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Bssas três fases são dinâmicas. 
Normativa » » » » » Pensamento, ação criada, 
baseada na filosofia/crença 
Emoção » » » » » » » Afeto, sentimento 
Sensação » » » » » » Sensações agradáveis/desagradáveis, 
perigo/seguro ou indiferente. 
Inicialmente, pela sensação e percepção, constrói-se a realidade 
pessoal, social e cultural, e, a seguir, reage-se pela sensação diante dessa 
realidade construída. Como disse o famoso líder inglês Winston Chur-
chill (apud HALL, 1966, p. 99), "Damos forma a nossos prédios e eles nos 
dão forma". 
Com relação ao signo e ao instrumento que influenciam o com-
portamento humano, Vygotsky (1991) apresentou a dicotomia segundo 
a qual o instrumento é orientado externamente para o controle e domí-
nio da natureza, enquanto o signo é orientado internamente, dirigido 
para o controle do próprio indivíduo. No entanto, signo e instrumento 
têm forte relação entre si. 
Segundo Vygotsky (1991, p. 62), "o controle da natureza e o con-
trole do comportamento estão mutuamente ligados, assim como a al-
teração provocada pelo homem sobre a natureza altera a própria na-
tureza do homem"". 
Com base em tais conceitos, pode-se afirmar que a arquitetura é 
o contexto ambiental que apresenta a evidência e o significado da exis-
tência da sociedade. 
4 Vygotsky ( 1991, p. 62) apresenta a diferença entre signo e instrumento como a divergência entre as duas ma-
neiras que orientam o comportamento humano: "A função do instrumento é servir como condutor da influência 
humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos 
objetos. Constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é dirigida para o controle e domínio da natureza. 
O signo, por outro lado, não modifica em nada o objeto da operação psicológica. Constitui um meio da atividade 
i.nterna dirigido para o controle do próprio individuo; o signo é orientado internamente. Essas atividades são tão 
diferentes uma da outra, que a natureza dos meios por elas utilizados não pode ser a mesma". 
1 REALIDADE 
E PERCEPÇÃO 
DO MEIO 
AMBIENTE 
"Tudo o que somos é resultado de tudo aquilo que pensamos. 
Está fundamentado no pensamento. Está baseado 
no pensamento"'. 
B UDA APUD WILSON (1993, p. 1). 
''A matéria[ ... ] não é aquela coleção de objetos sólidos e estáticos 
·espalhados no espaço, mas a vida vivida no cenário que eles 
compõem; assim, a realidade não é aquele cenário externo, mas 
a vida que nele é vivida. Realidade é 'as coisas como elas são'"'. 
STEVENS APUD GROF (1994, p. 13). 
Brasil
Retângulo
1 REALIDADE 1 
o FATO DE se estar com os olhos abertos não significa que se veja a rea-
lidade, pois ela é percebida por meio de conceitos, símbolos, mitos etc. 
Muitas vezes, a apreensão da realidade exige de nós uma profundidade 
de visão mais ampla. A apreensão do conceito de realidade é o objeto de 
estudo e análise deste livro. 
Vejamos, inicialmente, as definições de realidade, realidade empí-
rica e experiência, segundo Franz Victor Rudio (1978, p. 10): 
[ ... ] o termo Realicia~ se refere a tudo o que existe, em oposição ao que é 
mera possibilidade, ilusão, imaginação e mera idealização. 
Empírico refere-se à experiência. Chama-se realidade empírica a tudo que 
existe e pode ser conhecido através da experiência. Por sua vez, experiên-
cia é o conhecimento que nos é transmitido pelos sentidos e pela consciên-
cia. Fala-se de experiência externa para indicar o que se conhece por meio 
dos sentidos corpóreos, externos. Já a experiência interna indica o conhe-
cimento de estados e processos interiores obtidos através da consciência 
Denomina-se introspecção à ação de conhecer, pela experiência interna, o 
que se passa dentro de nós. 
Assim, não se tem na mente a realidade absoluta, mas somente 
aquilo que é perceptível por meio dos fatos observados. E estes são de-
correntes da atenção diante do universo de pensamentos, da interpre-
tação dos fatos ou eventos que ocorrem no espaço considerado real. 
Na filosofia hindu, por exemplo, o termo maya não se refere à 
concepção do mundo como ilusão, mas sim a esta como resultado do 
ponto de vista do indivíduo. Em outras palavras, pensa-se ver ao re-
dor realidades da natureza, e não se percebe que são apenas conceitos 
nascidos de nossa mente. Maya, enfim, é a ilusão de tomar tais concei-
tos pela realidade. 
No Ocidente, o equivalente ao termo maya encontra-se na alego-
ria da caverna de Platão, que demonstra ser a realidade uma ilusão. 
Nessa alegoria, Platão convida Glauco a lmaalnar a seaulnte •l· 
tuaçlo: alguns aldeões que estão presos e imobilizados numa cavema 
ouvem ecos e veem desfilarem sobre as paredes diante de si sombras de 
figuras humanas e de animais projetadas por uma fogueira que se en-
contra atrás dos aldeões. Um dia, é libertado um deles, que, então, pode 
olhar para trás e ver as figuras das quais havia visto as sombras, mas 
aquela realidade chega a ofuscá-lo. Rastejando, o aldeão emerge at• a 
abertura da caverna. 
Ofuscado pela claridade da luz do dia, enxerga, a princípio. 10· 
mente as sombras de moitas, árvores e animais. Depois, pouco a pou· 
co, olha para esses seres vivos propriamente ditos, até se acostumar 
à claridade, e, finalmente, olha para o próprio sol. O prisioneiro. apó1 
contemplar tais maravilhas, não aceita mais de bom grado retornar à 
caverna. Quando ele penetra na escuridão, seus olhos são incapazes de 
discernir as coisas e os seres que habitam a caverna. Por causa disso, 
torna-se objeto de riso de seus companheiros prisioneiros. 
Hoje, ainda vivenciamos a ilusão fornecida pela multimídia. Da 
mesma forma, no século XVIII, o filósofo Kant (1988) apresentava a tese 
de que o homem vive no mundo subjetivo, do sensível. do inteligível e 
da razão. 
