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1 Genética feliz O DNA (ou ADN) O que é o DNA? A sigla quer dizer ácido desoxirribonucleico em inglês (deoxyribonucleic acid). É um composto orgânico que dita às funções de um organismo tal qual uma receita; é um polímero (poli=muitas; mero=partes), ou seja, uma cadeia grande composta por partes menores (os monômeros), que chamamos de nucleotídeos, também presentes no RNA. Tem formato chamado dupla hélice, com duas fitas paralelas e em direção antiparalela, isto é, parecem estar em sentido oposto uma a outra. Os nucleotídeos geralmente são formados por um radical fosfato (P), um açúcar de cinco carbonos (pentose) e uma base nitrogenada (N), representada por sua inicial (as famosas: adenina, citosina, guanina, timina e uracila). Esses monômeros se conectam em sequência numa fita por uma ligação chamada fosfodiéster, onde um carbono da pentose se conecta grupamento fosfato de outro nucleotídeo. Existe ainda uma ligação entre uma fita e outra fita paralela a esta, feita entre as bases nitrogenadas, são as ligações de hidrogênio (antes chamadas de pontes de hidrogênio). 2 Os dois tipos de ácidos nucleicos (DNA e RNA), contêm normalmente quatro tipos de bases nitrogenadas, duas purinas e duas pirimidinas. As ligações entre o grupamento fosfato e uma molécula de açúcar (a ligação fosfodiéster) determina uma polaridade. Ou seja, observando uma cadeia de DNA da esquerda para direita, vindo do fósforo, encontra se o quino átomo (5’) do açúcar livre, e no sentido contrário encontramos o terceiro átomo (3’) da mesma molécula. É importante ter isso em mente para saber o sentido de replicação do DNA! 3 Regra de Chargaff: é relacionada à frequência das bases nitrogenadas. Adenina e timina aparecem em igual frequência (A = T), e guanina com mesma frequência de citosina (G = C). A frequência das purinas é igual à das pirimidinas (A + G = T + C). Replicação do DNA A direção contínua da replicação ocorre de 5’ para 3’! Sendo assim, a replicação de 3’ para 5’ ocorre de maneira descontínua! A replicação do DNA ocorre de maneira semiconservativa, ou seja, duas novas fitas de DNA são sintetizadas apenas com uso de uma fita molde. Antes da divisão celular, a célula duplica seu material genético dessa forma. 4 Fase de desenrolamento: A molécula de DNA expõe suas bases nitrogenadas com ação de uma enzima chamada helicase, ou seja, ela abre o material genético a partir do rompimento das ligações de hidrogênio entre as bases nitrogenadas, tornando parte do DNA em forma de Y chamada forquilha de replicação. Para que essa forquilha não tenha tanta torção a ponto de impedir a replicação, uma enzima chamada topoisomerase reduz essa força. Fase de síntese contínua: A enzima DNA polimerase adiciona nucleotídeos compatíveis aos expostos após ação da helicase. Lembrando que ela adiciona nucleotídeos de 5’ – 3’! Fase de síntese descontínua: Na fita antiparalela (oposta, a 3’ – 5’) junto a helicase encontramos uma enzima chamada primase, que adiciona primers (que são como porções de RNA) nessa fita. Esses primers servem como sinal para a DNA polimerase adicionar nucleotídeos nessa fita, pedaços por vez, gerando diversos fragmentos conhecidos como fragmentos de Okazaki, após ação de uma enzima que gera uma fita contínua, a ligase. Resumindo: A helicase abre o DNA; topoisomerase reduz a torção; a DNA polimerase adiciona nucleotídeos no sentido 5’ – 3’; a primase adiciona primers na fita 3’ – 5’ sinalizando a DNA polimerase a adicionar nucleotídeos; a ligase une esses nucleotídeos adicionados aos primers formando os fragmentos de Okazaki. Ácido ribonucleico – RNA Assim como o DNA, o RNA possui quatro tipos de nucleotídeos, porém Uracila (U) no lugar da timina (T). A pentose do RNA é uma ribose, diferentemente do DNA que possui uma desoxirribose. A síntese do RNA é feita a partir de uma das fitas de DNA, com auxílio da enzima RNA polimerase, e ocorre também no sentido 5’ – 3’. Transcrição É o nome do processo de síntese de RNA. Na primeira etapa de produção do RNA temos como resultado o transcrito primário, que sofrerá processamento chamado maturação para ocorrer a diferenciação/especialização do RNA. Essa maturação pode ocorrer de diferentes formas, como adição de estruturas nas extremidades 5’ – 3’, retirada de partes não codificantes do RNA (chamados introns, lembrar de “intruso” e que tem de sair da sequencia genética), edição das bases, etc. Existem quatro