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CNU Concurso Nacional Unificado Conhecimentos Gerais para os Blocos de 1,2,3 e 5 Diversidade e Inclusão na Sociedade Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da editora Nova Concursos. Esta obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. Dúvidas www.novaconcursos.com.br/contato sac@novaconcursos.com.br Obra CNU - Concurso Nacional Unificado Conhecimentos Gerais para os Blocos de 1,2,3 e 5 Autores DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA SOCIEDADE • Ana Philippini, Fernando Zantedeschi, Maria Clara Iunes e Renato Philippini Edição: Janeiro/2024 ISBN: 978-65-5451-284-8 SUMÁRIO DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA SOCIEDADE ............................................................5 DIVERSIDADE DE SEXO, GÊNERO E SEXUALIDADE ......................................................................... 5 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL ........................................................................................................................8 DIVERSIDADE CULTURAL ................................................................................................................................10 DESAFIOS SOCIOPOLÍTICOS DA INCLUSÃO DE GRUPOS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE ........................................................................................................................... 13 CRIANÇAS E ADOLESCENTES ........................................................................................................................13 IDOSOS .............................................................................................................................................................15 LGBTQIA+ .........................................................................................................................................................16 PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS .......................................................................................................................18 PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA, POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES QUILOMBOLAS ........................19 DEMAIS MINORIAS SOCIAIS ...........................................................................................................................24 D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 5 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA SOCIEDADE DIVERSIDADE DE SEXO, GÊNERO E SEXUALIDADE CONSTRUÇÃO SOCIAL DO GÊNERO E DO SEXO No início do século XX a compreensão dos conceitos “gênero” e “sexo” como sinônimos era extremamente comum, uma vez que existia a crença de que os padrões comportamentais humanos estavam atrelados ao sexo biológico. Não obstante, Margaret Mead, antropóloga nor- te-americana, esclarece em sua obra “Sexo e Temperamento” como as culturas influenciam na construção dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres. Os estudos da Mead debruçaram-se em compreender se, de fato, existiriam características universais dos gêneros presentes em todas as culturas e povos. Contudo, ao conviver em seu estudo etnográfico com populações distintas da Oceania, a pesquisadora conclui que cada sociedade educa diferentemente seus homens e mulheres. Logo, o temperamento dos gêneros não está atrelado a um dado da natureza ou um dado da geografia, mas trata-se de uma construção social e cultural. Hodiernamente, a distinção entre sexo biológico e gênero é imprescindível para com- preender a diversidade de identidades e expressões de gênero. z Sexo biológico: o sexo biológico está atrelado às características fisiológicas dos indiví- duos que os distinguem em machos e fêmeas de uma determinada espécie — inclusive a humana. Considera-se, neste sentido, os órgãos reprodutores, fatores hormonais e outras características físicas; z Gênero: o gênero, por sua vez, é uma construção sociocultural que geralmente está atre- lada aos papéis destinados à figura feminina ou masculina. A identidade de gênero corresponde à perspectiva do indivíduo sobre si mesmo e, neste sen- tido, seu gênero pode corresponder ou não ao sexo biológico atribuído no nascimento. Portan- to, uma pessoa pode se identificar com gênero feminino, masculino, ambos, nenhum ou ainda outra possibilidade. Essa identidade de gênero denomina-se gênero não binário. É importante destacar que a identidade de gênero é reconhecida pela ONU como um direi- to humano básico que deve ser respeitado por todas as pessoas. SEXUALIDADE HUMANA Sigmund Freud, pai da psicanálise, afirmou que a sexualidade humana corresponde a uma força fundamental capaz de influenciar o comportamento dos indivíduos. A sexualidade, neste sentido, não se limita ao ato sexual, mas na verdade constitui energia psíquica, que é impulsiona- dora da vida humana (Bock, 2002, p. 75-76). 6 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Freud afirma que a sexualidade se desenvolve ainda na infância e se ordena nas fases: de organização genital infantil (abarcando a fase oral, fase anal e fase fálica) e genital (fase genital) — vale ressaltar que a última ocorre após um período de latência até a puberdade. A fase oral está presente até o primeiro ano do bebê e possui como zona de erotização a boca, ou seja, nesta etapa haverá a experimentação do mundo pela criança ao colocar os objetos na boca. A principal fonte de prazer é a amamentação e existe uma dependência em relação à figura materna. A fase anal está presente entre os dois aos três anos de idade e, neste período, a criança visa obter controle dos esfíncteres — retendo ou expelindo a urina e as fezes. O ânus passa a ser o local de principal fonte de satisfação e é nesta fase que se iniciam as noções que a crian- ça possui acerca da higiene. A fase fálica, por sua vez, está presente entre o terceiro e o sexto ano da criança e está relacionada à descoberta entre as diferenças entre os gêneros. Nesta etapa, há o conflito da atração pela figura parental do sexo oposto. Para Freud, as fases são explicadas através do lugar sensível do desejo que vai mudando ao longo dos anos e, por exemplo, em um bebê a “função sexual” está exclusivamente ligada à sobre- vivência. É apenas na puberdade, quando há amadurecimento sexual, que a erotização deixa de estar no próprio corpo e passa a estar em um objeto externo, ou seja, o outro (Bock, 2002, p. 75). Outrossim, o psicanalista afirmou que a repressão sexual pela sociedade e por familiares tanto na infância quanto na vida adulta pode levar a distúrbios psicológicos se manifestando de forma inconsciente. Complexo de Édipo Sigmund Freud também destacou que, ao longo das fases do desenvolvimento sexual, sucedem-se vários processos, destacando-se, por exemplo, o complexo de Édipo (Bock, 2002, p. 75). O complexo de Édipo, vale destacar, é um dos conceitos mais importantes para a teoria psicanalítica do Freud. O complexo de Édipo ocorre entre o terceiro e sexto ano de idade, durante a fase fálica, e auxilia na estruturação da personalidade do indivíduo. Trata-se de um momento em que o menino disputa a mãe com seu pai, escolhendo este último como modelo e internalizando seus comportamentos. Com o tempo o menino desiste desta competição e, a partir das estru- turas absorvidas na luta com o pai, consegue conviver em sociedade (Bock, 2002, p. 76). Esses sentimentos podem ser muito intensos e difíceis de lidar para a criança e, neste sen- tido, Sigmund Freud determina que a resolução bem-sucedida do referido complexo é etapa imprescindível no desenvolvimento emocional e psíquico saudável do indivíduo. O nome do complexo origina-se do mito grego de Édipo, em que um oráculo prevê quando ele ainda é um bebêmeios de proteção, seus direitos e deveres. O conceito de refugiado está disposto no art. 1º da convenção em questão, que assim estabelece: Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951 Art. 1º Definição do termo “refugiado” A. Para os fins da presente Convenção, o termo “refugiado” se aplicará a qualquer pessoa: 1) Que foi considerada refugiada nos termos dos Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho de 1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933 e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14 de setembro de 1939, ou ainda da Constituição da Organização Internacional dos Refugiados; As decisões de inabilitação tomadas pela Organização Internacional dos Refugiados durante o período do seu mandato, não constituem obstáculo a que a qualidade de refugiados seja reco- nhecida a pessoas que preencham as condições previstas no parágrafo 2 da presente seção; 2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temen- do ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políti- cas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele. No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacionalidade, a expressão “do país de sua nacio- nalidade” se refere a cada um dos países dos quais ela é nacional. Uma pessoa que, sem razão válida fundada sobre um temor justificado, não se houver valido da proteção de um dos países de que é nacional, não será considerada privada da proteção do país de sua nacionalidade. B. 1) Para os fins da presente Convenção, as palavras “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951”, do art. 1º, seção A, poderão ser compreendidas no sentido de ou a) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa”; ou b) “acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa ou alhures”; Observa-se que a convenção peca por definir “refugiado” de forma limitada, tanto tem- poral como geograficamente. Como consequência das limitações temporais e geográficas, foi estabelecido o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, em 1967, com o objetivo de ampliar o alcance da definição de refugiado. Portanto, o Sistema Global Específico de Proteção aos direitos dos refugiados tem como finalidade restabelecer os direitos humanos mínimos das pessoas que saíram de seu meio social. Salienta-se, por necessário, que a relação entre os direitos humanos e os dos refugia- dos apresenta-se em três momentos fundamentais: z anterior ao refúgio; z no momento da solicitação de refúgio; z na solução do problema. 28 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Como soluções que permitam aos refugiados viverem suas vidas com dignidade e paz, o ACNUR apresenta como exemplos a repatriação voluntária, o reassentamento e a integração local. A repatriação voluntária ocorre quando o refugiado decide retornar ao seu Estado. Para aqueles que não podem retornar ao seu local de origem, seja por causa dos conflitos persistentes, das guerras ou das perseguições, existem duas opções: o reassentamento em outro Estado e a integração na comunidade de acolhimento. Complementando o Sistema Global de Proteção, têm-se os seguintes tratados de proteção: z Declaração de Cartagena sobre os Refugiados, de 1984; z Declaração de São José sobre Refugiados e Pessoas Deslocadas, de 1994; z Declaração e Plano de Ação do México para Fortalecer a Proteção Internacional dos Refu- giados na América Latina, de 2004; z Plano de Ação do México “para fortalecer a Proteção Internacional dos Refugiados na América Latina”, de 2004; z Declaração de Brasília sobre a Proteção de Refugiados e Apátridas no Continente Ameri- cano, de 2010; z Declaração de Princípios do Mercosul sobre Proteção Internacional dos Refugiados, de 2012; z Mercosul/RMI/FEM/CONARE/Ata nº 1 (Ata do I Encontro dos CONARES ou Equivalentes dos Estados-Parte e Associados do Mercosul), de 2012. HORA DE PRATICAR! 