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Relações Internacionais Teoria e História - Conceitos

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Becka Sther

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MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES 
TEÓRICAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e 
Perspectivas 
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais 
Unidade 3 - Correntes Teóricas das Relações Internacionais 
Unidade 4 - O Realismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo 
Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas 
 
 
 
Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a: 
identificar os principais pontos da agenda de relações internacionais 
contemporâneas; 
estabelecer o conceito e as características da Globalização; 
estabelecer a importância das relações internacionais para o Brasil; 
 assinalar a evolução histórica e a importância de Relações Internacionais 
como disciplina acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
Em um curso de educação a distância por meio da Internet, o estudante tem 
um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade com o 
conteúdo proposto. Portanto, procure organizar-se para ter o melhor 
aproveitamento possível do curso. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo 
 
 
Antes de iniciar os estudos desta unidade, assista ao primeiro vídeo 
educacional da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global - Mundo Digital"), 
disponível na página do ILB. 
 
 
 
 
Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais 
que oferece informações necessárias à compreensão dos novos processos de 
intercâmbio entre as nações. Os programas enfocam toda a história das 
relações entre os povos, os tratados e políticas para a nova ordem 
internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”, 
“blocos econômicos” etc. 
 
 
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das 
relações entre os povos, de uma maneira como nunca experimentada 
anteriormente. Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço 
perdem o significado que tinham para nossos pais e avós, e as pessoas de 
diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre 
dois pontos é uma tecla”. 
 
O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, 
globalizado, interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em Londres 
e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema 
internacional vê-se cada vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de 
pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do segundo 
milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! 
 Pág. 3 - O Processo de Globalização 
 
O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e 
intensificação de mecanismos, processos e atividades, com vista à promoção de 
uma interdependência global e, em última escala, à integração econômica e 
política em âmbito mundial. Trata-se de conceito revolucionário, envolvendo 
aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Registre-se, ademais, que 
essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno, o qual não é recente, 
mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX. 
 
Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do 
“mundo sem fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e 
“economia global”. Poucos lugares do mundo estão a mais de dez dias de 
viagem, e a comunicação através das fronteiras é praticamente instantânea. 
 
Em nossos dias, com as economias interligadas, blocos se formam, com 
consequências que ultrapassam os benefícios econômicos, pois as conquistas 
sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios 
de todos os outros. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos 
humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de benefícios econômicos. 
Cite-se, por exemplo, o caso de países como Grécia, Portugal e Espanha, que, 
para serem aceitos na então Comunidade Europeia, tiveram que promover 
importantes mudanças econômicas, sociais e políticas. O mesmo se aplica à 
Turquia, que aspira a tornar-se parte da moderna Europa. 
 
No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), há a chamada "cláusula 
democrática", a qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos 
podem participar do bloco. Essa cláusula evita as alternativas autoritárias em 
alguns países do Mercosul, em momentos de crise institucional. 
 
Assim, o atual processo de globalização envolve a integração econômica 
mundial em diversos níveis, com a redução das distâncias em virtude do 
desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala 
global, e do fortalecimento dos meios de comunicação. Nesse contexto, novos 
atores, como as organizações não governamentais, as empresas transnacionais, 
a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a conduta dos 
Estados. 
 
 
 
Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida, 
 
“Contra a Antiglobalização”. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 4 - Dilemas da Globalização 
 
Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. 
Nesse sentido, há a criminalidade, que ultrapassa as fronteiras dos Estados, com 
organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas no âmbito 
internacional. Crimes como o narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de 
pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são problemas 
exclusivos de um ou outro país, mas questões globais que devem ser encaradas 
sistemicamente. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro, que 
movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto 
Interno Bruto (PIB) mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). 
 
Assim, ao lado das grandes conquistas, há novos e grandes desafios: parte 
significativa da população mundial ainda permanece no século XIX. Nações ricas 
e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. 
Alguns locais do globo ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas 
doenças afligem milhões. Cite-se, ainda, a parte significativa da raça humana 
que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional 
presencia crises econômicas, políticas, culturais e sociais. E o destino da 
humanidade permanece uma grande incógnita. 
 
 
Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais 
 
 
 
Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado 
envolve os problemas ambientais. Cada vez mais a humanidade toma 
consciência de que o meio ambiente não pode ser tratado como assunto interno 
dos Estados e que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras. A terra é um 
corpo único e seus recursos são patrimônio de todos os seres humanos e das 
futuras gerações. Daí que os males causados ao meio ambiente afetam toda a 
humanidade. 
Convém registrar que, para Relações Internacionais como disciplina acadêmica 
ou área do conhecimento, empregaremos iniciais maiúsculas, enquanto que, 
quando nos referirmos ao objeto de estudo, usaremos o termo em minúsculas. 
 
No último quartel do século XX, a proteção ao meio ambiente passou a ser uma 
das grandes preocupações da comunidade internacional, não só na esfera de 
governo, mas também entre todos os habitantes do planeta. A Conferência do 
 
Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram-se nas 
últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto assim 
que se calcula em mais de mil os tratados internacionaisassinados sobre o tema. 
 
Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga, sobretudo 
quando notícias de violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do 
planeta. No moderno sistema internacional, agressões contra uma pessoa 
devem ser consideradas crimes contra toda a raça humana. O intenso trabalho 
das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente 
americano refletem essa nova realidade. 
 
Ademais, à medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os 
conflitos, outro componente marcante da agenda internacional desde sempre. E 
no extremo dos conflitos, temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse 
sentido, o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo 
o globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a 
sociedade internacional. 
 
De fato, uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda 
presenciaremos o fenômeno da guerra. Entretanto, alguns cogitam mesmo que 
a guerra, neste século, não será mais entre países, mas entre civilizações 
(HUNTINGTON, 1998). 
 
 
 
 
 
 
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais 
 
 
Eis, portanto, o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas, grandes 
desafios! E é nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento 
das relações internacionais. Atualmente, quem não estiver informado sobre o 
que ocorre no mundo poderá ver-se bastante limitado, pessoal e 
profissionalmente. 
 
Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um 
processo de globalização, que situações ocorridas na China podem afetar a nós, 
brasileiros, do outro lado do planeta. Daí que o problema do outro passa a ser 
também um problema nosso, e o bem-estar de cada homem passa a significar o 
bem-estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte da 
solução, é parte do problema! 
 
 
 
 
 
Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por 
ocasião de curso presencial ministrado no ILB. Aqui 
Aumente o som de seu equipamento e bons estudos! 
 
 
 
 
 
O Brasil e as Relações Internacionacionais 
 
 
Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial, e estando 
entre as maiores economias do planeta, com condições e pretensões de se 
tornar uma grande potência, o Brasil não pode se furtar a ter um papel de 
destaque nas relações internacionais. As transformações e acontecimentos no 
mundo globalizado farão cada vez mais parte de nosso dia a dia, em uma 
tendência praticamente irreversível. 
 
Estamos estrategicamente localizados, temos fronteiras com praticamente todos 
os países sul-americanos, e com o Atlântico, principal via para a Europa e a 
África. Ademais, somos uma nação tida como pacífica e respeitadora do direito 
internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. Finalmente, 
não devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um 
povo multiétnico, empreendedor e, nos dizeres de Gilberto Freyre, com suas 
peculiares “características antropofágicas”. 
 
Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no 
cenário internacional. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil 
começou a se fazer mais presente. Isso coincide com o surgimento e o 
desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com 
o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos 
setores da nossa sociedade. 
 
É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de 
Relações Internacionais. Na Administração Pública, essa demanda é mais 
evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os 
legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem 
quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política interna e política 
externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão 
afetadas por esta e vice-versa. 
 
 
Um sítio interessante para o estudante e o profissional de Relações 
Internacionais é o Inforel, que traz cobertura atualizada das questões gerais da 
área e também de defesa nacional, além de artigos com análises interessantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira 
 
A importância das relações internacionais também pode ser percebida na 
maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. A Carta Magna, já em 
seu Título I, referente aos “Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os 
princípios que regem as relações internacionais do Brasil: 
 
 
 
· independência nacional; 
· prevalência dos direitos humanos; 
· autodeterminação dos povos; 
· não intervenção; 
· igualdade entre os Estados; 
· defesa da paz; 
· solução pacífica dos conflitos; 
· repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
· cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
· concessão de asilo político. 
 
 
 
 
Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais 
estão intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade 
das nações ao longo de sua história. Foi graças às revoluções em países como 
a Inglaterra, a França, os EUA e a Rússia, e à difusão desses princípios para 
além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma cultura de direitos 
fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação a 
esses direitos gera repulsa da comunidade internacional. 
A Constituição de 1988 inovou ao elencar, de forma sistemática, os princípios 
que regem nossas relações internacionais. Para maior aprofundamento, 
sugerimos a leitura do artigo 'Os princípios das relações internacionais e os 25 
anos da Constituição Federal', do Professor Alexandre Pereira da Silva, 
disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'. 
 
Vereshchetin (1996), por exemplo, vê no que chama de “fator direitos humanos” 
um dos principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção 
internacional no pós-Guerra. O relacionamento entre Estado e indivíduo, que 
tradicionalmente foi objeto de preocupação de leis internas, não mais pode ser 
considerado uma questão puramente doméstica dos países. 
 
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a 
incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico interno e a 
prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte, 
caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. 
Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países. Quando 
não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o rumo 
da interpretação. 
Na década de 1990, as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia, por 
exemplo, decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser 
interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas 
tivessem força efetiva. 
 
Há, portanto, em todo o planeta, sinais de uma crescente interdependência até 
mesmo no campo jurídico, e o Tribunal Penal Internacional nada mais é que uma 
expressão e consequência disso. 
 
 
 
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais 
 
 
As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. 
Em nosso sistema jurídico-político, quaisquer tratados que o Brasil celebre com 
outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente 
passar peloaval do Congresso Nacional antes de serem ratificados. 
 
O art. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer, logo nos dois 
primeiros incisos, as competências exclusivas do Congresso Nacional: 
 
 
 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
 
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que 
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; 
 
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a 
permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele 
permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei 
complementar; 
 
(...) 
 
 
 
E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa 
Legislativa que avalia e aprova nossos embaixadores, autoridades máximas das 
missões diplomáticas brasileiras, designados para representar o País no 
Exterior. Compete também ao Senado autorizar as operações externas de 
natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
 
Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações 
exteriores e defesa nacional. No Senado Federal, por exemplo, a Comissão de 
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), composta por 19 membros 
titulares e 19 suplentes, é competente para tratar das questões que envolvam as 
relações internacionais do País. 
 
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos 
das relações internacionais. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na 
comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque, mais 
importante se faz o conhecimento, na esfera do Legislativo, dos principais temas 
da área. 
 
 
 
Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais 
 
 
Antes de concluirmos a primeira Unidade, convém apresentar algumas 
considerações gerais sobre o estudo das relações internacionais como 
disciplina, as áreas de atuação do profissional da área e a realidade brasileira. 
 
O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito, 
Economia, Administração, História, Filosofia, Sociologia, Antropologia, 
Estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas. 
 
O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os 
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao assistirmos àqueles 
dramáticos acontecimentos em tempo real, alguns véus foram retirados, e aos 
poucos tomamos consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao 
mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. O 
terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos 
hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente. 
 
No campo profissional, as relações internacionais são aplicáveis em diversas 
áreas. No Brasil, há profissionais dessa área atuando em vários setores da 
Administração Pública e da iniciativa privada. 
 
Em termos de carreira, uma das mais conhecidas é a diplomacia. O diplomata é 
o legítimo representante do Governo e da nação junto a outros povos e 
organizações internacionais. Para se tornar um diplomata no Brasil, é necessário 
o ingresso na carreira por meio de concurso público, promovido pelo Instituto Rio 
Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. Aprovado no concurso, e, 
submetido a um período de treinamento no IRBr, o diplomata inicia uma carreira 
como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador. 
 
 
Palácio do Itamaraty 
Fonte:www.inforel.org 
 
No serviço público, além da Chancelaria, o profissional de relações 
internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos vários órgãos da 
Administração Federal, Estadual e Municipal. Afinal, sempre há uma “assessoria 
internacional” em cada ministério, secretaria, autarquia e empresas públicas. E 
o perfil do internacionalista se destaca. Constata-se a presença de profissionais 
de relações internacionais nas principais carreiras de Estado. 
 
Na iniciativa privada, outro leque de alternativas se abre aos que possuem 
formação na área. Além das grandes corporações multinacionais e 
transnacionais, as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a 
necessidade de atuarem em uma economia globalizada. Assim, em um mundo 
cada vez mais integrado econômica e financeiramente, as empresas precisam 
de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema 
internacional. Aquelas que desconsideram essa percepção frequentemente 
acabam por sucumbir. 
 
Além disso, há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações 
Internacionais e Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU, 
OEA, OIT, OMC, OPEP, UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília 
tem representação da maior parte dos organismos internacionais dos quais o 
Brasil é membro e, com isso, o mercado do profissional de relações 
internacionais se amplia na capital federal. 
 
 
 
Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente 
 
 
 Até o início do século XX, as relações internacionais não eram estudadas como 
disciplina independente. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras 
ciências, como o Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política. 
 
À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações 
entre os Estados mais diversificadas, relações estas que envolviam conflito e 
cooperação, e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam 
diretamente no cotidiano das pessoas e na política interna das nações, 
percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos 
atores em um cenário internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam 
constituir uma nova área do conhecimento, independente e com autonomia para 
gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das primeiras 
cátedras de Relações Internacionais pelo mundo. 
 
Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século 
XX, nas principais universidades europeias e norte-americanas. Foram 
constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se 
desenvolviam as relações entre os Estados. Naquele contexto, as perguntas que 
impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma 
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então, 
que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas, sobretudo 
no território europeu. Assim, os temas centrais eram: 
 
 
 O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica? 
 O que leva os Estados à guerra? 
 É possível se evitar o conflito entre os povos? 
 Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na 
conduta desses entes? 
 
 
Claro que, no decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais 
diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais 
complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, 
direitos humanos e globalização, vinham à baila. Atualmente, a disciplina é 
ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à medida que 
também evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, hoje há 
cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e 
profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público 
e privado. 
 
O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na 
Universidade de Brasília, na década de 1970, fazendo da capital da República o 
referencial brasileiro em estudos internacionais. Até meados da décadade 1990, 
havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade 
de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Hoje, são dezenas 
de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo 
o País. Trata-se, portanto, de carreira de grata expansão. Mesmo assim, a 
contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, 
sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma grande potência 
entre seus pares. 
 
Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso, realize as 
atividades propostas e, em seguida, passemos às teorias e aos principais 
conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações 
Internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais 
 
 
Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar e definir os 
seguintes conceitos fundamentais de relações internacionais: 
• Sociedade Internacional; 
• Atores; 
• Forças Profundas; 
• Sistema Internacional; 
• Potência; 
• Hegemonia. 
 
 
 
 
 
Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias 
para o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom 
aproveitamento! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - Conceitos Fundamentais 
 
 
Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos 
fundamentais de Relações Internacionais. Nesse sentido, seria complicado 
tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses 
conceitos. Dentre eles ressaltamos: 
 
 Sociedade Internacional; 
 Atores; 
 Forças Profundas; 
 Sistema Internacional; 
 Potência; 
 Hegemonia. 
 
 
 
 
Antes de iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que assista atentamente 
aos dois vídeos seguintes do Conexão Mundo, 
“Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais”, disponíveis no sítio do 
ILB. 
 
 
 
 
A seguir, vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses 
conceitos. 
 
Sociedade Internacional 
 
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de 
Relações Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade 
Internacional. 
 
Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse 
conceito? 
 
A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século 
XVII – permite direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. 
Apesar da ausência de uma autoridade central no cenário internacional, os 
Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a, e constituídos por, 
restrições de diversas naturezas – históricas, sistêmicas, legais e morais, entre 
outras. 
 
Num primeiro momento, podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução 
histórica das relações entre os grupos, povos e, mais tarde, Estados-nações 
organizados em âmbito espacial determinado. Podemos identificar a evolução 
da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da 
Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade 
Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos 
XVIII e XIX e o seu declínio, no século XX, frente a um sistema cada vez mais 
globalizado e interdependente. 
 
 
 
 
Pág. 3 - Sociedade Internacional 
 
Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos 
Estados nacionais, que só se deu, nos moldes como os concebemos hoje 
(compostos de povo, território e soberania), há dois séculos. Mesmo que não 
houvesse consciência dos povos a esse respeito, não há como negar a 
existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. Afinal, a 
partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e 
diferenciados, exercendo relações políticas, culturais ou comerciais entre si, tem-
se uma Sociedade Internacional embrionária. Das tribos passaram-se aos 
reinos, às cidades-estados e aos impérios, e estes, vistos em um contexto macro 
e nas relações entre si, formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo. 
 
Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional, inserido em um 
Sistema Internacional da Antiguidade, refletia mais um conjunto de sociedades 
regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem 
consciência da existência umas das outras. Era uma época em que as forças 
naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente, e a “Sociedade 
Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade 
Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o 
principal ator. 
 
Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta 
é que se estrutura uma Sociedade Internacional global. Assim, desde o século 
XVI, o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado, seja pela força da 
economia e do comércio, seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais 
europeias. Paul Kennedy, em sua obra já clássica Ascensão e Queda das 
Grandes Potências, analisa, com clareza, como o extremo oeste do continente 
euro-asiático, conhecido como Europa, com uma diversidade de povos e reinos 
autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas, consegue expandir-
se pelo mundo e, em pouco mais de dois séculos, tornar-se o centro de uma 
sociedade global, subjugando forças tradicionais como a China e o Império 
Otomano. 
 
 
O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filósofo 
inglês Jeremias Bentham, em sua obra Princípios de Moral e Legislação. Essa é 
a época do apogeu dos Estados nacionais, com o início do declínio do 
absolutismo no continente europeu. Era um período em que a ideia de nação 
ainda estava muito ligada à figura do soberano. A Sociedade Internacional 
representava, para os europeus, a “Cristandade”, com seus paradigmas e 
princípios seculares. O Estado soberano era o principal ator internacional. 
 
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter 
puramente simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da 
soberania. Esta passou a residir essencialmente na nação, onde o súdito tornou-
se cidadão e as relações entre os Estados, até então simbolizados e conduzidos 
pelos monarcas, estenderam-se às relações entre os povos. O século XX 
esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são 
necessariamente relações entre os Estados, muito pelo contrário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 4 - Sociedade Internacional 
 
Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua 
evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos, povos, reinos, 
Estados, Impérios e nações, enfim, de todos os atores que a compõem ou a 
compuseram e das forças que influenciam a sua atuação. 
 
