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CAPÍTULO 1 EXPERIÊNCIAS COMPARADAS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO NO PÓS-GUERRA Fernando Veloso Pedro Cavalcanti Ferreira Samuel Introdução Uma questão fundamental no estudo do desenvolvimento econômico é por que alguns países são mais ricos do que outros. Em 2009, a renda per capita dos Estados Unidos equivalia a 36 vezes a de Uganda, 13 vezes a da Índia, seis vezes a da China e o dobro da de Portugal. Essas diferenças no padrão de vida, por sua vez, refletem disparidades enormes da produtividade do trabalhador. No mesmo ano, um trabalhador típico norte-americano produzia 30 vezes mais que de Uganda, quase 10 vezes mais que indiano, sete vezes mais que o chinês mais que o dobro do trabalhador português.¹ Além disso, existe grande heterogeneidade na trajetória de crescimento dos países. Essas diferenças nas experiências de crescimento, por sua vez, tiveram implicações significativas na desigualdade de renda entre os países. Alguns países relativamente pobres algumas décadas atrás tornaram-se desenvolvidos, como Tigres Asiáticos, enquanto outros estagnaram num patamar de renda média, como grande parte da América Latina, enquanto alguns, como a China, fizeram grande progresso, mas ainda estão distantes do grupo de países ricos. O objetivo deste capítulo é descrever os principais fatos estilizados de cres- cimento econômico no pós-guerra e analisar o debate sobre essas evidências na Esses dados são medidos em paridade de poder de compra, ou seja, corrigem pela diferença de custo de vida entre países. A base de dados utilizada é a Penn World Table 7.0, que será descrita na próxima seção.4 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 5 literatura de crescimento econômico. Em particular, iremos tratar de questões câmbio não afetam valores relativos das variáveis, o que ocorreria se as variáveis como: Qual foi a importância relativa da acumulação de capital físico e humano e fossem medidas em dólares correntes. do progresso tecnológico para o crescimento dos Tigres Asiáticos? O atraso relati- A renda per capita é igual, por definição, à multiplicação entre a produtivi- vo de países como Uganda ou Índia é causado por escassez de fatores de produção dade do trabalhador e a participação da força de trabalho na população, como ou por baixa eficiência? Por que o crescimento econômico da América Latina mostra a Equação 1: desacelerou fortemente a partir da década de 1980? Quais OS fatores responsáveis pelo extraordinário crescimento da China desde o final da década de 1970? Em (1) que medida esse crescimento é sustentável? A literatura de crescimento econô- mico não oferece respostas definitivas para essas questões, mas o capítulo procura onde Y é o PIB, N é a população e L é a força de trabalho. Em outras palavras, fornecer elementos para o entendimento do debate sobre esses temas. a renda por habitante pode elevar-se porque trabalhadores se tornaram mais O capítulo está dividido em cinco seções, incluindo esta Introdução. A se- produtivos ou porque a proporção de trabalhadores na população aumentou, gunda seção apresenta fatos estilizados de crescimento e desenvolvimento ou ambos. econômico no pós-guerra e calcula a contribuição das diversas fontes de cres- O Gráfico 1.1 apresenta a distribuição de renda per capita e do produto por cimento para as variações da produtividade do trabalho entre países e ao lon- trabalhador relativo aos Estados Unidos em O gráfico mostra o percen- go do tempo. As seções seguintes discutem brevemente três experiências de tual de países em cada categoria de renda e produtividade relativa aos Estados crescimento. A terceira seção descreve a experiência de crescimento seguida Unidos. primeiro fato fundamental é que existe enorme disparidade de de estagnação da América Latina. Na quarta seção analisamos a trajetória de renda per capita entre os países. Como mostra o gráfico, a distribuição de sucesso dos Tigres Asiáticos. A quinta seção discute o crescimento da China nas últimas décadas. GRÁFICO 1.1 Distribuição da renda per capita e do produto por trabalhador relativo aos Estados Unidos (2009) 40 Fatos estilizados 35 Nesta seção, apresentamos fatos estilizados sobre experiências de crescimen- to econômico no pós-guerra. A desigualdade de renda per capita entre países em 30 Renda per capita determinado ano (2009, por exemplo) resulta da combinação entre a desigual- to no pós-guerra e entender seu impacto na distribuição de renda atual. Proporção de países (%) 25 Produto por trabalhador dade num ano inicial (1960, por exemplo) e crescimento da renda per capita entre os dois anos. Nosso objetivo é analisar as diversas trajetórias de crescimen- 20 15 A análise deste capítulo baseia-se nos dados da versão 7.0 da Penn World Table (PWT). A PWT é a principal base de dados utilizada em análises compa- 10 radas de crescimento e desenvolvimento econômico. Ela contém informações sobre 33 variáveis para 189 países, de 1950 até 2009. A maior vantagem da 5 PWT.é que os dados de produto, investimento e demais estatísticas das Contas 0 Nacionais são calculados segundo o conceito de paridade de poder de compra 0-10% 10%-20% 20%-30% 30%-40% 40%-50% 50%-60% 60%-70% 70%-80% 80%-90% 90%-100% >100% (preços internacionais), PPP, que corrige os efeitos de diferenças sistemáticas de Renda per capita e produto por trabalhador relativo aos Estados Unidos custo de vida entre as economias.² Assim, por exemplo, flutuações na taxa de Fonte: Penn World Table 7.0. 2 Os dados da Penn World Table estão disponíveis em Para Embora os Estados Unidos sejam a maior economia do mundo, em 2009 sua renda per capita maiores detalhes, ver Heston et al. (2011). era inferior à de alguns países, como Austrália, Cingapura, Luxemburgo, Noruega e Qatar.6 DESENVOLVIMENTO UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 7 renda per capita é concentrada em países com baixo nível de renda per capita TABELA 1.1 Taxa de crescimento anual média da renda per capita e do produto por relativa aos Estados Unidos. Por exemplo, mais de 35% dos países possuem trabalhador (1960-2009) regiões e países selecionados (em %) renda per capita inferior a 10% da norte-americana e quase 20% dos países, RENDA PER CAPITA PRODUTO POR TRABALHADOR entre eles a China, possuem renda per capita na faixa entre 10 e 20% da norte- Leste Asiático 4,9 americana. 4,3 Sul da Europa 3,0 2,9 Além disso, o Gráfico 1.1 mostra que a disparidade de renda per capita no Sul da Ásia 2,4 2,0 mundo resulta de enormes diferenças na produtividade do trabalho entre os Europa Ocidental 2,3 2,0 países. Em particular, cerca de 50% dos países possuem produtividade do traba- Países de língua inglesa 2,2 1,6 lho inferior a 20% da norte-americana. Caribe 2,1 1,5 Oriente Médio 1,9 Em 2009, a renda per capita da China correspondia a 17% da norte-ameri- 1,4 América Latina 1,6 1,0 cana. A distribuição apresentada no Gráfico 1.1 não pondera países pela sua África Subsaariana 1,1 1,0 população. Caso isso fosse feito, a presença da China na faixa entre 10 e 20% China 6,0 5,7 da renda per capita dos Estados Unidos elevaria consideravelmente a propor- Coreia do Sul 5,4 4,3 ção desse grupo, embora o quadro geral de desigualdade elevada continuasse Japão 3,4 3,2 válido. 3,1 3,0 Brasil A Tabela 1.1 mostra as taxas de crescimento da renda per capita e do produto 2,4 1,5 Estados Unidos 2,0 1,5 por trabalhador de diferentes regiões e países entre 1960 e A tabela do- Mundo 2,1 1,8 cumenta alguns padrões interessantes. Primeiro, tanto na média mundial como Fonte: Penn World Table 7.0. nas diversas regiões, existe forte associação entre crescimento da renda per capi- ta e do produto por trabalhador. Por exemplo, enquanto crescimento médio da renda per no mundo foi de 2,1% ao ano (a.a.), produto por trabalha- Portanto, as diferenças de crescimento da renda per capita entre as regiões dor expandiu-se a uma taxa de 1,8% a.a. no período. O crescimento superior resultam, principalmente, de diferenças de crescimento da produtividade do tra- da renda per capita deve-se ao aumento da taxa de participação da população balho. Esse fato também ocorre para países individualmente, embora haja maior mundial na força de trabalho a uma taxa de 0,3% a.a. variação nesse caso. Por exemplo, no Brasil a renda per capita cresceu, em média, 0,9 ponto percentual (p.p.) acima do produto por trabalhador entre 1960 e 2009. A Tabela 1.1 também mostra que existem diferenças significativas de cres- Isso se deve ao crescimento da população em idade ativa acima do crescimento cimento entre as regiões. A região de maior crescimento no período foi Leste Asiático, onde a renda per capita e o produto por trabalhador cresceram a uma da população total, o que caracteriza o chamado "bônus O mesmo taxa média anual de 4,9% e 4,3%, respectivamente. Por outro lado, a região ocorreu com a Coreia do Sul. No caso da China, por outro lado, praticamente de menor crescimento foi a África Subsaariana, onde a renda per capita e o todo o crescimento extraordinário da renda per capita (6,0% a.a.) decorreu de aumento da produtividade do trabalho (5,7% a.a.), assim como na Índia. produto por trabalhador cresceram, respectivamente, a uma taxa média anual de 1,1% e 1,0%. A América Latina também teve um crescimento do produ- A Tabela 1.2 mostra a taxa de crescimento do produto por trabalhador em dois to por trabalhador de 1,0% a.a., mas um aumento maior da renda per capita subperíodos: 1960-1980 e 1980-2009. Podemos observar a partir da tabela que houve desaceleração generalizada do crescimento entre os dois subperíodos. Em (1,6% a.a.). particular, o crescimento médio anual do produto por trabalhador no mundo caiu de 2,8% entre 1960 e 1980 para 1,0% entre 1980 e 2009. Os países desenvolvidos (países de língua inglesa e Europa Ocidental) também tiveram redução do cresci- amostra utilizada composta por 84 países. Embora a PWT 7.0 tenha dados de renda per ca- mento.