Logo Passei Direto
Buscar

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

ZOONOSES
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Mariana Forgati
CONVERSA INICIAL
Em nossa aula, estudaremos as principais zoonoses com relevância epidemiológica causadas por
bactérias: leptospirose, botulismo, brucelose, doença de Lyme e peste bubônica.
As bactérias compõem um grupo extremamente diverso de organismos unicelulares e
procariontes, ou seja, não possuem um núcleo compartimentado para abrigar seu DNA e estão
organizadas em dois grandes reinos: Bacteria e Archaea. A maioria dos procariotos é pequena e
simples, com morfologia esférica ou em forma de bastonete, normalmente revestida por uma parede
celular. As células procarióticas ocupam uma grande variedade de nichos e apresentam a maior
diversidade bioquímica entre todos os organismos vivos, com espécies organotróficas (que se
alimentam de uma variedade de moléculas orgânicas), fototrótricas (realizam fotossíntese) e
litotrótricas (realizam quimiossíntese) (Alberts et al., 2002).
TEMA 1 – LEPTOSPIROSE
Nesta seção, iniciaremos o estudo das zoonoses bacterianas com maior relevância
epidemiológica, dentre as quais se destaca a leptospirose.
A leptospirose tem como agente etiológico a bactéria espiralada Leptospira interrogans, que
possui mais de 200 variantes sorológicas (sorovares – Australis, Autumnalis, Bataviae, Bratislava,
Canicola, Copenhageni, Hardjo e Icterohaemorrhagiae, por exemplo). Essa infecção é mundialmente
distribuída, com maior prevalência nos países tropicais, com elevado índice pluviométrico.
A infecção é comum em roedores e outros mamíferos silvestres e domésticos (160 espécies de
mamíferos já foram identificadas com a infecção). Cada sorovar tem seu hospedeiro preferido,
embora cada espécie possa abrigar mais de um sorovar. O ser humano, por exemplo, é suscetível a
vários sorovares.
A transmissão para seres humanos ocorre em surtos esporádicos ou epidêmicos, de modo
acidental, com a bactéria veiculada através da urina de animais contaminados, normalmente roedores
sinantrópicos do ambiente urbano e rural.
Após um período de incubação de 1 a 2 semanas, a leptospirose passa por duas fases.
Leptospiremia (7 a 10 dias), em que as leptospiras multiplicam-se ativamente nos diferentes
órgãos, caracterizando o quadro agudo da doença. Os sintomas dessa fase costumam ser febre,
mialgia (principalmente na região das panturrilhas), conjuntivite, rigidez na nuca, náuseas e
vômitos.
Leptospirúria (1 semana a meses), em que ocorre liberação das leptospiras pela urina. A
evolução da doença varia de acordo com vários fatores, entre eles o sorovar, a carga bacteriana
infetante, o estado de saúde do doente e a intervenção médica rápida. A maioria dos infectados
desenvolve uma infecção inaparente, subclínica. Porém, de 5 a 10% desenvolve a doença de
Weil, uma forma ictérica ou hepatonefrídica grave, com elevada taxa de mortalidade, cujos
sintomas são (além das descritas na leptospiremia) petéquias na pele, hemorragias no trato
gastrointestinal, proteinúria (eliminação de proteínas pela urina), hepatoesplenomegalia
(aumento do volume do fígado e pâncreas), icterícia e insuficiência renal.
O tratamento consiste na administração de antibióticos, como penicilina e amoxicilina. Veja o
infográfico com as principais informações a respeito da leptospirose na Figura 1.
Figura 1 – Infográfico sobre principais formas de transmissão, sintomas e prevenção da leptospirose
Crédito: Love You Stock/Shutterstock.
Como a fase aguda da leptospirose pode ser confundida com outras enfermidades (como
síndrome gripal, meningite, hepatite), é necessário realizar diagnóstico laboratorial, como isolamento
do agente infeccioso a partir de cultura do sangue total, da urina ou até mesmo do líquido
cefalorraquidiano. De forma complementar, pode-se investigar a presença de leptospiras no material
biológico, num exame a fresco sob microscópio de luz de fundo escuro. Podem ser realizados,
também, exames sorológicos, a partir da primeira semana de infecção (pesquisa de antígenos e ELISA,
principalmente). A técnica molecular PCR é bastante sensível e com elevada especificidade, sendo um
excelente método diagnóstico, porém com custo elevado, o que é inviável para a maioria das
localidades (Acha; Szyfres, 2001).
