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A trajetória da saúde pública brasileira é marcada por um processo de evolução gradual, que passou de um modelo excludente e assistencialista para um sistema universal e integrado, culminando com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988. Antes do SUS, o acesso aos serviços de saúde era restrito aos trabalhadores formais, vinculados à previdência social, enquanto os demais dependiam de campanhas filantrópicas ou ações pontuais do Estado. Para entender essa evolução, é essencial conhecer os órgãos que antecederam o SUS: - CAPs (Caixa de Aposentadorias e pensões 1923-1933) Eram organizações por categoria profissional, como ferroviários e portuários, financiadas por contribuições dos empregados e empregadores, prestavam assistência médica e previdenciária apenas aos seus associados. - IAPs ( Institutos de Aposentadorias e Pensões 1933-1966 ) Foi criado no governo Getúlio Vargas, unificaram e ampliaram as CAPs, eram organizados por categoria profissional (ex.: IAPI, IAPC, IAPB, IAPETC), ofereciam aposentadoria, pensões e assistência médica aos segurados. Financiadas pelos empregados, empregadores e pelo governo, marcaram a consolidação da previdência social corporativa, mas ainda não universal. - INPS ( Instituto Nacional de Previdência Social 1966-1977 ) Criado durante o regime militar, unificou todas os IAPs, centralizou a previdência sob controle do governo federal, mas apesar da unificação, manteve o caráter excludente: só quem contribui tinha acesso. Surgem os primeiros convênios com hospitais privados, iniciando o modelo de medicina previdenciária. - INAMPS ( Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 1977-1993) Criado para separar as funções de assistência médica do INPS, gerenciava os serviços de saúde dos segurados da previdência. A maioria dos atendimentos era terceirizada para o setor privado, com altos custos e pouca eficiência, esse modelo aumentou as desigualdades, pois só os contribuintes tinham direito à assistência médica. REFORMA SANITÁRIA E A CRIAÇÃO DO SUS Nos anos de 1970 e 1980, movimentos de profissionais de saúde, intelectuais e movimentos sociais começaram a questionar esse modelo. Nasce então o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira que defendia: ● a saúde como direito de todos e dever do estado; ● um sistema universal, integral e gratuito; ● a participação popular nas decisões de saúde; ● a integração das ações de saúde pública e previdenciária. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) A Constituição Cidadã de 1988 foi um marco na história da saúde pública, pela primeira vez, a saúde passou a ser um direito universal. Porém, o SUS não foi implantado de forma imediata, ele nasceu no papel (na constituição), mas precisava ser estruturado na prática. Até 1988, quem administrava os serviços de saúde pública era o INAMPS e em 1990 o SUS foi regulamentado através da Lei n° 8.080/90 e n° 8.142, em 1991 a 1993 houve a transferência de gestão, onde o Ministério da Saúde começou a assumir gradualmente os serviços e unidades do INAMPS, onde com o Decreto n° 100 o INAMPS foi oficialmente extinto. A CRIAÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL ( CF/88, Art. 194) A seguridade social é um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à: saúde, previdência social e assistência social. Seu objetivo é garantir proteção social universal a todos os cidadãos, integrando essas três áreas em um sistema único e solidário. - Financiamento da Seguridade Social (CF/88, Art. 195) O financiamento é responsabilidade de toda a sociedade, de forma direta e indireta, por meio de: ● Recursos do orçamento da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios; ● Contribuições sociais: dos empregadores, sobre folha de salários, faturamento, receita e lucro; dos trabalhadores; sobre a receita de concursos de prognósticos; dos importadores de bens e serviços. - Ações e Serviços de Saúde (CF/88, Art. 197) São de relevância pública, cabe ao Poder Público dispor sobre regulamentação, fiscalização e controle. Podem ser executados