Qual é, então, o conceito de sociedade internacional? 
 
A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos 
teóricos das Relações Internacionais, que podem ser reunidos em três grandes 
grupos (CERVERA, 1991). 
 
Para os teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade 
Internacional. Limitam-se, assim, ao estudo dos componentes da Sociedade 
Internacional e à evolução das relações entre eles. 
 
Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional 
em contraposição a outros grupos sociais. Por essa ótica, a pergunta que se 
busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante,portanto, 
para esses autores, a formulação de um conceito teórico para Sociedade 
Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de apresentar sua definição 
de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicações, 
como veremos adiante. 
 
O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também 
necessário, proceder à definição do termo “Sociedade Internacional”, para que 
se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e 
das relações que se desenvolvem em seu meio. Uma vez que concordamos com 
essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade Internacional. 
Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados. 
 
Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres 
humanos que vivem sobre a terra”. Percebemos uma definição genérica e 
abrangente, que põe completamente de lado as estruturas em que os seres 
humanos estão agrupados, como as nações ou os Estados nacionais. Para o 
autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de 
“humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a 
Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente 
de suas origens e do grupo ou povo a que pertence. 
 
Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade 
Internacional como um “grupo de comunidades políticas independentes que não 
formam um sistema simples”. 
 
Juan Carlos Pereira (2001) apresenta uma definição mais precisa e completa: 
“um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de 
relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou 
geograficamente organizados e com poder de decisão.” O autor acredita que a 
Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional. 
 
Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela 
sociedade global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder 
social autônomo, entre os quais se destacam os Estados, que mantêm entre si 
relações recíprocas, intensas, duradouras e desiguais sobre as quais é 
assentada certa ordem comum”. 
 
Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade 
Internacional, que é baseada na corrente historiográfica, pela qual buscamos 
reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e 
de sua evolução desde a Antiguidade. A nosso ver, Sociedade Internacional 
pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica 
em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas. 
 
Desmembremos esse conceito para melhor compreensão. 
 
 
 
 
 
Pág. 5 - Ator Internacional 
 
A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um 
conjunto de entes. Esses entes nada mais são do que os Atores internacionais. 
Ator internacional é toda autoridade, organização, grupo ou pessoa que 
representa ou pode vir a representar um papel de destaque na Sociedade 
Internacional. A percepção desses atores varia conforme o tempo e a corrente 
teórica que os identifica, mas podemos destacar aqueles que, na atualidade, 
podem ser considerados os mais importantes: os Estados nacionais, os atores 
governamentais interestatais (as organizações internacionais), os atores não 
governamentais interestatais (i.e., organizações não governamentais e 
empresas multi- e transnacionais, entre outros) e os indivíduos. 
 
Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados 
como Ator Internacional. Para nossa classificação, é necessário que a atuação 
desses entes tenha destaque em escala global. Por exemplo, uma associação 
estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e 
interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país não é um Ator 
internacional. 
 
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator 
internacional. Grandes empresas transnacionais de hoje foram, no passado, 
pequenas organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam 
exclusivamente no interior de seu país de origem, não sendo à época Atores 
internacionais. À medida que essas empresas cresceram, expandiram-se para 
além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na 
Sociedade Internacional, tornaram-se Atores internacionais. 
 
 
 
Pág. 6 - Sistema Internacional 
 
O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à 
atuação sistêmica na esfera internacional. Adotamos uma abordagem sistêmica, 
em que o aspecto relacional é importante. Sistema pode ser conceituado como 
“conjunto de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma 
relação” ou, ainda, “conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias, tendente 
a um resultado”. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o 
conjunto de inter-relações entre os Atores internacionais como sujeito a padrões 
e normas – enfim, a forças profundas –, que remetem ao conjunto mais amplo, 
o sistema internacional como um todo. 
 
As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as 
Relações Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. 
Nesse sentido, pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano, no qual 
vários subsistemas – circulatório, nervoso etc. – são compostos de órgãos que 
se relacionam e dependem uns dos outros. A ideia de sistema, portanto, está 
relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à 
interdependência entre esses componentes. 
 
Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, recorreu 
ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais. 
Assim, a Sociedade Internacional tem características suficientemente estáveis 
para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas 
relações dentro de certos padrões. 
 
Cabe aqui, também, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo 
com Frederic S. Pearson e J. Martin Rochester (2000, p. 641): 
 
Sistema Internacional. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas 
política, econômica, social e tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações 
internacionais em um dado momento. 
 
Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de 
Sistema Internacional para identificar certos períodos históricos. Por exemplo, 
Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia 
internacional, que alguns defendem corresponder, por exemplo, à Europa do 
pós-1815. Em contrapartida, Sistema Internacional traduziria a existência de 
vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se 
harmonizam no todo, o que alguns autores defendem corresponder ao mundo 
pós-1945. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - Forças Profundas 
 
Finalmente, de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional, o 
terceiro elemento fundamental são as “forças profundas”. A ideia de “forças 
profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais 
cujos principais expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. De 
acordo com esses historiadores, as forças profundas nada mais seriam que 
determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades. 
 
As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses 
econômicos e financeiros, os traços da mentalidade coletiva, as grandes 
correntes sentimentais – todas essas forças profundas formaram o quadro das 
relações entre os grupos humanos e, em grande parte, lhes determinaram o 
caráter. Ohomem de Estado, nas suas decisões ou nos seus projetos, não pode 
negligenciá-las; sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que 
elas impõem à sua ação. Todavia, quando ele possui quer dons intelectuais, quer 
firmeza de caráter, quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites, 
pode tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus 
próprios fins. 
 
Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” 
(PEREIRA, 2001, p. 44). Identifica alguns desses fatores: fator geográfico, fator 
demográfico, fator econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de 
valores, fator político-jurídico e fator militar-estratégico. 
 
Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, 
organizações internacionais, organizações não governamentais, empresas 
transnacionais, indivíduos, entre outros – que são influenciados pelas forças 
profundas – fatores geográficos, demográficos, migratórios, políticos, 
econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – em suas 
ações sistêmicas na esfera internacional. 
 
 
 
Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as 
Forças Profundas, de Arno Wehling: 
 
Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. 
 
 
 
 
 
Além do clássico Histoire des Rélations Internationales, obra-mestra da 
historiografia francesa das relações internacionais, caberia destacar dois livros 
de 
Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das 
Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro, 
de 
São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de 
Duroselle, lançado no Brasil em 2000. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 8 - Potência 
 
Além dos conceitos já tratados, cabem, neste curso introdutório, algumas 
observações – ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos 
essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer 
das próximas unidades. Passemos a eles. 
 
 
Potência 
 
O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de atores. Nesse 
contexto, o Estado ocupa papel de destaque, mas existem diferenças marcantes 
entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles 
exercem. Assim, importante para a compreensão das relações internacionais é 
a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação. 
 
Há inúmeras definições para Potência. 
 
Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em 
seu aspecto externo, e quase pode ser definido como a lealdade máxima em 
defesa da qual os homens hoje irão lutar”. 
 
Rafael Calduch Cervera (1991), por sua vez, cita o conceito de Potência 
Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como aquele Estado “mais ou 
menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um 
ou mais âmbitos-chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de 
relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”. 
 
Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade 
Internacional, Martin Wight relaciona Potências Dominantes, Grandes Potências, 
Potências Mundiais e Potências Menores. Potências Dominantes e Potências 
Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande Potência, uma vez que ambas 
as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de 
influência significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a 
diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores. 
 
Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra 
todos os rivais juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à 
época das Guerras do Peloponeso, o Império Romano, a Espanha de Carlos V 
e de Filipe II, a França de Luís XIV, a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no 
século XX. 
 
Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência 
Dominante, conforme definida por Wight, é o de Superpotência. Esse termo, 
cunhado com o advento da Guerra Fria, designava exclusivamente URSS e 
EUA. Esses países, em virtude de suas capacidades nucleares – com poder de 
destruição global –, inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional 
e à influência político-ideológica mundial, tinham status único na comunidade 
das nações. 
 
Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências: 
 
têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo; 
 
dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos 
armamentos convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de 
outros meios de destruição em massa; 
 
assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do 
Pacto de Varsóvia); 
 
pretendem oferecer um modelo universal de sociedade. 
 
 
Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o poderio 
exclusivamente militar. De fato, a capacidade de destruição massiva do planeta 
é o elemento central do conceito de Superpotência, mas o aspecto de liderança 
de um bloco de nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade 
universal em seus moldes político-econômico-ideológico-sociais não pode ser 
desconsiderado. 
 
 
 
Pág. 9 - Potência 
 
 
Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma 
Superpotência: os EUA. Alguns autores vislumbram a possibilidade de a China 
vir a ocupar, na segunda metade do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, 
ainda não há que se falar na China como Superpotência, uma vez que esta, além 
de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio de 
Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de projetar 
um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. A Rússia, por 
sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição 
massiva do planeta, não pode ser chamada de Superpotência, exatamente 
porque também não tem condições de aspirar a qualquer pretensão hegemônica 
no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados os 
vencedores da Guerra Fria, são hoje o único Estado com as características 
básicas da superpotência, e, de fato, essa nação tem-se tornado tão poderosa 
que já se cunha o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História. 
 
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências 
juntas. Esse aparato não se resume ao acervo das armas de destruição em 
massa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de 
operação militar em mais de um teatro no globo. Ademais, trata-se de uma 
Economia de peso diante do sistema, sua influência na política internacional é 
marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para 
outras regiões do planeta. 
 
Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à 
altura, e são a Grande Potência econômica e a liderança mundial. Do ponto de 
vista econômico, por exemplo, apenas a coalizão das grandes economias 
europeias pode fazer frente aos EUA, o mesmo se podendo dizer das economias 
asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não encontra 
precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política externa 
estadunidense como uma política de império. De qualquer maneira, o conceito 
de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento. 
 
O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a 
ideia de hegemon, ou seja, uma potência tão poderosa que seria necessáriauma 
coalizão de todas as demais nações para contê-la. A concepção de hegemon 
ultrapassa a esfera exclusivamente político-militar, de modo que o Estado que 
detém esse título influencia a Sociedade Internacional em esferas diversas, 
como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até o Direito. Além disso, 
essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. 
De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e 
consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando 
a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status. 
 
Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros 
meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –, como a 
presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na 
produção de bens de consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua 
identificação com a liberdade política e de mercado, do que propriamente por 
meio do hard power (poder militar). 
 
Além da potência hegemônica, há outros atores estatais com capacidade 
significativa de influência na Sociedade Internacional. Esses são as Grandes 
Potências, as quais, inclusive, disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-
se a potência dominante, chegando, muitas vezes, a alcançar esse objetivo. De 
fato, as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas 
Potências disputariam poder em um jogo de influência. Como exemplos atuais 
de Grandes Potências teríamos China, França, Rússia, Alemanha, Japão e Grã-
Bretanha. 
 
As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema 
varia significativamente. Nesse grupo, poderiam ser relacionadas desde as 
Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências 
Regionais – Argentina e Egito, por exemplo. Vale destacar que uma Potência 
Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência 
Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso. 
 
 
 
 
 
Pág. 10 - Potência 
 
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de 
influenciar de maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional 
em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado como 
Microestado, Potência Local, Potência Média, Grande Potência ou 
Superpotência. 
 
Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos 
dias e que, em sua maioria, tiveram origem na formação histórica dos Estados 
nacionais europeus ou no processo de descolonização. Encontram-se 
constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e 
integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações 
internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado 
de Mônaco e a República de San Marino, diversos Estados-arquipélagos no 
Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. Apesar de 
minimamente influentes na Sociedade Internacional, esses entes ganham força 
quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde 
tenham poder de voto igual ao de outros Estados. 
 
As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades 
comuns da vida internacional, esses entes têm como objetivos principais sua 
própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. De maneira geral, 
não têm grandes pretensões internacionais de projeção de poder e acabam 
também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais. Como 
exemplos para essa categoria, temos países como Bolívia, Paraguai, Camboja, 
Albânia e Moçambique. 
 
São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados 
aptos a representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. 
Egito, Síria, Nigéria, Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais 
ou Médias. Esses países exercem influência em virtude de suas aptidões de 
liderança sob certos limites geográficos, fundadas em seus potenciais materiais 
ou demográficos, sua envergadura ideológicas ou seu peso militar, econômico e 
até social. 
 
Gounelle, no entanto, diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao 
afirmar que estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias 
capacidades. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos 
(nuclear, cultural, econômico, diplomático). A França, a Alemanha, a China e o 
Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle relaciona como 
Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de 
Grandes Potências, ou seja, Potências com interesses globais e capacidade de 
influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar 
Potências como China e Grã-Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz 
comparando-as às Superpotências – à época, URSS e EUA. 
 
 
 
Pág. 11 - Hegemonia 
 
 
Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra International 
Relations: the Key Concepts, de Martin Griffiths e Terry O’Callaghan (London: 
Routledge, 2002). 
 
 
 
Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em 
Relações Internacionais, o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo 
de nações. 
 
Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-
se que haja uma certa ordem na Sociedade Internacional. Daí que, apesar de 
ser o Estado mais poderoso no cenário internacional, o hegemon só pode 
exercer sua liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em 
um meio internacional. 
 
Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma 
sociedade, com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se 
em dois aspectos: coerção e consenso. Assim, toda relação de poder tem por 
base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um 
sobre os demais. À medida que é alterada essa relação, muda também a 
liderança no grupo. 
 
Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas 
esferas de consenso e coerção. Uma relação que se baseie apenas na coerção 
– por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser 
verdadeiramente hegemônica, da mesma maneira que é impossível a liderança 
da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais atores. 
 
As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das 
Potências, da hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, além de 
política, pode ser militar, econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou 
global. Um Estado que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito 
provavelmente o será na maioria das outras. É claro que tal liderança pode ter 
diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias 
pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário 
internacional. 
 
A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo 
interesse é manter o status quo do sistema, diante de outras Potências que não 
pouparão esforços para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da 
estabilidade hegemônica, o hegemon tem que ter capacidade de garantir a 
ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes da 
comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria 
dispor de alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e 
poder político baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos 
a capacidade de obter consenso sobre sua liderança. 
 
 
Pág. 12 - Hegemonia 
 
Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existênciade uma 
hegemonia, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens 
públicos” internacionais, como lei, ordem e moeda estável. Conforme didática 
explicação de Griffiths (2004, p. 26-27): 
 
(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e 
serviços se não houver um Estado que forneça certos pré-requisitos. Por 
definição, os mercados dependem da transferência, por meio de um mecanismo 
de preço eficiente, de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos 
entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os 
mercados dependem do Estado para lhes dar, por coerção, regulamentos, taxas 
e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. Isto inclui uma 
infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos, uma 
infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei, além de um meio de 
permuta estável (dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e 
serviços. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os governos fornecem tais 
bens. É claro que, internacionalmente, não existe Estado no mundo capaz de 
multiplicar sua provisão em escala global. Baseando-se na obra de Charles 
Kindleberger e na análise de E. H. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na 
economia internacional no século XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a 
“liberalização” da permuta internacional dependem da existência de uma 
“hegemonia”, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens 
públicos” internacionais, como lei, ordem e uma moeda estável para o comércio 
financeiro. 
 
Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica. 
 
 
 
É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4, ao tratarmos do 
debate teórico travado entre neorrealistas e neoliberais. 
 
 
As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, 
e o hegemon nada mais é que a Potência Dominante. A hegemonia político-
ideológica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotências no 
contexto da Guerra Fria, mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada 
como ameaça à hegemonia econômica dos EUA. 
 
Deve-se esclarecer, todavia, que, durante a maior parte da Guerra Fria, 
imaginava-se que a União Soviética se tornaria uma grande potência 
econômica. 
Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as economias 
ocidentais agonizavam por causa da crise de 1929, a economia soviética 
crescia a taxas espantosamente altas. 
 
 
 Pág. 13 - Hegemonia 
 
 
Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia, atente para 
esta aula do Professor Joanisval. Aqui . 
 
 
 
 
 
Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentais para a 
compreensão das unidades seguintes e para a discussão dos temas tratados 
neste curso. 
 
 
 
 
Artigo interessante para concluir os estudos desta Unidade é o texto de João 
Marques de Almeida, sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais 
 
 
 
 
Ao final da unidade, o aluno deverá ser capaz de: 
indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das Relações 
Internacionais no Século XX; 
identificar os principais debates teóricos da disciplina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais 
 
 
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se 
pretende conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método 
científico (CERVERA, 1991). A teorização sobre as Relações Internacionais 
surgiu quando se buscou explicar a existência e as condutas dos entes 
internacionais. É na Grécia Antiga, com a obra de Tucídides, História da Guerra 
do Peloponeso, que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria 
de Relações Internacionais. 
 
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl Popper, 
certamente têm em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. 
Nas palavras de Tomassini (1989, p. 55): 
 
"A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. Exige uma 
explicação de por que ocorreram, que efeitos causaram e algumas predições 
(ou, no caso das ciências sociais, conjecturas) sobre seu comportamento 
provável no futuro, uma mescla de causalidade, teleologia e prospecção. No 
campo das ciências sociais, como em outras ciências, a teoria é chamada a 
ministrar essas explicações, pondo ordem ao mundo heterogêneo e muitas 
vezes incompreensível dos fatos isolados, e a arriscar algumas predições." 
 
 
A Teoria do Equilíbrio de Poder 
 
Começamos por essa teoria por uma razão simples: para muitos estudiosos da 
política internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder, também conhecida como 
Teoria do Balanço de Poder, é o que mais próximo existe de uma teoria política 
das relações internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou 
mesmo a dizer que tal teoria constituía uma “lei” da História. 
 
Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nação, 
multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. 
Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as 
práticas dos agentes e dos atores na Sociedade Internacional levaram à 
formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise 
convencional realista das relações internacionais, a Teoria do Equilíbrio de 
Poder. 
 
A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação 
de equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando 
um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos 
demais, há uma perturbação no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das 
Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, 
pressupondo o Estado como um ator racional, a teoria defende que o balanço ou 
o equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema 
internacional. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos 
compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra 
Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de 
governantes em um contexto anárquico e conflituoso, como será visto nas 
Unidades 2 e 3 do módulo seguinte deste nosso curso. 
 
