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Prévia do material em texto

2011
História Do
Brasil imperial
Prof. Jó Klanovicz
Copyright © UNIASSELVI 2011
Elaboração:
Prof. Jó Klanovicz
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 
981.07
K633h Klanovicz, Jó.
História do Brasil Imperial/ Jó Klanovicz. Centro
Universitário Leonardo da Vinci –: Indaial, Grupo 
UNIASSELVI, 2011.x ; 148.p.: il
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-316-7
1. História do Brasil Imperial 2. Brasil Império 
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
III
apresentação
Por meio desta publicação você conhecerá a disciplina História do 
Brasil Imperial, organizada em dois eixos: o primeiro, temporal, o segundo, 
temático. O temporal parte da vinda da família real portuguesa para o Brasil 
e a subsequente transferência da sede administrativa portuguesa para uma 
colônia (fato inédito na história política mundial). Por outro lado, o eixo 
temático aborda questões que vão desde história política, passando por 
historiografia e ensino de história do Brasil Imperial. 
O conteúdo desta disciplina está assim organizado:
A Unidade 1, intitulada “A construção político-administrativa do 
Império” – tem como perspectiva algumas das questões mais prementes no 
que tange à independência brasileira, à centralização político-administrativa 
imperial e a constituição de elites nacionais, à emergência de nativismos e 
nacionalismos brasileiros, às guerras no Cone Sul – componente importante 
na consolidação territorial e geográfica no século XIX.
A Unidade 2 trata da consolidação do império “nos trópicos” em 
termos de descrição de suas estruturas econômicas, socioculturais, as suas 
políticas desde os primeiros anos até a desestabilização do regime, no final 
do século XIX.
A terceira unidade congrega discussões historiográficas sobre o tema 
abordado e a relação existente entre a historiografia sobre o Brasil Império e 
o ensino de História do Brasil Imperial.
Estimado(a) acadêmico(a), bons estudos e mãos à obra!!!
Prof. Jó Klanovicz
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 - A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO ................1
TÓPICO 1 - ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA ................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 MOVIMENTOS CONTRÁRIOS AO DOMÍNIO PORTUGUÊS..............................................4
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................9
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................10
TÓPICO 2 - INDEPENDÊNCIA..........................................................................................................11
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................11
2 D. JOÃO VI, D. PEDRO E A INDEPENDÊNCIA .........................................................................17
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................25
TÓPICO 3 - CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS ...............................................................27
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................27
2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824 ............................................................................................................29
3 PROBLEMAS PARA A CENTRALIZAÇÃO .................................................................................30
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................34
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................35
TÓPICO 4 - NACIONALISMOS E NATIVISMOS ........................................................................37
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................37
2 CARACTERÍSTICAS DOS NATIVISMOS ...................................................................................37
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................42
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................43
UNIDADE 2 - A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS ...............................45
TÓPICO 1 - ESTRUTURAS ECONÔMICAS ..................................................................................47
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................47
2 ASPECTOS GERAIS DA ECONOMIA ..........................................................................................50
2.1 O CAFÉ ............................................................................................................................................51
3 ESCRAVIDÃO .....................................................................................................................................55
3.1 A CULTURA AFRICANA ...........................................................................................................57
4 O ABOLICIONISMO E O FIM DA ESCRAVIDÃO ....................................................................58
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................61
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................63
TÓPICO 2 - INSTITUIÇÕESPOLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO ......................................65
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65
2 POLÍTICAS INTERNAS ...................................................................................................................69
2.1 AS REVOLTAS ................................................................................................................................69
2.2 AS GUERRAS NO CONE SUL ...................................................................................................71
sumário
VIII
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................75
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................77
TÓPICO 3 - ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS ...........................................................................79
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................79
2 REGIONALISMOS ............................................................................................................................79
3 GÊNERO ...............................................................................................................................................81
4 VIDA URBANA ..................................................................................................................................84
5 CENAS DO BRASIL MIGRANTE ..................................................................................................88
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................91
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................93
TÓPICO 4 - O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO .........................................................................95
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95
2 VENTOS REVOLUCIONÁRIOS E REPUBLICANOS ................................................................95
2.1 OS CLUBES E OS POLEMISTAS REPUBLICANOS .................................................................96
3 OS MILITARES, GUERRA E POLÍTICA .......................................................................................97
4 A QUEDA DA MONARQUIA .........................................................................................................98
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................99
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................101
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102
UNIDADE 3 - HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL ......................103
TÓPICO 1 - UM POUCO DE HISTORIOGRAFIA .........................................................................105
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105
2 A INVENÇÃO DO BRASIL ..............................................................................................................106
3 PERIODIZANDO A HISTÓRIA DO BRASIL ..............................................................................106
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................107
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108
TÓPICO 2 - INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB) ...................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 O IHGB E O SÉCULO XIX ................................................................................................................110
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124
TÓPICO 3 - HISTORIOGRAFIA RECENTE ....................................................................................125
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
TÓPICO 4 - ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL ...................................................131
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131
2 SABER E FAZER: REDIMENSIONAMENTO DA RELAÇÃO “HISTÓRIA-ENSINO” ......131
3 RELAÇÃO “DIDÁTICA-HISTÓRIA” ............................................................................................132
4 LINGUAGENS, INSTRUMENTOS, ESPAÇOS ...........................................................................135
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................141
1
UNIDADE 1
A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender a emergência do Brasil Imperial em meio ao contexto de 
uma economia-mundo de fins do século XVIII e início do século XIX;
• identificar os principais eventos constituintes do Brasil como Império;
• refletir sobre o processo de independência da colônia;
• analisar a situação interna do Império do Brasil e sua relação com os de-
mais países da América do Sul.
Esta unidade de estudos está dividida em quatro tópicos e em cada um deles 
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a compreender os conteúdos 
apresentados.
TÓPICO 1 – ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA
TÓPICO 2 – INDEPENDÊNCIA
TÓPICO 3 – CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS
TÓPICO 4 – NACIONALISMOS E NATIVISMOS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ANTECEDENTES DA 
INDEPENDÊNCIA
1 INTRODUÇÃO
A independência foi um processo que não ocorreu num único instante. 
Ela foi resultado de várias articulações políticas, econômicas e sociais locais, na 
América Portuguesa, em paralelo a desarticulações do Antigo Regime na Europa. 
Nesse sentido, pode-se dizer que desde o final do século XVIII há tensões entre 
a metrópole e os interesses de colonos no Brasil, o que acabou por fomentar 
movimentos de separação, em meio aos diversos tipos de nativismo. 
A força militar, representada pela eficiência e rapidez das tropas 
napoleônicas e suas tentativas de expandir o controle sobre a Europa, a partir 
da França, e bloquear os interesses da tradicional inimiga, a Inglaterra, causou,simultaneamente, o desequilíbrio político do continente, o que acabou por 
modificar, em certa medida, as próprias relações entre Portugal e a América 
Portuguesa, representada, especialmente, pela transferência da família real de 
Lisboa para o Brasil.
Nesse sentido, é interessante pontuar que a Independência brasileira, 
como processo, tem inúmeros focos, em diferentes datas e locais. Pode-se dizer, 
em certa medida, que alguns eventos, conjunturas políticas, sociais e econômicas, 
além de personalidades, tiveram peso e relevância nesse cenário antecedente aos 
eventos políticos que vão redundar na separação política do Brasil com relação a 
Portugal, oficialmente deflagrada em 7 de setembro de 1822.
NOTA
Olá!!! Que bom vê-lo(a) novamente! Agora que começamos nossos estudos em 
História do Brasil Imperial, vai aí uma boa dica: como instrumento para entender a questão 
das independências no século XIX, sugiro que você leia o texto de Heitor de Andrade 
Carvalho Loureiro, A independência brasileira: considerações historiográficas, publicado 
na revista Ibérica n. 13, 2010, disponível em: <http://www.estudosibericos.com/arquivos/
iberica13/independencia-brasileira.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2010.
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
4
2 MOVIMENTOS CONTRÁRIOS AO 
DOMÍNIO PORTUGUÊS
Entre os eventos característicos desse processo estão a Conjuração Mineira 
(1789), a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), que são 
consideradas, do ponto de vista da história política nacional, rebeliões separatistas, 
por representarem, de pronto, a oposição de interesses locais e metropolitanos.
A Conjuração Mineira, por exemplo, foi motivada pela decadência da 
produção de minérios na segunda metade do século XVIII e pelas dificuldades 
de produtores brasileiros em pagar os tributos cobrados à colônia pelo reino. A 
exacerbação da derrama, como instituição violenta para obrigar a população da 
capitania das Minas (atual estado de Minas Gerais) a entregar parte de seus bens 
para pagar as dívidas, ocasionou o levante de muitas partes contra a metrópole.
Muitos colonos estavam descontentes com essa situação, seguida dos 
altos preços cobrados por mercadorias importadas, tais como calçados, tecidos, 
ferramentas, manufaturas em geral, que estavam proibidas de serem fabricadas 
no Brasil por meio de uma legislação que datava de 1785. Somava-se a isso a 
prerrogativa de ocupação de cargos administrativos da colônia somente por 
portugueses, a proibição da impressão de jornais e livros no Brasil, o que 
dificultava, em muito, a emergência de elites locais.
Nesse cenário de descontentamento, muitos membros das elites mineiras, 
uns vivendo no Brasil e outros voltando da Europa, embalados pelos ventos 
revolucionários, pela exacerbação dos sentimentos liberais, acabaram por começar 
a reunir-se em Vila Rica, estabelecendo táticas de conspiração contra o governo 
português e dando início aos preparativos de insurreição.
Diversos indivíduos, como Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de 
Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga, todos poetas, ou os padres José de 
Oliveira Rolim, Carlos Correia de Toledo e Melo e Manuel Rodrigues da Costa, 
DICAS
Você pode fazer uma pesquisa iconográfica sobre os movimentos contrários ao 
domínio português na América, diretamente na internet, e buscar perceber neles, padrões 
de leitura e representação.
TÓPICO 1 | ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA
5
mas também militares como Francisco de Paula Freire Andrade, Domingos de 
Abreu, Joaquim Silvério dos Reis e Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), 
embrenharam-se por esse processo insurrecional, reivindicando um governo 
republicano, tomando a Constituição dos Estados Unidos da América como 
modelo, propondo São João D’El Rei como a capital do novo país, prevendo 
o serviço militar obrigatório e apoiando a industrialização como base do 
desenvolvimento, sob os auspícios da ideologia maçônica que deu origem ao 
mote da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. 
Esses líderes acabaram, inclusive, por desenhar a nova bandeira brasileira, 
caracterizada por um triângulo verde sobre um fundo branco, com os dizeres 
“Libertas quae sera tamen”, embora não fazendo menção a problemas locais como 
escravidão ou concentração de terras e de renda. 
Às vésperas de uma derrama, eclodiu a revolta em Vila Rica em 1789, e os 
insurgentes buscaram prender o novo governador da região quando do início da 
cobrança do imposto, o Visconde de Barbacena, com o apoio da população local. 
Enquanto esses acontecimentos se desenrolavam em Vila Rica, ficou combinado 
que Tiradentes deveria ir ao Rio de Janeiro com o objetivo de divulgar as ações 
insurgentes e tentar conseguir apoio em armas, dinheiro e munição.
O projeto foi frustrado porque foi denunciado por Joaquim Silvério 
dos Reis, em troca de perdão de dívidas pessoais. Por outro lado, o visconde 
de Barbacena não realizou a cobrança da derrama, e começou a prender os 
conspiradores, que demoraram três anos para ser julgados. Apenas Tiradentes 
assumiu integralmente a participação na conspiração, enquanto os outros 
insurgentes buscaram dissimular suas ações. Todos eles foram desterrados nas 
colônias portuguesas da África, enquanto Tiradentes foi condenado à morte, 
enforcado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, depois esquartejado e seus 
membros distribuídos pelas cidades onde buscava apoio, numa condenação 
característica do Antigo Regime, baseada no suplício.
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
6
FONTE: Disponível em: <http://olhopop.files.wordpress.com/2010/04/tiraden tes_
esquartejado_28pedro_amc3a9rico2c_189329.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Na Bahia eclodiu um movimento nitidamente popular, com a 
participação de artesãos, escravos, ex-escravos, burgueses em geral, soldados e 
alfaiates, padres, médicos e advogados.
Um dos motivos era a dificuldade econômica acarretada a Salvador devido 
à transferência da capital para o Rio de Janeiro em 1763. A Bahia permaneceria 
FIGURA 1 – TIRADENTES. IMAGEM DE PEDRO AMÉRICO (1888)
TÓPICO 1 | ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA
7
com uma população miserável, sobrecarregada de tributos, que contestava 
com frequência a exploração da metrópole. O sucesso da independência dos 
Estados Unidos da América (1776), as realizações da Revolução Francesa (1789) 
acabaram por ser divulgadas na Bahia por meio de intelectuais, burgueses e 
profissionais liberais, empolgando parcela da população soteropolitana.
Os grupos de revoltosos começaram a se encontrar em reuniões secretas, 
para organizar a conspiração em comum acordo com diversas camadas da 
população. As propostas eram a proclamação de um governo republicano, 
democrático, livre de Portugal, o livre comércio (contra o mercantilismo), o 
aumento do soldo e a abolição da escravidão.
Entre os líderes desse movimento estavam os soldados Lucas Dantas de 
Amorim Torres, Luís Gonzaga das Virgens e Romão Pinheiro, o padre Francisco 
Gomes, o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo, o professor Francisco 
Barreto, o médico Cipriano Barata e os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino 
dos Santos Lira.
A rebelião estourou em 12 de agosto de 1798, por meio de cartazes 
espalhados por toda a cidade de Salvador, enquanto que o então governador de 
Pernambuco, Fernando José de Portugal, iniciava a repressão, que acabou com 
vários dos representantes presos, condenados com diversas intensidades, desde 
suplícios até degredos.
Por outro lado, a Revolução Pernambucana, ocorrida mais tarde, em 
1817, vinha na esteira de uma série de revoltas daquela capitania contra o regime 
colonial, desde a Insurreição Pernambucana contra os holandeses até a Guerra 
dos Mascates entre Olinda e Recife (1710-11). O motivo agora era o tradicional 
aumento de impostos causado pela transferênciada corte portuguesa para o 
Brasil em 1808.
O movimento angariou adeptos em Alagoas, Paraíba e Rio Grande do 
Norte e buscou resolver a situação financeira da capitania, tendo por objetivo 
a libertação do Brasil do domínio português e a constituição uma república em 
Recife.
Alguns representantes desse movimento foram o comerciante Domingos 
José Martins e padres que acabaram por derrubar o governador e implantar um 
novo governo, decretando a extinção de impostos, a liberdade de imprensa, de 
religião e a igualdade entre cidadãos. A revolução acabou sendo reprimida por 
tropas deslocadas da Bahia e do Rio de Janeiro, tendo seus participantes sido 
presos e executados.
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
8
Esses movimentos separatistas, no todo, acabaram por mostrar a 
insatisfação com a exploração e a opressão de Portugal sobre a América 
Portuguesa e a impossibilidade de manutenção do sistema colonial e de seu 
correspondente sistema econômico (o mercantilismo), no Brasil.
9
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:
• A independência foi um processo que não ocorreu num único instante. Ela 
foi resultado de várias articulações políticas, econômicas e sociais locais, na 
América Portuguesa, em paralelo a desarticulações do Antigo Regime na 
Europa.
• A História do Brasil é periodizada de acordo com os marcos institucionais, 
começando com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, um dos 
detonadores do processo de independência do país.
• A Independência brasileira, como processo, tem inúmeros focos em diferentes 
datas e locais. Pode-se dizer, em certa medida, que alguns eventos, conjunturas 
políticas, sociais e econômicas, além de personalidades, tiveram peso e 
relevância nesse cenário antecedente aos eventos políticos que vão redundar 
na separação política do Brasil com relação a Portugal, oficialmente deflagrada 
em 7 de setembro de 1822.
• Houve dissensões locais frente ao domínio português da América, que se 
deslocam entre o século XVIII e o início do século XIX.
10
AUTOATIVIDADE
Elabore um quadro de eventos pré e pós-independência, que 
são exemplos de movimentos locais contra o domínio português da 
América, enfatizando líderes, datas, o relato dos eventos e seus símbolos 
iconográficos, tais como bandeiras ou representações de indivíduos 
importantes em cada um.
11
TÓPICO 2
INDEPENDÊNCIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A independência do Brasil estava lançada em plena relação com o que 
Eric Hobsbawm denominou de Era das Revoluções (2007), amparada em plenos 
ideais republicanos, contrários à manutenção do mercantilismo, em plena 
expansão do capitalismo e dos princípios de uma industrialização efetiva, da 
independência dos Estados Unidos da América, da Revolução Francesa e das 
guerras napoleônicas.
As guerras napoleônicas, no esforço de atingir a Inglaterra, acabaram 
por englobar diretamente Portugal, na medida em que o país, que se mantinha 
oportunamente neutro, acabou por ser forçado a tomar partido na contenda, 
entre França e Inglaterra, com a imposição do bloqueio continental francês.
Diversos autores concordam que o início do século XIX foi um período de 
incertezas para o reino de Portugal, que estava, por conseguinte, pressionado. O 
Tratado de Badajós (1801) fez Portugal devolver Olivença para a Espanha, então 
aliada de Napoleão no bloqueio contra a Inglaterra. O reino português percebia 
que o incremento do poder da França faria com que o país tivesse que abandonar 
sua posição, buscando acordos secretos com Londres e pagando indenizações 
para as tropas francesas.
 
Com as portas de Portugal pressionadas pelas tropas francesas, altamente 
rápidas e eficientes, a própria Inglaterra persuadiu a corte portuguesa a transferir-
se para o Brasil, obrigando-a, também, a abandonar a sua inconsistência em 
termos de política internacional de acomodações para outra de incondicional 
apoio à política inglesa, ainda em 1808. A escolta que a Inglaterra ofereceu para 
a transmigração da corte para o Brasil obrigou o soberano português a satisfazer 
a voracidade comercial inglesa. Desembarcando na Bahia em 24 de janeiro de 
1808, já em 28 “abriu as portas do Reino ao comércio de todas as nações amigas, 
primeiro ato de represália contra Napoleão” (LOSSO, 2008, p. 5). O reino de 
Portugal, longe de Lisboa, concedia dessa maneira privilégio à Inglaterra, na 
época, a única potência da Europa capaz de manter e proteger uma possante 
marinha mercante (HOLANDA, 1985).
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
12
O Brasil acabou, enfim, por se tornar a sede da monarquia entre 1808 e 
1821. Ao chegar a Salvador em 1808, D. João VI decretou a abertura dos portos 
brasileiros às nações amigas, liberando a importação de quaisquer produtos 
vindos de países como a Inglaterra, o que beneficiou diretamente aquela nação 
em plena industrialização. No mesmo ano, o rei revogou a proibição de instalação 
de manufaturas e indústrias na América Portuguesa, o que, se por um lado foi um 
passo importante para a liberalização dos mercados, por outro, não representou 
grande benefício prático na medida em que o surto manufatureiro colonial não 
conseguiria concorrer com o preço mais barato e a qualidade dos produtos 
ofertados por ingleses.
 FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/RicardoBrugger/
image002.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
A partir de 1810, o Tratado de Comércio anglo-lusitano fez emergir no 
Brasil a movimentação financeira necessária à sustentação das elites 
comerciais locais e inglesas, que pagariam apenas 15% de direitos 
para as mercadorias transportadas nos portos regionais pelo pavilhão 
inglês, ao passo que onerava em 16% as próprias importações de 
Portugal (HOLANDA, 1985, p. 101). 
O Brasil, nesse sentido, preparava sua independência política, sem quebrar 
a dependência econômica, favorecendo o escoamento de produtos ingleses 
manufaturados e imobilizados pelo bloqueio continental, abrindo comércio à 
Inglaterra, abastecendo tropas em luta, servindo de ponto seguro de apoio inglês 
contra as ideias da República Francesa (liberdade, igualdade, fraternidade) que 
se espalhavam na América. “Por outro lado, Portugal parecia estar abandonado 
FIGURA 2 – CERIMÔNIA DE ACLAMAÇÃO POPULAR DE D. JOÃO VI PELA ELEVAÇÃO DO BRASIL 
A REINO UNIDO, AMBIENTADA PELO PRINCIPAL ARTISTA DA CORTE PORTUGUESA, J. B. DEBRET
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
13
à sua própria sorte, o que fez com que suas elites comerciais, prejudicadas por 
ficarem do outro lado do Atlântico, não tardassem a se insurgir contra Napoleão, 
com as despesas custeadas pelo Brasil” (HOLANDA, 1986, p. 102). Entre 1808 
e durante a década de 1810, o Brasil custearia o restabelecimento da soberania 
de Portugal, invadiria a Guiana Francesa e ainda se envolveria na Guerra da 
Cisplatina, com vistas a anexar a Banda uruguaia, considerada presa fácil do 
débil império espanhol.
D. João VI beneficiou a terra com a revogação das restrições antes existentes 
sobre as indústrias no país, favoreceu a introdução de máquinas, garantiu direito 
a inventores, facilitou importação de matéria-prima para a indústria e fábricas, 
fundou a Escola da Marinha, de Artilharia e fortificações como a Imprensa Régia, 
o Jardim Botânico, a Biblioteca Pública, a Academia de Belas-Artes, uma fábrica 
de pólvora e um hospital do exército, porém sob um sistema monetário metálico 
e defeituoso, sob um sistema tributário assistemático e cheio de problemas, com 
uma economia acanhada e um primeiro Banco do Brasil do qual o estado era 
mero acionista. Essa foi a situação administrativa da colônia entre 1808 e 1821, 
com poucas alterações no meio do caminho.
Fatos de destaque: o Rio de Janeiro acabou por ganhar ares europeus com 
a transferência da família real parao Brasil, por meio da instalação de diversas 
instituições e órgãos públicos, com o estabelecimento dos ministérios e tribunais, 
a Casa da Moeda, o Banco do Brasil e outros tantos. Na mesma época é que a 
América Portuguesa abre-se para missões naturalistas, científicas e artísticas, 
que tiveram importância decisiva para a descrição do interior do Brasil, suas 
paisagens e costumes, bem como suas dinâmicas socioeconômicas, ambientais 
e suas distâncias e geografia. Obras como as de Debret, ou de Rugendas, ou as 
descrições de David Porter traduziram a dimensão do Brasil por meio da imagem 
de paisagens, de costumes, de pessoas, ou por meio de textos. Essas imagens 
e versões escritas do período joanino deixavam não apenas as impressões 
naturais e geográficas, ou por assim dizer, “fisionômicas” do Brasil, mas também 
expressavam posicionamentos políticos e impressões sobre a própria relação 
entre colônia e metrópole.
O texto de David Porter (apud HARO, 1990, p. 220), de 1812, falando da 
capitania de Santa Catarina, nos ajuda a exemplificar tal relação:
Antes de ir mais longe, devo dizer alguma coisa sobre Santa Catarina. 
Os portugueses se estabeleceram naquela ilha (atual Florianópolis) há 
setenta anos, aproximadamente, e a Vila, que parece em situação próspera, 
está situada no ponto da ilha mais próximo ao continente, e pode ter cerca 
de dez mil habitantes; aí reside o Capitão Geral. Parece lugar de comércio; 
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
14
vários bergantis e barcos estavam, ainda, em frente à Vila, e os mercados 
eram numerosos e bem abastecidos do corrente vendível, a bom preço. A 
Vila está situada em lugar ameno, a baía, que fica em frente, parece cômoda; 
os habitantes são habilidosos. É defendida por dois pequenos fortes, um 
em frente ao outro em local que avista a terra. As casas, em geral, são 
construídas com elegância. Mas, nada de mais belo do que a grande baía, 
ao norte, formada pela Ilha de Santa Catarina e o continente. Nada ali falta 
daquilo que pode proporcionar a visão de um lugar lindo: belos povoados 
e casas dispostas em círculo, praias que, gradativamente, conduzem ao 
morro, e este coberto até o topo de plantas sempre verdes. Um clima sempre 
temperado e saudável; ilhotas, esparsas aqui e acolá, e todas verdes, um 
solo fertilíssimo; tudo combina para dar à gente a impressão do mais belo 
lugar do mundo. Nós chegamos, desafortunadamente, na estação oposta à 
das frutas; não mais se podia ter laranjas naquele momento, mas me foi dito 
que na estação delas se podia ter em abundância e por uma bagatela. 
Aqueles habitantes parecem ser os mais felizes de quantos vivem 
sob o domínio português; provavelmente porque estão mais longe de 
Portugal, estão menos sujeitos aos impostos e opressões, mas, sempre se 
queixam. Existem aí dois regimentos da guarnição de Santa Catarina, que, 
quando lhes faltam provisões, um oficial vai à casa dos colonos, se apropria 
de seus cereais e gado e lhes dá um bônus do governo, que jamais é extinto.
FONTE: Disponível em: <http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/uploads/2007/06/curitiba-1827-
debret.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 3 – VISTA DE CURITIBA. JEAN-BAPTISTE DEBRET (1827)
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
15
FONTE: Disponível em: <http://www.pousodoalferes.com.br/site/images/artigos/rugendas_
ouropreto.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Sobre a transferência da família real, Luiz Felipe de Alencastro (1997) 
descreve o seguinte:
FIGURA 4 – JOHANN MORITZ RUGENDAS, OURO PRETO (1824)
A transferência da corte trouxe para a América Portuguesa a família 
real e o governo da Metrópole. Trouxe também e, sobretudo, boa parte do 
aparato administrativo português. Personalidades diversas, funcionários 
régios continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus 
empregos e dos seus parentes, após 1808. Concretamente, além da família 
real, 276 fidalgos e dignatários régios recebiam verba anual de custeio e 
representação, paga em moeda de ouro e prata retirada do Tesouro Real do 
Rio de Janeiro. Luccock calcula em 2 mil o número de funcionários régios 
e de indivíduos exercendo funções relacionadas com a Coroa. Juntem-
se ainda os setecentos padres, os quinhentos advogados e os duzentos 
“praticantes” de medicina residentes na cidade. Terminadas as guerras 
napoleônicas, oficiais e tropas lusas vêm da Europa para a corte fluminense. 
Segundo o almirante russo Vassíli Golôvin, que fez duas estadias na cidade, 
em 1817 havia no Rio de Janeiro de 4 a 5 mil militares.
No total, pelo menos 15 mil pessoas transferiram-se de Portugal 
para o Rio de Janeiro no período. Para melhor medir a força desse empuxo 
burocrático, convém lembrar que em 1800, quando a capital dos Estados 
Unidos mudou-se de Filadélfia para a recém-construída Washington, o 
contingente de funcionários do governo federal americano não excedia 
o milhar, contando-se desde o presidente John Adams aos cocheiros do 
serviço postal.
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
16
De resto, administradores e colonos de outras partes do império 
português, notadamente Angola e Moçambique, também migram para o 
Rio. Em seguida, Portugal atravessa uma fase de instabilidade política que 
contribui para manter no Rio de Janeiro, até meados do século, uma parte 
dos interesses lusitanos anteriormente transferidos para o Brasil. De seu lado, 
setores mais comprometidos da monarquia espanhola saem dos países sul-
americanos tomados por revoluções republicanas e mudam-se para o Rio de 
Janeiro, único refúgio da legalidade monárquica no Novo Mundo.
A parcimônia de dados disponíveis não permite que se meça 
precisamente o fluxo migratório em direção à nova corte sul-americana. 
Mas é possível captar as mudanças comparando os dados dos censos 
efetuados na cidade em 1799 e 1821. Entre uma e outra data, a população 
urbana, excluídas, portanto, as freguesias rurais do município, subiu de 43 
mil para 79 mil habitantes. Em particular, o contingente de habitantes livres 
mais que dobrou, passando de 20 mil para 46 mil indivíduos.
Não foram só reinóis e monarquistas latino-americanos que 
aportaram na corte fluminense. O enxerto burocrático suscitou uma procura 
de moradias, serviços e bens diversos, atraindo para o Rio mercadorias e 
moradores fluminenses e mineiros. Enfim, chegam mais africanos, dado 
que a baía de Guanabara convertera-se, desde o final do século XVIII, no 
maior terminal negreiro da América.
Nesses primeiros momentos de transferência da corte para o Brasil, D. 
João VI declarou guerra contra a França napoleônica e invadiu a Guiana Francesa 
(1809), devolvendo-a apenas em 1817, quando Napoleão Bonaparte foi derrotado 
na Europa. No mesmo tom, contra a América Espanhola, D. João VI tratou de 
invadir a banda uruguaia ao sul do Rio Grande do Sul, transformando-a em 
Província Cisplatina. Essa província tornar-se-ia independente só em 1828.
Portugal conseguia, paulatinamente e graças ao apoio inglês, voltar-se 
contra a invasão napoleônica, porém acabaria por se defrontar com problemas 
econômicos e com o governo lisboeta do comandante militar inglês, Lorde 
Beresford. Em meio à difusão de ideais iluministas, essas dificuldades acabaram 
por contribuir sobremaneira para a eclosão, em 1820, da Revolução Liberal na 
cidade de Porto, norte português. 
 
