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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE METAL MECÂNICA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO EDSON GINI DE ALMEIDA JÚNIOR Fogão a Lenha com Sistema de Aquecimento de Água Integrado Florianópolis, 04 de abril de 2017 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE METAL MECÂNICA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO EDSON GINI DE ALMEIDA JÚNIOR Fogão a Lenha com Sistema de Aquecimento de Água Integrado Trabalho de Conclusão de Curso Submetido ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título de Tecnólogo em Design de Produto. Professor Orientador: Gerson Auge Tybusch Florianópolis, 04 de abril de 2017 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor. Almeida, Edson Gini Fogão Fogão a Fogão a lenha Fogão a lenha com Fogão a lenha com sistema Fogão a lenha com sistema de Fogão a lenha com sistema de aquecimento Fogão a lenha com sistema de aquecimento de Fogão a lenha com sistema de aquecimento de água Fogão a lenha com sistema de aquecimento de água integrado / / Edson / Edson Gini / Edson Gini Almeida / Edson Gini Almeida ; / Edson Gini Almeida ; orientação / Edson Gini Almeida ; orientação de / Edson Gini Almeida ; orientação de Gerson / Edson Gini Almeida ; orientação de Gerson Tybusch. - - Florianópolis, - Florianópolis, SC, - Florianópolis, SC, 2017. 103 p. Trabalho Trabalho de Trabalho de Conclusão Trabalho de Conclusão de Trabalho de Conclusão de Curso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - Instituto Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - Instituto Federal de de Santa de Santa Catarina, de Santa Catarina, Câmpus de Santa Catarina, Câmpus Florianópolis. de Santa Catarina, Câmpus Florianópolis. CST em em Design em Design do em Design do Produto. em Design do Produto. Departamento em Design do Produto. Departamento Acadêmico em Design do Produto. Departamento Acadêmico de Metal Metal Mecânica. Inclui Referências. 1. 1. Fogão. 1. Fogão. 1. Fogão. 2. 1. Fogão. 2. Lenha. 1. Fogão. 2. Lenha. 1. Fogão. 2. Lenha. 3. 1. Fogão. 2. Lenha. 3. Aquecimento. 1. Fogão. 2. Lenha. 3. Aquecimento. 4. 1. Fogão. 2. Lenha. 3. Aquecimento. 4. Água. 1. Fogão. 2. Lenha. 3. Aquecimento. 4. Água. I. Tybusch, Tybusch, Gerson. Tybusch, Gerson. II. Tybusch, Gerson. II. Instituto Tybusch, Gerson. II. Instituto Federal Tybusch, Gerson. II. Instituto Federal de Tybusch, Gerson. II. Instituto Federal de Santa Tybusch, Gerson. II. Instituto Federal de Santa Catarina. Departamento Departamento Acadêmico Departamento Acadêmico de Departamento Acadêmico de Metal Departamento Acadêmico de Metal Mecânica. Departamento Acadêmico de Metal Mecânica. III. Departamento Acadêmico de Metal Mecânica. III. Título. RESUMO Apresenta-se com este documento, um relatório de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Santa Catarina. O mesmo consiste em um projeto com tema compatível com as áreas de conhecimento abordadas no curso, buscando proporcionar interação com o setor produtivo (realizado junto a uma empresa ou organização). Para tanto, define-se como tema deste projeto, o desenvolvimento de um Fogão a Lenha com Sistema de Aquecimento de Água Integrado, para a empresa Ginterm, produtora de aquecedores solares e outros sistemas de aquecimento de água. O produto concebido tem enfoque na potencialização de sua eficiência e máximo aproveitamento da energia gerada, concomitante ao atendimento das necessidades de um público que valoriza a cocção de alimentos no fogão à lenha. O conceito de funcionamento aplicado apoiou-se principalmente nas diretrizes do rocket stove, estilo de fogão desenvolvido por Larry Winiarski em 1980. PALAVRAS-CHAVE: Design. Fogão à lenha. Aquecimento de água. Rocket Stove. ABSTRACT Presented with this document, a report of Course Conclusion Work (term paper) for the Course of Technology in Product Design at the Federal Institute of Santa Catarina. The project has to be compatible with the areas of knowledge approached within the course, seeking an interaction with the products sector. For this purpose, the development of an Integrated Water Control System for the Ginterm company, which produces solar heaters and other water heating systems, is the theme of this project. The product conceived focuses on the potentialization of its efficiency and maximum use of the energy generated, concomitant to the needs of an audience that values a cooking of wood burning stoves. The concept of operation mainly applied to the stove is the rocket cooker guidelines, stove style developed by Larry Winiarski in 1980. KEYWORDS: Design. Wood Burning Stove. Water Heating. Rocket stove LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo exemplo “A” para serpentinas de fogão .................................. 10 Figura 2: Modelo exemplo “B” para serpentinas de fogão .................................. 10 Figura 3: Lareira doméstica aberta “A” ............................................................... 18 Figura 4: Lareira doméstica aberta “B” ............................................................... 18 Figura 5: Isolamento ao redor do fogo ................................................................ 23 Figura 6: chaminé curta, isolada, logo acima do fogo ......................................... 24 Figura 7: queima limpa e queima com fumaça. .................................................. 24 Figura 8: Fogo alto e baixo, pouco ou muito aquecimento. ................................ 25 Figura 9: Passagem de ar através da queima .................................................... 25 Figura 10: equilibrando o fluxo de ar em um fogão para múltiplas panelas ........ 26 Figura 11: Manter áreas de passagem equivalentes .......................................... 26 Figura 12: Utilizar uma grelha abaixo da lenha................................................... 27 Figura 13: Espaço adequado para melhor transferência de calor. ..................... 28 Figura 14: Fogão Antonow.................................................................................. 29 Figura 15: Porta de inserção do fogão Antonow ................................................. 30 Figura 16: Aberturas inferiores do fogão Antonow .............................................. 30 Figura 17: Fogão modelo de ferro fundido .......................................................... 31 Figura 18: ajuste para entrada de ar do fogão de ferro fundido .......................... 31 Figura 19: Fogão ferro fundido “Fundimig” ......................................................... 32 Figura 20: Modelo de ferro encontrado com maior frequência ........................... 33 Figura 21: modelos em concreto ........................................................................ 34 Figura 22: modelo em concreto revestido ........................................................... 34 Figura 23: fogão esmaltado ................................................................................ 35 Figura 24: Aberturas e controle de ar do modelo esmaltado .............................. 35 Figura 25: Fogão Munique .................................................................................. 36 Figura 26: Ecofogão campestre 3 ....................................................................... 38 Figura 27: Logomarca atual Ginterm .................................................................. 40 Figura 28: Reservatório Térmico Ginterm ...........................................................41 Figura 29: Reservatório Térmico Ginterm, em campo ........................................ 41 Figura 30: Brasagem Oxiacetilênica ................................................................... 42 Figura 31: Brasagem Estanho ............................................................................ 42 Figura 32: Solda Elétrica .................................................................................... 43 Figura 33: Solda TIG Argônio ............................................................................. 43 Figura 34: Solda a ponto .................................................................................... 44 Figura 35: Compressores ................................................................................... 44 Figura 36: Pistolas para pintura e Rebitadeiras .................................................. 45 Figura 37: Serras Policorte em Bancada ............................................................ 45 Figura 38: Serras Policorte em Bancada (2) ....................................................... 46 Figura 39: Tesoura de chapas ............................................................................ 46 Figura 40: Viradeira de chapas ........................................................................... 47 Figura 41: Frisadeira ........................................................................................... 47 Figura 42: Furadeiras de Bancada ..................................................................... 48 Figura 43: Ferramentas manuais ........................................................................ 48 Figura 44: Ambiente da empresa ........................................................................ 49 Figura 45: Cozinha doméstica em estilo industrial “A” ........................................ 51 Figura 46: Cozinha doméstica em estilo industrial “B” ........................................ 51 Figura 47: Cozinha doméstica em estilo industrial “C” ........................................ 52 Figura 48: Painel semântico ............................................................................... 53 Figura 49: fachada de restaurante com apela ao preparo à lenha ..................... 54 Figura 50: Persona - perfil de público alvo ......................................................... 55 Figura 51: Compilação de sketches desenvolvidos ao longo do projeto ............ 58 Figura 52: vista do esboço inicial com recorte .................................................... 59 Figura 53: compilação de alterações na alternativa ............................................ 59 Figura 54: estimativa para formato final .............................................................. 60 Figura 55: Modelo de estudo com a área de inserção de combustível fechada. 61 Figura 56: áreas denominadas no modelo apontadas ........................................ 62 Figura 57: Modelo de estudo com visualização interna, observação da grelha e câmara de combustão ........................................................................................ 63 Figura 58: Acessórios de teste: acendedor e termômetro. ................................. 63 Figura 59: Queima inicial dentro da câmara ....................................................... 64 Figura 60: Acúmulo de cinzas acima da grelha, bloqueando a passagem da corrente. .............................................................................................................. 65 Figura 61: acúmulo de fumaça na área de inserção ........................................... 66 Figura 62: queima amplificada com a tampa aberta (chama feroz) .................... 66 Figura 63: Temperatura na parede interna da câmara (chaminé curta) ............. 67 Figura 64: Lenha com denominação: “Gravetos para iniciar fogo” ..................... 68 Figura 65: Lenha de Acácia Negra ..................................................................... 68 Figura 66: Uma tora de tamanho menor ocasiona em fumaça e bloqueio da corrente de ar, tem um efeito “abafador” ............................................................ 69 Figura 67: tamanho ideal, Acácia Negra ............................................................. 70 Figura 68: tamanho ideal, Eucalipto ................................................................... 70 Figura 69: tamanho ideal, toras variadas ............................................................ 71 Figura 70: novo formato da câmara de combustão ............................................ 73 Figura 71: áreas denominadas no protótipo funcional ........................................ 74 Figura 72: visão geral do protótipo funcional ...................................................... 75 Figura 73: água em ebulição em panelas de tamanho médio ............................ 77 Figura 74: temperaturas atingidas ao longo da chapa ........................................ 77 Figura 75: entrada frontal e queima no interior da câmara ................................. 78 Figura 76: quantidade exagerada de lenha inserida na câmara ......................... 79 Figura 77: fogão em funcionamento não produzia fumaça ................................. 80 Figura 78: visão geral do formato estético do fogão ........................................... 81 Figura 79: armazenamento para lenha ............................................................... 82 Figura 80: diferentes vistas do modelo em escala .............................................. 82 Figura 81: demarcações sugeridas para corte e dobra das chapas ................... 85 Figura 82: vista isométrica e principais dimensões em centímetros ................... 86 Figura 83: dimensões sugeridas para fogão ....................................................... 87 Figura 84: referencial humano ............................................................................ 88 Figura 85: Esquema de instalação do aparato de aquecimento ......................... 89 Figura 86: aparato de aquecimento no interior da câmara ................................. 89 Figura 87: versão final da alternativa (duas vistas) ............................................. 92 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Etapas do projeto de design .............................................................. 15 Quadro 2: Lista de requisitos para o projeto ....................................................... 