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Filosofia, corpo e exercício na Grécia Antiga Disciplina: Filosofia e dimensões históricas da Educação Física Prof. Tatyane Perna A Grécia, berço da cultura ocidental, viveu, em meados do século V a.C., uma grande explosão intelectual que abrangeu as esferas mais variadas do saber humano: Filosofia Astronomia Medicina Arquitetura Poesia Teatro Direito Educação Os grandes pensadores se debruçaram na temática que colocava o homem como centro do discurso (antropocentrismo); É nesse meio que as questões do corpo e do exercício passam a ser discutidas a fundo por filósofos e seus discípulos; O corpo era um elemento da existência humana bastante valorizado e cultuado na Grécia Antiga; Os pensadores gregos buscavam dissociar o corpo da alma; Eles acreditavam ser entidades distintas, que viveriam em equilíbrio durante a existência humana; O corpo representava o mundo material, suas imperfeições, instabilidades e degradações; Já a mente seria a morada dos pensamentos e das ideias, onde tudo poderia ser perfeito. Sócrates (470-399 a.C.) pensava na perspectiva do autoconhecimento; A consciência do corpo e da alma levava à evolução do ser humano (“conhece-te a ti mesmo”); Sócrates acreditava no equilíbrio entre corpo, alma e mente, sendo que nenhuma dessas partes poderia ser atingida sem que as demais também sofressem; Seu pensamento estimulou a assimilação e prescrição da ginástica médica, que buscava a saúde do corpo e o equilíbrio do homem como um todo. Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates: Defendia a alma como entidade perfeita e eterna, ao contrário do corpo, o qual considerava apenas a morada mundana e imperfeita da alma; Não negava a importância dos cuidados para com o corpo, sobretudo a prática da ginástica e das disputas atléticas; No entanto, o adestramento do corpo não deveria sobrepor o preparo da mente e da alma; Criou, em Atenas, a Academia, escola que preconizava a educação do homem como um todo (Paideia); Aprendiam Filosofia, Poesia e Astronomia e treinavam seu corpo com a prática da ginástica; Sobretudo, dedicavam-se à Matemática (Geometria). A preocupação com o corpo na Grécia Antiga não ficava apenas na esfera filosófica; Os gregos se preocupavam bastante com os próprios corpos, sendo o exercício físico uma prática muito disseminada na cultura; A veneração pelo corpo era refletida na construção mitológica da Grécia Antiga Os gregos cultuavam uma centena de deuses antropomórficos, aos quais atribuíam histórias e responsabilidades, que explicavam os acontecimentos terrenos. Para homenagear os deuses, os gregos realizavam disputas atléticas, denominadas jogos, onde os mortais tentavam copiar os feitos dos deuses; Nesses jogos, os campeões recebiam o título de semideuses e recebiam o status de heróis sobre-humanos; A preparação do físico para a participação nos jogos era uma tradição e envolvia os jovens desde a infância; Além da perspectiva religiosa, a preparação do corpo viril, robusto e enérgico era justificada pela postura agonística (de enfrentamento) do grego; Em função das constantes guerras enfrentadas pelos povos gregos, a cultura helênica cunhou um importante valor moral denominado aretê; O aretê tinha por característica valorizar a coragem e a prontidão do grego para o combate; Fugir, esconder-se, acovardar-se ou mesmo vacilar em uma situação de confronto não era tolerado dentro da ética grega antiga. Outra característica da cultura grega antiga que valorizava os cuidados com o corpo era a visão da beleza como valor moral desejável; Nas diversas áreas da cultura a funcionalidade das coisas não bastava, a beleza era fundamental; Assim, a arquitetura era bastante rebuscada, as poesias, vestimentas e obras de arte aspiravam à beleza como valor moral; O corpo humano também se enquadrava nessa forma de pensar; A beleza do corpo era desejável, alguém que não cuidasse de seu próprio corpo não era bem visto na sociedade, não inspirava confiança, sobretudo se fosse adepto dos vícios da bebida, da comida e do ócio. A apreciação da beleza do corpo durante os exercícios