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Prof. Fernando Gonçalves UNILEÃO CAP 1, 3, 4 e 5 3 1 C A P Í T U L O “Nada é mais fundamental para se tratar pacientes do que conhecer a anatomia.” – JPO Osistema mastigatório é a unidade funcional do corpo primordialmente responsável pela mastigação, fala e deglutição. Os seus componentes também desempe- nham um papel importante no paladar e na respiração. O sis- tema é composto por ossos, articulações, ligamentos, dentes e músculos. Além disso, um intrincado sistema de controle neurológico regula e coordena todos esses componentes estruturais. O sistema mastigatório é uma unidade altamente refinada e complexa. Uma sólida compreensão de sua anatomia fun- cional e da biomecânica é essencial para o estudo da oclusão. Este capítulo descreve as características anatômicas que são básicas para um entendimento da função mastigatória. Uma descrição mais detalhada pode ser encontrada em numero- sos textos inteiramente voltados para a anatomia da cabeça e do pescoço. ANATOMIA FUNCIONAL Neste capítulo são discutidos os seguintes componentes anatômicos: a dentição e estruturas de suporte, os compo- nentes esqueléticos, as articulações temporomandibulares (ATMs), os ligamentos e os músculos. Depois que as carac- terísticas anatômicas são descritas, a biomecânica da ATM é apresentada. No Capítulo 2 o complexo sistema de controle neurológico é descrito e a fisiologia do sistema mastigatório é apresentada. DENTIÇÃO E ESTRUTURAS DE SUPORTE A dentição humana é composta por 32 dentes permanentes (Fig. 1-1). Cada dente pode ser dividido em duas partes bási- cas: a coroa, que é vista sobre o tecido gengival, e a raiz, que fica submersa e é circundada pelo osso alveolar. A raiz está ligada ao osso alveolar por numerosas fibras de tecido con- juntivo que se estendem a partir da superfície do cemento da raiz para o osso. A maioria destas fibras corre obliquamente do cemento numa direção cervical até o osso (Fig. 1-2). Essas fibras são coletivamente conhecidas como ligamento periodontal. O ligamento periodontal não só prende o dente firmemente ao seu alvéolo ósseo, mas também ajuda a dissipar as forças aplicadas ao osso durante o contato funcional dos dentes. Nesse sentido, ele pode ser considerado um amortecedor natural. Os 32 dentes permanentes estão distribuídos igualmente no osso alveolar dos arcos maxilar e mandibular: os 16 den- tes maxilares estão alinhados no processo alveolar da maxila, que está fixada à porção ântero-inferior do crânio; os outros 16 dentes estão alinhados no processo alveolar da mandí- bula, que é a parte que se movimenta. O arco maxilar é ligei- ramente maior do que o arco mandibular, o que geralmente faz com que os dentes maxilares se sobreponham aos dentes mandibulares, tanto vertical quanto horizontalmente quando em oclusão (Fig. 1-3). Esta diferença de tamanho resulta, prin- cipalmente, do fato de que (1) os dentes anteriores maxila- res são muito mais largos do que os dentes mandibulares, criando uma largura de arco maior, e (2) os dentes anteriores maxilares têm uma angulação vestibular maior do que os den- tes anteriores mandibulares, criando um traspasse horizontal e vertical. Os dentes permanentes podem ser agrupados em quatro classificações, de acordo com a morfologia das coroas. Os dentes localizados na região mais anterior dos arcos são chamados incisivos. Eles têm uma forma característica de pá, com uma borda incisal. Existem quatro incisivos maxila- res e quatro incisivos mandibulares. Os incisivos maxilares geralmente são muito mais largos do que os incisivos mandi- bulares e, conforme mencionado anteriormente, geralmente se sobrepõem a eles. A função dos incisivos é incisar ou cortar o alimento durante a mastigação. Posterior (distal) aos incisivos estão os caninos. Os caninos estão localizados nas esquinas dos arcos e geralmente são os dentes permanentes mais longos, com uma única cúspide e raiz (Fig. 1-4). Estes dentes são proeminentes em outros ani- mais como os cães, e por isso o nome “canino”. Existem dois caninos maxilares e dois caninos mandibulares. Nos animais a principal função dos caninos é rasgar e cortar o alimento. Na dentição humana, no entanto, os caninos geralmente fun- cionam como incisivos e são usados apenas ocasionalmente para rasgar e cortar. Ainda mais para posterior no arco estão os pré-molares (Fig. 1-4). Existem quatro pré-molares maxilares e quatro pré- Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 4 Anatomia Funcional molares mandibulares. Os pré-molares também são chama- dos bicúspides porque geralmente possuem duas cúspides. A presença das duas cúspides aumenta muito a superfície de oclusão desses dentes. Os pré-molares maxilares e mandi- bulares ocluem de tal forma que o alimento pode ser apri- sionado e esmagado entre eles. A principal função dos pré- molares é iniciar a quebra das substâncias do alimento em pedaços menores. A última classe de dentes, localizada posterior aos pré- molares, é a dos molares (Fig. 1-4). Existem seis molares maxi- lares e seis molares mandibulares. A coroa de cada molar tem quatro ou cinco cúspides. Isto proporciona uma ampla superfície sobre a qual poderão ocorrer a quebra e a trituração da comida. Os molares atuam primariamente nos estágios finais da mastigação, quando o alimento é transformado em partículas pequenas o suficiente para serem facilmente engo- lidas. Conforme discutido, cada dente é altamente especiali- zado de acordo com a sua função. Os exatos relacionamentos dos dentes entre os arcos (interarco) e dentro dos respectivos arcos (intra-arco) são extremamente importantes e influen- ciam bastante na saúde e na função do sistema mastigatório. Uma discussão detalhada dessas relações é apresentada no Capítulo 3. COMPONENTES ESQUELÉTICOS O sistema mastigatório é constituído por três componentes esqueléticos principais. Dois suportam os dentes: a maxila e a mandíbula (Fig. 1-5). O terceiro, o osso temporal, suporta a mandíbula em sua articulação com o crânio. A B Fig. 1-1 Visão anterior (A) e lateral da dentição (B). Fig. 1-2 O DENTE E AS ESTRUTURAS PERIODONTAIS DE SUPORTE. A largura do ligamento periodontal está extrema- mente exagerada por propósitos ilustrativos. Fig. 1-3 Os dentes maxilares estão posicionados ligeiramente para vestibular em relação aos mandibulares por todo o arco. Fig. 1-4 Vista lateral. Coroa Raiz Tecido gengival Osso alveolar Ligamento periodontal Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 5 Maxila Em relação ao desenvolvimento, existem dois ossos maxi- lares, que se fundem na sutura palatina mediana (Fig. 1-6). Estes ossos formam a maior parte do esqueleto facial supe- rior. A borda da maxila se estende superiormente para for- mar o assoalho da cavidade nasal, assim como o assoalho de cada órbita. Na parte inferior, os ossos maxilares formam o palato e os rebordos alveolares, que sustentam os dentes. Como os ossos maxilares estão intricadamente fusionados aos componentes ósseos que envolvem o crânio, os dentes maxilares são considerados como uma parte fixa do crânio e, desta forma, constituem o componente fixo do sistema mas- tigatório. Mandíbula A mandíbula é um osso em forma de U que sustenta os dentes inferiores e constitui o esqueleto facial inferior. Ela não tem ligação óssea com o crânio e é sustentada abaixo da maxila pelos músculos, ligamentos e outros tecidos moles, que por sua vez possibilitam a mobilidade necessária para o funcio- namento com a maxila. O aspecto superior da mandíbula arqueada consiste do processo alveolar e dos dentes (Fig. 1-7). O corpo da mandí- bula se estende posterior e inferiormente para formar o ângulo mandibular, e posterior e superiormente para formar o ramo ascendente. O ramoascendente da mandíbula é formado por uma placa vertical de osso que se estende para cima como dois processos. O anterior deles é o processo coronóide. O posterior é o côndilo. O côndilo é a porção da mandíbula que se articula com o crânio, ao redor do qual o movimento ocorre. De uma vista anterior ele tem projeções medial e lateral, denominadas pólos (Fig. 1-8). O pólo medial geralmente é mais proeminente do que o lateral. Visto de cima, uma linha traçada pelo centro dos pólos do côndilo geralmente vai se estender medial e poste- riormente em direção à borda anterior do forame magno (Fig. 1-9). A extensão mediolateral total do côndilo está entre 18 e 23 mm, e a largura ântero-posterior está entre 8 e 10 mm. A real superfície de articulação do côndilo se estende tanto anterior quanto posteriormente à parte mais superior do côndilo (Fig. 1-10). A superfície articular posterior é maior do que a superfície anterior. A superfície articular do côndilo é bem convexa ântero-posteriormente, e suavemente convexa mediolateralmente. Osso Temporal O côndilo mandibular articula-se na base do crânio com a por- ção escamosa do osso temporal. Esta porção do osso tem- poral é composta pela fossa mandibular côncava, na qual o Fig. 1-5 Componentes esqueléticos que constituem o sistema mas- tigatório: maxila, mandíbula e osso temporal. A Fig. 1-6 A sutura palatina mediana (A) resulta da fusão dos dois ossos maxilares durante o desenvolvimento. Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 5 A A B B Fig. 1-7 A, O ramo ascendente se estende para cima para formar o processo coronóide (A) e o côndilo (B). B, Vista oclusal. 6 Anatomia Funcional BA Fig. 1-10 CÔNDILO. A, Vista anterior. B, Vista posterior. Uma linha tracejada marca a borda da superfície articular. A superfície articular no aspecto posterior do côndilo é maior do que no aspecto anterior. côndilo se situa (Fig. 1-11) e que também já foi chamada de fossa glenóide ou articular. Posterior à fossa mandibular está a fis- sura timpanoescamosa, que se estende mediolateralmente. Como esta fissura se estende medialmente, ela se divide em fissura petroescamosa, anteriormente, e fissura petro- timpânica, posteriormente. Imediatamente anterior à fossa está uma proeminência óssea convexa denominada eminência articular. O grau de convexidade da eminência articular é alta- mente variável, mas importante, porque a inclinação dessa superfície determina a trajetória do côndilo quando a man- díbula está posicionada anteriormente. O teto posterior da fossa mandibular é bastante fino, indicando que esta área do osso temporal não foi designada para suportar forças exces- sivas. A eminência articular, entretanto, consiste de um osso espesso e denso e pode tolerar melhor tais forças. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A área onde a mandíbula se articula com o crânio, a ATM, é uma das articulações mais complexas do corpo. Ela pro- porciona um movimento de dobradiça em um plano e, desta forma, pode ser considerada uma articulação ginglimoidal. No entanto, ao mesmo tempo ela também pode proporcionar movimentos de deslizamento, o que a classifica como uma articulação artrodial. Portanto, ela pode ser tecnicamente considerada uma articulação ginglimoartrodial. A ATM é formada pelo côndilo mandibular posicionado dentro da fossa mandibular do osso temporal. Separando esses dois ossos da articulação direta está o disco articular. A ATM é classificada como uma articulação composta. Por defi- nição, uma articulação composta requer a presença de pelo menos três ossos, apesar de a ATM ser constituída por apenas dois ossos. Funcionalmente, o disco articular age como um osso não calcificado que permite os movimentos complexos da articulação. Como o disco articular funciona como um terceiro osso, a articulação craniomandibular é considerada uma articulação composta. A função do disco articular como um osso não calcificado está posteriormente descrita em detalhes na seção sobre biomecânica da ATM neste capítulo. O disco articular é composto por tecido conjuntivo fibroso denso, na maior parte desprovido de vasos sangüíneos e fibras nervosas. A periferia extrema do disco, entretanto, é ligeira- mente inervada.1,2 No plano sagital, o disco pode ser dividido em três regiões, de acordo com sua espessura (Fig. 1-12). A Fig. 1-8 CÔNDILO (VISTA ANTERIOR). O pólo medial (PM) é mais proeminente do que o pólo lateral (PL). Fig. 1-9 VISTA INFERIOR DA SUPERFÍCIE DO CRÂNIO E DA MANDÍBULA. Os côndilos parecem estar suavemente rota- cionados de maneira que se uma linha imaginária fosse desenhada passando pelos pólos lateral e medial, ela estender-se-ia medial e posteriormente em direção à borda anterior do forame magno. PL PM Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 7 área central é a mais fina e é denominada zona intermediária. O disco torna-se consideravelmente mais espesso a partir da zona intermediária para anterior e posterior. A borda posterior geralmente é um pouco mais espessa do que a borda anterior. Na articulação normal a superfície articular do côndilo está localizada na zona intermediária do disco, circundada pelas regiões anteriores e posteriores mais espessas. Numa visão frontal, o disco geralmente é mais espesso medialmente do que lateralmente, o que corresponde a um espaço maior entre o côndilo e a fossa articular na direção medial da articulação (Fig. 1-13). A forma precisa do disco é determinada pela morfologia do côndilo e da fossa mandibu- lar. Durante o movimento o disco é, de certa forma, flexível e pode se adaptar às demandas funcionais das superfícies articulares. No entanto, a flexibilidade e a adaptabilidade não implicam que a morfologia do disco seja reversivelmente alterada durante a função. O disco mantém sua morfologia a menos que forças destrutivas ou alterações estruturais ocorram na articulação. Se ocorrerem estas alterações, a morfologia do disco poderá ser irreversivelmente alterada, produzindo mudanças biomecânicas durante a função. Estas alterações são discutidas em capítulos posteriores. O disco articular está posteriormente inserido a uma região de tecido conjuntivo frouxo que é altamente vascularizada e inervada (Fig. 1-14). Esta área é conhecida como tecido retro- discal ou ligamento* posterior. Superiormente, ele é delimi- tado por uma lâmina de tecido conjuntivo que contém muitas Fig. 1-11 A, Estruturas ósseas da articulação temporomandibular (vista lateral). B, Fossa articular (vista infe- rior). EA, Eminência articular; FM, Fossa mandibular; FTE, Fissura timpanoescamosa. BA *Nota da Revisão Científica: Embora o ligamento posterior não seja, por definição, um ligamento, esta é uma denominação freqüente para o tecido retrodiscal. Outros autores preferem o termo zona bilaminar. Fig. 1-12 DISCO ARTICULAR, FOSSA E CÔNDILO (VISTA LATERAL). O côndilo está normalmente posicionado na zona intermediária (ZI) mais fina do disco. A borda anterior do disco (BA) é consideravelmente mais espessa do que a zona intermediária, e a borda posterior (BP) é ainda mais espessa. Fig. 1-13 DISCO ARTICULAR, FOSSA E CÔNDILO (VISTA ANTERIOR). O disco é ligeiramente mais espesso medial do que lateralmente. PL, Pólo lateral; PM, Pólo medial. FM EA EA FM FTE ZI BA PL PM BP 8 Anatomia Funcional A B Fig. 1-14 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR. A, Vista lateral. B, Diagrama mostrando os componentes anatômicos. LCA, Ligamento capsular anterior (colagenoso); SA, superfície articular; CI, cavidade articular inferior; PLI, músculo pterigóideo lateral inferior; LRI, lâmina retrodiscal inferior (colagenosa); TR, tecidos retrodiscais; CS, cavidade articular superior; PLS, músculo pterigóideo lateral superior; LRS, lâminaretro- discal superior (elástica). O ligamento do disco (colateral) não foi desenhado. (A, Cortesia do Dr. Julio Turell, Universidade de Montevideo, Uruguai.) Disco TR Côndilo PLS PLI fibras elásticas, a lâmina retrodiscal superior. A lâmina retro- discal superior liga o disco articular posteriormente à placa timpânica. Na borda inferior dos tecidos retrodiscais está a lâmina retrodiscal inferior, que liga a borda inferior do limite posterior do disco à margem posterior da superfície articular do côndilo. A lâmina retrodiscal inferior é composta, princi- palmente, de fibras colágenas, e não fibras elásticas como as da lâmina retrodiscal superior. A parte remanescente do tecido retrodiscal está ligada posteriormente a um grande plexo venoso, que se enche de sangue quando o côndilo se move para frente.3,4 As inserções superior e inferior da região anterior do disco estão presas ao ligamento capsular, que envolve a maior parte da articulação. A inserção superior se prende na margem anterior da superfície articular do osso temporal. A inserção inferior se prende na margem anterior da superfície articular do côndilo. As duas inserções anteriores são compostas por fibras colágenas. Anteriormente, entre as inserções do ligamento cap- sular, o disco também se prende por fibras tendinosas ao mús- culo pterigóideo lateral superior. O disco articular se insere no ligamento capsular não somente anterior e posteriormente, mas também medial e lateralmente. Isto divide a articulação em duas cavidades dis- tintas. A de cima, ou cavidade superior, é delimitada pela fossa mandibular e pela superfície superior do disco. A de baixo, ou cavidade inferior, é delimitada pelo côndilo mandibular e pela superfície inferior do disco. As superfícies internas das cavida- des são revestidas por células endoteliais especializadas que formam a membrana sinovial. Esta membrana, juntamente com outra membrana sinovial especializada, localizada na borda anterior dos tecidos retrodiscais, produzem o líquido sinovial, que preenche as duas cavidades. Desta forma, a ATM também é referida como uma articulação sinovial. Este líquido sinovial tem duas finalidades. Como as superfícies articulares da articulação não possuem vascularização, o líquido sinovial age como um meio para prover as necessidades metabólicas para esses tecidos. Há um intercâmbio livre e rápido entre os vasos da cápsula, o líquido sinovial e os tecidos articulares. O líquido sinovial também age como um lubrificante entre as superfícies articulares durante a função. As superfícies articu- CI TR LRI LRS CS SA LCA PLS LCA PLI Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 9 lares do disco, do côndilo e da fossa são muito lisas, assim, a fricção durante o movimento é minimizada. O líquido sinovial ajuda a minimizar ainda mais a fricção. O líquido sinovial lubrifica as superfícies articulares por meio de dois mecanismos. O primeiro é chamado de lubri- ficação divisória, que ocorre quando a articulação se move e o líquido sinovial é forçado de uma área da cavidade para outra. O líquido sinovial localizado nas regiões da margem ou vão é forçado para a superfície articular, possibilitando assim a lubrificação. A lubrificação divisória evita fricção no movi- mento articular e é o principal mecanismo de lubrificação da articulação. Um segundo mecanismo de lubrificação é chamado de lubrificação exsudativa. Este se refere à capacidade das super- fícies articulares absorverem uma pequena quantidade de líquido sinovial.5 Durante a função de uma articulação são criadas forças entre as superfícies articulares. Estas forças empurram uma pequena quantidade de líquido sinovial para dentro e para fora dos tecidos articulares. Este é o mecanismo pelo qual ocorre alteração metabólica. Sob forças compressi- vas, portanto, uma pequena quantidade de líquido sinovial é liberada. Este líquido sinovial age como um lubrificante entre os tecidos articulares para prevenir aderência. A lubrificação exsudativa ajuda a eliminar a fricção na compressão, mas não no movimento articular. Somente uma pequena quantidade de fricção é eliminada como um resultado da lubrificação exsudativa; portanto, forças compressivas prolongadas sobre superfícies articulares irão esgotar este suprimento. A con- seqüência de carga estática prolongada sobre estruturas da articulação é discutida em capítulos posteriores. Histologia das Superfícies Articulares As superfícies articulares do côndilo mandibular e da fossa são compostas de quatro camadas ou zonas distintas (Fig. 1- 15). A camada mais superficial é chamada zona articular. Ela é encontrada adjacente à cavidade articular e forma a superfície funcional mais externa. Ao contrário da maioria das outras articulações sinoviais, esta camada articular é constituída de tecido conjuntivo fibroso denso, e não por cartilagem hialina. A maioria das fibras colágenas está arranjada em feixes e está orientada paralela à superfície articular.6,7 As fibras estão fir- memente compactas e podem resistir às forças de movimento. Considera-se que este tecido conjuntivo fibroso forneça mui- tas vantagens para a articulação sobre a cartilagem hialina. Como o tecido conjuntivo fibroso geralmente é menos sus- ceptível aos efeitos da idade do que a cartilagem hialina, ele tem menor probabilidade de se deteriorar com o tempo. Este tecido também tem muito mais capacidade de reparo do que a cartilagem hialina.8 A importância desses dois fatores é sig- nificante na função e disfunção da ATM e é discutida de forma mais completa nos capítulos posteriores. A segunda zona, a zona proliferativa, é principalmente celu- lar. É nesta área que o tecido mesenquimal indiferenciado é encontrado. Este tecido é responsável pela proliferação da cartilagem articular em resposta a demandas funcionais loca- lizadas nas superfícies articulares durante a carga. Na terceira zona, na zona fibrocartilaginosa, as fibrilas colá- genas estão arranjadas em feixes em um padrão cruzado, embora alguns colágenos sejam vistos em uma orientação radial. A fibrocartilagem aparece em uma orientação randô- mica, fornecendo uma rede tridimensional que oferece resis- tência contra forças compressivas e forças laterais. A quarta e mais profunda zona é chamada de zona de carti- lagem calcificada. Esta zona é constituída por condrócitos e con- droblastos distribuídos por toda a cartilagem articular. Nesta zona os condrócitos se tornam hipertróficos, morrem e têm seu citoplasma evacuado, formando células ósseas de dentro da cavidade medular. A superfície da matriz extracelular for- nece um local ativo para atividade remodeladora, enquanto o crescimento ósseo endosteal prossegue, como ocorre em toda parte do corpo. A cartilagem articular é composta de condrócitos e matriz intercelular.9 Os condrócitos produzem colágeno, proteo- glicanas, glicoproteínas e enzimas que formam a matriz. As proteoglicanas são moléculas complexas compostas por um núcleo protéico e cadeias de glicosaminoglicanas. As proteo- glicanas estão conectadas a uma cadeia de ácido hialurônico formando agregados de proteoglicanas que constituem uma proteína grande da matriz (Fig. 1-16). Estes agregados são muito hidrofílicos e estão entrelaçados por toda a rede de colá- geno. Como estes conjuntos tendem a reter água, a matriz se expande e a tensão nas fibrilas colágenas neutraliza a pressão proveniente do inchaço dos agregados de proteoglicanas.10 Desta maneira, o fluido intersticial contribui para suportar a carga articular. A pressão externa resultante da carga articular está em equilíbrio com a pressão interna da cartilagem arti- cular. Na medida em que a carga articular aumenta, o fluido tecidual corre para fora até um novo equilíbrio ser alcançado. Na medida em quea carga diminui, o fluido é reabsorvido e o tecido recupera seu volume original. A cartilagem articu- Fig. 1-15 Secção histológica de um côndilo mandibular saudável mostrando as quatro zonas: articular, proliferativa, fibrocartilaginosa e calcificada. (De Cohen B, Kramer IRH, editors: Scientific foundations o dentistry, London, 1976, William Heinemann.) Disco articular Zona articular Zona proliferativa Zona fibrocartilaginosa Zona de cartilagem calcificada Osso subarticular 10 Anatomia Funcional lar é nutrida, predominantemente, pela difusão do líquido sinovial, que depende da ação de bombeamento durante a atividade normal.11 Esta ação de bombeamento é a base para a lubrificação exsudativa, que foi previamente discutida e é considerada importante na manutenção da saúde da cartila- gem articular.12 Inervação da Articulação Temporomandibular Como todas as outras articulações, a ATM é inervada pelo mesmo nervo que fornece inervação motora e sensitiva aos músculos que a controlam (o nervo trigêmeo). Ramos do nervo mandibular fornecem a inervação aferente. A maior parte da inervação é fornecida pelo nervo auriculotemporal assim que ele deixa o nervo mandibular atrás da articulação e ascende lateral e superiormente, contornando a região pos- terior da articulação.13 Inervação adicional é fornecida pelos nervos temporais profundos e massetérico. Vascularização da Articulação Temporomandibular A ATM é ricamente suprida por uma variedade de vasos que a circundam. Os vasos predominantes são a artéria tempo- ral superficial na parte posterior, a artéria meníngea média na parte anterior, e a artéria maxilar interna na parte inferior. Outras artérias importantes são a auricular profunda, a tim- pânica anterior e a faríngea ascendente. O côndilo recebe seu suprimento vascular pelos seus espaços medulares