57 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7 1.2 PROBLEMA ..................................................................................................................... 9 2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 12 3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 14 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 14 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 14 4 MÉTODO ................................................................................................................ 15 5 COLETA DE INFORMAÇÕES ............................................................................... 17 5.1 DADOS SOBRE A QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS SÓLIDOS (BIOMASSA) EM FOGÕES PARA COCÇÃO DE ALIMENTOS ....................................................................................... 17 5.2 FOGO ABERTO E O FOGO TIPO TRÊS PEDRAS ....................................................... 17 5.3 VANTAGENS DE UM FOGO TIPO TRÊS PEDRAS ...................................................... 20 5.4 MELHORIAS PARA A COMBUSTÃO ............................................................................21 5.5 PRINCÍPIOS PARA O DESIGN DE UM FOGÃO A LENHA ........................................... 22 6 ANÁLISES ............................................................................................................. 28 6.1 ANÁLISE E PESQUISA DE MERCADO ........................................................................ 28 6.2 ANÁLISE SINCRÔNICA ................................................................................................ 35 7 A EMPRESA .......................................................................................................... 39 7.1 ESTRUTURA, TECNOLOGIA E PROCESSOS DISPONÍVEIS ...................................... 41 8 PÚBLICO ALVO E AMBIENTAÇÃO DE REFERÊNCIA ....................................... 49 9 REQUISITOS ......................................................................................................... 55 10 DESENVOLVIMENTO DA ALTERNATIVA ......................................................... 57 11 FASE DE TESTES ............................................................................................... 60 12 ALTERNATIVA FINAL E DETALHAMENTO ...................................................... 71 12.1 ALTERAÇÕES NO FORMATO FUNCIONAL .............................................................. 71 12.2 SEGUNDA FASE DE TESTES .................................................................................... 72 12.2.1 Protótipo funcional .................................................................................................... 73 12.2.2 Resultados e conclusões .......................................................................................... 74 12.3 CARACTERÍSTICAS ESTÉTICAS E MODELO EM ESCALA ...................................... 79 12.4 MATERIAIS E FABRICAÇÃO ...................................................................................... 81 12.5 ASPECTOS DIMENSIONAIS E ERGONÔMICOS ....................................................... 83 12.6 SISTEMA DE AQUECIMENTO DE ÁGUA INTEGRADO ............................................. 86 12.7 VISÃO GERAL E CONCLUSÕES ................................................................................ 88 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 91 14 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 92 15 APÊNDICE A – DESENHOS TÉCNICOS ............................................................ 94 7 1 INTRODUÇÃO Uma tribo africana, em meio à savana, utiliza pedras para apoiar uma panela logo acima da chama proveniente da queima de alguns vestígios secos de vegetação, esta chama proporcionará a cocção da principal refeição do dia. No norte europeu, uma família se reúne em torno de um fogão metálico que irradia calor, enquanto aquecem suas bebidas, para amenizarem as sensações de um inverno rigoroso. Em diferentes contextos, pessoas ao redor do mundo estão utilizando neste momento a biomassa como fonte de energia para cocção de alimentos ou aquecimento. A utilização de um fogão a lenha, ou de aparatos com a mesma função, está presente em diferentes culturas ao redor de todo o planeta e podemos considerar evidente que esta prática continuará exercendo papel importante na vida das pessoas. “A utilização da combustão de biomassa, em especial a lenha e o carvão vegetal, é uma das alternativas energéticas mais antigas e difundidas da humanidade para a cocção de alimentos” (MORAES; MARTINS; TRIGOSO, 2007 apud REGUEIRA, 2010, p.1). Podemos, porém, estar em constante desenvolvimento de novos métodos de utilização dessas fontes de energia e suas influências ao usuário e ambiente. Referindo-se ao usuário, pessoas ao redor do mundo que utilizam combustíveis sólidos como madeira, carvão vegetal e resíduos orgânicos podem ser afetadas por problemas de saúde provindos da poluição do ar em ambientes fechados, podendo dizer, a fumaça proveniente da queima desses combustíveis. Nos últimos 30 anos o conhecimento acerca dos malefícios ambientais e sociais causados pelos métodos tradicionais de utilização desses combustíveis tem aumentado, assim como estudos e estratégias para redução do consumo e emissões prejudiciais dos combustíveis. No caso dos fogões que utilizam os combustíveis sólidos, não há ainda uma ampla aplicação dos benefícios que os novos conceitos podem oferecer. Com influência ambiental e sobre o aproveitamento dessa fonte de energia, Regueira (2010), explica: 8 Os fogões a lenha convencionais utilizados na zona rural apresentam uma baixa eficiência energética, pois possuem um aproveitamento incompleto da madeira, gerando a emissão de gases e partículas poluentes para o ambiente ao redor do fogão e para atmosfera. Ocorrendo um maior consumo de lenha já que o aproveitamento do calor não é completo e a queima ocorre mais rapidamente. (REGUEIRA, 2010, p. 1). O presente projeto adota a problemática do consumo dos combustíveis sólidos, aliada a ideia de projetar um produto para a empresa em questão - Ginterm Sistemas de Aquecimento – que surgiu de um contato anterior, em experiência profissional, com os sistemas de produção da mesma. Projetar um fogão a lenha para a Ginterm, porque foi percebida ampla possibilidade de desenvolvimento de produtos compostos por materiais metálicos, visto que a empresa trabalha principalmente com chapas metálicas e possui ferramentas específicas para determinados processos de fabricação: as ferramentas básicas de uma metalúrgica, especialmente solda e brasagem. Além de a empresa ter demonstrado interesse em oferecer ao mercado um produto padrão, cuja produção seria facilitada, com intuito de substituir o que oferece hoje como soluções para aquecimento de água por serpentinas de fogão. No modo praticado atualmente, essas serpentinas (ou quaisquer outras soluções com a mesma função) precisam ser produzidas sob medida, com visitas e consultas ao cliente, e são destinadas principalmente a fogões a lenha ainda em fase de projeto. Pontua-se que o foco principal da empresa, sua especialidade, consiste na produção de aquecedores solares de água, desde a placa coletora solar, o reservatório térmico, até a instalação do sistema. Sua capacidade produtiva, porém, é limitada e seus processos majoritariamente manuais, o que a caracteriza como uma empresa de pequeno porte. Entende-se que a proposta de um produto voltado especificamente a atender a demanda citada, assim como as necessidades produtivas da empresa, se faz justificável. O projeto começa com um estudo detalhado das propriedades da empresa, suas capacidades e limitações, sendo este um dos objetivos específicos do projeto. Também, a análise e estudo da categoria de produtos proposta por este projeto, os fogões a lenha, para solução das necessidades pertinentes. O processo projetual conta ainda com a adoção de um método específico, presumindo-se a necessidade de sua adaptação às particularidades reveladas ao longo de seu desenvolvimento. A metodologia base selecionada para tanto é a de Bernd Lobach, o qual divide o processo projetual em quatro etapas, possivelmente 9 adaptáveis. Ainda, consideram-se alguns princípios metodológicos de Bruno Munari, com intuito de abranger diferentes abordagens para soluções de projeto. 1.2 Problema Para delimitar o problema abordado por este projeto toma-se como base uma pesquisa preliminar para entendimento do fogão a lenha, seu funcionamento e características; bem como sobre o sistema de aquecimento por meio de tubos dispostos em forma de serpentina e, principalmente, toma-se como base as considerações registradas em conversa com o responsável por projetos, produção e instalação de serpentinas para fogões da empresa Ginterm. Das considerações citadas, verificam-se três pontos principais para elaboraçãode uma problemática: ● Baixa Eficiência: Os fogões a lenha comumente encontrados no mercado apresentam pouco aproveitamento (desperdício) do calor gerado pela combustão da lenha, evidenciando um consumo exagerado e consequente maior emissão de gases na atmosfera; ● Gases Nocivos: Os gases provenientes da queima da madeira também estão em contato direto com o consumidor. Os fogões comuns emitem gases e fumaça que, mesmo nos casos em que existe possibilidade de fechar a porta da fornalha, escapam e, geralmente, circundam um ambiente fechado; ● Manejo e Segurança: Existem fogões no mercado com sistemas de manutenção da chama/brasa que não possuem porta específica para a câmara de combustão, visando melhorar o aproveitamento do calor. Nestes casos, a inserção de lenha ocorre na parte superior do fogão, onde localizam- se as bases removíveis para apoio das panelas, dificultando essa operação e frequentemente causando acidentes; Complementando os pontos listados, alia-se a alegação por parte da empresa de uma dificuldade de manter padrões de processos produtivos que permitam praticidade e agilidade no desenvolvimento das serpentinas para fornalhas ou 10 câmaras de fogões, visto que para cada projeto é necessário dimensionamento e adaptação específica. Figura 1: Modelo exemplo “A” para serpentinas de fogão Fonte: granamirsolar.com Figura 2: Modelo exemplo “B” para serpentinas de fogão Fonte: granamirsolar.com Apreciados os fatores que compõe o problema, observa-se a constatação de Bruno Munari, que diz: “O cliente do designer é a indústria. É ela que lhe propõe o problema, e ele não deve ir imediatamente à procura de uma ideia geral que logo o resolva, porque esse é o método artístico-romântico de arranjar soluções” (MUNARI, 2008, p.32). Portanto, evitando a prática artístico-romântica, como aponta o autor de uma das metodologias guia para o presente projeto, busca-se uma determinação do problema como um todo. Ainda: “Muitos designers pensam que os problemas foram suficientemente definidos pelos seus clientes, mas isso, na maior parte das vezes, é insuficiente” (ARCHER, 1967 apud MUNARI, 2008, p.32). 11 O problema deve delimitar os limites dentro dos quais o projeto irá se desenvolver. Portanto, incluindo a consideração prévia dos objetivos de projeto, define-se o problema, em síntese, como uma única diretriz norteadora: “Que tipo de fogão a lenha, com sistema de aquecimento de água integrado, é capaz de apresentar melhorias na eficiência e controle de emissão de gases e, ao mesmo tempo, forneça uma alternativa de produto padronizado para a empresa de sistemas de aquecimento Ginterm?” 12 2 JUSTIFICATIVA Um artefato doméstico como o fogão a lenha pode ser de fundamental importância para a vida cotidiana de um indivíduo ou de uma família, dependendo do grau de dependência e configuração do fogão em uma casa. Este, podendo ser um aparelho de uso frequente, pode proporcionar benefícios ou malefícios de impacto direto ao usuário. Por exemplo, um fogão a lenha pode substituir um fogão a gás e, de acordo com a região e disponibilidade do combustível, diminuir o custo de vida. Mais benéfico ainda, um fogão a lenha que seja capaz de fornecer água quente para a casa - como proposto por este projeto - possibilita reduzir drasticamente o consumo de energia elétrica. Não se desconsideram os malefícios, que podem afetar a saúde a longo prazo de quem está exposto ao ambiente com o fogão ou até mesmo causar acidentes com danos irreversíveis. Torna-se evidente a importância de se projetar um produto como o fogão a lenha, buscando aprimorar suas funções e interação com o usuário. Especificamente como proposta deste projeto, inclui-se a possibilidade de desenvolver um produto que, além de complementar a oferta de alternativas em soluções de uma empresa especializada em sistemas de aquecimento, possibilite ao consumidor uma relevante redução no consumo de energia elétrica. Cerca de 30% do consumo elétrico em uma residência é o de chuveiros elétricos (dados do INMETRO, 2016). O fogão pode, por exemplo, ser utilizado em conjunto (apoio) com um sistema de aquecimento solar, já ofertado pela empresa, configurando uma situação ideal de economia de energia elétrica. Com cerca de três dias de utilização em uma semana, é possível que o fogão forneça água quente para os chuveiros da casa durante toda a semana, uma vez que a água aquecida é armazenada em um reservatório térmico. A energia produzida pela combustão no interior do fogão pode, ainda, ser otimizada. A eficiência pode ser aumentada com a redução do desperdício, por meio de melhor vedação das partes, maior controle da entrada de oxigênio ou otimização do fluxo de saída (chaminé). Além disso, a vedação das partes exerce influência também na emissão dos gases prejudiciais no ambiente em que se encontra o fogão, adversando um dos pontos específicos da problemática deste projeto (gases nocivos). 