Prévia do material em texto
Puberdade precoce. ➔ A puberdade é o período de transição entre a infância e a adolescência, no qual ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento, levando ao início das funções reprodutivas; pubescência. Além disso, há mudanças emocionais, psicológicas e comportamentais. ➔ É resultado do aumento da secreção do GnRH, o qual estimula a secreção dos hormônios luteinizantes (LH) e folículo estimulante (FSH), que, por sua vez, estimularão a secreção dos esteroides sexuais e promoverão a gametogênese. ➔ Telarca > pubarca > menarca CRITÉRIOS DE TANNER: ➔ O processo da puberdade é regulado por uma interação entre genes, hormônios e sinais do sistema nervoso central. Algumas substâncias químicas no cérebro, como melatonina, GABA, e glutamato, desempenham papéis importantes no início da puberdade. ● Melatonina: é um hormônio produzido pela pineal, principalmente à noite, e está envolvido na regulação do ritmo circadiano. Antes da puberdade os níveis de melatonina são geralmente mais altos. Com a aproximação da puberdade há uma redução gradual na produção de melatonina e esse declínio parece ser um dos fatores que "tira o freio" do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, permitindo que ele seja ativado. A melatonina parece inibir a secreção do GnRH, que é o principal hormônio que inicia a cascata da puberdade. ● GABA: é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro. Durante a infância, o GABA inibe os neurônios que produzem GnRH, ajudando a manter o eixo reprodutivo "desligado". Com o início da puberdade, há uma redução da ação inibitória do GABA sobre os neurônios GnR, iniciando a liberação de LH e FSH, que atuam nas gônadas. ● Glutamato: é o principal neurotransmissor excitatório do cérebro. O glutamato estimula os neurônios que liberam GnRH, o que ajuda a ativar o eixo hormonal da puberdade. A atividade glutamatérgica aumenta conforme a puberdade se aproxima. ➔ Puberdade precoce é a condição em que os sinais de maturação sexual aparecem mais cedo do que o habitual. Acomete mais a população negra. ● Antes dos 8 anos em meninas ● Antes dos 9 anos em meninos ➔ A puberdade precoce pode ser de dois tipos: puberdade precoce dependente de gonadotrofinas (PPDG) ou central (mais comum) e puberdade precoce independente de gonadotrofinas (PPIG) ou periférica. ● Central (PPC): também chamada de puberdade precoce verdadeira, é dependente do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG), ou seja, ocorre uma ativação precoce do sistema normal de regulação hormonal que controla a puberdade, com padrão semelhante ao da puberdade fisiológica. As principais causas incluem: ○ Idiopática (80%) ○ Tumores do SNC: hamartomas de hipotálamo, craniofaringiomas, astrocitomas, gliomas, neurofibromas e teratomas ○ Malformações do SNC ○ Infecções do SNC ○ Condições genéticas raras ⇒ Isossexual: o desenvolvimento ocorre de acordo com o sexo biológico. Neurofibromatose tipo 1 (Doença de Von Recklinghausen) A NF1 é uma doença genética autossômica dominante que favorece o aparecimento de tumores no SNC, sendo um dos mais comuns o glioma de vias ópticas (um subtipo de astrocitoma pilocítico). Esses tumores podem se localizar próximo ao hipotálamo, levando a uma ativação precoce do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas e, consequentemente, o aparecimento de puberdade precoce central. Clínica: manchas café com leite, neurofibromas, nódulos pequenos escuros na íris dos olhos, alterações ósseas (tamanho aumentado e DMO diminuída), tumores no SNC. ● Periférica (PPP): também chamada de puberdade precoce pseudo puberal ou independente do eixo HHG, ocorre quando há produção de hormônios sexuais sem ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal. Ocorre por fontes exógenas (hormônios aplicados ou ingeridos) ou endógenas (tumores ou doenças das glândulas) que produzem estrógenos ou androgênios diretamente. As principais causas incluem: ○ Tumores ovarianos/testiculares: cistos foliculares funcionantes de ovário ○ Tumores adrenais produtores de hormônios (adenomas e adenocarcinomas), hiperplasia adrenal congênita. ○ Hipotireoidismo primário ○ Iatrogenia: uso de cremes, pomadas ou suplementos com hormônios ○ Síndrome de McCune-Albright: doença genética esporádica, causada por uma mutação pós-zigótica no gene GNAS1 → responsável pela proteína Gsα, que participa da transdução de sinal. A mutação leva a uma ativação constitutiva da proteína G → resultando em produção aumentada de AMPc → ativação exagerada de receptores hormonais. Tríade clássica: displasia fibrosa poliostótica, manchas café com leite e disfunção endócrina. ⇒ Heterossexual: características do sexo oposto ao biológico Quadro clínico geral. ➔ Telarca precoce, ACCP (aceleração constitucional do crescimento e CSS), secreção vaginal branca, inodora e assintomática, perda sanguínea discreta e menstruação, alteração no comportamento e