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Direito CONSTITUCIONAL 2016 XVII Concurso de Juiz Federa do Tribunal Regional Federa da 4ª Região Elaborado/Revisado por: Antônio Neto Cristiano de Barros Fábio Tironi Francis Bergmann Luis Guilherme Marco Aurélio Rubick da Silva Patricia Novais Material finalizado em outubro de 2016. Ponto 1: Constituição. Conceito. Classificação. Elementos. Poder constituinte: originário e derivado. Direitos Humanos. Direitos e Garantias Fundamentais. Hermenêutica constitucional. O constitucionalismo brasileiro. A ordem constitucional vigente. Emendas à Constituição. Disposições gerais e transitórias. República e federação no direito Constitucional em geral. Sistema brasileiro. Repartição de competências. União: bens e competência. Competência exclusiva, competência de normas gerais, competência comum e competência concorrente. Sumário 1.1.Constituição. Conceito. Classificação. Elementos. 1.1.1.Concepções sobre o que é uma constituição. 1.1.2. Classificação das constituições. 1.2.Poder constituinte: originário e derivado. 1.3.Direitos humanos. Direitos e garantias fundamentais. 1.4.Hermenêutica constitucional. 1.5. O constitucionalismo brasileiro. A ordem constitucional vigente. 1.6. Emendas à constituição. Disposições gerais e transitórias. 1.7. República e federação no direito constitucional em geral. Sistema brasileiro. 1.7.1. Estado: noções gerais – teoria gera do Estado. 1.7.2. Espécies de forma de Estado. 1.7.3. O Estado Federal – conceito. 1.7.4. Forma de Governo. 1.7.5. Repartição de competências. União. Bens e competência. Competência exclusiva, competência de normas gerais, competência comum e competência concorrente. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO. ELEMENTOS. DIREITO CONSTITUCIONAL: “É a ciência encarregada de estudar a Teoria das Constituições e o ordenamento positivo dos Estados” (BULOS, 2010 p. 56). O direito constitucional é dividido pela doutrina em 03 grandes ramos: 1) DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO – é a disciplina que tem por objeto o estudo dos princípios e normas de uma Constituição concreta em vigor de um Estado determinado; 2) DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO – seu objetivo é fazer comparações entre normas e princípios de várias Constituições, vigentes ou não; 3) DIREITO CONSTITUCIONAL GERAL – a disciplina que traça uma série de princípios e conceitos que podem ser encontrados em várias Constituições, para classificá-los e sistematizá-los de modo unitário. O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO? Do ponto de vista jurídico, a Constituição é o documento que estabelece e disciplina o conjunto de elementos essenciais ao Estado. Se o Estado vai ser constituído, será necessário tratar de seus elementos (humano – povo, físico – território e político – soberania ou governo; há doutrinadores que acrescentam um 4º elemento que é a finalidade (Mazzuoli)), que serão tratados pela CONSTITUIÇÃO. A doutrina aponta que Abade de Sieyès foi o formulador do conceito moderno de Constituição (através da publicação do livro “O que é o Terceiro Estado?”). Destaca-se, em seu pensamento, o deslocamento de eixo de legitimidade do poder político – antes calcado em bases teocráticas – para um substrato de legitimidade alicerçado na soberania da nação. A partir do Séc. XIX, teve início o que se chamou de CONCEITO IDEAL DE CONSTITUIÇÃO (CANOTILHO), segundo o qual toda nação deveria ter uma constituição, que, por sua vez, deveria ter 03 elementos: 1) Sistema de garantias da liberdade (implementado a partir da existência de direitos individuais e da participação popular no parlamento); 2) Princípio da separação dos poderes (Montesquieu) e 3) Forma escrita. Já no Séc. XX, surgiu a ideia da RACIONALIZAÇÃO DO PODER: já não basta a previsão dos direitos fundamentais, é preciso garantir condições mínimas para que um poder democrático possa subsistir. OBJETO DA CONSTITUIÇÃO: é a disciplina dos elementos constitutivos do Estado (meios de aquisição do poder, sistema de governo, forma de governo). Questão é saber se o objeto é DINÂMICO ou ESTÁTICO. É sempre dinâmico, porque a sociedade humana está sempre em evolução, sempre se modificando. CONSTITUCIONALISMO: Conceito: Constitucionalismo é a teoria (ou a ideologia) que ergue o princípio do governo limitadoindispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. Obs.: Será objeto de estudo em tópico específico ainda neste ponto 1. CROWDSOURCED CONSTITUTION: É aquilo que vem sendo denominado crowdsourced constitution e que se implementa pela participação popular por meio da internet (crowdsourcing), em um processo constituinte bastante interessante de “terceirização para a multidão”. Sem dúvida, as novas formas de democracia utilizando as ferramentas da tecnologia podem ajudar nesse modelo de verdadeira Constituição colaborativa. No Brasil, com o lema “participação virtual, cidadania real”, lançado em 2009, destacamos o portal “E-democracia” da Câmara dos Deputados (<http://edemocracia.camara.gov.br>). 1.1.1. CONCEPÇÕES CLÁSSICAS SOBRE O QUE É A CONSTITUIÇÃO: são 03: 1) CONCEPÇÃO SOCIOLÓGICA - Ferdinand Lassale: a Constituição é, em essência, a soma dos fatores reais de poder que regem um determinado Estado, a Constituição não é um mero produto da razão, algo inventado pelo homem, mas sim o resultado concreto do relacionamento entre as forças sociais. Características do enfoque sociológico: aConstituição é vista mais como fato do que como norma, prioriza-se a perspectiva do ser e não a do dever-ser; a Constituição não está sustentada numa normatividade superior transcendente (como seria o direito natural), está baseada nas práticas desenvolvidas na sociedade (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade, p. 26); 2) CONCEPÇÃO POLÍTICA - Carl Schmitt: a Constituição significaria a decisão política fundamental. Para Schmitt, há diferença entre Constituição e lei constitucional. A Constituição resulta da manifestação de um poder constituinte que, por intermédio de uma decisão política fundamental, crie e organize o Estado. Assim, o conteúdo próprio da Constituição é simplesmente aquilo que diga respeito à estrutura básica do Estado, à sua conformação fundamental. A Constituição limitar-se-ia, portanto, a disciplinar a forma de Estado, a forma de governo, o Sistema de governo, o regime de governo, a organização e divisão dos poderes, o rol de direitos individuais. As leis constitucionais, por sua vez, são todas aquelas normas inscritas na Constituição mas que não têm a natureza de decisão política fundamental. Estas normas só se tornam constitucionais em virtude do documento em que estão inseridas. A matéria de que tratam poderia muito bem ser relegada à legislação ordinária. 3) CONCEPÇÃO JURÍDICA (KELSEN, no livro Teoria Pura Do Direito): a constituição é norma pura e um dever ser, não há fundamento sociológico ou político, é pura norma. O Kelsen dá dois sentidos à palavra constituição: JURÍDICO-POSITIVO: direito positivo é norma escrita ou posta pelo homem (pirâmide das leis – princípio da compatibilidade vertical entre as normas inferiores e superiores). No topo da pirâmide há uma norma suprema que impõe a compatibilidade para todas as inferiores, essa norma é a CONSTITUIÇÃO; LÓGICO-JURÍDICO: a norma inferior encontra seu fundamento de validade na norma que lhe for superior. A constituição encontra o seu fundamento de validade, NÃO NO DIREITO POSTO, mas, no plano PRESSUPOSTO LÓGICO, tendo natureza jurídica, mas, em plano pressuposto, ou seja, a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL, que é a constituição no sentido lógico-jurídico. Obs.: A concepção jurídica da Constituição tem em Hans Kelsen seu principal representante. Neste sentido a Constituição é vista essencialmente como norma jurídica, norma fundamental ou lei fundamental de organização do Estado e da vida jurídicade um país. – A Constituição é considerada como norma pura, puro dever-ser, completamente desligada da sociologia, da política, da filosofia ou da moral. A Teoria Pura do Direito de Kelsen visa exatamente tornar puro o objeto de estudo da ciência jurídica (as normas jurídicas) livrando-o de qualquer juízo de valor moral ou político, social ou filosófico. – Constituição em Kelsen tem dois sentidos: 1) sentido lógico-jurídico: Constituição = norma hipotética fundamental. Como Kelsen não admite que o direito se fundamente em qualquer elemento sociológico, político ou filosófico, ele teve que cogitar de uma norma fundamental, meramente hipotética, que existe apenas como pressuposto lógico da validade da própria Constituição. O teor desta norma hipotética fundamental seria mais ou menos este: “obedeça a tudo o que está na Constituição”. 2) sentido jurídico-positivo: é a Constituição positiva. É a norma positiva suprema; conjunto de normas que regulam a criação de outras normas. É a Constituição que confere a unidade ao ordenamento jurídico de um Estado. Com efeito, no ápice do ordenamento jurídico está a Constituição. – Esta é o fundamento de validade de todas as outras normas jurídicas. É da Constituição que se extrai a validade de todas as outras normas infra-constitucionais em qualquer órbita: federal, estadual ou municipal. – Consideração sobre Hans Kelsen: elogia-se a grande racionalidade e a lógica que Kelsen imprimiu à ciência do direito. A grande objeção é que seu intento de purificar o direito, livrando-o da moral, da ética, da política não pode ser de todo satisfeito. Isto porque se é correto e aceitável que todas as normas infra-constitucionais devam buscar na Constituição seu fundamento de validade; é altamente arriscado e diria até inaceitável que o fundamento de validade da própria Constituição seja simplesmente uma suposta norma hipotética fundamental. A construção teórica genial de Kelsen, se não estiver ligada a uma concepção filosófica, política, respeitadora dos direitos humanos, pode ser utilizada tanto pelos Estados mais democráticos e justos quanto pelos mais injustos e autoritários. Não se poderia aceitar, por exemplo, uma norma constitucional que estabelecesse como um dos objetivos do Estado exterminar uma parcela da população. (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade; e MICHEL TEMER). Obs. 2: BONAVIDES: O formalismo de Kelsen ao fazer válido todo conteúdo constitucional, desde que devidamente observado o modus faciendi legal respectivo, fez coincidir em termos absolutos os conceitos de legalidade e legitimidade, tornando assim tacitamente legítima toda espécie de ordenamento estatal ou jurídico ... até o Estado nacional-socialista de Hitler fora Estado de Direito. CONCEPÇÕES MODERNAS: Além dessas 03 concepções clássicas, existem outras 03 concepções ou teorias, mais modernas: 1) TEORIA DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO - KONRAD HESSE: é uma resposta ao Lassale. A constituição escrita NÃO necessariamente será a parte mais fraca no embate, pode ser que a constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fatores reais de poder, ela pode modificar o conjunto de forças da sociedade, modificando a sociedade; não existe interpretação constitucional desvinculada dos problemas concretos. Obs.: A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição tem uma força normativa, não sendo somente uma folha de papel (LASSALLE). As questões jurídicas somente serão convertidas em questões de poder, caso não haja a satisfação de determinados pressupostos. O autor reconhece a existência de uma VONTADE DA CONSTITUIÇÃO, não só há a vontade do poder, há também a vontade da própria constituição. Deve ser reconhecida a força normativa da Constituição, sob pena de ser confundida com a Sociologia ou a Ciência Política. Não pode haver o isolamento entre a norma e a realidade, como propõe o positivismo. A constituição jurídica e a constituição real complementam-se, condicionam-se mutuamente, mas não dependem, pura e simplesmente, uma da outra. 2) CONSTITUCIONALIZAÇÃO SIMBÓLICA - MARCELO NEVES: a utilização da norma constitucional como símbolo, o legislador constituinte quando elabora o texto, tinha a real intenção de concretizar o que escrevia ou a intenção era somente entregar um símbolo à sociedade. Será que a constituição é para ser efetiva ou é para ser um símbolo. Propõe um modelo tricotômico para a tipologia da legislação simbólica, estabelecendo que seu conteúdo pode ser: Confirmar valores sociais: o legislador assume uma posição em relação a determinados conflitos sociais, e ao consagrar um certo posicionamento, para o grupo que tem a sua posição ampara na lei, essa “vitória legislativa” se caracteriza como verdadeira superioridade da concepção valorativa; Demonstrar a capacidade de ação do Estado no tocante à solução dos problemas sociais (legislação-álibi): a legislação simbólica pode ter o objetivo de assegurar confiança nos sistemas jurídico e político Adiar a solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios: as divergências entre grupos políticos não são resolvidas por meio de ato legislativo, que, porém, será aprovado consensualmente pelas partes envolvidas, exatamente porque está presente a perspectiva da ineficácia da respectiva lei. A Constituição seria definida como um acoplamento estrutural entre política e direito, apresentando-se como uma “interpenetração” (ou interferências) entre dois sistemas sociais autônomos. A Constituição, nesse sentido, teria um sentido negativo e outro positivo: Negativo: o texto constitucional “não é suficientemente concretizado normativo-juridicamente de forma generalizada”. Positivo: a atividade constituinte e a linguagem constitucional desempenham um relevante papel político ideológico, servindo para encobrir problemas sociais e obstruindo as transformações efetivas da sociedade. 3) CONSTITUIÇÃO ABERTA - PAULO BONAVIDES e CARLOS ROBERTO CIRQUEIRA CASTRO: o objeto da constituição é sempre dinâmico. A constituição deve ser o documento dinâmico que não será enclausurado em si mesmo. As necessidades sociais vão se espalhar por outros ramos, sob pena de ficar ultrapassada e ser condenada à morte. Está repleta de conceitos abertos. 1.1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: A doutrina apresenta várias classificações distintas: 1) QUANTO AO CONTEÚDO: 1.1) MATERIAIS: “são as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais” (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso, p. 44). 1.2) FORMAIS: documento escrito, estabelecido de modo solene pelo poder constituinte originário e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos. Estabelece o peculiar modo de existir do Estado (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso, p. 45). As normas constitucionais, independentemente de seu conteúdo, possuem supremacia em relação à lei ordinária;. 2) QUANTO À FORMA: 2.1) ESCRITAS ou DOGMÁTICAS: fruto de um trabalho racional ou sistemático, aplicando-se racionalmente os dogmas da sociedade; 2.2) CODIFICADA: um único texto; 2.3) NÃO-CODIFICADA (ESPARSA/LEGAL): dois ou mais textos; 2.4) NÃO-ESCRITAS ou COSTUMEIRAS ou CONSUETUDINÁRIAS ou HISTÓRICAS: é o exemplo da Constituição Inglesa, que se baseia nos costumes e na jurisprudência, também pode ter texto escrito, especificamente no caso da constituição inglesa há texto escrito, tratam-se de textos históricos que se incorporam à constituição; 3) QUANTO À ORIGEM: 3.1) DEMOCRÁTICAS ou POPULARES ou PROMULGADAS: são as elaboradas por representantes do povo, ou seja, são fruto de uma assembleia constituinte que foi criada para isso. No Brasil, são: 1891, 1934, 1946 e 1988 (Lembre-se: a primeira republicana (1891) e todas as outras PARES). 3.2) OUTORGADAS ou IMPOSTAS: impostas pela força, sem participação popular. No Brasil, são: 1824, 1937, 1967 e 1969(Lembre-se: a primeira do Brasil e as outras IMPARES). [1: Foi aprovada pelo Congresso, mas nãohouve ambiente para uma discussão política e soberana, além de que o congresso não foi eleito para fazer uma constituição, ou seja, não existia outorga do poder pelo povo para a elaboração de constituição.][2: Há discussão se se trata até mesmo de constituição.] 3.3) PACTUADAS: quando o poder constituinte NÃO está na mão do seu titular o povo. Mas quando houver a divisão entre os dois (o povo e o poder constituinte), a constituição será pactuada; 3.4) CESARISTAS ou PLEBISCITÁRIAS: consulta popular depois que o texto esteja escrito, na verdade é um referendo e não um plebiscito, que é anterior à tomada de decisão e à elaboração do texto. 4) QUANTO À ESTABILIDADE: 4.1) RÍGIDAS: nessas constituições, os processos de elaboração das emendas são diferentes dos processos de elaboração da lei. Na CF (art. 60), dois turnos. São pilares do direito constitucional: SUPREMACIA CONSTITUCIONAL, RIGIDEZ, CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, somente se pode falar em controle se há supremacia e rigidez. 4.2) FLEXÍVEIS: a lei ordinária tem a mesma natureza jurídica de emenda constitucional, não há divergência entre os procedimentos de uma e outra; 4.3) SEMI-RÍGIDAS: parte é rígida e parte é flexível. 5) QUANTO À EXTENSÃO: 5.1) CONCISAS ou BREVES ou CURTAS ou SINTÉTICAS: preveem somente princípios e normas gerais, não vão se preocupar em definir todos os efeitos. São típicas do estado liberal; 5.2) LONGA ou ANALÍTICA ou PROLIXA: a extensão é bastante ampla. São típicas do estado de bem-estar social. 6) QUANTO À FINALIDADE: 6.1) NEGATIVAS ou GARANTIA: equivalem às concisas; 6.2) DIRIGENTES ou PROGRAMÁTICAS: estabelecem programas e definem os limites e a extensão de seus direitos, equivalem às constituições longas; 6.3) CONSTITUIÇÕES BALANÇO: De conotação socialista, representa um estágio no desenvolvimento das forças produtivas, porque são essas forças econômicas que moldam o arcabouço jurídico. Inspirada na teoria dos “fatores reais de poder”, de Lassale, ela deve registrar a organização estabelecida em determinado momento histórico. Existe ainda a CLASSIFICAÇÃO ONTOLÓGICA, que foi feita pelo KARL LOEWENSTEIN. Ele vai cotejar a constituição com o processo político: 1) NORMATIVA: o processo político da sociedade se ajusta à constituição, ou seja, a constituição que se impõe ao processo político; 2) NOMINAL: tem nome de constituição, mas cede ao processo político, ela se amolda a ele; 3) SEMÂNTICA: serve aos interesses dos detentores do poder político e não ao povo. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES: 1) CONSTITUIÇÃO EXPANSIVA – sinônimo de Constituição analítica; 2) CONSTITUIÇÃO CONTRATUAL OU PACTUAL – resultado da aliança entre o rei e o Poder Legislativo; 3) CONSTITUIÇÃO SEMÂNTICA – é aquela que só serve para legitimar os interesses da classe dominante, sem que seus fundamentos tenham eficácia; 4) CONSTITUIÇÃO GARANTIA – seu objetivo é de assegurar a liberdade, limitando para isso o poder estatal através da separação de poderes; 5) CONSTITUIÇÃO LEGAL – é a que se apresenta esparsa ou fragmentada em vários textos; 6) CONSTITUIÇÃO TOTAL – refere-se àquela que engloba os vários tipos de perspectivas constitucionais, como o político, o sociológico, o normativo. É a visão da lei maior em sua integralidade; 7) CONSTITUIÇÃO ORAL - é a que não está sedimentada em um determinado texto escrito; 8) CONSTITUIÇÃO COMPROMISSÓRIA – é a que se originou de um compromisso constitucional, fruto de uma ampla composição entre as várias classes sociais. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: FORMAL, ESCRITA, DOGMÁTICA, PROMULGADA, RÍGIDA E ANALÍTICA. (Lembre-se: Pedra formal) PODER CONSTITUINTE: ORIGINÁRIO E DERIVADO. PODER CONSTITUINTE. É o poder que cria a norma constitucional, tornando-a exigível, cria e põe em vigor a norma constitucional (Estrutura do Estado, Divisão dos Poderes e outros). Visa a criar a Constituição, a estabelecer a estrutura do Estado. Ele se manifesta em momentos de crise (não necessariamente violenta), porque instaura uma Nova Ordem Constitucional (crises jurídica, econômica, social e política). O Poder Constituinte legitima a estrutura do Poder. Inicialmente, Sieyes pensava no Poder Constituinte tendo como titular a nação, o que foi depois evoluído para povo. TEORIA DO PODER CONSTITUINTE O marco foi a Teoria de SIEYÈS, com o livro “O que é o Terceiro Estado” (A Constituinte Burguesa). A manifestação deve ser feita pelos representantes do Povo, materialização do Poder, no conceito de representatividade. Exercício da soberania popular. Distinguiu: O Poder Constituinte (poder de elaborar a estrutura do Estado e dividir os Poderes) do Poder Constituído (Poderes reconhecidos pela constituição são: o Legislativo, Executivo e Judiciário). NATUREZA DO PODER CONSTITUINTE A natureza do Poder Constituinte é jurídica ou extrajurídica? Existem duas correntes doutrinárias que procuram impor suas posições: 1) JUSPOSITIVAS (KELSEN): o poder constituinte é um poder histórico, ele simplesmente existe, ou seja, é assim, não se funda em uma ordem jurídica superior, ele inaugura toda a normatização jurídica, ele é um fato, não deriva de outro direito superior, o poder que antecede a norma, sendo um Poder Político. No Brasil, essa é a posição adotada; 2) JUSNATURALISTAS (TOMÁS DE AQUINO): o fundamento de validade do poder constituinte está no direito natural, que é superior hierarquicamente ao poder constituinte, ou seja, ele existe por força do sistema de direito natural; os adeptos reconhecem no Poder Constituinte a natureza extrajurídica, já que o Direito não é só norma. TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE Quem é o titular do Poder Constituinte? Para Sieyès, é a nação, mas hoje o titular é o povo. Nação é identidade de língua, cultura e raça. Povo é parte da nação que habita determinado território. Titular do poder constituinte é o POVO, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos da CF (artigo 1o., CF/88). Os exercentes do poder constituinte são os REPRESENTANTES DO POVO. Manifestação do Poder Constituinte: 1) Referendos constitucionais (Democracia direta) e 2) Representantes do povo (Democracia representativa). PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO Poder que cria uma nova ordem constitucional. É o capaz de fazer nascer uma nova constituição, é o poder que o povo tem de escrever uma nova constituição para conduzir os seus destinos. Tem a natureza jurídica política (pré-jurídico), não é norma é fato social, antecede a formação. A sua manifestação ocorre em um momento de ruptura da sociedade, quando uma nova ordem constitucional precisa ser escrita. Essa ruptura pode ser: 1) revolução, que pressupõe o uso da força, que se legitima pelas injustiças da ordem anterior, é a tomada do poder por quem não está no poder; 2) golpe de Estado, é a tomada de poder por quem já está em exercício de uma parcela de poder; 3) transição constitucional, ocorre quando uma colônia tem a sua independência preparada pelo colonizador, foi o que ocorreu no Brasil, com a ruptura do regime ditatorial para um regime democrático, por um amadurecimento político houve o surgimento de uma nova constituição. CARACTERÍSTICA DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO À luz da corrente juspositivista, o poder constituinte originário é: 1) INICIAL: não existe nem poder de fato e nem direito acima dele; inicia toda a normatividade jurídica; 2) AUTÔNOMO: não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma hierarquia; só o soberano, o titular, pode dizer o seu conteúdo; 3) INCONDICIONADO: não se sujeita a nenhuma outra norma jurídica; 4) ILIMITADO: nenhum limite de espécie alguma, muito menos imposto pela ordem jurídica anterior. Não tem que respeitar ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido. Mas a Constituição – para relativizar ou desconstituir os institutos do ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido – deve ser EXPRESSA, não basta a omissão, os dispositivos constitucionais devem ser claros e expressos para desconstituiressas garantias constitucionais. A nova constituição tem DOIS FENÔMENOS em nome da segurança jurídica: RECEPÇÃO de toda a legislação que não a contrariam e RECEPÇÃO de todo ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido que não a contrarie. Juridicamente, NÃO há limites, mas, as relações humanas não são ditadas apenas por normas jurídicas, assim, a assembleia nacional constituinte tem LIMITES METAJURÍDICOS (sociologia, história, cultura), que estão fora do direito, mas presentes nas relações sociais estabelecidas e reconhecidas historicamente. JORGE MIRANDA classifica essas limitações (há outras tantas propostas) em: 1) IDEOLÓGICAS – baseadas na opinião pública, no pensamento predominante; 2) INSTITUCIONAIS – ligadas a instituições arraigadas na sociedade; 3) SUBSTANCIAIS – divididas em 03 grupos: a) Transcendentes: valores éticos superiores, uma consciência ética coletiva, direitos fundamentais ligados à dignidade do homem, isso está fora do direito positivo; b) Imanentes: dizem respeito à história do Estado; c) Heterônomas: dizem respeito ao direito internacional, nenhum Estado pode mais tentar ser isolado dos problemas do planeta, que por sinal são comuns de todos os estados. PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU SECUNDÁRIO As constituições obedecem ao PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE RELATIVA, ou seja, não são eternas, mas, por outro lado, não podem ser modificadas de forma contumaz. Essas modificações não podem ferir o espírito da constituição, só quem pode fazer isso é o poder originário, mediante um processo de ruptura. Essas alterações podem ser: 1) FORMAIS: há Estados que não diferenciam as emendas da revisão, no Brasil, não há essa nítida distinção, já que a previsão de revisão foi pontual. a) Emenda – será uma revisão pontual; b) Revisão – será uma revisão total; c) Tratados equivalentes à emenda (EC/45); 2) INFORMAIS: são as que modificam a CF sem alterar o seu texto; ocorrem por meio de: interpretação evolutiva, jurisprudência, doutrina, aplicação de conceitos jurídicos indeterminados. A isso se dá o nome de MUTAÇÃO, que a doutrina admite. Neste ponto, destaca-se o que parte da doutrina chama de “PODER CONSTITUINTE DIFUSO”. As mutações informais são fruto de um “PODER CONSTITUINTE DIFUSO” (JELLINEK). MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL não ofende o texto da lei, a sua literalidade (artigo 5o., XI, CF). MUTAÇÃO INCONSTITUCIONAL (artigo 102, §2º, CF) – as decisões definitivas de mérito admitem efeito vinculante, mas, por meio de decisão do STF admitiu-se o efeito vinculante da decisão liminar, com nítida ofensa à literalidade da constituição; dizer que a liminar tem efeito vinculante viola-se a literalidade da CF, sem mudar o texto. CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU SECUNDÁRIO: Estão mais relacionadas aos mecanismos formais: 1) DERIVADO: decorre do poder constituinte originário e da constituição; 2) SUBORDINADO: hierarquicamente em plano inferior, ou seja, está abaixo do poder constituinte originário; 3) CONDICIONADO OU LIMITADO: só pode ser exercitado nos casos previstos pelo poder constituinte originário, que estabelece regras que determinam a contenção do seu exercício. É o poder para alterar uma ordem constitucional pré-existente; além das limitações metajurídicas terá também limitações jurídicas. ESPÉCIE DE PODER CONSTITUINTE DERIVADO OU SECUNDÁRIO: Ele pode ser de duas espécies: 1) DECORRENTE (Poder de estabelecer uma nova constituição em um segundo nível – Estadual). Art. 11, ADCT; 2) REFORMADOR OU DE REVISÃO: poder de alterar a própria constituição. Há quem negue a existência do poder constituinte derivado, somente existindo o poder constituinte originário. A reforma da constituição seria um PODER CONSTITUÍDO (MIN CARLOS AYRES DE BRITO). Não é possível imaginar o poder de constituir o estado sem imaginar o correlato poder de DESCONSTITUIR o estado anterior, ou seja, o PODER DESCONSTITUINTE. Enquanto é escrito algo novo, a ordem antiga é apagada. Somente quem tem esse poder de desconstituir o estado anterior é o poder constituinte originário. O que classicamente se chama de poder constituinte reformador não tem a força de desconstituir o Estado anterior, assim, muitos doutrinadores defendem que somente é poder constituinte o originário, que tem essa capacidade correlata de desconstituir a ordem posta. Há quem diga também que somente é poder constituinte uma única espécie de poder: PODER FUNDACIONAL, qual seja, aquele que faz a primeira constituição do Estado. LIMITES DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO: Na CF/88, os limites do poder constituinte derivado reformador estão fixados no art. 60. Limite Temporal: Esse limite consiste no estabelecimento de prazo. A Constituição Federal de 1988 não tem. A Constituição Federal de 1824 tinha. Limite Circunstancial: A Constituição não pode ser alterada em algumas circunstâncias, sob o fundamento legitimador de que o ânimus do legislador estará alterado: estado de defesa; estado de sítio e intervenção federal (§ 1º). Esse limite é absoluto, mas provisório; a emenda pode ser proposta, mas, se for discutir, há divergência doutrinária; agora a partir de votar não pode. A emenda pode ser até discutida, mas não votada. Limite Processual ou Formal: INCISOS I a III – limitações formais, no inciso I, troca-se o OU pelo E. O STF não se posicionou sobre a possibilidade de iniciativa popular para proposta de emenda, mas pode-se defender isso, a maioria dos autores não aceita. Limite Material: Por força desse limite, excluem determinada matéria do Poder Constituinte derivado reformador, por ser superior no ordenamento nacional. Os limites materiais podem ser: EXPRESSOS ou IMPLÍCITOS: Limite Expresso: Limitação material expressa. PROPOSTA de emenda tendente a abolir. O limite expresso trata das cláusulas de intangibilidade ou cláusulas pétreas (art. 60, §4º). Não será objeto de DELIBERAÇÃO, ou seja, o processo sequer pode chegar ao final, o vício é anterior à deliberação da emenda, hipótese de controle de constitucionalidade preventivo e judicial, cabimento de MS impetrado por parlamentar (STF). O voto obrigatório NÃO é cláusula pétrea, ele existe na CF, mas, pode ser abandonado por emenda, adotando-se voto facultativo. Quanto aos direitos e garantias individuais há uma discussão sobre qual a interpretação que deve ser utilizada. Assim, dependendo da interpretação, haverá consequências distintas em relação à aplicação da limitação prevista no dispositivo. Se a INTERPRETAÇÃO for: LITERAL: ficam afastados os direitos sociais, difusos, coletivos; sendo objeto de proteção somente os direitos e garantias puramente individuais. O STF ainda não foi decisivo quanto a isso, mas, já entendeu que existem cláusulas pétreas fora do artigo 5o; TELEOLÓGICA OU SISTEMÁTICA: é uma posição mais moderna, por meio da qual, deve-se entender como objeto da proteção do artigo todos os DIREITOS FUNDAMENTAIS. O inciso IV, do § 4o, deve ser interpretado ampliativamente, para restringir a emenda. Deve ser entendido que os DIREITOS FUNDAMENTAIS são cláusulas pétreas, sejam individuais, coletivos, difusos ou sociais. Há direitos fundamentais que são FORMALMENTE FUNDAMENTAIS, mas não têm substância de direitos fundamentais, assim, não são cláusulas pétreas, somente os que têm substância de direito fundamental não poderão ser abolidos, sem os quais não há vida humana digna. Fazendo interpretação sistemática e teleológica, o STF entendeu que medida provisória pode tratar de matéria penal, desde que seja para beneficiar o réu. (RE 254818/PR, julgado em 08/11/2000) Limite Implícito: Redução de cláusula pétrea e a titularidade do Poder Constituinte Originário (não pode existir emenda que restrinja a titularidade do poder constituinte originário); emenda modificando o exercente do poder reformador; as limitações metajurídicas; modificação do processo de emendas futuras, facilitando ou dificultando (há quem diga que pode dificultar) os processos de emenda, se permitir que dificulte, o reformadorestá limitando a si próprio o que não é possível juridicamente. Pode haver uma nova revisão constitucional como foi em 1993? Está relacionado com a possibilidade de poder facilitar a revisão constitucional; o rol de cláusulas pétreas, o conteúdo é fluido no tempo, a questão é saber se pode ou não modificar o rol, há quem diga que pode aumentar, a possibilidade de reduzir traz a discussão de possibilidade de DUPLA REVISÃO. JORGE MIRANDA afirma que existem 03 posições: 1) insuperáveis, não podem ser reduzidas; 2) ilegítimas, há quem diga que não pode existir porque o povo de hoje não pode condicionar o povo do futuro, a geração atual não pode criar amarras para as gerações futuras; 3) Legítimas, mas superáveis, pela DUPLA REVISÃO = 1a. emenda para retirar do rol de cláusulas pétreas que está incomodando; 2a. modificar realmente. APROFUNDAR seria falar em plebiscito ou referendo. A República e o Presidencialismo são cláusulas pétreas? Houve a possibilidade de modificação em revisão. Há quem diga que a república é uma cláusula implícita, porque dentro da ideia de forma federativa de Estado, a proteção do voto periódico também, protegeria a república. ROBÉRIO: são limitações implícitas, mas especiais (artigo 2o., ADCT), o povo decidiu assim não pode haver emenda contra a vontade, mas pode ser superada por meio de uma outra consulta direta ao povo. Artigo 127, CF o MP é instituição permanente, pode ser extinto por emenda? Pode ter suas atribuições extintas por emenda? MP é cláusula pétrea ou instituição permanente? HUGO NIGRO MAZZILLI é cláusula pétrea. Forças armadas, polícia federal, rodoviária e ferroviária também são instituições permanentes. Daniel Sarmento: É entendimento doutrinário praticamente incontroverso, endossado também pela jurisprudência do STF, que o poder constituinte originário não é obrigado a respeitar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, podendo até mesmo dispor sobre o passado. Esta posição pode ser fundamentada na concepção tradicional do poder constituinte como juridicamente ilimitado. Portanto, o poder constituinte originário pode suprimir direitos adquiridos e desconsiderar atos jurídicos perfeitos ou a coisa julgada. É o que ocorreu na Constituição de 1988, por exemplo, com os benefícios antes atribuídos a servidores ativos e inativos, e que já haviam se incorporado ao seu patrimônio jurídico. Mas e se a CF for omissa sobre os direitos adquiridos? Controvérsia sobre a incidência da Constituição no tempo, quando o texto constitucional for omisso. De um lado, há autores que sustentam que, no silêncio da Constituição, presume-se que as suas normas não prejudicam o direito adquirido, o ato jurídico perfeito ou a coisa julgada. Do outro lado, corrente diversa advoga a tese de que a nova Constituição atinge, em regra, efeitos futuros de atos que lhe são anteriores (“retroatividade mínima”), independentemente de previsão expressa, não estando essa incidência limitada pelo respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito ou à coisa julgada. Diante da sua omissão, prevaleceria, como regra geral, a incidência imediata da Constituição, com retroatividade mínima. Já sob a égide da Constituição de 88, o STF veio a endossar posição assentando que, em matéria de direito constitucional intertemporal, a regra é a incidência imediata com retroatividade mínima dos preceitos constitucionais. Em outras palavras, a Corte passou a entender que as normas constitucionais ditadas pelo constituinte originário devem ser aplicadas aos efeitos futuros de atos ocorridos antes da promulgação do texto constitucional, a não ser em casos de ressalva feita pela própria Constituição. “Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mínima). Salvo dis posição expressa em contrário — e a Constituição pode fazê-lo —, eles não alcançam os fatos consumados no passado nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas (retroatividades máxima e média)” GRAUS DE LEGITIMIDADE DAS CONSTITUIÇÕES: A Constituição promulgada é mais legítima que a Constituição que foi outorgada. A constituição será mais legítima, quanto mais atender aos procedimentos da assembleia constituinte. O procedimento constituinte é imposto pela própria assembleia constituinte, mas, se na hora de julgar, não obedecer a alguns procedimentos, não faz diferença porque a assembleia constituinte não está obrigada por ela própria, seus procedimentos NÃO emanam de uma ordem superior. A violação aos procedimentos não é jurídica, assim, a sua autolimitação pode ser revista a qualquer momento. LEGITIMIDADE é diferente de LEGALIDADE, EXEMPLO: o ato revolucionário é ILEGAL, por sua natureza, mas NÃO é ilegítimo. Obedecer ao procedimento aproxima a constituição da legitimidade, mas, sozinho não quer dizer nada. A participação do povo legitima a constituição, quanto maior a participação, maior a legitimidade. Outro critério é o critério do CONSENSUS, será legítima a Constituição que atendeu a posição da maioria. É um critério que também é sedutor, quanto mais atender ao que o povo pensa, mais legítima é. Mas, sozinho não serve, porque por trás da ideia de atender à maioria não pode desrespeitar os direitos da minoria, porque deve ser a constituição de todos e não da maioria. Outro critério é o do EXERCÍCIO CONFORME OS INTERESSES DO TITULAR do poder constituinte, quando mais o exercente atue no interesse do titular, mais legítima será a constituição. Esse critério sozinho é insuficiente, porque há um pluralismo reinante, que faz parte do jogo democrático. A constituição pode ser legítima ou não a partir da análise de todos os critérios, nenhum é suficiente sozinho, devem ser conjugados. A constituição pode começar legítima e depois deixar de ser, quando passe a ser instrumento de exercício de poder da classe dominante. O contrário também pode ocorrer, ou seja, pode uma constituição ser outorgada e com o passar do tempo tornar-se legítima. FENÔMENO DO DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL: A partir das relações da nova constituição com a ordem infraconstitucional é que se podem observar os fenômenos: RECEPÇÃO: a nova constituição recebe a legislação inferior, que não lhe é materialmente ofensiva. Observe-se que a compatibilidade é MATERIAL. Do ponto de vista formal, não há que se indagar se a lei anterior é ou não conforme a nova constituição. Se no momento em que a lei surge é de acordo com a constituição vigente ela é válida. *Obs: A partir do julgamento da ADPF 130 (Lei de Imprensa), julgada em abril de 2009, o STF passou a entender que norma anterior incompatível com a nova ordem constitucional é tida como não-recepcionada, abanando a nomenclatura outrora empregada (revogação). *Obs: lei anterior não pode ser objeto de ADIN, mas, a ADPF pode ter por objeto lei anterior à CF. Pode ser protelado para o futuro o momento em que a legislação anterior contrária permaneça vigendo, isso deve ser expresso, EXEMPLO: artigo 25, ADCT. Inclusive com a utilização do termo: REVOGADO; REPRISTINAÇÃO: pode se aplicar no momento de sucessão de constituições no tempo, a repristinação só é válida quando expressa; DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO: o normal é que quando surge uma nova Constituição a anterior será completamente apagada, mas, por esse fenômeno, ao invés de descartar a CF anterior, pode permanecer no ordenamento jurídico como lei ordinária, isso pode ocorrer quando se tem uma CF longa e pretende-se ter uma norma breve. Difere-se do fenômeno pelo qual a CF permite que sejam aplicadas normas da CF anterior, EX. art. 27 e 29, ADCT. Esse fenômeno não se confunde com a desconstitucionalização. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL: Permite a alteração da constituição sem alteração do texto constitucional, adequação da constituição à realidade social. O fundamento de validade para a mutação constitucional está na TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS (poderes necessários para dar cumprimentoàs suas competências, aos seus objetivos e aos seus deveres). A mutação demonstra um resquício do Poder Constituinte na atuação do judiciário. Pode ocorrer a mutação pelas seguintes técnicas: 1) INTERPRETAÇÃO - posição do STF que se modifica no tempo; 2) CONSTRUÇÃO CONSTITUCIONAL - trata-se de uma teoria norte-americana, que consiste em conjugar dois preceitos constitucionais para extrair o sentido do preceito. Alguns autores afirmam que isso na verdade é interpretação sistemática; 3) PRÁTICA CONSTITUCIONAL - utilização reiterada do costume de uma determinada sociedade, pode estabelecer o conteúdo do texto constitucional; 4) PRÁTICA INCONSTITUCIONAL: mesmo que o anterior, mas ofende a constituição, é método ilegítimo e não pode ser reconhecido. A mutação constitucional pode ocorrer por intermédio do Poder Legislativo, quando ele pretende regulamentar algum preceito constitucional, e depois modificar a lei que tenha anteriormente feito. Por outro lado, o Poder Judiciário também pode ser responsável por mutação, quando determina os limites do alcance da norma constitucional. REVISÃO CONSTITUCIONAL: Estava prevista no artigo 3o, do ADCT, e submetida a um LIMITE TEMPORAL – 05 anos depois de promulgada a constituição; LIMITE FORMAL – unicameral por voto de maioria absoluta. É cabível o controle de constitucionalidade das emendas de revisão constitucional. TRATADOS INTERNACIONAIS: Atualmente, há nova forma de alteração formal do texto constitucional, nos termos do novo § 3o., do artigo 5o., CF. Alguns defendem a inconstitucionalidade do dispositivo, porque teria dificultado a absorção dos tratados de direitos humanos, que já poderiam ingressar no ordenamento com menos exigência, a teor do § 2o. O STF não confere status constitucional ao tratado que ingressou na forma do art. 5 º do § 2 º, da CF. Há quem diga que, havendo maioria simples, os tratados ingressariam como lei ordinária. O dispositivo somente cria uma nova possibilidade de emenda constitucional. O STF, em 03.12.08 (RE 466.343-SP e HC 87.585-TO), atribuiu status supralegal para os tratados de direitos humanos não aprovados com o quorum qualificado previsto no art. 5º, § 3º, da CF (tese vencedora do Min. Gilmar Mendes). Para Celso de Mello, vencido, ingressariam no ordenamento jurídico brasileiro ou como norma constitucional (posição da doutrina avalizada pelo Min. Celso de Mello – HC 87.585-TO, seja em relação aos tratados aprovados com quorum qualificado, seja em relação aos tratados de direitos humanos vigentes no Brasil antes da EC 45/2004. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE: É com base nesse poder que são elaboradas as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais. Há, na doutrina, quem discorde de que as leis orgânicas são expressão do poder constituinte derivado decorrente, já que os Municípios são entidades federadas. Esse poder possui as mesmas características do poder reformador. As normas derivadas do poder decorrente podem ser: 1) NORMAS PRÓPRIAS – são as imaginadas e discutidas pelo poder decorrente dentro de sua competência; 2) NORMAS REPETIDAS – há correspondente na constituição. Aqui, há ainda outra divisão: a) Normas de repetição obrigatórias: normas centrais federais, de comando obrigatório, que alcançam os estados membros de forma obrigatória. Tais normas limitam a autonomia organizativa dos estados membros.Integram o ordenamento jurídico dos Estados-membros independente de repetição dessas normas na Constituição dos Estados-membros, cabendo ao Poder Constituinte Decorrente apenas complementar a obra do Constituinte Federal; b) Normas de repetição facultativas – o legislador estadual ou municipal pode repetir ou não, mas, se repetir deve obedecer à simetria. NORMA DE REPETIÇÃO OBRIGATÓRIA IMPUGNADA POR ADI ESTADUAL PODE SER OBJETO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO STF, TRANSFORMANDO O CONTROLE CONCRETO EM ABSTRADO. A distinção entre norma de repetição obrigatória e facultativa desperta interesse em sede de controle de constitucionalidade de leis estaduais, pois se a norma impugnada em sede de ADI Estadual for de repetição obrigatória há a possibilidade de interposição de recurso extraordinário para o STF, visualizando-se, assim, uma espécie de transformação de controle concreto para abstrato, que é a regra em sede de ADI (à exceção de ADI interventiva, onde se constata um controle concentrado e concreto). Poder constituinte estadual: autonomia e limitações. A Constituição assegura AUTONOMIA aos Estados, como entes federativos, que se consubstancia na suacapacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e auto-administração. (arts. 18, 25 e 28)Auto-organização: Poder Constituinte Estadual: capacidade de dar-se a própria Constituição. (art.25) Poder Constituinte Decorrente: constituinte de segundo grau, limitado juridicamente, subordinado,secundário e condicionado.Poder Constituinte Originário é soberano enquanto o Poder Constituinte Decorrente é AUTÔNOMO. Autonomia éo poder próprio dentro de um círculo traçado por outro, pressupõe ao mesmo tempo uma zona de autodeterminação, queé propriamente autônomo e um conjunto de limitações e determinantes jurídicas extrínsecas, que é heterônomo.Forma de expressão do Constituinte Estadual: Assembleia Constituinte Estadual (art. 11 ADCT). LIMITES: (porlimitarem a autonomia organizatória devem ser interpretados restritivamente) 1) Princípios constitucionais SENSÍVEIS: art. 34, VII CF. 2) Princípios constitucionais EXTENSÍVEIS: consubstanciam regras de organização da União cuja aplicaçãose estende aos Estados. (ex. art. 93, V). 3) Princípios constitucionais ESTABELECIDOS: limitam a autonomia organizatória dos Estados, regras querevelam, previamente, a matéria de sua organização e as normas constitucionais de caráter vedatório, e princípios deorganização política, social e econômica. Assim, se subdividem em: 3.1) Limitações EXPRESSAS: são consubstanciadas em dois tipos de regra: umas de natureza vedatória eoutras de natureza mandatória. As primeiras proíbem explicitamente os Estados de adotar certos atos ouprocedimentos (ex. arts. 19, 150 e 152). As segundas consistem em disposições que determinam aos Estados aobservância de princípios que limitam sua liberdade organizatória (ex. arts. 29, 18§4°, 31, 37, 42, 98, 125). 3.2) Limitações IMPLÍCITAS: também se subdividem em regras vedatórias e mandatórias (ex. art. 21, 22,30). 3.3) Limitações DECORRENTES do sistema constitucional adotado: geradas pelos princípios que defluemdo sistema constitucional adotado: a) do princípio federativo (da igualdade das unidades federadas); b) do mesmoprincípio federativo (uma unidade não pode exercer coerção sobre outra) c) do Estado Democrático de Direito; d)do princípio democrático; e) dos princípios da ordem econômica e social. DIREITOS HUMANOS. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. Conceito de direitos humanos. Direitos humanos e direitos fundamentais. Numa primeira abordagem, é possível definir direitos humanos como conjunto de direitos que materializam a dignidade humana; direitos básicos, imprescindíveis para a concretização da dignidade humana. É extremamente comum utilizar também a expressão “direitos fundamentais” para se referir aos direitos que materializam a dignidade humana, cabendo perquirir se haveria, entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, alguma diferença. Em essência, não há basicamente diferença: direitos humanos e direitos fundamentais representam, muitas vezes, os mesmos direitos. Entretanto, construiu-se uma diferenciação quanto ao plano de positivação; a expressão “direitos fundamentais” ficou reservada aos direitos positivados na ordem jurídica interna do Estado, enquanto a expressão “direitos humanos” passou a ser utilizada para referir aos direitos positivados na ordem internacional. É possível haver direito humano que não seja consagrado como direito fundamental e vice-versa; basta que um tratado internacional preveja um direito não previsto na ordem jurídica interna do Estado ou que ocorrao contrário. De todo modo, essa não é a regra, pois, atualmente, a maioria dos direitos previstos nas constituições têm previsão, outrossim, em documentos internacionais. Centralidade dos direitos humanos. Por que direitos humanos são tão importantes? Os direitos humanos constituem ponto central nos Estados Constitucionais, sendo inerentes à ideia de Estado Democrático de Direito, e a razão é simples. Um Estado no qual as pessoas não tenham liberdades básicas reconhecidas é um Estado arbitrário e, como bem demonstra a História, onde há arbitrariedade estatal, não há vida harmônica em sociedade, mas sim temor, perseguição e desrespeito ao ser humano. O Estado Brasileiro adota a dignidade humana como um dos seus fundamentos, conforme positivado no art. 1º, III, CF, a denotar um comprometimento com a afirmação dos direitos humanos. Quais são os direitos humanos. Tipos de direitos A relação de direitos que materializam a dignidade humana é bastante ampla, abrangendo vida, liberdade, igualdade, saúde, educação, acesso à cultura, proteção ao ambiente, e tantos outros. Os diversos direitos estão “agrupados” sob a seguinte rubrica: a) Direitos civis; b) Direitos políticos; c) Direitos sociais; d) Direitos econômicos; e) Direitos culturais; f) Direitos difusos. Esses direitos foram sendo reconhecidos gradativamente no curso da História, tendo sido institucionalizados em diferentes momentos históricos, daí surgindo a teoria das gerações, que será analisada mais adiante. Direitos e garantias. Tipos de garantias Um direito representa um determinado bem em si, atrelado ao valor nele existente, enquanto que as garantias representam bens de caráter instrumental, bens que estão atrelados a outro valor, visando protegê-los, sendo as garantias instrumentos de proteção de direitos. Existem garantias da constituição, visando preservá-la de situações que coloquem em risco sua supremacia e a normalidade constitucional, podendo ser citadas a rigidez constitucional, a jurisdição constitucional e os mecanismos de legalidade extraordinária (estados de defesa e sítio); garantias institucionais, que constituem verdadeiras prerrogativas das Instituições; e garantias de direitos subjetivos, que constituem instrumentos de proteção de direitos subjetivos, extremamente importantes na busca da efetivação dos mesmos, pois de nada adiantaria reconhecer direitos se não houvesse instrumentos capazes de torná-los efetivos e protegê-los de atuações arbitrárias. Algumas das garantias de direitos subjetivos possuem feição típica de ação processual e, bem por isso, são conhecidas como ações constitucionais. São: 1) habeas corpus - uma garantia do direito à liberdade de locomoção; 2) habeas data - garantia do direito à liberdade de informação de caráter pessoal; 3) mandado de segurança - garantia de direitos em geral; 4) mandado de injunção - garantia de direitos inviabilizados por falta de regulamentação; 5) ação popular – garantia do direito de proteção ao patrimônio público. Características dos direitos humanos Costuma-se indicar, no plano de uma teoria geral, características que seriam inerentes aos direitos humanos como um todo. Essas características gerais são: Historicidade; Universalidade; Relatividade; Irrenunciabilidade; Inalienabilidade; Imprescritibilidade; Unidade, indivisibilidade e interdependência. Direitos fundamentais nem sempre representam uma manifestação da dignidade da pessoa humana. Ingo Sarlet em seu livro “dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais” informa que “a dignidade da pessoa humana, na condição de valor (e princípio normativo) fundamental, exige e pressupõe o reconhecimento e proteção dos direitos fundamentais de todas as dimensões (ou gerações, se assim preferirmos), muito embora – importa repisar – nem todos os direitos fundamentais (pelo menos não no que diz com os direitos expressamente positivados na Constituição Federal de 1988) tenham um fundamento direto na dignidade da pessoa humana”. E continua: “Com efeito, ainda que nos tenhamos posicionado no sentido da inexistência de um direito fundamental à dignidade (como algo que possa ser objeto de concessão pela ordem estatal ou comunitária), nada impede – em que pesem as respeitáveis posições em sentido contrário – que do princípio da dignidade da pessoa humana se possam deduzir autonomamente – sem qualquer referência direta a outro direito fundamental – posições jurídico-subjetivas fundamentais”. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. Hermenêutica X Interpretação: Hermenêutica é a mesma coisa que interpretar? Interpretar é quando se tira do dispositivo o seu sentido, fixa o seu alcance (lembrar o Taques: Alexandre ‘o Grande’ interpretava o futuro, abria a ventre de um animal e meditava olhando as suas entranhas, extraía o significado do futuro retirando as entranhas do animal, isso é interpretar). Agora COMO vai se revelar o sentido e fixar o alcance da norma, quem fornece os elementos para isso é a Hermenêutica. Métodos (“Doutrina Alemã” - Böckenförde): Constituições escritas surgiram com as Revoluções liberais. Desde essa época, final do século XVIII, até meados do século XX, a constituição era interpretada pelos mesmos elementos desenvolvidos por Savigny para interpretação das leis: a) Gramatical/literal – revela o sentido pela literalidade do texto; b) Lógico – premissas da lógica; c) Histórico – faz a análise do contexto o qual a norma surgiu; d) Sistemático – a norma não existe isoladamente, faz parte de um sistema. Com o fim da 2ª GM, começa a aparecer o NEOCONSTITUCIONALISMO, então aparecem NOVOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO da constituição elaborados pela doutrina alemã, partindo das seguintes PREMISSAS: Neoconstitucionalismo: não se trata de um modelo consolidado. O termo é usado na Espanha e Itália. Duas vertentes: (a) modelo constitucional (conjunto de mecanismos normativos e institucionais) – é o constitucionalismo democrático pós-guerra, com a expansão da jurisdição constitucional; (b) teoria, ideologia e método do direito. Neoconstitucionalismo: b.1) teórico: limita-se a descrever os resultados da constitucionalização. Caracterizado por uma constituição ‘invasora’, catálogo de direitos fundamentais, onipresença de princípios e regras, peculiaridades na interpretação/aplicação das suas normas. Afasta a estatalidade, o legicentrismo (a constituição passa a ser norma jurídica vinculante) e o formalismo interpretativo. Há duas vertentes: mantém o método positivista com objeto parcialmente modificado ou propõe uma mudança radical de método (pós-posivismos); b.2) ideológico: põe em 1º plano a garantia dos direitos fundamentais, em detrimento do objetivo da limitação do poder estatal (traço do constitucionalismo ‘clássico’), porque o poder estatal não é visto mais com temor, mas como aliado e necessário à implementação dos direitos fundamentais. Não se limita a descrever, valora positivamente e defende sua ampliação; b.3) Metodológico: especialmente em Alexy e Dworkin, conexão necessária entre direito e moral (leitura moral da constituição). Entronização de valores na interpretação jurídica com o reconhecimento da normatividade dos princípios, reabilitação da razão prática e da argumentação jurídica (Comanducci, 2005). E ainda: (c) Direitos Fundamentais: tem normas que se expressam na forma de princípio (muito mais complexa a interpretação de um princípio do que uma norma expressa). (d) Eficácia de cada norma constitucional/objeto é muito variada. Ela tem uma variedade imensa em relação ao seu objeto. Tem normas de todos os ramos do direito, essa variedade de objeto/eficácia dificulta a interpretação da constituição. Em razão destas peculiaridades é que foram elaborados métodos específicos, para tornar mais racional, mais objetiva a interpretação constitucional. Canotilho menciona que não existe um método justo, já que todos os métodos apesar de partirem de premissas diversas, são complementares. Veremos aqui os seguintes MÉTODOS: Método Hermenêutico Clássico (método jurídico) – Ernest Forsthoff;Método Científico-Espiritual (valorativo) – Rudolf Smend; Método Tópico Problemático – Theodore Viehweg; Método Hermenêutico Concretizador – Konrad Hesse (Concepção Jurídica Da Constituição); Método Normativo Estruturante – Friederich Müller; Método Concretista da Constituição Aberta (citado por Paulo Bonavides, foi desenvolvido por Peter Häberle – obs.: não está na lista do Böckenförde). 1) MÉTODO HERMENÊUTICO CLÁSSICO (MÉTODO JURÍDICO) – ERNEST FORSTHOFF Ideia geral do método hermenêutico clássico. Parte de uma premissa: “Tese da identidade”. Segundo Ernest Forsthoff, a interpretação constitucional deve ser feita através dos elementos clássicos, tradicionais de interpretação, aqueles desenvolvidos por Savigny, e não seria necessário um método próprio. “Tese da identidade”: para ele, a Constituição nada mais é do que uma lei (identidade entre CF e Lei), um conjunto de normas, assim, não tem porque ela ter métodos específicos de interpretação. Crítica ao método hermenêutico clássico: Por terem sido desenvolvidos para o direito privado, tais elementos são insuficientes para dar conta das complexidades que envolvem a interpretação constitucional. Exemplo: como se interpreta a inviolabilidade do direito à vida, como interpretar pelo elemento gramatical? 2) MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL (VALORATIVO) – RUDOLF SMEND Ideia geral do método científico-espiritual (valorativo). O corpo da lei são as normas. Já o espírito são os valores que consagrados no texto que inspiraram as normas. Como esse método leva muito em consideração esses valores consagrados no texto, muitos o chamam de método valorativo. Exemplo: única parte da nossa CF que não se exterioriza através de normas? Preâmbulo, ele consagra os valores supremos da nossa sociedade. Lá se sabe os valores supremos que inspiraram a criação da nossa constituição. É um método ANTIPOSITIVISTA. Não leva em consideração o sistema de normas constitucionais, leva também em consideração fatores “EXTRACONSTITUCIONAIS”. Além dos valores subjacentes a constituição, outros fatores extraconstitucionais são considerados. A realidade social é um desses (“método sociológico”). Método Integrativo – considera a constituição o principal elemento de integração da comunidade (Princípio do Efeito Integrador – ver princípios instrumentais). Se aproxima muito daquele elemento sistemático, sustentado por Savigny. Pode ser chamado então: integrativo, sociológico, valorativo. Crítica ao método científico-espiritual (valorativo): Canotilho diz que tem indeterminação e modificabilidade dos resultados. Como ele leva não só o sistema de normas, mas fatores extraconstitucionais, o resultado dessa interpretação pode ser muito maleável, essa modificação dos resultados, essa mutação, gera insegurança jurídica, sendo assim nunca se poderá esperar uma decisão, ela mudará de acordo com o momento. Permitindo-se interpretações divergentes, enfraquece-se o princípio da força normativa da constituição. OBS: Esses dois métodos vistos, consideram a Constituição como um sistema, são métodos SISTEMÁTICOS. Os próximos NÃO partem desta ideia de sistema, são métodos que a doutrina chama de APORÉTICOS (a ideia principal não é a ideia de sistema, vão trabalhar com a ideia de PROBLEMA). MÉTODO TÓPICO PROBLEMÁTICO – THEODOR VIEHWEG Ideia geral do método tópico problemático. Foi desenvolvido originalmente para o direito civil, mas se mostrou aplicável ao direito constitucional. Esse autor foi responsável pelo retorno da tópica ao direito, na década de 50. Completamente contrário ao positivismo. Tem este nome porque se baseia em “TOPOS” (Plural “Topoi” – são esquemas de pensamento, formas de raciocínio, de argumentação, pontos de vista). São extraídos de vários lugares, como por exemplo: a) Doutrina dominante; b) Jurisprudência majoritária; c) Senso comum. São extraídas várias formas de pensamento desses lugares. Exemplo: poder constituinte, legitimados a propor EC, exceção aos legitimados ordinários, dentre outros. Exemplo: é inviolável o sigilo de correspondência, porém o STF tem admitido em determinados casos em correspondências de presidiários. STF – “os direitos fundamentais não devem servir como escudo protetivo para salvaguardar práticas ilícitas”. É um método PROBLEMÁTICO - porque se baseia na ideia de problema a ser resolvido. Não são métodos para serem utilizados para resolver questões simples, os métodos aporéticos serão utilizados em problemas, casos difíceis, quando temos os “hard cases” (exemplos: aborto na anencefalia, etc.), se o caso tem uma solução simples, utiliza-se uma interpretação literal, sistemática. É um método ARGUMENTATIVO - é feita toda uma argumentação em torno do problema para chegar-se ao resultado. Para o método tópico-problemático, a decisão que vai prevalecer é a que for mais convincente, o que convencer o maior número de locutores, não significa que é o mais correto. Exemplo: ministros do STF se juntam, para decidir um caso concreto, discutem em torno do problema, levando os argumentos favoráveis e contrários a decisão que será a que for mais convincente. Críticas ao método tópico problemático: Casuísmo ilimitado. Utilização deste método pode conduzir a um casuísmo ilimitado. Como o método gira em torno do problema, cada caso concreto é resolvido de uma maneira, pois não se baseia nas normas do sistema e sim em argumentos; Ele pode conduzir a um casuísmo tão grande, que a norma jurídica, é apenas mais um TOPOS ao lado dos outros, não é um argumento decisivo, é apenas mais um ao lado de vários outros. Acaba gerando uma insegurança jurídica. A interpretação deve partir da NORMA para a solução do PROBLEMA, e não ao contrário. Segundo a doutrina, o intérprete deve buscar qual a norma que se refere ao caso e a partir da norma dar a solução ao caso concreto, porém, neste método faz-se o caminho inverso, parte-se do PROBLEMA para a NORMA. Exemplo: Min. Marco Aurélio, disse que quando vai decidir um caso que não tem solução no caso concreto, lei, primeiro ele pensa, qual a solução justa, e então a partir daí ele vai ao ordenamento procurar a solução que se adequa a esse pensamento – cada um tem uma ideia de justiça, permitindo que cada juiz julgue com aquilo que ele ache justo, teremos a justiça no caso concreto de acordo com cada juiz, o que gerará uma insegurança jurídica, casuísmo. Pouca importância atribuída à jurisprudência, assim como a norma é só mais um “topos” neste método, a jurisprudência também. O precedente aqui não é decisivo, é só mais um argumento. Não importa o que tinha como precedente, e nem o que será o futuro, ele se preocupa com o problema atual. Deve-se saber o posicionamento do guardião da Constituição para poder entendê-la. Jurisprudência está ligada à segurança jurídica, sabe-se que se tomar determinada conduta, será julgado de tal forma. Pontos positivos do método tópico problemático 1) Complementação de lacunas (Exemplo: quando não se tem previsão legal). 2) Comprovação dos resultados obtidos por outros métodos (fazendo caminho inverso, caso para norma, testa-se se a solução é a melhor, visto que se fizer o caminho normal, norma para o caso e chegar ao mesmo resultado, é que comprovou que era a melhor solução). MÉTODO HERMENÊUTICO CONCRETIZADOR – KONRAD HESSE (CONCEPÇÃO JURÍDICA DA CONSTITUIÇÃO) Ideia geral do método hermenêutico concretizador Ele desenvolveu um catálogo de princípios interpretativos (postulados normativos). Deve-se associar: Hermenêutica – Interpretação / Concretizador – Aplicação. Na verdade, hermenêutica e interpretação não são a mesma coisa, a hermenêutica fornece elementos para a interpretação. A hermenêutica aponta caminhos para a interpretação. Segundo Konrad, interpretação e aplicação consistem em um processo unitário, são inseparáveis. Konrad, afirma ainda que só poderá ser aplicado o método hermenêutico concretizador se houver a interpretação mais a aplicação. Não há como interpretar sem aplicar, nem aplicar sem interpretar a norma. Elementos básicos do método hermenêuticoconcretizador: Norma: não há como interpretar uma lacuna, a norma é indispensável, não tendo norma então se pode utilizar o tópico-problemático. Lembrando: tópico-problemático parte do caso concreto (problema) para a norma. Problema a ser resolvido: não pode ser um problema em abstrato, e mais: não deve ter norma clara como solução); Só é possível utilizar esse método se o intérprete tiver uma compreensão prévia (círculo fechado de intérpretes) tanto da norma quanto do problema. A compreensão está ligada ao círculo de intérpretes, não é qualquer um que irá conseguir interpretar a Constituição, sem uma compreensão prévia. Teoria Geral da interpretação. Aqui, parte-se da norma para o problema. OBS: os métodos aporéticos também são concretistas. Críticas ao método hermenêutico concretizador: a) Enfraquecimento da força normativa; b) quebra da unidade da Constituição - Como eles levam em consideração não apenas o sistema normativo, eles utilizam fatores extra constitucionais para aplicar a norma ao caso concreto isso acabaria causando uma quebra da unidade. 4.2.5. MÉTODO NORMATIVO ESTRUTURANTE – FRIEDERICH MÜLLER Ideia geral do método normativo estruturante Também é um método CONCRETISTA. Segundo ele, devemos falar em concretização da constituição e não interpretação. A interpretação seria apenas uma das etapas da concretização da constituição. “Estruturante”: ele vai estabelecer uma ESTRUTURA para a concretização da norma constitucional. São vários elementos que serão utilizados para essa concretização da norma abstrata: Elementos metodológicos Elementos dogmáticos: Elementos teóricos: Elementos de Política Constitucional: - Métodos Interpretativos (clássicos do Savigny): apenas uma das etapas na concretização; - Princípios Interpretativos (instrumentais); - Doutrina; - Jurisprudência. - Filosofia; - Poder constituinte; - Soberania popular; - Elementos da Teoria da Constituição. - Leva-se em conta o resultado daquela decisão, no campo econômico, nas relações sociais, na política, dentre outros. - Reserva do possível. Segundo Friedrich Muller, na tarefa de interpretar-concretizar a norma constitucional o intérprete-aplicador deve considerar tantos os elementos resultantes da interpretação do texto (PROGRAMA NORMATIVO), como os decorrentes da investigação da realidade (DOMÍNIO NORMATIVO). Qual a diferença de texto para norma? O texto apenas limita e dirige a interpretação, o texto nada mais é que a exteriorização da norma jurídica, a norma jurídica se apresenta através de seu texto. Então a função do texto é impor limites a interpretação e direcioná-la. Dessa interpretação resultará a norma. Crítica ao método normativo estruturante: Quebra da unidade da constituição e enfraquecimento da força normativa. MÉTODO CONCRETISTA DA CONSTITUIÇÃO ABERTA Ideia geral do método da constituição aberta Citado por Paulo Bonavides, foi desenvolvido por Peter Häberle Obs.: não está na lista do Böckenförde. Obs.: Gilmar Mendes traduziu este livro, assim como o livro do Hesse. Observar como esses teóricos influenciam na jurisprudência do STF e na legislação. Peter Häberle propõe uma abertura do CÍRCULO DE INTERPRETES da Constituição. Deve ser uma interpretação aberta. Se todos são destinatários da Constituição, se todos devem cumprir a Constituição, como estas pessoas irão cumprir a Constituição sem antes interpretá-las? Se nós vivemos uma realidade constitucional, devemos ser considerados legítimos intérpretes da CF. Ainda que o tribunal constitucional seja considerado o intérprete definitivo, os cidadãos e grupos sociais seriam pelo menos, pré-interpretes da constituição. A democracia deve estar presente não somente em um momento anterior, na elaboração da CF. Ela deve estar presente tanto neste momento anterior, como no momento posterior, na interpretação da lei. Trabalha com ideia de democracia dentro da interpretação constitucional. Influência no direito constitucional brasileiro: amicus curiae e audiências públicas. (Lei 9868/99 e 9882/99) – Formas de a sociedade interferir na interpretação constitucional é uma interpretação prévia, a definitiva será dada pelo Supremo. Crítica ao método da constituição aberta: O alargamento excessivo do círculo de interpretes pode conduzir a uma quebra da unidade e ao enfraquecimento da força normativa. Saindo do direito Germânico, vamos para o direito americano. DEBATE NORTE-AMERICANO: “INTERPRETATIVISMO E NÃO INTERPRETATIVISMO” INTERPRETATIVISMO Postura mais conservadora, no sentido mais liberal norte-americano de direita. Também conhecida como originalismo ou textualismo ou preservacionismo. A função do interprete seria descobrir o que o texto diz, a vontade originária de quem formulou a norma naquele momento. Premissas: Respeito absoluto ao texto e à vontade do constituinte originário; Esse método foi utilizado em um caso emblemático chamado “Dread Scott”. Ele era um escravo, o proprietário se mudou para um estado em que havia sido abolida a escravidão. Quando voltou para o estado em que era permitida, alegou que não podia ser novamente escravizado. Deu origem a um processo em que a Suprema Corte americana declarou a lei do estado abolicionista inconstitucional, porque os constituintes não tinham a intenção de abolir a escravidão. Limitação do intérprete ao conteúdo da constituição. O juiz deve apenas aplicar a constituição e não mudar seu sentido, respeitar o texto da constituição. Existe apenas UMA resposta correta. A ideia do Kelsen de que o interprete tem discricionariedade, que a norma tem vários sentidos e o interprete pode usar um deles...para os interpretativistas não existe, existe somente uma interpretação correta. OBS: a Constituição norte-americana tem 200 anos. Como manter uma interpretação originalista? NÃO INTERPRETATIVISMO É uma corrente ativista. Polêmica e audaciosa. Pressuposto: Cada geração tem o direito de viver a constituição ao seu modo – a geração que elaborou a constituição não pode impor seus valores às gerações futuras. A partir dessa premissa, a postura do poder judiciário é muito mais ativa, ele vai ser responsável por identificar quais são os valores da sociedade atual. Seria o poder mais apropriado para isso seria o judiciário, por ser mais neutro, haveria um ativismo judiciário. O judiciário adaptaria a constituição aos valores de determinado momento histórico, ele faria a evolução da constituição. Essa postura mais ativa do judiciário deve ser analisada dentro de cada contexto. Por exemplo: no Brasil está havendo um ativismo do judiciário. OBS: Não existe um princípio que estabelece uma separação de poderes estática, ela vai variar de acordo com as ondas de opinião pública. NOVA HERMENÊUTICA. A “nova hermenêutica” propõe critérios específicos: 1) conceitos jurídicos indeterminados – expressões abertas com início de significação a ser complementado pelo intérprete; 2) normatividade dos princípios – normas que consagram valores ou fins públicos; que indicam estados ideais realizáveis por meio de variáveis condutas; e são mandados de otimização, devendo ser aplicados na maior intensidade possível. Podem ter (a) eficácia direta – positiva, simétrica, quando se aplica sobre os fatos à semelhança de uma regra; (b) eficácia interpretativa – para fixar a correta interpretação das normas em geral; (c) eficácia negativa – invalidade da interpretação contrária; 3) colisões entre normas constitucionais – o intérprete cria a norma jurídica para a resolução do caso a partir dos dados fáticos e das balizas normativas por meio de ponderação, em que fará concessões recíprocas – concordância prática – procurando preservar ao máximo o conteúdo dos interesses em conflito; ou, no limite, escolherá qual prevalecerá no caso, à luz da razoabilidade (que normalmente é um “instrumento para a medida”, a par de às vezes fornecer um critério material); Esquema da ponderação: (a) selecionar as normas relevantes e identificar eventuais conflitos;(b) examinar os fatos e sua interação com os elementos normativos; (c) ponderar os pesos a serem atribuídos aos elementos normativos e fáticos envolvidos para decidir qual grupo de normas deve prevalecer no caso e, se for possível, graduar a intensidade da solução escolhida; a ponderação é vista como integrante da proporcionalidade ou como princípio autônomo; 4) argumentação jurídica – quando é feita ponderação, aumenta-se a exigência de rigor na argumentação (justificação), segundo uma “razão prática”, devendo o intérprete (a) fundamentar-se em norma jurídica; (b) manter a integridade do sistema (poder generalizar a norma criada para casos equiparáveis); (c) considerar as consequências práticas no mundo fenomênico (Barroso, 2010). O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO. A ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE. Conceito: “constitucionalismo” significa, em síntese, limitação do poder (respeito a valores básicos e direitos fundamentais, separação dos poderes, respeito ao devido processo legal). Consoante Karl Loewenstein: “a história do constitucionalismo é a busca do homem político pela limitação do poder arbitrário”. Histórico: Segundo Barroso, o termo constitucionalismo data de pouco mais de 200 anos, sendo associado aos processos revolucionários norte-americano e Francês, em oposição ao Absolutismo. Todavia, as ideias centrais do constitucionalismo remontam à antiguidade clássica, no ambiente da polis grega, por volta do século V a.C. Nas palavras de Sarmento: “A ideia de Constituição, tal como a conhecemos hoje, é produto da Modernidade, sendo tributária do Iluminismo e das revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, ocorridas na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França. Ela está profundamente associada ao constitucionalismo moderno, que preconiza a limitação jurídica do poder político, em favor dos direitos dos governados”. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO. Sarmento divide, didaticamente, a evolução história do constitucionalismo da seguinte forma: 1) Constitucionalismo antigo e medieval; 2) Constitucionalismo Moderno; 3) Constitucionalismo pós-moderno. Por sua vez, o Constitucionalismo Moderno foi construído sob três versões (inglesa; francesa; norte-americana). Ademais, no Constitucionalismo Moderno, além do estudo das 3 versões, destacam-se 2 fases (fase do Estado liberal-burguês e fase do Estado Social). Na contextualização temporal, é preciso ter em mente que as três versões acima mencionadas (inglesa; francesa e norte-americana) instauraram-se no seio do Estado Liberal-burguês e desenvolveram-se com a transição para a fase do Estado Social, de modo que é possível distinguir duas fases: constitucionalismo moderno do Estado Liberal-burguês e constitucionalismo moderno do Estado Social. Por fim, um novo modelo de constitucionalismo tem despontado: o constitucionalismo pós-moderno. Vejamos cada um deles: 1) CONSTITUCIONALISMO ANTIGO E O MEDIEVAL: remonta ao período da antiguidade clássica até final do século XVIII, quando surgem as primeiras constituições escritas, com predominância do jusnaturalismo. André Ramos Tavares (2006) sintetiza que “numa primeira acepção, emprega-se a referência ao movimento político-social com origens históricas bastante remotas, que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário. Numa segunda acepção, é identificado com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas. Tem-se utilizado, numa terceira acepção possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o constitucionalismo é reduzido à evolução histórico-constitucional de um determinado Estado”. As experiências mais importantes na antiguidade são: a) Hebreus: era Teocrático, influenciado pela religião, os dogmas religiosos atuavam como limites ao poder do soberano. b) Grécia: vivenciou a democracia direta, com o início da racionalização do poder. Havia um regime político que se preocupava com a limitação do poder das autoridades e com a contenção do arbítrio. Contudo, esta limitação visava antes a busca do bem comum do que a garantia de liberdades individuais. A liberdade, no pensamento grego, cingia-se ao direito de tomar parte nas deliberações públicas da cidade-Estado, não envolvendo qualquer pretensão a não interferência estatal na esfera pessoal. Não se cogitava na proteção de direitos individuais contra os governantes, pois se partia da premissa de que as pessoas deveriam servir à comunidade política, não lhe podendo antepor direitos de qualquer natureza. Tal concepção se fundava numa visão organicista da comunidade política: o cidadão não era considerado em sua dignidade individual, mas apenas como parte integrante do corpo social. O cidadão virtuoso era o que melhor se adequava aos padrões sociais, não o que se distinguia como indivíduo. A liberdade individual não era objeto da especial valoração inerente ao constitucionalismo moderno. c) Roma: Para Ihering, “Nenhum outro Estado foi capaz de conceber a ideia de liberdade de uma forma tão digna e justa quanto o direito romano”. Em Roma já despontava a valorização da esfera individual e da propriedade, concomitante à sofisticação do direito privado romano e ao reconhecimento de direitos civis ao cidadão de Roma (direito ao casamento, à celebração de negócios jurídicos, à elaboração de testamento e à postulação em juízo). Ademais, algumas instituições do período republicano romano já prenunciavam a concepção moderna de separação dos poderes, notadamente a sua repartição por instituições como o Consulado, o Senado e a Assembleia, representativas de estamentos diferentes da sociedade, de forma a propiciar o equilíbrio entre eles. Tratava-se da ideia de governo misto, advogada por pensadores como Políbio e Cícero. Apesar disso, não se cogitava de um constitucionalismo em sentido moderno (como fórmula de limitação do poder político em favor da liberdade dos governados); d) Idade Média, iniciada com a queda do Império Romano, correspondeu a um período caracterizado pelo amplo pluralismo político. Não havia qualquer instituição que detivesse o monopólio do uso legítimo da força, da produção de normas ou da prestação jurisdicional. O poder político fragmentara-se por múltiplas instituições, como a Igreja, os reis, os senhores feudais, as cidades, as corporações de ofício e o Imperador. Constitucionalismo na idade média: aparece com o surgimento da Magna Carta do Rei João Sem-Terra, de 1215, que, segundo Fábio Konder Comparato (2010), “deixa implícito pela primeira vez, na história política medieval, que o rei achava-se naturalmente vinculado pelas próprias leis que edita”. Desses pactos estamentais, o mais conhecido é a Carta Magna, firmada em 1215 pelo Rei João Sem Terra, pelo qual esse de comprometia a respeitar determinados direitos dos nobres ingleses. A esses pactos faltava, contudo, a universalidade que caracterizaria as constituições modernas, uma vez que eles não reconheciam direitos extensivos a todos os cidadãos, mas apenas liberdades e franquias que beneficiavam os estamentos privilegiados. O autor identifica esta primeira limitação institucional como o embrião da democracia moderna. Mas o constitucionalismo inglês não se restringiu à elaboração da Magna Carta do rei João da Inglaterra. Ao contrário, enfrentou diversas fases, entre as quais se destacam a Petition of Rights e o Bill of Rights; 2) CONSTITUCIONALISMO MODERNO: surgiu no final do século XVIII, como forma de superação do Estado Absolutista, sustentando a limitação jurídica do poder do Estado em favor da liberdade individual. O marco está ligado a dois grandes acontecimentos do Séc. XVIII, símbolos da limitação do poder estatal, a saber: Constituição norte-americana, de 1787, e Revolução Francesa de 1789, e na consequente elaboração da Constituição francesa de 1791; conforme André R. Tavares este novo modelo de constitucionalismo caracteriza-se: a) pela publicidade, permitindo amplo conhecimento da estrutura do poder e garantia de direitos;b) pela clareza, por ser um documento unificado, que afasta incertezas e dúvidas sobre os direitos e os limites do poder; c) pela segurança, justamente por proporcionar a clareza necessária à compreensão do poder.Pilares do constitucionalismo moderno: são três – (I) contenção do poder dos governantes, por meio da separação de poderes; (II) a garantia de direitos individuais, concebidos como direitos negativos oponíveis ao estado; (III) necessidade de legitimação do governo peloconsentimento dos governados, pela via democrática representativa.Características históricas foram essenciais para o surgimento do constitucionalismo moderno, como a ascensão da burguesia como classe hegemônica; o fim da unidade religiosa na Europa, com a Reforma Protestante; e a cristalização de concepções de mundo racionalistas e antropocêntricas, legadas pelo Iluminismo. Sob as vozes do Iluminismo, a sociedade deixa o caráter organicista e passa a centrar-se na figura do indivíduo, concebido como um ser racional, titular de direitos, cuja dignidade independia do lugar que ocupasse no corpo coletivo. Evolui-se para o reconhecimento de direitos universais, pertencentes a todos. A sociedade não mais era concebida como um organismo social, formado por órgãos que exerciam funções determinadas (clero, nobres, vassalos). Ela passa a ser concebida como um conjunto de indivíduos, uma sociedade “atomizada” formada por unidades iguais entre si. Em harmonia com essa visão, desenvolveram-se as teorias de contrato social, que passaram a justificar a existência do Estado em nome dos interesses dos indivíduos. John Locke sustentava a ideia de que, ao celebrar o contrato social, as pessoas alienam para o Estado apenas uma parcela da liberdade irrestrita de que desfrutavam no Estado da Natureza, preservando determinados direitos naturais, que todos os governantes devem ser obrigados a respeitar. Esse jusnaturalismo difere daquele que predominara na Antiguidade e na Idade Média por não se basear na vontade divina, nem em imposições extraídas da Natureza, mas em princípios acessíveis à razão humana, e por conferir primazia aos direitos individuais. O constitucionalismo moderno assenta-se em 3 pilares: a contenção do poder dos governantes, por meio da separação de poderes; a garantia de direitos individuais, concebidos como direitos negativos oponíveis ao Estado; e a necessidade de legitimação do governo pelo consentimento dos governados, pela via da democracia representativa. O constitucionalismo moderno conheceu três versões mais influentes: a inglesa, a francesa e a norte-americana. MODELOS DE CONSTITUCIONALISMO MODERNO: 2.1. O modelo inglês de constitucionalismo: Como na Inglaterra não chegou a haver propriamente absolutismo, a história do constitucionalismo adquire um perfil próprio. Desde o final da Idade Média, o poder real encontrava-se limitado por determinados costumes e pactos estamentais, como a Magna Carta de 1215, mas o constitucionalismo inglês só tem início a partir da Revolução Gloriosa de 1968, quando foi deposta a dinastia dos Stuarts e foi assentado o princípio da supremacia política do Parlamento inglês, em um regime pautado pelo respeito aos direitos individuais. No curso do século XVII, foram editados três documentos constitucionais de grande importância: a PetitionofRights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679; e o Bill ofRights, de 1689, que garantiam importantes liberdades para os súditos ingleses, impondo limites à Coroa e transferindo poder ao Parlamento. A ideia central do constitucionalismo inglês é a de respeito às tradições constitucionais, não havendo um texto constitucional único que os consolide e organize. Inexiste, portanto, uma Constituição escrita na Grã-Bretanha. A ideia do exercício do poder constituinte, por meio de ruptura com o passado, com a refundação do Estado e da ordem jurídica, é estranha ao modelo constitucional inglês, que se assenta no respeito às tradições imemoriais. Nesse sentido, o constitucionalismo britânico é historicista, já que baseia a Constituição e os direitos fundamentais nas tradições históricas do povo inglês. Desenvolveu-se na Inglaterra o princípio constitucional de soberania do Parlamento, segundo o qual o Poder Legislativo pode editar norma com qualquer conteúdo. Não há a possibilidade de invalidação das suas decisões por outro órgão. Contudo, há na Inglaterra contemporânea uma tendência à alteração deste modelo de soberania irrestrita do Parlamento, pelo menos em matéria de direitos fundamentais. A mais importante expressão desta inflexão foi a aprovação, em 1998, do HumansRightsAct, que possibilitou ao Judiciário britânico a declaração de incompatibilidade de leis editadas pelo Legislativo com os direitos previstos naquele estatuto. Tal declaração não acarreta a invalidação da lei, mas cria um relevante fato político, gerando forte pressão para a revogação da norma violadora de direitos humanos. 2.2. O modelo francês de constitucionalismo: Tem como marco inicial a Revolução Francesa, iniciada em 1789, sendo a constituição escrita substanciada em 1791. Sob a perspectiva da teoria constitucional, a vontade de ruptura com o passado se expressou na teoria do poder constituinte, elaborada originariamente pelo Abade Emanuel Joseph Sieyès, em sua célebre obra “O que é o terceiro Estado?”. Por essa teoria, o poder constituinte exprimiria a soberania da Nação, estando completamente desvencilhado de quaisquer limites impostos pelas instituições e pelo ordenamento do passado. Ele fundaria nova ordem jurídica, criando novos órgãos e poderes — os poderes constituídos — que a ele estariam vinculados. OBS.: destaca-se que o fundamento utilizado foi a “soberania da Nação”, que difere da “soberania do povo”. Para Sieyés, a detentora do poder era a nação, e não o conjunto dos nacionais. Sendo a Nação a detentora do poder e sendo essa uma concepção etérea/ideal, a resposta para a aparente incoerência entre a “igualdade” defendida e a exclusão dos iguais pelo voto censitário e masculino era justificada pelo argumento de que só podem exercer direitos políticos, na perspectiva liberal, aqueles que compõem o melhor da Nação (homens mais instruídos, de melhor condição social, reuniriam as condições que lhes permitiriam expressar, por meio do seu voto, a vontade da Nação). A Constituição deveria corresponder a uma “lei” escrita, não se confundindo com um repositório de tradições imemoriais, ao contrário da fórmula inglesa. Ela pode romper com o passado e dirigir o futuro da Nação, inspirando-se em valores universais centrados no indivíduo. O protagonista do processo constitucional no modelo constitucional francês é o Poder Legislativo, que teoricamente encarna a soberania e é visto como um garantidor mais confiável dos direitos do que o Poder Judiciário. Isto levou, na prática, a que a Constituição acabasse desempenhando o papel de proclamação política, que deveria inspirar a atuação legislativa, mas não de autêntica norma jurídica, que pudesse ser invocada pelos litigantes nos tribunais. Tal pensamento vem sendo superado. Foi aprovada em 2008 (regulamentada em 2010), na França, a chamada “Questão Prioritária de Constitucionalidade”, permitindo que as partes aleguem incidentalmente a inconstitucionalidade de lei, por ofensa a direitos e liberdades fundamentais garantidos pela Constituição francesa, no âmbito de processos judiciais e administrativos. A questão deve ser encaminhada à Corte de Cassação ou ao Conselho de Estado que, por sua vez, podem provocar o Conselho Constitucional. 2.3. O modelo constitucional norte-americano: O fato de a colonização dos Estados Unidos ter sido realizada em boa parte por imigrantes que escapavam da perseguição religiosa na Europa contribuiu decisivamente para que se enraizassem na cultura política norte-americana ideias como a necessidade de limitação do poder dos governantes e de proteção das minorias diante do arbítrio das maiorias. A Constituição dos Estados Unidos foi aprovada pela Convenção da Filadélfia, em 1787, e depois ratificada pelopovo dos estados norte-americanos, vigorando desde então. Inovou ao instituir o presidencialismo e o sistema de freios e contrapesos, associado à separação de poderes. A plasticidade das cláusulas constitucionais mais importantes abriu a possibilidade de atualização daquela Constituição pela via interpretativa, para adaptá-la às novas demandas e valores que emergiam. O modelo constitucional dos Estados Unidos representa a tentativa de conciliação entre dois vetores. De um lado, o vetor democrático, de autogoverno do povo, captado pelas palavras que abrem o preâmbulo da Carta americana (We, the People ofthe United States...). Do outro, o vetor liberal, preocupado com a contenção do poder das maiorias para defesa de direitos das minorias. Uma ideia essencial do constitucionalismo estadunidense, derivada da sua matriz liberal, é a concepção de que a Constituição é norma jurídica que, como tal, pode e deve ser invocada pelo Poder Judiciário na resolução de conflitos, mesmo quando isto implique em restrição ao poder das maiorias no Legislativo ou no Executivo. Desenvolveu-se no direito norte-americano a noção de que os juízes, ao decidirem conflitos, podem reconhecer a invalidade de leis que contrariem a Constituição, deixando de aplicá-las ao caso concreto. Esta posição, sustentada por Hamilton no Federalista nº 78, foi formulada na jurisprudência da Suprema Corte pelo Juiz John Marshall, no célebre julgamento do caso Marbury v. Madison, em 1803. Em suma, no modelo constitucional dos Estados Unidos, a supremacia da Constituição não é apenas uma proclamação política, como na tradição constitucional francesa, mas um princípio jurídico judicialmente tutelado. O modelo não é livre de críticas. O controle judicial de constitucionalidade das leis (judicial review) sofre até hoje contestações nos Estados Unidos, sendo frequentemente apontado como um instituto antidemocrático, por transferir aos juízes, que não são eleitos, o poder de derrubar decisões tomadas pelos representantes do povo, com base nas suas interpretações pessoais sobre cláusulas constitucionais muitas vezes vagas, que se sujeitam a diversas leituras. Contudo, a jurisdição constitucional não apenas criou profundas raízes no Direito Constitucional daquele país, como também acabou se disseminando por todo o mundo, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. FASES DO CONSTITUCIONALISMO MODERNO: 2.1) Constitucionalismo liberal-burguês: baseou-se na ideia de que a proteção dos direitos fundamentais dependia, basicamente, da limitação dos poderes do Estado. Naquele modelo, os direitos fundamentais eram concebidos como direitos negativos, que impunham apenas abstenções aos poderes políticos. O Estado era visto como o principal adversário dos direitos, o que justificava a sua estrita limitação, em prol da liberdade individual. Tal limitação era perseguida também por meio da técnica da separação dos poderes, que visava a evitar o arbítrio e favorecer a moderação na ação estatal. Na Economia Política era defendido o Estado mínimo, que confiava na “mão invisível do mercado” para promover o bem comum. O Estado deveria limitar-se a velar pela segurança das pessoas e proteger a propriedade, não lhe competindo intervir nas relações travadas no âmbito social, nas quais se supunha que indivíduos formalmente iguais perseguiriam os seus interesses privados, celebrando negócios jurídicos. Ele combateu os privilégios estamentais do Antigo Regime e a concepção organicista de sociedade. Porém, ignorava a opressão que se manifestava no âmbito das relações sociais e econômicas, existindo uma nítida contradição entre o discurso e a prática do constitucionalismo liberal-burguês no que tange à igualdade. A ideia de liberdade alentada pelo constitucionalismo liberal-burguês era muito mais identificada à autonomia privada do indivíduo, compreendida como ação livre de interferências estatais, do que à autonomia pública do cidadão, associada à soberania popular e à democracia. Além disso, a liberdade era concebida em termos estritamente formais, como ausência de constrangimentos externos, impostos pelo Estado à ação dos indivíduos. Ademais, o foco centrava-se mais sobre as liberdades econômicas do que sobre as liberdades existenciais. 2.2) Constitucionalismo Social: No final do século XIX e início do século XX, a extrema exploração da classe trabalhadora tornou-se insustentável. Na Europa Ocidental, a industrialização acentuara dramaticamente o quadro de exploração humana, que o Estado absenteísta não tinha como equacionar. A pressão social dos trabalhadores e de outros grupos excluídos, aliada ao temor da burguesia diante dos riscos e ameaças de rupturas revolucionárias inspiradas no ideário da esquerda, levaram a uma progressiva mudança nos papéis do Estado, que ensejou a cristalização de um novo modelo de constitucionalismo. Fica evidente que a suavização do capitalismo foi uma clara posição estratégica para evitar uma revolução da classe operária. Sobre o contexto, Lênin afirmou que preferia o capitalismo selvagem ao estado do bem estar social, pois este tirava a energia necessária para a eclosão de uma revolução. No plano das ideias, despontavam o pensamento marxismo, o socialismo utópico e a doutrina social da Igreja Católica. A progressiva extensão do direito de voto a parcelas da população até então excluídas do sufrágio também contribuiu para a mudança de cenário. A democratização política, ao romper a hegemonia absoluta da burguesia no Parlamento, abrira espaço também para a democratização social. De mero garantidor das regras que deveriam disciplinar as disputas travadas no mercado, o Estado foi se convertendo num ator significativamente mais importante dentro da arena econômica, exercendo diretamente muitas atividades de produção de bens e serviços, como a realização de grandes obras públicas. No plano teórico, a sua atuação passa a ser justificada também pela necessidade de promoção da igualdade material, por meio de políticas públicas redistributivas e do fornecimento de prestações materiais para as camadas mais pobres da sociedade, em áreas como saúde, educação e previdência social. A proteção da propriedade privada é flexibilizada, passando a estar condicionada ao cumprimento da sua função social. É relativizada a garantia da autonomia negocial, diante da necessidade de intervenção estatal em favor das partes mais débeis das relações sociais. Há uma mudança, ainda, na leitura dos direitos, sendo desenvolvida a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Emergem os direitos de segunda geração, prestacionais, para efetivação da igualdade material. A mudança no perfil do Estado refletiu-se também na sua engenharia institucional: a separação de poderes foi flexibilizada. A separação dos poderes estática, vigente no constitucionalismo liberal-burguês dá espaço à separação de poderes dinâmica, que se atenta para além da liberdade, para a efetividade, possibilitando uma atuação mais forte dos poderes públicos na seara social e econômica. O arranjo federalista também muda: as complexas tarefas assumidas pelo Estado não são exequíveis por um federalismo formal. É necessário o desenvolvimento de um federalismo cooperativo, com a participação de todos os entes federados. OBS.: Estado Social ≠Constitucionalismo Social: A necessidade de construção de um Estado mais forte, para atender às crescentes demandas sociais, foi utilizada como pretexto a instauração de regimes totalitários (Alemanha e Itália) ou autoritários (Brasil, no Estado Novo); nestas situações, pode-se falar em Estado Social, mas não em constitucionalismo social; o constitucionalismo social não renega os elementos positivos do liberalismo (preocupação com os direitos individuais e com a limitação do poder), mas pugna por conciliá-los com a busca da justiça social e do bem-estar coletivo. É inegável que o constitucionalismo social enfrenta crise desde as décadas finais do século passado, relacionada aos retrocessos que ocorreram no WelfareState. A globalização econômicareduziu a capacidade dos Estados de formular e implementar políticas públicas para atender aos seus problemas sociais e econômicos, sob a influência do pensamento neoliberal, que preconiza a redução do tamanho do Estado, a desregulação econômica e a restrição dos gastos sociais. A população envelheceu e cresceu, demandando maiores gastos com previdência social, saúde e educação. A partir da década de 80, começam a se tornar hegemônicas propostas de retorno ao modelo de Estado que praticamente não intervinha na esfera econômica. Sob o estímulo da globalização da economia, se inicia um processo de reforma do Estado que alcança escala mundial. Reduzem-se as barreiras alfandegárias e não alfandegárias ao comércio internacional e ao fluxo de capitais. Os Estados diminuem ou eliminam a proteção que reservavam à empresa nacional. Desterritorializa-se o processo produtivo. A nova dinâmica da produção global estimula os Estados a flexibilizarem suas relações de trabalho, com o intuito de atrair investimento produtivo e de alcançar maior competitividade no mercado global. Ameaçados pela inflação, que leva à necessidade de redução dos gastos públicos, os Estados privatizam suas empresas e extinguem monopólios públicos. A atuação direta do Estado na economia é significativamente reduzida. No que toca aos direitos sociais, o fim do constitucionalismo social seria moralmente inaceitável em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, caracterizados por grande injustiça social e desigualdade material. 