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Psicologia Comportamental Introdução ao Behaviorismo O que é o Behaviorismo? Skinner começa esclarecendo que o behaviorismo não é a ciência do comportamento em si, mas a filosofia dessa ciência. Ou seja, ele não estuda diretamente o comportamento, mas questiona como essa ciência deve ser feita, que métodos usar, que tipo de conhecimento pode produzir e como ela se relaciona com outras áreas do saber. Ele levanta perguntas como: É possível uma ciência do comportamento humano? Ela pode explicar todos os aspectos do comportamento? Suas leis são tão válidas quanto as da física ou biologia? Ela pode gerar uma tecnologia útil para a sociedade? Críticas Comuns ao Behaviorismo Skinner lista 20 críticas frequentes ao behaviorismo e afirma que todas são falsas e baseadas em equívocos. Ele reconhece que parte das críticas vem dos primórdios do behaviorismo, com John B. Watson (1913). Watson foi um pioneiro, mas cometeu exageros: Disse que podia moldar qualquer criança independentemente de sua genética (o que ele mesmo depois admitiu ser exagerado). Focou demais em reflexos condicionados (como os cães de Pavlov) e deixou a impressão de que o comportamento humano era simples e mecânico. Watson e Pavlov usaram termos fisiológicos sem comprovação direta, o que gerou desconfiança. Skinner afirma que mais de 60 anos se passaram e a ciência do comportamento evoluiu muito, mas as críticas ainda se baseiam na visão antiga. Por que o Behaviorismo ainda é mal compreendido? Skinner aponta duas razões principais: 1.O comportamento humano é um tema sensível. → Mudar como vemos nós mesmos é desconfortável. → Termos mentalistas (como “vontade”, “consciência”) já estão enraizados na nossa linguagem. 2. A ciência do comportamento é pouco divulgada. → Pesquisadores raramente explicam seus achados ao público. → Poucos conhecem a Análise Experimental do Comportamento, que é a base mais sólida do behaviorismo moderno. Psicologia Comportamental Pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical O Behaviorismo Radical como Filosofia da Ciência O Behaviorismo Radical é a filosofia que fundamenta a Análise do Comportamento como ciência. Ele define o que deve ser estudado, como estudar e que tipo de conhecimento é válido. Diferencia-se do Behaviorismo Metodológico (Watson), que restringe o estudo apenas a eventos públicos e observáveis. Contexto Histórico: Watson e o Behaviorismo Metodológico No final do século XIX, a Psicologia surgiu como ciência independente, com Wundt e a introspecção. Watson (1913) criticou a introspecção por sua falta de replicabilidade e propôs uma psicologia baseada no comportamento observável. Seus objetivos eram a previsão e o controle do comportamento. Características do Behaviorismo Metodológico: Foco em eventos públicos. Sujeito passivo, determinado pelo ambiente. Modelo mecanicista (estímulo-resposta). Behaviorismo Radical: Concordâncias e Rupturas Skinner reformulou o behaviorismo, criando o Behaviorismo Radical: Objeto de estudo: comportamento, incluindo eventos públicos e privados (pensamentos, sentimentos). Rejeição de explicações mentalistas (como "consciência causa comportamento"). Defesa da experimentação, mas sem sacrificar a complexidade do comportamento. Substituição do modelo causal mecanicista por relações funcionais. Adoção do modelo de seleção por consequências, inspirado em Darwin. Modelo de Seleção por Consequências Skinner propôs três níveis de seleção: Filogênese: seleção de comportamentos inatos pela evolução. Ontogênese: seleção de comportamentos durante a vida do indivíduo por meio de reforçamento. Cultura: seleção de práticas culturais que beneficiam o grupo. Exemplo: uma criança que emite um som (“mã”) e é reforçada pela mãe tende a repetir esse som → seleção por consequências no nível ontogenético. Psicologia Comportamental Pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical Unidade de Análise: Contingência A unidade básica de estudo é a contingência: relação entre comportamento e ambiente. Representada como: Antecedente → Comportamento → Consequência. O psicólogo busca identificar e modificar essas relações para entender e intervir no comportamento. Concepção de Homem no Behaviorismo Radical O homem é ativo, histórico e social. Age sobre o mundo, modifica-o e é modificado pelas consequências de suas ações. Não é uma “vítima” de forças