto fatal no abismo do absurdo. Seria fatal para a religião. Também seria fatal para
a ciência e para a razão.
Por quê? Não dissemos que todas as coisas no tempo e no espaço tiveram um início? Não
seria o mesmo dizer simplesmente que tudo teve um início? De maneira alguma. Lógica e cien-
tificamente é simplesmente impossível que todas as coisas tenham tido um início. Por quê? Se
tudo o que existe um dia teve um início, então teria havido um tempo em que nada existia.
Pare por um momento e reflita. Tente imaginar a existência de nada. Absolutamente na-
da. Nem mesmo podemos conceber a existência de absolutamente nada. O próprio conceito é
meramente a negação de alguma coisa.
Se já houve, porém, um tempo em que absolutamente nada existia, o que haveria agora?
Certo. Nada! Seja houve um tempo em que não havia nada, então, pela lógica irresistível essa
situação deveria persistir e continuaria sempre a não existir nada. Não haveria nem mesmo o
"sempre" durante o qual nada existiria.
Por que podemos estar certos, ou melhor, absolutamente certos de que seja houve um
tempo em que não havia nada, então hoje deveria continuar não existindo nada? A resposta é
espantosamente simples, a despeito do fato de que pessoas extremamente inteligentes às ve-
zes tropeçam no óbvio. A resposta é simples porque você não pode obter algo a partir de nada.
Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihilfit, quer dizer, “a partir do nada,
nada procede”. O nada não pode produzir coisa alguma. Nada não pode rir, cantar, chorar,
trabalhar, dançar ou respirar. O nada certamente não pode criar. O nada não pode fazer nada
porque ele é nada. Ele não existe. O nada não tem nenhum poder porque não tem existência.
Para que alguma coisa procedesse do nada, teria de possuir o poder da autocriação. Te-
ria de ser capaz de criar a si própria ou trazer a si própria à existência. Isso, porém, é um
completo absurdo. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si própria teria de ser antes
de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem necessidade de ser criado. Para criar a si pró-
prio, algo teria de ser e teria de não ser, existir e não existir ao mesmo tempo e no mesmo con-
texto. Isso é uma contradição. Essa idéia viola uma das mais fundamentais de todas as leis da
razão e da ciência — a lei da não-contradição.
Se sabemos alguma coisa, então sabemos que, se as coisas existem hoje, então de algu-
ma maneira, em algum lugar, algo não teve início Sabemos de brilhantes pensadores, como
Bertrand Russell, o qual em seu famoso debate com Frederick Copelston argumentou que o
presente universo é o resultado de uma "série infinita de causas finitas". Isso coloca uma sériesucessiva de eventos, um causando o outro, operando retrospectivamente para sempre na
eternidade. Essa idéia simplesmente dá uma dimensão infinita ao problema da autocriação. É
um conceito fundamentalmente absurdo. O fato de que ele tenha sido proposto por sábios não
o torna menos absurdo. É pior do que absurdo. Absurdos podem ser reais. Esse conceito, po-
35
rém, pela lógica, é impossível.
Russell pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode refutá-la sem co-
meter suicídio mental. Sabemos (com base na lógica) que, se as coisas existem hoje, então de-
ve ter havido algo que não teve início. A pergunta então é: o quê ou quem seria?
Muitos estudiosos sérios acreditam que a resposta para esse o quê é encontrada dentro
do próprio universo. Argumentam (como Carl Sagan fez) que não é necessário ir acima ou
além do universo para encontrar algo que não teve início e do qual todas as outras coisas pro-
cederam. Quer dizer, não precisamos supor algo como "Deus" que é transcendente ao univer-
so. O universo ou algo dentro dele, pode fazer muito bem o trabalho por si mesmo.
Existe um erro sutil se movendo furtivamente no cenário apresentado acima. Esse erro
tem a ver com o significado do termo transcendente. Na filosofia e na teologia, a idéia de trans-
cendência significa que Deus está "acima e além" do universo, no sentido em que ele pertence
a uma ordem mais elevada do que os outros seres. Geralmente nos referimos a Deus como o
Ser supremo.
O que torna o Ser supremo diferente do ser humano? Note que ambos os conceitos têm
uma palavra em comum — ser. Quando dizemos que Deus é o Ser supremo, queremos dizer
que ele é um ser que difere em gênero dos outros seres comuns Qual é exatamente essa dife-
rença? Ele é chamado de supremo porque não tem início. Deus é supremo porque todos os ou-
tros seres lhe devemsua existência, e ele não deve sua existência a ninguém mais a não ser a
si próprio. Ele é o Criador eterno. Todas as outras coisas são obra da sua criação
Quando Carl Sagan e outros dizem que no universo — e não acima ou além dele — existe
algo que não foi criado, estão meramente questionando de maneira evasiva sobre o endereço
do Criador Estão dizendo que aquilo que não foi criado vive aqui (dentro do universo) e não "lá
fora" (acima ou transcendente ao universo). Mas essa idéia ainda requer um Ser supremo Es-
sa parte misteriosa do universo, da qual todas as coisas criadas procedem, ainda está acima e
além de tudo na criação em termos de ser. Em outras palavras, ainda tem de existir um Ser
transcendente.
Quanto mais pensamos nesse "Criador dentro do universo", mais ele começa a soar como
Deus. Ele não foi criado. Ele cria tudo Ele tem o poder de ser em si mesmo.
O que fica claro como cristal é que se algo existe agora, então tem de haver um Ser su-
premo do qual todas as outras coisas procedem. A primeira declaração da Bíblia é: “Noprincí-
pio criou Deus o céu e a terra”(Gn.1:1). Esse texto é fundamental para todo o pensamento cris-
tão. Não se trata apenas de uma declaração religiosa—é um conceito racionalmente necessá-
rio.
Sumário
1.Tudo tem um início no tempo e no espaço.
2.Uma coisa não pode proceder do nada. O nada não pode produzir coisa alguma.
3.Se houve um tempo em que nada existia, então nada deveria existir hoje.
4.Algo existe agora. Isso implica que existe algo que não teve início.
5.As coisas não podem criar a si próprias, porque teriam de existir antes de serem.
6.Se uma "parte" do universo não foi criada, então ela é superior ou transcendente às
partes que tiveram início.
7.Um ser não criado é supremo (uma ordem mais elevada do que os seres criados), inde-
pendentemente de onde ele vive.
8.Transcendência refere-se ao nível do ser e não à localização geográfica
Para discussão e avaliação
1.Qual cientista argumentou que a causa da criação do universo não deve ser buscada
fora do próprio universo?
2.Por que a lógica nos leva a pensar que, se existe alguma coisa agora, então algo deve
existir que não teve início?
3.O que significa o termo "transcendente"? Ele pode ser aplicado a Deus. Como e por
quê?
4.Existe alguma coisa que você possa criar sobre a qual você não tenha controle e domí-
nio, ou não a conheça muito bem?
5.Que atributo divino percebemos observando as coisas criadas, como por exemplo, a in-
finidade de seres existentes na terra, ar e mar?
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6.É possível alguém crer na existência de Deus apenas observando cuidadosamente o
que foi criado e considerando a grandeza de tudo o que existe (lembre-se da máxima: "Alguma
coisa não pode surgir do nada".)
7.Que sentimento surge no coração quando lembramos que nossa vida tem começo, meio
e fim, em contraste com a eternidade de Deus?
A PROVIDÊNCIA 20
Jó 38.1-41.34; Daniel 4.34, 35; Atos 2.22-24; Romanos 11.33-36
A maior cidade de Rhode Island [um estado americano] chama-se Providência. Existe al-
go de extraordinário neste nome. Ele chama a nossa atenção para a grande lacuna na maneira
de pensar entre as gerações passadas e a nossa sociedade atual. Quem iria chamar uma cida-
de de Providência, hoje em dia? A própria palavra soa arcaica e fora de moda.
Quando leio os escritos de cristãos de séculos atrás, fico surpreso com a enorme quanti-
dade de referências à providência de Deus. É como se antes do século XX os cristãos fossem
muito mais conscientes e sensíveis para com a providência de Deus em sua vida. O espírito do
naturalismo, que interpreta todos os eventos na natureza como sendo governados por forças
independentes, causou um impacto em nossa geração.
O significado fundamental da palavra providência é "ver antes ou com antecedência", ou
"prover algo para". Com tais sentidos, a palavra fica longe de conseguir cobrir o profundo sig-
nificado da doutrina da providência, a qual significa muito mais do que Deus ser um especta-
dor dos eventos humanos. Contém muito mais do que uma mera referência à presciência de
Deus.
A Confissão de Fé de Westminster, feita no século XVII, definia providência da seguinte
maneira:
"Pela mui sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável con-
selho de sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da gló-
ria de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa
todas as criaturas, todas a ações delas e todas as coisas, desde a maior até à menor." (Cap. VI)
Aquilo que Deus cria, ele também sustenta. O universo não só depende de Deus para
sua origem, mas depende dele também para continuar existindo. O universo não pode existir
nem operar por seu próprio poder. Deus sustenta todas as coisas por seu poder. Nele nós vi-
vemos, nos movemos e existimos.
O ponto central da doutrina da providência é a ênfase no governo de Deus sobre o uni-
verso. Ele governa sua criação com absoluta soberania e autoridade. Ele governa tudo aquilo
que acontece, desde os maiores eventos até os menores. Nada jamais acontece além do âmbito
do seu governo soberano e providencial. Ele faz a chuva cair e o sol brilhar. Levanta e derruba
reinos. Ele conta os cabelos da nossa cabeça e os dias da nossa vida.
Existe uma diferença fundamental entre a providência de Deus e fortuna, destino ou sor-
te. A chave para esta diferença está no caráter pessoal de Deus. A fortuna é cega, enquanto
Deus vê todas as coisas. O destino é impessoal enquanto Deus é nosso Pai. A sorte é muda
enquanto Deus pode falar. Não existem forças cegas e impessoais operando na história huma-
na. Tudo se passa por meio da mão invisível da providência de Deus.
Num universo governado por Deus não existem eventos casuais. De fato, não existe algo
como acaso. O acaso não existe. Não passa de uma palavra que usamos para descrever possi-
bilidades matemáticas, mas que não tem nenhum poder em si, porque não tem existência. O
acaso não é uma entidade capaz de influenciar a realidade. Acaso não é algo real. Não é nada.
Outro aspectoda providência chama-se concorrência. Concorrência refere-se às ações
conjuntas de Deus e seres humanos Somos criaturas com vontade própria. Fazemos coisas
37
acontecerem. Mesmo assim, o poder causal que exercemos é secundário A soberana providên-
cia de Deus está acima e além das nossas ações. Ele opera sua vontade por meio das ações da
vontade humana, sem violar a liberdade dessa vontade humana. O exemplo mais claro de
concorrência encontrado nas Escrituras é o caso de José e seus irmãos. Apesar de os irmãos
de José serem verdadeiramente culpados pela traição que fizeram contra ele, a providência de
Deus estava operando até mesmo através do pecado deles. José disse aos irmãos: "Vós, na
verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes
agora, que se conserve muita gente em vida" (Gn 50.20)
A providência redentora de Deus pode operar através das ações mais diabólicas. A pior
ofensa que já foi cometida por um ser humano foi a traição de Jesus Cristo" por Judas Iscario-
tes. Mesmo assim, a morte de Cristo não foi um acidente na História. Aconteceu de acordo
com o conselho determinado por Deus. O ato de perversidade de Judas ajudou a promover a
melhor coisa que já aconteceu na História, a Expiação. Não é fortuito quando nos referimos
àquele dia histórico como sexta-feira "santa".
