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Autor: Prof. Vinícius Carneiro de Albuquerque
Colaboradores: Prof. Francisco Alves da Silva 
 Prof. Gabriel Lohner Grof
História do Brasil Império
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Professor conteudista: Vinícius Carneiro de Albuquerque
Vinícius Carneiro de Albuquerque é historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da Universidade de São Paulo e licenciado pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Obteve o título de 
mestre pelo programa de História Social, para o qual apresentou, em 2007, a dissertação Ceará: 1824. A Confederação 
das Províncias Unidas do Equador contra o Império do Brasil. Seu mestrado foi resultado de diversas discussões 
historiográficas com as quais teve contato ainda durante a graduação como membro do Programa Especial de 
Treinamento (PET) sob a tutoria do prof. Dr. István Jancsó, seu orientador depois no mestrado e também professor 
responsável pela coordenação do Projeto Temático “A fundação do Estado e da Nação Brasileiros, 1750/1850”, grupo 
de pesquisadores com o qual seu mestrado dialoga constantemente. Suas áreas de interesse são relacionadas à história 
política e social, principalmente no século XIX, mas também no Brasil e a América Latina, nos séculos XX e XXI.
Atualmente é professor do colégio e curso pré‑vestibular Objetivo, instituição na qual atua há mais de dez anos, 
tendo amplo contato com modernas tecnologias utilizadas na preparação de aulas digitais em diversas plataformas 
midiáticas. No colégio e curso pré‑vestibular também desenvolveu um vasto trabalho na preparação de material 
didático para turmas de ensino médio. É também professor da Universidade Paulista, na qual trabalha com especial 
interesse na área de Educação a Distância voltada para a formação de professores de História.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A345h Albuquerque, Vinícius Carneiro.
História do Brasil Império. / Vinícius Carneiro Albuquerque. – 
São Paulo: UNIP, 2015. 
176 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2‑042/15, ISSN 1517‑9230.
1. Brasil império. 2. Primeiro e segundo reinados. 3. Período 
regencial. I. Albuquerque, Vinícius Carneiro. II.Título.
CDU 981.04 
A‑XIX
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marcilia Brito
 Lucas Ricardi
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Sumário
História do Brasil Império
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 A CRISE DO ANTIGO REGIME E DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS: 
A CORTE NO BRASIL ........................................................................................................................................... 11
1.1 Liberalismo político e crise na América Portuguesa .............................................................. 18
1.2 Revolução Liberal e Constitucional do Porto (1820) ............................................................. 20
2 SETE DE SETEMBRO DE 1822: INDEPENDÊNCIA DO BRASIL? ....................................................... 22
2.1 Assembleia Geral e Constituinte dos Povos do Brasil ............................................................ 33
3 A CONSTITUIÇÃO OUTORGADA DE 1824 ............................................................................................... 36
3.1 A Confederação do Equador: 1824 ............................................................................................... 39
4 CRISE DO I REINADO E ABDICAÇÃO ........................................................................................................ 43
4.1 Sete de abril de 1831 – a abdicação de Pedro I ....................................................................... 56
Unidade II
5 REGÊNCIAS, ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ................................................................................................... 64
5.1 Regência Trina Provisória .................................................................................................................. 68
5.2 Regência Trina Permanente ............................................................................................................. 70
5.3 Ato Adicional de 1834 ........................................................................................................................ 73
5.4 Regência Una – Feijó .......................................................................................................................... 74
5.5 Regência Una – Araújo Lima ........................................................................................................... 77
6 REVOLTAS OU REBELIÕES REGENCIAIS .................................................................................................. 81
6.1 Guerra dos Farrapos ou Farroupilha ............................................................................................. 82
6.2 Revolta de Pinto Bandeira e do Benze‑Cacetes ...................................................................... 87
6.3 Guerra dos Cabanos, ou Os “Guerrilheiros do Imperador” .................................................. 88
6.4 Os Restauradores do Ano da Fumaça .......................................................................................... 89
6.5 Cabanagem ............................................................................................................................................. 90
6.6 Sabinada................................................................................................................................................... 92
6.7 Balaiada .................................................................................................................................................... 94
6.8 Revolta dos Malês ................................................................................................................................ 97
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Unidade III
7 II REINADO – 23 DE JULHO DE 1840 ATÉ 15 DE NOVEMBRO DE 1889 ..................................104
7.1 Segundo Reinado: organização social, política e econômica ..........................................104
7.2 Eleições do Cacete: violência na política imperial ................................................................106
7.3 A Praieira: Pernambuco (1848) .....................................................................................................108
7.4O parlamentarismo às avessas: fortalecimento de Pedro II ..............................................112
8 II REINADO: APOGEU E CRISE ..................................................................................................................115
8.1 Conflitos no Sul e a Guerra do Paraguai ..................................................................................117
8.2 Economia: modernizações e crises ..............................................................................................125
8.3 Expansão do café e imigração ......................................................................................................132
8.4 Mais revoltas e a crise final do Império ....................................................................................140
8.5 Abolicionismo ......................................................................................................................................142
8.6 Do aumento das críticas à monarquia ou a degringolada ................................................148
8.7 Os militares e o positivismo ...........................................................................................................151
8.8 II Reinado: momentos finais ou o golpe de 15 de novembro ..........................................153
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APRESENTAÇÃO
A disciplina de História do Brasil Império, cujo livro‑texto agora se apresenta, tem como objetivo 
primordial oferecer um olhar sobre a história do Império do Brasil, desde sua fundação em 1822 até seus 
momentos finais em 1889.
Nossa concepção partiu da ideia de que considerar Império a obra política de Pedro I ou de Pedro II 
não contribui para se entender a construção do Estado nacional brasileiro que, no fundo, é do que se 
trata politicamente a estruturação do Império do Brasil no decorrer do século XIX.
Nos últimos anos, o estudo do período da História do Brasil conhecido como Império tem levantado 
novos problemas e abordagens. Os novos olhares fogem bastante aos esquemas mais tradicionalistas 
que buscaram justificar a existência do Estado e da Nação brasileiros como o feito de algumas grandes 
personagens alçadas à condição de próceres da Nação.
Os debates relativos ao Império precisam superar as armadilhas que certas datas nos impõem para 
que possamos avançar na compreensão de importantes aspectos da História do Brasil ao longo do 
século XIX.
O período que se estendeu de 1822 até 1889 é bastante longo e passou por momentos distintos 
conhecidos como I Reinado (1822‑1831), Período Regencial (1831‑1840) e, por fim, II Reinado 
(1840‑1889). E seus diferentes aspectos políticos, econômicos e sociais serão abordados em cada uma 
das três unidades que agora apresentamos.
A Unidade I inicia‑se com a apresentação do quadro geral de crise do Antigo Regime e do Antigo 
Sistema Colonial. Essa crise não ocorreu em um único país, mas em quase todo o mundo ocidental, 
representando a emergência de uma nova classe social: a burguesia, e a contestação à ordem absolutista 
de tipo estamental ainda vigente.
O liberalismo político, os ataques napoleônicos e a fuga da família real portuguesa com a sua corte para 
o Brasil simbolizam muito bem a agudização da crise que demonstraremos ocorrer no mundo português.
Em seguida apresentamos a construção do Estado português na América e as consequências para 
ambos os lados do Atlântico, inclusive com o Vintismo português. Assim, chegaremos ao problema 
fundamental para se compreender o período: os vários sentidos da Independência do Brasil e suas 
múltiplas possibilidades expostas; logo, analisaremos quais projetos políticos foram vitoriosos e quais 
foram derrotados. Dessa forma, apresentaremos o Primeiro Reinado propriamente dito (1822‑1831), 
com a construção da persona de Pedro I, a Constituição de 1824, o Poder Moderador, o voto nessa 
constituição e a revolta da Confederação do Equador, que foi severamente reprimida em nome da 
ordem constitucional ou mesmo da “Boa Ordem”.
Buscando enfatizar que o Estado nacional não se apresentou no Brasil pronto em 1822, indicaremos 
as crises do Primeiro Reinado que levaram à abdicação de Pedro I e ao seu retorno para Portugal, onde 
morre como Pedro IV.
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A Unidade II inicia‑se com o quadro geral da crise no Brasil devido à volta de Pedro I para Portugal, 
uma vez que o herdeiro do trono é menor de idade. Nesse momento, foi apresentada a difícil construção 
da ordem, pois em 1831 e, pelo menos, até o Ato Adicional de 1834, a tensão entre centralização e 
descentralização era um sério risco ao Império. Passando pelas diferentes Regências (Trina Provisória, 
Trina Permanente, Una comandada pelos liberais e, por fim, Una comandada pelos conservadores) ficam 
expostas as dificuldades do universo da política às quais as populações não estavam alheias, apesar de 
apartadas das decisões políticas no centro do Império.
Assim, as muitas revoltas que abalaram o Império foram apresentadas e discutidas, não como simples 
fases a serem superadas na manutenção de nosso país, já definido em 1822, mas como movimentos 
particulares que, a seu modo, contestaram a ordem que se buscava estabelecer. O conturbado período 
das Rebeliões Regenciais apresentou‑nos o problema da própria sobrevivência do Brasil como Estado 
imperial.
A Unidade III tem a particularidade de abarcar um período longo em aspectos temporais, no qual o 
Estado Imperial afirmava‑se como ordem política. Ao iniciar com o Golpe da Maioridade, procuramos 
esclarecer que o gesto forte e simbólico de coroar o herdeiro do trono não garantiu a estabilidade, uma 
vez que diversas revoltas continuavam a ocorrer.
A articulação política em torno da acomodação das elites liberais e conservadoras, bem com a 
superação de grandes revoltas, ainda marcaram os anos iniciais do Segundo Reinado, que se estendeu 
de 1840 até 1889. A política do Parlamentarismo às Avessas, um recurso de estabilização na década de 
1840, marcou o início da organização e do apogeu político do Império, mas, como a história não para, 
tampouco acaba, a estrutura política foi também constantemente afetada pelas mudanças sociais e 
econômicas do século XIX.
O dinamismo da era foi, no século XIX, uma das marcas da economia do Brasil, apesar do arcaísmo 
social e da mentalidade fundamentalmente retrógrada das elites latifundiárias. Nesse sentido, 
abordaremos a expansão do café, das comunicações, das cidades e do comércio e o desenvolvimento de 
um momento singular, que foi apelidado de Era Mauá.
O apogeu e a crise do império foram marcados pelo avento externo da Guerra do Paraguai que aqui 
foi apresentada, não para comprovar a superioridade de um povo sobre outro, mas pelo fato de como ela 
era percebida em sua época, ou seja, pela destruição, pelo consumo de recursos sociais essenciais e, mais 
que tudo, pelos impactos na vida das pessoas das mais variadas origens sociais. A Guerra do Paraguai, 
chamada, por ninguém menos do que Caxias, de maldita, representou um momento de inflexão e, com 
isso, passamos a abordar a crise do Império.
A crise política com o republicanismo, o federalismo e o positivismo, teve ainda aspectos econômicos, 
religiosos e sociais, pois pensar o Império era pensar a manutenção da escravidão. Logo, os esforços 
desprendidos para sua manutenção ou para a sua abolição definitiva ocuparam a centralidade nos 
debates políticos e sociais nas décadas de 1870 e 1880.
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INTRODUÇÃO
Nossa visão foi marcada pelos aspectos sociopolíticos e econômicos, procurando abordar os impactos 
da realidade nas vidas das pessoas de carne e osso e não apenas em figuras com retratos e nomes que 
às vezes podem soar apenas como aquelas coisas que aconteceram há tanto tempo.
Ao longo de todo o texto e em todas as unidadesbuscamos apresentar imagens que pudessem 
esclarecer o aspecto abordado nos textos, mas na Unidade III enfatizamos um recurso um pouco 
diferente que foi a apresentação também, e em escala maior, de documentos históricos e de tabelas, pois 
acreditamos ser fundamental a familiarização com esses recursos, tanto para melhor compreender os 
conteúdos apresentados como para poder utilizar como subsídios para discussões em sala de aula. Dessa 
maneira, a crise do Segundo Reinado que culminou na Proclamação da República proporcionou que 
apresentássemos diversos documentos, o que nos pareceu enriquecedor para a capacidade de entender 
a época. Nas palavras de Novais (1985), na apresentação da Coleção Estudos Históricos em seu livro 
Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777‑1808), o mestre de muitos de historiadores 
e professores de história afirma que “conhecer o passado é a única maneira de nos libertarmos dele, 
isto é, destruir os seus mitos”, frase breve que nos serve como norte nas muitas discussões que aqui 
apresentaremos.
Conforme Holanda (apud MARTINS, 1990) pontuou, 
para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe, 
não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição 
escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que 
enchem o panorama da História e são muitas vezes mais interessantes e 
mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a história.
Lucien Febvre, a respeito da História, teria dito:
eu qualifico a história como estudo cientificamente conduzido [...] a 
necessidade de retomar, refazer, repensar, quando preciso e desde que seja 
preciso, os resultados conquistados para readaptá‑los às concepções e, 
através delas, às condições de existência novas que o tempo e os homens, 
no quadro do tempo, não cessam de imaginar.
E por último e não menos importante, as palavras de Pierre Vilar (apud COHEN, 2007, p. 56), quando 
afirma que “é preciso compreender o passado para conhecer o presente”.
Assim, esclarecemos que essas são as maiores preocupações que conduziram nossas discussões, 
aqui apresentadas, e que perpassaram todo o período que abordamos para podermos compreender os 
aspectos mais importantes da construção da ordem imperial no Brasil e do Estado nacional, tratando de 
sua origem, tensões, contradições e conflitos, e de seu apogeu e queda em 1889.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Unidade I
REINADO (1822‑1831)
Na Unidade I, vamos apresentar uma visão a respeito do I Reinado (1822‑1831) que vai desde suas 
origens até sua crise final. Nossa intenção é desenvolver a noção da existência de uma história integrada 
que vai para além das fronteiras do Estado Nacional. Assim, as problematizações devem começar na 
crise do Antigo Regime Português, anteriores, portanto, ao 7 de setembro de 1822. Para isso, nosso olhar 
deve voltar‑se para o contexto do final do século XVIII e início do século XIX, quando da Independência 
do Brasil, ressaltando as dificuldades, articulações e alternativas que se apresentavam na construção e 
organização do Primeiro Reinado.
1 A CRISE DO ANTIGO REGIME E DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL 
PORTUGUÊS: A CORTE NO BRASIL
A crise que levou à desintegração do Império Colonial Português, entre o final do século XVIII e o 
início do século XIX, fez surgir um novo mundo no qual a independência do Brasil marcaria o início da 
construção de um estado‑nação que lutaria muito no decorrer do século XIX por sua consolidação.
A Independência do Brasil, considerada por muitos como um evento ocorrido em 1822, não é, de 
modo algum, um acontecimento isolado em nossa História. Para entender alguns de seus diversos 
significados é preciso retroceder aos momentos de agudização da crise final do Antigo Sistema Colonial 
Português nas Américas.
O final do século XVIII, com a Revolução Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789, foi 
marcado pelo rompimento das estruturas do Antigo Sistema Colonial e do Antigo Regime que, somados 
às consequências da Era Napoleônica (1799‑1815), irá transformar significativamente o universo político 
de ambos os lados do Atlântico.
O Império português foi literalmente sacudido pelos diversos acontecimentos que irão contribuir 
para o rompimento definitivo entre Portugal e o Brasil, que nesse momento não era mais uma simples 
colônia portuguesa, pois já havia sido elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, desde 
1815. As revoluções que convulsionaram a Europa no período de fins do século XVIII e início do XIX 
também tiveram sua expressão portuguesa e em 1820 ocorre em Portugal a Revolução Liberal e 
Constitucional do Porto.
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Unidade I
Figura 1 – Europa no tempo de Napoleão Bonaparte
Em 7 de março de 1808 desembarcava no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, a Família Real 
Portuguesa e sua Corte. A bem sucedida fuga da invasão napoleônica proporcionou a sobrevivência 
da Coroa dos Bragança num momento em que parecia impossível o pequeno Reino de Portugal resistir 
ao imperador dos franceses. Caso único na história mundial, o corpo político da corte metropolitana 
transferia‑se para a uma colônia, buscando sobreviver às mudanças em uma época bastante agitada.
Ao contrário do que frequentemente se imagina, não se tratava de fuga 
ou de medida covarde para não ter que enfrentar graves circunstâncias. 
Na opinião dos principais homens públicos de Portugal, naquela época a 
transferência da Corte era uma decisão que, por vários motivos, mostrava 
esperteza. Primeiro, estaria resguardada a parte mais rica dos domínios 
portugueses, já que o governo de D. João sabia das intenções da França 
e da Espanha de partilharem as possessões coloniais lusitanas, caso se 
concretizasse a invasão do Reino. Segundo, asseguraria nas mãos da família 
real de Bragança a Coroa Portuguesa. E, finalmente, era uma forma de os 
grupos dirigentes portugueses se precaverem também diante dos interesses 
dos ingleses e da provável desorganização do domínio português na América 
(OLIVEIRA, 1995, p. 54).
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Após a chegada da esquadra do almirante inglês Sidney Smith à Bahia em 22 de janeiro, o príncipe 
regente de Portugal Dom João assinou o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas e com isso o 
status de colônia foi abalado em sua essência, pois o exclusivo metropolitano que o sustentava deixava 
de existir. Mesmo não tendo sido elevado a Reino, como acontecerá em 1815, a América Portuguesa já 
sentia os efeitos nos novos tempos.