Em síntese, insatisfeitos com o fim do pacto colonial, comerciantes, nobres 
e militares portugueses, que estavam sob a tutela do governo inglês desde a 
desocupação do exército de Napoleão, exigiam a convocação do órgão legislativo 
de Portugal, que não se reunia desde 1698. As Cortes Constituintes da Nação 
Portuguesa elaboraram uma constituição, à qual D. João VI jurou obediência antes 
de partir de volta a Portugal, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente.
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
17
Enquantoa movimentação liberal alastrava-se em Portugal e no Brasil, 
é necessário lembrar que os últimos anos do governo joanino no Brasil foram 
permeados por uma administração rotineira, corrupta, sob a face de um 
absolutismo resoluto – embora muitos dos administradores buscassem reformar 
as instituições e abusos burocráticos. Contudo, poucos em Portugal poderiam 
desenhar o que estava por acontecer no Brasil nos idos de 1820, na medida em 
que “[...] a monarquia tradicional parecia consolidada, a república do Recife 
estava vencida com relativa facilidade e a anexação da Banda uruguaia estava em 
vias de completar-se” (HOLANDA, 1985, p. 153).
Em 1821 foram enviados representantes brasileiros para as “cortes”, que 
pouco puderam fazer além de assistir a uma tentativa de recolonização. Tanto o 
processo de eleição como a atuação dos representantes brasileiros no Parlamento 
português foram marcados por violentos conflitos sociais, que não raro acabaram 
se transformando em batalhas pelas ruas das cidades brasileiras, como no Rio de 
Janeiro, em março e abril de 1821. 
Segundo Sérgio Buarque de Holanda (1985), costuma-se datar o embarque 
de D. João VI para Portugal como o início da desagregação, cujo último denotador 
seriam os decretos recolonizadores e cujo coroamento viria no 7 de setembro. 
Se, por um lado, os liberais revoltosos de Porto defendiam reformas 
liberalizantes em Portugal, muitos deles acabavam por querer 
restabelecer o controle por meio de uma espécie de recolonização 
do Brasil. Nesse sentido, propunham a restauração de monopólios 
e privilégios aos portugueses na colônia, bem como a anulação dos 
esforços de uma administração que se tornaria autônoma cada vez 
mais. Na realidade, quando o rei partiu, o Brasil já entrara havia alguns 
meses no processo final de sua emancipação política. A autoridade 
absoluta já estava desmantelada e a prática da soberania popular – 
ainda informe – levaria fatalmente à soberania (HOLANDA, 1985, p. 
157).
De todas as formas, é necessário descrever alguns processos que 
aconteceram durante a regência de D. João VI no Brasil para termos compreensão 
da independência em sua complexidade.
2 D. JOÃO VI, D. PEDRO E A INDEPENDÊNCIA
A transmigração da família real para a colônia trouxe consigo efeitos 
indiretos, porém inevitáveis. Um deles foi a emergência da discussão, na esfera 
política, da possibilidade de independência da América Portuguesa frente 
à metrópole. Esse debate acabou sendo encabeçado por alguns indivíduos 
favoráveis à independência que acabaram por constituir, ainda na Europa, 
o Partido Brasileiro. De fato, esse grupo de pessoas estava organizado por 
aristocratas rurais que tinham interesse direto na autonomia, mas também reunia 
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
18
burocratas e comerciantes, tanto brasileiros como portugueses de nascimento que 
tinham vínculos econômicos, políticos e socioculturais fortes com a América. Um 
dos principais representantes desse movimento foi Gonçalves Ledo. Outro, que 
deixou profundas marcas inclusive nos traços políticos da independência e dos 
primeiros momentos do Brasil independente, foi José Bonifácio de Andrada e Silva. 
Este último, intelectual brasileiro que foi, inclusive, professor da Universidade de 
Coimbra, prestigiosa instituição acadêmica lusitana, tecia importantes críticas à 
política e aos traços administrativos e burocráticos daquele país. É o que pode ser 
identificado em alguns de seus aforismos acerca de Portugal:
Em Portugal todo homem de bem que diz verdades é detestado; e 
se ele tem pretensões à filosofia, então, se o não haja, está exposto às 
perseguições da chusma imensa dos obscurantes. A astúcia particular 
de cada chefe que entra no governo português exerce tal ação no 
ministério que a autoridade soberana só na aparência o é – submissão 
em palavras e resistência oculta e lenta, porém constante e sucessiva, 
paralisam tudo o que é contrário a seus interesses particulares – o 
clero e frades turbulentos e hipócritas perseguidores, a nobreza vil e 
intrigante, o povo miúdo ignorante e obstinado; donde nascem e se 
sustentam ódios, cabalas e vinganças recíprocas e contínuas […]. Os 
abusos do poder têm feito o povo português desconfiado e baixo; a 
má-fé e a opressão o forçam a que evite o não ser enganado e seja antes 
enganador. (ANDRADA E SILVA, 1999, p. 186).
FONTE: Disponível em: <http://semanact.mct.gov.br/upd_blob/0000/757.jpg>. 
Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 5 – JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA (1763-1838)
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
19
O Partido Brasileiro tratou de se aproximar de D. Pedro em sua luta 
contra a recolonização proposta por algumas medidas estabelecidas por 
Portugal após o retorno de D. João. O Partido Brasileiro acabou elaborando 
um documento que reuniu milhares de assinaturas, que pedia a permanência 
de D. Pedro no Brasil e que o mesmo não se submetesse às ordens das cortes 
portuguesas, em meio à convocação de vários representantes brasileiros para 
as discussões políticas na metrópole.
Em 1821, as Cortes chamam D. Pedro I de volta a Portugal. A recusa do 
príncipe regente em obedecer, publicamente declarada em 9 de janeiro de 1822 
(Dia do Fico), seria o início de um atrito que culminaria nos eventos de 1822, cujo 
símbolo mais evidente é a cena pintada 66 anos depois, por Pedro Américo.
FONTE: ACERVO do Museu Paulista Universidade de São Paulo (Museu do Ipiranga). Disponível 
em: <http://peregrinacultural.files.wordpress.com/2008/09/o-grito-do-ipiranga-quadro-de-pedro-
americo-1888-museu-do-ipiranga-sp.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 6 – O GRITO DO IPIRANGA (PEDRO AMÉRICO, 1888)
A simbologia da figura “O Grito do Ipiranga” não deve nos indicar 
erroneamente que a separação entre Brasil e Portugal foi um ato heroico, fruto da 
vontade de um príncipe impetuoso.
Se atentarmos para o fato de que a tela foi pintada meio século após o 
acontecimento, podemos interpretá-la muito mais como a tentativa de construir 
um passado comum entre os brasileiros, em meio ao processo de identificação do 
Brasil no rol das nações de final de século, bem como na observância dos processos 
de emergência das nacionalidades, característico da sociedade do século XIX.
 
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
20
O processo pode ser balizado entre janeiro de 1822, com a inequívoca 
manifestação pública de D. Pedro, de que ficaria no Brasil, e março de 1824, 
quando é promulgada a primeira Constituição do Império do Brasil, sendo D. 
Pedro I coroado Imperador. 
Entre janeiro e setembro de 1822, D. Pedro I tomou uma série de decisões 
que desagradaram profundamente o governo de Portugal. A primeira delas foi 
convocar uma Assembleia Constituinte em junho, visando elaborar a lei básica 
que deveria regulamentar a vida dos brasileiros, em confronto cada vez mais 
inevitável com a metrópole. Depois, tratou de organizar uma Marinha de Guerra 
enquanto determinou o retorno a Lisboa de tropas portuguesas que estavam 
estacionadas no Brasil. Por fim, declarou que nenhuma lei portuguesa entraria 
em vigor no Brasil sem sua autorização pessoal.
Frente a essas primeiras determinações, D. Pedro I tratou de viajar para 
Minas Gerais e São Paulo, a fim de acalmar determinados setores e grupos e a 
preveni-los sobre os acontecimentos recentes, e a autonomização da colônia. Na 
volta de Santos para São Paulo, recebeu correspondência das Cortes de Portugal, 
comunicando a anulação da Assembleia Constituinte por ele proposta a 7 de 
setembro de 1822. Foi no meio da viagem, portanto, que D. Pedro I declarou, 
oralmente, a independência do Brasil.
É importante considerar que as declarações de independência não tinham 
apenas importância metafórica. No contexto do direito internacional do século 
XIX, elas representavam alguns ideais expressos de liberdade,e consolidavam-se 
não como normas abstratas, mas como prêmios arduamente conquistados.
Por um lado, colocavam ex-colônias de frente, na arena jurídica, com 
as ex-metrópoles e com a comunidade internacional de países autônomos e 
independentes, que, seguindo suas próprias agendas políticas internacionais, 
jogavam com a aceitação ou relutância dessas mesmas declarações. 
 
No caso do Brasil, os primeiros países que reconheceram sua independência 
foram os Estados Unidos da América e o México. Os EUA reconheceram mais 
rapidamente independências na América do Sul na primeira metade do século 
XIX, do que na segunda metade do século, a despeito de permanecer com uma 
política externa de não interferência nessa parte do continente. Thomas Jefferson 
em pessoa começou a fomentar a resistência aos impérios ibéricos ainda no 
início de 1786, quando se encontrou clandestinamente em Nîmes, França, com 
um estudante brasileiro de medicina, José Joaquim Maia e Barbalho, que, sob o 
pseudônimo de “Vendek”, carregou consigo até 1822, uma cópia da Declaração de 
Independência, elaborada em comum com Jefferson. Não há evidência, contudo, 
que a declaração oral de independência feita por D. Pedro I em 1822, tenha sido 
influenciada pela declaração estadunidense de Jefferson.
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
21
Os grupos e as ideias que estiveram envolvidos nesse processo podem ser 
acompanhados no seguinte trecho, do livro A Independência e a Construção do 
Império, de Cecília Helena de Salles Oliveira (1995, p. 98-99):
No entendimento do grupo de Nogueira da Gama, assim como 
na concepção de José Bonifácio, a proposta separatista [entre Brasil e 
Portugal] estava profundamente vinculada à convicção de que construir 
a Independência do Brasil implicava a organização de um governo 
representativo, que ao mesmo tempo harmonizasse os interesses provinciais 
e garantisse o equilíbrio entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo.
Isso quer dizer que esses políticos, mesmo sendo opositores de 
Gonçalves Ledo e dos republicanos, dividiam com ele a certeza de que 
o absolutismo monárquico e a legislação do Antigo Regime não mais 
respondiam à dinâmica social. A grande diferença entre eles estava no fato 
de os membros da Regência considerarem que o ajustamento de interesses, 
liberdades e direitos entre os homens livres requeria uma constituição 
sustentada pelos cidadãos e pela autoridade do príncipe.
A gravidade dos conflitos e a presença da população escrava faziam 
com que não acreditassem que o poder soberano da nação pudesse ser 
exercido pela Assembleia Legislativa. Temiam que as divergências de opinião 
entre deputados de diferentes tendências provocassem manifestações 
sociais fora de controle. Ao mesmo tempo que entendiam ser fundamental o 
consentimento do povo para a legitimidade do novo governo, sustentavam 
um amplo espaço de atuação para o Poder Executivo, pretendendo 
centralizar as decisões políticas nas mãos do príncipe e da Corte do Rio de 
Janeiro, base para a criação de um Império. Defendiam, desse modo, uma 
monarquia constitucional em que o povo tivesse asseguradas as liberdades 
civis e o direito de representação, estando formalmente protegido do arbítrio 
e do abuso de poder, em que as províncias se subordinassem ao poder 
central e na qual os proprietários teriam participação política efetiva, já que 
era a propriedade de riquezas e bens o fundamento da plena cidadania.
Confrontos houve no Brasil, principalmente nas ruas do Rio 
de Janeiro, onde tropas leais à metrópole acabaram por ser repelidas e 
derrotadas. D. Pedro acabou sendo orientado política, administrativa e 
intelectualmente por José Bonifácio de Andrada e Silva e acabou abrindo 
caminho para a coroação como D. Pedro I.
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
22
O processo de independência não teve participação popular e 
trouxe consigo o fim do período colonial não necessariamente promovendo 
mudanças na esfera social, política e econômica local. A independência 
representou o corte dos laços políticos com a metrópole, porém não os 
de ordem econômica, uma vez que o país continuou ancorado numa elite 
aristocrática rural, com economia escravista, sem mobilidade social, onde 
não existiu um projeto claro e preciso de “nova nação”.
Do ponto de vista econômico é importante considerar a dependência 
econômica que o emergente país encontrou como estrutura desde a vinda da 
família real em 1808 até 1822. Diversos historiadores, principalmente os de 
formação econômica, apontaram essas dificuldades. Vejamos alguns trechos 
extraídos de alguns dos principais pensadores a esse respeito.
 
FONTE: Disponível em: <http://www.arqnet.pt/imagens3/imag120301.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 7 – VOYAGE PITTORESQUE ET HISTORIQUE AU BRÉSIL, III, PARIS, FIRMIN DIDOT 
FRÈRES, 1839. LITOGRAFIA AQUARELADA DE JEAN-BAPTISTE DEBRET
O caminho para a coroação foi rápido, ao passo em que a 
Independência era reconhecida, primeiramente pelos Estados Unidos da 
América, depois pelos Estados Unidos Mexicanos. Portugal reconheceu a 
independência brasileira somente após o pagamento de uma indenização 
de 2 milhões de libras esterlinas, dinheiro esse que D. Pedro I conseguiu 
como empréstimo, da Inglaterra.
TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA
23
Celso Furtado (2007, p. 93-94), em Formação econômica do Brasil, 
afirmou que:
“A abertura dos portos”, decretada ainda em 1808, resultava de 
uma imposição dos acontecimentos. Vêm em seguida os tratados 
de 1810 que transformam a Inglaterra em potência privilegiada, 
com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais a níveis 
extremamente baixos, tratados esses que constituirão, em toda a 
primeira metade do século, uma séria limitação à autonomia do 
governo brasileiro no setor econômico. 
 
Caio Prado Júnior (2007, p. 133) observa que
Deriva daí [do processo de abertura de portos e submissão 
à Inglaterra], como consequência imediata que se faria 
profundamente sentir, o desequilíbrio da vida financeira do país. O 
comércio internacional do Brasil se torna quase permanentemente 
deficitário. Entre 1821 e 1860 só excepcionalmente ocorrem anos 
com balanços positivos. […] O déficit será saldado pelo afluxo 
de capitais estrangeiros, sobretudo empréstimos públicos, que 
efetivamente começam a encaminhar-se para o Brasil desde que o 
país é franqueado ao exterior. Mas isto representava apenas solução 
provisória que de fato ia agravando o mal para o futuro, pois 
significava novos pagamentos sob a forma de juros, dividendos, 
amortizações, e, portanto, novos fatores de desequilíbrio da balança 
externa de contas. A economia brasileira ficará na dependência de 
um afluxo regular e crescente daqueles capitais estrangeiros de 
que não poderá mais passar sem as mais graves perturbações […]. 
Mas este mesmo afluxo não impedirá a drenagem de todo ouro 
existente e daquele que continuava a ser produzido no país.
24
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:
• A Corte Portuguesa chega à Colônia e instala toda uma estrutura burocrática, 
legal e financeira, dinamizando a sociedade e rompendo os laços coloniais, 
elevando o Brasil à categoria de reino unido.
25
AUTOATIVIDADE
Identifique os elementos que compuseram a primeira estrutura do 
Brasil, enquanto país autônomo, desvinculado da metrópole europeia. Pense 
nos legados destas estruturas para o Brasil contemporâneo.
26
27
TÓPICO 3
CENTRALIZAÇÃO E ELITES 
POLÍTICAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Alguns autores consideram que a construção do império no imediato 
período que secundou a independência não passou de um acordo de cavalheiros 
entre bacharéis e as províncias futuras do país. É claro que essa afirmação é 
demasiada simplista para se entender a construção do Brasil como império 
a partir da ascensão de D. Pedro I ao trono,oficialmente ratificada com sua 
coroação em dezembro de 1822. De todas as formas o Estado que nasce acaba 
sendo um Estado vinculado a oligarquias, e o processo de centralização do país 
em termos políticos, administrativos e burocráticos precisa ser interpretado à luz 
das dinâmicas dessas mesmas elites.
Devemos observar, contudo, que esse processo de centralização 
administrativa e burocrática, que levou ao aparelhamento do estado e à sua 
unificação política, ao contrário do que afirmam diversas levas de historiadores, 
principalmente de orientação republicana, foi rápido e eficiente, apesar de 
violento e vertical. 
Historiadores do Brasil convencionaram ser possível dividir a história do 
Império do Brasil a partir de um recorte cronológico específico, do qual o primeiro 
período é chamado de Primeiro Reinado, entre 1822 e 1831. Nesse momento é que 
identificamos os processos de centralização político-administrativa do Brasil.
 
A proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, que 
efetivamente reverberou como um grito de autonomia perante Portugal, afastou 
o risco da recolonização e reposicionou D. Pedro no eixo da nova ordem política, 
abrindo espaço para a inserção do Brasil no sistema internacional.
Nesse sentido é necessário observar que a constituição do Brasil foi rápida, 
ao contrário do que ocorreu em outras ex-colônias americanas, que passaram por 
longos períodos de guerra externa, guerras civis e guerras de unificação. O Brasil 
ex-colônia conseguiu manter sua integridade territorial, e esse elemento acabou 
sendo preponderante para a consolidação do império posteriormente.
28
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
Já dissemos que a independência brasileira foi reconhecida primeiramente 
por dois países, os Estados Unidos da América e os Estados Unidos Mexicanos, 
em meio à reação absolutista que se seguiu à derrota de Napoleão Bonaparte em 
1815. Por outro lado, é necessário considerar que os EUA, em 1824, propunham a 
Doutrina Monroe, que tecia um acordo com a Europa, no qual os estadunidenses 
concordavam em não intervir e opinar sobre a política europeia, desde que a 
Europa não reagisse à autodeterminação dos povos americanos. A Doutrina 
Monroe foi caracterizada pela expressão “A América para os americanos”.
Incontinente, a Inglaterra trabalhou como mediadora junto às cortes 
portuguesas pelo reconhecimento da independência brasileira, o que aconteceu 
efetivamente em 1825, quando foi assinado um Tratado de Paz e de Aliança entre 
Portugal e Brasil, documento esse que também impunha ao Brasil a não aceitação 
de união com quaisquer outras colônias portuguesas. O tratado foi oficialmente 
reconhecido pelas nações europeias.
Em 1823 foi convocada uma Assembleia Constituinte composta por 90 
deputados pertencentes à aristocracia (grandes proprietários, membros da Igreja, 
juristas). Grande parte dos constituintes defendia a construção de uma monarquia 
constitucional que limitasse os poderes do imperador, que provesse liberdades 
individuais, mas que não modificasse as estruturas socioeconômicas.
Antônio Carlos de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada e 
Silva, apresentou à Assembleia um esboço de constituição que apresentava 
como princípios a soberania do poder legislativo (senadores e deputados), que 
subordinavam o poder executivo (imperador) e as forças armadas. A ideia 
era estabelecer o voto censitário como instituição, podendo então votar quem 
apresentasse comprovante de elevada renda, obtida, principalmente, pela 
atividade agrícola e avaliada segundo o número de escravos e de terras de cada 
interessado em votar. De um modo objetivo, essa proposta foi denominada de 
“Constituição da Mandioca”, e ela limitava, de um lado, a participação popular, 
e de outro, o poder do imperador.
D. Pedro I percebeu o alcance negativo que tal proposta poderia ter sobre 
seu reinado e, utilizando pretextos como a crítica da oposição representada por 
setores aristocratas, burocratas e das Forças Armadas, dissolveu a Constituinte, 
ordenando, ainda em novembro de 1823, a prisão e o exílio de muitos deputados, 
entre eles o antigo conselheiro, José Bonifácio de Andrada e Silva.
José Bonifácio de Andrada e Silva (1999, p. 125), antes aliado, agora referia-
se ao imperador nos seguintes termos:
PÉRFIDO PEDRO
O império perseguiu os únicos homens que podiam defender a realeza 
no Brasil; e por isso está hoje em perigo de perder-se. É do caráter de 
Pedro o preferir a atividade do crime à tranquilidade da virtude, que 
não pode alimentar as paixões de um atroz.
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS
29
Pensamentos prontos como o raio vinham-se à cabeça e projetos 
atrevidos e quiméricos pululavam-lhe nos miolos. […]
Pérfido Pedro, quando me fazia amizades com a metade do 
rosto, com a outra se azedava da minha popularidade e no seu 
corrompido coração tramava calúnias, que espalhava contra mim – 
clandestinamente espalhava entre os seus escravos rumores surdos, 
que me eram desfavoráveis, e por todos os meios procurava abortar os 
meus planos e projetos. Com a máscara da franqueza iludia a minha 
boa-fé, e acolhia os meus mais secretos pensamentos, que espalhava às 
escondidas, desnaturando-os e empeçonhentando-os. Quando obrava 
despropósitos, dizia que lhos tinha aconselhado; e quando cedia às 
minhas representações, diz que se tinha arrependido de ter cedido à 
amizade que bazofiava de ter por mim.
2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824
Depois da dissolução da Assembleia Constituinte, o imperador criou um 
conselho de Estado, reduzido, com a missão de auxiliá-lo na redação da primeira 
constituição do império, que seria outorgada em 25 de março de 1824.
O processo de redação da Lei teve diversos passos, desde as cópias do texto 
que foram enviadas aos municípios brasileiros para que eles dessem sugestões, 
até a redação final que disfarçava o autoritarismo, tendo como inspiração a 
Constituição da França, outorgada por Luís XVIII, em 1814.
A Carta brasileira de 1824 constituía uma monarquia hereditária, com 
a divisão dos poderes em Executivo (na mão do imperador e dos ministros de 
Estado, que responsabilizar-se-iam pela execução das leis), Legislativo (que incluía 
a Câmara dos Deputados e o Senado, considerados por conseguinte legisladores), 
o Judiciário (constituído pelos juízes e tribunais) e o Moderador (atribuído ao 
imperador, com a missão de regular os outros poderes). Essa constituição acabara 
de combinar, portanto, características político-administrativas e burocráticas 
marcadamente constitucionalistas a elementos absolutistas.
Os deputados teriam mandato de quatro anos e seriam escolhidos por 
eleições indiretas, nas quais os eleitores “de paróquia” escolheriam os “eleitores 
de província”, que seriam os representantes oficialmente instituídos para votarem 
em deputados e senadores numa segunda eleição. Poderia votar quem tivesse 
mais de 25 anos de idade (exceto bacharéis e militares), e que fossem homens. 
Apesar de D. Pedro I ter outorgado uma constituição diferente daquela proposta 
por Andrada e Silva, a capacidade de votar continuou tendo por base a renda do 
cidadão votante: 100 mil réis para votante de paróquia; 200 mil réis para eleitor 
de província; 400 mil para deputado e 800 mil para senador.
Cabe dizer ainda que a constituição previa um conselho de Estado 
composto por membros vitalícios, a divisão administrativa do país em províncias 
dirigidas por presidentes nomeados pelo imperador, a oficialização da religião 
católica com o reconhecimento de seus membros como funcionários públicos.
30
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
Acompanhe na grafia original o trecho inicial da Constituição de 1824:
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3 %A7ao24.
htm>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Do Imperiodo Brazil, seu Territorio, Governo, Dynastia, e Religião
 
Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os 
Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que 
não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se 
opponha à sua Independencia.
Art. 2. O seu territorio é dividido em Provincias na fórma em que 
actualmente se acha, as quaes poderão ser subdivididas, como pedir o bem 
do Estado.
Art. 3. O seu Governo é Monarchico Hereditario, Constitucional, e 
Representativo.
Art. 4. A Dynastia Imperante é a do Senhor Dom Pedro I actual 
Imperador, e Defensor Perpetuo do Brazil.
Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a 
Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu 
culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma 
alguma exterior do Templo.
3 PROBLEMAS PARA A CENTRALIZAÇÃO
Veja como estava traçada a organização político-administrativa dos 
primeiros momentos do Império do Brasil, conforme a descrição de Luiz Felipe 
de Alencastro:(1997, p. 18-19):
Desde 1828, o Primeiro Reinado começa a erodir o autonomismo 
municipal, restringindo a competência das câmaras às matérias econômicas 
locais e proibindo que os vereadores deliberassem sobre temas políticos 
DICAS
Se você quiser analisar todo o conteúdo da primeira Constituição do Brasil, 
acesse o link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao24.
htm> e boa pesquisa!!!
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS
31
provinciais ou gerais. A regionalização instaurada pelo Ato Adicional 
(1834) cria as assembleias provinciais, mas a tendência antimunicipalista 
prossegue. Nesse movimento, o governo central subtrai a autonomia das 
municipalidades e, sobretudo, a competência jurídica e policial dos juízes 
de paz eleitos em cada cidade e dos juízes de paz eleitos em cada cidade e 
dos juízes municipais indicados pelas câmaras.
 
Ora, o exercício do poder público por autoridades designadas pelos 
presidentes de províncias, ou seja, pelo governo central – em detrimento 
das autoridades locais escolhidas pelos proprietários, eleitores qualificados 
da região –, afigurou-se como uma ameaça à ordem privada, isto é, à 
ordem em geral. Esse embate pode ser ilustrado pelo levante ocorrido nos 
sertões do Maranhão, a Balaiada (1839-1841), conflito típico de uma região 
desconjuntada pelo recuo do comércio interno, pelo novo desenho da 
geografia econômica do país. 
A dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador D. Pedro I, 
associada à imposição da Constituição de 1824, provocou protestos em inúmeras 
províncias, principalmente no Nordeste do país, que não conseguira reverter os 
problemas econômicos regionais, ainda mais com a crise de produtos como o 
algodão e o açúcar, que não tinham competitividade com o preço de congêneres 
estrangeiros, bem como as dificuldades no que diz respeito ao pagamento de 
impostos cobrados pelo governo central.
É importante considerar que o Nordeste já havia sido sacudido por 
revoltas autonomistas antes da transferência da corte portuguesa para o Brasil 
e durante a regência joanina. A Província de Pernambuco, por exemplo, que 
havia se levantado em 1817 contra o governo português, acabou novamente se 
rebelando quando da nomeação do seu novo presidente por D. Pedro I. Esse 
evento desembocou na criação da Confederação do Equador, articulada pelo 
presidente deposto da Província de Pernambuco, Manuel de Carvalho Paes de 
Andrade, e pretendia-se separatista, republicano, popular e urbano, e que acabou 
tendo adesão de Rio Grande do Norte, do Ceará e da Paraíba. Essas províncias, 
agora unidas, adotaram provisoriamente a Constituição da Colômbia, e tiveram 
como ideólogos republicanos o frei Joaquim do Amor Divino Rebelo (frei 
Caneca) e Cipriano Barata (veterano dos levantes da Bahia de 1798 e de 1817 em 
Pernambuco).
A repressão central à Confederação do Equador contou com empréstimos 
financeiros da Inglaterra, e com o envio de tropas à região nordeste sob o comando 
de Francisco Limo e Silva e pelo oferecimento de serviços especializados de guerra 
de Lorde Cochrane, militar inglês e herói nacional britânico. Dezesseis revoltosos 
foram condenados à morte, incluindo o frei Caneca.
 