por meio da artéria alveolar inferior, e também recebe suprimento vas- cular por meio de “vasos alimentadores” que entram direta- mente na cabeça do côndilo, tanto anterior quanto posterior- mente, a partir dos vasos mais largos.14 LIGAMENTOS Como em qualquer sistema articular, os ligamentos desempe- nham um importante papel na proteção das estruturas. Os liga- mentos da articulação são compostos de tecido conjuntivo cola- genoso, que tem comprimento particular. Eles não se esticam. No entanto, se forças extensas forem aplicadas ao ligamento, ou inesperadamente ou por um período de tempo prolongado, o ligamento pode ser alongado. Quando isto ocorre, a função do ligamento fica comprometida, alterando, deste modo, a função articular. Esta alteração será abordada em capítulos futuros, que discutem a patologia da articulação. Os ligamentos não atuam ativamente na função da articu- lação, mas, ao invés disso, agem passivamente como agentes restringentes para limitar ou restringir movimentos limítro- fes. Três ligamentos funcionais suportam a ATM: (1) os liga- mentos colaterais, (2) o ligamento capsular e (3) o ligamento temporomandibular (TM). Existem também dois ligamentos acessórios: (4) o esfenomandibular e o (5) estilomandibular. Ligamentos Colaterais (Discais) Os ligamentos colaterais prendem as bordas medial e lateral do disco articular aos pólos do côndilo. Eles geralmente são chamados ligamentos discais e existem dois deles. O ligamento discal medial prende a extremidade medial do disco ao pólo medial do côndilo. O ligamento discal lateral prende a extre- midade lateral do disco ao pólo lateral do côndilo (Figs. 1-14 e 1-17). Estes ligamentos são responsáveis por dividir a articu- lação mediolateralmente em cavidades articulares superior e inferior. Os ligamentos discais são ligamentos verdadeiros, compostos de fibras de tecido conjuntivo colagenoso; por- tanto, eles não se esticam. Eles atuam restringindo o movi- mento do disco para fora do côndilo. Em outras palavras, eles 40 nm Fig. 1-16 Rede de colágeno interagindo com a rede de proteoglicano na matriz extracelular formando um composto reforçado de fibra. (De Mow VC, Ratcliffe A: Cartilage and diarthrodial joints as paradigms for hierarchical materials and structures, Biomaterials 13:67-81, 1992.) Fig. 1-17 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (VISTA ANTERIOR). DA, Disco articular; LC, ligamento capsular; CI, cavidade articular inferior, LDL, ligamento discal lateral; LDM, liga- mento discal medial; CS, cavidade articular superior. Ácido hialurônico Monômero Fluido intersticial Fibrila colágena Monômero unido CS DA LDM LC LC LDL CI Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 11 permitem que o disco se mova passivamente com o côndilo quando ele desliza anterior ou posteriormente. As aderências dos ligamentos discais permitem que o disco seja rotacio- nado anterior e posteriormente sobre a superfície articular do côndilo. Assim, estes ligamentos são responsáveis pelo movimento de dobradiça da ATM, que ocorre entre o côndilo e o disco articular. Os ligamentos discais têm um suprimento vascular e são inervados. Sua inervação proporciona informação sobre a posição e movimentação da articulação. O esforço sobre estes ligamentos causa dor. Ligamento Capsular Como mencionado previamente, a ATM inteira é circundada e envolvida pelo ligamento capsular (Fig. 1-18). As fibras do ligamento capsular estão inseridas superiormente ao osso temporal ao longo das bordas das superfícies articulares da fossa mandibular e eminência articular. Inferiormente, as fibras do ligamento capsular se inserem no colo do côndilo. O ligamento capsular age para resistir a qualquer força medial, lateral ou inferior que tende a separar ou deslocar as superfí- cies articulares. Uma função significativa do ligamento capsu- lar é envolver a articulação, retendo, assim, o líquido sinovial. O ligamento capsular é bem inervado e proporciona estímulo proprioceptivo sobre a posição e movimento da articulação. Ligamento Temporomandibular O aspecto lateral do ligamento capsular é reforçado por fibras fortes e condensadas que compõem o ligamento lateral ou ligamento TM. O ligamento TM é composto por duas partes, uma porção externa oblíqua e uma porção interna horizontal (Fig. 1-19). A porção externa se estende da superfície externa do tubérculo articular e do processo zigomático posterior e inferiormente, até a superfície externa do colo do côndilo. A porção interna horizontal se estende da superfície externa do tubérculo articular e processo zigomático, posterior e hori- zontalmente, até o pólo lateral do côndilo e parte posterior do disco articular. A porção oblíqua do ligamento TM impede a queda exces- siva do côndilo, limitando, portanto, a extensão de abertura da boca. Esta porção do ligamento também influencia o movi- mento de abertura normal da mandíbula. Durante a fase inicial de abertura, o côndilo pode girar ao redor de um ponto fixo até o ligamento se tornar rígido, quando seu ponto de inserção no colo do côndilo é rotacionado posteriormente. Quando o liga- mento está esticado, o colo do côndilo não pode mais girar. Se a boca for aberta ainda mais, o côndilo precisará se movi- mentar para baixo e para frente através da eminência articular (Fig. 1-20). Este efeito pode ser clinicamente demonstrado fechando a boca e aplicando-se ao queixo uma força posterior leve. Com esta força aplicada deve-se pedir ao paciente que abra a boca. A mandíbula irá abrir girando facilmente até que os dentes fiquem separados 20 a 25 mm. Neste momento, se a mandíbula se abrir mais uma resistência será sentida. Se a mandíbula se abrir ainda mais ocorrerá uma mudança distinta no movimento de abertura, representando uma alte- ração de rotação do côndilo ao redor de um ponto fixo para movimento para frente e para baixo pela eminência articular. Esta mudança no movimento de aberturaé ocasionada pelo estiramento do ligamento TM. Esta característica única do ligamento TM, que limita a abertura rotacional, é encontrada somente em humanos. Na postura ereta e com a coluna vertebral posicionada vertical- mente, o movimento rotacional contínuo de abertura leva- ria a mandíbula a afetar estruturas vitais submandibulares e retromandibulares do pescoço. A porção externa oblíqua do ligamento TM atua para impedir esta violação. A porção interna horizontal do ligamento TM limita o movimento posterior do côndilo e do disco. Quando uma força aplicada à mandíbula desloca o côndilo posteriormente, esta porção do ligamento torna-se rígida e impede o côndilo de se movimentar para dentro da região posterior da fossa mandibular. Portanto, o ligamento TM protege os tecidos retrodiscais do trauma causado pelo deslocamento posterior do côndilo. A porção interna horizontal também protege o músculo pterigóideo lateral de estiramento ou distensão. A efetividade deste ligamento é demonstrada durante casos de trauma extremo à mandíbula. Nestes casos, o colo do côndilo sofrerá fratura antes que os tecidos retrodiscais sejam rompi- dos ou que o côndilo entre na fossa craniana média. Fig. 1-18 LIGAMENTO CAPSULAR (VISTA LATERAL). Observe que ele se estende anteriormente para incluir a eminência articular e envolver toda a superfície articular da articulação. Fig. 1-19 LIGAMENTO TEMPOROMANDIBULAR (VISTA LATERAL). Duas partes distintas são mostradas: a porção externa oblíqua (PEO) e a porção interna horizontal (PIH). A PEO limita o movimento rotacional de abertura normal; a PIH limita o movimento posterior do côndilo e do disco. (Modificado de Du Brul EL: Sicher’s oral anatomy, ed 7, St Louis, 1980, Mosby.) PIH PEO 12 Anatomia Funcional A B A B C A B Fig. 1-20 EFEITO DA PORÇÃO EXTERNA OBLÍQUA DO LIGAMENTO TEMPOROMAN- DIBULAR (TM). A, Quando a boca se abre, os dentes podem ser separados por aproximadamente 20 a 25 mm (de A para B) sem que o côndilo se movimente para fora da fossa. B, Os ligamentos TM estão totalmente estendidos. Quando a boca se abre ainda mais, eles forçam o côndilo a se mover para baixo e para frente, fora da fossa. Isto cria um segundo arco de abertura (de B para C). Ligamento Esfenomandibular O ligamento esfenomandibular é um dos dois ligamentos acessórios da ATM (Fig. 1-21). Ele parte da espinha do osso esfenóide e estende-se para baixo, até uma pequena proemi- nência óssea na superfície medial do ramo da mandíbula, que é chamada de língula. Ele não tem nenhum efeito limitador significante no movimento mandibular. Ligamento Estilomandibular O segundo ligamento acessório é o ligamento estilomandi- bular (Fig. 1-21). Ele parte do processo estilóide e estende-se para baixo e para frente, até o ângulo e a borda posterior do ramo mandibular. Ele se torna rígido quando a mandíbula está protruída, mas fica relaxado quando a mandíbula é aberta. O ligamento estilomandibular, portanto, limita o movimento de protrusão excessivo da mandíbula. MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO Os componentes esqueléticos do corpo são mantidos juntos e movidos pelos músculos esqueléticos. Os músculos esque- léticos proporcionam a locomoção necessária para o indiví- duo sobreviver. Os músculos são constituídos de numerosas fibras com diâmetro variando de 10 a 80 µm. Cada uma destas fibras, por sua vez, é constituída por subunidades sucessiva- mente menores. Na maioria dos músculos as fibras possuem o comprimento total do músculo, exceto por aproximada- mente 2% das fibras. Cada fibra é inervada por somente uma terminação nervosa, localizada próxima da metade da fibra. O final da fibra muscular se fusiona com a fibra do tendão, e as fibras do tendão, por sua vez, se agrupam em feixes para formar o tendão do músculo que se insere no osso. Cada fibra muscular contém de centenas a milhares de miofibrilas. Cada miofibrila, por sua vez, tem lado a lado, aproximadamente, 1.500 filamentos de miosina e 3.000 filamentos de actina, que são moléculas grandes de proteínas polimerizadas responsá- veis pela contração muscular. Para uma descrição mais com- pleta da fisiologia da contração muscular, outras publicações deveriam ser pesquisadas.15 As fibras musculares podem ser caracterizadas por tipos de acordo com a quantidade de mioglobina (um pigmento semelhante à hemoglobina). Fibras com concentração alta de mioglobina possuem uma cor vermelha mais escura e são capazes de contração lenta, porém sustentável. Estas fibras são chamadas fibras musculares lentas ou fibras musculares do tipo I. As fibras lentas possuem um metabolismo aeróbico bem desen- volvido e, portanto, são resistentes à fadiga. As fibras com baixa concentração de mioglobina são mais claras e são cha- madas de fibras musculares rápidas ou fibras do tipo II. Estas fibras possuem menos mitocôndrias e contam com mais atividade anaeróbica para função. As fibras musculares rápidas são capazes de contração rápida, porém entram em fadiga mais rapidamente. Todos os músculos esqueléticos contêm uma mistura de fibras lentas e rápidas em proporções variadas que refletem a função daquele músculo. Músculos solicitados a responder rapidamente são compostos, predominantemente, de fibras claras. Músculos que são utilizados principalmente em ativi- dades lentas e contínuas possuem uma concentração maior de fibras lentas. Quatro pares de músculos compõem um grupo chamado músculos da mastigação: o masseter, o temporal, o pterigóideo medial e o pterigóideo lateral. Apesar de não serem consi- derados músculos da mastigação, os músculos digástricos também desempenham um importante papel na função man- dibular e, portanto, são discutidos nesta seção. Cada mús- culo será abordado de acordo com suas inserções, direção das fibras e sua função. Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 13 Masseter O masseter é um músculo retangular que se origina do arco zigomático e se estende para baixo até o aspecto lateral da borda inferior do ramo da mandíbula (Fig. 1-22). Sua inser- ção na mandíbula se estende da região do segundo molar, na borda inferior, posteriormente, até incluir o ângulo. Ele pos- sui duas porções ou cabeças: (1) a porção superficial consiste de fibras que se dirigem para baixo e suavemente para trás, e (2) a porção profunda consiste de fibras que correm numa direção predominantemente vertical. Quando as fibras do masseter se contraem, a mandíbula é elevada e os dentes entram em contato. O masseter é um mús- culo poderoso que proporciona a força necessária para uma mastigação eficiente. Sua porção superficial também auxilia na protrusão da mandíbula. Quando a mandíbula é protruída e a força da mastigação é aplicada, as fibras da porção pro- funda estabilizam o côndilo contra a eminência articular. Temporal O temporal é um músculo grande em forma de leque que se origina da fossa temporal e da superfície lateral do crânio. Suas fibras caminham juntas na medida em que elas se esten- dem para baixo, entre o arco zigomático e a superfície lateral do crânio, para formar um tendão que se insere no processo coronóide e na borda anterior do ramo ascendente. Ele pode ser dividido em três áreas distintas de acordo com a direção das fibras e função primordial (Fig. 1-23). A porção anterior consiste de fibras que se direcionam quase verticalmente. A porção média contém fibras que correm obliquamente através do aspecto lateral do crânio (um pouco para frente, quando se dirigem para baixo). A porção posterior consiste de fibras que estão alinhadas quase horizontalmente, vindo para frente, sobre a orelha, para se juntarem a outras fibras temporais quando passam sob o arco zigomático. Quando o músculo temporal se contrai, ele eleva a mandí- bula e os dentes entram em contato. Se somenteuma porção se contrai, a mandíbula se move de acordo com a direção das fibras que são ativadas. Quando a porção anterior se contrai, a mandíbula é elevada verticalmente. A contração da porção média irá elevar e retruir a mandíbula. O funcionamento da porção posterior é um tanto controverso. Apesar de parecer que a contração desta porção irá retruir a mandíbula, DuBrul16 sugere que as fibras abaixo da raiz do processo zigomático são as únicas significantes e, portanto, sua contração causará elevação e somente uma suave retrusão. Como a angulação de suas fibras musculares varia, o temporal é capaz de coor- denar os movimentos de fechamento. Dessa forma, ele é um importante músculo posicionador da mandíbula. Pterigóideo Medial O pterigóideo medial (interno) se origina da fossa pterigóidea e se estende para baixo, para trás e para fora para se inserir ao Fig. 1-21 Mandíbula, articulação temporomandibular e ligamentos acessórios. BA Fig. 1-22 A, Músculo masseter. PP, Porção profunda; PS, porção superficial. B, Função: elevação da mandíbula. Ligamento estilo- mandibular Ligamento esfenomandibular PP PS 14 Anatomia Funcional BA Fig. 1-23 A, Músculo temporal. PA, Porção anterior; PM, porção média; PP, porção posterior. B, Função: ele- vação da mandíbula. O movimento exato é determinado pela localização das fibras ou porção que está sendo ativada. longo da superfície medial do ângulo mandibular (Fig. 1-24). Ele forma, juntamente com o masseter, um suspensório mus- cular que suporta a mandíbula na altura do ângulo mandibu- lar. Quando suas fibras se contraem, a mandíbula é elevada e os dentes entram em contato. Esse músculo também é ativo na protrusão mandibular. A contração unilateral produzirá um movimento mediotrusivo da mandíbula. Pterigóideo Lateral Por muitos anos, o pterigóideo lateral (externo) era descrito como tendo duas porções ou ventres distintos: (1) um inferior e (2) um superior. Como, anatomicamente, o músculo apa- rentava ser único em estrutura e função, esta descrição era aceitável até que estudos provaram ser diferente.17,18 Agora compreende-se que os dois ventres do pterigóideo lateral possuem funções bem diferentes. Desta forma, neste livro o pterigóideo lateral é dividido e identificado como dois múscu- los diferentes e distintos, o que é apropriado porque suas fun- ções são quase opostas. Os músculos serão descritos como pterigóideo lateral inferior e pterigóideo lateral superior. Pterigóideo Lateral Inferior. O pterigóideo lateral inferior se origina na superfície externa da lâmina pterigóidea lateral e se estende para trás, para cima e para fora, até sua inserção primariamente no colo do côndilo (Fig. 1-25). Quando os pte- A B Fig. 1-24 A, Músculo pterigóideo medial. B, Função: elevação da mandíbula. PA PM PP Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 15 rigóideos laterais inferiores direito e esquerdo se contraem simultaneamente, os côndilos são puxados para baixo, nas eminências articulares, e a mandíbula é protruí da. A con- tração unilateral cria um movimento mediotrusivo daquele côndilo e causa um movimento lateral da mandíbula para o lado oposto. Quando este músculo atua juntamente com os depressores mandibulares, a mandíbula é abaixada e os côndilos deslizam para frente e para baixo nas eminências articulares. Pterigóideo Lateral Superior. O pterigóideo lateral superior é consideravelmente menor do que o inferior e se origina na superfície infratemporal da asa maior do esfenóide, se estendendo quase horizontalmente, para trás e para fora para se inserir na cápsula articular, no disco e no colo do côn- dilo (Figs. 1-14 e 1-25). A inserção exata do pterigóideo late- ral superior ao disco é um tanto discutível. Embora alguns autores19 sugiram não haver inserção, a maioria dos estu- dos revela a presença de uma inserção músculo-disco.14,20-24 A maioria das fibras do pterigóideo lateral superior (60% a 70%) se insere no colo do côndilo, e somente 30% a 40% se inserem no disco. As inserções são mais predominantes no aspecto medial do que no lateral. Aproximando-se das estru- turas articulares por um aspecto lateral revelar-se-ia pouca ou nenhuma inserção muscular. Isto talvez explique os dife- rentes achados nesses estudos. Enquanto o pterigóideo lateral inferior é ativo durante a abertura, o superior permanece inativo, tornando-se ativo somente em conjunto com os músculos elevadores. O pte- rigóideo lateral superior é ativo, especialmente quando há força de resistência e quando os dentes são mantidos juntos. A força de resistência se refere a movimentos que envolvem o fechamento da mandíbula com resistência, como na mastiga- ção ou no apertamento dentário. A significância funcional do pterigóideo lateral superior será discutida com mais detalhes na próxima seção, que envolve a biomecânica da ATM. O clínico deveria notar que a tração do pterigóideo lateral no disco e no côndilo ocorre numa direção predominante- mente anterior; entretanto, ele também tem um componente medial significativo (Fig. 1-26). À medida que o côndilo se move mais para frente, a angulação medial de tração desses músculos torna-se cada vez maior. Na posição de máxima abertura de boca a direção de tração do músculo é mais medial do que anterior. Interessantemente, cerca de 80% das fibras que compõem ambos os músculos pterigóideos laterais são fibras muscula- res lentas (tipo I).25,26 Isto sugere que esses músculos sejam relativamente resistentes à fadiga e possam servir para supor- tar o côndilo por longos períodos de tempo sem dificuldade. Digástrico Embora o digástrico geralmente não seja considerado um músculo da mastigação, ele exerce uma importante influên- cia na função da mandíbula. É dividido em duas porções ou ventres (Fig. 1-27): 1. O ventre posterior se origina na incisura mastóidea, justa- mente medial ao processo mastóide; suas fibras correm para frente, para baixo e para dentro, até o tendão inter- mediário inserido no osso hióide. 2. O ventre anterior se origina em uma fossa na superfície lin- gual da mandíbula, justamente acima da borda inferior e próximo à linha média; suas fibras se estendem para baixo e para trás para se inserirem no mesmo tendão intermediário, como faz o ventre posterior. Quando os digástricos direito e esquerdo se contraem e o osso hióide é fixado pelos músculos supra-hióideos e infra- hióideos, a mandíbula é abaixada e puxada para trás e os den- tes são desocluídos. Quando a mandíbula é estabilizada, os músculos digástricos, juntamente com os músculos supra- hióideos e infra-hióideos, elevam o osso hióide, que é um procedimento necessário para deglutição. Os digástricos são um dos muitos músculos que abaixam a mandíbula e elevam o osso hióide (Fig. 1-28). Geralmente os músculos que se inserem da mandíbula ao osso hióide BA Fig. 1-25 A, Músculos pterigóideo lateral superior e inferior. B, Função do pterigóideo lateral inferior: pro- trusão da mandíbula. Músculo pterigóideo lateral superior Músculo pterigóideo lateral inferior 16 Anatomia Funcional BA Fig. 1-26 A, Quando o côndilo está numa relação normal na fossa, as inserções dos músculos pterigóideo late- ral superior e inferior criam uma tração medial e anterior no côndilo e no disco (setas). B, Assim que o côndilo se move anteriormente a partir da fossa, a tração assume uma direção mais medial (setas). são chamados supra-hióideo, e aqueles que se inserem do osso hióide à clavícula e ao esterno são chamados infra-hióideo. Os músculos supra e infra-hióideos desempenham um impor- tante papel na coordenação da função mandibular, assim como muitos dos outros numerosos músculos da cabeça e do pescoço. Pode-se logo notar que um estudo da função man- dibularnão se limita aos músculos da mastigação. Outros músculos importantes, tais como esternocleidomastóideo e músculos cervicais posteriores, desempenham importante papel na estabilização do crânio e permitem que movimen- tos controlados da mandíbula sejam executados. Existe um balanceamento dinâmico finamente coordenado de todos os músculos da cabeça e do pescoço e isto deve ser considerado para um entendimento de como ocorre a fisiologia do movi- mento mandibular. Quando uma pessoa boceja, a cabeça é levada para trás pela contração dos músculos cervicais poste- riores, que elevam os dentes maxilares. Este simples exemplo demonstra que mesmo o funcionamento normal do sistema mastigatório utiliza muito mais músculos do que somente os da mastigação. Com o entendimento deste relacionamento pode-se perceber que qualquer efeito na função dos múscu- los da mastigação também tem efeito em outros músculos da cabeça e do pescoço. Uma revisão mais detalhada da fisiolo- gia do sistema mastigatório como um todo é apresentada no Capítulo 2. BIOMECÂNICA DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A ATM é um sistema articular extremamente complexo. O fato de que duas ATMs estão conectadas ao mesmo osso (a mandíbula) complica ainda mais o funcionamento de todo o sistema mastigatório. Cada articulação pode agir separada- A B Fig. 1-27 A, Músculo digástrico. B, Função: abaixamento da mandíbula. Músculo digástrico posterior Osso hióide Tendão intermediário Músculo digástrico anterior Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 17 mente, todavia não completamente sem a influência da outra. Um sólido entendimento da biomecânica da ATM é essencial e básico para o estudo da função e disfunção do sistema mas- tigatório. A ATM é uma articulação composta. Sua estrutura e função podem ser divididas em dois sistemas distintos: 1. O primeiro sistema articular são os tecidos que envol- vem a cavidade sinovial inferior (p. ex., o côndilo e o disco articular). Como o disco é firmemente ligado ao côndilo pelos ligamentos discais lateral e medial, o único movi- mento fisiológico que pode ocorrer entre estas superfícies é a rotação do disco na superfície articular do côndilo. O disco e sua inserção no côndilo são chamados complexo côn- dilo-disco; este sistema articular é responsável pelo movi- mento de rotação na ATM. 2. O segundo sistema é composto do complexo côndilo- disco trabalhando contra a superfície da fossa mandibu- lar. Como o disco não é firmemente preso à fossa mandi- bular, o movimento deslizante livre é possível entre estas superfícies na cavidade superior. Este movimento ocorre quando a mandíbula se move para frente (chamado de translação). A translação ocorre nesta cavidade articular superior, entre a superfície superior do disco articular e a fossa mandibular (Fig. 1-29). Dessa forma, o disco articu- lar age como um osso não calcificado, contribuindo para ambos os sistemas articulares e, portanto, a função do disco justifica a classificação da ATM como uma articula- ção composta verdadeira. O disco articular tem sido referido como um menisco. Entretanto, ele não é um menisco. Por definição, um menisco é uma fibrocartilagem em forma de cunha presa de um lado à cápsula articular e solta do outro lado, estendendo-se livre- mente nos espaços articulares. Um menisco não divide uma cavidade articular, isolando o líquido sinovial, nem atua como determinante do movimento articular. Ao invés disso, ele atua passivamente, facilitando o movimento entre as partes ósseas. Meniscos típicos são encontrados na articulação do joelho. Na ATM o disco atua como uma verdadeira superfície articular em ambos os sistemas