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CIÊNCIAS DO AMBIENTE: CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO Prof. MSc. Valter Machado da Fonseca O ambiente Entende-se por ambiente (ou meio ambiente, como prefere uma boa parcela de estudiosos) a própria natureza, tudo que nos rodeia, nos cerca e seus elementos constitutivos, como a atmosfera1, a biosfera2, a litosfera3 (com seus elementos químicos e mineralógicos) e a hidrosfera4. Também fazem parte do ambiente, os seres humanos, as relações estabelecidas entre eles (relações sociais), bem como quaisquer aspectos, fatores e conseqüências originadas das relações entre eles e entre eles e a natureza. Existem os ambientes ditos naturais (o que são raridade, se é que ainda existem) e os ambientes modificados (ou transformados) pela ação humana, cujos exemplos clássicos são as cidades. É muito comum a vinculação (errônea) dos conceitos acerca do ambiente, apenas às paisagens naturais. Dessa forma, as porções do ambiente altamente modificadas pela ação humana, principalmente as áreas pobres dos subúrbios das cidades são, muitas vezes intencionalmente, desvinculadas dos conceitos ambientais. É importante ressaltar que a desigualdade social também é um componente do ambiente. Ecossistema Denomina-se ecossistema quaisquer porções do ambiente (podendo ser desde uma gota d’água até o planeta todo) onde interagem, por meio de processos físicos, químicos, físico- químicos e biológicos, elementos bióticos e abióticos5, responsáveis pela manutenção do equilíbrio do ambiente terrestre. Geralmente vincula-se o conceito do termo a porções do ambiente rico em diversidade biológica6, o que é um equívoco. É importante dizer que os ecossistemas não são independentes uns dos outros, conforme querem fazer crer alguns, com o objetivo de justificar sua exploração desordenada. Pelo contrário, os ecossistemas são interdependentes, pois, conforme já foi dito em tópico anterior, a terra é um sistema complexo, onde cada elemento constituinte do ambiente está ligado a outros elementos, de outros ecossistemas, formando uma cadeia de elementos vivos e não vivos, também chamada de “teia da vida”. Diante disso, não se pode desprezar um determinado 1 Camada gasosa que envolve a Terra, onde existem vários elementos químicos responsáveis pelo equilíbrio do ambiente planetário e pela existência de vida, como o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio. 2 Camada ou faixa da Terra onde ocorre a existência dos seres vivos, como os vegetais e animais, dentre eles o homem (esta camada envolve desde as formas de vida mais simples às mais complexas, existentes no planeta). 3 Camada sólida da crosta terrestre. 4 Camada líquida da crosta terrestre que envolve os mares, oceanos, rios, lagos, aqüíferos subterrâneos. É essencialmente importante para o equilíbrio do planeta e para a continuidade de todas as formas de vida. 5 Denominam-se elementos bióticos, os seres que têm vida (como os vegetais e animais) e abióticos, aqueles que não possuem vida como os minerais, rochas, água, elementos químicos. Apesar de não serem seres vivos os elementos abióticos são extremamente importantes para a manutenção e continuidade da vida nos ecossistemas, pois os organismos vivos dependem deles para manterem em funcionamento seus metabolismos. 6 Também chamada de biodiversidade, refere-se à quantidade de espécies de seres vivos e/ou formas de vida, existente em determinado ecossistema, região ou território. ecossistema em detrimento de outros, supostamente considerados mais ricos em biodiversidade. Exemplos de ecossistemas: um rio, um lago, uma gota d’água, um deserto, um riacho, uma floresta, uma cidade, uma reserva ecológica, um parque, um bosque, um jardim, um mangue7, dentre inúmeros outros. Complexidade Entende-se por complexidade ou ciência do complexo à busca da percepção e apreensão do todo para se entender as partes, a contextualização. Isto significa um resgate, uma luta pela reconquista das raízes do conhecimento. Muitas pessoas, muitas mesmo, confundem complexidade com dificuldade. Quando se lhes propõem estudar a complexidade, logo desistem, pois vem-lhes à mente, de imediato, a idéia de dificuldade, colocam um sinal de igual entre o complexo e o difícil e, isto não se traduz numa verdade. Às vezes compreender o complexo pode significar a busca pela unidade, contextualizada dentro do todo, a busca pela simplif icação, a busca do elo entre os simples, sob a ótica e o domínio do todo. Novamente recorre-se a Morin (2005, p. 35), para se perceber a importância do estudo da complexidade: [...] O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital. É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global (a relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo é necessário a reforma do pensamento. Entretanto, esta reforma é paradigmática e, não, programática: é a questão fundamental da educação, já que se refere à nossa aptidão para organizar o conhecimento. Então, concordando com Morin, o estudo da complexidade, aqui neste roteiro de estudos, vem no sentido de simplificar a compreensão dos problemas relativos ao funcionamento do planeta Terra, já que ele é um sistema complexo, vivo e dinâmico. Considerações sobre a dinâmica da Terra Como já foi destacado em tópicos anteriores, apesar de a Terra parecer estática, parada e estável, na verdade ela possui uma dinâmica. Ela é um sistema dinâmico. E o que vem a ser isso? Como na própria Física, a dinâmica tem como objeto de estudo os corpos em movimento, a Terra também se movimenta. A dinâmica é o movimento da terra, onde cada força, que incide sobre este movimento, interage com outra força, no sentido de garantir o frágil e complexo equilíbrio do grande ecossistema global. Assim, existem forças que atuam internamente sobre a Terra e aquelas que atuam na porção externa do planeta. Por isso, diz-se que a Terra possui uma dinâmica interna e outra externa. 7 Mangues são ecossistemas frágeis, ricos em diversidade biológica, localizados nas regiões pantanosas, ou em pântanos situados às margens dos lagos, desaguadouros dos rios, em especial em regiões próximas à orla marítima. Apesar de sua aparência estática, o planeta Terra está sempre em movimento, seguindo sua própria dinâmica, a qual, por sua vez, está em sintonia com a dinâmica do universo. Desta forma, a Terra se movimenta e está em constante transformação, daí, pode-se afirmar que o planeta não é estável, o que significa que ele pode construir um novo desenho em suas estruturas e até mesmo na disposição dos continentes em seu mapa. Assim como num passado não muito remoto, geologicamente falando, os continentes se desmembraram, em curto espaço de tempo eles podem, novamente, adquirir novo desenho, nova configuração. Tudo depende da correlação entre as forças internas e externas que atuam sobre o planeta. Por isso, as teorias que afirmam que a Terra já atingiu sua estabilidade, ou caminha para ela, não se constituem numa verdade. A todo o momento se presenciam erupções vulcânicas, furacões, terremotos, maremotos (veja a Tsunami), enchentes e inundações, dentre outros fenômenos, que comprovam a fragilidade e instabilidade do ecossistema terrestre. Neste sentido, é por intermédio da análise da dinâmica da Terra, que se fará o estudo das formações geológicas, as quais resultam de processos físicos, químicos e biológicos que atuam sobre os elementos e estruturas constituintes do globo terrestre.