labilidade emocional. ➔ Anamnese: sintomas atuais e pregressos, antecedentes de doenças do SNC, exposição a esteroides sexuais exógenos, cefaleia recorrente ou dor abdominal sem causa específica. Cronologia do aparecimento dos eventos puberais e história familiar. ➔ Exame físico: avaliação do CSS, das mamas e pelos, Tanner e Marshall, avaliar o peso e a estatura, envergadura, as curvas de crescimento e a idade estatural. Identificar a presença de manchas café-com-leite na pele e alterações ósseas características da síndrome de McCune Albright. Altura alvo meninas: altura da mãe em cm + (altura do pai em cm -13) / 2 Altura alvo meninos: altura da mãe em cm + (altura do pai em cm +13) / 2 ➔ Confirmação diagnóstica: comprovação da maturação esquelética precoce (IO maior que idade cronológica, com aceleração progressiva) e padrão puberal de secreção de gonadotrofinas e esteroides sexuais. Avaliação diagnóstica. ➔ Anamnese e o exame físico dirigidos à suspeita de PP ➔ Radiografia de mãos e punhos não dominantes para determinação de IO (maturação da epífise óssea). ➔ USG pélvica para avaliação de ovários e útero, dosagem de LH, FSH e estradiol, avaliar RNM de SNC com contraste, avaliações da VC, dosar androgênios, USG abdominal (pubarca isolada) e citologia vaginal. ➔ A dosagem do LH é a basal e se ficar em dúvida pode pedir a dosagem do LH após estímulo com 100mg de GnRH EV. ➔ A relação LH/FSH > 1 sugere ativação puberal e valores muitos baixos podem indicar puberdade precoce periférica. ➔ Dados que sugerem puberdade precoce: ● Avanço IO > 2 anos ● Aumento de volume uterino, com maior diâmetro acima de 4 cm ● LH > FSH ● LH aumentado Tratamento. ➔ PP central: ● Análogos do GnRH (sua administração contínua causa down regulation dos receptores e desaceleração dos caracteres, reduzindo a produção de esteroides sexuais). ● GH ➔ PP periférica: ● Tratamento específico da causa ● Antiestrogênicos ● Inibidores da aromatase ● Anti- androgênicos ➔ E quais são os objetivos do tratamento? Prevenir a perda de estatura final, desajustes psicossociais, abusos, detectar e tratar tumores intracranianos, interromper a maturação sexual até a idade normal e aliviar a ansiedade dos pais. Puberdade tardia. ➔ A puberdade tardia é definida como o atraso no início das características sexuais secundárias além da idade considerada normal para o desenvolvimento puberal ou parada da progressão da puberdade. ● Ausência de desenvolvimento mamário até os 13 anos. ● Ausência de menarca após os 16 anos ● Quando não se inicia nenhum sinal de puberdade Principais causas. ● Eugonadismo: paciente com estrogenização normal, mas com ausência de menarca. ○ A puberdade tardia constitucional é a causa mais comum de puberdade tardia em meninas. ● Hipogonadismo hipergonadotrófico (falência gonadal): ausência ou escassez da produçãode esteroides sexuais gonadais (estrogênios), o que provoca um aumento das gonadotrofinas hipofisárias (LH e FSH). ○ Ex: síndrome de Turner (45,X0), síndrome de Klinefelter (47,XXY). CARIÓTIPO ANORMAL: síndrome de Turner XO, disgenesia gonadal pura XY, disgenesia gonadal parcial XY, disgenesia gonadal mista, mosaicos ou anormalidade estrutural. CARIÓTIPO NORMAL: disgenesia gonadal pura XX, síndrome do ovário resistente (síndrome de Savage), irradiação pélvica, quimioterapia, ooforite autoimune, falência ovariana prematura, ooforectomia bilateral, sarcoidose, galactosemia, deficiência de 17-alfa-hidroxilase/ 17-20 liase, deficiência da aromatase, tuberculose ovariana. "A menopausa é um hipogonadismo hipergonadotrófico fisiológico.” ● Hipogonadismo hipogonadotrófico (baixa GnRH/LH/FSH): falta de estímulo gonadal pelas gonadotrofinas hipofisárias. Corresponde a cerca de 30% dos casos de puberdade tardia. ○ Ex: desnutrição, exercício excessivo, doenças crônicas, tumores de SNC, síndrome de Kallmann. Síndrome de Kallmann Caracteriza-se pela associação de hipogonadismo hipogonadotrófico à anosmia ou hiposmia. Isso acontece porque, durante o desenvolvimento embrionário, os neurônios produtores de GnRH migram junto com os neurônios olfatórios da região olfatória até o hipotálamo. Se essa migração falha → ausência de GnRH + ausência/alteração do olfato. O traço é transmitido geneticamente de forma recessiva ligada ao X ou como um caráter autossômico dominante limitado ao sexo masculino. A síndrome afeta somente a secreção de GNRH, sendo que todos os outros hormônios hipofisários podem ser secretados normalmente. Tratamento. ➔ Tratar a causa do problema, sobretudo pacientes com tumores do SNC, desnutrição ou anorexia nervosa; ➔ Preservar a função hormonal e a fertilidade, se possível; ➔ Desenvolver CSS; ➔ Criar condições para coîto normal nas malformações de vagina. Abordagem cirúrgica precoce das ginatresias para prevenir as sequelas tubárias e peritoniais da criptomenorreia; ➔ Gonadectomia em gônadas com cromossomo Y, disgenéticas ou não, pelo potencial de malignização.