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Literatura Surda

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Literatura Surda
Apresentação
Hoje em dia, vive-se em tempos em que a singularidade e a igualdade tornaram-se um processo 
necessário e natural para garantir a inclusão comunicativa entre todos. Assim, a partir do ano de 
2002, no qual se regulamentou, em 24 de abril, a Lei n.o 10.436/02, que dispõe sobre a Língua 
Brasileira de Sinais – Libras, nasce a esperança de um povo em fundamentar-se no princípio 
oportunidade, equidade e igualdade, que pressupõe educação para todos por meio do 
reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão.
Esta língua facilitadora, completa e ao mesmo tempo complexa ignora totalmente o mundo do 
silêncio pelos movimentos das mãos em conjunto com as expressões faciais e corporais, dando vida 
à arte de informar, comunicar e interagir, formando-se, dentre estes princípios, a literatura surda.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar o conceito de literatura surda, reconhecendo 
suas características e diferenciando-a da literatura tradicional.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Conceituar literatura surda.•
Reconhecer as características da literatura surda.•
Diferenciar literatura surda da literatura tradicional.•
Desafio
De acordo com o IBGE 2015, o Brasil tem por volta de 10 milhões de surdos, entre eles surdos 
oralizados, sinalizados e bimodais, ou ainda surdos analfabetos.
Imagine que você está iniciando a carreira docente e se depara pela primeira vez com um aluno 
surdo. Logo, você fica imaginando como irá se comunicar com ele, já que suas habilidades de 
comunicação por meio da Libras são praticamente nulas e que você não tem à sua disposição meios 
ou recursos que possam permitir essa interação. Não bastando a sua ausência comunicativa entre 
surdos, você descobre que esse aluno não tem um nível cultural que lhe permita ao menos 
improvisar algo.
Diante do relato, responda:
a) Mesmo não entendendo Libras, como você implicaria uma literatura com ênfase cultural a esta 
pessoa?
b) Quais seriam os prejuízos culturais aos surdos que não têm acesso a uma literatura própria?
c) O que você faria a partir desse momento para iniciar uma comunicação eficaz com esse aluno?
Infográfico
Os ouvintes estão presenciando, cada dia mais, a participação dos surdos nos espaços sociais, e isso 
representa uma mudança de comportamento dos surdos. Essa realidade ganhou força após o 
reconhecimento da Libras e, desde então, o interesse nesta língua vem crescendo. A convivência 
entre surdos e ouvintes nos mesmos ambientes solicita o compartilhamento do mesmo código 
linguístico.
 
Nesse sentido, deve-se entender que a literatura surda é diferente da literatura portuguesa, e a 
Libras acaba se tornando a L2 dos ouvintes.
O ouvinte pode escolher não aprender a Libras, mas deve ter conhecimento de sua importância 
para a comunicação com os surdos, além de colaborar para a inclusão deles na sociedade.
 
Veja, no Infográfico, algumas características da literatura surda.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/75074fff-0dce-4a36-b04c-32b8eb229eec/f949a906-fa21-4f2c-8828-a64ec719a414.png
Conteúdo do Livro
As perspectivas inatingíveis confundem as pessoas e fragmentam os esforços de que todos têm a 
mesma condição de atingir o nível cultural, e por diversas vezes precisa-se falar sobre inclusão em 
um tom de mudança e aceitação. Acredita-se que tanto a inclusão quanto essa mudança são 
inevitáveis na vida de um homem. Convive-se a todo momento com pessoas “diferentes” e 
mudanças extremas. Ao escolher crescer, mudar e aceitar mudanças é uma escolha pessoal.
Quem está envolto da inclusão ou que em convivência permanente com todo tipo de pessoa, seja 
ela em atendimento profissional, seja em meio social ou familiar, pode reduzir esse dreno na 
energia necessária para trabalhar em um único sentido: que todos sejam considerados iguais, 
mesmo sendo diferentes.
O capítulo Literatura surda, da obra Libras, traz o conceito e as características da literatura surda e 
diferenças entre a literatura tradicional e a literatura surda dentre as perspectivas na visão de que 
tudo depende das práticas de igualdade para atingir um conhecimento literário, seja para ouvintes, 
seja para surdos. Assim, a comunicação e a interação vão possibilitar aos surdos e aos ouvintes uma 
cultura nivelada.
