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SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO CAPACITAÇÃO AOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL & CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SETOR DE FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL - PAC "Desatenção e notas baixas na escola não são sinônimos de falta de inteligência. Às vezes o problema está na incapacidade de lidar com os sons da fala e com o barulho". Ouvir é uma habilidade que depende da integridade do sistema auditivo periférico e central, bem como das experiências do indivíduo com seu meio. Audição e linguagem são funções correlacionadas, interdependentes, que estabelecem o contato do homem com o meio ambiente, promovendo a sua integração intelectual e social. A primeira função envolve a participação de redes neurais complexas que atuam de maneira diferenciada no processamento de sons ao longo das vias auditivas centrais. Já a segunda envolve um processo altamente complexo, uma vez que está diretamente relacionado à elaboração e simbolização do pensamento humano. (OSTERNE in PEREIRA & SCHOCHAT, 1997; PEREIRA in PEREIRA & SCHOCHAT, 1997) Quando referimos em habilidades falamos em órgãos dos sentidos que, através deles adquirimos o conhecimento, as experiências vividas para um prefeito desenvolvimento. Fatores que interferem na integridade deste sentido, principalmente da audição, podem levar a prejuízos na aprendizagem da fala, leitura ou escrita e/ou outros déficits. “Processamento auditivo se refere aos processos envolvidos na detecção, na análise e na interpretação de eventos sonoros. Estes processos acontecem no sistema auditivo periférico e no sistema auditivo central. É desenvolvido nos primeiros anos de vida, portanto é a partir da experienciação do mundo sonoro que aprendemos a ouvir.” • Mendonça in Aquino (2002, p.136) relata que: Crianças que apresentam dificuldades em processar os estímulos sonoros da fala poderão apresentar dificuldade em segmentar e manipular a estrutura fonológica da linguagem oral e, consequentemente, estarão sujeitas a apresentar dificuldades de leitura e escrita. • Para Fellipe in Aquino (2002, p. 101): Desordens do processamento auditivo estão intimamente relacionadas a dificuldades na linguagem oral e escrita, pois a audição é a principal via de entrada para a aquisição da linguagem oral, e, embora a linguagem escrita tenha suas peculiaridades, é baseada na linguagem oral, na escrita alfabética, sendo que ambos (sistema escrito e oral) se interpenetram. Entende-se por Processamento Auditivo Central (PAC) conjunto de processos e mecanismos que ocorre dentro do Sistema Auditivo (cérebro) em resposta ao som recebido. A estes processos e mecanismos ocorridos damos o nome de habilidades auditivas que são: 1. Atenção seletiva: - Capacidade de monitorar um determinado estímulo auditivo, mesmo que a atenção primária esteja voltada para outra atividade. Por exemplo, responder a uma pergunta quando está andando de bicicleta. Reagir a um determinado estímulo auditivo significativo e ignorar o ruído de fundo, por exemplo, conversa com um grupo de pessoas num restaurante. 2. Detecção do som: - Identificar a presença do som. Junto à detecção do som ocorre a sensação sonora, que é própria de cada indivíduo, é a partir dessa sensação que podemos dizer, por exemplo, se um som é alto ou baixo. 3. Discriminação: - É o processo de detectar diferenças entre os padrões de estímulos sonoros, por exemplo, detectar diferenças mínimas de freqüência (agudo "fininho" ou grave "grosso), intensidade (alto ou baixo), tempo e duração (longo ou curto de um som). 4. Localização: - Significa saber o local de origem do som. Requisitos: detectar o som em ambas as orelhas e perceber diferenças de intensidade. 