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XVIII Feira de Inovação, Tecnologia e Cultura 
Centro Educacional Aprendiz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AudioSocial: a importância da representatividade na mídia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barbacena - MG 
2019 
Centro Educacional Aprendiz 
3º ano - Ensino Médio 
Vinícius de Moraes e Fernando Sabino 
Arthur Moreira - VM 
Carolina Tonholo - VM 
Gisele Sobreira - VM 
Giulia Souza - VM 
Maria Júlia - FS 
Yasmin Lorrayne - VM 
 
 
 
 
 
 
 
AudioSocial 1: a importância da representatividade na mídia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barbacena - MG 
2019 
 
1 Trocadilho com a palavra “audiovisual” 
1. INTRODUÇÃO 
 No cotidiano, é comum vermos crianças brincando de “ser” personagens que 
elas veem em desenhos animados e filmes na televisão. Normalmente, elas 
escolhem representar personagens com os quais se identificam, seja física ou 
psicologicamente, e que são conhecidos em seu grupo de amigos. No entanto, 
essas animações e filmes não conseguem representar a todos aqueles que 
querem brincar, uma vez que a maioria das figuras apresentadas pela mídia 
seguem um padrão hegemônico e baseado, muitas vezes, em moldes europeus 
ou norte-americanos. Toma-se como exemplo os filmes de princesas da Disney, 
nos quais a figura feminina, normalmente, tem seu final feliz atrelado a um 
casamento com o príncipe do reino e sua ascensão como princesa. Elas 
dançam, cantam, cuidam da casa, são gentis..., mas não são as heroínas de 
suas histórias; são princesas, e uma princesa deve fazer tudo listado acima e 
deve estar casada com um príncipe. Hoje, esses padrões veem sendo 
quebrados, mas, muitas vezes, quando produtores tentam representar figuras 
fora do arquétipo branco, heteronormativo, da garota gentil e dona de casa, e do 
garoto corajoso e que não teme nada, a ficção não condiz com a realidade, 
pautando-se meramente em estereótipos construídos pelo senso comum. 
 Com isso em mente, partimos da hipótese de que a representatividade na 
mídia exerce um papel importante na formação da individualidade das pessoas, 
seja pelo fortalecimento de preconceitos e estereótipos ou ao quebrar a 
padronização socialmente instituída quanto à etnia, a sexualidade e os papeis 
de gênero. Afinal, segundo Émile Durkheim, o indivíduo é produto do meio - por 
isso é importante analisar os meios de comunicação social com os quais nos 
relacionamos, principalmente quando se sabe que estes afetam as grandes 
massas da sociedade facilmente influenciáveis, como os jovens. 
 Sendo assim, esse trabalho baseia-se na demonstração da influência midiática 
na coletividade e na garantia de um processo saudável de formação da 
identidade pessoal, concomitante à reação das pessoas diante de tal. Quais 
personagens as crianças poderão escolher ser a partir de agora? Afinal, qual 
personagem realmente vai representar você por quem você é, e não por quem 
a mídia quer que você seja? 
2. OBJETIVOS 
2.1. OBJETIVOS GERAIS 
Pretende-se descobrir se a presença de um elenco diversificado de 
personagens em uma peça audiovisual realmente tem algum impacto na 
experiência do espectador e na sociedade. 
 
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
• Entender a relação entre a mídia e sociedade através de estudos e 
conceitos filosóficos e sociológicos; 
• Entender os mecanismos pelos quais a cultura popular opera, em especial 
através da mídia audiovisual; 
• Descobrir se a mídia tem ou não um papel formador de opiniões e 
estereótipos; 
• Saber a opinião de algumas pessoas acerca da representatividade na 
mídia, ou seja, se isto é importante ou faz alguma diferença em suas 
vidas; 
• Analisar, brevemente, algumas obras audiovisuais e como elas 
impactaram a sociedade no contexto em que foram lançadas; 
• Tratar da importância de se discutir esse tema na atualidade.
 
3. METODOLOGIA 
Para este trabalho, fez-se uso de métodos de pesquisa exploratória, com 
o fim de conhecer mais acerca do assunto abordado através de pesquisas 
bibliográficas; descritiva, com a coleta e análise de dados; e explicativa, com a 
explicação dos fenômenos observados através da pesquisa literária e da 
aplicação de um questionário de opinião sobre a representatividade, 
especificamente, de diferentes gêneros, sexualidades e etnias2 na mídia 
audiovisual. 
Para a pesquisa literária, foram usados artigos científicos acerca da mídia, 
cultura, indústria cultural e representatividade social, em especial os estudos e 
conceitos propostos por Mary Jane P. Spink (PhD e professora de Psicologia 
Social da PUC-SP), João Freire Filho (doutor em Literatura Brasileira pela PUC-
Rio e professor do Departamento de Fundamentos da Comunicação e do 
Programa de Pós-Graudação em Comunicação e Cultura, ambos da UFRJ) e 
Min Jun Kim (senior no Departamento de Sociologia e Antropologia da Lehigh 
University). Além disso, procuramos, também, por relatos pessoais sobre o 
impacto da representatividade na mídia na vida de diversos indivíduos. 
Quanto à análise das informações e resultados obtidos, usamos uma 
abordagem qualitativa para tratar dos dados teóricos, aliando-a a métodos da 
abordagem quantitativa, isto é, foram também analisados dados e estatísticas 
obtidos através do questionário aplicado online e na escola Aprendiz, o qual 
contou com um universo de 160 pessoas. No entanto, como a amostra de dados 
se mostra numericamente pouco expressiva, a abordagem qualitativa e o 
embasamento teórico tiveram maior peso durante a avaliação quantitativa para, 
assim, evitar-se generalizações. 
Por fim, analisamos, brevemente, algumas produções audiovisuais 
contemporâneas, destacando a forma como elas dialogam com a nossa 
sociedade por meio da representatividade social. 
 
