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Pontos de Memória: 
Metodologia e Práticas 
em Museologia Social
Brasília
2016
Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM
Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
O68p
Organização dos Estados Ibero-americanos.
Pontos de memória: metodologia e práticas em museologia social / 
Instituto Brasileiro de Museus, Organização dos Estados Ibero-americanos 
para a Educação, a Ciência e a Cultura. – Brasília (DF): Phábrica, 2016.
98 p. : 20 x 20 cm
ISBN 978-85-69369-02-8. 
1. Museologia. I. Instituto Brasileiro de Museus. II. Título.
CDD-069
Governo Federal
Presidenta da República
Dilma Rousseff
Ministro da Cultura - MinC
Juca Ferreira
 
Instituto Brasileiro de Museus- Ibram
Presidente
Carlos Roberto F. Brandão 
Núcleo de Assessoria de Relações Institucionais –NRI
Marlon Duarte Barbosa
Procuradoria Federal – Profer
Eliana Alves de Almeida Sartori
Auditoria Interna – Audin
Werner Neibert Bezerra
Diretoria do Departamento de Processos Museais 
- Dpmus
Manuelina Maria Duarte Cândido
Diretoria do Departamento de Difusão, Fomento 
e Economia dos Museus –DDFEM
Eneida Braga Rocha de Lemos
Diretoria do Departamento de Planejamento 
e Gestão Interna – DPGI
Valeria Grilanda Rodrigues Paiva
Coordenação Geral de Sistemas de Informação 
Museal – CGSIM
Rose Moreira de Miranda
Coordenação de Museologia Social e Educação 
– Comuse
Cinthia Maria Rodrigues Oliveira
Servidores da Comuse
Dalva de Paula
Joana Regattiere
Juliana Vilar
Mônica Padilha
Raquel Fuscaldi
Renata Almendra
Terceirizados da Comuse
Fabiana Andrade
Maria Gonçalves
Consultores do Programa Pontos de Memória
Ana Maltez
Cristina Holanda
Cyntia Silva Oliveira
Eliete Silva
João Paulo Vieira
Maristela Simão
Mônica Costa
Natália Spim
Rodolfo Fonseca
Sara Schuabb
Silvana Bastos
Vera Demoliner
Wellington Pedro Silva
Estagiários da Comuse
Beatriz Dias
Organização dos Estados Íbero-
Americanos para a Educação, a 
Ciência e a Cultura – OEI
Escritório no Brasil 
Diretora Regional
Adriana Rigon Weska
Assessoria Técnica
Roberto A. Algarte
Assessoria Jurídica
Alexandre Amaral
Secretaria
Suelen Kelly Barbosa
Valéria Ventura Barreiros
Coordenação de Desenvolvimento de 
Cooperação Técnica
Cláudia Paes de Carvalho Baena Soares
Coordenação de Administração, Finanças 
e Contabilidade
Amira Lizarazo
Gerentes de Execução e Monitoramento 
de Projetos
Carla Souto
Telma Teixeira da Silva
Gerente de Compras
Luiz José da Silva 
Assistentes de Administração
Aline Rodrigues Gontijo
Andréa Lorena Oliveira França
Fabiana Paulina Lopes
José Wilson Sandes Dourado Júnior
Consultores
Ângelo Morais
Fábio Mendes
Fernanda Curti
Juliana Santini de Oliveira
Lauro Umeno
Lícia Moura
Mara Costa
Rodrigo Dias
Revisão técnica da publicação - Ibram
Cristina Rodrigues Holanda
Cinthia Maria Rodrigues Oliveira
Sara Schuabb
Concepção de capa
Mônica Padilha Fonseca
Phábrica de Produções 
Projeto Gráfico, Diagramação e Editoração
Direção de Arte
Alecsander Coelho
Paulo Ciola
Diagramação
Cícero Moura Lago
Icaro Bockmann
Marcel Casagrande
Marcelo Macedo
Rodrigo Alves
Sumário
Prefácio ............................................................................................................................. 6
Nota Editorial ................................................................................................................ 7
Apresentação .................................................................................................................. 8
Conselhos Gestores dos 12 Pontos .................................................................... 11
Técnicas da OEI .......................................................................................................... 13
Presidentes do Ibram .............................................................................................. 14
Servidores do Ibram ................................................................................................. 14
Consultores Contratados pelo PRODOC ........................................................ 15
1. Sensibilização comunitária e formação da instância deliberativa .. 17
Ponto de Memória Museu Comunitário da Grande São Pedro ..................18
Ponto de Memória Museu do Taquaril .......................................................... 20
Museu Social da Brasilândia ............................................................................ 23
2. Ações Museais ............................................................................................ 29
Museu Cultura Periférica ................................................................................. 30
Ponto de Memória do Beiru ............................................................................ 33
Museu Mangue do Coque ............................................................................... 35
3. Inventário Participativo ............................................................................. 39
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro .................................................... 39
Ponto de Memória de Terra Firme ................................................................. 44
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim .................................................. 49
4. Produtos de Difusão ................................................................................... 61
Ponto de Memória da Estrutural ...................................................................... 61
Museu de Favela (MUF) .................................................................................. 68
Museu de Periferia (MUPE) .............................................................................. 71
5. Teias da Memória ......................................................................................... 77
6. Avaliação de uma Metodologia em Museologia Social ..................... 79
Posfácio .......................................................................................................................... 97
Créditos das Imagens ............................................................................................. 98
6
É com grande satisfação que o Instituto Brasilei-
ro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura) lança 
esta publicação que marca uma etapa importante 
no desenvolvimento do Programa Pontos de Me-
mória e no campo da Museologia Social. 
Apresentamos aqui o processo da implementa-
ção dos primeiros 12 Pontos de Memória, quando, 
em 2009, o programa ainda contava com o apor-
te do Ministério da Justiça, e do Programa Nacio-
nal de Segurança Pública com Cidadania — PRO-
NASCI, por meio de um Projeto de Cooperação 
Técnica Internacional com a Organização dos 
Estados Ibero-Americanos — OEI. A publicação 
também traz o registro da avaliação realizada por 
representantes de cada um desses pontos origi-
nais sobre o desenvolvimento do projeto.
O Programa Pontos de Memória nasceu articu-
lado com a Política Nacional de Museus e com 
o Plano Nacional Setorial de Museus, os quais 
apresentam diretrizes e propostas construídas a 
partir de diversas instâncias de consulta pública e 
com ampla participação de profissionais envolvi-
dos com a área museológica no Brasil.
Nos últimos anos, experimentamos um desen-
volvimento excepcional das atividades museoló-
gicas, sobretudo o crescimento da Museologia 
Comunitária, que traz como foco sua função so-
cial, ressignificando os museus como espaços 
não apenas educativos e de convivência, pesqui-
sa, exposiçãode acervos e coleções, mas tam-
bém de formação política dos indivíduos e de 
comunidades engajadas no processo de forjar 
suas próprias narrativas museais. Trata-se de um 
movimento amplo e diverso, composto por uma 
grande diversidade de atores e instituições em 
um diálogo rico e estimulante, aos quais temos 
orgulho de somar nossos esforços. 
Os primeiros doze Pontos de Memória constitu-
íram a etapa inicial do Programa, já trazendo pro-
jetos criativos e inovadores. Após esse primeiro 
momento, trabalhamos hoje por uma expansão 
significativa do programa, investindo no fortale-
cimento de redes autônomas de iniciativas de 
memória comunitária, dotadas de seus próprios 
canais de comunicação.
Há muito trabalho pela frente, mas passos im-
portantes foram dados. Que os textos aqui pu-
blicados sirvam de referência para a compreen-
são dessa política, as etapas de sua construção 
e os desafios futuros. Estamos seguros de que o 
trabalho desse conjunto de atores, dentre eles o 
Ibram, constitui desde já um marco na história da 
Museologia brasileira. Assim, deixamos registrada 
a felicidade em divulgar e difundir essas experiên-
cias que tanto acrescentam à inovação no campo 
museal, confirmando nosso desejo de estimular 
novas ideias e ações, promovendo a troca de 
experiências e a fertilização recíproca e dissemi-
nando inovações metodológicas, temáticas e ex-
pográficas. Temos convicção de que a história do 
Brasil merece um número de versões que faça 
jus a sua dimensão e diversidade interna — e es-
tamos contribuindo nesse sentido.
Prefácio
Carlos Roberto F. Brandão
Presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
7O Programa Pontos de Memória possui, como 
um de seus eixos principais, a construção comu-
nitária e coletiva. Esses mesmos critérios norteiam 
esta publicação, a qual segue um projeto editorial 
acordado desde o 5º Fórum Nacional de Museus, 
em 2012. Trata-se de uma narrativa contada por 
meio de muitas vozes, cujos locais de fala especifi-
camos desde já.
O Ibram convidou os doze primeiros Pontos de 
Memória do programa para relatar sua experiência, 
escrevendo coletivamente textos a serem assinados 
pelos respectivos conselhos gestores. Assim como 
as narrativas compostas pelos Pontos são pensa-
das sempre na primeira pessoa do plural, pareceu-
-nos que o ideal seria que os textos aqui publica-
dos seguissem a mesma lógica. Evidentemente, em 
meio aos múltiplos compromissos que assumimos, 
nem sempre é fácil reunir quatro ou seis mãos para 
produzir um texto em tempo hábil. Cada Ponto teve 
liberdade para decidir como produzir seu próprio 
texto, encontrando a solução que lhe parecesse 
mais adequada para chegar a resultados represen-
tativos do trabalho coletivo, caso a caso. As etapas 
do desenvolvimento do projeto servem de fio con-
dutor para os diferentes textos. Elas foram divididas 
entre os Pontos, cabendo a cada qual narrá-las.
A etapa inicial, chamada de “sensibilização co-
munitária e formação da instância deliberativa”, 
ficou a cargo dos Pontos de Memória do Taquaril 
(Belo Horizonte/MG), da Grande São Pedro (Vi-
tória/ES) e da Brasilândia (São Paulo/SP).
As “ações museais”, etapa seguinte, foram des-
critas pelo Ponto de Memória - Museu Cultura Pe-
riférica - Jacintinho (Maceió/AL), Ponto de Memó-
ria do Beiru (Salvador/BA) e Museu Mangue do 
Coque (Recife/PE).
O Ponto de Memória do Grande Bom Jardim 
(Fortaleza/CE), o de Terra Firme (Belém/PA) e o 
Museu Comunitário Lomba do Pinheiro (Porto Ale-
gre/RS) escreveram sobre seus processos de “in-
ventário participativo”.
O Ponto de Memória da Estrutural (Brasília/DF), 
o Museu de Periferia — MUPE (Curitiba/PR) e o 
Museu de Favela — MUF (Rio de Janeiro/RJ) apre-
sentam o processo de construção de seus “produ-
tos de difusão”.
A essas doze vozes coletivas, somamos ainda a 
voz da equipe do Ibram, em boxes coloridos, que 
contém explicações pontuais sobre as etapas da 
metodologia do projeto, como também apresentem 
brevemente cada iniciativa de memória, contextua-
lizando-a em seu bairro. 
As imagens utilizadas pertencem ao banco de 
imagens do Ibram ou foram autorizadas por repre-
sentantes dos Pontos de Memória.
Nossa intenção com essa composição polifôni-
ca — onde são importantes ainda as imagens pro-
duzidas por diversas fontes — foi propiciar a cada 
iniciativa a oportunidade de se expressar em seus 
próprios termos. Esperamos que a consequente 
variação de estilos possa dar testemunho da diver-
sidade interna do programa, fazendo justiça a seu 
caráter coletivo, multifacetado e autonomista.
Nota Editorial
Sara Schuabb
Consultora do Programa Pontos de Memória
8
Apresentação
Cinthia Maria Rodrigues Oliveira
Coordenadora de Museologia Social e
Educação Comuse/Dpmus/Ibram
O principal objetivo desta publicação é apre-
sentar a construção da metodologia do Programa 
Pontos de Memória e sua avaliação sob a pers-
pectiva dos 12 primeiros Pontos de Memória que 
surgiram ou foram potencializados, com suporte 
do Governo Federal, a partir de 2009. A elabo-
ração das narrativas da experiência de uma das 
etapas da metodologia foi produzida separada-
mente, por cada um dos Conselhos Gestores dos 
Pontos, mas a avaliação do processo foi feita em 
um encontro em Brasília, em dezembro de 2013, 
com a presença de um de seus representantes. 
Os textos foram escritos em 2012 e, três anos 
depois, eles não requerem atualização. Sobre a au-
toria dos Pontos, eles são o registro — de um ponto 
de vista não institucional — das ações de conso-
lidação de uma experiência inédita de construção 
compartilhada — entre o Estado e a sociedade civil 
— de uma metodologia que utiliza as ferramentas 
da Museologia para tratar a memória social.
De um lado, as 12 comunidades que participaram 
da construção dessa metodologia já trabalhavam 
ou desejavam realizar um trabalho sistemático de 
identificação, registro, compartilhamento e preser-
vação de suas memórias. Do outro, na esteira dos 
pontos de cultura e inspirados por realizações como 
a do Museu da Maré/RJ, os idealizadores do projeto 
e os técnicos que compuseram sua equipe se pro-
puseram a fazer que esses grupos se apropriassem 
de conceitos e de ferramentas da Museologia Social 
para melhor exercerem seu direito à memória.
As interações entre esses dois grupos foram 
possibilitadas por uma sequência de fatos: a inclu-
são de ações de memória no Programa Nacional 
de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci); 
a assinatura de um projeto de cooperação com a 
Organização dos Estados Ibero-Americanos para a 
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI); e a criação 
do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em 2009. 
Para a realização das ações foram sensibili-
zadas comunidades da periferia em 12 capitais 
brasileiras. Assim, entre 2009 e 2011, consultores 
contratados pela OEI e técnicos do Ibram realiza-
ram visitas técnicas e oficinas de modo a funda-
mentar conceitualmente e dar apoio técnico às 
atividades desenvolvidas em cada uma das eta-
pas definidas como necessárias à constituição de 
um Ponto de Memória. 
Desde o início, o respeito aos princípios da au-
tonomia e do protagonismo foi fundamental: não 
coube ao Ibram — por meio de consultores e téc-
nicos — realizar as ações. Elas foram resultado 
do trabalho de cada um dos Pontos, de acordo 
com suas peculiaridades locais, estruturais e de 
momento. Mas o reconhecimento das diferenças 
não se confundia com o distanciar uns dos ou-
tros, sendo uma etapa constitutiva da metodolo-
gia a realização de Teias da Memória — as quais 
buscavam articular os Pontos em rede1 .
Em ritmos diferentes, 11 dos 12 Pontos iniciais 
completaram as cinco etapas da metodologia:
1 Entre 2009 e 2014 aconteceram quatro Teias da Memória
9
1. Identificação.
2. Qualificação (participação em seminários 
e oficinas).3. Realização de inventário participativo.
4. Realização de ações museais para comparti-
lhamento e difusão das memórias.
5. Reforço da rede de Pontos de Memória nas 
Teias Nacionais da Memória.
Para avaliar a metodologia como um todo e 
passando por cada uma dessas etapas, em de-
zembro de 2013, os representantes dos 12 Pontos 
e a equipe do Ibram discutiram os resultados da 
metodologia utilizada. Em três dias de imersão e 
com a aplicação de técnicas qualitativas e parti-
cipativas de interação e participação, a avaliação 
dos resultados obtidos pelos Pontos confirmou o 
que, no início do projeto, era apenas expectativa. 
Ficou claro que o trabalho com a memória social, 
realizado de 2009 a 2013, nesse modelo de parce-
ria, permitiu aos Pontos de Memória promover:
- Conhecimento e valorização da memória local;
- Fortalecimento das tradições locais, da identi-
dade e dos laços de pertencimento;
- Valorização do potencial local, impulso ao tu-
rismo e à economia local;
- Desenvolvimento sustentável das localidades; 
- Melhoria da qualidade de vida, com redução 
da pobreza e da violência.
Porém, para a equipe técnica do Programa Pon-
tos de Memória, antes mesmo de realizar essa 
avaliação formal da metodologia, já era possível 
perceber os benefícios do trabalho realizado em 
cada Ponto. Por isso, em 2011, reconhecendo os 
resultados já alcançados pelo projeto e buscando 
apoiar mais iniciativas que já trabalhassem com 
suas memórias, o Ibram lançou o primeiro edital 
de premiação de Pontos de Memória, destinando 
45 prêmios para ações realizadas no Brasil e três 
para as realizadas no exterior. O número de Pon-
tos aumentou de forma exponencial, passando 
de 12 para 60.
A expansão radical do número de Pontos de 
Memória necessitava de um redimensionamento 
não apenas quantitativo, mas, sobretudo, qualita-
tivo do projeto. Enquanto lidava com 12 iniciativas, 
o enfoque da equipe técnica devia ser, necessa-
riamente, operacional. A assimilação das quase 
50 outras iniciativas representou um desafio para 
todos os atores do projeto. A equipe do Ibram 
precisaria adotar uma perspectiva mais estratégi-
ca, porque os 12 Pontos estavam desenvolvendo 
ações em diferentes etapas da metodologia. Por 
seu lado, os Pontos também se viram levados a 
se reposicionarem em relação ao Ibram.
A solução, compartilhada por muitos, parecia 
ser, portanto, aproximar, especialmente pela for-
mação e pelo fortalecimento de redes territoriais 
e temáticas, aqueles primeiros Pontos — muitas 
vezes chamados de “Pontos Pioneiros” — e os 
que se integraram ao projeto por terem sido pre-
miados pelo edital: os “Pontos Premiados”. 
Mas essas redes deveriam ser ainda mais 
abrangentes, incluindo outras iniciativas — cha-
madas parceiras2 — que, desde o início, compar-
tilharam suas experiências com os 12 Pontos. Da 
mesma forma, deveriam ser incluídas instituições 
— especialmente universidades e museus — que 
ofereceram seu apoio, concorrendo para a realiza-
ção de ações e seu constante aperfeiçoamento.3
Até novembro de 2014, quando realizou a IV
Teia de Memória, o Ibram havia identificado qua-
se 300 iniciativas de memória e Museologia Social,
2 Museu da Maré e Ecomuseu da Amazônia exemplificam esses 
“Pontos Parceiros”.
3 Museu da República, Museu Goeldi e Universidade Federal de 
Pernambuco são exemplos de instituições que acompanham as 
ações do programa desde o início.
10
muitas delas articuladas em redes territoriais e te-
máticas4. As 10 redes identificadas pelo Ibram fo-
ram apresentadas na exposição “Memórias Plu-
rais”, integrada ao 6º Fórum Nacional de Museus, 
em cujo âmbito aconteceu a IV Teia5.
Essa última Teia celebrou a integração de Pon-
tos Pioneiros, Premiados e iniciativas de memória 
e Museologia Social, não apenas articulados em 
redes, mas também representados na proposta 
de composição de um Conselho de Gestão Com-
partilhada e Participativa do Programa Pontos de 
Memória, que está em processo de formalização. 
Em continuidade, os novos passos do progra-
ma devem responder aos desdobramentos da 
regulamentação da Lei Cultura Viva, promulgada 
em 2014 e que, mais uma vez, redimensionou o 
Programa, especialmente por possibilitar a multi-
plicação das fontes de fomento para o trabalho 
com a memória social. Essa nova configuração 
conduz à redefinição de papéis, sobretudo do 
Ibram, acentuando, portanto, o interesse do Ins-
tituto na criação de instrumentos de difusão da 
metodologia do programa.
Para tanto, o Ibram trabalha na constituição de 
um ambiente virtual de ensino e aprendizagem, 
a plataforma do Programa Saber Museu, a qual 
tornará possível — também virtualmente — o in-
tercâmbio de experiências, assim como o acesso 
e o compartilhamento dos conteúdos de semi-
nários e de oficinas que estruturam o Programa 
Pontos de Memória. 
Olhar para o futuro é enfatizar que ainda há 
muito a fazer. Mas sistematizar o vivido revela que
algo já foi construído, como resultado das ações
concretas, da reflexão, do enfrentamento das difi-
culdades e da construção conjunta de soluções 
4 Por exemplo, a Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, 
a Rede de Memória LGBT e a Rede Cearense de Museus 
Comunitários.
5 Belém do Pará, novembro de 2014.
viáveis. Esse algo é uma metodologia para a práti-
ca da Museologia Social. 
Com este livro, espera-se difundir o registro des-
sa primeira etapa do Programa Pontos de Memó-
ria, passados 7 (sete) anos da assinatura Prodoc 
OEI/BRA 08/007 e 2 (duas) revisões substantivas 
do citado projeto. Aguardado por muito tempo, 
deve ser recebido como uma sistematização da 
metodologia e de sua avaliação. Mas ele é, sem 
dúvida, o reconhecimento das contribuições dos 
que, seja como representantes da sociedade, da 
OEI ou como técnicos e dirigentes do Ibram, con-
tribuíram para a criação e continuidade do Progra-
ma Pontos de Memória.
11
Conselhos Gestores1 
dos 12 Pontos2 
1 As informações sobre os conselheiros de cada Ponto de Memória, que contribuíram com os textos do livro, foram retiradas dos 
Planos de Ação sistematizados pelos consultores locais indicados pelos Pontos entre os anos de 2011-2012. Foram eles: Adriano 
Almeida (Grande Bom Jardim/CE), Adriano Freitas (Beiru/BA), Camila Moura (Terra Firme/PA), Deuzani Noleto (Estrutural/DF), 
Gustavo Gervásio (Grande São Pedro/ES), Isabella Santos (Coque/PE), Lucas Morates (Lomba do Pinheiro/RS), Marcelo Rocha (Sítio 
Cercado/PR), Rita Pinto (Museu de Favela/RJ), Viviane Rodrigues (Jacintinho/AL) e Wellington Pedro Silva (Taquaril/MG). Com relação 
à Brasilândia, que não teve a figura do consultor local, as informações sobre os integrantes do Ponto de Memória foram tiradas 
do produto nº 1 da consultora Christiana Storino (2010) e do nº 4 de Inês Gouveia (2010). Os nomes foram organizados em ordem 
alfabética.
2 Em diferentes momentos de suas respectivas trajetórias, algumas das 12 iniciativas de memória e museologia social selecionadas 
passaram a se autodenominar “Museu” e essas escolhas foram respeitadas pelo Ibram, considerando o princípio da autonomia dos 
participantes do Programa.
Conselho Gestor do Ponto de Memória de Terra Firme 
Camila de Fátima Simão de Moura
Deivision Laurentino da Rocha
Edivânia Santos Alves
Eliete Santana de Carvalho
Francisca Rosa Silva dos Santos
Helena do Socorro Alves Quadros
Jéssica Luiza dos Santos Gusmão
João Batista Costa dos Anjos
José Maria Vale de Souza
Leonel das Chagas Oliveira
Maria Francisca de Araújo Santos
Maria Madalena da Gama Pantoja
Sâmia Maria Silva
Conselho Gestor do Museu de Periferia - MUPE
Adenival Alves Gomes
Arlinda Messias dos Santos
Frederico Alves Pinheiro
Geraldo Batista de Souza
Luci Otazia Ribeiro Valente
Joel Alves da Silva
José Alves Afonso Filho
José Aparecido da Silva
José AparecidoOliveira Paiva
Manoel Pereira da Cruz
Marcelo Souza Rocha
Palmira de Oliveira
Pedro Divino
Rosane Aparecida Morais de Oliveira
Conselho Gestor do Ponto de Memória da Lomba do 
Pinheiro 
Cláudia Feijó da Silva
Eduino de Mattos
Izolina Elísia de Anhaia
Lucas Antonio Morates
Márcia Isabel Teixeira de Vargas
Teresa Regina Moreira Dutra
Teresinha Beatriz Medeiros
Conselho Gestor do Ponto de Memória da Estrutural 
Adoaldo D. Alencar (Duda)
Alessandra Ferreira de Araujo
Caroline Soares Santos 
12
Coracy Coelho Chavante
Denylson Douglas de Lima Cardoso
Deuzani Candido Noleto
Fernanda Ferreira Araujo 
Jacira de Jesus Vieira
Maria Abadia Teixeira de Jesus
Terezinha Santana
Vicente de Paula Sousa
Conselho Gestor do Museu de Favela - MUF
Antônia Ferreira Soares
Carlos Esquivel Gomes da Silva
Deusdete Silva Nascimento
Katia Afonso Silva Loureiro
Marli de Oliveira Melo
Rita de Cássia Santos Pinto
Sidney Silva
Conselho Gestor do Ponto de Memória do Grande 
Bom Jardim
Francisco Edmar Barbosa de Castro
Francisco Macedo Lopes
Francisco Otaviano Alves de Oliveira
Marileide da Silva Luz
Miguel Ferreira Neto
Regina Márcia Ferreira Diolino
Regina Maria da Silva Severino
Conselho Gestor do Ponto de Memória Museu do Ta-
quaril
Cloves Furtado Aparecido
Edilson Pinheiro
Edinéia Aparecida de Souza
Fernanda Jardim de Melo
Fernanda Lourenço Miranda
Geraldo Moreira da Silva
Hortência Rocha dos Santos
Ires Iene dos Reis Oliveira
José Vieira
Junior Marques da Silva
Leila Regina da Silva
Maria da Paz de Souza
Mauricio Barbosa Brandão
Oriel Ilario de Jesus
Osvaldo Lopes Pedroso
Pedro Henrique Silva Santos
Ubirajara José Couto
Vera Lúcia de Oliveira
Walter Gomes de Souza
Wellington Pedro da Silva
Wilson Wagner Brandão Ribas (W2)
Conselho Gestor do Museu Cultura Periférica
Edilma Marques de Lima
Jailson Carnaúba de Oliveira
João Carlos Elias de Albuquerque
João Luiz Soares
Lucival Salgueiro da Silva
Maria Enaura Alves do Nascimento
Nilda Maria Lima dos Santos
Paulo Zacaria da Silva
Sirlene Gomes da Silva
Viviane Conceição Rodrigues
Conselho Gestor do Museu Mangue do Coque
Aldemar Severino Carneiro
Cássia Lindinalva Pinheiro
Josivânia Barbosa da Silva
Vanessa Francisca da Silva
Wilton Francisco da Silva
Conselho Gestor do Ponto de Memória Museu Comu-
nitário da Grande São Pedro
Claudete Soares Oliveira Bispo
Gustavo de Oliveira Gervásio
Jeovânia Barcelos Gomes Teixeira
13
João Francisco Bispo de Castro Júnior
Livaldo Aparecido Degásperi
Mariana Cerqueira Cesar
Conselho Gestor do Ponto de Memória do Beiru
Ailza Maria Brito Araújo
Cariane dos Santos Freitas
Carlos Ricardo Ferreira dos Santos
Francisco Jorge Fernandes de Souza
Gilvan Pereira dos Santos
Hilário Santana de Araújo
Jairo Augusto Jesus de Oliveira
Jussara Santiago S. Nascimento
Luciandréa Gonçalves de Melo
Maria de Fátima Magalhães
Roberto dos Santos
Conselho Gestor do Museu Social da Brasilândia
Élcio Aparecido de Souza (in memoriam)
Elenice Aureliano
Fábio Ivo Aureliano
Jonatas Rodrigues
Kleber Silva Júnior
Leandro Batista
Marilisa Bertolin
Paula Dias
Sueli Ferreira
Técnicas da OEI 
(2014-2016) 1 
1 Em ordem alfabética, aquelas que realizaram a interlocução 
mais direta com o Programa Pontos de Memória
Cláudia Paes de Carvalho Baena Soares
Coordenadora de Desenvolvimento de Cooperação Técnica, 2009-2015.
Fernanda Curti
Gerente de Projetos, 2014-2016.
Telma Teixeira da Silva
Gerente de Projetos, 2009-2015.
14
Servidores do 
Ibram
(2009-2016) 1 
1 Em ordem alfabética. Foram considerados os servidores 
concursados e comissionados que estiveram envolvidos 
diretamente com a criação e a manutenção do Programa 
Pontos de Memória no período, com destaque para os diretores 
do Departamento de Processos Museais (Dpmus) e os 
coordenadores de Museologia Social e Educação, onde está 
formalmente situado o Programa Pontos de Memória, conforme 
organograma do Ibram.
Cícero Almeida (Diretor do Dpmus, 2013) 
Cinthia Maria R. Oliveira (Coordenadora da Co-
muse, 2012-Atual)
Cláudia Rose Ribeiro
Dalva de Paula 
Ena Colnago (Coordenadora e Diretora do 
DDFEM, 2009-2015)
Eneida Braga (Diretora do DDFEM, 2009-Atual)
Felipe Evangelista Silva
Joana Regattieri
João Barbosa (Diretor do Dpmus, 2014-2015)
Juliana Vilar
Luciana Palmeira (Diretora do Dpmus, 2013-2014)
Manuelina Duarte (Diretora do Dpmus, 
2015-Atual)
Marcelle Pereira (Coordenadora da Comuse, 
2009-2012)
Mário Chagas (Diretor do Dpmus, 2009-2013)
Mônica Padilha
Nicole Reis
Patrícia Albernaz (Coordenadora do DDFEM, Atual)
Rafaela Mendes
Raquel Fuscaldi
Renata Almendra
Valdemar de Assis
Vinicius Barcelos (in memoriam)
Vivian Coburcci
Presidentes do 
Ibram 
2009-2013 — José do Nascimento Júnior 
2014 — Ângelo Oswaldo de A. Santos 
2015 — Atual, Carlos Roberto. F. Brandão
15
Consultores 
Contratados pelo 
PRODOC
(2009-2016) 1 
1 Em ordem alfabética.
Adriano Almeida 
Adriano Silva 
Ana Maltez 
Ana Paula Varanda 
Beatriz Lanna Lyra
Camila Moura 
Christiana Storino 
Cláudia Castro 
Cristina Holanda
Cyntia Silva Oliveira 
Daniel Fernandes 
Deuzani Noleto 
Eliete Pereira
Elmer Oliveira 
Gustavo Gervásio 
Inês Gouveia 
Isabela Santos
João Paulo Vieira Neto 
Lavínia Cavalcanti 
Lucas Morates 
Marcelo Rocha 
Maristela Simão
Mônica Costa
Natália Spim
Rita Pinto 
Rodolfo Fonseca
Sara Schuabb 
Silvana Bastos 
Vera Demoliner
Viviane Rodrigues 
Welcio Toledo 
Wellington Silva 
Etapa
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Etapa 1
Sensibilização comunitária e formação 
da instância deliberativa
A etapa de sensibilização comunitária tem 
como objetivo mobilizar e envolver as comuni-
dades em torno de questões que perpassam os 
temas museu, memória, cidadania, direito à me-
mória, políticas culturais, bem como as ações e 
os objetivos do Programa Pontos de Memória. É 
considerada de alta relevância para o início do 
trabalho na comunidade, pois é o momento em 
que os diferentes grupos e representações locais 
são convocados a discutir e manifestar o desejo 
em desenvolver ações e projetos de Museologia 
Social na comunidade. A sensibilização comuni-
tária também se abre como ocasião para a reali-
zação de Rodas de Memória, nas quais os mora-
dores relatam momentos marcantes da história 
local, colocam em conflito versões e identificam 
moradores pioneiros, personagens e histórias 
marcantes. Além disso, também é uma opor-
tunidade de abordar questões socioculturais 
e políticas da região e de reunir manifestações 
artístico-culturais da localidade. Essa etapa cos-
tuma acontecer em formato de seminários am-
pliados, organizados, divulgados e convocados 
pelas próprias lideranças comunitárias, com as 
quais a equipe técnica do Instituto Brasileiro de 
Museus (Ibram/MinC) fez os primeiros contatos 
a respeito do Programa Pontos de Memória.
