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DOCÊNCIA EM SAÚDE ZOONOSES E SAÚDE PÚBLICA 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842z Zoonoses e saúde pública / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 113p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-561-0 1. Zoonoses – Saúde pública. I. Portal Educação. II. Título. CDD 614.56 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4 2 HISTÓRICO ................................................................................................................................ 7 3 CONCEITO ................................................................................................................................ 14 4 CLASSIFICAÇÃO ..................................................................................................................... 16 5 HOSPEDEIROS ........................................................................................................................ 21 6 TRANSMISSÃO ........................................................................................................................ 23 7 ECOSSISTEMA ........................................................................................................................ 25 8 ANIMAIS SILVESTRES ............................................................................................................ 33 9 AGENTES CAUSADORES DAS ZOONOSES ......................................................................... 37 9.1 Bactérias .................................................................................................................................. 37 9.1.1 Brucelose ................................................................................................................................... 37 9.1.2 Botulismo ................................................................................................................................... 44 9.1.3 Leptospirose .............................................................................................................................. 46 9.1.4 Carbúnculo Hemático ................................................................................................................ 50 9.1.5 Doença de Lyme ....................................................................................................................... 52 9.1.6 Peste ......................................................................................................................................... 56 9.2 Vírus ......................................................................................................................................... 59 9.2.1 Raiva ......................................................................................................................................... 59 9.2.2 Febre Amarela ........................................................................................................................... 62 9.3 Fungos ...................................................................................................................................... 64 3 9.3.1 Dermatomicose ......................................................................................................................... 64 9.3.2 Esporotricose ............................................................................................................................. 67 9.4 Protozoários ............................................................................................................................. 68 9.4.1 Leishmaniose ........................................................................................................................... 68 9.4.2 Toxoplamose ............................................................................................................................. 74 9.5 Helmintos ................................................................................................................................. 76 9.5.1 Dipilidiose .................................................................................................................................. 77 9.5.2 Dirofilariose ................................................................................................................................ 78 9.5.3 Larva migrans ............................................................................................................................ 81 9.5.4 Teníase/cisticercose .................................................................................................................. 84 9.6 Príons ....................................................................................................................................... 89 9.6.1 Doença da vaca-louca ............................................................................................................... 89 9.7 Rickéttsias ................................................................................................................................ 92 9.7.1 Febre Maculosa ......................................................................................................................... 92 9.8 Ácaros ...................................................................................................................................... 95 9.8.1 Escabiose .................................................................................................................................. 95 10 SAÚDE PÚBLICA ..................................................................................................................... 98 10.1 Introdução ................................................................................................................................ 98 10.2 Conceituação ........................................................................................................................... 99 10.3 Formas de ocorrência das Zoonoses ................................................................................... 100 10.4 A Saúde Pública e o combate as Zoonoses ......................................................................... 101 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 112 4 1 INTRODUÇÃO Dentro do amplo grupo de enfermidades transmissíveis, as Zoonoses têm destacada importância, e a cada dia vêm despertando mais interesse das autoridades sanitárias e da comunidade científica. As Zoonoses na atualidade constituem os riscos mais frequentes e mais temíveis as quais a humanidade está exposta, relacionando-se neste contexto até 180 doenças já descritas. Figura 01: Representação da família no centro dos fatores de risco de exposição às Zoonoses. Fonte: Birdflubook, 2008. A principal característica das Zoonoses é que elas estão situadas em uma encruzilhada entre a Medicina e a Medicina Veterinária. Sua complicação ecológica eepidemiológica na maioria dos casos justifica sua persistência pelos tempos. Processos conhecidos desde os tempos mais remotos, como a raiva, seguem criando problemas. Outro fator relevante é a urbanização de grandes centros de maneira desordenada, sem oferecer muitas vezes à população o saneamento básico necessário. Também podemos 5 citar como fator de risco, o hábito de criar em casa e apartamento "animais de estimação" tais como cães, gatos, aves ornamentais, quelônios, hamsters e até pequenos símios. Figura 02: Animal de estimação. Fonte: Laura B. Martins, Portugal, 2006. O combate às Zoonoses é cada vez mais importante à medida que a população mundial aumenta e exige mais alimentos, principalmente de origem animal, para seu consumo. Esse fator provoca o incremento da indústria agropecuária, ocasionando mais impactos ambientais por meio da implementação de lavouras e aumento dos rebanhos, expondo cada vez mais as populações humana e animal aos riscos das Zoonoses. Por outro lado, os modernos meios de transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aeroviário favorecem a disseminação destas doenças por condução acidental de vertebrados (reservatórios) ou invertebrados (vetores) de uma região endêmica a outra indene (MIGUEL, 2005). 6 Figura 03: Fotografia que caracteriza o transporte de animais. Fonte: Universidade de Évora. Elevando, de maneira similar a probabilidade de transmissão de infecções, podemos relacionar a comercialização de animais (importação ou exportação) ou a sua apresentação em feiras agropecuárias ou exposições. Dessa forma, à medida que são erradicados ou controlados os processos infecciosos como febre amarela, varíola, difteria, raiva ou poliomielite, graças aos esforços dos órgãos de Vigilância Sanitária e Saúde Pública, outros novos processos vão se instalando. Se o homem quer proteger sua saúde, aumentar a produtividade e melhorar sua qualidade de vida deve incrementar seus esforços para controlar e erradicar as Zoonoses, direcionando suas ações para a proteção do meio ambiente, visando o equilíbrio ecológico. 7 2 HISTÓRICO É curioso que boa parte das primeiras referências históricas relacionadas com a existência e importância das Zoonoses procedem de escritores, filósofos e poetas. Desde os primórdios da história, o homem começou a perceber que era suscetível a adquirir doenças dos animais. A Era Mesolítica é representada por problemas médicos decorrentes do grande risco a que ficou exposto o homem ao viver em estreito convívio com os animais capturados e mantidos em cativeiro. Como os animais que se deixavam capturar eram, provavelmente, os mais fracos ou doentes, a situação se tornava ainda mais grave. Com o avanço do processo de domesticação dos animais, especialmente daquelas espécies fontes de alimento e vestimenta, o homem foi desenvolvendo um novo modo de vida que resultou no aumento do número de animais e de pessoas convivendo em estreita proximidade, ocasionando sérios problemas de saúde. Figura 04: Relação homem-animal no antigo Egito. Fonte: Carro Egípcio em Tratado de Zootecnia, Cornevin. A preocupação com as doenças dos animais já existia há pelo menos dois milênios antes da Era Cristã, pois achados antropológicos indicam que os egípcios já praticavam a medicina comparada. Os papiros de Kahunas elaborados por volta de 1800 a.C. descrevem 8 práticas pertinentes à Medicina Veterinária, assim como o Velho Testamento nos dá ampla indicação de que os hebreus, 1500 a.C., tinham consciência das doenças transmissíveis e conheciam inclusive, meios para prevenção. Figura 05: Pragas do Egito. Fonte: Daniel Lüdtke De acordo com Ávila-Pires (1989), há mais de mil anos os povos orientais associavam as epidemias de peste bubônica à presença de ratos e o relato bíblico da derrota dos israelitas pelos filisteus (l Samuel 5) constitui a primeira referência segura a esta doença. 9 Figura 06: Retrata passagem bíblica sobre peste. Fonte: Bible-history.com. Hipócrates (460-370 a.C.), considerado o pai da Medicina, em seu trabalho “Ar, Águas e Lugares”, admitiu a participação de fatores ambientais como causa de doenças. Aristóteles (384-322 a.C.) registrou em sua obra Historia Animalium observações sobre a ocorrência e tratamento de doenças animais, incluindo a transmissão da raiva. Virgílio, poeta romano do século I a.C., reconheceu que o carbúnculo hemático era transmitido ao homem pelo tosquiamento de carneiros mortos pela doença, descrevendo toda a evolução epizoótica da doença. Também em Roma, o médico grego Galeno (130-200 d.C.) implantou nesta cidade o primeiro sistema de Saúde Pública, contemplando a construção de estruturas sanitárias. 10 Figura 7: Artista retrata comércio e transporte do século XIX; pessoas, cavalos, cachorros, porcos e galinhas dividem mesmos espaços. Fonte: Jacques-Laurent Agasse, 1815. Já no ano de 1773, o suíço Alberto Von Haller proferiu as seguintes palavras, que continuam atuais: Um governo sábio deve prevenir a infecção e não esperar até que esta adentre seu território. Ao contrário, deve controlá-la nas fronteiras que é onde se pode fazê-lo com facilidade. A polícia, portanto, mesmo em épocas de maior segurança aparente, deve ter cuidado para que nenhum animal esteja doente sem que seja notificado o pessoal responsável. Cada animal comprado ou vendido deve ser garantido sanitariamente e nenhum animal pode ser admitido em feiras ou mercados sem um certificado que constate sua perfeita saúde, preenchido e firmado pelas autoridades. Para tal propósito necessitam- se de inspetores; é óbvio. 