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FALHAS COMEDIDAS NA EXECUÇÃO DE ATERRO DE SOBRECARGA COM GEODRENOS Introdução A construção de aterro ou estrutura induz uma pressão adicional sobre solos coesivos, podendo causar recalques residuais a longo prazo durante a vida útil da estrutura. Um sistema de pré-carregamento pode ser projetado, para induzir estes recalques em prazos aceitáveis, reduzindo os recalques residuais, a longo prazo, a valores aceitáveis para estrutura. O projeto simplificado de um aterro sobre solo mole con- siste em uma análise sem drenagem das condições de estabilidade durante a construção a curto prazo, e uma análise com drenagem a longo prazo da consolidação. É comum especialistas em tratamento de solos moles, espe- cificar Aterro de Sobrecarga com Geodrenos para redução e/ou eliminação de recalques. Quando devidamente pro- jetado e executado, a técnica é uma maneira eficiente e econômica para viabilizar a execução de aterros sobre solos moles. Aterro de Sobrecarga, com Geodrenos, rep- resenta uma alternativa muito mais acessível que soluções que envolvem transferência de cargas. No entanto, tem havido muitos casos onde os recalques persistem, mesmo após a conclusão da sobrecarga e isso acaba levando ao descrédito da técnica. Teoria da consolidação Quando um carregamento é aplicado em um solo arenoso, o recalque induzido é quase que imediato e quase elástico. Por outro lado, estruturas e edificações construídas em solos coesivos saturados, como argila ou silte, serão sub- metidos a recalques, durante um longo período, com uma redução constante de sua velocidade. Este fenômeno de assentamento a longo prazo por dissipa- ção do excesso de poropressão em solos coesivos sob um carregamento constante é chamado de “consolidação”. Em geral, solos coesivos são saturados e, por tanto, os assentamentos ocorrem somente se uma parte da água é expulsa dos vazios entre os grãos do solo. Devido a baixa permeabilidade característica das argilas, a redução da poropressão é um processo muito lento que pode estender-se por vários anos após a aplicação do car- regamento. Aterro de Sobrecarga Na essência, a técnica é bem simples. Para construir um aterro até a cota de projeto (Pf), Pf não iria ser suportado pelo solo mole, então é construído um aterro com uma altura Ps+Pf, maior que a altura final desejada, e é moni- torado por um período de tempo Ts+f, sob a intensidade deste carregamento (Ps+Pf). No final deste período de pré-carregamento Ts+f, a altura de aterro adicional, Ps, é removida, causando o descarregamento, resultando na eliminação total ou na grande parte da redução dos futuros assentamentos sob a altura final do aterro Pf. A maior parte ou a totalidade do recalque primário e parte do recalque secundário são eliminados devido parte do aterro estar incorporado ao solo e, além disso, o solo sob o aterro torna-se sobreadensado ou mais rígido. A figura 1 ilus- tra os elementos chave do conceito de pré-carregamento com sobrecarga para compensar recalques primários e secundários. Geralmente, o objetivo da solução consiste em eliminar 100% dos recalques devido à consolidação primária e secundária, de tal modo que o recalque residual esteja dentro dos limites aceitáveis de projeto. O recalque residual para um determinado período de tempo, após a construção, pode ser estimado como recalque secundário remanescente, que ocorre durante o tempo necessário, após tenha ocorrido o tempo equivalente à eliminação da compressão secundária. A figura 2 representa a curva de recalque de um solo car- regado. Durante o carregamento o solo recalca até o ponto 1. Em seguida, após a retirada da carga, o solo atinge o Figura 1 – Conceito de utilização da sobrecarga para compensar os assentamentos da consolidação primária e secundária (Jimenez Salas J.A., Faraco C. et al, 1980). A sobrecarga é removida quando os assentamentos excede o recalque final pre- visto com todo o carregamento permanente (aterro + pavimento + carga de serviço). De preferência não antes que todo o excesso de poropressão seja eliminado. ponto 2. Podemos ver que o recalque remanescente é quase igual ao produzido pelo carregamento. Figura 2 - Curva carre- gamento-recalque de um solo pré-carregado por um aterro (Bielza A. 1999). Na recarga, deste mesmo solo, com um carregamento igual ao imposto anteriormente (ponto 3), o solo descreve um comportamento similar a descarga, com sentido con- trário. Podemos ver este comportamento na figura abaixo, e também que na recarga os assentamentos são muito pequenos. Figura 3 - Curva carregamento-recalque após a retirada de um carregamento e recarregado com a mesma carga (Bielza A. 1999). Portanto, a finalidade da sobrecarga é préconsolidar o solo mole aumentando sua resistência e diminuir os recalques, quando este for recarregado. Durante o processo de consolidação diminui-se o volume de água, o índice de vazios e o coeficiente de permeabili- dade, e por sua vez, se incrementa a resistência ao corte, o módulo de compressibilidade e a resistência a penetração. Problemas comuns enfrentados por especialistas No entanto, após examinar alguns serviços de melhora- mento de solos moles com aterro de sobrecarga, vemos que na maioria dos casos, a técnica de sobrecarga não tem sido aplicada com sucesso, não tendo êxito nos recalques pós- construção. Em algumas obras realizadas, como aterros rodoviários, os recalques permaneceram após sua con- strução, exigindo manutenções regulares para comple- mentar o pavimento e manter sua cota de projeto e, claro, tal complementação gerou mais sobrecarga, acarretando assentamentos mais graves. Geralmente a razão para falta de eficácia do método não é o método em si, mas a aplicação inadequada da técnica, causada pela falta de compreensão dos mecanismos fundamentais relaciona- dos ao método. Entre os erros comuns, mais cometidos pelos projetistas na aplicação da técnica de sobrecarga, veremos a