Sumário
1. O conceito da providência divina geralmente não é entendido em nossos dias.
2. A providência inclui a obra de Deus em sustentar sua criação.
3. A providência se refere principalmente ao governo de Deus sobre a criação.
4. À luz da providência divina, não existem forças impessoais tais como fortuna, destino
ou acaso.
5. A providência inclui a concorrência, por meio da qual Deus opera sua vontade divina
por intermédio da vontade de suas criaturas.
Para discussão e avaliação
1.Qual é o ponto central da doutrina da providência?
2.Qual é a diferença entre providência e destino?
3.Qual é o sentido do termo "concorrência"?
4.De que modo a vida moderna tem obscurecido a nossa visão acerca da providência de
Deus?
5.Se Deus está sustentando a sua criação, conforme ensina a doutrina da providência,
como explicar o fato da ciência estar descobrindo que o universo se decompõe ao longo dos
milênios (como o sol, por exemplo, que é uma estrela em combustão, consumindo o seu gás
que um dia irá acabar). Há um conflito entre a fé a ciência aqui?
6.Existe algum conflito entre a doutrina da providência divina e a responsabilidade hu-
mana pelos seus atos? Sim, não, por quê?
7.A doutrina da providência não pode nos levar a pensar que somos uns robôs? Como é
que podemos conciliar os dois aspectos?
8.Que diferença faz a doutrina da providência em nosso viver diário? Como podemos
mudar nossa maneira de encarar as coisas que acontecem, e aquelas que deixam de aconte-
cer, por estarmos mais conscientes da providência de Deus sobre nós?
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OS MILAGRES 21
Êxodo 4.1-9; 1 Reis 17.21-24; João 2.11; Hebreus 2.1-4
Às vezes, quando jogo golfe com os amigos, na minha vez de jogar (que geralmente é
marcada por um grande número de bolas dentro d'água) eu acerto uma boa tacada, fazendo a
bola atravessar por cima de um lago e cair na terra firme do outro lado. Por eu ser pastor, tal
proeza é recebida pelos amigos com sobrancelhas erguidas e a expressão: “É um milagre!”
Qualquer criança sabe que não é preciso um milagre para atirar uma pedra por cima de um
lago. Também não é preciso um milagre para fazer uma bolinha de golfe atravessar por cima
da água. Desde que a bola tenha a velocidade adequada e esteja na direção certa, a questão é
simples.
O termo milagre tende a ser usado levianamente hoje em dia. Um gol no futebol, uma si-
tuação em que se escapa "por um triz", ou a beleza de um pôr-do-sol são rotineiramente cha-
mados de milagres. Entretanto, a palavra milagre pode ser usada de três maneiras distintas. A
primeira descreve eventos comuns, mas que são impressionantes. Falamos sobre o nascimen-
to de um bebê, por exemplo, como um milagre. Ao fazer isso, glorificamos a Deus pela comple-
xidade e pela beleza da criação. Ficamos maravilhados diante da majestade do cosmos, quan-
do Deus opera por intermédio dos meios secundários das leis naturais, as quais são também
criação dele. Aqui o termo milagre refere-se às coisas comuns que apontam para uma causa
incomum no poder de Deus.
A segunda maneira em que podemos usar o termo milagre é similar à primeira. Freqüen-
temente, nas Escrituras, lemos sobre Deus operando por meios secundários num tempo e lu-
gar mais específicos. A estrela de Belém, por exemplo, talvez tivesse uma causa natural e cien-
tífica. O extraordinário alinhamento de um grupo de estrelas, ou uma fase da lua poderiam
explicar seu intenso brilho Considerar essas possibilidades, entretanto, não torna o evento
menos miraculoso. A luz espalhou seu brilho no momento do nascimento de Cristo. Mostrou o
caminho de Belém aos magos. A estrela então era um milagre por ter ocorrido no tempo e no
lugar certos. Tal milagre glorifica a Deus pela maneira como ele tece a tapeçaria da História de
tal maneira que o evento ocorreu no momento exato, de uma maneira miraculosa.
Terceiro, milagres referem-se a atos de Deus contrariando o que é natural Este é o uso
mais técnico do termo. Jesus transformando água em vinho ouressuscitando Lázaro dentre os
mortos são exemplos de Deus operando contra suas leis da natureza. Pode não haver nenhu-
ma explicação natural para tais eventos. Servem para validar Cristo como o divino Filho de
Deus.
A Bíblia utiliza várias palavras para definir o conceito contido na simples palavra milagre. A Bíblia
fala de sinais, maravilhas e prodígios. Em seu senso mais restrito, ligamos milagre à palavra bíblica si-
nal. Milagres são chamados de sinais porque, como todos os sinais, eles apontam, para além de si
mesmos, para algo mais significativo. Deus usou os milagres para provar ou atestar seus agentes da re-
velação divina (Hb 2.3,4). Deus deu poder a Moisés para realizar milagres a fim de demonstrar que o ti-
nha enviado. Da mesma maneira, o Pai autenticou o ministério do Filho por meio dos sinais que ele
operou
Atualmente existem três perspectivas diferentes de milagre. A primeira é a visão cética que nega
que os milagres possam ocorrer. A segunda visão argumenta que os milagres aconteceram nos tempos
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bíblicos e continuam a acontecer hoje. A terceira visão é a que os verdadeiros milagres aconteceram na
Bíblia, mas que Deus cessou de operar milagres uma vez que a revelação foi estabelecida nas Escritu-
ras. Essa visão sustenta que Deus ainda opera no mundo de maneira sobrenatural, mas não concede
mais poderes de operar milagres a seres humanos.
Sumário
1. A Bíblia fala sobre sinais, prodígios e maravilhas.
2. A Bíblia registra diferentes tipos de milagres.
3. Todo milagre é um evento sobrenatural, mas nem todo evento sobrenatural constitui um mila-
gre.
Para discussão e avaliação
1. Quais são os três sentidos em que a palavra milagre pode ser usada?
2. Para que serviram os milagres operados por Jesus?
3.Quais são os três pontos de vista atuais sobre os milagres?
4.O novo nascimento, operado pelo Espírito Santo no coração de todo aquele que crê, poderia ser
considerado um milagre? Por quê?
5.Existe nos dias de hoje uma busca intensa pelos milagres. O que isto revela em termos de dou-
trina bíblica? Essas pessoas estão realmente buscando a Deus?
6. E errado orarmos pedindo que Deus faça um milagre na nossa vida, ou na vida de outras pes-
soas (como uma cura, por exemplo)?
A VONTADE DE DEUS 22
João 19.11; Romanos 9.14-18; Efésios 1.11; Colossenses 1.9-14; Hebreus 6.13-18;
A atriz Doris Day cantava uma canção popular cujo título era "Que será, será" ("O que ti-
ver que ser, será"). A primeira vista, este tema transmite uma espécie de fatalismo deprimente
A teologia do islamismo geralmente se referea eventos específicos como "era a vontade de Alá".
A Bíblia tem um profundo interesse na vontade de Deus—sua autoridade soberana sobre
a criação e tudo nela. Quando falamos sobre a vontade de Deus, fazemos isso pelo menos de
três maneiras diferentes O conceito mais amplo é conhecido como a vontade decretiva, sobe-
rana ou oculta de Deus. Por meio desta definição, os teólogos referem-se à vontade de Deus
por intermédio da qual ele ordena soberanamente tudo o que acontece. Porque Deus é sobe-
rano e sua vontade nunca pode ser frustrada, podemos ter certeza de que nada acontece que
ele não esteja no controle. Ele pelo menos tem de "permitir" seja o que for que vá acontecer.
Mesmo quando Deus permite passivamente que algo aconteça, Eledecide permitir, de maneira
que sempre tem o poder e o direito de intervir e evitar a ocorrência das ações e os eventos nes-
te mundo. Desde que ele permita que as coisas aconteçam, num certo sentido elas acontecem
de acordo com' 'sua vontade''.
Embora a vontade soberana de Deus freqüentemente fique oculta de nós até que os even-
tos aconteçam, existe um aspecto da sua vontade que é claro para nós — sua vontade precep-
tiva. Aqui Deus revela sua vontade por meio da sua Lei santa. Por exemplo, é a vontade de
Deus que não roubemos; que amemos nossos inimigos; que nos arrependamos; que sejamos
santos. Esse aspecto da vontade de Deus é revelado em sua Palavra bem como em nossa
consciência, por meio da qual Deus escreveu sua lei moral em nosso coração.
Suas leis, quer se encontrem na Bíblia ou em nosso coração, são obrigatórias. Não temos
autoridade para violar esta vontade Temos o poder ou a capacidade de obstruir a vontade pre-
ceptiva de Deus, embora nunca tenhamos o direito de fazê-lo. Tampouco podemos justificar
nosso pecado, dizendo: "O que será, será". Pode ser a soberania de Deus ou sua vontade sobe-
rana que nos "permite" pecar, quando ele faz sua vontade soberana acontecer por intermédio
das ações pecaminosas das pessoas. Deus determinou que Jesus fosse traído pela instrumen-
talidade da traição de Judas Mas isso não tornou seu pecado menosvil e desleal. Quando
Deus "permite" que violemos sua vontade preceptiva, isso não deve ser entendido como uma
permissão no sentido moral de conceder-nosele um direito moral. Sua permissão nos dá o po-
der para pecar, mas não o direito de fazê-lo.
A terceira maneira pela qual a Bíblia fala sobre a vontade de Deus refere-se à vontade
dispositiva de Deus. Essa vontade descreve a atitude de Deus. Ela define o que lhe é agradá-
vel. Por exemplo, Deus não tem prazer na morte do ímpio, ainda que certamente queira ou de-
crete a morte do ímpio O prazer supremo de Deus está em sua própria santidade e justiça
Quando julga o mundo, ele tem prazer na defesa da sua própria justiça e integridade, embora
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não fique feliz, no sentido de ter prazer, na vingança contra aqueles que recebem seu juízo.
Deus alegra-se quando nós encontramos nosso prazer na obediência, Ele se entristece pro-
fundamente quando somos desobedientes.
Muitos cristãos ficam preocupados ou mesmo obcecados em descobrir "a vontade" de
Deus para sua vida. Se a vontade que estamos buscando é sua vontade secreta, oculta e de-
cretiva, então nossa busca será inútil. O conselho secreto de Deus é seu segredo. Ele não tem
prazer em nos revelar isso. Longe de ser um sinal de espiritualidade, a busca pela vontade se-
creta de Deus é uma invasão injustificável de sua privacidade. O conselho secreto de Deus
não é de nossa conta. Essa é a razão parcial por que a Bíblia tem uma visão tão negativa da
cartomancia, necromancia e outras formas de práticas proibidas.
Seríamos sábios em seguir o conselho de João Calvino, ele disse: "Quando Deus fecha
seus santos lábios, eu desisto de inquirir". O verdadeiro sinal de espiritualidade é visto naque-
les que buscam conhecer a vontade de Deus que é revelada em sua vontade preceptiva. Esta é
aquela pessoa piedosa que medita na lei do Senhor dia e noite. Enquanto buscamos ser "guia-
dos" pelo Espírito Santo, é vital que tenhamos em mente que o Espírito Santo primeiramente
quer nos guiar na justiça. Somos chamados para viver nossa vida por meio de toda palavra
que sai da boca de Deus. Sua vontade revelada é de nossa conta; na verdade, deve ser o as-
sunto principal em nossa vida.