pelo Estado diretamente, por terceiros ou por entidades privadas, desde que respeitem os princípios do SUS. - Diretrizes do SUS (CF/88, Art. 198) O SUS organiza as ações e serviços de saúde em uma rede regionalizada e hierarquizada, seguindo três diretrizes fundamentais: Descentralização: com direção única em cada esfera de governo (união, estados, municípios); Atendimento integral: priorizando as ações preventivas, sem prejuízo das assistenciais; Participação da comunidade: por meio de conselhos e conferências de saúde, garantindo o controle social. - Recursos mínimos para a Saúde A constituição também define percentuais mínimos de aplicação de recursos públicos na saúde: ● União: Não menos que 15% da receita corrente líquida; ● Estados: 12% da receita própria; ● Municípios: 15 da receita própria; ● Distrito Federal: 12% (competência estadual) + 15% (competência municipal). Esses valores garantem que todas as esferas do governo contribuam para o financiamento do SUS. LEI N° 8.080/90 E MODIFICAÇÕES Conhecida como Lei Orgânica da Saúde, regula: as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde; a organização e o funcionamento dos serviços de saúde; define o SUS como conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, inclusive de pesquisa, controle de qualidade, produção de medicamentos e insumos. - Determinantes e Condicionantes da Saúde A saúde é influenciada por fatores sociais, econômicos e ambientais como: alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso a bens e serviços essenciais. - Princípios do SUS (art. 7°) Além das diretrizes da Constituição, o SUS segue princípios específicos: 1. Universalidade de acesso: todos têm direito aos serviços de saúde em todos os níveis; 2. Integralidade: ações preventivas e curativas, individuais e coletivas, articuladas e contínuas; 3. Autonomia das pessoas sobre sua integridade física e moral; 4. Igualdade da assistência: sem preconceitos ou privilégios; 5. Direito à informação sobre a própria saúde; 6. transparência: divulgação das informações sobre os serviços e seu uso; 7. Epidemiologia com base: usada para definir prioridades e distribuir recursos; 8. Participação da comunidade: controle social; 9. Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera: ênfase na municipalização dos serviços, regionalização e hierarquização dos serviços; 10. Integração com meio ambiente e saneamento básico; 11. Conjugação de recursos (financeiros, humanos e tecnológicos) entre união, estados e municípios; 12. Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis; 13. Evitar duplicidade de meios para os mesmos fins; 14. Atendimento especializado a mulheres vítimas de violência, conforme a Lei n° 12.845/2013; 15. Equidade: tratar desigualmente os desiguais, garantindo justiça no acesso à saúde. - Regionalização e Hierarquização Regionalização: divide o território em regiões de saúde, integrando serviços para garantir atendimento próximo ao cidadão. Hierarquização: organiza os serviços por níveis de complexidade (atenção básica, média e alta complexidade). Ambos asseguram fluxo eficiente de usuários e recursos no SUS. - Estruturas de Coordenação e Articulação Criação de Comissões Intersetoriais Nacionais (art. 12), ligadas ao Conselho Nacional de Saúde, para integrar políticas que envolvem outras áreas (educação, meio ambiente, trabalho, etc.). Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço: definem prioridades e estratégias para formação e educação permanente de trabalhadores da saúde (art. 14). - Árease Subsistemas Específicos Alimentação e nutrição: ações intersetoriais para segurança alimentar e promoção da saúde. Vigilância Sanitária: conjunto de ações que eliminam, reduzem ou previnem riscos à saúde pela produção e consumo de bens e serviços. Subsistema de Atenção à Saúde Indigena (arts. 19-A a 19-H): organizar o atendimento de forma diferenciada e descentralizada para povos indígenas, com financiamento próprio. - Medicamentos e Tecnologias (CONITEC - art. 19-T) É proibido ao SUS: reembolsar medicamentos experimentais ou sem registro na Anvisa. Exceções: uso off-label (diferente