32
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
A Bahia também passava por conflitos desde 1821. Naquele ano, a 
Bahia já havia se levantado contra Portugal, a partir de conflitos entre soldados 
portugueses e brasileiros nas ruas de Salvador. Nesse período alicerçou-se um 
nativismo interessante na região, que veio a proclamar a independência da Bahia, 
e sua posterior incorporação ao Império do Brasil, em 1823. A independência da 
Bahia, se não trouxe uma separação daquela província do restante do país, serviu 
para balizar e para construir alguns elementos identitários nacionais, que foram 
incorporados pelo Brasil no futuro, tais como Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), 
uma militar brasileira que passou a ser incorporada no panteão nacional a partir 
da República.
Enquanto o Estado centralizado lutava com as forças centrífugas, a 
balança comercial era deficitária, o país convivia com dívida externa e com uma 
economia totalmente frágil. O café brasileiro começou a despontar no mercado 
internacional apenas em 1820, mas ainda o açúcar e o algodão tinham prevalência 
na balança comercial de exportações.
Diante desse quadro, associado aos elevados gastos com a organização 
do Estado, D. Pedro I lançou mão de um recurso que será copiado por governos 
futuros do país, que foi autorizar sucessivas emissões de dinheiro, gerando 
inflação e ocasionando a falência do Banco do Brasil, em 1829.
Esse clima de instabilidade econômica fez com que D. Pedro I passasse 
a enfrentar oposicionistas que em artigos criticavam o autoritarismo imperial, 
principalmente a partir da desarticulação violenta da Confederação do Equador. 
Muitos dos críticos do imperador atacavam-no como se fosse antibrasileiro, com 
intenções recolonizadoras, e com muita proximidade aos grupos portugueses.
Eventos críticos como a Guerra da Cisplatina e a Guerra da Sucessão, 
em Portugal, depois da morte de D. João VI em 1826, impediram D. Pedro I de 
permanecer à frente do governo brasileiro: primeiro porque se reacenderam os 
temores brasileiros de uma recolonização, e segundo, porque Pedro seria um dos 
indicados a assumir o trono português.
Em Portugal, a situação estava posta da seguinte maneira: D. Pedro 
estava sendo pressionado para abdicar do trono em nome de sua filha Maria da 
Glória, que tinha sete anos de idade na época, e que, até atingir a maioridade, 
seria representada por um regente que era seu tio, D. Miguel. Mas D. Miguel 
proclamou-se rei assumindo o poder sozinho. D. Pedro I iniciou uma guerra 
contra o irmão para garantir a coroa à filha, usando para isso dinheiro e tropas 
do Brasil.
Aliados do imperador, visando diminuir a pressão da opinião pública, 
trataram de assassinar o principal opositor de D. Pedro I, em São Paulo, no ano de 
1830, Líbero Badaró. Depois disso, inúmeras manifestações contrárias ao governo 
agitaram cidades em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS
33
No caso do Rio de Janeiro, apoiadores do imperador trataram de organizar 
uma recepção calorosa para D. Pedro I, com vistas a compensar as manifestações 
de desapreço vindas de Minas Gerais. Isso não diminuiu a margem de atuação da 
oposição, o que deu origem a diversos conflitos de rua, principalmente na noite 
de 13 de março de 1831, que ficou conhecida como a Noite das Garrafadas, a 
principal manifestação de oposição ao imperador, e que foi muito similar às lutas 
liberais da Europa, contra a restauração imposta pelo Congresso de Viena (1815).
Visando dissuadir os opositores,o imperador constituiu, poucos dias 
depois desse evento, um ministério liberal totalmente composto por brasileiros, 
aniquilando-o em seguida, para daí em diante nomear um novo ministério 
composto por colaboradores tendenciosamente absolutistas.
D. Pedro I, pressionado pelas elites e pelas Forças Armadas, abdicou do 
trono em 7 de abril de 1831, indo em seguida para Portugal, onde travou batalha 
e venceu D. Miguel, e assumiu o trono com o título de D. Pedro IV. Em 1834, 
abdicou do trono português em favor de Dona Maria da Glória, sua filha.
FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/Ricard 
oBrugger/image005 .jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 8 – D. PEDRO I COM PEDRO II AINDA MENINO NA SACADA DO PAÇO IMPERIAL, 
EM ATO PÚBLICO, DEPOIS DE ABDICAR DO TRONO, EM 7 DE ABRIL DE 1831
34
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:
• O processo de centralização administrativa e burocrática do Império do Brasil 
levou ao aparelhamento do Estado e à sua unificação política, apesar de 
violenta e vertical.
• A dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador D. Pedro I, associada 
à imposição da Constituição de 1824, provocou protestos em inúmeras 
províncias, principalmente no Nordeste do país, que não conseguira reverter 
os problemas econômicos regionais, ainda mais com a crise de produtos como o 
algodão e o açúcar que não tinham competitividade com o preço de congêneres 
estrangeiros, bem como as dificuldades no que diz respeito ao pagamento de 
impostos cobrados pelo governo central.
• D. Pedro I, pressionado pelas elites e pelas forças armadas, abdicou do trono 
em 7 de abril de 1831, indo em seguida para Portugal, onde travou batalha, 
venceu D. Miguel e assumiu o trono com o título de D. Pedro IV. Em 1834, 
abdicou do trono português em favor de Dona Maria da Glória, sua filha.
35
AUTOATIVIDADE
Caracterize a construção do Império do Brasil a partir das relações 
internas e das forças descentralistas que havia no período.
36
37
TÓPICO 4
NACIONALISMOS E NATIVISMOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
2 CARACTERÍSTICAS DOS NATIVISMOS
O período que vai da chegada da família real à abdicação de D. Pedro 
I foi marcado pela emergência de nativismos e nacionalismos no Brasil. Num 
primeiro momento, esses dois sentimentos estavam vinculados a um preceito 
comum, o antilusitanismo que pode ser interpretado genericamente como uma 
expressão de incompatibilidade de interesses entre colônia e metrópole, que teve 
consequências e infiltração profundas no todo social brasileiro, e que ainda parece 
estar presente na cultura nacional, principalmente no anedotário do cotidiano.
De onde vem esse antilusitanismo? Em certa medida, é possível afirmar 
que já no período colonial esse processo se desenrola, principalmente quando 
pensamos em obras como a de Gregório de Mattos e em revoltas do período, 
que eram um indício de que as hostilidades com relação à coroa portuguesa 
se avolumavam. Lembremo-nos, por exemplo, do escárnio que a população 
fluminense tecia sobre os membros da corte, chamando-os de “toma-larguras, 
devido a suas casacas abertas de longas abas pendentes”. Nesse sentido, coube 
a D. João VI proceder a uma ruptura inevitável, enquanto sua memória, para 
usar a expressão de Ricardo Luiz de Souza, passou a conviver com a antipatia 
da historiografia brasileira e com a imagem depreciativa que se entranhou no 
imaginário popular.
O sentimento antilusitano consolidou-se em razão de uma necessidade 
característica da ex-colônia, que era a de construir uma identidade nova que 
rompesse com o passado colonial. Não é à toa que um líder como frei Caneca 
referia-se à colônia nos seguintes termos: “[...] trezentos anos já não digo de 
infância, sim de vil escravidão, ainda não sucedeu a povo nenhum do globo, 
por mais desfavorecido da fortuna e natureza” (MELLO, 2001, p. 38), criticando, 
assim, o monopólio dos empregos e do comércio por portugueses, que só foi 
enfraquecido no início do século XX. 
Ricardo Luiz de Souza enfatiza que não é gratuita a hostilidade aos 
portugueses, ainda mais se considerarmos que, dos 67% dos portugueses que 
entraram no Brasil em 1827, 44,8% dos que entraram em 1828 e 41% dos que 
entraram em 1829 destinavam-se a caixeiros e que isso resultava em críticas como a 
que foi feita pelo farmacêutico carioca, Ezequiel Correia dos Santos, que publicou 
um jornal intitulado “Nova Luz Brasileira”, entre 1829 e 1831, e que descrevia 
38
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
os portugueses como “caixeiros imprudentes com presunção de possuir a cor 
branca que é a cor conquistadora ou dos senhores” (SOUZA, 2007, p. 73).
No período pós-independência, o nativismo foi exacerbado. Manifestações 
antilusitanas tomaram a forma de violência efetiva, tais como espancamentos de 
portugueses na Bahia em 1826, ou atentados a propriedades e pessoas no Rio de 
Janeiro, no mesmo ano. Esses eventos não se restringiram apenas à Bahia e ao Rio 
de Janeiro, e foram registrados muitos casos de chacinas, espancamentos, roubos 
e depredações de patrimônio em diversas regiões. 
Em certa medida, guardadas as construções lusitanistas e brasileiristas que 
opunham, ora os “trabalhadores” portugueses vitimados desses conflitos contra 
os “orgulhosos e indolentes brasileiros”, ou vice-versa, fato é que o antilusitanismo 
foi um dos caminhos para o reconhecimento da nacionalidade brasileira, bem 
como para enfraquecer as identificações regionais que ainda predominavam na 
época da independência, mas também para tocar em temas importantes como a 
tomada de consciência de diferenças entre mulatos e negros. Em Recife, no ano de 
1823, versos separavam marinheiros e caiados (os marinheiros como portugueses, 
e os caiados como brasileiros brancos), e prometiam eliminar ambos em benefício 
de negros e pardos.
Com a abdicação de D. Pedro I, os nativismos acabaram por adquirir 
novo formato. O inimigo político não existia mais, mas sim eram prementes as 
reformas que precisavam articular a nacionalidade num processo de construção 
de um novo país. Nesse sentido, era necessário reafirmar o corte com o passado 
colonial, do qual ainda os portugueses, que residiam no Brasil, eram vistos como 
herdeiros. Essa racionalização refletiu-se em propostas como a que surgiu em 
1831, e que tentava proibir a entrada de portugueses no Brasil por dez anos. 
Mesmo no período regencial, o antilusitanismo continuou forte e 
impregnado no novo país. O projeto de Hino Nacional proposto por Francisco 
Manuel da Silva, e que ficou conhecido no período regencial como Hino ao 7 de 
Abril, descrevia os portugueses como monstros, em três versos diferentes:
Os bronzes da tirania
Já no Brasil não rouquejam;
Os monstros que o escravizavam
Já entre nós não vicejam.
(estribilho)
Da Pátria o grito
Eis que se desata
Desde o Amazonas
Até o Prata
TÓPICO 4 | NACIONALISMOS E NATIVISMOS
39
Ferrões e grilhões e forcas
D’antemão se preparavam;
Mil planos de proscrição
As mãos dos monstros gizavam.
FONTE: Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/curiosidades/hino/>. Acesso em: 24 jul. 
2010.
O período regencial, contudo, promove uma virada nesse antilusitanismo 
e nativismo. A nacionalidade passa a ser tratada em outras arenas que não apenas 
a política, partindo para o mundo da economia, da sociedade, da literatura e do 
jornalismo.
 
O Jornal “O Echo de Pernambuco”, por exemplo, traz, na edição de 30 de 
janeiro de 1851, uma expressão interessante e explícita do antilusitanismo e do 
nativismo brasileiros, numa crítica à criação do Gabinete Literário Português de 
Recife:
O Gabinete Litterario Portuguez quando por aqui se espalhou 
a noticia de que o Sr. João Vicente Martins tinha criado nesta província 
um gabinete litterario portuguez, pouco apreço demos a isso, entendendoque sendo pouco os portuguezes que sabem ler e escrever correctamente 
a sua língua, e que teem alguns conhecimentos, essa instituição tinha por 
fim fazê los aprender alguma cousa e applicarem se a leitura: realmente 
não atinamos com o fim, a que parece hoje dirigir-se essa associação; mas 
agora em vista de certos fatos, e melhor refletindo sobre o caso, cremos 
que esse gabinete traz machiavelismo, e compreende mais política, do que 
instrucção.
Quem é o Sr. João Vicente Martins para promover a criação de um 
gabinete litterario em Pernambuco, e onde sómente entrem portuguezes? É 
um senhor que tem alguma habilidade, que passa por cirurgião homeopatha, 
que é muito vivo; mas que não ta num caso de um litterato, que só almeja 
o saber, a instrução, e que sacrifica seus dias e sua fortuna neste empenho. 
Mas supponha-se que Sr. João Vicente Martins é uma grande capacidade, 
o que é só por hypothese adimittimos, e que ama a sciencia, e por isso a 
applicação aos estudos, e gosta de vê-la progredir, ainda assim achamos 
um pouco extraordinário que andando por tanta parte do Brasil, só se 
lembrase da criação de um gabinete litterario em Pernambuco, e na quadra 
atual, onde é mister muito tino e circumspecção em nossas acções para 
não nos fazermos supeitos de pertencer á esta ou aquella política, e de 
promovermos a queda ou sustentação e engrandecimento deste ou daquele 
partido. E porque este gabinete havia ser só de portuguezes? Conhecemos 
40
UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO
nessa cidade e mesmo pela província alguns portuguezes muito poucos, 
que são homens de lettras; mas a mór parte são ignorantissimos e nenhum 
interesse de instrucção os poderia levar á criação desse gabinete......, 
porquanto só cuidam do commercio, que sabem, que se instituio o gabinete 
litterario? Não, o fim é meramente político, ao menos assim parece a muita 
gente, e como era precisa em Pernambuco uma sociedade de portugueses, 
que executasse os planos da rua da Quitanda do Rio, e as ordens do Sr. 
Clemente Pereira, eis o gabinete litterario criado aqui no Recife, a sociedade 
por consequência instalada, e tudo a caminho. 
Não se persuada o Sr. João Vicente Martins, que nós o maltratamos 
por isso, nem que redigimos este artigo para satisfazer os seus inimigos 
d’arte, os cirurgiões e médicos allopathas (como agora são chamados,) que 
escarnecem da homeopathia, não: a redação do Echo não esta disposta a 
servir ás paixões de ninguém, e apreciando a medicina homeopathica pelos 
seus effeitos, que tem observado, não podia trazer á terreiro esta questão 
do gabinete litterario portuguez para assim ridicularisar a homeopathia. 
Não somos médicos, não temos portanto a necessária instrucção para 
darmos um voto scientifico sobre as duas medicinas, que se guerreão; mas 
somos inclinado a crer que a homeopathia é medicina, que cura, e que sua 
descoberta foi um beneficio para a humanidade. Não tendo pois nada o 
gabinete litterario com a homeopathia, esta claro que não é senão o amor de 
nosso paiz que nos faz apresentar estas considerações sobre a criação do tal 
gabinete, e para a qual há tanto empenho.
Andão emissários pelo matto procurando portuguezes para o 
gabinete: o que é isto Sr. João Vicente? Que zelo, que desejo ardente de 
metter os pobres marinheiros, que vivem lá pelos engenhos e fazendas 
de algodão, no gabinete litterario? Sr. João Vicente, este seu gabinete 
litterario traz água no bico...........! Se é pois verdade, como parece, que o 
sr. João Vicente Martins largando por momentos a medicina veio criar em 
Pernambuco uma associação portugueza consinta que lhe digamos e aos 
que cahirão na corriola, que nada mais impolitico, extemporâneo.
Estamos todos em uma situação anormal, a sociedade brasileira, 
e principalmente a pernambucana acha-se deslocada, e em estado de 
fermentação pelos ódios dos partidos, pelas perseguições e barbáries, que se 
ha feito aos opposicionistas, que mal podem fallar e escrever, mas sem direito 
de vida e propriedade, sem garantia alguma, etc.: ora, este estado não póde 
durar, hade acabar por força, porque a violência é um estado extranatural: 
para que pois os portuguezes se querem expôr e arriscar, concorrendo agora 
deste ou daquele modo para continuação desta compressão, que esmaga os 
brasileiros? Para que se metter em política no Brasil, uma terra que não é 
delles, que não os gosta, e onde eles podião viver bem, tratando só de seus 
interesses? Há em Portugal algum brasileiro, que se intrometta na política 
TÓPICO 4 | NACIONALISMOS E NATIVISMOS
41
da rainha, ou do povo? Fizemos lá algum gabinete litterario? Influímos lá 
de modo algum para os Cabraes venção ou não venção as eleições? Não, 
porque rasão pois os Srs. Portugueses lá no Brasil de metter-se a políticos, e 
bolirem com o que não lhes pertence? Recuem emquanto é tempo; não fiem 
em ninguém, nem mesmo nos guabirus, porque quando se vivem perdidos, 
que lhe há de pagar o pato hão de ser os portuguezes. Senhores, vivei 
comnosco, sem trahir-nos, sede sinceros, não leveis a população do Brasil a 
praticar um excesso. O conselho é prudente. Do Echo Pernambucano.
FONTE: Disponível em: <http://www.encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212590952 
_ARQUIVO_GabinetePortuguesdeLeituradePernambuco-Re-construindoidentidadesesimbologiasd
oser imigranteportugues.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2010.
42
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:
• Os nativismos tornaram-se emergentes, primeiro como resposta à 
descolonização e à separação de Portugal, depois como elemento articulador 
da construção da identidade nacional.
43
AUTOATIVIDADE
Analise a letra atual do Hino Nacional do Brasil, contrastando-a com a 
proposta apresentada neste tópico, tendo como ponto de partida a construção 
da nacionalidade e da identidade brasileiras frente a Portugal. O que 
permanece e o que desaparece quando o hino trata do domínio português?
44
45
UNIDADE 2
A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO 
NOS TRÓPICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• interpretar a consolidação do Império do Brasil desde a abdicação de D. 
Pedro I ao golpe que instala a República no país;
• identificar os principais eventos envolvidos nesse processo;
• refletir sobre o processo de organização e centralização do império;
• analisar a situação interna do Império do Brasil e sua relação com os de-
mais países da América do Sul.
Esta unidade de estudos está dividida em quatro tópicos e em cada um deles 
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a compreender os conteúdos 
apresentados.
TÓPICO 1 – ESTRUTURAS ECONÔMICAS
TÓPICO 2 – INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO
TÓPICO 3 – ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
TÓPICO 4 – O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO
46
47
TÓPICO 1
ESTRUTURAS ECONÔMICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Podemos dividir a História do Império de acordo com o ocupante do trono. 
Entre 1822 e 1831, D. Pedro I é Imperador do Brasil, num período denominado 
Primeiro Reinado. Uma crise na Coroa Portuguesa acaba convencendo o 
Imperador a deixar o Brasil, assumindo o trono de Portugal e legando ao seu 
filho o trono brasileiro. Além disso, o Império estava mergulhado numa grave 
crise econômica e social, e vários setores sociais sentiam-se desprestigiados por 
um imperador que parecia mais alinhado com os interesses europeus. Também 
deve ser mencionado que a popularidade de D. Pedro I não era a de outrora, 
quando liderou a independência do país. Manifestações públicas tornaram-se 
violentas, sendo a Noite das Garrafadas o melhor exemplo, quando nativistas e 
“portugueses” se enfrentaram nas ruas do Rio de Janeiro, quando da realização 
de uma recepção ao Imperador, que chegava de Minas Gerais.
Entre 1831 e 1840 temos um período em que o país assistiu a uma sucessãode regências, enquanto D. Pedro II não ocupasse o trono, em virtude de sua 
pouca idade. Logo após a abdicação de D. Pedro I, funcionou uma Regência 
provisória, composta por três indivíduos, que governaram o país entre maio 
e julho de 1831, quando é sucedida por uma Regência Trina Permanente. Esta 
nova regência funciona até 1835, não obtendo sucesso no controle das agitações 
populares, mas acabou incrementando o arcabouço legal do Império, limitando o 
Poder Moderador dos regentes e instituindo a Regência una. Alternadamente, a 
regência foi então ocupada por Feijó (1835-1837) e por Araújo Lima (1838-1840).
FONTE: Alencastro (1997, p. 188)
FIGURA 9 – PRIMEIRO DAGUERREÓTIPO TIRADO NO BRASIL E NA AMÉRICA DO SUL, POR 
LUIS COMPTE, EM 1840: O PAÇO IMPERIAL, ONDE SE SITUAVA O CORAÇÃO DO IMPÉRIO 
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
48
Durante o Período Regencial, podemos identificar três forças políticas 
importantes:
• Restauradores ou Caramurus – grupo identificado com D. Pedro I, que deseja 
a volta do Imperador.
• Liberais moderados – defendiam a manutenção da estrutura social, política e 
econômica, com todos os privilégios das elites e da aristocracia rural.
• Liberais exaltados – defensores da República, identificados com setores sociais 
urbanos e médios.
Desde 1835 cogitava-se antecipar a ascensão ao trono de D. Pedro, 
que estava prevista pela Constituição para 1843, quando completaria dezoito 
anos. “O ambiente conturbado das regências e o caráter descentralizador das 
medidas animavam a elite carioca no sentido de apostar na saída monárquica” 
(SCHWARCZ, 1998, p. 67). Diversos setores se articulavam para atribuir 
maioridade a D. Pedro II para que ele pudesse assumir o trono, inclusive com o 
apoio de jornais cariocas que atribuíam, ainda em pleno século XIX, um caráter 
sagrado a esse processo: 
Adeus tempo da verdadeira monarquia em que a realeza era 
considerada como símbolo da divindade sobre a terra. Hoje em dia 
não há mais respeito por coisa alguma. Vejam só o tutor quer fazer 
do Imperador simplesmente um rei cidadão […] se o jovem monarca 
objeto de nosso amor e de nossas queridas esperanças for senão um 
rei cidadão como o atual rei da França, que será de nós todos! […] 
o Paço é considerado simplesmente como o domicílio do Imperador. 
Que lástima!! (SCHWARCZ, 1998, p. 67).
FONTE: Disponível em: <http://www.historiabrasileira.com/files/2009/12/Francisc 
o_ de_Souza_Lobo_-_Retrato_de_Dom_Pedro_II.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 10 – D. PEDRO II, COM 15 ANOS. FRANCISCO DE SOUSA 
LOBO. MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
49
D. Pedro II tem, assim, sua maioridade decretada quando contava com 15 
anos, em 1840, marcando o início do Segundo Reinado, que durará até 1889, com 
a proclamação da República. As forças políticas do período regencial lutaram 
para influenciar no processo de condução da política do segundo reinado.
Estas forças se aglutinaram em dois grupos: liberais e conservadores. 
Foram os liberais que formaram o primeiro Ministério de D. Pedro II. Em 1840, 
estes dois grupos participaram de uma eleição marcada pela violência de ambas as 
partes, que foi posteriormente anulada pelo Imperador. Na tentativa de pacificar 
o país, imerso numa série de revoltas, o Ministério Liberal foi substituído por 
um Ministério Conservador, inaugurando um revezamento que marcaria todo o 
Segundo Reinado.
FONTE: Panorama do Rio de Janeiro. Victor Frond, 1861. Consultado em Alencastro (1997)
FIGURA 11 – CAPITAL DO IMPÉRIO DO BRASIL, ENTÃO O PRINCIPAL CENTRO URBANO 
DA AMÉRICA DO SUL
A coroação representou uma agenda carregada, com muito peso sobre os 
cofres públicos, mas que teve uma importância fundamental para a consolidação 
do “império tropical” do Brasil. A mobilização para a cerimônia de coroação deu 
feição especificamente política a uma narrativa imperial que, pela primeira vez, 
teve impacto no país, ligando o dia do Fico à Independência, e agora aos ilustres 
da pátria com nomes gravados em peças de arquitetura. A Typographia Nacional 
imprimiu normas e regulamentos para os espetáculos monárquicos, conforme os 
que são apresentados e discutidos por Lília Moritz Schwarcz, na obra As Barbas 
do Imperador.
A monarquia vai-se consolidando entre 1841 e 1864, por meio da 
desarticulação de rebeliões regenciais.
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
50
2 ASPECTOS GERAIS DA ECONOMIA
Quando passa da condição de Colônia para a de Império, o Brasil mantém 
sua economia calcada na exportação de produtos agrícolas para as nações que se 
industrializavam naquele momento. 
Gilberto Freyre já havia dito em Casa-Grande e Senzala, em 1933 
(FREYRE, 2003), que o Brasil acabou se constituindo a partir do patriarcalismo, 
do patrimonialismo, da escravidão e do estamento. Em certa medida, mesmo 
com os esforços capitalistas que se apoderavam de determinadas fatias das 
elites monarquistas do segundo reinado, esses referentes parecem não ter sido 
quebrados, visto que a base da manutenção econômica do império continuaria 
por muito tempo sendo escravista-exportadora.
É preciso dizer que, a partir da independência, há um estímulo econômico 
que atinge todos os setores no país, com o incremento da exportação, proporcionada, 
em certa medida, inclusive pela desvalorização da moeda brasileira, que vai 
facilitar o comércio exterior, embora dificultando a importação de certos elementos 
necessários à modernização. Com a tolerância a estrangeiros que começa a se 
estabelecer, há também um fluxo cada vez maior de viajantes no país, o que vai 
substituindo, em certa medida, a mediocridade da vida colonial, que também 
correspondia a uma economia medíocre, de poucos produtos e de escassez.
 
A abertura dos portos levou, também, à abertura e transformação de hábitos, 
mas também criou grandes perturbações internas no que diz respeito ao comércio, 
incluindo o país, quase que de automático, em sucessivos déficits exteriores.
Caio Prado Júnior (2007, p. 157)) considera que, nas transformações 
ocorridas no Brasil no curso do século XIX, nenhuma terá contribuído para 
modificar a fisionomia do país como a verdadeira revolução que se opera na 
distribuição de suas atividades produtivas: “[...] tal revolução já se pode observar 
em seus começos na primeira metade do século; mas é na segunda que se 
caracteriza propriamente e se completa”. Vejamos o que o autor Prado Júnior 
(2007, p. 157) explica:
Dois fatos (aliás, intimamente relacionados) a constituem; um de 
natureza geográfica: é o deslocamento da primazia econômica das velhas 
regiões agrícolas do Norte para as mais recentes do Centro-Sul (o Rio de 
Janeiro e partes limítrofes de Minas Gerais e São Paulo). Outro é a decadência 
das lavouras tradicionais do Brasil – da cana-de-açúcar, do algodão, do 
tabaco – e o desenvolvimento paralelo e considerável da produção de um 
gênero até então de pequena importância: o café, que acabará por figurar 
quase isolado na balança econômica brasileira.
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
51
O renascimento agrícola iniciado em fins do século XVIII e 
grandemente impulsionado depois da abertura dos portos e da emancipação 
política do país, favorece, sobretudo, de início, as regiões agrárias mais 
antigas do Norte: as províncias marítimas que se estendem do Maranhão 
até a Bahia. Elas voltam então para ocupar a posição dominante desfrutada 
no passado e que tinham parcialmente perdido em favor das minas. Mas 
este novo surto do Norte brasileiro não durará muito; já na primeira metade 
do século XIX, o Centro-Sul irá progressivamente tomando a dianteira nas 
atividades econômicas do país. E na segunda, chega-se a uma inversão 
completa de posições: o Norte, estacionário, senão decadente; o Sul, em 
primeiro lugar, em pleno florescimento.
No Segundo Reinado,a exploração detinha-se especialmente no açúcar 
e no café, dois setores agrícolas que alimentavam diretamente a organização 
burocrático-administrativa e política do Estado imperial, em pleno acordo com a 
lógica da presença e do domínio privado sobre os interesses públicos e a confusão 
entre público e privado, característica da política brasileira.
Mas apesar da aparente continuidade colônia-império, havia novas forças 
sociais, marcadamente formadas pela industrialização e urbanização. No norte 
do país, o cacau e a borracha emergiam como alvo de valor comercial no mercado 
externo, atraíam migrantes, imigrantes, interesses estratégicos e dinheiro, que 
eram traduzidos em modificação das feições urbanas, especialmente de Manaus 
e de Belém do Pará, mas também introduzindo uma quantidade significativa de 
empregados assalariados na economia nacional.
Mesmo que a economia permanecesse elitista, ia-se tornando cada vez 
mais produtiva e eficiente, bem como o Estado ia ofertando, simultaneamente, 
melhores aparelhos de cobrança de impostos, dotando gradualmente o território 
de estruturas necessárias ao escoamento da produção, e, também, realizando 
estudos em diversas áreas com vistas a dominar efetivamente todo o território 
nacional, dando a ele uma identidade.
2.1 O CAFÉ
O cultivo comercial de café no sistema-mundo europeu apareceu com a 
introdução de cultivares nas colônias francesas do Haiti e da Guiana Francesa, ainda 
no século XVII, quando era considerada uma bebida de luxo na Europa. Não se sabe 
ao certo como essa cultura acabou sendo introduzida no Brasil, mas há suspeitas 
de que tenha entrado via Pará, no início do século XVIII, dando início a um rápido 
percurso de expansão, que foi do cultivo e consumo domésticos à produção comercial 
efetiva no Rio de Janeiro, já na segunda metade do mesmo século.
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
52
A produção brasileira passou a ter escala no final do século XVIII, quando 
as colônias francesas produtoras começaram a entrar em crise, tanto devido ao 
processo revolucionário na metrópole como aos seus desdobramentos locais. O 
café, que então estava sendo cultivado em lavouras próximas à cidade do Rio de 
Janeiro, vai sendo difundido para a Zona da Mata de Minas Gerais e pelo litoral 
fluminense, fixando-se, devido a características edafoclimáticas ideais, no vale 
do Paraíba, uma ampla região situada entre as províncias do Rio de Janeiro e de 
São Paulo. Nessa região, ele acabaria por se tornar a principal atividade agrícola, 
tendo alcançado São Paulo em 1825 e o noroeste dessa província em 1850.
O principal produto de exportação do Brasil foi o café, neste período, 
tanto para os EUA quanto para a Europa. O café passa a ocupar esta posição após 
o declínio do ciclo minerador, e as vastas áreas de São Paulo e do Rio de Janeiro 
terão suas economias centradas na cafeicultura.
Esta atividade econômica marcou profundamente a sociedade brasileira, 
desde fomentar o aparecimento de uma sólida elite rural, que passou a interferir 
em outros ramos da economia, como incentivar o ciclo migratório de europeus 
para novas áreas de cultivo, ao longo do século XIX.
O açúcar também continuou por muito tempo sendo considerado um 
importante produto na balança comercial de exportação do país. No entanto, 
no século XIX voltou a sofrer a concorrência da mercadoria das Antilhas, que 
também verteram muitas áreas da pecuária para a cana-de-açúcar, já que esse 
produto continuou tendo muita procura em todo o mundo. A concorrência com 
o açúcar antilhano aumentou no final do século XIX, quando os EUA, declarando 
guerra à Espanha, acabaram por se apoderar de Cuba, do Havaí e de Porto Rico, 
principais regiões de cana da América Central.
A mecanização da agricultura e das fábricas, impulsionada pela revolução 
que tomou conta da tecelagem na Inglaterra a partir do final do século XVIII, e 
sua intensificação na metade do século XIX, ampliou o consumo e a produção 
de algodão brasileiro, embora fossem os EUA os principais fornecedores para a 
Inglaterra.
 