Exemplo de aplicação
Como um importante recurso para organizar informações de ordem econômica e material, além 
da escala das pessoas, e para melhor percebermos as mudanças que se desenvolveram na sociedade 
brasileira no decorrer de todo o século XIX, lançaremos mão de um recurso importante para 
apresentar esses dados, ou seja, faremos o uso de tabelas. Pode, no primeiro momento, aparentar 
ser uma forma um tanto quanto arcaica, mas nos justificamos com a preocupação em oferecer, 
sempre que possível, os números, os produtos e as mudanças, da forma mais sistematizada possível 
para que seja facilitada a observação e também a posterior consulta de uma informação ou dado 
aqui lançado.
Vale ressaltar, ainda, que é fundamental saber ler e interpretar tabelas e listas, e, assim, conseguir 
construir as escalas e grandezas representadas. Observar valores e saber compreendê‑los em si e em 
relação aos demais é fundamental na organização do raciocínio para uma aula, por exemplo.
O que significa dizer que o café é o maior produto de exportação? Quer dizer que era 30% do 
total e o resto estava pulverizado entre os demais? Que era 51%? Que era 90%? Assim, consideramos 
fundamental a prática dessa leitura de grandezaspara a familiarização e uso das informações da maneira 
mais adequada possível. Portanto, ao longo de nosso texto, será frequente a apresentação de tabelas e 
listas, para que essa familiarização comece a ser construída.
O comércio recebeu um grande impulso, conforme demonstra a entrada de navios no Rio de Janeiro.
Tabela 1 
Anos Portugueses Estrangeiros 
1808 756 90
1810 1214 422
1819 1313 340
1820 1311 354
Fonte: Teixeira (1993, p. 60).
A diversidade de produtos e também das origens desses produtos dá a medida da complexidade do 
momento, onde a ruptura dos laços coloniais inaugura uma nova realidade econômica pautada pelo 
dinamismo e pelo liberalismo econômico, bem ao estilo das mudanças relacionadas com revolução 
industrial que se acelerava e conquistava mercados pelo mundo.
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Unidade I
Ainda como indica Teixeira (1993, p. 60‑1) o quadro de produtos importados e seus respectivos 
locais de origem permite‑nos observar o que foi assinalado:
Quadro 1 
Artigos importados Locais de origem
Vinhos, azeite, trigo, biscoitos, sal, manteiga, vinagre, bacalhau Portugal
Tecidos de lã, chitas, linhos, porcelanas, ferro, chumbo, cobre, zinco Inglaterra
Jóias, móveis, velas, medicamentos, licores finos, pinturas, gravuras em cobre França
Cerveja, objetos de vidro, lãs, papel Holanda
Relógios, pianos, espingardas, estojos de lã Áustria
Objetos de ferro e latão, brinquedos de Nuremberg Alemanha
Cereais, velas, biscoitos, azeite de baleia, alcatrão, couros, breu, móveis Estados Unidos
Escravos, ouro em pó, ébano, marfim, pimenta, cera, óleos, enxofre, gomas África
Porcelanas, chás, tintas, canela, cânfora, sedas Macau
Fonte: Teixeira (1993, p. 60‑1).
O seguinte quadro, que demonstra quais eram os produtos exportados e a partir de quais portos, 
também lança o olhar sobre o dinamismo econômico e assinala a complexidade existente na região, que 
não era um mundo estático e completamente submisso exclusivamente aos ditames externos.
Quadro 2 
Artigos exportados Portos brasileiros
Açúcar, café, algodão, couros de boi, fumo Rio de Janeiro
Cachaça, melado, azeite de baleia, couros, arroz, cacau, drogas nativas Salvador
Algodão e açúcar Recife
Algodão Fortaleza
Algodão, arroz, couros curtidos, solas, polvilhos São Luis
Açúcar, cachaça, melado, café, cacau, baunilha Belém
Açúcar, couros, arroz, anil Santos
Carne seca, sebo, graxa, couros de boi e de égua e chifres Rio Grande
Fonte: Teixeira (1993, p. 61).
Conforme ressaltou Dias (2005, p. 12), a vinda da Corte para o Brasil e a opção de fundar um novo 
Império nos trópicos já significaram em si uma ruptura interna nos setores políticos do velho reino.
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Figura 2 – D. João VI. Regente do Império Português que conseguiu 
enganar Napoleão, decretou a Abertura dos Portos rompendo o Pacto Colonial 
e elevou o Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves
O significado da Abertura dos Portos foi, de imediato, a presença do capitalismo inglês nos 
moldes do liberalismo do século XIX, e assim o Rio de Janeiro foi inundado por lojas inglesas dos 
mais diversos artigos. Além disso, a assinatura dos Tratados de Aliança e Amizade, Comércio e 
Navegação com os ingleses em 1810 dava a eles uma condição privilegiada em relação ao comércio 
com o Brasil.
A capital rapidamente se modernizava em diversos setores com a instalação de Ministérios (do 
Reino, Marinha e Ultramar e também da Guerra) e com a criação do Erário Régio (depois Ministério 
da Fazenda em 1821), da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordem, do Conselho de 
Estado, do Conselho da Fazenda e Supremo Conselho Militar, do Banco do Brasil (1808), da Biblioteca 
Real, das Juntas do Comércio, da Agricultura e da Navegação, além da Academia Militar, da Marinha e 
da Imprensa Régia. Havia também a presença de artistas, cientistas e viajantes com a chamada Missão 
Francesa em 1816.
Com todas essas mudanças, o Rio de Janeiro deixava a condição de capital de uma colônia para 
abrigar as mais altas instâncias do poder português num movimento consagrado – na expressão de Dias 
(2005), a “interiorização da metrópole”. A sofisticação ocorria em vários aspectos que eram sentidos 
no dia a dia da população, influenciando a sociedade, a economia, os impostos, as artes e mesmo os 
padrões de sociabilidade.
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Unidade I
 Observação
A presença da corte portuguesa no Brasil e a internacionalização do 
comércio brasileiro alteravam a vida provinciana que caracterizava nossa 
capital administrativa. Em 1816 o Rio de Janeiro já era um importante 
centro comercial e cultural, contando com mais de 110.000 habitantes. A 
alfândega carioca transbordava de produtos ingleses e já havia mais de 30 
casas de negócios estabelecidas no Brasil, em conexão com firmas inglesas. 
Em 1824, de 53 negociantes estrangeiros estabelecidos no Brasil, 40 eram 
ingleses, que dominavam o mercado de tecidos e metais (TEIXEIRA, 1993, 
p. 62).
Figura 3 – Vista da Baía de Guanabara no início do século XIX, em pintura de F. E. Taunay
A Abertura dos Portos em 1808, na prática, abolia o status colonial do Brasil, os tratados de 1810 
davam uma condição preferencial aos ingleses, logo, a condição de economia fechada e exclusiva para 
a metrópole lusa acabava definitivamente.
As mudanças do lado de cá do Atlântico ocorreram não sem consequências para Portugal, uma vez 
que o próprio príncipe regente estava ausente, pois a invasão napoleônica era inconteste, mas, com a 
queda de Napoleão em 1815 e a restauração das antigas dinastias europeias em seus tronos, caberia 
aos Bragança decidir se voltariam de uma vez por todas a Portugal ou se manteriam a Coroa em solo 
americano.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Figura 4 – Carta de D. João VI de elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves
 Saiba mais
Indicamos, como forma de ilustrar a época, o filme:
CARLOTA Joaquina: Princesa do Brasil. Dir. Carla Camurati. Brasil: 
Copacabana Filmes e Produções, 1995, 100 min.
E ainda como forma alternativa de familiarização, indicamos os 
quadrinhos:
SCHWARCZ, L. M.; SPACCA, D. João Carioca: a corte portuguesa chega 
ao Brasil – 1808‑1821. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
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Unidade I
Retornar ao Reino na Europa significaria, de imediato, o confronto da Coroa com setores 
liberais portugueses descontentes com aquilo que era percebido como uma inversão de papeis, 
quando Portugal mais parecia ser a colônia do que a metrópole. Permanecer no Rio de Janeiro, 
no entanto, não era a solução automática, uma vez que poderia significar abrir fissuras no 
Império Português, que poderia não resistir às mudanças. A perspectiva no Rio de Janeiro de 
perder a Corte também mobilizava projetos políticos, conforme o parecer de Silvestre Pinheiro 
Ferreira (apud SOUZA, 1999, p. 56):
A questão de Estado, que se agita sobre o regresso da Corte de V. A. R. para 
a Europa, e sobre a qual V. A. R., por efeito de Sua Alta Benevolência, se 
há dignado de ordenar‑me que diga o meu parecer, é sem dúvida um dos 
maiores problemas políticos, que jamais soberano algum teve de resolver. 
[...] Trata‑se de nada menos que de suspender e dissipar a torrente de males, 
com que a vertigem revolucionária do século, o exemplo dos povos vizinhos, 
e a mal entendida política que vai devastando a Europa, ameaçam de uma 
próxima dissolução, e de total ruína os Estados de V. A. R., espalhados pelas 
cinco partes do mundo: quer seja pela emancipação das colônias, no caso 
de V. A. R. regressar para a Europa: quer seja pela insurreição do Reino de 
Portugal, se aqueles povos,perdida a esperança que ainda os anima, de 
tornarem a ver seu amado Príncipe, se julgarem reduzidos à humilhante 
qualidade de colônia.
1.1 Liberalismo político e crise na América Portuguesa
Devemos lembrar, inicialmente, que D. João VI e sua corte estavam no Brasil desde 1808; que a 
Abertura dos Portos às Nações Amigas e os Tratados de Aliança e Amizade, Comércio e Navegação 
com os ingleses ocasionou certa inversão de papeis entre a metrópole e a colônia. Além disso, D. João 
havia assinado também a liberação das fábricas no Brasil. Contudo, havia também a percepção em 
diversas regiões da América Portuguesa de que a Corte no Rio de Janeiro era excessivamente custosa 
e que, afinal de contas, os benefícios de sua existência não eram tão significativos assim. Apesar da 
liberalização econômica em alguns setores, noutros as práticas mercantis monopolistas não haviam 
sido modificadas.
Ao mesmo tempo, a arrecadação de impostos instituída pelo Real Erário 
em 1812 recaía, em Pernambuco, não só sobre os gêneros exportáveis, mas 
especialmente sobre aqueles de consumo interno, como alimentos. Some‑se 
a isso a baixa nos preços de seus principais produtos iniciada naquele 
mesmo ano, o resultado é uma insatisfação bastante generalizada com o 
governo do Rio de Janeiro entre setores mercantis e agrários de Pernambuco 
e capitanias adjacentes (SLEMIAN, 2003, p.43).
Tal foi o que ocorreu em Pernambuco em 1817, quando irrompeu uma Revolução Republicana que 
procurou articular as capitanias próximas na fundação de uma República que romperia com o Rio de 
Janeiro, como efetivamente o fez, entre março e maio, tendo inclusive governo e bandeira própria.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
A repressão ao movimento rebelde expõe uma das faces do Antigo Regime que sobrevivia no 
século XIX, a saber, a extrema violência de que lançava mão para conter ameaças de rupturas internas. 
O movimento de 1817 em Pernambuco funciona como uma reação, nas palavras de Slemian (2003), 
como algo que se voltou contra aquilo que era considerado uma excessiva e indevida centralização do 
governo das capitanias do Brasil nas mãos do Rio de Janeiro. O movimento pernambucano reivindicava 
antes autonomia do que soberania. E ainda, nas palavras de D. João, um “horrível atentado contra 
a Minha Real Soberania e Suprema Autoridade, que uns malévolos indignos do nome português [...] 
se atreveram a cometer (SLEMIAN, 2003, p. 43)”. Vale lembrar que ainda estavam num contexto de 
Antigo Regime e, dessa maneira, as punições seriam, como impunha a tradição, severas, cruéis e 
exemplares – inclusive com desmembramentos e cenas espetaculares de sangue e afirmação do poder 
dos monarcas.
Centenas de homens foram presos e condenados. A alguns foi aplicada esta 
sentença: Depois de mortos são cortadas as mãos, e decepadas as cabeças, 
se pregarão em postes a saber: a cabeça do primeiro réu na Soledade e as 
mãos no quartel; a cabeça do segundo em Olinda e as mãos no quartel; 
a cabeça do terceiro em Itamaracá, e as mãos em Goiana; e o resto dos 
seus cadáveres será ligado a caudas de cavalos e arrastado até o cemitério 
(SLEMIAN, 2003, p. 43‑4).
O Império Português sobrevivera a mais essa crise e ao republicanismo que já havia produzido 
significativos movimentos no final do século XVIII, como foram os casos da Inconfidência Mineira 
de 1789 e do Movimento dos Alfaiates, na Bahia, em 1798. No entanto, o caráter emancipacionista 
presente nesses movimentos de contestação demonstra a gravidade da época. Projetos alternativos 
não são apenas pensados e planejados, são também executados e violentamente contidos. Para Slemian 
(2003, p. 47), os projetos, as práticas políticas, os temores e os novos paradigmas de ação advindos da 
revolução de Pernambuco serão responsáveis por uma importante redefinição no jogo de luta política 
em curso no Império Português.
A partir de 1817, as alternativas anteriormente esboçadas em resposta à crise que, cada vez mais, se 
fazia perceptível e angustiosa aos homens da época irão cristalizar‑se em torno de projetos mais definidos 
e, por isso mesmo, mais incompatíveis entre si. A consolidação da ideia de que a heterogeneidade do 
Império carecia, nos novos tempos, de sustentação, chegará com um movimento de reação peninsular, 
de cuja resposta americana surgirão as condições para a concretização de um Brasil politicamente 
autônomo e soberano.
De maneira geral, nos diversos movimentos que tiveram características emancipacionistas, 
de acordo com Oliveira (1995, p. 37), a decisão de romper com a metrópole foi adotada 
porque, na interpretação dos protagonistas, os problemas que os afligiam somente poderiam 
ser solucionados caso conquistassem a liberdade para administrar os negócios públicos. Mas 
a ruptura com a política metropolitana significava também o questionamento das práticas do 
Antigo Regime.
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Unidade I
 Lembrete
Ao falar em emancipacionismo cabe especificar que eram movimentos 
que optaram pela ruptura política com a metrópole, escolhendo como 
alternativa não pertencer mais ao Antigo Regime e ao Sistema Colonial. 
São importantes exemplos nesse sentido a Inconfidência Mineira de 1789, 
a Inconfidência Baiana de 1789, também conhecida como movimento dos 
alfaiates, e ainda a Revolução de 1817 em Pernambuco.
Esses três movimentos são radicalmente diferentes dos movimentos 
nativistas anteriores, como a Guerra dos Emboabas, a Revolta de Nosso Pai, 
a Botada dos Padres para Fora, a Aclamação de Amador Bueno, a Revolta de 
Filipe dos Santos, a Revolta dos Beckman ou o caso da Guerra dos Mascates, 
pois nesses casos não estava na agenda a ruptura e sim o reajuste para 
poder permanecer naquele mundo que era português.
1.2 Revolução Liberal e Constitucional do Porto (1820)
A Europa, no início do século XIX, fora convulsionada pela expansão napoleônica e após sua queda 
e prisão em Santa Helena, em 1815, sentira o peso da reação absolutista deflagrada pelo Congresso 
de Viena e pela Santa Aliança. Uma das expressões políticas desse momento foi o aparecimento de 
reivindicações de natureza constitucionalista seguindo, portanto, moldes liberais revolucionários para 
a época. No entanto, também é muito importante para os atores envolvidos na crise a ideia geral da 
possibilidade de regeneração do quadro que rapidamente se deteriorava.
No caso de Portugal, o Manifesto aos Portugueses, de 24 de agosto de 1820, de Fernandes Tomás, 
trazia escrito:
[...] para cúmulo de desventura deixou de viver entre nós o nosso adorável 
soberano. Portugueses! Desde esse dia fatal contamos nossas desgraças 
pelos momentos que têm durado a nossa orfandade [...] Tenhamos, pois, 
essa constituição e tornaremos a ser venturosos. O senhor D. João VI, nosso 
adorado monarca, tem deixado de a dar porque ignora nossos desejos [...]. 
Não nos intimideis, portanto, porque decerto não atraiçoais os sentimentos 
de vossa natural fidelidade [...]. A mudança que fazemos não ataca as partes 
estáveis da monarquia (SLEMIAN, 2003, p. 51).
Considerando o teor monarquista e também propositivo de uma constituição para o Império 
Português, limites seriam impostos ao rei por meio da criação de uma Monarquia Constitucional. Era 
o início da Revolução Constitucional e Liberal do Porto, que mais tarde seria transferida para Lisboa e 
transformada em um uma espécie de congresso do mundo lusitano. A crise, instaurada há muito no 
Império, ganhava, então, um projeto político como sua expressão.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
A ação dos revolucionários, a partir do Porto, transfere‑se para Lisboa e lá são estabelecidas as Cortes 
(espécie de Assembleia Constituinte) sob a designação de Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes 
da Nação Portuguesa. Cabe, nesse momento,indagar quem fazia parte da Nação Portuguesa. A resposta 
não é tão óbvia quanto pode parecer, pois quem nascia no Brasil também era membro desse grupo 
identitário. Foram eleitos deputados para as Cortes em Portugal e também no Brasil.