2 Opta-se por abordar apenas tais grupos durante o estudo para não o tornar prolixo e, também, 
devido ao fato de mais pessoas conhecerem e se identificarem com eles. No entanto, é notável 
a existência de diversos outros grupos sociais relevantes na discussão de tal temática, como 
cadeirantes, surdos, órfãos, autistas, etc. 
4. RESULTADOS OBTIDOS 
4.1. CONCEITUANDO “REPRESENTAÇÃO SOCIAL” 
“Representação”, segundo o dicionário Aurélio, pode significar, entre ou-
tras coisas, o ato de “reproduzir pela pintura, escultura, gravura, etc.” ou de “tra-
zer à memória, significar, simbolizar”. Ou seja, quando falamos de “representa-
ção social”, nos referimos à forma como grupos da sociedade são simbolizados, 
especialmente através da arte. 
No entanto, a “representatividade social” tem um significado que vai além 
do mero resultado da união semântica entre palavras “representação” e “social”. 
A representatividade pode ter um caráter político-democrático, quando um grupo 
tem seus interesses e direitos reconhecidos pelas autoridades políticas; teatral, 
quando ela é sinônimo de atuar de acordo com um papel estabelecido; ideológi-
co, entre outros. Para este trabalho, o caráter essencial do termo será desenvol-
vido a partir de uma análise psicossocial, baseando-nos no trabalho de Mary 
Jane P. Spink (1993). 
Segundo Denise Jodelet 3, as representações sociais constituem formas 
de conhecimento orientadas para a comunicação e para a compreensão do com-
texto social e histórico no qual vivemos e, portanto, contribuem para a construção 
de uma visão comum acerca da realidade. Essas formas de conhecimento, como 
foi pontuado acima, são transdisciplinares, ou seja, podem ser avaliadas por di-
versas ópticas diferentes. 
Nessesentido, pode-se destacar três formas de se analisar a representati-
vidade social. Inicialmente, ao considerá-la como mero ato de “simbolizar” algo, 
ela deve ser analisada pela óptica do relativismo cultural e baseando-se em estu-
dos acerca do conceito de ideologia; afinal, se representar é apenas significar al-
go concreto, cada cultura o fará de uma maneira e, nesse sentido, o foco se torna 
a maneira como as diferentes culturas chegaram a representações diferentes so-
bre a mesma coisa, além do papel do senso comum na construção desse conhe-
cimento. Posteriormente, ao analisar a ação de representar como se o indivíduo 
estivesse em uma peça, ela adquire um caráter predominantemente prático, ou 
 
3 Professora de Ciências Sociais em Paris, foi citada diversas vezes no trabalho desenvolvido 
por Mary Jane P. Spink. 
seja, analisa-se a construção social do discurso, e, dessa forma, representação 
social torna-se sinônimo do conceito de ator social 4. Por último, ela pode ser a-
nalisada a partir de conceitos da psicologia social ao considerar que a represen-
tação social é tanto fruto do estado mental do produtor quanto esse estado e a 
própria representação têm consequências sociais. 
A Psicologia Social procura superar esta dicotomia visualizando o 
indiví-duo e suas produções mentais como produtos de sua socialização 
em um determinado segmento social. A individualidade, nesta 
perspectiva, emerge como uma estrutura estruturada que tem potencial 
estruturante. (SPINK, “O Conceito de Representação Social na 
Abordagem Psicosso-cial” - 1993, p. 304) 
 
Na última frase do trecho anterior, Spink deixa clara a importância do indi-
víduo bem como das estruturas sociais. A subjetividade individual é influenciada 
pelo meio no qual a pessoa está inserida (estrutura estruturada) e, através das 
representações, pode modificar ou ratificar elementos desse mesmo meio (po-
tencial estruturante). Nesse sentido, a análise psicossocial pode ser vista como 
a amalgamação da ideia de que a sociedade influência o indivíduo, como defen-
dido por Émile Durkheim, e de que o indivíduo influência a sociedade através, 
por exemplo, das ações sociais de Max Weber. 
Ainda segundo a autora, as representações sociais têm três funções prin-
cipais, sendo elas social, afetiva e cognitiva. No âmbito social, elas são vistas 
como processos que orientam a conduta e comunicação sociais. Na esfera afeti-
va, tornam-se formas de proteção e legitimação de identidades sociais, principal-
mente quando estas encontram-se ameaçadas. Já no âmbito cognitivo, as repre-
sentações transformam o que é estranho ou incomum em algo familiar, seja por 
ancoragem, ou seja, na realidade social vivida, não sendo, portanto, intraindivi-
dual; ou por objetivação, na qual ideias abstratas tornam-se tão vivídas “que seu 
conteúdo interno assume caráter de uma realidade externa” (Moscovici, 1988). 
 