13 Por fim, uma melhor eficiência do conjunto como um todo significará uma redução dos recursos consumidos. Essa redução pode ser interpretada, inclusive, como concordante a uma das guias para desenvolvimento de produtos sustentáveis, estabelecida por Manzini e Vezzoli como Minimização de Recursos: “Por minimização dos recursos, entende-se a redução dos consumos de matéria e energia para um determinado produto, ou melhor, para um determinado serviço oferecido por tal produto” (MANZINI; VEZZOLI; 2011, p.117). Essas minimizações podem ocorrer tanto na produção, distribuição ou uso do produto. Os autores demarcam, ainda: A redução do uso de recursos determina, como já sabemos, a anulação dos impactos ambientais provenientes daquilo que não é mais utilizado. (...) Material e energia têm um grande custo não só econômico mas ambiental, e uma redução de seu uso é, portanto, uma fonte de economia (MANZINI; VEZZOLI; 2011, p.117) Pontua-se, novamente, a substituição da energia elétrica para aquecimento de água, uma das principais fontes de consumo de eletricidade. Com o aquecimento por utilização do fogão, há o aproveitamento de energia gerada por uma fonte renovável (lenha, biomassa) em substituição ao combustível de origem fóssil (gás GLP). Os aspectos mencionados até então, preconcebem um perfil de público determinado para o projeto. Do ponto do vista da empresa, os benefícios do projeto justificam-se também por desenvolver um método de produção que seja constante, diferente do atualmente praticado, onde há necessidade de análise prévia e adequações específicas para cada projeto. A inexistência de um padrão para produzir um produto implica em pouca funcionalidade ou agilidade, visto como um dos problemas apontados na apuração com o responsável pelo setor na empresa. Ponderados os pontos acima, verificam-se assim os possíveis benefícios ao usuário, sócio-ambientais e para a empresa parceira. É oportuna a aplicação de soluções de design que forneçam uma alternativa ao método comum de cocção de alimentos, de forma a concordar com as tendências atuais de mercado e propósitos de desenvolvimento sustentável, dirigidas a um público consciente. 14 3 OBJETIVOS Distinguem-se, a seguir, objetivos geral e específicos do projeto. 3.1 Objetivo Geral Desenvolver um fogão a lenha, com sistema para aquecimento de água integrado, visando melhorias dos problemas de eficiência e controle de emissão de gases encontrados nos fogões comuns, e, ao mesmo tempo, gerando uma alternativa de produto com método de produção padronizado para a empresa de sistemas de aquecimento Ginterm. 3.2 Objetivos Específicos Apresentam-se os seguintes objetivos específicos de projeto: a. Analisar os sistemas de produção da empresa, verificando as ferramentas, estruturas e processos produtivos disponíveis; b. Estudar modelos alternativos eprincípios de funcionamento de fogões a lenha; c. Verificar os sistemas de aquecimento de água já desenvolvidos pela empresa, buscando princípios de solução adotáveis; d. Delimitar o público alvo através de um perfil e determinado contexto ao qual o produto se destina; e. Executar pesquisa de campo com visitas às principais lojas da região, verificando as características dos fogões ofertados por elas; f. Desenvolver análise sincrônica para compreender o posicionamento dos concorrentes; g. Realizar testes de funcionamento em modelos de estudo; h. Desenvolver estudo de formas/alternativas em software 3D; 15 4 MÉTODO A metodologia adotada para este projeto consiste na adaptação de um método base, possivelmente considerando-a uma metodologia própria. Consideram- se também os posicionamentos de outros autores, como por exemplo, Bruno Munari (2008). No entanto, para a base, adota-se Bernd Lobach (1976), que afirma: O trabalho do designer industrial consiste em encontrar uma solução do problema, concretizada em um projeto de produto industrial, incorporando as características que possam satisfazer as necessidades humanas, de forma duradoura. (LOBACH, 1976, p.34) Para isso, o autor descreve o seu próprio método e o divide em quatro fases distintas: preparação, geração, avaliação e realização (quadro 1). As tarefas de cada fase são adaptáveis às necessidades manifestadas durante a prática projetual. Quadro 1: Etapas do projeto de design Fonte: Design Industrial: bases para a configuração dos produtos industriais - Bernd Lobach. 16 O método deve ser flexível e atender as necessidades do projetista, dando-o liberdade e evitando obstrução de um modo natural de evolução. Para tanto, apoia- se no conceito da outra metodologia citada, a de Munari, que descreve o método de projeto da seguinte forma: O método de projeto, para o designer, não é absoluto nem definitivo; pode ser modificado caso ele encontre outros valores objetivos que melhorem o processo. E isso tem a ver com a criatividade do projetista, que, ao aplicar o método, pode descobrir algo que o melhore. Portanto, as regras do método não bloqueiam a personalidade do projetista; ao contrário, estimulam-no a descobrir coisas que, eventualmente, poderão ser úteis também aos outros (MUNARI, 2008, p. 32). Desta forma, a metodologia de projeto buscou atender como base as quatro fases processuais listadas no modelo de Lobach, adaptando-as conforme as necessidades surgissem. Buscou-se trabalhar livremente, priorizando uma progressão natural entre as etapas e escolha das tarefas a serem cumpridas (contidas em cada fase) e respeitando os objetivos cruciais de desenvolvimento do projeto. O presente relatório contém o material referente a todas as quatro fases do projeto: preparação, geração, avaliação e realização. A primeira fase consiste em análise e conhecimento do problema, coletando informações fundamentais para desenvolvimento de um produto coeso. São informações sobre a categoria (os fogões a lenha e suas características funcionais), sobre produtos concorrentes, análise de mercado, de similares e geração de possíveis diretrizes. Adiciona-se a esta fase do método, uma análise das propriedades da empresa parceira, buscando delimitar as possibilidades para a produção do produto concebido. A fase de geração consiste no desenvolvimento de alternativas com base nas informações coletadas. A avaliação é primordialmente focada em testes das alternativas, realização das correções aplicadas e detalhamento de uma alternativa final. 17 5 COLETA DE INFORMAÇÕES 5.1 Dados sobre a queima de combustíveis sólidos (biomassa) em fogões para cocção de alimentos Dr. Larry Winiarski, responsável técnico pela NPO: Aprovecho Research Center - organização sem fins lucrativos especializada em estudos sobre alternativas de fogões para países em desenvolvimento - é também o criador do rocket stove, um conceito funcional de fogão a lenha com intuito de melhorar a eficiência e aproveitamento da energia calorífica gerada, cujos princípios serão abordados posteriormente neste relatório. Os estudos realizados pelas Aprovecho são publicados em um portal online em formato de “cartilhas”, muitas vezes ilustradas, e são discutidos nos fóruns do portal PCIAonline.org onde há possibilidade dos usuários submeterem seus próprios resultados. A queima de combustíveis sólidos é comumente praticada de modo esbanjado (com desperdícios), como em caso de fogueiras, fogo em ambientes ou espaços abertos. Porém, os estudos atuais e testes científicos publicados pela Aprovecho Research Center, mostram que um fogo controlado, operado com cuidado, pode se tornar eficiente e apresentar uma queima limpa. Embora grande parte dos usuários não esteja preocupada com o combustível gasto, queimando grande quantidade de material para cozinhar pouca quantidade de alimento, em lugares onde o combustível é escasso a queima adequada (controlada), mesmo que em uma fogueira aberta, pode ser tão eficiente quanto em um fogão a lenha. Torna- se relevante a noção de uma queima adequada dos combustíveis em relação a sua eficiência e emissão de gases. 5.2 Fogo aberto e o fogo tipo Três Pedras Entende-se como “fogo aberto” aqueles que não estão em um fogão a lenha ou aparato similar. Não estão completamente cercados com alguma espécie de compartimento, não possuindo controle da entrada de ar ou do contato com a atmosfera. Temos como exemplo de fogo aberto, as lareiras abertas domésticas. 18 Figura 3: Lareira doméstica aberta “A” Fonte: designafireplace.com Figura 4: Lareira doméstica aberta “B” Fonte: designafireplace.com Como na operação de qualquer ferramenta, o modo como o “operador” controla uma queima (fogo) faz total diferença. Alguns anos atrás, fogos abertos eram usualmente considerados ineficientes. Mas foi analisando fogos abertos que os pesquisadores desenvolveram melhorias para os fogões a lenha (APROVECHO, 2005). Especialistas da área descobriram que um fogo do tipo três pedras poderia ser tanto mais eficiente no aproveitamento de combustível como apresentar uma queima mais limpa do que em alguns fogões. 19 Figura 4: Lareira doméstica aberta “B” Fonte: mgafrica.com Também é importante considerar o conhecimento e tecnologias rudimentares. A forma como indígenas operavam o fogo evoluiu com anos de experiência, fornecendo informações para aqueles que estudam as causas e dificuldades do avanço humano ao longo dos anos. A observação do modo como “entendedores” em diferentes períodos manipulavam o fogo ensinou os engenheiros da atualidade a projetar fogões melhores. (APROVECHO, 2005). Atualmente os fogões buscam primeiro uma combustão limpa do combustível, para depois conduzir o calor até o contato com as panelas, aumentando assim a eficiência do fogão e evitando aumentar a emissão de poluentes. Um operador experiente executa uma queima limpa quando fornece o material (lenha) empurrando-o aos poucos enquanto queima no fogo, controlando a quantidade de combustível. Para entender o material combustível, chamado de lenha, temos a definição de BRITO (2007): No campo energético, a madeira é tradicionalmente chamada de lenha e, nessa forma, sempre ofereceu histórica contribuição para o desenvolvimento da humanidade, tendo sido sua primeira fonte de energia, inicialmente empregada para aquecimento e cocção de alimentos. Ao longo dos tempos, passou a ser utilizada como combustível sólido, liquido e gasoso, em processos para geração de energia térmica, mecânica e elétrica (BRITO, 2007 apud COUTO, 2014. p. 24). No fogo três pedras, a energia produzida pela queima da lenha pode estar diretamente em contato com o recipiente e não transferida para o corpo/estrutura gelada de um fogão. Pode também queimar o combustível sem produzir fumaçaem 20 excesso. Na prática usual, porém, muitos fogos são produzidos com ênfase na facilidade de uso e acabam apresentando muito desperdício e emissão poluente (APROVECHO, 2005). É importante considerar também que os fogões fazem muito mais que economizar combustível ou reduzir fumaça. Fogões bem projetados podem oferecer muitas vantagens, mas a maior parte dos usuários de fogões a lenha está mais preocupada com o desempenho no preparo da comida, o resultado e a forma como cozinha. Bons fogões podem tornar a prática de cozer ao fogo mais fácil, segura, rápida e podem aprimorar um ambiente esteticamente. Devem ser fáceis de iniciar (fogo), demandar pouco cuidado e atenderem as necessidades do usuário. 5.3 Vantagens de um fogo tipo Três Pedras Para entender como é possível desenvolver um fogão a lenha apropriando-se dos princípios observados em um fogo aberto, listam-se as principais vantagens de um fogo tipo “três pedras” a seguir (APROVECHO, 2005): A energia calorífica não é transferida para o corpo/massa de um fogão. Alguns fogões de tamanho grande, com um corpo que absorve o calor do fogo, está capturando a energia que poderia estar indo para a panela ou utensílio utilizado para cozir. O fogo três pedras pode ferver uma panela com água rapidamente. O fogo faz contato direto com o fundo da panela e, muitas vezes, as laterais. Expõe-se grande parte da panela aos gases quentes provenientes da combustão. A lenha (madeira/galhos) pode ser alimentada ao fogo no tempo adequado, de acordo com a queima das pontas, proporcionando uma combustão completa do material. Um bom fogo aberto pode queimar relativamente limpo. Todo fogão a lenha irá possuir a desvantagem de um corpo/massa que absorve o calor do fogo. Porém, um fogão bem projetado ainda poderá alcançar melhor eficiência de combustão e combustível do que um fogo aberto. 21 5.4 Melhorias para a combustão Segundo COUTO (2014), combustão pode ser definida da seguinte forma: Combustão é a transformação da energia química dos combustíveis em calor, por meio das reações dos elementos constituintes com o oxigênio fornecido. Para fins energéticos, a combustão direta ocorre essencialmente em fogões (cocção de alimentos), fornos (metalurgia, por exemplo) e caldeiras (por exemplo). Embora muito prático e, às vezes, conveniente, o processo de combustão direta é normalmente muito ineficiente. (COUTO, 2014; p. 28) Alguns tópicos que conduzem a uma queima limpa dos combustíveis sólidos em um fogão, produzindo menor emissão de poluentes em comparação a um fogo aberto, são os seguintes (APROVECHO, 2005): Garantir uma boa corrente (passagem de ar) através do fogo; Isolar termicamente a área (o entorno) do fogo, proporcionando uma queima ainda mais quente. Aumentando a temperatura na área de queima, mais dos gases combustíveis são queimados, gerando menos fumaça; Evitar usar materiais pesados e frios como terra e areia ao redor da área de combustão (como isolamento); Levantar o combustível. Ao invés de deixar a lenha posicionada em uma base plana/sólida, levantar ela de modo que o ar possa passar abaixo e através da brasa; Posicionar um tipo de chaminé curta logo acima do fogo. Isso dará a fumaça e ao ar um local para misturarem ao fogo, reduzindo as emissões. Essa estratégia já é utilizada por alguns modelos de fogões. Controlar a inserção de lenha ao fogo ou área de combustão criando uma queima feroz e intensa, de modo a não criar brasa exageradamente. A queima controlada proporcionará menor emissão dos gases poluentes, menos fuligem e material acumulativo na chaminé. Deve-se aquecer apenas a parte da lenha que está queimando, não encorajando o restante a gerar fumaça. Limitar a entrada de ar frio ao fogo. Isso pode ser feito com um controle da abertura na entrada de ar. O ideal é que seja a menor possível. Pouca 22 entrada de ar forçará o usuário a utilizar menos lenha, possibilitando uma maior eficiência do que for utilizado. Uma quantidade adequada de ar é necessária para a combustão completa. Um ar pré aquecido ajuda a manter uma queima limpa. 