O Brasil teve sua industrialização limitada pelo pacto colonial, mas mesmo 
durante os primeiros anos da independência não foram feitos esforços no sentido 
de industrializar o país. Podemos dizer que será a partir de 1840 que medidas 
industrializantes serão implementadas pelo Império, e o sucesso do Barão de 
Mauá é exemplo do dinamismo econômico que marcou o período. No entanto, 
novas diretrizes modificarão este cenário já na década de 1860, impedindo uma 
sólida industrialização, que viria a acontecer apenas no século XX.
Francisco Carlos Orlandini, do Instituto de Economia da Universidade 
de São Paulo, sintetiza a expansão produtiva do Brasil do segundo império nos 
seguintes termos:
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
53
Uma das características da conformação histórica do mercado mundial 
em geral, e do café em particular, foi o surgimento de uma “especialização 
regional”, combinando a expansão do comércio e transformações produtivas, 
tanto no plano regional quanto internacional. Como é possível de se imaginar, 
em quaisquer destas situações estão sendo redefinidas as relações entre os 
indivíduos envolvidos. Ao lado da pimenta, nos séculos XII e XIII, do álcool, 
no século XVI e, mais tarde, do chá, açúcar, cacau e tabaco, o café faz parte de 
um conjunto de produtos que, como nos diz Fernand Braudel, “conquanto 
não sejam alimentos básicos, são todos grandes personagens chamados a 
transformar, a perturbar a vida cotidiana dos homens”.
Ao lado da cana-de-açúcar, do ouro e de alguns outros produtos, o 
café cumpre o papel de colocar algumas regiões da antiga colônia portuguesa 
na dinâmica do sistema mundial, com a peculiaridade de acompanhar a 
emancipação política do país, sustentando a Monarquia recém-instaurada – 
com a utilização do trabalho escravo até que se organizasse o abastecimento 
de força de trabalho com a introdução de trabalhadores livres – e, mais 
tarde, servindo de apoio à transição para o novo regime político. 
Dentro da rede de caminhos estabelecidos sob o impulso econômico 
da exploração do ouro, alguns posseiros se juntam aos comerciantes 
que abasteciam os tropeiros, iniciando o povoamento que intensifica a 
incorporação de novas terras. De acordo com Stanley Stein, as primeiras 
fazendas de café, ao longo das trilhas dos tropeiros eram os únicos pontos 
de povoamento existentes na região. Assim, ao mesmo tempo em que se 
dedicavam à produção propriamente dita, os pioneiros deveriam também 
se desincumbir das necessidades de moradia e alimentação do grupo e 
da escravaria, daí a devastação da floresta, associada tanto à abertura de 
novas áreas de cultivo de café e de alimentos, como para o fornecimento de 
madeira às construções.
No Oeste Paulista, o açúcar teve papel semelhante ao do café no Vale 
do Paraíba, descrito por Stein. A partir do cultivo da cana-de-açúcar, a terra é 
incorporada ao cálculo econômico e se reorganiza a vida social nessa região. 
Tanto é assim que, para dar vazão à produção de açúcar, é pavimentada a 
primeira articulação do interior da província com o mercado mundial, com 
a criação da “Calçada de Lorena”, em 1789. Aos poucos o ganho obtido com 
o açúcar se transfere para o café, um mercado em expansão, principalmente 
se comparado ao açúcar paulista, de menor qualidade que o do norte, o 
qual por sua vez, já encontra problemas no mercado internacional. Dessa 
forma se entende como que quatro anos depois da maior exportação de 
açúcar pelo porto de Santos, o café se torna, pela primeira vez, o principal 
produto exportado por ali: a literal maturação do investimento do lucro com 
o comércio de açúcar. Essa passagem da produção local para a exportação 
do café foi favorecida pela topografia do Oeste Paulista, seu relevo mais 
achatado ajudou no plantio em regiões mais altas,protegendo o café do 
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
54
ar frio das baixadas, poupando o trabalho exigido pela plantação nas 
chamadas meias-laranjas do Vale do Paraíba.
Na sofisticação do processo produtivo, mais precisamente, no 
beneficiamento do café, reside o primeiro passo da transformação que se 
opera no chamado Oeste Paulista; é nesse momento que os desdobramentos 
da Primeira Revolução Industrial alcançam o interior paulista, criando 
uma peculiar combinação entre mecanização e escravidão, onde o 
beneficiamento de café contribui para a economia de força de trabalho. A 
diversificação econômica, que leva ao crescimento da cidade de Campinas, 
irá caracterizar o aspecto urbano da produção cafeeira no Oeste Paulista, 
diferenciando-a da organização econômica encontrada no Vale do Paraíba. 
Assim sendo, pode-se dizer que o café supera os obstáculos que inibiram 
sua continuidade nesta região – a saber, a exaustão do solo e a elevação 
do custo da mão de obra – através de uma combinação particular entre a 
mecanização – pelos processos de beneficiamento – e a utilização da mão de 
obra escrava na lavoura, que caracteriza essa nova expansão da agricultura 
de exportação pelo território paulista. 
No século XVII, o cálculo da carga a ser transportada levava em 
conta o peso que um homem conseguia levar às costas. Mais tarde as tropas 
de mulas impuseram a revisão destes números, no entanto, os caminhos 
utilizados, tanto num caso como no outro, continuaram os mesmos, daí 
que a velocidade com que as distâncias eram vencidas não se alterava em 
muito; o calor recomendava que as jornadas fossem cumpridas entre duas 
da manhã e meio-dia, no mais tardar, e o cálculo do frete levava em conta 
os trechos mais acidentados onde eram comuns os acidentes com animais, 
assim como a perda da carga.
Depois de a maquinaria tomar parte na produção de café, é a vez 
da ferrovia, um dos maiores ícones da sociedade moderna, oferecer um 
novo fôlego à ordem escravocrata, contribuindo para que a produção 
paulista se mantivesse no mercado internacional. Daí que, da mesma forma 
que a ocupação do solo pela agricultura mercantil de exportação teve esse 
caráter localizado, dificultando a organização de um mercado interno para 
além das formações regionais delimitadas, também o uso da tecnologia 
aconteceu condicionado pela dinâmica do mercado mundial. Incorporando 
transformações que permitem manter a base da organização produtiva, o 
café se constitui ao longo do século XIX como o principal produto brasileiro 
no mercado internacional. Nessa trajetória, sua produção inicialmente 
esparsa, se concentra em grandes propriedades, dinamizando a economia 
regional a ponto de levar a ferrovia ao interior do território paulista, pouco 
depois do seu surgimento na Europa. Quantidades crescentes de café foram 
colhidas ao longo do século XIX, a partir da expansão da área plantada 
nessa região.
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
55
O consumo de café aumenta, as regiões produtoras passam por 
transformações importantes, mas a maneira como o produto era colocado 
no mercado mundial, no entanto, continua relativamente intocada ao longo 
desse período. Tal como antes de 1822 quando o comerciante europeu 
ocupava um lugar estratégico no abastecimento da colônia, no caso das 
fazendas de café, o comércio mediava o contato com o “mundo exterior” 
às fazendas. Da mesma forma que o avanço da cafeicultura pelo interior 
paulista transformou antigos pousos de tropeiros em centros urbanos de 
grande destaque, o comércio deste café pelo porto de Santos reorganizou 
um antigo espaçamento constituído ainda no período colonial. A partir da 
terceira década do século XIX o café ocupa o lugar do açúcar no predomínio 
do comércio feito por este porto. E o crescimento das exportações leva à 
aglutinação das atividades diretamente envolvidas neste processo na região 
próxima à zona portuária da cidade.
A ferrovia, a estrutura de crédito e a forma de colocação do café no 
mercado, aspectos inerentes à Era Moderna, prestam-se à manutenção da 
base escravista que marca o tecido social como um todo, e atribuem um 
caráter peculiar a esta estrutura produtiva.
FONTE: Disponível em: <http://www.sep.org.br/artigo/1243_64e2267b3dea6349a7 f61851dfe7bc60.
pdf>. Acesso em: 12 jul. 2010.
3 ESCRAVIDÃO
A base para essa estruturação da economia brasileira foi, obviamente, 
a mão de obra escrava, especialmente quando o assunto era a agricultura de 
exportação. Essa escravidão tem sido motivo de pesquisas cada vez mais acuradas 
na história sociocultural, principalmente no que diz respeito à sua instituição no 
mundo moderno. Vale destacar que a escravidão moderna é distinta de outras 
formas de escravidão encontradas na história humana e que, mesmo no caso 
do Brasil, os africanos não foram os primeiros a ser escravizados. No início da 
ocupação do território foi largamente utilizada a mão de obra escrava dos nativos 
do continente.
A escravidão é uma situação em que um indivíduo, ou grupo, está sujeito 
às vontades de outro indivíduo. Este fenômeno é identificável em diversos 
momentos da História dos mais diferentes povos e países, mesmo que em cada 
vez que se apresente assuma contornos diferentes. No caso da História da América 
do Sul, os primeiros a ser escravizados foram os povos que ocupavam o território 
quando da chegada dos europeus, no século XVI e ao longo dos dois seguintes.
Já no século XVI inicia-se o tráfico de africanos para trabalharem no novo 
continente recém-“descoberto”. Era o começo oficial do tráfico negreiro, que 
se manteve em funcionamento até a segunda metade do século XIX. Homens, 
mulheres e crianças de algumas regiões do Continente Africano transformaram-se 
em mercadorias, sendo comercializados com a autorização da Coroa Portuguesa.
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
56
FONTE: Johann Moritz Rugendas, Voyage pittoresque dans le Brésil, 1883 apud 
Alencastro (1997, p. 100)
Quando o Brasil se transforma em um país autônomo, no século XIX, 
a escravidão de africanos era um elemento fundamental da dinâmica social. A 
presença dos escravos era notável tanto no campo quanto nas cidades. “Vale 
lembrar que o Rio de Janeiro, onde a Corte estava sediada, era o local com o maior 
contingente de escravos do Império, com aproximadamente 20% da população 
total sendo composta de cativos” (CASTRO apud ALENCASTRO, 1997, p. 342).
O status destes cativos era o de uma propriedade. Seus proprietários 
poderiam dispor de seu escravo como melhor lhes conviesse. Existia mesmo um 
código legal regendo esta relação, como fica patente no trecho seguinte, retirado 
de um recurso apresentado em 1874 num tribunal:
O escravo é um ente privado dos direitos civis; não tem o de 
propriedade, o de liberdade individual, o de honra e reputação; todo o 
seu direito como criatura humana reduz-se ao da conservação da vida 
e da integridade do seu corpo; e só quando o senhor atenta contra este 
direito é que incorre em crime punível. Não há crime sem violação de 
um direito. (CASTRO apud ALENCASTRO, 1997, p. 338).
A distribuição dos cativos era irregular entre as províncias e regiões do 
Brasil. Segundo o censo de 1872, no Amazonas apenas 1,7% da população total era 
formada por escravos africanos. Já no Rio de Janeiro, no mesmo ano, a proporção 
atingia 32,3%. Um terço da população da corte era formado por africanos e seus 
descendentes escravizados.
FIGURA 12 – CENA DO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
57
3.1 A CULTURA AFRICANA
Thiago Losso (2008, p. 23) afirma categoricamente que não é possível 
existir uma “cultura africana”. “A África é um continente diversificado, com povos 
singulares. Os escravos que vieram para o Brasil eram originários de algumas 
regiões específicas da África, como Angola e Guiné. Alémdisso, eram capturados 
indivíduos nas colônias portuguesas da África” (LOSSO, 2008, p. 23).
No entanto, podemos falar de uma cultura africana permeando a 
cultura brasileira, colaborando com alguns elementos para formar 
o conjunto simbólico que poderia, em tese, expressar uma pretensa 
identidade nacional. Passando pela culinária e pela arte, ritmos 
e religiões, a marca dos escravos africanos permanece no Brasil 
contemporâneo. Basta lembrar alguns elementos do nosso cotidiano: o 
candomblé, a capoeira, o samba [...]. (LOSSO, 2008, p. 23)
Os africanos não aceitaram pacificamente a escravatura, e os episódios de 
revoltas e resistências estão sendo cada dia mais investigados pelos historiadores. 
Podemos pensar em dois fenômenos que nos permitem acompanhar as estratégias 
de luta contra a opressão.
“Alguns escravos que conseguiam fugir acabaram criando reduções, que 
passavam a acolher fugitivos das fazendas ou das cidades” (LOSSO, 2008, p. 
23). Estes refúgios eram nomeados Quilombos, e seus habitantes são conhecidos 
como quilombolas. Ainda hoje, descendentes destas populações ocupam a terra 
de seus ancestrais. O mais conhecido e importante dos quilombos foi o Quilombo 
dos Palmares, onde viveu Zumbi dos Palmares, ainda hoje celebrado pelas 
populações de origem africana como um herói que lutou contra a escravidão.
Com contornos diferentes, a Revolta dos Malês foi uma outra forma de 
resistência contra a escravidão. Ela teve lugar em Salvador, em 1835, quando 
escravos se rebelaram.
Esta revolta só pode ser compreendida em seu significado mais adequado 
quando atentamos que seus adeptos eram alfabetizados. De larga maioria 
muçulmana, os revoltosos propunham uma nova organização social, tendo um 
plano de ação e coesão dado tanto pela sua etnia quanto pela religião que os unia.
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
58
4 O ABOLICIONISMO E O FIM DA ESCRAVIDÃO
Formalmente, a escravidão foi abolida no Brasil através de uma lei de 
1888, que ficou conhecida como Lei Áurea. No entanto, este ato não deve ser 
entendido como o ponto principal da abolição da escravatura. Para Thiago Losso 
(2008, p. 24): 
o abolicionismo é uma corrente de opinião importante no Brasil 
do século XIX, e suas lutas foram fundamentais para acabar com a 
escravidão, num processo lento, que foi feito de acordo com os 
interesses dos proprietários, através de uma série de leis anteriores, 
que paulatinamente puseram fim a um dos principais pilares da 
economia do país.
Em 1850, é promulgada uma lei que proíbe o tráfico de africanos. Apesar 
de esta atividade continuar pelas próximas décadas, já não era legal e estava 
sujeita às penalidades da lei.
Em 1871, a Lei do Ventre Livre define como liberto aquele nascido de 
mãe escrava. Com a decretação do fim da vinda de novos escravos e com a não 
escravização dos descendentes de escravos, a escravidão estava já com os dias 
contados.
DICAS
Proceda a um levantamento rápido sobre a cultura afro-brasileira e sobre as 
representações da resistência negra à escravidão dentro da cultura popular brasileira da 
atualidade.
TÓPICO 1 | ESTRUTURAS ECONÔMICAS
59
FONTE: Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/fotos/PrimeiroMaio/
lei_aurea_fac_simile.jpg>. Acesso em: 18 fev. 2008.
As quase duas décadas que separam a Lei do Ventre Livre da Lei 
Áurea foram de longo e tumultuado debate sobre como proceder com o fim da 
escravidão. A campanha abolicionista teve em José do Patrocínio um de seus 
mais destacados representantes. No trecho que segue, escrito pelo historiador 
José Murilo de Carvalho (apud PATROCÍNIO, 1996, p. 9), podemos ver algumas 
facetas deste personagem.
O filho do padre João Carlos Monteiro e de sua escrava de 13 anos, Justina 
Maria do Espírito Santo, nascido em Campos, em 1853, conhecido oficialmente 
como José Carlos do Patrocínio, que era Zeca para os amigos, Zé do Pato, para o 
povo, Proudhomme, para os combatentes da abolição, foi um homem complexo 
FIGURA 13 – FAC-SÍMILE DA CARTA ORIGINAL DA LEI ÁUREA
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
60
que viveu na fronteira de mundos distintos, se não conflitivos. A começar pela 
fronteira étnica: pai branco, mãe negra, um mulato, como se dizia na época, cor de 
tijolo queimado, em sua própria definição. Depois, a fronteira civil: mãe escrava, 
pai senhor de escravos e escravas. A fronteira do estigma social, a seguir: 
[...] oficialmente registrado como exposto, só mais tarde constando o nome 
da mãe, nunca legalmente reconhecido pelo pai. Mais: a fronteira entre o mundo 
interiorano em que se criou e viveu até os 15 anos e o mundo da corte em que 
exerceu a atividade profissional e política. Ainda: a fronteira intelectual de uma 
formação superior, mas de baixo prestígio, a de farmacêutico, convivendo com 
a formação dos bacharéis em direito, medicina e engenharia. Por fim, a fronteira 
entre o reformismo e o radicalismo políticos 
A luta pela abolição foi travada tanto no Parlamento quanto na imprensa. 
José do Patrocínio, um republicano intransigente, destacou-se por seus libelos 
abolicionistas, creditando à escravidão grande parte dos males da sociedade do 
seu tempo. “Publicando seus textos em jornais como a Gazeta de Notícias ou 
Gazeta da Tarde (ambos no Rio de Janeiro), Patrocínio fez de sua pena uma arma 
contra a escravidão, defendendo tanto os cativos quanto aqueles que propunham 
indenizações pelos maus-tratos” (LOSSO, 2008, p. 25).
61
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:
• Podemos dividir a História do Império de acordo com o ocupante do trono.
• Durante o Período Regencial, três forças políticas foram importantes: os 
Restauradores ou Caramurus (grupo identificado com D. Pedro I), os Liberais 
Moderados (que defendiam a manutenção da estrutura social, política e 
econômica, com todos os privilégios das elites e da aristocracia rural) e os 
Liberais Exaltados (que eram defensores da República, identificados com 
setores sociais urbanos e médios).
• Desde 1835 cogitava-se antecipar a ascensão ao trono de D. Pedro II, que estava 
prevista pela Constituição para 1843, quando completaria dezoito anos.
• D. Pedro II tem, assim, sua maioridade decretada quando contava com 15 anos, 
em 1840, marcando o início do Segundo Reinado, que durou até 1889, com a 
proclamação da República.
• Quando passa da condição de Colônia para a de Império, o Brasil mantém sua 
economia calcada na exportação de produtos agrícolas para as nações, que se 
industrializavam naquele momento.
• No Segundo Reinado, a exploração detinha-se especialmente no açúcar e 
no café, dois setores agrícolas que alimentavam diretamente a organização 
burocrático-administrativa e política do Estado imperial, em pleno acordo com 
a lógica da presença e do domínio privado sobre os interesses públicos e a 
confusão entre público e privado, característica da política brasileira.
• O principal produto de exportação do Brasil foi o café, neste período, tanto 
para os EUA quanto para a Europa. O café passa a ocupar esta posição após o 
declínio do ciclo minerador. As vastas áreas de São Paulo e do Rio de Janeiro 
tiveram suas economias centradas na cafeicultura.
• Esta atividade econômica marcou profundamente a sociedade brasileira, desde 
fomentar o aparecimento de uma sólida elite rural, que passou a interferir em 
outros ramos da economia, como incentivar o ciclo migratório de europeus 
para novas áreas de cultivo, ao longo do século XIX.
62
• A base para essa estruturação da economia brasileira foi, obviamente, a mão de 
obra escrava, especialmente quando o assunto era a agricultura de exportação.
• Não existe uma cultura “africana”. A África é um continente diversificado, 
com povos singulares. Os escravos que vieram para o Brasil eram originários 
de algumas regiões específicas daÁfrica, como Angola e Guiné. Além disso, 
eram capturados indivíduos nas colônias portuguesas da África.
• Formalmente, a escravidão foi abolida no Brasil através de uma lei de 1888, que 
ficou conhecida como Lei Áurea. No entanto, este ato não deve ser entendido 
como o ponto principal da abolição da escravatura. O abolicionismo é uma 
corrente de opinião importante no Brasil do século XIX e suas lutas foram 
fundamentais para acabar com a escravidão, num processo lento, que foi feito 
de acordo com os interesses dos proprietários, através de uma série de leis 
anteriores, que paulatinamente puseram fim a um dos principais pilares da 
economia do país.
63
AUTOATIVIDADE
Caracterize o Segundo Império a partir da intersecção entre seus 
aspectos econômicos e sua estrutura política.
64
65
TÓPICO 2
INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO 
SEGUNDO IMPÉRIO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O Império do Brasil estabeleceu um sistema baseado numa monarquia 
democrática representativa e parlamentar, onde o Imperador era o chefe de Estado 
e chefe de governo, ao mesmo tempo, embora fosse o presidente do Conselho de 
Ministros efetivamente o mandatário, em meio a um sistema multipartidário. 
O Poder Executivo era exercido pelo governo; o Legislativo era 
dirigido tanto pelo governo quanto pelas duas câmaras da Assembleia Geral (o 
Parlamento); o Judiciário, por fim, era independente do Executivo e do Legislativo. 
A administração do império era distribuída em 20 províncias e a capital, Rio de 
Janeiro.
Desde que o país havia adquirido a independência de Portugal em 1822, a 
nação passou a ser quase que inteiramente a favor da manutenção da monarquia 
como forma de governo. Havia, em certa medida, algumas razões para essa 
escolha política. O medo de que vários grupos sociais pudessem perder o poder 
e cair no caos político e social experimentado pela maioria das recém-formadas 
repúblicas da antiga América Espanhola constituía a principal preocupação das 
elites brasileiras. Os países vizinhos, como já vimos, conviveram com tentativas 
de desmembramento territorial, golpes de estado, ditaduras e com a ascensão de 
caudilhos. Nesse sentido, percebia-se a necessidade de compor uma estrutura 
política que permitisse ao Brasil não apenas proporcionar algumas vantagens 
às elites, tais como a liberdade, mas também que garantisse a estabilidade 
nacional, em conformidade com o liberalismo. Apenas uma entidade neutra, 
completamente independente de partidos, grupos e ideologias opostas poderia 
alcançar esses objetivos. 
Embora fosse uma monarquia constitucional, o país manteve e tratou de 
construir algumas tradições. A manutenção da monarquia acabava também por 
ser um atrativo à manutenção de tradições culturais de europeus, de indígenas e 
de africanos que viviam no país na primeira metade do século XIX, o que acabava 
por consolidar esse regime político na medida em que somente a monarquia 
seria capaz de amalgamar três grupos distintos formadores do país: africanos, 
indígenas e europeus. Por outro lado, a escolha de um membro da Casa de 
Bragança como rei, além de estar conforme o momento histórico pelo qual o novo 
país e o velho continente passavam, também residia no fato de o príncipe Pedro ser 
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
66
descendente homem de uma linha pura de reis portugueses. A Casa de Bragança 
teve origem com Afonso, Primeiro Duque de Bragança, filho ilegítimo de João 
I da Casa de Aviz, que, por sua vez, era filho de Pedro I da Casa da Burgundia, 
que foi fundada 300 anos antes, em 1143, por Afonso Henriques, primeiro rei de 
Portugal. D. Pedro I e depois D. Pedro II emergiam com pleno apelo popular, e 
numa tradição de mais de 300 anos (ou setecentos anos na história de Portugal), 
e tudo isso servia para consolidar uma unidade nacional. 
Um terceiro elemento para a escolha da monarquia foi a necessidade de 
complementaridade e inserção do Brasil no contexto dos poderes da época, todos 
localizados na Europa. A possibilidade de a Europa intervir em países jovens 
americanos reforçou o desejo de prevenção dessa trama a partir da adoção da 
forma republicana de governo ao custo das cóleras internas dessas regiões, tais 
como a questão do desmembramento em pequenas nações, fracas e em constante 
rivalidade umas com as outras. Por outro lado, manter o regime monárquico 
no Brasil permitiria livrar o país desses problemas, na medida em que poderia 
também reforçar seus interesses internacionais.
O Brasil era, então, um país sob o regime parlamentarista. A maior 
diferença entre parlamentarismo e presidencialismo está no fato de que no 
primeiro caso, chefes de Estado e de governo são duas pessoas distintas, enquanto 
que no segundo ambos os papéis acabam sendo concentrados numa só pessoa. 
Na monarquia brasileira, o imperador era o chefe de Estado e o chefe de governo. 
Essa característica básica do republicanismo presidencialista acabou sendo 
transplantada para a Constituição Brasileira. A Constituição de 1824 foi menos 
parlamentar do que o rascunho preparado para a Assembleia Constituinte. De 
fato, o sistema monárquico brasileiro tornou-se único no mundo inteiro, quase 
que como uma espécie de “monarquia presidencial”. Isso não significa, contudo, 
que o monarca pudesse ter prerrogativas que fossem assemelhadas àquelas de 
um tirano ou de um ditador. As garantias individuais como as de liberdade e 
dignidade haviam sido inseridas nos artigos da Constituição. O imperador não 
poderia atuar nas áreas reservadas aos poderes Legislativo e Judiciário, contudo, 
influenciava suas decisões a partir do Poder Moderador.
A instituição do Poder Moderador nos remete ao papel do imperador 
no Brasil. Ele representava a unicidade, a permanência e a estabilidade 
governamentais, além da ordem legal, da identidade nacional, e era a soma das 
variações de região, de classe, de partido, de raça. A legitimidade do Brasil e dos 
brasileiros passava, portanto, pela personificação do império e pela centralidade 
do imperador como símbolo da nação.
Seguindo o modelo ditado pelo liberalismo do século XIX, a Constituição 
de 1824 garantiu ao monarca a proteção sob o sistema representativo, e o 
desenvolvimento de seu poder passou pelo mais importante e original elemento 
de centralização política: o Poder Moderador. Esse quarto poder era direcionado 
pessoalmente pelo Imperador, e promovia o balanço entre os outros poderes. 
TÓPICO 2 | INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO
67
Entre as prerrogativas do Imperador estavam a isenção de quaisquer 
responsabilidades por erros do governo e no que diz respeito ao Poder 
Moderador, suas atribuições eram basicamente as de qualquer monarca atual: 
aparecer no parlamento no intervalo das sessões, sancionar decretos e resoluções 
da assembleia, estender os poderes ou dissolver a câmara dos deputados, 
convocando, de imediato, eleições para compor uma nova legislatura, apontar e 
destituir ministros de estado, perdoar ou modificar sentenças judiciais, além de 
garantir anistias.
A dissolução da Câmara dos Deputados não deve ser confundida com o 
fechamento do Congresso Nacional, ou Parlamento; a destituição da Câmara dos 
Deputados não pode ser confundida com golpe de Estado, na medida em que, 
no sistema parlamentarista, é uma instituição legal. Em 58 anos como imperador, 
D. Pedro II, a pedido do Conselho de Ministros, dissolveu onze vezes a câmara.
É necessário pensar, nesse sentido, na comunhão entre o Imperador 
e o sistema parlamentarista. José Paranhos, Visconde do Rio Branco, tem sido 
considerado como um dos maiores presidentes do Conselho de Ministros do 
Brasil. O primeiro passo para essa guinada e implantação de uma instituição 
parlamentar ocorreu em 1824, a partir da Constituição, que permitia que a 
Assembleia Geral liderasse a política da nação. O segundo passo, em 1826,quando começou a ocorrer a prestação de contas do governo perante a Câmara 
de Deputados. Por fim, em 1847, a criação do gabinete do Presidente do Conselho 
de Ministros, equivalente à figura do Primeiro Ministro, que abraçava funções do 
Poder Executivo. Esse processo resultou na consolidação do parlamentarismo no 
país.
O parlamentarismo se consolidou no país e acabou sendo motivo de 
muitos debates ainda no século XIX. A figura da prestação de contas do governo, 
bem como do Conselho de Ministros à Câmara dos Deputados, acompanhados 
da publicidade dada às discussões entre deputados e senadores foi motivo, 
inclusive, de críticas sobre o exagerado parlamentarismo no Brasil. 
Em certa medida, essas críticas levavam em conta a subjacente vontade 
de autonomia das províncias, na medida em que, para o século XIX, o esforço de 
liberdade de expressão em um país que convivia com políticas de formulação da 
identidade e da nacionalidade, não poderia levar em consideração os elementos 
federalistas como as reivindicações de autonomia interna. 
Há um debate historiográfico muito forte sobre essa questão, uma vez 
que, se a constituição de 1824 havia estabelecido a centralização como ordem 
do dia no que diz respeito à organização político-administrativa do Brasil, esse 
elemento conviveu, historicamente, com tentativas e sentimentos federalistas ao 
longo de toda a história do Brasil imperial.
A divisão constitucional das competências entre governos provinciais e o 
governo central acabava por garantir relativa independência de interesses, uma 
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
68
vez que cada província tinha o direito de decidir sobre cobrança de impostos, 
sobre força policial, sobre serviços públicos, sobre empregos etc. Além disso, 
as constantes negociações entre províncias e governo central, para responder 
a problemas de manutenção da unidade nacional, acabaram por prover os 
instrumentos necessários para ambos (DOLHNIKOFF, 2005). Alguns observadores 
de fim de século afirmavam que o Brasil era uma “coroa democrática”, na medida 
em que os últimos projetos governamentais encaminhavam o país para o fim da 
vitalicidade do cargo de Senador, que passaria a ser eleito por voto. Claro que 
esse processo não chegou a termo, devido ao golpe republicano.
Nos 58 anos de império de D. Pedro II, o Brasil consolidava-se, a partir 
da institucionalização do próprio império, da pulverização de sua máquina 
administrativa, do desenvolvimento de protocolos capazes de explicar o que 
seria esse Brasil, Império dos Trópicos. A primeira figura desenhada sobre D. 
Pedro II era a de “pai dos brancos”, representação que significava muitas coisas, 
desde a figura de pai da nação, até a de bom administrador, civilizado, que sabia 
distribuir riqueza. Certamente, grande parte desses aspectos derivava do Poder 
Moderador.
Lília Schwarcz, ao problematizar a institucionalização do próprio D. 
Pedro II como imagem do império, recorre à cosmologia Jê-Timbira que trata da 
origem do homem branco com base nas aventuras de Aukê, que acaba por ser 
identificado como o próprio D. Pedro II:
Uma rapariga de pátio de nome Amcukcwéi estava grávida. Certo 
dia, quando em companhia de muitas outras tomava banho, ouviu de repente 
o grito de “preá”. Admirada, olhou para todos os lados sem descobrir de 
onde o ruído partira. Logo depois escutou-o novamente. Voltando para 
casa, deitou-se na cama de varas, e o grito se fez ouvir pela terceira vez, 
reconhecendo ela, agora, que o som partira do interior de seu próprio corpo. 
Foi a criança quem falou: “Minha mãe, tu já estás cansada de me carregar?”. 
“Sim, meu filho”, respondeu ela, “saia [...]” Amcukwéi começou a sentir as 
dores de parto e foi só para o mato. Deitando folhas de pati no leito do chão 
prometeu: “Se fores menino eu te matarei, se fores menina eu te criarei [...]”. 
Nasceu um menino e Amcukwéi cumpriu sua palavra: cavou um buraco, 
sepultou seu filho, ainda vivo, e voltou para casa. Sua mãe, vendo-a chegar, 
perguntou pela criança e, quando se inteirou do sucedido, ralhou com a filha: 
que tivesse trazido o menino porque ela, a avó, o criaria. Não contente com 
isso, a mãe de Amcukwéi desenterrou a criança e depois de lavá-la trouxe-a 
para casa. Amcukwéi não lhe quis dar de mamar, mas a avó o amamentou. 
Foi então que o pequeno Aukê levantou-se e disse: “Então não me queres 
criar?”. Amcukwéi, muito assustada, respondeu: “Sim, eu te criarei”.
Aukê cresceu rapidamente. Ele possuía o dom de transformar-se 
em qualquer animal […] então, um dia, seu tio resolveu matá-lo. Estando 
TÓPICO 2 | INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO
69
o menino sentado no chão comendo um bolo de carne, o tio bateu nele, 
forte e por trás, com um cassetete, enterrando-o atrás da morada. Na 
manhã seguinte, porém, o menino, cheio de terra, voltou […] Seu tio 
resolveu desfazer-se dele de outra maneira: chamou-o para buscar mel 
[…] Chegando ao cume da terceira serra, o irmão de Amcukwéi agarrou 
o menino atirando-o em seguida no abismo. Mas Aukê transformou-se em 
folha seca e desceu vagarosamente em espirais até o chão […] O tio, no 
entanto, logo concebeu um novo plano para matar Aukê: sentando-o numa 
esteira, deu-lhe comida […] Foi então que o abateu pelas costas, usando 
um cassetete, e queimou-lhe o corpo inteiro. Abandonaram em seguida a 
aldeia, mudando-se para um lugar bem longe.
Algum tempo depois Amcukwéi pediu aos chefes e conselheiros 
que mandassem buscar as cinzas de Aukê […] Quando os dois chegaram 
ao lugar, descobriram que Aukê tinha se transformado em homem branco: 
construíra uma casa grande e agora criava negros […] e cavalos de madeira 
do bacuri. O rapaz chamou os dois enviados e mostrou-lhes a sua fazenda. 
Depois mandou chamar Amcukwéi para que morasse com ele. Aukê é 
agora o imperador D. Pedro II, pai dos brancos. 
FONTE: Schwarcz (2000, p. 12)
2 POLÍTICAS INTERNAS
2.1 AS REVOLTAS
Durante todo o Período Regencial, o país foi sacudido por revoltas, que 
apesar de suas particularidades, tinham em comum o fato de se insurgirem contra 
o poder da Corte sediada no Rio de Janeiro.
A Cabanagem teve lugar no Pará, entre 1835 e 1840, se constituindo num 
grande movimento popular, sendo que parte da população da província foi 
morta durante o enfrentamento com as tropas imperiais. O movimento possuía 
uma agenda de reformas sociais e melhoria das condições de vida da população.
Na Bahia eclodiu, em 1837, a Sabinada, que durou até o ano seguinte, 
acabando depois da morte e encarceramento de milhares de indivíduos. Suas 
reivindicações eram de caráter republicano e contrárias ao poder central. No 
Maranhão, ainda em 1838, surge a Balaiada, numa província formada quase que 
exclusivamente por sertanejos e africanos escravizados.
No Rio Grande do Sul, temos um dos episódios mais marcantes deste 
fenômeno de revoltas que sacudiram o Império. A Revolução Farroupilha durou 
dez anos, entre 1835 e 1845, atravessando os anos finais das regências e os iniciais 
do Segundo Reinado. Esta revolta teve contornos republicanos, federalistas e 
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
70
separatistas. Bento Gonçalves, rico fazendeiro e comandante da força pública 
local, toma Porto Alegre, iniciando a revolta, que acaba fundando a República 
Rio-Grandense em 1836, e auxiliando a criação da República Juliana (1839), com 
sede em Laguna, atual Estado de Santa Catarina. A revolta é debelada em 1845, 
quando o Império convence os revoltosos a depor armas, concedendo-lhes anistia 
e incorporação ao Exército.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/43/ 
Guerra _farrapos.jpg/300px-Guerra_farrapos.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Edu Silvestre de Albuquerque, ao discutir a Guerra dos Farrapos, fala da 
origem do termo “farrapo”:
FIGURA 14 – GUERRA DOS FARRAPOS,JOSÉ W. RODRIGUES
Logo após a independência brasileira, o grupo político conservador 
buscou, no apoio ao centralismo político do Imperador D. Pedro I e 
nas sociedades militares espalhadas pelo país, manter seu poder. Esse 
grupo político também incluía os portugueses, que desejavam manter os 
privilégios comerciais herdados do período colonial. 
Em oposição surgiram os liberais nacionalistas, que se dividiam em 
dois grupos: os moderados (ou chimangos) e os exaltados (ou farroupilhas). 
Se é verdade que essa oposição também reunia grupos com diferentes visões 
políticas, desde monarquistas até republicanos, também é verdadeiro que de 
uma forma ou de outra defendia uma maior limitação do poder do imperador e 
algum nível de autonomia provincial, sobretudo para o grupo dos farroupilhas. 
Para uns essa maior autonomia poderia ser obtida via monarquia federativa, 
para outros somente através de uma república federativa.
TÓPICO 2 | INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO
71
2.2 AS GUERRAS NO CONE SUL
Outro elemento marcante do Império do Brasil é formado pelo conjunto 
de conflitos que tem lugar no extremo sul do continente, ao longo de todo o 
século XIX, tornando instável toda a bacia do Rio da Prata. Já em 1851 o exército 
foi enviado para uma campanha no Uruguai, onde o caudilho argentino Juan 
Manuel Rosas e o presidente uruguaio – Manuel Oribe – pretendiam criar um 
Estado formado pelos territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai. Comandado 
por Caxias, o exército imperial do Brasil depõe o grupo político que empreendia 
a construção deste novo Estado e empossa, como mandatários dos dois países, 
figuras alinhadas com os interesses da coroa brasileira. Em uma campanha, em 
1852, o exército derruba Rosas, na Argentina.
Desenhava-se, assim, um clima de tensão regional do Cone Sul que pode 
ser localizado entre as décadas de 1850 e 1860, que atinge repercussões internas 
no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. No Paraguai, Francisco 
Solano López ascendeu ao poder em 1862, depois de Carlos Antonio López, 
que tinha modernizado o exército a partir de importação de material bélico e de 
técnicos, vindos principalmente da Inglaterra. Francisco Solano acabou alterando 
substancialmente a política externa paraguaia, que era de aproximação com 
países como o Brasil, passando a interferir nos interesses de outras nações no que 
diz respeito à navegação do Prata.
Na Argentina, ocorre um processo de reunificação nacional sob a 
liderança e domínio às vezes violento, de Buenos Aires e no Brasil, o Partido 
Liberal substituiu o conservador no governo. Data desse mesmo período a 
moratória sobre a definição das fronteiras entre Paraguai, o Império brasileiro e a 
Confederação Argentina.
Solano López assumiu um país sem dívidas, unificado, com avanços 
tecnológicos significativos devido à presença de técnicos estrangeiros, uma 
modernização de caráter militar e defensivo. Os paraguaios começaram a querer 
interferir em assuntos do Prata, ao mesmo tempo em que, na Argentina, Urquiza 
perdia militarmente a disputa para Bartolomé Mitre, com resistências federalistas 
em Corrientes e Entre Ríos à dominação de Buenos Aires. O combate ao governo 
central de Buenos Aires fez com que a oposição argentina das províncias buscasse 
apoio internacional. Uma das forças era formada pelos blancos, que estavam no 
poder no Uruguai. Outra era o Paraguai, que se aproximava do Uruguai para 
conseguir saída ao oceano, com vistas a ampliar seu comércio com a Europa. O 
porto de Montevidéu acabava por se tornar o catalisador das crises internas da 
Justamente por não fazerem parte do grupo político conservador 
– detentor do poder –, os farroupilhas passaram a ser chamados 
pejorativamente de “farrapos”, em alusão aos pobres de roupa esfarrapada. 
FONTE: Silvestre de Albuquerque (2003, p. 13).
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
72
Argentina, e da tentativa de expansão do Paraguai, sendo que tudo isso redundava 
na obstrução, também, por parte do Uruguai, aos interesses do Brasil, tais como 
a renovação de tratados de comércio e navegação e o uso de mão de obra escrava 
no Uruguai por fazendeiros brasileiros.
O Paraguai emergiu como um Estado que tentou começar a arbitrar 
questões entre Argentina e Uruguai, em diversas áreas, principalmente na 
política, frente aos sucessivos planos de blancos e colorados, de fomentar revoltas 
extranacionais no Prata.
Em plena guerra civil, o Uruguai se via inclusive pressionado pela opinião 
pública do Rio de Janeiro, que demandava intervenção imediata do Brasil naquele 
país com vistas a garantir a segurança de proprietários de terra brasileiros na 
banda oriental. Por sua vez, a Argentina descobriu que tinha afinidades com 
o Brasil em se tratando de interesses sobre o Uruguai, uma vez que colorados 
uruguaios estavam influenciando demasiado na política interna de centralização 
do poder na Argentina. O Brasil tinha dado um ultimatum ao Uruguai, que foi 
entendido pelo esforço diplomático paraguaio como uma tentativa brasileira 
em desequilibrar os estados do Prata. O Paraguai, por sua vez, comunicou que 
não se responsabilizaria por quaisquer consequências dos atos brasileiros, e 
manifestações começaram a emergir naquele país, com o apoio de Solano López, 
que vislumbrou no processo a possibilidade de o Paraguai emergir como potência 
regional.
 
