Prévia do material em texto
Sociologia Antonio Carlos Banzato A. Santos Rafael Lopes Sousa Revisada por Rafael Lopes Sousa (setembro/2012) APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Sociologia, parte in- tegrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apre- sentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA ..................................................................................................... 7 1.1 O Nascimento da Sociologia .......................................................................................................................................8 1.2 O Contexto do Pensamento Positivista ...................................................................................................................8 1.3 Os Fundamentos do Positivismo ...............................................................................................................................9 1.4 Estratificação da Sociedade Positivista ...................................................................................................................9 1.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................11 1.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................11 2 A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM .................................................................................................. 13 2.1 A Objetividade do Fato Social ..................................................................................................................................14 2.2 A Consciência Coletiva ...............................................................................................................................................14 2.3 A Escola de Frankfurt ...................................................................................................................................................15 2.4 A Indústria Cultural ......................................................................................................................................................15 2.5 Cultura de Massa ...........................................................................................................................................................16 2.6 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................18 2.7 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................18 3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS ............................................................................................................. 19 3.1 Escola Sociológica Europeia .....................................................................................................................................19 3.2 Sociologia Alemã: a Contribuição de Max Weber ............................................................................................21 3.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................22 3.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................22 4 A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .................................................. 23 4.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................24 4.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................24 5 KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM ................................... 25 5.1 O Método do Pensamento Marxista .....................................................................................................................26 5.2 A Práxis .............................................................................................................................................................................26 5.3 A Mais-Valia .....................................................................................................................................................................27 5.4 Modos de Produção ....................................................................................................................................................28 5.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................30 5.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................30 6 CONCEITOS DE SOCIOLOGIA ...................................................................................................... 31 6.1 Estrutura Social ..............................................................................................................................................................31 6.2 Status e Papéis ...............................................................................................................................................................32 6.3 Relações Sociais.............................................................................................................................................................32 6.4 Grupos ..............................................................................................................................................................................33 6.5 Fenômenos Sociais ......................................................................................................................................................34 6.6 Relações Sociais.............................................................................................................................................................35 6.7 Fim ou Objetivos da Sociologia ..............................................................................................................................35 6.8 Teoria Sociológica Geral .............................................................................................................................................36 6.9 Teorias Sociológicas Especiais .................................................................................................................................386.10 Pesquisas Sociológicas Concretas .......................................................................................................................38 6.11 Leis Sociais ....................................................................................................................................................................39 6.12 Processo Social ............................................................................................................................................................40 6.13 Teoria do Indivíduo Social .......................................................................................................................................41 6.14 Fato Social .....................................................................................................................................................................41 6.15 Ideologia ........................................................................................................................................................................42 6.16 Alienação .......................................................................................................................................................................43 6.17 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................45 6.18 Atividades Propostas ................................................................................................................................................45 7 GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................................................... 47 7.1 Histórico ...........................................................................................................................................................................47 7.2 Globalização e/ou Mundialização ..........................................................................................................................48 7.3 Meio Ambiente ..............................................................................................................................................................50 7.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................52 7.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................52 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 53 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 55 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 57 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Bem-vindo(a) a esta nova modalidade de aprendizado. A Sociologia possui uma quantidade enorme de pensadores. O objetivo geral de nosso estudo é problematizar e confrontar as ideias, conceitos e teorias de alguns importantes pensadores que contri- buíram para a afirmação da Ciência Sociológica. Esperamos, dessa maneira, fornecer a você um panora- ma do pensamento sociológico desde o seu surgimento até os nossos dias. Esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam detalhar o contexto em que surgiu a disciplina Sociologia e o legado que ela deixou para o mundo contemporâneo, repercutida na obra de seus prin- cipais teóricos: Comte, Durkheim, Weber e Marx. Em seguida, analisaremos o desdobramento dos con- ceitos das obras de cada um desses pensadores. A importância, a influência e que tipo de interferência exerceu no modo de ser, pensar e agir do homem contemporâneo. Nesse sentido, a apostila está organizada de forma a promover sempre um debate sobre, e com, os autores, além de mostrar as transformações metodológicas e teóricas que as mesmas sofreram ao longo do tempo. O assunto por ela abordado tem, assim, uma relevante importância para a compressão das re- lações humanas em diferentes momentos históricos. Desde o século XIX, quando o projeto de sociedade burguesa estava sendo engendrado, até o início do século XXI, quando esse projeto foi definitivamente consolidado, nós temos o auxílio teórico dos mais diferentes segmentos da sociologia para pensar rela- ções e o convívio do homem em sociedade. Nesse percurso, as contribuições de Augusto Comte, bus- cando fundamentar a importância da técnica e da ciência nos primórdios do mundo urbano-industrial, foram fundamentais. Em seguida, as análises críticas que Karl Marx faz desse mundo urbano-industrial apontam para uma nova conformação social: a hegemonia burguesa. Max Weber é outro importante autor que procura também estender o alcance das análises sobre o mundo burguês. Introduz, assim, no campo sociológico uma análise inovadora que relaciona o desenvolvimento do capitalismo à religião protestante. Émile Durkheim é outro importante autor que, com suas análises sobre os fenômenos dos fatos sociais, lançou luz também para uma melhor compreensão das relações do homem em sociedade. O estudo aprofundado desses autores subsidiará as nossas investigações sobre os temas mais ur- gentes do mundo contemporâneo, como, por exemplo, o neoliberalismo e suas consequências humanas e econômicas. Será um prazer acompanhá-lo(a) ao longo deste percurso. Esperamos que, ao final dele, você seja um cidadão mais pleno de seus direitos e mais consciente de seus deveres, só assim construiremos uma sociedade mais plural e democrática onde a diversidade e as diferenças sociais, étnicas, culturais e reli- giosas serão respeitadas. Antonio Carlos Banzato A. Santos Rafael Lopes de Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA1 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo abordaremos o tema do positivismo e a sua importância para as ciências humanas. Esperamos que ao final dele você com- preenda a importância desse sistema de pensa- mento para a afirmação das ciências humanas e a influência que exerceu sobre a organização das sociedades ocidentais. Vejamos então as suas principais contribuições. A Sociologia é uma ciência da observação. Durante milhares de anos, os homens vêm refle- tindo e tentando compreender o comportamen- to de seus semelhantes. As primeiras tentativas de compreender a ação humana esbarraram-se, todavia, em interpretações teológicas, mitoló- gicas e muitas vezes fantasiosas. Assim, para os gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base de explicação mitológica, isto é, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era quem mantinha a or- dem do mundo moral e físico. Na Idade Média, os acontecimentos sociais estavam, por sua vez, relacionados a um princípio teológico que cingia a liberdade do indivíduo, visto que as explicações para todas as mazelas sociais estavam fundamen- tadas no discurso da vontade “divina”. Obviamen- te, o homem sempre buscou escapar desses pen- samentos totalizantes. Foi essa inquietação, aliás, que fez o homem avançar no caminho da ciência. De tal sorte que no século XVIII, aproveitando-se do capital cultural das gerações anteriores, o ho- mem inaugura uma nova fase do pensamento crí- tico e estabelece novos parâmetros para explicar os fenômenos sociais. Nessa nova conjuntura, merece destaque Giambattista Vico, que escreve a obra: A Nova Ciência. Nessa obra, Vico afirma que a sociedade subordina-se a leis definidas, que podem ser des- cobertas pelo estudo e pela observação objetiva. Entre outras contribuições, afirma: “o mundo so- cial é obra do homem”. Podemos entrever nessa afirmação certo distanciamento das questõesmitológicas e o aprofundamento das reflexões contra a interferência divina sobre a vida e o co- tidiano do homem. Tempos depois, Jean-Jacques Rousseau reconhece que a sociedade tem uma influência decisiva sobre a vida do indivíduo. Em sua obra O Contrato Social afirma: “O homem nas- ce puro, a sociedade é que o corrompe”. Em ou- tras palavras, Rousseau estabelece que o homem é um ser social. Conforme você pode perceber, as bases para a constituição do pensamento sociológico estavam, portanto, dadas. O fundamental agora era organizar para, em seguida, oferecer um sta- tus científico para essa nova maneira de pensar as relações humanas. Essa preocupação intensificar- -se-ia no século XIX, quando autores, como Au- gusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, estabelecem critérios mais objetivos para investigar os fenômenos sociais, emprestando a estes um caráter verdadeiramente científico. Es- ses quatro pensadores são considerados os prin- cipais representantes da Sociologia Clássica. O objetivo deste curso é oferecer ao aluno elemen- tos para a compreensão de alguns dos conceitos criados por esses autores. Em seguida, pretende- mos verificar os desdobramentos desses concei- tos e a interferência que eles exercem na organi- zação da sociedade contemporânea. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Você verá, agora, como teve início a Socio- logia. Preparado(a)? Então, ao trabalho! Pode-se dizer que o positivismo foi nas ciências humanas a primeira tentativa verdadei- ramente sistematizada de conhecer a realidade social. Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso co- mum por meio das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. O principal representante do positivismo foi Augusto Comte (1798-1857). Comte nasceu na França, numa família católica e monarquista, talvez esteja aí uma das explicações para sua con- cepção de mundo. Estudou em Paris, na Escola Politécnica, e testemunhou os turbulentos tem- pos da era napoleônica. Tornou-se discípulo de Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos à filosofia positivista, con- siderada por ele uma religião, da qual era o seu principal pregador. De acordo com sua filosofia política, a história da humanidade era composta por três estados: um teológico, outro metafísico e finalmente o positivo. Este último representa- va o apogeu do progresso da humanidade. Para Comte, a sociologia era a ciência mais profunda e a que mais contribuições poderia oferecer para a humanidade. 1.1 O Nascimento da Sociologia 1.2 O Contexto do Pensamento Positivista O século XVIII havia consagrado o poder da burguesia, que impôs o uso da ciência e da técni- ca como metas para a nova sociedade, provocan- do, assim, modificações sociais, políticas e eco- nômicas jamais vistas. A consagração desse novo saber, isto é, da ciência e da técnica, leva para um novo entendimento das questões humanas, que passam, agora, pela concepção do cientificismo, ou seja, a ciência é o único conhecimento possí- vel para a humanidade. O idealismo, pensamento predominante até a primeira metade do século XIX, passa a ser combatido e o positivismo é que primeiro leva esse combate adiante. O positivismo representa, então, uma reação contra o idealismo. Veja a di- ferença fundamental entre idealismo e positivis- mo: o primeiro procura uma interpretação, uma unificação da experiência mediante a razão; o se- gundo, ao contrário, quer limitar-se à experiência imediata. Além de ser uma reação contra o idea- lismo, o positivismo é ainda tributário do grande progresso das ciências naturais, particularmente das biológicas e fisiológicas do século XIX. Pode-se dizer que a filosofia de Comte de- fende alguns princípios consagrados da socieda- de, como a propriedade, a família, o trabalho e a religião. Com esses princípios rigidamente segui- dos, a sociedade alcançaria, segundo Comte, o progresso e a ordem. A ideia de ordem está, nes- te caso, associada à ideia de hierarquia, que gera consequentemente uma disciplina para a socie- dade. É importante dizer que, para Comte ou para o positivismo, o entendimento da história se dá por meio de documentos oficiais, isto é, a história só se explica e se justifica com a visão predomi- nante de sua época. Saiba maisSaiba mais Para os idealistas, a filosofia é o estudo dos processos pelos qual a realidade deriva dos princípios constituti- vos do espírito, sendo o mundo o produto de um mo- vimento do pensamento. Entre os principais idealistas podemos destacar: Schelling e Hegel. