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Jaciara Assunção Jaqueline Sarttoreto RESENHA CRÍTICA BELÉM – PA 2018 Jaciara Assunção Jaqueline Sarttoreto RESENHA CRÍTICA BELÉM - PA 2018 Trabalho de Práticas Educativas em Saúde, solicitado pela Enfª. Profª. Lidiane Xavier, para o curso de Enfermagem do 7º semestre, como requisito avaliativo para o 1º NPC. RESENHA CRÍTICA Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49º Ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. O livro Pedagogia da autonomia de Paulo Freire traz como conteúdo o olhar crítico sobre questões voltadas ao ensinar e aprender, perpassando pela natureza das práticas progressistas e conservadoras, instigando os processos e metodologias da educação fundamental à pós-graduação, tendo em vista uma pedagogia fundada na ética, no respeito e à própria autonomia do educando. A obra é dividida em três capítulos, sendo a primeira, “prática docente: primeira reflexão”, este capítulo em especial, abrange a importância e a reflexão de uma formação educativo-crítica, pois quando o educador adota uma posição de apenas transferidor de conhecimento, o educando torna-se um “depósito” de armazenamento de conteúdo, limitando o processo de aprendizagem, ao formar indivíduos usando esse processo, possibilita no futuro o déficit no ensino dos novos educadores para com seus educandos, o autor reforça na escolha da formação educativo-crítica quando diz: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, logo, é através do desenvolvimento de novas maneiras do ensinar que será possível alcançar o aprendizado na sua essência. O segundo capítulo, “ensinar não é transferir conhecimento”, aprofunda sobre o papel essencial do educador quanto ao estar aberto às indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, aos seus medos, um ser crítico e investigador. O professor precisa ser insistente em manter a ideia de que ensinar não é transferir conhecimento e assim envolver os alunos na construção do saber, alcançando o “pensar certo” que é uma postura exigente, difícil, às vezes sofrida, que precisa-se assumir diante dos outros e com os outros. O terceiro e último capítulo, “ensinar é uma especificidade humana”, retrata a missão da necessidade do docente em se analisar e refletir quanto a aplicação da sua autoridade democrática em sala de aula, logo, a busca de segurança e firmeza nas suas práticas educativas vem do preparo desse docente para que o mesmo consiga guiar o aluno a superar suas dificuldades. 1- Prática Docente: primeira reflexão. 1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica. O Educador precisa fortalecer, despertar e criar condições para que o aluno consiga desenvolver seu pensamento pautado na crítica, na curiosidade intigando-o a pesquisa e a busca incessante pelo conhecimento, desprendendo-se do método mecanicista de ensinar de apenas transferir o conhecimento. O educador que se restringe a transferir aquilo que lhe foi ensinado torna-se apenas repetidor, aquele que não busca trazer a realidade local o que ocorre ao seu redor e ao redor dos alunos a trazer para sua realidade docente, este apenas acaba sendo um educador mecanicista e transferidor de conhecimento, logo este será incapaz de despertar nos alunos a curiosidade. A rigorosidade metódica é a capacidade do docente de criar meios e métodos para a curiosidade crítica dos educandos na busca da construção do conhecimento. 1.2 Ensinar exige pesquisa. Para ensinar é preciso pesquisar, sendo esses fazeres inerentes a existência um do outro, o educador questionador, instigador que dúvida do que lhe é imposto na literatura, a curiosidade faz parte da existência humana, o auto questionamento do pensar e pensar certo como diz Freire. 1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. “Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? ” (FREIRE, 2014, p. 32). Ninguém chega à escola ou na faculdade ou a qualquer outro curso com a mente vazia, todos os indivíduos tem alguma experiência já vivida, a escola não deve esquecer disso, a escola deve associar junto ao ensino as vivências e experiências dos educandos, problematizar suas experiências, dar liberdade, respeitando seus saberes, isso os faz indivíduos pensadores e questionadores, isso é respeitar o saber do educando é formar indivíduos capazes de resolver problemas e não apenas meros coadjuvantes de seu aprendizado. 1.4 Ensinar exige criticidade. A experiência do indivíduo adquirida no decorrer de sua vida não se separa dos conhecimentos científicos adquiridos, ocorre um fortalecimento desses saberes através da educação. A curiosidade ingênua que nos move desde os primeiros passos de nossas vidas passa a se tornar uma curiosidade embasada em métodos científicos, a curiosidade epistemológica. Essa curiosidade é a chave para a busca incessante do conhecimento, a curiosidade crítica é estar sempre em busca do conhecimento, sempre tendo algo para acrescentar em cima do que nos propormos a fazer e assim se segue a construção, não negando a ciência já existente, mas a questionando, duvidando, interrogando-a para concordar ou provar o contrário. 