articulares e, dessa forma, é mais correto chamá-lo de disco articular. Agora que os dois sistemas articulares individuais foram descritos, a ATM como um todo pode voltar a ser considerada. As superfícies articulares da articulação não possuem junção ou união estrutural, no entanto, o contato deve ser mantido constantemente para uma estabilidade articular adequada. A estabilidade da articulação é mantida pela constante ativi- dade dos músculos que cruzam a articulação, principalmente os elevadores. Mesmo no estado de repouso estes múscu- los estão num estado de contração moderada chamada tônus (esta característica é discutida no Capítulo 2). À medida que a atividade muscular aumenta, o côndilo é forçado com maior intensidade contra o disco e o disco contra a fossa, resul- tando num aumento da pressão interarticular* dessas estru- turas articulares.27-29 Na ausência de pressão interarticular, as superfícies articulares irão se separar e a articulação vai, tecnicamente, se deslocar. A largura do espaço do disco articular varia com a pres- são interarticular. Quando a pressão é baixa, como na posi- ção fechada de repouso, o espaço do disco se alarga. Quando Fig. 1-28 O movimento da cabeça e do pescoço é resultado dos esfor- ços refinadamente coordenados de muitos músculos. Os músculos da mastigação representam somente uma parte deste sistema complexo. Fig. 1-29 Movimento normal do côndilo e do disco durante a abertura da boca. Assim que o côndilo se move para fora da fossa, o disco gira posteriormente no côndilo, ao redor da inserção dos ligamentos colaterais dis- cais. O movimento de rotação ocorre predominantemente no espaço articular inferior, enquanto a translação ocorre, predominantemente, no espaço articular superior. *Pressão interarticular é a pressão entre as superfícies articulares da articulação. Músculos supra-hióideos Osso hióide Músculos infra-hióideos Músculo esternocleido- mastóideo 18 Anatomia Funcional a pressão é alta, como durante o apertamento dentário, o espaço do disco se estreita. O contorno e o movimento do disco permitem contato constante das superfícies articulares da articulação, o que é necessário para a estabilidade articu- lar. Quando a pressão interarticular aumenta, o côndilo fica assentado na zona mais fina, intermediária, do disco. Quando a pressão diminui e o espaço do disco é aumentado, uma por- ção mais grossa do disco rota para preencher o espaço. Como as bandas anterior e posterior do disco são mais largas do que a zona intermediária, tecnicamente o disco poderia rotar tanto anterior quanto posteriormente para cumprir esta fun- ção. A direção de rotação do disco não é determinada alea- toriamente, mas pelas estruturas que se prendem às bordas anteriores e posteriores do disco. Na borda posterior do disco articular estão inseridos os tecidos retrodiscais, algumas vezes referidos como ligamento posterior. Como mencionado anteriormente, a lâmina retrodis- cal superior é composta de uma quantidade variada de tecido conjuntivo elástico. Como este tecido possui propriedades elásticas e como na posição de boca fechada ele se apresenta dobrado sobre ele mesmo, o côndilo pode se mover para fora da fossa facilmente, sem criar qualquer dano à lâmina retro- discal superior. Quando a boca está fechada (posição articu- lar de fechamento), a tração elástica no disco é mínima ou nenhuma. Entretanto, durante a abertura mandibular, quando o côndilo é tracionado para frente e para baixo pela eminên- cia articular, a lâmina retrodiscal superior se torna muito dis- tendida, gerando forças para retração do disco. Na posição totalmente para frente, a força de retração posterior no disco criada pela tensão da distensão da lâmina retrodiscal supe- rior está no máximo. A pressão interarticular e a morfologia do disco evitam que este seja retraído de forma exagerada. Em outras palavras, quando a mandíbula se movimenta para uma posição totalmente para frente e durante o seu retorno, a força de retração da lâmina retrodiscal superior segura o disco em uma rotação tão posterior no côndilo quanto a largura doespaço articular do disco permitir. Este é um importante princípio no entendimento da função articular. Igualmente importante é ter em mente que a lâmina retrodiscal superior é a única estrutura capaz de retrair o disco posteriormente no côndilo, embora esta força de retração esteja presente somente durante movimentos de grande abertura. Inserido na borda anterior do disco articular está o mús- culo pterigóideo lateral superior. Quando este músculo está ativo, as fibras que estão inseridas no disco o tracionam anterior e medialmente. Dessa forma, o pterigóideo lateral superior é, tecnicamente, um protrator do disco. Lembre-se, entretanto, que este músculo também está inserido no colo do côndilo. Esta inserção dual não permite que o músculo tracione o disco para o espaço discal. A protração do disco, portanto, não ocorre durante a abertura mandibular. Quando o pterigóideo lateral inferior está protruindo o côndilo para frente, o pterigóideo lateral superior está inativo e, portanto, não carrega o disco para frente com o côndilo. O pterigóideo lateral superior é ativado somente em conjunto com a ativi- dade dos músculos elevadores durante o fechamento mandi- bular ou durante um golpe de força. É importante entender as características que levam o disco a se mover para frente com o côndilo na ausência de atividade do pterigóideo lateral superior. O ligamento capsular anterior une o disco à margem anterior da superfície articular do côn- dilo (Fig. 1-14). Além disso, a lâmina retrodiscal inferior une a extremidade posterior do disco à margem posterior da super- fície articular do côndilo. Ambos os ligamentos são compos- tos de fibras colágenas e não se estiram. Portanto, uma supo- sição lógica é que eles forçam o disco a transladar para frente com o côndilo. Apesar de lógica, esta suposição é incorreta: essas estruturas não são responsáveis pelo movimento do disco com o côndilo. Ligamentos não participam ativamente na função articular normal, mas somente restringem passiva- mente movimentos extremos. O mecanismo pelo qual o disco é mantido com o côndilo durante a translação depende da morfologia do disco e da pressão interarticular. Na presença de um disco articular com forma normal, a superfície articular do côndilo se mantém na zona intermediária, entre as duas porções mais grossas. À medida que a pressão interarticular é aumentada, o espaço do disco se estreita, o que intensifica o assentamento do côndilo na zona intermediária. Durante a translação a combinação da morfologia do disco com a pressão interarticular mantém o côndilo na zona intermediária e o disco é forçado a transladar para frente com o côndilo. Portanto, a morfologia do disco é extremamente importante em manter a posição correta durante a função. A morfologia correta junto à pressão interarticular resultam numa importante característica de autoposicionamento do disco. Somente quando a morfologia do disco tiver sido muito alterada é que as junções ligamentosas do disco afe- tarão a função articular. Quando isto ocorre, a biomecânica da articulação é alterada e começam os sinais da disfunção. Estas condições serão discutidas em detalhes em capítulos posteriores. Como a maioria dos músculos, o pterigóideo lateral supe- rior é mantido constantemente em um estado moderado de contração ou tônus, o que exerce uma suave força anterior e medial no disco. Na posição fechada de repouso articular, esta força anterior e medial normalmente irá exceder a força posterior elástica de retração proveniente da lâmina retro- discal superior não estirada. Portanto, na posição fechada de repouso articular, quando a pressão interarticular é baixa e o espaço do disco está aumentado, o disco ocupará a posi- ção rotatória mais anterior sobre o côndilo permitida pela largura do espaço. Em outras palavras, no repouso, com a boca fechada, o côndilo estará posicionado em contato com as zonas intermediária e posterior do disco. Este relacionamento do disco é mantido durante peque- nos movimentos passivos mandibulares de rotação e trans- lação. Assim que o côndilo se movimenta para frente o sufi- ciente para causar uma força de retração da lâmina retrodiscal superior maior do que a força do tônus muscular do pterigói- deo lateral superior, o disco é rotacionado posteriormente na extensão permitida pela largura do espaço do disco articular. Quando o côndilo retorna para a posição fechada de repouso articular, novamente o tônus do pterigóideo lateral superior se torna a força predominante e o disco é reposicionado para frente tanto quanto o espaço do disco permitir (Fig. 1-30). A importância funcional do músculo pterigóideo lateral superior se torna óbvia quando se observa os efeitos da resis- tência durante a mastigação unilateral. Quando mordemos Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 19 uma substância dura de um lado (p. ex., uma carne dura), as ATMs não recebem igualmente a mesma carga. Isto ocorre porque a força de fechamento não é aplicada sobre a articu- lação, mas sim sobre o alimento. A mandíbula é apoiada ao redor do alimento duro causando um aumento da pressão interarticular na articulação contralateral e uma diminuição repentina da pressão interarticular na articulação ipsilateral (do mesmo lado).30,31 Isto pode levar à separação das super- fícies articulares, resultando num deslocamento da articu- lação ipsilateral. Para evitar este deslocamento, o músculo pterigóideo lateral superior se torna ativo quando há força de resistência, rotacionando o disco para frente sobre o côndilo, de maneira que a borda posterior mais espessa do disco mantenha o contato articular. Dessa forma, a estabilidade articular é mantida durante o golpe de força da mastigação. À medida que os dentes atravessam o ali- mento e se aproximam da intercuspidação, a pressão inte- rarticular é aumentada. Quando a pressão interarticular é aumentada na articulação, o espaço do disco é diminuído e o disco é mecanicamente rotacionado posteriormente, de modo que a zona intermediária mais fina ocupe o espaço. Quando a força de fechamento é interrompida, a posição fechada de repouso articular é reassumida (Fig. 1-30). O entendimento desses conceitos básicos do funciona- mento da ATM é essencial para a compreensão da disfunção articular. O funcionamento biomecânico normal da ATM deve seguir os princípios ortopédicos apresentados. Os clínicos deveriam lembrar o seguinte: 1. Os ligamentos não participam ativamente no funciona- mento normal da ATM. Eles atuam como conectores-guia, restringindo certos movimentos articulares, enquanto permitem outros. Eles restringem os movimentos arti- culares tanto mecanicamente quanto pela atividade de reflexo neuromuscular (Capítulo 2). 1 2 3 4 5 6 7 8 Fig. 1-30 Movimento funcional normal do côndilo e do disco durante toda a fase de abertura e fechamento. O disco é rotacionado posteriormente no côndilo quando este faz translação para fora da fossa. O movimento de fechamento é o exato oposto da abertura. O disco é sempre mantido entre o côndilo e a fossa. 20 Anatomia Funcional 12. Stegenga B, de Bont LG, Boering G, van Willigen JD: Tissue responses to degenerative changes in the temporomandibular joint: a review, J Oral Maxillofac Surg 49:1079-1088, 1991. 13. Fernandes PR, de Vasconsellos HA, Okeson JP, Bastos RL, Maia ML: The anatomical relationship between the position of the auriculo- temporal nerve and mandibular condyle, Cranio 21:165-171, 2003. 14. Tanaka TT: TMJ microanatomy: an approach to current controversies, Chula Vista, Calif, 1992, Clinical Research Foundation. 15. Guyton AC: Textbook of medical physiology, ed 8, Philadelphia, 1991, Saunders, p 1013. 16. Du Brul EL: Sicher’s oral anatomy, ed 7, St Louis, 1980, Mosby. 17. 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Este contato é produzido pelos músculos que puxam através das articulações (os eleva- dores: temporal, masseter e pterigóideo medial). Um sólido entendimento desses princípios é necessário para a avaliação e tratamento das várias desordens que serão abordadas por todo este livro. Referências 1. Wink CS, St Onge M, Zimny ML: Neural elements in the human tem- poromandibular articular disc, J Oral Maxillofac Surg 50:334-337, 1992. 2. Ichikawa H, Wakisaka S, Matsuo S, Akai M: Peptidergic innervation of the temporomandibular disk in the rat, Experientia 45:303-304, 1989. 3. Westesson PL, Kurita K, Eriksson L, Katzberg RH: Cryosectional obser- vations of functional anatomy of the temporomandibular joint, Oral Surg Oral Med Oral Pathol 68:247-255, 1989. 4. Sahler LG, Morris TW, Katzberg RW, Tallents RH: Microangiography of the rabbit temporomandibular joint in the open and closed jaw positions, J Oral Maxillofac Surg 48:831-834, 1990. 5. 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Elas também são determinadas por várias forças controladoras, como aquelas proporcionadas pelos tecidos moles circundantes. Este capítulo está dividido em três seções. A primeira seção discute os fatores e forças que determinam a posição dentária nos arcos dentais. A segun- da descreve o relacionamento normal dos dentes enquan- to alinhados nos arcos (alinhamento intra-arco). A terceira seção descreve o relacionamento normal dos arcos entre si quando eles ocluem (alinhamento inter-arcos). FATORES E FORÇAS QUE DETERMINAM A POSIÇÃO DO DENTE O alinhamento da dentição nos arcos dentários ocorre como resultado de forças multidirecionais complexas atuando nos dentes durante e após a erupção. Quando os dentes erup- cionam eles são direcionados para uma posição onde forças opostas estão em equilíbrio. As principais forças opostas que infl uenciam a posição dentária originam-se da muscula- tura circundante. Vestibular aos dentes estão os lábios e as bochechas que proporcionam forças linguais relativamente leves, mas constantes. Do lado oposto dos arcos dentários está a língua, que produz forças vestibulares sobre a super- fície lingual dos dentes. Ambas as forças, aplicadas na face pelos lábios e bochechas e na face lingual pela língua, são leves, porém constantes. Estas são os tipos de força que a qualquer momento podem mover os dentes dentro dos ar- cos dentários. Há uma posição dentária na cavidade oral onde as forças vestíbulo-linguais e buco-linguais se igualam. Nesta posição neutra ou espaço a estabilidade do dente é alcançada (Fig. 3-1). Se durante a erupção um dente é posicionado exagerada- mente para lingual ou vestibular, a força dominante (língua, se em línguo-versão, lábios e bochechas, se em vestíbulo- versão) levará aquele dente para a posição neutra. Isto ocor- re normalmente quando há espaço adequado para os dentes no arco dental. Se o espaço não for adequado, as forças mus- culares circundantes geralmente não serão sufi cientes para posicionar o dente em seu alinhamento correto na arcada. O dente, então, permanece fora da posição normal na arcada e o apinhamento é observado. Este apinhamento permanece até que forças externas adicionais venham a corrigir a dis- crepância entre o tamanho dodente e o comprimento da arcada (i.e., ortodontia). Mesmo após a erupção, qualquer mudança ou ruptura na magnitude, direção ou freqüência dessas forças musculares tenderá a mover o dente para uma posição onde as forças estão novamente em equilíbrio. Este tipo de ruptura pode ocorrer se a língua for extraordinariamente ativa ou grande. Isto pode resultar na aplicação de forças mais fortes na face lingual dos dentes do que na face vestibular pelos lábios. O espaço neutro não se perde, porém é deslocado para vesti- bular. Isto geralmente faz com que os dentes anteriores se abram na direção vestibular até que eles cheguem a uma posição onde as forças labiais e linguais estejam de novo em equilíbrio. Clinicamente isto se apresenta como uma mor- dida aberta anterior (Fig. 3-2). Se for pedido a um indivíduo com esta condição que ele degluta, a língua preencherá o espaço anterior (Fig. 3-2, B e D). Originalmente, assumia-se que forças aplicadas pela língua durante este tipo de deglu- tição eram responsáveis pelo deslocamento vestibular ou abertura dos dentes anteriores. Evidências recentes não dão apoio a este conceito. Na verdade, a maior probabilidade é que os dentes anteriores sejam deslocados para vestibular pela constante posição de repouso ou posição postural da língua, e não pela atividade de deglutição.1 A interposição lingual para frente durante uma deglutição é, provavelmen- te, mais associada à tentativa do paciente de selar a boca, que é necessário para a deglutição efi ciente. O clínico deveria lembrar que estas forças musculares estão atuando constantemente para regular a função dos dentes. Forças que não se originam diretamente da muscu- latura oral, mas associadas a hábitos orais, podem também infl uenciar a posição dos dentes. Morder constantemente um cachimbo, por exemplo, pode alterar a posição do dente. 48 Anatomia Funcional Instrumentos musicais posicionados entre os dentes supe- riores e inferiores (p. ex., uma clarineta) podem gerar forças vestibulares nas superfícies linguais dos dentes superiores anteriores, resultando numa abertura labial. Quando uma posição anormal do dente é identifi cada, é importante per- guntarmos sobre estes tipos de hábitos. Se a etiologia do posicionamento não for eliminada, a correção da posição do dente irá fracassar. As superfícies proximais dos dentes também estão sujei- tas a uma variedade de forças. O contato proximal entre os dentes adjacentes ajuda a manter os dentes no alinhamento normal. Uma resposta funcional do osso alveolar e das fi - bras gengivais que envolvem os dentes parece resultar num deslocamento mesial dos dentes em direção à linha média. Durante a mastigação um movimento ligeiramente buco-lin- gual dos dentes, assim como vertical, com o tempo resultará num desgaste das áreas de contato proximal. À medida que estas áreas se desgastam, o deslocamento mesial ajuda a manter o contato entre os dentes adjacentes, e dessa forma estabiliza o arco. O deslocamento mesial torna-se mais evi- dente quando a superfície de um dente posterior é destruída por cáries ou quando um dente é extraído. Com a perda do contato proximal, o dente distal ao local da extração deslo- car-se-á mesialmente para o espaço, o que (especialmente na área de molar) em geral leva o dente a se inclinar para o espaço. Outro fator importante que ajuda a estabilizar o alinha- mento dentário é o contato oclusal, que impede a extrusão ou a sobre-erupção dos dentes, e dessa forma mantém a es- tabilidade do arco. Cada vez que a mandíbula se fecha, o padrão único de contato oclusal reforça e mantém a posição dentária. Se uma porção da superfície oclusal do dente é perdida ou alterada, a dinâmica das estruturas de suporte periodontais permitirá um movimento do dente. Dentes an- tagônicos provavelmente erupcionarão além do normal até que o contato oclusal seja restabelecido. Dessa forma, quan- do um dente é perdido, não somente o dente distal poderá se mover mesialmente, como o dente antagônico poderá erupcionar à procura de contato oclusal (Fig. 3-3). Portanto, torna-se evidente que os contatos proximais e oclusais são importantes para manter o alinhamento dentário e a inte- gridade dos arcos. O efeito de um dente perdido pode ser dramático na perda da estabilidade dos arcos dentários. ALINHAMENTO DENTÁRIO INTRA-ARCO O alinhamento dentário intra-arco se refere ao relacionamento dos dentes entre si dentro do arco dentário. Esta seção des- creve as características intra-arco normais dos dentes maxi- lares e mandibulares. O plano de oclusão é o plano que seria estabelecido se uma linha fosse traçada em todas as pontas das cúspides vesti- bulares e bordas incisais dos dentes inferiores (Fig. 3-4), se abrindo, então, num plano para incluir as pontas de cúspides linguais e estender-se através do arco para incluir as pontas das cúspides vestibular e lingual do lado oposto. Quando o plano de oclusão é examinado, fi ca claro que ele não é plano. As duas articulações temporomandibulares, que raramente funcionam com movimentos simultâneos e idênticos, deter- minam a maior parte do movimento que é detectável. Como a maioria dos movimentos mandibulares é complexa, com os centros de rotação deslocando-se constantemente, um plano oclusal reto não permitiria contato funcional simultâ- neo em mais de uma área do arco dentário. Assim sendo, os planos oclusais dos arcos dentários são curvados de manei- ra a permitir a máxima utilização dos contatos dentários du- rante a função. A curvatura do plano oclusal é basicamente um resultado do fato de que os dentes estão posicionados nos arcos com variados graus de inclinação. Quando se examina os arcos sob uma vista lateral, o re- lacionamento axial mesiodistal pode ser visto. Se traçarmos linhas através do longo eixo das raízes de maneira oclusal através das coroas (Fig. 3-5), a angulação dos dentes em re- lação ao osso alveolar pode ser observada. Na arcada infe- rior, tanto os dentes anteriores como os posteriores estão mesialmente inclinados. O segundo e o terceiro molares são mais inclinados do que os pré-molares. Na arcada superior Fig. 3-1 POSIÇÃO NEUTRA. Esta é a posição do dente quando as forças linguais estão em equilíbrio com as forças vestibulares (lábios e bochechas). Ela existe para os dentes anteriores e pos- teriores. Posicionamento e Oclusão Dental 49 existe um padrão diferente de inclinação (Fig. 3-6). Os den- tes anteriores geralmente estão inclinados mesialmen- te, com os molares mais posteriores estando distalmente inclinados. Se sob uma vista lateral traçarmos uma linha imaginária através das pontas de cúspides vestibulares dos dentes posteriores (molares e pré-molares), uma linha curva que acompanha o plano oclusal será estabelecida (Fig. 3-4, A), que é convexa para o arco superior e côncava para o arco inferior. Estas linhas convexa e côncava se encaixam per- feitamente quando os arcos se ocluem. Esta curvatura dos arcos dentários foi primeiramente descrita por von Spee2 e por isso é chamada de curva de Spee. Quando observamos os arcos dentários por meio de uma visão frontal, é possível ver o relacionamento axial buco-lin- gual. Geralmente os dentes posteriores do arco superior têm uma inclinação ligeiramente vestibular (Fig. 3-7). Na arcada inferior os dentes posteriores têm uma inclinação levemen- te lingual (Fig. 3-8). Se uma linha é traçada através das pon- tas das cúspides vestibulares e linguais de ambos os lados dos dentes posteriores, um plano oclusal curvado será ob- servado (Fig. 3-4, B). A curvatura é convexa no arco superior e côncava no arco inferior. Novamente, se levarmos as arca- das a se ocluírem, as curvaturas dos dentes encaixar-se-ão A B C D Fig. 3-2 A, Mordida aberta anterior em um adulto associada a uma língua grande e ativa. B, Durantea deglutição a língua é vista preenchendo o espaço anterior de maneira que a boca pode ser selada para a deglutição. C, Um indivíduo jovem que desenvolveu uma mordida aberta anterior secundariamente a uma língua ativa. D, Durante a deglutição, a língua é vista preenchendo o espaço anterior, permitindo que o indi- víduo degluta. (Cortesia do Dr. Preston E. Hicks, University of Kentucky College of Dentistry, Lexington.) Fig. 3-3 A perda de um único dente pode ter efeitos signifi cantes na estabilidade de ambos os arcos. Observe que com a perda do primeiro molar inferior, o segundo e terceiro molares inferiores se inclinam mesialmente, o segundo pré-molar move-se para a distal e o primeiro molar superior antagônico é deslocado para baixo (supererupcionado). 