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Observe de que forma Comte estabelece no livro Curso de Filosofia Positiva os três princípios básicos do estado positivista. De acordo com esse princípio, a vida da humanidade compreende em três estágios, sendo o atual, isto é, aquele no qual vivia Comte, o principal deles. O primeiro está- gio está relacionado à maneira de a humanidade explicar o mundo, uma explicação que sempre provinha dos mitos e das crenças religiosas. Esse estágio é chamado de teológico e Comte assim o descreve: No estágio teológico, o espírito humano dirige essencialmente suas investigações para a natureza intima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa palavra para o conheci- mento absoluto; apresenta os fenômenos como ação direta e contínua de agentes sobrenaturais. (COMTE, 1973, p. 9). O segundo estágio, dito metafísico, uma cresça em Deus, mas sem fundamentação cientí- fica, é assim descrito: “No fundo nada mais é que a modificação geral do primeiro, os agentes so- brenaturais são substituídos por forças abstratas, concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados”. Final- 1.3 Os Fundamentos do Positivismo mente o estado positivo é o terceiro estágio e é marcado pelo triunfo da ciência. A vida da huma- nidade passa agora a ser explicada pela razão em contraponto às explicações mitológicas e religio- sas das fases anteriores. No estado positivo, o espírito humano, re- conhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia de procurar a origem e o destino do universo, [...] para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do racio- cínio e da observação, suas leis efetivas que regem a vida humana”. O positivismo representa, então, o real frente ao quimé- rico, o útil frente ao inútil, a segurança frente à insegurança, o preciso frente ao vago, o relativo frente ao absoluto. (RIBEI- RO JR., 1987, p. 18). Saiba que o positivismo combate também a sociedade individualista e liberal, divulgando que o homem como individualidade não existe; aliás, para esse pensamento, o homem só pode existir como membro de outros grupos, desde o familiar, que é núcleo fundador de toda sociedade, até ou- tros grupos mais complexos, como, por exemplo, o político. 1.4 Estratificação da Sociedade Positivista Perceba que para o positivismo, a humani- dade é formada só de homens. Nessa ordem so- cial, as mulheres estão condenadas à inferiorida- de, é claro, pelas leis irrevogáveis da natureza. Na sociedade positivista, a classe dos sacer- dotes é a mais importante. Ela está dividida em três classes, a saber: DicionárioDicionário Estratificação: é o processo social que leva à super- posição de camadas sociais, isto é, à formação de um sistema social mais ou menos fixo e rígido, de estados, classes ou castas. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 a) Os aspirantes: estes precisam ter ao menos 28 anos, pois só com essa idade alcançam a cultura enciclopédicaexigi- da pelo estado positivista; b) Os vigários: estes precisam ter ao me- nos 35 anos e exercem a função supe- rior de ensinar; c) Os sacerdotes: precisam ter uma idade superior aos 42 anos; são os maiores sa- cerdotes da humanidade, uma espécie de conselheiros para arbitrar as causas do estado positivista. O patriciado é a classe detentora do po- der temporal. Essa classe é composta pelos seg- mentos que controlam os meios de produção: banqueiros, fabricantes, comerciantes; sempre colocados em escala hierárquica. Os banquei- ros, portanto, nessa sociedade, são investidos de maior autoridade. Ao se apresentar como a religião da huma- nidade, o positivismo defende a existência de nove sacramentos para os membros de sua socie- dade. Vejamos alguns deles: a) Apresentação, quando a família apre- senta o recém-nascido; b) Iniciação, quando a criança, com cator- ze anos, passa da educação materna à instrução sacerdotal; c) Admissão, aos vinte e um anos, quan- do está pronto para servir a humanida- de, retribuindo tudo que recebeu dela; d) Destinação, momento em que recebe dos sacerdotes o seu ofício; e) Casamento, sacramento obrigatório, já que no estado positivista o celibato é condenado. Você sabia que no Brasil, o positivismo teve uma importância decisiva no Império e na insta- lação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade? Suas primeiras manifestações em território nacional acorreram em 1844 na aca- demia, isto é, na Faculdade de Medicina da Bahia. Contudo, sua primeira manifestação social acon- tece anos mais tarde. Inicialmente, o positivismo brasileiro é composto por dois grupos: um defen- dendo, como proposto por Comte, o positivismo como religião da humanidade; havia, por outro lado, um grupo que desprezava o movimento da religião da humanidade e defendia apenas a me- todologia científica de observação, experimenta- ção e comparação proposta por Comte. Esse segundo grupo constituirá a base do movimento republicano aglutinado em torno do jovem oficial Benjamin Constant. O positivismo enfrenta, porém, a resistência de um grupo de republicanos que, diferentemente dos princípios rígidos do positivismo, defendiam os preceitos democráticos do liberalismo constitucional nor- te-americano. De qualquer forma, perpetuou suas marcas na vida e no cotidiano do homem brasilei- ro, sendo que a principal dessas marcas está re- gistrada em nosso símbolo maior. Ou seja, a nossa bandeira, com seu Ordem e Progresso, mostra de maneira inquestionável o quanto a doutrina posi- tivista influenciou os nossos republicanos1. Finalmente é preciso insistir que para o posi- tivismo aquilo que não pode ser verificado como “algo dado” é metafísica estéril. Daí a importância dada ao documento escrito, sobretudo aos docu- mentos oficiais, como prova histórica de determi- nado fato. Assim, para os positivistas, apreender o real seria conhecer os fatos e conhecer os fatos significa acesso a documentos, que são, na pers- pectiva positivista, quase sempre, institucionais. Reflita, agora, sobre o positivismo e posicio- ne-se em relação a essa filosofia. 1 Mais elementos sobre essa discussão ver Ribeiro Jr. (1987). Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 1.5 Resumo do Capítulo 1.6 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), neste capítulo observamos que a Sociologia é observação, reflexão a fim de com- preender o comportamento de seus semelhantes. Giambattista Vico afirma que a sociedade subordina- -se a leis definidas e que: “o mundo social é obra do homem.” Pode-se dizer que o positivismo foi nas ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente sistematizada de conhecer a realidade social. Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso comum, por meio das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. No Brasil, o positivismo teve uma im- portância decisiva no Império e na instalação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade. 1. Quais as diferenças fundamentais entre o idealismo e o positivismo? 2. Cite e comente dois sacramentos do positivismo. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 Você entrará em contato com um autor que contribuiu para que a sociologia se estabelecesse como ciência autônoma. David Émile Durkheim presenciou em sua juventude uma série de acontecimentos que marcou decisivamente a sua vida e sua obra. Na década de 1880, a França aprovou a chamada Lei Naquet, que instituiu o divórcio em seu território. Nessa mesma época, o ensino público tornou- -se gratuito e obrigatório para todos dos 6 aos 13 anos; além disso, ficava proibido formalmen- te o ensino da religião. O vazio correspondente à ausência do ensino de religião na escola pública tenta-se preencher com uma pregação patrióti- ca representada pela que ficou conhecida como “Instrução Moral e Cívica”. Ao mesmo tempo que essas questões polí- ticas e sociais balizavam o seu tempo, as contradi- ções do trabalho traziam também preocupações continuadas para sua militância intelectual. Uma repercussão decisiva dessas contradições ficou conhecida como questão social, ou seja, as dispu- tas e conflitos decorrentes da oposição entre o capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e em- pregado, entre burguesia e proletariado, seriam doravante objetos de intervenção dos estudos sociológicos. No final do século XIX, Durkheim reuniu um grupo de colaboradores que se esforçaram para emancipar a sociologia das demais teorias sobre a sociedade e constituí-la como disciplina rigo- rosamente científica. Buscou sempre definir com precisão o objeto, o método e as aplicações dessa nova ciência. Respondendo, assim, as preocupa- ções da sociedade e da Sociologia de sua época, elegeu os fatos sociais como o principal objeto da sociologia. A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM2 De acordo com suas análises, o fato social é experimentado pelo indivíduo como uma rea- lidade independente dele, que ele não criou e não pode rejeitar, como as regras morais, as leis, os costumes, os rituais e as práticas burocráticas, por exemplo. É importante você saber que para Dur- kheim, os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exer- cem sobre os indivíduos, levando-os a aceitar as regras da sociedade em que vivem, independen- temente da sua vontade e escolha. Essa força ma- nifesta-se, por exemplo, quando o indivíduo ado- ta determinado idioma, ou quando se submete a um código de leis. A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja, são exteriores aos in- divíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira característica apontada por Dur- kheim é a generalidade, isto é, aquilo que se repe- te em todos os indivíduos, o ritual do banho, por exemplo. Portanto, nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três características: generalidade, exte- rioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem, independentemente de suas vontades individuais, é um comporta- mento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas2. 2 Mais elementos sobre as características do fato social ver Costa (1997). Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Assim, você pode observar que, com essa caracterização feita por Durkheim dos fatos so- ciais, encontramos elementos para compreender- mos melhor os grupos sociais queestão distribuí- dos na sociedade. Da infância até a maturidade, o indivíduo participa de vários grupos sociais, pois em cada fase ou etapa de sua vida ele busca apoio de um determinado grupo. Temos assim, o grupo familial (família); o grupo educativo (escola) e o grupo religioso (igreja). O primeiro pode ser defi- nido como grupo primário, pois é aquele onde os contatos pessoais são mais constantes, como a fa- mília e os vizinhos; o segundo grupo é chamado de secundário e manifesta-se na igreja e no tra- balho e é geralmente constituído por uma rede de relações mais complexa em que os contatos são mais formais, sem a intimidade verificada no primeiro; o terceiro grupo, também chamado de intermediário, combina elementos do primeiro e do segundo grupo e cria outros rituais de perten- cimento para sua identidade social. Um exemplo são as coletividades juvenis. 2.1 A Objetividade do Fato Social Você verá, agora, como Durkheim definiu o método de conhecimento da Sociologia. Segun- do Durkheim, o sociólogo precisa deixar de lado seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado, pois só assim alcançaria a objetividade de sua análise. Procurando garantir à Sociologia um mé- todo tão eficiente quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim desenvolve métodos para fugir do “senso comum”, que analisava de maneira superficial a realidade social. Sentencia- va, assim, que para compreender os fatos sociais o cientista precisa ter visão ampla e identificar os acontecimentos que apresentavam característi- cas exteriores comuns na sociedade. O suicídio, por exemplo, apesar de ser resultado de razões particulares, apresenta em todas as sociedades características comuns e certa regularidade e, por isso, é um fato social. Saiba maisSaiba mais Chamamos senso comum ao conhecimento adquiri- do por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um con- junto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como um corpo de valores que nos ajuda a ava- liar, julgar e, portanto, agir. Observe como se pode entender a ideia de consciência coletiva. A consciência coletiva está espalhada pela sociedade e, em certo sentido, re- vela o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. A consciência coletiva inibe e controla os impulsos do indivíduo na sociedade, padronizando o comportamento. Mas a consciência coletiva pode servir também de máscara para o indivíduo esconder sua perso- 2.2 A Consciência Coletiva nalidade no jogo do teatro social. Por exemplo, ao tripudiar sobre um juiz no estádio de futebol, o indivíduo só o faz porque está protegido por uma consciência coletiva, que o impede de ser pron- tamente identificado, ou seja, responsabilizado. Quando sai do estádio e vai embora sozinho para sua casa sem a proteção do grupo, isto é, da cons- ciência coletiva, ele adota uma outra postura, pois agora ele responde sozinho por seus atos. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 Entre os muitos desdobramentos que as re- flexões de Durkheim abriram para os estudos so- ciológicos, merecem destaque aqueles derivados da escola de Frankfurt, os quais trouxeram contri- buições para se pensar os caminhos da sociedade contemporânea. É sobre essa escola que você re- fletirá a seguir. 2.3 A Escola de Frankfurt Denominada teoria crítica apresentou-se como um contraponto às simplificações que de- terminadas correntes sociológicas vinham fazen- do dos estudos da sociedade. Os principais inves- tigadores da Escola de Frankfurt – Adorno, Walter Benjamim, Marcuse e Horkheimer, entre outros – caracterizavam-se por serem mais acadêmicos, envolvidos com uma concepção teórica global da sociedade e nitidamente influenciados por Marx e Freud. A identidade da Teoria Crítica liga-se à uti- lização dos pressupostos marxistas e de alguns elementos da psicanálise, na análise das temáti- cas novas que as dinâmicas sociais da época con- figuravam – o totalitarismo, a indústria cultural, entre outros – numa preocupação com a superes- trutura ideológica e a cultura. Assim, não pense que o tema dessa corrente seja apenas os meios de comunicação de massa, mas que, entre os vá- rios assuntos abordados por essa Escola, os mais próximos a este tema seriam aqueles relativos à indústria cultural – marcados pelo enfoque da manipulação do agente social. Você também não pode perder de vista todo o contexto histórico no qual os estudos de Frankfurt se desenvolvem. A Alemanha vivendo a crise do pós-guerra, a Revolução Russa vitoriosa, o movimento operário alemão rechaçado, e o na- zismo, que começava a se firmar. Tudo isso incidia de forma decisiva nas ideias dos jovens judeus marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer. 2.4 A Indústria Cultural Conforme você pode observar, com o avan- ço tecnológico e industrial, mais o crescimento econômico e urbanístico, sobretudo a partir das primeiras décadas do século XX, os meios de co- municação reorganizaram sua produção artística e cultural, sob o ponto de vista mercadológico, utilizando as novas linguagens do marketing. Em meio a esse processo, surge um grupo de teóricos em Frankfurt na Alemanha. Preocupados com a postura e interferência dos meios de comunica- ção na sociedade, esses teóricos começaram a analisar de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”. Impulsionada pelo inces- sante desenvolvimento da tecnologia e a inevi- tável popularização dos aparelhos eletroeletrôni- cos, a indústria cultural ampliou a participação e Saiba maisSaiba mais Para Morin, a Terceira Cultura é decorrência do boom tecnológico que o mundo viveu depois da Segunda Guerra Mundial e que levou a uma popularização do cinema, da imprensa, do rádio, da televisão etc. a interferência do indivíduo – principalmente dos jovens – no meio circundante. Edgar Morin (1969) chama esse fenômeno de Terceira Cultura. Pode-se dizer, então, que o século XX trouxe novos meios de sociabilidade e integração social – o rádio, o cinema, a indústria fonográfica etc. –, tornando decisivas suas influências sobre a vida Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 da juventude. Essas novas técnicas logo serão in- corporadas pelos jovens como forma mais coti- diana de interferência em um mundo social para eles amplificado. A juventude deixa, assim, de ser apenas receptora de cultura; suas manifestações ganham notoriedade, e, de receptora, ela passa a criadora de uma nova maneira de ser e viver. Saiba que essa nova configuração cultural da juventude ganha vulto, de maneira mais es- pecífica no pós-guerra devido ao aquecimento ocorrido no setor industrial; ele possibilitou um aumento da demanda de empregos e, concomi- tantemente, levou mais recursos financeiros para um número cada vez maior de famílias, que pas- sam a investir seu tempo livre em diversão e lazer. Edgar Morin, ao analisar essas novas carac- terísticas da sociedade moderna, pondera que a ampliação do tempo de lazer, combinada com a popularização das novas técnicas de integração social, possibilitou o surgimento de uma cultura de massas na sociedade moderna. Você pode perceber, portanto, que foi no compasso dessa terceira cultura que o fulcro do que era uma subcultura juvenil cede espaço para o surgimento de uma ampla cultura juvenil, que no decorrer dos anos 50 articula-se em torno de novos referenciais (principalmente cinema e mú- sica rock’n roll) para granjear uma posição de des- taque na sociedade. Temos aí uma nova problematização no ce- nário juvenil, que, estimuladopelo aumento do poder aquisitivo e pelo tempo livre, cria espaços específicos para suas reuniões. As praças já não lhes são suficientes; agora eles querem o cinema, as lanchonetes, enfim, eles querem visibilidade e atenção. Morin, ao analisar os problemas com- portamentais dos jovens numa sociedade pauta- da pela massificação cultural, alerta que: O desenvolvimento dessa cultura está ligado a uma conquista da autonomia dos adolescentes no seio da família e da sociedade. A aquisição de relativa auto- nomia monetária (dinheiro para o gasto diário dado pelos pais nas sociedades avançadas e, alhures, dinheiro para o diário conservado pelos adolescentes que ganham a vida e entregam o que ga- nham aos pais) e de relativa liberdade no seio da família (o que nos conduz ao pro- blema da liberalização aqui, da desestru- turação acolá, da família) permitem aos adolescentes adquirir material que lhes insuflará sua cultura (transistor, toca-dis- cos e mesmo violão), que lhes dá sua li- berdade de fuga e de encontro (bicicleta, motocicleta, automóvel) e lhes permitirá viver sua vida autônoma no lazer e pelo lazer. Essa cultura, essa vida, aceleram em contrapartida as reivindicações dos ado- lescentes que não se satisfazem com a semi-liberdade adquirida e fazem crescer sua contestação a propósito de um mun- do adulto cada vez menos semelhante ao deles. (MORIN, 1969, p. 140). 