O liberalismo se alastrava nesse momento pelo Brasil com o aparecimento de Juntas de governo 
no Pará, na Bahia e que se relacionavam com o poder de Lisboa, afastando‑se do Rio de Janeiro, onde 
estava D. João VI. A tensão, incertezas e ameaças de fragmentação do Império exercem pressão sobre 
o rei, ao mesmo tempo que no Rio de Janeiro se exigia a adesão do monarca ao liberalismo. Pedro, 
filho de D. João VI e herdeiro da Coroa de Portugal, jurou adesão à Constituição que se fazia em Lisboa 
e pouco depois D. João VI parte para Portugal deixando Pedro como regente. O rei D. João, revelando 
posteriormente que jurou as bases da Constituição devido às pressões, teria dito: “algum dia fez‑se 
alguém jurar o que ainda não se conhece e talvez nem exista?” (LUSTOSA, 2006, p. 104).
Note‑se que ele, Pedro, ainda não tinha condições de exercer uma autoridade sobre todo o Brasil, 
uma vez que o Pará e a Bahia se aproximavam do governo de Lisboa, bem como ocorreu em Goiás, no 
Rio Grande do Sul e no, então, Norte do Brasil (atual Nordeste). A tensão do liberalismo das Cortes faz‑se 
presente no Brasil quando serão formadas as Juntas de Governo e assim fica evidente a oposição de 
interesses entre Lisboa e o Rio de Janeiro.
Em 26 de abril de 1821, D. João VI partira para Portugal e Pedro, seu filho mais velho, ficou no 
Brasil como Regente. Pouco antes do embarque D. João teria expressado na última reunião em que 
estivera presente com seu Conselho de Estado no Rio de Janeiro: “Que remédio, Silvestre Pinheiro! 
Fomos vencidos!” (LUSTOSA, 2006, p. 110).
 Observação
As Juntas de Governo também surgiram na América Espanhola, no momento 
da desagregação do Império Colonial Espanhol, quando as elites criollas resolveram 
tomar para si o poder político e assim romperam com a metrópole, deflagrando 
um movimento sangrento, demorado e que provocaria a fragmentação do 
mundo colonial espanhol em diversas novas nações no decorrer do século XIX.
O Congresso de Viena foi uma reunião das potências europeias após a derrota de Napoleão, tendo 
como principais participantes os vendedores de Napoleão e mais a própria França. Foram os debates 
tensionados pelas discussões entre os Princípios da Legitimidade das Dinastias Derrubadas, defendida 
pelo francês Talleyrand, e o Principio do Intervencionismo, do austríaco Metternich. Sua expressão 
armada foi a Santa Aliança (composta por forças da Áustria, Rússia e Prússia), tendo como missão 
combater quaisquer possibilidades de eclosão de movimentos liberais na Europa, e mesmo fora dela. 
Dessa forma, havia pressões para a Europa retornar ao mundo anterior à própria Revolução Francesa, o 
que era profundamente conservador e reacionário, mas também refletia em ameaças às independências 
na América, sempre com receio de um ataque direto das principais potências.
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Unidade I
 Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o caso da América 
Portuguesa, indicamos a leitura:
BERNARDES, D. O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820‑1822. 
São Paulo: Hucitec, 2006.
2 SETE DE SETEMBRO DE 1822: INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?
A partida de D. João VI, D. Carlota Joaquina e a corte para a Europa, em função das pressões das Cortes 
de Lisboa, evidenciava o avanço do liberalismo em Portugal e a percepção da gravidade do momento; 
no entanto, Pedro ficou no Brasil, o que demonstrava, também, que não haveria uma subordinação tão 
imediata às ordens chegadas de Portugal.
Figura 5 – D. Pedro, então regente no Rio de Janeiro, 
tornar‑se‑ia Pedro I, Imperador do Brasil
O Rio de Janeiro havia crescido economicamente e politicamente com a corte e a ideia de recondução 
ao status colonial assombrava a elite econômica local – composta por comerciantes portugueses, 
latifundiários da região e das províncias no entorno.
Os principais articuladores políticos buscaram, na figura de Pedro, manter a condição recém alcançada 
no Império Português. O Senado da Câmara do Rio de Janeiro e a imprensa extremamente ativa naquele 
momento são espaços privilegiados da política por volta de 1821‑1822.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Naquele momento, no Rio de Janeiro, apareceram os periódicos: Revérbero Constitucional; O 
Espelho; A Malagueta; O Conciliador do Reino Unido; A Sabatina Familiar; O Regulador Brasílico Luso 
e o Correio do Rio de Janeiro. Assinaram folhetos para marcar sua posição e atuar na esfera da opinião 
pública, que emergia, pela primeira vez, neste início da década de 1820: José Bonifácio, padre Perereca, 
José Clemente Pereira, Martim Francisco de Andrada, Silva Porto, Raimundo José da Cunha Mattos, Luis 
Pereira da Nóbrega Coutinho, todos mobilizados pela ideia de felicidade geral da nação, considerada 
como obra política, conforme indica Souza (1999, p. 121).
O jornalismo, em princípios da década de 1820, ganhava viés político, mas desde 1808 essas tendências 
já se faziam sentir no mundo lusófono. O Correio Braziliense era publicado em Londres por Hipólito José 
da Costa desde 1808, criticando Portugal abertamente e propugnando que D. João ficasse na porção 
americana de seus domínios, chegando mesmo a tratar da Independência do Brasil contra as cortes.
Em 1821, segundo Lustosa (2006, p. 126‑7), três jornais saudavam a união luso‑brasileira: O Amigo 
do Rei e da Nação, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva; O Bem da Ordem, do cônego Francisco Vieira 
Goulart; e O Conciliador do Reino Unido, de José da Silva Lisboa. Ainda em 1821, o Revérbero, do 
maçom Joaquim Gonçalves Ledo, O Espelho, A Malagueta e a Gazeta do Rio de Janeiro, além da revista O 
Patriota, repercutiam os debates políticos. Em termos de valor, já se questionou, inclusive, a possibilidade 
do acesso da população às folhas que circulavam na capital, pois o Diário do Rio de Janeiro custava 20 
réis, o valor equivalente a uma porção de manteiga, enquanto uma empada de recheio de ave custava 
100 réis; um arrátel [equivalente a 459 gramas] de linguiça, 280 réis; e um quartilho [0,6655 litro] de 
tinta para escrever, 320 réis. As tiragens eram pequenas, cerca de 200 a 500 exemplares.
Era uma verdadeira guerra de publicações que se desenvolvia, chegando até mesmo aos não letrados, 
pois aqueles que liam contavam, recontavam e popularizavam o debate. A leitura era coletiva em praça 
pública e também nas tavernas. Diversas propostas geravam discussões e polêmicas e as articulações 
transformam‑se em projetos políticos.
As pressões políticas eram sentidas dos dois lados do Atlântico e rapidamente as articulações em 
Portugal ganham características de exigências de que o príncipe Pedro, regente no Rio de Janeiro, 
retorne a Portugal. A notícia foi sentida no Rio de Janeiro como um golpe, pois em Lisboa articulava‑se 
um movimento potencialmente ameaçador. Os grupos políticos do Rio de Janeiro, de São Paulo, de 
Minas Gerais e da Bahia articulavam‑se no sentido de manter um governo na América e isso deveria 
ser equacionado com uma monarquia constitucional. Algumas ações da Revolução de 1820, em certo 
sentido, passam a ser vistas como uma possibilidade de recolonização do Brasil, seja politicamente, seja 
economicamente.
Os projetos políticos articulados no momento da Regência de Pedro no Rio de Janeiro dão a clara 
dimensão de que não havia uma única possibilidade a seguir. O poder de Pedro no Rio de Janeiro não se 
estendia automaticamente às demais províncias e havia quem desconfiasse das vantagens políticas do 
fortalecimento de Pedro e de sua adesão ao constitucionalismo. Mesmo no Rio de Janeiro, importantes 
figuras como Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa e João SoaresLisboa 
articulavam‑se para contrabalançar o poder do regente por meio de um legislativo muito mais forte, 
fruto das discussões liberais da época e do constitucionalismo que ganhava corpo.
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Unidade I
Os decretos das Cortes de Lisboa que começaram a chegar ao Rio de Janeiro tornaram a situação 
ainda mais crítica. Em primeiro lugar, eram assinados antes mesmo de que alguns dos representantes 
eleitos na América Portuguesa tivessem tomado assento na assembleia. As eleições foram realizadas 
entre 15 e 16 de maio de 1821, sendo escolhidos os deputados do Brasil às Cortes de Lisboa. Logo em 
seguida chegava de Portugal a notícia da promulgação das bases da Constituição.
A ausência dos deputados do Brasil fazia com que as medidas tomadas do outro lado do Atlântico 
fossem percebidas como unilaterais, não por todos os envolvidos nos acontecimentos, mas, pelo menos, 
pelo grupo mais próximo de Pedro.
Figura 6 – Províncias rebeldes
A política era feita em Lisboa e no Rio de Janeiro, num tenso e emaranhado jogo de forças, e que 
naquele momento, permanecia em aberto quanto ao seu desfecho. Emissários do Grão‑Pará noticiaram 
em Lisboa sua adesão às Cortes e não sua adesão a Pedro no Rio de Janeiro. Os deputados de Pernambuco 
tomaram assento em 30 de agosto de 1821 e em 30 de setembro o Congresso aprovava a criação das 
Juntas Provisórias nas províncias, sendo constituídas por cinco ou seis membros.
Os boatos na capital não paravam de circular, chegando mesmo a aparecer publicações desde 
setembro de 1821, e já nos primeiros dias de outubro se afirmava que os brasileiros queriam 
declarar o rompimento definitivo para aclamar Pedro como imperador em 12 de outubro, data de 
seu aniversário.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
 Saiba mais
Indicamos, para que se tenha uma visão da construção de figura de 
Pedro I, o filme:
INDEPENDÊNCIA ou Morte. Dir. Carlos Coimbra. Brasil: Cinedistri, 1972, 
108 min.
O longa foi produzido por ocasião dos 150 anos da Independência do 
Brasil, celebrados num contexto de Ditadura Militar.
Ainda nesse formato, em 2002, foi realizada a minissérie O Quinto dos Infernos, 
cobrindo desde a chegada da Família Real até aspectos da vida de Pedro I.
O QUINTO dos Infernos. Dir. Wolf Maya; Alexandre Avancini. Brasil: Rede 
Globo de Televisão, 2002, 50 min. (48 episódios).
As Cortes de Lisboa enviaram um decreto impondo a volta de Pedro a Portugal, ainda em 1821, e tal 
exigência não passou despercebida como manobra portuguesa. Além disso, as Cortes contrabalançavam 
o poder do Rio de Janeiro sobre as demais províncias convocando eleições locais para a formação das 
Juntas de Governo, até mesmo no Rio de Janeiro.
De acordo com o liberalismo vintista, essas juntas desfrutariam maior 
legitimidade, na medida que eram eleitas. Assim, tentava‑se criar e 
sedimentar uma rede de interlocutores, aliados às Cortes. No Brasil, desde 
o começo de 1821, organizavam‑se governos provisórios nas províncias 
sem se articularem ou se submeterem, obrigatoriamente, a um comando 
do Rio de Janeiro, experimentando uma certa autonomia. Roderick Barman 
chamou a isto de governo de pequenas pátrias, que estaria na origem da 
influência local na administração e nos assuntos fiscais das províncias, 
que caracterizaria a estrutura política do Brasil no Império e impediria 
qualquer tentativa de um forte governo centralizado no Rio de Janeiro 
(SOUZA, 1999, p. 116).
Além disso, as Cortes de Lisboa ordenaram também a existência de Governadores de Armas como 
uma forma de garantir, pela violência, se preciso fosse, subordinação às leis que aprovassem.
Nas palavras de Oliveira (1995, p. 88‑9) os decretos contaram com o aval dos deputados brasileiros já 
presentes em Lisboa, dispostos a reajustar os vínculos entre Brasil e Portugal a partir de uma federação 
de províncias autônomas, que manteriam relações comerciais recíprocas e encontrariam nas Cortes da 
nação portuguesa seu fórum legislativo comum.
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Unidade I
Mesmo existindo a preocupação com a fundação de um novo pacto político que pudesse unir o 
império luso‑brasileiro, como bem notou Souza (1999, p. 129), muitas possibilidades confrontavam‑se 
naquele momento.
As constantes pressões pelo retorno do regente a Portugal exigiam o posicionamento das forças 
políticas no Brasil. Pedro, como regente, era uma parte interessada da discussão, mas havia também 
outros atores políticos.
Sentindo‑se diminuído, D. Pedro queixava‑se em carta ao pai: “Vossa honra, senhor, exige que o vosso 
herdeiro presuntivo seja algo mais que um simples governador de província” (LUSTOSA, 2006, p. 117).
A gravidade do momento era tal que mesmo Pedro não havia se decidido por romper com o pai e 
lhe escrevera dizendo:
Queriam e dizem que me querem aclamar imperador. Protesto a Vossa 
Majestade que nunca serei perjuro, que nunca lhe serei falso; e que eles 
farão essa loucura, mas será depois de eu e todos os portugueses estarem 
feitos em postas, o que juro a Vossa Majestade, escrevendo nesta com o meu 
sangue estas palavras: – Juro sempre ser fiel a Vossa Majestade, à nação e à 
Constituição portuguesa (LUSTOSA, 2006, p. 118).
Apesar de tão elevados protestos de fidelidade ao pai e ao constitucionalismo vintista, ocorreu 
a chegada em 9 de dezembro de 1821 dos Decretos das Cortes, que foram publicados no dia 11 do 
mesmo mês na Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro. O Despertador Brasiliense, um panfleto 
de autoria desconhecida, alardeava que os portugueses fomentavam o cisma, pois a resolução 
das Cortes era “ilegal, injuriosa e impolítica” (LUSTOSA, 2006, p. 119). Logo na sequência foi 
apresentada a Pedro, ainda em dezembro, uma solicitação de que ficasse no Brasil. O manifesto 
de 29 de dezembro de 1821 pedia que Pedro ficasse no Brasil, e entre 8 e 9 de janeiro de 1822 
recebeu cerca de 8.000 assinaturas.
Em janeiro de 1822 Pedro anunciava seu posicionamento frente às pressões das Cortes com uma 
importante recusa de subordinação. Após ter considerado partir para Portugal para juntar‑se ao pai, 
decide pela permanência no Rio de Janeiro. Esse momento referenciado na história política do Brasil 
como o Dia do Fico (dia 9 de janeiro de 1822) não deve ser pensado como um impulso nacionalista 
de um príncipe que sonhava com um Brasil independente, mas antes, uma articulação política que 
foi instrumentalizada por José da Silva Lisboa (o Visconde de Cairu) e Nogueira da Gama, em uma 
importante articulação com São Paulo, na figura de José Bonifácio de Andrada e Silva (visto depois 
como o Patriarca da Independência).
Frente às pressões da época, Pedro teria dito que:
Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao bem 
de toda a nação portuguesa e conhecendo que a vontade de algumas 
províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes e meu 
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augusto pai e senhor deliberem a este respeito com o perfeito conhecimento 
das circunstâncias que têm ocorrido. [O Espelho, 11 de janeiro de 1821] 
(LUSTOSA, 2006, p. 124).
 Observação
Foi no Dia do Fico, tradicionalmente considerado como 9 de janeiro de 
1822, que o então Príncipe Regente Pedro teria proferido a célebre frase 
em que afirmou “Como é para o bem de todos, e felicidade geral da nação, 
diga ao povo que fico”.
Essa articulação tinha como objetivo fundamental neutralizar o sucesso do apoio ao 
constitucionalismo das Cortes no Brasil, representado pelo grupo de Gonçalves Ledo e pela formação 
das Juntas de Provinciais de Governo, que reduziam as possibilidades de supremacia do Rio de Janeiro.
A própria esposa de Pedro, D. Leopoldina, em 8 de janeiro de 1822 escrevia em carta:Receiam‑se aqui muitos distúrbios para o dia de amanhã. Terá v. ouvido 
alguma coisa? O príncipe está decidido, mas não tanto quanto eu desejava. 
Os ministros vão ser substituídos por filhos do país que sejam capazes. O 
governo será administrado de modo análogo aos Estados Unidos da América. 
Muito me tem custado alcançar isto tudo: só desejava insuflar uma decisão 
mais firme (LUSTOSA, 2006, p 123).
A gravidade do momento ficou ainda mais evidente quando as Cortes enviaram ao Brasil uma divisão 
comandada pelo general Avilez, mas Pedro conseguiu que embarcassem para Portugal em fevereiro 
de 1822, livrando‑se de forças portuguesas que poderiam seriamente comprometer seu poder. Sendo 
expulsa a Divisão Auxiliadora Portuguesa, Pedro tratou de proibir quaisquer desembarques de tropas 
mandadas por Portugal, sendo conhecido como batalhão dos Algarves.
Em maio de 1822, o Senado da Câmara do Rio de Janeiro oferecia a Pedro o pomposo título de 
Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil. Souza (1999, p. 136) sinaliza que ao acolher esta honra, de forte 
caráter militar, D. Pedro estreitava seus laços com a causa do Brasil.
A atuação política do governo do regente no Rio de Janeiro ganhava contornos de projeto nacional 
ao buscar cooptar lideranças baianas, pernambucanas, paulistas e mineiras. Pedro foi até Vila Rica 
apresentar‑se como possibilidade política concreta. No Rio de Janeiro, as expectativas em torno das 
eleições de uma Assembleia Geral das Províncias do Brasil era uma clara ameaça ao poder de Pedro. 