50 Anatomia Funcional Fig. 3-5 ANGULAÇÃO DOS DENTES INFERIORES. Observe que tanto os den- tes anteriores como os posteriores estão inclinados para a mesial. (De Dempster WT, Adams WJ, Duddles RA: Arrangement in the jaws of the roots of the teeth, J Am Dent Assoc 67: 779-797, 1963). perfeitamente. Esta curvatura no plano oclusal observada frontalmente é chamada de curva de Wilson. Desde o princípio na Odontologia, observadores procu- raram desenvolver fórmulas padronizadas que pudessem descrever o relacionamento entre arcadas. Bonwill,3 um dos primeiros a descrever os arcos dentários, notou que havia um triângulo eqüilátero entre o centro dos côndilos e a área mesial de contato dos incisivos centrais inferiores. Ele o descreveu como tendo lados de 10 cm. Em outras palavras, a distância da área mesial de contato do incisivo central in- ferior até o centro de quaisquer dos côndilos era de 10 cm, e a distância entre os centros dos côndilos era de 10 cm. Em 1932, Monson4 utilizou o triângulo de Bonwill e propôs uma teoria na qual existia uma esfera com um raio de 10 cm, cujo centro estava a uma distância igual das superfícies oclusais dos dentes posteriores e dos centros dos côndilos. Apesar de esses conceitos estarem relativamente corretos, foram ultra-simplifi cados e não seriam aplicáveis a todas as situações. Reagindo a estas teorias simplistas, pesquisado- res começaram tanto a defender como a atacar essas idéias. Dessa controvérsia surgiram as teorias de oclusão que são aplicadas à Odontologia até hoje. As superfícies oclusais dos dentes são compostas por numerosas cúspides, reentrâncias e sulcos. Durante a fun- ção esses elementos oclusais permitem a quebra efi ciente do alimento e a mistura com a saliva para formar um bolo que é facilmente deglutido. Objetivando o estudo, as super- fícies oclusais dos dentes posteriores podem ser divididas em diversas áreas. A área do dente entre as pontas de cúspi- des vestibular e lingual dos dentes posteriores é chamada de mesa oclusal (Fig. 3-9). É nessa área que a maioria das forças de mastigação é aplicada. A mesa oclusal representa aproxi- madamente 50% a 60% da dimensão buco-lingual total dos dentes posteriores e está posicionada sobre o longo eixo da A B Fig. 3-4 PLANO DE OCLUSÃO. A, Curva de Spee. B, Curva de Wilson. DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares MOLARES INFERIORES Raízes mesiais Raízes distais Posicionamento e Oclusão Dental 51 Fig. 3-6 ANGULAÇÃO DOS DENTES SUPERIORES. Os dentes anteriores estão incli- nados mesialmente, enquanto os dentes mais pos- teriores tornam-se mais inclinados para a distal em relação ao osso alveolar. (De Dempster WT, Adams WJ, Duddles RA: Arrangement in the jaws of the roots of the teeth, J Am Dent Assoc 67:779-797, 1963.) DENTES UNIRRADICULARES estrutura radicular. É considerada como o aspecto interno do dente porque ela se situa entre as pontas de cúspides. De modo parecido, a área oclusal fora das pontas das cúspides é chamada de aspecto externo. Os aspectos internos e externos do dente são compostos de vertentes que se estendem des- de a ponta da cúspide até a fossa central (FC), ou até a altura do contorno das superfícies vestibular e lingual dos dentes. Dessa forma essas vertentes são chamadas vertentes internas ou externas (Fig. 3-10). As vertentes interna ou externa são mais bem identifi cadas pela descrição da cúspide em que ela está. Por exemplo, a vertente interna da cúspide vesti- bular do primeiro pré-molar superior direito identifi ca uma Fig. 3-7 ANGULAÇÃO DOS DENTES SUPERIORES. Observe que todos os dentes posteriores estão ligeiramente inclinados para vestibular. (De Dempster WT, Adams WJ, Duddles RA: Arrangement in the jaws of the roots of the teeth, J Am Dent Assoc 67:779-797, 1963). DENTES UNIRRADICULARES Incisivos Caninos Pré-molares PRIMEIRO PRÉ-MOLAR Raízes vestibulares Raízes palatinas MOLARES SUPERIORES Raízes mesiovestibulares Raízes distovestibulares Raízes palatinas Incisivos Caninos Pré-molares PRIMEIRO PRÉ-MOLAR Raízes vestibulares Raízes palatinas MOLARES SUPERIORES Raízes mesio-vestibulares Raízes distovestibulares Raízes palatinas 52 Anatomia Funcional Fig. 3-8 ANGULAÇÃO DOS DENTES INFERIORES. Observe que todos os dentes posteriores estão ligeiramente inclinados para a lingual. (De Dempster WT, Adams WJ, Duddles RA: Arrangement in the jaws of the roots of the teeth, J Am Dent Assoc 67:779-797, 1963). Fig. 3-9 Mesa oclusal de um pré-molar superior. área específi ca no arco dentário. As vertentes dos dentes também são identifi cadas com respeito à superfície para a qual se dirigem (i.e., mesial ou distal). Superfícies inclina- das mesialmente são aquelas que se voltam para a parte mesial do dente, e superfícies distalmente inclinadas são aquelas que se voltam para a parte distal (Fig. 3-11). ALINHAMENTO DENTÁRIO INTERARCO O alinhamento dentário interarco refere-se à relação dos dentes de um arco com aqueles do outro arco. Quando as duas ar- cadas se encontram, como no fechamento mandibular, a re- lação oclusal dos dentes é estabelecida. Esta seção descre- ve as características interarco normais dos dentes maxilares e mandibulares em oclusão. Os dentes maxilares e mandibulares ocluem de uma maneira precisa e exata. A distância de uma linha que se inicia na superfície distal do terceiro molar se estende me- sialmente sobre todas as áreas de contato proximais por todo o arco, e termina na superfície distal do terceiro mo- lar oposto, representa o comprimento do arco. As duas arcadas têm, aproximadamente, o mesmo comprimento, sendo a arcada mandibular ligeiramente menor (arcada maxilar, 128 mm; arcada mandibular, 126 mm).5 Esta ligeira diferença é resultado da distância mesiodistal mais estreita dos incisi- DENTES UNIRRADICULARES Mesa oclusal (50% a 60%) Fig. 3-10 Vertentes interna e externa de um pré-molar superior.. Vertente externa Incisivos Caninos Pré-molares MOLARES INFERIORES Raízes mesiais Raízes distais Largura total buco-lingual (100%) Vertente interna Vertente externa Posicionamento e Oclusão Dental 53 vos inferiores quando comparados aos incisivos superiores. A largura do arco é a distância através da arcada. A largura do arco mandibular é ligeiramente menor do que a do arco ma- xilar; assim sendo, quando as arcadas se ocluem cada dente superior está posicionado mais vestibularmente do que os dentes inferiores correspondentes. Como os dentes superiores estão posicionados mais vestibularmente (ou pelo menos têm maior inclinação ves- tibular), a relação oclusal normal dos dentes posteriores é que as cúspides vestibulares inferiores ocluam nas áreas da FC dos dentes superiores. Da mesma forma, as cúspides palatinas superiores ocluem nas áreas da FC dos dentes in- feriores (Fig. 3-12). Esta relação oclusal protege os tecidos moles circundantes. As cúspides vestibulares dos dentes superiores evitam que a mucosa bucal dabochecha e dos lábios se interponha entre a superfície oclusal dos dentes durante a função. Assim, também, as cúspides linguais dos dentes inferiores ajudam a evitar que a língua se interponha entre os dentes superiores e inferiores. O papel da língua, bochechas e lábios é logicamente im- portante durante a função porque eles continuamente reco- locam o alimento nas superfícies oclusais dos dentes para uma divisão mais efi ciente. A relação buco-lingual normal ajuda a maximizar a efi ciência da musculatura enquanto mi- nimiza qualquer trauma ao tecido mole (mordida na boche- cha ou na língua). Ocasionalmente, devido às discrepâncias no tamanho esquelético da arcada ou do padrão de erupção, os dentes ocluem de tal forma que as cúspides vestibulares superiores contatam a FC dos dentes inferiores. Esta relação é chamada de mordida cruzada (Fig. 3-13). As cúspides vestibulares dos dentes inferiores posterio- res e as cúspides linguais dos dentes superiores posteriores ocluem com as áreas da FC antagônica. Estas cúspides são chamadas de cúspides de suporte, ou cúspides cêntricas, e são res- ponsáveis, principalmente, por manterem a distância entre a maxila e a mandíbula. Esta distância sustenta a altura ver- tical da face e é chamada de dimensão vertical de oclusão. Estas cúspides também desempenham um importante papel na mastigação, pois o contato ocorre tanto no aspecto interno como no aspecto externo das cúspides. As cúspides cêntri- cas são amplas e arredondadas. Quando observadas pela oclusal, suas pontas estão localizadas a aproximadamente um terço da distância da largura buco-lingual total do dente (Fig. 3-14). As cúspides vestibulares dos dentes superiores posterio- res e as cúspides linguais dos dentes inferiores posteriores são chamadas de cúspides-guia ou cúspides não cêntricas. Elas são relativamente pontiagudas, com pontas bem defi nidas, que se localizam a aproximadamente um sexto da distância da largura total buco-lingual do dente (Fig. 3-14). Uma pe- quena área das cúspides não cêntricas pode ter signifi cado funcional. Esta área está localizada na vertente interna das cúspides não cêntricas, perto da FC do dente e/ou encosta- da em ou próxima a uma pequena parte do aspecto externo da cúspide cêntrica antagônica. A pequena área da cúspi- de cêntrica (cerca de 1 mm) é a única área na qual um as- Fig. 3-11 VERTENTES MESIAIS (VM) E VERTENTES DISTAIS (VD). Uma vertente adjacente à cada ponta de cúspide posterior é demonstrada. VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD Fig. 3-12 RELAÇÃO DE ARCO BUCO-LINGUAL NOR- MAL. As cúspides vestibulares inferiores ocluem na fossa central dos dentes superiores e as cúspides palatinas ocluem na fossa cen- tral dos dentes inferiores. Fig. 3-13 MORDIDA CRUZADA POSTERIOR. Quando exis- te esta condição, as cúspides linguais inferiores ocluem na fossa central dos dentes superiores e as cúspides vestibulares superiores ocluem na fossa central dos dentes inferiores. VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD VM VD 54 Anatomia Funcional pecto externo tem algum signifi cado funcional. Esta área foi assim chamada de aspecto funcional externo. Um pequeno aspecto externo em cada cúspide cêntrica pode funcionar contra a vertente interna da cúspide não cêntrica (Fig. 3- 15). Como essa área ajuda na divisão do alimento durante a mastigação, as cúspides não cêntricas também têm sido chamadas de cúspides de cisalhamento. A função principal das cúspides não cêntricas é minimi- zar o impacto tecidual, como já foi mencionado, e manter o bolo alimentar na mesa oclusal para mastigação. As cúspides não cêntricas também dão estabilidade mandibular, de ma- neira que quando os dentes estão totalmente ocluí dos haja uma relação oclusal exata e defi nida. Este relacionamento dos dentes na sua máxima intercuspidação é chamado de posição de máxima intercuspidação habitual (MIH). Se a mandíbula se mover lateralmente em relação a esta posição, o contato não cêntrico irá contatar e guiar a mandíbula. Da mesma forma, se a boca for aberta e depois fechada, as cúspides não cêntricas ajudarão a guiar a mandíbula de volta à MIH. Além disso, durante a mastigação estas cúspides terminam os contatos de guia que enviam informações ao sistema neuromuscular, que controla o movimento da mastigação. Assim sendo, é apropriado que as cúspides não cêntricas sejam também chamadas de cúspides-guia. RELAÇÃO DE CONTATO OCLUSAL BUCO-LINGUAL Quando os arcos dentários são vistos pela oclusal, alguns aspectos característicos podem ser visualizados, tornando- os úteis para compreender o relacionamento interoclusal dos dentes. 1. Se uma linha imaginária for estendida sobre todas as pontas das cúspides vestibulares dos dentes inferiores posteriores, a linha buco-oclusal (BO) é estabelecida. Num arco normal esta linha fl ui suave e continuamente, revelando a forma geral do arco. Ela também representa a demarcação entre os aspectos internos e externos das cúspides vestibulares (Fig. 3-16). 2. Da mesma maneira, se uma linha imaginária for esten- dida através das cúspides linguais dos dentes superio- res posteriores, a linha linguo-oclusal (LO) é observada. Esta linha revela a forma geral do arco e representa a demarcação entre os aspectos externos e internos destas cúspides cêntricas (Fig. 3-17). 3. Se uma terceira linha imaginária for estendida através dos sulcos centrais de desenvolvimento dos dentes pos- teriores, superiores e inferiores, a linha da FC será esta- belecida. Num arco normal bem alinhado, esta linha é contínua e revela a forma do arco (Fig. 3-18). Uma vez que a linha FC é estabelecida, é necessário ob- servar uma relação importante das áreas de contato proxi- mal. Estas áreas geralmente estão ligeiramente localizadas para vestibular em relação à linha FC (Fig. 3-19), o que pro- porciona um nicho lingual maior e um nicho vestibular me- nor. Durante a função, o nicho lingual maior atuará como principal área de escape para o alimento que está sendo mastigado. Quando ocluímos os dentes, a maior parte do alimento é levada para a língua, que é mais efi ciente em re- tomar a comida até a mesa oclusal do que o bucinador e a musculatura perioral. Para visualizar as relações buco-linguais dos dentes pos- teriores em oclusão, deve-se simplesmente combinar as li- nhas imaginárias apropriadas. Como é demonstrado na Fig. 3-20, a linha BO dos dentes inferiores oclui com a linha FC dos dentes superiores. Simultaneamente, a linha LO dos dentes superiores oclui com a linha FC dos dentes inferiores. 1/6 1/3 Fig. 3-14 PRIMEIRO MOLAR INFERIOR. A posição das pon- tas de cúspides cêntricas e não-cêntricas é demonstrada em relação à largura total buco-lingual do dente. Fig. 3-15 O aspecto funcional externo (AFE) da cúspide cêntrica é a única área da vertente externa com signifi cado funcional. AFE Fig. 3-16 Linha buco-oclusal (BO) do arco mandibular esquerdo. Linha BO AFE Posicionamento e Oclusão Dental 55 RELAÇÃO DE CONTATO OCLUSAL MESIODISTAL Como foi mencionado, os contatos oclusais ocorrem quan- do as cúspides cêntricas contatam a linha FC oposta. Visto pela vestibular, estas cúspides contatam, geralmente, em uma das duas áreas: (1) áreas da FC, e (2) áreas da crista marginal e do nicho. O contato entre as pontas de cúspide e as áreas da fossa central tem sido comparado à trituração do pistilo no gral. Quando duas superfícies curvas desiguais se encontram so- mente algumas partes se contatam em determinado tempo, deixando outras partes livres de contato para atuarem como áreas de escape para a substância que está sendo esma- gada. À medida que a mandíbula se movimenta durante a mastigação, áreas diferentes se contatam criando diferentes áreas de escape. Este movimento aumenta aefi ciência da mastigação. O segundo tipo de contato oclusal ocorre entre as pontas de cúspides e as cristas marginais. As cristas marginais são áreas ligeiramente elevadas e convexas nas bordas mesiais e distais das superfícies oclusais, onde se ligam à superfí- cie interproximal dos dentes. A parte mais elevada da crista marginal é somente um pouco convexa. Assim sendo, este tipo de contato é mais bem descrito como a ponta da cús- pide contatando uma superfície plana. Nesta relação a pon- ta da cúspide pode penetrar facilmente no alimento, sendo formadas áreas de escape em todas as direções. Conforme a mandíbula se move lateralmente, a área verdadeira de con- tato muda, aumentando a efi ciência da mastigação. Deve-se observar que a ponta de cúspide não é a única responsável pelo contato oclusal. Há uma área circular ao redor da ver- dadeira ponta da cúspide com um raio de aproximadamente 0,5 mm que proporciona área de contato com a superfície do dente antagonista. Quando o relacionamento dentário interarcos normal é visto pela lateral, pode-se observar que cada dente oclui com dois dentes antagonistas. No entanto, existem duas exceções à regra: os incisivos centrais inferiores e os ter- ceiros molares superiores. Nestes casos os dentes ocluem somente com um dente antagônico. Assim sendo, na ar- cada inteira cada dente oclui com seu correspondente na arcada oposta mais um dente adjacente. Esta relação de um dente para dois dentes ajuda a distribuir as forças oclu- sais a muitos dentes e, de forma geral, à toda a arcada. Isso também ajuda a manter alguma integridade do arco, mes- mo quando se perde um dente, uma vez que os contatos oclusais de estabilização ainda são mantidos pelos dentes remanescentes. Numa relação normal os dentes inferiores estão ligeira- mente posicionados para lingual e mesial em relação aos seus opostos. Isto ocorre tanto com os dentes posteriores Fig. 3-17 Linha linguo-oclusal (LO) do arco maxilar direito. Linha LO Fig. 3-18 Linha da fossa central (FC) dos arcos dentários esquerdos. Linha FC Linha FC 56 Anatomia Funcional como com os anteriores (Fig. 3-21). Ao examinar o padrão comum de contato dos arcos dentários é importante estudar os dentes posteriores e anteriores separadamente. RELAÇÃO OCLUSAL COMUM DOS DENTES POSTERIORES Ao se examinar a relação oclusal dos dentes posteriores, grande parte da atenção é direcionada para o primeiro mo- lar. O primeiro molar inferior geralmente está situado ligeira- mente para mesial em relação ao primeiro molar superior. Classe I As seguintes características identifi cam a relação molar mais comum encontrada na dentição natural, descrita origi- nalmente por Angle6 como uma relação de Classe I: 1. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior oclui na área do nicho entre o segundo pré-molar supe- rior e o primeiro molar. 2. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar superior alinha-se diretamente sobre o sulco vestibular do pri- meiro molar inferior. 3. A cúspide mesio-lingual do primeiro molar superior está situada na área da FC do primeiro molar inferior. Fig. 3-19 As áreas de contato proximal entre os dentes posteriores geralmente estão localizadas vestibulares à linha da fossa central. Área de nicho vestibular A B Fig. 3-20 RELAÇÃO OCLUSAL NORMAL DOS ARCOS DENTÁRIOS. A, As cúspides vestibu- lares (cêntricas) dos dentes inferiores ocluem na fossa central (FC) dos dentes superiores. B, As cúspides palatinas (cêntricas) dos dentes superiores ocluem na fossa central dos dentes inferiores. BO, Buco-oclusal; LO, linguo-oclusal. Linha FC Área de nicho lingual Linha BO Linha LO Linha FC Posicionamento e Oclusão Dental 57 Neste relacionamento cada dente inferior oclui com seu antagonista e com o dente mesiaI adjacente. (Por exemplo, o segundo pré-molar inferior contata tanto com o segundo pré-molar superior como com o primeiro pré-molar supe- rior.) Os contatos entre os molares ocorrem tanto nas pon- tas de cúspide e fossa como nas pontas de cúspide e cristas marginais. Há duas variações no padrão de contato oclusal, conside- rando-se as áreas de crista marginal. Em algumas ocasiões uma cúspide contata a área da ameia diretamente (e muitas vezes ambas as cristas marginais) resultando em dois con- tatos na área da ponta de cúspide (Fig. 3-22). Outras vezes a ponta da cúspide está posicionada de forma a contatar somente uma crista marginal, resultando em somente um contato na ponta da cúspide. Esta última situação será usa- da para descrever o relacionamento comum dos molares. A Fig. 3-23 mostra uma vista vestibular e um padrão típico de contato oclusal da relação molar de Classe I. Classe II Em alguns pacientes a arcada superior é maior ou se pro- jeta anteriormente, ou a arcada inferior é pequena ou posi- cionada posteriormente. Estas condições resultarão em um posicionamento do primeiro molar inferior distal à relação molar de Classe I (Fig. 3-24), descrito como uma relação mo- lar de Classe II. É geralmente descrita pelas seguintes carac- terísticas: 1. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior oclui na área da FC do primeiro molar superior. 2. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar inferior alinha-se com o sulco vestibular do primeiro molar su- perior. Fig. 3-21 RELAÇÃO INTERARCO DOS DENTES SUPE- RIORES E INFERIORES. (Os dentes inferiores estão somente delineados.) Cada dente posterior inferior está situado ligeiramen- te para a lingual e mesial em relação ao seu oposto. Fig. 3-22 Algumas cúspides cêntricas ocluem nos nichos entre os dentes antagonistas. Isto leva a dois contatos ao redor da ponta da cúspide (superior). Outras ocluem na área do nicho e contatam apenas uma crista marginal oposta (inferior). A B Fig. 3-23 RELAÇÃO INTERARCO DE UMA OCLUSÃO MOLAR DE CLASSE I. A, Vestibular. B, Oclusal mostrando áreas típicas de contato. 58 Anatomia Funcional 3. A cúspide distolingual do primeiro molar superior oclui na área da FC do primeiro molar inferior. Quando comparamos com a relação de Classe I, cada par de contato oclusal está situado distalmente, numa distância aproximada à largura mesiodistal de um pré-molar. Classe III Um terceiro tipo de relação molar, geralmente correspon- dente a um crescimento predominante da mandíbula, é chamado Classe III. Nesta relação o crescimento posiciona os molares inferiores mesialmente em relação aos molares superiores, como vistos na Classe I (Fig. 3-25). As caracterís- ticas da Classe III são as seguintes: 1. A cúspide distovestibular do primeiro molar inferior está situada no nicho entre o segundo pré-molar e o primeiro molar superior. 2. A cúspide mesio-vestibular do primeiro molar superior está situada sobre o nicho entre o primeiro e o segundo molar inferior. 3. A cúspide mesiolingual do primeiro molar superior está situada na fossa mesial do segundo molar inferior. Novamente, cada par de contato oclusal está situado mesialmente ao par de contato na relação de Classe I, a uma distância aproximada à largura de um pré-molar. A relação molar mais comumente encontrada é a Classe I. Embora as condições descritas para Classe II e Classe III sejam relativamente pouco comuns, as tendências para Clas- se II e Classe III são bastante comuns. Uma tendência para Classe II ou III descreve uma condição que não é Classe I, mas não é extrema o sufi ciente para se encaixar na descri- ção de Classe II ou III. Os dentes anteriores e seus contatos oclusais também podem ser afetados pelos padrões de cres- cimento. CONTATOS OCLUSAIS COMUNS DOS DENTES ANTERIORES À semelhança dos dentes posteriores superiores, os dentes anteriores superiores normalmente assumem um posicio- namento labial em relação aos dentes anteriores inferiores. Diferentemente dos dentesposteriores, no entanto, ambos os dentes anteriores, superiores e inferiores, se inclinam para vestibular, variando 12 a 28 graus de uma linha vertical de referência.7 Embora ocorra uma grande quantidade de variação, a relação normal encontrará as bordas incisais dos incisivos inferiores contatando as superfícies palatinas dos incisivos superiores. Estes contatos comumente ocorrem na fossa lingual dos incisivos superiores a aproximadamente 4 mm das bordas incisais. Em outras palavras, quando vistos pela vestibular, 3 a 5 mm dos dentes anteriores inferiores estão cobertos pelos dentes anteriores superiores (Fig. 3- 26). Como as coroas dos dentes anteriores inferiores têm A B Fig. 3-24 RELAÇÃO INTERARCO DE UMA OCLUSÃO MOLAR DE CLASSE II. A, Vestibular. B, Oclusal mostrando áreas típicas de contato. Fig. 3-25 RELAÇÃO INTERARCO DE UMA OCLUSÃO MOLAR DE CLASSE III. A, Vestibular. B, Oclusal mostrando áreas típicas de contato. Fig. 3-26 Normalmente os dentes ântero-superiores sobrepõem os dentes anteriores inferiores em quase a metade do comprimen- to de suas coroas. A B Posicionamento e Oclusão Dental 59 aproximadamente 9 mm de comprimento, um pouco mais da metade da coroa é ainda visível pelo lado vestibular. A inclinação vestibular dos dentes anteriores é indicati- va de uma função diferente daquela dos dentes posteriores. Conforme mencionado, a principal função dos dentes poste- riores é auxiliar efetivamente na quebra do alimento duran- te a mastigação, enquanto mantém a dimensão vertical de oclusão. Os dentes posteriores estão alinhados de tal forma que as forças verticais intensas de fechamento possam ser suportadas por eles sem efeito adverso aos dentes ou às es- truturas de suporte. A inclinação vestibular dos dentes ante- riores superiores e a maneira pela qual os dentes inferiores ocluem com eles não favorecem a resistência às forças oclu- sais intensas. Se durante o fechamento mandibular forças intensas ocorrerem sobre os dentes anteriores, a tendência é deslocar os dentes superiores vestibularmente. Assim sen- do, numa oclusão normal, os contatos dos dentes anteriores em MIH são muito mais leves do que os dos dentes poste- riores. Não é raro encontrar ausência de contato dos dentes anteriores na MIH. A fi nalidade dos dentes anteriores não é manter a dimensão vertical de oclusão, mas guiar a man- díbula durante os vários movimentos laterais. Os contatos dentários anteriores que fornecem guia para a mandíbula são chamados de guia anterior. A guia anterior tem um papel importante na função do sistema mastigatório. Suas características são ditadas pela exata posição e relação dos dentes anteriores, o que pode ser examinado tanto horizontal como verticalmente. A dis- tância horizontal pela qual os dentes anteriores superiores sobrepõem os anteriores inferiores, conhecida como a sobre- posição horizontal (algumas vezes chamada traspasse horizontal) (Fig. 3-27), é a distância entre a borda incisal vestibular dos incisivos superiores e a superfície vestibular dos incisivos inferiores na MIH. A guia anterior também pode ser exami- nada no plano vertical, conhecida como sobreposição verti- cal (algumas vezes chamada traspasse vertical). A sobreposição vertical é a distância entre as bordas incisais dos dentes anteriores opostos. Como já mencionado, a oclusão normal tem aproximadamente 3 a 5 mm de sobreposição vertical. Uma característica importante da guia anterior é determina- da pela inter-relação intrincada de ambos os fatores. Outra função importante dos dentes anteriores é iniciar o ato da mastigação. Os dentes anteriores incisam o alimen- to assim que ele é introduzido na cavidade oral. Uma vez incisado, ele é rapidamente levado aos dentes posteriores para uma divisão mais completa. Os dentes anteriores tam- bém desempenham um importante papel na fala, no supor- te labial e na estética. Em algumas pessoas esta relação normal dos dentes an- teriores não existe. As variações podem resultar de diferen- tes padrões de desenvolvimento e de crescimento. Algumas dessas relações têm