internas ou inconscientes. Sua personalidade, criatividade, emoções e consciência são comportamentos aprendidos por meio de interações com o ambiente. Ciência do Comportamento: Análise do Comportamento Objeto de estudo: interações entre organismo e ambiente. Método: experimentação, com controle de variáveis e replicabilidade. Objetivos: previsão e controle do comportamento. Pesquisa com animais: útil para identificar princípios comportamentais que também se aplicam a humanos. Psicologia Comportamental O mundo dentro da pele O Estudo da Privacidade no Behaviorismo Radical O Behaviorismo Radical, proposto por B.F. Skinner, defende que eventos privados (pensamentos, sentimentos, sensações) são tão passíveis de estudo científico quanto eventos públicos (comportamentos observáveis). Contrariando críticas comuns, Skinner não ignora a subjetividade; pelo contrário, ele a inclui em sua ciência do comportamento, mas sob uma perspectiva monista – ou seja, entende que tanto eventos públicos quanto privados têm natureza física e são produtos das interações entre o organismo e o ambiente. Monismo vs. Dualismo Dualismo: pressupõe que eventos mentais e físicos têm naturezas diferentes (ex.: mente imaterial vs. corpo material). Monismo (Skinner): defende que todos os fenômenos, inclusive os privados, são de natureza física e podem ser estudados pela ciência. Isso significa que, para Skinner, sentimentos, pensamentos e sensações não são entidades misteriosas, mas sim comportamentos encobertos que também são moldados pelas contingências ambientais. Como Sentimos e Relatamos o Mundo Interno Skinner identifica três sistemas nervosos pelos quais respondemos a estímulos internos e externos: Sistema proprioceptivo: relacionado à orientação do corpo no espaço (músculos, esqueleto). Sistema interoceptivo: responde a estímulos internos (glândulas, órgãos). Sistema exteroceptivo: responsável pela percepção sensorial do ambiente externo (visão, audição, tato). Aprender a descrever o que sentimos depende de uma história de aprendizagem verbal. Por exemplo: Crianças aprendem a nomear sensações a partir de públicas correlatas (ex.: pais perguntam "está doendo?" quando a criança cai). Também aprendemos por meio de metáforas (ex.: "saudade dói como um barco que evita atracar") e descrições indiretas. Psicologia Comportamental O mundo dentro da pele Aprendendo a Relatar o Privado A comunidade verbal nos ensina a descrever eventos privados de três formas principais: 1.Correlação com eventos públicos: "Você está triste?" quando a pessoa chora. 2.Efeitos colaterais observáveis: "Você está com fome?" quando alguém come vorazmente. 3.Metáforas e descrições compartilhadas: "Estou feliz como pinto no lixo". Essas descrições são aprendidas e refinadas ao longo da vida, tornando-se parte do nosso repertório verbal. Autoconhecimento como Comportamento Social Skinner afirma que o autoconhecimento tem origem social. Só nos tornamos conscientes de nossos estados internos porque outras pessoas nos perguntam sobre eles (ex.: "O que você está sentindo?"). Assim, o autoconhecimento é um comportamento verbal aprendido, que nos ajuda a prever e controlar nosso próprio comportamento. "O autoconhecimento é de origem social. Só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante para as demais é que ele se torna importante para ela própria." (Skinner, 1974) Ferramentas para Identificar e Regular Emoções Práticas terapêuticas, como as presentes na Terapia Comportamental Dialética (DBT), utilizam instrumentos para ajudar as pessoasa identificar e nomear emoções. Exemplos: Emocionários: livros que descrevem emoções e suas funções. Fichas de regulação emocional: listas de palavras, eventos desencadeantes, sensações corporais e comportamentos associados a emoções como medo, raiva, tristeza etc. Essas ferramentas auxiliam no desenvolvimento de repertórios verbais mais precisos para descrever experiências internas. A Importância do Mundo Privado na Análise do Comportamento Para o Behaviorismo Radical, o "mundo dentro da pele" não é ignorado, mas sim estudado como parte do comportamento humano. Eventos privados são: Físicos e mensuráveis indiretamente; Aprendidos por meio de interações sociais; Passíveis de análise funcional, assim como comportamentos públicos. Dessa forma, a Análise do Comportamento oferece uma visão integrada do ser humano, considerando tanto suas ações