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2.3 OS ESTADOS DE EGO NA ANÁLISE TRANSACIONAL Nossa personalidade é formada por três estados de ego. É uma estrutura cujas partes são designadas de Estado de Ego Pai, Estado de Ego Adulto e Estado de Ego Criança (P, A e C). Segundo Crema (1985) em cada estado de ego há uma maneira de pensar, sentir e agir característicos, manifestados pela postura, gestos, expressões faciais, palavras, tom de voz, atitudes. Como se fossem pessoas reais dentro de uma só personalidade. Segundo Berne (1985, p. 17): Um Estado de Ego pode ser descrito fenomenologicamente como um sistema coerente de sentimentos relacionados a um certo indivíduo e opera como um conjunto de padrões coerentes de comportamento; ou ainda do ponto de vista concreto, como um sistema de sentimentos que motiva um conjunto de padrões de comportamentos afins. A Análise Estrutural apropria-se da identificação e da análise dos Estados de Ego e tem como objetivo estabelecer a predominância de estados de ego que avaliam a realidade e libertar este estado de ego da influência de elementos arcaicos e estranhos (BERNE, 1985). De acordo com Crema (1985), a Análise Estrutural é caracterizada pelo aspecto anatômico, que é alcançado onde se aplica o conceito de gravação, enquanto o funcional condiz com o fisiológico, descrito a partir da observação. Assim, entende-se que possuímos gravado em nossa estrutura a criança que um dia fomos, os pais que tivemos e um computador disponível, que se comunica entre si, quase a todo instante, através dos diálogos internos. Portanto os diálogos internos, não ocorrem entre o P-A-C, e sim, entre os órgãos psíquicos, na nossa dinâmica intrapessoal (CREMA, 1985). Para Eric Berne o Ego era visto como um sistema formado por instâncias psíquicas: exteropsique (Pai), neopsique (Adulto) e arquipsique (Criança), que possuem um conjunto de pensamentos, sentimentos e comportamentos com os quais interagimos com outras pessoas. Os Estados de Ego Pai, Adulto e Criança, e a interação entre eles, formam a base da teoria da Análise Transacional (WOOLAMS; BROWN, 1979). 2.3.1 Estado de ego Pai Segundo Woollans e Brown (1979) o estado do ego Pai é um conjunto de atitudes, pensamentos, comportamentos e sentimentos retidos pela pessoa de fontes externas, que fizeram às vezes das figuras parentais. Portanto, estado do ego Pai é basicamente constituído de conduta reproduzida dos pais ou figuras autoritárias. É adaptado totalmente, sem modificações. Uma pessoa no estado Pai é uma gravação ou vídeo-tape de um de seus pais, ou de quem quer que tenha estado no lugar deles (STEINER, 1976). O estado de Ego pai é entendido por Crema (1982, p. 17) como parte parental, representa a influência e assimilação na infância de condutas, pensamentos e sentimentos dos pais (ou substitutos) (...) Suas funções básicas são de educar, proteger, alimentar, moralizar, servir de modelo, dirigir, controlar e ensinar a viver em sociedade. Representa nosso conceito ensinado da vida, conforme Harris (1968), e constitui-se de expressões, gestos, tons de voz, escalas de valores, condutas, necessidades e atitudes parentais, correspondendo a elementos arcaicos de nossa personalidade. O Estado de Ego Pai é o depósito de normas e valores, conceitos e modelos de conduta, que surge no indivíduo por volta dos três anos de idade e suas principais fontes são os pais ou substitutos e outros familiares, pessoas que convivam com a criança e tenham um papel de autoridade e importância na vida dela. Está sujeito a influências culturais e impõe à pessoa ações, regras e programas de conduta (KERTÉSZ, 1987). O estado de Ego Pai tem duas funções principais. Primeiramente ele instrui o indivíduo a agir de forma eficaz como pai de seus próprios filhos, proporcionando assim a sobrevivência da raça humana. Em segundo, o Pai transforma muitas reações em automáticas, o que gasta menos tempo e energia, e liberta o Adulto da necessidade de tomar inúmeras decisões banais (BERNE, 1974, apud NEULS, 2009). Berne (1985) reforça como função que o estado de Ego Pai tem, preservar a energia e diminuir a ansiedade, pois permite a tomada de algumas decisões de forma automáticas e relativamente inabaláveis. É útil se as decisões estiverem em sintonia com a cultura local. (...) Uma análise de segunda ordem dos “Estados do Eu” mostra que o Estado do Eu “Pai” apresenta dois aspectos: Pai Crítico (PC), evidenciado por comportamentos firmes e justos (PC “ok”) ou por agressividade e autoritarismo (PC “não ok”); Pai Nutritivo (PN), que se destaca por condutas afetivas e protetoras (PN "ok") ou super-protetoras (PN “não ok”). (BUNCHAFT; VASCONCELLOS, 2001,P.21). Segundo Moreira (s.d.) o Pai Protetor Positivo orienta, protege, aconselha, estimula e ensina. Acredita que é melhor ensinar os outros a pescar do que dar-lhes peixes. O Pai Protetor Negativo superprotege, assume responsabilidades pelos outros, impede o crescimento dos outros. O Pai Crítico Positivo faz críticas construtivas, chama a atenção para a falha e cobra. Acredita que proteger as pessoas é a fórmula certa de levá-las ao fracasso. Já o Pai Crítico Negativo humilha, agride, menospreza, persegue e castiga. Quando ocorrem falhas acredita que é preciso punir algum culpado. 