sido identifi cadas através da utilização de termos específi cos (Fig. 3-28). Quando a pessoa tem uma mandíbula subdesenvolvida (relação molar de Classe II) os dentes anteriores inferiores geralmente contatam o terço gen- gival da superfície palatina dos dentes superiores. Esta rela- ção anterior é chamada de mordida profunda (traspasse vertical profundo). Se numa relação anterior de Classe II os incisivos centrais e laterais superiores estão com uma inclinação labial normal, então é considerada como uma divisão 1. Quando os incisivos superiores estão inclinados para a lingual, a relação anterior é classifi cada como Classe II, Divisão 2. Uma mordida extremamente profunda pode resultar em contato dos incisi- vos superiores com o tecido gengival do palato. Em outros indivíduos nos quais pode haver um cresci- mento mandibular acentuado, os dentes anteriores inferio- res geralmente estão posicionados para frente e contatam com as bordas incisais dos dentes anteriores superiores (re- lação molar de Classe III). Isto é chamado de relação topo a topo. Em casos extremos os dentes anteriores inferiores po- dem estar posicionados tão para frente que não há contato na posição de MIH (Classe III). Outra relação dos dentes anteriores é aquela que tem um traspasse vertical negativo. Em outras palavras, com os dentes posteriores em máxima intercuspidação, os den- tes anteriores opostos não se sobrepõem ou mesmo não se contatam. Esta relação anterior é chamada mordida aber- ta anterior. Numa pessoa com mordida aberta anterior não haverão contatos dentais anteriores durante o movimento mandibular. CONTATOS OCLUSAIS DURANTE O MOVIMENTO MANDIBULAR Até agora foram discutidas somente as relações estáticas dos dentes anteriores e posteriores. Deve-se lembrar, no en- Fig. 3-27 Relação interarco normal dos dentes anteriores mos- trando dois tipos de traspasse. TO, horizontal; TV, vertical. TV TO 60 Anatomia Funcional Movimento Mandibular Protrusivo Um movimento mandibular protrusivo ocorre quando a mandíbu- la se move para frente a partir da posição de MIH. Qualquer área de um dente que contate um dente oposto durante o movimento protrusivo é considerada como um contato pro- trusivo. Numa relação normal de oclusão os contatos protru- sivos predominantes ocorrem nos dentes anteriores entre as bordas incisais e vestibulares dos incisivos inferiores contra as áreas da fossa palatina e bordas incisais dos incisivos su- periores. Estes últimos são considerados as vertentes-guia dos dentes anteriores (Fig. 3-29). Nos dentes posteriores o movimento protrusivo leva as cúspides cêntricas inferiores tanto, que o sistema mastigatório é extremamente dinâmi- co. As articulações temporomandibulares e a musculatura associada permitem que a mandíbula se movimente em to- dos os três planos (sagitaI, horizontal e frontal). Juntamente com esses movimentos aparecem os contatos dentais em potencial. É importante compreender os tipos e locais dos contatos que ocorrem durante os movimentos mandibula- res básicos. O termo excêntrico tem sido usado para descrever qualquer movimento da mandíbula partindo da posição de MIH que resulte em contato dentário. Três movimentos ex- cêntricos básicos são discutidos: (1) protrusivo, (2) latero- trusivo e (3) retrusivo. A Fig. 3-28 A, Seis variações de relação dos dentes anteriores. Classe I (normal) Classe II, divisão 1 (mordida profunda) Classe II, divisão 2 Classe III (topo a topo) Classe III Mordida aberta anterior Posicionamento e Oclusão Dental 61 (vestibulares) a cruzar anteriormente as superfícies oclusais dos dentes superiores (Fig. 3-30). Os contatos protrusivos posteriores ocorrem entre as vertentes distais das cúspidespalatinas superiores com as vertentes mesiais das fossas e cristas marginais opostas. O contato protrusivo posterior também pode ocorrer entre as vertentes mesiais das cúspi- des vestibulares inferiores e as vertentes distais das fossas e cristas marginais opostas. Movimento Mandibular Lateroprotrusivo Durante um movimento mandibular lateral os dentes posteriores inferiores direito e esquerdo cruzam com seus antagonistas em diferentes direções. Se, por exemplo, a mandíbula se move lateralmente para a esquerda (Fig. 3-31), os dentes posteriores inferiores es- querdos irão se movimentar lateralmente sob seus dentes opostos. No entanto, os dentes posteriores inferiores direi- tos irão se movimentar medialmente em relação aos seus dentes opostos. As áreas potenciais de contato desses den- tes estão em diferentes locais e assim sendo são designados por nomes diferentes. Olhando mais atentamente os dentes posteriores no lado esquerdo durante um movimento late- ral esquerdo, observa-se que os contatos podem ocorrer em duas áreas de vertente. Uma é entre a vertente interna das cúspides vestibulares superiores e a vertente externa das cúspides vestibulares inferiores. A outra é entre as vertentes externas das cúspides palatinas e as vertentes internas das cúspides linguais inferiores. Ambos os contatos são chama- dos de laterotrusivos. Para diferenciar aqueles que ocorrem entre cúspides linguais opostas daqueles que ocorrem entre cúspides vestibulares opostas, o termo contato laterotrusivo lingual para lingual é usado para descrever o primeiro. O ter- mo contato de trabalho também é comumente usado para am- bos os contatos laterotrusivos. Como a maioria das funções F E CB D G Fig. 3-28, continuação. B, Classe I normal. C, Classe lI, divisão 1, mordida profunda. D, Classe lI, divisão 2. E, Classe III, topo a topo. F, Classe IlI. G, Mordida aberta anterior. 62 Anatomia Funcional ocorre no lado para o qual a mandíbula se desloca, o termo contato de trabalho é apropriado. Durante o mesmo movimento lateral esquerdo os den- tes posteriores inferiores direitos cruzam os dentes opostos numa direção medial. Os locais potenciais de contato oclu- sal estão entre as vertentes internas das cúspides palatinas e as vertentes internas das cúspides vestibulares inferiores. Estes contatos são chamados contatos mediotrusivos. Durante um movimento lateral esquerdo a maior parte das funções ocorre no lado esquerdo e, assim sendo, o lado direito é chamado de lado de não trabalho. Portanto, estes contatos me- diotrusivos são também chamados de contatos de não trabalho. Antigamente usava-se o termo contato de balanceio. Se a mandíbula se move lateralmente para a direita, os locais potenciais de contato serão idênticos, mas opostos aos que ocorrem no movimento lateral à esquerda. O lado direito agora tem contatos laterotrusivos e o lado esquerdo contatos mediotrusivos. Essas áreas de contato estão nas mesmas vertentes do movimento lateral esquerdo, mas nos dentes do lado oposto do arco. Como já foi mencionado, os dentes anteriores desempe- nham um importante papel de guia durante o movimento mandibular lateral à esquerda ou à direita. Numa relação oclusal normal os caninos superiores e inferiores contatam durante os movimentos laterais à direita e à esquerda, e as- sim sendo têm contatos laterotrusivos. Eles ocorrem entre as superfícies vestibular e bordas incisais dos caninos in- feriores e a fossa lingual e bordas incisais dos caninos su- periores. À semelhança dos contatos protrusivos eles são considerados as vertentes-guia. Em resumo, os contatos laterotrusivos (de trabalho) dos dentes posteriores ocorrem nas vertentes internas das cús- pides vestibulares superiores, opondo-se às vertentes ex- ternas das cúspides vestibulares inferiores, e as vertentes externas das cúspides palatinas opondo-se às vertentes in- ternas das cúspides linguais inferiores. Os contatos medio- trusivos (de não trabalho) ocorrem nas vertentes internas das cúspides palatinas, opondo-se às vertentes internas das cúspides vestibulares inferiores. Fig. 3-29 As vertentes-guia (VG) dos dentes superiores são as su- perfícies responsáveis pelas características da guia anterior. VG Fig. 3-30 Os contatos protrusivos posteriores podem ocorrer entre as vertentes distais dos dentes supe- riores e as vertentes mesiais dos dentes inferiores. Contatos protrusivos VG Posicionamento e Oclusão Dental 63 Movimento Mandibular Retrusivo Um movimento retrusivo ocorre quando a mandíbula se desloca posteriormente a partir da MIH. Comparado com outros mo- vimentos, o movimento retrusivo é bem pequeno (1 a 2 mm). O movimento retrusivo é limitado pelas estruturas ligamen- tosas mencionadas no Capítulo 1. Durante um movimento retrusivo as cúspides vestibulares inferiores se movem para distal sob a superfície oclusal dos dentes superiores opos- tos (Fig. 3-22). As áreas de potencial contato ocorrem en- tre as vertentes distais das cúspides vestibulares inferiores (cêntricas), e as vertentes mesiais da fossas e cristas mar- ginais opostas. Na arcada superior, os contatos retrusivos ocorrem entre as vertentes mesiais da fossa central e cristas marginais opostas. Contatos retrusivos ocorrem nas verten- tes opostas dos contatos protrusivos porque o movimento é exatamente o contrário. Resumo dos Contatos Oclusais Quando dois dentes posteriores antagônicos ocluem de uma maneira normal (cúspides palatinas contatando as fossas centrais opostas e cúspides vestibulares inferiores contatando as fossas centrais opostas), a área potencial de Fig. 3-31 MOVIMENTO LATEROTRUSIVO ESQUERDO. Os contatos podem ocorrer entre as vertentes internas das cúspides vestibulares superio- res e as vertentes externas das cúspides vestibulares inferiores; eles também podem ocorrer entre as ver- tentes externas das cúspides palatinas e as vertentes internas das cúspides linguais inferiores. Contatos mediotrusivos podem ocorrer entre as vertentes in- ternas das cúspides palatinas e as vertentes internas das cúspides vestibulares inferiores. Quando a mandí- bula se move para a direita, contatos similares podem ocorrer nos dentes contralaterais. Contatos mediotrusivos Fig. 3-32 Contatos retrusivos posteriores podem ocorrer entre as vertentes mesiais dos dentes superiores e as vertentes distais dos dentes inferiores. Contatos retrusivos Contatos laterotrusivos 64 Anatomia Funcional contato durante qualquer movimento mandibular excêntrico estará numa área previsível da superfície oclusal do dente. Cada vertente da cúspide cêntrica tem potencial para forne- cer contato excêntrico com o dente oposto. A vertente inter- na da cúspide não cêntrica também pode contatar um dente oposto durante um movimento excêntrico específi co. A Fig. 3-33 mostra os contatos oclusais que poderiam ocorrer nos primeiros molares superiores e inferiores. Devemos lembrar que estas áreas são somente áreas potenciais de contato porque todos os dentes posteriores não contatam durante todos os movimentos mandibulares. Algumas vezes alguns dentes se contatam durante um movimento mandibular es- pecífi co, o que desarticula os dentes remanescentes. Se, no entanto, um dente contatar um dente oposto durante um movimento mandibular específi co, este diagrama mostrará a área de contato. Quando os dentes anteriores ocluem de maneira usual, os locais potenciais de contato durante os vários movimen- tos mandibulares também são previsíveis e são mostrados na Fig. 3-34. Leituras Sugeridas Ash MM, Nelson SJ: Wheeler’s dental anatomy, physiology, and occlusion, ed 8, St Louis, 2003, Saunders. Kraus BS, Jordan RE, Abrams L: Dental anatomy and occlusion, Baltimore, 1973, Waverly. Moyer RE: Handbook of orthodontics for the student and generalpracti- tioner, ed 3, Chicago, 1973, Year Book Medical. Referências 1. Sarver DM, Proffit WR: Special considerations in diagnosis and treatment planning. In Graber T, Vanarsdall R, Vig K, editors: Orthodontics: current principles and techniques, ed 4, St Louis, 2005, Mosby, pp 3-70. 2. Von Spee FG: Prosthetic dentistry, Chicago, 1928, Medico-Dental Publishing, pp 49-54. 3. Bonwill WGA: Geometrical and mechanical laws of articulation, Trans Odontol Soc Pa 119-133, 1885. 4. Monson GS: Applied mechanics to the theory of mandibular move- ments, Dent Cosmos 74:1039-1053, 1932. 5. Ash MM, Nelson SJ: Wheeler’s dental anatomy, physiology, and occlu- sion, ed 8, St Louis, 2003, Saunders, pp 29-64. 6. Angle EH: Classification of malocclusion, Dent Cosmos 41:248-264, 1899. 7. Kraus BS, Jordon RE, Abrahams L: Dental anatomy and occlusion, Baltimore, 1973, Waverly, pp 226-230. B LL B B L M D B L M D LT LT LT LT R MT LT P R LT MT P R LT MT P R MT LT P D DM M A B Fig. 3-33 A, Locais potenciais de contato durante os movimentos excêntricos (vista lateral e proximal). B, Locais potenciais de contato em volta das cúspides dos primeiros molares superior e inferior (vista oclusal). Os contatos são demonstrados. LT, laterotrusivo; MT, mediotrusivo; P, protrusivo; R, retrusivo. Laterotrusivo LT LT PPP P P P Fig. 3-34 Locais usuais de contatos excêntricos dos dentes ante- riores superiores. LT, laterotrusivos; P, protrusivo. Retrusivo Mediotrusivo Protrusivo 4 C A P Í T U L O 65 Mecânica do Movimento Mandibular “A natureza nos abençoou com um sistema mastigatório maravilho- so e dinâmico, permitindo-nos funcionar e, por causa disto, existir.” – JPO Omovimento mandibular ocorre como uma série complexa de atividades tridimensionais de rota-ção e translação inter-relacionadas. É determi- nado pela atividade combinada e simultânea de ambas as articulações temporomandibulares (ATMs). Apesar de as ATMs não poderem funcionar inteiramente indepen- dente uma da outra, elas raramente funcionam com movi- mentos idênticos e conjuntos. Para melhor entender a complexidade do movimento mandibular, é interessante primeiro isolar os movimentos que ocorrem em apenas uma única ATM. Os tipos de movimento que ocorrem são discutidos inicialmente, e então os movimentos tridi- mensionais da articulação são divididos em movimentos dentro do mesmo plano. TIPOS DE MOVIMENTO Dois tipos de movimentos ocorrem na ATM: rotação e trans- lação. MOVIMENTO DE ROTAÇÃO O Dorland's Illustrated Medical Dictionary defi ne rotação como "o processo de girar em torno de um eixo; movimento de um corpo em torno do seu eixo, chamado eixo de rotação."1 No sistema mastigatório, a rotação ocorre quando a boca abre e fecha em torno de um ponto fi xo ou eixo dentro dos côn- dilos. Em outras palavras, os dentes podem ser separados e novamente ocluídos sem uma mudança de posição dos côndilos (Fig. 4-1). Na ATM, a rotação ocorre como movimento dentro da cavidade inferior da articulação. Então, ela é o movimento entre a superfície superior do côndilo e a superfície inferior do disco articular. O movimento de rotação da mandíbula pode ocorrer em todos os três planos de referência: horizon- tal, frontal (vertical) e sagital. Em cada plano ele ocorre em torno de um ponto, chamado eixo. O eixo de rotação de cada plano será descrito e ilustrado. Eixo Horizontal de Rotação O movimento mandibular em torno do eixo horizontal é um movimento de abrir e fechar. Ele é chamado de movimento de dobradiça, e o eixo horizontal em torno do qual ele ocorre é chamado de eixo de dobradiça (Fig. 4-2). O movimento de do- bradiça é provavelmente o único exemplo de atividade man- dibular na qual um movimento de rotação "puro" ocorre. Em todos os outros movimentos, a rotação ao redor do eixo é acompanhada pela translação do eixo. Quando os côndilos estão em sua posição mais superior na fossa articular e a boca é aberta exclusivamente por rota- ção, o eixo ao redor do qual o movimento ocorre é chamado de eixo terminal de dobradiça. O movimento rotacional em torno do eixo terminal pode ser facilmente demonstrado, mas ra- ramente ocorre durante a função normal. Eixo Frontal (Vertical) de Rotação O movimento mandibular em torno do eixo frontal ocorre quando um côndilo se move anteriormente para fora da po- sição terminal de rotação enquanto o eixo vertical do côn- dilo oposto permanece na posição terminal de rotação (Fig. 4-3). Devido à inclinação da eminência articular, que deter- mina que o eixo frontal se incline enquanto o côndilo em movimento ou orbitante se move para frente, esse tipo de movimento isolado não ocorre naturalmente. Eixo Sagital de Rotação O movimento mandibular em torno do eixo sagital ocorre quando um côndilo se move inferiormente enquanto o outro permanece na posição terminal de rotação (Fig. 4-4). Como os ligamentos e musculatura da ATM evitam um desloca- mento inferior do côndilo (luxação), este tipo de movimento isolado não ocorre naturalmente. No entanto, ele ocorre em conjunto com outros movimentos, quando os côndilos or- bitantes movimentam-se para baixo e para frente através da eminência articular. MOVIMENTOS DE TRANSLAÇÃO A translação pode ser defi nida como um movimento no qual cada ponto do objeto que se move tem, simultaneamente, a mesma velocidade e direção. No sistema mastigatório ela ocorre quando a mandíbula se move para frente, como na protrusão. Os dentes, côndilos e ramos se movem todos na mesma direção e na mesma extensão (Fig. 4-5). 66 Anatomia Funcional Fig. 4-1 Movimento de rotação sobre um ponto fi xo do côndilo. Fig. 4-2 Movimento de rotação em torno do eixo horizontal. Fig. 4-3 Movimento de rotação em torno do eixo frontal (vertical). Fig. 4-4 Movimento de rotação em torno do eixo sagital. A translação ocorre dentro da cavidade superior da ar- ticulação entre a superfície superior do disco articular e a superfície inferior da fossa articular (i.e., entre o complexo côndilo-disco e a fossa articular). Durante a maioria dos movimentos normais da mandí- bula, tanto a rotação como a translação ocorrem simultane- amente2 (i.e., enquanto a mandíbula está rotacionando em torno de um ou mais eixos, cada um dos eixos está transla- dando ou mudando sua orientação no espaço). Isto resulta em movimentos complexos que são extremamente difíceis de visualizar. Neste capítulo, para simplifi car a tarefa de en- tendê-los, nós consideramos que a mandíbula se movimen- ta isoladamente em cada um dos três planos de referência. MOVIMENTOS BORDEJANTES NUM MESMO PLANO O movimento mandibular é limitado pelos ligamentos e pe- las superfícies articulares das ATMs, assim como pela mor- fologia e alinhamento dos dentes. Quando a mandíbula se move através dos limites externos do movimento, limites reprodutíveis e descritíveis resultam nos chamados movi- mentos bordejantes. O movimento bordejante e os movimentos funcionais típicos da mandíbula serão descritos para cada plano de referência. PLANO BORDEJANTE SAGITAL E MOVIMENTOS FUNCIONAIS O movimento mandibular observado no plano sagital pode ser visto como tendo quatro componentes de movimento (Fig. 4-6): 1. Bordejante de abertura posterior 2. Bordejante de abertura anterior 3. Bordejante de contato superior 4. Funcional A extensão dos movimentos bordejantes de abertura posterior e anterior é determinada, ou limitada, principal- mente pelos ligamentos e pela morfologia das ATMs. Os movimentos bordejantes de contato superiores são deter- minados pelas superfícies oclusais e incisais dos dentes. Os movimentos funcionais não são considerados movimentos bordejantes porque eles não são determinados por um li- mite externo de movimento. Eles são determinadospelas respostas condicionadas do sistema neuromuscular (Capí- tulo 2). Movimentos Bordejantes de Abertura Posterior Os movimentos bordejantes de abertura posterior no plano sagital ocorrem como um movimento de dobradiça em dois estágios. No primeiro estágio (Fig. 4-7) os côndilos estão estabilizados na sua posição mais superior na fossa articu- lar (i.e., a posição terminal de dobradiça). A posição mais superior do côndilo, a partir da qual um movimento de rota- ção pode ocorrer, é chamada de posição de relação cêntrica (RC). A mandíbula pode ser abaixada (boca abrindo) num movimento de rotação puro sem a translação dos côndilos. Teoricamente, um movimento de dobradiça (rotação pura) pode ser gerado de qualquer posição mandibular anterior à relação cêntrica; no entanto, para que isso ocorra, os côn- dilos devem ser estabilizados de forma que a translação do eixo horizontal não ocorra. Como esta estabilização é difícil de ser obtida, movimentos bordejantes de abertura poste- rior que utilizam o eixo terminal de dobradiça são os únicos movimentos de eixo de dobradiça da mandíbula que podem ser reproduzidos. Em RC, a mandíbula pode ser rotacionada em torno do eixo horizontal até uma distância de apenas 20 a 25 mm medida entre as bordas incisais dos incisivos superiores e inferiores. Nesse ponto de abertura, os ligamentos tempo- romandibulares estão de tal forma tensionados que após, a continuação da abertura resulta numa translação anterior e inferior dos côndilos. À medida que os côndilos transla- Fig. 4-5 Movimento de translação da mandíbula. 1 2 3 4 Fig. 4-6 Movimentos bordejantes e funcionais no plano sagital. 1, Bor- dejante de abertura posterior; 2, bordejante de abertura anterior; 3, bordejante de contato superior; 4, funcional típico. Mecânica do Movimento Mandibular 67 Fig. 4-7 MOVIMENTO DE ROTAÇÃO DA MANDÍBULA COM OS CÔNDILOS NA POSIÇÃO TERMINAL DE DO- BRADIÇA. Esta rotação pura de abertura pode ocorrer até que os dentes anteriores estejam separados cerca de 20 a 25 mm. dam, o eixo de rotação da mandíbula passa para o corpo dos ramos, resultando no segundo estágio do movimento de abertura posterior bordejante (Fig. 4-8). A localização exata do eixo de rotação nos ramos é provavelmente a área de inserção dos ligamentos esfenomandibulares. Durante este estágio, no qual a mandíbula está rotacionando em torno de um eixo horizontal passando através dos ramos, os côndilos estão se movendo anterior e inferiormente e a porção ante- rior da mandíbula está se movendo posterior e inferiormen- te. A abertura máxima é alcançada quando os ligamentos capsulares impedem movimentos adicionais dos côndilos. A abertura máxima varia de 40 a 60 mm quando medida en- tre as bordas incisais dos dentes superiores e inferiores. Movimentos Bordejantes de Abertura Anterior Com a mandíbula totalmente aberta, o fechamento acom- panhado pela contração dos pterigóideos laterais inferio- res (que mantém os côndilos posicionados anteriormente) produzirá o movimento bordejante de fechamento anterior (Fig. 4-9). Teoricamente, se os côndilos fossem estabilizados nesta posição anterior, um movimento de dobradiça puro poderia ocorrer conforme a mandíbula fosse fechando a par- tir da abertura máxima até a posição de protrusão máxima. Uma vez que a posição de protrusão máxima é determina- da em parte pelos ligamentos estilomandibulares, confor- me ocorre o fechamento, a tensão dos ligamentos produz um movimento posterior dos côndilos. A posição condilar é mais anterior na abertura máxima, mas não na posição de protrusão máxima. O movimento posterior do côndilo a partir da posição de abertura máxima até a posição de pro- trusão máxima produz excentricidade no movimento ante- rior bordejante. Por esta razão, ele não é um movimento de rotação pura. Movimentos Bordejantes de Contato Superior Enquanto os movimentos bordejantes previamente discuti- dos são limitados pelos ligamentos, o movimento bordejan- te de contato superior é determinado pelas características das superfícies oclusais dos dentes. Durante todo este mo- vimento, o contato dentário está presente. Sua delineação precisa depende: (1) da diferença entre a RC e a máxima intercuspidação; (2) da angulação das vertentes das cúspi- des dos dentes posteriores; (3) da quantidade de traspasse vertical e horizontal dos dentes anteriores; (4) da morfologia palatina dos dentes anteriores superiores, e (5) das relações gerais interarco dos dentes. Uma vez que este movimento bordejante é unicamente determinado pelo dente, altera- ções nos dentes resultarão em mudanças na natureza do movimento bordejante. Na posição de RC, os contatos dentários são normalmen- te encontrados em um ou mais pares de dentes antagônicos posteriores. O contato dentário inicial no fechamento terminal de rotação (RC) ocorre entre as vertentes mesiais de um dente superior e as vertentes distais de um dente inferior (Fig. 4-10). Se força muscular for aplicada na mandíbula, o resultado será um movimento ântero-superior ou deslocamento até que a posição de máxima intercuspidação (MIH) seja alcançada (Fig. 4-11). Além disso, este deslizamento de RC até a máxima inter- cuspidação pode ter um componente lateral. O deslize de RC para MIH está presente em aproximadamente 90% da popula- ção, e sua distância média é de 1,25 ± 1 mm.3 Na MIH geralmente os dentes anteriores antagônicos se contatam. Quando a mandíbula é protruída a partir da máxima intercuspidação, o contato entre as bordas incisais dos dentes anteriores inferiores e as vertentes palatinas dos Fig. 4-8 SEGUNDO ESTÁGIO DO MOVIMENTO DE RO- TAÇÃO DURANTE A ABERTURA. O côndilo é transladado para baixo da eminência articular enquanto a boca rotaciona para abrir até o limite máximo. 