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço 
deliberado para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da 
política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou 
frear a busca por hegemonia e, como resultado, resulta num equilíbrio geral). 
 
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário 
internacional e no equilíbrio de forças, em virtude dos traumas causados pelo 
conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública 
internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada. Sob o argumento 
de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a guerra 
deveria ser evitada a qualquer custo, o imediato pós-guerra foi marcado por 
novas concepções sobre as relações internacionais, baseadas em uma nova 
corrente teórica, a qual se fundamentava no Direito Internacional, na solução 
pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que 
garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.Foi, portanto, na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de 
Relações Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o 
tema em um contexto de disciplina autônoma. Claro que, em virtude de um objeto 
de estudo tão complexo, diversas foram as correntes teóricas instituídas nas 
últimas décadas. Como não é este um curso de teoria, pretendemos apresentar 
apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas. 
 
 
Pág. 3 - A fase idealista 
 
 
O Idealismo, como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de 
Relações Internacionais, surge em um contexto do final de um conflito muito 
marcante, a Primeira Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupação 
daqueles que então começavam a teorizar sobre as relações internacionais: 
 
Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, 
como evitar o conflito, sobretudo bélico, entre os Estados? 
 
 
No que se refere ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca 
poderia ter sido mais favorável ao Idealismo. A Grande Guerra havia 
demonstrado a fragilidade da tradicional diplomacia europeia como meio para 
assegurar a ordem e a paz internacional. As enormes perdas humanas e 
materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também, pelo advento de 
uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada 
como instrumento de política dos Estados. Pregava-se, ademais, o 
estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas 
contendas. 
 
Assim, sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente 
estadunidense Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações 
(SDN), com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança 
coletiva e um fórum em que os Estados pudessem resolver suas contendas de 
maneira pacífica. A SDN, portanto, contribuía para acentuar o otimismo frente ao 
futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os fundamentos de um sistema 
dirigido para preservar a paz. Nesse contexto, a teoria internacional dominante 
se orientava pelos caminhos do Idealismo, dos projetos de organização 
internacional, do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica 
e de propostas de desarmamento. Importância significativa foi dada pelos 
idealistas ao Direito Internacional e às instituições jurídico-normativas que 
garantissem a ordem nas relações entre os Estados: ganhava força o 
institucionalismo nas relações internacionais. 
 
Anarquia internacional não significa “desordem”, mas, sim, ausência de um 
governo central superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas 
a si mesmos e a outros Atores do sistema). Anarquia é, portanto, ausência de 
governo. 
 
 
 
 
O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se 
em estado de natureza, ou seja, de anarquia internacional. As nações devem 
buscar, destarte, superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em 
âmbito internacional que ordene as relações entre os povos. Os Estados, 
acreditavam os idealistas, deveriam portar-se de acordo com os mesmos 
princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. Para estimular ou obrigar 
esses Estados a seguir tais princípios, seria fundamental que se 
institucionalizasse, em escala mundial, o interesse comum de todos os povos em 
alcançar a paz e a prosperidade. O estudo de Relações Internacionais, como 
disciplina autônoma, mostrou-se como uma ciência da paz. 
 
 
Pág. 4 - A fase idealista 
 
O Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, duas visões de mundo opostas, 
em que o ponto de partida é a dicotomia anarquia x ordem. Apesar de Tucídides, 
com História da Guerra do Peloponeso, antes mesmo de surgirem os conceitos 
de soberania e a tese do estado de natureza, já ter iniciado a moldar uma 
concepção anárquica do mundo, é com Thomas Hobbes, em Leviatã, e, em 
seguida, com John Locke, em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo 
Tratado do Governo Civil), em que se explora, pela primeira vez, o estado de 
natureza anárquico a respeito das relações internacionais. 
 
Segundo Lijphart (1982), as noções de soberania e de anarquia internacional 
inspiraram três teorias interligadas: a do governo mundial, a do equilíbrio de 
poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva. 
 
Segundo a teoria do governo mundial, dado que a anarquia é responsável pela 
tensão internacional, é necessário celebrar um contrato social internacional para 
instituir um governo mundial soberano e único, para pôr fim à anarquia. 
 
A teoria do equilíbrio de poder, ao contrário, defende que a luta pelo poder entre 
os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio, o qual não alimenta uma 
tensão perpétua, mas cria uma ordem internacional. 
 
Para a teoria da segurança coletiva, o melhor seria que os Estados se 
empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo agressor, o que acabaria 
atenuando a anarquia internacional. 
 
Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados 
soberanos. Segundo Inis L. Claude, citado por Lijphart, essas três teorias 
correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma 
centralização cada vez mais repleta de autoridade e poder (no sentido balanço 
de poder > segurança coletiva > governo mundial). O mundo nunca passou do 
segundo estágio, o qual foi, na verdade, o foco da maior parte dos autores 
idealistas. 
 
 
 
Historicamente, no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa, 
soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas 
Hobbes, nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. Todavia, a 
história do sistema de Estados modernos, do século XVII em diante, é uma 
tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia 
de igualdade formal. 
 
 
 
Para as Relações Internacionais, é particularmente importante a visão 
construída por Hugo Grócio sobre a sociedade internacional a partir da teoria do 
contrato. Grócio, considerado o pai do Direito Internacional, defendeu ser o 
direito um conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus 
societatis. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade, ou potencial 
solidariedade, entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional, e 
procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos Estados de 
irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só 
pode ser legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade 
internacional como um todo. 
 
 
Grócio, como se observa, apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de 
poder. Para ele, existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas, e 
o mundo é uma sociedade composta de Estados onde reina um consenso 
normativo suficientemente amplo e intimidador para que a noção de estado de 
natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. A tese de Grócio parte 
da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de teorização, 
desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra, relação esta 
reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os 
realistas). 
 
 
 
 
 
Pág. 5 - A fase idealista 
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, 
principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris), a Carta da 
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de 
Nuremberg, derivamda fórmula grociana, que concebe a sociedade 
internacional de forma ordenada, fruto da analogia com a alegoria da sociedade 
doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII. 
 
Edward Hallett Carr, autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939, cuja 
primeira edição foi lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra 
Mundial, em 1939, analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática 
realista dos Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações 
internacionais e os argumentos que utilizavam ao tratarem das interações entre 
os povos: 
 
O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente 
desde o princípio. Surgiu de uma grande e desastrosa guerra; e o objetivo-
mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa 
doença do corpo internacional. O desejo passional de evitar a guerra determinou 
todo o curso e direção iniciais do estudo. Como outras ciências na infância, a 
ciência política internacional tem sido marcada e francamente utópica. Ela se 
encontra no estágio inicial, no qual o desejo prevalece sobre o pensamento, a 
generalização sobre a observação, e poucas tentativas são efetuadas de uma 
análise crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. Neste estágio, a 
atenção está concentrada quase exclusivamente no fim a ser alcançado. 
 
Carr cita, ainda, o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento 
idealista geral e que continha a resposta de Wilson: “se não funcionar, teremos 
que fazê-lo funcionar!”, quando indagado se aquele modelo moralizante e 
pacifista funcionaria – e esclarece: 
 
 
"O advogado de um plano para uma força de polícia internacional, ou para a 
‘segurança coletiva’, ou de algum outro projeto para uma ordem internacional, 
geralmente responde à crítica, não com um argumento destinado a mostrar como 
e por que ele pensa que seu plano funcionaria, mas sim, ou com uma declaração 
de que ele tem que ser posto a funcionar porque as consequências de sua 
ausência de funcionamento seriam desastrosas, ou com a demanda por alguma 
panaceia alternativa." 
 
 
Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações foi um esforço específico da 
política internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio 
da segurança coletiva. Tal princípio, que sustentou a criação daquela 
Organização, foi elaborado para remover a necessidade de equilíbrio ou 
balanço. Para os realistas, essa sua remoção no período entreguerras teria sido 
justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o sistema 
internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio idealista 
da segurança coletiva, e noções de bipolaridade e multipolaridade, típicas das 
análises de balanço de poder, o substituíram. Chegou-se mesmo, nos períodos 
mais quentes da Guerra Fria, em se falar de “balanço de terror”. 
 
 
 
 
Para reforçar e ilustrar os conceitos acima, assista ao vídeo. 
 
 
 
 
Pág. 6 - A fase realista 
 
A década de 1930, entretanto, caracterizada por uma crescente instabilidade 
internacional, consequência de comoções políticas, econômicas e ideológicas, 
internas e internacionais, e pelo fracasso do sistema da Sociedade das Nações 
e da política de apaziguamento das democracias europeias, marca a decadência 
da perspectiva idealista para a teoria das Relações Internacionais. Nesse 
período, tem-se o debate entre o Idealismo e uma nova corrente que ganhava 
força, o Realismo Político. 
 
 
Os acontecimentos internacionais novamente foram essenciais para a mudança 
no aporte teórico. O Realismo representou, em um primeiro momento, a reação 
dos especialistas às insuficiências teóricas e práticas dos idealistas, no contexto 
de convulsões internacionais dos anos trinta e da própria Segunda Guerra 
Mundial. Para os realistas, o apelo à opinião pública e à razão humanista, 
preconizada pelos idealistas, mostrou-se incapaz de prevenir a guerra, fazendo-
se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como 
suportes da diplomacia. Apenas por meio de um poder efetivo, acreditavam, os 
Estados poderiam assegurar a paz internacional e a solução pacífica das 
controvérsias. Carr assinalava que o significado último da crise internacional era 
"o colapso da total estrutura do utopismo baseado no conceito de harmonia de 
interesses". 
 
 
A pragmática nova geração de estudiosos do pós-Segunda Guerra Mundial 
baseava-se no pensamento clássico maquiavélico e hobbesiano e via na defesa 
dos interesses nacionais, em relação a poder, o grande eixo da conduta dos 
Estados soberanos no meio internacional. O Realismo encontrou maior respaldo 
nos EUA. Desse país, a doutrina realista difundiu-se pelo globo, tornando-se a 
corrente teórica mais relevante para explicar as Relações Internacionais. 
 
Abordaremos essa corrente com mais detalhes a seguir e também em unidade 
própria. 
 
 
Atualmente, cerca de 90% da produção acadêmica dos EUA em Relações 
Internacionais têm por fundamento a corrente realista. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - Behavioristas e pós-behavioristas 
 
A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também 
nos EUA como “resposta aos excessos do Realismo”. Trata-se de uma 
aproximação com a vertente behaviorista da Sociologia. Essa corrente ficou 
conhecida como behaviorista ou científica. Para Arenal (1984, p.82): 
 
No início dos anos cinquenta, alguns especialistas norte-americanos em política 
de segurança nacional repensam os postulados do realismo político, com base 
no caráter impreciso e intuitivo dos mesmos para a análise da realidade 
internacional, e buscam um enfoque de caráter científico capaz de dar resposta 
à complexidade das Relações Internacionais. O impacto dos métodos de 
pesquisa e os modelos das ciências físico-naturais são notados com força nas 
pesquisas que começam a pôr em marcha. A partir desse momento, uma onda 
de cientificismo, que trata de desenvolver uma ciência das Relações 
Internacionais, com base na aplicação de métodos quantitativo-matemáticos, 
invade as Relações Internacionais, impondo-se o que se denominou perspectiva 
behaviorista ou conducista. 
 
 
Para os behavioristas, o objetivo das Relações Internacionais é o 
comportamento dos atores. O estudo desse objeto deve atentar para parâmetros 
que envolvam fases como a coleta e a elaboração de dados, o tratamento 
quantitativo desses dados e, finalmente, a produção de modelos dentro do rigor 
científico das ciências exatas. Para os behavioristas, os estudos devem estar 
sempre voltados para os casos concretos, a partir dos quais uma linguagem 
científica das ciências sociais deve ser elaborada com base em dados empíricos, 
rejeitando-se análises provenientes do Direito, da História ou da Filosofia. Entre 
os vários enfoques da corrente behaviorista, convém destacar a Teoria da 
Tomada de Decisões, a Teoria Sistêmica das Relações Internacionais e a Teoria 
dos Jogos. Os autores científicos mais renomados são Morton Kaplan, David 
Singer e G. T. Allison. 
 
O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos 
sessenta entre os tradicionalistas filosófico-intuitivos (idealistas e realistas) e os 
científicos (behavioristas). 
 
Finalmente, Arenal identifica uma quarta fase, motivada pelo que David Easton 
(1969) chamou de “nova revolução da ciência política”, e que se convencionou 
chamar de pós-behaviorismo. Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a 
uma profunda insatisfação com a pesquisa política e os ensinamentos 
behavioristas,sobretudo por quererem converter o estudo da política em uma 
ciência segundo o modelo físico-natural. As bandeiras levantadas pelos pós-
behavioristas são ação e relevância. O novo movimento, sem abandonar o 
enfoque científico do behaviorismo, dirige sua atenção à conduta humana 
enquanto tal e aos problemas reais do mundo, às motivações e aos valores 
subjacentes a toda conduta. Busca-se uma pesquisa com ênfase ao caso 
concreto, dando atenção a um objeto de análise que difere dos objetos das 
ciências exatas. O pós-behaviorismo constituiu, portanto, a síntese do debate 
entre as concepções tradicionalistas e as científicas. 
 
 
Pág. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo 
 
Atualmente, a doutrina reconhece três grandes correntes teóricas das Relações 
Internacionais: o Realismo, o Pluralismo e o Globalismo. São também chamados 
de paradigmas teóricos, dado que as variadas teorias que existem na disciplina 
podem ser encaixadas em uma dessas três correntes. O Realismo trabalha mais 
com os conceitos de poder e equilíbrio de poder, o Globalismo com dependência, 
e o Pluralismo, por sua vez, com os conceitos de processo de tomada de decisão 
e transnacionalismo. 
 
Vamos abordá-las brevemente a seguir. 
 
 
 
Assistindo ao vídeo abaixo, ainda com o Professor Joanisval, um dos 
conteudistas deste curso, você terá uma visão introdutória do surgimento do 
Realismo. Aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
Realismo 
 
O Realismo tem algumas proposições básicas. 
 
Primeiro, o Estado é o ator principal no meio internacional, e o estudo das 
relações internacionais foca essa unidade política. Atores não estatais, como as 
empresas multinacionais, são menos relevantes para a análise, e as 
organizações internacionais, como a ONU ou a OTAN, não possuem existência 
autônoma ou independente, porque são compostas de Estados, as verdadeiras 
unidades soberanas, independentes e autônomas, que determinam o 
comportamento dessas organizações internacionais. 
 
O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, que era uma forma de 
“gerência” do poder na visão realista, foi paralisado, durante a Guerra Fria, pelo 
veto – os interesses de poder da URSS e dos EUA iam em sentidos opostos e, 
por consequência, impediam a organização de funcionar. No pós-Guerra Fria, 
apesar da superação das rivalidades dentro do Conselho, a Organização ainda 
não funcionava automaticamente, dependendo, em cada circunstância, do 
“interesse” dos Estados para atuar. Realistas citam, por exemplo, o contraste 
entre a ação rápida na Guerra do Golfo e a inércia diante da crise iugoslava. 
 
Segundo, os Estados são atores unitários. São unitários porque quaisquer 
diferenças de visão entre os líderes políticos ou burocracias dentro do Estado 
são, no final das contas, resolvidas, para que o Estado fale uma só voz. 
 
Terceiro, os Estados são atores racionais. Isso porque, dados certos objetivos, 
trabalham com alternativas viáveis para alcançá-los, à luz de suas capacidades, 
por meio de uma análise de custo-benefício. Os realistas reconhecem a 
existência de problemas como falta ou ruído de informação, incerteza, pré-
julgamento e erros de percepção, mas, contudo, pressupõem que os tomadores 
de decisão não medem esforços para alcançar a melhor decisão possível. 
 
 
Finalmente, para os realistas, a segurança nacional é a questão de maior 
importância para a agenda de política exterior de qualquer Estado. Questões 
políticas e militares dominam a agenda e são chamadas de “alta política” (high 
politics). Os Estados atuam para maximizar o interesse nacional. Em outras 
palavras, os Estados tentam maximizar a probabilidade de atingirem qualquer 
objetivo que tenham estabelecido, o que inclui preocupações de alta política 
relativas à sobrevivência do Estado (segurança) assim como os objetivos de 
baixa política ligados a esse campo, como comércio, finanças, câmbio e bem-
estar. 
 
A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganistão, após os ataques terroristas 
de 11 de setembro de 2001, e sua guerra preventiva contra o Iraque, em 2003, 
evidenciam o conflito alta política x baixa política, pois, durante os quatro anos 
do Governo Bush, os democratas o criticaram constantemente por ter 
abandonado as questões de economia doméstica em nome da segurança 
nacional. Até mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA: vêm sendo negados 
a vários suspeitos, estrangeiros e nacionais, direitos garantidos 
constitucionalmente, em ampla afronta ao princípio do devido processo legal 
(due process of law), conquista de mais de dois séculos da sociedade norte-
americana. 
 
 
 
 
 
Pág. 9 - Pluralismo 
 
 
 
Assista à aula introdutória, gravada no curso presencial no ILB, sobre 
Pluralismo. Vamos lá! 
 
 
 
 
Os anos de 1980 e 1990 deram força à corrente teórica conhecida como 
Pluralismo, que veio para desafiar as proposições do Realismo. Nessa corrente 
normalmente se enquadram os neoliberais. 
 
O Pluralismo é baseado em quatro proposições básicas. 
 
Primeiro, atores não estatais são importantes na política internacional. 
Organizações internacionais, por exemplo, podem tornar-se, em algumas 
questões, atores independentes, ao contrário do que defendem os realistas. Elas 
são mais do que simples fóruns em que Estados competem e cooperam uns com 
os outros. O corpo de funcionários de uma organização internacional pode reter 
um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma agenda, assim 
como ao fornecer informações sobre em quais representantes de Estado 
baseiam suas demandas (como acontece com o FMI em relação aos países que 
pedem empréstimos além de suas cotas, e, por consequência, precisam seguir 
o receituário do “consenso de Washington”). 
 
Similarmente, organizações não governamentais, como a WWF, e corporações 
multinacionais, como a Petrobras, a IBM, a Sony, a General Motors, a Exxon, o 
Citicorp, entre várias outras, também desempenham papéis importantes na 
política mundial. Atualmente, lembram os pluralistas, até mesmo na área 
comercial as ONGs têm sido chamadas a atuar. 
 
Para os pluralistas, também não se poderia negar o impacto de atores não 
estatais, como grupos terroristas (como a Al Qaeda), comerciantes de armas da 
máfia russa, movimentos guerrilheiros, como as FARC colombianas etc. 
 