Sumário
1. Os três significados da vontade de Deus:
(a) A Vontade soberana decretiva é a vontade pela qual Deus faz com que tudo o que de-
creta aconteça. Ela é oculta de nós até que aconteça.
(b) A Vontade preceptiva é a lei revelada de Deus, ou seus mandamentos, os quais temos
o poder, mas não o direito de violar.
(c) A Vontade dispositiva descreve a atitude ou a disposição de Deus. Ela revela o que o
agrada.
2. A “permissão” soberana de Deus para o pecado humano não equivale à aprovação mo-
ral.
Para discussão e avaliação
1.O que quer dizer o termo “vontade decretiva” de Deus?
2.O que significa a vontade preceptiva de Deus?
3.Quais são as implicações da vontade dispositiva de Deus?
4.Descobrir a vontade de Deus para nossa vida pode ser algo conseguido apenas com a
Bíblia ou são necessários outros recursos e ajudas para isso?
5.Quando pecamos, agimos contra a vontade de Deus, embora ele tenha permitido que o
façamos. Por que Deus não nos impede de pecar de uma vez por todas?
6.Quando alguém diz "Eu não sei o que Deus quer de mim", ele está revelando desconhe-
cer a Palavra de Deus, a vontade revelada para nós. Mas onde descobrir a vontade de Deus
para assuntos específicos da nossa vida como decisões sobre um novo emprego, matrimônio,
se devemos aceitar uma proposta de mudança de cidade, escolha de profissão etc?
7.Que auxílio temos para saber se a nossa vida está agradando a Deus, ou não?
41
A ALIANÇA 23
Gênesis 15; Êxodo 20; Jeremias 31.31-34; Lucas 22.20; Hebreus 8; Hebreus 13.20, 21
A estrutura básica do relacionamento que Deus estabeleceu com seu povo é a aliança.
Uma aliança é geralmente entendida como um contrato. Embora certamente existam algumas
similaridades entre alianças e contratos, existem também algumas diferenças muito importan-
tes. Ambos são acordos obrigatórios. Contratos são feitos a partir de posições de barganha re-
lativamente iguais e ambas as partes têm liberdade de não assinar. Semelhantemente, a ali-
ança também é um acordo. Na Bíblia, porém, as alianças geralmente não são entre iguais. An-
tes, seguem o padrão comum do antigo Oriente Médio, dos tratados entre suseranos e vassa-
los. Os tratados entre suseranos e vassalos (como visto entre os reis hititas) eram firmados en-
tre um rei vencedor e o vencido. Não havia negociação entre as partes.
O primeiro elemento dessas alianças bíblicas é o preâmbulo, o qual relaciona as respecti-
vas partes. Êxodo 20.2 começa com a frase: "£« sou o Senhor, teu Deus ". Deus é o suserano; o
povo de Israel é o vassalo. O segundo elemento é o prólogo histórico. Esta seção relaciona o
que o suserano (ou Senhor) fez para merecer a lealdade — como livrou os israelitas da escra-
vidão do Egito. Em termos teológicos, esta é a seção da graça.
Na seção seguinte, o Senhor relaciona o que ele requer daqueles sobre quem governa.
Em Êxodo 20, são os Dez Mandamentos. Cada um dos mandamentos era considerado um
compromisso moral sobre toda a comunidade da aliança.
A parte final desse tipo de aliança relaciona as bênçãos e as maldições. O Senhor faz uma lista
dos benefícios que concederá aos vassalos se eles seguirem as estipulações da aliança. Um exemplo
disso se encontra no quinto mandamento. Deus promete aos israelitas que seus dias seriam longos na
Terra Prometida, se honrassem os pais. A aliança também apresenta maldições que sobreviriam se o
povo não cumprisse com suas responsabilidades. Deus adverte Israel que não os considerava como ino-
centes se falhassem em honrar seu nome. Esse padrão básico fica evidente nas alianças de Deus com
Adão,Noé, Abraão, Moisés e a aliança de Jesus Cristo com sua Igreja.
Nos tempos bíblicos, as alianças eram ratificadas com sangue. Era costume que ambas as partes
que estavam entrando em aliança passassem entre aspartes de um animal esquartejado, representando
assim sua concordância com os termos da aliança (ver Jr 34.18). Temos um exemplo desse tipo de ali-
ança em Gênesis 15.7-21. Nesse texto, Deus fez certas promessas a Abraão, as quais foram ratificadas
por meio do sacrifício de animais. Nesse caso, porém, somente Deus passou entre as partes dos ani-
mais, indicando por meio de um juramento solene que estava se comprometendo a cumprir a aliança.
A nova aliança, a aliança da graça, foi ratificada pelo derramamento do sangue de Cristo na cruz.
No âmago desta aliança está a promessa divina de redenção. Deus não só prometeu redimir todo aquele
que põe sua confiança em Cristo, mas selou e confirmou a promessa com o mais santo dos votos. Ser-
vimos e adoramos um Deus que se comprometeu para a nossa completa redenção.
Sumário
42
Elementos de uma aliança:
1. Preâmbulo: identifica o soberano.
2. Prólogo histórico: recapitula a história do relacionamento entre as partes.
3. Estipulações: relaciona as condições da aliança.
4. Juramentos/Votos: as promessas que obrigam as partes aos termos.
5. Sanções: as bênçãos e as maldições (recompensas e punições) estipuladas para a obediência ou
a violação da aliança.
6. Ratificação: o selo da aliança por meio de sangue, isto é, o sacrifício de animais, e depois a
morte de Cristo.
Para discussão e avaliação
1.Qual é a diferença entre contrato e pacto ou aliança?
2.Quais são as partes existentes num pacto ou aliança?
3.Se nos tempos bíblicos os pactos eram ratificados com sangue, por que só Deus passou entre os
animais sacrificados quando Ele fez certas promessas a Abraão (Gn 15.7-21)?
4.Existe alguma possibilidade de Deus falhar no cumprimento de sua aliança com o seu povo?
5.Qual é a nossa parte na aliança que Deus fez conosco? Há possibilidade de não cumprirmos es-
te acordo?
6.Se Deus é fiel à sua aliança, e nós somos infiéis, Deus não corre o risco de ver o seu plano de
salvação frustado pela nossa incapacidade de permanecermos fiéis ao pacto que fez conosco em/Cristo
Jesus? Ou fez Deus algo mais para garantir a nossa perseverança na fé?
7.Em que a compreensão do pacto afeta a nossa vida cristã diária?
A ALIANÇA DAS OBRAS 24
Gênesis 2.17; Romanos 3.20-26; Romanos 10.5-13; Gálatas 3.10-14
Quando Adão e Eva foram criados, entraram num relacionamento moral com Deus, seu
Criador. Tinham a responsabilidade de obedecê-lo, sem nenhum direito inerente a recompen-
sa ou bênção por tal obediência. Deus, entretanto, em seu amor, misericórdia e graça, volun-
tariamente entrou numa aliança com suas criaturas pela qual adicionou à sua lei uma pro-
messa de bênção. Não se tratava de uma aliança entre partes iguais, mas de uma aliança que
descansava sobre a iniciativa de Deus e sua autoridade divina.
A aliança original entre Deus e a humanidade foi uma aliança de obras. Nesta aliança,
Deus exigiu obediência perfeita e total ao seu governo. Prometeu vida eterna como bênção pela
obediência, mas ameaçou a humanidade com a morte, caso desobedecessem sua lei. Todos os
seres humanos, de Adão até nós, no tempo presente, inevitavelmente são membros dessa ali-
ança. As pessoas podem recusar-se a obedecer ou até mesmo recusar-se a reconhecer a exis-
tência de tal aliança, mas nunca poderão escapar dela. Todo ser humano se acha em relacio-
namento de aliança com Deus, seja como violador da aliança ou como guardador da aliança. A
aliança das obras é a base da nossa necessidade de redenção (porque nós a violamos) e nossa
esperança de redenção (porque Cristo cumpriu seus termos por nós).
Um único pecado já é suficiente para violar a aliança das obras e nos tornar devedores
que não podem pagar a própria dívida para com Deus. O fato de que ainda tenhamos esperan-
ça de redenção, mesmo depois de pecar, ainda que seja um único pecado, é devido à graça de
Deus e somente à graça de Deus.
As recompensas que receberemos de Deus no céu também são atos de graça. Represen-
tam Deus coroando seus próprios dons de graça. Se Adão tivesse obedecido a aliança divina
das obras, ele teria alcançado o mérito que procede da virtude de cumprir os requisitos da ali-
ança com Deus. Adão caiu em pecado e por isso Deus, em sua misericórdia, acrescentou uma
nova aliança com base na graça pela qual a salvação tornou-se possível e disponível.
Somente um ser humano conseguiu guardar a aliança das obras. Essa pessoa foi Jesus.
Sua ação, como segundo ou novo Adão, satisfez todos os termos da nossa aliança original com
Deus. Seu mérito em alcançar isso está disponível a quem puser sua confiança nele.
Jesus é a primeira pessoa a entrar no céu por suas boas obras. Nós também entramos
no céu pelas boas obras — as boas obras de Jesus. Elas se tornam "nossas" boas obras quan-
do nós recebemos Cristo pela fé. Quando depositamos nossa fé em Cristo, Deus credita as bo-
as obras dele em nossa conta. A aliança da graça cumpre a aliança das obras porque Deus
graciosamente aplica o mérito de Cristo em nossa conta. Desta maneira, pela graça satisfaze-
mos os termos estabelecidos na aliança das obras.
Sumário
43
1. Deus entrou numa aliança de obras com Adão e Eva.
2. Todo ser humano está inevitavelmente envolvido na aliança divina das obras.
3. Todo ser humano é violador da aliança das obras.
4. Jesus cumpriu a aliança das obras.
5. A aliança da graça nos proporciona os méritos de Cristo, pelos quais os termos da ali-
ança das obras são satisfeitos.
Para discussão e avaliação
1.No que consistia a aliança ou pacto das obras?
2.Por que Deus estabeleceu o pacto da graça após o pacto das obras?
3."Nós também entramos no céu pelas boas obras — as boas obras de Jesus." Explique
esta frase.
4.Que conseqüência direta a quebra do pacto das obras, por Adão e Eva, trouxe sobre o
nosso viver diário?
5.Como exatamente podemos ver manifestações da justiça de Cristo imputada sobre
aqueles que crêem nele? Isso modifica o viver diário de alguma forma?
6.Podemos fazer algo que possa nos dar o direito à vida eterna, mesmo estando debaixo
do pacto da graça? Então, por que existe a necessidade de obedecermos a vontade de Deus?
7.Que conseqüências práticas podemos perceber em nossa vida pelo fato de Cristo ter
cumprido cabalmente as exigências da aliança das obras?
PARTE
IV
44
A DIVINDADE DE CRISTO 25
Marcos 2.28; João 1.1-14; João 8.58; João 20.28; Filipenses 2.9-11; Colossenses 1.19
Para ser cristão, é indispensável ter fé na divindade de Cristo. Esta é uma parte essencial
do Evangelho de Cristo no Novo Testamento. Mesmo assim, em todos os séculos, a Igreja tem
sido obrigada a lidar com pessoas que alegam ser cristãs e ao mesmo tempo negam ou distor-
cem a divindade de Cristo.
Na história da Igreja houve quatro séculos durante os quais a confissão da divindade de
Cristo foi uma questão crucial e polêmica dentro da Igreja. Foram os séculos IV, V, XIX e XX.
Visto estarmos vivendo num século em que as heresias estão assaltando a Igreja, urge que a
confissão da divindade de Cristo seja resguardada.