5. Reconhecimento: - É a identificação correta de algum som, considerado um comportamento prendido. Por exemplo, reconhecer a voz da própria mãe, som de um avião, de um ônibus, etc. 6. Compreensão: - É compreender o significado da informação auditiva, por exemplo, dar uma ordem para a criança e ela corresponder corretamente. Por exemplo, mostre o pé, a criança mostra o pé. 7. Memória: - Processo que permite arquivar as informações. O desenvolvimento desses sub- processos, chamados de habilidades auditivas ocorre nos primeiros anos de vida que dependem da interação destas habilidades inatas e das experiências da criança no seu ambiente acústico (sonoro). Katz (1992) classifica os tipos de Desordem de Processamento Auditivo apoiado em causas comuns que poderiam influenciar nas alterações das habilidades auditivas. Os três tipos de categorias quanto ao tipo de prejuízo envolvido nas DPA são: Decodificação, Codificação e Organização. * Decodificação: envolve a aquisição de conhecimentos através da habilidade de análise acústica do estímulo e está muito relacionada com a capacidade de reconhecimento da palavra. * Codificação: envolve a capacidade de integração das diversas informações sensoriais auditivas e das auditivas com outras informações sensoriais não- auditivas. * Organização: responsável pelos processos envolvidos na aquisição de conhecimentos adquiridos com a habilidade de seqüencializar eventos sonoros, o que estaria muito relacionado com a memória auditiva. Katz também associa os tipos de Desordens de Processamento Auditivo com algumas habilidades auditivas e manifestações clínicas. Tipos de Desordens de Processamento Auditivo (DPA). Tipo de desordem Problemas associados Decodificação Dificuldade de ouvir (pede repetições ou sons intensos) Dificuldade de compreender em ambiente ruidoso Problemas de fala Problemas de escrita (trocas e orientação D/E) Lenta para aprender Codificação Linguagem expressiva Dificuldade de compreensão (oral e escrita) Distração Disgrafias Problemas comportamentais Organização Quando entretido não responde Desorganização na escola e no lar Inversões na fala e escrita Manifestações Comportamentais na Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC): • crianças desatentas (atenção reduzida); • crianças que não acompanham uma conversa com muitas pessoas falando ao mesmo tempo; • não compreendem facilmente piadas ou duplo sentido; • não atendem prontamente quando chamadas ou precisam ser chamadas várias vezes; • têm dificuldade para falar determinados fonemas ou para discriminar sons da fala; • se atrapalham ao contar uma história ou dar um recado; • não relacionam a informação auditiva com a visual; • histórias de infecções no ouvido, perda auditiva nos primeiros anos de vida; • dificuldades escolares (matemática e português); • dificuldades para aprender a ler e a escrever; • escrevem em "espelho" ou trocam as letras; • letra "feia"; • não sabem qual é a direita e qual é a esquerda; • não entendem corretamente o que lêem; • problemas de memória, geralmente memória em seqüência; • muito agitadas ou muito quietas; • dificuldades de relacionamento com crianças da mesma faixa etária. Manifestações Clínicas na Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC): • prejuízo de localização sonora; • prejuízo de memória auditiva para sons em seqüência; • prejuízo de identificação de palavras decomposta acusticamente (soletrar); • prejuízo de identificação de sílabas e/ou frases na presença de uma mensagem competitiva. Origens da DPAC: • como genética (filhos podem apresentar algumas características dos pais), • crianças que apresentam ou apresentaram otites de repetição (inflamação de ouvido) nos primeiros anos de vida, • processos alérgicos ou inflamatórios nas vias aéreas superiores, entre outras. Para se fazer um diagnóstico preciso do PAC é necessário a realização da avaliação audiométrica, testes especiais das habilidades auditivas e observações comportamentais. Com a avaliação concluída há um direcionamento que contribui para terapia fonoaudiológica ou psicopedagógica, dependendo do seu tipo de desordem. Como Pais e Professores Podem Ajudar? • antes de começar a falar, chame, olheou toque a criança e garanta que ela está olhando para você; • fale mais alto, sem gritar, olhando para a criança de frente; • fale pausado, mais articulado; • repita a ordem várias vezes, garanta que a criança entendeu aquilo que foi solicitado pedindo a ela para repetir; • use frases mais curtas; • adicione palavras diferentes à fala da criança, para que ela possa ampliar o vocabulário; • no início, diminua os barulhos da casa (desligar o rádio ou a TV), ou da sala de aula (pedir silêncio, fechar as janela quando possível), enquanto se fala com a criança; • criar situações de comunicação com seu filho de pelo menos 30 minutos diários; • contar histórias, cantar músicas, perguntar sobre as atividades do dia. Na presença da disfunção do processamento auditivo central, incluir na conversação diária um treino de compreensão de linguagem no silêncio e no ruído, com a leitura de histórias com duração de 15 minutos. Como estimular o Processamento Auditivo: 1. Decodificação: Deverá enfatizar o treino das habilidades auditivas de consciência fonológica (análise e síntese) associada à leitura e o treino dos aspectos de discriminação de freqüência, intensidade e duração de sons não-linguísticos e de sons verbais. 