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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
Faculdade de Direito 
 
 
 
 
 
[Nome completo] 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA E TEORIA DE ESTADO I – Anotações de aula e pesquisas 
relacionadas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
2016 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
Faculdade de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA E TEORIA DE ESTADO I – Anotações de aula e pesquisas 
relacionadas 
 
 
 
 
 
Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Direito 
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como 
requisito para a conclusão da disciplina de Política e 
Teoria de Estado I, sob a orientação do Professor 
Doutor Carlos Eduardo Dieder Reverbel. 
 
 
 
 
Porto Alegre 
2016 
BIBLIOGRAFIA MÍNIMA 
 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha. “A Crise da Democracia no Brasil”. Forense, 
Rio de Janeiro, 1978. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. “O Tribunal Constitucio-
nal como Poder” 2ª Ed. REVISTA DOS TRIBUNAIS, 2016. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. "A supremacia do Direi-
to no Estado democrático". Porto Alegre, 2003. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. "Consenso e democra-
cia constitucional" Porto Alegre, Ed. Sagra Luzzato, 2002. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. "Consenso e tipos de 
Estado no ocidente" Porto Alegre, Ed. Sagra Luzzato, 2002. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. "Constituições do Bra-
sil". Porto Alegre, Ed. Sagra Luzzato, 2002. 
 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha & Carlos REVERBEL. "Morfologia política". 
Porto Alegre, Nova prova, 2003 
 MENEZES, Aderson. "Teoria Geral do Estado". Forense, Rio de Janeiro. 
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. “A democracia no Limiar do Século XXI”, 
Saraiva, 2001. 
 BONAVIDES, Paulo. "Ciência Política". Forense, Rio de Janeiro. 
 BONAVIDES, Paulo. "Teoria do Estado". Forense, Rio de Janeiro. 
 AZAMBUJA, Darcy. “Teoria Geral do Estado”. Globo, Rio de Janeiro. 
 AZAMBUJA, Darcy. “Introdução à Ciência política”. Globo, Rio de Janeiro. 
OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS AO LONGO DO SEMESTRE 
 
 Oportunizar aos alunos o conhecimento dos temas fundamentais da Política e da 
Teoria Geral do Estado, no alvorecer de um novo século; 
 Ajudar os alunos a desenvolver a capacidade de analisar, interpretar e avaliar os 
aspectos sociais, econômicos, territoriais, políticos, ideológicos, jurídicos e éti-
cos, que estão envolvidos no complexo fenômeno das unidades políticas con-
temporâneas e na evolução delas até nossos dias; 
 Despertar nos alunos motivação e interesse para o estudo do fenômeno das uni-
dades políticas do passado e do presente; 
 Consolidar nos alunos os hábitos acadêmicos de leitura, pesquisa e produção in-
telectual; 
 Contribuir à formação, nos educandos, de uma consciência cívica quanto à rele-
vância do bem comum, ao respeito devido à coisa pública e à produção da digni-
dade humana, com ênfase na necessidade de valorização de nossa história, da 
identidade cultural brasileira e da necessidade da política. Em suma, contribuir 
para a formação de verdadeiros estadistas. 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Sítio da International Political Science Association na internet 
Figura 2 – Sítio da American Political Science Association na internet 
Figura 3 – A Ciência Política através de seus objetos formal e material 
Figura 4 – As dimensões humanas 
Figura 5 – As dimensões humanas e suas instituções 
Figura 6 – Sistema Lógico dedutivo das normas 
Figura 7 – Sistema de causação circular cumulativo 
Figura 8 – A evolução do pensamento durante os séculos 
Figura 9 – A estrutura social medieval e seu funcionamento 
Figura 10 - Funções do rei nacional moderno 
Figura 11 – A intervenção do Estado Liberal 
Figura 12 - A divisão de poderes segundo Montesquieu 
Figura 13 - A divisão de poder segundo Hans Kelsen 
Figura 14 - O modelo de Montesquieu de divisão de poderes adaptado 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 – O Estado por suas cinco causas 
Quadro 2 – Como funcionam as correntes do direito 
Quadro 3 – Max Weber e os tipos de dominação 
Quadro 4 – Fundamentos do sistema representativo 
Quadro 5 – As correntes do liberalismo 
Quadro 6 – As formas clássicas de governo 
Quadro 7 – As características do autoritarismo e do totalitarismo 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE I – A DISCIPLINA “POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO” – PTE .................. 14 
1. A POLÍTICA E TEORIA DE ESTADO COMO CIÊNCIA ....................................... 15 
1.1. A DISCIPLINA CIÊNCIA POLÍTICA (CP) ...................................................... 15 
1.1.1. A política como ramo do conhecimento: três fases ................................... 15 
1.1.2. Posição curricular da Ciência Política no Brasil e no RS .......................... 19 
1.1.3. O objeto material e formal da Ciência Política .......................................... 20 
1.2. A DISCIPLINA TEORIA GERAL DE ESTADO (TGE) ................................... 21 
1.2.1. Gênese histórica da TGE .......................................................................... 21 
1.2.2. Posição curricular da Teoria Geral do Estado no Brasil e no RS .............. 21 
1.3. A COMBINAÇÃO: A DISCIPLINA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO ........ 23 
2. A POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO COMO CIÊNCIA ...................................... 24 
2.1. O TERMO ESTADO ..................................................................................... 24 
2.2. DIFICULDADES PARA CONCEITUAÇÃO ................................................... 25 
2.3. DEFINIÇÃO PELAS CINCO CAUSAS – O CONCEITO DE ESTADO POR 
UMA VISÃO PENTADIMENSIONAL ....................................................................... 25 
3. CONTEÚDO DA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO: MODOS DE CONCEBER O 
ESTADO ..................................................................................................................... 26 
3.1. VISÃO UNIDIMENSIONAL DO ESTADO ..................................................... 26 
3.2. VISÃO BIDIMENSIONAL DO ESTADO ........................................................ 29 
3.3. VISÃO TRIDIMENSIONAL DO ESTADO ..................................................... 29 
3.4. VISÃO PENTADIMENSIONAL DO ESTADO ............................................... 31 
3.4.1. Causa material .......................................................................................... 32 
3.4.2. Causa formal............................................................................................. 32 
3.4.3. Causa final ................................................................................................ 32 
3.4.4. Causa eficiente ......................................................................................... 32 
3.4.5. Causa instrumental ................................................................................... 33 
UNIDADE II – TIPOS DE UNIDADE POLÍTICA ATÉ AS REVOLUÇÕES LIBERAIS ... 35 
4. A UNIDADE POLÍTICA ANTIGA (UPA) ............................................................... 37 
4.1. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA ORIENTAL – UPAO (Egito, Assíria/Caldéia, 
Israel, Pérsia, China, etc.) ....................................................................................... 37 
4.2. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA GREGA – UPAG .......................................... 38 
4.3. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA ROMANA – UPAR ........................................ 40 
5. O NASCIMENTO DA UNIDADE POLÍTICA OCIDENTAL: O REINO MEDIEVAL 
FEUDAL (RMF) .......................................................................................................... 43 
5.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ..........................................................43 
5.2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO FEUDALISMO ....................................... 45 
5.2.1. Características econômicas ...................................................................... 45 
5.2.2. Características sociais .............................................................................. 46 
5.2.3. Características culturais ............................................................................ 46 
5.2.4. Características jurídicas ............................................................................ 46 
5.3. CARACTERÍSTICAS POLÍTICAS DO REINO MEDIEVAL FEUDAL ............ 51 
5.3.1. Fragmentação territorial do poder em feudos ........................................... 51 
5.3.2. Hierarquização da sociedade política ....................................................... 51 
5.4. FUNÇÕES DO REI MEDIEVAL FEUDAL ..................................................... 53 
5.4.1. Função Administrativa ............................................................................... 53 
5.4.2. Função Judiciária ...................................................................................... 53 
5.4.3. Função Legislativa .................................................................................... 54 
5.4.4. O rei .......................................................................................................... 54 
5.5. LEGADO DO REINO MEDIEVAL FEUDAL .................................................. 55 
5.5.1. Supremacia do direito sobre o poder ........................................................ 55 
5.5.2. A Legitimidade do direito ........................................................................... 55 
5.5.3. Filosofia democrática ................................................................................ 55 
5.5.4. Descentralização territorial do poder ........................................................ 55 
5.5.5. Surgimento dos parlamentos .................................................................... 56 
5.6. DIVISÃO DE PODERES .............................................................................. 56 
5.7. SOBERANIA ................................................................................................ 56 
5.7.1. Surgimento................................................................................................ 56 
5.7.2. O caso da França ..................................................................................... 57 
5.8. FIM DO REINO FEUDAL ............................................................................. 58 
6. O ESTADO BUROCRÁTICO CONCENTRADO TERRITORIAL NACIONAL 
MODERNO (EBCTNM) ............................................................................................... 60 
6.1. CARACTERÍSTICAS (E LEGADO) DO EBCTNM ........................................ 60 
6.1.1. Aspecto central ......................................................................................... 60 
6.1.2. Corolários ................................................................................................. 61 
6.2. CONDIÇÕES QUE VIABILIZARAM O EBCTNM.......................................... 62 
6.2.2. Científicas e tecnológicas ......................................................................... 62 
6.2.3. Jurídicas ................................................................................................... 62 
6.2.4. Doutrinárias............................................................................................... 62 
6.3. FUNÇÕES DO REI DO EBCTNM ................................................................ 63 
6.4. TRÊS SUBTIPOS (OU ESPÉCIES) DE EBCTNM: OS CASOS DO REINO 
UNIDO, FRANÇA E PORTUGAL ............................................................................ 64 
UNIDADE III – TIPOS DE ESTADO DESDE AS REVOLUÇÕES LIBERAIS ................ 67 
7. CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................................. 69 
7.1. ADVENTO DO ESTADO LIBERAL ............................................................... 69 
7.1.1. As três grandes revoluções liberais .......................................................... 69 
7.1.2. Cronologia histórica (inglesa).................................................................... 71 
7.2. LEGADO DO ESTADO LIBERAL (SO-RE-LI-CO) ........................................ 71 
7.3. DUAS LINHAS DO LIBERALISMO: EDMUND BURKE X DOCTOR PRICE 72 
8. O ESTADO LIBERAL CLÁSSICO – ELC ............................................................ 74 
8.1. CONTEXTO .................................................................................................. 74 
8.2. CARACTERÍSTICAS DO ELC...................................................................... 74 
8.2.1. Características político-econômicas ......................................................... 74 
8.2.2. Características político-funcionais ............................................................ 74 
8.2.3. Características partido-ideológicas ........................................................... 75 
8.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA .......................................... 75 
9. O ESTADO SOCIAL CONTEMPORÂNEO – ESC ............................................... 77 
9.1. CONTEXTO .................................................................................................. 77 
9.2. CARACTERÍSTICAS DO ESC ..................................................................... 77 
9.2.1. Características político-econômicas ......................................................... 77 
9.2.2. Características político-funcionais ............................................................ 78 
9.2.3. Características partido-ideológicas ........................................................... 78 
9.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA .......................................... 78 
10. O ESTADO LIBERAL PLURALISTA – ELP ......................................................... 80 
10.1. CONTEXTO .................................................................................................. 80 
10.2. CARACTERÍSTICAS DO ELP ...................................................................... 80 
10.2.1.Características político-econômicas ......................................................... 80 
10.2.2.Características político-funcionais ............................................................ 81 
10.2.3.Características partido-ideológicas ........................................................... 81 
10.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA ...................................... 81 
11. REGIMES DE GOVERNO ................................................................................... 83 
11.1. FORMAS CLÁSSICAS DE REGIMES .......................................................... 83 
11.1.1. Formas com um único governante ........................................................ 84 
11.1.2. Formas com poucos governantes ......................................................... 84 
11.1.3. Formas com muitos governantes .......................................................... 85 
11.2. TRANSIÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO ............................................................. 86 
11.3. AUTORITARISMO ........................................................................................ 86 
11.3.1. Criador do conceito ................................................................................... 86 
11.3.2. Características .......................................................................................... 87 
11.3.3. Formas de surgimento .......................................................................... 89 
11.4. TOTALISMO ................................................................................................. 89 
11.4.1. Motivos parao surgimento apenas no século XX ................................. 89 
11.4.2. Diferenças básicas do autoritarismo ..................................................... 89 
11.4.3. Características .......................................................................................... 90 
11.5. DEMOCRACIA ............................................................................................. 92 
11.5.1. Dificuldades de conceituação ................................................................ 92 
11.5.2. O que é necessário para que um país seja considerado democrático ...... 92 
11.5.3. Conceitos da democracia ......................................................................... 94 
FICHAMENTOS ............................................................................................................. 97 
I – ARISTÓTELES. ÉTICA À NICOMACO – LIVRO V .................................................. 98 
II – ELLWEIN, THOMAS. FEDERALISMO E AUTONOMIA ADMINISTRATIVA: 
UNIDADE PARA FORA, DIVERSIDADE PARA DENTRO. UM GRANDE TRIUNFO DA 
HISTÓRIA ALEMÃ ................................................................................................... 100 
III – DECRETO-LEI NR 2.639, DE 27 DE SETEMBRO DE 1940 ...................................... 104 
IV – DALLARI, DALMO DE ABREU. ELEMENTOS DA TEORIA GERAL DO ESTADO - 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 105 
V – PORTARIA NR 1.886, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1994 ............................................. 109 
VI – O QUE É ESTADO? (DEFINIÇÃO DADA PELO ALUNO APÓS AS AULAS SOBRE O 
ASSUNTO) ................................................................................................................... 110 
VII – MENEZES, ADERSON DE. TEORIA GERAL DO ESTADO (CAPÍTULO 4) E 
AZAMBUJA, DARCY. TEORIA GERAL DO ESTADO (CAPÍTULO 12) ......................... 113 
VIII – CONSTANT, BENJAMIN. DA LIBERDADE DOS ANTIGOS COMPARADA À DOS 
MODERNOS. ............................................................................................................ 117 
IX – REVERBEL, CARLOS EDUARDO DIEDER. ATIVISMO JUDICIAL E ESTADO DE 
DIREITO ................................................................................................................... 124 
X – AZAMBUJA, DARCY. TEORIA GERAL DO ESTADO (CAPÍTULO 12) ................... 126 
XI – FRANCO JÚNIOR, HILÁRIO. IDADE MÉDIA, NASCIMENTO DO ORIENTE 
(CAPÍTULO 3) .......................................................................................................... 127 
XII – WEBER, MAX. ECONOMIA E SOCIEDADE (CAPÍTULO 6 – TIPOS DE DOMINAÇÃO)
 .................................................................................................................................. 138 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I – A DISCIPLINA “POLÍTICA E TEORIA DO 
ESTADO” – PTE 
 
15 
1. A POLÍTICA E TEORIA DE ESTADO COMO CIÊNCIA 
 
1.1. A DISCIPLINA CIÊNCIA POLÍTICA (CP) 
 
1.1.1. A política como ramo do conhecimento: três fases 
 
 1ª Fase: De Aristóteles (384 – 322 a.C.) até o início do século XIX 
 
A política era o estudo da Polis – Os gregos não tinham noção da política como 
ciência, preocupando-se apenas em estudar a Polis. 
Com isso, inconscientemente, estudavam: 
 
 Filosofia política; 
 Sociologia; 
 Ciência Política 
 
Filosofia Política – Ramo do conhecimento que estuda os primeiros princípios e 
as últimas causas da vida em sociedade; 
Sociologia – Ramo do conhecimento que estuda os fenômenos da vida 
social(relações e interações sociais); 
Ciência Política – Ramo do conhecimento que estuda a sociedade e o poder 
político. Estuda as relações de poder (Cratos, do grego, poder). 
 
A Política nessa primeira fase estudava a Polis, sem consciência da divisão entre 
as três áreas do conhecimento supracitadas, apenas estudando a sociedade como ela 
se apresentava. 
Aristóteles foi o primeiro a estudar a Polis (a sociedade) e sabia da necessidade 
do “Epagoge” (do grego, indução). Ele definia a política como um processo de indução, 
no sentido em que seres humanos buscam atingir determinados fins. 
Estudo da Polis 
16 
Mas qual é a finalidade da Polis? 
(Fim do Estado ≠ Fim do indivíduo) 
Para Aristóteles, a finalidade do indivíduo era alcançar a Eudaimonia (felicidade 
oriunda de uma vida ativa, governada pela razão). Entretanto, a finalidade da Polis era 
alcançar o BEM COMUM. 
O bem comum consiste no bem de todos naquilo que todos temos em comum (a 
dignidade da pessoa humana) 
Humana – adjetivo destacado para ser lembrado que todos somos iguais, não 
havendo ninguém superior ou inferior. 
Como isso funcionava? – Todos os indivíduos buscam um fim na vida. Eles 
buscam, na Polis, obter uma VIDA BOA. Essa vida boa estava atrelada ao bem comum 
(social), com a valorização da interação cívica (filia). Dessa forma, os seres humanos 
devem interagir com os demais, pois é um ANIMAL POLÍTICO (ZOOPOLÍTICO). 
Aristóteles se questionava como essa busca pela vida boa funcionava e notou 
que ela era alcançada pelo SURGIMENTO DE LEIS JUSTAS (Phronesis – razão 
prática). Para ele, essa era a base da organização de uma sociedade. 
Partindo dessa ideia, chegamos ao ponto de nos questionar sobre “O que é 
justo?”. Para sabermos o que é justo, precisamos seguir pessoas justas. Andando com 
as pessoas justas, que agem com temperança, aprenderemos a justiça. 
Para buscar a justiça precisamos seguir a lei, que é feita pelos justos. Eles a 
fazem com temperança. 
No Livro citado, Aristóteles faz referência à régua de lesbus (régua especial de 
que se serviam os operários para medir certos blocos de granito. Por ser feita de 
material especial ele se adéqua as irregularidades do objeto). Ela se ajustava às 
rochas, assim como a justiça deve ser maleável, ajustável, adaptável. 
Aristóteles afirma ainda que os jovens não são dotados da temperança 
necessária, exceto aqueles experimentados nas guerras. 
A justiça buscava o meio termo. 
 
 
17 
 2ª Fase – Ao longo do século XIX 
 
Essa fase foi marcada pela separação da sociologia, que passou a ser um ramo 
autônomo do conhecimento. 
 Filosofia política; 
 Ciência Política 
 
 Sociologia 
 
Augusto Comte foi um sociólogo positivista que fez escola entre os pensadores, 
sendo o fundador da sociologia como ramo autônomo do conhecimento. Ele criou a 
palavra “CONSENSUS”. 
A política é a arte do consenso (concordância ou uniformidade de opiniões, 
pensamentos, sentimentos, crenças etc., da maioria ou da totalidade de membros de 
uma coletividade). Ela é capaz de construir consensos, unir pessoas e pensamentos 
divergentes e como “arte do consenso”, ela deve ser a arte do amor, da união e da 
conciliação. 
“A política é a continuação da guerra por outros meios” – Clausewitz. 
 A sociologia ingressou no Brasil no fim do século XIX e início do século XX, com 
a passagem do Império para a República (1889). 
 
 3ª Fase – Ocorre após a 2ª GM, nos EUA (1945) 
 
Nessa fase, a Ciência Política se torna um ramo autônomo do conhecimento. 
Mas onde e por que a Ciência Política vai surgir? 
Ela surge nos Estados Unidos depois da 2ª GM. 
Após a 1ª GM, diversos países ratificaram a Liga das Nações (1919), porém os 
Estados Unidos ficaram de fora e por isso passou a ser visto com maus olhos. Essa 
organização não foi eficiente e fracassou em seus propósitos. 
Política 
18 
A partir disso, os americanos estimularam o estudo das relações de poder e 
governo (Cratos) e envidaram esforços no intuito de criar instituições para o estudo da 
Ciência Política, como intuito de aprimorar a relação dos Estados Unidos com outros 
Estados. Duas delas foram: 
 IPSA – International Political Science Association (Figura 1); e 
 APSA – American Political Science Association – principal acionista da IPSA 
(Figura 2). 
 
 
 
Figura 1 – Sítio da International Political Science Association na internet 
 
Fonte: O autor 
 
 
 
 
 
 
19 
Figura 2 – Sítio da American Political Science Association na internet 
 
Fonte: O autor 
 
Graças aos americanos, a Ciência Política se tornou progressivamente um ramo 
mais autônomo, inclusive em outros países, como a Itália, por exemplo. 
 
1.1.2. Posição curricular da Ciência Política no Brasil e no RS 
 
Por ser uma disciplina nova, obviamente é nova para o Brasil, mas iniciou seu 
ingresso aqui em 1945. 
A maior dificuldade da Ciência Política é uma dificuldade conceitual: 
“A Ciência Política, dentro e fora das universidades, onde em umas poucas 
conseguiu ser disciplina autônoma, desperta uma natural perplexidade. 
Quanto ao objeto, o conteúdo e a finalidade, mesmo entre os especialistas, não 
conseguiu ainda um acordo definitivo, e para muitos permanece mais ou menos 
incógnita”
1
. 
 
 
 
 
1 AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 
20 
1.1.3. O objeto material e formal da Ciência Política 
 
Para se definir a Ciência Política é necessário estudar os objetos material e 
formal desta. 
Mas o que é isso? – É o que permite enxergar uma ciência em sua plenitude. 
Somente com um deles não é possível fazer ciência. Sem um objeto formal, não se 
consegue determinar um local no espaço. 
O objeto formal distingue uma ciência de outra, ao passo que o mesmo objeto 
material pode ser enxergado de várias formas e, portanto, não distingue ciências 
diferentes (a matéria é um segmento que pode ser estudado de várias formas). 
Para conseguirmos distinguir uma ciência, é preciso, portanto, estudar um objeto 
material a partir de um objeto formal. 
A Ciência Política é o ramo do conhecimento que estuda a sociedade (objeto 
material) a partir das suas relações de poder (objeto formal) – Figura 3. 
 
Figura 3 – A Ciência Política através de seus objetos formal e material 
 
Fonte: Notas de aula 
 
 Objeto material – é o segmento da realidade objetiva que atrai o interesse do 
pesquisador (o assunto a ser estudado); 
 Objeto formal – é a perspectiva (o ângulo) sob a qual a matéria é pesquisada (o 
ponto de vista próprio). O objeto formal é como uma coordenada cartesiana: ele 
21 
nos localiza no espaço cultural ao determinar a matéria e o enfoque, o ângulo 
pelo qual ela a matéria é vista. 
Ao estudarmos o ser humano pelo Direito, estamos estudando o ser humano 
enquanto direitos e deveres, pois o Direito é uma ciência jurídica e social, mas você 
poderá estudar o ser humano pela medicina, pela filosofia, pela história, etc. 
 
1.2. A DISCIPLINA TEORIA GERAL DE ESTADO (TGE) 
 
1.2.1. Gênese histórica da TGE 
 
A TGE surgiu na Alemanha, pois o Estado passou a ser um problema a ser 
estudado. A Alemanha foi o último país europeu a ser unificado, possuindo 
aproximadamente 2000 unidades políticas, carecendo de um centro de poder que os 
unificasse. Daí surgiu o problema para unificá-la. A Alemanha foi o berço da TGE por 
uma questão de necessidade. 
Das 2000 unidades políticas, passou a ter 100 e hoje tem 16 Lander (Estados-
membros). 
Naquela situação, foi dada aos professores a tarefa de resolver o problema da 
unificação alemã. 
O fundador da TGE foi Blunts Chli (1852). Ele escreveu a primeira obra de TGE. 
Entretanto, o ápice dessa disciplina ocorreu com Georg Jelliwek(1851-1911), que 
escreveu sua obra “Teoria Geral do Estado”. 
Hans Kelsen é um dos principais juristas a escrever sobre a TGE, demonstrando 
a forte influência alemã sobre o assunto. 
 