1.5 Ensinar exige estética e ética. “A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza de mãos dadas” (FREIRE, 2014, p. 34). Ensinar e formar indivíduos críticos e éticos, sem esquecer a estética e a ética que para Paulo Freire é a decência e a pureza do ensino, a pureza não de forma puritana, o puritanismo que julga e aponta erros, mas sim a pureza da verdade da sinceridade, sujeitos formados com bases em princípios éticos, fazer o bem mesmo quando se pode fazer o mal, não fazer o bem apenas com medo da punição. O homem possui livre arbítrio para decidir e escolher e discernir o certo do errado, a humanidade não é receita de bolo, ela estar em continuo aprendizado, à formação ética e moral dos alunos não deve estar dissociado do ensino dos conteúdos, o educador precisa usar de recursos e métodos que despertem no aluno sua criatividade. A sua postura diante dos alunos explicita sua forma de agir e pensar sobre a educação, um educador não pode agir de forma grotesca com os alunos e ao mesmo tempo falar de bons modos, de humanização, por exemplo, a boniteza está na forma de agir, de pensar e pensar certo de forma ética e estética. 1.6 Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo. O educador precisa assumir uma postura exemplar, para transmitir credibilidade e confiança aos seus educandos; não existe educação sem exemplos, o educador que hora defende, hora desfaz o que “ensinou”, isso o torna o educador distante de seus alunos, ensinar através da imposição cria uma barreira no aprendizado. Pensar certo, segundo Freire, é ter argumentos e não raiva de quem discorda, educadores impõe seu conhecimento através do autoritarismo desmedido, a discordância deve ser defendida através do conhecimento do professor deve este parar e pensar diferentes pontos de vista e não impor a sua opinião. 1.7 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. O educador precisa ser flexível e ter um forte poder de adaptação, assumir riscos, não rejeitar o novo e não substituir o antigo pelo novo e sim saber ponderar e extrair aquilo que contribua de fato ao ensino. A discriminação contra a diversidade o preconceito que da origem a discriminação, impede o aprendizado, o preconceituoso se fecha e não busca aprender algo novo, não muda seu ponto de vista, e se põe em um pedestal, o dono do sabere da verdade. A insensatez de indivíduos preconceituosos os faz incapazes de enxergar além, de pensar e pensar certo de forma desumana, a não humanização do aprendizado impõe um ensinar tecnicista privando os indivíduos de sua autonomia, Freire diz que o sujeito deve fazer parte da construção do seu conhecimento e não se desenvolver preso a uma bolha (escola apenas), tanto para pensar quanto para praticar. 1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. “É Pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2014, p. 40). A reflexão crítica não é apenas a curiosidade ingênua de que trata Paulo Freire, as experiências no decorrer da vida de um professor não são suficientes para a produção do ensino a rigorosidade metódica deve somar as suas experiências, exercer sempre a autocrítica deixando para trás a arrogância que lhe venda os olhos, não se pôr como o dono da verdade, autossuficiente, reproduzindo o erro sempre, a educação continua dos professores faz os pensar sobre a pratica, refletir sua própria atuação o torna capaz de refletir sobre sua própria mudança enquanto docente. 1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural. Criar condições aos educandos para que se desenvolvam como sujeitos pensantes, críticos, habilidosos capazes de se tornarem sujeitos do seu aprendizado, aprender a respeitar a si e aos outros. O educador e a escola devem respeitar a individualidade de cada um, propiciar um ambiente capaz de promover o exercício da autonomia. Os conflitos existentes nas mais diferentes esferas da sociedade, inclusive na escola deve ser trabalhado no âmbito da escola e não ignorado, não criar obstáculos, devem refletir e discutir, o aluno não de desenvolve quando seu aprendizado é passivo, suas experiências devem ser levadas em conta, não apenas a didática dos materiais, o modo como o educador se porta influencia diretamente na aceitação ou não do aluno tanto para motivar ou desmotivar. O capítulo II inicia com o subitem “Ensinar exige consciência do inacabado”, aqui o autor é bem claro em suas palavras quando expressa a visão que o ser humano não é um ser perfeito ou definitivo