Para Kant (1988), a consciência humana é formada de três grandes 
faculdades: a sensibilidade, o entendimento e a razão. Inicialmente, mi· 
lhares de impressões sensíveis bombardeiam os olhos e o sistema ner-
voso, de acordo com os mecanismos puramente físicos e fisiológicos. 
Só que essas impressões chegam como milhares de pequenos pontos 
instantâneos, sem nenhuma ordem e sequência, como se fossem um pi· 
pocar caótico sobre os órgãos sensíveis. É aí que.entram em ação, para 
receber esses bombardeios de impressões, as formas a priori da sensi-
bilidade, que são o espaço e o tempo. 
Na visão kantiana, o espaço e o tempo não são propriedades obje· 
tivas das coisas, mas sim, estruturas subjetivas a priori. O espaço asse· 
gura uma organização às impressões sensíveis, formando a silhueta do 
objeto, enquanto o tempo mantém essa organização fazendo-a ir além 
da fu1acidade do instante da percepção. A silhueta resulta na intuição, 
na imagem sensível, da árvore, por exemplo. 
A razão, a terceira e última faculdade, é a faculdade das ideias, 
pela qual podemos pensar a essência das coisas, os seus números, 
aplicando-lhes as categorias já mencionadas. Com as ideias de Kant 
concordam muitos teóricos que o sucederam. Bateson (1986) também 
afirma que a mente é povoada de ideias, não de seres. 
O filósofo vienense Karl R. Popper (apud PELUSO, 1995, p. 141) 
propõe algo semelhante na sua tese dos três mundos (Figura 3). 
Segundo essa tese, é possível distinguir o mundo de objetos físicos e de 
estados materiais (mundo l); o mundo das experiências conscientes. que 
constitui a realidade subjetiva de nossa mente (mundo 2); e o mundo dos 
conteúdos lógicos de livros, bibliotecas. memórias de computadores e si-
milares. Este último constitui um mundo de estruturas objetivas. o pro-
duto da ação de criaturas vivas e que, uma vez criadas. existem indepen-
dentemente dos sujeitos criadores, sendo, portanto. dotadas de existência 
própria. Esse é o mundo dos conteúdos objetivos do pensamento cientifi-
co, filosófico. poético e. ainda, das obras de arte (mundo3)5• 
FIGURA 3 • TESE DOS TRtS MUNDOS DE POPPER. 
mundo 2 
das estruturas mentais 
mundo l 
das estruturas reais 
mundo 3 
das estruturas abstratas 
5 Peluso (1995. p. 141) apresenta o esquema que obteve da sua epistemologia objetivista. em que 
acredita ser possível a separação entre o sujeito cognoscente e o conhecimento: · sugere que existe 
o mundo (3) próprio para nossas teorias e pressuposições, e é para ele que devem convergir nossos 
esforços no sentido de entender o processo do conhecimento humano-. 
Uma tendência diversa concebe a percepção do real pela villo. S• 
sundo Otilia Arantes (1993, p. 19), vivemos sob o signo do olhar, sob o 
domínio da imagem e do simulacro: 
A favor ou contra. todos procuram demonstrar que a assim chamada rta· 
lidade evaporou a golpes de estilização hiper-realista. que numa soclldadt 
do espetáculo (embora nela nada se represente) a cópia é superior ao orl· 
ginal, que tal eclipse se deve a uma avalanche de imagens sem rtftrtncta. 
que não há portanto informação propriamente dita. sendo a comunle1910 
mera simulação. 
1 MEIO AMBIENTE, ESTÍMULO, RECEPTORES, 
TRANSDUÇÃO SENSORIAL 
TEMOS A SENSAÇÃO do ambiente pelos estímulos desse melo, sem que 
haja consciência disso. Pela mente seletiva, diante do bombardeio de 
estímulos, são selecionados os aspectos de interesse ou que tenham 
chamado a atenção, e só aí é que ocorrem a percepção (imagem) e a 
consciência (pensamento, sentimento), resultando em uma resposta 
que conduz a um comportamento. 
Thomas Reid (2000), filósofo escocês, concebe duas funções 
para os sentidos externos: fazem-nos sentir e fazem-nos perceber. 
Segundo ele, a sensação, tanto agradável quanto desagradável, liga-se 
à crença que desperta em nós a existência desses objetos externos. 
Reid denomina a soma dos dois elementos - concepção dos objetos 
e crença na sua existência - de percepção. A percepção, assim, tem 
sempre um objeto externo que é, nesse caso, a qualidade do objeto 
percebido pelos sentidos. 
Se os sentidos oferecem a sensação, mas sem a percepção, pois 
ainda não há consciência, como, então, se adquire o conhecimento? Fl· 
lósofos como Bacon, Locke, Berkeley e Hume defendem a posição de 
que o conhecimento só seria possível e válido se obtido por intermédio 
de ideias formadas com base nas impressões sensíveis. 
1 
John Locke (apud VYGOTSKY. 1991), em 1690, afirmou que, nas 
crianças recém-nascidas, a mente é como uma folha em branco e que 
o conhecimento se adquire pelos órgãos sensoriais. Disse ainda que as 
ideias são unidades da mente, objetos de pensamento. Como a mente 
propriamente dita é separada do mundo dos objetos, os objetos perce-
bidos são apenas ideias de objetos. Ideias são expressas por palavras, 
como brancura, movimento, homem, elefante. 
Segundo Locke (apud VYGOTSKY, 1991), a apreensão do conheci-
mento faz-se tão somente a partir da experiência advinda do estímulo e 
da reação vivenciados em relação ao meio ambiente, por meio de cone-
xões ou combinações de ideias. por similaridade, contraste ou contigui-
dade. Entre as afirmações mais polêmicas de Locke, está a de que a men-
te está em branco ao nascer. Muitos cientistas se dedicaram à pesquisa 
para comprová-la. Entre eles, um grupo realizou experiências para de-
terminar como se daria o conhecimento por estímulos e reações, cujas 
hipóteses foram comprovadas pelos experimentos do psicólogo russo 
Pavlov. Posteriormente, surgiu o movimento behaviorista liderado por 
Skinner que tem influenciado, até hoje, a psicologia comportamental, 
para a qual tudo é organizado e estruturado para obter respostas aos 
estímulos programados. Essas técnicas são aplicadas ao ensino atual, 
voltado ao processo de oferecer conhecimento e, posteriormente, ava-
liar as respostas dos alunos por meio de provas e exames. 