2. Codificação: Deverá enfatizar o treino da compreensão de linguagem no ruído (figura-fundo) e o treino de cada canal auditivo separadamente. 3. Organização: Treinar predominantemente memória para sons em seqüência. Utilizar sons verbais visando à seqüência lógico-temporal de um texto. Usar sons não verbais visando à prosódia da fala Exemplos de Atividades para Estimular o PAC: 1. Duração de 10 a 20 minutos Material: um lenço de pano. Objetivo: desenvolver o processamento auditivo e a memória. Organização: os participantes formam um círculo, ficando um deles no centro, com os olhos vendados. Desenvolvimento: o animador caminha ao redor do círculo e toda vez que tocar em alguém, aquele que foi tocado perguntará: Quem é? Quem estiver no centro, com os olhos vendados, terá que adivinhar o nome do participante que falou. Se não adivinhar, o participante que falou passa a ocupar o lugar dele no centro do circulo. Mas se reconhecer a voz e pronunciar o nome do companheiro mantém seu lugar e a brincadeira recomeça. 2. Duração 15 minutos Material: giz ou equivalente pra traçar uma linha no chão; dois cartazes: em um escrito a palavra rio e em outro a palavra ribeira. Objetivos: desenvolver a orientação espacial; desenvolver o processamento auditivo, sendo as habilidades auditivas predominantes tais como a atenção e o reconhecimento de palavras com extensão diferentes. Organização: traça-se uma linha bem visível no chão. Um dos lados da linha será o rio, onde será colocado o cartaz correspondente no chão, e o outro, ribeira, onde se coloca o outro cartaz. Os participantes colocam-se em fila indiana, do lado da ribeira, junto à linha divisória. Desenvolvimento: o animador vai alterando arbitrariamente as palavras rio, ribeira..., devendo os participantes deslocarem-se, saltando com ambos os pés, para o lado indicado. Quem se enganar ou pisar sobre a raia, sai do jogo. O ultimo que ficar será o vencedor. Pode-se tornar o jogo mais difícil, fazendo com que os participantes pulem num pé só ou que coloquem a mão na nuca. Se perderem o equilíbrio ou soltarem a mão terão que sair do jogo. 3. Duração de 10 a 20 minutos Objetivo: desenvolver o processamento auditivo, sendo as habilidades auditivas predominantes atenção, memória e o reconhecimento de palavras. Organização: os participantes dispõem-se em círculo, sentados, deixando um lugar vago. Cada qual escolhe para si o nome de uma fruta ou verdura e esta escolha deve ser feita em conjunto. As crianças podem escrever os nomes das frutas e verduras em papéis, lendo-os em seguida e sorteando-os. Os nomes podem ser colocados na forma de crachás. Desenvolvimento: o animador conta que foi a uma quitanda e lá conheceu o Sr. Joaquim que lhe perguntou o que desejava e ele foi enumerando uma lista de verduras e frutas com as respectivas quantidades. Cada vez que o animador menciona uma fruta ou verdura, o participante que tiver o mesmo nome deve ocupar o lugar que estiver vago; aquele que se enganar ou demorar sai do jogo. Observação: é preciso ter cuidado de reconstituir o círculo toda vez que necessário, de maneira que não fique mais de um lugar vago. A atividade pode começar lentamente e ser acelerada aos poucos. 4. Duração 15 minutos Material: um apito. Objetivo: propiciar o desenvolvimento do processamento auditivo, sendo as habilidades auditivas predominantes a atenção e o reconhecimento de sons não verbais com variação de intensidade (forte versus fraco), duração (curto versus longo) e freqüência (número de vezes). Organização: os participantes colocam-se em fila, separados por uma distancia de um metro. O professor ou terapeuta deve ter um apito. Desenvolvimento: quando o animador apitar uma vez, os participantes deverão dar um passo pra frente. Se apitar duas vezes, o passo será pra trás. Quem se atrapalhar sai do jogo. E assim prossegue sucessivamente até restar um só que será o vencedor. Observação: pode-se variar a atividade acrescentando saltos para os lados ou outros movimentos e as opções de apresentação do som já descritas. 