A formação da instância deliberativa é o mo-
mento no qual os articuladores locais escolhem 
um grupo legítimo e representativo da comunida-
de para ser o representante do Ponto de Memória, 
responsabilizando-se, assim, pela execução do 
projeto e pela interlocução com os demais gru-
pos e movimentos e meios de comunicação lo-
cais, parceiros externos, dentre outras entidades e 
grupos afins. Cada Ponto de Memória cria, então, 
a partir de seus articuladores locais, uma instân-
cia representativa, que passa a ser canal direito 
de comunicaçãocom o Ibram, para o desenvol-
vimento da metodologia participativa do projeto. 
A partir de então, esse grupo passa a participar 
de debates, seminários, encontros nacionais de 
Pontos de Memória e, sobretudo, a articular, coor-
denar e executar as ações do plano de ação para 
o desenvolvimento e fortalecimento da iniciativa 
de Museologia Social na comunidade. Fica a car-
go de cada uma das localidades a realização dos 
seminários e reuniões para a escolha dos mem-
bros da instância deliberativa, bem como sua 
metodologia de formação, formato, modelo de 
organização, funções e número de integrantes. 
Cada grupo representativo elege ou indica seus 
representantes em seminários e reuniões com a 
presença de lideranças 
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comunitárias. Para sua formalização são realiza-
dos relatórios e atas com registro e informações 
sobre os membros de cada instância.
Ponto de Memória do Museu Comuni-
tário da Grande São Pedro 
(Grande São Pedro — Vitória/ES)
O Ponto de Memória da Grande São Pedro 
reúne lideranças comunitárias, representan-
tes de escolas de samba, músicos, dança-
rinos, jovens e idosos engajados na reflexão 
sobre a importância da (re) construção da 
memória local para o fortalecimento das 
identidades que perpassam as lutas e con-
quistas da região, conhecida pela forte atua-
ção de movimentos sociais. 
Situada nas redondezas do mangue, tem 
como ponto turístico a Ilha das Caieiras, co-
nhecida pelas desfiadeiras de siri e como 
polo gastronômico, reunindo cerca de 20 
restaurantes.
A Grande São Pedro abrange os bairros de 
São Pedro I, II, III, IV, Nova Palestina e Resis-
tência, os quais são formados por ruas cujos 
nomes fazem alusão à história de luta local, 
como, por exemplo, Rua da Conquista, Rua 
da Revolução, Rua do Grito e Rua da Re-
sistência. A localidade já foi um canteiro de 
obras, com ruas de chão batido e sede de 
um aterro sanitário. Atualmente reúne cerca 
40 mil habitantes.
Metodologia usada para a implantação do 
Ponto de Memória da Grande São Pedro
A metodologia inicialmente usada foi a de sen-
sibilização tanto das lideranças dos movimentos 
sociais da região da Grande São Pedro quanto 
Grande São Pedro, Vitória (ES).
Primeira reunião do conselho gestor do Ponto de Memória da Grande São Pedro.
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dos moradores. Ela foi feita por meio de contatos 
diretos com as respectivas lideranças represen-
tativas de cada movimento social.
Após fazermos essa sensibilização, iniciamos 
com uma apresentação para a comunidade 
sobre o Programa Pontos de Memória. Nesse 
momento realizamos uma pequena exposição 
de fotos e documentos para fortalecermos a 
sensibilização da comunidade em geral. Essa 
exposição contou com a presença de autori-
dades municipais, de representações religiosas, 
dos movimentos sociais e dos projetos sociais 
desenvolvidos na região. O material exposto foi 
selecionado pelos contatos feitos na comunida-
de e por documentos dos movimentos sociais.
No segundo momento, a aproximação com as 
comunidades foi se estreitando; todas as reuniões 
foram realizadas em cada bairro, com um repre-
sentante das entidades e nas respectivas sedes.
Em seguida, divulgamos, pelos jornais de gran-
de circulação, exposições, festas das comuni-
dades e outras atividades para comunicá-las às 
entidades. Paralelamente foram criados o regi-
mento interno e o plano de ação.
Após a criação desses dois documentos, rea-
lizamos a primeira tarefa do plano, que foi a for-
mação dos Agentes de Memória — nome dado 
aos jovens que foram indicados pelas lideranças 
comunitárias e que realizariam o plano de ação.
Em outubro de 2012, foi realizada uma grande 
exposição em parceria com a Secretaria de Cul-
tura do Estado e a Secretaria Municipal de Cul-
tura. A exposição falou sobre o desenvolvimento 
da região da Grande São Pedro em seus 37 anos. 
Ela foi feita por meio de fotos selecionadas pelos 
Agentes de Memória e por doações dos mora-
dores — contamos também com a doação do 
antropólogo holandês Geert Arent Banck, que 
havia desenvolvido um trabalho na região nas 
décadas de 1970 e 1980.
Todas as etapas foram acompanhadas pelos 
técnicos do Ibram, os quais, por vários momen-
tos, estiveram na região da Grande São Pedro.
Essa foi a metodologia utilizada para a implan-
tação do Ponto de Memória, o qual levou três 
anos para ser realizado.
Os nomes das ruas revelam a 
história de luta da região.
Moradora da Grande São Pedro
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Ponto de Memória do Museu do Taquaril 
(Taquaril, Belo Horizonte/MG)
O Ponto de Memória do Museu do Taquaril 
tece histórias e vivências dos moradores e do 
território como uma trama dinâmica de cons-
tituição de identidades, penetrando em traje-
tórias históricas e fazendo uma imersão nas 
vidas dos moradores, lembranças e memó-
rias coletivas. O museu reúne lideranças co-
munitárias e representantes de movimentos e 
grupos culturais conhecidos por promoverem 
uma efervescência cultural na localidade.
Sensibilização comunitária e formação de ins-
tância deliberativa
Há quem diga que o Taquaril é o ‘buraco 
do Brasil’. Desconhece a história de um povo 
que o construiu. Abraçado pela Serra do 
Curral, cartão-postal de BH. É tão lindo ver o 
Sol nascer em cada novo amanhecer! (Meu 
Brasil Taquaril — Wanderson Santos)
A história do Ponto de Memória do Museu do 
Taquaril vem sendo narrada pela trajetória de 
vida de muitas pessoas e entidades — seus afe-
tos, saberes, conflitos e sonhos imbuídos pela 
conquista e efetivação do direito à memória.
Em 2009, lideranças da comunidade do Taquaril 
reuniram-se com representantes da equipe do Ins-
tituto Brasileiro de Museus (Ibram) para apresen-
tação do Projeto Pontos de Memória no intuito de 
fortalecer ações e parcerias na construção de uma 
sólida e confiante relação na realização do projeto 
e seu desenvolvimento na comunidade do Taquaril, 
na cidade de Belo Horizonte/MG. Uma semente foi 
plantada e nos vimos imbricados nas várias veredas 
da memória de nossas histórias, no fecundo com-
promisso de torná-las instrumentos de cidadania. O 
bairro Taquaril e o Conjunto Taquaril integraram-se 
ao Programa Pontos de Memória, dando início a um 
trabalho de ressignificação, valorização e preserva-
ção da memória local nas comunidades referidas.
Desde o início, o grupo envolvido não mediu 
esforços para consolidar um processo de mobi-
lização e motivação que envolvesse nossa co-
munidade no protagonismo do projeto. Após o 
primeiro contato com a equipe do Ibram, as li-
deranças envolvidas convocaram, por meio de 
carta, a comunidade, representada por entidades 
e grupos locais, para outro encontro com um nú-
mero maior de participantes. Nesse encontro, que 
contou com a participação da equipe do Ibram, 
foram escolhidos três representantes para partici-
parem da Teia de Memória, em Salvador/BA.
O bairro Taquaril localiza-se na Regional Les-
te do município de Belo Horizonte, mais es-
pecificamente entre os bairros Alto Vera Cruz, 
Granja de Freitas e Castanheiras, que faz divi-
sa com o município de Sabará. Sua formação 
teve início em 1981, em uma área que perten-
ceu à Companhia de Desenvolvimento Urbano 
do Estado de Minas Gerais (Codeurb), sendo 
marcada pela luta por moradia e pelo engaja-
mento da população em movimentos sociais. 
O bairro reúne cerca de 30 mil habitantes. 
Cartaz do seminário de sensibilização para a 
criação do Ponto de Memória Museu do Taquaril.
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O grupo, composto nessemomento por 12 
pessoas, pensou na realização de um seminário 
de “Apresentação e Criação do Ponto de Memó-
ria do Museu do Taquaril”, voltado para uma par-
cela mais ampla da comunidade. Uma primeira 
motivação que tivemos foi o repasse do proces-
so vivido em Salvador/BA na Teia de Memória; 
em seguida, nosso próprio encantamento com 
a ideia do Ponto de Memória já permeado por 
ideias e sonhos. 
Já em sua metodologia de organização, esta-
belecemos um democrático processo de traba-
lho, reconhecendo-nos até mesmo como um 
grupo de fomento da proposta e assumindo para 
nós o compromisso de envolver a comunidade.
Cartaz de divulgação do 
Seminário de Memória 
do Museu do Taquaril, 
com logo elaborada por 
moradores.
O seminário
O grupo se reunia sistematicamente para 
pensar na criação do seminário de apresen-
tação; com isso, surgiram também conflitos e 
embates que sabemos serem inerentes a todo 
processo de construção que envolva um gran-
de número de atores sociais. No entanto, ca-
minhávamos com um propósito maior: a luta 
pelo direito à memória.
Em nossos debates, entramos em consenso 
de que uma boa estratégia de envolvimento da 
comunidade seria a criação de um conselho co-
munitário de forma ampla que pudesse assumir 
as responsabilidades na implementação do pro-
jeto, inspirados na dinâmica de nos sentarmos 
juntos e buscarmos os horizontes de nossa co-
munidade. Uma oportunidade para a formação 
desse conselho seria na plenária final do semi-
nário, onde os envolvidos já teriam sido coloca-
dos a par das propostas e da metodologia do 
Programa Pontos de Memória.
O evento aconteceu em meio a expectativas e 
ansiedades, superadas em sua realização. Rea-
lizado no dia 20 de fevereiro de 2010, na Escola
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Municipal Professora Alcida Torres, reuniu cer-
ca de 60 pessoas, dentre representantes de 
associações, ONGs, grupos culturais, idosos, 
estudantes, profissionais das áreas da Saúde e 
Educação, da equipe que estava à frente do de-
senvolvimento do Projeto Pontos de Memória na 
comunidade e integrantes da equipe do Instituto 
Brasileiro de Museus (Ibram).
O seminário começou com falas de morado-
res e equipe de fomento envolvidos no proces-
so. Após as falas, os 
participantes, con-
forme inscrições, fo-
ram encaminhados 
para participarem de 
oficinas temáticas. 
Identidade, território e pertencimento, memória e 
histórias de luta foram os assuntos abordados.
As oficinas foram desenvolvidas pelos pró-
prios moradores da comunidade e equipe de fo-
mento, respeitando a formação e a vivência de 
cada indivíduo, sendo de fundamental importân-
cia para o entendimento conceitual da proposta 
do programa. Após o desenvolvimento delas, as 
pessoas foram encaminhadas para plenária fi-
nal de apresentação das discussões abordadas 
e composição do Conselho Gestor do Ponto de 
Memória do Museu do Taquaril, para o qual fo-
ram indicados 30 pessoas.
Seminário de 
sensibilização para a 
criação do ponto de 
memória.
Grupo de trabalho realizado durante o seminário.
O Conselho
No dia 26 de fevereiro de 2010, ocorreu a reu-
nião de avaliação do seminário “Apresentação 
e Criação do Ponto de Memória do Museu do 
Taquaril”. Ele se tornou um marco para nossa 
comunidade e pudemos firmar nossa alegria 
de construirmos uma atividade que congregas-
se tantas forças de nossa comunidade. Nesse 
evento também firmamos o compromisso da re-
alização de uma reunião no dia 6 de março de 
2010, para posse do Conselho Gestor criado no 
final do seminário e início do debate do regimen-
to de seu funcionamento.
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Grupo de trabalho realizado durante o seminário.
A proposta era a criação de um Conselho autô-
nomo, sem vínculo com qualquer grupo ou institui-
ção existente na comunidade para garantir a ampli-
tude do seu envolvimento. O Conselho pode e deve 
ser composto pelas diferentes forças e agentes que 
possuímos, sendo a instância máxima de decisão e 
encaminhamentos e figurando como entidade res-
ponsável pelo desenvolvimento do projeto.
O Conselho Gestor do Ponto de Memória do Mu-
seu do Taquaril é formado por duas instâncias. A 
primeira com uma diretoria executiva composta por 
cinco membros com a seguinte distribuição de car-
gos: diretora administrativa, diretor financeiro, diretor 
secretário, diretora de mobilização social e diretor de 
comunicação — todos com a função de coorde-
nar e encaminhar trabalhos e levar Pontos a serem 
abordados ao Conselho Gestor. A outra instância 
é uma diretoria plena formada por 30 pessoas em 
sua configuração inicial, incorporando os membros 
da Diretoria Executiva.
As reuniões que se seguiram resultaram na 
elaboração de um estatuto interno, assim como 
na assembleia eletiva para votação e posse da 
Diretoria Executiva. Desde então, a comunidade 
do Bairro Taquaril e Conjunto Taquaril agregam 
uma das 12 localidades iniciais que se integram 
ao Programa Pontos de Memória. Constitui ob-
jetivo do Ponto de Memória do Museu do Ta-
quaril o enfoque ao direito à memória que to-
dos os grupos humanos possuem, enfatizando 
a importância da preservação dos patrimônios 
histórico, artístico e cultural, sendo este o teste-
munho da herança de gerações passadas, que 
exerce papel fundamental no momento presen-
te e se projeta para o futuro, transmitindo às 
gerações futuras as referências de um tempo 
e espaço singulares que jamais serão revividos, 
mas revisitados — criando a consciência da in-
tercomunicabilidade da história.
Compreendendo nossas memórias social, artísti-
ca e cultural, podemos perceber o processo de evo-
lução a que está inevitavelmente exposto o saber e 
o saber fazer de um povo.
Com o objetivo de inventariar os locais de referên-
cia, fatos e acontecimentos importantes, pessoas 
que de alguma maneira participaram ativamente na 
formação da comunidade, bem como traçar um per-
fil dos grupos, contar a história da comunidade por 
meio da história de vida de seus moradores e tam-
bém com o intuito de propor ações de intervenção 
como encontros, debates, Rodas de Memória, ofici-
nas que possam contribuir para o reconhecimento 
enquanto indivíduo inserido em um espaço e na res-
significação da memória local, assim como propor e 
desenvolver produtos difusores das ações de memó-
ria, o Conselho Gestor do Ponto de Memória do Mu-
seu do Taquaril realizou uma série de atividades nas 
comunidades do Taquaril e Conjunto Taquaril para o 
cumprimento da proposta de seu plano de ação.
Museu Social da Brasilândia
(Brasilândia, São Paulo/SP)
A Brasilândia é um distrito situado na zona 
noroeste da cidade de São Paulo, com cerca de 
300 mil habitantes, próximo à serra da Canta-
reira e rodeado pelos bairros da Vila Penteado, 
Jardim Guarani, entre outros. 
A região é resultado do desmembramento de 
inúmeros sítios e chácaras existentes nas primei-
ras décadas do século XX. Em um desses sítios 
viveu o Sr. Brasílio Simões, cultivador de cana-de-
-açúcar e fabricante da “Caninha do Ó”, conhe-
cida aguardente da época. Com o desenvolvi-
mento do país e de São Paulo, a região também 
sofreu modificações. Os sítios foram desmem-
brados em pequenas vilas e grande parte foi ad-
quirida por diversas companhias loteadoras. 
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Com as reformas urbanas no centro da ci-
dade, ocorreu o êxodo dos proletários em di-
reção à periferia. Fugindo dos altos aluguéis, 
esses moradores passaram a adquirir lotes re-
sidenciais na iniciante Brasilândia. Somavam-
-se ainda à região famílias vindas do interior, 
em busca de melhores condições de vida. 
O Ponto de Memória paulistano reuniu, por 
cerca de um ano e meio, representantes de 
diversosgrupos, movimentos e meios de co-
municação comunitária locais para desenvol-
ver o Museu Social da Brasilândia. Nesse pe-
ríodo foram realizados seminários ampliados 
na comunidade sobre questões relacionadas 
ao direito à memória e à Museologia Social, 
oficinas sobre acervo e inventário participativo 
e um conjunto de ações museais que envol-
veu a comunidade em suas memórias e his-
tórias coletivas. Dentre as atividades destaca-
-se uma exposição fotográfica com foco na 
luta dos moradores pela moradia, tema que 
acompanha a região desde seu surgimento. 
Brasilândia — Suas Vilas e Jardins
O distrito de Brasilândia, zona norte da capital 
paulista, possui uma rica memória que se inicia 
a partir do alargamento das vias da região cen-
tral da cidade. Em 1946, as primeiras famílias co-
meçaram a chegar ao território, a maioria delas 
formada por trabalhadores expulsos do centro 
em decorrência desse projeto. Existem várias 
versões de como essa mudança ocorreu: alguns 
afirmam que a Prefeitura incentivou a ida para 
a grande chácara, onde funcionava uma olaria, 
de propriedade da família Bonilha. A Prefeitura 
comprava o terreno e a olaria cedia as telhas, 
“favorecendo” os primeiros moradores daquela 
parte de São Paulo que mais tarde seria conhe-
cida como Brasilândia, homenagem prestada 
a Brasílio Simões, comerciante que ajudou na 
construção da Paróquia Santo Antônio, em lugar 
da capela de mesmo nome.
A partir das diversas memórias, registros, con-
tação de história acerca da origem do bairro, 
consequentemente do distrito, os moradores de 
Brasilândia, nas mais distintas organizações, res-
gataram a origem do bairro e distrito para com-
preender sua dinâmica e vocação. As rodas de 
conversas efervesceram as lembranças de fatos 
que marcaram e fortaleceram a história dos bra-
silandianos, narrados das mais diferentes for-
mas, mas com a mesma emoção.
Visita técnica de equipe do Ibram para conhecer 
parceiros do Ponto de Memória.
Articulação com a comunidade em 2010.
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Desde sua origem, a Brasilândia se destacou 
por conta da sua força e organização política, 
pois a realidade dos primeiros desbravadores 
não era fácil: falta de água, energia elétrica, con-
dução, asfalto... por outro lado, morar naquela 
terra “Brasilis” era como morar numa cidadezi-
nha do interior. O lazer era total nos campinhos e 
rios da região. Foi em virtude dessa organização 
que, em 2009, alguns moradores tomaram co-
nhecimento do Programa Pontos de Memória e 
resolveram unir todas as iniciativas num mesmo 
espaço, uma nuvem de memória social e cole-
tiva. Sueli Ferreira, Leandro Silva Batista, Fabio e 
Elenice Aureliano iniciaram as articulações que 
resultariam em mais de 20 pessoas envolvidas, 
além de uma diversidade de entidades sociais e 
eclesiais. Já em 2010, o grupo, antes mesmo de 
decidir um eventual perfil do Ponto de Memória, 
iniciou o trabalho por meio da partilha. 
Apaixonar-se pela ideia de expor as vísceras de 
uma história repleta de lutas, conquistas e en-
frentamento, machucada pelo esquecimento do 
poder público e pelas marcas do tráfico, não se-
ria fácil de narrar. O que lembrar? O que ocultar, 
já que nunca é possível esquecer? E o principal: 
como contar?
Foram diversos encontros, não sendo possível 
mensurar quantos, pois o exercício de memó-
ria não ocorria somente quando estávamos em 
grupo, e, sobretudo, por não termos controle so-
bre a memória. A partilha era constante e inten-
sa. O agora Museu Social da Brasilândia estava 
consolidado e era conhecido pelas mais dife-
rentes correntes ideológicas, sociais e políticas 
do distrito. O museu ganhou forma, não física, 
pois não há estrutura onde seja possível depo-
sitar algo que é abstrato, talvez. Como expor em 
imagens e objetos uma força em constante e 
imprevisível transformação? O desafio, portanto, 
foi lançado. 
Com o Conselho Gestor constituído, era preci-
so se capacitar para melhor organizar o trabalho 
de efetivação do Museu Social. Para concretizar 
uma primeira exposição, Mirela Araújo, museólo-
ga do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), ofe-
rece a oficina “Museologia Social e Tipologia de 
Museus” aos membros do Ponto de Memória da 
Brasilândia. O objetivo dessa oficina foi capacitar 
as lideranças e instrumentalizá-las para a I Amos-
tra da Memória da região. Não adiantava reunir 
uma série de fotos, documentos e outros mate-
riais sem saber o que fazer com eles; por isso, foi 
importante essa capacitação.
Em três dias de atividades, as lideranças comu-
nitárias receberam orientação para saber como or-
ganizar documentos, disposição da amostra, pla-
nejamento, acervo e exposição. Embora o Ponto 
de Memória da Brasilândia esteja em seu segundo 
ano de trabalho, o Museu da Brasilândia ainda não 
tem sede fixa e acervo, passando pela construção 
do plano museológico que dará as diretrizes do tra-
balho e o perfil do museu. “Sem isso não há mu-
seu, não há como realizar qualquer atividade orga-
nizada de resgate de memória”, destacou Mirela.
Com a lição de casa feita, e após um ano e 
meio de trabalho, estudo, organização e mobiliza-
ção, o Ponto de Memória da Brasilândia realizou 
sua primeira exposição com o tema: “Brasilândia 
— Suas Vilas e Jardins”. Composto por mais de 
40 bairros, divididos entre vilas e jardins, a região 
que conta com mais de 300 mil habitantes apre-
senta os primeiros resultados de resgate da me-
mória local. Em evento realizado em maio de 2011, 
na Escola Estadual Luiza Salete, com a presença 
de Mario Chagas, do Ministério da Cultura, Pedro 
Galliker, do Programa Nacional de Segurança Pú-
blica com Cidadania, representantes da Prefeitura 
e lideranças locais representadas pelo articulador 
Fabio Ivo, a exposição reuniu jovens, adultos e 
idosos para saborear os prazeres da memória.
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A mostra começava com uma homenagem a 
Elcio de Souza (morto em fevereiro), grande ar-
ticulador e apaixonado pela Brasilândia, seguida 
com a inspiradora fala de Mario Chagas refor-
çando o direito à memória de todos os povos, 
culturas e classes sociais. Em sua fala, Chagas 
diz que não há modelo de resgate e preservação 
de histórias. Isso depende da dinâmica local e 
suas experiências; portanto, cada iniciativa mu-
seológica é livre e deve ser respeitada. Partindo 
desse pressuposto, a exposição apresentava um 
grupo de crianças flautistas atendidas por um 
projeto social da região que rememorou suces-
sos do Gonzaguinha, seguidos de roda de ca-
poeira, rodas de memória adulta e jovem, sarau, 
chorinho, entre outras atividades culturais duran-
te todo o sábado.
A mostra teve nove painéis de fotos da Bra-
silândia, focando principalmente a resistência 
por moradia que acompanha a região desde seu 
surgimento, em 1947, quando a Prefeitura de São 
Paulo iniciou a construção de grandes avenidas 
no centro da capital e desapropriou moradores 
dos cortiços, financiando a favelização de regi-
ões mais distantes, como abordamos no início 
deste texto. Famílias que vivenciaram essa época 
partilharam com a juventude sua chegada a um 
local que mais parecia uma cidadezinha do in-
terior. “Era maravilhoso tomar banho nas cacho-
eiras que tínhamos espalhadas por toda a Bra-
silândia. Conhecíamos os vizinhos e tínhamos 
relação com a Serra da Cantareira que hoje está 
em risco”, recorda Dona Norma, que chegou à 
Brasilândia aos 12 anos, tendo mais de 70 anos 
de memórias para partilhar. Outros participantes 
destacaram o preconceito: “Se quisesse traba-
lhar, tinha de dizer que morava na Freguesia do 
Ó, senão perdia o emprego, não pegava táxi, não 
tinha prestação”, recorda João Carlos, que con-
tribuiu no Conselho Gestordo Ponto. 
Além dos painéis, a exposição contava com 
quadros do antes e depois de alguns bairros. Ha-
via também um quadro que dava movimento à 
mostra, pois ao fundo era possível ver a Serra 
da Cantareira intocada e a sua frente as casas 
que paulatinamente foram derrubando o verde 
da Serra para dar lugar a outras vidas.
A equipe de articulação fez questão de registrar 
que ali não havia a verdade do registro histórico, 
apenas uma versão daqueles que participaram 
desse processo e que a mostra estava aberta às 
novas narrativas do distrito, por isso a roda de 
Cartaz da Exposição 2010.
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memória e as diversas representações culturais 
dos bairros. O que impressionou de fato a equi-
pe foi a presença da juventude, que sem dúvi-
da foi o maior público da exposição. Os jovens 
não só visitaram, mas compuseram uma roda de 
memória específica e aprenderam que ser jovem 
não é sinônimo de amnésia museal. A juventude 
narrou a experiência de viver num dos distritos 
que mais mata jovens na cidade de São Paulo 
e disseram que isso não os assusta. O principal 
temor dos jovens é a indiferença de muitos dian-
te dessa realidade causada por falta de espaços 
de esporte, cultura e lazer, já que a Brasilândia é 
a única subprefeitura, das 31 existentes, na qual 
não existe um parque sequer.
As atividades encerraram no fim da tarde com 
a apresentação do grupo “Coletivo de Mulheres 
Esperança Garcia”, que abordou o preconceito 
e a violência contra a mulher negra. A presença 
marcante da juventude e as atividades culturais 
que expressam os diversos fazeres do distrito fo-
ram, sem dúvida, os principais ingredientes des-
se caldeirão de memória e cidadania.
A exposição foi bem-sucedida, rendeu mais 
uma exposição na Escola Estadual João Solimeo 
e tinha tudo para alavancar os trabalhos do Mu-
seu Social da Brasilândia. Era essa avaliação do 
Conselho Gestor, que recebeu com alegria a no-
tícia do consultor local, que viria acompanhado 
de um financiamento para fortalecer as ações 
museais. O consultor seria um facilitador entre o 
Ibram e o Conselho Gestor para realizar o plane-
jamento previsto no plano museológico. Mas o 
que poderia servir para reforçar os trabalhos au-
xiliou no processo de desarticulação, em virtude 
das exigências do edital, bem como do pouco 
entendimento entre os remanescentes do já de-
sarticulado Ponto de Memória. Restaram-nos as 
nove placas da exposição, a memória de uma 
iniciativa que suscitou uma esperança de trans-
formação por meio de uma ferramenta abstrata, 
mas firme e presente: a memória!
Exposição na E.E. Luiza Salete, 
na Vila Penteado, Brasílândia.
O consultor João Paulo Vieira visita o 
Igreja da Freguesia do Ó, em restauração, 
e conversa com Pe. Carlos.
Etapa
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Etapa 2
Ações Museais
As ações museais compreendem todas as for-
mas e processos criativos de atividades comuni-
tárias de registro, reconhecimento e valorização 
da memória local, realizadas e promovidas pelos 
Pontos de Memória.
São as rodas e chás de memória, museus-cor-
tejo, exposições itinerantes, grafites, festivais mu-
sicais, saraus, feiras de Gastronomia, campeona-
tos infantis de pesquisa e história, dentre outras 
ações diretas e indiretas que envolvem a comuni-
dade na valorização de suas referências culturais, 
identidades, memórias e tradições locais.
A realização de ações museais está sempre 
em pauta nos Pontos de Memória, pois elas co-
nectam as iniciativas às comunidades, convo-
cando seus moradores a se apropriarem, a refle-
tirem e a se empoderarem, de diversas formas, 
de sua memória.
Museu Cultura Periférica
 (Jacintinho, Maceió/AL)
O Ponto de Memória do Museu Cultura Pe-
riférica atua a partir da diversidade de expres-
sões culturais das diferentes comunidades
que formam o tecido social do bairro Jacinti-
nho. Dedica-se a difundir as histórias das pes-
soas e grupos que vivificam a memória em 
movimento da cultura periférica da cidade de 
Maceió.
Voltado à valorização e ao reconhecimento 
da memória da cultura periférica, atua junto 
ao projeto Mirante Cultural, do Centro de Es-
tudos e Pesquisas Afro-Alagoano — Quilom-
bo, que congrega grupos culturais de mara-
catu, capoeira, coco de roda, hip-hop, danças 
afros e contemporâneas, escola de samba, 
teatro popular, dentre outros movimentos li-
gados à história, cultura e identidade local.
O nome Jacintinho remete ao primeiro pro-
prietário da região, Jacinto Athayde, descen-
dente de portugueses que construiu, nos idos 
de 1940, sua casa no Poço e a ladeira de pe-
dra que dava acesso ao sítio onde hoje é o 
bairro. A partir da década de 1950, a região 
foi crescendo com a população que chegava 
do interior do Estado atraída pelas possibili-
dades de emprego na capital. Atualmente o 
bairro, que integra quatro núcleos de comuni-
dades — Jacintinho, Vergel, Vila Emater e Vila 
de Pescadores de Jaraguá —, reúne cerca de 
200 mil habitantes.
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O Ponto de Memória em Jacintinho
O local escolhido para a implantação do Pon-
to de Memória foi o Jacintinho, que é o bairro 
mais populoso de Maceió, tido como periférico, 
não por sua localização geográfica, mas por sua 
condição social. Foi sendo formado por famílias 
oriundas do interior do Estado de Alagoas, filhos 
do êxodo rural, a maioria afrodescendente. Elas 
foram desbravando os sítios e povoando o bair-
ro de baixo para cima, ou seja, pelas grotas. O 
bairro se desenvolveu, em especial, no sentido 
comercial, mas os problemas sociais também se 
intensificaram. O ritmo de crescimento da po-
pulação não ocorreu simultaneamente aos do 
desenvolvimento socioeconômico. É um bairro 
visto pela mídia e pela sociedade alagoana como 
sinônimo de violência. 
res, fugiram de seu feitor: a miséria. Consequên-
cia da desigualdade social que assola Alagoas. 