5.5 Princípios para o design de um fogão a lenha Os princípios a seguir foram desenvolvidos na década de 1980 por Dr. Larry Winiarski, criador do rocket stove ou “fogão tipo foguete”. Seu intuito era o de criar uma alternativa segura, eficiente e com consciência ambiental para os fogos abertos utilizados em países em desenvolvimento. O conceito de rocket stove busca reduzir emissões poluentes dos fogões, usar menos combustível (madeira) e aumentar o aproveitamento da energia calorífica provinda de sua queima. Sua eficácia é comprovada e seus princípios são utilizados em diferentes países no auxílio para a criação de fogões melhores. Em relação ao presente projeto, os princípios de Winiarski se mostram apropriados ao que se pretende resolver como problema de projeto, principalmente em relação a eficiência e emissão dos gases no ambiente. A adoção de alguns desses princípios como diretrizes para o produto em desenvolvimento é oportuna. São eles (APROVECHO, 2005): A. Sempre que possível, isolar ao redor do fogo (fornalha) utilizando materiais leves não condutores (figura 5). Exemplos de materiais naturais que podem ser utilizados como isolamento térmico: pedra Pomes/Púmice, vermiculita, perlita, cinzas de madeira. O isolamento mantém o fogo quente, o que ajuda a reduzir a fumaça e as emissões danosas. Também evita que o calor passe para o corpo do fogão, ao invés das panelas. 23 Figura 5: Isolamento ao redor do fogo Fonte: Aprovecho Research Center B. Posicionar uma “chaminé” curta logo acima da área de fogo (fornalha). A chaminé para a combustão deve ser três vezes maior que o seu diâmetro, conforme figura 6. O posicionamento desta chaminé vai aumentar a corrente de ar quente dentro do fogão e ajudará a manter uma chama intensa. A fumaça se mistura com a chama na chaminé e entra em combustão, reduzindo as emissões. A superfície a ser aquecida deve estar logo acima desta chaminé. Uma chaminé maior limpará mais a fumaça, já uma chaminé curta levará mais gases quentes à superfície aquecida. Uma chaminé muito alta aumentará exageradamente a corrente de ar, puxando mais ar frio para dentro do fogão e diminuindo o aproveitamento dos gases quentes para transferência de calor. Figura 6: chaminé curta, isolada, logo acima do fogo Fonte: Aprovecho Research Center. 24 C. Aquecer e queimar apenas a ponta do material (lenha/madeira) à medida que for inserido no fogo. Também está diretamente associado ao teor de umidade na lenha. Para reduzir a fumaça, requer certo controle. Se apenas a parte quente (ponta) da madeira estiver no fogo, haverá menos fumaça. O objetivo é produzir a quantidade certa de gases para que sejam queimados de maneira limpa (gerando menos fumaça e resíduos da brasa). Os gases não queimados constituem a fumaça (figura 7), que é prejudicial caso respirada. Ressalta-se que até mesmo uma queima limpa ainda produzirá emissões danosas. Figura 7: queima limpa e queima com fumaça. Fonte: Aprovecho Research Center D. Fogo alto ou fogo baixo são resultado da quantidade de madeira inserida na chama. Mais ou menos lenha no fogo resultará em maior ou menor quantidade de energia calorífica gerada, como ilustrado na figura 8. Deve-se ajustar a quantidade de acordo com a tarefa a ser desempenhada pelo fogão. Figura 8: Fogo alto e baixo, pouco ou muito aquecimento. Fonte: Aprovecho Research Center 25 E. Manter uma boa corrente de ar através do material em combustão. Assim como soprar em uma chama ou brasa o faz queimar melhor (mesmo princípio). A quantidade ideal de ar através do combustível aumentará a temperatura na fornalha. Figura 9: Passagem de ar através da queima Fonte: AprovechoResearch Center F. Pouca corrente de ar sendo puxada ao fogo resultará em fumaça e excesso de resíduos da queima/brasa. Assim como muito ar através do fogo reduzirá a temperatura e também não é desejável. Entradas de ar pequenas ajudam a controlar o excesso de ar. Figura 10: equilibrando o fluxo de ar em um fogão para múltiplas panelas Fonte: Aprovecho Research Center 26 G. A abertura até a fornalha, o espaço interno do fogão por onde corre o calor e a chaminé devem ter tamanhos equivalentes, é o que aponta a figura 11. Isso é manter uma área de passagem constante. Isso ajuda a manter a corrente de ar necessária. Uma corrente correta é essencial para a transferência de calor para a área desejada (chapa ou panelas). Figura 11: Manter áreas de passagem equivalentes Fonte: Aprovecho Research Center H. Utilizar uma grade abaixo do fogo. Não é desejável posicionar a lenha no chão da área de combustão. O ar precisa estar passando por baixo da lenha, através da brasa, até o fogo. Uma grade pode levantar a lenha para que o ar passe abaixo dela, como está indicado na figura 12. O ar frio que passa apenas acima da lenha não é tão benéfico e ajuda a esfriar a fornalha. Figura 12: Utilizar uma grelha abaixo da lenha Fonte: Aprovecho Research Center 27 I. Isolar o caminho/área de fluxo do calor. É sempre desejável isolar a área onde passa o calor para que não haja perda para o corpo do fogão. Isso aumenta a eficiência e praticidade do fogão, que pode esquentar água rapidamente, por exemplo, utilizando menos combustível. Ressalta- se que argila, areia e outros materiais densos não são isolantes. J. Maximizar a transferência de calor para a panela com espaços apropriados. Isso se refere ao espaço entre a panela e a parte quente do fogão, por onde passará o calor. No caso de uma espécie de “saia” em volta da panela, por exemplo. Pode ser melhor visualizado na figura 13, abaixo: Figura 13: Espaço adequado para melhor transferência de calor. Fonte: Aprovecho Research Center 28 6 ANÁLISES 6.1 Análise e pesquisa de mercado Em uma pesquisa de campo preliminar foram visitadas três lojas da região da Grande Florianópolis que ofertavam fogões a lenha ou similares, são elas: Tubogás, Cassol e Casas da Água. Todas as lojas vendiam modelos “comuns” de fogão a lenha, majoritariamente feitos em ferro fundido. Também encontrou-se dentre os materiais: aço inoxidável e tijolos refratários. Um dos fogões (figura 14) apresentou como diferencial uma chapa superior em vitrocerâmica. Os vendedores abordados sabiam dar poucas informações sobre os produtos (além das funções básicas/primárias). A seguir, alguns modelos e observações relevantes encontradas na pesquisa: Figura 14: Fogão Antonow Fonte: Acervo pessoal Este modelo da figura 14 foi o que apresentou melhor construção e, aparentemente, melhor qualidade. Apesar de pequeno, possui o diferencial da chapa superior vitrocerâmica. Assim apresenta melhor acabamento e vedação completa na parte superior do fogão. 29 Figura 15: Porta de inserção do fogão Antonow Fonte: Acervo pessoal Parte interna revestida (figura 15) com tijolos refratários e grade interna em ferro fundido. No detalhe da imagem pode-se observar que há um “abafador”, uma porta que se aberta corta o fluxo de ar para a chaminé. A adoção desse recurso é considerada inapropriada para um fogão bem projetado, conforme referências citadas anteriormente. Figura 16: Aberturas inferiores do fogão Antonow Fonte: Acervo pessoal 30 O restante da estrutura do fogão, vista na figura 16, é composta por aço inoxidável, o mesmo, porém, parece ser de uma categoria de qualidade inferior. Apesar de um bom acabamento, a parte funcional do fogão deixa a desejar. Não há qualquer controle de entrada de ar na fornalha que não seja a própria porta para inserção de lenha. Isso provavelmente resultará em um fogão que produzirá bastante fumaça e uma queima descontrolada. A parte inferior apresenta uma gaveta para as cinzas e uma abertura para armazenamento de lenha. Na figura 17 temos um modelo de fogão completamente em ferro fundido. Este possui pequenas entradas de ar na porta inferior, onde está alocada a bandeja para cinzas. As entradas de ar, porém, não apresentam ajuste. Figura 17: Fogão modelo de ferro fundido Fonte: acervo pessoal Um dos modelos encontrados na loja (figura 18) possuía uma espécie de controle para a entrada de ar. O mesmo, porém, não aparenta ser completamente funcional, uma vez que quando fechado permanece com muitas áreas de “vazamento”, por onde o ar pode circular livremente. Não há vedação. 31 Figura 18: ajuste para entrada de ar do fogão de ferro fundido Fonte: acervo pessoal Na figura 19 visualiza-se mais um modelo em ferro fundido. Este aparenta possuir o que chama-se de “chaminé curta” logo acima da área da chama. Consiste em um espaço acima da brasa para combustão dos gases, o que aumenta o calor produzido e reduz a fumaça. Neste modelo há entradas de ar na porta para a gaveta de cinzas, na parte inferior. Figura 19: Fogão ferro fundido “Fundimig” Fonte: acervo pessoal Todos os modelos até então não possuem vedação e isolamento adequado das áreas importantes, como verificado nos princípios para o design de um fogão ideal. Com exceção para o modelo Antonow, que possui fornalha revestida de tijolos refratários. Ainda assim, o refratário não é o tipo de isolamento ideal, uma vez que é 32 um material pesado/denso e pode armazenar calor, transformando-se em uma massa calorífica. Os fogões de ferro fundido, como o da figura 20, podem cumprir, por sua vez, uma função secundária: a de irradiar o calor armazenado, podendo ser útil para aquecer ambientes. O fogão a seguir é também um dos modelos de ferro mais difundidos no mercado: Figura 20: Modelo de ferro encontrado com maior frequência Fonte: acervo pessoal Alguns modelos construídos com tijolos de concreto e refratários também foram encontrados. Estes apresentavam maiores problemas de construção, acabamento e funcionalidades. Pouca vedação na parte superior, onde fica alocada a chapa de ferro; pouco ou nenhum controle de entrada de ar na fornalha; Acabamentos ruins e defeitos aparentes. Um dos modelos possui o tal “abafador”, que deveria servir apenas em caso de utilização de um forno, onde o fluxo de ar quente do fogão seria desviado da saída direta na chaminé para o entorno do forno. O modelo em questão, porém, não possuía forno. Entende-se que este tipo de fogão seja destinado para posterior adequação a um projeto específico de acordo com as necessidades do consumidor e assim estaria também sujeito aos acabamentos pertinentes. As figuras 21 e 22 trazem algumas imagens para melhor visualização. 33 Figura 21: Modelos em concreto Fonte: acervo pessoal Figura 22: Modelo em concreto revestido Fonte: acervo pessoal Foram encontrados modelos tradicionais revestidos por chapas pintadas (figura 23), com aspecto estético vintage, estes apresentam melhor acabamento, uma vez que possuem também um apelo estético. Funcionalmente falando, podem atender bem as necessidades de um usuário que não presa pela eficiência do aproveitamento de combustível. São modelos robustos, aquecem inclusive o ambiente. 34 Figura 23: Fogão esmaltado Fonte: acervo pessoal Observa-se como aspecto positivo uma maior vedação em todas as portas. Também possui um controle da entrada de ar limitado, efetuado por uma porta basculada, vista na figura 24, que funciona em apenas duas posições (completamente aberta ou fechada). Figura 24: Aberturas e controle de ar do modelo esmaltado Fonte: acervo pessoal 35 Resume-se a análise de fogões encontrados no mercado. As informações obtidasfarão parte de uma análise sincrônica com a comparação a outros modelos não encontrados em lojas físicas até o momento. Todas as imagens apresentadas são de acervo próprio. 6.2 Análise Sincrônica Além da pesquisa de similares encontrados no mercado da região, foi realizada uma análise sincrônica entre dois modelos específicos, mais próximos à alternativa proposta no projeto. Verificou-se, em comparação, os seguintes aspectos em cada um deles: dimensões aproximadas; peso aproximado; materiais; qualidade de acabamento; isolamento térmico; ajuste da entrada de ar; câmara de combustão; vedação, emissão de fumaça no ambiente e demais características específicas de cada um. Foram organizados em esquema de tópicos por considerar que uma tabela teria uma visualização dificultada da análise (parte escrita). Modelo A: Antonow Fogão Munique Figura 25: Fogão Munique Fonte: antonow.com.br Dimensões aprox.: 60 x 75 x 80 cm - Chapa superior: 65 x 45 cm 36 Peso aprox.: Não informado Materiais.: Aço inoxidável com diferentes acabamentos, material refratário (tijolos), chapa superior em ferro fundido ou vitrocerâmica Qualidade do acabamento: Boa Isolamento térmico: Possui revestimento interno em lã de vidro. O tipo do material refratário na fornalha não é especificado, podendo variar sua condutividade e armazenamento térmico. Ajuste da entrada de ar: Não possui controle específico para entrada de ar. O mesmo pode ser feito por meio da abertura da porta da fornalha ou da gaveta para cinzas, que fica logo abaixo de uma grade de ferro na base da fornalha. A funcionalidade dessa gaveta quando aberta, em relação a correta disposição para reter as cinzas enquanto permite a entrada de ar adequada, não foi verificada. Câmara de combustão: Posicionada logo abaixo da chapa superior do fogão. Relativamente ampla, porém não há espaço suficiente acima da fornalha para uma combustão completa dos gases. A câmara é revestida por material refratário e possui uma grade em ferro para despejo das cinzas ou para entrada de ar. Vedação/emissão de fumaça no ambiente: A chapa superior vitrocerâmica é completamente vedada. A porta/abertura para a fornalha possui vedação parcial, quando totalmente fechada. O fogão possui registro para bloqueio do fluxo de saída para a chaminé. Caso fechado o registro, o resultado será um possível escape de gases/fumaça para o ambiente, uma vez que a porta da fornalha apresenta frestas suficientes e a gaveta de cinzas esteja aberta. Observa-se a possibilidade de extinguir o fogo com o fechamento de todas as portas e registro, porém as frestas são suficientes para manter fogo por um período indesejado caso haja combustível na câmara. Essas observações não foram comprovadas na prática. Demais características: Possibilita diferentes opções de acabamento e materiais, incluindo para a chapa superior. Possui depósito para lenha ou utilitários. 