3. CONSTITUCIONALISMO PÓS-MODERNO/ CONTEMPORÂNEO: surgiu após o fim da 2ª Guerra Mundial, quando o mundo ocidental sentiu a necessidade de reformular o conceito de Constituição, de maneira a não mais admitir como legítima a ação estatal que fragilizasse a dignidade da pessoa humana, considerado valor universal pela Declaração dos Direitos de 1948, e outros valores como a justiça a paz social, ainda que supostamente amparada na lei. “Uma das características marcantes do constitucionalismo contemporâneo reside na judicialização da política. A emergência do constitucionalismo democrático no segundo pós-guerra é percebida como uma ampliação do conceito de soberania, abrindo para os cidadãos novos lugares de representação de sua vontade, a exemplo do que ocorre quando provocam o Judiciário para exercer o controle das leis. O que se observa atualmente é uma tendência global à adoção do modelo de constitucionalismo em que as constituições são vistas como normas jurídicas autênticas, que podem ser invocadas perante o Poder Judiciário e ocasionar a invalidação de leis ou outros atos normativos. A conjugação do constitucionalismo social com o reconhecimento do caráter normativo e judicialmente sindicável dos preceitos constitucionais gerou efeitos significativos do ponto de vista da importância da Constituição no sistema jurídico — ela assumiu uma centralidade outrora inexistente —, bem como da partilha de poder no âmbito do aparelho estatal, com grande fortalecimento do Poder Judiciário, e, sobretudo, das cortes constitucionais e supremas cortes, muitas vezes em detrimento das instâncias políticas majoritárias. O que se observa atualmente é uma tendência global à adoção do modelo de constitucionalismo em que as constituições são vistas como normas jurídicas autênticas, que podem ser invocadas perante o Poder Judiciário e ocasionar a invalidação de leis ou outros atos normativos. Novos rumos: O constitucionalismo moderno foi erigido a partir de um pressuposto fático, que hoje já não se verifica plenamente o Estado nacional soberano. Com a globalização, atualmente, o Estado nacional perdeu em parte a capacidade que tinha para controlar os fatores econômicos, políticos, sociais e culturais que atuam no interior das suas fronteiras, pois esses são cada vez mais influenciados por elementos externos, sobre os quais os poderes públicos não exercem quase nenhuma influência. Em paralelo, surgem NOVAS ENTIDADES INTERNACIONAIS OU SUPRANACIONAIS, no plano global ou regional, que exercem um poder cada vez maior e tencionam a soberania estatal e a supremacia constitucional. Ao lado disso, se desenvolve na sociedade global, desde o final da II Guerra Mundial, um “COSMOPOLITISMO ÉTICO”, que cobra dos Estados mais respeito aos direitos humanos, não aceitando a invocação da soberania ou de particularismos culturais como escusa para as mais graves violações à dignidade humana. Nesse cenário, surgem fontes normativas e instâncias de resolução de conflitos alheias ao Estado, que não se subordinam ao Direito estatal, inclusive ao emanado da Constituição. O CONSTITUCIONALISMO EMREDE OU MULTINÍVELtoma o lugar da tradicional pirâmide Kelseniana; a emergência do Direito Comunitário, sobretudo no contexto europeu; o fortalecimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos; e a difusão global de uma lex mercatoria, composta por práticas aceitas pelos agentes do comércio internacional, que se situam às margens dos ordenamentos estatais; o conflito entre o universalismo dos direitos fundamentais e o respeito às diferenças culturais, são exemplos de questões colocadas à frente do constitucionalismo. Para que o constitucionalismo estatal não se torne autista, Marcelo Neves sustenta o TRANSCONSTITUCIONALISMO para manutenção do diálogo constitucional entre diferentes esferas, permitindo que as respectivas imperfeições e incompletudes sejam percebidas e eventualmente corrigidas. INTERCONSTITUCIONALISMO: Kildare Carvalho (13º Ed., p. 277) faz menção ao que se denomina PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL, aquele que busca a fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamentos jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania, buscando estabelecer uma Constituição supranacional legítima, com capacidade, inclusive de submeter as diversas constituições nacionais ao seu poder supremo. É supranacional, porque se distingue dos ordenamentos internos e, também, do direito internacional. Diante desta tendência mundial de globalização do direito constitucional, Marcelo Neves alude à provável superação do constitucionalismo provinciano ou paroquial pelo TRANSCONSTITUCIONALISMO, mais adequadopara as soluções dos problemas de direitos fundamentais e humanos (Lenza, esquematizado, 2012, p. 198). Nestesentido, Canotilho chega a sugerir a formulação da denominada TEORIA DA INTERCONSTITUCIONALIDADE, nabusca de estudar as relações interconstitucionais, ou seja, a concorrência, a convergência, justaposição e conflito devárias constituições e de vários poderes constituintes no mesmo espaço político. Marcelo Neves: “otransconstitucionalismo é o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas, tanto estatais como transnacionais,internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional. Ou seja, problemas dedireitos fundamentais e limitação de poder que são discutidos ao mesmo tempo por tribunais de ordens diversas (...). Ofato de a mesma questão de natureza constitucional ser enfrentada concomitantemente por diversas ordens leva ao que eu chamei de transconstitucionalismo”. NEOCONSTITUCIONALISMO: O fenômeno ocorrido na Europa Ocidental do pós-guerra foi o panorama histórico que ensejou seu advento. As constituições do pós-guerra são marcadas por elevado teor axiológico, caracterizadas, ainda, pela abertura e indeterminação semântica, importando sua aplicação pelo Judiciário a partir de novas técnicas e estilos hermenêuticos.No Brasil, pós CF/88, os adeptos (Luís Roberto Barroso, Lênio Streck, Ana Paula de Barcellos etc.) e críticos (Dimitri, Humberto Ávila etc.) do neoconstitucionalismo apontam suas principais características como sendo: valorização dos princípios; adoção de métodos ou estilos mais abertos e flexíveis na hermenêutica jurídica, com destaque para a ponderação, abertura da argumentação jurídica à moral, reconhecimento e defesa da constitucionalização do Direito e do papel de destaque do Judiciário na Agenda de concretização dos valores constitucionais.Pontos marcantes do neoconstitucionalismo: Estado constitucional de direito: supera-se a ideia de Estado Legislativo de Direito, passando a Constituição a ser o centro do sistema, marcada por uma intensa carga valorativa. A Constituição, assim, adquire, de vez, o caráter de norma jurídica, dotada de imperatividade, superioridade (dentro do sistema) e centralidade, vale dizer, tudo deve ser interpretado a partir da Constituição. Conteúdo axiológico da Constituição: para Barcellos, do ponto de vista material, sobressai o seguinte elemento dentro da noção de constitucionalismo: “(i) a incorporação explícita de valores e opções políticas nos textos constitucionais, sobretudo no que diz respeito à promoção da dignidade humana e dos direitos fundamentais”. Barcellos identifica a previsão de opções políticas gerais (como a redução de desigualdades sociais — art. 3.º, III) e específicas (como a prestação, por parte do Estado, de serviços de educação — arts. 23, V, e 205). Nesse contexto, a partir do momento que os valores são constitucionalizados, o grande desafio do neoconstitucionalismo passa a ser encontrar mecanismos para sua efetiva concretização. Concretização dos valores constitucionais e garantia de condições dignas mínimas: de acordo com a lição de Barcellos, completando, do ponto de vista material, destaca-se um outro elemento na concepção de constitucionalismo: “(ii) a expansão de conflitos específicos e gerais entre as opções normativas e filosóficas existentes dentro do próprio sistema constitucional”. ESTADO PLURINACIONAL E INTERCULTURAL. O novo constitucionalismo democrático latino-americano. Constitucionalismo pluralista (andino ou indígena). O denominado novo constitucionalismo latino-americano (por alguns chamado de constitucionalismo andino ou indígena) culmina com a promulgação das Constituições do Equador (2008) e da Bolívia (2009) e sedimenta-se na ideia de Estado plurinacional, reconhecendo, constitucionalmente, o direito à diversidade cultural e à identidade e, assim, revendo os conceitos de legitimidade e participação popular, especialmente de parcela da população historicamente excluída dos processos de decisão, como a população indígena.Esse modelo de constitucionalismo pluralista pressupôs rupturas paradigmáticas, muito bem delimitadas por Raquel Yrigoyen Fajardo, a saber: colonialismo: vigorava a ideologia da “inferioridade natural dos índios”, em um modelo de subordinação; constitucionalismo liberal (século XIX): construção do Estado-nação pelo “monismo jurídico”, ou seja, como bem anota Yrigoyen Fajardo, a existência de um único sistema jurídico dentro do Estado, sobressaindo-se um regramento geral para todos. A ideia de pluralismo jurídico, como forma de coexistência de vários sistemas normativos dentro de um mesmo espaço geopolítico... não era admitida pela ideologia do Estado-nação, havendo exclusão dos povos originários, dos afrodescendentes, das mulheres, das maiorias subordinadas, buscando a manutenção da sujeição dos índios. constitucionalismo social-integracionista (século XX): marcado pela Constituição do México de 1917 e a de Weimar (Alemanha) de 1919, há o reconhecimento de direitos sociais e sujeitos coletivos, com a ampliação das bases de cidadania. O Estado define o modelo de integração dos índios com o Estado e o mercado, não havendo, contudo, rompimento da ideia de Estado-nação e monismo jurídico. constitucionalismo pluralista (séculos XX e XXI): Yrigoyen Fajardo reconhece 3 ciclos marcantes e que ensejam importantes reformas constitucionais nos países latino-americanos, evidenciando-se novos atores sociais nos processos decisórios: a) ciclo multicultural (1982-1988); b) ciclo pluricultural (1989-2005) e c) ciclo plurinacional (2006-2009). OBS.:O problema da legitimidade intergeracional→ a questão da legitimidade intergeracional diz respeito ao fato de uma geração adotar decisões vinculativas para as outras que a sucederão, principalmente no que pertine às cláusulas pétreas, cuja superação, como é cediço, só é possível através de uma ruptura da ordem jurídica. No entanto, oconstitucionalismo democrático, além de valorar positivamente o fato de a Constituição ser dotada de supremacia, procura atribuir à importância devida às deliberações populares e às decisões da maioria dos representantes do povo. Contudo, registre-se que cada geração tem o direito de viver de acordo com seus valores, de forma que, cabe ao poder constituinte difuso, ou seja, a mutação constitucional deve ser a ferramenta para interpretar de forma a combinar com a realidade vigente. EMENDAS À CONSTITUIÇÃO. DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS. REPÚBLICA E FEDERAÇÃO NO DIREITO CONSTITUCIONAL EM GERAL. SISTEMA BRASILEIRO. ESTADO: NOÇÕES GERAIS - TEORIA GERAL DO ESTADO: Objeto de estudo: Estado. Visa discutir e analisar o processo de formação do Estado moderno, sua organização, seu funcionamento e finalidades. Perspectivas de análise: O tema pode ser tratado a partir de vários ângulos: a) perspectiva histórica e sociológica, que aprecia o surgimento e a evolução do Estado; b) perspectiva jurídica, que aprecia a organização e a personificação do Estado; c) perspectiva filosófica, que aprecia os fundamentos e os fins do Estado. Conceito (Jellinek): “É a corporação de um povo, assentado num determinado território e dotada de um poder originário de mando”. Ou, de forma mais singela, é um povo organizado politicamente num determinado território. Elementos do Estado: 1)Povo: conjunto dos cidadãos (nacionais) de um Estado. Difere da ideia de população, que é a expressão numérica dos habitantes de um Estado e difere da ideia de nação, que é uma comunidade histórico cultural étnica, linguística e tradicionalmente homogênea; 2) Poder político (governo): em sentido amplo, pode ser entendido como uma espécie institucionalizada (organizado e permanente) de poder social: possibilidade de alguém (Estado) impor sua vontade sobre os outros e exigir o cumprimento de suas ordens (leis). Principal característica: capacidade de editar normas jurídicas e de fazê-las cumprir. SOBERANIA: o principal teórico é Jean Bodin, séc. XVI. Conceito: Poder de mando de última instância numa sociedade política. Liga-se, portanto, à ideia de poder político. Características: indivisível, irrevogável, perpétuo, supremo. Titular: Estado (pessoa jurídica). Efeitos: a) interno: poder superior a todos os demais. b) independência em seu relacionamento com os outros Estados e com as organizações internacionais. Significado atual: atualmente o princípio da soberania vem perdendo sua força, seja em razão da hipertrofia e da influência exercida por organismos internacionais (ONU, FMI, etc.), seja em razão da influência cada vez maior dos grandes conglomerados econômicos, estes sim cada vez mais influentes sobre Estados e governos; 3) Território: é o espaço dentro do qual o Estado exercita o seu poder de mando (soberania). O território está para o Estado assim como o corpo está para a pessoa humana. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE: em regra, a ordem jurídica de um Estado só é aplicável aos fatos ocorridos no âmbito do seu território. Partes integrantes do território: a terra firme localizada dentro dos limites territoriais, as águas ali compreendidas, o mar territorial (lei 8.617/93), o subsolo, a plataforma continental e o espaço aéreo. O PROBLEMA DA FINALIDADE COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DO ESTADO: tradicionalmente, concebe-se o Estado como uma organização comprometida com um determinado fim. Segundo Dallari, este fim é a promoção do bem comum. Contudo, não se pode admitir a finalidade como um elemento constitutivo do Estado já que um Estado não deixará de ser qualificado como tal caso não cumpra aquilo que se espera dele. O mesmo não acontece com os verdadeiros elementos do Estado (povo; poder político; território) FORMAS DE ESTADO – RELAÇÃO ENTRE PODER E TERRITÓRIO: O ESTADO basicamente pode se organizar de forma: UNITÁRIA (uma única fonte de poder político em todo o território, mesmo que hajaórgãos administrativos distintos) ou FEDERAL (mais de uma fonte de poder político em todo o território, ou seja, no mesmo território há mais de uma fonte de poder). Há a correlação entre dois elementos do Estado: TERRITÓRIO E PODER. ESPÉCIES DE FORMA DE ESTADO: 1) ESTADO UNITÁRIO: Estado simples; um centro de poder político para todo o território. O Estado Unitário foi a forma típica dos primeiros Estados modernos, os primeiros Estados Absolutistas; 2) ESTADO FEDERAL: Estado complexo; mais de um centro com capacidade legislativa no âmbito do território – central e periféricos; existência de unidades autônomas – atribuições próprias previstas constitucionalmente sem possibilidade de alteração; Estados-membros participam do órgão legislativo central; Estados-membros são organizados por Constituições próprias; 3) ESTADO REGIONAL: Estado híbrido; mais de um centro de poder político no âmbito do território + há sujeição dos centros de poder político regionais ao poder político central (isto não implica que o Legislativo central seja unicameral); as regiões não têm constituições próprias. Obs.: A CONFEDERAÇÃO: em verdade, a confederação não é uma forma de Estado, mas sim uma aliança de Estados soberanos unidos por um instrumento jurídico de direito internacional (o Tratado) a fim de perseguir um objetivo determinado. Os Estados soberanos podem se desligar do acordo por meio da denúncia do tratado. O ESTADO FEDERAL-CONCEITO É uma forma de organização do poder que dá lugar, no mínimo, a dois níveis diferentes de governo: o central e os regionais (estes denominados províncias, Estados-membros, Cantões, ou Landers), cada um com suas competências próprias, segundo uma partilha assegurada pela própria Constituição Federal. Aliás Federal vem do latim foedus, que quer dizer pacto, aliança. Ou seja, o Estado Federal surge da aliança, da união de vários Estados. Ele é formado por uma pluralidade de Estados-membros autônomos e unidos por uma Constituição. Só ao Estado Federal cabe o exercício da soberania. Histórico: É um fenômeno moderno. Primeiro Estado Federal: EUA. Independência em 1776 – 13 colônias se tornam 13 estados independentes e soberanos. 1781 – 13 estados soberanos assinam os Artigos da Confederação, um tratado para cooperação mútua a fim de preservar a independência. 1787 (ano da constituição dos EUA - 17 de setembro de 1787) – Revisão dos Artigos da Confederação, na cidade de Filadélfia, em que esteve ausente o estado de Rhode Island. Duas correntes: uma pretendia a revisão puramente formal do tratado e a outra pretendia transformar a confederação em federação. Isto implicaria na perda da independência e da soberania dos estados. Os representantes não tinham mandato, não tinham autorização para implementar a transformação. Ficou estabelecido então que a conversão da confederação em federação seria realizada assim que houvesse a ratificação de 9 entre as 13 ex-colônias. Publicam-se em Nova York, a partir de então, uma série de artigos explicando à população as vantagens da formação de um Estado federal. Posteriormente, estes artigos foram todos compilados e publicados com o nome de O Federalista (Hamilton, Jay e Madison foram os autores). 1789 – ano em que ocorreu a ratificação do nono estado, surgindo os Estados Unidos da América como o primeiro Estado Federal. Peculiaridades históricas da federação brasileira: Estado federal no Brasil surge com a Constituição de 1891 (primeira Constituição da fase republicana). As províncias, que eram subdivisões administrativas do território brasileiro no período monárquico, são alçadas à categoria de estados-membros e recebem autonomia do Poder Central. No Brasil, houve um processo diverso do americano: lá, cada um dos Estados soberanos abriu mão de sua soberania em prol da criação de um só Estado Federal soberano que os abrangesse a todos. Aqui, o Estado Unitário (monárquico) embora descentralizado administrativamente, transformou-se em Estado Federal. A Constituição de 1891 transferiu para os Estados-membros um feixe de atribuições (competências) que antes pertencia ao Poder Central. Por isso, diz-se que a federação americana surgiu de um movimento centrípeto, ao passo que a federação brasileira surgiu de um movimento centrífugo. Principais Características do Estado Federal: a) surgimento de um novo Estado e desaparecimento dos Estados que se uniram; b) o Estado federal se forma a partir de uma Constituição ao passo que a Confederação está baseada num Tratado; c) na Federação não existe direito de secessão; d) numa federação, só o Estado federal tem soberania (estados-membros têm autonomia); e) no Estado federal não há hierarquia entre a União e os Estados-membros. Cada entidade possui suas próprias competências delineadas pela Constituição sem possibilidade de alteração (obs.: tradicionalmente, as constituições delimitam o elenco de poderes da União cabendo aos Estados-membros as competências remanescentes); f) cada entidade tem sua própria fonte de renda; g) o poder político é compartilhado pela União e pelas unidades federadas; h) os cidadãos do Estado que adere à federação adquirem a cidadania do Estado federal e perdem a anterior; i) existência de um órgão de cúpula do Poder Judiciário responsável pela interpretação e defesa da Constituição. A autonomia dos “entes federativos”: Autonomia, constitucionalmente falando, significa o direito que os “entes federativos” têm de se reger (de se autogovernar) por leis próprias. Significa a liberdade de ação dentro de um círculo de competências delimitado pela Constituição, sendo esta liberdade restringida apenas por princípios da própria Constituição. Em razão de sua autonomia os Estados e Municípios têm o direito de se autoorganizar, ou seja, de terem Constituições próprias no caso dos Estados-membros ou Leis Orgânicas próprias, no caso dos municípios; têm ainda o direito de se autogovernar, ou seja, de eleger diretamente os membros dos seus próprios poderes Legislativo e Executivo (e de organizar o Poder Judiciário, no caso dos Estados-membros); e por fim, têm o direito de se autoadministrar, ou seja, podem exercer livremente as competências legislativas, tributárias e executivas delimitadas pela Constituição. Argumentos favoráveis ao estado federal Argumentos contrários ao estado federal 1) Mais democrático em virtude da descentralização política; 1) Dispersão exagerada de recursos públicos para manutenção de vários aparelhos burocráticos; 2) Maior dificuldade para a concentração de poder; 2) Dificuldade de implementação de planos políticos nacionais, menos custosos e mais eficientes; 3) Promove mais facilmente a integração entre as regiões e os cidadãos do Estado. 3) Ocorrência de conflitos políticos e jurídicos. Classificações: Federação pode ser classificada como: 1) CENTRÍPETA: a força que converge para o centro, no caso da federação, converte-se para o centro do poder. Se o critério for histórico de formação do Estado, a agregação está aqui. Mas se o critério for a verificação da maior parte do poder, aqui está a desagregação; 2) CENTRÍFUGA: a força emerge do centro para fora. Se o critério for histórico de formação do Estado, a desagregação está aqui. Mas se o critério for a verificação da maior parte do poder, aqui está a agregação. Características do Estado Federal: O atendimento a todas as características haverá uma FEDERAÇÃO SIMÉTRICA. Mas se não forem respeitadas essas características, haverá uma FEDERAÇÃO ASSIMÉTRICA. Descentralização Político-Administrativa: No Estado Federal, não há uma centralização única do poder, ou seja, a sua característica principal é a descentralização do poder entre os entes federados: União e Estados. Essa é a descentralização clássica ou dual ou dúplice. No Brasil, há uma descentralização especial, denominada de TRÍPLICE ou de MODELO TRICOTÔMICO: União, Estados, DF e Municípios. JOSÉ AFONSO DA SILVA entende que os Municípios não são entes federados, mas, a posição majoritária é a deque são (STF). Assim, na verdade, é quádruplo porque considera também do Distrito Federal. O Brasil reconhece a autonomia dos MUNICÍPIOS, construindo uma Federação tripartite, um modelo diferente de FEDERALISMO – DE 3º GRAU. O Município tem competência nas matérias de interesse local. Alguns autores afirmam que os municípios não podem ser equiparados aos Estados, têm autonomia, mas não é a mesma que os Estados. O território NÃO é entidade federada, no Brasil. A federação é cláusula pétrea (artigo 60, §4o, limites materiais ao poder de reforma), desde a criação da federação em todas as constituições a federação foi tida como cláusula pétrea. FORMA DE GOVERNO FORMA DE ESTADO SISTEMA DE GOVERNO República Federação Presidencialista Indissociabilidade: a federação é indissolúvel. União indissolúvel dos Municípios, Estados e Distrito Federal (artigo 1o. e artigo 18, CF). Órgão de Manifestação da Vontade dos Estados: o Poder Legislativo é bicameral porque o SENADO FEDERAL é a casa de representação dos Estados. Constituição Rígida: porque há uma descentralização político-administrativa, com uma divisão de tarefas que será feita na CF; se a lei ordinária puder modificar essas tarefas não mais será uma divisão constitucional, assegurando assim o respeito à divisão de competências imposta pela CF. Controle de Constitucionalidade: garantindo o cumprimento do previsto no item anterior. Existência de Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais: os Estados e os Municípios têm que se organizar internamente.Autonomia Financeira dos Estados e Dos Municípios: é decorrência da descentralização, já que para a possibilidade de cumprimento de tarefas específicas, é preciso que haja autonomia de recursos. Autonomia Recíproca: não há hierarquia entre as entidades federadas, cada uma tem a sua parcela de autonomia que é recíproca. FORMAS DE GOVERNO Questão terminológica: Os autores divergem quanto às classificações. Aquilo que uns denominam de formas de governo outros classificam como sistemas de governo ou regimes de governo. A classificação mais comum é a que distingue três categorias: formas de governo, sistemas de governo, regimes de governo. Conceitos: Governo: conjunto de órgãos incumbidos de exercer o poder político no Estado. Formas de governo: Diferentes maneiras de instituição do poder na sociedade e de relacionamento entre governantes e governados. A forma de governo visa responder à questão de quem exerce o poder e como este se exerce. Sistema de governo: técnica que rege as relações entre o poder legislativo e o poder executivo no exercício das funções govenamentais. Ou seja, sistema de governo significa o modo como se relacionam os poderes executivo e legislativo durante o exercício do poder. Regime de governo: é o modo efetivo pelo qual se exerce o poder num determinado Estado em determinado momento histórico. Trata-se de uma constatação da realidade. Formas de Governo no Estado Moderno 1) MONARQUIA 1.1) Monarquia absoluta (século XVI, governos fortes). Características: a) vitaliciedade (o monarca governa não por tempo certo e determinado mas por toda a vida); b) hereditariedade (quando o Rei morre ele é substituído pelo herdeiro do trono, the king never dies); c) irresponsabilidade (o monarca não deve explicações ao povo ou a qualquer órgão sobre os motivos pelos quais adotou certa orientação política, the king can do no wrong; 1.2) Monarquia constitucional (resistência ao absolutismo). Fatos históricos: a) Revolução Gloriosa – 1688; b) limites jurídicos ao poder do Rei – Bill of Rights, 1689, o Rei passa a ser parte do governo; c) adoção do sistema parlamentar de governo; d) distinção entre chefe de Estado e chefe de governo: chefe de Estado é o Rei (função simbólica) e chefe de governo passa a ser o primeiro ministro (chefe do gabinete de ministros escolhidos pelo Parlamento). Argumentos favoráveis à monarquia: Argumentos contrários à monarquia: - governo forte: soluções mais rápidas nas épocas de crises políticas; - monarquia sem governo é inútil; - monarca é um fator de unidade no Estado (é considerado um elemento comum a todas as correntes de opinião); - a unidade do Estado deve estar fundada num elemento objetivo (ordem jurídica) e não num elemento pessoal (o rei); - monarca garante a estabilidade das instituições (está à margem das disputas políticas); - risco de um monarca ineficiente e incapaz; - monarca é alguém especialmente capacitado para o exercício do poder; - caráter antidemocrático da monarquia. Obs.: A monarquia é uma forma de governo em via de extinção. Em alguns países ainda é preservada mais como um símbolo do que como uma opção política. 2) REPÚBLICA: Ideia de alguém escolhido (não hereditário). Histórico: surge, contemporaneamente (Revolução Francesa para adiante), como alternativa à monarquia absoluta. Tanto na França como nos Estados Unidos, a república foi a forma de governo idealizada para implementar a soberania popular. Liga-se intimamente à ideia de democracia, muito embora o sufrágio verdadeiramente universal só viesse a ocorrer no século XX. A república era expressão democrática do governo, era limitação do poder dos governantes e era atribuição de responsabilidade política, podendo, assim, assegurar a liberdade individual. Características da República: 2.1) temporariedade (chefe de Estado com mandato predeterminado. Proibição de reeleições sucessivas); 2.2) eletividade (chefe de governo é eleito pelo povo direta ou indiretamente); 2.3) responsabilidade política (dever de o chefe de governo prestar contas de sua orientação política). Modo de controle no parlamentarismo: a) questão de desconfiança; b) moção de censura. Modo de controle no presidencialismo brasileiro: a) ação popular (art. 5°, LXXIII, CF/88); b) questionamento das contas municipais (art. 31, § 3°, CF/88); c) denúncia de irregularidades ao Tribunal de Contas competente (art. 74, § 2°, CF/88); d) controle exercido por meio do voto nas eleições seguinte. Obs.: Estado de direito:Estado em que todos – governantes e governados – estão submetidos à lei e à jurisdição”. Estado despótico é diferente de Estado de direito. Despotismo: forma de governo que quem detém o poder mantém, em relação aos súditos, o mesmo tipo de relação que o senhor (em grego, despotes) tem para com os escravos que lhe pertencem. SISTEMAS DE GOVERNO - Disciplina a relação entre os poderes. Principalmente, entre a função executiva e legislativa. Conteúdo que determina a ideia de Estado. Os sistemas de governo mais comuns são o Presidencialismo e o Parlamentarismo. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. UNIÃO: BENS E COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA, COMPETÊNCIA DE NORMAS GERAIS, COMPETÊNCIA COMUM E COMPETÊNCIA CONCORRENTE. UNIÃO Conceito e Noções: Pessoa jurídica de direito público, possui capacidade política, e se manifesta ora em nome próprio (exercendo sua soberania na ordem interna), ora em nome da federação (exercendo autonomia na ordem externa). No âmbito externo, é a União que tem capacidade jurídica de travar relações jurídicas com pessoas de direito internacional (outros Estados ou organismos internacionais). A União será a competente para travar essas relações internacionais, mesmo que o interesse seja dos outros entes federados. Toda e qualquer dívida contraída pelos entes políticos depende de aprovação do legislativo federal (senado). Toda operação externa de natureza financeira de interesse da União, Estados, Distrito Federal e Municípios deve ser aprovada previamente pelo plenário do Senado. O mesmo se dá em relação aos limites e condições para as operações de crédito interno e externo das unidades federadas, bem como de suas dívidas mobiliárias. O limite total da dívida consolidada de cada membro da federação também tem de passar pelo crivo do Senado, assim como a concessão de garantia da União para obtenção de créditos (art. 52, incs. V a X). No âmbito interno, a União não é hierarquicamente superior em relação aosdemais entes políticos; há uma autonomia recíproca, sem qualquer predominância, há repartição de competências. Bens da União: O conhecimento dos bens é fundamental para a definição da competência da justiça federal, em âmbito civil e criminal. (art. 20, da CF). A Lei 8617/93 estabelece os conceitos importantes de: PLATAFORMA CONTINENTAL (Do mar territorial até zona econômica exclusiva - Recursos naturais de propriedade da União); ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (Das 12 até 200 milhas marítimas - Recursos naturais de propriedade da União) MAR TERRITORIAL (Brasil entendia que era uma área de 200 milhas, o que confrontava com os tratados internacionais. Atualmente, é equivalente a 12 milhas marítimas - Propriedade da União). TERRENOS DE MARINHA - são uma faixa de 33 metros contados da preamar do ano de 1831. Aplica-se essa regra para todas as águas que estejam submetidas às variações das marés. ACRESCIDOS DE MARINHA - são os resultantes do recuo da água, ou seja, são as áreas natural ou artificialmente acrescidas aos terrenos de marinha. São bens públicos federais, pertencem à União. TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS - são de propriedade da União, mas, terão um regime jurídico distinto. Obs.: FAIXA DE FRONTEIRA não é bem da União. 150 quilômetros e fronteiras terrestres. Nessa faixa, há um regime jurídico específico, mas não são propriedade da União. Competências: O Estado Federado se caracteriza pela existência de mais de uma fonte de poder em seu território, por isso, é necessária a repartição de competências dentro do Estado. Se não forem repartidas as competências algumas atividades podem ficar sem cumprimento. O núcleo essencial do Federalismo é a REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS. A repartição é feita pela aplicação do CRITÉRIO DA PREDOMINÂNCIA DOS INTERESSES. A união é responsável pela manutenção da unidade nacional, por isso, a sua competência é geral. As competências regionais são assim estabelecidas, porque tutelam interesses de mais de um município. Existem 03 técnicas: 1) Enumeração dos poderes da União e os remanescentes para os Estados; EXEMPLO: EUA; 2) Enumeração dos poderes dos Estados e os remanescentes para a União; EXEMPLO: Canadá; 3) Enumeração dos poderes da União e dos Estados, e os RESÍDUOS para a União; EXEMPLOS: Índia e Venezuela. Essa técnica foi adotada no Brasil, em relação à matéria TRIBUTÁRIA. Sempre que se tentar fazer uma lista exaustiva, será necessário deixar o RESÍDUO para alguém. Modalidades de Repartição de Competências: COMPETÊNCIAS MATERIAIS OU COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Tratam da responsabilidade pelo exercício de determinados serviços públicos / administrativos É a competência para a edição de normas. Os entes federados não podem legislar sobre assuntos de competência uns dos outros, evitando a superposição de atividade legislativa, mesmo na competência legislativa comum do artigo 24. EXCLUSIVAS UNIÃO (art. 21) EXCLUSIVAS COMUNS, CUMULATIVAS OU PARALELAS (art. 23) TODOS OS ENTES FEDERATIVOS PRIVATIVAS CONCORRENTES (art. 24) SUPLEMENTARES A regra de ouro da atuação do administrador (direito administrativo) = o administrador somente pode fazer o que a lei autoriza. Assim, os atos materiais da União recorrentes de sua competência exclusiva serão legislados pela própria União. Há uma correspondência entre a competência material e a competência legislativa. Assim, se todos os entes políticos praticam os atos materiais todos poderão legislar sobre ele. Obs.: É a UNIÃO que legisla privativamente sobre todos os portos (lacustre, fluvial, marítimo e aeroportos) e sobre todas as formas de navegação e transporte; Só a UNIÃO explora (direta ou indiretamente) a navegação aérea, aeroespacial e os aeroportos; Só a UNIÃO explora (direta ou indiretamente) o transporte ferroviário e aquaviário NACIONAL; Só a UNIÃO explora (direta ou indiretamente) o transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros. Obs.: Ou seja, não cabe à União explorar o transporte aquaviário entre porto estrangeiro e porto brasileiro, nem (obviamente) as linhas férreas situadas fora do território nacional (mesmo que ligadas às linhas férreas nacionais), nem o transporte ferroviário limitado às fronteiras de um único Estado. Obs2.: Ou seja, não cabe à União explorar o transporte rodoviário municipal (competência do Município) nem o transporte rodoviário intermunicipal entre Municípios de um mesmo Estado (competência dos Estados: ADI 2349/ES, INFO STF 399). MODELOS DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS A Constituição fixa, de maneira clara, a repartição de competências entre os entes federativos, que, são autônomos cada qual dentro de sua parcela de atribuições e capacidades de auto-organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação. Pode ocorrer alteração das repartições de competências por emenda constitucional? As atribuições estão estabelecidas pelo constituinte originário e, em tese, poderiam ser objeto de modificação (por emenda), desde que a novidade, a ser introduzida, não violasse a forma federativa de Estado, bem como as demais cláusulas pétreas. MODELO CLÁSSICO E MODELO MODERNO: No direito comparado houve a formulação tanto de um modelo clássico como de um modelo moderno, tendo como parâmetro a enumeração ou não das atribuições. Modelo clássico: O modelo clássico busca a sua fonte na Constituição norte-americana de 1787, refletindo aspirações do final do século XVIII. Conforme esse modelo, compete à União exercer os poderes enumerados e aos Estados, os poderes não especificados, em um campo residual. O rigorismo da enunciação taxativa é flexibilizado pela doutrina dos poderes implícitos (Paulo Branco). Modelo moderno: passou a ser verificado após a Primeira Guerra Mundial, estando descritas nas Constituições não somente as atribuições exclusivas da União, como, também, as hipóteses de competência comum ou concorrente entre a União e os Estados. Para Paulo Branco, “o chamado modelo moderno responde às contingências da crescente complexidade da vida social, exigindo ação dirigente e unificada do Estado, em especial para enfrentar as crises sociais e guerras”. Modelo horizontal e modelo vertical: leva em conta não a enumeração das atribuições, mas, partindo delas, se haverá ou não condomínio entre os entes federativos para a sua realização e, assim, vislumbrando tanto um modelo horizontal como um modelo vertical. Modelo horizontal: não se verifica concorrência entre os entes federativos. Cada qual exerce a sua atribuição nos limites fixados pela Constituição e sem relação de subordinação, nem mesmo hierárquica. Ensina Paulo Branco que “esse modelo apresenta três soluções possíveis para o desafio da distribuição de poderes entre órbitas do Estado Federal. Uma delas efetua a enumeração exaustiva da competência de cada esfera da Federação; outra, discrimina a competência da União deixando aos Estados-membros os poderes reservados (ou não enumerados); a última discrimina os poderes dos Estados-membros, deixando o que restar para a União”. No Brasil predomina o modelo horizontal, nos termos dos arts. 21, 22, 23, 25 e 30. Modelo vertical: a mesma matéria é partilhada entre os diferentes entes federativos, havendo, contudo, certa relação de subordinação no que tange à atuação deles. Em se tratando de competência legislativa, geralmente a União fica com normas gerais e princípios, enquanto os Estados, completando-as, legislam para atender às suas peculiaridades locais. Na lição de Paulo Branco, como uma técnica que estabelece “um verdadeiro condomínio legislativo entre a União e os Estados-membros”. Como exemplo de modelo vertical, no Brasil, podemos citar as matérias de competência concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, estabelecidas no art. 24 da CF/88. Finalmente, constata-se que no modelo vertical há uma maior aproximação entre os entes federativos, que deverão atuar em complemento, em “condomínio legislativo”. Já no modelo horizontal,parece haver um maior afastamento, na medida em que a distribuição de competência se mostra bastante rígida e sem interferência de um sobre outro. Em suma: Modelos de repartição de competências: MODELO CLÁSSICO MODELO MODERNO MODELO HORIZONTAL MODELO VERTICAL Poderes enumerados à União. Residuais aos Estados. Competências exclusivas da União, mas também algumas competências comuns ou concorrentes com os Estados. Estabelecimento de competências exclusivas de cada ente (União e Estados). Competência partilhada entre os estados, recaindo à União estabelecer regras gerais e ao Estado suplementá-las. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO FEDERAL: Competência não legislativa (administrativa ou material): determina um campo de atuação político-administrativa, tanto é que são também denominadas competências administrativas ou materiais, pois não se trata de atividade legiferante. Regulamenta o campo do exercício das funções governamentais, podendo tanto ser EXCLUSIVA da União (marcada pela particularidade da indelegabilidade) como COMUM (também chamada de CUMULATIVA, CONCORRENTE, ADMINISTRATIVA OU PARALELA) aos entes federativos, assim esquematizadas: EXCLUSIVA: art. 21 da CF/88. COMUM(cumulativa, concorrente, administrativa ou paralela): art. 23 — trata-se de competência não legislativa comum aos quatro entes federativos, quais sejam, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O art. 23, parágrafo único, estabelece que leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. Ex. LC 140 (competências ambientais). E se ocorrer o conflito entre os entes federativos? Nesse caso, observam Mendes, Coelho e Branco que, “se o critério da colaboração não vingar, há de se cogitar do critério da preponderância de interesses. Mesmo não havendo hierarquia entre os entes que compõem a Federação, pode-se falar em hierarquia de interesses, em que os mais amplos (da União) devem preferir aos mais restritos (dos Estados)”. Competência legislativa: trata-se de competências, constitucionalmente definidas, para elaborar leis. Elas foram assim definidas para a União Federal: PRIVATIVA: art. 22 da CF/88. Indaga-se: apesar de ser competência privativa da União, poderiam aquelas matérias ser regulamentadas também por outros entes federativos? Sim, de acordo com a regra do art. 22, parágrafo único, que permite à União, por meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias previstas no referido art. 22. Pedro Lenza entende que essa possibilidade estende-se, também, ao Distrito Federal, por força do art. 32, § 1.º, da CF/88, embora a CF seja literal em apontar apenas o Estado. Finalmente, havendo opção política e discricionária, referida delegação não poderá ser direcionada a um único Estado determinado, mas deverá ser para todos os Estados e o DF (no exercício de sua competência estadual); CONCORRENTE: o art. 24 define as matérias de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal. A competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Em caso de inércia da União, inexistindo lei federal elaborada pela União sobre norma geral, os Estados e o Distrito Federal (art. 24, caput, c/c o art. 32, § 1.º) poderão suplementar a União e legislar, também, sobre as normas gerais, exercendo a competência legislativa plena. Se a União resolver legislar sobre norma geral, a norma geral que o Estado (ou Distrito Federal) havia elaborado terá a sua eficácia suspensa, no ponto em que for contrária à nova lei federal sobre norma geral. Caso não seja conflitante, passam a conviver, perfeitamente, a norma geral federal e a estadual (ou distrital). Observe-se tratar de suspensão da eficácia, e não revogação, pois, caso a norma geral federal que suspendeu a eficácia da norma geral estadual seja revogada por outra norma geral federal, que, por seu turno, não contrarie a norma geral feita pelo Estado, esta última voltará a produzir efeitos (lembre-se que a norma geral estadual apenas teve a sua eficácia suspensa). Atenção: Os Municípios podem suplementar a legislação federal e estadual no que couber, tendo por parâmetro os assuntos de interesse local. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; Competência tributária expressa: art. 153 (estudar especialmente em direito tributário); Competência tributária residual: art. 154, I (instituição, mediante lei complementar, de impostos não previstos no art. 153, desde que sejam não cumulativose não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na CF); Competência tributária extraordinária: art. 154, II (instituição, na iminência ou no caso de guerra externa, de impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação). COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE O SISTEMA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO — DISCUSSÃO EM RELAÇÃO À EC N. 85/2015 Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) será organizado em regime de colaboração entre entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) § 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do SNCTI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios legislarão concorrentemente sobre suas peculiaridades. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) De acordo com o art. 218, caput, o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação. Nesse sentido, a Constituição prescreve que o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação será organizado em regime de colaboração entre entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação. A disciplina desse sistema dar-se-á, de acordo com o art. 219-B, §§ 1.º a 2.º (EC n. 85/2015), da seguinte forma: União (lei federal): disporá sobre as normas gerais do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Estados, Distrito Federal e Municípios: legislarão concorrentemente sobre suas peculiaridades. Essa previsão de competência concorrente está também prevista no art. 24, IX (redação dada pela EC n. 85/2015). REGIÕES ADMINISTRATIVAS OU DE DESENVOLVIMENTO (SUDAN E SUDENE –EXTINTAS-, ADA E ADENE): O art. 43, caput, da CF estabelece que, para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando ao seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.Lei complementar disporá sobre: a) as condições para integração de regiões em desenvolvimento; b) a composição dos organismos regionais que executarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com estes. Dentre os incentivos regionais, podemos destacar, além de outros, na forma da lei: a) igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos e preços de responsabilidade do Poder Público; b) juros favorecidos para financiamento de atividades prioritárias; c) isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; d) prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. Ponto 2: Os Estados-membros na Constituição. Organização, natureza e conteúdo da autonomia constitucional do Estado-membro. Competências estaduais. Intervenção federal nos Estados-membros, no Distrito Federal e nos Territórios. Os Municípios na Constituição. Competência municipal,organização política e administrativa dos Municípios. Intervenção nos Municípios. Sumário 2.1. Os Estados-Membros na constituição. Organização, natureza e conteúdo da autonomia constitucional do Estado-Membro. Competências estaduais. Intervenção federal dos Estados-Membros, no Distrito Federal e nos Territórios. 2.1.1. Os Estados-Membros na constituição. 2.1.1.1. Formação dos Estados. 2.1.1.2. Competências estaduais. 2.1.1.3. Intervenção Federal nos Estados-Membros, no Distrito Federal e nos Territórios. 2.2. Os Municípios na constituição. Competência municipal, organização política e administrativa dos Municípios, intervenção nos Municípios. OS ESTADOS-MEMBROS NA CONSTITUIÇÃO. ORGANIZAÇÃO, NATUREZA E CONTEÚDO DA AUTONOMIA CONSTITUCIONAL DO ESTADO-MEMBRO. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS. INTERVENÇÃO FEDERAL NOS ESTADOS-MEMBROS, NO DISTRITO FEDERAL E NOS TERRITÓRIOS. 