1. (FGV — 2023) Segundo a filósofa Judith Butler, o gênero é performático. “Esses atos, gestos e realizações são performativos no sentido de que a essência ou a identida- de que pretendem afirmar são invenções fabricadas e preservadas mediante signos corpóreos e outros meios discursivos. O fato de que o corpo com gênero seja performativo mostra que não tem uma posição ontológica distinta dos diversos atos que conformam sua realidade”. Adaptado de BUTLER, J. El género en disputa. El feminismo y la subversión de la identidad. Barcelona: Paidós, 2007, p. 266. Com base no trecho, analise as afirmativas a seguir a respeito do conceito de “performatividade de gênero” e assinale F para a falsa e V para a verdadeira. ( ) Questiona a suposição de existir uma essência para os gêneros e refuta a adoção de mode- los substancialistas de identidade. ( ) Sustenta a edificação do gênero mediante a repetição de atos regulados por uma normativi- dade que pressupõe uma continuidade entre gênero, sexo e desejo. ( ) Afirma que homens e mulheres se comportam de modo específico em função de sua nature- za masculina e feminina, para marcar a própria subjetividade por gestos, falas e comportamentos. Assinale a opção que indica a sequência correta, na ordem apresentada. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 29 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. a) V – V – F. b) V – F – V. c) F – V – V. d) F – V – F. e) V – V – V. 2. (FGV — 2023) Assinale a opção que descreve corretamente direitos da população trans reconhe- cidos no Brasil. a) Redesignação sexual na rede pública. b) Legalização da concepção binária de gênero. c) Incentivo de adoção para casais homotransafetivos. d) Asilo político a refugiados perseguidos por sua orientação sexual. e) Criação obrigatória da categoria trans para competições esportivas. 3. (FGV — 2021) A respeito do conceito de identidade de gênero, leia os depoimentos a seguir. I - Eu acredito que esses esforços para definir a família em sua forma restrita, heterossexual e matrimonial, para fazer com que crianças sejam derivadas biológica ou legalmente do casal heterossexual, é uma tentativa de frear movimentos sociais e novas formas de parentesco que estão lentamente se tornando a norma. Tais definições estabelecem obstáculos para que todo tipo de pessoa, casada ou solteira, hétero, gay, lésbica, bissexual ou trans consiga estabelecer laços íntimos dentro dos termos da lei. Judith Butler (filósofa). II - A expressões gênero ou orientação sexual referem-se a uma ideologia que procura encobrir o fato de que os seres humanos se dividem em dois sexos Segundo essa corrente ideológica, as diferenças entre homem e mulher não correspondem a uma natureza fixa, mas são resultado de uma construção social. Os que adotam o termo gênero não estão querendo combater a discrimi- nação, mas sim desconstruir a família. Dom Fernando Arêas Rifan (Bispo). Com base nos depoimentos, assinale a afirmativa correta. a) No texto I, identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico são diferentes. b) Nos textos I e II, o cérebro e os genitais têm funcionamentos distintos na construção da identidade. c) No texto II, o sexo se refere ao aspecto fisiológico, enquanto o gênero está ligado a aspectos culturais, sociais e históricos. d) Nos textos I e II, identidade de gênero é o padrão de comportamento masculino e feminino espe- rado pela sociedade. e) No texto I, gênero e sexo são modos de classificar homens, mulheres e hermafroditas, com base na genitália. 30 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. 4. (FGV — 2023) “Todo mundo sabe onde está colocada a honra da mulher. Não é segredo para ninguém que a honra da mulher, o seu caráter, o seu idealismo,a sua consciência todos os sen- timentos, enfim, que a distinguem da vaca ou da cadela, foram colocados, por convenção dos homens, justamente na parte do corpo que mais a aproxima desses animais. Os homens, no afã de conseguirem um meio prático de dominar a mulher, colocam-lhe a honra entre as pernas”. Virgindade Anti-higiênica: Preconceitos e Convenções hipócritas, (1924). O trecho exemplifica a produção intelectual de a) Harriet Martineau, sobre a ideologia da domesticidade elaborada pelos homens. b) Anna Julia Cooper, a respeito da sujeição sexual imposta às mulheres, sobretudo se inferioriza- das racialmente. c) Pandita Ramabai Sarasvati, acerca da mortificação do corpo e da alma imposta às mulheres pelo sistema de castas. d) Charlotte Perkins Gilman, a respeito da força opressiva da estrutura de vida doméstica infligida às mulheres. e) Ercilia Nogueira Cobra, sobre as fontes da desvalorização e regulação da mulher e de sua sexualidade. 5. (FCC — 2014) Por causa da incidência de câncer no colo do útero, recentemente o Ministério da Saúde lançou um programa de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), cujo foco está nas meninas de idade entre 11 e 13 anos. Algumas mães que se professam evangélicas estão boicotando a vacinação, dizendo que a melhor forma de prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) é criar a consciência de que o sexo deve ser feito apenas depois do casa- mento e com um só parceiro. “O que previne mesmo as meninas do HPV é a relação com um só parceiro. Desde já converso com ela numa linguagem simples, que ela entenda, sobre a sexuali- dade”, comenta uma das mães defensoras em relação à sua filha. (Adaptado de: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/03/ maes-evangelicas-boicotam-vacinacao- defilhas-contra-hpv.html. Acessado em: 11/03/2014 Considere as afirmativas sobre a atuação do estado brasileiro em relação a situação descrita acima. I. Para pessoas de até 18 anos de idade, é assegurado por lei o direito dos pais ou responsáveis por elas decidirem. II. Mesmo sendo de direito dos responsáveis, a lei garante aos agentes de saúde abrir processo penal contra os responsáveis que se recusarem a vacinar seus menores. III. Em caso de epidemia, o Estado pode forçar seus entes civis a serem vacinados. IV. O Brasil é um estado laico e, por isso, não pode aceitar que questões religiosas impeçam o fun- cionamento de programas de imunização e outros mais. Está correto o que se afirma APENAS em a) I, II e III. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 31 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. b) II e IV. c) I, II e IV. d) II e III. e) I e III. 6. (FGV — 2023) A palavra queer, cujo sentido original era bizarro, excêntrico, estranho, passou a designar depreciativamente os homossexuais a partir do século XIX. Nos anos 1980, porém, a palavra foi ressignificada positivamente por grupos e ativistas LGBT+. Com essa transformação de sentido, o termo começou a ser usado no sintagma “teoria queer” para indicar a) a classificação dos indivíduos em categorias universais como “homossexual” ou “heterossexual”. b) o conceito clássico de gênero, que distingue o “heterossexual” socialmente aceito do “anômalo” (queer). c) o espectro amplo de identidades sexuais e políticas não normativas e de gênero. d) a segmentação das identidades sociais em função do sexo, ao invés dos critérios de classe social ou de etnia. e) o binarismo que fundamenta as hierarquias sociais e as relações de poder no passado e no presente. 7. (FGV — 2023) “Qualquer pessoa familiarizada com os manuais de sociologia clássica é capaz de recitar de cor os pensadores canônicos apontados como os pais fundadores das ciências sociais. Os autores que compõem esse cânone, apesar de pequenas variações, têm uma carac- terística comum: todos são homens”. Adaptado de DAFLON & SORJ (org.s). Clássicas do pensamento social: mulheres e feminismos no século XIX. RJ: Rosa dos Tempos, 2021, p. 9. Para as autoras, a ausência de mulheres entre os pensadores que delimitaram o campo teórico da teoria social no século XIX deve ser explicada: a) pela subordinação e opressão das mulheres na sociedade patriarcal, impedindo-as de se apro- priarem dos meios necessários para produzir teoria social. b) pelo desinteresse feminino por temas epistemológicos relativos às grandes transformações socioeconômicas, preferindo temas da vida privada. c) pela posição subalterna ocupada pelas mulheres na sociedade, confinando-as ao lar, à função de esposa e mãe e ao trabalho precarizado. d) pelo modo como as ciências sociais foram institucionalizadas por sociólogos homens, elegendo autores e temas que excluíram investigações ligadas à questão de gênero. e) pela dificuldade de investigar a produção intelectual feminina, estando ausente dos arquivos públicos que privilegiavam testemunhos oficiais. 8. (CEBRASPE-CESPE — 2019) A discussão sobre patriarcado e capitalismo foi recorrente no movi- mento feminista francês. Debatia-se intensamente se haveria ou não autonomia entre esses dois “sistemas”. É a partir de divergências em relação a essa questão que se estabelece uma 32 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. categorização do movimento feminista, largamente utilizada, em duas correntes: feminismo socialista e feminismo radical. Entretanto, deve-se ressaltar que há menos uma oposição e mais um continuum entre aquelas análises que consideram a subordinação feminina uma consequên- cia do capitalismo e aquelas que a veem como uma consequência do patriarcado ou de uma forma de dominação masculina sistemática. ABREU, Maira. Nosotras: feminismo latino-americano em Paris. Revista de Estudos Feministas. Florianópolis, 21 (2), maio-ago. 2013, p. 564 (adaptado) Embora mais antigos, os movimentos pelos direitos das mulheres ganharam maior relevância e abrangência ao longo do século XX, tendo alcançado conquistas fundamentais no que diz respeito ao reconhecimento das mulheres como cidadãs. Ao longo do tempo, a atuação desses movimentos permaneceu focada em a) combater os homens. b) lutar contra o capitalismo. c) obter ajuda financeira do Estado. d) uniformizar seus métodos de atuação. e) garantir espaços distintos de atuação político-social. 9. (FGV — 2023) “Aprendemos que inscrever as mulheres na história implica necessariamente a redefinição e o alargamento das noções tradicionais do que é historicamente importante, para incluir tanto a experiência pessoal e subjetiva quanto as atividades públicas e políticas. Não é exagerado dizer que tal metodologia implica não só em uma nova história das mulheres, mas em uma nova história que se pergunte: Como é que o gênero funciona nas relações sociais humanas? Como é que o gênero dá um sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico?”. Adaptado de GORDON Ann D.; BUHLE Mari Jo; e SHROM Nancy Dye, “The Problem of Women’s History”, Urbanna, 11, p.89. Com base no trecho, assinale a afirmativa correta a respeito da contribuição teórico-metodológi- ca dos estudos de gênero para as ciências sociais. a) A adoção do conceito de gênero rejeita uma análise da condição da opressão feminina em ter- mos materialistas. b) Os estudos feministas devem noticiar a participação do gênero feminino na história, narrando suas atividades. c) A abordagem descritiva de trajetórias de grandes mulheres do passado permite o empoderamen- to feminino no presente. d) Os estudos de caso relativos à vida privada das mulheres favorecem a inserção de uma perspec- tiva feminista da sociedade. e) A inclusão da experiência histórica das mulheres depende da maneira como o gênero é desenvol- vido enquanto categoria de análise. 10. (VUNESP — 2022) Bancada feminina do Senado brasileiro conquista direito a banheiro feminino no Plenário D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 33 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. A conquista se deu graças à reivindicação dassenadoras, que questionavam há anos o tratamen- to desigual. Até dezembro de 2015, o banheiro das parlamentares era o do restaurante anexo ao Plenário, disponível desde 1979, quando foi eleita a primeira senadora, Eunice Michilis. Para a procuradora Vanessa Grazziotin, a construção do banheiro “muda a estrutura física da Casa para que receba melhor as mulheres”. (www.senado.leg.br, 06.01.2016. Adaptado.) A ausência do banheiro feminino no Senado até 2016 pode ser considerada um reflexo a) da transformação sociocultural. b) da prática de violência simbólica. c) da mudança na composição do Poder Legislativo. d) da contínua construção da cidadania. e) da apatia política dos brasileiros. 