⁵ A queda do crescimento foi particularmente forte na América Latina (de pita e produto por trabalhador a partir de 1950 para vários países, optamos por iniciar a análise em 1960 para aumentar o tamanho da amostra. Além disso, os dados de investimento necessá- 2,3% para 0,1%) e na África Subsaariana (de 2,1% para 0,3%). O Leste Asiático rios para construir o estoque de capital usado na análise de decomposição de crescimento a ser feita adiante não estão disponíveis na década de 1950 para vários países. O Apêndice apresenta fenômeno de queda do crescimento da produtividade nos países desenvolvidos, nas décadas a lista dos países em cada região. de 1970 e 1980, é conhecido na literatura acadêmica como productivity slowdown.DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 9 8 também sofreu desaceleração, mas continuou crescendo a taxas elevadas (média (2) de 3,9% a.a.), em grande parte graças à China, que cresceu de forma acelerada a partir do final da década de 1970 (7,8% a.a.). A aceleração do crescimento da onde y é o produto por trabalhador, k é o capital físico por trabalhador, h é o Índia, a partir da década de 1980, por sua vez, contribuiu para fazer com que a capital humano por trabalhador e A é a produtividade total dos fatores (PTF). O redução do crescimento no sul da Ásia fosse menos pronunciada. parâmetro α é a elasticidade do produto em relação ao capital físico.⁶ O capital humano será construído seguindo a metodologia de Bils e Klenow:⁷ TABELA 1.2 Taxa de crescimento anual média do produto por trabalhador em dois subperíodos (1960-1980 e 1980-2009) regiões e países (3) selecionados (em %) 1960-1980 1980-2009 onde S é a escolaridade média da mão de obra. A ideia dessa formulação é que o impacto da educação no capital humano deve ser ponderado por uma medida Leste Asiático 4,9 3,9 de produtividade da escolaridade que é capturada pelo seu retorno no mercado de 4,7 1,7 Sul da Europa 2,7 1,6 trabalho.⁸ Vale ressaltar que, em virtude de limitações de dados, essa medida de Sul da Ásia 3,2 1,2 capital humano não incorpora a qualidade da educação. Europa Ocidental 1,9 1,4 Países de língua inglesa O estoque de capital físico é construído a partir do método de inventário 2,3 0,9 Caribe perpétuo, descrito pela seguinte equação: 3,3 0,1 Oriente Médio América Latina 2,3 0,1 (4) 2,1 0,3 África Subsaariana 2,6 7,8 China onde K é o estoque de capital agregado, Ié o investimento e δé a taxa de de- Coreia do Sul 4,3 4,4 6,1 1,3 preciação do capital. Essa equação diz que o estoque de capital em determinado Japão 2,0 3,7 Índia período é igual à soma do investimento do período anterior com o capital que 4,5 -0,6 Brasil restou após ter sido descontada sua depreciação. Dividindo-se o estoque de ca- Estados Unidos 1,5 1,5 pital agregado pela força de trabalho, obtemos o capital por trabalhador. Mundo 2,8 1,0 A PTF, que nos diz quanto é produzido com determinada quantidade de Fonte: Penn World Table 7.0 insumos, é calculada como resíduo a partir da Equação 2: próximo passo é as fontes do crescimento da produtividade do (5) trabalhador. O crescimento da produtividade do trabalho depende da acumula- ção de capital físico (máquinas, equipamentos e construção) e capital humano Os valores dos parâmetros foram escolhidos com base na literatura acadêmi- (educação) e da elevação da produtividade total dos fatores (PTF). A PTF é uma ca sobre o tema.⁹ Os dados de produto por trabalhador e investimento a preços medida da eficiência agregada da economia, que inclui a tecnologia e a eficiên- cia da alocação dos fatores de produção. Supondo-se a existência de competição perfeita no mercado do produto e a maximização do A pergunta que queremos responder é qual a importância relativa da acumu- lucro por parte das firmas, o parâmetro α é igual à participação da renda do capital na renda lação de capital físico, do capital humano e da PTF para explicar a diferença de total gerada na economia. e Klenow (2000). crescimento da produtividade do trabalhador entre países no pós-guerra. Isto é, formulação exponencial do capital humano captura o fato de que existe uma relação empíri- queremos saber se determinado país cresceu mais rapidamente porque investiu ca entre o logaritmo do salário e o nível de escolaridade, estimada através da chamada regressão mais em máquinas, estruturas e educação ou porque sua eficiência produtiva de Mincer. O retorno da escolaridade depende dos parâmetros e e tecnológico cresceram muito. Para isso, faremos um exercício de valor do parâmetro α é igual a 0,4, e a taxa de depreciação do capital é 5%. Klenow e Rodrí- guez-Clare (1997) e Hall e Jones (1999) usaram valores similares. Os valores dos parâmetros da decomposição do crescimento, com-base na seguinte função de produção: especificação de capital humano foram obtidos de Bils e Klenow (2000).10 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 11 internacionais foram obtidos da Penn World Table 7.0. Os dados de educação TABELA 1.3 Decomposição do crescimento do produto por trabalhador (1960-2009) foram obtidos da base de dados de Barro e Lee.¹⁰ grupos de crescimento (em %) A contribuição de cada fonte para crescimento do produto por trabalhador CONTRIBUIÇÃO PARA o CRESCIMENTO é calculada a partir da seguinte fórmula:¹¹ y h A Milagres 4,0 2,1 0,8 1,2 T T T T (6) (51) (20) (29) Crescimento rápido 2,4 1,1 0,6 0,6 O lado esquerdo dessa equação é o crescimento médio anual do produto (48) (26) (26) Crescimento médio 1,5 0,7 0,6 por trabalhador entre dois anos, onde T é a diferença de anos. O lado direito 0,1 (50) (42) (8) decompõe o crescimento da produtividade do trabalho em três componentes: o Crescimento baixo 0,7 0,6 0,8 -0,7 crescimento da PTF, a contribuição do capital físico e a contribuição do capital (87) (122) (-109) humano. Observe que as contribuições do capital físico e humano são iguais às Desastres -0,7 -0,1 0,8 -1,4 respectivas taxas de crescimento ponderadas pelos seus coeficientes na função (13) (-114) (201) Mundo de produção. 1,8 0,9 0,7 0,1 A Tabela 1.3 apresenta uma decomposição do crescimento para grupos de (54) (40) (6) países ordenados segundo suas taxas de crescimento no período 1960-2009: Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. Obs.: A tabela apresenta a taxa de crescimento anual média do produto por trabalhador (y) e as contribuições anuais médias "milagres", crescimento rápido, crescimento médio, crescimento baixo e das fontes de crescimento: capital físico por trabalhador (k), capital humano por trabalhador (h) e PTF (A). Valores entre A média de crescimento mundial foi de 1,8% a.a., mas existe gran- parênteses indicam as contribuições relativas de cada fonte de crescimento. de variabilidade entre países. Enquanto países classificados como "mila- gres" tiveram crescimento médio anual de 4,0%, os "desastres" tiveram cresci- desastres (-1,4% a.a.), ela se eleva juntamente com o crescimento do produto mento negativo do produto por trabalhador a.a.).¹³ por. trabalhador, atingindo 1,2% a.a. nos milagres. Ao compararmos os mila- A Tabela 1.3 mostra que a acumulação de capital físico e humano foi o gres com a média mundial, podemos observar que a PTF explica uma parcela principal responsável pelo crescimento do produto por trabalhador no mundo, da diferença de crescimento entre dois grupos muito similar à do capital.¹⁶ com contribuição de 94% para a média do crescimento mundial.¹⁴ No entanto A contribuição do capital humano, por outro lado, é muito semelhante para a PTF tem grande importância para explicar as diferenças de crescimento entre todos os grupos de crescimento.¹⁷ países.¹⁵ Enquanto a taxa de crescimento da PTF foi negativa no caso dos A Tabela 1.4 apresenta os resultados de uma decomposição de crescimen- to para as diferentes regiões. Podemos observar que os fatores de produção 10 Barro e Lee (2010). explicam a maior parte do crescimento de cada região. Em particular, a acu- 11 Para obter a fórmula de decomposição do crescimento, toma-se o logaritmo da função de mulação de capital físico e humano explica cerca de 65% do crescimento do produção (Equação 2) entre dois anos (t e T) e divide-se pela diferença de anos (T) produto por trabalhador dos países do Leste Asiático. O crescimento da PTF 12 Apêndice apresenta a lista dos países em cada grupo de crescimento. 