Em setembro de 1864, Solano López afirmava publicamente romper 
com o Brasil caso o império enviasse tropas para o Uruguai e afirmava 
poder invadir com tropas paraguaias os territórios entre os rios Apa 
e Branco. A representação brasileira em Assunção informava ao Rio 
de Janeiro, naquele mesmo mês, que o exército paraguaio já tinha 30 
mil homens e que a Marinha daquele país dispunha de 11 vapores, 
números que não impressionavam o Brasil, pois do total de soldados 
14 mil eram recrutas. (DORATIOTO, 2002, p. 62).
O Paraguai invadiu parte do Mato Grosso, que, apesar de ter sido alertado 
de uma improvável guerra do Brasil contra o país vizinho, tinha utilizado seus 
poucos recursos para reforçar a defesa de todo o território com apenas duas 
centenas de soldados, e solicitado verbas para o Rio de Janeiro, que não foram 
atendidas até meados de 1865 (tropas guaranis já tinham entrado no território 
mato-grossense em janeiro).
A Guerra do Paraguai, então, havia começado em 1864 e acabou em 
1870, deixando a economia paraguaia destruída e 75% da população do país 
morta. Entre os acontecimentos marcantes da guerra, figuram uma aproximação 
argentino-brasileira, com vistas a pacificar o Uruguai, e o equipamento dos 
exércitos brasileiro e argentino com a realização de empréstimos da Inglaterra.
Outros foram os elementos marcantes do fim do conflito. De um lado, a 
alforria de muitos africanos e seus descendentes, para que pudessem lutar no 
Exército do Brasil, que foi um forte impulso para o movimento abolicionista. 
TÓPICO 2 | INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO
73
De outro lado, o Exército brasileiro assume noção de sua importância, e passa 
a constituir-se num grupo coeso, com muita influência de ideias republicanas. 
Como resultado negativo para o Brasil, deve ainda ser mencionada a enorme 
dívida contraída junto à Inglaterra, para manter a guerra.
A longa duração da guerra, que perdurou de dezembro de 1864 a 
março de 1870, criou uma nova realidade, uma “vida intensa”, no Rio 
de Janeiro. Na capital do Império do Brasil, soldados entravam e saíam 
e, numa época em que não existia o telégrafo internacional, esperava-
se a chegada de navios vindos do Rio da Prata com notícias da frente 
de batalha. O cotidiano se alterou nas outras duas capitais aliadas, 
Buenos Aires e Montevidéu, por onde passavam tropas brasileiras 
enviadas ao Paraguai e doentes evacuados da frente de batalha. Na 
Argentina, sobretudo, onde se abasteciam o Exércitoe a Marinha 
imperial, a economia foi dinamizada, e enriqueceu fazendeiros e 
comerciantes. A Guerra do Paraguai repercutiu na consolidação dos 
Estados nacionais argentino e uruguaio; foi o momento do apogeu da 
força militar e da capacidade diplomática do Império do Brasil, mas, 
de forma paradoxal, contribuiu para o acirramento de contradições 
do Estado monárquico brasileiro, enfraquecendo-o. O Paraguai, por 
sua vez, tornou-se a periferia da periferia, na medida em que sua 
economia se tornou satélite da economia da Argentina após o término 
do conflito. (DORATIOTO, 2002, p. 18).
FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/
RicardoBrugger/image008.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 15 – DESFILE MILITAR EM 1° DE MARÇO DE 1870, DEPOIS DA VITÓRIA SOBRE 
A GUERRA DO PARAGUAI, ÂNGELO AGOSTINI
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
74
FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/
projects/ RicardoBrugger/image014.jpg>. 1 ago. 2010.
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_AurZecAJGdc/S7Uf2pRGrxI/AAAAAAAAA5w 
/AaerqMK9TBA/s320/24a15f2.gif>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 16 – CHARGE, DA ÉPOCA, COM CHICO DIABO ATRAVESSANDO 
UMA LANÇA NO “MONSTRO MAIS BÁRBARO E HEDIONDO”, FRANCISCO 
SOLANO LÓPEZ, DESTRUÍDO EM SUA PRÓPRIA PÁTRIA 
FIGURA 17 – FOTOGRAFIA DE SOLDADOS PARAGUAIOS PRESOS
75
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:
• O Império do Brasil estabeleceu um sistema baseado numa monarquia 
democrática representativa e parlamentar, no qual o Imperador era o chefe 
de Estado e chefe de governo, ao mesmo tempo, embora fosse o presidente 
do Conselho de Ministros efetivamente o mandatário, em meio a um sistema 
multipartidário. 
• Desde que o país havia adquirido a independência de Portugal em 1822, a nação 
passou a ser quase que inteiramente a favor da manutenção da monarquia 
como forma de governo.
• A instituição do Poder Moderador remete-nos ao papel do imperador no Brasil. 
Ele representava a unicidade, a permanência e a estabilidade governamentais, 
além da ordem legal, da identidade nacional e era a soma das variações de 
região, de classe, de partido, de raça. A legitimidade do Brasil e dos brasileiros 
passava, portanto, pela personificação do império e pela centralidade do 
imperador como símbolo da nação.
• O parlamentarismo consolidou-se no país e acabou sendo motivo de muitos 
debates ainda no século XIX. A figura da prestação de contas do governo, bem 
como do Conselho de Ministros à Câmara dos Deputados, acompanhados 
da publicidade dada às discussões entre deputados e senadores, foi motivo, 
inclusive, de críticas sobre o exagerado parlamentarismo no Brasil. 
• A divisão constitucional das competências entre governos provinciais e o 
governo central acabava por garantir relativa independência de interesses, uma 
vez que cada província tinha o direito de decidir sobre cobrança de impostos, 
força policial, serviços públicos, empregos etc. 
• Nos 58 anos de império de D. Pedro II, o Brasil consolidava-se, a partir da 
institucionalização do próprio império, da pulverização de sua máquina 
administrativa, do desenvolvimento de protocolos capazes de explicar o que 
seria esse Brasil, Império dos Trópicos.
• No tocante às políticas internas durante todo o Período Regencial, o país foi 
sacudido por revoltas que, apesar de suas particularidades, tinham em comum 
o fato de se insurgirem contra o poder da Corte sediada no Rio de Janeiro.
• A Cabanagem teve lugar no Pará, entre 1835 e 1840, constituindo-se num 
grande movimento popular, sendo que parte da população da província foi 
morta durante o enfrentamento com as tropas imperiais. 
76
• Na Bahia eclodiu, em 1837, a Sabinada, que durou até o ano seguinte, 
acabando depois da morte e encarceramento de milhares de indivíduos. Suas 
reivindicações eram de caráter republicano e contrárias ao poder central.
• No Maranhão, ainda em 1838, surge a Balaiada, numa província formada quase 
que exclusivamente por sertanejos e africanos escravizados.
• No Rio Grande do Sul, temos um dos episódios mais marcantes deste fenômeno 
de revoltas que sacudiram o Império. A Revolução Farroupilha durou dez 
anos, entre 1835 e 1845, atravessando os anos finais das regências e os iniciais 
do Segundo Reinado. Esta revolta teve contornos republicanos, federalistas e 
separatistas.
• Outro elemento marcante do Império do Brasil é formado pelo conjunto de 
conflitos que tem lugar no extremo sul do continente, ao longo de todo o século 
XIX, tornando instável toda a bacia do Rio da Prata. 
• Já em 1851 o exército foi enviado para uma campanha no Uruguai, onde o 
caudilho argentino Juan Manuel Rosas e o presidente uruguaio – Manuel Oribe 
– pretendiam criar um Estado formado pelos territórios da Argentina, Uruguai 
e Paraguai.
• A Guerra do Paraguai começou em 1864 e acabou em 1870, deixando a 
economia paraguaia destruída e 75% da população do país morta. Entre os 
acontecimentos marcantes da guerra, figuram uma aproximação argentino-
brasileira com vistas a pacificar o Uruguai e o equipamento dos exércitos 
brasileiro e argentino com a realização de empréstimos da Inglaterra.
77
AUTOATIVIDADE
Disserte sobre a possibilidade de um “Brasil” imperial e, além de 
tudo, “imperialista” com relação à América do Sul, levando em consideração 
o caráter de centralização governamental que ocorreu no segundo império.
78
79
TÓPICO 3
ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
2 REGIONALISMOS
O Brasil do século XIX é multiforme, polissêmico e busca construir-se 
dentro de uma esfera sui generis de relações socioculturais, que vai ser influenciada 
sobremaneira por diversos eventos. Entre eles destacamos os de origem 
regionalista, pelos recortes de gênero, de classe e de raça, que vão desembocar, 
também, nas representações existentes sobre o próprio império, e, principalmente, 
sobre o seu fenômeno mais importante e chamativo, que é a cidade.
Nesse sentido, ao falarmos de estruturas socioculturais do Brasil 
Império, buscamos descrever sucintamente três elementos que dão o tom para 
a conformação social e cultural do país naquele momento: os regionalismos, 
que deslocam o olhar das macroestruturas do império para suas forças locais, 
provinciais, em termos estéticos e identitários; as relações de gênero, que servem 
para ler amplamente o cotidiano das cidades brasileiras, e, por fim, as cidades e 
seus problemas, principalmente os de origem sanitária.
Elites regionais, principalmente as de caráter bastante liberal, respondiam 
com a construção de culturas regionais às tentativas de centralização do poder, 
tendo por base investimentos derivados da grande propriedade, com interesses 
diferentes dos do Estado, porém mascarados quando aproximados a esse. 
Pinheiro (2009, p. 1) afirma que: 
[...] a relação de conivências entre esses dois pontos fez com que cada 
um protegesse seus interesses, acobertando mutuamente as ilicitudes 
do outro no âmbito institucional. Para o autor, esse problema residia 
nas relações que foram estabelecidas pela Metrópole desde a colônia 
para evitar a formação de um ser nacional antimetropolitano.
E continua:
O regionalismo nascido desta cultura deu o tom da política no Brasil 
do Império, onde a grande propriedade é aí o interlocutor privilegiado 
do Estado. Foi de tal forma profunda a relação que no Brasil, ainda 
hoje, só é possível pensar a unidade nacional dentro da fragmentação 
regional. Por isso os conflitos regionais já naquele período nunca 
foram separatistas. Eram sempre um acerto de contas dos interesses 
regionais com o poder central. A ambos sempre interessou manter essa 
relação, muito autoritária e conservadora, pelo conjunto de privilégio 
que encerra. (PINHEIRO, 2009, p. 1).
 
80
UNIDADE 2 | ACONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Fato é que ao querer romper com Portugal, o Brasil vai questionando a 
si próprio a partir de sotaques regionais, sendo que sua identidade vai sendo 
construída a partir desse processo de separação.
Nesse sentido, já foi dito muito na história brasileira que o país se pensa 
por meio da problematização de suas regiões. Marçal de Menezes Paredes lembra 
que a mobilização da identidade brasileira passou, nesse sentido, a organizar o 
próprio “passado” português do país, elaborando fronteiras simbólicas em escala 
regional, na intersecção portuguesa no regionalismo brasileiro. 
Os exemplos desse regionalismo afloram historicamente. Paredes (2008, 
p. 3) pontua a publicação de “Contos Rio-Grandenses (introdução)”, no número 
cinco da Revista Mensal do Partenon Literário, em novembro de 1872, como 
símbolo da busca da identidade regional propulsionada a partir de um acerto de 
contas com Portugal:
Um acerto que tem o endosso do naturalismo, tão caro, em diferentes 
registros, ao repertório teórico disponível naquele contexto intelectual 
do final do século XIX. O autor, Victor Valpírioi, inicia chamando a 
atenção para a premência de “fazermos independência literária e 
estabelecermos na federação das letras república à parte”. Rápido se 
surpreende o mesmo sentido estético da americanização, observado 
no manifesto republicano de 1870, opção que o leva a ressaltar a 
importância do “cunho americano” na produção literária, chamando 
atenção para o “raio de sol das Américas, que doira as nossas frontes 
juvenis [e que] espelhar-se brilhante nas produções da musa dos 
brasileiros. 
Valpírio (apud PAREDES, 2008, p. 5) começa a elaborar a identidade 
regional gaúcha nos seguintes termos:
[...] não é o bom lavrador do Minho, que após prolongado trabalho em 
suas geiras descansa ao crepitar dos velhos cepos no fogo da lareira, – o 
audaz gaúcho que voa nos pampas do sul montado no furioso bagual, 
tendo por pátria a solidão sem fim, sem amores nem família, sem laços 
que o detenham em sua vida errante! Não é o barqueiro do Douro, não 
é o saudoso pescador do Tejo, – o intrépido jangadeiro dos mares do 
norte, que no frágil lenho arrosta a sanha do oceano seu descôr; – o 
robusto caboclo do Pará, que entronizando na piroga corta com o remo 
subtil as argentas escamas do rei das águas! O trabalhador da Beira, que 
passa longos serões ao lado do fogo na debulhada do trigo, – das não é 
o escravo brasileiro, que ao cantar do galo à meia-noite, mal dormido, 
corre ao som do sino da charqueada, tremendo de frio que corta, sob o 
açoite ameaçador do capataz, a cancha, para matar bois até dia alto, e 
daí até a noite lidar com carnes: isto, meses seguidos, uma safra inteira
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
81
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_w1a3otOpT6g/S2Dy3shIGsI/AAAA 
AAAABZE/XNu9Q3C-IcU/s400/Le%C3%B3n+Palli%C3%A8re,+el+gaucho+cantor+1865 
.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
3 GÊNERO
O Brasil de meados do século XIX era um país continental com apenas 
sete milhões de habitantes, com uma sociedade altamente estratificada e 
economia plenamente amparada no trabalho escravo. Não é de admirar que, para 
muitos dos que representavam o Brasil em telas, o território não era nada mais 
do que a caracterização completa do atraso. Com exceção do Rio de Janeiro, o 
interior do território era formado por cidades que, de fato, eram pequenas vilas 
desorganizadas, desuniformes, onde se convivia nas ruas com porcos, galinhas, 
esgoto, lixo e o problema crônico da violência, a presença de tropas.
No ambiente urbano, ou melhor, rurbano que se desenvolve nesse país, 
a mulher acabou sendo retratada em três formas: a imperatriz, a senhora da 
fazenda e a escrava. Elas quase sempre não são mencionadas, ou pintadas, mas 
alguns visitantes acabam detectando sinais de mudança significativos nas vidas 
de mulheres com o passar dos anos do império.
“Uma família brasileira clássica consistia numa família patriarcal, com a 
presença de um marido autoritário, cercado de concubinas escravas, que dominava 
os filhos e uma mulher submissa, passiva, indolente, que vivia enclausurada em 
casa, gerava inúmeras crianças e abusava dos escravos” (HAHNER, 2003, p. 38).
[...] os cuidados do lar [...] Aos dezoito, uma mulher brasileira atingiu 
sua plena maturidade. Poucos anos mais tarde, ela torna-se corpulenta 
e mesmo pesadona: seus ombros se inclinam, passeia com um andar 
bamboleante e desajeitado. Começa a decair, perde o bom humor de 
FIGURA 18 – O CANTOR GAÚCHO, DE LEON PALLIERE, 1865
82
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
seu semblante [...] e aos vinte e cinco, ou trinta no máximo, torna-se 
uma perfeita e enrugada velha.
Nem todas as mulheres enquadravam-se nessa observação de Luccock, 
e o comportamento mudava de classe para classe social. Mulheres 
da elite eram cercadas por conceitos como honra da família, honra 
feminina, e, nesse sentido, acabavam subjugadas, mesmo, pelo poder 
patriarcal, na medida em que não tinham sequer o direito ao exercício 
da sexualidade, não podendo ter direito sobre os próprios corpos, e 
ao controle da reprodução de descendentes, uma vez que estavam 
plenamente vinculadas à hierarquia social.
Não é possível determinar e atribuir o mesmo peso e as mesmas 
relações para homens e mulheres da classe pobre, pois essa, em 
oposição aos fazendeiros, comerciantes e profissionais liberais, não 
estava sob o alvo do mesmo esforço despendido para impor submissão 
e passividade. (HAHNER, 2003, p. 40). 
Hahner (2003, p. 41) lembra que até as tentativas das autoridades ou de 
patrões para controlar-lhes o comportamento podiam ser repelidas:
Mulheres livres e pobres, lutando para sobreviver em São Paulo, 
atravessavam sem restrições praças e ruas públicas, agregavam-
se nas fontes, nos tanques de lavar roupa, ou na beira dos rios, 
para exercer seu trabalho como lavadeiras. Empregavam-se como 
domésticas, cozinheiras, amas de leite ou costureiras. Algumas vezes, 
como vendedoras ambulantes enfrentavam não apenas a fome, mas 
também a polícia, regulamentos burocráticos e taxas impostas à sua 
minúscula atividade comercial. Mesmo as escravas vivendo nas casas 
de seus senhores usufruíam de uma certa independência; aquelas cujo 
trabalho exigia que andassem pelas ruas e lojas da cidade podiam ter 
aí suas vidas privadas, longe dos olhos indiscretos de seus patrões. 
Com relação às escravas, também é necessário considerar as especificidades 
da vida privada no país e as mudanças operadas a partir de uma relativa 
urbanização, da chegada de imigrantes europeus, principalmente a partir da 
segunda metade do século XIX, e as peculiaridades da vida econômica que se 
alterava continuamente desde esse período até o advento da república. Ainda 
segundo June Hahner (2003, p. 41-43):
Às vezes, as escravas também podiam conquistar uma certa autonomia 
pessoal, particularmente nas cidades. Embora tudo permanecesse 
“propriedade privada”, as experiências e situações específicas das 
escravas diferiam muito. Não apenas gênero, mas a raça, a ocupação e 
a localização ajudavam também a determinar muitos aspectos de suas 
vidas [...] Certamente as escravas, diferentemente das mulheres livres, 
podiam ser violentamente separadas de seus filhos e obrigadas a servir 
como amas de leite da prole de seus donos. E as escravas permaneciam 
sujeitas à violência sexual e às investidas de seus senhores. Algumas, 
apesar de tudo, conseguiam construir uma precária vida familiar ou 
pessoal, embora o controle final sempre permanecesse na mão de seus 
donos. À noite algumas escravas, como alguns homens e mulheres livres, 
saíam para locais de dança, ritos religiosos e festividades, ou apenas 
para encontrar com seus maridos, amantes e amigos que trabalhavam 
em diferentes lares. Nas cidades, as escravas, não raro,conquistavam 
considerável liberdade pessoal: podiam atravessar a cidade (com 
permissão de seus senhores) vendendo comida que preparavam ou 
frutas e vegetais que colhiam, enquanto suas senhoras geralmente 
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
83
permaneciam encerradas em suas casas, a salvo das vulgaridades ou 
dos perigos da rua. Não poucas escravas e escravos, com suas atividades 
comerciais, acumulavam fundos suficientes para adquirir a liberdade. 
Dentro das religiões afro-brasileiras, as mulheres negras pobres podiam 
ocupar posições de alta respeitabilidade e de liderança.
Por outro lado, mulheres que pertenciam à elite tinham status diferente. Às 
viúvas era reservada a possibilidade de emancipação do sistema patriarcal, uma 
vez que se tornavam, automaticamente, chefes de família. Em certa medida, essas 
mulheres tinham até uma relativa liberdade sobre o próprio corpo. Mesmo assim, 
mulheres da elite tinham pouca chance de escolher os parceiros de casamento. 
 
