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PENICILINAS SUPER MATERIAL SUMÁRIO 1. Introdução ....................................................................................................................... 3 2. Mecanismos de resistência ...................................................................................... 4 3. Espectro de ação .......................................................................................................... 5 4. Aplicação clínica ........................................................................................................... 6 5. Farmacocinética ........................................................................................................... 7 6. Farmacodinâmica ......................................................................................................... 8 7. Efeitos adversos .......................................................................................................... 8 8. Interações medicamentosas .................................................................................... 9 9. Referências....................................................................................................................11 3PENICILINAS 1. INTRODUÇÃO As penicilinas foram descobertas acidentalmente por Alexander Fleming em 1928, como produto de fungos da família penicillium. Fazem parte da classe de antibióticos denominados beta lactâmicos, que são caracterizados quimicamen- te pela presença do anel beta lactâmico (que consiste num anel formado por três átomos de carbono e um de nitrogênio) em sua composição. Agem inibindo a síntese da parede bacteriana de Gram-positivos e Gram-negativos. CONCEITOS: A parede bacteriana pode ter diferentes composições: As Gram positivas são formadas por uma camada de peptideoglicano, enquanto que as Gram negativas apresentam dupla camada: uma de peptideoglicano (mais interna e mais fina que as Gram-positivas) e outra de lipopolissacarídeo (mais externa). Figura 1: Bactérias Gram positivas e negativas. Fonte: Goodman & Gilman, 2012. Esse anel betalactâmico irá interme- diar o mecanismo de ação de todos esses fármacos, que consiste em in- terferir na síntese da parede celular bacteriana. Isso acontece devido à ligação do antibiótico a um grupo de proteínas da membrana plasmática chamada de “Proteínas ligadoras de Penicilina (PBP)”, necessárias para a síntese de peptideoglicanos, que compõe a parede da bactéria, ou seja, quando as bactérias são expostas a esses antibióticos, eles se ligam a PBPs específicas na parede e inibem a montagem das cadeias de peptido- glicana, culminando com a destruição; já que existem as autolisinas que de- gradam continuamente esta parede. Porém, lembre-se que a PBP das bactérias Gram-positivas são mais fáceis de acessar (Figura 1), já nas Gram-negativas, os betalactâmicos precisam atravessar canais proteicos na membrana externa para atingir o 4PENICILINAS canismo de resistência dos Gram negativos. • PBP com baixa afinidade pelo an- tibiótico devido a uma ligação fraca a esta proteína. • Canais proteicos que dificultam/ impedem passagem do antibiótico. Veremos a seguir que a penicilina G e a oxacilina são ineficazes con- tra a maioria dos Gram-negativos justamente por não conseguirem atravessar as 'porinas' da mem- brana externa, o que não acontece com as aminopenicilinas (ampicili- na, amoxicilina) e· outras penicili- nas de nova geração. espaço periplasmático e poder se li- gar à PBP. SE LIGA! Dentro da classe dos beta lactâmicos, temos 5 grupos: Penici- linas, Inibidores de betalactamase, cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactâmicos. Todos eles irão impedir a síntese da parede celu- lar bacteriana! 2. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA A resistência antibiótica ocorre quan- do a bactéria adquire genes que per- mitem a interferência no mecanismo de ação do antibiótico por mutação espontânea de DNA ou por transfor- mação e transferência de plasmídeos. A mutação espontânea é intrínseca, ou seja, é decorrente da própria natureza do microrganismo. Quando é decor- rente da mutação de um gene bacte- riano, denomina-se adquirida, na qual ocorre transformação e transferência de plasmídeos pelo processo de con- jugação bacteriana (figura 2). Os principais mecanismos de resis- tência são: • Produção de betalactamase: enzi- mas capazes de inativar a ligação da bactéria com o antibiótico atra- vés da hidrólise de seu anel prin- cipal. Este vai ser o principal me- Citoplasma Parede celular Cromossoma Resistência ao antibióticoPlasmídeo de conjugação Pilli Plasmídeos de conjugação F+ F- Figura 2: Representação esquemática da transferência de genes por conjugação. Fonte: iGEM, 2013. 