No Concilio de Nicéia, no ano 325 d.C, a Igreja, em oposição à heresia Ariana, declarou
que Jesus é gerado e não criado, e que sua natureza divina é da mesma essência {homo ousi-
os) que a do Pai. Essa afirmação declarou que a segunda pessoa da Trindade é uma em essên-
cia com Deus o Pai. Quer dizer, o "ser" de Cristo é o ser de Deus. Ele não é simplesmente se-
melhante à Deidade — ele é a Deidade.
A confissão da divindade de Cristo é extraída do testemunho multiforme do Novo Testa-
mento. Como o Verbo Encarnado, Cristo é revelado como sendo não só preexistente em rela-
ção à criação, mas também eterno. A Bíblia diz que ele estava no princípio com Deuse tam-
bém que ele é Deus (Jó 1.1 -3). O fato de ele estar com Deus exige uma distinção pessoal den-
tro na Deidade. O fato de ser Deus exige sua inclusão na Deidade.
Em outros textos, o Novo Testamento atribui a Jesus termos e títulos claramente divinos.
Deus concedeu-lhe o preeminente título divino de Senhor (Fp 2.9-11). Como o Filho do Ho-
mem, Jesus reivindica ser o Senhor do sábado (Mc 2.28) e ter autoridade para perdoar peca-
dos (Mc 2.1 -12). Ele é chamado o "Senhor da glória" (Tg 2.1) e recebeu adoração de bom gra-
do, quando Tome confessou: "Senhor meu e Deus meu!" (Jó 20.28).
Paulo declara que a plenitude da Deidade habita em Cristo corporalmente (Cl 1.19), e
que Jesus é superior aos anjos, tema este reiterado no livro aos Hebreus. Adorar um anjo, ou
qualquer outra criatura, não importa quão exaltada ela seja, é violar a proibição bíblica contra
a idolatria. A expressão "Eu sou" repetida no Evangelho de João também testifica sobre a iden-
tificação de Jesus Cristo com a Deidade.
No século V, o Concilio de Calcedônia (451 d.C.) afirmou que Jesus era verdadeiramente
homem e verdadeiramente Deus. O concilio declarou que as duas naturezas de Jesus, huma-
na e divina, eram sem mistura, confusão, separação ou divisão.
Sumário
1. A divindade de Cristo é uma doutrina essencial do cristianismo.
45
2. A Igreja enfrentou crises causadas por heresias concernentes à divindade de Cristo
nos séculos IV, V, XIX e XX.
3. O Concilio de Nicéia (325 d.C.) afirmou a divindade de Cristo, declarando que ele é da
mesma substância ou essência que o Pai, e que ele não era um ser criado.
4.0 Novo Testamento afirma claramente a divindade de Cristo. 5. O Concilio de Calcedô-
nia (451 d.C.) declarou que Jesus era verdadeiramente Deus.
Para discussão e avaliação
1.O que o Concilio de Nicéia afirmou sobre a divindade de Cristo?
2.O que quer dizer a frase: O Verbo estava no princípio com Deus, e o Verbo era Deus?
(Jó 1.1-3)
3.Quais são algumas evidências bíblicas da divindade de Cristo?
4.Se Jesus Cristo é Deus, da mesma essência que o Pai, podemos reunir-nos para adorá-
lo em nossos atos de culto?
5.Que conseqüências há para a vida do cristão o fato de não aceitar a divindade de Cris-
to? Isso implicaria no modo de ele crer?
6.O conceito da divindade de Cristo não o coloca numa posição muito distante de nós,
seus discípulos, a quem ele chama de amigos? Por quê?
A SUBORDINAÇÃO DE CRISTO 26
João 4.34; João 5.30; Filipenses 2.5-8; Hebreus 5.8-10; Hebreus 10.5-10
O que é um subordinado? Em nosso idioma, é claro que ser subordinado a alguém é estar '"abai-
xo" de sua autoridade. Um subordinado não está no mesmo escalão; não está no mesmo nível de auto-
ridade que seu superior. O prefixo sub significa "sob", e super significa "sobre" ou "acima".
Quando falamos da subordinação de Cristo, temos de fazê-lo com grande cuidado. Nossa cultura
relaciona subordinação com inferiorização. Na Trindade, porém, todos os membros são iguais em natu-
reza, em honra e em glória. Todos os três membros são eternos e auto-existentes; todos compartilham
todos os aspectos e atributos da deidade.
No plano redentivo de Deus, entretanto, o Filho voluntariamente assume um papel de subordina-
ção ao Pai. É o Pai quem envia o Filho ao mundo. O Filho obedientemente vem à Terra para fazer a von-
tade do Pai. Temos de ter cuidado, porém, para perceber que não há nenhum senso de obediência relu-
tante. Assim como são o mesmo em glória, o Pai e o Filho também são um na vontade. O Pai deseja a
redenção tanto quanto o Filho. O Filho almeja realizar a obra de salvação, assim como o Pai almeja que
ele o faça. Jesus declarou que era consumido de zelo pela casa de seu Pai (Jó 2.17) e que sua comida e
bebida era fazer a vontade do Pai (Jó 4.34).
Finalmente, devemos observar que a subordinação e a obediência de Cristo não foram demons-
tradas apenas em meio ao sofrimento. O plano incluía todos os aspectos da obra de Cristo por nós e
sua glorificação final. A Confissão de Westminster explica a inter-relação do propósito do Pai e a obra de
Cristo:
Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu unigênito
Filho, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e
Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo: e deu-lhe desde to-
da a eternidade um povo, para ser sua semente e para no devido tempo ser por ele remido,
chamado, justificado, santificado e glorificado. (VIII) Ao submeter-se à perfeita vontade do
Pai, Jesus fez por nós aquilo que não estávamos dispostos a fazer e éramos incapazes de fa-
zer por nós mesmos: obedeceu perfeitamente à Lei de Deus. Em seu batismo, Jesus disse a
João Batista: “Assim nos convém cumprir toda a justiça”(Mt 3.15). Toda a vida e o ministério
de Jesus demonstraram sua perfeita obediência.
Ao obedecer perfeitamente à Lei, Jesus cumpriu duas coisas vitais e importantíssimas. Por um la-
do, qualificou-se para ser nosso Redentor, o Cordeiro sem mácula. Se tivesse pecado, ele não poderia
fazer expiação pelo seu próprio pecado, muito menos pelos nossos. Segundo, por meio de sua obediên-
cia perfeita, ele mereceu as recompensas que Deus prometera a todo aquele que guardasse sua aliança.
Jesus mereceu as recompensas celestiais, as quais concedeu a nós Corno o subordinado, Jesus salvou
um povo que tinha sido insubordinado.
PAI = FILHO
Iguais no ser enos atributos eternos
Sumário
1. Embora Cristo seja igual ao Pai em termos de natureza divina, é subordinado ao Pai em seu
papel na Redenção.
46
2. Subordinação não significa "inferioridade".
3. A subordinação de Cristo é voluntária.
4. A obediência perfeita de Cristo o qualificou para carregar os pecados do seu povo e para mere-
cer as recompensas celestiais prometidas aos remidos.
PAI
O Filho se subordina na obra da Redenção
FILHO
Para avaliação e discussão
1.Por que a submissão de Cristo ao Pai não significa inferioridade?
2.Quais são as conseqüências de Cristo ter obedecido integralmente à lei?
3.A submissão de Cristo ao Pai, sendo ambos iguais em essência e poder, serve de exemplo de vi-
da para nós? Como?
4.As recompensas que Jesus herdou por ter cumprido cabalmente a lei são estendidas a todos
aqueles que estão unidos a ele pela fé. Podemos nós também repartir com outras pessoas as bênçãos
que temos recebido do Pai?
5.A submissão de Cristo pode ser expressa pela frase que ele usou em sua oração durante a ago-
nia no Jardim do Getsêmani: "Pai, se possível passa de mim este cálice, mas não seja como eu quero, e
sim como tu queres". Que exemplo podemos tirar disto para nossa vida de oração?
6.A perfeita obediência de Cristo ao Pai foi voluntária. A sua morte também foi uma atitude voluntária de
submissão do Filho ao Pai. Qual deve ser o grau de nossa submissão à vontade de Deus, e em quais circunstân-
cias?
A HUMANIDADE DE CRISTO 27
João 1.1-14; Gálatas 4.4; Filipenses 2.5-11; Hebreus 2.14-18; Hebreus 4.15
Uma das doutrinas mais vitais do Cristianismo histórico é que o Deus Filho tomou uma verdadei-
ra natureza humana. O grande Concilio de Calcedônia, no ano 451 da era cristã, afirmou que Jesus é
verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, e que suas duas naturezas são assim unidas, sem
mistura, confusão, separação ou divisão, cada natureza retendo seus próprios atributos.
A humanidade real de Jesus tem sido atacada principalmente em dois aspectos. A Igreja primitiva
teve de lutar contra a heresia do docetismo, a qual ensinava que Jesus não tinha um corpo físico real ou
uma verdadeira natureza humana. Essa doutrina argumentava que Jesus apenas "parecia" ter um cor-
po, mas na realidade ele era uma espécie de ser fantasmagórico. Justamente contra isso, João declarou
veementemente que aquele que negasse que Jesus realmente se manifestou na carne era do Anticristo.
A outra grande heresia que a Igreja rejeitou foi a heresia do monofisismo, aqual argumentava que
Jesus não tinha duas naturezas, mas apenas uma. Essa natureza única não era totalmente divina nem
totalmente humana, mas um misto de ambas. Essa natureza era chamada "teantrópica". A heresia do
monofisismo defende uma natureza humana deificada ou uma natureza divina humanizada.
Formas sutis de monofisismo têm ameaçado a Igreja em todas as gerações. A tendência segue na
direção de permitir que a natureza humana seja engolfada pela natureza divina de tal maneira que as
limitações reais da humanidade de Jesus são removidas.
Temos de distinguir entre as duas naturezas de Jesus sem separá-las. Quando Jesus demonstra-
va fome, por exemplo, vemos isso como uma manifestação da natureza humana, não da divina. O que
se diz sobre a natureza divina ou da natureza humana pode ser afirmado com relação à pessoa. Na
cruz, por exemplo, Cristo, o Deus-homem, morreu. Isso, entretanto, não quer dizer que Deus morreu na
cruz. Embora as duas naturezas permanecessem unidas depois da ascensão de Cristo, ainda temos de
distinguir as naturezas, considerando o modo como ele está presente conosco. Com relação à sua natu-
reza humana, Cristo não mais está presente conosco. Entretanto, em sua natureza divina, Cristo nunca
está ausente de nós
A humanidade de Cristo é como a nossa. Ele tornou-se homem "por nossa causa". Ele entrou em
nossa situação para agir como nosso Redentor.
Tornou-se nosso substituto, tomando sobre si nossos pecados, a fim de sofrer em nosso lugar. Ele
também tornou-se nosso campeão, cumprindo a Lei de Deus em nosso favor.
Na redenção, existe uma dupla mudança. Nossos pecados são atribuídos a Jesus. Sua justiça é
atribuída a nós. Ele recebe o castigo merecido pela nossa humanidade imperfeita, enquanto nós rece-
bemos a bênção por causa da sua humanidade perfeita. Em sua humanidade, Jesus tinha as mesmas
limitações comuns a todos os seres humanos, exceto que ele era sem pecado. Em sua natureza huma-
na, ele não era onisciente. Seu conhecimento, embora fosse acurado e exato, não era infinito. Havia coi-
sas que ele não sabia, como por exemplo, o dia e a hora de sua volta à Terra. E claro que em sua natu-
reza divina ele é onisciente e seu conhecimento é ilimitado.