As manifestações de rua, do povo e da tropa, em torno da solicitação da convocação da Assembleia 
por meio de eleições, deixavam claro o posicionamento liberal de Gonçalves Ledo e Clemente Pereira, 
favoráveis à supremacia do legislativo. O resultado das pressões foi que em junho de 1822 Pedro teve 
que assinar o decreto de convocação de uma Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro, que ocorreria em 
3 de junho de 1822.
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Havendo‑Me representado os Procuradores Gerais de algumas províncias 
do Brasil já reunidos nesta Corte, e diferentes Câmaras, e Povo de outras, 
o quanto era necessário, e urgente para a mantença da Integridade da 
Monarquia Portuguesa, e justo decoro do Brasil, a Convocação de uma 
Assembleia Luso‑Brasiliense, que investida daquela porção de Soberania, 
que essencialmente reside no Povo deste grande, e riquíssimo Continente. 
Constitua as bases sobre que se devam erigir a sua Independência, que a 
Natureza marcara, e de que já estava de posse, e a sua União com todas as 
outras partes integrantes da Grande Família Portuguesa, que cordialmente 
deseja. Com a rubrica do Príncipe Regente (BONAVIDES, 1991, p. 538).
Contrariamente às instruções portuguesas quando da recomendação de eleições no Brasil, as eleições 
foram definidas como um processo indireto, em duas etapas, sendo a fase inicial realizada nas paróquias, 
para a indicação dos eleitores provinciais. O critério adotado seria a possibilidade de participação de 
homens livres com mais de 20 anos, com ocupação comprovada, mas que não recebessem soldos nem 
salários, além de residência de mais de um ano no distrito de votação. Estrangeiros, religiosos, escravos, 
e comerciários estavam assim excluídos. Para eleitor provincial era preciso ter mais de 25 anos, com 
domicílio por mais de 4 anos e também “sem nenhuma sombra de suspeita e inimizade à causa do 
Brasil”, como aponta Oliveira (1995, p. 96). E ainda, para ser deputado, era preciso saber ler e escrever, 
ter bens e virtudes reconhecidas, “zelar pela causa do Brasil” e, no caso de nascido em Portugal, ter mais 
de doze anos de residência no Brasil.
Na eleição para a Assembleia, que teria poderes legislativos para elaborar uma Constituição 
independente daquela que as Cortes elaboravam, a distribuição ficaria assim:
Província Cisplatina: 2; Rio Grande do Sul: 3; Santa Catarina: 1; São 
Paulo: 9; Mato Grosso: 1; Goiás: 2; Minas Gerais: 20; Rio de Janeiro: 
8; Capitania [Espírito Santo]: 1; Bahia: 13; Alagoas: 5; Pernambuco: 
13; Paraíba: 5; Rio Grande do Norte: 1; Ceará: 8; Piauí: 1; Maranhão: 4 
(BONAVIDES, 1991, p. 545‑6).
Em junho de 1822, antes mesmo da consolidação de uma ruptura política definitiva com Portugal, 
estava posta a questão da participação política em termos de construção de uma determinada 
cidadania. A legitimidade do governo que se buscava consolidar em terras americanas, por oposição 
a Lisboa, não se daria por direitos dinásticos nos moldes do Antigo Regime, pelo contrário, seria 
uma monarquia constitucional que devesse assegurar o direito de representação política e liberdades 
civis contra a ação de setores absolutistas, além da ligação das províncias ao Rio de Janeiro, e não a 
Lisboa, com a representação política de proprietários e grupos escravistas, sendo a base de um Estado 
Nacional moderno.
Em que pese a existência de diversos grupos políticos, faz‑se necessário esclarecer a denominação de 
um grupo, especificamente, os chamados republicanos. Gonçalves Ledo, Clemente Pereira e João Soares 
Lisboa, distanciando‑se do grupo que mais tarde será visto como áulicos e até mesmo absolutistas, em 
razão do fortalecimento de Pedro, aproximavam‑se de ideias republicanas, mas isso no início do século 
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XIX, em meados de 1820, indicava lutar pela participação dos cidadãos nas leis e na administração 
pública. Vale dizer que defendiam uma determinada liberdade política, como muito bem salientou 
Oliveira (1995, p. 100).
Concordando com as observações de Oliveira (1995), impõe‑se questionar a construção em torno de 
Pedro I como príncipe herói e valente, disposto, inclusive, a morrer pelo Brasil. No entanto, a iconografia 
da época pode ser de grande serventia, não como mera ilustração, mas como fonte de conhecimento. 
Sabendo‑se da trajetória do quadro, pode‑se pensar mais sobre o momento e sobre quem e como se 
retratava a cena.
Figura 7 – Proclamação da Independência, por René Moureaux, pintado em 1844
Nas palavras de Oliveira (1995, p. 102), independência e separação de Portugal não eram 
necessariamente sinônimos. O governo da Regência havia assegurado o rompimento com as Cortes de 
Lisboa e, portanto, a cisão dentro da monarquia portuguesa por meio de duas iniciativas: o movimento 
pela permanência do príncipe, em janeiro de 1822, e a lei eleitoral de junho do mesmo ano, que excluiu 
da cidadania os imigrantes portugueses. Lembra, ainda, que em agosto de 1822, José Bonifácio, em dois 
manifestos, anunciava que a Regência do Brasil e as províncias que a apoiavam (São Paulo, Minas Gerais, 
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco e Rio Grande do Sul) estavam dispostas a declarar 
a independência. Os manifestos dirigiam‑se aos povos do Brasil, aos diplomatas presentes no Rio de 
Janeiro e aos governos europeus (OLIVEIRA, 1995, p. 102‑3).
E mais, a historiadora problematiza a construção histórica do 7 de setembro quando afirma:
Ao contrário daquilo que frequentemente se imagina, a proclamação do 
príncipe D. Pedro, na colina do Ipiranga e às margens do riacho do mesmo 
nome, não teve repercussão no momento de sua ocorrência. Além de não 
merecer acolhida especial da parte dos inúmeros e atuantes jornais que 
circulavam na Corte do Rio de Janeiro e em várias outras regiões do Reino do 
Brasil, a ela também não se referiram os membros do governo da Regência 
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e tampouco foi àquela interpretada como baliza definidora do curso da 
história. Nem mesmo D. Pedro na carta dirigida aos paulistas, datada de 
8 de setembro, deixou registros específicos a respeito do episódio do dia 
anterior (OLIVEIRA, 2002).
Ao considerarmos o que foi apresentado, é fundamental ressaltar que a Independência do Brasil 
faz partede um processo histórico no qual diferentes projetos políticos estavam presentes e que a 
articulação de determinados grupos logrou suplantar outros. Foi um momento tenso não apenas 
pela oposição entre Brasil e Portugal, mas antes, por disputas nas Cortes de Lisboa e também no 
Brasil, entre o Rio de Janeiro e diversos grupos, nas províncias e também na capital. É evidente a 
necessidade de construção de uma ordem política, não apenas uma subordinação nos moldes do 
Antigo Regime, pois o príncipe regente precisou viajar a Minas Gerais e a São Paulo, como uma 
estratégia de forjar alianças.
Assim, o famoso grito “Independência ou Morte”, que deu acabamento a 
decisões anteriormente definidas, aconteceu em São Paulo, à distância da 
agitação que tomava conta da Corte do Rio de Janeiro. Mas realizou‑se 
sob o patrocínio do ministério e contou com o aval de D. Leopoldina, 
que presidiu a Regência durante a viagem de D. Pedro. A declaração foi 
justificada com base nas ameaças dos deputados de Portugal em iniciar uma 
guerra enviando tropas ao Rio de Janeiro, diante do não cumprimento de 
suas deliberações, especialmente a que dizia respeito ao retorno do príncipe 
a Portugal. O curioso é que, no momento de sua ocorrência, o ato do 
príncipe em 7 de setembro não mereceu atenção especial dos protagonistas 
do processo histórico. Foi sobrepujado em importância pelas articulações 
do ministério em torno da aclamação popular de D. Pedro como imperador 
e pelas negociações para que lideranças provinciais de Minas Gerais, São 
Paulo e Pernambuco reconhecessem publicamente não só a autoridade do 
príncipe, mas sua nova condição de dirigente máximo do Império que se 
pretendia criar (OLIVEIRA, 1995, p. 104).
O senso comum, e mesmo certas épocas históricas, escolhe datas e personagens e constrói 
suas imagens que são glorificadas como versões realistas do passado. Lembramos que isso é 
um grande risco, pois deixamos de entender a sociedade que produziu tal ou qual versão. Não 
devemos afirmar que os quadros de Debret são um olhar realista sobre o Rio de Janeiro do século 
XIX, mas sim, nos questionarmos porque Debret pintou daquela maneira e mais, qual discurso 
– visão de mundo – estava presente ali. Isso vale para diversos momentos e os exemplos quase 
inumeráveis.
O quadro consagrado à independência do Brasil, presente no Museu Paulista da Universidade de 
São Paulo no salão principal de um edifício construído justamente para seu abrigo e exposição, talvez 
seja o melhor exemplo disso. O quadro foi produzido muitos anos depois do evento, numa construção 
absolutamente fictícia de imagens e que até a atualidade nos parece tão bem estruturado que é comum 
as pessoas se perguntarem se foi daquela maneira mesmo que ocorreu.
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Figura 8 – Independência ou Morte, de Pedro Américo
Vale aqui ressaltar que o início da construção da nova nação não se dava pela atuação de um 
indivíduo isolado e que, por qualidades pessoais de liderança inequívoca, conseguia a adesão de todos 
ao seu sacrifício pessoal em nome de um novo país que escolhia defender. É preciso lembrar que desde 
1821, ao longo de 1822 e 1823 e chegando até mesmo a 1824, o jogo não estava ganho para os 
partidários mais próximos de Pedro.
Símbolos, festas públicas, jornais, bandeiras e mesmo um hino fizeram parte do arsenal mobilizado 
por Pedro na construção de sua imagem pública, na efetivação de sua persona como representante dos 
interesses do Brasil (SOUZA, 1999, p. 257). É conhecida a divisa Independência ou Morte e no Hino da 
Independência registrou‑se:
Brava Gente Brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.
Fonte: Veiga (2013).
A construção dessa nova percepção de Brasil necessitava de mudanças muito significativas nos 
vínculos políticos, sendo Pedro aclamado imperador em 12 de outubro e coroado, no mesmo ano de 
1822, em dezembro. Uma vez coroado imperador, as dificuldades não se dissiparam automaticamente e 
seria ainda preciso negociar externamente, por meio de diplomacia, o reconhecimento da independência. 
Além disso, em solo brasileiro ainda se travavam lutas entre os partidários da separação os seus contrários, 
havendo combates nas províncias do Norte do Brasil, sendo os mais célebres no Pará e especialmente 
na Bahia, de onde as tropas portuguesas do general Madeira somente seriam expulsas em 2 de julho 
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de 1823. Politicamente, havia ainda a questão da reunião da Assembleia Constituinte e essa somente 
ocorreria em maio de 1823, quando Pedro já havia sido coroado imperador.
 Lembrete
As províncias tinham a possibilidade em 1822 de não ficarem unidas 
ao Brasil, conforme o mapa dos conflitos pode apontar na figura 6. Vale 
ressaltar que o Brasil na Colônia, apesar de ter uma capital, articulava‑se 
por fora, em Lisboa. Quando da independência, foi preciso romper os 
antigos laços e construir novos elos de uma cadeia forjada, muitas vezes, 
por guerras.
Os confrontos políticos levaram à perseguição dos opositores, prisões e exílios, e mesmo processos 
criminais com perseguição policial contra aqueles acusados de articulações contra Pedro e seus 
partidários. Os opositores a Pedro foram tomados como “inimigos do Brasil”. Uma analise superficial 
poderia concluir que era apenas uma questão de xenofobia, antilusitanismo, pura e simplesmente, mas 
seria uma conclusão equivocada, pois as identidades políticas estavam mudando e esse reordenamento 
provocava choques, rupturas e conflitos.
As articulações em torno de Pedro e de determinados grupos do Rio de Janeiro levaram àquilo que foi 
percebido por diversos grupos como um pacto político, um pacto de cidadãos formando uma sociedade 
civil no Brasil, e esta precisava de direitos. Em 1823, o ordenamento legal desse pacto precisava ser 
definido e isso ocorreria por meio de uma Constituição, definida finalmente em 1824.
No decorrer do século XIX, já em 1821, mas principalmente durante o II Reinado (1840‑1889), a 
figura de Pedro I foi construída para parecer a única das possibilidades legítima. Existiam, inclusive, 
idealizações como Pereira da Silva faz na História da Fundação do Império Brasileiro, de 1865, quando 
diz: “Raiava a primeira ocasião em que devia aparecer francamente o príncipe na cena política” (SOUZA, 
1999, p. 97). As poesias que circulavam em 1821 enalteciam‑no como um herói:
Os Heróis sempre marcaram
Um dia com grandes Feitos?
Ou mais troféus, que ganharam,
Outros além levantaram
Padrões de valor inteiro;
Mas o Rio de Janeiro
Um Herói em si achou,
Que de mais glória coroou,
26 de fevereiro (SOUZA, 1999, p. 97).
Ainda nas palavras de Souza (1999, p. 108) é necessário pensar a opção pela monarquia constitucional 
como forma de governo no começo da década de 1820. A questão capital entre 1820 e 1822 residia na 
maneira de celebrar um pacto entre Brasil e Portugal.
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No entanto, ressaltamos aqui que para além de um gesto heroico, havia disseminada na cultura 
política certa noção contratualista, de construção de pactos políticos em torno de noções de cidadania 
política tributária do vintismo, mas que no Brasil ganhava outras cores.
Em 11 de dezembro de 1823 foi publicada oficialmente a Constituição 
Política do Império do Brasil e em 25 de março de 1824 a Carta de Lei 
assinada pelos ministros e pelo imperador foi enviada para todas as 
autoridades, ordenando‑se seu cumprimento. O documento legitimava a 
formação, pela primeira vez no Brasil, do “pacto de cidadãos” e da sociedade 
civil. Estabelecia que o governo da nação brasileira era uma monarquia 
representativa cuja soberania estava concentrada no imperador e na 
Assembleia Geral. Garantia os direitos de liberdade, segurança,propriedade 
e igualdade a todos os homens livres e considerava cidadãos os brasileiros 
e portugueses radicados no território do Império, assegurando o direito de 
participação nas eleições primárias a pequenos proprietários, lavradores, 
caixeiros, empregados públicos e oficiais militares (OLIVEIRA, 1995, p. 110).
Dessa forma, é necessário questionar como foi feita a primeira constituição, para que ela servia 
e a quem servia, pois o mundo que ruía como o fim do Antigo Regime necessitava da formulação de 
normas.
2.1 Assembleia Geral e Constituinte dos Povos do Brasil
Para refletir sobre os interesses que estavam em confronto entre 1820 e 1824 deve‑se escapar da 
ideia construída de que o gesto de Pedro, em 7 de setembro, foi a revelação de um caráter movido para 
o bem público, superior aos enfrentamentos da época, que são, até mesmo, considerados de menor 
importância frente ao glorioso ato.
Pedro I era realmente uma figura privilegiada? Era o único capaz de manter a situação nos rumos 
dos interesses que satisfaziam o bem público? Os choques entre Pedro e a Assembleia Geral sinalizam 
que talvez a figura histórica do primeiro imperador do Brasil seja mais complexa.
Eleitos os representantes da Nação Brasileira, foi convocada a Assembleia que tomaria assento 
no Rio de Janeiro. Vale lembrar que no Império existiam 19 províncias, mas nem todas estavam ali 
representadas no início dos trabalhos, como foi o caso do Maranhão, do Piauí, de Sergipe, do Grão‑Pará 
e no sul, da Cisplatina.
No dia 3 de maio de 1823, após uma série de sessões preparatórias para a abertura dos trabalhos, 
Pedro I entrou no recinto e proferiu seu discurso dizendo:
Dignos representantes na nação brasileira. É hoje o dia maior, que o Brasil 
tem tido, dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao mundo, 
que é império, e império livre. [...] como imperador constitucional, e mui 
principalemente como defensor perpertuo deste império, disse ao povo no 
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Unidade I
dia 1º de Dezembro do anno proximo passado, em que fui coroado, e sagrado, 
que com minha espada defenderia a patria, a nação e a constituição, se 
fosse digna do Brasil e de mim (BRASIL, 1874, p. 13).
Figura 9 – Senado da Câmara do Rio de Janeiro, local de reunião da Assembleia Constituinte do Brasil
Quando da instalação da Assembleia, muitas possibilidades estavam em aberto, e Dom Pedro usou 
uma expressão indicativa do que poderia acontecer. No entanto, a frase não era sua, mas uma cópia da 
existente na carta constitucional da França, de julho de 1814, por meio da qual o Rei Luís XVIII tentou 
retomar a tradição monárquica, após a derrota de Napoleão. O imperador jurava defender a futura 
Constituição “se fosse digna do Brasil e dele próprio”. O condicional deixava em suas mãos a última 
palavra (FAUSTO, 1997. p.148).
As possibilidades de conflitos estavam presentes e logo seriam reveladas. E ainda, de acordo com 
Fausto (1997, p. 148) posicionar‑se assim, logo na primeira Sessão da Assembleia, frente ao Legislativo, 
impondo condições à aceitação da Constituição que seria elaborada, colocava a audiência presente de 
sobreaviso. Nas discussões que se seguiram, começaram a definir quais as atribuições dos diferentes 
poderes; assim, alguns dos mais importantes e ativos membros do poder legislativo tenderiam a impor 
limitações ao imperador, quando buscaram determinar que o orçamento do Império ficaria a cargo dos 
deputados e senadores. Condição inaceitável para um poder executivo que ainda buscava se afirmar.