2.5 Cultura de Massa Você sabe o que é cultura de massa? Certa- mente, já ouviu falar disso. Então, convido você a refletir um pouco e tentar estabelecer algumas hipóteses que a definam. O termo ‘Indústria Cultural’ foi utilizado pela primeira vez em 1947, por Theodor Adorno, para substituir a expressão “Cultura de Massa”, pois esta induz ao engodo de que são satisfeitos os in- teresses dos detentores dos veículos de comuni- cação de massa. Os defensores da cultura de mas- sa acreditam que esta surge espontaneamente das próprias massas em ressonância com a arte popular, enquanto a indústria cultural diferencia- -se totalmente, pois vem atribuída de vários ele- mentos, conceituando um novo estilo e qualida- de. “A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores” (ADORNO, 1977, p. 287). Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 A prioridade da Indústria Cultural é explorar o gosto popular, e não os anseios do povo; por isso, seu objetivo não está voltado para a educa- ção e a cultura em si, mas para a obtenção de lu- cro. Waldenyr Caldas, em seu livro, O que todo cidadão precisa saber sobre cultura, conceitua a cultura de massa dessa forma: A cultura de massa consiste na produção industrial de um universo muito grande de produtos que abrangem setores como moda, o lazer no sentido mais amplo, in- cluindo os esportes, o cinema, a impren- sa escrita e falada, a música, a literatura, enfim... tudo o que envolve a vida do homem contemporâneo [...]. (CALDAS, 1986, p. 83). A cultura de massa, portanto, não tem a ver com a cultura popular, pois a cultura de massa tem por meta a fantasia e o consumo compulsivo. Ela apropria-se dos meios de comunicação – so- bretudo do rádio, por este ser um veículo de gran- de influência e penetração na classe trabalhado- ra periférica. Além de destacar outros locais com penetração restrita, como: casas noturnas, shows, boates, circos, festivais, de música regional, que são realizados nos bairros da periferia das gran- des cidades. A espetacularização dos produtos culturais não se encontra apenas nos conteúdos ou nos meios de comunicação, está presente também na recepção. O consumidor da cultura de massa faz a leitura, decodifica a mensagem de acordo com seu interesse, sua vivência, sua expectativa. Não há, portanto, uma dominação e um controle rígi- do por parte dos meios de comunicação, pois as produções culturais de massa, de elite ou popu- lar, apesar de serem produtos culturais de nature- za diferente, ocupam os mesmos espaços. A cultura popular, então, é produzida a par- tir das manifestações das classes populares, que recebem influências das culturas de massa e de elite, e pode até ser difundida nos espaços típicos dos segmentos da cultura de massa. Em se tratan- do da música popular, esta toma conta pratica- mente de todo o mercado, pois abrange desde as manifestações folclóricas até as manifestações de contexto urbano. Certamente, você deve concordar com o fato de que os meios de comunicação de massa têm um forte poder a curto prazo para construir ou destruir a imagem de um ídolo popular, seja na política, seja em qualquer outra atividade profis- sional. Em se tratando da persuasão de consumo, presenciaram-se nos últimos anos, aqui no Brasil, vários fenômenos criados pela indústria cultural. No campo da música foram reinventados: a lam- bada, o “axé music”, a música sertaneja, o samba e o pagode, o funk carioca, o forró eletrônico, o “calypso” paraense e, inclusive, músicas religiosas, como a “Aeróbica do Senhor”, bastante difundida pelo padre Marcelo Rossi. Diante disso, podemos destacar dois aspec- tos importantes da cultura de massa: a) Saber a quem são dirigidos seus produ- tos; b) Identificar quais as repercussões sociais desse consumo e as informações ideo- lógicas e políticas da cultura de massa. A cultura de massa é conservadora, pois jamais abre questões, apenas vulgariza ou repete conceitos estabelecidos nas ca- madas superiores da sociedade, fazendo valer os conceitos e o poder da ideologia dominante. (CALDAS, 1999, p. 56). Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 Caro(a) aluno(a), notamos que, no final do século XIX, Durkheim procurou emancipar a sociologia das demais teorias e constituí-la como disciplina científica; elegeu os fatos sociais como o principal objeto da sociologia. Os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos. A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade, ou seja, são exteriores aos indivíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira é a generalidade, aquilo que se repete em todos os indivíduos, como tomar banho. Durkheim levantou a ideia da consciência coletiva que busca revelar o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. O mesmo trouxe contribuições da escola de Frankfurt, no sentido de pensar os caminhos da sociedade contemporânea. Os teóricos em Frankfurt, preocupados com a interferência dos meios de comunicação na sociedade, começaram a ana- lisar de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”. 2.6 Resumo do Capítulo 2.7 Atividades Propostas 1. Na perspectiva de Durkheim, como o fato social participa da vida do indivíduo? 2. Faça um breve comentário do contexto histórico em que foi criada a Escola de Frankfurt. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Na década de 1960, surge na Itália e na França um grupo de pesquisadores que penetra- ram nos estudos de comunicação de massa pelo viés da mensagem, utilizando a técnica da análise de conteúdo. Tratava-se de um grupo de estrutu- ralistas, formado por Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Seus estudos estavam centrados no entorno dos meios acadêmicos, artísticos, em peças publicitá- rias, histórias em quadrinhos e “estrelas de cine- ma pela pop art” (SANTOS, 2003, p. 93). Os produtos culturais veiculados pelos meios de comunicação de massa passaram, no início da década de 1960, a receber atenção da intelectualidade, pormeio de estudos feitos em centros universitários ou por obras de artistas, como Andy Warhol, Roy Lichtennstein e Richard Hamilton (próceres do movimento da Pop Art, que sacralizaram, em seus trabalhos artísticos, pe- ças publicitárias, histórias em quadrinhos e estre- las de cinema). Suas obras exploraram o potencial formal dos signos da cultura de massa, transfor- mando-os em ícones da arte. Nesse contexto, diversos teóricos europeus lançaram-se a estudar e analisar o conteúdo das mensagens da cultura de massa. Esses intelectuais tinham em comum uma postura crítica – mas não preconceituosa – em relação a esses produtos culturais, utilizavam os princípios da semiologia e ESCOLAS SOCIOLÓGICAS3 3.1 Escola Sociológica Europeia aplicavam a análise estrutural em seus trabalhos. Todos divergiam tanto das posturas funcionalis- tas quanto das frankfurtianas. Assim, você pode observar que essa visão da comunicação e da cultura de massa era com- partilhada por intelectuais franceses ou que de- senvolviam suas pesquisas na França, como Ro- land Barthes, Edgar Morin, Jean Baudrillard, Julia Kristeva, Chistian Metz, entre outros, e pelo italia- no Umberto Eco. “Seus trabalhos teóricos passa- ram a ser publicados a partir de 1968 na revista Communnications e editados pelo Centro de estu- dos da comunicação de Massa (CECMAS), criado em 1960 no interior da Escola Prática de Altos Es- tudos e dirigido Por Georges Friedman.” (SANTOS, 2003, p. 94). Em consequência disso, em Apocalípticos e Integrados3, Umberto Eco faz críticas aos “integra- dos” (funcionalistas) pela passividade com que se colocavam “diante das questões relativas à cultu- ra de massa”. Quanto à teoria crítica de Frankfurt, a crítica de Eco estava centrada no “pessimismo diante da sociedade de massa por negar a cul- tura de massa sem realmente analisá-la”. Dessa maneira, Eco apontava a utilização de “conceitos- -fetiche (massa, indústria cultural)”, por parte das duas teorias, para fazer proposições de maneira genérica sobre “um fenômeno complexo como a cultura de massa”. 3 Principal obra publicada por Umberto Eco. Faz crítica ao modelo funcionalista – Escola norte-americana e aos Frankfurtianos – Escola Alemã. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 Umberto Eco parte do pressuposto de que a cultura de massa é a cultura do homem contem- porâneo e aponta o momento histórico de seu aparecimento “no momento em que a presença das massas, na vida associada, se torna o fenôme- no mais evidente de um contexto histórico” (ECO apud SANTOS, 2003, p. 94). Assim, Eco manifesta seu pensamento e afirma que nem mesmo os frankfurtianos como críticos da cultura de massa poderiam estar fora da abrangência dela. Ainda, nessa abordagem, Eco complementa que a cultu- ra de massa passa a ser “uma definição de ordem”. Os meios de comunicação de massa, na visão de Umberto Eco, ajustam o gosto e a linguagem dos produtos culturais que veiculam as capacidades receptivas da média do público. Para ele, as carac- terísticas fundamentais dos produtos da cultura de massa são a efemeridade e a reprodutibilidade em série. Seu conteú- do é produzido para agradar o público, constituindo-se em material de evasão, mas pode também informar e educar. (SANTOS, 2003, p. 94). Saiba que outro expoente dessa Escola é Edgar Morin, que identificou dois métodos de estudar a cultura na sociedade: o da “totalidade que encerra o fenômeno em suas interdepen- dências e inclui o próprio pesquisador no sistema de relações” (SANTOS, 1992, p. 18); e o método “autocrítico – em que o pesquisador despe-se de preconceitos, acompanhando e apreciando seu objeto de estudos”. A cultura, para ele, é um sis- tema constituído de valores, símbolos, imagens e mitos, que dizem respeito à vida prática e ao ima- ginário coletivo, compondo uma dimensão sim- bólica que permite aos indivíduos se localizarem no grupo. A sociedade não pode ser conhecida a partir de indivíduos e grupos isolados. É necessá- rio juntar as partes ao todo e o todo às partes. Desde então, Morin elaborou outras ideias desse modo: a ideia de circularidade, que expõe o caráter retroativo do sistema; o efeito volta à cau- sa e a causalidade circula em espiral, onde o efeito é, ao mesmo tempo, causa; os indivíduos produ- zem a sociedade, mas ela própria retroage sobre os indivíduos, com sua cultura e sua linguagem: o indivíduo é produto e produtor ao mesmo tempo (WOLF, 1999). Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da cultura de massa: é o novo público que consome. Assim, a cultura massificada pres- supõe “o único terreno de troca e de comunicação para a classe [...] a nova camada de assalariados” (WOLF, 1999, p. 103), uma vez que esta vai adqui- rindo valores cada vez maiores da classe anterior. Dessa maneira, para além da diversidade de “prestígio, hierarquia, conversações etc.”, é de- marcada uma zona comum, uma “identidade dos valores de consumo”. Nesse viés, esses valores da cultura de massa põem em comunicação os dife- rentes estratos sociais. Esse diálogo contém em seu interior a ética do consumo; a lei fundamental da cultura de massa é do mercado e sua dinâmi- ca, produção e consumo. Sobre essa dinâmica ou continuidade dialógica entre o produtor e o con- sumidor, Edgar Morin assim a define: [...] um diálogo desigual. E, a priori, um diálogo entre o prolixo e um mudo. A produção (o jornal, o filme, a transmissão etc.) distribui relatos, histórias, exprime- -se através de uma linguagem. O consu- midor – o espectador – responde apenas com reações pavlovianas, com um sim ou com um não, que determinam o sucesso ou o insucesso. (MORIN, 1962, p. 39 apud WOLF, 1999, p. 103). Outra de suas contribuições é quanto ao estudo dos paradigmas. Nesse viés moriniano, paradigmas são estruturas de pensamento que comandam nosso discurso de maneira incons- ciente. O paradigma da separação, por exemplo, reina, sobretudo, desde a Renascença, no mundo ocidental (mágica/lógica, arte/ciência etc.). Sepa- rou-se o sujeito do conhecimento, do objeto do conhecimento e ficou cada vez mais difícil de se estabelecer ligações. Edgar Morin também desta- ca o valor da solidariedade para o equilíbrio e a sobrevivência de uma dada cultura: Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 A única maneira de salvaguardar a liber- dade é que haja o sentimento vivido de comunidade e solidariedade, no interior de cada membro, e é isso que dá uma realidade de existência a uma sociedade complexa. A solidariedade é constituinte dessa sociedade. (MORIN, 1983, p. 22). E você, caro(a) aluno(a), o que pensa sobre a indústria cultural? Reflita e posicione-se. 3.2 Sociologia Alemã: a Contribuição de Max Weber Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da Socio- logia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso de- cisivo. A sua abordagem diferia da de Marx (que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas). Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim (que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade). Para Weber, o núcleo da análise social consistia na in- terdependência entre religião, economia e socie- dade. Max Weber (1864-1920) participou da co- missão redatora da Constituição da República de Weimar. Sua maior influência nos ramos especia- lizados da sociologia foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas principais obras foram: Artigos Reunidos de Teoria da Ciência; Economia e Sociedade (obra póstuma) e A éticaProtestante e o Espírito do Capitalismo. Saiba maisSaiba mais A República de Weimar foi instaurada na Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como sis- tema de governo o modelo parlamentarista democrá- tico. O Presidente da República nomeava um chance- ler que seria responsável pelo Poder Executivo. Cada formação social adquiriu, para Weber, es- pecificidade e importância próprias. Mas o ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justi- ficativa subjetivamente elaborada. Assim, o ho- mem passou a ter, enquanto indivíduo, na teoria weberiana, significado e especificidade. É ele que dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Você se lembra de que para a sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles? Entretanto, para Weber não existe oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. Assim, cada sujeito age levado por um motivo que é dado pela tradição. Nos séculos XVII e XVIII, A França e a Ingla- terra contribuíram decisivamente para a conso- lidação do pensamento burguês. A Inglaterra foi a sede do desenvolvimento industrial; a França, por sua vez, difundiu para o mundo uma outra possibilidade de sistema político. Paralelamente a esses acontecimentos, o desenvolvimento da in- dústria e a expansão marítima e comercial coloca- ram esses países em contato com outras culturas e outras sociedades, obrigando seus pensadores a um esforço interpretativo da diversidade social. O sucesso alcançado pelas ciências físicas e bio- lógicas, impulsionadas pela indústria e pelo de- senvolvimento tecnológico, fizeram com que as primeiras escolas sociológicas fossem fortemente Segundo Weber, cada indivíduo age levado por motivos que resultam da influência da tradi- ção, dos interesses racionais e da emotividade. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 influenciadas pela adaptação dos princípios e da metodologia dessas ciências à realidade social. Na Alemanha, em decorrência de sua des- centralização política, o pensamento burguês organiza-se tardiamente, prejudicando o desen- volvimento e a modernização da sociedade, que só vai ser concretizada na etapa do capitalismo concorrencial, no século XIX. Por essa razão, as preocupações dos alemães com a sociedade fun- damentam-se de modo diferente daquelas preo- cupações encontradas nas sociedades francesa e inglesa. 3.3 Resumo do Capítulo 3.4 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), nesse período, Weber, Karl Marx e Émile Durkheim são considerados os fundado- res da Sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião. Marx utilizou o materialismo dialé- tico como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Durkheim considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e socieda- de. Surge nesse momento na Itália e na França estudos referentes à análise de conteúdo dos meios de comunicação de massa, realizados por um grupo de estruturalistas, como Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da cultura de massa: é o novo público que consome. 1. Localize o campo de maior influência nos ramos especializados da sociologia de Max Weber. 2. Por qual motivo o pensamento burguês organizou-se na Alemanha tardiamente? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Conforme você estudou em capítulo ante- rior, para Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição; o resultado dessa ação permite estabelecer parâmetros para descobrir os senti- dos da ação humana. Em seu conhecido ensaio A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber ex- punha porque haviam surgido no âmbito ociden- tal, e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir um significado e uma validade universais. Para Weber, o protestantismo carregava uma proemi- nente tendência ao racionalismo econômico. Essa tendência estava, por sua vez, ausente no catoli- cismo. De acordo com seu raciocínio, a natureza ascética do catolicismo o distanciava do mundo, ao passo que o caráter obreiro do protestantismo deixava-o cada vez mais ligado aos problemas mundanos. Talvez por isso, nas famílias protestan- tes, os filhos eram criados para o ensino especiali- zado e para o trabalho fabril, optando sempre por atividades mais adequadas à obtenção do lucro. Por isso o protestantismo, especialmente a sua vertente calvinista, é constantemente associado ao sucesso econômico e à racionalização da so- ciedade ocidental e do desenvolvimento do capi- talismo. A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA4 Para Weber, as investigações sociológicas só eram possíveis quando se utilizavam de uma multiplicidade de casos individuais. Assim, sua concepção de sociologia era abrangente e partia do conceito de conduta social, segundo o qual a Ciência devia explicar o fenômeno social a partir da investigação do comportamento subjetivo, que vincula o indivíduo a seus atos. Weber argu- menta que a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Estas são todo tipo de ação que o indivíduo pratica, orientando-se pela ação de outros. Portanto, só existe ação social quando o indivíduo tenta esta- belecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais. A partir desses pressupostos, Weber estabe- leceu quatro tipos de ação social. Estes são con- ceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social. Veja quais os quatro tipos de ação social: a) Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraiga- do; b) Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais; c) Racional com relação a valores: de- terminada pela crença consciente num valor considerado importante, inde- pendentemente do êxito desse valor na realidade; d) Racional com relação a fins: determi- nada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. Saiba maisSaiba mais O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio, que é a operação men- tal, discursiva e lógica. Este usa uma ou mais proposi- ções para extrair conclusões se uma ou outra propo- sição é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Nos conceitos de ação social e definição de seus diferentes tipos, Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Para ele, as normas e regras sociais são o resulta- do do conjunto de ações individuais. Outra particularidade da sociologia de We- ber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparciali- dade dos fatos como propunha Durkheim. Os fa- tos sociais não são coisas, eles estão carregados de sentimentos e emoções, o que contagia as in- tervenções do cientista. O estudo e a pesquisa de- vem, de qualquer maneira, ser conduzidos com objetividade em suas análises, impondo, assim, limites para as crenças e ideias pessoais, ou seja, evitando uma tomada de posição pessoal dopes- quisador frente ao fato estudado. E você, o que pensa sobre essa questão? Será que o cientista consegue mesmo a total neutralidade diante dos fatos que analisa? Na busca de uma melhor adequação para as análises dos fatos sociais, Weber propôs um instrumento de análise denominado por ele de tipo ideal. Partindo de pressupostos do estudo das mais distintas manifestações culturais, o cien- tista constrói um modelo com os traços caracte- rísticos dessa ou daquela manifestação e elege um tipo ideal para suas análises. Nesse sentido, o capitalismo ocidental constitui um tipo ideal de capitalismo por ser uma organização econômica racional voltada para o trabalho livre e para o lu- cro independentemente de sua localização. 