e competições era evidenciada pelo hábito de exercitar-se nu; Os gregos apreciavam as formas corporais executando os gestos de luta, os lançamentos de disco e dardo, as corridas; Em função disso, encontramos inúmeras estátuas representando gestos atléticos, nas quais os modelos encontram-se nus; A própria origem etimológica da palavra “ginástica” significa a arte de exercitar-se nu. A estátua mais conhecida nesta categoria é o Discóbolo, de Míron, símbolo da Educação Física: • Discóbolo (Lançador de discos) é uma famosa estátua do escultor grego Mirón - produzida em torno de 455 a.C. - que representa um atleta momentos antes de lançar um disco; • Mirón representa o corpo em seu momento de máxima tensão; • Assim como tantas outras obras gregas, perdeu-se o original feito de bronze e restaram apenas cópias romanas; • É uma das estátuas mais conhecidas da arte grega e a estátua mais famosa de um desportista em ação. Educação... O modelo educacional preconizado pelos educadores e filósofos buscava formar o Homem Integral; Essa educação global foi denominada Paideia e foi aplicada, sobretudo, nas cidades gregas aliadas de Atenas, adeptas do modelo democrático e possuidoras de grande desenvolvimento intelectual; As cidades aliadas de Esparta tinham uma sociedade militarizada e a educação priorizava o desenvolvimento físico e o adestramento para as guerras. A cultura da Grécia Antiga e o exercício Os gregos eram um povo mercantilista e por isso tinham grande domínio na tecnologia naval; Algumas cidades, tais como Atenas, foram verdadeiras potências comerciais e militares com esquadras grandiosas e poderosas; Outras cidades, tais como Esparta, foram grandiosas como potências militares terrestres; Nota-se que os gregos eram muito belicosos, vivenciando muitas guerras; Devido a este convívio próximo com a guerra, o grego desenvolveu um espírito de combatividade bastante aguçado. O nível superior de violência física nos jogos antigos correspondia às características da sociedade grega antiga; O desejo pelo combate valoroso tornava as lutas muito violentas nos jogos gregos, pois, de acordo com as regras, não eram permitidos golpes baixos e covardes, fugas ou matar seu adversário em combate atlético; Fora isso, o nível de violência era bastante tolerado; A regulamentação das atividades atléticas coibindo o uso da violência é uma das características fundamentais do esporte moderno. Os jogos na Grécia Antiga A religião dos gregos tinha o caráter politeísta antropomórfico, eram adorados deuses que possuíam poderes divinos e formas humanas; Os gregos também adoravam a semideuses ou heróis divinizados em função de suas gloriosas ações, como Héracles (Hércules), Aquiles, Teseu, Perseu e Orfeu; Os heróis eram semideuses com poderes extraordinários, que viviam entre os homens realizando feitos incríveis Foi no âmbito do culto às divindades e aos heróis que surgiram os jogos; Inspirados nos heróis, os gregos organizavam grandes festas, que reuniam gregos vindos de toda Grécia; As festas religiosas contemplavam cerimônias, sacrifícios e grandes concursos atléticos, os jogos, realizados em honra aos deuses; Os Jogos mais célebres da Grécia Antiga foram: os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia, em honra de Zeus; os Jogos Píticos, realizados em Delfos, em honra de Apolo; os Jogos Nemaicos, em Neméia, em honra de Zeus; e os Jogos Ístmicos, realizados próximo a Corinto, em honra de Poseidon Jogos Olímpicos Para homenagear Zeus, a cada quatroanos eram promovidos os Jogos Olímpicos, em Olímpia, local onde esse deus era especialmente venerado; Esses jogos eram soberanos sobre todas as outras festas religiosas na Grécia Antiga e foram realizados sem interrupção durante doze séculos; A origem dos Jogos Olímpicos está mesclada à mitologia. Acredita-se que o herói Héracles foi o criador dos jogos realizados em Olímpia em honra de Zeus, seu pai; No entanto, registros históricos apontam o surgimento dos jogos a partir de um tratado de paz firmado em Olímpia no ano de 884 a.C., entre os reis de Pisa, Elis e Esparta. São considerados os primeiros Jogos Olímpicos