11. (VUNESP — 2023) A prevenção da violência contra a mulher será incluída nos currículos da educação básica. É o que determina a Lei 14 164/21, que cria a Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher em instituições de ensino básico. A semana promoverá o conheci- mento da legislação, a fim de abordar os mecanismos de assistência à mulher em situação de violência, as medidas protetivas e os meios para o registro de denúncias. (“Nova lei inclui combate à violência contra a mulher no currículo escolar”. www12.senado.leg.br, 11.06.2021. Adaptado.) A aprovação da lei abordada no excerto expressa a) a inexistência da organização de um currículo escolar em nível nacional. b) a forma como o legislativo culpa as mulheres pelas agressões que sofrem. c) a confiança na escola como aliada no enfrentamento da violência de gênero. d) a ausência de legislação brasileira que trata da violência doméstica. e) a evidência da escola como principal local de ataques contra as mulheres. 12. (VUNESP — 2018) “O homem que agride mulher é aquele que levanta todo dia e sai para traba- lhar. Frequenta grupos sociais corriqueiros, como reuniões de pais em escolas. Ele se veste e age de forma socialmente aceita. Só que, ao chegar em casa, comporta-se de forma violenta para manter a qualquer custo o posto de autoridade máxima”, declara a magistrada Teresa Cris- tina dos Santos. A juíza afirma que a violência contra a mulher é a única forma democrática de violência. Vítimas e agressores são encontrados em todos os segmentos da sociedade. Segun- do pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, a despeito de a maioria ter entre 25 e 30 anos e baixa escolaridade, há agressores de todas as idades, condição financeira, nível de instrução e situação profissional. De acordo com a juíza Teresa Cristina, o enfrentamento da violência contra a mulher passa justamente por essa desmistificação de quem é o agressor. “Ao contrário dos crimes comuns, a violência contra a mulher é uma questão cultural”. 34 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. (Adriana Nogueira. “Violência contra a mulher vem do homem comum e pode atingir qualquer uma”. www.uol. com.br, 26.09.2017. Adaptado.) A partir do texto, a violência contra a mulher na sociedade brasileira a) tem como causa principal a má distribuição de renda que afeta as classes populares. b) é um fenômeno associado ao autoritarismo de regimes políticos de exceção. c) é consequência direta de comportamentos impulsivos de natureza patológica. d) é um problema decisivamente associado ao significado cultural da masculinidade. e) tem origem inata, não sendo condicionada por fatores culturais ou sociais. 13. (FGV — 2023) Em sala de aula, o docente apresenta o conceito de interseccionalidade, expli- cando que ele permite investigar como a sobreposição de identidades sociais, particularmente das identidades minoritárias, está relacionada a sistemas de dominação e de discriminação. Na sequência, analisa com os alunos o relato a seguir: “Em 1851, Sojouner Truth, abolicionista e ativista para os direitos das mulheres, discursou na Convenção para os Direitos das Mulheres de Ohio (Estados Unidos) interpelando de forma elo- quente o feminismo branco e tornando-se um ícone dos estudos raciais. No fim de seu discur- so, Sojouner indagou: ‘Eu pari treze filhos e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher?’” Adaptado de HOLLANDA, Heloisa Buarque (org.). Pensamento Feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, p. 14. As afirmativas a seguir apresentam interpretações coerentes do trecho à luz da categoria analí- tica de interseccionalidade, à exceção de uma. Assinale-a. a) O testemunho de Sojouner Truth denuncia a ilusão do feminismo oitocentista de uma sororidade universal e coloca as demandas específicas das mulheres negras. b) O relato da abolicionista denuncia que o pensamento feminista obstaculiza a luta contra a escra- vidão das mulheres afro-americanas. c) O episódio mostra a heterogeneidade da experiência histórica feminina e a natureza interconec- tada das estruturas sociais, econômicas e identitárias. d) O trecho permite entender como as diferenças de raça, classe e gênero se interrelacionam, em articulação a sistemas específicos de poder. e) A indagação da ativista revela a insatisfação das mulheres negras com a desconsideração das desigualdades sociorraciais na luta pela igualdade dos direitos das mulheres. 14. (VUNESP — 2023) Pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, a letalidade policial em função da raça da vítima apresentou uma taxa entre brancos de aproximadamente 1,0 morte por 1 000 habitantes e a taxa entre negros de 4,5 por 1 000 habitantes. É plausível afirmar que estas diferenças, ademais do apontado por vasta literatura sobre o tema, são resultado empírico a) do fato de que negros são mais mortos simplesmente porque são maioria populacional no Brasil. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 35 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. b) de haver uma economia das periferias de maioria negra majoritariamente em torno de atividades criminosas. c) de distinções genéticas que sugerem maior propensão ao crime de populações negras. d) de existir no modo de vida negro uma explícita atitude suspeita e tendente ao crime. e) do racismo estrutural, que significa a discriminação racial sistemática nas estruturas sociais. 15. (FGV — 2023) A respeito do léxico sociológico utilizado para analisar a questão racial, leia a definição a seguir. Política de distribuição desigual de grupos raciais em diferentes ocupações, muitas vezes asso- ciada a disparidades salariais e limitações de oportunidades. O trecho define o conceito de a) viés racial implícito. b) diversidade racial. c) mobilidade social. d) discriminação social. e) segregação ocupacional. 16. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Texto 14A1-I Tupac já dizia Algumas coisas nunca mudam Algumas coisas nunca mudam Aí são regras do mundão Perdi a conta de quantos escondem a bolsa se digo que horas são? Taxistas perguntam mais que policiais a mim Sim indescritível como é ruim Nasci vilão, só veneno Com o incentivo que me dão, errado tô se eu não virar memo Suor na cara, levando currículo do cara Até porque onde eu moro, buso não pára Pé de barro, meio dia, inspirando piada nos boy, transpirando medo nas tias Tudo é tão obvio ‘cê não vê que vai juntando ingrediente da bomba relógio Eu sinto dor (dor), eu sinto ódio (ódio), é quente, Sem nem saber o nome dessa gente Católica, de bem, linda ‘Cê já notou pior que nem falei minha cor ainda! ‘Cê lá faz ideia Do que é ver vidro subir? Alguém correr, quando avistar você? (Não) ‘Cê não faz ideia Não faz ideia Não faz ideia Aí explica pra assistente social, que pai de gente igual a gente, Não sabe usar a mente só o pau Que quem educa nóiz, na escola estadual, Joga na cara todas as manhãs que ganha mal Que é incrível, quantos de nóiz senta no fundo da sala pra ver se fica invisível Calculo o prejuízo! Nossas crianças sonha que quando crescer vai ter cabelo liso (shiii) Sem debater fatos, que a fama da minha cor fecha mais porta de zelador de orfanato‘Cê sabe o quanto é comum dizer que preto é ladrão, Antes memo da gente saber o que é um Na boca de quem apoia a desova 36 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. E se orgulha da honestidade que nunca foi posta a prova Eu queria te ver lá tirissa, pra ver onde ‘cê ia enfiar essa merda do seu senso de justiça Emicida. Cê lá faz ideia Parte significativa da teoria sociológica de Pierre Bourdieu visa compreender as desigualdades sociais. Considerando-se os conceitos de Bourdieu, é correto afirmar que o texto 14A1-I a) apresenta um exemplo de dominação de gênero quando menciona o sonho de meninas negras terem cabelos lisos. b) mostra que as desigualdades têm sua origem na precariedade dos empregos de parte da população. c) defende que a criminalidade se deve ao fato de alguns indivíduos não se interessarem pelo capi- tal escolar. d) narra diversas situações em que a população negra é desprovida de capital econômico e simbólico. e) mostra que as desigualdades se perpetuam em função da motivação pessoal de cada indivíduo. 17. (VUNESP — 2019) Ainda que as transformações demográficas tenham cada vez mais repercuti- do no aumento da proporção e do número de idosos na sociedade de maneira global, se observa que certos estereótipos com relação à velhice seguem prevalecendo como visões parciais e confusas dessa etapa da vida. Um conjunto de atitudes, em geral negativas e que se expressam de diferentes maneiras, no que diz respeito ao envelhecimento, ainda que nem sempre de modo intencional, caracteriza a gerofobia (do grego gero = velho ou idoso fobos = temor, medo), a qual, atrás do rascismo e sexismo, é a terceira forma mais comum de discriminação. O termo se refere a visões e atitudes depreciativas para com os idosos, a exemplo da discriminação pela idade ou da imposição da perda de protagonismo, que se observa a partir de uma lógica margi- nalizadora, respaldada socialmente na “ditadura” da idade. (Neilson Santos Meneses. Gerofobia. Universidade Federal de Sergipe. Disponível em: http://www.ufs.br/ conteudo/20100-gerofobia. Adaptado) Em conformidade com o texto, podemos perceber que diversas formas de preconceito – como gerofobia, racismo e sexismo – contribuem para a desumanização e coisificação do outro. Des- se modo, conclui-se que a) as atitudes que expressam preconceitos são intencionais e podem ser revertidas ao coisificar o outro. b) os processos de coisificação do outro ocorrem como resultado de atitudes positivas de respeito pela diferença. c) a perda de protagonismo das pessoas discriminadas é superada por meio de processos de desumanização. d) os preconceitos em geral se baseiam em uma lógica de marginalização e coisificação do outro. e) os estereótipos que servem de base a atitudes preconceituosas adotam uma lógica de humani- zação do outro. 18. (FGV — 2023) A crise humanitária que recentemente atingiu a comunidade Yanomami colocou os direitos indígenas e os serviços públicos prestados a eles no centro do debate nacional. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 37 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Assinale a afirmativa correta a respeito da construção da cidadania indígena no Brasil, a partir do paradigma constitucional de 1988. a) O respeito à ancestralidade dos povos tradicionais e o acesso às terras por eles povoadas desde a colonização foram assegurados pelo recurso do marco temporal de demarcação das terras indígenas. b) O meio privilegiado para preservar o direito à identidade indígena foi a adoção de políticas de integração à sociedade brasileira, de modo que os indígenas passassem a gozar da totalidade dos direitos dos demais cidadãos. c) Os direitos de cidadania foram reconhecidos aos indígenas, ao mesmo tempo em que foram garantidas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originá- rios sobre as terras que tradicionalmente ocupam. d) O Estado passou a assumir o dever de tutelar os indígenas, já que eles não são considerados plenamente capazes para os atos da vida pública, fornecendo educação moral, saúde e apoio social. e) A demarcação de terras indígenas tornou-se obrigatória para o poder executivo estadual, a quem cabe homologar, mediante decreto, a demarcação realizada, considerando essa política um ins- trumento estratégico de combate à crise climática. 19. (VUNESP — 2023) O problema das terras indígenas segue sendo foco central de muitas discus- sões na atualidade brasileira, em razão de diversas tensões que lhe são intrínsecas. Para ser bem compreendido, este problema deve ser analisado na intersecção entre o conceito jurídico de Terra Indígena e sua compreensão antropológica da territorialidade concebida e praticada por diferentes grupos indígenas. Portanto, uma Terra indígena, sob este ponto de vista, deve ser definida levando-se em conta quatro dimensões, que são: a) as terras ocupadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces- sárias a sua transmissão para as gerações seguintes. b) as terras ocupadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces- sárias a sua reprodução física e cultural. c) as terras ocupadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces- sárias a sua manutenção. d) as terras não ocupadas, mas que possuem valor histórico, as utilizadas para suas atividades pro- dutivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural. e) as terras ocupadas em caráter permanente, as inutilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces- sárias a sua reprodução física e cultural. 