Bons estudos.
LIBRAS
Daniel Neves Pinto
Literatura surda
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Conceituar literatura surda.
  Reconhecer as características da literatura surda.
  Diferenciar literatura surda da literatura tradicional.
Introdução
Comunicar e interagir são necessidades de todos e vão além da busca 
por compreensão. Nesse sentido, a literatura surda ou a literatura por 
meio dos recursos da língua de sinais facilita o processo de construção 
cognitiva e a ampliação de vocabulário, fazendo com que o silêncio dos 
surdos não seja manifestado por preconceitos culturais e exclusão social, 
permitindo que seja reconhecida a existência de possibilidades, para essa 
comunidade, de recursos de conhecimento semelhantes aos dos ouvintes. 
Neste capítulo, portanto, você vai entender do que se trata a literatura 
surda, reconhecendo as suas características e diferenciando-a da literatura 
tradicional, voltada aos ouvintes.
O que é literatura surda?
A palavra literatura, em sentido amplo, aplica-se a todas as produções literárias 
de um país ou de uma época, sendo, portanto, um dos ramos essenciais do 
conhecimento humano. Literatura abrange os textos, orais ou escritos, sejam 
eles poesia, história, textos de gramática, eloquência, textos fi losófi cos ou 
teológicos, textos das ciências, dramas, etc. Entretanto, a literatura não pode 
ser reduzida à sua etimologia — litterae, litteratura —, que se refere à “coisa 
escrita”, ainda mais quando nos referimos à literatura surda.
Distinguir os meios ou os recursos de literatura surda envolve um mundo 
totalmente diverso do habitual e preestabelecido em uma nação ouvintista que 
não conhece as culturas e as especificidades da comunidade surda.
Enquanto define-se surdo por sua perda auditiva, dividimos o mundo 
em duas categorias que dependem do modo de comunicação: aqueles que 
se comunicam usando a verbalização e aqueles que se comunicam usando 
a língua de sinais. Diante desse ponto de vista, temos, portanto, uma dife-
rença cultural, e não uma deficiência no sistema sensorial. De fato, algumas 
pessoas com surdez têm ou necessitam de uma reeducação oral, caso não 
tenham aprendido ou desenvolvido a comunicação por meio da Libras e 
tenham vivido, quase que exclusivamente, em meio a pessoas ouvintes. Ao 
contrário, um ouvinte com pais surdos pode ter aprendido a língua de sinais 
como língua materna e ter vivido principalmente em um ambiente social 
de cultura surda. É a partir desses fatos que podemos identificar e definir 
a literatura surda.
A literatura da qual estamos falando deveria constituir um meio de acesso 
não só à cultura surda, mas à cultura dos países e comunidades de modo geral. 
Para crianças surdas, muitas vezes, é mais difícil adquirir referências culturais 
comuns; por isso, elas devem ser movidas pelo desejo e pela curiosidade que 
a própria literatura traz, como o de transmitir e receber informações e conhe-
cimentos a fim de aprender outras culturas, outras ideias, distinguindo uma 
literatura realista de uma fantasiada e desfrutando do prazer que desenvolve 
a expressão de sentimentos e emoções.
A expressão cultura surda refere-se a um conjunto de regras sociais, representações, 
práticas, conhecimentos, atitudes e valores do grupo social composto pelas pessoas 
surdas e suas famílias, que se comunicam com a língua de sinais e compartilham um 
mesmo sistema de referência, os mesmos lugares associativos e os mesmoshábitos.
As principais características dessa literatura são o enriquecimento de 
vocabulário, a aquisição de conceitos e a decifração do acesso aos significados.
Ser surdo é pertencer a uma cultura na qual os sinais, sejam escritos ou 
sinalizados, têm uma importância primordial na literatura voltada a ela. 
Quando a literatura retrata a questão dos surdos e da surdez, muitas das 
vezes, é concebida pelo viés patológico, e não no sentido socioantropológico 
que estabelece uma temática da diferença e não da falta dela (SANTOS; 
LIMA, 2016, p. 3).
Literatura surda2
As pessoas com surdez não deveriam limitar-se às literaturas ouvintistas, o que 
poderia torná-las socialmente incapacitadas ao acesso à cultura. A literatura surda 
no Brasil ainda se encontra em criação e caminha a passos lentos, o que a torna 
uma definição em construção. Apesar disso, é importante destacar que a literatura 
surda não se dá apenas por meio do silêncio, mas por uma literatura não auditiva.