A leptospirose está relacionada a condições comportamentais (trabalhadores de arrozais, minas,
esgotos, matadouros, cuidadores de animais e veterinários) e socioambientais, sendo recorrente em
áreas pobres, com altos índices de desigualdade social e em países em desenvolvimento.
Embora seja potencialmente letal, o impacto da leptospirose na saúde da população é bastante
subestimado. Essa a doença tem pouca ou nenhuma visibilidade, o que a torna marginalizada e
desconhecida pelo público geral. Por se tratar de uma infecção prevalente em regiões pobres e que
não desperta o interesse de grandes indústrias farmacêuticas e do poder público para garantir
infraestrutura apropriada para a prevenção, tratamento e controle da enfermidade. A leptospirose foi
classificada na literatura internacional como uma Doença Tropical Negligenciada (Martins; Spink,
2020).
TEMA 2 – BOTULISMO
O botulismo é causado pelo bacilo gram-positivo Clostridium botulinum (bacilo gram-positivo),
uma bactéria anaeróbia obrigatória, cujo reservatório de é o solo, sedimento de rios e mares, vegetais
e intestino de aves e mamíferos. Sob condições desfavoráveis, C. botulinum produz esporos, que são
extremamente resistentes a calor de dessecação, sendo capazes de sobreviver por mais de 30 anos
em meio líquido e, mais tempo ainda, em meio seco, além de tolerar temperatura elevadíssimas
(como 100°C por horas).
A germinação dos esporos ocorre quando C. botulinum encontra condições favoráveis, como
condições anaeróbicas, pH superior a 4,5 e umidade. Essas condições são encontradas, por exemplo,
em alimentos, principalmente em embutidos e conservas caseiras que não sofreram tratamento
térmico adequado ou armazenados em condições inadequadas.
Clostridium botulinum sintetiza uma das mais potentes neurotoxinas conhecidas, a toxina
botulínica, responsável por quatro tipos de enfermidade em seres humanos extremamente graves,
que devem ser considerados como emergência médica.
Botulismo alimentar: ingestão de alimentos contaminados pela toxina botulínica pré-formada.
Botulismo de feridas: toxina é produzida durante a infecção tecidual. Atualmente, essa infecção
está associada a usuários de drogas injetadas.
Colonização intestinal em adultos: toxina é produzida e absorvida após colonização intestinal.
Botulismo infantil: comumente associado à Síndrome de Morte Súbita do Recém-Nascido. A
microbiota imatura dos lactantes menores de um ano permite a germinação dos esporos e
colonização do intestino do lactante por C. botulinum, seguido pela produção e absorção da
toxina botulínica. O consumo de mel contaminado é a principal causa do botulismo infantil, por
isso recomenda-se não oferecer esse alimento a crianças menores de um ano (Cereser et al.,
2008).
A toxina botulínica age seletivamente no terminal nervoso periférico colinérgico, inibindo a
liberação de acetilcolina na fenda sináptica da junção neuromuscular.
Outros animais também podem ser infectados pelo botulismo, principalmente aves e bovinos
que consomem ração, silagem e forragens contaminadas com toxina botulínica. Além de prejudicar os
ganhos econômicos com os sistemas de produção, o botulismo nesses animais é potencialmente
transmissível aos seres humanos.
O período de incubação costuma durar de 18 a 36 horas, apesar dos sinais clínicos poderem ser
manifestados após poucas horas da ingestão do alimento. Apesar do botulismo apresentar sete
variantes antigênicas diferentes (A-G), os sinais clínicos variam pouco (apesar de a variante A
apresentar maior mortalidade), sendo comum a manifestação de sintomas gastrointestinais, como
náuseas, vômitos e dores abdominais, seguida por sintomas neurológicos. As manifestações neurais
são sempre simétricas, comparalisia descendente, sendo comum diplopia (visão dupla), disartria (fala
lenta e sem articulação) e disfagia (dificuldade em engolir líquidos e alimentos sólidos). Devido à
barreira hematoencefálica, a toxina não atinge o encéfalo, portanto, o paciente permanece consciente
durante a evolução do quadro. É muito comum o quadro evoluir para uma parada respiratória e
óbito, principalmente se a dose ingerida de toxina botulínica for alta. Nos pacientes que sobrevivem, a
completa recuperação pode levar de 6 a 8 meses. Veja no infográfico da Figura 2 os principais sinais e
sintomas do botulismo.