68 Anatomia Funcional Fig. 4-9 Movimento bordejante de fechamento anterior no plano sagital. dentes anteriores superiores resulta num movimento ânte- ro-inferior da mandíbula (Fig. 4-12). Isso continua até que os dentes anteriores superiores e inferiores estejam numa relação de topo a topo, durante a qual uma trajetória hori- zontal é seguida. O movimento horizontal continua até que as bordas incisais dos dentes inferiores ultrapassem as bor- das incisais dos dentes superiores (Fig. 4-13). Neste ponto, a mandíbula move-se numa direção superior até os dentes posteriores contatarem (Fig. 4-14). As superfícies oclusais dos dentes posteriores determinam, então, o trajeto restan- te até o movimento de protrusão máxima, o qual se une com a posição mais superior do movimento bordejante de aber- tura anterior (Fig. 4-15). Quando uma pessoa não tem diferença entre a RC e a máxima intercuspidação, a descrição inicial do movimento bordejante de contato superior é modifi cada. De RC não há deslizamento superior para MIH. O movimento de protrusão inicial engrena imediatamente os dentes anteriores e a man- díbula move-se inferiormente, como detectado pela anato- mia lingual dos dentes anteriores superiores (Fig. 4-16). Movimentos Funcionais Os movimentos funcionais ocorrem durante a atividade fun- cional da mandíbula. Eles geralmente acontecem dentro dos movimentos bordejantes e por isso são considerados movimentos livres. A maioria das atividades funcionais re- quer intercuspidação máxima e, por isso, geralmente come- ça na MIH ou abaixo dela. Quando a mandíbula está em re- pouso, encontra-se localizada a aproximadamente 2 a 4 mm abaixo da MIH (Fig. 4-17).4,5 Esta posição tem sido chamada de posição clínica de repouso. Alguns estudos sugerem que ela é bastante variável.6,7 Também tem sido determinado que a chamada posição clínica de repouso não é a posição na qual os músculos têm sua menor quantidade de atividade ele- tromiográfi ca.7 Os músculos da mastigação estão aparente- mente em seu menor nível de atividadequando a mandíbula está posicionada a aproximadamente 8 mm inferior e 3 mm anterior a MIH.7 Nesta posição, a força da gravidade puxando a mandí- bula para baixo está em equilíbrio com a elasticidade e re- sistência ao estiramento dos músculos elevadores e outros tecidos moles que sustentam a mandíbula. Assim sendo, esta posição é melhor descrita como a posição de repouso Fig. 4-10 Relacionamento típico dos dentes quando os côndilos estão na posição de relação cêntrica (RC). Mecânica do Movimento Mandibular 69 RC Fig. 4-11 A força aplicada aos dentes quando os côndilos estão em relação cêntrica (RC) criará um movimento súpero-anterior da mandíbula até a posição de máxima intercuspidação (MIH). RC Fig. 4-12 À medida que a mandíbula se movimenta para frente, o contato das bordas incisais dos dentes anteriores inferiores com as superfícies palatinas dos dentes anteriores superiores cria um movimento inferior. Fig. 4-13 Movimento horizontal da mandíbula à medida que as bor- das incisais dos dentes superiores e inferiores se cruzam. Fig. 4-14 O movimento contínuo da mandíbula para frente resulta em um movimento superior quando os dentes anteriores ultrapas- sam a posição de topo a topo, resultando em contato dos dentes posteriores. MIH Fig. 4-16 O movimento bordejante de contato superior quando os côndilos estão em posição de relação cêntrica (RC) é o mesmo da posição de máxima intercuspidação (MIH) dos dentes. Fig. 4-17 A mandíbula na posição postural (PP) está localizada de 2 a 4 mm abaixo da posição de máxima intercuspidação (MIH). Fig. 4-18 Movimento de mastigação com movimentos bordejantes no plano sagital. RC, relação cêntrica; MIH, posição de máxima in- tercuspidação. Fig. 4-15 O movimento contínuo para frente é determinado pelas superfícies dos dentes posteriores até que o movimento de pro- trusão máxima, estabelecido pelos ligamentos, seja alcançado. Esta posição de protrusão máxima une-se ao ponto mais superior do movimento bordejante de abertura anterior. 70 Anatomia Funcional clínico. Nela, a pressão intra-articular da articulação é re- duzida e se aproxima do deslocamento. Como a função não pode ocorrer prontamente a partir desta posição, o refl exo miotático, que contrabalança as forças da gravidade e man- tém a mandíbula na posição mais disponível ao funciona- mento, 2 a 4 mm abaixo de MIH, é ativado. Nesta posição, os dentes podem ser rápida e efetivamente levados a ocluir para função imediata. Os níveis aumentados de atividade muscular eletromiográfi ca nesta posição são indicativos de refl exo miotático. Como esta não é uma posição de repouso verdadeira, a posição na qual a mandíbula é mantida é mais apropriadamente chamada de posição postural. Se o movimento de mastigação for examinado no plano sagital, o movimento será visto começando em MIH, ocor- rendo para baixo e ligeiramente para frente até a posição desejada de abertura (Fig. 4-18). Ele então retorna em um trajeto mais regular ligeiramente posterior ao movimento de abertura (como descrito no Capítulo 2). Efeitos da Postura no Movimento Funcional. Quando a cabeça está numa posição ereta e alinhada, a posição pos- tural da mandíbula está localizada de 2 a 4 mm abaixo da MIH. Se os músculos elevadores se contraem, a mandíbula será elevada diretamente à MIH. No entanto, se a face for direcionada a aproximadamente 45 graus para cima, a posi- ção postural da mandíbula será alterada para uma posição ligeiramente retruída. Esta alteração está relacionada com o estiramento e alongamento dos vários tecidos que estão inseridos e que sustentam a mandíbula.8 Se os músculos elevadores se contraem com a cabeça nesta posição, o trajeto de fechamento será ligeiramen- te posterior ao trajeto de fechamento na posição ereta. O contato dental, conseqüentemente, ocorrerá posterior à MIH (Fig. 4-19). Como esta posição dos dentes é geralmente instável, ocorre um deslize, levando a mandíbula à máxima intercuspidação. Vem sendo afi rmado que a posição normal da cabeça durante a alimentação é com a face direcionada para baixo uns 30 graus.9 Esta posição é referida como a posição alerta de alimentação. Nela, a mandíbula move-se anteriormente ligei- ramente até a posição postural ereta. Se os músculos eleva- dores se contraem com a cabeça nesta posição, o trajeto de fechamento será ligeiramente anterior ao trajeto da posição ereta. Por isso, o contato dentário irá ocorrer antes da MIH. Tal alteração no fechamento leva a contatos mais fortes dos dentes anteriores. A posição alerta de alimentação pode ser importante ao se considerar a relação funcional dos dentes. Uma extensão da cabeça em 45 graus também é uma po- sição importante porque esta é geralmente a postura que a RC = MIH MIH RC PP MIH cabeça assume quando bebemos. Nesta postura, a mandí- bula é mantida mais posterior à máxima intercuspidação, e por esta razão o fechamento com a cabeça para trás freqüen- temente resulta em contatos dentários posteriores à MIH. PLANO BORDEJANTE HORIZONTAL E MOVIMENTOS FUNCIONAIS Tradicionalmente, um aparelho conhecido como traçador de arco Gótico tem sido utilizado para registrar os movimentos mandibulares no plano horizontal. Ele consiste em uma placa de registro presa aos dentes superiores e um estilete de registro preso aos dentes inferiores (Fig. 4-20). Quando a mandíbula se movimenta, o estilete traça uma linha na placa de registro que coincide com este movimento. Os movimen- tos bordejantes da mandíbula no plano horizontal podem, desta forma, ser facilmente registrados e examinados. Quando os movimentos mandibulares são visualizados num plano horizontal, pode ser visto um traçado de forma romboidal que tem quatro componentes de movimentos distintos (Fig. 4-21), além de um componente funcional: 1. Bordejante lateral esquerdo 2. Bordejante lateral esquerdo continuado com protrusão Mecânica do Movimento Mandibular 71 A B C Fig. 4-19 FINAL DO MOVIMENTO DE FECHAMENTO RELACIONADO COM A POSIÇÃO DA CABEÇA. A, Com a cabeça ereta, os dentes são elevados diretamente à máxima intercuspidação a partir da posição postural. B, Com a cabeça elevada a 45 graus, a posição postural da mandíbula torna-se mais posterior. Quando os dentes ocluem, o contato dentário ocorre posteriormente à posição de intercus- pidação (MIH). C, Com a cabeça angulada a 30 graus para frente (posição alerta de alimentação), a posição postural da mandíbula torna-se mais anterior. Quando os dentes ocluem, o contato dos dentes ocorre anteriormente à máxima intercuspidação. RC, Relação cêntrica. RC Fig. 4-20 Um traçador de arco Gótico é usado para registrar os movimentos mandibulares bordejantes no plano horizontal. À me- dida que a mandíbula se movimenta, o estilete preso aos dentes inferiores traça uma trajetória na placa de registro presa nos dentes superiores. MIH Cabeça na posição ereta Cabeça estendida (45 graus para cima) RC MIH MIH RC Cabeça na posição alerta de alimentação (30 graus para baixo) 72 Anatomia Funcional 3. Bordejante lateral direito 4. Bordejante lateral direito continuado com protrusão Movimentos Bordejantes Laterais Esquerdos Com os côndilos na posição de RC, a contração do pteri- góideo lateral inferior direito fará o côndilo direito se movi- mentar anterior e medialmente (também inferiormente). Se o pterigóideo lateral inferior esquerdo permanece relaxado, o côndilo esquerdo permanecerá posicionado em RC e o resultado será um movimento bordejante lateral esquerdo (i.e., seja, o côndilo direito girando em torno do eixo fron- tal do côndilo esquerdo). O côndilo esquerdo é conseqüen- temente chamado de côndilo de rotação porque a mandíbula rotaciona em torno dele. O côndilo direito é chamado de côndilo orbitante porque ele orbitaao redor do côndilo de ro- tação. O côndilo esquerdo também é chamado de côndilo de trabalho porque ele está no lado de trabalho. Da mesma forma, o côndilo direito é chamado de côndilo de não-trabalho porque ele está localizado no lado de não-trabalho. Durante este movimento, o estilete irá traçar uma linha na placa de registro que é coincidente com o movimento bordejante es- querdo (Fig. 4-22). Movimentos Bordejantes Laterais Esquerdos Continuados com Protrusão Com a mandíbula na posição bordejante lateral esquerda, a contração do músculo pterigóideo lateral inferior esquerdo juntamente com a contração ininterrupta do músculo pteri- góideo lateral inferior direito levará o côndilo esquerdo a se movimentar anteriormente e para a direita. Como o côndilo direito já está na sua posição anterior máxima, o movimento do côndilo esquerdo até sua posição anterior máxima cau- sará um desvio da linha média mandibular para coincidir com a linha média da face (Fig. 4-23). Movimentos Bordejantes Laterais Direitos Uma vez que os movimentos bordejantes esquerdos tenham sido registrados no traçado, a mandíbula retorna a RC e os movimentos bordejantes laterais direitos são registrados. A contração do músculo pterigóideo lateral inferior es- querdo levará o côndilo esquerdo a mover-se anterior e medialmente (também inferiormente). Se o músculo pteri- góideo lateral inferior direito permanece relaxado, o côndilo direito continuará na posição de RC. O movimento mandibu- lar resultante será o bordejante lateral direito (p. ex., o côn- dilo esquerdo girando em torno do eixo frontal do côndilo direito). O côndilo direito neste movimento é, conseqüen- temente, chamado de côndilo de rotação, porque a mandíbu- la está girando em torno dele. O côndilo esquerdo durante este movimento é chamado de côndilo orbitante, porque ele está orbitando ao redor do côndilo de rotação. Durante este movimento, o estilete irá gerar uma linha na placa de regis- tro que coincide com o movimento bordejante lateral direito (Fig. 4-24). Movimentos Bordejantes Laterais Direitos Continuados com Protrusão Com a mandíbula na posição bordejante lateral direita, a contração do músculo pterigóideo lateral inferior direito, 1 2 3 4 Fig. 4-21 Movimentos mandibulares bordejantes no plano horizon- tal. 1, Lateral esquerdo; 2, lateral esquerdo continuado com protru- são; 3, lateral direito; 4, lateral direito continuado com protrusão; RC, relação cêntrica; MIH, posição de intercuspidação. RC Fig. 4-22 Movimento bordejante lateral esquerdo registrado no plano horizontal. Fig. 4-23 Movimento bordejante lateral esquerdo continuado com protrusão registrado no plano horizontal. MIH juntamente com a contração ininterrupta do pterigóideo la- teral inferior esquerdo, fará o côndilo direito se movimentar para anterior e para a esquerda. Como o côndilo esquerdo já está na posição anterior máxima, o movimento do côndilo direito até a sua posição anterior máxima causará um desvio da linha média mandibular para coincidir com a linha média da face (Fig. 4-25). Isto completa o movimento bordejante no plano horizontal. Movimentos laterais podem ser gerados nos variados níveis de abertura mandibular. Os movimentos bordejantes gerados em cada aumento do grau de abertura resultarão em sucessivos traçados menores até que, na posição de abertura máxima, pouco ou nenhum movimento poderá ser feito (Fig. 4-26). Movimentos Funcionais Como no plano sagital, os movimentos funcionais no pla- no horizontal, na maioria das vezes, ocorrem mais perto da MIH. Durante a mastigação, a amplitude do movimento mandibular começa um pouco distante da MIH, mas, à me- dida que o alimento é quebrado em partículas de tamanho menor, a ação mandibular move-se cada vez mais para perto da MIH. A posição exata da mandíbula durante a mastigação é ditada pela confi guração oclusal existente (Fig. 4-27). MOVIMENTOS FUNCIONAIS E BORDEJANTES FRONTAIS (VERTICAIS) Quando o movimento mandibular é observado no plano frontal, um padrão em forma de escudo pode ser visto com quatro componentes de movimentos distintos (Fig. 4-28), juntamente com o componente funcional: 1. Bordejante superior lateral esquerdo 2. Bordejante de abertura lateral esquerdo 3. Bordejante superior lateral direito 4. Bordejante de abertura lateral direito Apesar de os movimentos bordejantes mandibulares no plano frontal não terem sido tradicionalmente "traçados", um entendimento deles é útil para se visualizar a atividade mandibular tridimensionalmente. Movimentos Bordejantes Superiores Laterais Esquerdos Com a mandíbula na máxima intercuspidação, é realizado um movimento lateral para a esquerda. Um dispositivo de registro vai revelar um traçado côncavo inferior sendo gerado (Fig. 4-29). A natureza precisa deste traçado é determinada primariamente pela morfologia e por relações interarco dos dentes superiores e inferiores que estão em contato durante este movimento. De infl uência secundária são as relações côndilo-disco-fossa e a morfologia do lado de rotação ou lado de trabalho da ATM. A extensão lateral máxima deste movimento é determinada pelos ligamentos da articulação em rotação. Mecânica do Movimento Mandibular 73 Fig. 4-24 Movimento bordejante lateral direito registrado no plano horizontal. Fig. 4-25 Movimento bordejante lateral direito continuado com protrusão registrado no plano horizontal. Fig. 4-26 MOVIMENTO MANDIBULAR BORDEJANTE NO PLANO HORIZONTAL REGISTRADO EM VÁRIOS GRAUS DE ABERTURA. Observe que as bordas fi cam cada vez mais juntas à medida que a boca é aberta. 74 Anatomia Funcional Movimentos Bordejantes de Abertura Laterais Esquerdos Da posição bordejante superior lateral esquerda máxima, um movimento de abertura da mandíbula produz um traça- do convexo lateral. Ao se aproximar da abertura máxima, os ligamentos se retesam e produzem um movimento direcio- nado medialmente, que causa um retorno da linha média mandibular para coincidir com a linha média da face (Fig. 4-30). Movimentos Bordejantes Superiores Laterais Direitos Uma vez que os movimentos bordejantes frontais esquerdos são registrados, a mandíbula retorna à máxima intercuspi- dação. A partir desta posição, um movimento lateral é feito para a direita (Fig. 4-31), que é semelhante ao movimento bordejante superior lateral esquerdo. Pequenas diferenças podem ocorrer devido aos contatos dentários envolvidos. Movimentos Bordejantes de Abertura Laterais Direitos Da posição bordejante lateral direita máxima, um movimen- to de abertura da mandíbula produz um trajeto convexo lateral similar ao movimento de abertura esquerdo. Ao se aproximar da abertura máxima, os ligamentos se retesam e produzem um movimento direcionado medialmente, que leva a um retorno da linha média mandibular a coincidir com a linha média da face, para encerrar este movimento de abertura esquerdo (Fig.4-32). Movimentos Funcionais Como nos outros planos, os movimentos funcionais no pla- no frontal começam e terminam na MIH. Durante a mastiga- ção, a mandíbula desce diretamente para inferior até que se alcance a abertura desejada. Ela então se movimenta para o lado o qual o bolo alimentar se encontra e eleva-se. Ao se aproximar da máxima intercuspidação, o bolo alimentar Fig. 4-27 Amplitude funcional dentro dos movimentos bordejantes horizontais. RC, Relação cêntrica; EC, área utilizada nos primeiros es- tágios da mastigação; PTT, posição topo a topo dos dentes anterio- res; MIH, posição de intercuspidação; LC, área utilizada nos últimos estágios da mastigação um pouco antes de a deglutição ocorrer. 1 2 3 4 Fig. 4-28 Movimentos bordejantes mandibulares no plano frontal. 1, Superior lateral esquerdo; 2, abertura lateral esquerda; 3, superior lateral direito; 4, abertura lateraldireita; MIH, posição de intercuspi- dação; PP, posição postural. MIH MIH Fig. 4-29 Movimento bordejante superior lateral esquerdo regis- trado no plano frontal. Fig. 4-30 Movimento bordejante de abertura lateral esquerdo re- gistrado no plano frontal. RC LC EC PTT PP é quebrado entre os dentes antagônicos. Nos milímetros fi nais do fechamento, a mandíbula rapidamente retorna à MIH (Fig. 4-33). ENVELOPE DE MOVIMENTO A combinação dos movimentos mandibulares bordejantes nos três planos (sagital, horizontal e frontal) produz um envelope de movimento tridimensional (Fig. 4-34), que re- presenta a amplitude de movimento máxima da mandíbu- la. Apesar de o envelope ter esta forma característica, serão encontradas diferenças de pessoa para pessoa. A superfície superior do envelope é determinada pelos contatos dentá- rios, enquanto as outras bordas são determinadas primaria- mente pelos ligamentos e pela anatomia da articulação, que restringem ou limitam os movimentos. MOVIMENTO TRIDIMENSIONAL Para demonstrar a complexidade do movimento mandibu- lar, uma excursão lateral direita aparentemente simples será usada. Quando a musculatura começa a se contrair e a mo- ver a mandíbula para a direita, o côndilo esquerdo é empur- Mecânica do Movimento Mandibular 75 Fig. 4-32 Movimento bordejante de abertura lateral direito regis- trado no plano frontal. Fig. 4-31 Movimento bordejante superior lateral direito registrado no plano frontal. Fig. 4-33 Movimento funcional dentro do movimento bordejante mandibular registrado no plano frontal. MIH, Posição de intercus- pidação. Fig. 4-34 Modelo de envelope de movimento. MIH 76 Anatomia Funcional rado para fora de sua posição de RC. Enquanto o côndilo es- querdo está orbitando anteriormente ao redor do eixo fron- tal do côndilo direito, ele encontra a vertente posterior da eminência articular, o que causa um movimento inferior do côndilo em volta do eixo sagital, resultando em uma incli- nação do eixo frontal. Além disso, o contato dos dentes an- teriores produz um movimento inferior ligeiramente maior na parte anterior da mandíbula do que na parte posterior, o que resulta num movimento de abertura em torno do eixo horizontal. Como o côndilo esquerdo está se deslocando an- terior e inferiormente, o eixo horizontal está se deslocando anterior e inferiormente. Este exemplo ilustra que, durante um simples movimento lateral, ocorre um movimento ao redor de cada eixo (sagital, horizontal e vertical) e simultaneamente cada eixo se inclina para acomodar o movimento que está ocorrendo em torno dos outros eixos. Tudo isso ocorre dentro do envelope de movi- mento e é controlado de forma complexa pelo sistema neuro- muscular, para evitar dano a qualquer das estruturas orais. Leituras Sugeridas Pietro AJ: Concepts of occlusion. A system based on rotational centers of the mandible, Dent Clin North Am 607-620, 1963. Posselt U: The physiology of occlusion and rehabilitation, ed 2, Philadelphia, 1968, FA Davis. Referências 1. Dorland’s illustrated medical dictionary, ed 30, Philadelphia, 2003, Saunders, p 1643. 2. Lindauer SJ, Sabol G, Isaacaso RJ, Davidovitch M: Condylar move- ment and mandibular rotation during jaw opening, Am J Orthod Dentofacial Orthop 107:573-577, 1995. 3. Posselt U: Movement areas of the mandible, J Prosthet Dent 7:375- 385, 1957. 4. Garnick J, Ramfjord SP: An electromyographic and clinical investi- gation, J Prosthet Dent 12:895-911, 1962. 5. Schweitzer JM: Oral rehabilitation, St Louis, 1951, Mosby, pp 514- 518. 6. Atwood DA: A critique of research of the rest position of the mandi- ble, J Prosthet Dent 16:848-854, 1966. 7. Rugh JD, Drago CJ: Vertical dimension: a study of clinical rest posi- tion and jaw muscle activity, J Prosthet Dent 45:670-675, 1981. 8. DuBrul EL: Sicher’s oral anatomy, St Louis, 1980, Mosby. 9. Mohl ND: Head posture and its role in occlusion, N Y State Dent J 42:17-23, 1976. 5 C A P Í T U L O 77 Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal “O clínico que lida com as estruturas mastigatórias precisa compre- ender os princípios básicos da ortopedia.” – JPO ODorland's Illustrated Medical Dictionary defi ne ocluir como "fechar fi rme, trazer os dentes inferiores em contato com os superiores.”1 Em Odontologia, oclusão se refere à relação dos dentes superiores e inferiores quando em contato funcional durante a atividade mandibu- lar. A pergunta que se faz é: qual a melhor relação funcional ou oclusal dos dentes? Esta pergunta tem gerado muita discussão e debate. Através dos anos, vários conceitos de oclusão foram desenvolvidos e alcançaram variados graus de popularidade. Seria interessante seguirmos o desenvol- vimento desses conceitos. HISTÓRIA DO ESTUDO DA OCLUSÃO A primeira descrição da relação oclusal dos dentes foi feita por Edward Angle em 1899.2 A oclusão tornou-se um tópico de interesse e de muita controvérsia nos primeiros anos da Odontologia Moderna, conforme a restauração e a substi- tuição dos dentes tornaram-se mais plausíveis. O primeiro conceito signifi cativo desenvolvido para descrever a oclusão funcional ideal foi chamado de oclusão balanceada.3 Este con- ceito defendia os contatos bilaterais e balanceados durante todos os movimentos de lateralidade e de protrusão. A oclu- são balanceada foi desenvolvida principalmente para próte- ses totais, com o raciocínio de que este tipo de contato bi- lateral ajudaria a estabilizar as bases das próteses durante o movimento mandibular. O conceito foi amplamente aceito, e, com os avanços na instrumentação dental e na tecnologia, ele foi transportado para o campo da prótese fi xa.4,5 À medida que a restauração total da dentição tornou-se mais exeqüível, começaram as controvérsias sobre a conve- niência da oclusão balanceada na dentição natural. Após muita discussão e debate, o conceito de contato excêntrico unilateral foi subseqüentemente desenvolvido para a den- tição natural.6,7 Esta teoria sugeria que contatos laterotru- sivos (contatos de trabalho), assim como contatos protru- sivos, deveriam ocorrer somente nos dentes anteriores. Foi durante este período que o termo gnatologia começou a ser usado. O estudo da gnatologia passou a ser conhecido como a ciência exata do movimento mandibular e dos contatos oclusais resultantes. O conceito gnatológico foi popular não só para aplicação na restauração dos dentes, mas também como um objetivo de tratamento na tentativa de eliminar problemas oclusais. Ele foi tão completamente aceito que pacientes com qualquer outra confi guração oclusal eram considerados como tendo uma má oclusão e freqüentemen- te eram tratados meramente porque sua oclusão não estava de acordo com o critério considerado como sendo ideal. No fi nal dos anos de 1970, o conceito de oclusão indivi- dual dinâmica surgiu. Este conceito concentra-se na saúde e funcionamento do sistema mastigatório e não em qualquer confi guração oclusal específi ca.8 Se as estruturas do siste- ma mastigatório estão funcionando efi cientemente e sem patologia, a confi guração oclusal é considerada fi siológica e aceitável, não importando os contatos dentários específi cos. Dessa forma, nenhuma mudança na oclusão está indicada. Após exame de inúmeros pacientes com uma variedade de condições oclusais e nenhuma patologia aparente relacio- nada à oclusão, o mérito desse conceito torna-se evidente. O problema enfrentado pela Odontologia atual é eviden- ciado quando um paciente com sinais e sintomas de patolo- gia relacionada à oclusão vem ao consultório odontológico para tratamento. O dentista deve determinar qual confi gura- ção oclusal é mais provável de eliminar esta patologia. Qual oclusão é menos provável de criar qualquer efeito patológi- co para a maioria das pessoas no maiorespaço de tempo? Qual é a oclusão funcional ideal? Apesar de existirem mui- tos conceitos, o