37 Modelo B: Ecofogão Campestre 3 Figura 26: Ecofogão campestre 3 Fonte: ecofogão.com Dimensões aprox.: 83 x 32 x 32 cm - Chapa superior 65 x 27 cm Peso aprox.: não informado Materiais: Chapa superior e grelha da fornalha em ferro fundido, material refratário e concreto. Qualidade do acabamento: Mediano. Superfície externa toda em concreto, indicando possibilidade de revestimento em acordo com necessidade ou preferência do usuário. Isolamento térmico: O fabricante informa que a câmara de combustão é composta por plaquetas de material refratário e revestida em material isolante, o mesmo não é especificado. Apesar de não especificado, o concreto utilizado pode ser do tipo isolante. Ajuste da entrada de ar: A entrada de ar não é controlada. Não há porta. A única abertura é a frontal, onde é feita a alimentação de lenha. É também onde ficam armazenadas as cinzas da queima, separadas por uma grelha de ferro que fornece ventilação abaixo da câmara. O acúmulo de resíduos/cinzas abaixo da câmara pode prejudicar o fluxo de ar e a abertura puxa ar frio diretamente para dentro da câmara. 38 Câmara de combustão: Uma grande abertura em formato trapezoidal, com uma grelha de ferro servindo como base para a queima. O ar entra diretamente pela câmara, que não possui porta. É revestida por plaquetas refratárias e isolada termicamente, segundo o fabricante. Este modelo é baseado em princípios do tipo foguete, porém a chaminé curta acima da câmara não possui a altura indicada nos princípios. Vedação/emissão de fumaça no ambiente: O fabricante indica que seja utilizada uma mistura de cinzas com água para efetuar a vedação nos arredores da chapa superior de ferro, em caso de vazamentos. A chapa possui “bocas” removíveis e é alertada a emissão de fumaça caso estejam abertas. Em caso de queima descontrolada na parte frontal da câmara de combustão, que não possui porta, há possibilidade de geração de fumaça e emissão para o ambiente. Demais características: A chapa superior de ferro apresenta uma variação na largura (de 27 a 23 cm). Acompanha uma chaminé de 3 metros em chapa de aço galvanizado, ou em aço inox (opcional). O fabricante também inclui serpentina para aquecimento de água como um opcional. 39 7 A EMPRESA Fundada em 1986, o intuito inicial da Ginterm era o de fabricar peças em fibra de vidro: equipamentos para piscinas, banheiras de hidromassagem e peças para aquecimento solar (as bandejas para os coletores solares). Passou a produzir seus próprios aquecedores solares a partir de certo contato com a área e por consequente identificação de oportunidade de um mercado que estava em ascensão na época. Figura 27: Logomarca atual Ginterm Fonte: acervo pessoal A empresa atua regionalmente - grande Florianópolis - com alguns serviços no interior do estado em residências, pousadas e hotéis. Sua capacidade produtiva limitada, processos predominantemente manuais e estrutura de empregados caracterizam um negócio de pequeno porte. Seu foco, porém, está em um atendimento próximo ao cliente, priorizando a qualidade funcional dos seus produtos. Distingui-se uma boa reputação da empresa, pois atua a longo tempo - 30 anos - com 90% dos serviços contratados provenientes de indicações de seus próprios clientes e alguns profissionais da área. Sendo este um volume concordante com a capacidade de produção da empresa. A empresa possui um foco de utilização de materiais nos seus processos de produção. Inclui principalmente tubos e chapas metálicas de aço inoxidável AISI 304 ou AISI 316. O principal produto fabricado pela empresa é o Aquecedor Solar, desde fabricação até instalação. Em seu histórico, já entregou projetos de sistemas solares com capacidade de 15000 litros de água e até 160 placas coletoras. Aponta como diferencial em seu produto a durabilidade. 40 Figura 28: Reservatório Térmico Ginterm Fonte: Acervo pessoal Figura 29: Reservatório Térmico Ginterm, em campo Fonte: Acervo pessoal Dentre outros sistemas de aquecimento, já desenvolveu caldeiras geradoras de água quente para piscinas, tanto a lenha, quanto elétricas; Serpentinas do tipo “camisa” para fogões a lenha e chaminés; instalações de sistemas variados (gás, elétricos), integrados com o sistema solar. A empresa conta com uma estrutura de 400m² de área e dentre seus principais processos produtivos estão: Solda/Caldeamento TIG, MIG, Elétrica, Oxiacetileno (todas manuais); Ferramentas de corte plasma, furadeiras e calandras; Ferramentas básicas de uma metalúrgica. Inclui em seus processos alguns serviços terceirizados: Dobradeiras, guilhotinas, corte a laser, dobra de chapas específicas e usinagem. 41 7.1 Estrutura, tecnologia e processos disponíveis Conforme citado anteriormente, a análise e conhecimento da capacidade produtiva da empresa é fundamental para o desenvolvimentode um produto coeso/ oportuno. A seguir, apresentam-se algumas das ferramentas disponíveis na empresa e breve descrição de sua utilização: Brasagem Oxiacetilênica (vareta foscoper): Utilizada para soldagem de serpentinas e tubos de cobre. Figura 30: Brasagem Oxiacetilênica Fonte: Acervo pessoal Brasagem com Estanho: Instalações com tubulação de cobre. Figura 31: Brasagem Estanho Fonte: Acervo pessoal 42 Solda Elétrica: Soldagem de estruturas metálicas/ferragens. Figura 32: Solda Elétrica Fonte: Acervo pessoal Solda TIG em atmosfera de argônio: Soldagem Interna dos Reservatórios Inox. Figura 33: Solda TIG Argônio Fonte: Acervo pessoal Solda Ponto: Anteriormente utilizadas para as placas solares. Atualmente fora de uso. 43 Figura 34: Solda a ponto Fonte: Acervo pessoal Compressores: Para pistolas de pintura e outras ferramentas pneumáticas. Figura 35: Compressores Fonte: Acervo pessoal Pistolas para pintura e rebitadeiras pneumáticas: Pintura para as o revestimento inferior das placas captadoras de fibra de vidro e rebitadeiras 44 para amarração e junção das estruturas externas dos reservatórios térmicos (camada externa). Figura 36: Pistolas para pintura e Rebitadeiras Fonte: Acervo pessoal Serras Policorte / Bancada: Corte dos perfis de alumínio (presentes nas placas captadoras e demais estruturas metálicas). Figura 37: Serras Policorte em Bancada Fonte: Acervo pessoal 45 Figura 38: Serras Policorte em Bancada (2) Fonte: Acervo pessoal Tesoura para corte de chapas: Corte variados das chapas em aço inox. Figura 39: Tesoura de chapas Fonte: Acervo pessoal 46 Viradeira de chapas: Atualmente em desuso, utilizava-se para dobrar chapas em aço inox, necessárias para diferentes processos. Atualmente este serviço é contratado na compra da chapa e realizado pelo fornecedor. Figura 40: Viradeira de chapas Fonte: Acervo pessoal Frisadeira: Prover estrutura para o cilindro externo do reservatório. Figura 41: Frisadeira Fonte: Acervo pessoal 47 Furadeiras de Bancada: Para processos diversos, principalmente em perfis de alumínio. Figura 42: Furadeiras de Bancada Fonte: Acervo pessoal Ferramentas manuais diversas: diferentes processos. Figura 43: Ferramentas manuais Fonte: Acervo pessoal 48 Espaço: Estrutura relativamente pequena, porém adequada as necessidades da empresa. Figura 44: Ambiente da empresa Fonte: Acervo pessoal 49 8 PÚBLICO ALVO E AMBIENTAÇÃO DE REFERÊNCIA A delimitação de público ao qual o projeto se destina está diretamente relacionada a dois fatores principais: a justificativa de projeto e a capacidade produtiva da empresa, ou seja, o que a empresa é capaz de oferecer ao mercado. Desta forma, optou-se primeiro pela definição de um ambiente ou contexto em que o produto estaria inserido ou seria destinado e posteriormente a identificação de um perfil de público pertencente a este contexto. Conforme referido na justificativa, o tipo de fogão a lenha sendo desenvolvido neste projeto não é exatamente o mesmo encontrado comumente no mercado. Não há objetivo de utilizar o fogão para aquecer o ambiente com a radiação do calor, por exemplo. A proposta do projeto é de um fogão eficiente no aproveitamento da energia gerada pelo combustível e destinado ao preparo do alimento. Para tanto, há a necessidade de isolar termicamente as principais partes do fogão para que não haja perda de calor para o ambiente. Com isso, tem-se um fogão que pode ser utilizado durante todas as estações do ano, incluindo verão, além de não delimitá-lo para residências exclusivamente em regiões frias: serra, cidades com índices de temperaturas baixas, etc. Há também uma preocupação com a emissão de fumaça ao ambiente em que o fogão está instalado. Desta forma, temos um fogão de lenha que se destina a utilização/instalação em uma cozinha de uso comum, junto a todos os outros eletrodomésticos, e não necessariamente em uma área externa da casa (junto à churrasqueira). Assim, tem-se como primeiro referencial o cômodo e seu estilo: cozinhas domésticas com predominância de aço inoxidável nos produtos, superfícies e acabamentos. Linhas geométricas, cantos vivos e minimalismo. Pode ser definido como Estilo Industrial. São referidas nas imagens a seguir: 50 Figura 45: Cozinha doméstica em estilo industrial “A” Fonte: pinterest.com Figura 46: Cozinha doméstica em estilo industrial “B” Fonte: pinterest.com 51 Figura 47: Cozinha doméstica em estilo industrial “C” Fonte: pinterest.com A referência de estilo conta ainda com visualização em um painel semântico (figura 48), buscando sustentar a identificação e criação de um produto compatível com o mesmo: 52 Figura 48: Painel semântico Fonte: desenvolvido pelo autor Ressalta-se que o estilo estético proposto não impossibilita, porém, o encaixe concordante em ambientes de outros estilos. A característica neutra do aço inox e a sobriedade das formas geométricas também conferem certa versatilidade. Para o segundo referencial, determinamos um perfil para o usuário ou público alvo. Por se tratar de um fogão a lenha, espera-se que o preparo do alimento seja “menos rápido” do que acontece em um fogão a gás GLP comum. A proposta do produto não é promover praticidade e rapidez no preparo. Na verdade, tem uma proposta contrária a isso. O uso é definido como não corriqueiro ou ocasional, pois demanda tempo para o preparo e aí está o seu diferencial. Há um apelo ao preparo de alimentos como ato de lazer e com enfoque na qualidade. É popularmente difundida a crença de que os alimentos preparados no fogão a lenha são mais saborosos. Em alguns contextos, o preparo com lenha tem aplicação ao marketing e é associado a qualidade do produto, como observamos em alguns restaurantes (figura 49): 53 Figura 49: fachada de restaurante com apela ao preparo à lenha Fonte: destemperados.com.br Temos então um público que utiliza o fogão ocasionalmente para preparo de alimentos e valoriza o ato. Pode ser apropriada uma relação com o movimento “slow food”, assim como a tendência gourmet, em atual ascensão. Em alusão, tem-se a seguinte citação de Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food: “É inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas”. Bem como: Acreditamos que todos têm o direito fundamental ao prazer de comer bem e consequentemente têm a responsabilidade de defender a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível esse prazer. O Slow Food segue o conceito da ecogastronomia, reconhecendo as fortes conexões entre o prato e o planeta. (SLOWFOOD, 2007). Fazendo relação ao tipo de utilização e perfil do público, ainda está o aquecimento de água, proporcionado pela função secundária do fogão – aproveita a energia calorífica produzida para fornecer água quente à rede termo hidráulica da casa, armazenando-a em um reservatório térmico – que, com apenas alguns dias de utilização do fogão durante a semana, pode atender as necessidades do usuário, bem como economizar energia elétrica. Para melhor definição, um perfil de público alvo fundamentado na descrição fornecida pela empresa parceira foi criado na forma de “persona”, apresentado na figura 50, a seguir: 54 Figura 50: Persona - perfil de público alvo Fonte: desenvolvido pelo autor 55 9 REQUISITOS Anterior à etapa de concepção da alternativa, se faz necessária a determinação de alguns requisitos os quais o projeto deve atender. Esses requisitos são fundamentados pela problemática, pelo estudo da coleta de dados, público e análises anteriores, buscandoelencar os principais pontos concernentes ao objetivo geral de projeto. São a conversão das necessidades de quatro pontos principais, organizados no quadro a seguir: Quadro 2: Lista de Requisitos Redução da emissão de gases nocivos no ambiente Vedar com eficiência as áreas de fluxo dos gases quentes ou fumaça Dispor de área ou chaminé curta acima da câmara de combustão Possibilitar o controle/ajuste da entrada de ar na câmara Aumento da eficiência e aproveitamento do combustível Isolar termicamente a câmara de combustão Permitir corrente de ar vinda de baixo e através área de queima Manter área constante e equivalente para o fluxo interno no fogão, da entrada até a chaminé de saída Segurança e usabilidade Facilitar a retirada de cinzas e resíduos do combustível queimado Proporcionar segurança no manejo e operação do fogão Necessidade de projeto Dispor a serpentina ou aparato para aquecimento de água após a chaminé curta da câmara de combustão Adequar-se às capacidades produtivas da empresa Fonte: desenvolvido pelo autor 56 Após definidos os requisitos, o projeto segue para o desenvolvimento da alternativa (e suas variações), que deverá atender aos pontos especificados. Espera-se que essas delimitações guiem o projeto ao alcance do resultado esperado. 