Como ser humano, Jesus estava restrito pelo tempo e espaço. Como todo ser humano, ele não po-
dia estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Ele suava. Sentia fome. Chorava. Sofria dores. Ele era
mortal, capaz de sofrer a morte. Em todos esses aspectos, Jesus era como nós
47
Sumário
1. Jesus tinha uma verdadeira natureza humana que estava perfeitamente unida àsua natureza
divina.
2 O docetismo dizia que Jesus não tinha um corpo físico real.
3. A heresia do monofisismo envolve a deificação da natureza humana, de modo que a humanida-
de de Jesus é eclipsada pela sua divindade.
4. A humanidade de Cristo é a base da sua identificação conosco.
5. Jesus tomou nossos pecados sobre si e partilha conosco sua justiça.
6. A natureza humana de Jesus tinha as limitações normais do ser humano, exceto que ele era
sem pecado.
Para discussão e avaliação
1. O que era o docetismo? Qual religião aceita hoje seu ensino?
2. Como se chama a heresia que ensinava que Jesus não tinha duas naturezas, mas apenas
uma?
3. Que manifestações da humanidade de Cristo podemos encontrar na Bíblia? E de sua divinda-
de?
4. Que conforto vem ao coração do crente fiel quando ele toma consciência de que Cristo sofreu
tudo o que nós sofremos?
5. É mais fácil seguir um líder, quando ele é igual a nós. Esta verdade se aplica ao nosso relacio-
namento de discipulado com Jesus? De que maneira?
6. Que bênçãos nos advêm pelo fato de Cristo ter vivido uma humanidade perfeita, sem pecado?
7. Nós temos condições de viver uma vida perfeita como a que Cristo viveu? Porquê?
A IMPECABILIDADE DE CRISTO 28
Mateus 3.15; Romanos 5.18-21; 2 Coríntios 5.21; Hebreus 7.26; 1 Pedro 3.18
Quando falamos da impecabilidade de Cristo, geralmente estamos falando de sua huma-
nidade. É desnecessário defender o caráter imaculado da divindade de Cristo, já que a divin-
dade, de acordo com nossa definição, não pode e não comete pecado. A doutrina da impecabi-
lidade de Cristo não tem sido alvo de controvérsias relevantes. Nem mesmo os hereges mais
obtusos da História negaram esse aspecto da pessoa de Cristo.
A impecabilidade de Cristo não serve meramente como exemplo para nós. É fundamental
e necessária para nossa salvação. Se Cristo não tivesse sido "o Cordeiro sem mácula", ele não
só não teria garantido a salvação de ninguém, mas ele próprio teria necessidade de um Salva-
dor. A multidão de pecados que Cristo carregou sobre si na cruz requeria um sacrifício perfei-
to. Tal sacrifício tinha de ser feito por alguém que fosse isento de pecados.
A impecabilidade de Cristo tinha aspectos negativos e positivos. Negativamente, Cristo foi
completamente livre de qualquer transgressão. Jamais transgrediu qualquer uma das leis
santas de Deus. Obedeceu escrupulosamente tudo aquilo que Deus ordenou. A despeito da
sua impecabilidade, Cristo obedeceu também a lei dos judeus, submetendo-se à circuncisão,
ao batismo e provavelmente até mesmo ao sistema de sacrifícios de animais. Positivamente,
Cristo ansiava por obedecer à lei; estava comprometido em fazer a vontade de Pai. Foi dito so-
bre ele: "Ozelo da tua casa me consumirá " (Jó 2.17). Ele próprio disse que sua comida era fa-
zer a vontade de seu Pai (Jó 4.34).
Uma questão difícil concernente à impecabilidade de Cristo é mencionada em Hebreus 4.15: "não
temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em to-
das as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado". Se Cristo foi tentado como nós somos, como po-
deria ter sido sem pecado? O problema fica ainda mais complicado quando lemos Tiago 1.14,15: "cada
um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver con-
cebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte ".
Tiago descreve um gênero de tentação que emana dos desejos pecaminosos em nosso interior. Es-
ses desejos já são de natureza pecaminosa. Se Jesus foi tentado como somos, pareceria indicar que ele
tinha desejos pecaminosos.
Entretanto, esse é precisamente o ponto da frase, "mas sem pecado", do texto de Hebreus. Jesus
tinha desejos. Contudo, não tinha desejos pecaminosos. Quando foi tentado por Satanás, o ataque veio
de fora. Era uma tentação externa. Satanás tentou seduzi-lo e fazê-lo comer durante seu período de je-
jum. Certamente Jesus tinha fome física, tinha desejo por comida. Contudo, não havia pecado algum
em sentir fome. Naquilo em que era igual a todos os homens, Jesus queria comer. Contudo, Jesus não
era igual em todas as coisas. Ele estava comprometido a obedecer à vontade do Pai. Não sentia nenhum
desejo de pecar.
48
Foi por meio da sua impecabilidade que Jesus se qualificou para ser o sacrifício perfeito por nos-
sos pecados. Entretanto, nossa salvação requer dois aspectos da redenção. Não era só necessário que
Cristo fosse nosso substituto e recebesse o castigo pelos nossos pecados; ele também tinha que cumprir
perfeitamente a lei de Deus para assegurar o mérito necessário para que recebêssemos as bênçãos da
aliança de Deus. Jesus não só morreu como o perfeito pelo imperfeito, o imaculado pelo pecaminoso,
mas também viveu a vida de perfeita obediência exigida para nossa salvação.
Sumário
1. A impecabilidade de Cristo é necessária para nossa salvação.
2. Jesus fez expiação como o Cordeiro sem mácula.
3. Cristo não foi tentado por desejos pecaminosos.
4. Por meio da sua perfeita obediência, Jesus adquiriu ajustiça (mérito) requerida para nossa sal-
vação.
Para discussão e avaliação
1.Por que a impecabilidade de Cristo é fundamental para nossa salvação?
2.Qual a diferença entre os desejos que Cristo experimentou e os nossos desejos?
3. Explique a frase: "Jesus não só morreucomo o perfeito pelos imperfeitos..., mas ele viveu a vida
de perfeita obediência requerida para a nossa salvação".
4. Como podemos impedir que uma tentação se transforme em pecado?
5. Cristo podia "não pecar". E nós, também temos a possibilidade de "não pecar"? Por quê?
6. De que maneira a perfeição de Cristo serve para confirmar sua vida como exemplo para nós?
7. Como encaramos o desafio de uma vida de santidade, diante de realidades como as relatadas
em Marcos 7.20-23?
O NASCIMENTO VIRGINAL 29
Isaías 7.10-16; Mateus 1.23; Romanos 1.3, 4; 1 Coríntios 15.45-49; Gálatas 4.4
A doutrina do nascimento virginal de Cristo sustenta que seu nascimento foi resultado
de uma concepção miraculosa, por meio da qual a Virgem Maria concebeu um bebê em seu
útero pelo poder do Espírito Santo, sem um pai humano. O nascimento miraculoso de Cristo
nos diz muito sobre sua natureza. O fato de ter nascido de uma mulher demonstra que ele era
realmente humano e que se tornou um de nós. A humanidade de Cristo, contudo, não era
precisamente como a nossa. Nós nascemos com o pecado original — Cristo, não.
O nascimento virginal também relaciona-se com a divindade de Cristo. Embora certa-
mente seja possível que a Divindade entrasse no mundo de outra maneira além de um nasci-
mento virginal, o milagre de seu nascimento aponta para sua divindade. O anúncio do anjo
Gabriel a Maria enfatiza este ponto. Quando o anjo disse a Maria que ela teria um filho, ela fi-
cou perplexa: "Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? " (Lc 1.34).
A resposta de Gabriel é de um significado decisivo para nosso entendimento do nasci-
mento virginal: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua
sombra; por isso. também o ente que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1.35). Mo-
mentos depois o anjo acrescentou: "Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as su-
as promessas" (Lc 1.37).
Excetuando-se o sistema de inseminação artificial, que representa uma variação moder-
na e não miraculosa de concepção, nada é mais regular ou comum na natureza do que a rela-
ção que resulta na concepção de um bebê. Uma mulher ficar grávida sem ter tido qualquer in-
tercurso sexual com um homem não só é biologicamente extraordinário, tal coisa é claramente
contrária às leis da natureza.
O filho de Maria, entretanto, não foi gerado por ela própria. O "'pai" do bebê é o Espírito
Santo. A linguagem bíblica, ao falar do Espírito descendo sobre Maria e a "envolvendo com sua
sombra", lembra a descrição do relato da obra do Espírito Santo na criação original do mundo.
Revela que aquela criança seria uma criação especial e que seu pai seria o próprio Deus.
Aqueles que não crêem no nascimento virginal geralmente não crêem que Jesus é o legí-
timo Filho de Deus. E assim, o nascimento virginal é como um "divisor de águas", separando
os cristãos ortodoxos daqueles que não crêem na Ressurreição e na Expiação.
Sumário
1.A Bíblia ensina claramente e sem ambigüidade o nascimento virginal
2.O nascimento de Jesus, de uma mulher, aponta para sua humanidade e sua manifes-
49
tação como o novo ou o segundo Adão.
3. O fato de Jesus ter nascido sem uma paternidade humana aponta para sua natureza
divina como o Filho de Deus.
4. A negação do nascimento virginal geralmente está ligada à negação dos elementos so-
brenaturais ou miraculosos das Escrituras.
Para discussão e avaliação
1.Como foi gerado o bebê de Maria?
2.Por que o nascimento virginal de Cristo também se relaciona com a sua divindade?
3.O que nos lembra a frase "o poder do Altíssimo te envolverá"?
4.Quais as implicações na nossa vida diária quando aceitamos que Jesus Cristo nasceu
de uma virgem?
JESUS CRISTO COMO O UNIGÊNITO 30
João 1.1-18; Colossenses 1.15-19; Hebreus 1.1-14
A referência bíblica a Jesus como "o unigênito do Pai" (Jó 1.14) tem provocado grandes
controvérsias na história da Igreja. Pelo fato de Jesus ser chamado também de "o primogênito
de toda a criação" (Cl 1.15), tem-se argumentado que a Bíblia ensina que ele não é divino, e,
sim, uma criatura exaltada.
As Testemunhas de Jeová e os Mórmons negam a divindade de Cristo apelando para es-
ses conceitos. É principalmente por causa dessa negação da divindade de Cristo que esses
grupos são considerados como seitas e não como denominações cristãs.
A divindade de Cristo tornou-se uma questão crucial no século IV, quando o herege Ário
negou a Trindade. O principal argumento dele contra a divindade de Cristo antecipou os ar-
gumentos atuais das Testemunhas de Jeová e dos Mórmons. Ário foi condenado como herege
no Concilio de Nicéia no ano 325 d.C.
Ário alegava que a palavra grega traduzida por "unigênito" significa "acontecer", "tornar-
se", ou "começar a ser". Aquilo que é gerado deve ter um início no tempo. Tem de ser finito
com relação ao tempo, que é um sinal da condição de criatura. Ser o "primogênito de toda a
criação" pressupõe o nível supremo da condição de criatura, uma categoria mais que os anjos,
mas não vai além do nível de criatura. Adorar uma criatura é praticar idolatria. Nenhum anjo,
nem qualquer outra criatura é digna de adoração. Ário via a atribuição de divindade a Jesus
Cristo como uma blasfêmia e rejeição do monoteísmo bíblico. Para Ario, Deus deve ser consi-
derado como "um", tanto no ser como em pessoa.