4.1 Resumo do Capítulo 4.2 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), segundo Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição que nos permite estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos da ação humana. Para Weber, o protestantismo carre- gava uma proeminente tendência ao racionalismo econômico. O autor argumenta ainda que a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Outra particularidade da sociologia de Weber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparcialidade dos fatos, como propunha Durkheim. 1. Quem escreveu e do que trata a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo? 2. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Indique e explique dois. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Você estudará agora um dos mais signifi- cativos nomes das ciências sociais: Karl Marx, de quem, possivelmente já ouviu falar. Pronto(a)? En- tão, vamos lá! Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1842, mudou-se para Paris, onde conheceu Friedrich Engels (1820- 1895), seu companheiro de ideias. Em 1845, foi expulso da França, deslocando-se para Bruxelas e lá participando da recém-fundada liga dos comu- nistas. Em 1848, escreveu com Engels O manifesto do Partido Comunista. Estabeleceu-se em Londres a partir de 1848 e lá deu continuidade aos seus estudos. Suas principais obras são: O Manifesto do Partido Comunista, A ideologia Alemã e O capital. O marxismo surgiu com a sociedade moder- na, com a grande indústria e com o proletariado industrial. Aparece como a concepção de mundo que expressa esse mundo moderno, suas contra- dições e seus problemas, para os quais aponta so- luções racionais em contraposição às alternativas metafísicas. Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de filosofia, economia e so- ciologia. Não se limitou, porém, em interpretar o mundo, queria antes de tudo transformá-lo. Po- demos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do pensamento de Marx. Em primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filo- sofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou de modo peculiar, o método dialético. Também significativo foi seu contato com o pensamento socialista francês e inglês do século XIX, sobretu- do com Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Marx destacava o pioneirismo desses críticos da socie- KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM5 dade burguesa, mas reprovava o “utopismo” de suas propostas de mudança social. Saiba maisSaiba mais ‘Utopia’ tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro quanto no presente. A palavra significa literalmente “não lugar” ou “lugar que não existe”. Foi inventada por Thomas More, servindo de título para uma de suas obras por volta de 1516. O utopismo é um modo absurdamente otimis- ta de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem. Para Marx, as três teorias desenvolvidas ti- nham por traço comum o desejo de impor de uma só vez uma transformação social total, implantan- do, assim, o império da razão e da justiça eterna. Nos três sistemas elaborados, havia a eliminação do individualismo, da competição e da influência da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de descobrir um sistema novo e perfeito de ordem social, vindo de fora, para implantá-lo na socie- dade, por meio da propaganda e, sendo possível, com o exemplo, mediante experiências que ser- vissem de modelo. Com essa formulação, os três desconsideravam a necessidade da luta política entre as classes sociais e o papel revolucionário do proletariado na realização dessa transição. Fi- nalmente, há toda a crítica da obra dos economis- tas clássicos ingleses, em particular Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tomou a atenção de Marx até o final da vida e resultou na maior par- te de sua obra teórica. Essa trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes, como alienação, ideologia valor, mercadoria, tra- balho, mais-valia, infraestrutura e práxis. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 É um pensamento materialista, que parte do objetivo para o subjetivo. A realidade é o campo de ação do homem. A realidade social é, porém, obra dos próprios homens. A história é, pois, fei- ta pelos homens, não a partir das condições que desejariam, mas a partir da herança deixada pelas gerações passadas. É um pensamento dialético, que busca nas intervenções humanas e em suas contradições as explicações para a sociedade. Pode-se dizer, então, que é um pensamen- to que não se limita a interpretar o mundo, mas busca também transformá-lo. Até o advento do marxismo, não havia nenhuma descrição nem ex- plicação científica da divisão social que acompa- nhava a humanidade desde os primórdios. Perceba que para Marx, a sociedade estru- tura-se em níveis. O primeiro é a infraestrutura, que é constituída pela base econômica, aliás, esse é, segundo Marx, o aspecto fundamental de toda sociedade, isto é, transformar matérias-primas e fontes de energia em riqueza. Assim, a infraestru- tura engloba a relação do homem com a nature- za, no esforço de produzir a própria existência. Condiciona, assim, as relações dos homens entre si e o desenvolvimento das forças produtivas. 5.1 O Método do Pensamento Marxista Assim, cada grande etapa do desenvolvi- mento das forças produtivas corresponde a uma forma diferente de organização da sociedade. Por exemplo, no século XVIII, os agentes daquela so- ciedade fizeram uma mudança na técnica: com as mesmas matérias-primas e ferramentas que usavam os artesãos individualmente, agruparam operários em grandes oficinas, onde cada grupo fazia uma parte da produção total, que até então era feita separadamente por cada artesão. Essa nova técnica ficou conhecida como manufatura e substituiu a fase doméstica da produção. O segundo nível é chamado de superestru- tura e é constituído de uma base jurídico-política, que é representada pelo estado que repercute as ideias da classe dominante. É composto também por uma estrutura ideológica repercutida nas for- mas de consciência social, entre as quais se des- tacam: a religião, a educação, a arte e as leis. Por esses mecanismos, a classe dominada acaba sen- do sujeitada ideologicamente e seus valores de vida passam a refletir as ideias e valores da classe dominante. Observe a força da ideologia na produção dos discursos sociais. O que você pensa sobre isso? 5.2 A Práxis Para Marx não existe uma “natureza hu- mana” idêntica em todo tempo e lugar. O existir humano decorre do agir, pois o homem se au- toproduz à medida que transforma a natureza pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano e como tal depende da consciência que antecipa a ação humana pelo pensamento. Marxchama essa ação humana, de transformar a realidade, de práxis. AtençãoAtenção O conceito de práxis é muito anterior à filosofia marxista, com raízes no pensamento de Aristóte- les, mas foi por intermédio do pensador alemão Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se aprofundou, passando a ser o elemento central do materialismo histórico. Marx concebe a prá- xis como atividade humana prático-crítica, que nasce da relação entre o homem e a natureza. A natureza só adquire sentido para o homem à medida que é modificada por ele, para servir aos fins associados à satisfação das necessidades do gênero humano. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Você verá agora um conceito-chave do pen- samento marxista: a questão da mais-valia. Para Marx, tudo no sistema capitalista está vinculado à produção de mercadoria. Mercado- ria é tudo aquilo que é produzido não tendo em vista o valor de uso (por exemplo, o cachecol que a vovó faz para o próprio uso), mas que tem por objetivo o valor de troca, isto é, a comercialização do produto. Como o operário não detém os meios de produção nem é dono das matérias-primas, pre- cisa necessariamente vender seu trabalho para sobreviver. O capitalista compra essa mercadoria, isto é, a força de trabalho do operário, que passa a trabalhar para o capitalista num regime de traba- lho aparentemente livre. Como vendeu sua força de trabalho ao capitalista, todo produto por ele criado pertence ao capitalista, que o paga pelo trabalho realizado. Ocorre que o pagamento nun- ca corresponde ao tempo trabalhado, por exem- plo, se o operário gastou quatro horas para fazer uma cadeira, o capitalista lhe paga apenas duas, as outras duas horas ficam para o capitalista. Cha- ma-se mais-valia, portanto, aquilo que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo capitalista. Analisando as consequências da mais-valia para a vida do trabalhador, Chauí (1984) argu- menta: O preço da mercadoria no comércio é uma aparência, pois a determinação do valor dessa mercadoria depende do tempo de trabalho de sua produção e esse tempo o dos demais trabalhadores que tornaram possível a fabricação dessa mercadoria. (...) o produtor da mercadoria recebe um salário, que é o preço de seu tempo trabalho, pois este é também uma mercadoria. Suponhamos, então, que, para fabricar um metro de linho e para extrair um quilo de ferro, os trabalhado- res precisem de 8 horas de trabalho. Su- ponhamos que o preço desses produtos 5.3 A Mais-Valia no mercado seja de R$ 16,00. Diremos, então, que cada hora de trabalho equiva- le a R$ 2,00. Porém, quando vamos verifi- car qual é o salário desses trabalhadores, descobrimos que não recebem R$ 16,00, mas sim R$ 8,00. Há, portanto, 4 horas de trabalho que não foram pagas, apesar de estarem incluídas no preço final da mer- cadoria. Essas 4 horas de trabalho não pagas constituem a mais-valia, o lucro do proprietário da fábrica de linho. Formam seu capital. A origem do capital, portanto, é o trabalho não pago. Graças à mais-va- lia, a mercadoria não é um valor de uso e um valor de troca qualquer, mas um valor capitalista. (CHAUÍ, 1984, p. 50-51). Marx sistematizou essas reflexões em sua obra máxima, O capital, onde analisa detalhada- mente o funcionamento do sistema capitalista e mostra como suas próprias contradições produzi- riam a sua crise estrutural. Através do conceito da mais-valia, Marx demonstrou que o capitalismo baseia-se na ex- ploração do trabalho. Como verificamos anterior- mente e que agora exemplificaremos com outra ordem de pensamento: O sistema capitalista se ocupa da pro- dução de artigos para a venda, isto é, de mercadorias. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente encerrado na sua produção. O trabalhador não possui os meios de produção (terras, ferramentas, fábricas etc.), que pertencem ao capitalista. O va- lor de sua força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é o total necessário a sua reprodução – no caso, a soma ne- cessária para mantê-lo vivo. Os salários que lhe são pagos, portanto, serão iguais apenas ao necessário a sua manutenção. Mas esse total que recebe o trabalhador pode produzir em parte de um dia de tra- balho. Isso significa que apenas parte do dia de trabalho o trabalhador estará tra- balhando para si. O resto do dia ele está Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 trabalhando para o patrão. A diferença entre o que o trabalhador recebe de salá- rio e o valor da mercadoria que produz é a mais-valia. A mais-valia fica com o empre- gador - o dono dos meios de produção. É a fonte do lucro, dos juros, das rendas - as rendas das classes que são proprietárias. A mais-valia é também a medida da ex- ploração do trabalhador no sistema capi- talista. (HUBERMAN, 1972, p. 232-233). Ao patrão o que interessa é o aumento constante da mais-valia, porque assim seus lucros também aumentam. Para fazer isso, o capitalista usa algumas formas básicas: aumentando ao má- ximo a jornada de trabalho, mais-valia absoluta, de modo que depois de o operário ter produzido o valor equivalente ao de sua força de trabalho, possa continuar trabalhando muito tempo mais; essa forma de obter maior quantidade de mais- -valia é muito conveniente ao capitalista, porque ele não aumenta seus gastos nem em máquinas nem em locais, e consegue um rendimento mui- to maior da força de trabalho. Era o método mais utilizado no começo do capitalismo. Mas não se pode prolongar indefinidamente a jornada de trabalho. Existem limites para isso: limites físicos – porque se o operário trabalha durante muito tempo, não pode descansar o suficiente para re- fazer sua força de trabalho na forma devida, o que irá produzindo um esgotamento intensivo, logo, uma baixa no rendimento, o que não interessa ao patrão; limites históricos – porque, à medida que o capitalismo foi se desenvolvendo, a classe operária também se desenvolveu, se organizou e começou a lutar contra a exploração capitalis- ta. Através de árduas lutas, a classe operária foi conseguindo reduzir a jornada de trabalho, obri- gando o capitalista a buscar outras medidas para aumentar a mais-valia. Então, para isso, o patrão teve de lançar mão de outras formas para fazer com que o operário produzisse mais, reduzindo o tempo de trabalho necessário (mais-valia relativa) sem reduzir a jornada de trabalho: introduzindo máquinas mais modernas, incentivando a produ- tividade etc. Portanto, segundo Marx, a exploração do trabalhador não decorre do fato de o patrão ser bom ou mau, e sim da lógica do sistema: para o empresário vencer a concorrência entre os demais produtores e obter lucros para novos investimen- tos, ele utiliza-se da mais-valia, que constitui a verdadeira essência do capitalismo. Sem ela, este não existe. Mas a exploração do trabalho acabaria por levar, por efeito da tendência decrescente da taxa de lucro, ao colapso do sistema capitalista. 5.4 Modos de Produção A mais-valia só existe no mundo do traba- lho, sobretudo, do trabalho capitalista. Trabalho é toda atividade desenvolvida pelo homem, seja ela física ou mental, da qual resultam bens de consumo para a humanidade. Karl Marx afirmou alhures que foi o trabalho o primeiro responsável pela educação do homem. Trabalho aqui com- preendido como a atividade manual e intelectual que visa produzir bens de serviços para o uso diá- rio do homem. Há que se considerar, porém, que o peso de cada atividade é diferente. O trabalho do operário da construção civil é mais manual, apesar de exigir um mínimo de esforço mental. O trabalho do arquiteto e do engenheiro oferece a concepção de uma forma parao objeto que se quer produzir. Há ainda o trabalho que é feito por imitação, por exemplo, o trabalho de um feirante que vende frutas não exige aprendizagem ante- rior: ele é capaz de executá-lo por meio da imita- ção. Observe a esse respeito, a pergunta de Marx: o que diferencia o trabalho do mais brilhante ar- quiteto do trabalho da abelha? A diferença está, segundo ele, no projeto, ou seja, o arquiteto ao executar qualquer projeto o concebe antes em sua imaginação. A abelha, diferentemente, faz tudo pela intuição sem projeto concebido a priori. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 A humanidade passou por diversas fases de desenvolvimento de produção. Durante toda a sua história, o homem transformou e foi transfor- mado pela natureza. A comunidade primitiva foi a primeira forma de organização humana. O modo de produção primitivo indica uma formação eco- nômica ainda pouco estruturada. Tinha como característica a propriedade coletiva e não havia, portanto, a oposição proprietários e não proprie- tários, a terra era o principal meio de produção e não existia Estado. O modo de produção escravista predomi- nou na Antiguidade, mas esteve presente tam- bém no Brasil e nos EUA durante o período colo- nial. Nas sociedades escravistas, todos os meios de produção, incluindo aí os escravos, eram propriedade do senhor. O escravo era considera- do uma coisa, por isso, podia ser vendido como uma ferramenta ou um animal. As relações de produção na sociedade escravista eram relações de domínio e de oposição senhor versus escravo. Nesse modo de produção, já temos a presença do Estado, criado pelos senhores para defender seus interesses. O modo de produção asiático predominou no Egito antigo, na China e na Índia. Nesse modo de produção, as terras pertenciam ao Estado, que controlava a produção e a distribuía segundo seus interesses e conveniências. O Estado egípcio, dominado pelos Faraós, é um exemplo típico e mais conhecido desse modo de produção. O modo de produção feudal predominou na Europa Ocidental do século VI ao século XVI. A sociedade feudal estava baseada nas relações DicionárioDicionário A priori, do latim, significa aquilo que vem antes. É uma expressão filosófica que designa uma etapa para se chegar ao conhecimento, que consiste no pensamento dedutivo. O conhecimento a priori se complementa com o conhecimento a posteriori, ou seja, o que vem depois como resultado da ex- periência. servis, isto é, senhores versus servos. Os servos estavam presos ao trabalho da terra. Eles culti- vavam um pedaço de terra cedido pelo senhor e em troca pagavam impostos, cediam parte da produção para o senhor e ainda eram obrigados a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar disso, não eram escravos, pois o servo não era propriedade do senhor, portanto, não podia ser negociado como uma mercadoria, como ocorria com os escravos. O modo de produção capitalista institui o trabalho assalariado, suas relações de produção estão ancoradas na propriedade privada e no do- mínio dos meios de produção pela burguesia. A burguesia possui as fábricas, os meios de trans- porte, os bancos, as terras, os meios de comuni- cações e os dispositivos de controle social. Apesar disso, seus empregados não são escravos, nem servos. O trabalhador não é obrigado a ficar sem- pre no mesmo emprego; ele é livre para nego- ciar com o capitalista o trabalho de seu interesse. Como os trabalhadores não são proprietários dos meios de produção, eles são obrigados a vender a força de trabalho para o capitalista, que paga pe- los serviços prestados4. Essas duas classes, isto é, a burguesia e o proletariado, são rivais. A burguesia luta para conservar os privilégios e o proletariado para tomar o poder da burguesia. No modo de produção socialista, a finalida- de da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da popu- lação. Nessa sociedade, não há separação entre proprietários (os donos dos meios de produção) e não proprietários (todos aqueles que têm apenas a força de trabalho para tirar o sustento de suas vidas). O Estado é quem administra e distribui a produção, e não há divisão de classes, isto é, não há separação entre ricos e pobres, proprietários e não proprietário, intelectuais e não intelectuais. Pode-se dizer, então, que um sentimento de igualdade permeia as relações socioculturais da sociedade socialista. 