1.2.2. Posição curricular da Teoria Geral do Estado no Brasil e no RS 
 
A TGE ingressa no Brasil na década de 1940. Naquele tempo havia uma cadeira 
chamada “Direito Público Constitucional”. A TGE era ensinada apenas na pós-
graduação, para os doutorandos. 
22 
Essa disciplina ganhou autonomia a partir do Decreto-Lei Nr 2.639, de 23 de 
setembro de 1940. 
Este Decreto desmembra a cadeira de Direito Público Constitucional em: 
 Teoria Geral do Estado (1º ano); 
 Direito constitucional (2º ano). 
Getúlio Vargas apreciava essa constituição, mesmo ela sendo, de certa forma, 
problemática. Baixou então este Decreto e os professores de Direito Público 
constitucional passaram a lecionar a cadeira de Teoria Geral do Estado. Por conta disso 
nomeou os professores de Direito Constitucional, colocando professores que não 
falariam mal da Constituição de 1937. Fazendo isso, ele “criou” a TGE no Brasil. 
No RS, o professor Darcy Azambuja ministrou tanto TGE quanto Direito 
Constitucional. 
O 1º professor da UFRGS foi o professor Francisco Broxado da Rocha, o 2º foi o 
professor Darcy Azambuja e o 3º foi o professor Cezar Saldanha. 
O Ministro Lewandowski, do STF, é o professor titular da matéria na USP. 
 
1.2.3. O objeto material e formal da Teoria Geral do Estado 
 
Objeto material: Obviamente é o Estado, na sua riqueza de manifestações, 
inclusive a jurídica; 
Objeto formal: 
A TGE é uma disciplina de síntese que sistematiza sistemas jurídicos, 
filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, 
psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento 
do Estado, concebendo-o ao mesmo tempo como um fato social e uma ordem 
que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça
2
. 
 
 Objeto material – Estado. 
 Objeto formal – Geral, síntese, enciclopédico. 
 
 
2 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado 
TGE 
23 
A TGE se vale dos conhecimentos de outras disciplinas para compreender o Estado. 
 
1.3. A COMBINAÇÃO: A DISCIPLINA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO 
 
A disciplina “POLÍTICA E TEORIA DE ESTADO” é oriunda de uma reforma no 
Ministério da Educação, materializada pela Portaria Nr 1.886, de 30 de novembro de 
1994. 
Essa Portaria faz a seguinte divisão: 
 A disciplina obrigou que os cursos de direito colocassem em seus currículos a 
cadeira de Ciência Política com Teoria de Estado; 
 Determinava que não pudesse se restringir só à CP ou à TGE, devendo ser mi-
nistrados os dois assuntos. 
Por conta disso, a UFRGS unificou-os em uma única cadeira. 
24 
2. A POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO COMO CIÊNCIA 
 
2.1. O TERMO ESTADO 
 
O termo Estado Foi usado pela primeira vez no século XVI por Maquiavel em sua 
obra “O Príncipe” e vem da palavra latina Status. Podemos atribuir a ele vários 
sentidos, de acordo com Jorge Miranda, jurista português (Situação, condição, posição). 
 Amplíssimo – Unidade política que designa toda sociedade politicamente orga-
nizada em torno do poder de mando de última instância (Ex: Polis grega, Civita 
romana, Impérios ocidentais, etc.). 
Não há a necessidade da existência de território demarcado nem de burocracia 
definida; 
 Amplo – Comunidade (comum unidade) com consciência de unidade. 
Possui um território delimitado por fronteiras e é dotado de um poder político de 
mando (soberania). 
Este sentido de Estado surge mais claramente a partir da Paz de Westfália, mo-
mento em que se reconheceu finalmente a independência de Estados – Conceito 
de Oliveira Lima em sua obra “História da civilização” página 259. Apesar de não 
ser mencionado, inclui a burocracia; 
 Estrito – Apenas uma parte da sociedade política. É apenaso conjunto dos me-
canismos que controlam o poder político. É apenas o conjunto dos mecanismos 
que controlam o poder político (aparato ou aparelho de poder, órgãos que bus-
cam a manutenção da lei, órgãos que buscam a manutenção da administração 
dos negócios públicos e órgãos que buscam a manutenção dos negócios da or-
dem). O grande pensador desse conceito de Estado é um jurista chamado Jac-
ques Maritain; 
 Estritíssimo – Pessoa Jurídica do Direito Público (Polo passivo de uma deman-
da judicial. Exemplo: Estado celebrando um contrato – licitação, concessão de 
serviço público, etc; Estado sendo responsabilizado por um dano ao particular, 
etc). 
25 
O Art 21 da Constituição Federal de 1988 prevê as responsabilidades no plano 
internacional (incisos I, II, III e IV) e no plano interno (incisos V a XXV). 
 
2.2. DIFICULDADES PARA CONCEITUAÇÃO 
 
O que é necessário para que possa ser chamado de Estado? 
 Burocracia – Funcionários Burocratas pagos. Burocracia aparelhada com ór-
gãos, cargos, funções, controle, etc; 
 Território – Base física delimitada por fronteiras por onde se estende o poder 
coercitivo do Estado; 
 Concentração ou centralização – é necessário que haja concentração ou centra-
lização de poder; 
 Nacionalidade – Consciência de nacionalidade política e não étnica. 
 
Esse modelo de Estado surgiu na Idade Moderna (Século XVI), por isso essa é 
considerada a data de nascimento do Estado. 
 
2.3. DEFINIÇÃO PELAS CINCO CAUSAS – O CONCEITO DE ESTADO POR UMA 
VISÃO PENTADIMENSIONAL 
 
O Estado pode ser visto e analisado a partir de algumas perspectivas, 
conhecidas como causas. São elas: 
 Causa Material; 
 Causa Formal; 
 Causa final; 
 Causa eficiente; 
 Causa instrumental. 
26 
3. CONTEÚDO DA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO: MODOS DE CONCEBER O 
ESTADO 
 
3.1. VISÃO UNIDIMENSIONAL DO ESTADO 
 
Todo ser humano, em qualquer época, em qualquer local, possui seis dimensões 
interdependentes (Figura 4). Essas dimensões são características de cada ser humano 
individualmente, aptidões e talentos que cada um desenvolve (dimensões do existir 
humano). 
 Essas dimensões podem ser percebidas no Estado, gerando uma visão 
unidimensional do mesmo. São elas: 
 
Figura 4 – As dimensões humanas 
 
Fonte: Notas de aula 
 
Para cada dimensão do existir humano existe ao menos uma instituição que a 
representa, por exemplo: (Figura 5). 
 
 
 
27 
Figura 5 – As dimensões humanas e suas instituções 
 
Fonte: Notas de aula 
 
Nesse contexto, o Direito se apresenta como sendo uma ponte entre a ética e a 
política. 
Quando se decide enxergar o Estado por uma única dimensão, geralmente 
adota-se uma perspectiva reducionista, para não dizer totalitária. São os casos, por 
exemplo, dos fundamentalismos religiosos do Oriente Médio, onde se considera 
somente a dimensão religião e suplantam-se as outras a partir dela. 
Outro exemplo é o fundamentalismo dos “ricos x pobres”, citado por Karl Marx 
(visão econômica) ou ainda o fundamentalismo ético-social, citado por Augusto Comte. 
Essa foi a perspectiva adotada por Hans Kelsen, que enxergava o Estado por 
uma visão totalmente jurídica (Estado de Direito). Ele defendia a ideia de que o Estado 
se reduzia totalmente ao Direito, sendo este apenas um escalonamento de normas 
jurídicas. 
Dentro deste conceito, ele definia que existiam normas primárias e 
secundarias, onde uma norma serviria de base para outras e assim sucessivamente. 
Havia, entretanto uma norma que estava acima de todas as demais: a Gran 
Norma (ou GN), apresentada como Norma fundamental, situação em que todas as 
outras normas encontrariam fundamento nela; 
28 
A norma fundamental é o pressuposto lógico formal de onde todas as 
normas do ordenamento jurídico extraem sua validade. 
Sendo assim, ela obtém esse pressuposto no Poder Constituinte Originário. 
Cabe ainda salientar que esse sistema de normas apresentado por Kelsen 
possui um sentido lógico-dedutivo (Figura 6), onde todas as normas do ordenamento 
jurídico são normas de criação e execução (a norma superior cria a norma subordinada 
e a norma subordinada executa a norma superior), exceto duas: a primeira, que é 
apenas de criação, e a última, que é apenas de execução. 
 
Figura 6 – Sistema Lógico dedutivo das normas 
 
Fonte: Notas de aula 
 
“Uma norma só é norma porque encontrou fundamento de validade em outra 
norma. A condição de eficácia de uma norma é a condição de uma norma superior que 
a dê fundamento.” 
O Estado nada mais é do que um ordenamento jurídico. 
29 
Para Kelsen, há a necessidade de existir um Tribunal Constitucional que deverá 
assegurar o cumprimento da Constituição, sendo este o guardião da Constituição. 
 
3.2. VISÃO BIDIMENSIONAL DO ESTADO 
 
Georg Jellinek (1851-1911) foi um grande autor da Teoria Geral do Estado, foi ele 
que criou a visão bidimensional do estado no século XX. Juntando os pensamentos de 
Augusto Comte e de Hans Kelsen, ele fundiu o sociológico e o jurídico em uma única 
teoria. 
Jullinek dizia que o problema da teoria de Kelsen é que ela também era 
teleológica, ou seja, o ordenamento jurídico não era só de cima para baixo, mas 
também o contrário. Defendia a ideia de que quem sofre as penalidades da lei sabe se 
ela presta ou não (o Estado deveria assumir um sentido finalístico – Teleológico, além 
do sistema lógico-dedutivo). Temos como exemplo a lei que obrigava a todos os 
automóveis a possuírem um kit primeiros socorros. A falta de instrução das pessoas 
para o uso do kit fez com que lei fosse revogada. Logo, a base mudou a superior. 
Jellinek, pela visão bidimensional do Estado, completou o sentido lógico jurídico 
dedutivo de Kelsen criando o sentido teleológico jurídico indutivo. O Estado de Direito 
pode estar submetido à lógica dedutiva/ordenamento jurídico, mas também deve 
estar submetido à ética/moral da sociedade. 
Essa perspectiva assemelha-se à unidimensional, mas se preocupa também com 
os valores, não apenas com os fatos (sentido teleológico), pois além da questão 
jurídica, também é analisada a questão social. 
 
3.3. VISÃO TRIDIMENSIONAL DO ESTADO 
 
Nessa perspectiva, o Estado engloba três projeções: fatos, valores e normas. 
Existe uma causação circular cumulativa (positiva ou negativa) – Figura 7, onde uma 
influencia a outra num sistema de retroalimentação. Essa Teoria é defendida por Miguel 
Reale e Aderson de Menezes. 
30 
O Estado é um eterno diálogo entre fatos naturais ou gerados por humanos, 
valores/costumes/hábitos e normas. Alterações realizadas em um têm por resultado a 
melhoria ou a conformação do outro. 
Figura 7 – Sistema de causação circular cumulativo 
 
Fonte: Notas de aula 
 
Quando me deparo com um círculo causal cumulativo negativo, em que 
dimensão eu devo intervir a fim de transformá-lo num círculo causal cumulativo 
positivo? Se um influencia no outro, em qual eu devo mexer a fim de mudar a realidade 
atual? Há uma porta de entrada para o sistema? Por onde eu posso adentrar nesse 
sistema a fim de alterar a realidade? 
Miguel Reale ficou muito famoso por descobrir essa relação entre Fatos, Valores 
e Normas, porém não respondeu à pergunta acima. 
De uma forma geral, estatisticamente, 75% das pessoas respondem que se deve 
iniciar alterando os valores. Entretanto, a resposta mais aceitável (não 100% correta) é 
que se deve iniciar alterando as normas, pois uma sociedade não deve ser regida por 
valores ou fatos. Cada indivíduo tem seus valores e as normas devem coagi-los caso 
estes não sejam fortes o suficiente para mantê-los dentro do comportamento 
considerado “padrão”.Sendo a norma uma ferramenta de imposição de comportamentos, ela é a 
maneira mais rápida de adentrar nesse sistema e alterar a realidade. Ora, se um 
indivíduo tem valores, mas a norma é frágil, ele poderá flexibilizar seus valores. 
Portanto as normas devem tutelar o indivíduo, evitando essa flexibilização. Sem as 
normas, ficaríamos à mercê dos valores individuais e suas interpretações casuais. 
31 
“Quem não age como pensa acaba pensando em como age” (São Tomás de 
Aquino). 
Os valores e fatos não devem ser esquecidos, no entanto, pois isso implicaria na 
visão unidimensional. Antes devem ser trabalhados em longo prazo, ao passo que as 
normas trazem resultados em curto prazo. 
 
3.4. VISÃO PENTADIMENSIONAL DO ESTADO 
 
Aristóteles apresentou a teoria do Estado por quatro causas: 
 Material: (do que é feito); 
 Formal: (qual a forma); 
 Final (para que serve); 
 Eficiente (quem fez). 
 
São Tomás de Aquino melhorou essa teoria e acrescentando uma quinta causa: 
 Instrumental (como é constituído e como opera). 
EX. do APAGADOR => material (matéria prima: plástico e feltro), formal (forma 
física específica), final (finalidade: apagar), eficiente (quem fez) 
Nessa perspectiva, as projeções citadas por Miguel Reale se subdividem nas 
cinco causas: (Quadro 1). 
 Fato – causas material e formal; 
 Valor – causas final e eficiente; 
 Norma – causa instrumental. 
 
As causas material e formal (componentes da projeção fato) são características 
intrínsecas, que demonstram a composição do ser, enquanto as causas final, eficiente e 
instrumental (componentes das projeções valor e norma) são características 
extrínsecas ao ser. 
 
32 
3.4.1. Causa material 
 
De que é feito o Estado? (Qual seu substrato, sua matéria?) 
A matéria básica do Estado é a sociedade alocada em território determinado. 
Aspecto do Estado a partir dessa causa: O Estado enquanto fenômeno – Teoria 
social. 
 
3.4.2. Causa formal 
 
Por que o Estado é o que é e não outra coisa? 
Assunto estudado pela morfologia (estudo da forma). O Estado é definido pelas 
suas fronteiras, destacando a soberania do Estado, é o limite geográfico onde se 
exerce a coerção do poder. 
Base física, delimitada por fronteiras, onde se estende o poder coercitivo do 
Estado. 
O Estado enquanto organização do poder (até onde o Estado pode exercer seu 
poder) – Teoria política. 
 
3.4.3. Causa final 
 
Para que existe o Estado? (Qual sua finalidade?) 
O Estado existe para atingir o bem comum, aquilo que todos temos em comum: A 
dignidade da pessoa humana (ninguém é melhor, nem pior, que ninguém). 
O Estado enquanto meio para obtenção dos fins – Teoria teleológica. 
 
3.4.4. Causa eficiente 
 
Quem fez ou faz o Estado? (Qual a origem do Estado) 
33 
Existem diversas teorias que explicam a origem do Estado, porém a mais aceita, 
mais isenta é a que diz que o Estado é fruto da natureza social do homem. 
Aqui enxergamos o Estado enquanto resultância – Teoria justificativa. 
 
3.4.5. Causa instrumental 
 
Por qual meio é constituído e opera o Estado? 
O Estado é constituído e opera pelo Direito, pelas Leis (todas as ciências 
jurídicas). 
Aqui o Estado se apresenta como um ordenamento – Teoria Jurídica. 
 
Quadro 1 – O Estado por suas cinco causas 
Projeções Causas Perguntas Respostas Unidades 
didáticas 
Aspectos do 
Estado 
Disciplinas conexas 
FATO Material Do que o 
Estado é feito? 
Substrato do 
Estado 
Teoria social O Estado 
enquanto 
fenômeno 
Sociologia, Geografia, 
Economia 
Formal Por que o 
Estado é o 
que é e não 
outra coisa? 
Morfologia do 
Estado 
Teoria 
política 
O Estado 
enquanto 
organização 
Ciência política 
VALOR Final Para que 
existe o 
Estado? 
Finalidades do 
Estado 
Teoria 
teleológica 
O Estado 
enquanto meio 
Filosofia política, Ética 
Eficiente Que(m) fez 
(faz) o 
Estado? 
Origem do 
Estado 
Teoria 
justificativa 
O Estado 
enquanto 
resultância 
História da Filosofia, 
Antropologia 
NORMA Instrumental Por que meio 
é constituído e 
opera o 
Estado? 
Metodologia 
operacional do 
Estado 
Teoria 
jurídica 
O Estado 
enquanto 
ordenamento 
Todas as ciências 
jurídicas 
Fonte: Esquemas de aula 
34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II – TIPOS DE UNIDADE POLÍTICA ATÉ AS 
REVOLUÇÕES LIBERAIS 
 
 
37 
4. A UNIDADE POLÍTICA ANTIGA (UPA) 
 
4.1. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA ORIENTAL – UPAO (Egito, Assíria/Caldéia, Isra-
el, Pérsia, China, etc.) 
 
A UPAO já existia há 4.000 anos antes de Cristo e era mal delineada. Nela, as 
várias dimensões do existir humano (econômica, política, cultural, etc.) eram todas 
dominadas pela religião. Não havia uma especificidade da política – não havia a noção 
de política como conhecemos hoje. 
Não havia distinção entre política e religião, lhes faltando uma teoria política 
(conceito de política). 
As UPAO eram geralmente monarquias despóticas ou autocracias, sempre 
apresentando certo grau de teocracia (o monarca era o poder de deus) e apoiando 
todas as justificativas políticas na religião (visão unidimensional). 
Outra característica apresentada nas UPAO era o predomínio de castas 
sacerdotais. 
Muitas coisas se perderam no tempo, mas outras conseguiram ser preservadas, 
como, por exemplo, o Código de Hamurabi. Ainda existem resquícios do direito egípcio 
e hitita, além da bíblia, que reserva algumas formas de Direito. 
Como essa justiça das UPAO funcionava? Geralmente ela era aplicada dentro 
das aldeias, com cunho familiar – era uma justiça patriarcal. 
Várias sociedades foram se agrupando até formarem as cidades e, depois, os 
Impérios Antigos, onde o poder militar de uma cidade se impõe a outra. 
Naquele tempo, era comum o pastoreio de gado miúdo (entretanto, às vezes 
também graúdo) e as cidades se opunham ao campo. Eram nas cidades que se 
mantinham o controle da escrita e já se observava a cobrança de tributos. 
As UPAO já sabiam usar o leito dos rios em seu benefício. Isso demandava uma 
espécie de burocracia, que também podia ser observada, controlando as diversas 
atividades da cidade. 
38 
Apesar de muito dessa época ter sido perdido, já era possível se observar uma 
espécie de federação (aliança entre as aldeias), além de uma unidade administrativa e 
de governadores. AS funções dos governantes era cobrar tributos e manter a paz 
interna e externa (proteger a soberania). 
Essa federação demonstra a possibilidade de união entre cidades numa possível 
militar. 
Quando uma sociedade era dominada por outra, era possibel comprar a 
liberdade através de pagamentos, semelhantes à vassalagem. 
Era comum a memória oral, uma espécie de “sabedoria” acumulada. O acumulo 
de sabedoria era mantido apenas por memorização. 
Max Weber, em sua obra “Economia e Socieade”, fala da justiça do Cadi 
Oriental, que tratava de regras e relações cotidianas da sociedade (um direito 
costumeiro, não escrito). 
 
4.2. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA GREGA – UPAG 
 
Os gregos também não possuíam consciência de unidade política, pois tinham 
uma multiplicidade de cidades Estados. O que lhes dava a ideia de “unidade política” 
era o fato de cultivarem cultura e instituições muito semelhantes e tradições sociais e 
religiosas comuns. Apesar disso, viviam em alianças e guerras constantes. 
Havia a chamada polis, denominação da unidade política cingida aos limites de 
uma cidade – um todo genérico (econômico, social e cultural), capaz de sustentar e 
garantir a vidaautônoma bastante em si, por meio de uma atividade com um poder 
especifico: a política. 
A palavra polis, como descrita acima, é a ideia de Politeia. 
Politeia se diferencia de democracia. Na obra de Aristóteles, o autor mostrava 
como se organizava a política da polis. Para Aristóteles, a “democracia” não era um 
regime bom, pois não buscava o bem de todos, sendo uma deturpação do regime 
(buscava o mal de todos). 
39 
O conceito de democracia que conhecemos hoje se refere ao conceito de Politia 
(ou Politeia). 
A Politia, para os gregos, era a participação dos cidadãos na vida da polis (nem 
todos podiam participar da vida publica, no entanto. As mulheres, as crianças, os 
escravos e os estrangeiros estavam excluídos da praça pública – Eclésia ou Ágora, não 
sendo considerados cidadãos). 
Na Politia, a escravidão era muito importante, pois era ela que permitia que o 
cidadão pudesse participar da vida pública, pois alguém precisava trabalhar. 
Ainda assim, nem todos os que eram considerados cidadãos iam à praça 
pública. 
Os gregos não tinham a concepção de “pessoa-humana”, concepção de 
dignidade. Também não desenvolveram a noção de direitos fundamentais. 
 
 Teoria dos direitos subjetivos – Georg Jellineck 
Ser livre para os antigos é diferente de ser livre para os modernos (séculos XVI, XVII 
e XVIII). 
Os antigos se consideravam livres somente quando preenchiam sua vida privada e 
podiam ingressar no espaço público (assim, mulheres, crianças, escravos e 
estrangeiros não eram livres). Para eles, ser livre tinha uma conotação participativa, 
poder participar e contribuir com a vida pública (para Jellineck, um STATUS ACTIVUS). 
Aqui, o indivíduo deseja entrar no Estado para adquirir sua liberdade. 
Para os modernos, porém, parte-se do pressuposto que o rei domina certa atividade 
e pode privar a liberdade do indivíduo. A liberdade para os modernos, então, significa 
não estar privado pelo Estado, era estar livre das mãos estatais e suas imposições, que 
limitam as liberdades individuais (para Benjamin Constant, era uma liberdade passiva). 
Ao contrário da antiguidade, aqui o indivíduo deseja sair do Estado para poder ser 
livre. 
Esse é um sentido liberal, que busca limitar a interferência do Estado na vida 
individual. 
40 
Benjamin Constant teve notoriedade por ter sido o primeiro a enxergar essa 
diferenciação de liberdade entre os antigos e os modernos. 
a) Liberdade dos antigos: participação dos cidadãos na vida da polis; 
b) Liberdade dos modernos: gerir e atuar na vida privada sem interferência do Es-
tado. 
 
 A tese de Fustel de Coulanges conta sobre os costumes gregos. 
Nela foi publicada uma frase que ficou famosa: “O grego, mesmo o cidadão, era 
um escravo do Estado”. 
As pessoas passavam toda a vida trabalhando para preencher sua vida privada 
e, quando finalmente o faziam, iam trabalhar para o Estado. 
Em resposta a esse pensamento, passaram a dizer que temos que olhar para 
essa tese com “temperamento”. Na verdade, para os gregos, essa era a Eudaimonia; 
essa era a ideia do bem comum, sua finalidade na vida. Surgiu uma reinterpretação do 
que era considerada uma “boa vida”. Para os gregos a boa vida estava figurada no 
acesso à vida pública. 
Será que o cidadão de hoje não é um escravo do Estado? 
 
4.3. UNIDADE POLÍTICA ANTIGA ROMANA – UPAR 
 
A diferença básica entre gregos e romanos é que os gregos são teóricos, 
enquanto os romanos são práticos. 
A filosofia é grega, mas o direito é romano. 
Os gregos amavam a dialética e a filosofia, ao passo que os romanos eram 
pragmáticos, o que os levou a conquistar um vasto império. 
Todos os institutos jurídicos procedem de Roma. 
Disto surge o desenvolvimento do direito e até a política em Roma. Os romanos 
pegaram toda a teoria dos gregos e tentaram colocá-las em prática. 
41 
Em Roma buscava-se instituir um convívio legal, pacifico e civilizado. Para isso 
dividiram o “Estado” (e o direito) da “moral”, coisa que os gregos jamais fariam. O 
Estado e o Direito devem estar de acordo com a moral. 
Os romanos começaram a distinguir o Estado do indivíduo; Distinguir o Direito 
público do Direito privado (há uma justiça mais geral e outra mais individual). 
Também elaboraram uma noção de diferenças entre os Direitos Políticos (direito 
em sentido democrático, representativo, participativo – votar e ser votado, 
representação, relativo a todos) e os Direitos civis (direitos mais subjetivos – atribuir a 
cada um aquilo que é seu). 
Assim como os gregos, os romanos não fundaram as noções de direitos 
fundamentais (estes só vieram a surgir no século XVII com as revoluções liberais). 
 Direitos humanos: definidos mais internamente; 
 Direitos fundamentais: definidos internacionalmente. 
 