2.1.1. Os Estados-membros na Constituição: O federalismo brasileiro possui as seguintes características: FEDERALISMO DE DESAGREGAÇÃO (fruto de descentralização política de um Estado unitário); DE COOPERAÇÃO (dotado de competências verticais com o objetivo de tornar mais eficiente o desempenho das tarefas públicas); DE MOVIMENTO CENTRÍFUGO (descentralizando o poder do ente central); DE EQUILÍBRIO (prioriza a conciliação entre integração e autonomia, unidade e diversidade); SIMÉTRICO (atribui o mesmo regime jurídico aos entes federativos de mesmo grau dentro de sua esfera de atuação); ATIPÍCO, TRIDIMENSIONAL, TRIPARTITE OU DE 3º GRAU (constata-se a esfera de três centros de competências). De acordo com o disposto no art. 25 da CR/88 os Estados-membros organizam-se e se regem pelas Constituições e leis que adotarem, além dos princípios estabelecidos na CR/88. Os Estados-membros possuem competência residual, uma vez que as competências e atribuições da União encontram-se expressas na Constituição e a dos Municípios encontram-se associadas aos interesses locais. Assim, a 'residualidade' indica que não havendo atribuição expressa da União ou não se tratando de interesse local, a competência será dos Estados-membros, que são reconhecidos como entes federativos autônomos. Vale mencionar que, em que pese a regra serem as competências estaduais residuais, a CR/88 enumerou algumas aos Estados-membros tais como as competências para instituir os seus impostos (art.155); a competência para instituir as contribuições para custear o regime de previdência de seus servidores (art.149, § 1º); e as constantes nos §§ 1º e 2º do art. 25. Os Estados federados são organizações jurídicas parciais dotadas de um regime de autonomia conferido pela Constituição. A CF88 atribuiu aos Estados-membros capacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração (conceitos expostos abaixo). A AUTONOMIA é a capacidade de gerir negócios próprios dentro de limites constitucionais. Mas a matéria que for entregue à União deve ser respeitada pelos Estados, que não podem se recusar a aceitar as determinações da União sobre os assuntos de sua competência constitucional. Por tal razão os Estados membros não são soberanos, mas apenas autônomos. Distinções entre soberania e autonomia: SOBERANIA AUTONOMIA Titular: Estado Federal (República Federativa do Brasil). Pessoa jurídica de direito público externo. Quem o representa são os órgãos da União. Titulares: União, Estados-membros, municípios, DF. Pessoas jurídicas de direito público interno. Peculiaridade: especialmente importante no âmbito interno. Peculiaridade: especialmente importante no âmbito internacional. Sentido lexical: direito de se reger (de se autogovernar) por leis próprias. Definição: liberdade de ação dentro de um círculo de competências delimitado pela Constituição. Esta liberdade, no entanto, é restringida por outros princípios constitucionais. Essa autonomia possui cinco características: a) AUTO-GOVERNO: há a presença dos três poderes no Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. O governo dos Estados-membros é exercido pelo Governador e pelos Deputados Estaduais, eleitos diretamente, nos termos da Constituição; b) AUTO-ORGANIZAÇÃO: os Estados possuem um ordenamento autônomo misto, observa Raul Machado Horta, “parcialmente derivado e parcialmente originário.” A organização dos Estados é estabelecida pela própria Constituição, observados os limites estabelecidos pela Constituição da República. O STF formulou o principio da simetria, utilizado pela Corte para garantir, quanto aos aspectos reputados substanciais, homogeneidade na disciplina normativa da separação, independência e harmonia dos poderes, nos três planos federativos; c) AUTO-LEGISLAÇÃO: os Estados são regidos por leis próprias (CF, art. 25), elaboradas segundo o processo legislativo estabelecido em suas Constituições. Em que pese o Poder Legislativo nos Estados ser unicameral, os princípios básicos do processo legislativo federal são normas de reprodução obrigatória, cujo modelo deve ser seguido pelas Constituições Estaduais; d) AUTO-ADMINISTRAÇÃO: a repartição constitucional de competências para o exercício e o desenvolvimento da atividade normativa dos Estados-membros é um pressuposto de sua autonomia. Cada Estado-membro recebe da Constituição, além da competência legislativa, outras competências para o desempenho de suas tarefas e serviços, às quais o objeto não corresponde a uma única atividade. A doutrina denomina de competência administrativa; e) AUTONOMIA TRIBUTÁRIA, FINANCEIRA e ORÇAMENTÁRIA: há tributos específicos dos Estados, que os arrecadam e realizam seu controle orçamentário. As regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (ART. 25, § 3º, CF/88) não são dotadas de personalidade e não possuem governo ou administração própria. São órgãos de planejamento, compostos por Municípios, dos quais deriva a execução de funções públicas de interesse comum, mas cujas decisões não são obrigatórias, tendo em vista a autonomia municipal. REGIÃO METROPOLITANA MICRORREGIÃO AGLOMERAÇÕES URBANAS Ponto comum: municípios limítrofes Não é possível verificar a separação física entre os municípios, ou seja, há uma CONTINUIDADE URBANA GERAL. INEXISTE a continuidade urbana, a questão urbanística é descontínua Ora há continuidade urbana, ora não, com problemas em comum. Antes da CF/88, a competência para criação era da União Não existem rios municipais; as terras devolutas, via de regra, pertencem aos Estados, e não à União. Consoante disposição expressa no art. 20, II, da CR/88, são bens da União somente “as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei”; são bens dos Estados: "Art. 26, CR. Incluem-se entre os bens dos Estados: I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; e IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. - O número de Deputados Estaduais (art. 27, CF/88) possui relação direta com o número de Deputados Federais (triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados), que por sua vez é proporcional à população de cada um dos Estados. A fórmula é a seguinte: NDE= 3 x NDF (número de Deputados Estaduais = 3x número de Deputados Federais); Caso o Estado possua mais de doze Membros na Câmara dos Deputados, a representação na Assembleia Legislativa será: NDE = 36 + NDF -12 (número de Deputados Estaduais= 36 + número de Deputados Federais – 12). 2.1.1.1. FORMAÇÃO DOS ESTADOS (art. 18, CF/88):A Constituição não veda a reorganização político-administrativa da República Federativa do Brasil. Assim, os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-seou desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos Estados ou Territórios Federais. Para tanto deve-se ter em vista o seguinte procedimento: 1) realização de consulta às populações diretamente interessadas, através de plebiscito; (ADI 2.650/DF: no que se refere à população diretamente interessada, o STF adotou entendimento de que no caso de desmembramento para a formação de novos estados ou territórios federais, a expressão abrange as duas populações: tanto da área desmembrada, quanto à da remanescente); 2) sendo favorável a consulta popular (não sendo, arquiva-se obrigatoriamente o processo), poderá ser proposto um projeto de lei complementar em qualquer das Casas do Congresso Nacional, devendo-se proceder à audiência da(s) Assembléia(s) Legislativa(s) das áreas envolvidas (CF, art. 48 VI), cujo parecer não é vinculante, mas apenas opinativo; 3) o projeto de lei complementar deve ser aprovado pela maioria absoluta dos deputados e senadores, conforme art. 69 CF/88. 2.1.1.2. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: O Estado Federado se caracteriza pela existência de mais de uma fonte de poder em seu território, por isso, é necessária a repartição de competências dentro do Estado. Se não forem repartidas as competências podem algumas atividades ficar sem cumprimento. Por outro lado, algumas atividades, no intuito de atender ao mandamento constitucional da eficiência, podem melhor ser prestadas e geridas se dentro da esfera de competência do ente que possui maior capacidade de se fazer presente junto à população administrada; exemplo disso é a determinação constitucional de descentralização do serviço único de saúde no art.198, I, da CR/88. O núcleo essencial do Federalismo é a REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS, que na Constituição podem ser MATERIAIS OU LEGISLATIVAS. A repartição é feita pela aplicação do CRITÉRIO DA PREDOMINÂNCIA DOS INTERESSES. UNIÃO Interesse geral ESTADOS Interesse regional MUNICÍPIOS Interesse local A União é responsável pela manutenção da unidade nacional. Por isso, a sua competência é geral. As competências regionais são assim estabelecidas em razão de tutelarem interesses regionais, ou seja, aqueles que ultrapassam os interesses locais (de mais de um Município). No tocante à repartição de competências existem três técnicas, conforme já estudadas na repartição de competências da União (vide acima). Em razão do princípio da legalidade aplicado à Administração Pública - de que o administrador somente pode fazer o que a lei autoriza -, os atos materiais da União decorrentes de sua competência exclusiva serão legislados por ela própria. É possível identificar uma correspondência entre a competência material e a competência legislativa. Assim, se todos os entes políticos praticam os atos materiais todos poderão legislar sobre ele. Também é possível concluir que todos irão legislar sobre os assuntos de sua competência material. OBS.: A organização e manutenção do Poder Judiciário e do Ministério Público do Distrito Federal (DF) e dos Territórios, bem como da Defensoria dos Territórios cabe à União. Quanto à Defensoria Pública do Distrito Federal (EC 69/2012), trata-se de competência do próprio DF. Ao se proceder à análise dos incisos dos artigos 21 a 24 da CR/88 deve se ter em mente que, por uma questão lógica, a competência material da União é determinada de acordo com a necessidade de uniformidade nacional. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 1) No artigo 24 está prevista a competência concorrente, mas há 02 incisos no artigo 22 (XXI e XXVII) que falam de normas gerais, mas não são de competência concorrente, não há aplicação da competencia suplementar dos outros entes políticos; 2) A lei 8666 não pode ser revogada, pode ser modificada, colocando-se outra no lugar, mas, pura e simplesmente revogá-la não é possível sob pena de inviabilizar a atuação de todas as esferas de poder; 3) O inciso XX, do art. 21, fala de serviços locais, mas observe-se que a competência não é para realizar os serviços, é somente para instituir diretrizes para o serviço, ou seja, a União tentará estabelecer uma uniformidade nacional; 4) Toda responsabilidade ambiental é objetiva, na legislação ordinária, mas, somente a responsabilidade em decorrência de atividade nuclear está na cf (art. 21, XXIII, d); 5) O que se pode observar da competência comum prevista no art. 23, cf/88 é: a) trata-se de competência administrativa; logo, administrar em algumas ocasiões pode ser com base na legislação de competência de outro ente e, no mínimo, com base em normas gerais expedidas pela união, seja com base na sua competência privativa do art. 22 ou concorrente do art.24; b) as condutas previstas para os entes políticos são todas de proteção de um bem que é do interesse comum de todos eles (patrimônio, meio ambiente, educação, saúde etc); 6) As competências previstas nos artigos 22, 23 e 24 da cf/88 não são exaustivas. Há outros dispositivos na cf que estabelecem outras competências. Exemplo: artigo 49, cf, que estabelece a competência legislativa do congresso nacional; 7)É a União que legisla privativamente sobre todos os portos (lacustre, fluvial, marítimo e aeroportos) e sobre todas as formas de navegação e transporte; só a união explora (direta ou indiretamente) a navegação aérea, aeroespacial e os aeroportos; só a União explora (direta ou indiretamente) o transporte ferroviário e aquaviário nacional; só a União explora (direta ou indiretamente) o transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;[3: Ou seja, não cabe à União explorar o transporte aquaviário entre porto estrangeiro e porto brasileiro, nem (obviamente) as linhas férreas situadas fora do território nacional (mesmo que ligadas às linhas férreas nacionais), nem o transporte ferroviário limitado às fronteiras de um único Estado.][4: Ou seja, não cabe à União explorar o transporte rodoviário municipal (competência do Município) nem o transporte rodoviário intermunicipal entre Municípios de um mesmo Estado (competência dos Estados: ADI 2349/ES, INFO STF 399).] 8) Quanto ao previsto no § 4º do art. 24 da CR/88, não há que se falar em revogação de lei estadual por lei federal, posto que isso ofenderia o pacto federativo, uma vez que um ente político não pode, por um ato legislativo seu, revogar ato legítimo de outro ente; por isso a CR/88 fala em suspensão da eficácia. SÚMULA VINCULANTE 38-STF: É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. SÚMULA VINCULANTE 39-STF: Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal. Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União. STF. Plenário. Aprovada em 09/04/2015 (Info 780). Súmula vinculante 49 – STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área. 2.1.1.3. INTERVENÇÃO FEDERAL NOS ESTADOS-MEMBROS, NO DISTRITO FEDERAL E NOS TERRITÓRIOS. A intervenção é o ato político que consiste na incursão de uma entidade (interventora) nos negócios de outra entidade que tem sua autonomia temporariamente suprimida. Trata-se de medida de defesa do Estado Federal. A intervenção é um dos assuntos mais delicados da federação em razão de se tratar de uma exceção à regra de que cada ente possui suas próprias competências (REGRA DE OURO DA FEDERAÇÃO). Isso ocorre como forma de proteção de determinados bens jurídicos, e somente pode ocorrer diante de algumas hipóteses em que o próprio sistema federativo se vê ameaçado por uma de suas entidades. Assim, os motivos que justificam a intervenção devem ser relevantes e encontram-se devidamente previstos na Constituição da República (rol taxativo). A intervenção sujeita-se à ocorrência de determinados MOTIVOS e deve obedecer certas FORMALIDADES. A práticadesse ato excepcional foge à regra da federação, já que um ente político não pode, por qualquer motivo ou sob qualquer forma, afastar a competência do outro. Pela redação do artigo 34, verifica-se que a regra é a não intervenção. Somente será cabível a intervenção pelos motivos e na forma estabelecida no próprio texto constitucional. A competência para decretar a intervenção é exclusiva dos chefes do executivo da União e dos Estados. A forma da intervenção não é fixa, e irá variar de acordo com o motivo. A forma básica é o decreto (privativo do Chefe do Executivo), e o que varia no procedimento é a fase antecedente ao decreto do Executivo. UNIÃO > ESTADOS ou DF FORMA manter a integridade nacional (I) Nestes casos a União, após a expedição do decreto presidencial, simplesmente intervém, sem pedir autorização para ninguém. repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra (II) O decreto presidencial especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução da intervenção e, se for o caso, nomeará desde logo o interventor pôr termo a grave comprometimento da ordem pública (III) O controle é feito a posteriori (em 24 horas da expedição do decreto presidencial e é realizado pelo Congresso Nacional que, se estiver de recesso, será convocado extraordinariamente no mesmo prazo de 24 horas. garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação (IV) SOLICITAÇÃO do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido. REQUISIÇÃO do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário. Há distinção entre os institutos. Há parte da doutrina que entende que em caso de requisição o chefe do Executivo seria obrigado a decretar a intervenção, mas há corrente entendendo que ainda que se trate de requisição, o chefe do Executivo tem poder discricionário para decidir pela decretação ou não da intervenção. Neste caso NÃO HÁ controle legislativo da intervenção. O decreto presidencial limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. reorganizar as finanças da unidade da Federação que (V) a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; Nestes casos a União, após a expedição do decreto presidencial,simplesmente intervém, sem pedir autorização para ninguém. b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei O decreto presidencial especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução da intervenção e, se for o caso, nomeará desde logo o interventor O controle é feito a posteriori (em 24 horas da expedição do decreto presidencial e é realizado pelo Congresso Nacional que, se estiver de recesso, será convocado extraordinariamente no mesmo prazo de 24 horas. prover a execução de lei federal PROVIMENTO, pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, de REPRESENTAÇÃO do Procurador-Geral da República (alterado pela EC 45/04) prover a execução de ordem ou decisão judicial REQUISIÇÃO do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral (se for do TST ou STM, deve ser encaminhado ao STF o pedido dessas cortes para que seja requisitado pelo STF) assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais (PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS) (“ADIINTERVENTIVA”) PROVIMENTO, pelo Supremo Tribunal Federal, de REPRESENTAÇÃO do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII. A intervenção foi criada na CF/34, que era feita por lei, sendo que a CF permitia que se viesse uma lei decretando a intervenção por motivos abusivos, poderia ser feito o controle de constitucionalidade da lei de intervenção. A ADI INTERVENTIVA era para permitir ou impedir a intervenção. Mas, atualmente, a intervenção não é feita por meio de lei, e sim por meio de uma representação, que surge para PERMITIR A INTERVENÇÃO e não impedi-la como originalmente pensado. forma republicana, sistema representativo e regime democrático direitos da pessoa humana autonomia municipal prestação de contas da administração pública, direta e indireta aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde ESTADOS> MUNICÍPIOS e UNIÃO> MUNICÍPIOS localizados em TERRITÓRIOS FORMA deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; Nestes casos o ESTADO, após a expedição do decreto do governador, simplesmente intervém, sem pedir autorização para ninguém. OBS.: o DISTRITO FEDERAL nunca fará intervenção, pois a Constituição proíbe que o DF se subdivida em Municípios (art. 32) não forem prestadas contas devidas, na forma da lei O decreto do governador especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução da intervenção e, se for o caso, nomeará desde logo o interventor O controle é feito a posteriori (em 24 h da expedição do decreto do governador e é realizado pela Assembleia ou Câmara Legislativa que, se estiver de recesso, será convocado extraordinariamente no mesmo prazo de 24 horas. não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde Neste caso NÃO HÁ controle legislativo da intervenção. O decreto do governador limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual (PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS) (AÇÃO INTERVENTIVA ESTADUAL) o Tribunal de Justiça der provimento a representação (embora a Constituição não diga expressamente a quem caberia realizar a representação, entende-se que a atribuição cabe ao PGJ) Princípio da Simetria para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial A intervenção é sempre EXCEPCIONAL e TEMPORÁRIA como garantia da manutenção da federação. Tudo que for interpretado a título de intervenção deve sê-lo de forma restritiva. CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO: a) excepcionalidade; b) temporariedade; c) restrição interpretativa. O DECRETO DE INTERVENÇÃO está regulado no artigo 36 da CR/88. Quando o Legislativo analisa o decreto o faz com discricionariedade, podendo determinar a sua suspensão (o controle do Legislativo é posterior ao ato; o controle jurisdicional do STF/TJ é precedente ao ato de decreto da intervenção). Os atos do interventor são divididos em dois tipos: 1) ATOS PRÓPRIOS DA INTERVENÇÃO PARA AFASTAR OS MOTIVOS DA INTERVENÇÃO: responsabilidade civil direta do órgão interventor; 2) ATOS ORDINÁRIOS DO ENTE POLÍTICO SOB A INTERVENÇÃO/ATOS DE GESTÃO ORDINÁRIOS: a primeira responsabilidade é do ente político sob a intervenção, mas se o interventor agir com dolo ou culpa caberá o regresso contra o ente interventor. ATENÇÃO: No que se refere ao controle jurisdicional do ato de intervenção, não pode ser utilizado para a análise do seu mérito cuja natureza é política; no entanto, o ato não está imune a qualquer tipo de controle jurisdicional, sendo cabível quando não for observado pelo ente político interventor os dispositivos constitucionais para tanto, bem como as hipóteses taxativamente previstas. STJ INTERVENÇÃO FEDERAL. ESTADO DO PARANÁ. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL CARACTERIZADO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. 1. A intervenção federal é medida de natureza excepcional, porque restritiva da autonomia do ente federativo. Daí as hipóteses de cabimento serem taxativamente previstas na Constituição da República, em seu artigo 34. 2. Nada obstante sua natureza excepcional, a intervenção se impõe nas hipóteses em que o Executivo estadual deixa de fornecer força policial para o cumprimento de ordem judicial. 3.Intervenção federal julgada procedente. Constituição34 (106 PR 2009/0049699-0, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 12/04/2010, CE - CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJe 12/05/2010) STF 2. INTERVENÇÃO FEDERAL. (...) Não se justifica decreto de intervenção federal por não pagamento de precatório judicial, quando o fato não se deva a omissão voluntária e intencional do ente federado, mas a insuficiência temporária de recursos financeiros (4640 RS, Relator: Min. NELSON JOBIM (Presidente), Data de Julgamento: 29/03/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 24-04-2012 PUBLIC 25-04-2012) Perguntas: 1) O NÃO-PAGAMENTO DE PRECATÓRIO PODE, EM TESE, ENSEJAR INTERVENÇÃO FEDERAL?SIM. O fato do Estado-membro deixar de pagar precatório configura descumprimento de decisão judicial transitada em julgado e, portanto, pode, em tese, autorizar a intervenção federal com base no art. 34, VI, 2ª parte, da CF/88. 2) O SIMPLES NÃO-PAGAMENTO DE PRECATÓRIO JÁ ENSEJA A INTERVENÇÃO FEDERAL? NÃO. Segundo a jurisprudência consolidada do STF, é pressuposto indispensável ao acolhimento da intervenção federal que reste demonstrada a atuação estatal voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão judicial transitada em julgado. "NÃO CABE RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONTRA ACÓRDÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE DEFERE PEDIDO DE INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO."(SÚM. 637) Para se saber qual o Tribunal Superior será competente deverá ser analisada a matéria discutida e para quem seria dirigido o eventual recurso. Compete ao STJ julgar pedido de intervenção federal baseado no descumprimento de ordem de reintegração de posse de imóvel rural ocupado pelo MST expedida por Juiz Estadual e fundada EXCLUSIVAMENTE na aplicação da legislação infraconstitucional civil possessória. Isso porque a decisão descumprida analisou tema relacionado com direito civil privado, não tendo feito considerações sobre questões constitucionais. Logo, o eventual recurso contra a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão. OS MUNICÍPIOS NA CONSTITUIÇÃO. COMPETÊNCIA MUNICIPAL, ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ADMINISTRATIVA DOS MUNICÍPIOS. INTERVENÇÃO NOS MUNICÍPIOS. Há uma discussão doutrinária sobre se o Município é ou não uma entidade federativa. JOSÉ AFONSO DA SILVA entende que os Municípios não são entidades federadas, citando vários artigos da CF, nos quais a denominação entes federados não está direcionado aos municípios. Mas essa posição é isolada, porque a maioria da doutrina e o próprio STF reconhecem a natureza de entidade federativa aos municípios por força dos artigos 1o. e 18 da CR/88. Para saber se se trata ou não de um ente federado, é preciso verificar se presentes os requisitos da autonomia: 1) AUTO-GOVERNO: há poderes no município, que possui os poderes Executivo e Legislativo; 2) AUTO-ORGANIZAÇÃO: os municípios se organizam por um documento específico, a lei orgânica; 3) AUTO-LEGISLAÇÃO: capacidade para editar leis municipais, que não ultrapassam as suas fronteiras; 4) AUTO-ADMINISTRAÇÃO: os municípios possuem um Poder Executivo; 5) AUTONOMIA TRIBUTÁRIA, FINANCEIRA e ORÇAMENTÁRIA: há tributos específicos; arrecadações e gastos; possui controle orçamentário próprio. OBS.: O STF e o TSE entenderam que o número de vereadores proporcional à população do município art. 29, iv, não é absolutamente definido pela discricionariedade municipal. Deve haver uma proporcionalidade dentro dos limites impostos pelos incisos, aplicando-se uma regra de três. JURISPRUDÊNCIA: 1. "o art. 29, inciso IV da Constituição Federal exige que o número de vereadores seja proporcional à população dos Municípios, observados os limites mínimos e máximos fixados pelas alíneas a, b e c", razão por que tais entes da Federação não podem fixar livremente o número de cadeiras das Câmaras Legislativas. (699379 SP, Relator: Min. ELLEN GRACIE, Data de Julgamento: 24/02/2011, Data de Publicação: DJe-042 DIVULG 02/03/2011 PUBLIC 03/03/2011) OBSERVAÇÕES 1) Quanto aos vereadores, possuem imunidade material, não havendo o ilícito penal, quando relacionada a conduta com o exercício do mandato; o vereador não tem imunidade formal, e assim, lei orgânica que diga que o legislativo municipal pode parar o processo penal contra o vereador deve ser desconsiderada. 2) Quanto aos prefeitos, tem julgamento penal do perante o tribunal de justiça (art. 29, x, CR); o inciso traz uma regra e um princípio de que o foro penal originário do prefeito é o tribunal; conforme STJ no Resp 199500176181, não há necessidade de que o julgamento seja pelo pleno do tribunal ou corte especial. No âmbito civil, algumas constituições estaduais costumam dispor que o mandado de segurança contra o prefeito da capital será impetrado no tribunal de justiça. Súmula 702 do STF:A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau. Competência municipal, organização política e administrativa os Municípios. Intervenção nos Municípios. AS COMPETÊNCIAS DOS MUNICÍPIOS ESTÃO PREVISTAS NO ART. 30 DA CR/88 – destacam-se: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Ainda sobre a competência dos Municípios, conferir os seguintes julgados: CONTROLE DO MUNICÍPIO (art. 31) - Os tribunais de contas municipais não podem mais ser criados, mas os já existentes se mantêm (a exemplo do Tribunal de Contas do Município de São Paulo); isso não impede, todavia, a criação de cortes de contas estaduais com atribuição apenas para tomada de contas municipais, embora o Tribunal de Contas Estadual possa, unificadamente, tomar as contas do Estado e Municípios; Referido artigo determina que as contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação. Só há publicidade das contas municipais durante 60dias no ano? Não. Durante 60 dias, independentemente de qualquer requerimento do contribuinte, as contas ficarão publicadas; depois dos 60 dias, o interessado, para ter acesso às contas, deverá requerer diretamente à municipalidade. “Municípios e Tribunais de Contas. A Constituição da República impede que os Municípios criem os seus próprios Tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais (CF, art. 31, § 4º), mas permite que os Estados-Membros, mediante autônoma deliberação, instituam órgão estadual denominado Conselho ou Tribunal de Contas dos Municípios (RTJ 135/457, Rel. Min. Octavio Gallotti — ADI 445/DF, Rel. Min. Néri da Silveira), incumbido de auxiliar as Câmaras Municipais no exercício de seu poder de controle externo (CF, art. 31, § 1º). Esses Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios — embora qualificados como órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º) — atuam, onde tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e de cooperação técnica das Câmaras deVereadores. A prestação de contas desses Tribunais de Contas dos Municípios, que são órgãos estaduais (CF, art. 31, § 1º), há de se fazer, por isso mesmo, perante o Tribunal de Contas do próprio Estado, e não perante a Assembleia Legislativa do Estado-Membro. Prevalência, na espécie, da competência genérica do Tribunal de Contas do Estado (CF, art. 71, II, c/c o art. 75).” (ADI 687, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2-2-95, DJ de 10-2-06) Ponto 3: Poder Legislativo. Organização e atribuições. O processo legislativo. Cláusulas pétreas. Natureza. Espécies. Iniciativa legislativa. Normas constitucionais e processo legislativo. Orçamento. Princípios constitucionais. Fiscalização financeira e orçamentária. O Tribunal de Contas. Natureza e atribuições. 3.1. PODER LEGISLATIVO. ORGANIZAÇÃO E ATRIBUIÇÕES. 3.1.1 Direito Positivo Brasileiro 3.1.2 CONGRESSO NACIONAL 3.1.3 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL 3.1.4 DEPUTADOS E SENADORES 3.1.5 DO ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS: 3.1.6 Reuniões 3.1.7 Das Comissões Parlamentares 3.1.8 DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO 3.2. O PROCESSO LEGISLATIVO. CLÁUSULAS PÉTREAS. NATUREZA. ESPÉCIES. INICIATIVA LEGISLATIVA. NORMAS CONSTITUCIONAIS E PROCESSO LEGISLATIVO 3.2.1 ESPÉCIES NORMATIVAS: 3.2.2 CLÁUSULAS PÉTREAS. NATUREZA. ESPÉCIES. 3.2.3 FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO 3.3. ORÇAMENTO. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA. O TRIBUNAL DE CONTAS. NATUREZA E ATRIBUIÇÕES. 3.3.1 FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA. TRIBUNAL DE CONTAS. PODER LEGISLATIVO. ORGANIZAÇÃO E ATRIBUIÇÕES. ORGANIZAÇÃO: O Legislativo da União é bicameral, exercido pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado). Nas demais unidades da federação, o legislativo é unicameral (Assembleia legislativa e Câmara de Vereadores). Trata-se de bicameralismo federativo (princípio da participação na manutenção do equilíbrio federativo) e bicameralismo de equilíbrio ou de equivalência, pois não existe hierarquia entre Câmara e Senado. A lição de José Afonso da Silva, no que se refere ao Brasil, é a seguinte: “É da tradição constitucional brasileira a organização do Poder Legislativo em dois ramos, sistema denominado bicameralismo, que vem desde o Império, salvo as limitações contidas nas Constituições de 1934 e 1937, que tenderam para o unicameralismo, sistema segundo o qual o Poder Legislativo é exercido por uma única câmara. Tem-se o bicameralismo como um sistema mais propício ao conservadorismo, enquanto o unicameralismo favoreceria os avanços democráticos, na medida em que canaliza e exprime melhor os anseios da soberania popular por transformações.” Como bem expõe UADI Lammego Bulos, existe ainda o bicameralismo desigual, adotado na República Federal da Alemanha. Por esse modelo, a Câmara Alta (correspondente ao nosso Senado) não funciona em todas as matérias cuja competência for atribuída à Câmara Baixa. Assim, senadores e deputados atuam em assuntos específicos. O bicameralismo só se dá na esfera federal, diferentemente dos Estados e Municípios, onde é consagrado o unicameralismo (CF, arts. 27, 29 e 32). 3.1.1 Direito Positivo Brasileiro O poder é um só e emana do povo. Existem funções do Estado que são identificadas desde Aristóteles, a saber: Função legislativa; função executiva; e função judiciária. MONTESQUIEU idealizou a tripartição orgânica de funções para garantir a não-cumulação de poder demais em um único órgão. A Constituição Federal normatizou em seu art. 2º o Princípio da separação das funções a cargo do Estado, estabelecendo a independência e harmonia entre os Poderes. O Legislativo tem duas funções típicas: a) inovação da ordem jurídica (legislar); b) fiscalização: que pode ser de duas formas: Político-administrativa; Econômica-orçamentária. Câmara Senado sistema proporcional sistema majoritário 513 deputados federais 81 senadores Mínimo de 8 e máximo de 70 por Estado 3 senadores por Estado Território tem 4 deputados federais Mandato de 8 anos, renovação de 1/3 e 2/3, de 4 em 4 anos Idade mínima: 21 anos. Idade mínima de 35 anos. Obs.: VEREADORES: O mínimo é de 09 vereadores, nos municípios de até 15.000 habitantes e o máximo é de 55 Vereadores, nos municípios com mais de 8.000.000 de habitantes, havendo escalas intermediárias delineadas na referida EC. 3.1.2 CONGRESSO NACIONAL Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos. Legislatura é diferente de mandato. A primeira tem duração de 4 anos e corresponde ao período que vai do início do mandato dos membros da Câmara dos Deputados até o seu término (art. 44, parágrafo único). 3.1.3 ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL O Congresso Nacional não faz só leis. José Afonso da Silva divide as atividades em cinco grupos: Reservas legais: o art. 48 trata das atribuições conferidas ao congresso nacional para as quais se exige sanção presidencial (são reservas legais, ou seja, atribuições materializadas por lei). Competências exclusivas: já o art. 49 trata das matérias de competência exclusiva do congresso nacional, sendo dispensada a manifestação do presidente da república através de sanção ou veto (são atribuições materializadas por decreto legislativo). ATRIBUIÇÕES LEGISLATIVAS; fazer as leis, de acordo com a competência, em observância ao processo legislativo. Compete ainda ao Congresso Nacional criar suas leis internas, sem ingerência tácita ou explícita de quaisquer órgãos governamentais, muito menos internacionais. ATRIBUIÇÕES MERAMENTE ADMINISTRATIVAS; através de decretos legislativos ou resoluções. Consiste na prática de atos concretos, resoluções referendárias, autorizações, aprovações, sustação de atos, fixação de situações e julgamento técnico. Estão no art. 49. Não há participação do Presidente da República. ATRIBUIÇÕES DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE; através de vários procedimentos, tais como: 1) pedidos de informação, por escrito, encaminhados pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal aos Ministros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento no prazo de trinta dias, bem como declarações falsas; 2) comissões parlamentares de inquérito, cujas atribuições serão vistas a seguir; 3) controle externo, com o auxílio do Tribunal de Contas e da Comissão mista permanente a qual se refere o art. 166, §1º, e que compreende todas as atribuições contidas nos arts. 71 e 72 da Constituição, culminando com o julgamento das contas prestadas anualmente pelo Presidente da República; 4) fiscalização e controle dos atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta (art. 49, X); e 5) tomada de contas pela Câmara dos Deputados, quando o Presidente não as prestar no prazo de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, ou seja, até 15 de abril (arts. 51, II, e 84, XXIV). ATRIBUIÇÕES DE JULGAMENTO DE CRIMES DE RESPONSABILIDADE; no julgamento do Presidente e Vice-Presidente da República, dos Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles), a Câmara dos Deputados funciona como órgão de admissibilidade do processo e o Senado Federal como tribunal político, sob a presidência do Presidente do Supremo Tribunal Federal. O Senado Federal julga também (sem o prévio juízo de admissibilidade pela Câmara dos Deputados) os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União. ATRIBUIÇÕES CONSTITUINTES compreende emendas à Constituição. 3.1.4 DEPUTADOS E SENADORES Ao se falar em poder, deve-se sempre mencionar o artigo 2º como princípio fundamental: a) harmonia e independência dos poderes;b) funções típicas e funções atípicas (ARISTÓTELES e MONTESQUIEU): função fiscalizadora é uma função TÍPICA do Poder Legislativo; c) estatuto constitucional dos congressistas. CÂMARA DOS DEPUTADOS: Composição: a câmara dos deputados é composta por representantes do povo. Eleição: os deputados federais são eleitos pelo povo segundo o princípio proporcional, de acordo com o art. 45, §1º, da CF/88.Se os territórios federais vierem a ser criados, elegerão o número fixo de 04 deputados cada. Atualmente, o número total de deputados federais é fixado pela LC78/93 em 513. OBS.: REDIMENSIONAMENTO DONÚMERO DE DEPUTADOS POR RESOLUÇÃO DO TSE E INCONSTITUCIONALIDADE – Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucionais a Resolução TSE 23.389/2013, que definiu o tamanho das bancadas dos estados e do Distrito Federal na Câmara dos Deputados para as eleições de 2014, e a Lei Complementar (LC) 78/1993, que autorizou a corte eleitoral a definir os quantitativos. Para a ministra Rosa Weber, a resolução do TSE invadiu a competência do Congresso Nacional. Para a ministra, a Lei Complementar 78/1993 não fixou critérios de cálculo, nem delegou sua fixação ao TSE, que usou critérios próprios para determinar o quantitativo dessas representações, introduzindo inovações legislativas para as quais não tem competência. “Ao TSE não compete legislar, e sim promover a normatização da legislação eleitoral”, afirmou. Segundo a ministra, o Código Eleitoral confere expressamente ao TSE poder para expedir instruções e tomar outras providências que julgar convenientes para execução da legislação eleitoral. Entretanto, “da LC 78 não é possível inferir delegação a legitimar, nos moldes da Constituição Federal e do Código Eleitoral, a edição da Resolução 23.389/2013”. Para o ministro Teori Zavascki, caso se entenda indispensável a intervenção do Poder Judiciário para a regulamentação provisória do comando constitucional que determina a proporcionalidade das bancadas, quem deverá promovê-la é o STF, e não o TSE. E, caso o Legislativo permaneça omisso em relação à matéria, cabe a impetração de mandado de injunção. Mandato: 04 anos, sendo permitida a reeleição. Requisitos para a candidatura dos deputados: a) ser brasileiro nato ou naturalizado (art. 14, §3º, I, CF/88); a exigência de ser brasileiro nato é apenas para ocupar a presidência da câmara (art. 12, §3º, II, CF/88); b) ser maior de 21 anos (art. 14, §3º, VI, c, CF/88); c) estar em pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, §3º, II, CF/88); d) estar alistado eleitoralmente (art. 14, §3º, III, CF/88); e) domicílio eleitoral na circunscrição (art. 14, §3º, IV, CF/88); f) filiação partidária (art. 14, §3º, VI, CF/88). Competências privativas da câmara: as matérias de competência privativa da câmara dos deputados estão previstas no art. 51 da CF/88 e não dependem de sanção ou veto presidencial (são materializadas por meio de resoluções). Obs.: a câmara tem apenas a iniciativa de projeto de lei que vise à fixação da remuneração dos cargos, empregos e funções de seus serviços, devendo, necessariamente, depois de aprovada nas duas casas, a matéria ir à sanção do presidente da república (trata-se de mudança realizada pela EC19/98, que retirou da câmara a competência privativa para a fixação da referida remuneração, atribuindo-lhe tão somente a iniciativa da lei). Senado federal. SENADO FEDERAL: Composição: o senado é composto por representantes dos estados e do DF. Se criados, os territórios não terão representação no senado, na medida em que não têm autonomia federativa. Eleição: os senadores são eleitos pelo povo segundo o princípio majoritário, de acordo com o art. 46 da CF/88. Cada estado e o DF elegerão o número fixo de 8 senadores, sendo que cada senador é eleito com 02 suplentes. Mandato: é de 08 anos (duas legislaturas), permitindo-se a reeleição. A renovação dos senadores eleitos darse- á a cada 04 anos, na proporção de 1/3 e 2/3. Requisitos para a candidatura dos senadores: a) ser brasileiro nato ou naturalizado (art. 14, §3º, I, CF/88); a exigência de ser brasileiro nato é apenas para ocupar a presidência do senado (art. 12, §3º, III, CF/88); b) ser maior de 35 anos (art. 14, §3º, VI, a, CF/88); c) estar em pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, §3º, II, CF/88); d) estar alistado eleitoralmente (art. 14, §3º, III, CF/88); e) domicílio eleitoral na circunscrição (art. 14, §3º, IV, CF/88); f) filiação partidária (art. 14, §3º, VI, CF/88). Competências privativas do senado: as matérias de competência privativa do senado estão previstas no art. 52 da CF/88 e não dependerão de sanção presidencial (são materializadas através de resolução). Obs.: o senado tem apenas a iniciativa de projeto de lei que vise à fixação da remuneração dos cargos, empregos e funções de seus serviços, devendo, necessariamente, depois de aprovada nas duas casas, a matéria ir à sanção do presidente da república (trata-se de mudança realizada pela EC19/98, que retirou do senado a competência privativa para a fixação da referida remuneração, atribuindo-lhe tão somente a iniciativa da lei). Legislativo e Soberania Popular: Para José Afonso da Silva (2010, p. 131), a democracia repousa sobre dois princípios fundamentais: (a) soberania popular (o povo é a única fonte de poder) e (b) participação, direta ou indireta, do povo no poder (para que este seja a efetiva expressão da vontade popular). A forma pela qual o povo participa no PODER DÁ ORIGEM A TRÊS TIPOS DE DEMOCRACIA: DIRETA, INDIRETA (OU REPRESENTATIVA) E SEMIDIRETA. O BRASIL ADOTA O TIPO SEMIDIRETO, ou seja, democracia representativa, com alguns institutos de participação direta. Portanto, o Poder Legislativo, por meio dos representantes legitimamente eleitos pelo povo, é o veículo primordial para o exercício da soberania popular. “Todo opoder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (CF, art. 1º, parágrafo único). A CRISE DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: Nas democracias ocidentais, é possível identificar as assembleias parlamentares, periodicamente eleitas, como expressão concreta da Representação política. Esta é um fenômeno complexo, cujo núcleo consiste num processo de escolha dos governantes e de controle sobre sua ação através de eleições competitivas. É um conceito multidimensional que abarca o fenômeno da seleção de lideranças, de delegação de soberania popular, de controle, de participação indireta e de questionamento político. Atualmente, a democracia representativa encontra-se na penumbra, diante da quebra global da confiança, marcada pela corrupção, descrédito quanto à capacidade das instituições e dos agentes políticos de agir de modo funcionalmente adequado. A crise da representação política noBrasil se insere no interior de um quadro mais amplo e que reflete, de forma quase planetarizada, os mesmosproblemas da (1) diminuição da participação eleitoral, (2) declínio da relação de identificação entre representantese representados e (3) o aumento das taxas de alienação eleitoral conjugado com o crescimento do processo deexclusão social; para alguns autores ainda há as questões relativas à crise da democracia e o declínio daimportância dos partidos políticos nas democracias contemporâneas. Concomitantemente, é verificada uma crescente crise de representatividade, legitimidade e funcionalidade no âmbito do Legislativo, alimentando o Judiciário na direção do ativismo judicial, em nome da Constituição, com a prolação de decisões que suprem omissões e, por vezes, inovam na ordem jurídica, com caráter normativo geral (BARROSO, Luís Roberto). Sobre o déficit democrático das instituições representativas, SARMENTO afirma: “Em que pese a universalização do direito de voto alcançada ao longo do século XX, hoje uma série de fatores - que vão da influência do poder econômico nas eleições, até a apatia e distanciamento do cidadão em relação à res publica - tende a segregar os representantes dosrepresentados, minando a crença de que os primeiros vocalizariam na esfera política a vontade dos segundos. O problema é universal, mas, no Brasil, há componentes que o agravam de forma exponencial, abalando profundamente a credibilidade das instituições de representação popular. [...]. Neste quadro preocupante, a objeção democrática contra o ativismo judicial se arrefece, sobretudo quando o Judiciário passa a agir em favor de causas “simpáticas” aos anseios populares, como a proteção dos direitos sociais.” MESA: órgão de direção de um colegiado, encarregada pela condução dos trabalhos legislativos e administrativos. Mesa da Câmara dos Deputados; Mesa do Senado Federal; Mesa do Congresso Nacional. O mandato é de 2 anos, vedada a reeleição para o mesmo cargo. Essa não é uma norma de reprodução obrigatória para Estados e Municípios, consoante decidido na ADI 792/RJ. RITO DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE (IMPEACHMENT)[5: Rito fixado pelo STF no julgamento das ADPF 378/DF, em 16 e 17/12/15. Transcrito do site Dizer o Direito, em razão da atualidade e importância da matéria. ] Câmara dos Deputados (Fase Juízo de Admissibilidade) Senado Federal (Fase de Julgamento) • O Presidente da Câmara admite ou não o prosseguimento da denúncia. • Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara, ou seja, não é necessário ouvir antes o Presidente da República que estiver sendo denunciado. • Do despacho do Presidente que indeferir o recebimento da denúncia, caberá recurso ao Plenário (art. 218, § 3º, do RICD). • Caso seja admitido o prosseguimento da denúncia, deverá ser constituída comissão especial formada por Deputados Federais para análise do pedido e elaboração de parecer. • A eleição dos membros da comissão deverá ser aberta e não pode haver candidatura alternativa (avulsa). A comissão é escolhida a partir de uma chapa única com nomes indicados pelos líderes partidários. A votação aberta será apenas para que o Plenário da Casa aprove ou não a chapa única que foi apresentada. • O Presidente denunciado deverá ter direito à defesa no rito da Câmara dos Deputados. Assim, depois que houver o recebimento da denúncia, o Presidente da República será notificado para manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões. • Vale ressaltar, no entanto, que não deve haver grande dilação probatória na Câmara dos Deputados (o rito é abreviado). A comissão até pode pedir a realização de diligências, mas estas devem ser unicamente para esclarecer alguns pontos da denúncia, não podendo ser feitas para provar a procedência ou improcedência da acusação. Isso porque o papel da Câmara não é reunir provas sobre o mérito da acusação, mas apenas o de autorizar ou não o prosseguimento. Quem irá realizar ampla dilação probatória é o Senado. • O Plenário da Câmara deverá decidir se autoriza a abertura do processo de impeachment por 2/3 dos votos. • O processo é, então, remetido ao Senado. • Chegando o processo no Senado, deverá ser instaurada uma comissão especial de Senadores para analisar o pedido de impeachment e preparar um parecer (arts. 44 a 46 da Lei nº 1.079/50, aplicados por analogia). • Esse parecer será votado pelo Plenário do Senado, que irá decidir se deve receber ou não a denúncia que foi autorizada pela Câmara. • Assim, o Senado, independentemente da decisão da Câmara, não é obrigado a instaurar o processo de impeachment, ou seja, pode rejeitar a denúncia. • Se rejeitar a denúncia, haverá o arquivamento do processo. • Se receber, iniciará a fase de processamento, com a produção de provas e, ao final, o Senado votará pela absolvição ou condenação do Presidente. • A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria simples, presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei nº 1.079/50. Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria absoluta de 81) e, destes, bastaria o voto de 22 Senadores. • Se o Senado aceitar a denúncia, inicia-se a instrução probatória e o Presidente da República deverá ser afastado do cargo temporariamente (art. 86, § 1º, II, da CF/88). Se, após 180 dias do afastamento do Presidente, o julgamento ainda não tiver sido concluído, cessará o seu afastamento e ele reassumirá, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. • A defesa tem direito de se manifestar após a acusação: no curso do procedimento de impeachment, o Presidente terá a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação. • O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória: o interrogatório do Presidente, instrumento de autodefesa que materializa as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser o último ato de instrução do processo de impeachment. • Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou absolvido. Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores. • Se for condenada, a Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação para o exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado criminalmente pelo Ministério Público. • Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não é necessária a convocação de novas eleições). 3.1.5 DO ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS: É o regime jurídico administrativo e processual aplicável aos Deputados e Senadores. Prerrogativas: As prerrogativas referem-se ao cargo de parlamentar (ratione muneris) e não à pessoa que o ocupa. Por isso, são irrenunciáveis (STF, RTJ 155/399). Seu fundamento maior é a necessidade de independência e autonomia do parlamentar. São comumente classificadas da seguinte forma: imunidade material, imunidade processual, privilégio de foro, isenção do serviço militar, do júri e limitação ao dever de testemunhar. Segue-se uma breve análise de cada uma. Sobre o tema: Súmula nº 245 do STF: “A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa.” Súmula nº 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”. IMUNIDADE MATERIAL OU INVIOLABILIDADE PARLAMENTAR: A imunidade material implica a subtração da responsabilidade penal e civil do parlamentar, por suas opiniões, palavras e votos, pois se trata de cláusula de irresponsabilidade geral do Direito Constitucional material. Explica Nélson Hungria que, nas suas opiniões, palavras e votos, jamais se poderá identificar, por parte do parlamentar, qualquer dos chamados crimes de opinião ou crimes da palavra, como os crimes contra a honra, incitamento ao crime, apologia de criminoso, vilipêndio oral a culto religioso etc., pois a imunidade material exclui o crime nos casos admitidos; o fato típico deixa de constituir crime, porque a norma constitucional afasta, para a hipótese, a incidência da norma penal. Quanto à ausência de responsabilidade civil, não obstante o STF já houvesse firmado o entendimento de que estava abarcada pela inviolabilidade prevista no art. 53, foi incluída explicitamente por meio da E.C. n.º 35/01. NATUREZA JURÍDICA: Tema divergente na doutrina é quanto a natureza jurídica da imunidade material parlamentar, sendo que: Pontes deMiranda-Causa de exclusão decrime. Basileu Garcia-Causaque seopõeàformação docrime. AníbalBruno-Causapessoal de exclusão de pena MagalhãesNoronha- Causa de irresponsabilidade. FredericoMarques -Causa de incapacidadepessoalpor razõesde políticacriminal. STF – Causa de atipicidade. Se o ato tiver sido praticado fora do Congresso Nacional deve guardar relação com a atividade parlamentar para ser alcançada pela imunidade. Se for praticado dentro do recinto, tem natureza absoluta, mesmo que não tenha relação com o mandato (STF). Inq 2330/DF*(Min Celso de Mello). VEREADOR: Celso de Mello INFO 640 - setembro de 2011:“Tratando-se de Vereador, como sucede na espécie, a inviolabilidade constitucional que o ampara no exercício da atividade legislativa estende-se às opiniões, palavras e votos por ele proferidos, mesmo fora do recinto da própria Câmara Municipal, desde que nos estritos limites territoriais do Município a que se acha vinculado. CPI: dentro da CPI, o que o parlamentar disser está amparado pela imunidade. SUPLENTE DE PARLAMENTAR NÃO POSSUI IMUNIDADE(Ministro Celso de Melo AP 665/MT INFO 667 Maio de 2012). CONGRESSISTA AFASTADO DO CARGO: o congressista afastado do cargo perde o direito à imunidade parlamentar e, via de consequência, há o término da suspensão da prescrição. INQ 725-RJ. CASO BOLSONARO: A Primeira Turma, em julgamento conjunto e por maioria, recebeu denúncia pela suposta prática de incitação ao crime (CP, art. 286) e queixa-crime apenas quanto à alegada prática de injúria (CP, art 140), ambos os delitos imputados a deputado federal. Os crimes dizem respeito a declarações proferidas na Câmara dos Deputados e, no dia seguinte, divulgadas em entrevista concedida à imprensa. No caso, o parlamentar afirmara que deputada federal “não merece ser estuprada, por ser muito ruim, muito feia, não fazer seu gênero” e acrescentara que, se fosse estuprador, “não iria estuprá-la porque ela não merece”. A Turma assinalou que a garantia constitucional da imunidade material protege o parlamentar, qualquer que seja o âmbito espacial em que exerça a liberdade de opinião, sempre que suas manifestações guardem conexão com o desempenho da função legislativa ou tenham sido proferidas em razão dela. Para que as afirmações feitas pelo parlamentar possam ser relacionadas ao exercício do mandato, devem revelar teor minimamente político, referido a fatos que estejam sob debate público, sob investigação em CPI ou em órgãos de persecução penal ou, ainda, sobre qualquer tema que seja de interesse de setores da sociedade, do eleitorado, de organizações ou quaisquer grupos representados no parlamento ou com pretensão à representação democrática. Consequentemente, não há como relacionar ao desempenho da função legislativa, ou de atos praticados em razão do exercício de mandato parlamentar, as palavras e opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate democrático de fatos ou ideias e, portanto, sem vínculo com o exercício das funções cometidas a um parlamentar. Na hipótese, trata-se de declarações que não guardam relação com o exercício do mandato. Não obstante a jurisprudência do STF tenha entendimento no sentido da impossibilidade de responsabilização do parlamentar quando as palavras tenham sido proferidas no recinto da Câmara dos Deputados, as declarações foram proferidas em entrevista a veículo de imprensa, não incidindo, assim, a imunidade. O fato de o parlamentar estar em seu gabinete no momento em que a concedera é meramente acidental, já que não foi ali que se tornaram públicas as ofensas, mas sim por meio da imprensa e da internet. Portanto, cuidando-se de declarações firmadas em entrevista concedida a veículo de grande circulação, cujo conteúdo não se relaciona com a garantia do exercício da função parlamentar, não incide o art. 53 da CF. Inq 3932/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Inq-3932)Pet 5243/DF, rel. Min. Luiz Fux, 21.6.2016. (Pet-5243) (INFO 831 STF) ESTADO DE DEFESA, ESTADO DE SÍTIO E IMUNIDADE MATERIAL Art. 53 § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados FORA do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida. Regra: Continuidade; Exceção: Suspender; Somente os membros da mesma casa a qual pertencem, podem, por voto de 2/3 suspender as imunidades, isso fora do CN. Dentro a imunidade permanece. O artigo só fala no ESTADO DE SÍTIO (art. 137 CF), o ESTADO DE DEFESA é menos grave (art. 136), e não tendo previsão, prevalece que as imunidades não podem ser suspensas neste caso. Normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente. A CF estabelece a exceção que é a suspensão, apenas para esta hipótese mencionada, não se pode estender ao estado de defesa. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: Tratando-se de crime comum praticado pelo parlamentar antes (desde que ainda não julgado em definitivo) ou na vigência do mandato, seja ou não relacionado com o exercício de suas funções, a competência será do STF, para os deputados e senadores. Tribunal Estadual para os deputados estaduais, sendo que os vereadores não possuem privilégio de foro. Importante ressaltar que os atos processuais praticados pelo juízo natural antes da investidura do réu no cargo que detém foro privilegiado são considerados válidos pelo STF. Crime comum, para tanto, é crime diverso do de responsabilidade. Após o término do mandato, o processo retornará à 1ª instância (na ADI 2797/DF e ADI 2860, o STF julgou inconstitucional a Lei n.º 10.628/02, que alterava o art. 84 do CPP). O STF vem entendendo que na hipótese de o réu buscar a renúncia ao mandato com o escopo único de impedir que o julgamento ocorra, notadamente quando a prescrição estiver próxima, mantém-se, excepcionalmente a competência do STF. A corte entendeu que a conduta do parlamentar revelava abuso de poder e fraude processual (AP 396 – INFO 606). FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -STJ: “a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade.” (AgRg na Rcl 12514/MT, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 16/09/2013). Atualmente as duas turmas do STF também entendem que inexiste prerrogativa de foro em ação civil pública por improbidade administrativa (AI 786438 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 04/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-228 DIVULG 19-11-2014 PUBLIC 20-11-2014). Obs.: O tema é extremamente polêmico. Demanda análise mais aprofundada do histórico jurisprudencial, inclusive da declaração de inconstitucionalidade do art. 84, CPP, na ADIN nº 2797. PRISÃO (“FREEDOM FROM ARREST”) Somente é cabível no flagrante de crime inafiançável. E ainda assim a Casa irá decidir se mantém ou não a prisão em flagrante. É uma decisão política. Vale lembrar que os Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão decorrente de condenação definitiva. “O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF.” STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712). PRISÃO DO SENADOR DELCÍDIO DO AMARAL (AC 4039 – 2ª Turma, Min. Teori Zavascki, 24/11/2015): Fundamentos: (a) garantia de natureza relativa – excepciona prisão em flagrante de crime inafiançável; (b) estado de flagrância do crime de organização criminosa (crime permanente – art. 2º, caput e § 2º, da Lei 12.850/2013); (c) inafiançabilidade decorrente do art. 324, IV, do CPP (presença dos motivos que autorizam a preventiva – art. 312); (d) necessidade de interpretação sistemática e teleológica do § 2º do art. 53; (e) gravidade da situação, atentatória à própria jurisdição do STF. IMUNIDADE PROCESSUAL OU FORMAL A partir da EC nº 35/01, há possibilidade da Casa Legislativa respectiva sustar, a qualquer momento antes da decisão final do Poder Judiciário, o andamento da ação penal proposta contra parlamentar por crimes praticados após a diplomação. Não há mais necessidade de autorização prévia da respectiva Casa para ser iniciado o processo criminal. O partido pode pedir a qualquer tempo (antes do trânsito em julgado), mas a Casa deve decidir em 45 dias. Suspende o processo e a prescrição. Primeiro o STF recebe a denúncia ou queixa, depois cientificaa Casa Legislativa. Para os crimes praticados antes da diplomação, não haverá incidência de qualquer imunidade formal em relação ao processo. A garantia da imunidade em sentido formal não impede a instauração e não possibilita a suspensão do inquérito policial contra parlamentar. A nova disciplina da imunidade formal, em face de sua natureza processual, tem aplicação imediata. SIGILO DA FONTE E LIMITAÇÃO AO DEVER DE TESTEMUNHAR Limitação ao dever de testemunhar: Em princípio, os parlamentares têm o dever de testemunhar. Porém, o parlamentar não pode ser conduzido sob vara. Pelo princípio da independência e harmonia entre os Poderes, o juiz deve convidá-lo a prestar seu depoimento em dia e hora convenientes. Não são obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhe confiaram ou delas receberam informações (art. 53, § 6º). Incorporação as Forças Armadas Depende de licença da Casa. Isenção do Serviço Militar: Não deixa de ser uma espécie de imunidade, porque o parlamentar fica imune a uma obrigação imposta pela Constituição a todos os brasileiros (art. 143). Vedações ou incompatibilidades: Visam garantir a independência do poder legislativo. A doutrina divide em: Funcionais (art. 54, I, ‘b’ e II, ‘b’); Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: I - desde a expedição do diploma: b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - desde a posse: b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a"; Negociais ou contratuais (art. 54, I, ‘a’); I - desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; Políticas (art. 54, II, ‘d’); II - desde a posse: d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo. Profissionais (art. 54, II, ‘a’ e II, ‘c’). II - desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a"; Obs: A Constituição não as estende aos cônjuges e parentes do parlamentar, até o segundo grau, o que é feito pelos Códigos de Ética e Decoro de algumas casas legislativas, especialmente em relação às incompatibilidades do art. 54, I, ‘a’ e 54, II, ‘a’. Vale lembrar que o art. 38, I, da Constituição, contém outra incompatibilidade, ao proibir a acumulação de mandato eletivo com cargo público (EXERCÍCIO CONCOMITANTE), exceto para os vereadores, se os horários forem compatíveis. Por fim, conforme já decidido pelo STF, as restrições constitucionais inerentes ao exercício do mandato parlamentar não se estendem ao suplente (MS n.º 21.266/DF). Perda do Mandato: A perda do mandato pode se dar por cassação ou extinção. CASSAÇÃO, segundo Hely Lopes Meirelles, “é a decretação da perda do mandato, por ter o titular incorrido em falta funcional, definida em lei e punida com esta sanção”. EXTINÇÃO do mandato “é o perecimento do mandato pela ocorrência de fato ou ato que torna automaticamente inexistente a investidura eletiva, tais como a morte, a renúncia, o não comparecimento a certo número de sessões expressamente fixado (desinteresse que a Constituição eleva à condição de renúncia), perda ou suspensão dos direitos políticos”. Os casos de cassação de mandato previstos no art. 55, incs. I, II e VI, são por voto secreto da maioria absoluta da respectiva Casa. É instaurado um processo político para a decretação da perda do mandato. A decisão é constitutiva (art. 55, § 2º; “decidida”). Nos casos do art. 55, incs. III, IV e V, que são de simples extinção do mandato, a decisão pela Mesa é meramente declaratória (art. 55, § 3º; “declarada”). Quebra do decoro parlamentar é o abuso das prerrogativas ou a percepção de vantagens indevidas, ou que incida em outros casos regimentais, §1º do art. 55 da CF. Pode existir quebra de decoro parlamentar antes do início do mandato? Sim, caso a sanção por perda de decoro refira-se a ato praticado durante mandato anterior (isso é tranquilo na doutrina e na jurisprudência), STF: MS 23388/DF e INFO 298. Quanto a fatos ocorridos quando o agente não exercia mandato parlamentar algum, a doutrina é vacilante, não tendo o STF se posicionado especificamente. Não cabe ao STF reexaminar o enquadramento, feito pela Câmara dos Deputados, de atos tidos como incompatíveis com o decoro parlamentar. NÃO HÁ PERDA DE MANDATO do parlamentar nas hipóteses do art. Art. 56 da CF. O STF decidiu recentemente que o mandato pertence ao partido, sendo que, todo aquele que mudar de legenda injustificadamente perderá o mandato: Afirmando que o caráter partidário das vagas é extraído, diretamente, da norma constitucional que prevê o sistema proporcional. Ressaltou-se não se tratar de imposição, ao parlamentar infiel, de sanção de perda de mandato, por mudança de partido, a qual não configuraria ato ilícito, não incidindo, por isso, o art. 55 da CF, mas de reconhecimento de inexistência de direito subjetivo autônomo ou de expectativa de direito autônomo à manutenção pessoal do cargo.Esse entendimento não se aplica aos Senadores, eleitos pelo sistema majoritário, com ênfase na figura do candidato, sob pena de ser frustrada a vontade do eleitor e a soberania popular (ADI 5081, Min. Roberto Barroso, 25/05/2015). Importa ressaltar que, com a EC n.76/2013, a decisão sobre a perda do mandato de Deputado ou Senador, nas hipóteses previstas no art. 55, I, II e VI, da CF/88, deverá ser tomada por votação aberta, assim como a decisão sobre a manutenção do veto do Presidente da república a projeto de lei. No julgamento da Ação Penal 470/MG (Mensalão), o STF decidiu a respeito da perda do mandato decorrente de condenação que o § 2º do art. 55 da CF/88 não é aplicado em todos os casos nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento posterior. Assim, nesse julgamento, decidiu o STF que, se a decisão condenatória determinou a perda do mandato eletivo do Deputado Federal ou Senador, nos termos do art. 92, I, do CP, a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de que isso seja votado pela Câmara dos Deputados ou Senado Federal. (Plenário. AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10 e 13.12.2012.) Todavia, em momento seguinte, o STF, de forma diversa ao entendimento aplicado no caso do Mensalão, decidiu que, ao condenar um Parlamentar federal, NÃO poderá a Corte determinar a perda do mandato eletivo. Ao ocorrer o trânsito em julgado da condenação, se o réu ainda estiver no cargo, o STF deverá oficiar à Mesa Diretiva da Câmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem acerca da perda ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CF/88. STF. Plenário. AP 565/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7 e 8/8/2013 (Info 714). Obs: o tema ainda não está consolidado porque o próprio Min. Luis Roberto Barroso (que havia adotado a primeira corrente acima – não é automática) proferiu, em 02/09/2013, decisão monocrática recente na qual acena com a possibilidade de ser construída uma terceira posição (MS 32.326/DF). Segundo essa decisão liminar, que ainda não foi submetida ao Plenário, em caso de condenação de Deputado Federal ou Senador, a Casa Legislativa irá decidir sobre a perda ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CF/88. No entanto, para o Min. Barroso, se o regimede cumprimento da pena for o fechado e a quantidade da pena superior ao mandato, a Casa Legislativa, obrigatoriamente, deverá determinar a perda desse mandato, considerando que as condições do regime fechado são logicamente incompatíveis com o exercício do mandato parlamentar. 3.1.6 Reuniões Como mencionado, a SESSÃO LEGISLATIVA é anual, mas tem dois períodos intercalados por recessos. Cada legislatura terá duração de quatro anos, compreendendo quatro sessões legislativas ou oito períodos legislativos. SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA: é o período anual em que deve estar reunido o Congresso Nacional para os trabalhos legislativos. Divide-se em dois períodos legislativos de 02 de fevereiro a 17 de julho e 1º de agosto a 22 de dezembro (EC 50/06). A sessão legislativa ordinária não será interrompida sem aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias (art. 57, §2º). Os espaços que vão de 22 de dezembro a 02 de fevereiro constituem recesso parlamentar, nos quais o Congresso é representado pela Comissão Representativa (art. 58, § 4º). REUNIÕES CONJUNTAS: pelo princípio do bicameralismo, as Casas do Congresso devem funcionar e deliberar cada qual por si, separadamente. Mas a Constituição prevê hipóteses em que se reunirão em sessão conjunta, caso em que a direção dos trabalhos cabe à Mesa do Congresso Nacional (presidida pelo presidente do Senado). Nas sessões conjuntas a votação se dará de forma simultânea, entre membros do Senado e Câmara todavia a contagem se dará de forma separada. Na sessão unicameral entrenós prevista no art. 3º do ADCT, os votos serão computados de forma igual sem a divisão da contagem entre as respectivas casas legislativas. A vedação à recondução para o mesmo cargo da mesa diretora somente se aplica dentro da legislatura. A legislatura tem 04 anos e o mandato dos membros da mesa tem 02 anos, assim a mesma legislatura tem 02 mandatos. Quando a legislatura acaba, virá nova legislatura com um novo primeiro mandato e um novo segundo mandato. Os membros eleitos no 2º mandato da legislatura anterior não sofrerão a limitação do artigo para a eleição para o primeiro mandato da legislatura seguinte. 3.1.7 Das Comissões Parlamentares São órgãos constituídos em cada Casa, compostos de número geralmente restrito de membros, encarregados de convocar autoridades, realizar audiências públicas, estudar, examinar e iniciar proposições legislativas e apresentar pareceres, entre outras atribuições (art. 58, § 2º). I)Comissões permanentes, técnicas ou temáticas: subsistem através das legislaturas, são organizadas em função da matéria, geralmente coincidente com o campo funcional dos Ministérios. O art. 58 da CF estabelece suas atribuições. As mais importantes são a de Constituição e Justiça, que tem a incumbência de realizar o controle prévio de constitucionalidade das proposições, e a de Finanças e Orçamento, que se manifesta em todas as proposições que afetem direta ou indiretamente o erário. O art. 82, III, da Lei n.º 8.078/90, dá legitimidade à comissão do Poder Legislativo que cuide de matéria de consumidores (órgão despersonalizado) para a propositura de ação judicial que tenha por objeto a defesa do consumidor. II)Comissões temporárias (ou especiais): extinguem-se com o término da legislatura ou antes dela, neste último caso, quando constituídas para opinarem sobre determinada matéria, tenham preenchido o fim a que se destinam. Exemplo: comissão especial que, anos atrás, estudou a problemática das terras de estrangeiros no país. III)Comissões mistas: formam-se de Deputados e Senadores, a fim de estudarem assuntos expressamente fixados, especialmente aqueles que devam ser decididos pelo Congresso Nacional, em sessão conjunta de suas Casas. Podem ser permanentes ou temporárias. São exemplos as comissões mistas para emissão de pareceres sobre medidas provisórias (art. 62, § 8º) e para acompanhamento orçamentário (art. 166, § 1º). IV) Comissões Parlamentares de Inquérito - CPI: são órgãos que desempenham papel de grande relevância na fiscalização e controle da Administração. Na Constituição vigente foram bastante prestigiadas, a ponto de receberem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, em conjunto ou separadamente, poderão criar tantas CPI’s quantas julgarem necessárias, respeitadas as limitações regimentais (v.g., número máximo de cinco CPI’s simultâneas, que foi julgado constitucional pelo STF). V) Comissão Representativa: tem natureza diversa das comissões anteriores. A comissão representativa, instituída no art. 58, §4º, tem a função de representar o Congresso Nacional durante o recesso parlamentar. 3.1.8 DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO CPI: A primeira constituição que tratou da CPI é a CF/1934. Todas trataram de CPI exceto a CF/1937. As CPI’s também são função típica do Poder Legislativo. É o controle parlamentar stricto sensu (fiscalização). Requisitos necessários para a constituição da CPI: a) REQUISITO FORMAL: mínimo de 1/3 dos Deputados Federais ou Senadores subscrevam o pedido para a constituição da CPI. Deputados são 513, no mínimo, 171 devem subscrever. Senadores são 81, 27 devem subscrever. b) REQUISITO SUBSTANCIAL OU REQUISITO MATERIAL: fato determinado. c) REQUISITO TEMPORAL: em função da razoabilidade, da proporcionalidade e da segurança jurídica um indivíduo não pode ficar eternamente sendo investigado. A CF não fala qual o prazo, mas os regimentos internos dos parlamentos estabelecem: i. Regimento interno do Senado: 90 dias, e ii. Regimento Interno da Câmara dos Deputados: 120 dias. Esses prazos podem ser prorrogados desde que na mesma legislatura. O primeiro requisito, segundo Pontes de Miranda, constitui um verdadeiro instrumento das minorias contra as maiorias, já que bastam 1/3 dos membros para a instauração de uma CPI, mesmo contra a vontade dos outros 2/3. Poderes de Investigação Próprios das Autoridades Judiciais Juiz tem poder de investigação? Na República Federativa do Brasil, o juiz não investiga porque é adotado o sistema processual penal acusatório (separação entre os órgãos de acusação, de defesa e de julgamento). Se o juiz não investiga por que a expressão? Quem elaborou não tinha técnica jurídica, assim o termo deve ser entendido como PODERES DE INSTRUÇÃO PROCESSUAL PRÓPRIOS DAS AUTORIDADES JUDICIAIS. O JUIZ TEM PODERES DE INSTRUÇÃO. A CPI NÃO PODE por AUTORIDADE PRÓPRIA, ou seja, sem a integração do Poder Judiciário: a) Determinar a BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR. b) Decretar prisão (subtração ou restrição da liberdade de locomoção). c) Decretar a INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (artigo 5º XII, CF). d) Determinar constrição judicial ou medidas assecuratórias (artigo 125, CPP): arresto, seqüestro, hipoteca ou indisponibilidade de bens. e) Proibir que o cidadão saia da comarca ou país. A CPI PODE diretamente por AUTORIDADE PRÓPRIA, sem a integração do Judiciário, praticar os seguintes atos: a) Afastar os sigilos bancário e fiscal do investigado. b) Requisitar dados telefônicos. c) Notificar testemunhas, informantes e investigados: se não comparecerem, pode determinar a condução coercitiva. Todos estão obrigados a depor na CPI, mas algumas autoridades podem marcar hora, dia e local, desde que razoáveis. d) Prender em flagrante por falso testemunho a testemunha. O investigado NÃO é testemunha, não podendo ser preso por falso testemunho. A testemunha tem o direito de se calar em relação ao que possa produzir prova contra si, como direito a não auto-incriminação. e) Prender em flagrante por desacato à autoridade. EXEMPLO: dar um tapa na cara do membro da CPI. f) Determinar a realização de diligências. EXEMPLOS: vistorias, exames, perícias. g) Requisitar (determinar) auxílio de servidores públicos. EXEMPLO: requisitar auditores da Receita Federal e do Banco Central. Quando pratiquem atos abusivos, poderão as CPI’s serem submetidas à ação judicial no STF. Inviolabilidadedo domicílio: casa é todo espaço corporal autônomo e limitado, essa interpretação decorre da CF e do CP (artigo 150). O STF em 2004 (ACO 730, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 22-9-2004,) passou a decidir que as CPI’s estaduais também podem quebrar sigilo, em nome do pacto federativo, não tendo se manifestado quanto às municipais. Entretanto, o mesmo fundamento NÃO pode ser aplicado às CPI’s municipais. Os municípios devem requerer isso ao juiz, como medida de segurança. MS 23639 = possibilidade de existência simultânea de CPI e IP em curso. HC 80089 = juiz não pode ser convocado pela CPI para explicar a sua sentença, ingerência de um poder em outro. Não há necessidade de devido processo legal ou contraditório, pois o intuito é investigatório e não acusatório. Toda decisão da CPI deve ser fundamentada – analogia ao art. 93, IX CF (INF 216, 243 E 239) FORMAÇÃO Pode ser de cada casa isolada ou em conjunto: a) CPI SIMPLES: formada somente por Deputados Federais ou somente por Senadores. b) CPI MISTA: formada por membros mistos, ou seja, Deputados Federais e Senadores. Seria inconstitucional Lei Orgânica ou Constituição Estadual que estabeleça quórum superior ao 1/3, de acordo com o entendimento do STF, sendo um instrumento de proteção das minorias parlamentares. ATENÇÃO: a redução do quórum é possível. O alargamento é que não é possível, já que prejudicaria o direito das minorias. FATO DETERMINADO O fato determinado objeto da CPI tem que ter uma relação federativa com a Casa que está apurando, ou seja, deve estar dentre as atribuições da Casa Legislativa, que estejam estabelecidas na CF. O STF permite que uma única CPI analise FATOS DETERMINADOS (no plural), assim, podem ser analisados fatos determinados ao mesmo tempo. INDICAÇÃO DE REPRESENTANTES Preenchidos os requisitos para a instauração da CPI e sendo esta um instrumento de defesa das minorias, o STF afirmou ser obrigatória sua constituição, devendo o PRESIDENTE DO PARLAMENTO nomear os representantes. Assim foi decidido pelo STF na CPI dos bingos. Os partidos políticos não nomearam representantes; em razão disso, dois Senadores impetraram MS para obrigar o Presidente do parlamento a indicar os representantes para a formação da comissão. Os partidos políticos escolhem internamente os seus representantes para participarem da CPI. As CPI’s devem obediência ao princípio da REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL PARTIDÁRIA. CONCLUSÃO A CPI conclui o inquérito parlamentar, mas não pode condenar. Os documentos sigilosos não podem ser divulgados (assim como o MP, o juiz, a autoridade policial). Devem ficar em sigilo até o trânsito em julgado da sentença condenatória, antes disso não se pode a qualquer pretexto a quebra do sigilo, isso é aplicado ao juiz, ao MP e à autoridade policial. COMPETÊNCIA As pessoas podem se insurgir contra as deliberações e decisões da CPI por meio de MS ou HC. Competência para MS ou HC: STF (MS e HC) pois CPI é do Congresso Nacional (art. 102 I d e c art. 5º XXXV CF). Na esfera estadual, o competente é do TJ. Na esfera municipal, o competente é o juiz de piso. Igualmente, as CPIs, sejam da CD, sejam do SF ou do próprio Congresso Nacional (CPMI), devem absoluto respeito ao princípio federativo e, conseqüentemente, à autonomia dos Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, cujas gestões da coisa pública devem ser fiscalizadas pelos respectivos legislativos. Ressalte-se que os eventuais abusos ou ilegalidades praticados pelas CPIs deverão ser controlados pelo Poder Judiciário. CASO EDUARDO CUNHA. CONCLUSÕES A RESPEITO DA AP 4070 (lembre-se do número pela semelhança com a AP 470 - mensalão) CONCLUSÃO 1: POSSIBILIDADE DA SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO MANDATO DE DEPUTADO FEDERAL E, EM DECORRÊNCIA, DA FUNÇÃO DE PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, COMO MEDIDA CAUTELAR PREFERENCIAL À PRISÃO PREVENTIVA. Fundamentos: a decisão fora levada a referendo do Plenário pela relevância institucional de suas consequências. Havia justa causa, provas e ainda presentes os requisitos para a decretação da cautelar: de forma minuciosa o MPF descrevera diversos fatos supostamente criminosos e praticados com desvio de finalidade, sob a atuação direta do referido parlamentar que estaria a utilizar o cargo de deputado federal e a função de Presidente da Câmara dos Deputados para fins ilícitos e, em especial, para obtenção de vantagens indevidas; Depoimentos de testemunhas, documentos e mensagens em telefones celulares demonstraram a atuação do parlamentar que, de forma reiterada, agiria com aparente desvio de finalidade e para o alcance de fins ilícitos, entre eles o recebimento ilícito de valores expressivos. teria o parlamentar colocado seus aliados em cargos chaves de importante CPI para fins de constranger colaboradores, bem como para evitar que ele próprio fosse investigado, além de desqualificar pessoas, empresas e políticos que se disponibilizaram a colaborar com a elucidação dos crimes. Ainda que não seja o momento de se formular juízo definitivo acerca dos fatos narrados, há indícios de que o requerido, na condição de parlamentar e, mais ainda, na de Presidente da Câmara dos Deputados, tem meios e é capaz de efetivamente obstruir a investigação e a colheita de provas, intimidar testemunhas e impedir, ainda que, indiretamente, o regular trâmite da ação penal em curso no STF. Estabelecimento da preferencialidade do uso de meios alternativos à prisão preventiva (art. 282, §6º, CPP) Nestes casos, a decretação da medida servirá a dois interesses públicos indivisíveis: a) a preservação da utilidade do processo; e b) a preservação da finalidade pública do cargo; “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: ... VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais”). Lembre-se: o rol de medidas cautelares é considerado taxativo. CONCLUSÃO 2: COMPETE A CADA UMA DAS CASAS PARLAMENTARES A GRAVE MISSÃO INSTITUCIONAL DE DECIDIR SOBRE A CASSAÇÃO DO TÍTULO QUE INVESTE DEPUTADOS E SENADORES NOS PODERES INERENTES À REPRESENTAÇÃO POPULAR. Isso implica admitir por mais excêntrico que possa parecer à consciência cívica em geral que um mandato parlamentar pode vir a subsistir ainda quando o seu titular tenha tido seus direitos políticos suspensos pela justiça, por decisão transitada em julgado. O preceito trabalha com uma lógica de harmonia entre Poderes, que não interdita o funcionamento de qualquer um deles. Pelo contrário, permite que cada um funcione dentro de suas respectivas competências. O Poder Judiciário se pronuncia quanto à formação da culpa, enquanto o Poder Legislativo se manifesta sobre a cessação do mandato, cabendo a esta última instância justificar o seu entendimento sobre a subsistência de vínculo de representatividade já debilitado no seu substrato de legitimidade diante dos apelos da opinião pública. CONCLUSÃO 3: EPISÓDIOS NARRADOS APONTAM TÍPICO ABUSO DE PODER. os episódios narrados configurariam caso típico de abuso de poder que merece a intervenção do Judiciário, sob pena de comprometer o resultado final da investigação e, portanto, da aplicação da lei penal. CONCLUSÃO 4: A ATUAÇÃO DELE COMO PRESIDENTE DA CÂMARA REFLETE CONTRADIÇÃO COM A PRÓPRIA CONDIÇÃO DELE DE ACUSADO/INVESTIGADO, JÁ QUE, DIANTE DAS REGRAS REGIMENTAIS, COMPETIRIA AO PRESIDENTE DA CÂMARA AUTORIZAR PRODUÇÃO DE PROVAS EM RELAÇÃO AO SI PRÓPRIO: o fato de que o cumprimento de qualquer diligência investigatória na câmara dos deputados deve ser precedido de autorização de sua mesa diretora, que é presidida pelo parlamentar em questão. Ou seja, a produção de provas em relação a eventuais ilícitos praticados pelo presidente da câmara dependeria de prévia autorização do próprio investigado. embora não seja a prévia autorização do Parlamento um pressuposto de validade do ato investigatório, porque ausente previsão constitucional que malfira a jurisdição do STF, não há dúvidade que a condição de investigado do Presidente da Câmara compromete a harmonia entre os Poderes da República. CONCLUSÃO 5: PRESIDENTE DA CÂMARA FORMALMENTE ACUSADO POR INFRAÇÕES PENAIS E DISCIPLINARES CONSPIRA CONTRA A PRÓPRIA DIGNIDADE DA INSTITUIÇÃO POR ELE LIDERADA. O estado de suspeição que paira sobre a figura do atual ocupante da presidência da Casa Legislativa — formalmente acusado por infrações penais e disciplinares — contracena negativamente com todas suas responsabilidades, principalmente quando há ponderáveis elementos indiciários a indicar que ele articulou uma rede de obstrução contra as instâncias de apuração dos pretensos desvios de conduta que lhe são imputados. O exercício do cargo, nas circunstâncias indicadas, compromete a vontade da Constituição, sobretudo a que está manifestada nos princípios de probidade e moralidade que devem governar o comportamento dos agentes políticos. Frisou haver fato superveniente ao pedido ora analisado consistente no fato de o Conselho de Ética daquela Casa Legislativa haver admitido a representação formulada em desfavor do requerido. CONCLUSÃO 6: BALIZAS PARA A ATIVIDADE PARLAMENTAR LEGÍTIMA: quando cumpre os seus compromissos, que são: a) com os representados; b) com o projeto de país que ele se obriga a cumprir ao assumir a função pública. “ocupante de mandato tem ao menos dois compromissos a respeitar: um deles é com os seus representados; o outro é com o do projeto de país que ele se obriga a cumprir ao assumir sua função pública. A atividade parlamentar só poderá ser exercida, com legitimidade, se for capaz de reverenciar essas duas balizas. CONCLUSÃO MAIS IMPORTANTE: NÃO SÃO APENAS OS PRODUTOS LEGISLATIVOS QUE ESTÃO SUBMETIDOS AO CONTROLE JUDICIAL. TAMBÉM O VEÍCULO DA VONTADE POPULAR — O MANDATO — ESTÁ SUJEITO A CONTROLE. Se os interesses populares vierem a se revelar contrários às garantias, às liberdades e ao projeto de justiça da Constituição, lá estará o STF para declará-los nulos, pelo controle de constitucionalidade. A forma preferencial para que isso ocorra é pelas mãos dos próprios parlamentares. Mas, em situações de excepcionalidade, em que existam indícios concretos a demonstrar riscos de quebra da respeitabilidade das instituições, é papel do STF atuar para cessá-los, garantindo uma república para os comuns, e não uma comuna de intocáveis. AC 4070/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 5.5.2016. (AC-4070) (Informativo 824, Plenário) RECEBIMENTO DA AÇÃO PENAL - EDUARDO CUNHA. Inquérito: corrupção passiva e lavagem de dinheiro O Plenário recebeu, parcialmente, denúncia oferecida contra deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva (CP, art. 317, “caput” e § 1º, c/c art. 327, §§ 1º e 2º) e lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, V, VI e VII, com redação anterior à Lei 12.683/2012). Ainda, na mesma assentada, a Corte, por maioria, recebeu denúncia oferecida contra ex-deputada, hoje prefeita municipal, pelo suposto delito de corrupção passiva. Por fim, julgou prejudicados os agravos regimentais. Inicialmente, o Tribunal, por maioria, rejeitou as preliminares suscitadas. PRELIMINARES AFASTADAS: AFIRMOU NÃO PROSPERAR A ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO DEPOIMENTO PRESTADO PELA DENUNCIADA PERANTE O MINISTÉRIO PÚBLICO, AO ARGUMENTO DE QUE TERIA SIDO OUVIDA COMO TESTEMUNHA E NÃO COMO INVESTIGADA, O QUE COMPROMETERIA O DIREITO DE NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO. Isso porque, embora ela tivesse sido ouvida na condição de testemunha e assumido o compromisso de dizer a verdade, constaria do termo de depoimento que ela teria sido informada de que estariam ressalvadas daquele compromisso “as garantias constitucionais aplicáveis”. AFASTOU TAMBÉM A PRETENSÃO DO DENUNCIADO DE VER SUSPENSO O PROCESSO, POR APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 86, § 4º, DA CF, JÁ QUE ESSA PREVISÃO CONSTITUCIONAL SE DESTINARIA EXPRESSAMENTE AO CHEFE DO PODER EXECUTIVO DA UNIÃO. Desse modo, não estaria autorizado, por sua natureza restritiva, qualquer interpretação que ampliasse a incidência a outras autoridades, notadamente do Poder Legislativo. RECHAÇOU O ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA, ARGUIDO EM AGRAVOS REGIMENTAIS, POR MEIO DOS QUAIS SE BUSCAVA ACESSAR O INTEIRO TEOR DO ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA E RESPECTIVOS TERMOS DE DEPOIMENTO DE RÉU JÁ CONDENADO PELA JUSTIÇA FEDERAL POR CRIMES APURADOS NA DENOMINADA “OPERAÇÃO LAVA JATO”. Ressaltou que o PGR juntara aos autos todos os depoimentos de colaboradores que se referiam ao acusado e aos fatos referidos na denúncia. O TRIBUNAL ENTENDEU QUE SERIA IMPROCEDENTE A ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE DEPOIMENTOS COMPLEMENTARES PRESTADOS POR COLABORADOR, EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE NOVA HOMOLOGAÇÃO OU RATIFICAÇÃO DO ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NÃO SE PODERIA CONFUNDIR O ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA, QUE ESTARIA SUJEITO À HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL, COM OS TERMOS DE DEPOIMENTOS PRESTADOS PELO COLABORADOR, QUE INDEPENDERIAM DE TAL HOMOLOGAÇÃO. Na espécie, o acordo de colaboração premiada firmado entre o Ministério Público Federal e colaborador teria sido devidamente homologado por juiz federal, nos termos da Lei 12.850/2013. À ÉPOCA, PELAS DECLARAÇÕES ATÉ ENTÃO PRESTADAS PELO COLABORADOR, NÃO HAVERIA NOTÍCIA DE ENVOLVIMENTO DE AUTORIDADE COM PRERROGATIVA DE FORO NO STF, RAZÃO PELA QUAL SERIA INQUESTIONÁVEL A COMPETÊNCIA DAQUELE JUÍZO PARA A PRÁTICA DO ATO HOMOLOGATÓRIO. Quanto ao fundamento do recebimento da denúncia: Narrou a existência de provas suficientes. O Tribunal concluiu que os elementos colhidos indicariam possível cometimento de crime de corrupção passiva majorada (CP, art. 317, “caput” e § 1º), ao menos na qualidade de partícipe (CP, art. 29), por parte do deputado federal. EXCLUIR-SE-IA, TODAVIA, DO QUANTO RECEBIDO, A CAUSA DE AUMENTO DO ART. 327, § 2º, DO CP, INCABÍVEL PELO MERO EXERCÍCIO DO MANDATO POPULAR, sem prejuízo da causa de aumento contemplada no art. 317, § 1º (“A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional”). A JURISPRUDÊNCIA DO STF EXIGIRIA, PARA TANTO, IMPOSIÇÃO HIERÁRQUICA NÃO DEMONSTRADA NEM DESCRITA NOS PRESENTES AUTOS. Os indícios existentes apontariam também que a acusada teria concorrido para a prática do delito de corrupção passiva, nos termos do já aludido art. 29 do CP (“Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”). Assim, não assistiria razão à defesa da denunciada, de que a conduta descrita na inicial acusatória seria de outro tipo penal. Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e 3.2016. (Inq-3983) (Informativo 816, Plenário) O PROCESSO LEGISLATIVO. CLÁUSULAS PÉTREAS. NATUREZA. ESPÉCIES. INICIATIVA LEGISLATIVA. NORMAS CONSTITUCIONAIS E PROCESSO LEGISLATIVO. O PROCESSO LEGISLATIVO Introdução Consiste no conjunto de normas que regulam a produção dos atos normativos primários. Ou, como elucida o mestre José Afonso da Silva, trata-se do conjunto de atos preordenados que visam à criação de normas de direito. O OBJETO do processo legislativo é definido no art. 59 da CF/88. Todos os atos previstos nesse artigo são ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS, ou seja, retiram seu fundamento de validade diretamente da CF, podendo ser objetos de controle de constitucionalidade As normas do processo legislativo são de observância obrigatória, porém não são todas, apenas seus princípios básicos que devem ser observados pela CE e Leis Orgânicas. Embora se refiram ao âmbito federal, o STF considera como normas de observância obrigatória. Se a CF atribui ao Presidente da República determinadas matérias que são de sua competência privativa, essas normas deverão ser atribuídas pela CE ao governador do estado. Assim, como LO deve atribuir ao prefeito às competências pertinentes ao município, de acordo com o princípio da simetria. Exemplo algumas CE’s exigiam quórum de 4/5 para sua alteração. O STF declarou inconstitucionalpor violar o princípio da simetria. Deve-se lembrar, ainda que a observância ao devido processo legislativo é um direito público subjetivo dos parlamentares. Por isso, que para impor sua observância o parlamentar pode impetrar MS. Veja que é a única hipótese de controle de constitucionalidade preventiva pelo judiciário. Exemplo: Art. 60, §4º da CF – cláusulas pétreas - para impedir deliberação sobre a matéria, o parlamentar poderá impetrar o MS. OBS: o MS só caberá no caso de processo legislativo constitucional, no caso de violação de regimento interno, a questão é interna corporis. 3.2.1 ESPÉCIES NORMATIVAS: EMENDAS À CONSTITUIÇÃO As propostas de emendas constitucionais são de iniciativa de: um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; do Presidente da República; de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros (art. 60, I a III, CF). A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros, e será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem (art. 60, §§ 2.º e 3.º, CF). Se a proposta de emenda for rejeitada ou havida por prejudicada, a sua matéria não poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa (art. 60, § 5.º, CF), nem mesmo a pedido da maioria absoluta de cada Casa do Congresso, como ocorre com as demais espécies normativas. VEDAÇÕES À EDIÇÃO DE EC: Há vedações de natureza circunstancial e de natureza material à edição de emendas constitucionais. Vedações de natureza circunstancial: não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Vedações de natureza material: cláusulas pétreas ou núcleo rígido da Constituição. Há, ainda, as vedações implícitas, que são as que impedem a supressão dos dispositivos de vedação de emendas constitucionais (art. 60) e as que proíbem a mudança de titularidade do poder constituinte. A E.C. n.º 45/04 equiparou às emendas constitucionais os tratados e as convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. Conforme já comentado, de acordo com o STF, os tratados internacionais sobre direitos humanos celebrados e incorporados ao nosso ordenamento jurídico em momento anterior à EC nº 45/04 ou que não tenham passado pelo procedimento semelhante ao das emendas à Constituição, terão natureza supralegal, ou seja, permanecerão acima das leis infraconstitucionais, mas abaixo da Constituição. LEI COMPLEMENTAR E LEI ORDINÁRIA Reservam-se à lei complementar as matérias taxativamente previstas na Constituição Federal, enquanto todas as demais poderão ser objeto de lei ordinária (campo material residual). As leis complementares seguem o mesmo procedimento de elaboração das leis ordinárias, tendo como peculiaridade apenas o quórum de aprovação, que será, conforme o art. 69, da CF, por maioria absoluta. Era bastante controversa no direito pátrio a existência de hierarquia entre as leis complementares e ordinárias. Contudo, a orientação atual do STF é de não existir hierarquia entre lei ordinária e lei complementar, tratando-se de espécies legislativas com campos materiais distintos: Inexiste hierarquia entre lei complementar e lei ordinária. O que há, na verdade, é a distribuição constitucional de matérias entre as espécies legais (RE 348605 Dias Toffoli). Se uma matéria de LO for tratada por LC, há duas posições: a) LC é INCONSTITUCIONAL: os que defendem essa tese indicam que, em que pese o quórum qualificado de aprovação, há uma efetiva VIOLAÇÃO AO PROCESSO LEGISLATIVO; se a CF determinou as matérias que seriam tratadas por LO e LC, não pode o parlamento decidir de forma diversa. b) LC é CONSTITUCIONAL (STF): o STF reconhece a constitucionalidade, mas ressalva que a sua natureza jurídica é de LO, o que tem como consequência que poderá ser modificada no futuro por LO. AR 1264/RJ: TRATADO INTERNACIONAL não pode tratar sobre matéria de lei complementar, somente sobre matéria de lei ordinária. Não se resolve o conflito entre LO e LC pela hierarquia, mas sim pela matéria. Informativo 429 (RE-419629) LEI DELEGADA A lei delegada, prevista no art. 59, IV, e 68 da Constituição, é uma exceção ao princípio da indelegabilidade de atribuições de um Poder para outro. A delegação é para o Presidente da República, e chama-se DELEGAÇÃO EXTERNA CORPORIS, porque é para fora do Poder Legislativo. A delegação se faz por meio de resolução do Congresso Nacional (art. 68, par. 2º) e por solicitação do Chefe do Executivo ao Congresso Nacional. É possível que a Resolução estabeleça a necessidade de apreciação do projeto pelo CN (DELEGAÇÃO IMPRÓPRIA), o que ocorrerá em votação única, vedada qualquer emenda. São INDELEGÁVEIS: 68,§ 1º: Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional: de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. FORMA: § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. MATÉRIAS RESERVADAS À LEI COMPLEMENTAR. MEDIDAS PROVISÓRIAS Não são leis, mas tem força de lei. Existem matérias que não podem ser objeto de MP. Ver art. 62, §1º, CF. Crítica: Nelson Nery Jr. está entre os que criticam a sua manutenção no texto constitucional após a opção popular pelo Presidencialismo, haja vista ser uma espécie normativa típica do regime parlamentarista, em que a sua rejeição pode acarretar a queda do Primeiro-ministro, ao passo que no regime presidencialista não há qualquer sanção para o uso indevido da medida provisória. A Emenda Constitucional nº 32, promulgada em 11 de setembro de 2001 teve como finalidade diminuir a excessiva discricionariedade na edição de medidas provisórias, prevendo uma série de limitações materiais, bem como a impossibilidade de reedições sucessivas. A doutrina afirma que os Estados e Municípios podem editar medidas provisórias, desde que haja previsão na Constituição estadual e na Lei Orgânica. NÃO PODE VERSAR SOBRE: § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; direito penal, processual penal e processual civil; organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; reservada a lei complementar; já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. MP EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: MP que trate sobre majoração ou instituição de impostos, exceto os que não respeitem ao princípio da anterioridade, somente produzirão efeitos no exercício financeiro seguinte ao que tiverem sido convertidas em lei até o último dia do exercício em que editada. VIGÊNCIA TEMPORÁRIA: O Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de 60, prorrogável, uma vez por igual período,devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.” O prazo será contado da publicação da medida provisória, porém, ficará suspenso durante os períodos de recesso do Congresso Nacional, diferentemente do que ocorria anteriormente. Assim, a medida provisória poderá excepcionalmente exceder o prazo constitucional de 60 dias, se for editada antes do recesso parlamentar. Havendo, porém, convocação extraordinária, entendemos que o prazo constitucional das medidas provisórias não ficará suspenso durante os trabalhos legislativos, em face da nova redação do §8º, do art. 57, que determina suainclusão automática na pauta de votação. RELEVÂNCIA E URGÊNCIA Em tese, a MP não é um instrumento ruim, já que cabível em momentos de crise: RELEVÂNCIA e URGÊNCIA. O STF entende que a MP deve ser objeto de controle, no tocante aos pressupostos constitucionais (relevância e urgência), pelo Executivo e pelo Legislativo. Apenas excepcionalmente, quando a inconstitucionalidade for flagrante e objetiva, pode o Judiciário analisar tais pressupostos. Não é mais cabível a reedição de MP. EXEMPLO: MP do plano real que foi reeditada por 70 vezes. Se a MP for inconstitucional não há posição do STF tratando do assunto: se adepto da NULIDADE não será aplicada; se da anulabilidade, aplica-se a MP. O Presidente editou a MP, que é convertida em lei. Irá a mesma para a sanção ou veto do Presidente? Se não houve nenhuma modificação, não precisa; se houve uma modificação do texto, deverá ser encaminhada para a apreciação do Presidente. As alterações que os parlamentares fizerem somente vão valer depois de aprovada a modificação pela lei de conversão, antes disso permanece a MP com o texto original. O vício da MP contamina a lei de conversão? SIM. Nas emendas dos parlamentares é possível emendar com matéria de iniciativa privativa do PR? NÃO. A MP pode ser objeto de controle de constitucionalidade? SIM. Deferida liminar na ADI: Proposta a ADI contra a MP, deferida uma cautelar, o prazo de aprovação da MP fica suspenso. Na decisão final da ADI, se a MP é tida por inconstitucional, ela desaparece, não podendo continuar a tramitar. Se é tida por constitucional, o prazo recomeça a ser contado. Não sendo deferida liminar na ADI: Se não foi deferida a liminar, a MP continua até a sua conversão, assim a inicial da ADI deve ser emendada para incluir a lei de conversão. Quando o Presidente edita a MP não pode retirá-la? NÃO, pode até editar outra, mas não pode retirar a que foi editada. As medidas provisórias anteriores à EC/32 se perpetuaram no ordenamento jurídico, não precisando ser apreciada pelo CN, ficaram todas válidas. DECRETO LEGISLATIVO Em geral, cabível nas hipóteses de matéria de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49) e de efeitos externos. São eles os que referendam atos do Presidente da República, aprovam os que dependem de sua prévia autorização e que apreciam contas do Presidente da República. Quanto ao seu processo legislativo, há hipóteses em que a deflagração do processo formativo depende do Presidente da República, e em outras depende da iniciativa de membro ou comissão do Congresso Nacional. A discussão se passa no Congresso Nacional. A aprovação se dá por maioria simples (art. 47). Sendo de competência exclusiva do Congresso Nacional, não há sanção. A promulgação é feita pelo Presidente do Senado Federal, que o manda publicar. RESOLUÇÕES Resoluções são os atos de competência privativa do Congresso Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, geralmente com efeitos internos, utilizados para as competênciasprevistas na Constituição (artigos 51 e 52) e nos respectivos regimentos internos. A Constituição prevê outros casos: delegação ao Presidente da República (art. 68, § 2º) e fixação de alíquotas de ICMS pelo Senado (art. 155, §2º, IV). Segundo Celso Bastos, “a promulgação é feita pela Mesa da Casa Legislativa que as expedir. Quando se tratar de resolução do Congresso Nacional, a promulgação é feita pela Mesa do Senado Federal.” 