da bula), se aprovado pela CONITEC e respaldado por evidência científica, medicamentos recomendados pela CONITEC e comprados por organismos internacionais para programas do Ministério da Saúde. - Participação Complementar do Setor Privado (arts. 24-26) O setor privado pode atuar de forma complementar, mediante contratos ou convênios com o poder público. Entidades filantrópicas e sem fins lucrativos tem preferência. Os valores e parâmetros de cobertura são definidos pela direção nacional do SUS e aprovados pelo Conselho Nacional de Saúde. - Servidores do SUS (art. 28) Servidores com dois cargos públicos compatíveis podem trabalhar em mais de um estabelecimento do SUS. Exceção: cargos de chefia, direção ou assessoramento em regime integral não podem acumular funções. - Financiamento do SUS (art. 32) O SUS é financiado com recursos: ● Do orçamento da Seguridade Social (art. 195 da CF/88); ● Da União, estados, DF e municípios; ● E de outras fontes, como taxas e convênios. Os repasses federais para estados e municípios são definidos por critérios e critérios técnicos (art. 35): ● Indicadores de saúde, desempenho e necessidades regionais; ● Planejamento e orçamento do SUS seguem os arts. 36 a 38 da Lei n° 8.080/90. - Planejamento e Avaliação O planejamento é ascendente (dos municípios à União). Deve estar integrado ao orçamento público e obedecer às diretrizes dos Conselhos de Saúde. Avaliação contínua da eficiência, qualidade e efetividade dos serviços. - Estrutura e Princípios do SUS: Aspectos Conteúdo Principal Natureza Conjunto de ações e serviços saúde de órgãos públicos feder estaduais e municipais. Base Legal Lei n° 8.080/90 + Lei n° 8.142/ (participação social e repass financeiros). Princípios Universalidade, Integralida Equidade, Descentralizaç Regionalização, Participação Social Diretrizes Hierarquização dos serviços e integração intersetorial. Financiamento Orçamento da Seguridade Social e outras fontes públicas. Gestão Tripartite (união, estado e município Controle Social Exercido por Conselhos e Conferências de saúde. LEI N° 8.142/90 Regula a participação da comunidade na gestão do SUS e as transferências intergovernamentais de recursos financeiros. Conselhos e Conferências de Saúde devem ter representação paritária, 50% de usuários e 50% de trabalhadores e gestores do SUS. Define regras para transferência de recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) aos estados e municípios. Para receber os repasses, os entes federativos precisam cumprir certos requisitos (como plano de saúde, fundo e conselho de saúde). RESOLUÇÃO CNS N°453/2012 Regulamenta o funcionamento dos Conselhos de Saúde: composição, periodicidade de reuniões, e papel de controle social sobre as ações do SUS. DECRETO N°7.508/2011 ORGANIZAÇÃO DO SUS Esse decreto complementa a Lei Orgânica da Saúde e regulamenta aspectos práticos do funcionamento do sistema. - Regiões de Saúde (arts. 5° e 6°): Deve ter no mínimo, serviços e ações de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, atenção ambulatorial e hospitalar especializada, vigilância em saúde. Servem como referência para a transferência de recursos entre União, estados e municípios. - Redes de Atenção à Saúde (RAS): Conjunto articulado de ações e serviços em níveis crescentes de complexidade. Objetivo: garantir integralidade da assistência e continuidade do cuidado ao usuário. O acesso universal e igualitário é ordenado pela Atenção Básica à Saúde (APS). - Continuidade do cuidado (art. 12): O usuário deve ter atendimento garantido em todas as modalidades da rede (postos, hospitais, clínicas, etc.). - Responsabilidades dos entes federativos (art. 13): Garantir o acesso universal e ordenado; executar ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, conforme pactuado nas Comissões Intergestores. - Planejamento da Saúde (art. 18): Deve ser regionalizado, com base nas necessidades dos municípios e metas de saúde. - Integralidade da Assistência (art. 20): O cuidado deve se iniciar e se completar na Rede de Atenção Básica à Saúde, com referenciamento do usuário dentro da rede regional e interestadual. RENASES