A diferença entre os direitos políticos e os direitos civis: 
 Direitos civis: são mais subjetivos; a pessoa os tem enquanto titular de direito, 
uma espécie de carta que garante seus direitos enquanto indivíduo. Relacionam-
se com a liberdade (são originários da liberdade individual). São direitos de pri-
meira geração. São exemplos os citados no Art 5 da CF/1988. 
 Direitos políticos: direitos de participação. O indivíduo não age como pessoa ti-
tular do direito, mas age em busca de um bem comum para a sociedade. Exem-
plo do Art 12 da CF/1988. 
 
Os romanos falaram dos direitos fundamentais, mas não os reconheceram 
devido à humanidade, somente devido à titularidade do direito – uma espécie de 
cheque em branco. 
Os romanos, por serem eminentemente práticos, sabiam como expandir seu 
território. Sua história se divide em três períodos: Arcaico, Clássico e Tardio (ou Pós-
clássico). 
42 
Os processualistas dividem esses períodos como as fórmulas que o processo 
civil foi adotado em Roma. 
43 
5. O NASCIMENTO DA UNIDADE POLÍTICA OCIDENTAL: O REINO MEDIEVAL 
FEUDAL (RMF) 
 
5.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 
 
O Reino Medieval Feudal foi instituído por volta do século V com a queda do 
Império Romano do Oriente. Durante aproximadamente cinco séculos ele vai ganhando 
força e consolidando-se. 
Nele formaram-se, entre os anos 400 a 800, unidades políticas que podem ser 
divididas em três grandes civilizações que estão em tensão até os dias presentes: 
 Oriente; 
 Ocidente; 
 Islã. 
 
Todos esses povos se estruturaram na raiz na raiz da tradição Greco-romana, 
apesar de terem culturas, tradições, religiões, crenças e visões bem distintas. Todas se 
desenvolveram a partir de porções diversas da tradição Greco-romana. 
O Ocidente foi formado a partir da cultura romana, germânica (bárbaros) e da 
forma aglutinadora do cristianismo latino. A partir disso o caos que existia passa a tomar 
uma forma de ordem. 
Podemos dividir a Idade Média em: 
 Prima Idade Média – Caos (século V a VIII); 
 Alta Idade Média – Ordem (IX, X e XI); 
 Média Idade Média – Apogeu (séculos XII e XIII); 
 Baixa Idade Média – Declínio (século XIV). 
 
Durante a Prima Idade Média apresenta-se o caos. Com ele, inicia-se um 
processo de aglutinação por conta de Carlos Magno, que fez doações de terras. 
44 
Após isso, o caos torna-se ordem e alcança um apogeu para depois entrar em 
declínio. 
Quando os autores da idade moderna pensaram sobre a Idade Média, eles 
consideraram como um retrocesso entre a idade antiga e a modernidade (Figura 8). 
Colocaram sobre esse período intermediário (Idade Média) um enorme pessimismo. 
 
Figura 8 – A evolução do pensamento durante os séculos 
 
Fonte: Notas de aula 
 
A ideia de Renascimento e Iluminismo em contrasta com a “era das trevas”, 
dando início a uma época de cientificismo, onde nega-se o que a IdadeMédia dizia e 
colocava como verdadeiro somente o que podia ser provado por meio da ciência. 
Essa foi uma época de laicismo e cientificismo. A Idade Média era extremamente 
criticada. 
Durante o século XVIII, entretanto, houve muitos livros sobre a Idade Média 
fortalecendo a ideia de que esta era o meio termo entre a antiguidade e a modernidade. 
Já no século XIX, os autores passaram a ter certo romantismo a respeito da 
Idade Média. Eles passaram a buscar por um humanismo para que pudessem fazer um 
contrabalanço com o cientificismo cultivado nos séculos XVII e XVIII. A solução 
encontrada foi voltar ao estudo da Idade Média. Começaram a escrever a Idade Média 
com otimismo, romantismo, admiração e saudosismo. 
Passou-se de uma visão extremamente pejorativa para uma extremamente 
positiva. 
Apenas no século XX conseguiu-se enxergar a Idade Média com olhos dela 
própria, adquirindo um realismo demonstrado na apresentação de aspectos negativos e 
positivos ao mesmo tempo. 
45 
Hilário Franco Junior faz uma boa apreciação da Idade Média em sua obra. 
 
5.2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO FEUDALISMO 
 
No século XII e XIII houve um apogeu cultural com a ampliação do acesso à 
leitura e à universidade (não mais apenas pelos clérigos, mas também pelos leigos). 
O século XII também foi marcado pelo apogeu da construção civil medieval, com 
o avanço da construção das cidades medievais. Um aspecto disso foi o grande 
aumento das chuvas devido ao desmatamento das matas para dar espaço às cidades. 
A partir da peste negra iniciou-se o declínio da Idade Média. 
 
5.2.1. Características econômicas 
 
Havia um predomínio das atividades agrícolas, pois inexistiam atividades 
industriais e as atividades comerciais eram dependentes dos feudos, pois se não 
houvesse excesso de produção, não haveria o que se negociar. Com a evolução 
histórica foram surgindo as corporações de ofício 
Os feudos se fortaleceram de tal maneira que cada um deles poderia ser 
considerado um Estado à parte. Os nobres recebiam terras dos servidores e passavam 
a ser soberanos ali. Passavam a controlar tanto a vida no feudo que este adquiria uma 
autonomia administrativa (muitas vezes, os senhores feudais tornavam-se mais ricos 
que o próprio rei). Por conta disso, cada feudo era uma Unidade Estatal própria. 
As relações se davam cor contratos, onde o servo vivia na terra em troca de 
proteção (Enfiteuse – um tratado entre o rei e os súditos). Não era possível viver fora de 
um feudo, pois se corria o risco de ser capturado. O servo trabalhava na terra e cedia 
ao rei uma parte da produção em troca de proteção militar. 
O comércio (troca de mercadorias) no feudo dava-se pelo excesso que o este 
possuísse. Esses excedentes foram tornando-se possível a partir do revezamento da 
terra, das técnicas de utilização do trabalho animal e das técnicas de produção, que 
resultaram no aumento da quantidade produzida. 
46 
No fim da Idade Média houve o surgimento e desenvolvimento das Corporações 
de Ofício. 
 
5.2.2. Características sociais 
 
Havia uma predominância social do setor rural sobre o urbano, entretanto esse 
quadro vai gradualmente se invertendo, pois o setor urbano vai se ampliando. 
As principais posições sociais são: 
 Senhores feudais (nobres e alto-clero); 
 Servos. 
 
5.2.3. Características culturais 
 
Quanto à cultura, na Idade Média há uma forte influência do cristianismo latino, 
com ascensão do teocentrismo. O auge cultural da Idade Média ocorre no século XIII, 
com São Tomás de Aquino. 
 
5.2.4. Características jurídicas 
 
No campo do Direito, predominam duas correntes (duas famílias jurídicas foram 
instituídas na transição dos séculos XI para XII): Quadro 2. 
 Direito Costumeiro – vindo de Guilherme, o conquistador (dá origem ao Common 
Law); 
 Direito escrito (positivado) – de origem romana. 
Apesar de desenvolver essas duas famílias, a característica jurídica da Idade 
Média, a partir do século XI, foi o direito costumeiro. O direito positivado começou a ser 
mais amplamente utilizado a partir do século XVI. 
 
47 
Quadro 2 – Como funcionam as correntes do direito 
A sociedade trabalha por consenso em algumas matérias e por conflito em 
outras. O problema do direito não nasce no consenso, mas no conflito, pois no 
momento em que um manda e outro obedece, um estabelece e o outro acata, tudo 
corre bem, mas no momento em que começa o conflito entre interesses se inicia um 
problema. A partir do conflito saímos da zona pertencente a um direito bruto – reação 
nua e crua da sociedade (direito baseado na força bruta contra a bruta força – 
pretensão de um contra a pretensão do outro) e alcançamos uma área dominada pelo 
direito dos jurista – onde se formam as jurisprudências.(corpo de precedentes). 
A fim de organizar e solucionar o conflito social dentro do poder político 
organizado. O direito começa a adquirir um grau de certeza, saber quem tem razão. 
Além da certeza, o direito precisa ser durável. Caso necessário, poderá ainda utilizar-
se da força coercitiva (força). Com base no direito dos juristas, os advogados, juízes, 
promotores, professores, etc., vão desenvolvendo teses a respeito de direitos que não 
possuem consenso. 
O direito legislado começa a ser aplicado e, devido à sua aplicação constante, 
chegamos a um terceiro momento, denominado direito legislado. Este direito 
legislado passa por uma mediação social. retorna para a sociedade para um quarto 
momento chamado de direito vivo. Esse direito é definido pelo momento em que a 
sociedade, após a decisão dos juízes e após o direito legislado, aceita ou não o direito 
que lhe foi apresentado (Ex: a sociedade que não aceita a definição de família que é 
determinada pelo direito). 
A recepção do direito legislado pela sociedade gera novos conflitos, que geram 
novos direitos brutos, que geram mais necessidade de mais certeza, duração e força, 
demandando novas decisões dos juízes, que após sua constante aplicação gerará 
novos direitos legislados, que serão recebidos pela sociedade, gerando mais direitos 
vivos e assim por diante, num ciclo sociológico evolutivo do direito. 
48 
 
As duas famílias do direito são a common Law e a romano-germânico. 
No common Law, os fatos antecedem à lei, já no direito romano, a lei antecede 
aos fatos. 
O common Law é um direito genético (nato), pois nasce na sociedade, a partir 
de seus consensos e conflitos e é complementado no Estado. Esse é um tipo de direito 
mais bruto, voltado para o costume e é mais aplicado na Inglaterra e em países 
oriundos do Reino Unido. 
Já o direito romano é um direito do tipo operativo (positivo), onde existe uma lei 
posta anterior que volta para a sociedade (nasce no Estado e se complementa na 
sociedade). É um direito voltado para a lei e é mais em Roma, Espanha, Inglaterra, 
França. 
Fonte: Notas de aula 
49 
Direito romano: 
Vigorou, enquanto direito oficial, entre os séculos VII a.C. e V d.C. 
Suas principais características foram: 
 A ideia de propriedade e defesa dela; 
 A ideia de ritos formais para transferência de propriedade e obtenção de outros 
direitos; 
 Existência de códigos escritos capazes de organizar o direito; 
 Existência de direito internacional, aplicado entre vários povos. 
 
Direito germânico: 
As invasões germânicas se iniciaram no século II d.C., vinda da região dos 
Países baixos e Alemanha. Entre os séculos II e V há uma fusão cultural na Europa, 
tanto que houve uma intensa imigração para o norte daquele continente. 
Nesse período, três fatores marcaram a Idade Média: 
 Grande fome e diminuição da população devido às guerras; 
 Retrocesso infraestrutural; Fusão de costumes entre romanos e germânicos. 
Os direitos romanos e germânicos tiveram muitos pontos de contato e muitas leis 
foram adaptadas. 
As leis romanas não foram aplicadas mais enfaticamente devido à falta da 
burocracia romana. 
Surge o Ius Sanguinis, onde o indivíduo é sujeito à lei do seu povo de origem, 
independente do lugar onde estivesse (em oposição à Ius Solis) 
Há uma incorporação dos costumes cultos, mesmo à contragosto da Igreja. 
Lei sálica: oriunda dos germânicos. Vigorou entre 481 e 511, porém foi escrita em 
802. 
Não havia prisão. Os casos eram resolvidos com punição imediata. Era comum a 
aplicação de multas: 
50 
 600 soldos por matar um nobre; 
 200 soldos por matar um homem livre; 
 100 soldos por arrancar um pé ou uma mão de alguém; 
 63 soldos por assaltar um romano; 
 35 soldos por assaltar um germânico. 
Os processos e as punições eram públicos e orais. 
 
O direito canônico: 
A queda do Império Romano impôs um vazio político na Europa. Os feudos eram 
bastante suficientes e isolados. A Igreja atuou nesse espaço amplo, unindo grandes 
territórios sob áreas como família e casamento. 
Nesse período o Cristianismo se tornou hegemônico na Europa, mas nunca 
conseguiu evitar a existência de outras religiões de origem célticas. 
As características apresentadas pela Igreja naquele período: 
 A menor hierarquização, se comparada com a atualidade; 
 As tomadas de decisão eram feitas em conselhos, chamados até hoje de 
concílios; 
 Obtenção de influência devido a várias alianças feitas com reis; 
O direito canônico restabeleceu cortes, tribunais e a ideia de jurisdição, que 
foram esquecidos após a queda de Roma. Esses tribunais eram regionais. A Igreja 
manteve as formalizações típicas do direito romano. 
A Igreja foi responsável pela formação de juristas profissionais. As universidades 
ficavam sempre próximas a um centro religioso expoente. 
As principais características do direito canônico são: 
 Forte influência do direito romano nos direitos e procedimentos; 
 Distribuição organizada de competências de julgamento; 
 Em consequência, havia processos escritos, em níveis recursais; 
51 
 Limitação da interpretação das normas – os nobres não poderiam aplicar o 
direito. Apenas a Igreja tinha essa prerrogativa. 
 
5.3. CARACTERÍSTICAS POLÍTICAS DO REINO MEDIEVAL FEUDAL 
 
5.3.1. Fragmentação territorial do poder em feudos 
 
A Grande figura é Carlos Magno (748 – 814). 
Ele conseguiu reconquistar a maior parte do território europeu, reunificando a 
região que vai da atual Alemanha até a Espanha sob o seu poder. 
Em 800, foi nomeado, pela Igreja, Imperador Romano. 
Durante sua vida houve intensa atividade cultural por toda a Europa. 
Após sua morte começa a ocorrer a feudalização. Ele teve três filhos, que 
dividiram o Império em partes: 
 Carlos – o careca, ficou com a região da França; 
 Luis – o germânico, ficou com a região da Alemanha; 
 Lothan ficou com a região da Itália. 
A partir dessa divisão a Europa foi se feudalizando, tendo sido adotado um 
sistema de distribuição de terras para soldados e outros escolhidos pelos reis. Isso 
gerou um sistema de pequenos feudos isolados. 
 
5.3.2. Hierarquização da sociedade política 
 
O feudalismo era marcado pela hierarquização política em uma estrutura de or-
dem mora e contava com três grandes divisões: 
 Bellatores – responsáveis pela belicância (nobres e senhores feudais); 
 Oratores – representantes da Igreja (clero); 
52 
 Laboratores – servos que trabalhavam na terra. Representavam a maior quanti-
dade da população e a menor hierarquia nos feudos. 
 
Havia uma hierarquia típica para o funcionamento da sociedade (Figura 9). 
1) Enfiteuse – Pacto existente entre os servos e seus vassalos diretos : Em tro-
ca de trabalhos na terra dos nobres e de parte da produção, os servos pode-
riam morar na terra e ser protegidos. Os servos pagavam também pelo uso 
das benfeitorias do feudo, como por exemplo os moinhos; 
2) Suserania e vassalagem – Pactos existentes entre os nobres: Pacto de alian-
ça e lealdade. Havia uma cerimônia,às vezes escrita. Era um pacto perpétuo 
e tinha caráter religioso; 
3) Através de um pacto, os reis reconheciam a posição dos nobres: Surgiam os 
deveres de defesa mútua e principalmente o reconhecimento do direito exclu-
sivo do rei de declarar guerra e cobrar tributos para ela; 
4) Um pacto permitia o acesso, ao rei, por parte dos servos para solicitar justiça 
em situações específicas (esse tipo de pacto era comum na Inglaterra); 
5) Havia ainda um quinto pacto, que fora imaginado, entre o rei e o Sacro Impé-
rio Romano Germânico, comandado pela Igreja: A Igreja tentou unificar a Eu-
ropa, mas sem sucesso, apesar da sua forte influência. 
 
Figura 9 – A estrutura social medieval e seu funcionamento 
 
Fonte: Esquemas de aula 
53 
5.4. FUNÇÕES DO REI MEDIEVAL FEUDAL 
 
Apesar da centralização do poder e da inexistência de tribunais e outros órgãos, 
havia necessidade de certas funções: 
 
5.4.1. Função Administrativa 
 
Referia-se a decidir assuntos do feudo e aplicar a lei em situações não 
conflituosas: era a direção da vida do feudo, a utilização de recursos e a cobrança de 
impostos. Essa função era exercida localmente pelos senhores feudais. Praticamente 
inexistiam assuntos amplos de governo (educação, saúde, etc.) 
O rei NÃO exercia funções administrativas. 
 
5.4.2. Função Judiciária 
 
A aplicação da justiça também era local, aplicada por colegiados e nobres 
(individualmente). Raramente, devido ao valor ou gravidade do caso, poderia haver 
recursos ao rei. 
“Nessa época cometeu-se muitos crimes. Cada um via a justiça a seu modo 
pessoal3”. 
Especificamente na Inglaterra, a partir de 1100, foram instaladas cortes reais e o 
rei estabeleceu juízes itinerantes para aplicar a justiça. Em resuma, a justiça fora das 
cortes reais era aplicada privadamente. 
O rei NÃO exercia função judiciária. 
 
 
 
 
3 Gregório de Tours. 
54 
5.4.3. Função Legislativa 
 
A criação de leis quase inexistia. As leis eram tradicionais e normalmente não 
escritas. As leis escritas se concentravam na Itália e dentro da Igreja até o século X. A 
regra nos feudos era o analfabetismo, portanto havia dependência de pactos e 
costumes orais. 
A partir do século XI e da redescoberta do Corpus Iuris Civilis, passa-se a ocorrer 
o estudo formal da legislação romana e a implantação de leis escritas em larga escala. 
O rei NÃO exercia funções legislativas. 
 
5.4.4. O rei 
 
O rei estava submetido às mesmas tradições dos nobres. Não fazia leis e não as 
aplicava fora de seu feudo. Ele era submetido ao direito canônico. 
O rei exercia as seguintes funções: 
 Chefiar a guerra; 
 Chefiar o fisco; 
 Juízo de segunda instância, por intermédio de seus juízes itinerantes; 
 Representar o “fecho ou chave da abóbada” – era a peça que mantinha em pé a 
estrutura político-jurídico-moral feudal, executando a função de última instância. 
“O rei tinha o poder de Auctoritas4”. Exercia um papel simbólico e moral, derivado 
das tradições e de seu carisma. Ele não tinha como impor, pela força, as suas decisões. 
Historicamente, sua legitimidade vinha de algum ato heroico dos antepassados 
ou por uma suposta designação divina. 
 
 
 
 
4 Hannah Arendt. 
55 
5.5. LEGADO DO REINO MEDIEVAL FEUDAL 
 
5.5.1. Supremacia do direito sobre o poder 
 
O rei estava abaixo da lei e seu poder. O direito é uma ordem e todos estão 
submetidos a ela, mesmo o rei5. consequentemente,o poder do rei estava condicionado 
à aceitação popular. 
 
5.5.2. A Legitimidade do direito 
 
O direito e o ordenamento dele advindo devem ser fundamentados no consenti-
mento da comunidade. Ora, se o rei está abaixo da lei, o seu poder deve ser condicio-
nado de igual forma ao consentimento popular. 
 
5.5.3. Filosofia democrática 
 
A partir do período feudal, inicia-se a formação de filosofias democráticas, com 
noções de pessoa humana e dignidade (todos são iguais). Entretanto, nesse período 
não foram desenvolvidos os direitos e deveres fundamentais, sendo apenas um início e 
um esboço para estes assuntos. 
 
5.5.4. Descentralização territorial do poder 
 
Nesse período nasce o princípio da subsidiariedade. Alguns autores notáveis so-
bre esse assunto são Silvia Faber Torres e José Alfredo de Oliveria Baracho. 
O princípio da subsidiariedade nasceu na Idade Média e foi muito aplicado na 
União Européia, sendo o princípio motriz dessa organização. 
Ele preconiza que tudo quanto puder ser feito, e bem feito, por uma entidade 
menor, não precisa ser feito por uma entidade maior. 
 
5 O direito evolui, na Inglaterra para o Rule of Law (com o princípio “due process of Law” – 
processualidade devida) e, no continente, para o Rechtsstaat (com o princípio da legalidade devida). 
56 
Esse princípio foi criado por um concílio de papas da Idade Média (Rerun Nova-
rum), iniciando uma descentralização de poder. Ele é a base da democracia 
 
5.5.5. Surgimento dos parlamentos 
 
No período medieval encontramos a criação dos Parlamentos (durante a Baixa 
Idade Média). 
Os burgos recolhiam impostos aos reis e, portanto, gostavam de opinar nas deci-
sões de sobre como os reis deveriam aplicar os recursos financeiros do reino. Eles es-
tavam bancando os reis e desejavam uma espécie de controle do dinheiro que estavam 
empregando. Começaram então a surgir as Câmaras (regionalmente). 
O objetivo do nascimento do Parlamento era, então, o de fiscalizar as despesas 
do rei, controlando o orçamento e as contas públicas. 
 
5.6. DIVISÃO DE PODERES 
 
Durante a Idade Média havia diversos pactos, escritos ou não, entre reis, nobres 
e servos, mas não existia um Estado soberano nem divisão de poderes. As funções es-
tatais eram realizadas por particulares. A estabilidade desse sistema era originária dos 
costumes. 
 
5.7. SOBERANIA 
 
5.7.1. Surgimento 
 
Soberania é o conceito de maior poder em determinado território e surge no final 
da Idade Média, a partir do século XIV. Não havia o conceito anteriormente. Durante o 
período anterior vigora a noção de autarquia, de um Estado autossuficiente em si. Era 
uma doutrina clássica, vinda de Aristóteles, onde a cidade deveria fornecer os meios 
para que se pudesse alcançar a felicidade (Eudaimonia). 
57 
Não existiam condições políticas de surgimento do Estado soberano, portanto o 
feudo deveria suprir a função de dar felicidade aos seus habitantes. 
Entretanto, o fim da Idade Média é um período de grandes conflitos, pelo aumen-
to do comércio, crescimento das cidades, da Igreja e do surgimento das corporações de 
ofício. 
Nesse contexto, temos a primeira manifestação doutrinária pelo autor Marcelo de 
Pádua (século XIII). Sua teoria era de que o Estado era superior hierarquicamente à I-
greja em suas decisões. Até aquele momento, se reconhecia a igualdade ou inferiorida-
de do primeiro em relação ao segundo. Na prática, a França e a Inglaterra resistiram a 
Igreja com mais sucesso, mas a Igreja manteve o poder de nomear os reis até o século 
XVI. 
 
5.7.2. O caso da França 
 
A soberania, na prática, surge na França. Os nobres tratavam os feudos como 
seus e resistiam às decisões reais. Naquele país havia pouco contato entre reis e ser-
vos, sendo a relação mais constante a que se dava entre reis e nobres. 
Entre 1212 e1223, a monarquia francesa, cumprindo a legislação da época, dei-
xou de distribuir feudos vacantes, passando de 98 para 34 feudos. O poder do rei co-
meçou a crescer enormemente e, a partir disso, começaram a ser implantadas cortes 
de justiça, decisões de governo e exercício do poder de polícia em todos os feudos. 
No final do século XIII surge o termo “Souverain” (Soberano). 
A ideia de soberania legitima o poder do rei, afirma que os nobres não podem a-
frontar decisões reais e apontam a necessidade de unificação estatal. O rei então deixa 
de ser o mais superior hierarquicamente e passa a ser o supremo. 
Entre 1337 e 1453, aconteceu a guerra dos cem anos entre a França e a Ingla-
terra. Ao fim da guerra, se consolidou na França a ideia de um Estado soberano. 
As características de um Estado soberano são: 
 A unificação das ordens sobre o povo pelo rei; 
 A submissão dos senhores feudais ao rei; 
 O poder no Estado (é normal que haja um Estado e que ele tenha poder); 
58 
 A obrigatoriedade de haver um interior unificado e sem resistência; 
 Plena independência nas relações internacionais. 
Assim surge a ideia de “rei absoluto”, historicamente na França, no século XIV. 
Nesse momento também estavam ocorrendo as reformas protestantes, que reti-
ram muito poder da Igreja. 
Charles Grassaielle escreveu, em 1588, um livro6 sistematizando os vinte pode-
res do rei e os vinte poderes do rei sobre a Igreja. Entre o rei e a Igreja são estabeleci-
dos privilégios ao clero, são concedidos alguns poderes à Igreja, começou a haver co-
brança de impostos da igreja e o rei começou a designar os cargos eclesiásticos. 
Nesse período também escreveu o grande doutrinador da teoria da soberania, 
Jean Bodin. Ele traz o resultado da evolução da França, mas abstrai a França7. 
Jean Bodin cria um conceito de soberania. Ele diz em sua teoria que “a sobera-
nia é um elemento essencial do Estado implica em poder ilimitado dentro do território e 
independência nas relações internacionais”. O autor não fala no conceito de Estado, 
mas apenas afirma que ao rei cabe o poder absoluto, livre de toda lei anterior e da von-
tade de seus súditos. O povo entrega a sua soberania e passa a ser um “objeto”. 
 