e reforça dizendo “onde há vida, há inacabamento” (FREIRE, 2014, p. 50), diante disso, compreende-se que os conhecimentos produzidos são processos imperfeitos, limitados e ainda estão em desenvolvimento, pois, existe transformação/mudança em tudo que é possível conhecer e a beleza disto se dá quando o individuo toma consciência de se envolver e superar o saber já existente, gerando a busca da renovação constante do conhecimento. O subitem “Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado”, complementa o pensamento acima, o autor revela que de fato, o indivíduo é um ser inacabado e isso fundamenta a educação como processo permanente e contínuo, não se pode viver no mundo isolado e gerando barreiras de se inserir como ser pensante no mundo. Hoje fica mais perceptível a importância da consciência que o ser humano é “programado” para aprender e assim superar suas dificuldades O educador precisa ter humidade para com seu educando, partindo do entendimento que o individuo é um ser inacabado. O subitem “Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando”, Freire diz que ensinar exige respeito à curiosidade e ao gosto estético do educando, à sua inquietude, linguagem, às suas diferenças, ao seu direito de ser, todavia, o educador tem o papel de instigar o educando a promoção da curiosidade, fazendo-o buscar a verdade e moldando o ser ingênuo de forma singela. Na época atual, percebe-se a sutileza do educador, em muitos casos, de sensibilizar-se com o tempo que cada educando tem para desenvolver sua autonomia no processo do aprendizado e isso é um grande avanço dentro da comunidade educadora. Quanto mais metodicamente organiza-se a prática de indagar, aferir e duvidar, mais crítico se torna o bom-senso, assunto que encontra-se em “Ensinar exige bom- senso”, Freire traz como reflexão que o senso e ética se juntam na investigação da realidade, passando do estado intuitivo para o da decisão pensada e o exercício do bom-senso ajuda a avaliar as ações executadas. O que determina hoje, dentro de sala de aula é o bom-senso, ele adverte o educador do exercício da sua autoridade em sala de aula, como na tomada de decisões, no direcionamento de trabalho, na cobrança de prazos, entretanto, essa autoridade não deve ser confundida com autoritarismo, pois existem professores que abusam do poder e mesmo tendo a noção disto, executam ações antipedagógicas, por outro lado há aqueles que abrem mão de corrigir e de orientar seus alunos. 2.1 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores. A luta pela dignidade da profissão é tão importante à prática pedagógica, quanto ao respeito que deve ser assumido pela identidade dos alunos, Paulo Freire argumenta que uma das piores consequências do descaso do poder público pela educação, é a disseminação de um estado de espirito muito negativo entre os professores que faz com que se cansem da profissão, sejam indiferentes com os alunos e faz com que muitos se conformem com a situação crítica de trabalho. Porém, não significa, que mesmo com as adversidades de condições de trabalho que os professores enfrentam, eles devam transferir o desprezo e o descaso com a educação para com seus alunos, descontar suas frustrações e desesperança. Deve- se manter o compromisso com a educação, honrando os alunos e a si próprio. 2.2 Ensinar exige apreensão da realidade. É importante para o educando, sobretudo, além de ter a consciência do inacabado, desenvolver habilidades como o da curiosidade, da indagação, que são essenciais para a construção do conhecimento cabal, assim explorando as várias dimensões da prática educativa, conscientizando-se de sua capacidade de aprender, inerente ao homem, que usa o conhecimento não apenas para se adaptar, mas para transformar a realidade. 2.3 Ensinar exige alegria e esperança. A esperança faz parte da natureza humana, Freire faz uma relação entre aluno e professor relatando que a esperança é motivo de alegria quando os mesmos, juntos, podem aprender, ensinar, produzir e resistir aos obstáculos encontrados em sala de aula, no entanto, reforça que não se pode ser uma esperança ingênua e sim crítica. 2.4 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. É ter consciência do papel de intervir na realidade como sujeito e não apenas testemunhar a realidade. É ter a consciência que devemos programar a nossa ação político-pedagógica, que deve resultar de processos dialógicos com a realidade e com seus sujeitos, de modo que todos possam perceber as injustiças e como elas são historicamente geradas e, portanto, passíveis de mudanças. Então, o sujeito é sim capaz de intervir na realidade, à vista disto, faz-se necessário gerar novos conhecimentos, não se pode viver na neutralidade, mesmo com os desafios das diretrizes político-pedagógicas, as mudanças são difíceis, mas não impossíveis. 