observáveis quanto sua experiência subjetiva, sem recorrer a explicações mentalistas ou dualistas. Psicologia Comportamental Comportamento Verbal Aprendendo a Relatar o Privado O comportamento verbal é um tipo de operante especial, definido por B.F. Skinner como comportamento que produz consequências através da mediação de um ouvinte, que foi treinado por uma comunidade verbal para responder de maneira específica. Diferente do comportamento não verbal, que age diretamente sobre o meio, o verbal depende dessa mediação, tornando a audiência (ouvinte) um estímulo discriminativo crucial para sua emissão. A unidade de análise é o episódio verbal, que descreve a interação entrelaçada entre falante e ouvinte. O falante emite uma resposta verbal (Rv) que é reforçada pelo comportamento do ouvinte (Rw), que, por sua vez, age como estímulo discriminativo (SD) e mediador da consequência. O significado de uma palavra ou frase não está nela mesma, mas na relação funcional entre a resposta verbal e as contingências (antecedentes e consequentes) que a controlam. Skinner classificou os operantes verbais com base no tipo de controle de estímulo antecedente e na natureza da consequência. São eles: 1.Ecoico: Controlado por um estímulo verbal vocal antecedente. A resposta vocal do falante tem correspondência ponto a ponto e similaridade formal com o estímulo (ex.: ouvir "cachorro" e dizer "cachorro"). Sua principal função é a aquisição de novas respostas verbais. 2.Textual: Controlado por um estímulo verbal escrito. A resposta é vocal e há correspondência ponto a ponto, mas não há similaridade formal (ex.: ler a palavra "casa" e pronunciá-la). 3.Transcrição: Controlado por um estímulo verbal sonoro ou escrito. A resposta é sempre escrita. Pode ser cópia (estímulo escrito, com similaridade formal) ou ditado (estímulo sonoro, sem similaridade formal). 4. Intraverbal: Controlado por um estímulo verbal antecedente (vocal ou escrito), mas não há correspondência ponto a ponto entre o estímulo e a resposta. É a base de conversas, respostas a perguntas e associações (ex.: responder "quatro" à pergunta "dois mais dois?"). 5.Tato: Controlado por um estímulo antecedente não verbal (objeto, evento, sensação). Sua consequência é um reforço generalizado (ex.: atenção, aprovação social). É o operante de "nomear" ou "descrever" o mundo. Pode sofrer extensões: Extensão Metafórica: O tato é emitido sob controle de uma propriedade do estímulo que é semanticamente análoga a outra situação (ex.: "Estou me afogando em trabalho"). Extensão Metonímica: O tato é emitido sob controle de uma parte ou elemento associado ao estímulo (ex.: "Comprei dez cabeças de gado" para se referir aos animais inteiros). Psicologia Comportamental Comportamento Verbal Aprendendo a Relatar o Privado 6. Mando: Sua principal variável controladora não é um estímulo antecedente, mas uma operação motivadora (estado de privação ou estimulação aversiva). Especifica sua própria consequência reforçadora, que é específica e relacionada a essa operação (ex.: "Me dê água" é reforçado pela água; "Saiam!" é reforçado pela retirada de pessoas). Além desses, existe o operante verbal secundário: 7. Autoclítico: São respostas que editam e qualificam outros operantes verbais já emitidos, influenciando o efeito sobre o ouvinte. O falante age como ouvinte de si mesmo. Podem ser: Descritivos: Indicam a fonte de controle da resposta ("Acho que...", "Vi que..."). Qualificadores: Alteram a força ou certeza da afirmação ("Certamente", "Talvez"). Quantificadores: Especificam quantidade ou tempo ("Todos", "Sempre"). Com função de mando: Buscam controlar a atenção do ouvinte ("Preste atenção!"). Os operantes tato e mando podem sofrer distorções devido a contingências aversivas: Tato Distorcido: Tem a topografia de um tato (parece uma descrição), mas é emitido principalmente para produzir reforço generalizado ou evitar punição, e não sob controle preciso do estímulo não verbal. É um "relato do que o ouvinte quer ouvir" (ex.: um cliente dizer que fez a tarefa terapêutica quando não fez, para evitar o confronto com o terapeuta). Mando Disfarçado: Tem a topografia de um tato, mas sua função é de mando. Não especifica claramente o reforço, sendo uma forma mais sutil de pedir algo (ex.: Em vez de pedir diretamente para trocar a data de uma prova, um aluno diz "Professor, temos outra prova muito difícil no mesmo dia").