5.8. FIM DO REINO FEUDAL 
 
No fim do feudalismo havia um poder descentralizado se concentrando, o renas-
cimento comercial e o Ius Sanguinis sendo substituído pelo Ius Solis. Surge então a PA-
lavra “Estado”, citada por Nicolau Maquiavel pela primeira vez com um sentido moder-
no8. Em sua obra, ele propõe a unificação da Itália sob um poder único, libertando o po-
vo das ameaças externas. “Todos os Estados são principados ou repúblicas”. 
Maquiavel não teve sucesso em sua proposta. A Itália tinha divisões semelhan-
tes em poder militar e a unificação só veio a ocorrer no século XVIII. 
A partir de então surge um Estado de muitas comprovações e ordens. 
Otto Von Gierke e Max Weber definem o Ständestaat (Estado de corporações). 
Max Weber afirma: 
 
6 Regalium Franciae libri duo. 
7 Seis livros da república. 
8 O Príncipe 
59 
Só no ocidente surgiu o capitalismo e o Estado. Uma constituição racionalmente 
redigida, um Estado racionalmente ordenado e uma administração orientada 
por regras racionais – as leis – e administrada por funcionários especializados
9
. 
 
9 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 
60 
6. O ESTADO BUROCRÁTICO CONCENTRADO TERRITORIAL NACIONAL MO-
DERNO (EBCTNM) 
 
No fim da Idade Média começaram a aparecer os reinos nacionais modernos 
como unificações dos feudos. Os Estados Nacionais Modernos (ENM) surgiram a partir 
da centralização do poder e os fenômenos vistos foram os da unificação territorial eda 
absolutização do poder. 
O maior sonho de Maquiavel era ver a Itália unificada. 
O fortalecimento dos reis se inicia no século XII, na França e no mesmo período, 
em outros lugares, inicia-se o processo de unificação. São estabelecidas jurisdições u-
nificadas e poder estatal mais forte. Há o estabelecimento do Ius Solis e uma forte in-
fluência do direito romano. 
 
6.1. CARACTERÍSTICAS (E LEGADO) DO EBCTNM 
 
6.1.1. Aspecto central 
 
O ENM se distingue da Idade Média porque cria uma esfera política pública dife-
rente da esfera privada. Ela surge a partir de um poder institucionalizado soberano Físi-
co, Unilateral, Centralizado e Autônomo – FUCA. 
 Físico – o poder do rei medieval era moral, de Auctoritas. Já o rei nacional mo-
derno tem poder físico, por Potestas (exercício monopolizado legítimo e coerciti-
vo da força). O poder simbólico é substituído pela força física, militar e imposição 
da lei. Na França ocorre o desenvolvimento dos exércitos nacionais; 
 Unilateral – não mais um poder pacifista e de pactos. O poder do rei passa a ser 
predominantemente coercitivo e unilateral e não baseado em pactos (obrigações 
bilaterais com obrigações de ambas as partes). A vassalagem deixa de ser o 
sustendo do rei, que passa a ser entidade exterior ao tecido social e a impor su-
as normas; 
 Centralizado – é o fim da fragmentação. O Estado é unido pelo rei, com retirada 
de poder dos nobres, a burocracia profissional substitui a aplicação privada das 
61 
leis (o rei tem seus próprios funcionários em cada local, seguindo e aplicando 
suas leis, em substituição dos nobres, o que representou uma enorme remoção 
de poder deles); 
 Autônomo – o rei é menos dependente dos nobres e da Igreja, tem mais poder 
econômico e possui autoridade para fazer as próprias normas. O rei tem total au-
tonomia (é absoluto). 
 
6.1.2. Corolários 
 
O poder soberano era dotado de: 
 Burocracia – o rei começa a construir um corpo de funcionários pagos que subs-
tituem os senhores feudais na execução das tarefas. Há um aumento de incidên-
cia de direito escrito na Europa: o Corpus Iuris Civilis é amplamente utilizado e i-
nicia-se a administração por papéis (um governo de papéis); 
 Concentração – todas as funções políticas passam a ser centralizadas na figura 
do rei, até mesmo a função administrativa, antes exercida pelos nobres; 
 Território – base física delimitada por fronteiras, sobre a qual se estende o po-
der coercitivo do Estado; 
 Nacionalidade (política, não étnica) – ocorre uma unificação das populações, 
que até então eram esparsas, num todo moral e abstrato. 
 Modernidade – o mundo passava por um momento em que o racionalismo (de-
monstrado pelo empirismo, cientificismo e voluntarismo), o humanismo (expresso 
pelo laicismo, individualismo e autossatisfação) e o temporalismo (representado 
pela autonomia política, progressismo e mundanismo) dominavam as correntes 
de pensamento. 
 
 
 
 
 
 
62 
6.2. CONDIÇÕES QUE VIABILIZARAM O EBCTNM 
 
6.2.1. Econômicas e sociais 
 
Ocorre o crescimento das cidades no final da Idade Média e início da Moderni-
dade. Os burgos passaram a apoiar e financiar os reis em troca de privilégios. 
 
6.2.2. Científicas e tecnológicas 
 
O surgimento da bússola facilitou as navegações, o conhecimento de outros con-
tinentes e a ampliação do comércio. A invenção da imprensa facilitou o desenvolvimen-
to do direito público (codificações). Houve também a invenção da pólvora. 
Essas invenções permitiram novos avanços e formaram um ciclo de inovações 
tecnológicas. 
 
6.2.3. Jurídicas 
 
Começou a surgir uma maior incidência, na Europa, do direito escrito com fontes 
baseadas em leis escritas. 
O Corpus Iuris Civilis passou a ser amplamente empregado e iniciou-se a admi-
nistração por papéis, como, por exemplo, o governo de Filipe II. Havia uma espécie de 
“Diário Oficial” que circulava divulgando suas ordens. 
Surge ainda uma distinção entre os direitos públicos e privados. 
 
6.2.4. Doutrinárias 
 
A filosofia moderna trouxe o racionalismo, o empirismo, o cientificismo, o volunta-
rismo, o humanismo, o laicismo, o individualismo, a autossatisfação, o temporalismo, o 
progressismo, o mundanismo, a autonomia da política e o sensismo. “A modernidade 
trouxe o mundo exterior para dentro do meu mundo interior10”. 
 
10 Hannah Arendt 
63 
Toda essa filosofia carregou o pensamento moderno. A modernidade teve novas 
ideias de diversos matizes, que tentaram justificar o poder do rei. Os principais teóricos 
do absolutismo foram Jean Bodin11 e Thomas Hobbes12. Esses teóricos propagaram a 
ideia da centralização do poder. 
O poder passa a ser “ab-soluto” (do latim: ab, separado; solutu, situação da mis-
tura) o poder do rei não se mistura. 
O poder que estava disperso no medievo foi absorvido e o rei nacional moderno 
adquiriu o status de soberano, não estando sujeito ao direito, antes estando acima dele. 
“Na infância tudo era prerrogativa real13”. No nascimento do ENM, tudo era prer-
rogativa real. O rei administrava, julgava em primeira instância, governava, chefiava a 
guerra, chefiava o fisco, julgava em segunda instância e legislava. O rei tinha todas as 
prerrogativas – era tudo. Com o passar dos anos o rei foi perdendo essas funções. Ob-
serva-se na história uma perda gradual dos poderes absolutistas do rei. 
 
6.3. FUNÇÕES DO REI DO EBCTNM 
 
No século XVI, na Europa o rei centralizava as cinco grandes funções do poder: 
(Figura 10). 
 Função de última instância (FUIn); 
 Função administrativa (FuAd); 
 Função governativa (FuGov) – quase inexistente, limitando-se basicamente a 
declarar a guerra e celebrar a paz; 
 Função judicial (FuJud) – o rei julgava em primeira e segunda instância; 
 Função legislativa (FuLeg) – no medievo as leis eram costumeiras, mas com a 
invenção da imprensa na modernidade, o rei passou a legislar. 
 
 
11 Seis Livros da República 
12
 Leviatã 
13 LOCKE, John. Second Treatise of government. Locke pregava a necessidade da separação da função 
legislativa do rei. 
64 
Existia uma concentração (ou centralização) de todos os poderes políticos em 
um só órgão – o rei. Ele é o poder executivo originário, pois os poderes políticos nas-
cem nos Estados Nacionais Modernos. 
 
Figura 10 - Funções do rei nacional moderno 
 
Fonte: Esquemas de aula 
 
Um dos doutrinadores mais importantes dessa forma de governo foi Jean Bodin 
(1530 – 1596). Escreveu “Seis livros da República”. Os Estados deveriam ser unitários 
e deveria haver uma força que os unisse (movimento centrípeto, de fora para dentro). 
Outro autor dessa corrente foi Thomas Hobbes, em seu livro “Leviatã”. 
Este sistema de poder foi denominado como “EXECUTIVISMO ABSOLUTO” e 
foi a primeira fase da evolução do poder. 
 
6.4. TRÊS SUBTIPOS (OU ESPÉCIES) DE EBCTNM: OS CASOS DO REINO UNI-
DO, FRANÇA E PORTUGAL 
 
Durante a transição do medievo para o EBCTNM, a Inglaterra respeitou as forças 
sociais (burguesia e nobreza) que mantêm seu poder, havendo um equilíbrio entre o 
Parlamento (canal representativo) e o rei. Ocorreu, então, uma transição racional-legal-
burocrática, de acordo com Max Weber. Foi uma transição racional, que gerou uma Au-
toridade legal: a sociedade civil autônoma (Quadro 3). 
A Inglaterra passou do Estado Medieval Feudal para o Estado Nacional Moderno 
e deste para o Estado Liberal Clássico por vias de transição, ou seja, por evolução. 
 
65 
Já no caso da França, observa-se um bloqueio dos canais de acesso da burgue-
sia e nobreza,que praticamente inviabilizou as forças sociais – as forças sociais perde-
ram seu poder para o rei, que domina o Parlamento. O rei francês eliminou toda e qual-
quer forma de representação – isso culminou na Revolução Francesa (1789 – 1799), 
com o surgimento de uma Autoridade Carismática: Napoleão Bonaparte. 
O abade Emmanuel Joseph Sieyès, parlamentar francês escreveu um panfleto 
com o título “Quem é o terceiro estado?14”. Ele escreve: “O que é o Terceiro Estado? 
Tudo. O que ele foi até agora na ordem política? Nada. O que ele quer? Tornar-se al-
guma coisa”. O Terceiro Estado queria uma série de reivindicações. 
Segundo Weber, esse país passou por um processo de transição carismática. 
Foi uma transição brutal, devido ao trancamento. 
A França passou do Estado Medieval Feudal para o Estado Nacional Moderno e 
deste para o Estado Liberal Clássico por vias de ruptura, ou seja, por revolução. 
 
Por fim, Portugal passou por uma transição tradicional patrimonialista, nos ter-
mos de Weber. 
As forças sociais nunca tiveram uma força representativa. Apenas seguiram co-
mo vinham no curso da história, sem que houvesse uma tradição parlamentar, manten-
do uma Autoridade tradicional patrimonialista. 
Esse tradicionalismo patrimonialista levou ao corporativismo que vemos n o bra-
sil. 
Quadro 3 – Max Weber e os tipos de dominação 
Weber, ao escrever “Economia e sociedade”, no capítulo 6 – “Os tipos de domi-
nação”, quer ensinar as formas pelas quais o povo obedece quem está no poder. 
As pessoas se sujeitam às ordens por diversas razões, mas duas delas são irra-
cionais: 
O povo obedece quem está no poder pelo carisma, irracionalmente. 
O povo obedece quem está no poder pela tradição patrimonialista, irracional-
mente. 
 
14 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. Qu’est-ce que le tiers état ? 
66 
O povo só obedece quem está no poder de maneira racional pela dominação ra-
cional-legal (pela lei), por intermédio da burocracia. Exemplos de burocracia boa são 
citados por Weber, como a Igreja, o Exército e o Estado. A administração e as leis de-
vem ser racionais e burocratizados. 
Dominação carismática – o carisma é um dom. 
Dominação tradicional patrimonialista – sua base é gerontocrática (governo dos 
mais velhos). É uma dominação onde se aceitam as coisas por terem sido praticadas 
pelos pais e avós, sem a demanda de mudanças. 
Essas duas últimas são irracionais, podendo ser usadas para o bem ou par o 
mal. A única dominação racional é a racional-legal-burocrática. 
Fonte: Notas de aula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE III – TIPOS DE ESTADO DESDE AS REVO-
LUÇÕES LIBERAIS 
 
69 
7. CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
7.1. ADVENTO DO ESTADO LIBERAL 
 
7.1.1. As três grandes revoluções liberais 
 
Na passagem do Reino Medieval Feudal para o Estado Nacional Moderno temos 
concentração de poder. Já o Estado Liberal, iniciado com as Revoluções Liberais é uma 
oposição a este sistema absolutista. 
As principais Revoluções liberais foram: 
 A Revolução Inglesa (ou Revolução Gloriosa), de 1688; 
 A Revolução Americana, de 1776 – suas fontes foram John Locke, William 
Blackstone e Montesquieu; 
 A Revolução Francesa, de 1789. 
Os documentos dessas revoluções trazem textos liberais e marcam o nascimen-
to do constitucionalismo. As constituições surgiram entre os séculos XVII e XVIII e fo-
ram o corolário das revoluções liberais. 
Norberto Bobbio, autor de “Liberalismo e democracia”, foi um escritor liberal (o 
maior pensador jurista liberal). Ele declara que o liberalismo é a limitação do poder e 
cria um “atalho” entre a liberdade dos antigos e dos modernos. Afirma ainda que o libe-
ralismo está voltado aos direitos dos homens, gerados a partir dos direitos naturais, e 
que eles são anteriores e ulteriores ao Estado. 
Bobbio demonstra ainda o liberalismo e o individualismo falando do contrato so-
cial. Chega ao limite do poder do Estado instaurando um Estado de direito. Demonstra 
a limitação das funções do Estado com a implantação de um Estado mínimo (mas não 
inexistente) – mesmo mínimo, o Estado não pode abrir mão de algumas matérias. 
Adam Smith cita três posturas que o Estado deve intervir, segundo o liberalismo: 
 Segurança; 
 Poder de polícia, exercendo minimamente as condições básicas de funciona-
mento de uma sociedade; 
 Atividades econômicas necessárias não lucrativas para a iniciativa privada. 
70 
Bobbio prega que, para o Estado liberal seja possível, é necessário que: 
 O Estado aceite o controle do governo pelo Parlamento, par que não haja abuso 
dos gastos públicos; 
 O Estado tenha controle do poder legislativo por uma Corte constitucional; 
 O governo local tenha autonomia diante do governo central; 
 Haja magistratura independente 
O Estado liberal pode ser identificado como o progressivo alargamento da es-
fera de liberdade do indivíduo. Sem isso não existe Estado liberal. 
Bobbio faz referência a Wilhelm von Humboldt (1767 – 1835), que escreveu “En-
saios sobre os limites da ação do Estado”. Talvez este tenha sido o primeiro autor a fa-
lar sobre o Estado Liberal. 
O Estado não deve interferir na esfera da liberdade do indivíduo, a não ser que 
um indivíduo ofenda a liberdade de outro (Figura 11). 
Figura 11 – A intervenção do Estado Liberal 
 
Fonte: Notas de aula 
 
Atualmente já são discutidos limites para a não intervenção estatal na esfera in-
dividual, mas nos seus primórdios, o Estado Liberal não poderia intervir nas relações 
individuais, salvo, como já foi dito, quando essas afetassem a liberdade individual de 
outrem. 
 
 
71 
7.1.2. Cronologia histórica (inglesa) 
 
Em seu livro “As origens do individualismo inglês”, Alan MacFarlane defende que 
a cultura individualista inglesa existe desde o século XI e gerou avanços tecnológicos, 
progresso econômico, evolução social e conquistas políticas. 
 
7.2. LEGADO DO ESTADO LIBERAL (SO-RE-LI-CO) 
 
Ao substituir o EBCTNM, o Estado Liberal, por meio das Revoluções Liberais, 
nos deixou o legado de quatro coisas: 
 SO – Soberania nacional – Rousseau defendia que a soberania deveria perma-
necer com o povo; 
 RE – Representação moderna – Bobbio escreveu que a democracia representa-
tiva é o único governo popular possível em Estados grandes; 
 LI – Limitação do poder ao direito – Externamente, os direitos individuais. Inter-
namente, a separação dos poderes (no mínimo uma tripartição de poderes); 
 CO – Constituições escritas – documentos que consagram os aspectos do item 
anterior. 
A declaração dos direitos do homem e do cidadão preconiza no Artigo 16 que “a 
sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a 
separação dos poderes não tem Constituição”. 
As bases para a constituição escrita são os direitos individuais e a separação dos 
poderes. Naquela ocasião, não se falou em direitos fundamentais ou direitos humanos, 
pois se tratava de um Estado Liberal. Esses direitos vieram a ser expressos na Consti-
tuição de Weimar, pois a Alemanha se tratava de um Estado Social. 
 
Por motivos práticos, antes de teóricos, surgiram na história os fundamentos do 
sistema representativo (Quadro 4). 
 
 
72 
Quadro 4 – Fundamentos do sistema representativo 
Existem três principais fundamentações teóricas para o sistema representativo, 
a saber: 
 Fundamentação liberal voluntarista clássica: O Parlamento representa a von-
tade da nação, independentemente da vontade do povo. Enfrenta o problema de 
legitimidade popular, não totalmente resolvido; 
 Fundamentação liberal mitigada de Stuart Mill: O Parlamentorepresenta os 
interesses dos eleitores; 
 Fundamentação deliberativa inspirada em Aristóteles: Os cidadãos esco-
lhem, por eleição, os mais capazes ou mais prudentes, exprimindo o máximo 
possível das opiniões. Eles deliberam com autonomia, até mesmo dos interes-
ses sociais (um bom parlamentar é capaz de votar mesmo contra seus interes-
ses, em prol do bem comum). 
Fonte: Notas de aula 
 
7.3. DUAS LINHAS DO LIBERALISMO: EDMUND BURKE X DOCTOR PRICE 
 
Há duas correntes do liberalismo que são antagônicas até os dias atuais. Seus 
principais aspectos estão descritos no Quadro 5. 
 
Quadro 5 – As correntes do liberalismo 
Liberalismo inglês, de Edmund Burke Liberalismo francês, de Doctor Price 
 É mais moderado, empírico, prag-
mático e realista. Assim, é chegado 
da experiência e da prática, bus-
cando a legitimação na história e 
apegando-se à tradição, reforman-
do-a e conservando-a; 
 Preocupa-se com as liberdades 
concretas, sendo favoráveis às ins-
 É mais radical e racionalista, teórico 
e idealista. Quer romper com a his-
tória, pois considera que o passado 
é ruim. Deseja livrar-se de todos os 
traços de tradição. 
 Acredita em liberdades abstratas, 
sendo hostil às instituições; 
 Para essa corrente, a autoridade é 
73 
tituições e instrumentos adequados 
de proteção; 
 Para essa corrente, a autoridade é 
um bem essencial à vida. Ela dese-
ja que a liberdade seja consentida 
e submetida ao direito (liberdade 
racional); 
 Esse tipo de liberalismo tem um 
cunho um tanto religioso; 
 Requer a existência de dois parti-
dos (conservador e progressista). 
Eles são conscientes de seus pa-
peis interdependentes; 
 Foi o tipo de liberalismo adotado na 
Constituição do Império (1824), 
que construiu nossa unidade na-
cional. 
um mal necessário, devendo ser 
limitada ao máximo; 
 Esse tipo de liberalismo se identifi-
ca mais com o laicismo; 
 Aceita partidos reacionários e revo-
lucionários, que buscam a repre-
sentação exclusiva do povo; 
 Foi o tipo de liberalismo adotado na 
Constituição Republicana 1891). 
Fonte: Notas de aula 
74 
8. O ESTADO LIBERAL CLÁSSICO – ELC 
 
8.1. CONTEXTO 
 
O Estado Liberal Clássico (ELC) típico surge no final do século XVIII e domina 
até meados do século XIX. Era encontrado nos Estados Unidos, Reino Unido e França, 
mas atualmente é considerado um modelo morto de Estado, pois não é mais emprega-
do por nenhum país. Seu ponto mais alto é a Revolução Francesa (1789) e as institui-
ções inspiradas nela que se difundiram pelo mundo. 
 
8.2. CARACTERÍSTICAS DO ELC 
 
8.2.1. Características político-econômicas 
 
 Intervenção estatal: O Estado não intervém na economia e na vida social (Lais-
sez faire,laissez aller, laissez passer15). O poder, mais que limitado, deve ser pa-
ralisado (Le droit arreté le droit16). Há um mínimo de intervenção limitado a pro-
ver as condições para sobrevivência; 
 Funções de governo: As funções de governo são mínimas, quase inexistentes, 
limitando-se à manutenção da ordem interna e segurança externa (exército, polí-
cia e prisões). Não há um governo institucionalizado, pois se considera que o go-
verno é muito custoso. 
 
8.2.2. Características político-funcionais 
 
 Sufrágio: O voto é restrito (censitário). Representa um governo dos ricos (demo-
cracia da burguesia, governada e liberal); 
 
15 Deixar fazer, deixar ir, deixar passar – É hoje expressão-símbolo do liberalismo econômico, na versão 
mais pura de capitalismo de que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência, apenas com 
regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade. 
16 O direito trava o direito – expressão utilizada para designar o trancamento que um poder executa 
sobre o outro (já que todos são colocados horizontalmente, sem hierarquia entre eles) a fim de permitir 
que as liberdades individuais funcionem. 
75 
 Partidos políticos: Inexistem partidos políticos, sendo encontrados no máximo 
algumas facções ideológicas. Eles são combatidos como um “mal ao Estado”, de 
acordo com a opinião de Rousseau, Washington e outros liberais. Desenvolve-se 
uma democracia contra os partidos, pois se considera que estes buscam apenas 
os interesses próprios; 
 Parlamento: O Parlamento é um órgão de individualidade e de notáveis, ocupa-
do por poucos parlamentares (oligárquicos), onde a qualidade destes pretere so-
bre a quantidade – os melhores ocupam o Parlamento. Eles exercem a função 
de transformar em direito positivo o direito natural. 
 
8.2.3. Características partido-ideológicas 
 
 Consenso social: Há um consenso social em torno dos valores capitalistas, não 
havendo atores ou partidos socialistas e comunistas; 
 Assuntos de governo: Os assuntos de governo, que já são mínimos, são incon-
troversos, pois não existe uma verdadeira oposição. 
 
8.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA 
 
O ELC é constituído com base nas teorias de Montesquieu, com a presença de 
poderes harmônicos independentes, colocados no mesmo plano, separados ao máximo 
(Figura 12). Um poder trava o outro para que eles não funcionem, dando espaço à li-
berdade individual – um Estado mínimo que arbitre sobre os indivíduos. 
 
76 
Figura 12 - A divisão de poderes segundo Montesquieu 
 
Fonte: Esquemas de aula 
77 
9. O ESTADO SOCIAL CONTEMPORÂNEO – ESC 
 
9.1. CONTEXTO 
 
O Estado Social Contemporâneo (ESC) nasceu na Alemanha, com a Constitui-
ção de Weimar (1919) e aquele país é o seu exemplo mais característico. 
Ele tenta mesclar o liberal (individual) com o social, mantendo as conquistas libe-
rais, mas aceitando o surgimento de partidos socialistas e comunistas. É dotada de cin-
co poderes que permitem que a democracia funcione. 
Pode ser dividido em duas partes (primeiro pós-guerra e segundo pós-guerra). 
 A do primeiro pós-guerra apresenta um modelo axio-aspirado, puro de valores 
(como descrito por Hans Kelsen e Max Weber); 
 A do segundo pós-guerra apresenta um modelo axio-orientado a valores míni-
mos fundamentados na dignidade humana e conta com o auxílio de um Tribunal 
Constitucional, que exerce o controle das leis de acordo com a constituição. A-
presenta um pluralismo axiológico. 
 