4 Conceito amplamente utilizado na Sociologia que, basicamente, designa o indivíduo que 
representa determinado papel e/ou ideologia em um contexto social. Além disso, pode dialogar 
com o conceito de papeis sociais, usado para indicar que o indivíduo, na sociedade, é como um 
ator: ele pode interpretar diversos “personagens” dependendo da situação em que se encontra. 
A função cognitiva por objetivação é particularmente interessante por re-
sultar na cristalização de um elemento diferente ou não familiar na cultura ou so-
ciedade. Para tanto, esse processo é constituído de três partes, sendo elas a 
descontextualização, a criação de uma estrutura que reproduz o conceito de for-
ma figurada ou indireta, e, por fim, a naturalização. Tal procedimento pode ser 
observado na produção audiovisual, ou seja, em filmes, séries, vídeos, desenhos 
animados, etc. Em muitas animações infantis das últimas décadas, por exemplo, 
pode-se observar a presença de relações não heterossexuais desempenhando 
uma função cognitiva. Podemos citar, como exemplos, a animações “Steven Uni-
verse” (2013), na qual duas personagens de mesmo gênero têm uma relação ro-
mântica; “Summer Camp Island” (2018), em que um dos personagens secundá-
rios tem dois pais; e “Sakura Cardcaptors” (1996), na qual os protagonistas, uma 
garota e um garoto, têm sentimentos pelo mesmo personagem - um garoto um 
pouco mais velho que ambos. Nos três casos, as relações são apresentadas pa-
ra o público infantil de forma descontextualizada de quaisquer reinvindicações 
sociais quanto à livre expressão de diferentes sexualidades e também de manei-
ra majoritariamente indireta e simbólica, sem que a relação entre dois persona-
gens de mesmo gênero seja o ponto principal para o desenvolvimento da trama 
ou que tal fato seja sempre o centro das atenções. Dessa maneira, percebe-se 
como a produção audiovisual tem um papel importante na representação social 
para que, um dia, cheguemos à fase de naturalização. 
Em suma, a representatividade social pode ser vista de várias formas, to-
das elas validadas de acordo com os interesses objetivados pelo pesquisador. 
No entanto, pode-se traçar uma linha de pensamento comum entre todas as for-
mas de analisá-la, isto é, que a representatividade social é um processo ou com-
junto de símbolos que representam elementos intrínsecos a uma sociedade, se-
jam eles ideias, elementos culturais, grupos sociais ou a própria subjetividade do 
produtor e, por isso, as formas de representação devem sempre ser pensadas 
dentro de dado contexto histórico-cultural. 
4.2. INDÚSTRIA CULTURAL, MÍDIA E SOCIEDADE 
Uma vez avaliado o que é o conceito de representatividade social e como 
ela é aplicada, deve-se, agora, analisar o meio cultural principal no qual ela se 
manifesta no mundo contemporâneo, ou seja, a mídia audiovisual. 
Primeiramente, é interessante notar como os meios de comunicação e au-
diovisuais tornaram-se, especialmente após da Terceira Revolução Industrial, 
meios de aprendizagem e de transmissão cultural. Afinal, em um contexto globa-
lizado, entramos em contato com certos costumes e pensamentos divergentes 
dos quais temos como naturais majoritariamente através dos meios de comuni-
cação social, tais como a televisão, que contextualizam nossa percepção acerca 
de diferenças culturais, ideológicas, físicas e psicológicas através nossa própria 
cultura ou das pessoas responsáveis pela produção midiática. 
Na era da nova mídia, o impacto da cultura popular 5 é muito 
maior na vida dos consumidores. Indivíduos tornam-se cada vez mais 
dependentes dos grandes meios de comunicação para contextualizar 
suas experiências sociais em um mundo cada vez mais globalizado. 
[...] À medida que os consumidores tentam entender onde sua própria 
identidade se encaixa em um contexto social, a grande mídia cria um 
espaço comum de compreensão através de representações que refle-
tem os valores e a consciência da maioria. (KIM, “THE NBA & LEBRON 
JAMES: an analysis of the relationship between media representation 
and american society” - 2015, p. 24) 
Nesse contexto, pode-se destacar o conceito de hegemonia cultural, pro-
cesso em que as classes dominantes modelam a sociedade de acordo com seus 
próprios valores. Isso é possível porque, segundo Gramsci, há uma “nova manei-
ra de conceber o mundo e o homem, e essa concepção não é mais reservada 
aos grandes intelectuais, aos filósofos profissionais, mas tende a se tornar um 
fenômeno da massa popular, com um caráter concretamente mundial, capaz de 
modificar o pensamento e cultura popular[...]” (GRAMSCI, 1971). Tal fato evi-
dencia o caráter estruturante e estruturado das representações sociais, uma vez 
elasse tornam produto e produtoras da cultura popular. 
Para moldar a coletividade ao seu bel prazer, os produtores de conteúdos 
midiáticos, em especial aqueles ligados a figuras políticas, recorrem, muitas ve-
zes, aos estereótipos. Segundo Lippmann (1965), o estereótipo poder ser, sob 
uma ótica psicológica, um modo de processar informações diferentes das quais 
estamos habituados, criando, dessa forma, uma sensação de ordem, ou, consi-
 