Machado de Assis reforçou inúmeras vezes a ligação entre casamento e 
propriedade, entre casamento e patriarcado. Personagens como Virgília, ao se 
casar com Brás Cubas, em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1885) eram o 
exemplo desse binômio, que aparecia para o jovem personagem na figura de uma 
vaga de senador ou deputado seguida de uma festa de casamento. Em outros 
casos, a possibilidade do enlace matrimonial era cortada transversalmente pela 
classe social, travestida de problemas físicos, como é o caso de Eugênia, filha de 
Dona Eusébia, no mesmo livro de Machado de Assis. O personagem principal, 
apesar de ter-se interessado pela moça, resolveu abandoná-la quando percebeu a 
frugalidade de seus hábitos e de sua vida, argumentando que ela não servia para 
o casamento porque “era coxa”. (MACHADO DE ASSIS, 2010 [1885]).
É claro que sobre esse tema estamos falando exclusivamente de um mundo 
urbano da capital do país. Grande parte da documentação que pode ser obtida 
do período, ao tratar-se de mulheres ou de família, advém desse mundo urbano. 
É um mundo de privilégios, também, e as transformações que são operadas no 
mundo privado das relações entre homens e mulheres não deixam de ser, também, 
a própria representação das elites do Império sobre o seu mundo cotidiano. Isso, 
contudo, não deve invalidar as representações que são elaboradas, na medida em 
que compreendem uma certa relação de contiguidade com a realidade social. 
A partir dessa documentação é possível, por exemplo, pensar as relações 
entre homens e mulheres não apenas nas generalidades de uma estrutura de 
família patriarcal, senão também nas especificidades dessa mesma família, o que 
compreende, por exemplo, até a educação feminina, presa a uma elite minoritária, 
e, mesmo assim, infinitamente pior do que a dos homens. 
Pensar, portanto, a educação de mulheres no Brasil do século XIX significa 
pensar uma educação muito reduzida, que não passa muito do universo da 
alfabetização. Nesse sentido é que se pode afirmar que “a educação das meninas 
permaneceu extremamente atrasada em relação à dos meninos”. (HAHNER, 2003, 
p. 56). Em 1808, John Luccock observou que a educação feminina no país “[...] não 
devia ir além dos livros de orações, porque seria inútil à mulher, nem deveriam 
elas escrever, pois, como foi justamente observado, poderiam fazer um mau uso 
desta arte”. (LUCCOCK apud HAHNER, 2003, p. 56). A autora estabelece, a partir 
das observações de Luccock, em 1808, o desenvolvimento dessa problemática no 
país nos seguintes termos:
84
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Duas décadas mais tarde, um brasileiro de classe alta, em longa viagem 
pelo interior do país, notava ainda maior resistência à educação 
feminina na população em geral, considerando-se um verdadeiro 
crime uma mulher alfabetizada: “se uma mulher aprende a ler, será 
capaz de receber cartas de amor”. De acordo com uma quadrinha 
popular que define claramente o que as mulheres deveriam ou não 
aprender a fim de cumprir seu principal papel na sociedade ou de nela 
atuar: Menina que sabe muito/É menina atrapalhada/Para ser mãe de 
família/Saiba pouco ou saiba nada [...]. (HAHNER, 2003, p. 57).
June Hahner (2003) observa ainda que paulatinamente um deslocamento 
da educação doméstica para um outro tipo de educação feminina foi sendo 
processado ao longo do império:
A ideia de educação escolar para meninas foi-se somando lentamente 
à ideia mais antiga de educação doméstica embora a escolaridade que lhes 
destinavam não fosse idêntica à dos meninos. Não seria por muito tempo 
que visitantes estrangeiros, como o francês Charles Expilly fez em suas 
observações, iriam poder aplicar às moças da classe alta brasileira o provérbio 
português “uma mulher é suficientemente educada quando pode ler com 
propriedade seu livro de orações e sabe como escrever a receita de geleia 
de goiaba; mais do que isso põe o lar em perigo”. Com o tempo as meninas 
ricas não apenas aprenderam a preparar bolos e doces e a coser, bordar e 
fazer renda, mas também puderam estudar francês, piano e a dançar, e, com 
tais predicados, oferecer uma companhia mais encantadora e elegante nos 
encontros sociais. Hermann Burmeister, um naturalista alemão no Rio de 
Janeiro, em 1850, notava que antes “os pais preferiam saber que sua filha era 
a melhor dançarina da escola que a que mais sabia ler e escrever e traduzir 
do inglês ou francês”. Embora os dois missionários, Kidder e Fletcher, 
acreditassem que o número de escolas para meninas estivesse aumentado, 
ressaltavam que “em oito casos sobre dez, o pai brasileiro pensa que cumpriu 
seu dever ao enviar sua filha por poucos anos a uma escola de moda dirigida 
por algum estrangeiro: aos treze ou quatorze anos ele a retira, acreditando 
que sua educação está terminada” (HAHNER, 2003, p. 57-58).
4 VIDA URBANA
A vida urbana no Brasil precisa ser colocada entre parênteses durante o 
Império. Há poucas cidades que têm ar de cidades propriamente ditas: Belém do 
Pará, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, mas, principalmente, Rio de Janeiro. 
São Paulo desponta na segunda metade do século XIX. Curitiba é um vilarejo, e no 
Paraná, por exemplo, é fácil encontrar uma Paranaguá mais equipada do que a atual 
capital. Desterro (atual Florianópolis) é o exemplo de uma cidade capital de província 
que respira ares nada cosmopolitas. Mas é nessa esteira de realidade social urbana 
que observadores estrangeiros como o reverendo Robert Walsh atestam que
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
85
Os costumes do povo também apresentaram uma mudança sensível 
num espaço de tempo muito curto. Muitas famílias nativas, antigas 
e respeitáveis, de hábitos muito grosseiros e de mentes igualmente 
limitadas devido à sua vida isolada no campo, agora se dirigiam à 
capital, onde festas e cerimônias de aniversário na corte atraíam 
multidões. Aqui, ao se misturarem com estrangeiros, portugueses e 
ingleses, eles perdiam rapidamente o ranço causado pelo isolamento 
e voltavam para casa com novas ideias e hábitos de vida, que também 
eram adotados por seus vizinhos, disseminando dessa forma o 
progresso por todo o país. (WALSH, 1985, p. 84 [1828-9]).
Em síntese, Walsh quer dizer que as cidades vão-se desenvolvendo com o 
passar do século. Em primeiro turno, motivadas pelas transformações econômicas 
que atingem diferentes províncias e pela relativa autonomia que é ofertada a elas 
no segundo império.
São Paulo cresce com o café, o Sul se expande para o interior com o 
estabelecimento de colônias, com as ferrovias, com o estabelecimento da presença 
estatal em diferentes rincões que escapam ao litoral. Em certa medida, a presença 
da cópia dos hábitos, tão bem descrita por Walsh, se aplica, quase que como 
instituição, nesse Brasil imperial.
Mas as cidades são, em sua maioria, acanhadas, embora enfrentando 
pressõessociais e econômicas que podem ser aproximadas, se pensarmos em 
termos de diferenciação de classe e de raça, bem como de uma eminente política 
urbana que se aproxima cada vez mais de um discurso técnico para querer minar 
seu caráter propriamente ideológico, classista, racista etc. Essas observações são 
muito bem analisadas pelo historiador Sidney Chalhoub, em Cidade Febril: cortiços 
e epidemias na corte imperial, obra que foi primeiramente publicada em 1996.
Não são apenas textos literários que esboçam as cidades do império, mas 
também aqueles de ordem técnica, de engenharia ou de medicina, e que vão 
desenhando o panorama de problemas que até hoje são atribuídos, nesses novos 
mundos urbanos, a algumas classes e a algumas raças. 
 
De todas as formas, a vida urbana no país do segundo império é traçada 
por encontros e desencontros entre escravos, trabalhadores livres e pobres, 
soldados, pequena e grande burguesia e uma elite que mescla fazendeiros num 
ambiente de classe e estamento.
Raymundo Faoro (2001, p. 15), em Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio, 
descreve com acuidade essa sociedade urbana, seguindo os rastros de textos de 
Machado de Assis, nos seguintes termos:
Nitidamente, há uma estrutura de classes – banqueiros, comerciantes 
e fazendeiros – sobre outra estrutura de titulares, encobrindo-a e 
esfumando-lhes os contornos. É a camada da penumbra que decide os 
destinos políticos, designa deputados e distribui empregos públicos. 
São as “influências”, os homens que mandam, que se entendem com os 
executores e dirigentes das decisões do Estado. Duas faixas se separam, 
com clareza, no conteúdo e no conceito, na ação social, não raro 
entrecruzando-se e se confundindo. Para simplificar e com antecipação: 
a classe em ascensão coexiste com o estamento; muitas vezes, a classe 
perde sua autonomia e desvia-se de seu destino para mergulhar no 
estamento político, que orienta e comanda o Segundo Reinado.
86
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Há uma sociedade de classe em plena expansão, cifrada, nas expressões 
mais gloriosas, nos banqueiros, nos prósperos comerciantes, nos 
capitalistas donos de rendas, nos senhores de terras e de escravos. O 
dinheiro é a chave e o deus desse mundo, dinheiro que mede todas as 
coisas e avalia todos os homens.
Falcão, personagem de um conto publicado em 1883, ao relatar o 
enterro de um amigo, para referir o esplendor do préstito de 1864, 
não achou melhor expressão do que dizer: “- ‘Pegavam no caixão 
três mil contos!’ E, como um dos ouvintes não o entendesse logo, 
concluiu do espanto, que duvidava dele, e discriminou a afirmação: 
- ‘Fulano quatrocentos, Sicrano seiscentos... Sim, senhor, seiscentos; 
há dois anos, quando desfez a sociedade com o sogro, ia em mais 
de quinhentos; mas suponhamos quinhentos...’ E foi por diante, 
demonstrando, somando e concluindo: - ‘Justamente, três mil contos!’ 
A situação econômica, definida no patrimônio ou na percepção de 
rendas, determina a classe, o tipo de classe a que pertence o homem. A 
classe não é uma comunidade, embora, com base na solidariedade que 
inspira, possa levar às mais variadas formas comunitárias.
A sociedade de classes, malgrado se firme e se estruture com maior 
energia, não domina o campo social. Entre dois polos, a colônia e a 
fase do encilhamento, mostra ela desenvolvimento sensível, com a 
mudança de uma estrutura. A velha sociedade de estamentos cede 
lugar, dia a dia, à sociedade de classes. 
Na medida em que a classe “sobe” em importância e relevância social 
no Brasil do segundo império, a ideia de classe pobre como território de perigo 
social começa a se alicerçar, e a discursividade que opera para essa construção 
parte de diversos setores também emergentes na segunda metade do século XIX, 
tais como o setor científico.
Um desses exemplos da emergência do conhecimento científico, 
acompanhado da pejorativização e da problematização, na esfera pública, dos 
pobres e das condições das cidades brasileiras reside na “ideologia da higiene”, 
no Rio de Janeiro, que vai culminar em eventos como a Revolta da Vacina (1904), 
já no regime republicano, mas que aparece anteriormente disseminada em 
explicações sobre epidemias de Febre Amarela. Doenças como essas abrirão o 
caminho para pensar a cidade, suas relações com raça, gênero e classe social, a 
ligação dessas três categorias com outras como ambiente, clima e criminalidade.
“Parece que a administração da Corte começou a notar a existência de 
cortiços no Rio de Janeiro nos primeiros anos da década de 1850” (CHALHOUB, 
2006, p. 29). Até então, a discussão em torno das cidades não passava pelos 
problemas de insalubridade, mas emergiu a partir de uma epidemia de Febre 
Amarela em 1850, e outra de cólera cinco anos depois.
Para Sidney Chalhoub (2006, p. 32-33), 
[...] as classes pobres não passaram a ser vistas como classes perigosas 
porque poderiam oferecer problemas para a organização do trabalho e 
a manutenção da ordem pública. Os pobres ofereciam também perigo 
de contágio. Por outro lado, o próprio perigo social representado 
pelos pobres aparecia no imaginário político brasileiro de fins do 
século XIX através da metáfora da doença contagiosa: as classes 
perigosas continuariam a se reproduzir enquanto as crianças pobres 
permanecessem expostas aos vícios de seus pais. […]
Por outro lado, os pobres passaram a representar perigo de contágio 
no sentido literal mesmo. Os intelectuais médicos grassavam nessa 
época com miasmas na putrefação, ou como economistas em tempos 
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
87
de inflação: analisavam a “realidade”, faziam seus diagnósticos, 
prescreviam a cura e estavam sempre inabalavelmente convencidos 
de que só a sua receita poderia salvar o paciente. E houve então o 
diagnóstico de que os hábitos de moradia dos pobres eram nocivos 
à sociedade, e isto porque as habitações coletivas seriam focos de 
irradiação de epidemias, além de, naturalmente, terrenos férteis para 
a propagação de vícios de todos os tipos.
Chalhoub expõe as opiniões prevalentes no Rio de Janeiro de 1876 acerca 
da estrutura urbana e da sua relação com a população pobre, citando excertos da 
proposta de posturas elaborada por Pereira Rego, que, preocupado com a proliferação 
de cortiços na cidade, apresenta o seguinte arrazoado acerca do mundo urbano:
O aperfeiçoamento e progresso da higiene pública em qualquer país 
simboliza o aperfeiçoamento moral e material do povo, que o habita; 
é o espelho, onde se refletem as conquistas, que tem ele alcançado no 
caminho da civilização.
Tão verdadeiro é o princípio, que enunciamos, que em todos os países 
mais cultos os homens, que estão à frente da administração pública, 
procuram, na órbita de suas atribuições, melhorar o estado de higiene 
pública debaixo de todas as relações, como um elemento de grandeza 
e prosperidade desses países [...]
Entre nós, porém, força é confessar que as municipalidades […] têm-se 
esquecido um pouco dos melhoramentos materiais do Município e do 
bem-estar, que deles pode resultar a seus concidadãos, tanto que sobre 
alguns pontos essenciais e indispensáveis ao estado higiênico, parece 
que ainda nos conservamos muito próximos aos tempos coloniais. 
(REGO apud CHALHOUB, 2006, p. 34).
FONTE: Disponível em: <https://fnnpea.bay.livefilestore.com/y1mpAPBulJhe2O8cOoJW-
vp_xlakkZH 9b6ny5vwXiATi1JSaO8YGeFo24yPr372l68UkR2YTwQxONUUkGISf9uXWK-
3FPfMBcEQU5mx273XdxDepVjorP_xXJynbnJRXLgEFvd9gLZ6Exqy0oBi14GgCaA/Rio%20
de%20Janeiro%20-%20final%20do%20s%C3 %A9culo%20XIX%20-%20corti%C3%A7o%20
na%20Rua% 20dos%20Inv%C3%A1lidos.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 19 – CORTIÇO DA RUA DOS INVÁLIDOS. RIO DE JANEIRO, FINAL DO SÉCULO XIX
88
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Os recortes significativos de classe rementem à discussão, por exemplo, 
sobrea possibilidade da mobilidade social, e é unânime a opinião de estudiosos 
sobre esse tema: a dificuldade de ocorrência dessa mesma mobilidade, na medida 
em que a zona intermediária entre os ricos e a massa da população permanecia 
estreita e incerta (HAHNER, 2003, p. 52). 
Enquanto professores mal pagos de escolas primárias, guarda-livros 
e empregados de escritório poderiam considerar-se muito acima das 
classes pobres, os ricos percebiam pouca diferença entre eles. Pequena 
em tamanho se comparada com a classe média da Europa ocidental ou 
dos Estados Unidos, a assim chamada classe média brasileira carecia 
de unidade e, sempre que possível, procurava imitar a classe alta 
em seu estilo de vida e aparência. Legalmente separados de outros 
trabalhadores urbanos, ainda que muitas vezes fazendo o mesmo 
serviço, estavam os escravos.
E assim ia-se delineando a cidade brasileira em contornos não muito 
nítidos, porque principalmente estava sendo representada “branca” 
ao invés de mestiça, “afrancesada”, ao invés de brasileira, portanto, 
distorcida, com uma elite que resolvia seus problemas a partir de 
outro referencial. Ajanayr Michelly Sobral Santana e Patrícia Cristina 
Aragão (2010), ao destacarem os novos hábitos e costumes da corte 
brasileira do segundo império, mostram as suas contradições, como 
a imposição de “melhores” hábitos de civilização com seus costumes 
europeus, mais que convivia com uma densidade de escravos, num 
país quase negro com seus costumes africanos. Assim, o Império de 
D. Pedro II oscilava entre os bailes e concertos com as ruas do trabalho 
escravo. Dessa forma a Corte tentava fazer da escravidão uma coisa 
invisível, e esta era e seria, até o final do reinado de D. Pedro II, a 
grande contradição do seu Império (SANTANA, ARAGÃO, 2010).
5 CENAS DO BRASIL MIGRANTE
Até meados do século XIX, enquanto ainda perdura o comércio 
internacional de escravos, a imigração permanece quase um simples projeto e 
discurso. Fazendeiros de café ou de cana não tinham interesse algum em fomentar 
a mão de obra assalariada como base para suas empresas, e continuavam a 
empregar maciçamente escravos.
Essa situação mudará com a Lei de Terras de 1850, que impulsionará, por 
meio da proibição de tráfico de escravos, uma política imigrantista, promovendo até 
a possibilidade de serem criadas colônias estrangeiras em diversas regiões do Brasil.
Como afirma Luiz Felipe de Alencastro e Maria Luiza Renaux, (2004, p. 293):
 determinados a consolidar a grande propriedade e a agricultura de 
exportação, os fazendeiros e o grande comércio buscaram angariar 
proletários de qualquer parte do mundo, de qualquer raça, para 
substituir, nas fazendas, os escravos mortos, fugidos e os que deixavam 
de vir da África. Preocupados, ao contrário, com o mapa social e 
cultural do país, a burocracia imperial e a intelectualidade tentavam 
fazer da imigração um instrumento de “civilização”, a qual, na época, 
referia-se ao embranquecimento do país.
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS
89
Manuel Felizardo respondendo ao senador Vergueiro, em 1862, falando 
de imigração, ataca a necessidade de o estado ter de promover a migração, se 
antes quem a promovia eram os próprios fazendeiros:
Ninguém desconhece a necessidade que todos os lavradores têm de 
aumentar o número de seus trabalhadores […] E como até há pouco 
suprima-se os lavradores dos braços necessários? As fazendas eram 
alimentadas pela aquisição de escravos, sem o menor auxílio pecuniário 
do governo […] Ora, se os lavradores se supriam de braços à sua custa, 
e se é possível obtê-los ainda, posto que de outra qualidade, por que 
motivo não hão de procurar alcançá-los da mesma maneira, isto é, à 
sua custa? Será justo que a nação contribua para que dez, vinte, cem ou 
duzentos fazendeiros sejam supridos de braços à custa do país inteiro? 
(ALENCASTRO; RENAUX, 2004, p. 298).
O resultado efetivo é que um contingente cada vez maior de imigrantes 
ajudava a construir o país. Ao longo de todo o século XIX (e inclusive durante as 
primeiras décadas do século XX), o país foi destino de europeus que viam no Brasil 
uma opção às dificuldades sociais profundas pelas quais passavam seus países.
Alemães, italianos, poloneses e outros povos chegaram ao Brasil com um 
status bem diferente daquele desfrutado pelos africanos: não eram escravos, mas 
sim trabalhadores livres e, em alguns casos, pequenos proprietários rurais.
FONTE: Alencastro (1997, p. 324)
FIGURA 20 – CENÁRIO TÍPICO DE UMA PROPRIEDADE RURAL DE IMIGRANTES EUROPEUS 
A vinda de europeus está relacionada com o fim do tráfico negreiro e a 
consequente necessidade de suprir o fim da mão de obra africana, cujo transporte 
se tornara atividade ilegal. 
90
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Muitos destes trabalhadores se instalaram em fazendas de café no Estado 
de São Paulo, trabalhando em esquema de parceria ou de forma assalariada. Já 
outros seguiram outro modelo de imigração, criando comunidades homogêneas 
etnicamente no sul do Brasil, em especial nos Estados de Santa Catarina e Rio 
Grande do Sul.
Assim como aconteceu com os africanos, os europeus vieram de regiões 
distintas da Europa e aqui mesclaram seus traços culturais com os de outras 
comunidades, colaborando para elaborar o complexo cultural brasileiro.
FONTE: Alencastro (1997, p. 350)
Na figura que retrata a cena de uma casa de imigrantes no Rio Grande do 
Sul é possível identificar elementos típicos do Brasil integrados ao cotidiano dos 
imigrantes europeus.
Nas regiões de colonização europeia do Sul ainda é possível identificar 
os elementos culturais europeus no cotidiano das comunidades, e muitas destas 
cidades tornaram-se dinâmicos centros industriais no século XX. No caso de São 
Paulo, muitos imigrantes acabaram se instalando na capital e foram fundamentais 
para a industrialização da cidade e também para a organização dos trabalhadores, 
a partir da experiência política reivindicatória de esquerda europeia.
FIGURA 21 – CENA DE UMA CASA DE IMIGRANTES NO RIO GRANDE DO SUL
91
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:
• Às tentativas de centralização do poder, elites regionais, principalmente as de 
caráter bastante liberal, respondiam com a construção de culturas regionais, 
tendo por base investimentos derivados da grande propriedade, com interesses 
diferentes dos do Estado, porém mascarados quando aproximada a esse.
• Com exceção do Rio de Janeiro, o interior do território era formado por cidades 
que, de fato, eram pequenas vilas desorganizadas, desuniformes, onde se 
convivia nas ruas com porcos, galinhas, esgoto, lixo e o problema crônico da 
violência, a presença de tropas.
• O ambiente urbano ou, melhor, rurbano que se desenvolveu nesse país, a 
mulher acabou sendo retratada em três formas: a imperatriz, a senhora da 
fazenda e a escrava. Elas quase sempre não são mencionadas ou pintadas, mas 
alguns visitantes acabaram detectando sinais de mudança significativos nas 
vidas de mulheres com o passar dos anos do império.
• Uma família brasileira clássica consistia numa família patriarcal, com a presença 
de um marido autoritário, cercado de concubinas escravas, que dominava os 
filhos, e uma mulher submissa, passiva, indolente, que vivia enclausurada em 
casa, gerava inúmeras crianças e abusava dos escravos.
• A vida urbana no Brasil precisava ser colocada entre parêntesis durante o 
Império. Há poucas cidades que tinham ar de cidades propriamente ditas: 
Belém do Pará, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, mas, principalmente, 
Rio de Janeiro.
• As cidades são, em sua maioria, acanhadas, embora enfrentando pressões 
sociais e econômicas que podem ser aproximadas, se pensarmos em termos de 
diferenciação de classe e de raça, bem como de uma eminente política urbana 
que se aproxima cada vez mais de um discursotécnico para querer minar seu 
caráter propriamente ideológico, classista, racista etc.
• De todas as formas, a vida urbana no país do segundo império é traçada 
por encontros e desencontros entre escravos, trabalhadores livres e pobres, 
soldados, pequena e grande burguesia e uma elite que mescla fazendeiros num 
ambiente de classe e estamento.
92
• Até meados do século XIX, enquanto ainda perdura o comércio internacional 
de escravos, a imigração permanece quase um simples projeto e discurso. 
Fazendeiros de café ou de cana não tinham interesse algum em fomentar a mão 
de obra assalariada como base para suas empresas e continuavam a empregar 
maciçamente escravos.
• Um contingente cada vez maior de imigrantes ajudava a construir o país. 
Ao longo de todo o século XIX (e inclusive durante as primeiras décadas do 
século XX), o país foi destino de europeus que viam no Brasil uma opção às 
dificuldades sociais profundas pelas quais passavam seus países.
• Alemães, italianos, poloneses e outros povos chegaram ao Brasil com um status 
bem diferente daquele desfrutado pelos africanos: não eram escravos, mas sim 
trabalhadores livres e, em alguns casos, pequenos proprietários rurais.
• Nas regiões de colonização europeia do Sul ainda é possível identificar os 
elementos culturais europeus no cotidiano das comunidades e muitas destas 
cidades se tornaram dinâmicos centros industriais no século XX.
• Houve um importante fluxo de trabalhadores europeus para o Brasil, durante 
o século XIX, sendo que estes indivíduos tanto vinham trabalhar como 
assalariados em fazendas como se tornavam pequenos proprietários rurais.
93
AUTOATIVIDADE
Pesquise na Internet a Lei de Terras (1850), ou Lei “Eusébio”, e busque 
discutir a relação existente entre esta lei e a chegada de imigrantes europeus 
no país.
94
95
TÓPICO 4
O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
2 VENTOS REVOLUCIONÁRIOS E REPUBLICANOS
Neste tópico estudaremos a respeito da queda da monarquia, bem como 
sobre o desenvolvimento das ideias republicanas.
Durante o século XIX, o Ocidente foi sacudido por uma série de agitações 
sociais e políticas, resultantes do mundo industrializado que se expandia, 
criando situações inusitadas e desigualdades sociais e econômicas com novos 
contornos. Uma das ideias típicas desta conjuntura, e que se difundiu também 
no Brasil, foi o republicanismo. A ideia republicana está alicerçada na defesa dos 
interesses públicos, na satisfação dos interesses dos indivíduos, sem os privilégios 
nobiliárquicos que caracterizam os regimes monarquistas.
FONTE: Alencastro (1997, p. 231)
FIGURA 22 – ÚLTIMA FOTO DA FAMÍLIA IMPERIAL BRASILEIRA ANTES DA PROCLAMAÇÃO 
DA REPÚBLICA 
96
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
No Brasil, as agitações republicanas ainda estavam ligadas ao 
abolicionismo, criando uma situação de insatisfação tanto em relação aos 
escravismos quanto à monarquia. A Coroa, por sua vez, passava a desagradar 
também os proprietários de escravos, que além de ver sua mão de obra principal 
ser retirada de sua tutela, não recebiam indenizações pelo que acreditavam ser 
sua propriedade, no caso os escravos.
Já havia precedentes para o questionamento da monarquia, 
materializados nas várias revoltas que tiveram o país como palco. Desde a 
Inconfidência Mineira, passando pela Revolução Pernambucana de 1817, ou 
ainda a Confederação do Equador ou a Revolução Farroupilha, são exemplos 
de movimentos que tinham em seu ideário ideias republicanas.
A insatisfação com a monarquia foi apresentada em panfletos como o 
Manifesto Republicano, publicado num jornal sugestivamente intitulado “A 
República”, que defendia o federalismo, a extinção do cargo de senador vitalício 
e a separação entre a Igreja e o Estado. Também foram organizados partidos que 
defendiam a ideia, sendo o mais conhecido o Partido Republicano Paulista, que 
contou com a adesão dos grandes produtores de café de São Paulo.
2.1 OS CLUBES E OS POLEMISTAS REPUBLICANOS
Polemistas liberais, como Rangel Pestana, viram suas ideias difundirem-se 
pela sociedade após a publicação do Manifesto Republicano, inspirando a criação 
de associações que defendiam ideias republicanas, conhecidas como Clubes 
Republicanos. Estes clubes foram comuns no Estado de São Paulo, principalmente 
nos municípios de Sorocaba, Jundiaí, Piracicaba e Itu.
Os republicanos realizaram em 1873, na cidade de Itu, a primeira 
convenção republicana do país, criando o Partido Republicano Paulista. Eram 133 
convencionais, sendo 78 cafeicultores e 55 de outras profissões. Esta reunião ficou 
conhecida como Convenção de Itu e congregou intelectuais, produtores de café 
e militares partidários da República. Desta convenção participaram figuras que 
fariam parte do regime que seria instalado em 1889, como Américo de Campos, 
Bernardino de Campos, Campos Sales e Prudente de Morais, que seria Presidente 
da República anos mais tarde.
TÓPICO 4 | O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO
97
3 OS MILITARES, GUERRA E POLÍTICA
FONTE: Disponível em: <http://www.senado.gov.br/comunica/historia/conven.htm>. 
Acesso em: 18 fev. 2008.
A Guerra do Paraguai foi um momento crucial para a formação do 
Exército brasileiro. Antes desta campanha existia uma força pública que não 
estava organizada e comandada nacionalmente, a Guarda Nacional. Durante a 
guerra, o Exército se constitui como uma força política. De um lado, as batalhas 
forjaram uma identidade para o Exército, dotando-o de autoridade.
Ao longo da guerra, os militares brasileiros também tiveram contato com 
outros países, cujas ideias republicanas organizavam a sociedade, e os militares 
passaram a possuir um espaço político mais largo do que o ocupado pelos 
militares brasileiros.
Estabeleceu-se uma relação tensa entre militares e a Coroa, sendo que 
alguns deles foram punidos, como no caso dos coronéis Sena Madureira e 
Cunha Matos, que haviam se manifestado publicamente contra decisões do 
Império. Estes conflitos envenenaram ainda mais a opinião dos militares contra a 
monarquia, e as ideias republicanas prosperaram nas casernas, através de figuras 
como Benjamin Constant, um positivista que participou dos debates públicos da 
época, defensor fervoroso da causa republicana.
Um ponto importante da constituição do Exército em força política foi a 
criação do Clube Militar, em 1887. Este clube representaria os militares daquele 
momento em diante, e foi um passo fundamental para que o Exército Brasileiro 
tivesse um papel decisivo na queda da monarquia brasileira.
FIGURA 23 – CONVENÇÃO DE ITU
98
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
4 A QUEDA DA MONARQUIA
A insatisfação com a monarquia era patente no final da década de 1880. 
Militares, grandes proprietários rurais e o clero estavam em franca discordância 
com os rumos tomados pelo país. Num último esforço para manter o regime de 
pé, D. Pedro II nomeia o Visconde de Ouro Preto presidente do Conselho de 
Ministros, incumbido de realizar algumas reformas exigidas pelas forças sociais 
e políticas descontentes com a Coroa.
Estas reformas giravam em torno de velhas demandas republicanas, como 
o federalismo, manifesto em maior autonomia das províncias; a extensão do 
direito de voto, fundamental para montar uma estrutura política permeável aos 
múltiplos interesses de diversos grupos sociais; e ainda o fim do senado vitalício, 
símbolo dos privilégios hereditários típicos de regimes monárquicos. Como o 
Parlamento rejeitou o projeto de Ouro Preto, o Imperador fechou a casa legislativa 
do Brasil. Este ato gerou uma série de manifestações públicas de repúdio, que 
tiveram nos militares seus mais entusiastas aderentes.
Um evento simboliza muito bem este conflito, que envolveu um regime 
político que estava por desaparecer no Brasil: o Baile da Ilha Fiscal.A Coroa 
organizou este baile em 9 de novembro de 1889, sendo que a opulência marcou 
a decoração da festa, até o cardápio da janta que foi servida aos convidados. 
Compareceu ao baile toda a família imperial, além de políticos e militares 
alinhados com a monarquia.
FONTE: Alencastro (1997, p. 359)
FIGURA 24 – CARDÁPIO DO BAILE DA ILHA FISCAL
TÓPICO 4 | O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO
99
LEITURA COMPLEMENTAR
A saída de D. Pedro foi descrita de forma contraditória. Dizem alguns 
biógrafos que o povo correu ao porto a fim de dar seu último adeus ao Alagoas, 
que partia com a antiga bandeira da Coroa imperial. Tais relatos, que transformam 
a expulsão em uma “festa de despedida”, destoam, porém, das crônicas da 
época. Raul Pompeia, em página melancólica, descreve os últimos momentos do 
imperador no Brasil de modo bastante distinto:
Uma noite histórica (Do alto da janela do Largo do Paço).
Às três da madrugada de domingo, enquanto a cidade dormia tranquilizada 
pela vigilância tremenda do Governo Provisório, foi o Largo do Paço teatro de 
uma cena extraordinária, presenciada por poucos, tão grandiosa no seu sentido e 
tão pungente, quanto foi simples e breve.
 