9.2. CARACTERÍSTICAS DO ESC 
 
9.2.1. Características político-econômicas 
 
 Intervenção estatal: O Estado intervém crescentemente na economia e na vida 
social, com traços paternalistas, promovendo igualdades e direitos (ajuste das 
desigualdades). O Estado precisa atuar (demonstrar “governabilidade”) com o 
máximo de intervenção a fim de minimizar as desigualdades; 
 Funções de governo: O governo apresenta funções amplas. Surge o governo 
institucional moderno, com políticas econômicas e sociais. O governo deve pro-
ver segurança, saúde, educação, etc. 
 
 
 
78 
9.2.2. Características político-funcionais 
 
 Sufrágio: O voto é universal, com abertura política para os pobres e trabalhado-
res (democracia pluralista, governante, intervencionista ou social); 
 Partidos políticos: Existência de partidos políticos de massa, canalizando ideo-
logias (conservadoras ou socialistas). Os partidos dividem o Parlamento e a so-
ciedade, sendo considerados instrumentos de governo. É desenvolvida uma de-
mocracia pelos partidos; 
 Parlamento: É um órgão de partidos, onde maiorias decidem (democracia não é 
simplesmente a decisão da maioria, sendo necessário a adição disso ao respeito 
aos direitos das minorias). Os parlamentares não executam tarefas legislativas, 
mas definem linhas ideológicas a serem seguidas.9.2.3. Características partido-ideológicas 
 
 Consenso social: Há um rompimento do consenso acerca da ordem econômica 
e social, com um consenso político superior às divergências ideológicas que es-
tabelece um chefe de Estado, que cria um ponto de unidade na pátria (por isso a 
necessidade de o chefe de Estado ser apartidário); 
 Assuntos de governo: Os assuntos de governo, amplos, são também contro-
versos com o surgimento de uma oposição com embate ideológico – cria-se uma 
discussão acerca do modelo social e econômico em vigor. 
 
9.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA 
 
É constituído pela separação entre chefe de Estado (que deve ser apartidário), 
chefe de Governo (que deve sair da maioria do Parlamento) e chefe Administrativo (que 
deve ser, assim como todo o funcionalismo administrativo estatal, técnico e apartidário). 
Essa separação facilita e assegura a governabilidade. 
Os partidos ideológicos podem ser oposição ao Governo e, ao mesmo tempo, a 
favor do Estado, pois esse modelo separa o Estado, o Governo e a Administração. 
79 
Figura 13 - A divisão de poder segundo Hans Kelsen 
 
Fonte: Esquemas de aula 
80 
10. O ESTADO LIBERAL PLURALISTA – ELP 
 
10.1. CONTEXTO 
 
O modelo de Estado Liberal Pluralista (ELP) é aquele que podemos encontrar 
atualmente nos Estados Unidos. É uma espécie de transição entre os Estados Liberal 
Clássico e Social Contemporâneo, apresentando características intermediárias, uma 
vez que não representa um Estado Liberal Clássico em sua totalidade, mas não chega 
a atingir o status de Estado Social Contemporâneo. 
Ele surge na primeira metade do século XIX e domina até a 1ª Guerra Mundial. 
Sobrevive apenas nos Estados Unidos porque aquele país é o único que não precisa de 
governo, pois funciona bastante pela iniciativa privada e por intermédio de ONG’s, além 
de haver um consenso socioeconômico em torno dos valores do capitalismo competiti-
vo. 
É um modelo compatível tanto com o modelo Liberal Clássico de Montesquieu 
quanto com o sistema de tetrapartição do poder de Benjamin Constant. 
 
10.2. CARACTERÍSTICAS DO ELP 
 
10.2.1. Características político-econômicas 
 
 Intervenção estatal: Há uma intervenção do Estado na economia e na vida so-
cial como no Estado Social Contemporâneo, mas é mais moderada, não tão in-
tensa. 
 Funções de governo: Há um crescimento das funções de governo, como no Es-
tado Social Contemporâneo, mas sem atingir as proporções deste. O governo 
passa a prover alguns serviços sociais, mesmo que de forma mais limitada e a-
trofiada, se comparado com o ESC. 
 
 
 
81 
10.2.2. Características político-funcionais 
 
 Sufrágio: O voto é gradualmente universalizado; 
 Partidos políticos: Os partidos políticos não possuem diferenças ideológicas de 
relevo e passam a ser tolerados – são considerados como meras máquinas elei-
torais. Desenvolve-se uma democracia apesar dos partidos. Uma vez que o go-
verno não é federal, mas local, municipal ou estadual, a democracia continuará 
funcionando independentemente de qual partido esteja no poder. 
 Parlamento: Como no Estado Liberal Clássico, o Parlamento é um órgão indivi-
dualista com atuação de notáveis, mas com o aumento da pressão política e da 
legislação positiva, os lobbys (dos ricos) passam a ter grande força. 
 
10.2.3. Características partido-ideológicas 
 
 Consenso social: Permanece, assim como no ELC, a existência de um consen-
so acerca dos valores capitalistas, sem a presença de personagens ou partidos 
socialistas ou comunistas de vulto; 
 Assuntos de governo: Assim como no ELC, não há uma verdadeira oposição 
ideológica, tornando os assuntos de governo prevalentemente incontroversos. 
 
10.3. CONSTRUÇÃO INSTITUCIONAL ESPECÍFICA 
 
É constituído com uma tripartição de poderes, semelhante ao Estado Liberal 
Clássico, mas um pouco mais atenuado. É provido de uma separação absoluta dos po-
deres e de um sistema de governo feito de baixo para cima (self-government) que bro-
tou das bases, desde a independência – é um governo sem governo efetivo, para que 
funcione a liberdade individual. 
A fusão das funções de chefia de Estado e chefia de Governo é um mal menor, 
pois não cria impasses. Se não há partidos contra o governo, não há quem seja contra 
o Estado – falta de impasse criado pelo consenso. 
 
82 
Figura 14 - O modelo de Montesquieu de divisão de poderes adaptado 
 
Fonte: Esquemas de aula 
83 
11. REGIMES DE GOVERNO 
 
Houve ao longo da história duas formas de governo. Uma delas durou cerca de 
dois mil e quinhentos anos (desde a antiguidade clássica até cerca de 1960) e a outra 
teve seu início após a 2ª Guerra Mundial e dura até os dias atuais, sendo utilizada na 
Constituição brasileira, inclusive. 
 
11.1. FORMAS CLÁSSICAS DE REGIMES 
 
As formas clássicas foram desenvolvidas principalmente por dois autores (Políbio 
e Aristóteles). Eles usaram basicamente as mesmas palavras, criando uma classifica-
ção biternária dos tipos de governo. Independente da quantidade de governantes, um 
governo pode ser bom ou ruim. Políbio e Aristóteles discordavam, no entanto, acerca 
da sucessão de governo, pois o primeiro se mostrava pessimista ao considerar que a 
sucessão sempre seguiria o caminho da degeneração do governo. 
A primeira classificação se dava de acordo com a quantidade de governantes, 
conforme o Quadro 6. 
 
Quadro 6 – As formas clássicas de governo 
Quantidade de governantes Forma de Governo 
Principal (bom) Patológico (ruim) 
Um único governante Monarquia Tirania 
Poucos governantes Aristocracia Oligarquia 
Muitos governantes Politéia Democracia 
Fonte: Anotações de aula 
 
 
 
 
 
84 
11.1.1. Formas com um único governante 
 
 Boa – Monarquia: 
Para Aristóteles, esta seria a melhor forma de governo existente. Os monarcas sur-
giriam a partir do mérito pessoal, por origens familiares ou ainda pelo poder e privilégios 
de alguma pessoa. 
A principal característica dessa forma de governo é a de defender a aplicação das 
leis e as pessoas boas (não podemos usar esse termo hoje). 
A monarquia depende da aceitação popular e de ter um rei que cumpra e obedeça 
as leis. A aceitação e o respeito ao julgamento (que não é realizado por ele) é uma ca-
racterística de um bom monarca. 
 
 Ruim – Tirania: 
 
É a pior forma de governo (é a degeneração da melhor forma) e ocorre quando o 
monarca governa para se proteger e para o seu benefício pessoal. 
A maior característica dada por Aristóteles é o constante desrespeito às leis, com 
a não sujeição do monarca às leis anteriores. O monarca costuma criar regras para se 
manter no poder. É um governo sem o consentimento dos súditos, que são desconten-
tes. 
 
11.1.2. Formas com poucos governantes 
 
 Boa – Aristocracia: 
 
É a segunda melhor forma de governo, onde alguns (mais capazes) governam 
para o bem comum. A aristocracia tem ligação com a nobreza ou a cidadania, mas a 
escolha seria feita com base nos méritos, não por riqueza ou nascimento. 
Essa forma é marcada pela popularidade e é marcada por decisões boas à cida-
de. 
 
85 
 Ruim: Oligarquia 
 
É a forma intermediária de governo ruim, sendo formada pelos ricos. Tem menos 
necessidade de adotar atos ruins do que a tirania e mais capacidade de ordenar a soci-
edade (é uma forma degenerada de governo, mas não tão ruim). 
Existem três tipos de oligarquia: As determinadas puramente pela riqueza, as 
que são oriundas da posse de terras e as que tem origem no domínio dos servidores do 
Estado (magistrados, segundo Aristóteles). 
 
11.1.3. Formas com muitos governantes Boa – Politéia 
 
É o governo de muitos, no qual a população tem a capacidade de se impor às 
leis. Para que exista, é necessário que haja respeito às decisões dos juízes e respeito 
às formas de criação de lei. 
É comum que apresente o nome de república (porém esse termo não possui o 
sentido que entendemos atualmente). 
 
 Ruim – Democracia 
 
É o governo da maioria em benefício da maioria, não do bem comum. É a forma 
menos grave de degeneração, sendo semelhante à politéia. 
O maior risco apresentado aqui é o de desrespeito às minorias, como, por exem-
plo, o pagamento de taxas e dívidas. 
Essa classificação durou cerca de dois mil e quinhentos anos. 
 
 
 
 
 
86 
11.2. TRANSIÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO 
 
A classificação de Aristóteles seguiu quase unânime até quase o final da Idade 
Média e continuou a ser usada até o século XX (1960). Autores como Montesquieu, em 
1748, ainda baseiam suas teorias nela. 
Em 1945, após o término da 2ª Guerra Mundial, inicia-se o uso do conceito “tota-
litarismo. Era um conceito vago, sendo o contrário de democracia. Deixou-se de classi-
ficar um governo como bom ou ruim, baseando-se no fato de ele ser ou não democráti-
co. 
Em 1960, com os golpes na América Latina e Europa, surge o uso do termo “au-
toritarismo”. Inicialmente havia confusão acerca desses dois termos (que perdura até 
hoje de certa forma). 
 
11.3. AUTORITARISMO 
 
É a forma menos severa, onde há uma centralização de poder. Um governo cen-
tral forte e marcado por limitações de direitos humanos e ao exercício político, no qual 
um ditador ou um grupo monopoliza as decisões estatais. São exemplos: o Brasil após 
o AI5 e a argentina de Eva Perón. 
Os primeiros regimes autoritários surgiram na Antiguidade Clássica e foram a 
forma predominante de governo até o século XIX. 
Pode possuir algum “Rule of Law”, mantendo leis sobre liberdades, propriedades 
e defesa da vida. O desrespeito é observado no âmbito da competição política. 
 
11.3.1. Criador do conceito 
 
O autor desse conceito foi Juan José Lins, um alemão que foi professor em Yale 
que escreveu “Totalitarian and Authoritarian Regimes”. Ele usou o exemplo da Espanha 
para ilustrar suas classificações, definindo as características de cada um dos dois ter-
mos, dando fim à confusão e esclarecendo o que era o autoritarismo. 
 
87 
11.3.2. Características 
 
 Ideologia e legitimidade: 
O autoritarismo tem mentalidade menos objetiva sobre valores e interesses soci-
ais, sendo vago quando comparado ao totalitarismo. 
A ideologia se volta a justificar o regime apenas: 
 
- Defesa do patriotismo; 
- Desenvolvimento econômico; 
- Segurança nacional. 
 
A ideologia não aspira ao controle pleno sobre a vida privada, a cultura e a eco-
nomia, apenas para as emoções da sociedade. 
Há uma dificuldade de exportação da ideologia, pois outros países não se inte-
ressam em copiá-la. 
A população local costuma ficar indiferente e ver o governo como um mal que 
tem a finalidade de evitar um mal maior (deslegitimação popular). 
 
 Partidos e pluralismo político: 
Não há um partido único e realizador da “ideologia de salvação”, apenas uma 
concentração de poder político, identificada em um grupo mais ou menos definido de 
pessoas. 
O grupo é politicamente irresponsável e tenta excluir a competição, mas aceita 
processos democráticos que não ponham em risco sua dominância. 
O partido ou grupo costuma dominar ou neutralizar instituições com o legislativo 
e o judiciário. Não é uma dominação em sentido forte, mas apenas acerca do risco polí-
tico (os ordenamentos que não afetam a política prosseguem). 
 
 Pluralismo social limitado 
É permitida a continuidade do pluralismo social, de manifestações culturais e até 
de alguma oposição ao regime. O controle e a censura são sobre as ameaças e é feito 
Teorias e ideias típicas 
88 
na forma de apoio de milícias ou do exército. Há constante apoio a alguns grupos soci-
ais favoráveis ao governo. 
 
 Mobilização social 
Há pouca mobilização, pois a população é desencorajada a participar da política 
e há pouco apoio amplo (o governo é deslegitimado). 
 
 Líder 
Pode ter um ou vários líderes e, eventualmente, não são carismáticos ou bem 
recebidos pela população. A característica do líder é que ele seja ou militar ou da alta 
burocracia civil, com discurso de avanços sociais e econômicos. 
É muito comum que haja indefinições sobre quem é o verdadeiro líder do regime. 
 
O autoritarismo tem duas classificações centrais: populista ou personalista. 
 Autoritarismo personalista (o local típico desse governo são os países não de-
mocráticos africanos). 
O regime personalista é marcado por uma rede de fidelidades pessoais, de apa-
drinhamentos e formação de grupos que se elevam até o(s) líder(es). 
Essa rede envolve o auxílio aos apoiadores e a coerção aos oposicionistas. Os 
regimes tradicionalmente têm fortes raízes culturais e históricas e dependem menos do 
apoio popular. Pode ocorrer até mesmo que não haja nenhum líder carismático. 
 
 Autoritarismo populista (o local típico desse governo são os países da América 
Latina e Europa pós-guerra). 
É um regime marcado não por relações pessoais, mas por instituições o que a-
poiam, mantido por um corpo de burocratas ou militares. 
É altamente dependente do apoio da população e se baseia nas promessas de 
melhorias para obter esse suporte. 
São viáveis apenas durante períodos de expansão econômica e melhoria social 
e são particularmente frágeis quando não cumprem as demandas sociais. 
 
89 
11.3.3. Formas de surgimento 
 
 Golpes contra os regimes democráticos; 
 Transições do antigo regime (Ex: França, após a Revolução Francesa, com a as-
sunção de Napoleão Bonaparte); 
 Enfraquecimento de totalitarismos. 
 
11.4. TOTALISMO 
 
O “total” destaca que esse governo afeta toda a vida das pessoas e suas rela-
ções privadas e sociais. O termo totalitarismo se refere ao dinamismo econômico e so-
cial, ao modo de vida e a um Estado em que se encontra uma sociedade. As técnicas 
de um governo totalitário são, também, autoritárias, mas elas vão além, moldando a vi-
da das pessoas e as normas sociais por meio de uma ideologia que pretende ser total-
mente dominante. 
O termo totalitarismo surge no século XX, não havendo nenhuma manifestação 
anterior e seu autor inicial foi Carl Schmitt, em “Um conceito político”, de 1927. 
 
11.4.1. Motivos para o surgimento apenas no século XX 
 
 Dependem de sociedades urbanizadas e de industrialização, pois essas socie-
dades têm menos regras tradicionais e ligações com leis tradicionais; 
 Dependem de meios de comunicação e propaganda (notavelmente rádio e cine-
ma); 
 Dependem de meios de vigilância. 
 
11.4.2. Diferenças básicas do autoritarismo 
 
O autoritarismo define todos os fins do Estado, que passa a ser o centro da vida 
privada e social. Ele guia o pensamento nacional e nega o individualismo na vida priva-
da. 
90 
A estrutura de um Estado totalitário se dá na forma de um “Estado policial”, com 
serviços de vigilância muito desenvolvidos e vida social marcada pela submissão. 
 
11.4.3. Características 
 
 Ideologia e legitimidade: 
Existe uma ideologia totalizante e com influência sobre quase qualquer compor-
tamento humano. As ideias dão significado à vida individual e social, e são teleológicas, 
apontando para um fim a ser alcançado. 
Hannah Arendt, sobre o totalitarismo: “No nazismo, a finalidade era a supremacia 
da raça ariana e, no socialismo, a vitória final da luta de classes”. 
A ideologia totalitarista é UTÓPICA, propondo arefundação do homem e da so-
ciedade e uma conquista final sobre a história. 
O Estado e a burocracia são estruturados pela ideologia e a população tem am-
plíssimo apoio. 
 
 Partidos e pluralismo político: 
Há um partido único com domínio completo da política e voltado a cumprir a fina-
lidade da ideologia. 
A burocracia e o exército estão submetidos à cúpula do partido. São apenas fer-
ramentas para cumprir as funções do grupo dominante. 
 
 Pluralismo social inexistente 
A ideologia nega manifestações contrárias e persegue oposicionistas para evitar 
as manifestações. 
Para conseguir isso, o Estado controla: 
- Os meios de comunicação (todos eles); 
- A economia (por meio da planificação); 
- A difusão de valores culturais, sociais e religiosos; 
- Os meios intermediários de difusão cultural (associações, sindicatos, universi-
dades e funcionamento familiar). 
91 
Esse controle é executado por polícias secretas. 
 
 Mobilização social 
Há grande participação no regime. A população participa de estruturas criadas 
pelo Estado e há grande legitimidade e apoio da população. 
 
 Líder 
Há um líder carismático cultuado publicamente, cuja imagem toma tons sagrados 
e que recebe características místicas e sobre-humanas 
O líder é visto como responsável pelo sucesso do regime. Ele é irresponsável po-
liticamente e há uma plena definição de sua pessoa. 
Devido às suas características, existe uma grande dificuldade durante a transi-
ção entre líderes. 
 
Atualmente o termo totalitarismo é utilizado com muita cautela, pois não há Esta-
dos com estas características bem marcadas. 
O Quadro 7 traz uma comparação entre as características dos dois regimes. 
Quadro 7 – As características do autoritarismo e do totalitarismo 
 Autoritarismo Totalitarismo 
Carisma do líder Baixa Líder altamente carismático 
Percepção do líder Indivíduo escolhido por um 
grupo 
A liderança é uma função 
de uma pessoa em especi-
al 
Finalidade do poder Privada, para benefício de 
alguns 
Pública, implantando a ide-
ologia totalitária 
Corrupção Alta Baixa 
Ideologia oficial Não existe Sim 
Pluralismo Sim, mas limitado Não, nenhum 
Legitimidade Baixa ou inexistente Sim 
Fonte: Anotações de aula 
92 
11.5. DEMOCRACIA 
 
11.5.1. Dificuldades de conceituação 
 
Darcy Azambuja diz que democracia é, talvez, o vocábulo político mais contro-
verso. 
Giovanni Sartori fala da “democracia confusa e confusão da democracia”, salien-
tando a ambiguidade deste termo. 
O Professor Manuel Gonçalves Ferreira Filho declara que a democracia está em 
toda parte e está em parte alguma, também salientando sua ambiguidade. 
Maurice Croisat, em “O federalismo nas democracias contemporâneas” diz que 
não existe uma definição universal de federalismo, como para a democracia e para a 
paz. É na diversidade de percepções e de buscas que encontramos a regra. É a partir 
da análise dos países democráticos e da comparação com os não democráticos que se 
compreende a democracia e suas regras. 
Jean François Revel, em sua obra “A tentação totalitária”, cita um literato francês 
chamado Jean Cocteau: 
Não existe o amor, existe prova de amor. 
Não existe o socialismo, existe prova de socialismo. 
Não existe a democracia, existe prova de democracia. 
 
A democracia não pode ser palavras ao vento, deve ser comprovada. 
 
11.5.2. O que é necessário para que um país seja considerado democrático 
 
O voto, ao contrário do que se prega, não é o centro da democracia, mas apenas 
um de seus elementos. É possível que haja um país democrático sem que haja o voto 
secreto, direto e periódico e vice-versa. O voto não é a expressão da democracia. 
É necessário que haja representação política. Ela se iniciou com a representação 
moderna. Rousseau, que era um moderno, negava a ideia da representação. Para ele 
todos nascem iguais em direitos, não devendo ser sujeitos a ninguém. A democracia 
visa encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de 
cada associado e pela qual cada um, ao se unir a todos, só obedece a si próprio e per-
93 
manece, assim, tão livre quanto anteriormente. Rousseau defende que o homem está 
subordinado ao povo (a todos), nunca a uma pessoa em especial. 
Montesquieu estudava a tese de Rousseau e a complementava dizendo que o 
homem comum é incapaz de “discuter les affaires17”. O homem é incapaz de se envol-
ver nas obras políticas e conduzir a vida política. Pode até não ser um bom político, 
mas certamente sabe escolher um bom político. 
Por fim, Montesquieu declarava que todos teriam o bom senso de conhecer os 
mais capazes, ou seja, de construir um governo democrático representativo. 
Aqui se aumenta a ideia de representatividade. Entretanto, essa democracia ini-
cial era bastante censitária. Com o passar do tempo, esse sufrágio censitário vai pas-
sando a ser universal, fazendo com que os partidos políticos sejam órgãos representa-
tivos por excelência. 
O remédio encontrado para combater essa representatividade oligárquica foi o 
fortalecimento dos partidos, principalmente os socialistas e comunistas. 
A democracia pelos partidos parte do pressuposto de que a democracia pode 
mudar as eleições, deixando-se de se escolher homens para eleger representantes, ge-
rando uma despersonificação da democracia. Na eleição de representantes, eles de-
vem propagar programas de governo, fazendo com que o povo se governe indiretamen-
te, pois o povo escolheria qual partido melhor lhe representa a partir dos programas de 
governo e ideologias. 
Nesse sistema, a fidelidade partidária é essencial, pois, como se elege a partir 
das ideias de um partido específico, ao mudar de partido, o governante está desrespei-
tando a vontade popular. 
Faz-se necessário que todos os partidos devem ter um consenso em torno de 
valores fundamentais, discordando apenas em questões menores. 
Em um governo democrático é impossível que a maioria se autogoverne e go-
verne a minoria. O governo é sempre exercido por uma minoria, pelo menos a partir do 
século XX. Essa minoria tem controles e freios, porém. 
É evidente que um povo jamais dominou a si próprio. O povo, o conjunto de in-
divíduos que compõem uma determinada coletividade, é incapaz de exercer 
 
17 Discutir os afazeres 
94 
globalmente as funções de governo. Na verdade, não há governo por um só, 
bem como não há governo por todos
18
. 
 
A partir dessa ideia, começou-se a falar da democracia semi-direta, pois o go-
verno precisa do apoio de algumas classes. A democracia semi-direta é uma aproxima-
ção da democracia direta, sem de fato o ser. É um sistema misto, onde o povo não se 
governa diretamente, mas tem o poder de intervir nas decisões públicas, através de um 
referendo, um veto popular ou uma lei de iniciativa popular (que obriga o parlamento a 
adotar algumas providências), por exemplo. 
 