No decorrer de 1823 os trabalhos legislativos se intensificaram e nenhum grupo em específico 
conseguiu controlar os debates que, afinal de contas, não foram assim tão demorados, uma vez que o 
funcionamento da Assembleia ocorreu, apenas, entre maio e novembro.
Os principais pontos de discussão presentes nos debates eram relativos, principalmente, à educação, 
à criação de cursos de Direito (o que ocorreria ainda no I Reinado em Recife e São Paulo), à educação 
básica, à Justiça Criminal e Civil, à mão de obra escrava e livre e às possibilidades de colonização. Outro 
ponto de grande discussão era relativo ao próprio território – quando surge a discussão sobre a Cisplatina 
e as ameaças no Norte do Império, no Pará e no Maranhão, assim como o gravíssimo problema na Bahia, 
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onde a Guerra de Independência ainda não findara (o que somente aconteceu em 2 de julho de 1823, 
com a expulsão das tropas do general Madeira). Politicamente, estava em aberto a questão da divisão de 
poderes e os embates ganharam expressão no Anteprojeto da Constituição da Mandioca.
Pedro I, ao perceber as articulações como possibilidades concretas de redução de sua soberania 
e poder, mobiliza‑se também. No dia 12 de novembro de 1823 a Assembleia foi dissolvida. Um dos 
momentos importantes da crise que levaria à dissolução foi a apresentação, na sessão de 6 de novembro, 
de um requerimento de David Pamplona Corte Real que alegava ter sido espancado por militares 
portugueses e exigia uma providência. Em 10 de novembro a situação fica mais complicada, pois se 
discute na Assembleia um projeto de lei sobre a liberdade de imprensa, sendo, inclusive, solicitado pelo 
deputado cearense Alencar que o povo adentrasse ao recinto para acompanhar as discussões, e assim a 
sala ficou repleta. Em meio à crise, ministros de Estado como Carneiro de Campos e Nogueira da Gama 
pedem demissão ao imperador. No entanto, a discussão a respeito do desagravo a Pamplona Corte Real 
continuava e os irmãos de José Bonifácio ocupavam a tribuna exigindo atuação firme da Assembleia, 
pedindo a Antonio Carlos a punição e expulsão do Brasil dos responsáveis pelo ataque, enquanto Martim 
Francisco bradava “Vivem entre nós estes monstros, e vivem pra nos devorarem!” (BRASIL, 1884, p. 285).
Em 11 de novembro a situação é tão cheia de tensão que se propõe à Assembleia a declaração de 
sessão permanente enquanto houver inquietações na capital e que Pedro esclareça à Assembleia os 
movimentos militares, que ele afirmara ser inteiramente pacíficos. Em meio à crise, era via imprensa que 
os irmãos Andrada atacavam o Imperador
Em 12 de novembro a Assembleia foi cercada por uma tropa enviada pelo imperador, entrou no 
recinto o ministro do Império, armado de espada na cintura, trazendo as exigências de Pedro I de que se 
coibisse a liberdade de imprensa e que fossem expulsos os irmãos Andrada.
No decreto de Dissolução da Assembleia, Pedro I apresentava a intenção de convocar uma nova 
Constituinte a qual apresentaria um projeto “duplicadamente mais liberal do que a extinta Assembleia 
acabou de fazer (BRASIL, 1823, p. 85)”.
A partir da dissolução, nunca mais Pedro conseguiu recompor sua imagem de liberal, destroçada 
pelo golpe militar contra a Assembleia, do qual fora o autor. O Primeiro Reinado, turbulento, autoritário 
e repressivo, atravessou dois desastres políticos: a Confederação do Equador e a perda da Província 
Cisplatina. Patriotas fuzilados, o Império desmembrado em sua extremidade meridional, comissões 
militares intervindo nas Províncias e a impopularidade do trono até a Abdicação, eis o quadro sem dúvida 
desfavorável à restauração da normalidade e dificultoso à consolidação de uma ordem constitucional 
vazada nos princípios do liberalismo (BONAVIDES, 1991, p. 75).
 Observação
A Constituição da Mandioca foi o anteprojeto constitucional que 
adotaria como critério de participação política o voto censitário e este 
seria medido em alqueires de mandioca. Tal critério foi mantido em seus 
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Unidade I
fundamentos na primeira Constituição, alterando‑se apenas o que seria 
considerado como critério de riqueza, pois de alqueires de mandioca o 
cálculo seria em mil‑réis.
3 A CONSTITUIÇÃOOUTORGADA DE 1824
Considerando a promessa do imperador de convocar uma Assembleia para deliberar sobre um projeto 
constitucional duas vezes mais liberal do que a Constituição da Mandioca, uma novidade surgiu no cenário 
político quando o projeto de Constituição dado por ordem de Pedro I fora enviado às Câmaras Municipais 
de todo o país para a apreciação, além da criação de um Conselho de Estado para assessorar o Imperador.
O Conselho, utilizando as bases do anteprojeto, trabalhou rapidamente e cerca de um mês depois, em 
20 de dezembro, publicava‑se a na Tipografia Nacional o projeto de Constituição. O principal articulador 
dos esforços foi Carneiro de Campos, futuro Marquês de Caravelas, e constava no título apresentado: 
Projeto de Constituição para o Império do Brasil organizado pelo Conselho de Estado sobre as bases 
apresentadas por S. M. I. o Sr. D. Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. O 
dito projeto trazia uma inovação fundamental em relação ao papel do Imperador, a presença do Poder 
Moderador. Ao solicitar o voto das Câmaras sobre o projeto, houve reações e protestos.
O voto, definido naquele momento era indireto e censitário, portanto:
Deputados
Renda: 500 mil réis
Senadores
Renda: 800 mil réis
Elege
Escolhe
Eleitores provinciais
2º grau ‑ Renda: 200 mil réis
Eleitores de paróquia
1º grau ‑ Renda: 100 mil réis
Figura 10 – Organização do voto indireto e censitário na Carta de 1824
Exemplo de aplicação
No decorrer da História do Brasil, tanto no Império, quanto na República, a questão do voto e 
da participação política sempre esteve presente nos debates das classes dirigentes, mas também nas 
realidades das pessoas comuns.
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Em 1988 foi promulgada a Constituição vigente atualmente no Brasil e ela ficou conhecida 
como Constituição Cidadã. Considerando a Carta de 1824 e a Constituição de 1988, você consegue 
elaborar um quadro que demonstre as diferenças em relação à divisão de poderes, ao voto e às 
relações de trabalho?
Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, o célebre carmelita do Recife, escrevera que
[...] uma Constituição não é outra coisa, que a ata do pacto social, que fazem 
entre si os homens, quando se ajuntam e se associam para viver em reunião 
ou sociedade (BONAVIDES, 1991, p. 582).
A noção de pacto político e de contratualismo passa a marcar as reivindicações contrárias ao 
fortalecimento da figura imperial. Pedro I e seu ministério não poderiam ser responsabilizados e, além 
disso, o Poder Moderador dava ao imperador a possibilidade de dissolver a Câmara dos Deputados para 
convocar uma nova eleição.
Eu sou de voto, que se não adote e muito menos jure o projeto de que se 
trata, por ser inteiramente mau, pois não garante a independência do Brasil, 
ameaça a sua integridade, oprime a liberdade dos povos, ataca a soberania 
da Nação, e nos arrasta ao maior dos crimes contra a divindade, qual o 
perjúrio, e nos é apresentado da maneira mais coativa e tirânica (MELLO, 
2001, p. 566).
A carta que fora outorgada por Pedro I consolidou a figura do Poder Moderador privativo da família 
imperial, além da vitaliciedade do Senado, apresentando diferenças entre o projeto de 1823 e a carta de 
1824. Tais diferenças podem ser assim indicadas:
1º. O projeto só reconhece três poderes: o Legislativo, Executivo e Judiciário; 
e nenhuma menção do Poder Moderador, cujas funções, marcadas na atual 
Constituição, são ali definidas e atribuídas ao Imperador como ramo da 
legislatura, e chefe do Poder Executivo.
2º. Pelo projeto, o Imperador não pode dissolver a Câmara dos Deputados. Só 
pode convocá‑la, adiá‑la ou prorrogá‑la.
3º. O herdeiro da Coroa ou Imperador do Brasil que suceder em Coroa 
estrangeira e a aceitar, entende‑se que renunciou à do Império. (art.157)
4º. Aos ministros condenados o Imperador só pode perdoar a pena de morte 
(art. 142, §8) (BONAVIDES, 1991, p. 82).
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Unidade I
O Poder Moderador tinha como atribuições:
a) nomear um terço dos senadores;
b) convocar a Assembleia Geral, em caráter extraordinário, nos intervalos 
das sessões;
c) sancionar decretos e resoluções dos Conselhos Provinciais;
d) prorrogar ou adiar a Assembleia Geral e Dissolver a Câmara dos 
Deputados nos casos em que exigir a salvação do Estado; convocar 
imediatamente uma outra que a substitua;
e) nomear e demitir livremente os ministros de Estado;
f) suspender os Magistrados na forma prevista na lei (artigo 154);
g) perdoar ou reduzir penas impostas aos réus condenados por sentença 
incorrigível;
h) conceder anistia em caso urgente e que assim aconselham a 
humanidade e o bem do Estado;
i) o segredo do Poder Moderador reside na sua apresentação, no artigo 
98 da Constituição: O Poder Moderador é a chave mestra de toda 
organização política e é delegado privativamente ao Imperador, como 
Chefe Supremo da Nação e seu representante, para que, incessantemente, 
vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos 
mais poderes políticos (BONAVIDES, 1991, p. 91).
Graficamente tal estrutura política do Estado Brasileiro pode ser representada da seguinte maneira:
Poder moderador
Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário
Conselho de 
Estado
Câmara dos 
Deputados
Superior 
Tribunal de 
Justiça
Senado Pres. Provinciais
Conselhos Prov.
Figura 11 – Organização do Estado na Carta 1824
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3.1 A Confederação do Equador: 1824
A outorga da Carta de 1824 e mais a imposição do poder moderador não foram concretizadas pela 
simples aceitação acrítica da nascente sociedade brasileira, no sentido político da expressão. As reações 
foram as mais diversas, variando da indignação e dos protestos públicos dados à luz em manifestos, mas 
também chegando às vias de fato, quando parte do então Império do Brasil resolve deixar de pertencer 
a essa comunhão.
Atribuindo o desenvolvimento da situação aos desmandos e imposições de Pedro I, partem para 
uma rebelião, aberta e armada contra a vontade e os poderes do primeiro imperador do Brasil. Tal foi 
o que ocorreu em 1824, com a proclamação da Confederação do Equador, congregando Pernambuco, 
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará naquilo que, para seus membros, era fundamentalmente uma 
reação à quebra do pacto político por parte do imperador que, realizando o ilegítimo gesto de fechar a 
Assembleia e outorgar a Constituição, rompia com os povos do Brasil.
A Confederação do Equador, proclamada em Pernambuco, foi chamada, no Ceará, de Confederação das 
Províncias Unidas do Equador e isso nos dá a medida de sua organização política, ou seja, a proclamação 
de uma república liberal. Tal era a marca da Confederação que se levantou contra a outorga da Carta de 
1824 e contra a imposição do Poder Moderador por parte de Pedro I. Religiosos como o Padre Mororó, 
do Ceará, e Frei Caneca, de Pernambuco, foram fuzilados na repressão. Mororó era redator do Diário do 
Governo do Ceará e Caneca, do Typhis Pernambucano.
Os ânimos nortistas, como então denominava‑se o atual nordeste, exaltaram‑se com o fechamento 
da Assembleia Constituinte por ordem de Pedro I. Quando houve a outorga e constituição do Poder 
Moderador, a situação ganhou os rumos da fundação de uma República, uma vez mais, na região.
A Província do Ceará, à época Ceará Grande, já estava informada dos 
acontecimentos de 12 de novembro de 1823, no Rio de Janeiro, e no mesmo 
9 de janeiro, a câmara de Campo Maior de Quixeramobim, pertencente 
à Comarca do Crato, declarou decaída a dinastia de Bragança, D. Pedro 
estava, portanto, excluído do trono. Tratou, outrossim, de eleger um 
governo republicano que ficaria, inicialmente, a cargo de Pereira Filgueiras 
(ALBUQUERQUE, 2006, p. 47).
A articulação entreas províncias do Norte faz‑se necessária para organizar a resistência na guerra 
que, certamente, viria. O padre José Martiniano de Alencar, em março de 1824, escrevia a Manuel de 
Carvalho Paes de Andrade, presidente de Pernambuco, comunicando o estado da província e dando 
conta de seu apoio a Pernambuco no que concerne à dita “boa cauza” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 57).
O mapa a seguir representa as regiões rebeladas com a Confederação do Equador. Note‑se que 
incorre num erro comum na iconografia que muitas vezes é anacrônica, pois faz a divisão das então 
províncias pelos estados atuais.
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Figura 12 – Regiões nortistas que participaram da Confederação do Equador
No segundo caso aqui demonstrado, a região da Confederação está corrigida, mas o mapa nacional 
é que é anacrônico, pois dá como pertencente ao Brasil da época, o Acre, que ainda não o era, e esquece 
a Cisplatina, perdida em 1831:
Figura 13 – Mapa do Brasil atual com as regiões que participaram da Confederação do Equador
Apesar das imprecisões aqui indicadas, acreditamos ser importante preservar essas representações, 
justamente como forma de sinalizar as possíveis discussões relativas ao território da nação e de como 
ele é projetado no tempo.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
A Confederação do Equador foi proclamada em 2 de julho de 1824, em Pernambuco, por Manuel de 
Carvalho Paes de Andrade por meio de um manifesto e cinco proclamações, ou seja, dava‑se publicidade 
à revolta, à república e chamavam‑se aliados contra o Império do Brasil. Manuel de Carvalho conclamava 
os brasileiros à salvação da honra da pátria, da liberdade e de seus direitos de soberania acusando o 
imperador de déspota e alegando, em proclamação, que aquela era a causa de Pernambuco, da Paraíba, 
do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Maranhão, do Pará, do Piauí e mesmo do norte do Brasil.
Nos ataques a Pedro, Manuel de Carvalho escreveu:
Brasileiros do Norte! Pedro de Alcântara, filho de D. João VI, rei de 
Portugal, a quem vós por estúpida condescendência com os Brasileiros 
do Sul aclamaste vosso imperador, quer descaradamente escravizar‑vos. 
Que desaforado atrevimento de um europeu no Brasil! Acaso pensara esse 
estrangeiro ingrato e sem costumes, que tem algum jus à coroa e sceptro, 
que indignamente empunha, por descender da casa de Bragança na 
Europa, de quem já somos independentes de facto e de direito? [...] Como, 
pois, este Iturbide, faltando a principal condição do contracto social, 
perjurando perante Deus e a nação, e destruindo a soberania do Brasil 
com mão armada ainda se atreve a mandar como imperante? [...] podemos 
passar sem elle! Viva a Confederação do Equador! Viva a Constituição que 
nos deve reger! Viva o governo supremo que há de nascer de nós mesmos! 
(BRANDÃO, 1924 apud ALBUQUERQUE, 2006, p. 122).
A República, então proclamada, tinha bandeira própria, convocou deputados para se organizar 
politicamente e organizou forças militares de terra e mar, além dos jornais cujos redatores Mororó, no 
Ceará, e Caneca, em Pernambuco, constituíram‑se, no momento da articulação da Confederação do 
Equador, como verdadeiras armas, prontas para dar combate ao Império do Brasil.
Figura 14 – Bandeira da Confederação do Equador, onde se lê como divisas 
Confederação, Independência, Religião, União e Liberdade
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A repressão, no entanto, não se demorou e do Rio de Janeiro partiu uma esquadra, comandada por 
Lord Cochrane e conduzida pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva, figura que mencionamos agora, 
mas que ainda voltará muitas vezes a ser referida por nós. Lima e Silva liderou o ataque daquele que 
foi chamado de Exército Cooperador da Boa Ordem enquanto os rebeldes combatiam com o Exército 
Constitucional. Vencida nos campos de batalha e nas cidades, do litoral e do interior, a Confederação 
sucumbiu ao Império que enfrentava sua primeira guerra civil e sobrevivia.
Com o forte ataque dos imperiais, alguns escaparam e outros foram capturados, julgados e condenados, 
inclusive à pena capital, visto que incorriam no mais grave crime que existia na monarquia, a saber, o de 
lesa‑majestade. O Império chegou a proclamar alguns perdões para os envolvidos, mas lideranças como 
Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, o presidente do Ceará, estava excluído. O deputado Martiniano de 
Alencar conseguiu fugir e refugiar‑se, sendo, posteriormente, preso pelos imperiais. Manuel de Carvalho 
Paes de Andrade, presidente de Pernambuco, escapou e buscou refúgio nos Estados Unidos.
Lima e Silva, o comandante militar da repressão, considerava que a causa de todos os males daquele 
momento eram as ideias de “Constituição, liberdade, soberania popular” (DANTAS, 2011, p. 157).
Na repressão, em função dos combates ou devido aos julgamentos, morreram, entre outros não 
referidos aqui, figuras de destaque como Mororó, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Frei Joaquim 
do Amor Divino Rabelo Caneca, degradado de sua ordenação religiosa antes de ser executado por 
fuzilamento e entrar para o imaginário pernambucano como um herói republicano.