20. (CEBRASPE-CESPE — 2021) Sabendo que, atualmente, no Brasil, mais de 200 povos indígenas vivem espalhados por todo território nacional assinale a opção correta, com base na noção antropológica de cultura. 38 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. a) Embora os povos indígenas no Brasil possuam uma ampla diversidade étnica, todos são tecno- logicamente atrasados. b) Os indígenas que vivem em territórios urbanos e consomem produtos industrializados deixam de ser considerados índios pelo Estado brasileiro. c) O respeito à diversidade cultural impõe que as políticas para os índios prevejam que eles vivam isolados em suas reservas com o menor contato possível com os não índios. d) Os povos possuem histórias e culturas diversas, de modo que a hierarquização de etnias foi etnocêntrica. e) Os índios no Brasil tendem a ser assimilados pelo avanço da civilização ocidental. 9 GABARITO 1 A 2 A 3 A 4 E 5 E 6 C 7 D 8 E 9 E 10 B 11 C 12 D 13 B 14 E 15 E 16 D 17 D 18 C 19 B 20 D ANOTAÇÕES D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 39 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos.que, no futuro, Édipo mataria seu pai e casaria com sua mãe Jocasta. Complexo de Electra O complexo de Electra, por sua vez, é uma teoria elaborada por Carl Gustav Jung que afir- ma que, durante a fase fálica na infância, a menina disputa com a mãe a atenção do pai. O nome do complexo origina-se do mito grego “Electra”, em que a personagem, junto ao seu irmão Orestes, planeja e executa a morte de sua mãe Clitemnestra em vingança pelo assassinato D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 7 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. do seu pai Agamenon. Neste cenário, há uma idealização da figura paterna e a nutrição do ódio em relação à figura materna. Não obstante, o complexo de Electra não era aceito pelo psicanalista Sigmund Freud, uma vez que para ele apenas existe o conceito de “complexo de Édipo feminino”. Esse complexo afirma que a menina, de fato, desenvolve desejos pela atenção do pai e é hostil em relação à mãe. No entanto, a menina percebe que não consegue se conectar com o pai porque não pos- sui um pênis como ele. Logo, para superar o complexo de Édipo feminino, a menina precisa se identificar com a mãe e desenvolver uma identidade feminina. HOMOSSEXUALIDADE A homossexualidade corresponde à orientação sexual em que uma pessoa é atraída roman- ticamente e/ou sexualmente por alguém do mesmo sexo. Apesar de ser uma natural variação sexual, por muito tempo a homossexualidade foi compreendida erroneamente como uma doença. Dica O termo “homossexualismo”, hodiernamente, não é mais aceito porque o sufixo “ismo” está relacionado a doenças e, portanto, sugere algo pejorativo ou negativo. Em 1990, a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a homossexualidade da CID (Clas- sificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), reconhe- cendo-a como orientação sexual e parte da identidade dos indivíduos (DW, 2020). Trata-se de uma vitória indubitável do movimento LGBTQIAPN+ porque, além de essa classificação ser prejudicial à saúde mental dos homossexuais, havia o reforço do estigma e discriminação em relação a esta orientação sexual. MOVIMENTO LGBTQIAPN+ O movimento LGBTQIAPN+ é uma organização política e social que luta por mais repre- sentatividade e direitos para as pessoas que não se enquadram nos padrões binários e de heteronormatividade, além de defender as diversidades. Cada letra da sigla corresponde à inicial de um grupo: lésbicas; gays; bissexuais; transe- xuais; queer — que em português é traduzido como “estranho” porque representa as pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade; intersexuais; assexuais; panse- xuais; não binários. O “+” representa todas as outras pessoas que possam se identificar com outras identidades e orientações. Apesar de o movimento social estar em crescimento e ter conquistado direitos impres- cindíveis em âmbito nacional — como a legalização do casamento homossexual —, ainda há muita discriminação e preconceito a ser combatido. 8 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Movimento Transgênero Conforme esclarece Simone Ávila (2010, p. 03), doutora na área de estudos de gênero, a transexualidade “se fundamenta na não concordância entre o sexo biológico e o gênero pelo qual uma pessoa deseja ser reconhecida socialmente”. Logo, uma pessoa transexual é a aquela que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu e difere, neste sentido, do indivíduo cisgênero, que se identifica com o sexo bio- lógico de nascença. Logo, o Movimento Transgênero abarca as pessoas que se sentem pertencentes ao gênero oposto, ou pertence a ambos ou nenhum dos sexos tradicionais, tais como os transexuais, os travestis e os intersexuais (Ávila, 2010, p. 2). A OMS, durante a 72ª Assembleia Mundial de Saúde, retirou a transexualidade da CID (Clas- sificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Entretanto, as pessoas trans ainda sofrem com a discriminação, o preconceito e a violência. Em síntese, apesar dos avanços conquistados pela comunidade, ainda é necessário o enga- jamento da sociedade na luta contra a discriminação e o preconceito. TEORIA QUEER A Teoria Queer surgiu na década de 1990 e critica as normas binárias de gênero e sexualidade. Uma das precursoras da teoria é a ativista estadunidense Judith Butler, que questiona, em sua famosa obra “Problemas de Gênero”, a concepção de gênero como uma ideia inata e imutável, afirmando que este é construído socialmente. A palavra “queer” em inglês significa “estranho” e é utilizada como termo pejorativo para se referir a pessoas que pertencem à comunidade LGBTQIAPN+. A corrente teórica, por- tanto, apropriou-se da palavra como símbolo de resistência na luta contra o preconceito e discriminação. Apesar de ser uma teoria recente, já possui muitas conquistas relevantes, dentre estas: a desconstrução de que o gênero e a sexualidade são biologicamente determinados, maio- res visibilidades das pessoas LGBTQIAPN+ e contribuição para a criação de legislações mais inclusivas — principalmente para pessoas transexuais e intersexo. REFERÊNCIAS ÁVILA, S. Transexualidade e movimento transgênero na perspectiva da diáspora queer. Revis- ta Bagoas — Estudos Gays: gêneros e sexualidades. 2010. BOCK, A. M. B. e col. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. HÁ 30 anos, OMS removia homossexualidade da lista de doenças. DW, 2020. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/h%C3%A1-30-anos-oms-retirava-homossexualidade-da-lis- ta-de-doen%C3%A7as/a-53447329. Acesso em: 23 fev. 2022. DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 9 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Para discutir a discriminação étnica-racial precisamos, inicialmente, compreender alguns termos que permeiam tal assunto. O primeiro deles é a própria discriminação, que, pelo Dicionário Online de Português Dicio (2023), significa: Ação de discriminar, de segregar alguém, tratando essa pessoa de maneira diferente e parcial, por motivos de diferenças sexuais, raciais, religiosas; ato de tratar de forma injusta: discrimina- ção racial. Capacidade de distinguir ou estabelecer diferenças; discernimento. Ação ou efeito de discriminar, distinguir ou diferenciar. Ação de afastar, segregar ou apartar. Nesse sentido, subentende-se que há diversas formas de discriminação, podendo ela ser de gênero, étnica, econômica, racial ou, ainda, de credo. No que tange à discriminação étnica, entende-se que ela é uma forma de preconceito e injustiça que ocorre quando indivíduos ou grupos são tratados de maneira desigual com base em sua origem étnica, raça ou nacionalidade. Essa forma de discriminação pode manifestar- -se de diversas maneiras, como racismo, xenofobia, segregação racial, estereótipos prejudi- ciais, violência racial e exclusão social. A discriminação étnica é profundamente enraizada em estruturas sociais e culturais, mui- tas vezes perpetuadas por atitudes preconceituosas e estereótipos negativos em relação a determinados grupos étnicos. Atualmente, na nossa sociedade, pessoas não brancas são aquelas que sofrem — mesmo em países miscigenados como o Brasil — o preconceito, racismo e a discriminação étnica, que ainda se fazem fortemente presentes. Ainda pensando no Brasil, a Lei nº 9.459, de 1997, apon- ta todo ato ou incitação à discriminação por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional como crime, podendo ter como pena reclusão de um a três anos e multa. A discriminação racial, por sua vez, consiste na discriminação com base na raça, cor, des- cendência, origem nacional ou étnica constituindo graves violações dos direitos humanos, de forma que são um obstáculo para que os seres humanos possam viver livres e iguais em dignidade e direitos. O Brasil, para tanto, é um país multicultural e multiétnico, no entanto, sofre com a questão da discriminação quese constitui como um enorme problema social, impedindo a constru- ção de uma sociedade justa, solidária e igualitária. A Constituição, de 1988, em seu inciso III, art. 1º, adotou como fundamento da República Federativa do Brasil o princípio da dignidade da pessoa humana. Por sua vez, o inciso IV, art. 3º, da CF, estabelece como objetivo fundamental da República a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Já o caput, art. 5º, adota o princípio da igualdade ao afirmar que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”. No Brasil, a primeira lei a tratar do tema racismo foi a chamada Lei Afonso Arinos, Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951. A lei, que previa como contravenção condutas como recusar a atender, hospedar ou servir alguém com base na cor ou raça, infelizmente, “não pegou”. Foi apenas após a promulgação da CF, em 1988, que surgiu uma nova lei que veio punir de forma mais firme os crimes de racismo: a Lei nº 7.716, de 1989 (que, em 1997, foi modificada pela Lei nº 9.459, de 1997). 