No entanto, um outro grupo de pesquisadores acredita que nasce-
mos com algum conhecimento anterior. Essa corrente de estudiosos, os 
nativistas, hoje liderados pelos conceitos de Carl Rogers, afirma que, ao 
nascermos, trazemos conhecimentos inatos de ordem genética, além 
de tendências que influem no comportamento e na forma como olha-
mos o mundo circundante. 
Do ponto vista da fenomenologia, em que consiste a explicação do 
mundo? O mundo é o conjunto de relações significativas dentro do qual 
a pessoa existe. Embora vivenciado como uma totalidade, apresenta-se 
ao homem com três aspectos simultâneos, porém diferentes: o circun-
dante, o humano e o próprio. 
No mundo circundante, existe a necessidade de adaptação como a 
forma mais favorável de relacionamento com o ambiente, o que pressu· 
põo o preenchimento de condições externas e a ação do próprio corpo, 
que tem poder de síntese: unifica tanto as sensações e percepções de sl, 
quanto as relacionadas ao mundo. Segundo Yolanda Forghieri, o corpo 
d simultaneamente unificado e unificador na sua constante e simultl· 
nca relação consigo e com o mundo6• 
Já o mundo humano, conforme Forghieri (2000, p. 31), diz respeito 
ao imprescindível encontro e convivência da pessoa com seus semt· 
lhantes, fator fundamental ao homem, pois dele é que se gera o auto 
conhecimento, assim como o conhecimento do mundo: "Só posso 11b1r 
quem sou como ser humano, convivendo com meus semelhantesH. 
Quanto ao mundo próprio, consiste na relação do indivíduo canal· 
go mesmo, no "ser-ele-mesmo", na consciência de si e no autoconhecl· 
mento. o mundo próprio significa, para a pessoa, seu conhecimento de 
si e do mundo, cuja função peculiar é o pensamento e as funções men-
tais, como o entendimento, o raciocínio, a memória, a imaginação, a re· 
flexão, a intuição e a linguagem. 
Da mesma forma como Forghieri fala sobre o mundo próprio, 
Yi-Fu Tuan (1974, p. 4) afirma que percepção, atitude, valor e visão do 
mundo estão entre as palavras-chave para nossa visão do meio amblen· 
te físico. natural e humanizado: 
( ... ] a percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, 
quanto a atividade proposital, na qual alguns fenômenos são claramente 
registrados. enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloquea-
dos. Muito do que é percebido tem valor para .nós, quer para prover-nos 
de nossa sobrevivência biológica, quer para propiciar-nos algumas satlsfa· 
ções de conformidade com a nossa cultura. 
6 Segundo Forghierl (2000. p. 29). "o mundo circundante abrange os condicionamentos aos qual• 
estamos sujeitos. sendo. de certo modo. por eles determinados. por vivermos concretamente num 
ambiente. [ ... ) O homem não está no mundo como um objeto ou um animal. pois tem consciência da 
situação que vivencia. vivenciou e ainda poderá vivenciar". 
Ainda de acordo com Tuan (1974, p. 4): "a atitude é, em primeiro lu-
gar, uma postura cultural, uma posição frente ao mundo; [ ... ] tem maior 
estabilidade do que a percepção e é formada de uma longa sucessão de 
percepções, ou seja, das experiências". 
Segundo Tuan (1974), as crianças percebem, mas não têm ainda 
atitudes como os adultos, os quais já possuem experiência e uma certa 
firmeza de interesse e valor. "As crianças vivem em um meio ambiente 
onde têm o mundo, mas não têm uma visão do mundo", afirma Tuan 
(1974, p. 4) ao relacionar esta última à vivência conceitualizada7 . 
Quanto ao meio ambiente, o que seria ele? O engenheiro ambien-
tal José Coimbra (1985 •. p. 21) o definiu assim: 
Meio ambiente é o conjunto dos elementos físico-químicos, ecossistemas 
naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, 
num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das suas ativi-
dades, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais 
do entorno, dentro de padrões de qualidade definidosª. 
Mas quanto à pergunta: "Em que consiste o ambiente?". Do ponto 
de vista psicológico, Tiedermann e Simões (1985, p. 4) respondem ser 
ele basicamente constituídode dois elementos: matéria e energia: 
7 De acordo com Tuan (1974, p. 4). a visão do mundo é parcialmente pessoa l e em grande parte social, 
sendo uma atitude e um s istema de crenças estruturadas, de uma perspectiva objetiva Esse autor 
também tenta responder às seguintes perguntas: ·Quais são nossas visões do meio ambiente físico. 
natural e humanizado?'", ·eomo o percebemos. estruturamos e avaliamos?·. ·Quais foram e quais são 
os nossos ideais ambientais?", "Como a economia. o estilo de vida e o próprio ambiente fisico afetam 
as atitudes e os valores ambientaisr e ·Quais são os laços entre meio ambiente e visão do mundo?". 
Estudos desse tipo levam ao melhor conhecimento de nós próprios. Tuan (1974. p. 1) afirma ainda 
que ·sem a auto-compreensão [sic] não podemos esperar por soluções duradouras para os problemas 
ambientais que. fundamentalmente, são problemas humanos. E os problemas humanos, econômicos, 
políticos ou sociais dependem do centro psicológico da motivação. dos valores e atitudes que dirigem 
as energias para os objetivos·. 
8 Coimbra (1985. p. 21) compara meio ambiente. ecossistema e hábitat da seguinte maneira: "Meio 
Ambiente é aquele conjunto amplo de realidades fisicas em que os indivíduos e as comunidades estão 
imersos. O ambiente rodeia de forma permanente e cambiante os seres vivos; hâbitat é o lugar em que 
uma espécie pode cumprir todas as suas flmções biológicas. Seria o complexo ambiental ocupado por 
uma espécie particular. Ecossistemas são complexos físico-biológicos controlados, também dinâmicos e 
cambiantes. Sempre que se altera sua composição quali-quantitativa forma-se outro ecossistema". 
[ ... ] objetos, pessoas e animais são feitos de mat,rta; a luz do 101 ou dt uma 
llmpada. o som que vem do rádio, a chama que aquece a panela no follo 
alo diferentes tipos de energia (eletromagnética. mecãnica e térmica. res· 
pectlvamente). sejam elas energias refletidas ou produzidas pelos objetos, 
pessoas e animais. 