estudo da oclusão é tão complexo que estas perguntas ainda não foram respondidas satisfatoriamente. Numa tentativa de determinar quais condições parecem menos prováveis de causar qualquer efeito patológico, este ca- pítulo irá examinar certas características anatômicas e fi sioló- gicas do sistema mastigatório. A reunião dessas características vai representar a oclusão funcional ideal, a qual, mesmo não estando presente em uma alta incidência na população em ge- ral, deveria representar para o clínico o objetivo do tratamen- to tanto na tentativa de eliminar as desordens relacionadas à oclusão como na restauração de uma dentição mutilada. CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL Como discutido, o sistema mastigatório é um sistema extre- mamente complexo e inter-relacionado de músculos, ossos, 78 Anatomia Funcional ligamentos, dentes e nervos. Simplifi car a discussão deste sistema é difícil, ainda que necessário, antes que os concei- tos básicos que infl uenciam o funcionamento e a saúde de todos os componentes possam ser entendidos. A mandíbula é um osso que está ligado ao crânio por liga- mentos e está sustentada por uma tipóia muscular. Quando os músculos elevadores (o masseter, o pterigóideo medial e o temporal) agem, suas contrações elevam a mandíbula de modo que haja contato e uma força seja aplicada ao crânio em três áreas: nas duas articulações temporomandibulares (ATMs) e nos dentes (Fig. 5-1). Como esses mús culos têm a capacidade de gerar forças pesadas, há um grande poten- cial para ocorrer danos nessas três áreas. Dessa forma, essas áreas precisam ser cuidadosamente examinadas para se de- terminar a relação ortopédica ideal que irá prevenir, minimi- zar ou eliminar qualquer dano ou trauma. As articulações e os dentes serão examinados separadamente. POSIÇÃO IDEAL DA ARTICULAÇÃO ORTOPEDICAMENTE ESTÁVEL O termo relação cêntrica (RC) vem sendo utilizado na Odonto- logia por muitos anos. Apesar de ter recebido uma variedade de defi nições ao longo dos anos, ele é geralmente utilizado para designar a posição da mandíbula quando os côndilos estão numa posição ortopedicamente estável. Defi nições anteriores descreveram RC como a posição mais retruída dos côndilos.9-11 Como esta posição é determinada princi- palmente pelos ligamentos da ATM, ela é chamada de posição ligamentosa. Ela se tornou útil para o especialista em prótese porque era uma posição mandibular reproduzível que po- dia ser usada durante a execução de próteses totais.11 Nesta época, ela era considerada como o ponto de referência mais confi ável a ser obtido num paciente desdentado para se de- terminar com precisão a relação entre a mandíbula e a maxi- la e, enfi m, para controlar o padrão de contato oclusal. A popularidade da RC cresceu e foi logo aplicada no cam- po da prótese fi xa. Sua utilidade em prótese fi xa foi substan- ciada tanto pela sua reprodutibilidade como por pesquisas associadas à função muscular.12,13 Conclusões de estudos eletromiográfi cos (EMG) ante- riores sugerem que os músculos da mastigação funcionam mais harmonicamente e com menor intensidade quando os côndilos estão em RC enquanto os dentes estão em máxima intercuspidação.12-14 Durante muitos anos, a classe odonto- lógica aceitou esses conceitos e concluiu que RC era uma posição fi siológica segura. A compreensão atual acerca da biomecânica e do funcionamento da articulação temporo- mandibular, no entanto, têm questionado a posição mais retruída do côndilo como sendo a posição mais ortopedica- mente estável na fossa. Hoje até mesmo o termo RC é algo confuso, porque a defi nição mudou. Enquanto defi nições anteriores11,15 des- creviam os côndilos como estando em suas posições mais retruídas ou posteriores, mais recentemente16 tem sido su- gerido que os côndilos estão em suas posições mais supe- riores na fossa articular. Alguns clínicos17,18 sugerem que ne- nhuma dessas defi nições de RC é a posição mais fi siológica e que os côndilos deveriam idealmente estar posicionados para baixo e para a frente na eminência articular. A contro- vérsia sobre a posição mais fi siológica dos côndilos vai con- tinuar até que existam evidências conclusivas de que uma posição é mais fi siológica que as outras. Apesar disso, no meio desta controvérsia, os dentistas têm que providenciar o tratamento necessário para seus pa- cientes. O uso de uma posição ortopédica estável é essencial para o tratamento. Por esta razão, caso o profi ssional preci- se tirar as conclusões adequadas sobre as quais se basear o tratamento, é necessário examinar e avaliar toda informação disponível. Ao estabelecer o critério para a posição articular ortope- dicamente estável ideal, as estruturas anatômicas da ATM precisam ser observadas com minúcia. Conforme descrito, o disco articular é composto de tecido conjuntivo fi broso denso desprovido de nervos e vasos sangüíneos.19 Isto per- mite a eles suportarem forças pesadas sem causar danos ou induzir a estímulos dolorosos. O propósito do disco é sepa- rar, proteger e estabilizar o côndilo na fossa mandibular du- rante os movimentos funcionais. A estabilidade posicional da articulação, no entanto, não é determinada pelo disco articular. Como em qualquer outra articulação, a estabilida- de posicional é determinada pelos músculos que exercem forças de tração através da articulação e previnem o des- locamento das superfícies articulares. As forças direcionais desses músculos determinam a posição articular ideal orto- pedicamente estável. Este é um princípio ortopédico válido para todas as articulações. Portanto, cada articulação móvel possui uma posição músculo-esqueleticamente estável (ME). Quando se busca a posição mais estável das ATMs, os músculos que exercem forças de tração sobre as articula- ções devem ser levados em consideração. Os principais músculos que estabilizam as ATMs são os elevadores. A direção da força aplicada nos côndilos pelos masseteres e pterigóideos mediais é ântero-superior (Fig. 5-2). Embora os músculos temporais possuam fi bras direcionadas pos- teriormente, eles predominantemente elevam os côndilos para uma posição direcionada superiormente.20 Esses três grupos de músculos são os responsáveis primários pela po- 1 2 3 Fig. 5-1 Quando a mandíbula é elevada, força é aplicada ao crânio em três áreas: (1 e 2) nas articulações temporomandibulares e (3) nos dentes. sição e estabilidade articular; no entanto, os pterigóideos laterais inferiores também ajudam. Na posição postural, sem qualquer infl uência da condi- ção oclusal, os côndilos são estabilizados pelo tônus mus- cular dos elevadores e dos pterigóideos laterais inferiores. Os músculos temporais posicionam os côndilos superiormente na fossa. Os masseteres e pterigóideos mediais posicionam os côndilos anterior e superiormente. O tônus muscular do pterigóideo lateral inferior posiciona os côndilos anterior- mente contra a vertente posterior da eminência articular. No intuito de resumir, vamos dizer que a posição arti- cular ortopedicamente mais estável, de acordo com os mús- culos, é aquela na qual os côndilos estão posicionados na sua posição mais superior e anterior na fossa articular, com- pletamente apoiados na vertente posterior da eminência articular. No entanto, esta descrição não está completa até que a posição do disco articular seja considerada. A relação articular ideal só é alcançada quando os discos articulares estão corretamente interpostos entre os côndilos e as fossas articulares. A posição dos discos na articulação em repouso é infl uenciada pela pressão interarticular, pela morfologia própria dos discos e pelo tônus dos músculos pterigóideos laterais superiores. Estes últimos levam o disco a rotacionarnos côndilos tão para frente quanto os espaços reservados a eles (determinados pela pressão interarticular) e a espessu- ra da borda posterior dos discos permitirem. A defi nição completa de posição articular ortopedicamen- te mais estável, portanto, é quando os côndilos estão em suas posições mais súpero-anteriores na fossa articular, apoiados nas vertentes posteriores das eminências articulares com os discos articulares interpostos corretamente. Os côndilos as- sumem esta posição quando os músculos elevadores são ati- vados sem interferência oclusal. Por esta razão, esta posição é considerada a posição ME ideal da mandíbula. Nesta posição ME, as superfícies articulares e os tecidos da articulação estão alinhados de tal maneira que as forças exercidas pela musculatura não criam dano algum. Quando um crânio seco é examinado, a cobertura anterior e superior da fossa mandibular pode ser vista como bem espessa e fi - siologicamente capaz de suportar forças pesadas.19,20 Assim sendo, durante a função e o repouso, esta posição é tanto anatômica como fi siologicamente saudável. A posição ME é agora descrita no Glossary of Prosthodontic Terms como RC.21 Apesar de defi nições anteriores de RC9-11 enfatizarem a posição mais retruída dos côndilos, a maioria dos clínicos têm percebido que o côndilo assentado na po- sição súpero-anterior é muito mais aceitável sob o ponto de vista ortopédico. A controvérsia surge sobre se existe uma variação ântero- posterior na posição mais superior do côndilo. Dawson6 su- geriu que isso não existe, o que implica que se os côndilos se movimentam para a frente ou para trás a partir de sua posição mais superior, eles também se movimentarão para baixo. Isto pode estar correto para uma articulação jovem e sadia, mas deve-se entender que nem todas as articulações são iguais. A força posterior aplicada na mandíbula é contra- balanceada na articulação pelas fi bras horizontais internas do ligamento temporomandibular (TM). Portanto, a posição mais súpero-posterior dos côndilos é, por defi nição, uma posição ligamentosa. Se este ligamento estiver fi rme, poderá haver pouca diferença entre a posição mais superior retruí- da, a posição mais superior (i.e., posição de Dawson) e a po- sição súpero-anterior (ME). No entanto, se o ligamento TM estiver frouxo ou alongado, uma variação ântero-posterior de movimento pode ocorrer enquanto o côndilo permanece na sua posição mais superior (Fig. 5-3). Quanto mais poste- rior estiver localizada a força na mandíbula, mais alongado estará o ligamento e mais posterior será a posição condilar. O grau de liberdade ântero-posterior varia de acordo com a saúde das estruturas articulares. Uma articulação saudável parece permitir pouco movimento condilar posterior a partir da posição ME.22 Infelizmente, a saúde da articulação pode ser difícil de avaliar clinicamente. Estudos sobre o ciclo da mastigação mandibular de- monstraram que em indivíduos saudáveis o côndilo de ro- tação (de trabalho) se movimenta posteriormente para a posição de intercuspidação (MIH) durante a etapa de fecha- mento do ciclo (Capítulo 2). Por esta razão, algum grau de movimento posterior condilar para a MIH é normal durante a função. Na maioria das articulações, este movimento é pequeno (1 mm ou menos). No entanto, se ocorrerem al- terações nas estruturas articulares (p. ex., estiramento dos ligamentos temporomandibulares, desordens articulares), a extensão ântero-posterior do movimento pode ser aumenta- da. O clínico deveria reconhecer que a posição mais superior e posterior (ou retruída) para o côndilo não é uma posição fi siológica ou anatomicamente saudável (Fig. 5-4). Nesta posição, a força pode ser aplicada à porção posterior do disco, lâmina retrodiscal inferior e aos tecidos retrodiscais. Como os tecidos retrodiscais são altamente vascularizados e bem supridos por fi bras nervosas sensoriais,23 eles não es- tão estruturados anatomicamente para receber força. Dessa forma, quando a força é aplicada nessa área, há um grande potencial para provocar dor e/ou causar danos.24-28 Quando um crânio seco é examinado sob ponto de vista anatômico, a porção posterior da fossa mandibular parece Fig. 5-2 A força direcional dos músculos elevadores primários (temporal, masseter e pterigóideo medial) coloca os côndilos na fossa numa posição súpero-anterior. Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal 79 Força direcional bem fi na e aparentemente não confi gurada para suportar carga. Esta característica enfatiza ainda mais o fato de que a posição condilar superior e posterior não parece ser a posi- ção funcional ideal da articulação. Curiosamente, como exposto no Capítulo 1, os ligamen- tos não participam ativamente na função articular. Eles exis- tem para atuar como estruturas limitantes de alguns mo- vimentos articulares de extensão ou bordejantes. Mesmo assim, durante anos foi discutida na Odontologia a idéia do uso da posição bordejante ligamentosa como uma posição funcional ideal para os côndilos. Tal relação bordejante não seria considerada ideal para nenhuma outra articulação. Por que tal princípio ortopédico seria diferente para a ATM? Como algumas vezes é difícil determinar clinicamente as condições extra e intracapsular da articulação, é conve- niente não colocar força posterior na mandíbula na tentativa de se localizar a posição ME da articulação. A maior ênfase deveria ser dada na orientação e direcionamento dos côn- dilos até sua posição mais súpero-anterior nas fossas. Isto é conseguido tanto com técnicas de orientação mandibular bilateral como através da própria musculatura (como é dis- cutido em capítulos posteriores). Até o fi nal deste texto, a RC será defi nida como a posição mais súpero-anterior dos côndilos nas fossas articulares com os discos interpostos corretamente. Pode-se dizer, então, que RC e a posição ME são a mesmas. Esta defi nição de RC está se tornando am- plamente aceita.21 Um outro conceito de estabilidade mandibular18 sugere que uma posição diferente é a ideal para os côndilos. Nela, os côndilos são descritos como estando na sua posição ideal quando eles transladam para baixo até certo ponto nas vertentes posteriores das eminências articulares (Fig. 5- 5). Como os côndilos estão posicionados para baixo e para a frente, o complexo do disco o acompanha; dessa forma, forças exercidas no osso são dissipadas de maneira efi caz. O exame do crânio seco revela que esta área da eminên- cia articular é bastante espessa e fi siologicamente capaz de suportar força. Por esta razão, esta posição, assim como a posição mais súpero-anterior, parece ser anatomicamente capaz de suportar forças. Na verdade, este é um movimento protrusivo normal da mandíbula. A principal diferença entre essa posição e a posição ME reside na função muscular e na estabilidade mandibular. Para posicionar os côndilos para baixo e para frente nas vertentes posteriores da eminência articular, os músculos pterigóideos laterais inferiores devem se contrair. Isto é com- patível com um movimento protrusivo. Entretanto, assim que os músculos elevadores são contraídos, a força aplicada aos côndilos por esses músculos está numa direção superior e ligeiramente anterior. Esta força direcional tenderá a levar os côndilos para a posição súpero-anterior como já descrito (i.e., posição ME). Se a posição de máxima intercuspidação Fig. 5-3 A posição mais súpero-anterior do côndilo (linha contínua) é músculo-esqueleticamente a posição mais estável da articulação. No entanto, se as fi bras horizontais internas do ligamento tempo- romandibular permitirem algum movimento posterior do côndilo, a força posterior irá deslocar a mandíbula desta posição para uma posição mais posterior e menos estável (linha pontilhada). As duas posições estão no mesmonível superior. 80 Anatomia Funcional Fig. 5-4 Uma força posterior aplicada na mandíbula pode deslocar o côndilo da posição músculo-esqueleticamente estável. Fig. 5-5 O movimento para a frente da mandíbula traz os côndilos para baixo na eminência articular. Um aumento na atividade mus- cular é provável. (MIH) fosse estabelecida nesta posição mais avançada, exis- tia uma discrepância entre a posição oclusal mais estável e a posição articular mais estável. Portanto, para que o paciente abra e feche a boca em MIH (o que claro é, necessário para a função), o músculo pterigóideo lateral inferior deve manter um estado de contração para impedir que os côndilos se elevem para posições mais súpero-anteriores. Por isso, esta posição representa uma posição “estabilizada por músculo”, não uma posição ME. Supor que esta posição irá requerer mais atividade muscular para manter a estabilidade man- dibular é lógico. Como a dor muscular é a reclamação mais comum de pacientes com desordens mastigatórias, não pareceria vantajoso estabelecer uma condição oclusal que possa, na realidade, aumentar a atividade muscular. Por esta razão, não parece que esta posição seja compatível com re- pouso muscular,29 e ela não pode ser considerada a posição mais funcional ou mais fi siológica. Outro conceito que tem sido proposto para ajudar o den- tista a localizar a posição condilar ideal é mediante uso de estimulação elétrica e relaxamento subseqüente dos mús- culos elevadores. Neste conceito, os músculos elevadores são expostos a pulsos elétricos ou eletricamente estimula- dos em intervalos regulares na tentativa de produzir relaxa- mento. Esta técnica tem sido usada por fi sioterapeutas há anos com sucesso na redução da tensão muscular e da dor. Portanto, pode ser que existam boas razões para o uso da estimulação elétrica para reduzir dor muscular, apesar de os dados serem escassos (Capítulo 11). Os seguidores desse conceito acreditam que se esta pulsação é feita com a ca- beça posicionada de forma ereta, os músculos elevadores continuarão a relaxar até que suas atividades EMG alcan- cem o nível mais baixo possível, que eles descrevem como repouso. Este repouso representa o ponto no qual as forças da gravidade que puxam a mandíbula para baixo se igualam à elasticidade dos músculos e ligamentos que sustentam a mandíbula (tônus viscoelástico). Na maioria dos casos sig- nifi ca que a mandíbula está posicionada para baixo e para a frente assentada na posição súpero-anterior. O fato de esta posição ter a menor atividade EMG não signifi ca que esta seja uma posição razoável a partir da qual a mandíbu- la deveria funcionar. Como discutido neste texto, a posição de repouso (menor atividade EMG) pode ser encontrada quando a boca está aberta de 8 a 9 mm, ao passo que a posi- ção postural está localizada de 2 a 4 mm abaixo da MIH pre- parada para função.30,31 Presumir que a posição mandibular ideal está no ponto de menor atividade EMG é um pensa- mento ingênuo e certamente não embasado com dados. No entanto, seguidores desta fi losofi a acreditam que esta é a posição na qual a oclusão deveria ser estabelecida. Pelo menos três considerações importantes questionam a probabilidade de esta posição ser uma posição mandibu- lar ideal. A primeira está relacionada ao fato de que esta po- sição é quase sempre encontrada para baixo e para a frente da posição condilar assentada. Se os dentes forem restaura- dos nesta posição e os músculos elevadores se contraírem, os côndilos estarão assentados superiormente, deixando apenas os dentes posteriores sem oclusão. A única maneira pela qual a posição oclusal pode ser mantida é conservando o músculo pterigóideo lateral inferior em um estado par- cial de contração, apoiando os côndilos contra a vertente posterior da eminência articular. Isto, claro, representa uma posição “músculo-suportada” e não uma posição ME, como previamente discutido. Outra consideração em encontrar uma posição mandibu- lar desejável pela pulsação dos músculos elevadores é que esta posição é quase sempre encontrada em uma dimensão vertical aumentada. A maior força que pode ser gerada pelos músculos elevadores ocorre quando os dentes estão separa- dos de 4 a 6 mm.32 É nesta distância que os músculos eleva- dores são mais efi cientes para partir os alimentos. Reconsti- tuir os dentes em máxima intercuspidação nesta dimensão vertical provavelmente geraria um grande aumento de forças sobre os dentes e as estruturas periodontais, aumentando o potencial de destruição. Uma terceira consideração na utilização desta técnica é que, uma vez relaxados os músculos, a posição mandibu- lar fi ca mais suscetível a ação da gravidade. Por este moti- vo, a posição da cabeça do paciente pode mudar a relação maxilar/ mandibular adquirida. Se o paciente move sua cabe- ça para frente ou para trás, ou mesmo a inclina para direita ou esquerda, a posição mandibular provavelmente mudará. Não parece que este tipo de variação seja confi ável quando se restaura os dentes. Outra preocupação com esta técnica é que basicamen- te cada indivíduo, saudável ou com desordem mandibular, assumirá uma posição da mandíbula aberta e para a frente seguindo a pulsação muscular. Portanto, esta técnica não é útil para distinguir pacientes dos controles saudáveis nor- mais. Quando isto ocorre, indivíduos saudáveis correm o risco de ser candidatos a terapia desnecessária, que pode inclusive ser bastante extensa. Em resumo, de um ponto de vista anatômico, pode-se concluir que a posição mais superior e anterior dos côndilos repousando nos discos contra as vertentes posteriores das eminências articulares é a posição mais saudável ortopedi- camente. De um ponto de vista muscular também parece que esta posição ME dos côndilos é ideal. Um valor adicio- nal desta posição é que ela tem a vantagem protética de ser reproduzível. Como os côndilos estão numa posição supe- rior bordejante, um movimento terminal de dobradiça pode ser executado repetidamente (Capítulo 9). CONTATOS FUNCIONAIS IDEAIS DOS DENTES A posição ME que acabou de ser descrita foi considerada so- mente em relação aos fatores que infl uenciam a articulação e os músculos. Conforme discutido previamente, o padrão de contato oclusal infl uencia fortemente o controle muscular da posição mandibular. Quando o fechamento da mandíbula na posição ME cria uma condição oclusal instável, o sistema neuromuscular rapidamente inicia uma ação muscular apro- priada para localizar a posição mandibular que irá resultar numa condição oclusal mais estável. Por esta razão, a po- sição ME das articulações pode ser mantida apenas quan- do está em harmonia com uma condição oclusal estável. A condição oclusal estável deveria permitir o funcionamento efetivo enquanto minimiza o dano a qualquer componente Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal 81 82 Anatomia Funcional do sistema mastigatório. O clínico deveria se lembrar de que a musculatura é capaz de exercer uma força muito maior aos dentes do que a necessária para a função.33,34 Então é impor- tante estabelecer uma condição oclusal que possa receber forças pesadas com a menor possibilidade de dano ao mes- mo tempo que é funcionalmente efi ciente. As condições oclusais ideais podem ser determinadas considerando as seguintes situações: 1. Um paciente tem somente os primeiros molares superior e inferior direitos. Quando a boca fecha, estes dois den- tes fornecem os únicos batentes oclusais para a mandí- bula (Fig. 5-6). Considerando que são aplicados 18,14 kg de força durante a função, pode-se entender que toda esta força será aplicada nestes dois dentes. Como só há contato no lado direito, a posição mandibular será ins- tável e as forças de oclusão providas pela musculatura provavelmente irão provocar um maior fechamentono lado esquerdo e um deslocamento da posição mandibu- lar para aquele lado35,36. Esta condição não fornece a es- tabilidade mandibular necessária para o funcionamento efetivo (instabilidade ortopédica). Se forem aplicadas forças pesadas aos dentes e articulações nesta situação, as articulações, os dentes e as estruturas de suporte so- frem um risco signifi cativo de colapso.8,37-39 2. Outro paciente tem somente os quatro primeiros mola- res presentes. Quando a boca é fechada, os molares es- querdos e direitos se contatam (Fig. 5-7). Esta condição oclusal é mais favorável do que a anterior, porque quan- do a força é exercida pela musculatura, os contatos bi- laterais dos molares permitem uma posição mandibular mais estável. Apesar de haver somente contato mínimo das superfícies oclusais para receber os 18,14 kg propor- cionados durante a função, os dentes adicionais ajudam a diminuir a força aplicada em cada dente (9,07 kg por dente). Por isso, este tipo de condição oclusal fornece mais estabilidade mandibular ao mesmo tempo em que diminui a força sobre cada dente. 