Segundo, para os pluralistas, o Estado não é um ator unitário. O Estado é 
composto de indivíduos, grupos de interesse e burocracias que competem entre 
si. Apesar de as decisões serem noticiadas como decisões de “tal país”, é 
geralmente mais correto se falar em decisão feita por uma coalizão 
governamental particular, uma agência burocrática do Executivo ou mesmo um 
único indivíduo. A decisão não é tomada por uma entidade abstrata chamada 
“Brasil”, “China” ou “EUA”, mas por uma combinação de atores por trás da 
definição da política externa. 
 
Diferentes organizações podem apresentar perspectivas distintas em 
determinada questão de política externa. Competição, formação de coalizões e 
compromissos eventualmente resultarão numa decisão que será anunciada 
como uma decisão do país. Essa decisão “estatal” pode ser o resultado de 
lobbies levado a efeito por atores não governamentais (como o lobby dos 
fazendeiros norte-americanos contra o fim dos subsídios agrícolas, das 
empresas multinacionais, de grupos de interesse, ou mesmo de um ente amorfo, 
a opinião pública). Assim, para os pluralistas, o Estado não pode ser visto como 
um ator unitário, uma vez que tal rótulo perderia de vista a multiplicidade de 
atores que formam e compõem a entidade chamada de “Estado-nação”.Terceiro, os pluralistas desafiam a suposição realista de que o Estado é um ator 
racional. Dada a visão pluralista e fragmentada do Estado, pressupõe-se, ao 
contrário, o choque de interesses, a barganha e a necessidade de compromisso 
que nem sempre levam a um processo de tomada de decisão racional. 
 
Por fim, para os pluralistas, a agenda da política internacional é extensa. Embora 
a segurança nacional seja importante, os pluralistas também se preocupam com 
um número variado de questões econômicas, sociais, energéticas e ecológicas 
que têm surgido com o aumento da interdependência entre os países e as 
sociedades nos séculos XX e XXI. Alguns pluralistas, por exemplo, enfatizam o 
comércio e as questões monetárias e energéticas, as quais estariam no topo da 
agenda internacional. Outros dedicam-se à solução do problema demográfico e 
da fome no Terceiro Mundo. Outros, ainda, focam a poluição e a degradação do 
meio ambiente. Nesse sentido, os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta 
política (high politics) e baixa política (low politics) dos realistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 10 - Globalismo 
 
 
Para introduzir o conceito de Globalismo, assista ao vídeo e, em seguida, leia 
atentamente o texto que se segue! 
 
 
 
Historicamente, o Globalismo se relaciona com o surgimento do Terceiro Mundo 
na política mundial. Nesse sentido, representa uma visão ignorada e 
desprestigiada da realidade internacional. Para eles, a hierarquia, como uma 
característica chave, é mais importante do que a anarquia, dada a desigualdade 
na distribuição do poder dentro do sistema. 
 
Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questão básica de 
como a estabilidade pode ser mantida num macroambiente anárquico. Os 
pluralistas se perguntam como mudanças pacíficas podem ser promovidas num 
mundo que é crescentemente interdependente política, militar, social e 
economicamente. Os globalistas, por sua vez, se concentram na questão de por 
que tantos países do Terceiro Mundo na América Latina, na África e na Ásia não 
têm conseguido se desenvolver. Para muitos globalistas, mais ligados à linha 
marxista, essa questão faz parte de um campo maior de análise: o 
desenvolvimento do capitalismo no mundo. 
 
Os globalistas são guiados por quatro proposições. 
 
Primeiro, é necessário entender o contexto global em que Estados e outros 
atores interagem. Os globalistas argumentam que para explicar o 
comportamento em qualquer nível de análise – o individual, o burocrático, o 
societário e o estatal –, é necessário, antes, entender a estrutura geral do 
sistema global no qual esses comportamentos se manifestam. Assim como os 
realistas, globalistas acreditam que o ponto de partida da análise é o sistema 
internacional. Numa extensão mais larga, o comportamento de atores individuais 
é explicado por um sistema que fornece limitações e oportunidades. 
 
Segundo, os globalistas realçam a importância da análise histórica na 
compreensão do sistema internacional. Apenas rastreando a evolução histórica 
do sistema é possível entender sua estrutura atual. O fator histórico chave e a 
característica definidora do sistema como um todo é o capitalismo. Até mesmo 
os Estados socialistas precisam operar dentro desse sistema econômico, que 
constantemente restringe suas opções. 
 
Terceiro, os globalistas assumem que existem mecanismos de dominação que 
impedem que o Terceiro Mundo se desenvolva e que contribuem para o 
desenvolvimento desigual ao redor do planeta. A compreensão desses 
mecanismos requer o exame das relações de dependência entre os países 
industrializados do Norte (América do Norte e Europa) e os vizinhos pobres do 
Hemisfério Sul (América Latina, África e Ásia). 
 
Finalmente, os globalistas defendem que os fatores econômicos são 
absolutamente críticos para se explicar a evolução e o funcionamento do sistema 
capitalista mundial e a relegação do Terceiro Mundo para uma posição 
subordinada. A economia funciona como uma espécie de “alta política” para os 
globalistas. 
 
 
 
Para fins didáticos, podemos traçar o seguinte quadro, que relaciona os três 
paradigmas das Relacões Internacionais: 
 Realismo Pluralismo Globalismo 
Unidades 
analíticas 
Estado como 
principal 
unidade de 
análise. 
Estado e atores 
não estatais, como 
organizações 
burocráticas, 
elites, sociedades, 
indivíduo, grupos 
de indivíduos, 
organizações 
internacionais, 
corporações 
multinacionais, 
organizações não 
governamentais. 
Estado, classes, 
elites, sociedades e 
atores não estatais 
como operadores do 
sistema capitalista. 
Concepção de 
ator 
Estado unitário e 
racional. 
Estado não unitário 
e não racional: 
desagregado em 
componentes, 
alguns dos quais 
com atuação 
transnacional. 
Estado não unitário e 
racional, visto sob a 
perspectiva histórica 
do desenvolvimento 
do capitalismo. 
Dinâmica 
comportamental 
Estado como 
maximizador de 
seus próprios 
interesses na 
política externa. 
Conflito, barganha, 
formação de 
coalizões e 
compromissos nos 
processos 
transnacionais e de 
tomada de decisão 
em política 
externa, não 
necessariamente 
levando a 
resultados ótimos. 
Política externa 
como padrões 
racionais de 
dominação dentro e 
entre Estados e 
sociedades. 
Agenda Segurança 
nacional como 
questão mais 
importante. 
Agenda múltipla, 
com questões 
sócio-econômicas 
tão ou mais 
importantes do que 
questões de 
segurança 
nacional. 
Questões 
econômicas como 
mais importantes. 
 
 
 
Pág. 11 - Outras correntes teóricas 
 
 
 
Registre-se, outrossim, que as correntes citadas nesta unidade são as mais 
difundidas e tradicionais. Não obstante, neste contexto de pós-modernidade, 
ganham força perspectivas de vanguarda, com destaque para o Construtivismo. 
Porém, foge ao escopo deste curso a análise dessas outras correntes. 
 
Passemos, portanto, aos principais debates que marcaram a Teoria das 
Relações Internacionais no século XX. 
 
 
OS GRANDES DEBATES TEÓRICOS 
 
Idealismo X Realismo 
 
O debate entre realistas e idealistas iniciou-se na década de 1930. Não obstante, 
conforme acentua Arenal (1984), trata-se “de um debate que está presente, com 
maior ou menor força, em toda a história da teoria internacional, inclusive tendo 
recobrado força com novas perspectivas em nossos dias”. De acordo com John 
Herz (1951, p.8), o Idealismo é um tipo de pensamento político que “não conhece 
os problemas que surgem do dilema da segurança e poder”, ou que o faz 
“somente de uma forma superficial”. O Realismo, por sua vez, ao contrário, 
considera fatores de segurança e poder inerentes à sociedade humana. 
 
Arenal relaciona as características essenciais do Idealismo e do Realismo na 
Tabela 1: 
 
 
TABELA 1: IDEALISMO X REALISMO 
 
IDEALISMO 
 
REALISMO 
 
1) Crença no progresso: diante da 
suposição de que a natureza humana 
pode ser compreendida não como 
imutável, mas como potencialidade 
que se atualiza progressivamente ao 
longo da História. 
 
1) Pessimismo antropológico: nega a 
possibilidade de evolução para uma 
sociedade mais humanista. A política 
de poder sempre foi e será o cerne 
das Relações Internacionais. 
 
2) Visão não determinista do mundo: 
a fé no progresso careceria de sentido 
se não fosse acompanhada de uma 
similar crença na eficácia da mudança 
por meio da ação humana.2) Visão determinista do processo 
histórico: a ordem internacional 
dificilmente pode ser modificada pela 
ação humana. É possível 
compreender o processo histórico, 
mas não alterá-lo. 
 
3) Racionalismo: considera que uma 
ordem política é racional e possível na 
Sociedade Internacional e que, como 
os indivíduos são morais e racionais, 
da mesma maneira os Estados são 
capazes de comportarem-se de forma 
racional e moral em suas relações. É 
a racionalidade que conduz ao 
progresso. 
 
3) Distinção entre os códigos de 
conduta moral do indivíduo e do 
Estado: a ética pública é diferente da 
ética na vida privada. O homem de 
Estado, enquanto defensor da 
comunidade nacional, não está 
limitado em sua atuação pelas normas 
éticas e morais que regem os 
particulares. Daí o conceito de “razão 
de Estado”, em virtude do qual 
condutas inaceitáveis em âmbito 
interno do Estado seriam plenamente 
aceitáveis na política internacional. 
 
4) Harmonia natural de interesses: os 
Estados teriam interesses mais 
complementares que antagônicos. 
Daí a ideia de que é possível a 
cooperação entre os povos por um fim 
último de paz e integração. 
 
4) Ausência de harmonia natural de 
interesses: os Estados encontram-se 
em uma competição constante, uma 
vez que é difícil se obter a confiança 
entre os entes estatais que lhes 
permita escapar dessa situação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Pág. 12 - Idealismo x Realismo 
 
 
Assim, para os idealistas, a política é a arte do bom governo, e o poder político 
não constitui fenômeno natural, lei imutável da natureza. A Sociedade 
Internacional, em um primeiro momento, poderia até se encontrar em um estado 
de natureza, mas a anarquia internacional seria naturalmente substituída não por 
um sistema baseado no equilíbrio de poder, mas por uma ordem fundamentada 
na lei internacional, em instituições e na cooperação entre os povos. Assim, a 
conduta racional dos Estados os levaria à constituição de um poder 
supranacional, uma confederação de nações, que garantiria a segurança e a paz 
no Sistema (a “paz perpétua” de Kant). 
 
Os realistas, por sua vez, consideram a política internacional uma constante e 
interminável luta pelo poder, definido em capacidade de influência. Negam o 
otimismo idealista. Atuar racionalmente significa agir em favor dos próprios 
interesses; ou seja, de aumentar o poder, a capacidade ou habilidade de 
controlar os outros entes internacionais. Partindo do princípio de que o homem 
não é naturalmente bom e que se reúne em sociedade apenas porque é a melhor 
maneira que encontrou para garantir a segurança essencial à sua sobrevivência 
diante da guerra de todos contra todos, o Realismo percebe o Estado como um 
gladiador envolvido em um combate perpétuo pela sobrevivência na Sociedade 
Internacional anárquica em que as relações de força predominam. 
 
O Realismo não considera a moral ou a ética como limites à ação do Estado, 
mas a prudência, o senso de oportunidade e o cálculo racional. Essa 
consideração explica o pragmatismo e a falta de credulidade em organizações 
internacionais como instituições que não sejam apenas meros instrumentos de 
alguns Estados no jogo de poder internacional. Um governo mundial baseado 
apenas no Direito e no desejo global de paz é inconcebível para o Realismo. 
 
 
Pág. 13 - Tradicionalistas x Científicos 
 
O debate entre os enfoques clássico e científico ou entre tradicionalistas e 
behavioristas ultrapassa, na ótica de Arenal, o debate entre realistas e idealistas. 
Afinal, ensina o mestre, tanto os partidários da análise clássica quanto os da 
perspectiva científica podem inscrever-se nas visões realista ou idealista. O 
debate entre tradicionalistas e behavioristas tem caráter metodológico. Faremos 
apenas algumas breves considerações introdutórias a esse respeito. 
 
Luciano Tomassini (1989), ao relacionar as principais diferenças entre os dois 
debates, lembra que, enquanto o primeiro debate (idealistas x realistas) tem sua 
origem específica no âmbito das relações internacionais, o segundo 
(tradicionalistas x científicos) está centrado na totalidade das ciências sociais, 
tendo ocorrido em virtude da “revolução behaviorista”. Os científicos buscavam 
alcançar, nas ciências sociais, o nível de exatidão similar ao das ciências exatas. 
Daí a tentativa de adoção de técnicas semelhantes às utilizadas nas ciências 
naturais – como as da química, da física e até da biologia – e a busca de “leis 
naturais” para explicar as relações sociais. 
 
Uma segunda distinção, segundo Tomassini, repousa no fato de que, enquanto 
o primeiro debate referia-se a questões substanciais – aspectos da natureza 
humana, dos fundamentos da Sociedade Internacional, da essência do poder –, 
o segundo debate teve cunho metodológico. Nesse sentido, tanto pensadores 
realistas quanto teóricos idealistas poderiam assumir uma perspectiva científica 
em suas análises. 
 
Finalmente, Tomassini assinala que, se o debate entre idealistas e realistas, por 
tratar de questões substanciais, faz com que as duas correntes sejam 
eternamente irreconciliáveis, o segundo debate estabelece uma paulatina 
aproximação das colocações e um entendimento final, dando origem aos pós-
behavioristas. Os neorrealistas são o melhor exemplo desse resultado. 
 
Os behavioristas criticavam os tradicionalistas pelo fato de estes dissociarem o 
sistema internacional do sistema nacional, e também porque os tradicionalistas 
ignoravam as variáveis internas – como, por exemplo, o processo de tomada de 
decisão no âmbito interno –, as quais seriam, na concepção científica, 
fundamentais para a compreensão da política exterior. Ademais, os 
behavioristas não davam atenção a questões filosóficas e morais, como a busca 
da paz, a moralidade da Sociedade Internacional, ou quais seriam os melhores 
mecanismos para a estabilidade internacional baseada no crescimento e na 
cooperação entre nações. 
 
A resposta tradicionalista às críticas behavioristas fundamentava-se no fato de 
que a Sociedade Internacional é complexa demais para que se chegue a “leis” 
que expliquem o sistema e a conduta dos atores com base na análise de 
variáveis isoladas. Lembravam, ainda, que o método quantitativo não permitia a 
compreensão de situações chaves – fundamentadas em aspectos intuitivos ou 
racionais. Finalmente, assinalavam que, devido ao sigilo, em Relações 
Internacionais é longo o tempo até que se tenha acesso a determinadas 
informações que seriam essenciais para “quantificar a análise científica”. Na 
resolução de questões urgentes na Sociedade Internacional, não é possível, 
outrossim, esperar até que se consigam os dados estatísticos ou a conclusão 
das várias análises de casos em que os científicos querem basear-se. 
 
Certamente foi de grande relevância a contribuição behaviorista para a análise 
das relações internacionais. Afinal, foi possível aperfeiçoar os métodos da teoria 
e sistematizar as análises sob uma perspectiva mais empírica. Não obstante, o 
aspecto intuitivo ou racionalista das ciências sociais jamais poderá ser 
desprezado. Nesse sentido, não se pode querer atribuir às ciências humanas 
equivalência em relação às ciências naturais, exatas. Em Relações 
Internacionais, assim como em qualquer ciência social, o homem – seja sob seu 
aspecto individual, seja por meio de suas manifestações coletivas – é o objeto 
central de estudo. Tentar explicar as relações humanas com base apenas nos 
critérios exclusivamente quantitativos pode conduzir o analista a erro em sua 
avaliação. 
 
 
 
Pág.14 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais 
 
 
Segundo Tomassini, o enfoque sistêmico para explicar as relações 
internacionais encontra-se “entre os aspectos substantivos que dividiram os 
realistas e idealistas durante o primeiro pós-guerra e as questões metodológicas 
que foram objeto das disputas entre tradicionalistas e científicos” após a 
Segunda Guerra Mundial. Há, entretanto, aqueles que situam a corrente 
sistêmica na escola científica. 
 
A escola sistêmica encontra suas origens na década de 1950, quando se 
começou a aplicar conceitos de análise de sistemas ao estudo das Relações 
Internacionais. Sua principal diferença frente ao enfoque convencional consistia 
no fato de que, enquanto os tradicionalistas concebiam as relações 
internacionais como um conjunto de interações entre unidades independentes e 
soberanas – os Estados –, não sujeitas a pautas nem a qualquer previsibilidade, 
a análise sistêmica percebia as relações internacionais influenciadas ou 
determinadas pela estrutura ou pelas tendências de uma unidade mais ampla, 
que seria o Sistema Internacional em seu conjunto. 
 
Um sistema geral pode ser definido como algo substantivado em um conjunto de 
elementos ou partes interconectados. Essa conexão entre os diversos elementos 
ocorre por meio de um princípio claramente identificável ou, mais simplesmente, 
por um rol de interação hipotético entre seus distintos componentes. Pode-se 
dizer, portanto, que um sistema é um conjunto de unidades que interagem entre 
si de acordo com padrões relativamente regulares e perceptíveis, alguns dos 
quais podem configurar subsistemas que se relacionam com o conjunto, 
seguindo o mesmo tipo de padronizações, e cujos limites ou parâmetros também 
são reconhecíveis, mas que, em geral, permanecem abertos a influências de um 
meio ambiente externo. 
 
A maior preocupação da perspectiva sistêmica está na interação entre os 
componentes de um Sistema Internacional e nos efeitos que o sistema tem sobre 
a conduta dos atores. Daí a atenção maior aos mecanismos e à estrutura do 
conjunto que às partes específicas. 
 