2.3.2 Estado de ego Adulto Para Woollans e Brown (1979) o estado do ego Adulto é um processador de dados que funciona ao jeito de um computador, colhe e organiza informações, avalia probabilidades e faz afirmações lógicas. O Estado de Ego Adulto é essencial para a sobrevivência. Ele verifica os dados e computa as probabilidades necessárias para enfrentar com eficácia os problemas do mundo exterior (BERNE, 1974, apud NEULS, 2009). Segundo Berne (1985) o Adulto é flexível, organizado, inteligente e experimentado como uma relação objetiva com o ambiente externo. O adulto de um camponês ou de uma pessoa jovem pode ter concepções muito diferentes dos de um trabalhador profissionalmente treinado. O Adulto é excessivamente preocupado com a modificação de estímulos em peças de informação, e pela assimilação e arquivamento dessas informações com base na experiência vivida; diferente do Pai, que julga de um modo imitativo e busca expor um aglomerado de padrões emprestados, e da Criança que tende a reagir imediatamente, com base num pensamento pré-lógico ou em percepções distorcidas (BERNE, 1985). Crema (1982, p. 17) define o estado de ego adulto como parte do Ego que raciocina fria e objetivamente, analisando a realidade e decidindo entre o adequado e inadequado, atuando como um computador. Suas funções básicas são estudar, trabalhar e ganhar dinheiro, podendo ser representado como a estátua “O Pensador” de RODIN. Começa a emergir na pessoa por volta dos 10 meses de idade, com o início da locomoção, aprendendo através das experiências, do ensaio-e-erro, e sendo extremamente necessário para a convivência e adaptação do indivíduo no seu ambiente físico e social mutante, pelas estimativas de probabilidades e decisões a partir da computação dos dados fornecidos pela realidade objetiva. Atua no aqui-e-agora imprevisível, devendo ser o executivo da personalidade, representando o conceito pensado da vida. 2.3.3 Estado de ego Criança Segundo Berne (1985) O estado de ego da Criança é um conjunto de sentimentos, atitudes e padrões de comportamento que são relíquias da infância da pessoa. Steiner (1976) reforça que o estado do ego Criança, é necessariamente preservado, em toda a sua integridade, da infância. Quando uma pessoa atua neste estado do ego, comporta-se como fazia quando era criança. Parece que a Criança nunca tem mais de sete anos, e pode chegar a ter apenas uma semana ou um dia de idade. A CRIANÇA é o componente infantil e arcaico da nossa personalidade, representando nossas emoções como a alegria, amor, prazer, tristeza, raiva, medo, etc. e tudo o que se refere ao nosso corpo. É quem nos permite sentir, intuir, criar e desfrutar do sexo e da intimidade, fontes por excelência de carícias positivas, sendo nosso conceito sentido davida. É também nossa parte mais autêntica e reprimida pela educação ou processo de socialização, que sempre implica numa perseguição do Pai externo (e depois internalizado) para adequar a Criança ao padrão sóciocultural, modelando-a. O sexo é uma função da Criança, sendo o amor sexual o encontro aberto e espontâneo de duas Crianças Livres. (CREMA, 1982, p. 17). Segundo Steiner (1976) Quando uma pessoa se encontra neste estado Criança, possui comportamentos como se tivesse três anos de idade. Esta conduta infantil é acompanhada das percepções, pensamentos e sentimentos correspondentes a uma criança de três anos. O estado de ego Criança é bem observado em situações próprias para permitir comportamento infantil, como acontecimentos esportivos, festas, comemorações. Neste estado também se encontra as emoções básicas, como alegria, amor, tristeza, raiva e medo (STEINER, 1976). O estado de ego Criança divide-se em Criança Adaptada, que mostra um comportamento induzido sob a influência parental manifestado por atitudes de retraimento e condescendência. E a Criança natural que mostra formas autônomas de comportamento como a rebeldia e autoindulgência (BERNE, 1985). Bunchaft e Vasconcellos (2001) apresentam a subdivisão do estado de Ego criança em: a) Criança Livre (CL) que se revela de forma criativa, espontânea e intuitiva (CL “ok”); b) Criança Adaptada (CA) que evidencia dois aspectos - Criança Adaptada Submissa (CS) e Criança Adaptada Rebelde (CR). A Criança Adaptada Submissa positiva define-se pela resposta automática a disciplina e rotinas convenientes (CS “ok”) e a Criança Adaptada Submissa negativa pela desvalorização e submissão do indivíduo (CS “não ok”). Finalmente, a Criança Adaptada Rebelde é considerada “ok”, portanto positiva, quando o indivíduo manifesta indignação por um motivo justo e “não ok”, portanto negativa. quando o indivíduo se mostra rebelde e agressivo. Moreira (s.d.) afirma que a Criança Livre Positiva é criativa, espontânea, afetuosa, desfruta e sente amor. Já a Criança Livre Negativa é barulhenta e comete excessos e exagera nas emoções. Quanto a Criança Rebelde Positiva confirma seus atos, mesmo contra todos, se para ela própria são corretos. Já a Criança Rebelde Negativa atua com ressentimentos e é constantemente “do contra”.