5. Duração de 5 a 10 minutos Material: cadeiras. Objetivo: estimular a atenção; desenvolver o processamento auditivo. Organização: dispõem-se as cadeiras formando uma roda, colocando-se uma a menos que o total de participantes. Desenvolvimento: todos em pé, inicia-se o percurso ao redor das cadeiras, sem tocá-las. A movimentação deve ocorrer ao som de uma música, cantada pelas crianças com variação de velocidade, sendo que, em músicas mais rápidas as crianças deverão andar mais rápido e, em mais lentas, o oposto. Ao sinal do professor, cada qual procura sentar-se na cadeira mais próxima. Quem não conseguir sai do jogo. 6. Duração 20 minutos Material: giz para traçar círculos no chão. Objetivo: desenvolver o processamento auditivo; treinar habilidades auditivas associadas com habilidades visuais. Organização: os participantes escolhem ou recebem nomes de animais, escrevendo e/ou lendo os diferentes nomes, sentam-se ao acaso no chão (a floresta) Desenvolvimento: o caçador percorre o lugar em todas as direções e vai chamando os animais. O integrante nomeado deve apressar a tomar a posição atrás do professor. O passeio dos animais, quando designados pelo caçador pode ser feito por exercícios os mais variados: corridas, saltos etc. 7. Duração de 12 a 40 minutos, conforme o número de participantes Material: um lenço, um pacote de balas, folhas ou pedaços de papel. Objetivo: desenvolver o processamento auditivo, sendo as habilidades auditivas predominantes como a atenção e a localização sonora. Organização: os participantes sentam-se formando um círculo. O professor coloca uma venda nos olhos de um deles, em seguida transporta para algum lugar, por ele ignorado, o pacote de balas, que deverá estar envolvido em papel grosso, de tal maneira que seja difícil desembrulhar sem fazer ruídos. Desenvolvimento: a um sinal do professor um dos participantes, indicado ao acaso, deixa seu lugar e aproxima-se silenciosamente do pacote de balas. Se conseguir abri-lo sem fazer barulho, tem direito a comer uma bala e ganha três pontos. O participante que fez o papel de sentinela toda vez que ouvir algum barulho grita “alto” e indica a direção onde acredita estar o ladrão. Se acertar, o companheiro que faz o papel de ladrão é eliminado e a sentinela ganha três pontos. Escolhe-se nova sentinela e outro participante para o papel de ladrão e a brincadeira continua. Podem-se dividir os participantes em duas equipes e, neste caso, os pontos ganhos serão distribuídos às respectivas equipes. 8. Percepção auditiva analítico-sintético não verbal; ampliação do vocabulário Material: gravador e fita cassete com sons relacionados a situações contextualizadas. Método: o professorapresenta aos alunos várias seqüências sonoras (em média três estímulos por seqüências), representando determinadas situações. As crianças separadas em grupos deverão recompor em todo as partes sonoras apresentadas, marcando pontos para seu grupo. Exemplo: buzina, motor de carro e carro freando = rua; telefone, máquina de escrever e impressora = escritório. 9. Ampliação do vocabulário; percepção auditiva/rima, introdução à noção de prefixo e sufixo Método: a criança deve inventar palavras que tenham em comum o sufixo ou o prefixo da palavra selecionada; por exemplo: com base em “infeliz” e “livraria” ela faz outras associações, formando palavras como insensível, inativo, indiscreto/carpintaria, papelaria, mercearia, sapataria. 10. Desenvolver a memória auditiva verbal; desenvolver o gosto pela leitura e escrita; percepção auditiva de figura-fundo; promover o aumento do vocabulário. Método: formular histórias com as crianças em que o início é dado e cada criança contribui com uma parte da história. Ao terminar, a história deverá ser lida para as crianças pelo professor. A atividade deverá ser realizada com mensagem verbal competitiva (música, barulho de rua etc.). Deve-se chamar a atenção da criança para o som do fundo. 11. Desenvolver a memória auditiva verbal; desenvolver ritmo; ampliação do vocabulário; introdução de prefixo e sufixo. Método: a partir de um inventário de palavras realizado pela criança e/ou de um texto escrito, o professor seleciona uma palavra em que aparece um prefixo e/ou um sufixo. O professor orienta as crianças a construírem a “família da palavra” (por exemplo, a palavra pedrinha permite que a criança reconstitua a “família”: pedra/pedreira/pedreiro/pedregulho/pedraria...). Cada aluno deverá repetir a seqüência correta de palavras e acrescentar um novo elemento, marcando cada sílaba de palavras com palmas. 