E RENAME (art. 24): Os entes podem adotar ações e serviços complementares à lista nacional, respeitando o pacto e o financiamento. O Ministério da Saúde deve atualizar, a cada 2 anos: RENASES (Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde); RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais); Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs). - Assistência Farmacêutica (art. 28): O acesso universal à assistência farmacêutica depende cumulativamente de: 1. O usuário estar sendo assistido por ações/serviços do SUS; 2. Prescrição feita por profissional do SUS; 3. Prescrição conforme RENAME ou lista local de medicamentos; 4. Dispensação feita em unidade indicada pela direção do SUS. Isso significa que farmácias particulares fora do SUS não estão incluídas no conceito de acesso universal da assistência farmacêutica. - COAP (contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde): É um acordo de cooperação entre União, estados e municípios. Objetivo: organizar e integrar ações e serviços de saúde dentro da Região de Saúde. Visa garantir a integralidade da assistência aos usuários. REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são uma forma de organização do SUS que busca integrar todos os níveis e serviços de atenção à saúde, garantindo continuidade, integralidade e eficiência no cuidado ao usuário. O SUS historicamente, apresentava fragmentação entre serviços e programas, ou seja, atendimentos isolados, sem comunicação entre profissionais e sem acompanhamento contínuo. As RAS surgem para superar essa fragmentação e estruturar o sistema em redes integradas. - Objetivos das RAS ● Garantir atenção integral ao cidadão; ● Promover coordenação entre serviços de diferentes níveis de complexidade; ● Organizar o cuidado de forma regionalizada e hierarquizada; ● Assegurar o acesso universal e equitativo; ● Fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada e centro ordenador do sistema. - Elementos Constitutivos da RAS População e Região de Saúde Definidas: Cada rede é estruturada considerando a população e o território, com base em suas necessidades de saúde e características socioeconômicas. Estrutura Operacional: Conjunto de pontos de atenção à saúde interligados, unidades, hospitais, serviços de urgência, entre outros, que formam o corpo funcional da rede. Sistema Lógico de Funcionamento: Define o modelo de atenção e os fluxos, assistenciais, ou seja, como os serviços se articulam para garantir cuidado contínuo e resolutivo. - Pontos de Atenção à Saúde São locais onde são ofertados serviços de saúde à população. Exemplos: Atenção Básica: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégia Saúde da Família (ESF); Atenção Especializada: Policlínicas, Centros de Especialidades, Serviços de Reabilitação; Atenção Hospitalar: Hospitais gerais e especializados; Urgência e Emergência: UPA, SAMU, pronto-socorro; Atenção Psicossocial: CAPS, ambulatórios de saúde mental. Os hospitais podem concentrar diferentes pontos de atenção, dependendo dos serviços ofertados. - Diretrizes para Implementaçãoda RAS ● Fortalecimento da APS como coordenadora do cuidado; ● Regionalização e hierarquização dos serviços de saúde; ● Integralidade do cuidado, contínuo e completo; ● Humanização e equidade nas ações de saúde; ● Participação social e gestão compartilhada. DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE (DSS) Segundo o art. 3° da lei n° 8.080/90, os níveis de saúde da população refletem a organização social e econômica do país. A saúde não é determinada apenas por fatores biológicos, mas também por condições de vida, trabalho e contexto social. - Determinantes e Condicionantes da Saúde São fatores que influenciam diretamente o estado de saúde das pessoas e comunidades, como: • Alimentação • Moradia • Saneamento básico • Meio ambiente • Trabalho e renda • Educação • Transporte • Lazer • Acesso a bens e serviços essenciais. Esses fatores estão interligados, quanto melhores as condições de vida, melhores serão os indicadores de saúde. - Importância no SUS O SUS deve adotar políticas intersetoriais, envolvendo