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A Servidão Voluntária com Leandro Karnal O que há de errado na liberdade? Qual o mistério de “ser livre” que todos falam mas quase ninguém busca? O medo à liberdade e a alma humana – dos ditadores à autoajuda com Leandro Karnal. Muito jovem, Étienne de la Boétie escreveu seu “discurso da servidão voluntária”. A obra tratava da luta contra o absolutismo, mas acaba analisando todas as formas de entrega a domínios externos e internos. Este ciclo do café filosófico fala do anseio por dominadores, guias, gurus e da recusa da liberdade. Por que gostamos de quem deseja o controle de corpos e de almas? Por que nos entregamos a gurus? Por que substituímos ditadores abomináveis por outros piores? Qual a raiz da resistência à liberdade e ao livre arbítrio? Por que floresce a autoajuda e as tentativas de conduzir o indivíduo à felicidade? Por qual motivo exibimos nossa vida nas redes? O ciclo encara nosso medo à liberdade travestido da virtude contemporânea. Étienne de La Boétie (1530 - 1563), homem do século XVl, francês, morreu com 32 anos, escreveu várias pequenas obras mas a mais importante foi “a servidão voluntaria”. Foi um humanista e filósofo francês, contemporâneo e amigo de Michel de Montaigne. Segundo Karnal, para Étinenne, os governantes são chamados de tiranos chegam ao poder por três vias, eleição, violência ou sucessão, aqui ele se aproxima de Maquiavel que escreve sobre o principado. Porque um manda em milhões? Nas palavras de karnal, “A servidão pode ser uma zona mais confortável do que a liberdade, ou seja temos mais prazer na submissão do que na liberdade”. Quatro séculos antes de Sartre ele anuncia o medo da liberdade. A liberdade não traz necessariamente a liberdade. Segundo Karnal, o primeiro passo para a servidão voluntaria é a habito. Nascemos acostumados com a servidão, o próprio sistema capitalistas, nos molda neste sentido. Os tiranos precisam de assessores, de um grupo que os apoiem. Cada 5 ou 6, manda em 10 ou 20, e estes 10 ou 20 mandam em 100. Segundo Marcelo Conche, “O tirano tiraniza graças uma a cascata de tirania, ou seja os tiranizados para se vingarem tiranizam os abaixo. Quanto mais eu for oprimido mais eu tiranizo também. Karnal segue dizendo que quem humilha foi humilhado, quem controla, foi controlado e se viga controlando mais, e assim o tirano vai do topo a base sendo respeitado por todos. Não é à toa que um gerente subserviente que lambe a bota do patrão é o mais agressivo com a faxineira, é uma maneira dele descontar a destruição do seu ser diante do poder. Quanto mais eu sou oprimido mais eu oprimo. Porque que os homens abrem mão da sua liberdade? Mais do que a liberdade, pior, da própria vontade de ser livre? Habito e força já foram expostos, então Étienne roça naquilo que Sartre vai desenvolver mais em outro campo, “Ser livre nos torna responsáveis diante da escolha, ser livre apresenta angustia, ser livre me torna responsável, ser livre implica responsabilidade sem garantias. Antes os casamentos eram arranjados, hoje podemos fazer experiências variadas até subir no altar com alguém, curiosamente esta liberdade que não existia a pouco tempo, escolha de casamento, de profissão e até escolha de gênero sexual, as escolhas que não existia de forma tranquila não nos tornou brutalmente felizes. A liberdade traz esta angustia que é a responsabilidade segundo Étienne. Quanto mais oferecemos oportunidades para as pessoas escolherem, mais elas ficam angustiadas. O tirano, não possui amigos, e sim aliados, ele nunca está acompanhado, nunca baixa a guarda, não estabelece uma isonomia que é fundamental para a amizade. Referencia KARNAL, Leandro, Medo à Felicidade. A Servidão Voluntária , Café Filosofico CPFL, Território do conhecimento, 2015. Disponivel < https://www.youtube.com/watch?v=pxynWDKRt98&t=1306s > Acesso em: 24/11/2019