Assim, recebe-se um bombardeio de estímulos eneraético1 dt 
toda ordem. e os receptores especializados do nosso corpo permitem 
a formação de imagens do local e das coisas, assim como a tomada dt 
consciência do ambiente. 
Nessa fase de sentidos sensoriais, só são captados estímulos, 11m 
haver a percepção. São sensações que ainda não se percebem e das quli1 
não se tem consciência. A mente seletiva destaca um conjunto de t1U• 
mulos que fornecem a percepção, pela qual são formadas as imaaens e 
os pensamentos. Há consciência somente dos aspectos ou informações 
que chamam a atenção e dos aspectos percebidos no ambiente. 
Tiedermann e Simões (1985, p. 3) observaram que a relação e ln· 
terpretação dos dados sensoriais dependerão "também de nossa ex· 
periência passada; de nosso estado emocional e motivacional, bem 
como de.nossas atitudes, preconceitos e de nossas expectativas ares-
peito do futuro". 
Conforme Ferguson (1980, p. 243), "somos campos oscilantes dentro 
de campos maiores. Nossos cérebros respondem ao ritmo dos sons, às put. 
sações da luz. a cores específicas, a diminutas variações de temperatura"9. 
O homem está rodeado de um campo de energia corpuscular ou 
vibratória correspondente à cor, ao frio, ao cheiro, à claridade, ao vento, 
à pressão atmosférica sentida na pele, ao som que ouve, à temperatura 
que vem estimular os sistemas de receptores sensoriais do corpo, por 
9 Ferguson (1980) fala da influência sincrõnica biológica e também ambiental. Cita que o casal quo 
vive junto compa rtilha de um ciclo mensal de temperatura. Outro exemplo ocorre quando os lndlvl· 
duos se empenham numa conversa. embora estejam só ouvindo; entram numa ·d.ança• com a outra 
pessoa com movimentos sincronizados tão suaves que "só podem ser detectados se filmados e exa· 
minados quadro a quadro. Estímulos no ambiente afetam o crescimento e as ligações do moldável 
cérebro humano, désde os seus períodos críticos iniciais até os últimos dias - seu peso. nutriente•. 
número de células. Mesmo em pessoas idosas. o cérebro fisico não perde um número mensurável de 
células se o ambiente for estimulante" (FERGUSON, 1980, p. 243). 
meio dos cinco sentidos conhecidos e dos sentidos interiores menos 
mencionados, como sentido vestibular, orgânico e cinestésico. 
Da realidade objetiva, são captadas tão somente ideias, a tal pon-
to que podemos mencionar a célebre declaração de James Jeans (apud 
CAPRA, 1982, p. 81): 
Hoje, existe uma ampla medida de concordância [ ... ], em que a corrente do 
conhecimento avança na direção de uma realidade não mecãnica; o uni-
verso começa a se parecer mais com um grande pensamento do que com 
uma grande máquina10• 
Da mesma forma, o arquiteto futurista Antônio Sant'Elia (apud 
CONRADS, 1973, p. 56)11 afirma que, "por arquitetura, deve entender-se o 
esforço de harmonizar com liberdade e com grande audácia o ambiente 
do homem, isto é, converter o mundo das coisas em uma projeção dire-
ta do mundo do espírito". 
A mente visualiza a realidade interpretada. O homem vive e rea-
ge conforme as imagens que forma no pensamento, na ideia aproxi-
mada que ele tem da realidade. Hoje, as pesquisas do neurocientista 
Karl Priban afirmam que o cérebro é um holograma que interpreta um 
universo holográficou. 
Como arquiteto, sempre tive em mente o estudo do comporta-
mento humano relacionado ao meio ambiente arquitetônico. Mediante 
a estrutura espacial, a linguagem arquitetônica, o significado e os va-
lores culturais dados a esse espaço e meio ambiente, tem-se a reação 
10 Jeans (apud CAPRA, 1982, p. 81) declara que ·as semelhanças evidentes entre a estrutura da ma· 
téria e a estrutura da mente não nos devem surpreender muito. uma vez que a consciência humana 
desempenha um papel fundamental no processo de observação, e na física atômica ela determina em 
grande medida, as propriedades dos fenômenos observados". · 
ll Sant'Elia (apud CONRADS. 1973. p. 56) declara ainda que o perfodo da arquitetura como arte de 
dispor as for~as dos edifícios segundo critérios predeterminados está acabado: "De uma arquitetura 
assim concebida não pode surgir nenhum hábito plástico ou linear, já que as características funda-
mentais da arquiletura futurista seriam a caducidade e a transitoriedade. As casas duram menos que 
nós. Cada geração terá de construir sua própria cidade." 
12 Karl Priban. de Stanford. e o físico David Bohn (apud WILBER et al..1991. p.11). da Universidade 
de Londres. afirmavam que "nossos cérebros constroem matematicamente a realidade concreta. in-
terpretando freqüências provenientes de outra dimensão. um domínio de realidade primária signifi· 
cativa e padronizada. que transcende tempo e espaço". ' 
11Umulos ambientais que originam, orientam e favorecem a vida 
11tt1tlva dos usuários. 
Tais conceitos foram questionados por teóricos das disciplinas de 
cl6nclas sociais e biológicas, da psicologia da percepção, da psicologia 
do comportamento ambiental, dos sistemas organizacionais das em-
presas, de estudos de relações humanas. Atualmente, estão presentes 
nos temas de debates e implantações sobre qualidade, reengenharia 
humana etc., como forma de interpretar urna nova organização social. 
~importante que os indivíduos reconheçam sempre urna rede de inter-
dependência e uma leitura que se altera rapidamente. 
Energias de toda ordem nos bombardeiam constantemente, eatl• 
mulando continuamente nosso sistema sensorial e dando-nos as Infor-
mações sobre o meio ambiente natural, cultural e social. 
Acerca do sistema de sentido sensorial, segundo Tiedermann e Sl· 
mões (1985, p. 2), 
( ... ] todos os nossos órgãos dos sentidos têm características comuns: 
possuem receptores que são células nervosas especializadas, capazes de 
responder a estímulos espedficos. Recebem, transformam e transmitem, 
para' o restante do sistema nervoso, grande número de informações exls· 
tentes no ambiente, na superfíciee no interior do nosso organismo. 