Figura 15 – Execução de Frei Caneca, em Recife, em 1825. Quadro de Murilo Greca
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
4 CRISE DO I REINADO E ABDICAÇÃO
A situação econômica e financeira dava graves sinais de problemas logo nos anos iniciais do I 
Reinado. Vale apontar que um importante fator que contribuiu para o difícil início do I Reinado foi 
que D. João VI, ao retornar a Portugal, levou consigo quase a totalidade do dinheiro depositado no 
Banco do Brasil, restando nos cofres um valor aproximado de 200 contos de réis, no entanto era 
necessário algo em torno de 10.000 contos de réis para o pagamento dos débitos, de acordo com 
Teixeira (1993, p. 66).
Pedro I viu‑se rapidamente na contingência de realizar diversos empréstimos com credores 
estrangeiros, fundamentalmente ingleses, e em 1823 solicitou ao Banco da Inglaterra 300.000 contos 
de réis, quantia ainda assim insuficiente para fazer frente aos déficits governamentais.
No ano seguinte, em 1824, ainda de acordo com Teixeira (1993), foi realizada um novo empréstimo 
no montante de 3.686.200 libras, em que 1 milhão era de firmas inglesas particulares e o restante, da 
família Rothschild, devendo pagar juros de 5% ao ano (amortização de 1% e prazo de 30 anos). Uma 
vez que para conseguir tantos créditos eram necessárias as devidas garantias, o governo hipotecou as 
rendas de algumas das principais alfândegas do país, em diversas regiões, como foi o caso do Rio de 
Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Em 1825 uma nova dívida bastante vultosa foi contraída por ocasião das negociações pelo 
reconhecimento da independência do Brasil. Para assinar o Tratado de Paz com Portugal e dessa maneira 
ratificar a condição de emancipado, o Império assumiu uma dívida que Portugal tinha com os ingleses 
no montante de 1,4 milhão de libras esterlinas e ainda mais 600.000 libras para indenizar a Coroa 
pelas propriedades que perdia com a Independência de sua mais importante colônia, totalizando a 
considerável soma de 2 milhões de libras esterlinas.
Da parte dos ingleses, vale lembrar que desde a chegada da corte ao Brasil e também 
por ocasião dos tratados de 1810, sua condição era de grandes privilégios no comércio com 
o Brasil, e assim os ingleses exigiam, para também reconhecer a Independência do Brasil, a 
renovação dos referidos tratados por mais 15 anos, mantendo‑se as tarifas preferenciais de 
15% ad valorem, passando os tratados a serem conhecidos como Tratados de 1827, ocasião 
em que foram assinados.
Os ingleses articulavam seu capitalismo liberal nos territórios das antigas colônias ibéricas,consolidando posições para não perder espaço, tanto frente às investidas dos Estados Unidos, 
com a Doutrina Monroe, quanto com a aproximação que ocorria entre Brasil e França, pois desde 
1826 a tarifa preferencial de 15% ad valorem para o comércio internacional também valia para 
os franceses.
O liberalismo econômico avançava como uma doutrina fundamental nos primeiros anos das nações 
recém‑emancipadas e o Brasil não ficou imune a esse movimento, pois em 1828 estendeu a tarifa de 
15% ad valorem a todas as nações estrangeiras. Os empréstimos feitos pelo governo brasileiro não 
cessavam em 1829 foi realizado um novo empréstimo de 769.200 libras (valor nominal) das firmas 
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Unidade I
inglesas Nathan Mayer Rotschild e Thomas Wilson e Cia., recebendo efetivamente 400.000 libras, com 
juros de 5% ao ano, amortização de 1% e prazo de três anos (TEIXEIRA, 1993, p. 66).
A crise em função das sempre crescentes necessidades financeiras no Estado chegou a tal ponto que 
o próprio banco fundado pelo governo foi dragado e em 1829 o Banco do Brasil foi à falência, sendo 
fechado por insolvência financeira, pois não conseguia resgatar seus débitos. O próprio Estado dava 
sinais de que estava prestes à bancarrota.
Exemplo de aplicação
Nas diversas crises do capitalismo no decorrer dos séculos XIX, XX e também nos princípios do século 
XXI, a reação dos governos tem variado bastante, embora a retórica liberal ainda seja predominante em 
diversas falas, quer sejam estatais, quer sejam privadas.
Em 1873, houve uma primeira depressão do capitalismo, no contexto de transformação do 
capitalismo “selvagem” para o capitalismo monopolista, no momento em que as burguesias nacionais 
europeias se digladiavam pelos mercados mundiais e se unificavam internamente em torno de seus 
estados nacionais, como foi o caso das unificações na Alemanha e Itália, contestando a supremacia 
inglesa no mundo capitalista.
Em 1929, em 24 de outubro, a Bolsa de Valores de Nova Iorque entrava em colapso e a crise, que 
seria conhecida como a Grande Depressão, levou anos se alastrando e fazendo milhões de vítimas nos 
Estados Unidos e fora dele também, até o governo presidencial de Franklin Delano Roosevelt optar por 
medidas intervencionistas conhecidas como New Deal.
Em 2008, com a crise gerada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos, bem como pela gestão 
temerária de diversos fundos e bancos, os governos precisaram agir com mais celeridade a fim de 
impedir consequências sociais catastróficas, e assim, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, 
injetou algo em torno de 1 trilhão de dólares para salvar diversas empresas, notadamente do setor 
automobilístico. No Brasil, o governo federal optou por esforços no sentido de assegurar empregos 
e consumo, tomando diversas medidas relacionadas com renúncias fiscais no setor automotivo e na 
chamada linha branca, de eletrodomésticos.
Você consegue estabelecer diferenças, além das apresentadas, entre as medidas adotadas para 
superar as crises nos séculos XIX, XX e XXI?
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Figura 16 – James Monroe, presidente dos Estados Unidos
A Doutrina de Monroe, de 1823, faz parte do esforço da presidência dos Estados Unidos para 
contrabalançar influências europeias sobre as Américas nos conturbados anos iniciais do século XIX, tão 
impactado que fora por tantas independências e também pelas ameaças de invasões recolonizadoras 
por parte da Santa Aliança, composta pela Áustria, Rússia e Prússia. Vale apontar também que na 
América do Sul, a liderança de Simon Bolívar também se apresentava como uma possível alternativa 
republicana de unidade contra a recolonização europeia.
No entanto, pode ficar o questionamento: sobre o que era a Santa Aliança?
Trata‑se dum pacto firmado em 1815 pelos monarcas da Áustria, Prússia e 
Rússia no qual se comprometiam a manter os acordos estabelecidos após a 
derrota de Napoleão Bonaparte e instaurar governos pacíficos das nações 
mais fracas. [...] Previa o direito de intervenção contra qualquer manifestação 
nacionalista ou liberal. [...] Em breve, a Santa Aliança tornou‑se impraticável 
e ineficaz, até porque a Inglaterra não demorou a converter‑se na pátria do 
Liberalismo (AZEVEDO, 1997, p. 374).
Exemplo de aplicação
A informação anterior foi retirada do Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos, 
de Antônio Carlos Amaral do Azevedo. Para a organização de aulas e apresentações de 
determinados conteúdos, consideramos fundamental a prática recorrente de consultar 
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dicionários especializados. E porque deve ser especializado? Pelo fato de que, em geral, os 
dicionários comuns darão uma definição relacionada à língua, que por vezes não é a definição 
de que precisamos, e ainda, os dicionários das áreas específicas são mais completos e densos 
e contêm até mesmo a exemplificação dos usos dos termos e sua contextualização. Sendo 
assim, é um instrumento importante para a articulação de textos rigorosos ou ainda de aulas, 
apresentações e análises.
Voltando ao contexto de crise a que estávamos nos referindo, vale mencionar que a falência do 
Banco do Brasil, no entanto, não foi o ponto mais alto dos problemas que abalavam a coroa.
No sul do Brasil a província da Cisplatina (que atualmente é a República do Uruguai) rebelava‑se e 
lutava por sua independência sob a liderança de Lavalleja. Os conflitos na região platina desenrolavam‑se 
desde a época da corte portuguesa no Rio de Janeiro, quando por ordem de D. João, em 1811, tropas 
luso‑brasileiras invadiram a região conhecida como Banda Oriental do Rio da Prata.
O pretexto do Rio de Janeiro foram as investidas de José Artigas contra Montevidéu, por ele sitiada 
em suas lutas contra o poder espanhol nas Américas, pois o vice‑rei Francisco Javier Elío buscou nessa 
cidade refúgio. A Banda Oriental foi atacada por tropas saídas da capitania de Rio Grande de São 
Pedro, comandadas por Dom Diogo de Souza e denominadas “Exército Pacificador”, mas o vice‑rei 
espanhol conseguiu negociar, com intermediação inglesa, um armistício com a Junta Revolucionária de 
Buenos Aires e esse documento também previa a saída das tropas luso‑brasileiras do território, em 1812 
(ALADRÉN, 2009, p. 440‑1).
No entanto, o mesmo autor que desenvolve diversos trabalhos sobre a região, sobre as relações 
sociais na região e sobre a questão da escravidão, ressalta que as instabilidades platinas ainda eram 
da alçada do Rio de Janeiro, ou pelo menos assim acreditava a coroa portuguesa no Brasil, que 
acompanhava atentamente tudo que se passava na região. Em 1815, Artigas toma Montevidéu. O 
Governo Revolucionário estabelecido toma uma medida polêmica e de repercussão muito negativa 
entre as camadas dirigentes na América do Sul, pois o chamado Reglamento de Tierras previa o confisco 
das terras dos emigrados e sua distribuição entre os negros livres, índios e crioulos pobres (ALADRÉN, 
2009, p. 440‑1).
Ainda nas palavras de Aladrén (2009), do lado português, o general Lecor, por determinação de 
D. João, conquista Montevidéu em 1817, provocando a fuga dos partidários de Artigas e a derrota 
do próprio em 1820, sendo então a região incorporada aos domínios de D. João como a Província 
Cisplatina. É preciso ressaltar as trajetórias históricas diferentes dos domínios lusitanos e espanhóis nas 
Américas, em termos de instituições e mesmo da língua, além dos regimes fiscais.
O Império do Brasil acabou por ter problemas muito relevantes na região quando o líder local Lavalleja 
pegou em armas e declarou um Governo Provisório na região da Cisplatina, contra o Brasil, apoiado por 
políticos argentinos que buscavam eliminar o poder brasileiro na área e assim projetar Buenos Aires com 
mais firmeza na região platina.47
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Figura 17 – Cisplatina, atual Uruguai
O conflito fora deflagrado e ficou conhecido como a Guerra da Cisplatina, que envolveu o Império 
do Brasil e a região das então chamadas Províncias Unidas do Rio da Prata, terminando com a derrota 
brasileira, atribuída ao governo de Pedro I que, lembrando seu título recebido quando decide pelo Brasil, 
era Defensor Perpétuo do Brasil. A República Oriental do Uruguai foi estabelecida em acordo entre os 
beligerantes, mediado pelos britânicos e ratificado em 1828.
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Unidade I
Figura 18 – A partida das tropas imperiais para a Guerra da Cisplatina, J. B. Debret
Além das perdas humanas no conflito, estimadas em algo como 8 mil homens, a desorganização do 
comércio platino de charque e os custos da fracassada empreitada de Pedro I para manter o território 
agravaram a crise do I Reinado. Para fazer frente aos crescentes gastos, os saques sobre o Tesouro 
Nacional fizeram‑se cada vez mais frequentes, bem como o aumento do peso dos impostos sobre a 
região, provocando animosidade entre a elite sulista e o governo, instalado no Rio de Janeiro.
Vale ressaltar, de acordo com Miranda (2008) em seu estudo sobre fiscalidade e envolvimento da 
região sul na Guerra da Cisplatina, que:
Assim, já no final de 1825, a Junta da Fazenda Provincial solicitava à Corte 
a remessa de cerca de 30 contos de réis, além da autorização da realização 
de saques sobre o Tesouro Nacional de mais de 60 contos de réis para o 
pagamento das despesas extraordinárias da guerra. Em março do ano 
seguinte, o Tesouro Nacional autorizou a Junta a efetuar os saques no valor 
de até 20 contos de réis mensais pelo “câmbio” mais favorável. Apenas dois 
meses mais tarde, a Junta da Fazenda informava ao governo central que 
esse limite mensal já era insuficiente, pois haviam chegado à província 
tropas da Bahia e da Corte, sendo, portanto, necessários mais 10 contos de 
réis mensais. [...] A taxa de juros de 8% paga nos primeiros lançamentos, 
passara a 16% em abril do ano de 1826, chegando a 25% no mês seguinte. 
[...] Assim, a dívida interna mostrava‑se um instrumento oneroso e pouco 
eficaz. Outro mecanismo de financiamento era o tradicional confisco de 
colheitas, de gado e carretas, com a entrega de bilhetes que prometiam 
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a possibilidade de ressarcimento de valores pela Junta da Fazenda. [...] O 
ônus da guerra fora também desigualmente dividido entre as províncias do 
Império; à população e às autoridades pareceu que a Província de São Pedro 
arcava com o fardo mais pesado. A agricultura ressentia‑se da falta de mão 
de obra provocada pela mobilização das milícias por períodos muito longos 
e pelo recrutamento para as tropas de primeira linha.
Aventura militar no sul custava ao Império altas somas de dinheiro e, ainda, milhares vidas. O 
comprometimento do sul foi significativo naquele momento tão crítico para todo o Império. Podemos 
então considerar que as lutas pela manutenção da integridade nacional, fracassadas, a bem da verdade, 
no extremo sul, em sua fronteira platina, tiveram seu grau de relevância para a desestabilização do 
governo de Pedro I.
 Saiba mais
Para o momento indicado aqui sobre a Cisplatina e o Brasil, indicamos 
o filme:
ARTIGAS, La Redota. Dir. César Charlone. Uruguai: AIM; Cimarrones 
Películas, 2011. 118 min.
A respeito do momento das independências em toda a América Latina, 
que inclui o Brasil, faremos a indicação de um projeto único em seu gênero, 
com a audaciosa proposta de retratar alguns heróis das independências 
latino‑americanas. Para saber mais sobre o projeto, acesse o site:
<http://www.loslibertadores.net/>.
Como se não bastasse a crise no Brasil e na região Sul, outros lugares compunham o cenário desse 
complexo jogo político em que Pedro I se enredava, quase que de maneira labiríntica, ficando bastante 
comprometida sua sobrevivência política como imperador do Brasil. Estamos aqui nos referindo ao 
problema da sucessão portuguesa. Quando D. João VI retornou a Portugal deixando no Brasil seu herdeiro 
Pedro, abria‑se a possibilidade bastante concreta da manutenção de uma monarquia dos Bragança dos 
dois lados do Atlântico.
Pedro I, para assumir o trono do Brasil, precisava afastar‑se do trono de Portugal, sob pena de 
ser decretado vago o trono do Brasil com a exclusão dos monarcas da Casa de Bragança. Pois bem, a 
engenhosa solução encontrada por Pedro I no momento da morte de seu pai, o que o transformava em 
potencial soberano português, foi designar sua filha, Maria da Glória, ao trono de Portugal. Considerando 
que lá na Europa estava D. Miguel, outro filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, instaurou‑se a crise, 
posto que o irmão mais novo, considerando que Pedro I havia optado pelo Brasil, buscava consolidar o 
que acreditava serem seus direitos sobre Portugal.
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Unidade I
Os acontecimentos lusitanos eram acompanhados do lado de cá do Atlântico e os movimentos 
em torno de D. Miguel, desde os primeiros anos da década de 1820, já indicavam dificuldades em 
garantir a plenitude do liberalismo instaurado pelas Cortes de Lisboa. D. Miguel, em 27 de maio de 
1823, desencadeou um movimento contra o liberalismo português que iria culminar na Guerra Civil 
Portuguesa entre ele e seu irmão mais velho, Pedro I do Brasil. A revolta, iniciada em Vila Franca, foi 
denominada Vilafrancada e acabou com as Cortes em nome de uma restauração absolutista contrária à 
submissão do trono ao liberalismo. O movimento fracassou e na tentativa de evitar novos confrontos, D. 
João VI adotou um posicionamento político moderado que desapontou enormemente aos absolutistas 
que buscavam nela a chancela de suas ações contra as cortes.
Os partidários de D. Miguel, tidos por miguelistas, tornam‑se assim um grupo mais radical visto, 
inclusive, como ultrarrealistas favoráveis à coroação de D. Miguel, antes mesmo da morte de D. João 
VI. A instabilidade era tamanha que em abril de 1824, D. Miguel novamente coloca‑se à frente de uma 
revolta buscando alcançar o poder real.
A Abrilada, assim como a Vilafrancada, contribuiu para formar uma imagem de infante absolutista 
que constantemente ambicionava o trono luso. Em função disso, D. Miguel foi expulso de Portugal por 
D. João VI e o monarca buscou soluções de conciliação interna; em relação ao Brasil, precisava resolver 
a grave questão do reconhecimento da independência. Como já foi demonstrado anteriormente, esta 
última questão foi equacionada com uma indenização do Brasil a Portugal, bem como com a outorga 
do título honorífico para D. João VI de imperador do Brasil.