diferentes áreas (educação, habitação, transporte, saneamento etc.). As ações de saúde devem considerar as desigualdades sociais e buscar reduzi-las. A atenção à saúde precisa ir além do tratamento de doenças, incluindo promoção e prevenção. TRABALHO EM EQUIPE NO CONTEXTO DA SAÚDE COLETIVA O trabalho em equipe é essencial no SUS porque o cuidado em saúde é complexo e multidimensional, exigindo a atuação de profissionais com diferentes formações e saberes. Envolve interação, cooperação e comunicação entre os membros da equipe para garantir atenção integral ao usuário. O objetivo é garantir um atendimento integral, contínuo e resolutivo, unindo competências técnicas e relações humanas de confiança, respeito e solidariedade. - Tipos de Equipes Equipes de Agrupamento: profissionais trabalham de forma isolada, pouca comunicação entre áreas, o cuidado é fragmentado; Equipes de Integração Real: atuam de forma articulada e colaborativa, compartilham decisões e responsabilidades, o cuidado é coletivo e centrado no usuário (este é o modelo ideal para o SUS). - Elementos-Chave do Trabalho em Equipe ● Comunicação efetiva entre profissionais e setores; ● Interdisciplinaridade, com troca de saberes e práticas; ● Cooperação na tomada de decisões; ● Corresponsabilidade no cuidado; ● Humanização nas relações profissionais e com o usuário. EDUCAÇÃO EM SAÚDE A Educação em Saúde é o processo educativo voltado à construção coletiva de conhecimentos sobre saúde, estimulando a participação da população e o exercício da cidadania. Não é voltada a formação profissional, e sim a autonomia do cidadão e o fortalecimento do controle social. - Objetivos ● Promover a aproximação do conhecimento em saúde pela comunidade; ● Incentivar a participação popular nas decisões e políticas públicas; ● Estimular a autonomia dos usuários sobre sua saúde; ● Fortalecer a gestão social e democrática da saúde; ● Tornar o cuidado mais humanizado, integral e participativo. - Características da Educação em Saúde Deve ocorrer de forma: Dialógica - baseada na troca de saberes entre profissionais e população. Participativa - envolvendo ativamente os usuários no processo. Emancipadora - estimulando autonomia e responsabilidade. Criativa e humanizada - respeitando valores culturais e sociais. - Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS-SUS) A PNEPS-SUS promove o desenvolvimento contínuo dos trabalhadores da saúde, articulando ensino e serviço. Princípios (art. 3°): • Aprender e ensinar no cotidiano do trabalho; • Valorizar experiências e saberes profissionais; • Transformar práticas e gestão a partir da reflexão crítica. Eixos Estratégicos (art. 4°): • Formação e qualificação dos trabalhadores; • Gestão participativa e democrática; • Integração ensino, serviço, comunidade; • Valorização da educação permanente como política pública. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE (SIS) Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) são instrumentos essenciais para o funcionamento do SUS. Eles coletam, processam e analisam dados sobre as condições de saúde da população e os serviços prestados, permitindo planejar, monitorar e avaliar políticas públicas de saúde. Esses sistemas garantem a transparência, eficiência e integração entre as diferentes áreas da gestão pública e da vigilância em saúde. - Principais Sistemas de Informação do SUS Sigla Nome do sistema Ano de início Doc. Básico Finalidade / Função SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade 1975 Declaração de Óbito Produz dados sobre mortalidade e causas de óbito no país. SIH/SUS Sistema de Informação Hospitalar 1976 AIH- Autorização de Internação Hospitalar Controla internações hospitalares e recursos financeiros. SINASC Sistema de Informação Sobre Nascidos vivos 1990 Declaração de Nascido Vivo Registra dados sobre nascimentos e características maternas. SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação 1993 Fichas de Notificação e Investigaçã o Registra - doenças e agravos de notificação compulsória. SIA/SUS Sistema de Informação Ambulatori al 1994 BPA e APAC Controla atendimentos e procedimentos