4 Obviamente que o capitalista se utiliza de todos os mecanismos para tornar o trabalhador cada vez mais dependente. Conferir a esse respeito os conceitos de alienação, ideologia e mais-valia da presente apostila. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 Caro(a) aluno(a), o marxismo surgiu como a concepção que expressa esse mundo moderno, surge com a indústria e com o proletariado industrial. O pensamento materialista, que parte do objetivo para o subjetivo, é um pensamento dialético, que busca nas intervenções humanas e em suas contradições as explicações para a sociedade. Para Marx não existe uma “natureza humana”, pois o homem se autoproduz à medida que transforma a natureza pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano e como tal depende da consciência que antecipa a ação humana pelo pensamento. Para Marx, tudo no sistema capitalista está vinculado à produção de mercadoria; a mais-valia só existe no mundo do trabalho, sobretudo do tra- balho capitalista. No modo de produção socialista, a finalidade é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da população. 5.5 Resumo do Capítulo 5.6 Atividades Propostas 1. Para Marx, a sociedade estrutura-se em níveis. Explique o nível da infraestrutura. 2. Caracterize o modo de produção feudal. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 Você estudará os diferentes conceitos uti- lizados na Sociologia. Veja como alguns autores concebem esses objetos de estudo. Para Lakatos e Marconi (1999, p. 38), é “o es- tudo sistemático dos grupos e sociedades em que vivem os indivíduos, como são criadas e mantidas ou modificadas as estruturas sociais e as cultu- ras e como estas afetam nosso comportamento.” Para Scuro (2004), é o estudo da realidade social, quanto à sua constituição, suas estruturas e seu funcionamento. Lemos Filho (2004) entendem que a Sociologia é a Ciência que estuda o desen- CONCEITOS DE SOCIOLOGIA6 volvimento, a estrutura e a função da sociedade. Conforme alerta-nos Martins (1987), a Sociologia começa com a observação de que os humanos são criaturas imensa- mente sociais, tudo o que fazemos, desde fazer amor até fazer uma guerra, o faze- mos em companhia de outros e é impe- rativo fazê-lo com os demais. Nunca um indivíduo solitário poderá realizar estas atividades. Estamos em constante cons- trução e reconstrução de grupos, desde famílias e grupos em almoços ou em cor- porações multinacionais. (p. 9). 6.1 Estrutura Social Numa escola trabalham o diretor, o coorde- nador pedagógico, os professores, o secretário e diversos funcionários, além dos alunos. Cada um desses elementos ocupa uma posição social, um status no grupo. Cada posição está relacionada com as demais, e todas elas, em conjunto, for- mam a estrutura da escola. Esse mesmo raciocí- nio pode ser aplicado a outras estruturas, como, por exemplo, a um clube de futebol, que tem o presidente, o técnico, o massagista, os jogadores, enfim, tem um conjunto humano que forma uma estrutura social. Observe, pois, que estrutura social é um conjunto ordenado de partes encadeadas que formam um todo. Dito de outro modo, a estrutura social integra os indivíduos dentro de uma ordem e aí define, por exemplo, o papel de cada um de seus membros. Assim, o diretor de escola e o pro- fessorsabem de suas funções sem a necessidade de orientações diárias. O mesmo pode ser dito da estrutura de uma empresa ou de um clube de fu- tebol. Nessas organizações, o papel de cada um já está dado previamente de modo que eles podem compartilhar sem animosidade o mesmo espaço social. Estrutura social funciona também como uma orientação teórica, um sistema de crenças e interesses que medeia as relações sociais. Os membros de uma sociedade tendem geralmen- te a compartilhar a crença na importância dos valores definidos consensualmente. A religião, a liberdade política e a crença nas leis para mediar as relações humanas são, por exemplo, como va- lores intrínsecos e universais que permeiam as es- truturas sociais. A estrutura social inclui grandes grupos, como as sociedades, comunidades, e pe- Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 quenos grupos, como as famílias e os ami- gos, mas o conceito de estrutura social inclui também os modelos ou padrões de interação social e relações sociais. Abar- ca fenômenos que são tangíveis ou visí- veis, como o de quem se relaciona e com quem: idéias ou crenças e objetivos ou in- teresses; podem observar-se as relações sociais, as idéias que os indivíduos sus- tentam em comum e qualquer coisa que apreciem ou estimem, a estrutura não é estática, mas está em mudança constan- te. (LAKATOS; MARCONI, 1999, p. 83). Os elementos básicos da estrutura social são status e papéis, relações sociais, grupos e or- ganizações. 6.2 Status e Papéis Para Lakatos e Marconi (1999), status e pa- péis são elementos opostos e complementares, um não poderia existir sem o outro. Um papel é a coleção de direitos culturalmente definidos, obri- gações e expectativas que acompanham um sta- tus num sistema social. Numa empresa, por exem- plo, o patrão possui direitos, deveres e privilégios diferentes dos empregados. Numa escola, diretor e professor possuem direitos e deveres diferentes dos alunos. Num clube de futebol, o técnico pos- sui também direitos e deveres diferenciados dos jogadores. O que estamos querendo demonstrar é que a posição ocupada pelo indivíduo no grupo social denomina-se status social. O status social indica, então, a posição do indivíduo no grupo social. O status pode ser atribuído ou adquirido. Status atribuído é aquele que não é escolhido vo- luntariamente pelo indivíduo e não depende de suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de “primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status adquirido é obtido de acordo com as qualidades pessoais do indivíduo. Esse status confere ao in- divíduo uma posição de destaque entre os mem- bros do grupo de pertencimento, pois seu status é fruto do reconhecimento de sua capacidade. Por exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualida- des de seu futebol. O status adquirido está, então, associado à capacidade profissional, intelectual e de liderança do indivíduo na sociedade. Nas sociedades mais antigas, o status era quase sempre atribuído. Assim foi na Idade Mé- dia, com a Igreja atribuindo status religiosos para os indivíduos. Assim foi nas sociedades escravo- cratas, quando o status era também atribuído e assim permaneceu em algumas sociedades mo- dernas, com o rei atribuindo status para seus sú- ditos. Na sociedade contemporânea, predomina o status adquirido pelo destaque intelectual, lide- rança e habilidades pessoais. 6.3 Relações Sociais Para Scuro (2004), os status e os papéis dão as bases para as relações sociais, as relações tomam muitas formas diferentes. Para Martins (1987), algumas são multifacetadas: duas pes- soas que vivem no mesmo bairro, trabalham para a mesma companhia e têm os mesmos amigos. Outras são simples propósitos: o dono de um cachorro com o qual alguém se encontra qua- se todos os dias. Para Lakatos e Marconi (1999), cada interação social é uma situação em que o comportamento de um participante influi no do outro, os indivíduos definem, negociam suas re- lações, algumas envolvem a relação direta cara a cara, outras são indiretas. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Grupo social é a reunião de duas ou mais pessoas, associadas por interesses comuns. Ao longo da vida, o indivíduo participa de vários gru- pos sociais, entre os quais, destacamos: Grupo Educativo – escola; Grupo Religioso – igreja; Grupo Familial – família; Grupo Profissional – empresa; Grupo Político – partidos políticos; Grupo Sindical – sindicatos. Em cada fase da vida, um desses grupos es- tará presente na vida do indivíduo. Para melhor compreendê-los, podemos dividi-los em dois grupos: 1. Grupo Primário: predominam os conta- tos pessoais, isto é, como a família e os vizinhos. Os contatos são estabelecidos mais diretamente, sem formalidade. 2. Grupo Secundário: são grupos mais complexos, como a Igreja e o Estado. Os contatos aqui são mediados pela formalidade, respeitando-se a liturgia do cargo e da ocasião. Para Lakatos e Marconi (1999), há outros níveis da estrutura social que podem comparti- lhar certas características sociais. As pessoas que trabalham num consultório são um grupo social, 6.4 Grupos AtençãoAtenção Em sociologia, grupo é um sistema de relações sociais, de interações recorrentes entre pessoas. Também pode ser definido como uma coleção de várias pessoas que compartilham certas ca- racterísticas, que interajam uns com os outros, aceitem direitos e obrigações como sócios do grupo e compartilhem uma identidade comum. veem-se frequentemente, o “trabalhar juntos” lhes dá um propósito e metas comuns e um senti- do compartilhado de identidade. Além disso, suas interações são estruturadas por seus papéis e di- ferentes posições hierárquicas. Organizações Formais Para Scuro (2004), organização formal é um grupo planejado e criado para seguir suas metas e manter-se unido por regras explícitas e regula- mentos. Diferenciam-se os grupos pelo equilíbrio, escala, estrutura e ênfase em fazer as coisas ou nas orientações de suas metas. Como coloca Mar- tins (1987, p. 15): Em sua acepção original a palavra estru- tura faz referência à construção de edi- fícios, mas no século XVI foi empregada para denotar as relações entre as partes de um todo. Era uma palavra utilizada normalmente nos estudos anatômicos que nesta época começavam a florescer. O passo do termo da anatomia à Sociolo- gia, produziu-se vários séculos depois, foi uma conseqüência lógica das analogias orgânicas por parte dos pensadores po- líticos. Instituições Sociais Para Lakatos e Marconi (1999), o elemento estrutural mais importante dos elementos reuni- dos são as instituições sociais, conjuntos estáveis e perduráveis de normas e valores, status, papéis, grupos e organizações com uma estrutura para a conduta social numa área particular da vida. Todas as sociedades de grande escala têm cinco Instituições Sociais principais, segundo Scu- ro (2004): Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 34 1. A familiar, que é a responsável pelo crescimento e cuidado para com as crianças de modo a substituir os mem- bros da sociedade que morreram ou se foram; 2. A educacional, que assegura que as normas e valores culturais passem de uma geração à seguinte e que as pes- soas jovens tenham conhecimento e habilidade para realizar papéis adultos; 3. A religiosa, que reforça os valores, dá significado e propósito à vida; 4. A política, que mantém a ordem social e protege os membros da sociedade das invasões, controla os delitos e de- sordens internas, resolve conflitos de interesse; 5. A econômica, que organiza a produção e distribuição de bens e serviços.A ciência, as artes, o cuidado com a saúde, o sistema legal, o exercício e o tempo livre são ele- mentos que também foram institucionalizados nas sociedades modernas. 6.5 Fenômenos Sociais Para Lakatos e Marconi (1999), os grandes acontecimentos históricos não se produzem sem razão; determinadas causas sociais de caráter complexo precisam ocorrer e, muitas vezes, são previsíveis, para que esses acontecimentos ocor- ram. O mesmo se pode dizer dos fenômenos que se suscitaram com o decorrer dos tempos. A se- guir, alguns de grande importância para a Socio- logia, em Lakatos e Marconi (1999): 1. A Revolução Francesa de 1789 e a Re- volução Industrial produziram um des- moronamento das estruturas sociais de tal maneira que passaram a ser motivo de preocupação coletiva; o que ocorre na sociedade, o que provoca essas mu- danças e como se podem solucionar essas desigualdades e desequilíbrios que se apresentam na sociedade; 2. Os avanços científicos e tecnológicos; 3. Desenvolvimento de uma nova eco- nomia industrial, já que ocorreu uma mudança na sociedade: deixou-se de produzir a terra (cultivável), abando- nou-se a forma de produção artesanal e passou-se à produção em grandes fábricas, ao mesmo tempo que os tra- balhadores deixaram de trabalhar em suas casas para trabalhar sob as ordens de um supervisor. Isso teve como con- sequência grandes mudanças na fa- mília, que deixou de consumir o que ela mesma produzia, de forma que se produziu uma dissociação: de um lado trabalhadores e de outro, consumido- res, ao mesmo tempo que a família foi mudando seu sistema de valores; 4. O crescimento das cidades: os cam- poneses abandonaram o campo, trasladando-se à cidade em busca de trabalho, de tal forma que os núcleos industriais converteram-se em gran- des cidades, surgiu a emigração, o aglomerado da população, a pobreza, o desemprego, a criminalidade, sen- do esses problemas frequentes nessas grandes cidades, o que deixou antever Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 o quanto esses são problemas de difícil solução; 5. Mudanças políticas: o direito divino dos reis foi abandonado, de forma que a autoridade já não se legitimava por um caráter divino, nem a sociedade era produto de um plano guiado por Deus, e se começava a ver tanto a autoridade quanto a sociedade, um produto dos seres humanos, orientados a satisfazer suas necessidades e seus interesses; ressurgiu, então, o interesse pelo indi- víduo e um reconhecimento de seus direitos por sua condição de pessoa humana. Esses cinco pontos formam o contexto que levou uma série de pensadores5 a propor a ques- tão da sociedade e, consequentemente, da Socio- logia. De acordo com Scuro (2004), outros dos fe- nômenos sociais que se apresentaram com maior frequência em nossa moderna sociedade são: o delito, a violência, as drogas, o divórcio e a acultu- ração dos imigrantes. 5 Entre os quais se destacam: Saint-Simon, Comte, Karl Marx, Durkheim e Max Weber. 6.6 Relações Sociais Saiba que o conceito da relação deve en- tender-se como uma conduta plural pelo sentido que encerra: apresenta-se como reciprocamente referida ou orientando-se por essa reciprocidade. Consiste na probabilidade de comportamento social numa forma indicada, sendo indiferente àquilo em que a probabilidade prediz. À relação social temos que vincular o processo social (WE- BER, 1982). Segundo Scuro (2004, p. 107), “observando uma conduta plural, ou seja, conduta de vários atores que criam uma interação ao agir e, além disto, orientam sua conduta pela idéia da recipro- cidade.” Para que a interação ocorra, é preciso plu- ralidade, no entanto, o conteúdo da relação pode ser, segundo Martins (1987): a) Relações Dissociativas: inimizade; conflito; concorrência. b) Relações Associativas: amor sexual; amizade; associação comercial. 