Refugiaram-se no quilombo, ou seja, na periferia, 
em busca de casa, comida, trabalho... Dignidade! 
Há uma semelhança na luta de resistência dos 
quilombos e suas lutas atuais, pois eles não se 
acomodam diante da marginalização socioeco-
nômica que sofrem. O museu estará revelando 
dramas humanos que a história jamais poderia 
esconder ou esquecer.
Para divulgar, fomentar e fortalecer o víncu-
lo com as comunidades foram desenvolvidas 
ações museais. A primeira foi a participação na 
Semana da Primavera dos Museus com uma 
roda de memória denominada “Mulheres por 
Mulheres”, em 2011. Reuniu lideranças femini-
nas em várias vertentes: religiosa, social, política, 
comunitária, educacional e cultural. Elas com-
partilharam suas experiências com a comunida-
de, interligando-as com as questões de gênero. 
Houve três atividades: duas rodas de memória 
no Jacintinho e Zona Sul e uma roda feminina 
de Break, no Conjunto Dubeax Leão.
Em fevereiro de 2012, organizamos nosso pri-
meiro “Chá de Memória”, que aconteceu em 
cada núcleo do Museu Cultura Periférica: Jacin-
tinho (comunidade e hip-hop), Vila Emater II e 
Vila de Pescadores de Jaraguá. Por motivos ope-
racionais não foi possível organizar o da zona sul 
na ocasião. Os “Chás de Memória” ocorreram 
porque sentimos a necessidade de reunir as pes-
soas que tinham sido entrevistadas — e outras 
que também serão — para compartilharem suas 
histórias, bem como recolher acervo (fotogra-
fias, documentos, objetos) e explanar melhor a 
proposta do Ponto de Memória do Jacintinho — 
Museu Cultura Periférica para as comunidades. 
O material gráfico, a arte e a impressão foram 
realizados por nós. Organizamos a alimentação 
com muitos chás, biscoitos e bolachas, mas nos 
Logo Museu Cultura Periférica
O Museu CulturaPeriférica vem diariamente 
buscando conhecer e compreender esse novo 
povo que vive em coletividade, dividindo gostos, 
costumes e problemas. Ao descer as grotas, o 
indivíduo se depara com um cenário similar: a 
linha de diferenciação é tênue, mas as pessoas 
que a formam não. O povo que a formou são 
guerreiros que, como no Quilombo dos Palma-
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adequamos aos espaços; um exemplo é a Vila 
Emater que, além do lanche tradicional, levamos 
muita pipoca e refrigerante porque teríamos um 
grande público infantil.
Para o “Chá de Memória” do Jacintinho foram 
feitas visitas no dia anterior convidando de casa 
em casa cada entrevistado. Como eram idosos, 
organizamos um sistema de táxi para ir buscá-
-los e levá-los de volta para casa. A articulação 
com o pessoal do hip-hop foi feita via telefone. 
Foi uma integração entre a juventude e o pes-
soal da terceira idade, compartilhando e escu-
tando as histórias.
Nos “Chás de Memória” da Vila Emater e da 
Vila de Pescadores de Jaraguá toda a divulga-
ção foi realizada pelos pesquisadores Michelly 
da Conceição, Jailson Carnaúba (Pelé) e Enau-
ra. Eles foram os responsáveis pela articulação 
das comunidades que compareceram respecti-
vamente na manhã de domingo e na noite de 
segunda-feira. Melhor dia para eles. Adequamo-
-nos ao espaço e ao tempo de cada comunidade. 
A cada chá um 
universo diferente 
para desvendar. 
A noite caiu em uma avenida de um dos bair-
ros mais populosos de Maceió e as pessoas 
foram chegando, abraçando-se, rindo, revendo 
amigos e conhecendo outros. Vieram senho-
ras, senhores, mulheres, homens, adolescentes 
e crianças. As gerações se encontraram numa 
roda para ouvirem e compartilharem suas me-
mórias, trazendo à tona velhas histórias e sus-
citando novas emoções. Recebemos a visita de 
Lavínia Santos, consultora do Ibram; de Paulo 
Sérgio, representante do Pronasci local; de Ele-
nilton, representante da Secretaria de Articula-
ção e Ação Social; e de Jorge Schutze, coreó-
grafo e professor.
A primeira pessoa convidada para iniciar a roda 
de memória foi D. Angelita, de 86 anos, que há 
67 anos reside no Jacintinho. Após sua fala, con-
vidou uma amiga para dar continuidade. Uma a 
uma foi se sentando na “cadeira da memória” e 
contando a história da 
formação do bairro do 
Jacintinho; porém, mais 
importante que isso foi 
conhecer a trajetória de 
vida de cada indivíduo e 
como ocorreu a supe-
ração dos problemas e 
a luta que travou para 
realizar seus sonhos. 
Na mesma noite ti-
vemos a presença dos 
meninos e meninas do 
hip-hop, velhos parcei-
ros que também fazem 
parte do museu. Com-
partilharam conosco 
suas histórias no Movi-
mento de Hip-Hop Ala-
goano: Arnaldo e Fabrí-
cia (bgirl FBA). 
Chá de Memória
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Relataram a luta de divulgar o movimento em 
um Estado que ainda não o valoriza como deve-
ria. Tivemos uma roda de break feminina — as me-
ninas deram um show! Essa linguagem representa 
o modo de viver na periferia. Todos sentiram falta 
de Paulo, coordenador da Posse Atitude Periférica, 
o qual, desde abril de 2010, abraçou a propos-
ta do Museu Cultura Periférica; apesar de ter ido 
morar em São Paulo, deixou suas representantes 
aqui: Maria e Isabelly. Ele, mesmo longe, continua 
contribuindo com a luta — um exemplo é a logo-
marca do museu que é uma de suas obras. 
Numa manhã de céu límpido e sol forte, 
aconteceu o segundo “Chá de Memória” do 
Ponto de Memória do Jacintinho — Museu Cul-
tura Periférica na Vila Emater II. No Espaço Cul-
tural Vila foram chegando os moradores mais 
antigos e muitas crianças para contar e ouvir 
histórias. Narraram sobre suas origens e o nas-
cimento da Vila Emater II, a qual se desenvolveu 
em torno do aterro sanitário da cidade de Ma-
ceió (há um ano o aterro saiu de lá). Compar-
tilharam suas trajetórias e explicaram o dia a 
dia de um aterro sanitário, os tipos de materiais 
e a divisão do processo econômico que rege o 
trabalho naquela comunidade.
Conhecemos Dema, um morador que há anos 
vem registrando o cotidiano da vila e já fez três 
filmes ficcionais. Um artista anônimo que se in-
tegrou ao museu. Ficamos emocionados com D. 
Maria Preta, a qual relatou que, ao ficar doente, 
foi agraciada com a solidariedade dos vizinhos, 
demonstrando como a vida em comunidade 
é humanitária. Cada pessoa que se sentou na 
“cadeira da memória” ensinou algo e despertou 
uma emoção em quem a ouvia.
O Museu Cultura Periférica realizou o terceiro 
“Chá de Memória” na Vila de Pescadores de Ja-
raguá em uma noite de luar. A roda de memó-
ria aconteceu dentro da sede da Associação de 
Moradores e Amigos de Jaraguá. Foi uma noite 
em que ouvimos velhas histórias de pesca, do 
quanto o mar pode ser generoso e traiçoeiro. 
Nós nos sentimos dentro de um livro de Jorge 
Amado ao ouvir histórias de quem fica e de que 
vai para o mar. Muita coisa para aprender sobre 
esse universo. Seu José se dispõe a confeccio-
nar velhos instrumentos que não fazem mais 
parte do dia a dia do pescador, mas que fazem 
parte da história. 
Em novembro de 2012, foram realizadas três 
ações: a inauguração da exposição itinerante “Me-
mórias que o vento não levou...”, a palestra “Mu-
seu: a construção do conhecimento na interface 
do tempo e do espaço” e o clássico projeto “Mi-
rante Cultural: um quilombo chamado Jacintinho”. 
O lugar escolhido para a montagem da ex-
posição foi a Feirinha do Jacintinho; com isso, 
houve uma democratização do espaço cultu-
ral e uma maior participação da população. 
Chegamos pela manhã com barraca, memória, 
espelhos, gente, arupemba, sonhos, tecidos, vi-
das, caixas, dona Margarida, varais, fotos, ma-
las... Fomos montando aos poucos cada deta-
lhe, cada símbolo...
Houve um estranhamento inicial, mas as 
pessoas foram aos poucos se aproximando, 
olhando, comentando, contando. Tornamo-nos 
feirantes da memória, tendo Elizabeth Salgado 
como professora, que falava para os passantes: 
“Venham, venham conhecer o Museu Cultura 
Periférica”. A memória do povo do Jacintinho 
sendo compartilhada no meio da feira, tudo 
aquilo que o marcou, às vezes o mesmo fato 
contado, mas com um olhar singular.
A palestra “Museu: a construção do conheci-
mento na interface do tempo e do espaço” foi 
ministrada pela professora Elizabeth Salgado, 
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na Escola Estadual Manoel Simplício. Foi uma 
conversa com alunos e professores, numa tro-
ca de experiências e visões sobre o bairro e a 
memória. À noite aconteceu a trigésima edição 
do projeto “Mirante Cultural: um quilombo cha-
mado Jacintinho”, com uma massiva participa-
ção da comunidade. Comemoramos o mês da 
consciência negra e a valorização da memória 
social numa grande festa.
Ponto de Memória do Beiru
(Beiru, Salvador/BA)
O Ponto de Memória do Beiru traz no 
nome a memória do líder negro Gbeiru (Bei-
ru, em Yorubá), nigeriano da cidade de Oió, 
que chegou ao Brasil em 1820 e se destacou 
na organização do quilombo na região que 
atualmente é o bairro do Beiru.
Esse espaço de identidade e memória co-
meçou a ser pensado por representantes da 
comunidade desde o processo de constru-
ção do Livro do Beiru, obra que conta a histó-
ria do herói negro e do bairro, o qual foi lan-
çado em 2007 pela Fundação Pedro Calmon 
(Salvador/BA), pela Secretaria de Cultura e 
pela Secretaria de Promoção da Igualdade.
Nós, do Museu Cultura Periférica, acredita-
mos que a memória está em movimento e que 
vai além da recuperação do passado, pois é um 
instrumento de luta do povo. Ela está integrada 
ao dia a dia da comunidade. A Museologia So-
cial dá ao povo seu lugar de direito, ou seja, o 
centro da narrativa.
Exposição "Memória que o vento não levou", no Mercado Municipal.
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A luta e a mobilizaçãopolítica do Ponto de 
Memória do Beiru começam na questão da 
identidade, na militância em favor da afirma-
ção do nome Beiru que, à revelia da comu-
nidade, fora alterado pelos poderes governa-
mentais para Tancredo Neves. 
Com a força e a beleza da expressão cul-
tural da matriz africana, o Ponto de Memória 
promove junto à comunidade local um es-
paço cultural onde todos podem ver e ser 
vistos por meio de suas memórias, histórias 
de vida e luta comunitária.
Ações do Ponto de Memória do Beiru
O Ponto de Memória do Beiru traz à tona a 
valorização da memória do herói negro que deu 
origem ao nome do bairro, por ser considerado 
símbolo de luta e resistência entre os moradores 
da região. 
A iniciativa trabalha na perspectiva de transmitir 
e divulgar a história de Beiru a partir da história co-
letiva contada pelos próprios moradores, por en-
tender que a memória de Beiru também permeia 
a história dos cultos afros, terreiros, quilombos, 
da cultura e história afro-brasileiras e de todos os 
moradores que constroem o cotidiano do bairro. 
Desde 2009, o Ponto atua junto às escolas 
locais, universidades e entidades comunitárias 
realizando trabalhos sobre a cultura afro-brasi-
leira na disciplina de História, levantando e pro-
blematizando questões raciais, de identidade, da 
memória e da história do negro. Também reali-
za dinâmicas de apresentações de capoeira e 
formação de “galerias vivas”, nas quais os es-
tudantes apresentam a imagem de mestres da 
capoeira relatando suas histórias de vida, valores 
e ensinamentos transmitidos; promove o Cine 
Beiru, com exposição de filmes e documentários 
Cine Beiru
Busto do Beiru, escravo
do século XIX
Divulgação da história de Beiru nas escolas
em vários formatos, com programação focada 
na diversidade cultural. Além disso, a iniciativa 
também promove, durante a Semana da Consci-
ência Negra, junto à Associação Mundo Negro e 
demais entidades locais, a Marcha do Beiru.
Como ação permanente de difusão e comuni-
cação, divulga ainda nas escolas, nas universida-
des e na comunidade uma cartilha ilustrada que 
conta a história da liderança negra na primeira 
pessoa e apresenta um conjunto de acervos e 
patrimônios inventariados no bairro. Dentre es-
ses, destacam-se fotos da Fonte da Bica, rio que 
abastecia Salvador e onde o pessoal da casa de 
farinha tomava banho; o Terreirão São Roque, 
localizado no Largo do Anjo Mau, considerado 
terreiro de resistência da cultura afro-brasileira 
que, inclusive, dispõe em seus arquivos de uma 
fotografia de Beiru. Antigos moradores são con-
siderados “tesouros vivos”, como dona Clarice, 
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Conselho Museu Mangue do Coque
Mundo Negro
conhecida como Minha Gal, yalorixá do terreiro 
Ilê Axé Gezebum. Dona Roxinha, parteira mais 
antiga do bairro, que ia sempre de jegue para 
Itapoã. Dona Dominga, organizadora da ala de 
baianas da entidade Mundo Negro. Manuel Rufi-
no, famoso curandeiro da época da perseguição 
aos terreiros de Candomblé, quando as polícias 
furavam os atabaques. Seu filho, Antônio Rufino, 
conhecido como Lelê, zelador dos santos que 
seu pai deixou no Ilê Axé Bocum, onde ocorriam 
reuniões políticas na época da ditadura. Dona 
Edina, moradora do bairro há 26 anos, que tira 
o sustento da família vendendo folhas sagradas. 
O Ponto de Memória também luta para que o 
nome do bairro permaneça Beiru, em homena-
gem a um ícone da identidade e história local, 
em vez de Tancredo Neves, como há um tempo 
passou a ser conhecido. 
A memória de Beiru é tão forte na localidade 
que alguns moradores dizem que, quando ouvem 
seu nome, o sangue corre quente pelas veias, 
porque Beiru é sinônimo de luta e solidariedade.
Museu Mangue do Coque
(Coque, Recife/PE)
O Museu Mangue do Coque trabalha com 
a valorização do saber e da história local por 
meio de ações de pesquisa, preservação e 
difusão dos patrimônios material e imaterial, 
reconhecidos pelos moradores que constru-
íram e constroem cotidianamente a história 
do bairro. 
Situado a cerca de 2km do centro de Re-
cife, reúne cerca de 50 mil habitantes e está 
localizado na Ilha de Joana Bezerra, próximo 
do bairro de Boa Viagem e do polo médico 
da Ilha do Leite. O Coque é costurado pelo 
mangue e é conhecido pela resistência e luta 
por moradia. 
Ações museais: principais atividades, sua im-
portância e os desafios
O Coque é uma comunidade que trabalha a me-
mória em seus inúmeros aspectos, por meio de 
ações de valorização do saber e da história local, 
ações de pesquisa, preservação e difusão dos pa-
trimônios cultural, material e imaterial dos morado-
res que fizeram e fazem cotidianamente a história 
de luta e resistência, envolvendo a comunidade lo-
cal em suas atividades, estimulando o pensamen-
to crítico e a ação cidadã no debate sobre os prin-
cipais problemas locais como: memória do futebol, 
memória de luta e de resistência, memória da reli-
gião, memória do preconceito e da discriminação, 
memória da violência e memória da habitação.
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Rodas de memória
Com o objetivo de resgatar a memória cultural 
da comunidade do Coque, o Ponto de Memó-
ria do Museu Mangue do Coque vem realizan-
do em seus espaços “rodas de memória” com 
indivíduos de diversos interesses e linguagens. 
Essa ação é resultado da conquista da comuni-
dade em seu espaço cultural. Durante as rodas 
os participantes compartilham suas memórias 
de forma dinâmica pelo relato das experiências 
pessoais e coletivas vivenciadas no processo, 
levando positivamente o nome da comunidade 
para todos os demais Estados e países.
Oficina de férias
As oficinas de memória têm sido o caminho 
tomado por esse Conselho Gestor para articular 
e interagir com a comunidade, apoiando o apren-
dizado. Os alunos assistem a aulas sobre diversos 
temas propostos pela comunidade e aprendem 
recursos para melhorar essas atividades. 
Café de Memória na 6ª Primavera de Museus
Café de Memória na 6ª 
Primavera de Museus, com 
participação do consultor 
do Ponto de Memória 
do Grande Bom Jardim, 
Adriano Almeida
O Blog do Museu
Uso das informações midiáticas numa lingua-
gem compreendida pela maioria, no que diz res-
peito aos aspectos desenvolvidos dentro e fora 
da comunidade, com a expectativa de alcance 
de maior número de indivíduos. Objetiva-se a 
comunicação de forma positiva, em prol da luta 
do todo e suas principais memórias.
Considerando que o Ponto de Memória do 
Museu Mangue do Coque tem um importan-
te papel social a cumprir, entende-se que suas 
ações pedagógicas devam incluir as estratégias 
e recursos da comunicação social para funda-
mento de gestão do conhecimento. Nesse con-
texto, o domínio das linguagens midiáticas pode 
proporcionar a ampliação do acesso à informa-
ção e um melhor tratamento dela na construção 
dos referidos conhecimentos. 
Enquanto estratégia didático-pedagógica, a 
produção colaborativa de mídias visa a desen-
volver as competências comunicativas e a auto-
nomia, com relação à criatividade no sentido de 
estimular a construção de conhecimento signi-
ficativo na comunidade. A oficina de “produção 
de blog” tem por objetivo trabalhar as possibilida-
des pedagógicas de uso do blog no museu, com 
a implementação e a incorporação de lingua-
gens audiovisuais e midiáticas, a interação entre 
os integrantes da comunidade e a construção 
de uma rede de conhecimento.
Fanzine para distribuição local
Produçãode fanzine próprio do museu den-
tro da comunidade e distribuição numa lingua-
gem comum a ela. Contém informações com 
referência à memória e ações que contribuem 
para o desenvolvimento da comunidade dentro 
de seu contexto social. Propõe à comunidade a 
produção de textos em uma situação em que a 
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escrita cumpra sua função social. É importante 
tornar público o texto da comunidade, no qual o 
resultado final do processo de trabalho seja co-
municar, convencer, explicar, ou seja, fazer que o 
texto seja lido, tornando-se realidade e levando-
-se em conta que o fanzine é um veículo simples 
de ser feito, e com uma força de comunicação 
considerável.
É uma forma de expressão livre, feita em fun-
ção dos direcionamentos dados pelo grupo de 
editores. O fanzine vive e sobrevive da camara-
dagem. Por isso, normalmente é artesanal, com 
desenhos à mão, colagens, montagens, gravuras, 
xerox, grampeados em casa etc. Há também 
aqueles que são editados em computador e 
reproduzidos em gráfica. Uma terceira maneira, 
simples e econômica, de se produzir um fanzine 
é pela internet, conhecido também como fanzine 
virtual ou e-zine.
Exposição do Museu Mangue do Coque
O objetivo de produzir a exposição do Pon-
to de Memória do Museu Mangue do Coque é 
apresentar o resultado das ações de pesquisa 
sobre a comunidade por meio de exposições de 
longa duração e temporárias. A exposição prin-
cipal apresenta o ensaio “A Museologia Social 
sobre o universo da comunidade do Coque”, e 
as temporárias apresentam exposições itine-
rantes e propostas expositivas suscitadas pelas 
pesquisas sobre temas da cultura da comunida-
de do Coque, com a sugestão de pesquisa das 
temáticas escolhidas, com o caráter didático por 
meio da exposição lúdica, da aprendizagem, da 
reflexão e do debate, sendo criados com o ob-
jetivo do diálogo cultural, no qual é estimulada 
a discussão de temas diversos relacionados 
às questões da cultura e suas relações com o 
espaço do museu. Trata-se de uma exposição 
descontraída e dinâmica, aberta para o público 
em geral, em que convidados e parceiros da co-
munidade e a própria comunidade conversam 
sobre um tema específico.
Objetivo geral
Elaborar um instrumento para registrar ativida-
des de modo positivo na execução das ativida-
des propostas dentro do organograma do Ponto 
de Memória do Museu Mangue do Coque. 
Principais desafios 
• Necessidades de capacitação do grupo en-
volvido nas atividades. 
• Potencialidades da iniciativa de memória e de 
Museologia Social do Ponto de Memória do Mu-
seu Mangue do Coque. 
• Divulgação das atividades dentro da comu-
nidade.
• Alcançar os grupos de dentro da comuni-
dade que têm uma força política baseada em 
ações anteriores.
• Financiamento para pequenas e grandes ati-
vidades.
• Buscar voluntários que supram as necessida-
des do projeto.
• Linguagem a ser usada nas rodas, para que 
a população tenha interesse em participar das 
questões relacionadas a ela.
Etapa
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Etapa 3
Inventário Participativo
Dentre as etapas da metodologia proposta 
para o desenvolvimento dos Pontos de Memória 
destaca-se a realização do inventário participati-
vo, processo no qual as comunidades assumem, 
em primeira pessoa, a identificação, a seleção e 
o registro das referências culturais mais significa-
tivas para suas memórias e histórias sociais. 
No processo de inventariar, a comunidade 
também decide os métodos mais eficientes de 
divulgação e preservação de suas memórias e 
patrimônios, haja vista que as pessoas cuidam 
melhor daquilo que reconhecem como delas e/
ou que possuem algum significado para si ou 
grupo social ao qual pertence. 
Nesse sentido, a ideia de participação passa 
pela decisão coletiva e compartilhada de esco-
lher quais memórias e patrimônios são relevan-
tes para a comunidade, contribuindo, assim, para 
um processo contínuo de apropriação cultural.
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro
 (Lomba do Pinheiro, Porto Alegre/RS)
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro
Parada Seis, Sentido Bairro/Centro
[e vice-versa]
Sofia pensava no seu bairro
Como mais uma periferia:
longe de tudo,
local onde apenas dormia.
Museus, no seu pensamento,
locais que contam histórias,
de uma grande minoria
com farsantes trajetórias.
Porém, contudo, todavia,
“entre-um-tanto”
entrou no ônibus Pinheiro,
parada vinte e quatro,
para a lida de mais um dia,
e, pela janela, parada seis,
parou o olhar:
avistou um Museu Comunitário.
Passou a frequentar.
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Aprendeu que distante
pode ser relativo.
Periférico:
depende do ponto de referência.
Que a História é feita no presente e,
alguns museus, na sua essência,
escutam diferentes histórias,
contadas pela pequena maioria.
Autora: Camila Albani Petró
Essa composição literária foi selecionada 
no Concurso Fragmentos Urbanos, para com-
por os 170 mil postais literários que destacam 
diferentes pontos da cidade de Porto Alegre, 
organizado pela Companhia Carris Porto-Ale-
grense, 2012.
Os tambores de leite que abasteciam o bairro 
e as regiões mais próximas, as memórias das 
famílias de origem portuguesa, os primeiros mo-
radores vindos do interior e de outros bairros da 
cidade são alguns dos referenciais identitários 
presentes nas narrativas das comunidades da 
Lomba do Pinheiro, as quais (re) constroem sua 
história a partir das reflexões sobre as transfor-
mações socioculturais do bairro.
O Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro de-
senvolve um trabalho de fortalecimento da me-
mória e patrimônio junto às escolas, famílias e 
entidades associativas, servindo de ponto de par-
tida para novos inventários, produção de músicas, 
imagens, pesquisas e transformações locais. 
A partir da iniciativa foram identificados 60 
pontos culturais estratégicos que unem as 26 
vilas que formam a região. Dentre eles, desta-
cam-se o Sítio Arqueológico Boqueirão, as co-
munidades indígenas Charrua, Kaingang e M’byá 
Guarani, a Vinícola Bordignon, a Represa Lomba 
do Sabão, a Associação dos Amigos da Vila São 
Francisco, o Centro Hípico Recanto do Pinheiro e 
o próprio museu comunitário. 
A Lomba do Pinheiro reúne cerca de 70 mil ha-
bitantes e está situada na região leste da capital 
gaúcha, Porto Alegre. 
Desenvolvimento metodológico
do inventário participativo
O processo de inventário participativo desen-
volvido pelo Ponto de Memória da Lomba do 
Pinheiro foi executado a partir das seguintes 
etapas: planejamento, elaboração de estratégias, 
formação/qualificação do Conselho Gestor e 
pesquisadores, pesquisa, registro da pesquisa e 
tratamento das fontes (acondicionamento, ofici-
na de produção textual). 
A primeira etapa do processo do inventá-
rio participativo ocorreu a partir do planeja-
mento durante reuniões do Conselho Gestor 
do Ponto de Memória da Lomba do Pinhei-
ro, na intenção de discutir a metodologia a 
ser adotada e executada pelo grupo, assim 
como o cronograma de execução para o in-
ventário. Além das reuniões que visaram ao 
aprofundamento de discussões sobre a me-
todologia, também procedemos com visitas 
técnicas em instituições museológicas do 
Estado do Rio Grande do Sul. Cabe desta-
que para a participação de integrantes do 
Conselho Gestor na II Jornada Formação em 
Museologia Comunitária, na cidade de San-
ta Maria/RS. As participações em eventos 
fizeram parte da qualificação proposta para 
o Conselho Gestor, assim como para os pes-
quisadores que participaram do processo de 
inventário participativo. 
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Oplanejamento para a execução do inventá-
rio participativo ocorreu por meio de encontros, 
visando discutir formas diferenciadas de apro-
ximação do Conselho Gestor e pesquisadores 
com as pessoas da comunidade, organizadas 
nas associações comunitárias, e outros grupos 
sociais constantes no bairro Lomba do Pinhei-
ro. Na intenção de facilitar o desenvolvimento do 
trabalho, foram atribuídas responsabilidades de 
forma setorizada. 
A distribuição de tarefas se dividiu da seguinte 
maneira: 
1. Coordenação geral; 
2. Consultoria local (OEI); 
3. Conselho Consultivo; 
4. Pesquisadores; 
5. Mediadores do inventário participativo; 
6. Comissão de textos; e 
7. Comissão de fotografia. 
Como parte da metodologia de trabalho esta-
belecida em parceria com o Instituto Brasileiro de 
Museus (Ibram) e com a Organização do Estados 
Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (OEI), em 2011 foi promovida a oficina de 
capacitação em conservação de acervos, ministra-
da pela professora Silmara Küster da Universida-
de de Brasília (UNB). Essa oficina visou preparar 
o Conselho Gestor do Ponto de Memória, assim 
como os pesquisadores, para a manipulação, a 
guarda e a conservação preventiva das coleções 
que fazem parte do acervo do museu, bem como 
de documentos e objetos a serem colhidos du-
rante o inventário participativo — por exemplo, o 
grande número de jornais e fotografias que com-
pôs o corpus documental da pesquisa. Nesse caso, 
foi importante planejar as diversas etapas sobre o 
contato com os acervos, fontes de parte da pes-
quisa. Primeiramente houve a necessidade da ava-
liação do estado em que se encontrava o acervo, 
assim como a seleção e a elaboração de relatórios 
sistematizados com registro da documentação 
disponível. Depois, passamos à fase de higieniza-
ção e tratamento. Seguimos com a manipulação 
de forma apropriada, na intenção de acondicionar 
adequadamente todo o acervo existente. Perce-
bemos a necessidade de pensar e de planejar as 
condições de salvaguarda do acervo, sendo este 
um novo desafio para o Ponto de Memória.
O inventariamento
Para essa etapa previu-se a criação de instru-
mentos de sondagem e pesquisa, na intenção 
de sistematizar os dados que compuseram o 
inventário participativo. Primeiramente houve a 
necessidade de debater no grupo de trabalho o 
conceito de inventário participativo, já que este 
não estava completamente esclarecido, prin-
cipalmente no que tange à diferenciação entre 
pesquisa histórica com usos de fontes orais, es-
critas, imagéticas etc. e o inventário propriamen-
te dito. Nesse caso, convém esclarecer que a 
pesquisa histórica, produzida por registros orais 
individuais ou coletivos1, é considerada como 
um documento que compõe o inventário partici-
pativo e não o próprio inventário. 
Portanto, cabe aqui apresentar a definição de 
inventário participativo adotada pela equipe do: 
consiste no procedimento de relacionar, registrar 
e catalogar bens patrimoniais de caráter material 
e imaterial de forma participativa, ou seja, pro-
movendo mecanismos capazes de considerar a 
opinião e a participação constante de um nú-
mero significativo de pessoas e/ou grupos per-
tencentes à comunidade inventariada.
 
1 Como exemplo de registro coletivo de história oral citamos 
as rodas de memória comumente confundidas com o próprio 
inventário participativo. 
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Pensando na extensão do bairro Lomba do Pi-
nheiro e partindo da ideia de que o inventaria-
mento não deve se esgotar, resolvemos delimitar 
a pesquisa da seguinte forma:
a. O bairro foi dividido em quatro microrregi-
ões (faces); 
b. Formou-se uma equipe de mediadores do 
inventário participativo; 
c. As associações de moradores das vilas do 
bairro foram sensibilizadas na intenção de se 
responsabilizarem pela pesquisa em cada local e 
após remeterem os instrumentos de sondagem 
e pesquisa para os mediadores; 
d. Os bens patrimoniais móveis poderiam ser 
doados, emprestados ou mesmo permanecer 
em seus locais de origem; 
e. Os bens patrimoniais imóveis foram mapea-
dos, listados, registrados e fotografados; 
f. As manifestações culturais, consideradas 
patrimônio imaterial, foram listadas, necessitan-
do de registro posterior; 
g. O registro do inventariamento está disponível 
em material cartográfico.