13 A terminologia de "milagres" e "desastres" é comumente usada na literatura de crescimento na China foi bastante expressivo (2,5% a.a.) e contribuiu com 43% do cresci- para designar países que tiveram, respectivamente, extraordinário e crescimento mento do produto por trabalhador. negativo durante várias décadas. O uso do termo "milagre" não é inteiramente adequado, uma No entanto, é preciso observar que existe grande disparidade no desempe- vez que a etimologia da palavra está associada a um fenômeno que não tem explicação, ao passo que todo da literatura da qual este capítulo trata é justamente no sentido de identificar nho da PTF entre as regiões. Enquanto na América Latina e na África Subsaa- as causas dos fenômenos analisados. Usamos aqui a expressão "milagre" apenas por conveniência de uso, dada a difusão do termo. 14 Tabela A.1.1 no Apêndice apresenta uma decomposição do crescimento por décadas. Na 16 Os milagres tiveram uma contribuição do capital por trabalhador e da PTF superior em 1,2 e década de 1960, quando houve grande crescimento da economia mundial, a participação da 1,1 pontos percentuais, respectivamente. PTF foi bem maior: 39%. importante lembrar, contudo, que a medida de capital humano utilizada nesse cálculo não 15 Esses fatos são conhecidos na literatura e foram documentados em Klenow e incorpora a qualidade da educação, que provavelmente é maior em países desenvolvidos, con- (1997) e Easterly e Levine (2001), entre outros. forme sugere o melhor desempenho de seus estudantes em exames internacionais.DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 13 12 TABELA 1.4 Decomposição do crescimento do produto por trabalhador (1960-2009) das economias do Leste Asiático com a média mundial mostra que a PTF teve regiões e países selecionados (em %) contribuição um pouco superior à do capital para explicar as suas diferenças CONTRIBUIÇÃO PARA CRESCIMENTO de crescimento, enquanto a contribuição do capital humano foi similar. Em k A outras palavras, a PTF teve papel fundamental para explicar diferenças de y h crescimento entre os países e, em particular, foi determinante para a trajetória Leste Asiático 4,3 2,1 0,7 1,5 (49) (35) de sucesso dos países do Leste Asiático. Esse resultado será discutido adiante (16) Sul da Europa 2,9 1,5 0,7 0,7 em mais detalhe. (50) (24) (25) De acordo com o modelo de Solow, quando a economia encontra-se em Sul da Ásia 2,0 1,4 0,9 -0,2 crescimento balanceado, de capital e o produto crescem à mesma (66) (44) (-10) taxa, o que implica que a relação capital-produto permanece constante. 18 Por Europa Ocidental 2,0 1,0 0,5 0,5 (50) (25) (25) outro lado, em períodos de transição para uma nova trajetória de crescimento Países de inglesa 1,6 0,9 0,3 0,4 balanceado, o capital cresce mais rapidamente que o produto, o que resulta em (54) (21) (25) elevação da relação capital-produto. Portanto, a evolução da relação capital- Caribe 1,5 0,6 0,6 0,3 produto fornece informações valiosas para compreender se uma economia se (38) (41) (21) encontra em trajetória sustentável (crescimento balanceado) ou não (dinâmica Oriente Médio 1,4 0,9 0,9 -0,4 (66) (66) (-31) de Esse fato sugere que é conveniente analisar a evolução da relação América Latina 1,0 0,5 0,7 -0,2 capital-produto. (50) (71) (-21) Outro resultado importante do modelo de Solow é que a contribuição da África Subsaariana 1,0 0,6 0,8 -0,4 tecnologia para o crescimento econômico se dá através de dois canais. Primeiro, (59) (79) (-38) existe um impacto direto sobre o produto, devido ao fato de que uma melhoria China 5,7 2,3 0,9 2,5 da tecnologia (elevação de A na Equação 2) eleva a produtividade do trabalho. (40) (16) (43) Coreia do Sul 4,3 2,7 0,9 0,8 Além disso, ocorre um efeito indireto, já que a elevação da tecnologia aumenta (61) (21) (18) a produtividade marginal do capital, que induz maior acumulação de capital. Japão 3,2 2,1 0,4 0,7 Portanto, uma parcela da acumulação de capital resulta do progresso tecnológi- (66) (11) (23) medido empiricamente pela PTF. Índia 3,0 1,6 0,9 0,6 (52) (28) (20) Para entendermos melhor o funcionamento do modelo de Solow, é útil acom- Brasil 1,5 0,8 0,9 -0,2 panhar o comportamento da relação capital-produto após uma elevação perma- (53) (61) (-14) nente da PTF. Imediatamente em seguida à elevação da PTF há uma redução da Estados Unidos 1,5 0,9 0,4 0,3 relação capital-produto, pois produto elevou-se e o estoque de capital não se (57) (25) (18) alterou. No entanto, a elevação da PTF induz um processo de acumulação de Mundo 1,8 0,9 0,7 0,1 capital: para dada taxa de poupança, a elevação do produto em consequência do (54) (40) (6) aumento da PTF resulta em maior investimento. No modelo de Solow, esse pro- Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. A tabela apresenta a taxa de crescimento anual média do produto por trabalhador (y) e as contribuições anuais médias cesso de acumulação de capital induzido pela elevação da PTF termina quando das de crescimento: capital físico por trabalhador (k), capital humano por trabalhador (h) e PTF (A). Valores entre o estoque de capital tiver crescido na mesma proporção do crescimento da PTF, parênteses indicam as contribuições relativas de cada fonte de crescimento. de modo que no novo estado estacionário a relação capital-produto retorna ao valor que prevalecia antes da alteração da PTF. riana o crescimento da PTF entre 1960 e 2009 foi levemente negativo, no Leste Asiático sua expansão foi bastante significativa (1,5% a.a.), principal- mente levando-se em conta que, na média mundial, a PTF ficou praticamente 18 O Capítulo 2, neste livro, apresenta uma descrição dos principais resultados do modelo de estagnada (crescimento de 0,1% a.a.). De fato, a comparação do desempenho Solow.14 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 15 As considerações do parágrafo anterior motivam a seguinte crítica à decom- TABELA 1.5 Decomposição alternativa do crescimento do produto por trabalhador posição de crescimento tradicional, apresentada anteriormente. A decomposi- (1960-2009) grupos de crescimento (em %) ção dada pela Equação 6 subestima a contribuição da PTF para o crescimento e, CONTRIBUIÇÃO PARA o CRESCIMENTO portanto, superestima a contribuição do capital, pois não leva em consideração y k/y h A que parte da acumulação de capital constitui resposta da economia a um nível mais elevado de produtividade. Para capturar esse efeito, reescrevemos a fun- Milagres 4,0 0,7 1,4 1,9 ção de produção (equação 2) em termos da relação capital-produto, em vez da (19) (34) (48) Crescimento rápido 2,4 0,3 1,1 1,0 relação capital-trabalho: (13) (44) (43) Crescimento médio 1,5 0,2 1,1 0,2 (7) (16) (70) (13) Crescimento baixo 0,7 0,5 1,3 -1,2 (78) (204) (-181) onde k é a relação capital-produto. Segundo essa decomposição alternativa, Desastres -0,7 0,3 1,4 -2,4 y a contribuição de cada fonte para o crescimento do produto por trabalhador é (-44) (-190) (334) Mundo 1,8 calculada da seguinte forma: 0,4 1,2 0,2 # (23) (67) (10) Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. Obs.: A tabela apresenta a taxa de crescimento anual média do produto por trabalhador (y) e as contribuições anuais 1 α médias das fontes de crescimento: relação capital-produto (kly), capital humano por trabalhador (h) e PTF (A). Valores entre parênteses indicam as contribuições relativas de cada fonte de crescimento. T T T T (8) Por esse motivo, quando a contribuição do capital físico é medida pela razão Como mostra a comparação entre as Equações 6 e 8, a contribuição da PTF capital-produto em vez da relação capital-trabalho, a importância da PTF para para o crescimento do produto por trabalhador é maior na decomposição alter- explicar diferenças de crescimento entre países fica ainda mais pronunciada. nativa que na tradicional, já que, além do seu efeito direto, ela incorpora o efei- Por exemplo, a diferença de 2,2 p.p. entre o crescimento dos "milagres" e a mé- to indireto sobre a acumulação de capital. Outra diferença entre 6 e 8 é que, na dia mundial, 0,3 p.p., deve-se a uma maior elevação da razão capital-produto, decomposição alternativa, impacto do capital humano também é maior.