Tomassini conclui que os enfoques sistêmicos têm permitido conhecer e melhor 
compreender as relações existentes entre as distintas unidades nacionais, o 
Sistema Internacional em seu conjunto e os diversos subsistemas que operam 
em seu interior. O enfoque também é importante para: 
 
 
· a percepção das funções que desempenham as estruturas e sua influência 
sobre o comportamento das distintas unidades; 
· a necessidade de trabalhar com diferentes níveis de análise, com os limites 
entre um Sistema Internacional e seus elementos contextuais; 
· a natureza fechada ou aberta do sistema diante desse contexto; e 
· a interação observável entre o sistema e os diferentes segmentos que o 
integram. 
 Pág. 15 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais 
 
Um termo muito usado na análise sistêmica é o de “subsistema”, que também 
será explorado no decorrer deste curso. Aplicado às Relações Internacionais, 
normalmente vem associado à ideia de região – “subsistemas regionais” – ou às 
relações dentro de um setor (subsistema econômico, militar etc.). 
 
A região, concebida como um subsistema, implica categorizar o todo (ou 
sistema) em partes distintas. O subsistema apresentaria as mesmas 
características do sistema, sendo que em um nível diferente. A busca por 
padrões e processos característicos se daria da mesma forma que na análise de 
sistemas, embora não necessariamente apresentando os mesmos resultados. 
 
Por exemplo, poder-se-ia considerar a integração uma tendência periférica em 
um sistema mundial e, ao mesmo tempo, uma tendência dominante em um 
subsistema. Essa é, particularmente, uma das conclusões de alguns 
pesquisadores a respeito da formação de blocos econômicos. Dentro do sistema 
mundial, esta seria uma tendência dominante apenas entre países periféricos, e 
não entre as principais potências. Paulo Nogueira Batista Jr., por exemplo, 
argumenta que os EUA e a União Europeia (UE) não têm e nem pretendem ter 
acordo de livre comércio entre si. Tampouco está em cogitação uma área de livre 
comércio entre os EUA e o Japão, ou entre o Japão e a UE. Isso não impede 
que os EUA, a UE e o Japão mantenham inter-relacionamento comercial 
substancial e crescente ao longo do tempo. O que os norte-americanos, 
europeus e japoneses têm feito nas últimas décadas é negociar, no âmbito 
multilateral, em rodadas sucessivas de liberalização, a gradual e seletiva 
diminuição de barreiras ao comércio internacional. 
 
 
 
 
 
 
Usamos o texto intitulado Estratégias Comerciais do Brasil: Alca, União 
Europeia, OMC e Negociações Sul-Sul, preparado para o seminário “O Brasil 
e Oportunidades de Integração”, patrocinado pelo Banco Interamericano de 
Desenvolvimento e pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, realizado em 
04 de novembro de 2003. 
 
 
 
Concepções relativas a hierarquia, que normalmente eram empregadas no 
estudo do sistema macropolítico da política internacional, podem ser aplicadas, 
com a mesma validade, na análise de subsistemas regionais. Assim, um ator 
estatal pode apresentar papel significante em um nível e apenas modesto em 
outro. Índia e Brasil são bons exemplos. Além disso, dois processos sistêmicos 
relevantes, como o conflito e a cooperação, podem igualmente se manifestar no 
nível subsistêmico e, ainda, provocar um efeito spillover sobre o macrossistema. 
O conflito palestino-israelense é ilustrativo disso. 
 
Trataremos mais adiante, na Unidade 5, das ideias de subsistema 
econômico, militar e ideológico, entre outras. 
 
 
Entre os principais expoentes da escola sistêmica nas Relações Internacionais 
estão Morton Kaplan, Karl Deutsch e Richard Rosecrance. No caso do 
Neorrealismo, cuja perspectiva é eminentemente sistêmica, tem-se em Kenneth 
Waltzseu grande expoente. 
 
 
 
 
Sugerimos as obras de Waltz, particularmente Teoria das Relações 
Internacionais 
(Theory of International Politics) para o estudo mais aprofundado da perspectiva 
neorrealista de relações internacionais, e, ainda, O homem, o estado e a guerra. 
 
 
Pág. 16 - Realistas x Pluralistas 
 
 
Outro debate relevante é o que se dá entre realistas e pluralistas. Os pluralistas 
colocam o caráter anárquico da Sociedade Internacional e a importância da 
segurança em segundo plano, o que é fortemente criticado pelos realistas, para 
os quais nenhuma análise das relações internacionais será completa sem se 
considerar a estrutura anárquica do Sistema e o dilema da segurança. Para os 
pluralistas, dada a complexa interdependência da Sociedade Internacional, o uso 
militar da força tende a ter menos utilidade na resolução de conflitos. 
 
Os pluralistas nem sempre usam os conceitos de sistema e de equilíbrio nas 
relações internacionais, dado que não concebem atores autônomos e 
predeterminados no cenário internacional. Eles criticam as previsões baseadas 
em análises de balança de poder dos realistas por serem demasiado genéricas. 
 
Ao contrário do mundo idealizado pelos realistas, os pluralistas veem 
indeterminação e imprevisibilidade, dado que não há separação entre política 
externa e política interna, sendo aquela mera extensão desta, pois não deixa de 
ser influenciada por fatores como a opinião pública, a indústria do lobby e 
processos de barganha entre os atores internos (políticos, agências burocráticas 
etc.). A noção de Estado-nação dos pluralistas, ao contrário do que concebem 
os realistas, é difusa, irracional e altamente permeável. 
 
A Teoria da Estabilidade Hegemônica,que vimos na Unidade 2 ao tratarmos de 
hegemonia, é exemplo de uma tentativa de conjugação da perspectiva realista 
com a pluralista. Alguns consideram essa teoria um “compromisso parcial” entre 
ambas as correntes. 
 
Outros debates 
 
Há discussões mais recentes e igualmente relevantes, como os debates entre 
neorrealistas e globalistas e entre neorrealistas e neoliberais. Vamos abordá-los 
na próxima Unidade. 
 
 
 
Também sobre o debate teórico de relações internacionais, veja o texto de 
William Gonçalves, Relações Internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 17 - Mudanças na Teoria das Relações Internacionais 
 
 A partir de 1990, a Teoria das Relações Internacionais passou a enfrentar um 
problema epistemológico, uma vez que estava acostumada a trabalhar com os 
conceitos de Estado nacional, soberania, território nacional, interesse nacional, 
entre outros. Alguns autores identificam, na década de 1990, a ramificação das 
escolas da Teoria das Relações Internacionais em três direções: o Realismo, 
nos EUA; o Pluralismo, na Europa e na literatura mais recente da América Latina; 
e o Globalismo, nas interpretações da esquerda ainda presente na América 
Latina e em outros países do Hemisfério Sul. 
 
O Realismo passou a sofrer várias críticas devido à dificuldade do Estado em 
administrar forças transnacionais. O Globalismo se enfraqueceu com a crise do 
socialismo real. O Pluralismo se revelou inadequado, uma vez que as suas 
preocupações com as questões sociais teriam sido desprezadas pela nova 
política internacional (SARAIVA, 1997, p. 361-362). 
 
Os seguintes movimentos passaram a ter relevância para a análise das relações 
internacionais contemporâneas: 
 soma de fluxos transnacionais como fator que afeta o cotidiano das 
pessoas e leva à crise do Estado-nação, cujo universalismo e soberania 
são questionados; 
 relativização do conceito de soberania, surgindo expressões, nos meios 
diplomáticos, como “soberania operacional”; 
 atores não estatais não necessariamente agem contra o Estado, mas 
exigem mudanças de sua conduta – na política interna e externa; 
 atores não estatais forçam o Estado a levar em conta a Comunidade 
Internacional, uma vez que a interdependência torna-se fato, e os 
problemas globais (ecologia, migrações, epidemias, narcotráfico, direitos 
humanos, terrorismo) passam a ser de responsabilidade de todos; 
 o Sistema Internacional passa a ser composto de sistemas confederados, 
o que solapa a identidade tradicional; 
 a Economia desliga-se do espaço nacional e das regulamentações do 
Estado, funcionando para o exterior. 
 A transição da bipolaridade para a globalização ocorreu, no entanto, sem que a 
nova ordem internacional demonstrasse capacidade para superar problemas 
globais, como o endividamento internacional, a hegemonia do mercado 
financeiro, o arrocho econômico mundial requerido para o ajuste de economias 
centrais e o desemprego estrutural. Esses também são temas importantes para 
os teóricos de Relações Internacionais no século XXI. 
 
Um filme interessante para se entender, na prática, teoria das relações 
internacionais é “Sob a Névoa da Guerra” (Errol Morris, EUA, 2003), 
documentário em que o ex-Secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara, 
faz uma análise da política externa dos EUA na II Guerra Mundial. 
 
 
Como sugestão de leitura, reforçamos a indicação da última grande obra de 
Jean-Baptiste 
Duroselle, Todo império perecerá: teoria das relações internacionais. 
Interessante, 
ainda, um livro básico para a compreensão do Realismo, A Política entre as 
Nações, 
de Hans Morgenthau. Finalmente, convém conhecer a Escola Inglesa de 
Relações 
Internacionais por meio de duas obras fundamentais: A Política do Poder, de 
Martin 
Wight, e A Sociedade Anárquica, de Hedley Bull. Veja a referência completa 
sobre 
essas obras na Bibliografia Complementar, no menu de apoio. 
Unidade 4 - O Realismo 
 
 
 
Ao final da unidade, o aluno deverá ser capaz de: 
• identificar as características da principal corrente teórica das Relações 
Internacionais e as críticas a essa corrente; 
• descrever a evolução do pensamento realista nas Relações Internacionais 
ao longo do século XX; 
• discorrer sobre a validade do Realismo no século XXI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - O Realismo 
 
 
A tentativa mais notória do século XX para explicar as relações internacionais foi 
conduzida por um grupo de pensadores que contemplavam a realidade 
internacional com base nas relações de força, poder e dominação. Esses autores 
foram os representantes da corrente teórica conhecida como Realismo Político 
ou, simplesmente, Realismo. Trata-se da doutrina mais clássica e aceita das 
Relações Internacionais, chegando-se a ponto de muitos a considerarem o 
tronco central do estudo teórico do tema. Após os ataques terroristas de 11 de 
setembro de 2001, ela teve notório fortalecimento. Devido a essas 
peculiaridades, optamos por dedicar uma unidade específica a essa corrente. 
 
Entre os fundamentos do Realismo, buscaremos analisar as ideias que mais se 
destacam, a saber: 
 
 a percepção de um sistema internacional anárquico, sem uma autoridade 
central superior aos Estados e titular legítima do uso da força; 
 o caráter praticamente exclusivo do Estado como o único ou, ao menos, 
o principal ator internacional; 
 o desprezo pelo institucionalismo e pelo papel efetivo das organizações 
internacionais no sistema; 
 a percepção de que os Estados são entes unitários e racionais ao 
conduzirem sua política externa; 
 a heterogeneidade desses atores, quanto a aspectos econômicos, 
políticos, culturais etc.; 
 o predomínio da competição e da dimensão conflitiva sobre todas as 
formas de relações entre os aaAtores internacionais; 
 a busca da racionalidade na conduta dos Estados, que atuam na esfera 
internacional perseguindo sempre seu interesse nacional; 
 o interesse nacional definido com base no poder, que conduz a uma 
paradoxal ordem internacional no sistema anárquico, ordem esta imposta 
pelas Potências hegemônicas aos demais Estados e em benefício das 
primeiras; 
 a preocupação com a segurança como umas das grandes orientadoras 
da conduta dos atores, no que os realistas consideram ”alta política” (high 
politics) em contraposição à chamada baixa política (low politics); 
 a ideia de equilíbrio de poder na ordem internacional, estabelecido pelas 
Potências. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 3 - O Realismo 
 
 
Os realistas tiveram por objetivo inicial definir as características que fariam do 
campo de estudo das Relações Internacionais uma ciência própria. Daí 
buscarem distinguir, preliminarmente, a política internacional da política interna 
dos Estados. Desenvolveram, então, a percepção anárquica do sistema 
internacional. 
 
Assim, os realistas percebem o sistema internacional como anárquico, no qual 
não existe poder central ou superior dos Estados soberanos. Para os realistas, 
os Estados não reconhecem e não se submetem a qualquer autoridade que não 
a sua própria, também não estando, em última análise, internacionalmente 
sujeitos nem mesmo às regras do Direito. Nesse sentido, os Estados “são livres 
para fazer sua própria justiça e podem recorrer à força para defender seus 
interesses nacionais” (SENARCLENS, 2000, p. 16). 
 
 
 
O pensamento realista inspira-se nas concepções de Thomas Hobbes sobre o 
“estado de natureza”e, reproduzindo a visão hobbesiana sobre o homem, 
percebe os Estados numa situação de guerra permanente – não 
necessariamente de conflito armado –, na qual perseguem seus interesses 
nacionais. 
 
Nesse contexto anárquico, o Estado é visto internacionalmente como um ente 
unitário e que atua em política externa de maneira racional, sendo o cálculo 
estratégico essencial para garantir sua sobrevivência. Nesse sentido, o interesse 
nacional definido em termos de poder guiará a conduta dos Estados, e, em meio 
à guerra de todos contra todos, são essenciais para a sobrevivência de qualquer 
ente a garantia de sua segurança e o aumento de sua capacidade de influência 
no sistema. 
 
Em âmbito interno, segundo Hobbes, os homens associam-se e abrem mão de 
parte de sua independência para garantir sua segurança, transferindo uma 
parcela de seu poder para um soberano – o Estado – que, tornando-se o único 
e legítimo titular do uso da força (coerção), protege-os e garante a ordem. Na 
esfera internacional, entretanto, declaram os realistas, não há uma autoridade 
superior à qual os Estados estejam dispostos a transferir parcela de seu poder 
ou soberania em troca de segurança. 
 
 
Para garantir sua segurança, os Estados irão buscar aumentar seu poder – 
definido pela capacidade de influenciar os demais Estados e de ser influenciado 
o mínimo por eles –, projetando-o no sistema internacional. Esse poder 
relaciona-se intimamente com o uso da força – sobretudo de poderio político-
militar e os aspectos econômicos relacionados a ele. Em outras palavras, quanto 
mais forte for um Estado frente a seus pares, menos sujeito a ser subjugado por 
estes ele se encontra. 
 
 
 
Pág. 4 - O Realismo 
 
 
Paradoxalmente, uma vez que é impossível a coexistência em um sistema 
internacional caótico, os realistas acreditam que há uma ordem internacional 
estabelecida pelas Potências – Estados mais poderosos –, que a impõem aos 
demais Atores. A ordem se fundamenta, portanto, em um equilíbrio de poder 
instituído pelas relações entre as Potências. Quando uma Potência aumenta sua 
esfera de poder, entrará em atrito com as demais – que não aceitarão ver sua 
capacidade de influência diminuída. Dessa maneira, o sistema poderá ser levado 
ao desequilíbrio, chegando-se ao conflito entre os Estados poderosos, que 
culminará, por sua vez, em uma nova ordem imposta pelos vencedores. 
 
Os realistas não acreditam em uma ordem internacional instituída por princípios 
morais e fraternos. Qualquer forma de cooperação internacional será conduzida 
pelos Estados enquanto esses perceberem que a cooperação garantirá mais 
segurança que a não cooperação. As instituições internacionais são frágeis e 
somente prevalecem enquanto for mais conveniente para as Potências. No meio 
internacional, o Direito acaba quando a força começa. 
 
Destarte, para os realistas, os Estados só seguirão e defenderão o Direito 
Internacional enquanto isso lhes for interessante. Caso as instituições jurídicas 
internacionais contrariem interesses de um Estado, este não se furtará a violá-
las, desde que tenha capacidade –potencialidade de uso da força – para fazê-lo 
e para suportar as reações dos outros Estados que defendam aqueles institutos. 
Periodicamente, os governos recorrem à força e violam os princípios de Direito 
Internacional, produzindo, inclusive, argumentos jurídicos para justificar sua 
política de agressão. 
 
Outro aspecto importante do pensamento realista é a percepção do Estado como 
o único, ou, no mínimo, o principal Ator nas Relações Internacionais. Nessa 
perspectiva, os demais Atores – reconhecidamente as organizações 
internacionais – não seriam mais que instrumento de manobra das Potências 
para garantir sua hegemonia na Sociedade Internacional. Segundo Senarclens 
(2000, p. 18): 
 
De fato, as grandes potências definem as condições da segurança internacional 
e se arrogam em uma boa margem de manobra na interpretação dos princípios 
da Carta das Nações Unidas. Elas dominam as organizações internacionais; as 
utilizam continuamente para servir aos seus próprios fins [das grandes 
Potências], notadamente para efetivar suas ambições políticas e seu desejo de 
hegemonia. (...) Para os realistas, (...) o direito e a moral nas Relações 
Internacionais não fazem mais que exprimir a racionalização dos interesses dos 
principais Estados que dominam a política mundial. 
 
(...) Definitivamente, as normas jurídicas e as instituições são frágeis; sua 
implementação é frágil, uma vez que os Estados interpretam a seu bel-prazer as 
obrigações que elas impõem; [os Estados] as transgridem invocando a defesa 
de seus interesses nacionais. Contrariamente ao que ocorre na esfera estatal 
interna, não há [no meio internacional] um poder legítimo capaz de instaurar e 
assegurar uma ordem política impondo sua arbitragem frente aos conflitos entre 
os Estados; nenhuma autoridade é capaz de produzir um conjunto de normas 
jurídicas universalmente reconhecidas como legais. Não existe uma corte 
internacional capaz de julgar de maneira sistemática e coerente as diferenças 
entre os Estados, nem forças policiais [internacionais] que possam coibir 
agressões a fim de estabelecer a paz. O indivíduo que viole a lei dentro de um 
Estado é passível de sanção. O Estado que transgrida o direito internacional em 
geral não é punido. 
O institucionalismo, portanto, não encontra abrigo na perspectiva realista. 
 
 
Pág. 5 - O Realismo 
 
Ademais, a liberdade de ação dos Estados na esfera internacional estará 
relacionada à força que cada um deles tenha frente aos demais. Em Paz e 
Guerra entre as Nações, Raymond Aron, partindo do pressuposto de que os 
Estados são soberanos – e, portanto, livres para perseguir sua própria justiça –, 
admitiu que o direito desses entes de recorrer à força constitui uma das 
especificidades das relações internacionais. 
 
No que concerne ao meio internacional heterogêneo, os realistas afirmam que, 
apesar de os Estados serem juridicamente idênticos e terem direitos iguais de 
pronunciar-se perante o concerto das nações, na prática, a capacidade de 
exercerem sua soberania varia consideravelmente. 
 