Estabeleceu-se como metodologia o contato 
com lideranças comunitárias responsáveis por 
associações de moradores e/ou responsáveis 
por outras formas de organizações sociais, na 
intenção de mobilizar um número significativo 
de moradores em torno da proposta de realiza-
ção do inventário de forma ampla e participativa2 
As lideranças contatadas foram responsáveis 
por promover reuniões com os moradores nas 
associações, na construção por meio de de-
bate acerca do reconhecimento do patrimônio 
cultural local, como também tiveram a respon-
2 Quarenta e oito lideranças comunitárias tiveram participação 
ativa durante o inventário participativo, e mais de 350 
moradores do bairro responderam instrumentos de sondagens e 
questionários.
sabilidade de registrar nos instrumentos de son-
dagem os bens materiais e imateriais. A equipe 
de mediadoras do inventário participativo res-
ponsabilizou-se pelo contato com as lideranças 
comunitárias, convidando-as a fazer parte da 
pesquisa, pela participação em reuniões pro-
movidas pelas associações ou grupos diversos, 
pela coleta dos instrumentos de sondagem e 
pela coleta de acervos esporadicamente doa-
dos ao Ponto de Memória. Entre os principais 
acervos inventariados estão: 
1. O Bugio Ruivo; 
2. Parada de ônibus; 
3. Figueiras; 
4. Pinheiros (pinus e araucária); 
5. Nascentes; 
6. Sítios arqueológicos; 
7. Ponto de Memória; 
8. Saberes das benzedeiras; 
9. Comunidade indígena M’byá Guarani; 
10. Comunidade indígena Kaingang; 
11. Artesanato local; e 
12. Equipamentos públicos. 
Percurso 
Cultural Ponto 
de Memória 
da Lomba do 
Pinheiro
Produtos decorrentes do inventário participativo
Na intenção de divulgar e estimular a apropria-
ção do inventário participativo, decidimos pela 
criação de três produtos de difusão: exposição, 
catálogo em formato de mapa e multimídia.
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Catálogo da exposição “Lomba do Pinheiro: patrimônio 
inventariado e itinerários culturais”.
Exposição Ponto de Memória Lomba do Pinheiro
Desafios a partir dos resultados iniciais relati-
vos ao inventário participativo
Entre os desafios propostos está o produto mul-
timídia. Com o advento da exposição e da ação 
educativa propulsora do contato entre os profes-
sores da rede de ensino público local e o Ponto 
de Memória, decidimos disponibilizar as informa-
ções coletadas no inventário participativo na for-
ma digital, e todo o resultado acerca do patrimônio 
cultural local pesquisado e que consta no mapa 
impresso desdobra-se de forma mais detalhada 
no multimídia, contemplando o acesso amplo aos 
educadores e educandos. 
A exposição apresenta os elementos patrimo-
niais inventariados, assim como os históricos de 24 
vilas do bairro e duas comunidades indí-
genas. Nela estão reproduzidos acervos 
imagéticos, cartografias produzidas pelos 
moradores, depoimentos orais, acervos 
impressos como jornais, boletins, atas 
etc. O catálogo contou com a curadoria 
da professora Elizabeth R. Torresini. Para 
a construção das narrativas textuais, a 
curadora da exposição ministrou oficina 
de produção textual. O material multi-
mídia está sendo desenvolvido com um 
grupo de professores das escolas esta-
duais e municipais do bairro, a fim de 
que as necessidades pedagógicas das 
escolas da região sejam atendidas. 
O inventário participativo teve papel fundamental 
para a produção da exposição “Lomba do Pinheiro:patrimônio inventariado e itinerários culturais”, assim 
como para o catálogo em formato de mapa. 
O inventário participativo possibilitou um au-
torreconhecimento dos grupos sociais do bair-
ro enquanto partícipes da construção histórica 
do lugar, assim como vem possibilitando o re-
conhecimento do trabalho de valorização das 
memórias e histórias locais a partir de diferen-
tes lentes do cotidiano. Também possibilitou 
novas relações entre as comunidades, provo-
cando diálogos com os diferentes grupos que 
compõem as matrizes culturais do bairro. Como 
exemplo de mudanças é possível observar as 
novas formas que as pessoas encontraram para 
apresentar, representar e, do mesmo modo, (re) 
apresentar o bairro. É possível perceber, entre os 
grupos que participaram do inventário, o dese-
jo de continuidade do projeto, assim como a 
apropriação dos produtos de difusão.
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Elaboramos um roteiro amplamente discuti-
do entre o Conselho Gestor e os pesquisadores 
que trabalharam no inventário participativo e na 
efetivação da exposição, com os professores na 
construção desse produto visando tornar a pes-
quisa mais atrativa aos alunos.
Outro desafio está em tornar o Ponto de Me-
mória independente e autônomo na sua totali-
dade em termos jurídicos e de vínculo profissio-
nal. Percebemos a necessidade da efetivação 
de uma Associação de Amigos do Ponto de 
Memória, para manter e gerir todas as deman-
das da instituição que, como o inventário par-
ticipativo, compartilha e amplia as ações dela, 
contando com um número maior de participan-
tes. Inclusive com maior interesse das institui-
ções acadêmicas em razão da diversidade de 
oportunidades de pesquisa nas suas mais va-
riadas áreas de atuação.
Pretendemos investir na formação continua-
da dos conselheiros, bem como dos voluntários, 
estagiários e pesquisadores nas rotinas da insti-
tuição, e também nas deliberações relacionadas 
aos preceitos museais em detrimento da própria 
pesquisa, na participação comunitária, no registro 
da memória social, dos fazeres e saberes locais 
e na salvaguarda e no reconhecimento dos acer-
vos disponíveis tanto no museu, quanto naqueles 
objetos e documentos que encontram-se sob a 
guarda dos moradores da comunidade. 
Por fim, entendemos que existe a necessidade 
de, pela ação educativa e cultural, desenvolver 
outras demandas que possam envolver a comu-
nidade em seus aspectos político, econômico e 
social, reconhecendo o patrimônio cultural como 
fonte da identidade local, da valorização individual 
e coletiva, estimulando o trabalho em grupo e a 
inclusão social.
Ponto de Memória de Terra Firme 
(Terra Firme, Belém/PA)
Com a participação dos movimentos socio-
culturais do bairro, o Ponto de Memória para-
ense trabalha na identificação das memórias, 
histórias e características peculiares de Terra 
Firme, bem como no levantamento de fotogra-
fias, entrevistas, contos, lendas e objetos que 
contam a história da comunidade. Para mobi-
lizar os moradores e os movimentos culturais 
da região, realiza cortejos culturais, reúne qua-
drilhas juninas, grupos de dança de rua, hip-
-hop, grupos de capoeira, de carimbó, poetas, 
artistas plásticos e cantores populares. 
Como parte desse processo, já realizou ofici-
na de vídeo para jovens do bairro, que resultou 
na produção de dois documentários que retra-
tam a vida cotidiana no local; reeditaram o ex-
tinto jornal comunitário “O Tucunduba”3 e, por 
meio do inventário participativo das práticas de 
cultura popular e saberes locais, deu apoio e 
visibilidade a diversos grupos culturais atuan-
tes em Terra Firme e representa o começo da 
composição do acervo do futuro Museu Co-
munitário, cuja construção está no horizonte 
do Ponto de Memória de Terra Firme. 
3 Ver a edição virtual em <http://jornalotucunduba.blogspot.com.
br/>
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A iniciativa tem como parceria o Museu 
Paraense Emílio Goeldi, que tem sido funda-
mental no processo de capacitação de jovens 
em entrevista, história oral, histórias de vida 
e inventário participativo, tendo como norte 
a metodologia e os instrumentos desenvolvi-
dos pelo Museu da Pessoa. Terra Firme é um 
dos bairros mais populosos de Belém. Em 
2011, segundo levantamento do IBGE, possuía 
cerca de 61.439 habitantes, o que representa 
4,5% da área urbana do munícipio.4 
Metodologia aplicada na realização do inven-
tário participativo
O Ponto de Memória de Terra Firme é um projeto 
comunitário participativo de caráter sociocultural-
-educacional que adota a Museologia Comunitá-
ria como principal ação transformadora dentro do 
bairro de Terra Firme, Belém/PA. É um bairro perifé-
rico que tem como forte característica o fato de ter 
sido construído pelos moradores em áreas perten-
centes à Universidade Federal do Pará (UFPa), por 
volta da década de 1950. O lugar recebeu o nome 
de Terra Firme como forma de ironia ao fato de que 
no momento de ocupação era uma área de pou-
cas porções de terra firme — na verdade, trata-se 
de áreas alagáveis. Em depoimento para o inventá-
rio participativo, a moradora Zuleide Fernandes da 
Silva, de 56 anos, descreveu o lugar dessa forma: 
Quando eu cheguei aqui nesse lugar, aqui os ter-
renos eram tudo alagado, as ruas eram tudo só um 
matagal, tinha uns... Umas estivas acima porque tava 
no início da ocupação, então as ruas eram uns peda-
ços de pau, umas tábuas, uns açaizeiros. Era estiva, só 
estiva e tinha que andar se equilibrando — tinha que 
ser equilibrista.
4 SILVA, Maria do Socorro Rocha e; SÁ, Maria Elvira Rocha 
de. Medo da cidade: estudo de caso do bairro Terra Firme de 
Belém (PA). In: Argumentum. Vitória (ES), v.4, n.2, p.174-188,jul/
dez 2012. Endereço eletrônico: dialnet.unirioja.es/descarga/
articulo/4835014.pdf
Em outubro de 2009, por iniciativa do Institu-
to Brasileiro de Museus (Ibram) por intermédio 
do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e por 
meio do projeto “O Museu Goeldi leva educa-
ção em ciência à comunidade”, um grupo de 
moradores de Terra Firme e técnicas do MPEG 
iniciaram as ações de Museologia Comunitária 
no bairro. Em maio de 2010, foi formado o pri-
meiro Conselho Gestor do Ponto de Memória 
de Terra Firme legitimado pela comunidade do 
bairro e reconhecido pelo Ibram, constituído por 
15 integrantes. Atualmente o Conselho Gestor do 
projeto é formado por 12 membros: Camila Mou-
ra, Deivison Laurentino, Eliete Santana, Francisca 
Rosa, Helena Quadros, Jéssica Gusmão, João 
Batista dos Anjos, José Maria Souza, Leonel Oli-
veira, Maria Francisca Santos, Maria Madalena 
Pantoja e Sâmia Queiroz — esse grupo está des-
de a formação do primeiro Conselho.
Assim, o Ponto de Memória de Terra Firme 
tem por missão agregar valor à comunidade, 
por meio da preservação do patrimônio local, 
resgate da memória dos moradores e recons-
trução da história. Tem como objetivo principal 
construir um Museu Comunitário que narre a 
história, a memória e o patrimônio do bairro. 
Dessa maneira, vem realizando ações que in-
centivem a comunidade a refirmar sua identi-
dade perante a sociedade. 
Bairro da Terra Firme
Em novembro de 2011, foi enviado ao Instituto 
Brasileiro de Museus o plano de ação do PMTF, 
a fim de ser executado no ano de 2012. O plano 
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consiste no desenvolvimento da primeira etapa 
do inventário participativo no bairro de Terra Firme 
para buscar informações a fim de serem usadas 
na elaboração de uma exposição sobre o bairro 
e uma cartilha informativa sobre o projeto, como 
produtos de difusão. 
Paralelo às ações do plano de ação, o Con-
selho Gestor, aprovou três microprojetos dentro 
do edital Território de Paz do Pronasci/Ministério 
da Justiça e Programa Mais Cultura/Ministério da 
Cultura, a serem executados nos anos de 2011 e 
2012.Os microprojetos foram: “Juventude e Ima-
gens de Terra Firme: reafirmando identidades e 
garantindo cidadania”; “Reescrevendo a nossa 
história outra vez: jornal O Tucunduba” e “As di-
versas linguagens da Cultura no Bairro de Terra 
Firme”. Estes possibilitaram, ao Ponto de Memó-
ria, a produção de dois produtos de difusão5 e a 
elaboração do inventário participativo. 
O microprojeto “As diversas linguagens da 
Cultura no Bairro de Terra Firme” possibilitou ao 
PMTF a realização do inventário participativo em 
Terra Firme, com a finalidade de buscar suporte 
e visibilidade aos diversos grupos socioculturais 
no bairro, contribuindo para a valorização dos 
saberes e práticas locais. O objetivo do inventário 
foi pesquisar, catalogar e sistematizar as lingua-
gens culturais, a história e a memória presente 
no bairro de Terra Firme, por meio de entrevistas 
de histórias de vida. 
O inventário participativo, que ocorreu de de-
zembro de 2011 a abril de 2012, surgiu da seguin-
te maneira: 
Primeira etapa — definição da metodologia: o 
Conselho Gestor, em reuniões, definiu que seriam 
5 Os produtos de difusão foram: o lançamento de dois vídeo-
documentários sobre o bairro da Terra Firme, por meio do 
microprojeto” Juventude e Imagens da Terra Firme: reafirmando 
identidades e garantindo cidadania”; e, um jornal comunitário, 
por meio do microprojeto “Reescrevendo a nossa história outra 
vez: jornal O Tucunduba”.
realizadas entrevistas de histórias de vida, justifi-
cadas pelo interesse do grupo gestor em conhe-
cer a história e as memórias existentes em Terra 
Firme por meio de relatos dos moradores. Com 
a aprovação do microprojeto “As diversas lingua-
gens da Cultura no Bairro de Terra Firme” (o qual 
consistia em trabalhar com jovens na faixa etá-
ria de 15 a 29 anos), o Conselho determinou que 
fossem selecionados 10 jovens na faixa etária de 
18 a 29 anos para realizarem as entrevistas no 
bairro, sob a orientação de uma equipe coordena-
dora formada por membros do Conselho Gestor 
do Ponto de Memória de Terra Firme. 
Segunda etapa — seleção dos jovens: buscou-
-se dez jovens6 para participar do inventário. A se-
leção foi feita de acordo com os seguintes critérios:
1) morador do bairro de Terra Firme; 
2) conhecimento regular de sistema operacio-
nal Windows e suas ferramentas de edição texto/
figuras e internet; 
3) domínio de escrita na língua portuguesa; 
4) responsabilidade com prazos; 
5) capacidade de trabalhar em equipe; 
6) fácil comunicação.
 Utilizou-se uma ficha de inscrição para que os 
jovens interessados pudessem responder às se-
guintes perguntas: 
a) identificação; 
b) escolaridade; 
c) como soube do projeto?; 
d) disponibilidade; 
e) o que é o bairro de Terra Firme?
 Terceira etapa — oficina de inventário partici-
6 Jovens participantes: André Aviz, Brena Figueiredo, Carmem 
Santos, Deivison da Rocha, Ernanydos Remédios, Jéssica 
Gusmão, Maiara Souza, Maridiene dos Santos, Ruãma do 
Nascimento, Tacimiller de Matos, Tatian Amaral e Thayse de 
Matos.
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pativo: serviu de capacitação para que os jovens 
participantes estivessem habilitados a inventariar
as manifestações socioculturais no bairro de 
Terra Firme. O tema “Museu e Memória” foi o 
norteador da oficina, que aconteceu em seis dias 
e se utilizou de metodologias específicas com o 
intuito de que os participantes aplicassem em 
campo os conhecimentos construídos quando 
fossem realizar as entrevistas, bem como: 
1) linha do tempo; 
2) rodas de memória; 
3) técnicas de entrevistas; 
4) definição de inventário participativo. 
Quarta etapa – construção dos instrumentos 
de pesquisa: após o término da oficina de inven-
tário participativo, os jovens, com os membros 
do Conselho Gestor do Ponto de Memória de 
Terra Firme, responsáveis pela execução do in-
ventário participativo, elaboraram os instrumen-
tos de pesquisa. O grupo decidiu que o inventá-
rio teria cinco temas norteadores, e os jovens se 
dividiriam em duplas para ir a campo realizar as 
entrevistas. Os temas foram: 
1) cotidiano; 
2) história do bairro de Terra Firme; 
3) lutas sociais nas quais os moradores do 
bairro participaram ou vêm participando; 
4) cultura popular; 
5) instituições de pesquisa presentes no bairro. 
O conselho do PMTF se responsabilizou em re-
passar aos jovens um roteiro de pesquisa tratando 
do que seria pesquisado de acordo com o tema, 
sendo baseado no plano de ação do Ponto de Me-
mória. Após essa decisão, foram construídos os 
instrumentos de pesquisa que passaram a ser utili-
zados no inventário participativo, contendo: 
a) claquete de identificação; 
b) ficha de identificação; 
c) ficha de foto; 
d) ficha de objetos; 
e) autorização de depoimento e imagem; e
f) roteiro de entrevista. 
Quinta etapa — entrevistas de história de vida 
e realização de rodas de memória: após o pe-
ríodo de construção de metodologias dado pe-
las etapas anteriores, que teve a duração de um 
mês, os jovens foram a campo inventariar as 
manifestações socioculturais do bairro de Terra 
Firme. Essa etapa teve a duração de três meses. 
Os jovens participantes saíam a campo com o 
objetivo de realizar oito entrevistas ao mês, de 
acordo com sua temática, e em períodos quin-
zenais tinham a orientação da Coordenação do 
projeto. Foi definido durante o processo da quar-
ta etapa que a cada mês seriam realizadas rodas 
de memória temáticas com moradores do bairro, 
nas quais os jovens seriam os responsáveis por 
organizar o evento. Assim, deveriam ocorrer as 
seguintes rodas: 
1) história do bairro de Terra Firme; 
2) cultura do bairro; 
3) cotidiano do bairro. 
Sexta etapa — sistematização e catalogação 
das entrevistas: após a realização da etapa de 
campo (descrita na quinta etapa) ocorreu a sis-
tematização e catalogação das entrevistas. Os 
jovens conseguiram realizar 59 entrevistas de 
história de vida com moradores e/ou pessoas 
atuantes no bairro de Terra Firme; portanto, não 
se atingiu a meta inicial do inventário participa-
tivo. A cultura e o dia a dia do bairro estiveram 
presentes na maioria das entrevistas cedidas ao 
microprojeto, além, é claro, da importância con-
cedida à história de luta e conquista pela mo-
radia. Foram cedidos pelos entrevistados vários 
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arquivos fotográficos que retratam sua relação 
com o bairro e a construção dele.
Sétima etapa — cortejo cultural: o cortejo cul-
tural do Ponto de Memória de Terra Firme — “As 
diversas linguagens da Cultura” — aconteceu no 
dia 28 de abril de 2012 no bairro. Teve como obje-
tivo reunir todos os movimentos socioculturais de 
Terra Firme inventariados na etapa do inventário 
participativo. Portanto, foram convocados a par-
ticipar os movimentos: Coletivo Casa Preta, Ins-
tituto Cultural Polo São Pedro, Quadrilha Junina 
Infantil Crianças que Brilham, Grupo Cultural Boi 
da Terra, Grupo Cultural Boi Marronzinho, Insti-
tuto Amazônia Cultural, Cia. de Dança Exíbela e 
Associação Cultural Eu Sou Angoleiro. E, ainda, 
aglutinou personagens característicos de Terra 
Firme, como: vendedor de tacacá, vendedora de 
bombom, vendedor de sorvete, pintor, grupo da 
coleta seletiva de lixo, entre outros que fizeram 
parte do inventário participativo. 
O Cortejo Cultural saiu da Passagem Bom Je-
sus em frente do Centro Comunitário Bom Jesus 
(primeiro Centro Comunitário de Terra Firme) 
e se destinou à Praça Olavo Bilac (em frente 
à Igreja São Domingos de Gusmão). O trajeto 
realizado foi Passagem Bom Jesus — Rua São 
Domingos — Passagem São Pedro — Passagem 
Liberdade — Rua Celso Malcher — Praça Ola-
vo Bilac (Igreja São Domingos de Gusmão). E 
no destino final ficaram reunidos os grupos so-
cioculturais e os personagens característicos deTerra Firme que não puderam sair em cortejo. 
O inventário participativo possibilitou ao Pon-
to de Memória de Terra Firme o levantamento de 
um acervo de histórias de vida de moradores e/ou 
pessoas atuantes no bairro de Terra Firme que aju-
dam na construção diária do bairro. Com certeza 
esse primeiro inventário terá uma importância sig-
nificativa para o objetivo principal do PMTF, que é 
a transformação deste em um museu comunitário. 
Vale ressaltar também o engajamento dos jo-
vens participantes desse processo, pois estes 
obtiveram uma considerada habilidade quanto à 
realização de entrevistas, fato comprovado por 
terem conseguido entrevistar pessoas importan-
tíssimas para o bairro e que posteriormente es-
tiveram presentes nas outras ações do PMTF. A 
cada história de vida coletada, uma descoberta 
para esses jovens e uma confirmação/provação 
para o Ponto de Memória de Terra Firme. Em de-
poimentos, os jovens participantes demonstra-
vam satisfação em estar realizando o trabalho e 
ainda se sentiam orgulhosos em fazer parte de 
um bairro muito expressivo para dentro do muni-
cípio de Belém. Em relação aos entrevistados e 
seus depoimentos, muitos ficaram maravilhados 
em serem procurados para darem sua versão, 
sua opinião e seu olhar sobre a história e a me-
mória do bairro de Terra Firme. 
Quando se pôde realizar o “Cortejo Cultural 
do Ponto de Memória de Terra Firme: As diver-
sas linguagens da Cultura”, o PMTF conseguiu 
aglutinar várias vertentes culturais do bairro, 
agregando valor a esses grupos. E, também, 
fazendo que esses grupos pudessem se sentir 
parte do Ponto de Memória de Terra Firme. 
I Gincana
Terra Firme
Conselheiros em atividades de 
mapeamento cultural na Terra Firme
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O inventário participativo fez parte de um pro-
cesso de legitimação do Ponto de Memória de 
Terra Firme como agente transformador dentro 
do bairro de Terra Firme, uma vez que foi a eta-
pa inicial para elaboração de dois produtos de 
difusão do projeto que visam ao reconhecimen-
to da importância deste para o melhoramento 
do bairro. Assim, o inventário resultou na pro-
dução de uma cartilha informativa do projeto 
— “Um Ponto de Memória no Bairro de Terra 
Firme” — e a elaboração de uma exposição que 
retrata o bairro de Terra Firme — “Terra Firme: de 
tudo um pouco”. 
Atualmente esses produtos percorrem o bair-
ro e fora dele para divulgar e reconhecer o valor 
do registro e preservação da memória para um 
lugar e ainda mostrar a importância de projetos, 
como o Ponto de Memória de Terra Firme, que 
procuram transformar o bairro de maneira posi-
tiva por meio de ações museais. 
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim 
(Grande Bom Jardim, Fortaleza/CE)
O Ponto de Memória do Grande Bom Jar-
dim (GBJ) é um lugar de celebração de ex-
periências transformadoras e significativas de 
cidadania e valorização das variadas formas 
de expressão e modos de fazer da região. É 
um instrumento político que tem como ob-
jetivo celebrar lutas, valorizar expressões, sa-
beres, locais e recordar positivamente o lugar, 
suas marcas simbólicas e afetivas, com um 
projeto de afirmação de identidade territorial e 
promoção do desenvolvimento local. 
O território GBJ está localizado a sudoeste 
da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, e é 
composto por cinco bairros (Bom Jardim, Ca
nindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e 
Siqueira) e dezenas de comunidades de per-
tença. Está situado na Secretaria Executiva Re-
gional V, com 17 bairros, reunindo uma popula-
ção de 452.875 habitantes. 
Estigmatizada como região pobre, também 
arrasta consigo o estigma de “zona violenta”, já 
que violência e pobreza são sempre postas pela 
mídia no mesmo patamar, como se uma decor-
resse da outra. Por outro lado, na contracorren-
te, o GBJ se coloca como um território vivo de 
um povo que impõe suas vozes, identidades e 
visões de mundo.
O Ponto de Memória desenvolve um con-
junto de ações museais e atua no processo 
de inventário participativo do território, por meio 
do qual já registrou histórias sobre a formação 
da região, os espaços das culturas religiosas de 
matrizes africanas e ameríndias, celebrações, 
ofícios, modos de fazer, edificações, lugares de 
memória, dentre outras diversas expressões 
culturais da localidade. 
Além disso, funciona como ferramenta e 
arena estratégica para pautar e discutir ques-
tões locais, promover debates, negociar dife-
renças e produzir narrativas coletivas enquanto 
reescrituras ou releituras de fatos, de aconteci-
mentos e de sujeitos sociais, na perspectiva e 
vivência dos próprios moradores.
Grande Bom Jardim
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Desde o princípio da colocação da proposta 
do Programa Pontos de Memória pelo Ibram, 
entre outubro e novembro de 2009, por meio 
de visita in loco de técnicos articuladores co-
munitários e, sobretudo, na I Teia da Memó-
ria, realizada em Salvador/BA, a representação 
institucional do território Grande Bom Jardim 
no referido programa esteve em nome da Rede 
de Desenvolvimento Local, Integrado e Susten-
tável (Rede DLIS do GBJ), coletivo mediado e 
animado pela ONG Centro de Defesa da Vida 
Herbert de Souza (CDVHS). A instância existe 
desde dezembro de 2002 e, atualmente (2013), 
é composta por 38 organizações locais, dentre 
associações de moradores, organizações não 
governamentais e equipamentos sociais locais.
Imediatamente após o retorno dos participan-
tes às bases políticas do Grande Bom Jardim, do 
evento I Teia da Memória de Salvador, as ações 
de mobilização social local começaram a ser de-
senvolvidas. O intuito central era a composição 
de uma instância política, com representação de 
todos os cinco bairros oficiais integrantes do ter-
ritório Grande Bom Jardim (Granja Lisboa, Granja 
Portugal, Bom Jardim, Canindezinho e Siqueira), 
que tivesse a responsabilidade de assumir o de-
senvolvimento das ações de base do programa 
Pontos de Memória no território, com legitimidade 
de celebração de parceria com o Ibram. No entan-
to, no campo da mobilização social não apenas 
uma boa ideia é necessária para gerar os sentidos 
e o compartilhamento dos objetivos, dos dese-
jos e das metas. Além de uma boa proposição, 
são necessários mediadores locais com respaldo, 
confiança e credibilidade junto aos agentes locais 
a serem convocados, a coletivização da proposta 
de trabalho de forma a gerar um senso comum 
acerca da importância estratégica da intervenção 
para o fortalecimento do desenvolvimento local, 
pela articulação em rede social, e um trabalho de 
apropriação conceitual, numa perspectiva da prá-
xis, acerca da memória social e da nova perspec-
tiva de linguagem sugerida, a Museografia comu-
nitária, também denominada simplesmente por 
nova Museologia ou Museologia Social.
A convocação de vontade coletiva não é ta-
refa rápida, ela requer tempo de maturação. 
Mesmo que as ações de difusão e coletiviza-
ção da proposta tivessem começado em ja-
neiro de 2010, em março daquele ano ainda 
não havia uma consistência política com es-
pírito de corpo e com uma dinâmica de grupo 
suficiente para o território se fazer representa-
do na II Teia da Memória, por ocasião do Fó-
rum Nacional de Cultura, realizado em Forta-
leza, em março de 2010, no Centro de Cultura 
Dragão do Mar, no Seminário da Prainha e no 
Centro Urbano de Cultura e Arte (CUCA). Por 
essa razão, o Ponto de Memória do Grande 
Bom Jardim, em sua dimensão institucional, 
não participou ativamente do evento sediado 
em Fortaleza. No entanto, em virtude das re-
lações interpessoais fomentadas na I Teia da 
Memória, foram trocadas informações acerca 
dos procedimentos técnicos e burocráticos 
para viabilizar a formalização da parceria entre 
comunidades organizadas e Ibram e a execu-
ção do projeto: “DesenvolvimentoInstitucional 
e Técnico-Operacional para Ampliação e Con-
solidação de Projetos Relacionados à Memó-
ria Social no Brasil”. Ademais, os próprios ca-
minhos legais e metodológicos de condução 
e conformação do Programa Pontos de Me-
mória foram um aprendizado que se constituiu 
na trajetória. E assim as ações de base para a 
composição do Conselho Gestor continuaram 
firmes e com mais intensidade que antes.
Entre os meses de abril e junho de 2010, 
foram realizadas reuniões periódicas junto a 
organizações sociais nos bairros Siqueira e 
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Bom Jardim. Desses encontros se gerou en-
tendimento coletivo de que o movimento ti-
nha adquirido as condições necessárias para 
a constituição da instância gestora da inicia-
tiva de memória social e Museologia Comu-
nitária do território. Com esse consenso, foi 
formalizada decisão em ata e enviada cópia 
ao Ibram. Em junho daquele ano programou-
-se a realização de uma primeira capacitação 
de um ciclo de dez formações do Conselho 
Gestor a serem realizadas pelo Ibram, sendo 
a primeira denominada: “Museu, Memória e 
Cidadania”, facilitada por Inês Gouveia com 
participação de Patrícia Albernaz, vinculadas, 
respectivamente, ao Departamento de Proces-
sos Museais (DPMUS) e ao Departamento de 
Difusão, Fomento e Economia dos Museus 
(DDFEM). No entanto, fragilidades políticas 
acerca da composição da instância sobres-
saíram-se durante a formação. Então, enca-
minhou-se interromper o processo formativo 
e realizar um novo ciclo de mobilização co-
munitária para o fortalecimento da instância 
gestora. Foi planejada, então, uma maratona 
de assembleias comunitárias por bairro, sen-
do uma em cada bairro oficial, para coletivi-
zação da proposta, sensibilização acerca da 
relevância das temáticas e da estratégia po-
lítica, enquanto ferramenta e linguagem, para 
o desenvolvimento local. Foram definidos três 
assentos por bairro na instância. De fato, as 
cinco assembleias comunitárias foram reali-
zadas no mês de julho/agosto, e a instância 
levou todo o segundo semestre de 2010 para 
se fortalecer. No final de 2010, o Conselho 
Gestor estava com seu regimento interno ela-
borado e aprovado.
Havia, portanto, as condições básicas necessá-
rias para dar provimento ao estabelecimento da 
parceria e à execução do programa em âmbito 
local. Além disso, o Ibram estava cercado dos ar-
ranjos jurídicos e das estratégias administrativas 
para formalização de parcerias comunidades-
-Ibram, em parceria com a Organização dos Esta-
dos Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência 
e a Cultura (OEI), com mais amadurecimento da 
estrutura técnica de condução do programa nos 
12 territórios pioneiros ou de primeira geração de 
forma a respeitar a autonomia política e técnica 
das iniciativas comunitárias em memória ora fo-
mentadas, e garantir o acompanhamento técnico 
necessário para o desenvolvimento de inventários 
participativos dos bens culturais nos territórios e 
a geração dos produtos difusores. 
O processo de construção da metodologia 
para a realização do inventário
Haja vista o cenário político local conformado 
segundo os pré-requisitos estabelecidos, o outro 
desafio era a elaboração de uma metodologia 
de execução dos trabalhos para a consecução 
de resultados e produtos, a qual deveria pre-
ver a elaboração coletiva de uma metodologia 
de execução de um inventário participativo dos 
bens culturais locais, com a previsão de geração 
de produtos difusores com viabilidade técnica, 
ou seja, leitura da realidade local, definição da 
tipologia da experiência museal, dos produtos 
difusores, das ações e forma de execução, com 
cronograma de execução e orçamento.