¹⁹ O 0,2 p.p., a uma maior acumulação de capital humano, e os restantes 1,7 p.p., motivo é o mesmo: a elevação do capital humano tem um efeito direto sobre a à PTF. Além disso, quase metade do crescimento dos "milagres" é explicada pela produtividade do trabalho e, analogamente ao caso da PTF, enseja um processo PTF, enquanto nos "desastres" a queda da PTF explica a redução do produto por de acumulação de capital. trabalhador. A Tabela 1.5 apresenta os resultados da decomposição do crescimento alter- A Tabela 1.6 apresenta os resultados da decomposição de crescimento al- nativa para grupos de países ordenados segundo suas taxas de crescimento no ternativa para as regiões analisadas anteriormente. Embora a América Latina período 1960-2009. Um resultado interessante é que, embora exista dispa- tenha crescido 3,3 p.p. a.a. menos que o Leste Asiático entre 1960 e 2009, ridade significativa entre os países na acumulação de capital por trabalhador aumento da sua relação capital-produto foi inferior em apenas 0,4 p.p. a.a. (Tabela 1.3), a relação capital-produto aumentou a taxas similares em países A grande diferença foi na contribuição da PTF, que na América Latina foi negativa que cresceram muito ou pouco. (-0,4% a.a.) e fortemente positiva no Leste Asiático (2,5% a.a.), correspon- dendo a uma diferença de 2,9 p.p. a.a. Também é interessante observar que o 19 Na equação 6, a contribuição da PTF é igual a 1 multiplicado pela sua taxa de crescimento, crescimento da PTF contribuiu com a maior parcela do crescimento da China enquanto na equação 8 o que multiplica sua taxa de crescimento é igual a 1/1(1 > 1. De forma análoga, a contribuição do capital humano é maior na Equação 8 que na Equa- (72%). Embora tenha havido forte acumulação de capital por trabalhador na ção 6. O Apêndice mostra formalmente como a decomposição alternativa captura a soma dos China (Tabela 1.4), a Tabela 1.6 mostra que a relação capital-produto da China efeitos direto e indireto da PTF e do capital humano sobre a acumulação de capital físico. ficou praticamente constante.16 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 17 TABELA 1.6 Decomposição alternativa do crescimento do produto por trabalhador TABELA Decomposição de desenvolvimento tradicional (em %) (1960-2009) regiões e países selecionados (em %) CONTRIBUIÇÃO PARA A VARIAÇÃO DE y CONTRIBUIÇÃO PARA CRESCIMENTO A FATORES y k/y h A 1990 47 53 Leste Asiático 4,3 0,6 1,1 2,5 2000 48 52 (15) (27) (59) 2009 48 52 Sul da Europa 2,9 0,5 1,2 1,2 Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. (17) (40) (42) Obs.: A tabela apresenta as contribuições percentuais da PTF (A) e dos fatores de produção (relação capital-trabalho [k] e Sul da Ásia 2,0 0,9 1,5 -0,3 capital humano por trabalhador [h]) para a variação do produto por trabalhador entre os países. (44) (73) (-17) Europa Ocidental 2,0 0,3 0,8 0,8 (17) (41) (41) que calcula a contribuição relativa da PTF e dos fatores de produção (capital fi- Países de língua inglesa 1,6 0,3 0,6 0,7 sico por trabalhador e capital humano) para explicar diferenças no produto por (23) (35) (42) Caribe 1,5 0,0 1,0 0,5 trabalhador entre os países utilizando a razão capital-trabalho como medida do (-3) (68) (35) capital físico (decomposição de desenvolvimento tradicional). Oriente Médio 1,4 0,6 1,5 -0,7 Comg mostra a Tabela 1.7, a PTF contribuiu com 48% da variação do pro- (43) (109) (-52) duto por trabalhador entre os países em 2009, enquanto os 52% restantes foram América Latina 1,0 0,2 1,2 -0,4 explicados pelos estoques de capital físico e humano por trabalhador. Esse re- (16) (118) (-34) sultado tem se mostrado relativamente estável desde 1990 e é similar ao obtido África Subsaariana 1,0 0,3 1,4 -0,7 (31) (132) (-63) na China 5,7 0,0 1,5 4,1 A Tabela 1.8 apresenta a contribuição relativa da PTF e fatores de produção (1) (27) (72) para explicar diferenças no produto por trabalhador entre os países, com base Coreia do Sul 4,3 1,5 1,5 1,3 na decomposição alternativa (isto é, utilizando a relação capital-produto e não (36) (35) (30) Japão 3,2 1,4 0,6 1,2 capital por trabalhador). Como a variação da relação capital-produto entre OS (43) (19) (38) países é bem menor que a da razão capital-trabalho, essa decomposição atribui Índia 3,0 0,6 1,4 1,0 importância consideravelmente maior à PTF para explicar diferenças de produ- (20) (47) (33) tividade entre países (79% em Brasil 1,5 0,3 1,5 -0,4 (22) (101) (-24) Estados Unidos 1,5 0,4 0,6 0,4 (29) (42) (29) Mundo 1,8 0,4 1,2 0,2 20 Isto é, enquanto a decomposição de crescimento busca medir a contribuição relativa de fatores de produção e PTF para a evolução do produto por trabalhador de um país ou grupo (23) (67) (10) de países ao longo do tempo, a decomposição de desenvolvimento (ou de nível) busca medir Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores: essa contribuição para diferenças de produto por trabalhador entre os países em um ponto Obs.: A tabela apresenta a taxa de crescimento anual média do produto por trabalhador (y) e as contribuições anuais no tempo. Caselli (2005) faz uma análise dos resultados de várias decomposições do desen- médias-das fontes de crescimento: relação capital-produto capital humano'por trabalhador (h) e PTF (A). Valores entre volvimento. Neste capítulo utilizamos a metodologia descrita em Klenow e Rodríguez-Clare parênteses indicam as contribuições relativas de cada fonte de crescimento. (1997). 21 Ver Caselli (2005). 22 Klenow e Rodríguez-Clare (1997) e Hall e Jones (1999) utilizam a mesma metodologia e Em função da importância para explicar diferenças nas experiências de mostram que a PTF explica a maior parte das diferenças de produtividade do trabalho entre os crescimento entre países nas últimas décadas, a PTF também explica uma países. Ferreira et al. (2008) mostram que, na década de 1970, a contribuição dos fatores de parcela significativa das diferenças atuais no nível do produto por trabalhador produção para a disparidade da produtividade do trabalho no mundo era maior que a da PTF. No entanto, ao longo do tempo, a contribuição relativa dos fatores diminuiu, resultando em entre países. A Tabela 1.7 mostra uma decomposição do desenvolvimento, predominância da PTF a partir da década de 1990.18 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 19 TABELA 1.8 Decomposição de desenvolvimento alternativa (em %) GRÁFICO 1.2 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador na América Latina (1960-2009) CONTRIBUIÇÃO PARA A VARIAÇÃO DE y 240 A FATORES 230 77 23 220 1990 79 21 210 2000 Renda per capita 79 21 200 2009 Produto por trabalhador 190 Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. Obs.: A tabela apresenta as contribuições percentuais da PTF (A) e dos fatores de produção (relação capital-produto 180 e capital humano por trabalhador [h]) para a variação do produto por trabalhador entre os países. 170 160 Em resumo, independentemente da metodologia adotada, a PTF tem grande 150 140 importância para explicar as diferenças de renda e crescimento entre os países. 130 Mas fatores de produção também são relevantes, especialmente para explicar 120 o crescimento médio no pós-guerra. As seções seguintes analisam em maior 110 detalhe as experiências de crescimento da América Latina, Tigres Asiáticos e 100 China. 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Fonte: Penn World Table 7.0. desastre de produtividade da América Latina Obs.: 1960 100. Nesta seção, apresentamos alguns fatos estilizados sobre a experiência de desenvolvimento da América Latina nas últimas décadas. O Capítulo 5 anali- analisamos esse desempenho do ponto de vista relativo, o Gráfi- sa em detalhe a experiência brasileira. O Gráfico 1.2 compara a trajetória da CO 1.3 mostra que, no período pré-1980, houve uma redução na distância da produtividade do trabalhador com a da renda per capita na América Latina.²³ produtividade do trabalho da América Latina em relação à norte-americana. A Entre 1960 e 1980, a renda per capita na América Latina cresceu cerca de 2,5% renda per capita relativa, por outro lado, permaneceu estável em torno de 21%, já que seu crescimento foi semelhante na América Latina e nos Estados Unidos. ao ano. No entanto, na década de 1980, houve uma queda da renda pèr capita, caracterizando a chamada "década perdida". Durante o período de reformas da O período que se seguiu a partir da década de 1980 foi caracterizado por diver- década de 1990, houve uma aceleração do crescimento, seguida de estagnação gência, com uma pequena recuperação nos anos 2000. Em particular, enquanto no final da década.²⁴ Nos anos 2000, houve novamente um episódio de acele- a produtividade da América Latina atingiu cerca de 30% da norte-americana em ração do crescimento, ainda mais expressivo que o da década anterior, que foi 1980, esse valor caiu para 20% em 2009. A renda per capita relativa foi ainda menor em 2009 (18%), já que a taxa de participação na força de trabalho é interrompido com a crise internacional de 2008. menor na América Latina. A renda per capita cresceu aproximadamente à mesma taxa que o produto No entanto, a trajetória dos países latino-americanos não foi inteiramente por trabalhador entre 1960 e 1980. Por outro lado, a partir da década de 1980, o crescimento da renda per capita ficou bastante acima do crescimento da pro- homogênea. O Gráfico 1.4 apresenta a evolução da renda per capita de Argen- dutividade do trabalho. Essa diferença se deve ao aumento da taxa de participa- tina, Brasil, Chile e México em relação aos Estados Unidos. A Argentina teve uma queda quase contínua de renda relativa entre 1960 e 0 início dos anos ção na força de trabalho ao longo do período. 