5 Caracteriza elementos culturais específicos de uma sociedade influenciados por crenças locais 
e pela interação entre os indivíduos. 
derando seu caráter cultural, uma representação simbólica resistente à mudança 
social. Seja qual for o significado do termo, nota-se que o estereótipo, além de 
reduzir atributos individuais e/ou culturais ricos a uma característica única e ge-
neralizada, tem papel segregacionista. 
Mesmo quando a finalidade é positiva, percebe-se que, muitas vezes, o 
uso de estereótipos é comum na representação social de grupos minoritários. 
Como os estereótipos correspondem a uma visão socialmente aceita, produtores 
que querem representar grupos diversos recorrem ao uso destes, seja por medo 
de uma repercussão negativa a respeito da obra ou por ignorância em relação a 
essa temática, e acabam por perpetuar preconceitos sexuais, étnicos e papeis 
de gênero degradantes na formação da individualidade pessoal daqueles susce-
tíveis à influência dos meios de comunicação audiovisuais, mesmo que a inten-
ção seja precisamente a oposta. 
Como forma influente de controle social, ajudam a demarcar e 
manter fronteiras simbólicas entre o normal e o anormal [...], facilitam a 
união de todos “nós” que somos normais, em uma “comunidade 
imaginária”, ao mesmo tempo em que excluem, expelem, remetem a um 
exílio simbólico tudo aquilo que não se encaixa, tudo aquilo que é 
diferente. (FREIRE FILHO “Mídia, Estereótipo e Representação das 
minorias” - 2004, p. 48) 
Tais ideologias aqui apresentadas dialogam diretamente com a indústria 
cultural da Escola de Frankfurt. Em conformidade com os filósofos Theodor 
Adorno e Max Horkheimer (1947), a indústria cultural é um sistema que objetiva 
o controle social através da transformação de cultura em mercadoria. Isso equi-
vale a dizer que filmes, novelas, músicas e outras formas de expressão cultural 
são comercializadas como qualquer outro produto industrial, perdendo sua ne-
cessidade e importância sociais. Sendo assim, para Adorno, a população que 
consome tais mídias torna-se alienada e “massificada”, isto é, os indivíduos pas-
sam a ter um gosto padronizado e são induzidos a consumir produtos culturais 
específicos. 
Atualmente, em especial com o advento de novos meios de comunicação 
online, mais pessoas podem participar do processo de produção e, consequente-
mente, de mudança cultural. Seja por meio de vídeos no YouTube ou histórias 
em quadrinhos autorais no Tapas, grupos periféricos da sociedade ganharam 
maior voz. No entanto, uma vez que a sociedade se encontra ainda alienada por 
produtos e ideologias culturais vendidos como corretos e naturais, observa-se o 
surgimento de algo similar ao que Stanley Cohen caracterizou por pânicos mo-
rais (1972). De acordo com o sociólogo, desavenças entre grupos diferentes, 
muitas vezes ampliadas pela mídia informativa, causam conflitos morais, nos 
quais sujeitos sentem que seus estilos de vida são ameaçados e, a partir disso, 
criam um universo moralmente antagônico que deve ser atacado. 
A reação exagerada dos guardiões da moral não era apenas 
míope, mas também contraproducente, servindo, apenas, para 
incrementar a polarização social [...]. (FREIRE FILHO “Mídia, 
Estereótipo e Representação das minorias” - 2004, p. 50) 
Portanto, é notável a forma como a mídia audiovisual tem o poder de mol-
dar o pensamento e os elementos culturais de uma sociedade, além de ter a ca-
pacidade de iniciar, alimentar ou simplesmente interagir com conflitos sociais. A 
indústria cultural, através de estereótipos e movida por interesses particulares, 
muito contribui para a consolidação de uma mentalidade fechada, pouco racional 
e preconceituosa, o que contribui para nada além da criação de um ambiente po-
larizado quando novas ideias emergem. Por isso, a representatividade social em 
mídias de amplo alcance mostra-se como uma alternativa não apenas viável, em 
face do caráter mais popular dos novos meios de comunicação, mas também 
necessária para a garantia de um ambiente democrático e inclusivo. 
Aliadas ao crescente uso (tático) das tecnologias interativas da 
comuni-cação por parte de grupos étnicos minoritários e comunidades 
da diás-pora [...] as produções culturais supracitadas podem oferecer 
contri-buição valiosa na luta das minorias pela representação. É preciso 
estar atento, ainda, para alterações dentro da [...] grande mídia, 
constrangida, em muitos casos, a rever discursos e representações 
sobre o social, sob influxo de mudanças históricas, protestos de grupo 
de pressão e identificação de novos nichos mercadológicos. (FREIRE 
FILHO “Mídia, Estereótipo e Representação das minorias” - 2004, p. 64-
65) 
 
 
 
4.3. ANÁLISE DE DADOS QUANTITATIVOS 
Para ratificar ou negar a hipótese de que a representatividade social em 
séries, filmes e desenhos animados é realmente necessária e importante, aplica-
mos um questionário na escola Aprendiz e em grupos online. Inicialmente, per-
guntamos a idade, sexualidade, gênero e etnia de cada um dos 160 participan-
tes. 
29%
67%
1% 3%
Idade
10 a 15 anos 16 a 22 anos 23 a 40 anos Mais de 40 anos
60%
39%
1%
Gênero
Feminino Masculino Agênero/Indefinido
 
 
Como atestado pelos dados, a maioria dos participantes foram pessoas 
jovens (28,9% entre 10 e 15 anos, 67,3% entre 16 e 22 anos), heterossexuais 
(83%) e brancas (57,4%) ou pardas (34%), sendo o gênero feminino (59,7%) 
predominante em relação aos demais. Além disso, como 128 cópias (80%) do 
questionário foram aplicadas em uma escola particular, pode-se considerar que 
boa parte dos participantes tem uma situação financeira, ao menos, estável.6 
 