6.7 Fim ou Objetivos da Sociologia Entenda que o objetivo da Sociologia é o estudo científico dos fatos sociais (LAKATOS; MARCONI, 1999). Seu objetivo principal inicial era descrever e quantificar os fatos; pelo contrário, se queria dar à Sociologia um papel explicativo, e houve um grande esforço em organizar um am- plo aparelho conceitual (SCURO, 2004). Segundo Rodrigues (2003, p. 127): O objetivo da Sociologia na consciência coletiva, o da psicologia a consciência individual, e as diferenças entre ambas as ciências é o que estuda a Sociologia, é o fato social que tem caráter externo e Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 36 coercivo enquanto o fato psíquico é de natureza interna e de significado mimé- tico. A Sociologia consiste no estudo dos proces- sos sociais ou inter-humanos e deve se dividir em três grandes tarefas (LEMOS FILHO, 2004): 1. Abstrair o social ou inter-humano do resto pertencente à vida humana; 2. Constatar os efeitos do social e o modo como se produzem; 3. Restituir o social ao conjunto da vida humana para fazer compreensíveis suas relações com esta. 6.8 Teoria Sociológica Geral Você tem ideia do que seja a Teoria Socio- lógica Geral? É sobre isso que falaremos a seguir. Trata-se de uma teoria que pretende atri- buir um valor explicativo à doutrina estrutural funcional, e que tem uma intenção consistente, não exatamente de destruir, negando veemente- mente a verdade das teorias sociológicas do pas- sado, mas assinalando suas insuficiências, a partir dos pontos de vista teóricos e prático (LAKATOS; MARCONI, 1999). Segundo Martins (1987), essa corrente so- ciológica estimava que a Sociologia devesse abar- car todo o campo das ciências, de tal modo que a Sociologia seria uma espécie de enciclopédia do saber, de tal sorte que de alguma forma a Sociolo- gia estudaria o objeto das matemáticas, astrono- mia, física, química e, ao fazer isso, a Sociologia se converteria numa ciência de importância primor- dial. Martins (1987, p. 14) afirma ainda que, como muitas palavras excessivamente usadas, o termo ‘teoria sociológica’ amea- ça ficar vazio de sentido. A mesma diver- sidade de coisas a que se aplica, a par- tir de pequenas hipóteses de trabalho, passando por especulações gerais mais vagas e desordenadas, até os sistemas axiomáticos do pensamento, o emprego da palavra com freqüência atrapalha o entendimento em vez de aclará-lo. O termo ‘teoria sociológica’ refere-se a gru- pos de proposições logicamente interconecta- das, dos quais podem se derivar uniformidades empíricas. Constantemente é enfocado o que se denomina de “teorias de alcance intermediário”. Nos dizeres de Scuro (2004): [...] teorias intermediárias entre essas hipóteses de trabalhos menores, mas necessários, que se produzem abundan- temente durante as rotinas diárias da pesquisa e dos esforços sistemáticos to- talizadores para desenvolver uma teoria unificada, que explique todas as unifor- midades observadas na conduta, na or- ganização e nas mudanças sociais. (p. 73). A teoria intermediária é utilizada na Socio- logia principalmente para guiar a pesquisa empí- rica. É uma teoria intermediária às teorias gerais dos sistemas sociais, que estão demasiado dis- tantes dos tipos particulares de conduta, de or- ganização e de mudança sociais para levá-las em conta no que se observa e nas descrições orde- nadamente detalhadas de particularidades que não estão ainda generalizadas. A teoria de alcan- ce intermediário inclui abstrações, por óbvio, mas estão próximas o bastante dos dados observados para incorporá-las em proposições que permitam a prova empírica (LAKATOS; MARCONI, 1999). Martins (1987) explica que as teorias de alcance intermediário tratam dos aspectos deli- mitados dos fenômenos sociais, como o indicam seus própriosprocedimentos. Fala-se de uma teo- ria dos grupos de referência, da mobilidade social ou de conflito de papéis e da formação de normas sociais, da mesma forma que se fala de uma teoria Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 37 dos preços, de uma teoria dos germes ou de uma doença, ou de uma teoria cinética dos gases. A busca de teorias de alcance intermediá- rio exige do sociólogo um compromisso diferente que a busca de uma teoria tota- lizadora. As observações de cada aspec- to da conduta, organização e mudanças sociais, encontram-se prefixadas, impli- cando no mesmo desafio e na mesma pequena promessa dos grandes sistemas filosóficos totalizadores que caíram em merecido desuso. (LEMOS FILHO, 2004, p. 143). Nesse caso, segundo Martins (1987), a for- mulação de uma teoria sociológica geral, ampla o bastante para abarcar grandes quantidades de detalhes minuciosamente observados da con- duta e organização sociais, não seria frutífera o bastante para chamar a atenção de milhares de pesquisadores para os problemas da pesquisa empírica. Para Martins (1987), um sentido histórico dos contextos intelectuais mutáveis da Sociologia deve ser humilde o bastante para liberar aqueles otimistas desta esperança extravagante. Por um lado, alguns aspectos de nosso pas- sado histórico ainda permanecem em grande parte conosco. Devemos recordar que primeira- mente a Sociologia desenvolveu-se numa atmos- fera intelectual na qual se introduziam por todos os lados sistemas filosóficos gerais. Qualquer filó- sofo do século XVIII e do início do século XIX que se prezasse tinha que desenvolver seu próprio sis- tema filosófico, sendo os mais conhecidos excep- cionalmente: Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Cada sistema era uma aposta pessoal pela concepção definitiva do universo, do material, da natureza e do homem. Essas tentativas dos filósofos em criar sistemas totais serviram de modelo aos primeiros sociólogos, e assim o século XIX foi um século de sistemas sociológicos. Tendo como pais fundado- res Comte e Spencer (BENOIT, 1999). Nesse contexto, Benoit (1999) afirma que quase todos os pioneiros da Sociologia trataram de criar um modelo de seu próprio sistema. A multiplicidade de sistemas, cada um deles com pretensões de ser genuína Sociologia, levou, muito naturalmente, à formação de escolas, cada uma delas com seu grupo de mestres e discípu- los. A sociologia não só se diferenciou de outras disciplinas, mas se diferenciou internamente. Essa diferenciação não era, no entanto, questão de es- pecialização, como nas ciências; era mais, como em filosofia, questão de sistemas completos, tipi- camente sustentados como mutuamente exclu- dentes e díspares. Como observou Bertrand Russell (apud LE- MOS FILHO, 2004) a respeito da Filosofia, esta So- ciologia total não captou a vantagem, comparada com as sociologias dos construtores de sistemas, de ser capaz de resolver problemas, um de cada vez e ao mesmo tempo, em lugar de ter que in- ventar de uma só vez um bloco teórico de todo o universo sociológico. Nos dizeres de Lemos Filho (2004): os sociólogos intelectuais de sua discipli- na tomaram seu protótipo de sistemas da teoria científica em lugar de sistemas filosóficos. Esta via também levou às ve- zes à tentativa de criar sistemas totais de Sociologia, meta que freqüentemente se baseia numa ou mais de três concepções básicas errôneas sobre seguiram outro caminho em seu desejo de estabelecer a legitimidade às ciências. (p. 147). Para Martins (1987), a primeira concepção errônea supõe que os sistemas de pensamento podem desenvolver-se efetivamente ante uma grande massa de observações básicas que se acu- mularam. De acordo com essa opinião, Einstein poderia ter seguido de imediato Kepler, sem ne- cessidade dos séculos de pesquisa e pensamento sistemático a respeito dos resultados da pesquisa que foram necessários para preparar o terreno. Os sistemas de Sociologia que partem desta pressuposição tácita são muito pa- recidos aos introduzidos pelos criadores de sistemas em medicina num lapso de 150 anos: os sistemas de Stahl, Boissier de Sauvages, Broussais, John Brown e Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 38 Benjamin Rush. Até meados do século XIX, personagens eminentes da medicina pensaram que era necessário desenvol- ver um sistema teórico da doença muito antes que a anterior pesquisa empírica se tivesse desenvolvido adequadamente. (MARTINS, 1987, p. 22). Esses caminhos já se fecharam na Medicina, mas esse tipo de esforço ainda ressurge na Socio- logia. 6.9 Teorias Sociológicas Especiais Caro(a) aluno(a), você verá agora as teorias sociológicas denominadas especiais. Para Martins (1987), essas teorias entendem que ideias, conceitos ou julgamentos provisórios a respeito da natureza da realidade ou a respeito do modo de se resolver um problema podem ser simples hipóteses, conceitos ou juízos aplicados a algum fenômeno específico e são as que a seguir se relacionam: A teoria da Gemeinschaft; A Gesellschaft; A teoria da relatividade linguística; A teoria do etnocentrismo; A teoria da socialização; A teoria do eu que se vê num espelho; A teoria da conduta conformista. Tendem a agrupar-se em várias correntes teóricas principais ou perspectivas que vinculam uma ampla quantidade de conceitos hipóteses e teorias (LAKATOS; MARCONI, 1999). 6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas São orientações teóricas que dão ênfase à oposição ente os indivíduos, os grupos ou as es- truturas sociais. Essa oposição é a existência da escassez ou limitações nos recursos para conse- guir objetivos ou realizar os valores. Os recursos referem-se tanto aos fatores não materiais, como poder e prestígio, quanto a fatores utilizados para conseguir objetivos. A Sociologia considera a es- cassez como algo que é parcialmente um senso comum por parte da sociedade (WEBER, 2003). O Funcionalismo Estrutural é uma orienta- ção teórica que acentua as funções ou contribui- ções feitas à sociedade pelas estruturas sociais existentes (SCURO, 2004): a) Etnometodologia; b) Teoria da mudança; c) Teoria do intercâmbio; d) Interacionismo simbólico; e) Teoria do conflito. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 39 Você sabe o que são leis sociais? Segundo Lemos Filho (2004), são os regu- lamentos que regem a conduta do indivíduo na sociedade, conforme o Direito. a) A LEI é uma norma de direito ditada, pro- mulgada e sancionada pela autoridade pública, ainda sem o consentimento dos indivíduos, e que têm como fim re- gular a conduta externa dos homens. b) O COSTUME é a observância uniforme e constante de regras de conduta obri- gatórias elaboradas por uma comuni- dade, é um uso implantado numa co- letividade e considerado por esta como juridicamente obrigatória, é o direito costumário. c) A JURISPRUDÊNCIA é a correta interpre- tação da lei feita pelos Ministros da Su- prema Corte de Justiça Plena ou pelos Magistrados dos Tribunais Colegiados. Havendo vários casos concretos, sem objeções, acaba por se converter em obrigatória, já que cobre as lacunas da lei. d) A DOUTRINA é o conjunto de estudos e opiniões que os tratadistas de direi- to emitem em suas obras. Estudos de caráter científico que os juristas fazem sobre temas de direito, munidos de pro- pósitos teóricos sistematizados de seus preceitos, com a finalidade de interpre- tar suas normas e assinalar as regras de aplicação. e) OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são os que determinam uma controvérsia judicial, como a equidade, a justiça, o bem comum. f) A EQUIDADE é considerada por alguns autores também como fonte formal do Direito.6.11 Leis Sociais Assim, atente para a definição de lei: a Lei é o conjunto de normas jurídicas de observância geral por parte da população de um Estado num regime de direito e que é sua principal fonte. A Ju- risprudência é realizada pelos grandes Juriscon- sultos da Suprema Corte de Justiça da nação, que têm a faculdade de interpretação das normas ju- rídicas de um Estado, através de suas resoluções, que interpretam e uniformizam direito ao cobrir as lacunas da lei. O Costume, por sua vez, são normas de conduta criadas por uma comunida- de e que vão sendo aceitas de forma obrigatória; surgem pela uniformidade do comportamento: “o costume se faz lei”. Por outro lado, a doutrina é constituída pelos estudos que realizam os pes- quisadores do direito, sobre variados aspectos e, por último, os Princípios Gerais do Direito são os axiomas ditados pela razão, a sabedoria que ser- ve de inspiração e fundamento ao direito positivo como frases doutrinárias com as quais se formam máximas de caráter axiomático como as que se seguem: 1. Ninguém deve ser condenado somen- te por suspeitas; 2. É preferível absolver um culpado a con- denar um inocente; 3. A boa-fé se presume, a má-fé se prova; 4. Onde a lei não distingue, não é lícito distinguir. Sobre essas questões, Lemos Filho (2004) assinala: As fontes do direito são os procedimen- tos por meio dos quais se concretiza a norma jurídica e se assinala sua força obrigatória, já que a lei é a norma jurídica emanada do poder público. O Costume é o conjunto de hábitos que levam o ho- mem a agir de maneira determinada ao qual a sociedade dá caráter obrigatório. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 40 A Jurisprudência por sua vez, sustenta- da em sentenças ou decisões, dadas pela autoridade judicial federal, aplica o direi- to corretamente, cobre suas falhas e a faz obrigatória [...] a Doutrina é o conjunto de princípios que dão os juristas com o fim de interpretar e comentar o direito, mas suas conclusões não podem ser juridica- mente obrigatórias, por provir de particu- lares [...] e os Princípios Gerais do Direito determinam uma controvérsia judicial, já que se decide a favor do que trate de evi- tar prejuízo, não do que pretenda obter um lucro, de conformidade com o Código Civil, já que, na falta da legislação escrita, se resolverá conforme estes princípios. (p. 133). Sobre isso, Benoit (1999) hierarquiza as fon- tes formais do direito: em primeiro lugar a lei, em segundo lugar a jurisprudência, seguido pelos princípios gerais do direito, o costume e a equi- dade, pois nos indica que a lei, como norma de direito escrita, busca o bem comum da atividade social, enquanto a jurisprudência só interpreta a lei quando tem falhas e se faz obrigatória de- pois de alguns casos concretos. A doutrina, como conjunto de estudos e opiniões que os tratadistas do direito fazem, só pode tomar-se um ponto de referência, assim como os costumes pelos quais os princípios são obrigatórios, mais do que essas duas fontes. Segundo as análises de Lemos Filho (2004), o Costume, como repetição constante de uma conduta, conduz a um momento em que a sociedade a torna obrigatória e a tradição a reconhece como um meio de criação do direito (direito costumário). A Jurisprudência, como resoluções da suprema Corte de Justiça e os Tribunais Colegiados, tem como fim determinar o verdadeiro sentido e alcance das disposi- ções existentes da lei, e a doutrina, como opiniões dos juristas, leva em conta a re- gulação normativa que fazem de diversos temas jurídicos, bem como os princípios gerais do direito que derivam do conteú- do das próprias normas como verdades fundamentais. Além disso, é preciso le- var em consideração como outra fonte normal, os Tratados Internacionais, que de conformidade com a Constituição Fe- deral, têm força de lei federal ordinária e fazem parte do Direito Positivo Brasileiro. (p. 135). O Costume é a mais antiga das fontes for- mais do direito, desde a época dos sistemas pri- mitivos jurídicos. Na atualidade, perdeu seu papel transcendental, pois é considerado uma fonte secundária subordinada à legislação (MARTINS, 1987). Lakatos e Marconi (1999, p. 109) explicam que: “Costume é direito ou foro que não é escrito, que foram usados pelos homens por um longo tempo, ajudando nas coisas ou nas razões sobre as quais usaram” e, por sua vez, Scuro (2004, p. 53) o definia como: “Uso existente num grupo social, que expressa um sentimento jurídico dos indiví- duos que compõem este grupo.” 6.12 Processo Social Entende-se por processo social um avanço, um caminhar adiante, um aproximar-se de uma meta considerada como socialmente valiosa. Também é considerado mudança ou movimento social na direção de um objeto reconhecido ou aprovado (SCURO, 2004). Martins (1987) explica que quando se quer determinar em que momento existe o processo social é preciso avaliar quais são os valores que se assentaram numa determinada sociedade, o progresso social consiste na realização de um de- terminado sistema de valores. O processo social do cristianismo, por exemplo, consistirá na rea- Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 41 lização dos valores postulados pela moral cristã, cujo principal pilar é o “valor supremo do amor”. O processo material será a realização de valores materiais, encarnados nos equipamentos como a indústria e o maquinário em geral, objetos repre- sentativos da civilização. Nem toda mudança social implica progres- so, já que poderia dar-se uma mudança regres- siva, um retrocesso. Para Scuro (2004), processo social é equivalente à interação. 6.13 Teoria do Indivíduo Social Você já pensou que o homem utiliza sua inteligência para suas necessidades e o animal o faz intuitivamente? Em outras palavras, o homem produz seus próprios bens materiais e para isso é necessário associar-se a outros homens para con- seguir sua subsistência. Mas não apenas produz bens materiais, como também seus modos de vida, que são um reflexo da produção dos bens materiais. O modo de vida dos povos coincide com sua produção, tanto com o que produzem quanto com o modo de produzir, o que também condiciona as relações entre uma comunidade e outra (WEBER, 1982). Marx e Engels (apud SCURO, 2004) assina- lam que toda subsistência humana pressupõe condições para poder viver e, para sobreviver, é necessário haver comida e bebida, moradia, rou- pa etc. Por isso, como coloca Martins (1987), o pri- meiro fato histórico, a produção dos meios para satisfazer essas necessidades, ocorreu há milhares de anos e, ainda na atualidade, precisa se cumprir todos os dias como condição indispensável para a existência do ser humano. Dessa maneira, perceba que o homem, ao mesmo tempo que produz, também se reproduz; dessa forma, ao procriar, conserva a espécie hu- mana. Tanto na procriação quanto na produção de bens para satisfazer suas necessidades, há uma dupla relação: uma natural e outra social (MARTINS,1987). A existência social implica uma coope- ração, onde os meios de produção con- formam a força produtiva, e a soma de relações das forças produtivas determina o modo de vida da sociedade. (WEBER, 2003, p. 36). A partir do momento em que o homem existiu como tal, recorreu a outros para tentar seu alimento, suas vestes, sua moradia e também para reproduzir-se. Para produzir, além de relacio- nar-se com outros homens, cria instrumentos de trabalho que lhe permitem obter e elaborar com maior facilidade suas fontes de satisfação. O ho- mem em sociedade vai incorporando cada vez mais conhecimentos, inventos e descobertas a seu trabalho, fazendo com que a sociedade avan- ce constantemente. 6.14 FatoSocial São fatos realizados pelo homem na socie- dade da qual faz parte. Incluem relações inter-hu- manas, situações de relação e influência recíproca entre os homens, processos sociais ou movimen- tos entre os homens, uns com relação aos ou- tros, complexos, grupos ou formações (LAKATOS; MARCONI, 1999). Martins (1987, p. 31) salienta que Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 42 os fatos sociais demandam o entendi- mento do sentido que estes têm: o enten- dimento destes é um elemento essencial e indispensável de seu estudo, também é a explicação pela qual os fatos humanos ainda que não façam sentido, não são pu- ramente abstratos, mas realidades con- cretas no espaço e no tempo. Através das pesquisas em Sociologia, vai se definindo o fato social, bem como as reflexões que hão de ser conduzidas para realizar um trata- mento científico para o que será feito (LAKATOS; MARCONI, 1999). Como observar os fatos sociais; Como distinguir os fatos normais da- queles outros que podem ter uma na- tureza patológica; Como construir os tipos sociais; Como explicar os fatos sociais; Como estudar as provas. Tudo isso para conseguir a distinção entre a especulação filosófica e a especulação científica ou explicativa, de maneira que seja possível des- cobrir as regularidades ou uniformidades da con- duta humana (SCURO, 2004). Como define Durkheim (2000, p. 41): “Os Fa- tos sociais consistem uma maneira de pensar, de fazer e de sentir, externas ao indivíduo e dotadas de um poder coercivo em cuja virtude se impõe.” O fato social o leva a distinguir entre cons- ciência coletiva e consciência individual, que precisamente vai delimitar os campos da Socio- logia e da Psicologia; assim, a consciência coleti- va refere-se a modos de pensar, sentir e fazer que constituem a herança comum de uma sociedade (DURKHEIM, 2000). Para Martins (1987, p. 29), isso será “[...] a cultura que atribui a cada sociedade seus traços distintivos, frente a esta consciência coletiva, si- tua-se a consciência individual, definida como o universo privado de cada um.” As sociedades vão variar em função do di- ferente grau de coerção que as consciências co- letivas exercem sobre as consciências individuais, o que se traduz na possibilidade de que exista maior número de condutas desviadas (DUR- KHEIM, 2000). 