A literatura é uma parte importante e valiosa de qualquer cultura e, para 
os surdos, não é diferente. Essa parte da cultura ajuda a explicar a identidade, 
as crenças e os modos de vida das pessoas com surdez, sendo apreciada e 
compartilhada não somente por essa comunidade.
Não é possível articular os conceitos da literatura surda sem ao menos 
passar por suas exterioridades culturais e pela própria prática da linguagem 
não verbal, ou seja, sem o conhecimento mínimo da língua de sinais.
Em relação ao conceito de literatura surda, vale apenas trazer a importância 
de que esta literatura se constitui na perspectiva de quem vive na comunidade 
surda e é usuário da língua de sinais como sua L1 (SANTOS; LIMA, 2016, p. 3).
Cada comunidade de surdos se caracteriza por uma difusa biografia em 
meio a batalhas e conquistas. Por isso, também é importante o conhecimento 
histórico dos surdos para realizar uma análise mais profunda sobre o assunto. A 
ancestral história dos surdos até a contemporaneidade é fascinante e, ao mesmo 
tempo, desumana e cruel, pois, unifica estudos sobre deficiências e a afirmação 
da diferença física, caracterizando os surdos como pessoas impossibilitadas.
Essa história e essa cultura não podem ser confundidas simplesmente com 
o que realmente é a literatura surda. Não se pretende, com isto, ignorar que 
esses fatos fazem parte desta literatura, mas sim deixar claro que a história e 
a cultura apresentadas em escrita de língua de sinais ou pela própria Libras 
não são o único repertório da literatura surda — precisa-se muito mais do que 
isso. É necessário que poemas, poesias, textos, ciência, etc. também estejam 
presentes na literatura de forma viável, em meios utilizados pelos surdos.
As características da literatura surda
A língua brasileira de sinais (Libras) não é uma linguagem escrita, cuja co-
municação altera a legitimidade de uma interação cordial quando aplicamos 
uma entonação, mas leva a uma literatura com ocorrência incomum, afi nal, 
não conta com uma forma escrita alfabética que possa produzir uma literatura 
manuscrita ou oral. 
3Literatura surda
Suas narrativas são preservadas e sobrevindas de geração a geração pelo ato 
de arrolar histórias, piadas, trocadilhos, humor, canção, poesia, contos, entre 
outros por meio das mãos, do corpo e da face, em vez de oralizadas ou escritas — 
como acontece na literatura portuguesa —, refletindo sua experiência, tradição 
e seus valores. A língua, a história e a cultura surda estão entrelaçadas e não 
existem uma sem a outra para que sua literatura seja desenvolvida.
A maioria dos países têm a literatura surda como uma língua natural de 
comunicação e educação das pessoas com surdez. No entanto, nem sempre foi 
assim, e, para isso, é necessário entender melhor a história e a cultura da língua 
de sinais para compreender como foi originalmente constituída uma literatura.
A literatura do silêncio é a literatura visual, é um corpo de materiais 
literários que podem ser desde criativos até trabalhos técnicos ou científicos. 
Para Karnopp (2008, p. 14-15):
[...] a literatura surda está relacionada com a cultura, contada na língua de 
sinais de determinada comunidade linguística, constituída pelas histórias 
produzidas em língua de sinais pelas pessoas surdas, pelas histórias de vida 
que são frequentemente relatadas.
Com toda essa base, a literatura surda, por meio da língua de sinais, auxilia 
na compreensão, no aprimoramento e na construção de vocabulário nos mais 
variados contextos, que viabilizam uma ampliação de conhecimento da própria 
língua de sinais, propondo embasamento para auxiliar nos encaixes dos dife-
rentes contextos e parâmetros e lembrando, sempre, das devidas expressões.
A partir dos elementos supracitados, as características próprias de cada 
estrutura literária voltada às pessoas com surdez nos presenteiam com inú-
meras possibilidades de recriação, permitindo, assim, que aprofundemos a 
compreensão da língua de sinais, investigando e expandindo o conhecimento 
por meio das literaturas surdas.
Porém, os surdos, de certa forma, constituem um grupo acanhado de cultura 
linguística e precisam adaptar-se, em sua maioria, à literatura ouvintista.