Tierdemann e Simões (1985) classificam os receptores sensoriais 
em cinco grupos, conforme os tipos de estímulo: 
)) 
)) 
)) 
)) 
)) 
Mecanorreceptores: sensíveis à energia mecânica (pressão). 
Fotorreceptores: sensíveis à energia eletromagnética (fótons). 
Termorreceptores: sensíveis à energia térmica (frio, calor). 
Quimiorreceptores: sensíveis e reagentes à presença de substân-
cias químicas. 
Nociceptores: espalhados pelo corpo todo, reagem às estimulações 
mecânica, térmica e química, desde que elas sejam muito intensas 
e capazes de injuriar o organismo e ocasionar a dor. 
São poucas as regiões do corpo humano que não possuem noci-
ceptores para a dor. Uma delas é o cérebro, e a outra, o colo do útero. 
Devido a esse fato, os neurologistas conseguiram mapear o cérebro 
para determinar em que região do neocórtex cerebral se localizam os 
centros das atividades e explicar por que as mulheres desenvolvem a 
gravidez normal sem dor no útero. 
1 TRANSDUÇÃO SENSORIAL 
Os órgãos dos sentidos possuem receptores especializados capazes 
de responder a estímulos específicos para o restante do sistema ner-
voso. Grande quantidade de informações existentes no ambiente, 
na superfície do corpo e no interior do próprio organismo é baseada 
na função dos receptores sensoriais. De acordo com Tiedermann e 
Simões (1985), existem classificações de outro tipo, em que se dá ên-
fase à relação espacial entre o organismo e os estímulos, sugerin-
do a divisão dos receptores sensoriais em três grupos: exterocepto-
res, proprioceptores e interorreceptores, conforme apresentados na 
Figura 9. 
Ainda conforme Tiedermann e Simões (1985, p. 5): 
Todas as células receptoras, não importa qual a especialização, transfor-
mam a energia por elas captadas em um único tipo de energia, comum a 
todo sistema nervoso: a energia eletroquímica, cuja principal caracterís-
tica é o fluxo de íons através da membrana celular, podendo dar origem 
ao impulso nervoso. [ ... ) Essa transformação, ou tradução de um tipo de 
energia em outro, é denominada transdução; constitui o processo que ca-
racteriza as células receptoras dos órgãos dos sentidos. 
A Figura 4 mostra, ainda segundo Tiedermann e Simões (1985), 
que qualquer alteração, em que os íons positivos de fora e os negativos 
de dentro das membranas dos receptores (como um termorreceptor da 
pele) são estimulados, por exemplo, por um aperto no braço, dará ori-
1 
IM' a uma modificação do estado l6nlco da membrana, gerando uma 
WP elétrica que se dirige ao cérebro. 
Quando ocorre alguma alteração do equilíbrio do sistema nervoso 
1m várias partes do corpo, os íons externos positivos entram no interior 
do11 nervos, ocasionando uma reação com os íons negativos internos; 
cria-se, desse modo, um impulso elétrico que, ao percorrer o sistema 
nervoso e dirigir-se ao cérebro, identifica a sensação com a lembrança 
do tipos de pressões e permite que reconheçamos, por exemplo, ter re· 
cubldo um abraço. 
1IGURA4 • IMAGEM OE UM NEURÔNIO. 
íons positivos Na Na exterior 
++++++++ ++++ (íon~ n~at~os- - - - ~nte~or - 1 
- - - - :.1+ + + - - - ~ 
+ ++++f \//++++ 
impulso nervoso em parte do axônio 
membrana 
celular 
1 IMAGEM NO PROCESSO COGNITIVO, CRIAÇÃO, MEMÓRIA 1 
ANTES DE CONTINUARMOS a explorar os determinantes que influem na 
nossa visão da realidade objetiva, que interferem no nosso comporta-
mento, delimitam-no e condicionam-no após a percepção, vamos res-
ponder à seguinte pergunta: "O que é o pensamento?". 
Segundo a Ordem Rosacruz (1984, p. 31): 
[. .. ] pensar inclui o uso de emoção. razão. memória. Intuição, Imaginação, 
além dos cinco sentidos. O ingrediente básico em todos esses processos 
de pensar é a inclusão de imagens. Os pensadores usam imagens para 
lembrar. criar ou receber novos discernimentos (insight). para analisar, ra-
ciocinar. avaliar e observar [ ... ]. Sejam dirigidos ou não, os pensamentos 
atraem, canalizam e dão forma à energia. 
A Figura s ilustra esse processo da imaginação, no qual as infor-
mações chegam do exterior em forma de energia de toda ordem. Ao fo-
calizarmos algo que nos interessa, passamos a utilizar nossa faculdade 
de pensar, criando im_agens calcadas na memória e na intuição. 
Nachmanovitch (1991, p. 46) afirma que, ao contrário do raciocí-
nio lógico, que se desenrola passo a passo e se baseia nas informações 
das quais temos consciência, 
[ ... ] o pensamento intuitivo, por outro lado. se baseia em tudo o que sabe-
mos e em tudo que somos. Num único momento. ocorre a convergência 
de uma rica pluralidade de fontes e direções - daí a sensação de absoluta 
certeza que geralmente acompanha o pensamento intuitivo. 
FIGURA 5 • REPRESENTAÇÃO DA IMAGINAÇÃO. 
imaginação e conhecimento intuitivo 
O conhecimento intuitivo surge da emoção e do pensamento (re· 
lactona, compara, raciocina, analisa, pressente, observa, avalia), confor· 
mo Ilustra a Figura 6. 
Todo pensamento está apoiado no conteúdo emocional que dá cor 
o sentimentos às imagens. A obra O homem: alfa e ômega da criação, da 
Ordem Rosacruz (1984, p. 35) diz que, enquanto 
[ ... ] os elementos que entram no processo de pensar são o desejo e a vonta· 
de. fornecendo o impulso para toda atividade e pensamento. a observaç4o 
e os sentidos fornecem a matéria-prima e a experiência para obtenção da 
memória completa. o conteúdo emocional ilumina e lhe dá a cor. Em s(nte· 
se. a razão e a análise dão ao pensamento forma e ordem. a imaginação e a 
visualização permitem ao pensamento assumir uma forma significativa e, 
finalmente. a fé (baseada no conhecimento) que o sustém. 