da Grécia Antiga aqueles realizados no ano de 776 a.C., pois foi a partir de então que se encontraram registros dos nomes dos campeões dos jogos; A cada quatro anos, embaixadores sagrados eram enviados a todas as partes da Grécia Antiga para anunciar a realização dos jogos olímpicos, proclamando a trégua sagrada: durante os jogos, as guerras e conflitos entre as cidades–estados eram suspensos; Jogos Olímpicos Para que o atleta estivesse credenciado a participar dos jogos, precisava obedecer ao seguinte código: Ser cidadão livre: nem escravo, nem estrangeiro Não ter sido punido pela Justiça, nem ter moral duvidosa Estar inscrito dentro do prazo e comparecer ao ginásio de Elis para cumprir o estágio de concentração, passar pelas provas classificatórias e prestar juramento É proibido provocar a morte do adversário de forma voluntária ou involuntária É proibido empurrar o adversário, prossegui-lo fora dos limites determinados ou utilizar-se de comportamento desleal É proibido amedrontar A corrupção de árbitros e participantes é punida com chicote Todo concorrente contra quem não se apresentar adversário será considerado vencedor É proibido ao participante rebelar-se, publicamente, contra as decisões dos juízes Todo concorrente descontente com uma decisão pode recorrer ao Senado olímpico contra os árbitros. As mulheres são proibidas de assistirem aos jogos Eram disputadas as seguintes modalidades nos jogos: no estádio realizava-se a corrida a pé simples e dupla, Hoplitódromos (corrida com armas), a luta com mãos espalmadas, o pugilato (Luta que terminava quando um dos atletas ficava inconsciente ou desistia), o pancrácio (Luta em que valia tudo) e o pentatlo (composto por cinco provas – salto, corrida, luta, lançamento de disco e pugilato). No hipódromo, realizavam-se as corridas de carros, com quatro (quadrigas) ou dois cavalos (bigas), Apene (carros atrelados com mulas) e Calpe (cavalos montados). O vencedor era designado pelos helanódices (organizadores e juízes) e proclamado pelo arauto (oficial encarregado de proclamações); Ele recebia como prêmio uma coroa feita com ramos de oliveira; Sua glória era imensa, o campeão era recebido triunfalmente em sua cidade natal; Os nomes dos vencedores eram gravados nos muros dos edifícios públicos; Seus feitos eram narrados em placas de mármore com letras de ouro; Os mais famosos poetas imortalizavam-nos em versos líricos; Em algumas cidades os campeões recebiam isenção de impostos, casas, terras, títulos de nobreza e até recompensas em dinheiro Jogos Olímpicos A premiação dos atletas ocorria durante a cerimônia de encerramento dos Jogos, que era realizada no bosque sagrado em frente ao templo de Zeus. Ao final da premiação, os vencedores eram conduzidos para dentro do templo, onde agradeciam suas graças sob os pés da estátua de Zeus. Esse momento representava a maior ambição dos atletas, pois, sob a condição de “olimpiônicos”, eram aproximados dos deuses. Os jogos gregos eram festividades religiosas com disputas atléticas. Milo de Crotona: a história de um herói grego Milo detinha extraordinária força, o que o tornou um mito; Sua modalidade era a luta, e recebeu cinco títulos dos Jogos Olímpicos Antigos; A derrota de Milo para Timotheos, que marcou o fim da sua legendária carreira, aconteceu em 512 a.C., na 67ª Olimpíada; A luta se desenvolveu por horas sem que os atletas conseguissem anular seu oponente, até que a jovialidade de Timotheos prevaleceu e Milo, com mais de 40 anos, foi derrubado três vezes ao solo O treinamento de Milo abrangia exercícios como pesos, luta e o exercício de carregar diariamente um bezerro durante os quatros anos que separavam uma edição e outra dos Jogos Olímpicos. Milo desenvolveu sua força de forma descomunal devido ao seu treinamento, uma vez que, próximo à competição, o touro que era carregado por algumas centenas de metros pesava várias centenas de quilosEste hábito estabeleceu as fundações de um dos principais princípios do treinamento de força, o da aplicação da sobrecarga progressiva. É provável que as histórias de Milo de Crotona tenham sido amplamente exageradas, mas