A literatura voltada aos surdos necessita de muito mais do que a simples 
oralização ou das palavras descritas no papel; ela carece de movimentos em 
classificadores, construção espacial, marcadores manuais e expressões faciais 
e corporais para que a significância se torne ainda mais viva e verdadeira. Sem 
esses elementos, não se produz uma literatura surda de qualidade e compreen-
sível a esses usuários.
Quando falamos em literatura surda ou por meio da língua de sinais, também 
entramos no campo da tradução, já que não trata apenas de obras nacionais: elas 
Literatura surda4
também podem ser traduzidas ou adaptadas, mas não necessariamente são literatura 
surda. O clássico filme “Mr. Holland – Adorável Professor” de 1995) é um bom 
exemplo, afinal, trata-se de um filme em que há um personagem surdo, mas isso 
não significa que o filme tenha sido feito especificamente para essa comunidade.
Os surdos formam um grupo de fator particular, que necessita de uma 
combinação entre língua de sinais e cultura própria para atribuir aquilo que 
é visto, e não aquilo que é escrito. Sabe-se que não é impossível unir ambas 
as coisas, mas a construção literal descrita pelos próprios surdos é particular 
e para um público restrito nos interesses editoriais.
No Brasil, por exemplo, o conto “Cinderela Surda”, escrito por Lodenir Becker 
Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa, foi a primeira obra escrita em língua de 
sinais (no sistema SignWriting) voltada exclusivamente ao público surdo e, nesse 
fruto, estão inseridos elementos da identidade e cultura própria dessa comunidade. 
É difícil conhecer um escritor surdo que escreva voltado exclusivamente 
ao público de sua cultura. Alguns dos mais conhecidos no Brasil são, sem 
dúvida, além dos já citados acima, os instrutores do Instituto Nacional de 
Educação de Surdos (INES). Internacionalmente, a mais conhecida é Marlee 
Matlin, surda, atriz vencedora do Oscar de 1987 e que publicou três livros. 
Certamente, esses escritores estão classificados na categoria de “literatura 
surda”, um subgênero literário, já que o tema de que tratam não é apenas 
surdez, mas algo maior.
Independentemente do autor surdo, é comum que a maioria escreva curiosi-
dades e experiências do mundo do silêncio, não porque sua cognição descritiva 
seja restrita, mas pela necessidade de expor sua cultura, de lutar em favor dos 
seus direitos e de fazer com que suas mãos sejam ouvidas. 
Todas as obras literárias oralizadas e utilizadas por uma comunidade de 
forma verbalizada ou escrita são originadas e destinadas às pessoas ouvintes, 
o que exclui o aproveitamento da literatura surda, afinal, essas obras não são 
propostas para a comunidade que vive no silêncio. 
Como nenhum método amplamente aceito foi desenvolvido para o registro 
da língua de sinais por escrito,ele prossegue como uma linguagem puramente 
“visual-espacial”. Após a chegada da tecnologia e do mundo cibernético, as 
línguas de sinais puderam ser gravadas, preservadas e distribuídas, porém, 
em pequenas e amadoras demandas. 
Hoje, no mundo virtual, por meios dos sites de acesso a vídeos, é possível 
encontrar inúmeros trabalhos que podemos classificar como literatura surda. 
Mas quais trabalhos seriam esses? 
É possível encontrar documentários, histórias, músicas, principalmente, 
poemas e outras obras em línguas de sinais para todo tipo de gosto, idade e 
5Literatura surda
sexo. Mas você por acaso já ouviu falar em algum filme de longa-metragem 
com tradução em Libras? Muitos dizem: “mas os filmes têm o closed caption”! 
Sim, mas, embora o tenham, isso não configura um filme como dirigido à 
comunidade surda especificamente, já que a legenda não transpõe o mínimo 
realismo sonoro aos surdos.
A Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos, desenvolve, todos os anos, 
produções extraordinárias, belíssimas e destinadas exclusivamente à população 
que tem tem a língua de sinais como sua L1 — nesse caso, sim, obras literárias 
surdas. No Brasil, o INES, fundado e situado no Rio de janeiro, propõe ideias 
com essa mesma conveniência. 
A Universidade Gallaudet, fundada em 1864, nos Estados Unidos, é a única universi-
dade do mundo especializada e desenvolvida para atender pessoas surdas desde o 
seu nascimento até a entrada na universidade, sendo uma verdadeira referência em 
educação de surdos.