principais tipos de RNA: RNA transportador (tRNA): tem função de transportar os aminoácidos para os ribossomos, para a síntese proteica. É importante na etapa de tradução. Sua síntese ocorre pela RNA polimerase III. Durante sua maturação é adicionado ao terminal 3’ a sequência CCA (alanina). “A maioria das bases do tRNA são ligadas por pontes de 5 hidrogênio. Dobras, em forma de grampos, da mesma cadeia, aproximam bases complementares que formam duplas hélices curtas.” RNA ribossômico (rRNA): é o componente primário dos ribossomos (é o que constitui ele), organelas responsáveis pela produção de proteínas (que ocorre na tradução). Ele também é transcrito do DNA. O início de sua transcrição ocorre no nucléolo após ação da enzima RNA polimerase I, que forma o chamado pré rRNA. O processamento começa após da formação do último composto sofrendo retirada dos introns e com adição de proteínas ribossômicas. O diferente arranjo de suas proteínas e suas sequencias de RNA formam as subunidades dos ribossomos (subunidade grande e subunidade pequena, ou maior e menor). RNA heterodisperso (HnRNA) ou mRNA imaturo: é rapidamente degradado no núcleo. É relatado como precursor do RNA mensageiro na regulação gênica, na diferenciação celular, na mutação e recombinação. 6 RNA mensageiro (mRNA): ele que leva a mensagem contida em sua sequencia de nucleotídeos para serem interpretadas pelos ribossomos, isto é, seu material que será traduzido para formação de aminoácidos e proteínas (ele é a receita para produção das proteínas). Ele é sintetizado pela RNA polimerase II. No inicio da cadeia do mRNA imaturo encontramos uma sequência chamada TATA Box (devido a quantidade de base T e A), encontrado na extremidade 5’ e serve como início da transcrição. A transformação do HnRNA envolve três etapas principais: adição de uma “cauda poli A” na extremidade 3’ (chamada de poliadenilação); formação de “cap” na extremidade 5’; e splicing (retirada dos introns). A poliadenilação ocorre por uma enzima chamada poliApolimerase, que adiciona cerca de 200 adeninas ao final do mRNA, essa região não é codificante, serve para aumentar estabilidade do mRNA e acentuar a tradução! Estrutura cap (ou capacete) é uma guanina modificada adicionada a extremidade 5’ ainda no núcleo e serve para aumentar a estabilidade da cadeia, pois protege da ação de fosfatases e nucleases! 7 Até o momento: replicação do DNA (duplicação desse polímero) e transcrição do RNA (cópia de uma parte do gene). O código genético “O dogma central da genética molecular estabelece que o DNA tem a capacidade de se mutar, se replicar com grande precisão e de controlar qualitativamente a síntese de proteínas”. A informação de todos os tipos de proteínas de um organismo está em seu DNA sob a forma dos nucleotídeos, ATGC no DNA e AUGC no RNA. A cada três nucleotídeos (códons) no mRNA temos a informação para a produção de um aminoácido numa cadeia polipeptídica (proteína). Existem 64 códons diferentes para apenas 20aminoácidos existentes, ou seja, vários aminoácidos podem ser codificados por mais de um códon, por isso chamamos o código de degenerado. Além disso, todos os seres respeitam esse código, por isso ele é universal. Atenção para os códons de iniciação (Metionina, AUG) e de parada, sempre presentes! Tradução É o processo em que o mRNA é interpretado pelos ribossomos a fim de se criar uma sequencia de aminoácidos que formam uma proteína. Nos ribossomos encontramos três sítios de ligação da subunidade maior, A, P e E, que interagem nessa ordem com o mRNA. O sítio A recebe os tRNA, sítio P aloja a cadeia polipeptídica, o sítio E é o sítio de saída do mRNA que descarrega os aminoácidos existentes para crescimento da cadeia polipeptídica. O primeiro códon a ser interpretado do mRNA é AUG (metionina). A cada vez que um códon entra em contato com o sítio A, um tRNA com um anticódon correspondente adiciona mais uma proteína a cadeia. Exemplo: no mRNA tem a sequencia UUU sendo traduzida, o tRNA 8 com anticódon AAA se ligará ao ribossomo com o aminoácido correspondente a este códon, vendo no código genético sabemos que é a fenil-alanina. Depois o mRNA é deslocado para adição de mais um aminoácido, até a chegada do códon de parada. 