2000, com recuperação recente. O Brasil reduziu a distância em relação aos Estados Unidos até 1980, quando sua renda relativa alcançou cerca de 30%, mas 23 Ver Apêndice para uma descrição da amostra de países da América Latina. desde então divergiu da trajetória norte-americana, retornando em 2009 a um 24 Kuczynski e Williamson (2003) analisam as reformas implementadas na América Latina na valor próximo do de 1960 (em torno de 20%). O México teve uma trajetória década de 1990.DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 21 20 GRÁFICO 1.3 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador semelhante. Sua renda relativa elevou-se de cerca de 30% em 1960 para quase da América Latina relativo aos Estados Unidos, 1960-2009 (em %) 40% em 1980, mas nas décadas seguintes houve forte queda e, em 2009, a dis- 30 tância em relação aos Estados Unidos tinha retornado ao valor do início dos anos 1960. O Chile teve trajetória inversa. Entre 1960 e 1984, sua renda relativa caiu 28 Renda per capita de 25% para 15%. então houve forte elevação, fazendo com que atingisse Produto por trabalhador 26 quase 30% em 24 Existe um debate na literatura acadêmica sobre as causas do baixo nível de renda e produtividade da América Latina em relação aos países desenvolvidos 22 em geral e aos Estados Unidos em particular. Um importante estudo argumen- 20 tou que a principal razão para o atraso latino-americano é o baixo nível da 18 PTF, correspondendo a cerca de 50% da PTF Segundo os 16 autores, essa baixa produtividade, por sua vez, decorre de barreiras à compe- tição, como tarifas de importação elevadas e regulação excessiva do ambiente 14 de negócios. 12 No entanto, outra pesquisa mostra que a PTF na América Latina era relati- 10 elevada nos anos Desde então, houve queda significativa 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 da PTF latino-americana, como mostra o Gráfico 1.5. Após ter se elevado em Fonte: Penn World Table 7.0 e cálculo dos autores. cerca de 15% na década de 1960, a PTF latino-americana estabilizou-se durante alguns anos e declinou de forma significativa do início da década de 1980 até o início dos anos 1990. Graças às reformas da década de 1990, a queda da PTF foi interrompida, mas não logrou voltar a crescer a taxas elevadas. Após nova GRÁFICO 1.4 Evolução da renda per capita relativa aos Estados Unidos queda, no final da década, houve elevação expressiva nos anos 2000, mas em Argentina, Brasil, México e Chile, 1960-2009 (em %) 2009 a PTF era inferior ao seu nível em 1960. Uma questão que se coloca é por que, apesar de inúmeras distorções, como 45 a forte intervenção do Estado na economia e a estratégia de industrialização Argentina baseada em substituição de importações, a PTF da América Latina cresceu de Chile 40 México forma significativa nas décadas de 1960 e 1970. Uma possível explicação está Brasil relacionada a um fenômeno típico do processo de desenvolvimento, conhecido 35 como transformação estrutural. A transformação estrutural é definida como o deslocamento da atividade 30 econômica entre diferentes setores ao longo do processo de desenvolvimento. Como regra geral, toda economia passa por uma redução da participação do 25 setor agrícola e um aumento da importância da indústria e do setor de serviços. 20 Como a produtividade do trabalho na agricultura tradicional é menor que nos outros setores, esse processo provoca um aumento da PTF e da produtividade 15 25 Ver Bergoing et al. (2002), para uma comparação das trajetórias de México e Chile na década 10 de 1980, e Hopenhayn e Neumeyer (2006) para uma análise das causas da queda do crescimen- 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 to na Argentina a partir de meados da década de 1970. 26 Cole et al. (2005). Fonte: Penn World Table e cálculo dos 27 Ferreira et al. (2012).DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 23 22 GRÁFICO 1.5 Evolução da PTF na América Latina (1960-2009) forma significativa a produtividade agregada. Gráfico 1.6 mostra a evolução 120 da produtividade do trabalho no setor de serviços para Argentina, Brasil, Méxi- Chile e Estados Unidos entre 1960 e 2005.³⁰ Ao longo de todo o período, a 115 produtividade no setor de serviços norte-americano elevou-se a uma taxa média de 1,6% a.a. Por outro lado, nos países latino-americanos, a produtividade dos 110 serviços é baixa e divergiu em relação à Na média do período, o 105 crescimento da produtividade de serviços na Argentina foi de apenas 0,1% a.a. A produtividade brasileira nesse setor cresceu, em média, apenas 0,2% a.a. devido 100 à forte queda verificada a partir da década de 1980. A produtividade mexicana também teve redução a partir dos anos 1980 e, por isso, decresceu, em média, 95 0,1% a.a. entre 1960 e 2005. No Chile, por outro lado, houve crescimento de 90 0,9% a.a., em média, ao longo do período. Portanto, a queda da PTF e da produtividade do trabalho na América Latina 85 a partir da década de 1980 parece estar associada ao fato de que a atividade eco- 80 nômica se deslocou cada vez mais para o setor de serviços, cuja produtividade é - 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 # GRÁFICO 1.6 Evolução da produtividade do setor de serviços Argentina, Brasil, México, Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. Chile e Estados Unidos (1960-2005) Obs.: 1960 100. 120.000 Argentina Chile agregada das economias.²⁸ Em um segundo momento, a participação da indús- 100.000 México tria no produto e na força de trabalho também se reduz, e a importância do Estados Unidos setor de serviços se eleva ainda mais. Brasil 80.000 Em 1960, cerca de 52% dos trabalhadores mexicanos estavam na agricultura, 18% na indústria e 30% nos serviços. Ao longo do tempo, a força de trabalho deslocou-se para a indústria e, para o setor de serviços. Em 1980, a participação dos serviços tinha crescido para 43% da população ocupada, e a da 40.000 indústria, para O processo de transformação estrutural no México conti- após 1980. Em 2005, 57% da mão de obra trabalhava no setor de serviços e 20.000 somente 16% na agricultura. Por outro lado, o setor industrial manteve sua parti- cipação relativamente constante em torno de 27% do emprego em 2005. 0 Pela grande importância do setor de serviços na geração de emprego e sua 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 elevada participação no PIB, a evolução da produtividade nesse setor afeta de 2000 2002 2004 2006 Fonte: Timmer e de Vries (2009) e cálculo dos autores. Obs.: Os dados de produtividade de Timmer e de Vries (2009) são expressos em moeda nacional a preços constantes e foram convertidos em USS PPP. 28 Ver Herrendorf et al. (2012) para uma discussão da importância da transformação estrutural para o crescimento econômico. Um fenômeno similar tem sido observado no caso chinês, nos últimos 30 anos, como a seguir. 30 A série de dados termina em 2005. A produtividade é medida em dólares de 2005 segundo a 29 Os dados de emprego e produtividade setoriais apresentados no texto foram obtidos do paridade de poder de compra. Groningen Growth and Development Centre 10-Sector Database (GGDC) e estão dispo- 31 Pagés (2010) mostra evidências de que o setor de serviços, caracterizado pela informalidade níveis em http://www.ggdc.net. Ver Timmer e De Vries (2009) para uma descrição dessa elevada, é o principal responsável pela baixa produtividade do trabalho agregada da América base de dados. Latina em relação aos Estados Unidos.24 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 25 baixa e sofreu queda em vários países.³² Pela importância desse setor no empre- observar que, ao contrário da América Latina, os Tigres Asiáticos continuaram go e na produção total, sua produtividade condicionará fortemente a evolução a crescer fortemente depois de 1980. Após uma breve queda devido à crise da futura da produtividade e da renda per capita na América Latina. Ásia, no final da década de 1990, o crescimento foi retomado nos anos 2000 até ser interrompido pela crise internacional de 2008. milagre de produtividade dos Tigres Asiáticos Em razão do crescimento extraordinário durante várias décadas, os Tigres Asiáticos passaram a o grupo de países desenvolvidos. O Gráfico 1.8 Em contraste com a experiência da América Latina, alguns países do Leste mostra que a renda per capita e o produto por trabalhador dos Tigres Asiáticos, Asiático conseguiram sustentar taxas elevadas de crescimento durante várias que correspondiam a cerca de 20% do nível dos Estados Unidos em 1960, atin- décadas. Nesta seção vamos analisar brevemente a trajetória de um conjunto giram 80% em 2009.³⁴ de quatro países que ficaram conhecidos como Tigres Asiáticos: Coreia do Sul, Existe um grande debate em torno dos determinantes do "milagre" dos Ti- Taiwan, Hong Kong e Cingapura. gres Asiáticos. Em particular, vários estudos procuraram avaliar se esse cres- O Gráfico 1.7 evidencia o extraordinário crescimento da renda per capita e cimento extraordinário decorreu principalmente da acumulação de fatores de do produto por trabalhador desses países a partir de 1960. A renda per capita produção ou do progresso tecnológico. Essa questão é importante, tanto sob expandiu-se a uma taxa de 5,3% a.a., o que resultou em um aumento de 13 o ponto de vista teórico como em termos de políticas públicas. Caso o prin- vezes entre 1960 e 2009. O produto por trabalhador, por sua vez, cresceu 4,4% cipal mecanismo tenha sido a acumulação de capital físico ou humano, o mo- a.a., o que gerou um aumento de quase nove vezes no período.