não há dúvida de que sua personalidade era muito impetuosa e que sua extraordinária força e condição física excedeu a força de seus rivais por mais de 20 anos consecutivos; Devido a sua personalidade forte e sua soberba, Milo teria provocado sua própria morte; Diz a lenda que, certo dia, ao andar por um bosque afastado, Milo teria avistado uma árvore rachada ao meio por ter sido atingida por um raio. Ciente de sua força, Milo teria tentado acabar de quebrar a árvore com as próprias mãos e acabou ficando preso na fissura e, sem ninguém para socorrê-lo, foi devorado por lobos. A mulher na Grécia Antiga O tratamento dado às mulheres gregas é diferente em função da cidade-estado em que viviam: as mulheres atenienses viviam reclusas em suas casas, enquanto as mulheres espartanas tinham uma vida pública mais permissiva, podiam se exercitar, eram livres para circular na cidade e recebiam a educação estatal destinada a atender às necessidades do seu meio social; Estas mulheres desempenhavam papeis sociais importantes, tinham como objetivo gerar filhos robustos e corajosos; Já as mulheres atenienses se mantinham confinadas em sua casa, cuidando dos afazeres do lar, tais como tecer, fabricar utensílios de cerâmica e cuidar dos filhos Na Grécia Antiga, as mulheres não podiam participar de competições atléticas juntamente com os homens. Os jogos, a disputa e a apreciação do corpo nu dos atletas fazia parte do universo masculino As mulheres que competiam nos Jogos de Hera não tinham o status de heroínas porque elas não preenchiam os requisitos dos heróis olímpicos e suas estruturas corporais e suas habilidades atléticas não remetiam às façanhas dos heróis. No entanto, nos Jogos da Deusa Hera, cujos primeiros registros datam de 200 a.C., havia a participação das mulheres, atletas jovens e solteiras em competições a cada quatro anos. Suas competições eram mais simples e não exigiam o mesmo preparo físico masculino Embora somente homens pudessem competir nas Olimpíadas, que eram em honra a Zeus, algumas mulheres tinham permissão para assistir; Essas mulheres eram jovens e solteiras à procura de um marido; Elas deveriam observar os corpos fortes e falar com seus irmãos ou pai sobre aquele atleta que queriam para marido; Entretanto, mulheres casadas eram proibidas de assistir às Olimpíadas sob pena de morte; Existe o registro de apenas uma violação, quando uma mulher se disfarçou de treinador para ver seu filho triunfar na competição do boxe; A partir dessa ocorrência foi promulgada uma lei que exigia a todos os atletas tirarem a roupa antes de entrarem na arena; Existem indícios de duas mulheres que participaram dos Jogos Olímpicos Antigos por possuírem pais e irmãos com bastante influência política: Kyniska de Esparta - Os cavalos da princesa espartana venceram a prova de quadrigas (carros puxados por quatro cavalos) das 96ª e 97ª Olimpíada (396 e 392 a.C.); Belistiche da Macedônia - vencedorana prova de quadrigas de potros da 128ª Olimpíada (268 a.C.) e na de biga de potros da 129ª Olimpíada; A proibição da presença de mulheres na audiência indica o quão limitada era a vida das mulheres casadas no cotidiano da Grécia Antiga. Em Olímpia, foram promovidas competições oficiais somente para as mulheres. Esses eventos foram chamados de “Jogos Heranos”, nome derivado do culto à deusa Hera (protetora das esposas e mães); Esses jogos consistiam de corridas a pé - as mulheres não participavam de modalidades mais violentas ou extenuantes, que pudessem colocar em risco a função da maternidade; Para as vencedoras entregavam-se as coroas de oliveiras, e oferendas e estátuas eram esculpidas com seus nomes inscritos A decadência dos Jogos Gregos Por volta do século V a.C., os povos gregos começam a entrar em declínio devido às sucessivas guerras travadas entre si (ex: Guerra do Peloponeso); Esses conflitos fizeram com que a população declinasse, as reservas econômicas se exaurissem e as defesas do mundo grego ficassem fragilizadas, expondo a Grécia a investida de inimigos externos; Em 338 a.C., Filipe II da Macedônia conquista toda a Grécia ocidental e inicia uma