Figura 2 – Infográfico ilustrando os principais sinais e sintomas do botulismo
Crédito: Designua/Shutterstock.
O diagnóstico clínico do botulismo precisa ser confirmado pela presença da toxina botulínica no
soro do paciente, bem como no estômago e nas fezes de pessoas que consumiram alimentos
suspeitos de contaminação pela toxina botulínica.
O sucesso do tratamento depende da precocidade com a qual o mesmo é iniciado e depende da
dose de toxina botulínica consumida. A administração de antitoxinas (heptavalente e trivalente de
origem equina) neutralizam as moléculas que ainda não se ligaram às terminações nervosas, sendo
incapazes, no entanto, de reverter os danos já causados.
A prevenção do botulismo consiste, principalmente, no consumo de alimentos com boa
procedência e, no caso de conserva e embutidos, que foram submetidos a temperatura de 120°C por
30 minutos e mantidos em solução salina com concentração de cloreto de sódio superior a 8%. Além
disso, os alimentos enlatados, cujas latas estejam estufadas devem ser rejeitados e destruídos, já que
apresentam indicativo de contaminação por C. botulinum (Acha; Szyfres, 2001).
TEMA 3 – BRUCELOSE
A brucelose é uma zoonose direta com distribuição geográfica mundial causada por bactérias do
gênero Brucella, que são cocobacilos gram-negativos, com capacidade de formar esporos. A
brucelose humana pode ser causada pelas seguintes espécies: Brucella melitensis (mais comum e mais
invasiva), cujos reservatórios são as cabras, as ovelhas e os camelos; Brucella abortus, que causam a
brucelose bovina; Brucella suis, que causam a brucelose suína; e a Brucella canis, a canina.
O ser humano adquire brucelose ao entrar em contato direto com animais contaminados (fetos,
envoltórios fetais e descargas vaginais ricos em brucelas), ao consumir alimentos de origem animal
contaminados (leite não pasteurizado, carne malcozida ou crua) ou, em menor grau, pela inalação de
aerossóis infectantes.
O período de incubação é de uma a três semanas. A manifestação dos sintomas é repentina,
sendo que a fase aguda da infecção se confunde com tantas outras enfermidades, causando febre,
calafrios, sudorese, pronunciada astenia (sensação de fraqueza, cansaço), além de insônia, impotência
sexual, constipação, anorexia e dores generalizadas. O sistema nervoso é bastante afetado pela
infecção, sendo que podem ser observadas irritação, nervosismo e depressão, bem como maior
volume nos gânglios periféricos e hepatoesplenomegalia. Em algumas pessoas, a brucelose se torna
crônica, com sintomas persistindo por anos, mesmo na ausência de focos de infecção localizados.
O diagnóstico da brucelose humana é baseado na sintomatologia e investigação epidemiológica.
Entretanto, deve ser confirmado a partir de exames laboratoriais, que buscam isolamento e
identificação do agente etiológico a partir de cultura de sangue, medula esternal e da crista ilíaca,
bem como de abcessos e líquido cefalorraquidiano. No caso de suspeita oriunda de local enzoótico e
os exames anteriores atestarem negativo para brucelose, recomenda-se realizar uma contraprova
sorológica, sendo a prova de soroaglutinação a mais sensível.
O tratamento recomendado para a brucelose aguda é a administração de rifampicina e
doxiciclina, por pelo menos 6 semanas. Essa terapêutica tem reduzido de forma considerável a
duração da enfermidade, bem como as recaídas (Acha; Szyfres, 2001).
A cada ano, meio milhão de casos de brucelose humana são registrados ao redor do mundo,
sendo dependente do contato direto ou indireto e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a verdadeira incidência da brucelose seria algo entre 5 a 10 vezes maior do que sugerem os
números oficiais. Na América Latina, os países com maior número de casos de brucelose são
Argentina, México e Peru.
No ser humano, a infecção por brucelose depende da densidade do gado, nível de endemia
animal, nível socioeconômico e hábitos alimentares. Sabe-se que os programas de controle e
erradicação da brucelose bovina tem grande efeito na redução da infecção humana. A vacinação dos
bovinos é recomendada para o controle da brucelose nas áreas enzoóticas. Recomenda-se a aplicação
da cepa 19 ante B. abortus, que garante proteção a toda a vida útil do animal.