11 Figura 08: Pintura do século XVII, pessoas no convívio com animais. Fonte: Scène pastorale de Peter Bout (1658-1719). Ao médico inglês, Edward Jenner (1749-1823), é creditado o mérito de haver introduzido a prática da imunização ativa artificialmente induzida, popularizando, desta forma, o processo de vacinação na Europa e reconhecendo as relações existentes entre uma enfermidade animal e uma doença humana. Figura 09: Dr. Jenner vacinando criança, Europa, século XVIII. Fonte: Vaclib.com, 2007. 12 No século XIX Louis Pasteur fez grandes descobertas para o campo da imunologia. Em 1880 Pasteur constatou que galinhas inoculadas com cultura envelhecida do agente da cólera aviária ficavam resistentes ao agente. Assim, Pasteur orientou suas pesquisas no desenvolvimento de vacinas, obtendo a vacina contra o carbúnculo hemático e contra a raiva. Figura 10: Louis Pasteur na preparação de vacina. Fonte: Musée / Institut Pasteur, França. Figura 11: Vacinação realizada em toda Europa. Fonte: Medstudants.com. 13 A estes filósofos, médicos e cientistas que desde a antiguidade revelaram suas observações sobre as doenças transmissíveis, tratamentos e prevenção, assim como, o papel de vetores, hospedeiros e ciclos biológicos dos parasitas, devem-se a abertura do caminho à investigação epidemiológica e ecológica das Zoonoses até os dias atuais. Figura 12: Dr. Jonas Salk, Campanha de Vacinação, EUA, 1952. Fonte: Jonhs Hopinks University. 14 3 CONCEITO As Zoonoses são definidas como doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre os animais vertebrados e o homem (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1967) e estão distribuídas por todo o globo em níveis de ocorrências variáveis de acordo com fatores ambientais de natureza físico-químico-biológica e inclusive sócioeconômica e cultural. Figura 13: Pintura retrata convivência entre homens, animais e natureza e já foi capa de livro sobre Zoonoses. Fonte: Edward Hicks (1780–1849). O vocábulo ZOONOSES foi introduzidona literatura médica pelo médico alemão Rudolf Virchow, no século XIX, para caracterizar as doenças animais que podiam ser transmitidas ao homem. Etimologicamente a palavra é originária do grego zoonosos, sendo que 15 seu prefixo zoon significa animal e o sufixo nosos, doenças, traduzindo-se literalmente por doença animal. Em 1951, as Zoonoses foram conceituadas como aquelas enfermidades que se transmitem de forma natural entre animais vertebrados e o homem. Esta definição foi muito criticada e, então, substituída, em 1965, por outra mais completa que afirma que as Zoonoses são todas as enfermidades e infecções em que se pode existir na relação animal-homem e vice- versa, seja diretamente ou pelo meio ambiente, incluindo portadores, reservatórios e vetores. As Zoonoses têm efeitos epidemioecológicos e sociais, e por este aspecto podem ser descritas como a soma de fatores que causam perigo a saúde, dano a economia e, como lamentável consequência, uma grande preocupação social. Figura 14: Homem com cão e cavalos. Fonte: Jacques-Laurent Agasse, 1837. 16 4 CLASSIFICAÇÃO As Zoonoses podem ser classificadas de acordo com seu agente etiológico, os quais incluem vírus, bactérias, fungos, protozoários, príons, rickéttsias ou ácaros. De acordo com a ecologia e os ciclos biológicos as Zoonoses podem ser classificadas nos seguintes casos: a) quando há somente um hospedeiro vertebrado (homounixenos); b) quando há mais de um hospedeiro vertebrado (heteroxenos); c) quando não interfere nos ciclos de animais vertebrados; d) quando o agente causal necessita completar seu ciclo em reservatório abiótico. Schwabe (1984) propôs outra classificação para as Zoonoses que tem sido a mais adotada, por ser considerada a mais completa, baseando-se no ciclo de vida do agente etiológico: DIRETAS: o contágio se dá de um hospedeiro vertebrado infectado a outro suscetível, por contato, veiculação ou vetor mecânico. No transcurso desta transmissão, o agente passa por poucas, ou nenhuma troca no seu ciclo evolutivo ou reprodutivo. Ex.: Raiva, Brucelose. Figura 15: Cão acometido pela Raiva. Fonte: USP. CICLOZOONOSES: referem-se aos ciclos biológicos heteroxenos, devendo o agente infeccioso passar por mais de um hospedeiro vertebrado para cumprir seu ciclo. Ex.: Cisticercose, Hidatidose. 17 Figura 16: Cisticercose bovina. Fonte: Lara Lima. METAZOONOSES: a transmissão está obrigatoriamente relacionada a vetores invertebrados. No interior do organismo do hospedeiro invertebrado, o parasita realiza uma fase do seu ciclo biológico durante um determinado intervalo de tempo (período de incubação), que precede a transmissão a outro hospedeiro vertebrado. Na dependência dos hospedeiros necessários para a formação da cadeia de transmissão, as metazoonoses são subdivididas em quatro grupos: Figura 17: Mosquitos Haemagogus e Sabethes transmissores da febre amarela. Fonte: campinas.sp.gov.br 1. Requerem um hospedeiro vertebrado e outro invertebrado. Ex.: Febre amarela. 18 Figura 18: Transmissão através do mosquito Aedes aegypti. Fonte: campinas.sp.gov.br 2. Requerem um hospedeiro vertebrado e dois invertebrados. Ex.: paragonimíase. Figura 19: Ciclo da paragonimíase. Fonte: Workforce.cup 3. Requerem dois hospedeiros vertebrados e um invertebrado. Ex.: clonorquíase. 19 Figura 20: Clonorchis sinensis. Fonte: University of Winnipeg 4. Representam a transmissão transovariana. Ex.: encefalite dos carneiros. Figura 21: Ciclo da Encefalite dos carneiros. Fonte: Dr. Hugh Reid. SAPROZOONOES: quando existe a participação de um hospedeiro vertebrado e de um reservatório não animal, como o solo, matéria orgânica e plantas. Ex.: Histoplasmose e Ancilostomíase (solo), Fasciolose (plantas). 20 Figura 22: Fascíola hepática. Fonte: Janssen Animal Health. 21 O agente infeccioso passa pela fase sexuada O agente infeccioso em fase larvária ou assexuada 5 HOSPEDEIROS Hospedeiro é qualquer ser vivo que, em circunstâncias naturais, permite a instalação, no seu organismo, de um agente infeccioso. O hospedeiro do agente pode ser definitivo ou intermediário. Reservatório ou agente é qualquer ser vivo ou matéria inanimada onde vive e se multiplica um agente infeccioso, do qual depende para sobreviver e se reproduzir de tal maneira que possa ser transmitido a um hospedeiro suscetível. Tais agentes podem ser biológicos, nutricionais, físicos, químicos, mecânicos ou psicossociais. RESERVATÓRIO homem plantas animais solo HOSPEDEIRO DEFINITIVO HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO 22 A interação desses três elementos configura-se no conceito ecológico de doença, no qual a tríade epidemiológica “agente x hospedeiro x ambiente” estabelece um infindável número de ações e reações, em que o hospedeiro busca o constante equilíbrio relativo referido nos conceitos de saúde e doença. Os reservatórios-animais foram classificados da seguinte maneira por Ávila-Pires (1989): 1. Animais domésticos: são aqueles que passaram por um processo longo de ecogenização, que envolveu a seleção de características privilegiadas pelo homem. 2. Ruderais: são espécies silvestres que preferem as áreas alteradas pelo homem, como terrenos baldios, margens de estradas, roças e quintais, beneficiando-se da redução do número de predadores de grande porte e de competidores, da abundância de alimento e das edificações. 3. Comensais e inquilinos: utilizam a casa, ninho, toca ou abrigo de outras espécies, como formigueiros, ninhos de aves e moradias humanas. 4. Silvestres: vivem e se reproduzem naturalmente fora do cativeiro, em biótipos naturais. 23 6 TRANSMISSÃO Quanto ao meio de transmissão, as zoonoses são classificadas em antropozoonoses, zooantroponoses e anfixenoses. Porém, existem ainda doenças classificadas como fitonoses, as quais afetam somente vegetais, tendo o homem como hospedeiro; assim como as antroponoses que tem o homem como único hospedeiro, sendo transmitidas somente entre humanos. Classificação das Zoonoses: Antropozoonoses: são doenças transmitidas dos animais ao homem. Anfixenoses: são doenças transmitidas tanto de animal para homem, quanto de homem para animal. Zooantroponoses: enfermidades transmitidas do homem para os animais. ANIMAIS VEGETAIS HOMEM Zoonoses Fitonoses Antroponoses HOMEM Zooantroponoses Anfixenoses Antropozoonoses reservatório FORATTINI, 2004 24 A transmissão do agente por meio da contaminação ambiental pode se dar de maneira passiva ou ativa. Na transmissão passiva ocorre a participação de vetor, porém na transmissão ativa o vetor não está presente e, obrigatoriamente, acontece a penetração no hospedeiro do agente infeccioso. MMOODDAALLIIDDAADDEESS DDEE TTRRAANNSSMMIISSSSÃÃOO DDOO AAGGEENNTTEE PPOORR CCOONNTTAAMMIINNAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL PPrreeddoommiinnaanntteemmeennttee FFaaccuullttaattiivvaa PPrreeddoommiinnaanntteemmeennttee OObbrriiggaattóórriiaa PPeenneettrraaççããoo VVeeiiccuullaaççããoo IInnaanniimmaaddaa AAnniimmaaddaa VVEETTOORREESS MMEECCÂÂNNIICCOOSS FFÔÔMMIITTEESS PPAASSSSIIVVAA AATTIIVVAA CCOONNTTAAMMIINNAAÇÇÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL FFOORRAATTTTIINNII,, 22000044 25 7 ECOSSISTEMA A palavra Ecologia origina-se do grego oikos = casa e logos = estudo, e tem por objetivo o estudo das relações dos seres vivos entre si e o ambiente onde habitam, tendo algunsfatores ambientais básicos capazes de influenciar o processo doença tanto em indivíduos como em populações. O perfil do ecossistema é contemplado em três componentes fundamentais: Componente físico e químico: solo, água e fatores climáticos. Componente biológico: vegetais e animais. Componente socioeconômico e cultural: interferência do homem sobre os demais componentes do ecossistema, incluindo hábitos alimentares, crenças religiosas e condições tecnológicas. Figura 26: Conceitos ecológicos de interações mútuas. Fonte: Curso Anglo. 26 Os fatores ambientais de natureza física e química manifestam-se com igual intensidade sobre todos os componentes do ecossistema, exercendo efeitos tanto em relação aos hospedeiros como aos agentes biológicos da doença e seus respectivos vetores. Desse modo, o clima é considerado um conjunto de fatores meteorológicos que podem, direta ou indiretamente, atuar como causa de doença ou morte de animais. Tais fatores, denominados fatores ecológicos, incluem-se entre os mais importantes determinantes físicos dos padrões de ocorrência de doenças, afetando a população de hospedeiros, de vetores e de agentes biológicos. Figura 27: Natureza: inter-relação equilibrada. Fonte: Colégio São Francisco. Interagindo com o clima, os solos influenciam de forma decisiva sobre a vegetação e o ambiente no qual as populações animais se estabelecem, tendo importante efeito sobre a nutrição. Dessa mesma maneira, a água é um fator na epidemiologia das doenças, pois as 27 grandes populações, animais e humanas, trazem consigo um grave problema de destinação dos excretas em efluentes, desaguados em mananciais de água doce ou salgada, constituindo verdadeiras concentrações de agentes de doenças cuja transmissão se torna extremamente favorecida em razão de ser a água um elemento essencial para a existência de todos seres vivos. Ciclo do equilíbrio ecológico: Os vegetais crescem por meio da ação da energia solar e aproveitamento de material orgânico e inorgânico. Os animais sobrevivem alimentando-se de vegetais e de outros animais, promovendo o controle biológico. Plantas e animais mortos sofrerão decomposição pelos microorganismos. Decomposição de todos os resíduos em material orgânico e inorgânico. Devolve ao meio ambiente os materiais iniciais, completando o ciclo biológico. 