campanha de união dos povos gregos sob seu comando com o intuito de avançar sobre o Império Persa; Em 336 a.C., Filipe é assassinado e assume em seu lugar o seu jovem e brilhante filho Alexandre Magno (“O Grande”); conseguiu expandir as fronteiras do Império Macedônio por grande parte da Ásia, levando consigo a cultura grega e a fundindo com a cultura oriental, fundando cidades e bibliotecas por toda a vasta extensão de seu domínio Por essa época, os povos gregos continuaram realizando seus ritos religiosos e seus jogos em homenagens a seus deuses. No entanto, o orgulho da civilização grega estavam abalados, pois eram agora um povo dominado e não mais um conjunto de cidades livres, independentes e até democráticas. A moral, os costumes e as normas dos jogos mantiveram-se intactos durante o período de domínio macedônico, pois os macedônicos tinham aproximação cultural com os gregos, sobretudo seu líder Alexandre, grande entusiasta da cultura helênica. Com a morte precoce de Alexandre Magno, em 323 a.C., aos 33 anos de idade, os territórios conquistados foram divididos entre seus principais generais Em 146 a.C. os Romanos conquistaram a Grécia, anexando-a ao território de Roma e mantendo o jugo dos gregos, que puderam ser denominados cidadão romanos, caso se submetessem às leis de Roma, pagando impostos e fornecendo soldados para o Exército Romano Com o domínio de Roma sobre a Grécia, a cultura dos helenos foi preservada, seus ritos, jogos e funerais foram mantidos e sua educação e desenvolvimento científico e filosófico foram absorvidos por Roma No entanto, o povo grego não era mais livre e seu potencial criativo foi sendo reduzido juntamente com sua moral e orgulho nacionalista Após o domínio romano, muitas cidades de fora da Grécia começaram a participar dos jogos, que antes eram exclusivos dos gregos Os objetivos originais dos jogos eram homenagear os Deuses do Olimpo e, honrosamente, competir em busca da vitória através do bom combate A ética grega permeada pelo espírito combativo fazia dos jogos, sobretudo os Olímpicos (disputados em Olímpia, em honra Zeus), um momento solene de respeito e submissão aos deuses Os povos estrangeiros que passaram a participar dos jogos estavam interessados apenas na vitória a qualquer custo como forma de ganhar prestígio Com isso, o rígido código de regras dos jogos caiu em desuso e as disputas passaram a contar com vergonhosos episódios de trapaças e corrupção No ano de 67 d.C., os Jogos Olímpicos contaram com a participação do Imperador romano Nero, que era um admirador dos jogos. O imperador disputou a corrida de bigas e foi declarado vencedor, mesmo tendo sido derrubado por seu cavalo e não completando o percurso. Na ocasião, Nero competiu sozinho, pois os outros atletas se recusaram a competir com o imperador, temiam por suas vidas e de seus familiares caso vencessem o imperador, ou ainda pior, caso houvesse uma situação de acidente, bastante comum nas corridas de bigas, viessem a ferir Nero. Ele conquistou os louros olímpicos graças a um generoso suborno pago aos juízes que arbitravam a competição e, de forma humilhante, se autoproclamou deus dos romanos e deus dos gregos. Foi pautado nesse triste episódio da história dos Jogos Olímpicos que, quase 2 mil anos mais tarde, o Barão Pierre de Coubertin, idealizador do Olimpismo moderno, defendeu duramente o amadorismo esportivo Coubertin vislumbrava uma participação esportiva semelhante aos Jogos Olímpicos Antigos, quando era possível paralisar guerras, gerar o bom entendimento entre os jovens e oportunizar uma disputa leal e honrosa O amadorismo olímpico moderno perdurou até os Jogos de Barcelona, em 1992, quando os atletas e equipes profissionais puderam finalmente participar e o Comitê Olímpico Internacional se rendeu às forças do capitalismo e do marketing esportivo O imperador romano Teodósio converteu-se ao Cristianismo e aboliu todas as manifestações pagãs em 393 d.C., inclusive os Jogos Olímpicos na Grécia, colocando fim em uma história de mais de 12 séculos ininterruptos de jogos Este livro revela os fatos que a televisão e os jornais não contam a