11.5.3. Conceitos da democracia 
 
O governo deve ser do povo (fundamento), pelo povo (funcionamento) e para o 
povo (finalidade). 
A democracia tem dois aspectos – instrumental e substancial. 
No aspecto substancial, a democracia faz do Estado um meio natural pelo qual 
se auxilia a pessoa humana em seus direitos fundamentais, almejando o bem comum – 
a democracia é um regime de governo que permite ao cidadão o desenvolvimento ple-
no de suas capacidades. É o regime que permite o desenvolvimento integral da pessoa, 
em todas as suas dimensões (política, econômica, ética, artística, religiosa e científica). 
A função do Estado aqui é proporcionar os meios – condições – para esse de-
senvolvimento (garantir ordem, justiça, progresso,liberdade, segurança e desenvolvi-
mento). 
Para que a democracia substancial funcione, é necessário que se organize ins-
trumentos políticos adequados de participação do cidadão na formação do bem comum 
(democracia instrumental). 
O Estado deve se preocupar com os procedimentos: 
 Construir um Estado de direito; 
 Garantir o princípio da legalidade; 
 Garantir a igualdade perante a lei; 
 Garantir a justiça; 
 
18 Raymond Aron 
95 
 Prover a separação dos poderes (determinando a limitação do poder); 
 Promover a consciência do voto e da forma de votar; 
 Garantir os direitos fundamentais. 
 
O autoritarismo e o totalitarismo são regimes deturpados, sendo negados, por al-
guns autores, até mesmo da designação de regime. São formas patológicas do Estado. 
O regime autoritário é a “não democracia”, enquanto o totalitário é “contra a democraci-
a”. 
No regime autoritário o ser humano é tratado como um adolescente, com a tutela 
de algumas prerrogativas e a cessão de algumas liberdades. 
No regime totalitário o ser humano é tratado como uma criança, sendo tuteladas 
todas as suas prerrogativas. 
No regime democrático o ser humano é tratado como um adulto, dando-lhe liber-
dade e cobrando-lhe responsabilidade. 
“A democracia é o pior dos regimes de governo, mas não há nenhum sistema 
melhor que ela” (Winston Churchill). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHAMENTOS 
98 
I – ARISTÓTELES. ÉTICA À NICOMACO – Livro V 
 
Aristóteles considera os seguintes pontos a princípio: 
 Com que espécies de ações se relacionam a justiça e a injustiça; 
 Que espécie de meio termo é a justiça; e 
 Entre que extremos o ato justo é intermediário. 
 
A justiça é aquilo que é disposto pelo caráter, que torna as pessoas a fazer o que é 
justo, além de agir pela justiça e desejar coisas justas, assim como a injustiça também 
segue essa linha de ação. Quanto à disposição de caráter não se espera o contrário, o 
injusto busca a injustiça e o justo busca a justiça. 
São atos justos aqueles cuja consequência é produzir e preservar, para a sociedade 
política a felicidade e os elementos que a compõe. 
A justiça e injustiça podem parecer ter termos duvidosos, pois seus significados 
podem afastar um do outro. O justo, entretanto é o homem que segue as leis e o 
homem injusto é aquele que é arbitrário a lei. Isso muda de figura quando o injusto, no 
caso das coisas que são más em absoluto, não escolhe a parte maior de algo ou de 
uma ação para si. Nesse caso, escolhe-se a parte menor a ser feito do que a maior, 
tendo em vista que ambas as ações são ligeiramente ruins, ficando com a menos má. A 
Justiça em forma de lei, portanto, permite que o homem faça coisas como um homem 
temperante, um homem bravo, um homem calmo, entre outros, prescrevendo certos 
atos e condenando outros. Torna-se uma virtude completa por que, é uma ação em 
relação ao nosso próximo e não apenas para benefício próprio no caso do justo, ou 
malefício próprio no caso do injusto. Por isso chama-se “bem de um outro” já que 
relaciona-se com o próximo. 
Portanto a justiça não é parte da virtude, mas a virtude inteira. Assim como a 
injustiça não é parte do vício, mas o vício inteiro. 
A justiça tem a ver com a virtude e a injustiça, em seu sentido amplo, abrange a 
parte que é “contra à lei”, tornando injusto aquele que lucra com seu ato. Tomemos o 
exemplo de “um homem que comete adultério tendo em vista o lucro, enquanto outro o 
99 
faz levado pelo apetite, embora perca dinheiro e sofra com o seu ato”. O segundo 
homem é intemperante, enquanto o primeiro é injusto. 
Cada pessoa que comete uma maldade, um ato mal é levado a uma classificação, 
porém o homem que com a maldade e ganha lucro com isso, esse é o injusto. 
Entendido o proposto sobre justiça e injustiça, dispõe sobre a justiça em sentido 
particular: Justiça proporcional e justiça corretiva. 
A justiça proporcional delimita-se em uma espécie que se manifesta nas 
distribuições de honras, de dinheiro, terras, bens, etc que são divididas entre aqueles 
que têm parte na sua constituição. 
A justiça corretiva delimita-se em naquela que executa um papel corretivo nas 
transações entre as partes, sendo dividida em voluntárias e involuntárias. 
Onde há mais e menos há também o igual. O igual fica como sendo o meio termo, 
então a esse meio termo podemos chamar de justo, pois é equitativo. 
A reciprocidade, por exemplo, é inerente a essas duas ideias, pois o elemento a ser 
discutido é a troca, onde a igualdade recíproca é nada mais que o justo. Um sapateiro 
tem que igualar seu trabalho ao de um arquiteto caso venham a realizar uma troca. Por 
esse motivo estipula-se o dinheiro, este pode ser guardado para trocar por algo mais 
necessário do que um monte de par de sapatos ou qualquer outra coisa. Nesse caso, o 
dinheiro é o meio termo da ação. 
Vemos também que nem todo agir injustamente remete à injustiça, pois se observa 
que espécie de ato injusto está sobre ele. Uma pessoa adúltera pode agir tanto por 
instinto de lucro ou por paixão. Ele pode ter agido injustamente, porém não é injusto. O 
que é recíproco se relaciona com o justo, porém o objeto de pesquisa é a justiça política 
e não o justo incondicionalmente. Basta lembrar que a justiça existe apenas entre 
homens cujas relações recíprocas são dirigidas pela lei, sendo que, a lei é abstrata para 
os que não a ferem. 
100 
II – ELLWEIN, Thomas. FEDERALISMO E AUTONOMIA ADMINISTRATIVA: 
UNIDADE PARA FORA, DIVERSIDADE PARA DENTRO. UM GRANDE TRIUNFO DA 
HISTÓRIA ALEMÃ 
 
Uma grande parte da população mundial vive em Estados que por sua vez são 
constituídos política e administrativamente por estados semi-autônomos, estados 
federados ou províncias. O exemplo mais antigo é o dos EUA. Na Europa temos ainda 
a Suíça, a Alemanha e a República Áustria. Federalismo significa nestes casos e em 
casos semelhantes que sistemas ou estados autônomos se juntam formando um 
Estado comum. 
Foi o que aconteceu nos EUA. Este modelo seguiu depois para o Canadá e na 
Austrália, enquanto na Suíça se formava uma Confederação de Estados. As diferenças 
entre os procedimentos de formação do Estado levaram a enormes diferenças entre os 
atuais Estados federais. 
A Alemanha nunca foi um país centralizado ou, mais tarde, um Estado centralizado. 
Nem mesmo foi possível centralizar realmente a polícia. Com respeito à educação, isso 
demora ainda mais. 
O atual federalismo alemão tem uma longa tradição de poder político fortemente 
estruturado. Ao mesmo tempo, ele é um produto do século XIX. 
A história do Estado alemão começa no tempo pré-estatal da Idade Média. Não 
havia nenhum ponto central que pudesse assumir o papel que Paris representava para 
a França, Londres para a Inglaterra, Moscou para a Rússia ou Roma para a Itália – 
função central cultural, a concentração paulatina do poder político e também frequente 
elemento místico. 
Na Alemanha se passa o inverso: sempre houve partes mais ou menos autônomas 
(quase 2.000 delas). Nem mesmo o Reich alemão conseguiu abrandar as diferenças, 
conseguindo apenas uma estruturação superficial da região do Reich nos chamados 
Distritos do Reich. No Distrito Suábico havia mais de 100 Estados autônomos. O Reich 
desfrutava mais, entretanto, dos pequenos Estados, pois os grandes acabavam 
colocando seus interesses próprios em primeiro plano. 
101 
O Reich era um monstro, como era cientificamente denominado no século XVIII, e 
por vários motivos não tinha capacidade de satisfazer a germinante necessidade de 
modernização. 
Quando a pressão de fora paradentro tornou-se forte demais, o Reich não teve 
mais condições de continuar existindo (pressão causada por Napoleão Bonaparte, pela 
ambição de algumas partes autônomas em se tornarem maiores e por um grupo de 
reformadores). A massa de pequenos Estados do Reich no Reich foi incorporada aos 
estados que tinham sobrevivido à época de Napoleão. 
Em 1806 o Reich ruiu de uma vez por todas. Em 1814, os 39 estados alemães 
restantes formavam a Liga Alemã, uma Confederação de Estados. 
Exceto a Prússia e a Áustria, que na época integravam as cinco potências 
europeias, os outros eram países relativamente pequenos e, como respeito à política, 
dependiam de seus vizinhos maiores. 
N primeira metade do século XIX houve um impulso, com o qual o Estado alemão 
adquiriu uma nova imagem que ele continua apresentando diversificadamente. 
Os países obstruíam a unidade do setor econômico e, assim, também o mercado, e 
impediam a unificação do Reich e a liberdade de circulação. 
Desejavam formar um Reich como um Estado Federal de grande poder, cujos 
estados permanecessem autônomos, mas que se encontrassem de várias maneiras 
sob a autoridade do Reich. 
Quase vinte anos depois, a unificação alemã foi realizada pela Prússia, que reduziu 
novamente o numero dos Estados alemães. 
Para a formação do II Reich Alemão, juntaram-se 22 príncipes alemães e três 
governos municipais. Desde então há um tipo especial de federalismo alemão. Segundo 
estava previsto no projeto da Constituição de 1848/49, o Reich Alemão de 1870 não 
receberia uma administração própria, exceto o Serviço do Exterior e o Correio do Reich. 
As tarefas do Reich deveriam ser incumbências dos estados. 
Na Constituição de Weimar de 1919, não se realizou tudo; o que se criou foi 
principalmente uma própria administração das finanças do Reich, deixando a maioria 
102 
dos assuntos do Reich na incumbência dos estados. Esta filosofia foi adotada também 
em 1949 na Constituição da República Federal da Alemanha. 
Era necessário compensar as perdas de qualidade dos estados autônomos e o que 
se fez foi atribuir-lhes, como estados, ou seja, representados pelos seus governos, uma 
participação nos poderes do Reich e, mais adiante, nos poderes da Federação. 
Portanto, na Alemanha os estados executavam as leis do Reich e executavam as 
leis da Federação, participando, todavia, da legislação (foi criado um órgão que se 
chamou, em 1870 e 1949 de Senado Federal, e em 1919 de Senado Imperial). 
A partir da reunificação alemã, passou a existir 16 estados federados, cujo direito à 
votação no Senado varia de acordo com a população deles. 
Um terceiro Estado federal alemão foi instituído em 1949 após a II Guerra Mundial, 
através do Conselho Parlamentar, para a região das três zonas de ocupação. A base da 
fusão foram os antigos e os novos estados, já existentes em 1948. 
O federalismo, após as experiências do domínio nazista, obteve mais que 
antigamente uma legitimação teórica estatal. E o federalismo ainda teve a vantagem de 
significar uma própria forma de distribuição do poder. Os partidos políticos passaram a 
atuar com força muito maior. Surge uma forma própria de “Balance Power”. Os 
governadores ds estados formão o contrapeso contra o Primeiro-Ministro, e os partidos 
não chegam a formar uniões grandes demais. 
Depois da reunificação, o quadro da Alemanha tornou-se muito mais estratificado, 
porque eram agora 16 estados, em vez de onze, que atuavam no Senado e 
executavam as leis federais. 
É próprio do tipo do federalismo alemão, como também em todos os Estados 
federais, que as tarefas estatais sejam repartidas entre a Federação e os estados. A 
Constituição determina que as tarefas estatais sejam assunto dos estados, caso não 
sejam atribuídos à Federação. 
A Constituição alemã é mais flexível do que, por exemplo, a dos EUA. 
A Federação, os estados e os municípios formam uma comunidade muito estrita de 
execução, que por um lado leva muitas vezes a bloqueios, quando se consegue 
encontrar apenas o menor denominador comum, mas que por outro lado, no território 
103 
densamente povoado da República Federal da Alemanha, levou realmente a uma 
distribuição favorável da população e das reservas econômicas. 
A política na Alemanha impulsionou mais a “igualdade de condições de vida”, ou 
seja, deu mais impulso a um equilíbrio do que ao realce de diferenças entre os estados. 
Os estados fazem as suas próprias tarefas, executam as leis federais e participam 
da legislação na Federação. A Federação simplesmente não pode dar instruções a 
subordinados ou aprovar programas políticos. A Federação deve estipular por lei o que 
as administrações dos estados devem executar (e os estados participam dessa 
estipulação). O Senado tem plena participação em grandes partes da Constituição, o 
que significa que sem sua aprovação não é estipulada nenhuma lei. 
Este processo funciona muito bem já desde 1949. Seu índice de sucesso é enorme. A 
participação na política nacional tem naturalmente consequências. As reuniões dos ga-
binetes estaduais ocupam-se frequentemente mais dos negócios federais do que dos 
próprios assuntos, o que tem que ser respectivamente preparado nos ministérios. O tipo 
de federalismo alemão foi instituído como um federalismo cooperativo, visando uma co-
operação e, com isso, certa centralização, um paralelismo, execução separada de tare-
fas e excessiva acentuação da autonomia dos estados. 
104 
III – DECRETO-LEI Nr 2.639, de 27 de setembro de 1940 
 
O Decreto determina que a disciplina de Direito Público Constitucional seja 
fragmentada em duas novas, a saber: Teoria Geral do Estado e Direito constitucional, 
além de estipular que elas devem ser ministradas na primeira e segunda série do curso 
de Direito, respectivamente. 
Por fim, determina que cada um dos assuntos seja objeto de uma cadeira diferente e 
que os atuais professores de Direito Público Constitucional passem a exercer o cargo 
de professores da cadeira de Teoria Geral do Estado 
105 
IV – DALLARI, Dalmo de Abreu. ELEMENTOS DA TEORIA GERAL DO ESTADO - 
INTRODUÇÃO 
 
O profissional do Direito deve ser mais do que um manipulador de um processo 
técnico, formalista e limitado a fins imediatos. É necessário fazê-los conhecer bem as 
instituições e os problemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o 
papel que representam na atuação daqueles e aprenderem as técnicas requeridas para 
a solução destes. 
Três pontos que devem ser ressaltados: 
 a)é necessário o conhecimento das instituições; 
 b) é necessário saber de que forma e através de que métodos os problemas so-
ciais deverão ser conhecidos e as soluções elaboradas; e 
 c) O estudo de Teoria Geral do Estado não se enquadra no âmbito das matérias 
estritamente jurídicas. 
A Teoria Geral do Estado se dedica ao estudo do Estado em sua totalidade. 
 
É uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, 
sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, psicológicos, valendo-se 
de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o ao 
mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com 
eficácia e com justiça. 
Esta disciplina é realmente nova. Entretanto, já na antiguidade greco-romana se 
encontram estudos que modernamente estariam no âmbito da Teoria Geral do Estado. 
Durante a Idade Média também se encontram muitos trabalhos que, pelo menos em 
boa parte, podem ser considerados como situados no âmbito da Teoria Geral do 
Estado. SANTO AGOSTINHO e SÃO TOMÁS DE AQUINO têm a preocupação de 
justificar a ordem existente, a partir de considerações de natureza teológica. No fim da 
IdadeMédia começam a surgir os primeiros sinais de reação a esse irrealismo, por 
exemplo, na obra de MARSÍLIO DE PÁDUA, "Defensor Pacis", que trata da separação, 
com independência recíproca, da Igreja e do Estado. 
106 
A grande revolução nos estudos políticos, com o abandono dos fundamentos 
teológicos e a busca de generalizações a partir da própria realidade, ocorre com 
MAQUIAVEL, no início do século XVI. Ele faz uma observação aguda de tudo quanto 
ocorria na sua época em termos de organização e atuação do Estado, criando a 
possibilidade de uma ciência política. 
Depois, autores como HOBBES, MONTESQUIEU, ROUSSEAU, influenciados pela 
idéia de um Direito Natural, mas procurando o fundamento esse direito, assim como da 
organização social do poder político, na própria natureza humana e na vida social, 
como verdadeiros precursores da antropologia cultural aplicada ao estudo do Estado. 
Finalmente, no século XIX vai desenvolver-se especialmente na Alemanha, um 
trabalho de sistematização jurídica dos fenômenos políticos. Teve especial importância 
a obra de GERBER, "Fundamentos de um Sistema de Direito Político Alemão", outro 
que iria exercer grande influência sobre notável alemão GEORG JELLINEK a quem se 
deve, afinal, a criação de uma Teoria Geral do Estado, como disciplina autônoma. 
Depois disso, foram bastante intensificados os estudos sobre o Estado, notando-se, 
porém, que não ocorreu a uniformização quanto ao nome da disciplina. 
No Brasil, os estudos relativos ao Estado foram primeiramente incluídos como parte 
inicial da disciplina Direito Público e Constitucional. Por volta do ano de 1940 ocorreu o 
desdobramento em Teoria Geral do Estado e Direito Constitucional. 
A questão do relacionamento da Teoria Geral do Estado com a Ciência Política é de 
interesse mais acadêmico do que prático. Entretanto, modificação recente imposta pela 
burocracia federal do ensino no Brasil pode dar a impressão de que algo de importante 
aconteceu e pode, eventualmente, suscitar dúvidas. Até recentemente era obrigatório o 
ensino da Teoria Geral do Estado nos cursos jurídicos e essa disciplina era 
expressamente referida como parte do Direito Constitucional. Por decisão do governo 
federal, a partir de dezembro de 1994 o ensino da Teoria Geral do Estado continuou a 
ser obrigatório, mas, de maneira ambígua, o ato governamental menciona, entre as 
disciplinas fundamentais do curso jurídico, "Ciência Política (com Teoria do Estado)". 
Apesar da obscuridade, fica fora de dúvida que continua obrigatório o ensino de Teoria 
do Estado. 
107 
O que a realidade mostra é que, cada vez mais, não há possibilidade de 
desenvolver qualquer estudo ou pesquisa de Ciência Política sem considerar o Estado. 
Max Weber conceitua a política dizendo entendê-la como "o conjunto de esforços 
feitos com vista a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre 
Estados seja no interior de um único Estado". Mais recentemente, Neil MacCormic fez a 
seguinte observação: "O Estado é de interesse central para a política, sendo ele 
próprio um locus para o exercício do poder, um produtor de decisões e a 
comunidade política primária para muitos seres humanos, no mundo 
contemporâneo". Ainda acrescenta, "concebido como um sujeito ativo, o Estado 
age através de indivíduos e grupos organizados de pessoas, que tomam e 
implementam decisões em nome do Estado e que, ao decidir, alegam que são 
agentes ou órgãos do Estado". 
Para a formação do jurista contemporâneo o estudo da Teoria do Estado é 
indispensável.O Estado é universalmente reconhecido como pessoa jurídica, que 
expressa sua vontade através de determinadas pessoas ou determinados órgãos. O 
poder do Estado é poder jurídico, sem perder seu caráter político. 
Quanto ao objeto da Teoria Geral do Estado pode-se dizer, de maneira ampla, que é 
o estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o 
funcionamento e as finalidades, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que se 
considere existindo no Estado e influindo sobre ele. O Estado apresenta-se como um 
objeto diverso, segundo o ponto de vista do observador. É possível, entretanto, fazer-se 
um agrupamento das múltiplas orientações, reduzindo-as a três diretrizes fundamentais: 
 a) Filosofia do Estado; 
 b) Sociologia do Estado; e 
 c) o estudo do Estado a partir de considerações técnico-formais. 
Como reação a isso, surgiu uma nova orientação, que procura efetuar uma síntese 
dinâmica daquelas três direções fundamentais, adotando uma posição que MIGUEL 
REALE chama de culturalismo realista. 
108 
O italiano ALEXANDRE GROPPALI indica o objeto da Doutrina do Estado através 
de uma tríplice perspectiva, que compreende três doutrinas que se integram compondo 
a Doutrina do: 
 a) doutrina sociológica; 
 b) doutrina jurídica; e 
 c) doutrina justificativa. 
Pela própria multiplicidade de aspectos que a Teoria Geral do Estado deve 
considerar verifica-se a impossibilidade de adoção de um método único. 
Mas seja qual for o método aplicado em qualquer momento, os resultados obtidos deve-
rão ser integrados numa síntese, podendo perfeitamente ocorrer que de uma lei geral. 
109 
V – PORTARIA Nr 1.886, de 30 de dezembro de 1994 
 
 Define a carga horária do curso de Direito; 
 Limita a carga horária diária do curso de Direito noturno; 
 Determina a prática de atividades complementares; 
 Determina que haja uma biblioteca com um número mínimo de obras nos cursos 
de Direito; 
 Determina as cadeiras essenciais de cada curso (entre elas, a de “Ciência Políti-
ca (com Teoria de Estado)”; 
 Determina a obrigatoriedade de apresentação de TCC; 
 Determina a obrigatoriedade de execução de estágios práticos, bem como o tipo 
de atividades a serem executadas nesses estágios. 
110 
VI – O QUE É ESTADO? (definição dada pelo aluno após as aulas sobre o 
assunto) 
 
O termo Estado, como hoje conhecemos, foi citado pela primeira vez no século 
XVI por Maquiavel em sua obra “O Príncipe”. 
A ele podem ser aplicados diversos sentidos, a saber: 
 Amplíssimo: Toda sociedade humana organizada em torno de um poder de 
mando; 
 Amplo: Aponta uma sociedade com consciência de unidade com um poder cen-
tral de mando e fronteiras definidas, até onde se estende sua soberania; 
 Estrito: Refere-se somente a uma parte do poder político, representada pelo a-
parelho de manutenção deste poder (burocratas); e 
 Estritíssimo: Designa uma Pessoa Jurídica do Direito Público. O Estado como 
polo passivo ou ativo em uma demanda judicial. 
Hans Kelsen defendia a teoria de que o Estado deveria ser meramente um 
ordenamento jurídico, em uma visão unidimensional do mesmo. Esse ordenamento 
era composto por uma série de normas escalonadas, onde a Gran Norma (ou 
Norma fundamental) serviria de pressuposto legal para todas as demais. Nesse 
sistema as regras superiores teriam um caráter de criação das normas subordinadas 
e estas últimas o caráter de executantes das primeiras, num sistema jurídico lógico 
dedutivo. 
Complementando a teoria de Hans Kelsen, Georg Jillineck acreditava que o 
Estado não deveria ter um sentido apenas judiciário, mas também moral e ético da 
sociedade. Dessa forma, não somente as normas superiores determinariam as 
subordinadas, mas o inverso também seria possível. A essa teoria jurídica moral 
lógico dedutiva damos o conceito de bidimensional. 
A visão tridimensional do Estado, criada por Miguel Reale, nota que este era 
composto por três elementos que, num sistema de retroalimentação, formavam um 
ciclo causal cumulativo (positivo ou negativo). Estes elementos eram as normas, os 
111 
valores e os fatos. Por serem interligadas,quando se altera uma delas existem 
reflexos nas outras duas. 
Para Aristóteles o Estado era apresentado por quatro causas distintas: As causas 
material, formal, final e eficiente. Essa teoria foi complementada por são Tomás de 
Aquino, que defendia a existência de uma quinta causa: a causa instrumental. 
Estudada pelo Professor Cezar Saldanha, essas causas se aplicariam dentro das 
três projeções de Miguel Reale, da seguinte forma: 
A projeção fato se dividiria em causas material e formal, características 
intrínsecas do ser, pois definem a constituição do mesmo. A projeção valores se 
dividiria em causas final e eficiente e a projeção normas seria representada pela 
causa instrumental, todas as três representando características extrínsecas ao ser. 
A causa material busca explicar de que é composto o Estado a partir do seu 
substrato e chega à conclusão de que este é uma sociedade organizada vivendo em 
um território determinado. Enxergando-o como um fenômeno social, é estudada pela 
sociologia, pela geografia e pela economia. 
A causa formal é estudada pela ciência política, pois parte do princípio que o 
Estado é uma organização política. Para isso levamos em conta a morfologia (Morfo 
Logia – estudo da forma), que determina que o Estado tenha uma forma específica, 
com fronteiras geograficamente estabelecidas, que lhe garante e limita o poder 
coercitivo, surgindo então a ideia de soberania. 
A causa final se encarrega de explicar os motivos pelos quais o Estado existe. 
Aristóteles defende que ele deverá existir senão para garantir o bem comum – o que 
todos têm em comum (a dignidade da pessoa humana). Aqui o Estado é enxergado 
como meio para obter-se um fim e é estudado pela filosofia política e pela ética. 
A causa eficiente por sua vez busca encontrar as origens do Estado, apontando, 
segundo Aristóteles, que este é gerado a partir da natureza social do homem (o 
homem busca viver em sociedade, pois é um animal político – ZOOPOLÍTICO). 
Essa causa enxerga o Estado como resultância e é estudada pela história da 
filosofia e pela antropologia. 
112 
Por fim, a causa instrumental deseja explicar qual é a constituição do Estado e 
como ele opera. Determina-se que ele é constituído pelo Direito e opera o poder por 
intermédio das normas jurídicas (leis). O Estado aqui é visto como um ordenamento 
jurídico e essa causa é estudada por todas as ciências jurídicas. 
Assim, podemos definir o Estado como sendo a organização de uma sociedade 
sobre uma determinada porção de terra, tendo fronteiras geograficamente 
estabelecidas que lhe garantem e limitam o poder coercitivo e a sua soberania, 
fundado pela natureza social do homem com o objetivo de prover a todos a 
dignidade da pessoa humana e constituído pelo Direito, operando segundo as 
normas jurídicas. 
113 
VII – MENEZES, Aderson de. TEORIA GERAL DO ESTADO (capítulo 4) e 
AZAMBUJA, Darcy. TEORIA GERAL DO ESTADO (Capítulo 12) 
 