Ações como pasteurização do leite e consumir carnes de boa procedência e bem cozidas ou
assadas também são ações eficientes. Entretanto, a prevenção da infecção dos grupos ocupacionais,
como veterinários e pessoal que trabalha diretamente com gado (especialmente funcionários dos
matadouros), é mais difícil, sendo que se baseia em educação para a saúde, uso de equipamentos de
proteção individual e supervisão médica (Acha; Szyfres, 2001).
TEMA 4 – DOENÇA DE LYME: BORRELIOSE
A doença de Lyme, ou borreliose, é uma enfermidade que acomete aves, mamíferos silvestres e
domésticos e seres humanos, de forma acidental. Essa infecção é causada por Borrelia burgdorferi,
pertencente à família Spirochaetacea, cujos representantes são bactérias helicoidais dotados de
grande mobilidade.
A borreliose foi também batizada de doença de Lyme, pois em 1977, na cidade estadunidense de
Lyme, vários jovens passaram a apresentar artrite associada a lesões cutâneas típicas dessa infecção.
A borreliose é uma infecção associada à infestação por carrapatos do gênero Ixodes, no ciclo
silvestre, e Amblyomma, no ciclo doméstico, que envolve seres humanos e animais domésticos. O
Amblyomma cajennense é a espécie de carrapato de maior relevância médica no Brasil. As ninfas
dessa espécie são popularmente chamadas de micuins e os adultos de carrapato-estrela.
Os carrapatos se infectam ao realizar o repasto sanguíneo em animais portadores da B.
burgdorferi. Os principais reservatórios são os cervos de cauda branca e os camundongos, nos Estados
Unidos, apesar de terem sido encontrados títulos sorológicos elevados de anticorpos específicos para
B. burgdorferi em gado bovino, caprino e em cães, sugerindo que esses animais também possam
atuar como reservatórios (Santos et al., 2010).
Após certo período de parasitismo, a região onde o carrapato se adere costumam apresentar
eritema, edema e prurido. A infecção por B. burgdorferi, por sua vez, é caracterizada principalmente
pelo eritema migratório recidivante (ECM), presente de 60 a 80% dos pacientes. As demais
manifestações clínicas diferem de acordo com a região geográfica em questão, associado às
características antigênicas de Borrelia spp. Na América do Norte, por exemplo, há predomínio de
manifestações cutâneas e articulares; na Europa, manifestações cutâneas e neurológicas; na Ásia, a
sintomatologia é, basicamente, cutânea (Fonseca et al., 2005).
O ECM (Figura 3) aparece de 3 a 20 dias após a picada do carrapato. A lesão se inicia como uma
pápula avermelhada, que aumenta progressivamente. Os bordos da lesão tornam-se, então, bem
delimitados; a lesão central se empalidece. A lesão é recidivante porque é recorrente e aparece em
outros locais do corpo, além daquele da região da picada. Além das lesões, podem ser observados
febre, cefaleia, rigidez na nuca, mialgias, artralgias, linfoadenopatia (aumento nos linfonodos).
Figura 3 – Eritema Migratório Recidivante (EMR) típico da doença de Lyme (borreliose)
Crédito: AnastasiaKopa/Shutterstock.
Após semanas ou meses do surgimento dos primeiros sintomas, além do aumento das EMRs,
alguns pacientespodem apresentar meningoencefalite, neuropatias, miocardites, taquicardia
atrioventricular e paralisia de Bell (paralisia em um dos lados da face e artrite, que podem perdurar
por anos, de forma crônica).
Para o diagnóstico da borreliose, além dos sinais clínicos (principalmente presença de EMR), é
necessário isolar o agente infeccioso por cultivo, realizar prova por imunofluorescência e ELISA.
Porém, devido às reações cruzadas e à baixa sensibilidade, essas técnicas não são recomendadas para
portadores assintomáticos.
O tratamento da borreliose consiste na administração de doxiciclina ou ceftriaxona, caso haja
alguma infecção neurológica (Acha; Szyfres, 2001).