57 10 DESENVOLVIMENTO DA ALTERNATIVA O processo de geração das alternativas ocorreu de forma livre, porém, segue- se um padrão de desenvolvimento: à medida que as ideias fossem esboçadas no papel pelos sketches manuais (figura 51), as alternativas selecionadas passavam para o software 3D - SolidWorks. Figura 51: compilação de sketches manuais desenvolvidos ao longo do projeto Fonte: Acervo pessoal A alternativa proposta para avançar a fase de testes surgiu dentre sketches e em seguida foi aprimorada no software 3D. É a evolução de um modelo de funcionamento baseado no rocket stove. Foi priorizada a aplicação de aspectos funcionais, uma vez que precisavam ser comprovados durante a fase de testes. Posteriormente, seriam aplicados detalhes de acabamento características estéticas. 58 O esboço inicial no software pode ser observado na figura 52, seu funcionamento será descrito na fase de testes: Figura 52: vista do esboço inicial com recorte Fonte: desenvolvido pelo autor A figura 53 apresenta uma compilação das alterações e evolução da alternativa, a partir do esboço inicial. Observam-se mudanças como ajuste na inclinação na área de inserção do combustível; alteração da gaveta de cinzas; dimensionamentos proporcionais da câmara superior; orientação das áreas de operação e posicionamento da chapa superior. Figura 53: compilação de alterações na alternativa Fonte: desenvolvido pelo autor 59 A primeira pré-visualização da alternativa final (esboço estimado) pode ser visto na figura 54, observa-se a aplicação do aparato para aquecimento de água na área externa da chaminé, neste caso. Figura 54: estimativa para formato final Fonte: desenvolvido pelo autor 60 11 FASE DE TESTES A etapa de testes foi de fundamental importância para ajustes e evolução da alternativa. Através de um modelo de estudo (figura 55), buscou-se comprovar os efeitos práticos de alguns dos princípios do rocket stove aplicados ao produto. Os testes ocorreram em dias diferentes, com diferentes configurações. As áreas denominadas e referidas nos testes podem ser compreendidas na figura 56. Verificou-se, principalmente, o funcionamento do modelo de câmara de combustão proposto, incluindo os seguintes pontos: A altura adequada para a chaminé curta (acima da câmara); Formato, inclinação e funcionamento da área de inserção do combustível (lenha); Efeito e controle da entrada de oxigênio na câmara; Fluxo ou corrente de gases quentes dentro da câmara; Espaçamento e orientação para a grelha base de queima; Diferentes tipos, condições, dimensões e eficiência do combustível (lenha); Origem ou comportamento da fumaça e a condição de queima limpa; Resíduos da queima, temperatura atingida, tempo de autonomia, operações necessárias e demais detalhes funcionais; Figura 55: Modelo de estudo (com a área de inserção de combustível fechada). Fonte: Acervo pessoal 61 Figura 56: áreas denominadas no modelo apontadas Fonte: desenvolvido pelo autor A situação ideal de funcionamento proposta na alternativa prevê que a entrada de oxigênio ocorra totalmente através da abertura inferior à câmara, abaixo da grelha (figura 57). Mantem-se a proporção dimensional constante em toda a área de fluxo, produzindo a corrente adequada para a queima completa do combustível. A inserção do combustível (lascas, briquetes ou toras de madeira) ocorre na base inclinada, que deve proporcionar deslize e alimentação contínua à chama. A área de inserção de combustível deve ser mantida fechada, isso manterá a corrente com entrada de ar vinda da abertura desejada - na parte inferior, através da grelha - e evitará a emissão de fumaça no ambiente. A altura da chaminé curta, na área de combustão, deve ser suficiente para aspirar os gases quentes e propiciar uma queima feroz. No modelo final, uma camada de isolamento térmico em volta de toda a área de combustão terá influência crucial no funcionamento, elevando a temperatura dentro da câmara, aumentando a eficácia da queima e também o aproveitamento do calor gerado. O conceito de funcionamento aplicado na alternativa emprega os princípios do rocket stove como principal alicerce, indicando a necessidade de sua comprovação em testes. 62 Figura 57: Modelo de estudo com visualização interna, observação da grelha e câmara de combustão Fonte: Acervo pessoal Poucos acessórios foram utilizados para realização dos testes junto ao modelo, são eles: álcool gel e fósforos de segurança (como acendedor), um facão para partir a lenha, uma tampa de alumínio no formato da peça, um bastonete metálico e um termômetro infravermelho digital. Figura 58: Acessórios de teste: acendedor e termômetro. Fonte: Acervo pessoal A inicialização do fogo se mostrou fácil, aplicando uma quantidade de álcool gel diretamente nos gravetos ou lascas de madeira (é importante iniciar o fogo com pedaços pequenos). O álcool pode ser acendido externamente no graveto e levado até a grelha ou posicionado na grelha e acendido posteriormente com o auxílio de algum material em chama (papel, por exemplo) ou de um acendedor por faíscas. 63 Esta etapa inicial é realizada com a tampa aberta, até a criação de uma chama estável no interior da câmara e adição dos gravetos maiores ou toras (figura 59): Figura 59: Queima inicial dentro da câmara Fonte: Acervo pessoal Após estabelecida a queima dentro da câmara, a tampa da área de inserção pode ser fechada. Isso garantirá completa vedação das regiões por onde possa haver emissão de fumaça ao ambiente (anteriores a chaminé), e que o oxigênio será puxado pela abertura abaixo da câmara, fornecendo a corrente desejada. Esta situação de funcionamento é comprovada como eficaz nos primeiros minutos de teste, porém algumas falhas começam a surgir após certo tempo de funcionamento. As primeiras falhas percebidas são decorrentes do acúmulo de material queimado (cinzas e brasas) na grelha. Esse acúmulo (figura 60) impede que a quantidade adequada de ar seja puxada através da grelha, ocasionando enfraquecimento da queima, maior produção de fumaça e, principalmente, enfraquecimento da corrente. Isso resulta inclusive em uma queima progressiva do material posicionado na área de inserção do combustível, a base inclinada (uma vez que a chaminé curta aspira ineficazmente os gases). Outro problema observado foi uma produção de fumaça que ficava armazenada nessa área de inserção, sendo liberada ao ambiente quando atampa era aberta. Como agravante, o acúmulo de 64 resíduos na grelha tem um fator progressivo. Essas falhas no funcionamento indicaram os primeiros ajustes necessários, partindo da grelha. Figura 60: Acúmulo de cinzas acima da grelha, bloqueando a passagem da corrente. Fonte: Acervo pessoal Seguindo as verificações, constatou-se a ineficácia da base inclinada para inserção de combustível. O objetivo era que a inclinação de 45° automatizasse o fornecimento de material para alimentação da chama, aumentando a autonomia de funcionamento. Além de ineficaz, houve o problema com acúmulo de fumaça liberada com a abertura da tampa, já citado (figura 61). Assim, fica comprovada a necessidade de operação constante na inserção de combustível para alimentar a chama e proporcionar o funcionamento correto, com pouca fumaça e queima completa do material. Relacionando ao problema de corrente e entrada de ar na câmara, observou-se que com a abertura da tampa a chama/queima era potencializada, apontando a influência de um maior volume de ar entrando na câmara (figura 62). Ajustes são necessários também na área de inserção do combustível. 65 Figura 61: acúmulo de fumaça na área de inserção Fonte: Acervo pessoal Figura 62: queima amplificada com a tampa aberta (chama feroz) Fonte: Acervo pessoal 66 Observou-se também o comportamento da queima/chama em situação ideal de funcionamento do modelo. A temperatura atingida na câmara, mensurada na parede interna da chaminé curta, variou entre 350°C e 390°C (figura 63). O consumo de combustível aconteceu de forma rápida (com toras no tamanho ideal) e a queima plena nesse caso se mostrou limpa, sem emissão de fumaça. Ainda, estima-se uma melhora com a adição do isolamento térmico, prevista para a versão final da alternativa. Figura 63: Temperatura na parede interna da câmara (chaminé curta) Fonte: Acervo pessoal Após averiguados os pontos fundamentais de funcionamento do modelo, partiu-se para testes com os tipos de combustível disponíveis, a lenha em si. Para esses testes, foram adquiridos diferentes tipos de gravetos/toras vendidas em supermercados da região. Não foi encontrada grande variedade de espécies de madeira, predominando, a Acácia Negra, em diferentes tamanhos: gravetos e toras repartidas (figura 64 e 65). Além da Acácia Negra, encontrada em supermercados da grande Florianópolis, adquiriu-se em localidade afastada (interior cidade de Antônio Carlos - SC) a lenha de Eucalipto. Também foi coletada pequena quantidade de gravetos e toras de madeiras diversas na mata da região, buscando diversificar o tipo de combustível para efeito de comparação. 67 Figura 64: Lenha com denominação: “Gravetos para iniciar fogo” Fonte: Acervo pessoal Figura 65: Lenha de Acácia Negra Fonte: Acervo pessoal O primeiro efeito observado nos testes foi o diferencial de queima e operação causado pelo tamanho das lascas, gravetos ou toras inseridos na chama. Tornou-se clara a necessidade de um tamanho controlado para o material combustível, estando próximo ao denominado como “gravetos para iniciar fogo”, visto na figura. Ou seja, um tamanho menor do que o padrão encontrado no mercado como “lenha para fogão ou lareira”. A queima de toras grandes, com tamanho exagerado para a proporção da câmara, gerou excesso de fumaça e bloqueio da corrente de ar/gases, a qual deve ser priorizada (figura 66). O tamanho indicado, porém, proporcionou 68 uma queima feroz, rápida e limpa, conforme estimado. O tamanho ideal para cada um dos três tipos de combustível utilizado pode ser observado nas figuras 67, 68 e 69, com uma utilização exemplificada anteriormente, na figura 62. Figura 66: Uma tora de tamanho maior ocasiona em fumaça e bloqueio da corrente de ar, tem um efeito “abafador” Fonte: Acervo pessoal Figura 67: tamanho ideal, Acácia Negra Fonte: Acervo pessoal 69 Figura 68: tamanho ideal, Eucalipto Fonte: Acervo pessoal Figura 69: tamanho ideal, toras variadas Fonte: Acervo pessoal Outro fator crucial é a teor de umidade do material combustível, que tem influência tanto na geração de fumaça quanto na eficiência da queima (poder calorífico da lenha). No primeiro dia de testes foi evidente a situação de umidade excessiva nas toras utilizadas, é possível notar a umidade evaporando na superfície do material à medida que aquece, além do som que produz. Nesse caso, também há dificuldade de iniciar a queima do material, a combustão demora e não é completa. Averiguada a situação de umidade, o material combustível foi posto para secagem durante vários períodos expostos ao sol pleno. A realização de testes posteriores confirmou a eficácia do material seco, afirmando a diferença. Dos três tipos testados, 70 o que obteve melhor resultado foram os gravetos (toras repartidas) de Acácia Negra, em seguida, o Eucalipto. As toras de madeira colhidas na mata não estavam em condição ideal para queima, sendo perceptível ainda um teor alto de umidade nas mesmas. Ainda assim, após estabelecida uma queima feroz na câmara, as toras úmidas podiam ser inseridas junto ao material seco (em estado ideal) e proporcionar uma boa queima, contando com a operação constante para evitar produção de fumaça. Concluindo, a fase de testes indicou ajustes/correções essenciais para concepção de uma alternativa que atenda aos objetivos do projeto. Três correções fundamentais no modelo proposto podem ser destacadas: Adequação da grelha: maiores espaçamentos para passagem do oxigênio através da mesma, promovendo a corrente e evitando acúmulo de resíduos da queima. Base ou área de inserção do combustível: mudar da posição inclinada para a posição/sentido horizontal, para evitar a queima indesejada do material e decorrente fluxo de fumaça até a abertura/porta. Maior abertura para entrada de ar abaixo da grelha: com intuito de fornecer maior volume de oxigênio passante. Presume-se, também, que uma maior altura na chaminé curta (logo acima da grelha) e isolamento térmico proporcionem melhor queima e decorrente aspiração de ar para dentro da câmara. 71 12 ALTERNATIVA FINAL E DETALHAMENTO A alternativa final é concebida como uma evolução do modelo de funcionamento analisado na fase anterior, onde se verificou a necessidade de reformulação. A partir da definição de um sistema funcional adequado, com propriedades comprovadas em testes nos protótipos, torna-se possível a conjunção do mesmo com os demais requisitos de projeto, alcançando, assim, uma alternativa de produto final. 