9 Esse site é bem legal: https://pt.khanacademy.org/science/biology/gene-expression- central-dogma/translation-polypeptides/a/the-stages-of-translation Até o momento: replicação do DNA, transcrição do RNA e tradução do RNA. 10 Resumo de Técnicas PCR A PCR (reação em cadeia da polimerase) é uma técnica de ampliação de segmentos desejados do DNA. É muito importante para diagnósticos e pesquisa. Nessa técnica a separação das fitas de DNA ocorre por elevação na temperatura, rompendo as ligações de hidrogênio entre as bases nitrogenadas, porém isso implica na inativação da DNA polimerase, enzima essencial para replicação do DNA. Utiliza-se então a enzima taq polimerase, isolada de seres que viviam em fontes termais e por isso seu nome (Thermus aquaticus), sua função não é perdida em altas temperaturas, o que contribui para a técnica. Também são utilizados primers para delimitar a região de interesse a ser amplificada da fita de DNA molde. As três etapas são: desnaturação, feita com temperatura elevada; anelamento, onde os primes se ligam a fita molde; extensão, onde a taq polimerase atua. Os ciclos podem se repetir diversas vezes. Site bacana: https://pt.khanacademy.org/science/biology/biotech-dna-technology/dna- sequencing-pcr-electrophoresis/a/polymerase-chain-reaction-pcr Hereditariedade e base cromossômica/manifestação e transmissão gênica, etc. Os caracteres, que são discutidos com as leis de Mendel, são definidos pelos genes (segmentos de DNA, já vistos). Cromatina é um conjunto de segmentos genéticos enovelados em proteínas, podendo ser classificada como eucromatina e heterocromatina (pouco e muito condensada, respectivamente). A sequência de cromatina forma uma estrutura maior conhecida como cromossomos. Humanos possuem 23 pares de cromossomos organizados em ordem 11 de tamanho (cariótipo), com exceção dos cromossomos sexuais colocados em último lugar para diferenciação, chamados de autossomos. Os cromossomos possuem dois braços (ou telômeros, do grego “partes afastadas”) e um centrômero, podem ser classificados de acordo com a posição dessas estruturas. Em momento de divisão celular (meiose ou mitose) os telômeros se apresentam duplicados e unidos pelo centrômero, esses bastões então são chamados de cromátides irmãs. Não confundir centrômero com centrossomo. “Cromossomo é a cromatina enroladinha”. 12 Alelos são as formas alternativas de um gene. Alelos que ocupam mesma posição são chamados de alelos homólogos. Haploide é um termo numérico destinado ao conjunto de cromossomos diferentes. Uma célula haploide apresenta um cromossomo de cada tipo em seu núcleo, e são representadas pela letra n (como exemplo os gametas). Células que apresentam alelos homólogos em seu núcleo são conhecidas como diploides (2n). Genótipo é o material genético em si, é o que dita o fenótipo, mas não necessariamente todo genótipo gera um fenótipo. Fenótipo é a parte visível/observável da expressão do genótipo com interação do ambiente. Quando determinada característica precisa de somente um alelo em determinada posição para ter manifestação, chamamos de dominante, e, por convenção, é representada por uma letra maiúscula (“A”, por exemplo). Características que não se manifestam com apenas um alelo são chamadas de recessivas, é representada por uma letra minúscula (“a”, por exemplo). Homozigoto é usado quando ambos os alelos são idênticos (“AA” ou “aa”, por exemplo). AABB indivíduo duplo homozigoto dominante; aabb indivíduo duplo homozigoto recessivo... Heterozigoto é o individuo que possui alelos homólogos diferentes (“Aa”, por exemplo). AaBb individuo duplo heterozigoto... Quadro de Punnett Com ele conseguimos analisar cruzamentos e possíveis características de descendentes gerados, obedecendo à primeira e à segunda lei de Mendel. [Usar canetas coloridas na hora da prova ajuda] Fenótipo Expressão Genótipo 13 Com esse quadro podemos definir a proporção fenotípica e a proporção genotípica, exceto em casos de ausência de dominância. Usando o quadro anterior como base podemos definir a proporção fenotípica de 2 seres com uma determinada característica (devido ao Bb) : 2 seres com outra característica (devido ao bb), logo 2:2; na proporção genotípica utilizamos a própria representação dos genes, logo 2Bb:2bb. Primeira lei de Mendel: as características de um organismo são determinadas por um par de fatores (que hoje sabemos serem os cromossomos) que separam na formação dos gametas, logo, cada progenitor passa uma porção dos seus genes à sua progênie. Segunda lei de Mendel: é a segregação de dois ou mais pares de genes, um par responsável por uma característica independe de um par responsável por outra característica. Heredograma Com eles podemos ver manifestações e padrões de transmissão gênica (genealogia). 