10 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Logo ficou claro que reprimir a discriminação por meio de leis penais era importante, mas não resolvia o problema. Ainda se faziam necessárias mais ações no sentido de promover a redução das desigualdades raciais. Nesse contexto é que surge a Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial e trouxe uma série de direitos da população negra, assim como obriga- ções estatais, objetivos e metas que dizem respeito a todos os cidadãos brasileiros. Trata-se de um texto de 65 artigos, tratando dos mais diversos assuntos que buscam a inclusão social da população negra; acesso à saúde; educação, cultura e lazer; liberdade de crença; acesso à terra e moradia; trabalho e meios de comunicação. O Estatuto da Igualdade Racial não traz nenhum tipo penal em seu texto (ou seja, não defi- ne crimes). Os crimes de racismo são tratados pela Lei nº 7.716, de 1989. Como não há carga de doutrina ou jurisprudência sobre a Lei nº 12.888, de 2010, as questões formuladas pela banca vão fazer referência à letra da lei. O combate à discriminação é um desafio social crucial que requer esforços contínuos em diversos níveis: individual, comunitário e institucional. Para criar sociedades verdadeira- mente inclusivas e equitativas, é fundamental conscientizar as pessoas sobre as várias for- mas de discriminação e seus impactos negativos. A educação desempenha um papel central nesse processo, ensinando a empatia, a aceitação da diversidade e o respeito pelos direitos humanos. Além da conscientização, as leis e políticas antidiscriminatórias desempenham um papel vital na proteção dos direitos das pessoas. Governos e instituições devem adotar e aplicar leis que proíbam a discriminação com base em raça, gênero, religião, orientação sexual, origem étni- ca, deficiência ou qualquer outra característica pessoal. É crucial garantir que essas leis sejam implementadas de forma eficaz e que haja consequências para aqueles que violam os direitos dos outros. Para finalizar, destaca-se que todas as formas de discriminação acarretam diversas conse- quências para aqueles que a sofrem, como prejuízos sociais, econômicos, físicos, emocionais e morais. Assim, torna-se fundamental compreender que o combate a todas as formas de dis- criminação é um esforço coletivo que exige o comprometimento de indivíduos, comunidades, governos e organizações. Ao promover a igualdade de direitos e oportunidades para todos, independentemente de sua origem, aparência ou identidade, podemos construir sociedades mais justas, onde cada pessoa é valorizada e respeitada por quem é. REFERÊNCIAS DISCRIMINAÇÃO. Dicio: Dicionário Online de Português, 2023. Disponível em: https:// www.dicio.com.br/discriminacao/. Acesso em: 10 nov. 2023. DIVERSIDADE CULTURAL O Brasil é um país consagrado pela sua diversidade cultural e étnica, resultado de uma vio- lenta colonização portuguesa que implantou forçadamente sua cultura no território, somada às culturas e línguas dos numerosos povos que aqui já se encontravam e que sofreram exter- mínio dos colonizadores, e à diversidade e resistência das pessoas do continente africano que foram brutalmente escravizadas. Essas três grandes matrizes da raiz cultural do Brasil tive- ram um sincretismo, gerando outras manifestações culturais, religiosas e identitárias; além D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 11 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. da chegada de outros povos como os árabes no fim do século XIX (Vargens, 2013) e japoneses no início do século XX conforme Vargens (2013) e Sakurai (2000). Diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes e tradições de um povo, podendo ser representada, dentre muitos elementos, através da língua, das crenças, dos comporta- mentos e dos valores, por meio da culinária, da política, da arte, da música. Representando, portanto, a pluralidade cultural. Na perspectiva de Gomes (2003), a concepção de diversidade cultural não se resume ao resultado encontrado nos dicionários ou sites de pesquisa enquanto sinônimo de diferença. A diversidade cultural ultrapassa a ideia de classificação por aspectos estéticos e físicos e decodificação de diferenças, mas considerar, respeitar e defender as diferentes existências. Nas palavras da autora: [...] falar sobre a diversidade cultural não diz respeito apenas ao reconhecimento do outro. Significa pensar a relação entre o eu e o outro. Aí está o encantamento da discussão sobre a diversidade. Ao considerarmos o outro, o diferente, não deixamos de focar a atenção sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo. Ou seja, falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças. (GOMES, 2003, p, 72) A autora aponta que a reflexão sobre a diversidade cultural existente no Brasil e a con- vivência dessa diversidade em ambientes coletivos como a escola, faz com que percebamos elementos dos nossos grupos e dos demais que não podem ser vistos a olho nu. Ou seja, a par- tilha de saberes entre diferentes culturas de forma respeitosa e inclusiva, nos permite notar a essência subjetiva do meu grupo e do grupo do outro. Ademais, a cultura possui diversas faces e, por isso, é possível relacioná-la aos grupos, sujeitos e contextos que as produziram (SILVA, 2016). Abaixo, conheceremos um pouco de algumas diferentes culturas. Cultura Ameríndia A partir da perspectiva ameríndia, o mundo abarca diversas espécies de seres dotados de consciência e cultura. Neste contexto, conforme esclarece Eduardo Viveiros de Castro (2012, p. 74) “cada uma dessas espécies se vê a si mesma como humana, vendo todas as demais como não-humanas, isto é, como espécies de animais ou espíritos”. Logo, é contundente afirmar que, diferentemente da concepção imposta pela cultura domi- nante, a perspectiva ameríndia aponta como cenário originário comum a humanidade, não a animalidade. Por consequência, a relação entre os denominados “humanos” e as demais espécies de animais se dá entre sujeitos (CASTRO, 2012, pp. 75 e 76). Em vista do supracitado, o perspectivismo ameríndio em relação às categorias de natureza e cultura mostra-se evidentemente distinta da que, hodiernamente, vigora na sociedade oci- dental. Uma vez que, neste panorama, como os denominados “animais” podem ser vislum- brados como “humanos”, diversos elementos de sua existência se apresentam consonantes a objetos culturais. De acordo com Castro (2012), a equivalência entre o sangue dos animais mortos por onças e a tradicional cerveja de mandioca indígena é um exemplo desses traços. 12 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Cultura Surda A princípio, ao compreender os indivíduos surdos pela perspectiva do senso comum, pode existir a falsa sensação de que eles devem se integrar à cultura ouvinte, por meio de apare- lhosauditivos e implante coclear, por exemplo. Entretanto, o povo surdo possui sua própria cultura e identidade. Afinal, segundo Strobel (2016, p. 30) “o povo surdo não vive isolado e incomunicável, simplesmente tem seu modo de agir diferente dos sujeitos ouvintes”. Dica Segundo estudos de Eleweke e Rodda, cerca de 90% das crianças surdas nascem em famílias ouvintes. Neste sentido, é contundente afirmar que sua experiência com o mundo vai depender se seu âmbito familiar compreender a visão antropológica ou a visão clínica da surdez. Neste sentido, vale destacar que são artefatos culturais do povo surdo: z acuidade visual; z desenvolvimento linguístico através dos sinais; z literatura surda; z vida social e esportiva; z artes visuais; z política — por exemplo, a política de educação inclusiva para surdos, o reconhecimento da LIBRAS, a criação de materiais tecnológicos etc. Cultura Afro-Brasileira A cultura afro-brasileira consiste, conforme esclarece o FAECPR, no “conjunto de manifes- tações culturais que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade”. Neste cenário, muitos aspectos da religião, culinária, música e folclore presentes em âmbito nacional decorrem da resistência dos escravizados em perpe- tuar suas tradições e valores. São exemplos populares da cultura afro-brasileira: as festividades do Carnaval e da Conga- da e as expressões musicais do Samba, Maxixe e Maculelê. Cibercultura A cultura da internet, denominada cibercultura, está atrelada ao rápido desenvolvimento e expansão das tecnologias digitais. Uma vez que estas tecnologias são construções humanas, é contundente afirmar que também consistem em produtos da sociedade e da cultura (SILVA, 2016). Pierre Lévy, sociólogo francês contemporâneo, possui uma visão otimista acerca das novas tecnologias da informação. Ele afirma que as redes sociais, em âmbito virtual, transformam as relações políticas e sociais estabelecidas, proporcionando uma nova cidadania, esta últi- ma, a “cibercultura” (SILVA, 2016). D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 13 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. A cultura digital, de fato, exerce grande influência na formação de comportamentos e hábi- tos de consumo. Neste contexto, é importante destacar este aspecto na formação da identida- de dos jovens que, hodiernamente, consolidam e difundem novas formas de comunicação e expressão. DESAFIOS SOCIOPOLÍTICOS DA INCLUSÃO DE GRUPOS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE A situação de desigualdade social é uma vulnerabilidade da população brasileira. Tal contexto é reflexo de um processo de colonização exploratória, com grande influência escravocrata. As desigualdades sociais se iniciaram no país ainda no período colonial. Ao longo dos anos, as medidas para diminuir o abismo foram falhas e em alguns períodos até mesmo inexistentes. Diante disso, é possível observarmos que algumas ações, como a abolição da escravidão, que, embora, aparentemente, tivesse como objetivo melhorar a condição dos indivíduos que estavam submetidos à trabalho escravo, foi executada de maneira que os recém libertos enfrentassem tamanha dificuldade de se inserirem de forma digna na sociedade. Medidas mal executadas, como o nosso processo de abolição, refletem ainda hoje na sociedade. Embora o país venha apresentando um contexto de desenvolvimento nas últimas décadas, o Brasil ainda possui extrema desigualdade, em que inúmeros indivíduos vivem em situação de vulnerabilidade. A vulnerabilidade que parte da população vive hoje, se aplica em distin- tos contextos referentes à educação, saneamento, moradia, fome, entre tantos outros. Grandes centros urbanos demonstram de maneira clara o quanto essas vulnerabilidades são alarmantes e a desigualdade é extrema, pois permitem análise de um alto índice de popu- lação em situação de rua ou em moradias consideradas precárias, e ao mesmo tempo, abri- gam edifícios e realidades luxuosas. Políticas públicas, como o acesso à educação e saúde, apesar de sua expansão ao longo des- te século, ainda não permitem acesso igualitário para todas as regiões e não são suficientes para toda a população. Nos últimos dois anos, no cenário pandêmico1, algumas vulnerabili- dades foram escancaradas: os desafios da saúde pública para atender um grande contingente da população, aumento nos índices de desemprego, do número de pessoas em situação de rua, entre tantas outras situações que se intensificaram nesse período. CRIANÇAS E ADOLESCENTES O Sistema Global de Proteção aos direitos das crianças e dos adolescentes teve início no ano de 1959 com a aprovação, na Assembleia Geral da ONU, da Declaração dos Direitos da Criança. Seu objetivo era integrar as crianças na sociedade, zelar pelo seu convívio e intera- ção social, cultural e financeiro e dar-lhes condições de sobrevivência até a sua adolescência. Essa declaração deu origem, em 1989, à Convenção sobre os Direitos da Criança, vigente desde 1990. De acordo com tal convenção, são consideradas crianças todos os seres humanos 1 Disponível em: . Acesso em 01 jul. 2022. 14 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. com menos de 18 anos de idade, salvo nos casos em que a legislação interna aplicável à crian- ça considere a maioridade alcançada antes. Salienta-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz outra definição. Ele defi- ne como criança o indivíduo até a idade de 12 anos, e, entre 12 e 18, como adolescente. Ao acolher a concepção do desenvolvimento integral da criança, a convenção reconhece nestes seres em formação a necessidade de proteção especial e prioritária. Trata-se, portanto, de uma norma extraordinariamente abrangente, abarcando todas as áreas tradicionalmente definidas como direitos humanos, ou seja, os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Nela estão previstos os seguintes direitos: z direito à vida e à proteção contra a pena capital; z direito de ter uma nacionalidade; z proteção em face da separação dos pais; z direito de deixar qualquer país e de entrar no próprio país, bem como o direito de entrar e sair de qualquer Estado-Parte para fins de reunificação familiar; z proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior; z proteção de seus interesses no caso de adoção; z liberdade de pensamento, consciência e religião; z direito à saúde; z prevenção à mortalidade infantil; z direito a um nível adequado de vida e segurança social; z direito à educação; z proteção contra a exploração econômica com fixação de idade mínima para admissão em emprego; z proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópicas; z proteção contra a exploração e o abuso sexual. A convenção possui, ainda, três protocolos facultativos: Protocolo Facultativo sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantil, Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados e Protocolo Facultativo relativos aos procedimentos de comunicação. O objetivo do primeiro é impor aos Estados-Parte a obrigação de proibirem a venda de crianças, a prostituição e a pornografia infantil, além de exigir a criminalização de tais con- dutas. Já o segundo protocolo tem o escopo de assegurar que os membros das Forças Arma- das dos Estados signatários à convenção, que não tenham atingido a idade de 18 anos, não participem diretamente em disputas ou de qualquer grupo armado. Por fim, o terceiro protocolo tem por objetivo possibilitar que as crianças apresentem denúncias de violações a seus direitos. Este último protocolo ainda não foi incorporado ao direito brasileiro. A legislação brasileira permite que um menor de 18 anos se torne militar das Forças Arma- das.Neste caso, há, inclusive, disposição legal, disciplinando a sua emancipação civil. No entanto, desde o ano de 2006, as Forças Armadas adotaram o procedimento de somente sub- metê-los ao treinamento armado após os 18 anos, cientes de que a eles é aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescente, e não o Código Penal Militar. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 15 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Como mecanismo de controle e fiscalização dos direitos das crianças, a convenção criou o Comitê sobre os Direitos da Criança. Sua função é monitorar a implementação da conven- ção nos Estados-Parte por meio do exame de relatórios periódicos encaminhados por estes. Ainda com relação ao Sistema Global Especial de Proteção, é importante mencionar a cria- ção, no ano de 1946, do programa denominado Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas. Este programa foi elaborado com o escopo de ajudar as crianças da Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1953, ele foi convertido em um organismo permanente dentro do sistema das Nações Unidas, agora denominado Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF — United Nations Children’s Fund). O UNICEF trabalha em 190 países e tem como objetivo melhorar as políticas e serviços vol- tados à proteção de todas as crianças. De acordo com a própria agência, suas temáticas são desenvolvidas por meio de eventos e campanhas. Já no âmbito de proteção nacional, temos a Lei nº 8.069, de 1990, também denominada de Estatuto da Criança e do Adolescente. IDOSOS Inicialmente, há de se esclarecer que não existe um “sistema global especial de proteção aos direitos das pessoas idosas”. Há um Plano de Ação Internacional para o Envelhecimen- to, adotado pela Assembleia Mundial sobre os Idosos e endossado pela Assembleia Geral da ONU, tendo como base os seguintes princípios: z independência; z participação; z assistência; z realização pessoal; z dignidade. Já no âmbito regional, no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, existe a Conven- ção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, aprovada em 15 de junho de 2015. Trata-se da primeira convenção internacional no mundo a proteger, de forma específica, os direitos humanos das pessoas idosas. O objetivo da convenção é exigir que os Estados americanos promovam e protejam os direitos humanos das pessoas idosas, as quais devem ter assegurados idênticos direitos das demais pessoas, inclusive o de não ser submetido à discriminação baseada na idade nem a qualquer tipo de violência. Além disso, a proposta é de que sejam consagrados meios especí- ficos de proteção decorrentes da condição própria de pessoa idosa, a fim de contribuir para sua plena inclusão, integração e participação na sociedade. No que se refere à proteção nacional, a Constituição Federal, de 1988, estabelece a prote- ção aos direitos da pessoa idosa no art. 230, que assim dispõe: Art. 230 A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegu- rando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo- -lhes o direito à vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. 16 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Além disso, há a Lei nº 10.741, de 2003, denominada de Estatuto da Pessoa Idosa. Importante! De acordo com o Estatuto, pessoa idosa é aquela com idade igual ou superior a 60 anos. LGBTQIA+ Conforme mencionado anteriormente, os termos gênero e sexo não são sinônimos. O con- ceito de “sexo” está atrelado à classificação dos indivíduos com base em suas características anatômicas, enquanto o termo “gênero” representa o comportamento e a identidade que distinguem os homens das mulheres. Este último refere-se, portanto, a um entendimento mais amplo, de forma a abranger tanto as expectativas comportamentais socialmente constituídas como os estereótipos e as regras que constroem a masculinidade e a feminilidade. É importante esclarecer que gênero também não se confunde com sexualidade. Embora seja uma confusão bastante comum, não é possível atrelar o termo “gênero” com a maneira como a pessoa expressa seus afetos ou mantém suas relações afetivas, uma vez que as dimen- sões do amor e prazer têm relação com a sexualidade, e não com gênero. O termo “gênero”, portanto, encontra-se ligado às questões simbólicas que envolvem a construção cultural e social entre os sexos. Tais diferenças não envolvem as questões biológi- cas ou físicas propriamente ditas. Deste modo, gênero não é uma categoria biológica, tampouco tem relação com interesses sexuais. Em síntese, sexo não determina o gênero nem a orientação sexual. Trata-se, portan- to, de uma construção social, que considera o que é cultural, social e histórico circunscrito no homem e na mulher. Atenção! Identidade de gênero envolve a percepção íntima que a pessoa tem de si pró- pria como sendo do gênero masculino, feminino ou da combinação dos dois, independente- mente do sexo biológico. Para se ter noção da amplitude do termo, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York reconheceu 31 tipos diferentes de gênero, resultantes das mais diver- sas combinações possíveis, tais como agênero, andrógeno, butch, bigênero, gender-queer, gênero de fronteira, gênero em dúvida, gênero fluido, gênero neutro, gênero não conformis- ta, gênero variante, hijra, não binário, male to female (MTF), female to male (FTM), terceiro sexo, nenhum, entre outros. Para garantir os direitos e a inclusão das pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero, surgiu o movimento LGBTQIAP+. Tal movimento nasceu como uma forma de conscientizar a população para as formas de discriminação no que se refere à orientação sexual que resultavam, por exemplo, no abandono da escola por estudantes que sofriam preconceito. No início, a sigla era GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), porém, ao longo dos tempos, passou a incluir os indivíduos não heterossexuais e não cisgênero (sendo cisgênero a pessoa que se identifica com o gênero atribuído no nascimento, o oposto do transgênero), adotando nova nomenclatura — LGBTQIAP+ — em razão de sua diversidade. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 17 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. A letra L significa lésbicas, ou seja, mulheres que sentem atração afetiva ou sexual pelo mesmo gênero (mulheres). A letra G significa gays, isto é, homens que sentem atração afetiva ou sexual pelo mesmo gênero (homens). A letra B significa bissexuais, ou seja, pessoas que sentem atração afetiva ou sexual pelos gêneros masculino e feminino. A letra T significa transexuais, isto é, pessoas que não se identificam com o gênero atribuí- do em seu nascimento. Portanto, refere-se à identidade de gênero, e não à orientação sexual. A letra Q significa queer, ou seja, aqueles que transitam entre as noções de gênero, como ocorre com as drag queens, tendo como base a ideia de que a orientação sexual e identidade de gênero são frutos de uma construção social, e não resultado da biologia. A letra I significa intersexo, ou seja, situação em que combinações biológicas e de desen- volvimento corporal, como, por exemplo, genitálias, cromossomos, hormônios, entre outras, não se enquadram como masculino ou feminino. A letra A significa assexual, isto é, aquele que não sente atração sexual por outra pessoa, independentemente do gênero. A letra P significa pansexual, representando indivíduos que têm atração por um ou mais gêneros, não se limitando, no entanto, aos gêneros feminino e masculino. O elemento + é acrescentado ao fim para incluir outros grupos e variações de sexualidade e gênero. Historicamente, observa-se que tais segmentos da população têm constantemente seus direitos violados em face do preconceito eda discriminação. Por essa razão, quando a CF, de 1988, foi promulgada, houve um grande avanço nos direitos das pessoas LGBTQIAP+, uma vez que a dignidade da pessoa humana passou a ser considerada como um dos fundamen- tos da República Federativa do Brasil no inciso III, art. 1º, da CF, de 1988. Por conseguinte, todas as demais normas passaram a ser orientadas pelo princípio, de modo a limitar e afastar determinadas condutas, tais como a homofobia, a lesbofobia, a bifo- bia, entre outras, visto não ser possível negar direitos às pessoas com base na orientação sexual ou gênero. A dignidade é condição inerente à pessoa e não comporta gradações, uma vez que é pres- suposta da ideia de igualdade e justiça social. Portanto, todos os indivíduos possuem igual dignidade. Além disso, a dignidade é o mínimo invulnerável que todos os ordenamentos jurí- dicos devem assegurar para o exercício dos demais direitos. A dignidade da pessoa humana demanda respeito ao direito alheio de se autodeterminar e de gerir a vida da maneira que entender. Com isso, o direito estabelece o dever de abstenção de condutas que possam ferir a dignidade. Deste modo, viola a dignidade da pessoa humana a manutenção da visão homofóbica, por exemplo, por entender a homossexualidade como algo fora dos padrões de normalidade, de modo a negar a uma parcela da população o direito à igualdade, tendo como base argumen- tos morais ou religiosos. Além disso, a sexualidade decorre da própria condição humana, de modo que a orientação sexual não pode ser fator condicionador do direito à igualdade. Desde o final da década de 1990 até os dias de hoje, diversos direitos foram reconhecidos, tais como a sociedade de fato constituída por pessoas do mesmo sexo biológico como forma de garantir a igualdade. Também foi reconhecido o direito à partilha de bens, relação de 18 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. dependência e, por fim, a união homoafetiva, em que pese o fato de não existir previsão expressa na CF, de 1988, nem na legislação cível. Há de se mencionar, ainda, que todas as pessoas possuem direitos à intimidade e à vida privada (inciso X, art. 5º, da CF, de 1988), além do direito à busca pela felicidade. Acresce tam- bém a proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual. No início, a união homoafetiva era considerada uma sociedade. Depois, adquiriu status de entidade familiar, desde que preenchesse os requisitos da união estável, para, finalmente, enquadrar-se no conceito de família, com a possibilidade, inclusive, do casamento civil. PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS O Sistema Especial de Proteção aos direitos das pessoas com deficiência é recente. Na rea- lidade, o modo de se visualizar tais pessoas pode ser resumido em quatro fases distintas. A primeira fase foi a da intolerância em relação às pessoas com deficiência. Neste período, a deficiência simbolizava a impureza, o pecado, ou, até mesmo, o castigo divino. A segunda fase foi marcada pela invisibilidade das pessoas com deficiência. Dela, decorreu a terceira fase, marcada pelo assistencialismo e pautada na perspectiva médica e biológica de que a deficiência era uma patologia e que, como tal, deveria ser curada. Por fim, a quarta fase voltou-se para os direitos humanos, despontando os direitos à inclu- são social, com ênfase na relação da pessoa com deficiência e do meio em que ela está inse- rida. Além disso, emerge a necessidade de eliminar obstáculos e barreiras que impeçam o pleno exercício de direitos humanos, sejam eles culturais, físicos ou sociais. Destaca-se, ainda, que a própria forma de se referir a essas pessoas é fruto de uma cons- trução histórica. Até o século XIX, as pessoas com deficiência eram chamadas de “inválidas”. No século XX, até a década de 1960, eram denominados “incapazes” ou “incapacitadas”. Entre