6 Generalização feita a partir do fato de que, mesmo que a escola proporcione bolsas integrais, 
os alunos ainda têm que pagar pelo material, cujo custo é considerável. 
83%
11%
3%1%
1%1%
Sexualidade
Heterossexual Bissexual Homossexual Pansexual Assexual Prefiro não dizer
57%
34%
5%
3%
1%
Grupo étnico
Branco Pardo Negro Indígena Asiático
Dessa forma, pode-se dizer que, com exceção do gênero e situação 
econômica, a qual não foi avaliada quantitativamente, a maioria dos participantes 
são do grupo “padrão” da sociedade e, como são jovens, têm muito contato com 
os diversos canais midiáticos e, consequentemente, com opiniões diferentes. 
Em seguida, os participantes deveriam opinar sobre algumas afirmações 
acerca da mídia audiovisual. 
De acordo com os resultados da pesquisa literárias, chegamos à conclu-
são de que a mídia pode influenciar a sociedade, e 71% daqueles que responde-
ram ao questionário concordam de alguma forma com essa informação. 
31%
40%
14%
10%
5%
A mídia audiovisual pode influenciar a organização 
e as relações vigentes em um meio social
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
23%
33%
14%
9%
21%
Aspectos da minha vida já foram influenciados por 
obras audiovisuais
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
Observa-se que a quantidade de pessoas que concordamde alguma for-
ma com a afirmação de que a presença de personagens diversificados é impor-
tante (78%) é maior que a quantidade daqueles que acreditam na influência da 
mídia sobre a sociedade (74%) e muito maior do que aquelas que afirmam que 
algum aspecto de suas vidas já foi influenciado por situações ou personagens 
de produtos audiovisuais (56%). Isso pode sinalizar que nossa geração é mais 
atenta e ativa em relação a movimentos sociais, mas ainda não consegue perce-
ber claramente a extensão do impacto da mídia, em especial a audiovisual - com 
a qual interagimos desde a infância-, em suas vidas. 
64%
14%
14%
6% 2%
A presença de personagens de etnias, culturas, 
sexualidades e/ou gêneros diversos em uma obra 
audiovisual é importante
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
17%
25%
35%
16%
7%
No geral, eu gosto da maneira como minha etnia é 
representada na mídia audiovisual
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
Das pessoas que, seja totalmente ou parcialmente, não gostam da forma 
como sua etnia é representada, 47,2% são brancas (cerca de 20,7% do total de 
brancos), 38,9% são pardas (cerca de 30% do total de pardos), 8,3% negras 
(cerca de 42,9% do total), 2,8% indígenas (25% do total) e 2,8% são asiáticas 
(100% do total7). Com isso, percebe-se que pardos e negros são aqueles que 
mais se sentem mal representados pela mídia, mas, mesmo assim, menos da 
metade daqueles que pertencem a esses grupos étnicos concordam com isso. 
Tal fato pode indicar que as representações de indivíduos afrodescendentes na 
mídia são mais positivas do que eram anteriormente, contudo, alguns ainda sem-
tem que elas ainda são estereotipadas e, portanto, não os representa. 
Daqueles que não gostam de como sua sexualidade é representada, 
59,4% são heterossexuais (14,3% do total de heterossexuais), 21,9% são bisse-
xuais (38,9% do total), 7,8% pansexuais (100% do total), 7,8% assexuais (100% 
do total) 8 e 3,1% são homossexuais (25% do total). É interessante notar que, 
des-ses heterossexuais, cerca de 57,9% são meninas. Isso pode indicar que elas 
se sentem insatisfeitas pela forma como personagens femininas são 
apresentadas em romances como personagens pouco profundas, idealizadas e 
“bobinhas”, mesmo que isso seja uma questão de gênero, não sexualidade. Por 
outro lado, ao considerar o contexto atual do Brasil, o grande número de 
 
7 Apenas uma pessoa de etnia asiática respondeu ao questionário. 
8 Apenas duas pessoas pansexuais e duas assexuais responderam ao questionário. 
28%
23%
29%
9%
11%
No geral, eu gosto da maneira como minha 
sexualidade é representada na mídia audiovisual
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
heterossexuais que não se sentem bem representados pode, também, ser 
resultado do pânico moral existente em relação às questões de sexualidade na 
sociedade brasileira atual. No geral, percebe-se que heterossexuais, bissexuais, 
pansexuais e assexuais são os que menos se sentem representados. 
Com 30% de indivíduos, essa foi a categoria a qual mais pessoas 
indicaram não se agradar com a forma como seus gêneros são representados 
pela mídia. Desse total, 75% são mulheres (34,5% de todas que participaram), 
20,5% são homens (14,5% do total) e 4,5% são pessoas agênero (100% do to-
tal9). Tais resultados mostram que a representação feminina ainda é um proble-
ma, bem como a masculina. Afinal, se por um lado temos mulheres tratadas co-
mo objetos, donas de casa e preocupadas com a aparência, por outro é notável 
a forma como personagens masculinos são, majoritariamente, apresentados co-
mo indivíduos extremamente corajosos, que não têm medo de nada, forte e que 
nunca devem chorar - emoções são “femininas”. Torna-se também pertinente 
observar a forma como poucos personagens são exibidos fora do padrão binário, 
ou seja, aquele no qual considera-se apenas a existência dos gêneros femininos 
e masculino. 
 
9 Apenas duas pessoas agênero responderam ao questionário. 
24%
22%
24%
17%
13%
No geral, eu gosto da maneira como meu gênero é 
representado na mídia audiovisual
Concordo plenamente Concordo parcialmente Neutro/Não sei
Discordo parcialmente Discordo totalmente
Por fim, pedimos aos participantes que indicassem suas 3 séries, filmes e 
desenhos animados favoritos, além de perguntarmos qual(is) produto(s) audiovi-
sual(is) já os fizeram sentir bem representados.10 
 