12.1 Alterações no formato funcional O novo formato, apresentado a seguir, busca aplicar as correções anotadas como essenciais na fase de testes. Pode ser visualizado na figura 70: Figura 70: novo formato da câmara de combustão Fonte: Acervo pessoal A câmara de combustão precisou ser inteiramente adequada, modificando algumas características de funcionamento. A área de inserção de lenha passou a ser horizontal. A grelha abaixo da chaminé curta ficou maior e ganhou novos espaçamentos, assim como a abertura inferior para entrada de oxigênio. Também foi ampliada a dimensão (altura) da chaminé curta, esperando que resulte em maior 72 aspiração do ar para dentro da câmara, buscando melhorias aos problemas com fumaça. A denominação das partes do novo modelo pode ser entendida na figura 71: Figura 71: áreas denominadas no protótipo funcional Fonte: Acervo pessoal Este modelo não altera drasticamente a configuração da base exterior considerada anteriormente. Permite a mesma posição da área de inserção do combustível (porta principal), assim como da gaveta de cinzas, determinando uma única face para operação do fogão. As sessões a partir da câmara superior, onde está alocada a chapa superioraquecida e a base para saída da chaminé, não sofrem alterações. 12.2 Segunda fase de testes Após definição de um novo modelo/formato funcional, torna-se crucial um novo momento de testes para comprovar sua eficiência, efeitos das correções aplicadas e validação final das funcionalidades esperadas no produto. Para tanto, 73 optou-se pela produção de um modelo, em escala real, e a sua aplicação em uma nova fase de testes. 12.2.1 Protótipo funcional O protótipo construído nesta etapa, visualizado na figura 72, é fiel ao que foi projetado para a parte interna do produto final, o qual deverá ser produzido pela empresa. A parte interna é composta por todas as sessões da câmara de combustão, além de: gaveta para cinzas, formato da entrada de ar, chapa superior, aparato para aquecimento de água e formato da chaminé. Os materiais utilizados são os indicados pelo projeto e todas suas dimensões estão em escala 1:1, apresentando assim as características funcionais do fogão. Figura 72: visão geral do protótipo funcional Fonte: Acervo pessoal O desenvolvimento deste protótipo também tem o objetivo de comprovar a capacidade da empresa de produzir a parte essencial do produto. Além disso, este modelo já pode, por exemplo, ser comercializado como uma alternativa de 74 adequação a projetos de alvenaria, podendo ser embutido e revestido conforme pretensão do cliente. Como pode ser visto na figura 72, há exceção, neste protótipo, da camada externa do fogão, bem como do isolamento térmico. A camada externa compõe o aspecto estético do produto e para sua representação será utilizado outro modelo, apresentado posteriormente. O isolamento térmico, nesta etapa, tem efeito presumido. 12.2.2 Resultados e conclusões Para execução dos testes aplicaram-se as mesmas condições e ferramentas da primeira fase de testes com o modelo prévio e verificaram-se os mesmos pontos listados anteriormente, concernentes a eficácia do fogão e dos princípios do Rocket Stove aplicados ao mesmo. Foram utilizados os mesmos combustíveis, lenha de eucalipto, acácia negra e toras de espécies desconhecidas variadas. Para iniciar a chama contou-se com a ajuda de álcool gel e para verificação da temperatura um termômetro digital. Neste modelo, o caminho ou sessões por onde os gases provenientes da combustão circulam é completo. A presença da chapa superior possibilitou o teste com panelas de diferentes tamanhos, verificando a ebulição da água nas panelas em diferentes localizações na chapa (figura 73). A presença do aparato de aquecimento no interior da câmara superior (logo abaixo da chapa) e ao longo da saída para chaminé também possibilitou verificar a influência do mesmo na eficiência da circulação dos gases e aquecimento da chapa, a qual foi quase imperceptível, conforme esperado. 75 Figura 73: água em ebulição em panelas de tamanho médio Fonte: Acervo pessoal A temperatura ao longo de toda a chapa se mostrou eficaz, atingindo um máximo de 270ºC no centro da chapa e 230ºC na área mais distante da chama (visto na figura 74). Este resultado confirmou a possibilidade de diferentes operações de cocção, onde o usuário pode optar no modo de utilizar as diferentes temperaturas ao longo da chapa, além de possibilidade de controle da chama/temperatura por meio do volume de lenha em queima na câmara de combustão. Figura 74: temperaturas atingidas ao longo da chapa Fonte: Acervo pessoal 76 Na imagem a seguir, figura 75, observa-se a condição da chama em estado ideal de queima do combustível. Após poucos minutos a queima se torna feroz e comprova a eficácia das dimensões da chaminé curta e de todo o sistema. A circulação dos gases está aprimorada e fluente. Nota-se que não há vazamento dos gases nas seções e que a entrada de ar desempenha conforme esperado. Existe aspiração constante da chaminé curta, compensada pela dimensão da entrada de ar. Figura 75: entrada frontal e queima no interior da câmara Fonte: Acervo pessoal Para início da chama, o tamanho e espécie da lenha/combustível, mostrou ser relevante. Porém, após atingida a condição de queima ideal, o material inserido na chama era completamente consumido, independente da qualidade e sua condição de umidade. A figura 76 apresenta um momento do teste em que foi inserida uma quantidade exagerada de toras dentro da câmara, esperando um efeito de abafamento e produção de fumaça. O resultado se mostrou surpreendente, uma vez que a o ar continuou sendo aspirado através da grelha e inexistiu emissão de fumaça pela entrada de lenha, que iria para o ambiente. Entende-se que isso se deve a característica da grelha de ser maior e possuir amplos espaçamentos por 77 onde o ar pode atravessar e continuar sendo aspirado até a chaminé curta. O resultado comprovou a correção indicada na etapa de testes anterior, que sugere maiores espaçamentos na grelha e abertura da entrada de ar, conferindo maior volume de oxigênio aspirado. Figura 76: quantidade exagerada de lenha inserida na câmara Fonte: Acervo pessoal Também foi observada a condição de queima completa, ou queima limpa. Na figura 77, o fogão está em pleno funcionamento com pouca ou nenhuma fumaça sendo expelida pela chaminé. A gaveta para cinzas, logo abaixo da grelha, desempenhou sua função conforme esperado, a retirada e limpeza é de fácil operação. 78 Figura 77: fogão em funcionamento não produzia fumaça Fonte: Acervo pessoal De forma geral, os resultados obtidos com esta etapa de testes foram satisfatórios. Conclui-se que o sistema funcional projetado para o produto está em plenas condições de inserção no mercado, constituindo um fogão à lenha eficiente, coerente com sua proposta e estima-se um desempenho superior deste modelo em comparação a fogões encontrados no mercado. Ainda assim, nota-se ampla possibilidade de evolução, com aprimoramentos que podem ser sugeridos para que a empresa considere futuramente. Pode ser interessante a inclusão de ferramentas para acompanhar o fogão, como por exemplo, um tipo de bastão ou ferramenta para manipular e inserir a lenha na câmara de combustão. Apesar de não documentado nesta fase de testes, cabe mencionar que protótipo também foi testado em outro momento, dessa vez para cocção de alimentos, onde foi preparada uma receita típica, a qual teve aprovação de diferentes indivíduos. 79 12.3 Características estéticas e modelo em escala O revestimento externo do fogão, composto por chapas em aço inox com acabamento escovado, confere o formato final e aspecto estético do produto. Pode ser visualizado na figura 78. Apesar de ser uma forma dedicada à acomodação de uma parte interna pré-estabelecida, foi possível a apropriação de elementos estéticos condizentes ao estilo e ambiente proposto para o produto: o Estilo Industrial, apresentado anteriormente e referenciado no painel de estilo. Figura 78: visão geral do formato estético do fogão Fonte: desenvolvido pelo autor Distinguem-se os traços geométricos, linhas retas e cantos vivos, em predominância no seu formato. Também é notável, pela primeira vez, a presença de uma área aberta na sua face frontal destinada ao armazenamento da lenha. O armazenamento será exposto, conferindo um apelo estético percebido como tendência no mercado e também oferecendo maior praticidade à operação do fogão, que considera uma manutenção constante da chama. Está representado na figura 79: 80 Figura 79: armazenamento para lenha Fonte: desenvolvido pelo autor Para representação visual da camada externa/estética do fogão, optou-se pela produção de um modelo em escala 1:5. O modelo em escala, visto na figura 80, foi construído exclusivamente com intuito de demonstrar o formato final do produto, independente do material utilizado em sua construção.A escolha por esse método de representação se deve ao processo de produção final do produto ainda estar em desenvolvimento na empresa. Alguns acertos e adequação de equipamentos serão feitos para estabelecer um processo produtivo palpável. Figura 80: diferentes vistas do modelo em escala Fonte: Acervo pessoal 81 Aponta-se também uma limitação por parte da empresa de produzir detalhes de acabamento e formatos complexos para seus produtos, sendo isto também uma diretriz circunstancial para elaboração estética do fogão. Esta questão foi determinada como requisito de projeto. Ainda assim, sugere-se para a empresa investimento em novas tecnologias e equipamentos, possibilitando novos processos de fabricação. Espera-se uma evolução do produto projetado ao longo do retorno proporcionado para a empresa. 12.4 Materiais e fabricação O fogão projetado será composto principalmente por chapas de aço inoxidável, tanto internamente, quanto externamente (superfície escovada). Também é utilizado aço carbono para a chapa superior e grelha e lã de rocha para o isolamento térmico. A lã de rocha, que deverá constituir todo o revestimento (preenchimento) interno do fogão como isolante térmico, é um material fabricado a partir de rochas basálticas e outros minerais abundantes na natureza. Segundo a fabricante REFRATIL (s/d), o material é transformado em fibras por um processo de centrifugação e, adicionados a resinas especiais, proporcionam espessuras e propriedades controladas. Essas fibras caracterizam um material indicado para isolamento térmico, acústico e até mesmo para proteção contra fogo (é incombustível). Sua temperatura de fusão está acima de 1100ºC e a de operação recomendada vai até 750ºC. (REFRATIL, s/d). Aliado ao custo relativamente baixo e boa disponibilidade no mercado, a lã de rocha é aplicada neste projeto como material ideal para o isolamento térmico. O aço inoxidável, comumente referido como “inox”, é uma liga metálica em maior parte de ferro e cromo. É conhecido principalmente por sua resistência a corrosão, mas dentre suas principais características está também a resistência a altas temperaturas. A presença de cromo na liga do aço inoxidável, além de ser a principal responsável pela resistência à corrosão, é também o motivo pelo qual a liga é resistente a altas temperaturas e oxidação (ATLAS STEELS AUSTRALIA, 2002). 82 Uma liga inoxidável com pelo menos 18% de cromo, como na categoria dos “Austeníticos”, pode ser utilizado para temperaturas de até 870ºC, sendo este um valor além do necessário para operação do fogão a lenha, conforme verificado nas etapas de testes. Austeníticos são da família de inoxidáveis onde está presente na liga o níquel, conferindo também boas propriedades mecânicas e facilidade de soldagem (ARINOX, 2014). Este é, justamente, o tipo de inox já trabalhado na empresa. Sendo assim, será utilizado para o fogão o aço inoxidável Austenítico “304”, com espessura de 1,2 mm. Esta sendo uma chapa de boa disponibilidade entre os fornecedores. A espessura da chapa foi selecionada com intuito de suportar a estrutura do fogão sem necessidade de outros materiais estruturais internos, possibilitando que ele seja construído inteiramente em chapas metálicas, com fixação por soldagem, processo o qual a empresa tem experiência. As dimensões de chapas disponibilizadas pelos fornecedores podem ser a de 100x200 cm ou 100x300 cm (formatos padrão). Desta forma, o projeto sugere o aproveitamento de chapas para corte e dobra das principais faces do fogão, conforme figura 81. As faces frontal, superior e traseira do fogão totalizam um comprimento de 197 cm, com largura de 97 cm. Essas dimensões proporcionam máximo aproveitamento de uma chapa 100x200 cm, com pouca sobra ou com aproveitamento das “tiras” excedentes para dobras e estruturação das faces para solda. Dentre os processos previstos para a fabricação do fogão está o corte a laser e a dobra das chapas, oferecidos como serviço pela própria empresa fornecedora. Inicialmente, estas operações do processo de fabricação serão terceirizadas, até que a empresa possa investir em equipamentos próprios. 83 Figura 81: demarcações sugeridas para corte e dobra das chapas Fonte: desenvolvido pelo autor Uma segunda chapa de 100x200 cm pode ser inteiramente aproveitada para produção das laterais de dois fogões, dimensionadas em 97x50 cm cada (totalizando quatro peças). Uma terceira chapa de 100x300 cm pode ser aproveitada para os restantes cortes menores componentes do fogão. Esta configuração, tomada como base para os cortes ou dobras das chapas de tamanho padrão, proporciona a produção de dois fogões a cada três chapas (2x 100x200 cm + 1x 100x300 cm). Os demais ajustes para produção, após consulta com o responsável pelo setor, ficam designados ao desenvolvimento interno da empresa. Por fim, para os demais materiais, como os da chapa superior e grelha de aço carbono, isolamento térmico em lã de rocha, deve ser feito um estudo entre o que é ofertado pelos fornecedores para definição do melhor sistema produtivo. 