12. Estimular a linguagem oral; estimular a memória auditiva. Método: o professor narra o enredo de uma história. Por exemplo: João hoje saiu de manhã e... Cada aluno, por ordem, deverá repetir o que foi dito e colocar mais alguma coisa que complemente a história, imediatamente. O professor dirá que a história deverá ser memorizada. Após completar a história (ou o número de crianças), o professor fará a interpretação da mesma com as crianças. 13. Identificar estímulos sonoros; desenvolver a memória auditiva; treino monoaural e binaural para mensagens verbais; desenvolver a produção oral. Material: texto para leitura (histórias interessantes e curtas). Método: o professor deverá contar uma história curta de forma expressiva, podendo, para isso, utilizar objetos para representar os personagens da história e sons instrumentais e ambientais para representar determinadas situações. O aluno deverá ouvir a história ocluindo com a mão uma das orelhas. Posteriormente inverte-se a orelha que será ocluída e, numa etapa final, a história é contada repetida sem que os alunos ocluam as orelhas. Cada aluno deverá reproduzir parte da história oralmente. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1. A consciência de que a língua falada pode ser segmentada em unidades distintas, ou seja, a frase pode ser segmentada em palavras; as palavras, em sílabas e as sílabas, em fonemas. 2. A consciência de que essas mesmas unidades repetem-se em diferentes palavras faladas. (Byrne e Fielding-Barnsley, 1989). Sub-habilidades da Consciência Fonológica: 1- Rimas e Aliterações: repetição da mesma sílaba ou fonema na posição inicial das palavras (RIMA) e repetição da mesma sílaba ou fonema na posição final das palavras (ALITERAÇÃO). 2- Consciência de Palavras: também chamada de consciência sintática, representa a capacidade de segmentar a frase em palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las numa seqüência que dê sentido. 3- Consciência da Sílaba: Consiste na capacidade de segmentar a palavras em sílabas. Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e síntese vocabular. 4- Consciência Fonêmica: consiste na capacidade de analisar os fonemas que compõe a palavra. Consciência Fonológica e o Processamento Fonológico: Santos & Navas, 2002 cit. por Nascimento, 2009) - Discriminação fonológica: capacidade de discriminar fonemas; - Memória fonológica: capacidade de memorizar palavras, sílabas e fonemas; - Produção fonológica: articulação das palavras e uso dos fonemas na fala. Desenvolvimento da Consciência Fonológica: - Inicia-se cedo; - Tem seu desenvolvimento progressivo ao longo da infância; - Depende do ambiente lingüístico da criança; - Necessita de fatores cognitivos adequados; - A criança deve estar exposta ao sistema alfabético, leitura e escrita; - Cumprir a Consciência Fonêmica. Manifestações da Consciência Fonológica: (Alves, Freitas & Costa, 2007) 1- Nível Implícito: sensibilidade para o sistema de sons da língua e para o conhecimento fonológico funcional, manifestando-se durante jogos espontâneos com sons das palavras. Ex: rimas 2- Nível Explícito: análise consciente dos sons das palavras, nomeadamente em atividades de isolamento de fonemas de uma palavra. Etapas do Desenvolvimento Fonológico (Sim-Sim, 1998): • 1 – 2 meses: - distinção dos sons com base nos fonemas • 30 meses: - detecção de eventuais erros na produção do seu enunciado ou de outros interlocutores. • 36 meses: - distinção de todos os sons da sua língua materna, pelo que consegue distinguir as cadeias sonoras aceitáveis na sua língua, corrigindo as não passíveis. • 3-4 anos: - estão atentas às palavras e unidades menores como a sílaba (coincidindo com os níveis pré-silábico e silábico da escrita); - sensibilidade às regras fonológicas de sua língua; - manifestam capacidades de CF: reconhecem rimas e aliterações - prazer lúdico com as rimas através de jogos de sons e de palavras, nas quais as crianças fazem deturpações voluntárias (campainha – pancainha, cinderela – cindelera) - a produção de rimas é uma tarefa mais fácil comparando à segmentação de sons ou de identificação fonêmica. • 4 anos: - maiores dificuldades em tarefas de consciência fonêmica quando comparada à silábica; - capacidade de segmentar silabicamente unidades lexicais compostas por 2 sílabas; - maiores dificuldades na segmentação de palavras monossílabas e polissílabas • 5 anos: - inicia o processo de CF podendo lidar com a análise de elementos menores como os fonemas (coincidindo com os níveis silábico-alfabético e alfabético da escrita) - capacidades metafonológicas ao nível do fonema distintivo, desde que as tarefas sejam adaptadas à realidade lingüística e cognitiva da criança. • 6 anos: - Domínio, quase total, da capacidade de segmentação silábica; - Maiores dificuldades nas tarefas relativas à consciência fonêmica, pois ainda não há o apoio da escrita. No entanto, com a aprendizagem da leitura há conhecimento adicional sobre a estrutura lingüística; - A CF vai se tornando complexa, sendo necessário receber instruções formais que explicitem as regras de correspondência dos sons da fala na escrita alfabética – relações fonema – grafema; - Desenvolvimento da consciência fonêmica. • A partir dos 6 anos: - Maior desenvolvimento das capacidades metafonológicas, devido à aquisição da escrita; - Domínio de todos os níveis de CF. Ordem da Aquisição Fonética Adaptação de ABOONE & PLANTE (1994) IDADE FONEMAS 18 meses b, m 2 anos p, t, d, n 2 anos e meio k, g, h (nh) 3 anos f, v, s, z 3 anos e meio ς (x, ch), З (g, j) 4 anos l, l (lh), Æ (r), x (rr), arquis R e S, grupos R e S 5 anos Aquisição Completa Relação entre a consciência fonológica e a leitura e escrita Atualmente, sabe-se que há uma relação de reciprocidade e interdependência entre a CF e a aquisição de leitura e escrita. Assim, a CF facilita o processo da aprendizagem da leitura e escrita e este último processo favorece o desenvolvimento daCF, particularmente da consciência fonêmica. Sinais de Alerta: 1- Fonologia: Crianças com alterações severas ao nível da fonologia apresentam um desempenho inferior às da sua idade em tarefas de CF, principalmente em tarefas de soletração, pelo que há maior risco de ocorrência de dificuldades na aprendizagem da leitura. 2- Articulação: Crianças com perturbações articulatórias apresentam, geralmente, maior probabilidade de iniciarem a escolaridade com capacidades fonológicas atrasadas, o que influencia a aprendizagem da leitura e escrita. 3- Meio Socioeconômico: Crianças que vivem em meios socioeconômicos desfavorecidos exibem menor sensibilidade à estrutura fonológica da linguagem, pelo que apresentam níveis de realização de leitura inferiores às das provenientes de meios sociais mais favorecidos. 4- Alterações Auditivas: crianças que apresentam algum déficit auditivo por menor que seja, podem comprometer à aquisição da CF por falha da via sensorial imprescindível. ATIVIDADES - CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA 1- Bingo Sonoro 2- Telefone sem fio 3- Travas línguas: Larga a tia, largatixa! Chico, chicote, nariz de bodoque Largatixa, larga a tia! Lé com lé, crê com crê, sapato no pé Só no dia em que sua tia Chamar largatixa de lagartixa! 4- Músicas 5- Adivinhações 6- Parlendas 7- Ditados populares 8- Histórias e músicas acumulativas 9- Rimas 10-Separar palavras em sílabas; 11-Identificar palavras com o mesmo som inicial; 12-Identificar palavras ou sílabas com o mesmo som final; 13-Contar os sons que fazem parte das palavras; 14-Manipular sons nas palavras (dizer fato, mas sem o f inicial). TAREFAS DE CONCIÊNCIA FONOLÓGICA 1- Comparação de sons - Reconhecimento ou produção de rimas “mão” e “pão” rimam? Qual destas palavras rima com “mão”: “pá” ou “pão” - Emparelhamento palavra-palavra “casa” e “carro” começam iguais? Qual palavra começa igual a “carro”: “casa” ou “mala”? - Reconhecimento do mesmo som Qual destas palavras começa igual? “pato” – “garfo” – “palha” – “dedo” 2- Singularidade - Entre 3 ou mais palavras, a criança deve escolher a palavra que não rima, começa, termina ou compartilha o mesmo som que as outras “casa” – “pato” – “carro” – “caneta” 3- Detecção - Emparelhamento som-palavra Tem /s/ em “sopa”? (ou perguntar se um som esta no início ou no fim da palavra) Responder se as palavras tem erros ou enganos nas palavras 4- Produção - Som-palavra Dizer uma palavra que rime com a palavra-alvo Produzir uma palavra curta e uma palavra longa Produzir uma palavra que comece com o som-alvo 5- Segmentação - Palmas Bater palmas para cada sílaba ou cada fonema - Contagem Quantos sons você escuta na palavra “fada”? - Segmentação silábica Dizer cada uma das sílabas de uma palavra - Segmentação onset-rima Dizer a palavra de maneira engraçada, separando o onset da rima - Isolamento de um som Qual o primeiro som em “rosa”? - Segmentação de palavra Dizer pequenos pedaços da palavra - Apagamento de sílaba Diga a palavra “rolar” sem o “ro” - Apagamento