2.5 Ensinar exige curiosidade. Uma das práticas definidoras da uma pedagogia da autonomia é aquela de favorece e estimula a curiosidade do estudante e, por consequência, a do professor. Professores que insistem em uma relação autoritária com os alunos impõem obstáculos sérios ao exercício da curiosidade, tanto dos alunos como a sua própria, “nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercício da negação da outra curiosidade” (FREIRE, 2014, p. 82), Freire deixa claro, que silenciar a curiosidade alheia é uma atitude antipedagógica, a exemplo, quando o professor tem nenhuma curiosidade sobre os gostos, os interesses e os saberes dos seus alunos, como se eles já soubessem o que é necessário saber, como se os alunos não fossem capazes de trazer conteúdos novos e surpreendentes.O conhecimento escolar não dever ser visto como um limite, ao contrário, conhecimento é uma busca, um horizonte. 2- Ensinar é uma especificidade humana. 3.1 Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. A segurança, segundo Freire, é fundamentada na competência do profissional, portanto a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor, a autoridade deve fazer-se generosa e não arrogante, deve reconhecer a ética. “O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais livre, quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilidade de suas ações” (FREIRE, 2014, p. 91), ou seja, o fundamental é a construção, por parte do educando, da responsabilidade que ele assume, é o aprendizado da autonomia. Por isso a importância do aspecto de quando o professor age tendo consciência de que ensinar exige a segurança, a competência profissional e também a generosidade, pois tendo estes atributos é possível promover o exercício da autonomia do aprendizado deste. 3.2 Ensinar exige comprometimento. A maneira como os alunos percebem o profissional, tem grande importância para o desempenho enquanto docente, não há como ser professor e não revelar a maneira de ser, de pensar politicamente e diante disto o professor precisa estar preocupado em aproximar-se cada vez mais do que ele fala com o que ele faz, tanto o discurso quanto a prática precisa ser demonstrada com coerência para os alunos, deve haver este comprometimento. Freire diz que o professor deve deixar claro o seu posicionamento, sem ser neutro, pois não existe espaço pedagógico neutro e se houvesse iriam preparar os alunos para práticas apolíticas. 3.3 Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Essa consciência “implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento” (FREIRE, 2014, p. 96), portanto o ensino não pode ser só de conteúdos programáticos. A prática docente deve ser uma prática mobilizadora em defesa da transformação, pois o empresariado moderno, no entanto, estimula e patrocina a formação técnica, subentendendo a recusa da formação humana social crítica, pois visam seres que trabalhem e forneçam mão de obra, diminuindo o perigo de serem pensante que lutam por seus direitos. 3.4 Ensinar exige liberdade e autoridade. O equilíbrio entre liberdade e autoridade é complexa, mas é indispensável para que professores e alunos conquistem a disciplina necessária para a aprendizagem, o ponto em questão é a construção de uma relação em que todos os sujeitos (professores e alunos) se respeitem mutuamente a partir do estabelecimento dos limites que não devem ser transgredidos. O educador pode sim dar certa liberdade ao aluno em sala de aula, porém mostrar e deixar claro para ele que o professor é a autoridade, ou seja, aquele que decide e atua na organização do aprendizado, faz-se necessário exercer esta autoridade, que necessariamente não deve ser demonstrada através de berros, gritos, imposição, etc. 3.5 Ensinar exige tomada consciente de decisão. “Quando falo em educação como intervenção me refiro tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas da propriedade, do direito ao trabalho, á terra, á educação, a saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar a história e manter a ordem injusta” (FREIRE, 2014, p. 106). A Educação tem o poder de mudar o mundo, intervindo nas condições de vida das pessoas, ou estagná-las no tempo, o professor no seu ato de ensinar, precisar ser coerente, cauteloso, democrático, refletir permanentemente a sua prática. Muitas vezes o educador que se diz democrata e progressista, se contradiz nas suas ações, quando age de forma preconceituosa e autoritária, isso impossibilita a expressão do aluno, o aluno deixa de exercer ou nem chega a descobrir sua criticidade, tornando- se um ser passivo do seu aprendizado, as pluralidades a liberdade acabam sendo sufocadas, o aluno acaba cumprindo apenas um roteiro que lhe levará ou não a sua aprovação no fim do ano letivo. O educador