seguir. Falta ou baixa qualidade de investigações e ensaios inadequados Um completo programa, de investigações e ensaios, deve ser elaborado com o intuito de se obter parâmetros rel- evantes para utilização no projeto. Em particular, o perfil estratigráfico do solo, que deve ser determinado com a maior precisão possível, em conjunto com o histórico geológico do local. As propriedades do solo mais impor- tantes para engenharia são: vm´ (tensão pré-adensam- ento (tensão máxima já sofrida pelo solo)), Cc e Cr ou Cs (índices de compressão e recompressão), e o coefici- ente de adensamento vertical Cv, o índice de compressão secundária C e a resistência não drenada Su, juntamente com a estimativa da relação entre a resistência Su e a tensão efetiva antes da aplicação da sobrecarga. Estes parâmetros geralmente variam com a profundidade no perfil do solo e é importante para traçar um gráfico das propriedades de acordo com a profundidade, fornecendo uma imagem clara da variabilidade do solo sob o aterro que será construído. Cálculo impreciso da sobrecarga ou a não remoção de sobrecarga Esta é uma falha bastante comum. Deve-se ter em mente que um dos parâmetros críticos do projeto é a taxa de sobrecarga, ou seja, a razão entre o carregamento de sobrecarga (Ps) com o carregamento final (Pf). O carrega- mento de sobrecarga, Ps, representa a quantidade de carga adicional que será removido no final do período de pré- carregamento. Muitas vezes, o recalque que ocorre durante o pré-carregamento não é levado em conta pelos projetis- tas. Este recalque pode ser substancial e até mesmo pode exceder a altura inicial da sobrecarga. Assim, é importante que na estimativa dos valores de Ps e Pf, os recalques se- jam levados em conta. Houveram casos em que, no final do período de pré-carregamento, os recalques obtidos levaram Ps ao nível de projeto,não havendo sobrecarga a ser removida. Isto é equivalente a ter um valor de Ps = 0, o que, certamente, faz com que o aterro equivalente não tenha sido sobrecarregado. Deve haver uma quantidade adequada de sobrecarga adicional para ser removida no final do período de pré-carregamento para que a técnica seja eficaz. Falta de estabilidade durante a elevação do aterro A rápida construção de um aterro sobre solo mole pode fazer com que a base entre em colapso. A maioria dos solos moles ganham rigidez quando o carregamento é realizado de forma ordenada, acompanhando o excesso de poropressão que se desenvolve devido à aplicação do carregamento, isto é, com o aumento da tensão efetiva no solo, diminui o índice de vazios. Pode ser necessária a instalação de geogrelhas na base do aterro para ga- rantir a estabilidade durante a construção total do aterro (incluindo-se aí a sobrecarga) que excede a altura crítica que o solo mole pode suportar por conta própria. Após a construção do aterro, respeitando-se os limites de altura crítica ou reforçando a base com geogrelhas, geralmente permanecerá estável caso não haja cargas adicionais, já que sua resistência ao cisalhamento aumenta ao longo do tempo. Recalques primário e secundário Recalques secundários podem ser grandes e é possível realizar um projeto de sobrecarga com pré-carregamento para eliminar todo o recalque primário e grande parte do re- calque secundário, mas muitos projetistas parecem preferir ignorar recalques secundários. A compressão secundária é complicada, requer que primeiro ocorra a consolida- ção primária, sob um determinado carregamento, porém a intensidade desta carga não aparecem nos cálculos. A magnitude da compressão secundária depende do tempo decorrido após a conclusão da consolidação primária, o índice de vazios e espessura da camada de solo mole remanescentes, mas não da intensidade de carga aplicada. O caminho preferencial de drenagem durante a compressão secundária também não aparece nos cálculos. Remoção prematura da sobrecarga Para um dado conjunto de condições, o prazo ótimo para remoção da sobrecarga deve ser determinado com base no desempenho do aterro pós-construção (velocidade de re- calque). Com a remoção precoce da sobrecarga o solo não consegue compensar os recalques primários e secundários que ocorreriam sob o carregamento final. Serviços de instrumentação, monitoramento e análises inadequados durante a elevação do aterro Na concepção e construção de taludes sobre solo moles, utilizando a técnica de sobrecarga, é muito importante a forma adequada e contínua de medir e interpretar os dados relativo aos recalques, movimentos laterais e a poropressão do solo sob o aterro. O objetivo é medir recalques e out- ros movimentos no solo, de modo a avaliar a estabilidade durante a elevação do aterro, para verificar os parâmetros exigidos em projeto, avaliando a eficácia dos drenos ver- ticais, ajustando as taxas de carregamento, auxiliando os projetistas na determinação dos níveis de sobrecarga e da hora mais adequada de sua remoção. Conclusão Os fundamentos e algumas armadilhas associadas ao mé- todo de sobrecarga foram superficialmente expostos, já que esta matéria, não teve o objetivo de se aprofundar nos métodos efetivos de análises disponíveis, para projetar sistemas de sobrecargas em solos moles, e sim, como uma nota consultiva para profissionais já familiarizados com os conceitos. Mas que não estão totalmente familiarizados com os fundamentos associados ao método e que também não estão por dentro de todas as armadilhas associadas à técnica. Por esse motivo nenhuma fórmula ou passo-a- passo foi exposto para aplicação da técnica. References 1. JOHNSON, S.J. (1970). Precompression for improv- ing foundation soils. J. Soil Mech. and Found. Engg., Amer. Soc. of Civ. Engrs. 2. CARRILLO N. (1942) “Simple two- and three-dimension- al cases in the theory of consolidation of soils”. Journal of Mathematical and Physics, Vol. 21 pp. 1–5. 3. MITCHELL K. (1981) “Soil Improvement – State of the Art Report”. 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