de fonema Diga a palavra “sai” sem o /s/ Que som você tira de “sai” para ficar “ai” - Adição de fonema Produzir uma sílaba depois de agrupar com o fonema dado: diga “ai” adicionando o “s” no início da palavra. - Reversão fonêmica Diga “es” com o 1° som no fim e o som final no início - Substituição fonêmica Diga “gata”. Agora diga /l/ no lugar de /g/ - Língua do p La-pa-ta-pa (lata) - Soletração inventada Soletrar, da melhor maneira possível, uma palavra falada 6- Agrupamento (síntese) - Agrupamento de sílabas Agrupar sílabas para formar palavras - Agrupamento onset-rima Agrupar onset-rima ditos separadamente para formar uma palavra - Agrupamento fonêmico Agrupar fonemas que estão sendo ditos separadamente para formar uma palavra. Práticas em Consciência Fonológica Existe uma forte evidência de que o treinamento da consciência fonológica é benéfico para os leitores iniciantes começando inicialmente na idade de 4 anos (e.g., Bradley & Bryant, 1985; Byrne & Fielding-Barnsley, 1991). Numa revista sobre pesquisa fonológica, Smith et al. (1998) concluíram que a consciência fonológica pode ser desenvolvida antes da leitura e que ela facilita a aquisição subseqüente desta habilidade. A documentação sobre as efetivas abordagens para ensinar a consciência fonológica geralmente inclui atividades que são apropriadas para a idade, e que são altamente envolventes. Instruções para crianças de quatro anos envolvem atividades com rimas, enquanto que na Educação Infantil e no 1¤ ano estas instruções incluem a combinação e a segmentação das palavras em suas partes iniciais e em rimas e finalmente chegando à combinação, à segmentação e à eliminação de fonemas (nas palavras). A instrução freqüentemente envolve bonecos que falam lentamente, modelando a segmentação das palavras ou então 'pontes mágicas', que são cruzadas quando a criança pronuncia a palavra corretamente, inclusive sintetizando os fonemas isoladamente. Suportes como cartões coloridos ou quadros podem ser usados para fazer com que os sons abstratos fiquem mais concretos. Os exemplos 1, 2 e 3, (abaixo) são ilustrações de lições sobre consciência fonêmica, baseadas em exemplos destes programas. Exemplo 1. Atividade de instrução que ensina a síntese dos fonemas nas palavras. Jogo do Descubra a palavra Objetivos: Os estudantes serão capazes de combinar e identificar uma palavra que foi desmembrada nos sons que a compõem. Materiais Necessários: Cartões com figuras de objetos facilmente reconhecíveis pelos alunos, como sino, ventilador, bandeira, cobra, árvore, livro, copo, relógio ou avião. Atividade: Coloque um pequeno número de figuras diante da criança. Diga que você vai dizer uma palavra usando a 'fala da lesma', uma forma lenta de dizer as palavras, (ex: sssssiiiiinnnnnooooo). Deixe que a criança olhe as figuras e descubra a palavra que está sendo dita. É importante que a criança descubra a palavra por ela mesma, então todas devem ter a sua oportunidade de tentar. Alterne pedindo a uma criança que descubra a palavra e pedindo a todas que descubram e digam em coro, para manter o envolvimento de todas. Exemplo 2. Uma atividade que tem como objetivo ensinar a segmentar a linguagem oral em múltiplos níveis. Atividades de segmentação Objetivos: Os estudantes serão capazes de segmentar várias partes da linguagem oral. Atividade: a. Inicialmente, em consciência fonológica se ensina as crianças a segmentar as sentenças em palavras. Identificar poemas curtos como "Eu sou pobre pobre, pobre de marré, marré de si" Oriente as crianças para que batam as mãos a cada palavra. b. À medida que as crianças avançam na habilidade de manipular a linguagem oral, devem ser ensinadas a segmentar as palavras em sílabas, e na sua parte inicial e em rimas, Por exemplo, peça que as crianças segmentem os seus nomes em sílabas, por exemplo, Ra-quel, A-le-xan- dre, Ro- nal-do, An-to-nio, etc... C. Quando tiverem aprendido a suprimir o primeiro fonema (som) de uma palavra, ensine segmentarem palavras curtas em fonemas, por exemplo, s- o-l, m-e-l, p-a-r-e, etc.... Exemplo 3 . Uma atividade que tem como objetivo ensinar a suprimir e a substituir os fonemas nas palavras Jogo do Troca o Nome Objetivo: Os estudantes deverão ser capazes de reconhecer palavras quando o professor diz a palavra suprimindo o seu primeiro som. Atividade: Coloque os estudantes sentados em círculo no chão. Secretamente selecione uma criança e altere o seu nome removendo o primeiro som (do