 
10 Por “antigas”, entende-se aquelas animações que estrearam antes de 2010. Opta-se por fazer 
essa separação devido ao fato de que a maioria dos participantes escolheram animações que 
eles assistiam durante a infância, ou seja, a maioria delas foram escolhidas com base no senti-
mento de nostalgia, e não necessariamente a partir de critérios mais racionais. 
Como pode-se perceber, os resultados seguem quase perfeitamente o cli-
chê de que meninas preferem romances (Barbie, Barraca do Beijo, Simples-
mente Acontece, Para Todos os Garotos que já Amei, Gatinhas e Gatões), em-
quanto os meninos optam por séries e filmes de ação (Game of Thrones, The 
Walking Dead, 7 Pecados Capitais, Naruto, Vingadores, Velozes e Furiosos, 
Harry Potter, Cavaleiros do Zodíaco). 
Contudo, é possível notar certos padrões entre os garotos, as garotas e 
aqueles não binários. No geral, as séries e filmes mais assistidos encontram-se 
no catálogo da Netflix, um dos principais canais de entretenimento da atualidade. 
Quanto às animações, nota-se uma tendência ao consumo de animações japo-
nesas por parte da maioria dos jovens, que mencionaram gostar e até mesmo 
se sentirem representados por animes, tais como 7 Pecados Capitais, Naruto, 
Cavaleiros do Zodíaco, entre outros que não conseguiram entrar nas estatísti-
cas, mas foram mencionados (Dragon Ball, Death Note, Pokémon, etc). 
Ao analisar as séries, animações e filmes apontadas pelos participantes 
como representativas, torna-se evidente que muitos não se sentem repre-
sentados pela mídia ou, simplesmente, sequer pensaram no assunto. Como ex-
posto anteriormente, isso indica como podemos ser consumidores não críticos, 
que pouco enxergam o verdadeiro impacto que peças de entretenimento podem 
ter em nossas vidas. 
10%
10%
20%
10%10%
20%
20%
ESCOLHIDOS PELOS DOIS PARTICIPANTES NÃO BINÁRIOS
Vikings The last kingdom Rick and Morty Naruto Batman Bob Esponja Steven Universe
4.4. REPRESENTATIVIDADE NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA 
Para aplicar os conceitos enunciados neste trabalho, escolhemos, dentre 
todos as obras audiovisuais mencionadas por aqueles que responderam ao 
questionário, uma animação, uma série e um filme para serem analisados por 
um membro do grupo. 
4.4.1. A cor do Pantera Negra 11 
 Estamos falando de um filme, produzido pela Marvel em 2018, que esgo-
tou ingressos em cinemas de muitos países, entretanto o personagem principal, 
o “Pantera Negra”, já existia desde 1960, foi criado por Stan Lee e produzido por 
Jack Kirby. Quando a primeira edição do personagem foi lançada, em quadi-
nhos, a capa era: “O Sensacional Pantera Negra”, e o nome verdadeiro do super-
herói era T'Challa, um homem negro, herói, poderoso, africano e que detinha a 
maior tecnologia de todos os países; isso em 1960. No enredo, o personagem 
protegia uma nação inteira, Wakanda, que se desenvolveu graças ao recurso vi-
branium, trazido à Terra através de um meteoro - o escudodo Capitão América 
foi feito com este mesmo recurso. A história gira em torno da busca de outras 
nações por esse metal, e, por isso, T’Challa deve proteger sua nação. Fora das 
revistas em quadrinhos, quando o Pantera Negra surgiu, a Guerra Fria fazia a 
sociedade viver com o medo de um possível conflito nuclear e, de ambos os la-
dos da Cortina de Ferro, uma intensa disputa tecnológica (conflito nuclear) fazia 
a ciência avançar, assim como no filme. Nos Estados Unidos da América, o Movi-
mento dos Direitos Civis, cujos protagonistas eram, entre outros, negros, com-
frontavam um racismo ainda não superado pelo país. Uma época perfeita para 
criar um personagem e uma história que condiziam tão bem com a realidade a-
tual. 
Voltando ao filme produzido pela Marvel em 2018, o diretor Ryan Kyle 
Coogler cria o filme inspirado nos gibis de Stan Lee, abordando a mesma histó-
ria, porém, usufruindo das tecnologias do século XXI para aprimorar a narrativa. 
O filme teve como motivação a quebra do padrão heroico nas indústrias cinema-
tográficas, o que antes nenhuma corporação, nem mesmo a própria Marvel, há-
via feito. A criação de um personagem negro, africano, milionário, rei, herói e que 
 
 
11 Análise por Maria Júlia Vidal. 
Figura 1. Compilação do autor. Em primeiro plano, Martin Luther King Jr., um dos mais 
importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos USA; em segundo plano, 
quadro desenhado por Stan Lee para o quadrinho "Pantera Negra". 
detinha a maior tecnologia de todos os países do mundo no séc. XXI, em uma 
mesma pessoa e em um mesmo filme, no ano de 2018, transmitiu uma mensa-
gem imensamente reflexiva no que se diz respeito à caracterização do filme. As 
pessoas não esperavam assistir a um filme aonde o herói não fosse branco, não 
tinha um perfil europeu e que possuísse uma mulher, a personagem Okoye, co-
mo general das forças armadas com um exército formado somente por mulheres. 
Isso transmitiu a mensagem de que não é necessário ser branco, america-
no/europeu ou musculoso para ser um herói, ou que uma pessoa deve possuir 
cabelos “bons”, maquiagem intacta durante todo o filme, ser magra e branca para 
ser uma heroína, como provam as personagens Okoye, Nakia e todas as outras 
mulheres guerreiras do filme. Além disso, é notável a questão da diversidade cul-
tural e religiosa da África tratada ao decorrer do enredo. 
Aprofundando o assunto e abordando o tema do nosso trabalho, com rela-
ção à etnia, o produtor acertou em cheio, no que se diz respeito à quebra de ta-
bu, estereótipos e preconceito. A trama, além de trazer uma reunião de caracte-
rísticas em um só personagem, aborda a cultura africana e a padronização das 
pessoas da África, ou seja, os atores do filme não precisam sofrer edições cine-
matográficas para se encaixarem no perfil do personagem - eles já têm descen-
dência africana-, como em outros filmes e as mulheres se caracterizam com sím-
bolos africanos pelo corpo, além de usarem lanças quando vão lutar e, em certos 
momentos, transmitirem um pouco da cultura e da religião africana. Com relação 
aos estereótipos, nada de herói branco que salva pessoas em apuros, Ryan 
Coogler cria logo um pacote, 6 em 1 (mais conhecido como Pantera Negra), que 
salva uma nação inteira de países ambiciosos e com sede de riqueza. Quanto 
às personagens, nada de ficarem “lindas” após uma luta - o filme retrata bem o 
cansaço -, as “Dora” lutam como uma unidade para derrubar qualquer inimigo. A 
obra quebrou completamente a padronização social vigente, e, mesmo que nem 
toda a sociedade tenha ficado satisfeita, com certeza grande parte da população 
de etnia negra e de descendência africana conseguiu absorver essa nova pro-
posta e se sentiu representada. Um jovem internauta negro, por exemplo, conta 
sua reação ao ver o cartaz do filme: “então, nós sentamos aqui, diante deste pôs-
ter “f*da” do Pantera Negra, e a conclusão que chegamos, o tempo todo, é que... 
é assim que as pessoas brancas se sentem! Desde o começo do cinema, se 
sentem homenageadas”.12 
Em suma, o filme foi muito bem recebido pela sociedade, muitas pessoas 
até diziam que era algo inovador, e realmente foi, por mais que já existiam outros 
heróis negros, nunca existiu um personagem desses com tantas qualidades 
significativas. É claro que não foram todas as pessoas que enxergaram e aceita-
ram essa proposta de filme, mas esse fato é justificável, afinal muitas delas estão 
acostumadas com padrões sociais vigentes e difundidos por décadas pelas mí-
dias audiovisuais, e então, quando o filme foi lançado, houve um imenso impacto 
tanto na sociedade quanta na indústria cinematográfica. Ao meu ver, o filme é 
excelente, além de trazer a África como cenário, recuperando de certa forma a 
imagem do continente como um lugar bom, como no filme “O Rei Leão”, lançado 
pela Disney em 1994, Pantera Negra, traz à sociedade a mensagem de que o 
padrão sócio étnico atual está ultrapassado e precisa ser quebrado, porque exis-
tem diversos tipos de pessoas diferentes e todas elas merecem lugar na coletivi-
dade e na mídia. 
 