Nos meses de janeiro e fevereiro de 2011, o 
Conselho Gestor reuniu-se periodicamente, pelo 
menos duas vezes ao mês, para a elaboração 
coletiva da proposta metodológica, conforme 
instrumental. A metodologia de trabalho não fa-
cilitou a geração de um produto. Muitas eram 
as ideias e grande era a vontade de realização, 
mas não se gerava um produto, um documen-
to escrito. Foi então que se encaminhou a de-
legação da escrita do documento, segundo as 
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diretrizes apontadas pelo Conselho Gestor, ao 
técnico da ONG CDVHS, Adriano Almeida, in-
cumbido do acompanhamento da instância pela 
referida instituição. As diretrizes do Conselho 
Gestor foram: classificação do tipo museológico 
em Museu de Território e Memorial, denominado 
Museu da Memória Territorial do GBJ; método 
participativo com realização de inventário, com 
desenvolvimento de processo formativo; compo-
sição de base de dados sobre o território; elabo-
ração de mapas mentais e confecção de pro-
dutos difusores. Os produtos difusores definidos 
foram: museu comunitário, site, cartilha e vídeo 
institucional. Em menos de um mês de trabalho, 
a proposta metodológica, segundo diretrizes da 
instância gestora, foi apresentada pelo técnico 
responsável, qualificada e validada pelo Conse-
lho Gestor, e encaminhada para análise técnica, 
diligências e aprovação. Esse processo de aná-
lise pelo Ibram foi transcorrido entre os meses 
de maio e novembro de 2011. Uma das marcas 
do plano de ação de execução da metodologia 
consiste em um diagnóstico territorial, com uma 
leitura de cenários rica e embasada em dados 
objetivos, quantitativos e qualitativos.
Composição do Conselho Gestor no ato da va-
lidação da metodologia pela instância7: 
7 A composição da instância sofreu alteração no período de 
análise e diligência da proposta metodológica pelo IBRAM, 
e foi consolidada durante a execução do plano de ação da 
metodologia aprovada. Retirou-se do CG, sem formalização em 
assembleia, a Associação Comunitária e dos Comerciantes do 
Grande Bom Jardim (ASCCOMBOJA), e se engajou a ONG Granja 
Portugal Solidária (SOLIDU), do bairro Granja Portugal.
Processo de desenvolvimento do inventário 
participativo dos bens culturais
Então, no período de janeiro e fevereiro de 2012, 
por meio de dois editais, dez moradores do Grande 
Bom Jardim foram selecionados para a posição de 
pesquisadores na pesquisa intitulada: “Inventário 
Participativo dos Bens Culturais do Grande Bom 
Jardim”. Foram selecionados dois pesquisadores 
por bairro oficial do território. O edital previa a se-
leção de um(a) morador(a) jovem entre 18 e 29 
anos e um(a) morador(a) de 30 anos ou mais por 
bairro. Vejamos como essa seleção ocorreu.
Para inscrição, o(a) candidato(a) deveria ter 
um perfil socioeconômico de baixa renda, cujos 
indicadores eram a família ter o Número de Ins-
crição Social (NIS) e o consumo de energia elé-
trica domiciliar deveria estar dentro da faixa baixa 
ENTIDADE
ASSOCIATIVA
BAIRRO
Associação Espírita São 
Miguel
Granja Lisboa
Associação Cultural Santa 
Terezinha do Menino Jesus
Granja Lisboa
Centro de Defesa da Vida 
Herbert de Souza (CDVHS)
Bom Jardim
Associação Comunitária e dos 
Comerciantes do Grande Bom 
Jardim (ASCCOMBOJA)
Bom Jardim
Associação Comunitária do 
Parque Jerusalém
Canindezinho
Associação Comunitária 
dos Moradores Vila Planalto 
(ACMVP)
Canindezinho
União dos Moradores do Bair-
ro Canindezinho (UMBC)
Canindezinho
Associação Comunitária do 
Jardim Nazaré
Siqueira
Associação Comunitária do 
Anel Viário (ACAV)
Siqueira
FONTE: Conselho Gestor do Ponto de Memória do GBJ.
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renda. Uma vez atendido esse pré-requisito, o(a) 
morador(a) candidato(a) submeteu-se à prova 
de redação, e uma vez obtendo nota superior a 
7 (sete), analisou-se as razões motivadoras de 
participação no projeto, por meio de entrevista in-
dividual e dirigida, em seus aspectos conceituais, 
ideológicos e de disponibilidade de tempo para se 
dedicar à formação básicae ao trabalho de cam-
po por um período de quatro meses.
Foram aplicados dois testes de redação aos 
candidatos, em dois grupos. Os temas foram: 
1) Meu Bairro, Minhas Memórias; 
2) Através de uma janela é possível ver várias 
histórias que podem ser recontadas pelo olhar do 
observador à janela. 
Considerando a janela como esse espaço de 
possibilidades de ver o mundo, como você vê seu 
bairro pela janela? Foram definidos parâmetros para 
avaliação das redações. Os aspectos gramaticais 
não foram tomados com peso na análise das re-
dações. Os aspectos mais importantes foram os 
conhecimentos sobre o bairro e a visão de mundo, 
que demonstrassem articuladamente elementos 
argumentativos, carga de leitura e capacidade de 
leitura da realidade, bem como noções básicas de 
coesão e coerência textual. Assim ficou esse es-
quema conceitual como parâmetro para correção 
dos textos: C.I = Coerência de Ideias (3 pontos); 
L.C = Linguagem e Coesão (3 pontos) e C.M = 
Conteúdos e Memórias (4 pontos).
Além do corpo de moradores gestores, o 
Conselho Gestor do Ponto de Memória do 
GBJ, que confere legitimidade política ao pro-
cesso, foi composto por uma banca técnica 
de seleção, formada por um morador local, 
mestrando em História e professor da rede 
estadual de ensino, três engenheiros vernácu-
los ligados à Universidade Estadual do Ceará 
(UECE) e um técnico local vinculado à execu-
ção do projeto, contratado pela Organização 
dos Estados Ibero-Americanos para a Educa-
ção, a Ciência e a Cultura (OEI), a serviço 
do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) no 
Ponto de Memória do GBJ.
Todos os dez moradores selecionados como pes-
quisadores sociais do “Inventário Participativo dos 
Bens Culturais do Grande Bom Jardim” assinaram 
um termo de compromisso, que buscava garantir a 
integração na equipe, na dedicação e participação 
nos cursos de formação básica e, sobretudo, na 
elaboração de relatórios técnicos, na geração de re-
sultados e na consecução dos produtos esperados.
Uma vez vencida a etapa de seleção, deu-se 
início à etapa de formação dos moradores em 
pesquisadores sociais. Foram desenvolvidos 
três cursos básicos, sendo um de Metodologias 
Qualitativas de Pesquisa em História, focando 
na História Oral, Memória e Patrimônio Cultural, 
de 34 horas-aula nos meses de fevereiro e mar-
ço, realizado no Centro de Defesa da Vida Her-
bert de Souza (CDVHS), ministrado pelo mes-
tre em História João Paulo Vieira Neto, um dos 
mentores do projeto “Historiando, intervenção 
social, princípio da Rede Cearense de Museus 
Comunitários (RCMC)”. Um curso de Fotografia 
Básica, de 35 horas-aula nos meses de mar-
ço, abril e maio, realizado na Escola CAIC Ma-
ria Alves Carioca, ministrado por um fotógrafo e 
professor de Fotografia da Casa Amarela Eusé-
lio de Oliveira, vinculada à Universidade Fede-
ral do Ceará (UFC); e um curso de Cartografia 
Comunitária Temática, de 80 horas, nos meses 
de abril a agosto, ministrada pela estudante de 
Geografia, Edivânia Marques, sob supervisão de 
orientador acadêmico. 
Vale dizer que as capacitações supracitadas 
tiveram como momento de intercâmbio e prática 
a aula de campo, realizada dia 10 de março de 
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2012, na comunidade indígena Jenipapo Kanin-
dé e no Ecomuseu Comunitário de Maranguape, 
que ficam na Região Metropolitana de Fortale-
za, respectivamente nos municípios de Aquiraz e 
de Maranguape. Nessa ocasião, reuniram-se os 
profissionais especialistas, os moradores pesqui-
sadores e os conselheiros para observar, analisar 
e traças perspectivas para a formatação de nos-
sa iniciativa museal ao espelho e à avaliação da 
experiência daqueles. 
No geral, quanto ao processo formativo, uma 
avaliação feita foi o demorado tempo dedicado 
à formação, gerando certa dispersão em vir-
tude da exigência tecnicista. Esse é um dos 
desafios do trabalho participativo: habilitar tec-
nicamente os sujeitos para o desenvolvimento 
de um trabalho que é, por natureza, realizado 
sob o olhar do nativo; viabilizar uma desna-
turalização do olhar sobre os próprios traços 
culturais, um convite a ver a realidade e os fa-
tos por uma lente de aumento, exagerando-os 
para desvendar e destrinchar os sentidos e os 
significados constituídos socialmente, sendo 
os pesquisadores também sujeitos sociais, res-
ponsáveis pela significação.
Outro desafio foi o descompasso entre o tempo 
da bolsa, de quatro meses, e o tempo necessário 
para a apreensão de informações e a geração de 
resultados e produtos previstos. Devemos men-
cionar também o impacto negativo sobre os mo-
radores pesquisadores do atraso de repasse dos 
recursos entre as parcelas.
O pontapé do trabalho de campo propriamen-
te dito foi a realização das “Ações Museais”, no 
mês de março de 2012, com objetivo central de 
divulgação do projeto na comunidade, mobiliza-
ção cultural e fomentar ações de educação para 
o nivelamento conceitual das temáticas Memória 
e Museologia Comunitária. 
Portanto, os pesquisadores foram os responsáveis 
pela realização de cinco rodas de memória, sendo 
uma por bairro, no seguinte cronograma de março: 
Siqueira, dia 19; Granja Lisboa, dia 20; Canindezinho, 
dia 21; Granja Portugal, dia 22; e Bom Jardim, dia 
23. Participaram diretamente dessas ações de me-
mória uma média de 250 moradores. Os pesqui-
sadores identificaram moradores com acúmulos de 
conhecimentos e de vivências no bairro, aqui deno-
minados “Guardiões da Memória”. Estes foram mo-
bilizados, entrevistados e envolvidos no processo de 
pesquisa como sujeitos históricos.
Os moradores pesquisadores, então, sistema-
tizaram as informações, prepararam e conduzi-
ram a realização das cinco rodas de memória. 
Esta foi a primeira ação autônoma dos morado-
res pesquisadores no trabalho de campo da pes-
quisa, estabelecendo os primeiros contatos com 
os interlocutores estratégicos, identificando tan-
tos outros a serem entrevistados e coletando as 
informações sobre a história do bairro, a partir 
do olhar e das narrativas de quem fez e viveu a 
história — os próprios moradores. Os primeiros 
grandes achados da pesquisa aconteceram no 
curso dessas ações por bairro, como, por exem-
plo, a primeira pia batismal da igreja católica do 
bairro do Canindezinho, do início do século XX, 
peça incluída no acervo do Ponto de Memória 
do GBJ. O cronograma das “Ações Museais” de 
março prosseguiu: dia 24 foi realizado o Seminá-
rio “Território, História e Memória” com o objetivo 
central de produção de conceitos comunitários 
sobre os temas do evento. O evento aconteceu 
no segundo centro cultural do governo do Esta-
do do Ceará em Fortaleza, o Centro Cultural do 
Bom Jardim (CCBJ). 
A atividade teve uma carga horária de oito horas-
-aula, e foi facilitada em parceria com a comuni-
dade local organizada, com o Projeto Historiando, 
com representantes da equipe gestora do CCBJ e 
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com colaborações técnicas, como a do mestre em 
Geografia Victor Bento, professor da Universidade 
Estadual do Ceará (UECE). A programação e me-
todologia foram elaboradas coletivamente em pelo 
menos três reuniões exclusivas para essa finali-
dade. Participaram 31 moradores. Um dos resul-
tados foi o entendimento comum gerado acerca 
da funcionalidade social da memória para clarifi-
car o entendimento acerca de um dos dilemas da 
comunidade, a indefinição do lugar das fronteiras 
intermunicipais e apontar possíveis soluções para 
a maior consequência dessa indefinição: a com-
petência administrativa sobre os serviços públicos 
nas porções territoriais sub judice.
No domingo, dia 25 de março, foram comemo-
rados os 60 anos do bairro, com uma programa-
ção cultural desenvolvida no Centro Cultural do 
Bom Jardim por grupos e artistas locais, entre 14h e 
20h. Apresentaram-se gruposlocais de hip-hop, de 
dança contemporânea, de danças tradicionais e de 
teatro. Os festejos contaram com um bolo de um 
metro, oferecido aos moradores presentes. 
Entre os dias 27 e 28 de março foi realizada pelo 
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) a capacita-
ção “Museu, Memória e Cidadania”, ministrada por 
Mario Chagas: poeta, museólogo, mestre em Me-
mória Social pela Universidade Federal do Estado 
do Rio de Janeiro (UNIRIO), doutor em Ciências 
Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ) e, na época, diretor do Departamen-
to de Processos Museais do Instituto Brasileiro de 
Museus (Ibram/MinC). A capacitação foi em nível 
Grande Bom Jardim
estadual, reunindo em rede o Ponto de Memória do 
GBJ e a Rede Cearense de Museus Comunitários 
(RCMC). Essa formação foi o momento sublime 
para intervenção militante no processo de desen-
volvimento do inventário participativo e de geração 
dos produtos difusores; nela se constituiu a coleti-
vização temática na comunidade e se consolidou a 
apropriação conceitual, marcadas pela citação de 
José Saramago, lema e crença do Ponto de Me-
mória do GBJ: “Somos a memória que temos e a 
responsabilidade que assumimos. Sem memória 
não existimos. Sem responsabilidade, talvez não 
mereçamos existir”. Outro resultado da formação 
foi a inclusão do Ponto de Memória do GBJ na 
RCMC, constituindo assento na comissão de ar-
ticulação da instância. O evento também recebeu 
as bênçãos dos ancestrais indígenas, numa dança 
sagrada chamada Toré. 
Grande Bom Jardim
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Grande Bom 
Jardim
A incursão dos moradores pesquisadores aos 
bens culturais por bairro, no território, deu sequên-
cia pela identificação dos guardiões da memória e 
pela realização de sete entrevistas individuais se-
miestruturadas e gravadas em áudio e vídeo. Foram 
entrevistados: dona Iolanda Bezerra e dona Iolanda 
Lima, ambas pelo bairro Canindezinho; Pai Neto, 
pelo bairro Granja Lisboa; Toinha Linhares, pelo 
bairro Bom Jardim; Dona Eulália, pelo bairro Granja 
Portugal; e Ana do Nazaré, pelo bairro Siqueira.
Eu comecei a ir pra igreja. Fui me confes-
sar, o padre Fernando me deu uma penitência 
que até hoje é que me faz estar nessa luta. 
Essa penitência foi dada pelo padre Fernando. 
Ele me deu uma penitência de eu participar 
das reuniões da comunidade. Quando eu me 
engajei na reunião da comunidade, e aí entrei 
na luta, tomei gosto, e até hoje eu estou nessa 
luta. Quando eu me encontrava com ele, eu 
dizia: pense numa penitência! Porque a pe-
nitência é pra ser de pai nosso, essas coisas 
pro povo rezar e parar, né! A minha não parou 
nunca mais, até hoje, isso foi em 1989, e não 
consigo sair dessa penitência (risos). Pois é, o 
que me trouxe a essa vida foi uma penitência 
do padre Fernando, que era padre lá da Granja 
Lisboa, comboniano, que é uma pessoa mara-
vilhosa e que eu adoro. (Moradora, liderança 
comunitária e conselheira gestora do Ponto 
de Memória GBJ)
A metodologia de desenvolvimento do inven-
tário contou com outro instrumental de coleta 
de dados. Foram elaborados e aplicados cinco 
questionários estruturados, segundo as catego-
rias culturais norteadoras da pesquisa, inspiradas 
no Inventário Nacional de Referências Culturais 
(INRC), do Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
tístico Nacional (IPHAN). As categorias culturais 
norteadoras da pesquisa “Inventário Participativo 
dos Bens Culturais do Grande Bom Jardim” fo-
ram: Lutas e Resistências; Celebrações; Ofícios e 
Modos de Fazer — Saber Fazer; Formas de Ex-
pressão; Edificações e Lugares de Memória. Con-
tribuiu enormemente para a formatação desse 
arcabouço conceitual a pesquisa do mestre em 
História, João Paulo Vieira Neto.
A realização das rodas de memória permitiu a 
identificação dos moradores estratégicos a serem 
entrevistados e mapeados pela pesquisa. Tam-
bém, simultaneamente à aplicação dos ques-
tionários por categoria da pesquisa, eram identi-
ficados artefatos e documentos interessantes e 
relevantes para a história de cada bairro do terri-
tório, cotados para compor o acervo do Ponto de 
Memória do GBJ.
No meio-tempo do trabalho de campo da pes-
quisa também foram identificadas três temáticas 
importantes, que muito explicariam os sentidos e 
trajetos do processo de ocupação territorial e de-
senvolvimento urbano dos bairros, a saber: 
1) ocupações; 
2) terreiros e barracões: espaços de exercício das 
culturas religiosas de matrizes africanas e ameríndias.
3) territórios e territorialidades: fronteiras, man-
chas e pedaços. 
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Para cada uma das temáticas foi lançada mão 
do recurso de coleta de dados denominado grupo 
focal, entrevista coletiva, segundo roteiro semies-
truturado, orientada por finalidade. Os encontros 
foram oportunos, para além da coleta de dados, 
para divulgação e coletivização do projeto na co-
munidade, para reaproximação das lideranças 
antigas na militância pela efetivação dos direitos 
sociais, para pactuação política, envolvimento e 
comprometimento dos moradores participantes 
dos grupos focais no processo de construção de 
narrativas. Suas visões de mundo e suas interpre-
tações de fatos históricos foram a tônica das in-
formações que posteriormente seriam veiculadas.
Um dos resultados das dinâmicas foi a elabo-
ração de mapas mentais sobre as duas temáticas 
principais da exposição “Jardim das Memórias”. 
Os moradores participantes espacializaram suas 
informações em bases cartográficas, mapas que 
expressam os conhecimentos dos moradores so-
bre seus bairros e denotam o nível de relação afe-
tiva e vivencial destes com os lugares.
Muitos dos objetos e documentos mapeados 
pelos questionários e nos grupos focais foram 
adquiridos com recursos próprios ou doados 
ao Ponto de Memória do GBJ pelos moradores. 
Alguns constituíram reserva técnica, e a maioria 
deles foi integrada ao acervo da primeira expo-
sição assinada pelo Ponto de Memória do GBJ, 
intitulada “Jardim das Memórias”, lançada dia 31 
de agosto de 2012, evento que inaugurou o Ponto 
de Memória do GBJ. O argumento e a narrativa 
da referida exposição são resultados diretos da 
pesquisa realizada pelos próprios moradores ca-
pacitados para essa finalidade. 
A exposição “Jardim das Memórias” homena-
geou os moradores que, ávidos por direitos, são 
incansáveis lutadores, lançando mão do arquéti-
po do guerreiro orixá Ogum. As temáticas princi-
pais foram "lutas e resistências" e "celebrações", 
usando-se da linguagem da cartografia social, 
tendo os assuntos sido sistematizados em qua-
dros temáticos por bairro. Os elementos centrais 
da narrativa são a água, a carnaúba, a terra e os 
guerreiros. A estética e os conteúdos sistemati-
zados e publicados impressionaram os morado-
res, os representantes de equipamentos sociais e 
os parceiros presentes. Os resultados superaram 
as expectativas. Os “Guardiões da Memória”, os 
moradores convidados e os líderes comunitários 
aplaudiram a iniciativa museal comunitária por 
seu caráter coletivo e político, além de ratificarem 
a importância cultural do Ponto de Memória do 
Grande Bom Jardim.
O ato de inauguração do museu comunitário 
do Grande Bom Jardim teve considerável reper-
cussão midiática, sendo veiculado nos principais 
veículos de comunicação do Estado, dentre jornal 
impresso, rádio e televisão. 
A execução do inventário possibilitou o envol-
vimento da comunidade no entorno de questões 
caras, oportunizando condições para releituras 
de suas identidades culturais pelo olhar dos mo-
radores, evidenciando fatos, pessoas e versões 
da história que fazem do Ponto de Memória e do 
museu comunitário uma espécie de espelho co-
munitário, ou seja, cada um tem a possibilidade 
de se reconhecer e de se reconstruir na narrativa 
do outro. Um dosindicadores dessa identifica-
ção é a doação espontânea de peças e acervos 
pessoais de moradores ao Ponto de Memória do 
GBJ. Os moradores querem ver suas peças no 
museu, o que convém ser lugar de destaque, lu-
gar de contexto e de produção de textos.
Um dos principais impactos foi a ratificação 
ou a consolidação da importância temática e da 
linguagem museal pela Rede DLIS do GBJ, que 
resolveu tomar a memória social e a Museografia 
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comunitária como um dos seus eixos institucio-
nais de planejamento e intervenção da instân-
cia. Outro resultado foi a definição coletiva do 
argumento narrativo da segunda exposição do 
Ponto de Memória do GBJ intitulada “De onde 
viemos? Grande Bom Jardim: Terra de Todos os 
Santos”, a qual pretende resgatar seu princípio 
histórico, identificar seus agentes mobilizadores, 
notadamente os movimentos políticos religiosos 
atuantes nas periferias urbanas brasileiras nas 
décadas de 1970-1990, buscando entender, à luz 
do presente, as razões daquilo que fez 
ser o Grande Bom Jardim.
Os próximos desafios da experiên-
cia em memória social e Museografia 
Comunitária do GBJ são: a criação e 
manutenção de software de armaze-
namento e tratamento de dados; con-
ceber e executar uma política de sus-
tentabilidade para o Ponto de Memória, 
que inclua Plano de Formação de Pla-
teia, Plano de Captação de Recursos, 
editoração e publicação de suportes 
pedagógicos e midiáticos de multiplica-
Grande Bom Jardim
ção e difusão de conhecimentos e de produ-
tos culturais da região (tais como site, vídeos e 
periódicos com a sistematização de resultados 
de processos), a metodologia aplicada e posi-
ções políticas conceituais. No campo político, 
fortalecer a participação nas redes políticas, 
constituir e executar agendas programáticas do 
calendário nacional da Museologia de forma a 
contribuir com a afirmação do campo comuni-
tário, incidir na exigibilidade de política setorial 
em âmbitos local e nacional.
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Referências Bibliográficas
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Etapa
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Etapa 4
Produtos de Difusão
pequeno grupo de famílias que se instalou 
nas proximidades de uma via homônima e de 
uma área em que até hoje funciona o ater-
ro sanitário do Distrito Federal. Com o pas-
sar dos anos, a antiga vila se tornou cidade e 
hoje reúne cerca de 40 mil habitantes. 
Desde então, os moradores travam diver-
sas lutas, junto ao poder público, para criar 
mecanismos de sobrevivência, infraestrutura 
e saneamento básico, além de resistir às ten-
tativas do governo de desocupar a área.
Nesse contexto, o Ponto de Memória da 
Estrutural trabalha as memórias de luta, resis-
tência e conquistas da cidade, valorizando a 
memória política dos moradores pelo direito 
à moradia, a luta pelos espaços de trabalho 
e lazer, as brincadeiras das crianças nas ruas 
com seus folguedos, o dia a dia de luta das 
mulheres guerreiras, o burburinho da feira, os 
catadores de materiais recicláveis, os vende-
dores ambulantes, os caminhões de lixo que 
trafegam diariamente por suas ruas, dentre 
outras atividades peculiares que compõem a 
vida da Estrutural.
Os produtos de difusão são compreendidos 
pelas ações museais desenvolvidas pelos Pon-
tos de Memória após a etapa de realização do in-
ventário participativo. Com alta repercussão den-
tro e fora da comunidade, podem ter o formato 
de exposição, publicação, documentário, dentre 
outras atividades que colocam em evidência as 
representações das memórias e identidades co-
letivas, discutidas e trabalhadas durante todo o 
processo metodológico de desenvolvimento do 
Ponto de Memória.
Ponto de Memória da Estrutural 
(Estrutural Brasília/DF)
O Ponto de Memória da Estrutural é um mu-
seu popular, autogestionário, que reúne lideran-
ças comunitárias e representantes de diversos 
grupos, coletivos e movimentos da cidade, para 
pensar e desenvolver ações voltadas à valori-
zação das histórias e memórias locais, como 
meio de transformação e melhoria de qualida-
de de vida no território. 
A 20km de Brasília, a vila Estrutural surgiu em 
meados da década de 1960, a partir de um
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A iniciativa também funciona como um pon-
to agregador de movimentos que desenvolvem 
projetos socioculturais e de educação po-
pular da cidade, sempre pautados em ações 
criativas, solidárias e voltados à melhoria de 
qualidade vida da população local.
Coordenação das atividades
Coletivo da Cidade, Movimento de Educação 
e Cultura da Estrutural (Mece), moradores que 
não fazem parte desses grupos, moradores de 
outras cidades do DF.
Produtos de Difusão: 
I – Vídeo
II – Exposição do acervo no Ponto de Memó-
ria e em outros locais.
O critério para a opção de fazer um vídeo 
foi o resultado do registro das entrevistas orais 
realizadas com os moradores pelo Ponto de 
Memória da Estrutural. Por meio da elaboração 
de um vídeo, os moradores tiveram a oportu-
nidade de narrar sua história e sua trajetória 
na Cidade Estrutural, contrapondo com a mí-
dia local que, na maioria das vezes, conta a 
história dessa comunidade a partir de uma óti-
ca deformada, colocando a Estrutural sempre 
nas colunas policiais. O vídeo também é uma 
ferramenta de divulgação externa do Ponto de 
Memória e da nossa visão de memória.
O critério para realizar as exposições foi o fato de 
que essa atividade permite uma divulgação em am-
pla escala das atividades realizadas pelo Ponto de 
Memória; além disso, a história da Estrutural é mos-
trada para os moradores em três perspectivas: local, 
regional e distrital. Ao mesmo tempo em que divul-
ga as atividades do Ponto de Memória, sensibiliza 
e propicia visibilidade à comunidade, compondo o 
acervo do futuro Museu Comunitário da Estrutural. 
1ª Exposição — “Movimentos da Estrutural: 
Luta, Resistência e Conquistas”
A exposição “Movimentos da Estrutural: Luta, 
Resistência e Conquistas” foi lançada no dia 21 
de maio de 2011, concebida a partir de vários di-
álogos entre a equipe do Instituto Brasileiro de 
Museus (Ibram) e os participantes do Ponto de 
Memória da Estrutural. Esses diálogos aconte-
ceram em reuniões no Ibram e no Ponto de Me-
mória. Inicialmente, os participantes do Ponto 
de Memória tiveram a ideia de contar a história 
da Estrutural por meio de exposições, dividin-
do-as em movimentos como: movimento da 
cidade, movimento das mulheres, movimento 
da criança, movimento do trabalho, movimento 
do lixo, movimento das religiões, movimento da 
saúde e movimento da educação. A primeira 
ideia era fazer uma exposição que retratasse 
todos esses movimentos; depois, chegou-se à 
conclusão de que era um universo muito ex-
tenso para ser abordado em apenas uma expo-
sição e num espaço reduzido. Então, optou-se 
por apresentar cada movimento em exposições 
diversas. 
A primeiraexposição e lançamento do Ponto 
de Memória da Estrutural poderia ser sobre a 
cidade, a conquista e a luta da população para 
conseguir permanecer naquele espaço ao lado 
do lixão do Distrito Federal, que também fica ao 
lado do Parque Nacional com diversas fontes 
de água. Depois de várias reuniões, chegou-se 
a um consenso sobre o que seria mostrado no 
primeiro produto de difusão, ou seja, a primei-
ra exposição. Continuamos com a concepção 
de movimentos e decidiu-se que seria retratado 
o movimento de luta, resistência e conquistas de 
permanência no espaço, a conquista da água e da 
luz, ou seja, a luta pelo básico da sobrevivência e a 
valorização e reconhecimento da luta dos pionei-
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ros da Estrutural. No início a exposição acontece-
ria em novembro de 2010, mas já era novembro e 
ainda estávamos definindo o que expor e o título 
da exposição. Era a primeira vez que moradores 
e parceiros do Ponto de Memória produziriam 
uma exposição, e isso foi aprendido na prática, 
colocando a mão na massa. Essa atividade foi 
uma verdadeira oficina prática de como montar 
uma exposição. Quando descobrimos que já era 
novembro e só tínhamos resolvido o nome da ex-
posição, decidimos que no mesmo mês faríamos 
um “Café com Memória” e não uma exposição 
— muita coisa ainda havia para ser amadurecida 
e aprendida. Realizamos o “Café com Memória”, 
onde dois moradores antigos falaram sobre suas 
histórias, e o que predominou na fala deles foi 
a conquista pelo espaço, água e luz. Confirma-
mos, assim, que era isso mesmo que deveria ser 
retratado. Uma questão foi determinante para 
que adiássemos a exposição: quando decidimos 
como seria importante que os suportes da expo-
sição fossem retirados do lixão, sendo reciclados 
e reaproveitados. O tempo gasto para conceber, 
desenvolver, executar e inaugurar a exposição foi 
de agosto de 2010 a maio de 2011. Decidido o 
recorte que faríamos na história, o tema, o nome 
da exposição e que aproveitaríamos materiais e 
objetos do lixão, partimos para o trabalho.
Ficou decidido que teríamos duas reuniões se-
manais entre o Ponto de Memória e a equipe 
do Ibram — uma reunião seria no Ibram e outra 
no Ponto de Memória. Dessa forma, ficamos co-
nhecendo o Ibram e o Ibram ficou conhecendo 
o Ponto de Memória, foram descobertas afinida-
des e foram criadas identidades. As reuniões no 
Ibram eram de discussões, concepções e elabo-
rações. No Ponto de Memória eram reuniões de 
trabalho, ou seja, oficinas práticas. 
Com a equipe do Ibram fomos até o lixão ver 
a possibilidade de recolher objetos, mas perce-
bemos que no próprio lixão seria inviável. En-
tão, fomos até o Grupo Sonho de Liberdade, o 
qual trabalha com egressos do sistema prisio-
nal e possui muitos materiais, objetos e móveis 
que foram retirados do lixão — um vasto mate-
rial em seu terreno. Eles cederam objetos que 
foram escolhidos pela equipe do Ibram e do 
Ponto de Memória, os quais passaram a ser os 
suportes da exposição. O suporte onde ficou 
o texto de apresentação da exposição, um su-
porte onde foram expostas fotos do cotidiano 
da Estrutural, um suporte onde colocamos um 
poema improvisado sobre a Estrutural e seus 
sons. O tambor que simboliza a luta pela água 
foi comprado a dez reais de um carroceiro que 
passava na rua. As reuniões no Ponto de Me-
mória foram assim: coleta de objetos no Sonho 
de Liberdade, limpeza, lixamento e pintura des-
ses objetos, pintura das paredes da casa, con-
serto da parte elétrica da casa, pintura do piso, 
escolha das fotos que comporiam os painéis, 
busca de pneus que simbolizam o fechamen-
to da pista Estrutural no lixão. Um dia paramos 
diante do poste de luz que fica dentro do gal-
pão do Ponto de Memória e nos perguntamos: 
o que fazer? Aí veio a ideia do Coracy de que 
esse poste simboliza a conquista da luz, o pos-
te virou um objeto museal, foi pintado e ficou 
ao lado de duas latas pintadas da mesma cor, 
vermelha, com velas em cima das latas. Aí es-
tava representada a falta de luz, com as velas, 
e a conquista da luz, com o poste. A Simone 
Kimura, do Ibram, desenhou a exposição de-
pois que ela foi concebida em nossas cabeças. 