FIGURA 6 • PSIQUE (CONHECI MENTO INTUITIVO). 
PSIQUE 
conhecimento intuitivo 
Na interpretação que Louis Kahn (1961)13faz do processo de cria· 
ção da imagem e da origem do design, forma e imagem seriam originá.· 
13 No texto "Wantedtobe", Khan (1961. p. 132) apresenta definitivamente o ponto de vista da arqu lle· 
tura como uma arte cujo principal objetivo é a criação de espaços: "Se eu fosse tentar definir arqulle· 
tura em uma palavra. diria que a arquitetura é uma pensativa criação do espaço'". 
FIGURA 7 • ESQUEMA DO PROCESSO DE CRIAÇÃO QUE VAI DO SENTIMENTO E 
PENSAMENTO ATÉ O DESENHO. 
RELIGIÃO 
incomensurável 
SENTIMENTO 
DESIGN 
MENSURAVÉL 
FORMA 
o que caracteriza o desejo de existir 
REALI ZAÇÃO 
emerge da r-eligião e da filosofia 
(o sonho que surge da realidade) 
transcendental 
PESSOAL 
FILOSOFIA 
a presença da ordem 
incomensurável 
PENSAMENTO 
du rafzes do sentimento e do p1n1amento. Na Figura 7, mostram.oi 
quema que reproduz o processo de design de Kahn14• 
Nesse esquema, a palavra religião seria interpretada como as 
crenças, os conceitos em que se crê, a religiosidade da pessoa. E, con-
forme o esquema de Kahn, o processo criativo nasce do sentimento 
1 do pensamento, passa pelas crenças e pela filosofia, e funde-se na 
realização da forma, que, passando pelo processo normativo, chqa 
a concretizar-se. 
Para o processo mental do pensamento, a memória é essencial. j 
o arquivo de todas as experiências vivenciadas. Dela não só provim U 
Imagens do homem, mas, principalmente, de suas experiênciu fll1* 
emocionais e sentimentais. 
o médico Stanislav Grof (1994, p. 41), após pesquisas efetivadu em 
mais de 2.500 pacientes usuários de LSD, apresenta a tese de sistemu 
de experiência condensada (systems of condensed experience - Coex): 
Outra importante descoberta de nossa pesquisa foi que memórias de expe· 
riências emocionais e físicas são guardadas na psique, não como particu· 
las e peças isoladas mas em forma de constelações complexas que chamo 
de sistemas COEX (Sistemas de Experiência Condensada). Cada COBX con· 
siste de memórias emocionalmente carregadas de diferentes períodos de 
nossa vida O denominador comumque as une é o fato de fazerem parte da 
mesma qualidade emocional ou sensação ffsica15• 
14 Ainda de acordo com Kahn (1961. p. 133): ·a forma pertence à psique e é incomensurável. Não H 
pode achar forma sem transcender um sentimento pessoal e um pensamento pessoal. Transcendência 
do sentimento pessoal conduz a um ingrediente comum do sentimento; com a religião (isto é. amor • 
nobreza). a transcendência do pessoal conduz para o ingrediente comum do pensamento, que é fllo10· 
fia. Transcendência de ambos. pensamento e sentimento. conduz à realização». 
15 Grof (1994. p. 41): •cada COEX pode ter muitas camadas. cada uma delas permeada por seu tema 
central. sensações e qualidades emocionais. Muitas vezes podemos identificar camadas lndlvldu· 
ais. de acordo com os diferentes períodos da vida de uma pessoa. Cada COEX tem um tema que o 
caracteriza. Urna única constelação COEX. por exemplo. pode conter todas as principais memórias 
de eventos humilhantes, degradantes ou vergonhosos.[ ... ] ou pode conter também constelações de 
experiências positivas. experiências de imensa paz. contentamento ou êxtase. que ajudaram a mo!· 
dar nossas mentes·. 
1 RECEPTORES EXTERNOS E INTERNOS E A REALIDADE 1 
SBMPRB NOS INTERESSAMOS pela epistemologia genética, pelas teorias de 
Piaget sobre a aquisição de conhecimento e a evolução da criança no 
seu desenvolvimento. O que inicialmente nos chamou a atenção foi o 
aprendizado sem a linguagem. A criança utiliza o corpo para sua adap-
tação ao meio ambiente. 
Todo aprendizado é feito com seu corpo a fim de aprender a 
relacionar-se com o meio ambiente físico. A criança. quando sobe numa 
cadeira ou no galho de uma árvore, utiliza todos os sentidos que possui 
desde os sensoriais, os sentidos internos, como o espacial. o de equihbrio, a 
imagem corporal, a forte intuição para solucionar problemas de distância, 
peso, força de sustentação. É o trabalho conjunto e integral do ser, do corpo, 
do conhecimento recém-adquirido por experiências sucessivas de erros. 
Ao tratar dos aspectos relacionados ao erro, Spritzer (1995, 
p. 54) observa: 
[. .. ) só se adquire experiência usando o método da tentativa e erro. Só que nós. 
seres humanos. fomos construídos neurologicarnente de tal maneira que só 
aprendemos errando. Se acertamos, comemoramos. mas não aprendemos. 
Se erramos, fazemos sutis conexões neurológicas chamadas distinções. As 
distinções são, na verdade, um conjunto de dados que nosso cérebro registra 
dando conta do que faltou para alcançarmos o alvo desejado inicialmente. 
O sistema de educação ocidental dá ênfase ao saber. à aquisição quan-
titativa do aprendizado nos sentidos sensoriais, principalmente na visão. 
Já viram uma criança desenhar deitada no chão, com o lápis so-
bre o papel. fazendo círculos? O corpo dela se contorce numa curva, os 
olhos reviram, a boca faz um "O" e conta uma historinha ou canta. O 
corpo, a mente, o espírito participam juntos, criando uma história em 
cada movimento, e a cada traço atribuindo um significado. Esquecemos 
esse princípio de aprendizado. 