autoritário o que se julga o detentor do saber, não permiti a expressão desse aluno, tornando-o passivo de seu aprendizado e apenas transferindo seu conhecimento. O objetivo da educação é transformar a realidade a partir dos conhecimentos adquiridos seja qual for a esfera da sociedade. “É na diretividade da educação, esta vocação que ela tem, como ação especificamente humana, de “endereçar-se” até sonhos, ideais, utopias e objetivos, que se acha o que venho chamando de politicidade da educação” (FREIRE, 2014, p. 107). A dimensão política da educação se dá a maneira como o educador direciona esse aluno durante sua formação, ou o excluí ou lhe dar autonomia na construção de seu aprendizado. “A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tronou consciente” (FREIRE, 2014, p. 108). O ser humano não é um ser inacabado, é quando ele se dar conta disso que se torna capaz de exercer a sua ética. “Para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos modos de vida individual e social, com relação aos modos de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser posto em prática, aos valores a ser encarnados” (FREIRE, 2014, p. 108). A Inquietude que existe nas pessoas quanto aos assuntos abordados devem ser trazidos para a educação, ela não pode ser neutra e inerente aos acontecimentos, seria como se fossemos passivos aos problemas que emergem cotidianamente nas mais diferentes esferas da sociedade. A educação deve ser atuante e não neutra aos acontecimentos possibilitando assim a pedagogia da autonomia e não da perca de autonomia. 3.6 Ensinar exige saber escutar. “Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles.” (FREIRE, 2014, p. 111). Saber escutar é primordial para qualquer relação, seja ela entre um aluno e um professor ou qual quer diálogo entre pessoas. Muitos educadores quando na posse do conhecimento e quando agem de forma autoritária perante seus alunos acabam não escutando, colocando-se em pedestal verticalizando a educação, tratando o aluno como o objeto do seu discurso e não o sujeito. O educador que escuta aprende a transformar-se e aprende junto com o aluno. A Padronização do aprendizado, a receita pronta o ato de decorar o que se ouviu acaba domesticando o aluno, alienando-o de seu aprendizado, no pensamento de Paulo Freire é a burocratização da aprendizagem e da mente, tornando os acomodados e conformados com o que lhe é imposto. É assim porque sempre foi assim tem que ser assim e ponto final, esse acaba sendo o pensamento de alunos que tiveram professores que apenas sabiam falar e não ouvir. Produziram alunos conformados com as circunstâncias e as fatalidades. “Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser humano é maior do que os mecanismos que o minimizam” (FREIRE, 2014, p. 112). O educador precisa possuir uma visão crítica a respeito da liberdade, não se faz educação diminuindo e asfixiando o aluno olhando de cima para baixo dessa forma, apenas adaptam esse aluno a métodos mecanicistas, os tornando indivíduos imóveis perante a construção do conhecimento. Freire crítica os métodos avaliativos que punem e criam alunos decorebas, que logo após a avaliação acabam deletando o que decoraram, Freire não critica a avaliação, mas sim a maneira como ela é feita. “É preciso que quem tem o que dizer saiba, sem dúvidanenhuma, que, sem escutar o que quem escuta tem igualmente a dizer, termina por esgotar a sua capacidade de dizer por muito ter dito sem nada ou quase nada ter escutado” (FREIRE, 2014, p. 114). “O primeiro sinal de que o sujeito que fala sabe escutar é a demonstração de sua capacidade de controlar não só a necessidade de dizer sua palavra, que é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente respeitável, de expressa-la” (FREIRE, 2014, p. 114). “Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. ” (FREIRE, 2014, p. 114). Aquele que o escuta sempre vai ter algo a dizer e aquele que tem o que dizer tem por missão estimular o que escuta a participar a pensar e refletir, como sujeito ativo e não como objeto. O professor aprende a falar escutando seu aluno sobre suas dúvidas seus medos, a opinião a curiosidade do aluno deve ser estimulada, devendo haver um diálogo. O homem não é um ser acabado e dotado de total inteligência, os novos conhecimentos devem ser construídos, a Inteligência humana foi construída a partir de experiências humanas, que foram sendo reconstruídas ao longo dos tempos, a educação tem como missão estimular o aluno a compreender o mundo, a produzir inteligência, O professor deve ser claro, deve estimular o aluno a aprender e não a apenas receber conteúdo. Estimulando sempre a aprender, por isso é preciso ouvir sempre, para aprender falar com os alunos e não para os alunos. “Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro”. (FREIRE, 2014, p. 117) O ser que escuta não necessariamente deve anular-se, ou diminuir-se ao escutar o outro, o ato de escutar não lhe tira o direito de discordar de ou opinar, pelo contrário é escutando que podemos ter mais argumentos e ideias para defender determinado ponto de vista para melhor compreensão. O respeito a diferença a humildade, devem ser fundamentais no ato de escutar, a discriminação, o preconceito existente os torna incapaz de saber escutar. 