14 Herança autossômica dominante – a proporção de homens e mulheres afetadas pode ser aproximadamente a mesma; cada indivíduo afetado tem um genitor afetado; cada filho de um genitor afetado e um cônjuge normal terá a probabilidade de 50:50 de ser afetado; e os parentes não afetados de pessoas afetadas não terão filhos afetados normalmente. Herança autossômica recessiva – deve-se encontrar aproximadamente o mesmo número de homens e mulheres afetadas; indivíduos afetados geralmente têm pais normais; irmãos de indivíduos afetados com pais normais têm ¼ de chance de serem afetadas; pais consanguíneos têm maior chance de gerar filhos afetados. 15 Herança recessiva ligada ao X – a frequência em mulheres deve ser muito menor que em homens (como no caso de mulheres daltônicas), já que neles basta um gene para ser manifestado; o gen é transmitido de um homem para todas as suas filhas; o homem nunca transmite para seu filho; em raras condições (como inativação de um cromossomo X) mulheres heterozigóticas poderão manifestar o genótipo; filhos de mulheres afetadas têm chance de 1:1 de serem afetados, e as filhas têm chance de 1:1 de serem portadoras. Herança dominante ligada ao X – o número de mulheres afetadas no Heredograma pode ser igual ou maior que o número de homens afetados. Herança limitada ao sexo – àquela que se apresenta em somenteum dos sexos, como hipertricose auricular que é ligada ao cromossomo Y. Penetrância e expressividade Expressividade – intensidade dos efeitos produzidos por um gene. Penetrância – em termos estatísticos, é a frequência percentual na qual um gene dominante no heterozigoto ou um gene recessivo no homozigoto produz um efeito detectável. 16 Nomenclatura dos cromossomos Por convenções os cromossomos são identificados por: Seu tamanho e posição; Arrumados em pares homólogos, em ordem decrescente de tamanho; Sendo os autossômicos numerados de 1 a 22 e os sexuais designados por X e Y. Reunião em grupos designados por letras de A a G. o Grupo A – cromossomos 1, 2 e 3 (metacêntricos); o Grupo B – pares 4 e 5 (submetacêntricos); o Grupo C – cromossomos X, do 6 ao 11(submetacêntricos); o Grupo D – pares de 13 a 15 (acrocêntricos); o Grupo E – 16 ao 18; o Grupo F – pares 19 e 20 (metacêntricos pequenos); o Grupo G – 21, 22 e Y (acrocêntricos). O cariótipo é representado pelo numero total de cromossomos, seguidos de uma vírgula e determinados os cromossomos sexuais. Ex.: 46,XX; Quando houver alteração no numero cromossômico, o cariótipo será representado pelo item anterior, acrescida de uma segunda vírgula, e o cromossomo extra ou ausente representado pelo sinal + ou -. Ex.: 47,XY,+15 ou 45,XY,-G (nesse caso o indivíduo não possui o grupo de cromossomos); Em casos de mosaicos as linhagens são separadas por uma barra. Ex.: 47,XY,+22/46,XY (homem com duas populações de células, uma com o 22 extra e outra normal); Alterações estruturais são representadas por letras ou grupos de letras minúsculas, colocadas após o número do cromossomo concernido. Os mais comuns: o p – braço curto do cromossomo (petit); o q – braço longo do cromossomo. Aberrações cromossômicas Tipos Numéricas – àquelas que observamos aumento ou diminuição do número de cromossomos em um só par (aneuploidia) ou em todos os pares (euploidias). Geralmente euploidias são encontradas em mosaico ou em abortos, pois causam desequilíbrio muito grande. As aneuploidias possuem monossomia (ausência de um dos cromossomos de um par) e polissomia (quando três ou mais cromossomos no lugar de um par). Geralmente ocorrem por não-disjunção. Estruturais – erros que podem ocorrer nos cromossomos ou entre os cromossomos durante a interfase. Incluem isocromossomos, deleções, duplicações, inversões e translocações. Deleção – ocorre perda de uma parte do cromossomo. 17 Duplicação – ocorre entre cromossomos homólogos. Como indica o nome, uma parte do código genético é duplicada, existem dois tipos. Inversão – ocorre um giro de 180° em uma parte do cromossomo. Pode ocorrer em um mesmo braço (paracêntrica), ou uma em cada braço (pericêntrica). Translocação – ocorrem geralmente nos cromossomos não homólogos. O fragmento de um cromossomo é transferido para outro. Numa translocação recíproca dois cromossomos têm fragmentos trocados. Translocação robertsoniana ocorre em cromossomos acrocêntricos em seu centrômero com perda de seus braços curtos. 18