A chegada e a prevalência da tecnologia de vídeo digital permitiram que 
mais pessoas e instituições gravassem suas próprias produções em língua 
de sinais, com mais facilidade e com compartilhamentos jamais previstos. 
Plataformas como YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp contribuíram 
para uma maior exposição das criações literárias originais.
Como a Libras não é universal e cada país possui sua própria língua de 
sinais, as influências históricas, culturais locais e regionais ultrapassam fron-
teiras por esses meios virtuais e precisaram desenvolver a sua própria literatura 
— para o que se levou um bom tempo.
Atualmente, existem, em média, 130 línguas de sinais, como a Língua 
Gestual Portuguesa (LGP), a Língua de Sinais Catalã (LSC), a Língua Ame-
ricana de Sinais (ASL), a Língua de Sinais Sul-africana (SASL), a Língua de 
Sinais Japonesa (JSL) e a Língua de Sinais Francês (LSF), da qual se originou 
a Língua de Sinais Brasileira (Libras), entre outras.
Com a evolução das línguas de sinais, criou-se um sistema de escrita de 
sinais voltado às pessoas com surdez, o chamado SignWriting, que potencializa 
a literatura surda, afinal, permite que os textos sejam transmitidos manual-
mente. Porém, no Brasil, esse sistema ainda está em fase de desenvolvimento 
e há poucos profissionais que estudam a sua aplicação na literatura.
Literatura surda6
Uma grande confusão acontece quando se ouve falar em “escrita de sinais”. Muitos 
entendem que essa escrita é o alfabeto manual desenhado no papel ou descrições dos 
próprios sinais de como ficaria a mão ao realizar uma palavra, mas não é assim que funciona. 
O SignWriting é um sistema de escrita de sinais que expressa os cinco parâmetros da 
língua de sinais por meio das configurações de mãos, pontos de articulação, orientação, 
movimento e expressões faciocorporais. A partir desse sistema, pode-se escrever 
qualquer palavra em qualquer língua de sinais do mundo.
No Brasil, a escrita de sinais ainda está em fase de desenvolvimento, mas veja algumas 
palavras, o alfabeto e os números escritos em SignWriting.
Alfabeto em SignWriting:
Números em SignWriting: 
Palavras em SignWriting:
A literatura surda, geralmente, apresenta usos criativos de sinais, expressões 
faciais e corporais, classificadores, empréstimos semânticos, entre outros 
elementos para facilitar o entendimento e propor uma comunicação eficaz. Um 
tipo mais comum de literatura surda no Brasil são as historinhas infantis por 
meio de narrativas desenvolvidas por diversas pessoas e instituições voltadas 
7Literatura surda
à educação. Esse tipo de trabalho é caracterizado pelo uso de uma série de 
classificadores que asseguram a realidade idealizada pelas mãos. 
Diferenças entre literatura surda 
e literatura tradicional
Temos o costume de comparar a língua de sinais com a língua portuguesa, 
e isso é um grande erro. Da mesma forma, a literatura surda ou a literatura 
por meio da língua de sinais não se convenciona com a língua portuguesa, 
mesmo que os próprios surdos precisem adaptar-se à literatura dos ouvintes 
por carência de materiais literários específi cos.
As línguas de sinais, por sua vez, tampouco têm a mesma estrutura linguística 
que as línguas orais. Podemos diferenciar inicialmente que uma se fala “com 
as mãos” e a outra “com a boca”, e essa diferença se faz no modo de apresentar 
uma literatura. Outro erro comum ao ver uma pessoa sinalizando é pensar que 
para cada palavra feita em uma frase em português será destinada um sinal. 
A seguir, vamos entender a diferença entre a literatura tradicional e a 
literatura surda.
Literatura tradicional
Historicamente, o que é chamado de literatura tradicional é a literatura oral 
que se desenvolve antes de qualquer literatura escrita. Podem ser considerados 
precisamente como textos pertencentes aos gêneros orais tradicionais contos, 
poesias, poemas, provérbios, textos, canções, rimas, entre outros.
Assim, a literatura oral torna-se escrita ou pelo menos é transcrita, o que 
pode parecer contraditório. Na verdade, os textos em folha de papel de um 
livro perdem algumas de suas características naturais ou improvisadas.