5PENICILINAS 3. ESPECTRO DE AÇÃO As penicilinas são agentes responsáveis pela cobertura de uma variedade de bactérias. Elas podem ser classificadas nas seguintes categorias: PENICILINA G PENICILINAS ANTIESTAFILOCÓCICAS PENICILINAS DE AMPLO ESPECTRO • Cristalina • Procaína • Benzatina • Penicilina V • Nafcilina • Oxacilina • Cloxacilina • Dicloxacilina • 2ª geração: ampicilina, amoxicilina. • 3ª geração: carbenicilina e ticarcilina. • 4ª quarta geração: piperacilina. *Também podemos encontrar as penicilinas de 2ª,3ª e 4ª geração descritas como: aminopenicilinas, carboxipenicilinas e ureidopenicilinas, respectivamente. SE LIGA! Lembre-se da classificação das bactérias patogênicas mais comum em nosso meio vistas na aula Penicilinas #Aprenda para entender melhor acerca do espectro de ação e aplicação clínica das Penicilinas G+ G- Cocos Streptococcus Staphylococcus Enterococos Neisserias Moraxellas Bacilos Listeria Clostridium Pseudomonas Haemophilus Enterobactérias As principais características quanto ao espectro antibacteriano desses subgru- pos estão disponíveis na tabela abaixo: SUBGRUPO AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO Penicilina G Benzatina: ação bactericida durante o estágio de multiplicação ativa dos microrganismos sensíveis. Atua por inibição da biossíntese do mucopeptídeo da parede celular. Gram·positivos, cocos Gram negativos e anaeróbios da boca e orofaringe. *A penicilina G procaína e penicilina G benza- tina devem ser administradas exclusivamente por via intramuscular. Cristalina: ação bactericida. Atua por inibição da parede celular. Procaína: ação bactericida. Atua por inibição da parede celular. Penicilinase Resistente Inibe os estafilococos produtores de penicilinase. Cobertura: Gram positivos e negativos. Penicilina de Amplo Espectro 2ª geração: Bactericida. Inibe síntese da parede celular. Elas conseguem atravessar as porinas, portanto, é eficaz para Gram negativos (H. influenzae, Moraxella catarrhalis, Proteus mirabilis, Salmonella sp. e Shigella sp.) 6PENICILINAS Tabela 1: Espectro antibacteriano das penicilinas. SUBGRUPO AÇÃO ESPECTRO DE AÇÃO Penicilina de Amplo Espectro 3ª geração: Bactericida. Inibe síntese da parede celular. São menos eficazes contra os Gram-po- sitivos do que a penicilina G e as de 2ª geração, porém possui o espectro am- pliado para alguns germes Gram-negati- vos produtores de betalactamase. como Enterobacter sp., Proteus indol-positivo e Pseudomonas aeruginosa. 4ª geração: Bactericida. Inibe síntese da parede celular. Mais eficazes do que as de 3ª geração contra Enterobacteriaceae e P. aeruginosa Nenhuma das penicilinas de amplo espectro são eficazes contra os estafiloco- cos produtores de penicilinase. SE LIGA! O S. aureus é um germe Gram positivo, porém, ele produz a penicilase, fazen- do com que os efeitos das benzilpenicilinas sobre ele não sejam eficazes. Com isso, a Oxacilina se coloca como uma opção interessante para o patógeno, já que é Penicilase Resistente. 4. APLICAÇÃO CLÍNICA As Penicilinas podem ter variadas aplicações clínicas, disponíveis na tabela abaixo: SUBGRUPO REPRESENTANTES APLICAÇÃO Penicilina G Cristalina Endocardites, pneumonias, piodermites, faringite estreptocócica, infec- ções de vias aéreas superiores. Principais usos: Erisipela,pneumonia, sífilis, meningite, endocardite bac- teriana, sepse e infecções da pele e tecidos moles. Procaína Semelhante à Cristalina. Principais usos: Pneumonia pneumocócica (somente cepas plenamente sensíveis), sífilis, faringite e celulite estreptocócica Benzatina A Penicilina Benzatina é a droga de escolha para o tratamento de sífilis, mesmo que a doença seja causada pelo Treponema pallidum, uma espi- roqueta gram negativa. Principais usos: Tratamento da faringite, do impetigo estreptocócicos e da sífilis e profilaxia primária e secundária de febre reumática. Penicilina V Semelhante à cristalina, porém VO. Penicilinase Resistente Oxacilina Infecções estafilocócicas. Penicilina de Amplo Espectro 2ª geração - Ampicilina e Amoxicilina Infecções respiratórias, infecções do trato urinário, meningite, febre tifoi- de e prevenção de endocardite. 