Em Portugal, apesar da demora em negociar com o Brasil e de medidas protelatórias, D. João já 
conhecia o posicionamento irredutível de Pedro I, pois e escrevera ao pai em 22 de setembro de 1822 
comunicando:
Firmes nestes inabaláveis princípios, digo (tomando a Deus por testemunha 
e ao mundo inteiro), a essa cáfila sanguinária, que eu, como Príncipe 
regente do Reino do Brasil e seu defensor perpétuo, hei por bem declarar 
a todos os decretos pretéritos dessas facciosas, horrorosas, maquiavélicas, 
desorganizadoras, hediondas e pestíferas Cortes, que ainda não mandei 
executar, e todos os mais fizeram para o Brasil, nulos, írritos, inexequíveis, e 
como tais como um veto absoluto, que é sustentado pelos brasileiros todos, 
que unidos a mim, me ajudam a dizer: De Portugal nada; não queremos 
nada (BONAVIDES, 1996, p. 421 apud SANTOS, 2003, p. 115).
E sobre o reconhecimento da independência do Brasil pelo Governo de Portugal, D. Pedro escreveu:
Portugueses, toda a força é insuficiente contra a vontade de um Povo,que não quer viver escravo: a História do Mundo confirma esta verdade, 
confirmam‑na ainda os rápidos acontecimentos, que tiveram lugar neste 
vasto Império, embaído a princípio pelas lisonjeiras promessas do Congresso 
de Lisboa, convencido logo depois da falsidade delas, traído em seus direitos 
os mais sagrados, em seus interesses os mais claros; não lhe apresentando o 
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futuro outra perspectiva, senão a da recolonização e a do despotismo legal 
mil vezes mais tirânico, que as arbitrariedades de um só Déspota: o grande 
e generoso Povo Brasileiro passou pelas alternativas de nímia credulidade, 
de justa desconfiança, e de estranhável ódio: então ele foi unânime na 
firme resolução de possuir uma Assembleia Legislativa sua própria, de cuja 
sabedoria e prudência resultante do novo Pacto social, que devia regê‑lo, 
e ela vai entrar já em tão gloriosa tarefa: ele foi unânime em escolher‑Me 
para seu Defensor Perpétuo, honroso Encargo, que com ufania Aceitei e que 
saberei desempenhar à custa de todo o Meu Sangue (BONAVIDES, 1996, p. 
426 apud SANTOS, 2003, p. 116).
No entanto, apesar da irredutibilidade inicial de Pedro I, estava em jogo muito mais do que uma 
questão individual de poder pessoal sobre tal ou qual reino. No século XIX ainda contava, em muito, 
a questão dinástica para os Bragança e mesmo após o reconhecimento da independência do Brasil, D. 
João VI buscou apoio do governo de Sua Majestade, junto a Lord Canning, para que a Inglaterra apoiasse 
Pedro, caso ele reivindicasse o trono lusitano após a morte de D. João, questão deixada em aberto, 
pois a resposta do gabinete inglês foi no sentido de que não era possível assegurar tal apoio, pois isso 
provavelmente nem era de interesse de Pedro I.
As disputas políticas a respeito do trono português erram acirradas pela vontade de D. Miguel, dado 
que Pedro I era imperador do Brasil, mas D. João VI acabou por respeitar a linha sucessória tradicional e 
reconheceu Pedro I como o herdeiro do trono lusitano, isso em 1825, como afirma Santos (2003, p.118):
O Reino do Brasil será daqui em diante tido, havido e reconhecido com 
a denominação de Império em lugar da de Reino, que antes tinha. [...] A 
administração, tanto interna, como externa do Império do Brasil será 
distinta, e separada da Administração dos Reinos de Portugal e Algarves, 
bem como a destes da daquele. [...] E por a sucessão das duas Coroas Imperial 
e Real diretamente, pertencer a Meu Amado e Prezado Filho o Príncipe Dom 
Pedro nele por este Ato, e Carta Patente, Cedo e Transcrevo já de Minha 
livre vontade, o pleno exercício da Soberania do Império do Brasil para o 
Governar denominando‑se Imperador do Brasil, e Príncipe Real de Portugal 
e Algarves.
Em 1826 a saúde de D. João VI deu sinais de esgotamento e a 6 de março assumia o poder um 
Conselho de Regência por ele nomeado, ficando sob comando de sua filha Isabel Maria, sendo D. Miguel, 
uma vez mais, preterido em seu exílio na corte absolutista dos Habsburgos em Viena. Em 10 de março, 
morria D. João VI – não sem acusações inclusive de envenenamento – e novamente a questão sucessória 
reapareceria nos debates políticos, opondo liberais e absolutistas.
Em meio à crise aberta, a opção de Pedro I foi pelo Brasil, era o Defensor Perpétuo do Brasil 
efetivamente visto como brasileiro por importantes setores portugueses e sendo um “estrangeiro”, 
estaria impedido de assumir o trono português. Pedro I não ignorava tal condição, pois já em 14 de 
março de 1822 escrevia ao pai:
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Deus guarde a preciosa saúde de Vossa Majestade e viva que tão preciosa é 
para todos os portugueses honrados, e para nós, os brasileiros a quem está 
incorporado (SANTOS, 2003, p. 121).
Os miguelistas, como eram chamados os seguidores de D. Miguel, irmão de Pedro I e partidários 
do absolutismo em Portugal, consideravam Pedro I traidor, responsável pelo gravíssimo crime de 
lesa‑majestade e ainda de ter declarado guerra a Portugal no momento de independência do Brasil. A 
manobra de Pedro I de abdicar ao trono do pai em favor da filha D. Maria da Glória, em 2 de maio de 
1826, colocava um ponto final da questão, pois D. Miguel fora nomeado, pelo irmão mais velho, para 
comandar a regência de Portugal enquanto a sobrinha e também esposa D. Maria da Glória fosse menor, 
impedida assim de ser coroada.
No Brasil, as suspeitas quanto a Pedro I querer assumir o trono português cresciam, ainda mais 
quando em 1826 ele doou a Carta Constitucional, por meio da irmã Isabel Maria. A crise se instaurou 
definitivamente em Portugal quando a regência reconheceu Pedro I, vale lembrar que ainda no Brasil, 
como sucessor do trono de D. João VI, em 20 de março – e assim não era mais possível contemporizar 
os ânimos dos absolutistas contrários aos liberais.
O reino estava, literalmente, em pé de guerra no decorrer de 1827 em razão da constante expectativa 
do retorno de D. Miguel, o que ocorreria em fevereiro de 1828.
[...] é como regente que ele “chega a Lisboa e jura à Carta no Palácio d’Ajuda, 
assumindo a regência e nomeando um novo Executivo” e em 30 de junho 
de 1828, D. Miguel era aclamado rei absoluto pelo povo com declarações 
contrárias à Constituição que teria sido imposta por D. Pedro I do Brasil. 
D. Miguel rompeu com a Constituição e assim estava instaurado o período 
conhecido como terror Miguelista. “Os cárceres cheios de victimas; os 
patíbulos tintos de sangue innocente; a míseria viúva vendo a cabeça do 
caro esposo no cadafalso, e seos bens sequestrados; a segurança publica 
em risco; o sagrado direito da propriedade do Cidadão sem garantia, o 
commercio estagnado, a agricultura abandonada!” (SANTOS, 2003, p.120).
E na sequência, a mesma autora nos dá conta do “clima de guerra civil”,
Foram registradas mais de mil prisões, julgamentos sumários e numerosas 
condenações à forca. Saraiva afirma que foram doze os enforcados. Entre 
os condenados figuravam juristas, funcionários públicos, militares, oficiais 
e sargentos. De 1828 a 1833 foram registrados 618 presos políticos, sendo 
que entre eles encontravam‑se militares, estudantes, professores, membros 
de profissões populares, funcionários públicos, eclesiásticos, proprietários e 
lavradores. O clima era de Guerra Civil! As perseguições miguelistas faziam 
exilados milhares de portugueses na Inglaterra e França, que serviriam a 
D. Pedro mais tarde, num futuro bem próximo, na luta pela causa liberal 
(SANTOS, 2003, p. 130‑1).
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Considerando todos esses acontecimentos anteriormente referidos, que tanta instabilidade causavam 
em Portugal, é preciso ter em mente que D. Pedro I, no Brasil, acompanha o desenrolar da crise e mais, 
era parte muito ativa do drama, posto que sua filha era a herdeira do trono, juntamente com o irmão 
rebelde. Além disso, o próprio Pedro I havia sido o responsável pela Constituição Portuguesa.
Vale lembrar que apesar do rompimento político, existiam interesses dinásticos comuns e não 
resolvidos ainda. Nesse clima de incertezas, chega o ano de 1830 e um acontecimento na França tem 
repercussões absolutamente fundamentais no Brasil e em Portugal. Em julho de 1830, Carlos X foi 
derrubado do trono francês após adotar medidas consideradas contrárias à liberdade de imprensa e 
ao liberalismo, representando um sério abalo nos grupos partidários da Restauração do Antigo Regime 
na Europa. O liberalismo avançava na França com a monarquia burguesa do Luis Felipe D’Órleans, o 
“rei‑burguês”.
No Brasil, a notícia da queda de Carlos X é recebida como a luta contra o absolutismo, então percebida 
como a manutenção de interesses portugueses no país, uma vez que ainda eram, fundamentalmente, 
os portugueses que dominavam as vendasno comércio brasileiro e mais, ainda eram muitos os políticos 
influentes do círculo próximo ao imperador que eram portugueses, aliás, o próprio Pedro I, por muitos 
começou a ser visto, na verdade, como português.
 Lembrete
Ressaltamos aqui a grave crise financeira e econômica já mencionada 
anteriormente.
As manobras políticas não estavam surtindo o efeito desejado por Pedro I no Brasil e as constantes 
substituições de ministérios, ora composto por brasileiros, ora por portugueses, passaram a ser vistas 
como artifícios de um poder autoritário que visava, na realidade, manter‑se nos dois lados do Atlântico, 
o que ademais era proibido pela Constituição de 1824.
D. Pedro vem de publicar hum manifesto sobre os negócios de Portugal, em 
que deixa escrever a sua vontade de imperar na Luzitania. Debaixo do título 
de Duque de Bragança sob o texto de entronizar sua Filha, [...] Este Príncipe 
acha‑se no mar com uma esquadra para ir expulsar do Throno a seu irmão, 
e anda acompanhado de muitos nobres de Portugal (SANTOS, 2003, p. 136).
As pressões políticas ganhavam a imprensa e não podiam ser ignoradas pelo Imperador. Evaristo da 
Veiga, redator da folha Aurora Fluminense, e o senador Vergueiro junto a cerca de 20 outros políticos 
assinaram um manifesto solicitando que Pedro I afastasse os portugueses do Ministério.
Pedro cedeu e nomeou o que seria visto como o Ministério dos Brasileiros. Nas palavras de Fazoli 
(1990, p. 13) por ocasião das celebrações do sétimo aniversário da Constituição de 1824, quando da 
chegada de Pedro I houve quem fizesse a saudação como “Viva Pedro II”, em missa oficiada em 25 de 
março no Rio de Janeiro.
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Tentando contornar a crise que se agravava, Pedro I afastou o ministério recém‑constituído e 
convidou apenas antiliberais, tidos por portugueses na disputa política – formando o Ministério dos 
Marqueses. As pressões acumulavam‑se e poderiam explodir e comprometer a própria existência do 
Império do Brasil. Frente as pressões do povo e tropas no Rio de Janeiro, teria afirmado categoricamente 
que “tudo faria para o povo, mas nada pelo povo” (FAZOLI, 1990, p. 14).
Consideramos essa expressão “Viva Pedro II” o claro sinal dos riscos que a monarquia de Pedro I 
corria. Vale dizer que se recusava a aceitar e reconhecer pressões populares ao afirmar que “tudo faria 
para o povo e nada pelo povo”. O liberalismo estava na agenda e na realidade política quando se plasmou 
na Carta de 1824, mas pelas falas e práticas, tinha lá seus limites.
Em 1831 a situação tomou um rumo absolutamente decisivo e o confronto entre liberais e 
absolutistas em Portugal fazia muitas vítimas. No Brasil, os atritos políticos também extrapolavam as 
acaloradas discussões jornalísticas e ganhavam as ruas. Vale ressaltar aqui que as relações do imperador 
com alguns setores da imprensa se deterioraram muito desde o fim de novembro de 1830, por ocasião 
do assassinato do jornalista liberal de origem italiana, radicado em São Paulo, Líbero Badaró. A ele foi 
atribuída a dramática fala “morre um liberal, mas não morre a liberdade”. O problema é que sua morte 
foi atribuída aos desmandos de Pedro I.
Vainfas (2002, p. 479) afirma que no enterro de Líbero Badaró compareceram 5 mil pessoas e o 
evento transformou‑se numa manifestação pela renúncia do imperador. O famoso professor de cursos 
jurídicos destacou‑se como jornalista e político escrevendo para O Farol Paulistano e também para O 
Observador Constitucional. Suas críticas, sempre de cunho liberal, como “não devia vegetar no Brasil a 
planta do despotismo”, levaram‑no a ser perseguido pelo governo imperial. Seu assassinato contribuiu 
ainda mais para a já difícil situação do governo de Pedro I no Rio de Janeiro. É preciso apontar, ainda nas 
palavras de Vainfas, que a construção da imagem de herói em torno de Líbero Badaró, no entanto, foi 
obra republicana. Assassinado na Rua São José, em São Paulo, a colônia italiana erigiu um monumento 
no cemitério da Consolação em sua homenagem e também mudou o nome da rua onde morava e foi 
assassinado, que passou a se chamar Rua Líbero Badaró.
Os confrontos de rua no Rio de Janeiro em 1831, conhecidos como “Noites das Garrafadas”, não devem 
ser atribuídos apenas à xenofobia antilusitana, isto seria, no mínimo, ignorar todo esse desenvolvimento 
político apresentado até este ponto. Seria deixar de lado as dinâmicas de confrontos constantes entre 
absolutismo e liberalismo nas primeiras décadas do século XIX, além, é claro, de equivocadamente centrar 
toda a ação em uma única figura política, como responsável pelo destino de pelo menos dois países.
Os eventos que tomaram a capital do império a partir de 13 de março de 1831 revelam a recusa 
de importantes setores políticos do Brasil em novamente afiançar Pedro I. O imperador, em um de seus 
últimos movimentos como detentor do trono do Brasil, viajou até Minas Gerais, buscando apoio político 
e uma espécie de aclamação, tal como ocorreu em 1822, mas os tempos haviam mudando e em vez 
de salvas e aclamações o que recebeu por onde passou foram portas e janelas fechadas, apresentando 
panos pretos, como um claríssimo sinal de luto. A mensagem da recusa em apoiar a permanência de 
Pedro estava data e de maneira muito objetiva em Minas Gerais.
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O clima de insatisfação era grande, as tensões estavam quase explodindo:
Era lá que a oposição a seu governo se mostrava mais violenta e o 
imperador esperava com sua presença captar as simpatias da província. 
A recepção foi, contudo, a menos cordial possível, e já então pensou D. 
Pedro em abdicar. Em desagravo, preparam‑lhe os portugueses do Rio, 
por ocasião de sua volta, uma recepção pomposa que apenas serviu para 
irritar os ânimos dos brasileiros. Acabaram as festas em lutas sangrentas 
que colocam o governo numa situação visivelmente insustentável 
(PRADO JR., 1999, p. 63).
Foi então como reação ao desagravo que os portugueses prestavam a Pedro I que explodiram os 
confrontos de rua no Rio de Janeiro e a imprensa acompanhava bem de perto a situação política 
denunciando o clima tal como, segundo Sousa (2003), uma “Exposição fiel, e succinta dos acontecimentos 
que tiveram lugar nesta Corte do Rio de Janeiro, desde a chegada do Imperador da Província de Minas 
Gerais, a 11 de Março de 1831”. O jornal A Matutina Meiapontense faz referência ao texto do jornal O 
Astro de Minas e trazemos aqui alguns trechos com a grafia no formato original:
Logo que nesta Corte se soube, que o Imperador se aproximava a ella, os 
Brasileiros adoptivos de todas as classes abrirão uma subscripção, para 
solemnisarem a sua chegada com festas públicas, a qual, em poucos dias, 
subiu a huma quantia de mais de vinte contos de reis: nada parecia mais 
justo, e rasoavel, do que esta subscripção considerada simplesmente como 
um sinal de amor, e respeito ao Chefe da Nação, porém ella não servio para o 
fim a que se destinara, foi sim para se desenvolver na Corte, o mais nefando, 
e abominavel dos crimes, assim como para com mão adestrada semear‑se a 
zizania entre brasileiros natos, e adoptivos. As mil maravilhas serviu para um 
debate geral, a proclamação feita em Minas, ella apresentando franqueza 
de uma parte, deo azos a que se dicesse, que S.M.I. precisava de socorro dos 
Brasileiros adoptivos: estes não conhecendo seos verdadeiros interesses no 
Brasil, impondo‑se assaz fortes para poderem esmagar o espírito Nacional 
Brasiliense, e vingarem‑se de insultos, que nunca reverão‑se tão felizes 
circunstancias, qual festejo que na Sexta feira a noite, 11 do corrente Março 
teve começo pela iluminação das casas da Cidade e com particularidade 
as das Ruas da Quitanda, Direita, Rosário, Pescadores, Violas, e S. Pedro, 
as quaes pela maior parte são ocupados por Brasileiros adoptivos logistas, 
taberneiros, emercadores. Dentre estes muitos com a sanha anti Brasílica se 
representarão nas ruas dando vivas a D. Pedro IV, a D. Maria II, briosa Nação 
Portugueza, e em magotes de cem, duzentos, trezentos, e quatro centos 
curvava‑se ao seu arbítrio. [...] A iluminação teve começo como já disse na 
Sexta feira, e continunhando Sabbado, Domingo, e Segunda, foi a proporção 
augmentando‑se a audácia dos brasileiros adoptivos, tanto que no Domingo 
a noite de garrafas quebradas, pedras, pãos, e mesmo muitos tiros de pistola, 
sobre grupos da mocidade Brasileira, que passava pela Rua da Quitanda 
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dando vivas a Const., e a Independência do Brasil, d’onde resultou saírem 
feridos quatorze; e trez ou quatro mortalmente [...] (SOUSA, 2003, p. 83).