O que os realistas buscam deixar claro é que não se pode querer igualar a China 
a Liechtenstein, ou o Brasil à Somália, ou ainda, ou ainda, os EUA ao 
Afeganistão. Não adianta, portanto, querer arguir o artigo 2º da Carta das Nações 
Unidas para que se imponha o princípio da igualdade entre os Estados nas 
relações internacionais. Os Estados são distintos uns dos outros quanto à 
grandeza territorial, populações, localização geográfica, capacidade militar, 
níveis de desenvolvimento em que se encontram, recursos econômicos, 
capacidade de exploração desses recursos. É exatamente em virtude dessas 
diferenças que os Estados terão maior ou menor influência no sistema 
internacional e buscarão formas de defender seus interesses. 
 
 
O artigo 2º da Carta da Nações Unidas dispõe que a ONU é "fundada sobre o 
princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros. 
 
 
 
Destarte, para os realistas, a política internacional de cada Estado é conduzida 
considerando-se as próprias potencialidades e as daqueles com os quais o 
Estado vá relacionar-se. A heterogeneidade – econômica, política, militar, 
cultural, ideológica, social – é a regra no sistema internacional, e não levar isso 
em consideração pode ser tremendamente desastroso para qualquer Ator. 
 
 
Pág. 6 - O conflito e a questão da segurança 
 
A política internacional, como toda política, tem por base os conflitos 
relacionados à distribuição do poder e dos recursoseconômicos. Os Estados 
atuam na arena internacional considerando essa disputa por poder e por 
recursos econômicos. E os governos não devem ter objetivos maiores que os da 
defesa de seus “interesses nacionais”, entre os quais o mais importante é 
assegurar sua sobrevivência. É exatamente a conduta dos Atores internacionais 
em uma persecução - muitas vezes desordenada - por seus interesses nacionais 
que leva à situação de conflito e caos. Daí a assertiva de Morgenthauem A 
Política entre as Nações: 
 
A política internacional, como toda política, é uma luta pelo poder. Quaisquer que 
sejam os fins últimos da política internacional, o poder é sempre o fim imediato. 
 
 
Os realistas percebem diferentes maneiras pelas quais os Estados buscam sua 
segurança. Para assegurar a independência, dependendo da posição e do status 
internacional, optam pela proteção de uma grande Potência, a participação em 
sistemas de segurança coletiva ou em alianças políticas ou militares. De 
qualquer maneira, a maioria dos Estados dispõe de forças armadas para garantir 
sua segurança. Aqueles que renunciaram a elas (a Costa Rica é o caso mais 
notório), necessariamente confiam sua defesa à proteção de uma Potência 
hegemônica. 
 
Philippe Braillard, em Teoria das Relações Internacionais (1990, p. 115), resume 
bem os principais conceitos do pensamento de Morgenthau: 
 
Para Morgenthau é o poder (power) e, mais precisamente, a procura pelo poder, 
que é o fundamento de toda a relação política e que constitui, assim, o conceito 
chave de toda a teoria política. Esta procura do poder está inscrita 
profundamente na natureza humana, onde tem a sua origem, natureza que não 
é essencialmente boa, já que ela confere a todos os homens um ardente desejo 
de poder ou animus dominandi, e os faz, com frequência, agir como uma ave de 
rapina, pelo menos ao nível das relações dos grupos sociais entre si. Temos, por 
isso, no fundamento da teoria política de Morgenthau, uma visão filosófica do 
homem, uma antropologia, marcada pelo pessimismo, que é fortemente 
inspirada pela obra do teólogo Reinhold Niebuhr, um dos mestres do 
pensamento da escola realista americana. 
 
No que respeita particularmente à política internacional, a aspiração ao poder 
por parte das diversas nações, cada uma procurando manter ou modificar o 
status quo, conduz, necessariamente, a uma configuração que constitui o que 
chamamos de equilíbrio [de poder] (balance of power) e as políticas que visam 
conservar esse equilíbrio. Ao estabelecer uma ligação necessária entre a 
aspiração das nações ao poder e as políticas de equilíbrio, Morgenthau pretende 
evitar o erro cometido pelos que acreditam que podemos escolher entre a política 
fundada no equilíbrio e uma política, de um gênero melhor, esquecendo que 
todos os Estados procuram os seus interesses, exprimidos em termos de poder. 
 
 
 
 
Também sobre o Realismo, veja o texto que trata da moral nas Relações 
Internacionais numa perspectiva realista, de Marcelo Beckert Zapelini. 
 
 
 
 
Pág. 7 - Críticas ao Realismo 
 
Claro que o Realismo tem sofrido pesadas críticas ao longo de décadas. Por 
exemplo, afirma-se que a teoria negligencia aspectos sociais, culturais ou 
mesmo econômicos, dando valor exacerbado a fatores político-militares. Outra 
crítica é de que o conceito de poder na perspectiva realista estaria mal definido 
e seu emprego demasiado vago, uma vez que o poder seria, ao mesmo tempo, 
“um fim, um meio, um motivo e uma relação”. 
 
Há, ainda, aqueles que lembram que o interesse nacional definido em termos de 
poder é discutível, uma vez que é complicado determinar e quantificar esse 
interesse. Ademais, o Estado jamais poderia ser considerado um Ator unitário e 
racional, e as decisões e ações de política externa são fruto de um complexo 
conjunto de interesses de forças em diferentes níveis da sociedade interna. Daí 
que interesse nacional seria um conceito bastante subjetivo, tanto em virtude da 
diversidade das forças do interior do Estado que estabelecem quais são as 
prioridades e os interesses da nação, quanto devido à heterogeneidade do 
sistema internacional. 
 
Finalmente, há a ponderação de que a teoria realista assenta-se numa visão das 
relações internacionais limitada à configuração dessas relações nos séculos 
XVIII e XIX, ou mesmo na primeira metade do século XX, sendo inadequada ao 
sistema internacional contemporâneo, marcado pela diversidade de Atores e de 
grupos, como organizações internacionais, organizações não governamentais e 
empresas transnacionais. 
 
O conhecimento da perspectiva realista é fundamental para a compreensão 
das relações internacionais. Além da já citada obra de Morgenthau, sugere-se 
a leitura dos trabalhos de Raymond Aron, com destaque para Paz e Guerra 
entre as Nações e dos livros de Henry Kissinger. 
 
 
 
 
Pág. 8 - O Neorrealismo 
 
 vídeo 
Duração: 7min08 
 
 
 
 
 
O Neorrealismo é uma versão mais atual do Realismo. Pegou emprestado 
alguns elementos do cientificismo behaviorista e, assim, deu um renovo para a 
corrente realista. O Neorrealismo deriva de um movimento epistemológico que 
ficou conhecido como Estruturalismo. Segundo os estruturalistas, a sociedade 
se define pelas condições de possibilidade de toda organização social. A análise 
dos diferentes sistemas constitutivos da Sociedade Internacional e de sua 
articulação mostra serem eles a aplicação de certo número de leis lógicas 
encontráveis em toda sociedade. Tal ponto de vista se casou com algumas 
perspectivas “clássicas”, como as que veem as “leis” da anarquia e do poder 
como explicativas da realidade (como a “lei” do balanço de poder já estudada), 
dando luz ao Neorrealismo. Para os estruturalistas, são essas as invariantes ou 
constantes que dão unidade necessária à fundamentação científica. Enfim, para 
os estruturalistas, o importante é identificar os padrões, os arranjos, as 
organizações sistemáticas em determinado estado. 
 
Em suma, o Estruturalismo foi fundamental para o desenvolvimento dos métodos 
“científicos” ao ensinar que o processo científico básico é o analítico, da 
decomposição das coisas, e que se deve privilegiar o aspectorelacional da 
realidade, uma vez que as relações são constantes, enquanto que os elementos 
podem variar. 
 
Kenneth Waltz (2002) se utiliza do Estruturalismo para criar o seu Neorrealismo, 
também chamado de Realismo Estrutural, ao final da década de 1970, que ele 
modestamente chama de “revolução de Copérnico” no âmbito das Relações 
Internacionais. 
 
Waltz identifica três níveis de análise nas Relações Internacionais: o Indivíduo, 
o Estado e a Sociedade (economia doméstica/sistemas políticos), e o Sistema 
Internacional (ambiente anárquico). Dos três níveis de análise identificados por 
ele, concentra-se no terceiro nível, para dizer que a anarquia é uma constante, 
um “dado” na estrutura do Sistema Internacional. Enquanto esse primeiro critério 
da estrutura, a anarquia, é uma constante, o segundo, a distribuição de 
capacidades, é uma variável, pois varia entre os Estados. O referencial empírico 
para essa variável é a quantidade de Superpotências que domina o sistema. 
Dado o pequeno número de tais Estados – importante perceber que ele escrevia 
na época da Guerra Fria –, e, além disso, para Waltz, não mais que oito já foram 
importantes, a política internacional, segundo ele, poderia ser estudada em 
termos da lógica de poucos sistemas. 
 
O Neorrealismo foca mais as características estruturais do sistema internacional 
estatocêntrico do que as unidades que o compõem (os Estados).Em outras 
palavras, é a estrutura que molda e conforma as relações políticas entre as 
unidades. Para Waltz, o Realismo tradicional, por se concentrar nas unidades e 
nos seus atributos funcionais, é incapaz de trabalhar com mudanças de 
comportamento ou na distribuição de poder que ocorre independentemente das 
flutuações entre as próprias unidades. Assim, apesar de o sistema ainda ser 
anárquico e as unidades ainda serem autônomas no Neorrealismo, a atenção 
voltada para o nível estrutural fornecia-lhe uma imagem mais dinâmica e menos 
restrita do comportamento político internacional emergente. O Neorrealismo 
busca explicar como as estruturas afetam o comportamento e os resultados, 
independentemente das características atribuídas ao poder e ao status. 
 
 
Pág. 9 - O Neorrealismo 
Para Waltz, o sistema internacional funciona como o mercado, o qual está 
interposto entre os atores econômicos e os resultados que eles produzem. É o 
mercado que condiciona seus cálculos, seus comportamentos e suas interações. 
Assim, para ele, é a estrutura do sistema internacional que limita o potencial de 
cooperação entre os Estados e que, por consequência, gera o dilema da 
segurança, a corrida armamentista e a guerra. 
 
Waltz lembra que as empresas devem desenvolver sua própria estratégia para 
sobreviver em um meio competitivo, sendo difíceis ações coletivas que otimizem 
o lucro a longo prazo. 
 
Waltz usa a noção de poder estrutural – espécie de poder que pode estar 
operando quando os Estados não estiverem agindo da forma que se esperava, 
dada a desigualdade de distribuição de poder no sistema internacional. Percebe-
se que Waltz se inspirou em Durkheim, para quem a sociedade não é a simples 
soma de indivíduos e que todo fato social tem por causa outro fato social, e 
jamais um fato da psicologia individual. Em seu trabalho sobre o suicídio, 
Durkheim procurou demonstrar que, mesmo no ato privado de tirar a própria vida, 
conta mais a sociedade presente na consciência do indivíduo do que sua própria 
história individual. Ou seja, o ambiente é mais importante do que o agente, e 
essa é a tese por trás do Neorrealismo de Waltz. 
 
Isolando a estrutura, Waltz argumenta que uma estrutura bipolar dominada por 
duas Superpotências é mais estável que uma estrutura multipolar dominada por 
três ou mais Superpotências, pois é mais provável que se sustente sem guerras 
espalhadas no sistema. Para ele, há diferenças expressivas entre 
multipolaridade e bipolaridade. Na multipolaridade, os Estados confiam em 
alianças para manter a segurança, o que é inerentemente instável, uma vez que 
existem potências demais para se permitir que qualquer uma delas trace linhas 
claras e fixas entre aliados e adversários. Em contraste, na bipolaridade, a 
desigualdade entre as Superpotências e cada um dos outros Estados assegura 
que a ameaça posta a cada um deles seja mais fácil de ser identificada, e, no 
sistema bipolar da Guerra Fria, a URSS e os EUA mantinham o equilíbrio central, 
confiando mais nos próprios armamentos do que nos aliados. Ficam, assim, 
minimizados os perigos decorrentes de previsões erradas. A intimidação nuclear 
e a inabilidade das Superpotências em superarem mutuamente as forças 
retaliadoras aumentam a estabilidade do sistema. Ou seja, para Waltz, a 
estrutura do sistema em si gerava a estabilidade. 
Os conceitos de multipolaridade e de bipolaridade serão abordados com mais 
detalhes 
no próximo módulo. 
Waltz foi criticado por Raymond Aron, para quem a estabilidade da Guerra Fria 
tinha mais a ver com as armas nucleares em si do que com a bipolaridade. 
Muitos 
críticos argumentaram que o modelo de Waltz era muito estático e 
determinístico, 
além de desprovido de qualquer dimensão de mudança estrutural (revolução). 
Mas 
essas, na verdade, são as características do Estruturalismo. Em Waltz, os 
Estados 
estão condenados a reproduzir a lógica da anarquia, e qualquer cooperação 
que 
ocorra entre eles ficará subordinada à distribuição de poder. Os neoliberais 
criticam 
Waltz por exagerar o grau de “obsessão” dos Estados pela distribuição de 
poder e 
por ignorar os benefícios coletivos que podem ser alcançados pela 
cooperação. 
Abordaremos esse debate entre neorrealistas e neoliberais mais à frente. 
Outros acusaram Waltz de tentar legitimar a Guerra Fria sob o manto da 
ciência. 
Com o fim da Guerra Fria, um dos polos da estrutura ruiu, a URSS, o que não 
se 
harmonizava com as expectativas da teoria de Waltz, segundo as quais as 
Superpotências amadureceriam para se tornar “duopolistas sensíveis” no 
comando 
de uma estrutura crescentemente estável. 
 
 
 
 
 
Pág. 10 - Os Últimos Grandes Debates 
 
Visto o Neorrealismo, agora podemos abordar os últimos grandes debates 
teóricos de interesse para o presente curso introdutório. Tais debates, que 
surgiram nas últimas décadas do século XX, refletem as teorizações que se 
fizeram necessárias para explicar as significativas mudanças nas relações 
internacionais produzidas pelo processo de globalização e pelo aumento da 
interdependência entre os Atores. 
 
Neorrealistas X Globalistas 
 
Um dos últimos debates que merece referência neste curso é o que se dá entre 
neorrealistas e globalistas. 
 
Como visto, a corrente neorrealista surge com o objetivo de desenvolver uma 
análise mais precisa das Relações Internacionais, baseada nos pressupostos 
realistas clássicos, mas com adaptações que tinham que considerar a nova 
realidade internacional mais complexa. 
 
Como já referido, Waltz (2002) reafirma a perspectiva tradicional realista: o 
princípio da soberania estatal confere à Sociedade Internacional características 
próprias e limita os domínios da cooperação internacional, prejudicando qualquer 
integração durável. O autor retoma a ênfase na teoria do equilíbrio de poder 
diante do Sistema Internacional anárquico, no qual os Estados competem e 
atuam em defesa de seus interesses, que podem ser percebidos como, no 
mínimo, a sua própria preservação, e, no máximo, a dominação universal. 
 
O Globalismo, por sua vez, usa algumas das categorias que o Neorrealismo usa 
(como o poder estrutural), pois também deriva do Estruturalismo, mas surge 
como uma corrente alternativa. Os globalistas reconhecem, como os 
neorrealistas, que há limitações estruturais para a cooperação entre os Estados, 
mas defendem que isso se dá mais em razão da hierarquia do que da anarquia 
no Sistema. Para eles, a hierarquia, como uma característica chave, é mais 
importante do que a anarquia, dada a desigualdade na distribuição do poder 
dentro do sistema. Os globalistas enfatizam o poder estrutural e centram as 
capacidades chaves no sistema econômico. Para eles, uma divisão peculiar do 
trabalho ocorreu historicamente no sistema mundial como resultado do 
desenvolvimento do capitalismo como a forma dominante de produção. 
 
Como já referido na Unidade 3, o Globalismo busca explicar as relações 
internacionais não em virtude de cooperação ou conflito, mas sob a ótica do 
subdesenvolvimento de vários países. Os globalistas buscam analisar as 
Relações Internacionais dentro de um contexto global e geral, assim como fazem 
os neorrealistas, mas acreditam que o que deve ser explicado são as relações 
de dominação, ou seja, como a minoria consegue dominar a maioria, doméstica 
ou internacionalmente, e essa dominação encontra na Economia seu aspecto 
central. 
 
“Existe uma influência marxista no globalismo, principalmente nas análises sobre 
o padrão de evolução histórica das relações de dominação (o conflito seria o 
motor da dinâmica entre as classessociais). Existe também um enfoque na 
totalidade, ou seja, não é possível entender o capitalismo sem entender as 
relações de exploração. Afirmam também, nessa perspectiva global, que 
qualquer solução localizada deve ser vista apenas como uma etapa da solução 
global.” Miguel Burnier, Debate Interparadigmático das Relações Internacionais, 
no Caderno Pet Jur n. IV. 
 
 
 
Pág. 11 - Neorrealistas X Globalistas 
 
O Globalismo vê um sistema-mundo capitalista composto por um núcleo (o 
centro) e a periferia. As áreas centrais se engajaram, historicamente, nas 
atividades econômicas mais avançadas: bancária, industrial, agricultura de alta 
tecnologia etc. A periferia tem fornecido matéria-prima, como minérios e madeira, 
para a expansão econômica do centro. O trabalho não qualificado é sufocado, e 
aos países periféricos é negado o acesso a tecnologias avançadas nas 
áreas/setores em que podem vir a competir com os países centrais. O 
relacionamento polarizado entre as duas categorias é um dos motores do 
sistema. 
 
Assim, não basta um consenso ideológico a favor do capitalismo (como pensam 
os neoliberais) ou uma concentração do poder militar entre as hegemonias do 
centro (como pensam os neorrealistas) para que um conflito sério no sistema 
possa ser evitado. Para os globalistas, não bastaria nenhum dos dois se não 
fosse a divisão da maioria numa camada inferior maior. 
 
Autores globalistas, como Immanuel Wallerstein, acreditam que o sistema-
mundo continuará a funcionar como tem feito nos últimos quinhentos anos, em 
busca do acúmulo sem fim de bens e capital, e que a periferia será cada vez 
mais marginalizada na medida em que a sofisticação tecnológica do centro se 
acelerar. 
 
Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência 
 
Este último debate é o mais relevante para o mundo que se descortina diante de 
nossos olhos neste início do século XXI. Também pode ser referido como um 
debate entre neorrealistas e pluralistas, já que os liberais e neoliberais se reúnem 
no paradigma pluralista. 
 