6.15 Ideologia A palavra ‘ideologia’ carrega vários significa- dos e é usada para diferentes finalidades. “A ideo- logia é – de qualquer maneira – o processo pelo qual as ideias da classe dominante tornam-se ideias de todas as classes sociais, tornam-se ideias dominantes.” (CHAUÍ, 1984, p. 92). A ideologia tem, então, influência marcante na conformação social da sociedade capitalista, pois ajuda a ocultar suas contradições. Ela tem, pois, a função de apagar as diferenças, como as de classe, oferecendo referenciais universais para a unificação da sociedade. Nesse sentido, é inte- ressante notar que a ideologia trabalha para a na- turalização das contradições sociais, justificando e criando condições para a aceitação de determina- das situações aparentemente naturais, mas que na verdade são produtos da intervenção humana. Um exemplo disso é a ideia que está na divisão de classes da sociedade capitalista, isto é, de que o rico já nasceu rico e o pobre já nasceu pobre; ou a ideia criminalizante de que o pobre é inclinado à marginalidade. Segundo Chauí (1984), isso significa que: as ideias da classe dominante, na socie- dade capitalista, prevalecem sempre sobre as ideias das classes subalternas; para tanto, os membros da sociedade não se percebem como categorias di- ferentes, ou seja, como classes sociais distintas; Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 43 o mecanismo para unificação passa pelo discurso que a classe dominante cria e depois distribui para as classes subalternas por meio da educação, da arte e dos meios de comunicações; essas ideias não exprimem a realidade real, contrariamente a isso, elas apenas representam a aparência social, ocul- tando dos indivíduos as contradições do mundo real. 6.16 Alienação Depois de conceituar mais-valia, Marx com- preende que o trabalhador não poderia perceber a exploração da qual era vítima, pois se encon- trava alienado. Alienado é o que está fora, o que não lhe pertence e a mercadoria que é produzida pelo operário no mundo capitalista não pertence a ele. Costuma-se afirmar que o poder do povo é inalienável, se ele é inalienável é porque ele não pode ser vendido. Por outro lado, costumam-se encontrar nas ruas da cidade placas com os se- guintes dizeres: “Compro seu carro, mesmo alie- nado”. O que isso quer dizer? Simplesmente que o carro não pertence ao seu condutor e sim a al- guma financiadora de que o indivíduo comprou o carro em 24, 36, ou em 48 prestações. Portanto, enquanto ele não acabar de pagar o carro, o carro estará alienado à financiadora. A alienação manifesta-se, então, na vida real do homem, sobretudo a partir da divisão do tra- balho, pois quando isso acontece o produto de seu trabalho deixa de lhe pertencer. Na medida em que ele não tem mais domínio sobre aquilo que faz, ele está resolutamente alienado: não es- colhe o salário, não escolhe o horário nem o rit- mo do trabalho, sendo, portando, comandado de fora por forças exteriores a ele. Ocorre, então, o que Marx chama de fetichismo da mercadoria. O DicionárioDicionário Alienação: processo em que o ser humano se afas- ta de sua real natureza, tornando-se estranho a si mesmo na medida em que já não controla sua ati- vidade essencial (o trabalho), pois os objetos que produz, as mercadorias, passam a adquirir existên- cia independente do seu poder e antagônica aos seus interesses. fetichismo leva a crer que a mercadoria tem vida própria, isto é, como se não houvesse nela a inter- venção humana. Nos dizeres de Chauí (1984, p. 57), as coisas-mercadorias começam, pois, a se relacionar umas com as outras como se fossem sujeitos sociais dotados de vida própria (um apartamento estilo ‘mediter- râneo’ vale um ‘modo de viver’, um cigar- ro vale ‘um estilo de vida’, um automóvel zero Km. vale ‘um jeito de viver’ uma bebi- da vale ‘a alegria de viver’, uma calça vale ‘uma vida jovem’). E os homens-mercado- rias aparecem como coisas (um nordes- tino vale R$ 20,00 à hora na construção civil, um médico vale R$ 2.000,00 à hora no seu consultório). A mercadoria passa a ter vida própria indo da fábrica à loja, da loja à casa, como se caminhasse sobre seus próprios pé. E continua sua argumentação. O primeiro momento do fetichismo é este: a mercadoria é um fetiche (no sen- tido religioso da palavra), uma coisa que existe em si e por si. O segundo momen- to do fetichismo, mais importante é o seguinte: assim como o fetiche religioso (deuses, objetos, símbolos, gestos) tem poder sobre seus crentes ou adoradores, os domina como uma força estranha, as- sim também a mercadoria. O mundo se transforma numa imensa fantasmagoria. (CHAUÍ, 1984, p. 56-57). A mercadoria adquire, portanto, na socie- dade capitalista valor superior ao homem, pois Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 44 se privilegiam as relações entre coisas e são essas coisas que vão intermediar as relações entre as pessoas. Com o advento da Revolução Bochevique, a aceitação dos ideais marxistas ganhou impulso renovado; no século XX, difundiam-se pelos qua- tro continentes. Os ideais marxistas serviram de estímulo na luta pela independência que surgia nas colônias europeias da África e da Ásia, após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, assim como a luta por soberaniae autonomia, existente nos países latino-americanos. Em 1919, surgiram partidos comunistas na América do Norte, na China e no México. Em 1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile; e, em 1925, em Cuba. O movimento revolucioná- rio tornava-se mais forte à medida que os Esta- dos Unidos e a URSS emergiam como potências mundiais e passavam a disputar sua influência no mundo. Várias revoluções, como a chinesa, a cubana, a vietnamita e a coreana, instauraram regimes operários, que, apesar das suas diferen- ças, organizavam um sistema político com algu- mas características comuns – forte centralização, economia altamente planejada, coletivização dos meios de produção, fiscalismo e uso intenso de propaganda ideológica e do culto ao dirigente. Intensificava-se, nos anos 50 e 60, a oposi- ção entre os dois blocos mundiais – o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, lide- rado pela URSS. A polarização política e ideológi- ca é transferida para o conjunto do método e da teoria marxista, que passam a ser usados sob o peso da direção do stalinismo na URSS e dos par- tidos comunistas a ele filiados, como um corpo doutrinário fechado para legitimar a tese do “so- cialismo em um só país”, preconizada pela lideran- ça soviética e da gestão burocrática dos estados socialistas. O marxismo deixou de ser um método de análise da realidade social para transformar- -se em ideologia, perdendo, assim, parte de sua capacidade de elucidar os homens em relação ao seu momento histórico e mobilizá-los para uma tomada consciente de posição. Entre 1989 e 1991, desfazia-se o bloco so- viético após uma crise interna e externa bastante intensa – dificuldade em conciliar as diferenças regionais e étnicas, falta de recursos para manter um estado de permanente beligerância, atraso tecnológico, excesso de burocracia, baixa produ- tividade, escassez de produtos, inflação e corrup- ção, entre outros fatores. O fim da União Soviética provocou um abalo nos partidos de esquerda do mundo todo e o redimensionamento das forças internacionais. Toda essa explicação a respeito do mar- xismo faz-se necessária por diversas razões. Em primeiro lugar, porque a sociologia confundiu-se com socialismo em muitos países, em especial nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvi- mento – como são hoje chamados os países de- pendentes da América Latina e da Ásia, surgidos das antigas colônias europeias. Nesses países, in- telectuais e líderes políticos associaram de manei- ra categórica o desenvolvimento da sociologia ao desenvolvimento da luta política e dos partidos marxistas. A repercussão do pensamento sociológico desses três autores influenciou decisivamente os rumos da sociedade contemporânea. Pode-se di- zer mesmo que há para a organização social um antes e um depois, estabelecido a partir das refle- xões desses autores. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 45 6.17 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), a estrutura social é um conjunto ordenado que forma um todo e integra os indiví- duos dentro de uma ordem que define o papel de cada um de seus membros, e funciona também como um sistema de crenças e interesses que media as relações sociais. Numa estrutura social, temos status e papéis que são elementos opostos e complementares, um não poderia existir sem o outro. Um papel é a coleção de direitos culturalmente definidos, obrigações e expectativas que acompanham um status num sistema social. O Status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não de- pende de suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de “primogênito”. O Status adquirido está, então, associado à capacidade profissional, intelectual e de liderança do indivíduo na sociedade, é fruto do reco- nhecimento de sua capacidade; por exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualidades de seu futebol. 6.18 Atividades Propostas 1. Caracterize o status atribuído e adquirido. 2. Todas as sociedades de grande escala têm cinco Instituições Sociais principais. Indique e ca- racterize duas. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 47 A parte final desta apostila analisa as mu- danças ocor ridas nas últimas décadas do século XX, que alteraram subs tancialmente o panorama político, econômico e ideológico mundial. Essas mudanças ficaram conhecidas como globaliza- ção econômica, estendendo-se posteriormente para outras áreas de influência à cultura principal- mente. GLOBALIZAÇÃO7 Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo viveu um período conhecido como Guerra Fria. Os protagonistas dessa guerra foram EUA e URSS. Visando aumentar a influência e a participação nas decisões globais, essas potências formaram alianças com outros países e dividiram o mundo em dois blocos ideologicamente distintos. De um lado, estavam os países partidários da economia de mercado e da democracia política. Do outro, encontravam-se os países alinhados com a eco- nomia planificada e com a hegemonia de um par- tido único. Essa divisão do mundo em dois blocos ficou conhecida como período do Sistema Bipolar, isto é, Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído por duas superpotências que coexistem em rela- tivo equilíbrio de poder, sobretudo militar. O sis- tema da Guerra Fria, que durou de 1947 a 1989, é o exemplo clássico do equilíbrio bipolar. Vejamos algumas das principais conse- quências da Guerra Fria: Saiba maisSaiba mais Globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural e política que teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do século XX e início do século XXI. 7.1 Histórico A Europa deixou de ser o centro das de- cisões internacionais, condição de que desfrutava desde o início dos tempos modernos. Esse status de centro opera- dor das decisões internacionais foi as- sumido pelos EUA. A Europa foi dividida em duas áreas de influência, a parte ocidental do conti- nente aliou-se aos EUA e a parte orien- tal aliou-se à União Soviética. A Alemanha foi dividida em duas na- ções. De um lado, ficou a República Federal da Alemanha (Alemanha Oci- dental), com capital em Bonn, sob in- fluência dos EUA; do outro ficou a Re- pública Democrática Alemã (Alemanha Oriental), com capital em Berlim, sob a influência da União Soviética. Criação, em 1949, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A OTAN foi uma aliança militar que os EUA fizeram com a Europa Ocidental. Em resposta a essa aliança, a União Sovié- Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 48 tica criou, em 1955, o Pacto de Varsóvia. Aliança militar com os países da Europa Oriental. Saiba maisSaiba mais Guerra Fria é a designação atribuída ao período histó- rico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreenden- do o período entre o final da Segunda Guerra Mun- dial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tec- nológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. A Guerra Fria manifestou-se também na riva- lidade técnico-científica entre EUA e União Sovié- tica. A corrida espacial foi, possivelmente, o lance mais espetacular dessa disputa. A União Soviéti- ca saiu na frente, quando, em 1957, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro astronauta a fazer o voo em torno da Terra, anunciando do espaço sideral: “A Terra é azul”. Em 1969, os EUA responderam a essa investida e criaram a missão Apollo 11. Nela, Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar no solo lunar. Essa disputa foi vivenciada também em outros campos; nos esporte principalmente, nas Olimpíadas,quando os representantes desses dois blocos travavam uma ferrenha disputa para conquistar a hegemonia do quadro de medalhas. 7.2 Globalização e/ou Mundialização A década de 1980 foi caracterizada por uma série de transformações na União Soviética. As transformações vivenciadas naquele território atingiram como um vendaval os países socialis- tas. Nessa década, Mikhail Gorbatchev implan- tou a Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a Glasnost (transparência). Essas medidas visavam a promover uma reforma política e uma abertura econômica para a União Soviética. Os países ali- nhados com a União Soviética sentiram os efei- tos desses acontecimentos. A queda do Muro de Berlim, em 1989, e a consequente unificação das duas Alemanhas simbolizam a importância que essas transformações tiveram para os países so- cialistas, além de marcar o fim da Guerra Fria. A globalização surge, ou melhor, intensifica- -se, na esteira desses acontecimentos. Assim, da competição militar passou-se para a competição econômica e cultural. A globalização caracteriza- -se por um conjunto de mudanças no processo de produção de riquezas, nas relações de traba- lho, no papel do Estado e nas formas de domina- ção sociocultural. A partir da década de 1970, o capital começou a circular mais livremente e as empresas buscaram uma maior participação no mercado mundial. Uma das maiores transforma- ções operadas pelo fenômeno da globalização foi a exportação dos hábitos de consumo e do modo de vida dos países desenvolvidos para os países subdesenvolvidos. Marcas mundialmente conhecidas, redes de fast food e grandes redes de supermercados passaram a fazer parte da vida cotidiana de todos. Se, por um lado, essa nova realidade trouxe acessibilidade a um número considerável de pro- dutos e bens de consumo para o indivíduo, não podemos desconsiderar que, por outro, contri- buiu para descaracterizar as culturas locais, como nos alerta Silva (2004). [...] é no decorrer do século XX que o movimento da mundialização forma-se completamente. No campo da cultura, tal movimento engendra ‘diásporas cultu- rais’. Há uma produção de gostos, crenças e hábitos que transcendem as fronteiras nacionais. As feições culturais diaspóricas apresentam aspectos estandardizados, que são em larga medida fortalecidos pela manifestação midiática. Um exem- plo emblemático é o que estudiosos co- meçam a definir como internacionaliza- ção dos comportamentos alimentares. Esse processo traduz-se em dois pontos: primeiro, a pluralização dos produtos, ou Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 49 seja, uma área não se caracteriza mais por uma quantidade restrita de alimentos cultivados localmente; segundo, a trans- formação da cozinha tradicional (pratos típicos) para uma outra, industrializada, cujos alicerces estão na produção em alta escala. Isso não significa que pratos re- conhecidos tradicionalmente deixem de existir; porém, assumem uma nova cono- tação. A sofisticação que requer uma ver- dadeira pizza italiana torna-se inadequa- da à valorização do tempo pelos vorazes consumidores que freqüentam Shopping Center. Na verdade, os alimentos perdem sua territorialidade e são deslocalizados em proporções globais. A esse respeito, é sugestivo a caso da empresa McDonald’s. (SILVIA, 2004, p. 594). A globalização pode, então, ser vista como o esvaziamento de culturas locais em benefício de culturas globais. Em outras palavras, comuni- dades locais, até então fechadas em suas próprias idiossincrasias, passam a receber influências de outras culturas, que vão dos hábitos alimentares, passando pelo uso da língua, para, finalmente, atingir e modificar as tradições e costumes das comunidades com menos poder de influência e comunicação. Nesse cenário, tornar-se “igual” ou “semelhante” à cultura hegemônica é uma meta a ser alcançada pelas culturas regionais. A cultura regional vai, assim, neste mundo globalizado, paulatinamente diminuindo a in- fluência e a participação na vida dos indivíduos. Em outras palavras, as culturas com menos poder de participação e influência na vida das pessoas e no mercado mundial se descaracterizando e cedendo espaço para uma cultura cada vez mais estranha à realidade local, mas, apesar disso, ven- dável e lucrativa. É, por isso, exatamente por isso, que a história ou o mito do saci pererê, da mula sem cabeça e do currupira tem menos impacto na vida dos jovens do que o pastiche do hallo- ween. Assim, em meio à mundialização6 cultural, passa a existir uma ativação das relações sociais num circuito aberto, no qual as diferentes locali- dades aproximam-se e assemelham-se, moldadas por transformações sociais que ultrapassam as fronteiras de convivência regional. Conforme você pode observar, um exem- plo emblemático dessa situação é a presença das multinacionais no mundo. Na visão do norte- -americano Behrman7 (1984), as multinacionais são divididas em três tipos: as que buscam recur- sos em outros países, ou seja, companhias que buscam recursos naturais ou humanos em paí- ses hospedeiros; as que buscam mercados, isto é, companhias que investem no exterior, para servir ao mercado do país hospedeiro; e as que buscam eficiência, ou seja, dirigem investimentos exter- nos a fim de criar a rede de produção mais eficien- te para servir a múltiplos mercados padronizados mundialmente. Todos esses aspectos, além da presença das multinacionais nos países subdesenvolvidos, con- tribuíram para reordenar o modo de ser e viver do indivíduo nessas localidades. Portanto, no centro da vida cotidiana, que exige dos indivíduos novas e constantes identidades sociais, o encontro com a uniformização cultural é uma saída cômoda, já que permite ao indivíduo despir-se de sua cultu- ra (considerada inferior) para associar-se a uma cultura (considerada superior), a de “todos”. O cul- tivo da língua inglesa em escala planetária é um exemplo que salta aos olhos, pois essa língua, e somente ela, é capaz de lhe conectar aos símbolos globalizados. A emergência da indústria cultural nos países do capitalismo central e popularização dos novos meios de comunicação e informação contribuíram decisivamente para a consolidação desse fenômeno, como defende Silva (2004). O modo de produção industrial retra- balhado no campo da cultura tem a ca- pacidade de desenvolvê-la em escala 6 Mundialização é outra maneira que os franceses encontraram para definir a integração dos mercados econômicos. Assim, o que os ingleses chamam de globalização os franceses chamam de mundialização. 