As medidas mais eficientes de controle da borreliose consiste em evitar áreas endêmicas e
picadas de carrapato, bem como realizar o controle de carrapatos através do manejo da vegetação
peridomiciliar, que atua como abrigo para diferentes estágios do ciclo de vida. A utilização de
carrapaticidas também pode ser uma medida de controle desses parasitos, seja no ambiente, seja
para a aplicação ou ingestão pelos hospedeiros.
TEMA 5 – PESTE BUBÔNICA
A peste bubônica é uma parasitose causada pela bactéria Yersinia pestis, cuja principal
transmissão é através da picada de pulgas do gênero Xenopsylla, que infesta principalmente
roedores.
O período de incubação é de 2 a 6 dias. Depois desse período, a infecção pode seguir três
caminhos: bubônica clássica, septicêmica e pulmonar, mas que apresentam alguns sintomas comuns,
como febre, calafrios, cefaleia, náusea, dor generalizada, diarreia ou constipação, toxemia, hipotensão
e confusão mental.
A peste bubônica clássica, além dos sintomas já descritos, é caracterizada por uma inflamação e
inchaço dos gânglios linfáticos periféricos, popularmente chamados de bubões. Essa forma de
manifestação apresenta letalidade de 25 a 60%. Na forma septicêmica, ocorrem manifestações de
sintomas neurológicos de forma muito abrupta, sendo que a letalidade pode chegar a 100% dos
casos. Por fim, a forma pulmonar pode ocorrer de forma secundária à bubônica clássica ou
septicêmica, através da proliferação do patógeno via corrente sanguínea, ou primária, através da
inalação de patógenos oriundos de outros seres humanos infectados, causando dispneia,
expectoração (aquosa, espumosa ou hemorrágica).
O diagnóstico precoce da peste bubônica é decisivo para a sobrevivência e recuperação do
paciente. Para isso, recomenda-se realizar a punção dos líquidos do “bubões”, líquido
cefalorraquidiano e edemas, seguida por cultivo celular e inoculação em animais de laboratório.
Provas sorológicas podem ser realizadas, como hemoaglutinação e ELISA.
Desde a era cristã, a peste bubônica foi responsável por três pandemias. A primeira ocorreu no
ano 542, quando ficou conhecida por Peste de Justiniano. Essa enfermidade assolou Constantinopla,
estendendo-se até Roma, sendo responsável por 100 milhões de mortos. As perdas humanas foram
tão significativas que desencadearam a queda do Império Bizantino.
A segunda, denominada peste negra, iniciou-se em 1348, durou três séculos e ocasionou a morte
de um terço da população europeia, além de milhares de pessoas na Ásia. Ainda nessa época, não se
conhecia o agente causador dessa enfermidade, que era atribuída à inalação de ar contaminado por
miasmas, supostas substâncias orgânicas presentes nos vapores eliminados durante a putrefação da
matéria orgânica e seus odores fétidos. Esse era um dos motivos pelos quais os médicos dessa época
utilizavam aquelas máscaras macabras, em formato de bico de ave (Figura 4). No interior da máscara,
eram adicionados ervas e especiarias para purificar o ar e evitar que os miasmas atingissem as vias
aéreas.
Por fim, a última pandemia de peste bubônica iniciou-se em 1894 até a década de 1930. Nesse
período, o bacteriólogo Alexandre Yersin descobriu o agente etiológico da peste bubônica e sua
associação às pulgas de roedores (Gullot; Serpa, 2020).
Figura 4 – Imagem de um médico portando máscara para proteção contra os miasmas, supostos
causadores da peste bubônica no século XIX
Crédito: illustrissima/Shutterstock.
Apesar dessa doença estar controlada, atualmente, ainda é possível verificar surtos cíclicos da
peste bubônica, isso porque alguns focos são considerados persistentes (Neves, 2016).
Nos Estados Unidos, por exemplo, o foco da peste bubônica encontra-se no campo, graças à
presença de roedores conhecidos como “cães da pradaria”, cujas pulgas são reservatórios da Y. pestis.
As transmissões ocorrem principalmente no verão, quando as pessoas visitam com mais frequências
as áreas naturais, parques etc. Em 2015, por exemplo, foram registrados 15 casos de peste bubônica
com 4 óbitos nos Estados Unidos.
Cientistas no Centro Nacional de Saúde da Vida Selvagem dos Estados Unidos trabalham no
desenvolvimento de vacinas cães-da-pradaria, o que abre a possibilidade de eliminar a doença nesses
animais, ao menos nos parques nacionais mais visitados dos EUA (Soares; Avelar, 2017).