A história da civilização proporciona elementos de máxima importância para a 
noção exata dos diversos tipos pelos quais tem se apresentado e funcionado a 
sociedade política, principalmente situando o homem em suas relações com a entidade 
à qual está compulsoriamente vinculado. 
A história é cíclica e tem seu curso renovado em diferentes épocas e locais. 
Não é possível organizar cronologicamente, em ordem sucessiva, tais ou quais 
exemplares de Estado surgiram. Na verdade, um Estado contemporâneo pode ser 
semelhante a outro conhecido na antiguidade, assim como um Estado futuro poderá 
assemelhar-se ao conhecido na Idade Média e um Estado passado pôde surgir na 
Idade Moderna (monarquia teocrática). 
 O Estado Oriental 
Envolve os Estados das antigas civilizações do oriente e as novas do 
Mediterrâneo. 
Há poucas informações sobre esses povos. São geralmente reunidos por um 
conquistador, que anexava os povos vencidos. Observa-se a existência de castas e o 
poder geralmente é teocrático. 
Não se observa uma concepção positiva desta fase. Pela falta de elementos de 
investigação no Oriente, faltam atividades intelectuais no âmbito da ciência política. 
Os modos de vida desses povos impedem uma investigação sobre sua origem, 
natureza ou melhora possível. 
A vida social era amorfa, sem muitas distinções entre o Estado, a religião, a 
família e a organização industrial. Por conta disso, não se observam pensamentos 
políticos, filosóficos, etc. a predominância era religiosas e as ideias eram criadas e 
destruídas pelos sacerdotes. 
A forma geral do Estado era autocrática ou despótica. Sua autoridade era 
sacerdotal ou conquistada. A união do Estado baseava-se no culto aos deuses comuns. 
114 
A contribuição desses povos para o pensamento político é expressa pelos impérios, 
mas sem organização administrativa. 
Os povos orientais que desenvolveram sistemas políticos foram os hindus, os 
chineses e os hebreus, mas sem distinguir política de postulados morais. 
a) China: 
- Culto ao céu; 
- Governo de magistrados; 
-Os filósofos chineses viam a lei como uma forma de barrar a depravação 
humana; 
- A virtude era o objeto estatal (buscava-se um elevado padrão moral e hu-
manitário). 
b) Índia: 
- Muitas revoluções dinásticas; 
Religião não se mistura com o governo, sendo apenas o norte par a moral 
dos governantes e governados (Entretanto, os governantes se declaravam 
possuidores de uma partícula de substância divina); os sacerdotes não inter-
vinham na esfera administrativa; 
- Autoridade militarista, pautada na força. 
c) Pérsia: 
-O monarca era servidor da divindade, unindo o poder espiritual ao temporal, 
gerando uma autoridade ilimitada. 
d) Assíria: 
- Os reis se denominavam como os “favoritos das divindades” e eram terríveis 
e implacáveis. Sua missão era suprimir a impiedade. 
e) Israel: 
- Governo Teocrático; 
- Monoteísmo (Jeová); 
- Tinham maior consciência de unidade racional e de seu destino, entretanto 
não formaram um Estado soberano; 
- Leis eram criadas ou alteradas somente pela divindade. Os sacerdotes não 
governavam, apenas influenciavam a autoridade. 
115 
f) Egito: 
- Faraó era o magistrado, mas também uma divindade visível entre tantas ou-
tras. 
 
 O Estado Grego 
Não existe “Estado grego”, mas vários Estados helênicos que tinham algumas 
características em comum. 
As cidades-Estados (polis), de onde surge a palavra política, eram a base da 
organização política na Grécia. 
Cada uma das polis era autárquica (autossuficiente) e dotada de estruturas 
políticas econômicas e sociais. 
O Estado é onipotente; buscando atender os interesses humanos, suprime o 
indivíduo, que fora dele não possui liberdade e segurança. Essa condição era 
suavizada pela ativa participação do povo na vida pública (somente os cidadãos). 
Na Grécia, as divindades não atribuem caráter divino às autoridades. 
Instituições estatais: 
Em Esparta – Assembleia, Senado, dois reis e conselho; 
Em Atenas – Assembleia do povo, Senado, arcontado e areópago. 
 
 O Estado Romano 
Analogamente, pode-se dizer que é um “Estado grego evoluído”. 
Traz muitas referências para a política e para o direito. 
Possui uma destacada unidade estatal, econômica e religiosa. 
O Estado começou com as civitas – núcleo social que reunia famílias e tribos. 
Essas famílias cresceram e seus patriarcas, denominados “paters”, eram os chefes. 
As famílias eram divididas entre os patrícios e os clientes (servos). Além disso, 
haviam os plebeus – povo sem família e sem lei. 
116 
Com a expansão, Roma perdeu esse caráter, passando o poder estatal para um 
órgão chamado imperium (ou majestas). Na república, o poder do Estado estava nas 
mãos do povo.Ao passo que ia anexando territórios conquistados e aumentando o império, 
Roma deixava de ser cidades e se tornava um Estado. 
Na republica havia um complexo sistema de distribuição de funções estatais. Isso 
assegurava a liberdade e evitava a tirania (dois cônsules, questores, pretores, 
censores, tribuno da plebe, edis e ditador, em casos especiais). 
Em Roma surge o nascimento e o desenvolvimento de um amplo sistema 
jurídico. 
Para os romanos, a lei era o direito e a justiça, não havendo possibilidade para 
discordância. 
Com o advento do cristianismo, houve uma ideia inicial de separação do Estado 
e da religião (“dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”), além da 
substituição do ódio ao estrangeiro pelo amor aos mesmos, convidando todos à 
comunhão dos mesmos direitos. Os césares encontraram nisso um elemento de traição 
ao Estado e passaram a perseguir os cristãos (a noção cristã rompia com o Estado 
totalitário e despótico). 
Ao ocuparem as terras dos romanos, os germanos separaram o conceito de lei e 
direito. Lei é apenas um conjunto de normas, justas ou injustas (deve ser seguida, se 
for justa, ou anulada, se for injusta), enquanto a justiça é a vontade divina nas 
consciências individuais. 
Na Idade Média, o trabalho dos filósofos foi o de sistematizar os elementos romanos, 
cristãos e germanos no direito público e privado, elaborando uma nova concepção de 
Estado. 
117 
VIII – CONSTANT, Benjamin. DA LIBERDADE DOS ANTIGOS COMPARADA À DOS 
MODERNOS. 
 
Este texto trata sobre a diferença entre a liberdade dos povos antigos, que lhes 
era muito cara, e a dos povos modernos, cujo uso é particularmente útil. A análise 
dessa diferença tem um duplo aspecto: 
 A diferença entre esses conceitos de liberdade era a causa da infelicidade dos 
franceses, uma vez que lhes era negado o que desejavam e lhes obrigavam a 
usufruir o que não desejavam; 
 Os benefícios trazidos por um governo representativo, conquistado na Revolu-
ção, eram desconhecidos pelos antigos. 
Houve uma tentativa de encontrar fatos desse governo nos povos antigos, mas 
tudo era enganação. 
 O governo da Lacedônia não tinha cunho representativo, apesar do poder dos 
reis ser limitado. Quem o limitava eram os Éforos, não os homens eleitos para 
este fim, e sua prerrogativa, ao invés de constituir uma barreira à tirania se tor-
nava na tirania em si. 
 Em Roma, havia tribunos, que tinham certa representatividade, por serem os por-
ta-voz dos plebeus. Dessa forma, o povo exercia uma grande parte dos direitos 
políticos. Em Roma podia se observar fracos traços do sistema representativo. 
Essa ideia de sistema representativo foi uma descoberta dos modernos, uma vez 
que a condição humana dos antigos não lhes permitia que uma instituição como essa 
surgisse. A organização social dos antigos os levava a desejar uma liberdade diferente 
da que se observa na modernidade. 
Mas o que é a liberdade? 
Para os modernos, ela se expressa nos direitos de se submeter às leis e não à 
vontade arbitrária de um ou vários indivíduos; poder expressar sua opinião, escolher e 
exercer seu trabalho, dispor de sua propriedade, ir e vir, reunir-se com outros indivíduos 
e influir na administração governamental (seja pela nomeação de todos ou alguns 
funcionários, seja por representações, petições ou reivindicações). 
118 
Já para os antigos, consistia em exercer coletiva e diretamente várias partes da 
soberania inteira, deliberar em praça pública, firmar tratados de aliança com 
estrangeiros, votar leis, pronunciar julgamentos, examinar contas, atos e gestões de 
magistrados, bem como fazê-los comparecer diante do povo, acusá-los, condená-los ou 
absolvê-los. Entretanto, ao mesmo tempo, eles admitiam que, junto com essas coisas, 
viria uma submissão completa à autoridade do todo. Entre os antigos não se encontra 
nenhum dos privilégios que o conceito moderno de liberdade traz. Nada é concedido à 
liberdade individual. 
O indivíduo, quase sempre soberano nas questões públicas, é escravo em 
todos os assuntos privados. Enquanto parte do coletivo, ele legisla, ordena, julga, 
condena, absolve, decide a paz ou a guerra, etc., mas como indivíduo do coletivo, 
ele é privado de suas honras, banido, julgado e condenado pela vontade do todo. 
Já entre os modernos, o indivíduo livre em sua vida privada, mesmo nos Estados 
mais livres, só é soberano em aparência. 
Na antiguidade encontramos uma república na qual a escravização do indivíduo 
ao coletivo não é tão completa – Atenas. De todos os Estados antigos, é a que mais se 
pareceu com os modernos. Os antigos não tinham nenhuma noção de interesses 
individuais e os homens eram meras máquinas com suas molas e engrenagens 
controladas e guiadas pela lei. 
Qual a origem dessa diferença entre os antigos e os modernos? 
As repúblicas antigas eram fechadas em territórios estreitos de maneira que a 
maior delas não era igual ao menor dos Estados modernos, o espírito dessas repúblicas 
era muito belicoso e, por isso, estavam sempre incomodando seus vizinhos ou sendo 
incomodados por eles (ameaçavam-se e combatiam-se sem cessar). Como resultado 
desse estilo de vida, é possível encontrar escravos em todos os Estados. 
O oposto ocorre no mundo moderno, pois os menores Estados são mais vastos 
que Esparta ou Roma durante cinco séculos. Enquanto na antiguidade cada família se 
formava isoladamente e eram todas inimigas entre si, na modernidade, a massa de 
homens se forma sob várias denominações, porém essencialmente homogêneas. Têm 
119 
força suficiente para não temer hordas bárbaras e esclarecimento suficiente para não 
desejar a guerra, inclinando-se para a paz. 
Disso advém outra diferença: a guerra precede o comércio, já que são formas 
distintas de alcançar o mesmo fim – conquistar o que se deseja. Entretanto, no 
comércio passa-se a prestar uma homenagem à força do possuidor pelo aspirante à 
posse. Tenta-se obter um acordo para obter o que não se deseja conquistar pela 
violência. A guerra é o impulso, enquanto o comércio é o cálculo. Os modernos 
chegaram ao tempo em que o comércio substituiu a guerra. 
Não que na antiguidade não houvesse comerciantes, mas estes certamente 
eram a exceção. Existiam vários obstáculos que se opunham ao progresso do 
comércio. Um deles era o desconhecimento da bússola (os navegadores evitavam se 
afastar da costa – a ideia de navegação distante implicava em ideia de perigo). 
A guerra passou a ser, a cada dia, um meio menos eficiente de se obter o que se 
desejava, pois nela não se encontram os benefícios que se igualem aos resultados do 
trabalho pacífico e dos negócios regulares. 
Finalmente, por conta do comércio, não há mais escravos na Europa. 
Dessas diferenças decorrem alguns resultados: 
 Com o aumento da extensão de um país, a importância política da opinião indivi-
dual diminui, tornando-se uma parcela quase imperceptível da vontade social; 
 A abolição da escravatura privou o homem livre de todo o lazer que este tipo de 
trabalho lhe proporcionava; 
 O comércio não deixa intervalos de ociosidade entre os homens, como a guerra; 
 O comércio inspira nos homens um forte amor pela independência individual, 
pois só ele atende sua vontade e satisfaz seus desejos, sem a intervenção da 
autoridade, que é sempre incômoda. 
Há um exemplo de povo da antiguidade que se opõe a essas ideias, mas antes 
disso as confirma – Atenas. 
Atenas era a sociedade mais comerciante e por isso concedia mais liberdade 
individual que Roma ou Esparta. Esse comércio fez sumir várias diferenças entre eles e 
os modernos. Durante a guerra do Peloponeso, o comércio criou uma circulação de 
120 
capital da Ática para as ilhasdo arquipélago. É possível encontrar sinais do uso da letra 
de câmbio em Isócrates. Seus costumes, relações familiares eram semelhantes aos 
conhecidos na modernidade, além de serem amantes da independência individual. 
Por outro lado, ainda encontramos as características dos povos da antiguidade 
em Atenas. A existência de população escrava e de territórios muito limitados são 
marcas da liberdade antiga. Ainda, a forma como faziam leis e julgamentos e o 
ostracismo nos prova que o individuo era ainda subordinado à supremacia do corpo 
social. 
Assim, não podemos mais desfrutar da liberdade dos antigos, pois nossa 
liberdade deve se compor do exercício pacífico da vida privada (a participação 
dos antigos era efetiva e eles estavam dispostos a fazer sacrifícios por isso. Ver a 
vontade de seus votos serem aplicadas na vida pública lhes trazia orgulho e 
compensação na consciência de sua importância social). 
A modernidade não mais possui essa compensação, pois o indivíduo quase 
nunca percebe a influência que exerce. Suas vontades não marcam o conjunto. 
Alem disso, os progressos da civilização, a tendência comercial e a comunicação 
entre os povos multiplicaram as formas de felicidade particular. 
Os modernos devem, então, ser mais apegados à liberdade individual, pois 
e abrissem Mao dela, ao contrário dos antigos, estariam doando mais e obtendo 
menos. 
O objetivo dos antigos era a partilha do poder social e a isso davam o nome 
de liberdade, enquanto o objetivo dos modernos é a segurança dos privilégios 
privados e a liberdade se pauta na garantia das instituições a esses privilégios. 
Os revolucionários franceses, apesar de bem intencionados, causaram grandes 
males, pois buscavam fontes filosóficas que ainda não conheciam essas diferenças 
entre a liberdade dos antigos e a dos modernos. Entre elas, Jean Jacques Rousseau, 
que mesmo com amor puro à liberdade, fornece pretextos para uma nova forma de 
tirania, devido a esse desconhecimento. 
A maior parte desse erro não se deve a Rousseau, no entanto, mas a um de 
seus sucessores – o abade de Malby. Por ser representante de um sistema que, 
121 
pautado no conceito antigo de liberdade, deseja que os cidadãos sejam dominados 
para que a nação seja livre; deseja que o indivíduo seja escravo para que o povo seja 
livre. 
O abade de Malby considerava que a autoridade do corpo social era a liberdade 
e todos os meios lhe pareciam bons para estender a ação dessa autoridade sobre a 
existência humana, retirando-lhe a independência. Queixava-se que a lei só atingia as 
atitudes e não os pensamentos, pois desejava que ela perseguisse os homens sem 
trégua. Detestava a liberdade individual e admirava as nações em que o indivíduo 
estivesse totalmente privado dela, mesmo que também não tivesse liberdade política. 
Considerava Esparta o ideal da perfeita república, por reunir formas republicanas 
e submissão do indivíduo, enquanto desprezava Atenas por considerar que lá todos 
faziam o que queriam. 
Outra fonte filosófica que os revolucionários franceses usaram por referência foi 
Montesquieu, que, por ser mais equilibrado e observador, impressionou-se com as 
diferenças citadas, sem encontrar suas causas, porém. 
Para Montesquieu, os políticos gregos, que viviam sob um governo popular, não 
reconheciam outra forma que não a virtude, enquanto os modernos só falavam de 
manufaturas, comércio, finanças, riquezas e luxos. 
Ele atribui a diferença à república e à monarquia, quando se deve atribuir ao 
espírito oposto dos tempos antigos e modernos. Tanto os cidadãos das repúblicas 
quanto os vassalos desejavam privilégios. 
Os líderes da revolução francesa foram induzidos pelas opiniões antiquadas e 
absurdas desses filósofos. Suas ideias encantavam homens exaltados por uma vitória 
recente e que queriam estender o poder conquistado por todas as direções. Queriam 
exercer a força pública como na antiguidade como tinham aprendido com seus guias. 
Como resultados disso, as instituições livres subsistiram enquanto a ideia 
renovada dos antigos caiu por terra. O poder social feria a independência individual. 
Afirmavam que “as leis da liberdade são mil vezes mais austeras que o duro jugo dos 
tiranos”. 
122 
A independência individual é a primeira das necessidades modernas. Nenhuma 
instituição antiga, que impedia a liberdade individual, é aceitável na modernidade. 
Muitos governos modernos parecem inclinados a imitar as repúblicas da 
antiguidade, sentindo certa afeição por alguns costumes, lamentavelmente aqueles que 
permitem banir, exilar e privar, como o ostracismo grego e a censura romana. 
 Ostracismo – em Atenas, a sociedade tem toda autoridade sobre seus membros. 
Ali a influência de um indivíduo balançava o poder da massa, dando um aspecto 
de utilidade ao ostracismo. Na modernidade, a sociedade deve respeitar certos 
direitos individuais. Além disso, a influência individual está muito diluída. Por isso 
torna-se inútil o desejo de diminuir essa influência. 
 Censura – os cidadãos romanos eram constantes observadores dos negócios do 
Estado, por não exercer nenhuma atividade que desviasse suas atenções disso. 
Por isso a censura tinha mais influência, além de servir como uma vigilância mo-
ral contra a arbitrariedade dos censores. Com a expansão da república, a com-
plicação das relações sociais e os refinamentos da civilização, essa instituição 
degenerou-se, tornando-se ineficaz e intolerável. 
A liberdade moderna é a liberdade individual, sendo a liberdade política sua 
garantia. Abrir mão da liberdade individual para obter a liberdade política, como os 
antigos, é uma forma de suprimir a primeira e aos poucos arrebatar a segunda. 
Os antigos eram livres, mas, por não sermos como eles, não quer dizer que 
somos escravos. 
Hoje possuímos os mesmos direitos de sempre: aceitar as leis, deliberar sobre 
nossos interesses, ser parte do corpo social. O governo, porém, tem novos deveres: 
deve mais respeito pelos hábitos, pelos afetos, pela independência individual. A 
autoridade deve dirigir esses assuntos com mais prudência e leveza. 
A autoridade deve se conter a seus estritos deveres. Estamos mais descuidados 
com a liberdade política e negligenciamos as garantias que ela nos assegura, mas, por 
termo liberdade individual, a defendemos com mais ímpeto se for atacada. 
123 
O comércio dá à propriedade uma nova qualidade: a circulação, que põe uma 
barreira invisível e invencível à ação do poder social, pois a propriedade deixa de ser 
usufruto, não permitindo intervenção do governo ao seu gozo. 
Além disso, o comércio cria crédito, tornando a autoridade dependente. O 
dinheiro é a arma mais poderosa do despotismo, mas também é seu freio mais 
poderoso. Para escapar do poder, basta enganá-lo; para obterem-se favores da 
riqueza, há que servi-la. 
Quanto mais o exercício dos direitos políticos nos deixa tempo para nossos 
interesses privados, mais a liberdade nos será preciosa. 
Disso surge a necessidade do sistema representativo, uma organização com a 
qual uma nação confia a alguns indivíduos o que ela não pode ou não quer fazer – uma 
procuração dada. Entretanto, os povos que recorrem ao sistema representativo para 
desfrutarem da liberdade devem exercer uma vigilância ativa e constante sobre os seus 
representantes e reservar-se o direito de afastá-los, caso traiam suas promessas. 
A liberdade moderna é ameaçada pela renúncia demasiadamente fácil do direito 
político para usufruir do gozo da independência privada. 
O objetivo do homem não deve ser apenas o de buscar a felicidade, mas 
também o aperfeiçoamento. A liberdade política é a melhor ferramenta de 
aperfeiçoamento, pois engrandece o espírito, enobrece os pensamentose faz a glória e 
o poder de um povo. 
Ao invés de renunciar a um dos tipos de liberdade citados, é necessário saber 
combiná-los. Respeitar os direitos individuais e a independência e consagrar a 
influência do indivíduo na coisa pública, participando do poder. 
124 
IX – REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. ATIVISMO JUDICIAL E ESTADO DE 
DIREITO 
 
(3) Estado de Direito e os sistemas Jurídicos 
 
As duas famílias de Direito (Direito romano-germânico e Common Law) tê 
diferenças tão fortes que dificultam a compreensão da realidade de uma pela outra, 
reciprocamente. 
 Direito romano-germânico: Regula e orienta os aspectos da vida social; 
 Common Law: dá solução a um processo trabalhando pelo precedente onde atu-
a, não de forma abstrata, mas a partir de um caso concreto. 
Dessa forma, as leis, costumes, jurisprudências, doutrinas, equidade e princípios 
gerais do direito exercem funções diferentes em cada uma delas. 
 
(4) O sistema romano germânico e o princípio da legalidade jurídica devida 
 
A maior diferença entre as famílias do direito se encontram nos princípios 
técnicos ou instrumentais e políticos. 
O Ocidente europeu recorreu ao modelo do direito romano pela consciência da 
impossibilidade de continuar a utilizar o apelo sobrenatural para regular o 
funcionamento da sociedade. Desejavam um direito fundado na justiça, de acordo com 
a moral. 
Essa forma de direito evolui, sendo alvo de estudos, e se adapta às diversidades 
das várias necessidades de cada local. 
Na família romano-germânica, a lei é o princípio fundamental para soluções 
justas e os juristas são restritos ao que ela propõe. 
 
(5) O sistema Common Law e o princípio do processo jurídico devido. 
 