Foi muito suor e muito trabalho até o dia 21 de 
maio. Depois de muitas reuniões, de conversas 
e de tarefas, finalmente a exposição ficou pron-
ta. Foi um grande aprendizado de concepção e 
montagem de uma exposição. 
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Metodologia
Toda atividade está baseada no diálogo entre os 
participantes. Reuniões para discussão da expo-
sição. Delimitação do tema a ser trabalhado na 
exposição. Conhecimento da história local. Entre-
vista com moradores. Participação coletiva. Apoio 
do Ibram. Providências de materiais necessários. 
Escolha e seleção de objetos que serviriam de 
suportes na exposição. Recursos da primeira par-
cela do Programa Pontos de Memória.
2ª exposição — “Movimentos da Estrutural – A 
Mulher e a Cidade”
Foram realizadas reuniões para se decidir qual 
seria o recorte do tema da exposição. A exposi-
ção “Movimentos da Estrutural – A Mulher e a 
Cidade” é resultado de atividades realizadas no 
Pontos de Memória, como aconteceu com muito 
sucesso o curso “Promotoras Legais Populares”, 
em parceria com o Movimento de Educação e 
Abertura da exposição “Movimentos da 
Estrutural: Luta, resistência e conflito”.
Fachada da Casa dos 
Movimentos
Oficina de Grafite
Cultura da Estrutural, Marcha Mundial de Mulhe-
res e Universidade Católica. O Ponto de Memó-
ria é um espaço frequentado mais por mulheres. 
Além disso, a questão da mulher na Estrutural 
é muito séria e problemática; então, resolvemos 
que a 2ª exposição seria sobre as mulheres. 
Por meio da professora Luiza Monica de Assis 
da Silva da Universidade Católica, fomos colo-
cados em contato com a professora Bernadete 
Braziliense, que trabalha com seus alunos no 
Grupo Captura, e esse grupo fotografou as mu-
lheres. As fotos foram tiradas durante um mês, 
nos quatro finais de semana: passávamos as 
tardes de domingo com as mulheres e o grupo 
Captura. A professora Bernadete trouxe equi-
pes de maquiagem e fotógrafos e o resultado 
foi muito bom. Nosso objetivo era retratar no 
mínimo cinquenta mulheres, mas em virtude 
de problemas técnicos foram retratadas vinte e 
duas mulheres, cada uma com duas fotos. As 
fotos selecionadas seriam de mulheres produ-
zidas, maquiadas, seriam fotos especiais, fotos 
que muitas delas nunca haviam tirado. Foram 
convidadas mulheres que são antigas na cida-
de, que fazem parte das atividades do Ponto de 
Memória, vizinhas ao Ponto de Memória, mu-
lheres jovens, idosas, adultas. A professora Sil-
mara Kuster, da Universidade de Brasília, do cur-
so de Museologia, doou as molduras e, com as 
alunas, a professora Débora Santos e o Ponto 
de Memória, montou as fotos nas molduras. As 
mulheres do Grupo Marias Costureiras confec-
cionaram uma colcha de retalhos onde foram 
expostas fotos do processo de preparação da 
exposição e dos bastidores, na sala íntima que 
também expõe roupas, sapatos, ferramentas de 
trabalho e pufes feitos de pneus por Terezinha 
Santana e Vicente de Paula Sousa. Essa expo-
sição contou com a ajuda de pessoas do Ibram, 
mas a participação já não foi como da 1ª exposi-
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ção, na qual o Ibram fez parte organicamente da 
equipe de concepção, desenvolvimento e mon-
tagem. Dessa vez, os tecnicos ajudaram nas de-
cisões determinantes de concepções de cores 
e de arranjos das fotos, mas não foi de forma 
sistemática. O convite ao Ibram foi informal e a 
ajuda foi mais voluntária do que institucional. 
Percebemos que estávamos mais preparados 
e foi muito mais fácil. Essa exposição recebeu 
apoio financeiro do projeto UnB 50 anos, que 
financiou a impressão das fotos, o materialde 
divulgação, folder, cartazes e o lanche no dia da 
abertura da exposição. A abertura da exposição 
contou com a participação do professor Mario 
Chagas, que falou sobre extensão universitária e 
a Museologia Social.
Metodologia
Reuniões para decidir o tema. Participação das 
mulheres que já frequentam atividades no Ponto 
de Memória. Participação das instituições parcei-
ras Universidade Católica, Universidade de Brasília e 
Ibram. Participação de alunos extensionistas. Mon-
tagem da exposição com a participação de todos.
Impacto das Exposições
O impacto que a 1ª exposição, “Movimentos 
da Estrutural: Luta, Resistência e Conquistas” 
causou foi para dentro da Estrutural. Os mora-
dores e a administração local perceberam que 
a proposta do Ponto de Memória era séria e 
que não vamos desistir. Os mais velhos se vi-
ram reconhecidos nas fotos, viram que a his-
tória começava a ser contada, os mais jovens 
Estrutural
passaram a conhecer como a cidade foi forma-
da, porque ela é do jeito que é hoje, qual a im-
portância da luta dos pais e avós. Para os mais 
jovens houve o resgate da história e origem do 
lugar que habitam hoje.
Para fora da Estrutural houve o reconheci-
mento do secretário de Cultura do DF que foi 
ao lançamento e gostou muito, o que proporcio-
nou uma parceria e uma ajuda na negociação 
com a administração local para a obtenção do 
espaço do Ponto de Memória que infelizmente 
até hoje não foi conseguido. Houve uma grande 
divulgação por parte da mídia. A assessoria de 
Comunicação do Ibram contribuiu para pautar 
junto à mídia local — todo o DF ficou saben-
do que existe a luta do Ponto de Memória da 
Estrutural. A exposição também foi exposta na 
Biblioteca Central Universidade de Brasília por 
ocasião da semana de extensão, tendo 499 visi-
tantes. Analisamos que a exposição valorizou a 
luta dos moradores e mostrou a Estrutural que 
não é vista pela mídia. Para a Coordenação do 
Ponto de Memória, foi um reforço para animar 
todos na luta pela continuidade do trabalho com 
o Ponto de Memória.
A 2ª exposição — “Movimentos da Estrutural: A 
Mulher e a Cidade” — cumpriu seu objetivo jun-
to às mulheres que foram fotografadas e fizeram 
parte da exposição. Elas se sentiram valorizadas, 
muitas disseram que nunca tiveram fotos daquela 
forma, suas famílias foram na abertura da expo-
sição e também se sentiram valorizadas e reco-
nhecidas. As mulheres que foram convidadas a 
participar das fotografias, mas que não consegui-
ram participar, se arrependeram e gostaram muito 
do que viram. Essa exposição abre espaço para 
crescer a mobilização em torno das mulheres e 
para aumentar o debate da problemática das mu-
lheres, pode ajudar na luta por suas reivindica-
ções (como creche e o fim da violência) e pode 
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contribuir para recuperar a história das mulheres 
trabalhadoras e moradoras da periferia, como a 
Estrutural.
O Vídeo Ponto de Memória e a Estrutural 
Foi contratado um grupo de profissionais que 
já desenvolvia um trabalho de militância no Cole-
tivo da Cidade, que faz parte da coordenação do 
Ponto de Memória e que já possui um entendi-
mento da luta. O material utilizado para compor 
o vídeo é tudo que já foi filmado das atividades 
do Ponto de Memória: o “Café com Memória”, 
as exposições, as rodas de memória, as histórias 
orais de moradores que foram produzidas a par-
tir do inventário participativo, as filmagens dos 
espaços da cidade e do povo. A Coordenação 
do Ponto de Memória se reuniu e decidiu que 
tipo de mensagem queríamos apresentar com 
o vídeo. Pretendemos que o vídeo concorra ao 
Festival Internacional de Cinema e Direitos Hu-
manos do Chile. Já assistimos a uma primeira 
versão, que está sendo finalizada e já passou por 
crítica. Esse vídeo será lançado em um evento, 
para o qual serão convidados todos os parceiros 
do Ponto de Memória e a comunidade.
Outras atividades que surgiram a partir da ini-
ciativa do Ponto de Memória da Estrutural:
a) Editora Abadia Catadora — Editora que edita 
livros com capas confeccionadas a partir da reci-
clagem de caixas de papelão. Pretende envolver 
os catadores na venda das caixas de papelão. Foi 
criada a partir de uma oficina com a editora que 
funciona nos mesmos moldes, Eloisa Cartonera, 
que aconteceu em parceria com a Embaixada da 
Argentina, a OEI e o Ibram.
b) Banco Estrutural — Banco comunitário que 
trabalha com uma moeda social própria da Estru-
tural, a moeda Conquista, que está sendo estrutu-
rado. A entidade gestora do banco é o Movimento 
de Educação e Cultura da Estrutural (Mece) que 
faz parte da Coordenação do Ponto de Memória. 
O Banco Comunitário é uma estratégia da econo-
mia solidária de mobilização social, trabalha com 
empréstimos para a população e reúne a comu-
nidade para debater os problemas.
Desdobramentos:
Hoje, o Ponto de Memória está consolidado 
dentro da Estrutural, e já despertou em muitos 
moradores a vontade de contar e escrever sua 
história. Foram muitas as ações realizadas, tais 
como: oficinas de grafite com o artista da Estru-
tural Tiago de Morais; as apresentações de tea-
tro de bonecos e a oficina de teatro de bonecos 
com a artista Elizete Gomes; o curso de promo-
toras legais populares, que acabou de ganhar 
um prêmio de direitos humanos da Anamatra 
do Estado de São Paulo; o Sarau e os baza-
res do Mece que contribuem para sustentar o 
espaço onde funciona o Ponto de Memória; a 
oficina de ilustração com o jornalista Fernan-
do Lopes, que contribuiu muito com o trabalho 
da Editora Abadia Catadora; a oficina de escrita 
criativa com a professora e jornalista Madalena 
Rodrigues; o projeto de extensão do curso de 
Museologia da UnB com as professoras Silmara 
Kuster e Débora Santos; o Projeto Teia do Co-
nhecimento da Universidade Católica, com os 
professores Luis, Lunde, Basso, Luiza e Roberto 
e com os alunos de Filosofia, Comunicação e 
Medicina, fazendo debates de formação política 
e trabalhando a saúde preventiva com os mora-
dores; as aulas de Comunicação com diversas 
oficinas de Comunicação; e o Grupo Captura 
com a professora Bernadete Braziliense que 
viabilizou a exposição “A Mulher e a Cidade”. 
A Editora Abadia Catadora trabalha, por meio 
de oficina criativa ministrada pela professora e 
jornalista Madalena Rodrigues, o despertar nos 
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participantes da vontade de escrever e de ler, a 
crença de que todos podem ser escritores e que 
também podem, por meio do desenvolvimento 
e de técnicas, contar suas histórias de vida com 
o olhar próprio dos moradores e até mesmo 
histórias de ficção. A editora pretende lançar 
um livro com os contos saídos dessa oficina — 
e, além de escrever, pode também publicar. O 
Grupo Microrrevoluções tem ajudado a editora 
com as impressões dos livros. A editora lançou 
um jovem escritor de 19 anos, da Estrutural, que 
já vendeu mais de cem exemplares. O Banco 
Comunitário tem mobilizado outra parcela da 
população. Primeiro a comunidade quer o em-
préstimo, mas aos poucos vão percebendo que 
é uma proposta a ser construída e que todos 
são donos do banco, e que podem começar a 
discutir a economia local, os salários, podem 
lutar para que a riqueza da Estrutural circule 
dentro da cidade, para que os grupos de eco-
nomia solidária se fortaleçam e cresçam, para 
o desenvolvimento do comércio local com os 
pequenos comerciantes mais fortalecidos.
Todas essas propostas podem parecer diferen-
ciadas — um museu é diferente de um banco, 
que é diferente de uma editora —, mas a essên-
cia é a mesma: a face da luta do povo, a face 
das estratégias de mobilização e de reconheci-
mento do povo, do poder do qual é detentor. 
Hoje reconhecemos sem dúvida que o Ponto de 
Memória foi o começo de tudo. A partir dele, tivemos 
a força de conseguir um espaço,mesmo que aluga-
do; a partir desse referencial, as ideias foram trocadas, 
as lutas foram travadas, os conflitos foram vividos e 
os projetos começaram a acontecer. Isso faz lembrar 
uma fala da professora Maria Luiza Angelim, que faz 
parte do Fórum de Educação de Jovens e Adultos e 
que contribuiu para a existência do Mece: “Acredite e 
marche que o mar vai se abrir, assim como se abriu 
para Moisés e seus seguidores no deserto”.
Visita de estudantes
Parceiros do Ponto de Memória da Estrutural
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Orga-
nização dos Estados Ibero-Americanos para a 
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), Univer-
sidade de Brasília, Universidade Católica, Círculo 
Operário do Cruzeiro, Instituto Agostin Castejon, 
Embaixada da Argentina, Grupo Microrrevolu-
ções de funcionários do Itamaraty, Universidade 
de São Paulo (USP), Associação Ateliê de Ideias, 
Grupo Sonho de Liberdade da Estrutural, Fórum 
de Economia Solidária do DF e Entorno, Fórum 
de Educação de Jovens e Adultos.
Desafios
A continuidade das atividades é sem dúvida 
um grande desafio, a começar pela aquisição de 
um espaço físico próprio: continuidade do Ponto 
de Memória, do Banco Estrutural, da Editora Aba-
dia Catadora; no entanto, há o desafio de vencer 
os obstáculos que são muitos — financeiros, de 
convivência, de relacionamento, de resolver a so-
brevivência ao mesmo tempo que continuam 
os sonhos; vencer os conflitos que são imensos, 
conflitos dentro do Ponto de Memória e dentro 
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de cada projeto, conflitos na cidade, com pesso-
as que não acreditam que esses projetos vão dar 
certo e que tenham a ver com a vida dos morado-
res, com pessoas que são contra totalmente, que 
optaram por ser contra o povo, que não querem 
que os projetos construídos pelo povo deem certo, 
pois apostam que os únicos projetos que podem 
dar certo são os elaborados e executados pelos 
políticos. Porque os projetos que o povo constrói, e 
é dono, são libertadores, então a luta é muito gran-
de para manter esses projetos. O desafio maior é 
fazer o povo acreditar que são projetos dele, que 
não tem ninguém por trás, não tem um empre-
sário rico, não tem um político influente, não vão 
ter de pagar a fatura no final, a fatura do voto, da 
submissão, do ser usado para outros interesses.
Os desafios vão desde os conflitos familiares, 
de grupos, da comunidade, até superação políti-
ca, econômica, andar com as próprias pernas ou, 
falando mais modernamente, ser autossustentável, 
não ficar refém dos partidos e movimentos institu-
cionalizados ou dos parceiros governamentais.
Museu de Favela (MUF)
(Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, Rio de Janeiro/RJ)
O Museu de Favela (MUF) foi fundado em 
2008 por moradores do Pavão, Pavãozinho 
e Cantagalo, na zona sul do Rio de Janeiro, 
com o propósito de transformar o morro em 
um monumento turístico de valorização da 
memória cultural coletiva. Tem como mis-
são valorizar a diversidade da cultura local, 
expressa no samba, capoeira, dança de sa-
lão, forró, rap, grafite, artes plásticas, artesa-
nato, arte popular e também por meio dos 
bares, pensões e construções que mantêm 
a identidade típica de favela.
A céu aberto, é um museu de território 
que reúne cerca de 20 mil moradores e 
desenvole diversas frentes de ação, tais 
como entrevistas para registro de histórias 
orais, pesquisas, oficinas, bazares. Rea-
liza inventários de memórias e de mani-
festações culturais em várias linguagens, 
sempre com o intuito de compartilhar os 
conteúdos inventariados de modo instan-
tâneo, com instalações de obras de arte, 
performances culturais ao vivo e ações co-
munitárias voltadas para a geração de tra-
balho e renda. 
Outro foco de atuação é o registro da his-
tória de formação do Pavão, Pavãozinho e 
Cantagalo, do início do século passado até 
os dias atuais, com reflexões sobre sua re-
lação com os bairros do entorno — Ipane-
ma, Copacabana e Lagoa. Estuda o território 
do museu e seus dez subterritórios como 
pontos de referência para a comunidade, 
levantando, também, os troncos familiares 
que compõem a árvore genealógica da lo-
calidade, tais como as primeiras famílias de 
migrantes, conhecidas como os Carvalhos, 
os Pintos, os Sobreiras e os Schuengs. 
Ponto dinâmico de congregação de inte-
resses da comunidade, o MUF fortalece o 
espírito de coletividade e mostra em diver-
sas ações a importância de suas memórias 
para a história das favelas e das cidades.
O jeito MUF de musealizar: exposições tempo-
rárias e seus acervos vivos
O Museu de Favela compreende os eventos 
que realiza como exposições temporárias. Com-
preende também que, para além de uma festa, 
uma celebração ou mesmo uma apresentação, 
estas são oportunidades para exercitar o poten-
cial de musealização de seus acervos andan-
tes, falantes e emocionantes! Pretende, assim, 
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por meio de ações integradoras e motivadoras, 
experimentar a musealização do seu território, 
partindo das manifestações vivas e criativas que 
o compõem. A ênfase está exatamente no pro-
cesso de fomentar a troca e a relação entre os 
saberes e fazeres do morro, permitindo que as 
gerações se conectem e que o diálogo, o co-
nhecimento e o reconhecimento do território 
possam significar desenvolvimento local efetivo 
e duradouro pautado no fortalecimento das prá-
ticas culturais.
Os caminhos percorridos entre as vielas, os 
becos, as lajes e os campos revelam a riqueza
de nuanças do território. Todos os modos de 
vida, as estratégias de sobrevivência, as pos-
sibilidades de integração com o ambiente de 
forma comunitária, sem barreiras entre o vivido 
e o observado, nos garantem elementos para 
a abordagem conceitual das exposições. Parti-
mos da identificação das memórias, das lutas, 
das conquistas e dos desafios para dar corpo, 
forma e tema para as mostras. A Museogra-
fia dialoga com a interface provocativa entre 
o que é, o que pode vir a ser e o que nunca 
mais será numa clara referência temporal. Ex-
perimentamos a musealização dos saberes e 
fazeres, das práticas e das vivências, preser-
vando a espontaneidade e a diversidade de 
sentimentos, movimentos e expressões. Con-
servamos a dinâmica do encontro e as possi-
bilidades de conexão entre acervos que fazem 
Casas-Tela
parte do morro e dos acervos que interagem 
com o morro, compondo, assim, uma experi-
ência museológica pautada na relação entre 
os sujeitos. 
O MUF escolheu como produto de difusão 
do projeto Pontos de Memória a “exposição 
de lançamento do livro Casas-Tela”. A seguir 
falaremos dessa experiência significativa para 
o museu e para os moradores do território. 
Caminhos de vida no Museu de Favela
A devolutiva dos processos empreendi-
dos pelo museu para a comunidade é uma 
das premissas do MUF. Devolver informação, 
promover diálogo e construção colaborativa 
fazem parte do repertório de responsabilida-
des do museu. Assim, após longa jornada de 
construção do livro Casas-Tela, os moradores 
puderam receber o livro em cerimônia à altu-
ra de suas expectativas. O registro detalhado 
do circuito museal, a partir das pinturas das 
Casa Tela
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Livro Circuito
Casas-Tela
Casas-Tela
Além de ter envolvido 22 artistas grafiteiros do 
cenário mundial na ação...
Isso é o que eu chamo de empreendedoris-
mo artístico! 
Esbanjando talento, o grafiteiro ACME se de-
dicou dias a fio, até altas horas da madrugada 
para dar conta de tanto trabalho e mostrar a 
“arte final” na tarde de autógrafos.
Todo esse processo foi filmado, por meio de 
uma articulação do MUF em parceria com o 
grupo de Psicologia da PUC-RIO, que tem sido 
grande aliado nas ações de memória. 
O entrosamento perfeito de ACME com o ci-
neasta Daniel Paes da PUC-RIO resultou nocur-
ta-metragem que recebeu o mesmo nome da 
exposição (Arte sobre Escombros), o qual foi exi-
bido no CineMuf Caixa D’água na oportunidade.
O evento reuniu aproximadamente 250 convi-
dados e foi, para o Museu de Favela, um termô-
metro para a repetição de outros no mesmo top! 
Outro fator que contribuiu para o sucesso do 
encontro foram os saberes e fazeres de nossas 
mestras de ofício, todas moradoras das três co-
munidades: Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. 
casas, foi conferido por moradores que admi-
ravam suas histórias estampadas em páginas 
coloridas e estimulantes. A alegria não estava 
apenas nas páginas vibrantes, mas também 
nos olhos brilhantes de quem as observava. O 
texto saltava do papel e se transformava como 
mágica em palavras e lembranças comparti-
lhadas. As mesmas lembranças que agora aju-
dam a costurar o relato da autora que registra-
mos a seguir:
No dia 09 de dezembro de 2012, final-
mente foi lançado o livro Circuito Casas-Tela, 
caminho de vida no Museu de Favela, pro-
duto de difusão patrocinado pelo Programa 
Ponto de Memória. 
O local escolhido foi o Terraço Cultural do 
MUF que tem uma vista privilegiada para a La-
goa Rodrigo de Freitas, Cristo Redentor, Pedra 
da Gávea, Morro Dois Irmãos, Vidigal, praias do 
Leblon, Ipanema e Arpoador, de lá também po-
demos avistar a beleza da Mata Atlântica. 
Nossa Laje aberta é cercada pela ar-
quitetura das casas das comunidades de 
Cantagalo, Pavão e Pavãozinho e quando 
olhamos para baixo nos deparamos com os 
prédios luxuosos da elite dos bairros nobres 
da zona sul do Rio.
Enfim, um tremendo visual! Para todos os 
gostos e os mais variados interesses.
Como se não bastasse, foi criada uma ex-
posição denominada ‘Arte sobre Escombros’, 
de encher os olhos da gente de tanta beleza! 
É, temos de reconhecer que os meninos esta-
vam inspirados!” O grafiteiro e artista plástico 
Carlos Esquivel (ACME) idealizou a exposição 
denominada “Arte sobre Escombros”, formada 
por esculturas criadas a partir de escombros 
das obras do Programa de Aceleração do Cres-
cimento (PAC), transformando o lixo em arte e 
revertendo tudo em dinheiro!
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Elas foram responsáveis pelas delícias culiná-
rias oferecidas para os convidados: Regina (Te-
teca), pratos de bobó de camarão; Lourdes, de-
gustações de baião de dois; Neuza, degustações 
de caldo de aipim com linguiça; Helena, degus-
tações de caldo de mocotó e copos de doce de 
abóbora com coco; Eunice, degustações de fei-
joada e de canjica branca; Ângela fez tapiocas; e 
Selma fez “sacolés” de todos os sabores.
À noite, os autores Acme e Rita começaram 
a autografar aproximadamente 86 livros — to-
dos queriam receber esse carinho e a recípro-
ca foi verdadeira.
A valorização do saber local, geração de 
renda, memórias culinárias, individuais e cole-
tivas, importância do empreendedorismo po-
pular formal, preocupações ambientais com o 
território museal, visitações a nossa galeria a 
céu aberto, ICOM, Semana Nacional de Mu-
seus, ufa!
Desafios! Conquistas! Mobilização! Conscien-
tização! Registros! Preservação! Revitalização! 
Restauração! Investimentos financeiro, social, 
cultural, econômico! Sustentabilidade!
Estamos na busca incessante para a concre-
tização de todos os nossos planos, são tantas 
obrigações sociais! Contudo, o que volta de con-
creto é o reconhecimento do morador e daque-
les que se identificam com nossas propostas.
No mais, estamos aqui na Base, no morro, pa-
rando nos becos, mediando o tempo inteiro com o 
morador, um entra e sai de gente que a comunida-
de chega a pensar que estamos “nadando”! Quan-
do na verdade estamos “remando” contra a maré, 
ondas gigantes de expectativas de morador, teses 
e mais teses de mestrado, doutorado, tudo “ado”!
Assim, importa saber que esse movimen-
to permitiu ao Museu de Favela se reinventar, 
a cada novo desafio e a cada nova exposição 
nos refazemos. A festa, a manifestação, a reivin-
dicação, a celebração e a criação fazem parte 
do processo, algo para além de uma tentativa 
de difusão, como sugerido pelo termo “produto 
de difusão”, presente na metodologia de traba-
lho proposta pelo Ibram. Temos a consciência 
de que extrapolamos nossos limites e alçamos 
voos mais altos que permitem ao MUF a cons-
trução de conhecimentos e de experimentações 
a favor de uma Museologia efetivamente social. 
A exposição temporária e os demais processos 
empreendidos pelo museu fomentam o desper-
tar de almas e sonhos. O Museu de Favela cele-
bra a vida e sua força, preserva a memória que 
dá sentido à vida e que faz dela o retrato daquilo 
que queremos ser.
 Museu de Periferia (MUPE)
(Sítio Cercado, Curitiba/PR)
O Museu de Periferia (MUPE) foi inspira-
do nas experiências do Museu da Maré e no 
Museu de Favela do Rio de Janeiro. A inicia-
tiva surgiu com intuito de fortalecer a cultura 
da periferia, valorizando artistas e manifesta-
ções culturais da região e reconhecendo e 
divulgando o patrimônio cultural local. 
O MUPE desenvolve um projeto de pesquisa 
da memória viva do bairro, por meio do
registro dos relatos de familiares dos gran-
des proprietários de terra do antigo Sítio 
Cercado, dos moradores protagonistas das 
primeiras invasões, loteamentos e vilas do 
bairro, de pessoas envolvidas nos conflitos 
pela posse da terra e dos estudantes do bairro. 
As memórias e histórias de luta perpassam 
desde a atuação dos desbravadores e proprie-
tários rurais do início do século XX à formação 
das 13 vilas que compõem atualmente o Sítio 
Cercado e os modos de vida e questões viven-
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ciadas pela população cotidianamente, como 
o grande adensamento habitacional, o trânsito 
intenso e a violência urbana. 
A iniciativa também desenvolve ações jun-
to às escolas da região, como, por exemplo, 
atividades lúdicas com o intuito de registrar e 
divulgar as características do bairro presentes 
no imaginário dos estudantes. 
O Sítio Cercado fica na zona sul de Curitiba 
e concentra cerca de 150 mil habitantes.
Museu de Periferia: 
Memórias e Sonhos do Sítio Cercado
A exposição do Museu de Periferia foi o 
ponto alto do trabalho de uma equipe de-
dicada, motivada e com um ideal: mostrar a 
memória de lutas e conquistas da população 
que veio habitar a região sul de Curitiba, no 
Paraná, mais especificamente num território 
chamado Sítio Cercado.
Como nenhum dos 12 membros do Conse-
lho Gestor do MUPE tinha qualificação em 
Ciências Sociais, Museologia e muito menos 
em Expografia, a esperança de fazer um bom 
trabalho se fixava na vinda de consultores 
e museólogos do Instituto Brasileiro de Mu-
seus (Ibram).
A oficina de Expografia, ministrada pelo con-
sultor Marcelo Vieira, cenógrafo e cofundador do 
Museu da Maré, e pela consultora Lavínia San-
tos foi dividida em dois encontros. O primeiro 
ocorreu no início de novembro de 2011, onde foi 
construída a maquete da exposição; o outro en-
contro aconteceu um mês depois, onde foram 
montados os painéis da exposição “Memórias e 
Sonhos do Sítio Cercado”.
Outras oficinas de qualificação também con-
tribuíram para a formação da equipe. O coorde-
nador Marcelo Rocha comenta a importância do 
conteúdo de uma das oficinas da seguinte forma:
Nas minhas anotações, feitas durante a 
oficina de Inventário Participativo, estavam 
algumas questões que nortearam a constru-
ção conceitual de como seria a exposição: 
qual seria o recorte temático? Qual o recorte 
temporal? Como se daria a perspectiva po-
lítica da exposição? Que materiais fariam a 
composição do acervo? Como seria a forma 
de expor esse acervo?O desenvolvimento do bairro a partir da luta por 
moradia foi o tema que o Conselho Gestor esco-
lheu para a construção da exposição. E o local 
encontrado para abrigá-la foi a primeira associa-
ção do Xapinhal: a Associação Nossa Senhora da 
Luta, localizada na região central do Sítio Cercado. 
O auditório da associação tinha condições es-
truturais perfeitas para receber a exposição, possuía 
área compatível, com cerca de 80 metros quadra-
dos, e necessitava apenas de reformas mínimas 
nas paredes, mas o problema maior era o pátio de 
terra, o qual foi pavimentado com saibro e concreto.
Foram dois meses de obras civis, hidráulicas 
e elétricas, onde cada um exerceu diversas fun-
ções e atividades. O coordenador financeiro Pe-
dro Divino, gerente de loja, atuou como pedreiro. 
Marcelo Rocha, técnico em Informática, atuou 
como servente e eletricista. Palmira de Oliveira, 
técnica de Enfermagem, realizou pintura e lim-
peza. Paulo Ferreira, soldador, fez serviços de 
marcenaria e montagens. Os membros da as-
sociação Horácio Antonio Santos, Antônio Pi-
nheiro de Jesus Filho e Ademir Godoi também 
colaboraram na construção e reforma do imóvel.
Os conselheiros José Aparecido Paiva e Palmira 
de Oliveira trabalharam intensamente no proces-
so de pesquisa e descobriram personagens que 
puderam relatar com bastante clareza a origem 
do bairro. Um deles é o Padre Bertrant, que es-
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Exposição "Memória
e Sonhos do Sítio 
Cercado". 
creveu uma carta sobre a expansão da igreja nas 
comunidades da região e, em paralelo, o padre 
descreve sobre a família Cruz, seus descenden-
tes, as invasões e loteamentos da região. Outra 
personagem fundamental foi a Dona Maria de 
Deus (Dona Deuzita); com 81 anos. Ela conce-
deu uma entrevista em sua própria residência — 
uma verdadeira casa-museu, mostrou fotografias 
e objetos que remontam a história dos antigos 
proprietários da Fazenda Cercado. Paiva e Palmira 
ainda entrevistaram o Sr. Jorge Gonçalves, filho 
do capataz de Isaac Ferreira da Cruz. 