 Saiba mais
Muitos jornais da época podem ser obtidos no site da Biblioteca 
Nacional:
<http://www.bn.br/>.
A Noite das Garrafadas, que antecedeu a abdicação de D. Pedro I, marcava mais uma violenta 
ruptura. Os protagonistas políticos que seriam, no decorrer da história imperial, os principais nomes 
que dirigiriam a nação, vão depois fazer discursos e construir as visões que até hoje ainda temos sobre 
diversos eventos. Sousa (2003, p. 220‑1) nos traz a fala de Justiniano José da Costa, que escreveu um 
discurso célebre, cujo título já é em si uma explicação do momento político imperial. Justiniano define 
como “Ação, Reação e Transação” em seus dizeres:
O príncipe que ocupava o trono havia nascido em Portugal; dos seus 
criados quase todos dos seus ministros também estavam no mesmo caso. 
Daí ciúmes de nacionalidade, fomentados por leviandades e arrogâncias, 
daí um antagonismo odiento permanentemente azedando os elementos 
políticos do governo representativo. Nesse sentido, o caráter das primeiras 
lutas no Brasil pode antes ser considerado social do que político; o 
espírito democrático não aparecia em primeira linha, em primeira linha 
estavam os ciúmes nacionais: em breve foi timbre, foi como condição 
necessária, imposta até pelos respeitos humanos, pelo temor do ridículo 
e da humilhação a todo o nascido no Brasil, ser adversário do governo, 
ser liberal, e vice‑versa aos nascidos em Portugal, como garantia de suas 
posições, de sua influência, foi condição necessária apoiar o governo, 
querer desenvolver e fortificar a sua ação.
4.1 Sete de abril de 1831 – a abdicação de Pedro I
Em 7 de abril de 1831, Pedro I abdicava do trono na pessoa de Pedro de Alcântara, seu filho ainda 
menor de idade, e partia para Portugal com a esposa D. Amélia. Do navio inglês Warspite, onde se refugiara 
em 7 de abril, passaram para o Volage e em 13 de abril zarparam rumo à Europa, desembarcando em 
Portugal como Duque de Bragança. Ele assume o trono como Pedro IV na luta contra o absolutismo de 
D. Miguel e seus muitos seguidores. O termo da abdicação traz as seguintes palavras:
Usando do direito que a Constituição Me Concede Declaro que Hei mui 
voluntariamente Abdicado na Pessoa de Meu muito Amado e Prezado Filho 
o Sr. D. Pedro de Alcantara. Boa Vista sette de Abril de mil oitocentos, e 
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trinta, e hum décimo da Independencia, e do Imperio. Pedro (A REGÊNCIA 
DA MENORIDADE DE D. PEDRO II, 2012).
O documento escrito por Pedro I veio a público pelas mãos do Brigadeiro Lima e Silva que se dirigiu, 
no mesmo 7 de abril, ao Senado para comunicar o fato, conforme consta no documento a seguir:
Às dez horas e meia do dia 7 de abril de 1831, o Brigadeiro Comandante 
das Armas Francisco de Lima e Silva era introduzido ao Senado e entregava 
ao Presidente da sessão extraordinária, que reunia vinte e seis senadores e 
trinta e seis deputados, o ato de abdicação de D. Pedro I.
Desde então o problema da Regência dominou a Assembléia: nomeação da 
Regência temporária, sua composição, redação de um manifesto ao País. 
Nesse sentido falaram Carneiro da Cunha, Henrique de Resende, Joaquim 
Alves Branco Muniz Barreto, Vergueiro, Evaristo da Veiga, Almeida e 
Albuquerque (BRASIL, 1831d, p. 10).
 Saiba mais
Informações sobre todo o período que apresentamos podem ser 
encontradas com facilidade e confiabilidade no site do Senado Federal:
BRASIL. Senado Federal. Atas do Conselho de Estado. [s.d.]. Disponível em: 
<www.senado.leg.br/publicacoes/anais/asp/AT_AtasDoConselhoDeEstado.
asp>. Acesso em: 11 fev. 2015.
Uma das formas de buscar acesso às discussões de época, observando inclusive as falas, embates 
e questões mais enfáticas, é acessar diretamente documentos que surgiram a partir de transcrições 
das falas dos protagonistas. Esse é o caso das Atas do Conselho de Estado do Império, disponibilizadas 
digitalmente pelo Senado Federal:
A publicação das Atas do Conselho de Estado do Império – 12 volumes de 
documentação compilada e um de introdução [...] A organização e direção 
da edição couberam ao eminente historiador José Honório Rodrigues, que 
a qualificou como um dos maiores empreendimentos da historiografia 
brasileira. Grande parte da documentação era manuscrita e inédita. [...] O 
Conselho de Procuradores das Províncias do Brasil, também conhecido como 
primeiro Conselho de Estado do Império, funcionou entre 1822 e 1823. O 
segundo Conselho de Estado, criado por D. Pedro I após a dissolução da 
Assembleia Constituinte de 1823, teve papel central na elaboração da primeira 
Constituição brasileira, a de 1824, e foi extinto pelo Ato Adicional de 1834. O 
terceiro Conselho de Estado foi restaurado em 1842, sendo dissolvido apenas 
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Unidade I
pela Proclamação da República. [...] Por isto, esta publicação, agora em meio 
eletrônico, é extremamente importante para a História Parlamentar e para a 
História do Império brasileiro (BRASIL, s.d.).
Traslado do processo originado pelos tumultos das garrafadas do dia 3, 14 e 
15 de março de 1831. Devassa a que procedeu ao corregedor do crime da corte e a 
respeito dos tumultos e desordens com ferimentos que tiveram lugar nesta Corte 
nas noutes de 13, 14 e 15 de março de 1831.
No domingo, dia da festa, a Rua da Quitanda foi o ponto de encontro. O bairro onde 
ficava a rua era “habitado por quase exclusivamente adotivos e por portugueses empregados 
no comércio.” Não demorou a juntar expressiva quantidade de pessoas de tipos e qualidades 
variados. Chegaram brancos, pardos, pretos, operários, estivadores, remadores, marinheiros, 
pescadores, caçadores, quitandeiros de lojas, barbeiros, cirurgiões, engenheiros e servidores 
públicos. Pelas tantas, em coro, começaram a dar “vivas a sua Majestade e à Constituição 
jurada”. Alguns brasileiros natos que, por acaso, passaram por ali foram insultados. De repente, 
da direção do Rossio, nas imediações da Praça da Constituição, “moços brasileiros, em cujo 
coração ardia a nobre chama do amor da liberdade e da pátria, vendo a nacionalidade 
ofendida”, ecoaram brados pela “Constituição”, “pelo imperador enquanto constitucional”, 
“pela Assembleia Legislativa”, “pela independência”, “pela liberdade de imprensa”, “pela 
liberdade do gênero humano”, “pelos amantes da causa do Brasil”, pelos “deputados liberais”, 
“pela nação brasileira” e “pelos brasileiros”. Em resposta, a multidão na Rua da Quitanda saiu 
aos gritos de morte “aos federalistas e republicanos”. Nisto os do Rossio acrescentaram às suas 
palavras de ordem “viva a Federação e a República” e “morra o imperador, tirânico ou ditador”.
O grupo do Rossio era composto por poucos brancos e muitos pardos e pretos oficiais de 
diferentes tropas, que se arrogavam “pessoas capazes e brasileiros constitucionais”. Tinham 
asco aos “ingratos” e “insolentes” portugueses, “pés‑de‑chumbo”, que ousavam “insurgir[‑se] 
contra o país que os recebera, adotara e dera asilo”. Desejavam vingança a esses “portugueses”, 
especialmente, porquetinham ofendido ou “derramado sangue dos brasileiros”.
Fonte: Silva (2012, p. 270).
 Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Noite das Garrafadas, leia:
FAZOLI FILHO, A. O Período Regencial. São Paulo: Atual, 1990.
Em meio a tão grave crise, após deixar o trono do Brasil para seu filho, ainda menor, Pedro I do Brasil 
foi ser Pedro IV de Portugal, onde afirmou: “Tomei o expediente de abdicar; e deste modo, pondo de 
parte todas as considerações, salvei a minha honra que prezo mais que tudo” (SOUSA, 2003, p. 115).
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
 Resumo
O I Reinado no Brasil (1822‑1831) é um período histórico que para 
ser compreendido de forma adequada deve ser observado a partir do 
movimento histórico que teve origem na crise geral do Antigo Regime e do 
Antigo Sistema Colonial. Para tanto, é fundamental olhar não apenas para 
a data de 7 de setembro de 1822, mas para todo o movimento que teve seu 
desfecho na Independência do Brasil. Por isso é importante preocupar‑se 
em entender o sentido geral da crise que provocou as revoluções burguesas 
do século XVIII e as rupturas rumo às independências no século XIX, bem 
como a necessidade do ataque napoleônico a Portugal.
A fuga da família real portuguesa para o Brasil é um momento único 
na história, quer seja das colônias, quer seja das metrópoles, e suas 
especificidades precisam ser observadas na medida que contribuíram para 
a construção de um aparelho burocrático no Brasil que ajudou muito no 
processo de ruptura final. A sofisticação da economia foi observada desde 
a Abertura dos Portos às Nações Amigas, assim como ocorre com a entrada 
de produtos ingleses, cada vez mais abundantes com os Tratados de 1810.
Politicamente, foi dado destaque ao papel do Liberalismo no sentido 
de tornar‑se uma alternativa à organização do Antigo Regime, não nos 
esquecendo também do potencial de crise e rupturas sempre presentes 
nessas alterações tão intensas, como foi o caso da Revolução Pernambucana 
de 1817, que lutou por uma República na região contra o poder da Corte 
no Rio de Janeiro, o que nos coloca a questão fundamental da existência, 
inequívoca, de alternativas aos modelos adotados.
Os acontecimentos nos dois lados do Atlântico foram trabalhados, tendo 
destaque a Revolução Liberal e Constitucional do Porto (1820) e a instalação 
das Cortes de Lisboa, que alteraram as relações de poder no universo 
português, provocando rearranjos na relação entre metrópole e colônia.
Apresentamos ainda as discussões presentes na historiografia 
que dão conta de questionar os diversos sentidos do 7 de setembro e 
colocam‑nos a questão da construção das datas. O papel desenvolvido 
por Pedro I na manutenção de uma determinada ordem latifundiária, 
escravista e conservadora foi também apresentado, lembrando da 
constituição outorgada de 1824 e da reação ao Estado Imperial por meio 
da Confederação do Equador. Tratamos, ainda, da estrutura estatal com a 
quadripartição de poderes, com a ênfase ao Poder Moderador, bem como 
o sistema de voto censitário.
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Unidade I
A crise do I Reinado merece destaque, pois contribui para a noção de 
que Pedro I não era unânime, tampouco a única possibilidade, tanto é que 
em meio à crise de 1831 abdica na pessoa de seu filho, menor de idade 
ainda, e retorna a Portugal, onde é coroado Pedro IV, um príncipe liberal 
que morre no contexto das lutas contra o irmão, Miguel, absolutista. Desta 
forma encerramos a primeira unidade, com a saída de Pedro I do trono do 
Brasil e pela crise instaurada em função da menoridade do príncipe herdeiro, 
o que determina a criação das Regências, objeto de nossa Unidade II.
 Exercícios
Questão 1. (Enade 2011) No ano de 2008, foram comemorados os 200 anos da Chegada da Família 
Real ao Brasil e a consequente Aberturados Portos. Durante as comemorações, o historiador José Jobson 
de Andrade Arruda lançou o livro Uma colônia entre dois impérios: a abertura dos portos brasileiros 
(1800‑1808). O autor assim interpretou um tema tão debatido nas pesquisas sobre as relações de 
Portugal com suas colônias e de Portugal com as demais Metrópoles europeias:
O segredo dos segredos: o projeto secreto atrás da convenção secreta de Londres
Se a Convenção Secreta de Londres se define por ser o acordo sigiloso entre as altas autoridades 
portuguesas e inglesas, um segredo a todo custo preservado em relação aos seus inimigos de ocasião, 
sequer desconfiava o plenipotenciário português, e, por decorrência, o Príncipe Regente de Portugal, 
que havia um segredo dos segredos, um projeto secretíssimo urdido pelos ingleses em 1805 e 1806 que 
preconizava o envio de forças armadas britânicas ao Brasil, com ou sem anuência da Corte de Lisboa, 
destinada a conter possíveis insurreições que viessem a se precipitar no Brasil, à semelhança do que já 
ocorria na América espanhola. Desconfiava‑se, mas não havia provas materiais até o momento. Mas 
agora há, pois um documento inédito, localizado por Patrick Wilcken na British Library Manuscript Room, 
prova de sua notável sensibilidade de pesquisador, revela a frieza com que as autoridades britânicas 
tratavam as questões relacionadas com a política externa, plano que jamais as autoridades portuguesas 
poderiam imaginar, projetado para o caso de Portugal não aceder à vontade inglesa de transferir a Corte 
para o Brasil. Na avaliação de Wilcken, esse plano contingencial, elaborado antes de 1807, explicita um 
arrepiante exercício da realpolitk.
ARRUDA. J. J. A. Uma colônia entre dois impérios: a abertura dos portos brasileiros (1800‑1808). Bauru: EDUSC, 2008, p. 32‑3.
No que concerne ao papel desempenhado pela preservação documental e sua influência nos 
instrumentos válidos ao conhecimento histórico e para justificar um problema de investigação, analise 
as afirmativas a seguir.
I – A interpretação apresentada só foi possível porque o historiador australiano Patrick Wilcken 
descobriu um documento na sala dos manuscritos da Biblioteca de Londres e esse documento era, até 
então, inédito.
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
II – A interpretação apresentada critica a visão predominante na historiografia, que afirma que a 
Corte portuguesa teria vindo para o Brasil afugentada pelo exército de Junot.
III – O autor fez uma interpretação questionável porque se baseou em um só documento, único 
argumento forte de sua obra.
IV – As referências minimizam os efeitos da Convenção Secreta de 1807, da qual participou 
o plenipotenciário e da qual resultou um documento conhecido, que influenciou interpretações 
porque o documento que o antecedera era desconhecido tanto da Coroa portuguesa quanto 
dos historiadores.
V – Se forem empregados os critérios de verificação interna e externa do documento, a afirmação 
do autor não seria validada, pois, mesmo que desconhecido, dada a sua anterioridade em relação ao que 
era sabido, o documento apontado como o segredo dos segredos destoa das práticas mais comuns na 
política externa inglesa do período.
Assinale a alternativa que apresenta apenas afirmativa(s) correta(s):
A) I, II e IV.
B) I, II e V.
C) I, III e V.
D) II, III e IV.
E) III, IV e V.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: embora os fenômenos estudados tenham ocorrido no passado, sua interpretação pode 
ser modificada graças à inserção de novas fontes. Daí a possibilidade de o conhecimento histórico 
sempre ser atualizado.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: de fato, o que os novos documentos demonstram é que a transferência da Família Real 
foi de responsabilidade predominantemente inglesa, pois os ingleses buscavam garantir seus interesses 
com tal manobra.
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Unidade I
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o autor baseou‑se em documentos diversos.
IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a interpretação tradicional sobre o assunto confere uma importância decisiva à 
Convenção Secreta de 1807. Mas os novos documentos sugerem que não houve uma decisão espontânea, 
e sim um plano bem elaborado para a transferência da corte portuguesa para o Brasil.
V – Afirmativa correta.
Justificativa: a política externa inglesa era caracterizada pelo seu pragmatismo, o que reforça a 
validade da nova hipótese em questão.
Questão 2. (Enade 2008) Numa aula sobre a estrutura política do Império brasileiro, o professor 
apresentou a seus alunos o trecho da Constituição de 1824 e a charge reproduzidos a seguir:
 
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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO
Depois de pedir aos alunos que lessem os artigos da Constituição selecionados, o professor apresentou 
a charge, com as devidas ressalvas quanto ao anacronismo presente na caricatura. A seguir, sugeriu à 
turma que relacionasse a Constituição de 1824 à interpretação da charge. Ao final da aula, os alunos 
resumiram suas discussões às quatro afirmativas seguintes:
I – A charge confirma a Constituição de 1824, que garante amplos poderes ao Imperador.
II – A charge contesta o texto da Constituição, que estabelece a submissão do Estado à Igreja.
III – A charge contraria o texto da Constituição, que afirma o caráter Sagrado da pessoa do Imperador.
IV – A charge ratifica o texto da Constituição de 1824, que assegura a supremacia do Poder Moderador 
sobre os demais poderes.
Assinale a alternativa que apresenta apenas afirmativa(s) correta(s):
A) I e II.
B) I e III.
C) I e IV.
D) II e III.
E) III e IV.
Resolução desta questão na plataforma.

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