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MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 37.ed. São Paulo: Forense, 2014 Fichamento Capítulo V FONTES DO DIREITO COMERCIAL “ Chamam-se fontes de direito os diversos modos pelos quais se estabelecem as regras jurídicas. 44 Costumam os autores dividir as fontes do direito em fontes materiais, ou seja, os elementos que concorrem para a criação das leis, e fontes formais, que são “a forma externa de manifestar-se o direito positivo”. Quando se trata de fonte do Direito Comercial, tem-se em vista a fonte formal, já que o que se procura é encontrar a norma jurídica para a sua aplicação no caso específico.” “ São fontes primárias do Direito Comercial as leis comerciais. No que respeita ao Direito Comercial brasileiro, são fontes primárias o Código Comercial e as leis que lhe seguiram. Essas leis podem ter revogado, modificado ou ampliado normas existentes no Código.” “ Para aplicação da lei comercial, segue-se o princípio geral de que a lei posterior revoga a anterior naquilo que a contraponha, salvo exceções expressamente enumeradas. Desse modo, a lei atual é a norma jurídica que deve ser aplicada ao caso concreto, considerando-se atuais todos os princípios legais não expressamente revogados, qualquer que seja a sua data.” “Como é natural, várias das leis que se seguiram ao Código Comercial foram repetidamente alteradas, tendo em vista o desenvolvimento das atividades comerciais e a necessidade de serem renovadas as normas desse Direito, a fim de melhor atenderem aos casos que surgem dia a dia. Sendo o Direito Comercial um direito dinâmico e progressista, a lei, que o assegura, deve estar em constante evolução, a fim de não perturbar o desenvolvimento econômico dos povos.” “ Devem-se entender como fontes primárias do Direito Comercial não apenas as leis, mas, igualmente, os regulamentos baixados pelo Poder Público a respeito de determinadas matérias e as leis e os tratados internacionais que o país tenha adotado ou a que tenha aderido.” “São fontes subsidiárias ou indiretas do Direito Comercial, a lei civil, os usos e costumes, a jurisprudência, a analogia e os princípios gerais de Direito. Assim, na falta de norma específica do Direito Comercial, deve-se recorrer a essas fontes, obedecendo-se, naturalmente, à ordem de sua enumeração.” “A lei civil é a primeira fonte subsidiária do Direito Comercial. Deve-se levar em consideração, porém, que nas matérias sobre obrigações, regem as leis civis não como fontes subsidiárias, mas como pressupostos do Direito Comercial.” “ Quando, porém, em matérias outras que não as obrigações, é omissa a lei comercial, deve-se recorrer, como fonte subsidiária, à lei civil, passando as suas regras a regular o assunto em questão.” “O Direito Civil é, além de pressuposto, uma fonte do Direito Comercial, cuja autoridade está hoje reconhecida. Nem sempre o Direito Civil se aplica ao Direito Comercial naquele caráter de pressuposto. A razão está certamente com Carvalho de Mendonça. A lei civil é comum ao Direito Comercial nos casos especificados na lei. Sendo, contudo, omissa a lei comercial, não havendo dispositivo declarando que a matéria será regida pela lei civil, deve-se procurar nos princípios desta a norma supletória que se aplique ao caso concreto.” “A segunda fonte subsidiária do Direito Comercial são os usos e costumes comerciais. São esses a prática continuada de certos atos, aceitos por todos os comerciantes como regras obrigatórias e que vigoram quando a lei, comercial ou civil, não possui normas expressas para regular o assunto. Os usos não devem ser contra os princípios da lei nem eivados de má-fé. São, justamente, considerados como o Direito Comercial não escrito. “ “Assim, apesar de dispor a lei que a solidariedade não se presume, devendo ser sempre expressa, havendo vários devedores ela é presumida; do mesmo modo, o anatocismo, ou seja, a cobrança de juros sobre juros, é proibido pela lei civil, mas admitido no contrato de conta corrente quando há uma verificação de saldo.” “Os usos e costumes do comércio são recolhidos no Brasil pelas Juntas Comerciais estaduais. Até bem pouco tempo, a uniformização de usos e praxes comerciais competia, no Distrito Federal, à Junta de Corretores de Mercadorias (Dec. nº 20.881, de 30 de dezembro de 1931), passando, posteriormente, a constar das atribuições do Departamento Nacional do Registro do Comércio, com a colaboração das Juntas Comerciais (Dec. nº 57.651, art. 10, nº VI). Com o advento da Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, o assentamento dos usos e práticas mercantis tornou-se incumbência das Juntas Comerciais de cada unidade federativa (Lei nº 8.934, art. 8º, nº VI). Os usos e práticas mercantis são coligidos pelas Juntas Comerciais e assentados em livro próprio, de ofício ou mediante provocação da Procuradoria do Estado (Lei nº 8.934, art. 28) ou de entidade de classe interessada, na forma prevista no Dec. nº 1.800, de 30 de janeiro de 1996, que regulamentou a Lei do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (arts. 87 e 88).” “Terceira fonte subsidiária do Direito Comercial é a jurisprudência, ou seja, as decisões continuadas dos tribunais sobre determinada matéria. Necessário será que os tribunais adotem um ponto de vista uniforme, formando doutrina a respeito do assunto. Daí logicamente se concluir que uma decisão isolada não constitui jurisprudência.” “Igualmente, constitui fonte subsidiária do Direito Comercial a analogia, ou seja, o julgamento de um assunto, para o qual não exista dispositivo específico na lei civil ou na comercial, nem uso comercial ou jurisprudência firmada, pelos mesmos princípios que regularam o julgamento de um caso semelhante. Por último, inexistindo quaisquer das fontes citadas, servirão de fontes subsidiárias do Direito Comercial os princípios gerais de direito que deverão ser aplicados para a solução do caso concreto. Essa fonte indireta do Direito Comercial tem o seu fundamento no art. 4º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, 57 Dec.-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, que assim se expressa: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.”