7 Behrman – Professor Emérito da Cátedra Luther Hodges, da Escola de Pós-Graduação de Administração de Empresas da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 50 mundial. As manifestações culturais, que antes se limitavam à esfera local, agora se espraiam globalmente. Um exemplo significativo desse movimento é o da in- dústria fonográfica. A característica cen- tral dessas empresas é a adoção de uma estratégia de ação mundial. [...] A indús- tria de publicidade também integra o processo de mundialização. Não é lícito asseverar que as indústrias fonográfica e publicitária já estejam, no alvorecer do século XX, definitivamente estruturadas. No entanto, elas constituem um esteio fundamental que possibilita intercâm- bios culturais de proporções mundiais. Tais trocas seriam fortalecidas ainda mais com a difusão do rádio e da televisão. Se inicialmente esses aparelhos ganham força entre as nações ricas, num segundo momento pode-se notar sua presença nos países terceiro-mundistas. [...] É notó- ria a influência do avanço tecnológico na globalização da cultura. Há toda uma es- truturamaterial – computador, fax, saté- lites – que torna possível a comunicação à distância, entre partes afastadas. [...] O mundo tornou-se uma cadeia comunica- cional em que os espaços estão interco- nectados. (SILVIA, 2004, p. 595). A indústria cultural teve, então, entre outros, o mérito de difundir para o mundo as inovações tecnológicas. Essas novas técnicas – o rádio, o ci- nema, a indústria fonográfica e a televisão – fo- ram incorporadas pelos jovens como forma mais cotidiana de interferência em um mundo social para eles agora, cada vez mais, amplificado. Em outras palavras, dentro dessa indústria cultural, a publicidade fez emergir e proliferar um novo esti- lo de vida. Esse novo estilo de vida foi impulsiona- do pela música, pelos filmes e pela publicidade, sobretudo de língua inglesa. Há, em tudo isso, uma face legitimadora da cultura hegemônica, que consegue impor para os países periféricos a sua visão de mundo. Tendo uma infraestrutura de dependência, os países periféricos passam tam- bém a ter uma cultura dependente. Assim, pode ocorrer que, “através da propaganda de massa, o desprotegido homem do Terceiro Mundo caia na armadilha do consumismo e mude seu compor- tamento para adaptar-se aos propósitos e objeti- vos da indústria estrangeira.” (GUARESCHI, 1983, p. 65). 7.3 Meio Ambiente Os problemas ambientais são antigos, mas foi somente nas últimas décadas do século XX que essa questão ganhou relevo. As atividades humanas começaram a causar maior impacto na natureza com o advento da Revolução Industrial, que iniciou a produção em massa e a substituição das fontes de energia limpas pelo carvão e pelo petróleo. A concentração da população nas áreas ur- banas colaborou também para essa situação. A cidade é a expressão mais acabada da alteração do espaço natural. Rios canalizados, quando não desviados de seu curso natural, e impermeabiliza- ção dos solos, com o asfalto entre outras interfe- rências humanas, colaboraram para o quadro de calamidade ambiental que estamos vivendo. Em 1972, em Estocolmo, na Suécia, repre- sentantes de 113 países reuniram-se para debater os problemas do meio ambiente. Nesse encon- tro, duas posições eram defendidas. A primeira, da qual o Brasil era signatário, defendia o cres- cimento a qualquer custo, isto é, não importava se a indústria poluía, o que importava eram os “benefícios” que ela possivelmente traria para o Brasil. A segunda posição alertava que o planeta poderia exaurir suas fontes de energia em apenas um século se mantivesse a tendência de aumento da produção, consumo e poluição. Essa proposta foi, ironicamente, batizada como política do cres- cimento zero, sendo amplamente rejeitada pela maioria dos países. A Conferência de Estocolmo foi de qualquer forma um marco na tomada de posição e cons- Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 51 ciência para o homem contemporâneo sobre as questões ambientais. Um ano depois da Confe- rência de Estocolmo foi lançada a ideia de De- senvolvimento Sustentável. A ideia básica desse conceito é que o atendimento às necessidades básicas das populações, no presente, não deve comprometer a vida das gerações futuras. Daí a consciência e necessidade de que os produtos podem e devem ser reaproveitados por meio da reciclagem. Em 1992, o Rio de Janeiro abrigou a Confe- rência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, também chamada de Eco-92. A novidade desse encontro foi a grande presença de Organizações não Governamentais (ONGs). En- tre outros benefícios, essa conferência elaborou a Agenda 21, que se responsabilizou a fornecer recomendações de como alcançar o desenvolvi- mento sustentável no século XXI. Um dos pon- tos centrais desse documento está no princípio de que a conservação ambiental do planeta não pode ser alcançada sem a erradicação da pobreza e das desigualdades sociais. Essa conferência es- tabeleceu ainda a Convenção do Clima, que ela- borou metas e estratégias de combate ao efeito estufa. Criou também a Declaração de Princípios sobre a Floresta, que garantiu aos Estados o direi- to soberano de aproveitar as florestas de acordo com suas necessidades de desenvolvimento, des- de que isso ocorra de modo sustentável. Em 2002, ocorreu a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, capital da África do Sul, conhecida também como Rio +10. Uma das principais discussões dessa cú- pula girou em torno da mudança da matriz ener- gética do mundo (petróleo) por fontes de energia renováveis. Os EUA e a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) recusaram-se a assinar esse compromisso. Como se vê, a questão do meio ambiente está cercada de interesses comerciais, industriais e também regionais. Nesse clima de disputa, quem perde são os países subdesenvolvidos, que são constrangidos a acatar determinações que não são seguidas pelos países desenvolvidos. Um exemplo notório foi a recusa dos EUA em assinar o Protocolo de Kyoto, alegando que a ratificação desse documento travaria o desenvolvimento da- quela sociedade. O fato é que o dióxido de carbono e o gás metano emitidos pelas fábricas e pelos veículos são os principais responsáveis pelo efeito estufa. Os EUA são os maiores produtores e têm a maior frota de veículos do mundo; ainda assim recusa- ram-se a assinar o Protocolo de Kyoto e tentaram, com isso, transferir responsabilidade pelo efeito estufa para os países subdesenvolvidos, alegan- do, entre outras coisas, que as queimadas das florestas tropicais emitem mais gás carbônico do que as fábricas e veículos. Frente a esse impasse, todos nós pagamos, pois somos obrigados a respirar um ar de baixa qualidade, beber água em condições duvidosas e ainda sofrer as consequências de um clima des- controlado. Por isso, impõe-se a todos nós a ur- gente necessidade de empunhar a bandeira do meio ambiente sob pena de legarmos aos nossos descendentes um planeta sem condições de ser habitado. Saiba maisSaiba mais Concluído em 1997 em Kyoto, no Japão, o protocolo de Kyoto impõe a redução de seis gases causadores de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta. Entre esses gases, está o CO2 (dióxido de car- bono ou gás carbônico) e o CH4 (metano). Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 52 Caro(a) aluno(a), neste capítulo final, foi possível observar as mudanças ocor ridas nas últimas décadas do século XX, que ficaram conhecidas como globalização econômica. Após a Segunda Guer- ra Mundial, o mundo viveu um período conhecido como Guerra Fria. Durante essa guerra a rivalidade técnico-científica entre EUA e União Soviética ficou marcada pela corrida espacial. Já a década de 1980 foi caracterizada por uma série de transformações na União Soviética, Mikhail Gorbatchev implantou a Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a Glasnost (transparência). Essas medidas visavam a promover uma reforma política e uma abertura econômica para a União Soviética. A queda do Muro de Berlim, em 1989, e a consequente unificação das duas Alemanhas simbolizam a importância que essas transforma- ções tiveram para os países socialistas, além de marcar o fim da Guerra Fria. 7.4 Resumo do Capítulo 7.5 Atividades Propostas 1. Explique o que é sistema bipolar. 2. A Conferência de Estocolmo ocorrida em 1972, na Suécia, reuniu representantes de 113 países para debater os problemas do meio ambiente. Quais propostas resultaram desse encontro? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 53 Considerando o que você estudou nesta apostila, você pode perceber que as primeiras tentativas de compreender a ação humana esbarraram em interpretações teológicas, mitológicas e muitas vezes fantasiosas. Assim, para os gregos, os fenômenos“sociais” tinham uma base de explicação mitológica, isto é, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era quem mantinha a ordem do mundo moral e físico. Na Idade Média, os acontecimentos sociais estavam, por sua vez, relacionados a um princípio teológico que cingia a liberdade do indivíduo, visto que as explicações para todas as mazelas sociais estavam funda- mentadas no discurso da vontade “divina”. Com toda essa transformação social que ocorreu no mundo, os problemas ambientais surgiram com intensidade e somente nas últimas décadas do século XX que essa questão ganhou relevo. A cidade é a expressão mais acabada da alteração do espaço natural. Rios canalizados, impermeabilização dos solos, com o asfalto, entre outras interferências humanas colabo- raram para o quadro de calamidade ambiental que estamos vivendo. Para amenizar esses problemas, a Conferência de Estocolmo foi um marco na tomada de posição e consciência do homem contemporâ- neo sobre as questões ambientais. CONSIDERAÇÕES FINAIS8 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 55 CAPíTULO 1 1. Conforme estudamos, o primeiro procura uma interpretação e o consequente entendimento dos fatos e dos fenômenos por meio da experiência e comprovação da razão; o segundo, ao contrário, limita-se à experiência imediata sem preocupações e comprovações empíricas. 2. Espera-se que você tenha respondido algo semelhante ao que segue: a) Iniciação – quando a criança, com catorze anos, passa da educação materna à instrução sacerdotal. b) Admissão – quando o indivíduo aos vinte e um anos está preparado para servir à humani- dade, retribuindo tudo que recebeu da sociedade. CAPíTULO 2 1. Você deve ter respondido que ele é, segundo Durkheim, experimentado pelo indivíduo como uma realidade independente dele, que ele não criou e não pode rejeitar como as regras mo- rais, as leis, os costumes, os rituais e as práticas burocráticas, por exemplo. 2. Esperamos que você tenha percebido que foi logo após a Primeira Guerra Mundial, momento em que a Alemanha vivia uma grande crise econômica e convivia ainda com as retaliações do Tratado de Versalhes; em decorrência disso, o nazismo firmava-se como realidade. Concomi- tantemente a esses acontecimentos, a Revolução Russa acabara de triunfar e sinalizava para o mundo uma nova possibilidade de sociedade. Tudo isso incidia de forma decisiva nas ideias dos jovens judeus marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer. CAPíTULO 3 1. Você deve ter respondido que foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre forma- ções políticas e crenças religiosas. 2. Conforme você estudou, isso aconteceu em decorrência de sua descentralização política. CAPíTULO 4 1. Espera-se que você tenha respondido que foi escrita por Max Weber e sua temática versa sobre as contribuições da religião protestante para o desenvolvimento do capitalismo. 2. Você deve ter identificado que a Ação afetiva é aquela determinada por afetos ou estados sen- timentais; e Ação tradicional é aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado. RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 56 CAPíTULO 5 1. Conforme você estudou, o nível da infraestrutura é constituído pela base econômica, que é, segundo Marx, o aspecto fundamental de toda sociedade, isto é, transformar matérias-primas e fontes de energia em riqueza. 2. Espera-se que sua resposta aponte que o modo de produção feudal predominou na Europa Ocidental do século VI ao século XVI. A sociedade feudal estava baseada nas relações servis, isto é, senhores versus servos. Os servos estavam presos ao trabalho da terra. Eles cultivavam um pedaço de terra cedido pelo senhor e em troca pagavam impostos, cedia parte da produ- ção para o senhor e ainda eram obrigados a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar disso, não eram escravos, pois o servo não era propriedade do senhor, portanto não podia ser negociado como uma mercadoria, como ocorria com os escravos. CAPíTULO 6 1. Você deve ter distinguido as duas formas de status, como segue: status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende de suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de “primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status adquirido é obtido de acordo com as qualidades pessoais do indivíduo. Esse status confere ao indivíduo uma posição de destaque entre os membros do grupo de pertencimento, pois seu status é fruto do reconhecimento de sua capacidade. 2. Espera-se que você aponte as diferenças que seguem: a) Religiosa – que reforça os valores; dá significado e propósito à vida; b) Econômica – que organiza a produção e distribuição de bens e serviços. CAPíTULO 7 1. Segundo o que você estudou, esperamos que tenha pontuado em sua resposta que é um Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído por duas superpotências que coexistem em relativo equilíbrio de poder, sobretudo militar. 2. Você deve ter respondido que surgiram duas propostas, a primeira foi defendida pelo Brasil e defendia o crescimento a qualquer custo, isto é, não importava se a indústria poluía. A segun- da posição, defendida por alguns ambientalistas, alertava que o planeta poderia exaurir suas fontes de energia em apenas um século se mantivesse a tendência de aumento da produção, consumo e poluição. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 57 ADORNO, T. Indústria cultural. In: COHN, G. (Org.). Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Nacional, 1977. BENOIT, L. O. Sociologia comteana. São Paulo: Discurso Editorial, 1999. CALDAS, W. O que todo cidadão precisa saber sobre cultura de massa. São Paulo: Global, 1999. CHAUÍ, M. O que é ideologia. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. COMTE, A. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Martins Fontes, 1990. COSTA, C. Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997. DURKHEIM, E. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ______. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2004. GUARESCHI, P. A. Comunicação e poder: a presença e o papel dos meios de comunicação de massa estrangeiros na América Latina. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1983. HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 1999. LEMOS FILHO, A. (Coord.). Sociologia geral e do direito. São Paulo: Alínea, 2004. MARTINS, C. B. O que é sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1987. MORIN, E. Cultura de massa no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Universitária, 1997. NETTO, J. P. O que é marxismo. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. RIBEIRO JR., J. O que é positivismo. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. RODRIGUES, J. A. Durkheim. São Paulo: Ática, 2003. SANTOS, R. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Global, 2003. SCURO, P. Sociologia: ativa e didática. São Paulo: Saraiva, 2004. SILVA, J. M. da. A autonomia da escola pública: a re-humanização da escola. Campinas: Papirus, 2004. WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. REFERÊNCIAS Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 58 ______. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2003. WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1987. INTRODUÇÃO 1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA 1.1 O Nascimento da Sociologia 1.2 O Contexto do Pensamento Positivista 1.3 Os Fundamentos do Positivismo 1.4 Estratificação da Sociedade Positivista 1.5 Resumo do Capítulo 1.6 Atividades Propostas 2 A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM 2.1 A Objetividade do Fato Social 2.2 A Consciência Coletiva 2.3 A Escola de Frankfurt2.4 A Indústria Cultural 2.5 Cultura de Massa 2.6 Resumo do Capítulo 2.7 Atividades Propostas 3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS 3.2 Sociologia Alemã: a Contribuição de Max Weber 3.3 Resumo do Capítulo 3.4 Atividades Propostas 4 A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 4.1 Resumo do Capítulo 4.2 Atividades Propostas 5 KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM 5.1 O Método do Pensamento Marxista 5.2 A Práxis 5.3 A Mais-Valia 5.4 Modos de Produção 5.5 Resumo do Capítulo 5.6 Atividades Propostas 6 CONCEITOS DE SOCIOLOGIA 6.2 Status e Papéis 6.3 Relações Sociais 6.4 Grupos 6.5 Fenômenos Sociais 6.6 Relações Sociais 6.7 Fim ou Objetivos da Sociologia 6.8 Teoria Sociológica Geral 6.9 Teorias Sociológicas Especiais 6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas 6.11 Leis Sociais 6.12 Processo Social 6.13 Teoria do Indivíduo Social 6.14 Fato Social 6.15 Ideologia 6.16 Alienação 6.17 Resumo do Capítulo 6.18 Atividades Propostas 7 GLOBALIZAÇÃO 7.2 Globalização e/ou Mundialização 7.3 Meio Ambiente 7.4 Resumo do Capítulo 7.5 Atividades Propostas 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS REFERÊNCIAS