28 A ação do homem é um fator que interfere nas interações do ecossistema como determinante das doenças. O homem altera o ambiente natural, criando microclimas artificiais, favoráveis a agricultura e pecuária, através da construção de abrigos, suprimentos de água, assim como irrigação de campos, favorecendo a sobrevivência de agentes e vetores, modificando os determinantes de doença ali presentes e, assim, favorecendo a ocorrência de certas doenças em detrimento de outras. Figura 28: Queimadas nas florestas. Fonte: FIOCRUZ. Dessa forma, a implementação de técnicas avançadas de criação de animais, assim como a manutenção de animais em espaços restritos quebrou o equilíbrio natural entre os micróbios e os animais que compõem a resistência natural contra enfermidades. Com o êxodo rural, o homem trouxe para as áreas urbanas um conjunto de animais classificados como animais domésticos e sinantrópicos que foram exemplificados no esquema a seguir: 29 Figura 29: Esportes equestres; exemplo de animais domésticos (cavalos) que saíram do meio rural para o meio urbano. Fonte: Dra. Sabrina Lorenzoni, 2007. Animais domésticos alimentação trabalho esporte razões afetivas 30 Figura 30: Baratas que invadem as cidades pela facilidade de alimentação. Fonte: Mundo e Photoshoppix, 2006. Animais sinantrópicos Pombos Baratas Ratos Pulgas 31 O homem é responsável pela degradação dos ecossistemas, ocupando-os desordenadamente e criando condições adversas a sua própria sobrevivência, seja pela devastação ou pela poluição da natureza, tendo se tornado a principal fonte poluidora do ambiente, nos seus diferentes níveis. Figura 31: Desmatamento de florestas. Fonte: Força Sindical RS O avanço das tecnologias agropecuárias, biotecnológicas e científicas, assim como com a modernização das cidades, ocasionou consequências negativas no equilíbrio ecológico, como podemos observar no esquema abaixo. Substituição a resistência natural contra as doenças pelo processo artificial de imunidade (vacinação). 32 Adaptação dos micróbios causadores de doenças nos animais para a espécie humana. maior probabilidade de transmissão dos agentes infecciosos através da água, do ar, dos alimentos, das picadas de insetos etc. Figura 32: Vacinação obrigatória do rebanho bovino. Fonte: Página Rural, 2008. Desse modo, podemos concluir que nenhuma forma de vida pode viver isolada, mas de forma inter-relacionada, com equilíbrio; devemos entender a natureza com seu ecossistema e respeitá-los. 33 8 ANIMAIS SILVESTRES Os animais silvestres são conceituados como animais não domésticos que vivem em liberdade. O interesse da fauna silvestre em relação às Zoonoses apresenta duas vertentes: a ecológica, que considera estes animais como seres vivos que formam parte da biocenose; e a patológica que considera os fatores patogênicos dentro de focos naturais das Zoonoses. Quando definimos Zoonoses como “doenças ou infecções que se transmitem naturalmente, entre os animais vertebrados e o homem, ou vice-versa”, apresentamos a importante participação dos animais silvestres na manutenção destas doenças na natureza. Figura 33: Animais exóticos e silvestres. Fonte: Evolvefish. Os animais silvestres estão localizados na natureza (vida silvestre) ou no cativeiro, vivendo em parques zoológicos (zôos), criadouros conservacionistas, científicos ou comerciais, institutos de pesquisa, centros de triagem e reabilitação, ou em residências, criados ilegalmente como animais de estimação. 34 Figura 34: Zoológico de Buenos Aires, Argentina. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. Os animais silvestres, tanto em vida silvestre como em cativeiro, podem ser reservatórios e portadores de zoonoses. Médicos veterinários, biólogos, zootecnistas, agrônomos, sociólogos e demais profissionais, possuem uma importante função no manejo da vida silvestre e na medicina da conservação. Figura 35: Animais oriundos de outros continentes, em zoológico argentino. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. 35 Com relação ao ambiente em cativeiro, apesar dos esforços dos profissionais na manutenção de um rigoroso manejo sanitário, o ambiente de zoológico continua sendo propício à disseminação de uma gama de doenças, muitas delas zoonóticas. Figura 36: Leões vivendo em cativeiro. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. É importante salientar que estes animais em quase totalidade mascaram os sinais clínicos, mesmo estando infectados com agentes etiológicos, constituindo-se importantes fontes de infecção para os animais domésticos, homens ou vice-versa. Figura 37: Animal silvestre em vida livre, convivendo próximo a população humana e de animais domésticos. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2008. 36 As alterações no ecossistema proporcionam uma limitação de alimentos, obrigando os animais silvestres a abandonarem seu habitat para procurar alimento. Este fato determina a invasão a outros ecossistemas e, consequentemente, explica a disseminação de possíveis fatores patogênicos, com a agravante troca de doenças de caráter enzoótico para epidêmico.37 9 AGENTES CAUSADORES DAS ZOONOSES Apresentaremos as enfermidades infecciosas e parasitárias que são comuns ao homem e aos animais, classificadas de acordo com o agente infeccioso, os quais têm um papel importante como hospedeiros, reservatórios, vetores ou fonte de contaminação do ambiente. 9.1 Bactérias 9.1.1 Brucelose a) Descrição: A brucelose constitui um exemplo típico de processos de zoonoses, tanto em seu conceito como em suas características epidemiológicas e repercussões quanto à prevenção e vigilância sanitária. b) Nomenclatura: Brucelose, febre ondulante, febre de Malta, febre do Mediterrâneo, aborto contagioso, aborto infeccioso, aborto epizoótico ou enfermidade de Bang. c) Agente: São exemplares de agentes causadores da brucelose: Brucella melitensis, B. abortus, B. suis, B. neotomae, B. ovis e B. canis. 38 Figura: Brucella abortus. Fonte:Catarina Chagas, 2004. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A ocorrência da infecção humana está relacionada com a prevalência da infecção dos reservatórios animais. A ocorrência maior em humanos se encontra em países com altas taxas de brucelose em caprinos ou ovinos, porém os programas de controle e erradicação da brucelose bovina têm marcado um efeito positivo sobre a redução da incidência da infecção humana. A espécie mais patógena e invasora para o homem é B. melitensis, B. suis e B. abortus. O homem se infecta pelo contato com animais contaminados, pela ingestão de produtos de origem animal por verduras ou água contaminada com dejetos de animais infectados. É considerada uma doença ocupacional ou profissional, pois acomete, na maioria das vezes, trabalhadores rurais, funcionários de matadouros ou frigoríficos, açougueiros e médicos veterinários. A infecção se dá pela manipulação de fetos e envoltórios fetais, secreções vaginais e excrementos. O microorganismo penetra por abrasões da pele ou pelas mucosas. 39 Figura: Trabalhador rural em risco de contrair zoonose. Fonte: Carlos E. Souza, 2005. O período de incubação geralmente é de três semanas, mas pode prolongar-se por vários anos. É uma enfermidade septicêmica de início brusco, com febre contínua, intermitente ou irregular. A sintomatologia apresenta calafrios, sudorese, hipertermia, astenia e fadiga. Ainda o paciente pode apresentar insônia, impotência sexual, anorexia e dor generalizada. A enfermidade tem um forte impacto sobre o sistema nervoso, que se traduz por irritação, nervosismo e depressão. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: O principal sintoma em todas as espécies animais é o aborto ou a expulsão prematura dos fetos. O patógeno principal para os bovinos é B. abortus. O período de incubação é variável e é inversamente proporcional ao desenvolvimento do feto. Quanto mais adiantada está a prenhez, mais curto será o período de incubação. O sinal predominante nas fêmeas prenhas é o aborto, entretanto pode ocorrer nascimento prematuro ou natimortos. Geralmente, o aborto ocorre na segunda metade da prenhez, às vezes, com retenção placentária e consequentemente com metrite que pode causar infertilidade permanente. 40 Figura: Feto abortado no terço final da gestação. Fonte: Maria Carolina Guido, 2003. Estima-se que a infecção ocasiona uma perda de 25% na produção de leite, pela interrupção da lactação, devido ao aborto e à concepção demorada. Nos touros, a brucela pode localizar-se nos testículos e nas glândulas genitais anexas. Figura: Orquite causada por brucelose. Fonte: Atlas Doenças Bovinos,2000. Quando a enfermidade se manifesta clinicamente, um ou ambos os testículos, podem aumentar de volume, com diminuição da libido e infertilidade, podendo ainda haver atrofia do testículo, em função de aderências e fibroses. As brucelas penetram no organismo do animal e se multiplicam, primeiro nos gânglios regionais e são levados pela linfa e pelo sangue a diferentes órgãos. 41 Figura: Gâglios linfáticos no bovino. Fonte: Intramed, 2000. Em suínos, o agente etiológico principal é a B. suis. Quando a brucelose se introduz em uma criação de forma aguda, ocorrem abortos, infertilidade, nascimento de leitões débeis, orquite, epididimite e artrite. Os abortos precoces que ocorrem quando a fêmea se infecta durante o coito geralmente passam despercebidos, pois os fetos abortados são ingeridos pelos porcos e a única anormalidade que se pode observar é a repetição do cio pelas porcas. Nos caprinos, o agente etiológico é a B. melitensis. O principal sinal é o aborto que ocorre geralmente no terceiro ou quarto mês da prenhez. Também se pode observar higromas, artrites e orquites. O leite das cabras pode apresentar coágulos, assim como pequenos nódulos nas glândulas mamárias das fêmeas. Os ovinos são mais resistentes à infecção do que os caprinos. O agente infeccioso é a B. ovis. Os abortos são menos frequentes e a infecção tende a cura espontânea. A forma mais grave da enfermidade ocorre nos carneiros, com a epididimite. As manifestações clínicas consistem em lesões dos órgãos genitais associados a diferentes graus de esterilidade. 42 Figura: Exame de palpação em carneiro com suspeita de brucelose. Fonte: Nogueira, 2006. Na espécie equina foram isoladas a B. abortus e a B. suis. A enfermidade se manifesta habitualmente por burcite fistulosa. O cavalo geralmente é mais resistente a brucelose. Em cachorros ocorrem casos de brucelose devido à B. canis. O cachorro adquire a infecção pela ingestão de materiais contaminados. A infecção transcorre frequentemente na forma subclínica, mas, às vezes, a sintomatologia pode ser severa, com febre, edemas, orquite, anestro, artrite e às vezes aborto. Figura: Orquite em cão com brucelose. Fonte: Bullmontain, 2004. Na forma clínica a brucelose causada pela B. canis se caracteriza por abortos, morte embrionária, prostatites, epididimites, linfadenite e uma prolongada bacteremia. O aborto ocorre 43 aproximadamente aos 50 dias de gestação, a transmissão se dá tanto por via oral como venérea. f) Diagnóstico: No homem, o diagnóstico de brucelose é baseado na sintomatologia e antecedentes epidemiológicos devendo ser confirmado em laboratório. O isolamento e a tipificação do agente causal é uma prova definitiva e pode indicar a fonte da infecção. Nos bovinos, suínos e caprinos o diagnóstico é baseado na sorologia. As provas de aglutinação permitem realizar um grande número de exames sorológicos e se adaptam muito bem para os programas de controle e erradicação. Figura: Coleta de material para exame sorológico em caprino. Fonte: Nogueira, 2006. O material mais utilizado para exames laboratoriais são os fetos, envoltórios fetais, secreções vaginais, leite e sêmen. Em ovinos, a prova de Coombs (modificada por Hajdú), que consiste em detectar anticorpos, permite descobrir 70% de animais infectados. Para a prova de epididimite do carneiro deve ser usado o antígeno elaborado a partir da B. ovis, sendo as provas indicadas a de difusão em gel e fixação do complemento. Para diagnóstico sorológico da infecção por B. canis, em cães, é usada a prova de aglutinação em tubo. g) Controle: 44 No homem, o enfoque mais racional para prevenir a brucelose é o controle e a eliminação da infecção dos reservatórios animais. Parte da população já é protegida pela obrigatoriedade da pasteurização do leite. A prevenção da infecção dos grupos profissionais (trabalhadores rurais, funcionários de matadouros e médicos veterinários) é mais difícil e deve ser baseada na educação sanitária, no uso de roupa protetora e na supervisão médica. Para o controle da brucelose é indicadaa vacinação de bovinos (vacina atenuada B19) e de caprinos e ovinos (vacina com capas de Brucella vivas Rev-1). A brucelose causada por B. canis, em cães, pode ser controlada por provas sorológicas repetidas e por hemocultivos, com a consequente eliminação de animais. 