A literatura fornece várias definições da tradição oral de acordo com as 
mais variáveis opiniões e a origem do autor (história, sociologia, linguística, 
antropologia, filosofia, etc.). No geral, essas definições destacam a transmissão 
oral da memória coletiva e específica das sociedades tradicionais em oposição 
à transmissão escrita e específica para o mundo moderno.
Dentre as transmissões orais voltadas a literatura, encontramos: 
  a tradição oral, transmitida verbalmente por um povo sobre o seu pas-
sado, em histórias passadas de geração em geração; 
  a literatura oral, a partir de histórias transmitidas anonimamente.
Literatura surda8
Diante do descrito, isso significa que qualquer sociedade tradicional é oral e 
que qualquer sociedade moderna é escrita? Não, a oralidade e a escrita não são 
sistematicamente opostas, as duas formas coexistem em todas as sociedades. 
A oralidade não é uma literatura secundária, mas é importante distinguir a 
literatura “verbalizada” da “oralizada”. Do mesmo jeito, a oralidade não é 
uma cultura padrão. Não é por falta de escrita que existe a literatura oral, 
mas porque essa corresponde às mais diversas necessidades e a preferências 
de busca por conhecimento.
Vamos entender melhor quais seriam as literaturas tradicionais? Para 
isso, é importante que você entenda suas classificações. As literaturas 
tradicionais são classificadas por gênero, subgêneros, mídias, técnicas, 
entre outros.
Em relação aos gêneros e subgêneros, encontramos, por exemplo: 
  Épico-narrativo, na forma de contos, novelas, romances, fábulas, 
crônicas, etc.
  Fábulas, como “Chapeuzinho vermelho”.
  Lírico, em cantigas, versos, prosas e poesias.
  Dramático, em peças de teatro e filmes dos mais variados subtipos 
(comédia, pantomima, marionete, terror, etc.).
Muitos confundem expressões corporais e faciais, sinais, gestos e pantomima, 
entendendo que tudo isso faz parte da língua de sinais. No entanto, a pantomima 
é um teatro gestual que utiliza o mínimo possível de palavras oralizadas e faz um 
maior uso de gestos, que não têm como base os sinais das línguas de sinais, como 
a Libras. 
Esse artifício de narrar com o corpo em modalidade cênica é excelente para come-
diantes, cômicos, atores, etc. É uma representação praticamente universal, entendida 
facilmente por todos.Temos ótimos exemplos de “pantomima” representados por 
dois atores britânicos: Charlie Chaplin e Mr. Bean. 
A pantomima não está ligada às língua de sinais, costuma ser exagerada e chama 
muito a atenção de quem vê, mas pode ser um bom suporte para ajudar o ouvinte 
e até mesmo o surdo a se desprender da timidez e começar a fazer expressões de 
forma mais natural, uma vez que as expressões faciais e corporais são recursos mais 
difíceis na comunicação da língua de sinais. 
9Literatura surda
Em relação às mídias da literatura tradicional, temos livros (escrita), rotei-
ros, meio oral, digital, etc. As mídias digitais também estão cada vez mais na 
vida das pessoas com surdez e, por meio delas, não apenas se interage, mas 
se pode procurar o que há de melhor na literatura.
Na literatura tradicional brasileira, destacam-se vários grandes nomes, 
como, por exemplo:
  Aluísio de Azevedo (“O Cortiço”);
  Carlos Drummond de Andrade (“Contos de aprendiz”);
  Castro Alves (“O navio negreiro”);
  Cecília Meireles (“O menino azul”);
  José de Alencar (“O Guarani”);
  Machado de Assis (“Dom Casmurro”);
  Mario de Andrade (“Macunaíma”);
  Mario Quintana (“Eu passarinho”);
  Monteiro Lobato (“Sítio do Pica-pau Amarelo”).
Literatura surda
Atualmente, ainda não contamos com variados livros próprios à literatura 
surda no Brasil, mas podemos encontrar versões adaptadas ou transcritas 
por meio digital (em vídeo) pelos mais variantes meios eletrônicos, como 
o YouTube e em blogs, nos quais é possível buscar, como em qualquer lite-
ratura, materiais de ótima qualidade, mas, infelizmente, também materiais 
que degradam a imagem cultural surda ou que não oferecem o mínimo de 
culturalidade pessoal.