Obedecendo à dolorosa imposição das circunstâncias […] o governo 
teve necessidade de isolar o Paço da cidade, vedando qualquer comunicação do 
interior com a vida da capital.
Muitos personagens do Império e diversas famílias, ligadas por 
aproximação do afeto à família imperial, apresentaram-se a falar ao Imperador 
e aos seus augustos parentes, retrocedendo com o desgosto de uma tentativa 
perdida […].
 
Quando anoiteceu foi fechado o trânsito pelas ruas que o rodeiam […].
 
Um boato oficial […] espalhara a notícia de que o Sr. D. Pedro de Alcântara 
(que se sabia dever embarcar para a Europa em consequência da revolução do dia 
15) só iria para bordo no domingo de manhã […].
 
Pobre D. Pedro! Em homenagem à severidade da determinação do governo 
revolucionário, ninguém queria ter sido testemunha da misteriosa eliminação de 
um soberano […].
 
Às três horas da madrugada, menos alguns minutos entrou pela praça 
um rumor de carruagem. Para as bandas do paço houve um ruidoso tumulto 
de armas e cavalos. As patrulhas que passeavam de ronda reiteravam-se todas a 
ocupar as estradas do largo, pelo meio do qual, através das árvores, iluminando 
sinistramente a solidão, perfilavam-se os postes melancólicos dos lampiões de 
gás. Apareceu então o préstito dos exilados.
 
100
UNIDADE 2 | A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS
Nada mais triste. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos, que 
se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. À frente, duas 
senhoras de negro, a pé, cobertas de véus, como a buscar caminho para o triste 
veículo. Fechando a marcha um grupo de cavaleiros, que a perspectiva noturna 
detalhava em negro perfil […].
 
Quase na extremidade do molhe o carro parou e o Sr. D. Pedro de Alcântara 
apeou-se – um vulto indistinto entre outros vultos – para pisar pela última vez a 
terra pátria […].
 
O embarque foi rápido. Dentro de poucos minutos ouvia-se um ligeiro 
apito, ecoava no mar o rumo igual da hélice da lancha; reaparecia o clarão 
da iluminação interior do barco; e, sem que se pudesse distinguir nem um 
só passageiro, a toda a força de vapor, o ruído da hélice e o clarão vermelho 
afastavam-se da terra. 
FONTE: Pompeia (apud SCHWARCZ, p. 465-466)
101
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você estudou que:
• Influenciado pela conjuntura internacional, o Brasil assiste, no século XIX, à 
proliferação de ideias republicanas entre determinados setores sociais, que 
passam a se organizar em associações.
• A monarquia entrou em conflito com vários setores sociais, conseguindo 
granjear a antipatia dos militares, do clero e dos cafeicultores escravagistas.
• O exército brasileiro constitui-se como grupo coeso durante a Guerra do 
Paraguai e desempenhou um importante papel na derrubada da Monarquia e 
na construção da República no Brasil.
• A proclamação da República não teve participação da população, tendo sido 
um movimento praticamente encaminhado por elites, especialmente a militar.
102
AUTOATIVIDADE
1 Identifique os principais setores sociais que se opuseram ao Império nos 
seus últimos anos, pensando que tipo de conflito permeou a relação de cada 
setor com a Coroa do Brasil.
2 As agitações republicanas ficaram restritas a setores da elite da sociedade 
brasileira do final do século XIX. Descubra quais foram estes setores, suas 
estratégias de atuação política e a relação que mantiveram com a causa 
abolicionista.
103
UNIDADE 3
HISTORIOGRAFIA E ENSINO 
SOBRE O BRASIL IMPERIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender a historiografia sobre o Brasil Imperial;
• discutir as relações entre historiografia, história e ensino de história refe-
rente ao Brasil Imperial.
Esta unidade de estudos está dividida em quatro tópicos e em cada um deles 
você encontrará atividades que o(a) ajudarão a compreender os conteúdos 
apresentados.
TÓPICO 1 – UM POUCO DE HISTORIOGRAFIA
TÓPICO 2 – INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
TÓPICO 3 – HISTORIOGRAFIA RECENTE
TÓPICO 4 – ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL
104
105
TÓPICO 1
UM POUCO DE 
HISTORIOGRAFIA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Podemos pensar na História como uma disciplina acadêmica que procura 
construir uma narrativa sobre o passado, no sentido de torná-la compreensível 
aos contemporâneos. Assim, deve ficar claro que a História em si não é o 
passado, mas sim um texto sobre o passado. O tempo passado está encerrado 
em seu momento, e nós somos capazes apenas de acessar alguns fragmentos que 
resistiram ao tempo. Construir a História é encadear estes fragmentos de forma 
coerente e organizada, tentando compreender os eventos do passado nos termos 
em que eles foram concebidos pelas pessoas que deles participaram. Tarefa 
pretensiosa e fadada à incompletude, tratar historiograficamente do passado nos 
obriga também a separar este discurso da memória.
Todos têm uma memória construída através dos contatos com o mundo, 
que acompanham relatos sobre fatos e acontecimentos. Mas a memória é algo 
muito particular, muitas vezes, cortada por desejos, angústias e vontades. Assim, 
nossa memória distingue-se da História, que deve ser organizada racionalmente. 
Em algumas situações, como quando tratamos do Brasil contemporâneo, temos 
que construir a História de um tempo que vivemos, que experimentamos. É nestes 
momentos que o afastamento e o controle da nossa memória são mais necessários.
Quando tratamos da História do Brasil, lidamos com nossa memória, 
no sentido de que estamos nos referindo a um dos pilares da nossa 
identidade. A História, em que fundamos nosso passado comum, é 
um dos elementos que constitui a nossa ideia de sermos “brasileiros”. 
Assim, nossa primeira tarefa é pensar a forma como contamos esta 
História (LOSSO, 2008, p. 3-5).
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
106
2 A INVENÇÃO DO BRASIL
3 PERIODIZANDO A HISTÓRIA DO BRASIL
É correto afirmar que o Brasil foi inventado. Mais coerente que imaginá-
lo “descoberto” (LOSSO, 2008, p. 3). A ideia de Brasil, realmente, começa a 
tomar forma no final do século XVII, e vai ser elaborada das mais diversas 
formas ao longo do século XIX, com o evidente e fundamental estímulo dos 
eventos que marcam o fim da Colônia Portuguesa e a construção do Império 
do Brasil. O território que hoje conhecemos como Brasil foi definido no século 
XIX, e o processo de construção da identidade nacional seria um processo 
lento, que se estenderia ainda ao longo do século XX.
Uma das formas de construir uma ideia do Brasil, além de seu território, 
porexemplo, é periodizar sua História. O historiador, quando seleciona os 
elementos que farão parte de sua narrativa, já está fazendo opções e a forma 
de periodizar esta História indica a maneira como é compreendida a existência 
do país.
Thiago Losso (2008, p. 4) observa que:
 
o uso e a importância atribuídos às datas é algo ainda debatido entre 
historiadores. A História, quando se constitui em disciplina acadêmica, 
teve na datação uma das formas mais eficazes de conferir autoridade 
ao que afirmava. As datas eram tratadas como o elemento que dotava 
de cientificidade e autenticidade a narrativa sobre o passado.
Depois de muitas críticas e da emergência de formas distintas de 
construção da História, as datas deixaram de ocupar este lugar central nas 
narrativas historiográficas, quando a historiografia passa a priorizar a reflexão 
sobre os eventos, buscando sua compreensão.
107
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:
• Pode-se pensar na História como uma disciplina acadêmica que procura 
construir uma narrativa sobre o passado, no sentido de torná-lo compreensível 
aos contemporâneos.
• Deve ficar claro que a História em si não é o passado, mas sim um texto sobre 
o passado.
• Construir a História é encadear estes fragmentos de forma coerente e 
organizada, tentando compreender os eventos do passado nos termos em que 
eles foram concebidos pelas pessoas que deles participaram.
• A memória é algo muito particular, muitas vezes, cortada por desejos, angústias 
e vontades. Assim, nossa memória distingue-se da História, que deve ser 
organizada racionalmente.
• A ideia de Brasil, realmente, começa a tomar forma no final do século XVII 
e vai ser elaborada das mais diversas formas ao longo do século XIX, com o 
evidente e fundamental estímulo dos eventos que marcam o fim da Colônia 
Portuguesa e a construção do Império do Brasil. 
• O uso e a importância atribuídos às datas é algo ainda debatido entre 
historiadores.
108
AUTOATIVIDADE
Disserte sobre a concepção de história como ciência e possíveis formas 
de articular a ideia de presente com o passado, a partir da discussão sobre a 
invenção ou o descobrimento do Brasil.
109
TÓPICO 2
INSTITUTO HISTÓRICO E 
GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Lilia Schwarcz comenta que vários historiadores têm procurado entender 
a originalidade da monarquia brasileira vinculando-a à chegada da família real 
ao Brasil em 1808. (SCHWARCZ, 2000, p. 35). De fato, a monarquia brasileira é sui 
generis e, desde que a área de conhecimento da História estabeleceu a disciplina de 
História do Brasil como um eixo de pesquisa, tanto em nível acadêmico como fora 
dele, esse campo que compreende todo o século XIX é um dos mais promissores. 
 
A formação do país como nação emerge desse momento. Emerge, 
também, todo um arcabouço político, administrativo e burocrático 
que deixou inúmeros registros para a atividade de História, tanto no 
que diz respeito ao ensino, quanto à pesquisa. Nesse sentido é que 
a fuga da família real de Portugal para o Brasil representou não um 
acidente fortuito, mas antes um momento angular da história nacional 
e de um processo singular de emancipação. (DIAS apud SCHWARCZ, 
2000, p. 35).
 
Há um país emergente do século XIX, todos os problemas e vantagens 
do período em termos de estabelecimento de explicações e narrativas históricas 
e historiográficas. Em outros termos, se o país se construía como nação, carecia 
de História, ao mesmo tempo em que a própria História, como campo do 
conhecimento, começava a ser estabelecida a partir de diversas forças produtoras 
desse mesmo conhecimento, que, no século XIX, advém de posturas liberais, 
positivistas, culturalistas, economicistas ou marxistas.
 
Se o século XIX vê surgir a História como ciência, também devemos, então, 
pensar o estabelecimento de uma historiografia brasileira ligada a diferentes 
vertentes desse campo de conhecimento, que acabou sendo padronizada, num 
primeiro instante, pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), 
fundado em 1838. O Artigo 1º do Estatuto de 1838 estabelecia como objetivos 
desse instituto que eram “coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos 
necessários para a História e a Geografia do Brasil”. (IHGB, 2010).
O IHGB, em sessão de 25 de novembro de 1838, elegeu seu primeiro 
conselho ou diretoria, constituído pelo Presidente, Visconde de São Leopoldo, 
pelo Vice-Presidente e Diretor da Seção de Geografia, Marechal Cunha Matos, pelo 
Vice-Presidente e Diretor da Seção de História, Cândido José de Araújo Viana, pelo 
1º Secretário (perpétuo) e Diretor da Comissão de Estatutos, Redação da Revista, 
110
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
Biblioteca e Arquivo, Cônego Januário da Cunha Barbosa, pelo 2º Secretário, Dr. 
Emílio Joaquim da Silva Maia, pelo Orador, Major Pedro d’Alcântara Bellegarde, 
pelo Tesoureiro e Diretor da Comissão de Fundos, José Lino de Moura.
 
Grande parte dos membros fundadores do IHGB já tinha transitado em 
instituições congêneres na Europa e tratou de estabelecer o mesmo modelo de 
atuação do órgão fundado no país em 1838. Concepção positivista, pragmática e 
utilitária da História, mas também necessária e fundamental para a manutenção 
e para a construção do conhecimento histórico no país, a proposta de atuação do 
IHGB deixou profundas marcas na historiografia nacional, as quais, muitas vezes, 
estão impregnadas principalmente em livros didáticos e manuais de História.
 
Entre os principais movimentos organizados pelo instituto, ainda na 
metade do século XIX, aparece a proposição de uma forma homogênea de 
construção da história do Brasil. Karl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) 
elaborou uma monografia intitulada Como se deve escrever a história do Brasil, 
em 1845, que acabou cristalizando algumas concepções que serão repetidas no 
futuro, tais como o balizamento da fundação do Brasil a partir da mistura de três 
raças (negros, indígenas e europeus).
2 O IHGB E O SÉCULO XIX
Portanto, é no próprio século XIX que surgem as primeiras interpretações 
sobre o Brasil no sentido de uma história da nação. É claro que os alicerces 
do Brasil deveriam estribar-se, especialmente, na História, uma vez que esse 
campo do conhecimento, no século XIX, estava intimamente ligado com as 
macroexplicações da origem do país, com base em fatos e datas importantes que 
pudessem orientar moral e pragmaticamente o país para o futuro. 
Assim sendo, a História servia para vários fins: o primeiro, promover a 
separação entre o novo país e a antiga metrópole, embora isso não significasse 
negar o passado europeu do novo Brasil, uma vez que isso lhe conferia algumas 
vantagens, ainda mais numa era de racionalização e cientifização do racismo, que 
atribuía a populações autóctones o atraso e os problemas de desenvolvimento da 
nação.
A instituição do IHGB em 1838, seguida da maioridade de D. Pedro II em 
1840, acabou por concentrar uma discussão interessante sobre o passado do país, 
e sobre sua juventude no rol das nações modernas da época. Uma das questões 
que passariam a habitar a agenda desse instituto versava sobre o significado de ser 
brasileiro, ou se quem nascesse no novo país deveria ser chamado de brasiliano, 
brasileiro ou brasiliense. É claro que essas prerrogativas de nascimento não 
incluíam negros e seus descendentes, uma vez que a própria Constituição de 1824 
considerava brasileiros todos os portugueses que permaneceram no país após a 
independência e tivessem aderido à “causa do Brasil”, além de homens livres 
nascidos no país.
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
111
O país passava, portanto, pela construção de uma comunidade imaginada, 
e precisava afirmar a sua unidade como civilização branca e europeia. Nesse 
sentidoé que o IHGB tratou de patrocinar e apoiar sobremaneira pesquisas de 
caráter arqueológico, com vistas a explicar e fornecer subsídios para a questão da 
identidade e de um projeto de futuro.
A construção do passado da nação foi saudada da seguinte maneira na 
Revista do IHGB em 1839: “As associações congêneres da Europa e da América 
saudaram jubilosas a chegada da nova companheira (o IHGB), que, qual robusta 
indígena das florestas brazileiras se apresentava garrida e bem disposta para a 
rude missão de trabalhar pelo engrandecimento de sua tribu” (REVISTA DO 
IHGB, 2010).
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/
IHGB_revista_1889.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 25 – EXEMPLAR DA REVISTA TRIMENSAL DO IHGB, 1889
O IHGB trata, então, de lançar um concurso, em 1840, que premiaria a 
melhor escrita da História do Brasil. Quem venceu o pleito foi o naturalista alemão 
Karl F. P. von Martius, com a monografia “Como se deve escrever a história do 
Brasil”, que foi escrito em Munique no ano de 1843, e acabou sendo publicado na 
Revista Trimestral do IHGB em 1845 (REVISTA DO IHGB, 2010).
112
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/4/47/CFPhVonMartius.jpg/250px-CFPhVonMartius.
jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
Mas o grande historiador do século XIX, ou melhor, o primeiro historiador 
que trabalhou sistematicamente com a História do Brasil foi Francisco Adolfo 
de Varnhagen (1816-1878). Segundo José Honório Rodrigues (2008, p. 151), esse 
historiador sobrepujou em sua época todos os seus contemporâneos:
Varnhagen escreveu História Geral do Brasil entre 1854 e 1857, 
coincidentemente na forma não de capítulos, mas sim de doutrinas, 
que se revelou no primeiro esforço de uma história total do país desde 
o descobrimento até sua época. Mas há outros livros importantes em 
sua trajetória, tais como História dos Holandeses no Brasil, e História da 
Independência, ambos representaram, em sua época, um novo avanço 
historiográfico e uma nova aquisição da consciência nacional.
FIGURA 26 – KARL FRIEDRICH PHILIPP VON MARTIUS (1794-1868)
Von Martius doutorou-se aos 20 anos em medicina pela Universidade 
Fredericus Alexander. Acabou interessando-se por botânica e ingressou numa 
expedição para o Brasil em 1817, com vistas a explorar a flora da América 
Portuguesa. Devemos lembrar que esse mesmo período é o da estruturação 
das ciências naturais, especialmente da Botânica e da Geografia. Ao lado do 
zoólogo Johan Baptiste von Spix, percorreu várias regiões do território brasileiro 
recolhendo informações sobre fauna, flora e sociedade. A principal obra de Von 
Martius acabou sendo a Flora brasiliensis, que é referência até hoje.
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
113
FONTE: O autor
FIGURA 27 – FAC-SÍMILE DO ÍNDICE DE HISTÓRIA GERAL DO BRASIL, DE FRANCISCO
DE VARNHAGEN [mimeo.]
Na História Geral do Brasil, é importante ressaltar que Varnhagen 
escapa à narrativa somente presa ao rol dos governantes, capitães-mores, 
generais e bispos, e trata de incluir outros pontos de vista que não apenas o 
de uma história política e factual. 
Ele escreve seus textos em plena defesa de D. Pedro I, e D. Pedro II, 
seu mecenas, mas principalmente para atacar uma história escrita que fazia 
114
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
severas críticas ao “absolutismo do primeiro imperador”, concepção esta 
calcada na história brasileira da época a partir dos textos de José Bonifácio 
de Andrada e Silva e de seus seguidores. Todos os seus textos acabaram 
tornando-se histórias oficiais do Brasil, imaginado por ele como uma 
reinvenção da Europa nas Américas, por meio de um critério específico 
no qual Portugal deixou sementes na terra americana, que frutificaram na 
forma de Brasil. É claro que decorre disso uma animosidade e um desprezo 
sobre os indígenas, sobre seu papel na construção da nacionalidade, além 
de determinados vazios temáticos na obra. Contudo, se isso representa 
risco e crítica, apresenta também vantagens, na medida em que o autor 
pode apropriar-se de uma gama diversificada de documentos para o seu 
trabalho.
FONTE: Rodrigues (2008, p. 155)
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/
Francisco_Adolfo_de_Varnhagen.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
Veja o que Rodrigues (2008, p. 173) fala acerca de Francisco Adolfo de 
Varnhagen:
Nós o admiramos, isto é, nos maravilhamos de sua capacidade de 
incorporar essa vasta matéria informe, num contexto integrado, pela 
primeira vez realizado por historiador nacional. Sua consciência 
erudita – das mais eruditas que o país produziu, marcou sua obra. 
Em 1850, quando escrevia sua História Geral, ele enviou ao Instituto 
FIGURA 28 – FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN (1816-1878)
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
115
Histórico uma carta em que esta consciência se define bem. “Para 
ajuizar os fatos é necessário que o historiador tenha erudição no 
assunto, crítica histórica, independência de caráter, luzes gerais 
dos conhecimentos humanos e consciência.” Responsabilidade e 
consciência ele as tinha; que a consciência não fosse tão imparcial 
quanto ele pensava não importa. Era um historiador comprometido, 
como somos todos. Varnhagen justificou com mão de ferro o domínio 
colonial, a submissão do povo, os direitos da minoria mais dominante 
que criadora, sem cuidar que o grande problema no Brasil é assegurar 
os direitos da maioria. Sua obra é ciclópica pelo esforço, pela 
perseverança, pela erudição, pelo conhecimento revelador. 
Acompanham Varnhagen, na esteira dos pioneiros da história do Brasil, 
Capistrano de Abreu (1853-1927), mas também Rodolfo Garcia (1873-1949) e Afonso 
Taunay (1876-1958). José Honório Rodrigues afirma que Garcia, Capistrano de Abreu 
e Varnhagen formam uma trindade da historiografia brasileira, por terem proposto 
técnicas de estudo, metodologias de pesquisa, descoberto e catalogado documentos, 
e terem aplicado ciência ao conhecimento histórico. (RODRIGUES, 2008).
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
thumb/b/be/Capistrano_de_Abreu.jpg/150px-Capistrano_de_Abreu.jpg>. 
Acesso em: 1 ago. 2010.
Capistrano de Abreu, se não tem a vastidão de Varnhagen, tem uma 
apurada percepção psicológica, com extraordinária capacidade teórica, 
influenciando gerações futuras de historiadores. Rodolfo Garcia acabou sendo 
discípulo de Capistrano de Abreu, descobrindo a autoria de diversos documentos 
FIGURA 29 – JOÃO CAPISTRANO DE ABREU (1853-1927)
116
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
históricos brasileiros considerados importantes para a história nacional. Essa 
prática já havia sido adotada por Capistrano, que tinha trabalhado com alguns 
documentos jamais utilizados antes por quaisquer historiadores brasileiros, tais 
como os autos dos processos da inquisição na América Portuguesa. Enquanto 
Capistrano de Abreu dava um trato bastante sociológico a seus trabalhos, Garcia 
parecia nem acreditar na existência da sociologia (RODRIGUES, 2008, p. 180). 
Rodolfo Garcia publicou Dicionário de Brasileirismos (1915), Nomes de Aves em 
língua tupi (1929), Glossário das palavras e frases da língua tupi (1932), Doutrina Cristã 
na Língua Brasílica da Nação Kariri (1942), além de Nomes Geográficos Peculiares ao 
Brasil e Bibliografia de Geografia do Brasil (1921).
Rodrigues (2008, p. 181) afirma que, “[...] para Rodolfo Garcia, o Brasil 
foi mais conservador do que Portugal”. E para isso apontou como causa o 
afrancesamento da língua portuguesa em Portugal, devido não só às missões 
francesas, como às influências da literatura francesa, enquanto que o Brasil, com 
os seus portos fechados ao comércio,até 1808, conservou-se quase imune a outras 
influências que não fossem a Mãe Pátria.
FONTE: Disponível em: <http://www.cearamirim.com/rodolfogarcia1-
custom-size-240-300.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
Se no final do século XIX, a história do Brasil caminhava, ainda, para 
uma escrita que privilegiava o litoral, é devido a influências como a de Frederick 
Jackson Turner (1861-1932) que Capistrano de Abreu, ao escrever Capítulos de 
História Colonial (lançado em 1907), alteraria profundamente o olhar brasileiro, 
deslocando-o para o interior. Contudo, o próprio Capistrano de Abreu declarava 
que ainda não dispunha de textos que dessem conta de uma escrita da história das 
bandeiras. Coube a Afonso Taunay essa escrita. Em História Geral das Bandeiras, 
FIGURA 30 – RODOLFO GARCIA (1873-1949)
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
117
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_5w7Fz_h2xQg/
SSLRnCp_UxI/AAAAAAAADvM/4Y_oyu0oJRs/s200/Afonso_d%E2%80% 
99Escragnolle_Taunay.gif>. Acesso em: 1 ago. 2010.
Entre Capistrano de Abreu e Taunay, Rodrigues (2008, p. 195) sintetiza que:
Cada geração deve escrever a história sob o impulso do presente, para 
que melhor o possamos captar e adquirir.
Uma maior intimidade com a antropologia, por exemplo, ter-lhe ia 
[Taunay] evitado o reparo de Roquete Pinto, ao recebê-lo na Academia 
Brasileira de Letras: não sabia se ele fora bem inspirado consagrando, 
no primeiro volume de sua História das Bandeiras, um capítulo ao que 
chamava “arianização progressiva dos paulistas”, porque a antropologia 
ensina que o sangue ariano é uma utopia.
Em segundo lugar convém lembrar que Taunay desobedeceu a um dos 
princípios mais rigorosos da história, ao transcrever os documentos 
sem indicar exatamente de onde os transcreve. Ele sempre cita a fonte, 
mas descuida-se de precisar exatamente onde se encontra ou donde foi 
transcrita. Ao correr das transcrições, interrompidas por digressões nem 
sempre correspondentes, Taunay cita no próprio texto, sem enumerar a 
cota do documento arquival ou o volume e página da revista ou livro. 
Os pesquisadores e estudiosos precisam reler o documento citado.
Não foi Taunay o único que pecou deste pecado. Capistrano de Abreu, 
nos Capítulos de História Colonial, a mais perfeita síntese de nossa 
história, embora citando, deixou de indicar a procedência de fontes e 
livros. Como Capistrano, Taunay não tinha dúvida sobre a necessidade 
imprescindível de obedecer a esta regra metodológica. 
FIGURA 31 – AFONSO D’SECRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958)
esse escritor acabou por despontar no cenário da historiografia nacional. Entre 
1924 e 1930, Taunay publicou os primeiros 6 volumes de sua História Geral das 
Bandeiras Paulistas. Em 1936 saía o sétimo volume e, em 1946, 1948, 1949 e 1950, os 
quatro últimos (RODRIGUES, 2008).
118
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
Se Varnhagen afirmava, em sua História Geral do Brasil, que: 
[...] a história dos primeiros anos do Império não a poderemos nós 
por enquanto escrever tão conscienciosamente quanto o desejávamos; 
não só porque as contemplações e resguardos que se devem aos vivos 
pediriam uma redação que não ataria, vem com a imparcialidade que 
guardamos do passado, como poder os documentos e correspondências 
dos estadistas que nessa época figuravam só agora começam a ser 
dados ao prelo”. (RODRIGUES, 2008, p. 161). 
A situação recente sobre a independência, sobre os primeiros anos do 
Brasil império e sobre o império até sua queda mudou drasticamente de figura.
 
Já Capistrano de Abreu se encaixa no que Laura de Mello e Souza chama 
de ensaístas formativos do Brasil, que vão de 1907 a 1936. No caso de Capítulos 
de História Colonial, desse autor, é interessante destacar que o escritor descobriu 
a autoria de vários documentos, enfatizou a formação do país a partir de uma 
leitura da cultura material e argumentou que o ambiente específico e adverso do 
país teria moldado o brasileiro comum. Seu livro acabou sendo uma obra na qual 
a ênfase era dada aos “[...] homens capazes de penetrar todos os sertões durante 
anos a fio não tendo outro sustento senão caças do mato, bichos, cobras, lagartos, 
frutas bravas e raízes de vários paus”. (SOUZA apud FREITAS, 1998, p. 30).
 