ambulatoriais. SISREG Sistema de Regulação 2001 AIH, APAC, solicitações de exames Gerência filas, marcações e acesso a exames, consultas e internações. SISCAM Sistema de Informação do Câncer da Mulher 2003 Fichas de mamografi a e citologia Acompanha rastreamento e diagnóstico de câncer de mama e colo do útero. SI-PNI Sistema de Informaçõe s do Programa Nacional de Imunizaçõe s 2004 Sub-sistem as eletrônicos Controla cobertura vacinal e estoques de imunobiológico s. SISAB (e-SUS AB) Sistema de Informaçã o da Atenção Básica 2013 Ficha do e-SUS Registra e consolida dados das UBS e equipes de saúde da família. e-SUS Hospit alar Sistema Hospitalar do SUS 2014 Módulos eletrôni cos Gerencia prontuários e informações clínicas hospitalares. e-SUS SAMU Sistema de Informaçã o do SAMU 2016 Módulos Eletrônic os Organiza dados de atendimento s móveis de urgência e emergência. e-SUS VE Sistema de Vigilância Epidemioló gica 2020 Ficha de investig ação COVID-1 9 Centraliza notificações de doenças emergentes (como COVID-19). - Importância do SIS ● Permitem diagnosticar a situação de saúde da população; ● Ajudam no planejamento de políticas e investimentos públicos; ● Fornecem base para vigilância epidemiológica e sanitária; ● Favorecem a integração entre os níveis de atenção; ● Contribuem para tomadas de decisão mais assertivas e baseadas em evidências. POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH) - HUMANIZASUS Tem como principal função melhorar a qualidade das relações entre usuários, trabalhadores e gestores do SUS. Ela propõe que todos os envolvidos participem ativamente da produção do cuidado e da gestão dos serviços, estimulando o respeito, o diálogo e a corresponsabilidade. - Princípios da PNH ● Valorização do protagonismo e da autonomia de trabalhadores e usuários; ● Gestão participativa e democrática dos serviços; ● Acolhimento como prática ética e solidária; ● Vínculo e escuta qualificada; ● Trabalho em equipe interdisciplinar e com corresponsabilidade; ● Cuidado integral e humanizado. - Dispositivos da PNH (modos de fazer) ● Acolhimento com classificação de risco: organiza a prioridade dos atendimentos conforme gravidade e vulnerabilidade; ● Equipes de referência e apoio matricial: garantem cuidado integral e troca de saberes entre profissionais; ● Projeto Terapêutico Singular (PTS): plano individualizado de cuidado; ● Projetos de Saúde Coletiva: ações voltadas à comunidade; ● Colegiados de Gestão e Contratosde Gestão: decisões compartilhadas; ● Sistema de escuta qualificada: ouvidorias, grupos focais e pesquisa de satisfação; ● Programa “Acolhendo os Familiares” garante direito a acompanhante e visita ampliada; ● Programas de Qualidade de Vida dos Trabalhadores da Saúde. - Marcas e Propósitos do HumanizaSUS ● Gestão democrática e colaborativa; ● Fortalecimento do vínculo entre usuários e serviço; ● Ambiência acolhedora e respeitosa; ● Cuidado centrado no usuário; ● Valorização do trabalho em saúde. POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB) A Atenção Básica ou Atenção Primária, é o nível central e coordenador do SUS, responsável pelo cuidado contínuo, pela promoção da saúde e pela prevenção de doenças. É o primeiro contato da população com o sistema de saúde, sendo o eixo principal da rede de Atenção à Saúde (RAS). - Objetivos: ● Garantir acesso universal e equitativo; ● Coordenar o cuidado entre os diferentes níveis de atenção; ● Promover ações integradas de prevenção, tratamento e reabilitação; ● Fortalecer o vínculo entre equipe e comunidade; ● Reduzir internações e agravos evitáveis. - Características da Atenção Básica ● Acesso universal e gratuito; ● Territorialização e adscrição de clientela; ● Longitudinalidade e integralidade do cuidado; ● Coordenação do cuidado e referência das RAS; ● Trabalho em equipe multiprofissional; ● Participação social e intersetorialidade. - Estrutura das Equipes ● ESF - Equipe da Saúde da família: composto por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários (ACS). É o modelo prioritário da APS. ● EAP - Equipe de Atenção Primária: modelo alternativo e mais flexível, usado para