as décadas de 1960 e 1980, os termos utilizados eram “deficientes”, “defeituosos” ou “excepcionais”. De 1981 a 1987, passaram a ser chamados de “pessoas deficientes”. Entre 1988 e 1993, eram denominadas “pessoas portadoras de deficiência”. A partir de 1993, a nomencla- tura mudou para “portadores de necessidades especiais”, “pessoas com necessidades espe- ciais”, “pessoas especiais”, “portadores de direitos especiais” ou pessoas com deficiência. Com a mudança de paradigma, surgiu o dever dos Estados de remover e eliminar os obstá- culos que impediam o pleno exercício dos direitos das pessoas com deficiência, viabilizando o desenvolvimento de suas potencialidades com autonomia e participação. Assim, o Sistema de Proteção Internacional dos Direitos Humanos passou a exigir dos Esta- dos um tratamento especializado para salvaguardar os direitos das pessoas com deficiência. Deste modo, em 1971, foi aprovada a Declaração dos Direitos do Deficiente Mental, ou seja, o primeiro instrumento específico de proteção, sendo que sua função foi definir um parâmetro mínimo protetivo com os princípios gerais a serem observados. Na sequência, em 1975, é aprovada a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. Nela, “pessoa deficiente” é definida como [...] qualquer pessoa incapaz de assegurar por si própria, no todo ou em parte, as necessidades de uma vida normal individual e/ou social, em resultado de deficiência, congênita ou não, nas suas faculdades físicas ou mentais. (Portugal, 1975, p. 2) D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 19 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Já em 1983, a OIT adotou a Convenção nº 159, dispondo sobre a reabilitação profissional e emprego de pessoas com deficiência, até então ainda chamadas “pessoas deficientes”. De acordo com a convenção, os Estados-Parte têm o dever de formular e aplicar uma política nacional sobre reabilitação profissional e emprego das então pessoas deficientes. Baseada no princípio da igualdade, a reabilitação tem a função de permitir que uma pessoa com defi- ciência obtenha e conserve o emprego, além de progredir nele e conseguir se integrar na vida social. Cumpre mencionar, ainda, que a Convenção sobre os Direitos da Criança tratou especifi- camente da criança com deficiência, estipulando como dever dos Estados-Parte proporcionar condições que favoreçam sua autonomia e facilitem sua plena integração na comunidade. Em 2006, as Nações Unidas adotaram a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e inovaram, ao conceituar pessoas com deficiência como sendo: Art. 1º [...] aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelec- tual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua partici- pação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. A novidade trazida encontra-se no reconhecimento explícito de que o meio ambiente, eco- nômico e social pode ser causa ou fator de agravamento de deficiência. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência funda-se em oito princípios: z respeito à dignidade, autonomia individual para fazer suas próprias escolhas e indepen- dência pessoal; z não discriminação; z plena e efetiva participação e inclusão social; z respeito às diferenças e aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana; z igualdade de oportunidades; z acessibilidade; z igualdade entre homens e mulheres; z respeito ao desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência; e z respeito aos direitos destas crianças de preservar sua identidade. A convenção traz, ainda, um protocolo facultativo, no qual os Estados-Parte reconhecem a competência do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência para receber e conside- rar comunicações submetidas por pessoas ou grupos de pessoas, ou em nome deles, no caso de violação das disposições da convenção. No âmbito nacional, a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência é a Lei nº 13.146, de 2015, também denominada de Estatuto da Pessoa com Deficiência. PESSOASEM SITUAÇÃO DE RUA, POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES QUILOMBOLAS Pessoas em Situação de Rua A conceituação de pessoas em situação de rua, de acordo com o Decreto nº 7.053, de 2009, permeia sobre aquelas em que, por diversos motivos, perderam ou não possuem uma 20 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. moradia convencional regular, e que utilizam espaços públicos como lugar de moradia e de sobrevivência, de forma temporária ou permanente. Dada população é heterogênea, ou seja, inserida nela estão outros subgrupos — como afrodescendentes, indígenas, mulheres, LGB- TQIAPN+, migrantes, idosos, crianças, adolescentes, pessoas com deficiência, entre outros que sofrem com a pobreza, exclusão, violência, discriminação e violação de seus direitos humanos. Nesse espectro, as injustiças históricas contra as minorias de pessoas em situação de rua são resultado de um processo de desigualdade social, racial e de gênero, que aprofundou-se com o desenvolvimento do capitalismo e a urbanização, e que manifesta-se na falta de acesso à ter- ra, moradia, trabalho, educação, saúde, assistência social, cultura, participação política, entre outros direitos fundamentais. Essas injustiças também se expressam na forma de violência estrutural e institucional, que traduzem-se em abuso de autoridade, negligência, criminaliza- ção, estigmatização, invisibilização e morte das pessoas em situação de rua. Diante desse cenário, é necessário reconhecer e garantir os direitos humanos das mino- rias de pessoas em situação de rua como forma de promover a sua cidadania, dignidade e emancipação. Para isso, é preciso implementar e fortalecer políticas públicas que atendam às necessidades e demandas específicas desses grupos, de forma intersetorial, participativa e descentralizada. Além disso, é preciso combater o preconceito, racismo, machismo, homofo- bia, xenofobia e outras formas de opressão que afetam as pessoas em situação de rua e que impedem o pleno exercício de seus direitos humanos. Nesse sentido, o papel dos movimentos sociais, das organizações da sociedade civil, dos profissionais de diversas áreas, como o ser- viço social, e dos próprios sujeitos em situação de rua, é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e solidária. Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais A princípio, faz-se necessário consignar que a constituição de grupos étnicos resulta de eventos históricos consubstanciados em contrastes culturais preestabelecidos. Destes con- trastes advêm fronteiras étnicas com traços culturais determinados. Assim, ao se identificar grupos pelos próprios autores em decorrência do processo de sua geração e manutenção, é possível estabelecer as categorias étnicas. Neste sentido, considera-se grupo étnico a população que se perpetua biologicamente, compartilhando os mesmos valores culturais patentes como unidade na forma de cultura e constituindo um campo de combinação e de interação. Além disso, podem identificar uns aos outros como uma categoria do mesmo tipo. Observa-se, portanto, que o primeiro problema enfrentado no desenvolvimento de um Sis- tema Especial de Proteção aos direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais é estabelecer um critério para enquadrar os sujeitos de direito. Na realidade, o conceito de povos indígenas é generalizado, fundamentando-se mais na sua etimologia do que na antropologia. Por conseguinte, surge uma visão estereotipada do indígena como habitante da mata, um ser selvagem que vive isolado do mundo, sem roupas ou qualquer contato com a civilização. No plano internacional, o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas tem relação direta com o desenvolvimento sustentável do meio ambiente e a conservação da biodiversi- dade. Conforme já mencionado, a DUDH trouxe a ideia de universalidade e de proteção aos direitos humanos dentro de um contexto global e geral. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 21 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Para a formação de um sistema mais eficiente, houve a necessidade de considerar as pecu- liaridades de cada grupo e de cada região. Neste sentido, o primeiro documento de cunho internacional que visualizou o indígena como sujeito específico de direitos foi a Convenção nº 107, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1957. A convenção tinha como objetivo a proteção e a integração das populações indígenas, bem como outras populações tribais ou semitribais nos países independentes, estabelecendo, sobretudo, os direitos à terra e às condições de trabalho, saúde e educação. Dica A convenção define o termo “semitribal”, em seu art. 2º, como “grupos e as pessoas que, embora prestes a perderem suas características tribais, não se achem ainda integrados na comunidade nacional”. A importância da convenção decorreu do fato de estimular programas coordenados e sis- temáticos para a proteção e a integração da população indígena, como, por exemplo, influen- ciar na atuação de diversos organismos internacionais, como o Banco Mundial, para uma política de fornecimento de projetos de desenvolvimento progressivo para a aculturação gra- dual da população indígena. Com o decorrer dos anos, indígenas e tribais passaram a reivindicar sua identidade étnica, cultural, econômica e social, rejeitando, inclusive, o fato de serem chamados de “população indígena”, até porque o Pacto Internacional sobre Direitos Civis, de 1966, estabelecia como direito à autodeterminação dos povos, de modo que a expressão “população” deixou de ser adequada. Além disso, “população” denota transitoriedade e contingencialidade, ao passo que o termo “povo” se caracteriza pela identidade e organização própria. Como consequência, a Convenção nº 107 foi substituída pela Convenção nº 169, de 1989, da OIT, e representou o avanço mais significativo para a consciência da identidade indígena e tribal, sendo critério fundamental para determinar os grupos. Tal convenção foi o primeiro instrumento internacional vinculante que cuidava especifi- camente dos direitos dos povos indígenas e tribais, por ter como fundamento o critério sub- jetivo da autoidentidade indígena ou tribal como decorrente do fato de que são considerados indígenas os habitantes descendentes de povos da mesma região geográfica que viviam no local na época da conquista ou colonização e que conservam as próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas. É importante saber que a convenção declara a obrigação estatal de reconhecer a autono- mia dos povos e de garantir-lhes a propriedade e a posse das terras. Embora a Convenção nº 169 seja extremamente importante no reconhecimento dos direi- tos dos povos indígenas, o ápice dessa tendência de reconhecimento foi a aprovação da Declaração das Nações Unidas dos Direitos dos Povos Indígenas, em 2007. A declaração reconheceu os direitos dos povos indígenas como uma das prerrogativas coletivas no âmbito internacional, trazendo a percepção do princípio da dignidade da pessoa humana a indivíduos isolados e pressupondo sua inserção em uma coletividade. Assim, a dignidade passa a ser reconhecida pela identidade de todos em uma só matriz: a humana. Isso significa dizer que, dentro de uma mesma substância, deve-se reconhecer as diferenças. 22 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Quilombolas As comunidades quilombolas são aquelas que se autodefinem como descendentes de afri- canos escravizados que se rebelaram contra o sistema colonial e fundaram seus próprios ter- ritórios, chamados de quilombos, onde desenvolveram uma identidade, uma cultura e uma organização social própria. Assim, a partir da promulgação da Constituição Federal vigente, por meio do art. 