No período republicano, opera-se um evento interessante que é a relativa 
negação ou ridicularização do período do reinado de D. Pedro I, numa tentativa 
de desconstrução de suas ações para favorecer a construção da república como 
elemento aglutinador da nacionalidade. De qualquer forma, alguns autores 
apresentam-se pessimistas e antiufanistas, ao contrário de escritores do final do 
século XIX que se orgulhavam do Brasil e do império que foi capaz de construir.
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_2Mp2pOYiP_Y/SVuEMl4il7I/A 
AAAAAAAAKQ/UacfaLk9yOw/s400/paulo-prado.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
FIGURA 32 – PAULO PRADO AO CENTRO DA IMAGEM
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
119
Retratos do Brasil (1928), de Paulo Prado, é um exemplo desse modo 
de escrita e entendimento da história nacional. Sua escrita tinha um caráter 
eminentemente cultural, com uma tipologia que qualificava a história e o 
desenvolvimento da sociedade a partir de sentimentos.
Para Paulo Prado, a história do país se dividia na transição de uma época 
de luxúria, marca dos primeiros anos, passando para a fase da cobiça a partir do 
estabelecimento de atividades econômicas e expansão territorial, chegando na 
tristeza e no romantismo, que é a marca da decadência luso-brasileira.
Devemos lembrar em todo momento que Paulo Prado escreve na mesma 
época em que Mário de Andrade lança Macunaíma, obra, por sua vez, dedicada a 
Paulo Prado. Para ambos, e para o modernismo que se assenta na década de 1920, o 
Brasil é uma grande terra de delinquentes, o degredo e o purgatório por excelência, 
do português transplantado. Entre as vantagens oferecidas pela obra de Prado 
estão as fontes apresentadas, muitas delas organizadas por Capistrano de Abreu.
Obra que modifica o panorama da escrita da história no Brasil, arrancando-a 
definitivamente de uma cientifização demasiada, em termos realistas do século 
XIX, para uma esfera de história cultural, em consonância com outras partes do 
mundo, é a obra Casa-Grande e Senzala, que Gilberto Freyre lança em 1933.
FONTE: Disponível em: <http://www.nordesteweb.com/not07_0904/20 
040710Gilberto_Freyre.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010.
O livro problematizava a filiação dos brasileiros a um país arcaico e foi 
revolucionário em termos de inovação documental e temática que acabou sendo 
seguida por outras duas de porte similar: Sobrados e Mucambos (1936) e Nordeste 
(1937). Gilberto Freyre usou, nessa escrita de história, documentos como anúncios 
de jornais, diários particulares, correspondências familiares, escritos de viajantes, 
FIGURA 33 – GILBERTO FREYRE (1900-1987)
120
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
livros de receita de cozinha, fotografias e outras imagens, cantigas de roda e 
informações folclóricas e uma larga tradição oral.
O que diferencia Casa-Grande e Senzala de outras obras é a inovação 
metodológica, que parte de um critério de diferenciação entre raça e cultura, e 
que tira a capacidade de a categoria “raça” ser capaz de explicar alguma coisa em 
termos históricos no desenvolvimento do Brasil. É claro que a esse avanço, Freyre 
opunha outras informações contraditórias em sua análise. Uma delas é a ideia de 
que a exploração econômica violenta e iníqua, que imperou no Brasil, teria sido 
atenuada pela mestiçagem, que serviu, em última instância, para “diminuir” as 
distâncias entre a casa senhorial e a senzala. Nesse sentido, foi o primeiro autor, 
contudo, a atribuir uma positividade à mestiçagem.
O início de uma história culturalmadura e rigorosa, do ponto de vista 
teórico-metodológico, vem com a afinidade teórica com a moderna historiografia 
francesa e alemã, e com a combinação de História, Antropologia e Sociologia nas 
obras de Fernando de Azevedo e Sérgio Buarque de Holanda.
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_VVxjHzA2hQ4 /
SCmQBQVdL_I/AAAAAAAAAIw/9XiClu6U2NE/s320/Fernando+de+ 
Azevedo.gif>. Acesso em: 1 ago. 2010.
O primeiro lançou, em 1943, A Cultura Brasileira, onde se percebe 
a decadência do tom ensaístico e fluido dos anos 1930 em contraponto a uma 
abordagem mais precisa da problemática das relações entre História e Cultura na 
formação do Brasil. (SOUZA apud FREITAS, 1998).
Sérgio Buarque de Holanda aprimora esse produto, lançando Monções 
(1945), Caminhos e Fronteiras (1957) e Visão do Paraíso (1959), também em escape 
definitivo do seu primeiro livro de impacto, Raízes do Brasil, de 1936.
FIGURA 34 – FERNANDO DE AZEVEDO (1894-1974)
TÓPICO 2 | INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB)
121
FONTE: Disponível em: <http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2002/jusp601/ilustras/ilustra 
1011.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2010. 
Entre as décadas de 1940 e 1970, diversas produções tiveram lugar 
na historiografia brasileira principalmente aquelas ligadas à economia, e 
partindo de uma perspectiva marxista, que caiu em desuso a partir do golpe 
militar de 1964.
FIGURA 35 – SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982)
122
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:
• Quando tratamos da História do Brasil, lidamos com nossa memória, no 
sentido de que estamos nos referindo a um dos pilares da nossa identidade.
• É correto afirmar que o Brasil foi inventado; mais coerente que imaginá-lo 
“descoberto”.
• Uma das formas de construir uma ideia do Brasil, além de seu território, por 
exemplo, é periodizar sua História.
• A monarquia brasileira é sui generis e desde que a área de conhecimento da 
História estabeleceu a disciplina de História do Brasil como um eixo de pesquisa, 
tanto em nível acadêmico como fora dele, esse campo que compreende todo o 
século XIX é um dos mais promissores. 
• Se o século XIX vê surgir a História como ciência, também devemos, então, 
pensar o estabelecimento de uma historiografia brasileira ligada a diferentes 
vertentes desse campo de conhecimento, que acabou sendo padronizada, num 
primeiro instante, pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), 
fundado em 1838. 
• Entre os principais movimentos organizados pelo instituto, ainda na metade 
do século XIX, aparece a proposição de uma forma homogênea de construção 
da história do Brasil.
• O grande historiador do século XIX, ou melhor, o primeiro historiador que 
trabalhou sistematicamente com a História do Brasil foi Francisco Adolfo de 
Varnhagen (1816-1878).
• Acompanham Varnhagen na esteira dos pioneiros da história do Brasil, 
Capistrano de Abreu (1853-1927), Rodolfo Garcia (1873-1949) e Afonso Taunay 
(1876-1958).
• No período republicano, operou-se um evento interessante que foi a relativa 
negação ou ridicularização do período do reinado de D. Pedro I, numa tentativa 
de desconstrução de suas ações para favorecer a construção da república como 
elemento aglutinador da nacionalidade. 
123
• Obra que modifica o panorama da escrita da história no Brasil, arrancando-a 
definitivamente de uma cientifização demasiada em termos realistas do século 
XIX para uma esfera de história cultural, em consonância com outras partes do 
mundo, é a obra Casa-Grande e Senzala, que Gilberto Freyre lança em 1933.
• O início de uma história cultural madura e rigorosa, do ponto de vista teórico-
metodológico, vem com a afinidade teórica com a moderna historiografia 
francesa e alemã e com a combinação de História, Antropologia e Sociologia 
nas obras de Fernando de Azevedo e Sérgio Buarque de Holanda.
124
AUTOATIVIDADE
Detalhe as diferentes correntes historiográficas acerca do Brasil 
Império desde a criação do IHGB até a década de 1950.
125
TÓPICO 3
HISTORIOGRAFIA RECENTE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
João Miguel Teixeira de Godoy, em artigo recente (2009), mapeia a 
produção nova em termos de historiografia no Brasil. Para ele, assim como para 
outros especialistas, tais como João Paulo Pimenta (2009), observa-se no país 
uma crescente diversificação dos estudos e das reflexões sobre a trajetória e as 
características da produção dos historiadores. 
Nada melhor do que delimitar, parafraseando Godoy (2009), três 
momentos importantes dessa nova historiografia acerca do Brasil. Para esse autor 
a primeira das fases da historiografia brasileira parte da década de 1940, com a 
produção já citada no tópico anterior.
Uma segunda fase desenvolve-se no final dos anos 1970. 
Trata-se de um momento em que vários estudos de historiografia 
surgiram elaborados por profissionais universitários: o de Pedro de 
Alcântara Figueira (1973), de Maria Odila da Silva Dias (1974) sobre 
Southey; o de José Roberto do Amaral Lapa (1981) “A história em 
questão”; Maria de Lourdes Mônaco Janotti (1977) sobre João Francisco 
Lisboa; o de Raquel Glezer (1977) sobre José Honório Rodrigues; o 
de Carlos Guilherme Mota (1977), “Ideologia da cultura brasileira”; 
o de Sergio Miceli (1979), “Intelectuais e classe dirigente no Brasil 
(1920-1945)”, entre outros. Apesar de alguns desses estudos trazerem 
uma preocupação de caráter mais acadêmico, contendo reflexões 
metodológicas, por exemplo, predomina certa intenção de pensar o 
papel e a inserção dos intelectuais na ordem política. (GODOY, 2009, 
p. 68-69).
Godoy ainda descreve uma terceira geração, mais recente ainda, que tem se 
dedicado ao estudo da historiografia sobre o Brasil. São obras como “Domínios da 
história”, organizada por Cardoso e Vainfas (1997); “Historiografia brasileira em 
perspectiva”, organizada por Freitas (2000); o trabalho de Fico e Polito (1992), “A 
História no Brasil (1980-1989)”, o de Arruda e Tengarrinha (1999), “Historiografia 
luso-brasileira contemporânea”; o de Iglésias (2000), “Os historiadores do Brasil: 
capítulos de historiografia brasileira”, entre inúmeros outros trabalhos, desde 
artigos publicados em periódicos até a produção estrangeira publicada em 
volume crescente no Brasil nestes últimos anos” (GODOY, 2009, p. 69). O autor 
ainda observa que “Nesse momento, diferentemente dos anteriores, percebem-se 
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
126
um debate e uma tentativa de diálogo entre matrizes teóricas e interpretativas 
distintas que dividem, nem sempre de maneira discreta, a comunidade dos 
historiadores a respeito do conhecimento histórico e do sentido da trajetória da 
sociedade brasileira”. (GODOY, 2009, p. 69).
Não há fórmulas para se escrever história do Brasil Império na atualidade, 
mas, sim, inúmeros meios e temas que podem ser explorados na diversidade que 
ora se apresenta na História como campo de conhecimento.
A cultura da natureza e a história ambiental, por exemplo, despontam 
como áreas de grande interesse na atualidade. Trabalhos como os de José 
Augusto Drummond, Um Sopro de Destruição (2003), são exemplos desse caminho 
promissor.
Temas como relações de gênero, escravidão, o mundo atlântico conectado 
no século XIX ainda continuam fortes. Mais ainda, as relações entre História e 
Saúde, que despontaram a partir de trabalhos de história nova hoje já considerados 
como clássicos, como é o caso de Cidade Febril (1996), de Sidney Chalhoub.
 
A produção historiográfica atual sobre Brasil Império vem sendo 
trabalhada especialmente no âmbito da Associação Nacional de História 
(ANPUH), que tem sede em São Paulo, mas com núcleos em todos os Estados do 
Brasil e no Distrito Federal.
Essa associação organiza a Revista Brasileira de História e o Simpósio 
Nacional de História, tradicionalmente, a cada doisanos. Os núcleos regionais 
tratam, em sua maioria, da organização dos encontros regionais e muitos deles já 
têm revistas especializadas.
Além disso, é importante ressaltar que grande parte das universidades, 
que têm cursos de História, tendem a organizar suas próprias publicações. Assim 
sendo, é importante considerar, para qualquer pesquisa ou trabalho em sala de 
aula, o que está sendo publicado nesses espaços, uma vez que a maioria das 
revistas publicadas no Brasil estão disponíveis de maneira gratuita na internet.
TÓPICO 3 | HISTORIOGRAFIA RECENTE
127
DICAS
Para que você conheça mais sobre o assunto, a sugestão é que você acesse os 
seguintes sites de referência no que diz respeito a publicações especializadas de História 
do Brasil Imperial:
• Revista Brasileira de História: <http://www.scielo.br/revistas/rbh/paboutj.htm>.
• Revista Tempo: Revista do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense: 
<http://www.historia.uff.br/tempo/site/>.
• Revista História da Historiografia: <http://www.ichs.ufop.br/rhh/index.php/revista>.
• Revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos: <http://www.coc.fiocruz.br/hscience/>.
• Luso-Brazilian Review: <http://uwpress.wisc.edu/journals/journals/lbr.html>.
• Topoi: Revista do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro: <http://www.revistatopoi.org>.
• Anos 90: Revista do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul: <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/anos90>.
• Esboços: Revista do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de 
Santa Catarina: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos>.
• Varia Historia: Revista de História da Universidade Federal de Minas Gerais: <http://www.
fafich.ufmg.br/varia/entrada>.
128
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:
• Observa-se no país uma crescente diversificação dos estudos e das reflexões 
sobre a trajetória e as características da produção dos historiadores.
• Não há fórmulas para se escrever a história do Brasil Império na atualidade, 
mas, sim, inúmeros meios e temas que podem ser explorados na diversidade 
que ora se apresenta na História como campo de conhecimento.
129
AUTOATIVIDADE
Elabore um quadro demonstrativo de 10 autores de História do 
Brasil e suas respectivas ideias e depois procure semelhanças e diferenças de 
perspectivas entre eles.
130
131
TÓPICO 4
ENSINO DE HISTÓRIA DO 
BRASIL IMPERIAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
2 SABER E FAZER: REDIMENSIONAMENTO 
DA RELAÇÃO “HISTÓRIA-ENSINO”
Quando falamos de História do Brasil Império, é importante também 
pensarmos esse saber a partir de sua interação e materialização, que se dá 
unicamente pela sala de aula, pelo ensino.
Este tópico pretende discutir um pouco a questão do Ensino de História 
do Brasil Império. Para tanto, trabalharemos sobre a relação entre saber e fazer, 
no que diz respeito ao redimensionamento da relação “História-Ensino”, a 
relação existente entre Didática e História, a situação político-pedagógica atual 
no Brasil em termos de ensino de História, as linguagens, instrumentos e espaços 
de interesse para isso.
Nas últimas duas décadas, o ensino de História passou a ser encarado 
de uma maneira mais ampla, não apenas por especialistas da área de Ciências 
da Educação, mas também da História e da Historiografia como um todo. 
Observou-se que uma operação necessária e fundamental deveria ser feita no 
que diz respeito a essa disciplina escolar, opondo a ideia de “SABER-FAZER” 
àquela de “LECIONAR-APRENDER”. Isso significou, em certa medida, o 
reposicionamento de historiadores e educadores no que tange à formação dos 
historiadores e historiadoras, ao conceito de espaço escolar para a História, ao 
papel político do aprendizado dessa disciplina, bem como aos papéis sociais e 
pedagógicos do professor e de estudantes.
Maria Auxiliadora Schmidt trouxe para a arena de disputa um novo 
conceito de aula de História. Para ela, a aula representava “[...] o momento em 
que, consciente do saber que possui, o professor de História pode oferecer a seu 
aluno a aquisição do saber existente, por meio de um esforço e uma atividade 
com a qual ele retorne à atividade que edificou esse mesmo saber”. (SCHMIDT, 
2002, p. 54-68).
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
132
Essa questão ainda deve ser debatida com afinco, por opor duas 
dimensões da relação saber-fazer. A primeira delas é a dimensão prática do 
aprendizado da História, que está ligado a métodos, instrumentos e linguagens 
a ser aprimorados e apresentados. A segunda é teórica e está relacionada à 
articulação de métodos, instrumentos e linguagens às matrizes disciplinares 
propriamente ditas, que seguem o rumo das agendas políticas que variam de 
país para país, de estado para estado, de município para município.
Em todos os casos, quando falamos do conhecimento histórico e de sua 
relação com o saber-fazer em sala de aula, estamos falando propriamente das 
repercussões práticas do saber (RÜSEN, 2007). Assim, o trabalho do ensino 
de História deve levar em consideração “funções” e “formas” desse mesmo 
conhecimento, diluídas na figura do historiador-professor, e do estudante-
aprendiz.
Por muito tempo, trabalhou-se com a ideia de um Historiador-Professor 
altamente especializado em seu campo de saber, com função meramente 
formadora. Hoje, sabe-se que o campo de conhecimento da História, que abrange 
três dimensões (História propriamente dita, Ciência da História e História 
como Ciência), acaba por imprimir um novo caráter a esses profissionais, que 
precisam, cada vez mais, desempenhar as funções motivadora, propedêutica, 
mediadora e formadora.
Por outro lado, aquele estudante-aprendiz que era considerado apenas 
o receptáculo do conhecimento vindo de fora, também teve seu status alterado, 
e precisa ser pensando na esfera escolar como alguém que, a partir das 
informações e dos conhecimentos que recebe, tanto da História como de outras 
áreas, carrega esses dados que podem ser usados até para a alteração de sua 
vida prática.
Nesse sentido, chegamos a outro nível da relação saber-fazer histórico, 
que é aquela que contrapôs, no tempo, Didática, História e Historiografia.
3 RELAÇÃO “DIDÁTICA-HISTÓRIA”
Até o início do século XIX, a preocupação fundamental para os estudos 
históricos envolvia a didática e o método. Basicamente, exigia-se de um historiador 
que ele soubesse escrever um texto fácil de ser lido, que soubesse lecionar bem e 
que soubesse aprender bem os conteúdos propostos nessa área.
Johann Gustav Droysen (1808-1884) foi o principal defensor desse 
interesse que deveria envolver o universo do ofício do historiador naquele 
período. Para ele:
TÓPICO 4 | ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL
133
Do interesse didático exsurge a carência dessa forma histórica 
universal, na qual somente se justifica a ciência histórica como 
tal. Pois é somente nessa forma que ela se realiza plenamente, 
constituindo-se na totalidade que lhe é concebida. (DROYSEN apud 
RÜSEN, 2007, p. 88).
Com a cientifização da História mesmo a partir da segunda metade 
do século XIX, a Didática acabou sendo apartada da disciplina especializada 
da História, tornando-se uma “aplicação” pedagógica, externa ao saber dos 
historiadores, e à margem da profissionalização como mero acessório. Por 
outro lado, esse mesmo campo acabaria, nesse período, por ser absorvido como 
subcampo do conhecimento nas Ciências da Educação.
O método historiográfico, que compreendia também as questões didáticas, 
acabou se restringindo à formatação de regras de pesquisa, e não estaria, daí por 
diante, vinculado aos aspectos conjuntos de forma e função. A objetivação da 
narrativa foi um dos primeiros acontecimentos resultantes dessa objetivação do 
conhecimentohistórico.
Tudo isso acabou reverberando em manuais escolares. Esses livros, que 
seguem não só a agenda política e os interesses editoriais, mas também são fruto 
da discussão e disputa de perspectivas de quem os escreve, através e depois de 
múltiplas mediações, esse livro acabou sendo incorporado à discussão em nível 
geral sobre a relação entre Didática e História.
No Brasil, ainda em 1953, por exemplo, diversos intelectuais historiadores, 
preocupados com o desempenho escolar e com a necessidade de prover as escolas 
com material didático inovador, foi firmado um acordo entre a Campanha do 
Livro Didático e Manuais de Ensino (CALDEME) com o prof. Américo Jacobina 
Lacombe (1909-1993), para a elaboração de um manual de História do Brasil, 
assinado em 16 de dezembro. Dizia o acordo que:
A elaboração do manual será orientada pelo objetivo de promover, 
entre os professores [...] um movimento de renovação no tocante à 
matéria a ser ensinada e aos métodos de ensiná-la, a fim de tornar a 
matéria e o método mais adequados aos interesses do adolescente e ao 
ambiente em que vive. (MUNAKATA, 2004, p. 513).
Essa necessidade vinha ao encontro de uma situação desesperadora 
que opunha professores de história e historiadores acadêmicos. Derivou daí 
que, entre as décadas de 1950 e 1960, houve a maximização dos aspectos 
didáticos dos textos de história, seguidos de uma escrita antiacadêmica, com 
vistas a ressaltar a figura do professor de História e não, necessariamente, o 
historiador. Por outro lado, a academia estabelecia a primazia da pesquisa e 
uma crítica acirrada ao eurocentrismo, ainda prevalente no ambiente escolar. 
(MUNAKATA, 2004, p. 513).
Nos anos 1970, a ênfase em métodos e técnicas de ensino acabou por 
promover, ainda que indiretamente, a simplificação dos conteúdos. A discussão 
sobre ensino e suas novas perspectivas serviu para opor Thompson, Williams e 
Hobsbawm à Pedagogia dos Conteúdos.
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
134
Na década de 1990, um passo importante no sistema de educação acabou 
sendo a construção de um novo marco legal (a Lei 9.394), que impulsionou, por 
exemplo, a discussão em torno de Parâmetros Curriculares Nacionais, a ideia de 
difundir e promover estudo para todas as crianças.
O ensino de História passou a ter de considerar conceitos básicos 
de cultura, de organização social e de trabalho; noções de tempo e de espaço 
históricos; noções de antes e depois; noções de geração e duração; história local 
para articular com história nacional e mundial, continuou sendo um problema 
nesse contexto, além da dificuldade em trabalhar diferenças entre culturas.
Por outro lado, os Parâmetros Curriculares de 5ª a 8ª séries (6ª a 9ª) 
levavam em conta a necessidade de a História ser ensinada por profissionais 
especializados; consideravam esse período de aprendizado altamente oportuno 
para discutir história social ou sociocultural; preconizavam a focalização do 
ensino em conceitos; entendiam a história como processo e, com isso, tentavam 
diminuir a distância entre eles.
Como resultado, emergiu uma história para o exercício da cidadania, com 
ênfase em temas para o ensino de história que buscava uma autonomia intelectual, 
a superação do marxismo e a incorporação do neomarxismo de Edward Thompson, 
da micro-história de Carlo Ginzburg e das novas histórias francesas. Contudo, o 
problema ainda era e ainda continua sendo a de se ensinar história com o fim de 
auxiliar alunos para meramente serem aprovados em vestibulares.
NOTA
Nesse sentido, afloraram inúmeras obras sobre a relação História e Ensino, entre 
o Saber e o Fazer históricos em sala de aula, tais como:
BITTENCOURT, Circe. (org.) O saber histórico na sala de aula. 7. ed. São Paulo: Contexto, 
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TÓPICO 4 | ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL
135
Esses historiadores têm discutido com afinco a questão do ensino de 
História, partindo de diferentes pontos de vista, porém teorizando um espaço 
de pesquisa que é preocupante e que pode estar no cerne da discussão em torno 
da motivação de ensinar e aprender história no Ensino Fundamental e Médio, 
bem como o de teorizar as inúmeras relações existentes entre pontos de interesse 
específicos nesse regime historiográfico.
4 LINGUAGENS, INSTRUMENTOS, ESPAÇOS
Não é possível determinar que tipo de História é válido para ser 
desenvolvido em salas de aula. Mas é necessário lembrar que aqueles que 
trabalham com o conhecimento histórico e com sua materialização na forma 
de comunicações em salas de aula prescindem de uma gama imensa de temas, 
conteúdos, eventos, instrumentos, linguagens e espaços para o trabalho, como, 
por exemplo, Brasil Imperial.
Entre os instrumentos, linguagens e espaços para o aprendizado da História 
do Brasil Imperial, figuram na atualidade livros didáticos e paradidáticos, objetos 
de arte, museus, ruas de cidades, práticas socioculturais, atividades esportivas, 
folclore, programas de televisão, cinema, música, pesquisas que podem ser 
realizadas em campo, teatro, mas também florestas, recortes de jornal, internet 
(youtube, foruns de discussão, listas de e-mails, páginas de referência e de fontes).
Em certa medida, historiadores ainda não são muito práticos com essas 
tecnologias, uma vez que grande parte de seu próprio aprendizado dá-se por 
livros e não necessariamente por outros meios. Nesse sentido é que é importante 
pensar a função prática do saber histórico em sala de aula, seu efeito determinante 
sobre o processo histórico de conhecimento, em particular sobre o ponto inicial de 
todo esse conhecimento: a pergunta histórica – Por quê? Como? Onde? Quando? 
Quem? O quê?
Por outro lado, o prejuízo do distanciamento entre História e Didática 
pode ser observado por meio do impedimento de os historiadores tomarem 
posição direta quanto ao uso do saber que produzem, e à perda do espaço de 
trabalho no ensino, em museus, em demais instituições que prescindem do 
conhecimento histórico.
Em contrapartida, a História deve ser uma oportunidade 
institucionalizada de inovação e de pesquisa, em contraste com a ideia 
e o conceito e a prática do uso de “manuais” de história, escapando 
dos livros de “receita” de ensino. Deve-se dar atenção, ao saber-fazer 
histórico em sala de aula, à formatação e ao efeito cultural da validação 
das informações contidas em produções como livros didáticos para a 
prática de ensino.
Esse processo de mudança estabeleceria um novo referente do 
saber-fazer histórico: uma função prática que produz efeitos no 
aprendizado, por um lado, e um modo fundamental da cultura na 
qual o conhecimento acadêmico de história se conforma, se realiza e 
se difunde no mundo não acadêmico por outro. (RÜSEN, 2007. p. 88).
UNIDADE 3 | HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL
136
Com relação ao ensino, diversas áreas, no Brasil, têm-se tornado 
verdadeiros mananciais de produções que podem e devem ser exibidas, lidas, 
estudadas, problematizadas e interpretadas em sala de aula, tanto como 
documentos históricos plenamente relacionados com seus próprios momentos de 
produção, mas também como representações interessantes e filtradas do passado 
do país. 
É fato que, com relaçãoao século XIX brasileiro, não existe ainda fonte 
mais acessível do que a literatura que é consagrada e de fácil aquisição em todo 
o país e que vai desde poetas, passando por cronistas e romancistas, mas que 
também inclui textos jornalísticos, almanaques e outras escritas criativas. Esses 
textos revelam forças políticas, interesses, determinados tipos de comportamento, 
de relações sociais, de estruturas de classe, de gênero, das relações entre as 
sociedades e o mundo natural, enfim, uma infinidade de temas, que ainda 
estão, muitas vezes, subalternos e precisando de historiadores e historiadoras 
interessados em estudá-los. 
Mas a segunda metade do século XX e o começo do século XXI têm 
proporcionado aos brasileiros outros documentos e instrumentos de trabalho, 
principalmente para os estudos históricos. Um olhar de superfície serve para 
afirmarmos, sem dúvida, que a televisão e o cinema despontam como meios 
efetivos de representação do passado nacional, aflorando a cada tempo, algumas 
produções interessantes.
Dessa forma, citamos aqui algumas das produções que podem ser usadas, 
quando pensamos em televisão e cinema, sobre o Brasil Imperial:
• Independência ou Morte, de Carlos Coimbra, com Tarcísio Meira, Glória 
Menezes, Kate Hansen e Dionísio Azevedo.
• Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, de Carla Camurati, com Marieta Severo e 
Marco Nanini.
• Tiradentes, o filme, de Oswaldo Caldeira, com Humberto Martins.
• Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade.
• Tiradentes, o Mártir da Independência, de Geraldo Vietri.
• Netto Perde Sua Alma, com Werner Schünemann.
• Abolição, de Zózimo Bulbul.
• Xica da Silva, de Cacá Diegues.
• A Paixão de Jacobina, de Fábio Barreto, com Letícia Spiller, Thiago Lacerda.
TÓPICO 4 | ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL
137
• O Guarani, de Norma Bengell, com Márcio Garcia e Tatiana Issa.
• A casa das sete mulheres, de Jayme Monjardim, baseada no livro homônimo 
de Letícia Wierzchowski, conta a história de Bento Gonçalves; com Camila 
Morgado, Werner Schünemann, Thiago Lacerda, Eliane Giardini, Nívea Maria, 
Daniela Escobar e Luis Mello.
• Mad Maria, de Benedito Ruy Barbosa, baseada na obra homônima de Márcio 
Souza, com Ana Paula Arósio, Tony Ramos, Antônio Fagundes.
• Chiquinha Gonzaga, de Jayme Monjardim, com Regina Duarte.
• Amazônia, de Galvez a Chico Mendes , escrito por Glória Peres, sobre a história 
do Acre.
• O Quinto dos Infernos, de Antônio Calmon, sobre a vida de Dom Pedro I.
• Gaijin, Caminhos da Liberdade, de Tizuka Yamasaki.
• Memórias póstumas é um filme brasileiro de 2001, do gênero comédia dramática, 
dirigido por André Klotzel, e com roteiro baseado na obra Memórias Póstumas 
de Brás Cubas, de Machado de Assis.
• O tempo e o vento foi uma minissérie da Rede Globo exibida de 22 de abril a 
31 de maio de 1985, em 25 capítulos. O roteiro é baseado na obra homônima de 
Érico Veríssimo, adaptada por Regina Braga e Doc Comparato, e dirigida por 
Paulo José. Apesar de levar o nome da trilogia escrita por Érico Veríssimo, a 
minissérie desenvolve apenas tramas abordadas no primeiro volume da obra: 
“O Continente”. Foi exibida em comemoração aos vinte anos da emissora.
138
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:
• Quando falamos de História do Brasil Império, é importante também pensarmos 
esse saber a partir de sua interação e materialização, que se dá unicamente pela 
sala de aula, pelo ensino.
• Nas últimas duas décadas, o ensino de História passou a ser encarado de 
uma maneira mais ampla, não apenas por especialistas da área de Ciências da 
Educação, mas também da História e da Historiografia como um todo.
• Observou-se que uma operação necessária e fundamental deveria ser feita no 
que diz respeito a essa disciplina escolar, opondo a ideia de “SABER-FAZER” 
àquela de “LECIONAR-APRENDER”.
• Essa questão ainda deve ser debatida com afinco, por opor duas dimensões 
da relação saber-fazer. A primeira delas é a dimensão prática do aprendizado 
da História, que está ligado a métodos, instrumentos e linguagens a serem 
aprimorados e apresentados. A segunda é teórica e está relacionada à articulação 
de métodos, instrumentos e linguagens às matrizes disciplinares propriamente 
ditas, que seguem o rumo das agendas políticas que variam de país para país, 
de estado para estado, de município para município.
• O trabalho do ensino de História deve levar em consideração “funções” e 
“formas” desse mesmo conhecimento, diluídas na figura do historiador-
professor e do estudante-aprendiz.
139
AUTOATIVIDADE
Elabore um plano de aula sobre Brasil Império, levando em 
consideração as observações apresentadas neste tópico.
140
141
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ANOTAÇÕES
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