7PENICILINAS 5. FARMACOCINÉTICA A farmacocinética estuda a ação que o corpo exerce sobre um fármaco administrado, assim inclui: absorção, distribuição, metabolização e excre- ção, assim como, início de ação, du- ração do efeito e biotransformação. • Absorção: as penicilinas, de maneira geral, comportam-se na sua maioria como ácidos fracos, sendo por isso mais facilmen- te absorvidos quando o pH do meio é baixo, pois encontra- -se na sua forma indissocia- da, mais lipossolúvel, sen- do facilmente absorvidos. Porém por VO ele é pouco ou não absorvido. Apenas as for- mas sintéticas e semi-sintéticas, como a amoxicilina, são melhor absorvidas. O horário de administração das penicilinas, com exceção da amo- xicilina oral, deve ser de 1 a 2 horas antes ou depois das refeições, pois se tomadas com alimento podem alterar a ligação às proteínas alimentares e a ativação por ácido. • Distribuição: a ligação às proteí- nas plasmáticas, como a albumina, e a lipossolubilidade do fármaco influenciam na distribuição. Ao se ligar às proteínas, eles tornam-se mais hidrossolúveis, aumentando a sua capacidade de se disper- sar pelo organismo. Por exemplo, a penicilina G ou Ampicilina não se ligam fortemente às proteínas, enquanto que a nafcilina se liga fortemente às proteínas e conse- quentemente atinge concentra- ções menores no soro. A penicilina pode atingir quase to- dos os pontos do organismo, em diferentes concentrações, che- gando a barreira hemato-encefá- lica quando esta se encontra infla- mada. • Metabolismo: as penicilinas so- frem biotransformação. Elas são quase todas transformadas no áci- do penicilóico correspondente. • Excreção: a excreção renal ocorre rapidamente, porém, outras vias também participam, dentre elas a excreção no escarro e no leite. A ampicilina e as penicilinas de es- pectro ampliada sofrem secreção mais lenta do que a penicilina G. SUBGRUPO REPRESENTANTES APLICAÇÃO Penicilina de Amplo Espectro 3ª geração: Carbeni- cilina e Ticarcilina 4ª geração: Mezloci- lina e Piperacilina Pneumonias, infecções pós-queimaduras e do trato urinário, principal- mente para bactérias presentes em ambientes hospitalares. Tabela 2: Aplicações clínicas das Penicilinas. 8PENICILINAS A oxacilina é excretada tanto por via renal como biliar, portanto não é necessário fazer ajuste da dose em casos de insuficiência renal. Já depuração da nafcilina ocorre prin- cipalmente por excreção biliar. 6. FARMACODINÂMICA Lembre-se que a farmacodinâmica é o estudo de como um fármaco atua no organismo vivo, incluindo as res- postas farmacológicas e a duração e magnitude da resposta observada relativamente à concentração do fár- maco num local do organismo. CONCEITO: A concentração míni- ma inibitória (CMI) é a concentração mínima que um antibiótico necessi- ta de ter para que consiga inibir o crescimento bacteriano. A meias-vida da penicilina é relativa- mente curto (geralmente < 1 hora), as- sim para que se consiga então manter a concentração superior ao CMI du- rante o período de tempo necessário, é imprescindível haver administrações várias vezes ao dia. Assim todos os agentes parenterais devem ser admi- nistrados a cada quatro horas quando tratamento de infecções sistêmicas graves em pacientes com função re- nal normal. *A piperacilina possui far- macocinética dependente de doses e meia-vida mais longa quando doses mais altas são administradas. SAIBA MAIS: Lembre-se dos me- canismos de resistência descritos acima, onde algumas bactérias desenvolveram a capacidade de sintetizar betalactamase, que são capazes de hidrolisar o anel beta- -lactâmico dos antibióticos, levan- do à formação do ácido penicilóico, tornando as bactérias resistentes. Assim foi criado antibióticos que ini- bem esta betalactamase. Eles são usados em associação com a Peni- cilina com o objetivo de ampliar seu espectro de ação, tornando mais eficazes no combate de alguns pa- tógenos. Os principais representan- tes são: Clavulanato, Sulbactam e Tazobactam. A associação pode ser feita da seguinte