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, houve o reconhecimento da propriedade das terras e organizações protegidas por lei. Art. 68 Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecidaa propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. Esse reconhecimento, para tanto, é considerado como uma forma de compensação e repa- ração histórica à opressão sofrida por tais comunidades na defesa de suas culturas e identi- dades étnicas. Destarte, a Constituição impõe ao Estado brasileiro a obrigação de formular políticas públicas de proteção aos quilombolas, como a delimitação, demarcação e titulação de suas terras. Os arts. 215 e 216 também promovem os direitos dos quilombolas, uma vez que asseguram o exercício pleno dos direitos culturais e sociais, ao entender que a cultura se trata de uma forma de criar, fazer e viver das comunidades tradicionais. Art. 215 O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fon- tes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvol- vimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; (Incluído pela Emenda Constitucio- nal nº 48, de 2005) II - produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) IV - democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) V - valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) Vejamos que o art. 215, da Constituição Federal, além de tratar dos direitos culturais dos cidadãos, atribui como dever do Estado a promoção e a proteção da cultura nacional. Assim, D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 23 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. será dever do Estado a garantia de que todos terão pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional. Neste sentido, o Estado também deverá apoiar e incentivar a valorização e a difusão das manifestações culturais de todos os grupos sociais, étnicos e regionais que compõem a socie- dade brasileira, além de garantir também a proteção a tais manifestações culturais. Art. 216 Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropria- ção, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governa- mental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. (Vide Lei nº 12.527, de 2011) § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. § 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluí- do pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) Dessa maneira, há o reconhecimento dos quilombos como uma forma de organização social com características próprias no uso das terras, em razão dos seus costumes, tradi- ções e condições sociais que diferenciam esses grupos dos demais existentes na comunidade nacional. Ademais, no ano de 2003, o Decreto nº 4.887 foi sancionado, visando assegurar, além da posse de terras, uma melhor qualidade de vida aos quilombolas. O documento, para tanto, estabelece sobre o direito desses povos em ter acesso a serviços essenciais como educação, saúde e saneamento. Além disso, trata-se neste decreto a regulamentação da titulação das terras dos quilombolas, podendo se considerar um marco para os seus direitos por reconhe- cer o direito de auto-atribuição desse grupo étnico-racial. Entretanto, apesar das discussões 24 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. que foram geradas no mundo jurídico a partir de dado decreto, houve a consideração da constitucionalidade deste, em 2018, pelo Supremo Tribunal Federal, por maioria dos votos. No contexto atual, apesar das disposições legais conquistadas nos últimos anos, a reali- dade prática das comunidades quilombolas ainda é de luta e resistência pela garantia dos seus direitos. Em relação à violência contra esses povos, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais (Conaq) e a ONG Terra de Direitos, houve um crescimento de 350% no número de quilombolas assassinados entre 2016 e 2017. Diante dis- so, nos assassinatos ocorridos entre 2008 e 2017, em aproximadamente 76% dos casos não foi descoberta a autoria do crime, indicando que as mortes de quilombolas não são efetivamente investigadas pelo poder público. Outrossim, no âmbito da saúde, devido às distâncias e à dispersão populacional das comu- nidades, em geral, os quilombolas encontram dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Assim, de acordo com o Ministério da Saúde, apenas 32,8% dos domicílios rurais dos quilom- bolas estão ligados à rede de distribuição de água, enquanto 67,2% dessa população capta água de chafarizes e poços. Diante disso, há a demonstração de que os serviços de saneamen- to oferecidos aos quilombolas apresentam um déficit de cobertura. Outro fator importante em relação à saúde dos quilombolas refere-se ao uso excessivo de agrotóxicos nas plantações, uma vez que, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 21,3% dos locais que utilizam agrotóxicos não fazem uso de EPI (Equipamento de Proteção Indi- vidual), sendo que mais de 25 mil pessoas que trabalham nessas lavouras declararam estar em situação de intoxicação. Além disso, por esses povos, muitas vezes isolados, vivenciarem constantes invasões em seus territórios e terem menos acesso aos serviços de saúde, encon- tram-se em situação de mais vulnerabilidade desde a pandemia da covid-19 — e, de acordo com o monitoramento autônomo desenvolvido pela Conaq, foram diagnosticados 4.646 casos confirmados e 169 mortes devido ao coronavírus até 24 de novembro de 2020. No Brasil, essa proteção é efetivada por meio da Lei nº 6.001, de 1973, também conhecida como “Estatuto do Índio”, além de constar expressamente na CF, de 1988 (arts. 231 e 232). DEMAIS MINORIAS SOCIAIS População Sem-Teto e Sem-TerraPreliminarmente, cumpre trazermos o conceito da expressão “sem-teto”, a qual se refere a todo indivíduo que não possui condições financeiras e sociais para manter uma moradia fixa, seja casa própria ou alugada. Diante disso, essas pessoas passam a viver na rua (ao ar livre) ou até mesmo em abrigos improvisados (como barracas embaixo de pontes, viadutos etc.). A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, estabelece que todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos, bem como que todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Porém, a realidade para muitos grupos minoritários, incluindo pessoas sem-teto e sem-terra, muitas vezes não reflete estes princípios. Nesse contexto humanitário internacional, destaca-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que assegura o direito à moradia a todos os cidadãos, vejamos: Art. 25 [...] D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 25 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. […] Além disso, o Estado brasileiro tornou-se responsável em garantir a moradia, assegurando o bem-estar social da população com o mínimo necessário para uma vida digna, consagrando na Constituição Federal como direito social à moradia e assistência a todos os desamparados, vejamos: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o trans- porte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma ren- da básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária Assim, esses grupos frequentemente enfrentam uma série de desafios, incluindo a discri- minação, a falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação, ficando sujeitos à vio- lência. Além disso, a população arguida, em grande parte da historiografia, foi marginalizada e excluída de processos decisórios que afetam suas vidas. Nesse sentido, a Constituição, de 1988, reconhece o direito à moradia como um direito social e estabelece que o Estado deve garantir a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. No entanto, apesar dessas proteções legais, muitas pessoas sem-teto e sem-terra ainda enfrentam barrei- ras significativas para acessar dado direito. Imigrantes Os imigrantes são um grupo que frequentemente enfrentam discriminação, desigualdade e violações de seus direitos humanos, o que é amplificado pelas injustiças históricas que eles têm enfrentado. Diante disso, apesar de a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, estabelecer critérios de igualdade, a realidade para os imigrantes, assim como outras minorias, é divergente, de modo que enfrentam, com frequência, cenários de discriminação, xenofobia e violações de seus direitos humanos. Assim, a declaração de direitos humanos traz a liberdade como um dos pilares ao exercí- cio da cidadania, garantindo na Declaração Universal dos Direitos Humanos o direito a uma imigração digna, vejamos: Art. 13 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar. 26 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Nesses moldes, em Portugal, por exemplo, os imigrantes estão sub-representados no recen- seamento eleitoral, de forma que se encontram limitados à participação política nas eleições locais, dependendo de tratamento recíproco aos portugueses no seu país de origem. Ademais, a pesquisa MIPEX (Migrant Integration Policy Index), 2015, colocou Portugal em 4º lugar no ranking mundial de 38 países em estudo, pela promoção da participação política de imigran- tes não comunitários. Nessa ocasião, reconheceu-se o inovador sistema de apoio de órgãos consultivos locais e nacionais portugueses, em que os imigrantes são consultados estrutural- mente pelas autoridades em todos os níveis, embora os direitos de voto permaneçam desi- guais e os órgãos consultivos sejam controlados pelo Estado português, com independência limitada. Diante disso, o termo minoria, na atualidade, possui um emprego mais abrangente, “pois se percebeu que às vezes o grupo subjugado e, portanto, minoritário pode, na verdade, ser o grupo majoritário na sociedade em geral, como o caso dos negros na África do Sul”. Portanto, é fundamental que sejam tomadas medidas para garantir os direitos humanos dos imigrantes e para combater as injustiças históricas que eles enfrentam. Isso inclui a promoção de polí- ticas de inclusão, a garantia dos direitos políticos e o combate à discriminação e xenofobia. Refugiados A palavra refúgio, assim como a palavra asilo, significa proteção. Por essa razão, os ter- mos “asilo” e “refúgio” chegaram, por vezes, a se confundir, seja por seu sentido etimológico, seja por seu sentido jurídico e político. No entanto, trata-se de institutos diferentes. O asilo é o instituto de proteção relacionado a atos políticos. Nele, o sujeito (estrangeiro) perseguido é individualizado pelo Estado (seu país ou qualquer outro), que o acolhe. Esta proteção é baseada em dissidência política, delitos de opinião ou crimes relacionados com a segurança do Estado e que não se encontram previstos na legislação penal comum. Em contrapartida, o refúgio é um instituto mais amplo, sendo aplicado a casos de perse- guição de aspectos mais generalizados, de modo a proteger um número elevado de pessoas. O asilo pode ser solicitado no próprio país de origem do indivíduo que está sendo perse- guido; já o refúgio é admitido somente quando o indivíduo está fora de seu país. Ademais, a concessão de asilo possui caráter constitutivo, enquanto o refúgio caracteriza um ato declaratório. A primeira tentativa de disciplinar o instituto do refúgio deu-se em 1919, com o Pacto da Sociedade das Nações, também denominado de Liga das Nações, porém sem conceituar quem seriam os refugiados e quais seus direitos e deveres. Entre os anos de 1922 e 1928, como resposta aos problemas causados em decorrência da Primeira Guerra Mundial e dos vários conflitos que surgiram na sequência, a Liga das Nações adotou quatro acordos multilaterais para proteção aos refugiados. Estes documentos deram origem à Convenção sobre o Estatuto Internacional dos Refu- giados, de 1933, considerada um dos primeiros instrumentos jurídicos internacionais rela- tivos a refugiados. A convenção, no entanto, aplicava-se apenas aos refugiados armênios e russos. Com a substituição da Liga das Nações pela ONU, foi criado, em 1949, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), para a proteção de refugiados e das popu- lações deslocadas por guerras, conflitos e perseguições. D IV ER SI D A D E E IN C LU SÃ O N A S O C IE D A D E 27 Todos os direitos são reservados à Nova Concursos. Na sequência, foi realizada a Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e Apátridas. Como consequência, foi aprovada, em 1951, a Con- venção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, e passou a vigorar em 1954. A Convenção é considerada a base legal de todo o Sistema Global de Proteção ao Refugiado, dispondo acerca do conceito de refugiado,