Como pano de fundo desse debate temos a Teoria da Interdependência. Esse 
debate teórico ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e perdura até os dias 
de hoje. O debate se dá em torno de questões como: se o sistema internacional 
mudou ou não sob o impacto da interdependência, e quais as implicações de tal 
mudança para a teoria e prática das relações internacionais. No fundo, quando 
surgiu o debate, a questão era se o modelo clássico da “anarquia” estava 
perdendo seu poder explicativo frente à “interdependência” entre os Estados, se 
a agenda tradicional das relações internacionais passou ou não a reduzir a 
importância da “alta política” (high politics – segurança militar, dissuasão nuclear) 
e a elevar a “baixa política” (low politics – comércio, finanças internacionais etc.). 
 
Na época em que surgiu, a discussão era travada entre os que acreditavam que 
o sistema internacional não estava sofrendo nenhuma mudança sistêmica (a 
escola neorrealista) e os que argumentavam que o Realismo passou a ser um 
guia inadequado para a compreensão das mudanças dramáticas ocorridas nas 
relações internacionais como resultado das forças econômicas transnacionais (a 
escola neoliberal). 
 
 
Pág. 12 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência 
A razão desse debate era a crise do sistema Bretton Woods, a crise de 
conversibilidade do dólar e os choques de petróleo, eventos que abalaram todo 
o mundo. E, claro, não se pode deixar de citar, o fracasso dos EUA na Guerra 
do Vietnã. 
 
Segundo Waltz (2002), a direção da interdependência econômica dependia da 
distribuição de poder no Sistema Internacional. O significado político das forças 
transnacionais não decorre de sua escala; o que importa é a vulnerabilidade dos 
Estados às forças fora de controle e os custos da redução de exposição a essas 
forças. Para Waltz, no sistema bipolar então vigente, o grau de interdependência 
era relativamente baixo entre as Superpotências, e a persistência da anarquia, 
como princípio central organizador das relações internacionais, garantia que os 
Estados continuassem a privilegiar a segurança acima da busca por riquezas 
(GRIFFITHS, 2004). 
 
Do outro lado do debate estavam os neoliberais, que afirmavam que o 
crescimento das forças econômicas transnacionais, como os fluxos financeiros, 
a crescente irrelevância do controle territorial frente ao crescimento econômico 
e a divisão internacional do trabalho tornavam o Realismo obsoleto. Os 
benefícios coletivos do comércio e a influência dos fluxos financeiros para as 
políticas domésticas dos Estados assegurariam uma cooperação maior entre os 
Estados e contribuiriam para o declínio do uso da força entre eles. 
 
Um dos fortes defensores das teses neorrealistas foi Stephen Krasner. Para 
Krasner (1983), os Estados soberanos continuam sendo, nos tempos de hoje, 
agentes racionais e interesseiros, firmemente preocupados com seus ganhos 
relativos. Argumentou que os períodos de abertura na economia mundial 
correspondem aos períodos nos quais um Estado é nitidamente dominante. No 
século XIX, foi a Grã-Bretanha; no período 1945-1960, os EUA. Por 
consequência, concorda com Waltz: o grau de abertura depende, em si, da 
distribuição de poder entre os Estados. A “interdependência” econômica é 
subordinada ao equilíbrio de poder econômico e político entre os Estados, e não 
o contrário. A teoria da Estabilidade Hegemônica, vista na Unidade 2, trata desse 
ponto. 
 
Krasner também ataca os globalistas. Para ele, os Estados nem sempre colocam 
a riqueza acima dos outros objetivos. O poder político e a estabilidade social 
também são cruciais, e isso significa que, embora o comércio aberto possa 
fornecer ganhos absolutos para todos os Estados que se comprometerem com 
ele, alguns Estados ganharão mais do que outros, e essas diferenças de poder 
são o principal fator determinante e explicativo do comportamento dos Estados. 
Krasner ataca os globalistas pelo fracasso em explicarem o envolvimento dos 
EUA na Guerra do Vietnã, que provocou tão intensas discordâncias domésticas 
para tão pouco ganho econômico. Se os EUA frequentemente desejavam 
proteger os interesses das corporações norte-americanas, reservaram o uso da 
força em larga escala, todavia, para as causas ideológicas. Isso explicaria a 
guerra contra o Vietnã, uma área de importância econômica insignificante para 
os EUA, e a relutância no uso da força durante as crises do petróleo nos anos 
de 1970, que ameaçaram o fornecimento do produto em todo o mundo 
capitalista. 
 
Pág. 13 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência 
 
Krasner atacou de frente a “interdependência” neoliberal, e todo o 
institucionalismo supostamente por trás dela. Segundo ele, Estados pequenos e 
pobres do Sul tendem a apoiar os regimes internacionais que distribuem 
recursos autoritariamente, ao passo que os Estados mais ricos do Norte 
favorecem regimes cujos princípios e regras dão prioridade aos mecanismos de 
mercado. Regimes internacionais “autoritários” são aqueles conjuntos de regras, 
normas, princípios e procedimentos que aumentam os poderes soberanos dos 
Estados individualmente, dando aos Estados o direito de regulamentar fluxos 
internacionais (migração, sinais de rádio, ativos financeiros, aviação civil etc.) ou 
de distribuir acesso a recursos internacionais (fundo do mar, atmosfera, etc.). Os 
Estados do Terceiro Mundo procuram, na verdade, proteção. Tentam se proteger 
contra a operação de mercados em que eles se encontram em desvantagem. 
Não seria por outro motivo o apoio de países do Terceiro Mundoao Fórum Social 
Mundial, cujas preocupações têm sido a regulamentação dos fluxos financeiros 
internacionais e a imposição de uma tributação sobre eles (a chamada “taxa 
Tobin”). 
 
 
Regimes internacionais são normalmente definidos como princípios, normas, 
regras e processos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas 
do Ator convergem para uma dada questão setorizada (issue area). Os 
regimes implicam não apenas normas e expectativas que facilitam a 
cooperação entre os Estados, mas formas de cooperação. 
 
 
 
 
Krasner, assim, identifica uma dicotomia regulamentação/Terceiro Mundo versus 
desregulamentação/Primeiro Mundo, que, no fundo, evidencia relações de 
poder. Krasner, desse modo, rejeita, mais uma vez, a hipótese de que os 
Estados perseguem simplesmente riqueza, e argumenta que os Estados do 
Terceiro Mundo também se envolvem em lutas pelo poder, querendo diminuir 
sua vulnerabilidade ao mercado e exercer um controle estatal maior sobre ele (é 
o que estaria por trás, por exemplo, das discussões na China sobre o controle 
ou não dos fluxos de capital – deixar ou não fechada a conta de capital do 
balanço de pagamentos). Assim, a soberania dá aos Estados do Terceiro Mundo 
uma forma de “metapoder” ou poder de uma ideologia coerente para atacar a 
legitimidade dos regimes do mercado internacional e as injustiças do capitalismo 
global (GRIFFITHS, 2004). 
 
Portanto, para os neorrealistas, a tentativa de estabelecer regimes internacionais 
como meio de superar ou atenuar os efeitos da anarquia não funciona. Tais 
regimes não disfarçam as diferenças de poder existentes nas relações 
internacionais e tampouco conseguem alterar a importância da soberania dos 
Estados. 
 
Neoliberais como Robert Keohane (2001) tentariam derrubar essas teses, 
buscando uma resposta positiva para a questão de se as instituições explicam 
ou não o comportamento dos Estados. O argumento básico de Keohane é que, 
num mundo interdependente, o paradigma realista é de uso limitado para ajudar 
a compreender a dinâmica dos regimes internacionais, ou seja, as normas, 
regras e princípios que governam as tomadas de decisão e as operações em 
relações internacionais sobre determinadas questões, como o dinheiro. 
 
Pág. 14 - Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependência 
Os neoliberais usam o modelo da “interdependência complexa”. Trata-se de um 
modelo explanatório das relações internacionais que pressupõe múltiplos canais 
de contato entre as sociedades, uma ausência de hierarquia entre questões de 
agenda e uma diminuição da utilidade do poder militar, ou um papel minimizado 
para o uso da força. A “interdependência complexa” é o resultado da 
multiplicação das interconexões globais e da aceleração de fluxos financeiros, 
demográficos, de bens, serviços e de informações, com operadores 
extremamente variados: organizações intergovernamentais, multinacionais, 
organizações não governamentais, sociedade civil, dentre outros, os quais 
passam a ganhar espaço nas decisões e discussões internacionais, e o Estado 
deixa de ter o único papel relevante nas relações internacionais, embora ainda 
proeminente. 
 
Sob condições de interdependência complexa, os neoliberais afirmam que é 
difícil para Estados democráticos delinearem e perseguirem políticas exteriores 
racionais, como defendem os realistas. 
 
Os neorrealistas, tornando o debate mais acalorado, responderam dizendo que 
não é verdade que a distribuição de poder político e militar não se relacione com 
a condição de interdependência complexa. A Teoria da Estabilidade 
Hegemônica é normalmente citada como a conjugação das ideias do realismo 
com as ideias pluralistas de interdependência (vide Unidade 2). Ela explica, por 
exemplo, a ligação entre o poder hegemônico e o grau de interdependência 
complexa no comércio internacional. Waltz, ao falar sobre a importância do 
equilíbrio de poder, mostrou que a interdependência, longe de tornar obsoleto o 
poder, dependia da habilidade e da disposição dos EUA em fornecer as 
condições sob as quais os outros Estados estariam participando da concorrência 
por ganhos relativos e cooperando para maximizar seus ganhos absolutos com 
base em uma cooperação no comércio e em outros setores de controvérsia. 
 
A Teoria da Estabilidade Hegemônica procurou responder ao argumento 
neoliberal de que o crescimento da interdependência econômica entre os 
Estados os estaria enfraquecendo e atenuando o relacionamento histórico entre 
a força militar e a capacidade de sustentar interesses nacionais. Afinal, está a 
interdependência econômica que testemunhamos no mundo atual reduzindo a 
importância do poder militar? A resposta dessa teoria é negativa, como visto. 
 
Portanto, para autores como Gilpin, a liderança hegemônica dos EUA e o 
antissovietismo foram as bases do compromisso com o “internacionalismo 
liberal” e com o estabelecimento de instituições internacionais para facilitar a 
grande expansão comercial ocorrida entre os Estados capitalistas nos anos de 
1950 e 1960 (chamados de “anos dourados” por Eric Hobsbawm). Giovanni 
Arrighi, em sua obra O longo século XX, apresentou tese no mesmo sentido. 
Sem a presença de um hegemon, não teria havido os anos dourados do pós-
Guerra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 15 - Conclusão 
 
O Realismo continua sendo a principal corrente teórica de Relações 
Internacionais. No século XXI, análises sob uma ótica realista passam a 
considerar diferentes fatores e novos Atores. Não obstante, esses novos 
elementos não conduzem à decadência ou obsolescência do paradigma, mas, 
sim, a novas adaptações. As teses neorrealistas são bons exemplos. De fato, 
com as mudanças na política internacional que vêm ocorrendo neste início de 
milênio, motivadas pelas pretensões hegemônicas de projeção de poder da 
Hiperpotência norte-americana, nunca o mundo pareceu tão realista. 
Nesta Unidade então, estudamos a principal corrente teórica das Relações 
Internacionais: O Realismo. Volte ao início da Unidade e verifique se os 
objetivos propostos foram alcançados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 5 - Sociedade Internacional: Aspectos Gerais 
 
 
• apresentar os aspectos gerais que caracterizam a Sociedade Internacional; 
• assinalar as subestruturas que compõem a Sociedade Internacional e sua 
importância na compreensão da mesma. 
 
 
 
 
 
 
Outro fator importante, que pode contribuir para o aproveitamento do curso, é 
sua organização pessoal e a disponibilidade de um tempo diário e preciso para 
os estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
 
Em um primeiro momento, podemos relacionar a Sociedade Internacional à 
evolução histórica das relações entre os grupos, povos e Estados-nações 
organizados em âmbito espacial determinado. Assim, é possível identificar a 
evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos 
primitivos da Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade 
Contemporânea, com a ascensão e o declínio do Estado-nação frente a um 
sistema cada vez mais globalizado e interdependente. 
 
Em nossas observações acerca da Sociedade Internacional, a análise histórica 
pode ser de grande auxílio. Essa análise é definida como o estudo do grande 
número de eventos ou fatos que transcenderam as fronteiras entre os Estados e 
que relacionaram entre si as nações e os povos, de forma pacífica ou conflituosa. 
 
 
Conceito de Sociedade Internacional 
 
Convém apenas lembrar quedefinimos Sociedade Internacional como o 
conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera 
internacional sob a influência de forças profundas. Passemos aos elementos 
fundamentais da Sociedade Internacional. 
 
 
Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional 
 
Para Rafael Calduch Cervera (1991, p. 64-55), “a Sociedade Internacional é uma 
sociedade global de referência”, ou seja, constitui “um marco social de 
referência, um todo social em que estão inseridos todos demais grupos sociais, 
quaisquer que sejam seus graus de evolução e poder”. É uma “sociedade de 
sociedades, ou macrossociedade, em cujo seio surgem e se desenvolvem os 
grupos humanos, desde a família às organizações intergovernamentais, 
passando pelos Estados.” 
 
A Sociedade Internacional pode ser percebida como um conjunto de sociedades, 
sendo, portanto, heterogênea. Registre-se que há cerca de apenas três séculos 
é que a Sociedade Internacional começou a adquirir características “globais”: até 
recentemente, pouco contato havia entre as diversas “sociedades” dentro da 
Sociedade Internacional. 
 
 
Pág. 3 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
 
Elementos Fundamentais e Sistema da Sociedade Internacional (cont.) 
Outro ponto a que Calduch chama a atenção é que “a Sociedade Internacional 
é distinta da sociedade interestatal”. Mesmo sendo o Estado o principal Ator 
internacional, compreender a Sociedade Internacional apenas com base nas 
relações interestatais conduziria a uma percepção obscura e, portanto, deficiente 
da realidade. Não há como desconsiderar, sobretudo nos dias atuais, a presença 
e influência cada vez maior de grupos diferentes dos Estados-nação no sistema 
internacional. Ademais, convém lembrar que a doutrina aceita a existência de 
uma Sociedade Internacional antes do surgimento dos Estados nacionais. 
 
Calduch afirma, ainda, que não é possível considerar a existência de uma 
Sociedade Internacional em seu sentido estrito, sem que seus membros 
mantenham relações mútuas intensas e duráveis no tempo. Com isso, assinala 
que a mera ocorrência de ações esporádicas e ocasionais não basta para se 
considerar a existência de uma Sociedade Internacional. 
 
Discordamos dessa percepção de Calduch. Afinal, o que não se pode conceber, 
nos termos apresentados, é uma sociedade global, interdependente, como a dos 
dias atuais. Entretanto, Sociedade Internacional sempre houve, mesmo que sua 
principal característica fosse a falta de interação entre as sociedades/civilizações 
que a compunham. 
 
 
A Sociedade Internacional pode ser percebida na dicotomia “anarquia x ordem 
comum”. Evidente que é anárquica por não possuir uma autoridade superior que, 
legítima titular do uso da força, controle ou imponha a conduta a seus membros. 
Não existe um governo mundial ou uma autoridade supraestatal. Assim, os 
Atores conduzem suas relações internacionais de acordo com seus próprios 
interesses e, ao menos no que concerne aos Estados, não aceitam, de maneira 
geral, autoridade superior no sistema. 
 
Todavia, relembre-se que anarquia internacional não é sinônimo de desordem. 
Há uma ordem comum no meio internacional, estabelecida pelos próprios Atores 
para viabilizar suas relações. Nesse sentido, o papel das grandes Potências é 
essencial, pois são elas que definem os rumos do sistema. Não poderiam existir 
“relações internacionais” sem um ordenamento mínimo na Sociedade 
Internacional. 
 
Essa ordem internacional emana da correlação de forças e poderes entre os 
Atores internacionais. Pode-se dizer que esse ordenamento é estruturado com 
base em elementos como extensão espacial, diversificação estrutural, 
estratificação e hierarquia, polarização, grau de homogeneidade ou 
heterogeneidade e de institucionalização. São os chamados “elementos da 
estrutura internacional” (Esses elementos foram apresentados por Calduch, e as 
observações que faremos a respeito são provenientes do estudo de sua obra.). 
Variam conforme o tempo e as diferentes sociedades, podendo ser identificados 
em todas elas. 
 
 
Sobre as transformações na Sociedade Internacional, interessante a trilogia 
de 
Manuel Castells: A Sociedade em Rede (Paz e Terra, 2007), O Poder da 
Identidade (Paz e Terra, 2000), Fim de Milênio (Paz e Terra, 2002). 
 
 
 
 
 
Pág. 4 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
A extensão espacial 
 
Para Calduch, “a Sociedade Internacional é uma sociedade territorial”. Daí 
considerar-se essencial para a análise de qualquer Sociedade Internacional o 
conhecimento do “marco espacial” em que a referida sociedade se encontra 
assentada. 
 
A Sociedade Internacional sofrerá transformações em sua estrutura e dinamismo 
sempre que sua dimensão espacial for alterada, ou, ainda, quando algum de 
seus membros principais experimentar mudanças em seus limites fronteiriços ou 
em sua zona de influência territorial direta – como ocorreu no Leste Europeu 
para a URSS. Vale lembrar que, sendo o Estado o principal Ator internacional, 
suas mudanças territoriais e reações a mudanças têm marcado as diferentes 
sociedades internacionais. 
 
Portanto, da mais remota Antiguidade aos dias atuais, a constante expansão 
geográfica da Sociedade Internacional gerou conflitos e mudanças nos Atores e 
nas relações de poder entre eles. O que deve ficar claro é que, até o século XX, 
a característica da Sociedade Internacional era exatamente a composição 
espacial de diferentes sociedades internacionais, ainda que com espaços 
definidos e com crescentes intercâmbios culturais, comerciais, sociais e 
políticos, mas com características distintas e espaço geográfico delimitado. 
 
O século XX marca o limite espacial da Sociedade Internacional. Esse foi um 
problema que surgiu quando a Sociedade Internacional alcançou dimensões 
planetárias. Com o desenvolvimento tecnológico, a ideia de “globalização” 
apresenta uma Sociedade Internacional não mais espacialmente limitada ao 
continente europeu, ao Ocidente ou ao “mundo civilizado”, mas às dimensões do 
planeta Terra. 
 