forma: ASSOCIAÇÃO COBERTURA Amoxacilina + Clavulantato H. influenzae, S. aureus, Bacteroides fragilis Ampicilina + Sulbactam H. influenzae, S. aureus, Bacteroides fragilis. Ticarcilina + Clavulanato Pseudomonas Piperacilina + Tazobactam Pseudomonas 7. EFEITOS ADVERSOS A classe das penicilinas é bem diver- sificada, assim existem variados efei- tos adversos. Os mais importantes são: • Toxicidade renal A manifestação mais frequente é a nefrite intersticial alérgica, e é mais comum com oxacilina. O paciente 9PENICILINAS apresenta febre, “rash”, hema- túria e eosinofilia. Deve-se sus- pender imediatamente o medicamento. Se o uso for mantido pode ocorrer in- suficiência renal irreversível. • Neurotoxicidade: em pacientes com insuficiência renal prévia, que faz uso de doses elevadas de pe- nicilinas, pode ocorrer convulsões e problemas musculares. Deve-se retirar o medicamento, pois são re- fratárias aos anticonvulsivantes. • Reações de hipersensibilidade: ocorre aproximadamente 8% dos pacientes e em es- pecial com a benzilpeni- cilina, apesar de estes fármacos apresentarem pouca toxicidade. Es- sas reações podem variar desde uma rea- ção urticariforme até choque anafilático. • Toxicidade hematológi- ca: rara. Porém pode acontecer trombocitopenia e a anemia hemolítica. Pode ocorrer leu- copenia dose e tempo-depen- dente e desordens hemorrágicas, devido a alterações na agregação plaquetária. • Manifestações cutâneas: ocorrem mais frequentemente com as ami- nopenicilinas, geralmente de for- ma tardia e entre 1 a 10% dos pa- cientes. Podem variar desde rubor (eritema), rash cutâneo (erupções vermelhas), placas urticariformes, até síndrome de Stevens-Johnson em casos mais raros. 8. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Algumas medicações podem intera- gir com a penicilina, são elas: • Probenecida: é um agente uri- cosúrico. Ele irá inibir a excreção renal de penicilina, prolongando seu efeito. • Anticoncepcionais: pode redu- zir a eficácia dos anticoncep- cionais orais. • Carbenicilina: as carboxipeni- cilinas podem inativar a gentamici- na ou tobramicina, se forem admi- nistradas em conjunto na mesma mistura. Devido a isso, precisam ser administradas separadamente quando a associação é necessária. PENICILINAS 10 Oxacilina MAPA MENTAL - PENICILINAS Ação bactericida durante o estágio de multiplicação ativa dos microrganismos sensíveis. Atua por inibição da bios- síntese do muco- peptídeo da parede celular. Cobertura para Gram +, Gram – e anaeróbios da boca e orofaringe Benzantina Penicilina G Erisipela, pneumo- nia, sífilis, menin- gite, endocardite bacteriana, sepse e infecções da pele e tecidos moles. Cristalina Ação bactericida. Atua por inibição da parede celular Pneumonia pneu- mocócica (somente cepas plenamente sensíveis), faringite e celulite estrepto- cócica. Procaína Ação bactericida. Atua por inibição da parede celular. Penicilina V (semelhante à cristalina, porém VO). Cobertura para Gram positivos e negativos. Penicilinaseresistente Infecções estafilocócicas Elas conseguem atravessar as po- rinas, portanto, é eficaz para Gram negativos (H. in- fluenzae, Moraxella catarrhalis, Proteus mirabilis, Salmonella sp. e Shigella sp.) Inibe síntese da parede celular 2ª geração Amplo espectro 3ª geração São menos eficazes contra os Gram- -positivos do que a penicilina G e as de 2ª geração, porém possui o espectro ampliado para alguns germes Gram-negativos produtores de be- talactamase. como Enterobacter sp., Proteus indol-posi- tivo e Pseudomonas aeruginosa. Mais eficazes do que as de 3ª gera- ção contra Entero- bacteriaceae e P. aeruginosa Procaína Carbenicilina e Ticarcilina Mecanismo de ação Inibição da síntese da parede celular Proteínas ligado- ras de penicilina Inibição de transpeptidades Produção de autolisinas Mecanismo de resistência Intrínseca Adquirida Diminuição da afinidade por PBP Diminuição da permeabilidade Beta-lactamase Farmacocinética Excreção: principalmente renal e biliar Metabolismo: quase todas transformadas no ácido penicilóico. Absorção: em pH baixo PENICILINAS 11PENICILINAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RANG, H. P.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.; HENDERSON, G. Rang & Dale: farmacologia. 8a ed. 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