O Credo de Nicéia reflete a resposta da Igreja à heresia ariana. Confessa que Jesus era
"gerado, não criado". Nesta fórmula simples a Igreja demonstrava zelo em se proteger contra a
idéia de interpretar o termo unigênito significando ou implicando uma condição de criatura.
Alguns historiadores têm falhado em relação ao Concilio de Nicéia, engajando-se na defe-
sa especial ou no exercício de ginástica mental ao fugirem do significado claro e simples da
palavra grega, unigênito, e da frase "primogênito de toda a criação". A Igreja, porém, não fugiu
arbitrariamente do significado simples desses termos. Havia bases justificáveis para proteger o
termo unigênito com o qualificativo "não criado".
Primeiro, a Igreja estava procurando entender esses termos no contexto total do ensino
bíblico concernente à natureza de Cristo. Convencida de que o Novo Testamento claramente
atribui divindade a Cristo, a Igreja se pôs contra lançar uma parte das Escrituras contra ou-
tra.
Segundo, embora o Novo Testamento fosse escrito na língua grega, a maioria das formas
de pensamentos e conceitos está saturada de significados hebraicos. Os conceitos hebraicos
50
são expressos por meio do veículo da língua grega. Este fato soa como uma advertência contra
a interpretação muito literal com base nas difíceis nuanças do grego clássico. Assim como Jo-
ão usa o termo logos para referir-se a Jesus, seria um erro saturar esse termo exclusivamente
com as idéias gregas associadas ao uso da palavra.
Terceiro, o termo unigênito é usado numa forma modificada no Novo Testamento. Em Jo-
ão 1.14, Jesus é referido como "o unigênito do Pai". Em algumas traduções, em João 1.18, ele
é chamado novamente de o "Filho unigênito". Existem evidências significativas nos manuscri-
tos que sugerem que o original grego dizia "o Deus unigênito". Tivesse esse texto sido aceito,
acabaria o debate. Entretanto, se tratarmos o texto como redigido "o Filho unigênito", ainda
teremos um modificador crucial. Jesus é chamado o único gerado (gr., monogenais). O prefixo
mono no grego é mais forte do que a palavra único em nosso idioma. Jesus é absolutamente
singular em sua genitural. Ele é o único gerado. Ninguém ou nenhum outro é gerado no senti-
do como Jesus o foi. O fato de a Igreja falar sobre Jesus como o eterno unigênito é uma tenta-
tiva de fazer justiça a isso. O Filho procede eternamente do Pai, não como criatura, mas como
a Segunda Pessoa da Trindade.
O livro de Hebreus, que também refere-se a Jesus como sendo "gerado" (Hb 1.5), talvez
seja a epístola que nos fornece a mais elevada Cristologia encontradano Novo Testamento. O
único livro que rivaliza com Hebreus nesse aspecto é o Evangelho de João. E João quem cla-
ramente chama Jesus de "Deus". Também é João quem fala de Cristo como o "unigênito".
Finalmente, a frase "primogênito de toda a criação" deve ser entendida à luz do contexto
da cultura judaica do século I. Deste ponto de vista, podemos ver que o termo primogênito re-
fere-se à condição exaltada de Cristo como o herdeiro do Pai. Assim como o filho primogênito
geralmente recebia a herança patriarcal, assim Jesus, como o divino Filho, recebe o reino do
Pai como sua herança.
Sumário
1. O fato de Jesus ser chamado "o unigênito do Pai" e de "primogênito de toda a criação"
tem criado controvérsias na história da Igreja quanto à sua divindade.
2.Testemunhas de Jeová e os Mórmons usam tais passagens para negar a divindade de
Cristo.
3.O Credo de Nicéia claramente expressa que Jesus era "gerado, não criado". Essa dis-
tinção cuidadosa era um reflexo da afirmação do Novo Testamento da divindade de Cristo.
4. Jesus é chamado “o unigênito” do Pai. Jesus é o único gerado do Pai, não como criatu-
ra, mas como o eterno Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade.
5. O termo primogênito deve ser entendido à luz do contexto do judaísmo do século I. Je-
sus é o "primogênito de toda a criação" no sentido de que ele é o herdeiro de tudo aquilo que
pertence ao Pai.
Para discussão e avaliação
1.Qual era o argumento de Ário para negar a divindade de Cristo?
2.Quais seitas negam a divindade de Cristo, baseadas nos textos de João 1.14 e Colos-
senses 1.15?
3.Como devemos entender a frase "o primogênito de toda a criação" (Cl 1.15)?
4.Além de herdeiro de Deus, Cristo é chamado também no Novo Testamento "irmão mais
velho de todos os que crêem". Que bênçãos nos advêm do fato de sermos irmãos "mais novos"
de Cristo?
5.O Novo Testamento também diz que o Pai e o Filho têm uma relação de comunhão e
amor. Como somos beneficiados por esta relação especial que o Pai tem com o Filho?
6.Como a consciência da divindade de Cristo pode nos ajudar a lidar com os problemas
que freqüentemente surgem em nossas igrejas?
51
O BATISMO DE CRISTO 31
Isaías 40.3; Mateus 3.13-17; Marcos 1.1-5; 2 Coríntios 5.21
O ritual do batismo com água realizado por João Batista está intimamente relacionado
como sacramento do batismo instituído por Jesus como o sinal da Nova Aliança. Embora ha-
jauma continuidade entre ambos, não devem ser vistos como idênticos.
O batismo de João, devidamente considerado, pertence ao Antigo Testamento. Embora
leiamos sobre ele no Novo Testamento, a Nova Aliança só começou depois do ministério de Jo-
ão. Era uma exigência que Deus fez a seu povo Israel. Era um batismo de preparação. João
pregou que o Reino de Deus estava próximo. Ele era o arauto do Messias. A proximidade da
vinda do Reino de Deus foi vista na iminente aparição de Cristo. O Rei Messias estava prestes
a ser conhecido, mas o povo de Israel não estava pronto para ele. Estavam despreparados.
Não estavam limpos.
O batismo de João foi uma inovação radical. Antes dele, exigia-se que os gentios que se
convertiam ao judaísmo passassem por um ritual de purificação. Com o aparecimento de João
Batista, Deus ordenou que os judeus também se arrependessem e fossem lavados. Os líderes
religiosos judeus consideravam a exigência de João herética e insultuosa. Significava que João
Batista estava tratando os judeus como se fossem gentios impuros.
Jesus submeteu-se voluntariamente ao batismo de João, até mesmo insistindo para ser
batizado (contra os protestos do próprio João), porque em seu papel como Messias era preciso
que se submetesse a todas as exigências da lei de Deus para Israel. Em sua identificação com
seu povo, Jesus foi batizado para cumprir toda a justiça.
O marco para o início do ministério terreno de Jesus deu-se quando ele entrou no Rio
Jordão para ser batizado por João Batista. Aqui ele não só identificou-se com o pecado do seu
povo, mas também recebeu a unção do Espírito Santo para o ministério. Num certo sentido,
esta foi a ordenação de Jesus. Aqui ele iniciou sua vocação como o Cristo.
O termo Cristo significado ungido". Jesus foi ungido pelo Espírito Santo em seu batismo
e começou a cumprir o papel de Messias conforme descrito por Isaías: "O Espírito do Senhor
Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados de
coração, a proclamar libertação aos cativos e apor em liberdade os algemados" (Is 61.1).
Sumário
1. O batismo de João era uma preparação para a vinda do Messias.
2. O batismo de João era considerado como insulto pelos líderes judeus porque insinua-
52
va que eles eram "impuros".
3. Jesus foi batizado não por causa dos seus próprios pecados mas para identificar-se
com os pecadores que viera salvar
4. Jesus foi ordenado ou ungido em seu batismo.
Para discussão e avaliação
1. Por que o batismo de João Batista é considerado um batismo de preparação?
2. Por que o clero judeu considerou o batismo de João Batista herético e insultuoso?
3. Que marca o batismo de Jesus no rio Jordão realiza no seu ministério?
4. Ao submeter-se ao batismo de João, Jesus mostrou que estava disposto a cumprir tu-
do o que era necessário, como membro da raça humana. Embora fosse Deus, Jesus nos deu
uma lição de humildade. O que efetivamente podemos fazer para seguir este exemplo de Jesus
nos dias de hoje?
5. Mesmo sendo Deus, Jesus somente iniciou o seu ministério após ter sido ungido por
Deus, no seu batismo. Que lições podemos tirar disso para o nosso serviço cristão?
6. O orgulho dos líderes religiosos judeus impediu-os de serem batizados por João. Que
outras bênçãos podemos perder quando agimos com orgulho diante de Deus?
7. O ministério de João Batista foi preparar o caminho para a vinda do Messias. Em que
sentido nossa vida cristã pode assemelhar-se ao ministério de João nos dias de hoje?
A GLÓRIA DE CRISTO 32
Mateus 17.1-9; Marcos 13.24-27; Hebreus 1.1-3; Apocalipse 22.4, 5
Temos a tendência de pensar em glória como algo a ser atingido por vitórias extraordiná-
rias num esporte, de realizações comerciais ou por meio da fama pessoal. Na Bíblia, porém,
glória tem a ver com o brilho radiante que emana da transcendente majestade de Deus. Em
momentos cruciais, o esplendor da divindade de Jesus irrompeu de dentro do manto de sua
humanidade.
A glória de Cristo talvez nunca tenha se tornado tão evidente quanto na Transfiguração.
A palavra grega para transfiguração é metamorphoomai, da qual se deriva nossa palavra me-
tamorfose. Denota uma mudança de forma, como, por exemplo, a transformação que ocorre
quando uma crisálida se transforma numa borboleta. O prefixo trans significa literalmente
"através de". Na transfiguração, um limite ou barreira foi transposta. Podemos chamar de cru-
zar a linha entre o natural e o sobrenatural, entre o humano e o divino. A transfiguração cru-
zou a fronteira das dimensões e entrou na esfera de Deus.
Na Transfiguração, uma luz radiante brilhou de Jesus. Essa luz foi a manifestação visível
de que a barreira tinha realmente sido transposta. Existem algumas similaridades entre esta
manifestação de glória e o brilho no rosto de Moisés quando retornou do monte Sinai com os
Dez Mandamentos. As diferenças, contudo, são significativas. A face de Moisés brilhou com
glória refletida. Cristo não refletiu simplesmente o brilho da glória divina, mas sua glória é o
resplendor da glória divina. Neste sentido, sua glória claramente transcende a glória refletida
no rosto de Moisés.
Cristo, portanto, não refletiu uma luz, mas ele mesmo era a fonte da luz. A Transfigura-
ção era uma mostra do que os cristãos iriam experimentar naNova Jerusalém. Em Apocalipse
21.23, João explica que a cidade celestial não terá necessidade do sol ou da lua para iluminá-
la. A glória de Deus a iluminará. O Cordeiro será sualuz. João escreve: "Contemplarão a sua
face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de
candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos
dos séculos” (Ap 22.4, 5).
Não deveríamos ficar surpresos pelo fato de a glória de Cristo ter brilhado na Transfigu-
ração. A surpresa deveria ser pelo fato de que ele voluntariamente escondeu sua glória por
amor dos seus filhos.
Sumário
53
1. A glória de Cristo se revelou na Transfiguração.
2. A Transfiguração de Cristo foi uma mudança de forma e o transpor do natural para o
sobrenatural.
3. A glória de Cristo não é um simples reflexo da glória de Deus, mas a própria glória de
Deus.
Para discussão e avaliação
1.Que limite ou barreira foi ultrapassada na Transfiguração de Cristo?