Não se pode mais buscar soluções para problemas locais sem um pensamento 
global. Os problemas da Sociedade Internacional globalizada têm efeitos em 
todo o território do planeta. Entre esses “desafios” estão o fenômeno do 
esgotamento dos recursos naturais, o crescimento exponencial da população 
mundial, a deterioração ambiental ocasionada pela contaminação da terra, do ar 
e das águas, o uso crescente da energia nuclear para fins civis ou militares, a 
utilização do espaço estratosférico e das profundezas oceânicas. Acrescente-se 
a significativa disparidade de renda na esfera internacional, marcada por uma 
minoria da população do globo com alto padrão de vida e a maioria vivendo em 
condições subumanas, na miséria absoluta, sob regimes autoritários e sem 
quaisquer perspectivas de futuro digno. Essas condições implicam 
necessariamente uma reestruturação da Sociedade Internacional, em que a 
questão geográfica, isoladamente, cai para segundo plano. 
 
 
 
Pág. 5 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
A diversidade sistêmica 
 
A Sociedade Internacional é composta de distintos subsistemas, cuja correlação 
configura a ordem internacional imperante. Cada um desses subsistemas 
corresponde a uma das áreas imprescindíveis para a existência da Sociedade 
Internacional em seu conjunto. Calduch prefere chamá-los de “subestruturas”. 
 
Cite-se, então, o subsistema econômico, no qual está a base material e produtiva 
indispensável para a existência dos grupos humanos.Incluem-se aí tanto o 
conjunto dos fatores e forças de produção quanto as inter-relações associadas 
ao processo econômico (produção, comércio e consumo). O subsistema 
econômico não pode ser descartado para a compreensão da Sociedade 
Internacional, uma vez que a Economia é uma das “forças profundas” mais 
influentes na conduta internacional dos Atores. 
 
 
O segundo subsistema a ser considerado é o político-militar. Compõe-se das 
comunidades políticas e organizações internacionais, bem como das relações 
de autoridade e dominação que elas mantêm entre si em virtude de normas 
jurídicas ou mediante o exercício do poder militar. 
 
O terceiro subsistema é o cultural-ideológico. Forma-se, segundo Calduch, por 
“atores e relações internacionais desenvolvidas a partir da existência de 
conhecimentos, valores ou ideologias comuns a distintas sociedades humanas 
e dos processos de comunicação que deles derivam”. O subsistema cultural-
ideológico, tão importante quanto os anteriores, desempenha um papel de 
mediador entre a dimensão político-militar e a econômica, como foi 
testemunhado, por exemplo, nos anos da Guerra Fria. 
 
Naturalmente, cada um dos subsistemas está conformado de maneira particular, 
em virtude das características exclusivas de cada um de seus componentes. 
Suas respectivas evoluções seguem ciclos e ritmos de diferentes intensidade e 
duração, provocando tensões, desajustes e crises, tanto entre os grupos que as 
capitalizam quanto ao conjunto da Sociedade Internacional. 
 
 
Pág. 6 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
A estratificação hierárquica 
 
A Sociedade Internacional constitui uma realidade complexa, cujos membros 
ocupam níveis ou estratos segundo a desigualdade de poder – político, 
econômico, militar, social, cultural/ideológico. Uma vez que há diferentes graus 
de influência nos assuntos internacionais, existe uma hierarquia “de fato” entre 
os Atores na Sociedade Internacional. Daí o conceito de Calduch para essa 
estratificação: “conjunto das diferentes e desiguais posições ocupadas pelos 
atores internacionais em cada uma das estruturas parciais que formam parte da 
Sociedade Internacional.” 
 
Uma primeira observação a ser feita a respeito da estratificação é que a 
hierarquia internacional não é única e imutável em cada Sociedade Internacional 
e muito menos homogênea para cada subsistema. Assim, a posição ocupada 
por um Estado no Subsistema econômico internacional poderá não ser a mesma 
no subsistema político-militar, ou vice-versa. Para exemplificar, a influência atual 
do Brasil na economia internacional é bastante diferente de sua influência na 
política ou de seu poder militar, e, mais ainda, de seu papel cultural-ideológico 
internacional. 
 
Calduch lembra, também, que, junto aos Estados soberanos, “deve-se 
considerar aqueles grupos internacionais cujo protagonismo fica limitado a 
certas áreas da vida internacional, por exemplo, o Fundo Monetário 
Internacional, para o subsistema econômico; o [extinto] Pacto de Varsóvia, para 
a política; a Agência de notícias Reuters, no plano cultural”. Claro que esses 
outros membros da Sociedade Internacional não podem ser desconsiderados, 
pois é inquestionável sua influência nos diferentes subsistemas, em alguns 
casos muito superior à da maior parte dos Estados-nacionais. 
 
 
Acrescentemos a relevância no papel de alguns indivíduos na Sociedade 
Internacional contemporânea, os quais exercem, efetivamente, influência como 
Atores internacionais. Inegável que Bill Gates, George Soros, o Papa João Paulo 
II, ou mesmo Osama bin Laden, só para citar alguns nomes mais conhecidos, 
mostraram-se mais influentes nas relações internacionais, sejam políticas, 
econômicas ou até culturais, que muitos países. Portanto, na Sociedade 
Internacional contemporânea, o indivíduo, entendido como Ator internacional, 
também ocupa um estrato dessa hierarquia. 
Assim, a estratificação hierárquica em cada um dos subsistemas internacionais 
pode realizar-se atendendo às diferentes características de Atores (Estados, 
organizações internacionais, organizações não governamentais, empresas 
multinacionais/transnacionais, indivíduos, entre outros) ou, ainda, considerando 
cada um dos grupos com capacidade de participação nos diferentes 
subsistemas. 
 
 
 
 
 
 
Pág. 7 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
A polarização 
 
Alguns Atores atraem para si outros em virtude da capacidade de influência no 
sistema e da desigualdade entre os diferentes protagonistas do cenário 
internacional. Introduzimos, aqui, um dos elementos essenciais para a 
compreensão da estrutura do sistema internacional: a ideia de polarização. 
 
Polarização pode ser definida como a capacidade efetiva de um ou vários Atores 
internacionais para adotar decisões, comportamentos ou normas que sejam 
aceitos pelos demais Atores e, por meio dos quais alcançam ou garantem uma 
posição hegemônica na hierarquia internacional. Para os Atores que ocupam 
essa posição de destaque, a manutenção da estrutura imperante mostra-se 
questão de sobrevivência, pois qualquer sinal de mudança pode significar que 
outro polo está a se estruturar, com a consequente – e, às vezes, fatal – alteração 
no equilíbrio de poder no sistema. Enquanto a estratificação considera o conjunto 
dos Atores, a polarização – ou polaridade – contempla somente aqueles que 
dominam as relações básicas de cada subsistema internacional. 
 
Portanto, ao tratarmos de polarização, consideramos os membros da Sociedade 
Internacional nas posições superiores da estratificação hierárquica. 
 
Segundo Calduch, os Atores à frente de cada subsistema internacional se veem 
obrigados a intervir de modo crescente e constante nas relações internacionais, 
com o objetivo de perpetuar sua hegemonia. A longo prazo, haverá uma 
drenagem tão grande de seus recursos e capacidades para projetos e atuações 
exteriores que esses Atores terão seu poder debilitado, tanto interna quanto 
externamente. Um bom exemplo disso é o que ocorreu com a URSS na década 
de 1980, que culminou no desaparecimento daquele Estado em 1991. 
 
O caso da URSS é, como dito, apenas um exemplo. A “ascensão e queda das 
grandes potências”, para usar os termos de Paul Kennedy, é um fato que pode 
ser constatado em diversos momentos da evolução histórica da Sociedade 
Internacional, sempre relacionado à incapacidade de manutenção da hegemonia 
internacional nos diferentes subsistemas ao longo do tempo. A evolução é fatal: 
um Ator hegemônico surge ainda quando o Sistema está polarizando por outro 
ou outros atores; aos poucos, vai ocupando o vazio de poder fruto do 
enfraquecimento desse ou desses, até adquirir capacidade suficiente para afetar 
o Sistema. Entretanto, depois de determinado tempo – anos, décadas ou séculos 
–, a única certeza é que surgirá um novo Ator para ocupar seu espaço no 
Sistema Internacional. Assim como ocorre na natureza, numa lógica darwiniana, 
ocorre também na Sociedade Internacional. 
 
Entenda-se lógica darwiniana como a capacidade de um ente se adaptar a 
determinado ambiente. É importante observar que um ente muito adaptado a 
determinado ambiente e, portanto, bem-sucedido, pode desaparecer se as 
condições se modificam. 
 
 
 
Pág. 8 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
Polarização (cont.) 
 
 
Há três formas de polarização internacional: 
unipolaridade; 
bipolaridade; e 
multipolaridade. 
 
 
Entende-se por unipolaridade a situação em que um só Ator é capaz de dirigir, 
de modo decisivo, a dinâmica de determinado subsistemainternacional. No seu 
auge, o poder de influência desse Ator é incontestável, devido à incapacidade 
de outro Ator fazer-lhe frente. 
 
O exemplo clássico de unipolaridade político-militar está no Império Romano, 
entre a derrota de Cartago (136 a.C.) e seu desmembramento (476 d.C.), no 
contexto da Sociedade Internacional mediterrânea. Um exemplo atual poderia 
ser a condição dos EUA, ao menos sob a perspectiva de poder militar, com o fim 
da Guerra Fria e o colapso da URSS. Alguns autores, entretanto, discordam e 
vislumbram um sistema multipolar no contexto geral. 
 
A bipolaridade ocorre quando dois Atores dividem a hegemonia de um 
subsistema. Os demais componentes do Sistema acabam migrando para a 
esfera de influência de um dos dois Atores principais. É possível, ainda, que os 
demais Atores optem por uma política pendular, tendendo a uma ou outra esfera 
de influência conforme interesses específicos e, ao mesmo tempo, “jogando” 
com a disputa entre os polos. Como exemplos de sistemas bipolares no plano 
político citamos: Esparta e Atenas, na Grécia clássica; Cartago e Roma, no 
mundo antigo; EUA e URSS, nas quatro décadas seguintes ao término da II 
Guerra Mundial (1939-1945). 
 
Finalmente, quando o domínio de um subsistema internacional é disputado por 
mais de dois Atores, tem-se a multipolaridade. Como na bipolaridade, a 
hegemonia na multipolaridade não tem uma direção única, o que obriga os 
distintos polos a considerarem em suas condutas internacionais os interesses e 
condutas de seus pares. Quanto maior o número de Atores polarizando o 
Sistema, mais complexas e aleatórias são as relações internacionais. 
 
Como exemplo de multipolaridade no subsistema político-militar tem-se o 
Concerto Europeu, estabelecido em 1815, com a derrota de Napoleão, e que 
perdurou por cerca de 100 anos na ordem europeia. Já para exemplificar a 
multipolaridade econômica, apresentamos a Sociedade Internacional de nossos 
dias, uma vez que, junto às Grandes Potências econômicas (EUA, Japão, 
Alemanha, China), surgem também organizações intergovernamentais e blocos 
econômicos (União Europeia, NAFTA, APEC, Mercosul etc.) e ainda empresas 
multinacionais ou transnacionais (Exxon, General Motors, IBM, Citicorp), 
algumas das quais com capacidade para influenciar o sistema de forma muito 
superior à da maior parte dos Estados soberanos do globo. 
 
Registre-se, ademais, que, para perdurar, a relação hegemônica deve basear-
se em dois alicerces: coerção e consenso. Não se pode exercer a liderança em 
um sistema por muito tempo apenas com base no uso da força, ao mesmo tempo 
em que hegemonia fundamentada simplesmente no consentimento dos pares 
pode ser ameaçada por uma crise de legitimidade. 
 
 
 
Pág. 9 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
O grau de homogeneidade e heterogeneidade 
 
A Sociedade Internacional encontra-se condicionada também pela presença ou 
ausência de homogeneidade entre seus membros. Uma vez que existem Atores 
com diferentes naturezas, composições, poder e objetivos, só é possível estudar 
o grau de homogeneidade/heterogeneidade se forem comparados Atores 
pertencentes a uma mesma categoria. Não se pode, portanto, comparar Estados 
soberanos com organizações internacionais para se medir o grau de 
homogeneidade de determinado subsistema. 
 
Existe homogeneidade internacional quando são observadas identidades ou 
similitudes internas fundamentais entre os Atores que pertençam a uma mesma 
categoria e participem de um mesmo subsistema internacional, principalmente 
entre os Atores estatais. Já a heterogeneidade é constatada com a existência de 
divergências internas básicas entre os referidos Atores. 
 
Uma análise das relações internacionais sob o enfoque do grau de 
homogeneidade/heterogeneidade da Sociedade Internacional deve considerar: 
 
1) a comparação entre Atores da mesma categoria; e 
2) a não existência de categoria com grau de homogeneidade absoluto. 
 
Sempre haverá diferenças entre os Atores, uma vez que a diversidade é uma 
característica inata das sociedades que compõem a Sociedade Internacional. 
 
Um terceiro aspecto que deve ser considerado é que um elevado índice de 
homogeneidade em um subsistema internacional não se transfere 
automaticamente aos outros subsistemas. Assim, há casos em que são 
vislumbradas relações políticas homogêneas em contraposição à 
heterogeneidade econômica e sociocultural em um mesmo grupo de Atores. 
 
Finalmente, vale observar que, para alguns autores, os sistemas homogêneos 
tendem a ser mais estáveis (ARON, 1986). Afinal, a homogeneidade permite 
maior grau de previsibilidade na conduta internacional dos Atores. Trata-se, 
entretanto, de uma tendência que não pode ser considerada de maneira 
categórica, visto que ao próprio conceito de estabilidade são atribuídas 
diferentes interpretações. 
 
 
Muitas vezes, os Atores fazem uso dessa dicotomia 
homogeneidade/heterogeneidade para conduzir seus interesses internacionais 
e influenciar a conduta de outros Atores. Exemplos são os grupos que se formam 
sob a égide de bandeiras como “nações civilizadas”, “países desenvolvidos”, “em 
desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”, “capitalistas, socialistas e não 
alinhados”. Enquanto o caráter homogeneidade/heterogeneidade, em alguns 
casos, realmente se faz presente, em outros nada mais se tem que uma forma 
de apresentação internacional pouco condizente com a realidade. 
 
Pág. 10 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
O grau de institucionalização 
 
O último elemento fundamental para o estudo das relações internacionais 
identificado por Calduch é o grau de institucionalização, que, por sua vez, 
resumiria todos os anteriores. Para o mestre espanhol, “o grau de 
institucionalização de uma Sociedade Internacional é formado pelo conjunto de 
órgãos, normas e valores que, independentemente de seu caráter expresso ou 
tácito, são aceitos e respeitados pela generalidade dos Atores internacionais de 
um mesmo subsistema, permitindo, dessa maneira, a configuração e a 
manutenção de determinada ordem internacional.” (CALDUCH, 1991, p. 74). 
 
 
Esse conceito traduz o entendimento e o consenso social que deve imperar entre 
componentes de uma Sociedade Internacional ao estabelecerem ou modificarem 
suas relações mútuas. Calduch defende que não se pode analisar o grau de 
institucionalização apenas com base nas normas jurídicas: há normas que não 
estariam envolvidas pelo Direito Internacional, ainda que este sintetize a maior 
parte das instituições fundamentais da Sociedade Internacional. 
 
Ao estudar as instituições internacionais e suas transformações, o analista 
depara-se com a estrutura da ordem internacional, os interesses dos Atores e as 
forças que influenciam as condutas dos membros da Sociedade Internacional ao 
longo do tempo. As instituições estão relacionadas aos valores, às normas e aos 
objetivos dos membros de uma sociedade e, mesmo, à essência de seus 
subsistemas. 
 
As mudanças nas instituições refletem, portanto, as transformações da própria 
sociedade em que se encontram, suas formas de cooperação e seus 
antagonismos. 
 
 
Finalmente, Calduch afirma que a diplomacia, o comércio e a guerra são formas 
de relações internacionais presentes em diversos tipos de instituições 
internacionais. Daí não ser cabível, para a análise do grau de institucionalização 
de uma sociedade, a exclusão de valores ou normas que emanem diretamente 
da existência de conflitos bélicos. 
 
Portanto, compreendendo as instituições de uma sociedade, pode-se 
compreender seus membros,as forças que nela interferem e os reflexos das 
relações entre os Atores. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 11 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito 
O grau de institucionalização 
Um exemplo recente de dificuldades geradas em modelos institucionais críticos 
é a guerra em regiões menos desenvolvidas do globo. Enquanto o conflito entre 
as Potências busca seguir determinadas “leis” de conduta, um confronto em 
áreas menos desenvolvidas foge a qualquer padrão. Muitos oficiais ocidentais 
ficaram perplexos ao combater em 2001 no Afeganistão, porque as milícias 
afegãs “desconheciam os usos e costumes do direito de guerra das nações 
civilizadas”. Não havia nada parecido com as instituições da guerra clássica no 
cenário da Ásia Central, o que levou à violência exacerbada de ambos os lados 
no combate. 
 
Cite-se entre as principais as Convenções de Genebra de 1949 e seus 
protocolos Adicionais, que regulamentam as condutas dos combatentes. 
 
Assim, as instituições refletirão os subsistemas e a maneira como estão 
ordenados. Pode-se, portanto, analisar as relações internacionais sob a ótica 
das instituições que se manifestam no Sistema Internacional. É essencial, 
portanto, ao internacionalista, conhecer as instituições que regem as estruturas 
da sociedade objeto de seu estudo. 
 
Assista à aula do Professor Joanisval Gonçalves, em duas partes, sobre 
Sociedade Internacional, que engloba conceitos tratados neste primeiro módulo. 
Vamos lá! 
 
Parte 1-duração: 7min29 
Parte 2 - duração: 7min08 
 
 
Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. Nos módulos 
seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da 
Sociedade Internacional a partir da era moderna, com esses aspectos teóricos 
operando como pano de fundo. 
 
 
 
Pág. 12 - Conclusão do Módulo I 
 
Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. Nos módulos 
seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da 
Sociedade Internacional a partir da era moderna, com esses aspectos teóricos 
operando como pano de fundo. 
 
 
 
 
Dois livros importantes para se compreender a ideia de sociedade 
internacional são A Evolução da Sociedade Internacional, de Adam Watson 
(Brasília: Ed. UnB, 2004) e A Sociedade Anárquica, de Hedley Bull (Brasília: 
Ed. UnB, 2002). Bull e Watson são dois ícones da chamada Escola Inglesa de 
Relações Internacionais, a qual tem uma perspectiva das relações 
internacionais muito fundamentada nas ideias de sociedade internacional. 
 
 
 
 Você pode encontrar resenhas dos livros sugeridos na Internet: 
 
 # A Sociedade Anárquica e 
 # A Evolução da Sociedade Internacional 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I de estudo do curso Relações 
Internacionais - Teoria e História. 
 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu 
domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a 
correção imediata das suas respostas!

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