3. Um terceiro paciente tem somente os quatro primei- ros molares e quatro segundos pré-molares presentes. Quando a boca é fechada na posição ME, os oito dentes se contatam igual e simultaneamente (Fig. 5-8). Os den- tes adicionais fornecem maior estabilidade à mandíbula. O aumento no número de dentes ocluindo também di- minui a força em cada dente, deste modo minimizando danos potenciais (os 18,14 kg de força durante a função estão agora distribuídos para quatro pares de dentes, re- sultando em somente 4,54 kg sobre cada dente). Compreendendo a progressão dessas ilustrações chega- se à conclusão de que a condição ideal de oclusão durante o fechamento mandibular seria determinada pelo contato simultâneo e homogêneo de todos os dentes possíveis. Este tipo de relação oclusal fornece uma máxima estabilidade para a mandíbula enquanto minimiza a quantidade de for- ça aplicada em cada dente durante a função. Assim sendo, os critérios para a oclusão funcional ideal estabelecidos até este ponto são descritos como contatos homogêneos e si- multâneos de todos os dentes possíveis quando os côndilos mandibulares estão em sua posição mais súpero-anterior, apoiados contra as vertentes posteriores das eminências ar- Fig. 5-6 Quando apenas contatos oclusais do lado direito estão presentes, a atividade dos músculos elevadores tende a girar a man- díbula usando os contatos dentários como fulcro. O resultado é um aumento de forças na articulação temporomandibular (ATM) esquerda e uma diminuição de forças na ATM direita. Fig. 5-7 Com contatos oclusais bilaterais, a estabilidade da mandí- bula é alcançada. Fig. 5-8 Contatos oclusais bilaterais continuam a manter a estabi- lidade mandibular. À medida que o número de dentes em oclusão aumenta, a força em cada dente diminui. ticulares, com os discos apropriadamente interpostos. Em outras palavras, a posição ME dos côndilos (i.e., posição RC) coincide com a posição de máxima intercuspidação (MIH) dos dentes. Isto é considerado estabilidade ortopédica. Afi rmar que os dentes devem contatar igual e simultanea- mente não é descrição sufi ciente para se desenvolver as condi- ções oclusais ideais. O padrão exato de contato de cada dente deve ser examinado mais de perto para que uma descrição pre- cisa da relação ideal possa ser deduzida. Para melhor se avaliar isto, a direção real e a quantidade de força aplicada em cada dente necessitam ser examinadas mais de perto. Direção da Força Aplicada aos Dentes Quando estudamos as estruturas de suporte que envolvem os dentes, é possível observarmos o seguinte: Primeiro, tecidos ósseos não toleram forças de pres- são.10,23,40 Em outras palavras, se a força é aplicada ao osso, o tecido ósseo será reabsorvido. Como os dentes estão receben- do forças oclusais constantemente, um ligamento periodontal (LPD) está presente entre a raiz do dente e o osso alveolar para ajudar a controlar estas forças. O LPD é composto de fi bras de tecido conjuntivo colagenoso que sustentam o dente no alvéolo ósseo. A maioria dessas fi bras corre obliquamente a partir do cemento estendendo-se oclusalmente para se fi xar no alvéolo (Fig. 5-9).40 Quando a força é aplicada ao dente, as fi bras o sustentam e tensão é gerada na inserção alveolar. Pres- são é uma força que os tecidos ósseos não podem aceitar, mas a tensão (tração) na verdade estimula a formação óssea. Por isso, o LPD é capaz de converter uma força destrutiva (pressão) numa força aceitável (tensão). De uma maneira geral, ele pode ser considerado como um amortecedor natural que controla as forças de oclusão no osso. Uma segunda observação é como o ligamento periodon- tal aceita várias direções de força oclusal. Quando um dente é contatado numa ponta de cúspide ou numa superfície re- lativamente plana como a crista marginal ou o fundo de uma fossa, a força resultante é dirigida verticalmente através do longo eixo. As fi bras do LPD estão alinhadas de forma que este tipo de força possa ser bem aceita e dissipada (Fig. 5-10).40 Quando um dente é contatado numa vertente, no entanto, a força resultante não é dirigida através do seu longo eixo. Em vez disso, um componente horizontal é incorporado e tende a causar inclinação (Fig. 5-11). Por esta razão, quan- do são aplicadas forças direcionadas horizontalmente a um dente, muitas das fi bras do LPD não estão apropriadamente alinhadas para controlá-las. Como o dente inclina, algumas áreas do LPD são comprimidas enquanto outras são tracio- nadas ou distendidas. De forma geral, as forças não são efe- tivamente dissipadas para o osso.41-43 O clínico deve se lembrar de que forças verticais criadas pelos contatos dentários são bem aceitas pelo LPD, mas for- ças horizontais não podem ser efetivamente dissipadas.42 Es- tas forças podem criar respostas patológicas no osso ou até mesmo evocar atividade neuromuscular refl exa numa tentati- va de evitar ou se resguardar de contatos de vertentes.37 Para resumir, se um dente é contatado de forma que as forças resultantes são direcionadas através de seu longo eixo (verticalmente), o LPD é bastante efi ciente em acei- tar essas forças e o dano é menos provável. Se um dente é contatado de tal maneira que forças horizontais são aplica- das às estruturas de suporte, no entanto, a probabilidade de efeitos patológicos é maior. O processo de direcionar as forças oclusais através do longo eixo do dente é conhecido como carga axial. A carga axial pode ser alcançada por dois métodos: 1. O primeiro método se dá pelo estabelecimento de contatos dentários ou sobre as pontas de cúspides ou em superfícies relativamente planas que estão perpendiculares ao longo eixo do dente. Estas superfícies planas podem ser as bor- das das cristas marginais ou o fundo das fossas. Com este tipo de contato, as forças resultantes serão direcionadas através do longo eixo do dente (Fig. 5-12, A).37,44 2. O segundo método (chamado tripodização) requer que cada cúspide, ao contatar uma fossa oposta, estabeleça três contatos ao redor da verdadeira ponta de cúspide. Quando se consegue isso, a força resultante é direciona- da através do longo eixo do dente (Fig. 5-12, B).45 Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal 83 Fig. 5-9 LIGAMENTO PERIODONTAL. A maioria das fi bras corre obliquamente do cemento até o osso. (A largura do ligamento periodontal foi bastante aumentada com propósito de ilustração.) Fig. 5-10 Quando as pontas das cúspides contatam superfícies pla- nas, a força resultante é dirigida verticalmente através do longo eixo do dente (setas). Este tipo de força é bem aceita pelo ligamento periodontal. 84 Anatomia Funcional Ambos os métodos eliminam as forças fora do eixo, per- mitindo dessa forma que o ligamentoperiodontal absorva efetivamente as forças potencialmente nocivas ao osso e possa, essencialmente, reduzi-Ias. Quantidade de Força Aplicada aos Dentes Os critérios para a oclusão ideal estão assim estabelecidos: pri- meiro, contato homogêneo e simultâneo de todos os dentes possíveis deve ocorrer quando os côndilos mandibulares esti- verem em sua posição mais súpero-anterior, apoiados nas ver- tentes posteriores da eminência articular com os discos apro- priadamente interpostos. Segundo, cada dente deve contatar de tal forma que as forças do fechamento sejam direcionadas através do longo eixo do dente. Um aspecto importante que deixou de ser discutido está relacionado à complexidade da ATM. A ATM é capaz de ex- cursões laterais e protrusivas que permitem o contato den- tário durante os diferentes tipos de movimentos excêntricos. Estas excursões laterais permitem que forças horizontais se- jam aplicadas aos dentes. Conforme mencionado, forças ho- rizontais não são bem aceitas pelas estruturas de suporte e pelo sistema neuromuscular, ainda que a complexidade das articulações requeira que alguns dentes suportem a carga dessas forças inaceitáveis. Dessa forma, vários fatores de- vem ser considerados quando se identifi ca qual(is) dente(s) pode(m) melhor aceitar essas forças horizontais. O sistema de alavanca da mandíbula pode ser compa- rado com um quebra-nozes. Quando uma noz está sendo quebrada, ela é colocada entre as alavancas do quebra-no- zes e a força é aplicada. Se ela for extremamente dura, será posicionada mais perto do fulcro para aumentar a probabi- lidade de ser quebrada. Isto demonstra que forças maiores podem ser aplicadas a um objeto quando ele está localizado próximo ao fulcro. Isto também pode ser afi rmado sobre o sistema mastigatório (Fig. 5-13). Se uma noz dura precisa ser quebrada entre os dentes, a posição mais desejável não é entre os dentes anteriores, mas entre os dentes posteriores, porque, conforme a noz é posicionada mais próxima do ful- cro (ATM) e da área das forças vetoriais (músculos masseter e pterigóideo medial), maiores serão as forças aplicadas aos dentes posteriores do que aos dentes anteriores.46-48 A mandíbula, no entanto, é mais complexa. Enquanto o fulcro do quebra-nozes é fi xo, o do sistema mastigatório é livre para se mover. Como resultado, quando forças pesadas são aplicadas a um objeto nos dentes posteriores, a man- díbula é capaz de se deslocar para baixo e para frente para obter a relação oclusal que melhor complete a tarefa deseja- da. Este deslocamento dos côndilos cria uma posição man- dibular instável. Grupos musculares adicionais, tais como pterigóideos laterais superiores e inferiores e os temporais são acionados para estabilizar a mandíbula, resultando num sistema mais complexo do que um simples quebra-nozes. Entender este conceito e compreender que forças pesadas aplicadas aos dentes podem criar alterações patológicas nos leva a uma conclusão óbvia: as forças horizontais da- nosas do movimento excêntrico devem ser direcionadas aos dentes anteriores, que estão posicionados mais longe do fulcro e das forças vetoriais. Como a quantidade de força que pode ser aplicada aos dentes anteriores é menor do que as que podem ser aplicadas aos dentes posteriores, a proba- bilidade de dano é minimizada.48-50 Quando todos os dentes anteriores são examinados, tor- na-se claro que os caninos são os mais adequados para rece- ber as forças horizontais que ocorrem durante os movimen- tos excêntricos.37,49,51,52 Eles possuem as raízes mais longas e mais largas e, portanto, a melhor proporção coroa/ raiz.53 Eles também são envolvidos por osso compacto denso, o A A B B Fig. 5-11 Quando dentes antagônicos se contatam nas vertentes, a direção da força não é através do longo eixo dos dentes. Em vez disso, são estabelecidas forças de inclinação (setas) que tendem a causar compressão (A) de certas áreas do ligamento periodontal e distensão (B) de outras áreas. A B Fig. 5-12 Carga axial pode ser conseguida por (A) contatos ponta de cúspide-superfície plana ou (B) contatos recíprocos das vertentes (chamados de tripodização). qual tolera melhor as forças do que o faz o osso medular encontrado ao redor dos dentes posteriores.54 Outra vanta- gem dos caninos reside no impulso sensorial e no efeito re- sultante sobre os músculos da mastigação. Aparentemente, menos músculos são ativados quando os caninos contatam durante os movimentos excêntricos do que quando os den- tes posteriores contatam.55,56 Níveis menores da atividade muscular diminuiriam as forças das estruturas dentárias e articulares, minimizando a patologia. Assim sendo, quan- do a mandíbula se movimenta numa excursão laterotrusi- va direita ou esquerda, os caninos superiores e inferiores são os dentes apropriados para contatar e dissipar as forças horizontais enquanto desocluem ou desarticulam os den- tes posteriores. Quando existe esta condição, o paciente é considerado como tendo guia canina ou desoclusão pelos caninos (Fig. 5-14). Muitos pacientes, no entanto, não possuem os caninos numa posição apropriada para receber forças horizontais; outros dentes devem contatar durante os movimentos ex- cêntricos. A alternativa mais favorável à guia canina é cha- mada de função em grupo. Na função em grupo, vários dentes no lado de trabalho contatam durante o movimento latero- trusivo. A função em grupo mais desejável consiste no cani- no, nos pré-molares e algumas vezes na cúspide mesioves- tibular do primeiro molar (Fig. 5-15). Qualquer contato late- rotrusivo mais posterior do que a porção mesial do primeiro molar não é desejável por causa da quantidade aumentada de força que pode ser criada quando os contatos se aproxi- mam do fulcro (ATM). O clínico deveria se lembrar de que os contatos cúspide vestibular-cúspide vestibular são mais desejáveis durante os movimentos laterotrusivos do que os contatos cúspide lin- gual-cúspide lingual (trabalho lingual a lingual) (Fig. 5-16, A). Os contatos laterotrusivos (tanto na guia canina quanto na função em grupo) precisam fornecer guia adequada para desocluir os dentes do lado oposto do arco (mediotrusivo ou lado de não-trabalho) imediatamente (Fig. 5-16, B). Os contatos mediotrusivos podem ser destrutivos ao sistema mastigatório devido à quantidade e à direção das forças que podem ser aplicadas na articulação e estruturas dentárias.* Alguns estudos sugeriram que contatos mediotrusivos são percebidos pelo sistema neuromuscular de forma diferen- te de outros tipos de contato oclusal. Estudos EMG59,60 de- monstram que todos os contatos dentários são, por nature- za, inibitórios. Em outras palavras, a presença dos contatos dentários tende a interromper ou inibir a atividade mus- cular. Isto é resultado dos proprioceptores e nociceptores no LPD, que, quando estimulados, criam respostas inibitórias. Outros estudos61 EMG sugerem ainda que a presença de contatos mediotrusivos nos dentes posteriores aumenta a atividade muscular. Apesar de o aumento na atividade mus- cular poder ser demonstrado, a razão da sua presença não é clara. (Estes conceitos são discutidos com mais detalhes no Capítulo 7.) O que é claro, no entanto, é que contatos mediotrusivos deveriam ser evitados quando uma oclusão funcional ideal é estabelecida. Quando a mandíbula se movimenta para frente no contato protrusivo, forças horizontais danosas podem ser aplicadas aos dentes. Como ocorre com os movimentos laterais, os dentes anteriores podem receber e dissipar melhor essas forças.48,49 Portanto, durante a protrusão, os dentes anteriores, e não os posteriores, deveriam contatar (Fig. 5-17). Os dentes anteriores deveriam fornecer contato ou guia adequada para desocluir os dentes posteriores. Os contatos posteriores na protrusão pa- recem fornecer forças desfavoráveisao sistema mastigatório devido a quantidade e direção da força que é aplicada.** Durante esta discussão, tornou-se evidente que os den- tes anteriores e posteriores funcionam de maneira bastan- te diferente. Os dentes posteriores se comportam de forma Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal 85 A B Fig. 5-13 A quantidade de força que pode ser gerada entre os dentes depende da distância da articulação temporomandibular e dos vetores das forças musculares. Uma força muito maior pode ser gerada nos dentes posteriores (A) do que nos dentes anteriores (B). *Referências 12, 13, 47, 52, 57, 58. **Referências 12, 13, 47, 52, 57, 58. 86 Anatomia Funcional bastante efetiva ao receber forças aplicadas durante o fecha- mento da boca. Eles recebem bem estas forças basicamen- te porque a posição deles no arco é tal que a força pode ser direcionada através de seus longos eixos e então mais efi cientemente dissipada. Os dentes anteriores, no entanto, não estão tão bem posicionados no arco para receber forças pesadas. Eles estão normalmente posicionados num ângulo labial em relação à direção de fechamento, de forma que a carga axial é quase impossível.53,55 Se os dentes anteriores superiores receberem contatos oclusais pesados durante o fechamento, existe uma grande probabilidade de suas es- truturas de suporte não serem capazes de tolerar as forças e eles serem deslocados labialmente. Isto é um achado co- mum em pacientes que perderam suporte dentário posterior (colapso posterior da mordida) (Fig. 5-18). Os dentes anteriores, ao contrário dos dentes poste- riores, estão em posição apropriada para receber as forças dos movimentos mandibulares excêntricos. Geralmente, portanto, pode-se afi rmar que os dentes posteriores fun- cionam mais efetivamente em parar a mandíbula durante o fechamento, enquanto os dentes anteriores funcionam mais efetivamente em guiar a mandíbula durante os movimentos excêntricos. Observando estas funções, torna-se claro que os dentes posteriores deveriam contatar ligeiramente com mais força do que os dentes anteriores, quando os dentes estão ocluídos em MIH. Esta condição é descrita como oclu- são mutuamente protegida.51,52 Considerações Posturais e Contatos Dentários Funcionais Como discutido no Capítulo 4, a posição postural da mandí- bula é aquela mantida durante períodos de inatividade. Essa se encontra geralmente de 2 a 4 mm abaixo da MIH e pode ser infl uenciada em certo grau pela posição da cabeça. O A B Fig. 5-14 GUIA CANINA. A, Movimento laterotrusivo. B, Apa- rência clínica. A B Fig. 5-15 GUIA POR FUNÇÃO EM GRUPO. A, Movimento laterotrusivo. B, Aparência clínica. L LA B Fig. 5-16 A, Dentes posteriores durante um movimento latero- trusivo. Podem ocorrer contatos entre as cúspides antagonistas vestibulares (V) e linguais (L). Quando a guia por função em grupo é desejável, os contatos vestibulares são utilizados. Os contatos lin- guais não são desejáveis durante movimento excêntrico. B, Den- tes posteriores durante um movimento mediotrusivo. Os contatos ocorrem entre as cúspides linguais dos dentes superiores e as cús- pides vestibulares dos dentes inferiores. Fig. 5-17 Movimento protrusivo com guia anterior. V V grau em que ela é afetada pela posição da cabeça e os con- tatos oclusais resultantes devem ser considerados quando uma condição oclusal ideal é estabelecida.62,63 Na posição de cabeça ereta normal, assim como na posição alerta de ali- mentação (cabeça para frente a aproximadamente 30 graus), os dentes posteriores deveriam contatar mais fortemente do que os dentes anteriores (oclusão mutuamente protegida). Se uma condição oclusal é estabelecida com o paciente re- clinado na cadeira, a posição postural da mandíbula e a condição oclusal resultante podem fi car ligeiramente orien- tadas posteriormente. Quando o paciente se senta ou assu- me a posição alerta de alimentação, qualquer alteração na posição postural e seu efeito nos contatos oclusais devem ser avaliados. Se na posição de cabeça ereta ou na posição alerta de alimentação a mandíbula do paciente assume uma posição postural ligeiramente anterior, a atividade dos mús- culos elevadores irá resultar em contatos dentários ante- riores pesados. Quando isto ocorre, os contatos anteriores devem ser reduzidos até os dentes posteriores contatarem novamente com mais força durante o fechamento normal. Este conceito é chamado de envelope anterior de função. Quando esta suave alteração na posição mandibular não é conside- rada, os contatos dentários anteriores pesados resultantes podem levar ao desenvolvimento de padrões de desgaste funcionais nos dentes anteriores. Isto não é verdadeiro para todos os pacientes, mas é difícil prever qual paciente irá demonstrar esta resposta. Isto é especialmente importante para o dentista restaurador, que quer minimizar forças nas restaurações anteriores, como nas coroas de porcelana. A falha no entendimento e na avaliação desta posição pode levar a fratura das coroas. RESUMO DA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL Com base nos conceitos apresentados neste capítulo, um resumo das condições oclusais funcionais mais favoráveis pode ser estabelecido. As seguintes condições parecem ser as menos patogênicas para o maior número de pacientes durante o período mais longo: 1. Quando a boca fecha, os côndilos estão na sua posição mais súpero-anterior (i.e., posição ME), apoiados nas ver- tentes posteriores das eminências articulares com os dis- cos interpostos apropriadamente. Nesta posição existem contatos homogêneos e simultâneos de todos os dentes posteriores. Os dentes anteriores também contatam, po- rém mais suavemente do que os dentes posteriores. 2. Todos os contatos dentários exercem carga axial a partir das forças oclusais. 3. Quando a mandíbula realiza movimentos laterotrusivos, as guias adequadas do lado laterotrusivo (de trabalho) estão presentes para desocluir o lado mediotrusivo (de não-trabalho) imediatamente. A guia mais desejável é fornecida pelos caninos (guia canina). 4. Quando a mandíbula realiza movimento protrusivo, as guias adequadas estão presentes nos dentes anteriores para desocluir todos os dentes posteriores imediata- mente. 5. Na posição de cabeça ereta e na posição alerta de ali- mentação, os contatos dentários posteriores são mais fortes do que os contatos dentários anteriores. Referências 1. Dorland’s illustrated medical dictionary, ed 30, Philadelphia, 2003, Saunders, p 1298. 2. Angle EH: Classification of malocclusion, Dent Cosmos 41:248-264, 1899. 3. Sears VH: Balanced occlusions, J Am Dent Assoc 12: 1448-1453, 1925. 4. Young JL: Physiologic occlusion, J Am Dent Assoc 13: 1089-1093, 1926. 5. Meyer FS: Cast bridgework in functional occlusion, J Am Dent Assoc 20:1015-1019, 1933. 6. Schuyler C: Correction of occlusion: disharmony of the natural dentition, N Y Dent J 13:455-463, 1947. 7. Stallard H, Stuart C: Concepts of occlusion, Dent Clin North Am November:591-601, 1963. 8. Ramfjord SP, Ash MM: Occlusion, ed 3, Philadelphia, 1983, Saunders, pp 129-136. 9. Boucher CO: Current clinical dental terminology, St Louis, 1963, Mosby. 10. 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Mecânica do Movimento Mandibular TIPOS DE MOVIMENTO MOVIMENTOS BORDEJANTES NUMMESMO PLANO ENVELOPE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 5. Critérios para uma Oclusão Funcional Ideal HISTÓRIA DO ESTUDO DA OCLUSÃO CRITÉRIOS PARA UMA OCLUSÃO FUNCIONAL IDEAL CAPÍTULO 6. Determinantes da Morfologia Oclusal FATORES DE CONTROLE POSTERIOR (GUIA CONDILAR) FATORES DE CONTROLE ANTERIOR (GUIA ANTERIOR) ENTENDENDO OS FATORES DE CONTROLE DETERMINANTES VERTICAIS DA MORFOLOGIA OCLUSAL DETERMINANTES HORIZONTAIS DA MORFOLOGIA OCLUSAL RELAÇÃO ENTRE OS FATORES DE CONTROLE ANTERIOR E POSTERIOR PARTE II: Etiologia e Identificação dos Distúrbios Funcionais do Sistema Mastigatório CAPÍTULO 7. Etiologia dos Distúrbios Funcionais do Sistema Mastigatório TERMINOLOGIA HISTÓRIAS DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES DESENVOLVIMENTO DOS DISTÚRBIOS FUNCIONAIS DO SISTEMA MASTIGATÓRIO CONSIDERAÇÕES ETIOLÓGICAS DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES RESUMO CAPÍTULO 8. Sinais e Sintomas das Desordens Temporomandibulares DESORDENS FUNCIONAIS DOS MÚSCULOS MODELO CLÍNICO DA DOR NA MUSCULATURA MASTIGATÓRIA DESORDENS FUNCIONAIS DAS ARTICULAÇÕES TEMPOROMANDIBULARES DESORDENS FUNCIONAIS DA DENTIÇÃO OUTROS SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS ÀS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES CAPÍTULO 9. História e Exame das Desordens Temporomandibulares HISTÓRIA E EXAME PRELIMINARES HISTÓRICO DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES EXAME CLÍNICO CAPÍTULO 10. Diagnóstico das Desordens Temporomandibulares DIAGNOSTICANDO AS DESORDENS DOLOROSAS BLOQUEIO ANALGÉSICO DIAGNÓSTICO FATORES-CHAVE PARA SE FAZER UM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL CLASSIFICAÇÃO DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES RESUMO PARTE III: Tratamento dos Distúrbios Funcionais do Sistema Mastigatório CAPÍTULO 11. Considerações Gerais no Tratamento das Desordens Temporomandibulares INTER-RELAÇÕES DAS DIVERSAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES TRATAMENTO DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES CONCEITO DE AUTO-REGULAÇÃO FÍSICA CAPÍTULO 12. Tratamento das Desordens dos Músculos Mastigatórios CO-CONTRAÇÃO PROTETORA (CONTRATURA MUSCULAR) SENSIBILIDADE DOLOROSA MUSCULAR LOCAL (MIALGIA NÃO-INFLAMATÓRIA) MIOESPASMOS (MIALGIA DE CONTRAÇÃO TÔNICA) DOR MIOFASCIAL (MIALGIA DO PONTO DE GATILHO) MIALGIA MEDIADA CENTRALMENTE (MIOSITE CRÔNICA) FIBROMIALGIA (FIBROSITE) DESORDENS MOTORAS MEDIADAS CENTRALMENTE CAPÍTULO 13. Tratamento das Desordens da Articulação Temporomandibular DESARRANJOS DO COMPLEXO CÔNDILO-DISCO INCOMPATIBILIDADE ESTRUTURAL DAS SUPERFÍCIES ARTICULARES DESORDENS INFLAMATÓRIAS DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR CONSIDERAÇÕES GERAIS QUANDO SE TRATA O TRAUMA AGUDO À ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR CAPÍTULO 14. Tratamento da Hipomobilidade Mandibular Crônica e das Desordens do Crescimento HIPOMOBILIDADE MANDIBULAR CRÔNICA DESORDENS DE CRESCIMENTO CAPÍTULO 15. Terapia com Placa Oclusal CONSIDERAÇÕES GERAIS TIPOS DE PLACAS OCLUSAIS CONSIDERAÇÕES COMUNS NO TRATAMENTO COM PLACA CAPÍTULO 16. Seqüência de Tratamento PARTE IV: Terapia Oclusal CAPÍTULO 17. Considerações Gerais na Terapia Oclusal CONTROLE DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES TRATAMENTO EM CONJUNTO COM OUTRAS TERAPIAS ODONTOLÓGICAS OBJETIVOS DO TRATAMENTO PARA TERAPIA OCLUSAL PLANO DE TRATAMENTO PARA TERAPIA OCLUSAL FATORES QUE INFLUENCIAM O PLANO DE TRATAMENTO PRIORIZANDO OS FATORES CAPÍTULO 18. O Uso de Articuladores na Terapia Oclusal USOS DO ARTICULADOR TIPOS DE ARTICULADOR SELEÇÃO DE UM ARTICULADOR CAPÍTULO 19. Desgaste Seletivo INDICAÇÕES ANTECIPANDO O RESULTADO DO DESGASTE SELETIVO CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO DESGASTE SELETIVO OBJETIVOS DO TRATAMENTO COM DESGASTE SELETIVO DESGASTE SELETIVO PARCIAL CAPÍTULO 20. Considerações Restauradoras na Terapia Oclusal CONSIDERAÇÕES OPERATÓRIAS NA TERAPIA OCLUSAL Apêndice Índice