No Brasil, a peste bubônica chegou pelo porto de Santos, em 1899. Desde então, surtos dessa
infecção têm ocorrido, principalmente, em regiões silvestres do Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia,
Alagoas, norte de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Entre 1980 e 1993, 736 casos de peste bubônica
foram notificados no país (Neves, 2016).
Casos como esses de surtos de doenças anteriormente têm se tornado cada vez mais frequentes.
Um dos motivos é a interferência do ser humano nos ambientes naturais, que causam desequilíbrios
nas relações parasito-hospedeiro, moldadas ao longo de milhares de anos de seleção natural.
NA PRÁTICA
A proposta prática desta aula é a construção de uma tabela comparativa das cinco zoonoses
bacterianas estudadas: leptospirose, botulismo, brucelose, doença de Lyme e peste bubônica,
conforme sugerido na tabela a seguir.
  LEPTOSPIROSE BOTULISMO BRUCELOSE DOENÇA DE LYME PESTE BUBÔNICA
Agente etiológico          
Outros animais infectados          
Distribuição geográfica          
Período de incubação          
Sintomas          
Tratamento          
Profilaxia          
Epidemiologia          
FINALIZANDO
Em nossa aula, vimos algumas das zoonoses causadas por bactérias com importância para a
medicina humana.
A leptospirose é uma enfermidade extremamente negligenciada. Trata-se de uma infecção
potencialmente letal, transmitida pela urina de roedores, principalmente, contaminadas com L.
interrogans.
O botulismo é uma enfermidade causada pela bactéria C. botulinum, capaz de produzir esporos
altamente resistentes, que germinam sob condições ambientais favoráveis, como as propiciadas por
alimentos sem tratamento térmico e/ou conservantes. A enfermidade é decorrente da ação da toxina
botulínica, que se liga ao neurotransmissor acetilcolina, causando paralisia e, normalmente, levando o
paciente a óbito.
A brucelose é uma enfermidade causada pela bactéria do gênero Brucella. O contato com
animais infectados, principalmente com Brucella melitensis, bem como o consumo de leite não
pasteurizado e carne malcozida ou crua, são os principais responsáveis pela infecção do ser humano.
Os indivíduos mais suscetíveis à brucelose são os trabalhadores dos sistemas de produção de
bovinos, como fazendeiros, operários dos matadouros e frigoríficos, além dos médicos veterinários.
A doença de Lyme, ou borreliose, é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida pela
picada de carrapatos. Aqui no Brasil, a principal espécie envolvida é o carrapato-estrela A. cajennense.
A doença de Lyme é caracterizada, principalmente, pelo eritema migratório recidivante e artrite, que
pode perdurar por anos.
Por fim, vimos sobre a peste bubônica, responsável por três grandes pandemias ao longo da
história da humanidade. A peste bubônica é causada pela bactéria Y. pestis, transmitida pela picada de
pulgas, do gênero Xenopsylla, presente em roedores. Apesar dessa enfermidade estar controlada,
ainda se verificam surtos cíclicos,principalmente quando os ser humano entra em contato com os
reservatórios naturais desse patógeno.
REFERÊNCIAS
ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los
animales. 3. ed. Washington: OPAS, 2001. v. 1.
CERESER, N. D. et al. Botulismo de origem alimentar. Ciência Rural. v. 38, n. 1, p. 280-287, 2008.
FONSECA, A. H. F. et al. Borreliose de Lyme simile: uma doença emergente e relevante para a
dermatologia no Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia. v. 80, n. 2, p. 171-178, 2005.
GULLOT, C. C.; SERPA, G. R. Principales pandemias en la historia de la humanidade. Revista
Cubana de Pediatria, v. 92, e1183, 2020.
MARTINS, M. H. M.; SPINK, M. J. P. A leptospirose humana como doença duplamente
negligenciada no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. v. 25, n. 3, p. 919-928, 2020.
NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 16. ed. São Paulo: Atheneu, 2016.
SANTOS, M. et al. Borreliose de Lyme. Anais Brasileiros de Dermatologia. v. 85, n. 6, 930-938,
2010.
SOARES, A. C; AVELAR, D. M. Parasitologia Geral. Belo Horizonte: Anima, 2017.

Mais conteúdos dessa disciplina