9.1.2 Botulismo a) Descrição: O botulismo caracteriza-se por uma forma de intoxicação alimentar, potencialmente fatal, causada a partir de toxina produzida por bactéria. b) Nomenclatura: Botulismo, alantasis, lamsiekte ou limberneck. c) Agente: O agente infectante é a toxina botulínica produzida pela bactéria Clostridium botulinum. 45 Figura: Clostridium botulinum. Fonte: Kimicontrol, 2005. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A doença no homem é rara, porém se ocorrer pode ser fatal. O período de incubação é de 18 a 36 horas. Os sinais clínicos variam de acordo com a toxina, porém geralmente ocorre febre, náusea, vômito, dores abdominais e sinais neurológicos. E a causa da morte geralmente é parada respiratória. A principal fonte de infecção é a ingestão de alimentos contaminados pela toxina botulínica. A anaerobiose é a situação ideal para a multiplicação do C. botulinum. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Em bovinos são descritos poucos casos, em ovinos a enfermidade é rara e em equinos e animais silvestres os casos são esporádicos. Nos mamíferos domésticos o botulismo é causado principalmente pelas toxinas C e D e nas aves pelos tipos A e C. Os sintomas principais são paralisia parcial ou completa dos músculos locomotores, parada da mastigação e duglutição. 46 Figura: Bovino acometido pelo botulismo. Fonte: Iveraldo Dutra, 2001. f) Diagnóstico: A prova definitiva é a presença da toxina botulínica no soro do paciente. Deve-se fazer cultivo do alimento suspeito para isolar e identificar o microorganismo. g) Controle: No homem o controle inclui a regulamentação e inspeção do procedimento industrial do envase e preservação de alimentos; a educação para conscientizar a população do perigo da preparação caseira de conservas e da importância da preservação dos alimentos. Nos animais devem-se evitar forragens, rações e alimentos alterados. Deve-se também recorrer à vacinação de rebanhos. 9.1.3 Leptospirose a) Descrição: A Leptospirose é transmitida geralmente pela urina de animais infectados, sendo o homem um hospedeiro acidental. 47 b) Nomenclatura: Enfermidade de Weil, febre dos arrozais, febre dos canaviais, enfermidade de Stuttgart. c) Agente: O microorganismo causador é a Leptospira spp. Figura: Leptospiras. Fonte: Colégio São Francisco, 2008. d) Ocorrência da enfermidade no homem: Varia em diferentes partes no mundo. Pode ocorrer de forma esporádica ou epidêmica. De maneira geral a enfermidade se dá pela exposição a águas contaminadas por urina de animais infectados. Vários grupos profissionais estão especialmente expostos, como os trabalhadores rurais, funcionários de abatedouros, tratadores de animais e médicos veterinários. As infecções mais comuns estão relacionadas à L. icterohaemorrhagiae, porém o homem é suscetível a um grande número de sorotipos. O período de incubação é de uma a duas semanas e a enfermidade se caracteriza por duas fases: a septicêmica e a de leptospirúria. Distinguem-se dois tipos clínicos: o ictérico e anictérico. Em ambos os casos, os sintomas se instalam bruscamente com febre, dor de cabeça, mialgias, conjuntivites, náuseas, vômitos, diarréias e constipação. Se o paciente evolui para a cura, a diurese se restabelece e diminui a icterícia. A convalescença pode durar um ou dois meses. Geralmente em casos anictéricos a sintomatologia é mais leve. 48 Figura: Desenho esquemático do ciclo das contaminações por Leptospiras. Fonte: Infobio. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Nos bovinos, os sorotipos predominantes são: L. pomona, L. hardjoe, L. grippotyphosa; raramente, L. canicola e L. icterohaemorrhagiae. A enfermidade se expressa por febre e anorexia. Nas vacas, observa-se diminuição brusca da produção de leite e mastite, com úbere flácido e amarelado, às vezes, com sangue. Nos casos graves ocorre icterícia e os sintomas mais característicos são o aborto e a hemoglobinúria. Os abortos ocorrem geralmente no primeiro tero da gestação e a retenção de placenta ocorre em 20% das vacas que abortam. Os sorotipos que se instalam com mais frequência nos suínos são L. pomona, L. tarassovi, L. grippotyphosa, L. canicola e L. icterohaemorrhagiae. Os suínos são reservatórios importantes de L. pomona, pois a leptospirúria é abundante e prolongada. Em alguns casos a infecção ocorre de forma subclínica, podendo ser observado sinais febris. Nos equinos, a maioria das infecções são inaparentes, porém, muitas vezes, se reconhece somente a sequela da enfermidade, como a oftalmia periódica. São também descritos casos graves de leptospiroses com síndromes hepatonefríticas e cardiovasculares. Já nas espécies ovina e caprina a Leptospirose é muito pouco frequente. 49 Os sorotipos predominantes nos cães são o L. canicola e o L. icterohaemorrhagiae. A infecção pode variar de assintomática a quadros clínicos graves, como rigidez e mialgia nos membros posteriores, hemorragia na cavidade oral e necrose, podendo evoluir para gastroenterite hemorrágica e nefrite aguda. Em gatos, a enfermidade ocorre raramente. Em muitos animais selvagens, entre eles os roedores, as leptospiras não manifestam sintomas ou lesões. f) Diagnóstico: Tanto no homem como nos animais, pode ser realizado o isolamento do agente etiológico no sangue e na urina. g) Controle: No homem, as medidas de controle incluem: higiene pessoal; uso de roupa protetora para tarefas rurais; drenagem de terrenos baixos; controle de roedores; proteção de alimentos; eliminação correta de resíduos; evitar áreas alagadas ou inundadas; evitar banho em arroios ou outros cursos de água doce que possam estar contaminados; e realizar a vacinação de grupos profissionais expostos a altos riscos. Figura: Enchentes nas cidades representam riscos para a população. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. 50 Nos animais domésticos, deve ser realizada a vacinação sorotipo-específica, com revacinação anual. 9.1.4 Carbúnculo Hemático a) Descrição: O agente se encontra no organismo humano e animal em forma vegetativa e, quando se expõe ao oxigênio, forma esporos resistentes. b) Nomenclatura: Carbúnculo hemático, carbúnculo bacteriano, antrax, pústula maligna ou febre esplênica. c) Agente: O agente causador da doença é o Bacillus anthracis. Figura: Bacillus anthracis. Fonte: Laura Rose, Janice Haney Carr, 2008. 51 d) Ocorrência da enfermidade no homem: A ocorrência é ocasional, mais frequente em países em desenvolvimento, em trabalhadores rurais e industriais que trabalham no processamento de lãs. A enfermidade se distingue em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e gastrointestinal. O homem geralmente contrai a doença por contato com animais infectados, sendo mais frequente com cadáveres. A lesão cutânea inicial é uma vesícula no lugar da inoculação, que evolui para a formação de uma ferida escura. Se o paciente não é tratado pode progredir para septicemia e morte. A forma pulmonar é contraída por inalação de esporos de B. anthracis, caracterizada por febre, choque e morte. O carbúnculo gastrointestinal se contrai por ingestão de carnes contaminadas e se manifesta por uma violenta gastroenterite com vômitos e deposições hemorrágicas, tendo alta letalidade. Figura: Pústula Maligna. Fonte: Jacek Mazurek, 2001. e) Ocorrência da enfermidade nosanimais: A enfermidade se apresenta de três formas: apoplética, aguda e crônica. A primeira ocorre em bovinos, ovinos e caprinos. A instalação é brusca e o curso rápido e mortal. A forma aguda é frequente em equinos, bovinos e ovinos e os sinais consistem em febre, excitação seguida de depressão, dificuldade respiratória, ausência de coordenação dos movimentos, convulsões e morte. Frequentemente se observam descargas sanguinolentas pelas aberturas naturais e edemas em várias partes do corpo. A forma crônica se apresenta em espécies menos suscetíves, como suínos e cães. O sintoma principal dessa forma é o edema de faringe e língua, com descarga espumosa e sanguinolenta via oral. 52 f) Diagnóstico: Baseia-se na demonstração do agente etiológico por exame microscópico do fluído das vesículas no homem e dos edemas e sangue dos animais. Pode se utilizar a hemoaglutinação indireta com precipitação em ágar-gel. Figura: Colônias de Bacillus anthracis cultivadas em Ágar Sangue. Fonte: Socialfiction, 2006. g) Controle: No homem, a prevenção do carbúnculo é baseada em controle da infecção nos animais, prevenção do contato com animais infectados e produtos contaminados, higiene ambiental e pessoal nos lugares onde se trabalham com subprodutos de origem animal, atenção médica para as lesões cutâneas, desinfecção de couros e lãs e vacinação para profissionais expostos a altos riscos. Nos animais, o controle é dado pela vacinação. 9.1.5 Doença de Lyme a) Descrição: Foi reconhecida nos Estados Unidos, em 1975, pelo Dr Allen Steere que desvendou o mistério da artrite reumatóide juvenil que castigava a comunidade de Lyme. Em 1982, a etiologia 53 da doença foi descoberta por Willy Burgdorferi. A bactéria é transmitida por carrapatos infectados. b) Nomenclatura: Doença de Lyme, borreliose de Lyme ou Lyme-like. Figura: Carrapato vetor da Doença de Lyme. Fonte: AVTE.net. c) Agente Bactéria espiroqueta Borrelia burgdorferi é o agente etiológico envolvido na enfermidade. Figura: Borrelia burgdorferi. Fonte: West-vector, 2006. d) Ocorrência da enfermidade no homem: No homem, a doença apresenta os seguintes sinais: dor de cabeça, febre, vermelhidão cutânea, edema de gânglios linfáticos, fadiga, artrite, paralisia facial, sinais psiquiátricos e cardíacos. 54 Na pele ao redor da região da picada surge eritema, como uma mancha vermelha redonda que cresce de 5 a 50 centímetros de diâmetro, com clareamento da zona central. Se a doença não for tratada, em 80% dos casos surgem, após algumas semanas ou até dois anos, as complicações tardias, com sintomas neurológicos, cardíacos e articulares. As articulações afetadas geralmente tornam-se edemaciadas e, frequentemente, a temperatura da região aumenta. Pode ocorrer a formação de cistos na face posterior dos joelhos e quando esses cistos rompem, a dor piora abruptamente. Aproximadamente 10% dos indivíduos com artrite de Lyme desenvolvem problemas permanentes nos joelhos. Figura: Gráfico da incidência da Doença de Lyme nos Estados Unidos da América, do ano de 1991 até 2006. Fonte: Kenneth Todar University, 2007. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Os carrapatos do gênero Ixodes são os reservatórios do agente, porém alguns roedores mantêm o ciclo silvestre. 55 Os sinais da borreliose canina apresentam comprometimento de articulações, artrite progressiva, febre, letargia, inapetência, claudicação, podendo ainda apresentar cardiopatias e comprometimentos neurológicos. Em bovinos, a doença causa aumento de volume das articulações, dores, febre, laminite, anorexia, dermatite digital e aborto. Em equinos, a doença de Lyme pode causar perda de peso, claudicação, laminite, edema articular e sinais neurológicos. Na borreliose aviária, a doença se apresenta de forma septicêmica de caráter agudo ou subagudo. O quadro apresenta depressão, anorexia, diarréia, anemia e paralizia; a letalidade pode chegar a 100%. f) Diagnóstico: O diagnóstico é realizado por meio do teste ELISA para detecção de anticorpos específicos contra a espiroqueta. A cultura é extremamente difícil, assim como a visualização microscópica, já que não absorvem corantes. A PCR também pode ser utilizada. Figura: Sintomas dermatológicos da Doença de Lyme. Fonte: Aceemployment services, 2006. g) Controle: Algumas medidas para prevenir a picada de carrapato para quem mora ou visita áreas de alto risco podem ser utilizadas, tais como: usar camisa de mangas compridas e calça /wiki/ELISA /wiki/Anticorpo /wiki/PCR 56 comprida; prender as barras da calça dentro das meias; vestir roupas de cores claras facilita a visualização dos carrapatos antes que consigam chegar à pele; caminhar no centro das trilhas e não nas margens; aplicar repelentes de insetos sobre a pele e roupa; e verificar diariamente se há carrapatos no corpo. Os lugares prediletos por eles são pernas, virilhas, axilas, linhas do cabelo e dentro, ou atrás, das orelhas. Existe vacina para previnir a doença de Lyme, porém esta deve ser tomada somente por pessoas que vivem em regiões de alto risco, pois além de oferecer apenas 70% de proteção pode causar reações alérgicas. 