 
 
12 Relato disponível no vídeo “Representatividade em Jogos e Mídia/Você vai mudar de ideia”, 
do canal “Henrytado”. 
4.4.2. Girl power em Steven Universo13 
A animação, lançada em maio de 2013 pela Cartoon Network, foi a primei-
ra série criada por uma mulher, Rebecca Sugar, na emissora. Steven Universo 
conta a história de Steven, um menino que vive com as Crystal Gems, aliens hu-
manoides criadas a partir de pedras preciosas. Steven é meio humano e meio 
gem, sempre vivendo aventuras com as Crystal Gems, ajudando-as a proteger 
a Terra de outras gems que desejam destruir o planeta. 
As Crystal Gems são formadas por sujeitos que foram, de alguma forma, 
desertados por sua nação por estarem foram do padrão de seu povo de origem. 
Na Terra, elas encontram um lugar de liberdade. Sobre a inclusão de temáticas 
LGBT+ na série, Rebecca já disse que é inspirada em suas próprias experiências 
como uma mulher bissexual. “É muito importante para mim que falemos com as 
crianças sobre o consentimento, que falemos com as crianças sobre identidade 
[de gênero]”. E continuou: “eu quero sentir que eu existo, e quero que todo mun-
do possa se sentir assim também”. 
Em diversas entrevistas, Rebecca afirma que se inspirou em memórias da 
infância vivida com o irmão, Steven Sugar, para criar a série. “Quer dizer, ele 
[Steven] é meu irmão. A série é muito sobre a gente”. Ela explica que ambos 
cresceram juntos, faziam tudo juntos, eram nerds juntos, e o fato de ela ser um-
lher e ele homem nunca os impediu de se divertir com as mesmas coisas. Essa 
inocência e amor infantis são muito bem traduzidos no enredo da animação, prin-
cipalmente quando é necessário tratar sobre questões de gênero, sexualidade, 
família e auto aceitação. Na verdade, Steven Universe é exatamente sobre isso; 
é sobre amor, amizade e aceitação; sobre ser amado e aceito exatamente por 
quem você é. 
Contudo, isso implica em diversas questões sociais. Um dos méritos da 
série está, justamente, na representação de gênero: não vemos personagens fe-
mininas com corpos padronizados, frágeis e indefesas. As maiores inspirações 
de bravura e coragem do protagonista são, inclusive, mulheres. Além disso, são 
personagens do gênero feminino que governam o planeta natal das gems, foram 
algumas delas que se rebelaram contra o sistema opressor do planeta e são elas 
que protegem a Terra. As personalidades e corpos que vemos representados na 
 
13Análise por Arthur Moreira. 
 