Apesar da escassez de obras escritas em língua de sinais disponíveis no 
Brasil para as pessoas com cultura e necessidade de uma literatura surda, 
podemos mencionar os seguintes autores e obras:
  Carolina Hessel, Fabiana Rosa e Lodenir Karnopp: autores que se 
dedicam exclusivamente à escrita ou à transcrição literal por meio da 
escrita da língua de sinais e escreveram os primeiros livros de literatura 
infantil em SignWriting no Brasil, “Rapunzel Surda” e “Cinderela 
Surda” (Figura 1). 
Literatura surda10
Figura 1. Exemplos de literatura infantil surda.
Fonte: Adaptada de Escrita de sinais (2010).
  Sérgio Ribeiro: autor de “Textos em Libras” (Figura 2), em que reúne 
alguns textos de sua autoria na categoria didáticos, infantil, infanto-
-juvenil e juvenil escritos em SignWriting.
Figura 2. “Textos em Libras”, de Sérgio Ribeiro.
Fonte: Adaptada de Ribeiro (2016).
11Literatura surda
No YouTube, os surdos são “ouvidos” e têm a oportunidade de ouvir por meio das 
mãos. Por outro lado, para eles, o vídeo é uma forma de expressão em um mundo sem 
ruído, afinal, eles utilizam a tecnologia de reconhecimento de voz para criar legendas 
automaticamente e, mesmo assim, muitas vezes, é inútil, porque gostariam de ler em 
uma literatura surda. 
Acesse o link a seguir e assista a um vídeo sobre literatura surda no YouTube. 
https://goo.gl/rRGHjf
ESCRITA DE SINAIS. Cinderela Surda e Rapunzel Surda. 30 ago. 2010. Disponível em: 
. Acesso em: 12 jan. 2019.
KARNOPP, L. B. Literatura Surda. Florianópolis: UFSC, 2008. Disponível em: . Acesso em: 12 jan. 2019.
RIBEIRO, S. S. Textos em Libras. 2016. Disponível em: . 
Acesso Em: 12 jan. 2019.
SANTOS, A. B.; LIMA, S. A. A. Literatura Surda: algumas considerações. In: ENCONTRO 
INTERNACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, 10., 2016, Aracaju. Anais... Aracaju: 
UNIT, 2016. Disponível em: . Acesso em: 12 jan. 2019.
Leituras recomendadas
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Cinderela Surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2003.
KARNOPP, L. B.; HESSEL, C.; ROSA, F. Rapunzel surda. Canoas: Ed. Ulbra, 2005.
PINTO, D. N. Língua Brasileira de Sinais. Aracaju: UNIT, 2012.
Literatura surda12
Conteúdo:
 
Dica do Professor
A literatura surda deveria ser envolvida desde criança, desde o ensino infantil, com todas as 
práticas de leitura pela literatura própria, pela Libras, pela língua de sinais (SignWriting). A língua 
portuguesa não traz para o surdo um desenvolvimento conforme deveria.
Nesta Dica do Professor, entenda melhor sobre essa ideia de prática e diferenças e tire suas 
dúvidas existentes sobre o assunto.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/82db7c6a9ea93d4ec454e469f562e09a
Exercícios
1) Ao longo dos séculos, os surdos foram formando uma cultura própria centrada 
principalmente em sua forma de comunicação. Hoje, principalmente no Brasil, encontram-se 
poucos materiais que envolvem a literatura surda, afinal, os surdos têm uma cultura própria 
e uma forma de leitura e comunicação específica que a caracteriza, sendo uma língua de 
modalidade espaço-visual, isso porque:
A) A comunicação ocorre unicamente por meio do tato e da escrita.
B) A comunicação ocorre unicamente por meio do alfabeto e números da Libras.
C) A comunicação ocorre por meio da visão e dos sinais explorados no espaço.
D) A comunicação ocorre por meio da audição e de sinais explorados pelo corpo.
E) A comunicação ocorre principalmente por meio do português na modalidade gestual.
2) Para os ouvintes, o tom e o volume da voz tornam-se um diferencial e um fator 
determinante ao expressar sentimentos ou expansão de raiva ou alegria. Já para os surdos, 
essa possibilidade não se tornaria enérgica, mas se a gradação da voz for bem substituída 
por um recurso da Libras, terá a mesma significação e eficácia.
Qual recurso da Libras substitui o tom da voz humana no momento de se comunicar por 
meio de uma literatura visual?