3.7 Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica. “Ideologia é a ciência da formação das ideias, conjunto de ideias, convicções e princípios filosóficos, sociais, políticos, que caracterizam o pensamento de um indivíduo, grupo, movimento, época, sociedade” (FERREIRA, Aurélio. 5º ed.). “O poder da ideologia me faz pensar nessas manhãs orvalhadas de nevoeiro em que mal vemos o perfil dos ciprestes como sombras que parecem muito mais manchas das sombras mesmas. Sabemos que há algo metido na penumbra, mas não o divisamos bem.” (FREIRE, 2014, p. 123). Analisando o conceito de ideologia observa-se que a ideologia é a convicção das ideias, a firmeza dos pensamentos. Freire nos diz que a ideologia não está sendo vista de forma nítida, clara, precisa, ela existe, mais permanece oculta, e deturpada, escondida em meio aos pensamentos e ações ideológicas que dizem beneficiar a todos. A ideologia separa-se da realidade, é como algo inerente as condições as quais vivem a população, tornando os indivíduos como seres alienados, passivos. Esse tipo de pensamento ideológico acaba culpando e desviando o foco e a verdadeira responsabilidade de quem de fato deve intervir nas condições em que vivemos. Esse tipo de pensamento é perfeito para que o Estado mantenha sobre a população, o domínio do pensamento da massa, o convencimento de que tudo o que acontece é natural, o desemprego a fome, a violência, a pobreza é natural e que faz parte da sociedade e que devemos aceita-la, a escola deve intervir nesse tipo de pensamento, formar indivíduos críticos, éticos, pensadores, incomodados não sujeitos passivos e mecanizados aos mandos e desmandos do sistema, o sistema que oprime e que beneficie poucos, Freire nos diz que devemos pensar na massa, no bem comum a todos e pensar certo é formar indivíduos pensadores, questionadores capazes de provocar mudanças na sociedade, esse de fato é um dos papeis da escola. 3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. “O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na história” (FREIRE, 2014, p. 133). O diálogo se constrói através do respeito, do respeito a si e ao outro, é respeitando os pensamentos e as diferenças que o diálogo se desenvolve. A maneira como o professor se porta ao discutir determinado assunto diante da turma, a disponibilidade para estar aberto a críticas, a humildade para reconhecer que não é o único dono do saber e a sua segurança, essas são qualidades indispensáveis para um bom diálogo entre docente e discente, toda sua experiência na prática educacional deve ser voltada para estimular o pensamento crítico, tornar indivíduos capazes de discernir, por exemplo, diante de notícias midiáticas, o que é certo ou errado o que os manipula ou o que os constrói. Dialogar é encurtar as distâncias os abismos entre o saber o ensinar e o aprender. 3.9 Ensinar exige querer bem os educandos. “Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar” (FREIRE, 2014, p. 138). A rigorosidade metódica, a seriedade e a afetividade precisam esta articulada e em sintonia na prática docente. A afetividade o bem querer, nada tem haver com a severidade autoritária predominante em perfis de docentes transferidores de conhecimento. A rigorosidade metódica abordada por Freire retrata o profissionalismo, a ética na prática docente. O ato de querer bem está relacionado com a vocação pela educação, aos docentes e discentes capazes de ouvir, discernir, aceitar críticas, criticar sem oprimir, formar suas opiniões, ser autor de sua própria história, responsáveis por suas ações, por seu futuro seres capazes de intervir no roteiro de suas vidas. A chave para formar gente é se gente. Saber que a educação é um movimento ideológico facilita o compromisso com ela. Devem-se olhar as subjetividades de cada indivíduo e cumprir o processo ético como ponto principal do saber, essa deve ser a missão do educador e, igualmente, daqueles que seguem pelas diferentes vias do conhecimento como um todo. O livro de Paulo Freire proporciona o poder da reflexão e desenvolve junto com os leitores meios adequados e sensatos de como agir em prol da educação, a fim de quebrar e superar paradigmas ultrapassados que assolam o processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS FERREIRA, Aurélio, Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. 5ºed.