Figura 2. Compilação do autor. Representações de gênero em Steven Universo. 
série são, também, diversas - mulheres baixas e altas, magras e gordas, fortes 
e fracas, sérias e divertidas. 
Ademais, a animação apresenta o conceito de fusão, processo no qual 
mais de uma gem se une para criar um outro ser maior e mais poderoso. Temos, 
como exemplo, a fusão Garnet, composta por Ruby e Sapphire, que se unem 
pelo amor mútuo cultivado por ambas. Em muitas situações, as fusões são usa-
das como metáforas para relacionamentos amorosos, platônicos e, até mesmo, 
tóxicos. Mas o caso mais interessante, em questão de diversidade de gênero, é 
observado com Stevonnie, fusão entre Steven e sua amiga, Connie. Sendo for-
mada pela união de um garoto e uma garota, Stevonnie identifica-se como não 
binário, mesmo que tenha aparência predominantemente feminina. 
Além disso, em um dos episódios, Stevonnie, por ficar preso em um plane-
ta desconhecido por muito tempo, começa a apresentar crescimento de pelos fa-
ciais. Como se trata de um personagem de aparência feminina, esse episódio foi 
significativo para mulher com síndrome do ovário policístico. “Recentemente, fui 
diagnosticada com síndrome do ovário policístico”, conta uma fã em sua conta 
do Tumblr, “Isso afeta os ovários, fazendo com que eles produzam excesso de 
testosterona. Isso causa vários sintomas (como o) crescimento de pelos faciais. 
[...] Eu sabia que isso não importava [...], mas sempre tinha aquela voz interna, 
me dizendo como eu era “cabeluda”, feia e nojenta”. Ela continua. “Então, eu as-
sisti Jungle Moon14. E lá estava Stevonnie, essa pessoa corajosa, inteligente, 
sendo incrível - com pelo facial. [...] Obrigada, Stevonnie. Obrigada, 
Crewniverse. Isso é literalmente uma representação que nunca vi em nenhum 
outro lugar e nunca esperei ver. Isso realmente significa muito (pra mim)”.15 
É por isso que a série tem feito história e segue em sua quinta temporada 
no Cartoon, com um filme que está será lançado em 21 de julho nos EUA. Além 
de inspirar mulheres criadoras de conteúdo a contarem suas histórias, Rebecca 
Sugar nos dá um pouco de esperança. Sua história nos diz que podemos, deve-
mos e vamos sim tratar de todos esses assuntos “polêmicos” com nossas peque-
nas e pequenos, com a esperança de construir um mundo cada vez melhor. 
4.4.3. Amor é amor: sexualidade em Degrassi16 
¯\_(ツ)_/¯ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 Título do episódio 
15 Relato disponível em elexuscal.tumblr.com/post/169364570601 
16 Análise por Carolina Tonholo. 
5. CONCLUSÕES 
De acordo com os dados recolhidos pelo questionário e os conceitos 
analisados nesse trabalho, percebe-se que a mídia pode ter um grande impacto 
na vida das pessoas, no entanto, nem todos têm essa percepção. 
Discutir esses conceitos, incentivar o pensamento crítico em relação a 
opiniões que temos como naturais, lutar contra estereótipos são e construir um 
ambiente mais democrático e inclusivo é, justamente, a importância social deste 
trabalho. Afinal, como comprovado aqui, representações sociais em produtos de 
mídia são de extrema importância para isso. 
Ademais, percebe-se que muitas pessoas ainda não se sentem 
representadas e, com o advento dos novos meios de comunicação, elas estão 
se pronunciando sobre isso, exigindo da mídia representações melhores para 
que, ao longo das gerações, grupos sociais minoritários possam se sentir mais 
incluídos e respeitados no meio social em que vivem. 
Sendo assim, personagens diversificados na mídia audiovisual têm sua 
importância. Não porque eles representam uma posição política, como alguns 
podem pensar, mas porque eles representam pessoas reais; eles representam 
a diversidade étnica, cultural, física, psicológica, de gênero e de sexualidade 
característica da humanidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALEXANDRE, Marcos. “O PAPEL DA MÍDIA NA DIFUSÃO DAS 
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS”. Disponível em: 
<professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17352/material/
opapel%20da%20m%C3%ADdia%20na%20difusao%20de%20representacoes
%20sociais.pdf>; 
 
BEDRAN, Laura Martini; ZAMPIER, Isabela. “Mídia e representação A mulher 
brasileira pelas capas da Revista CLAUDIA”. Disponível em: 
<casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2017/04/Laura_Isabela.pdf>; 
 
CUNNINGHAM, Stuart; HARTLEY, John; ORMEROD, Paul; POTTS, Jason. 
“Social network markets: a new definition of the creative industries”. 
Disponível em: <jstor.org/stable/41810989?seq=1#page_scan_tab_contents>; 
 
FREIRE FILHO, João. “Mídia, Estereótipo e Representação das Minorias”. 
Disponível em: 
<https://revistas.ufrj.br/index.php/eco_pos/article/download/1120/1061>; 
 
KELLNER, Douglas. “A cultura da mídia e o TRIUNFO DO ESPETÁCULO”. 
Disponível em: <ciencianasnuvens.com.br/site/wp-
content/uploads/2013/07/35932881-A-Cultura-da-midia-e-o-triunfo-do-
espetaculo.pdf>; 
 
KIM, Min Jun 'Minni'. “THE NBA & LEBRON JAMES: an analysis of the 
relationship between media representation and american society”. 
Disponível em: 
<https://preserve.lehigh.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1012&context=cas-
lehighreview-vol-23>; 
 
KWAO, Philomena. “The Importance of Diverse Media Representation”. 
Disponível em: <nationaleatingdisorders.org/blog/importance-diverse-media-
representation>; 
 
SPINK, Mary Jane P. “O conceito de representação social na abordagem 
psicossocial”. Disponível em: <scielosp.org/scielo.php?pid=S0102-
311X1993000300017&script=sci_arttext&tlng=es>; 
 
UFJF Notícias: pesquisa e inovação. “Game of Thrones: ser fã também 
significa se decepcionar”. Disponível em: 
<www2.ufjf.br/noticias/2019/05/17/game-of-thrones-ser-fa-tambem-significa-se-
decepcionar/>; 
 
VAZ, Tayrine; MADRID, Paulo. “TV UFMG discute representação das pessoas 
com deficiência na mídia”. Disponível em: <ufmg.br/comunicacao/noticias/tv-
ufmg-discute-representacao-das-pessoas-com-deficiencia-na-midia>; 
 
WOODWARD, Kathryn. “Identidade e diferença: uma introdução teórica e 
conceitual”. Disponível em: 
<edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4284077/mod_resource/content/1/cap%C3%
ADtulo%20I%20-%20Woodward%20-%20IDENTIDADE-E-DIFERENCA-UMA-
INTRODUCAO-TEORICA-E-CONCEITUAL.pdf>; 
 
YOUNG, Iris Marion. “REPRESENTAÇÃO POLÍTICA, IDENTIDADE E 
MINORIAS”. Disponível em: <scielo.br/pdf/ln/n67/a06n67.pdf/>.

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