9.1.6 Peste a) Descrição: A peste causou um dos momentos mais aterrorizantes da humanidade quando dizimou um quarto da população da Europa (25 milhões de pessoas) em meados do Século XVI. Em focos naturais, a infecção é transmitida de um indivíduo a outro por meio da picada de pulgas. b) Nomenclatura: Peste, peste negra, peste bubônica, morte negra. c) Agente: O agente etiológico é a Yersinia pestis. 57 Figura: Yersinia pestis. Fonte: Russell Kightley Media, 2008. d) Ocorrência da enfermidade no homem: Desde a era cristã ocorreram três grandes pandemias: no ano de 542, chamada Peste de Justiniano, que se estima ter ocorrido 100 milhões de mortes; a de 1346, que durou três séculos, estimando-se 25 milhões de vítimas fatais e a de 1894 que durou até 1930. Distinguem-se três formas clínicas: a bubônica, a septicêmica e pneumônica. Os sintomas comuns das três são: febre, calafrios, dor de cabeça, náuseas, dores generalizadas, diarréia ou constipação, toxemia, choque, hipotensão, marcha cambaleante, confusão mental e prostração. A peste bubônica é mais comum e se caracteriza por tumefação e inflamação aguda dos gânglios linfáticos periféricos. A letalidade dos casos não tratados é de 25 a 60%. Na forma septicêmica, os sintomas nervosos se desenvolvem rapidamente, observando ainda epistaxe, petéquias, hematúria e evacuações involuntárias, sendo que a letalidade pode chegar a 100%. A forma pneumônica pode ser secundária às duas formas anteriores, ou produzida diretamente por inalação ou contato com outro paciente com peste pneumônica. 58 Figura: Triunfo da Morte (1562) do pintor belga Peter Bruegel retrata o extermínio que a peste negra causou na Europa. Fonte: Fiocruz. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A Y. Pestis é, primordialmente, uma infecção dos animais do gênero Rodentia e afeta tanto os roedores silvestres como os domésticos. A infecção pode transcorrer como uma enfermidade aguda, crônica ou inaparente. As ratazanas domésticas são muito suscetíveis como é o caso de Rattus rattus que morrem em grande número durante os surtos. Os carnívoros são pouco suscetíveis à doença. Figura: Roedor silvestre reservatório de Yersinia pestis. Fonte: CNN. 59 f) Diagnóstico: Um diagnóstico precoce é essencial para proteger o paciente e a comunidade. A confirmação laboratorial se dá pela punção de líquidos dos edemas. As provas utilizadas são de aglutinação e imunofluorescência. g) Controle: A prevençãoda peste humana é baseada no controle de roedores e de vetores da infecção (pulgas). A vacina inativada confere proteção por um período de seis meses e somente é justificado seu uso em moradores de áreas de alta incidência ou por profissionais que trabalham em laboratório com o agente etiológico. 9.2 Vírus 9.2.1 Raiva a) Descrição: A Raiva é uma doença importante em Saúde Pública em função de seu índice de letalidade. b) Nomenclatura: Raiva ou hidrofobia. c) Agente O agente etiológico é o vírus RNA, membro dos rabdovírus. 60 Figura: Vírus da Raiva. Fonte: Universidade de Évora, 2004. d) Ocorrência da enfermidade no homem: Distinguem-se dois ciclos da Raiva: urbano e selvagem. A maioria dos casos humanos é registrada nas cidades e se deve a mordidas de cães raivosos. O período de incubação é de duas a oito semanas e pode chegar até oito meses ou mais. A enfermidade começa com uma sensação de angústia, pequena elevação da temperatura corporal, mal-estar e alterações sensoriais, hiperestesia, sensibilidade à luz e ao som, dilatação das pupilas e aumento da salivação. À medida que a enfermidade progride, ocorrem espasmos dos músculos da deglutição e a bebida é rechaçada violentamente por contrações musculares. A fase de excitação pode ser predominante até a morte. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Na fase prodômica, os cães manifestam mudança de conduta, escondem-se em cantos escuros ou mostram agitação inusitada. A excitabilidade reflexa está exaltada, sobressaltando-se ao menor estímulo; ainda apresenta anorexia, estimulação das vias genitourinárias e aumento da temperatura corporal. O cão torna-se perigosamente agressivo, com tendência a morder objetos, animais e pessoas, incluindo seu próprio dono. A salivação é abundante e os cães raivosos tendem abandonar suas casas e percorrer grandes distâncias, 61 atacando furiosamente outros cães ou outros animais. O quadro evolui invariavelmente para a morte. Em gatos a sintomatologia é similar a dos cães. Em bovinos, a raiva é transmitida geralmente por morcegos hematófagos. Os animais afetados se distanciam do grupo, apresentam pupilas dilatadas, pelo eriçado, sonolência e depressão. Podem-se observar tremores musculares, inquietude, priapismo, incoordenação muscular e dificuldade na deglutição. Em equinos, ovinos e caprinos a sintomatologia é semelhante a dos bovinos e, nestas espécies, a raiva não é frequente. Em suínos, a enfermidade se inicia com excitação muito violenta e a sintomatologia é similar a dos cães. Figura: Morcego hematófago transmissor da Raiva. Fonte: Ambiente em Foco, 2006. f) Diagnóstico: A prova de eleição é a imunofluorescência direta. É recomendado, além do exame do tecido nervoso, investigar também a presença do vírus nas glândulas salivares. g) Controle: 62 Deve-se prevenir a doença por meio de programas de controle e erradicação da raiva urbana, controle da raiva silvestre, utilização de medidas de transporte internacional de animais, vacinação dos animais, vacinação da raiva humana em indivíduos com riscos de contração da doença. 9.2.2 Febre Amarela a) Descrição: A febre amarela dos animais silvestres, principalmente dos primatas não humanos. O homem é um hóspede acidental e o mosquito Aedes aegypti é o vetor. Figura: Situação da Febre Amarela no mundo. Fonte: OMS, 2004. b) Nomenclatura: 63 Febre amarela ou vômito negro. c) Agente: Vírus RNA Togavridae pertencente ao grupo dos arbovírus. Figura: Vetor da febre amarela: Aedes aegypti. Fonte: Fabrizio Pensati. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A ocorrência da febre amarela é, em sua maior parte, em pessoas do sexo masculino como agricultores, caçadores, trabalhadores de áreas florestais, ou pessoas que, por algum motivo de trabalho, entram na selva ou em lugares alagados. Os programas de colonização de áreas de selva da América Latina expuseram novas populações humanas à infecção. A infecção varia de inaparente a enfermidade grave e fatal. O período de incubação é três a seis dias depois da picada do mosquito infectado. A doença inicia, repentinamente, com febre alta, calafrios, prostração, náusea, vômito, insuficiência hepática e renal e tendência a hemorragias. O paciente apresenta hipotensão, epistaxe, icterícia, hemorragia bucal e gastrintestinal e melena. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A febre amarela é uma infecção que circula nas selvas úmidas da América e África entre primatas, não humanos e mosquitos. A sintomatologia é similar entre símios e humanos. 64 f) Diagnóstico: A confirmação laboratorial é obtida pelo isolamento do vírus e por provas sorológicas. g) Controle: A medida principal para o controle da doença é a vacinação de pessoas que vivem em zonas de alto risco. Recomenda-se a revacinação a cada 10 anos e deve-se ter interesse na erradicação do mosquito vetor. 9.3 Fungos 9.3.1 Dermatomicose a) Descrição: A transmissão da dermatomicose se dá pelo contato direto com paciente infectado. É caracterizada principalmente pela alopecia no local das lesões. b) Nomenclatura: Dermatomicose, dermatofitose ou tinha. c) Agente: Os fungos Microsporum e trichophyton podem causar dermatomicose. 65 Figura: Tricophton. Fonte: Faculte de Medecine d'Angers. d) Ocorrência da enfermidade no homem: As espécies mais importantes na infecção humana são M. canis, T. verrucosum e T. mentagrophytes. A doença se caracteriza por infecção superficial da camada córnea da pele ou dos cabelos e unhas. A M. canis é um dos principais agentes etiológicos da dermatofitose. O período de incubação da doença é de uma a duas semanas. A dermatofitose do couro cabeludo é mais frequente entre os quatro e 11 anos de idade. A doença no corpo se caracteriza por lesões planas com bordas rosadas, com presença de microvesículas e escamas. A dermatofitose do pé (pé-de-atleta) se deve à espécie Trichophyton. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: As espécies mais importantes na transmissão de dermatofitose ao homem são os gatos, cães, bovinos e roedores. Nos cães o agente etiológico mais importante é o M. Canis e as lesões são frequentes e aparentes e apresentam-se em qualquer parte do corpo. Já nos gatos, 90% dos casos não apresentam lesões aparentes, porém se estas se fazem presentes localizam-se na cara e nas garras. Nos bovinos, o agente é o T. verrucosum e apresenta lesões que variam de 1 cm a áreas extensas, com aspecto branco-acinzentado que evolui para crostas de cor marrom claro. Nos roedores, o agente causal é o T. quinckeanum. É transmitida aos animais e ao homem. As lesões são brancas e crostosas e se localizam na cabeça e no tronco. Nos equinos, a espécie mais frequente é o T. equinum e as lesões geralmente se localizam nos lugares de fricção dos arreios. 66 Nos suínos, o agente mais comum é o M. nanum e apresenta lesões caracterizadas por áreas rugosas cobertas por crosta que desprende facilmente. Figura: Suíno com alopecia característica de dermatofitose. Fonte: P. Souza Jr, 1999. f) Diagnóstico: O diagnóstico pode ser confirmado pelas observações microscópicas de pelos e lesões a partir de raspados de pele. g) Controle: A prevenção da doença em humanos deve basear-se no controle da enfermidade nos animais. Evitando contato com animais enfermos. Pelos e escamas devem ser queimados e baias ou estábulos assim como utensílios devem ser desinfetados. O controle da população de roedores deve ser realizado. 67 9.3.2 Esporotricose a) Descrição: O agente etiológico tem um longo período de vida saprófito no solo, plantas e restosvegetais, sendo dessa maneira de difícil controle. b) Nomenclatura: Esporotricose ou micose gomosa. c) Agente: O agente causal é o Sporotrix schenckii. Figura: Sporotrix schenckii. Fonte: Andrew Smith, 2002. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A forma mais comum é a cutâneo-linfática que inicia com um nódulo ou pústula no local da ferida e a localização mais comum é um dos dedos da mão. À medida que a infecção evolui, os vasos linfáticos se endurecem e transformam-se em nódulos subcutâneos que podem ulcerar e liberar pus. Por razões profissionais, os agricultores, jardineiros, floricultores e trabalhadores que manejam madeira ou lenha estão mais expostos à infecção. 68 e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A espécie equina é a mais frequentemente afetada e a enfermidade é similar a infecção do homem causando cicatrizes alopécicas. Porém, têm aumentado os casos registrados em cães, gatos, bovinos e animais silvestres. Figura: Esporotricose. Fonte: Rosely Bastos. f) Diagnóstico: O diagnóstico deve ser realizado por cultivo e identificação do fungo. g) Controle: A enfermidade é caracterizada pelo difícil controle, pois o fungo encontra-se no solo e em plantas. Nas indústrias madeireiras recomenda-se tratar a madeira com fungicidas. 