Conforme Derdyk (1989. p. 73), "a criança, ser global, mescla suas 
manlf estações expressivas: canta ao desenhar, pinta o corpo ao repre-
1entar, dança enquanto canta, desenha enquanto ouve histórias, repre· 
aenta enquanto fala''16• 
A criança trabalha com o corpo e a mente de forma integral. Com 
o aprendizado da linguagem, pelo qual é introduzida ao mundo simbó· 
llco da sociedade. a criança passa à intensa etapa de condicionamento 
l' socialização que a introduz ao universo do não ("Não faça isso que 
machuca'', "Não suba no muro, na árvore", "Não corra. pois vai trope· 
çar", "Não pule que cai': "Cuidado, que vai se cortar") até a quase lmo· 
bilização corporal, corroborada pelo sistema de ensino escolar, que vai 
forçá-la a se sentar durante 12 anos em bancos escolares, tomando-a 
consequentemente passiva. 
Nessa linha de adaptação, o corpo deixou de participar no sistema 
de aprendizagem. 
Acreditou-se por muito tempo que a finalidade da educação fosse 
tão somente a transmissão de conhecimento, conforme a tradição de 
ensino mecanicista, cuja finalidade é a quantidade de informação para 
a formação numérica de cidadãos produtivos. Isso valorizou os senti· 
dos da visão e da audição, dentre os cinco sentidos mais conhecidos 
(tato, olfato, paladar, visão e audição). 
Tentaremos demonstrar, durante esta exposiç.ão, que não vemos 
a realidade senão de forma parcial e diferenciada, conforme o universo 
específico de pensamentos e crenças, o estado da alma, a atitude moti-
vacional e as aspirações do futuro de cada criança 
Immanuel Kant (apud TIEDERMANN; SIMÕES, 1985, p. 34) dizia 
o seguinte: "Não vemos a realidade como ela é, mas como nós somos". 
Poder-se-ia acrescentar que agimos conforme pensamos e, em conclu· 
são, enxergamos conforme pensamos, seja tão somente e em confor· 
l6 Ao tratar da atividade de desenhar. Derdyk (1989. p. 73) afirma o seguinte: "desenhar é at ividade 
lúdica. reunindo. como em todo jogo. o aspecto operacional eo imaginário. Todo o ato de brincar reune 
esses dois aspectos que sadiamente se correspondem. A operacionalida~e envolve o func!onamento 
fisico, temporal, espacial. material, as regras; o imaginário envolve o projetar. o pensar. o 1deallzar. o 
Imaginar situações. Ao desenhar. o espaço do papel se altera·. 
midade com o universo de nossos pensamentos. Utilizamos o sentido 
seletivo segundo interesses, pensamentos, estados da alma, sentido 
motivacional, expectativas quanto ao futuro e quase sempre atendendo 
ao sentido do prazer. 
Os estímulos selecionados provocam imagens e sensações das expe-
riências vividas anteriormente, e, mediante comparações, justaposições 
com relação a um novo contexto, damos uma interpretação a essa nova 
situação e passamos a acreditar ou crer nela como realidade concreta. 
A realidade é aquela na qual cremos. Capra (1988, p. 55) fala sobre 
a incapacidade de ver a realidade definitiva: 
As teorias científicas não estarão nunca aptas a fornecer uma descrição 
completa e definitiva da realidade. Serão sempre aproximações da verda-
deira natureza das coisas. Em termos claros: os cientistas não lidam com a 
verdade; eles lidam com descrições da realidade limitadas e aproximadas17• 
A interpretação normal é considerar os receptores externos, os sen-
tidos sensoriais perceptivos, como o caminho das respostas ao estimulo 
externo. Temos dentro de nós outros centros de sentidos internos que, 
também, influenciam o comportamento, entre eles sentidos, muitas ve-
zes, inconscientes, como o instinto de sobrevivência, o sentido do equilí-
brio, do movimento, das tendências da procura do seu lugar, do seu can-
to, território, do seu espaço pessoal, do seu equilíbrio interno e externo, 
da beleza, do êxtase, de um companheiro ou de uma simples companhia. 
Para que o corpo se tornasse secundário no processo de aprendi-
zado, deu-se ênfase à mente, atribuindo-lhe o conhecimento da reali-
dade imaginada como decorrente do processo mental. Tornou-se uma 
abstração, isolada do meio ambiente pelos seus próprios mecanismos 
de puro raciocínio. 
Outros receptores internos serão descritos e classificados mais 
adiante. 
17 Segundo Capra (1988). as teorias científicas são descrições aproximadas dos fenômenos naturais. 
ADRO SEQUENCIAL DO PROCISSO DE PERCEPÇÃO 
REALIDADE À AÇÃO 
NA PIGURA a. apresentamos o diagrama sequencial, cujos passos serão 
d11envolvidos a seguir. Porém, antes de desenvolvermos o esquema ex-
posto na figura, faremos uma explicação fisiológica dos sentidos exter-
nos e internos do corpo que influenciam o comportamento do homem. 
1 K1URA 8 • PROCESSO DE PERCEPÇÃO, DA REALIDADE À AÇÃO. 
REALIDADE 
nlvel sensorial 
FILTROS 
fisiológicos - sensoriais - culturais 
nível mental 
CONDICIONANTES 
ideias - conceitos - símbolos - mitos-
padrões - enredo - pensamento -
linguagem não verbal - paradigma -
lateralidade cerebral - modalidade 
VALORES 
objetivos - não objetivos (subjetivos) 
15 sentidos 
processos 
normativos 
AÇÃO 
1 
Todos os sentidos trabalham conjuntamente. expandindo e limi-
tando as funções uns dos outros no sistema nervoso. A consciência é 
limitada e parcial para qualquer enfoque de uma determinada imagem; 
todos os sistemas de memória, sensações experimentadas, o pensa-
mento racional utilizando o silogismo cooperam na tradução da signi-
ficação, os valores da imagem evocada, articulada ou construída. 
Ainda segundo Capra (1982, p. 44), 
[ ... ] o universo deixou de ser visto como uma máquina composta de uma 
profusão de objetos distintos, para apresentar-se agora como um todo har-
monioso e indivisível, uma rede de relações dinâmicas que incluem o ob-
servador humano e sua consciência de um modo essencial. 
Do quadro geral, abordaremos inicialmente os filtros e condicionan-
tes que limitam nossa percepção da realidade e, mais adiante, com mais de-
talhes, apresentaremos o quadro dos sentidos propostos para estudo. 