A) 
Livros literários em braille.•
B) Obras literárias em SignWriting.
C) Bilhetes literários em português.
D) Manuais em expressão faciocorporal.
E) Artigos oralizados por meio do YouTube.
Para os ouvintes, o tom e o volume da voz tornam-se um diferencial e um fator 
determinante ao expressar sentimentos ou expansão de raiva ou alegria. Já para os surdos, 
3) 
essa possibilidade não se tornaria enérgica, mas se a gradação da voz for bem substituída 
por um recurso da Libras, terá a mesma significação e eficácia.
Qual recurso da Libras substitui o tom da voz humana no momento de aquisição de cultura 
por meio de uma literatura surda ocasionada pela mídia YouTube?
A) Vibração.
B) Oralização.
C) SignWriting.
D) Escrita em Libras.
E) Expressões faciocorporais.
4) A maioria das pessoas com surdez não tem acesso a uma literatura específica, o que faz com 
que tenham pouco interesse pela leitura. Isso ocorre fundamentalmente porque:
A) a literatura surda ainda é restrita em termos de produção e publicação.
B) a literatura surda ainda é restrita a pessoas com alto poder aquisitivo.
C) os materiais disponíveis são apenas de agrado da população surda adulta.
D) os materiais disponíveis como literatura surda não chegaram às bancas do Brasil.
E) os materiais disponíveis são exclusivos a associações de grandes centros de apoio a pessoas 
com surdez.
5) A inclusão da criança surda na escola visa a favorecer oportunidades para que ela possa 
desenvolver todos os aspectos cognitivos, adquirindo meios culturais e entrosamento na 
sociedade, construindo sua própria subjetividade. O desenvolvimento da criança surda 
depende de vários fatores que, somados e bem direcionados, proporcionam ao surdo pleno 
desenvolvimento como cidadão.
Qual das ações abaixo condiz com oportunidade para o desenvolvimento literário do surdo?
A) Conhecimentoe uso da Libras.
B) Negação da cultura e identidade surda.
C) Distanciamento e isolamento social do sujeito.
D) Comunicação em língua oral com a criança surda.
E) 
Conhecimento e desenvolvimento em SignWriting e braille.•
Na prática
A discussão social está intrinsecamente relacionada com as questões do uso da Libras e do 
desenvolvimento da cultura surda. Precisa-se compreender, do ponto de vista da inclusão, que a 
surdez possui características próprias na escrita, que necessita de materiais diferenciados, como a 
utilização de SignWriting. A inclusão dessa literatura visual é essencialmente um debate cultural, 
embora esteja sendo elaborado principalmente no âmbito da educação.
 
 
Veja, na prática, como acontece a escrita da língua de sinais por meio do SignWriting.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Libras Pernambuco: Literatura Surda
Este vídeo serve para entender melhor a literatura surda, só que, agora, por meio da própria 
literatura surda, em Libras. Os autores falam resumidamente sobre vários aspectos. É possível 
acompanhar a explicação mesmo não sabendo Libras. O material é dos professores Cristiano 
Monteiro e Rafaela, da Universidade Federal de Pernambuco (UFP).
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Cinderela
Este vídeo traz a literatura surda por meio de uma mídia do gênero épico-narrativo. Trata-se de 
uma fábula interpretada por Reginaldo Silva que conta, por meio da Libras, o exemplo apresentado 
no capítulo: a história da "Cinderela surda". Com esta literatura surda, você terá a oportunidade de 
reviver a historinha infantil mundialmente conhecida, acompanhando por meio dos sinais.
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Literatura Surda
Este artigo complementará seus estudos e seus conhecimentos. O site conta também com um 
amplo catálogo de títulos e links, caso queira compreender melhor e mergulhar ainda mais na 
literatura surda. Os artigos são dos professores Lodenir Karnopp e Carolina Hesselda, da UFP.
https://www.youtube.com/embed/Zt2Nuym7z4I
https://youtu.be/QP9AGMPQCOk
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Metodologia da Literatura Surda
No artigo a seguir, você terá a chance de complementar seus conhecimentos adquiridos sobre 
literatura surda e ver obras existentes que proporcionam aos surdos uma cultura em sua própria 
escrita.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/literaturaVisual/assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf
https://central3.to.gov.br/arquivo/299633/

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