125 
Parte dos estudos do direito inglês e, ao contrário do direito romano, não sofrem 
renovações. 
Sua continuidade se divide em três fases: 
 Formação do Common Law; 
 Rivalidade com a equity; e 
 Período moderno. 
No common Law, o processo é o princípio fundamental para soluções justas. Os 
juristas não são limitados pelos statutes, como no direito romano-germânico, mas ao 
processo, sendo o direito sendo atualizado de acordo com a realidade concreta. O 
direito é analisado caso a caso, num processo de improvisação contínua. 
Entretanto, ele deve obedecer a alguns requisitos, não sendo qualquer processo, 
mas o princípio do processo jurídico devido. 
É o juiz que desenvolve o Common Law. 
126 
X – AZAMBUJA, Darcy. TEORIA GERAL DO ESTADO (Capítulo 12) 
 
O clima que se seguiu após a fragmentação do Império Romano não foi propício 
à criação de teorias e sistemas de Estado. A noção de Estado desapareceu, dando 
lugar aos príncipes bárbaros, chefes das várias tribos. 
A partir do século V, os monges e bispos, utilizando-se do que havia se salvado 
do pensamento Greco-romano, começaram a elaborar as primeiras noções jurídicas do 
mundo medieval. Essa corrente cresce e, entre os séculos IX e X, aumenta também a 
elaboração de pensamentos filosóficos. Destaca-se, nesse período, o trabalho de São 
Tomás de Aquino. 
Duas formas de direito são encontradas: 
 Direito natural: tem origem divina. Toda atividade humana está vinculada à ele, 
consequentemente, a atividade estatal; 
 Direito positivo: criado pelo Estado. Busca o bem comum. Seus preceitos são 
obrigatórios a todos, inclusive o chefe de Estado. 
O Estado é dirigido pro um príncipe, que presta contas perante Deus e, em certa 
medida, perante os homens. 
A ideia de Estado contida nesse sistema filosófico divergia da noção real de 
Estado. Os feudos não eram Estados e os senhores feudais não eram soberanos. 
Havia apenas obrigações e direitos estabelecidos por contrato entre senhores e súditos. 
As monarquias absolutas são fruto das disputas dos poderes temporal e 
espiritual, que estava atrelada ao surgimento dos novos Estados. 
127 
XI – FRANCO JÚNIOR, Hilário. IDADE MÉDIA, NASCIMENTO DO ORIENTE 
(CAPÍTULO 3) 
 
Por muito tempo, a História gozou de enorme prestígio. Contudo, à medida que 
se transformava a própria realidade política, questionava-se o valor de estudos voltados 
apenas para a camada dirigente. Trabalhos voltados a conhecer as realidades sociais e 
econômicas do passado passaram a atrair a atenção dos melhores estudiosos. 
Somente após alcançar um bom nível qualitativo a História política pôde surgir. Essa 
modalidade de história não se preocupa mais em descrever dinastias, reinados e 
batalhas, mas põe ênfase em dois principais campos de estudo: o papel imaginário na 
política e as relações entre a nação e Estado. 
 
Política e imaginário 
Os historiadores passaram a ver a política como a forma básica de organização 
de qualquer grupo humano, como o instrumento minimizador dos conflitos inerentes a 
toda sociedade. A vida política está carregada de símbolos, metáforas e ritos. 
Desconsiderar esses elementos seria empobrecer demais a análise política. No caso da 
Idade Média, seria desprezar fatores subjetivos essenciais de coesão social. 
Nas sociedades arcaicas, a realeza desempenhava um papel harmonizador, 
integrando o homem ao cosmos. Para aquelas sociedades, a realeza não era uma 
instituição política, mas uma manifestação do divino. Na Idade Média, o monarca tinha 
inquestionável caráter sagrado – era um eleito de Deus. Todo rei precisava submeter-se 
a um rito religioso para ser reconhecido como tal. 
A historiografia começou a se preocupar com essas questões a partir da análise 
de um fenômeno: o “poder sobrenatural” dos reis franceses e ingleses de curar com o 
toque de suas mãos, que se fundava na unção. O rito do toque se difundiu tanto na 
França quanto na Inglaterra porque as dinastias reinantes sentiam necessidade de se 
afirmar internamente e externamente. 
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Outro exemplo das relações entre política e imaginário é o caso dos reis, 
históricos ou míticos, que teriam desaparecido sem morrer e que retornariam quando 
seus povos dele precisassem. 
 
Nação e Estado 
Pelo menos até o século X, “nação” tinha conotação étnica (referia-se ao 
nascimento). 
Na Primeira e na Alta Idade Média, prevaleceu o princípio jurídico germânico da 
personalidade das leis (cada pessoa era regida pelos costumes de seu povo, 
independentemente do lugar em que estivesse). 
A partir do século XII o princípio jurídico romano da territorialidade das leis 
ganhou força (a submissão aos costumes locais, independente da origem da pessoa). 
Somente então “nação” passou a ter caráter também geográfico e político. 
“País” e “pátria” tiveram uma evolução semelhante, mas inversa. Tinham sentido 
inicialmente apenas geográfico e ganharam o significado político e afetivo no século XII. 
No entanto, é difícil datar o surgimento do sentimento nacional. 
1) Até princípios do século XX, acreditava-se que o início deste fenômeno se 
deu na Baixa Idade Média; 
2) Algumas décadas depois passou-se a datá-lo do século XII; 
3) Atualmente já encontram traços de nacionalismo já na Primeira Idade Média. 
Alguns fatores encontrados no Império Carolíngeo permitiram o desenvolvimento 
de consciências étnicas: 
1) Centralismo administrativo; 
2) A conquista de novos territórios. 
3) O progresso dos falares locais diande do recuo do latim; 
A fragmentação do império em 843 expressava e reforçava aquela situação, 
estimulando a formação dos nacionalismos nos séculos seguintes. 
A evolução do Estado medieval não é menos emblemática. Apesar de a palavra 
existir desde o latim clássico, apenas a partir de meados do século XIII ela começou a 
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ganhar o sentido atual de corpo político submetido a um governo e a leis comuns 
(somente no fim do século XV essa ideia tornou-se usual).Na realidade medieval, o Estado típico era um reino. 
Na Idade Média Central começou a haver sobreposição entre nação e reino. Na 
Baixa Idade Média o Estado-nação progrediria no plano prático (exércitos nacionais, 
protecionismo econômico) e simbólico (surgimento das bandeiras, do conceito de 
fronteira). Observando a política medieval, podemos dizer que sua linha de rumo foi a 
formação do Estado-nação. 
Para confirmar essa tendência: 
1) Nos séculos IV a VIII, a unidade multirracial romana foi substituída pela 
pluralidade nacional dos reinos germânicos; 
2) No século IX, restabeleceu-se uma relativa unidade com o Império de Carlos 
Magno (absorção, mas não eliminação de outros reinos formados no período 
anterior); 
3) Nos séculos X a XIII, o Império tornou-se apenas uma ficção. Na pratica 
ocorria uma profunda fragmentação política (feudos); 
4) Nos séculos XIV a XVI, o processo de revigoramento das monarquias 
acelerou-se. 
 
A fragmentação da Primeira Idade Média 
A unidade política do mundo romano estava seriamente comprometida muito 
antes de o último imperador ter sido deposto (a crise do século III já mostrara a 
fraqueza das instituições políticas romanas). 
A dissolução do sistema imperial e o nascimento de novos Estados poderiam 
muito bem ter-se produzido mesmo sem a intervenção dos invasores bárbaros. 
Mas os germanos não tinham nem Estado nem cidades, sendo a tribo e a família 
as células básicas de sua organização política (relações sociais não se regiam pelo 
conceito de cidadania, mas de parentesco). Ao se sedentarizarem, substituíram um 
Estado organizado e urbanizado. Não tendo instituições próprias, adotaram as que 
estavam à mão. Os germânicos eram especialmente fascinados pela ideia imperial, 
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mas nenhum rei bárbaro ousou reivindicar o título de imperador. Isso não impediu que o 
rei ostrogodo Teodorico (474 – 526) pensasse numa espécie de confederação 
germânica sob o domínio de seu reino. 
O projeto parecia viável, pois havia alguns pontos em comum entre os diversos 
reinos surgidos da desintegração do Império Romano: 
1) Fraqueza demográfica dos recém-chegados; 
2) A utilização do latim na burocracia; 
3) A manutenção das instituições municipais e do sistema de impostos herdados 
de Roma; 
4) Identidade cultural dos germanos (dialetos muito próximos, crenças nos 
mesmos deuses, mesmos hábitos alimentares, comportamentais e de 
vestimenta, etc.); 
5) Obstáculos à fusão entre romanos e germanos (heresia ariana, paganismo, 
etc). 
Esses pontos de contato não anulavam a rivalidade entre as tribos germanas, 
entretanto. A ideia de uma confederação germânica não era absurda, mas precoce. 
 
A renovação imperial carolíngia 
As condições para tanto estariam reunidas apenas no reino franco do século VIII, 
na figura de Carlos Magno. Primeiramente por ele ter anuência da Igreja para dar 
aquele passo. Depois pelo fato de as relações do Ocidente com Bizâncio estarem 
bastante abaladas, não havendo preocupação em respeitar os direitos bizantinos. 
Os bizantinos consideraram a coroação de Carlos Magno como uma usurpação, 
enquanto ele parece ter se interessado pelo título como um prêmio por suas atividades 
políticas. Carlos Magno não enxergava o império no sentido romano, mas como uma 
espécie de “apoteose pessoal”. 
Isso fica claro pela organização administrativa do Império Carolíngio, 
excessivamente personalizada. O território estava dividido em centenas de condados, 
dirigidos por condes nomeados pelo imperador. Na tentativa de fiscalizar os amplos 
poderes que os condes exerciam, o imperador contava com os missi dominici 
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(“enviados do senhor”). Contudo, como esses enviados eram condes e bispos ou 
abades, poucas vezes cumpriam seu papel imparcialmente. 
Nas regiões fronteiriças o representante do imperador recebia poderes especiais, 
o título de marquês. A tendência autonomista se tornava ainda maior, pois havia apenas 
um frágil vinculo com o Império. 
Como resultado de tudo isso, o imperador carolíngio detinha somente um dos 
monopólios anteriormente gozados pelo imperador romano: o de cunhagem de 
moedas. 
Para contrabalancear o vasto poder dos nobres, era obrigatório o 
juramento de fidelidade ao imperador por parte de todo habitante masculino 
desde os 12 anos de idade. 
Essa prática se mostrou insuficiente para superar a fraqueza estrutural do 
Império Carolíngio. Em 843 ele fragmentou-se (Tratado de Verdun, assinado pelos três 
netos de Carlos Magno) – esse foi o primeiro esboço do futuro mapa político europeu. 
O tratado estabeleceu dois grandes blocos territoriais, étnicos e linguísticos (que 
viriam ser a França e a Alemanha) e uma longa faixa pluralista. 
O que explica esse fracasso do Império Carolíngeo e portanto a passagem, mais 
uma vez, para pluralidade política? 
1) O Império não ter unidade orgânica – o universo das tradições romana e 
cristã e o particularismo tribal germânico; 
2) A difusão da vassalagem – a relação vassálica implicava a entrega por parte 
do soberano de terras e privilégios políticos que na verdade o enfraqueciam; 
3) Fusão problemática dos poderes temporal e espiritual na figura do imperador 
– no seu papel militar ele deveria ser um chefe guerreiro e no seu papel 
religioso ele deveria ser o mantenedor da paz e da justiça (frágil equilíbrio); 
4) As novas invasões dos séculos IX e X contribuíram para mostrar a debilidade 
do sistema imperial – os muçulmanos e eslavos, ainda que menos perigosos, 
também contribuíam para aumentar o sentimento generalizado de 
insegurança. Ficava patente a impotência dos soberanos, e cada região 
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organizava sua própria defesa. A região, portanto, que passava a definir seu 
próprio destino. 
Devido à sua desorganização e à sua pobreza de raiz que a Europa 
“invertebrada” do século X pôde resistir melhor às invasões do que o Império Romano 
do século V: não havia centros vitais, artérias principais ou núcleos econômicos cuja 
perda pudesse levar ao desmoronamento de toda uma província. 
No século X nascia a Europa. Estavam presentes os personagens políticos que 
se manteriam em cena ate o fim da Idade Média: o Império, a Igreja, as monarquias, o 
feudalismo e – um pouco mais tarde – as comunas. 
 
Os poderes universalistas 
O primeiro deles era, teoricamente, um prolongamento do Império de Carlos 
Magno. Apesar da divisão de Verdun, um de, seus signatários manteve o direito ao 
título imperial, mas por causa de problemas dinásticos deixou-se de utilizar esse título 
entre 942 e 962, quando ocorreu a segunda renovação do Império, com Oto. Ele 
consolidou seu poder no reino alemão, pacificou aquela região e ganhou um prestígio 
muito grande em toda a Cristandade. Intervindo na política italiana, ele casou-se com a 
herdeira do trono daquele território e proclamou-se rei também ali. O papa buscou seu 
apoio para superar problemas. Oto I conseguiu reunir todas as condições para ser 
corado imperador pelo pontífice. 
Renascia o Império Franco, que em 1157 passou a se chamar Santo Império e, a 
partir de 1254, Santo Império Romano Germânico. 
Faltava unidade territorial e política. O Império resultava da reunião de três 
coroas (e o monarca era fraco em todas). 
Sem poder efetivo, o soberano sempre buscou o título imperial na esperança de 
com ele reforçar sua atuação naqueles locais. Havia uma grave contradição, no 
entanto: apenas o papa poderia coroar um imperador, mas não estava interessado na 
existência de um que fosse forte, pois ele próprio tinha pretensões universalistas, 
considerando-se o legítimo herdeiro do Império Romano (daí os sérios conflitos entre 
Império e Igreja). 
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Após 1237, o prestígio do Impériodecaiu muito, até porque se firmavam os 
Estados nacionais. Entretanto, sobreviveu até 1806, quando foi extinto por Napoleão. 
A Igreja tornou-se claramente uma personalidade política desde que se 
corporificou com a Doação de Pepino. Nascia o Estado Pontifício. Tal fato, contudo, 
trazia uma submissão implícita da Igreja ao poder monárquico, de quem recebia 
aquelas terras. Se forjou o documento conhecido por Doação de Constantino (o 
imperador romano Constantino teria supostamente transferido para o papado, no século 
IV, o poder imperial sobre todo o Ocidente). 
A partir disso, fica fácil entender a coroação de Carlos Magno do ponto de vista 
eclesiástico. A Igreja entregara o título imperial ao rei franco por serviços prestados, 
podendo, portanto retomá-lo e atribuí-lo a quem quisesse. Contra isso é que Carlos 
Magno associara, em vida, o filho à coroa imperial, garantindo-lhe o título 
independentemente da concordância papal. Estava colocada a grande questão política 
da Idade Média – havia uma preeminência do poder espiritual sobre o temporal? 
“Dos dois, o sacerdócio tem valor mais alto, na medida em que deve prestar 
contas dos próprios reis em matérias divinas” (Papa Gelásio – século V). entretanto, a 
decadência carolíngia e os primeiros tempos da feudalização criaram sérios problemas 
à Igreja, que entre 888 e 1057 ficou sob o poder dos leigos. 
A retomada da política gelasiana veio com Gregório VII, que em 1075 
proclamava o ideal teocrático da Igreja (só o papa poderia dispor das insígnias 
imperiais, ele é o único cujos pés devem ser beijados por todos os príncipes e não pode 
ser julgado por ninguém). 
 
Os poderes nacionalistas 
Ao promover a unção de Pepino, a Igreja justificara o poder monárquico. Isso 
ocorrera por circunstâncias, já que o papa precisava do apoio franco contra os 
lombardos. 
Acreditavam que o rei era investido de poderes divinos (persona mixta, homem 
por natureza, Deus pela graça transmitida pela unção). 
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Apesar de aceitar a sacralidade monárquica, a Igreja velava para que tal poder 
não se tronasse excessivo, exigindo qualidades cristãs e estabelecendo limites de 
atuação. 
O rei era, por um lado “rei por graça de Deus”, com amplos poderes, e, por outro, 
suserano, mantendo uma relação bilateral com seus vassalos (lhes devia algumas 
obrigações e gozava de alguns direitos). 
Esse aspecto contratual vinha dos bárbaros germanos, para quem o rei, eleito, 
estava de certa forma subordinado ao direito costumeiro da tribo. 
Esse contratualismo originou agrupamentos com determinados interesses a 
defender. A redescoberta e a revalorização do pensamento aristotélico trouxeram à 
tona, no século XIII, a ideia de que o poder da assembleia popular estava baseado no 
direito natural. 
O conceito de representação política é, sem dúvidas, uma das grandes 
descobertas dos governos medievais (o que afeta a todos deve ser aprovado por 
todos). 
Por outro lado, a própria fragmentação política feudal desenvolveu um elemento 
que acabou por ter um papel reaglutinador. A sedentarização dos bárbaros gerou um 
ambiente propício à criação de vínculos entre habitantes, costumes e traduções do 
território. Surgia o princípio do nacionalismo (consciência dos indivíduos de um grupo 
humano de terem uma origem e um destino comuns). Mas o nacionalismo progredia 
em torno do soberano ou do suserano? 
Na França, souberam explorar as possibilidades da prática feudal para ganhar 
um poder diferente do feudal: aproveitaram-se de qualquer desrespeito aos costumes 
para confiscar feudos e ampliar os territórios que governavam como senhores diretos – 
o chamado domínio real. 
Os reis organizaram muitos órgãos, sobretudo o Parlamento de Paris, que lhes 
permitiriam como suseranos arbitrar quaisquer desacordos entre senhores e vassalos. 
Dentro das regras feudais, os monarcas franceses prepararam a unificação jurídica. 
Aproveitaram-se da recuperação do Direito Romano para tentar aplicar o antigo 
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princípio de “o que o príncipe decidiu tem força de lei”. Os reis tinham cada vez mais o 
poder de um soberano e cada vez menos o de um suserano. 
O caso da Inglaterra era oposto. O feudalismo foi implantado de fora para dentro 
d de cima para baixo com a invasão de um grande vassalo francês. O novo rei colocou 
os homens que o acompanharam na invasão nas terras invadidas. Foram criados 5.000 
feudos. A subentenfeudação não enfraquecia o poder monárquico (feudalismo 
centralizado). O bisneto desse rei (Henrique II) tentou alargar sua função teocrática, 
enfrentando com isso a oposição da igreja – o poder real passou a sofrer contestações. 
Cada vez mais pressionado, o rei precisou assinar a Magna Carta em 1215, 
reforçando os princípios feudais, esvaziando a faceta teocrática do poder. A Magna 
Carta instituía, por exemplo, um Conselho de Barões para zelar por parte do rei de 
todas as determinações do documento. Estava lançada a semente do Parlamento(ao 
contrário do seu correspondente francês, não estava a serviço do rei, mas fiscalizava-o 
e controlava-o). 
 
Os poderes particularistas 
O feudalismo representava uma pulverização do poder, o fracasso de uma 
tentativa unitária (Império Carolíngio). Acentuou-se a ruralização da economia e da 
sociedade, levando os representantes do imperador a se verem limitamos nas suas 
possibilidades de atuação. Os grandes proprietários rurais puderam, assim, usurpar 
atribuições do Estado (exemplo: autoridade fiscal delegada ao proprietário da terra). 
A formação dos reinos germânicos em nada alterou a essência daquele 
processo. O detentor da terra desempenhava ali o papel de Estafo. 
O mapa político europeu estava estilhaçado em milhares de micro-Estados. 
Dentro de cada um deles o poder estava em mãos dos guerreiros (bellatores), únicos 
em condições de prover proteção. 
As relações entre tais micro-Estado se davam por vínculos pessoais, o contrato 
feudo-vassálico, e o poder político estava. Fracionado para que pudesse ser mantido. 
O surgimento das comunas negava os princípios feudo-clericais (“comuna” 
significava uma associação igualitária, que quebrava hierarquia – era vista como uma 
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conjuração contra os poderes senhoriais). A comuna citadina, comunidade burguesa 
defendia seus interesses comerciais e pretendia apenas escapar da arbitrariedade 
senhorial. Depois, passou a buscar autonomia. Nascia então a verdadeira comuna, 
ou cidade-Estado. 
As comunas representaram uma novidade política, não apenas na sua relação 
com os poderes tradicionais, mas também na sua organização interna. 
6) Primeiro momento: cônsules eleitos defendendo poderes executivos e judici-
ais. Para controlá-lo havia uma assembleia; 
7) Segundo momento: diante das crescentes disputas internas, o poder passou 
a uma única pessoa, de fora da cidade (neutra nos seus conflitos) – o podes-
tà (“regedor”). Ele era fiscalizado por um grupo de cidadãos – o Conselho Ge-
ral; 
8) Terceiro momento: signoria: colocava-se todo o poder municipal por tempo 
indefinido nas mãos de um único homem, dotado de poder militar para pacifi-
car a cidade – o condottiere (“comandante”). 
O grau de autonomia seguido pelas comunas foi muito variável conforme o 
tempo, o local e o tipo de associação. Vale lembrar que nem todas as comunas eram 
urbanas. 
Se de um lado as comunas negavam o mundo feudal, de outro o prolongavam. O 
instrumento de formação de uma comuna era o mesmo do de um contrato feudo-
vassálico: o juramento entre indivíduos que passavam a estar ligados por laços 
pessoais. Passaram a se ligar entre si e com as regiões circunvizinhas por meio de 
vínculos vassálicos. Quanto mais a comuna se emancipava (escapava do poder do 
antigo senhor),mais ela se feudalizava (usava a nova condição em benefício próprio). 
 
O jogo político medieval 
Tais eram os personagens no palco político medieval. Mas como contracenaram 
nos seis séculos da Idade Média Central e da Baixa Idade Média? Os poderes 
universalistas (Igreja e Império) estavam em choque constante. Ambos fracassaram, 
137 
permitindo a emergência de poderes particularistas (feudos e comunas) e nacionalistas 
(monarquias). 
A luta entre os universalistas debilitara as bases territoriais e nacionais da Itália 
(base da Igreja) e da Alemanha (base do Sacro Império). 
Por muito tempo elas permaneceram apenas realidades geográficas, mas não 
políticas. A corporificação política ocorreu em 1870-1871, mas como o atraso relativo já 
existia, aqueles Estados precisaram adotar uma política agressiva, que esteve nas 
raízes das duas Grandes Guerras do século XX. 
Enquanto isso, Portugal, Espanha, França e Inglaterra entravam na Modernidade 
como Estados nacionais unificados, mas que, em virtude de trajetórias medievais 
diferentes, teriam destinos políticos diferentes. 
Mas a formação das monarquias nacionais não se deu sem oposição dos 
poderes universalistas. 
Os poderes particularistas não podiam, é claro, escapar ao jogo político 
medieval. De um lado ocorriam conflitos, surdos e abertos, dentro dos feudos e entre 
eles (dessa situação é que surgiram as comunas). De outro, as monarquias 
estimulavam as rivalidades entre feudos e comunas. 
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XII – WEBER, Max. ECONOMIA E SOCIEDADE (Capítulo 6 – Tipos de dominação) 
 
 Há uma relação de dominação quando uma quantidade qualquer de indivíduos 
obedece a uma ordem vinda de parte da sociedade, seja ela composta por uma ou por 
diversas pessoas. A dominação é sempre resultado de uma relação social de poder de-
sigual, onde se percebe claramente a existência de um lado que comanda (domina) e 
outro que obedece. Podemos assemelhar assim a dominação a qualquer situação em 
que encontremos indivíduos subordinados ao poder de outros. Mas a dominação difere 
das relações de poder em geral por apresentar uma tendência a se estabilizar, a procu-
rar manter-se sem provocar confrontos. 
Assim, as relações de dominação dentro de uma sociedade se caracterizam por 
buscar formas de legitimação, de ser reconhecidas como necessárias para a manuten-
ção da ordem social. 
O sociólogo alemão Max Weber apresentou, em um de seus estudos mais impor-
tantes, três tipos puros de dominação legítima, cada um deles gerando diferentes cate-
gorias de autoridade. São classificados como puros porque só podem ser encontrados 
isolados no nível da teoria, combinando-se quando observados em exemplos concre-
tos. 
O primeiro deles é a dominação tradicional. Significa aquela situação em que a 
obediência se dá por motivos de hábito porque tal comportamento já faz parte dos cos-
tumes. É a relação de dominação enraizada na cultura da sociedade. Um exemplo ex-
tremamente claro é o da família patriarcal. Os filhos obedecem aos pais por uma rela-
ção de fidelidade há muito estabelecida e respeitada. 
O segundo tipo é a dominação carismática. Nela, a relação se sustenta pela 
crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem 
ser tanto dons sobrenaturais quanto a coragem e a inteligência inigualável. Podemos 
tomar como exemplo qualquer grupo religioso centrado na figura do profeta, que ape-
nas por meio de suas habilidades e conhecimentos pessoais, sem o uso da força, con-
segue arregimentar um grande número de seguidores. 
O terceiro tipo é a dominação legal, ou seja, por meio das leis. Nessa situação, 
um grupo de indivíduos submete-se a um conjunto de regras formalmente definidas e 
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aceitas por todos os integrantes. Essas regras determinam ao mesmo tempo a quem e 
em que medida as pessoas devem obedecer. Um exemplo ilustrativo é o do empregado 
que acata as ordens de um superior, de acordo com as cláusulas (regras, leis) do 
contrato assinado.

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