A sequência inicialmente apresentada pode ser classificada e de-
monstrada por meio da fisiologia, quando devemos contar, além dos 
sentidos exteroceptores, com os sentidos interiores que muitas vezes 
determinam nosso comportamento, de forma básica e instintiva na 
maioria das situações, antecedendo nossa ação consciente. 
Na Figura 9, são classificados os sentidos pela fisiologia, os recep-
tores do sistema nervoso. 
FIGURA 9 • RECEPTORES DO SISTEMA NERVOSO. 
Segundo nossa interpretaçlo da ft1lolo1la, são classificados os 
11ntidos do homem que culminam na mente: 
• 
• 
• 
Exteroceptores: referem-se aos cinco sentidos (visão, tato, olfato, 
audição, paladar). 
Proprioceptores: referem-se aos sentidos do movimento, vestibu-
lar (equilfürio e gravitacional), cinestésico e da dor. 
Interorreceptores (subconsciente): referem-se aos sentidos da nu-
trição (fome), da hidratação (sede), do hormônio (sexo, cortejo. 
"lutá' sexual), da oxigenação (respiração) e orgânico (sentido da 
vitalidade). 
Os sentidos apresentados a seguir estão relacionados à consciência 
(sentido psíquico-mental) e resultam no processo mental do cérebro: 
• 
• 
Holístico (corporal e mental): processa várias informações con-
juntamente, saltos intuitivos, avalia o todo, curiosidades, "caça". 
jogos, defesa. 
Espacial: refere-se aos movimentos cinestésico e vestibular. 
Proxêmico: refere-se aos âmbitos pessoal, territorial e privado. 
Do prazer . 
Tiedermann e Simões (1985, p. 3) caracterizam cada tipo de recep· 
tor da seguinte forma: 
Êxtero-receptores são responsáveis pela captação de estímulos exterlo· 
res ao organismo. [ ... ] os íntero-receptores, ou sentidos profundos, são 
destinados à percepção do estado interno do nosso organismo, como. por 
exemplo, fome, sede e sexo. [ ... ] os próprio-receptores fornecem informa-
ções sobre o movimento. postura e equilíbrio do corpo; são responsá.vels 
por comportamentos, como andar a pé ou de motocicleta. falar, assobiar. 
suspirar, afagar e beijar. 
Pela transdução, todos os estímulos de qualquer espécie trans-
formam-se em impulso de energia eletroquímica, o qual, pelo sistema 
nervoso, dirige-se ao cérebro. Quando isso ocorre, o indivíduo passa a 
ter consciência da percepção e os pensamentos começam a surgir. 
Os efeitos desses interorreceptores são muito conhecidos pelas 
pessoas no cotidiano, já que afetam diariamente o comportamento. Por 
serem comuns e conhecidos, não serão incluídos neste estudo dos sen-
tidos, mas serão descritos, de forma sumária, alguns exemplos a título 
de ilustração. 
Os interorreceptores podem afetar a visão da realidade e o com-
portamento quando, por coincidência, todos os assuntos mais impor-
tantes são tratados próximo da hora do almoço ou à tarde, quando o 
sintoma de fome aperta o estômago, desviando nossa atenção do assun-
to em pauta, tornando-nos distraídos, o que pode afetar a entrevista ou 
qualquer atividade. Ou quando os alunos em provas, com a mente per-
turbada pelo sentido da fome, perdem a clareza, dificultando a concen-
tração. Da mesma forma, a sede, a dor e o nervosismo podem perturbar 
bastante o raciocínio de uma pessoa. 
Eis um exemplo cotidiano: como apreciamos imensamente a lei-
tura, sabemos exatamente onde fica a livraria de um shopping center, 
mas não nos perguntem sobre as outras lojas. Outra pessoa pode co-
nhecer bem a localização das lojas de moda de sua preferência. Assim, 
todas as pessoas enxergam e reconhecem tão somente as coisas de seu 
interesse, conforme o universo de seus pensamentos. A realidade é res-
trita a esse enfoque, e a nossa mente é seletiva. Vemos a realidade de 
acordo com o universo de nossos pensamentos. 
Vejamos o que diz Schumacher (1981, p. 70-71) sobre a importân-
cia dos valores e pensamentos: 
Isto significa que os valores não são meras fórmulas ou simples enuncia-
dos dogmáticos; é com eles que pensamos e sentimos. como instrumen-
tos que são para vermos, interpretarmos e vivenciarmos o mundo que nos 
cerca. Quando pensamos, não nos limitamos a pensar: pensamos com as 
nossas idéias. A nossa mente não é um vazio. uma tabula rasa. Quando 
pensamos, só podemos fazê-lo porque a nossa mente está repleta de idéias 
com que pensamos. 
Outra situação muito comum ocorre em exames, testes, entrevis-
tas importantes ou tarefas em que, sob pressão, a pessoa fica nervosa. 
A respiração toma-se acelerada e curta, e a consequência é pouca oxi-
genação no cérebro. Nesse caso, a pessoa fica confusa, não consegue 
visualizar com clareza o objeto, o diálogo ou o evento que está ocor· 
rendo e não raciocina adequadamente. É preciso que a pessoa respire 
semiprofundamente muitas vezes até que o cérebro fique oxigenado o 
suficiente para visualizar o quadro contextual e raciocinar com clareza. 
conduzindo os pensamentos até o fim. 
Todos os estímulos em forma de energia eletroquímica chegam 
ao cérebro e transformam-se em pensamento, em imagens, e, quando 
o pensamento inicia o processo da racionalização, da recordação, do si-
logismo, da síntese, da intuição, da conclusão. é o momento em que se 
dirige para o exterior, como atividade. ação, ou é feita a interiorização. 
Elencamos como sentido psíquico-mental o processo mental 
de atuação, os sentidos holísticos, em que o corpo e a mente proces-
sam juntos as várias informações. Quando avaliam uma situação, 
comparam-na com as experiências anteriores; quando fazem análise e 
síntese diante de novas situações, traçam um plano de ação como urna 
resposta externa ou um plano de alteração de urna conduta de com-
portamento, momento no qual entram em cena os sentidos espacial, 
proxêmico e de prazer, que influem na conduta em relação às decisões 
normativas da ação.

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