³³ É interessante delo de Solow (aumentado com capital humano) é adequado para interpretar essa experiência. Caso o progresso tecnológico tenha sido determinante, os GRÁFICO 1.7 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador nos Tigres Asiáticos (1960-2009) 1400 GRÁFICO 1.8 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador dos Tigres Asiáticos relativo aos Estados Unidos, 1960-2009 (em %) 1300 80 1200 1100 Renda per capita 1000 Produto por trabalhador 70 Renda per 900 Produto por trabalhador 800 60 700 600 50 500 400 40 300 200 30 100 0 20 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Fonte: Penn World Table 7.0. 10 Obs.: 1960 100. 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 32 Fatores macroeconômicos, como a inflação elevada e a crisè da dívida externa, também tive- Fonte: Penn World Table 7.0 e cálculo dos autores. ram papel importante para queda do crescimento da América Latina na década de 1980. Ver Kuczynski e Williamson (2003) para uma discussão. 33 A elevação da taxa de participação na força de trabalho permitiu que a renda per capita cres- 34 Esse valor é uma média dos Tigres Em 2009, a renda per capita de Cingapura era cesse mais que o produto por trabalhador. superior à dos Estados Unidos.DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 27 26 modelos mais apropriados são os que enfatizam a adoção e criação de novas Uma pesquisa de Hsieh faz outra crítica ao estudo de Young.⁴² O autor ar- No que diz respeito a políticas públicas, uma evidência com- gumenta que, caso tivesse ocorrido nesses países uma acumulação de capital patível com o modelo de Solow recomendaria ênfase na elevação da taxa de físico da magnitude calculada por Young, a existência de retornos decrescentes investimento em capital físico e humano. No segundo caso, o foco seria em deveria ter resultado em grande redução da taxa de retorno do capital, o que políticas de inovação e de incentivo para a adoção de tecnologias produzidas não se verificou. Segundo Hsieh, isso indica que dados usados por Young a no exterior.³⁶ partir das Contas Nacionais superestimam o investimento e a acumulação de Um estudo famoso de Alwyn Young mostrou, através de uma análise de capital físico dos Tigres. decomposição do crescimento, que a maior parcela do crescimento dos quatro Enquanto autores citados modificam resultados de Young com base em Tigres decorreu de aumento da taxa de participação na força de trabalho e da diferentes metodologias e bases de dados, Ferreira e coautores argumentam que o acumulação de capital físico e humano.³⁷ Em outras palavras, segundo Young, o que define um "milagre" econômico é um crescimento extraordinário em relação crescimento dos Tigres teria resultado fundamentalmente de uma mobilização aos demais países. Portanto, a experiência dos Tigres não deve ser analisada isola- extraordinária dos fatores de produção, com um papel relativamente pequeno damente, mas em comparação com outros países no mesmo período. Utilizando para o progresso tecnológico, medido pela Uma importante implicação dados da Penn World Table e a metodologia de decomposição tradicional de cres- desse resultado, salientada por Paul Krugman, é que, pela existência de retornos cimento usada por Young, OS autores mostram que, embora o crescimento da PTF decrescentes à acumulação de capital, o crescimento dos Tigres iria necessaria- dos Tigres não tenha sido particularmente elevado em termos absolutos, ele foi extraordinário em comparação com OS demais países.⁴³ De fato, como vimos na No entanto, esse resultado não é consensual na literatura. Segundo Klenow e discussão da Tabela 1.4, diferenças na taxa de crescimento da PTF explicam gran- a metodologia de contabilidade do crescimento utilizada por de parcela das diferenças no crescimento do produto por trabalhador do grupo de Young não leva em conta o impacto indireto da PTF no crescimento através da países do Leste Asiático (que inclui, além dos quatro Tigres, Japão, China e Tai- acumulação de capital.⁴⁰ Utilizando uma decomposição alternativa do cresci- lândia) em relação aos demais. Em particular, enquanto a média de crescimento mento, como a apresentada neste capítulo, autores mostraram que, levando- da PTF no mundo entre 1960 e 2009 foi de 0,1% a.a., a PTF dos países do Leste se em consideração seus efeitos direto e indireto, a PTF explica a maior parcela Asiático cresceu 1,5% a.a. no mesmo período. do dos Tigres Asiáticos. Como mostra a comparação entre a Tabela Outra forma de verificar esse resultado é analisar a evolução da PTF dos 1.4 (decomposição tradicional) e a Tabela 1.6 (decomposição alternativa), en- Tigres em relação à fronteira tecnológica, representada pelos Estados Unidos. quanto os fatores de pródução explicam a maior parte do crescimento dos países Como mostra o Gráfico 1.9, desde 1960 houve clara convergência da PTF dos do Leste Asiático segundo a decomposição tradicional usada por Young, a PTF Tigres para a fronteira, atingindo 91% da produtividade total dos fatores norte- torna-se dominante quando se usa a decomposição alternativa, proposta por americana em 2009. Klenow e Outra característica importante da trajetória de crescimento dos Tigres é que, diferentemente dos países da América Latina, eles foram bem-sucedidos em ele- var a produtividade do setor de serviços, como mostra o Gráfico 1.10. Enquanto 35 Parente e Prescott (2005) argumentam que "milagres" econômicos ocorrem quando países a produtividade americana cresceu 1,4% a.a. entre 1965 e 2005, a coreana expan- muito distantes da fronteira tecnológica, como os Tigres Asiáticos no início da década de 1960, diu-se 2% no período. No caso de Taiwan, a produtividade dos serviços cresceu reduzem as barreiras à adoção de tecnologia dos países desenvolvidos. Ver o Capítulo 2 deste 4,5% a.a. e tem convergido rapidamente para a produtividade americana. Como o livro para uma discussão desses modelos. 36 Para uma análise das políticas adotadas pelos Tigres Asiáticos, ver Banco Mundial (1993) e o setor de serviços concentra a maior parcela do emprego nesses países, isso fornece Capítulo deste livro. indicações promissoras sobre a continuidade do crescimento deles.⁴⁴ 37 Young (1995). 38 Collins e Bosworth (1996) e Bosworth e Collins (2003) realizaram exercícios de contabilida- de do crescimento e chegaram à mesma conclusão que Young (1995). 42 Hsieh (2002). 39 Krugman (1994). 40 Klenow e Rodríguez-Clare (1997). 43 Ferreira et al. (2011). 41 O grupo de países do Leste Asiático.que fazem parte das Tabelas 1.4 e 1.6 inclui também 44 Em 2005, a participação do setor de serviços no emprego total era de 64% na Coreia do Sul, Japão, China e Tailândia. 70% em Cingapura, 57% em Taiwan e 85% em Hong Kong.28 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 29 GRÁFICO 1.9 Evolução da PTF dos Tigres Asiáticos em relação aos Estados Unidos, milagre de produtividade da China 1960-2009 (em %) 100 A China teve um crescimento extraordinário nas últimas décadas, com gran- de repercussão na economia mundial. O Gráfico 1.11 apresenta a evolução da 90 renda per capita e do produto por trabalhador na China entre 1960 e 2009. A renda per capita chinesa cresceu 2,8% a.a. de 1960 a 1980. Entre 1980 e 2009, houve uma aceleração do crescimento para 8,3% a.a., algo sem preceden- 80 tes na história, mesmo levando-se em conta a experiência dos Tigres Asiáticos. Como mostra o gráfico, a trajetória do produto por trabalhador é similar, pas- 70 sando de um crescimento de 2,6% a.a. nos primeiros 20 anos para 7,8% a partir da década de 1980. 60 Graças às suas elevadas taxas de crescimento, tanto a renda per capita como produto por trabalhador da China aumentaram bastante em relação aos 50 Estados Unidos, como mostra o Gráfico 1.12. Enquanto no período 1960-1980 a renda per capita chinesa ficou relativamente constante, em torno de 2% da norte- americana, no período de quase 30 anos que se seguiu houve forte convergência. 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 No entanto, como a China era muito pobre no início da década de 1980, apesar do seu enorme crescimento, a renda chinesa atingiu apenas 17% da norte-americana Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. em 2009. O produto por trabalhador da China seguiu uma trajetória similar, mas no mesmo ano correspondia a apenas 13% da produtividade norte-americana. GRÁFICO 1.10 Evolução da produtividade do setor de serviços Coreia do Sul, Taiwan e Estados Unidos (1965-2005) GRÁFICO 1.11 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador da China (1960-2009) 120000 2000 Coreia do Sul 100000 Taiwan Estados Unidos 1500 80000 Renda per capita Produto por trabalhador 60000 1000 40000 500 20000 0 1965 1967 1969 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 0 1971 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Fonte: Timmer e De Vries (2009) e cálculo dos Obs.: Os dados de produtividade de Timmer e De Vries (2009) são expressos em moeda nacional a preços constantes e Fonte: Penn World Table 7.0. foram convertidos em USS PPP. Obs.: 1960 100.30 DESENVOLVIMENTO UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 31 GRÁFICO 1.12 Evolução da renda per capita e do produto por trabalhador da China GRÁFICO 1.13 Evolução da PTF da China em relação aos Estados Unidos, relativo aos Estados Unidos, 1960-2009 (em %) 1960-2009 (em %) 18 40 16 35 14 Renda per capita 12 Produto por trabalhador 30 10 25 8 20 6 4 15 2 10 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 5 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Fonte: Penn World Table 7.0 e cálculo dos autores. Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos autores. Durante o período de rápido crescimento, a China elevou de forma expres- siva suas taxas de poupança e investimento. Em 1978, a taxa de investimento Essas reformas na agricultura desencadearam um salto na taxa de crescimen- medida em preços internacionais (US$ PPP) já era elevada, em torno de 30% to da produtividade agrícola, que permitiu a liberação de mão de obra para do PIB. Em 2009, o investimento atingiu 45% do PIB. Além do investimen- setores de produtividade mais elevada, como indústria e serviços. Entre 1978 e to elevado, a PTF teve papel fundamental para o crescimento chinês (Gráfico 2004, a PTF da agricultura cresceu 5,4% a.a, e a participação da agricultura no 1.13). Entre 1960 e 1980, a PTF chinesa ficou relativamente estável em relação emprego total caiu de 69% para à americana, em torno de 12%. Desde o final da década de 1970, a PTF relati- Outra transformação estrutural de grande importância na China está asso- va elevou-se continuamente e alcançou 41% em 2009. No entanto, da mesma ciada ao deslocamento da força de trabalho do setor estatal para o setor pri- forma que a renda per capita e o produto por trabalhador, a PTF chinesa ainda vado. Entre 1978 e 2004, a participação do emprego estatal caiu de 53% para encontra-se distante do nível das economias desenvolvidas. 13% do setor não agrícola (indústria e serviços). Essa realocação da mão de A aceleração do crescimento chinês decorreu de uma série de reformas eco- obra teve grande impacto na produtividade, já que, enquanto a PTF do setor nômicas iniciadas por Deng Xiaoping em 1978. Essas reformas criaram meca- privado não agrícola cresceu 4,3% a.a. nesse período, a PTF do setor estatal nismos de mercado de forma gradual em uma economia que era inteiramente expandiu-se apenas 1,7% combinação das duas mudanças estruturais, planificada. Inicialmente, as mudanças foram introduzidas na agricultura, atra- ou seja, a redução do setor agrícola e do setor estatal, foi responsável por cer- vés da introdução do direito de propriedade individual sobre a terra (household ca de um terço do crescimento da produtividade do trabalhador chinês entre responsibility system) e da permissão para a comercialização no mercado da par- 1978 e cela da produção agrícola que excedesse uma cota que deveria ser vendida para Embora as transformações estruturais da economia chinesa não tenham se o governo a um preço preestabelecido (dual-track pricing esgotado, os ganhos de produtividade no futuro dependerão cada vez mais de 45 Brandt e Rawski (2008) vários estudos sobre a transformação econômica da Chi- 46 Brandt et al. (2008). na. Qian (2003) apresenta uma análise da estratégia gradualista de reformas da China. 47 Brandt et al. (2008).DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 33 32 elevações da produtividade industrial e do setor de serviços. Um estudo de nesse setor. À medida que o setor de serviços se torna preponderante na produ- Hsieh e Klenow mostrou que, no período 1998-2005, a redução de distorções ção total e na geração de empregos ao longo do processo de desenvolvimento, a à alocação eficiente de capital e trabalho entre as empresas do setor manufa- evolução da produtividade desse setor torna-se fundamental para a trajetória de tureiro gerou um crescimento da PTF de 2% No entanto, ainda existem crescimento econômico. grandes ganhos potenciais de eficiência no setor manufatureiro. Segundo au- tores, a eliminação das distorções à alocação eficiente de recursos pode gerar um aumento de 115% na PTF do setor. Leituras recomendadas Klenow e Rodríguez-Clare (1997) é uma referência fundamental para o es- Resumo tudo de decomposições de crescimento e de desenvolvimento, enquanto Her- rendorf et al. (2012) apresentam uma resenha extensiva sobre transformação Neste capítulo descrevemos os principais fatos estilizados de crescimento estrutural. Para o debate sobre o papel da PTF e fatores de produção no cresci- econômico do pós-guerra analisamos brevemente o debate sobre essas evidên- mento da América Latina nas últimas décadas, ver Cole et al. (2005) e Ferreira cias na literatura de crescimento econômico, com base nos dados da versão 7.0 et al. (2012). Sobre a controvérsia da importância relativa da PTF e da acumu- da Penn World Table, a principal base de dados utilizada em estudos compara- lação de capital físico e humano para o crescimento dos Tigres Asiáticos, ver dos de crescimento desenvolvimento econômico. Young (1995) e Hsieh (2002). Um livro organizado por Loren Brandt e Thomas Vários fatos estilizados foram documentados no texto. Primeiro, existe Rawski (Brandt e Rawski, 2008) apresenta um amplo conjunto de estudos sobre enorme disparidade de renda per capita entre países. Essas diferenças no a transformação econômica da China. padrão de vida refletem grandes disparidades da produtividade do trabalha- dor. A PTF, que representa uma medida de eficiência agregada da economia, explica uma parcela fundamental das diferenças de produtividade do trabalho Referências entre os países, embora variações de capital físico e humano também sejam relevantes. Banco Mundial. The East Asian Miracle: Economic Growth and Public Policy. Washington, Além disso, existe grande heterogeneidade na trajetória de crescimento dos DC, 1993. países. Essas diferenças nas experiências de crescimento, por sua vez, tiveram Barro, R. e Lee, J. W. A New Data Set of Educational Attainment in the World, 1950- 2010. NBER Working Paper n. 15902, 2010. implicações significativas na desigualdade de renda entre os países. Alguns paí- Bergoing, R., Kehoe, P., Kehoe, T. e R. Soto. A Decade Lost and Found: Mexico and Chile ses relativamente pobres, algumas décadas- atrás, tornaram-se desenvolvidos, in the 1980s. Review of Economic Dynamics, 5:166-205, 2002. como os Tigres Asiáticos; outros estagnaram em um patamar de renda média, Bils, M. e Klenow, P. Does Schooling Cause Growth? American Economic Review, 90(5), como grande parte da América Latina, e alguns, como a China, fizeram grande 1160-1183, 2000. progresso, mas ainda estão distantes do grupo de países ricos. Diferenças no Bosworth, B. e Collins, S. The Empirics of Growth: An Update. Brookings Papers on Eco- crescimento da PTF explicam uma parcela significativa das diferenças de cresci- nomic Activity 2, 113-179, 2003. mento do produto por trabalhador entre os países. Brandt, L. e Rawski, T. (Eds.). China's Great Economic Transformation. Cambridge: Cam- bridge University Press, 2008. Um importante determinante do crescimento da produtividade do trabalho e Brandt, L., Hsieh, C. e Zhu, X. (2008). Growth and Structural Transformation in China. da PTF é a transformação estrutural, caracterizada pela transferência de fatores In Brandt, L. e Rawski, T. (Eds.). China's Great Economic Transformation. Cambridge: de produção da agricultura tradicional, que se caracteriza por baixa produtivida- Cambridge University Press, 683-728, 2008. de, para setores mais produtivos, como indústria e serviços. Enquanto países Caselli, F. Accounting for Cross-Country Income Differences. In Aguion, P. e Durlauf, S. da América Latina tiveram queda ou estagnação da produtividade no setor de (Eds.). Handbook of Economic Growth. Elsevier North-Holland, 1A, 679-741, 2005. serviços, os Tigres Asiáticos obtiveram elevações expressivas de produtividade Cole, H., Ohanian, L., Riascos, A. e Schmitz, J. Latin America in the Rearview Mirror. Journal of Monetary Economics 52, 69-107, 2005. Collins, S. e Bosworth, B. Economic Growth in East Asia: Accumulation versus Assimila- 48 Hsieh e Klenow (2009). tion. Brookings Papers on Economic Activity 2, 135-203, 1996.34 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 35 Easterly, W. e Levine, R. It's not Factor Accumulation: Stylized Facts and Growth Models. The World Bank Economic Review, 15 (2), 177-219, 2001. Ferreira, P. C.; S. e Veloso, F. On the Evolution of Total Factor Productivity in Latin America. Economic Inquiry, no prelo, 2012. APÊNDICE Ferreira, P. C.; S. e Veloso, F. East Asian Miracles in World Perspective. Texto para Discussão EPGE/FGV, 2011. Ferreira, P. C.; S. e Veloso, F. The Evolution of International Output Differences (1970-2000): From Factors to Productivity. B.E. Journal of Macroeconomics (Topics), V. 8, Article 3, 2008. Hall, R. e Jones, C. Why do Some Countries Produce so Much More Output per Worker than Others? Quarterly Journal of Economics, 114 (1), 83-116, 1999. Herrendorf, B.; Rogerson, R. e Valentinyi, Growth and Structural Transformation. In N este Apêndice apresentamos a composição dos grupos de países que consi- Handbook of Economic Growth (no prelo), 2012. deramos no texto, bem como uma tabela com as taxas de crescimento do Heston, A.; Summers, R. e