9.4 Protozoários 9.4.1 Leishmaniose a) Descrição: 69 A leishmaniose é uma doença causada pelo parasita do gênero Leishmania e pode afetar a pele ou as vísceras. Leishmaniose cutânea: os reservatórios são os animais silvestres. A infecção se transmite de um animal a outro por meio de picada de insetos flebótomos do gênero Lutzomyia. O homem é hospedeiro acidental. Leishmaniose visceral: a infecção se propaga entre os cães, destes para o homem e, ocasionalmente, do homem para o homem por picadas de insetos flebótomos do gênero Lutzomyia. b) Nomenclatura: Leishmaniose cutânea: úlcera dos chiqueiros, espúndia, pian-bosque ou botão do oriente. Leishmaniose visceral: kala-azar, febre dum-dum ou febre esplênica. c) Agente: A leishmaniose é transmitida pelo protozoário flagelado do gênero Leishmania. Leishmaniose cutânea: L. mexicana mexicana e L. mexicana amazonensis Leishmaniose visceral: Leishmania donovani. 70 Figura 78: Leishmanias. Fonte: Sinclair/TDR/OMS d) Ocorrência da enfermidade no homem: Leishmaniose cutânea: a enfermidade se apresenta em várias formas clínicas, afetando a pele somente ou a pele e as mucosas. O homem é um hospedeiro acidental e adquire a doença quando entra em áreas enzoóticas, como a selva. A L. mexicana causa infecção benigna. As lesões se localizam nas orelhas e nas extremidades. A L. mexicana amazonensis se apresenta de forma benigna com lesões únicas e pouco numerosas. A L. mexicana piffanoi causa uma leishmania cutânea difusa, que se assemelha com a lepra. A L. brasiliensis brasiliensis causa a forma mucocutânea que forma úlcera na pele e pode curar-se espontaneamente. Tem por característica uma tendência metastásica em áreas mucocutâneas do corpo. A L. brasiliensis guyanensis causa lesões únicas de pele que se difundem até os vasos linfáticos. A L. perunvina é caracterizada por uma só lesão que evolui para cura espontânea. A L. tropica major causa a leishmaniose rural ou úmida caracterizada por pápula sobre as extremidades do corpo, a qual evolui para úlcera úmida. A L. tropica minor causa a leishmaniose seca que ocorre em áreas urbanas e periurbanas. A pápula inicial se desenvolve lentamente e a ulceração, quando ocorre demora a cicatrizar. 71 Figura 79: Leishmaniose cutânea. Fonte: Brother Webdesign. Leishmaniose visceral: após inoculação da leishmania por um flebótomo, esta se multiplica lentamente no citoplasma dos macrófagos da pele. Estes alcançam a corrente sanguínea e chegam às vísceras, onde as leishmanias se multiplicam rapidamente destruindo as vísceras. Ocorre febre prolongada e irregular, hepatoesplenomegalia, anemia, edema e aumento da pigmentação da pele. O abdômen fica protuberante e são frequentes as petéquias e hemorragia das mucosas. Nos pacientes não tratados, a mortalidade é alta, porém em enfermos tratados precocemente o prognóstico é favorável. Figura 80: Distribuição da Leishmaniose visceral no mundo. Fonte: Who/tdr/2004. 72 e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Leishmaniose cutânea: a infecção se transmite de um animal a outro por meio de flebótomos do gênero Lutzomyia. A leishmaniose é uma enfermidade dos animais silvestres e também dos roedores. As lesões consistem em edemas na pele com alopecia, as quais demonstram a presença de leishmanias. Os cães são reservatórios e não há lesões ou não são significativas. Leishmaniose visceral: nos cães a enfermidade é de gravidade variável. As lesões cutâneas são mais frequentes e aparentes, com presença de alopecia com descamação, principalmente nas articulações. Podem-se encontrar ulcerações nas mucosas nasais e orais, são frequentes as conjuntivites e ceratites, observando-se também o crescimento exagerado das unhas (onicogrifose). De acordo com estudo realizado por Acha (1987), no Brasil foi observado mais de 30% de cães infectados sem sintomatologia, principalmente em função do surto da doença que ocorreu no estado do Ceará. Figura 81: Leishmaniose visceral em cão. Fonte: Intervet. f) Diagnóstico: 73 Leishmaniose cutânea: o diagnóstico específico mais sensível é a demonstração da presença do parasita nas lesões. O material deve ser coletado da borda da lesão, isolando o agente em meio apropriado como o Novy, MacNeal e Nicolle. Figura 82: Ciclo da infecção da leishmaniose. Fonte: Carmello Thadei. Leishmaniose visceral: pode ser diagnosticada pela presença do parasita no sangue periférico. O melhor procedimento é aspiração de medula óssea para cultivo ou inoculação em cobaias. Pode-se, também, utilizar prova de fixação do complemento, prova de látex sensibilizado com BCG ou prova de imunofluorescência direta. A prova intradérmica de Montenegro é útil para zonas epidemiológicas. g) Controle: Leishmaniose cutânea: os inseticidas são de difícil aplicação em locais ao ar livre, como regiões de selva, floresta ou mato, mas devem ser usados individualmente, aplicando-se em partes expostas do corpo, como os DEET (Autan®, Off® e Repelex®). Leishmaniose visceral: como na Leishmaniose cutânea, o controle é dirigido contra os vetores (utilização de repelentes) e deve-se controlar a população de cães errantes, com programas realizados pela Vigilância Sanitária e pelos centros de controle de Zoonoses, como a captura dos cães sem donos e a esterilização dos animais que posteriormente podem ser colocados para a adoção. 74 Figura 83: Lutzomyia, vetor da Leishmaniose. Fonte: Fiocruz. 9.4.2 Toxoplasmose a) Descrição: A toxoplasmose é uma doença infecciosa causada por protozoário e pode ser congênita ou adquirida. O hospedeiro definitivo do Toxoplasma é o gato doméstico. O homem e os outros animais são os hospedeiros intermediários e contaminam-se ingerindo oocistos ou carne de animais contaminados pelo parasita. b) Nomenclatura: Toxoplasmose. c) Agente: A Toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. 75 Figura 84: Toxoplasma gondii. Fonte: Tiago Lethbridge, 2002. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A infecção é muito comum, porém a enfermidade clínica é pouco frequente. Estima-se que um terço da população mundial possui anticorpos contra o parasita. A infecção geralmente é subclínica. A infecção intrauterina é a mais grave e a toxoplasmose adquirida pós-natal em geral é a menos grave e caracterizada por febres, mialgias, pneumonias,miocardites e comumente retinocoroidite. Sua importância em saúde pública reside, sobretudo, na gravidade da infecção congênita e nas suas sequelas. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A enfermidade é similar a do homem, geralmente com infecção assintomática. Em ovinos, do ponto de vista de saúde pública e econômico, é a espécie de maior interesse. Nesta espécie a enfermidade causa placentites, abortos, encefalites e lesões oculares. Em bovinos e equinos a doença é pouco frequente. Nos gatos, a infecção assintomática é muito comum e desempenha uma importante função na epidemiologia da doença. Os cães apresentam alta taxa de soropositividade. f) Diagnóstico: 76 O diagnóstico específico é obtido pela demonstração da presença do agente e mediante provas sorológicas. Pode-se observar o parasita por microscopia eletrônica utilizando a técnica de imunofluorescência direta. Figura 85: Ciclo da toxoplasmose. Fonte: CVQA, 2003. g) Controle: O homem deve evitar ingerir carne insuficientemente cozida. Outra medida de prevenção está na diminuição de gatos nas propriedades rurais, reduzindo assim a contaminação dos campos e pastagens. 9.5 Helmintos 77 9.5.1 Dipilidiose a) Descrição: Os hospedeiros intermediários são as pulgas dos cães (C. canis), dos gatos (C. felis) e dos homens (P. Irritans). O homem é o hospedeiro acidental. b) Nomenclatura: Dipilidiose. c) Agente: O agente etiológico é o cestódeo Dipylidium caninum. Figura 86: Dypilidium caninum. Fonte: Workforce.cup. d) Ocorrência da enfermidade no homem: A dipilidiose afeta principalmente crianças. Os sintomas consistem em diarréia, cólicas, irritabilidade e insônia, assim como eliminação nas fezes do parasita móvel. 78 Figura 87: A pulga é o hospedeiro intermediário do D. Caninum. Fonte: Insetos.cl e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A Dipilidiose é uma verminose dos cães e gatos, com raras manifestações clínicas, podendo haver irritações na região anal. f) Diagnóstico: No homem e nos animais, o diagnóstico é baseado na observação micro ou macroscópica do parasita nas fezes. g) Controle: As medidas de controle consistem em combater as pulgas com inseticidas e a administração de vermífugos aos hospedeiros definitivos. 9.5.2 Dirofilariose a) Descrição: O reservatório principal da Dirofilaria é o cão e a transmissão se dá pela picada de mosquitos. O homem é hospedeiro acidental. b) Nomenclatura: 79 Dirofilariose. c) Agente: A Dirofilariose é causada pela Dirofilaria immitis, D. tenuis, D. repens e D. Conjunctivae. Figura 88: Dirofilaria. Fonte: Manuel Cabral, 2008. d) Ocorrência da enfermidade no homem: São descritas duas formas de Dirofilariose humana: pulmonar e subcutânea, sendo que a primeira é causada pela D. immitis e metade dos pacientes são assintomáticos. Nos casos sintomáticos observar-se dor toráxica, febre, calafrios e mialgias. Nos pulmões encontram-se parasitas mortos ou degenerados. A Dirofilariose subcutânea é causada pela D. tenuis, D. repens e D. conjunctivae. A lesão consiste em um nódulo de tumefação subcutânea, podendo localizar-se nas pálpebras ou em outras partes do corpo. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A D. immitis vive no ventrículo direito e na artéria pulmonar dos cães, causando infecção assintomática. A D. repens se aloja no tecido conjuntivo subcutâneo de cães e gatos, podendo causar prurido, alopecia e formação de crostas. 80 Figura 89: Ciclo da dirofilariose. Fonte: sabemosdeperros.com f) Diagnóstico: O diagnóstico da Dirofilariose canina pode ser obtido pelo exame de sangue, coletado preferencialmente à noite, quando a microfilaremia atinge índice máximo. Figura 90: Coração infectado por dirofilariose. Fonte: Cristina Alves. g) Controle: 81 Podemos prevenir a doença administrando vermífugos aos cães a cada 06 meses e combatendo os artrópodes vetores por meio de inseticidas. A desverminação deve ser iniciada em torno de 60 dias de vida do filhote, repetindo a dose a cada 14 dias, durante 2 meses, e após esta última dose adotar a administração de vermífugos nos cães a cada 6 meses. 9.5.3 Larva migrans a) Descrição: É um parasita intestinal de cães e gatos que penetram na pele dos animais causando a doença. Larva migrans cutânea: o homem é vítima do ciclo errático do nematódeo intestinal de cães e gatos. Larva migrans visceral: são infecções extraintestinais causadas principalmente por Toxocara canis que vivem no intestino delgado de cães e canídeos silvestres. b) Nomenclatura: Larva migrans cutânea: dermatite verminosa, erupção serpiginosa ou bicho geográfico. Larva migrans visceral: granulomatose larval. c) Agente: Larva migrans cutânea: Ancylostoma braziliense. Larva migrans visceral: Toxocara canis d) Ocorrência da enfermidade no homem: 82 Larva migrans cutânea: o homem se infecta por contato com o solo, principalmente arenoso, contaminado com fezes de cães e gatos. A larva ao penetrar na pele produz uma pápula pruriginosa no ponto de entrada. Nos dias seguintes a larva migra através da pele, produzindo túneis sinuosos, avançando de vários milímetros a vários centímetros por dia. Esta migração provoca prurido intenso principalmente à noite, são frequentes também as infecções bacterianas secundárias. As lesões se localizam frequentemente nos pés, pernas e mãos. Figura 91: Larva migrans cutânea. Fonte: Gary Wlliams Larva migrans visceral: as lesões mais frequentes são as invasões oculares, causada pelo parasita, porém são possíveis as infecções no coração, fígado, pulmões e cérebro. A infecção intestinal com parasitas adultos é muito rara no homem. As larvas migram até diferentes órgãos e tecidos, onde podem permanecer durante muito tempo. A gravidade é variável, predominando a sintomatologia leve, sendo o sinal mais predominante a eosinofilia crônica. Em crianças, a enfermidade apresenta-se mais gravemente podendo ocorrer processos asmáticos, febre alta, anorexia, mialgias, náuseas, vômito, hepatomegalia e urticária. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Larva migrans cutânea: o Ancylostoma braziliense é um verme intestinal de cães, gatos e várias espécies de carnívoros silvestres, porém a infecção pode se dar também pelo Ancylostoma caninum. A sintomatologia dos animais é similar a do homem. 