Portanto, o ponto de partida ocorreu com os 
fragmentos das histórias contadas pelos des-
cendentes do Sr. Laurindo Ferreira da Cruz — o 
primeiro grande proprietário da região, pai de Isa-
ac Ferreira da Cruz e avô de dona Deuzita. 
Os conselheiros Adenival Alves Gomes, Geral-
do Batista de Souza e Manoel Pereira da Cruz 
conseguiram, em suas comunidades, relatos e 
fotos com a realização de diversos encontros 
comunitários. O tema usado para atrair a partici-
pação foi “O Xapinhal é uma história e você faz 
parte dela”. Nessa ação foram conseguidas fo-
tos da década de 1970, dos primeiros conjuntos 
habitacionais do bairro, e da década de 1980, da 
principal invasão, a ocupação Xapinhal. 
Na entrada do museu há um “banner” com in-
formações do Programa Pontos de Memória e 
da exposição “Memórias e Sonhos do Sítio Cer-
cado”, dividida em três momentos: Os Pioneiros 
— painel verde e painel cinza; A Luta — painéis 
vermelhos; A Atualidade — painel azul.
No primeiro painel estão as imagens do acer-
vo familiar de Dona Deuzita: do seu casamento 
com Santinor, de seus pais (Isaac e Magdale-
na Claudino) e dos avós paternos (Laurindo e 
Maria Pereira); da sua infância e de seus irmãos 
(Isaíde e Eurides); do cotidiano na fazenda, os 
pomares, a criação e o cultivo da terra. Ainda 
nesse painel está um mapa da Fazenda Cerca-
do, datado de 1932, com a divisão da fazenda e 
as partes correspondentes dos herdeiros Isaac, 
Cesinando e Julia.
Outro painel, na cor cinza, representa o longo 
período de surgimento das primeiras vilas, entre 
as décadas de 1950 e 1990, e que antecede a 
fase de invasões. Relatos e fotos de morado-
res antigos foram obtidos como resultado dos 
encontros de memória, organizados nos quatro 
núcleos de pesquisa do Museu de Periferia. Com 
essa ação, além da pesquisa, os participantes 
puderam transmitir sua história de vida para as 
novas gerações, conforme entrevista da conse-
lheira Arlinda:
Veja bem se seu pai tem uma casa hoje, 
pergunte o que é que ele sofreu pra chegar 
a esse ponto, eu sempre faço isso com as 
crianças da catequese e as crianças das es-
colas. Pra eles parar, pisar no chão, e ver, tudo 
é com dificuldade que se consegue as coisas. 
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Em 1988 ocorreu a invasão do Xapinhal, apa-
rentemente uma invasão como qualquer outra: 
barracas de lona preta, cordas demarcadoras 
dos terrenos e muita gente com esperança. Em 
poucos dias, a invasão tomou proporções imen-
sas, eclodia a grande ocupação do Xapinhal, 
chegando a ter mais de três mil famílias, organi-
zadas em oito grupos.
Os dois painéis em cor vermelha narram os movi-
mentos por moradia, os quais uniram associações 
dos bairros Xaxim, Pinheirinho, Alto Boqueirão e 
moradores das vilas do Sítio Cercado. As imagens 
e objetos expostos retratam as pessoas no acam-
pamento, em suas barracas construídas com lona e 
pedaços de madeira. Após o início da regularização 
pela companhia de habitação, os terrenos foram 
medidos, as quadras e ruas foram abertas. Nessa 
época, a prefeitura fez a doação de madeira; assim, 
foram construídas muitas casas do tipo “meia-
-água” — casa com telhado de uma caída —; fotos 
mostram os mutirões para construção, reconstru-
ção e deslocamento das casas nos terrenos.
As imagens retratam, além da ocupação do 
Xapinhal, também as moradias 23 de Agosto, de 
1991, e a realocação do Sambaqui, esta última já 
no ano de 2004, e que teve grande mobilização 
social, frente ao descaso do poder público.
O depoimento de Daniel, no primeiro Café 
da Memória, permite uma percepção do dra-
ma das famílias:
Abertura da 
exposição 
Memórias e 
Sonhos do 
Sítio Cercado 
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A casa não tava nem terminada, tive que 
pegar, a luz foi ‘gato’, foi no miau mesmo. 
A água não tinha, pois a Sanepar ia demo-
rar mais um mês, um mês e pouco para 
instalar, eu peguei água emprestada pra 
mim poder morar.
O terceiro momento está sintetizado no 
painel azul, que revela a atualidade do Sí-
tio Cercado. A incursão fotográfica feita por 
José Paiva e Frederico pelas ruas e avenidas 
do bairro reuniram um grande acervo de ima-
gens: do comércio local, das praças, creches, 
escolas, igrejas e outros aparelhos sociais. 
Muito desse desenvolvimento acelerado foi 
consequência das ocupações, o que forçou 
o poder público a implantar um grande lote-
amento chamado Bairro Novo, fato que tor-
nou o Sítio Cercado um lugar de diversidade 
e oportunidades. Temos a certeza de que o 
Museu de Periferia contribuiu para o Progra-
ma Pontos de Memória, mas também se be-
neficiou dele, pois a memória social já existia, 
o que faltava eram o estímulo e certa dose 
de empreendedorismo social para contá-la. 
Esse desejo de memória estava adormeci-
do em nossos corações, latente em nossas 
mentes e em nossos arquivos domésticos. O 
programa foi fundamental para a realização 
desse projeto. 
O maior desafio do MUPE é o de manter 
o museu com atividades permanentes e ter 
uma equipe para receber os visitantes. Exis-
te o desejo de estabelecer parcerias para 
desenvolver projetos com outras entidades, 
principalmente na área da educação.
Com tantas deficiências, ainda assim pode-
mos nos orgulhar de ter um museu para cuidar, 
transmitir nossos valores, nossas histórias e nos-
sas memórias. E, acima de tudo — em rima —, 
garantir cidadania à população da periferia.
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Etapa 5
Teias da Memória
As Teias da Memória são os encontros em âm-
bito nacional dos Pontos de Memória e iniciativas 
de memória e Museologia Social. É um espaço de 
intercâmbio, reflexão, debate e construção coleti-
va de proposição e agendas estratégicas para ofortalecimento dos projetos de Museologia Social. 
A Teia pode ser considerada uma extensão 
presencial das experiências, trocas e metodolo-
gias que ocorrem em rede e é, sobretudo, um 
espaço de fortalecimento do vínculo de traba-
lho e amizade entre os atores que atuam com 
a memória como ferramenta de luta, resistência 
e transformação social. A partir da quarta edi-
ção da Teia, a programação e a organização do 
encontro foram discutidas e protagonizadas por 
representantes de redes e Pontos de Memória, 
por meio de uma comissão.
Edições: a primeira foi realizada em Salvador/
BA, em dezembro de 2009; a segunda foi promo-
vida junto ao Encontro Nacional dos Pontos de 
Cultura “Teia da Cultura — Tambores Digitais, em 
março de 2010, em Fortaleza/CE; a terceira, no 
Museu da Maré, no Rio Janeiro, em dezembro de 
2010; e a quarta integrou o VI Fórum Nacional de 
Museus, em novembro de 2014, em Belém/PA.
Teias da Memória
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Etapa 6
O Ibram realizou, de 10 a 12 de novembro de 
2013, em Brasília, um encontro de avaliação 
participativa sobre a metodologia trabalhada 
pelo Programa Pontos de Memória junto às 
doze iniciativas pioneiras, por meio dos seus 
representantes: Sâmia Maria da Silva (Ponto 
de Memória de Terra Firme); Viviane Rodrigues 
(Museu Cultura Periférica); Adriano Almeida 
(Ponto de Memória do Grande Bom Jardim); 
Wilton Francisco da Silva (Museu Mangue do 
Coque); Roberto dos Santos (Ponto de Memó-
ria do Beiru); João Bispo Jr. e Livaldo Degaspéri 
(Ponto de Memória da Grande São Pedro); Ma-
ria Abadia Teixeira e Deuzani Noleto (Ponto de 
Memória da Estrutural); Leila Regina da Silva 
(Museu do Taquaril); Frederico Alves Pinheiro 
(Museu de Periferia - MUPE); Eduíno de Mat-
tos (Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro); 
Sidney Silva (Museu de Favela – MUF); Kleber 
Silva Jr (Museu Social da Brasilândia).
A avaliação foi mediada pela consultora 
Silvana Bastos e contou com a participação 
da equipe da Coordenação de Museologia 
Social e Educação do Departamento de Pro-
cessos Museais (Comuse/Depmus), com a 
presença de servidores de diversas áreas do 
Ibram e ainda com um pesquisador do Insti-
tuto de Economia e Pesquisa Aplicada (IPEA), 
Frederico Augusto Barbosa da Silva. O objetivo 
foi analisar a trajetória das experiências, reali-
zar autoavaliação e levantar elementos-chave 
para orientar a política de continuidade e ex-
pansão do Programa.
Quanto às expectativas sobre os resultados 
a serem alcançados nesse Encontro, os par-
ticipantes destacaram, entre outros aspectos: 
refletir e avaliar a experiência de implantação 
dos Pontos de Memória, ouvindo todos os en-
volvidos (Ibram; agentes comunitários); bus-
car o fortalecimento dos Pontos, mantendo-
-os independentes; garantir a continuidade do 
Programa Pontos de Memória, num novo ciclo 
de ações.
Avaliação de uma Metodologia em Museologia Social 
Sistematização: Silvana Bastos
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1960 1994 1998 2002 2003
Inauguração de 
Brasília — Lixão.
Ocupação Estrutural 
(catadores, em luta 
por moradia, reuni-
ram-se 
com o pessoal de 
Ceilândia).
Eleição de Cristóvão 
Buarque — grande ope-
ração para desocupação 
da Estrutural. Resultou 
em mortes (Operação 
Tornado).
Ocupação desordena-
da da Estrutural. 
Preocupação em cuidar 
da memória.
Deuzani começa a co-
ordenar a alfabetização 
solidária na Estrutural.
Vários grupos COC 
trabalhavam a questão de 
guardar a história. 
Ponto de Memória da Estrutural (Brasília/DF)
2005 2009 2010
MECE – Movimento Educação e Cultura da 
Estrutural. Nasceu para convidar as pessoas 
a frequentarem a escola e dar continuidade à 
alfabetização. Criam a "escola aberta, escola 
livre". 
Momento de mobilização comunitária (visita 
de casa em casa) para garantir participação 
nas audiências sobre educação. 
Integra o Fórum EJA. 
DF contabiliza 70 mil analfabetos
É lançado o Projeto Pontos de Memória. 
Audiência pública na Câmara Legisla-
tiva. 
Teia, aproximação com os outros Pon-
tos de Memória.
Café com Memória, construção do 
Conselho Gestor com 30 pessoas.
Participação em vários encontros: Forta-
leza, Rio de Janeiro e Salvador.
IV Fórum de Museus: passa 
a conhecer outras iniciativas 
e a professora de Museologia 
da UnB Silmara Kuster, que se 
tornou parceira. 
Parceria com a UnB.
Oficinas de formação.
Café com Memória, Conselhos, 
viagens.
2011 2012 2013
Inauguração da sede do Ponto de Memória e movimentos de cultura. 
1ª exposição. 
Realização de Museu Cortejo na Estrutural.
Teatro de bonecos com história da Estrutural: mais de 500 visitas na Estrutural.
Criação da editora popular.
Levantamento de 16 histórias orais; extensão com universidade.
Participação no edital do Prêmio Pontos de Memória, com a conquista da constru-
ção da biblioteca comunitária.
Aquisição de equipamentos para registro das experiências (câmera, computador e 
filmadora.)
2ª Exposição 
com o seminá-
rio “Mulher e a 
Cidade”.
Relatório final, 
lançamento do 
vídeo, visita de 
Hugues de Varine 
e participação no V 
Fórum de Museus 
em Petrópolis
1 - TRAJETóRIA DOS 12 PONTOS DE 
MEMóRIA
A primeira etapa de trabalho foi acerca da 
trajetória dos Pontos pioneiros. Apenas os re-
presentantes dos 12 Pontos foram divididos em 
três grupos, cada qual com 4 integrantes. No 
grupo, cada um elaborou uma linha do tempo 
sobre o seu Ponto de Memória de origem e 
depois compartilhou o resultado com os de-
mais integrantes, realizando uma análise con-
junta das principais conquistas e dificuldades 
encontradas, bem como das principais lições 
aprendidas. Em um segundo momento, um 
relator escolhido pelo grupo apresentou uma 
síntese do trabalho de todos para os demais 
grupos, em forma de “carrossel”. 
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Como conquistas, o Ponto de Memória da Estru-
tural destacou a aproximação com a comunidade 
por meio do Edital Prêmio Pontos de Memória, do 
qual participaram em 2011 e 2012, que possibilitou 
a aquisição de equipamentos para o registro da 
memória local. Apontaram a dificuldade da comu-
nidade em reconhecer o “valor da memória” local e 
também a manutenção de parcerias, como barrei-
ras que devem ser superadas. Como lição aprendi-
da, citou-se o conhecimento da história do Distrito 
Federal e o compartilhamento das experiências 
com outras comunidades.
2011 2013
1ª Exposição: “Brasilândia: Suas Vilas 
e Jardins”.
Exposição na Escola Estadual João 
Solimeo. 
2ª exposição na EE Luiza Salete.
Conselho Participativo Municipal (objetivo de levar a questão da cultura 
e da memória) / Projeto Pontos de Memória.
Grande ameaça pelo processo de despejo em virtude das 
obras do Rodoanel e Metrô.
A história se repete e as gerações que nasceram em Brasilândia não sabem disso.
Grandes empreiteiras, interesses de especulação imobiliária.
1946 2009 2010
O bairro tem esse nome em homenagem ao Sr. Bra-
sílio Simões. Com a construção das grandes avenidas 
em São Paulo, prefeitos expulsaram as pessoas e 
derrubaram suas moradias — esse processo levou à 
ocupação de Brasilândia.
Primeiros contatos com o projeto Pontos de Me-
mória, formação de um grupo de 20 lideranças 
comunitárias, aproximadamente. 
Participação na Primeira Teia em Salvador.
Realização das 
primeiras oficinas. 
Participação na 
Segunda Teia em 
Fortaleza.
Museu Social da Brasilândia(São Paulo/SP)
Os representantes do Ponto de Memória da Bra-
silândia apontaram a articulação de um grupo re-
presentativo para trabalhar no Ponto de Memória e 
a realização de duas exposições como suas maio-
res conquistas. Dentre as dificuldades, a falta de um 
espaço físico de referência e lidar com as divergên-
cias de ideias no Comitê Gestor, que culminou em 
sua dissolução. Como lições aprendidas destaca-
ram a experiência adquirida em administrar confli-
tos para chegar a um consenso com a comunidade 
e também a reativação do Ponto de Memória.
2009 2010
Inicia-se o Museu de Periferia, no Sítio Cercado, bairro 
localizado na região sul, com população de 120 mil 
habitantes. Otávio Camargo foi um dos idealizadores do 
projeto.
Professor Mário Chagas visitou o bairro. Essa visita cola-
borou para incentivar a criação do MUPE
Alguns moradores organizaram uma exposição itinerante. A 
festa 23 de Agosto marca a ocupação. Uma moradia que des-
sa data marca o dia da ocupação da área.
Visita de consultores do Ibram à Vila Vitória. Foi realizada uma 
exposição itinerante e uma roda de memória com os morado-
res, com a cobertura da TV Educativa, do Canal 09 e do Jornal 
Gazeta do Povo.
Museu de Periferia (MUPE) – Curitiba/PR
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2011 2012 2013
Na vila Osternack acontece o Café da Memória. 
Moradores participam de um bate-papo resgatando a 
memória viva da vila. Debatem dificuldades dos mora-
dores: falta de água e luz, escola, ônibus e infraestrutu-
ra. Muitos se emocionam relembrando o passado. Os 
moradores não tinham água, luz, telefone. Contam com 
a chegada do ônibus.
A exposição do MUPE recebe a visita do curador Mar-
celo Pinto, do Museu da Maré, indicado pelo Ibram. São 
os primeiros passos para a exposição virar realidade. 
Já com o local definido, na associação localizada no 
Bairro Xapinhal.
Vários eventos 
acontecem: 
semana cultural, 
teatro, capoeira, 
roda de viola, 
festa do pastel e 
exposição.
Visitas guiadas (ao museu) com apoio de 
estudantes de história da UFPR – projeto de 
oficina fotográfica na Escola.
Programa de rádio Café com Cidadania – a ideia 
é promover cidadania aos moradores da região.
Participação de membros no Conselho da 
Cultura do Município, com participação de um 
dos membros do MUPE. 
 Aproximação da Fundação Cultural de Curiti-
ba, que começa a reconhecer o MUPE. 
Ainda há uma distância do governo do Estado. 
1980 2009 2012 2013 2014
Início.
Esperança 
com a parce-
ria do Ibram.
Cinema, computadores, 
cadeiras, mesa, bebedouro.
Resgate da história do Beiru.
Lançamento do livro.
Necessário adquirir 
recursos para man-
ter os projetos nas 
comunidades.
Necessário adquirir 
recursos para manter 
os projetos nas comu-
nidades. 
Ponto de Memória do Beiru (Salvador/BA)
Os representantes do MUPE destacaram 
como conquistas o resgate da luta, a motiva-
ção dos moradores gerada pelo projeto e a 
concepção coletiva de um “Museu ser vivo” 
como espaço de referência para as pessoas 
se dirigirem e aprenderem. No que se refere 
às barreiras, destacaram o papel negativo da 
grande imprensa por divulgar só aspectos ne-
gativos do bairro e também a dificuldade de 
manter o espaço aberto ao público. Acerca 
das lições aprendidas, apontaram que seria 
importante a contratação de pessoal para atu-
ar exclusivamente no Ponto de Memória e o 
estabelecimento de parcerias público-privadas 
como solução para a manutenção do Ponto 
de Memória, além de não depender do Ibram. 
Destacaram ainda que no começo do projeto 
foi difícil, mas as pessoas estavam motivadas.
Os representantes do Ponto de Memória do 
Beiru destacaram como conquistas a criação 
do Blog do Ponto (orgulhodemorarnobeiru.
net); o apoio e o reconhecimento do traba-
lho por parte da comunidade; a realização da 
Marcha do Beiru no Dia da Consciência Ne-
gra. Apontaram como dificuldades: certa des-
continuidade nos processos propostos pela 
equipe do Ibram; a falta de um maior número 
de reuniões que envolvessem os 12 Pontos e 
uma maior comunicação em rede. Das lições 
aprendidas, pontuaram que a expansão e o 
fortalecimento dos Pontos de Memória Pre-
miados não devem acontecer sem a integra-
ção com os Pontos Pioneiros.
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2003 2004 2005-2008 2009
Campanha nossas mon-
tanhas,
nossos lugares.
Constituição do grupo e 
controle social do bairro.
Vídeo com história da comunidade (tragé-
dia em decorrência de chuvas; 60 casas 
desabadas, duas famílias mortas e 273 
famílias desabrigadas).
Campanha Taquaril: lugar lindo de viver 
(camisetas).
Atividades nas praças, esco-
las, valorização da comunida-
de; divulgação do vídeo, nova 
edição de cartões postais.
Contato Ibram.
Primeira Teia 
da Memória.
Ponto de Memória Museu do Taquaril (Belo Horizonte/MG)
2010 2011 2012 2013
Ponto de Me-
mória Taquaril 
Museu — Lugar 
Lindo de Viver 
(Belo Horizonte/
MG)
Atividades de apresentação do Pon-
to de Memória / comunidade.
Teia de Memória Maré.
Edital Consultores 1º Encontro; pla-
no de trabalho; início das atividades 
de inventário participativo.
Ações do consultor (intercâmbios/
trabalhos).
Assembleia comunitária.
Constituição da sede Ponto de Memória.
Intercâmbios, concursos (fotos, música).
Acolhida de exposição.
Pesquisas, desenvolver exposições; 
oficinas junto à comunidade; aquisição 
de equipamentos (máquina fotográfi-
ca, vídeo etc.); gravações iniciais com 
moradores.
V Fórum Nacional de Museus.
Exposição — abertura 
de sede / espaço de 
visitação.
Ampliação de parcerias.
Oficinas.
Eventos em praças.
Comissão da Teia.
Os representantes do Ponto de Memória 
do Taquaril destacaram como conquistas ad-
vindas com o projeto, a relação estabelecida 
com a comunidade (apropriação e reconhe-
cimento); a construção do Ponto pautada 
num processo democrático (com a criação 
e funcionamento de um conselho gestor); 
a realização da primeira exposição na região; 
a ampliação de parcerias; e o orgulho da “gen-
te” do Taquaril. Como barreiras e dificuldades: 
os conflitos internos; certa ausência do Ibram 
ao longo do processo e a necessidade de pes-
soas “liberadas” para trabalhar no Ponto. Quan-
to às lições aprendidas, apontaram aprender a 
lidar com a morosidade nos encaminhamentos 
burocráticos.
1979 2004 2009 2010
Missões.
(nov.) — Criação da 
REDE DLIS do GBJ.
(out./nov.) — 1ª visita 
Ibram. 
1ª Teia da Memória em 
Salvador.
(fev. a jul.) — Teia da Cultura, Memória 
Fortaleza/CE.
(jun.) — Tentativa de realização da capa-
citação em Museu, Memória e Cidada-
nia (Patrícia / Inês). 
(jul.) — FNM Brasília. IV Fórum Nacional 
de Museus.
Ponto de Memória Grande Bom Jardim (Fortaleza/CE)
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2011 2012 2013
Reuniões participativas 
para elaboração do plano 
de ação de inventário e 
produtos difusores (dili-
gências).
Edital seleção consultores 
contratação. Recursos 
Prêmio Pontos de Memó-
ria (2012)
(jan.) — Deflagração execução.
Plano de ação; aquisição de insumos.
Composição instrumentais.
(fev.) — Seleção dos moradores, pes-
quisadores processo formativo (meto-
dologias: qualidade história; fotografia 
básica, cartografia comunitária).
 (mar.) — Ações museais.
Capacitação museu, memória e cidada-
nia com Mario Chagas e RCMC. 
Início pesquisa de campo inventário.
(fev.) — Memória social temática e 
comissão da REDE DLIS.
(maio) — Contribuição na realização 
1º EERCMC – SEM – CE Aprovação 
do projeto.
Recursos: Prêmio Pontos de Memória; 
Acordos políticos com chefe do Poder 
Executivo municipal.
Acordo públicopara a cartilha
SECULTFOR.
As conquistas destacadas pelos represen-
tantes do Ponto de Memória do Grande Bom 
Jardim foram a concepção da memória como 
instrumento político para firmar a identidade 
territorial; a realização do inventário participati-
vo pelos próprios moradores; a memória social 
constituída como mística ao movimento social; 
o resgate de agentes comunitários antigos que 
estavam afastados; a apropriação temática por 
parte da REDE DLIS; a constituição de um lu-
gar privilegiado à voz do morador; o interes-
se da rede em elaborar o plano museológico 
comunitário; e a inclusão da memória como 
objeto para captação de recursos. Como bar-
reiras e dificuldades, apontaram a ausência 
de pessoas da comunidade liberadas para os 
trabalhos; a pouca relação do Ponto com as 
escolas locais; a pouca transferência de tec-
nologias sociais por parte do Ibram; conflitos 
de interesses internos durante o processo de 
construção do Ponto de Memória; a fragilidade 
de entendimento institucional com o Ibram; e 
a não efetivação de um plano de intercâmbio 
entre os pontos. Quanto às lições aprendidas: 
não esperar somente pela política de fomento 
do Ibram.
2007 2008 2009 2010
CCOMP – discussão 
comunitária sobre im-
plantação do museu.
Formação de grupo 
de trabalho — missão 
pró-museu
Institucionaliza-
ção do Museu de 
Favela.
Posse da diretoria 
(2008-2011).
Primeira visita expe-
rimental.
Lançamento nacional MUF.
Experimentações no território.
Busca para sede provisória.
Parceria MUF-ABM; modernização 
de museus.
Inscrição no Cadastro Nacional de 
Museus.
Inclusão na Rede Ibram (eventos).
Aprovado edital Ibram.
Implantação do circuito 
Casas-Tela.
Inauguração do circuito.
Parceria Mitra Episcopal 
— sede provisória MUF.
Museu de Favela — MUF (Rio de Janeiro/RJ)
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2009 2010 2011
1ª Reunião com o Ibram 
em S. Pedro.
Teia em Salvador.
05/10 — Apresentação do Conselho 
Gestor.
11/10 — 1ª Exposição do Ponto.
12/10 — Teia no Rio de Janeiro.
02/11 — Regimento e Estatuto.
10/11 — Reunião dos consultores e 
visita técnica do Ibram.
11/11 — Roda de conversa feminina.
12/11 — Visita técnica Ibram..
2012 2013
04/12 — Formação dos agentes.
05/12 — Reunião dos consultores no Beiru – Salvador.
10/12 — Exposição no Museu do Pescador.
10/12 — Visita técnica do Ibram e passeio histórico.
07/13 — Visita Ibram.
09/13 — Apresentação do produto final com o Ibram.
Projeto Valorização da Grande S. Pedro.
11/13 — Reunião em Brasília – preparação para Teia.
12/13 — Avaliação dos Pontos.
Ponto de Memória da Grande São Pedro (Vitória/ES)
O MUF destacou como conquistas o jeito 
peculiar de musealizar junto à comunidade; o 
trabalho comunitário (capacitação do coleti-
vo); a clareza na missão, linha metodológica e 
conceitos-chave do museu. Quanto às dificul-
dades e barreiras encontradas, apontou certas 
Conquistas: Independência, empoderamento 
da comunidade e de sua memória; constituição 
de um acervo representativo; aquisição de ma-
terial e a parceria com o Ibram. Acerca das bar-
reiras, destacaram a falta de um espaço físico 
e a dificuldade de articulação das ações, por 
ausências do Ibram e de outros órgãos pú-
blicos, além da não continuidade de algumas 
ações propostas como, por exemplo, a realiza-
ção de algumas oficinas de qualificação para 
os Pontos Pioneiros.
não haver ninguém disponível para trabalhar 
exclusivamente nas atividades do Ponto. Como 
lições aprendidas, concluíram que o dinheiro 
é necessário, mas dá “dor de cabeça” e que o 
importante é seguir adiante perante as dificul-
dades.
2011 2012 2013
1ª assembleia de prestação de contas — 
posse da nova Diretoria (2011-2013).
Edital dinamização de museus — Departa-
mento de Almas e de Sonhos (SEC-RJ).
Modernização de museus — SEC. Refor-
ma Base.
Fórum comunitário e edital de consultores 
Ibram (Rita).
Editais sociais. Dinamização de 
museus. Intercâmbios culturais.
Implantação de Agenda Cultural.
Implantação do CIVIS MUF.
Reuniões participativas com a 
comunidade.
Aumento de demanda externa 
Parceria e voluntariado.
Livro Casas-Tela.
Plano de desenvolvimento 
institucional do MUF.
2ª assembleia geral (presta-
ção de contas).
Posse da nova Diretoria 
(2013- -2017). 
ICOM 2013. MINOM
CAMOC.
Rede colaborativa do MUF.
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Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro (Porto Alegre/RS)
2006 2009 2010
Museu comunitário Lomba 
do Pinheiro. Trabalho com 
a comunidade.
Início.
Formação do Conselho Gestor.
Envolvimento das comunidades no in-
ventário, com ações de pesquisa local.
Início.
Formação do Conselho Gestor.
Envolvimento das comunidades no 
inventário, com ações de pesquisa 
local.
2011/2012 2012/2013 2014
Participação do PM na 3ª Teia no Rio de Janeiro.
Primavera de museus.
Exposição de projetos e histórias locais.
Ações educativas da memória social de diferen-
tes grupos com temáticas variadas.
Exposições de roda de 
memória.
Saberes populares, mu-
seu de rua e educação 
para o patrimônio.
Visitas técnicas.
Futuro dos Pontos de Memória 
Estrutura e espaço físico 
Os representantes do Ponto de Memória 
Lomba do Pinheiro destacaram como conquis-
tas a reunião das 33 comunidades locais; a re-
alização de exposições e oficinas; o reconheci-
mento da comunidade; e a constituição de uma 
identidade local. Como barreiras e dificuldades, 
apontaram a falta de espaço físico, os empre-
endimentos imobiliários que afetam o bairro e 
a gestão ainda pouco colaborativa do Museu 
da Lomba. Quanto às lições aprendidas: “o que 
queremos, temos que buscar...”; a parceria infor-
mal com o Museu Lomba do Pinheiro acabou 
fragilizando o Ponto de Memória.
1085 2009 2010
O Museu 
Goeldi leva 
educação 
em ciência à 
comunidade.
1ª Teia da 
Memória 
“Mulheres da 
Amazônia” — 
Salvador/BA.
25 a 27 de maio — foram convidadas várias lideranças comunitárias. Forma-
ção do Conselho.
26 a 28 de março — II Teia de Memória “Teia Brasil Tambores digitais”.
Obs.: em todos os encontros, redes e Teias o Ponto se fez presente (Rio, 
Salvador, DF, Fortaleza e outros).
Maio — os gestores decidiram realizar o Seminário de criação do Conselho 
Gestor do PMTF.
17 de julho — IV Fórum Nacional de Museus em Brasília.
30 e 31 de julho e 1º de Agosto — 27ª Reunião Brasileira de Antropologia.
Ponto de Memória de Terra Firme (Belém/PA)
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Museu Mangue do Coque (Recife/PE)
2009 2010 2011 2012 2013
Início do projeto Ponto 
de Memória.
2ª Teia — Fortaleza.
Oficina do Ibram: 
Museu, Memória e 
Cidadania.
Criação do Conse-
lho Gestor com 50 
pessoas.
Oficina do Ibram.
3ª Teia no Museu da 
Maré.
Sumiram os volun-
tários.
Ausência do Ibram.
Acaba o Conselho.
Plano de ação.
Formação do 
Conselho com sete 
pessoas.
Oficina com Museu 
da Abolição.
Formação do Conselho 
com sete pessoas.
Oficina com Museu da 
Abolição.
Pesquisa na comunidade.
Visita do Adriano do Pon-
to de Memória do GBJ.
5/12 
— Exposição
O Ponto de Memória de Terra Firme destacou 
como conquistas, por meio do projeto, a valo-
rização do bairro, da comunidade e da juventu-
de; os trabalhos realizados; o engajamento da 
comunidade em sua luta social; e a formação 
de parcerias. A falta de espaço físico para reu-
Os representantes do Ponto de Memória 
Museu Mangue do Coque apontaram como 
conquistas a legitimidade e o reconhecimentodo museu por parte da comunidade; a con-
quista do CNPJ; o nascimento – concretização 
- profissionalização – oficinas do Ponto; e a 
musealização do Coque. Quanto às barreiras e 
dificuldades, as mudanças na equipe do Ibram 
niões e o desenvolvimento de atividades, bem 
como a falta de remuneração pelo trabalho 
realizado foram apontados como barreiras e 
dificuldades encontradas. Como lições apren-
didas, ser independentes e ter autonomia.
e do MinC, a burocracia, o primeiro módulo 
do Conselho Gestor que não funcionou e a 
disputa interna pelo poder. No que se refere 
às lições aprendidas, acreditam que é neces-
sário ter uma postura mais proativa diante do 
Ibram, o qual deveria estar mais presente, e 
que a composição do Conselho Gestor seja 
mais enxuta.