2.Qual é a diferença entre a glória de Cristo no monte e a glória que Moisés refletiu
quando desceu do Sinai?
3.De que maneira podemos refletir a glória de Deus em nossas atitudes do dia-a-dia?
4.A luz que vem da presença de Deus iluminará continuamente a Nova Jerusalém (con-
forme Apocalipse 22.4, 5). Hoje, o que ilumina a nossa vida para fazermos o que é correto e di-
reito?
5.Que atitudes nossas podem impedir que a glória de Cristo seja refletida em nós?
6.Que relação tem a glória de Cristo com o fato de sermos "luz do mundo"? Como o mun-
do pecaminoso pode receber o brilho da glória que existe na pessoa de Cristo?
A ASCENSÃO DE CRISTO 33
Lucas 24.50-53; Romanos 8.34; Romanos 14.9, 10; Efésios 4.7-8; Hebreus 9.23-28
A importância da Ascensão é freqüentemente ignorada na Igreja moderna. Temos cele-
brações especiais e feriados para comemorar o nascimento (Natal), a morte (Sexta-feira da Pai-
xão) e a ressurreição de Cristo (Domingo de Páscoa). A maioria das igrejas, entretanto, faz
pouca ou nenhuma menção à Ascensão. No entanto, a Ascensão é um evento de profunda im-
portância no processo da redenção. Marca o momento do ponto mais elevado da exaltação de
Cristo antes do seu retorno ao céu. Foi na Ascensão que Cristo entrou na sua glória.
Jesus descreveu sua partida desta terra como sendo melhor para nós do que sua pre-
sença permanente. Quando anunciou sua partida pela primeira vez aos discípulos, eles fica-
ram tristes com a notícia. Contudo, mais tarde compreenderam a importância deste grande
evento. Lucas nos registra a Ascensão:
Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o en-
cobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus su-
bia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disse-
ram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre
vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. Atos 1.9-11
Notamos que Jesus partiu numa nuvem. Provavelmente esta seja uma referência à
Shekinah, a nuvem da glória de Deus. A Shekinah excede qualquer nuvem comum em radiân-
cia. Representa a manifestação visível da glória radiante de Deus. Portanto, a forma como Je-
sus partiu de maneira alguma foi comum. Foi um momento de esplendor extraordinário.
"Ascender" significa "subir" ou "elevar". Entretanto, quando o termo ascensão é usado
com relação a Cristo, tem um significado mais profundo, mais rico e mais específico. A ascen-
são de Jesus foi um evento único. Vai além de Enoque sendo levado diretamente para o céu
ou a artida do profeta Elias numa carruagem de fogo.
A ascensão de Jesus refere-se à sua ida para um lugar especial, com um propósito espe-
cial. Ele foi para o Pai, para sentar-se à direita dele. Foi elevado para a sede de autoridade
cósmica. Jesus subiu ao céu para sua coroação, sua confirmação como Rei dos reis.
Jesus também ascendeu para entrar no Santo dos Santos celestial a fim de continuar
sua obra como nosso grande Sumo Sacerdote. No céu, ele governa como Rei e intercede por
nós como nosso Sumo Sacerdote. Desta sua posição de autoridade elevada, ele derramou seu
Espírito sobre a Igreja. João Calvino observa:
Sendo elevado ao céu, ele retirou sua presença corpórea da nossa vista; isso não quer
54
dizer que cessou de estar com seus seguidores, os quais ainda são peregrinos sobre
a terra, mas significa que pode governar tanto o céu como a Terra mais imediatamen-
te pelo seu poder. (II, XVI, 14)
Quando Jesus ascendeu ao céu para sua coroação como Rei dos reis, assentou-se à mão
direita de Deus. A destra de Deus é a sede de autoridade. Desta posição Jesus governa, admi-
nistra seu reino e preside como Juiz do céu e da terra.
A destra do Pai, Jesus está sentado como a Cabeça do seu Corpo, a Igreja. No entanto,
nesta posição, sua autoridade e jurisdição de governo e administração estendem-se para além
da esfera da sua Igreja e engloba o mundo todo. Embora a Igreja e o Estado sejam distintos
dentro do domínio de Cristo, nunca são separados ou divorciados. Sua autoridade estende-se
sobre ambos. Todos os governadores do mundo devem prestar contas a ele e serão julgados
por ele em sua função de Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Todos no céu e na terra são chamados por Deus para reverenciarem a majestade de Je-
sus, para serem governados por sua mão, para darem-lhe a honra devida e submeterem-se ao
seu poder. Finalmente, todos estarão diante dele, quando ele assentar-se para o julgamento
final.
Jesus tem autoridade para derramar seu Espírito Santo sobre a Igreja. Entretanto, ele só
derramou seu Espírito depois que se sentou à destra de Deus. O Espírito ministra em subor-
dinação ao Pai e ao Filho, os quais juntos o enviaram para aplicar a obra de salvação que
Cristo adquiriu para os crentes.
Sentado à mão direita de Deus, Jesus não só exerce seu papel como Rei dos reis, mas
também desempenha a função de juiz cósmico. Ele é o juiz sobre todas as nações e todas as
pessoas. Embora Jesus governe como nosso juiz, ele foi designado por Deus para ser também
nosso advogado. Ele é nosso defensor. No julgamento final, o advogado nomeado para nos de-
fender será o próprio juiz que preside. Uma amostra da intercessão de Jesus em favor dos
santos pode ser vista no martírio de Estêvão:
Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glóriade Deus e Jesus
que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo oscéus abertos e o Filho do homem em
pé à destra de Deus! Atos 7.55,56
Sumário
1. A Ascensão recebe pouquíssima atenção na Igreja moderna.
2. A Ascensão marca um ponto extremamente importante da exaltação de Cristo na his-
tória da redenção.
3 Cristo partiu numa nuvem de glória.
4. Cristo ascendeu a um lugar específico, com um propósito específico: sua coroação co-
mo Rei dos reis
5. Em sua ascensão, Cristo tomou posse de sua função como Sumo Sacerdote celeste e
está sentado à destra de Deus, a sede de autoridade cósmica.
6. Desta posição à direita de Deus, Jesus autorizou o derramamento do Espírito Santo
no Dia de Pentecostes.
7. Em sua posição de autoridade, Jesus é o juiz sobre todos.
8. Jesus também serve como o Advogado ou defensor em favor do seu povo.
Para discussão e avaliação
1. Qual foi o propósito da ascensão de Cristo?
2. O que significa o fato de que Jesus está assentado à mão direita do Pai?
3.Que conseqüência prática tem para a nossa vida a ascensão de Cristo e sua coroação
como Rei dos reis e Senhor dos senhores? Isso faz alguma diferença na vida profissional, es-
tudantil e familiar, por exemplo?
4.Que diferença faz, na nossa luta contra o pecado, a tentação e o diabo, o fato de Cristo
estar assentado à direita de Deus Pai, julgando e governando todas as coisas?
5.Que conforto podemos ter em nossa vida pelo fato do Cristo glorificado ser o nosso ad-
vogado perante Deus Pai?
6. Existe a possibilidade do inimigo de Deus fazer o que quiser com a nossa vida? Sim,
não, por quê?
55
JESUS CRISTO COMO MEDIADOR 34
Romanos 8.33, 34; 1 Timóteo2.5; Hebreus 7.20-25; Hebreus 9.11, 12
Um mediador é um intermediário. E aquele que fica entre duas ou mais pessoas ou gru-
pos em disputa e tenta promover sua reconciliação. Em termos bíblicos, os seres humanos são
descritos como vivendo em inimizade contra Deus. Nós nos rebelamos, nos revoltamos e nos
recusamos obedecer a Lei de Deus. Como resultado, a ira de Deus permanece sobre nós. Para
que esta situação catastrófica seja mudada ou remediada, é necessário que nos reconciliemos
com Deus.
Para efetuar nossa reconciliação, Deus o Pai designou e enviou seu Filho para ser nosso
Mediador. Cristo traz a nós nada menos que a majestade divina do próprio Deus — ele é o
Deus encarnado. Para isso, ele tomou para si uma natureza humana e voluntariamente sub-
meteu-se às exigências da lei de Deus.
Cristo não iniciou a reconciliação tentando persuadir o Pai a deixar de lado sua ira. Ao
contrário, no conselho eterno da Deidade houve completa concordância entre o Pai e o Filho
de que este deveria vir como nosso Mediador. Nenhum anjo poderia representar Deus adequa-
damente em relação a nós; somente o próprio Deus poderia fazê-lo.
Na encarnação, o Filho tomou para si a natureza humana a fim de efetuar a redenção da
descendência caída de Adão. Por meio da sua perfeita obediência, Cristo satisfez as exigências
da lei de Deus e mereceu a vida eterna para nós. Por sua submissão à morte expiatória na
cruz, ele satisfez as exigências da ira de Deus contra nós. Positiva e negativamente, Cristo sa-
tisfez os requerimentos divinos para a reconciliação. Estabeleceu para nós uma nova aliança
com Deus por meio do seu sangue e continua a interceder por nós diariamente como nosso
Sumo Sacerdote.
Um mediador eficiente é aquele capaz de gerar a paz entre as partes em conflito ou inimi-
zadas. Este foi o papel que Jesus desempenhou como nosso perfeito Mediador. Paulo declarou
que temos paz com Deus por intermédio da obra de Cristo de reconciliação: "Justificados, pois,
mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo " (Rm 5.1).
A obra medianeira de Cristo é superior a de todos os outros mediadores. Moisés foi o me-
diador da antiga aliança. Serviu como intermediário de Deus, dando a lei aos israelitas. Jesus,
porém, é superior a Moisés. O autor de Hebreus declara:
Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés,
quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu. Pois toda casa é es-
56
tabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus. E Moisés
era fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam
de ser anunciadas; Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós,
se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança. Hebreus 3.3-
6
Sumário
1. Um mediador age para promover a paz entre as partes inimizadas.
2. Cristo, como Deus-homem nos reconcilia com o Pai.
3. Cristo e o Pai estão concordes, desde a eternidade, de que Cristo seria nosso Media-
dor.
4. A obra medianeira de Cristo é superior a dos profetas, dos anjos e de Moisés.
Para discussão e avaliação
1.O que é um mediador?
2.Como foi que Cristo satisfez os requerimentos divinos para a reconciliação?
3.Por que nossas orações são feitas em nome de Jesus?
4.Que bênçãos nos vêm da obra de reconciliação que Cristo efetuou entre nós e Deus,
como nosso Mediador?
5.O que o nosso Mediador continua fazendo por nós hoje?
6.Qual a eficácia da mediação de Cristo por nós, segundo o texto de Hebreus 3.23-25?
Ele pode realmente compreender as nossas necessidades e levá-las diante do trono do Pai? Por
quê?
OS TRÊS OFÍCIOS DE CRISTO 35
Salmos 110; Isaías 42.1-4; Lucas 1.26-38; Atos 3.17-26: Hebreus 5.5, 6
Uma das grandes contribuições para o entendimento dos cristãos sobre a obra de Cristo
é a exposição de João Calvino dos três ofícios de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei (Institu-
tos II, XV). Como Profeta de Deus por excelência. Jesus era tanto o objeto quanto o agente da
profecia. Sua pessoa e sua obra são os pontos focais da profecia do Antigo Testamento, en-
quanto ele próprio é um profeta. Nas declarações proféticas do próprio Jesus, o Reino de Deus
e o seu papel dentro desse Reino vindouro são os temas principais. A atividade principal de
um profeta era declarar a Palavra de Deus. Jesus não só declarou a Palavra de Deus, mas ele
é a própria Palavra de Deus. Jesus foi o supremo profeta de Deus, sendo a Palavra de Deus na
carne.