83 Larva migrans visceral: o Toxocara canis é um parasita intestinal muito comum em cães. A infecção aguda se observa em filhotes de cães e gatos de poucas semanas de vida. Os sinais consistem em distúrbios digestivos e apatia. Nos adultos, geralmente a infecção é assintomática. Figura 92: Vermes adultos de Toxocara canis. Fonte: Gláucia Gigli. f) Diagnóstico: Larva migrans cutânea: o diagnóstico clínico é baseado na apresentação das lesões e da sintomatologia, como os túneis e o aspecto causado pela migração do parasita na pele. Larva migrans visceral: em humanos observa-se a presença de eosinofilia, hipergamaglobulinemia, hepatomegalia e sinais oftálmicos. O diagnóstico é confirmado por exame histopatológico de tecido hepático, obtido por biópsia. O diagnóstico de cães e gatos é realizado mediante observação de ovos do parasita no material fecal. 84 Figura 93: Distribuição do Toxocara no mundo. Fonte: Gideon. g) Controle: Larva migrans cutânea: as principais medidas de controle consistem no tratamento periódico de cães e gatos e na eliminação da população de cães errantes. Também não devem ser admitidos estes animais em praias ou em parques que possuem áreas com areia, onde brincam crianças. Larvamigrans visceral: a medida principal é a vermifugação de cães e gatos. Para a prevenção no homem é importante observar as regras de higiene pessoal, principalmente nas crianças. 9.5.4 Teníase/Cisticercose a) Descrição: O complexo de enfermidades Teníase/Cisticercose constitui-se de duas entidades mórbidas distintas, causadas pela mesma espécie de cestódio, em fases diferentes do seu ciclo 85 de vida. A teníase é causada pela forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, no intestino do homem. A cisticercose é uma enfermidade provocada pela presença das larvas de Taenia solium nos tecidos de suínos, bovinos ou do homem. b) Nomenclatura: Teníase ou solitária e Cisticercose. c) Agente: Teníase: Taenia solium e Taenia saginata. Cisticercose: Estágios larvais da Taenia (Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis). Figura 94: Taenia solium. Fonte: Todabiologia. Figura 95: Cisticerco. Fonte: FURB. d) Ocorrência da enfermidade no homem: O hóspede definitivo da taenia solium e taenia saginata é o homem. Alojam-se no intestino delgado. Há grande importância da T. solium para a saúde pública em virtude da possibilidade do homem infectar-se também com os ovos da Taenia e desenvolver cisticercos em seus tecidos. A teníase por T. solium é mais prevalente em países em desenvolvimento, 86 consequência do nível de higiene ambiental e pessoal, como também na tecnologia da criação de suínos. Os hábitos alimentares e a preferência de pratos a base de carne crua são fatores importantes na prevalência das teníases. As teníases ocorrem geralmente de forma subclínica. Nos casos com sintomatologia são frequentes dores abdominais, náuseas, perda de peso, diarréia ou constipação. O homem adquire a teníase ao consumir carne bovina ou suína crua ou insuficientemente cozida que contenham cisticercos ou pela ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes humanas que contenham ovos de T. solium. Um problema de especial interesse para a saúde pública é a infecção humana por Cysticercus cellulosae pela gravidade que a doença representa. A neurocisticercose é a forma mais grave e ocorre principalmente em populações rurais. O período de incubação é variável, os sintomas podem surgir em quinze dias ou muitos anos depois da infecção. O homem pode alojar de um cisticerco a centenas, localizados em diversos tecidos ou órgãos. A localização mais frequente é no Sistema Nervoso Central e nos olhos. Os sintomas mais frequentes são convulsões, que se repetem em intervalos irregulares. O tratamento geralmente é cirúrgico e a mortalidade é alta. 87 Figura 96: Escolex da Taenia. Fonte: http://images.google.com.br/imgres?imgurl 88 Figura 97: Ciclo Taenia saginata. Fonte: med.sc.edu e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Os suínos são hospedeiros intermediários da T. solium e os bovinos são hospedeiros intermediários da T. saginata. A cisticercose se manifesta clinicamente nos animais causando sinais nervosos. Os bovinos e suínos, ao ingerirem ovos de tenias, desenvolvem em seus tecidos os cisticercos. O C. bovis pode ficar viável no bovino por nove meses e o C. celulosae pode sobreviver vários anos nos suínos. Figura 98: Proglotides da Taenia. Fonte: Gállego Berenguer, 1977. 89 f) Diagnóstico: O diagnóstico da teníase intestinal humana é realizado pela observação de proglótes nas fezes. O diagnóstico da cisticercose pode ser feito pela biópsia dos nódulos ou por radiografia. A neurocisticercose pode ser identificada através de tomografia. Nos animais o diagnóstico de cisticercose bovina e suína é realizado no exame post mortem nos abatedouros e frigoríficos. g) Controle: As medidas de controle são baseadas na reeducação da população, no melhoramento do nível de higiene ambiental e pessoal nas áreas rurais e na conscientização dos riscos do consumo de carnes cruas ou insuficientemente cozidas. A inspeção de carnes é uma medida de grande importância no controle das enfermidades. 9.6 Príons 9.6.1 Doença da vaca louca a) Descrição: Cientistas deram o nome da doença de encefalopatia espongiforme em função do cérebro dos animais apresentarem aspecto esponjoso. A transmissão ocorre pela ingestão de alimento contaminado por tecidos de bovinos acometidos pela doença, como farinha de osso e de carne. 90 b) Nomenclatura: Encefalopatia espongiforme bovina, BSE, mal da vaca louca ou doença da vaca louca. c) Agente: A enfermidade é causada por príons, partículas proteináceas infectantes que não possuem DNA ou RNA. Figura 99: Príon infectando célula nervosa. Fonte: Yraima Cordeiro, 2001. d) Ocorrência da enfermidade no homem: O homem é susceptível à enfermidade, sendo esta transmitida por meio de ingestão de alimentos de origem bovina contaminados. A enfermidade foi considerada como zoonose a partir de 1996, quando foram confirmados na Grã-Bretanha os primeiros casos. A doença se apresenta 100% letal, causando degeneração neurológica. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: A enfermidade afeta os bovinos, causando encefalopatias. Indicadas por sinais neurológicos tais como agitação, agressividade, incoordenação durante a marcha e incapacidade de levantar. O tempo de incubação é variável, de meses a anos, e a doença é sempre fatal, pois além de ser degenerativo, o agente etiológico não induz a resposta imune. 91 Geralmente, não são observados sinais clínicos neurológicos, porém ocorre perda gradual de peso e diminuição da produção de leite. Os sinais neurológicos comumente são de pânico, ansiedade, nervosismo, medo, agressividade, escoiceamento, salivação, bruxismo, tremores, cambaleio, ataxia, hipermetria e deambulação. Figura 100: Vaca com sinais neurológicos. Fonte: De Cicco. f) Diagnóstico: Deve-se realizar o exame de sangue, urinálise e exame do líquido cérebro-espinhal. Na necrópsia observa-se no cérebro a presença de vacúolos na substância cinzenta e leve gliose. Os processos neuronais mostram vacúolos intracelulares e massas de neurofilamentos. Figura 101: Casos de Encefaopatia Espongiforme Bovina. Fonte: Garcia, M. e Martins, L.S. 92 g) Controle: Deve-se controlar a transmissão da doença, principalmente por meio da proibição da alimentação de ruminante com suplementação a base de proteínas, como farinha de ossos. Os cadáveres de animais mortos pela doença devem ser incinerados. Os produtos destinados ao consumo humano e animal, como alimentação, produtos cosméticos, farmacêuticos ou materiais médicos que utilizam material protéico de ruminantes devem seguir as normas profiláticas da OIE. 9.7 Rickéttsias 9.7.1 Febre Maculosa a) Descrição: É uma doença bacteriana de gravidade variável (caracterizada por febre aguda) que, se não tratada, pode levar a morte em duas semanas. O reservatório natural é o carrapato Ixodidae. No Brasil, o principal vetor é o carrapato Amblyoma cajennense. O homem é hospedeiro acidental. b) Nomenclatura: Febre maculosa, febre do carrapato, febre manchada, febre petequial, febre maculosa do Novo Mundo, febre maculosa das Montanhas Rochosas ou tifo exantemático. c) Agente: A enfermidade é causada pelo microorganismo Rickettsia rickettsii. 93 Figura 102: Rickettsia rickettsii. Fonte: Wikipédia d) Ocorrência da enfermidade no homem: A ocorrência da doença no homem é esporádica e a transmissão se dá pela picada do carrapato infectado. Os sintomas surgem de dois a quatorze dias após o contato com o vetor e caracterizam-se por febre, calafrios e dores musculares articulares e ósseas. Ocorre erupção maculosageneralizada similar a do sarampo. Podem ocorrer sintomas neurológicos, complicações circulatórias e pulmonares. Em pacientes não tratados a letalidade é de 20%. Figura 103: Ciclo da febre maculosa. Fonte: Barão em foco. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: O agente já foi isolado nos cães, marsupiais, roedores e coelhos silvestres. 94 Na maioria dos hospedeiros naturais a infecção não é aparente. Os casos mais comuns são nos equinos. Figura 104: Ciclo da Febre Maculosa nos animais. Fonte: Artshopping.com.br, 2006. f) Diagnóstico: Os exames laboratoriais podem ser realizados isolando o parasita do sangue do paciente, tanto pela reação de Weil-Felix quanto pela imunofluorescência. g) Controle: As medidas de controle incluem aplicação de carrapaticida, visando à redução da população do vetor, utilização de roupa protetora em locais infestados de carrapatos. As pessoas expostas ao alto risco devem ser vacinadas com vacina inativada. 95 9.8 Ácaros 9.8.1 Escabiose a) Descrição: A enfermidade é causada por um ácaro e é transmitida pelo contato direto entre pessoas e/ ou animais. b) Nomenclatura: Escabiose, sarna, sarna sarcóptica ou ronha. c) Agente: O agente etiológico é o ácaro Sarcoptes spp. Figura 105: Sarcoptes scabiei. Fonte: Dra Rossana Sette. d) Ocorrência da enfermidade no homem: 96 Os Sarcoptes scabiei caracterizam-se pelo fato de fazerem galerias na pele, dorso, mãos, axilas, região inguinal, peito e umbigo. O sintoma mais característico é o prurido intenso, ocasionando infecções secundárias. A transmissão ocorre principalmente homem a homem, porém os animais também podem transmitir a sarna ao homem. Esta também pode ser transmitida por roupas, toalhas, lençóis, arreios e outros objetos contaminados. Figura 106: Escabiose humana. Fonte: Veterinaria km 32. e) Ocorrência da enfermidade nos animais: Nos animais a enfermidade inicia-se geralmente na cabeça. Nos equinos, as lesões se observam na cabeça e no pescoço. Nos cães, nas orelhas, focinho e articulações. Ocorre prurido intenso com formação de pápulas e vesículas, que formam placas crostosas, ocasionando a queratinação e espessamento da pele. Figura 107: Escabiose. Fonte: Instituto É o Bicho. 97 f) Diagnóstico: Deve-se realizar raspado de pele no local das lesões para o diagnóstico definitivo. g) Controle: Para prevenir a escabiose humana devem-se realizar banhos de imersão ou aspersão nos animais contaminados. 98 10 SAÚDE PÚBLICA 10.1 Introdução A história da Saúde Pública Brasileira teve início em 1808, porém o Ministério da Saúde só veio a ser instituído no dia 25 de julho de 1953. Do final da década de 80, após a realização da Constituição Federal de 1988, ficou determinado o dever do Estado em garantir saúde a toda a população e, para tanto, criou o Sistema Único de Saúde. Com o avanço da ciência e da biotecnologia, incrementou-se o desenvolvimento da produção de alimentos e de fármacos. Porém, isso acarretou no aumento da população mundial, que hoje é estimada em 6 bilhões de pessoas, aumento da resistência dos antimicrobianos a bactérias; aumento das cidades de maneira desordenada, causando muitos impactos ambientais. Estes impactos causam um desequilíbrio ecológico que tem grande influência na disseminação de enfermidades como, por exemplo, as arboviroses. Figura 108: Laboratório de Biotecnologia. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2008. 