Aten; B. Penn-World Table Version 7.0. Center for International produto por trabalhador e da PTF para a economia mundial, diversas regiões e Comparisons of Production, Income and Prices at the University of Pennsylvania, 2011. alguns países, para cada uma das décadas que compõem a análise deste capítu- Hopenhayn, H. e Neumeyer, P. The Argentine Great Depression 1975-1990. In Blyde, lo. Adicionalmente, descrevemos a metodologia que utilizamos para calcular a J., Férnandez-Arias, E. e Manuelli, R. (Eds.). Sources of Growth in Latin America: What is Missing? Washington, DC: Inter-American Development Bank, 2006. decomposição de crescimento alternativa para os grupos de países. Hsieh, C. T. e Klenow, P. Misallocation and Manufacturing TFP in China and India. Quar- Ao longo do capítulo, os países foram classificados em grupos de crescimento terly Journal of Economics, 124 (4), 1403-1448, 2009. e por regiões. A composição dos grupos é a seguinte: Hsieh, Chang-Tai. What Explains the Industrial Revolution in East Asia? Evidence from Factor Markets. American Economic Review, 92 (3), 502-526, 2002. Klenow, P. e Rodríguez-Clare, A. The Neoclassical Revival in Growth Economics: Has It Lista de países por regiões Gone Too Far? In Bernanke, Ben e Rotemberg, Julio (Eds.). NBER Macroeconomics An- nual, 73-103, 1997. Krugman, P. The Myth of Asia's Miracle. Foreign Affairs 73 (6), 62-78, 1994. Países de língua inglesa: Austrália, Canadá, Estados Unidos, Irlanda, Nova Ze- Kuczynski, P. Williamson, J. (eds). After the Washington Consensus: Restarting Growth and lândia, Reino Unido. Reform in Latin America. Washington, DC. Institute for International Economics, 2003. Pagés, C. The Age of Productivity. Washington, DC: Inter-American Development Bank, 2010. Europa Ocidental: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Parente, S. e Prescott, E. A Unified Theory of the Evolution of International Income Levels. Holanda, Islândia, Itália, Noruega, Suécia, Suíça. In Aguion, P. e Durlauf, S. (eds.). Handbook of Economic Growth. Elsevier North-Holland, 2005. Timmer, M. e De Vries, G. Structural Change and Growth Accelerations in Asia and Latin Sul da Europa: Chipre, Espanha, Grécia, Portugal, Turquia. America: A New Sectoral Data Set. Cliometrica, 3 (2), 165-190, 2009. Young, A. The Tyranny of Numbers: Confronting the Statistical Realities of the East Asian Leste Asiático: China, Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong, Japão, Tailândia, Growth Experience. Quarterly Journal of Economics, 110, 641-680, 1995. Taiwan. Oriente Médio: Irã, Israel, Jordânia, Síria, Tunísia. Sul da Ásia: Bangladesh, Fiji, Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Nepal, Papua- Nova Guiné, Paquistão. América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Sal- vador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela.36 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA Experiências comparadas de crescimento econômico no pós-guerra 37 Caribe: Barbados, Guiana, Jamaica, Trinidad e Tobago. TABELA A.1.1 Taxa de crescimento anual média do produto do trabalhador e da PTF por décadas regiões e países selecionados (em %) África Subsaariana: África do Sul, Botsuana, Camarões, Gana, Ilhas Maurício, 1960-1970 1970-1980 1980-1990 1990-2000 2000-2009 Lesoto, Malawi, Moçambique, Níger, Quênia, República Centro-Africana, Re- y A y A y A y A y A pública do Congo, Senegal, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia, Zimbábue. Leste Asiático 5/2 2,5 4,6 1,2 4,7 1,9 4,0 0,8 3,0 1,1 (49) (27) (41) (21) (35) Obs.: O grupo do Oriente Médio inclui a Tunísia, que faz parte do Norte da África. Sul da Europa 6,2 3,2 3,1 0,1 2,1 0,5 1,6 0,1 1,2 -0,4 (51) (4) (25) (4) (-34) Sul da Ásia 2,6 -0,1 2,9 -0,1 1,2 -1,0 1,4 -0,4 2,1 0,6 (-4) (-3) (-84) (-25) (29) B. Lista de países por grupos de crescimento Europa Ocidental 4,1 1,8 2,3 0,4 1,2 0,3 1,6 0,6 0,6 -0,6 (43) (17) (21) (37) (-97) Milagres: Botsuana, China, Cingapura, Coreia do Sul, Hong Kong, Índia, Indo- Países de inglesa 2,5 1,0 1,3 -0,1 1,1 0,3 2,4 1,4 0,8 -0,7 (40) (-5) (29) (58) (-92) nésia, Japão, Malásia, Tailândia, Taiwan, Turquia. Caribe 4,7 2,5 0,0 -1,2 -0,8 -1,8 1,7 1,0 1,9 1,0 (54) (2744) (211) (62) (52) Crescimento rápido: Áustria, Bélgica, Chipre, Espanha, Finlândia, França, Gré- Oriente Médio 4,0 1,3 2,6 -1,1 -1,1 -2,5 0,2 -0,2 1,2 0,5 cia, Ilhas Maurício, Irlanda, Israel, Itália, Lesoto, Noruega, Panamá, Papua-No- # (32) (-45) (218), (-112) (42) América Latina 2,4 1,0 2,2 0,1 va Guiné, Paquistão, Portugal, República do Congo, República Dominicana, -1,7 -2,3 0,8 0,0 1,4 0,3 (40) (4) (140) (-4) (21) Trinidad e Tobago, Tunísia. África Subsaariana 2,8 1,0 1,4 -1,2 -0,1 -1,2 -0,1 -0,8 1,4 0,2 (37) (-85) (911) (603) (12) Crescimento Médio: Alemanha, Argentina, Austrália, Barbados, Brasil, Cana- China 0,9 -0,8 4,3 1,4 5,8 2,9 8,2 3,7 9,6 5,4 dá, Chile, Colômbia, Dinamarca, Equador, Estados Unidos, Filipinas, Gana, (-86) (33) (49) (46) (56) Coreia do 4,7 1,4 3,8 Guatemala, Holanda, Irã, Islândia, Malawi, Moçambique, Nepal, Reino Unido, -0,9 6,3 2,8 4,2 0,2 2,4 0,4 (30) (-24) (44) (4) (15) Síria, Suécia, Suíça, Tanzânia, Uganda, Uruguai. Japão 8,6 4,6 3,5 -0,3 2,6 0,9 0,5 -1,2 0,7 -0,3 (54) (-10) (32) (-240) (-50) Crescimento baixo: África do Sul, Bangladesh, Bolívia, Camarões, Costa Rica, Índia 2,6 -0,1 1,4 -0,8 3,1 0,9 2,6 0,5 5,7 2,6 (-2) (-56) (28) El Salvador, Guiana, Honduras, Ilhas Fiji, Jamaica, Jordânia, México, Nova Ze- (21) (45) Brasil 4,1 2,0 4,8 2,5 -2,1 -4,1 -0,5 -1,8 1,1 0,4 lândia, Paraguai, Peru, Quênia, Senegal, Zâmbia. (48) (51) (195) (342) (40) Estados Unidos 2,4 0,8 0,6 -0,5 1,7 0,8 2,2 0,9 0,6 -0,8 Desastres: Nicarágua, Níger, República Centro-Africana, Togo, Venezuela, (35) (-87) (50) (42) (-135) Mundo 3,4 1,3 2,2 Zimbábue. -0,2 0,4 -0,8 1,2 0,1 1,5 0,2 (39) (-9) (-189) (6) (11) Fonte: Penn World Table 7.0, Barro e Lee (2010) e cálculo dos Obs.: A tabela apresenta a taxa de crescimento-anual média do produto por trabalhador (y) e a taxa de crescimento anual média da PTF (A). Valores entre parênteses indicam a contribuição relativa da PTF para o crescimento. C. Derivação da fórmula da decomposição do crescimento alternativa Conforme mostrado no texto, a função de produção é dada por: (2) Para calcularmos a decomposição de crescimento alternativa, obtemos de (2):38 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA CAPÍTULO 2 (Al) DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: Elevando ambos lados da Equação Al por 1 obtemos a Equação 7 do texto: UMA BREVE INCURSÃO TEÓRICA (7) Carlos Eduardo Soares Gonçalves A Equação 7 pode ser reescrita como: (A2) A partir da Equação A2, podemos expressar a decomposição alternativa de crescimento da seguinte forma: T Introdução O propósito deste capítulo é apresentar sucintamente os caminhos que fo- ram trilhados, ao longo dos últimos 60 anos, pela pesquisa econômica na área T (A3) de crescimento/desenvolvimento econômico. Ele fornece, portanto, o substrato teórico que complementa e auxilia o entendimento de outros capítulos do livro. A expressão A3 é equivalente à Equação 8 do texto. Comparando A3 com É desnecessário lembrar a impossibilidade de descrever com completude seis a decomposição de créscimento tradicional, dada pela Equação 6 do texto, po- décadas de pesquisa em algumas poucas páginas. Um resumo trata necessaria- demos observar que, na decomposição alternativa, o impacto da PTF no cres- mente do essencial, incorporando juízos de valor do autor. Este capítulo não cimento do produto por trabalhador é maior que na decomposição tradicional. pode fugir a tal regra universal. Isso decorre do fato de que a decomposição alternativa captura a soma do efei- Antes de iniciar, vale fazer um breve esclarecimento sobre a dicotomia "cres- to da PTF (igual a 1) e seu efeito indireto (dado enquanto cimento" versus "desenvolvimento" econômico, que tem gerado polêmica re- cente dentro e fora da academia. Antes de tudo, no mundo acadêmico, a distin- a decomposição tradicional mede apenas o seu efeito direto. Outra diferença ção entre "teorias de crescimento" e "teorias de desenvolvimento" é relacionada entre A3 e 6 é que, na decomposição alternativa, o impacto do capital humano ao objeto de estudo em questão. Segundo a definição mais usual, as primeiras também é maior. O motivo é o mesmo: a elevação do capital humano tem um teriam como alvo o entendimento do fenômeno do crescimento de modo geral, efeito direto sobre a produtividade do trabalho e, analogamente ao caso da PTF, enquanto os estudiosos do "desenvolvimento" estariam mais centrados em en- processo de acumulação de capital. O efeito direto é dado pelo termo tender diferenças entre os países. De acordo com essa acepção, este capítulo é 1 α, e o efeito indireto é capturado pelo termo α. neutro, pois aborda e entrelaça as duas questões: expansão da fronteira mundial e diferencial de renda entre os países. Porém a conotação mais comum dada à dicotomia é outra. Críticos das me- didas tradicionais de crescimento (e nível) do PIB por habitante enfatizam que essa medida desconsidera outras variáveis também relevantes para o bem-estar