3.2.2 CLÁUSULAS PÉTREAS. NATUREZA. ESPÉCIES. Cláusulas pétreas são limitações materiais ao Poder Constituinte Derivado Reformador (poder de reforma da Constituição). São condicionantes relativas ao conteúdo, à matéria. São aquelas cláusulas que não podem sofrer redução, apenas ampliação. Existem cláusulas pétreas explícitas e cláusulas pétreas implícitas: São EXPLÍCITAS as tendentes a abolir: a) a forma federativa de estado; b) o voto direto, secreto, universal e periódico; c) a separação dos Poderes; d) os direitos e garantias individuais. SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STF: 1- todo o art. 5º é cláusula pétrea. 2- do art. 6º ao 17, só são cláusulas pétreas os princípios asseguradores da dimensão social, política e nacional; aqueles que são necessários à essência dessas dimensões, que garantem a existência dos mesmos. Só podem ser declarados diante do caso concreto. Ex.: já foi decidido que o princípio da proteção do trabalho é cláusula pétrea, art. 7º, I; 3- também são cláusulas pétreas outros princípios que decorram implicitamente do regime e dos princípios adotados pela constituição. É o que decorre do art. 5º, § 2º, da CF. Com fundamento nesse dispositivo, é que o STF já declarou serem cláusulas pétreas os princípios e limitações ao direito de tributar, que são decorrentes da própria sistemática da CF. Esses princípios são direitos e garantias individuais e também cláusulas pétreas. São limites IMPLÍCITOS do poder de reforma aqueles que, embora não escritos, decorrem da própria sistemática constitucional: 1. inalterabilidade da titularidade do poder constituinte originário. O titular é o povo, através do consenso, o que está expresso no parágrafo único do art. 1º, constituindo o princípio da soberania popular. O Congresso Nacional não pode alterar esse princípio. 2. indelegabilidade da titularidade do poder constituinte reformador. Ex.: emenda autorizando o Presidente a emendar a Constituição. O Congresso é o único legitimado para alterar a Constituição, assim como o STF é o último intérprete da Constituição. 3. inalterabilidade do processo legislativo de reforma da constituição. No final do período revisional, o poder constituinte reformador tentou alterar o quorum para a emenda e marcar outro período revisional, o que não conseguiu devido ao limite implícito aqui mencionado. O processo legislativo de reforma é inalterável. 4. inalterabilidade dos limites explícitos, temporais, circunstanciais e materiais, como o art. 60, § 4.°. 5. impossibilidade de reforma constitucional que reduza a competência dos Estados, posto que tende a abolir a Federação. 6. impossibilidade de permissão da perpetuidade dos mandatos (sua temporariedade é assento do princípio republicano). 7. impossibilidade de modificação do critério de rigidez estabelecido pelo legislador constituinte para a reforma constitucional. 3.2.3 FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO O processo legislativo possui três fases: a) fase introdutória, em que ocorre a iniciativa legislativa; b) fase constitutiva, formada pelas emendas, deliberação ou votação e a sanção ou veto; c) fase complementar, em que ocorrem a promulgação e a publicação. INICIATIVA LEGISLATIVA A iniciativa pode ser comum (ou concorrente), se a proposição normativa puder ser apresentada por qualquer membro do Congresso Nacional ou por comissão de qualquer de suas Casas, bem assim pelo Presidente da República, e, ainda, pelos cidadãos, no caso de iniciativa popular; ou reservada, que visa subordinar ao seu titular a conveniência e oportunidade da deflagração do debate legislativo em torno do assunto. São de iniciativa privativa ou exclusiva do Presidente da República as matérias previstas no art. 61, § 1º, da CF, que, em geral, dizem respeito à organização do Poder Executivo e aos seus servidores. Destoa apenas a iniciativa relativa ao Ministério Público (alínea ‘d’), que deveria ser do Procurador-Geral da República(é concorrente). Já o Supremo Tribunal Federal tem iniciativa da lei complementar que dispõe sobre o estatuto da magistratura (art. 93, CF) e das leis de criação e extinção de cargos e fixação de remuneração de seus serviços auxiliares, bem como a sua proposta orçamentária (art. 99, § 2.º, I, CF). Os Tribunais Superiores tem iniciativa das leis de alteração do número dos membros dos tribunais inferiores; de criação e extinção de cargos e fixação de remuneração e subsídios de seus membros, dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver, dos seus serviços auxiliares e os dos juízes que lhes forem vinculados. No mais, a iniciativa é dos próprios parlamentares, além da iniciativa popular, que pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles (art. 61, § 2.º, CF). LO / LC (art. 61) EC (art. 60, I a III) Poder executivo Presidente da República¹ Presidente da República¹ MP (PGR) Presidente da República e Procurador-Geral da República (leis relacionadas ao MP) X Poder Legislativo Membro/Comissão Pelo menos 1/3 dos membros da CD ou SF. Poder Legislativo (Estadual) X + de 50% das Assembleias Legislativas, com proposta aprovada pela maioria relativa de seus membros. Poder Judiciário STF / Tribunais Superiores (relacionadas ao judiciário) X ‘Popular’ Cidadãos (1% do eleitorado nacional + distribuídos em 5 estados sendo no mínimo 3/10 dos eleitores de cada um desses estados).² X A usurpação de iniciativa gera inconstitucionalidade formal do projeto de lei, sendo insanável, mesmo que a iniciativa seja do Presidente da República e ele sancione a lei. Neste sentido, ADIn nº 1.391-2/SP. Desta forma, a Súmula nº 5 do STF (“A sanção do projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo”) foi superada pelo seu próprio entendimento. B) Fase Constitutiva: DELIBERAÇÃO OU VOTAÇÃO A deliberação ou votação é geralmente precedida de estudos e pareceres de comissões técnicas (permanentes ou especiais), como, p. ex., a Comissão de Constituição, Justiça e Redação, que realiza o controle prévio de constitucionalidade da proposta. O art. 58, § 2.º, I, da CF, ainda permite às comissões, em razão da matéria de sua competência, votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa. Tal forma de votação é denominada de DELEGAÇÃO INTERNA CORPORIS por Manoel Gonçalves Ferreira Filho, isto é, delegação do plenário para a comissão. Conforme a iniciativa, a discussão e votação dos projetos de lei iniciarão em uma ou outra Casa do Congresso Nacional. Regra: todos os projetos de lei (inclusive iniciativa popular) começam a tramitar pela Câmara, exceto os projetos de lei propostos por senadores, que iniciarão no Senado. Assim, a Câmara acaba funcionando como casa iniciadora predominantemente, sendo o Senado a casa revisora. Havendo emendas o projeto retorna à casa iniciadora para análise, de sorte que a casa iniciadora pode fazer prevalecer seu posicionamento, o que é criticado pela doutrina, que entende ser esse papel típico do Senado. Após a votação, sendo a propositura aprovada, será objeto de autógrafo, que é a consolidação do texto com as emendas. Depois de apresentado, o projeto é debatido (fase da discussão) nas comissões e nos plenários das Casas Legislativas. Podem ser formuladas emendas (proposições alternativas) aos projetos. EMENDAS A PROJETO DE LEI A apresentação de emendas é uma faculdade dos membros ou de órgãos das Casas Legislativas. Emendas são sugestões de modificação da matéria contida em projetos de ato normativo. Cumpre observar que não será ADMITIDA emenda parlamentar: que importe em aumento da despesa prevista nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, §§ 3.º e 4.º, da CF (matéria orçamentária), e nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público (art. 63, CF). no caso de delegação imprópria, que ocorre quando a lei delegada é submetida à votação pelo Parlamento (art. 68, § 3º). A emenda cabe ao parlamentar e, em alguns casos, sofre restrições. Uma delas, colhida na jurisprudência do STF, é a de que, nos projetos de iniciativa reservada do Chefe do Executivo, a emenda deve guardar pertinência o tema proposto, para prevenir fraude a essa mesma reserva. SANÇÃO OU VETO A SANÇÃO é a aquiescência do Presidente da República aos termos de um projeto de lei aprovado pelo Parlamento, podendo ser EXPRESSA (o Presidente expressamente manifesta a sua concordância com o texto no prazo de até quinze dias úteis) ou TÁCITA (decorrido o prazo de quinze dias úteis, o silêncio do Presidente da República importa em sanção, na forma do art. 66, § 3º, da CF). O Presidente da República participa do processo legislativo tanto quanto toma a iniciativa de provocar o Congresso Nacional a deliberar como também ao ser chamado para, terminada a votação, sancionar ou vetar ou projeto. A sanção pode ser expressa ou tácita (se o projeto não é vetado no prazo constitucional). O VETO é a manifestação expressa irretratável de discordância do chefe do Poder Executivo com o conteúdo (parcial ou total) do projeto de lei aprovado pelo Legislativo. De acordo com a EC 76/2013, o veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores (art. 66, § 4.º, CF), deixando de ser analisado em escrutínio secreto. Esgotado esse prazo sem deliberação, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final (art. 66, § 6.º, CF). Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República (art. 66, § 5.º, CF). O veto, que é irretratável, deve ser expresso e fundamentado na inconstitucionalidade do projeto (VETO JURÍDICO) ou na contrariedade ao interesse público (VETO POLÍTICO). O Presidente dispõe de 15 dias úteis para apor o veto, que pode ser total, quando abarca todo o projeto, ou parcial, desde que não recaia apenas sobre palavras ou conjunto de palavras de uma unidade normativa (a menor é a alínea). É possível a rejeição do veto, em sessão conjunta, pela maioria absoluta dos deputados e maioria absoluta dos senadores. NÃO HÁ VETO OU SANÇÃO: na emenda à Constituição, em decretos legislativos e em resoluções, nas leis delegadas e na lei resultante da conversão, sem alterações, de medida provisória. c) Fase Complementar: PROMULGAÇÃO E PUBLICAÇÃO DA LEI A PROMULGAÇÃOé um ato legislativo de comunicação, aos destinatários da lei, de que esta foi criada com determinado conteúdo. Atesta que a ordem jurídica foi inovada, declarando a existência da lei, que passará, a partir desse momento, a gerar efeitos. Desta forma, a lei nasce com a sanção ou com a rejeição do veto, mas seus efeitos somente se produzem a partir da promulgação (esse é o entendimento amplamente majoritário, embora há quem afirme ser a promulgação o ato que transforma o projeto em lei). Em regra, é o Presidente da República quem promulga a lei. Não sendo por ele promulgada dentro de 48 (quarenta e oito) horas, se for o caso de sanção tácita ou rejeição de veto, o Presidente do Senado Federal a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, o Vice-Presidente do Senado irá fazê-lo (art. 66, § 7.º, CF). A PUBLICAÇÃO é o mecanismo (instrumento) pelo qual se transmite a promulgação da lei (declaração solene de sua existência e de seu conteúdo) aos seus destinatários. Com a publicação no Diário Oficial, presume-se de conhecimento público a existência e o conteúdo da lei e, por consequência, seucumprimento obrigatório. A publicação é condição para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz. Segundo Pontes de Miranda, promulgação e publicação diferenciam-se pelos pressupostos e características. Quanto aos pressupostos, a promulgação refere-se à existência da lei e a publicação à eficácia; quanto às características, a promulgação refere-se à executoriedade e a publicação à obrigatoriedade. PROMULGAÇÃO PUBLICAÇÃO Existência da lei Eficácia Refere-se à executoriedade. Refere-se à obrigatoriedade. HIPÓTESES DE TRANCAMENTO DE PAUTA: O regime de urgência, que caracteriza esse procedimento sumário, não se aplica a projeto de código. MEDIDA PROVISÓRIA (artigo 62, § 6º): a partir do 45° dia após a publicação da MP. O prazo de 45 dias aqui é comum para ambas as casas legislativas. URGÊNCIA PRESIDENCIAL (artigo 64, § 2º): aqui é um prazo de 45 dias para Câmara e outro prazo de 45 dias para o Senado (o prazo total para tramitação dos processos em caráter de urgência é de 100 dias, levando em conta que além dos 45 dias fixado para cada casa, ainda é estabelecido o prazo de 10 dias para apreciação de emendas). VETO (artigo 66, § 6º): esgotado o prazo de 30 dias para apreciação do veto, ela acaba tendo precedência em relação às outras duas hipóteses de trancamento de pauta. Desrespeito à ordem cronológica para análise dos vetos: possibilidade. O Min. Teori Zavascki (MS 31816 AgR-MC/DF, 27/02/1013), cujo voto prevaleceu, afirmou que, em face da inércia parlamentar, caso houvesse a aplicação rígida dos §§ 4º e 6º do art. 66, com eficácia retroativa, isso significaria um caos para a atuação do Legislativo e causaria insegurança jurídica. Em razão disso, diante da singular gravidade do cenário fático e jurídico da situação em apreço, por maioria, o Plenário do STF deu provimento ao agravo regimental para revogar a medida liminar anteriormente concedida pelo Min. Luiz Fux, que determinou a observância da ordem cronológica dos vetos para que então se analisasse a nova lei de distribuição dos royaltes de petróleo. Como será feito o destrancamento da pauta quando ocorrer as 03 hipóteses? Depende, pode ser que seja um falso caso de trancamento. MP e URGÊNCIA PRESIDENCIAL SESSÃO SEPARADA CADA CASA VETO SESSÃO CONJUNTA MESA DO CONGRESSO Vota primeiro a MP, por força do §2º do artigo 64, CF. OBS: contudo, há quem defenda que o veto tem precedência até mesmo em relação à MP. Observe que o texto do art. 66, par. 6° foi dado pela EC 32/01, exatamente a Emenda que alterou todo o procedimento das MPs. Caso a intenção da Emenda fosse priorizar absolutamente a apreciação das MPs, bastaria ter dito isto expressamente. Mas a Emenda assim não o fez. QUESTÕES POLÍTICAS E ATIVISMO JUDICIAL: Quanto a questões políticas, não se reconhece indenidade aos atos ou decisões políticas se elas afetam ou ameaçam direitos individuais. Essa é orientação pacífica do Supremo Tribunal Federal desde os primórdios da Republica. A doutrina das questões políticas chegou ao Supremo Tribunal com o famoso e polêmico julgamento do HC 300, impetrado por Rui Barbosa em 1892, em que o jurista se amparou na doutrina norte-americana da political questions, criada por influência da decisão do Justice Marshall no caso Marbury vs Madison. Apesar da derrota naquele julgamento, os ensinamentos de Rui Barbosa influenciaram decisivamente a formulação do art. 141, §4°, da Constituição de 1946, precedente remoto do atual art. 5º, XXXV, da CRFB/88. Alternando momentos de maior e menor ativismo judicial, o STF, ao longo de sua história, tem entendido que a discricionariedade das medidas políticas não impede o seu controle judicial, desde que haja violação a direitos assegurados pela Constituição. Nesse sentido, a Corte admite o exame jurisdicional de atos de CPI sempre que, de seu eventual exercício abusivo, derivarem injustas lesões ao regime de liberdades públicas. Em igual linha, é reconhecida a sindicabilidade judicial dos atos da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, quando, em processo disciplinar e de cassação de parlamentar, não se observam as garantias da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. Quanto ao tema das medidas provisórias, por outro lado, o Tribunal tem admitido o controle judicial dos pressupostos de relevância e urgência apenas nos casos em que esteja objetivamente evidenciado patente excesso de poder por parte do Executivo. Igualmente, a Corte evita, em regra, interferir na competência do Congresso para conceder anistia a seus próprios membros, dada a natureza interna corporis da matéria, sujeita à avaliação política do Parlamento. PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS. Segundo Portela, “o direito internacional não vincula apenas no âmbito internacional, regulando somente as relações entre Estados e organizações internacionais, mas também obriga no âmbito interno dos entes estatais. A execução das normas internacionais é facilitada a partir de sua incorporação ao Direito interno, também conhecida como “internalização”, que é o processo pelo qual os tratados passam a também fazer parte do ordenamento jurídico nacional dos entes estatais”. A jurisprudência reconhece que o procedimento de internalização do tratado no Brasil é complexo, como evidencia a seguinte ementa: “o exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do CN, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe – enquanto Chefe de Estado que é da competência para promulgá-los mediante decreto” (ADI-MC 1480/DF, rel. Min. Celso de Mello, 18.05.01)”. Assim, “o primeiro passo após a assinatura do tratado é a preparação de uma Exposição de Motivos, dirigida ao PR pelo MRE (Ministro das Relações Exteriores), dando ciência da assinatura do ato internacional e pedindo o encaminhamento do acordo ao CN, para fins de providenciar sua eventual ratificação. No CN, o tratado será examinado na CD e, em seguida, no SF. A discussão da matéria envolverá as comissões competentes das duas Casas e votação no plenário de cada uma delas, em turno único, devendo sua aprovação seguir os termos do art. 47 da CF”. Ou, ainda, ser aprovado por 3/5, em dois turnos, se seguir o rito do art. 5⁰, §3⁰, da CF, nos tratados de direitos humanos. “Aprovado o acordo, o Presidente do Senado emitirá um Decreto Legislativo, que aqui consiste em mero instrumento de encaminhamento do tratado ao PR, a quem cabe decidir sobre a ratificação. Nesta hipótese (aprovação), o DL não tem o efeito de ordenar (ao PR) o cumprimento do tratado. Caso o CN não aprove o ato internacional, o PR fica impossibilitado de ratificá-lo, sob pena de violação ao livre exercício do Poder Legislativo (CF, art. 85, II). Por fim, quando o tratado entrar em vigor no âmbito internacional, o PR pode concluir o processo de incorporação por meio da promulgação, ato pelo qual ordena a publicação do acordo e sua execução em território nacional. A promulgação é feita por meio de Decreto, publicado no DOU”. Por último, “quanto à hierarquia, os tratados de direitos humanos internalizados antes da vigência da EC 45/04, sem o quórum qualificado do CN de 3/5, em dois turnos de votação, consoante entendimento do STF (RE 466.343), têm status supralegal, estando abaixo da égide Constitucional e acima da lei infraconstitucional. Os tratados de direitos humanos internalizados após a EC 45/04 e sob o rito qualificado do art. 5⁰, §3⁰, da CF, têm equivalência à norma constitucional em sentido formal e material”. Por sua vez, tratando-se de acordo internacional cuja matéria seja diversa do tema “direitoshumanos”, sua hierarquia, após internalização ao ordenamento pátrio, terá status de lei ordinária. Já que “o Excelso Pretório tem adotado o sistema paritário ou monismo moderado, segundo o qual tratados e convenções internacionais têm status de lei ordinária (STF –ADI 1.480-3/DF e ADI 1.347/DF, ambas relatadas pelo Min. Celso de Mello)”. ORÇAMENTO. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA. O TRIBUNAL DE CONTAS. NATUREZA E ATRIBUIÇÕES. ORÇAMENTO Princípios Orçamentários Alguns princípios orçamentários estão previstos na Lei n. 4.320/64: “Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Govêrno, obedecidos osprincípios de unidade, universalidade e anualidade.” A) Princípio da Unidade A peça orçamentária deve ser única contendo todos os gastos e todas as receitas. Reflete a necessidade de harmonia entre as várias peças orçamentárias. Hoje não mais é possível ter o orçamento como um documento único. Atualmente existem 3 peças orçamentárias. A ideia do princípio da unidade não é que exista uma única peça, o que se exige é que as várias peças tenham harmonia entre si. Um dos objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal é garantir essa harmonia. B) Princípio da Universalidade Todas as receitas e despesas devem estar previstas na lei orçamentária, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei (Lei 4.320/64, art. 3º) Súmula 66 STF - pelo princípio da universalidade toda e qualquer receita ou despesa deve constar no orçamento, ainda que o orçamento não tenha previsto determinado tributo, este poderá ser normalmente arrecadado se cumprida a legislação tributária. EXCEÇÕES: 1) As receitas e despesas operacionais (correntes) das empresas públicas e sociedades de empresas públicas consideradas estatais independentes. 2) ARO – Operações de crédito por antecipação de receita. 3) Emissões de papel moeda; 4) Outras entradas compensatórias no ativo e no passivo financeiro(cauções, depósitos, consignações etc). C) Princípio da Anualidade Determina que o orçamento seja atualizado a cada ano, ou seja, que para cada ano haja um orçamento. Representa a necessidade da existência de uma periodicidade na vigência das leis orçamentárias. Enuncia a Súmula 66 STF que :“É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro.” Com esse entendimento firmado pelo STF, é possível concluir que, no Brasil, não vigora o princípio da anualidade tributária, em que o Tributo, para ser cobrado, além de atender às regras da legislação tributária, deveria a cada ano, estar previsto no orçamento, sob pena de não ser exigido. D) Princípio da Proibição do Estorno de Verbas Impossibilidade de transpor, remanejar ou transferir recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro sem autorização legislativa prévia. Disposição constitucional: art. 167, VI. Também está vedada a utilização, sem autorização legislativa específica, dos recursos do orçamento fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações ou fundos (CF, art. 167, VIII). Antes o Chefe do Executivo tinha o poder de unilateralmente remanejar e transpor dotações. Hoje, isso só é possível mediante autorização legislativa. E) Princípio da Não Afetação de Receitas de Impostos: Vedação à vinculação da receita proveniente dos impostos a órgão, fundo ou despesa. Disposições constitucionais: art. 167, IV e § 4º. Exceções: 1) repartição das receitas tributárias (arts. 158 e 159, CF); 2) destinação de recursos para a saúde, devendo ser regulado por LC, ainda não elaborada, de modo que é regido pelo art. 77 do ADCT, que afirma: U índice resultante de operação de atualização da aplicação do ano anterior; E e DF 12%; e M 15% (art. 198, § 2º, CF); 3) destinação de recursos para a educação, sendo U 18%, E, DF e M 25% (art. 212, CF); 4) realização de atividades da administração tributária (art. 37, XXII, CF); 5) prestação de garantias em relação às operações de crédito por antecipação de receitas (art. 165, § 8º; art. 167, § 4º, CF) 6) fundo de combate e erradicação da pobreza; Um fundo especial pode ser criado por lei ordinária, mas, neste caso, não poderia haver qualquer vinculação de receita de impostos, sob pena de afrontar o art. 167, IV, da CF. Para evitar tal situação, o Governo Federal tem utilizado o artifício jurídico da criação de fundos por meio de EC. 7) vinculação de até 0,5 % da receita tributária líquida dos estados e DF para programa de apoio à inclusão e promoção social (Art. 204, Constituição). É vedada a utilização desses recursos para pagamento de: (a)despesa com pessoal e encargos sociais; (b)serviço da dívida; (c)qualquer outro investimento não vinculado diretamente aos investimentos ou ações apoiadas. 8) vinculação de até 0,5 % da receita tributária líquida dos estados e DF para fundos destinados para o financiamento de programas culturais. (Art. 216, Constituição, com as mesmas vedações vistas acima). DRU – Desvinculação das Receitas da União - com objetivo de livrar-se parcialmente das vinculações obrigatórias, a reforma tributária (EC 42) prorrogou os efeitos da EC 27. Desvinculação de órgão, fundo ou despesa de 20 % da arrecadação de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico, incluindo seus adicionais e acréscimos. Os cálculos das transferências tributárias constitucionais estão livres da subtração de 20%, não sendo, pois, afetadas pelos efeitos da DRU. No caso dos valores vinculados ao ensino, a EC 59/09 trouxe determinação para reduzir progressivamente essa porcentagem. Determina o novo dispositivo que a desvinculação, em 2009, será de 12,5%, em 2010, 5% e em 2011, nula. Ou seja, do valor vinculado da União para o ensino (18%), que com o surgimento da DRU sofria uma redução de 20%, sofrerá redução nos termos trazidos pela EC 59/09. Ocorre que em dezembro de 2011 foi promulgada a EC 68 que prorrogou a DRU para até 2015, in verbis: ADCT "Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2015, 20% (vinte por cento) da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico, já instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais. § 1º O disposto no caput não reduzirá a base de cálculo das transferências a Estados, Distrito Federal e Municípios, na forma do § 5º do art. 153, do inciso I do art. 157, dos incisos I e II do art. 158 e das alíneas a, b e d do inciso I e do inciso II do art. 159 da Constituição Federal, nem a base de cálculo das destinações a que se refere a alínea c do inciso I do art. 159 da Constituição Federal. § 2º Excetua-se da desvinculação de que trata o caput a arrecadação da contribuição social do salário-educação a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal. § 3º Para efeito do cálculo dos recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, o percentual referido no caput será nulo."(NR) Por meio da PEC 87/2015, ja aprovada no Senado e Câmara, pendente apenas a promulgação (01/09/2016), aumentou-se o percentual de 20% para 30%, e ampliou-se o prazo da desvinculação até 12/2023. NOVO TEXTO: “Art. 76. São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2023, trinta por cento da arrecadação da União relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribuições de intervenção no domínio econômico, às taxas e à participação no resultado da exploração de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais, já instituídas ou que vierem a ser criadas até a referida data, e às destinações a que se refere a alínea “c” do inciso I do caput do art. 159 da Constituição. Parágrafoúnico. Excetuam-se da desvinculação de que trata o caput a arrecadação da contribuição social do salário-educação a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição, a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural e as transferências aos Estados, Distrito Federal e Municípios previstas no § 1º do art. 20 da Constituição.” F) Princípio da Exclusividade: Determinação de que as leis orçamentárias contenham apenas fixação de despesas e previsão da receita. Como regra, a lei orçamentária não conterá dispositivo estranho à previsão de receita e à fixação da despesa. Exceções: é possível que a lei orçamentária preveja, além de despesas e receitas: autorização para abertura de crédito suplementar; autorização para contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita. G) Princípio da Publicidade: Necessidade de se dar publicidade à execução orçamentária.As leis orçamentárias devem ser publicadas e divulgadas de forma clara e precisa, possibilitando o controle social da Administração Pública.O Poder executivo deverá publicar relatório resumido da execução orçamentária até o 30º dia após o encerramento de cada bimestre. (CF, art. 165, § 3º) Os cidadãos devem tomar conhecimento de todas as etapas que antecedem e sucedem a aplicação desses recursos. A transparência é um princípio decorrente do princípio republicano. Sobre o tema, a Lei Complementar 101/00 assim define: Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. É o que também determina Lei Complementar 101/00. H) Princípio da Especialização, Especificação ou Discriminação: As receitas e as despesas devem aparecer no orçamento de maneira discriminada, de tal forma que se possa saber, pormenorizadamente, a origem dos recursos e sua aplicação. A lei orçamentária não poderá consignar dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, de material, de serviços de terceiro, transferências etc. Nesse sentido, é a Lei n. 4.320/64: Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. Exceções: a) reserva de contingência: dotação global, genérica, colocada na Lei Orçamentária, destinada a atender passivos contingentes e outras despesas imprevistas; b) programas especiais de trabalho: possibilidade do custeio por dotação global no caso dos programas que por sua natureza não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa (Lei n. 4.320/64, art. 20). G) Princípio do Orçamento Bruto Todas as receitas e despesas constarão da Lei Orçamentária pelos seus totais, seus valores brutos, vedadas quaisquer deduções. Alguns autores assinalam como inserido no princípio da universalidade. Ex.: parte do IPI e do IR arrecadado pela União, por determinação constitucional, deve ser transferido para os Estados e Municípios. Não poderá a União colocar a previsão dos valores líquidos (já descontadas as transferências) desses impostos. Deverá colocar a estimativa integral do valor recebido (receita) e a parte que constitucionalmente se destina a Estados e Municípios (despesa). 3.3.1 FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA. TRIBUNAL DE CONTAS. Fiscalização Financeira e Orçamentária A Constituição Federal disciplina, nos artigos 70 a 75, a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, com auxílio do Tribunal de Contas da União e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Determina, no último dispositivo, que essas normas se aplicam, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. O controle externo será feito pelo Poder Legislativo com o auxílio dos tribunais de contas. Da análise dos referidos dispositivos, é possível enxergar a fiscalização contábil, financeira e orçamentária sob três ângulos: 1. QUANTO À ATIVIDADE CONTROLADA, a fiscalização abrange os aspectos contábil, financeiro, orçamentário, operacional e a patrimonial, o que permite a verificação da contabilidade, das receitas e despesas, da execução do orçamento, dos resultados, dos acréscimos e das diminuições patrimoniais; 2. QUANTO AOS ASPECTOS: abrange o controle de legalidade dos atos; de legitimidade (exame de mérito a fim de verificar se, além de legal, a despesa é legítima, tal como a atender a ordem de prioridade estabelecida no plano plurianual); economicidade (a Administração Pública deve realizar as despesas da forma mais econômica possível ao erário); fidelidade funcional dos agentes da administração responsáveis por bens e valores públicos; cumprimento de programas e metas. 3. QUANTO ÀS PESSOAS CONTROLADAS: abrange União, Estados, Municípios, Distrito Federal e entidades da Administração Direta e Indireta, bem como qualquer pessoa física ou entidade pública, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. OAB: O STF, na ADIN - Ação Direta de Inconstitucionalidade - nº 3.026/DF, estabeleceu o entendimento no sentido de que a OAB é uma entidade sui generis, não se enquadrando como mera autarquia, não se tratando de mero conselho de classe de sorte que, por esse motivo, não estaria submetida à fiscalização pelo Tribunal de Contas. Tribunal De Contas. Natureza e Atribuições O controle externo foi consideravelmente ampliado na atual Constituição, encontrando-se a cargo do Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas. Maioria da doutrina afirma que se trata de uma função típica do Poder Legislativo. Lucas Rocha Furtado entende que não se reconhece às decisões do TCU natureza judicial, pois não integra o Poder Judiciário e pelo fato de que as decisões proferidas pelos Tribunais de Contas se regem por normas de Direito Administrativo e Constitucional, e não Processual. Não se pode deixar de reconhecer, ainda, que as decisões dos Tribunais de Contas não são imutáveis, não gerando coisa julgada, visto que podem ser desconstituídas pelo Poder Judiciário. O Ministro Sepúlveda Pertence no MS 24544 chegou a reconhecer que as decisões dos Tribunais de Contas, não obstante tenham natureza administrativa, estão em patamar superior aos meros atos administrativos, possuindo o que denominou de “colorido quase jurisdicional”. Essa informação não conflita com a Súmula nº 347 – STF (“O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público”), visto que o Legislativo também pode realizar controle de constitucionalidade. Atribuições: Opinativa ou consultiva: elaboração de parecer prévio às contas anuais do Presidente da República; responder à consulta formulada por autoridade competente sobre matérias de sua competência (Lei orgânica do TCU, art. 1, XVII). Fiscalizadora: realizar, por iniciativa própria ou do Legislativo, ou de comissão técnica ou inquérito, auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonialnos órgãos e entes do Poder Público; fiscalizar contas nacionais de empresas supranacionais que tenha capital da União; fiscalizar os recursos repassados por meio de convênio; acompanhar a arrecadação da receita a cargo da União e da adm. Indireta, mediante inspeção e auditoria ou por meio de demonstrativos próprios; efetuar o cálculo das quotas dos fundos de participação (art. 161 CF); decidir sobre denúncia em matéria de licitação e contratos administrativos; acompanhar a evolução patrimonial dos agentes públicos (Lei 8.730/93); acompanhar o cumprimento da LRF; regulamentar e fiscalizar a divisão dos recursos da CIDE. De Julgamento de Contas: julgar as contas dos administradores e de todos aqueles responsáveis por recursos públicos, da Adm. Direta e Indireta e contas de quem der causa a prejuízo ao erário. Observação: As empresas públicas e as sociedades de economia mista, entidades integrantes da Administração Indireta, estão sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas, não obstante seus bens estarem sujeitos ao regime de direito privado e a aplicação do regime celetista aos seus funcionários" ( MS 26117/DF- Distrito Federal). De Registro: aprecia a legalidade da admissão de pessoal da Adm. Direta e Indireta, salvo cargo em comissão. Aprecia a concessão de aposentadoria, reformas e pensões, salvo melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório. Sancionadora: Aplica multa em caso de ilegalidade de despesa; declara a inabilitação (05 a 08 anos) para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança em casos graves; declara a inidoneidade do licitante por até cinco anos. Corretiva: (IMPORTANTE) – fixa prazo para que o órgão ou ente corrija ilegalidades; susta, se não atendida a ordem anterior, o ATO IMPUGNADO, comunicando à Câmara e Senado; pode, ainda, adotar todas as medidas necessárias às correção das irregularidades em contratos, caso o Congresso ou o Executivo não o façam, inclusive determinando a anulação da avença. As sanções do TCU podem gerar sanções de natureza civil e administrativa (ex: declaração de inidoneidade). Todavia, mesmo que o agente tenha praticado falta funcional, na forma da Lei n. 8.112, o TCU não tem o condão de impor sanção disciplinar. PROCESSOS DE CONTAS: Modalidades de Contas: A) contas anuais (ordinárias): I - contas de governo: a prestação está nos arts. 49, IX e 71, I da CF. TCU elabora parecer prévio, cabendo ao CN julgar as contas. Leva em conta aspectos gerais relacionados à execução dos orçamentos públicos federais, notadamente a compatibilidade com a LRF. Verifica aspectos macroeconômicos. Sistemática restrita ao Chefe do Poder Executivo. No caso dos demais Poderes, o TCU realiza o próprio julgamento:I. O art. 75, da Constituição Federal, ao incluir as normas federais relativas à "fiscalização" nas que se aplicariam aos Tribunais de Contas dos Estados, entre essas compreendeu as atinentes às competências institucionais do TCU, nas quais é clara a distinção entre a do art. 71, I - de apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas do Chefe do Poder Executivo, a serem julgadas pelo Legislativo - e a do art. 71, II - de julgar as contas dos demais administradores e responsáveis, entre eles, os dos órgãos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. (ADI 849, Min. Sepúlveda Pertence, 11/02/1999) II - contas de gestão: definidas no art. 71, II da CF. Devem expressar a legalidade, legitimidade e a economicidade dos atos administrativos que compreendem a gestão do administrador (Lucas Rocha Furtado. Curso de Direito Administrativo). Verificam-se os atos dos ordenadores de despesas das diversas unidades administrativas. B) contas especiais: decorre da omissão em prestar contas, não comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União, desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos, ou, ainda, prática de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico, de que resulte dano ao erário. JULGAMENTO DAS CONTAS As contas podem ser julgadas das seguintes formas: a) regulares: exatidão contábil e de acordo com a legalidade e economicidade dos atos de gestão; b) regulares com ressalvas: quando evidenciarem impropriedade ou falta de natureza formal de que não resulte dano ao erário; determina-se a correção das irregularidades como forma de prevenir futuras falhas c) irregulares. Tribunal condena ao pagamento da dívida, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora devidos, podendo, ainda, aplicar multa. A decisão é título executivo extrajudicial. IMPORTANTE:O STF tem posicionamento no sentido de que o Tribunal de Contas ou o Ministério Público que nele atua não tem legitimidade para executar suas decisões: Recurso extraordinário com agravo. Repercussão geral da questão constitucional reconhecida. Reafirmação de jurisprudência. 2. Direito Constitucional e Direito Processual Civil. Execução das decisões de condenação patrimonial proferidas pelos Tribunais de Contas. Legitimidade para propositura da ação executiva pelo ente público beneficiário. 3. Ilegitimidade ativa do Ministério Público, atuante ou não junto às Cortes de Contas, seja federal, seja estadual. Recurso não provido. (ARE 823347 RG/MA, Min. Gilmar Mendes, 02/10/2014) Há outra repercussão geral reconhecida relativa à matéria, até a presente data (dez/2015) não julgada: LEGITIMIDADE – EXECUÇÃO DE MULTA APLICADA PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO – DANOS AO ERÁRIO MUNICIPAL – MATÉRIA CONSTITUCIONAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL VERIFICADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da legitimidade para promover a execução de multa aplicada pelo Tribunal de Contas estadual a agente político, por danos causados ao erário municipal – se do estado ou do município no qual ocorrida a irregularidade. (ARE 641896 RG/RJ, Min. Marco Aurélio, 11/04/2013) Não basta a legalidade (MAS A LEGALIDADE É O PONTO DE PARTIDA), o administrador deve agir de forma legítima e econômica. No parágrafo único estão previstos aqueles que irão prestar contas: qualquer pessoa que tocar em dinheiro público deve ser responsabilizada. MS 27339/DF: MP DO TRIBUNAL DE CONTAS - o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas possui fisionomia institucional própria, que não se confunde com a do Ministério Público comum, sejam os dos Estados, seja o da União, o que impede a atuação, ainda que transitória, de Procuradores de Justiça nos Tribunais de Contas. Informativo 408 STF - TCU: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. O Tribunal de Contas da União, por força do disposto no art. 71, II, da CF, tem competência para proceder à tomada de contas especial de administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos das entidades integrantes da administração indireta, não importando se prestadoras de serviço público ou exploradoras de atividade econômica. Súmula Vinculante 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Aposentaria. Ato complexo. Controle pelo Tribunal de Contas. Segurança Jurídica. Na linha da recente jurisprudência desta Corte (STF), exige-se a observância do contraditório e da ampla defesa nos processos de registro de aposentadoria quando decorre mais de cinco anos entre a data de ingresso do processo administrativo no Tribunal de Contas da União e a efetiva apreciação do registro de aposentadoria. (...) MS 27.682 AgR, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em 17.4.2012, DJe de 15.6.2012. Ponto 4: Poder Executivo. Evolução do conceito. Atribuições e responsabilidade do Presidente da República. Poder regulamentar, poder regulador e agências administrativas. Do Conselho da República. Do Conselho de Defesa Nacional. Sumário 4.1 PODER EXECUTIVO. EVOLUÇÃO DO CONCEITO 4.1.1 FUNÇÃO EXECUTIVA 4.1.2 Poder Executivo4.1.3 Evolução dos sistemas no Brasil: 4.2 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO FEDERAL 4.2.1 Condições de elegibilidade: 4.2.2 Processo eleitoral: 4.2.3 Impedimentos e vacâncias dos cargos: 4.2.4 Ministros de Estado: 4.3 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO ESTADUAL 4.4 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO DISTRITAL 4.5 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO MUNICIPAL 4.6 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO DOS TERRITÓRIOS FEDERAIS 4.7 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA 4.7.1 ATRIBUIÇÕES: 4.7.2 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA 4.8 PODER REGULAMENTAR, PODER REGULADOR E AS AGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS. 4.8.1 PODER REGULAMENTAR 4.8.2 PODER REGULADOR 4.9 AGÊNCIAS REGULADORAS: 4.9.1 Natureza Jurídica 4.9.2 Poder Normativo 4.9.3 AGÊNCIAS REGULADORAS BRASILEIRAS 4.10 DO CONSELHO DA REPÚBLICA. DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL 4.10.1 O CONSELHO DA REPÚBLICA (art. 89, da CF) 4.10.2 O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL (art. 91) PODER EXECUTIVO. EVOLUÇÃO DO CONCEITO. 4.1.1 FUNÇÃO EXECUTIVA (Poder Executivo) Evolução da teoria da separação dos Poderes: Aristóteles e as tripartição dos Poderes: As primeiras bases teóricas para a “tripartição de Poderes” foram lançadas na Antiguidade grega por Aristóteles, em sua obra Política, em que o pensador vislumbrava a existência de três funções distintas exercidas pelo poder soberano, quais sejam, a função de editar normas gerais a serem observadas por todos, a de aplicar as referidas normas ao caso concreto (administrando) e a função de julgamento, dirimindo os conflitos oriundos da execução das normas gerais nos casos concreto. Acontece que Aristóteles, em decorrência do momento histórico de sua teorização, descrevia a concentração do exercício de tais funções na figura de uma única pessoa, o soberano (reflete tal descrição: “L’État c’est moi”, ou seja, “o Estado sou eu”, o soberano). Dessa forma, Aristóteles contribuiu no sentido de identificar o exercício de três funções estatais distintas, apesar de exercidas por um único órgão Montesquieu e a separação dos poderes, independentes e autônomos: O grande avanço trazido por Montesquieu não foi a identificação do exercício de três funções estatais. De fato, partindo desse pressuposto aristotélico, o grande pensador francês inovou dizendo que tais funções estariam intimamente conectadas a três órgãos distintos, autônomos e independentes entre si. Cada função corresponderia a um órgão, não mais se concentrando nas mãos únicas do soberano. Essa teoria surge em contraposição ao absolutismo, servindo de base estrutural para o desenvolvimento de diversos movimentos, como as revoluções americana e francesa, caracterizando-se, na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, em seu art. 16, como verdadeiro dogma constitucional. De acordo com essa teoria, cada Poder exercia uma função típica, inerente à sua natureza, atuando independente e autonomamente, não mais sendo permitido a um único órgão legislar, aplicar a lei e julgar, de modo unilateral, como se percebia no absolutismo Freios e contrapesos: O Estado que estabelece a separação dos poderes evita o despotismo e assume feições liberais. Do ponto de vista teórico, isso significa que na base da separação dos poderes encontra-se a tese da existência de nexo causal entre a divisão do poder e a liberdade individual. A separação dos poderes persegue esse objetivo de duas maneiras. Primeiro, impondo a colaboração e o consenso de várias autoridades estatais na tomada de decisões. Segundo, estabelecendo mecanismos de fiscalização e responsabilização recíproca dos poderes estatais, conforme o desenho institucional dos freios e contrapesos”. STF: A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os excessos dos órgãos que compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das liberdades do cidadão e constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias proclamados pela Constituição. Esse princípio, que tem assento no art. 2.