respeito das Olimpíadas e do esporte internacional. Durante quatro anos procuramos descobrir quem controla o esporte, para onde vai o dinheiro e porque um mundo considerado belo e puro tornou-se antidemocrático, obscuro, cheio de drogas e acabou leiloado para servir ao marketing das companhias multinacionais. Este livro, portanto, não fala dos competidores que lutam pelas medalhas de ouro. Trata do mundo oculto dos homens engravatados, dos homens que manipulam o esporte segundo seus próprios objetivos. Os exercícios físicos em Roma A economia romana era essencialmente agrícola; A sociedade estava dividida em patrícios, aristocratas e grandes proprietários de terra que possuíam privilégios políticos e religiosos Existia uma classe de homens livres, artesãos, pequenos comerciantes, que não tinham direitos políticos, os plebeus; Na sociedade romana, durante a monarquia, existiam também os escravos formados por povos conquistados ou escravizados por endividamento; No fim do século VII a.C., a monarquia deu lugar a um regime oligárquico e republicano, no qual o Senado passou a ser figura central no jogo do poder liderado pelas famílias abastadas da elite romana; República (séculos VI a.C.-I a.C.) O governo republicano foi caracterizado pelo domínio do poder administrativo, político e religioso nas mãos do Senado; A organização social, política e militar de Roma no período republicano foi motivada por pressões externas, como invasões, acordos comerciais... Nesse contexto, os plebeus foram gradativamente ganhando espaço na representação política no Senado, na criação de cargos de tribunos da plebe e na representação em uma Assembleia popular formada por representação dos grupos sociais Nos séculos seguintes (V a.C. a III a.C.), Roma conquistou toda a Península Itálica e se envolveu em muitos conflitos; A expansão territorial provocou muitas mudanças na estrutura de Roma, que delegou ao Senado a atribuição de administrar um vasto território e toda a riqueza que vinha de impostos; O enorme afluxo de bens das províncias conquistadas produziu um impacto na economia, com a queda cada vez mais acentuada dos preços dos produtos agrícolas; Os pequenos proprietários plebeus não conseguiram sobreviver com a concorrência dos abundantes e baratos produtos vindos das colônias e venderam suas terras, mudando-se para a cidade na condição de mão de obra de baixo custo A cidade de Roma passou a crescer desmedidamente,de forma descontrolada, o que elevou a tensão social Os plebeus perderam suas pequenas propriedades e seus empregos foram substituídos pela mão de obra escrava A crise da República Romana se agravou e as pressões sociais motivavam rebeliões e levantes populares. O Senado passou a oferecer Jogos Públicos como alternativa paliativa de contenção das tensões da plebe Nos Jogos, corridas e batalhas sangrentas ocupavam os humores da população cada vez mais pobre e oprimida No decorrer da história, o crescimento do poder militar de Roma elevou o prestígio de seus generais, que eram bem-sucedidos em campanhas de expansão de territórios ou em guerras para contensão de invasores; Esses generais recebiam a anuência do Senado para governar Roma como ditadores; Com o crescimento em prestígio de mais de um general, alianças foram criadas para evitar conflitos internos, assim surgem os triunviratos; O primeiro triunvirato foi formado pelos generais Caio Júlio César, Pompeu e Crasso Com o passar do tempo, uma rede de intrigas e disputas por poder desestabilizaram a tríplice aliança, e Júlio César, a quem era atribuída descendência divina, proclamou-se ditador; Em 44 a.C. foi proclamado ditador vitalício, o primeiro passo para a implantação do Império, no entanto, foi assassinado a facadas em pleno Senado; Após a morte de Júlio César, o vazio de poder foi preenchido pelo segundo triunvirato, originando novos confrontos. O conflito entre os generais levou a várias batalhas, que culminaram com a morte de Marco Antônio e a proclamação de Otávio como imperador; Otávio Augusto teceu uma série de reformas e fez promulgar uma nova Constituição em Roma; Com a diminuição do poder do Senado, o Imperador passou a ser cultuado como “divino”; Otávio distribuiu cargos e diminuiu a tensão entre as classes mais ricas de Roma Para agradar o povo (plebeus), Otávio passou a usar com frequência a oferta de Jogos Públicos, espetáculos sangrentos e corridas de carruagens e a doação de alimentos. “Política do pão e circo” O Baixo Império (séculos III d.C.