2011 2012 2013
16 a 18 de março — I encontro 
de gestores e professores com o 
objetivo de estabelecer parcerias.
16 a 20 de maio — I Gincana e 
memória do bairro Terra Firme.
Oficina de vídeo.
Jornal “O Tucunduba”.
28 de abril — Cortejo cultural.
13 de junho — IV Encontro de Economia Comu-
nitária, após a oficina de inventário participativo.
6 e 7 de dezembro 
— mapeamento das 
manifestações artísti-
cas culturais do bairro 
Terra Firme.
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2003 2008 2009
CEPA — Centro 
de Apoio da 
Universidade 
Quilombo.
Ideia de um Mirante Cultural. 
Atividades paralelas: vila dos Pescadores, 
quintal, núcleo zona sul. 
Estado quer retirar os pescadores de uma 
área turística para hotelaria. 
Falta de um espaço para se encontrar. 
Nos ensaios a polícia fazia “batida” nos 
participantes. 
Ideia de um Mirante Cultural. 
Atividades paralelas: vila dos Pescadores, quintal, 
núcleo zona sul. 
Estado quer retirar os pescadores de uma área turística 
para hotelaria. 
Falta de um espaço para se encontrar. 
Nos ensaios a polícia fazia “batida” nos participantes. 
Museu Cultura Periférica (Maceió/AL)
2010 2011 2012 2013
2ª Teia. 
Vários acontecimentos. 
Resgate das ações e esforço para reunir todo o registro. 
Lutas por água, calçamento, transporte. 
Pessoal da Cultura sempre lutando para conquistas na comunidade. 
Entrevistas com moradores zona sul: 
Vila E.; Vila D.P.
Exposição de 
fotos; sema-
na cultural 
para divulgar 
o museu na 
comunidade.
Chá de Memó-
ria; formação 
dos membros 
do Conselho. 
Estamos loca-
dos na internet.
Chá de Memó-
ria; formação 
dos membros 
do Conselho. 
Estamos loca-
dos na internet..
Contar a história da comunidade; fortalecer o 
sentimento de pertencimento, luta e resistência 
no território; valorizar as identidades e os talentos 
dos seus membros foram as conquistas desta-
cadas pelo Ponto de Memória do Museu Cultura 
Periférica. As dificuldades e barreiras encontra-
das foram a ausência de um espaço físico; o 
trabalho voluntário (dificuldade de participação 
integral); o acúmulo de trabalho para as pessoas 
diretamente envolvidas; e a falta apoio da prefei-
tura e do Estado. Quanto às lições aprendidas, 
não começar o trabalho sem estrutura material e 
emocional. É preciso contar a história!
2 - METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DOS 
12 PONTOS DE MEMóRIA
Metodologia Aquário 
A avaliação se desenvolveu por meio de questões 
orientadoras, com as respostas sintetizadas em tar-
jetas e a organização das ideias em painel.
Os participantes foram divididos em dois se-
micírculos: o interno reservado aos peixes (com 
voz e ouvido) e o externo reservado ao aquário 
(dois ouvidos para treinar a escuta ativa).
No círculo interno também foi reservada uma 
cadeira para intervenção pontual de represen-
tantes do aquário. A discussão foi realizada em 
duas rodadas: 
1a Rodada: peixes (representantes dos Pontos 
de Memória) e aquário (Ibram e observadores). 
2a Rodada: peixes (Ibram) e aquário (repre-
sentantes dos Pontos de Memória e observa-
dores).
Questão 01, formulada para os represen-
tantes dos 12 Pontos: De que forma traba-
lhar com a memória, por meio do projeto 
“Pontos de Memória”, contribuiu para o 
alcance das conquistas apresentadas nas 
Linhas do Tempo da iniciativa?
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Fortalecimento como grupo em torno de uma 
linguagem, comum: Museologia Social 
Tarjetas individuais que subsidiaram a síntese: 
- Organicidade;
- Contatos com outros;
- Relação de companheirismo;
- Participações nas redes colaborativas (acesso 
ampliou relações);
- Linguagem da Museologia Social, em geral;
- Fortalecimento organizacional da rede — práxis;
- As ações educativas eram baseadas em projetos 
individuais; após a formação e construção do projeto, 
a comunidade envolveu-se no inventário participativo.
Visibilidade institucional que cria credibilidade 
para os Pontos de Memória
Tarjetas individuais que subsidiaram a síntese: 
- Respaldo institucional do Ibram nos fomentos 
do MUF-RJ;
- O apoio do Ibram tornou-se um “cartão de 
visita” na busca por novos parceiros;
- Visibilidades nacional e internacional;
- Ibram no processo “oficializou” a importância 
do tema“memória”;
- Deu projeção à discussão sobre a “história 
local”.
Valorização, afirmação e fortalecimento das identi-
dades das comunidades dentro do território 
Tarjetas individuais que subsidiaram a síntese: 
- Mais argumento de valorização para a comuni-
dade;
- Aproximou os grupos/comunidade;
- Resgate e valorização da memória/valores;
- Ferramenta de mobilização e articulação comu-
nitária;
- Fortaleceu a dignidade do cidadão, respeito e 
resgate social. 
- Promoveu a ação comunitária;
- Impulsionou o resgate da identidade local;
- Afirmações, identidades territorial e social;
- Despertou a Mística — ressignificação dos sen-
tidos;
- Serviu de Instrumento de mobilização.
Potencialização e sistematização das ações de 
forma mais orientada
Tarjetas individuais que subsidiaram a síntese: 
- Efetivar as ações;
- Ajudou a colocar a ideia em ação, de forma 
mais orientada;
- Sistematização das ações;
- Oficinas ajudaram a juntar as pessoas da co-
munidade;
- Informação no quesito memória;
- Material (infraestrutura para materializar ideais);
- Equipamentos para armazenar acervos.
Instrumento de transformação
Tarjetas individuais que subsidiaram a síntese:
- Ajudar no combate à violência e ao uso de dro-
gas;
- Instrumento para acessar e trabalhar com jovens;
- Contribuir na educação, ajudando a fazer a his-
tória da comunidade ser inserida na grade de ensino.
Questão 02, formulada para os 
representantes dos 12 Pontos: Quais 
dificuldades foram encontradas para 
implementar a metodologia proposta 
pelo Ibram? 
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(Para essa questão, as tarjetas foram or-
ganizadas em blocos temáticos, mas não foi 
possível elaborar uma síntese em conjunto. 
Os temas abaixo foram propostos pela rela-
toria, apenas para efeito de melhor organiza-
ção.) 
Tema: Relação Ibram — Pontos de Memória
- Os processos foram realizados com bre-
chas/vácuos durante a execução (exemplo: 
algumas oficinas do Ibram);
- Falta de técnicos da área de Museologia 
nos Pontos;
- Termos técnicos utilizados pelo Ibram difi-
cultaram o entendimento da metodologia;
- Pouco intercâmbio entre os 12 Pontos;
- Pouca comunicação com o Ibram — falta 
de experiência;
- Pouca proximidade do Ibram com os Pon-
tos;
- Falta de técnicos do Ibram na orientação, 
avaliação e suporte nas ações dos Pontos de 
Memória;
- Falta de conhecimento técnico museológi-
co nos Pontos.
- No começo, dificuldade de entender o ob-
jetivo e metodologia do projeto. Falta de es-
trutura e recurso financeiro;- Distância do Ibram com a Região Sul do 
país. Proposta: sucursal sul.
Tema: Infraestrutura
- Falta estrutura em dinheiro para os 
 Pontos;
- A estrutura física falha no local.
Tema: Responsabilidade em ser piloto asso-
ciada às dificuldades internas do Ibram
- Timidez ligada à responsabilidade de ser pi-
loto — não tinha metodologia pronta, foi sendo 
construída ao longo do processo;
- Burocracia emperra processos;
- Não ter instrumento de repasse;
- Mudanças/rotatividade na equipe do Ibram;
- Divergências de entendimento do Programa 
dentro do Ibram;
- Composição de banco de dados sobre Pon-
tos precisa ser aperfeiçoada.
Tema: Consultores e pessoal local para os 
 Pontos
- Falta de pessoal com dedicação exclusiva 
para os Pontos;
- Muita exigência de qualificação para o con-
sultor local.
Tema: Outros 
- Ausência de mecanismo que articule o co-
nhecimento teórico e o saber local;
- Redes ainda em frágil articulação.
- Dificuldade em participar dos editais do 
Ibram;
- Necessária maior integração do Ibram com 
governos estaduais e Prefeituras municipais; 
- Convite à participação de apenas uma pes-
soa por Ponto, nos encontros.
- Deve prever a contratação de uma pessoa do 
local para atuar com o consultor do Ibram.
Questão 01, formulada para a equipe téc-
nica do Ibram: Como os 12 Pontos de Me-
mória ajudaram o Ibram a cumprir sua mis-
são de trabalhar com Museologia Social?
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Tema: Memória como elemento aglutinador 
- Memória como aglutinadora de diversas cau-
sas das comunidades;
- Diversidade: Pontos de Memória são atraves-
sados por diversas causas sociais e agentes co-
munitários em torno de um mesmo objetivo;
- Empoderamento das comunidades por meio 
da Museologia Social;
Tema: Centralidade dos Pontos no debate insti-
tucional sobre Museologia Social
- Participaram continuadamente da concepção 
das diretrizes do programa, a partir de demandas 
comunitárias nesse processo;
- Promoção de um diálogo e de uma aprendi-
zagem conjunta;
- Centralidade dos Pontos para a execução da 
missão do Ibram na área de Museologia Social; 
- Para abrir e ampliar o debate institucional so-
bre a importância da Museologia Social (Teia);
- Exigiu a reflexão interna sobre o tema;
- Convergência entre o pensar e o executar as 
ações do setor museal;
- A trajetória dos Pontos vai ao encontro das 
questões voltadas para a missão do Ibram;
- Exercitaram uma metodologia pensada inter-
namente, evidenciando seus limites (a prática);
- Agiram de acordo com o que se espera dos 
movimentos sociais — cobrança por políticas pú-
blicas e sem paternalismo. 
Tema: Concretização de uma proposta meto-
dológica — desafios de serem projetos piloto
- Materialização / concretização de uma pro-
posta metodológica;
- Aproximou a teoria (elaborada dentro do âm-
bito da construção de um plano governamental) 
à prática, evidenciando as dificuldades/desafios 
dessa construção; 
- Amadurecimento e sistematização de uma 
metodologia de musealização de base comu-
nitária;
- Implementação da metodologia inédita 
construída em parceria;
- Aceitaram o papel de serem pilotos na im-
plementação dessa metodologia;
- Legitimou as ações de memória social de-
senvolvidas pelos Pontos de Memória; 
- Concretização de resultados a partir do uso 
das ferramentas da Museologia Social;
- Apontaram a necessidade da construção 
de uma política de Estado que garanta o direito 
à memória. Evidenciaram que o campo objeto 
do projeto (programa) era (é) muito maior e 
mais complexo do que o imaginado;
- Elaboração de instâncias de gestão colabo-
rativa/participativa. 
Questão 02, formulada para a equipe 
técnica do Ibram: Quais as barreiras/di-
ficuldades que o Ibram teve para imple-
mentar a metodologia proposta aos 12 
Pontos de Memória? 
Tema: Recursos humanos e financeiros 
- Rotatividade no quadro de servidores + 
ausência de memória sistematizada das 
ações do programa + informações/memória 
guardadas e organizadas embora não 
sistematizadas;
- Descontinuidade na gestão;
- Ainda não é política de Estado, só de 
governo, sofrendo muitas mudanças de 
direção;
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Tema: Equipe
- Dificuldade de consenso na definição de 
conceitos operativos;
- Falta de continuidade nos processos e de 
conhecimento dos marcos teóricos e metodoló-
gicos;
Tema: Dificuldades na operacionalização e 
processos internos do Ibram
- Demora na transferência de recursos; 
- Burocratização do Estado e hierarquização 
excessiva do Ibram;
- Conciliar as distintas lógicas (burocracia x 
movimentos sociais);
- Desgaste junto aos Pontos relacionadas à 
consultoria;
- Dificuldade de articulação das áreas do 
Ibram;
- A intrincada estrutura jurídica que rege a ad-
ministração pública;
- O fato de essa ser uma experiência inédita no 
âmbito da instituição. 
Tema: Comunicação e articulação
- As dificuldades de comunicação entre Pon-
tos e Ibram e vice-versa;
- Falta de articulação com outros projetos, 
programas ou movimentos sociais (locais, regio-
nais e nacional);
- Falta de incentivo para que busquem outros 
espaços de reconhecimento das tecnologias so-
ciais desenvolvidas pelos Pontos de Memória;
- Desarticulação política no campo museal.
Tema: Política / iniciativa inovadora de governo 
- As políticas públicas de cultura no Brasil fo-
ram só recentemente iniciadas;
- Política inaugural.
Tema: Desafios e ideias
- Trabalhar em uma perspectiva exponencial 
como política pública, inclusive para minimizar 
as dificuldades de comunicação entre Pontos e 
Ibram e vice-versa;
- Oficinas para elaboração de projetos para o 
edital Pontos de Memória;
- Cobrar a implementação dos termos do Pro-
jeto Conexões Ibram. 
3- LEVANTAMENTO DE PROPOSTAS E RECO-
MENDAÇõES PARA O PROGRAMA PONTOS 
DE MEMóRIA
Metodologia: Café Mundial
A discussão sobre as propostas para o futuro 
do programa ocorreu em um ambiente descon-
traído, em cinco mesas “do café”. Cada mesa fo-
calizou a discussão de uma dimensão do progra-
ma. Os participantes trocavam de mesa a cada 
rodada, permanecendo apenas o “anfitrião”, res-
ponsável por receber o novo grupo e explicar as 
propostas já levantadas pelo grupo anterior. 
Tempo das rodadas: 
1a) 40 minutos; 
2a) 20 minutos; 
3a) 20 minutos; 
4a) 15 minutos; e 
5a) 15 minutos.
O Café Mundial encerrou-se na parte da ma-
nhã. À tarde, o resultado final das mesas foi apre-
sentado e discutido em plenária. 
Dimensão: Sustentabilidade dos Pontos de 
Memória
– Mapear e buscar articulações com projetos 
e programas de outros órgãos como Secretaria 
de Economia Solidária e Secretaria de Economia 
Criativa.
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– Completar o ciclo de oficinas nos 12 Pontos, 
priorizando seu papel de multiplicadores da me-
todologia.
– Buscar o compromisso dos museus do Ibram 
com o Programa Pontos de Memória a partir de in-
dicação de servidores para atuarem como pontos 
focais do programa e capacitados para aplicarem 
oficinas e atuarem como articuladores regionais das 
iniciativas de Museologia Social. Observação: essa 
proposta não é consenso, com questionamentos 
sobre a escola formativa dos museus tradicionais, 
nem sempre alinhados com os princípios da Muse-
ologia Social (merece maior tempo para aprofundar 
a questão). 
– Participação de um representante dos Pontos 
de Memória nas reuniões de elaboração do edital e 
noacompanhamento dos processos.
– Formação de equipes mistas (DDFEM — De-
partamento de Difusão, Fomento e Economia dos 
Museus / DPMUS — Departamento de Processos 
Museais) para acompanhamento dos editais dos 
Pontos de Memória, do início ao fim, com o compro-
misso de levar ao Ibram as sugestões dos represen-
tantes dos Pontos de Memória. 
– Efetivar trocas e arranjos, promover intercâmbios 
presenciais e pensar as condições afetivas e efetivas 
de existência e permanência da ação, inclusive pen-
sar sustentabilidade para além da financeira (essa 
reflexão merece destaque nos momentos de inter-
câmbio). 
– Formalizar a parceria institucional entre o Ibram 
e os cursos de Museologia do Brasil, valorizando a 
Museologia Social.
– Realizar oficinas de capacitação e acompanha-
mento sobre a institucionalização (ou não) dos Pon-
tos de Memória.
– Prever consultoria para articular e consolidar 
(efetivar) parcerias público-privadas (exs.: universi-
dades, museus privados, Banco do Brasil, Petrobras, 
BNDES). Obs.: esse tema também requer maior 
aprofundamento para definir melhor o papel dessa 
consultoria. 
– Contratação de consultoria para realização de 
oficinas de capacitação em captação de recursos.
– Acompanhar os 12 Pontos no acionamento das 
Secults (Secretarias de Cultura) por Estado, para a 
regulamentação dos termos firmados no âmbito do 
Conexões Ibram.
– Mobilizar os 12 Pontos para captação de recur-
sos (emendas parlamentares) junto às Câmaras 
Legislativas.
– Realizar oficinas de capacitação para elaboração 
de projetos para participação no edital dos Pontos de 
Memória.
– Ter o conceito “Ponto de Memória” como princí-
pio e marco/quesito de enquadramento aos editais 
de fomento.
Dimensão: O papel dos 12 Pontos de Memória 
(suas experiências) na expansão do Programa 
Pontos de Memória
– Compromisso na expansão do Programa, 
buscando o fortalecimento das ações das comu-
nidades.
– Contribuir no mapeamento e identificação de 
experiências comunitárias em memória social e 
processos sociais de memória e Museologia So-
cial.
– Replicador e difusor de metodologias e tecno-
logias sociais em processos formativos.
– Capilarizador de potencialidades em memória 
social e Museologia Comunitária nas redes so-
ciais.
– Articulador regional/estadual de experiências 
premiadas.
– Apoiar os consultores na formação das redes 
de memória.
– Divulgar nacionalmente, com o apoio do 
Ibram, o resultado dos trabalhos dos 12 Pontos (a 
experiência dos 12 Pontos para dar visibilidade à 
Museologia Social).
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– Elaborar uma publicação (cartilha), com 
apoio do Ibram, sobre a experiência de cada 
ponto.
– Resgatar e divulgar a Carta de Princípios dos 
Pontos de Memória.
– Realizar intercâmbio de saberes, aproveitan-
do práticas, talentos dos pontos, para orientar 
novas experiências.
– Contribuir para a organização de um banco 
de dados, por meio de levantamento e diagnós-
tico de saberes e fazeres para cooperação entre 
Pontos.
– Contribuir ativamente para a consolidação 
do Programa como política pública.
– Apoiar os consultores temáticos e regionais 
na conformação das redes e sistemas.
Dimensão: Redes, articulações e parcerias
– Envolver de forma propositiva os consultores 
contratados pelo Programa Pontos de Memória 
junto aos 12 Pontos, para construção de planos 
gestores das experiências, como mecanismos 
metodológicos (planos museológicos participa-
tivos).
– Replicar a lógica (de mecanismo) do Projeto 
Conexões Ibram no contexto do Programa Pon-
tos de Memória, com os Pontos articulados em 
parceria, com recursos materiais, financeiros e 
logísticos (ex.: junto a governos estaduais e mu-
nicipais).
– Consolidar parcerias locais e pautar projetos 
de leis municipais a partir do auxílio inicial do 
Ibram (auxílio no contato e interlocução inicial).
– Fazer articulação local, municipal, estadual 
de Pontos de Memória e iniciativas de Museo-
logia Social rumo às redes, como estratégia de 
fortalecimento, com o poder de pautar o poder 
público (criar demandas), troca de experiências 
e cooperação (criação de espaços autônomos).
– Rede: realizar intercâmbio entre os 12 Pontos.
– Desenvolvimento local sustentável (tentar 
buscar outras parcerias sem substituir o papel 
do Estado — não ao Estado mínimo!).
– Utilizar as redes para potencializarem a for-
mação colaborativa (fortalecer agentes comuni-
tários locais).
Dimensão: Institucionalização dos Pontos de 
Memória
– O Programa Pontos de Memória obrigatoria-
mente deve se institucionalizar, virar política de 
Estado.
– Os Pontos de Memória devem ter autonomia 
e apoio para analisar e decidir sobre sua formali-
zação (CNPJ) ou não. 
– Executar ação conjunta, junto à Secretaria de 
Economia Criativa (SEC/MinC), prevista no Pla-
no de Políticas, Diretrizes e Ações de 2011/2014 
do Ibram/MinC.
– Ter apoio técnico e incentivo à formação de 
redes para apoiar a institucionalização (formali-
zação) dos Pontos. 
– Pensar alternativas à institucionalização, 
como a parceria com uma instituição já existen-
te na região.
– Refletir sobre o desafio de se institucionalizar 
sem perder a força do movimento, da mobiliza-
ção social, do debate público (recomendação: 
conhecer outros movimentos sociais que passa-
ram pela experiência de se institucionalizar: Exs.: 
MST, Movimento Indígena). 
– Ter a formalização como instrumento de 
sustentabilidade (estatuto, regimento...).
– Avaliar prós e contras da institucionalização 
(de acordo com cada realidade).
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- A institucionalização é importante para dar 
visibilidade e reconhecimento institucional aos 
Pontos; é um instrumento para captação de 
recursos; favorece a formação de parcerias; au-
menta responsabilidade dos conselheiros.
Tema: Espaço Aberto — temas transversais ou 
não contemplados nas outras mesas
– Criar critérios de pontuação/desempate nos 
editais do Ibram que privilegiem os 12 Pontos de 
Memória Pioneiros e as iniciativas de memória 
que tenham existência longa e contínua.
– Consolidar a formação em rede (oficinas) 
como estratégia de empoderamento dos agentes 
de memória locais.
– Execução de um plano de atividades 2014 
para cada Ponto de Memória, com o apoio do 
Ibram.
– Melhorar a comunicação entre os Pontos e o 
Ibram (pensar em algum sistema).
– Priorizar a implementação da gestão com-
partilhada/participativa do Programa Pontos de 
Memória.
– Conhecer melhor a ferramenta de Planeja-
mento Estratégico e adotá-la, se for adequada à 
realidade dos Pontos, como um instrumento para 
o fortalecimento e maior estabilidade dos pontos. 
– Que o Ibram proponha ou recomende políti-
cas públicas estaduais para Pontos de Memória.
– Incorporar transversalmente as questões 
relacionadas à sustentabilidade ambiental nas 
ações desenvolvidas pelos Pontos.
Encerramento do Encontro 
O encerramento do encontro contou com as 
presenças da então diretora do Departamento de 
Processos Museais (Depmus), Luciana Palmeira, 
e do presidente do Ibram, Angelo Oswaldo. 
Após as falas da coordenadora do Programa 
Pontos de Memória, Cinthia Oliveira e da diretora 
Luciana Palmeira, uma representante dos Pontos 
de Memória apresentou uma síntese das pro-
postas; a seguir, ocorreu um diálogo entre o pre-
sidente do Ibram e os representantes dos Pontos 
de Memória sobre os desafios e potencialidades 
da fase de expansão do programa. 
Avaliação do encontro
A avaliação foi realizada por meio de fichas 
preenchidas pelos participantes e sistematizadas 
abaixo e também por meio de uma dinâmica em 
que cada participante escreveu umapalavra que 
simbolizasse um “fruto colhido no encontro” — 
esse fruto foi fixado em uma grande árvore cola-
da na parede. 
Frutos Colhidos: 
Ânimo, diálogo e troca, viva o coletivo. Conhe-
cimento, resistência, entendimentos, continua a 
expectativa, a espera... O que vai acontecer com 
os Pontos de Memória? Fortalecimento, reco-
nhecimento, partilha, alta estima e confiança, 
esperança, realização.
96
Posfácio
Manuelina Maria Duarte Cândido
Diretora do Departamento de Processos Museais (Dpmus)
Este livro consolida uma memória de um progra-
ma fundamental para o Instituto Brasileiro de Mu-
seus, a partir do registro e da avaliação realizados 
pelo olhar não institucional dos 12 Pontos de Me-
mória Pioneiros. 
O texto que está a sua frente foi, portanto, cons-
truído por muitas mãos, como todo o Programa 
Pontos de Memória, que ao fim e ao cabo identi-
fica e dissemina metodologias da Museologia apli-
cadas a realidades muito diversas, mas que têm 
em comum os desafios sociais, o vigor de suas 
memórias e identidades, os anseios de se verem 
representados no contexto maior da memória bra-
sileira. Comunidades que, em um movimento de 
duplo sentido, inspiraram e foram inspiradas pelas 
instituições museológicas brasileiras e pelo Instituto 
Brasileiro de Museus a consolidar essas memórias 
como esteio para ações visando a sua valorização, 
empoderamento e desenvolvimento. 
Integrado com a Política Nacional de Museus e 
o Plano Nacional Setorial de Museus e amparado 
por muitos anos pela existência de um Projeto de 
Cooperação com a Organização dos Estados Ibe-
ro-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cul-
tura (OEI), conhecido como PRODOC Pontos de 
Memória, o programa é hoje instado a trilhar novo 
caminhos.
Nesse momento o Ibram trabalha especialmen-
te pelo fortalecimento das redes de iniciativas e 
Pontos de Memória e Museologia Social, compre-
endendo que essa articulação é fator fundamental 
para as trocas entre as diferentes experiências e 
autonomia das iniciativas.
Fora do Brasil, o interesse pela experiência da 
nossa Museologia Social de maneira mais ampla e 
pelos Pontos de Memória em específico é notável. 
Era fundamental preparar o fechamento do ciclo 
que se encerrará com a finalização do PRODOC, 
com a realização desta publicação há tanto tem-
po desejada e planejada, bem como fazê-lo com 
essas características: um livro com versões em 
espanhol e em inglês, com tiragem impressa, mas 
também preparado para divulgação em meio digi-
tal, que queremos fazer chegar aos mais diferentes 
97
contextos e contribuir para ampliar o debate sobre 
o papel social e o potencial de inovação da Muse-
ologia, as formas de fazer museus e de trabalhar as 
memórias.
Um livro dedicado a experiências diversas no 
campo da Museologia Social não podia deixar de 
ser multivocal. Na América Latina e no Brasil, inú-
meros atores contribuíram para semear lá atrás o 
que podemos ver florescer agora em nossos mu-
seus e Pontos de Memória. Para citar apenas duas 
das muitas inspirações, não posso deixar de falar 
da Mesa Redonda de Santiago do Chile em 1972 e 
do pensamento de Waldisa Rússio, impulsionando 
os museólogos a serem trabalhadores sociais.
Agradeço a todos que contribuíram com seus 
textos e reflexões, que trazem a público alguns as-
pectos especialmente do início do programa Pon-
tos de Memória, e que indicam um mote para que 
outras avaliações e registros do programa, bem 
como das diferentes realidades e experiências dos 
Pontos de Memória sejam elaborados. Há muitos 
sujeitos envolvidos tanto nas comunidades como 
no Instituto Brasileiro de Museus com essa trajetó-
ria, e muitos dos atores já estão em outros percur-
sos mas deixaram suas importantes contribuições. 
Desejo agradecer a todos eles em nome de um su-
jeito em especial, o museólogo Mario Chagas, que 
como um militante e mestre da poesia que tam-
bém é, soube encantar e inspirar diferentes grupos 
sociais a descortinarem o poder da memória e a 
ferramenta museu como instrumento de transfor-
mação.
Em nome do Departamento de Processos Muse-
ais do Ibram, convido os leitores que conheceram 
um pouco mais dessas múltiplas possibilidades de 
construção de memórias e identidades a amplifica-
rem-nas em suas práticas, a partir da ideia de “eco-
logia dos saberes” e de um permanente diálogo 
com diferentes atores. São experiências baseadas 
nessas premissas e no caráter transformador dos 
museus que tanto têm contribuído para apresentar 
o Brasil ao mundo como celeiro de uma Museolo-
gia singular, conectada com o presente e necessá-
ria para o futuro.
98
Créditos das Imagens
Ponto de Memória da Grande São Pedro (p. 18-19)
Créditos: Acervo do Ponto de Memória da Grande São Pedro. 
Autorização de uso concedida por João Bispo Júnior.
Ponto de Memória Museu do Taquaril (p. 20-22)
Créditos de Imagens: Acervo do Ponto de Memória Museu do Taquaril 
Autorização de uso concedida por Leila Regina da Silva.
Museu Social da Brasilândia (p. 24-27)
Créditos das imagens: Acervo do Museu Social da Brasilândia.
Autorização de uso concedida por Leandro Batista e Kleber Silva Júnior.
Museu Cultura Periférica (31-33)
Créditos das Imagens: Acervo do Museu Cultura Periférica. 
Autorização de uso concedida por Viviane Conceição Rodrigues.
Ponto de Memória do Beiru (p. 34-35)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória do Beiru. 
Autorização de uso concedida por Roberto Freitas.
Museu Mangue do Coque (p.35-36)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória Museu Mangue do Coque.
Autorização de uso concedida por Vanessa Francisca da Silva.
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro (42-43)
Foto 1: Márcia Vargas; Foto2: Ibram; Foto 3: Ibram; Foto 4: Acervo do Ponto de 
Memória da Lomba do Pinheiro.
Autorização de uso cedida por Claudia Feijó, Teresinha Beatriz Medeiros e Már-
cia Vargas.
Ponto de Memória da Terra Firme (44-48)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória de Terra Firme. 
Autorização de uso cedida por Francisca Rosa dos Santos e Mário Alberto 
Quadros.
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim (p.49-58)
Foto 1: Acervo do Ponto de Memória do GBJ; Foto 2: Acervo do Ponto de Me-
mória do GBJ; Foto 3: Geovah Meireles; Foto 4: Lavínia Santos; Foto 5: Acervo 
do Ponto de Memória do GBJ; Foto 6: Acervo do Ponto de Memória do GBJ; 
Foto 7: Acervo do Ponto de Memória do GBJ; Foto 8: Igor Graziano; Foto 9: 
Igor Graziano.
Autorização de uso cedida por Neiliane Bezerra, Regina Severino, Ícaro Martins, 
Miguel Neto, Adriano Almeida, Raimundo Moreno, Maria Lima e Marileide da Silva.
Ponto de Memória da Estrutural (p.64-67)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória da Estrutural.
Autorização de uso concedida por Caroline Soares, Deuzani Noleto, Coracy 
Coelho e Maria de Abadia Jesus.
Museu de Favela - MUF (69-70)
Créditos das imagens: Acervo do MUF. 
Autorização de uso concedida por Sidney Silva.
Museu de Periferia (73-74)
Créditos das imagens: Acervo do Museu de Periferia. 
Autorização de uso concedida por Palmira de Oliveira.
Teias da Memória (p. 77)
Créditos das imagens: Acervo Ibram

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