º da Carta Política, não pode constituir e nem qualificar-se como um inaceitável manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder Público ou de qualquer instituição estatal. [...] O sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o princípio da limitação de poderes, teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a formação de instâncias hegemônicas de poder no âmbito do Estado, em ordem a neutralizar, no plano político-jurídico, a possibilidade de dominação institucional de qualquer dos Poderes da República sobre os demais órgãos da soberania nacional” (MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16.09.1999, Plenário, DJ de 12.05.2000) 4.1.2 Poder Executivo Executivo é o poder responsável pela função administrativa do Estado. Exercendo funções típicas, o órgão executivo pratica atos de chefia de Estado (manter relações com Estados estrangeiros), chefia de governo (vetar projeto de lei) e atos da administração (nomear o AGU). Atipicamente, o Executivo legisla, por exemplo, via medida provisória (art. 62, CF) e julga, no “contencioso administrativo, exercido em caso de defesa de multa de trânsito, do IPEM, da SEMAB, TIT, etc. Obs.: A edição de Medida provisória representa exercício de função atípica por parte do Presidente da República, mas a edição de lei delegada é uma exceção ao princípio da indelegabilidade e não exercício de função atípica. A doutrina aduz que a expressão “Poder Executivo” tem significado variado, nela se confundindo o Poder e o governo. Ora ela exprime função ou atribuição de um Poder (art. 2º da CF), ora o órgão (cargo e ocupante, a teor do art. 76, da CF). Gilmar Mendes aduz que as diversas funções desempenhadas pelo Executivo levaram Konrad Hesse anotar que “a expressão Poder Executivo acabou por transformar-se numa referência geral daquilo que não está compreendido na atividade do Poder Legislativo e Judiciário”. Espécies de Executivo Como anota José Afonso da Silva “Maurice Duverge mostra que o Executivo reveste na prática formas as mais diversas, encontrando-se: Executivo Monocrático – Rei, Imperador, Ditador, Presidente; Executivo Colegial – exercido por dois homens com poderes iguais, como os cônsules romanos; Executivo Diretorial – grupo de homes em comitê, com era na Ex-URSS e ainda é na Suíça; Executivo Dual – próprio do parlamentarismo, um Chefe de Estado e um Conselho de Ministros, ou seja, um indivíduo isolado e um comitê. O art. 76 da CF/88 consagra a figura, segundo Duverger, de um executivo monocrático, na medida em que as funções de Chefe de Estado e de Governo são exercidas por um só indivíduo, no caso o Presidente da República, auxiliado pelos Ministros. Diferenças entre presidencialismo e parlamentarismo Presidencialismo: uma única autoridade exerce as funções de chefe de Estado e chefe de Governo. Chefe de Governo: o Presidente da República é chefe de Governo, na medida em que exerce a chefia superior da Administração Pública (máquina administrativa); Chefe de Estado: representa o país internacionalmente. Características do presidencialismo: - ser um sistema de governo surgido com o modelo clássico da separação de Poderes apontado por Montesquieu; - consagrar a unipessoalidade na Chefia do Estado e na Chefia de Governo. O Presidente da República, como chefe de Estado, representa o país nas suas relações internacionais, bem como corporifica a unidade interna do Estado. Como chefe de Governo, a função presidencial corresponde à representação interna, na gerência dos negócios internos, tanto de natureza política (participação no processo legislativo), como de natureza eminentemente administrativa. Assim, o Chefe de Governo exercerá a liderança da política nacional, pela orientação das decisões gerais e pela direção da máquina administrativa; - garantir a independência entre Executivo e Legislativo. No presidencialismo, o Poder Executivo concentra-se na pessoa do Presidente, que o exerce, em regra, sem responsabilidadepolítica perante o Poder Legislativo, que somente poderá ser julgado por crimes de responsabilidade em casos extremados como o impeachment. A irresponsabilidade política do Chefe do Executivo engloba seu ministério, por ele demissível ad nutum, sem nenhuma dependência ou vinculação política com o Congresso; pois, na implantação da Separação de Poderes pelos Estados Unidos da América, os poderes são iguais e visam a um relacionamento harmônico, não podendo nenhum deles atentar contra a existência, independência ou funcionamento dos demais. Assim, o Presidente da República não possui o poder de dissolver o Congresso Nacional, e tampouco o Poder Legislativo pode demitir o Chefe do Executivo ou influir na escolha de seus auxiliares diretos (Ministros, Secretários); - prever a derivação dos poderes presidenciais diretamente do povo, em virtude seja – em regra – por eleições diretas, seja – excepcionalmente – por eleições indiretas, como ocorre nos Estados Unidos da América, desde o início do presidencialismo; - poder responsabilizar o Presidente da República, penal e politicamente, por crime de responsabilidade. Parlamentarismo: é produto de uma longa evolução histórica, passando a adquirir os contornos atuais no final do século XIX, recebendo forte influência inglesa. O Primeiro-Ministro, que é quem exerce, de fato, a função de Chefe de Governo, é apontado pelo Chefe de Estado, só se tornando Primeiro-Ministro com a aprovação do Parlamento. Também, o Primeiro-Ministo não exerce mandato por prazo determinado, pois poderá ocorrer a queda do governo por dois motivos: a perda da maioria parlamentar pelo partido a que pertence ou através do voto de desconfiança, possibilidade de dissolução do Parlamento, declarando-se extinto os mandatos pelo Chefe de Estado e convocando-se novas eleições. O Parlamentarismo pode ser classificado em duas espécies: Parlamentarismo monárquico constitucional: o rei é chefe de Estado e o 1º Ministro é chefe de Governo. Ex.: Espanha. Parlamentarismo republicano: o Presidente exerce a função de chefe de Estado e o 1º Ministro exerce a função de chefe de Governo. Ex.: Itália, França, Israel, etc. 4.1.3 Evolução dos sistemas no Brasil: Nossa tradição presidencialista iniciou-se com a primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil, promulgada em 24 de fevereiro de 1891 (“art. 41. Exerce o Poder Executivo o Presidente da República dos Estados Unidos do Brazil, como chefe electivo da nação”), e manteve-se nas constituições seguintes, de 16 de julho de 1934 (“art. 51. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República”), de 10 de novembro de 1937 (“art. 73. O Presidente da República, autoridade suprema do Estado, coordena a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional, e superintende a administração do país”), de 18 de setembro de 1946 (“art. 78. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República”), de 24 de janeiro de 1967 (“art. 74. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado”), inclusive com a redação dada pela EC no 01, de 17 de outubro de 1969 (“art. 73. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República auxiliado pelos Ministros de Estado”); e, finalmente, pela atual Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988 (“art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República auxiliado pelos Ministros de Estado”). A história do Presidencialismo inicia-se com a Constituição norte-americana de 1787,2 a análise de suas características, bem como do desenvolvimento de seus institutos, e vem sendo realizada desde os escritos de Jay, Madison e Hamilton, nos artigos federalistas, publicados sob o codinome Publius, durante os anos de 1787-1788, até os dias de hoje, e mostra que se trata de um regime de governo baseado principal e quase unicamente em uma figura central – o Presidente da República. 4.2 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO FEDERAL Estabelece o art. 76, é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. 4.2.1 Condições de elegibilidade: As condições de elegibilidade definidas pela Constituição de 1988 para o cargo de Presidente e Vice-Presidente da República são: - ser brasileiro nato (art. 12, § 3º, I); - estar no pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, § 3º, II); - alistamento eleitoral (art. 14, § 3º, III); - domicílio eleitoral na circunscrição (art. 14, § 3º, IV); - filiação partidária (arts. 14, § 3º, V, e 77, § 2.º); - idade mínima de 35 anos (art. 14, § 3º, VI, "a"); - não ser inalistável nem analfabeto (art. 14, § 4º); - não ser inelegível nos termos do art. 14, § 7º. 4.2.2 Processo eleitoral: As regras para eleição do Presidente e Vice-Presidente da República estão previstas no art. 77 da CF/88. A eleição de Presidente e Vice se dá pelo sistema eleitoral majoritário, pelo qual, valoriza-se o candidato registrado por partido político. O candidato que tiver o maior número de votos registrados será eleito. Existem 2 espécies de sistemas majoritários: absoluto (=com 2º turno de votação): a CF exige, para que o candidato seja eleito, que ele atinja, no mínimo, a maioria absoluta dos votos válidos. Se, no 1º turno, nenhum dos candidatos atingir essa maioria, teremos, necessariamente, 2º turno de votação. São eleitos pelo sistema majoritário absoluto: Presidente, Governador, Prefeito de Municípios com mais de 200.000 eleitores. simples: a CF se contenta com qualquer maioria. Será eleito o candidato mais votado, independentemente do percentual de votos. São eleitos pelo sistema majoritário simples: Prefeito de Municípios com menos de 200.000 eleitores e Senador. Data da eleição: primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. (art. 77, caput com redação determinada pela EC nº16/97). Havendo necessidade de segundo turno, se antes de realizado ocorrer morte, desistência ou impedimento legal do candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. Nessa última hipótese, havendo empate em segundo lugar, o desempate será empreendido levando-se em consideração a idade, sendo chamado o mais idoso (art. 77, §§ 3º e 4º). Posse e mandato: O Presidente da República juntamente com o Vice-Presidente tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integralidade e a independência do Brasil (art. 78) O mandato do Presidente é de 4 anos, tendo início em 1º de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição (art.82). É permitida a reeleição para um único período subsequente (art. 14, §5º com redação determinada pela EC nº 16/97). 4.2.3 Impedimentos e vacâncias dos cargos: A vacância é a impossibilidade definitiva para assunção do cargo (por cassação, renúncia ou morte), enquanto a substituição tem caráter temporário (por exemplo: doença, férias, etc). Além das hipóteses de cassação, renúncia ou morte, os cargos de Presidente e Vice também será considerado vago quando se deixarem de assumi-lo no prazo de 10 dias contados da data fixada para a posse, salvo motivo de força maior (art. 78, parágrafo único, c/c art. 79, caput) O sucessor e substituto natural do Presidente da República é o Vice-Presidente (art. 79), o qual, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente sempre que for por ele convocado para missões especiais. De acordo com o art. 80, serão sucessivamente chamados ao exercício da presidência, nas hipóteses de impedimento do Presidente e do Vice ou de vacância dos respectivos cargos: Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do Senado Federal; Presidente do STF. Trata-se do que poderíamos chamar de substitutoseventuais ou legais. Havendo impedimento do Presidente e do Vice-Presidente da República, referidos substitutos eventuais assumem até o motivo do impedimento cessar. A assunção do cargo por referidas pessoas (ao contrário do que ocorre no caso da vacância do cargo de Presidente e a sua sucessão pelo Vice, que o assume definitivamente) será em caráter temporário (substitutos eventuais ou legais). Lembre-se: eles sempre substituem, nunca sucedem. Se o Presidente da Câmara tiver menos de 35 anos, em caso de substituição, ele poderá assumir a Presidência da República? 2 posições: 1ª posição: não, pois a CF deu importância ao princípio da idade mínima de 35 anos. 2ª posição: sim, uma vez que, as condições de elegibilidade para o cargo de deputado federal foram preenchidas, de forma que exercerá todos os ônus e bônus do cargo. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a 15 dias, sob pena de perda do cargo. Durante o período de afastamento, o cargo será ocupado pelo Vice, ou, na forma do art. 80, pelos substitutos eventuais ou legais. Tanto a previsão de substituição como a necessidade de autorização para o afastamento, bem como a consequência em caso de descumprimento, segundo o STF, são normas de reprodução obrigatória que, pela simetria, deverão ser integralmente reproduzidas no âmbito dos demais entes federativos. Assim, o STF declarou inconstitucional dispositivo da Constituição do Maranhão que considerava desnecessária a substituição do Governador por seu Vice-Governador, quando se afastasse do Estado ou do País por até 15 dias (ADI 3.647, Rel.Min. Joaquim Barbosa, j. 17.09.2007, DJE de 16.05.2008). Nessa linha, o outro dispositivo que, em razão de reforma à Constituição estadual, retirava a sanção de perda do cargo (prevista no art. 83 da CF/88) também foi declarado inconstitucional, pois a referida consequência (perda do cargo) serve para dar sentido e garantia às regras de sucessão e de necessário preenchimento do cargo de Chefe do Poder Executivo. Mandato-tampão: eleição direta e indireta (art. 81): Vacância de ambos os cargos (Presidente e Vice) nos 2 primeiros anos de mandato: eleição 90 dias depois de aberta a última vaga. Trata-se de eleição direta, pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Vacância nos últimos 2 anos do mandato: eleição será feita 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei (art. 81, §1º), ou seja, eleição indireta. Após a nova eleição, nas duas situações (eleição quando a vaga se der no primeiro ou no segundo biênio do mandato presidencial) os eleitos (novo Presidente e novo Vice-Presidente da República) deverão apenas completar o período de seus antecessores (art. 81, § 2º). Trata-se do denominado "mandato-tampão". 4.2.4 Ministros de Estado:Ministros de Estado são auxiliares do Presidente da República no exercício do Poder Executivo e na direção superior da administração federal (arts. 76, 84, II, e 87). Os Ministros de Estado dirigem Ministérios e são escolhidos pelo Presidente da República, que os nomeia, podendo ser demitidos (exonerados) a qualquer tempo, ad nutum, não tendo qualquer estabilidade (art. 84, I). Os requisitos para assumir o cargo de Ministro de Estado, cargo de provimento em comissão, são, de acordo com o art. 87, caput: ser brasileiro, nato ou naturalizado (exceto o cargo de Ministro de Estado da Defesa, "que, de acordo com a EC n. 23, de 02.09.1999, deverá ser preenchido por brasileiro nato, conforme se observa pelo inciso VII do § 3º do art. 12, acrescentado pela aludida emenda) ter mais de 21 anos de idade; estar no exercício dos direitos políticos. Compete aos Ministros de Estado, além de outras atribuições estabelecidas na Constituição e na lei, as elencadas no parágrafo único do art. 87 da CF/88. Os Ministros de Estado, sem prejuízo da previsão de outras condutas em legislação federal (cf., por exemplo, a Lei n. 1.079/50), de acordo com a Constituição, cometem crime de responsabilidade nas seguintes situações: quando convocados pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal ou qualquer de suas Comissões, para prestar, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado e inerentes às suas atribuições e deixarem de comparecer, salvo justificação adequada (arts. 50, caput, e 58, III); quando as Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal encaminharem pedidos escritos de informação aos Ministros de Estado e estes se recusarem a fornecê-las, não atenderem ao pedido no prazo de 30 dias, ou prestarem informações falsas (art. 50, § 2º); quando praticarem crimes de responsabilidade conexos e da mesma natureza com os crimes de responsabilidade praticados pelo Presidente da República (art. 52, I, c/c o art. 85). Julgamento do crime de responsabilidade: depende se há conexão com crime praticado pelo Presidente da República – mesma regra de crimes comuns: No caso de crimes de responsabilidade praticados sem qualquer conexão com o Presidente da República e nos crimes comuns, os Ministros de Estado serão processados e julgados perante o STF, nos exatos termos do art. 102, I, "c". Na hipótese de crimes de responsabilidade conexos com os do Presidente da República o órgão julgador será o Senado Federal, nos termos do art. 52, I, e parágrafo único. Instauração de processo contra Ministros – autorização da Câmara dos Deputados, quando o crime for conexo ao do Presidente da República: O art. 51, I, estabelece ser competência privativa da Câmara dos Deputados autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República, bem como contra os Ministros de Estado. O STF interpretou que essa condição de procedibilidade ou admissibilidade do processo (por crime comum ou por crime de responsabilidade) só será exigida na hipótese de crime de responsabilidade praticado por Ministro de Estado conexo com aquele praticado pelo Presidente da República. Assim, em se tratando de crime comum ou de crime de responsabilidade praticado por Ministro de Estado sem conexão com o praticado pelo Presidente da República, não haverá necessidade de autorização pela Câmara dos Deputados, proibindo-se, portanto, a sua exigência. Nesse sentido, fime a jurisprudência do STF: O processo de impeachment dos Ministros de Estado, por crimes de responsabilidade autônomos, não conexos com infrações da mesma natureza do Presidente da República, ostenta caráter jurisdicional, devendo ser instruído e julgado pelo STF. Inaplicabilidade do disposto nos arts. 51, I e 52, I da Carta de 1988 e 14 da Lei 1.079/1950, dado que é prescindível (ou seja, dispensada, acrescente-se) autorização política da Câmara dos Deputados para a sua instauração. Prevalência, na espécie, da natureza criminal desses processos, cuja apuração judicial está sujeita à ação penal pública da competência exclusiva do MPF (CF, art. 129, 1). Ilegitimidade ativa ad causam dos cidadãos em geral, a eles remanescendo a faculdade de noticiar os fatos ao Parquet" (Pet. 1.954, Rei. Min. Maurício Corrêa, j. 11.09.2002, Plenário, DJ de l .º.08.2003) 4.3 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO ESTADUAL Exercido pelo Governados de Estado, auxiliado pelos Secretários de Estado, sendo substituído (no caso de impedimento) ou sucedido (no caso de vaga), pelo Vice-Governador, com ele eleito, observando-se algumas outras regras: Eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado: será realizada no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 1º de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77 (art.28, caput) O mandato do Governado é de 4 anos, permitindo-se a reeleição para um único período subsequente (art. 28, caput, c/c art. 14, §5º) Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargoou função na Administração Pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V (art. 28, §1º). O subsídio do Governado, do Vice-Governador e dos Secretários de Estado será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os art. 37, XI, 39, §4º, 150, II; 153, III e 153, §2º, I (art. 28, §2º, acrescentado pela EC nº 19/98). Em caso de impedimento ou de vacância do cargo de Governador de Estado, e diante da não assunção pelo Vice-Governador, serão chamados para governar, provisoriamente, seguindo a simetria com o modelo fixado no art. 80 da CF: Presidente da Assembleia Legislativa; Presidente do TJ local. No caso de vacância do cargo de Governador e Vice, a exemplo do que ocorre com a vacância do cargo de Presidente e Vice, pode haver eleição indireta prevista em legislação estadual? O STF, no julgamento de pedido liminar formulado nas ADIs 4.298 e 4.309, assegurou a realização de eleição indireta pela Assembleia Legislativa do Estado de Tocantins, na medida em que o Governador e o vice foram cassados pelo TSE. O modelo federal, concluíram os Ministros, não é de observância compulsória (ADI 1.057) e, havendo previsão na Constituição estadual, poderia a Assembleia Legislativa local disciplinar a matéria, apesar da regra contida no art. 22, I (que fixa a competência da União para legislar sobre direito eleitoral). Isso porque, segundo o STF, não se trata de lei materialmente eleitoral, tendo em vista que apenas regula a sucessão "extravagante" do Chefe do Executivo (ADI 2.709). 4.4 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO DISTRITAL A eleição do Governado e do Vice-Governador do DF coincidirá com a dos Governadores Estaduais (art. 32, §2º). O mandato do governador distrital será de 4 anos, permitindo-se a reeleição para um único período subsequente (art. 32, §2º, c/c art. 14, §5º). Por simetria ao raciocínio de que os Ministros de Estado podem, por delegação, ter competência para “desnomear” servidores públicos no âmbito federal, no âmbito estadual o STF entende cabível a delegação de competência aos Secretários de Estado (RE 633.009-AgR) Em caso de impedimento do Governador e do Vice-Governador ou de vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da chefia do Poder Executivo: Presidente da Câmara Legislativa; Presidente do TJDFT. Interessante notar que essa regra está prevista expressamente no art. 93 da Lei Orgânica do DF, com a redação dada pela Emenda n. 57/2010, que aprimorou a regra que a Emenda à LODF n. 3712002 já havia dado ao art. 94. Isso porque a nova regra retira da linha sucessória de substituição o Vice-Presidente da Câmara Legislativa, seguindo simetricamente a regra do art. 80 da CF/88. 4.5 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO MUNICIPAL Prefeito e Vice-prefeito são eleitos para mandato de 4 anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Município de mais de 200 mil eleitores, sendo permitida a reeleição para um único período subsequente (art. 14, §5º). Perderá o mandato o Prefeito que assumir outro cargo ou função na Administração Pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V (art. 28, §1º - primitivo parágrafo único, transformado em §1º pela EC nº 19/98 c/c art. 29, XIV, inciso renumerado pela EC nº 1/92). Em caso de impedimento do Prefeito e do Vice-Prefeito ou de vacância dos respectivos cargos, será chamado para o exercício da Prefeitura: Presidente da Câmara Municipal; Em muitos casos, há a previsão de inclusão, na linha sucessória, do Vice-Presidente da Câmara Municipal (por exemplo, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Curitiba, etc.) 4.6 PODER EXECUTIVO NO ÂMBITO DOS TERRITÓRIOS FEDERAIS A direção dos Territórios Federais dar-se-á por Governador, nomeado pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal (arts. 33, §3º, 52, III, “c” e 84, XIV). Apesar de não existir lei disciplinando, o Presidente da República deveria nomear outro Governador (no caso de impedimento ou vacância do cargo) e, durante o processo, assumiria o Presidente da Câmara Territorial (Pedro Lenza, p.739). 4.7 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. 4.7.1 ATRIBUIÇÕES: As atribuições privativas do Presidente da República (art. 84, da CF) partem do princípio de que no Brasil existe uma concentração de funções, pois o nosso presidencialismo é do tipo monocrático (art. 76), eis que há comulação das funções de chefe do Estado e do governo. Uadi Bulos faz a seguinte classificação das atribuições privativas do Presidente da República: Chefe de Estado – art. 84, VII, VIII, XIV, XV, XVI, 1ª parte, XVIII, 2 ª parte, XIX, XX, XXI, e XXII; Chefe de governo – art. 84, I, III, IV, V, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XVIII, 1ª parte, XXIII, XXIV e XXVII; Chefe da Administração federal – art. 84, II, VI, XVI, 2 ª parte, XXIV e XXV. Atribuições outras: Art. 84, XVII; Delegação de atribuições constitucionais:art. 84. Parágrafo único. O art. 84 da CF apresenta o rol (meramente exemplificativo) de competências privativas do Presidente de República. As competências previstas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, podem ser delegadas aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, devendo todos observar os limites traçados nas respectivas delegações. Em relação a atribuição para prover cargos, a jurisprudência do STF entende que também alcançaria a competência para desprover cargos, praticando atos demissionário de servidores públicos (RMS 24.619 e MS 24.128) Chefe de Estado e Chefe de Governo Na estrutura do Poder Executivo verifica-se a existência de duas funções primordiais diversas, quais sejam, a de Chefe de Estado e de Chefe de Governo. Nosso texto constitucional expressamente adotou o presidencialismo, proclamando a junção das funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo, a serem realizadas pelo Presidente da República, prevendo-as no art. 84 da Constituição Federal. Assim, como chefe de Estado, o presidente representa, pois, nas suas relações internacionais (art. 84, VII e VIII, XIX), bem como corporifica, a unidade interna do Estado. Como chefe de Governo, a função presidencial corresponde à representação interna, na gerência dos negócios internos, tanto os de natureza política (participação no processo legislativo), como nos de natureza eminentemente administrativa (art. 84, I, II, III, IV, V, VI, IX a XXVII). Assim, o Chefe de Governo exercerá a liderança da política nacional, pela orientação das decisões gerais e pela direção da máquina administrativa. A acumulação destas funções revela que o legislador constituinte adotou o sistema presidencialista de governo, que difere do parlamentarista. Neste, a função de chefe de Estado é exercida pelo Presidente ou Monarca e a de chefe de Governo, pelo Primeiro Ministro que chefia o gabinete. 4.7.2 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA A marca distintiva mais forte do princípio republicano é a possibilidade de responsabilização dos agentes públicos por seus atos. Aliás, no sistema presidencial de governo, a responsabilidade do Presidente é a regra. Historicamente, sob forte influência do modelo norte-americano, previu-se o crime de responsabilidade na Constituição de 1891, sendo originalmente regulamentado pelas Leis nº 27 e 30, de 1892. A CF/88 prevê dois tipos de responsabilidade do Presidente da República: uma política e outra penal. A política abrange os crimes de responsabilidade (art. 85, da CF), que são infrações de natureza política-administrativa, que podem levar ao impeachment do Presidente da República, como ocorreu com o Collor. A responsabilidade penal compreende infrações comuns (CP e legislação penal especial). Crime de Responsabilidade Na lição de Damásiode Jesus, existem duas espécies de crime de responsabilidade: Crimes de responsabilidade em sentido amplo - tipos criminais propriamente ditos e fatos que lesam deveres funcionais, sujeitos a sanções políticas. São os crimes de responsabilidade impróprios (ilícito político-administrativo), que se trata de crime que não é infração penal. Crime de responsabilidade em sentido estrito - delitos cujos fatos contêm violação dos deveres de cargo ou função, apenados com sanção criminal, estando estes últimos previstos tanto no CP como em legislação especial. A existência de crime de responsabilidade próprio - ou em sentido estrito -, constitui delito, configurando infração penal. Só a União pode legislar sobre crimes de responsabilidade (súmula 722 do STF). Nesse mesmo sentido já decidiu o STF: "a definição das condutas típicas configuradoras do crime de responsabilidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento dos agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituição da República)" (ADI 2.220, Rei. Min. Cármen Lúcia, j. 16.11.2011, Plenário, DJE de 07.12.2011). 1. Inconstitucionalidade formal decorrente da incompetência dos Estados-membros para legislar sobre processamento e julgamento de crimes de responsabilidade (art. 22, inc. I, da Constituição da República). 2. Constitucionalidade das normas estaduais que, por simetria, exigem a autorização prévia da assembleia legislativa como condição de procedibilidade para instauração de ação contra governador (art. 51, inc. I, da Constituição da República). (ADI 4792 / ES - ESPÍRITO SANTO, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Julgamento: 12/02/2015, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, DJe-076 DIVULG 23-04-2015 PUBLIC 24-04-2015) Na Constituição Federal de 1988, o art. 85 prescreve que os atos do Presidente da República que atentarem contra a Constituição serão considerados crimes de responsabilidade. Exemplifica como hipóteses de crime de responsabilidade os atos que atentarem contra: a) a existência da União; b) o livre-exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; e) o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; d) a segurança interna do País; e) a probidade na administração; j) a lei orçamentária; g) o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Por sua vez, o parágrafo único do art. 85 dispõe que referidos crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. A lei prevista no parágrafo único, do art. 85 é a Lei 1.079/50, que foi recepcionada, em parte, pela nova CF/88. Entretanto, ela não regula todos os 07 incisos do artigo 85. Ex: “livre exercício do ministério público”. Procedimento: O processo de impeachment definido na CF tem suas regras procedimentais descritas na Lei 1.079/50. Tal procedimento é bifásico, Fase preambular, juízo de admissibilidade do processo na Câmara dos Deputados: art. 80 da Lei 1.079/50. Fase final, em que ocorrerá o processo propriamente dito e o julgamento, no Senado Federal (Tribunal de Julgamento). A acusação poderá ser formalizada por qualquer cidadão no pleno gozo de seus direitos políticos. A partir desse momento, o Presidente da República já passará a figurar na condição de acusado. A Câmara dos Deputados poderá, pela maioria qualificada de 2/3, autorizar a instauração do processo, admitindo a acusação que está sendo imputada ao Presidente da República, para que seja processado e julgado perante o Senado Federal nos crimes de responsabilidade (art. 86, caput). Dessa forma, as indagações probatórias deverão ser feitas perante o Senado Federal, que é o órgão que processa e julga Presidente da República nos crimes de responsabilidade, e não perante a Câmara, que verifica a procedibilidade da acusação. A jurisprudência do STF permite que o Presidente da Câmara dos Deputados realize exame liminar da idoneidade da denúncia popular podendo rejeitar imediatamente a acusação patentemente inepta ou despida de justa causa, sujeitam-se ao controle do Plenária da Casa, mediante recurso (MS 20.941, Sepúlveda Pertence, DJ de 31.08.1992). Nesse procedimento de admissibilidade da denúncia, a Câmara dos Deputados profere juízo político. Posteriormente, havendo autorização da Câmara dos Deputados, o Senado Federal deverá instaurar o processo sob a presidência do Presidente do STF, submetendo o Presidente da República a julgamento (no Senado Federal). Instaurado o processo, o Presidente ficará suspenso de suas funções pelo prazo de 180 dias. Se o julgamento não estiver concluído no aludido prazo, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo (art. 86, § 1.º, II, e § 2.º). A sentença condenatória materializar-se-á mediante resolução do Senado Federal, que somente será proferida por 2/3 dos votos, limitando-se a condenação à perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública (tanto decorrentes de concurso público como de confiança ou de mandato eletivo) por 8 anos, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis (art. 52, parágrafo único). Dispõe o art. 15 da Lei n. 1.079/50 que "a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo". O STF no julgamento do MS 21.689-1, por maioria de votos, decidiu que a renúncia ao cargo não extingue o processo de impeachment já iniciado. O Vice-Presidente não pratica crime de responsabilidade enquanto não assumir a presidência (posição de José Afonso da Silva) Além do Presidente da República (art. 52, I), também poderão ser responsabilizados politicamente e destituídos de seus cargos através do processo de impeachment: o Vice-Presidente da República (art. 52, I); os Ministros de Estado, nos crimes conexos com aqueles praticados pelo Presidente da República (art. 52, I); os Ministros do STF (art. 52, II); os membros do CNJ e do CNMP (art. 52, II, nos termos da EC n. 45/2004); o Procurador-Geral da República (art. 52, II) e o Advogado-Geral da União (art. 52, II), bem como Governadores (vide esquema no item 10.4.15) e Prefeitos (art. 31 - Câmara dos Vereadores). Rito do Impeachment Presidente Dilma Roussef, definido pelo STF no julgamento da ADPF 378/DF: CÂMARA DOS DEPUTADOS (FASE DE JUÍZO DE ADMISSIBILDADE) • O Presidente da Câmara admite ou não o prosseguimento da denúncia. • Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara, ou seja, não é necessário ouvir antes o Presidente da República que estiver sendo denunciado. • Do despacho do Presidente que indeferir o recebimento da denúncia, caberá recurso ao Plenário (art. 218, § 3º, do RICD). • Caso seja admitido o prosseguimento da denúncia, deverá ser constituída comissão especial formada por Deputados Federais para análise do pedido e elaboração de parecer. • A eleição dos membros da comissão deverá ser aberta e não pode haver candidatura alternativa (avulsa). A comissão é escolhida a partir de uma chapa única com nomes indicados pelos líderes partidários. A votação aberta será apenas para que o Plenário da Casa aprove ou não a chapa única que foi apresentada. • O Presidente denunciado deverá ter direito à defesa no rito da Câmara dos Deputados. Assim, depois que houver o recebimento da denúncia, o Presidente da República será notificado para manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões. • Vale ressaltar, no entanto, que não deve haver grande dilação probatória na Câmara dos Deputados (o rito é abreviado). A comissão até pode pedir a realização de diligências, mas estas devem ser unicamente para esclarecer alguns pontos da denúncia, não podendo ser feitas para provar a procedência ou improcedência da acusação. Isso porque o papel da Câmara não é reunir provas sobre o mérito da acusação, mas apenas o de autorizar ou não o prosseguimento.Quem irá realizar ampla dilação probatória é o Senado. • O Plenário da Câmara deverá decidir se autoriza a abertura do processo de impeachment por 2/3 dos votos. • O processo é, então, remetido ao Senado. SENADO FEDERAL • Chegando o processo no Senado, deverá ser instaurada uma comissão especial de Senadores para analisar o pedido de impeachment e preparar um parecer (arts. 44 a 46 da Lei nº 1.079/50, aplicados por analogia). • Esse parecer será votado pelo Plenário do Senado, que irá decidir se deve receber ou não a denúncia que foi autorizada pela Câmara. • Assim, o Senado, independentemente da decisão da Câmara, não é obrigado a instaurar o processo de impeachment, ou seja, pode rejeitar a denúncia. • Se rejeitar a denúncia, haverá o arquivamento do processo. • Se receber, iniciará a fase de processamento, com a produção de provas e, ao final, o Senado votará pela absolvição ou condenação do Presidente. • A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria simples, presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei nº 1.079/50. Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria absoluta de 81) e, destes, bastaria o voto de 22 Senadores. • Se o Senado aceitar a denúncia, inicia-se a instrução probatória e o Presidente da República deverá ser afastado do cargo temporariamente (art. 86, § 1º, II, da CF/88). Se, após 180 dias do afastamento do Presidente, o julgamento ainda não tiver sido concluído, cessará o seu afastamento e ele reassumirá, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. • A defesa tem direito de se manifestar após a acusação: no curso do procedimento de impeachment, o Presidente terá a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação. • O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória: o interrogatório do Presidente, instrumento de autodefesa que materializa as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser o último ato de instrução do processo de impeachment. • Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou absolvido. Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores. • Se for condenada, a Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação para o exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado criminalmente pelo Ministério Público. • Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não é necessária a convocação de novas eleições). Fonte: http://www.dizerodireito.com.br/2015/12/analise-juridica-da-decisao-do-stf-que.html#more Impeachment da presidente Dilma Roussef: imposição de perda do cargo sem inabilitação para o exercício de funções públicas por 8 anos: análise jurídica. O Senado, no dia de hoje (31/08/2016), julgou o processo de impeachment da ex-Presidente Dilma. Segundo o rito que estava previsto e havia sido aprovado, os Senadores iriam votar apenas uma vez, decidindo se a ex-Presidente era culpada ou não do crime de responsabilidade. Caso ela fosse julgada culpada, receberia as duas punições estipuladas pela Constituição: a) perda do cargo e b) inabilitação para o exercício de funções públicas por oito anos. Ocorre que, no início da sessão, o Partido dos Trabalhadores, representado pelo Senador Humberto Costa (PT-PE), formulou requerimento ao Presidente do STF (que presidia o processo de impeachment), pedindo que o julgamento de Dilma fosse dividido em duas etapas, o que fora aceito: 1) Uma primeira votação, na qual os Senadores decidiriam se Dilma deveria ou não perder o cargo. Placar: 61 votos SIM e 20 votos NÃO. 2) Em seguida, caso ela perdesse o cargo, como de fato ocorreu, os Senadores votariam se ela deveria ficar inabilitada para o exercício das funções públicas por oito anos. Placar: 42 votos SIM (pela aplicação da sanção), 36 votos NÃO e 3 abstenções. Para que ela recebesse esta punição eram necessários 2/3 dos Senadores, ou seja, no mínimo, 54 votos SIM. O pedido para a divisão dos julgamentos foi baseado na tese de que a perda do cargo e a inabilitação constituem-se em penas autônomas. Assim, seriam necessárias duas votações, uma para o julgamento da primeira sanção e outra para a segunda. Posições doutrinárias: "A Constituição prevê em seu art. 52, parágrafo único, as duas sanções autônomas e cumulativas a serem aplicadas na hipótese de condenação por crime de responsabilidade: perda do cargo e inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública." (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 32ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, p. 768). "No caso do Presidente da República, os crimes de responsabilidade caracterizam-se como infrações político-administrativas que dão ensejo à perda do cargo e à inabilitação para o exercício de função pública pelo prazo de oito anos (CF, art. 52, parágrafo único)." (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 969) "O art. 52, parágrafo único, fixa duas penas: a) perda do cargo; e b) inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública. A inabilitação para o exercício de função pública não decorre da perda do cargo, como à primeira leitura pode parecer. Decorre da própria responsabilização. Não é pena acessória. É, ao lado da perda do cargo, pena principal. O objetivo foi o de impedir o prosseguimento no exercício das funções (perda do cargo) e o impedimento do exercício - já agora não das funções daquele cargo de que foi afastado, mas de qualquer função pública, por um prazo determinado. Essa a consequência para quem descumpriu deveres constitucionalmente fixados. Assim, porque responsabilizado, o Presidente não só perde o cargo como deve afastar-se da vida pública, durante oito anos, para 'corrigir-se', e só então pode a ela retornar." (TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22ª ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 169). Precedente jurisprudencial: EMENTA: - CONSTITUCIONAL. "IMPEACHMENT". CONTROLE JUDICIAL. "IMPEACHMENT" DO PRESIDENTE DA REPUBLICA. PENA DE INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA. C.F., art. 52, parágrafo único. Lei n. 27, de 07.01.1892; Lei n. 30, de 08.01.1892. Lei n. 1.079, de 1950. I. - Controle judicial do "impeachment": possibilidade, desde que se alegue lesão ou ameaça a direito. C.F., art. 5º, XXXV. Precedentes do S.T.F.: MS n. 20.941-DF (RTJ 142/88); MS n. 21.564-DF e MS n. 21.623-DF. II. - O "impeachment", no Brasil, a partir da Constituição de 1891, segundo o modelo americano, mas com características que o distinguem deste: no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, lei ordinária definira os crimes de responsabilidade, disciplinara a acusação e estabelecera o processo e o julgamento. III. - Alteração do direito positivo brasileiro: a Lei n. 27, de 1892, art. 3., estabelecia: a) o processo de "impeachment" somente poderia ser intentado durante o período presidencial; b) intentado, cessaria quando o Presidente, por qualquer motivo, deixasse definitivamente o exercício do cargo. A Lei n. 1.079, de 1950, estabelece, apenas, no seu art. 15, que a denuncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. IV. - No sistema do direito anterior a Lei 1.079, de 1950, isto e, no sistema das Leis n.s 27 e 30, de 1892, era possível a aplicação tão somente da pena de perda do cargo, podendo esta ser agravada com a pena de inabilitação para exercer qualquer outro cargo (Constituição Federal de 1891, art. 33, par. 3.; Lei n. 30, de 1892, art. 2.), emprestanto-se a pena de inabilitação o caráter de pena acessória (Lei n. 27, de 1892, artigos 23 e 24). No sistema atual, da Lei 1.079, de 1950, não e possível a aplicação da pena de perda do cargo, apenas, nem a pena de inabilitação assume caráter de acessoriedade (C.F., 1934, art. 58, par. 7º; C.F.,1946, art. 62, par. 3. C.F., 1967, art. 44, parag. único; EC n. 1/69, art. 42, parágrafo único; C.F., 1988, art. 52, parag. único. Lei n. 1.079, de 1950, artigos 2º, 31, 33 e 34). V. - A existência, no "impeachment" brasileiro, segundo a Constituição e o direito comum (C.F., 1988, art. 52, parag. único; Lei n. 1.079, de 1950, artigos 2º, 33 e 34), de duas penas: a) perda do cargo; b) inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública. VI. - A renúncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento, quando já iniciado este, não paralisa o processo de "impeachment". VII. - Os princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade administrativa (C.F., art. 37). VIII. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal relativamente aos crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, na forma do Decreto-lei 201, de 27.02.1967. Apresentada a denúncia, estando o Prefeito no exercício do cargo, prosseguira a ação penal, mesmo após o termino do mandato, ou deixando o Prefeito, por qualquer motivo, o exercício do cargo. IX. - Mandado de segurança indeferido. (MS 21689, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 16/12/1993, DJ 07-04-1995 PP-08871 EMENT VOL-01782-02 PP-00193 RTJ VOL-00167-03 PP-00792) No atual cenário, ou seja, considerando-se que a decisão do Senado que afastou a pena de inabilitação seja mantida, ex-Presidente Dilma poderia ser considerada elegível, não incorrendo em qualquer hipótese de inelegibilidade na "Lei da Ficha Limpa. A chamada Lei da Ficha Limpa é a LC 135/2010, que alterou a LC 64/90, que trata sobre as inelegibilidades. No art. 1º da LC 64/90 são listadas situações que geram inelegibilidade. Se analisarmos as hipóteses ali presentes, nenhuma delas se enquadra no caso da ex-Presidente. O motivo de a situação da ex-Presidente não estar prevista na LC 64/90 está no fato de que o legislador entendeu que isso seria dispensável, já que, na visão até então pacífica de todos, a inabilitação para o exercício das funções públicas era uma pena obrigatoriamente imposta caso o pedido de impeachment fosse julgado procedente, com base no art. 52, parágrafo único, da CF/88. Assim, para o legislador, seria redundante repetir um comando que já constava diretamente do texto constitucional. Tanto isso é verdade que o legislador teve o cuidado de prever que, se o Presidente renunciasse ao mandato no curso do processo de impeachment, como fez Collor, por exemplo, ele deveria ficar inelegível por oito anos (art. 1º, I, "k", da LC 64/90). Dessa forma, o legislador se preocupou apenas com aquilo que não estava previsto expressamente na CF/88, ou seja, a hipótese do Presidente renunciar durante o curso do mandato. Sendo ele condenado no processo de impeachment, a inelegibilidade já seria uma decorrência obrigatória do art. 52, parágrafo único, da CF/88. http://www.dizerodireito.com.br/2016/08/analise-juridica-da-decisao-do-senado.html#more CRIME COMUM A expressão "crime comum", segundo explica Alexandre de Moraes, abrange "todas as modalidades de infrações penais, estendendo-se aos delitos eleitorais, alcançando até mesmo os crimes contra a vida e as próprias contravenções penais". As regras procedimentais para o processamento dos crimes comuns estão previstas na Lei n. 8.038/90 e nos arts. 230 a 246 do R/STF. Haverá um controle político de admissibilidade, a ser realizado pela Câmara dos Deputados, que autorizará ou não o recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo STF, através do voto de 2/3 de seus membros (art. 86, caput). Admitida acusação contra o Presidente da República, será ele submetido a julgamento perante o STF. A denúncia, nos casos de ação penal pública, será ofertada pelo Procurador-Geral da República. Em caso de não ter formado a sua opinio delicti, deverá requerer o arquivamento do inquérito policial. Nos casos de crime de ação privada, haverá necessidade de oferta da queixa-crime pelo ofendido, ou de quem por lei detenha tal competência. Recebida a denúncia ou queixa-crime, o Presidente da República ficará suspenso de suas funções por 180 dias, sendo que, decorrido tal prazo sem o julgamento, voltará a exercê-las, devendo o processo continuar até decisão final. O Presidente da República só poderá ser preso depois que sobrevier sentença penal condenatória (art. 86, § 3.