O profeta do Antigo Testamento era um tipo de mediador entre Deus e o povo de Israel.
Ele falava ao povo da parte de Deus. O sacerdote falava com Deus em favor do povo. Jesus
também desempenhou o papel do grande Sumo Sacerdote. Os sacerdotes do Antigo Testamen-
to ofereciam sacrifícios regularmente, mas Jesus ofereceu um sacrifício de valor eterno, uma
vez por todas. A oferta de Jesus ao Pai foi o sacrifício de si mesmo. Ele era tanto a oferta
quanto o ofertante.
Enquanto no Antigo Testamento as funções medianeiras de profeta, sacerdote e rei eram
ocupadas separadamente por indivíduos, todas as três funções foram ocupadas supremamen-
te na única pessoa de Jesus. Jesus cumpriu a profecia messiânica do Salmo 110. Ele é o des-
cendente e Senhor de Davi. E o Sacerdote que também é o Rei. O Cordeiro que foi morto é
também o Leão de Judá. Para obter plena compreensão da obra de Cristo não devemos vê-lo
simplesmente como profeta, ou como sacerdote, ou como rei. Todos os três ofícios são perfei-
tamente desempenhados por ele.
Sumário
1. Jesus é o cumprimento da profecia do Antigo Testamento e ele próprio é profeta.
2. Jesus era tanto o Sacerdote como o sacrifício. Como Sacerdote, ele se ofereceu como o
sacrifício perfeito pelo pecado.
3. Jesus é o ungido Rei de todos os reis e Senhor de todos os senhores.
57
Os Três Ofícios de Mediação
DEUS
Profeta Sacerdote Rei
O Povo de Deus
Para discussão e avaliação
1.Quais são os três ofícios de Cristo?
2.Por que Cristo é chamado o supremo profeta de Deus?
3.Por que é dito que Cristo é tanto a oferenda como o ofertante no ofício sacerdotal?
4.Que significado tem para o povo de Deus, nos dias de hoje, a compreensão de Jesus
com o Rei dos reis e Senhor dos senhores?
5.A profecia de Jesus que maior esperança traz ao cristão é, sem dúvida, a da sua volta
para buscar o seu povo. Que diferença isso faz no dia-a-dia da vida do cristão? Que diferença
deve fazer?
6.Jesus cumpriu totalmente o ofício do Grande Sacerdote do Antigo Testamento. No mo-
mento de sua morte na cruz, o véu do santuário, que separava o santo lugar do santíssimo lu-
gar, (onde estava a arca da aliança que representava a presença de Deus) rasgou-se de alto a
baixo, deixando claro que Cristo abrira um novo e vivo caminho entre os homens e Deus (Hb
10.19-22). Hoje, que benefícios temos por nos aproximarmos do trono de Deus de forma dire-
ta, por meio de Jesus, nosso Grande Sumo sacerdote?
OS TÍTULOS DE JESUS 36
Gênesis 1.1-2.3; Mateus 9.1-8; Mateus 16.13-21; João 1.1-18; Apocalipse 19.11-16
Jesus de Nazaré recebeu mais títulos do que qualquer outra pessoa na História. Uma lista
breve incluiria o seguinte:
Cristo
Senhor
Filho do Homem
Salvador
Filho de Davi
Grande Sumo Sacerdote
Filho de Deus
Alfa e Ômega
Mestre
Professor
Justiça
Profeta
Rosa de Sarom
Lírio dos Vales
Advogado
Leão de Judá
Cordeiro de Deus
Segundo Adão
Os principais títulos dados a Jesus são:
1.Cristo. O título Cristo é usado com tanta freqüência, referindo-se a Jesus, que as pessoas
às vezes o confundem com seu segundo nome. Entretanto, não se trata de um nome, mas de um
título que indica sua posição e sua obra como Messias. O termo Cristo vem da palavra grega Chris-
tos, usada para traduzir a palavra hebraica para Messias. Tanto Cristo quanto Messias significam
"o Ungido".
No Antigo Testamento, o conceito do Messias prometido, o qual seria singularmenteungido
58
pelo Espírito Santo, era uma idéia complexa, com muitas interpretações. Os judeus não tinham
todos a mesma idéia sobre o Messias.
Um conceito sobre o Messias era que ele seria um rei. Seria o Filho ungido de Davi, o Leão de
Judá, o qual restauraria o reino caído de Davi. (Este aspecto excitava grandemente os judeus e
avivava as chamas da esperança em um governante político que iria libertá-los da sujeição a Ro-
ma.)
O Messias, porém, era também chamado o Servo de Deus, na verdade o Servo Sofredor men-
cionado na profecia de Isaías. Parecia praticamente impossível unir esses dois papéis numa só
pessoa, embora obviamente fossem unidos em Jesus.
O Messias também seria um ser celestial (Filho do Homem) e teria uma relação única com o
Deus Pai (Filho de Deus). Seria também profeta e sacerdote. Quanto mais percebemos o quanto o
conceito do Messias era complexo, mais ficamos maravilhados com a maneira intrincada pela qual
todos esses aspectos foram reunidos na pessoa e na obra de Jesus.
2.Senhor.O segundo usado com maior freqüência para Jesus no Novo Testamento é o título
Senhor. Este título é de suprema importância para o entendimento do perfil de Jesus no Novo Tes-
tamento. O termo senhor é usado de três maneiras distintas no Novo Testamento. A primeira é
uma forma comum de tratamento, semelhante ao nosso uso de "senhor" [sim, senhor; Sr. José
etc.]. O segundo uso refere-se ao dono de escravos, ou "amo". Aqui é aplicado num sentido figura-
do a Jesus. Ele é o nosso Dono. O terceiro é o uso imperial. Refere-se àquele que é soberano.
No século I, os imperadores romanos exigiam um juramento de lealdade por parte dos súdi-
tos, por meio do qual exigia-se que repetissem a fórmula: "César é Senhor". Os cristãos eram tortu-
rados por se recusarem a concordar com isso. Em vez disso, proclamaram o primeiro credo cristão:
"Cristo é o Senhor". Chamar Jesus de "Senhor" era radical não só do ponto de vista dos romanos,
mas especialmente do ponto de vista dos judeus, pois era o título dado ao próprio Deus no Antigo
Testamento.
O título Senhor foi concedido a Jesus por Deus o Pai. É o "nome que está acima de todo no-
me", sobre o qual Paulo fala em Filipenses 2.9.
3. Filho do Homem.Este é um dos mais fascinantes títulos dados a Jesus e talvez o que é
mais freqüentemente mal-interpretado. Pelo fato de que a Igreja confessa a dupla natureza de Je-
sus, que ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, e porque a Bíblia descreve Jesus
como Filho do Homem e Filho de Deus, é tentador concluir que Filho do Homem refere-se à huma-
nidade de Jesus e Filho de Deus refere-se à sua divindade. Esse, entretanto, não é exatamente o
caso. Embora o título Filho do Homem inclua um elemento de humanidade, sua referência primária
é à natureza divina de Jesus. O título Filho de Deus também inclui uma referência à divindade,
mas sua ênfase primária é sobre a obediência de Jesus como filho.
Este título. Filho do Homem, tem ainda mais importância quando compreendemos que, embo-
ra esteja em terceiro lugar (bem embaixo na lista), em termos de freqüência de uso no Novo Testa-
mento (atrás de Cristo e Senhor), está em primeiro lugar (com uma grande margem) nos títulos que
Jesus usava para referir-se a si próprio. Filho do Homem é a designação mais favorita de Jesus pa-
ra si mesmo.
A importância deste título é tirada da sua ligação com o uso que Daniel fez dele no Antigo
Testamento (ver Dn 7). Ali, Filho do Homem claramente referia-se a um ser celestial que agia como
um Juiz cósmico. Nos lábios de Jesus o título não é um exercício de falsa humildade, mas uma
ousada reivindicação de autoridade divina. Jesus alegou, por exemplo, que o Filho do Homem ti-
nha autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10), uma prerrogativa divina, e era Senhor do sábado
(Mc 2.28).
4. O Logos.Nenhum título de Jesus despertou mais intenso interesse filosófico e teológico nos
primeiros três séculos do que o título Logos. O Logos era central no desenvolvimento da Cristologia da
Igreja Primitiva. O prólogo do Evangelho de João é crucial para este entendimento cristológico do Logos.
João escreve: "No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo (Logos) estava com Deus, e o Verbo (Logos) era
Deus " (Jó 1.1).
Nesta passagem notável, o Logos é tanto distinto de Deus ("estava com Deus"), quanto identificado
com Deus ("era Deus"). Este paradoxo teve grande influência no desenvolvimento da doutrina da Trin-
dade, em que o Logos é visto como a Segunda Pessoa da Trindade. Ele difere em pessoa do Pai, mas é
um em essência com o Pai.
E fácil de entender por que os filósofos cristãos foram atraídos pelo conceito do Logos como um tí-
tulo de Jesus. Embora o termo possa ser traduzido simplesmente como "palavra", ele tinha um histórico
de utilização como termo técnico na filosofia o qual deu ao Logos um significado muito rico. Os antigos
gregos preocupavam-se com o sentido do universo e por isso se engajaram numa busca pela "realidade
suprema" (metafísica). Eles buscavam o fator unifícador ou o poder que traria a ordem e a harmonia na
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amplamente diversificada esfera da criação (cosmologia). Os filósofos procuravam por uma nous (mente)
à qual (ou a quem) poderiam atribuir a ordem de todas as coisas. A essa realidade suprema unificadora
os gregos deram o nome de Logos. Ela proporcionaria a coerência ou a "lógica" da realidade. O conceito
foi usado por Heráclito e posteriormente pela filosofia Estóica, na qual era usada como uma lei cósmica
e abstrata.
Embora desta maneira o termo fizesse parte da bagagem da filosofia grega anterior ao Cristianis-
mo, o uso bíblico do Logos vai muito além do uso grego. Em Gênesis 1 3 e seguintes, a Bíblia diz: “Disse
Deus... e assim se fez”. Desta maneira, foi por meio da Palavra de Deus que a criação veio à existência.
O que distancia o conceito do Logos da filosofia grega, de maneira mais significativa, contudo, é que o
Logos do Novo Testamento épessoal — a Palavra é uma pessoa divina e tornou-se um homem, o qual vi-
veu e morreu em nosso mundo.
Sumário
1. Messias significa "ungido" e é usado como um título de Jesus indicando seu papel tanto como
Rei como Servo Sofredor. Messias é o título usado com mais freqüência referindo-se a Jesus.
2. Senhor é o segundo título usado com mais freqüência para Jesus e refere-se à sua autoridade
suprema como Soberano do universo.
3. Filho do Homem é o título que o próprio Jesus usava com mais freqüência referindo-se a si
mesmo. Este título refere-se primariamente ao papel de Jesus como Juiz de todo o cosmos.
4. O título Logos tem uma rica herança tanto da cultura grega como da judaica. Jesus é o Logos
— o Criador do universo, a realidade suprema por trás dele e aquele que está constantemente susten-
tando-o.
Para discussão e avaliação
1. O que significa o termo Messias?
2. Qual foi o título que Jesus mais usou referindo-se a si mesmo?
3. Qual é o título de Jesus que nos lembra que ele está constantemente sustentando o universo?
4. Proclamar Jesus com o Senhor absoluto de nossa vida provoca algum tipo de perseguição hoje
em dia?
5."Por que o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido"? O que significa esta
frase de Jesus em sua vida?