12.5 Aspectos dimensionais e ergonômicos As dimensões gerais do fogão (em centímetros) podem ser conferidas na figura 82, a seguir: 84 Figura 82: vista isométrica e principais dimensões em centímetros Fonte: desenvolvido pelo autor Identifica-se que a principal (ou mais crítica) dimensão do fogão desenvolvido neste projeto, em relação a sua usabilidade, é a altura. Sua profundidade – de 50 cm – é relativamente curta, possibilitando diferentes aplicações e adaptações ao ambiente. Sua largura – de 97 cm – não tem influência direta no modo de operação do fogão. Portanto, conferindo o indicado anteriormente, a face frontal caracteriza-se como a única face de operação do fogão, à exceção da face superior, majoritariamente destinada ao posicionamento das panelas (cocção) em qualquer tipo de fogão. Existe uma dimensão variável no esquema apresentado na figura 82, trata-se da altura dos pés. Isso se deve a solução encontrada no projeto para atender as necessidades de diferentes usuários finais. O formado dos pés, constituídos de tubos circulares, possibilita fácil adequação durante o processo de produção para atender a necessidade específica do cliente (considerando que a altura mínima possível equivale a altura do fogão sem os pés). Cita-se como fundamento para esta ação Martins et al, (2001). apud Paschoareli (2009), que comenta: “o papel dos profissionais é, antes de tudo, ouvir o usuário, visando tornar o ambiente construído acessível ao maior número de indivíduos possível”. 85 Ainda assim, o produto precisa adotar uma dimensão de altura padrão. Para tanto, devem ser consideradas diretrizes ergonômicas existentes para a devida área de aplicação. Podemos verificar, conforme estudo de dimensões recomendadas por PANERO e ZELNIK (2002), as dimensões mínimas recomendadas para o fogão em uma cozinha, sendo a altura adequada determinada pelo valor legendado de “O”, indicada na figura 83, que está entre 85 e 92 cm. Figura 83: dimensões sugeridas para fogão Fonte: Panero e Zelnik Sendo assim, a empresa adotará como padrão a altura dos pés equivalente a 85 cm do conjunto total (altura total do fogão). Em conclusão, toma-se a afirmação de NEUFERT (1998) que diz: “Obtemos uma ideia mais correta da escala de qualquer coisa quando vemos junto dela um homem, ou uma imagem que represente as suas dimensões” para apresentar, na figura 84, um referencial humano (com altura de 170 cm) em relação às dimensões do produto: 86 Figura 84: referencial humano Fonte: desenvolvido pelo autor 12.6 Sistema de aquecimento de água integrado O esquema básico de funcionamento do sistema de aquecimento de água pode ser visualizado na ilustração da figura 85. Para compreendê-lo,precisa-se tomar ciência de alguns princípios. Esses princípios são relativamente simples, como a relação de densidade entre a água fria e a água quente. Em situação ideal de instalação (indicada pelo projeto), com diferenciais de altura entre caixa d´agua, reservatório térmico e serpentina – no caso desse projeto, chamado de aparato de aquecimento, uma vez que não tem formato de serpentina - a circulação da água ocorre naturalmente. Isso ocorre porque ao longo do sistema, a água estará presente em diferentes temperaturas. Sabemos que, naturalmente, a água mais fria tem maior densidade que a água mais quente e estará sempre sendo deslocada para a parte mais baixa do sistema. Sendo assim, à medida que a água for aquecida dentro do aparato instalado no fogão, ela irá se deslocar naturalmente para o reservatório térmico (instalado em um nível acima do fogão). O que garante a correta circulação da água no sistema, evitando que a água quente se desloque até a caixa d´agua, é a presença de termossifões, conforme indicados na imagem. Desta forma, não há necessidade de instalação de uma motobomba de água (circulação forçada). 87 Figura 85: Esquema de instalação do aparato de aquecimento Fonte: desenvolvido pelo autor Destaca-se a função do reservatório térmico, que pode armazenar e manter a água quente por dias. Este sistema pode estar interligado e funcionando em paralelo a um sistema de aquecimento solar, por exemplo, configurando uma situação ideal de fornecimento de água quente para a rede. O sistema completo e sua instalação fará parte da oferta de produtos e serviços da empresa. Figura 86: aparato de aquecimento no interior da câmara Fonte: desenvolvido pelo autor 88 A figura 86 aponta a localização do aparato de aquecimento dentro do fogão, na câmara superior, abaixo da chapa superior. O nome “aparato de aquecimento” foi escolhido pelo mesmo não ter um formato convencional, o qual seria uma “serpentina”. O aparato é composto inteiramente por aço inoxidável, tem a forma de um tubo retangular com duas conexões (saída e entrada) para água em tubos redondos tamanho 3/4 ‘’. O sistema deve ser interligado a uma rede “termo hidráulica”, ou seja, com tubulação e conexões adequadas para água quente. É importante esclarecer que o formato retangular do aparato de aquecimento não é menos eficaz e em pouco difere de um formato de serpentina. Além da saída de água quente ocorrer por dentro da chaminé, salientando um aproveitamento/troca térmica considerável entre o sistema de aquecimento e o calor gerado pelo fogão. Também é considerada ideal a localização onde o aparato fica instalado dentro fogão, uma vez que aproveita o calor dos gases quentes na câmara superior e chaminé sem comprometer a eficiência da câmara de combustão, a qual é preferível isolada termicamente. O mesmo modelo e esquema de instalação vêm sendo praticado pela empresa há alguns anos, a qual possui vasta experiência no ramo. 12.7 Visão geral e conclusões Conclui-se o detalhamento da alternativa com uma visão geral (figura 87) e algumas considerações. O resultado obtido com a alternativa final foi satisfatório, destacando alguns pontos: O resultado funcional: a queima eficiente do combustível e funcionamento do fogão, aplicando corretamente os princípios do Rocket Stove, reduzindo o desperdício e ainda proporcionando um reaproveitamento da energia com o sistema de aquecimento de água. Baixa emissão de fumaça: a condição de queima completa, com pouca emissão dos gases em forma de “fumaça” na chaminé e quase anulação dos gases ou fumaça emitida para o ambiente em que o fogão se encontrar instalado, contando com a correta proporção de ar aspirado pela entrada de oxigênio frontal. 89 A cocção de alimentos: perfeitamente adequado a sua função principal, o fogão projetado é capaz de preparar refeições como um bom fogão à lenha. Possui ainda a vantagem de poder ser instalado em uma cozinha convencional sem descartar a possibilidade de utilização durante o verão (contando com o isolamento térmico), pois não é destinado a radiar calor ao ambiente. Resultado para a empresa: a entrega de um projeto cumprindo com a expectativa de um produto padronizado e nova composição de suas ofertas ao mercado, possibilitando ingresso em um novo nicho. Adaptação: possibilidade de adequação ao projeto do cliente, como a configuração da altura, a possibilidade de embutir em móveis ou a de comercialização da parte interna funcional para acabamentos revestidos (alvenaria). Além dos resultados positivos, indicam-se também alguns pontos para melhorias e futura evolução do produto. Esses pontos são encarados pelo autor como oportunidades de continuação do trabalho desenvolvido dentro/em parceria com a empresa, são listados a seguir: Investimento em novas tecnologias e equipamentos que proporcionem novos processos, ampliando a capacidade e qualidade dos acabamentos ou características estéticas, bem como os custos de produção; Evolução da alternativa, novos estudos em formas e configurações das áreas funcionais para composição de outros modelos; Desenvolver e incluir um forno, na mesma alternativa ou em uma nova proposta/modelo; Desenvolver um sistema para ajuste da entrada de ar, proporcionando ainda mais controle da queima do combustível ao usuário final. 90 Incluir ferramentas auxiliares, como um bastão de manutenção da chama e inserção de lenha; Desenvolver alternativas considerando a radiação de calor para o ambiente; Novos estudos e testes para verificar a possibilidade de confecção em outros materiais e em diferentes superfícies de acabamento; Figura 87: versão final da alternativa (duas vistas) Fonte: desenvolvido pelo autor 91 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a conclusão deste processo projetual, espera-se que o resultado obtido tenha sido satisfatório para a empresa, que esperava uma nova solução de produto factível, componente de seu composto de soluções em sistemas de aquecimento; Para o acadêmico/projetista, o desenvolvimento do projeto foi pertinente para aplicação metodológica, verificando suas capacidades como projetista industrial e constituindo papel importante em seu portfólio profissional. As atribuições listadas nos objetivos geral e específicos, pertencentes às etapas de todo o processo de desenvolvimento, foram em sua maioria atingidas. Espera-se que o produto finalizado apresente total funcionalidade proposta no projeto, que o mesmo seja inserido no mercado e que continue em desenvolvimento junto a empresa. Por ser um primeiro contato com o setor produtivo, aconteceram alguns entraves e dificuldades, estes, porém, foram de grande importância para aprendizado e obtenção de experiência. 92 14 REFERÊNCIAS APROVECHO RESEARCH CENTER. Design Principles for Wood Burning Cook Stoves. Disponível em: http://www.rocketstove.org/images/stories/design-principles- for-wood-burning-cook-stoves.pdf. Acesso em: set. 2016 ATLAS STEELS AUSTRALIA, Technical handbook of Stainless Steels. 2013. Disponível em: http://www.atlassteels.com.au/documents/Atlas%20Technical%20Handbook%20rev %20Aug%202013.pdf Acesso em fevereiro 2017 COUTO, Carolina Meincke. Estimativa do poder calorífico de madeiras de acácia-negra e eucalipto do Município de Pelotas - RS. 2014. Disponível em: http://www.projetodomhelder.gov.br/site/images/PDHC/Artigos_e_Publicacoes/Ecofo gao/Ecofogao_ComparacaoEficienciaEnergetica.pdf. Acesso em: 3 nov. 2016 Chuveiros elétricos, Tabela de consumo de energia elétrica. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pbe/chuveiro.pdf Acesso em 4 nov. 2016 LOBACH, Bernd. Design Industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. Rio de Janeiro. Edgard Blucher. 2000 MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem Coisas. SãoPaulo: Martins Fontes. 2008 MANZINI, Ezio. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo. 2011 NEUFERT, Ernst. A arte de projetar em arquitetura. Disponível em: https://estudanteuma.files.wordpress.com/2013/09/neufert-a-arte-de-projetar-em- arquitetura.pdf . Acesso: março 2017 Os tipos de aço inox, ARINOX. Disponível em: http://arinox.com.br/blog/os-tipos-de- aco-inox/ Acesso em fevereiro 2017 PANERO, Julius; ZELNIK, Martin. Dimensionamento humano para espaços internos. Disponível em: https://pt.slideshare.net/CamillaZurc/dimensionamento- humano-para-espaos-internos. Acesso em: março 2017 PASCHOARELLI, Luis Carlos. Design e Ergonomia: Aspecos tecnológicos. Disponível em: http://static.scielo.org/scielobooks/yjxnr/pdf/paschoarelli- 9788579830013.pdf Acesso em: março 2017 93 Slow Food, O movimento Slow Food, 2007. Disponível em: http://www.slowfoodbrasil.com/slowfood/o-movimento. Acesso em 4 nov. 2016. Stainless Steel, High Temperature Resistance. Disponível em: http://www.azom.com/article.aspx?ArticleID=1175 Acesso em fevereiro 2017 REFRATIL, lã de rocha. Disponível em: http://www.refratil.com.br/produto/la-de- rocha. Acesso: março 2017 REGUEIRA, Tainah. Comparaçao entre a eficiência em modelos de fogão a lenha. 2010. Disponível em: http://www.projetodomhelder.gov.br/site/images/PDHC/Artigos_e_Publicacoes/Ecofo gao/Ecofogao_ComparacaoEficienciaEnergetica.pdf . Acesso: novembro 2016 94 15 APÊNDICE A – DESENHOS TÉCNICOS Chapa superior Chaminé Aparato de aquecimento Chapa frontal, superior e traseira lateral 2 Lateral 1 Gaveta de cinzas Chapa inferior Porta de entrada Camara de combustão Camara superior Armazenamento de lenha Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 01Escala 1:50 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Montagem fogão - vista explodida Material: Aço inox 4 02 1 18 120 1 20 3 9 34 7 3 01 6 49 1 83 282 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 02Escala 1:10 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Câmara de combustão Material: Aço inox 1 55 3 08 199 1 19 119 579,50 779,50 6 0 5 0 310 166 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 03Escala 1:10 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Câmara superior e saída para chaminé Material: Aço inox 118 3 9 8 400 Porta da entrada de lenha Gaveta de cinzas 140 1 40 3 0 8 15 8 1 18 18 6 4 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 04Escala 1:10 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Gaveta de cinzas e Porta de lenha Material: Aço inox 495,07 7 38 3 08 3 49 120 537 3 51 3 60 130 90 93 970,40 779,50 3 09 779,50 9 2 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 05Escala 1:20 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Chapa frontal, superior e traseira Material: Aço inox 493,07 7 38 25 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 06Escala 1:10 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Chapa bandeja lateral Material: Aço inox 538 3 08 402 2 5 2 5 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 07Escala 1:10 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Armazenamento de lenha Material: Aço inox 22 5 0 126,61 75 7 5 380 2 0 1 16 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 08Escala 1:5 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Aparato de aquecimento Material: Aço inox 970,40 4 93 260 93 120 98 7 8 3 0 399 40 100 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 09Escala 1:20 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Chapa inferior Material: Aço inox 8 59 581 7 38 168 7 00 970 4 95 140 Desenhista: Edson Gini de Almeida Júnior Trabalho de Conclusão de Curso Instituto Federal de Santa Catarina Departamento Acadêmico de Metal Mecânica Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto Desenho 10Escala 1:20 Cotas: milímetros Abril de 2017 Peça: Visão Geral Material: Aço inox