º). Imunidade presidencial (irresponsabilidade penal relativa) De acordo com a regra do art. 86, § 4º, o Presidente da República, durante a vigência do mandato, não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Ele só poderá ser responsabilizado por atos praticados em razão do exercício de suas funções (in officio ou propter officium). Assim, as infrações penais praticadas antes do início do mandato ou durante a sua vigência, porém sem qualquer relação com a função presidencial (ou seja, não praticadas in officio ou propter officium), não poderão ser objeto da persecutio criminis, que ficará, provisoriamente, inibida, acarretando, logicamente, a suspensão do curso da prescrição. Trata-se da irresponsabilidade penal relativa, pois a imunidade só abrange ilícitos penais praticados antes do mandato, ou durante, sem relação funcional. No tocante às infrações de natureza civil, política (crimes de responsabilidade), administrativa, fiscal ou tributária, poderá o Presidente da República ser responsabilizado, pois a imunidade (irresponsabilidade penal relativa) restringe-se apenas à persecutio criminis por ilícitos penais que não tenham sido cometidos in officio ou propter officium. Consoante interpretação do STF, as regras sobre a imunidade formal em relação à prisão (art. 86, § 3.0), bem como aquelas relacionadas à imunidade penal relativa (art. 86, § 4.0), não podem ser estendidas aos Governadores de Estado e, no mesmo sentido, ao Governador do DF e Prefeitos por atos normativos próprios, na medida em que as regras (que são regras derrogatórias do direito comum) estão reservadas à competência exclusiva da União para disciplinar, nos termos do art. 22, I (direito processual). Investigação contra Governadores de Estado, do DF (questão polêmica) De acordo com o art. 51, I, da CF/88, compete privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado. Tal regramento, por aplicação do princípio da simetria, pode ser aplicado no âmbito estadual, distrital ou municipal? A questão foi amplamente discutida no julgamento do HC 102.732 (Rel. Min. Marco Aurélio, j. 04.03.2010), impetrado pelo ex-Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, contra ato do STJ que decretou a sua prisão preventiva por suposta tentativa de suborno a testemunha no Inq. 650, que tramitava perante aquele Tribunal e investigava suposto esquema de corrupção no DF, consistente em alegada organização criminosa para o desvio e apropriação de verbas públicas (a denominada Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em 27.11.2009). Em referido julgamento, por 9 x 1, o STF denegou a ordem de habeas corpus entendendo que exigir a prévia autorização legislativa para a prisão cautelar ou a instauração de inquérito seria "blindar" referidas autoridades, até pela pressão política que podem exercer no âmbito do legislativo local. Assim, a regra do art. 51, 1, teria fixado prerrogativa exclusivamente ao Presidente da República. No entanto, embora o julgamento tenha se dado por ampla maioria, vários ministros demonstraram incerteza quanto à questão, tendo, inclusive, o Min. Gilmar Mendes expressado ter “mais incertezas do que certezas” sobre o tema. Analisando o caso concreto do Distrito Federal, a Emenda à Lei Orgânica n. 57, de 29.03.2010, revogou os §§ 3.0 e 4.0 do art. 103, que, "copiando" o art. 86, §§ 3º e 4º, da CF/88, conferiam imunidade formal relativa à prisão e instituíam cláusula de irresponsabilidade penal relativa para o Governador do DF, já declaradas inconstitucionais pelo STF na ADI1.020. Todavia, referida emenda não revogou o art. 60, XXIII, da Lei Orgânica do DF, que ainda persiste, estabelecendo ser competência privativa da Câmara Legislativa do DF autorizar, por 2/3 dos seus membros, a instauração de processo contra o Governador, o Vice-Governador e os Secretários de Estado, em cópia da regra contida no art. 51, 1, da CF/88. Investigação e julgamento de Prefeitos Municipais Como regra geral, portanto, o Prefeito será julgado pelo TJ local, nas hipóteses de crime comum (art. 29, X, da CF); pela Câmara Municipal, nos crimes de responsabilidade (art. 31 da CF); pelo TRE, nos crimes eleitorais, e pelo TRF, nos crimes federais (art. 109, IV, da CF). Nesse sentido a S. 702/STF: "a competência do TJ para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau". Nos crimes comuns, o STF entendeu que o julgamento poderá dar-se tanto pelo Plenário como por órgão fracionário, por exemplo, uma das Câmaras Criminais do Tribunal (cf. STF, HC 71.381-5/RS, Rel. Min. Moreira Alves, 1ª Turma, DJ de l.º.03.1996, p. 5009), ou mesmo pelo Órgão Especial, sendo a competência fixada internamente, pelo RI do Tribunal. Nos crimes dolosos contra a vida, afasta-se a regra geral do art. 5.º, XXXVIII, aplicando-se a do art. 29, X, portanto os Prefeitos são julgados pelo TJ. Crime de Prefeito em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, empresas públicas e autarquias federais, além da malversação de verbas recebidas da União sob condição e sujeitas à prestação de contas e ao controle do TCU: competência do TRF de acordo com o art. 109, IV, da CF. Como exemplo: a) desvio de verbas concedidas a Município pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) sujeitas à prestação de contas ao Ministério da Educação e a julgamento pelo TCU (HC 68.967-PR - DJU de 16.04.1993); b) desvio de verbas públicas federais, oriundas do FUNDEF, FNDE e FPM e sujeitas ao controle do TCU (HC 80.867, 18.12.2001); c) prática de fraude contra o FGTS em benefício próprio. Nesses termos, a S. 208/STJ: "compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal" (cf. HC 68.967-1/PR, Pleno, STF, Rel. Min. Ilmar Galvão). Súmula209: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal. Súmula 208: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal. CUIDADO: mudança de entendimento no STJ. Conforme ficou consignado no julgamento da CC 123.817, "após o julgamento do CC 119.305/SP, a 3ª Seção desta Corte, mudando a jurisprudência até então pacificada, passou a entender ser da competência da Justiça Federal a apuração, no âmbito penal, de malversação de verbas públicas oriundas do FUNDEF, independentemente da complementação de verbas federais, diante do caráter nacional da política de educação, o que evidencia o interesse da União na correta aplicação dos recursos" U. 12.09.2012 - pendente de análise pelo STF) As ações de natureza civil, vale dizer, quando não se estiver julgando infração criminal praticada pelo Prefeito, não gozam do foro privilegiado do TJ, previsto no art. 29, X, da CF. Assim, as ações populares movidas em face dos Prefeitos, ações civis públicas, ações que julgam responsabilidade civil por atos praticados pelo Prefeito no exercício do cargo, ações envolvendo matéria relativa à improbidade administrativa (Lei n. 8.429/92) não são apreciadas pelo TJ em sede de competência originária, devendo ser ajuizadas em 1º grau de jurisdição, observadas as regras de organização judiciária. O STF declarou inconstitucional a alteração do art. 84, §2º do CPP, trazida pela Lei 10.628/2002, que estabeleceu que a ação de improbidade administrativa, de que trata a Lei n. 8.429/92, seria proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou a autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de função pública, ainda que o inquérito ou a ação judicial fossem iniciados após a cessação do exercício da função pública EC n. 25, de 14.02.2000: o Prefeito Municipal cometerá crime de responsabilidade (infração político-administrativa) caso deixe de efetuar o repasse dos valores para o Poder Legislativo, de acordo com as regras fixadas no art. 29-A, § 2º, I, II e III, ou seja: a) efetuar repasse que supere os limites fixados no art. 29-A; b) não enviar o referido repasse até o dia 20 de cada mês; c) enviar o repasse a menor em relação à proporção fixada na lei orçamentária. Muito embora referida EC tenha entrado em vigor em 1.0.01.2001, entendemos necessária a previsão legal, tipificando referidas hipóteses, sob pena de se ferir o princípio constitucional do nullum crimen nulla poena sine praevia lege. A lei, por todo o exposto, só poderá definir a competência da Câmara Municipal para o julgamento da infração político-administrativa, cometida pelo Prefeito Municipal. STF, SÚMULA Nº 703: A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do decreto-lei 201/1967. STJ, Súmula164: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67. Foro por prerrogativa de função e jurisdições de categorias diversas Consoante a Súmula 704 do STF, "não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados". Por exemplo, em crimes de quadrilha, peculato e apropriação indébita imputados a juiz de direito, serventuários da Justiça e advogados. Em face dos princípios da conexão e continência e tendo em vista, ainda, a jurisdição de maior graduação (art. 78, III, do CPP), nos termos do art. 96, III, da CF/88, dada a presença, entre os acusados, de um juiz de direito, a competência, de acordo com as circunstâncias do caso e se assim se demonstrar e se justificar, será do TJ para o julgamento de todos (vide vários precedentes: HC 68.846-RJ - RTJ 1571563; HC 74.573-RJ - DJU de 30.04.1998; PET 760-DF - RTJ 1551722; HC 79.922-RJ, Rei. Min. Néri da Silveira, 29.02.2000 etc.). Esse entendimento de não se adotar a regra (técnica) do desmembramento foi sustentado, também, no inquérito do "mensalão" (lnq. 2.245), mantendo-se a investigação contra os denunciados no STF, mesmo não tendo alguns prerrogativa de foro. Ainda, o STF, negando o desmembramento, declarou não ser obrigatório o preenchimento do princípio do duplo grau de jurisdição nas causas de sua competência originária, prevalecendo a regra da CF/88 inclusive em relação a tratados internacionais de direitos humanos, no caso o Pacto de São José da Costa Rica, que destaca o referido princípio do duplo grau de jurisdição (cf. RHC 79.785, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, j. 29.03.2000, Plenário, DJ de 22.11.2002). Crime de responsabilidade x Improbidade administrativa O STF possuía entendimento que seria impossível a responsabilização simultânea por crime de responsabilidade e por improbidade administrativa de agentes políticos. Com exceção do Presidente da República, o STF atualmente alterou seu posicionamento: (...) Excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da República (art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal (art. 86), não há norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, § 4.º. Seria incompatível com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitucional que impusesse imunidade dessa natureza. (...) (Rcl 2790/SC, Rel. Min. Teori AlbinoZavascki, Corte Especial, julgado em 02/12/2009) “MEDIDA CAUTELAR INOMINADA INCIDENTAL” – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – AGENTE POLÍTICO – COMPORTAMENTO ALEGADAMENTE OCORRIDO NO EXERCÍCIO DE MANDATO DE GOVERNADOR DE ESTADO – POSSIBILIDADE DE DUPLA SUJEIÇÃO TANTO AO REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO POLÍTICA, MEDIANTE “IMPEACHMENT” (LEI Nº 1.079/50), DESDE QUE AINDA TITULAR DE REFERIDO MANDATO ELETIVO, QUANTO À DISCIPLINA NORMATIVA DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429/92) – EXTINÇÃO SUBSEQUENTE DO MANDATO DE GOVERNADOR DE ESTADO – EXCLUSÃO DO REGIME FUNDADO NA LEI Nº 1.079/50 (ART. 76, PARÁGRAFO ÚNICO) – PLEITO QUE OBJETIVA EXTINGUIR PROCESSO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, EM RAZÃO DE, À ÉPOCA DOS FATOS, A AUTORA OSTENTAR A QUALIDADE DE CHEFE DO PODER EXECUTIVO – LEGITIMIDADE, CONTUDO, DE APLICAÇÃO, A EX-GOVERNADOR DE ESTADO, DO REGIME JURÍDICO FUNDADO NA LEI Nº 8.429/92 – DOUTRINA – PRECEDENTES – REGIME DE PLENA RESPONSABILIDADE DOS AGENTES ESTATAIS, INCLUSIVE DOS AGENTES POLÍTICOS, COMO EXPRESSÃO NECESSÁRIA DO PRIMADO DA IDEIA REPUBLICANA – O RESPEITO À MORALIDADE ADMINISTRATIVA COMO PRESSUPOSTO LEGITIMADOR DOS ATOS GOVERNAMENTAIS – PRETENSÃO QUE, SE ACOLHIDA, TRANSGREDIRIA O DOGMA REPUBLICANO DA RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS – DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO À AÇÃO CAUTELAR – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE AGRAVO – PARECER DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA POR SEU IMPROVIMENTO – RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (AC 3585 AgR / RS - RIO GRANDE DO SUL Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 02/09/2014 Órgão Julgador: Segunda Turma DJe-211 DIVULG 24-10-2014 PUBLIC 28-10-2014) PODER REGULAMENTAR, PODER REGULADOR E AGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS. 4.8.1 PODER REGULAMENTAR O poder regulamentar é a prerrogativa constitucional de editar normas secundárias destinadas ao detalhamento e à execução administrativa das leis e dos demais atos normativos primários. O poder regulamentar, porém, não significa a mera repetição das disposições legais. Se a tarefa tem por finalidade esmiuçar, detalhar o conteúdo das normas regulamentadas, o exercício do poder regulamentar exige da autoridade um trabalho tanto de interpretação da lei a regulamentar - o que se deve fazer de acordo com a Constituição - quanto uma atividade tipicamente normativa, e não simplesmente administrativa, já que também o regulamento conterá normas genéricas e abstratas. Já o conteúdo dessa atividade normativa regulamentar desenrola-se de forma secundária, conquanto subordinada: (a) diretamente, aos comandos da lei regulamentada, pois o regulamento não poderá desviar-se da perspectiva normativa traçada pelo legislador; e (b) indiretamente, ao princípio constitucional da legalidade (inciso li do art. 5°), já que a atividade regulamentar não pode estabelecer às pessoas alguma obrigação que não esteja previamente disposta na lei (ou em ato com força similar). Como regra geral, o Presidente da República materializa as competências do art. 84 por decretos. É o instrumento através do qual se manifesta. No tocante às leis, algumas são autoexecutáveis. Outras precisam de regulamento para que seja dado fiel cumprimento aos seus preceitos. Para tanto, são expedidos os decretos regulamentares. Não cabe ao Presidente, a princípio, a expedição de ato normativo primário, mas somente secundário. Quer dizer que seus atos normativos não inovam o ordenamento, fazendo surgir direitos e obrigações; só explicitam o “modus faciendi” da administração pública. Só cabe poder regulamentar quando a lei regulamentada se refira à matéria administrativa, não se admitindo regulamentação em matéria de direito privado, por exemplo. Nesse sentido, pelo atual regime constitucional, via de regra, somente podem ser editados decretos de execução, ou seja, atos com o objetivo de regulamentar a atuação genérica e abstrata do legislador. Até porque, nos termos do art. 25 do ADCT, foram revogados pelo constituinte todos os dispositivos legais que atribuíam ou delegavam, a órgão do Poder Executivo, competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que diz respeito a qualquer "ação normativa". Todavia, quanto a assuntos em relação aos quais há necessidade de constantes alterações, sobretudo em setores ligados aos rápidos avanços da tecnologia ou das práticas sociais, há quem defenda uma maior amplitude ao poder regulamentar, desde que observados certos limites, conceitos, padrões ou objetivos fixados em lei (teoria norte-americana do delegation with standards). E foi com esse fundamento, ainda, que o STF reputou constitucional a fixação de valores: para o salário mínimo, por parte do Presidente da República, conforme diretrizes dadas na Lei i2.381/2ou (ADln 4.568/DF) Embora os atos regulamentares sejam hierarquicamente inferiores à lei, o princípio da independência dos Poderes impede que o Legislativo promova interferências ou crie condicionantes ao exercício regular, por parte do Executivo, do poder regulamentar. Com esse fundamento, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da fixação de prazo, pelo legislador, para que o chefe do Executivo regulamentasse a lei (ADln 3.394/AM). Por razões excepcionais, admite-se que determinados tipos legislativos, embora enquadrados numa definição lato sensu de leis administrativas, só possam ser regulamentados por órgãos estranhos ao Executivo. É o caso, por exemplo, das leis eleitorais, cuja regulamentação cabe ao TSE, conforme art. 121 da Constituição, c/c artigos lº, parágrafo único, e art. 23, IX, do Código Eleitoral. DECRETOS AUTÔNOMOS Os decretos autônomos são atos do Presidente da República que veiculam normas a estabelecer proibições, mandamentos ou permissões que antes não estavam previstas no ordenamento jurídico. Cuida-se de atos normativos que buscam validade diretamente da Constituição, como se fossem repertórios de normas primárias, sobretudo enquanto o legislador não tenha ainda disciplinado certo assunto da incumbência do Congresso Nacional A EC nº 32/01 inaugurou, no sistema constitucional de 88, a assim chamado decreto autônomo (art. 84, VI), isto é, decreto de perfil não regulamentar, cujo fundamento de validade decorre diretamente da CF. Mas este decreto limita-se às hipóteses de “organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos, e de extinção de funções ou cargos quando vagos”. Nessas situações, a atuação do Executivo não possui força criadora autônoma, nem possui aptidão para inovar decisivamente na ordem jurídica. STF: é possível decreto autônomo em caráter excepcional e somente quando expressamente autorizado pela Constituição. Por ser fonte secundária do direito, decretos autônomos independentes de lei preexistentes padecem de vício de legalidade, podendo, inclusive, o Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem o poder regulamentar (art. 49,V). Todavia, Apesar de grande parte da doutrina manifestar-se pela inexistência de acolhida constitucional dos regulamentos autônomos, o STF não desconhece essa realidade e admite, até mesmo, o controle por ADI genérica, na hipótese de decreto autônomo revestido de indiscutível conteúdo normativo. Pacífico o entendimento do STF dizendo que não cabe controle concentrado de constitucionalidade, mas apensas de legalidade, de modo difuso. Assim descreve: “Já se firmou o entendimento desta Corte no sentido de que não cabe ação direta de inconstitucionalidade com a norma reguladora de lei que é atacada por ir além do disposto na lei regulamentada ou contra ela, porquanto nesse caso se está diante de questão de ilegalidade e não de inconstitucionalidade. Ação de inconstitucionalidade não conhecida, ficando prejudicado o pedido de liminar" (ADI 1.866-DF, Rei. Min. Moreira Alves, DJ de 12.02.1999, p. l, Ement. v. 01938-01, p. 27, j. 29.10.1998, Tribunal Pleno). DECRETO DELEGADO São aqueles decretos que, editados a pretexto de autorizadospela lei, pretendem impor permissões, autorizações ou proibições que deveriam sujeitar-se ao regime legal. Cuida-se da prática de delegação mediante autorização legislativa. Por certo, a Lei Maior não comparece com delegações legislativas puras ou incondicionadas. Por outro lado, também não se pode falar em delegação proibida de atribuições (ADI 2.378). Com isso, vê-se que é possível o decreto autorizado, desde que fixado os “standards” mínimos. O que é inconstitucional é a delegação em branco. Como já decidiu o STF, o Legislativo não pode promover delegação normativa ao chefe do Executivo por meio de lei ordinária. Para a Suprema Corte, o "Executivo não pode, fundando-se em mera permissão legislativa constante de lei comum, valer-se do regulamento delegado ou autorizado como sucedâneo da lei delegada para o efeito de disciplinar, normativamente, temas sujeitos a reserva constitucional de lei" (ADlnMC 1.296/PE) Decreto de execução Decretos expedidos com o objetivo de regulamentar a atuação genérica e abstrata do legislador. Decreto autônomo Decretos que veiculam normas que estabelecem proibições, mandamentos ou permissões que não estavam previstas no ordenamento jurídico. Cuida-se de atos que buscam validade diretamente da Constituição, como se fossem normas primárias. Decreto delegado Decretos que, sob a suposta autorização da lei, pretendem impor permissões, autorizações ou proibições que deveriam sujeitar-se ao regime legal. Por outro lado, é óbvio que alguns dos atos da competência presidencial, embora veiculados por decreto, inovam o ordenamento jurídico, independentemente da existência de lei anterior, tais como o decreto de estado de sítio e de intervenção federal (art. 84, X), de nomeação de juízes para compor tribunais, de indulto (art. 84, XII). Nesses casos, porém, não há falar-se em poder regulamentar - até porque o legislador não tem atribuições para tratar desses assuntos -, mas em mero exercício das atribuições constitucionais privativas do Presidente da República. A doutrina majoritária explica que, na redação original da Constituição, por força dos artigos 84, IV; 5°, II (princípio da legalidade); 2° (princípio da separação dos Poderes); e 25 do ADCT; foram abolidos os decretos autônomos e os decretos delegados. Contudo, ao alterar a redação do inciso VI do art. 84 da Constituição, a EC 32/2001 passou a permitir a utilização de decreto autônomo para as seguintes hipóteses: (a) organização e funcionamento da Administração federal, quando isso não implique aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; e (b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. 4.8.2 PODER REGULADOR Maria Sylvia utiliza a nomenclatura Poder Normativo. O administrador não tem capacidade legislativa e política, então, o poder regulamentar tem como objetivo normatizar/regulamentar definindo regras complementares à previsão legal buscando sua fiel execução. Quando complementa lei, busca a sua fiel execução (sua melhor aplicação). Ex.: A Lei n. 10.520/2002 (pregão) estabelece que o pregão deve ser utilizado para bens e serviços comuns, que é aquele que pode ser conceituado com expressão usual de mercado. Essa lei depende de complementação para saber o que é expressão usual de mercado. Um ato no exercício do poder regulamentar complementa essa previsão legal, permitindo a sua fiel execução. Exemplos de atos regulamentares: regulamentos, portarias, instruções normativas, resoluções, deliberações, regimentos. REGULAMENTO ≠ DECRETO REGULAMENTAR: sempre que um ato normatiza uma situação, chama-se de regulamento (decorre do conteúdo desse ato). Mas para que ele ganhe um formato/uma forma tem que ser via decreto regulamentar. Nem todo decreto tem conteúdo de regulamento, ex. nomeação de um servidor. REGULAMENTO ≠ LEI: há duas diferenças significativas: 1. a lei é feita através de um processo legislativo rigoroso, público, com deliberações parlamentar e executiva, com muitas formalidades. O regulamento não é feito via procedimento; ele não tem qualquer formalidade; não há deliberações. 2. quem faz lei é a casa legislativa, na qual existem vários representantes de vários interesses, classes sociais, regiões, grupos, etc. Assim, a Casa Legislativa tem, em tese o interesse de toda a sociedade. Já o regulamento é feito, em regra, pelo Chefe do PE. Assim, o regulamento surgiu com o objetivo inicial de vir como regulamento executivo, para dar fiel execução da lei. REGULAMENTO EXECUTIVO: complementa a lei buscando sua execução a lei, esse é o exercício do poder regulamentar. Tem seu fundamento de validade na lei. Ex.: art. 84, IV da Constituição. 4.9 AGÊNCIAS REGULADORAS: Com a evolução das atividades estatais, direcionadas a atender as necessidades sociais, a Administração Pública procura ampliar e adaptar sua área de atuação e acompanhar o desenvolvimento tecnológico, seja diretamente por meio de seus órgãos, seja mediante entidades da Administração Indireta ou ainda por intermédio de concessões e permissões conferidas a particulares. As Agências Reguladoras surgem nesse panorama com o intuito principal de exercer o controle, a fiscalização e fixar diretrizes de atuação, sobretudo acerca das atividades das concessionárias e permissionárias, tanto as prestadoras de serviços públicos quanto as exploradoras de atividades econômicas. 4.9.1 NATUREZA JURÍDICA Atualmente essas agências são consideradas autarquias de regime especial em virtude de algumas características a elas atribuídas, que as diferenciam dos demais integrantes da Administração Indireta, havendo maior autonomia em face da Administração Pública, principalmente no tocante ao caráter final de suas decisões, vez que estas não se submetem a revisões por outros entes administrativos. O referido regime especial das agências compreende um conjunto de privilégios específicos, com vistas à consecução de suas finalidades, dentre os quais se destacam a estabilidade de seus dirigentes (que possuem mandato fixo e maior autonomia política frente à Administração Direta), a ampliação da autonomia financeira (auferem renda mediante outras fontes de arrecadação com liberdade de aplicação) e o poder normativo (que lhes confere competência para regulamentação de matérias a elas destinadas). Insta destacar a existência de dois tipos de agências reguladoras: As que exercem típico poder de polícia, impondo limitações administrativas com previsão legal, em atividades de fiscalização ou repressão, como é o caso, por exemplo, da Agência Nacional de Saúde Pública Suplementar (ANS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As que controlam e regulam as atividades que figuram como objeto de concessão, permissão ou autorização de serviço público ou de exploração de bem público, como é o caso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). 4.9.2 PODER NORMATIVO Entende-se por poder normativo aquele conferido à Administração para, mediante "expedição de decretos e regulamentos, oferecer fiel execução à lei" (SPITSCOVSKY, Direito Administrativo, 2005, p. 90). No que atine às Agências Reguladoras, prevalece que o seu poder normativo deve se limitar à elaboração de regramentos de caráter estritamente técnico e econômico, restritos ao seu campo de atuação, sem invasão das matérias reservadas à lei, sob pena de violação ao princípio da legalidade. Esse talvez seja o ponto de maior discussão dentre os estudiosos contemporâneos, já que a abrangência do poder conferido às agências pode ser interpretada como abusiva, conforme o entendimento adotado no sentido de consistir ou não determinada matéria reservada à elaboração legislativa ou passível de abordagem direta por meio de meros atos administrativos. Os questionamentos acerca do poder normativo deferido a essas agências se devem em grande parte à originária influência norte-americana, uma vez que, naquele país (Estados Unidos da América), tais agências possuem considerável liberdade legiferante.Daí porque leciona Paulo Magalhães da Costa Coelho: "As agências reguladoras têm inspiração no direito americano, no qual se identificam como qualquer autoridade pública. Lá, têm competência para editar normas jurídicas, como também atos administrativos, se o Estado, por meio do Poder Legislativo, lhes der essa competência" (Manual de Direito Administrativo, p.89). Como desdobramento dessa posição, parte da doutrina enfatiza abusos temerários a serem perpetrados por esses entes. Assim, adverte Celso Antônio Bandeira de Mello: "Desgraçadamente, pode-se prever que ditas "agências" certamente exorbitarão de seus poderes. Fundadas na titulação que lhes foi atribuída, irão supor-se - e assim o farão, naturalmente, todos os desavisados - investidas dos mesmos poderes que as "agências" norte-americanas possuem, o que seria descabido em face do Direito Brasileiro, cuja estrutura e índole são radicalmente diversas do Direito norte-americano" (Curso de Direito Administrativo, 13ª ed., p.134). Cabe também mencionar relevante posição que procura distinguir as expressões "regular" e "regulamentar", trazendo reflexos na delimitação do poder normativo das agências reguladoras. Segundo a definição dos principais dicionários nacionais, regular significa encaminhar conforme a lei, sujeitar a regras, enquanto que regulamentar seria sujeitar a regulamento, regularizar (Novo Aurélio, Século XXI, 1999, p.1733, Ed. Nova Fronteira e Houaiss, 2001, p. 2418, Ed.Objetiva). Embora as duas expressões comumente sejam utilizadas como sinônimas, no âmbito jurídico apontam-se distinções, traçando a regulação como termo eminentemente ligado à técnica e à economia, enquanto a regulamentação contemplaria um critério predominantemente político. Assim, argumenta-se que as Agências Reguladoras só atuariam no campo da regulação, especificando aspectos técnicos e econômicos das normas legais e atos normativos expedidos pelo Poder Executivo, estando impedidas de abordar a regulamentação, que seria exclusiva do Poder Legislativo no seu ofício precípuo de atualizar e inovar o ordenamento ou do Poder Executivo, como Administração Direta, quando da expedição de atos visando fiel execução à legislação, dentro dos limites nela definidos. Em suma, prevalece que, em princípio, ao Poder Legislativo incumbe a criação das leis (legislar e regulamentar), que serão executadas pelo Poder Executivo, mediante atos administrativos pautados nos limites legais (regulamentar), que por sua vez poderão ser especificados em seus aspectos técnicos e econômicos pelo poder normativo das agências reguladoras (regular). AGÊNCIAS REGULADORAS BRASILEIRAS Em nítido crescimento nos últimos tempos, a criação de agências reguladoras tem se mostrado como uma tendência no ordenamento jurídico brasileiro, podendo-se destacar algumas de maior relevância atualmente: Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) - Criada pela Lei Federal nº 9.427/96, vinculada ao Ministério das Minas e Energia, com fundamento no artigo 21, inciso XII, alínea "b" da Constituição Federal, com competência para regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, devendo atuar nas concessões e permissões pertinentes. Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) - Criada por intermédio da Lei nº 9.472/97, com vinculação ao Ministério das Telecomunicações e tendo por fundamento o artigo 21, XI da CF, apresenta entre suas competências a regulação e fiscalização da execução dos serviços de telecomunicações, devendo atuar nas licitações, contratos e estipulação tarifária, conforme dispõe o artigo 15 de sua lei criadora. ANP (Agência Nacional do Petróleo) - Criada pela Lei nº 9.478/97, com base no artigo 177, §2º, III da CF, vinculada ao Ministério das Minas e Energia. Traz como competências a regulação e fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis. Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - Ente criado pela Lei nº 9.782/99, vinculado ao Ministério da Saúde, competente para promover a proteção da saúde pública pela fiscalização e controle sanitários da comercialização de produtos e de tecnologias pertinentes. Uma das principais atribuições é a expedição de atos administrativos que complementam as normas penais em branco que tipificam os crimes da Lei Antidrogas (Lei Federal nº 11.343/06), tratando-se atualmente da Portaria nº 344/98, inicialmente editada pelo Ministério da Saúde e posteriormente atualizada por meio de Resoluções da Anvisa (atual Resolução RDC nº 18/2003), definindo as substâncias a serem consideradas como drogas para fins penais. ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) - Criada pela Lei nº 9.961/00, baseada no artigo 197 da CF, vinculada ao Ministério da Saúde, tendo por competência supervisionar os serviços de saúde, regula as operadoras, inclusive nas suas relações com os consumidores, consoante artigo 3º da lei epigrafada. ANA (Agência Nacional de Águas) - Criação pela Lei nº 9.984/00, com vínculo ao Ministério do Meio Ambiente e fundamento no artigo 225 da Carta Magna. Competente para implementar a política nacional de proteção e gestão dos recursos hídricos. Antt (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) - Ambas criadas pela Lei nº 10.233/01, vinculadas ao Ministério dos Transportes, com fulcro no artigo 178 da CF. Conforme o artigo 20 da lei, têm competência para regular ou supervisionar a prestação de serviços e exploração da infra-estrutura de transportes terrestres e aquaviários, respectivamente. Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) - Criada pela Lei nº 11.182/05, vinculada ao Ministério da Defesa, tem como atribuição regular e fiscalizar as atividades de aviação civil e de infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária. Colocada em evidência em virtude dos recentes acidentes aéreos ocorridos no Brasil, tem sido bastante criticada e exigida no sentido de adoção de medidas visando melhorar o atendimento nos aeroportos e diminuir efetivamente os riscos de acidentes. CONCLUSÃO As agências acima apresentadas desempenham papel de suma importância para a atuação governamental, já que criadas justamente para possibilitar uma melhor prestação administrativa, com maior eficiência e buscando adaptação constante às exigências específicas dos serviços que lhes são cometidos. Face às ponderações ora lançadas, extrai-se que o poder normativo das agências reguladoras, aplicado dentro dos parâmetros legais e no intuito de assegurar o interesse público, consiste em importante instrumento para evitar ou mesmo reparar eventuais desequilíbrios e irregularidades nas prestações de serviços públicos e de atividades econômicas de interesse coletivo. DO CONSELHO DA REPÚBLICA. DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL. 4.10.1 O CONSELHO DA REPÚBLICA (art. 89, da CF) É órgão superior de consulta do Presidente da República e suas manifestações não terão, em hipótese alguma, caráter vinculatório aos atos a serem tomados pelo Presidente da República. O Conselho da República se reúne quando convocado pelo Presidente da República, sendo por este último presidido e tendo como componentes: o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal, os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados, os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, o Ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. A lei nº 8.041/90 regula a organização e funcionamento do Conselho da República, ao qual cabe manifesta-se sobre intervenção federal, o estado de defesa, o estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. O papel de auxílio ao Presidente, desempenhado por este Conselho, é meramente opinativoou consultivo. 4.10.2 O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL (art. 91) É órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático. Dele participam como membros natos o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Estado da Defesa, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. A Lei 8.183/91 regula a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional, competindo-lhe opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração de paz, bem como sobre decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; propor os critério e as condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos nacionais de qualquer tipo; estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de inciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. Ponto 5. Poder Judiciário. Natureza da função jurisdicional. As garantias do Poder Judiciário. O princípio da reserva legal na apreciação de lesão ou ameaça de lesão a direito individual e a direito coletivo. Poder Judiciário Federal e Poder Judiciário Estadual. O Conselho Nacional de Justiça, o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, o Conselho da Justiça Federal e os Tribunais Regionais Federais. A Justiça Federal de 1º Grau. Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Poder Judiciário. Natureza da função jurisdicional. As garantias do Poder Judiciário. O princípio da reserva legal na apreciação de lesão ou ameaça de lesão a direito individual e a direito coletivo. Poder Judiciário Federal e Poder Judiciário Estadual. O Conselho Nacional de Justiça, o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, o Conselho da Justiça Federal e os Tribunais Regionais Federais. A Justiça Federal de 1º Grau. Lei Orgânica da Magistratura Nacional. PODER JUDICIÁRIO. NATUREZA DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO. Natureza da função jurisdicional: Previsão normativa: art. art. 93 e ss, da CF/88 e LC 35/79. Contextualização: o Poder Judiciário, junto dos Poderes Legislativo e Executivo, é Poder Estatal, previsto pela Constituição, como decorrência da consagração da Teoria da Separação dos Poderes. Embora seja clássica a expressão separação de poderes, é preciso atentar-se para o fato de que o poder estatal é uno e indivisível, pelo que o mais adequado talvez fosse falar em distribuição de funções (Pelegrini). Conceito: por outro lado, em atenção à forma escolhida pelo constituinte, o Poder Judiciário é um dos três Poderes do Estado, ao qual foi atribuída a função típica de jurisdição, além de funções atípicas. Função típica do Poder Judiciário - Jurisdição: a função jurisdicional consiste na solução de conflitos (lides), mediante a interpretação e aplicação das normas jurídicas ao caso concreto, de modo definitivo e a partir de provocação do interessado. Tem como finalidade, portanto, a pacificação social. Marinoni têm anotado que a jurisdição não pode mais, sob a ótica de um Estado Democrático de Direito, se reduzir ao papel de simplesmente declarar o direito, devendo ser visto como importante instrumento de tutela concreta do Direito Material, que deve ter como norte a dignidade da pessoa humana. Outro aspecto importante refere-se ao fato de que o magistrado deve atuar com autonomia, com independência, mas, sobretudo, deve realizar uma jurisdição isonômica para os jurisdicionados. Daí a importância da uniformização da interpretação constitucional e da deferência às decisões dos tribunais superiores. Obs.: a atividade jurisdicional é essencial e ininterrupta, sendo vedadas férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente (art. 93, XII, CF). Natureza da Função Jurisdicional: trata-se de instrumento de pacificação social (Carnelluti), que se perfaz por meio da substitutividade (Chiovenda). Assim, o Estado substitui as partes e soluciona o seu conflito de modo definitivo. O clico histórico da evolução da justiça privada (que teve início com a autotutela - justiça das próprias mãos e passou pela autocomposição e arbitragem privada, em modos arcaicos) para a justiça pública, culminou na jurisdição estatal. Função Jurisdicional realizada por outros poderes: a função jurisdicional é típica do Poder Judiciário, como dito, mas atípica dos demais poderes (ex.: impeachment do presidente, pelo legislativo e processo administrativo disciplinar pelo executivo). Institutos correlatos – arbitragem, conciliação, mediação: o Estado não tem, por meio da jurisdição, o monopólio da solução dos conflitos, sendo admitidas em Direito, outras maneiras das partes buscarem uma solução. Tais formas são chamadas de equivalentes jurisdicionais: - Autotutela (admitida apenas excepcionalmente nos termos da lei – ex.: art. 1210, par. 1º, CC – desforço imediato no esbulho), - Autocomposição (tradicionalmente chamada de conciliação): art. 165, par.2º, NCPC – conciliador sugere soluções. - Mediação: art. 165, par. 3º, NCPC – mediador auxilia a compreender as questões e interesses e, como isto, restabelece a comunicação para que as partes encontrem uma solução. - Arbitragem: as partes escolhem um terceiro de sua confiança que solucionará o conflito e a decisão dele será impositiva. Importante: DISCUTE-SE SE AINDA HOJE A JURISDIÇÃO É MONOPÓLIO ESTATAL. 1ª Corrente: a jurisdição é monopólio estatal e, por isto, a arbitragem é apenas equivalente jurisdicional. Fundamento: o juiz e sua atuação se diferem substancialmente do árbitro, já que o primeiro se preocupa com o escopo do processo e toda a jurisdição. Já o segundo se preocupa apenas com a solução do caso. É a posição que predomina na doutrina, cf. Daniel Amorim. 2ª Corrente: a jurisdição não é monopólio estatal porque a arbitragem também é forma de jurisdição, sendo uma jurisdição privada. Fundamento: a arbitragem profere uma sentença arbitral que é título executivo judicial. Tal sentença faz coisa julgada material e só pode ser revisada pelo judiciário no caso de vícios formais da arbitragem e/ou da sentença arbitral. STJ – “a arbitragem tem natureza jurisdicional, sendo possível a existência de conflito de competência entre órgão jurisdicional e câmara arbitral” (CC 111.230/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, 08/05/13). STJ – “o convívio harmônico dos juízos arbitrais com os órgãos do judiciário constitui ponto fundamental ao prestígio da arbitragem (...) É válida, assim, a cláusula compromissória constante de acordo que excepcione ou reserve certas situações especiais a serem submetidas ao Judiciário, mormente quando essas demandem tutelas de urgência. (...) Apenas questões sobre direitos disponíveis são passíveis de submissão à arbitragem” (Resp 1331100, de 17/12/2015). A maioria da doutrina entende que a arbitragem é equivalente jurisdicional. A jurisprudência oscila, mas há importante julgado em que o STJ conclui pela arbitragem como jurisdição. STF e STJ admitem a arbitragem em contratos administrativos envolvendo o Estado, tomando-se por base a distinção entre direito público primário e secundário. STJ - MS 11.308/DF (julgado de 04/2008): (“7. Deveras, não é qualquer direito público sindicável na via arbitral, mas somente aqueles cognominados como "disponíveis", porquanto de natureza contratual ou privada. 8. A escorreita exegese da dicção legal impõe a distinção jus-filosófica entre o interesse público primário e o interesse da administração, cognominado “interesse público secundário”). OBS.: A Lei 13.129/15 incluiu o seguinte parágrafo no art. 1º da Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem): § 1º A administraçãopública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Funções Atípicas: recebem este nome exatamente porque, sendo típicas dos demais poderes, revelam-se para o Judiciário como atípicas. São praticadas por cada um dos demais poderes como funções típicas, mas pelo Judiciário de modo atípico, por delegação constitucional. Ex.: elaboração do regimento Interno de Tribunais – evidencia ato normativo, típico do Legislativo, mas que é desempenhado pelo Judiciário, como função atípica. Ex.: realização de concurso público de provas e títulos – evidencia ato de gestão, típico do Executivo, mas que é desempenhado no âmbito do Judiciário como função atípica. Reflexão: O Estado de Direito surgiu como limitador do poder arbitrário do Estado Absoluto. De lá pra cá, vivenciamos um paradigma liberal, social e democrático de direito. No liberal, com a predominância dos direitos de liberdade como forma de limitação do poder estatal, viu-se o poder legislativo assumir papel de destaque. No social, com a concretização (ou tentativa de) dos direitos sociais, viu-se o poder executivo assumir papel de destaque. No democrático, que pressupõe maior participação popular nas decisões políticas da sociedade, tem-se visto cabe vez mais uma participação ativa do Poder Judiciário como instrumento solucionador dos dilemas sociais de toda ordem. No contexto brasileiro, a baixa politização da sociedade e a total omissão dos demais poderes, têm alçado o Poder Judiciário à condição de instituição concretizadora dos direitos fundamentais e de coibição dos absurdos abusos praticados por agentes dos demais poderes. AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO Conceito: as garantias do poder judiciário são prerrogativas atribuídas à instituição e aos membros do poder judiciário como forma de garantir a independência deste Poder, no que se refere ao exercício funcional de seu mister. Fundamentos: tais garantias se fundamentam na separação de poderes e no Estado Democrático de Direito. Espécies: garantias institucionais e garantias dos membros. Garantias Institucionais: envolvem a instituição como um todo. Dizem respeito a sua composição e aparelhamento (99, da CF). a) Capacidade Normativa (autogoverno): os tribunais elaboram os seus respectivos Regimentos Internos. b) Autonomia Administrativa Funcional (autogoverno): possibilidade de eleger seus próprios órgãos diretivos, organizar sua estrutura administrativa interna, como suas secretarias, serviços auxiliares, e deliberar sobre assuntos próprios, como realização de concurso, concessão de benefícios e licenças aos seus integrantes. Engloba também atribuições inerentes ao poder de polícia e ao poder disciplinar. c) Autonomia Administrativa Financeira: os tribunais elaboram as suas propostas orçamentárias, nos limites estipulados com os demais poderes na LDO. Obs.: art. 98: § 2º, da CF: as custas e emolumentos serão destinados exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça. STF (ADI 4356, de 12/05/11): A autonomia financeira não se exaure na simples elaboração da proposta orçamentária, sendo consagrada, inclusive, na execução concreta do orçamento e na utilização das dotações postas em favor do Poder Judiciário. O diploma impugnado, ao restringir a execução orçamentária do Judiciário local, é formalmente inconstitucional, em razão da ausência de participação desse na elaboração do diploma legislativo. ” GARANTIAS DOS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO (95, DA CF): A) VITALICIEDADE: A vitaliciedade significa que o membro do PJ não pode ser destituído de seu cargo devendo nele permanecer até eventual falecimento ou aposentadoria compulsória, salvo por sentença judicial transitada em julgada. Obs.: com a EC 88/15, a aposentadoria compulsória dos Ministros do STF e Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU passou a ser aos 75 anos. STF negou pedido de desembargadores (que estavam com 69 anos quando da edição da EC 88) para lhes ser aplicada a regra da EC 88, entendendo que o fato da magistratura ter regime orgânico único não faz com que todas as regras válidas para os ministros do STF e dos tribunais superiores deva ser aplicado aos demais de qualquer instância. O tratamento uniforme impede distinções entre magistrados iguais (ADI 5316). Com a LC 152/15, essa passou a ser a idade de aposentadoria compulsória para todos os servidores públicos. A LC 152 foi vetada pela PR, mas o veto foi rejeitado pelo Congresso. Quem se aposentou compulsoriamente entre o veto e a sua rejeição porque completou 70 anos não tem direito de retorno ao serviço público porque a aposentadoria se perfaz no momento do implemento da idade, sendo o ato que formaliza a concessão apenas declaratório. Além disso, a rejeição do veto não tem efeitos retroativos. Obs.: mais detalhes sobre LC 152 (aposentadoria): ver Dizer o Direito. Obs.: existe ADI na AMB e Anamatra que pede a inconstitucionalidade da LC 152 questionando aposentadoria compulsória do PJ regulada pela LC 152, por entenderem que se trata de tema que não compete à iniciativa do legislativo ou executivo. O STF entendeu que a previsão da EC 88/15 de aplicação do art. III, a e b, da CF (no sentido de que ao completar 70 anos o Ministro do STF deveria ser submetido a nova sabatina pelo Senado para permanência no cargo) viola a vitaliciedade e a separação dos poderes (ADI 5316). A vitaliciedade é adquirida pelo juiz de 1º grau após 02 anos de efetivo exercício e para os demais, com a posse. Ex.: aqueles que ingressam pelo quinto constitucional ou por meio de nomeação do PR, no STF. Para o juiz de 1º grau, portanto, como antes dos 02 anos de EFETIVO exercício não há a garantia da vitaliciedade, é possível a perda do cargo por deliberação do tribunal ao qual é vinculado. A vitaliciedade, garantia dos membros do PJ não se confunde com a estabilidade atribuída aos servidores públicos (art. 41, CF), pois esta decorre do efetivo exercício da atividade em cargo efetivo, por três anos e admite-se a perda do cargo por decisão em processo administrativo ou judicial ou em decorrência de avaliação periódica. B) INAMOVIBILIDADE: A Inamovibilidade significa que, em regra, o juiz só pode ser removido ou promovido por iniciativa própria. Esta regra, no entanto, pode ser excepcionada em razão do interesse público, fundamentado em decisão da maioria absoluta do respectivo tribunal ou CNJ, garantida ampla defesa (93,VIII).STF: “a inamovibilidade é garantia de toda a magistratura, alcançando não apenas o juiz titular, como também o substituto” (MS 27958/DF). STF: é inconstitucional o art. 15, p.1º, da Res. 135, do CNJ, que prevê o afastamento cautelar de magistrado, do cargo, antes mesmo da instauração de processo administrativo disciplinar. Qualquer restrição às garantias da inamovibilidade e da vitaliciedade exige a promulgação de lei em sentido formal e material, sob pena de flagrante ofensa ao princípio da legalidade e ao devido processo legal. Sobre esta ADI, mais explicações no tópico – órgãos do PJ, abaixo - ADI 4638-MC. C) IRREDUTIBILIDADE DOS SUBSÍDIOS, ressalvado o disposto no art. 37, X e XI; 39, par. 4º; 150, II; 153, par. 2º, I: Trata-se de garantia que visa a atuação sem pressão por questões financeiras. A irredutibilidade, para alguns, deve ser real (com aplicação de correção monetária que compense perdas decorrentes da inflação) e para outros nominal ou jurídica (que apenas impede a redução dos números que compõem o subsídio). O STF entende que a CF consagra a irredutibilidade jurídica ou nominal, apenas. STF: o subsídio dos magistrados não pode ser diminuído nem mesmo em virtude de medida geral. Não prosperam, entretanto, as teses de que a ausência de reposição inflacionária e a ausência de correção da tabela do imposto de renda malfiram a garantia de irredutibilidade, já que esta se refere ao valor nominal do subsídio (ADI 1.396-3). No último caso, ainda há o empecilho