seu nome). Por exemplo Jenifer se transforma em Enifer ou William se transforma em Illiam. quando você pronunciar o nome as crianças devem identificar sobre quem se está falando. Idéias estendidas: Quando as crianças melhorarem na identificação de nomes sem o seu primeiro som, faça a sugestão de que elas removam a parte inicial de palavras e a seguir as pronunciem elasmesmas. Quando as crianças aprenderem a remover sons, ensine-as a substituir o som inicial do seu nome por um outro som. O professor pode modelar este exercício começando por sons simples (sons comuns de consoantes, ex: /m, /t, /p), avançando depois para sons mais complexos como ex: /ch/. Quase todas as atividades iniciais de consciência fonológica são ensinadas sem escrita, mas está aumentando a evidência que as atividades iniciais da escrita, inclusive a soletração de palavras (soletração inventada ou provisória), parecem promover mais consciência fonêmica refinada (Ehri, 1998; Treiman, 1993). Pode ser que durante a soletração e a escrita as crianças comecem a combinar a sua sensibilidade fonológica e o seu conhecimento de escrita e comecem a aplicá-los para construir palavras. Mesmo se as crianças são incapazes de segurar corretamente e de usar uma caneta ou um lápis, podem usar placas ou programas de processamento de palavras para praticar a sua soletração. O ensino da consciência fonológica pode ser divertido, envolvente e apropriado à idade, mas as coisas podem não ser tão simples quanto parecem. Primeiro, as evidências sugerem que a instrução nos níveis menos complexos das habilidades fonológicas, como as rimas e a segmentação dos inícios de palavras e rimas podem facilitar a instrução das habilidades mais complexas (Snider, 1995) sem beneficiar diretamente a aquisição da leitura (Gough, 1998). Certamente, a instrução integrada de segmentação e combinação de fonemas parece fornecer o maior de todos os benefícios para a aquisição da leitura. (Snider, 1995). Segundo, apesar de que a maioria das crianças seja beneficiada pela instrução da consciência fonológica, em alguns estudos há o caso de estudantes que respondem de maneira pobre a esta instrução ou mesmo não respondem de maneira alguma. Por exemplo, nos estudos feitos em um treinamento de 8 semanas de instrução em consciência fonêmica, a maioria das crianças mostrou um significativo crescimento, enquanto 30% de crianças em situação de risco para o aprendizado da leitura não demonstraram nenhum crescimento mensurável em consciência fonológica. Torgesen et al., (1994) concluíram que para crianças em situação de risco na aprendizagem da leitura e o treinamento deve ser mais explícito ou mais intenso do que é tipicamente descrito na literatura sobre pesquisas, se é necessário obter um substancial impacto na consciência fonológica de muitas crianças com severas dificuldades de aprendizagem. Entretanto nós recomendamos duas fases distintas de treinamento. A primeira fase deve ser altamente envolvente, apropriada para a idade, como apresentamos anteriormente. A segunda fase da instrução é formada por etapas mais intensas e estratégicas em segmentação e em combinação ao nível dos fonemas (e.g., Snider, 1995). ETAPAS DO TRABALHO * Comece pelos sons contínuos, como /s/, /m/, /f/, que são mais fáceis de pronunciar do que os sons não contínuos como os sons /p/, /b/, /k/; * Modele cuidadosamente cada atividade, quando da sua primeira apresentação * Movimente-se das grandes unidades (palavras, inícios de palavras e rimas) para as menores (fonemas isolados). * Movimente-se de tarefas mais fáceis (rimas), para as mais complexas (combinação e segmentação). * Considere o uso de estratégias adicionais para auxiliar os trabalho dos leitores iniciantes ao manipular os sons. Estas estratégias incluem criar objetos concretos (ex. blocos e pedras de bingo) para representar sons. As pesquisas sugerem que ao final da Educação Infantil as crianças devem ser capazes de demonstrar a capacidade de combinar e de segmentar fonemas e de fazer progressos usando sons para soletrar palavras simples. Para atingir a estes objetivos os professores devem ter conhecimento das efetivas abordagens instrucionais para ensinar a consciência fonológica, e acompanhar o progresso feito por cada um dos seus estudantes. Na próxima seção, descreveremos as formas efetivas para avaliar as habilidades fonológicas e para acompanhar o progresso da consciência fonológica. Consciência fonológica - Exercícios Rimas