-V d.C.) A partir do século III d.C., Roma entrou em uma série de crises; A economia passou a definhar, uma vez que a expansão territorial e as conquistas de novas terras estagnou; A captura de escravos reduziu drasticamente; o sistema de mão de obra escravagista passou a ser substituído por mão de obra assalariada; Ao mesmo tempo em que a crise econômica e militar aumentava cada vez mais, causando deserções e perda de territórios, o imperador, internamente, perdia poder e prestígio com o crescimento do cristianismo. A religião cristã crescia sobretudo junto à plebe e aos escravos, que se amparavam na promessa de uma vida melhor e da salvação A ética cristã privilegiava os pobres e afrontava o poder do imperador quando alegava existir apenas um Deus Na medida em que a derrocada econômica assolava o império, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo Os exercícios físicos em Roma No período monárquico: Eram realizadas, predominantemente, atividades utilitárias de preparação militar: exercícios equestres, marchas, corridas, esgrima, lutas e natação Nesse período, os Jogos Públicos já eram realizados em dias festivos, porém com um forte vínculo com cerimônias religiosas Na fase republicana, os Jogos Públicos tiveram grande desenvolvimento no sentido de entreter o povo em momentos de dificuldades internas; As atividades físicas eram, ainda, praticadas sobre forte preceito militar; no entanto, devido à expansão territorial e à miscigenação cultural, a prática atlética sofreu influência grega e algumas atividades higiênicas e esportivas foram agregadas: a filosofia grega para a prática de atividades gímnicas com objetivos pedagógicos gerais, buscando um desenvolvimento harmonioso e global do homem, não foi bem aceita entre os romanos A prática de atividades físicas e rigorosos treinamentos era limitada aos soldados do poderoso Exército Romano e aos escravos e profissionais que disputavam os Jogos Públicos A deturpação dos jogos ocorreu à medida que as atividades se tornavam cada vez mais espetaculares A disputa acirrada dos competidores inflamava os torcedores e não era rara a ocorrência de mortes em função de acidentes e sabotagens provocadas pelos adversários nas corridas de carros onde guerreiros fortemente armados combatiam até a morte. Também se realizavam nesses recintos as venações, combate entre feras selvagens ou entre gladiadores e feras Jogos Gladiadores Com a ascensão do cristianismo houve uma grande perseguição às atividades pagãs, levando à extinção dos Jogos Públicos e das práticas esportivas de origem greco-romana, de forma geral Filosofia, corpo e exercício na Grécia Antiga Número do slide 2 Número do slide 3 Número do slide 4 Número do slide 5 Número do slide 6 Número do slide 7 Número do slide 8 Número do slide 9 Número do slide 10 Número do slide 11 Número do slide 12 Educação... A cultura da Grécia Antiga e o exercício Número do slide 15 Os jogos na Grécia Antiga Número do slide 17 Jogos Olímpicos Número do slide 19 Número do slide 20 Número do slide 21 Número do slide 22 Número do slide 23 Milo de Crotona: a história de um herói grego Número do slide 25 Número do slide 26 A mulher na Grécia Antiga Número do slide 28 Número do slide 29 Número do slide 30 Número do slide 31 A decadência dos Jogos Gregos Número do slide 33 Número do slide 34 Número do slide 35 Número do slide 36 Número do slide 37 Número do slide 38 Os exercícios físicos em Roma Número do slide 40 República (séculos VI a.C.-I a.C.) Número do slide 42 Número do slide 43 Número do slide 44 Número do slide 45 Número do slide 46 Número do slide 47 O Baixo Império (séculos III d.C.-V d.C.) Número do slide 49 Os exercícios físicos em Roma Número do slide 51 Número do slide 52 Número do slide 53