99 10.2 Conceituação Os conceitos de Saúde Pública e Epidemiologia se confundem de maneira interdisciplinar e se complementam no sentido em que estudam a doença em massa e não a doença individual; estudam não somente a doença em si, mas os fatores que a influenciam; identificam o efeito das doenças, considerando sua distribuição no espaço, no tempo e nas populações, buscando explicar suas ocorrências. Para compreendermos a dimensão dos fatores que estão relacionados à Saúde Pública, devemos conhecer seus conceitos e entender sua multidisciplinaridade. Epidemiologia Uma das ferramentas mais utilizadas em Saúde Pública é a Epidemiologia, a qual, de acordo com Last (1995), é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde. Nesse sentido, acrescenta-se também que a unidade básica de atuação da Epidemiologia é a população, e a ela inclui tanto indivíduos saudáveis como doentes ou mortos (SCHWABE, 1977). Saúde A saúde tem sido considerada, desde a mais remota antiguidade, como um bem inalienável e uma aspiração de todo ser humano. A carta das Nações Unidas assegura que “estar em boa saúde é um dos direitos fundamentais do ser humano, sem distinção de raça, religião, ideologia política ou condição econômica e social”. A Organização Mundial da Saúde a descreve como um “estado de completo bem estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou defeito”. 100 Segundo Perkins (1938) saúde é um estado de relativo equilíbrio, da forma e função do organismo, resultante do seu ajustamento dinâmico e satisfatório, às forças que tendem a perturbá-lo. Saúde populacional O conceito de saúde da população está implícito no que poderíamos chamar de valor médio resultante do agrupamento dos diferentes graus de saúde dos indivíduos que a compõe, configurando o gradiente de saúde da população que reflete, em última instância, sua qualidade de vida. Saúde Coletiva A Saúde Coletiva é considerada a “nova Saúde Pública” que é entendida como um “conjunto de saberes”. Ela subsidia práticas sociais de distintas categorias profissionais em populações de diferentes níveis socioeconômicos, enfrentando a tríade saúde-doença-cuidado. De acordo com Teixeira (1985), Saúde Coletiva é a “área de produção de conhecimentos que tem como objeto as práticas e os saberes em saúde, referidos ao coletivo enquanto campo estruturado de relações sociais onde a doença adquire significação”. Complementando essa conceituação afirma-se que a Saúde Coletiva pode ser considerada como um campo de conhecimento de natureza interdisciplinar cujas disciplinas básicas são a epidemiologia, o planejamento/ administração de saúde e as ciências sociais em saúde (Ribeiro,1991). 10.3 Formas de ocorrência das Zoonoses nas populações 101 A distribuição, espacial e temporal, da ocorrência das doenças nas populações é classificada nas formas endêmica e epidêmica, por conseguinte, a condição de não ocorrência é considerada área livre ou indene. A forma endêmica é aquela em que a doença está presente na população da área geográfica, apresentando regularidade previsível de frequência, cujos valores oscilam dentro de limites considerados pela estatística como normais, usuais ou esperados. A forma epidêmica é aquela que se configura quando a frequência dos eventos (doenças) na população de uma área geográfica, em um determinado intervalo de tempo, ultrapassa os limites esperados, considerados usuais ou endêmicos, sendo incluídos nesses casos os surtos epidêmicos e as pandemias. Figura 109: População temendo possível epidemia. Fonte: Agência Estado. 10.4 A Saúde Pública e o combate as Zoonoses Para que uma ação sanitária possa ser desenvolvida com vistas ao combate a uma doença, é indispensável que algumas ou todas as causas envolvidas no processo sejam identificadas. Assim, torna-se possível a efetivação de medidas capazes de antagonizá-las ou 102 interceptá-las. Dessa forma, torna-se indispensável a atuação na Saúde Públicapor intermédio de órgãos de Vigilância Sanitária e Epidemiologia, para a identificação das causas e a descoberta do processo doença, para que se torne possível uma ação efetiva capaz de antagonizá-las e prevenir seus efeitos. Algumas das funções da Vigilância Sanitária são: a verificação dos níveis de contaminantes em produtos, medicamentos ou ambientes; controle da qualidade de alimentos, visando promover a saúde, preservando os processos normais de vida biológica e social. Contudo, a Vigilância Sanitária implica na prevenção primária de riscos específicos ou de proteção da saúde frente a riscos inespecíficos. Figura 110: Atuação da fiscalização sanitária em estabelecimentos comercias. Fonte: UNIPAR. O quadro a seguir exemplifica as principais ações da Vigilância Sanitária no combate as Zoonoses na prevenção, proteção e promoção da Saúde Pública. Ações Responsável Sinais Alvos Decisões Prevenção Marcadores Fatores de risco Casos-índices Grupos de risco Redes de transmissão Redução Remoção 103 Proteção Sensores Eventos sentinela Comunidades Ambientes Monitoramento Controle Promoção Monitores Tendências Padrões Ambientes Produtos Monitoramento Controle A Vigilância Sanitária tem suas ações baseadas na prevenção e controle das doenças. A prevenção é um conjunto de procedimentos que visa proteger e melhorar a saúde de uma população, impedindo a entrada da doença na área; o controle é o conjunto de ações que objetivam reduzir a frequência da ocorrência de uma doença já existente em uma população. Porém, a erradicação faz parte de ações com fins específicos de eliminação de uma doença em determinada área, tornando-se um procedimento radical e intensivo. O controle das Zoonoses se dá de diferentes maneiras, com ações educativas e ações saneadoras; porém, efetivamente, conscientizando a população por intermédio de ampla divulgação das campanhas de vacinação, de combate ao mosquito Aedes aegypti e de desratização; assim como o acesso ao saneamento básico a toda população. Veremos abaixo a descrição de medidas preventivas básicas que devem ser realizadas para humanos e animais. 104 Figura 111: Combate ao mosquito Aedes aegypti. Fonte: Jornal Semanal. a) Humanos: devem ser respeitados os princípios básicos de higiene pessoal, assim como o atendimento do direito da população ao saneamento básico e a alimentos inspecionados. Devem ser seguidas as instruções da Vigilância Sanitária de cada município, assim como as normas e leis federais. Figura 112: Campanha francesa contra tuberculose em 1930 “Lave as mãos antes das refeições”. Fonte: Musée Pasteur, França. 105 b) Cães e gatos: são animais de companhia/guarda que podem ser transmissores de inúmeras doenças, sendo a raiva a doença de maior preocupação em Saúde Pública. Figura 113: Animais de estimação. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. As medidas preventivas baseiam-se na captura e controle de cães errantes, vacinação anual contra raiva e em caso de mordedura: realizar limpeza do local, utilizar o esquema de imunização preventiva anti-rábica humana e observar o animal agressor. Figura 114: Campanha municipal de vacinação contra raiva. Fonte: Prefeitura de Rio Branco, 2008. 106 Figura 115: Captura de cães errantes para esterilização e para posterior adoção. Fonte: Vigilância Sanitária Passo Fundo/RS. c) Ratos: os ratos são os roedores mais comumente envolvidos na transmissão de doenças pela mordedura, urina, fezes e pulgas. São transmissores de leptospirose, salmonelose, triquinose, tifo murino e peste bubônica. Medidas preventivas de controle da população de roedores devem ser tomadas, como: anti-ratização (eliminação das condições que favorecem a instalação e proliferação dos roedores) e desratização (uso de raticidas ou ratoeiras). 107 Figura 116: Desratização. Fonte: Prefeitura de Taboão da Serra. d) Pombos: estas aves que vivem nas cidades transmitem doenças por intermédio do piolho ou microorganismos existentes nas fezes, como toxoplasmose, encefalite, histoplasmose, meningite criptocócica e salmonelose. São algumas das medidas de prevenção a serem tomadas: não ofertar alimentos; impedir que os pombos façam ninhos em áreas urbanas; vedar com telas os espaços que possam servir de abrigo; remover ninhos de área construída; dedetizar o local para evitar problemas com os piolhos; umedecer as fezes secas antes de retirá-las para, com isso, prevenir as doenças provocadas pela sua inalação usando máscaras protetoras ao entrar em ambiente contendo grande acúmulo de fezes. Figura 117: Pombos no bairro do Flamengo, RJ. Fonte: Ricardo Lemos, 2008. 108 e) Insetos: estes invertebrados transmitem doenças pela picada ou contaminando alimentos e água. Como por exemplo: -mosquito: irritação e prurido local, dengue, febre amarela, leishmaniose, doença de chagas e malária. -pulgas: peste bubônica e tifo murino. -baratas: infecções respiratórias, intestinais e alergias. -moscas: doenças intestinais, respiratórias e alergias dermatológicas. As medidas preventivas a serem tomadas são: higiene geral; vacinação contra febre amarela; quimioprofilaxia antes de entrar em áreas endêmicas de malária; assim como, dedetização dos locais endêmicos de febre amarela, malária e doença de chagas. Figura 118: Ciclo de vida da mosca doméstica. Fonte: Howstufworks, 2008. f) Aranhas: são aracnídeos que ao picarem o homem podem provocar dor intensa e irritação local, náuseas e vômitos, febre e até a morte. As ações preventivas visam manter os ambientes limpos e livres de insetos; vedar frestas e fendas que permitam a entrada em residências; manter áreas livres limpas e com vegetação rasteira. 109 Figura 119: Aranha em aviário. Fonte: Aracno. g) Escorpiões: o veneno deste artrópode pode provocar desde manifestações de pouca gravidade (dor local moderada) até a morte do indivíduo. As medidas de prevenção a serem adotadas constam em manter o quintal e jardim limpos e não acumular lixo e entulho. Figura 120: Escorpião. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2006. 110 h) Cobras: o veneno de algumas serpentes pode levar a morte em virtude de sua capacidade proteolítica (destrói proteínas, provocando necrose e destruição dos tecidos), coagulante (altera a coagulação sanguínea, provocando a não coagulação ou coagulação maciça dentro dos vasos), neurotóxica (danifica o sistema nervoso) e hemolítica (destrói os glóbulos vermelhos, provocando insuficiência renal aguda). Para se prevenir do ataque de cobras deve-se atentar para: não andar descalço; não introduzir a mão em buracos no chão ou em montes de pedras; evitar proliferação das cobras diminuindo a oferta de alimentos; criar animais em locais protegidos; e, utilizar medidas de controle dos ratos. Figura 121: Cobra Sucuri. Fonte: Dra. Sabrina Lorenzoni, 2005. i) Animais silvestres: controlar as Zoonoses em populações de animais silvestres tomando ações para planejar, coordenar, executar e avaliar as medidas de controle e diagnóstico. As medidas preventivas a serem tomadas são: estudar a dinâmica das populações de animais silvestres de interesse em Saúde Pública e animal; realizar o atendimento à população com relação ao controle das Zoonoses; promover controle e a vigilância entomológica; conservar os habitats naturais evitando desmatamentos e queimadas. 111 Figura 122: Animal silvestre invadindo centro urbano. Fonte: Dra Sabrina Lorenzoni, 2005. Em conclusão, se faz importante salientar, que o bem-estar da sociedade humana está estreitamente relacionado com a qualidade de vida dos seus animais, tanto de produção como de companhia ou lazer. Ressalta-se,também, que são indispensáveis as ações para manter o meio ambiente preservado e em equilíbrio. 112 REFERÊNCIAS ACHA, P. Zoonosis y Enfermidades Transmisibles Comunes al Hombre y a los Animales. OMS. EUA: 2003. BLAHA, T. Epidemiologia especial veterinária. Espanha: Ed. Acribia, 2005. CAMPOS, G.W.S. Saúde Pública e saúde coletiva. Ciência e Saúde Coletiva, 2000. CORTES, J.A. Epidemiologia. Ed Sulina, 1993. FORATTINI, O. Public Health in the 20th century. Rev. Saúde Pública. 2000. FORATTINI, O.P. O pensamento epidemiológico evolutivo sobre as infecções. Rev. Saúde Pública, 2001. METIDISCH, R. O médico veterinário, as zoonoses e a saúde pública. Santa Catarina, 2006. Dissertação Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. MORENO, L.S. Las Zoonosis. 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