ampliar cobertura em regiões com menor estrutura. ● ESB - Equipe de Saúde Bucal: Atua com modalidades diferentes (20h, 30h ou 40h semanais) e pode funcionar junto à ESF. ● Outras Equipes Especiais: consultório na rua (população em situação de rua), Equipes Ribeirinhas e UBS Fluviais (regiões de difícil acesso), Equipes Prisionais, Laboratórios de Próteses Dentária (LRPD), Unidades Odontológicas Móveis (UOM). - Programa Saúde na Hora (Portaria n° 397/2020) ● Amplia o horário de funcionamento das UBS e USF; ● Permite atendimentos noturnos e aos fins de semana; ● Viabiliza custeio federal adicional; ● Objetiva reduzir filas e aumentar a resolutividade dos serviços. - Agentes Comunitários de Saúde (ACS) ● Realizam visitas domiciliares, ações educativas e acompanhamento de famílias; ● Identificam situações de risco e fazem encaminhamentos; ● Podem executar procedimentos simples após capacitação e supervisão profissional; ● São a ponte entre a equipe e a comunidade. - Financiamento da Atenção Básica (Previne Brasil) Modelo criado em 2019, substituindo o antigo PAB fixo e variável. Baseia-se em três componentes principais: 1. Captação Ponderada: valor pago por pessoa cadastrada, considerando vulnerabilidade, faixa etária e localidade; 2. Pagamento por Desempenho: vinculado a indicadores de qualidade (pré-natal, vacinação, controle de hipertensão e diabetes, entre outros); 3. Incentivos para Ações Estratégicas: como PSE, Saúde Bucal, Consultório na Rua, UBS Fluvial, Academia da Saúde e residências multiprofissionais. O financiamento é tripartite (União, Estados e Municípios) e os repasses são feitos fundo a fundo. - Credenciamento A Portaria n° 1.710/2019 e atualizações posteriores (como a n° 804/2020) criaram o credenciamento desburocratizado de novas equipes, permitindo: ● Mais autonomia municipal; ● Agilidade na Implantação; ● Ampliação da cobertura da Atenção Primária. EPIDEMIOLOGIA E INDICADORES DE SAÚDE A epidemiologia é o estudo da distribuição, frequência e determinantes dos eventos de saúde nas populações humanas. Ela é essencial para o planejamento, vigilância, prevenção e controle de doenças e para a avaliação das políticas públicas de saúde. - Importância da Epidemiologia ● Identifica fatores de risco e causas de doenças; ● Monitora epidemias e surtos; ● Avalia eficácia de intervenções e programas de saúde; ● Subsidia decisões e planejamentos estratégicos no SUS. - Doenças Emergentes e Reemergentes Emergentes: novas doenças ou agravos (e: COVID-19, Zika, SARS). Reemergentes: doenças controladas que voltaram a causar surtos (ex: dengue, tuberculose, sarampo). O SINAN é o principal sistema para a notificação e acompanhamento dessas doenças. - Indicadores Epidemiológicos 1. Morbidade a) Incidência: número de casos novos em determinado período; b) Prevalência: número total de casos existentes (novos e antigos); c) Letalidade: proporção de óbitos entre os doentes. 2. Mortalidade a) Mortalidade Geral: número total de óbitos em uma população; b) Mortalidade Infantil: mede a qualidade de vida e atenção materno-infantil (dividida em neonatal precoce, neonatal tardia e pós-neonatal); c) Mortalidade Materna: mede a qualidade da atenção ao parto e à gestação. 3. Indicadores demográficos a) Taxas de natalidade: fecundidade, crescimento populacional e expectativa de vida. 4. Indicadores de Cobertura: a) Cobertura vacinal, consultas pré-natais, saneamento básico e acesso à água tratada. - Transição Epidemiológica e Demográfica O Brasil vive uma tripla carga de doenças, resultado da transição demográfica e social: 1. Persistência de doenças infecciosas e parasitárias; 2. Aumento das doenças cronicas nao transmissiveis (hipertensão, diabetes, câncer); 3. Crescimento das causas externas (violência, acidentes). Essas mudanças exigem reorganização das políticas públicas, com foco em promoção da saúde e prevenção contínua. - Importância Prática A epidemiologia fornece base científica para: ● Campanhas de vacinação; ● Controle de endemias; ● Planejamento de recursos hospitalares; ● Vigilância de agravos emergentes; ● Avaliação de programas públicos de saúde.